Estrutura Produtiva Agropecuária E Desempenho Econômico Regional: O Caso Do Rio Grande Do Sul, 1996-20081

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Estrutura Produtiva Agropecuária E Desempenho Econômico Regional: O Caso Do Rio Grande Do Sul, 1996-20081 página Estrutura Produtiva Agropecuária e Desempenho Econômico Regional: o caso do Rio Grande do Sul, 1996-20081 Adelar Fochezatto2 e Cristiano Ponzoni Ghinis3 Resumo: Este estudo analisa as relações entre a produção agropecuária e a pro­ dução das atividades industriais e de serviços, buscando mapear as estruturas produtivas agropecuárias mais fortemente relacionadas com melhores desem­ penhos das atividades econômicas urbanas no Rio Grande do Sul. Para tanto, são estimados dois modelos de dados em painel, a partir do método de efeitos fixos: um para os municípios gaúchos no período 2001­2008 e outro para as microrregiões do estado nos anos 1996­2008. Os resultados apontam que o crescimento da produção urbana está relacionado com o aumento da produção agropecuária e que, de modo geral, melhores desempenhos urbanos dos municípios gaúchos estão associados com estruturas produtivas agropecuárias mais diversificadas. Palavras-chaves: Estrutura produtiva agropecuária, desempenho econômico urbano, dados em painel. Abstract: This study seeks to analyze the relationship between rural and urban production activities, mapping the rural production structures more strongly related to better performances of urban economic activities in Rio Grande do Sul state. Two panel data models were estimated, with fixed effects method: one for thes tate cities during the period from 2001 to 2008 and another for the micro regions between 1996 and 2008. Results indicate that the urban production growth is related to an increase of agricultural production and that, in general terms, better urban performances of cities are associated with more diversified rural production structures. Key-words: Rural production structure, urban economic performance, panel data. Classificação JEL: R11, R15, C33. 1 Projeto financiado pelo CNPq. Edital MCT/CNPq n. 14/2010. 2 Doutor em Economia. Professor Titular da PUCRS. Pesquisador do CNPq.E­mail: [email protected] 3 Mestre em Economia do Desenvolvimento. Professor da PUCRS.E­mail: [email protected] 1. Introdução econômica, além de contribuir diretamente com o crescimento do produto agregado, a dispersão A literatura sobre as relações do setor primá­ espacial da agropecuária impulsiona as ativida­ rio com o desenvolvimento econômico tem uma des produtivas destinadas a suprir os mercados longa trajetória. As abordagens tradicionais locais, como é o caso da construção civil, comér­ centravam­se na questão do papel da agricultura cio e outros serviços, formando um círculo vir­ no desenvolvimento econômico e pode­se iden­ tuoso rural­urbano nessas localidades. Tal círculo tificar ao menos um ponto de convergência virtuoso, segundo Tacoli (1998), ocorre na medida entre elas: todas reconhecem a importância das que o setor urbano abre mercado para a produção interações entre a agropecuária e o restante dos agropecuária, gerando o aumento da renda e setores produtivos. Johnston e Mellor (1961) também da demanda por produtos não rurais; isto apontam, em resumo, cinco razões para explicar estimula a geração de emprego nãorural, levando a relação positiva entre o crescimento rural e à diversificação produtiva e beneficiando também a expansão do setor nãorural: a demanda por as localidades no seu entorno; e o aumento do produtos agropecuários aumenta com o cresci­ emprego nãorural gera aumento da renda e da mento econômico e a escassez de oferta pode demanda por produtos rurais. se constituir em um entrave ao crescimento; as Nessa perspectiva do desenvolvimento exportações agrícolas geram divisas e reduzem a regional, trabalhos empíricos recentes, como o de taxa de câmbio, reduzindo as restrições cambiais à Peters (2002), investigam a relação existente entre importação de bens de capital; o emprego do setor a estrutura econômica agropecuária e industrial industrial tende a aumentar com o aumento da e as condições socioeconômicas internas de de­ produção e da produtividade agrícolas; a renda terminadas localidades rurais. O autor analisa gerada no setor agropecuário contribui para o algumas regiões não metropolitanas dos Estados aumento da poupança interna, ampliando as fontes Unidos e conclui que, nestas regiões, confirma­se de financiamento do investimento; e o crescimento em grande parte a hipótese de Goldschimidt, da renda da população rural provoca o aumento segundo a qual regiões formadas por peque­ da demanda por produtos do setor não rural. nas propriedades rurais e que se caracterizam Os estudos mais recentes procuram tratar pela maior diversificação produtiva agropecuária, as relações do setor primário com o desenvolvi­ geralmente apresentam melhor performance mento econômico, não apenas sob o ponto de socioeconômica. vista das relações setoriais, mas também sob o O presente trabalho tem por objetivo analisar as das interações espaciais. Como a produção agro­ relações entre a estrutura produtiva agropecuária pecuária se encontra geralmente bem distribuída e o desempenho econômico dos municípios e no espaço geográfico, a apropriação da renda regiões do Rio Grande do Sul. Parte­se da hipótese por ela gerada tende a apresentar um padrão de que o desempenho econômico dos centros espacial similar. Assim, segundo a teoria da base urbanos é influenciado pelo tipo de estrutura RESR, Piracicaba-SP, Vol. 50, Nº 4, p. 743-762, Out/Dez 2012 – Impressa em Janeiro de 2013 Adelar Fochezatto e Cristiano Ponzoni Ghinis 745 produtiva agropecuária em seu entorno. Deste secundárias e, em maior proporção ainda, modo, busca­se mapear as estruturas produtivas para a produção terciária. Estas mudanças são agropecuárias mais fortemente relacionadas com consideradas partes intrínsecas do progresso melhores desempenhos das atividades econômicas econômico. Mas, nos anos 50, chama­se a atenção urbanas. para as restrições que são impostas pela rápida Para tanto, o trabalho está organizado em transformação estrutural. Numa economia emi­ cinco seções. Após a introdução, na segunda seção, nentemente agrícola, a taxa de transferência de é realizada uma revisão teórica sobre o papel mão de obra para empregos no setor não agrícola da agropecuária na teoria do desenvolvimento é limitada, mesmo com o crescimento acelerado econômico. Na terceira, a estrutura produtiva dos setores industriais e de serviços. Por conse­ agropecuária do Rio Grande do Sulé analisada. quência, o foco passou a ser as restrições que Na quarta, é apresentada a metodologia e são impedem uma transformação estrutural rápida analisados os resultados dos modelos que relacio­ em economias essencialmente agrícolas. Passam a nam a estrutura produtiva agropecuária ao desem­ ganhar importância os estágios de crescimento de penho das atividades econômicas urbanas dos Rostow, que identifica cinco estágios na transição mu nicípios e regiões do estado. Por fim, são apre­ de uma economia primitiva para uma economia sentadas as principais conclusões do estudo. moderna: sociedade tradicional, pré­condições ara a decolagem, decolagem, maturidade e consumo 2. O papel da agropecuária no de massas. Este autor se preocupa, em primeiro desenvolvimento econômico lugar, com o processo pelo qual uma sociedade passa de um estágio para outro e, ao setor agrícola, A literatura inicial das teorias dos estágios é atribuído um papel dinâmico neste processo de de crescimento, conforme a tradição alemã do transição, sendo fundamental nos estágios inicias início do século XIX, é marcada por enfatizar de desenvolvimento econômico. Em síntese, numa as mudanças de distribuição ocupacional com economia aberta, indústrias do setor primário base em cinco estágios: selvagem, pastoril, podem atuar como setores líderes e, num deter­ agrícola, agrícola­industrial e agrícola­industrial­ minado momento, promover a aceleração do ­comercial. O progresso na agricultura só pode crescimento, cabendo à agricultura: fornecer ali­ ocorrer por meio de estímulos de demanda exter­ mentos para a população em expansão, criar na ou pelo impacto de desenvolvimento indus­ mercado para os produtos dos setores industriais trial doméstico. Este último fator seria o mais emergentes e gerar o investimento de capital e o importante, pelo duplo impacto provocado em emprego para os novos setores líderes não agrícolas. função do aumento da demanda por produtos De outra parte, há os modelos de economia agrícolas pelo setor não agrícola em expansão dual, que, na sua forma estática, enfatizam a pouca e pelo desenvolvimento de métodos de produ­ interação entre os setores tradicional e moderno4. ção mais eficientes no meio rural (HAYAMI e Particularmente, autores pioneiros desses modelos, RUTTAN, 1988). como Boeke (1953), criticam as tentativas de ex­ Nos anos 1930, sob a visão das transforma­ plicar a alocação de recursos ou a distribuição ções estruturais, observa­se a semelhança entre os de renda em termos da teoria neoclássica de últimos três estágios (agrícola, agrícola­industrial produtividade marginal, devido principalmente e agrícola­industrial­comercial) e os conceitos de­ à imobilidade de recursos na sociedade oriental, senvolvidos de produção primária, secundária e limitando as transferências de mão de obra e terciária. Os estágios de crescimento são capital entre os setores (YAMADA, 1966). abordados, então, a partir das mudanças cons­ 4 tantes do emprego e do investimento nas ati­ Os modelos de economia dual identificam como setor tradicional a agricultura, e,como moderno, a indústria vidades primárias essenciais para as atividades (HAYAMI e RUTTAN, 1988). RESR, Piracicaba-SP, Vol. 50, Nº 4, p. 743-762, Out/Dez 2012 – Impressa em Janeiro
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