Reprodução E Dinâmica De População Em Synoeca Surinama (Hymenoptera: Vespidae) (*)
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Reprodução e dinâmica de população em Synoeca surinama (Hymenoptera: Vespidae) (*) E. G. Castellón (u) Resumo abertura de acesso ao ninho, posteriormente serrava o galho-substrato, coletando-se o ninho São apresentados dados sobre a produção de m~ chos, ft}meas e imaturos de primeira e segunda gera e a colônia conjuntamente, a coleta de ninhos ção, e análises de ninhos deficitários quanto ao núme com colônias se realizava à noite, quando toda ro de eclodidos, indicando uma possível migração ou a população de adultos encontrava-se no ninho. formação de enxames periódicos. Evidências de ciclos Para realizar algumas observações, foram monogínicos-pollgínicos são aqui discutidas. Estes te mas abordados, fazem parte de uma série de estraté marcadas algumas vespas com tinta acrilex no giaS alternativas adotadas pela espécie S. surinama pa noto do tórax. r::. assegurar e garantir que a produção de novos Indi O método ele dissecção seguido para os in víduos e sua disseminação tenham sucesso, em respos divíduos da colônia é o método rápido parcial ta à pressão exercida pelos predadores, parasitas e o meio ambiente, assegurando assim, a sobrevivência da de West-Eberhard (1975) . Todos os indivíduos espécie . adultos coletados e que faziam parte das co lônias foram dissecados. O reconhecimento INTRODUÇÃO dos machos em estado de pupa foi feito por contagE'm do número de segmentos abdomi Embora seja conhecido que em Polybiini a nais. Pode-se, assim, diferenciar machos e formação de enxames (pl eometrosis ou poli fêmeas em estágio de pupas maduras e com ginía) é característica, as causas, coordenação apêndices desenvolvidos, como também em das vespas, composição durante as mesmas e estágio adulto. As pupas machos e maduras e fatores reprodutivos são pouco conhecidos. adultos machos apresentam sete segmentos t possível que exista uma co rrelação entre abdominais enquanto que as fêmeas apresen a população inicial fundadora do ninho e a po tam apenas seis segmentos abdominais. O nú pulação final das vesp3s, com estágios inter mero de segmentos antenais dos machos é de mediários. como resultado de fatores intrínse• 13, enquanto que as fêmeas apresentam apenas cos da própria colônia além das pressões am 12 segmentos antenais. bientais. As reprodutoras foram diferenciadas das Este estudo sobre a população dos ninhos operárias pela presença de ovários bem desen de Synoeca surinama L. tem como objetivo es volvidos. clarecer e apontar evidências sobre o processo de rep!"odução, acasalamento, produtividade e RESULTADOS regulação do ciclo das colônias de S. surinama. OVO POSIÇÃO MÉTODOS Depois da chegada de um enxame a um O estudo foi realizado na Fazenda Taperi novo local de nidificação e de formadas as pri nha (02° 25'S, 54° 25'W) e Maicuru (02'Q 20'S, meiras células-base, saem as rainhas do grupo 54° 20'W) no estado do Pará-Brasil. de vespas. Foram coletados 26 ninhos com colônias, Estas rainhas iniciam a ovoposição pelas incluídos os imaturos, se presentes. células-base, acompanhadas de outras operá Para coletar cada colônia, foi colocado um rias que as protegem . As operárias acompa pedaço de algodão embebido de clorofórmio na nhantes variam em r.úmero ao redor da rainha. ( •) - Trabalho realizado pelo projeto Pós-Graduação CNPq-INPA. (* *) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus . ACTA AMAZONICA 10(3): 679-690 . 1980 - 679 Pode observar-se entre 1 O a 25 acompanhantes Jeanne, 1972), as células vazias estimulam a por uma rainha. As rainhas podem, algumas ovoposição em Polistes. vezes, estar desprotegidas porém, em geral, Durante a construção do ninho, a rainha não é o caso comum e outras operárias acom ovoposita sem que existam células-base pro panhantes encontram-se ao redor. Para ovopo priamente ditas. Depois de emergir o adulto, sitar, as rainhas caminham lentamente sobre a célula já com paredes levantadas pode ser as células-base introduzindo a cabeça e, com novamente ovopositada sem que as operárias as antenas no interior das células, fazem um elevem mais as paredes da célula. reconhecimento. Se uma célula-base encon Os ninhos de S. surinama aqui analisados tra-se vazia geralmente. quase de imediato, a não mostram indícios de que as células foram ra inha dispõe-se a ovopositar, e introduz os cyvopositadas mais de duas vezes. Ricnards & últimos segmentos abdominais no interior da Richards (1951) mencionam que em espécies célula-base . Segundo Spradbery (1965). o mes como Polybia rejecta (Fab.) as células podem mo comportamento ocarre em Vespula e Po ser reovopositadas duas ou mais vezes. lístes . Simões (1977) o reporta em Ste/opoly bia pa/lipes (Oiiv.) . A posição dos ovos nas células e células base está sempre no ângulo superior, onde O tempo da ovoposição fai em S. surinama convergem as dois lados superiores da célula, de 3 minutos. Akre et a/ . ( 1976). Spradbery podendo estar também colocados na parte la· (1965) e Simões (1977) dão as médias para ou teral destas paredes. A rainha, ao ovopositar, tras espécies de vespas sociais. Observou-se comumente orienta os ovas seguindo uma mes · nos ninhos 19 a 29 durante 5 dias, a ovopasição ma direção e com o sentido da gravidade. Em exercida pelas rainhas . Em determinados pe Vespula atropifosa (Siaden), os ovos são colo ríodos, pode haver ovoposição por 2 até 5 rai cados entre os lados e a parte central da câ• nhas . Simultaneamente, alguma rainha marca mara (Akre et a/., 1976) . da podia reagrupar-se com outras operárias, sendo substituídas por outra rainha. Num ninho Em alguns casos , numa mesma fileira de de Polybia sericea (Oliv.) em construção, foi células ou células-base encontram-se ovos que possível observar rainhas marcadas que saiam não seguem a mesma orientação dos demais; de um grupo formado por outras rainhas e ope isto sugere que, no momento da ovoposição, a rárias, ovopositavam e voltavam a reagrupar-se rainha coloca o abdome em outra direção pro posteriormente. vocando uma alteração na disposição e orien tação da ovo. Esta alteração na orientaçiio do Já havendo ovopositado, a rainha de S. su ovo não prejudica seu desenvolvimento nem o rinama posta-se com a cabeça na entrada da desenvolvimento das larvas dos prpimeiros es célula-base para dar proteção ao ovo. Este pe tágios. Geralmente, em larvas do terceiro es ríodo de vigilância varia entre 20 a 30 minutos, tágio. há uma reacomodação e ocupam quase ao cabo dos quais a rainha se retira e se dirige a totalidade da célula com seu tamanho. à outra célula-base . Imediatamente depois que a rainha se retira, algumas operárias acampa REPRODUTORAS nhantes começam a aumentar as paredes da célula-base acrescentando polpa. Das 6. 046 fêmeas dissecadas, não se en Para que as paredes das células-base se controu nenhuma que tivesse ovários semide jam elevadas além do nível inicial de constru senvolvidos que fornecesse indícios de ovopo ção ( 1,9- 2,8 mm), é preciso um estímulo para sição ou a regressão dos ovários; sendo que as as operárias. Inicialmente, este estímulo é fêmeas com os ovários desenvolvidos apresen possivelmente dado pela presença do ovo ovo tavam-se de uma forma bem caracterizada com positado e, posteriormente, pelo crescimento a presença de oócitos. Jeanne (com. pessoal). da larva, até chegar a um máximo de altura que ao dissecar uma calónia de S. surinama, encon corresponde ao tamanho das larvas de último trou quatro rainhas com espermatozóides na estágio. De acordo com Deleurance (1950 apud esperm;:~teca e 71 fêmeas com ovários não de- 680- Castellón senvolvidos. Os diferentes tipos de ovários o enxame (veja ninho 45,1 rainha e com a idade estão desenhados em Gobbi (1975) e Simões período estimada em 0,21) ou várias rainhas (1977) . poliginia (Veja tabeia 7, onde se analisaram Em Po lybiini uma fêmea apresenta dois por dissecção 93 fêmeas capturadas e que for avários e cada um é formado de três ovavríolos mavam um enxame) -que durante um período o que totaliza 6 ovaríolos em cada fêmea. O ovopositaram um grande número de ovos para número de oócitos, em cada fêmea fértil, pode posteriormente permanecer só uma rainha - variar de acordo com a idade da rainha e com Moncginia periódica - (veja ninhos 20, 40, 44, a maturação da colônia (West-Eberhard, 1973). IPE = 0,67; 1,77 e '1,73, respectivamente) até Na tabela 1, pode ver-se o número de rainha chegar novamente a um estágio em que se en por ninho. a média de oócitos por ovário por contram várias rainhas no ninho. uma rainha a média de oócitos por ovaríolo por rainha e a idade período estimada. A média de óocito·s por ovários por uma TABELA 1 - Número das rainhas por ninho, média de oócitos por ovário por rainhas, média dos rainha acha-se ao somar-se o número de oóci• oócitos por ovaríolo por rainhas e idade- tos nos ovários de cada rainha, dividindo logo período estimado para cada ninho . A ida- o resultado entre o número de rainhas no ni de-período foi calculada, conforme a fór- nho. A média de oócitos por ovaríolos se obte mula de Richards & Richards (1951) . ve, ao dividir-se a média de oócitos por ovários por uma rainha entre seis. Ninho Rainha Oócitos por Oócitos por Idade período Observa-se, na tabela 1, que na colônia dO no ninho ovário ováriolo estimada ninho 20 não se encontrou rainha e nas colônias dos ninhos 26, 40, 44 e 45 foi encontrada so 8 16 57,37 9,56 1,75 mente uma rainha. 19 28 46,50 7,75 0,46 Tradicionalmente, têm-se definido as espé 20 o o o 1,67 cies de Polybiini que formam ninhos por enxa 21 15 40,00 6,66 1,70 mes e com a presença de mais de uma rainha 22 7 56,57 9.42 1,75 fecundada que põe ovos como "pleiométricas" 23 19 49,89 8,31 1,60 ou "poligínicas ", ao contrário das espécies éle 24 2 48,00 8,00 1,75 nominadas " haplometricas" ou " monogínicas" 25 15 51,60 8,60 1,79 em que uma fêmea inicia o ciclo do· ninho 26 72,00 12,00 0,66 (Rfchards & Richards, 1951; West-Eberhard, 27 21 50,57 8.42 1,72 1973; Gobbi, 1975).