A Memória Histórica De Morretes
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MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES Reitor Ricardo Marcelo Fonseca Vice-Reitora Graciela Inês Bolzón de Muniz Pró-Reitor de Extensão e Cultura Leandro Franklin Gorsdorf Diretora da Editora UFPR Suzete de Paula Bornatto Vice-Diretor da Editora UFPR Rodrigo Tadeu Gonçalves Conselho Editorial que aprovou este livro Adriano Nervo Codato Allan Valenza da Silveira Cristina Gonçalves de Mendonça David José de Andrade Silva Edison Luiz Almeida Tizzot Everton Passos Ida Chapaval Pimentel Lauro Brito de Almeida Márcia Santos de Menezes Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt Maria Cristina Borba Braga Naotake Fukushima Sérgio Luiz Meister Berleze Sérgio Said Staut Junior Antonio Vieira dos Santos MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES André Luiz Moscaleski Cavazzani Sandro Aramis Richter Gomes (Organizadores) © André Luiz Moscaleski Cavazzani e Sandro Aramis Richter Gomes (Orgs.) MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES Coordenação editorial do livro digital Rachel Cristina Pavim Revisão Daniele Soares Carneiro Revisão final dos organizadores Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica Rachel Cristina Pavim Ilustração da capa Excerto do manuscrito da Memória Histórica de Morretes. Códice sob a guarda do Círculo de Estudos Bandeirantes (Curitiba, Paraná). Série Pesquisa, n. 304 Universidade Federal do Paraná. Sistema de Bibliotecas. Biblioteca Central. Coordenação de Processos Técnicos. Santos, Antonio Vieira dos, 1784-1853. Memória histórica de Morretes / Antonio Vieira dos Santos; André Luiz Moscaleski Cavazzani e Sandro Aramis Richter Gomes (Orgs.). – 1. ed. – Curitiba: Ed. UFPR, 2017. 516p.: il. – (Série Pesquisa; n. 304) Inclui referências ISBN 978-85-8480-077-3 (livro impresso) 1. Santos, Antonio Vieira dos, 1784-1853. I. Cavazzani, André Luiz Moscaleski. II. Gomes, Sandro Aramis Richter. III. Título. CDD 981.622 Bibliotecária: Rita de Cássia Alves de Souza – CRB 9/816 ISBN do LIVRO digital: 978-85-8480-076-6 Ref. 863 Direitos desta edição reservados à Editora UFPR Rua João Negrão, 280, 2o andar - Centro Tel.: (41) 3360-7489 80010-200 - Curitiba - Paraná - Brasil www.editora.ufpr.br [email protected] 2017 Nota: este livro consiste na publicação do primeiro volume da obra que Antonio Vieira dos Santos escreveu, em 1851, sobre Morretes e Porto de Cima. O segundo volume, que conteria a história de Porto de Cima, permanece extraviado. O título completo do primeiro volume é Memória Histórica Chorónologica Topographica, e Descriptiva Da Villa de Morretes Do Porto Real Vulgarmente Porto de Cima. O manuscrito do primeiro volume está sob a guarda do Círculo de Estudos Bandeirantes (Curitiba, Rua XV de Novembro, 1050). Na presente edição, foi mantida a ortografia empregada por Antonio Vieira dos Santos. SUMÁRIO A MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES: CONDIÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E SUMÁRIO DE TEMAS / 9 ANDRÉ LUIZ MOSCALESKI CAVAZZANI SANDRO ARAMIS RICHTER GOMES INTRODUÇÃO / 9 REVERENTE CRIADO INDICE DOS CAPITULOS PRINCIPAES QUE CONTEM ESTE PRIMEIRO TOMO DAS MEMORIAS HISTORICAS DE MORRETES / 33 MEMÓRIA HISTÓRICA CHORÓNOLOGICA TOPOGRAPHICA, E DESCRIPTIVA DA VILLA DE MORRETES DO PORTO REAL VUlgaRMENTE PORTO DE CIMA / 35 PROVISÃO RÉGIA EXPEDIDA PELO CONCELHO ULTRA MARINO EM 20 DE JULHO DE 1782 / 37 PORTARIA DO PREZIDENTE DA PROVÍNÇIA, DE SM. PAULO, SOLI CITANDO DOS ARCHIVOS DAS CÁMARAS E DE PESSOAS PARTICU LARES, MANUSCRIPTOS, E MEMÓRIAS ANTIgaS / 38 À ILLUSTRE CÁMARA MUNICIPAL MORRETEENSE / 39 PRIMEIRA EPOCHA DE 1560 A 1812 / 41 SEGUNDA EPOCA DE 1812 A 1822 / 103 TERCEIRA EPOCHA DE 1822 A 1841 / 133 QUARTA EPOCHA DESDE 1841 TÉ 1850 / 371 ANNO DE 1851 / 490 CAPITULO 15 — PARagRAPHO 15.° / 490 MAPPAS ILLUSTRACTIVOS PERTENCENTES À MEMÓRIA HISTÓRICA CHRONOLOGICA TOPOGRAPHICA E DESCRIPTIVA DA VILLA DE MORRETES / 494 A MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES: CONDIÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E SUMÁRIO DE TEMAS André Luiz Moscaleski Cavazzani Sandro Aramis Richter Gomes INTRODUÇÃO Antônio Vieira dos Santos (1784-1854) era portuense. Contava cerca de treze anos de idade quando se transferiu para o Brasil. Segundo suas próprias memórias, a sua jornada migratória se iniciou em uma manhã de sexta-feira, em 26 de maio de 17971. Nesse dia, saiu da casa dos pais embarcando em direção ao Brasil. Seu pai, residente em uma região central de Porto, era remediado. Tal situação econômica permitiu que Antônio Vieira dos Santos embarcasse já conhecedor das primeiras letras e de rudimentos de cálculo – conhecimento que, mais tarde, se mostraria estratégico. Singular, por certo, a trajetória desse indivíduo também é um retrato global do que ocorria naquele tempo. Ano a ano, o Brasil via entrarem em suas terras centenas de portugueses alimentando um importante fluxo migratório. Tal fluxo não pode, porém, ser comparado, em termos quantitativos, ao que ocorreu após 1850, na fase das migrações de massa, ou, então, no início do século XVIII, quando as descobertas das Minas Gerais e de Goiás provocou uma verdadeira sangria de gente, como se dizia, deslocando-se de Portugal ao Brasil. Entre a segunda metade do século XVIII e a primeira do século XIX, a imigração portuguesa ocorria em um ritmo de conta-gotas. Dia a dia, mês a mês, ano a ano, via-se entrarem portugueses no Brasil, depois de terem enfrentado longas viagens em veleiros incômodos; alguns tão jovens que sequer tinham pontas de barba. Eram meninos, homens, que imigravam sozinhos, na verdade, solteiros ou, então, desacompanhados da mulher e dos filhos – tendência, aliás, um tanto inversa ao que ocorria na fase das migrações de massa, quando se verificavam os deslocamentos de famílias inteiras2. 1 VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Breve rezumo das memorias acontecidas desde o anno de 1797 até 1827. Arquivo do Círculo de Estudos Bandeirantes (Curitiba, Rua XV de Novembro, 1050). Manuscrito. fl. 5. 2 Sobre o tema, ver CAVAZZANI, André Luiz M. Tendo o sol por testemunha: população portuguesa na baía de Paranaguá. 352 f. Tese (Doutorado em História Social) – Programa de Pós- -Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. MEMÓRIA HISTÓRICA DE MORRETES 9 Era, enfim, na fase em que Vieira dos Santos imigrou, a constância dos fluxos imigratórios que impressionava – constância que ajudou a marcar de forma indelével tanto o Brasil (polo receptor) quanto Portugal (polo emissor). Antônio Vieira dos Santos jamais revelou detalhes acerca das razões por detrás de seu intento imigratório. Mesmo assim, não é difícil conjecturar a esse respeito. Proveniente de uma família remediada, de poucas posses e muitos filhos, a imigração apresentava-se como uma hipótese de ascensão econômica e social. Em Portugal, o patriarca da família Vieira dos Santos, Jerônimo, desempenhou diversas atividades econômicas – de lavrante de prata a comerciante de vinhos. Essa inconstância de ocupações profissionais era um indício, portanto, das restrições econômicas enfrentadas por aquela parentela. Diante dessa situação, restava aos jovens portugueses migrar para o Brasil e conquistar oportunidades econômicas por meio do estabelecimento de relações familiares com seus patrícios. Assim, Antônio Vieira dos Santos e, posteriormente, seu irmão João Vieira dos Santos adotaram essa alternativa e estabeleceram-se no Brasil. Veja-se a descrição de Joel Serrão a respeito do perfil dos indivíduos que emigravam de Portugal naquele contexto: Deitando contas à vida, os pais vendem ou hipotecam alguns de seus bens para pagar as viagens e mandam para o Brasil filhos que assim – e só assim – têm possibilidade de tentar uma vida nova. Eles partem ou antes dos catorze anos para eximirem-se às leis do recrutamento militar, ou entre os vinte e trinta anos. Esta emigração masculina e jovem vai recomendada a parentes e desembarca no Recife, na Bahia, sobretudo no Rio de Janeiro, por onde fica, dedicando-se, predominantemente, ao “negócio”, ou seja, à rede de distribuição comercial de retalho: caixeiros, pequenos comerciantes, associando-se por vezes a patrões abastados, até mediante o casamento com as respectivas filhas3. Antônio Vieira dos Santos enquadra-se bem na descrição acima, a não ser por um detalhe: ele não ficou no Rio de Janeiro. Na realidade, saiu de lá em direitura a Paranaguá depois de amargar “dias e meses sem ganhar nada”4. Embora seja inegável uma presença massiva de portugueses nos grandes centros coloniais e, depois, provinciais, o padrão de mobilidade, tão característico dos lusitanos, não cessava nas cidades sedes dos grandes portos como Bahia, Recife e Rio de Janeiro. Não raro, estes locais pareciam funcionar 3 SERRÃO, Joel. Emigração portuguesa: sondagem histórica. Lisboa: Livros Horizonte, 1977. p. 81. 4 VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Breve rezumo das memorias acontecidas desde o anno de 1797 até 1827. Arquivo do Círculo de Estudos Bandeirantes (Curitiba, Rua XV de Novembro, 1050). Manuscrito. fl. 4. 10 ANDRÉ LUIZ MOSCALESKI CAVAZZANI E SANDRO ARAMIS RICHTER GOMES (ORGS.) como polos de passagem de imigrantes lusitanos que, por sua vez, irradiavam- -se para várias direções nas terras brasileiras. Fossem grandes cidades ou vilas diminutas, os portugueses não pareciam escolher seus destinos de forma aleatória. As maiores taxas de presença portuguesa davam-se sempre em vilas portuárias ou, então, estavam relacionadas a grandes rotas comerciais. As menores taxas estavam, sobretudo, nas vilas de menores dimensões ligadas à agricultura de subsistência5. Localizada nos limites meridionais da Capitania de São Paulo, Paranaguá notabilizou-se por ser uma das vilas paulistas que mais receberam adventícios lusitanos na transição do setecentos