Estudo Taxonômico Das Angiospermas Epífitas De Belém, Pará, Brasil Taxonomic Study of the Angiosperm Epiphytes of Belém, Pará, Brazil
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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 14, n. 3, p. 363-389, set.-dez. 2019 Estudo taxonômico das angiospermas epífitas de Belém, Pará, Brasil Taxonomic study of the angiosperm epiphytes of Belém, Pará, Brazil Evellyn Garcia BritoI | Julio dos Santos de SousaII | Wendell Vilhena de CarvalhoI | Ely Simone Cajueiro GurgelI IMuseu Paraense Emílio Goeldi/MCTIC. Belém, Pará, Brasil IIMuseu Paraense Emílio Goeldi /MCTIC. Programa de Capacitação Institucional. Belém, Pará, Brasil Resumo: O presente artigo consiste no tratamento taxonômico das epífitas vasculares de Belém, Pará. A análise foi realizada em amostras provenientes de material botânico coletado e exsicatas dos herbários Museu Goeldi (MG) e Instituto Agronômico do Norte (IAN). O trabalho apresenta chave de identificação, descrições, distribuição geográfica, comentários e ilustrações das espécies. As epífitas vasculares estão representadas na área por seis famílias, 19 gêneros e 22 espécies. Orchidaceae foi a mais representativa, com 11 gêneros e 12 espécies. Codonanthe calcarata (Miq.) Hanst., Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw., Notylia barkeri (Hook.) Lindl. e Orleanesia amazonica Barb. Rodr. são novos registros para Belém, e Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb. é um novo registro para o estado do Pará. A flor foi o principal caractere para a separação das espécies, e a floresta de terra firme foi a formação vegetal que apresentou maior ocorrência de espécies. Palavras-chave: Amazônia. Bromélias. Morfologia. Orquídeas. Taxonomia. Abstract: This study treats the taxonomy of the epiphytices angiosperms of Belém, Pará, including the analysis of botanical material originated from new collections and specimens from the Museum Goeldi (MG) and Agronomic Institute of the North (IAN) herbaria. Identification keys, descriptions, geographical distributions, comments, and illustrations of species are provided. In Belém the vascular epiphyte flora is represented by 6 families, 19 genera, and 22 species. Orchidaceae was the most representative family with 11 genera and 12 species. Codonanthe calcarata (Miq.) Hanst., Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw., Notylia barkeri (Hook.) Lindl., and Orleanesia amazonica Barb. Rodr. are new records for Belém, and Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb. is a new record for the state of Pará. The flower was the main character for separating species, and terra firme forest was the plant formation that had the highest occurrence of species. Keywords: Amazonia. Bromeliads. Morphology. Orchids. Taxonomy. BRITO, E. G., J. S. SOUSA, W. V. CARVALHO & E. S. C. GURGEL, 2019. Estudo taxonômico das angiospermas epífitas de Belém, Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 14(3): 363-389. Autora para correspondência: Evellyn Garcia Brito. Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTIC. Campus de Pesquisa. Coordenação de Botânica. Av. Perimetral, 1901 – Terra Firme. Belém, PA, Brasil. CEP 66017-970 ([email protected]). Recebido em 19/12/2018 Aprovado em 29/11/2019 Responsabilidade editorial: Fernando da Silva Carvalho Filho BY 363 Estudo taxonômico das angiospermas epífitas de Belém, Pará, Brasil INTRODUÇÃO Portanto, levando-se em consideração o relevante As epífitas são plantas que se desenvolvem sobre outras, número de epífitas e a necessidade de estudos na área, sem as parasitar (Soares, 1993), sem contato com o elaborou-se este artigo, com o objetivo de realizar solo (Madison, 1977; Dias, 2009). As plantas que as o tratamento taxonômico das angiospermas epífitas sustentam são denominadas de forófitos (Benzing, 1990; de Belém, a fim de fornecer melhor compreensão e Rocha, 2011). identificação dos táxons, contribuindo para o avanço no As epífitas vasculares são encontradas em florestas conhecimento da flora do Pará. tropicais úmidas, muitas vezes recobrindo troncos inteiros, característica marcante destes ecossistemas (Madison, MATERIAL E MÉTODOS 1977; Kersten, 2010). Em termos de diversidade, são mais O estudo foi baseado em material botânico coletado e representativas nas florestas do Neotrópico, englobando herborizado, proveniente da cidade de Belém, no estado até 50% de toda a flora vascular desses ambientes do Pará, incorporado nos herbários do Museu Paraense (Benzing, 1990; Dias, 2009). Gentry & Dodson (1987) Emílio Goeldi (MG) e EMBRAPA Amazônia Oriental relatam que a topografia do Neotrópico permite um (IAN), sendo as abreviaturas baseadas em Thiers (2019), melhor desenvolvimento das epífitas. continuamente atualizado. Para as coletas e a herborização Atualmente, são conhecidas cerca de 29.000 do material, foram adotadas as recomendações propostas espécies de epífitas em todo o mundo (Lewinsohn, por Fidalgo & Bononi (1984). O material foi analisado, 2006), distribuídas em 83 famílias (Kress, 1986; Dias, descrito e ilustrado com auxílio de lupa estereomicroscópica 2009). Entre as famílias mais representativas em número com câmara-clara acoplada. As descrições estão de acordo de espécies, estão Orchidaceae Juss., com 20.000 spp., com a metodologia clássica utilizada em taxonomia vegetal, seguida por Araceae Juss., representada por 1.350 spp., adotando-se as terminologias das partes vegetativas e e Bromeliaceae Juss., que apresenta 1.150 spp. (Kersten reprodutivas segundo Radford et al. (1974), Hickey (1973), & Silva, 2006). Rizzini (1977), Weberling (1992), Barroso et al. (1999) e No Brasil, existem 49 famílias epifíticas, a maioria de Gonçalves & Lorenzi (2011). monocotiledôneas (66%), representadas principalmente por Orchidaceae (50%), Bromeliaceae (12%) e Araceae RESULTADOS E DISCUSSÃO (4%), 42 gêneros e 1.207 espécies (Koch, 2011). Na Amazônia brasileira, distribuem-se com maior frequência ARACEAE JUSS. em locais de vegetação de baixios, campinas, campinaranas e igapós (Ribeiro et al., 1999). Anthurium gracile (Rudge) Schott, Wiener No Pará, poucas pesquisas taxonômicos foram Zeitschrift für Kunst, Litteratur, Theater und Mode realizadas com o grupo de epífitas, como as de Koch et 1829(3): 828. 1829. (Figura 1A) al. (2013), que estudaram Bromeliaceae de uma área Epífita acaule, com 18-40 cm. Raízes brancas, com velame; de conservação da Amazônia brasileira, e as de Koch entre-nó apresentando 2,2-8,3 cm de comprimento; (2011), que tratou das Bromeliaceae e das Orchidaceae com presença de catáfilo. Pecíolo com 2,5-20,5 × epífitas da Floresta Nacional (FLONA) de Caxiuanã, além 0,1-0,2 cm, verde, levemente sulcado, geniculado, do trabalho de Miranda et al. (2009) com as pteridófitas glabro, carenas lisas. Folhas cartáceas a subcoriáceas, epífitas ocorrentes nas mangueiras (Mangifera indica L.) do opostas; lâmina com 8,1-34,5 × 0,7-6,6 cm, elíptica, múnicipio de Belém. simples, glabra, margem repanda, ápice atenuado, base 364 Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 14, n. 3, p. 363-389, set.-dez. 2019 atenuada, venação hifódroma, nervura central quilhada Temponi (2006), a espécie é pouco conhecida no leste na face adaxial, proeminente na abaxial. Inflorescência em do Brasil, na região Andina e no oeste da América do espata, com flores marrons; pedúnculo com 9,3-30,5 cm Sul. No Brasil, há registro de ocorrência nos estados do de comprimento, verde-vináceo, glabro; espata com 0,8- Acre, do Amazonas, de Amapá, do Pará, de Roraima, 2,5 × 0,2-0,3 cm; espádice com 1-10,4 × 0,2-0,6 cm, da Bahia, da Paraíba, de Pernambuco, de Sergipe e de séssil, marrom a vinácea, deltoide; flores bissexuais, Mato Grosso, nos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado monoclamídeas; tépalas 4, com 1-2 × 1-2,1 mm; estames 4, e nas fitofisionomias de Floresta Ombrófila (JBRJ, s. d.). livres, anteras rimosas; ovário com 1 × 2 mm; com 1 óvulo Entre todos os espécimes coletados na cidade de Belém, por lóculo. Bagas com 5,1-6 × 4,1-6 mm, em infrutescência Anthurium gracile é a única epífita da família Araceae que pendente, individualizadas, avermelhadas, glabras. possui ampla distribuição pelo centro da cidade, sendo Material examinado: Brasil. Pará: Belém, Praça Batista comumente encontrada em ruas, praças, parque estadual Campos, 30 nov. 2017, fr., E.G. Brito 28 (MG); ibid., e campus universitários, podendo ser vista principalmente Universidade Federal Rural da Amazônia, 28 dez. 2017, fr., nos ramos de Mangifera indica L. Segundo Coelho (2018), E.G. Brito 32 (MG); ibid., IAN entrada do Utinga, 1957, fl., a espécie floresce em junho, outubro e novembro, e F.T. Silva (IAN); ibid., northeast woode of the IAN, 30 out. frutifica em fevereiro, porém, nas amostras coletadas, 1942, fl. W.A. Arshar 7754 (IAN); ibid., Horto do Museu observou-se a espécie A. gracile com floração em janeiro, Goeldi, 03 mar. 1966, fl., P. Cavalcante 41995 (IAN); ibid., fevereiro, março, outubro e dezembro, e com frutos nos Horto do Museu Goeldi, 2 dez. 1964, fl., M. Silva 327 meses de novembro e dezembro. (MG); ibid., Horto do Museu Goeldi, 02 mar. 1966, fl., P. Em campo, a espécie é nitidamente distinguida Cavalcante 1461 (MG). pelas folhas elípticas, margem repanda, ápice atenuado e Distribuição geográfica: Anthurium gracile nervura central quilhada na face adaxial. As inflorescências apresenta-se distribuída no México, nas Guianas, na em espádice envolvidas por uma espata esverdeada e suas Bolívia, no Brasil, na Colômbia, no Peru e nas Antilhas bagas vermelhas a diferenciam das outras epífitas coletadas (Govaerts & Frodin, 2002; Pontes et al., 2010). Segundo na área de estudo. BROMELIACEAE JUSS. Chave para identificação das espécies de Bromeliaceae epífitas ocorrentes em Belém 1. Margem da lâmina foliar inteira; apêndices petalíneos ausentes ................................................................