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cinema, tv e outras mídias • março de 2016 YOUTUBE: MODO DE USAR

A ciência por trás dos negócios que movimentam a maior plataforma de vídeos da internet

Iberê Thenório e Mariana Fulfaro, do canal Manual do Mundo

VOD: tendências e impasses entrevista: erik barmack, da

Estúdio do Manual do Mundo, um dos maiores canais do YouTube no Brasil Foto: LucaFoto: Messer

Editorial 5 Manual do 6 índice Entrevista / Renata Brandão, da Conspiração 16

Caminhos do VOD 18

Entrevista / Erik barmack, da Netflix 26

Entrevista / Tara Sorensen, da studios 28 próximos lançamentos da Netflix 30 FILME B | www.filmeb.com.br | Diretor: Paulo Sérgio Almeida No planeta dos fãs 34 O Filme B é um portal especializado no mercado audiovisual no Brasil. Toda segunda e terça-feira, o boletim Filme B apresenta os resultados das bilheterias nos cinemas e reúne as principais notícias da indústria no Brasil e no mundo. O portal traz ainda as seções Números do mercado / TV por assinatura 38 Calendário de Estreias, Quem é Quem no Cinema no Brasil e Database Brasil. A revista Filme B, com reportagens mais aprofundadas dos assuntos de mercado, é publicada quatro vezes ao Notas 42 ano, nas ocasiões do RioContentMarket (Filme B +, março), Show de Inverno de Campos do Jordão (maio), RioMarket, do Festival do Rio (setembro), e ShowBúzios, no Festival de Búzios ENTREVISTA / LIA BAHIA, PESQUISADORA 44 (novembro). REVISTA FILME B +>>> Editores: Pedro Butcher e Gustavo Leitão Editor-assistente: Pedro Números do mercado / cinema 46 Curi Repórteres: Tatiana Contreiras, Thayz Guimarães, Thiago Stivaletti Comunicação e marke- ting: Denise do Egito, Cristiane Denik Revisão: Cristina Siaines, Bernardo Siaines Projeto Gráfi- Navegando 52 co: Cardume Design Diagramação: Ana Soares Pesquisa: Elizabeth Ribeiro Gráfica: Walprint Foto da capa: Luca Messer

De olho nas séries 54 PORTAL FILME B>>> Editor: Gustavo Leitão Editor-assistente: Thiago Stivaletti Repórter: Thayz Guimarães Estagiária: Viviane Miranda De olho no VOD 56

DE OLHO NO PÚBLICO 58

Revista Filme B + março 2016 • 3

editorial

Uma revista em busca de um mundo novo

Paulo Sérgio Almeida

Há 18 anos atuando no mercado de cinema, a Filme B con- no país, mas em todo o mundo: a chegada das plataformas quistou espaço criando um amplo mapeamento estatístico e de streaming. mercadológico dos setores de produção, distribuição e exibi- Em sua grande maioria, todas essas mídias têm, como ma- ção. E agora, na ocasião do RioContentMarket, um evento que Hse tornou obrigatório para qualquer pessoa que trabalha com seus diversos formatos. E, neste sentido, o cinema continua audiovisual, estamos lançando a FILME B +, nossa primeira sendotéria-prima, feito, amas ficção exibido que oe cinemanegociado modelou de maneiras e consagrou, às vezes em revista dedicada à televisão por assinatura, internet, VoD e às contraditórias ou até autofágicas. chamadas novas mídias. - Por quê? culação de cada produto nesses setores, juntos ou separados. Dentro deste novo cenário, fica difícil saber as receitas de vei Hoje não se pode mais falar de cinema sem falar neste novo mundo em que os hábitos de consumo do audiovisual estão onde as cotações sobem e descem a cada nova invenção, às vezesO mundo inviabilizando do audiovisual a anterior, virou uma às vezes enorme acrescentando bolsa de valores mais produção de cinema e seus derivados ligados à televisão e à valores. internet;se modificando e cresce em também, alta velocidade. cada vez mais, Cresce o movimento o mercado con de- Lidar com as diversas plataformas de mídia disponíveis nos trário, isto é, produtos da TV e da internet que ganham a tela deixa cada vez mais atentos e ao mesmo tempo vulneráveis. - de acesso a dados estatísticos, sejam de audiência, sejam de mentações do espectador, em busca sempre do melhor pre- modelosgrande. Ao de mesmo negócios. tempo, É preciso ainda sabersão muitas o mínimo as dificuldades sobre este Em outras palavras: o setor tem que ficar de olho nas movi mercado. A FILME B + pretende contribuir para preencher procura, ou, falando modernamente: curtir ou não curtir, eis ço. Voltamos à velha questão de custo & benefício, oferta & este vazio. apenas começando. - a questão. Ou eis a solução. Esta batalha, ao que parece, está ma demorou um certo tempo para ganhar transparência a Para navegar neste mundo novo, é preciso fazê-lo com a Afinal, qual é o tamanho deste mercado no Brasil? O cine ponto de qualquer player poder atuar com segurança. Como parceria da ABPITV, do RioContentMarket, de produtores se sabe, novos mecanismos de aferição de audiência estão chegando por aqui no momento em que a TV aberta passa mundo. Nossa ideia é, com a Revista FILME B +, inaugural de e distribuidores, enfim, de todos que acreditam neste novo por sua maior crise, muito por conta do crescimento da TV nosso posicionamento neste novo mercado, partirmos para por assinatura, que se expandiu nos últimos anos e chegou cada vez mais incluir todos estes assuntos em nosso conheci- do Portal Filme B, que ganhará um novo e navegação. perto de 20 milhões de assinantes, e que também começa a layout se deparar com uma nova concorrência avassaladora, não só Mas calma: uma coisa de cada vez. Mas cada vez mais.

Revista Filme B + março 2016 • 5 capa

Manual do

Os segredos e os novos modelos de negócio que estão por trás da explosão dos youtubers

Por Tatiana Contreiras e Thayz Guimarães

Jornalista por formação, Julia Tolezano – do horário nobre da TV, como também gam diferentes atrações, numa grade de conhecida por JoutJout em seu canal no ser remunerado por isso. Hoje, existem programação que só aumenta. YouTube, onde já arrebanhou mais de várias formas possíveis de ganhar di- - 690 mil assinantes – não pensa duas ve- - nais com mais de 500 milhões de visua- J tização”), sendo a mais comum delas a O YouTube contabiliza, no Brasil, 31 ca nheiro no YouTube (a chamada “mone lizações e mais de cem com mais de um pousadas e hotéis. No campo designado receita compartilhada de publicidade zes ao preencher fichas de check-in em milhão de assinantes. Mas como criar, youtuber”. (veja mais detalhes na página 11). crescer e se destacar no imenso univer- à profissão, escreve: “ Ser um youtuber é a meta de muitos que so de youtubers nome da plataforma que hoje, só no Bra- desejam produzir, ver e serem vistos, secreta para o sucesso, muito menos O termo – um neologismo vindo do ? “Não existe fórmula sil, recebe 95% dos espectadores de ví- sem abrir mão de sua liberdade criati- uma previsão do que vai ou não estou- deos online, segundo dados da própria va, falando diretamente com seu públi- rar”, avalia Eduardo Brandini, diretor de companhia – é um dos sinais de que a co. É também uma trilha encontrada produção de conteúdo audiovisual não é por grandes produtoras que, de olho na criadores que conquistaram sucesso conteúdo do YouTube no Brasil. “Temos mais exclusividade da televisão. Na web, crescente e focada audiência da inter- com vídeos caseiros sem nenhuma so- já é possível transmitir diretamente de net, investem em atrações online. Redes - um quarto, de uma garagem ou do quin- de canais virtuais – as chamadas Multi- ram em superproduções desde o início; fisticação técnica, e outros que investi tal e não só ter uma audiência tão gran- channel Networks, ou MCNs –, em gran- alguns só estouraram anos após lançar de ou maior que a de muitas atrações de parte ancoradas no YouTube, já agre- o primeiro vídeo, outros levaram sema-

6 • Revista Filme B + março 2016 Fotos de Lucca Messer Iberê Thenório e Mariana Fulfaro no estúdio do Manual do Mundo Fotos: LucaFotos: Messer

e aos fãs) e criatividade (os conteúdos mais criativos têm mais chances de gerar resultados positivos)”. Brandini conclui ressaltando a importância de al-

gosta de ouvir e ver uma boa história, e osguma youtubers forma de mais narrativa. bem-sucedidos “Todo mundo são grandes contadores de histórias”.

O CASO “MANUAL DO MUNDO” Por falar em história, a de de Iberê The- nório e Mariana Fulfaro, idealizadores do canal Manual do Mundo, é um ótimo exemplo de uma trajetória de sucesso no YouTube. Ele um jornalista que sem- pre gostou de ferramentas e experimen- tos; ela uma terapeuta ocupacional que nas para alcançar o mesmo status. Eu Eduardo Brandini aponta as caracterís- rodava a cidade por conta do trabalho, diria que é uma combinação de talento, ticas básicas para que um canal comece começaram a fazer vídeos de forma im- dedicação e um pouco de sorte. Mas é - provisada, em casa, de madrugada, em claro que uma boa gravação, edição e mas características acabam se tornando 2008, com uma câmera emprestada do a se destacar. “Observando bem, algu acabamento sempre ajudam”. pontos em comum entre todos os ca- - - nais de maior sucesso do YouTube”, diz chefe de Iberê. O tema? Ciência e experi ciais, mas de acordo com o ranking do à câmera, sempre de forma divertida e mentos científicos, realizados em frente siteO YouTube americano não VidStatX,divulga estatísticas levantado ofino a autenticidade dos youtubers em seus descomplicada. Hoje, com oito anos de ele. “O principal fator para o sucesso é vídeos, ou seja, a forma com que falam, vida, o Manual do Mundo é o nono canal maior número de assinantes no Bra- colocam opiniões e conversam com seus do YouTube em número de assinantes silfim é deo do janeiro coletivo deste de humor ano, o canalPorta comdos fãs. Além disso, destacaria a consistên- (4,9 milhões, em janeiro de 2016). Fundos, com mais de 11 milhões de as- cia (atualizar seus canais com frequên- - top 10 cia e regularidade), dedicação (ao canal nar um fulltime youtuber aconteceu em são o canal de esquetes Parafernalha, O difícil e definitivo passo para se tor idealizadosinantes. Outros por Felipe que figuramNeto, 5incominu no - tos, da atriz e comediante Kéfera Buch- “O principal fator mann, e o gamer RezendeEvil (veja a lista completa na página 8). para o sucesso é Fotos: divulgação Fotos: A curitibana Kéfera sintetiza, como pou- a autenticidade cos, a capacidade do YouTube de produ- dos youtubers zir fenômenos. Ela iniciou seu vlog des- compromissadamente, em 2010, fazendo em seus vídeos, comentários bem-humorados sobre a vida cotidiana. Em pouco tempo, se tor- ou seja, a forma nou campeã de audiência e, desde então, com que falam, já apresentou programas de TV, lançou um livro que entrou para a lista dos mais colocam opiniões vendidos (Muito mais que 5inco minutos) e foi escalada para ser uma das protago- e conversam com É fada, adaptação do livro seus fãs” de Thalita Rebouças Uma fada veio me nistasvisitar ,do com filme direção de Chris D’Amato e Eduardo Brandini, diretor de conteúdo do produção de Daniel Filho. YouTube no Brasil

Revista Filme B + março 2016 • 7 capa

OS 10 MAIORES CANAIS DO YOUTUBE*

2012, quando os dois abandonaram de seu público é masculino, Canal Assinantes Visualizações seus empregos e passaram a se dedicar dos quais surpreendentes integralmente ao Manual do Mundo – PORTA DOS FUNDOS 11,3 milhões 2,2 bilhões que, àquela altura, já pagava as contas PARAFERNALHA 7,6 milhões 1 bilhão - 43% têm entre 35 e 44 anos. o calendário de pautas do No fim de janeiro deste ano, GALOFRITO 7,6 milhões 944,5 milhões da casa. “Postergamos muito essa deci Manual do Mundo já estava de semana”, conta Iberê. Hoje, a produ- 5inco MINUTOS 7,5 milhões 613,8 milhões torasão. Emestá 2011, situada trabalhamos em uma casa todos na os Zona fins que ter paciência e pé no WHINDERSONNUNES 6,3 milhões 438,6 milhões chão.ocupado É preciso até março. montar “Temuma equipe de sete pessoas e eventuais free- grade, planejar pautas. Não CANALCANALHA 5,5 milhões 328,8 milhões lancers.Oeste de A São rotina Paulo, é puxada: contando às segundas,com uma basta só ter conteúdo, tem terças e quartas, o casal grava seus víde- REZENDEEVIL 5,4 milhões 1,7 bilhão que ter técnica. Hoje temos os. Às quintas e sextas, prepara roteiros uma reputação que nos per- MANUAL DO MUNDO 4,9 milhões 817,9 milhões e faz reuniões de pauta ou com clientes. mite, por exemplo, gravar Entre a ideia e a publicação de cada ví- FELIPE NETO 4,8 milhões 320 milhões na DisneyWorld e na NASA”, deo, a equipe leva de dois a três meses, diz Mariana, que também se VENONEXTREME 4,7 milhões 717 milhões desdobra nas questões admi- entram no ar sempre às terças, quintas nistrativas do canal e nas res- eincluindo sábados. testes e produção. Os vídeos * Por número de assinantes / em janeiro de 2016 Fonte: VidStatX postas ao público nas redes sociais. Porchat, Antônio Tabet, Gregório Duvi- construção de barcos de origami, pape- vier e João Vicente Castro, o Porta já con- Em seu estúdio, Iberê e Mariana gravam lãoOs maiores e até silvertape sucessos; outros do canal vídeos, mostram mais a tava com uma certa estrutura (eram 15 com uma câmera Canon 5D Mark III com trabalhosos, pedem estruturas maiores funcionários). Hoje, menos de três anos microfone de lapela, kit Sony UWP-V1, e e mais tempo de produção. Um projeto depois, 50 pessoas trabalham para o gru- de um motor feito de lata, por exemplo, po, que também se transformou em pro- usam o Adobe Premiere Pro CS6 e o Ado- - dois refletores de 500W. Para a edição, dutora e também tem explorado outras to. A abordagem lúdica sobre a ciência mídias. Desde o ano passado, assinou chegou a levar três anos para ficar pron com o tempo e também levou a dupla à faz com que o canal seja bastante que- contrato com o canal de TV paga Fox Bra- TV:be After em 2014, Effects Iberê CS6. fez O apuroroteiro técnico e atuou veio na rido entre crianças e adolescentes, e um sil, para o qual produziu uma série iné- série Experimentos extraordinários, no levantamento recente revelou que 66% dita ( ), e agora mira o . Em outubro de 2015, O grande Gonzalez cinema com o longa-metragem o conteúdo do canal do YouTube passou Porta dos Cena do filmePorta dos Fundos – a ser exibido também na PlayTV, em 24 Fundos – Contrato vitalício, que tem pre- Contrato vitalício episódios de 15 minutos cada. distribuição da Downtown/Paris. Hoje, muito mais do que um canal do visão de estreia para 30 de junho, com YouTube, o Manual do Mundo é uma Diretor e cofundador do Porta, Ian SBF

Foto: Rachel Tanugi Ribas Tanugi Rachel Foto: conta que o grupo nunca planejou com dos nossos braços, mas também cria- mosprodutora livros, devídeos conteúdo. institucionais, “O canal évíde um- movidos pelos nossos interesses pes- precisão sua carreira. “Sempre fomos os para marcas. Temos várias frentes”, soais e aspirações momentâneas”. Cada aponta Mariana. vez mais, no entanto, reconhece que é preciso planejar o futuro e escolher a pla- O CASO “PORTA DOS FUNDOS” taforma mais adequada para cada proje- Porta dos Fundos é outro caso impressionante, não só pela nunca é a plataforma ou a mídia, e sim as to. “Mesmo assim, nosso foco principal quantidadeO canal de humorrecorde de seguidores, mas histórias que queremos contar. Se temos também pelas transformações que trou- uma história ou projeto que se adapta xe para a produção humorística no au- - diovisual brasileiro. Quando foi criado, curamos os parceiros certos e a melhor maneiramelhor como de isso filme acontecer”, ou série explica. de TV, pro

em 2013, pelos sócios Ian SBF, Fábio 8 • Revista Filme B + março 2016 Fotos: divulgação Fotos:

Cenário do YouTube Space, em São Paulo

* Por número de assinantes / em janeiro de 2016 Fonte: VidStatX como se especializar

De olho em outros potenciais sucessos de conteúdo online. Ainda de audiência, o YouTube disponibiliza um estúdio e um espaço de aprendizado inauguração. onde produtores de conteúdo online po- não há data definida para a A ambientação do YouTube YouTube Space de Nova York dem se especializar de forma totalmen- Space muda todo mês. Em janeiro, remetia ao balcão de um bar; do Bom Retiro, em São Paulo, é o primei- desde então já foi remontado com ele- rote gratuita.do Brasil Oe oYouTube único do Space, mundo no em bairro par- https://www.youtube.com/yt/space/ Chappie e Snoo- pt-BR/events-saopaulo.html ceria com outra organização, o Instituto py & Charlie Brown. Se o produtor qui- Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, que sermentos usar de o estúdio,filmes como precisa adaptar suas capacita jovens para funções ligadas ao necessidades ao cenário, mas também vivo, iluminação, técnicas de áudio, me- audiovisual. pode optar por gravar com chroma key. dia training - No espaço – um galpão repleto de sa- Ainda estão disponíveis uma sala de edi- meçar no YouTube”. Enquanto algumas las patrocinadas por outras empresas, ção e pós-produção. aulas são abertas e até um até básico para quem“Como nãoco como Spotify e Nestlé –, o YouTube tem um canal no ar, outras, como a de Para agendar um horário, é preciso montou seu estúdio, que recebe mais de fonoaudiologia, exigem um mínimo de - 2,5 mil pessoas por trimestre, um nú- seguidores. No caso da turma de fono, túdio pode ser utilizado por donos de mero que engloba criadores que usam todos os alunos tinham mais de 10 mil canaiscumprir com alguns mais pré-requisitos.de 2,5 mil assinantes, “O es o estúdio de gravação, alunos dos cur- assinantes. Para turmas mais avança- desde que não tenham sofrido nenhu- sos e workshops, e frequentadores das das, já foram disponibilizadas palestras ma denúncia por violação de direitos happy hours mensais promovidas pela de assuntos como branding (gestão de ou diretrizes de comunidade. Também plataforma. Em 2015, a empresa anun- marcas), marketing e relação de clientes é preciso assinar um contrato de uso do ciou que vai abrir um novo espaço no com executivos do próprio Google. Para espaço”, explica Eduardo Brandini, dire- Brasil: o YouTube Space Rio, localizado um youtuber brasileiro de férias no ex- tor de conteúdo do YouTube. no Porto Maravilha. Com mais de 2 mil terior, também é possível agendar um m², a ideia é que a quantidade de estú- workshops oferecidos co- horário em algum dos YouTube Spaces dios seja maior e que o local funcione brem temas variados: de câmera a pro- ao redor do mundo (Los Angeles, Nova como uma incubadora para criadores dução,Os cursos passando e por transmissões ao York, Londres, Tóquio e Berlim).

Revista Filme B + março 2016 • 9 capa

como monetizar

Atualmente, os criadores interessados Uma forte tendência tem sido a busca de em utilizar a plataforma do YouTube po- formas de integração da marca ao conte- dem simplesmente carregar seus vídeos - já realizou ações para grandes marcas divulgação Fotos: tar por um dos modelos de geração de údo. Em atividade desde 2013, a NetCos- receitasem qualquer disponibilizados objetivo financeiro pelo Programa ou op de Parceria do YouTube. –como uma Sadia,herança Santander dos formatos e Citroën. televisivos O de –safio e promover é fugir do uma “merchan” associação tradicional convin- - cente entre conteúdo e marca, sem com- balha no desenvolvimento do canal de prometer a reputação do criador com os formaO programa personalizada, oferece um utilizando gerente que como tra ferramenta principal o modelo de ex- a marca sai do papel de interruptora e ploração publicitária criado pelo Goo- passafamigerados para o “jabás”.de viabilizadora “Nesse processo, de con- gle, o Google AdSense. Para começar a teúdo. A NetCos atua como uma inter- receber, é preciso associar uma conta mediária que entende a realidade dos do Google AdSense à conta do YouTu- dois universos, ajudando as marcas a be. Ao aceitar que seus vídeos tenham selecionarem os canais ideais para suas publicidade, o criador permite que a ações e negociando as condições com plataforma gerencie a melhor forma de estes canais. Há projetos pequenos, que exibição dos anúncios (confira os for- custam às marcas R$ 50 mil; médios, em matos disponíveis no quadro ao lado). A torno de R$ 200 mil, e grandes, que pas- remuneração é baseada na visualização sam dos R$ 500 mil”. dos anúncios. A empresa não revela de- youtubers, as redes que agregam canais, talhes sobre a partição de receitas, mas comoNo processo a Rede deSnack profissionalização e a Network Bra dos- sil, têm ganhado importância. As MCNs o dono do canal, e 45% com o YouTube. gerenciam produtores de conteúdo o que se comenta é que 55% ficam com oferecendo ajuda técnica, conselhos e - “O YouTube não interlocução comercial para quem está fundador da NetCos, empresa especia- começando. A Network Brasil, além de lizadaPara Andréem aconselhamento Zimmermann, para CEO vídeos e co pode ser tratado distribuir, também produz conteúdo: os em ambientes digitais, o chamado pre canais Desimpedidos, Acelerados, Re- roll (inserção de publicidade antes do e utilizado da visão, Não é Sério TV, e o Canal vídeo), apesar de ser muito usado, tem mesma forma que Oficial do São Paulo Futebol Clube são produzidos pela NWB. Já Mano Coelho, tratado e utilizado da mesma forma que a TV, com o risco de Manual do Mundo e Desce a Letra são aseus TV, riscos.com o risco “O YouTube de perder não o podepoder serde engajamento que a plataforma e seus perder o poder de do canal a ser desenvolvido e o poten- criadores podem proporcionar às mar- engajamento que a cialcanais de associados.mercado para “Olhamos construção para de o tema uma cas. Dentro desse modelo, o melhor é marca consistente, bem como o potencial realizar produções próprias, usando a plataforma e seus de engajamento”, explica André Barros, linguagem do meio digital, com mais ou- sócio-diretor da NWB, cujos canais so- sadia. Contudo, o pre roll ainda segue a criadores podem mam mais de 17 milhões de assinantes e lógica da publicidade em outras mídias: proporcionar às contabilizam dois bilhões de views. a interrupção da experiência do expec- tador, o que, no melhor dos casos, pode marcas” Muitos youtubers, no entanto, também gerar indiferença, e, no pior, rejeição”, buscam formas de monetização que não avalia. André Zimmermann, CEO da NetCos dependam de marcas, como licencia-

10 • Revista Filme B + março 2016 mentos de conteúdo, venda de produtos os youtubers usem os canais como tram- infoprodutos (cursos, vídeos exclusivos, produtores estão encontrando alterna- FORMATOS DE PUBLICIDADE físicos (camisetas, bonés, canecas etc), - tivaspolim criativas para outras de ganharfontes de dinheiro receita. que“Os DISPONIBILIZADOS NO YOUTUBE timamos que há hoje aproximadamente extrapolam o virtual. Ser um youtuber dicas), livros e eventos, entre outros. “Es 170 mil canais no YouTube no Brasil, o pode, sim, ser muito rentável, principal- DISPLAY ADS segundo maior mercado para a empre- mente se os produtores souberem apro- Aparecem à direita do vídeo prin- sa no mundo. Destes, possivelmente 200 veitar as oportunidades geradas a partir cipal ou logo acima da lista de su- gestões são realmente grandes. Mas muitos mé- da popularidade de seus vídeos. Vemos dios e pequenos estão conseguindo se isso tudo como algo extremamente po- rentabilizar”, completa Zimmermann. OVERLAY ADS sitivo. Quanto mais bem-sucedidos os Anúncios semitransparentes que Eduardo Brandini, do YouTube, garante youtubers, mais bem-sucedido é o pró- aparecem na parte baixa do vídeo e que a plataforma vê com bons olhos que prio YouTube”. podem surgir em texto ou em flash

SKIPPABLE / NON SKIPPABLE VIDEO ADS Anúncios que podem ser “pulados” em cinco segundos ou que são obrigatórios. Normalmente, são exibidos em pre roll, ou seja, antes do conteúdo, mas também podem ser inseridos no meio ou no fim do vídeo

SPONSORED CARDS Cartelas que podem, por exemplo, mostrar produtos apresentados no vídeo

MUITO ALÉM DA INTERNET

De olho no potencial dos youtubers e no seu retorno de audi- Freddie Wong, cineasta, especialista em efeitos especiais e ência e engajamento, tanto o YouTube quanto outros canais gamer, também é um bom exemplo deste movimento. Seu expandem e diversificam suas atrações. Com mais de 5,7 canal RocketJump, com mais de 7,5 milhões de assinantes, milhões de assinantes na plataforma, a comediante ameri- o levou até o Hulu. Com episódios semanais de meia hora, a cana Colleen Ballinger-Evans, de 29 anos, assinou contrato atração estreou em dezembro. com a Netflix para estrelar a série de ficçãoHaters Back Off, baseada na personagem criada para seu canal no YouTube, Já a HBO aprovou o projeto Insecure, série de ficção com a Miranda Sings. Com oito episódios, a série mostrará a vida youtuber Issa Rae à frente do elenco, do roteiro e da produ- em família de Miranda (interpretada por Colleen) e será a ção executiva. Rae fez sucesso na internet com a webserie primeira série de ficção da Netflix estrelada por umyoutuber . The Misadventures of an Awkward Black Girl. Outros produtores de conteúdo online também estão fazendo No Brasil, o filmeOs penetras 2, dirigido por Andrucha o mesmo percurso. É o caso de , 30 anos e Waddington e produzido pela Conspiração, que estreia em quase três milhões de assinantes, que já lançou livro e ga- novembro, terá participações especiais dos youtubers Pc- nhou um talk show no canal E!, cuja primeira temporada foi Siqueira, Julio Cacielo, Whindersson Nunes, Gabbie Fadel exibida em 2015. e Maju Trindade.

Revista Filme B + março 2016 • 11 capa Kéfera, Felipe Neto, Leon e Nilce

como influenciar

Na nova realidade das mídias digitais, Bia Granja, cofundadora do you- tão ou mais importante do que atrair PIX, que investiga e analisa a cul- um grande público é a capacidade de tura digital desde muito antes do boom da explosão dos youtubers, realizada pela Provokers para o Goo- diz que tanto agências quanto gleinfluência e a revista de um Meio criador. & Mensagem, Uma pesquisa entre clientes ainda têm uma herança forte outubro e novembro de 2015, apontou da métrica da televisão, e ressalta que um rumo que já se vislumbrava: das 20 personalidades mais admiradas por engajamento e uma comunidade ao seu adolescentes entre 14 e 17 anos, dez redor,“o influenciador não necessariamente de hoje é aquele aquele que com cria são youtubers a maior audiência”. Para Bia, o boom dos youtubers - . O estudo, batizado de “Os tela dos jovens brasileiros”, entrevistou é “a per milnovos pessoas influenciadores: ligadas ao quemuniverso brilha online na “Não são só parasonificação as pessoas do conteúdoque o que atéestava o últimosendo feitofio de na cabelo. internet O nãoyouPIX era baboseira.tentou mostrar Ago- cinco personalidades admiradas da TV, moleques fazendo ra, tentamos mostrar que não só é legal, internete televisivo. ou cinema. Os jovens deveriam indicar vídeos. A tendência uma grande tendência, muito mais pro- Werneck, conhecida deste público por é a compreensão fundacomo tambémdo que se uma denominar profissão. youtuber Essa é. suaNo topocarreira do ranking como comediante figurou a atriz na MTV,Tatá Não são só moleques fazendo vídeos. A mas que também estava no ar, no mo- de que isso é um tendência é a compreensão de que isso mento da pesquisa, na novela I Love Pa- trabalho, uma é um trabalho, uma carreira, uma em- raisópolis youtubers mais - bem colocados na lista são Leon e Nilce, carreira, uma cados em distribuição, em quais redes e do canal ,Coisa na Globo. de nerd Os , que conquis- plataformaspresa. O conteúdo se está é rei,presente, mas estamos em estra fo- taram o 5o lugar, seguidos por Kéfera empresa” tégias descentralizadas”. Buchmann, do 5incominutos, em 6o, e Bia Granja, cofundadora do youPIX Bia aponta uma outra tendência do mer- Iberê Thenório, do Manual do Mundo, cado: a dos canais de médio porte, que em 7o. ainda têm espaço para crescer, angariar youtubers que completam - o grupo são Felipe Castanhari (canal Os outros o o novos seguidores e ampliar sua influ Nostalgia, em 9 ), Felipe Neto (em 10 ), divulgação Fotos: youtubers, como Kéfera, cada vez mais Christian Figueiredo (canal Eu Fico éência. possível Ou seja:produzir na rebarbapara um dos público grandes em Loko, em 11o), Gustavo Stockler (canal - Nomegusta, em 16o), a blogueira de vante dentro desse universo, mesmo sem moda e beleza Taciele Alcolea (18o lu- busca de assuntos específicosJulia Jolie e ser é releuma gar), Edu Benvenuti (Gameplays/BRKs promessa. Tem mais de 200 mil assinan- Edu, em 19o milhões de assinantes. “ beleza Camila Coelho (20o lugar). Um Foquinha (Fernanda Catania, ex-editora ranking de relevância) e, por fim, construído a blogueira pelos de dates revistae ainda Caprichovai crescer que muito. migrou O canal para da o entrevistados levantou as principais YouTube, onde faz desafios e entrevistas características de uma celebridade in- com celebridades) também cresceu mui- to rápido, e a galera do OK OK também é maravilhosa. Há um universo enorme de fluenciadora: autenticidade (15%), vários pequenos canais”, aposta. originalidade (13%), senso de humor (13%) e inteligência (12%). 12 • Revista Filme B + março 2016 breve história do youtube os números Lançado em fevereiro de 2005, o YouTube Estimativa de faturamento mun- No Brasil, existem 31 canais surgiu como uma plataforma em que qual- dial em 2015: US$ 9 bilhões com mais de 500 milhões de quer pessoa pode carregar, compartilhar e visualizações e mais de 100 O YouTube oferece hoje 19% dos visualizar vídeos de forma totalmente gra- canais com mais de um milhão vídeos da internet, mas apenas tuita. Rapidamente, chamou a atenção de de assinantes 9% dos anúncios de vídeos gigantes do setor. Em 2006, foi comprado (Fonte: Google/Segundo semestre de pela Google, por US$ 1,6 bilhão. A plataforma responde por cerca 2015) de 15% da receita da Alphabet Desde 2011, o YouTube passou a dar mais Inc, a holding a qual pertence, 80% das visualizações do You- destaque para os canais em sua interface, o e essa fatia pode chegar a 25% Tube são de fora dos Estados que, na prática, transformou a plataforma até 2020 Unidos em uma grande programadora de conteú- (Fonte: Valor Econômico) O YouTube lançou versões locais do não linear. Com o tempo, foram desen- em mais de 70 países volvidas formas de geração de receita, e A cada minuto, 500 novas horas graças à grande capacidade de comparti- de vídeo são carregadas no You- Mais de 50% das visualizações lhamento e à facilidade de exibir seus víde- Tube são feitas em dispositivos móveis os em outros sites e blogs, transformou-se Crescimento em horas vistas de O número de anunciantes que também em uma ferramenta indispensá- 60% ano após ano em todo o utilizam anúncios em vídeo no vel no universo do marketing online. mundo YouTube cresceu mais de 40% ao ano - 69% dos brasileiros assistem a teúdos pagos. No ano passado, lançou um vídeos online Desde março de 2015, os cria- Em 2013, o YouTube começou a testar con dores de conteúdo que filmaram aplicativo para crianças, o YouTube Kids, e Desses 69%, 95% usam o You- nos YouTube Spaces produziram Tube, fazendo da plataforma a mais de 10 mil vídeos, gerando videogames, o YouTube Gaming. Recen- mais popular no país 1 bilhão de visualizações e mais temente,um serviço inaugurou específico seu para serviço entusiastas de de strea- Em média, os brasileiros conec- de 70 milhões de horas de exi- ming por assinatura, o YouTube Red. tados assistem a 15 horas sema- bição nais de vídeos na web, quase o Hoje, o YouTube faz parte da holding Al- (Fonte: YouTube/Primeiro semestre de dobro do tempo apontado pela phabet Inc, que engloba o Google e outras 2015) mesma pesquisa referente a subsidiárias. 2014

SERVIÇO PAGO COMEÇA NOS EUA

Lançado nos Estados Unidos em fevereiro, ainda sem Felix Kjellberg – mais conhecido como Pew- data para chegar ao Brasil, o novo serviço do YouTube, DiePie por seus mais de 42 milhões de assi- batizado de YouTube Red, permitirá que seus assinantes, nantes. Além disso, estão prometidos também a um custo de US$ 10 mensais, vejam todo o conteúdo filmes com outrosyoutubers de sucesso, como A Trip do YouTube sem anúncios, tenham acesso ilimitado ao to Unicorn Island, com Lilly Singh (7,9 milhões de assi- YouTube Music e assistiam a filmes e séries originais nantes), Dance Camp, do AwesomenessTV (3,4 milhões) estreladas pelos principais nomes da plataforma. e Laser Team, do canal (8,4 milhões). O primeiro produto exclusivo do novo serviço será Scare Esse último foi parcialmente financiado pelos fãs, que PewDiePie, mistura de reality show e aventura estrelada levantaram US$ 2,48 milhões, e chegou a estrear nos pelo youtuber mais bem-sucedido do mundo, o sueco cinemas americanos.

Revista Filme B + março 2016 • 13

entrevista RENATA BRANDÃO Diretora presidente de negócios da Conspiração Foto: divulgação Foto: “O conteúdo e a audiência precisam ser prioridade”

Uma das maiores e mais sólidas produtoras de audiovisual no país, a Conspiração comemora 25 anos em 2016 com uma estrutura reformulada, em que os projetos voltados para as plataformas digitais ganharam novo peso. Uma das novidades é o canal da apresentadora Bela Gil no YouTube, no ar desde 24 de fevereiro. “A Bela é nosso primeiro canal oficial no YouTube, um projeto que não estamos fazendo para terceiros”, conta Renata Brandão, que em janeiro assumiu o cargo de diretora presidente de negócios da Conspiração. Na entrevista a seguir, Renata explica como funcionará o canal e analisa os desafios da produção de conteúdo na era digital.

Como a Conspiração tem se prepara- ou seja, o orçamento de lançamento de riência de marketing digital e mídias do para as transformações do merca- um filme no cinema) em uma campa- sociais em todos os nossos produtos. do audiovisual? nha de marketing tradicional, perto do Pode dar um exemplo? A Conspiração comemora 25 anos em lançamento, criamos uma plataforma 2016, e ao longo desse tempo, claro, de conteúdo que começou a funcionar Vai que cola – O filme teve um lança- precisou se reinventar. Um desses mo- um ano e meio antes da estreia. Nesse mento muito ancorado nas mídias mentos ocorreu em 2008, quando foi momento, a Conspiração deu um novo - criado o selo Concept, que nasceu jus- passo e se tornou também publisher, me chegar aos cinemas. Estamos tam- tamente para pensar projetos de pu- criando uma plataforma e realizando bémdigitais, trabalhando iniciado muito toda antesa plataforma de o fil blicidade que tivessem o ambiente di- uma espécie de curadoria de conteúdo Os penetras 2 gital como plataforma de distribuição. sobre a cidade. A partir da audiência no YouTube e nas mídias digitais. E a Logo depois, vieram as mídias sociais que passou a orbitar em torno dessa deevolução divulgação disso do chegou filme ao núcleo de com toda força, gerando nova deman- plataforma, direcionamos a campanha televisão da casa. Muitos projetos que da. Em 2010, começamos a produzir - talvez não encontrassem espaço na TV Rio, eu te amo, uma grande ce- va, não só para atrair os patrocinado- lebração do Rio de Janeiro. Em vez de res,do filme. mas tambémFoi uma costurapela experiência muito positi que adequado de conteúdo para a inter- usarmoso filme o P&A (prints and advertising, ganhamos. Hoje, usamos essa expe- net.fechada Começamos e aberta a podem perceber ter que um existia perfil

16 • Revista Filme B + março 2016 esse espaço para trabalharmos, não só to tradicional. Como consequência, “No YouTube, assim levando para o YouTube spin offs (deri- os produtos e marcas estão tentando vados) de produtos da TV como tam- se inserir nas narrativas. Como você como em todas - vê esse processo? as mídias digitais, te direcionados para o online. bém buscando projetos especificamen É nisso que acreditamos, fortemente. a audiência pula, O canal da Bela Gil no YouTube é o pri- Temos um outro segmento dentro da meiro passo nesse sentido? Conspira, onde estamos desenvolven- deixa de seguir ou do um trabalho diretamente com as Sim. É o primeiro que estamos lançan- marcas para criar conteúdo em que não se inscreve do, mas já existem outros em desen- elas possam se comunicar com o públi- no canal quando volvimento. Bela tem um programa de co por meio das narrativas e dos artis- culinária no GNT produzido por nós, percebe que é e a ideia é criar uma extensão dessa canais do YouTube têm muito esse po- conversa no online. dertas, nosde abrir projetos um espaçode entretenimento. bacana para Osas uma plataforma marcas. Mas, obviamente, isso precisa Os programas da Bela Gil são exibidos publicitária, e não ser feito com parcimônia, porque uma no GNT e ficam disponíveis na plata- vez errando no uso da marca no online, de conteúdo” forma de VoD da Globosat e na inter- você pode prejudicar sua audiência. net. Como é o canal do YouTube? a audiência se sentir enganada, vai É um material inédito e diferente do Quais os riscos? embora. Você tem que entender o programa de TV. No canal do YouTu- Há um limite no equilíbrio dessa re- que esse público aceita como marca. be, Bela fala sobre as características lação que estamos testando em cada Quanto mais transparente for o pro- dos alimentos e entrevista pessoas nova experiência. É preciso ser muito cesso, melhor. Porque, obviamente, a do meio de alimentação e de saúde. transparente, o tempo inteiro. No You- audiência também sabe que é preciso Na televisão, ela recebe convidados, Tube, assim como em todas as mídias patrocinar o conteúdo de alguma for- apresenta receitas. No YouTube é a digitais, a audiência pula, deixa de se- ma. Não existe fórmula – cada projeto Bela mais nutricionista. guir, ou não se inscreve no canal quan- é um projeto, cada audiência é uma audiência. Há erros e acertos durante Como o canal foi viabilizado financei- do percebe que aquilo é uma platafor- o processo, o que torna a experiência ramente? Vocês vão lançar mão dos ma publicitária, e não de conteúdo. E modelos de monetização do YouTube? as marcas têm aprendido a valorizar incrível, porque você está muito pró- isso, assinar um projeto verdadeiro, ximo à audiência. Se você faz um post Temos proximidade com a equipe de em que elas possam ter o retorno do errado, ou sobe um post num horário conteúdo do YouTube, mas não preci- qual gostariam. Com a própria Bela, equivocado ou faz um product place- samos passar por essa equipe para lan- por exemplo, temos alguns critérios ment e não deixa isso muito claro, a çar o canal. A plataforma do Google te para os patrocinadores que partici- consequência é imediata. Você vê a au- deixa muito independente para deter- pam do projeto. A audiência e o conte- diência subindo ou descendo na hora, minar os parâmetros. Temos um apoio údo precisam ser prioridade. Quando vê quando o post foi mais curtido ou para fazer o desenho de mídia, mas essa relação dá certo, você constrói menos. qualquer pessoa – e essa é a grande uma base de seguidores, e, aí sim, as marcas são atraídas. Não dá para in- Canal da Bela: no ar como seu canal será, e qual será o mo- verter a lógica. desde fevereiro, no vantagem do YouTube – pode definir YouTube terão monetização do YouTube, serão Pode acontecer, por exemplo, de uma delo de financiamento. Os nossos, não trabalhados com recursos de patrocí- marca se interessar, mas não ter o nio e product placement. perfil adequado para aquele canal? A publicidade sempre foi uma fonte Sim, claro. E há também a forma com de receita importante para a TV, mas que você insere a marca no canal. Te- os jovens estão vendo cada vez me- mos alguns formatos que são mais nos comerciais, pelo menos no forma-

aceitos, que ficam mais orgânicos. Se Revista Filme B + março 2016 • 17 vídeo sob demanda

Novos caminhos do

Explosão do video sob demanda no país VODamplia modelos de negócios e atrai competidores para as novas plataformas. Movimento também faz produtores repensarem suas estratégias de lançamento.

POR THIAGO STIVALETTI E GUSTAVO LEITÃO

- Segundo Karen Daylac, gerente de aqui- taforma do momento quando o assunto VoD há cinco anos e hoje opera em for- sição de conteúdo do canal, os contratos Aé oNetflix tão falado pode atéVoD ser (sigla a mais para visível video pla on matoexibidos misto: na grade. transacional, O Telecine com criou aluguel seu - demand, ou seja, vídeo sob demanda), pay - mas está longe de resumir esse merca- per view madospara a exibição com os dosestúdios filmes para no VoD a exibição são di A avulso de filmes mais recentes em ferentes e independentes daqueles fir na TV. Do lado dos nacionais, uma estra- - no momento (o Telecine nos canais On) dae o rede aberto (Teleci para- tégia do canal – entrar como coprodutor recidosdo em ascensão.por meio de O assinatura, serviço, organizado cada vez neassinantes, Play). São com cerca os de filmes 1,5 mil em títulos exibição no maiscomo apostando um catálogo em de produções filmes e séries originais ofe total. garante não só a prioridade na estreia exclusivas, é apenas um dos inúmeros naainda TV no paga, momento mas estimulada filmagem a primazia – agora players e modelos de negócio a operar no on demand em relação a outros con- quiser”, as plataformas dos canais tam- no país, em meio a uma tendência que Além da vantagem do “veja quando começou na trilha deixada pelo DVD e seguiu por muitas outras bifurcações. produtorescorrentes. “Quando nos procuram a gente coproduz,muito para já nabém TV, oferecem no computador, a possibilidade no tablet do ou“onde no Essa multiplicidade de caminhos já afe- está dentro do filme desde o início. Os- quiser”: o espectador pode ver o filme- ta as estratégias de produtores, canais meros do VoD ainda não chegam perto cialmente a cada ano, seguindo as novas daquelesesse tipo dedo parceria”,homevideo diz de Karen. antigamente, “Os nú tendênciascelular. Os númerosde consumo: crescem de 2014 exponen para não chega a ser a propagada revolução mas ele já se tornou uma etapa muito - dase tem janelas reflexos de exibição, nos contratos. certamente Se ainda tem - - causado abalos nas velhas estruturas. 2015, a quantidade de filmes para alu cine já contabiliza coprodução em 120 longasimportante nacionais para osaté produtores”. o momento. O Tele Hoje, a grande maioria dos canais de alugadosguel no Telecine aumentou On cresceu57%. No 68%, Telecine che TV já lançou sua plataforma on demand Play,gando as a visualizações 560 títulos. O cresceram volume de 82% filmes de Mesmo na seara de concorrentes fortes para que os assinantes possam rever os um ano a outro – o canal não divulga nú- - programas fora dos horários em que são mero absoluto de acessos. taformas tem surgido. É o caso da Looke, como Netflix e o Now, da Net, novas pla

Que horas ela volta?: Olmo e a gaivota: estratégia diferente disponível no Looke Fotos: divulgação Fotos:

Latitudes, produção da O2: estreia no YouTube

18 • Revista Filme B + março 2016 que começou a operar em setembro de 2015, sem muito alarde. São cerca de “Os números do VoD ainda não chegam shows e programas, em sistema misto: pornove assinatura mil títulos, (R$ entre 18,90 filmes, para acesso séries, perto daqueles em três telas diferentes) ou transacio- do homevideo de vendas para download). Iniciativa da de antigamente, empresanal (locações de tecnologia de R$ 3,90 Encripta, a R$ 9,90, a plata além- forma surgiu como sucessora do extinto mas ele já se comércio digital do grupo Saraiva. Hoje, são 800 mil cadastrados (o número de tornou uma etapa assinantes não é divulgado). Este ano, a importante para os entrada de um grupo americano na so- ciedade deve capitalizar a empreitada. produtores”

Navegando pelo site, nota-se um acer- Karen Daylac, gerente de aquisição do vo rico em títulos recentes, como Mad Telecine Max – Estrada da Fúria, a comédia Um senhor estagiário e o brasileiro Olmo e ência curta e pontual nos cinemas antes ta com canais de TV – uma venda única a gaivota. Mas é inevitável a pergunta: de irem para o VoD. Podem ser algumas por um valor acordado entre as partes. sessões apenas em parceria com uma Já nos transacionais, serviços como o assinatura semelhante e tem no acervo como competir com a Netflix, que cobra dia, com lançamento em VoD já no dia faturamento num primeiro momento, sei se é o caso de se considerar concor- ONG, ou dez sessões em sala num único iTunes costumam ficar com 30% do dezenas de produções originais? “Não seguinte”. para outros serviços e plataformas”, diz Latitudes - quepassando entram depois em catálogo a 40% doe por que fimsobre 50% os orente. diretor O queda Looke, sabemos Luiz é Guimarães. que há espaço recentes.– ou seja, elas ganham mais por filmes , ficção com Daniel de Olivei- Uma das alternativas, claro, é se dife- ra e Alice Braga, foi concebido pela O2 jeto transmídia, destinado a cinema, TV Novas estratégias renciar. A Looke está apostando em Play desde as filmagens como um pro Mesmo sem lidar diretamente com as da cadeia tradicional: primeiro estreou de controle de conteúdo; um acervo de plataformas de VoD, os produtores bra- numpaga canale internet. no YouTube, O caminho para foi depois o inverso ser showsserviços exclusivos como o Looke de artistas Kids, comocom filtros Anit- sileiros hoje repensam a trajetória de de canais de nicho como o Fish Channel, uma versão reduzida exibida nos cine- ta, O Rappa e Chico Buarque; programas masexibido como no longa. canal TNT e só no fim ter de pesca; e pretende expandir o acervo todaseus essa filmes sequência diante dade janelas nova realidade. clássicas dos títulos religiosos e de conteúdo re- Segundo Igor, o momento é de segmen- “Vivemos um momento de reestudar gional, incluindo uma página dedicada a - passamos cem anos acostumados”, diz curtas brasileiros. zindo conteúdo que está cada vez mais Fabianode lançamento Gullane, dos produtor filmes com de as longas quais tação e curadoria. “É tanta gente produ como Até que a sorte nos separe, O lobo Conteúdo segmentado atrás da porta e Que horas ela volta? - quedifícil nos encontrar ajudem oa queformar tem nossas a nossa grades cara”, entendermos como isso vai se moneti- ram a navegar na maré de distribuição individuais”.diz. “Uma saída Para é irele, atrás a TV de decuradores antiga- zar, ainda levaremos alguns anos”. “Até digital.Produtoras A empresa como ade O2 Fernando também Meirel passa- mente deve continuar a reinar no uni- - verso das experiências ao vivo, como os periência de cross media que tem como Casé, sucesso de público e crítica, como realities. les lançou recentemente a O2 Play, ex algoEle cita diferente a trajetória do que do filmeestavam com acostuRegina- Igor Kupstas, diretor da distribuidora, jogosA lufada esportivos de novidade ou as finais trouxe de outros mados a lidar na produtora. Ainda em oparceiros momento iTunes, é de testar Netflix dezenas e Now. de Para no- elementos para a mesa de negociação. cartaz nos cinemas, o longa foi lançado vas alternativas para o lançamento de Kupstas explica que o contrato com ser- em DVD para as pré-vendas de Natal. - viços de SVoD é muito similar àquela fei- Enquanto isso, entrava no Telecine Play um longa. “Muitos vão ter uma experi

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e no Now, para aluguel transacional. Aí adaptação para cada tipo de tela e sis- reside a primeira diferença: no transa- tema operacional. Quando entrei nesse cional, a renda para o produtor é maior, mercado, achei que meu trabalho maior CONHEÇA OS TIPOS e ele recebe relatórios regulares de seria o licenciamento, mas metade da DE VOD minha equipe hoje é de engenheiros de - software”, explica Fábio Lima, da Sofá FVoD (free VoD) - VoD gratuito, ou toracesso não etem renda mais do controle filme. Para da sua os perforSVoDs,- Digital, uma das mais requisitadas des- seja, o usuário não precisa pagar o filme é vendido só uma vez, e o produ sas prestadoras. para assistir aos conteúdos. A maior parte das plataformas as- Para ele, o audiovisual chegou a uma temmance. que “Para haver entregar uma negociação seu filme que direto va- socia anúncios aos vídeos, com nova era com a distribuição digital. lhapara a opena”, Netflix, explica avançando o produtor. outras janelas, receita compartilhada (ou não) com os titulares desses conteú- Segundo Fabiano, o mercado ainda está binária, ditada pela tradição. Ela de- dos. Exemplo: YouTube. acomodando os novos players e não há pende“Agora, do a janelaproduto. de Tudoexibição é possível”, não é mais re- - sume. SVoD (subscription VoD) - servi- tumam respeitar o chamado revenue ço por assinatura. O usuário faz shareregras definidas, mas os contratos cos um pagamento periódico para ter acesso a um catálogo. Os vídeos : de todo o faturamento do filme são licenciados para a platafor- prazo,em qualquer o VoD mídia,vai ser o aprodutor janela de fica maior com ma mediante pagamento aos ti- rendacerca deda cadeia”, 50%. “Num aposta. futuro de médio tulares. Exemplo: Netflix. Para o produtor, as novas plataformas TVoD (transactional VoD) - o pa- não farão milagre – mas introduzem gamento, aqui, é por título que uma solução viável para a exploração o usuário quer acessar. A tran- sação pode dar direito a um nú- mero limitado de visualizações asdos novas filmes plataformas depois de vão esgotados democratizar outros (aluguel) ou a utilização perma- oelos acesso, da cadeia. mas percebe“A gente queouve aquilo dizer que nente (eletronic sell through, faz sucesso no cinema é o que se destaca ou EST). Há um repasse das re- no VoD. No entanto, esses novos canais ceitas obtidas para os titulares. são importantes para dar perenidade ao Exemplo: iTunes.

CATCH UP - também chamada de filme”.Segundo Walkíria Barbosa, da Total, é vital que o cinema brasileiro ocupe logo replay TV. São conteúdos origi- seu lugar nos novos meios de distribui- nalmente transmitidos na pro- gramação de canais de TV que podem ser vistos mais tarde, por doção. homevideo “O VoD é ae grandeo crescimento saída para da piranós,- assinantes (no caso da TV paga). taria”,depois diz que a perdemosprodutora, bilhões responsável com o pela fim “Agora, a janela O acesso pode ser feito sem pa- franquia Se eu fosse você gamento adicional além da assi- brasileiro não deve ser tratado como de exibição não é natura. No caso da TV aberta, a gueto. Agora é o momento. “Mas de fortalecer o cinema mais binária, ditada reprise é gratuita. Exemplo: Net. os players que já estão no mercado”. OTT (over the top) - qualquer con- on demand trouxe também um com- pela tradição. teúdo ou serviço que requer uma ponente tecnológico para essa equa- Ela depende do conexão à internet para ser aces- ção.O Agora, as produtoras recorrem sado. Não se trata de um modelo a serviços de agregadoras (empresas produto. Tudo é de negócio, apenas uma forma de entrega da obra audiovisual. das obras) para chegar às plataformas. possível” Exemplos: Netflix, YouTube. que atuam na codificação e metadados Fábio Lima, diretor executivo da Sofá Digital “Cuidamos da formatação dos arquivos,

20 • Revista Filme B + março 2016 vídeo sob demanda

Desafios da regulação

Rosana Alcântara, diretora da Ancine, conta como tem sido a árdua missão de elaborar regras para o conteúdo sob demanda no Brasil. Discussões incluem temas como cotas e tributação

Quando os primeiros serviços de video on demand surgiram no horizonte bra- sileiro, ao consumidor coube a parte boa: o boom de novos conteúdos au-

diovisuais ao alcance do controle e do divulgação Foto: qmouse. Já o governo federal, responsável por regular esse mercado, ganhou uma batata quente. Que regras aplicar a um serviço que não estava previsto na cria- ção do Conselho Superior do Cinema, em 2001? Como tributar essas novas empresas, muitas delas estrangeiras? E como assegurar que a produção brasi- leira teria vez? A tarefa tem exigido reuniões, fóruns e - sionais do setor e dos representantes dadiscussões União, incluindo acaloradas a Agência entre os Nacional profis do Cinema (Ancine). Nesta entrevista à DESAFIO com todos aqueles que estão represen- Revista Filme B+, a diretora da agência tados no conselho, que inclui TV aberta, Rosana Alcântara explica as caracterís- Temos participado de vários seminários fechada, exibidores, distribuidores, pro- ticas dessas novas plataformas e conta e workshops aqui e fora do país. Essa como o governo tem se articulado para não é uma matéria simples, envolve estabelecer regras claras para o VoD, representação ainda. Todos estão preo- muitas inquietações de diferentes agen- dutores. E também as OTTs, que não têm incluindo a garantia de oportunidades tes econômicos. E implica também ca- racterísticas locais, porque impulsiona cupados em relação a uma definição - um mercado muito promissor. ou atravanca a produção regional. Por mais clara dessa questão. E identificam cospara da os conversa. filmes e séries brasileiros nessa nova vitrine. Confira os principais tópi outro lado, o vídeo por demanda tem REGULAÇÃO MÍNIMA CARACTERÍSTICAS aspectos que rompem a territorialidade, Por que não partimos para uma regula- Ao falar de VoD, não estamos falando de mentação cinco anos atrás? Acho que o vista regulatório. Estado tem que observar como o setor qualquer conteúdo que vai parar na in- daí os desafios importantes do ponto de caminha e não sair na frente, porque ternet. São serviços que têm curadoria, CONSELHO DO CINEMA produções com qualidade de roteiro, de pesquisa. De plataformas que podem Hoje esse é um mercado que pulsa e pode aprisionar e criar dificuldades. ser rentabilizas e que têm publicidade. que discute as macropolíticas do audio- tem todas as condições de crescer for- O Conselho Superior do Cinema, órgão São empresas que quando fazem seus visual, tem conduzido esse debate. Essa temente. Por isso temos a ideia de uma foi a pauta quase única durante o ano de regulamentação mínima, que ajude seu 2015. Foram três ou quatro reuniões, desenvolvimento. catálogos agregam valor, definem perfil, fidelizam clientes. 22 • Revista Filme B + março 2016 NO MUNDO “Hoje esse é um que o segmento de vídeo por demanda A Europa vem tratando desse tema há e de outras plataformas. O resultado é mais de seis ou sete anos. Em setembro mercado que valor, aplicado de forma literal, diferen- passado, foram colocados em consulta pulsa e tem todas tesestá agentes, na rubrica alguns “outros de nós mercados”. também, Esse en- pública regras e escopos de uma segun- tendemos que é pouco condizente com da diretiva para regulamentação de ser- as condições de o mercado. Valora demais. Uma das ten- - crescer fortemente. dências que surge mais fortemente é a viços na internet, especificamente de ví da contribuição percentual por empresa Por isso temos que atua no mercado. conceituandodeo por demanda. o que Vários é VoD, países detalhando fizeram suasregulamentações similaridades próprias e diferenças e específicas, para a a ideia de uma FUTURO TV, trabalhando aspectos como cotas regulamentação Vários players internacionais procura- para conteúdos locais, proeminência e ram a Ancine para discutir regras e criar tributação. mínima, que a segurança jurídica para poder investir PRODUÇÃO LOCAL em seus negócios para o futuro. Da mes- ajude seu ma forma, produtores independentes Um desses aspectos que temos discutido desenvolvimento” é a proeminência, que a forma pela qual diferentemente do que era há quatro, o conteúdo local é disponibilizado. Iden- cincocomeçam anos, a quandoficar atentos o VoD e estava alertas previs para,- linha de coprodução, mas isso ainda não direitos”, com valores muito baixos, co- vendidostificamos como que os étnicos filmes por brasileiros, esses gran em- está na ordem do dia. to em uma cláusula pequena de “outros alguns casos, ficam quase perdidos. São des grupos econômicos. A forma pela EMPRESAS qual empresta inteligência na curadoria meçaremTRÂMITE a ter contratos específicos. e comunica para o público o que quer É importante que as empresas envolvi- das nesse novo mercado tenham sede vender já constrói caminhos de indução. supridas por uma instrução normativa. Fi- ou representação forte no Brasil, que se- A Europa construiu vários critérios em cariaEssas frágil. questões Pode do até VoD ser dificilmente que aconteça seriam em jam tributáveis. Além disso, é necessário relação a esses elementos visuais: tem- um horizonte em que não exista nenhuma que cobrem em moeda brasileira, que os po de trailer, exposição nas plataformas, outra solução. Mas achamos que o melhor destaque para os conteúdos locais quan- contratos sejam em língua portuguesa. caminho é construir marcos claros. Este do entram no catálogo. São aspectos que De tempos em tempos fazemos um le- ano será o do avanço do debate dentro temos achado relevantes. vantamento dessas companhias em atu- do governo, vamos caminhar para termos ação no Brasil. Diria que, hoje, cerca de COTAS um instrumento legal, um projeto de lei, 80% delas têm registro na Ancine. para oferecer ao Congresso Nacional nes- A política de cotas para o VoD não seria NOVOS PLAYERS te primeiro semestre. uma reprodução da experiência bem- PRESERVAÇÃO -sucedida da TV paga. As características Esse é um mercado com muitas possi- são completamente diferentes. Mas es- bilidades de entrantes e a gente acha tamos analisando as possibilidades de importante que eles existam. É um lugar dado uma atenção especial à proposta ter um percentual dentro do catálogo e de oportunidades. É importante ofere- deO ministro criar uma da plataformaCultura, Juca semelhante Ferreira, tem ao do que está sendo exposto durante um cermos uma harmonização regulatória período. Vários países construíram re- em que caibam todos esses diferentes Brasileira ou do próprio Centro Técnico gras assim, como a França. agentes. Audiovisualpapel que tem (CTAv). fisicamente Seria uma a Cinemateca iniciativa importante no campo da preservação e COPRODUÇÕES CONDECINE da difusão audiovisual, que não concor- Vemos com bons olhos a ideia de esti- - reria com os players comerciais. Mas ela mular a parceria de produtores inde- cine, contribuição voltada para o setor, passa necessariamente por uma grande e O marco legal para a cobrança da Conde pendentes nacionais e esses provedo- é a Medida Provisória 2228, de 2001. complexa negociação com os detentores res. É um caminho promissor. Estamos Naturalmente, ali não se podia prever a de direitos das obras audiovisuais que estudando a criação de a criação de uma evolução e desenvolvimento da internet serão disponibilizadas.

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entrevista

ERIK BARMACK Vice-presidente de conteúdo original local da Netflix Foto: divulgação Foto: “Queremos que nossos produtores sejam parte de uma iniciativa global”

Qualquer conversa sobre as novas maneiras Para a Netflix, qual a importância das produções feitas no Brasil? É um fator-chave para garantir o interesse de seus assinantes no país? de se consumir TV hoje passa pelo Netflix. A plataforma de streaming conhecida por Procuramos oferecer o melhor conteúdo para os nossos assinantes, e existem histórias fantásticas do mundo inteiro que merecem ser séries originais como House of Cards e Orange is the New Black começou a operar foi nosso objetivo: oferecer um bom serviço, por um preço justo e contadas. O fator chave é a satisfação do consumidor, e esse sempre no Brasil e em outros países da América conteúdo de alta qualidade. Além disso, dar às pessoas a opção de ver o que quiser, quando e onde quiser ajuda a aumentar nossa base do Sul em setembro de 2011. Depois de de assinantes no Brasil e no mundo. Dito isso, trabalhamos para ofe- contratar José Padilha e Wagner Moura para recer não só conteúdo brasileiro para os assinantes daqui, mas para a produção internacional Narcos, sobre o nossos assinantes no mundo inteiro. 3%, nossa primeira série ori- ginal, estará disponível em 190 países para mais de 75 milhões de traficante Pablo Escobar, que rendeu a Moura assinantes [desse total, 45 milhões estão nos EUA. A empresa não di- uma indicação para o Globo de Ouro, a vulga o número de usuários no Brasil] empresa dá em 2016 outro passo estratégico: local tem sido uma prioridade para nós desde que lançamos nosso . O licenciamento de conteúdo a produção de sua primeira série original no serviço no Brasil, em 2011. Temos uma ótima experiência com os - Brasil, a ficção futurista 3%. Na entrevista damentais para o sucesso internacional de Narcos. E agora estamos a seguir, Erik Barmack, VP de produções orgulhososprofissionais de brasileiros. trabalhar com José Cesar Padilha Charlone, e Wagner que Moura já foi indicado foram fun ao originais da Netflix, que atua há cinco anos 3%, e com [os atores] João Miguel e Bianca Comparato. na empresa e é um dos palestrantes mais Oscar e é um dos diretores de aguardados do RioContentMarket, fala sobre Quais os fatores que levaram a empresa a escolher A toca, de Felipe as estratégias da companhia para a produção Neto, e agora 3% como seus lançamentos exclusivos no Brasil? E por que uma série de ficção científica? de conteúdo e o crescimento da base de São dois projetos diferentes. A toca foi um acordo de licenciamento assinantes no país. – fechamos um contrato para exibir a série em primeira mão para os nossos assinantes, assim como fazemos para muitos outros títulos. Por Thiago Stivaletti Já 3% é nossa primeira série original realizada no Brasil a ser exibi- da no mundo todo. É um intenso drama pessoal dentro de uma pre-

26 • Revista Filme B + março 2016 “Dar às pessoas a opção de ver o que passa por uma supervisão de profissio- quiser, quando e o gênero tem fãs não só no Brasil, mas nais da Netflix nos EUA? missa de ficção científica. Sabemos que onde quiser ajuda a no mundo inteiro. Tentamos ao máximo preservar a liber- dade criativa, buscando colaborar com aumentar nossa base Quanto foi investido em 3%? os produtores e criadores. Quando pode Não divulgamos números. de assinantes no americanos e outros grupos criativos. Brasil e no mundo” Que outros gêneros e públicos vocês Queremosser útil, que apresentamos nossos produtores profissionais sejam gostariam de mirar nos próximos anos parte de uma iniciativa verdadeiramen- no Brasil? te global. Estamos de olho em gêneros que sejam locais e mostrem perspectivas únicas de O que a Netflix já sabe sobre seus assi- histórias contemporâneas situadas es- nantes no Brasil? divulgação Fotos: - Sabemos que os brasileiros são apaixo- tamos produzindo em muitos países, da pecificamente no Brasil. Atualmente, es nados por TV e grandes fãs da nossa pro- África à América do Norte, e só vamos gramação original. Séries como Darede- expandir esse movimento. Estamos or- vil, Orange is the New Black e Narcos são gulhosos de nossos produtos feitos fora muito populares no Brasil. dos EUA. Narcos foi uma grande surpre- 3% sa, elogiada não só pela crítica e indica- Qual o mercado potencial que ainda Club de cuer- pode ser conquistado aqui? Club de cuervos vos, nossa primeira série fora dos EUA, foida aum dois sucesso Globos não de Ouro.só no México, mas banda larga no Brasil vai continuar nos com espectadores de língua espanhola ajudandoO desenvolvimento a fornecer da uminfraestrutura bom serviço de em outros países, incluindo os EUA. Em por um preço justo, enquanto os consu- 2016, vamos lançar Marseille, produzi- midores são apresentados aos muitos da na França, The Crown, feita no Reino online, sendo o maior Unido, e 3%. Teremos mais de 600 horas deles o poder de controle [sobre a pro- de programação original, incluindo as benefíciosgramação] .da Esperamos TV ter um cresci- mento constante do nosso negócio no - país nos próximos anos. poradasnovas temporadas de séries infantis. de cerca de 30 séries, oito longas-metragens e 35 novas tem Como se dá hoje a negociação dos direi- Que conselhos você daria para os produ- tos de filmes brasileiros para o catálogo tores interessados em fechar uma parce- da Netflix? Existe uma política formata- com o Now, plataforma on demand da ria com a Netflix no Brasil? da de remuneração aos produtores e/ou operadora de TV paga do grupo Globo. Procuramos histórias bem estrutura- integradores? Investimos em conteúdo local desde que das, que tenham a capacidade de atra- começamos a operar no Brasil em 2011. vessar fronteiras e unir fãs do mundo. os títulos oferecidos aos seus assinan- Um mix de conteúdo é um fator funda- tes.A Netflix Cada licenciaacordo éindividualmente formatado de acordo todos mental para crescer em qualquer região, tipo ou gênero – desde que venha das com a legislação local. Estamos sempre por isso oferecemos um catálogo diversi- melhoresNão classificamos mentes criativas. nem julgamos Mas busca por- atrás de bom conteúdo, mas, da mesma - mos séries que saibam tirar vantagem forma também somos bastante procura- corrente por alguns players locais que ficado. A Netflix ainda é vista como con de uma plataforma on demand. Histó- dos pelos produtores. não querem licenciar seu conteúdo. No rias complexas e altamente serializadas entanto, temos uma forte relação com A Netflix ainda não possui um catálogo muitas emissoras locais e agregadores de expressivo de filmes brasileiros recentes. conteúdo no Brasil. As produções locais Comosempre se foram dá a interação muito bem entre na Netflix. vocês e os A empresa pretende reforçar esse acer- originais também serão peça chave em profissionais brasileiros responsáveis vo nos próximos anos? Imagino que nes- como pensar a programação no Brasil pelas séries? O roteiro de cada episódio, se terreno exista uma forte concorrência daqui para frente.

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TARA SORENSEN Diretora de programação infantil da “As crianças precisam se apaixonar pela história”

Ex-executiva de programação infantil do canal National Geographic, Tara Sorensen assumiu a programação para crianças da plataforma de streaming Amazon. No RioContentMarket, ela vai falar sobre os desafios de produzir conteúdo original para crianças num mercado altamente competitivo, com dezenas de canais de TV paga e atrações online disputando a atenção da garotada.

Por que é importante para um serviço – mas as crianças também precisam se Quais são as principais atrações infan- de streaming como a Amazon lançar apaixonar pela história e pelos persona- tis já lançadas pelo Amazon Studios? programas exclusivos para crianças? gens. Para nossa programação pré-esco- A Amazon oferece uma série de progra- As famílias formam uma parcela grande lar, trabalhamos com um consultor edu- mas originais para crianças de todas ida- de nossa base de assinantes; por isso é des, da pré-escola à faixa dos 6 aos 11 programas não sejam só entretenimen- anos. Depois de , nossa pri- importante fornecer conteúdo de primei- cacional para se certificar que nossos ra linha direcionado a crianças de todas to, mas inspirem o pensamento criativo meira série infantil vencedora dos prê- mios Annie e Daytime Emmy, lançamos as idades, com o qual os pais se sintam e a educação por meio de um mundo de mais cinco séries originais, entre elas bem. Como mãe, é muito bom ser res- aventura e diversão. Gortimer Gibbon’s Life on Normal Stre- ponsável por um conteúdo que a família Você vai participar de um painel no Rio et, série live action indicada ao Emmy; inteira pode curtir e vivenciar junta. Content Market. Tem alguma perspec- ; , indicada ao Que características deve ter um proje- tiva de produzir no Brasil ou na Améri- Emmy; Wishenpoof, e mais recentemente to de programa ou série infantil para ca Latina? Just Add Magic. E já anuciamos uma leva ser produzido e exibido pela Amazon? de novas séries: Thunderbirds Are Go, Não temos novidades para divulgar nes- Danger & Eggs, Dino Dana, If You Give a Em todas as nossas séries, precisamos te momento, mas esperamos encontrar Mouse a Cookie, The Kicks, Lost in Oz, The saber que os pais se sentem bem em re- projetos inspiradores na região, que Stinky & Dirty Show e Niko and the Sword possam interessar nossos assinantes. of Light.

lação ao que estão mostrando aos filhos Just Add Magic Annedroids Fotos: divulgação Fotos:

28 • Revista Filme B + março 2016 netflix 2016

Orange is the new black

Netflix tem calendário cheio Vai faltar de estreias para os primeiros meses de 2016 tempo Por Pedro Curi

MARÇO de DVDs com entregas pelo correio a um serviço de VoD por stre- amingSe a Netflix, os dez levou anos de seguintes 1997 a 2007trouxeram para passarmudanças de umabem locadoramaiores. Dia 4 – House of Cards (4ª temporada) – A primeira Presente hoje em 190 países, a empresa se aproxima cada vez de série original da Netflix, com Kevin Spacey, está de Sum canal de televisão, investindo em conteúdo original e prome- volta, já com uma quinta temporada encomendada. tendo dobrar a produção para esse ano. Dia 11 – Flaked (nova série) – série cômica com Will Além da renovação de séries já consagradas pelo público e pela Arnett, produzida por Mitch Hurwitz (de Arrested De- velopment). que com personagens já conhecidos do público. É o caso de Fuller crítica, a Netflix investe na produção de novas histórias – mesmo House, lançada em fevereiro. A série dá continuidade a Três é de- Dia 18 – Demolidor (2a temporada) – Uma das pro- mais (Full House duções feitas em parceria com a Marvel, ao lado de de um recém viúvo que recebe a ajuda de dois amigos para criar Jessica Jones (que também volta com uma nova tem- ), programa do fim da década de 80 sobre a rotina porada, ainda sem data). O calendário de lançamento as três filhas. depende das outras séries que irão explorar o universo produção de quatro novos episódios de Gilmore Girls, que ainda dos quadrinhos. nãoOutro tem projeto data de que estreia, resgata mas personagens que já teve queridosa maior parte do público do elenco é a ABRIL

originalEm fevereiro confirmada. também foi lançada a série Love, criada, escrita e pro- Dia 1º – The Ranch (nova série) – série cômica com duzida por Judd Apatow, que depois das cultuadas Freaks and Ge- Ashton Kutcher. eks (1999) e Girls (2012) promete um olhar realista sobre relacio- namentos. A série já tem uma segunda temporada encomendada. Dia 1º – Lost & Found Music Studios (nova série) – Voltada para o público adolescente, mostra um grupo de jovens músicos em busca do sucesso. Veja o que mais a Netflix promete:

30 • Revista Filme B + março 2016 Dia 15 – Unbreakable Kimmy Schmidt JULHO BoJack Horseman (3ª temporada) – Sé- (2ª temporada) – Dos criadores de 30 rie cômica com Will Arnett. Rock, Tina Fey e Robert Carlock, a sé- Dia 15 – Stranger Things (nova série) rie foi indicada ao Emmy na primeira – Drama criado por Matt Duffer e Ross Marco Polo (2ª temporada) – Retorno da temporada e já foi renovada para uma Duffer. aventura épica produzida pela Weinstein terceira. Company, sobre o famoso explorador. AGOSTO (2ª temporada) – Drama fami- Dia 15 – Kong: King of the Apes (nova Bloodline série) – Animação para crianças que 12 – The Get Down (nova série) – Criada liar com Kyle Chandler. por Baz Luhrmann (Moulin Rouge!, O promete modernizar a clássica história Between (2ª temporada) – Produção ca- grande Gatsby), a série musical irá ex- de King Kong. nadense. plorar um eclético grupo de jovens do MAIO Bronx em meio às transformações de Lady Dynamite (nova série) – Série cô- Nova York na década de 1970. mica estrelada por Maria Bamford, fa- Dia 5 – Marseille (nova série) – produ- mosa stand up americana. zida na França, estrelada por Gerard AINDA SEM DATA Dépardieu. Green Eggs and Ham (nova série) – Sé- 3% (nova série) – Primeira série brasi- rie de animação infantil inspirada no Dia 6 – Grace and Frankie (2ª tempo- leira produzida pela Netflix. livro de Dr. Seuss, produzida por Ellen rada) – série cômica com Jane Fonda e DeGeneres. Lily Tomlin. Club de Cuervos (2ª temporada) – Pri- meira produção original mexicana, já vai The OA (nova série) – Série dramática JUNHO para a segunda temporada. criada por Brit Marling (Babylon) e Zal Batmanglij. Dia 3 – Word Party (nova série) – Volta- Sense8 (2ª temporada) – Série criada da para crianças em idade pré-escolar, a pelos irmãos Andy e Lana Wachowski. Jessica Jones (2ª temporada) – Depois série de animação conta com a ajuda de do sucesso da primeira temporada, a The Crown (nova série) – Vencedor do filhotes de animais que cantam e dan- personagem da Marvel está de volta. Oscar de melhor roteiro por , çam para desenvolver o vocabulário. A rainha Peter Morgan é o criador dessa série Dia 17 – Orange Is the New Black (4ª produzida na Inglaterra, sobre a família temporada) – Vencedora de diversos prê- real britânica. mios, incluindo o Screen Actors Guild Awards deste ano por melhor elenco em Luke Cage (nova série) – Mais uma uma série de comédia, a trama que gira aventura desenvolvida em parceria com em torno da vida em uma penitenciá- a Mavel. ria feminina já foi renovada até a séti- Narcos (2ª temporada) – A série com ma temporada com a garantia de que a Wagner Moura na pele do traficante Pa- criadora, Jenji Kohan, continuará como blo Escobar ganha nova temporada, com showrunner. produção executiva de José Padilha.

Revista Filme B + março 2016 • 31

comic con Fotos: FlávioFotos: Battaiola no planeta dos fãs Mesmo que você não se considere um nerd ou um geek, Unindo os universos dos é bem provável que já tenha ouvido falar das comic cons, eventos que reúnem milhares de fãs de cultura pop, su- quadrinhos, cinema, TV e per-heróis, games, seriados e cinema pelo mundo afora. Fenômeno que começou nos EUA nos anos 1970, discre- internet num mesmo espaço, Mtamente, e viveu uma explosão a partir dos anos 1990, o conceito da Comic Con chegou ao Brasil há apenas dois Comic Con Experience atrai anos, mas já alcançou força total. mais de 140 mil fãs e se A primeira edição da Comic Con Experience (CCXP) acon- torna espaço privilegiado de dos maiores centros de convenções da capital paulista (a Sãoteceu Paulo em 2014, Expo), em atraiu São Paulo.97 mil Ocupando fãs. Na segunda 39 mil edição, m² de umem divulgação dos lançamentos dos dezembro passado, o evento viu expandir seu público e seu espaço: 142 mil pessoas em 55 mil m2. Para 2016, um grandes estúdios e da Netflix novo pavilhão está sendo construído ao lado do existente, aumentando a área para 70 mil m2 – o equivalente a cerca de sete campos de futebol. Desta vez, os organizadores esperam movimentar 200 mil fãs. Com seus números superlativos, em pouquíssimo tempo Por Thayz Guimarães o evento se tornou uma etapa fundamental da estraté- gia dos grandes estúdios para divulgar seus blockbusters

Rede Globo que, na última edição, fez questão de divul- gare despertou sua série o inédita interesse Supermax de empresas em um como painel a Netflix exclusivo. e a

34 • Revista Filme B + março 2016 - marcar forte presença no evento, como buscamos encontrar a plataforma mais sença com três produções: Reza a lenda, transformaram a maior e mais tradicio- adequada para a apresentação de cada longaO cinema de ação nacional ao estilo também Mad marcou Max; Zoom pre, nal convenção de Hollywood: o antigo conteúdo”, explicou. que mistura live-action com animação; e ShoWest, encontro fechado entre exibi- Califórnia dores e distribuidores que se realiza em NETFLIX PRESENTE Las Vegas desde 1970, foi modernizado Uma das primeiras companhias a aceitar , o primeiro longa de ficção da uma geração inteira de jovens como VJ e rebatizado, a partir de 2011, como Ci- cineasta Marina Person, que influenciou da MTV. nemaCon. a estreia do evento foi a primeira vez em o convite da CCXP foi a Netflix. Em 2014, Um dos segredos de tamanha repercus- Realizar um evento deste porte no Brasil que a empresa de streaming participou são está no contato direto entre o públi- não foi tarefa fácil. A equipe organizado- de uma comic con no mundo. Na ocasião, co e seus ídolos. Na CCXP, os frequenta- - ela trouxe para o Brasil parte do elenco e dores têm a chance de ver ao vivo suas lete – dona do portal de mesmo nome material inédito da série Marco Polo. De personalidades favoritas e assistir, em –,ra oda estúdio CCXP é de formada HQ Chiaroscuro pelo Grupo Studios Ome acordo com Ivan Costa, a estratégia foi primeira mão, a materiais exclusivos. e a Piziitoys, importadora de bonecos tão bem-sucedida que, na segunda edi- colecionáveis. Ivan conta que, em 2014, ção, eles dominaram a programação no PÚBLICO AFICIONADO - auditório principal com o elenco de duas A primeira comic con do mundo, na me para convencer os estúdios, já que séries – Sense8 e Jessica Jones – e do longa época conhecida como comic book con- oos evento parceiros se propunha fizeram uma ser esforço um modelo enor The Ridiculous Six – entre eles, Adam San- vention - híbrido – voltado tanto para o público dler e Taylor Lautner, da franquia Crepús- drinhos”), foi realizada em 1970, no his- em geral quanto para as empresas –, e culo tórico U. (algo S. Grant como Hotel, “convenção em San de Diego, qua havia a ideia de que uma convenção nes- . O evento promoveu uma pré-estreia Califórnia. Pouco mais de cem pessoas no streaming bemsurpresa e muito do filme, rápido depois a dinâmica lançado do diretoeven- to. Eles não economizaram. “A Netflix entendeu nenhum muito cen- boom veio em 1991, quando o evento se issoses moldes era apenas seria um “negócio”modelo e exclusivoque não compareceram ao evento. O primeiro tavo”, diz Ivan. consolidou como o maior dos EUA e pas- estávamosdos EUA. “Nós ligados tivemos a eles”,que explicar comentou. que sou a ser sediado no San Diego Conven- Depois, foi preciso provar que a CCXP Ao se percorrer os corredores da última tion Center. Recentemente, a Comic-Con era um evento importante, que atrairia Comic Con, era evidente a importância americana ganhou novo fôlego e ampli- mídia e funcionaria como uma platafor- da plataforma num evento geralmente tude graças à popularização das fran- dominado pela presença de mega-es- quias de super-heróis e fantasia pro- empresas ‘Vocês têm que estar lá! Vo- tandes dos estúdios Disney, Fox, Sony, cêsma detêm promoção. que estar “Alá!’. gente Quando dizia toparam, para as Universal e Warner. Na instalação da fontes certas de bilheteria e alvo de um duzidos por Hollywood e pela Netflix, público aficionado, disposto a consumir Estande da Netflix na Comic muito além do próprio filme ou série. - Con Experience rience – que não tem relação de licencia- mentoPara Ivan com Costa, a versão CEO americana da Comic –Con a origem Expe do que hoje é mais popular no cinema, na TV e na internet está nos quadrinhos, mas o público já não é mais o mesmo dos anos nerds fãs de HQ. Agora estamos falando de70. uma “Esse indústria público rica, não que se movimenta resume mais mi a- lhões todos os anos”, explicou.

DO SHOWEST AO CINEMACON os grandes estúdios americanos arrega- laremO crescente os olhos. sucesso Eles não da Comic-Consó passaram fez a

Revista Filme B + março 2016 • 35 comic con

empresa de VoD, uma das maiores e mais FILAS INTERMINÁVEIS Star Wars: Episódio VII – O despertar da disputadas do evento, era possível parti- força. cipar de quizzes que valiam brindes ex- A presença do tapete vermelho neste clusivos; cantar num karaokê as músicas- umO perfil negócio dos exclusivo. frequentadores É ostentação também mes é- tipo de evento é outra iniciativa brasilei- -tema de suas séries favoritas; tirar fotos mo”,distinto. Ivan “Brasileirose diverte. Um adora outro um exemplo: brinde, com personagens famosos por meio de entra pelos fundos do palco e só quem público adora os ‘momentos Kodak’. Coi- estára. “Em no outrasauditório Comic consegue Cons, o convidadovê-lo. Nós controle mental” do Kilgrave, o vilão da sasos fãs para daqui tirar não foto dispensam são com umao brasileiro foto. “O interação virtual; e tentar “passar pelo entendemos que se colocássemos o con- série Jessica Jones - mesmo. Vários estúdios entenderam isso vidado entrando pela porta principal, trolada” por uma máquina. Um prato nesta última edição”. É comum ainda ver com acesso a todo o público, mesmo que cheio para os fãs. , ao ter sua mente “con os participantes circulando com elabora- de forma rápida, isso geraria uma como- das fantasias de seus heróis preferidos, prática conhecida como cosplay. - ção, as pessoas ficariam felizes”, explica. americano,Ivan afirma buscandoque o evento estimular brasileiro a inte tem- - cado do encantamento, não é?”. um perfil mais descontraído do que o “E, afinal de contas, a gente está no mer las intermináveis de alguns estandes Mas é bom lembrar que na CCXP nenhu- Quem foi ao evento pôde conferir as fi é criar uma experiência. Você vai ao es- como o da Warner, onde o público podia ma ideia é por acaso ou simples experi- ratividadetande da Disney dos fãs. e “O tem que uma nós piscinaqueremos de bolinhas, vai ao da Fox e tem um ringue Esquadrão Suicida; o da Fox, em que se mas no bom sentido”, brincou Ivan, se entrar numa gaiola temática do filme de patinação. Lá fora não é assim, os es- tinha, em tamanho real, um carro tom- referindomentação. à “Tudopesquisa é friamente anual realizada calculado, pelo túdios têm estandes mais burocráticos, bado pelo herói Deadpool e a casinha do - com apresentação dos lançamentos, - to, que reúne informações sobre esse pú- Omelete, um dos organizadores do even sessão de autógrafos, no máximo”. nos de Capitão América – Guerra Civil e Snoopy; e o da Disney, com seus figuri blico. Segundo o CEO, é com base nesses

A Disney montou uma piscina de bolinhas para promover Procurando Dory Fotos: Daniel Déak Fotos:

36 • Revista Filme B + março 2016 Fotos: FlávioFotos: Battaiola Fotos: Daniel Déak Fotos:

Os estúdios marcaram forte presença na CCXP. Acima, os estandes da Warner, Fox, Disney, Sony e Universal

e apoio, operação e sistema de projeção sem deixar de lado as questões comer- Nosso público é dedicado ao ponto de da Cinebrasil. Nele acontecem as princi- ciaisresultados e de contrato”, que o evento esclarece. é calibrado, De acordo “mas saberreta, aque crise não não vai influenciou abrir mão emdaquilo”, nada. pais apresentações do mercado de cine- com o estudo mais recente, 55% dos fãs ma, TV e VoD, além de pré-estreias. Na da cultura pop no Brasil têm entre 20 e há uma demanda reprimida para um edição deste ano, que será de 1 a 4 de 29 anos e renda familiar média entre três eventoafirma. dessa Muito magnitude, pelo contrário: já que aindaexis- dezembro, a ideia é continuar investin- e seis salários mínimos. tem outros do gênero no Brasil, mas do em infraestrutura e modernização que não fazem a mesma convergência do encontro, que conta também com CRISE? QUE CRISE? de quadrinhos, cinema, TV e internet outros dois auditórios menores, criando Campo dos num mesmo espaço. novos espaços. sonhos (1989), com Kevin Costner, para Desde o ano passado, o evento conta rganizadores têm planos para levar Ivan cita uma frase do filme - com a parceria da Cinemark, que ad- a CCXP para outras cidades, mas a repro- truir, ele virá”. Mesmo num período de quiriu o naming right - duçãoOs o de um evento deste tipo nas mes- explicar o sucesso do evento: “Se cons crise, com forte desvalorização do real, tismo”) do Auditório Thunder, o maior - que poderia tornar o entretenimento do evento. Agora chamado(“direito de Auditório de ba ciação com os estúdios. A solução seria - Cinemark, o espaço é destinado a 2,5 mas proporções é difícil, devido à nego- to como a Comic Con parece não ter mil pessoas e equipado com projeção ria o personagem do Campo dos sonhos: algo supérfluo, os fãs vêm – e um even - seinvestir construírem, em versões os fãs “de virão. bolso”. Como di motivos para se abalar. “De forma di da Barco, sistema 3D da Master Image

Revista Filme B + março 2016 • 37 números do mercado

TV por assinatura e banda larga 2015

O Brasil é o 7º Crescimento do mercado da TV paga nos Projeção de domicílios maior mercado de TV por últimos cinco anos: assinantes até o fim de 2020: assinatura do mundo 67% 22,8 milhões

Crescimento da base de assinantes Total de domicílios assinantes: em relação a 2014: 9% 19,6 milhões

Total de pessoas com acesso Número de pessoas alcançadas a cada aos canais pagos: um ponto de audiência da TV paga: Total de assinantes de banda larga: 60,8 milhões 336 mil 8,5 milhões

Fonte: Mídia Fatos – Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), disponível em www.abta.org.br

OS DEZ MAIORES MERCADOS DE TV POR ASSINATURA NO MUNDO

DOMICÍLIOS COM TV PAÍS DOMICÍLIOS COM TV PENETRAÇÃO* POR ASSINATURA 1 China 406.632.622 275.856.329 68% 2 Índia 178.382.235 141.488.074 79% 3 EUA 118.735.650 101.613.260 86% 4 Rússia 54.565.805 37.220.924 68% Apesar de ser o sétimo 5 Alemanha 38.684.112 23.074.082 60% maior mercado de TV por assinatura do mundo, o 6 França 27.148.446 22.497.478 83% Brasil ainda tem a menor 7 Brasil 64.009.078 19.638.138 31% taxa de penetração do top 10: apenas 31% 8 Coreia do Sul 27.220.372 18.567.617 68% 9 México 29.432.352 16.820.379 57%

10 Reino Unido 26.276.699 15.845.141 69%

*assinante pelo total de domicílios Fonte: ABTA / Dados SNL Kagan - Edição 2015 - dados 2014

38 • Revista Filme B + março 2016 DOMICÍLIOS COM TV POR ASSINATURA - DISTRIBUIÇÃO POR REGIÃO

A região Sudeste concentra nada menos que 62% dos domicílios com TV por assinatura 4% do país 12%

7% 62% Sudeste 15% Sul 62% 12% Nordeste 7% Centro-oeste 4% Norte 15% Fonte: ABTA / Anatel

DOMICÍLIOS COM TV POR ASSINATURA - DISTRIBUIÇÃO POR ESTADO

São Paulo 38% Rio de Janeiro 13% 2% Minas Gerais 8% 2% 2% Rio Grande do Sul 7% 2% Paraná 5% 3% Santa Catarina 4% 3% Bahia 3% 2% Distrito federal 3% 8% Goiás 2% 38% Ceará 2% 5% 13% Pernambuco 2% São Paulo e Rio de Janeiro Pará 2% concentram mais de 50% 4% dos assinantes do país 7% Amazonas 2% Outros 9%

Revista Filme B + março 2016 • 39 números do mercado

DISTRIBUIÇÃO POR OPERADORA

OUTROS VIVO TV GVT 4% 2% 5% OI 6%

NET CLARO TV 37% 16%

SKY 30%

DISTRIBUIÇÃO POR TECNOLOGIA

FIBRA ÓTICA 1%

CABO 39% SATÉLITE 60%

Fonte: Mídia Fatos – Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), disponível em www.abta.org.br

40 • Revista Filme B + março 2016 OS MAIORES ANUNCIANTES DO FATURAMENTO SETOR (2014) total ano crescimento * UNILEVER BRASIL (em R$ bilhões) MATTEL 2010 12,7 19% RECKITT BENCKISER 2011 18,1 43% FIAT 2012 23,8 32% PEUGEOT CITROEN 2013 27,9 32% PROCTER E GAMBLE 2014 32,2 15% POLIMPORT *em relação ao ano anterior O BOTICARIO Fonte: ABTA/SETA CLARO O faturamento leva em conta as receitas de mensalidade por assinatura de CAIXA (GFC) programação, serviços de banda laga, Fonte: Ibope Media - Monitor Evolution - taxa de adesão, serviços de pay-per- banco de dados ME1412TOTALPTV view e outros de VoD, serviços de voz, PENETRAÇÃO publicidade dos canais

2010 2014

TOTAL 28% 47% CLASSE A 79% 86% CLASSE B 47% 65% CLASSE C 16% 37% CLASSE D 5% 13%

Fonte: ABTA

BANDA LARGA

8,5 8,5**

7,4

5,8 4,6 3,2 3,7 2,6 1,2 1,8

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

* em milhões / ** estimativa Fonte: ABTA

Revista Filme B + março 2016 • 41 notas

Uma década de Downtown

Bruno Wainer fez questão de escolher alguns casos anteriores, como Meu pas- o RioContentMarket para dar início às sado me condena, que originalmente foi comemorações do décimo aniversário uma série e gerou dois longas. Mas foi da Downtown, a distribuidora dedica- um acidente não planejado. Agora, será da exclusivamente ao lançamento de algo pensado desde o desenvolvimento”. filmes nacionais que fundou em 2006 Durante essa década, os filmes da Do- e que, desde então, se tornou uma das wntown – em muitos casos lançados em principais responsáveis pela nova onda parceria com a Paris Filmes – já venderam de blockbusters brasileiros. “Fui pela pri- meira vez ao RioContent no ano passado, mais de 70 milhões de ingressos e tive- para uma reunião, e me senti totalmen- ram faturamento total de R$ 1 bilhão, só te humilhado (risos). Percebi na hora a nos cinemas. “Se a Downtown conseguiu importância e a dimensão do evento, e o lugar que conquistou no cinema, onde achei um absurdo estar de fora. Na ver- o ambiente de competição é o maior que dade, achei um absurdo o cinema estar existe (afinal, vamos batalhar o ingresso ausente do RioContent de maneira geral. do espectador com o blockbuster estran- mais ele será visto no video on demand, Afinal, o cinema ainda é uma das progra- geiro), podemos levar essa experiência na TV paga e na TV aberta”. Bruno observa mações mais valorizadas da televisão”. de sucesso também para outros espaços”. também que o VoD está explodindo e tem gerado cada vez mais receita. “O VoD está A presença no RioContent foi também Bruno conta que o cinema responde por uma escolha estratégica, ligada aos pla- mais de 60% do faturamento anual da em- a um passo de substituir a arrecadação do nos da distribuidora para um futuro bas- presa: “Ainda é nosso jackpot”, diz. “É tam- homevideo. Outro detalhe interessante é tante próximo. “Estaremos cada vez mais bém a mídia que gera o preço e o sucesso que os preços entre TV paga e TV aberta, ligados a projetos que já tenham, desde que o filme terá em outras mídias. Sabe- que eram muito distantes, estão cada vez sua concepção, uma ligação entre cine- mos que, com poucas exceções, quanto mais próximos. Hoje, na verdade, já são ma, TV e outras plataformas. Já tivemos maior o sucesso de um filme no cinema, praticamente equivalentes”.

Proibido para menores Comédia e conteúdo adulto. Esses parecem ser os novos trunfos que os executivos do cinema têm na manga para renovar o sa- turado mercado dos super-heróis. A tendência surge depois dos sucessos de Guardiões da Galáxia (US$ 773 milhões no mundo) e do debochado Deadpool (US$ 257 milhões em sua abertura global, US$ 325 milhões em duas semanas), que surpreenderam ao lançar mão de personagens pouco conhecidos, piadas, violência, e, no caso do segundo, classificação etária mais alta. Agora, pelo menos duas adaptações dos quadrinhos, Wolverine 3 e X-Force, ambos da Fox, também miram no selo R (17 anos). O diretor James Gunn já trabalha na continuação de Guardiões. Sobre o fenômeno, polemi- zou no : “Nos próximos meses, se você prestar atenção nos modismos, vai ver Hollywood entendendo errado a lição que Deadpool deveriam ter aprendido e aprovando filmes ‘tipo Deadpool’. Vão tratar você como estúpido, que foi algo que Deadpool não fez”. Fotos: divulgação Fotos:

42 • Revista Filme B + março 2016 Manchester by the Sea Fotos: divulgação Fotos: O presente do futuro

A realidade virtual frequenta as previsões dos futurologistas há anos. Mas esse futuro, final- mente, está bem presente. Em 2015, iniciati- vas de grandes empresas tiraram o conceito dos laboratórios e o puseram nas prateleiras. A Oculus, comprada pela Facebook, lançou o Rift. A Samsung chegou com o Gear VR. A Streaming dá novo fôlego ao Google despachou cinco milhões de cardbo- ard viewers, formato barato feito de papelão cinema independente e lentes. Já a Sony criou o Playstation VR e a HTC, o Vive. Em comum, são dispositivos leves, Principal plataforma do cinema in- os direitos de streaming de Tallulah, usáveis, sem a maçaroca de fios dos primeiros dependente americano, o Sundance com Ellen Page, The Fundamentals of protótipos, e alguns com o smartphone como Film Festival, que se realizou de 21 Caring, com Paul Rudd, e o filme de peça acoplável. a 31 de janeiro, teve uma edição horror iraniano Under the Shadow. E o conteúdo, alguém há de perguntar? Ao que considerada histórica em 2016. Isso parece, ninguém quer perder esse bonde. A A companhia também teria sido porque Amazon e Netflix, serviços Oculus fechou parceria com a Fox em setembro responsável pelo maior negócio do de streaming que tiveram atuações passado para lançar mais de cem filmes no for- festival, a aquisição, pela Fox Search- tímidas em edições anteriores, arre- mato, incluindo clássicos como Alien, o oitavo light, de The Birth of a Nation, de Nate gaçaram as mangas e foram às com- passageiro e novidades como Maze runner. Na Parker, também considerado aposta pras, em muitos casos por valores última edição do Sundance Festival, a seção certa para o próximo Oscar. Rumores robustos. A Amazon, por exemplo, New Frontier programou filmetes e instalações bateu as ofertas da Fox Searchlight afirmam que a Netflix teria dado um imersivas, incluindo um mergulho no mundo e e arrematou, por lance de US$ 20 milhões, mas os pro- de Perdido em Marte. Para esquentar a estreia US$ 10 milhões, Manchester by the dutores preferiram optar por um dis- de Star Wars: O despertar da força, a Lucasfilm Sea, de Kenneth Lonergan. Segun- tribuidor com maior experiência em lançou uma série de curtas chamada Jakku spy. do a Variety, o filme recebeu uma cinema, fechando com a Fox Search- Em abril, o Festival de Tribeca vai programar 23 ovação semelhante à de Boyhood, light por US$ 17,5 milhões. Segundo títulos interativos, que incluem documentários, dois anos atrás, e a compra pode ter John Cooper, diretor artístico do Sun- narrativa e jornalismo. garantido à Amazon “um ingresso dance, os serviços de streaming estão Resta saber se a adaptação dos espectadores na primeira fila para o Oscar do ano ajudando a dar novo fôlego ao cine- será indolor ou se muita desorientação e en- que vem”. A Amazon comprou ainda ma independente, depois dos baques joo ainda virão até que a tecnologia de imer- com a crise do homevideo e a decisão Love and Friendship, de Whit Stillman, são radical esteja plenamente comercial. e o documentário Author: The J. T. dos estúdios de acabar ou diminuir LeRoy. A Neftlix, por sua vez, garantiu suas divisões de cinema de arte.

Gear VR, da Samsung Woody Allen sob demanda

A Amazon encomendou a Woody Allen uma série de comédia para seu serviço de streaming. Será o primeiro esforço do gênero por parte do cineasta, que divulgou um comunicado temperado com sua ironia costumeira: “Não sei como me meti nisso”, escreveu. Serão seis episó- dios de meia hora, ambientados nos anos 60. Estão confirmados no elenco o próprio Allen, Miley Cirus e a veterana Elaine May. Fotos: Getty Images Fotos:

Revista Filme B + março 2016 • 43 entrevista

LIA BAHIA Foto: arquivo pessoal arquivo Foto: Pesquisadora especializada em cinema e televisão A multiplicação dos ingressos

O ano de 2016 começou milagroso para o cinema brasileiro. Antes mesmo de sua estreia, no dia 28 de janeiro, Os dez mandamentos, versão em longa-metragem da novela da TV Record, já contabilizava mais de dois milhões de ingressos, só de venda antecipada. Em um mês em cartaz, o novo blockbuster ultrapassou a marca de cinco milhões de espectadores, superando outro fenômeno do cinema religioso, Nosso lar (quatro milhões de ingressos). Mas com uma novidade: o filme é um derivado de uma novela de TV e prepara o público para uma nova sequência, de volta à televisão. Na entrevista a seguir, Lia Bahia, autora da pesquisa de doutorado A telona e a telinha: encontros e desencontros entre cinema e televisão no Brasil, e atualmente Coordenadora de Audiovisual da Secretaria Estadual de Cultura do RJ, analisa o fenômeno e os principais aspectos da atual relação entre cinema e TV no Brasil.

Qual foi a principal novidade no lança- buído por independentes, e nos surpre- da mento de Os dez mandamentos? ende. Não vamos entrar no mérito se - é bom ou ruim. No caso, o interessan- . São filmes que viram séries, séries- Acho que temos aí três movimentos im- te de se observar é que o cinema não çãoque do viram conteúdo filmes, audiovisual séries que viramnacional. te - lefilmes. É uma estratégia de maximiza Contudo, não podemos esquecer de Os diovisual brasileiro entende que é cada portantes. O primeiro é que o espaço au segundo movimento é a estratégia de Trapalhões e Xuxa, que nos anos 1970 vez mais fundamental a necessidade pode mais ignorar a TV e vice-versa. O pré-compras de ingressos (pela igreja? e 1980 tiveram uma sólida produção de aliança entre cinema e TV no Brasil. pela emissora?) para alavancar a per- que deslizava entre cinema e televisão. Uma das questões mais proeminen- - tes da política pública no país é a não salas de cinema. Sabemos que o cinema laridade entre cinema e TV se torna um integração institucional entre cinema formance e a permanência do filme nas brasileiro se faz no boca a boca, e que é recursoO que muda positivo é que, e inserido atualmente, no processo a circu e TV. Com a Globo Filmes, temos uma produtivo; não é mais visto como nega- integração entre cinema e TV privada. Alguns produtores independentes usam uma luta para manter o filme em cartaz. tivo e de exceção. Com a Lei 12.485, tivemos um avanço dessa estratégia, mas em escala bem me- importante, mas que não dá conta da nor. Os dez mandamentos também assus- O filme tem um final diferente do exi- regulação da TV aberta. Aí vem Os dez bido na TV, que introduz a próxima no- mandamentos, que não tem nada a ver vela da Record. De que maneira você vê tou por este fato. Por fim, não podemos com a Globo nem com o Estado, distri- entra a questão da religião, que é bastan- essa ligação? ignorarte delicada que, e nessecontroversa caso específico, e abre debates ainda importantes sobre sua relação com o au- convergência transmidiática, tendência Os dez mandamentos diovisual no país. mundialÉ um gancho do modelo do filme capitalista para a novela. e tão ce A- Essa estratégia de lançar no cinema lebrada, se apresenta de maneira singu- um conteúdo de sucesso na TV não é lar e contraditória no Brasil. Uma novela novidade. De que maneira isso já foi que se desdobra em temporadas, mas feito no audiovisual nacional? mantém sua estrutura de novela? Uma A TV Globo, com a Globo Filmes, faz -

Foto: divulgação Foto: isso muito bem, com uma metodologia - hibridação clara de modelos. O audiovi própria de fortalecimento do conteúdo ças dentro de suas estruturas e conjun- sual brasileiro segue o fluxo de mudan nacional, desde O auto da compadeci- turas políticas, econômicas e culturais.

44 • Revista Filme B + março 2016 Revista Filme B + março 2016 • 45 números do mercado

CINEMA 2015

A crise que se abateu sobre a economia brasileira em exibidos comercialmente no circuito de salas do país, um 2015 não chegou a atingir o mercado de cinema do país, número 16% maior que o de 2014. Essa alta se explica, que apresentou crescimento pelo décimo ano consecu- pelo menos em parte, pelo próprio avanço da digitaliza- tivo em arrecadação de bilheteria. A renda total chegou ção, que tem facilitado a distribuição de filmes indepen- A 17,1% em relação a 2014, dentes. e o público foi de 170,7 milhões, alta de 8,5%. a R$ 2,31 bilhões, uma alta de com alta de 16,4% em renda e de 10,1% em público. Fo- contínua expansão, chegando a 2.960 salas, e o proces- ramO cinema R$ 266 nacional milhões também arrecadados teve um nas ano bilheterias de crescimento, e 21,6 soO circuito de digitalização, exibidor também como esperado, continuou avançou seu processo bastante. de milhões de ingressos vendidos. Nada menos que 97% das salas do país já trabalham com Como também houve um crescimento proporcional dos projeção digital. filmes estrangeiros, o market share dos filmes nacionais - se manteve estável, com participação de 11,5% em ren- vamente. Nada menos que 435 longas-metragens foram da e 12,7% em público. O número de estreias nos cinemas aumentou significati

AS DEZ MAIORES BILHETERIAS DE 2015

FILME DISTRIBUIDORA ESTREIA SALAS ABERTURA RENDA PÚBLICO

Os Vingadores - Era de Ultron Disney 23/04/15 1359 145.989.000 10.122.961 Velozes e Furiosos 7 Universal 02/04/15 1163 142.480.000 9.880.086 Minions Universal 25/06/15 1137 119.801.000 8.921.138 Jurassic World - O mundo dos dinossauros Universal 11/06/15 1056 90.700.000 6.380.062 Cinquenta tons de cinza Universal 12/02/15 1199 87.570.600 6.686.340 Star Wars: Episódio VII - O despertar da força Disney 17/12/15 1504 74.167.600 4.589.744 Jogos Vorazes: A esperança - O final Paris 19/11/15 1274 62.923.300 4.344.687 Cinderela Disney 26/03/15 927 50.086.600 4.200.863 Bob Esponja - Um herói fora d´água Paramount 05/02/15 796 47.957.700 3.719.937

Loucas pra casar DTF/Paris 08/01/15 605 45.888.600 3.779.702

Fonte: Filme B/BoxOffice Brasil

46 • Revista Filme B + março 2016 Salas

2.960 2.645 2.819 2.529 2.225 2.346 2.063 2.096 1.997 2.045 2.045 2.050 1.817 1.620 1.635

+0,9% +11,1% +9,9% +2,4% +0,0% +0,2% +0,6% +1,6% +6,2% +5,4% +7,8% +5,0% +6,6% +5,0%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Público (em milhões) 170,7 151,2 157,2 141,7 148,9 134,9 117,4 105,0 112,7 90,8 75,0 93,6 90,2 89,3 89,1

+21,0% +15,6% +11,8% -20,3% -3,6% -1,0% -0,2% +26,5% +15,7% +5,0% +5,1% +1,5% +4,0% +8,5%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Renda (em milhões) 2.311,9 1.973,3 1.769,9 1.639,6 1.417,5 1.261,3 970,4 784,5 660,6 695,1 712,7 727,1 412,5 529,7 672,0

+28,4% +24,7% +18,7% -14,3% +3,4% +2,5% +2,0% +33,4% +30,0% +12,4% +15,7% +7,9% +11,5% +17,1%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Revista Filme B + março 2016 • 47 números do mercado

Lançamentos

435 395 337 333 302 278 375 225 336 328 327 197 317 306 154

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Lançamentos nacionais 130 120

98 82 82 85 103 73 82 51 51 76 30 30 30

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Lançamentos estrangeiros

305 264 275 272 251 235 245 195 167 124 227 254 246 232 230

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

48 • Revista Filme B + março 2016 Público do filme nacional (em milhões) 28,1 25,6

22,0 21,6

15,9 19,6 17,8 16,4 10,3 15,1 7,8 6,9 10,7 9,9 8,8 +13,0% +182,0% -25,5% -34,7% -7,4% +4,0% -14,6% +80,7% +61,0% -30,5% -15,2% +86,1% -30,6% +10,1%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Renda do filme nacional (em milhões) 300,0 266,0

225,7

166,9 228,5 134,0 131,4 110,1 154,0 79,0 35,5 40,3 73,8 73,7 69,3

+13,5% +232,5% -17,8% -32,9% -0,1% +7,2% -12,3% +89,6% +71,7% -26,1% -7,7% +94,8% -24,9% +16,4%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Market share do filme nacional

21,4% 19,0% 18,6%

14,2% 12,6% 12,7% 11,6% 14,3% 9,3% 12,0% 12,4% 11,0% 9,9% 10,2% 8,0%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Revista Filme B + março 2016 • 49

navegando

Internet, streaming e os novos hábitos do consumo audiovisual

Fernando Toste

Roteirista, produtor e um verdadeiro “rato” da internet, Fernando Toste começou trabalhando Crédito: Marina Guimarães Guido como crítico e curador de mostras e festivais. Com especial paixão pelo cinema de gênero, foi um dos fundadores do RioFan – Festival Fantástico do Rio, que idealizou e dirigiu por quatro edições. Agora, dedica-se ao roteiro (foi um dos autores de Aurora, longa dirigido por José Eduardo Belmonte, em finalização) e prepara sua estreia na direção com A casa no fim da estrada, para a RT Features, de Rodrigo Teixeira.

Quantas horas por dia você passa navegan- volto é o No Film School e o Cinephilia & da imaginação), eu já havia acumulado do e como a internet ajuda seu trabalho? Beyond. uma considerável bagagem de literatu- ra e audiovisual que devia tudo a ela – e Não sei dizer ao certo, mas passo mais Onde você busca informações sobre fil- foi como voltar para casa. É um marco horas por dia conectado do que seria mes, séries, etc? absoluto e uma fonte constante de ins- desejável – ou mesmo saudável. Quan- piração. É impossível escolher um único - Além dos suspeitos usuais (Variety, episódio favorito, então vou me permi- conectado. É claro que a internet pode Hollywood Reporter, Filme B, etc), de tir selecionar dois: , serdo escrevo,uma grande tenho aliada como na regra pesquisa ficar e des nas onde tiro minha dose diária de informa- Time Enough At Last escrito pelo próprio Serling e um exem- ferramentas para o seu aprimoramento ção, tenho predileção por sites como o plo perfeito do seu estilo irônico, e - TwitchFilm e o IndieWire, que me apre- The , do Charles Beaumont, que - sentam novidades sobre o cinema inde- Howling Man emprestou sua voz única aos avanços da profissional,cados a técnicas mas de um produção dos grandes de roteiros desa pendente internacional com qualidade. série no terreno do horror. efios DIY é separarfilmmaking o joio estão do trigo:em toda sites parte dedi e - cineastas incríveis a partir dessas duas Descobri uma imensidão de filmes e ção motivacional e a autoajuda. Entre fontes. osquase sites sempre dedicados flertam a roteiros com a que mistifica sem- Qual sua série favorita de todos os tem- August e o Go Into the Story, que con- pos, qual a temporada favorita dessa série seguempre justificam aliar bons a visita conselhos estão opráticos de John e (ou de outra), e qual o capítulo favorito de qualquer temporada dessa série (ou de outra)? profissionais a um trabalho analítico de Entre as primeiras séries que vi estavam primeira. Outra boa dupla à qual sempre DIY filmmaking: DIY é a sigla para “do it Galeria do Terror e o remake de Além da yourself”, ou seja, faça você mesmo. DIY film- imaginação, além de outras antologias making, portanto, significa algo como “faça como Amazing Stories e Contos da Cripta. seu próprio filme” - so à série original do Rod Serling (Além Quando, já adulto, finalmente tive aces

52 • Revista Filme B + março 2016 Qual sua série recente favorita? A última que me pegou de jeito foi Making a Murderer. Sendo um fã invete- rado de true crime, é claro que não me contive e me juntei à legião de investi- gadores amadores que segue acompa- nhando o caso pela internet. Assisti à série inteira em dois ou três dias. E é curioso: cheguei tarde ao universo das séries contemporâneas pós-Sopranos, e acho que só consegui me relacionar a partir de longas jornadas dedicadas a Binge watching: hábito de assistir a temporadas inteiras de Mad Men e Bre- séries de uma vez só aking Bad (em DVD ou VoD). Para mim, o binge watching é a melhor maneira de se assistir a uma série. E mesmo admi- Como você imagina o futuro do consumo rando as duas, só fui me convencer do audiovisual? potencial do formato quando vi Ozy- mandias, episódio de Breaking Bad que Acredito que o consumo de audiovisual > FAVORITOS me deixou no chão. Ah, sim, Black Mirror num futuro próximo passa necessaria- e Fargo mente pela ideia de curadoria. Exibi- http://johnaugust.com dores como o Grupo Estação, no Brasil, http://gointothestory.blcklst.com/ também são magníficas. ou o Alamo Drafthouse, nos EUA, vêm http://nofilmschool.com/ experimentando com a ideia de salas de http://cinearchive.org/ repertório e inovando na programação http://variety.com/ – assim como o programa Clássicos Ci- http://www.hollywoodreporter.com/ nemark, do qual sou um grande fã. No http://www.filmeb.com.br/ terreno do consumo doméstico, se a Ne- http://twitchfilm.com/ - http://www.indiewire.com/ deolocadora do bairro, iniciativas como https://www.netflix.com/ otflix Hulu nos (e salva seu acervoda nostalgia conectado da antiga à Crite vi- https://mubi.com/ rion) e o Mubi me lembram as visitas https://www.shudder.com/ àquelas locadoras especiais que tinham Qual foi o último filme de longa-metragem um acervo diferenciado de clássicos e feito para cinema que você viu e em que suporte viu (cinema, TV, computador)? interessantes nesse sentido é o Shudder, - filmes de arte. Uma das iniciativas mais- ti foi o suspense O presente, estreia na ror clássicos e contemporâneos selecio- O último filme “de cinema” a que assis direção de Joel Edgerton. Assisti no Ne- nadosque reúne por especialistasum acervo de no filmes gênero, de infehor- lizmente ainda indisponível no Brasil. nem sei se chegou a ser lançado comer- cialmentetflix – e, paraem salas ser totalmenteno Brasil (o honesto,filme es- treou em dezembro de 2015). Quando se - nero, ultimamente são raras as chances detrata um de lançamento um filme independentecomercial no cinema de gê e não me incomodo de esperar mais um pouco para assistir nas plataformas de - locadoras. VoD, como fiz a vida inteira nas video

Revista Filme B + março 2016 • 53 de olho nas séries

O Santo Graal Como alcançar o almejado mercado de TV nos Estados Unidos

Por Bárbara Rodrigues Mota

Produtora e roteirista com 13 anos de experiência, é consultora da rede americana ABC para o mercado brasileiro. Foi Gerente de Programação da Globo e Diretora de Desenvolvimento da produtora Os Alquimistas, eleita uma das 100 empresas mais inovadoras do mundo. Tem passagens também por Telecine, Riofilme e Oi Futuro.

Após um ano morando nos Estados Uni- cinco anos. Em 2014, esse número pu- narrativas dos seriados, como uma tra- - ma central clara e condensada, e menos renças em relação ao mercado de televi- personagens. Avenida Brasil foi vendida Nesse cenário altamente competitivo, ga- sãodos, no é difícilBrasil. resumir Mas estamos as inúmeras caminhando dife lou para 371. Hoje, são mais de 400. nham as melhores histórias. Segundo Eri- para uma interseção nunca antes vista, ka D. Kennair, Vice-presidente de Comédia Ao mesmo tempo, aqui nos EUA, ganhou graças à combinação de dois fatores: o para mais de 130 países. a e Desenvolvimento Internacional da ABC, força a dramaturgia mais soapy, mais no- aumento da produção de séries de qua- - velesca e melodramática, com relações lidade no Brasil e a busca por conteúdo nagens maravilhosos tem que ir além das familiares complicadas, backstories ela- internacional pelos canais americanos. “a busca por talentos, histórias e perso fronteiras do nosso país”. boradas e grandes viradas. É o caso das Além de cinco canais de TV aberta e mais A ABC tem uma rede de consultores de séries de Shonda Rhimes (ABC) e de Em- de 180 canais a cabo, já é notícia velha o diferentes nacionalidades, da qual faço pire investimento e os resultados de serviços parte, que a ajuda a encontrar essas his- Com um crescente diálogo entre a lin- de streaming - (FOX), a grande revelação de 2015. tórias. As possibilidades são reais: a con- zon Studios. Apesar de não divulgarem guagem americana de seriados e a lin- sultora britânica trouxe uma comédia seus dados de como audiência, Netflix, séries Hulu edo Ama Ne- guagem latino-americana de teleno- que está em desenvolvimento pela ABC, House of Cards, Unbreakable velas, o mercado dos EUA vê um bom sobre a relação disfuncional e codepen- Kimmy Schmidt, Orange is The New Black, potencial para a compra de produtos dente de uma lésbica e seu amigo hétero. etflix do comoAmazon Studios, como Transparent - e Mozart in the Jungle tiveram reconhe- E os critérios usados pela rede, parte micas entre personagens que vão durar brasileiros. “A televisão precisa de dinâ cimento do público, da crítica e das pre- da Disney, deveriam ser a bússola de de temporada a temporada, e o Brasil miações – dado que faltava para legiti- estabelece essas dinâmicas de forma ad- mar seus esforços como produtores de precisam ter personagens incrivelmente mirável com suas novelas”, diz Michelle qualquer roteirista: “Nossos programas entretenimento de qualidade. interessantes e originais”, explica Samie Woodmansee, Gerente de Comédia e De- Falvey, Vice-presidente Executiva de Co- senvolvimento Internacional da ABC. Diferentemente da televisão aberta média e Desenvolvimento Internacional (gratuita e dependente de anúncios e A venda de novelas prontas dubladas é, números de audiência), os serviços de atrás de histórias e mundos bem criados portanto, apenas um pedaço das pos- streaming adotam, agora, a mesma es- edo de canal. autenticidade “Obviamente, emocional, também jáestamos que é sibilidades de receita para o conteúdo necessário criar uma conexão emocio- nacional, a exemplo da empresa Keshet, concepção, na década de 1970, e inves- de Israel, que exportou para o mundo tratégia lançada pela HBO, desde a sua nal com os fãs”. E como isso começa? tem em conteúdo exclusivo, original formatos como In Treatment (original- - personagens”, reitera Samie. Nosso his- mente Be’tipul) e Homeland (origina- bolso mensal para o consumidor. Com tórico“Sempre de dizemos:exportação tudo de novelascomeça prontascom os lemente Hatufim). Alguns seriados da maise inovador, players que competindo justifique por um atenção, desem é antigo, como não poderia deixar de ser, aumentou também o investimento em já que o Brasil produz as melhores do não. E assim é a vida em Hollywood, umaKeshet terra fizeram em que sucesso o sucesso nos EUA, pode outros estar ficçãoSegundo seriada. um estudo do canal FX, a TV é João Emanuel Carneiro, que, não por na próxima esquina, desde que não se acaso,mundo. traz Dentro para suas desse novelas filão, oestratégias campeão pare de produzir.

americana tinha 280 séries de ficção há 54 • Revista Filme B + março 2016 de olho no vod

Cenário de incertezas

Quais os desafios do ambiente de VoD no Brasil

Por Fábio de Sá Cesnik e Gilberto Toscano

Sócios do escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados. Fábio Cesnik se formou em direito pela USP e se especializou na área de mídia e entretenimento. É autor dos livros Guia do incentivo à cultura e Globalização da cultura, ambos da editora Manole. Gilberto Toscano também se formou pela USP, com pós-graduação em Direito do entretenimento pela Escola Superior de Direito da OAB.

Internet, e aproximá-la da ingerência do análise, votação e posterior promulga- streaming tornou possível a disponi- próprio CSC e da Agência Nacional de ção permanecem incertos. O desenvolvimento tecnológico do Cinema (Ancine). A regulação de tal ma- 3 - A ausência de lei e de uma agência audiovisuais transmitidos em período téria e da agência competente para sua governamental competente para regula- determinadobilização de conteúdospelo próprio fonográficos usuário (o e - O mentar e fiscalizar o mercado de VoD. A VoD) por meio da internet. Mas a conti- quer forma, depende da aprovação de regulação do VoD envolve itens como nuidade do crescimento desse mercado regulamentação e fiscalização, de qual- no Brasil depende da implementação ma do art. 61 da Constituição Federal. o registro de agentes econômicos e as de um ambiente juridicamente seguro uma lei específica, a ser proposta na for informações que deverão prestar, ques- 2 - A ausência de regulação do uso de e economicamente viável. Atualmente, tões concorrenciais, metodologia para dados pessoais, essencial na definição de são entraves para essa implementação: eventual criação de cotas para conteú- limites para o uso de dados de usuários dos brasileiros, etc. Se depender do teor 1 - A ausência de uma agência governa- de plataformas de VoD para mapeamento - mental para regulamentação e fiscaliza- e sugestões de consumo de outros conte- mentação do vídeo sob demanda” e da ção da internet no Brasil, essencial para údos. atençãodo documento dedicada “Desafios pela Ancine para aao regula tema, plataformas de VoD que operam sobre conta com poucos princípios e parâme- poderá ser a Ancine tal agência, se assim rede aberta (OTT). O uso de dados pessoais em geral dispuser lei futura. que mais se aproxima ao de plataforma no Marco Civil da Internet, aplicável ao de VoD que opera sobre O conceito rede aberta jurídico é o usotros de(a dadosexemplo em daquelesredes abertas, especificados na Cons- 4 - A definição de um modelo de tributação de provedor de aplicações de internet, tituição e no Código Civil). Isso acarreta saudável para plataformas de VoD sobre previsto no Marco Civil da Internet (Lei incertezas cujas informações são utili- rede aberta e rede fechada. - 12.965/14), cujo art. 5º, VII conceitua zadas (quais os limites e as condições - para uso desses dados) e para as empre- do método de cálculo da CondecineO que apas ser cionalidades que podem ser acessadas sas que se utilizam desses dados (qual a cobradosa – mas pelanão sedisponibilização limita – pela redefinição de conte- aplicações como “o conjunto de fun por meio de um terminal conectado à viabilidade jurídica e a durabilidade no údos audiovisuais nessas plataformas. - médio prazo das ferramentas em que in- nema (CSC), a despeito disso, publicou, vestem para uso de dados de terceiros, a 5 - O enquadramento do direito autoral eminternet”. 17/12/15, O Conselho um documento Superior intitula do Ci- exemplo da indicação de obras audiovi- para comercialização de conteúdos por suais baseadas nos elementos disponí- demanda do usuário. Dado o impacto da vídeo sob demanda”, no qual declara veis do usuário de certa plataforma de - do “Desafios para a regulamentação do VoD). A disciplina desses dados tam- cação pública na arrecadação de receitas sua possível classificação como comuni com serviços de provimento de conexão bém depende da aprovação de Lei no por associação musical de gestão coletiva. deentender internet”. que Um “o VoDargumento não se confundequestio- Congresso Nacional e, em outubro de A relevância dessas questões torna ne- nável do ponto de vista técnico, com o 2015, o Ministério da Justiça encami- cessária a participação ativa de todos os - nhou à Casa Civil um anteprojeto de lei interessados nos processos de constru- lamentação do âmbito da Lei Geral das - ção dessas políticas e das normas que as Telecomunicaçõesprovável fim de afastar e do sua Marco futura Civil regu da cação e apresentação ao Congresso para lastrearão. para disciplinar o assunto, cuja modifi

56 • Revista Filme B + março 2016

de olho no público

Universos paralelos Até onde o público está disposto a ir por uma história

Por Pedro Curi

Doutor em Comunicação, pesquisa temas ligados a cultura de fãs, televisão, juventude e convergência. É professor na ESPM Rio, onde coordena os cursos de graduação de Cinema e Audiovisual e Jornalismo e a pós-graduação de Produção em Audiovisual.

- lineava dessa maneira há tempos, desde Nem toda história precisa de crossovers, tou um amigo em uma discussão no a década de 1950. spinoffs e estratégias em múltiplas mí- Facebook,“Mas eu só quequero começou ver um filme”,com um comen post dias. A lógica transmídia, tão comentada, No seu livro mais conhecido, Cultura da bastante empolgado sobre o trailer de não deve se impor ao conteúdo. E ainda convergência, Henry Jenkins apresenta Capitão América: Guerra civil - tem a questão do público: você deve estar a sinergia como a oportunidade econô- fo veio depois de uma série de mensa- onde sua audiência está. Assim como não M . O desaba mica representada pela capacidade de adianta explorar mídias que não tenham possuir e controlar manifestações de aderência com sua narrativa, de nada um conteúdo por diferentes sistemas de Agentsgens explicando of S.H.I.E.L.D. como, em o filmeque lugar poderia do adianta criar conteúdo para se distribuição. Junto à extensão – a ten- tempoinfluenciar estaria a situada próxima a história temporada depois de seus espectadores nem conhecem o apli- tativa de expandir mercados potenciais Homem de Ferro e de cativo, por exemplo. pelo movimento de conteúdos por esses Vingadores: Era de Ultron, e quais as ex- sistemas – e à franquia – o esforço em Da mesma forma, você pode ter um pro- dopectativas último filmepara odo aparecimento do novo imprimir uma marca e um mercado a duto que agrade a diferentes públicos e Homem-Aranha. criar, para cada um deles, diferentes ca- A mesma situação poderia ter aconteci- uma peça fundamental da cultura da minhos da história a serem descobertos. do em alguma publicação em torno de convergênciaconteúdos ficcionais a que se –, refere a sinergia o título. seria Assim, cabe ao consumidor decidir até Legends of Tomorrow, série lançada no Muita gente vê a convergência como cuidado que precisamos ter nesse mo- fevereiro no Brasil), reunindo persona- uma questão essencialmente tecnológi- mentoonde ele é não está excluir disposto ninguém. a ir. O Um principal espec- gensfim de que janeiro já haviam nos Estadosaparecido Unidos em Arrow (e em e ca, que acabou impactando o comporta- tador que não acessa uma determinada Flash, dois grandes sucessos da TV ame- mento do público – mas o movimento na plataforma ou não conhece algum meio ricana que, por muitas vezes, tiveram verdade é bem mais complexo que isso. não deve se sentir frustrado por estar suas tramas cruzadas com o intercâm- Na verdade, esses padrões de consumo perdendo parte da história. Ele tem tanto bio de personagens e histórias compar- já estavam ali há tempos, ainda que cer- direito ao conteúdo quanto o maior fã. tilhadas – as primeiras cenas de Flash, tamente tenham sido imensamente po- Em um mercado hipersegmentado, não inclusive, apareceram em um episódio tencializados pelas novas possibilidades podemos tratar os nichos como mains- da segunda temporada de Arrow, antes tecnológicas. tream. Há, sem dúvidas, um grupo de- mesmo do lançamento do piloto da série A tecnologia fez com que pudéssemos le- dicado, que acompanha as histórias e sobre o homem mais rápido do mundo. var diferentes conteúdos para qualquer corre atrás dos personagens, encarando A sinergia entre diferentes meios na lugar e nos aproximou ainda mais dele. a experiência como um grande quebra- indústria do entretenimento não é no- Assim, não necessariamente surgiram -cabeça narrativo que espalha peças em vidade. Nas décadas de 80 e 90, acom- novas formas de assistir à TV, mas os há- diferentes plataformas; mas há, tam- panhamos produtos voltados para o bitos foram adaptados à nova realidade. bém, aquele consumidor que se esforça público jovem que eram uma mistura Uma realidade em que nos encontramos para conseguir dedicar uma hora da se- complexa de diferentes mídias, incluin- conectados, e onde nossa vida se dá em mana a uma série, ou comemora quando diferentes plataformas. Nada mais natu- consegue um tempo para ir ao cinema. E musicais, livros e videogames – uma ral, então, que as histórias nos acompa- todos, sem exceção, querem e merecem culturado filmes, jovem programas que, na de verdade, televisão, já seclipes de- nhem, certo? Não necessariamente. se divertir.

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