Alexander Scriabin: Convergências E Divergências 54 Marcos Mesquita
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LIA TOMÁS (Org.) SÉRIE PESQUISA EM MÚSICA NO BRASIL – VOLUME 6 FRONTEIRAS DA MÚSICA: FILOSOFIA, ESTÉTICA, HISTÓRIA & POLÍTICA 1ª edição São Paulo ANPPOM 2016 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA Diretoria 2015-2017 Sonia Regina Albano de Lima (UNESP), Presidente Martha Tupinambá de Ulhoa (UNIRIO), 1ª Secretária Fernando Lacerda Simões Duarte, 2º Secretário Marcos Fernandes Pupo Nogueira (UNESP), Tesoureiro Conselho Fiscal: José Augusto Mannis (UNICAMP), Titular Angela Elisabeth Luhning (UFBA), Titular Sonia Ray (UFG), Titular Lucyanne de Melo Afonso (UFAM), Suplente João Gustavo Kienen (UFAM), Suplente José Soares de Deus (UFU), Suplente Editora de Publicações da ANPPOM Marcos Holler (UDESC) FRONTEIRAS DA MÚSICA: FILOSOFIA, ESTÉTICA, HISTÓRIA & POLÍTICA SÉRIE PESQUISA EM MÚSICA NO BRASIL VOLUME 6 ANPPOM © 2016 os autores FRONTEIRAS DA MÚSICA: FILOSOFIA, ESTÉTICA, HISTÓRIA & POLÍTICA CAPA: XiloWeb (Verlaine Freitas) Reproduzido sob permissão FORMATAÇÃO E MONTAGEM João Paulo Costa do Nascimento Catalogação da Publicação Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da UNESP F935 Fronteiras da música : filosofia, estética, história e política / organizadora, Lia Tomás. São Paulo : ANPPOM, 2016. 472 p. - (Série Pesquisa em Música no Brasil; v. 6) ISBN: 978-85-63046-05-5 1. Política. 2. Estética musical. 3. Filosofia da música. 4. História da música. I. Título. CDD 780.1 ANPPOM Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música www.anppom.com Printed in Brazil 2016 SUMÁRIO Apresentação 05 Fronteiras entre música e filosofia Expressividade e articulação formal na música 09 de Schönberg, segundo Theodor Adorno Verlaine Freitas Músicas sem fronteiras: música e antropologia - 22 Luciano Berio e Claude Lévi-Strauss; música e filosofia - Wolfgang Rihm e Friedrich Nietzsche Ivanka Stoianova Alexander Scriabin: convergências e divergências 54 Marcos Mesquita Prolegômena: Gadamer e a música como modelo 84 para as ciências interpretativas Raimundo Rajobac Corpo e sociabilidade na experiência musical: por 96 uma estética da heteronomia Rainer Patriota Etnicidade e antropofagia cultural: dois temas 112 recorrentes nos estudos da música brasileira no exterior Silvano Fernandes Baia Fronteiras entre música, estética, história e política Música e multissensorialidade à luz de três 130 abordagens filosóficas: Dewey, Merleau-Ponty e Serres Alexandre Siqueira de Freitas O papel do charme na estética musical de 143 Vladimir Jankélévitch Clovis Salgado Gontijo Oliveira A concepção de obra musical em Ingarden 163 Glaucio Adriano Zangheri Música 1941: crítica e história 176 Danilo Pinheiro de Ávila A literatura e a música como formas de resistência 190 Estefânia Francis Lopes Montagem da forma: a relação entre crítica 207 estética e crítica social na música popular brasileira a partir do pensamento de Walter Benjamin Guilherme de Azevedo Granato Paralelismos entre música, antropologia e história 216 José Calixto Kahil Cohon Em torno do inconsciente musical: a noção de 224 Formgefühl em Harmonielehre de Schoenberg como operador de crítica à normatividade tonal Igor Baggio A estética hanslickiana no cinema 233 Jalver Bethônico / Rafael Sodré de Castro Adès, para onde vão as notas? 250 Lucas Paolo Sanches Vilalta Música e filosofia em Noites Florentinas de Heine 286 Marcos Branda Lacerda Música e sacrifício 301 Luigi Antonio Irlandini Apresentação do inapresentável, ocorrência e 324 presença da matéria no sublime musical de Lyotard João Paulo Costa do Nascimento SUMÁRIO Música e cartesianismo 344 Flávio Silva Uma estética do gosto: a ópera francesa do 371 século XVIII em Grandval, Bollioud-Mermet e Blainville Rodrigo Lopes O músico prático no Compendium Musicae 386 de Descartes Tiago de Lima Castro A biografia de Francesco Geminiani (1687-1762) 397 e sua relação com a música inglesa no século XVIII Marcus Held A Metáfora da Coisa: inflexões heideggerianas 417 na canção de Gilberto Gil Paulo Tiné A (re)composição do material musical em 428 Musik für Renaissance-Instrumente de Mauricio Kagel Rafael Ramalhoso Alves John Cage e Música Antiga: indeterminação 443 nas práticas composicionais e interpretativas Renato de Carvalho Cardoso Sobre os autores 453 Apresentação Filosofia da Música é um campo de pesquisas que vem se A organizando em torno da reflexão filosófica a respeito de conceitos centrais que estruturam a Estética Musical. Área em ascensão nos campos das pesquisas em filosofia e música no Brasil, a filosofia da música relaciona-se ainda com questões mais amplas vinculadas à música, tais como o pensamento e a natureza, a subjetividade, a organização do tempo, a função histórica e política na sociedade, entre outros. Visto que os pesquisadores desse campo têm se reunido e publicado com regularidade suas pesquisas, sejam essas no formato de dissertações, teses, artigos ou coletâneas de congressos, os capítulos que compõem o livro “Fronteiras da Música: Filosofia, Estética, História & Política” são a reformulação dos textos apresentados no IV Encontro Nacional de Pesquisadores em Filosofia da Música, evento realizado no Instituto de Artes da UNESP em outubro de 2015, e que contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação e Departamento de Música da instituição e também da FAPESP. "Fronteiras da Música”, livro cuja amplitude se adequa a perspectivas interdisciplinares, intersecciona a própria música com outros campos do conhecimento, transpassando os limites existentes e criando espaços intermediários e diálogos que naturalmente se instalam entre os saberes: literatura, crítica musical, política, antropologia, teoria, análise musical, história, sociologia, para citar alguns. Entretanto, não apenas as fronteiras para o diálogo foram estendidas mas também os autores contemplados: Gadamer, Scriabin, Wolfgang Rihm, Jankélévitch, Serres, Ingarden, Adès, Heine, Grandval, Blainville, Geminiani, Maurício Kagel.....compositores, filósofos e pensadores raramente prestigiados em publicações nacionais. Assim, parece ser oportuno também recordar uma citação do musicólogo Carl Dahlhaus, o qual nos adverte que toda a reflexão que se atrela à música, sejam essas de áreas FRONTEIRAS DA MÚSICA afins ou mais distantes, não podem ser consideradas estranhas à própria música, visto serem pertinentes a ela como objeto histórico ou mesmo perceptivo: afinal, o que se percebe ou o que pensa sobre a música depende, em parte, do que tivermos lido a seu respeito. A todos, uma boa leitura! 6 Fronteiras entre música e filosofia Expressividade e articulação formal na música de Schönberg, segundo Theodor Adorno VERLAINE FREITAS osso objetivo é fazer uma leitura de alguns dos ensaios N iniciais da obra Filosofia da nova música , de Theodor Adorno, agrupando-os sob as temáticas da expressividade — que se liga às de sujeito, inconsciente e linguagem —, e da articulação formal — referente aos vínculos entre particular e universal, entre formas musicais e eventos sonoros singulares. Em linhas gerais, trata-se do modo como a música de Schönberg se apresenta como uma proposta radical de expressão objetiva do sujeito, mediante uma unificação ascensional, em que a forma estética adquire sua legitimidade compositiva atravessando os eventos musicais tomados como fragmentos, como materiais descontínuos, não mais entrelaçados previamente pelo fundamento unificante da tonalidade. I Toda a arte moderna se inicia com uma crítica não apenas ao conceito de obra como totalidade, mas também à própria realidade extensiva, material e concreta. O novo — fundamento de tudo o que se pretende “moderno” — se institui como um movimento de abstração, de negação da aparência de significado pleno, coincidindo com o abandono da figuração nas artes plásticas e de recusa da distensão simétrica do som no tempo. Nesse sentido, as peças extremamente curtas de Webern podem ser lidas como uma crítica a toda concepção de mundo como inteireza, como algo dotado de sentido, evidenciando de forma negativa a própria negatividade da vida em seu núcleo individual, a saber: o sofrimento. A concisão e densidade próprias dessa música de preenchimento mínimo do tempo pretendem fazer justiça à impossibilidade de uma narrativa que ultrapasse a concretude vivencial do indivíduo; FRONTEIRAS DA MÚSICA em outras palavras: ela quer ser anti-ideológica, quer contrariar um discurso que se firma como capaz de aprender o sentido da vida, como uma visão macro de mundo. A música nova almeja uma “expressão negativa”, ou seja, aquela que surge em virtude de recusas, esvaziamentos, mutilações, incompletudes, dissonâncias etc. Uma das críticas que pretendem desautorizar a força da música de Schönberg consiste em identificá-la como ligada ao movimento da música expressiva, dramática, tal como podemos ver desde os primórdios do romantismo, principalmente em Beethoven. Para realizar sua defesa, não é necessário negar alguma continuidade entre a expressividade romântica de Wagner, tanto na música inicial, quanto na madura de Schönberg, sendo mais importante demonstrar o movimento de ruptura. A expressividade romântica era marcada pelo aspecto ficcional, no sentido de que toda emotividade dependia do posicionamento aparente de uma 10 totalidade, que transpunha para o âmbito contínuo da representação musical as emoções a serem figuradas. A diferença fundamental para com a música de Schönberg consiste em que os elementos miméticos, os choques, os traumas, as contradições e as rupturas da unidade egóica e de consciência são trazidos à tona de forma não-suavisada pela ficção de uma