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Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO Director | Manuel Santa Cruz Domingues Basto Oliveira >>> DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Colaboradores da ARRIVARRIVARRIVAAA Portugal em encontrencontrencontrooo anual

>>> P | 06 e 07

>>> P | 04 >>> P | 06 e 07 >>> P 22 e 23 Portugal Centena e meia de Fátima Passes recarregáveis colaboradores em há nos autocarros encontro anual 50 anos

PUB P| 2 <<< Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> notícias Foto ARRIVA do Ano 2009

Uma imagem numa manhã perfeita garantiu tes sénicos e esta imagem feita em o prémio de Melhor Foto ARRIVA do ano Wingfield permitiu-lhe a combinação des- 2009. Mark Scott, 41 anos, condutor de ses dois gostos. Para conseguir aquilo que comboios na ARRIVA CrossCountry ganhou considerou ser a melhor imagem, o Mark o prémio com esta foto de um comboio a foi três vezes ao local. No entanto a luz era passar em Wingfield, na linha entre Derby a ideal e por isso teve que aguardar até e Chesterfield. conseguir o dia “perfeito”. O Mark já tinha ganho com a mesma ima- O júri afirmou que a decisão em favor des- gem um dos prémios intermédios do con- ta imagem recolheu uma maioria significa- curso que tem como júri um grupo de cola- tiva de votos dos seus membros. Segundo boradores da prestigiada revista de trans- Dave Martin, o Chefe Executivo da ARRIVA, portes «New Transit». a foto do Mark merecia ganhar neste con- O Mark adiantou que desde jovem gosta curso que contou com uma participação muito de fotografia sendo o caminho de fer- muito significativa, centenas de colabora- ro um dos seus temas favoritos. Recente- dores da empresa espalhados pela Euro- mente dedicou-se em especial a ambien- pa.

ARRIVA ecológica

A ARRIVA foi nomeada como «Brand Emissions Leader» pela ARRIVA “vezes sua contribuição na redução da libertação de gases que pro- voquem efeito de estufa e pela criação interna de valores limi- te de forma a conseguir um incremento maior nessa mesma dois”no Scottish redução. Investigadores da Edinburgh University Business School e da ENDS Carbon, uma entidade especialista na avaliação das Transport Awards emissões de carbono, analisou essas emissões em 600 em- presas das quais apenas 121 se enquadram nos escalões desejáveis. Estas foram classificadas com Marcas Líder em A ARRIVA e os seus colaboradores na Es- West, afirmou que estes prémios eram uma Emissões, Brand Emissions Leaders. cócia estão especialmente felizes depois excelente notícia, o resultado de muito tra- No sector de transportes a ARRIVA foi identificada como Brand de terem ganho dois prémios maiores no balho dedicado ao Flyer, e tam- Emissions Leader no escalão mais elevado, juntamente com o Scottish Transport Awards. bém um prémio para todos os que diaria- Eurostar e o Eurotunnel tendo sido classificadas como as mais A ARRIVA ganhou o prémio para o Melhor mente asseguram o bom funcionamento da significativas em desempenho. Serviço em Autocarro, com a sua linha carreira. Já em 2008 a ARRIVA por si própria se tinha comprometido a Glasgow Flyer que liga o aeroporto de A propósito do Jimmy, referiu-o como um reduzir em 15% as suas emissões até ao ano de 2012, tendo Glasgow ao centro da cidade vinte e quarto excelente colega, muito popular entre os por base o ano de 2006. horas por dia. clientes, especialmente em Erskine e Dave Martin, o CEO da ARRIVA, afirmou que “embora os com- Jimmy McGrory foi um dos futebolistas que Glasgow. “O Jimmy é um grande colabora- boios e autocarros tenham já por si vários equipamentos ami- ficou na história do futebol ao ter sido um dor da empresa”Mc. gos do ambiente que apresentam vantagens sobre outros mei- dos mais notáveis representantes do Celtic O Jimmy McGrory afirmou, entretanto, que os de transporte, acreditamos que ainda é possível fazer algo por muitos anos. No entanto neste caso, o ficou felicíssimo por ter sido nomeado para para melhorar o desempenho na ARRIVA”. Com efeito, a em- Jimmy McGrory é outro. o prémio e que ganha-lo foi “como a cereja presa tem vindo a melhorar de uma forma muito significativa o O Jimmy McGrory da ARRIVA West no cimo do bolo”. Sentiu uma grande felici- que tem feito em toda a Europa no que diz respeito a estas ficou completamente sem palavras depois dade por ver reconhecido um trabalho que questões. Uma das formas passa por uma condução mais su- de ganhar o prémio de Melhor Funcionário ele desempenha com tanto gosto. ave e pela utilização de combustíveis alternativos ou de veícu- do Ano na classe de Atenção ao Cliente. O Scottish Transport Awards é um prémio los híbridos. “É profundamente gratificante ver que este reco- Nascido em Erskine, com 55 anos, o Jimmy anual em que a comunidade nomeia, reco- nhecimento coloca a ARRIVA lado a lado com algumas das trabalha há 28 anos na ARRIVA. nhece e premeia o melhor que se faz na in- mais importantes empresas da Europa”, salientou. Ralph Roberts, director da ARRIVA Scotland dústria dos transportes públicos na Escócia. >>> P| 3 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> editorial

Caro/a Leitor/a, Cliente e Amigo/a, se passa à nossa volta, motivo para nos sen- que vinha acontecendo. Estamos em plena época Natalícia do ano tirmos orgulhosos do que conseguimos re- Sendo, como afirmei no início, o Natal é de 2009; tal facto não podia deixar de in- alizar. tempo de vida e é, também, o aproximar de fluenciar a forma como escrevo este edi- Acontece porém que esta edição – a núme- uma vida nova que (esperámo-lo sempre) torial para si. ro 15 do ARRIVA Jornal – é a primeira que o novo ano trará. Natal é tempo de reflexão, de maior dedi- fazemos a partir das nossas novas instala- É por isso muito grato para mim estar neste cação e atenção ao nosso semelhante, de ções (que começamos a usar em pleno no momento em condições de afirmar e infor- harmonia e de esperança. mês de Novembro de 2009). mar que o ano de 2010 vai ser, de novo, Natal é tempo de vida! Tal significa que não só fomos capazes de um ano de grande renovação da nossa fro- Não podemos reflectir sobre o ano que manter o equilíbrio neste terrível ano de 2009 ta, prosseguindo assim o nosso caminho agora termina sem nos lembrarmos que a em termos de economia, como consegui- no sentido da constante melhoria da quali- crise que o Mundo atravessa originou mos concretizar e finalizar a obra que vos dade no serviço que prestamos. imensas situações de dificuldade para havíamos anunciado e que, em termos em- Tendo dado a conhecer o que vamos rea- muitas e muitas pessoas e, particularmen- presariais, significa um renascer, significa lizar em 2010 e que significa da nossa par- te, não podemos deixar de nos lembrar em uma nova vida! te a confiança num futuro melhor, resta- especial dos Portugueses que, em Portu- Com efeito, o volumoso investimento (mais me, em meu nome pessoal, no nome da gal ou em qualquer outra parte do Mundo, de quatro milhões e meio de euros) aqui ARRIVA Portugal e deste Jornal desejar-lhe viram as suas esperanças no futuro condi- realizado pela ARRIVA significa uma con- um Santo Natal e que no final de 2010 pos- cionadas pela evolução do presente. solidação empresarial de grande impacto sa dizer que foi o primeiro dos melhores Apesar dessa conjuntura negativa nós, na para o enraizamento local e, por isso mes- anos da sua vida! ARRIVA Portugal, fomos capazes de, atra- mo, uma segurança para todos - clientes, vés de um esforço redobrado na atenção autoridades e colaboradores - de que con- à gestão e ao controlo dos custos do nos- tinuaremos a trilhar o nosso caminho de so dia-a-dia e da colaboração activa de aperfeiçoamento e melhoria sistemática das todos quantos aqui trabalham, vencer o condições empresariais com vista à perma- ano sem sobressaltos de maior, conse- nente evolução positiva das condições em guindo mesmo manter o nível de emprego que prestamos o serviço de transportes co- apesar de, com a abertura das novas ins- lectivos de passageiros na região. talações, termos fechado quatro das anti- Mesmo com este enorme investimento nas gas oficinas e três escritórios. instalações não deixamos também de fazer Manuel Santa Cruz Oliveira O facto de não termos gerado desempre- alguma renovação da frota, mas obviamen- (Presidente da Comissão Executiva go seria por si só, e tendo presente o que te, a um nível mais reduzido do que aquele da ARRIVA Portugal)

FICHA TÉCNICA

Director | Manuel da Santa Cruz Basto Oliveira Inscrito no ICS com o nº 125134 Coordenador Editorial | Marco António Lindo | [email protected] Depósito legal | 264746/07 Grafismo e Pré-Impressão | Alive Word Comunicação Lda | [email protected] Tiragem | 10 000 exemplares Periodicidade | Bimestral Colaboraram nesta edição | Alexandra Bento, Hugo dos Santos, José Luís Covita, Publicação Gratuita Mafalda Raínho, Marco António Lindo, Mónica Lindo, Natacha Lima Reis Propriedade e Edição | ARRIVA Portugal – Transportes Ldª Fotografia | Maria Helena Duarte, Marco António Lindo, Dario Silva Rua Eduardo Almeida, 162 – 2º Sala C, 4810 – 440 Guimarães Tel. 253 439 800 | Fax. 253 439 801 Publicidade | Tel. 253 439 803 ou 220 167 542 Impressão| Naveprinter – Indústria Gráfica do Norte, S.A. P| 4 <<< Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> destaque Passes já se podem carregar nos autocarros

Já é possível carregar o passe mensal no auto- carro, eliminando assim a necessidade de ir a um escritório ou bilheteira para o fazer. O processo é simples e o condutor do autocarro acompanha o cliente a cada momento, até se verificar que o carregamento foi feito com suces- so. Os passos são os seguintes: 1. O cliente deve segurar o passe junto à antena de validação da máquina enquanto o processo se completa; 2. No visor aparecem todos os dados, a origem e destino, a validade e o valor, sendo necessário que o cliente os confirme; 3. Após essa confirmação, a vinheta e recibo são impressos; 4. Só se pode retirar o passe após aparecer no visor da máquina a frase “Titulo recarregado, re- tire o título”. Como vê, é um processo simples em que todos ganham e, ainda para ajudar mais, não necessi- ta ter a maçada de se deslocar à bilheteira. Boa viagem com ARRIVA!

No passado número do ARRIVA Jornal, a propósito dos resultados obtidos por colaboradores da ARRIVA Jornal ARRIVA nas eleições autárquicas, colocámos o Sr. Paulino Rocha como integrante da lista do PSD à Junta de São Mamede de Coronado. Com efeito, foi eleito na lista do Partido Socialista. Ao visado e corrige informação aos leitores pedimos desculpa pelo erro.

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>>> destaque

Loja da Aldeia dos Presépios

Horário de funcionamento De segunda a quinta - feira das 18hh00 às 22h00

Sextas-feiras das 18h00 às 23h00

Sábados das 14h00 às 23h00

Domingos das 14h00 às 22h00

A oitava edição de Garfe, “Aldeia dos Presépios” está presente de Encerra a 24, 25 e 31 de Dezembro novo dando brilho à freguesia. e a 1 de Janeiro Este ano, são 15 os presépios que podem ser apreciados até 6 de Janeiro de 2010. Para mais informações e apoio à Desde 2002 que a população dos diversos lugares daquela fre- visita de grupos contactar A Aldeia guesia, do Concelho da Póvoa de Lanhoso, presenteia os visitan- 253 639 708 tes com verdadeiras obras de arte, esmerando-se por aperfeiçoar ou [email protected] cada presépio, que conjuga particularidades da vida do Minho e Dias e horários das Missas do campo com os motes tradicionais da celebração do Natal. Di- • 24 de Dezembro (quinta-feira) nâmicos ou estáticos, em miniaturas ou tamanho quase real, estes 10h00 no presépio do lugar de dos presépios são verdadeiros conjuntos artísticos, realizados dos mais Carvalhinho diversos materiais, que devolvem a bela tradição desta quadra e que encerram horas e horas de trabalho dos habitantes de Garfe. • 24 de Dezembro (quinta-feira) A tradição conta já oito anos, sendo que, na primeira edição, parti- 24h00 – Missa do Galo no presépio ciparam os lugares de Assento, Devesa, Carvalhinho, Costa, Moi- conjunto dos lugares de Assento, Presépios nhos, São Roque e Eiras, abraçando esta iniciativa que nasceu Rande e Igreja de Cima pelo desafio lançado pelo grupo de jovens “Chamas Vivas”. Como nas edições anteriores, em cada presépio haverá a celebra- • 25 de Dezembro (sexta-feira) ção de uma Eucaristia. 17h00 - no presépio do lugar de Gondiães dinamizado pelos escuteiros Este ano, no centro de Garfe, lugar de Salgueiros, existe a Loja da “Aldeia dos Presépios”, onde podem ser obtidas informações ou • 26 de Dezembro (sábado) adquiridas lembranças. 18h00 - no presépio conjunto dos lugares de São Roque, Teire e Azenha Nova

• 27 de Dezembro (domingo) 17h00 - no presépio conjunto dos lugares de Fonte Milho, Comenda e São Pedro

• 31 de Dezembro (quinta-feira) 16h00 - no presépio conjunto dos lugares de Quintã, Eiras, Outeiro e Condes

• 1 de Janeiro (sexta-feira) 17h00 – no presépio do lugar de Moinhos

Fonte: [email protected]

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>>> tema de capa

Marco António Lindo

Convívio de colaboradores ARRIVA

Decorreu, pela oitava vez, o encontro que reúne anualmente colabora- dores no activo e reformados. > > > > > Esta é sempre uma forma de juntar pessoas que, por vezes, não têm outra hipótese em nenhuma outra altura do ano para o fazer. Havia o desejo comum de um dia de sol, o que infelizmente não acon- teceu. Com a chuva a cair realizaram-se as iniciativas possíveis e o ambiente entre colegas em nada se alterou - a boa disposição também foi convidada! Esta foi a primeira vez que o encontro decorreu já com as novas instala- ções em funcionamento. Assim, depois dos bolinhos e Vinho do Porto, nas Taipas, todo o grupo se juntou e se dirigiu às novas instalações, permitindo uma visita guiada à oficina, escritórios e administração. De seguida o grupo dirigiu-se à Quinta das Laranjeiras onde foi servido o almoço. A Animação foi meio surpresa, já que o Sr. Antunes, chefe da oficina de Guimarães se fez acompanhar pela Márcia e pelo Paulo. A Márcia em conjunto com o Antunes são membros do Rancho Folclórico Infantil de Santo Estevão de Briteiros enquanto o Paulo é do Rancho do Souto. Como é habitual alguns outros colaboradores juntaram-se com as suas concertinas. Antes das despedidas ainda houve o bolo e lembranças.Um dia bem passado, para repetir em 2010. >>> P| 7 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> tema de capa

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>>> literatura

Mafalda Raínho

Mia Couto

Depois de vários meses a escrever sobre Em 1985 entrega-se à Biologia, na Univer- Em 2000 publica Mar Me Quer que, mais uma colaboradores da Seara Nova, enquanto ten- sidade Eduardo Mondlane, sendo também vez, nos remete a Moçambique, ao contacto > > > > > tava imaginar quem viria a ser o próximo, lem- nos inícios dos anos 80 que publica os seus com o mar, de uma forma pacífica e brei-me de que há pouco tempo, em Guima- primeiros livros de contos. Em 1983 publica ternurenta. No ano seguinte, Mia Couto re- rães na Livraria Centésima Página, no São Raiz de Orvalho, ainda em poesia - livro que cebe, em Portugal, na Fundação Calouste Mamede, houve uma sessão de autógrafos só foi publicado em Portugal vários anos Gulbenkian, o Prémio Literário Mário António de um escritor contemporâneo de grande depois – dizendo que esta obra consiste (atribuído, de três em três anos, a escritores valor, refiro-me ao Mia Couto. numa espécie de contestação contra o do- africanos lusófonos ou timorenses) pela sua A 5 de Julho de 1955, filho de uma família de mínio absoluto da poesia militante e satíri- obra O Último Voo do Flamingo publicada, emigrantes portugueses, António Emílio Lei- ca. É em 1986 que se lança verdadeiramen- também, no ano anterior. Neste ano de 2001 te Couto, (re)conhecido na praça pública te nos contos, publicando Vozes publica Na Berma de Nenhuma Estrada e como Mia Couto, nasce na Beira, Anoitecidas, livro com o qual foi premiado outros contos e O Gato e o Escuro. Em 2002 Moçambique. Segundo o autor, o nome “Mia” pela Associação de Escritores de publica Um Rio Chamado Tempo, uma Casa é utilizado devido à sua paixão pelos gatos Moçambique, e, quatro anos mais tarde, Chamada Terra, obra que foi rodada em fil- vinda desde a infância, quando dizia à famí- Cada Homem é uma Raça. Em 1992, es- me pelo português José Carlos Oliveira. Em lia que queria ser um deles. treia-se nos romances com Terra Sonâm- 2004 escreve A Chuva Pasmada, lança em Faz toda a sua escola primária na Beira e é bula e é, a partir desta data, que nunca mais 2006 O Outro Pé da Sereia e O Beijo da aos 14 anos que publica os seus primeiros deixa de lado a escrita e a sua paixão pelas Paolavrinha. poemas no Notícias da Beira. Em 1971, histórias que conta, conciliando a isto as As obras têm vindo a ser publicadas, prati- aquando da passagem para a vida actividades de biólogo e professor. camente todos os anos, sendo que em al- académica, parte para Lourenço Marques – Ainda assim o autor não parou nunca de cri- guns anos, o autor edita mais que uma, como actual Maputo – deixando a Beira, que o vira ar! Durante vários anos seguidos, Mia es- é o caso deste ainda presente ano… Em crescer até então. Ingressa em Medicina e, creveu e publicou dezenas de livros, de his- 2009 publicou Antes de Nascer o Mundo e dois anos mais tarde, começa a fazer Jorna- tórias, histórias que nos remetem para a sua Jerusalém. lismo, redescobrindo a sua paixão pelas le- “terra-mãe”. Em 1994 lança Estórias Com o passar dos anos e a sua evolução, tras e desistindo assim do curso de Medici- Abensonhadas; em 1996 A Varanda de Mia Couto é, hoje em dia, um dos nomes na, iniciado anos antes. Frangipani, obra conhecida pelos mais no- sonantes da nossa praça cultural. Nome bem Sempre envolvido na luta e disputa pela inde- vos, nome tantas vezes mencionado, acolhido, integrado no espólio da nossa lite- pendência do seu País, membro da Frente de aquando da explicitação da obra deste au- ratura. Este biólogo, professor, mas, essenci- Libertação de Moçambique (FRELIMO), é na tor; Contos do Nascer da Terra vem em 1997, almente, contador de histórias, tem-nos pre- data em que esta se concretiza que Mia Couto precedendo Vinte e Zinco, em 1999. Neste senteado com o seu jeito para as palavras, se torna director da Agência de Informação ano foi vencedor do prémio Virgílio Ferreira, carregadas de neologismos, levando-nos até de Moçambique (IAM). A partir desta altura prémio este que visa galardoar toda a obra um mundo quente, de várias emoções, entrega-se ao Jornalismo. Dirige a revista se- do autor até então e não apenas uma única ternurento e doce, mostrando-nos as históri- manal Tempo e o jornal Notícias de Maputo. publicação. as de gente como nós. >>> P| 9 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> literatura

Solidão Para Ti

Aproximo-me da noite Mas os ruídos da noite Foi para ti Para ti dei voz o silêncio abre os seus panos escuros trazem a sua esponja silenciosa que desfolhei a chuva às minhas mãos e as coisas escorrem e sem luz e sem tinta para ti soltei o perfume da terra abri os gomos do tempo por óleo frio e espesso o meu sonho resigna toquei no nada assaltei o mundo e para ti foi tudo e pensei que tudo estava em nós Esta deveria ser a hora Longe nesse doce engano em que me recolheria os homens afundam-se Para ti criei todas as palavras de tudo sermos donos como um poente com o caju que fermenta e todas me faltaram sem nada termos no bater do teu peito e a onda da madrugada no minuto em que talhei simplesmente porque era de noite mas a solidão demora-se de encontro o sabor do sempre e não dormíamos entra pelos meus vidros às rochas do tempo eu descia em teu peito e nas suas enlutadas mãos para me procurar solto o meu delírio e antes que a escuridão nos cingisse a cintura É então que surges ficávamos nos olhos com teus passos de menina vivendo de um só os teus sonhos arrumados amando de uma só vida como duas tranças nas tuas costas guiando-me por corredores infinitos e regressando aos espelhos Mia Couto, onde a vida te encarou n “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

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>>> música

Marco António Lindo Jacinta

Nascida na Gafanha da Nazaré, a sua pri- das em Portugal. O tributo a Bessie Smith foi meira aparição pública aconteceu quando disco de ouro nesse ano. tinha 11 anos: a cantar um dueto com a irmã. Em 2005 lança Day Dream. No álbum é Aos 18, tocava em bares, dando preferên- acompanhada pelo quarteto de Greg Osby cia a temas dos Beatles, Simon e Garfunkel, com quem no ano seguinte sai em tour. Sérgio Godinho ou Rui Veloso. Em 2006 actua pela primeira vez no Teatro Formou-se em Música na Universidade de Nacional de São Luís onde se apresenta Aveiro, em 1990, e no ano seguinte já com- com o projecto, Jacinta canta Brazil. punha numa banda de rock sinfónico, os Desde que foi nomeada como “Melhor Novo Doce Caos. Não é muito comum encontrar Artista de Jazz 2007” que o nome Jacinta uma artista de jazz com formação clássica tem vindo a ser descoberto, por muitos da- em piano e composição. No entanto foi nos queles que preferem uma vertente de voz caminhos do jazz que encontrou a melhor intensa que consegue manter sempre um forma de transmitir o seu sentimento musi- timbre aveludado. cal. De seguida produz pessoalmente e lança O seu interesse pelo jazz cresce em 1992 Convexo, um trabalho que me deixou ines- quando começa a acompanhar mais aten- peradamente surpreendido. É verdade que tamente o que ia acontecendo em Portugal. a maior parte das pessoas que conheço me Em 1997 depois de já ter aparecido na tele- associam sempre ao metal, mas assim não visão, num concurso, parte para os estados é. Sucede que a última coisa que esperava Unidos onde ganha uma bolsa para acabar era ouvir a Jacinta a tocar José Afonso, sim os seus estudos de Jazz, na Manhattan o Zeca, com um sentidíssimo toque de jazz. School of Music. Na foi a primeira vez que o fez porque no Em 2001 o José Duarte, o responsável pelo último álbum que fez para a Blue Note, Day “Cinco minutos de Jazz” na Antena 1, Dream, inclui Canção de Embalar de Zeca destingue-a com o prémio de Revelação Afonso entre temas de Duke Ellington e de Musical do Ano. Thelonious Monk; brutal! Em 1993 a Jacinta foi a primeira artista por- Bem, quem esperava ouvir Grândola Vila tuguesa de jazz a entrar para a Blue Note Morena, enganou-se. Mas para quê? A in- Records, tocou já com extraordinários no- tenção não tinha nenhum cariz politico... ou É o próprio Peter Eldridge que num comen- discutível atenção, até no ouvinte que se mes do jazz, como Jane Monheit, Greg Osby será que tinha? tário pessoal diz a respeito dela que “a sua afirme menos interessado. ou Peter Eldridge. Foi com o lançamento deste álbum que ven- forma de cantar é completamente contagi- O novo álbum já está à venda e Jacinta canta Começou a sua vida discográfica com um deu mais de 18 mil cópias, que Jacinta ar- osa pela respeito e força de alma que ema- Songs of Freedom. Álbum este que irá de tributo a uma grande mulher, Bessie Smith, rancou para, aquele que foi até ao momen- na”. novo correr as estradas do País. Um dia tendo com este trabalho vendido mais de to, o maior tour nacional de jazz, ao dar 20 As impressões musicais raiam diversos es- poderá passar à sua porta... não perca; eu 25 mil cópias chegando ao 7º lugar nas ven- concertos entre Março e Maio de 2008. tilos sendo um patrocínio para criar uma in- estou a ouvi-lo agora mesmo.

> > > > > (c) MARIA JOANA PEREIRA >>> P| 11 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> musik by Mok’zz

Mónica Lindo

Lux Ferre foi criada em 2001 pelo Devasht e à formação de Lux Ferre. creve à mão são os nossos tremor, suor e ca- pelo Baal Sabbath, tendo nesse mesmo ano «Atrae Materi Monumentum» é o novo traba- lor que vão junto na caneta e escorrem sobre lançado o EP «Wicked Riffs of War». Em 2003 lho, lançado há dias, e que tenho estado a o papel. sai «Unholy Ascendence of Satan», uma edi- ouvir atentamente. No CD que recebi, Passe a hipotética aberração de expressão, ção muito limitada da War Productions. A tre- Pestilens escreveu à mão... Nada é perfeito, mas «Atrae Materi Monumentum» fez-me lem- menda aceitação deste demo foi tal que le- até os loucos erram. Eu não serei louca, mas brar, pela sua força, algo como a construção vou à subsquente edição de «Kuit of the Black dificilmente conseguirei acertar neste verda- das pirâmides. Das coversas que o Papzz teve Flame». deiro «Monumentum». com outro membro da banda, o Pestilens, fi- No fim de 2003 é editada uma compilação de A faixa que dá nome ao CD é uma das que cou-me uma passagem que ele me enviou: Black Metal, «Lusitania Dark Horde», onde mais me tocou. Algumas passagens: “Maté- “Nem tem nada a ver com afronta ou ataque, participa com um tema. Em Dezembro do ano ria negra que respiramos, puro sangue ne- apenas queremos fazer o nosso material bem seguinte, depois de se ter mudado para a gro, monumentos de doença (…) Corações único, tentar alcançar o nome de arte, e se Ketzer Reckord, lança «Antichristian War Pro- sólidos de pedra, sem vida... Na minha dor e alguem não gostar, então pronto, nada nos paganda», o que permitiu a Lux Ferre abrir no teu fim encontro a salvação (…) Sou o mal vai fazer parar, nem vai haver os tais orgulhos com mais facilidade para os desempenhos inevitável, sou o monumento” (...) “Pensamen- feridos, como muitas bandas os têm, que com ao vivo. Em 2005, Lux Ferre sai em tour com to, inércia, a solidão do meu ser. Abraço em qualquer coisinha que não goste do som de- Cirith Gorgor e Daemonlord, enquanto lança lágrimas a situação que criei. Tudo isto foi les, parecem bebés a chorar”. Lux «Acerbus Mortis». meditado, planeado, com um fim... qual mas- Quando o Pestilens disse ao Pappz “espero Após uma pausa, entra um novo membro gui- sa, qual névoa?... Não há dor, não há morte. que consigas sentir alguma diferença atra- tarrista, Pestilens, dos Penitência. Como com- Somente o vazio, a minha saudade. Somente vés do nosso som, essa humildade, esses pés Ferre positor, vem trazer a Lux Ferre a possibilidade um objectivo, o meu adeus”. na terra e, acima de tudo, a nossa humildade de levar para novos níveis o pensamento mais Qu’é que foi? Qu’é que querem? Ouvir isto, pelo que fazemos”, não podia ter forma mais negro da condição humana. Durante a gra- esta letra escrita à mão pelo Devasht!... Foi o simples de me ajudar na tentativa da conclu- vação do «Vilkacis (Ars Diavoli, Papzz que me contou de um mail trocado com são de uma ideia. Malleus)», Pestilens junta-se definitivamente ele. Tem de se entender que quando se es- Thanks Lux Ferre! És o meu herói, Papzz.

After Forever é uma banda Holandesa que O álbum de estreia, «Prison of Desire» é lan- mistura metal sinfónico, metal progressivo çado em 2000, e teve, como convidada a e power metal, e baseia-se no uso de vo- vocalista Sharon den Adel, a qual partici- cais sopranos e «death grunts». A sua mú- pou na canção «Beyond Me». O álbum teve sica também é influenciada pela música um «feedback» altamente, o que foi um gran- clássica. de avanço para a banda. Ainda em 2000, o A banda After Forever foi originalmente for- baterista André Borgman juntou-se à ban- mada em 1995 sob o nome Apocalypse, da, substituindo Joep Beckers, e no final do sendo o seu género musical orientado para ano o teclista Lando van Gils substituiu Jack o «death metal». Com a entrada da vocalista Driessen. em 1997, o estilo da banda Em 2001 o álbum «Decipher» foi lançado. mudou para dar mais ênfase à sua voz. Até Floor Jansen foi convidada para cantar nos o álbum «Remagine». Em 3 de Março de ano, o guitarrista Sander Gommans sofreu aquele momento a banda era composta por . Em 2002 sai do After 2006, a banda deixou a editora Transmission uma espécie de colapso nervoso, chegan- Floor Jansen, Mark Jansen, Sander Forever, monta a banda Epica, e é substitu- Records, devido a uma promoção bué má. do a ter convulsões dentro de um avião. Gommans, Luuk van Gerven, Jack Driessen ído por Bas Maas. No ano de 2003 o After Em Outubro desse mesmo ano, eles assina- Alguns espectáculos foram feitos com a e Joep Beckers. Forever lançou o EP «Exordium». ram com a Nuclear Blast Records. participação de George Oesterbroek dos Em 1999 a banda começou a compor can- Em 2004, o álbum conceptual «Invisible No final de 2006 a banda gravou um novo Orphanage, mas todos os membros concor- ções próprias e gravaram dois demos Circles» foi lançado. Este chegou a alcan- álbum, intitulado «After Forever», que con- daram que não seria justo a banda continu- intitulados «Ephemeral» e «Wings of çar o 26º lugar no Top 100 holandes. No tou com as participações de Jeff Waters, gui- ar sem um dos seus principais membros. Illusion», que logo chamaram atenção da mesmo ano, Lando van Gils deixa a banda tarrista da banda Annihilator e da cantora Deste modo, a banda decidiu dar uma pau- editora Transmission Records, que assinou e é substituído por Joost van den Broek. alemã muita doida, Doro Pesch. O álbum foi sa de aproximadamente um ano, até que o contrato com a banda. No início de Setembro de 2005, foi lançado lançado dia 20 de Abril 2007. Nesse mesmo guitarrista se recupere totalmente.

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>>> património

Marco António Lindo Anjo da Cantareira

A navegação só hoje se tornou algo relativa- mente simples com o advento do GPS e com um nível elevado de instrumentos que per- mitem conduzir navios por qualquer local de âmbito marítimo, a qualquer hora e com qua- se quaisquer condições meteorológicas, sem que isso seja um problema maior. No entanto, essa facilidade é muito recente de tal forma que ainda está presente nas ora- ções dos mais antigos a inclusão no “Pai nosso” ou na “Avé Maria” de preces pelos que andam no mar. Para proteger os navegantes há uma cons- trução antiquíssima que não substitui as pre- ces mas ajuda bastante a navegação: o fa- rol. Por toda a costa portuguesa é possível ver faróis, apresentando alguns característi- cas técnicas e arquitectónicas de elevado Cantareira - mandado construir na Foz do campos comprados com o seu dinheiro, com Mosteiro de Landim e do Mosteiro de São interesse. Douro, em 1527, por Dom Miguel da Silva, o rendimento dos quais foram acesos fogos Bento de Santo Tirso. O Mais antigo dos originais em serviço, si- Bispo de Viseu. na torre perpétuamente, no ano de 1527. Havia nesse local da Foz um hospital de onde tua-se na entrada do Rio Tejo, em Lisboa. O Ainda hoje se lê esculpido numa das suas Dom Miguel da Silva, embora tenha sido Bis- o próprio Dom Miguel viu algumas tragédias farol do Bugio foi construído por ordem do paredes... “Michael Silvivis electvus po de Viseu, entre 1527 e 1547, era um gran- com navios que entravam a barra do Douro. Rei D. José I remontando a sua conclusão a episcopvs Visiensis tvrrim ad regendos de apaixonado pelo Douro e, em especial, Esses acontecimentos motivaram-no a inte- 1755. navivmcvrsvs fecit. Idem agros ex qvorvm pela sua Foz, onde viveu os primeiros anos ressar-se pela questão, especialmente quan- Seguiram-se os de Cabo Espichel e Carvo- redditv noctvrni ignes etvrri perpet do seu episcopado sendo dono dos Coutos do acabou por testemunhar algumas mor- eiro, respectivamente em 1775 e 1779, am- adcenderentvr svapecv mtos ann MDXXVII”, da Vila de São João da Foz, actual zona do tes. Afirmou que era uma questão “não só de bos ainda operacionais. transcrevendo: Miguel da Silva, Bispo eleito Porto conhecida exactamente por Foz. Nes- caridade e filantrópica, era uma obrigação”, Já não operativo restando apenas parte, está de Viseu, mandou construir esta torre para sa altura em que acumulava funções como e cito, de “dar uma luz que desse notícia da um dos mais antigos faróis - o do Anjo da dirigir a nevegação. Ele mesmo consignou Comendatário dos Cónegos Regentes do posição do Douro aos navegantes”. >>> P| 13 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Marco António Lindo

No entanto, o reverendo Pedro Augusto obra que, depois de concluída, permitiu um redes octogonais. Em três oitavos existiam Ferreira, Abade de Miragaia, não acreditava Para proteger os melhor acesso ao Porto. três nichos cobertos por um “sobrecéu” em nos propósitos meramente filantrópicos do Hoje no local onde estava o farol do Anjo forma de concha. Na parede do centro es- Bispo Miguel da Silva. navegantes há apenas está o edifício de apoio já que a zona tava o Arcanjo São Miguel, ladeado por São O Bispo representava no norte do País a fa- onde ardia a luz desapareceu. O combustí- Bento e São João Baptista. mília Silva de Portalegre, sendo a sua figura uma construção vel usado na época era uma mistura de Mais serve para comprovar esta questão mais ilustre. O Rei Dom Manuel tinha conce- estearina, cebo e azeite. da capela, quando encontramos no III Vo- dido a essa casa regalias e doações. Entre antiquíssima que Esta parte que ainda hoje existe é compos- lume da “Tentativa Etimológico Toponímica essas é de referir uma “dízima” da pesca de não substitui as ta por um edifício rectangular em cantaria, do Porto”, da autoria do Dr Pedro Augusto Leça e da própria Foz do Douro, daí haver uma torre rematada com uma cupula de Ferreira, não só a confirmação de que a dele um interesse relevante para que os bar- preces mas ajuda tijolo de oito gomos tendo à sua volta um torre teve um altar como ter existido uma cos não afundassem. pequeno varandim. Este edifício veio a ser romaria anual ao seu padroeiro, com parti- Acredita-se que esta visão será um exagero bastante a um posto da Guarda Fiscal, entretanto ex- da deste local. por parte do Padre Pedro Ferreira, já que exis- navegação: o tinto. No códice do Mosteiro de São Bento, em tem extensos registos de outras obras no Na torre existiu, também, um farol posterior Santo Tirso, estão registadas obras no Sé- couto de Dom Miguel da Silva sem qualquer farol. Por toda a ao que antes funcionava no exterior e que culo XVII em manuscrito e ainda se lê “hua proveito material. mais era aquilo que actualmente é um in- Ermida de nossa Senhora ora obra reall, A ligação do mundo eclesiástico a estas costa portuguesa dicador marítimo posteriormente substituí- grandiosa, de mea laranja, e em hum len- questões não se ficou por aqui já que Dom é possível ver do pelos existentes nos pontões, tanto do ço della pª parte do Rio pôs hu letreiro...”. Fernando Coutinho - Prior de Guimarães que lado da Foz como do lado oposto do rio, na Também o Padre Pereira de Novais refere também foi Bispo de Lamego e, posterior- faróis, Afurada. Este farol era uma luz reflectida a textualmente que “mandò poner en la mente, Bispo do Algarve - mandou construir partir de uma lamparina forte. Hermita de San Miguel quando là fundò en o Farol de São Vicente em 1515. Nas razões apresentando O cronista Sousa Reis refere algo que pro- San Juan de la Foz. citadas afirma o próprio que “dele tinham alguns va também ter existido dentro do edifício A verdade é que mesmo sem que se en- muita necessidade os navegantes, por dar uma capela quando a dado passo escre- contrem mais documentos de prova, a ve- aviso e luz em dias de tempestade e noite características ve, “à porta tão somente voltada a norte, e lha torre da Cantareira é reconhecida escura”. à janela praticada na parede de leste para como Ermida de São Miguel-o-Anjo. A importância desta obra foi tão grande que técnicas e dar luz à capela pois o seu institutor lhe Em local adjacente funcionava também a o burgo, que se instalou nas suas proximida- quiz dar ao mesmo tempoduas aplicações, Corporação dos Pilotos da Barra. des, adoptou o nome até á actualidade: Vila arquitectónicas a humana e a divina, servindo de farol na O antigo Ministério da instrução declarou do Bispo. de elevado terra e também na bem aventurança aque- o edifício como de utilidade pública, por Mas voltando à barra do Douro, é também les que nesta terra buscassem luz”. despacho de 17 de Abril, de 1950. Desig- importante citar os trabalhos desenvolvidos interesse. Com efeito no interior das paredes deste nava-o nessa altura como Farol ou Capela pelo Padre Estêvão Cabral que conduziu uma edifício existia um pequeno templo de pa- do Anjo da Cantareira. P| 14 <<< Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Marco António Lindo

Museu do Ferroviário do Lousado

No Lousado existe, junto à estação de ca- com pequenas porções de xisto preto e cas- minho de ferro, um núcleo museológico tanho, fazem jus ao nome da terra: Lousa- actualmente gerido pelo Município de Fa- do. malicão. A unidade espacial conferida ao conjunto Tecnicamente chama-se Núcleo Museoló- oficinal, inicialmente disperso, teve como gico de Lousado, situa-se na estação ferro- referência a colecção de material circulan- viária de Lousado, no entroncamento da te e os equipamentos oficinais pré-existen- Linha do Minho com a Linha de Guimarães. tes. Ocupa a totalidade do original complexo A implantação do Museu desenvolveu-se oficinal da Companhia dos Caminhos de com base nas boas práticas da museologia Ferro de Guimarães com cerca de 1400 m2. contemporânea, sujeita a um programa que Situa-se no concelho de Vila Nova de Fa- contempla áreas públicas e privadas, com malicão e chega-se lá pela A3, em direc- espaços condignos de acolhimento de pú- ção a Braga (saindo para Santo Tirso-Tro- blico, loja, visitas guiadas e garantia da fa), na Trofa segue-se em direcção a Fama- mobilidade de todos os visitantes e funcio- licão saindo para o Lousado, seguindo de- namento regular, que permite a fruição de pois as placas que o encaminham à Esta- um espólio ímpar no País. ção. A exposição do material circulante, organi- O edifício foi todo recuperado há anos, ten- zada cronologicamente, tem por objectivo do o projecto de arquitectura e restauro res- mostrar comboios de diversos tipos. peitado as tipologias, as funções e os mate- O material, construído entre 1875 e 1965, é riais de construção da altura, hoje com lu- oriundo de oito companhias e foi adquirido gar de destaque no âmbito da arqueologia em seis Países a quinze construtores. industrial. O espaço está aberto de terça a sexta-feira, Parte das coberturas é de telha «marselha», das 10h às 17h, e Sábados e Domingos, assente num sistema de asnas “à france- das 14h às 17h30. Visitá-lo pode ser uma sa”, com clarabóias longitudinais e forro em forma diferente de passar o dia, sem ter que madeira. Algumas paredes, construídas andar muito e sem custo significativo. >>> P| 15 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> passeio

Dario Silva [texto e foto] Já que falamos de um Museu ferroviário, veio-me à ideia uma situação recente numa das estações do Ramal de Braga, a estação de Tadim. A história foi-me contada por alguns motoristas da ARRIVA: a estação foi o reconhecimento de um grupo de habitantes pela salvação. Parece difícil que um espaço, sem ser um museu, possa contribuir para toda uma memória, no seu conjunto, museológica. Considerando o interesse da questão decidi pedir a um habitual colaborador do ARRIVA Jornal que escrevesse algo que descrevesse a importância histórica do local. A opinião vem de um reconhecido autor de temas ferroviários, o Dr. Dario Silva.

A Importância de um Lugar

“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.” Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), O Guardador de Rebanhos

Poderia começar assim o texto que agora vou escrever; mas não começará assim porque não vou falar do rio Tejo nem do rio que corre pela minha aldeia. Estação de Tadim, Ramal de Braga. O com- boio chegou ao Vale d’Este (o rio da minha aldeia), no ano de 1875, vinha do Porto e ia para Braga. Escrevia o meu avô, ouvindo os relatos de seu pai, que “o povo fugia para longe, porque alguém dizia que a ‘Machi- na’ matava gente até certa distancia”. Com espanto e assombro, principiava o caminho-de-ferro a norte do rio Douro e quis a História e um ilustre cidadão da freguesia que em Tadim se expediam: gado, mobiliá- Alguns anos mais passaram e vieram moder- mais que um castelo, um mosteiro, o carvalho de Tadim que, logo naquele ano, ali se eri- rio, madeira. nizar a linha, as estações e os muitos apea- de Calvos (Póvoa de Lanhoso) mas um sím- gisse uma estação, à altura a única entre E no “lugar da estação” que crescera junto deiros que entretanto tinham aparecido. Do- bolo, uma evocação, um monumento. Nine e Braga. à linha passou também o Papa, em 1982, ravante, a estação de Tadim (e muitas outras) E os símbolos, ou os monumentos, não têm Nos 127 anos que vieram a seguir, é fácil de vinha de Coimbra e como estava mau tem- seria comandada à distância e não haveria que ter “utilidade”, digo eu, basta-lhes exis- saber a história que aconteceu à passagem po para o helicóptero voar, veio de com- mais ninguém a dar partida aos comboios. tir para serem úteis a novos e velhos; a no- de cada comboio. Caiu a Monarquia, im- boio, com gente a acenar pela linha fora. Ferroviáriamente falando, aquele edifício se- vos para que aprendam à sua sombra e aos plantou-se a República; passaram os sol- Muitos outros comboios passariam ainda até cular perdeu a utilidade no ano de 2002. velhos para que não se percam no cami- dados do quartel de Braga para a guerra Portugal atracar nas margens da Europa, Logrou o destino que o edifício secular e (in)útil nho e saibam sempre de onde vieram (já em França; passaram em direcção a Lei- ano de 1986. se mantivesse de pé e passasse a ser não que desconhemos para onde vamos). xões e a Lisboa os que buscavam os bar- cos para o Brasil; passavam as notícias (na- queleA tempoEVOLUÇÃO os jornais viajavam no com-DA NotaCONCERTINA histórica ATÉ AOS NOSSOS DIAS boio) de uma grande crise na América e de “Da minha aldeia vejo quanto Em Outubro de 1875, iniciam-se as primeiras circulações ferroviárias em Via Estreita uma nova Guerra Mundial; acabou a guerra (90 cm), entre Porto-Boavista e a Póvoa de Varzim. da terra se pode ver no e começava outra na África colonial, em Na linha de Guimarães, o troço Trofa-Vizela, com bitola de 1m, foi inaugurado em 31 de Universo... Timor e na Índia portuguesa, e passavam Dezembro de 1883. Por isso a minha aldeia é tão mais soldados, muitos soldados para com- Em 1927, estas linhas passaram a constituir a Companhia dos Caminhos de Ferro do bater nessa guerra. Salazar caiu da cadei- grande como outra terra Norte de Portugal que, em 1947, é integrada na CP. ra, já não governava, a guerra continuava. qualquer Com a alteração da Linha de Guimarães para bitola de 1,67m e a passagem da linha Mudava-se de regime político outra vez, em Porque eu sou do tamanho do da Póvoa e do troço Senhora da Hora-Trofa para o Metro do Porto em 2001, terminou o 1974, começavam a ser menos os comboi- sistema de Via Estreita à volta do Porto. O espaço museológico de Lousado tem, hoje, que vejo os a carvão e mais os comboios a gasóleo, particular relevância e significado ao testemunhar aspectos da ferrovia que são ape- E não do tamanho da minha mais rápidos e mais confortáveis para as nas história de um sistema e modo de transporte e de vivências de um povo, uma altura...” pessoas que o apanhavam em Tadim, as- região e um País. Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), O sim como para as mercadorias a detalhe Guardador de Rebanhos P| 16 <<< Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Excepcionais vintage 2007

PRODUTORES E CONFRADES DO VINHO DO PORTO FIZERAM A MAIOR DECLARAÇÃO DE VINTAGE DE SEMPRE. NO TOTAL, 91 VINHOS CONSEGUIRAM TRANSFORMAR A COLHEITA DE 2007 NO “PORTO DOS PORTOS”, UMA CONQUISTA ALCANÇADA PELA MÃO DO HOMEM E PELAS CONDIÇÕES ÚNICAS OFERECIDAS PELA NATUREZA. O ANO FOI ATÍPICO E PROPORCIONOU TODOS OS ELEMENTOS PARA QUE TENHAMOS AGORA PORTOS VINTAGE “EXCEPCIONALÍSSIMOS”, DE EXCELENTE QUALIDADE, MUITA ELEGANTES E VIDA.

O grandioso edifício do Palácio da Bolsa Por isso, e numa altura em que cada vez ímpar; e há o clássico, em que esta distin- lência, servido em momentos especiais das orgulhou-se, uma vez mais, de ser anfitrião mais se procura investir em valores segu- ção é atribuída a um determinado ano e aos nossas vidas, dias marcantes de alegria, de uma cerimónia marcante: a Declaração ros, o presidente do IVDP sugere que se seus produtores. convívio. Comemorações. Ainda assim é. de Vintage pela Confraria de Vinho do Porto aposte no neste Vinho do Porto: “Os preços O Vintage é considerado por muitos o Porto Mas independentemente de resultar num (CVP). Mais notável ainda por esta, relativa de lançamento são suportáveis e estes vi- dos Portos, tendo em conta que o amadure- bom investimento, quer ao nível sensorial ao ano de 2007, ter sido a mais ampla de- nhos têm uma valorização enorme. É talvez cimento ocorre na garrafa, podendo o vi- pela sua evolução positiva em garrafa, como claração de Vintage de sempre, com 91 o ‘Certificado de Aforro’ com mais rentabili- nho estar vários anos a ganhar corpo e pelo seu valor financeiro crescente, o vinho marcas registadas pelo Instituto de Vinho dade”, assinala. complexidade sem necessitar de contacto ajustou-se ao consumidor mais jovem, ao do Porto (IVDP). com a madeira. Este vinho é produzido a consumidor que aspira novas sensações, Um a um, os confrades de Vinho do Porto UM ANO EXCEPCIONAL partir das uvas de um único ano e tem de que o aprecia enquanto jovem, no seu ano das casas representadas, devidamente tra- As declarações de Vintage generalizadas ser, obrigatoriamente, engarrafado dois a de lançamento. Assim é. Enquanto há uns jados, subiram a escadaria central deste indicam sempre colheitas grandiosas, sen- três anos após a vindima. anos era quase impossível desfrutar de um Monumento Nacional para juntarem, num do as mais recentes 1994, 1997, 2000 e Um vinho do Porto Vintage só pode ser de- Vintage chegado ao mercado, actualmente cálice gigante, os excelentes vinhos que 2003, a primeira do século XXI. O clima ve- clarado após a aprovação do Instituto do há consumidores que os preferem jovens e nasceram de um ano atípico e, ao contrário rificado durante a campanha vinícola é re- Vinho do Porto como possuindo todas as com fruta intensa e jovem. Independente- da maior parte daqueles que dão origem a conhecido como um dos melhores possí- características necessárias e suficientes mente disso, estes vinhos depois de aber- um ano Vintage, sem temperaturas extremas veis para a alta qualidade dos vinhos, em para ostentar essa designação. Esta apro- tos continuam a ter de ser consumidos com a marcar a maturação das uvas. termos de amadurecimento, complexida- vação dá-se aos dois anos, altura em que o alguma brevidade, mesmo usando as téc- Luciano Vilhena Pereira, presidente do IVDP, de, elegância e potencial de envelheci- vinho deve apresentar-se muito encorpado nicas de extracção do ar da garrafa, aca- estava obviamente satisfeito pelo facto de a mento. Em 2007, os meses de Novembro e e retinto. Com o seu envelhecimento em bam por perder qualidades, há excepções, região do Douro ter sido novamente bafeja- Fevereiro foram especialmente chuvosos, garrafa, irá ficar elegante e suave, tornan- claro está, e os gostos não são todos iguais, da com as condições únicas para produzir tendo voltado a ocorrer precipitação aci- do-se um vinho equilibrado que será muito felizmente. Vinhos do Porto notáveis, sublinhando que ma da média em Maio e sobretudo em Ju- complexo e distinto. Depois de alguns anos Depois de abrir um Vintage, siga o ritual. a declaração conjunta partiu (como é habi- nho, principalmente no Douro Superior. em garrafa, geralmente ganham aromas de Um copo adequado, temperatura de servi- tual) da CVP e foi unânime. O responsável Entre Maio e Agosto as temperaturas esti- torrefacção, como chocolate, café ou ca- ço entre os 16 e os 18ºC e ambiente a com- explicou também que todos os anos exis- veram abaixo das médias, em particular no cau, e também aromas de especiarias como binar. Pode ter a lareira acesa, ou não. Beba tem Vintage declarados por alguns produ- Douro Superior. Apesar de o ano vitícola canela ou pimenta, bem como, por vezes, devagar, aprecie cada gota, com toda a tores, mas a declaração colectiva é mais ter principiado com doenças na vinha, as aromas frutados. concentração de aromas, de sabores, ex- espaçada – acontece, em média, três ve- temperaturas amenas de Agosto e um Se- Viajando um pouco até ao passado, as pri- perimente fechar os olhos e sentir o fim de zes por década –, representando o grande tembro seco e quente permitiram obter uvas meiras garrafas em forma de cilindro terão boca majestoso. culminar de uma colheita excepcional. Para equilibradas. Como resultado, temos vi- aparecido por volta de 1770, facto que veio Pode acompanhar as suas sobremesas, de que se verifique esta situação, é necessá- nhos considerados, unanimemente, por permitir o aparecimento dos primeiros chocolate, café, frutos silvestres e do cam- rio que mais de 50 por cento dos produtores produtores e críticos como sendo de exce- Vintage, uma vez que com as novas garra- po, pode até acompanhar com algumas re- de Vinho do Porto declarem Vintage. lente qualidade, elegantes, finos, com es- fas passou a ser possível o armazenamento feições. Não há limites para a imponência Vilhena Pereira destacou ainda que o trutura e com taninos aveludados, apresen- na posição horizontal, ficando o vinho em destes vinhos. E se é apreciador, pode acen- Vintage “é uma das categorias especiais de tando um potencial de longevidade ainda contacto com a rolha, o que permite o seu der o charuto, o seu Vintage não se irá inco- Vinho do Porto e, certamente, uma das mais mais prolongado. amadurecimento/envelhecimento. modar. prestigiadas”, sendo que “no Vintage pre- Deixámos-lhe, nas próximas páginas, 41 domina a mão de Deus, enquanto nos Tawny COMO SE DECLARA VINTAGE DESFRUTAR vinhos para que possa fazer as suas esco- predomina a mão do Homem”. E se é um O processo para se declarar um Vintage nem Tempos houve em que um Vintage era para lhas e saber as características que os defi- produto excepcional, “o Vintage 2007 é sempre é igual e raramente é partilhado comprar e guardar. Esquecer que lá repou- nem e diferenciam. este ano, excepcional, excepcionalíssimo”, orgulha-se, salientan- por todos os produtores – existe o Single sava na cave, solitário ou acompanhado, brindou-nos e temos um alargado leque do que há que agradecer “a contribuição Vintage, onde a alta qualidade está presen- por muitos anos, aqueles que conseguisse para experimentar desde já, ou guardar para da Natureza, mas também a contribuição te, sendo a distinção apenas para uma úni- resistir à tentação de o abrir. O Vintage sem- qualquer dia, sem agenda, sem data do Homem”. ca vinha, o que lhe confere um carácter pre foi um vinho respeitado pela sua exce- marcada, sem pressa… >>> P| 17 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> vinhos

AS MELHORES ESCOLHAS!

WARRE’S CÁLEM POÇAS PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 65,00 euros 35,00 euros 42,00 euros

ASPECTO: Rubi intenso e concentrado com ASPECTO: Rubi muito intenso com ligeiros tons ASPECTO: Rubi muito denso. abundantes tons violáceos. violáceos, opaco. AROMA: Frutado, predominante em frutos ver- AROMA: De grande intensidade, fruta muito AROMA: Complexo, predominante em frutos melhos e silvestres compotados, especiarias madura e predominante em amoras silves- vermelhos, muito maduros, frutos desidrata- e cacau. tres, sedutor. dos, subtil floral e toque de mentol no final. SABOR: Macio, bom volume de boca, frutado, SABOR: Vigoroso, de grande elegância, SABOR: Envolvente, volumoso, bem taninos sedosos e ricos, excelente acidez, cheio, taninos poderosos, excelente estrutu- estruturado, taninos redondos, termina muito termina prolongado e exuberante. ra. Um vinho fabuloso! persistente e elegante.

QUINTA DO VESÚVIO FONSECA QUINTA VALE D. MARIA PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 75,00 euros 70,00 euros 60,00 euros

ASPECTO: Cor púrpura, concentrada. ASPECTO: Rubi intenso, opaco. ASPECTO: Rubi definido, retinto. AROMA: Perfumado, predominante em frutos AROMA: Persistente, notas de cassis, grose- AROMA: Concentrado, notas de groselha e do bosque muito maduros, notas florais e subtil lha, amora, chocolate preto, toque de espe- amora, ligeiro floral. balsâmico. ciarias no final. SABOR: Elegante, notas de chocolate, café, SABOR: Excelente, grande volume de boca, SABOR: Elegante,volumoso, equilibrado, ta- fruta em passa, excelente estrutura, taninos boa acidez, taninos ninos nobres, excelente e prolongado final. firmes, final poderoso e especiado. finos, final fantástico. Grande vinho!

BARROS QUINTA DO PORTAL QUINTA DO RETIRO NOVO PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 PORTO VINTAGE 2007 35,00 euros 36,80 euros 24,00 euros

ASPECTO: Rubi intenso com ligeiros tons ASPECTO: Rubi intenso com bastantes tons ASPECTO: Rubi profundo. violáceos, opaco. violáceos. AROMA: Frutos pretos maduros, ligeiro floral, AROMA: Complexo, exuberante, intenso em AROMA: Predominante em ameixa preta, ligeira menta, elegante. fruta muito madura, flores do bosque e espe- frutado, subtil floral e vegetal fresco, nuances SABOR: Envolvente, notas de chocolate pre- ciarias. de especiarias. to, tabaco, especiarias, taninos equilibrados, SABOR: Guloso, encorpado, taninos pujan- SABOR: Equilibrado, fresco, volumoso, tani- boa acidez, final persistente. tes e vigorosos, sem perder a elegância. Api- nos firmes, final harmonioso e prolongado. mentado, para desgustar de olhos fechados...

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>>> sabores in revista Paixão pela Cozinha Dicas para a Ceia de Natal saudável e sem perder a tradição

– Tendo em conta que o Natal é a 24 e 25 de gorduras de adição; Dezembro, tente confeccionar alimentos – Acompanhe os pratos típicos de Natal com numa quantidade suficiente para estes dois bastantes produtos hortícolas; dias, de forma a não sobrar para os dias – Sempre que possível, altere o método de seguintes; confecção culinária da tradicional receita – Respeite as tradições e consuma apenas de sobremesas fritas (ex: rabanadas), as- pratos ou doces típicos desta época natalí- sando-as no forno; cia. Por vezes os excessos são cometidos à – Reduza a quantidade de ovos da receita custa da introdução de outros alimentos que original: a quantidade indicada na receita não são característicos desta quadra (ex: original poderá ser excessiva! Um exemplo camarão, bolinhos de bacalhau, rissóis, car- é o leite-creme; ne de porco e alguns doces); – Sempre que possível, substitua parte da – Modere a quantidade total de alimentos farinha refinada por farinha integral (utilizar consumidos na ceia de Natal, ao nível das no mínimo ¼ de farinha integral relativamen- entradas, do prato principal, dos doces, dos te à quantidade total de farinha); frutos secos e das bebidas; – Nas receitas que incluam leite, opte por – Procure confeccionar em casa a maior leite magro (ex: aletria, arroz doce, leite-cre- parte dos pratos/doces, de forma a poder me); alterar as receitas, tornando-as mais sau- – Utilize azeite na confecção de sobreme- dáveis; sas doces em substituição da manteiga, – Inicie a ceia de Natal com um bom prato margarina ou banha, sempre que possível, de sopa de legumes (poderá criar a sua pró- especialmente nos bolos; pria sopa natalícia, por exemplo, com toma- – Os frutos secos e os frutos gordos (nozes, te e ervilhas, salpicada com pinhões); amêndoas, amendoins, pinhões, avelãs, fi- – Privilegie os pratos cozidos (ex: bacalhau gos secos, tâmaras) são excelentes alimen- da consoada) ou assados com pouca gor- tos pela riqueza em vitaminas, minerais e dura (ex: peru no forno recheado com legu- fibras, mas têm um elevado teor calórico, mes) em vez dos fritos; por isso, modere o seu consumo; – Eleja a água como a bebida por excelên- dos pense num jogo que vise a activi- – Reduza a quantidade de gordura adicio- – Não exagere no consumo de bebidas al- cia; dade física para jogar com a sua famí- nada às confecções culinárias e ao prato; coólicas. O álcool também fornece calori- – Modere o consumo de chocolates; lia e amigos. O importante é que se – Privilegie o uso de azeite em vez de outras as! – Para compensar os excessos cometi- mexa!

DICAS PARA UMA CEIA DE NATAL MAIS ECONÓMICA

– Procure confeccionar em casa a grande maioria dos pratos/doces da sua ceia; – Faça uma lista dos pratos/doces que vai confeccionar com a respectiva lista de ingredientes. Assim poderá comprar apenas aquilo que necessita e não outros alimentos que poderá dispensar; – Faça as compras com antecedência para poder escolher calmamente os alimentos e aproveitar as promoções de Natal; – Consulte os rótulos das embalagens e compare preços entre produtos idên- ticos para escolher os alimentos mais saudáveis e mais económicos; – Confeccione as quantidades estritamente necessárias para a Ceia de Natal e para o almoço de 25 de Dezembro.

ALEXANDRA BENTO [Nutricionista, Presidente da Direcção da Associação Portu- guesa dos Nutricionistas], in Paixão pela Cozinha-Cuisine Passion >>> P| 19 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

>>> sabores

Natacha Lima Reis [texto], Dario Silva [fotos], in revista Paixão pela Cozinha

AA paixãopaixão pelopelo Bolo-ReiBolo-ReiBolo-Rei

É um dos doces que não falha na mesa da consoada. O Bolo-Rei encerra em si um imenso peso da tradição de outros tempos, mas está também a modernizar-se.

A festa de reis começou muito cedo a ser vez em 1890, por iniciativa da Confeitaria vão conquistando cada vez mais adeptos. “Todos os anos, de 8 de Dezembro até aos celebrada na corte dos reis de França. O de Cascais. Diz-se que este bolo-rei foi feito E, este ano, Francisco Gomes criou o «Bolo- Reis vendemos um bolo-rei novo. No ano bolo-rei terá surgido no tempo de Luís XIV segundo receita que o proprietário daquela rei da Paixão», irresistível mesmo para aque- passado fizemos um com líchias, rosas e para as festas do Ano Novo e do dia de Reis confeitaria, Francisco Júlio Cascais, trou- les que nunca apreciaram o tradicional bolo- framboesas, decorado com rosas cristali- – vários escritores escreveram sobre ele, e xera de Paris. rei. zadas”, orgulha-se. Tudo isto porque o che- Greuze celebrou-o num quadro, exactamen- O bolo-rei é agora comercializado ao longo E quais são as diferenças entre um e outro? fe considera fundamental as casas criarem te com o nome de «Gâteau des Rois». de todo o ano, embora o seu consumo seja “Em primeiro lugar, este é mais saudável, o seu próprio produto: “As pastelarias têm Com a Revolução Francesa , em 1789, este bem mais significativo entre finais de No- porque não se usa manteiga, mas margari- de criar uma identidade própria – em Fran- bolo foi proibido. No entanto, os confeitei- vembro e o dia de Reis. É um verdadeiro na, na elaboração do brioche”, explica o ça, por exemplo, todas elas idealizam o seu ros tinham ali um bom negócio, e em vez de símbolo da quadra natalícia, e poucos são chefe. “Em segundo lugar, para não ser tão próprio conceito”. Uma realidade que pou- o eliminarem, passaram a chamar-lhe aqueles que resistem a tê-lo na sua mesa. seco, abriu-se o brioche e recheou-se com co se verifica em Portugal, onde, apesar de «Gâteau des sans-cullottes». creme de maracujá do Funchal e cubos de surgirem agora bolos-reis diferentes, “são Em Portugal, a primeira casa a vender bolo- BOLO REI DA PAIXÃO laranja portuguesa confitada, tendo-se empresas que os criam, vendendo depois rei terá sido a Confeitaria Nacional, em Lis- IRRESISTÍVEL acrescentado ainda os frutos secos. Em os ingredientes para as pastelarias os faze- boa, certamente depois de 1869. A receita Anualmente, assiste-se agora a algumas cima do bolo, juntou-se um crumble de ca- rem e comercializarem”. – nesta altura, apenas um brioche com fru- recriações do bolo-rei protagonizadas pe- nela, dando assim um aroma muito natalí- Quanto a vendas, o bolo-rei tradicional “con- tos por cima – generalizou-se e outras con- las confeitarias mais conceituadas de todo cio a este bolo”, conclui. tinua a ter mais saída, embora até ao dia 23 feitarias da capital passaram a fabricá-lo, o o País. A nossa eleição vai para a confeita- Embora o feitio do «Bolo-rei da Paixão» seja se venda mais este”, revela Francisco Go- que deu origem a versões diversas, que em ria Colonial, em Barcelos, onde o chef pas- o mesmo do tradicional, Francisco Gomes mes, concluindo que a adesão tem sido boa. comum tinham apenas a fava. teleiro Francisco Gomes tem inovado há já explica que, com esta receita, procurou que O preço é o mesmo, por isso, há que inovar No Porto, foi posto à venda pela primeira alguns anos, criando receitas originais que ele tivesse uma “decoração personalizada”. e experimentar! > > > > > BOLO-REI DE MAÇA BOLO-REI GOURMET

A Docefruta apresentou este ano o bolo-rei de maçã, con- A Associação Comercial de Braga, em parceria com a feccionado apenas com cubos de maçã e frutos secos e Decorgel Produtos Alimentares, criou o bolo-rei uma cobertura feita só com rodelas de maçã e cerejas. Um «Gourmet». Esta variante tem menos açúcar, frutos secos, produto original que pode ser confeccionado em qualquer recheio e cobertura rica em fruta natural, não contendo pastelaria. corantes nem conservantes. É comercializado por cerca de 30 pastelarias autorizadas de vários pontos do País. P| 20 <<< Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Dr. Hugo dos Santos

Hábitos alimentares e rituais de vida

Regular os hábitos alimentares e rituais de por, este é um problema que muitos portu- vida foi, é e por certo será uma das tarefas gueses enfrentam nesta altura de regresso psicológicas mais difíceis de cumprir/exe- ao trabalho. cutar. Detectar estas pequenas nuances de com- Trata-se, na maioria das vezes, apenas de portamento é um passo significativo para uma questão psicológica. Isto, claro, na alterar a forma como nos entendemos na ausência de qualquer quadro clínico que posse de um corpo próprio, e também como se enquadre no perfil de diagnóstico dos queremos lidar e viver com o nosso corpo e distúrbios alimentares. com a ideia que dele temos. Ora para o Homem, inserido em ritmos de Não se trata de ter um corpo venusiano ou vida hiperdinâmicos, com o tempo sempre uma apolínea figura, mas sim da forma como a escassear, comer por impulso ou de for- psicologicamente nos entendemos a nós ma condicionada pelo tempo disponível tor- próprios e de como nos queremos, não ape- na-se um hábito comum, para não dizer uma nas numa época, mas durante todo um ano. forma de vida. Mais do que fazer dietas, saber viver com presente em todas as células do organis- o doente está com hiperglicemia. A diabe- É aqui que surge uma questão interessante saúde é entender por que o fazemos e qual mo, necessária, em pequenas quantida- tes é uma doença em crescimento, que atin- a ser observada. Se prestarmos atenção, a a maneira de o fazermos melhor. des, ao seu funcionamento, sendo o fíga- ge cada vez mais pessoas em todo o mun- maior parte das pessoas tem como ritual Recorde-se que nem todos os hábitos são do quem se encarrega de o produzir de do e em idades mais jovens. No entanto, há fazer dietas no período que antecede o Ve- correctos. Alguns, decerto, convém mudar. acordo com as nossas necessidades. No grupos de risco com fortes probabilidades rão ou após as festas de fim-de-ano, na es- entanto, quando o nível de colesterol no de se tornarem diabéticos: homens e mu- perança de conseguir uma silhueta mais de UM NATAL DE IGUARIAS sangue está elevado, o risco de desenvol- lheres obesos, com tensão arterial alta ou acordo com os seus ideiais de beleza. Até MAS TAMBÉM DE PRIVAÇÃO vimento de doenças cardiovasculares au- níveis elevados de colesterol no sangue, aqui, nada a apontar: corrigem as refeições, E AUTOCONTROLO menta. Uma das origens de um colesterol crianças com peso igual ou superior a qua- moderam as quantidades, fazem exercício... elevado é uma alimentação contendo mui- tro quilogramas à nascença, doentes com Passado este período recuperam-se os an- É chegada, uma vez mais, uma época de to colesterol ou gorduras saturadas, como problemas no pâncreas ou com doenças tigos rituais. grande tradição na nossa cultura, e, sem as gorduras da carne, leite e derivados ou endócrinas, pessoas com familiares direc- É aqui que a coisa perde o seu rumo: esse dúvida, uma das alturas do ano mais aguar- as gorduras vegetais, quando sujeitas a tos com diabetes e ainda mulheres que con- hábito psicológico que se tem construído dadas por todos os Portugueses. Razão mais altas temperaturas ou manipulações indus- traíram a diabetes gestacional na gravidez. ao longo dos anos através da associação a do que suficiente para que se dê larga às triais (fritos, pré-cozinhados), por exemplo. A diabetes não impede o doente de ter uma uma ideia de corpo ideal para o Verão tem “papilas gustativas” no encontro com tão O excesso de peso também leva ao au- vida perfeitamente normal e autónoma. Con- marcado o nosso consciente colectivo. Por ricos e variados sabores. mento de colesterol no sangue, assim tudo, é fundamental que o diabético se aju- isso, contribui para uma relação disfuncional Falar de saúde em épocas como a que se como a própria idade. de a si mesmo, autocontrolando a sua do- connosco próprios. avizinha é deveras ingrato, mas vamos de- No que à diabetes diz respeito, convém lem- ença. Aliás, se o doente for determinado A incapacidade que muitas das vezes te- dicar este artigo a quem por diversas brar que esta é uma doença crónica que se neste papel de autovigilância, a sua vida mos em nos apercebermos de que estamos condicionantes se vê limitado, ou até priva- caracteriza pelo aumento dos níveis de açú- ficará muito facilitada. a retomar os antigos hábitos alimentares do, de se banquetear com tantas iguarias. car (glicose) no sangue e pela incapacida- Esperamos, acima de tudo, que este artigo deve-se ao facto de que este fenómeno é já Ora, dois dos problemas de saúde mais co- de do organismo em transformar toda a sirva de alerta para aqueles que se encon- inerente a um processo psicológico cons- muns entre os Portugueses são o colesterol glicose proveniente dos alimentos. À quan- tram inseridos nestes grupos de risco. cientemente assumido e entendido como e a diabetes. No caso do colesterol, con- tidade de glicose no sangue chama-se Faça da arte de comer um prazer, e não um normal. Ora, como muito bem se pode su- vém recordar que é uma substância gorda glicemia e quando esta aumenta diz-se que desperdício da sua saúde. >>> P| 21 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Alexandra Bento [Nutricionista, Presidente da Direcção da Associação Portuguesa dos Nutricionistas], in Paixão pela Cozinha O que é que a laranja tem?

Sabia que a laranja é um dos alimentos mais tanto vale a pena inclui-la logo na primeira magnésio, fósforo e sódio) e fibras de que o sangue; os sais minerais são excelentes para nutritivos e saudáveis que existem? refeição do dia. Mas os lanches são também nosso organismo necessita enquanto fonte a eliminação do ácido úrico; rica em cálcio, Uma equipa de investigadores da Universida- óptimos momentos para ingerir esta fruta. A de energia e que conferem protecção ajuda a manter a estrutura óssea, melhoran- de de Yale, EUA, apresentou em Outubro de laranja possui um baixo valor calórico (100 imunitária. Já para não falar do betacaroteno, do a construção muscular e a coagulação do 2008 o ranking de classificação «NuVal gramas de laranja fornecem aproximadamen- que confere à laranja um alto nível de protec- sangue; facilita a digestão e a função intesti- System» (Índice Geral de Qualidade Nutricional te 50 calorias), pelo que é recomendada nos ção antioxidante. A acção da pectina, fibra nal devido a acção da laranja que activa a - www.nuval.com) e revelou que a laranja tem planos de controle de peso. solúvel (encontrada principalmente entre os acção das glândulas que segregam o suco uma qualidade nutricional de invejar! gomos da fruta - nas membranas, parte bran- gástrico; a acção do fósforo, aliado na absor- Tudo por causa das suas propriedades AS VANTAGENS DE SER… LARANJA! ca) ajuda ainda a controlar os níveis de ção da glicose, ajuda a manter o cérebro aten- nutricionais, que a colocam na lista dos me- Todos a conhecemos como um fornecedor colesterol do sangue. to; finalmente, a vitamina C reduz os danos lhores alimentos a ingerir. por excelência de vitamina C (100 gramas de Assim, para além da vitamina C, que aumenta causados pela acção dos radicais livres, aju- E é ao pequeno-almoço que as suas proprie- laranja fornecem cerca de 60mg de vitamina a protecção contra as infecções, existem ou- dando a conservar a juventude. dades são mais bem absorvidas pelo orga- C, a dose diária recomendada desta vitami- tros benefícios a ter em conta: o consumo re- Hoje em dia é um fruto cobiçado e apreciado nismo, seja sob a forma natural ou bebível. E na). Mas as boas notícias continuam, uma vez gular diminui a acidez elevada do nosso or- em todo o mundo. porquê? Porque esta fruta é riquíssima em que este citrino alaranjado é rico em sais mi- ganismo; a acção da pectina, fibra solúvel, Mil e uma razões para fazer da laranja um nutrientes activadores do metabolismo e por- nerais (ácido fólico, potássio, cálcio, ferro, ajuda a controlar os níveis de colesterol do fruto que deve ter por perto mais vezes!

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José Luís Covita [textos e fotos]; Com o apoio de

Fátima Há 50 anos... um País chegava de autocarro!

Era todo um País que desembarcava de camioneta de passageiros em Fátima por aqueles dias. Começavam a chegar na vés- pera inundando estradas, veredas e cami- nhos, num garrido mar de cores. Muitos já traziam dias de viagem. Ao fundo, chega pela estrada de Leiria um belo autocarro da Auto Viação de Lamas, é o Floirat nº41, ostentando orgulhoso o nome da empresa nos seus bonitos tons de verde e creme. Vem carregado de gente e bagagens. Na rectaguarda, à semelhança de muitos ou- tros traz num tosco pano, preto e branco o nome da terra de onde provêm os viajantes e outro de uma qualquer associação recreati- va. Havia saído ainda de noite de Rio Meão. Das alturas de Montemuro e e do Caramulo chegam dois carros da Joaquim Guedes, Filho e Genros. Trazem gente das aldeias do Cabril, de Ester, de Eiriz, de Almofala, do Cadraço e ainda das terras do Paiva, de Mões, de Codeçais. Chegam com os olhos deslumbrados de quem nunca havia saido do meio das serras. Alguns mais afortuna- dos irão petiscar à Pensão Fátima ou dormir no Hotel dos Três Pastorinhos. A maior par- te dormirá ao relento, dentro das camione- tas, ou mesmo nos tejadilhos. Ao fundo, na estrada dos Valinhos aconche- gam-se os carros azuis e prata da Piedense, os vermelhos vivos da Beira Rio, empresas da margem esquerda do Tejo, e ainda al- guns Covas e Filhos e João Maria dos An- gem e muita fé das aldeias que se esten- Alcanena, de Monsanto e de Mendiga, atra- ao lado vemos Santa Marta de Portuzelo, jos, estes últimos de Sesimbra. Vindos dos dem de Figueiró, até Aguda, Campelo e vessaram a Serra de Aire, almoçaram à Arcos de Valdevez e Guimarães, esta última lados de Porto de Mós chegam, ao mesmo mesmo a Penela. É um grupo que já faz esta beirinha do Alviela. Agora que a noite cai, e localidade inscrita num bonito Berliet cre- tempo, dois autocarros – Um da Viação viagem há mais de vinte anos. um ventinho fresco sopra dos lados da Ser- me, verde e castanho, da empresa Auto- Sernache, e outro da Manuel Simões Subindo de Minde, chegam dois carros da ra de Alvaiázere, detenhamo-nos um pou- Guimarães, de João Carlos Soares. Barreiros, este último trazendo gente, baga- Abílio da Noiva Mendes. Vêm das terras de co neste mar de gente e carros. As reta- Pela madrugada ainda chegarão dois car- guardas dos autocarros são um mapa aber- ros do Algarve, cheios de gente cansada e to de Portugal: Vila Nova de Poiares, em le- feliz, um de Évora da João Cândido Belo, tra negra, escorrida em arco, sobre o fundo outro da Rodoviária do Sotavento, vindo dos vermelho e creme onde se inscreve o nome confins do Alentejo chegado à fronteira. Traz da Empresa e o telefone, Armando Ferreira gente de Mértola, S. Domingos, Vale de Mor- e Irmão, Lda, mais um à frente, é Arganil em tos, Serpa e Ficalho. É um bonito Volvo ver- tons de azul, depois saltamos para um co- melho, azul e prata. No tejadilho a abarro- lorido carro de Caneças, logo seguido de tar, por baixo da rede que aperta a baga- um laranja e creme forte, de Oliveira de gem, que é muita, alguns colchões esprei- Azeméis, e de um bonito azul, com letras tam, no meio de garrafões de azeite e vinho, douradas, em relevo - Grijó. O Minho está pequenos baús, malas de cartão, caixotes todo mais chegado ao santuário de Braga a com comer. Garfe, com um bonito Mercedes da Auto Fecha-se mais a noite. De quando em vez Rodoviária do Minho, de Amândio de Oli- um motor ainda se faz ouvir. veira, até Viana, Melgaço, Paredes de Coura, Alguém faz experiências ou é ainda um au- telefone 12, ostenta em letras redondas, tocarro que chega. desenhadas por mão hábil, um autocarro Pouco a pouco carros e homens aquietam- em tons de diferentes verdes e creme. Logo se. >>> P| 23 Nº 015 >>> 2009-10 | DEZEMBRO | JANEIRO

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Marco António Lindo O autocarro da FNAT

No bilhete postal que ilustra o artigo da privada de utilidade pública com carác- página anterior há uma série de auto- ter social, sendo tutelada pelo Ministé- carros, mas um deles especificamente rio do Trabalho e da Solidariedade Soci- dá-me vontade comentar: o da FNAT. al. É conhecida de todos como INATEL. A Fundação Nacional para Alegria no Entre 1949 e 1952 a FNAT compra três Trabalho (FNAT) foi fundada em Junho autocarros Maudsley para o seu serviço de 1935 e referia como objectivo a pro- de excursões, mandando-os construir moção do turismo social e o preenchi- numa conceituada fábrica de mento dos tempos livres dos trabalha- carroçarias, o Pereira & Fausto Crespo, dores. Embora a ideia saísse do gabine- de Lisboa. O último dos referidos é um te do Dr. Oliveira Salazar, o conceito nas- Regal III e chega no princípio de 1953. ceu de recomendações da Organização É precisamente este o que está de frente Internacional do Trabalho que, em 1924, no bilhete postal, o BC-19-26. tinham sugerido a criação deste tipo de Os dois primeiros trabalham cerca de entidades. Como é tradicional copiaram- doze anos para a Federação sendo ven- se os modelos estrangeiros, especifica- didos respectivamente para a União de mente o Dopo Lavoro Italiano e o Kratf Satão e para a Almeida e Filhos. O ilus- Durch Alemão; mero acaso de momento trado ficou sempre na FNAT, tendo rece- histórico. bido uma segunda carroçaria na UTIC Hoje em dia tem estatuto de fundação do Porto em 1968 e trabalhado até 1974.

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