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DOI: 10.5935/0100-929X.20120003 Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 33 (1), 41-56, 2012 ZONEAMENTO DAS ÁREAS SUSCEPTÍVEIS AOS MOVIMENTOS DE MASSA NO MUNICÍPIO DE TARRAFAL, ILHA DE SANTIAGO, CABO VERDE Herculano SPÍNOLA Sónia VICTÓRIA RESUMO Este trabalho consiste numa análise dos elementos do meio natural e antrópico do Município de Tarrafal, extremo norte da Ilha de Santiago, Cabo Verde, com o objetivo de elaborar uma carta de zoneamento das áreas susceptíveis aos movimentos de massa uti- lizando o método AHP (Análise de Processos Hierárquica) e ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). O método AHP é um método de análise multicriterial ba- seado na ponderação ativa, ou seja, onde os diversos atributos relevantes de uma área são representados a partir de sua importância relativa. O potencial das informações abstraídas da carta de zoneamento evidencia que essa análise torna-se cada vez mais uma prática imprescindível para os estudos de instabilidade geotécnica, tendo em vista a necessidade de monitoramento de áreas sujeitas a constantes intervenções humanas. Essa carta poderá ser utilizada na tomada de decisões em nível municipal e no âmbito da defesa civil, bem como para o desenvolvimento de outros tipos de cartografia, como a de perigo e de risco. Palavras-chave: zoneamento, movimentos de massa, susceptibilidade, AHP, Cabo Ver- de, Município do Tarrafal. Abstract This study is an analysis of the natural and anthropogenic elements of the Tarrafal Municipality, located at the northern end of the Santiago Island, Cape Verde, and aims to draw a zoning map of the areas susceptible to mass movements, using the Analytic Hierarchy Process (AHP) method. The synthesis map allowed the identification of areas with higher and lower degree of susceptibility. The potential of the information obtained from the zoning map shows that this analysis is increasingly essential for geotechnical stability studies, in view of the need to monitor the areas subject to constant human intervention. The zoning map of the areas susceptible to mass movements can be used to make decisions, at the municipal level and in the context of civil defense, to develop other types of mapping, such as hazard and risk mapping. Keywords: zoning, mass movements, susceptibility, AHP, Cape Verde, Tarrafal Muni- cipality. 1 IntroduÇÃO tura vegetal e/ou obras de engenharia, por exemplo, levam à exposição do solo, favorecendo esses pro- Os movimentos de massa são processos di- cessos em eventos de chuvas intensas. nâmicos que ocorrem à superfície, geralmente em Esses fenômenos podem ser classificados se- vertentes, desencadeados pela interação de vários gundo o tipo de movimento, velocidade, geometria fatores, tais como tipo de rocha, solo, grau de fratu- de falha, morfometria da vertente, tipo de material ramento, declividade e vegetação. Esses processos removido e grau de alteração, entre outros (SUA- fazem parte da dinâmica natural de formação do RÉZ 1998 apud MUÑOZ 2005). Com relação à modelado terrestre, entretanto, podem se tornar um morfometria das vertentes, a variável declividade grave problema quando intensificados pela ocupa- fornece o grau de inclinação do relevo e está dire- ção humana (SESTINI 1999). A remoção da cober- tamente relacionada à velocidade de deslocamento 41 Spínola & Victória de material e à capacidade de transporte de massas de zoneamento (Figura 1) foi utilizado o método AHP sólidas e líquidas (MUÑOZ 2005). (Análise de Processos Hierarquizados), muito utiliza- Neste contexto, os Sistemas de Informações do para esses fins (ROSA 1996). Trata-se de um mé- Geográficas (SIG) e os métodos de análise espacial todo de análise multicriterial baseado na ponderação são de grande importância para a identificação de ativa, ou seja, onde os diversos atributos relevantes áreas susceptíveis aos movimentos de massa, uma são representados a partir de sua importância relativa vez que permitem a integração de diferentes níveis numa escala que varia de 1 a 9 (Tabela 1). de informações espaciais e auxiliam na elaboração Conforme Silva (2007), o julgamento reflete de prognósticos mais completos e confiáveis da as respostas a duas perguntas: qual dos dois elemen- área de interesse. tos é mais importante em relação a um critério de ní- O objetivo desse trabalho consistiu na elabora- vel superior e com que intensidade, a partir de uma ção de uma carta de zoneamento das áreas susceptí- escala de importância relativa de 1 até 9 (Tabela 1). veis aos movimentos de massa do tipo queda de blo- Após o julgamento, procede-se a cálculos do cos para o Município de Tarrafal, Ilha de Santiago peso relativo de cada uma das variáveis. Todos os (Cabo Verde), utilizando-se o método AHP e ferra- resultados são submetidos ao índice de consistên- mentas de SIG disponíveis no software Arc GIS 9.3. cia (IC, Equação 1) e à razão de consistência (RC, Equação3). 2 Materiais E METÓDOS IC = λmax – n/n-1 (Eq. 1) Sendo IC = Índice de Consistência, λmax = auto va- A leitura dos estudos geográficos sobre a pai- lor máximo, n = tamanho da matriz sagem pode estar associada a aspectos físicos e so- , pode ser calculado conforme a Equação 2: ciais. Para compreender os processos de movimen- λmax , to de massa foram analisados os fatores naturais λmax= ∑ Xw × w (Eq. 2) intrínsecos da encosta (geologia/litologia, fraturas, Onde Xw = total da matriz de ponderação, w = peso. declividade, solo e a cobertura vegetal) e o fator Como regra geral: caso o índice de consistên- antrópico, especificamente a proximidade das vias. cia seja menor do que 0,1, haverá consistência para Realizou-se um inventário dos dados cartográ- se prosseguir com os cálculos do AHP; se maior ficos associados às informações alfanuméricas, que do que 0,1, recomenda-se novos julgamentos até incluiu as seguintes cartas: declividade, derivada de que a consistência aumente. dados topográficos (DGOTDU 2003), geologia/lito- Sugere-se também o uso da Razão de Consis- logia na escala 1/25.000 (Serralheiro 1976), ali- tência (Equação 3), que considera o IC e o Índice nhamentos tectônicos (PEREIRA et al. 2008), solos Randômico (IR), função do tamanho “n” da amos- e vegetação (DINIZ & Matos 1986). No processo tra (SaatY 1991). FIGURA 1 – Modelagem das áreas susceptíveis aos movimentos de massa no Município de Tarrafal. 42 Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 33 (1), 41-56, 2012 TABELA 1 – Definição do grau de importância relativa no método AHP. Importância relativa Definição Explicação 1 Mesma importância Duas atividades contribuem para concretizar o objetivo Importância pequena de uma sobre A importância e o julgamento favorecem levemente uma 3 a outra atividade em relação à outra A importância e o julgamento favorecem fortemente uma 5 Importância grande ou essencial atividade em relação à outra Importância muito grande ou Uma atividade é muito fortemente favorecida em relação à 7 demonstrada outra, sua dominação de importância é demonstrada na prática A evidência favorece uma atividade em relação à outra com o 9 Importância absoluta mais alto grau de certeza Valores intermédios entre valores Quando se procura uma condição de compromisso 2, 4, 6, 8 adjacentes entre duas definições Fonte: SAATY (1991) RC = IC/IR (Eq. 3) ilha e confronta-se a sudeste com o Município de São Onde: RC = Razão de Consistência, IC = Ín- Miguel e a sudoeste com o Município de Santa Cata- dice de Consistência, IR = Índice Randômico. rina. Ocupa uma área de 112,4 km2 e conta, atualmen- O mesmo autor propõe uma tabela com os ín- te, com 18.565 habitantes distribuídos em 20 zonas dices randômicos (IR) de matrizes de ordem 1 até do município. A cidade do Tarrafal e a localidade de 15 (Tabela 2). Chão Bom, os dois principais núcleos populacionais O cruzamento dos diversos fatores foi reali- do município, apresentam características básicas de zado em ambiente de Sistema de Informações Ge- uma pequena cidade, mas com elevado grau de ru- ográficas (SIG) no software Arc GIS 9.3. ralidade, e concentram a maior parte da população. A partir do zoneamento das áreas susceptíveis A rede hidrográfica do Município de Tarra- aos movimentos de massa, foi possível checar em fal segue os alinhamentos estruturais de direções campo as áreas mais críticas do Município de Tarrafal. NNW-SSE e N-S; nas regiões de cones piroclásticos o padrão de drenagem é radial. A rede de drenagem 3 contexto GEOGRÁFICO é mais desenvolvida nos quadrantes N e NW. DO MUNICÍPIO DO tarrafal Em geral, o clima do Município de Tarrafal é do tipo árido, contudo, pode-se diferenciar as seguin- As ilhas de Cabo Verde estão localizadas no tes zonas climáticas (AMARAL 1964) (Figura 3): Atlântico Central, entre o Trópico de Câncer e o – Árido: na faixa litorânea em altitudes infe- Equador. Limitam-se pelos paralelos 17º 13’ (Ponta riores a 200 m; Cais dos Fortes Santo Antão) e 14º 48’ (Ponta Nho – Semiárido: nas áreas com altitudes superio- Martinho, Brava) de latitude Norte e pelos meri- res a 200 m e inferior a 400 m; dianos 22º 42’ (Ilhéu Baluarte, Boavista) e 25º 22’ – Subúmido: nas áreas com altitudes entre (Ponta Chã de Mangrado, Santo Antão) de longitu- 400 até 700 m; de Oeste de Greenwich (Figura 2). – Úmido: nas áreas com altitude mínima de A Ilha de Santiago localiza-se na região sul do 700 m e máxima de 1063 m. país e integra uma das quatro ilhas do Sotavento. O A temperatura média anual no Município é Município de Tarrafal situa-se no extremo norte da de 25°C. TABELA 2 – Índices randômicos médios do AHP 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 0,00 0,00 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49 1,51 1,48 1,56 1,57 1,59 Fonte: SAATY (1991) 43 Spínola & Victória FIGURA 2 – Contexto geográfico do Município do Tarrafal.