Revista Brasileira De Geomorfologia
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Revista Brasileira de Geomorfologia v. 17, nº 2 (2016) www.ugb.org.br http://dx.doi.org/10.20502/rbg.v17i2.842 ISSN 2236-5664 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA, HIDRODINÂMICA E SEDIMENTAR DAS PRAIAS ABRIGADAS CARDOSO E LAGOA NA BAÍA DE TIJUCAS, BOMBINHAS - SC MORPHOLOGICAL, HYDRODYNAMIC AND SEDIMENTOLOGICAL CHARACTERIZATION OF SHELTERED BEACHES CARDOSO AND LAGOA IN THE TIJUCAS BAY, BOMBINHAS - SC Camila Longarete Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí R. Uruguai, n.458, Setor E2, Itajaí, Santa Catarina, CEP: 88.302-901, Brasil Email: [email protected] Charline Dalinghaus Centro de Filosofi a e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário Trindade, Florianópolis, Santa Catarina, CEP: 88.040-970, Brasil Email: [email protected] José Gustavo Natorf de Abreu Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí R. Uruguai, n.458, Setor E2, Itajaí, Santa Catarina, CEP: 88.302-901, Brasil Email: [email protected] Informações sobre o Artigo Resumo: Este trabalho teve como objetivo a caracterização morfodinâmica e sedimentar Recebido (Received): 02/09/2015 das praias abrigadas do Cardoso e da Lagoa, ambas localizadas na baía de Tijucas, Aceito (Accepted): ao sul do município de Bombinhas-SC. Para esta caracterização realizaram-se 22/03/2016 levantamentos topográfi cos em cinco perfi s ao longo de cada praia, coletas de amostras sedimentares e medições visuais da altura e período de ondas. As Palavras-chave: amostragens ocorreram em saídas de campo com periodicidade sazonal. A partir Praia; Morfologia; dos dados de campo, foram analisadas as modifi cações dos perfi s ao longo do morfodinâmica; Bombinhas. período amostral, as variáveis estatísticas do sedimento e os parâmetros ômega Keywords: e ômega teórico propostos para praias expostas. As praias também foram Beach; Morphology; classifi cadas segundo modelos propostos para ambientes protegidos e, por último, Morphodynamic; Bombinhas. calculou-se a forma das praias. Os resultados mostraram que ambas as praias se enquadram na classifi cação de praias refl etivas por apresentarem valor de ômega inferior a 1, com granulometria de areia grossa e mais infl uenciadas pela Longarete C. et al. maré do que pelas ondas, de acordo com os valores de RTR (entre 3 e 12). Baseado na classifi cação de ambientes protegidos, as praias apresentaram uma forma côncava, com parâmetro de forma da praia linear devido suas declividades acentuadas. Abstract: The present study presents a sedimentological and morphodynamic characterization of Cardoso and Lagoa’s sheltered beaches, both located in Tijucas’ bay, south of Bombinhas-Santa Catarina, southern Brazil. Five topographic profi les along each beach, sedimentary sampling and visual measurements of heights and period of the waves were carried out with seasonal periodicity. From fi eld data, the profi le evolution along the sample period, statistical variables of the sediment and omega parameters and theoretical omega proposed for exposed beaches were analyzed. The beaches were also characterized by proposed model for sheltered environments and fi nally the beach shape was calculated. The results showed that both beaches are refl ective for present omega value less than 1, with coarse sand particle size and more infl uenced by tides than waves, in accordance with the RTR values (between 3 and 12). Based on sheltered environment’s classifi cation, both beaches showed concave profi le and linear shape parameter accordingly their steep slopes. Introdução ções no regime energético, da variação do nível d’água e desequilíbrios no suprimento sedimentar local (SHORT, Sabe-se que atualmente grande parte da população 1999). Segundo Wright e Short (1984) esses ambientes mundial vive em ambientes costeiros (BIRD, 2011). A variam no tempo de acordo com o clima de ondas e, crescente procura pelas zonas costeiras, infl uenciada em especial, das condições ambientais. Dessa forma, pelo modelo de Turismo de Sol e Praia, resulta em uma para entender o funcionamento das variações morfo- forte pressão sofrida por este ambiente, potencializado lógicas ocorridas em ambientes praiais, é necessário ainda em locais sem ordenamento territorial e sem ges- compreender a sua morfodinâmica, ou seja, o ajuste tão costeira. É, portanto necessário o desenvolvimento mútuo da topografi a e dinâmica do fl uido envolvendo de estudos que caracterizem essa região e apontem o transporte de sedimento (WRIGHT; THOM, 1977; suas fragilidades para que, em um conjunto de estudos COWELL; THOM, 1994). técnicos e decisões governamentais, se alcance o equi- líbrio entre a qualidade ambiental e o uso e exploração A partir do reconhecimento dos pro cessos hidrodi- desses espaços. nâmicos e morfológicos que controlam as praias, dife- rentes autores desenvolveram modelos de classifi cação Como consequência dessa intensa urbanização, morfodinâmica de praias (WRIGHT; SHORT, 1984; mais de 70% das praias arenosas no mundo estão em MASSELINK; SHORT, 1993; HEGGE et al., 1996; processo de erosão, onde a manutenção da linha de KLEIN, 1997). Estes autores estudaram a dinâmica costa é prioritariamente associada a três fatores que costeira, o grau de exposição da praia, a declividade, o atuam em diferentes escalas temporais e espaciais: a tamanho de grão, a altura e o período de onda e a va- herança geológica, o modelado quaternário e a ação da riação da maré. Estes parâmetros, quando incorporados dinâmica sedimentar atual (TESSLER; GOYA, 2005; em equações, descrevem as características do sistema BIRD, 2011). No Brasil já é notável que registros de praial (SHORT, 1999). erosão costeira são mais frequentes que registros de progradação da costa, os quais são associados princi- Dessa forma, Wright e Short (1984) classifi caram palmente à intervenção humana que altera o balanço praias expostas com micromaré em seis estágios morfodi- sedimentar das zonas costeiras com a inserção de obras nâmicos, sendo dois extremos: Refl etivo e Dissipativo; e mal planejadas (MUEHE, 2006). quatro Intermediários. Já Masselink e Short (1993), incor- porando o efeito da maré no modelo anterior, dividiram Sabe-se também que o ambiente praial é um am- as praias em sete estágios morfodinâmicos: Refl etivo, biente altamente dinâmico, pois está constantemente Intermediário, Dissipativo, Terraço de Baixamar, Banco/ sofrendo variações morfológicas resultantes das varia- Corrente de Baixamar, Ultradissipativo e Transicional Rev. Bras. Geomorfol. (Online), São Paulo, v.17, n.2, (Abr-Jun) p.317-329, 2016 318 Caracterização Morfológica, Hidrodinâmica e Sedimentar das Praias Abrigadas Cardoso e Lagoa na Baia de Tijucas (praia para planície de maré). Posteriormente, Klein Dessa forma, o presente trabalho teve como ob- (1997) assumiu que a declividade da praia é função de jetivo a caracterização morfodinâmica e sedimentar ômega, propondo o mesmo intervalo de classifi cação das praias abrigadas do Cardoso e da Lagoa através de Wright e Short (1984). Contudo, apesar do modelo do modelo de classifi cação proposto por Hegge et al. de Wright e Short (1984) ser amplamente utilizado no (1996). Como complemento ao estudo, as mesmas mundo todo, este, seguido pelos modelos de Masselink também foram classifi cadas de acordo com Wright e e Short (1993) e Klein (1997), foram desenvolvidos para Short (1984), Masselink e Short (1993), Fucella e Dolan serem aplicados em ambientes expostos. (1996) e Klein (1997). Por outro lado, Hegge et. al. (1996) ao estudarem praias consideradas abrigadas e com base nos modelos Área de estudo anteriormente citados, classifi caram algumas praias arenosas da costa sudoeste da Austrália em seis está- As praias do Cardoso e da Lagoa situam-se na baía gios morfodinâmicos: Praia Côncava, Íngreme, Plana, de Tijucas, ao sul do município de Bombinhas-SC. Com Moderadamente Côncava, Moderadamente Íngreme e uma área de 110 Km² (SCHETTINI; KLEIN, 1997) a Praia com Degrau. Praias abrigadas representam uma baía de Tijucas é uma grande enseada com inúmeras classe específi ca de praias, as quais, apesar de possuir praias, incluindo a enseada de Zimbros ao norte, sendo muitas semelhanças com praias expostas, desde pro- esta abrigada da incidência de ondas pela península de cessos evolutivos até elementos oceanográfi cos que Porto Belo ao norte, e pela ilha de Santa Catarina e pela as modelam, diferem destas por serem protegidas do península de Ganchos ao sul (SCHETTINI; CARVA- impacto direto das ondulações de maior energia. Por LHO, 1998). As praias estudadas localizam-se a sudoes- possuírem barreiras como promontórios, baías ou ilhas te da enseada de Zimbros, onde há ainda a presença de que as protegem, estas são menos vulneráveis frente a outras praias arenosas de pequena extensão (Figura 1). eventos muito energéticos, como ondas de tempestade Segundo Fitzgerald et al. (2007) o setor centro- (HEGGE et al., 1996). -norte de Santa Catarina, onde se localiza a área de Frente a estas características, Klein e Menezes estudo, é caracterizado pela presença de promontórios (2001) sugerem que para a classifi cação de praias abri- rochosos, baixo relevo e pequenas ilhas, que possuem gadas, além de envolver parâmetros como declividade, planícies costeiras segmentadas por sedimentos costei- largura e granulometria, também é necessário introduzir ros, campos de dunas e sequências fl uviais com alguns a forma da praia nos parâmetros, equação proposta por deltas de pequeno porte. Neste setor, os depósitos Fucella e Dolan (1996). quaternários predominantes correspondem às planícies aluviais