As Múltiplas Divisões Territoriais Da Região Do Alto Uruguai Catarinense E Sua (Des) Articulação
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AS MÚLTIPLAS DIVISÕES TERRITORIAIS DA REGIÃO DO ALTO URUGUAI CATARINENSE E SUA (DES) ARTICULAÇÃO Indianara Cristina Bigaton Claudio Machado Maia Rainer Randolph Resumo: Este artigo apresenta alguns tipos de regionalizações, sobretudo, aquelas existentes na região oeste de Santa Catarina, assim como, a relação delas com a operacionalização dos consórcios intermunicipais. A localidade objeto este estudo é a região do Alto Uruguai Catarinense, a qual está inserida na Mesorregião Oeste e microrregião de Concórdia, composta por 16 municípios: Alto Bela Vista, Arabutã, Arvoredo, Concórdia, Ipira, Ipumirim, Irani, Itá, Jaborá, Lindóia do Sul, Paial, Peritiba, Piratuba, Presidente Castello Branco, Seara e Xavantina. Em relação aos procedimentos metodológicos, partiu- se de uma breve revisão teórica sobre organizações territoriais regionais, tais como delimitações políticas administrativas feitas pelo IBGE, com Mesorregião e Microrregião, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário por meio dos Territórios da Cidadania e Territórios Rurais e as Associações de Municípios e Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs), seguido do estudo. Descreve-se essas formas de divisão territoriais, conforme a política adotada por cada instituição. Como resultados, percebe-se que essas instituições não dialogam entre si, fazendo com que cada divisão siga os interesses institucionais desconsiderando as já possíveis divisões do território. Palavras-Chaves: Divisão territorial. Alto Uruguai Catarinense. Territórios. 1. Introdução A região Oeste de Santa Catarina passou a ser conhecida dos colonizadores no ano de 1641 quando o primeiro grupo de bandeirantes paulistas passaram na região a caminho do Rio Grande do Sul (ROSSETTO, 1995). Entretanto, conforme destacam Rossetto (1995) Territórios, Redes e Desenvolvimento Regional: Perspectivas e Desafios Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 13 a 15 de setembro de 2017 e Alba et al. (2015), a região foi marcada por duas grandes disputas: a primeira entre o Brasil e a Argentina, ainda no século XIX, referente ao Tratado de Tordesilhas, de Madri e Santo Idelfonso. Essa disputa foi resolvida a favor do Brasil pelo juízo arbitral dos Estados Unidos, em 1884. A segunda disputa pelo território do Oeste foi entre os estado do Paraná e Santa Catarina, devido à indefinição dos limites territoriais entre os estados. O conflito teve fim no ano de 1917, com a Lei nº 1.147 de 25 de agosto, promulgada pelo Presidente da República Venceslau Braz, o qual integrou, em definitivo, o território ao estado de Santa Catarina. Concomitantemente à disputa entre os estados, houve a Guerra do Contestado, relacionada à posse de terra entre grupos sociais marginalizados e as oligarquias dos coronéis que controlavam o poder local. Sobre a Guerra do Contestado, importa destacar que: tendo eclodido sob forma de luta armada em meados de 1912, com duração de quatro anos, o episódio de “Guerra do Contestado”, é um marco histórico de extrema importância no processo de evolução e transformação de estrutura socioeconômica de toda essa imensa região colonial catarinense. O movimento de insurreição de “jagunços” e caboclos alastrou-se, com efeito, em terras de cinco microrregiões homogêneas do Estado: Campo de Lages, Campos de Curitibanos, Colonial do Rio do Peixe, Colonial do Oeste Catarinense e Planalto de Canoinhas (ROSSETTO, 1995, p. 11). Com base em uma análise histórica sobre a Guerra do Contestado, é possível evidenciar que outros fatores que também desencadearam a briga pelo território Oeste foram as riquezas de erva-mate e araucárias. Todos esses conflitos tardaram o processo de colonização da região que, posteriormente, foi colonizada por descentes de europeus vindos do Rio Grande do Sul, com incentivo para pequenas propriedades agrícolas, com cera de 30 hectares. A topografia da região Oeste favoreceu a agricultura familiar de subsistência com venda dos excedentes ao mercado local. Com o fomento das agroindústrias, os agricultores familiares passaram a atender as agroindústrias da região no sistema de parcerias ou de integração (ALBA et al. , 2015, p. 44-46). Ainda, segundo os autores, o Oeste Catarinense é uma região agropecuária com intensa atuação para o agronegócio, com empresas reconhecidas mundialmente. Territórios, Redes e Desenvolvimento Regional: Perspectivas e Desafios Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 13 a 15 de setembro de 2017 A região do Alto Uruguai Catarinense 1 é composta pelos municípios de Alto Bela Vista, Arabutã, Arvoredo, Concórdia, Ipira, Ipumirim, Irani, Itá, Jaborá, Lindóia do Sul, Paial, Peritiba, Piratuba, Presidente Castello Branco, Seara e Xavantina. A população da região do Alto Uruguai Catarinense, segundo dados IBGE (2010) totaliza 145.853, com área de unidade territorial de 3.312,961 km 2 (IBGE, 2015), perfazendo uma densidade demográfica de 44,02 hab./ km 2. A economia tem forte influência da agricultura e da pecuária, tendo na formação de seu Produto Interno Bruto (PIB), os produtos primários de produção de suínos e aves, que mantêm os produtores morando na área rural. Há também uma significativa gama de produtos retirados do solo como soja, milho, feijão e trigo. As propriedades são minifúndios e a maioria pertence à agricultura familiar. O Quadro 1, a seguir contém informações sobre extensão territorial, população e IDH que compõem a microrregião. Quadro 1: Extensão territorial, população, IDH e economia dos municípios EXTENSÃO TERRITORIAL MUNICÍPIO POPULAÇÃO IDH (KM²) Alto Bela Vista 103,98 2.005 0.755 133,295 Arabutã 4.193 0.733 Arvoredo 90,71 2.266 0.715 799,449 Concórdia 68.621 0.8 154,565 Ipira 4.752 0.736 247,717 Ipumirim 7.220 0.738 325,737 Irani 9.531 0.742 165,869 Itá 6.426 0.771 182,154 Jaborá 4.041 0.732 188,636 Lindóia do Sul 4.642 0.743 Paial 85,757 1.763 0.718 1 Nessa descrição dos municípios considera-se o formato de território que mais foi comum entre as formas de territorialização. Territórios, Redes e Desenvolvimento Regional: Perspectivas e Desafios Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 13 a 15 de setembro de 2017 95,842 Peritiba 2.988 0.766 145,976 Piratuba 4.786 0.758 65,605 Presidente Castello Branco 1.725 0.77 310,981 Seara 16.936 0.779 216,688 Xavantina 4.142 0.749 Fonte: IBGE (2010, 2015, 2016). Abordar as divisões territoriais de uma região requer uma análise referente as suas formas de organizações. Maia (2014) afirma que estudos mais recentes sobre território como uma criação coletiva e institucional resultam de uma mobilização de atores sociais de determinado espaço geográfico e procuram identificar-se e resolver problemas em comum. Devem-se considerar diversas disciplinas. A ciência política (via conceito de poder), a geografia (como disciplina do espaço social), a sociologia (tratando das relações sociais), a história e a economia (como interpretadoras da gênese da evolução das economias dos territórios), entre outras possibilidades de interpretação (MAIA, 2014, p. 127). A Secretaria do Desenvolvimento Territorial e do extinto 2 Ministério do Desenvolvimento Agrário, compreende território como, um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população, com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial (SDA/MDT, 2005, p. 28). 2 O Ministério do Desenvolvimento Agrário no ano de 2016, passou a incorporar o Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário Territórios, Redes e Desenvolvimento Regional: Perspectivas e Desafios Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 13 a 15 de setembro de 2017 Muitos outros conceitos ou noções sobre território são tratados no meio acadêmico, porém para esse estudo identificam-se esses dois para permear as análises. Com base nesses conceitos, percebe-se que o Oeste Catarinense é marcado por várias divisões territoriais, conforme segue descrição. 2. Divisões do território do Alto Uruguai Catarinense 2.1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Ao IBGE, em 1987, foi delegada a tarefa de produzir a divisão Regional em Mesorregiões e Microrregiões. Essa divisão regional institucionalizada para fins estatísticos e geográficos teve como base os limites políticos-administrativos e limites estaduais e municipais. As unidades da federação foram o universo dessa pesquisa e, posteriormente, fator responsável sobre sua divisão através de processo analítico, identificando as escalas regionais, as mesorregiões e, por fim, as microrregiões (IBGE, 1990, p. 7). Ainda, de acordo com o IBGE, pode-se definir: Mesorregião uma área individualizada e em uma unidade da federação que apresenta formas de organização do espaço geográfico definidas pelas seguintes dimensões: o processo social como determinante o quadro natural como condicionante e a rede de comunicação e de lugares como elementos da articulação espacial. Estas três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional. Esta identidade é uma realidade construída ao longo do tempo pela sociedade que ali se formou. As microrregiões foram definidas como partes das mesorregiões que apresentam especificidades quanto à organização do espaço [...] A estrutura da produção para identificação das microrregiões é considera em sentido totalizante constituindo-se pela produção propriamente dita distribuição, troca e consumo,