UNIVERSIDADE FEDERAL DE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA - PPGS

DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA: O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

CUIABÁ/MT 2020

DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA: O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Sociologia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, na área de concentração Sociologia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues

CUIABÁ/MT 2020

DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA: O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Sociologia, Instituto de

Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, na área de concentração Sociologia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues

DATA DE APROVAÇÃO: _____/ _____/ ____

______Examinador: Prof. Dr. Edson Benedito Rondon Filho Universidade Federal de Mato Grosso

______Examinador: Prof. Dr. Frankes Márcio Batista Siqueira Instituto Federal de Mato Grosso

______Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues Universidade Federal de Mato Grosso

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiro a Deus, meu sempre e eterno amigo; à Minha Mãe Aide de Arruda Abreu, que me guiou pelos caminhos da vida com sabedoria, fé e amor; a meu falecido Pai Darcy Gomes de Abreu, homem que foi meu espelho de honestidade, hombridade, vontade e fé; à minha amada Irmã Dejacy de Arruda Abreu, por sua presença constante como guia intelectual, moral e sempre disposta a ser minha conselheira. Às pessoas que pela sociedade e pelos laços de sangue a mim foram trazidas: minha amada Esposa Flávia Brum Lopes, que dedica a vida a me fazer feliz, me apoiando em todos os momentos desde que nos conhecemos; a meus maiores legados, meus Filhos amados, as tochas que lançarei no abismo do tempo, Sofia Brum Lopes, minha primogênita que nos encanta com sua alegria, inteligência e beleza, meu Filho amado Daniel Brum de Arruda, menino de alegria ímpar, beleza altiva e espírito alegre e minha caçula, meu amor mais maduro, Alice Brum de Arruda, criança alegre, vida e alegria de nossa família.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos as pessoas que passaram por minha vida e contribuíram para a realização desse trabalho. Em especial ao meu orientador Professor Xavier Freire Rodrigues, cujo amor ao futebol e à ciência tornou meu caminho mais fácil; à minha banca, Professor Frankes Márcio Batista Siqueira e Professor Edson Benedito Rondon Filho, os quais leram e contribuíram grandemente para este trabalho.

RESUMO

Esta pesquisa de mestrado se insere na área dos estudos da Sociologia do esporte. Objetiva-se compreender os fatos que contribuem para o entendimento da ascensão do Cuiabá Esporte Clube de time sem série ou relevância esportiva a clube de série B do Campeonato Brasileiro, com recorte temporal entre 2003 a 2018. O interesse em pesquisar a ascensão do clube empresa em âmbito nacional, no referido marco temporal, intenciona compreender os motivos de essa instituição esportiva ter aparente êxito onde muitas outras falharam. Também, o interesse sobre o futebol mato-grossense, marcado por lembranças e vivências que constataram que o outrora importante e bem frequentado campeonato estadual e, sobretudo o da capital, não atraía o mesmo número de frequentadores relatados nas memórias da população de mais idade. A fundação, no ano de 2001, do Cuiabá Esporte Clube trouxe nova proposta ao futebol mato- grossense, não mais ligada às questões políticas e culturais que permeavam os antigos clubes do estado, mas como atrativo que uniu gestão empresarial com marketing esportivo. Metodologicamente, esta investigação se orienta pela abordagem da Pesquisa Qualitativa. Para a coleta de dados desta pesquisa se realizou levantamento exploratório bibliográfico referente ao tema do futebol, reconstrução da história do clube, assim como dos resultados obtidos nos jornais e publicações do período em estudo e em sites especializados. Numa aproximação de modo mais empírico realizou-se, periodicamente, um trabalho de campo no estádio de Cuiabá Mato Grosso, com torcedores do time, assim como com dirigentes, ex- atletas e jornalistas, o que caracterizou observação participante e, posteriormente, uma pesquisa semiestruturada, considerando o futebol um modelo de sociedade dentro de uma sociedade mais ampla, fora da consciência individual dos brasileiros, resultando na construção de linhas de discussões para compreensão do futebol numa perspectiva de lócus inserido no mercado de entretenimento. Nessa mesma concepção, estudos apontam que o campo esportivo é tão significativo quanto o capital social, cultural ou econômico, onde a gestão esportiva pode ter um aspecto sociológico que escapa da explicação meramente econômica. Os achados desta dissertação foram que o Cuiabá Esporte Clube e seu modelo de gestão, foram exitosos, tanto nos resultados do time dentro de campo, quanto no crescimento e aprimoramento da gestão esportiva. O Clube se tornou, no período, um sucesso esportivo e de gestão.

Palavras chave: Futebol. Gestão esportiva. Clube Empresa. Cuiabá Esporte Clube.

ABSTRACT

This master's research falls within the field of sport sociology studies. The objective is to understand the facts that contribute to the understanding of the rise of Cuiabá Esporte Clube in time without series or to produce sports for the B series club of the Brazilian Championship, with a time frame between 2003 and 2018. The interest in researching the rise of the club in nationally, in the referred timeframe, intends to understand the reasons why this sports institution seems to eliminate where many others have failed. Also, the interest in football in Mato Grosso, marked by memories and experiences that found that the once important and well attended state championship, and especially the capital, did not attract the same number of visitors reported in the memories of the older population. The foundation, in 2001, of Cuiabá Esporte Clube brought a new proposal to football in Mato Grosso, no longer linked to the political and cultural issues that permeated the old clubs of the state, but as an attraction that united business management with sports marketing. Methodologically, this investigation is guided by the Qualitative Research approach. For the data collection of this research, an exploratory bibliographic survey was carried out on the topic of football, reconstruction of the club's history, as well as the results obtained in newspapers and publications of the period under study and on specialized websites. In a more empirical approach, fieldwork was carried out periodically at the Arena Pantanal stadium in Cuiabá Mato Grosso, with time fans, as well as with managers, former athletes and journalists, which characterized participant observation and researchers from the time, a semi-structured research, considering football a model of society of a broader society, outside the individual consciousness of Brazilians, performing the construction of lines of impact for understanding football in a perspective of locus inserted in the entertainment market. In this same conception, studies point out that the sports field is as significant as social, cultural or economic capital, where sports management can have a sociological aspect that escapes the explanation of merely economic. The findings of this dissertation were that Cuiabá Esporte Clube and its management model were successful, both in results and time on the field, in the growth and improvement of sports management. The Club became, in the period, a sports and management success.

Keywords: Football. Sports management. Clube Empresa. Cuiabá Esporte Clube.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ...... 72 Gráfico 2 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ...... 73 Gráfico 3 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006 ...... 75 Gráfico 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018 ...... 76 Gráfico 5 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ...... 77

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - As teorias administrativas ...... 56 Quadro 2 - Organograma de um clube de futebol ...... 59

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação do Cuiabá Esporte Clube no campeonato Mato-Grossense de Futebol, 2003 a 2018 ...... 71 Tabela 2 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ...... 72 Tabela 3 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube, por ano: 2003 a 2018 ...... 73 Tabela 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006 ...... 74 Tabela 5 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018 ...... 75 Tabela 6 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ...... 77

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APFUT Autoridade Pública de Governança do Futebol CBD Confederação Brasileira de Desportos CBF Confederação Brasileira de Futebol CFZ Centro de Futebol Zico do Rio Sociedade Esportiva CND Conselho Nacional de Desportos CTs Centros de Treinamentos FIFA Federação Internacional de Futebol FMD Federação Mato-grossense de Desportos FMF Federação Mato-grossense de Futebol IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística LEC Liga Esportiva Cuiabana MT Mato Grosso NASL National American Soccer League PPGS Programa de Pós-Graduação em Sociologia PROFUT Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro SPFC São Paulo Futebol Clube UEMT Universidade Estadual de Mato Grosso UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMT Universidade Federal de Mato Grosso URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas VLT Veículo Leve Sobre Trilhos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 12 1 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DO FUTEBOL ...... 16 2 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL EM MATO GROSSO ...... 32 2.1 DOS PRIMÓDIOS À ARENA PANTANAL ...... 32 2.2 ARENA PANTANAL – DA CONSTRUÇÃO AO “MILAGRE NO PANTANAL” 38

3 SOCIOLOGIA DO ESPORTE E GESTÃO ESPORTIVA ...... 45 3.1 DO FUTEBOL LÚDICO AO FUTEBOL EMPRESA ...... 45 3.2 A METAMORFOSE DO FUTEBOL EM ESPETÁCULO E O SURGIMENTO DO CLUBE-EMPRESA ...... 54 3.3 CUIABÁ ESPORTE CLUBE – A TRAJETÓRIA DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE ...... 67 4 CUIABÁ ESPORTE CLUBE - E AS NARRATIVAS DE UMA EMPRESA A SERVIÇO DO FUTEBOL ...... 79 4.1 RELAÇÃO ENTRE MODELO DE GESTÃO E DESEMPENHO EM CAMPO NO/DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE ...... 79 4.1.1 Divisão do trabalho baseado na especialização funcional ...... 80 4.1.2 Hierarquia de autoridade ...... 81 4.1.3 Sistema de regras e regulamentos ...... 82 4.1.4 Formalização das comunicações ...... 86 4.1.5 Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas ...... 89 4.2 A IMPORTÂNCIA DA ARENA PANTANAL NA ASCENÇÃO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE À SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL ...... 92 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 100 REFERÊNCIAS ...... 106 ANEXOS ...... 112 ANEXO 1 - Roteiro de entrevista: Empresário ...... 112 ANEXO 2 - Roteiro de entrevista: Atletas ...... 112 ANEXO 3 - Roteiro de entrevistas: Jornalistas ...... 113 ANEXO 4 - Roteiro de entrevista: Torcedores ...... 113 12

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa não se guia apenas pelo espírito científico da descoberta e da curiosidade, mas também pelo método científico estabelecido. O título do trabalho, O Futebol como empresa: O caso Cuiabá Esporte Clube de 2003 a 2018. A escolha desse tema se deve ao nosso interesse pelo futebol, vez que formos atleta desse esporte na infância e adolescência, assim como morador de cidade pequena onde o estádio de futebol era uma das poucas praças de lazer. Durante os campeonatos regionais a cidade pulsava nos fins de semana, e essa formação de lembrança deixou marcas profundas em nossa vivência com o futebol. Ao mudar para a capital, constatamos que o outrora importante e bem frequentado campeonato estadual e, sobretudo o da capital, não atraía o mesmo número de frequentadores relatados nas memórias da população de mais idade. Até que no ano de 2001 foi fundado um clube que trazia uma nova proposta, não mais ligada às questões políticas e culturais que permeavam os antigos clubes do estado, era, sobretudo, uma nova proposta que podia tornar o futebol local atrativo novamente, unindo gestão empresarial com marketing esportivo. O tema deste trabalho, Cuiabá Esporte Clube como time de futebol e empresa esportiva entre os anos de 2003 a 2018, busca entender os dilemas sobre o modelo de gestão tradicional x empresarial, e se os resultados do clube-empresa em questões foi influenciado por esse modelo. Desse quadro foi levantado o problema de pesquisa, quais foram os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol? Com as seguintes questões secundárias: Quais os resultados obtidos no período abordado pela pesquisa no âmbito econômico e esportivo? Quais os modelos de gestão adotados para a obtenção desses resultados? Para tanto algumas hipóteses foram levantadas: o Cuiabá Esporte Clube pode ser considerado um sucesso enquanto empresa e time de futebol no Brasil. Até que ponto os resultados do Cuiabá Esporte Clube são um reflexo da adoção do modelo empresarial. O modelo de gestão refletiu nos resultados obtidos pelo time no campo de jogo. A gestão esportiva empresarial coloca o Cuiabá Esporte Clube como exemplo a ser seguido no estado de Mato Grosso. Como seu objetivo geral está dissertação busca analisar quais os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional de futebol. No que tange aos objetivos específicos buscamos: (a) Verificar os motivos que 13

levaram o Cuiabá Esporte Clube a ascender de um time sem série no campeonato nacional ao recente acesso à série B do campeonato brasileiro; (b) Quantificar os resultados obtidos no período em questão com os dados orçamentários do clube; (c) Relacionar orçamento/investimento em futebol e sucesso em campeonatos de futebol; (c) Caracterizar os modelos de gestão esportiva adotados para obtenção dos resultados. Por fim, apontar os problemas e soluções obtidos pelas gestões durante o período em questão. A justificativa da pesquisa está na existência de poucos trabalhos a respeito do tema, diferentemente de outros esportes, como o voleibol e futebol americano, portanto, pode contribuir grandemente na abordagem dessa temática, assim como lançar luz sobre aspectos comportamentais dos torcedores, atletas, jornalistas e dirigentes, suas motivações e interesses. Nesse sentido, o trabalho é original e cobrirá essa lacuna. Os estudos que fizemos na área da Sociologia do esporte, também nos mostraram que o esporte é um fenômeno complexo, uma atividade abrangente, pois engloba diversas áreas sociais humanas, tais como, a saúde, a educação, o turismo. Ainda, o entendemos como uma ferramenta de inclusão social, sendo uma estratégia de sociabilização, formação humana integral dos sujeitos envolvidos. Nesse viés, esta pesquisa, voltada ao esporte mato-grossense, com ênfase no Cuiabá Esporte Clube, enseja aprofundar a discussão da Sociologia do esporte como benefício de prática esportiva numa perspectiva histórico-social e cultural e ajudar o esporte mato-grossense a ter melhor visibilidade, confiabilidade e reconhecimento local, estadual e nacional. A pesquisa também poderá contribuir socialmente como nova fonte de conhecimento sobre o tema, além de trazer luz a fatos relacionados ao campeonato mato-grossense de futebol, com dados que podem ser usados por profissionais do meio para a geração de estratégias para a retomada da importância desse esporte em nosso estado, por meio do retorno do público aos estádios. A metodologia para dar conta desses desafios vai além dos aspectos da sociologia do esporte; mesmo que essa seja a linha condutora, deve-se aqui abrir um leque para que outras áreas do conhecimento contribuam nesse processo. Pensar os caminhos da pesquisa científica sempre foi uma exigência para muitos estudiosos das metodologias das diversas áreas de conhecimento, o que não é diferente para área da Sociologia. Por isso, entendemos que este estudo deverá se alicerçar na Pesquisa Qualitativa, com ênfase na proposta descritiva, interpretativa, a qual considera o ambiente natural como sua fonte direta de dados e toma o pesquisador como seu instrumento, o que poderá nos assegurar uma inserção no universo da pesquisa dentro de uma perspectiva sociológica. É nesse sentido que compreendemos que esta 14

construção, dentro dessa abordagem, exigirá de nós pesquisadores um trabalho intelectual artesanal para chegarmos a uma síntese de múltiplas compreensões sobre o objeto proposto. Nesse sentido, os estudos realizados nos escritos de Paul Thompson (1935, p. 58), poderão ajudar na composição da postura diante do objeto de estudo, principalmente daqueles que pensamos entrevistar. Nesse viés de rigor científico, Minayo (2006, p. 48) nos ensina que “[...] a boa seleção dos sujeitos ou casos a serem incluídos no estudo é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões”. Nesse viés de entendimento, esta pesquisa em questão se propõe sustentar uma perspectiva qualitativa. Com essa abordagem analisamos os dados recolhidos, na medida em que eles foram se agrupando, ou seja, a partir de muitas informações coletadas, as quais se inter-relacionaram e constituindo, assim, o cabedal de informações necessárias para a análise e a interpretação dos dados. Para construção do caminho metodológico, no que se refere às técnicas e coleta de dados, seguimos critérios que orientam a pesquisa qualitativa (entrevista individual, coleta de documentos, survey e questionários). Realizamos um estudo para construção e solidificação do referencial teórico-metodológico, com base nas obras e pesquisas oriundas dos campos da Sociologia do esporte e da Sociologia como um todo. Tendo como fundamento os esclarecimentos de Minayo (2001, p. 23), que nos lembra: A compreensão desse espaço da pesquisa não se resolve apenas por meio de um domínio técnico. É preciso que tenhamos uma base teórica para podermos olhar os dados dentro de um quadro de referências que nos permite ir além do que simplesmente nos está sendo mostrado. Assim, obedecendo esse movimento rigoroso da pesquisa em que, em um segundo momento, buscou-se realizar a localização dos dados/registros documentais por meio dos jornais da época, das súmulas dos jogos referentes ao período da pesquisa, assim como de balanços orçamentários do clube em questão, para entendermos as transformações que o time passou como fontes de construção histórica e marcos legais, os quais nos ajudarão a caracterizar o período estudado. Num terceiro momento ou perspectiva, fez-se algumas tentativas de um estudo de campo para localizar possíveis torcedores, dirigentes, jornalistas e ex-atletas do time desse período para entrevistá-los, usando um roteiro de questões semiestruturadas. Essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da memória daqueles que presenciaram o fenômeno. Os relatos desses sujeitos, como nossos atores sociais, tornaram-se narrativas das vozes que nos ajudaram a entender, por meio de suas percepções humanas, sociais, culturais e esportivas, o cenário desse período bem 15

como o que decorreu dele para chegarmos aos dias atuais. Os roteiros de entrevistas constam nos anexos deste trabalho. Diante deste contesto, esse trabalho se estrutura em quatro capítulos: o primeiro traz uma abordagem dos aspectos históricos e sociológicos do futebol, onde será apresentada uma cronologia do surgimento desse esporte, contando a trajetória a partir das mais remotas referências históricas até nossos dias, sempre levando em conta os impactos e desdobramentos sociais que permearam esse processo. O segundo capítulo, por sua vez, contará, de forma breve, limitado pela escassez das fontes históricas e primárias, a história do futebol de Mato Grosso, desde a chegada desse esporte em nossas terras, com suas peculiaridades e especificidades locais, a construção de seus primeiros estádios e a epopeia da construção da Arena Pantanal, ou seja, buscando passar pelas diversas fases e seus principais eventos, tendo como foco principal a criação do Cuiabá Esporte Clube no ano de 2001, dando ênfase à estrutura do time como clube-empresa, características que, provavelmente, proporcionaram um feito inédito, o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol, com menos de vinte anos de criação. O terceiro capítulo trará o referencial desta pesquisa, procurando demonstrar a importância sociológica do esporte e da sociologia geral, que se aproxime do tema do trabalhado, seus autores e principais conceitos, além de discorrer sobre o tema do clube empresa e seus desdobramentos. O capítulo quatro traz as narrativas dos atletas, ex-atletas, torcedores e dirigentes do Cuiabá Esporte Clube, além dos jornalistas esportivos, com o intuito de dar vivacidade e profundidade à trajetória, ações e momentos da breve história que serve como fio condutor dessa pesquisa.

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1 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DO FUTEBOL

Neste capítulo traçamos uma linha histórica do surgimento do futebol, desde o aparecimento de atividades similares, como jogos com bolas e outros artefatos, num período que remonta a três mil anos até nossos dias, não com intuito de ser uma história linear, mas sim, de contar como a sociedade em diferentes períodos usava de criatividade lúdica para a distração, a socialização e, atualmente, o zelo pelo bem-estar físico e a comercialização deste que se tornou o maior esporte do mundo. Faremos, ainda, um breve sobrevoo por esses períodos, buscando dar pano de fundo aos diversos eventos que trouxeram o futebol até seu atual patamar. Segundo Giulianotti (2002, p. 50), o futebol, ou uma atividade semelhante, pode ter sido criado ainda nas primeiras civilizações, onde se jogavam variações primitivas desse esporte. Por exemplo, na América Central, foram encontrados relatos sobre tais atividades, além de fontes culturais apontarem que algumas tribos indígenas da Amazonas já praticavam jogos de bola em 1500 a.C.

[...] o tlachtli. Ele era disputado em espaços retangular de tamanho variado, entre 25 e 63 metros de comprimento, seis a doze de largura. Cada um com dois grupos, geralmente de sete jogadores, deveriam trocar passes sem deixar cair a pequena (entre quinze e vinte centímetros) e pesada (mais de três quilos) bola de borracha maciça, depois arremessada ao campo adversário. (FRANCO, 2007, p. 15).

Além desses, outros relatos, que até certo ponto são considerados apócrifos aos textos históricos, narram a origem de algo semelhante ao futebol há mais de 2000 mil anos a.C. Segundo Franco (2007, p. 15), documentos da China, que datam de 2000 a 1500 mil anos a.C., também descrevem um tipo de diversão que consistia em chutar cabeças ou crânios decapitados para que esses ultrapassassem estacas encravadas no chão; tal diversão servia para relaxar a tensão pós batalhas. Soma-se a esses outros vestígios que podem ser encontrados na América Central, onde há pelo menos 900 anos a.C., foram descritas atividade lúdicas com a bola: Também há relatos da prática de atividades com bola na Grécia Clássica, o epyskiros, que teria sido jogado por volta do século IV a.C. Em Roma, por volta do século III a.C., uma atividade denominada haspastum, que teria dado origem ao cálcio, já durante o Renascimento, no século XIV (FRANCO, 2007, p. 17). Já sobre a etimologia da palavra "futebol", os cientistas sociais Norbert Elias e Eric Dunning esclarecem que a palavra foot-ball era empregada já no período medieval, na 17

Inglaterra, mas não para designar um esporte, e sim, como referência ao objeto daqueles jogos populares, a "bola de chutar":

Não é improvável que a razão primordial pela qual os documentos medievais se referiam a alguns destes jogos locais com o nome de "futebol", enquanto outros eram conhecidos por nomes diferentes, fosse o fato de que se jogavam com objetos distintos. [...] De fato, alguns documentos medievais falam de jogar com um balão de couro, "com um futebol", não de "jogar futebol". [...] Porém não há razões para supor que o futebol medieval só era impulsionado com os pés nem, igualmente, que o hand o fosse só com a mão. [...] Porque as características elementares - o jogo concebido como luta entre grupos distintos, o franco e espontâneo desfrutar da batalha, o descontrole tumultuado e o nível relativamente alto de violência física socialmente tolerada - eram, pelo que se vê, sempre as mesmas. Igualmente o era a tendência a romper as regras costumeiras, fossem quais fossem, sempre que os jogadores se vissem movidos pelas paixões. (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 269).

Embora algumas dessas narrativas sejam, em boa parte, relatos culturais, praticamente não documentados, os que apresentam dados históricos nos permitem estruturar a origem desse esporte em duas fases distintas. A primeira se refere às atividades lúdicas ligadas às guerras, às disputas urbanas (nas ruas de vilas e cidades). A segunda fase pode-se datar a partir do momento em que o império Britânico começa a desempenhar um papel de racionalização dessas atividades, chegando ao ponto de o futebol ser considerado como uma das características de dominância cultural do vasto império onde o “Sol nunca se punha”. O futebol surge paralelamente ao Império britânico e por décadas teve seus caminhos ligado a ele. Desde 1848, data da primeira tentativa de uniformização das regras, até 1912, onde foram feitas várias adaptações, o futebol foi um representante importante da cultura inglesa.

Naquela fase, o novo esporte ecoou muito de perto as vicissitudes internas da Grã-Bretanha. Na fase posterior, também as vicissitudes externas do império, que em 1909 dominava 20% dos territórios e 23% da população mundiais. A propagação do futebol seguiu a lógica da influência cultural inglesa: de início nas próprias ilhas britânicas, a seguir na Europa germânica, depois na Europa latina, pouco mais tarde na América Latina. (FRANCO, 2007, p. 23).

A quase onipresença da ocupação britânica pelo mundo favoreceu a disseminação dos esportes modernos, principalmente o do futebol, por eles engendrados. Já que entre 1881 e 1901, na primeira onda da difusão do futebol, aproximadamente cinco milhões de pessoas deixaram o Reino Unido para iniciar uma vida nova no exterior, levando na bagagem uma cultura e a convicção de pertencer ao povo mais civilizado e progressista do planeta (MASCARENHAS, 2014, p. 39). 18

Já na América Latina o futebol começa sua caminhada no século XIX, onde vários países times adotam nomes da língua inglesa; exemplos são: Banfield, Corinthians e Everton (Argentina, Brasil e Chile) (FRANCO, 2007, p. 63). A chegada do futebol no Brasil não fugiu a essa regra; exemplo é a famosa história de Charles Miller. Para melhor entendimento da história do futebol no Brasil, costuma-se dividir esses pouco mais de cem anos em cinco fases distintas: (a) primeira fase (1894-1904); (b) fase amadora (1905-1933); (c) fase do profissionalismo (1933-1950); (d) consagração do “estilo brasileiro” de jogar futebol (1950-1970); (e) fase da modernização e comercialização do futebol, a partir dos anos 1970 até os dias de hoje (RODRIGUES, 2015, p. 26). Na primeira fase destaca-se o evento da chegada de Charles Miller em 1894, retornando da Inglaterra trazendo consigo equipamentos para prática do esporte e um livro de regras, sendo São Paulo o primeiro palco das primeiras partidas. Outro fato importante dessa fase é a exclusão de negros e mulatos, mesmo de brancos pobres; o futebol, nessa fase, ainda era para poucos, pois havia um elitismo e ainda estava associado a uma certa visão de modernidade (RODRIGUES, 2015, p. 27). Essa elitização do futebol também está vinculada ao fato de que algumas localidades dispunham de condições de enviar seus filhos privilegiados para estudar na Europa, tendo assim um canal de contato com essas novidades da civilização, ficando restrito, nesse momento, a esses grupos das elites locais.

Desnecessário repetir que o futebol se introduziu no Brasil principalmente como modismo europeu com traços higienistas, moralistas, cosmopolitas e de distinção social, bem mais adequado, portanto aos jovens de elite. Em nossas terras, o processo de popularização do futebol apresentou ritmo próprio, condizente com os limites de uma sociedade sobejamente rural e ainda herdeira de trações coloniais, com sua rigidez, hierarquia e fortes índices de exclusão das camadas empobrecidas. (MASCARENHAS, 2014, p. 107).

Traços da primeira fase podem ainda ser vistos na chamada segunda fase do futebol brasileiro, que é marcada pelo futebol ainda como distinção social e pelo amadorismo. Agora, além da composição dos times ser das classes mais abastadas da sociedade, o ainda pequeno público que acompanha os jogos também é composto por membros dessa classe social. Nas partidas desse período era possível ver rapazes de terno e gravatas, as moças com chapéus e flores. Os jogadores eram sócios dos clubes e frequentavam suas festas e bailes. Os filhos jogavam, as filhas e os pais ficavam na tribuna, assim os grandes times de futebol desse período eram uma segunda casa para essas boas famílias (LOPES, 1998, p. 70). 19

No que tange ao falso amadorismo, este vigorou como concepção de prática esportiva preferida pela aristocracia nesse período, herança da classe dos lazeres de uma elite inglesa e, aos poucos, das elites locais. O futebol era praticado por jogadores originários dessas classes, ligados às escolas e empresas, mas também por alguns atletas operários de determinadas empresas. A discriminação racial também perdura nessa fase, no entanto, mesmo que de modo clandestino, jogadores negros e mulatos começam a ser introduzidos nas partidas. No cenário nacional a regra era a proibição de negros na seleção brasileira e em vários times. Além dessas características havia também um falso amadorismo romântico, que começa a mudar a partir de 1917, com a cobrança de ingressos no futebol de São Paulo e Rio de Janeiro, dinheiro que, a princípio, servia para cobrir os custos das partidas e, posteriormente, para o pagamento dos atletas.

A revolução vascaína no Rio de Janeiro, em 1923, configura-se como acontecimento fundamental no processo de popularização do futebol no Brasil. Na verdade, o Clube de regatas Vasco da Gama contribuiu com o processo de democratização no futebol brasileiro quando venceu o naquele ano com uma equipe formada basicamente por jogadores negros, mulatos ou brancos pobres. (RODRIGUES, 2015, p. 25).

Na chamada terceira fase, ou fase da democratização e profissionalização, esse processo era distinto do profissionalismo, já que o profissionalismo era almejado pela classe trabalhadora que via no futebol uma profissão, já a profissionalização em sé era mal vista pelas elites, já que o futebol perderia o prestigio social de ser praticado apenas por essa classe social. Na profissionalização do futebol, pode-se destacar a introdução de uma regulamentação trabalhista, no período do governo de Getúlio Vargas; portanto, seguindo uma tendência de outros segmentos trabalhistas, ou seja, nada específico do mundo do futebol.

É nas primeiras décadas do século XX que começa a popularização do futebol. Sua democratização e consagração como elemento da cultura nacional dá-se a partir dos anos 1930, tendo como marco a profissionalização em 1933. (MOURA, 1998, p. 19).

Essa ruptura de paradigma tem outro elemento importante: a aceitação de jogadores de origem pobre nos grandes clubes da época, assim como da presença de negros de forma oficial nos times, que acabam caracterizando o surgimento do chamado futebol-arte.

Os jogadores negros e mestiços são os pioneiros no que viria a ser conhecido como o “estilo brasileiro de jogar futebol” (FREYRE, 1957, 1964, 1971a; RODRIGUES FILHO, 1964). Esses serão os atletas socialmente identificados como os criadores e a razão de ser do chamado futebol-arte, uma das 20

peculiaridades brasileiras nesse esporte. (LOPES, 1998, p. 19, apud RODRIGUES, 2015, p. 26).

Freyre (1971, p. 102), também afirma que as chamadas qualidades do futebol no Brasil, a forma artística e plástica de jogar, os dribles geniais, muito semelhantes às nossas danças e gingados, expressariam a brasilidade desse estilo, sendo resultado, sem dúvida, da mistura de raças, positiva na constituição da identidade nacional. Tal característica é importante quando pensamos também nas ideias de democracia racial defendidas por Freyre, para se entender não apenas o futebol, mas a própria sociedade brasileira. Lembramos que, mesmo agora oficialmente aceitos no futebol, tanto negros quanto mulatos já participavam de jogos, mesmo que de forma clandestina; esse fato ocorria devido à baixa quantidade de jogadores nas fábricas, desta forma completavam-se os times com esses indivíduos, às vezes usando de subterfúgios, como disfarçar jogadores negros e mulatos para que se parecessem brancos. Pode-se dizer que nessa fase supera-se o elitismo e amadorismo, com elementos pré-existentes no seu próprio bojo.

Em 1933, formalmente, temos a implantação do futebol profissional em nosso país. De forma ainda muito precária, é verdade, mas o suficiente para estabelecer talvez o mais importante marco na história do nosso futebol. [...] Estamos nos referindo às lutas dos jogadores para se profissionalizarem nesse esporte. (CALDAS, 1990, p. 37).

A quarta fase, ou da consagração do “estilo brasileiro” de jogar futebol, ganha forma a partir de 1950, durante o Mundial do Brasil desse ano, mesmo com o catastrófico desfecho desse evento, que marcou definitivamente não só a história do esporte, mas também deixou um grande legado, a consagração do um estilo próprio de jogar o esporte bretão.

No Mundial de 1950 o Brasil apresentou um belo estilo de jogo, terminou a competição em segundo lugar, consolidando seu estilo de jogar futebol, tendo como arquitetos os jogadores negros e mulatos. Era o futebol-arte, feito de magia, ginga e improviso que constrói a identidade nacional, tendo Leônidas, Domingos e Fausto como principais expressões. (RODRIGUES FILHO, 1964, apud RODRIGUES, 2015, p. 27).

A sequência de mundiais posteriores a 1950, com exceção a 1954 e 1966, onde a seleção foi eliminada nas quartas de final e na primeira fase, respectivamente; o Brasil consolida de forma definitiva seu estilo de jogo em 1958, 1962 e 1970, com os três títulos incontestáveis, em especial o de 1970. O país passa a ser considerado o grande detentor de um jeito ímpar de jogar 21

futebol. O chamado futebol-arte dessa fase deixará marcas profundas no imaginário nacional e mundial. Esse Paradigma, que só viria a ser superado no fim do século XX, com a ascensão de um estilo europeu de jogar, também chamado de futebol-força, que passa a estabelecer derrotas consecutivas ao estilo de futebol-arte, com exceção apenas da copa de 1994 nos Estados Unidos da América, vencida pelo Brasil, que na ocasião já demonstrava uma mescla ou equilíbrio entre as duas formas de jogar. Por fim a quinta fase, ou da modernização e comercialização, apresenta algumas características que devem ser destacadas: a comercialização do futebol, a publicidade nas laterais dos campos, nas camisas dos jogadores, a transmissão ao vivo dos jogos pela TV, o futebol força, o surgimento dos modernos Centros de Treinamentos (CTs) e as conquistas das copas de 1994 e 2002.

A fase da modernização, pode ser datada de 1970 aos nossos dias. Se caracteriza pelo crescimento de recursos financeiros no futebol, televisionamento das partidas, crescimento no nível salarial dos jogadores e do êxodo de jogadores brasileiros para o futebol europeu nas últimas décadas do século XX. O surgimento do Clube dos Treze, a Lei Zico, a Lei Pelé e o fim do Passe são elementos que caracterizam esta fase recente do futebol brasileiro. (RODRIGUES, 2015, p. 29).

Essa modernização liberal capitalista tem como ápice uma grande competição que ocorre a cada quatro anos, mas que nessa fase ganhou dimensões realmente mundiais; reflexo disso são os números crescentes de espectadores a cada copa, a audiência deu saltos constantes: 5 bilhões acumulados de telespectadores em 1982, 8 bilhões em 1986, 32 bilhões em 1990 (FRANCO, 2007, p. 23). Tais números impulsionaram não só a comercialização dos eventos dos selecionados nacionais, mas também dos clubes, tanto dos países desenvolvidos e, igualmente potências futebolísticas, caso da Inglaterra e Alemanha, mas também dos em desenvolvimento, essas potências somente no futebol, caso do Brasil e Argentina. Essa nova fase do futebol está estritamente ligada ao esporte como parte da indústria do entretenimento.

A indústria do esporte é parte integrante da indústria do entretenimento. O entretenimento é uma das principais atividades econômicas do mundo atualmente. Essa indústria é dinâmica e associada aos setores de mídia e telecomunicações. Entende-se como indústria do esporte o mercado no qual os produtos oferecidos aos compradores relacionam-se a esportes, fitness, recreação ou lazer e podem incluir atividades, bens, serviços, pessoas, lugares ou ideais. (PITTS; STOTLAR, 2002 p. 7).

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Essa vertente de entretenimento do esporte, aqui em específico o futebol, tem sua marca, ou marcas, na introdução das propagandas nas laterais dos gramados e na, outrora controversa, exibição de símbolos e logotipos de empresas e indústrias nos uniformes das equipes. Nesse contexto de superexposição midiática, respeita-se, ainda, os uniformes das seleções, onde só figura a marca do patrocinador do material esportivo. Nos clubes, sobretudo dos menores, a “outdoorização”1 avançou avassaladoramente.

Em maio de 1982 foi aprovado o uso de publicidade nos uniformes dos times, as camisas passavam a apresentar propagandas de empresas. Tal medida foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desportos (CND). Temia-se que os torcedores não aprovassem isto, pois poderia ser uma profanação do sagrado manto, da tradição da camisa. (RODRIGUES, 2015, p. 29).

Quanto à importância da transmissão ao vivo das partidas de futebol, como já foi exposto sobre o crescimento dos telespectadores nas Copas, o impacto pode ser mensurado pelo crescimento dos patrocínios, das receitas de marketing e, até mesmo, nos salários de alguns jogadores. No Brasil essa transformação, ou adaptação ao modelo liberal capitalista de se lidar com o esporte, fica evidente no domínio de algumas empresas sobre os direitos de transmissão das partidas. Fato a que não cabe análise neste trabalho. Devendo-se ressaltar que essa experiência promove um grande debate sobre a diminuição do número de torcedores nos estádios nacionais. No entanto é inegável que a transmissão televisiva provocou um grande salto mercadológico no futebol do país, gerando grande crescimento da receita de alguns clubes.

A partir do final da década de 1970 iniciou-se o processo de transformação das fontes de receitas dos clubes. A receita proveniente de bilheteria teve sua importância diminuída devido à exploração de novas fontes de receita, como a televisão e produtos licenciados. As mudanças no futebol não foram direcionadas pelos clubes ou ligas e sim por novas tecnologias, principalmente as que envolvem a transmissão dos jogos. (SZYMANSKI; KUYPERS, 2000 apud MAYER, 2010, p. 10).

No entanto, o futebol é mais do que um simples negócio. Os clubes são considerados ativos culturais e comunitários; essa mensuração meramente capitalista muitas vezes deve ser relativizada, pois nem todos os clubes com grande capacidade de angariar recursos têm sucesso no futebol; os casos de fracassos de clubes com grandes financiamentos e receitas se estendem pelas últimas décadas tanto no Brasil quanto no resto do mundo.

1 Neologismo criado a partir do substantivo outdoor com o objetivo de adjetivar a utilização de propagandas nas camisas dos times de futebol. 23

No caso do futebol nacional, essa crescente exploração comercial e midiática deve ser analisada de vários outros aspectos, como a recuperação de alguns clubes tradicionais, a organização de campeonatos mais racionalizados no que tange ao calendário das competições, na melhoria, mesmo que a passos lentos, das estruturas dos estádios e praças esportivas ligadas ao futebol, mesmo antes da copa de 2014. Essa tentativa de melhoria, ou modernização tardia do futebol brasileiro, vai de encontro a um velho e já clássico dilema vivido no mundo desse esporte, o confronto entre o futebol-arte e o futebol-força. Debate alimentado pelos vinte e quatro anos de insucessos do primeiro sobre o segundo; foram seis copas do mundo, de 1974 a 1994, onde um futebol reconhecidamente mais alinhado com a descrição de futebol força venceu, e convenceu, tais disputas. O futebol- força apresenta-se como uma forma de parar o futebol-arte, vencedor das copas de 1958,1962 e 1970. Nesse momento se estabelece o polêmico debate envolvendo torcedores, imprensa esportiva, jogadores e dirigentes a respeito da forma de jogar futebol, bem como da preparação física e técnica da seleção brasileira. Ressaltando-se que, nesse período, o futebol-arte seguiu muito bem representado nos campos pelo mundo; destaque pode ser dado às seleções formadas para as copas de 1982 e 1986, onde o Brasil pratica um futebol visualmente alinhado aos ditames do futebol-arte, no entanto são superadas por selecionados europeus, Itália em 1982 e França em 1986, derrotas que foram computadas dentro e fora do campo.

[...] Em 1982, uma equipe esplendorosa, imaginativa no ataque e no meio- campo, representada pela geração criativa e brilhante de Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e Júnior e dirigida por Telê Santana, tomba, ainda antes das semifinais, diante da prosa efetiva e nem tão estetizante Itália. (WISNIK, 2008, p. 329).

Por fim, a copa de 1990, com a derrota do Brasil para a Argentina, deflagra de forma definitiva o ataque a nosso estilo de futebol. A Copa de 1994, jogada nos Estados Unidos da América, foi vencida justamente pelo Brasil; embora este não tenha desempenhado, nem de longe, seus maiores espetáculos, a vitória sobre a Itália na final dá um bom exemplo de nossa adequação ao futebol-força.

O esquema de Pasolini equaciona com propriedade o tema dominante das duas décadas seguintes do futebol brasileiro e das seis Copas do Mundo que se seguiram a 1970, entre 1974 e 1994. Trata-se de um longo intermezzo sem vitórias, em que a questão discutida no Brasil passava a ser a do dilema entre o “futebol-arte” e o “futebol-força”. As vitórias da Alemanha, Argentina e Itália, nesse período, além da fulgurante passagem do “carrossel holandês” em 1974, colocavam na ordem do dia a ideia de que era preciso adotar um futebol 24

eminentemente coletivo, taticamente responsável, compactamente defensivo, fisicamente forte, e que abrisse mão de devaneios individualistas. (WISNIK, 2008, p. 321).

No entanto, deve-se ressaltar que tanto o futebol-arte quanto o futebol-força são frutos de mundos simbólicos, nem um nem outro se sustentam em uma análise mais meticulosa, pois um estilo nunca foi abandonado totalmente, não são tipos ideais, nem puros, ambos coexistem e se misturam. Mesmo assim povoam o imaginário popular, teórico e técnico.

A maioria dos estudos sobre o futebol no Brasil enfatiza sua história e relação entre futebol e identidade nacional [...]. O trabalho de Gil acerca do drama do futebol-arte a partir dos anos 1970 insere-se nesta perspectiva. Gil (1994) destaca a relação entre futebol e nação, dando ênfase à imagem do futebol- arte como representação do povo brasileiro (miscigenação) e fonte da identidade nacional. A cultura mestiça brasileira teria dado origem ao estilo malandro de jogar futebol no Brasil. Alguns pensadores entendem o futebol como metáfora da nacionalidade. A construção da identidade nacional a partir do futebol-arte, no qual predomina a magia, habilidade, improviso e talento. (RODRIGUES, 2014, p. 4).

Essa associação do futebol com a arte, no Brasil, pode ser explicada também pela mistura do esporte com as festividades populares, num país onde a erudição, entendida aqui como cultura adquirida em instituições oficiais, escolas e universidades, ainda é insipiente; essas festividades esportivas seriam então uma das poucas atrações lúdicas e, porque não, artísticas para grande maioria, sendo assim, o futebol ganhou notoriedade pelo fato de trazer alegria, sonhos e realizações, mesmos sentimentos dos eventos artísticos.

Com o esporte, ademais, é possível criar uma zona intermediária entre a festa popular tradicional (elástica nas suas normas que ninguém a rigor controla ou conhece completamente) – festa que tendia a carnavalescamente confundir atores e espectadores – com seu oposto: o espetáculo erudito (o concerto e o desempenho teatral ou operístico), no qual atores e espectadores estão rigorosamente separado. (DAMATTA, 1994, p. 15).

Já fora do Brasil o reconhecimento do futebol praticado por nós passa pela comparação da rigidez de costumes e práticas esportivas, sobretudo tática, se comparado à nossa “malandragem” e inventividade, nos dribles e jogadas de efeitos construídas a partir de nossa cultura de improvisos e falta de previsibilidade.

Deste modo, fala-se do brasileiro esperto e malandro – aquele que sabe viver e “tirar vantagem de tudo” – como a pessoa que tem “jogo de cintura”. Expressão que se aplica tanto ao político populista (que sabe dar o “pulo do gato”, ou seja, viver positiva e cinicamente as contradições engendradas pelo seu comportamento), quanto ao bom jogador de futebol e o próprio estilo de 25

praticar tal esporte no Brasil. Pois sabemos que o chamado “futebol brasileiro” se representa a si mesmo como uma modalidade caracterizada no uso excepcionalmente habilidoso do corpo e das pernas, o que cria um jogo bonito de se ver. (DAMATTA, 1994, p. 16).

Essas características culturais refletidas no nosso futebol durante muito tempo foram admiradas, tanto no Brasil quanto no exterior, visto o volume crescente de jogadores de nosso país que foram jogar em grandes centros, como a Europa, ou mesmo em pequenos e jovens mercados da bola, como a Ásia e a América do Norte. No entanto tal característica pouco agregou ao avanço de nosso futebol no que tange à modernização. O modelo capitalista liberal de esporte não aceita muito bem, por muito tempo, somente a arte, a beleza e o encantamento. Junto do processo civilizador tardio do futebol brasileiro, chegou também o pensamento mercadológico, do resultado, do lucro racionalizado e duradouro. O futebol-arte entra então nessa era em rota de colisão com o chamado futebol-força, teórico e racionalizado. Em algumas ocasiões o chamado futebol-arte foi severamente subestimado pelo desenvolvimento científico de alguns países, mais avançados no desenvolvimento de técnicas científicas esportivas, foi o caso do confronto travado na Copa de 1958 contra a então superpotência União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Segundo Helal (1990, p. 120), nas vésperas de enfrentar essa grande equipe, moldada em parâmetros modernos, já que vinham de um país onde a tecnologia estava muito avançada, com conquistas como o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, naquele mesmo ano, praticavam um “futebol científico”, apresentando esquemas de jogo bem estudados, calculados e reacionais. Com jogadores com maior preparo e força física que os nossos, ainda não inseridos nessa lógica objetiva e racionalizada. Mesmo com todas essas vantagens o que se viu em campo, não foi, nesse momento, uma predominância do futebol-força sobre a arte, pelo contrário, o que aconteceu surpreendeu a muitos, inclusive os soviéticos, já que o placar de 2 a 0 para o Brasil, marcou o confronto desses dois estilos pelas décadas seguintes. Portanto, essa transição até o predomínio do futebol-força sobre a arte, teve sobressaltos. No entanto, essa racionalização parecia algo inevitável. Helal (1990, p. 134) afirma que como racionalização no âmbito esportivo pode-se entender uma busca cada vez maior na qualificação dos atletas, onde esses serão especializados nos papeis a serem executados, com desenvolvimentos táticos rígidos, formais e calculistas para um objetivo claro e específico, a melhoria do desempenho dos atletas e das equipes. Não que o futebol do Brasil não tenha avançado em condições físicas e atléticas, no entanto esse é um processo modernizante muito mais complexo que somente o desempenho dentro das quatro 26

linhas, que envolve um contexto de planejamento, profissionalização e racionalização de todas as esferas envolvidas na prática do futebol. É nesse contexto de modernização científica e futebol-força que começa o debate da inserção do futebol brasileiro; precisava-se urgentemente nos alinhar às novas técnicas e tecnologias desse período.

A valorização dos treinos cresceu nas últimas décadas. Isso em decorrência de uma nova concepção de futebol que domina o mundo futebolístico contemporâneo. Com os centros de treinamentos, alguns clubes passaram a treinar em campos diferentes do seu estádio sede, transformando os treinos em verdadeiros experimentos científicos de jogadas, destruindo totalmente a dimensão lúdica. (RODRIGUES, 2007, p. 52).

Portanto, a arte passa aos poucos a dividir espaço, cada vez menor, com as novas técnicas modernizantes, com clara tendência a deixar os atletas em melhores condições físicas competitivas, em detrimento à inventividade e à malandragem de outrora. Os Centros de Treinamento (CTs) são um marco nesse processo, onde o campo deixa de ser um lugar lúdico e informal, e passa a ser um ambiente de aplicações metrificadas e racionalizadas de conhecimento do corpo e seus limites. Para Rodrigues (2015, p. 35), entre as virtudes dos atletas fabricados nos CTs estão a disciplina, pontualidade, capacidade de adaptação, técnica e preparação física. Além de seguirem uma rigorosa e controlada rotina, que conta com acompanhamento médico e, em muitos casos, psicológico. Quase um regime militar, alguns times chegam a ter um manual de conduta do comportamento para seus membros. Tudo com o intuito de aprimorar as novas exigências de um mercado cada vez mais competitivo e racional. Esse é o pano de fundo das conquistas das Copas de 1994 e 2002; não entrando nos méritos e deméritos da Copa de 1998, o Brasil da copa de 1994 está longe de ser a essência do futebol-arte e também do futebol-força; o time treinado por Carlos Alberto Parreira mescla ambos os estilos, apresentando um futebol competitivo, defensivamente forte e com um ataque competente e tecnicamente equilibrado.

[...] Em 1994, uma equipe compactamente defensiva, prosaica por definição, dirigida por Carlos Alberto Parreira acompanhado de seu talismã, Zagallo, como supervisor, e contando a frete com a genialidade inventiva de Romário (vetado por eles até o último jogo das eliminatórias), vence a Itália nos pênaltis e reconquista a Copa do Mundo depois de 24 anos. (WISNIK, 2008, p. 329).

Inserir a copa de 1994 nesse contexto de modernização do futebol brasileiro pode ser bastante controverso, pois a glória da seleção não reflete os bastidores e os campos do futebol 27

nacional. Pelo contrário, pode até escondê-los. A má gestão esportiva, o amadorismo de alguns clubes profissionais, leis ultrapassadas e o modelo de gerência esportiva dominados pelos “coronéis da bola” ainda emperravam as engrenagens do futebol nacional, dentro e fora do campo.

A “crise do futebol brasileiro” é explicada pelo modelo “tradicional” de organização do futebol, baseado no amadorismo dos dirigentes e na política de troca de favores entre clubes e federações. Este modelo é responsável pela desorganização dos campeonatos, gerando jogos deficitários que acabam contribuindo para a migração de craque para o exterior. Este êxodo não somente diminui a qualidade dos jogos, mas gera uma escassez de ídolos, elementos importantes para promover a identificação coletiva. Isto acaba levando à queda de público, que afeta as finanças dos clubes. (PRONI, 2000, p. 149).

Fernandes (2000, p. 50) reforça esses argumentos, apontando que a forma como é gerido e organizado o futebol ainda passa longe de ser moderna. Segundo ele, na organização, o principalmente entrave são os calendários e as condições de jogo. Sendo os calendários inchados por inúmeras competições, muitas com pouca relevância e público, que levam os principais clubes do país a jogar de duas a três vezes por semana, esse ritmo insano de competições afeta as condições de jogo, pois impossibilita a recuperação técnica e a preparação tática das equipes. Sem falar das condições dos estádios, ou, como o autor prefere chamar, “casas de espetáculo”, locais que no país carecem de conforto e segurança. Por fim, afirma que essa deficiência administrativa dos clubes brasileiros pode ser atribuída à penúria financeira em que a grande maioria se encontra, acrescentando-se a isso a total estagnação de ideias, e à pratica arcaica de administrar. Percebe-se assim que, mesmo durante a eufórica sequência de finais 1994, 1998 e 2002 alcançada pela seleção brasileira, pouco se modificou na forma como o futebol nacional se organizava, e se organiza, pois sofria, e sofre, dos mesmos vícios administrativos e de gestão de outros períodos aqui citados. Fatos que têm reflexos dentro e fora do campo. No entanto, cabe ressaltar que movimentos contrários a essa mentalidade começam a aflorar, mesmo que essas iniciativas, num primeiro momento, tenham partido de setores externos ao esporte, movimentos oriundos da esfera governamental, caso da Lei Zico e Lei Pelé. No contexto da década de 1990, com todos os seus aspectos econômicos e sociais, dentre eles a chamada reestruturação produtiva, o Plano Real que visa o confronto dos problemas econômicos do Brasil, principalmente a inflação, que acaba por criar uma moeda de mesmo nome. Os desdobramentos da adoção de políticas Neoliberais: privatizações, aberturas de 28

mercados, flexibilização das leis trabalhistas, dentre outras. Tais transformações acabam também impactando no mundo do futebol. É nesse contexto que a Lei Zico (Lei nº 8.672/93) se insere. Segundo Rodrigues (2002), foi adotada uma nova política de redefinição da intervenção estatal na esfera esportiva, revisando o papel do Conselho Nacional de Desportos frente à legislação esportiva.

A lei Zico tem como preocupações as mudanças em torno da melhoria de serviços prestados ao consumidor (torcedor) e do incentivo da participação da iniciativa privada no esporte, retirando, parte, do patrocínio público. Com isso, abria-se oportunidade para o avanço do marketing esportivo, uma das facetas do futebol-empresa em gestação. Tais mudanças pretendem libertar o futebol da tutela estatal. (PRONI, 2000, p. 162).

Cabe aqui dar destaques mais detalhados sobre o “Projeto Zico” encaminhado ao Congresso Nacional em 1991, que pretendia:

i) regulamentar a presença de empresas e as formas de comercialização no futebol profissional, ii) rever a participação nos recursos da Loteria Esportiva, iii) extinguir a ‘lei do passe’ e estabelecer uma nova norma para o contrato de trabalho do atleta profissional, iv) redefinir os mecanismos de supervisão e assegurar a autonomia estatuária dos clubes, assim como v) buscar mecanismos mais democráticos e transparentes de representação e de administração das federações e da CBF. (PRONI, 2000, p. 163).

Rodrigues (2002, p. 58) afirma que, depois de muitas discussões e reações dos dirigentes de clubes e federações, especialmente no que se refere ao fim do passe, o projeto foi aprovado com algumas modificações, entre elas a retirada do ponto que pregava o fim da Lei do Passe, além da obrigação de transformação dos clubes em empresas. Uma das principais qualidades da Lei Zico foi a tentativa de democratizar as relações entre dirigentes e atletas, criando condições para a profissionalização do futebol. Uma outra questão foi tentar modificar a organização do futebol nacional, promovendo: (a) o fim do passe, proporcionando autonomia aos jogadores em forma de liberdade de contrato; (b) a ruptura com o modelo intervencionista do Estado nos clubes e federações; (c) o surgimento do futebol- empresa; (d) alterações no sistema eleitoral da Confederação Brasileira de Futebol (apud RODRIGUES; PIMENTA, 2000, p. 81). Para Helal (1997), a modernização tentada pela Lei Zico acabou não se completando totalmente, já que acabou levando em conta uma ética dupla, a moderna e tradicional, onde essas acabaram se mesclando. Por exemplo, jogadores profissionais e dirigentes amadores. Havia outras falhas no projeto modernizante empreendido a partir da Lei Zico.

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A adoção do ‘futebol-empresa’, permitida após a Lei Zico (...) sem a transformação da estrutura de poder não representa uma mudança radical na organização do futebol no país, pois a política de troca de favores ainda prevaleceria na organização dos campeonatos. Com jogos deficitários, o campeonato daria prejuízo aos clubes, limitando o potencial de marketing e da comercialização do futebol, e é exatamente isto o que vem ocorrendo mesmo após a Lei Zico. Ou seja, a modernização administrativa, significando comercialização do espetáculo, teria que vir acompanhada de uma modernização política, entendida aqui como autonomia e independência dos clubes para organizar os campeonatos. (HELAL, 1997, p. 111 apud RODRIGUES, 2015, p. 114).

Já em 1997, Pelé, ou como é conhecido fora das quatro linhas, Edson Arantes do Nascimento, então Ministro dos Esportes do Governo de Fernando Henrique Cardoso, ajudou a desenvolver um projeto que acabou virando a chamada Lei Pelé. Segundo Proni (2002), tal projeto de lei era inspirado na legislação espanhola, que buscava restaurar o controle do estado sobre as entidades esportivas. Rezava pela fiscalização do esporte e autonomia de organização dos clubes. Assim, “(...), ao propor a revogação da Lei 6.354/76, o projeto também pretendia retirar as proteções que a legislação garantia aos clubes (Lei do Passe) e aos atletas (15% na transferência e limite de três anos na duração do contrato), deixando que o esporte passasse a ser regulado pelas leis do mercado”. No entanto, as entidades esportivas da época não foram consultadas e reagiram com repúdio à proposta.

O projeto foi enviado ao Congresso Nacional sem qualquer consulta às entidades esportivas, o que levou dirigentes de clubes, da CBF e das federações estaduais a classificarem-no de idiota, estatizante, autoritário. Os principais clubes brasileiros se manifestaram contrário ao fim do passe estabelecido pela Lei Pelé, alegando que o passe era um a forma de repor os investimentos no processo de formação do atleta. (RODRIGUES, 2015, p. 115).

Rodrigues (2015), também afirma que a Lei Pelé provocaria uma extinção gradativa do passe e que, de acordo como essa nova regulamentação, quando ao fim ao contrato de trabalho, o jogador poderia se transferir para outro clube, mesmo sem o consentimento do clube atual. Deixando de existir um vínculo entre clube e jogador ao fim deste contrato. Mas, no caso de rompimento de contrato antes do fim deste, o jogador deveria pagar uma multa, estipulada anteriormente, de até 200 vezes o seu salário anual. Da mesma forma se fosse de um jogador durante o seu primeiro contrato deste como profissional, que teria duração de no máximo cinco anos. Tendo vínculo de seis meses após o final de seu primeiro contrato profissional com o clube que o revelou. Por fim, mesmo com algumas alterações, a controversa Lei Pelé foi aprovada. 30

Sancionada em março de 1998, a “Lei Pelé”, 9.615/98, reformulou os artigos da Lei Zico referentes ao funcionamento do sistema esportivo profissional, redefinindo o marco legal que rege o futebol brasileiro. Entre as mudanças mais importantes, dois artigos devem ser destacados: o de nº 93, determinando prazo de três anos para o fim do “passe” entrar em vigor; e o de 94, conferindo aos clubes que participam de competições profissionais prazo de dois anos para se transformarem em empresas. (PRONI, 2000, p. 201).

Com a preocupação também de evitar que prejuízos financeiros fossem acarretados e, com o fim do passe, recaíssem sobre os clubes, foi incentivado o trabalho de formação de jogadores nas categorias de base; desta forma a Medida Provisória de número 2.141, de 200, posteriormente reeditada na Medida Provisória número 2.142-2, de 2002, promove modificações relevantes na Lei Pelé.

Trata-se da indenização por formação. O clube de futebol que formou o atleta profissional tem o direito de cobrar a indenização de formação se comprovar que o atleta esteja registrado no clube como não-profissional por um período de no mínimo dois anos. A indenização por formação é um valor cobrado ao novo empregador (clube que adquire os direitos federativos do atleta) pela cessão do jogador de futebol e não pode exceder a 200 vezes o total da remuneração anual do atleta pactuada no contrato anterior. Essa indenização deve ser paga antes do final do contrato, pois quando este chega ao seu término, inexiste a referida indenização. Se clube (formador) não ceder (negociar) o atleta durante a vigência do contrato de trabalho pode perder o investimento no atleta. (RODRIGUES, 2014, p. 11).

O processo de modernização conservado do futebol brasileiro dava mais um passo, onde mais se esperava e onde mais era preciso, no celeiro produtor de pés-de-obra, a base. O processo então contava agora com uma sustentação legal moderna e que tinha, teoricamente, amplitude; mesmo que sob contestação de membros dos diversos segmentos, a Lei Pelé é hoje considerada um marco desta tentativa de modernização, tentativa, pois muita coisa ainda teria que ser modificada até que a engrenagem modernizadora rodasse de forma sustentável e duradoura.

Trata-se de um ajustamento da sociedade brasileira à modernidade capitalista. As classes responsáveis pela dominação tentaram ajustar a sociedade brasileira ao capitalismo internacional em transformação e, ao mesmo tempo, preservar o caráter geral presente na própria gênese da sociedade brasileira. A solução encontrada foi a modernização conservadora, isto é, um processo de mudança sem povo e sem democratização do poder ou da propriedade, de forma que as mudanças institucionais encontravam-se enclausuradas em um formalismo burocrático-conservador e as mudanças produtivas não incorporavam a progressiva participação do mundo do trabalho nos excedentes econômicos. A modernização pela qual passou a sociedade brasileira no século XX é considerada conservadora pelo fato de ter ocorrido 31

uma modernização nos meios de produção, mas não nas relações de produção. (RODRIGUES, 2014, p. 13).

Desta forma a modernização conservadora também pode ser aplicada ao futebol, já que o fim do passe no futebol brasileiro contribuiu para a modernização na produção de seu principal produto, o jogador tipo exportação, mas conservou a venda deste como um bem do clube. Nas copas que sucederam a esse movimento de modernização o que vimos, em âmbito nacional, foi uma lenta tentativa de colocar nosso principal esporte nos trilhos dos ditames da contemporaneidade do futebol. A Copa do Mundo de 2002, vencida por uma geração oriunda desse período modernizante, não trouxe grandes novidades ao Brasil, muito pouco se avançou na profissionalização da maioria dos clubes.

O argumento é que existem pouquíssimos clubes realmente profissionais no Brasil, com condições de se manter lucrativamente. A maioria funciona num semiamadorismo e, se quiséssemos dar um salto qualitativo, teríamos necessariamente que criar uma classe dos clubes de maior torcida e outra dos com potencial para ascender. O resto dos clubes teria que se contentar com ligas amadoras regionais. A base para isso é que o número de clubes por população e por tamanho da economia é muito maior do que em todos os países onde a indústria do futebol funciona e dá lucro. De fato, a partir da sua inserção na indústria do entretenimento, o futebol (e, no mais, todos os outros esportes) tem se tomado uma atividade cada vez mais complexa, exigindo cada vez mais profissionalismo e especialização na sua gestão. (VÍDERO, 2002, p. 89).

Esse cenário de penúria e má gestão perdura durante toda a primeira década do século XXI e se estende até nossos dias. Os desdobramentos desse período são o pano de fundo para o nascimento dos primeiros clubes-empresas do Brasil, dentre eles o Cuiabá Esporte Clube, cujo nascimento, em 12 de dezembro de 2001, inspirou esta pesquisa.

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2 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL EM MATO GROSSO

Esta dissertação mostra como o Cuiabá Esporte Clube se tornou, em menos de vinte anos, um dos exemplos de maior sucesso do modelo de clube empresa do Brasil. Esta pesquisa pretende se inserir no contexto propício e fértil da produção acadêmica científica, e ajudar a ampliar os debates em torno da temática, visando a compreensão dos processos que levaram o Cuiabá Esporte Clube à Série B (segunda divisão), de um dos campeonatos esportivos mais competitivos do mundo, o Campeonato brasileiro de Futebol. Para tanto será feito um estudo de caso, tendo como contexto os dados referentes à ascensão do clube, seu modelo de negócio, assim como suas estruturas organizacionais e seus impactos no cenário do futebol, nacional e estadual. O objetivo principal desta pesquisa é analisar quais os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional de futebol, advindo do seguinte problema: quais foram os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol? Para dar conta de responder a essa problemática foram feitas algumas questões secundárias, a saber: Quais os resultados obtidos no período abordado pela pesquisa no âmbito econômico e esportivo? Quais os modelos de gestão adotados para a obtenção desses resultados? Mas antes se faz necessário inserir o Cuiabá Esporte Clube no cenário do futebol mato-grossense.

2.1 DOS PRIMÓDIOS À ARENA PANTANAL

Nas linhas a seguir faremos um breve histórico do futebol no Mato Grosso (MT). O intuito desta parte do trabalho é termos um vislumbre do processo de inserção do futebol na sociedade mato-grossense e como gradativamente o esporte passou a fazer parte desta sociedade, transformando-se em um elemento da cultura local. A primeira partida de futebol registrada ocorreu na cidade de Cuiabá no ano 1911; nesta data foi disputado a primeiro confronto entre as equipes Internacional (porto) x Cuiabá (centro). Começa, nesse momento, uma prática que viria a ser adotada como esporte das multidões (POVOAS, 1983 apud DUARTE, 2013, p. 21). Essa primeira fase ficou conhecida como período amadorista do futebol de MT.

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Os primeiros relatos históricos dão conta que o Campo D´Ourique (atual Praça Pascoal Moreira Cabral) que era um campo de touradas, era usado também para a prática esportiva do futebol. Esse campo com múltiplos usos é o único relato histórico da prática do futebol no período compreendido entre 1913 a 1935. [...] Neste período o esporte até então não profissional era o elo entre os dois principais núcleos urbanos da Cuiabá na época que era a região do porto e a região do centro da cidade. Ainda nessa época surgiu o campo do Arsenal, onde posteriormente foi construído o estádio Presidente Dutra, esse espaço transformado em alguns momentos como praça de futebol gradativamente foi se tornando um ponto de encontro das famílias do bairro do Porto. (SIQUEIRA, 2018, p. 212).

Foi só no ano de 1922 que um grupo de entusiastas criou uma entidade denominada a “Liga”, para administrar o Sport em Cuiabá, fundada em 14 de julho do mesmo ano como nos informa o Jornal O Correio do Estado:

No dia 27 do mês próximo passado, em uma reunião em que compareceram os Snrs. Bel. Jayme Joaquim de Carvalho e José Annibal Bouret Filho, pelo Tupy Foot-Ball Club, Prof. Philogonio Corrêa e Guilherme Schwenche pelo Tiradentes Foot-Ball Club e Dr. Leonidas Pereira Mendes e Alencastro Maria Alves, pelo Commercial Foot-Ball Club, ficou organizada uma sociedade, que terá por fim o desemvolvimento do Sport, entelligentemente praticado, que recebeu o nome que serve de epigráphe a estas linhas. Brevemente devem ser publicadas pela imprensa as bases da referida liga. (...) A sua instalação e posse da sua diretoria, dar-se-á, no dia 14 de julho, no Palácio da Instrução. (Jornal Correio do Estado, arquivo público de Mato Grosso, 02/07/1922, p. 03). (DUARTE, 2013, p. 21).

Outras fontes indicam que a de futebol de MT, mesmo que amadora, datada de 1936, foi composta por sete clubes, sendo que alguns acabaram se profissionalizando e sobrevivendo até nossos dias, são eles: o Mixto e o Dom Bosco. Essa liga era denominada de “Liga Esportiva Cuiabana (LEC)”. Além do Mixto e Dom Bosco, outros cinco clubes fizeram parte desta primeira liga: Comércio Futebol Clube, Paulistano Futebol Clube, Americano Futebol Clube, Associação Atlética Tipográfica e o Esporte Clube Destemido (SIQUEIRA, 2018, p. 214). Segundo relatos da época, Cuiabá se deslumbrou com a então competição que se iniciara, onde a L.E.C promoveu uma marcha com as equipes que se deslocaram da Praça Ipiranga, passando pela Rua 13 de Junho, contornando a Praça da República, em seguida a Praça Alencastro e subindo a Rua Cândido Mariano, chegando até em frente do estádio (CAMPOS, 1983 apud DUARTE, 2013, p. 23). Para a época foi um evento totalmente novo, já que Cuiabá, assim como o restante do estado de Mato Grosso (MT), ainda respirava os ares bucólicos do começo do século XX, onde muito ainda se tinha que caminhar para acompanhar um novo movimento que tomava conta 34

dos grandes centros do resto do país. A pretensa modernização urbana trazia ares civilizatórios para esse canto do Brasil, o futebol fazia parte desse projeto, com seus uniformes, regras e a disciplina no controle do corpo.

Era uma experiência um tanto extraordinária para época, a população exaltada aplaudindo os jogadores e os ovacionando com muita alegria, os vendo ali uniformizados para uma nova consagração da cidade, a partir deste momento Mato Grosso se juntava a outros Estados com suas devidas ligas, ora fundava a sua para a organização dos jogos. (DUARTE, 2013, p. 24).

Graças a esse movimento de modernização aos poucos as oligarquias rurais, que historicamente sempre dominaram MT, vão perdendo espaço para uma elite urbana, mais intelectualizada e ligada aos novos tempos. No esporte de MT isso teve reflexo no surgimento tanto das ligas amadoras como das primeiras competições oficiais, onde a direção das equipes que vão se formando nesse período corroboram com essa afirmação.

Participar das atividades de um clube de futebol dava prestígio e notoriedade às pessoas. O surgimento do Mixto Sport Club (respeitando a grafia da época), se dá em 1934, onde a ideia não era apenas fazer um clube de futebol e sim criar um espaço de entretenimento cultural para homens e mulheres. Consideramos isso revolucionário para a época, pois os esportes públicos eram praticados dominantemente por homens, não sendo comum a participação de mulheres mesmo na plateia. No entanto temos que ressaltar que a cuiabania do sexo feminino tinha já um espaço de esportes criado em 1928, denominado “clube feminino”. (SIQUEIRA, 2018, p. 215).

Já na década seguinte, esses ares modernizantes ganham novos contornos com a consolidação da profissionalização do futebol no país, ventos que acabam chegando a MT, mesmo que de forma tímida. A profissionalização dos atletas no estado ainda iria tardar a acontecer, mas a estrutura burocrática já começava a surgir.

Em 1942 foi fundada a Federação Mato-grossense de Desportos (FMD) hoje intitulada FMF (Federação Mato-grossense de Futebol) para a coordenação do futebol no Estado, compostas pelas ligas e clubes como: Americano Esporte Clube, Clube Esportivo Dom Bosco, Estado Novo Esporte Clube, Paulistano Futebol Clube, Terceiro Distrito Esporte Clube, Liga Esportiva Corumbá, Liga Mirandense de Futebol, Liga Esportiva Aquidauanense, Liga Municipal de Amadores de Campo Grande e Liga Três Lagoas de Desporto. (Revista da Federação Matogrossense de Futebol, 2012). (DUARTE, 2013, p. 24).

No ano de 1943 foi realizado o primeiro Campeonato Mato-grossense de Futebol, ainda de forma amadora, mas essa já trazia algumas inovações, como a previsibilidade de um 35

campeonato com regras e um calendário definido previamente; nesta primeira edição a equipe do Paulistano Futebol Clube foi Campeã (DUARTE, 2013, p. 24). Outro fato marcante para o futebol de MT dessa década foi a inauguração do colégio Estadual Liceu Cuiabano, no dia 10 de novembro de 1944, dotado de arquitetura moderna para a época; contava, além das salas de aulas, com amplos salões de circulação, um anfiteatro, laboratórios de ciência, uma biblioteca, uma quadra coberta e, em anexo ao colégio, foi feito um estádio de futebol. A inauguração desse estádio só viria a acontecer no dia 01/06/1947. O jogo escolhido para a grande inauguração contou com preliminares entre solteiros e casados, e o jogo principal Mixto x Dom Bosco (SIQUEIRA, 2018, p. 215). Nos anos de 1950 viu-se uma expansão no interesse pelo futebol, a Copa do Mundo realizada no Brasil, mesmo que com desfecho trágico, provocou grande empolgação em torno desse esporte, movimento esse que provocaria a necessidade de novas praças para a prática do esporte bretão. Surgiu então o projeto para a construção do estádio Presidente Dutra, nome dado graças à chegada de um ilustre nome mato-grossense ao mais alto cargo político do país. Por intermédio do deputado federal de MT, João Ponce de Arruda, junto ao General Eurico Gaspar Dutra, então presidente da república na época, foram liberados um milhão de cruzeiros para a conclusão das obras do estádio. Lenine de Campos Povoas, deu continuidade ao trabalho desenvolvido pelo seu antecessor, finalizando as obras de construção do, considerado na época, maior estádio de futebol do Oeste brasileiro. Mesmo com todas as controvérsias que cercaram a construção de tal obra, o estádio foi inaugurado em 1952.

O novo estádio foi erguido no antigo estádio do Arsenal onde funcionava também a Praça Benjamin Constant, sendo que o terreno foi doado pela prefeitura de Cuiabá, através do prefeito Leonel Hugueney e os recursos federais foram aportados para mais uma nova construção de grande porte para Cuiabá. Na época o estádio “Dutrinha” como é chamado, foi considerado o maior estádio do oeste do Brasil, no entanto muito aquém do projeto origem. Sua inauguração ocorreu no dia 22 de junho de 1952. Sendo que a partir desta data o campeonato de futebol foi disputado neste novo estádio. (SIQUEIRA, 2018, p. 221).

Conta-se que o Presidente Eurico Gaspar Dutra, ao chegar à capital de MT, teve uma surpresa desagradável ao notar que o estádio, que pretendia ser uma cópia do estádio do Maracanã, não havia sido construído nos mesmos moldes e proporções que o projeto apresentado e apoiado por ele.

Na época, ao chegar ao estádio e verificar que não tinha nenhuma semelhança com o encomendado, o presidente Eurico Gaspar Dutra deu meia volta e partiu novamente para Rio de Janeiro onde era a Capital Federal, recusando-se a 36

inaugurá-lo, tamanha a frustração do presidente, que Mato-grossense de nascença, sentiu-se envergonhado com a obra. (DUARTE, 2013, p. 25).

O Dutrinha, que custou cerca de 1 milhão de cruzeiros, não chegava a comportar 7 mil pessoas nas arquibancadas – no Maracanã, que pode ter custado mais de 230 milhões de cruzeiros, cabiam mais de 150 mil torcedores (ARINE, 2019). O que nos parece é que o Dutrinha tenha provocado uma falsa expectativa em seu financiador, já que a soma enviada para sua construção não representava nem de longe a investida no Maracanã, mesmo assim, o presidente ficou decepcionado pelo fato de nem uma miniatura do tempo do Rio de Janeiro ter sido construído com o montante destinado para tal. Apesar disso, o Dutrinha se tornou o estádio-símbolo de Mato Grosso e atingiu sua época de ouro nas décadas de 60 e 70, junto com o Mixto Esporte Clube. Mesmo com todos esses percalços os jogos do Campeonato Mato-grossense, que ocorriam na capital, passaram a ser disputados nesse local. Foi só no ano de 1959 que se instalou a iluminação, fato este que marcou a inauguração oficialmente com a partida entre o Clube Atlético Mato-grossense x Uberlândia Futebol Clube (MG), partida que terminou empatada em 0x0 (DUARTE, 2013, p. 26). Na década seguinte, mais precisamente no ano de 1967, o futebol de MT se profissionalizou de forma definitiva, mesmo essa profissionalização sendo bastante precária até para os padrões da época. Nesse mesmo ano foi realizado o primeiro Campeonato Estadual profissional, vencido pelo Operário E.C.; esse ano marca a entrada de MT no cenário nacional de futebol, sendo que os times também passam a disputar partidas em nível nacional.

A profissionalização do Futebol Mato-grossense ocorreu em 1967, na gestão do coronel Hélio de Jesus da Fonseca. Seu primeiro campeão foi o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, presidido pelo habilidoso e astuto desportista Rubens dos Santos, “o Velho Guerreiro”. (SILVA, 2012, s/p).

Com o avanço do futebol estadual, o público foi se multiplicando, dando margem a especulações sobre a necessidade de um novo estádio com maiores proporções para comportar essa demanda crescente de entretenimento. Segundo Siqueira (2018, p. 151), outro ponto que deve ser levado em consideração foi que tal obra fez parte de um grande empreendimento a nível nacional, feito pelo Governo Militar que, na década de 1970, construiu 30 estádios e ampliou 2 em todo território nacional. Muito em conta do sucesso da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo do México de 1970, onde o país se torna tri campeão e ganha a posse definitiva da Taça Jules Rimet. Palcos 37

esses que também podem ser pano de fundo para o debate sobre o controverso uso do futebol pelo Regime Militar para a propagação das ideias de superioridade e efetividade do Regime. Nesse contexto, o projeto de construção desse novo estádio da continuidade graças a um terreno cedido pelo então Governador de MT, nesse período José Fragelli, as obras começaram efetivamente somente em 1971.

Fragelli baixou em 14 de setembro de 1971 um decreto autorizando o início da obra. Designou uma comissão de engenheiros e arquitetos, com a responsabilidade de encontrar o local para a construção e fiscalizar o ritmo dos trabalhos. (...). Em 29 de fevereiro de 1972 o governador assinou o decreto de desapropriação da área escolhida. No mesmo ano, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, esteve em Cuiabá no lançamento da pedra fundamental do Verdão. (SILVA, 1999, p. 29)

Cabe destacar, também, que o estádio do Verdão foi um catalizador na disputa das regiões Norte e Sul do estado de Mato Grosso, disputa que não finalizou com a divisão do estado em 1977.

Campo Grande, na época, era um centro urbano maior que sua capital e isso incomodava, e muito, Cuiabá, que buscava, a qualquer custo, incrementar sua população, seja com obras de modernização e infraestrutura, seja com a expansão das fronteiras agrícolas. Entretanto, a corrente separatista do sul, que ambicionava a divisão do Estado, ganhou força e, em 11 de outubro de 1977, o temor dos cuiabanos se concretizou. A divisão veio muito mais como a imposição de um regime ditatorial, que do desejo popular, emanado do então sul mato-grossense. (PORTELA, 2008).

O estádio foi um importante marco na estrutura arquitetônica de Cuiabá, além de provar a capacidade em rivalizar com a cidade de Campo Grande, que também tinha inaugurado um estádio no período, o Morenão, marca definitivamente a entrada de MT nos projetos modernizadores do Regime Militar.

A construção do Estádio Governador José Fragelli representa este desejo de se modernizar e de mostrar a Campo Grande seu poderio; já que esta inaugurara, em 1971, em homenagem ao governador que o concebeu, o Estádio Universitário Pedro Pedrossian, localizado dentro da Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT), atual Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Respectivamente, era “Verdão” contra “Morenão”; o sufixo “ão” de imponência foi associado às perífrases pelas quais eram conhecidas as duas cidades: “Cidade Verde”, Cuiabá e “Cidade Morena”, Campo Grande, como forma de marcar a rivalidade, seja no campo da política, seja no campo desportivo. (PORTELA, 2008, s/p).

Nascia então o estádio Governador José Fragelli, chamado quase sempre pelo apelidado de “Verdão”, que foi pré-inaugurado em março de 1975. Mas somente no ano seguinte, 1976, 38

o estádio teve o sistema de iluminação instalado, sendo efetivamente inaugurado por completo; este evento teve como convidados o Presidente da República Ernesto Geisel, para prestigiar o evento, e a realização de um torneio com a presença dos clubes Flamengo (RJ), C.E Dom Bosco, Mixto E.C. e Operário Várzea-grandense, para um torneio comemorativo, onde o título ficou com o Flamengo do RJ.

“O Chefe da Nação ficará na tribuna de honra, no meio do povo, e participará de uma comovente manifestação popular: o canto do Hino Nacional por todos os presentes. A inauguração do ‘Verdão’ será transmitida para todo o País, por várias emissoras de rádio e televisão”. (...) Segundo o que foi publicado pelo O Estado de Mato Grosso, a “renda desse jogo... será distribuída entre os clubes desta Capital, para que possam se capacitar financeiramente para o próximo Campeonato Nacional, já que a CBD confirmou a presença de um clube cuiabano no próximo ‘Nacional’”. (PORTELA, 2008, s/p).

Infelizmente o Verdão não ajudou os times de Cuiabá a seguirem uma trajetória de destaque nacional como imaginavam os contemporâneos e sua construção. No entanto, serviu como o principal palco do futebol de MT e deixou um legado de grandes jogos e nomes que estão no panteão desse esporte no estado.

No último quarto do século XX, houve o surgimento de muitos bairros nos arredores do estádio “Verdão”, ao mesmo tempo que o estádio tornou-se o grande palco dos espetáculos de futebol, onde desfilaram os grandes craques do Brasil e do Mundo. Mais os grandes jogadores regionais tiveram lugar de destaque no estádio, pois grandes clássicos regionais contavam sempre com um público que suplantava os 30 mil pagantes. (SIQUEIRA, 2018, p. 226).

O estádio permaneceu na história do futebol Mato-grossense durante 34 anos; em 4 de maio de 2010 se deu início ao processo de demolição para uma nova arquitetura, dando lugar à Arena Pantanal, um projeto arquitetônico e futurista para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil, onde 04 jogos foram realizados, além de servir hoje de casa das principais equipes de MT.

2.2 ARENA PANTANAL – DA CONSTRUÇÃO AO “MILAGRE NO PANTANAL”

Dos principais eventos esportivos que ocorreram na Arena Pantanal, sem dúvida os 4 jogos da Copa do Mundo do Brasil de 2014 são os que mais se destacam a nível nacional e internacional. Mas são os eventos locais que vão servir de fio condutor dessa parte do trabalho. Partindo da escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 até o acesso do Cuiabá Esporte Clube 39

à Série B do campeonato Brasileiro de Futebol em 2018, fato este que é, até este momento, um dos marcos esportivos mais importantes da história do clube e da própria arena. Para Tóffano (2013, p. 125), tudo começou em 30 de outubro de 2007, quando o Brasil foi ratificado o país-sede da Copa de 2014, retomando uma imagem que já havia sido relativamente mistificada e muitas vezes questionada, a do Brasil como o “país do futebol”. A cerimônia de escolha contou com uma apresentação de aproximadamente 40 minutos, focada em vídeos, com imagens de jogos da seleção, das cidades pré-selecionadas para organizar o evento, pontos turísticos e a explicação sobre os projetos das construções dos novos estádios. A apresentação foi marcada pelo discurso de que “o futebol estava voltando para casa”, que “o Brasil é o país do futebol”, onde “a natureza emoldura e convida para as práticas esportivas”. Por fim, Joseph Blatter, presidente da FIFA naquela ocasião, anunciou que a vigésima edição da Copa do Mundo de Futebol de 2014 seria realizada no Brasil. Seguiu-se, então, a escolha das subsedes, cidades interessadas em sediar os jogos do evento; para tanto, 18 cidades foram pré-selecionadas, destas apenas 12 seriam selecionadas efetivamente, portanto uma nova disputa começou a ocorrer entre essas cidades.

Candidataram-se como subsede dezoito cidades brasileiras e somente doze delas foram escolhidas para receber partidas da Copa. Da candidatura: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Florianópolis, Goiânia, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo. As escolhidas e o número de partida que receberam foram: Belo Horizonte – seis jogos, Brasília – sete jogos, Cuiabá – quatro jogos, Curitiba – quatro jogos, Fortaleza – seis jogos, Manaus – quatro jogos, Natal – quatro jogos, Porto Alegre – cinco jogos, Recife – cinco jogos, Rio de Janeiro – sete jogos, Salvador – seis jogos e São Paulo - seis jogos. (LIMA, 2019, p. 111).

Durante essa disputa regional entre Cuiabá, Campo Grande e Goiânia, mas polarizada entre as duas primeiras, surgiram diversos debates sobre a capacidade dessas cidades receberem o evento, não só pelos problemas de infraestrutura das localidades e dos estádios, mas também sobre a questão do legado posterior à copa, já que tanto Cuiabá quanto Campo Grande não tinham nenhum time de expressão nacional no futebol que pudesse, posteriormente, utilizar esses espaços de maneira sustentável e viável financeiramente. Basta lembrar que os times tradicionais e de grande torcida de Cuiabá, Mixto e Dom Bosco, além do time do Operário de Várzea Grande, cidade vizinha da capital e que sempre mandou seus jogos no Verdão, não figuravam em nenhuma das três principais séries do futebol brasileiro, pois todos amargavam problemas por atrasos de mentalidade das diretorias e também de mudanças consideráveis na composição demográfica da capital, onde muitos migrantes das décadas anteriores, 1980 e 40

1990, já chegavam a Cuiabá trazendo suas próprias equipes dos lugares que haviam deixado; soma-se a isso uma série de outros fatores, como a grande visibilidade midiática das equipes dos grandes centros e a globalização do futebol com a televisão, trazendo jogos de equipes multimilionárias da Europa, fatos que iam de encontro com o amadorismo do futebol local.

O futebol que foi a grande força de expansão da cidade, a partir da década de 1990 perdeu a sua força. Os clubes de futebol que tinham a hegemonia entre os torcedores deixaram de atrair admiradores, apesar do ápice de público entre o final dos anos de 1970 e início da década de 1980 a gerência dos clubes continuou sendo amadora o que transformou a riqueza dos clubes em dívidas que fizeram com que os patrocínios não quisessem atrelar suas marcas ao futebol. (SIQUEIRA, 2018, p. 229).

Esses fatos foram, aparentemente, ignorados pelos organizadores e a escolha seguiu lógica própria do mundo da política esportiva. O segundo ato desta história ocorreu com a oficialização de Cuiabá, em 31 de maio de 2009, como uma das 12 sedes da Copa do Mundo FIFA do Brasil de 2014, novamente marcado por um embate com a capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, e mais uma vez, a rivalidade histórica e política entre estas duas cidades aflorou. A contenda foi decidida a favor da capital de MT, considerada muito mais apta que sua rival. No entanto, muito haveria de ser feito para deixar a capital de MT em condições para receber esse evento. Desde as primeiras vistorias da FIFA, as futuras sedes, os problemas de adequação nas cidades e estádios se mostraram bastante problemáticos.

A decisão aparentemente simplista trouxe muitos problemas, pois uma vistoria da FIFA, os organizadores perceberam que nenhum dos prováveis estádios teria condições de sediar os jogos devido a precarização das condições dos estádios e das infraestruturas dos estados que gostariam de organizar os jogos. No entanto a meio a desconfiança o Brasil em 2009 foi confirmado como sede da Copa de 2014. (SIQUEIRA, 2018, p. 229).

Os novos padrões de qualidade, exigidos pela FIFA ao país sede, sobretudo os estádios que receberiam os jogos da competição, estavam muito além de nossa triste realidade enquanto estrutura esportiva internacional; o chamado “Padrão FIFA de Qualidade” trazia em seu bojo um leque de exigências que os estádios do Brasil e, aqui especificamente o Verdão, não conseguiam atender.

Dentre esses padrões, as condições das instalações esportivas apresentam-se como a mais rigorosa. O que imputou ao Brasil, no ano de 2007, a avaliação de que “o país não possuía nenhum estádio que atendesse às exigências da entidade para sediar jogos oficiais”. Isso após as análises feitas pela FIFA, ocorrida depois que o Brasil se apresentou oficialmente como país candidato a sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014. (GAFFNEY, 2015, p. 186). 41

Segundo Gaffney (2015, p. 77), deve-se levar em conta que essa precariedade foi encontrada até mesmo nos grandes estádios do país, não sendo, portanto, uma exclusividade do Verdão. Ainda segundo esse autor, o histórico de construção e reforma desses equipamentos esportivos remonta ao período do Regime Militar. A exceção era o estádio do Maracanã, que havia passado por uma reforma com o intuito de receber os XV Jogos Pan-Americanos. No entanto, até mesmo o Maracanã não apresentou condições satisfatórias nas análises feitas pela FIFA. Cabe aqui uma ressalva quanto às outras obras que foram exigidas para a realização da Copa de 2014 em todas as cidades sedes; tais obras, sua realização, legados e problemas de âmbito político econômico, fogem do interesse deste trabalho e poderão ser tratadas em momento futuro como desdobramento desta pesquisa. As adequações dos referidos estádios levariam os antigos espaços esportivos destinados ao futebol no Brasil a um outro patamar, no caso do Verdão; no entanto, somente adequações não seriam suficientes, pois desde o momento da escolha da cidade como sede, um debate tomou conta do estado e da cidade: o Verdão seria totalmente demolido para a construção de uma nova arena, nos padrões internacionais com múltiplas utilidades, as chamadas Arena Multiuso, mesmo que isso apagasse todo um passado de glórias do velho e ultrapassado estádio, fato este que trazia um nostálgico debate sobre a historicidade dos tempos áureos do Verdão.

Durante os seus trinta e quatro anos de figuração na paisagem urbana da cidade, o estádio proporcionou entretenimento à população local. Na sua fase de “ouro” participavam uma média de quarenta mil torcedores pagantes das atrações esportivas ocorridas no Verdão em dias de jogos considerados como clássicos do futebol mato-grossense, ou seja, em partidas envolvendo as principais equipes do estado. Dentre as atrações futebolísticas no estádio, ocorreram jogos locais – Campeonatos Estaduais, jogos interestaduais – Campeonatos Nacionais e jogos internacionais – Amistosos da Seleção Brasileira contra seleções de outros países. (LIMA, 2019, p. 105).

A escolha foi impositiva, pois o evento tinha um viés capitalista mercadológico que não se adequava a tais nostalgias esportivas. As obras eram de caráter de urgência e inquestionáveis, mesmo que grandes movimentos populares da época afirmassem o contrário, pois o país e as cidades subsedes tinham problemas estruturais muito mais urgentes para atender. No entanto, como foi dito, a lógica política esportiva do capital seguiu seu caminho.

Para que o comprometido fosse cumprido, dos doze espaços brasileiros utilizados em jogos de futebol da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, cinco foram construídos a partir da total demolição dos estádios que ocupavam o 42

espaço onde, atualmente, estão construídas as arenas, outros cinco foram completamente reformados com intensas remodelações e dois deles foram construídos exclusivamente para o Mundial. E todos eles com adequações justificadas no atendimento dos padrões internacionais de estrutura do espaço de jogo, que foram estipulados pela FIFA. (LIMA, 2019, p. 45).

A nova arena, teria que ser concebida para dar o tom de modernidade, substituir e se tornar o maior aparelho esportivo do estado de MT, sobretudo, um marco arquitetônico para demonstrar o poder econômico da capital; a obra teria que apresentar uma concepção de sustentabilidade e de espaço multiuso. A Arena Pantanal começou a ser projetada no segundo semestre do ano de 2009, já com a previsão de finalização das obras no ano de 2012.

Este novo complexo esportivo, orçado, inicialmente, em US$ 150 milhões, seria implantado na mesma área do antigo estádio, que seria totalmente demolido, preservando-se apenas seu campo de jogo e o nome. Dentre as diretrizes da obra, destacam-se: a capacidade para 48,5 mil pessoas, a proximidade da plateia, em dois níveis, com o campo de jogo; o posicionamento de camarotes, tribunas e autoridades em um setor intermediário; a visão plena da partida, de todos os setores; a forma retangular, com as quinas abauladas; colunatas de concreto na periferia de todo o projeto; o estacionamento radial, ao redor do conjunto; e, principalmente, fundamentos de sustentabilidade em sua concepção, em função das altas temperaturas de Cuiabá. (MELENDEZ, 2009, p. 12).

A demolição do antigo estádio começou no dia 4 de maio de 2010, o Verdão, que já fora casa de quatro amistosos da seleção brasileira, começou a ser desmontado, para dar lugar a um novo estádio. Duas escavadeiras rompedoras, da empresa mineira Destroy, se dedicaram em desmontar toda a estrutura de concreto e as arquibancadas, operação que levou aproximadamente 90 dias, no fim demoliram todo o complexo (TÓFFANO, 2013, p. 157). A fase seguinte foi a de erguer a nova arena esportiva, para tanto um grande projeto arquitetônico e urbanístico foi posto em ação, pois a realização de uma obra dessa envergadura requereria não só a adequação de um velho estádio às normas modernizantes da FIFA, mas também a inserção desse espaço na realidade da cidade; para tanto várias obras complementares foram pensadas e executadas para tornar esse espaço mais acessível tanto para os futuros torcedores do evento quanto para a população local, que poderiam posteriormente usufruir desses legados; no entanto, como se sabe, os problemas superam todas as expectativas, nossa velha política se chocou com a aparente onda modernizante, e de todas as obras pensadas para o evento, muitas, como a própria Arena Pantanal, não foram terminadas a tempo, caso também do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), além de algumas que nem saíram do papel. Mesmo com todos os problemas, a Arena Pantanal foi aos poucos sendo erguida. 43

O projeto fora desenvolvido em 2009 e suas obras foram iniciadas em 2010, após a demolição do antigo estádio, com previsão inicial de entrega para dezembro de 2012. Entretanto, esta já fora postergada para o segundo semestre de 2013, em função da não participação de Cuiabá na Copa das Confederações 2013, evento teste da FIFA, a ser realizado também no Brasil, em junho. A área total do empreendimento é de 307 mil m², atualmente subutilizada e terá uma nova área construída de 101 mil m², com requalificação urbana do entorno. O custo estimado de todo o complexo, para 43.136 expectadores, é de 518,9 milhões de reais, com 285 milhões destes financiados pelo governo federal. (TÓFFANO, 2013, p. 157).

Muitos problemas aconteceram até a obra estar parcialmente pronta (até a data deste trabalho ela ainda não havia sido concluída na sua totalidade); foram registrados muitos atrasos no cronograma das obras, problemas políticos, um incêndio e uma invasão das obras por grupos que protestavam contra os gastos elevados. Por fim, a Arena Pantanal devia passar por alguns testes antes dos jogos da copa. O primeiro deles ocorreu no dia 2 de abril de 2014; o jogo escolhido foi uma partida pela , disputada entre as equipes do Mixto Esporte Clube e Santos Futebol Clube, que terminaram empatadas e sem gols. Neste jogo, em que os ingressos foram esgotados e dezessete mil pessoas estiveram presentes, diversas falhas puderam ser observadas na estrutura da Arena Pantanal, como infiltrações, alagamentos, fiações espalhadas e falta de cadeiras. Mas, sobre o gramado, nenhuma queixa foi registrada (LIMA, 2019, p. 58). Já o segundo jogo teste ocorreu entre os times Luverdense Esporte Clube e o Club de Regatas Vasco da Gama, pela Série B do Campeonato Brasileiro, no dia 26 de abril de 2014, e, nesta disputa, ocorreu o primeiro gol da história da Arena Pantanal. O primeiro gol da Arena Pantanal foi de Reinaldo da Cruz Oliveira Nascimento. Essa partida, com o público de dezessete mil e oitocentas pessoas pagantes, terminou com o placar de 02 gols a 0, com vitória do time Luverdense (LIMA, 2019, p. 39). Mais dois jogos ocorreram antes da copa como teste: Cuiabá Esporte Clube x , que acabou empatado em 1 a 1, com público de mais de vinte mil pessoas. O quarto e último jogo antes da copa foi entre Santos Futebol Clube, que disputou com o Clube Atlético Mineiro, no dia 18 de maio de 2014, uma partida pela Série A do Campeonato Brasileiro e sofreu uma derrota pelo placar de 02 gol a 01 (LIMA, 2019, p. 40). A Arena Pantanal, mesmo com todos os percalços, fatos até hoje não superados, estava pronta para o evento da Copa da FIFA de 2014. O evento em si, suas partidas, não é aqui analisado, pois fogem do escopo desta pesquisa, mas o processo de construção e uso posterior 44

da Arena traz à luz a importância da existência de uma empresa esportiva que vai de forma direta e indiretamente se beneficiar desses acontecimentos. Pode-se afirmar que o Cuiabá Esporte Clube, na época um time de 13 anos de existência e jogando a Série C do Campeonato Brasileiro de futebol, de repente se viu como um dos times que, juntamente com Mixto, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande, esses últimos jogando a Série D do brasileiro de forma esporádica, se viram de posse de um dos estádios mais modernos do país. O Cuiabá, por suas qualidades administrativas e sua posição no cenário esportivo nacional, foi então, como veremos, o maior beneficiário desses processos. O fato que corrobora com essa afirmação foi a famosa Final da de 2015, onde o segundo jogo ocorreu no dia 07 de maio de 2015. O Cuiabá fez o que parecia impossível. Depois de perder por 4 a 1 no Mangueirão, em Belém (PA), o Cuiabá venceu o Remo com o placar de 5 a 1, com três gols de Raphael Luz. O resultado foi mais do que suficiente para o título inédito da Copa Verde e a consequente vaga na Copa Sul-Americana 2016. Esse jogo marca a ascensão do Cuiabá de mero time fora do eixo do futebol para um evento de nível internacional, fato que veio para coroar o modelo de time empresa. O grito de “milagre no pantanal”, que dá nome a essa parte do trabalho, e que foi proferido pelo narrador André Henning do canal televisivo Sport Interativo que cobriu esse jogo, expressa bem esse contexto que será exposto nas próximas linhas deste trabalho.

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3 SOCIOLOGIA DO ESPORTE E GESTÃO ESPORTIVA

Esta parte do trabalho contempla dois dos referenciais teóricos principais desta pesquisa, a Sociologia do Esporte e a Gestão Esportiva do Futebol, buscando realçar a importância da sociologia no âmbito esportivo e como ela pode explicar os desdobramentos de uma iniciativa comercial no cotidiano de uma cidade como Cuiabá/MT.

3.1 DO FUTEBOL LÚDICO AO FUTEBOL EMPRESA

Cabe neste momento a ressalva de que boa parte do referencial teórico da sociologia que aqui será aplicado é uma adaptação à realidade brasileira tanto social quanto esportiva, uma forma de Redução Sociológica.

A redução sociológica é um método destinado a habilitar o estudioso a praticar a transposição de conhecimentos e de experiências de uma perspectiva para outra. O que a inspira é a consciência sistemática de que existe uma perspectiva brasileira. Toda cultura nacional é uma perspectiva particular. Eis porque a redução sociológica é, apenas, modalidade restrita de atitude geral que deve ser assumida por qualquer cultura em processo de fundação. (RAMOS, 1996, p. 42).

Usando a plasticidade dessa ciência a nosso favor, de conceitos da sociologia enquanto ciência social geral, que se adequara ao esporte, neste caso específico o futebol,

(...) esses trabalhos a que recorremos demonstraram variados graus de apropriação de referenciais teóricos da Sociologia para levar a efeito suas interpretações acerca do objeto em questão, o que, por sua vez, evidenciou uma lógica de produção de conhecimento que, em distintos e discutíveis graus, resultou da articulação entre empiria e teoria, conforme recobrado nas diferentes tradições intelectuais que integram essa área do saber, desde quando emergiu como disciplina autônoma. (SOUZA; JÚNIOR, 2017, p. 102).

Desta feita, devemos começar aqui com uma definição do que seria a redução, não no sentido de importância teórica, mas sim, de foco de análise, a sociologia do esporte, começando por diferenciar brincadeira, jogo e esporte. Segundo Helal (1990), brincadeira pode ser definida como qualquer atividade espontânea, sem regras pré-estabelecidas ou fixas, que proporcione prazer na sua prática. Por jogo, esse autor entende como uma prática que tenha algum grau de regras pré-estabelecidas e fixas. Por fim, o esporte pode ser definido como uma atividade que requeira habilidades físicas e esteja subordinado a uma organização que seja mais ampla que os interesses dos participantes. 46

Sendo assim, o esporte está localizado em uma esfera mais complexa que a brincadeira e o jogo; por esse fato ele também tem maior abrangência social, seus impactos e desdobramentos provocam reações mais amplas e duradouras. Na introdução do livro de Norbert Elias e Eric Dunning, “A busca da excitação” (1992), observamos principalmente uma procura por explicar como as transformações da sociedade são acompanhadas pela evolução do aparelho psíquico. Os autores tentam explicar que, ao estudar o Desporto, tinham a profunda consciência de que a compreensão do desporto contribuía para o conhecimento da sociedade. Assim como perguntam:

Que espécie de sociedade é esta onde as pessoas, em número cada vez maior, e em quase todo o mundo, sentem prazer, quer como atores ou espectadores, em provas físicas e confrontos de tensões entre indivíduos ou equipas, e na excitação criada por estas competições realizadas sob condições onde não se verifica derrame de sangue, nem são provocados ferimentos sérios nos jogadores? (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 40).

Nesse livro os autores fazem reflexões sobre o começo do desporto, onde chamam atenção para a origem deste na Inglaterra, fazendo relações a respeito das características do desporto e o desenvolvimento da estrutura de poder da sociedade inglesa, apontando o surgimento do desporto como uma forma de confronto físico de tipo relativamente não violento. Assim como afirmam que o desporto tem uma função complementar nas sociedades altamente industrializadas, já que permite à população práticas de atividades físicas para as populações sedentárias, que não têm oportunidades de exercitar o corpo. Sendo o Desporto, ou aqui o esporte, uma forma de a população expressar suas emoções de forma não violenta, ou seja, sob controle do Estado, além da busca por um corpo saudável para uso da nova sociedade industrial.

A transição dos passatempos a desporto, “desportivização”, se é que posso utilizar esta expressão como abreviatura de transformação dos passatempos em desporto, corrida na sociedade inglesa, e a exportação de alguns em escala global, é exemplo do avanço de civilização. (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 43).

O contexto Inglês desse período produz várias características que facilitaram o surgimento do desporto, o esporte moderno, a organização política, a composição social, além do surgimento de algumas instituições anteriores ao desporto, como o exemplo dos clubes de cavalheiros. Segundo Elias e Dunning (1992), esses clubes organizaram, em um primeiro momento, disputas locais, mas, com o passar do tempo, essas disputas foram ganhando amplitudes mais regionais e, finalmente, nacionais. O passatempo do tempo livre vai então, aos poucos, se complexificando e ganhando regras bem definidas. 47

Na sociedade moderna pode-se dizer que essas instituições se somaram a outras para a consolidação do desporto e esporte moderno; a industrialização e a crescente especialização das atividades produtivas fez com que o controle dos impulsos e dos corpos fossem cada vez mais valorizados.

Nas sociedades como estas há um campo de ação muito limitado para a demonstração de sentimentos fortes, de acentuadas antipatias e de aversões relativamente a outras pessoas, para a entrega a intensos acessos de cólera, a um ódio feroz ou ao impulso de atingir a cabeça de alguém. As pessoas que se agitam demasiado, sob o domínio de sentimentos que não podem controlar, são casos para hospital ou para prisões. (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 69).

No entanto, as pessoas ainda não podem ficar sem emoções, pois estas fazem parte do ser humano; a sociedade moderna teria que encontrar uma válvula de escape para que a represa de sentimento não se tornasse uma inundação, como se tornou quando analisado do ponto de vista das anomias e moléstias psicológicas; então o desporto pôde, aos poucos, se consolidar como uma evasão a esse controle social, um local, um campo específico onde seriam permitidos o extravaso dos sentimentos e emoções ofuscados pela penumbra civilizadora.

Enquanto, nestas sociedades, as rotinas públicas ou privadas da vida exigem que as pessoas mantenham um perfeito domínio sobre os seus estados de espírito e sobre os seus impulsos, afetos e emoções, as ocupações de lazer e de algumas formas reminiscentes da sua realidade exterior autorizam-nas, de um modo geral, a fluir mais livremente num quadro imaginário especialmente criado por estas atividades. [...] Enquanto a excitação é bastante reprimida na ocupação daquilo que se encara habitualmente como as atividades sérias da vida — exceto a excitação sexual, que está mais estritamente confinada à privacidade —, muitas ocupações de lazer fornecem um quadro imaginário que se destina a autorizar o excitamento, ao representar, de alguma forma, o que tem origem em muitas situações da vida real, embora sem os seus perigos e riscos. (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 70).

Nesse sentido, Bourdieu procura estudar o esporte de uma perspectiva teórica, entendo- o como problema sociológico, onde o mesmo é um campo dotado de atores sociais com habitus, capitais e interesses distintos, conceitos de sua teoria, específicos de sua esfera se desenvolvem. Em Como é possível ser esportivo? (1983), Bourdieu parte da suposição que deve existir um conjunto de práticas e de consumos esportivos dirigidos aos agentes sociais, o qual procura encontrar uma certa demanda social. Tal suposição colocou ao autor duas questões. Em primeiro lugar, existe um espaço de produção dotado de uma lógica própria, de uma história própria, no interior do qual se engendram os "produtos esportivos", isto é, o universo das práticas e dos consumos esportivos disponíveis e socialmente aceitáveis em um determinado momento? Segundo, quais são as condições sociais de possibilidade de 48

apropriação dos diferentes "produtos esportivos" assim produzidos, prática do golfe ou do esqui, leitura de jornais esportivos, reportagem televisionada da copa do mundo de futebol? Dito de outra maneira, como se produz a demanda dos "produtos esportivos", como as pessoas passam a ter o "gosto" pelo esporte e justamente por um esporte mais que outro, enquanto prática ou enquanto espetáculo? Mais precisamente, segundo que princípios os agentes escolhem entre as diferentes práticas ou consumos esportivos que lhes são oferecidos como possibilidade em um dado momento? (BOURDIEU, 1983, p. 136).

Para dar conta dessas perguntas, Bourdieu responde que deveríamos nos perguntar quais as condições históricas e sociais que, segundo ele, aceitamos como óbvias: a existência de algo intitulado de esporte moderno, constituídas de um sistema de instituições e agentes, ligados, de forma direta e indireta, a prática e do consumo do esporte.

Como foi se constituindo, progressivamente, este corpo de especialistas que vivem diretamente ou indiretamente do esporte (corpo do qual fazem parte os sociólogos e historiadores do esporte - o que sem dúvida não facilita a colocação do problema)? E mais precisamente, quando foi que este sistema de agentes e de instituições começou a funcionar como um campo de concorrência onde se defrontam agentes com interesses específicos, ligados as posições que ocupam? (BOURDIEU, 1983, p. 136-137).

Essa resposta nos permite afirmar que existe efetivamente um campo esportivo, ou seja, afirmar a existência de instituições e agentes vinculados ao esporte, que funciona como um campo. Desta forma, o campo do esporte teria uma história própria, dotado de uma lógica também própria, mesmo essa sendo vinculada ao corpo social como um todo. Portanto, esse campo também desenvolveu suas próprias regras e comportamentos, entendidos por Bourdieu como habitus.

[...] um sistema de disposições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explícita que funciona como um sistema de esquema geradores, é gerador de estratégias que podem ser objetivamente afins aos interesses objetivos de seus atores sem terem sido expressamente concebidas para este fim. (BOURDIEU, 1983, p. 94).

Segundo Bourdieu (2004), campo seria como um microcosmos dentro de uma sociedade, tendo alguma autonomia deste, onde pode haver regras específicas daquele campo, mesmo que este possa ser influenciado pelas regras sociais gerais. Seria, então, um lugar onde se travam lutas entre os agentes desse campo a fim de alcançarem uma posição dentro deste. Tais disputas ocorrem por meio dos capitais sociais destes campos; esses capitais são valorados de acordo com cada campo; as diferenças de capitais indicam as hierarquias de cada um dos agentes nesses campos. 49

Portanto, o autor admite a existência de um campo específico do esporte e que esse campo, para ser vivenciado, requer a aquisição dos habitus específicos. Sendo assim, o esporte é uma parte da sociedade que pode ser vista e analisada de forma a parte, nunca negando suas características históricas e suas especificidades. Prosseguindo no entrelaçar da Sociologia com o esporte, pode-se citar aqui também a teoria do Fato Social de Durkheim, com o intuito de compreender como alguns de seus conceitos teóricos, aqui especificamente, a coercitividade, a exterioridade e a generalidade, podem lançar luz sobre um determinado esporte, aqui já delimitando nosso objeto de pesquisa, o futebol.

Eis, portanto uma ordem de fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em representações e em ações; nem com. Os fenômenos psíquicos, os quais só têm existência na consciência individual e através dela. Esses fatos constituem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. (DURKHEIM, 2007, p. 4).

Para Durkheim, o Fato Social pode assim ser definido: Coercitivo - exercem força sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade em que vivem, são obrigados, independentemente de sua vontade e escolha.

Esses tipos de conduta ou de pensamento não apenas são exteriores ao indivíduo, como também são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual se impõem a ele, quer ele queira, quer não. Certamente, quando me conformo voluntariamente a ela, essa coerção não se faz ou pouco se faz sentir, sendo inútil. Nem por isso ela deixa de ser um caráter intrínseco desses fatos, e a prova disso é que ela se afirma tão logo tento resistir. (DURKHEIM, 2007, p. 3).

Exterior - são exteriores aos indivíduos (independem de sua consciência particular), existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou adesão consciente. Geral - a generalidade ocorre quando os fatos sociais são coletivos e não individuais. Assim, atinge a toda a sociedade, (ao longo do tempo) em todos os indivíduos (ou, pelo menos, na maioria deles).

Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a 50

realidade deles, esta não deixa de ser objetiva; pois não fui eu que os fiz, mas os recebi pela educação. (DURKHEIM, 2007, p. 3).

Uma partida de futebol profissional, antes de mais nada, é um evento esportivo, onde a sociologia pode estudá-lo usando seus conceitos e métodos. Para ser um Fato Social o esporte futebol deve também obedecer aos critérios estabelecidos por Durkheim, sendo assim, para Helal (1990), a coercitividade poderia ser mensurada no esporte futebol da seguinte forma:

Note que estamos aqui diante de um daqueles fenômenos que se impõem desde cedo em nossas vidas. Assim como a língua ou a religião, o esporte nos é herdado pelo nosso meio no início da infância e a sua presença entre nós é tão impositiva que, muitas vezes, aquele que não se liga ao esporte de seu grupo social se sente, de certa forma, como uma pessoa não integrada, vivendo à margem da sociedade. Você já notou, por exemplo, como a sociedade brasileira acha estranho um homem não gostar de futebol? (HELAL, 1990, p. 12).

Quanto à exterioridade, poderíamos classificá-la sociologicamente nas palavras de Helal (1990, p. 13): “[...] o gostar do futebol no Brasil existe fora da consciência individual dos brasileiros, ou seja, exterior a ele, [...]”. Muito se cogita o porquê da popularidade do futebol. Giulianotti (2002, p. 7), afirma que “[...] sem dúvida alguma, o futebol tem algumas características essenciais que contribuem para sua popularidade. Provavelmente, a mais importante é a relativa simplicidade das regras, dos equipamentos e das técnicas corporais do jogo”. Nesse mesmo entendimento Rodrigues (2015), ressalta que:

A sintonia entre indivíduo e sociedade, ação e estrutura. O vínculo criado no futebol através dos símbolos, rituais e práticas nas torcidas é semelhante ao religioso, levando as pessoas ao cultivo de um time ou ‘totem’. Torcer por um mesmo time é fazer parte de uma comunidade mais ampla, compartilhar símbolos e sentimentos, é alimentar um vínculo comum. Trata-se de uma integração psíquica e física. (RODRIGUES, 2015, p. 50).

No que tange à generalidade do Fato Social, em Durkheim serve para definir uma coletividade fora do indivíduo e presente em boa parte da sociedade, pois funciona como um

(...) sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego para pagar minhas dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas observadas em minha profissão, etc. funcionam independentemente do uso que faço deles. Que se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade; o que precede poderá ser repetido a propósito de cada um deles. (DURKHEIM, 2007, p. 3).

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Nessa linha, DaMatta (1994, p. 16), afirma que “[...] de fato, o futebol ajuda uma coletividade altamente dividida internamente a afirmar-se como uma coletividade [...]”. Sendo o futebol um dos responsáveis por um sentimento coletivo de vitória, quando o seu time ou seleção vence determinado campeonato ou competição, feitos compartilhados por toda a sociedade, ou pelo menos por boa parte dela, atingindo as diversas classes sociais, credos e ideologias, sendo ao longo do tempo compartilhados e cultivados, título a título, estrela a estrela, marcando épocas e gerações nos ciclos dessas vitórias e conquistas. Um exemplo que aqui pode ser dado é a Copa do Mundo de Futebol Masculino e sua importância diante do torcedor brasileiro. A competição é organizada pela Fédération International de Football Association (FIFA), uma organização não-governamental que tem em seu quadro de associados 211 países2, ou federações. A primeira Copa do Mundo ocorreu no Uruguai no ano de 1930, onde sagrou-se campeã a seleção da casa. O Brasil figura nessa copa apenas como participante, mas já nascia ali uma tradição que se prolongaria no tempo, sendo o Brasil hoje o único país a participar de todas as edições até o momento, asssim como é detentor de cinco títulos, das copas de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Tais conquistas imprimiram, definitivamente, no imaginário popular, a noção de uma hegemonia nesse esporte, sendo esse fato um dos maiores orgulhos a serem ressaltados na identidade nacional. A Copa do Mundo para os brasileiros vai além de uma competição, é algo que extrapola o campo e as quatro linhas, nas palavras de Helal :

Nos damos conta que os eventos esportivos são vividos como momentos especiais, destacados da vida diária e ocorrendo em lugares apropriados que lhes conferem um caráter extraordinário. É como se o espetáculo esportivo proporcionasse uma pausa naquilo que podemos chamar de “vida real”, a vida do dia-a-dia, do trabalho, das contas para pagar, dos problemas da família, etc. (HELAL, 1990, p. 61).

O maior evento de futebol do mundo também pode ser analisado segundo os conceitos durkheimianos de Consciência individual e Consciência Coletiva, que se encontram durante esse campeonato. Definindo as conciências durkheimianas poderiamos tentar fazer essa comparação. A Consciência individual, para Durkheim (1995), é gerada pela divisão social do trabalho que gera uma interdependência entre os indivíduos, o que acaba permitindo que a consciência do indivíduo acabe ganhando mais espaço do que antes das sociedades mais

2 Fonte: Fédération Internationale de Football Association (FIFA). 52

especializadas. No entanto, essa característica desse tipo de sociedade acaba não dissipando a Consciência Coletiva, acaba ocorrendo o contrário, pois é por meio da Consciência Coletiva que os indivíduos começam a estabelecer conexões e compreensões da totalidade social. Ainda para Durkheim (1995), a Consciência Coletiva seria um conjunto de sentimentos e crenças comuns a membros de uma mesma sociedade, já a Consciência Individual é aquilo que é próprio do indivíduo, que o faz diferente dos demais. São crenças, hábitos, pensamentos, vontades que não são compartilhados pela coletividade, mas que são especificamente individuais. Partindo desses pressupostos, torcer pela seleção brasileira durante a copa pode ser também representado em duas instâncias, uma coletiva e outra individual. No que tange ao coletivo, Negreiros (1998, p. 78) afirma que a partir da copa do Mundo de 1938 (data da terceira Copa do Mundo sediada na França e vencida pela Itália), o futebol no Brasil passa a exercer papel de articulador da identidade nacional, contribuindo na formação da nação como uma “comunidade imaginária”, ou seja, uma comunidade fora de nós, uma Consciência Coletiva, construída no tempo e espaço nacional, erguida sobre bases sociais (evento que move a sociedade), culturais (moldou e foi moldado dentro da cultura nacional, com o jeito brasileiro de jogar, moleque, travesso e criativo, introduzindo nova linguagem ligada a esse esporte), políticas (usado por sistemas e governos para fins próprios) e econômicas (fez do país grande exportador de pés de obra, elevador social e também como mercado de trabalho e gerador de renda). Somam-se a isso os sucessos posteriores de nossa seleção de futebol, já citados no texto, que ajudaram a formar uma imagem vencedora para o país, pelo menos nesse esporte. Diante desse contexto, acompanhar tal evento passa a ser quase que obrigatório, como se houvesse uma onipresença do evento, na mídia, nas casas, no trabalho, na escola e em qualquer meio que se possa imaginar na sociedade brasileira; é como se, para o torcedor, ou não, o futebol, durante a copa abraçasse com tentáculos leviatânicos o indivíduo. Como se a seleção de futebol nacional, por alguns instantes, fosse a própria sociedade brasileira, viajando o mundo, combatendo por nós, ganhando e perdendo. Mas sempre representando os aspectos mais marcantes de nossa sociedade, a alegria (no jeito de jogar), as crenças (tanto em campo quanto fora, há uma miríade de representações religiosas, ‘no manto’, no hino cantando quase que como uma prece), a cultura (nas roupas das torcidas, no enfeite das ruas, etc) e, muitas vezes, nossas mazelas (com as quase unânimes histórias dos jogadores e suas origens humildes e de histórias sofridas). 53

Esses não são hábitos comuns a todas as sociedades, mas para o indíviduo nascido no Brasil, o futebol e a Copa do Mundo fazem parte de nossa socialização. O esporte é aprendido desde a mais tenra idade, onde a família o leva a conhecer suas bases, os pais passam suas preferências e, muitas vezes, impondo um determinado clube de futebol, nacional ou local. Na escola, nos grupos de amigos, até mesmo nas novas diversões eletrônicas, está ali o futebol, fazendo uma amálgama com outros aspectos de nossa socialização ; mesmo que não abranja todos os membros da sociedade, mas pelo menos a maioria deles, crescemos e nos socializamos nesse ambiente. “O descolamento destes sistemas das causas históricas seria torná-los incompreensíveis. Neste sentido, a educação para uma vida de costumes acaba por ser uma construção social. Ambos são produtos de uma vida comum refletindo seus anseios e necessidades” (DURKHEIM, 2013, p. 48). A Copa do Mundo, por sua vez, é o momento de exortação máxima dessa socialização, muitas vezes, agregando as citadas mentes que ao futebol, em outros tempos, não lhe são devotas. A Conciência Individual, mesmo que própria do indivíduo, ou seja, fazendo-o diferente dos demais, Durkheim deixa claro que nas sociedade modernas (QUINTANEIRO; BARBOSA et al., 2003, p. 74) “a Conciência Individual ganha muita autonomia diante da Coletiva, nas sociedades onde se desenvolve uma divisão do trabalho, a consciência comum passa a ocupar uma reduzida parcela da consciência total, permitindo o desenvolvimento da personalidade”.

Mas a diferenciação social não diminui a coesão... Ao contrário, faz com que “a unidade do organismo seja tanto maior quanto mais marcada a individualidade das partes”. Uma solidariedade ainda mais forte funda-se agora na interdependência e na individuação dos membros que compõem essas sociedades! (QUINTANEIRO; BARBOSA et al., 2003, p. 78).

Sendo a Copa do Mundo, mesmo que em uma sociedade moderna como a brasileira, um momento onde a Consciência Individual se dobra diante da forte coesão provocada por esse sentimento coletivo, não que esta desapareça diante da coletividade, mas muitas vezes é levada a concordar e aceitar a presença de aspectos que, em outros momentos da sociedade, não teriam para o indivíduo nenhuma relevância. Durkheim, mesmo afastado de nós por um século de existência, pode dar conta de aspectos e eventos contemporâneos; resta dizer que tal explicação não se esgota aqui. O profundo pensamento deste autor sobre a sociedade pode ainda render muitas análises sobre o esporte, sendo este dotado de muitos aspectos já previstos pelo pensador francês do século XIX 54

e começo do XX. Sua atemporalidade explicativa e teórica, assim como a do próprio esporte futebol, tende a se mesclar em futuras análises de eventos esportivos. Durkheim bem previu, em suas teorias, que o indivíduo, apesar de fortemente coagido pela sociedade a seguir suas regras e normas, não era um ser estático e poderia, em certos momentos, romper com essa coerção. Fato que fica claro com as mudanças ocorridas, no século XX e XXI, com as diversas transformações culturais, políticas, social e econômicas desses últimos séculos. Sendo o esporte futebol, em âmbito mundial, um fato que se insere nesse conceito, já que sai de uma diversão que nasce em um ambiente elitista da Inglaterra, para ganhar o mundo, sem distinguir classe social, credo religioso, raça, sexo ou gênero. Tornando- se um fenômeno que liga a humanidade por alguns dias, como se todos os anseios de Durkheim por coesão social fossem por um mês satisfeitos no evento chamado de Copa do mundo. Esses são exemplos de como a sociologia geral pode ser usada para explicar o esporte e aqui, especificamente, um evento esportivo de grande porte.

3.2 A METAMORFOSE DO FUTEBOL EM ESPETÁCULO E O SURGIMENTO DO CLUBE-EMPRESA

Como afirma Rodrigues (2014, p. 25), o futebol brasileiro passou por diversos processos de modernização em quase todos os seus setores, desde a parte técnica, administrativa e financeira, marketing, etc. Essa modernização, segundo o autor, faz parte de um processo mundial que envolve “à organização, à regulamentação de mecanismos de produção e veiculação, mudanças nas relações jogadores-clubes, fim do passe, futebol-empresa”. Fatos que acabaram provocando novos modelos das áreas de preparação física e tática, além de uma forte mercantilização televisiva dos eventos cada vez mais espetacularizados. Diante disso, devemos refletir sobre como esse processo de tornar o futebol uma empresa aconteceu. Faz-se necessário, então, uma definição conceitual tendo como preocupação trazer aqui a luz da administração, já que falaremos de empresas. De acordo com Peter Berger (1977, p. 193-199), Instituição social é toda forma ou estrutura social estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com caráter normativo – ou seja, ela define regras (normas) e exerce formas de controle social. As instituições sociais são formadas para atender a necessidades sociais. Servem também de instrumento de regulação e controle das relações sociais e das atividades dos membros da sociedade que estão inseridos. Características de uma Instituição Social: exterioridade, são dotadas de realidade externa ao indivíduo; objetividade: quase todas as pessoas reconhecem as instituições como algo legítimo, 55

para isso, dispõem de um poder normativo e coercitivo aceito pela maioria da população dessa sociedade; coercitividade: as instituições têm o poder de exercer pressões sobre as pessoas, de modo a levá-las a agir segundo os padrões de comportamento considerados corretos pela sociedade; autoridade moral: as instituições são reconhecidas pelas pessoas como tendo o direito legítimo de exercer seu poder e obrigar os integrantes da sociedade (pela força ou pelo convencimento) a agir segundo determinados padrões; e, por fim, uma instituição social tem historicidade, as instituições já existiam antes do nascimento do indivíduo e continuarão a existir depois de sua morte, pois elas têm sua própria história. Outro conceito da sociologia que poderia aqui ser tratado é a da organização, nesse sentido, para Parsons (1973, p. 43) compreende como organização o “(...) amplo tipo coletividade que passou a ocupar lugar de particular importância nas modernas sociedades industriais, ao tipo a que se aplica com muita frequência o termo ‘Burocracia”. De acordo com a teoria da administração, as organizações são criadas, a princípio, para atender a duas necessidades da sociedade, provê-las de produtos e serviços; segundo Moraes (2004), essas organizações podem ser de natureza econômica ou social. Nossa pesquisa busca entender especificamente as de natureza econômica, ou seja, aquelas que têm caráter específico de uma empresa que busca o lucro.

Organizações Empresariais – são organizações que têm como finalidade o lucro na produção e/ou comercialização de bens e serviços, podendo ser classificadas de acordo com o seu tamanho, natureza jurídica e área de atuação. São criadas com recursos próprios (dos proprietários em forma de capital social) e também com recursos de terceiros, como fornecedores e credores em geral (como empréstimos e financiamentos). O seu resultado é distribuído aos sócios e o restante é mantido como reservas de lucros para a empresa. (CARVALHO, 2008, p. 18).

Desde o século XIX a administração foi influenciada pelo paradigma positivista dominante, assim adotou uma filosofia de concepção de um mundo puramente pragmático. Isso ainda persiste até os nossos dias. O quadro abaixo apresenta as diversas escolas e teorias que foram sendo criadas para responderem aos desafios apresentados no decorrer da história.

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Quadro 1 - As teorias administrativas

Fonte: Alfaya (2017, p. 23).

Como nosso foco neste trabalho é a organização de uma empresa, ou seja, sua estrutura, faremos um breve relato sobre as quatro teorias que foram desenvolvidas para essa compreensão. Teoria Clássica:

Na Teoria Clássica partia-se do todo organizacional e da sua estrutura para garantir eficiência a todas as partes envolvidas, fossem elas órgãos (como seções, departamentos etc.) ou pessoas (como ocupantes de cargos e executores de tarefas). A micro abordagem no nível individual de cada operário com relação à tarefa é enormemente ampliada no nível da organização como um todo em relação a sua estrutura organizacional. (CHIAVENATO, 1987, p. 80).

A Teoria Clássica faz o caminho da totalidade para a particularidade e depois o caminho inverso, onde a visão de cada parte envolvida no processo tenha algum valor, no entanto deve- se lembrar que essa visão sempre está em uma esfera teórica, já que na prática pouco é levado em conta.

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Teoria Neoclássica:

A Teoria Neoclássica caracteriza-se por uma forte ênfase nos aspectos práticos da Administração, pelo pragmatismo e pela busca de resultados concretos e palpáveis, muito embora não se tenha descurado dos conceitos teóricos da Administração. (CHIAVENATO, 1987, p. 152).

Mesmo como revisão, ou reavaliação da Teoria Clássica a Teoria Neoclássica pouco inova nos aspectos a respeito da participação das partes menores, ou seja, do operário na estrutura operacional das empresas.

Teoria Burocrática:

A burocracia é uma organização na qual a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica e não em preferências pessoais. A seleção, a admissão, a transferência e a promoção dos funcionários são baseadas em critérios de avaliação e classificação válidos para toda a organização e não em critérios particulares e arbitrários. Esses critérios universais são racionais e levam em conta a competência, o mérito e a capacidade do funcionário em relação ao cargo. Daí a necessidade de exames, concursos, testes e títulos para admissão e promoção dos funcionários. (CHIAVENATO, 1987, p. 264).

A busca da inovação racional por parte da Teoria Burocrática é louvável, mas a tese da meritocracia ainda esbarra em problemas reais, como a dificuldade de acesso das minorias sociais, como as mulheres, os negros e os homossexuais. Outro fator complicador seria a baixa formação acadêmica de parte dos trabalhadores, o que colocaria esses em desvantagem em relação àqueles que frequentaram boas escolas. Por fim, uma organização ou empresa muito permeada pelos ditames burocráticos pode sofrer de um engessamento criativo, uma jaula de ferro weberiana.

Teoria Estruturalista:

A teoria estruturalista concentra-se no estudo das organizações, na sua estrutura interna e na interação com outras organizações. As organizações concebidas como unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas a fim de atingir objetivos específicos. Incluem-se nesse conceito corporações, exércitos, escolas, hospitais, igrejas e as prisões; excluem-se as tribos, classes, grupos étnicos, grupos de amigos e famílias". As organizações são caracterizadas por um "conjunto de relações sociais estáveis e deliberadamente criadas com a explícita intenção de alcançar objetivos ou propósitos". (CHIAVENATO, 1987, p. 291).

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Uma das teorias mais aceitas atualmente, a Teoria Estruturalista procura mensurar a interação das organizações com o meio social que a cerca, levando em conta suas especificidades, suas características como sendo parte de um todo, sendo influenciada pelo meio social, ao mesmo tempo que o influencia. A importância da exposição das abordagens teóricas acima se fez necessária para a compreensão do caminho que tomamos para entender o Cuiabá Esporte Clube como um clube- empresa e sua administração como tal. Para dar conta de verificar nossa hipótese sobre o Cuiabá Esporte Clube como clube- empresa: o modelo de gestão refletiu nos resultados obtidos pelo time no campo de jogo. A abordagem central será a da Teoria Burocrática, não excluindo elementos das outras abordagens teóricas anteriormente elencadas, pois nenhuma teoria dá conta de explicar toda a complexidade da realidade empírica. Assim, para a abordagem da Teoria Burocrática, segundo Chiavenato (1987), pode-se caracterizar uma empresa por cinco pontos:

1. Divisão do trabalho baseada na especialização funcional:

A divisão do trabalho atende a uma racionalidade, isto é, ela é adequada aos objetivos a serem atingidos: a eficiência da organização. Daí o aspecto racional da burocracia. Há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, estabelecendo as atribuições de cada participante. Cada participante tem um cargo específico, funções específicas e uma esfera de competência e responsabilidade. Cada participante deve saber qual é a sua tarefa, qual é a sua capacidade de comando sobre os outros e, sobretudo, quais são os limites de sua tarefa, direito e poder, para não ultrapassar esses limites, não interferir na competência alheia e nem prejudicar a estrutura existente. Assim, a burocracia é uma estrutura social racionalmente organizada. (CHIAVENATO, 1987, p. 263).

Em um clube-empresa essa divisão fica bem clara, onde se pode notar que, em muitos casos, aqui no Brasil ainda são poucos, desde a diretoria que deve ter alguma formação na área esportiva, além de departamentos técnico, financeiro, administrativo e de recursos humanos, marketing e patrimonial. Todos compostos por profissionais com formação na área específica de sua atuação.

2. Hierarquia de autoridade:

Cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. Nenhum cargo fica sem controle ou supervisão. Daí a necessidade da hierarquia da autoridade para definir as chefias nos vários escalões de autoridade. Todos os cargos estão dispostos em uma estrutura hierárquica que 59

encerra privilégios e obrigações, definidos por regras específicas. A autoridade - o poder de controle resultante de uma posição - é inerente ao cargo e não ao indivíduo que desempenha o papel oficial. A distribuição de autoridade serve para reduzir ao mínimo o atrito, por via do contato (oficial) restritivo, em relação às maneiras definidas pelas regras da organização. (CHIAVENATO, 1987, p. 264).

Se aplicarmos esses conceitos de hierarquia a um clube-empresa podemos encontrar várias formas organizacionais, citaremos aqui apenas uma:

Quadro 2 - Organograma de um clube de futebol

Fonte: Brunoro e Afif (1997).

Segundo Brunoro e Afif (1997), a hierarquia demanda que cada uma das partes envolvidas tenha e cumpra suas finalidades, que devem ser divididas por todos e a parte de cada indivíduo deve ser bem esclarecida; exemplo: a Diretoria – entre diversas atividades, responder às necessidades e administrar o relacionamento com federações, confederações, torcedores, imprensa e outros clubes; a Comissão Técnica – examinar as carências de cada profissional e fazer o planejamento; os Atletas – centrar a atenção na meta traçada depois da definição da premiação em caso de obtenção de títulos. Esse tipo de hierarquia nos servirá de base para descrições futuras, pois se trata de um organograma de um time pequeno com poucas divisões de tarefas e um quadro bastante enxuto de funcionários.

3. Sistema de regras e regulamentos:

A burocracia é uma organização ligada por normas e regulamentos estabelecidos previamente por escrito. Em outros termos, é uma organização baseada em uma legislação própria (como a Constituição para o Estado ou os estatutos para a empresa privada) que define antecipadamente como a organização burocrática deverá funcionar. Essas normas e regulamentos são escritos e também são exaustivos porque abrangem todas as áreas da organização, preveem todas as ocorrências e as enquadram dentro de um esquema definido capaz de regular tudo o que ocorre dentro da organização. (CHIAVENATO, 1987, p. 263). 60

Todo clube, seja ele empresa ou não, tem um conjunto de regras e normas legais que regem seu funcionamento interno e externo, esse documento é chamado de Estatuto. Tais regulamentações também podem descrever a duração, finalidade, os direitos e deveres dos associados, a disciplina do clube, dentre outras.

4. Formalização das comunicações:

A burocracia é uma organização ligada por comunicações escritas. As regras, decisões e ações administrativas são formuladas e registradas por escrito. Daí o caráter formal da burocracia: todas as ações e procedimentos são feitos para proporcionar comprovação e documentação adequadas, bem como assegurar a interpretação unívoca das comunicações. Como as comunicações são feitas repetitiva e constantemente, a burocracia lança mão de rotinas e formulários para facilitar as comunicações e rotinizar o preenchimento de sua formalização. Assim, a burocracia é uma estrutura social formalmente organizada. (CHIAVENATO, 1987, p. 263).

Todo clube-empresa tem um departamento que gerencia e dá suporte aos regimentos que guiam as ações do clube de forma interna e externa. Tal departamento recebe nomes diferentes em cada clube, podendo ser o Departamento Pessoal, Recursos humanos ou Gerencia Normativa ou mesmo de Comunicação.

A comunicação age no controle do comportamento das pessoas, também facilita a motivação por esclarecer aos funcionários o que deve ser feito, qual a qualidade de seu desempenho e como melhorá-lo se estiver abaixo do esperado. Para muitos funcionários, a comunicação possibilita a expressão emocional de sentimentos e a satisfação de necessidades sociais. E a função final da comunicação é facilitar a tomada de decisões, proporcionando informações de que as pessoas precisam para tomar decisões ao transmitir dados para que se identifiquem e avaliem alternativas. (ROBBINS, 2005, p. 326).

Em clube-empresa o setor de comunicação serve para dar aos seus membros informações de dentro e de fora da empresa, dados sobre o funcionamento da mesma, seu desempenho nas competições, assim como dados sobre seus adversários, levantamentos estatísticos dos outros clubes, notícias e planejamento das concorrentes.

5. Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas:

A distribuição das atividades é feita impessoalmente, ou seja, em termos de cargos e funções e não de pessoas envolvidas. Daí o caráter impessoal da burocracia. A administração da burocracia é realizada sem considerar as 61

pessoas como pessoas, mas como ocupantes de cargos e de funções. O poder de cada pessoa é impessoal e deriva do cargo que ocupa. A obediência prestada pelo subordinado ao superior também é impessoal. Ele obedece ao superior, não em consideração à sua pessoa, mas ao cargo que o superior ocupa. (CHIAVENATO, 1987, p. 264).

A impessoalidade em um clube de futebol, aqui em um clube-empresa, pode ser medida graças às novas técnicas de mensuração de desempenho físico/técnico dos jogadores, onde, mesmo com grandes patrocinadores e bons empresários, algumas estrelas do futebol podem ser deixadas no banco de acordo com seu desempenho nos treinos físico/técnico, fora das quatro linhas, com a contratação de quadros profissionais com formação específica para as áreas de atuação em que irão desempenhar suas atividades, como psicólogos e gerentes administrativos, por exemplo. Quando transpomos essas ideias para as organizações esportivas e, sobretudo, para o futebol, podemos encontrar características que antes eram exclusivamente das empresas, visto que, com o processo de transformar os times em clube-empresa, esses adotaram linguagem empresarial, métodos e ferramentas das empresas e, na maioria dos casos, estão sujeitas à concorrência e buscam o benefício econômico (SOLÉ, 2004). São exemplos disso, no futebol brasileiro, as falas de dirigentes, comentaristas esportivos e, até mesmo, de jogadores que usam dos jargões empresariais na lida com o esporte. Assim também podemos notar que os clubes mais organizados possuem departamentos de Marketing, Recursos Humanos, Estratégia e tratam jogadores como um produto e torcedores como clientes.

O clube-empresa é uma forma de organização das entidades de prática desportiva (clubes) na forma de sociedades empresárias com finalidade lucrativa. Historicamente, os clubes se organizaram em associações ou sociedades civis sem fins lucrativos. Isto porque o esporte era, no passado, amador, em que, de fato, não se almejava lucro. (MEGALE, 2009, p. 21).

Resta saber como se deu essa transição do outrora amador futebol brasileiro (não confirmando aqui uma total transição ao profissionalismo, nem a transformação total dos clubes nacionais em clube-empresas, pelo contrário), de alguns clubes de organização tradicional, semiamadora em clubes-empresas, alguns até bem-sucedidos do ponto de vista esportivo, como o caso do Cuiabá Esporte Clube. O futebol não nasceu como espetáculo a ser comercializado, nasceu como um passatempo lúdico; não nasceu como empresa, nasceu como uma distração para membros da elite inglesa com pequenos clubes amadores; a passagem tanto do lúdico ao espetáculo, quanto da distração burguesa a empresa se deu em um contexto histórico. 62

Tais fatos vêm a reboque de outros acontecimentos sociais, econômicos e culturais do pós-Segunda Guerra Mundial, onde se viu nascer um novo mundo, dividido e polarizado por EUA e URSS, assim também como se viu a ascensão de uma nova sociedade de consumo maciço.

Também é preciso deixar claro que, se a sociedade de massa está associada a um lazer de massa, isso só foi possível porque houve uma paulatina redução da jornada de trabalho e um correspondente aumento do tempo livre das camadas trabalhadoras da população. Esse foi um processo secular, que ocorreu simultaneamente na Europa e na América do Norte. (PRONI, 1998, p. 60).

Esse tipo de lazer só passa a ser possível de forma massificada no pós-guerra graças à diminuição da jornada de trabalho, já que no século XIX e começo do século XX isso seria impossível, pois os operários tinham jornadas de trabalho que não permitiam tal luxo; entende- se assim porque um esporte como o futebol, num primeiro momento, é praticado pela elite inglesa abastada de dinheiro e tempo para usufruir de lazer.

O lazer do século XX tem implicações distintas do lazer aristocrático do passado, pois ao mesmo tempo que se apresenta como o substrato de um estilo de vida "lúdico", é claramente um tempo de vida votado ao consumo um tempo socialmente disponibilizado para permitir aos trabalhadores o acesso a bens e serviços produzidos em massa. (PRONI, 1998, p. 63).

Essa distinção é importante para entender por que o futebol passa a ser um esporte de multidões mesmo antes da espetacularização. As massas ávidas por lazer encontram no futebol um alento a sua vida rotineira dos subúrbios dos grandes centros. As regras bem estabelecidas desse período também contribuem para o avanço para os quatro cantos do mundo com um padrão globalizado de consumo. Problemas antigos também começaram a ressurgir, a violência que era comum em outros períodos volta contaminar os estádios com confrontos de torcidas; as multidões entram em confronto agora, não mais por reis e governantes, mas sim, por times/totens. Outro fator importante nesse processo são os meios de comunicação de massa, rádio, TV e cinema que trazem novos comportamentos à cultura popular, que são copiados maciçamente.

Primeiro, embora a sociedade de massa tenha suas raízes na glorificação do consumo guiado pela moda, pelo estilo de vida, devemos lembrar que ela só se materializa com a produção seriada, com a disponibilidade de tempo e de renda, com a expansão do crediário, com os meios de comunicação de massa e o marketing. (PRONI, 1998, p. 65).

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Estava pronto, assim, o caldeirão cultural para o surgimento do futebol espetáculo, tempo livre, grandes multidões e um indústria cultural que ansiava por ídolos que poderiam vender e ser vendidos para a geração de lucros cada vez mais inimagináveis. Nesse sentido, Proni (1998) afirma que a popularização e a distribuição das práticas do esporte, aqui especificamente o futebol, ajudaram a criar um “estilo de vida esportivo”, que foi pano de fundo para o surgimento da indústria em torno dessas práticas, onde se cobrava o alto rendimento dos atletas/jogadores, que seriam cada vez mais explorados midiaticamente como padrão a ser seguido, fato que foi amplamente aproveitado pelos meios de comunicação específicos, que também se desenvolveram para atender essa demanda crescente. Esse movimento do esporte rumo à indústria, tanto do entretenimento quanto da produção de produtos para atender aos atletas e seus consumidores, passa a cobrar uma nova posição das instituições envolvidas nesse processo. Haveria cada vez menos espaço para o amadorismo de outrora, cada vez menos espaço para paixões por parte dos dirigentes e atletas; a lógica do capitalismo liberal não convive bem com nuances sentimentais e devaneios mitológicos de heróis nos moldes greco/romano, seria necessária uma administração racional e robusta para alcançar os resultados. Momento propício para o abandono das antigas práticas amadoras, familiares e sentimentais para adoção de um modelo mais antenado aos novos tempos. O futebol que já havia, então, há muito tempo, aliás, deixado de ser apenas uma diversão da burguesia, passou a ser um esporte de massa, onde os números se tornavam grandiosos; no entanto, nem tudo no mundo do futebol espetáculo era glorioso, boa parte dos clubes, aqui e em parte do mundo, viviam na penúria do amadorismo administrativo, a necessidades de mudanças na gestão urgiam na mesma proporção que clubes tradicionais se enterravam em dívidas e falências. O marco para o começo da mudança de paradigma, no caso do futebol, foi, segundo Proni (1998), a Copa do Mundo do México de 1970 com sua épica transmissão ao vivo, que contou com a apoteótica apresentação da Seleção Brasileira campeã do evento. Um acontecimento de tamanha envergadura proporcionou o questionamento das antigas formas de administração desse esporte. Nessa mesma década, vários foram os avanços na comercialização do futebol, como a expansão da National American Soccer League (NASL), dos EUA, tida como a primeira implantada nos moldes empresariais modernos. Assim como o investimento de grandes marcas, como Adidas e Coca Cola. Na década seguinte, ainda segundo Proni (1998), outro importante fato foi a liberação das logomarcas nas camisas dos times e nas laterais de campo em forma de placas comerciais, e o marketing esportivo jamais seria o mesmo. 64

O crescimento do futebol como negócio levou os clubes a se organizarem como empresas. "Quando se fala em time como empresa, não importa tanto em qual modalidade ele se encaixa (patrocínio, parceria, empresa ou sociedade com capital aberto em Bolsas de Valores). O fundamental é que haja uma gestão empresarial moderna, profissionalizada, voltada à inserção do futebol na indústria do entretenimento, na qual é uma das mídias mais importantes e com capacidade de captar tantos recursos quanto os necessários para financiar a longa e caríssima série de atividades de que um time, para ser competitivo no cenário atual, necessita". Assim, aquele clube amador, administrado por gerentes não remunerados, financiado exclusivamente pelo público nos estádios e pelos seus sócios é cada vez mais raro. (VÍDERO, 2002, p. 33).

Na década de 1990 uma nova onda de modernização tardia se fez em forma de leis que visam a melhorias na gestão dos clubes de futebol do Brasil; a primeira delas, já tratada nesse trabalho é a chamada Lei Zico (nº 8.672, de 06 de julho de 1993), que trazia, dentre outras coisas, nos artigos 10 e 11, a possibilidade dos times se transformarem em sociedades comerciais; algumas equipes no bojo desse processo foram criadas no formato de empresas ou mesmo algumas empresas foram contratadas para trabalharem junto as essas equipes. Nada que abalasse as velhas práticas dos dirigentes esportivos. Mudanças mais radicais só começaram a ocorrer com a Lei Pelé (nº 9.615, de 24 de março de 1998), que obrigava os times a optarem por uma das formas citadas acima, dando um prazo de dois anos para a mudança. Da Lei Pelé até nossos dias não ocorreram modificações significativas; os clubes que desejam ser uma “sociedade empresária” devem seguir os tipos de associações descritos entre os artigos 1.039 e 1.092 do Código Civil.3 São eles: Sociedade em Nome Coletivo: Formada apenas por pessoas físicas em um regime onde todas são responsáveis pela empresa no geral. Sociedade em Comandita Simples: Formada por sócios de duas categorias. Os comanditados são pessoas físicas responsáveis pelas obrigações da empresa como um todo e os comanditários pagam e recebem apenas os valores relativos à porcentagem das ações que possuem. Sociedade Limitada: Formada por pessoas físicas e/ou jurídicas que têm a obrigação de cuidar de todos os bens da empresa, semelhante à Sociedade em Nome Coletivo.

3 Fonte: Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2020. 65

Sociedade Anônima: Formada por pessoas físicas e/ou jurídicas, sendo que o capital investido é dividido em ações, que podem ser restritas a um grupo, ou abertas ao mercado financeiro.

O clube-empresa torna o futebol uma mercadoria como qualquer outra, que deve ser gerida de forma racional e como toda mercadoria ser exposta aos riscos do Mercado. A adoção de uma gestão empresarial e a expansão das receitas dos times de futebol facilitaram uma aproximação com o mercado de capitais, que passou a ser visto por alguns clubes como uma alternativa de capitalização e de valorização patrimonial. Em 2014, havia 46 equipes listadas em bolsas de valores europeias (conforme acompanhamento do Stoxx Europe Football Index). A maioria do Reino Unido, mas também da Alemanha, Itália, Turquia, Portugal, França, Macedônia, Holanda, Suécia, Polônia e Dinamarca. Na América do Sul, em contraste, só 3 equipes estavam listadas, todas do Chile. (PRONI; LIBANIO, 2016, p. 1).

Cabe aqui darmos exemplos de clubes que aderiram a essa lógica mercadológica ou nasceram com essa mentalidade de clube-empresa, tanto no Brasil como no mercado internacional. São os casos de Manchester United, exemplo de sucesso nessa empreitada, que abriu seu capital em 1991, com uma grande valorização de suas ações (PRONI; LIBANIO, 2016), fato que contribuiu para tornar a Premier League a mais rica do mundo.

Manchester United, cujas ações valorizaram mais de 500% entre 1991 e 1995. Entre outubro de 1995 e outubro de 1997, foi seguido por outros 16 clubes ingleses. Além de proporcionar uma fonte de financiamento a baixo custo, era um meio de atrair novos investidores, aumentar a lucratividade do negócio e aproveitar as oportunidades comerciais que estavam se abrindo no futebol. (PRONI, 2000, p. 67).

Segundo Proni e Libanio (2016), essas equipes se tornaram sociedades com capital aberto, provocando então mudanças nas suas estruturas internas, como no caso da direção dos negócios, que tiveram que se profissionalizar, assim como a diretoria, e contar com uma visão mais executiva e qualificada, novos planejamentos estratégicos, contas mais claras e um conselho administrativo especializado, tudo sempre com a preocupação de preservar os interesses de seus acionistas.

O clube inglês Manchester United pode ser considerado um pioneiro na tentativa de estabelecer uma identidade global no mercado internacional. Seu relatório anual de 2003 atestou a necessidade do clube em transformar cerca de 75 milhões de fãs espalhados pelo planeta em consumidores dos seus produtos, declaram Hill e Vincent (2006). Diz Schaff (2004) que o clube inglês oferece conteúdos através de telefones móveis para seus torcedores na Ásia e na América do Norte. Na China, ele possui um canal de televisão e um 66

sítio eletrônico em Chinês. Também planeja abrir lojas exclusivas de produtos licenciados em algumas das capitais asiáticas. (MAYER, 2010, p. 25).

Atualmente, essa empreitada do Manchester United conta com valor de mercado na casa de R$ 4 Bilhões4. No Brasil, até o momento deste trabalho, nenhum clube do futebol estava listado na Bolsa de Valores, mas o debate a esse respeito continua. Os motivos são a não adequação às normas da Bolsa de Valores nacional e a falta de leis específicas.

Um aspecto essencial a considerar é o perfil da empresa que se candidata a negociar suas ações na Bolsa (BM&F Bovespa; PWC, 2011). Toda companhia com capital aberto deve garantir um nível de prestação de informações para o público muito superior ao de uma companhia “fechada”. A empresa “aberta” deve ter uma estrutura organizacional com total transparência, estando preparada para o pronto fornecimento de informações e a prestação de contas, permitindo a qualquer interessado acompanhar e fiscalizar seu desempenho e gestão. (PRONI; LIBANIO, 2016, p. 14).

Quanto à legislação específica do futebol, em 2015 a Lei de Responsabilidade do Esporte (BRASIL, Lei nº 13.155, 2015), ou Lei PROFUT como ficou conhecida, foi criada com o objetivo de estabelecer princípios práticos de responsabilidade fiscal e financeira e de gestão transparente para entidades desportivas profissionais do futebol.

Os principais pontos estabelecidos na lei em comento, no que se refere a restruturação da gestão do futebol, são: Instituição de parcelamentos especiais para recuperação de dívidas da união através do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro - PROFUT; Criação da Autoridade Pública de Governança do Futebol – APFUT como órgão fiscalizador e disposição sobre a gestão temerária no âmbito das entidades desportivas profissionais, com o objetivo de punir dirigentes por práticas consideradas de gestão temerária. (SIQUEIRA JUNIOR; SANTOS OLIVEIRA, 2018, p. 23).

Esses são exemplos que servem para dar fundamentação para que, no ano de 2001, em meio a grandes mudanças na mentalidade esportiva mundial e nacional, o estado de Mato Grosso, já há quase 03 décadas na periferia do futebol nacional, ingressasse definitivamente nessa onda de modernização tardia do futebol brasileiro. É diante desse contexto que a história do Cuiabá Esporte Clube deve ser descrita e analisada; as mudanças no mundo esportivo também causaram rupturas nas antigas estruturas organizacionais do esporte no Brasil e em Mato Grosso; nosso futebol a nível nacional e

4 Fonte: Transfer Markt. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2020. 67

estadual não ficou empune diante do avanço no processo civilizador. O objeto deste trabalho, portanto, é o Cuiabá Esporte Clube como clube-empresa.

3.3 CUIABÁ ESPORTE CLUBE – A TRAJETÓRIA DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE

A história do Cuiabá Esporte Clube se mescla aos acontecimentos do futebol mundial, nacional e estadual da virada do século XX para o XXI, já que este tem seu ano de fundação em 2001. No plano global, o país ainda vivia o intervalo entre o vice-campeonato da Copa da França de 1998, onde o Brasil, de forma surpreendente, foi derrotado pelos donos da casa; surpreendente não pela derrota de 3 a 0, mas sim, pelos fatos ocorridos nos bastidores da partida. E a vitória incontestável da Copa seguinte no Japão e Coreia do Sul em 2002. A nível nacional, novos arranjos eram orquestrados na tentativa de modernizar e racionalizar, mesmo que de fora para dentro do ambiente esportivo, o futebol.

Por sua vez, o poder executivo, na figura do Ministério do Esporte e Turismo, patrocinou, em junho de 2001, um encontro de notáveis, cada um representante (oficial ou não) de um grupo importante, com interesses muitas vezes conflitantes com os dos outros. Estiveram presentes, além do ministro Carlos Melles, Pelé, empresário e ex-Ministro; Ricardo Teixeira, presidente da CBF; João Havelange, ex-presidente da FIFA; e Fábio Koff, presidente do Clube dos Treze. Não houve nenhum representante dos jogadores, o que reflete sua pouca organização e consciência de classe. O encontro foi avalizado pela Rede Globo de Televisão, a principal investidora do futebol brasileiro no momento. (VÍDERO, 2002, p. 84).

O campeonato mato-grossense de 2001, ano de fundação do Cuiabá Esporte Clube, contava com a participação dos seguintes times: Barra do Garças Futebol Clube (Barra do Garças), Cáceres Esporte Clube (Cáceres), Clube Esportivo Dom Bosco (Cuiabá), Sociedade Esportiva e Recreativa Juventude (Primavera do Leste), Mixto Esporte Clube (Cuiabá), Santa Cruz Esporte Clube (Barra do Bugres), Sinop Futebol Clube (Sinop), Sorriso Esporte Clube (Sorriso), União Esporte Clube (Rondonópolis) e Sociedade Esportiva Vila Aurora (Rondonópolis). Ocorreram os velhos problemas do futebol estadual daquele período e, por causa de desavenças entre os dirigentes dos times participantes, duas equipes se consideram campeãs de 2001, o Mixto Esporte Clube e o Juventude Primavera do Leste, fato que demonstra o profundo amadorismo desse campeonato.5

5 Fonte: Federação Mato-Grossense de Futebol. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2020. 68

Os times mais tradicionais desse certame são o Clube Esportivo Dom Bosco (Cuiabá), fundado em 1925, o Mixto Esporte Clube (Cuiabá), fundado em 1934, e o Clube Esportivo Operário Várzea-Grandense (Várzea Grande), fundado em 1939. Também eram os clubes, até a fundação do Cuiabá Esporte Clube, com maior número de títulos: Mixto, com 24; Operário, com 12; e Dom Bosco com 6; atualmente o Cuiabá já conta com 9 títulos estaduais. Esses são os acontecimentos que servem de pano de fundo para a criação do Cuiabá Esporte Clube.

Cuiabá Esporte Clube é uma agremiação esportiva brasileira com sede em Cuiabá, no estado de Mato Grosso. O clube foi fundado em 12 de dezembro de 2001 pelo ex-jogador Gaúcho6. A história do Cuiabá começou com o ex- jogador de futebol, Gaúcho, que fundou a “Gaúcho Escola de Futebol”, na capital mato-grossense, mais conhecida como a “Escolinha do Gaúcho”. Em 2001, ele fundou o Cuiabá Esporte Clube para disputar os campeonatos amadores de categoria de base, trazendo em seu brasão o obelisco do centro geodésico da América do Sul (Cuiabá está no coração da América do Sul).7

O Cuiabá Esporte Clube está registrado com o CNPJ 04.847.144/0001-39, com o mesmo nome fantasia, desde a data de 19/12/2001. Sua natureza jurídica é de Sociedade Empresária Limitada, tendo como sócios Cristiano Luiz Dresch e Alessandro Dresch. Suas atividades podem assim ser resumidas de acordo com a leis 93.12-3-00 - Clubes sociais, esportivos e similares: Os clubes sociais, esportivos e similares são locais recreativos para a prática de esportes, jogos e outras atividades recreativas. Muito comum sua existência ao longo de municípios no Brasil, costuma contar com as seguintes atividades esportivas: futsal (futebol de salão), futebol (gramado ou grama sintética), voleibol, basquete, handebol, tênis e em menor escala, equitação, golfe, tiro ao alvo, canoagem, regatas, remo, artes maciais e até mesmo clube de voo. Também costuma reunir atividades de mesa e tabuleiro, como jogos de cartas (pôquer, bridge, buraco), além de sinuca, tênis-de-mesa (ping-pong), gamão e pebolim. Não compreendem essa categoria as atividades de ensino desportivo e a organização de eventos. Os maiores usuários dos serviços citados são os habitantes locais dos municípios onde se localizam os clubes.8 Nos campos de futebol o clube nos anos de 2001 e 2002 o clube competiu apenas em campeonatos amadores de futebol do estado de Mato Grosso com o nome de Escolinha do Gaúcho. Em 2003 houve a alteração do nome: o time passa a se chamar Cuiabá Esporte Clube

6 Luís Carlos Tóffoli. 7 Fonte: Cuiabá Esporte Clube. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2020. 8 Fonte: CNPJ. Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2020. 69

e apresenta um quadro de jogadores profissionais. Este também é o ano do primeiro título estadual em um confronto diante do Barra do Garças, o certame acontece no Estádio José Fragelli (Verdão), com a presença de cerca de 10 mil pessoas. Esse também é o ano em que o clube participa pela primeira vez de uma competição nacional.

Ainda em 2003, participou na série C do Campeonato Brasileiro e ficou em primeiro lugar do seu grupo na primeira fase. Na segunda fase, ganhou do Palmas-TO no primeiro jogo fora de casa e no jogo de volta no tempo regulamentar, perdeu pelo mesmo placar, fato que levou a disputa aos pênaltis onde a equipe foi eliminada. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2020.

O time ainda conquistaria o seu primeiro bicampeonato estadual em 2005, contra o União de Rondonópolis; no ano seguinte o time marca sua estreia na Copa do Brasil. Após problemas administrativos, o time fica os anos de 2006 a 2008 licenciado do campeonato estadual, não disputando nenhuma competição oficial.

Extraoficialmente o Cuiabá Esporte Clube acaba de se fundir ao Operário; pelo menos a sua diretoria. Willian Nepomuceno, o Tcheco, ex-vice- presidente do Cuiabá, é o novo diretor das divisões de base do Chicote. Neto Nepomuceno, irmão dele, também fundador do Dourado e ex-dirigente do União, assume o cargo de diretor de futebol no Tricolor. O acordo foi firmado ontem, após o Cuiabá confirmar sua desistência de disputar o Campeonato Mato-grossense deste ano. Uma fonte ligada ao clube presidido pelo ex- jogador Luiz Carlos Tóffoli, o Gaúcho, informou que a diretoria do Cuiabá já tinha iniciado conversações com um grupo empresarial e um "padrinho político", mas as negociações não evoluíram. Sem recursos sequer para a montagem de um elenco com pratas da casa, os dirigentes optaram por jogar a toalha. Não está descartada, no entanto, a volta da equipe à Copa Governador, que oferece premiação em dinheiro aos participantes. Disponívelem:. Acesso em: 08 mar. 2020.

O clube só volta a jogar de forma profissional no ano de 2009, quando se sagrou campeão da segunda divisão estadual. No ano de 2009 o Cuiabá foi vendido à família Dresch, proprietária da "Drebor Borrachas Ltda", indústria com sede em Cuiabá e principal patrocinadora do time desde sua criação. A família também é dona de fazendas de gado que garantem o reforço extra no caixa do clube.

(...) “A nossa decisão de comprar o time em 2009 se deu principalmente com anúncio da realização da Copa aqui na nossa cidade e construção da Arena Pantanal. Isso foi importante, tanto é que basta ver o estado do futebol em Mato Grosso do Sul. Na época, tinha disputa entre as duas cidades para ver quem seria sede da Copa, e hoje nós evoluímos e eles nem tanto. Ajudou 70

também o fato de que agora somos o clube que pode oferecer jogos no melhor estádio da série B nacional. (DRESH, Aaron. Entrevista concedida ao jornalista Téo Meneses. Cuiabá. 06 de maio de 2019).

No ano de 2010, já na primeira divisão do campeonato estadual de futebol de Mato Grosso, organizado pela federação Mato-grossense de Futebol, o Cuiabá Esporte Clube consegue um honroso 5º lugar, como um time em reestruturação e com uma nova proposta de gestão e administração. No ano seguinte, 2011, ocorre outro título estadual, fato que coroa a nova proposta, mesmo que em 2012 tenha sido derrotado na final do mato-grossense pelo Luverdense, time de Lucas de Rio Verde, cidade do interior de Mato Grosso, que também despontava com uma nova proposta ao antigo futebol local. Em 2013, o Dourado, apelido do Cuiabá Esporte Clube, novamente se consagrou campeão estadual sobre o Mixto, em jogo disputado no estádio Eurico Gaspar Dutra, o Dutrinha, disputa também feita em dois jogos no mesmo palco, com o mesmo número de torcedores: sete mil pessoas. No primeiro duelo, o Cuiabá perdeu por 1 a 0. Mas na volta, o Cuiabá foi com tudo para cima do Mixto, buscando reverter o resultado e, embalado pela sua torcida que empurrou o time até o último minuto de jogo, venceu por 2 a 1, levando mais uma final aos pênaltis. Com o receio de repetir os mesmos erros da decisão anterior, os jogadores se concentraram num nível maior, até que o goleiro Laênio defendeu três pênaltis, dando o título ao Dourado, campeão pela quarta vez, agora em cima do seu rival da baixada cuiabana. Tal fato se torna relevante, pois acaba sendo um marco na história do time, como sendo o último título antes da Copa do Mundo realizada no Brasil, onde um dos palcos centrais será a nova casa do Cuiabá Esporte Clube, a Arena Pantanal. Já no ano de 2014, o Cuiabá foi à final novamente, entretanto, desta vez, contra o recém promovido à Série B do Brasileirão, Luverdense. As duas partidas foram vencidas pelo Dourado por 1 a 0, conquistando o quinto título do estado. Novos títulos estaduais se sucederam, campeão em: 2015, 2017, 2018 e 2019. Mostrando a hegemonia do Cuiabá Esporte Clube ao nível local e também regional. O que está por trás dessa história, mesmo que curta de sucesso, é dentre outras coisas, a transição de poder ocorrida em 2009, onde o clube é comprado por uma empresa9 que busca a implementação de uma nova proposta de gestão e administração para o futebol local. Essa transição de comando administrativo fez uma grande diferença na trajetória esportiva, já que de 2009 a 2018 o clube conquistou 6 títulos de campeão estadual em 10

9 Grupo Dresch, proprietário da Drebor Borrachas Ltda. 71

possíveis, além dos acessos da série dos campeonatos brasileiros D para a C em 2012, da C para a B em 2018, onde se sagrou Vice-Campeão Brasileiro da Série C. Soma-se a isso o inédito título regional para um time de Mato Grosso da Copa Verde de 2015, sendo novamente campeão em 2019, assim como a participação em também inédita em uma competição internacional, a Copa Sul-americana de 2016. Além de diversos títulos em outras competições locais e de categorias de base. Como as tabelas a seguir passam a ilustrar, os dados se referem a jogos oficiais do time.

Tabela 1 – Classificação do Cuiabá Esporte Clube no campeonato Mato-Grossense de Futebol, 2003 a 2018*

Ano Classificação 2003 1º 2004 1º 2005 6º 2006 9º 2010 8º 2011 1º 2012 2º 2013 1º 2014 1º 2015 1º 2016 4º 2017 1º 2018 1º *Exceto os anos 2007 e 2008. Em 2009 estava na 2ª divisão. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

A Tabela 1 mostra toda a força regional da equipe que foi, desde 2003, ano da estreia do clube com uma equipe profissional, se sagrando campeão do estadual, fato que se repete no ano seguinte, 2004, com o bicampeonato. As campanhas de 2005 e 2006 revertem os problemas que o clube vinha passando, essa que se mostrou ainda mais hegemônica nas campanhas pós 2009, onde ocorreu a implementação da nova gestão. A sequência de títulos, que vem de 2011 a 2018, onde, ou foi campeão ou foi vice, ressalva dada ao ano de 2016, onde ocupou a 4ª colocação, acaba provocando a criação de novas rivalidades locais, onde o Mixto e Cuiabá protagonizaram um duelo à parte, dentro e fora de campo: dentro de campo na final do Mato-grossense de 2013 quando o Cuiabá sagrou-se campeão; fora, com o crescimento da torcida do Cuiabá, pois ao despontar como clube 72

vencedor acaba ofuscando o, outrora, maior representante estadual a nível local, regional e nacional.

Tabela 2 – Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018*

Jogos Vitórias Empates Derrotas 543 239 159 145 *Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

Gráfico 1 – Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018

*Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

A Tabela 2 e o Gráfico 1, por sua vez, demonstram como o Cuiabá dentro de campo reflete os bons resultados; fora de campo, perdeu apenas 27% das partidas disputadas, obtendo mais de 40% de vitórias nesse mesmo período. Tais resultados reafirmam também a ascensão meteórica do clube ao sair, em menos de 20 anos, de um clube sem série para a série B do Campeonato Brasileiro de Futebol. Outro fato do gráfico é a somatória de empates e vitórias, percentualmente 63%, ou seja, o clube só não obteve pontos ou vitórias em menos de 37% dos jogos em que disputou.

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Tabela 3 – Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube, por ano: 2003 a 2018*

Ano Jogos Vitórias Empates Derrotas 2003 29 14 7 8 2004 51 22 16 13 2005 18 5 9 4 2006 19 6 2 11 2009 26 12 6 8 2010 24 10 8 6 2011 47 20 12 15 2012 45 20 14 11 2013 41 18 13 10 2014 38 14 12 11 2015 55 26 15 14 2016 49 21 14 14 2017 46 18 20 8 2018 55 33 10 12 *Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

Gráfico 2 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018

*Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

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A Tabela 3 e o Gráfico 2 mostram os detalhes da evolução do clube no período, sendo que a medida que o mesmo ganha em estrutura extracampo também melhora seu rendimento dentro das quatro linhas, mesmo com o hiato dos anos 2007 e 2008, anos em que esteve licenciado por motivos administrativos e financeiros; a volta à 1ª divisão em 2010, como campeão da 2ª divisão de 2009 provam que, mesmo licenciado, o clube buscava a reestruturação. Um outro dado da tabela e do gráfico foi a manutenção de um calendário de competições, o que é de extrema importância para o clube permanecer com grupos de jogadores competitivos, após o retorno à elite do mato-grossense o clube sempre disputou uma média de 42.6 partidas por ano, uma média abaixo dos chamados grandes clubes do futebol brasileiro, que gira entre 70 a 80 jogos por ano10, mas bastante superior aos times locais que disputam somente o campeonato mato-grossense, geralmente com 18 jogos mais, a participação na Copa do Brasil, 2 jogos, e na série D com média de 6 jogos11. As tabelas a seguir fazem comparações do período anterior a 2009 e posterior a esse ano, como forma de apresentar os resultados do pós compra e reestruturação do clube.

Tabela 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006

Ano Jogos Vitórias Empates Derrotas 2003 29 14 7 8 2004 51 22 16 13 2005 18 5 9 4 2006 19 6 2 11 Total 117 47 34 36 Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

10 Fonte: Blog Indicador esportivo. Disponível em: . Acesso: 13 mar. 2020. 11 Levantamento de dados de Sérgio da Silva Santos. 75

Gráfico 3 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006

Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

Observa-se tanto na tabela 4 quanto no gráfico 3 que o clube começou sua atuação como clube profissional de forma bastante consistente, tendo no período conquistado mais vitórias que derrotas nas competições em que participou. A tabela e o gráfico a seguir demonstram o período de 2009 a 2018, onde o clube, sob nova gestão administrativa, colhe melhores resultados que no período anterior.

Tabela 5 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018

Ano Jogos Vitórias Empates Derrotas 2009 26 12 6 8 2010 24 10 8 6 2011 47 20 12 15 2012 45 20 14 11 2013 41 18 13 10 2014 38 14 13 11 2015 55 26 15 14 2016 49 21 14 14 2017 46 18 20 8 2018 55 33 10 12 Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

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Gráfico 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018

Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

Desde a volta à elite local, em 2010, o clube passou a acumular boas sequências, tanto no campeonato mato-grossense, com se sagrando tricampeão por duas vezes, 2013 a 2015 e 2017 a 201912. O destaque da Tabela 5 e do Gráfico 4 é o ano de 2018, onde o clube conquista o campeonato estadual invicto, faz uma boa campanha na Copa do Brasil, indo até a terceira fase, além do acesso inédito à série B do Campeonato Brasileiro. Tais números dão fundamentação à afirmação de que a mudança de gestão só veio a reforçar a proposta do clube como algo diferente do que já vinha sendo apresentado a nível local. O clube ganhou solidez em âmbito estadual e nacional, construindo uma estrutura vitoriosa dentro e fora de campo, expandindo suas conquistas às categorias de base e mostrando sua marca até no cenário internacional.

12 O ano de 2019 não entra nas tabelas devido à falta de consolidações dos dados, que ainda não estavam concluídos no período de finalização desta pesquisa. 77

Tabela 6 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018*

Competições Jogos Vitórias Empates Derrotas Amistoso 25 6 16 3 Campeonato MT 1ª divisão 223 119 56 48 Campeonato MT 2ª divisão 12 10 1 1 Copa do Brasil 24 5 8 11 Copa FMF 31 17 8 6 Copa Governador 34 15 11 8 Copa Mato Grosso 6 2 2 2 Copa Pantanal 4 2 1 1 Copa Sul Americana 2 1 0 1 Copa Verde 22 5 7 10 Série C 146 49 47 50 Série D 14 8 1 5 Total 543 239 158 146 *Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

Gráfico 5 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018

*Exceto os anos de 2007 e 2008. Fonte: Sérgio da Silva Santos. Elab.: O autor (2020).

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Por fim, a Tabela 6 e o Gráfico 5 nos dão um panorama geral da trajetória do clube nesses 16 anos de análise. Onde se pode notar que em ambos os períodos, antes e depois de 2009, o clube demonstrou um padrão competitivo que o levou às conquistas aqui narradas e ao protagonismo regional, assim como alçou o futebol mato-grossense a novos patamares internacionais. Fecharemos este capítulo respondendo uma de nossas questões: O Cuiabá Esporte Clube pode ser considerado um sucesso enquanto empresa e time de futebol? A resposta, como foi demonstrada com os dados expostos na trajetória do clube, é sim; desde o princípio de sua história o time teve uma preocupação em fugir das amarras das tradições regionais, porque não dizer nacionais, de administração marcadamente política e tradicional; a partir de 2003, com a profissionalização do elenco essa questão ficou ainda mais clara, com a sequência vitoriosa de títulos acumulados; quando veio a parada do licenciamento o clube buscou uma reestruturação e seus novos proprietários procuraram dar ao clube uma adequação ainda maior ao conceito de clube-empresa. Fatos amplamente confirmados com os dados a partir de 2009 até o ano de 2018, mas ficaram algumas questões em aberto: Até que ponto os resultados do Cuiabá Esporte Clube são um reflexo da adoção do modelo empresarial? O modelo de gestão refletiu nos resultados obtidos pelo time no campo de jogo? A gestão esportiva empresarial coloca o Cuiabá Esporte Clube como exemplo a ser seguido no estado de Mato Grosso? Para procurar responder a essas questões buscou-se um amplo trabalho de pesquisas junto ao time, com entrevistas com alguns dirigentes, atletas, que fazem ou fizeram parte do elenco, jornalistas que fazem o trabalho de cobertura do clube desde de sua criação e o elemento mais importante de todo o clube, seja ele empresa ou não, o torcedor.

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4 CUIABÁ ESPORTE CLUBE - E AS NARRATIVAS SOBRE UMA EMPRESA A SERVIÇO DO FUTEBOL

Como a história do Cuiabá Esporte Clube ainda se encontra em seus primórdios, menos de 20 anos, a literatura a respeito do clube é, até este momento, inexistente, muito pouco há sobre seu surgimento, apenas pequenas matérias em jornais, aqui já citadas, uma brevíssima descrição no site do clube, assim como em sites especializados. Outro problema encontrado ao longo desta investigação foi a resistência do clube em ceder informações sobre seus negócios, talvez mais um indício de empresa que guarda seus segredos para não os entregar a seus concorrentes. Mesmo com essas adversidades, o trabalho quase que artesanal de coleta de dados seguiu em frente, culminando neste capítulo que busca justamente desemaranhar como a pequena escolinha de futebol se transformou no 43º13 clube do ranking nacional da CBF. Para tanto, foram realizadas entrevistas com diferentes categorias de atores sociais, separadas nas categorias de torcedores, atletas, dirigentes e jornalistas. As entrevistas buscaram descobrir como o clube tinha se desenvolveu como clube-empresa, quais as principais características desde tipo de gestão, assim como de que forma a gestão era percebida externamente, tanto pelos jornalistas esportivos quanto pelos torcedores. Neste capítulo também serão expostos os resultados da pesquisa sobre a estrutura do clube, tendo como fonte o seu site e sites de esporte, já que a administração não se mostrou solícita em fornecer esses dados.

4.1 RELAÇÃO ENTRE MODELO DE GESTÃO E DESEMPENHO EM CAMPO NO/DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE

De acordo com nossos levantamentos bibliográficos da literatura sobre administração, o clube pode ser descrito como uma empresa que adotou o modelo de gestão Burocrática, não excluindo elementos das outras abordagens teóricas anteriormente elencadas, pois nenhuma teoria dá conta de explicar toda a complexidade da realidade empírica. Como já mencionado, uma gestão burocrática deve ter 5 (cinco) características básicas a saber: a) Divisão do trabalho baseado na especialização funcional; b) Hierarquia de autoridade; c) Sistema de regras e regulamentos; d) Formalização das comunicações; e) Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas.

13 Fonte: Confederação Brasileira de Futebol. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2020. 80

Outro fato relevante é que os clubes que desejam ser uma “sociedade empresária” devem seguir os tipos de associações descritos entre os artigos 1.039 e 1.092 do Código Civil. O Cuiabá se enquadra na categoria de Sociedade Limitada: Formada por pessoas físicas e/ou jurídicas que têm a obrigação de cuidar de todos os bens da empresa, semelhante à Sociedade em Nome Coletivo. Pois sua descrição oficial é Cuiabá Esporte Clube Ltda. (nome fantasia: Cuiabá Esporte Clube). Resta-nos agora verificar se essas características empresariais são preenchidas pelo Cuiabá.

4.1.1 Divisão do trabalho baseado na especialização funcional

Como não tivemos acesso ao organograma oficial do clube, só nos restou construir um com as informações obtidas a partir do cite oficial do clube.

Presidente Alessandro Dresch

Vice-Presidente Cristiano Dresch

Treinador

Comissão Andrea Schulz (nutricionista), Arthur Horn (fisiologista), Caio Autuori (auxiliar técnico), Edson Belo (auxiliar prep. física), Fernando Leite (coordenador de futebol), Gledson Fernandes (audiovisual), Idevan Mio de Jesus (supervisor de base), Jayme Badarra Neto (fisioterapeuta), João Filho (fisioterapeuta), Leandro Dresch (diretor), Marcus Heneiko (supervisor), Michel Luz (analista de desempenho), Patrick Neves (mordomo), Wender Cacho (mordomo), Roger Gouveia (preparador físico), Willian Castro (preparador de goleiros), Zelão (massagista)

Com base nesses nomes e suas funções, pode-se verificar suas formações; fora o cargo de presidente e vice-presidente que são ocupados pelos dois únicos sócios proprietários do clube14, o resto do quadro que aparece no site tem formações específicas para a área em que trabalha. Sobre essas formações a serviço do clube-empresa também pode-se citar a fala do dirigente 1:

14 Fonte: EmpresasCNPJ.com: Disponível em: < https://www.empresascnpj.com/s/empresa/cuiaba-esporte-clube- ltda-nome-fantasia-cuiaba-esporte-clube/04847144000139>. Acesso em: 17 mar. 2020. 81

(...) com o crescimento do clube, a estrutura foi aumentando, foi tendo aumento do setor, dos departamentos, financeiro, administrativo, contábil, né? Antes a gente fazia... conseguia tocar um campeonato... o campeonato estadual de Mato Grosso, ele consegue tocar com uma estrutura muito melhor do que a gente tem. Hoje, na Série B, não. A Série B você tem que ter uma estrutura muito maior, mais eficiente.

Mesmo com os departamentos financeiro, administrativo e contábil não sendo aqui descritos, a fala do vice-presidente demonstra que, com a ascensão do clube, a estrutura teve de ser aperfeiçoada e aumentada, para se adequar à nova realidade, fato esse que se percebe no número de funcionários que nos foi possível levantar, assim como sua formação técnica. Sobre o processo de formação de mão de obra e qualificação dos membros de uma empresa pode-se afirmar que

[...] os administradores precisam desenvolver uma nova visão para suas organizações, apostar na flexibilidade e rapidez de resposta, estar atentos à diversidade cultural, considerar ética e a responsabilidade social nas suas decisões, focalizar a estratégia na satisfação dos clientes e, acima de tudo, investir no treinamento e desenvolvimento contínuo do seu principal ativo: o capital humano de suas organizações. (SOBRAL; PECI, 2008, p. 22).

O Cuiabá Esporte Clube tem então dado ênfase a contratação e treinamento de sua equipe, visto a boa formação de seu quadro de funcionários.

4.1.2 Hierarquia de autoridade

Para responder a essa característica foi feita a pergunta ao dirigente 1: Como a organização de uma empresa esportiva pode influenciar o desempenho do time em campo? Em resposta a essa pergunta ele argumentou que:

O modelo de tentar ser eficiente. Tentar ser... como eu disse, ter tomada de decisão rápida... é mais ou menos aquilo... mesma coisa que eu falei no início lá. É enxuto, é ágil, entendeu? Vamos dizer assim, a principal... acho que a principal virtude é agilidade. Um clube associação, ele tem um conselho deliberativo, ele tem toda a política dentro do clube, que impede que ele seja (ágil). (Dirigente 1)

A fala do dirigente chama a atenção para uma organização interna que tornaria as decisões mais ágeis, menos políticas, características que melhorariam até mesmo o desempenho do time dentro do campo, pois não teriam que se preocupar com questões políticas. Fato que também pode ser verificado em outro clube-empresa: 82

[...] O CFZ15 do Rio Esportiva Ltda., que, por não ter um conselho, está isento de interesses políticos de qualquer natureza. O pequeno patrimônio, embora extremamente moderno e dotado de todos os requisitos necessários para desenvolvimento da atividade-fim do clube, aliado a uma estrutura enxuta e profissional caracterizam o clube como gerencialmente moderno. (FRAMIL, 2000, p. 98).

Como se pode observar nessa passagem sobre o CFZ, outro clube esporte, a hierarquia de autoridade dentro desse tipo de instituição se baseia mais nas questões técnicas e econômicas que nas questões políticas. Sobre isso a literatura administrativa é clara.

A burocracia é uma organização que estabelece os cargos segundo o princípio da hierarquia. Cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. Nenhum cargo fica sem controle ou supervisão. Daí a necessidade da hierarquia da autoridade para definir as chefias nos vários escalões de autoridade. Todos os cargos estão dispostos em uma estrutura hierárquica que encerra privilégios e obrigações, definidos por regras específicas. (CHIAVENATO, 1987, p. 263).

Weber (1981), afirma que quando os subordinados aceitam as ordens dos superiores como justificadas é porque concordam com certos preceitos ou normas que consideram legítimos e dos quais deriva o comando. É o tipo de autoridade técnica, meritocrática e administrada. Tal hierarquia garantiria que o clube funcionasse de forma mais racional. Fato que se repete no Cuiabá Esporte Clube.

4.1.3 Sistema de regras e regulamentos

Como o clube não divulga e nem nos forneceu nenhum regimento ou estatuto, nos guiaremos pelo que pode ser coletado nas entrevistas. Aqui nos ateremos a duas perguntas feitas aos atletas: 1) Quais as principais diferenças na experiência de trabalhar em um clube empresa e um clube convencional? 2) Qual o principal benefício trazido pelo processo de transformação do Cuiabá em clube empresa?

A resposta ao primeiro questionamento nos dá uma perspectiva não só do funcionamento da estrutura interna extracampo, mas também de dentro do campo. Respondendo a essa pergunta o atleta 1 argumenta:

15 Centro de Futebol Zico do Rio Sociedade Esportiva. 83

Não, não tinha problema, o salário... pagamento em dia, as premiações, tudo ele acertava com a gente, pagava tudo em dia. Dificilmente esses clubes que eu joguei aí, que eu citei, atrasava o salário. Porque a empresa, tinha uma empresa por trás, principalmente União São João, que era (usina). União São João. A diferença que você acha, principalmente pra uma empresa, tem dono. Tem um dono por trás. É uma pessoa... Específico que decide as coisas, delega funções a cada um no setor, né? Agora, quanto ao clube convencional, tem várias pessoas mandando ao mesmo tempo. Isso se torna difícil. Isso é positivo. Que você chegava, o que você precisava, você chegava na pessoa certa, e a empresa que tava por trás, que tinha tudo, era o que resolvia o seu problema. Não tinha problema falta de atraso de pagamento, o clube andava direito a direito. Melhoria total que você pudesse fazer, que pudesse ter, esse clube-empresa te dava. Só que a exigência... a exigência... A exigência da produção positiva de cada um.

A questão da materialidade do recebimento do salário em dia, da falta de preocupação com os atrasos de salário, permeia a fala dos atletas entrevistados. Nessa fala específica e nas outras questões da empresa como algo ligado a uma organização, a uma ordem de funcionamento é sempre citada, mesmo que alguns clube-empresa não mantenham isso à risca, o fato do clube ser uma empresa, na visão dos atletas entrevistados quase sempre está vinculado a regras e regulamentos específicos de funcionamento. A questão: Descreva a estrutura do Cuiabá no que se refere ao dia-a-dia de um atleta? acabou por nos trazer muito sobre as regras internas do Cuiabá. O atleta 1 argumentou:

O jogador de futebol pra ser de alto nível precisa de 3 coisas bem feitas pra ter sucesso: treinamento, alimentação e descanso. Cuiabá pode se considerar gigante em todos quesitos nível de Série A, para treinamento há um campo que investiram muito e tem gramado top, macio que evita lesões de impacto, torções e etc, academia com bons aparelhos e pilates para melhorar flexibilidade que ajuda muito contra lesões e ativar musculatura pra um bom treinamento. Para alimentação há 5 refeições bem definidas que o atleta se alimenta bem há cada 3 a 4 horas de intervalo, com belíssimos profissionais da cozinha que fazem com amor e carinho saindo tudo muito saboroso e completo para os atletas, quando há viagens sempre investem em boa alimentação no aeroporto e hotel dando o melhor para a delegação. Para descanso há quartos com camas boas, ar condicionado para conforto, além de entrar nesse quesito grandes profissionais do Departamento Médico coordenado pelo Joao Filho um dos melhores no Brasil nessa área com cursos de especialização agregando ainda mais o conhecimento dele que nos ajuda muito dia a dia, além do pós jogos já começa a recuperação para estar 100% no próximo jogo, investem com aparelhos fisioterapêuticos de alto padrão, piscinas, crioterapia (Gelo) tudo completo pra deixar o atleta preocupado em trabalhar e buscar sua melhora diariamente.

Percebe-se nessa fala que há um estatuto, ao qual este trabalho não teve acesso, pois, segundo o clube, trata-se de um documento de ordem interna, que rege uma estrutura de 84

funcionamento interna, que torna o clube eficiente e dinâmico dando ao elenco, dentro e fora do campo, todas as condições para que esses desempenhem seu papel. Tal organização facilitaria a convivência dos atletas com os demais membros do clube. O sistema de regras e regulamentos também tem reflexos externos ao clube que podem ser observados quando essas perpassam os limites do clube e são percebidas na sociedade que o cerca, como pode ser observado na fala do dirigente 2:

Os patrocinadores do Cuiabá são grandes empresas do estado do Mato Grosso. Patrocinadores e parceiros também. Eu acho que essa credibilidade que o clube passa por ser uma empresa, por ser sério, por não ter notícia ruim que saia daqui, facilita muito. É, facilita muito a gente captar patrocínio, recurso, parceria. O Cuiabá tem porta aberta, hoje, em todos os setores da sociedade.

Essa passagem narra muito bem como o mercado esportivo percebe o bom funcionamento interno do clube, o que oferece um ambiente propício ao investimento e ao patrocínio, coisa que o capital sempre exige, regras claras e ambiente normalizado. Resta saber se aquele a quem o produto é destinado, em teoria, percebe esse sistema de regras e regulamentos, nos referimos aqui ao consumidor, que no futebol recebe a alcunha de torcedor. Para tanto lembramos a segunda pergunta formulada: Qual o principal benefício trazido pelo processo de transformação do Cuiabá em clube empresa? Respondendo, o torcedor 1 argumentou:

Eu acho que o maior processo... o benefício é justamente a organização, né, por ser uma empresa, e pelos donos ter a experiência e pessoas com intuito realmente de empresa, de crescer e não de roubar, né? Que esses outros clubes, infelizmente, aí vêm conselho, vem não sei o que, aí é mais roubo do que... o pessoal mais rouba do clube do que ajuda o clube. E o clube-empresa é diferente, né? Clube-empresa é uma empresa... inclusive... ainda mais o Cuiabá que são uma família, né? Então, o maior benefício é isso aí: investimento para o clube, crescimento do Cuiabá Esporte Clube. Entendeu?

Nesta fala uma característica do Cuiabá Esporte Clube pode ser percebida, mesmo com os elogios ao modelo de clube-empresa, o torcedor ressalta que o clube é uma empresa familiar, mas que estaria, nessas duas características, as relações entre o público e o privado se misturarem e um acabar contaminando o outro em uma relação patrimonialista. No caso do Cuiabá o torcedor não percebeu que essa interferência tenha trazido maus resultados, pelo contrário, não houve transparência de interferência familiar nos processos de gerenciamento da empresa. 85

Mesmo assim cabe aqui uma explicação sobre o tema, já que é um conceito bastante conhecido pela sociologia, assim para Weber (1994), o patrimonialismo seria uma forma de exercício da dominação por uma autoridade, a qual está legitimada pela tradição; as características principais seriam o poder individual do governante que, amparado por seu aparato administrativo, recrutado com base em critérios unicamente pessoais, exerce o poder político sob um determinado território. Aqui podemos lembrar que, no quadro de funcionários do clube, verifica-se três funcionários com o sobrenome dos proprietários do clube. Ainda segundo Weber isso poderia se tratar de uma sorte de dominação tradicional, onde alguns funcionários possuem posições com raízes na ordem familiar. Mas ainda segundo esse autor, com o crescimento da “esfera de poder do governante sobre seus súditos, abarcando uma ampla parcela de vastas regiões e grandes conjuntos populacionais”, aqui entendido como o crescimento do clube, com sua ascensão às series C e agora a série B do Campeonato Brasileiro, houve a necessidade da expansão de uma administração pessoal para um aparato administrativo capaz de cobrir em grande parte essa nova dimensão. O clube então não teria abandonado totalmente suas raízes patrimonialistas, mas sim modernizado sua estrutura em torno desse fato, garantindo que essa característica familiar não atrapalhasse o funcionamento burocrático do clube. No caso do Sócio Torcedor Dourado por exemplo, que pode ser visto como uma expansão da capacidade de agregar torcedores novos, fidelizar os antigos, onde suas regras são bastante especificas e impessoais.

Sócio Torcedor Dourado é o projeto sócio torcedor do Cuiabá Esporte Clube. É um programa de relacionamento e vantagens entre o clube e seus torcedores. O torcedor que se associa está adquirindo o direito de assistir aos jogos do clube na Arena Pantanal por um ano, independente do volume de jogos, fase ou campeonato. O torcedor pode parcelar seu pagamento em até 12x dependendo do plano e forma de pagamento. Verifique a página de planos para verificar as opções. Estando em dia com os pagamentos poderá usufruir de todos os benefícios e vantagens oferecidos pelo plano que escolheu, dentre acessos a todos os jogos como mandantes e a descontos em produtos e serviços junto aos parceiros comerciais e também nos produtos oficiais do clube. (Fonte: Sócio Torcedor Dourado, Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2020).

O Sócio torcedor também pode fazer a interação, mesmo que de forma indireta, entre o time e o torcedor, funcionando também como uma espécie de comunicação formal com o torcedor, onde este teria uma previsibilidade sobre os eventos do time.

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4.1.4 Formalização das comunicações

Segundo Bordenave (1982), a comunicação é a ciência que cuida das interações entre as pessoas e os animais por meio do compartilhamento de informações. Seu significado vem do latim communicare, partilhar, tornar comum. É por meio da comunicação que é possível haver a compreensão dos humanos entre si e os demais seres, sendo o ato de comunicar essencial para que exista vida em sociedade. Como o ser humano é um ser social, a comunicação é essencial para a vida humana. Já a formalização da comunicação deve atender a dois clientes, aos funcionários da empresa e aos consumidores, além dos comentadores do produto produzido pela empresa. Foram feitas perguntas a torcedores e jornalistas que fazem a cobertura esportiva do clube, no intuito de lançar luz sobre a questão:

Na sua opinião o Clube tem uma boa relação com a torcida? O torcedor 2 argumenta:

O Cuiabá tem melhorado muito o contato com a torcida, a comunicação com a torcida, fazendo trabalho de marketing, o sócio torcedor. Acredito que as coisas tenham melhorado bastante e está em constante evolução. Acredito que possa melhorar ainda mais, só que... em relação ao passado, ele melhorou muito, muito mesmo, estreitou os laços entre a torcida e o clube.

A fala do torcedor demonstra que o clube vem se aperfeiçoando no quesito comunicação. A importância desta comunicação com a torcida se faz clara também nas normas que regem o programa de sócio torcedor do clube, intitulado de Sócio Torcedor Dourado, em seu artigo 10.7.

O Sócio Torcedor que aderir a um plano do Programa Sócio Dourado compromete-se, desde já, a assumir uma conduta respeitosa e ética em relação aos torcedores, funcionários, atletas, membros da comissão técnica e dirigentes do Cuiabá E.C. ou do Programa Sócio Dourado, abstendo-se de praticar quaisquer atos que possam prejudicar ou causar qualquer dano, material ou moral, ao Cuiabá E.C., seus torcedores, funcionários, atletas, membros da comissão técnica e dirigentes, a qualquer momento, dentro e fora do âmbito das praças de desportos, sob pena de sofrer as sanções de suspensão temporária ou exclusão definitiva do quadro de associados ao Programa Sócio Dourado e demais sanções permitidas em Lei. Fonte: Sócio Torcedor Dourado. Disponível em: . Acesso em: 27 mai. 2020.

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Pode-se observar que o clube tenta fazer um elo entre ele e o torcedor, dando-lhe direito de sócio, mas também deveres para com o clube, os atletas e os demais torcedores. Nota-se como a formalização da comunicação é apreendida com relação ao desfrute do torcedor com a experiência que este tem junto ao clube; o programa de sócio torcedor do clube fez com que o torcedor compreendesse aspectos da organização interna da empresa, pois o pagamento da mensalidade, mesmo que a preços simbólicos, gera uma previsibilidade com relação à receita, fato extremamente importante no que tange à sobrevivência e ao sucesso de uma empresa.

Os clubes brasileiros demoraram a perceber que atrair o seu torcedor por meio de promoções e vantagens, acarretaria em um aumento das receitas. O programa Sócio torcedor vem propiciando isso aos clubes, pois nessa relação há direitos e deveres. Em primeiro destaca-se a diferenciação nesse tipo de associação, o sócio de uma sociedade comercial e o sócio de uma sociedade civil (no caso desportivo), onde fala que o sócio de uma sociedade civil não participa dos lucros e nem das perdas, como é o caso de quotista de uma sociedade limitada ou acionista de uma sociedade anônima, portanto não confere a ele o mesmo tratamento. (AZEVEDO, 2013, p. 94).

Por fim, o Estatuto de Defesa do Torcedor, em seu artigo 3316, trata da obrigatoriedade por parte de cada entidade esportiva na comunicação com o seu torcedor, ou seja, deve publicar documento que contemple as diretrizes básicas de seu relacionamento com os torcedores e reconhece, ainda, a figura do sócio torcedor, dando-lhe direito mais restrito que os demais sócios, no caso do Cuiabá Esporte Clube, por exemplo, o sócio torcedor não tem direito a voto ou a participação nos lucros da empresa. Quanto à comunicação com os profissionais responsáveis em fazer a cobertura jornalística do clube, seja ela em meio impresso ou digital, foi feita a seguinte pergunta sobre o tema comunicação: O Cuiabá é um time acessível aos jornalistas esportivos? O jornalista esportivo 1 nos relata sobre a facilidade ou dificuldade de acesso as informações a respeito do clube:

Durante o ano, a assessoria do Cuiabá fez um trabalho fantástico, né? Divulgando escalações pra todos, grupo de imprensa, rede social superatualizada, site, né? Releases, fotos em dia. Mas, com o término da série B, o clube andou demorando a divulgar... ainda não divulgou quais são os jogadores que vão sair, quais são os jogadores que vão renovar, as possíveis contratações pro ano que vem. Muito por alguma precaução, né? Uma burocracia. Mas às vezes, eu acho que tem que ser mais maleável, né? Pra não deixar muitas informações vazarem. E aí, nós jornalistas, temos que buscar,

16 Fonte: Presidência da República. Disponível em: . Acesso em: 27 mai. 2020. 88

né? Ir direto conversar com o atleta, conversar com o técnico, conversar com o diretor, né? Buscar as informações que vão circulando nos bastidores aí do futebol que a gente sempre tá ligado. Então, com isso, a gente vai, digamos assim, - entre aspas -, “atravessando” um pouco o clube, né? Porque a gente precisa de informação, precisa de informações concretas, e às vezes, muitas vezes, chegam as informações concretas pra gente, mas o clube ainda não tem uma posição e acaba não oficializando, porque gosta de esperar o tempo certo. Por exemplo: o Chamusca, a gente já sabia que ele tava renovado há uma semana, e a assessoria acabou publicando somente agora, né? Então, com isso, a gente saiu levemente na frente, só aguardando a oficialização. Então, nesse ponto aí que eu acho que o Cuiabá às vezes peca, de não saber informar sobre as questões de bastidores de dentro do clube, né? Que é por uma forma burocrática, pra não atrapalhar negociações, pra não atrapalhar algumas coisas, mas poderia ser uma forma mais dinâmica, mais transparente e mais rápida.

A fala do jornalista indica que durante o ano anterior o trabalho de comunicação foi impecável na maior parte do tempo, mas que pecou quando se referiu à programação ano seguinte, só divulgando as informações, após consolidação de renovações, talvez por uma resolução interna, pois muitas vezes essas informações são negadas. Fato este que impediu em algum momento a coleta de dados por parte desta pesquisa. Além disso o clube também tem uma boa exposição nas mídias sociais, com contas no Facebook: https://www.facebook.com/cuiabaec, com mais de 50 mil seguidores; no Twitter: https://twitter.com/cuiabaec, com mais de 15 mil seguidores; no Instagram: https://www.instagram.com/cuiabaec/, com mais de 49 mil seguidores; no YouTube: https://www.youtube.com/TVCUIABA, com mais de 4 mil inscritos; e o site oficial do clube: http://cuiabaesporteclube.com.br/; canais que trazem uma gama de informações, principalmente do time, bastidores e cobertura dos jogos. Os sócios torcedores e o público em geral ainda têm uma estrutura física de apoio onde podem adquirir produtos licenciados do clube, retirar carteiras e ter acesso a serviços de personalização do material do clube. A Dourado Store fica no terceiro piso do Shopping Estação na cidade de Cuiabá. De forma geral o clube tem boa comunicação com o torcedor, via redes sociais, com os jornalistas, com as coletivas, com os atletas, até onde pudemos adentrar durante a pesquisa, além de não transparecer foto contrário em nenhum contato com os funcionários do clube. Ficando somente a ressalva de negativa de maiores detalhes por parte da diretoria para com os pesquisadores, fato que com o devido tempo, via tramites institucionais, além da visibilidade desta pesquisa, tende a tornar a comunicação mais fácil para futuras pesquisas sobre o clube. Toda essa estrutura interna e externa ao clube, que foi criada para dar suporte ao bom funcionamento do time, assim como ao sucesso da empresa, tem seu bom funcionamento, em 89

boa parte, devido à gestão do material humano do clube. Isso nos leva ao próximo tópico de nosso trabalho.

4.1.5 Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas

Essa é uma das principais características, teoricamente, de uma empresa com uma gestão burocrática. O fato de o Cuiabá Esporte Clube ser gerido por uma família nos trouxe bastante dificuldade na mensuração através dos dados obtidos, devido justamente à negação da obtenção de algumas informações relativas ao organograma do clube e seu funcionamento. Demonstrando nesse ato impessoalidade pelo fato de não verem a figura do pesquisador como membro da maior torcida do clube, não lhe dando nenhum tratamento diferenciado. Mesmo assim, as entrevistas com diferentes categorias de atores sociais nos proporcionaram uma visão razoável do funcionamento interno do clube, principalmente no que tange a esse tópico, as relações pessoais dentro da empresa e do time. Nesse contexto o modelo de gestão escolhida pelo time, o burocrático, no formato de uma empresa LTDA, se mostra bastante eficaz, visto os resultados do clube e do time, resultados que dificilmente seriam alcançados sem um modelo empresarial que se ajustasse às particularidades tanto do clube quanto do time. Aqui cabe lembrar uma das hipóteses deste trabalho que pode muito bem responder aos questionamentos das entrevistas: Até que ponto os resultados do Cuiabá Esporte Clube são um reflexo da adoção do modelo empresarial. Sobre isso o ex-presidente do clube dirigente 2:

Influencia totalmente. Na tomada de decisões, nas demandas que a comissão técnica necessita, questão de treinamento, a questão de viagens, logística, que é fundamental num campeonato (difícil), como a Série B, nas contratações, na facilidade de diálogo, entendeu? Que o treinador ele tem que... hoje ele tem que... é uma coisa fria, empresa, é uma coisa... ele tem que dar resultado, nós temos que dar uma estrutura pra ele, que ele dê um resultado, mas ele não precisa ficar fazendo as coisas aqui pra agradar A, B ou C, conforme tem muitos aí. Não, é uma coisa... é poucas, duas, três pessoas que decidem, entendeu? Mas é uma coisa baseado em resultados, na meritocracia, e não, “ah, esse jogador não (entrou), tem que pôr pra jogar”. Não, aqui não é assim, aqui joga quem tá melhor. Tem toda uma coisa, vamos dizer assim, justa.

Segundo a fala do dirigente pode-se destacar a “meritocracia”, uma das principais características de uma empresa, dar oportunidades aos melhores pelos seus méritos, ou seja, pelos seus sucessos dentro da instituição; para ele essa é uma das características que permeiam 90

as relações dentro do clube, mas também pode-se notar, em sua fala, que há uma hierarquia de decisões, onde as resoluções são tomadas por setores, por exemplo o treinador tem autonomia sobre a escolha do elenco, “joga quem tá melhor”. Sobre esse tema a literatura administrativa afirma:

A distribuição das atividades é feita impessoalmente, ou seja, em termos de cargos e funções e não de pessoas envolvidas. Daí o caráter impessoal da burocracia. A administração da burocracia é realizada sem considerar as pessoas como pessoas, mas como ocupantes de cargos e de funções. O poder de cada pessoa é impessoal e deriva do cargo que ocupa. A obediência prestada pelo subordinado ao superior também é impessoal. Ele obedece ao superior, não em consideração à sua pessoa, mas ao cargo que o superior ocupa. A burocracia precisa garantir a sua continuidade ao longo do tempo: as pessoas vêm e vão, os cargos e funções permanecem ao longo do tempo. Assim, a burocracia é uma estrutura social impessoalmente organizada. (CHIAVENATO, 1987, p. 264).

Segundo Weber (1994), na Burocracia Ideal a promoção ou escolha do profissional deve ser baseada exclusivamente pelo mérito/competência. Para ele, a burocracia era o exemplo ideal contra as escolhas arbitrárias e pessoais para composição dos cargos públicos. Nesse caso, para organizações privadas, essa lógica burocrática também pode ser observada, já que o clube deve promover, tanto dentro de campo quanto na sua estrutura administrativa só aqueles mais qualificados para assumir tais postos. Essa característica do modelo empresarial impessoal e meritório estaria intimamente ligada ao sucesso do clube e do time. 4.2 O CUIABÁ ENQUANTO ORGANIZAÇÃO Seguindo no tema de regras e regulamentos formulou-se a seguinte questão ao torcedor: Você consegue perceber como a organização do Cuiabá beneficia o torcedor fora e dentro do campo? Em resposta, o torcedor 3 argumenta:

Sim. Dá pra perceber que o Cuiabá está se organizando tanto fora como dentro de campo, fazendo ações de marketing, com sócio torcedor barato pra atrair o público; dentro da arena tem os copos personalizados ou tenta fazer alguma coisa diferente. Acredito sim, acredito que organizou bastante e consigo ver sim, essas melhorias e organizações aí do clube.

A fala do torcedor indica uma percepção ainda mais ampla desse sistema interno que organiza o clube enquanto empresa, já que o mesmo passa a perceber que, mesmo nos momentos em que o clube não está em atuação no campo, ou seja, efetuando sua função principal, ele ainda está presente, no marketing e nas ações de tornar a vida do consumidor final mais agradável consumindo seus produtos. 91

Ainda dentro da questão do relacionamento entre as pessoas dentro do clube o ex-goleiro Júlio Cesar afirmou:

Eu trabalhei lá na base, no sub 21, com o Eduardo, vou falar pra você, o tratamento naquela... quando eu joguei, o tratamento que nós tínhamos era muito, muito bom, cara. Os cara era profissional mesmo, né, já naquela época. Você tinha... um exemplo, a gente ia, almoçava no clube, ficava no clube, descansava no clube e só ia embora à noite. Já tinha uma estrutura naquela época. Hoje, o Cuiabá é referência por conta disso. Hoje é referência. Tanto os jogadores de fora, o Abadias, é um clube bem quisto na cidade, é um clube que tem "moral" pra fazer as coisa, entendeu? Tem umas pessoas capacitadas lá dentro, que tornam o clube grande, como é o Cuiabá. Então, a estrutura, principalmente a estrutura do Centro de Treinamento, é muito importante. Então, isso aí (é que) o Cuiabá engrandeceu muito mais.

Esses relatos demonstram que o ambiente de trabalho no clube é harmônico, até onde podemos notar, permitindo ao funcionário/atleta uma experiência de bem-estar e de liberdade para executar as tarefas que lhe são atribuídas. Mesmo que a falta de informações da equipe gestora nos impeça de ir além dessa afirmação, não é transparente na mídia especializada nenhuma prova contrária desse ambiente de tranquilidade administrativa e laboral. Essa melhoria também pode ser perceptível quando o torcedor 3 responde à pergunta: Você consegue perceber como a organização do Cuiabá beneficia o torcedor fora e dentro do campo?

Beneficia o torcedor fora e dentro do campo, né? A organização, que nem hoje o Cuiabá, a gente consegue perceber que o... sendo um clube-empresa, então, eles têm os investimentos que é feito, né? Hoje lançou o sócio torcedor. Quer dizer, é uma excelente cartada, porque a partir de 10 reais, você consegue assistir todos os jogos do Cuiabá sendo sócio torcedor, né? Então... e sem falar os investimentos dentro de campo, né? De elenco, de formação do time, né? Tanto que tá aí, mais de três anos aí invicto no Estadual, aqui em Mato Grosso dificilmente algum clube chega a ser, vamos se dizer assim, um concorrente direto e difícil pro Cuiabá. Infelizmente, hoje no Mato Grosso, no nosso estado, é o Cuiabá. Até por ser empresa que é justamente esses investimentos aí que eles conseguem fazer, né? Organização. Então, os benefícios são esses. E pra torcida é o time sendo organizado, tendo investimento, a tendência é a torcida ir crescer a cada dia.

Foi nesse contexto que o clube chegou ao ano de 2018 com plena condição de fazer uma temporada que refletia o funcionamento da empresa no campo de jogo, assim, no ano de 2018 o time conquistou o bicampeonato estadual, foi até a 3ª fase da Copa do Brasil, a 3ª fase da Copa Verde, além do acesso inédito para a Série B, ao se sagrar Vice-Campeão Brasileiro da Série C. Resta-nos a pergunta se as condições para esses feitos foram só as da estrutura e 92

funcionamento da empresa ou também fatores externos, como o de jogar em uma arena moderna e com estrutura de copa do mundo.

4.2 A IMPORTÂNCIA DA ARENA PANTANAL NA ASCENSÃO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE À SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL

A chamada Arena Pantanal, que já teve a história de sua construção anteriormente descrita neste trabalho, ainda carrega algumas controvérsias por conta de sua utilização dos clubes de Mato Grosso. O fato do Cuiabá Esporte Clube hoje utilizar uma estrutura criada para a Copa do Mundo do Brasil de 2014, à primeira vista parece só trazer vantagens ao time, mas há controvérsia referente à baixa utilização dos clubes, Mixto, Cuiabá, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande, pois estes não conseguem atrair grandes públicos em seu campeonato estadual. Lembrando que a Arena Pantanal, por ocasião desta dissertação, ainda era o único espaço esportivo para a atividade do futebol profissional da capital Cuiabá, pois o estádio Presidente Dutra, o Dutrinha, se encontrava paralisado por conta de obras

Em uma matéria publicada na revista Época, no dia 1 de agosto de 2016, intitulada de “Arena Pantanal, o estádio fantasma”, é noticiado que durante todo o ano de 2015, foram realizados quarenta e oito jogos neste espaço esportivo, mas a média de público presente não justificou o investimento. Isso, pois, somente 04% da capacidade do estádio foi ocupada e a média de público – mil quinhentos e noventa e oito pagantes, foi a mais baixa, em comparação com as demais novas arenas do país. Os números apresentados informam que somente 0,28% da população local compareceu aos jogos, e isso demonstra que “o cuiabano não mostrou interesse por futebol”. (LIMA, 2019, p. 139 apud CAPELO, 2016, s/p).

Por fim, ainda existem os debates em torno das obras da Arena Pantanal, que até o presente momento deste trabalho ainda não havia sido entregue ao Governo do Estado de Mato Grosso, responsável por suas instalações. No entanto, tais problemas, embora graves em relação a sua não resolução, fogem do escopo desta pesquisa. Então nos ateremos aqui ao uso da arena por parte do Cuiabá Esporte Clube, assim como se sua utilização trouxe ou não benefícios ao clube, e se teve alguma influência em sua ascensão à Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol. Novamente recorremos às entrevistas feitas com os diversos agentes sociais que viveram o período pré e pós construção da arena. Para tanto, fizemos o seguinte questionamento aos atletas e ex-atletas do clube: O fato de o Cuiabá usar a estrutura de uma Arena de Copa do Mundo como sua casa, influencia no rendimento do time e na presença de torcedores? 93

O atleta 3 argumenta:

Arena Pantanal é um espetáculo, nós que rodamos o Brasil vemos muitos estádios organizados e bonitos, porém a Arena sempre ficará na memória de todos que passam no Cuiabá por ser alto padrão, grande estrutura, além de serem frequentados por torcedores pacíficos, famílias tradicionais que vão ao estádio pra torcer pelo clube da cidade, que representa o estado com muita dedicação e orgulho, é sempre muito bom entrar nesse gramado!

As palavras do goleiro afirmam um vislumbre do atleta ao monumento esportivo que foi erguido, não para o esporte local, mais sim para um evento mundial, a Copa do Mundo de 2014, o que fez com que o Cuiabá Esporte Clube desfrutasse de uma arena moderna, com grande capacidade de público, espaço para entretenimento e consumo dos torcedores e, quase sempre, um bom gramado para facilitar o desenvolvimento de futebol de qualidade. No entanto, esse espaço teve um custo alto para os padrões locais, tanto do ponto de vista financeiro quanto social, já que riscou do mapa um dos símbolos da cidade, o antigo estádio Jose Fragelli, o Verdão.

A FIFA determinou arranjos estruturais que foram assumidos pelos gestores políticos e dirigentes do esporte futebol do estado e da cidade, à época. Da paisagem cuiabana, um de seus grandes símbolos da arquitetura urbana foi apagado. Os requisitos necessários para realizar um megaevento da proporção que é uma Copa do Mundo, extinguiram a estrutura do principal estádio de futebol de Mato Grosso. Naquele período, não houve questionamentos plausíveis que, sequer, colocassem em dúvida a necessidade da demolição do Estádio Verdão e/ou que perspectivasse apontar reformas para a adequação do estádio às exigências da FIFA. (LIMA, 2019, p. 216).

A Arena Pantanal nasce da tentativa forçada de obter um espaço esportivo moderno para um esporte local que ainda caminhava a passos lentos rumo à modernização, na versão local de modernização tardia. A arena e sua importância ao esporte local ainda alimentam controvérsias quanto a sua eficácia em atrair público para os jogos locais e ajudar os clubes locais em suas trajetórias até a sonhada ascensão ao cenário nacional. Ainda respondendo a essa questão sobre a influência da Arena Pantanal o atleta 3 argumentou:

Eu só acho assim, que o Cuiabá agora que começou a agregar a torcida, os torcedores. Porque o Cuiabá era um clube que surgiu novo, não tinha muito torcedores como os tradicionais daqui. Tá tendo uma conversão entre o antigo com o novo, né? O que que tá acontecendo hoje? As crianças, hoje em dia, cara, já têm a referência do Cuiabá, né? A referência hoje em Cuiabá. As pessoas antiga, que torcia pro Mixto, Operário, Dom Bosco, hoje já tão 94

praticamente tudo migrando pra assistir o Cuiabá. Então, mesmo eles, com (dores) no coração, era obrigado a bater palma pro Cuiabá.

A percepção do ex-goleiro, que jogou no antigo estádio Verdão, nos arremete justamente ao tema da transição: o Cuiabá Esporte Clube é um time novo no imaginário local do futebol, mas teve nos últimos anos uma ascensão meteórica; a junção entre o modelo clube- empresa bem-sucedido e novo espaço esportivo vem agregando levas de torcedores, crianças com o primeiro time local e os mais velhos com o segundo clube local, atraídos de volta ao espaço esportivo por esses motivos. Ressaltando que o caso do Cuiabá Esporte Clube é uma exceção no futebol local; mesmo que o Luverdense tenha seguido caminho semelhante ao nível estadual e nacional, os outros times da capital não conseguiram se desvencilhar dos problemas de gestão que acabaram desestimulando os antigos torcedores. No entanto, mesmo com o aparente sucesso, o Cuiabá Esporte Clube ainda não tem conseguido atrair públicos expressivos com regularidade a seus jogos estaduais, nacionais ou internacionais, salvo raras ocasiões que aqui não serão exploradas pois fogem do escopo do trabalho.

Nenhuma política pública foi pensada para dar incentivo ao futebol do estado. O único time que está em destaque, e isso por suas próprias condições, é o Cuiabá Esporte Clube. Os times tradicionais de Mato Grosso têm buscado alternativas para continuarem funcionando, mas sem qualquer incentivo financeiro de ordem pública. Consequentemente, diante das dificuldades financeiras dos times tradicionais do estado, que implica, também, na dificuldade de formar o grupo com jogadores de qualidade, a disputa fica pouco interessante e o comparecimento de público é quase que inexistente. (LIMA, 2019, p. 216).

Por seus próprios méritos o Cuiabá Esporte Clube vem edificando essa transição solitária na capital do estado, fazendo com que torcedores de outros times tradicionais o apoiem como forma de tornar o estado visível no cenário nacional esportivo. Assim fizemos a seguinte pergunta aos torcedores: Você costumava a assistir os jogos do Cuiabá no Verdão e no Dutrinha? Respondendo a essa questão o torcedor 4 argumentou:

Sempre acompanhei o Cuiabá. Acompanhava o Cuiabá assim, no Dutrinha, no antigo Verdão, sempre que podia, eu tava junto com o time. Já vi inúmeros jogos do Cuiabá no Dutrinha, pra mim, era um... é um estádio raiz, né? Adorava os jogos lá no Dutrinha, que pena que agora tá passando por uma reforma aí, esperamos que tenha jogos do Cuiabá lá, porque eu gosto muito do estádio.

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A lembrança do torcedor com relação ao antigo estádio arremete ao começo do clube como time de séries inferiores e de jogos locais, onde um estádio com pequena capacidade de público dá ao frequentador a noção de pertencimento a um evento de emoções afloradas. No entanto, o mesmo torcedor também respondeu à seguinte pergunta sobre a Arena Pantanal: A construção da Arena Pantanal teve impacto na imagem do time? Quais?

Acredito que sim, que a Arena Pantanal acabou alavancando a imagem, não só do Cuiabá, como do futebol mato-grossense. É uma das arenas mais bonitas do mundo, pena que não está sendo cuidado da devida maneira, mas, de qualquer forma, acabou alavancando sim, a imagem do clube, o pessoal tá ali por perto fazendo uma caminhada, desperta algum tipo de interesse. E acabou sim, com certeza beneficiando o clube não só o Cuiabá, como todos os times locais, né?

Pode-se notar, então, que apesar do saudosismo com relação aos antigos espaços de prática esportiva da capital, o torcedor tem a percepção de que uma arena moderna alavanca o esporte local, e o Cuiabá Esporte Clube como maior expoente deste esporte no estado, a um novo patamar no cenário nacional e internacional. A mesma impressão teve o torcedor 2 ao responder a essa pergunta:

Sim, a Arena... impacto na imagem do time não acredito não. Lógico que você ter uma Arena, um estádio de Copa do Mundo, isso aí ajuda e muito, né? Ainda mais o Cuiabá que tava numa C, agora tá na série B, eu acho que isso é importantíssimo, né? Foi uma boa.

Os torcedores parecem se convencer que a construção da Arena Pantanal acaba colocando o Cuiabá Esporte Clube em outro patamar esportivo, fato que mesmo antes da construção da arena já havia sido notado, que o clube por sua organização, mérito administrativo e esportivo caminharia em sua trajetória ascendente. Mas o acréscimo de uma arena moderna veio a coroar essa trajetória. Como se pode notar na quebra de recorde do número de torcedores presentes na Arena Pantanal, público que superou até mesmo o maior público dos quatro jogos da Copa de 2014 na mesma arena.

Superando o recorde de quarenta mil quatrocentos e noventa e nove pessoas que foi registrado no jogo entre as seleções Nigéria e Bósnia Herzegovina, pela primeira fase da Copa do Mundo de 2014, o jogo de maior público da Arena Pantanal ocorreu no dia 22 de setembro de 2018 entre os times Cuiabá Esporte Clube e Operário Ferroviário Esporte Clube . A disputa ocorreu pela final da Série C do Campeonato Brasileiro e foi historiada a presença de quarenta e um mil trezentos e doze pessoas. (LIMA, 2019, p. 142).

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Cabe ressaltar aqui que a Arena Pantanal sozinha não deveria ser vista como salvadora do futebol local, pois ela é apenas uma arena, um espaço público; o futebol de Mato Grosso tem problemas muito maiores que apenas a falta de espaços modernos, são problemas econômicos, políticos e administrativos, portanto a arena construída deve ser vista como um agregador de valor; explorar seu potencial comercial, social e esportivo em seu máximo é o desafio dos clubes locais.

Segundo dados da Secretaria Especial da Copa e da Matriz de Responsabilidades, o investimento foi de R$ 570,10 milhões, dos quais R$ 339,00 milhões por meio de financiamento federal e R$ 232,10 derivado de investimentos do governo estadual. A arena conta com dois centros de treinamento e ainda terá restaurantes, hotéis, estacionamentos, lagos, bosque e pista para caminhada. O espaço, depois do mundial, está sendo utilizado para jogos dos campeonatos mato-grossense e brasileiro e como centro de convenções, palco para shows e feira. (RODRIGUES, 2016, p. 22).

Portanto, um espaço dessas proporções e potencialidades pode, de forma positiva e se bem gerida, trazer aos clubes locais, especialmente ao Cuiabá Esporte Clube, suporte para que novas fontes de renda possam ser exploradas, proporcionando aos moradores e torcedores locais, regionais e turistas um local de entretenimento, negócio e ponto turístico. O potencial esportivo da aliança de um clube-empresa, bem estruturado com os sucessos aqui demonstrados e uma estrutura como a da Arena Pantanal provou que, ainda de forma esporádica, a população de Cuiabá e de sua baixada redescubra o futebol local como fonte de entretenimento, assim como os setores empresariais como fonte de negócios. Por fim, nos resta analisar se a chegada do Cuiabá Esporte Clube à série B do Campeonato Brasileiro de futebol em 2019 tinha afetado a organização do clube-empresa, já que a série em questão é um novo patamar no que tange à qualidade do espetáculo e à exposição midiática. Outro fato que gerou grandes debates locais sobre a utilização tanto da Arena Pantanal quanto das manutenções dos espaços externos a ela, já que a visibilidade nacional do clube traria novos olhares para o esporte local. Novamente recorremos às entrevistas aos atores sociais, assim questionamos: A cobertura da mídia nacional após o acesso do time a série B, mudou a cobertura jornalística local? O jornalista esportivo 2 argumentou:

E esse ano eu acabei que voltei a cobrir o Cuiabá de fora, né? Como um jornalista esportivo mesmo. Então, eu vejo que eu mudei. Eu mudei minha forma da cobertura local, eu corro mais atrás das informações, nem sempre eu consigo elas oficiais, mas tenho as fontes que acabam chegando a mim. E vejo que alguns sites aqui de Mato Grosso, a própria televisão também que faz a cobertura, tentaram melhorar, né? O acompanhamento sobre o clube. Mas, 97

não teve um grande investimento em equipes pra que isso melhorasse, entendeu? As equipes de rádio aqui, não têm um setorista local, fixo, que vai lá no clube todo dia. Até o Cuiabá, não sei se recebe imprensa todo dia, mas se uma empresa séria, de rádio, ou de televisão, quisesse o atendimento todo dia, praticamente o clube seria obrigado a fazer o atendimento, né? Não com entrevistas, mas com informações, né? Então assim, eu... a gente faz... eu faço a cobertura diária do Cuiabá, mas eu busco as informações, né? E não vejo isso nas rádios, não tem setorista, a TV Centro América tem os seus jornalistas, mas é uma cobertura duas vezes por semana aí no jogo, não é aquela coisa diária, né? De fazer treinamentos ao vivo, né? Aquela cobertura que a gente vê dos clubes aí da série A, ou então de alguns da série B de outros... de outras regiões de país. Então eu vejo que assim, cresceu o interesse do jornalismo local sobre o Cuiabá, mas não mudou muito a forma de cobrir o clube, vindo dos veículos. O investimento ainda é baixo, e por isso que eu digo: se o Cuiabá chegar na série A, será uma evolução no jornalismo futebolístico aqui de Mato Grosso, porque aí o investimento da televisão, que é detentora dos direitos, vai ter que ser triplicado, dos sites, né? Nossos, vão ter que contratar mais repórteres, né? Jornalistas, pra não ficar pra trás; as rádios vão ter que dar uma investida nos repórteres diários, né? E outras... e as TV's maiores aí, nacionais, vão ter que enviar também jornalistas pra cá, ou então contratar os daqui pra trabalhar. E por isso eu digo, vai ser uma revolução se o Cuiabá chegar na série A, tanto no futebol mato-grossense e tanto no jornalismo esportivo local. Porque aumentou o interesse, mas não aumentou muito a cobertura, só o clube mesmo, que se profissionalizou ainda mais, né? Com sala de imprensa, com essa infraestrutura aí pra imprensa, mas a cobertura local não mudou muita coisa, só aumentou mais o interesse, entendeu? É isso que eu quero te dizer, aumentou o interesse dos sites, da TV e tal, mas não mudou muito. O que mudou mesmo, foi as transmissões de todos os jogos na SporTV. Então isso é interessante, é o que deu visibilidade ao clube. E alguns sites, né? Eu posso, modéstia à parte, citar o Olhar Esportivo, que é um site que sempre tá dando as primeiras informações do Cuiabá, sempre tá acompanhando os outros clubes aqui de Mato Grosso também. Então assim, a gente teve uma melhora, né? A gente teve um investimento aí no site pra que conseguisse essa credibilidade e esse acompanhamento diário. E acho que outros devem fazer assim, se não acaba ficando pra trás também.

O jornalista narra de forma clara uma transição de importância na cobertura jornalística: o outrora time da série C que jogava muitas vezes em um acanhado estádio, o Dutrinha, ou em um antigo e ultrapassado estádio, o Verdão, hoje figura entre os 40 maiores clubes do Brasil, disputando competições locais, regionais, nacionais e internacionais; essa transição se mostra no ainda fraco investimento por parte da imprensa esportiva local, acostumadas a coberturas da série A e de competições internacionais; o fato da ascensão meteórica do clube também pode explicar isso, não ouve tempo para a formação de uma nova geração de torcedores nem de comentaristas esportivos locais. A série B, então, pode ser um divisor de águas na história da atenção midiática ao esporte local, mas também é um novo patamar e um novo desafio à organização do clube enquanto empresa, além, obviamente, do time dentro das quatro linhas. 98

Tendo esses fatos em mente perguntamos aos dirigentes sobre esses novos desafios e suas expectativas para o futuro do clube: A chegada do clube a série B mudou a organização da empresa? Quais foram as principais modificações? O dirigente 2 argumentou:

Mudou muito, em todos os setores. A parte técnica, parte administrativa, muito. Tanto fora como dentro de campo. uma... não vou dizer sofisticação, né, mas houve assim uma... um crescimento da estrutura, e assim, uma necessidade de profissionais melhores, de melhores ferramentas, entendeu? Pra você conseguir ter resultados.

A fala do dirigente indica que a série B, por ser uma competição com mais visibilidade midiática, mais atrativa financeiramente, com equipes mais especializadas e competitivas, exigiria adaptações para tornar o clube e o time em condições de atuar tanto nesse novo mercado quanto nesse novo patamar de disputas com grandes e médios clubes de nível nacional. Tais adaptações se mostraram eficientes, já que o clube, no ano de 2019 tricampeão estadual, fez uma boa campanha na Copa do Brasil, onde disputou até a terceira fase, foi campeão da Copa Verde, título que lhe garantiu participação nas Oitavas de Final da Copa do Brasil de 2020 e fez uma excelente campanha na série B, se mantendo por várias rodadas entre os quatro times que poderiam conquistar o acesso à série A, no fim desta competição acabou na 8ª posição com 52 pontos17. Com essa campanha o clube manteve sua hegemonia estadual, além de confirmar seu peso a nível regional com a conquista da Copa Verde de 2019, fato que permite aos dirigentes esportivos traçarem estratégias para o futuro do clube. Para tanto fizemos a seguinte pergunta: Quais são os próximos passos da empresa Cuiabá E.C. em âmbito econômico e esportivo? Respondendo a essa questão dirigente 1 argumentou:

Acredito que temos condições totais de estar na série A. O Cuiabá tem condições de representar o Estado no Brasil. Então, não é fácil subir para a série A. Isso exige muito investimento e trabalho, mas precisa de engajamento da sociedade. A Arena precisa de manutenção e uma forma de manter o estádio vivo é o futebol. Tudo isso somado à potência da cidade, da nossa economia, soma nessa possibilidade de fortalecimento. Com certeza. A nossa decisão de comprar o time em 2009 se deu principalmente com anúncio da realização da Copa aqui na nossa cidade e construção da Arena Pantanal. Isso foi importante, tanto é que basta ver o estado do futebol em Mato Grosso do Sul. Na época, tinha disputa entre as duas cidades para ver quem seria sede da Copa, e hoje nós evoluímos e eles nem tanto. Ajudou também o fato de que

17 Fonte: Confederação Brasileira de Futebol - CBF: . Acesso em: 14 jun. 2020. 99

agora somos o clube que pode oferecer jogos no melhor estádio da série B nacional.

Portanto, o Cuiabá Esporte Clube colhe os frutos do seu planejamento de longo prazo, sua estratégia de gestão burocrática e seu investimento em quadros profissionais especializados. Indo na contramão de boa parte dos clubes nacionais e da grande maioria dos clubes locais, o Cuiabá Esporte Clube se coloca na vanguarda do esporte local e garante seu lugar nas disputas nacionais, não como mero coadjuvante, mas sim como um dos protagonistas, sempre disputando os títulos ou as melhores colocações nas competições as quais participa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta dissertação procurou-se refletir sobre a história do Cuiabá Esporte Clube, dando ênfase a sua transição de clube nos moldes tradicionais do futebol brasileiro ao modelo de gestão de clube-empresa, sua trajetória de sucessos e de alguns fracassos na construção de sua imagem enquanto clube de futebol e empresa esportiva. Na função de apreender informações relevantes à resposta para a questão central que motivou a realização desta tese, a saber: quais foram os fatores que levaram o Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol? Para responder a esse questionamento foi feito um longo trabalho de levantamento bibliográfico da sociologia geral, da sociologia do esporte, com recorte no futebol, assim como um levantamento das teorias administrativas com o intuito de embasar o debate a respeito do clube-empresa. Também foram realizadas entrevistas com diferentes categorias de atores sociais, separadas nas categorias de torcedores, atletas, dirigentes e jornalistas da modalidade de futebol que apresentaram informações sobre a história do Cuiabá Esporte Clube, dando-nos detalhes de sua trajetória, seus percalços, suas glórias, as paixões engendradas nesse processo, além de lançar luz sobre o funcionamento da empresa e de seu modelo de gestão. Esse trabalho empírico e teórico teve como objetivo geral: Compreender os fatos que contribuíram para que o time de futebol Cuiabá Esporte Clube se tornasse uma empresa esportiva. Como visto, tal objetivo foi alcançado com o detalhamento da trajetória tanto do futebol mundial, nacional e estadual, que caminharam para problemas dentro e fora de campo, quanto do modelo de gestão que tinha como cerne a política e o amadorismo; o caminhar em direção ao modelo de clube empresa, mais racional e burocrático, era algo inevitável e até mesmo darwiniano; mesmo que boa parte dos clubes que seguiram por esse caminho não tenham alcançado sucesso, o modelo tem se mostrado o melhor em comparação com os anteriores. No caso do Cuiabá, a sua trajetória desde 2009, quando se tornou efetivamente um clube-empresa; os dados estatísticos aqui apresentados corroboram para essa afirmação, o modelo clube-empresa adotado pelo Cuiabá foi se consolidando à medida que a gestão foi contribuindo para a acessão do clube de categorias inferiores até a Série B. Desta forma o clube se tornou uma empresa pelas necessidades exigidas no futebol moderno, mesmo que a nossa maneira de modernização seja tardia, assim como pelos resultados benéficos que esse modelo apresentou ao longo da trajetória do clube. Seguindo no trabalho procuramos também respostas aos nossos objetivos específicos: verificar os motivos que levaram o clube a ascender de um time sem série no campeonato 101

nacional ao recente acesso à Série B do campeonato brasileiro. Os motivos para a ascensão do Cuiabá à Série B puderam ser respondidos parcialmente, pois nos faltou acesso aos dados orçamentários; sabemos que tais números nos colocariam em um outro patamar de compreensão, no entanto os dados aqui expostos, graças ao trabalho de levantamento estatístico e às entrevistas, contribuíram para elucidar esses fatos; sabe-se agora que a junção de uma boa administração esportiva, investimentos constantes, planejamento de longo prazo, investimento em infraestrutura do clube, contratação e manutenção de uma equipe adequada às novas exigências do futebol, com preparação, física, psicológica e nutricional, etc., assim como a herança de uma arena esportiva de nível de copa do mundo, foram essenciais para essa ascensão. O segundo objetivo específico foi o de: quantificar os resultados obtidos no período em questão, cruzando com os dados orçamentários do clube. Como foi dito anteriormente, aos dados orçamentários não nos foi possível ter acesso, pois, os dirigentes do clube, entrevistados por esse trabalho, alegaram que esses eram dados estratégicos. No entanto, o levantamento histórico do desempenho do clube, antes de 2009 e depois de 2009, ano da compra do clube pela família Dresch, demonstra que esse fato foi de extrema relevância para o sucesso do clube dentro e fora de campo; as tabelas aqui expostas demonstram que em 19 anos de existência o clube acumulou nove títulos estaduais, acessos das Séries D para C e da C para a B, além de duas Copas Verde, boas campanhas na Copa do Brasil e uma participação inédita para um clube estadual em uma competição continental, a Copa Sulamericana. Portanto, nos resta afirmar que os investimentos por trás desses resultados tiveram impactos positivos nessa história de sucesso. O terceiro objetivo específico: caracterizar os modelos de gestão esportiva adotados para obtenção dos resultados. Esse objetivo foi alcançado com a exposição do capítulo três, onde se demonstrou as diversas teorias administrativas, suas especificidades teóricas e aplicabilidade prática. Posteriormente a essa exposição, com o intuito de embasar teoricamente cada corrente administrativa, o Cuiabá Esporte Clube foi classificado como um clube-empresa que seguia a corrente Burocrática, onde sua estrutura e gestão sempre buscam a racionalização de suas atividades, fato que foi provado com a enumeração de cada característica da teoria em questão, sendo colocada a prova na pesquisa bibliográfica sobre o clube, na pesquisa sobre seu quadro de funcionários e, por fim, nas entrevistas que corroboraram no cumprimento desse objetivo especificamente. Por fim, o quarto objetivo especifico: apontar os problemas e soluções obtidos pelas gestões durante o período em questão. Também pôde ser atingido pois foi amplamente debatido nas entrevistas do capítulo empírico, o quarto deste trabalho, onde, nas narrativas dos agentes 102

envolvidos podemos observar os problemas principais do aparato de gestão do clube; dentre os citados os mais relevantes podem aqui ser apontados: a dificuldade de lidar com o esporte na periferia do futebol nacional, a luta por conseguir se firmar como nova força do futebol local em um ambiente com problemas de falta de torcida e de vazio futebolista deixado pelos clubes profissionais mais antigos; também merecem menção o debate entre o velho futebol local, político e ultrapassado, contra o novo futebol racional, comercial e competitivo que o clube tenta representar. No que tange ao problema da pesquisa, este foi: quais foram os fatores que levaram o Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol? A resposta a esse problema passa pela escolha, desde o ano de 2009, do modelo empresarial; esse fato, como já foi dito, se tornou um divisor de águas, fato amplamente demonstrado nos resultados das tabelas e gráficos do capítulo três; além disso, pode-se citar que o fato do clube ter um mantenedor vitalício, o Grupo Drebor, da família proprietária do clube, foi de grande ajuda na manutenção e ampliação constante da capacidade do clube a manter uma estrutura que proporcione a seus funcionários, fora e dentro de campo, para se dedicarem ao ofício futebolístico; como foi apresentado no capítulo citado, o clube e o time contam com total condição de manter-se de forma competitiva nas disputas em que esse participa. Fato que também pode ser notado nas narrativas do capítulo quatro, tanto dos atletas como dos ex-atletas. Em um país onde a regularidade administrativa é bastante falha, uma empresa que se mantém num patamar, como o Cuiabá, durante duas décadas, o destaque nas competições em que participa é uma prova de que o modelo burocrático empresarial é o fio condutor desse processo. Algumas perguntas secundárias relacionadas ao nosso problema de pesquisa: quais os resultados obtidos no período abordado pela pesquisa no âmbito econômico e esportivo? Não pode ser respondida, mesmo que o pesquisador tenha tentado, por vários meios legais acesso aos dados financeiros do clube, as negativas constantes dos dirigentes, a falta de dados oficiais ou mesmo especulativos da mídia fizeram com que a pesquisa não se prendesse a essa questão, fato que mantém as portas abertas a novas pesquisas futuras. Cabe aqui observar que nesses dezenove anos o clube ascendeu financeiramente na mesma proporção que esportivamente, já que os prêmios de várias competições foram se somando ao já referido patrocínio vitalício, além da construção de uma imagem vencedora, de uma empresa séria, com ambições e projeção nacional e internacional, fato que atraiu o interesse do empresariado local, dando ao clube uma estabilidade financeira; mesmo que não tenhamos dados empíricos para corroborar essa afirmação, podemos recorrer às entrevistas dos membros da equipe, que nos afirmam a sua 103

idoneidade administrativa; podemos citar também o crescimento da estrutura do clube, com sede própria e equipamentos modernos. Outra pergunta secundária relacionada ao nosso problema de pesquisa foi: quais os modelos de gestão adotados para a obtenção desses resultados? O modelo de gestão burocrática já foi exposto aqui nessa parte do trabalho, no entanto, cabe ainda uma menção importante: o Cuiabá é um clube-empresa que segue o modelo descrito entre os artigos 1.039 e 1.092 do Código Civil, o modelo de empresa de Sociedade Limitada: Formada por pessoas físicas e/ou jurídicas que tem a obrigação de cuidar de todos os bens da empresa, semelhante à Sociedade em Nome Coletivo. Onde nossa pesquisa apontou que seus sócios pertencem todos à mesma família e grupo empresarial, fato que poderia gerar problemas patrimonialistas na gestão do clube, no entanto nenhum aspecto desse tipo de problema pôde ser captado por nossa pesquisa bibliográfica ou empírica. Quanto às hipóteses levantadas: o Cuiabá Esporte Clube pode ser considerado um sucesso enquanto empresa e time de futebol. Nosso trabalho de pesquisa estatística demonstra que, do ponto de vista quantitativo, o clube teve mais sucessos que fracassos, onde se pode apontar o licenciamento que o clube teve do futebol entre os anos de 2006 a 2008 como o fracasso mais relevante desses 19 anos; no entanto devemos observar que esse período ainda se passa com o modelo de gestão antigo, muito ligado ao modelo político, mesmo que suas pretensões de se tornar um clube empresa já estavam sendo cogitados; o que fica claro, e nossos dados demonstram isso de forma cabal, é que o pós 2009 tem sido um período de sucessos tanto em números fora quanto dentro das quatro linhas. A segunda hipótese: os resultados do Cuiabá Esporte Clube são um reflexo da adoção do modelo empresarial. Os resultados do Cuiabá Esporte Clube são o grande reflexo de seu modelo empresarial, visto que todas as entrevistas, com atletas, torcedores, jornalistas e dirigentes, apontaram para o fato de o clube ser uma empresa como sendo seu ponto mais forte e alicerce de sustentação das realizações do time; cabe aqui lembrar que em menos de vinte anos o Cuiabá Esporte Clube se firmou entre os quarenta clubes que se destacam nas duas principais divisões do futebol nacional. Já a terceira hipótese: o modelo de gestão refletiu nos resultados obtidos pelo time no campo de jogo. Pode ser checada principalmente com as entrevistas com os ex-atletas, atletas, torcedores e jornalistas, agentes que convivem no clube e dão vida e visibilidade ao time; todos foram taxativos ao apontar que o modelo de clube-empresa, no caso aqui a qualidade da gestão, dá aos atletas condições de desempenhar seu papel em campo, sem os problemas muitas vezes presentes em outros clubes, mesmo clube-empresa, como atraso de salário, por exemplo. 104

Quanto aos torcedores, o que se pode verificar foi que quanto mais o clube se modernizava e se mostrava como empresa séria e previsível, previsibilidade de continuidade de projeto, mais estes procuravam se vincular à figura do time, trazendo novos torcedores, fato que teve como culminância a criação do Sócio Torcedor Dourado, onde os torcedores se filiaram com o intuito de acompanhar o time, dando ao mesmo uma receita para seguir sua trajetória. Por fim, os jornalistas, ao perceberem a seriedade e as ambições do clube dentro e fora de campo, passaram, mesmo que ainda com as limitações dos veículos de comunicações local, a acompanhar mais de perto e de forma mais contínua os acontecimentos que cercaram o clube e o time, fato que foi extrapolado com a chegada do clube à Série B do campeonato nacional, o que deu ao clube visibilidade midiática inédita, levando a marca do clube-empresa a outro patamar. Por fim, a quarta hipótese: a gestão esportiva empresarial coloca o Cuiabá Esporte Clube como exemplo a ser seguido no estado de Mato Grosso. Novamente se recorreu às entrevistas com os diversos membros aqui já citados para se verificar essa hipótese; o que podemos notar é que todos foram claros ao apontar o clube como modelo a ser seguido tanto dentro de campo como fora dele. O futebol de Mato Grosso não pode ser reduzido ao Cuiabá Esporte Clube, sua história, como se pode notar nesse trabalho, é muito mais rica que esses menos de vinte anos, mas o Cuiabá trouxe algo de novo ao empoeirado debate político administrativo local, esse algo novo é seu modelo de gestão. Antes de concluir, gostaria de ressaltar a metodologia que guiou todo o trabalho: além das entrevistas com os agentes esportivos que acompanham e participam da vida do clube, do time e da empresa, também foi feita uma ampla pesquisa bibliográfica a respeito da sociologia do esporte, da sociologia do futebol e das teorias administrativas geral e esportiva, assim como a observação participativa, onde o autor buscou vivenciar o cotidiano do clube, do time e da empresa, colendo dados, buscando incessantemente as respostas para as questões aqui levantadas. Como toda pesquisa científica, ao chegarmos às respostas, mesmo que de forma parcial, novas perguntas surgem para que novos estudos sejam feitos; assim, posso citar aqui que gostaria muito de seguir nos caminhos da ciência para responder às questões sobre os impactos a longo prazo de uma gestão como a do Cuiabá Esporte Clube, seu programa de Sócio Torcedor Dourado como forma de fidelizar torcedores, além de como o time se estruturará para o novo período do futebol no pós-Pandemia de 2020. O trabalho de pesquisa é um dos poucos que não se pode apontar para um fim, a ciência ao se desenvolver busca sempre novos caminhos para dar vasão à curiosidade humana; esta 105

dissertação se insere nessa busca constante de sanar essa curiosidade, abrindo novos caminhos para perguntas ainda não respondidas.

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ANEXOS

ANEXO 1 - Roteiro de entrevista: Empresário

1) A partir de que ano o Cuiabá pode ser considerado um clube empresa? 2) Por que a opção de tornar o clube uma empresa? De que foi a ideia? 3) O clube já nasceu/surgiu como empresa? 4) Quais são as principais características do modelo de gestão empresarial do Cuiabá EC? 5) Por que o Cuiabá foi um dos poucos times de Mato Grosso que ascendeu econômica e esportivamente nos últimos 20 anos? Aponte motivos/fatores: 6) Como a organização de uma empresa esportiva pode influenciar o desempenho do time em campo? 7) O Cuiabá se inspira em qual clube empresa? 8) Descreva a estrutura administrativa do Cuiabá, como ela mudou durante sua existência? 9) Qual a diferença nos modelos de gestão de clube empresa dos demais clubes? 10) A história do Cuiabá como empresa tem mais sucessos que fracassos? Dê exemplos. 11) Nos quase 20 anos do Cuiabá, quais foram os anos mais difíceis financeiramente para o clube? 12) Quais são as fontes de financiamento do clube? 13) O clube pode ser considerado uma empresa viável e que é autossustentada pela receita obtida com suas atividades esportivas? 14) O futebol, como atividade esportiva, é um grande negócio para quem? 15) Quem são os agentes que se beneficiam economicamente com os ganhos do Cuiabá enquanto empresa? 16) O futebol hoje, incluídos na indústria do entretenimento, apresentam qual posicionamento perante este mercado? 17) Qual é a representatividade econômica do futebol em comparação aos demais esportes? 18) Quais são os motivos que aproximam ou afastam as grandes organizações comerciais das equipes esportivas como o Cuiabá? 19) A chegada do clube a serie B mudou a organização da empresa? Quais foram as principais modificações? 20) Quais são os próximos passos da empresa Cuiabá E.C. em âmbito econômico e esportivo?

ANEXO 2 - Roteiro de entrevista: Atletas

1) Qual foi o seu primeiro contato com o Cuiabá? 2) Você tomou conhecimento que o clube era uma empresa? 3) O fato de ter conhecimento sobre a situação do Cuiabá como clube empresa influenciou sua vinda para a equipe? 4) Você já havia trabalhado em outro clube empresa? Se sim qual? 5) Quais as principais diferenças na experiência de trabalhar em um clube empresa e um clube convencional? 6) Descreva a estrutura do Cuiabá no que se refere ao dia-a-dia de um atleta. 7) O fato de o Cuiabá usar a estrutura de uma Arena de Copa do Mundo como sua casa, influencia no rendimento do time e na presença de torcedores? 8) Você já passou ou passa por dificuldades econômicas como atleta do futebol? 9) Quais são os planos do Cuiabá para o futuro que são compartilhados com os atletas? 10) O Cuiabá enquanto empresa paga bem mais que o mercado ou está dentro da média?

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ANEXO 3 - Roteiro de entrevistas: Jornalistas

1) Qual a importância do surgimento do Cuiabá Esporte Clube para o jornalismo esportivo de MT? 2) Como jornalista a partir de que ano você começou a acompanhar o Cuiabá Esporte Clube? Fale um pouco sobre a História do Cuiabá.... 3) Você como jornalista tem conhecimento do lado empresarial do time? 4) O que é um time empresa? 5) Quais as características de um time empresa? O que o diferencia de outros clubes? 6) O Cuiabá é um time acessível aos jornalistas esportivos? 7) Quais os momentos mais importantes do time antes do acesso a série B que você teve oportunidade de fazer a cobertura? 8) Na história do futebol de MT como você classificaria o time do Cuiabá? 9) Qual o papel atual do Cuiabá na divulgação midiática do futebol de MT? 10) Na sua opinião, o fato do Cuiabá ser um clube empresa tem influência nos resultados obtidos por ele até o momento? 11) Quais os principais desafios do Cuiabá para o curto, médio e longo prazo? 12) A cobertura da mídia nacional após o acesso do time a série B, mudou a cobertura jornalística local?

ANEXO 4 - Roteiro de entrevista: Torcedores

1) Como começou a torcer o time do Cuiabá? 2) Você costumava a assistir os jogos do Cuiabá no Verdão e no Dutrinha? 3) Quais motivos o levavam até esses espaços esportivos para assistir o Cuiabá? 4) Você sabe que o Cuiabá é um clube empresa? 5) Você tem conhecimento sobre os clubes empresas no Brasil? 6) Qual o principal benefício trazido pelo processo de transformação do Cuiabá em clube empresa? 7) Você consegue perceber como a organização do Cuiabá beneficia o torcedor fora e dentro do campo? 8) Na sua opinião por que o Cuiabá foi um dos poucos times de Mato Grosso que ascendeu econômica e esportivamente nos últimos 20 anos? Aponte motivos/fatores: 9) Nos quase 20 anos do Cuiabá, quais foram os anos mais difíceis para o clube? 10) A construção da Arena Pantanal teve impacto na imagem do time? Quais? 11) A Arena Pantanal tem estrutura para lhe proporcionar uma boa experiência como torcedor? 12) Quais seriam as melhorias que você proporia para serem feitas na Arena Pantanal? 13) Quais os principais motivos te levam a assistir uma partida do Cuiabá na Arena Pantanal? 14) Na sua opinião o Clube tem uma boa relação com a torcida? 15) A chegada do clube à série B mudou a organização da empresa? Quais foram as principais modificações?