Edição 3 | 2021 BOLETIM TRIBUTÁRIO

Entendimento dos Tribunais Novidades na Legislação Disse o Fisco Comércio Exterior Tributário Internacional Fique de Olho

Entendimento dos Tribunais STF finaliza julgamento acerca da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS

Após quatro anos de indefinição, na última quarta-fei- ra (12/05/2021), o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim à maior questão tributária analisada pela Corte nos últimos anos: quais seriam os efeitos práticos da decisão de 2017, que reconheceu como inconstitucio- nal a incidência do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS. Resumidamente, estavam em jogo dois principais pontos levantados pelo fisco federal em seus embargos de declaração opostos no Recurso Extra- ordinário (RE) n° 574.706/PR: (i) a partir de qual momento o ICMS deveria ser retirado da base das contribuições; e (ii) se o ICMS a ser retirado deveria ser o efetivamente pago ou o destacado em nota fiscal. A posição da ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, foi predominante quanto à dúvida trazida pela Fa- zenda sobre qual ICMS deve ser retirado da base de cálculo do PIS e da COFINS. Por 8 votos a 3, os mi- nistros entenderam que o ICMS a ser retirado da base de cálculo do PIS e da COFINS é o destacado na nota fiscal, e não o efetivamente pago. Os minis- tros Nunes Marques, Luís Roberto Barroso e discordaram da relatora e saíram derrotados. A proposição da relatora também foi prevalecente quanto à modulação dos efeitos, isto é, a partir de qual momento passaria a surtir efeitos a decisão do Supre- mo. Novamente por 8 votos a 3, os ministros enten- deram que a nova regra deve ser aplicada a partir da data do julgamento do RE nº 574.706/PR, ocorrido em 15/03/2017. Assim, as empresas que, desde 15/03/2017, pagam o PIS e a COFINS com a inclusão do ICMS destacado em suas bases de cálculo, terão direito à restituição. Os ministros , e Marco Aurélio votaram pela não modu- lação dos efeitos da decisão e saíram vencidos. O Tribunal ainda decidiu que a modulação de efeitos não se aplica às empresas que antes de 15/03/2017 ajuizaram ações para discutir a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS ou que discutem a questão em processos administrativos iniciados antes daquela data. Tais empresas terão o direito de excluir o ICMS destacado da base de cálculo do PIS e da COFINS em relação aos meses anteriores a março de 2017. A nosso ver, a posição do Supremo no julgamento dos Embargos de Declaração da União no RE n° 574.706/PR foi, de forma geral, favorável aos con- tribuintes. Isso porque, apesar de ressalvar apenas as ações ajuizadas até 15/03/2017, há a definição de que o ICMS a ser excluído é o destacado, e não o efetivamente pago, como defendia a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e a Receita Federal do Brasil. STF declara inconstitucional artigos da Lei Kandir sobre incidência do ICMS na transferência interestadual entre estabelecimentos do mesmo titular

Um dos maiores contrapontos entre a legislação estadual e o posicionamento dos tribunais diz respeito à incidência do ICMS nas transferências inte- restaduais entre estabelecimentos do mesmo titular. Os Tribunais vêm, há muitos anos, se manifestando no sentido de que a circulação de mercadorias, para fins de incidência tributária, deve ser jurídica e não apenas física, contrariando o disposto nos artigos 12, inciso I, e 13, § 4º, inciso II, da Lei Complementar nº 87/1996. No próprio ano de promulgação da Lei Kandir, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio da Súmula 166, consolidou o entendimento de que “Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte”, aspecto este que nunca foi levado em consideração pelos Estados Federados, que continuaram a (i) exigir o tributo em tais operações, (ii) prever tal incidência em suas legislações e (iii) autuar os contribuintes que deixem de destacar o ICMS. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou, em sede de repercussão geral, o tema 1099 (ARE 1.255.885), para declarar a inconstituciona- lidade da incidência do ICMS nas transferências entre estabelecimentos do mesmo contribuinte. Por meio da Ação Declaratória de Constitucionalidade n° 49, ajuizada pelo estado do Rio Grande do Norte, o STF declarou inconstitucional os disposi- tivos da legislação estadual e da Lei Kandir que prevê a incidência do ICMS nas transferências interestaduais “ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular”, incluindo previsão referente à autonomia dos estabelecimentos. A decisão foi tomada por unanimidade no plenário do STF sob fundamento de que a circulação de mercadorias prevista na Constituição Federal de 1988, e que gera a incidência do ICMS, é apenas a jurídica, envolvendo a transmissão da titularidade da mercadoria, e não física. Diferentemente das de- mais decisões proferidas anteriormente, a decisão na ADC 49 foi proferida em sede de controle concentrado de constitucionalidade, com eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal. O estado do Rio Grande do Norte opôs Embargos de Declaração em face da decisão, para fins de modulação dos efeitos da decisão tomada pelo STF, bem como para obter esclarecimentos sobre o princípio da autonomia dos estabelecimentos. Ressaltamos que referida decisão não tratou sobre a possibilidade de manutenção de créditos de ICMS na origem, nem sobre o reflexo da incidência tributária no destino, em decorrência do princípio da não cumulatividade. Entendemos que tais temas são de extrema relevância e devem ser analisados em detalhe, considerando a estrutura operacional de cada empresa. Por 10 x 1, STF entende que não incide Imposto de Renda sobre juros de mora recebidos por pessoas físicas, em razão do atraso no pagamento de remuneração Entendimento firmado pode nortear julgamentos sobre a incidência de IRPJ e CSLL sobre juros moratórios No último mês de março, o STF finalizou o julgamento do Tema de Repercussão Geral nº 808 (RE nº 855.091), no qual se discutia a “a constitucionalidade dos arts. 3º, § 1º, da Lei 7.713/1988 e 43, II, § 1º, do Código Tributário Nacional, de modo a definir a incidência, ou não, de imposto de renda sobre os juros moratórios recebidos por pessoa física”, notadamente em razão do atraso no pagamento de remunerações por exercício de emprego, cargo ou função. Em seu voto, o relator min. destacou a existên- cia de conteúdo mínimo constitucional da materialidade do imposto de renda, que não permite a sua incidência sobre verbas que não incrementem o patrimônio do credor. Assim, o ministro entendeu que seria necessário aferir a natureza jurídica dos juros de mora que se pretende tributar, os quais, por serem de cunho indenizatório, poderiam abranger danos emergentes (que não incrementam o patrimônio) ou lucros cessantes (que, em tese, podem ser tributados pelo imposto de renda, pois substituiriam o acréscimo patrimonial que deixou de ser auferido em razão de um ilícito). Nesse contexto, o ministro ressaltou que os juros de mora so- bre a remuneração paga em atraso a pessoas físicas visam, pre- cipuamente, a recompor efetivas perdas e decréscimos que o trabalhador tem ao ter de organizar suas finanças com menos dinheiro, suprindo suas próprias necessidades e, em algumas hipóteses, exigindo a contratação de crédito em instituições financeiras. Tratar-se-ia, pois, de danos emergentes, razão pela qual não incide imposto de renda. Com base nesse entendimento, por 10 votos a 1 (ficou vencido isoladamente o ministro Gilmar Mendes), o STF negou provimento ao recurso extraor- dinário da União e fixou a seguinte tese para o Tema nº 808: “Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de remune- ração por exercício de emprego, cargo ou função”. O entendimento firmado nesse leading case é bastante relevante também para pessoas jurídicas, pois poderá nortear o posicionamento da Corte Suprema em relação a outros casos nos quais se discute a (in)constitucionalidade da cobrança de IRPJ e CSLL sobre juros moratórios. Nesse sentido, vale destacar as discussões sobre a (in)constitucionalidade da incidência desses tributos sobre a parcela de juros de mora percebidos pelas empresas em razão do atraso no adimplemento contratual por parte dos seus clientes, assim como sobre a Taxa SELIC (juros de mora e correção monetária) recebida pelo contribuinte na repetição de indébito, sendo que essa última discussão inclusive já teve a sua repercussão geral reconhecida pelo STF no Tema nº 962, após o Tribunal Federal Regional da 4ª Região consolidar entendimento favorável aos contribuintes por meio da arguição de inconstitucionalidade nº 5025380-97.2014.404.0000. Aliás, ao reconhecer a repercussão geral do Tema nº 962, o ministro Dias Toffoli, também relator do Tema nº 808, destacou a existência “de pontos convergentes entre as teses suscitadas” em ambos os casos, o que poderia sobrestar a discussão sobre a incidência de IRPJ e CSLL sobre a Taxa SELIC decorrente da repetição de indébito até a decisão sobre o Tema nº 808, o que afinal não aconteceu. De qualquer modo, ficou evidente que o ministro Dias Toffoli vê semelhança entre essas controvérsias, sugerindo que possa haver igual solução. Julgamento sobre a exclusão do crédito presumido de ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS será reiniciado pelo Plenário do STF

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por 6 votos a 5, havia firmado maioria para fixar a tese de que “surge incompatível, com a Constituição Federal, a inclusão, na base de cálculo da Cofins e da contribui- ção ao PIS, de créditos presumidos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS”. No Recurso Extraordinário interposto pela União, foi sustentado que a base de cálculo do PIS e da COFINS é composta pela totalidade das receitas auferidas, o que inclui o crédito presumido de ICMS, uma vez que esse valor ingressa de forma definitiva no patrimônio líquido da empresa. Assim, a União defendeu que, no caso concreto, o cré- dito presumido de ICMS advém de incentivo fiscal do tipo subvenção para custeio, de modo que não haveria previsão legal para excluir esse benefício da base de cálculo do PIS e da COFINS, como ocorre no caso de subvenções para investimento. Já os contribuintes defendem a tese de que os créditos presumidos de ICMS não configuram receita ou faturamento, mas sim renúncia fiscal, não cabendo a tributação. Cabe esclarecer que a subvenção para custeio era considerada como transferência de recursos do Estado para a empresa, com a finalidade de auxiliá-la a fazer frente aos custos de sua atividade. Com o advento da Lei Complementar nº 160/2017, essa modalidade de subvenção deixou de existir, na medida em que a norma asseverou que os benefícios fiscais de ICMS são considerados subvenções para investimento. Essa espécie de subvenção é concedida pelo estado para estímulo à implantação ou à expansão de empreendi- mentos econômicos. A tese defendida pelos contribuintes foi acolhida pelo relator do caso, ministro Marco Aurélio, em sessão virtual iniciada em 05/03/2021. O magistrado concluiu que créditos presumidos configuram renúncia fiscal e não podem ser entendidos como receita ou faturamento, não podendo entrar na base dos tributos federais. Ele foi acompanhado pelos ministros Rosa Weber, Edson Fachin, Cármen Lúcia, e Luís Roberto Barroso. A divergência foi suscitada pelo ministro , para quem “a concessão de benefício fiscal pelo Estado, de tributos de sua competência, não pode, por via oblíqua, impedir a tributação da União sobre a parte que lhe compete”. Segundo o ministro, as Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, que dispõem sobre o PIS e a COFINS, não fizeram qualquer menção à exclusão dos créditos presumidos de ICMS da base de cálculo das contribuições. O ministro Alexandre de Moraes propôs a seguinte tese: “os valores correspondentes a créditos presumidos de ICMS decorrentes de incentivos fiscais concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal integram a base de cálculo do PIS e da COFINS”, tendo sido acompanhado pelos ministros Gilmar Mendes, Nunes Marques e . Naquela assentada, o ministro Dias Toffoli pediu vista dos autos. O caso retornou para julgamento em 02/04/2021. O ministro aderiu à posição diver- gente, cuja soma dos votos não foi suficiente para fazer face à posição em favor do contribuinte, apresentada pelo relator, ministro Marco Aurélio. Mesmo assim, apresentados todos os votos e firmada a maioria pela inconstitucionalidade da incidência do PIS e da COFINS sobre os créditos presu- midos de ICMS (6 x 5), o ministro Gilmar Mendes, que havia votado desfavoravelmente aos contribuintes, destacou o processo antes do término do julgamento virtual, que ocorreria no dia 12 de abril. Significa dizer que o julgamento do caso será reiniciado em sessão presencial ou por videoconferência, assim que o relator der encaminhamento ao pro- cesso. Lembramos que mesmo que o relator libere o caso para novo julgamento, cabe ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, pautá-lo. Destacamos ainda que o relator já anunciou a sua aposentadoria para 5 de julho deste ano, de sorte que se o processo não for levado ao plenário enquan- to o ministro Marco Aurélio estiver no Supremo, é possível que haja alteração na composição dos votos, considerando-se a vinda de um novo ministro à Corte. STF discute modulação de efeitos no caso da tributação sobre o terço de férias O RE nº 1072485, que discute a tributação do terço de férias, foi incluído em sessão de julgamento virtual do Supremo Tri- bunal Federal. Nessa modalidade de julgamento, após a apre- sentação de voto do ministro relator, os demais ministros têm o prazo de sete dias para apresentarem seus votos no sistema eletrônico do tribunal. A sessão de julgamento teve início no dia 26/03/2021 e foi finalizada no dia 07/04/2021. O ministro Marco Aurélio, relator do caso, votou pela rejeição dos embargos de declara- ção, indeferindo, portanto, a modulação dos efeitos. O ministro Marco Aurélio foi acompanhado pelos ministros Lewan- dowski, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. O ministro Roberto Barroso apresentou voto divergente para permitir que os efeitos da decisão ocorram a partir da publica- ção do acórdão de mérito. O ministro foi acompanhado pelos ministros Dias Toffoli, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Edson Fachin. O julgamento, no entanto, não foi concluído. Isso porque o mi- nistro Luiz Fux, no último dia de julgamento, destacou o caso. Assim sendo, o julgamento será incluído em sessão de julga- mento do plenário, que, em razão da pandemia, tem ocorrido por videoconferência. Repercussão geral sobre discussão acerca da possibilidade de reconhecimento da extinção da punibilidade a partir da adesão ao RERCT é reconhecida pelo STF

Em recente decisão em tema de relevante impacto penal tributário, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por maioria de votos, a existência de repercussão geral na discussão do alcance do termo “decisão criminal” contido no artigo 5º, § 1º, da Lei nº 13.254/2016, em face do princípio cons- titucional da não culpabilidade. Tal dispositivo legal prevê a possibilidade de ser reconhecida a extinção da punibilidade em decorrência de adesão ao Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária, com o cumprimento de todos os requisitos. A controvérsia, que tramita sob segredo de justiça, tem origem na condenação de um agente autônomo de investimentos por crime de evasão de divi- sas, previsto no artigo 22 da Lei nº 7.492/1986, no ano de 2010. Após a interposição dos respectivos recursos ao TRF4 e ao STJ, a decisão foi mantida, ensejando a análise do recurso extraordinário pelo STF. No âmbito do extraordinário, alega-se a violação ao princípio da presunção de inocência (artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal) e a superveni- ência da Lei nº 13.254/2016, a qual instituiu o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) de recursos, de bens ou de direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por residentes ou domiciliados no país. Nesse sentido, a defesa do recorrente sustenta que a previsão legal estabelecida no artigo 5º, § 1º, da Lei nº 13.254/2016, a qual estabelece que a adesão ao RERCT ocasiona a extinção da punibilidade quando as condições são cumpridas até a “decisão criminal” em relação aos bens a serem regularizados, deve ser interpretada como o trânsito em julgado do processo criminal condenatório. Em razão da discussão envolver o alcance do princípio da não culpabilidade (presunção de inocência), o relator, ministro Marco Aurélio, entendeu pela necessidade de pronunciamento do Supremo, sendo que a sua manifestação pelo reconhecimento da existência de repercussão geral foi acompanhada pela maioria dos ministros. Ficaram vencidos os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso. Já a ministra Rosa Weber não se manifestou. Assim, resta aguardar o julgamento do Tema 1138 pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, sendo que, independentemente do resultado, muitos serão os reflexos em processos penais nos quais, após decisão condenatória em primeira ou segunda instância, mas antes do trânsito em julgado, o réu tenha aderido ao Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária. STJ veda a apropriação de créditos de PIS e COFINS sobre despesas dos revendedores com aquisição de produtos sujeitos ao regime monofásico

Em julgamento finalizado em 14/04/2021, a 1ª Seção do STJ, ao analisar os casos de dois contribuintes que adquiriam produtos sujeitos ao regime mo- nofásico para revendê-los, entendeu, por maioria de votos, pela impossibilidade de apuração de créditos de PIS e de COFINS sobre as despesas incorri- das com a aquisição desses produtos. Segundo as razões do voto vencedor, a regra de abatimento de crédito é incompatível com o regime de incidência monofásica do PIS e da COFINS, pois não haveria incidência das contribuições nas operações seguintes. O creditamento não seria possível, ainda, porque o benefício fiscal previsto no art. 17 da Lei nº 11.033/2004 não teria revogado tacitamente as vedações previstas no art. 3º da Lei nº 10.637/2002 e da Lei nº 10.833/2003. Além de encerrar a divergência de entendimento sobre a matéria existente desde 2017 entre a 1ª e a 2ª Turma da Corte Superior, as decisões proferidas pela 1ª Seção do STJ nos EAREsp nº 1.109.354 e no EREsp nº 1.768.224, na prática, reduzem as chances de êxito dos contribuintes em demandas judi- ciais que pleiteiem a apropriação de créditos de PIS e COFINS sobre produtos adquiridos para revenda sujeitos ao regime monofásico. Contudo, ressalva-se que a matéria pode ser novamente discutida, uma vez que desde março de 2021 pende de apreciação no STJ a proposta de afetação dos Recursos Especiais nºs 1.894.741, 1.895.255 e 1.896.100 ao regime dos recursos repetitivos. Definido pelo STJ o marco inicial do prazo para constituição do ITCMD sobre doação não declarada Em julgamento finalizado em 28/04/2021, a 1ª Seção do STJ, ao analisar os recursos especiais nºs 1.841.798 e 1.841.771, afetados ao rito dos recursos repetitivos (Tema 1048), decidiu que os estados possuem cinco anos para cobrar ITCMD sobre doações não declara- das pelos contribuintes aos fiscos estaduais, contados a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, observa- da a data da ocorrência da doação, conforme dispõe o artigo 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. Por unanimidade de votos, os ministros acolheram a tese sustentada pelos contribuintes, entendendo que a ciência do Fisco a respeito da ocorrência da doação não influencia na determinação do termo inicial de contagem do prazo decadencial para os estados cobra- rem o ITCMD. Assim, os estados podem realizar a cobrança do ITCMD somente até cinco anos contados a partir do primei- ro dia do exercício seguinte (i) à data da transmis- são de bens imóveis no registro de imóveis ou, no caso de bens móveis ou direitos, (ii) à data da ocor- rência da transmissão da titularidade por tradição, eventualmente objeto de registro administrativo. A decisão é relevante para os contribuintes, pois, além de se aplicar aos processos em curso com a consequen- te extinção das cobranças que desrespeitem o prazo de cinco anos previsto no artigo 173, inciso I, do Código Tributário Nacional, também possibilita a restituição dos valores pagos indevidamente nos últimos cinco anos pelos contribuintes. TRF 4 decide a favor do contribuinte em caso de ágio interno Em continuação ao julgamento iniciado no final de setembro, a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por maioria, julgou caso de ágio interno favoravelmente ao contribuinte (Processo nº 5058075-42.2017.4.04.7100/RS). O caso foi decidido em julgamento ampliado. A demanda surgiu a partir de autuação de IRPJ e CSLL oriundos da glosa, pelas autoridades fiscais, de despesas a título de amortização de ágio gerado em reorganização societária de grupo empresarial nos anos de 2004 e 2005.

O juiz federal convocado Alexandre Rossato da Silva Ávila, relator do caso, afastou os argumentos da União Federal, entendendo que “todas as opera- ções de reorganização foram efetuadas em conformidade com a lei, não havendo causa jurídica suficiente para desprezar os efeitos dos negócios porque o contribuinte acabou obtendo benefício de natureza tributária previsto em lei”. Em um primeiro momento, o voto do relator foi acompanhado pela desembargadora federal Maria de Fátima Freitas Labarrère. Contudo, o desembar- gador federal Rômulo Pizzolatti abriu divergência e, consequentemente, atraiu o julgamento ampliado do caso. Após o voto dos magistrados integrantes da Turma ampliada, vencidos o desembargador federal Rômulo Pizzolatti e o juiz federal convocado Alexan- dre Gonçalves Lippel, foram afastados os argumentos da União Federal para a glosa da amortização de ágio.

Basicamente, a Turma entendeu que a “pessoa jurídica, antes da vigência da Lei n. 12.973/14, que absorver patrimônio de outra em virtude de incorporação ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio, baseado em rentabilidade futura, ainda que o aumento do capital social que deu origem ao ágio tenha sido integralizado com ações de sociedade integrante do mesmo grupo econômico, juntamente com capital de terceiros, poderá amortizá-lo na forma prevista no art. 7º, III, da Lei n. 9.532/97”. Ainda, foi decidido que a “interpretação fundada na substância econômica das operações de reorganização societária não autoriza que a autoridade administrati- va transforme atos jurídicos perfeitos em imperfeitos na ótica exclusivamente tributária com o escopo de encaixá-los em uma tributação mais favorável aos interesses fazendários, violando a autonomia da vontade, a liberdade econômica, a proteção da confiança, a segurança jurídica e o princípio da legalidade”. O acórdão ainda pode ser objeto de recursos pela União Federal. Decisão do TJ/SP autoriza contribuinte a excluir o PIS e a COFINS da base de cálculo do ISS Recentemente, contribuinte paulista obteve antecipação de tutela recursal no TJ/SP para afastar a inclusão do PIS e da COFINS na base de cálculo do ISS. Na origem, o contribuinte impetrou mandado de segurança para assegurar o seu direito líquido e certo à inconstitucio- nalidade do recolhimento do ISS em favor do município de Jundiaí com a inclusão dos valores de PIS e COFINS na sua base de cálculo, bem como impedir a Autoridade Coatora de praticar qualquer ato tendente à cobrança dos respectivos valores, quer por meios diretos ou indiretos, especialmente a instituição de óbices para a emissão de certidões de regulari- dade fiscal e inscrição em cadastros públicos de devedores. O juízo de 1º grau indeferiu a liminar pleiteada no mandado de segurança com base nos seguintes argumentos centrais: (i) a base de cálculo do ISSQN é o preço bruto do serviço, e não a receita líquida do sujeito passivo tributário; (ii) o artigo 7º da Lei Complementar nº 116/2013 estabelece que a base de cálculo do ISS é o preço do serviço, não autorizando qualquer dedução; e (iii) o E. Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF 190, analisando legislação de um determinado mu- nicípio do Distrito Federal, entendeu pela inconstitucionalida- de da exclusão do PIS e da COFINS da base de cálculo do ISS. Após a interposição de agravo de instrumento pelo contri- buinte, a desembargadora Beatriz Braga, da 18ª Câmara Cível, do TJ/SP, em decisão monocrática, concedeu tutela recursal para afastar a inclusão do PIS e da COFINS na base de cálculo do ISS. Assim, a decisão acena para mais uma tese sustentada na premissa de que tributo não pode incidir sobre tributo, mas apenas sobre grandezas que revelem manifestação de riqueza e capacidade contributiva.

Novidades na Legislação

Alterações no RIPI

Em 09/04/2021, foi publicado o Decreto nº 10.668/2021, por meio do qual foram introduzidas diversas alterações no Regulamento do Impos- to sobre Produtos Industrializados (RIPI), originalmente instituído pelo Decreto nº 7.212/2010. Destacamos que referidas alterações tiveram por objetivo apenas adequar o Regulamento do IPI à legislação do imposto publicada até 31/12/2019, unificando as normas esparsas e sim- plificando sua interpretação. Assim, destacamos algumas alterações intro- duzidas no texto do Regulamento para refletir as disposições da legislação: • Estabelecimentos equiparados a industrial: a equiparação não se aplica aos distribuidores, varejistas ou atacadistas de bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Por outro lado, são equiparados a industrial os estabeleci- mentos importadores e aqueles em que haja alguma relação de parentesco, de quadro societário ou de participação no capital social com os industriais e importadores. • Exportação: foram ampliadas as hipóteses de exportação ficta, incluídas as regras específicas em relação à exportação por conta e ordem e alterado o critério para se considerar uma pessoa jurídica preponderantemente exportadora. • Responsáveis: são responsáveis pelo recolhimento do IPI os estabelecimentos comerciais atacadistas que possuírem ou mantiverem algumas das be- bidas alcoólicas ou não, indicadas nos arts. 209 e 222 do RIPI, desacompanhadas da documentação comprobatória de sua procedência ou que a eles der saída. • Responsabilidade solidária: são responsáveis solidários, dentre outros, a pessoa jurídica exportadora e o produtor ou revendedor contratante da exportação por conta e ordem, nas hipóteses que a legislação especifica. • Suspensão do IPI: a suspensão do IPI é afastada nas hipóteses de industrialização por encomenda, quanto às operações de saída envolvendo bebidas alcoólicas ou não, indicadas nos arts. 209 e 222 do RIPI, promovidas pelos estabelecimentos industriais e equiparados. • Redução e majoração do IPI: além de diversas classes de produtos terem sido revogadas, foi incluída a previsão de alíquota zero para a mercadoria adquirida no mercado interno ou importada, que seja equivalente à empregada ou consumida na industrialização de produto exportado. • Zona Franca de Manaus (ZFM): A) Isenção: introduzidas desonerações previstas na legislação, como de triciclos e quadriciclos, e atualizadas as nor- mas atinentes ao setor de pesquisa e inovação tecnológica e B) Incluídos os critérios para fins de reconhecimento da preponderância de matéria-prima de origem regional. • Áreas de Livre Comércio (ALC): foram acrescentadas as previsões de prorrogação de benefícios fiscais até 31/12/2050. • Setor automotivo: A) Possibilidade de crédito presumido para os empreendimentos industriais instalados nas áreas de atuação da SUDAM, da SU- DENE e na Região Centro-Oeste, exceto no Distrito Federal, e para as pessoas jurídicas montadoras e fabricantes, desde que apresentem projetos que contemplem novos investimentos e pesquisa para o desenvolvimento de novos produtos ou novos modelos de produtos já existentes. B) Suspensão do IPI para diversas categorias de produtos da TIPI. • Disposições gerais: Foram revogados diversos dispositivos do antigo Decreto que não se aplicavam mais. Desde sua publicação, o Decreto nº 10.668/2021 já produz efeitos. Câmara de Vereadores de São Paulo aprova novo PPI Na última terça-feira (12/05), a Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou o Projeto de Lei (PL) nº 177/2021, enviado pela Prefeitura à casa legislativa no mês de março/2021. Re- sumidamente, o PL institui no âmbito munici- pal o Programa de Parcelamento Incentivado (PPI) de 2021. Nos termos do PL aprovado, entre outras hi- póteses, poderão ser parcelados débitos de ISS e IPTU relativos a fatos geradores ocorridos até o dia 31/12/2020. Para os débitos tributá- rios, ajuizados ou não, o PPI prevê os seguin- tes descontos (artigo 5º): (i) redução de 85% dos juros e de 75% da multa, para pagamento em parcela única; (ii) redução de 60% dos juros e de 50% da multa, para pagamento parcelado. Conforme artigo 7º do PL, os débitos poderão ser pagos em até 120 parcelas não inferiores a: (i) R$ 300,00 para pessoas jurídicas e (ii) R$ 50,00 para pessoas físicas. No momento, para produzir os seus efeitos, o texto aprovado aguarda a sanção do poder exe- cutivo municipal e a sua respectiva publicação no Diário Oficial. Secretaria da Fazenda de São Paulo disciplina adesão ao optativo de tributação da substituição tributária (ROT)

No dia 01 de maio de 2021, foi publicada a Portaria CAT nº 25, que dispõe sobre o credenciamento do contribuinte no regime optativo de tributação da substituição tributária (ROT-ST), previsto no parágrafo único do artigo 265 do Regulamento do ICMS. Em síntese, o ROT-ST consiste na dispensa do pagamento do complemento do ICMS-ST, nas hipóteses em que o valor da operação com a mercadoria for superior à base de cálculo da retenção do imposto, e abre-se mão do ressarcimento do ICMS-ST, nas hipóteses em que o valor da operação com a mercadoria for inferior à base de cálculo da retenção do imposto. Os segmentos econômicos autorizados serão divulgados futuramente pela Secretaria da Fazenda e Planejamento, devendo, para tanto, as entidades re- presentativas dos setores manifestar, formalmente, seu interesse por meio do site https://www3.fazenda.sp.gov.br/sipet. O contribuinte interessado, por sua vez, deverá solicitar o credenciamento no ROT-ST por meio de pedido no Sistema e-Ressarcimento, disponível no endereço eletrônico https:// www.fazenda.sp.gov.br/eRessarcimento. Destaca-se que o Microempreendedor Individual (MEI) será automaticamente credenciado no ROT-ST, a partir de 01/08/2021, exceto se houver ma- nifestação contrária do contribuinte no Sistema e-Ressarcimento. Os efeitos atinentes a este cadastro não são retroativos, produzindo efeitos apenas a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do pedido efetuado. Ainda, enfatizamos que a concessão do credenciamento não dispensa qualquer estabe- lecimento do cumprimento das demais obrigações tributárias, sendo elas principal ou acessória. Em termos práticos, a pretensão fazendária consiste no retorno da sistemática da substituição tributária definitiva, como vigorava antes do julgamento do RE 593.849, isto é, quando o STF definiu que os contribuintes teriam direito à restituição do ICMS-ST pago a maior, quando a base de cálculo real for inferior à presumida. Todavia, além de referido regime violar o direito de ressarcimento garantido pela decisão do STF, a nosso ver referida decisão não abrangeu a hipótese de complementação do ICMS-ST, quando a base de cálculo real for superior à presumida, mas apenas a hipótese de ressarci- mento, o que restou expressamente declarado por meio dos Embargos Segundos do RE 593.849. Assim, entendemos existirem argumentos jurídicos contrários à pretensão de complemento do ICMS-ST pelos estados, tendo em vista a inexistência de previsão tanto no texto constitucional como na Lei Complementar nº 87/1996. Adicionalmente, como a própria fiscalização estadual dispõe sobre os mecanismos para cálculo da base de cálculo presumida, tendo optado por instituir a sistemática da substituição tributária como método para tornar mais simples a arrecadação, somos do entendimento de que ela abdicou do direito de cobrança de complementos. Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro edita Resolução para regulamentar antecipação de garantia A Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) regulamentou por meio da Resolução nº 4.700/2021, publicada em 10/05/2021, a possibi- lidade de se proceder administrativamente com a antecipação de garantia de débito inscrito em dívida ativa de natureza tributária ou não tributária, bem como o procedimento de requerimento de antecipação do ajuizamento de exe- cução fiscal com a realização do depósito. A antecipação de garantia pela via administrativa poderá ser por meio de apó- lice de seguro-garantia, carta de fiança bancária ou quaisquer outros bens ou direitos sujeitos a registro público, passíveis de arresto ou penhora, observada a ordem de preferência legal; importará em suspensão da prática de atos admi- nistrativos de cobrança do débito, sem resultar em suspensão da exigibilidade dos débitos. Ainda, tem-se que haverá o ajuizamento de execução fiscal no prazo máximo de 30 dias contados da data da aceitação pela PGE, e se, por qualquer motivo, não for aperfeiçoada a penhora no processo de execução fiscal, a aceitação será desfeita e cancelados os seus efeitos. No caso de serem apresentados bens consistentes em veículos ou demais bens sujeitos a registro público, o valor de mercado será considerado, conforme parâmetros informados em veículo de divulgação especializado, laudo de órgão oficial ou pelo valor decorrente de avaliação realizada por perito especializado. A oferta antecipada de garantia em execução fiscal será analisada no prazo de 30 dias contados do primeiro dia útil após a apresentação ao protocolo da Pro- curadoria da Dívida Ativa, que poderá recusar fundamentadamente a oferta quando os bens ou direitos forem inúteis ou inservíveis ou de difícil alienação ou não sujeitos à expropriação judicial ou forem objeto de constrição judicial em processo movido por credor privilegiado. Por fim, a Resolução prevê que, optando o contribuinte por realizar o requerimento de antecipação do ajuizamento da execução fiscal para depósito judicial antecipado e garantia do débito, a execução fiscal será ajuizada em até 72 horas, com cientificação por e-mail do contribuinte, que em cinco dias úteis deverá protocolizar petição nos autos da execução informando a realização do depósito e responder ao e-mail com a cópia do protocolo do depósi- to realizado, a fim de subsidiar a conferência da integralidade e a anotação de suspensão da exigibilidade do crédito. Tal procedimento visa racionalizar o serviço judiciário e evitar o ajuizamento de ações acessórias como a tutela cautelar antecedente de garantia para fins de certidão de regularidade.

Disse o Fisco

Receita Federal excepciona caso de compensação cruzada

O artigo 26-A, § 1º, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 11.457/2007, com redação dada pela Lei nº 13.670/2018, veda a compensação de débitos previdenciários posteriores à utilização do eSocial com créditos fazendários de tributos federais apurados antes da utilização do eSocial pelo contribuinte. Apesar da referida norma, a Receita Federal autoriza as empresas que registram, ao final de cada período, saldo negativo de Imposto de Renda (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) a compensar os referi- dos créditos, apurados por estimativas mensais antes do uso do eSocial, com os débitos de INSS, apurados posteriormente pelo eSocial. Assim, por meio da Solução de Consulta COSIT nº 15, o Fisco exarou entendimento no sentido de que é possível a compensação tributária cruzada nos casos específicos em que o fato gerador de determinado tributo ocorre ao final daquele mesmo período de apuração em que se passou a utilizar o eSocial. Para fins de ilustração, no caso retratado o consulente informa que recolheu, por estimativas mensais ao longo de 2018, débitos de IRPJ/CSLL, cujo fato gerador se completa efetivamente ao final do exercício – no caso, 31 de dezembro de 2018, data em que o contribuinte já usava o eSocial (adesão em julho/2018). Desse modo, de acordo com o entendimento da Receita, pelo fato de que os valores apurados por estimativas mensais constituem mera antecipação do IRPJ e da CSLL, haja vista que seus fatos geradores ocorrem somente ao final do respectivo ano-calendário, restou autorizada a compensação que tenha por objeto débitos das contribuições previdenciárias a que se referem os artigos 2º e 3º da Lei nº 11.457/2007, apuradas por meio da utilização do Sis- tema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), com a integralidade de saldo negativo (direito creditório) de IRPJ/CSLL, constituídos ao final de referido exercício (2018). Solução de Consulta (SC) COSIT nº 7/2021 – Tributação de venda de imóveis mantidos para locação

A Solução de Consulta (SC) COSIT nº 7, de 04/03/2021, analisou a tributação de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS incidente sobre as receitas obtidas na alienação de imóveis, inclusive os mantidos para locação, por pessoas jurídicas que exerçam atividade imobiliária, no regime do lucro presumido. Conforme disposto na Solução de Consulta, para fins de determinação da base de cálculo de IRPJ e CSLL, a receita bruta auferida pela empresa com a exploração de atividade imobiliária relativa à compra e venda de imóveis próprios submete-se aos percentuais gerais de presunção de 8% (IRPJ) e 12% (CSLL) sobre a receita bruta.

Esse mesmo percentual de presunção é aplicável se os imóveis vendidos tiverem sido adquiridos e mantidos para locação, “se essa atividade constituir obje- to da pessoa jurídica, hipótese em que as receitas dela decorrentes compõem o resultado operacional e a receita bruta da pessoa jurídica”. A Solução de Consulta, contudo, excepciona hipóteses em que reclassificações contábeis provoquem alterações na natureza da receita e de sua tributa- ção. Por exemplo, o imóvel que seja ou tenha sido utilizado como sede da pessoa jurídica se caracteriza como ativo imobilizado e, portanto, as receitas provenientes de sua alienação serão tributadas como ganho de capital (receita não operacional), ainda que reclassificados para o “ativo circulante”. Já com relação ao PIS e à COFINS, as receitas decorrentes da venda dos imóveis estão sujeitas ao regime de apuração cumulativa dessas contribuições, mediante a aplicação das alíquotas de 0,65% e de 3%, respectivamente. Solução de Consulta COSIT/SUTRI/ RFB/ME nº 49/2021 – Extensão da Isenção de II e IPI em importação por conta e ordem Foi publicada, no último dia 24 de março de 2021, Solução de Con- sulta COSIT nº 49, dispondo que, na importação por conta e ordem de terceiros, detendo o adquirente isenção de II e IPI nos termos dispostos na Lei nº 8.032/1990, haverá a dispensa legal do paga- mento desses tributos. O principal foco do entendimento exarado pauta-se no fato de ser evidente que as mercadorias são de propriedade do adquirente e que o importador por conta e ordem apenas lhe presta um serviço, promoven- do o despacho aduaneiro de importação de mercadorias adquiridas por outra pessoa jurídica, recolhendo, para tanto, os tributos, mas o fazen- do exclusivamente em nome do adquirente, que assume então o ônus financeiro relativo à operação. Em outras palavras, neste tipo de opera- ção o importador age como mero mandatário do adquirente, beneficiá- rio da isenção. A Solução de Consulta aborda ainda interpretação similar aplicável ao PIS/COFINS por força do disposto no art. 81 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001. De acordo com este dispositivo se- riam aplicadas à pessoa jurídica adquirente de mercadoria de procedên- cia estrangeira, no caso da importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora, as normas de incidência das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta do importador. Apesar de a consulta tratar de uma isenção específica decorrente do fato de a importadora por conta e ordem de terceiro e o terceiro adquirente serem domiciliados na Amazônia Ocidental, a interpretação atribuída ao tema não está limitada a este benefício e trata a possibilidade de ex- tensão da isenção de forma ampla. PGFN torna pública sua proposta de adesão à transação na cobrança da dívida ativa da União, de débitos suspensos por decisão judicial há mais de 10 anos

No contexto dos editais que vêm sendo anunciados pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para regulamentar suas propostas de transações tri- butárias, foi publicado, em 20/04/2021, o Edital PGFN nº 2/2021, por meio do qual se estabeleceu os critérios e condições de adesão para a transação na cobrança da dívida ativa da União, relativos aos débitos suspensos por decisão judicial há mais de 10 anos, seja em sede de execução fiscal ou não. Os débitos elegíveis para esta modalidade de transação por adesão contemplam tanto os de natureza previdenciária quanto os demais débitos adminis- trados pela PGFN, e cujo valor consolidado, inscrito em dívida ativa, seja igual ou inferior a R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais). Nesse ponto, importante destacar que o valor da inscrição que ultrapassar o referido patamar poderá ser levado à proposta de transação individual, nos termos da Portaria PGFN nº 9.917/2020. A transação tributária prevista neste edital concede diversos benefícios, tais como descontos, entrada facilitada e prazo alargado para pagamento, va- riando de acordo com a natureza do débito e o perfil do contribuinte, conforme se demonstra a seguir: • Para as Pessoas Jurídicas: Entrada mínima de 4% do valor da inscrição, sem reduções, em duas parcelas mensais e sucessivas, sendo o saldo devedor restante liquidado em parcela única, com redução de 50%, ou (i) parcelado em 24, 48, 72 meses, com descontos de 40%, 30% e 20%, respectivamente, para débitos de natureza não previdenciária ou (ii) parcelado em 18, 36 e 54 meses, com descontos de 40%, 30% e 20%, respectivamente, nos casos de débitos previdenciários. • Para as Pessoas naturais, Microempresas, Empresas de pequeno porte, Santas Casas de Misericórdia, Instituições de ensino, Sociedades Cooperativas e demais organizações da sociedade civil: Entrada mínima de 2% do valor da inscrição, sem reduções, em duas parcelas mensais e su- cessivas, sendo o saldo devedor restante liquidado em parcela única, com redução de 70% ou (i) parcelado em 36, 72, 108 meses, com descontos de 60%, 50% e 40%, respectivamente, para débitos de natureza não previdenciária ou (ii) parcelado em 18, 36 e 54 meses, com descontos de 60%, 50% e 40%, respectivamente, nos casos de débitos previdenciários. A adesão à modalidade de transação prevista neste Edital fica disponível até o dia 30 de junho de 2021.

Comércio Exterior Ministério da Economia altera os valores da Taxa SISCOMEX

Foi publicada no Diário Oficial do dia 16/04 a Portaria ME nº 4.131, de 14 de abril de 2021, que reduziu os valores da Taxa SISCOMEX, antes estabe- lecidos pela Portaria MF nº 257, de 20 de maio de 2011, da seguinte forma:

“Art. 1º A Taxa de Utilização do Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), instituída pelo art. 3º da Lei nº 9.716, de 26 de novembro de 1998, fica alterada para: I – R$ 115,67 (cento e quinze reais e sessenta e sete centavos), devida por Declaração de Importação (DI); e II – R$ 38,56 (trinta e oito reais e cinquenta e seis centavos), devida em relação a cada adição de mercadorias às DI, observados os limites fixados pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia. Parágrafo único. A alteração promovida no caput abrange a correção monetária pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) para o período de dezembro de 1998 a fevereiro de 2021.” Esta alteração somente entrará em vigor em 1º de junho de 2021. A partir da vigência da revogada Portaria MF nº 257, de 20 de maio de 2011, diversos contribuintes ajuizaram medidas judiciais para a discussão do abusivo e desproporcional reajuste dos valores legais da Taxa Siscomex por meio de norma infralegal do extinto Ministério da Fazenda. Apesar da jurisprudência dos Tribunais Federais e Superiores favorável à tese dos contribuintes, no sentido da ilegalidade/inconstitucionalidade do aumento da Taxa SISCOMEX, foi somente em 2020 que o Supremo Tribunal Federal resolveu, definitivamente, a questão. Na oportunidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 1258934, que teve repercussão geral reconhe- cida (tema 1085), reafirmou a jurisprudência do Tribunal, autorizando o Poder Executivo a atualizar os valores da taxa fixados em lei em percentual não superior aos índices oficiais de correção monetária. Enquanto na Portaria o reajuste foi realizado com base no IPCA, muitas são as decisões judiciais, inclusive transitadas em julgado, que afastaram com- pletamente o reajuste ou o conferiram com base no INPC, o que importa em valores inferiores ao IPCA. Ou seja, com a decisão do Supremo Tribunal Federal e a publicação da nova Portaria, é possível que a União Federal passe a defender nas ações judiciais que discutem o tema a atualização da Taxa Siscomex pelo IPCA. Receita Federal flexibiliza cumprimento do RECOF e RECOF-SPED Visando a diminuir os impactos econômicos decorrentes da pandemia de COVID-19 para os beneficiários dos regimes de RECOF e RECOF-SPED, foi editada a IN RFB nº 2.019/2021, flexibilizando algumas regras. O percentual de produtos industrializados a serem exportados, possuindo ou não mercadorias admitidas no Regime com suspensão de tributos, foi reduzido para 50% do valor total das mercadorias admitidas no regime, e a obrigatoriedade de aplicar anualmente mercadorias admitidas no regime na produção de mercadorias a serem exportadas também foi reduzido de 70% para 50%. Tais percentuais foram reduzidos para os períodos de apuração de regimes encerrados entre 1º de maio de 2020 e 30 de abril de 2022. Além disso, os prazos de vigência dos regimes ou a sua prorrogação, no caso de mercadorias admitidas no regime entre o dia 1º de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2021 foram acrescidos de 1 ano. A IN está em vigor desde a data da sua publicação e já produzirá efeitos para os beneficiários do RECOF e RECOF-SPED a partir de 1º de maio.

Tributário Internacional

Desafios da economia digital e a nova diretiva adotada pela União Europeia

Em meio ao crescimento do comércio online mundo afora, o uso de plataformas digitais para vender bens ou prestar serviços tem desafia- do o controle dessas transações pelas autoridades fiscais. No Brasil, por exemplo, o projeto de lei apresentado em 2020 para criação da contribuição sobre bens e serviços (CBS, PL nº 3.887) es- tabelecia a responsabilidade solidária das plataformas digitais (aplica- tivos) domiciliadas no exterior pelo recolhimento da contribuição, em relação às operações realizadas por seu intermédio. Para implementar essa obrigação, o texto previa uma obrigação acessória de cadastra- mento das plataformas em um sistema ainda a ser desenvolvido e divulgado pela Receita Federal. Em paralelo a esse cenário ainda incipiente no Brasil, o Conselho da União Europeia adotou uma diretiva – a “DAC 7” – alteradora da Diretiva 2011/16/EU relativa à cooperação administrativa em matéria tributária. O foco da DAC 7 é a obtenção de informações (como recei- ta de vendas) relativas às operações realizadas através de plataformas digitais, bem como sua troca entre as autoridades fiscais dos países- -membros da União Europeia. Com isso, a partir de 1º de janeiro de 2023, os chamados “operadores de plataforma reportante” deverão prover às autoridades fiscais de seu país-sede do bloco informações sobre o “vendedor sujeito a comu- nicação”, tais como a “contrapartida” (receita) paga pela prestação de uma “atividade relevante” – essas terminações são próprias da versão portuguesa da diretiva. Com isso, as autoridades fiscais europeias poderão cobrar das platafor- mas digitais lá domiciliadas informações sobre operações que, juridica- mente, são efetuadas pelos comerciantes, e não pelos aplicativos. Noutro cenário, essa atribuição de responsabilidade às plataformas levanta questionamentos. Alguns estados brasileiros possuem normas análogas no tocante ao ICMS que, uma vez devido em uma operação feita via marketplace, mas sonegado pelo vendedor, pode ser cobrado da plataforma digital por estados como Rio de Janeiro, se a plataforma for ali domiciliada. Traçando paralelo com a nova DAC 7, é como se a Holanda cobrasse de uma plataforma brasileira o VAT sonegado por um residente holandês, cadastrado como vendedor na plataforma. Diferentemente, o que a DAC 7 propõe – seus termos devem ser in- ternalizados na legislação de cada país-membro – é que as plataformas digitais domiciliadas em Estados não membros da União Europeia também forneçam às autoridades fiscais europeias informações sobre os valores transacionados, desde que: (a) tenham hospedado transações envolvendo “vendedor sujeito a comunicação” (isto é, domiciliado na UE); e (b) o país de domicílio da plataforma já não tenha, com o país europeu de domicílio do vendedor, acordo equivalente de troca de informações – o Brasil possui acordos nesse sentido com diversos países europeus.

Ao que indica o texto, o enforcement dessa obrigação caberá a cada Estado-membro envolvido na transação, que deverá exigir da plataforma digital não residente para fins fiscais na União Europeia o registro perante sua autoridade competente, para permitir que a plataforma desenvolva atividade comer- cial dentro da UE. Ao que parece, semelhante posição poderia ser adotada pela Receita Federal para fins de cobrança da CBS ou de tributos que, no âmbito da nova econo- mia digital, trazem desafios cada vez maiores à alocação justa de base tributável entre diferentes jurisdições. Diante ainda de diversas propostas de digital service tax no Brasil (PL nº 2.358/2020 especialmente), resta acompanhar como se dará a internalização da DAC 7 em cada país-membro da União Europeia, especialmente com foco sobre as obrigações envolvendo marketplaces não residentes em países- -membros, para confirmar se há algum ponto de atenção para essas empresas.

Fique de Olho

Projeto de Lei Complementar trata da incidência do ITCMD sobre heranças e doações advindas do exterior Em 17 de março, foi apresentado na Câmara dos Deputa- dos o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 37/2021, de autoria do deputado Hildo Rocha (MDB-BA), que estabele- ce a cobrança de Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), com alíquota limitada a 8%, sobre heranças e doações de bens localizados no exterior. O PLP nº 37/2021 pretende afastar conflitos de competência na cobrança do tributo. Com apenas três artigos, o projeto regulamenta o artigo 155, § 1º, inciso III, da Constituição Federal, para esta- belecer critérios de distribuição de competência entre os estados e o Distrito Federal na cobrança do ITCMD nas hipóteses em que (a) o doador tiver domicílio ou residência no exterior; (b) os bens deixados em herança ou testamento estiverem no exterior; (c) aquele que deixou a herança tinha domicílio ou residência no exterior; ou (d) a herança vier de pessoa cujo inventário tenha tramitado no exterior. Em 05/05/2021 o PLP nº 37/2021 foi apensado ao PLP nº 363/2013, sem movimentos adicionais desde então. Con- tudo, o projeto merece atenção, pois, se aprovado, impac- tará diretamente alguns contribuintes e os cofres públicos estaduais. Distribuído projeto de lei que visa instituir a CIDE-Internet Em 01/03/2021, foi distribuído o Projeto de Lei nº 640, de autoria do deputado Filipe Barros do PSL/PR. O Projeto de Lei visa instituir a CIDE sobre a receita bruta de serviços digitais de disponibilização, distribuição, divulgação ou fornecimento de conteúdo por intermédio da internet. O Projeto prevê que a exploração econômica da atividade ora tributada poderá ocorrer por intermédio de (i) publicidade; (ii) direcionamento de conteú- do; (iii) plataforma de pagamento; (iv) patrocínio; (v) incentivo ou direcionamento à utilização de serviço, dentre outros. A base de cálculo da contribuição corresponde à receita no ano-calendário da exploração econômica da disponibilização, distribuição, divulgação ou for- necimento de conteúdo na internet no país, mesmo que auferida no exterior, podendo ser considerada para cálculo a quantidade de acessos, de usuários ou de assinantes ou o volume do fluxo de dados. A alíquota da CIDE prevista pela proposta é de 3%, devendo o pagamento ser feito até o último dia útil do mês de abril do ano-calendário subsequente. Dessa forma, resta cada vez mais evidente a intenção do governo em aumentar a tributação do setor de tecnologia. No mesmo sentido, outros Projetos de Lei com o mesmo cunho tramitam na Câmara, quais sejam: (i) PLP nº 218/2020; (ii) PLP nº 131/2020; e (iii) PL nº 2.358/2020 (este último seme- lhante aos Digital Service Taxes já vigentes em países europeus). -

Este boletim é um informativo da área de Direito Tributário de TozziniFreire Advogados.

SÓCIOS RESPONSÁVEIS PELO BOLETIM: Gustavo Nygaard Christiane Alvarenga Erlan Valverde Jerry Levers de Abreu Lisandra Pacheco Rafael Mallmann Renata Emery Ricardo Maitto do) ; Miriam Zomer; Mohamed Ajufaan. Pat Whelen. Sahand Hoseine; Mariana Heinz; Eli Kazuyuki Hayakasa (WikiCommons). Eli Kazuyuki Hayakasa Heinz; Hoseine; Mariana Pat Whelen. Sahand do) ; Miriam Zomer; Mohamed Ajufaan. Thiago Medaglia Oliveira (Ag. Sena Marcos Pajola; Marco Rasyd; Karl Pawlowicz; Lua Pramos; Fikri Costa; Davi Katsumata; Caroline Imagens: Vinicius Jucá Mais informações tributárias em: tozzinifreire.com.br/blog/tributário/ Colaboraram para este boletim: Adriana dos Santos Ana Flavia Neves Lambiasi André Fittipaldi Bernardo Mascarenhas Mardini Bruno Rodrigues Teixeira de Lima Caio Sicchieri Albarello Camila Thiebaut Bayer Lannes Camilla Botaro Sanchez Camilla Pugliese Udiloff Carlos Renato Vieira do Nascimento Caroline Rosado Rodrigues de Mattos Junqueira Gabriela Cargnin Franzói Gabriela Laís Dias Maier Ivy Bergami Goulart Barbosa Julia Fiqueiredo Laviola Simoes de Carvalho Juliana Dutra da Rosa Lucca Peracchi Pinheiro Machado Matheus Luiz Maciel Holanda Paulo Henrique Ligori Figueiredo Pedro Kulmann de Oliveira Pietro Reo Donghia Rondo Thuany Campbell Brisolla William Guimaraes Cyrelli

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