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Iris Helena

SUMÁRIO

RECUPERAÇÃO DUVIDOSA- O Popular TELETRABALHO NA PÓS-PANDEMIA - O Popular STF FORMA MAIORIA PARA MANTER ORDEM DE PRISÃO DE LÍDER DO PCC - O Popular A HORA DA 2ª INSTÂNCIA – Folha de São Paulo BOLSONARO TRANSFORMA ESTRUTURA DO GOVERNO EM APARELHO POLÍTICO – Folha de São Paulo EQUIDADE NO MERCADO FINANCEIRO – Folha de São Paulo INDICADO POR BOLSONARO AO SUPREMO, KASSIO FOGE DO PADRÃO DOS DEMAIS MINISTROS DA CORTE – Folha de São Paulo STF FORMA MAIORIA PARA MANTER ORDEM DE PRISÃO DE ANDRÉ DO RAP, QUE ESTÁ FORAGIDO – Folha de São Paulo COM RECADOS, STF VOTA POR PRISÃO DE TRAFICANTE- Correio Braziliense PARECER FAVORÁVEL A KASSIO MARQUES - Correio Braziliense PROFESSOR, HERÓI DA PANDEMIA - Correio Braziliense CORTE ESPECIAL DO STJ PODERÁ REDISCUTIR APLICAÇÃO DA TAXA SELIC EM DÍVIDAS CIVIS – Valor Econômico STJ VOLTA A ANALISAR CORREÇÃO DE EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO – Valor Econômico DESTAQUES – Valor Econômico O PRIMEIRO ANO DO PROTOCOLO DE MADRI – Valor Econômico DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 2 de 24

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 15.10.2020 – PÁG.3

Recuperação duvidosa

Walter Chaves Marim

A recuperação econômica, enquanto o presidente da República e o ministro da Economia permaneciam de bocas fechadas, vinha em ritmo até superior ao esperado, em decorrência dos auxílios para pessoas mais pobres, assalariados formais, estados e municípios. A sustentação deste risco sempre foi incerta, pois o gasto público teria de ser cortado.

No entanto, a partir do momento que o governo percebeu, devido às pesquisas, significativa recuperação na popularidade do presidente da República, as ações políticas passaram a ser direcionadas para a implantação de um plano de auxílio-renda permanente para a população mais carente de uma forma mais robusta, com valores, significativamente, maiores que os da Bolsa Família, inclusive com mudança de nome para ter a marca do governo Bolsonaro. Aí começaram a surgir os problemas para financiar este plano, mais robusto financeiramente.

A questão do auxílio-renda para a população mais carente com o objetivo de reduzir a profunda desigualdade socioeconômica existente na nossa sociedade deveria ser tratada como um plano de Estado e não como projeto de governo para elevar a popularidade do presidente.

Diante disso, o que se observa é uma contínua tentativa desesperada do governo em obter estes recursos, tanto que a todo momento lança-se balão de ensaio com as mais estúpidas e injustas propostas, do ponto de vista social, para sentir a reação da sociedade. Com imediata reação negativa, parte-se para outra tentativa.

No entanto, se se tratasse de um governo sério com projetos visando colocar o Brasil na rota do crescimento e da justiça social, seria fácil perceber que a solução está nas reformas administrativa, tributária, política, etc, sem enganação ou manipulação.

Estas reformas são necessárias e indispensáveis, pois além de corrigir nossa injusta estrutura tributária tem- se necessidades de corrigir os astronômicos gastos públicos onde, em 2019, o conjunto dos gastos da união (despesas primárias e juros), estados e municípios representava quase 50% do PIB.

Assim, devido esta balbúrdia criada pelo propósito de desenvolver o programa Renda Cidadã, enquanto o governo expõe conflitos internos e o flerte com a irresponsabilidade orçamentária, já degrada a situação financeira do país e das contas públicas.

Com isso, a expectativa de manter baixas as taxas de juros será rapidamente revertida caso o governo recorra a manobras que burlem o teto de gastos ou, simplesmente, o ameace.

Os temores estão gradativamente se acentuando com reflexos na bolsa de valores, na cotação do dólar, na redução no fluxo de investimento externo, na saída de investidores estrangeiros e a contínua e persistente DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 24

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Iris Helena elevação da taxa de juros de longo prazo para o governo rolar a dívida interna e realizar novos empréstimos. Só não vê quem não quer. A situação social e financeira do Brasil está se degradando de forma continuada.

Também, a inépcia do governo provoca gratuita tensão política prejudicando a tramitação das reformas fundamentais e o crescimento econômico.

Tudo isso traz a possibilidade de manutenção da economia estagnada, aprofundamento das desigualdades sociais, evasão de divisas e inflação.

Deve-se, de qualquer maneira, conscientizar-se de que viabilizar a manutenção dos juros baixos com crescimento da economia são cruciais para uma retomada mais duradoura do nosso processo de desenvolvimento para a recuperação de várias décadas de estagnação econômica. Trata-se de condições que um governo minimamente racional não pode desconhecer.

Teletrabalho na pós-pandemia

Ruzell Nogueira

Em razão da pandemia do novo coronavírus, a adoção do teletrabalho tornou-se, em muitos casos, a única alternativa para a continuidade na prestação de serviços diversos, tanto na esfera pública quanto na iniciativa privada. Modelo de expediente que há anos ensaiava um lugar ao sol, o trabalho remoto tornou-se uma transformação obrigatória como consequência de uma calamidade global e está tendo a chance agora de mostrar suas inúmeras potencialidades.

Segundo o IBGE, em 2018 o número de pessoas trabalhando em regime de home office foi de 3,8 milhões no Brasil. Já em plena pandemia, entre 21 e 27 de junho, nova pesquisa do instituto estimou que 8,6 milhões de brasileiros estavam trabalhando remotamente. Para o empregador, redução de custos com instalações, mobiliário e outras despesas administrativas figuram como as maiores vantagens.

Já para o empregado, os benefícios mais citados são a comodidade, flexibilização de horários, redução de custo e de tempo gasto no deslocamento até o local da atividade laboral, além da proximidade junto ao núcleo familiar. Há reclamações, contudo, relativas à perda da privacidade em casa e a cobrança de extensão do horário de trabalho para além do estabelecido em contrato.

O avanço das tecnologias de comunicação e informática são outros elementos facilitadores, tanto para empregadores quanto para empregados. Investimentos por parte do empregador em treinamento, oferta de ferramentas e infraestrutura para o teletrabalho e o reembolso ao empregado por gastos em energia elétrica, uso da internet e de telefonia devem ser computados na conta final das empresas e organizações e não como parte da remuneração dos trabalhadores.

Obviamente, os índices de produtividade sob o teletrabalho ainda merecem muitos estudos, até porque sua implementação na pandemia se deu de forma urgente, sem maiores planejamentos. Porém, de um modo geral, o impacto tem sido positivo, abrindo mais espaço para as atividades laborais remotas. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 4 de 24

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Iris Helena

Atualmente, a legislação é vaga e regula que os gastos do empregado sejam acordados por meio de contrato. Há em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 3.512/2020, que estabelece as obrigações dos empregadores no que diz respeito ao regime virtual e busca suprir as lacunas sobre o assunto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O novo cenário exigirá uma legislação mais abrangente e protetora para ambos os lados, possibilitando, espera-se, mais harmonia nas relações trabalhistas sob este regime.

JORNAL – O POPULAR – 15.10.2020 – PÁG.7

STF forma maioria para manter ordem de prisão de líder do PCC Seis membros do Supremo votaram a favor da decisão de de revogar o habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria ontem para manter a decisão do presidente da corte, ministro Luiz Fux, de revogar o habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio a André de Oliveira Macedo, 43, conhecido como André do Rap. Ele é um dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e está foragido.

Votaram nesse sentido, além de Fux, os ministros , , Luís Roberto Barroso, e . A sessão foi encerrada e o julgamento será concluído hoje.

Marco Aurélio mandou soltar o traficante com base no parágrafo único do artigo 316 do Código de Processo Penal (CPP), que impõe à Justiça a necessidade de revisar, a cada 90 dias, os mandados de prisão preventiva.

“Uma vez não constatado ato posterior sobre a indispensabilidade da medida, formalizada nos últimos 90 dias, tem-se desrespeitada a previsão legal, surgindo o excesso de prazo”, argumentou.

Fux, por sua vez, julgou procedente uma suspensão de liminar apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e revogou o despacho do colega. O presidente do tribunal afirmou que a soltura do chefe do PCC compromete a ordem pública e que se trata de uma pessoa “de comprovada altíssima periculosidade”.

Segundo o magistrado, André do Rap é investigado por “participação de alto nível hierárquico em organização criminosa” e tem histórico de foragido da Justiça por mais de cinco anos.

Na terça-feira (13), Fux decidiu remeter o caso ao plenário. Além de analisar a forma correta de interpretar o trecho da lei do Código de Processo Penal, os ministros também devem discutir os limites do poder do presidente da corte para suspender decisões de colegas. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 24

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Iris Helena

Primeiro a votar, o presidente Luiz Fux, afirmou que André do Rap “debochou da Justiça” ao fugir logo após ser liberado, no sábado pela manhã.

Fux classificou a revogação de despacho de colega como uma “medida extrema” e “excepcionalíssima”, mas mandou recados a Marco Aurélio, que disse à Folha de S.Paulo que o presidente “adentrou no campo da hipocrisia” ao suspender seu despacho.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 15.10.2020 – PÁG.A2

A hora da 2ª instância

Trapalhada com traficante ao menos reacendeu debate sobre cumprimento de penas

O narcotraficante André Oliveira Macedo, conhecido como André do Rap - Divulgação

A barafunda em torno da desastrada soltura de um líder de quadrilha pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, teve ao menos o mérito de iluminar algumas das principais disfuncionalidades de nossa Justiça.

Salta à vista, em especial, que um perigoso traficante já condenado duas vezes em segunda instância a penas que somam mais de 25 anos de reclusão —nesta semana, a terceira, o Superior Tribunal de Justiça, confirmou o acórdão em um dos processos— encontrava-se preso devido a uma cautelar.

Estivesse o réu cumprindo sua pena, em vez de retido por prisão preventiva, não teria sido tão fácil ter sido libertado e evadir-se.

O remédio para essa situação é conhecido e defendido por esta Folha —encontrar uma forma de restaurar a prisão após a decisão da segunda instância. Há várias possibilidades no tabuleiro.

A maioria dos integrantes do STF poderia, mais uma vez, mudar de ideia e alterar a jurisprudência. O vaivém da corte, porém, não constitui a melhor resposta ao problema.

O ideal seria que o Congresso Nacional se pronunciasse sobre a matéria. Entre as alternativas está aprovar uma emenda que altere o artigo 5º da Constituição, mas a medida é polêmica: alguns juristas entendem que o texto, por tratar de garantias individuais, estaria blindado contra mudanças.

Outro caminho é a chamada emenda Cezar Peluso (ex-ministro do STF), que deixa intacto o artigo 5º e modifica o sistema recursal. Com isso, o trânsito em julgado se daria após a segunda instância; o acesso a cortes superiores seguiria como hoje, mas não contaria como continuação do processo.

De toda maneira, o cumprimento da pena após a segunda instância colocaria o Brasil em linha com a prática da esmagadora maioria das democracias ocidentais —e teria o efeito adicional de reduzir a proporção de presos provisórios no país, que anda em torno dos 40%. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 24

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Iris Helena

Este último aspecto levou o Congresso a aprovar, no ano passado, uma norma que obriga as autoridades a renovarem, a cada 90 dias, a fundamentação da prisão provisória. Foi esse o dispositivo usado por Marco Aurélio para soltar o traficante André do Rap.

O objetivo da regra é dos mais nobres. Detentos pobres e sem acesso a bons advogados são frequentemente esquecidos por anos no sistema carcerário, sem julgamento. No episódio recente, faltou bom senso em sua aplicação.

Não por acaso, o Supremo já formou nesta quarta-feira (14) maioria para manter a prisão preventiva do criminoso, agora foragido.

Outro vício escancarado na novela é que os ministros da corte funcionam como 11 ilhas, que não hesitam em usar seus amplos poderes mesmo contra o entendimento do colegiado. Essa questão, por envolver prerrogativas e vaidades, é bem mais difícil de resolver.

Bolsonaro transforma estrutura do governo em aparelho político

TV Brasil e Itamaraty operam a favor de agenda ideológica e projeto particular

Bruno Boghossian

Em setembro, o Itamaraty reuniu um filósofo, um empresário e um jornalista para discutir “a conjuntura internacional no pós-coronavírus”, num seminário transmitido pela internet. Ninguém naquele trio era um especialista renomado no assunto. O principal atributo dos três era o bolsonarismo fervoroso.

O ministério serviu de palanque para críticas à OMS, às medidas de distanciamento e ao papel da China na economia global. A certa altura, o professor de filosofia alegou que máscaras eram inúteis para conter a pandemia –embora estudos médicos digam o contrário. O YouTube demorou, mas removeu esse trecho do vídeo de sua biblioteca.

Em vez de atender ao interesse público, a máquina federal é explorada pelo governo para servir às ambições políticas de . A desinformação e o personalismo ocuparam uma estrutura que opera a serviço de uma agenda ideológica e de projetos particulares.

O momento em que o narrador da TV Brasil mandou um abraço para Bolsonaro durante a transmissão de Peru x Brasil, na terça (13), é um sintoma do uso dessas engrenagens. Na campanha, o então candidato prometia acabar com a emissora. Agora, o canal cita o chefe nominalmente e faz propaganda da negociação do governo para exibir o jogo. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 7 de 24

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Iris Helena

Esses abusos têm a mesma natureza do aparelhamento que trata espaços públicos como plataformas de um grupo específico. Nesta semana, o presidente da Fundação Cultural Palmares retirou de uma lista de personalidades negras os nomes de duas críticas do governo: Marina Silva e Benedita da Silva. Ele questionou a contribuição da dupla àquela causa. Já o estrago produzido pelo chefe do órgão é mais do que nítido.

É natural que políticas públicas sejam desenhadas de acordo com as visões de quem está no poder. Afinal, governantes são eleitos justamente para implantar suas ideias. A corrupção desse princípio ocorre, no entanto, quando dinheiro público e servidores são desviados para satisfazer vontades políticas.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 15.10.2020 – PÁG.A3

Equidade no mercado financeiro

Referências femininas são essenciais para encorajar mulheres a investir

Marta Pinheiro

Diretora de ESG (‘Environmental, Social and Governance’ - governança ambiental, social e corporativa) na XP Inc.

É surpreendente —para não dizer chocante— saber que nós, mulheres, só começamos nossa trajetória rumo à independência financeira há pouco mais de 50 anos. O dinheiro existe há séculos, o primeiro banco brasileiro foi fundado há mais de 150 anos, mas apenas em 1962, pelo Estatuto da Mulher Casada, as mulheres conquistaram o direito de abrir conta em banco sem depender da autorização do parceiro. A igualdade completa dos direitos civis só aconteceu com a Constituição de 1988, o que ajuda a explicar o atraso do mercado financeiro em equidade de gênero e, claro, a urgência em falar sobre o tema.

De meados do século passado para cá, muitos outros espaços foram ocupados por mulheres. Ainda em 1962, também conquistaram o direito de trabalhar fora e, para crescer na carreira, passaram a buscar formação acadêmica. Desde então, essa participação vem crescendo e se tornou predominante —o Censo Escolar de 2016 mostra que 57,2% das matrículas em universidades são preenchidas por mulheres.

No entanto, o ímpeto para quebrar barreiras e seguir adiante não tem sido acompanhado pelas oportunidades e, principalmente, por salários, que seguem inferiores. Essa situação ganha contornos ainda mais dramáticos se considerada a condição da mulher negra no país. A pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, conduzida pelo IBGE, revela que, em 2018, pretas e pardas receberam 44,4% dos salários de homens brancos, os mais bem remunerados do país.

Contudo, essa é uma pequena parte de uma conversa que envolve milhões de outros desafios. Discutir equidade de gênero e a situação particular da mulher negra, que sofre com todo tipo de precarização na DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 24

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Iris Helena inserção social e econômica no Brasil em qualquer comparação à mulher branca, já não responde a todo o escopo de discussões sobre gênero feminino.

Diante deste cenário complexo e desafiador, não é difícil entender os motivos que levam a uma participação tão tímida das mulheres no mercado financeiro, ainda que venha crescendo. Neste ano, a B3, Bolsa de Valores brasileira, registrou presença recorde de CPFs femininos, correspondendo a 25,42% do total de investidores em setembro. No Tesouro Direto, investimento mais conservador, esse percentual é maior: 32% em agosto, mas ainda é muito pequeno perto da representatividade na população brasileira (51%).

Mais que investidoras, é fundamental que mulheres ocupem também seus espaços dentro do setor. Quando uma empresa assume o compromisso de equiparar homens e mulheres em seu quadro de funcionários, como fez recentemente a XP Inc., ela estimula jovens a buscar formação em cursos predominantemente masculinos, empodera profissionais que já ocupam esses espaços a se tornarem referência e estimula as mulheres que têm medo de começar a investir.

Ao evoluir nesse aprendizado, damos um passo em direção à independência financeira e, consequentemente, à liberdade de escolher os próprios caminhos, direito conquistado com uma luta contínua e que ainda está longe de chegar ao equilíbrio desejado. Sendo assim, passou da hora de, juntas, avançarmos nessa jornada.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 15.10.2020 – PÁG.A12

Indicado por Bolsonaro ao Supremo, Kassio foge do padrão dos demais ministros da corte

Juiz piauiense é mais novo que a média de idade dos empossados desde 1988 e vem de uma região pouco contemplada na composição do tribunal

Guilherme Garcia Diana Yukari Fábio Takahashi

Se confirmado para o STF (Supremo Tribunal Federal) como quer o presidente Jair Bolsonaro, o juiz federal Kassio será um ministro com algumas características diferentes do padrão da corte.

Kassio foi indicado pelo presidente para assumir um posto na mais alta instância do Judiciário na vaga de Celso de Mello, que se aposentou nesta semana. O escolhido precisa ser aprovado pelo Senado, em sabatina marcada para o próximo dia 21.

Kassio, 48, é seis anos mais novo que a idade média dos ministros quando foram empossados, desde a promulgação da Constituição de 1988.

O juiz federal Kassio Nunes Marques, indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro - Divulgação/TRF 1ª Região DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 9 de 24

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Iris Helena

O atual juiz federal do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) nasceu no Piauí. Neste momento, nenhum dos 11 ministros é do Nordeste. Desde 1988, foram apenas dois escolhidos dessa região, nenhum piauiense. O estado contou até aqui com apenas 5 dos 167 ministros.

O estado não possui um ministro no STF desde 1982, quando assumiu Aldir Passarinho, indicado pelo então presidente João Baptista Figueiredo, ainda durante a ditadura militar.

Kassio se formou em direito na Universidade Federal do Piauí, instituição que ainda não emplacou nenhum graduado na corte.

Um padrão que o magistrado segue é o gênero. Foram apenas três ministras na corte até hoje.

Antes de anunciar Kassio como seu escolhido, Bolsonaro disse que um dos requisitos para a escolha era que o seu indicado deveria "tomar tubaína" com ele, ou seja, seria um nome pelo qual ele tivesse simpatia, não bastava apenas um ótimo currículo.

O presidente afirmou também que seria alguém terrivelmente evangélico, o que não se confirmou, pois Kassio é católico.

Nos bastidores políticos, a escolha pelo piauiense é vista como afago de Bolsonaro ao Nordeste, região onde ele perdeu para Fernando Haddad (PT) na eleição presidencial de 2018.

A indicação também tem sido apontada como forma de cultivar o apoio do centrão no Congresso, que apoia o nome de Kassio.

O magistrado tem sido criticado pela oposição por ter colocado em seu currículo cursos no exterior que não existem e ter copiado trechos de trabalho de outro juiz em sua tese de doutorado.

A escolha

Controversa, a forma de escolha dos ministros do STF é praticamente a mesma desde a criação da instituição, em 1891, com indicação do presidente da República e sabatina/aprovação do Senado (houve breves exceções no processo, especialmente nos períodos ditatoriais).

O sistema é alvo de críticas de especialistas do direito e de políticos. Um dos principais pontos destacados é o tamanho do poder que o presidente acumula —a chefia do Executivo e a indicação dos membros da mais alta instância da Justiça.

Outro problema citado é a falta de objetividade para determinar quem pode ser indicado. A Constituição só impõe atualmente que o cidadão deva ter entre 35 e 65 anos, notável saber jurídico e conduta ilibada, sem detalhar o que significam essas expressões.

A sabatina do Senado, que poderia minimizar as deficiências, não é suficiente, dizem os críticos. Apenas cinco nomes foram vetados pelo Legislativo até hoje, todos eles em 1894, durante o governo de Floriano Peixoto. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 24

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Iris Helena

Em pesquisa feita em 2015 na PUC-Rio sobre o processo de escolha dos ministros do STF, o desembargador do Trabalho Paulo Marcelo de Miranda Serrano encontrou 46 projetos no Congresso que previam alterações no sistema.

O pedido que mais apareceu foi de limitação do poder do presidente para a escolha dos ministros da corte.

A pesquisa mostrou também que o sistema brasileiro, fortemente inspirado no dos Estados Unidos, é semelhante a de países latino-americanos como Argentina e México.

Serrano observa que o modelo de escolha americano foi importado para o Brasil, desconsiderando que o Legislativo nos EUA sofre menos influência do Executivo do que no Brasil.

Já na Áustria, sistema que inspirou muitos países europeus, a escolha dos nomes é dividida entre Executivo, Legislativo e entidades do direito.

Após entrevistas com legisladores e ministros da corte, além de análise de dados, Serrano fez sugestões de como o sistema brasileiro poderia ser aperfeiçoado.

Uma ideia é implementar a consulta prévia do nome a entidades ligadas ao direito, como ocorre nos Estados Unidos (consulta sem poder de veto, mas cuja avaliação é considerada na análise do Senado).

O desembargador, porém, conclui o trabalho, que lhe rendeu o título de doutor em ciências sociais, dizendo que “ao final, parece que sei menos sobre o tema do que antes”, tamanha a complexidade.

Se há críticas ao sistema, há também defensores proeminentes. Na mesma pesquisa, o ministro Luís Roberto Barroso foi entrevistado e afirmou que “o modelo de escolha dos ministros do STF é o melhor que tem disponível no mercado. Qualquer outra variação que eu tenha lido ou ouvido até agora, nenhuma delas tem me parecido melhor”.

Segundo ele, o poder nas mãos do presidente traz junto grande responsabilidade pessoal pelas escolhas, o que se perde quando a seleção de nomes é diluída entre Executivo, Legislativo e outras instituições (modelo de muitos europeus).

Um trabalho de pesquisadores da Universidade de Brasília analisou o comportamento dos oito ministros indicados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o maior número de indicações de um presidente desde a redemocratização.

O período foi escolhido por ser um bom teste de quanto o Supremo pode mudar devido ao grande poder concentrado em um único chefe do Executivo.

Em síntese, os pesquisadores Maria Fernanda Jaloretto e Bernardo Mueller não encontraram diferença importante no comportamento da corte após essa leva de ministros indicados por Lula. Foram considerados no estudo as votações de ADIs (ações diretas de inconstitucionalidade). DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 24

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“Como os juízes não podem ser removidos pelo presidente após serem colocados no STF, eles têm independência para decidir contra o presidente quando julgarem que isso seja o correto”, disse Mueller.

Ele aponta como exemplo de independência entre os Poderes o processo de impeachment da presidente (PT). Mesmo com ministros indicados por ela e por Lula, o processo de afastamento recebeu amparo na corte.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 15.10.2020 – PÁG.B3

STF forma maioria para manter ordem de prisão de André do Rap, que está foragido

Traficante que integra cúpula do PCC foi libertado dia 10 de outubro e é procurado pela Interpol

Matheus Teixeira

O STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta quarta-feira (14) para manter a decisão do presidente da corte, ministro Luiz Fux, de revogar o habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio a André de Oliveira Macedo, 43, conhecido como André do Rap.

Ele é um dos líderes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e está foragido. Fux disse que o traficante “debochou da Justiça” ao fugir logo após ser liberado, no sábado (10) pela manhã.

Acompanharam a posição do presidente do tribunal os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Dias Toffoli. A sessão foi encerrada e o julgamento será concluído nesta quinta-feira (15).

A maioria dos magistrados fez ressalvas à possibilidade de o líder da corte revogar despacho de um dos colegas.

O fato de haver precedente das duas turmas da corte no sentido contrário à liberdade concedida por Marco Aurélio e o nível de periculosidade do traficante, porém, prevaleceram.

André Oliveira Macedo, conhecido como André do Rap, solto sábado, pode estar no Paraguai ou na Bolívia - Divulgação

Barroso, por exemplo, reforçou a necessidade de o STF aprovar uma mudança no regimento que torne automático e obrigatório o julgamento no plenário virtual dos despachos individuais. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 24

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Iris Helena

Já Rosa Weber disse que iria superar esse fato "apenas neste caso concreto" e ponderou que seria necessária uma previsão expressa de poder ao presidente para que fosse permitida a revisão de entendimento de outro ministro.

Fux citou que em breve deve ser discutida em sessão administrativa uma nova regra para acelerar a análise pelo conjunto de ministros quando há decisões monocráticas.

Outro ponto debatido foi a interpretação adequada do parágrafo único do artigo 316 do Código de Processo Penal, que foi incluído na lei pelo pacote anticrime aprovado no Congresso e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Marco Aurélio afirmou que era correto conceder a liberdade porque o investigado não tinha tido o direito de revisão da preventiva a cada 90 dias, como prevê a legislação.

"Uma vez não constatado ato posterior sobre a indispensabilidade da medida, formalizada nos últimos 90 dias, tem-se desrespeitada a previsão legal, surgindo o excesso de prazo", argumentou.

Fux, porém, já havia suspendido essa ordem no sábado. O presidente da corte julgou procedente uma suspensão de liminar apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e revogou o despacho do colega.

A decisão, porém, não foi dada a tempo de evitar a fuga do traficante.

O presidente do tribunal afirmou que a soltura do chefe do PCC compromete a ordem pública e que se trata de uma pessoa "de comprovada altíssima periculosidade".

A maioria dos ministros seguiu a mesma linha e afirmou que a liberdade ao preso preventivo não é automática após os 90 dias.

Moraes, por exemplo, disse que a interpretação da detenção preventiva citada no artigo 316 é diferente da legislação que trata da prisão temporária.

"Não há automaticidade, não se fixou prazo fatal. A lei não diz 'a prisão preventiva tem 90 dias; se quiser prorrogar, decrete de novo'. Não diz isso. Ela diz que tem dever ser feita uma análise. E a análise pressupõe as peculiaridades de cada um dos casos."

O ministro sugeriu a fixação de uma tese que vede a liberdade automática dos presos caso a preventiva não tenha sido revisada. Também propôs que o STF fixe que o dispositivo não se aplica às prisões cautelares decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 13 de 24

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Moraes ressaltou que André do Rap é um criminoso de altíssima periculosidade que tem duas condenações em segunda instância que somam uma pena de pouco mais de 25 anos.

"Ele foi preso, numa vida nababesca, numa casa de frente ao mar. Com ele foram encontrados um helicóptero no custo de R$ 8 milhões, duas grandes embarcações que usava para levar drogas e passear, cada uma de R$ 5 milhões, e inúmeros outros bens", disse.

Primeiro a votar, Fux classificou a revogação de despacho de colega como uma medida extrema e excepcionalíssima, mas mandou recados a Marco Aurélio, que disse à Folha que o presidente "adentrou no campo da hipocrisia" ao suspender seu despacho.

Fux lembrou que em outras duas situações, uma em 2000 e outra em 2018, o chefe da corte teve de sustar os efeitos de decisões de Marco Aurélio.

A primeira foi de responsabilidade do ex-ministro Carlos Velloso, que suspendeu habeas corpus concedido ao ex-banqueiro Salvatore Cacciola. O despacho do então presidente da corte ocorreu cinco dias depois da soltura e também viabilizou a fuga do preso.

A segunda diz respeito ao ministro Dias Toffoli, que, à frente da corte, anulou decisão do colega de mandar soltar todos os réus que estavam presos por terem sido condenados em segunda instância.

O presidente do STF também voltou a afirmar que o habeas corpus não poderia ser concedido porque o pedido dos advogados sob argumento de falta de renovação da prisão preventiva nem sequer tinha sido apreciado pelas instâncias inferiores.

Toffoli argumentou que até mesmo a decisão de Marco Aurélio de conceder o habeas corpus estava sendo descumprida quando Fux determinou a ordem de prisão, uma vez que o despacho concedia a liberdade, mas obrigava o traficante a permanecer na residência indicada à Justiça.

A ministra Rosa Weber votou para manter a decisão de Fux, mas foi uma das mais enfáticas em fazer ressalvas à possibilidade de o chefe da corte revogar despachos de colegas.

"Parece-me indispensável a existência de texto normativo expresso a consagrar a competência do presidente para suspender os efeitos de decisão monocrática de seus pares, relativamente aos quais não há qualquer hierarquia, ou ao menos de decisão deste plenário explícita a respeito", disse. No entanto, ela afirmou que decidiu superar essa questão "apenas neste caso concreto".

Já Barroso observou que André do Rap tem duas condenações em segunda instância e que, se o STF não tivesse derrubado essa previsão, essa polêmica não teria existido.

"Esse caso confirma a minha convicção de que a decisão que impediu a execução de condenação depois do segundo grau foi um equívoco que o Poder Legislativo precisa remediar", disse.

Ele criticou a existência de uma "cultura da procrastinação e da impunidade que não deixam o processo acabar". DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 14 de 24

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O ministro Fachin defendeu que o dever de rever a prisão preventiva a cada 90 dias é do juiz que decretou a detenção.

"A meu sentir, compreendo que a leitura ao referido disposto cinge-se ao órgão que emitiu o decreto prisional, para quem, especificamente, o comando da lei para que seja observada a duração razoável do processo com rigor", observou.

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 15.10.2020 – PÁG.ON-LINE

Com recados, STF vota por prisão de traficante

Maioria dos ministros segue decisão de Luiz Fux e avaliza a manutenção da detenção preventiva de André do Rap. Magistrados, porém, criticam o presidente da Corte por ter suspendido, monocraticamente, o habeas corpus concedido por Marco Aurélio Mello ao criminoso

Renato Souza/Sarah Teófilo

Com seis votos favoráveis, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria pela manutenção da prisão do traficante André Oliveira Macedo, o André do Rap, apontado como um dos líderes da facção Primeiro Comando Capital (PCC). A decisão de ontem contraria liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, que permitiu a soltura do criminoso, no sábado passado, e que foi derrubada, no mesmo dia, pelo presidente da Corte, Luiz Fux. O traficante está foragido. A situação gerou grande desconforto entre os dois magistrados.

Em seu voto, Fux disse que havia elementos suficientes para manter o réu preso. “Trata-se de agente de altíssima periculosidade, conforme comprovado nos autos, condenado em segundo grau, por duas vezes, por tráfico de drogas”, ressaltou. Seguiram o entendimento dele sobre a prisão do traficante os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Rosa Weber e Dias Toffoli. Ainda faltam os votos de , , Cármen Lúcia e o próprio Marco Aurélio Mello. A sessão será retomada hoje.

Alexandre de Moraes destacou que a lei não obriga o juiz a soltar o preso ao vencer o prazo de 90 dias. “Não há automaticidade, não se fixou prazo fatal. A lei não diz: ‘A prisão preventiva tem 90 dias; se quiser prorrogar, decrete de novo’. Não diz isso. Ela diz que há o dever de ser feita uma análise. E a análise pressupõe as peculiaridades de cada um dos casos”, defendeu.

A discussão é em torno do artigo 316 do Código de Processo Penal (CPP), incluído no pacote anticrime aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, no fim do ano passado. Marco Aurélio se baseou nesse trecho da legislação para determinar a soltura do traficante.

Dias Toffoli, por sua vez, ressaltou que, quando há ultrapassagem do prazo previsto no CPP, ele já tomou decisões determinando que o juiz do caso se manifeste a respeito, “analisando a necessidade ou não de manutenção da prisão preventiva”.

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Na sessão, houve críticas ao ato de Fux, que suspendeu a liminar de Marco Aurélio monocraticamente e depois enviou o caso para análise do colegiado. Rosa Weber, apesar de segui-lo no voto, afirmou que é “indispensável a existência de texto normativo expresso a consagrar a competência do presidente para suspender os efeitos de decisão monocrática de seus pares”. “Não há qualquer hierarquia, ou pelo menos de decisão deste plenário explícita a respeito”, afirmou. Já Barroso disse que a decisão de Fux foi uma exceção, devido à urgência da questão, mas frisou que é “atípico e indesejável” a ação do colega. Fachin, por sua vez, afirmou entender que, apesar de não haver hierarquia entre os ministros, como já há orientação majoritária do colegiado, Fux poderia derrubar a liminar do colega, como o fez.

2ª instância Em seu voto, Barroso falou, também, sobre prisão após condenação em segunda instância, tema que está sob avaliação do Congresso por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC). No ano passado, o Supremo decidiu que a detenção só deve ocorrer após o trânsito em julgado, ou seja, quando se esgotarem as possibilidades de recurso do réu.

“Esse caso confirma a minha convicção de que a decisão que impediu a execução de condenação depois do segundo grau foi um equívoco que o Poder Legislativo precisa remediar. De fato, só estamos julgando esse caso porque um réu condenado em instância, em dois processos, a 25 anos de prisão, ainda é considerado, por decisão do STF, como inocente. Nós mantivemos a presunção de inocência de alguém condenado em segunda instância em dois processos criminais”, destacou.

Prisão preventiva

O dispositivo prevê que “o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem”. No seu parágrafo único, traz: “Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar prisão ilegal”.

Entenda o caso

Criminoso foragido O traficante André do Rap teve a prisão temporária decretada em abril de 2014, com outros 10 suspeitos, após a deflagração das Operações Hulk e Overseas pela Polícia Federal. Ele foi detido em 15 de setembro de 2019, após passar cinco anos foragido. À época, foi encontrado pela polícia em uma mansão em Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense. Na última sexta-feira, o criminoso teve o pedido de habeas corpus atendido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF. No dia seguinte, o habeas corpus foi suspenso pelo presidente do STF, Luiz Fux, mas o homem forte do Primeiro Comando da Capital (PCC) já havia deixado a Penitenciária de Presidente Venceslau e está foragido. No fim de semana, a Secretaria de Segurança de São Paulo informou que colocou policiais de vários departamentos em busca do criminoso. O nome dele também consta da lista de procurados da Interpol.

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 15.10.2020 – PÁG.ON-LINE

Parecer favorável a Kassio Marques

Luiz Calcagno/Bruna Lima

Senadores movimentam-se para a definição de duas importantes sabatinas de indicados do presidente Jair Bolsonaro. Uma é a do desembargador Kassio Nunes Marques, que deve ocupar uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e a outra é do secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, cotado para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), apresentou relatório favorável à nomeação de Kassio Marques ao Supremo, mas o desembargador terá de enfrentar, na Casa, a desconfiança de parlamentares por causa das inconsistências no currículo. Ele incluiu no documento um curso de pós-graduação, não confirmado pela Universidad de La Coruña, na Espanha — as informações são de que o juiz participou de um curso de quatro dias na instituição. Além disso, é acusado de plágio. Braga, porém, minimizou as críticas sobre a formação acadêmica de Marques e destacou que o desembargador tem credenciais para o STF. “O indicado apresentou argumentação escrita de forma sucinta, em que demonstra ter experiência profissional, formação técnica adequada e afinidade intelectual e moral para o exercício da atividade de ministro do Supremo Tribunal Federal”, argumentou.

O senador também destacou que “não obstante o extenso catálogo de decisões bem fundamentadas tecnicamente, nas últimas semanas assistimos a uma quantidade significativa de questões sobre a formação do indicado”. “No entanto, não observamos fatos relevantes que pudessem suscitar dúvidas sobre seu saber jurídico ou desabonar sua reputação — estes, sim, requisitos constitucionais para o exercício do cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal”, frisou.

Entre os opositores, o senador Lasier Martins (Podemos-RS), integrante do grupo Muda Senado, ressaltou que “as inconsistências não estão resolvidas”. “São fatos. Fatos não se retiram. À medida que um dos requisitos da Constituição é a conduta ilibada, eu pergunto se é ilibado anunciar cursos de pós que não foram realizados? Realizar plágios de teses de colegas? Ele está no direito de se defender, mas precisa nos convencer de que não cometeu esses erros”, argumentou. Nos bastidores, há uma movimentação intensa para a aprovação de Marques. A sabatina está marcada para 21 de outubro.

Em relação à indicação de Jorge Oliveira ao TCU, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou um mandado de segurança no STF para impedir a sabatina até que exista, formalmente, a vaga no tribunal. O parlamentar argumentou que os senadores não poderão dar início ao rito até que o ministro José Mucio Monteiro Filho deixe a função — ele antecipou a aposentaria para 31 de dezembro.

“O Senado não pode se portar como uma agência de emprego, formadora de cadastro reserva” afirmou Vieira. No documento, o parlamentar pede a concessão de liminar para reconhecer a ilegalidade do ato presidencial, suspendendo, assim, a mensagem com a indicação, bem como a data da sabatina, prevista para 20 de outubro, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O presidente desse colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), apresentou parecer favorável à indicação. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 24

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JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 15.10.2020 – PÁG.ON-LINE

Professor, herói da pandemia

Datas comemorativas exercem papel que vai além de cumprimentos, presentes e palavras bonitas. Elas jogam os holofotes sobre fatos que merecem ser vistos com mais atenção. Por figurarem no calendário, ganham espaço na mídia e sobressaem da normalidade inercial.

Como Jano, o deus de duas caras da mitologia greco-romana, impõem um olhar para o passado e outro para o futuro. Em outras palavras: analisam o que foi feito e traçam os avanços para o aperfeiçoamento contínuo. Daí a relevância do Dia da Mulher, Dia do Trabalho, Dia de Finados, Dia da Abolição da Escravatura.

Hoje é Dia do Professor. Ao lado do médico, que salva vidas, o mestre salva o futuro. Na pandemia, que pegou o mundo de surpresa e as escolas despreparadas, gigantes multiplicaram as forças, buscaram saídas e retiveram os alunos no sistema escolar. Trocaram o pneu com o carro em alta velocidade.

De um lado, familiarizaram-se com a tecnologia — negligenciada nos cursos de pedagogia, cujos currículos olham para o século 20 e ignoram os desafios da contemporaneidade. Prepararam e ministraram conteúdos de forma remota. De outro, ficaram atentos aos excluídos.

Sem acesso a computador ou a internet, eles corriam o risco de ver ampliar-se o fosso da marginalidade. Professores, a exemplo dos médicos que repetem o mantra “nem um a menos”, levaram material impresso para a casa das crianças e orientaram a aprendizagem.

Acionaram ONGs, igrejas, clubes sociais, rádios comunitárias e deram aula ao ar livre para conservar o elo aluno-escola. Muitos pegaram barco para chegar às populações ribeirinhas. Outros, bicicletas, carroça ou o próprio carro. Eles sabem que o evadido do convívio dos livros corre sério risco de figurar na lista dos jovens cujo destino termina com c: caixão ou cadeia.

Os quase 2,5 milhões de docentes brasileiros merecem o reconhecimento do imperador japonês, que só faz reverência ao mestre. Ou as palavras de D. Pedro II, que repetia com sinceridade: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”.

Além dos mestres, os 57 milhões de estudantes, as respectivas famílias e os brasileiros em geral esperam as palavras de Milton Ribeiro. O ministro da Educação deve desculpas à nação. Em entrevista, disse que “ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”. Melhor reconhecer: a pessoa conseguiria ser o que quisesse. Escolheu ser professor. A pandemia serve de prova.

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JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 15.10.2020 – PÁG.E1

Corte Especial do STJ poderá rediscutir aplicação da taxa Selic em dívidas civis

Possibilidade foi levantada em julgamento realizado nesta semana pela 3ª Turma

Por Beatriz Olivon

Moura Ribeiro: “É uma taxa política, daqui a pouco estará em zero e nós não vamos mais contar juros da mora” — Foto: Divulgação

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) poderá rediscutir a aplicação da Selic em dívidas civis. Com a taxa básica no menor patamar histórico, os ministros da 3ª Turma debateram na terça-feira sobre essa possibilidade, em julgamento que discutiu a aplicação de juros de mora em indenização a ser paga por dois engenheiros.

A Selic está hoje em 2%. O patamar de um dígito para o índice, definido pelo Banco Central, é recente no Brasil. Em setembro de 2008, quando a Corte Especial do STJ decidiu pela aplicação da Selic em dívidas civis - que englobaria tanto a correção monetária quanto os juros de mora - estava em 13,75%.

O ponto central da discussão é o artigo 406 do Código Civil. O dispositivo determina que os juros moratórios, quando não forem convencionados, serão fixados pela taxa que estiver em vigor para o pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Em setembro de 2008, a Corte Especial decidiu, em recurso repetitivo (REsp 727842), que a taxa a que se refere artigo 406 é a do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). A outra opção no julgamento era a aplicação de juros de mora de 1% ao mês - na época, se anuais, menores que a Selic.

Com a redução da taxa básica de juros, a questão voltou a ser discutida na 3ª Turma do STJ. No caso, dois engenheiros pediam a reforma de decisão do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) para aplicação da Selic à indenização a ser paga por eles (Resp 1846819).

Os juros são cobrados em uma ação que os condenou a promover reparos em residência - convertida posteriormente a obrigação de fazer em perdas e danos (REsp 1846819). O TJ-PR havia definido taxa de 1%, com base nos artigos 406 do Código Civil e 162 do Código Tributário.

O relator, ministro Paulo de Tarso Sanseverino, já havia votado, a favor do pedido. O julgamento foi retomado com o voto-vista do ministro Marco Aurélio Bellizze, que seguiu o relator. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 19 de 24

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Em seu voto, porém, o ministro Moura Ribeiro levantou a dúvida sobre a aplicação da Selic. “É uma taxa política, daqui a pouco estará em zero e nós não vamos mais contar juros da mora, não será mais possível”, afirmou. Apesar da ponderação, ele não quis pedir vista porque “não mudaria o resultado”, que já estava formado com maioria pela taxa básica de juros.

O relator concordou que a Selic, cada vez mais baixa, é um problema que terá de ser enfrentado pela Corte Especial. “Foi um repetitivo do ministro Teori Zavaski, logo que começaram os repetitivos, e concordo que muito em breve vamos ter que selecionar um processo para tentar fazer a revisão. Senão os valores vão ficar insignificantes”, disse.

Para o relator, juros de mora de 1% ao mês são bastante elevados, mas ao mesmo tempo estimulam as partes ao rápido adimplemento das dívidas ou a fazer um bom acordo, evitando procrastinar o processo. “Vamos esperar um bom processo, acho uma boa questão levar para a Corte Especial como revisão daquele repetitivo.”

O ministro Ricardo Villas Bôas Cueva afirmou que o tema é muito complexo. “Por muito tempo a taxa Selic era evitada pelos particulares, hoje é o contrário”, disse. Ele concordou que 1% ao mês é muito alto e é necessário encontrar um meio termo. “O melhor investimento que existe hoje é deixar uma ação correndo.”

A 3ª Turma pode indicar um processo para julgamento do tema na Corte Especial. Houve uma tentativa recente da 4ª Turma de julgar o tema na Corte Especial, em recurso da relatoria do ministro Luis Felipe Salomão.

O relator propôs na época alterar o entendimento e usar como índice de correção monetária e juros de mora previsão do artigo 161, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional (1% de juros ao mês), além de atualização monetária com base em tabela oficial adotada pelos tribunais de origem.

No mérito, o voto chegou a ser seguido pelo ministro João Otávio de Noronha. Por razão processual, porém, o tema voltou para a 4ª Turma. Os ministros consideraram que essa questão do índice a ser aplicado não constava no recurso e, por isso, deveria ser analisado só pelo colegiado.

“O tema poderia voltar à Corte Especial sob o argumento de que a taxa está muito baixa”, afirma Marcos Vinicius Vita, sócio do Wald, Antunes, Vita, Longo e Blattner Advogados. Para o advogado, contudo, a opção de usar a taxa básica de juros é adequada e pressupõe que haverá variação. “A preocupação [com o percentual baixo] é válida, mas é da dinâmica da taxa.”

O advogado entende não dá para ver juros de mora como aplicação financeira. “Não é essa a finalidade”, diz. Ainda segundo ele, a opção do legislador era de que as dívidas com a União espelhassem os outros débitos em geral, conforme o artigo 406 do Código Civil. “Se houver uma correção monetária simples [IPCA, por exemplo] mais juros de 1% criariam um ativo e o débito judicial seria fonte de lucro.”

De acordo com a advogada Cristiane Romano, sócia do escritório Machado Meyer Advogados, a revisão de um repetitivo contrapõe segurança jurídica e a velocidade com que o mundo muda - no caso, um índice de correção. A advogada não é contrária à revisão, mas pondera que deve ser feita com critério e cautela, em situações excepcionais. “Se os juros subirem depois, mudarão o repetitivo de novo?” DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 20 de 24

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“Essa proposição é um absurdo, tese de grandes devedores”, afirma Walter de Moura, advogado que representa o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). O artigo 406 do Código Civil determina o uso da Selic, acrescenta, e essa sistemática deve ser mantida. “Mudar a jurisprudência seria um golpe para alterar o índice enquanto ele está baixo. Daqui a pouco a Selic volta ao normal e Inês é morta [não adianta mais]. ”

STJ volta a analisar correção de empréstimo compulsório

Eletrobras poderá ganhar uma segunda chance no Tribunal

Por Joice Bacelo e Beatriz Olivon

Mauro Campbell Marques; voto com peso importante no julgamento de embargos — Foto: Gustavo Lima/STJ

A Eletrobras poderá ganhar uma segunda chance do Superior Tribunal de Justiça (STJ) na discussão sobre a correção dos empréstimos compulsórios. Os ministros começaram a julgar os embargos de declaração em que a empresa contesta a forma como foram fixados os juros remuneratórios dos valores que têm de ser devolvidos aos consumidores. Há, por enquanto, sete votos - quatro deles para atender o pedido da empresa.

Essa é uma discussão cara para a Eletrobras. São R$ 11 bilhões envolvidos. Todo esse montante está diretamente ligado ao prazo de incidência dos juros remuneratórios. A 1ª Seção decidiu, em junho de 2019, que a correção deve ser aplicada até o efetivo pagamento dos valores não convertidos em ações - e não até 2005, ano da última assembleia de conversão, como queria a empresa.

A Eletrobras contesta, nos embargos, a possibilidade de cumulação dos juros remuneratórios e moratórios (EAREsp 790 288). Esse caso entrou na pauta de ontem da 1ª Seção, mas o julgamento foi interrompido por um pedido de vista da ministra Assusete Magalhães.

“Eu tenho sido muito rigorosa no julgamento de embargos de declaração, para evitar que em sede de declaratórios se rejulgue uma causa, mas confesso que alguns pontos que aqui foram colocado me suscitaram algumas dúvidas”, disse a ministra.

O depósito compulsório foi criado nos anos 60 com a finalidade de gerar recursos ao governo para a expansão do setor elétrico. A contribuição era cobrada na conta de luz dos clientes com consumo superior a dois mil quilowatts/hora (kWh) por mês. A cobrança seria extinta em 1977, mas foi prorrogada até 1993. Por lei, os consumidores poderiam depois converter os valores pagos em ações da Eletrobras. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 21 de 24

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Em 2009, o STJ decidiu, em caráter repetitivo, que a empresa deveria corrigir os créditos. Boa parte do compulsório, naquela data, já havia sido paga pela empresa por meio da conversão dos valores em ações. A última assembleia ocorreu no ano de 2005.

Os consumidores alegaram, depois disso, no entanto, que a correção efetuada foi menor do que a devida. Alguns não tiveram todo o montante convertido em ações e, por isso, ainda têm valores a receber.

É o caso da Decoradora Roma, uma das partes do processo em julgamento na 1ª Seção. A empresa questionou a data final de aplicação dos juros remuneratórios, de 6% ao ano, para os valores que não foram convertidos em ações. Pediu aos ministros para que seja a data do efetivo pagamento e não a da última assembleia, em 2005, como entendia a Eletrobras.

O julgamento teve placar apertado: cinco a quatro. Prevaleceu o voto do relator, o ministro Gurgel de Faria. Ele entendeu que, ao julgar o repetitivo, a Seção decidiu que são devidos juros remuneratórios de 6% ao ano sobre a correção monetária.

O ministro disse que o STJ entende que a diferença a ser paga em dinheiro, sobre o número não convertido em ações, deve ter correção plena, expurgos inflacionários e juros remuneratórios até o efetivo pagamento.

Agora, em sede de embargos, ele manteve o posicionamento - negando o recurso apresentado pela Eletrobras. Gurgel de Faria está sendo acompanhado, por enquanto, por Napoleão Nunes Maia Filho e Og Fernandes.

O ministros Sérgio Kukina, Herman Benjamin, Francisco Falcão e Mauro Campbell Marques divergiram. Para eles, esse entendimento é diferente da decisão proferida em repetitivo no ano de 2009. Eles consideram existir erro material no acórdão que deu ganho de causa à Decoradora Roma.

Para a divergência, existem duas situações diferentes: a de consumidores que converteram os seus créditos em ações, mas por um erro no cálculo, ainda têm valores a receber e a de consumidores impossibilitados de converter os créditos em ações.

Na primeira hipótese - em que está a Decoradora Roma -, afirmam, não poderiam incidir os juros remuneratórios. Os ministros dizem que essa peculiaridade não foi levada em conta na decisão.

O voto do ministro Mauro Campbell Marques tem um peso importante no julgamento dos embargos. Quando a decisão foi proferida, em favor da Decoradora Roma, ele não participou do julgamento porque ocupava o cargo de presidente da Seção. Hoje, quem está na presidência é o ministro Benedito Gonçalves, que, na ocasião, havia votado contra a Eletrobras.

Como, na época, o placar foi apertado - cinco a quatro - há chances de, com essa mudança de composição, o julgamento dos embargos ter resultado invertido.

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Destaques

Plano de saúde

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) que determinou que um ex-empregado desligado há mais de dez anos e sua esposa sejam mantidos em plano de saúde originalmente contratado pela empresa. Embora seja de dois anos o tempo máximo de permanência do empregado demitido no plano coletivo - como previsto no artigo 30, parágrafo 1º, da Lei nº 9.656, de 1998 -, o ex-empregador manteve o casal no plano de assistência por mais de uma década, tendo os beneficiários assumido o pagamento integral. Para o colegiado (REsp 1879503), o longo tempo de permanência no plano despertou nos beneficiários a confiança de que não perderiam a assistência de saúde, de modo que a sua exclusão neste momento, passada uma década do desligamento profissional e quando eles já estão com idade avançada, violaria o princípio da boa-fé objetiva. Ele foi demitido em 2001, mas a participação no plano foi estendida até 2013, quando o ex-empregado, então com 72 anos de idade, foi notificado pelo antigo empregador de sua exclusão.

Plano de aposentadoria

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) afastou a eficácia liberatória da transação efetuada entre a Celg Distribuição, de Goiânia (GO), e um eletricista que aderiu ao Plano de Aposentadoria Espontânea (PAE) da empresa. Com isso, a Justiça do Trabalho deve julgar a reclamação trabalhista em que o empregado pede o pagamento de diversas verbas trabalhistas (RR- 11973-76.2017.5.18.0018). A decisão leva em conta a ausência de registro da existência de cláusula em acordo coletivo que dê quitação geral do contrato aos empregados que aderissem ao plano. Na reclamação, o eletricista pede diferenças relativas a progressões funcionais. A empresa, em sua defesa, sustentou que o PAE obstaria a pretensão do empregado, pois houve quitação ampla e irrestrita das parcelas relativas ao contrato de trabalho extinto. A 18ª Vara do Trabalho de Goiânia (GO) entendeu que o plano não fora instituído por meio de acordo coletivo de trabalho, o que impediria a quitação geral do contrato. O TRT de Goiás, contudo, decidiu que pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RE 590415), a transação extrajudicial que importa a rescisão do contrato de trabalho em razão de adesão a plano de dispensa incentivada acarreta a quitação ampla e irrestrita do contrato de emprego.

Desconto em mensalidade

A 2ª Vara Cível de Mogi das Cruzes (SP) negou pedido de revisão de contrato de prestação de serviços educacionais, cujo objetivo era obter desconto nas mensalidades de curso de Direito em razão da adoção do sistema não presencial de aulas pela instituição de ensino. Segundo o juiz Eduardo Calvert, a pandemia da covid-19 não pode servir como argumento genérico para que o Judiciário se imiscua nas relações de direito privado e invada o espaço originalmente reservado à disposição dos particulares à luz da liberdade contratual. (processo nº 1009108-25.2020.8.26.0361).

Magazine Luiza

O Ministério Público do Trabalho (MPT) emitiu parecer em que requer a extinção ou a declaração de improcedência da ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública da União (DPU) contra o Magazine DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 23 de 24

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Luiza por seu programa de trainee exclusivo para negros, lançado em setembro. O MPT também requer a rejeição do pedido de tutela de urgência, porque inexistente direito ou risco de violação de interesse protegido pelo ordenamento constitucional. O órgão lembra que a DPU defende pública e regularmente ações afirmativas para igualdade material de pessoas negras e afirma que a ação decorre de um ato isolado do autor da ação, com violação ao princípio do defensor natural.

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 15.10.2020 – PÁG.E2

O primeiro ano do Protocolo de Madri

O pouco apetite dos brasileiros em buscar a via do Protocolo pode refletir em parte a crise econômica atual, ou o alto valor da taxa de câmbio

Por Ana Lúcia de Sousa Borda e Rafael Atab

O Protocolo de Madri está completando um ano de vigência em nosso país, o que é um convite para que seja feito um balanço que deve começar, claro, pela lembrança das expectativas mais imediatas tanto dos usuários nacionais quanto estrangeiros no tocante à adesão ao Protocolo. Embora cada um pudesse ter expectativas próprias, algumas lhes eram comuns.

Sob a ótica do empresariado nacional, estaria aberta a oportunidade, até então inédita, de ser requerida proteção, por meio de uma única inscrição internacional junto à Secretaria Internacional da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), para marcas brasileiras em todos os países membros do Protocolo nas 45 classes de produtos e serviços.

O Protocolo conta atualmente com 107 membros, abrangendo um total de 123 países, o que dá a dimensão da janela de oportunidades que surgiu para empresas brasileiras em termos de facilitação de acesso à proteção de seus sinais distintivos mundo afora.

Outra grande promessa do Protocolo seria a celeridade, já que os países membros devem optar por proceder ao exame de pedidos via Protocolo em 12 ou em 18 meses a contar da data da notificação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) da designação do Brasil. No caso brasileiro, foi feita a opção pela conclusão do exame em 18 meses, o que de fato melhor se enquadra à nossa realidade.

Diferentemente da legislação de muitos países, o INPI realiza o exame de registrabilidade de ofício, considerando também marcas de terceiros, mesmo que estes não tenham se oposto ao registro da marca.

De acordo com as múltiplas manifestações externadas nos meses que antecederam a adesão ao Protocolo, tanto na imprensa em geral, quanto nos círculos especializados, parecia haver uma forte demanda reprimida de empresários brasileiros extremamente interessados em beneficiar-se dessa nova via. E isto não apenas pela gestão centralizada do portfólio de marcas junto à Secretaria Internacional - a principal caraterística do Protocolo -, mas também em função da considerável redução de custos daí advinda, na comparação com os valores decorrentes da contratação de profissionais especializados em propriedade intelectual em cada um dos países de interesse para acompanhamento dos pedidos de registro. DATA CLIPPING 15.10.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 24

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Outra vantagem do Protocolo seria a possibilidade da utilização do sistema multiclasse, que torna possível reivindicar todas as classes de interesse do usuário do sistema por meio de uma única inscrição internacional. No caso brasileiro, no entanto, o exame se dará por classe e mediante o pagamento do valor integral da taxa para cada classe reivindicada.

A aparente demanda reprimida e os supostos anseios por parte de empresários brasileiros não se confirmaram em números. Até o momento, usuários nacionais protocolaram 109 pedidos de inscrição internacional no INPI. Já o número de pedidos (designações) recebidos pelo INPI de países estrangeiros ultrapassa em muito a modesta quantidade de pedidos de brasileiros. Só para se ter uma ideia, o site da OMPI registra 8.290 designações brasileiras.

A expectativa dos estrangeiros estava mais relacionada à previsão de conclusão do exame em 18 meses e, ainda, à possibilidade de fazer uso do sistema multiclasse para a proteção de suas marcas no Brasil, mesmo nos casos de não utilização do Protocolo. No entanto, o sistema multiclasse ainda não está disponível para pedidos sem amparo no Protocolo, sejam eles requeridos por nacionais ou estrangeiros, sendo necessário requerer proteção por classe separadamente. Não houve anúncio, até o momento da publicação deste artigo, sobre a previsão de implementação do sistema multiclasse.

Além do sistema multiclasse, a adoção do Protocolo viabilizou o regime de cotitularidade e a possibilidade de divisão de pedidos e de registros. Recentemente foi noticiada a implementação do regime de cotitularidade a partir de 15 de setembro deste ano, ao passo que a divisão de pedidos e de registros foi postergada para 1º de julho de 2021.

A tão propalada celeridade no exame dos casos de Madri ainda não se confirmou. Recentemente, foram publicadas as primeiras oposições apresentadas contra algumas designações. Na Revista da Propriedade Industrial de 13 de outubro foram publicadas as primeiras decisões de deferimento de algumas designações. Quanto aos demais casos que não sofreram oposição, fica a expectativa de decisão mais breve, lembrando que, para os primeiros pedidos notificados ao Brasil, resta um prazo de aproximadamente seis meses para que seja proferida decisão.

Na ausência de incidente processual - tais como exigência ou indeferimento - dentro dos 18 meses, a designação será convertida automaticamente em registro nacional por decurso de prazo, o que tem potencial para gerar disputas.

O pouco apetite dos brasileiros em buscar a via do Protocolo pode refletir em parte a crise econômica atual, ou mesmo o alto valor da taxa de câmbio. Sendo os custos desse registro cotados em francos suíços, as taxas da OMPI podem assustar empresas que apenas começam a se internacionalizar.

Em qualquer caso, os empresários nacionais contam agora com um moderno sistema de acesso à proteção de suas marcas em diversos países, como mais uma opção para suas estratégias globais, mas que somente terá valor efetivo se o INPI adotar medidas para melhorar sua eficiência e garantir a isonomia entre nacionais e estrangeiros.