A Moda Refletida No Espelho Da MPB Fashion Reflects in Brazilian Popular Music Mirror

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A Moda Refletida No Espelho Da MPB Fashion Reflects in Brazilian Popular Music Mirror [ 66 ] ] artigos [ [ 67 ] artigo] A moda refletida no espelho da MPB Fashion reflects in brazilian popular music mirror [ FRED GÓES ] É carioca, prof. doutor da Faculdade de Letras da UFRJ, pós-doutor da Universidade de Tulane, EUA, pesquisador CNPq, Conselheiro titular do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, compositor letrista, [ 68 ] ensaísta, contista, dramaturgo. Autor de 12 livros e colaborador de revistas culturais especializadas. Tem mais de 60 canções gravadas por renomados intérpretes da MPB. [resumo] No presente artigo busca-se colocar em foco a recor- rência com que a moda é mencionada nos versos da música popular brasileira, revelando hábitos e costumes da sociedade em diferentes momentos da nossa história , servindo como do- cumento de época. [ palavras-chave ] moda; música popular brasileira; estudos culturais. [abstract] The aim in the present article is to focalize how frequent fashion world is present in Brazilian popular music words (rhymes) and how this presence reveals social customs and habits in different moments of our history as a sort of period document. [key words] fashion; brazilian popular music; cultural studies. A música popular brasileira tem um lugar de grande relevância na for- mação cultural da nossa gente. Fomos educados fazendo um percurso singular, aos saltos, ultrapassando etapas funda- mentais. Analfabetos, iletrados e, por- Os versos da marchinha evidenciam tanto, sem tradição livresca, acabamos que a “Paris tropical” idealizada por Pe- “alfabetizados” pelo rádio que, nos anos reira Passos (o Rio de Janeiro) não perdia 1930 do século XX, era já o mais po- tempo quando o assunto era moda: pular meio de comunicação, ainda que recém-inaugurado na década anterior Tudo à la garçonne (Pedro de Sá (1922). O fato é que somos uma gente Pereira e Américo F. Guimarães) que aprendeu de ouvido, o que sabe é de ouvido e que, com o advento da televi- Hoje no Rio o que está na moda são, nos idos de 1960, transmutou-se de E o que se usa com perfeição ouvinte em telespectador. Fica evidente, Qualquer menina de alta roda por conseguinte, que a relação da gran- Faz um mocinho andar contra a mão de parte da população com a poesia se dá por meio da canção popular e não do Cabelos curtos, bem aparados texto poético literário. Nosso calendário Lindos cangotes nos deixam ver afetivo é costurado por uma trilha sono- Tão sedutores e tão perfumados ra que revela de forma transparente as Que aos gabirus fazem padecer singularidades de cada um de nós. Se é verdade que um segmento da À la garçonne canção faz as vezes da crônica como é É a tal moda de sensação recorrente na marchinha carnavalesca, À la garçonne quando passa em revista os fatos mais Lá na avenida é a toda mão representativos do ano que antecede o [ 69 ] carnaval, podemos, então, afirmar que A mulher moderna, independente, é possível ler, nos versos do cancionei- que buscava se livrar do controle e da ro, aspectos comportamentais diversos dependência do pai e posteriormente do que caracterizam momentos históricos marido, era vista com reservas por um distintos e, conseqüentemente, hábitos expressivo segmento da sociedade. A cotidianos, entre eles a moda. moda dos cabelos curtos na nuca signi- No carnaval de 1925, fez grande su- ficava, em alguns casos, sinal de rebeldia cesso a marchinha de autoria de Pedro como se a adepta ao corte indicasse que de Sá Pereira e Américo F. Guimarães in- ela também poderia igualar-se, usar o titulada Tudo à la garçonne, que atesta o cabelo curto como os rapazes (garçons). quanto o corte do cabelo feminino à altu- O número de canções compostas ra da nuca ganhou ares de escândalo na- por Noel Rosa que trazem traços nítidos quele momento. Antes da transcrição dos da crônica é bastante representativo. versos, vale reproduzir o que nos informa Sempre atento à cena urbana, aos as- Edigar de Alencar no livro O Carnaval ca- pectos circunstanciais da vida cotidiana, rioca através da música. o poeta da Vila Isabel não poderia desa- perceber o valor significativo do código O aparecimento escandaloso do da indumentária, “a boa aparência”, na romance La garçonne (1922), de sociedade. Não é por outra razão que dá Vitor Margueritte, que logo esgo- dimensão poética à pergunta: “com que tou sucessivas edições na França e roupa eu vou?”, no antológico samba − se espalhou por todo o mundo, re- Com que roupa? (1931). Assumindo a percutiu com intensidade no Brasil, voz de um eu-lírico malandro, nos versos no ano seguinte, quando foi lança- finais, afirma: da a edição brasileira sob o título A Emancipada e como subtítulo o tí- Já estou coberto de farrapo, eu vou tulo original. Tudo era à la garçonne, acabar ficando nu/ Meu paletó virou inclusive o cabelo feminino aparado estopa e eu nem sei mais com que na altura da nuca − grande escân- roupa? Com que roupa eu vou pro dalo na época! (1979, p. 164) samba que você me convidou? artigo ] FRED GÓES roupa pra brigar Sou incapaz de machucar uma formiga Não há homem que consiga nos meus músculos pegar Cheguei até a ser contratado Vale ressaltar que a palavra samba, Pra subir em um tablado, na canção, tem sua carga significativa pra vencer um campeão redimensionada, não se limitando à de- Mas a empresa, pra evitar assassinato signação do gênero musical, refere-se ao Rasgou logo o meu contrato quando baile, à festa. Para freqüentar o “samba” me viu sem roupão era fundamental ir bem apresentado. Tarzan (O filho do alfaiate) é outro sam- Na segunda metade de 1930 (1937), ba de Noel emblemático com relação ao o baiano Assis Valente lança com estron- universo da moda. Aqui o poeta chama a doso sucesso o samba Camisa listada, atenção para os ternos com enchimento, gravado por Carmen Miranda, em que enormes ombreiras que modelavam a si- narra a aventura carnavalesca de um lhueta masculina, dando a impressão de respeitável cidadão (tinha anel de dou- que todos os homens eram espadaúdos tor) que, nos dias de folia, decide “soltar a atletas. Provavelmente, inspirado em sua franga”. Logo no primeiro verso nos é in- própria complexão franzina, faz uso de formado que ele veste uma camisa lista- sua verve satírica para assumir a voz de da, ícone da indumentária do malandro. um indivíduo “fracote” que se faz pas- O que chama a atenção em Camisa sar por um verdadeiro “Tarzan” quando listada, além da citação da famosa mar- vestido com um determinado terno de chinha carnavalesca Mamãe eu quero, casimira. A menção ao tecido e o sub- de autoria de Jararaca (1937), é a cria- título (o filho do alfaiate) são indicativos tividade do folião na montagem de sua preciosos sobre a moda das décadas de fantasia de “Antonieta” composta de [ 70 ] 1920 e 1930, ao período anterior ao prê- uma saia de veludo feita de cortina e t-à-porter, quando a vestimenta mascu- uma combinação, peça do vestuário ín- lina era toda confeccionada à mão por timo feminino atualmente em completo alfaiates e camiseiros e os cortes de te- desuso e que consistia em uma espécie cidos eram, preferencialmente, importa- de vestido leve de alças, na maioria das dos da Inglaterra, no caso das casimiras vezes de cetim, ornado de delicadas ren- e dos tropicais. Transcrevo parte da letra: das, usada sobre a calcinha e o sutiã. Para completar a fantasia, um estandar- Tarzan (O filho do alfaiate) te de cabo de vassoura. (Noel Rosa) Camisa listada (Assis Valente) Quem foi que disse que eu era forte? Nunca pratiquei esporte, Vestiu uma camisa listada nem conheço futebol... e saiu por aí O meu parceiro sempre foi o travesseiro Em vez de tomar chá E eu passo o ano inteiro sem com torrada ele bebeu parati ver um raio de sol Levava um canivete no cinto A minha força bruta reside e um pandeiro na mão Em um clássico cabide, E sorria quando o povo dizia: já cansado de sofrer sossega leão, sossega leão Minha armadura é de casimira dura Que me dá musculatura, Tirou seu anel de doutor mas que pesa e faz doer para não dar o que falar Eu poso pros fotógrafos, E saiu dizendo eu quero mamar e distribuo autógrafos Mamãe eu quero mamar, A todas as pequenas mamãe eu quero mamar lá da praia de manhã Um argentino disse, me vendo Levava um canivete no cinto e um em Copacabana: pandeiro na mão ‘No hay fuerza sobre-humana E sorria quando o povo dizia: que detenga este Tarzan’ sossega leão, sossega leão De lutas não entendo abacate Levou meu saco de água quente pra Pois o meu grande alfaiate não faz fazer chupeta Rompeu minha cortina de veludo pra fazer uma saia Abriu o guarda-roupa e arrancou minha combinação E até do cabo de vassoura ele fez um E sim de rapaz folgado estandarte Para o seu cordão Noel, mais uma vez, dando provas da genialidade de seu sarcasmo, reduz o Agora que a batucada já vai come- malandro de Wilson Batista a um “rapaz çando eu não quero e não consinto folgado”, destituindo-o de todos os aces- O meu querido debochar de mim sórios característicos dos malandros de Porque ele pega as minhas coisas vai então: tamancos, como calçado, o lenço dar o que falar branco no pescoço, o chapéu de lado, Se fantasia de Antonieta e vai dan- que considera um equívoco (uma rata). çar na Bola Preta Ainda que aqui o levantamento de Até o sol raiar repertório seja brevíssimo e tenha como intuito dar o pontapé inicial na relação Da conhecida polêmica musical tra- entre moda e MPB, não se pode furtar vada entre Noel Rosa e Wilson Batista, à observação da recorrência com que a que teve início em 1933, há dois sambas vestimenta masculina freqüenta os ver- (Lenço branco, de Wilson Batista, e a répli- sos do cancioneiro.
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