EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

CAAPORÃ

Paraíba - Brasil

HISTORY MAKERS PA T R I M Ô NI O C U L T URA L HISTORY MAKERS Consultoria P A T R IMÔ NI O CU L T U R AL Consultoria Educação Patrimonial: Pedras de Fogo e Caaporã

Realização: Coordenação de Educação Patrimonial: Vivix Vidros Planos Paôla Manfredini Romão Bonfim History Makers Sandra Valéria Félix de Santana Apoio: Fabiana de Almeida Araújo Real Consultoria Diagramação: Coordenação Geral: Paôla Manfredini Romão Bonfim Paôla Manfredini Romão Bonfim History Makers Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

E244 Educação patrimonial: Pedras de Fogo e Caaporã / Realização: Vivix Vidros Planos, History Makers; coordenação de Paôla Manfredini Romão Bonfim, Sandra Valéria Félix de Santana, Fabiana de Almeida Araújo. João Pessoa: Gráfica São Mateus Ltda., 2017. 54 p. : il. color.

1. Caaporã - . 2. Pedras de Fogo - Paraíba. 3. Educação patrimonial. 4. Memória. 5. Patrimônio cultural. I. Bonfim, Paôla Manfredini Romão. II. Santana, Sandra Valéria Félix de. III. Araújo, Fabiana de Almeida. IV. Vivix Vidros Planos. V. History Makers. VI. Título.

21. ed. CDD 363.69

Bibliotecária: Giulianne – CRB-15/714 HISTORY MAKERS P A T R IM Ô N IO C U L T U RAL Consultoria HISTORY MAKERS APRESENTAÇÃO Consultoria P A TR I M Ô NI O C UL TU RAL

Companhia Brasileira de Vidros Planos - CBVP, é parte do Grupo Cornélio Brennand e tem o setor ntre 2016 e 2017, as equipes envolvidas Com esse material, a History Makers administrativo no município de Goiana (PE). A empresa destaca-se por ser a única indústria de vidros com o projeto puderam conhecer o desenvolverá atividades de Educação Patrimonial Aplanos do país, totalmente formada e administrada por capital nacional. Com sede já estabelecida no patrimônio cultural dos municípios. No que abordarão conceitos como Cultura, Memória, município de Pedras de Fogo, a Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP) pretende expandir sua atividade E período foi realizado levantamento das Identidade e Patrimônio Cultural. de lavra de areia, para uso industrial, em uma área de beneficiamento que totaliza 36,4ha e faz divisa entre os manifestações culturais, entrevistas e visitas de Alunos, professores, membros das municípios de Pedras de Fogo e Caaporã (PB). Para realizar as pesquisas culturais necessárias foram contratadas campo para o registro e estudo das referências comunidades e equipe técnica participarão de duas empresas a Real Consultoria, responsável pelo Diagnóstico de Bens Culturais e pelo estudo de Arqueologia e identitárias das localidades. maneira criativa e dialógica de momentos de (re) a History Makers, encarregada da promoção de ações de Educação Patrimonial nos dois municípios. encontro com as memórias, culturas e as histórias de Caaporã e Pedras de Fogo.

Mapa de localização do empreendimento em Pedras de Fogo e Caaporã (PB). Sede da Companhia Brasileira de Vidros Planos em Pedras de Fogo (PB). Acervo: Vivix Vidros Planos. Acervo: Vivix Vidros Planos. 1 2 CONCEITOS BÁSICOS Bens Materiais São elementos concretos da cultura da sociedade brasileira. Esses patrimônios são classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagísticoCultura e etnográfico; histórico; belas artes; e TombamentoMemória das artes aplicadas. Estão divididos em bens imóveis Identidade (núcleos urbanos, sítios arqueológicos e O Decreto Lei nº 25 de 1937 torna paisagísticos e bens individuais) e móveis (coleções responsabilidade do poder público, em nível É o senso individual ou coletivo de arqueológicas, acervos museológicos, federal, de preservar e garantir a não pertencimento a lugares, práticas culturais, documentais, bibliográficos, arquivísticos, descaracterização de bens culturais, ideais e princípios. É o reconhecimento do videográficos, fotográficos e cinematográficos). arquitetônicos, históricos e de caráter indivíduo diante de signos, referências e Cultura afetivo para uma população, tombando tais influências. É constantemente bens. É um conceito plural que abrange reconstruída à medida que o indivíduo é conhecimentos, valores, artes, moral, leis, confrontado com outras realidades patrimônios simbólicos e todos os culturais além de sua própria. modelos de comportamento adquiridos e propagados pelos membros de uma sociedade. Além dos mecanismos usados para captar, narrar e compreender o mundo. Bens Imateriais Os bens culturais imateriais estão relacionados Memória aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser de indivíduos, grupos ou Registro É o armazenamento de informações e comunidades. Desta forma podem ser fatos obtidos através de experiências considerados bens imateriais: produções O Decreto Lei nº 3551 de 04 de agosto vivenciadas. Ela conecta novos e prévios literárias, musicais, plásticas e cênicas; rituais e de 2000 confere ao poder público o conhecimentos gerando ideias e festas; além de mercados, feiras, santuários, praças compromisso de proteger e valorizar os auxiliando em cada tomada de decisão e demais espaços onde se reproduzem práticas bens culturais imateriais dos diversos cotidiana. Além disso, permite reconhecer culturais. Esses bens são criados, modificados e grupos sociais. Devendo garantir o ou relembrar impressões, emoções ou transmitidos entre os membros da população. conhecimento detalhado das manifestações acontecimentos passados. É fundamental culturais, a fim de proteger suas condições para preservar a cultura e a identidade de de existência e de manutenção. um grupo.

3 4 Patrimônio Cultural Educação Patrimonial

trabalho de Educação Patrimonial cultural e fortalecimento da identidade da local. omplexo de todos os bens, religiosos e nos espaços públicos. Nos livros, tem como matéria prima o O conhecimento deve ser construído de forma manifestações populares, cultos, brincadeiras, ritos e crenças, em cada detalhe de nosso Patrimônio cultural e visa incentivar coletiva entre as comunidades, detentoras do tradições tanto materiais quanto dia a dia. Está presente no nosso trabalho, naquilo O C os membros de uma comunidade no processo ativo patrimônio, e os agentes responsáveis pela imateriais de importância histórica para um grupo. que criamos e fazemos. Ele é herdado de nossos de conhecimento, apropriação e valorização de sua preservação e estudo dos bens culturais. A O patrimônio cultural é nossa identidade, está ancestrais e constantemente (re) criado por nossa herança cultural. Através do diálogo a comunidade metodologia deve ser criativa e interativa para então em todas as expressões e práticas de um povo. Ele sociedade, transparecendo nossos valores e refletirem juntos sobre a formação de cidadania, está dentro de nossas casas, nas artes, nos templos identidades. identifica o melhor aproveitamento e preservação dos seus bens e propicia a geração de novos identidade, memória e preservação dos bens. conhecimentos, num processo contínuo de criação

Patrimônio Cultural: w Formas de expressão; w Modos de criar, fazer e viver; w Criações científicas, artísticas e tecnológicas; w Obras, objetos, documentos e edificações; w Conjuntos urbanos e áreas de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico ou científico.

Exemplos de ações educativas com oficina de capoeira (acima) e registro de depoimentos (abaixo). Oficina de cerâmica e visita à exposições. Fotos: Paôla Bonfim. Fotos: Paôla Bonfim. 5 6 significado bastante simples de seu nome Pedras de Fogo (Pedra afiada ou pedra que solta faísca), Otambém é o da palavra indígena També município de Pedras de Fogo está localizado na divisa do Estado da Paraíba com o Estado de (ou Itambé). Pernambuco, mais especificamente com o município de Itambé. Uma singela demarcação na rua Administrativamente existem duas cidades. Socioculturalmente só há uma. A Avenida São Paulo se principal é o guia do limite geográfico entre eles. O configura meramente como uma divisão geográfica, Foi inicialmente habitada por indígenas das nações Tabajara e Potiguara e, em meados do século XVII, porque as pessoas não fazem distinção da origem surgiram as primeiras citações ao povoado “Pedras de Fogo”. O nome faz referência às pedras avermelhadas que histórica, das oportunidades de trabalho ou das ofertas soltavam faíscas quando em atrito com os cascos dos cavalos e bois dos colonos e tropeiros vindos de de estudo. Todas as atividades da vida cotidiana Pernambuco. O lugar era ponto de parada para descanso e tinha uma grande feira de gado, localizada atualmente funcionam na prática como numa única cidade. nas terras da “Fazenda Santa Emília”. Por esse motivo, nessa publicação, por vezes A proximidade dos dois povoados, e posteriormente municípios, se deu a partir dessa feira (realizada em surgirão referências que geograficamente se localizam em Itambé, mas na prática pertencem a identidade Pedras de Fogo) e após a decadência do povoado de na zona rural Itambé. No século XVIII grande cultural dos dois municípios. parte dos moradores mais antigos acabaram migrando para o povoado paraibano. Ao mesmo tempo em que, fundavam duas cidades, uniam de forma considerável os dois povos (Silva, 2006). Pela divisão administrativa do Estado, até 1948 este município se figurou como distrito de Cruz do Espírito Santo. Pedras de Fogo ganhou sua emancipação política pela Lei n° 895, de 11 de março de 1953.

Mapa de localização do município de Pedras de Acima à esq.: Avenida São Paulo (s/d). Fogo (PB). Ao centro: praça da Igreja N. Sra. da Conceição (s/d). Acervo: History Makers. Mapa: Natallia Azevedo. Acervo: Carlos Alberto Falcão Cabral. Ilustração da pág.: Demarcação da divisa de Abaixo: Caçadores (s/d). estados no calçamento da Rua Epitácio Pessoa. Acima à dir.: Desfile cívico (s/d). Foto: Paôla Bonfim. Acervo: Casarão de Cultura de Pedras de Fogo. 7 8 Feira Livre Lugares edras de Fogo apresenta como principal atividade econômica a agricultura. O principal a cana-de- Paçúcar, denotando seus resquícios coloniais. Em seguida o abacaxi e a mandioca com grandes áreas cultivadas. Logo após, a batata doce, o feijão, a fava e o milho. Outra atividade econômica importante é a avicultura. Na feira livre, além das tradicionais frutas e verduras, também podem ser encontrados outros gêneros alimentícios como carne bovina, bode, carneiro, porco, camarão e peixe. Itens da culinária local como biscoitos, cachaças, bolo de caco, milho cozido e tapioca também são bastante comercializados nas barracas. Além dos alimentos, vendem peças de vestuário como roupas, calçados, bijuterias, relógios e bolsas. Ainda existe uma diversidade de itens para uso doméstico como vassouras, baldes e potes plásticos. Atualmente, a feira acontece nas segundas-feiras, quintas-feiras e sábados. Nas segundas-feiras, as atividades têm início pela manhã e terminam por volta das 19 horas. Nas quintas-feiras, começa pela manhã e termina por volta egundo relatos antigamente o cordel era Existem dois Mercados Públicos, um em das 16 horas (por ser considerado o dia mais fraco, voltado recitado nos dias de feira. Também cortava- Pedras de Fogo (que passou por reformas para o público local). E no sábado, também inicia pela Sse o cabelo, fazia-se a barba, tirava-se retrato recentemente) e do outro lado da rua o Mercado manhã e se estende até às 17 horas. e, “ir à rua”, com se dizia quando se ia à feira, Público de Itambé, este em delicadas condições de A segunda-feira é considerada o dia mais traduzia uma simbologia de que lá também se preservação. Contudo, o que se percebe é a tradicional, com produtos diversificados e pessoas adquiria valores, preceitos, cultura (SILVA, 2006). importância da feira livre. Ela realmente movimenta advindas de várias localidades. De acordo com os feirantes Acima: Feira Livre com Igreja Nossa Senhora a cidade e os mercados públicos tornam-se apenas mais antigos esse comércio popular de segunda-feira já da Conceição ao fundo. existe há aproximadamente 100 anos e o da quinta-feira Abaixo: Barracas de alimentos e vestuário. um ponto de apoio para os dias que a feira não Ilustração da pág.: Feijões verdes e bolo de caco. Feira Livre na Avenida São Paulo. tem em torno de 30 anos. Fotos: Paôla Bonfim. Foto: Paôla Bonfim. funciona. 9 10 a praça municipal mais movimentada durante toda a semana. Equipada com anfiteatro, Praça da Mangueira Lugares Émesas de jogos (dama, xadrez), quadra esportiva, parque (escorrega, gangorra, balanço) e bancos. Pessoas de várias idades desenvolvem Praça Dr. João Úrsulo atividades no local. Idosos e adultos jogam xadrez e ocalizada em frente ao Santuário Nossa jovens brincam de diversas formas. Uma diferente Senhora da Conceição, a praça torna-se uma brincadeira foi percebida, o Futebol de Peão. Este extensão da igreja. Com características antigas, consiste em rodar o peão direcionado a uma bola. L contribui com o aspecto tradicional de cidade Cada pessoa que roda o peão para bater na bola tem o interiorana. Apresenta um coreto todo em alvenaria e intuito de acertar a pequena barra localizada mais ao outras estruturas menores com plantas ramificadas. A fundo. O peão é maior que o tradicional e é feito por praça fica na rua Pres. Epitácio Pessoa, divisória das alguns meninos da localidade. De acordo com as cidades de Pedras de Fogo e Itambé, portanto muito crianças existe até o campeonato de Futebol de Peão frequentada por pessoas dos dois municípios. na cidade. Praça da Mangueira. Praça Dr. João Ursulo, ou Praça da Conceição. Fonte: Real Consultoria, 2016. Foto: Paôla Bonfim.

Praça Ronaldo Ribeiro da Costa Parque Linear

onhecida no município por Praça de ocalizado na entrada da cidade, recebeu este Eventos, é o único espaço público que nome devido ao seu formato comprido e recebe eventos abertos como shows, Lestreito. A praça apresenta equipamentos comíciosc e manifestações culturais. No centro existe recreativos e esportivos. Existe área de lazer o busto de Ronaldo Ribeiro, o qual já foi prefeito do sombreada com bancos e pista de caminhada. Sua município. Arborizada, revitalizada e iluminada, a inauguração foi em abril de 2015. Logo no início é praça de eventos é rodeada de residências. Ainda possível ver uma estátua em homenagem ao caboclo de preserva traços do passados com a presença de um lança do Maracatu Rural, feita pelo artista plástico local coreto. Paulo Xavier. Parque Linear com estátua em homenagem Praça de Eventos. ao caboclo de lança. Foto: Paôla Bonfim. Foto: Paôla Bonfim. 11 12 Lugares Memorial a Dom Vital

“Peçam-nos o sacrifício de nossos cômodos; peçam-nos o sacrifício de nossas faculdades; peçam-nos o sacrifício de nossa saúde; peçam-nos o sangue de nossas veias… Mas pelo santo amor de Deus não nos peçam o sacrifício de nossa consciência, porque nunca o faremos. ‘Sic nos Deus adjuvet’. Nunca!”. Dom Vital de Oliveira

ntônio Gonçalves de Oliveira Júnior Pernambuco, tornando-se o primeiro bispo nasceu no sítio Jaqueira, do Engenho capuchinho do Brasil. Aurora, em 27 de novembro de 1844. Dom Vital faleceu jovem, aos 33 anos, com A Imagem de Dom Vital na Ig. N. Sra. da Conceição (à esq.). Naquele momento o território ainda pertencia a referência de santidade. Em 1953, Dom Antônio de Foto: Paôla Bonfim. Inauguração do monumento a Dom Vital em 1944 (à dir.). Pernambuco. Almeida Morais Júnior, arcebispo de Olinda e Fonte: Real Consultoria, 2016. No ano de 1861 ingressou no Seminário de Recife, introduziu a Causa de Beatificação e Olinda (PE) e em 1862 foi estudar na França. Canonização. Cumpriu suas obrigações e em 1863, ano da Em 2002, o arcebispo de Olinda e Recife, provação (noviciado), recebeu o hábito de São Dom Antônio Fernando Saburido, entregou a Francisco e o nome religioso de Frei Vital Maria de condução da Causa de Dom Vital e do processo de Pernambuco. Em 1868 foi ordenado sacerdote da beatificação e canonização aos frades capuchinhos igreja Conceição de Matabieau e pouco da província Nossa Senhora da Penha do Nordeste tempo depois voltou ao Brasil. do Brasil. Em 1871, por decreto imperial, Frei Vital de Atualmente ocorre uma romaria liderada pelo Oliveira foi nomeado bispo de Olinda (PE). capuchinhos de Olinda. Na data de aniversário de Inicialmente ele recusou a nomeação, porém após Dom Vital eles seguem a pé desde a Igreja N. Sra. da receber uma carta do papa Pio IX, em janeiro de Conceição até o seu memorial no Engenho Aurora. Interior do memorial (à esq.) e sua área externa, nas terras do Engenho Aurora (à dir.). 1872, aceitou o episcopado e saiu de São Paulo para Fotos: Fabiana Araújo. 13 14 Lugares

Engenho Aurora Engenho Aurora é um lugar antigo e dotado de muita história. Ficou célebre na cidade por se tratar do local de Onascimento de Dom Vital em 1844, quando o território ainda pertencia a Pernambuco. Atualmente o eng enho está desativado, mas ainda se cultiva cana-de-açúcar em uma área de aproximadamente 300 hectares. As terras pertencem ao Sr. Pedro Gonçalves de A. Filho (Peu). A propriedade era maior, contudo foi desapropriada pelo INCRA para assentamentos, cuja área hoje é conhecida como comunidade Nova Aurora.

Placa e Vista geral do Engenho Aurora. Fotos: Sandra Santana e Paôla Bonfim. Ruínas da Capela do Desterro o século XVII, o Capitão André Vidal de Negreiros, oficial das tropas portuguesas que haviam expulso os holandeses, Nmandou construir uma capela sob a invocação de N. Sra. do Desterro em suas terras próximas ao Rio També (atual zona rural de Itambé). Por não ter herdeiros, em testamento de 1678 o capitão doou as terras da Capela sob a condição de ali ser construído um colégio de sacerdotes. Em torno desse conjunto se desenvolveu o povoado de Desterro que, devido à má administração, entrou em decadência no século seguinte, ocasionando o abandono do local. No percurso, orientando o caminho até o memorial, encontram-se dispostas 12 estações com cruzes em meio ao canavial. Memorial a Capela do Desterro com ruínas ao fundo. Ilustração da pág.: Azulejos do Engenho Aurora. Casa Grande do Engenho Aurora. Fotos: Paôla Bonfim. Foto: Paôla Bonfim. 15 16 Edificações Loja Maçônica

obrado edificado entre 1871 e 1880, pertenceu a tradicional família Pereira Gomes, Casarão de Cultura Sonde morou o senhor Maximiniano Falcão. Sua arquitetura apresenta fidelidade às características estilísticas do final do século XIX, sob influência da colonização europeia. Seu conjunto arquitetônico, com belo padrão de azulejaria colonial, abriga além do térreo, primeiro andar e sótão. Foi comprado pela Prefeitura de Pedras de Fogo em 2007 para ser restaurado e destinado ao funcionamento da Secretaria e Casa de Cultura. Após a restauração em 2009 recebeu o nome de Dom Vital, em homenagem ao capuchinho. No primeiro piso funciona a sala de pesar de estar localizada no município de Itambé (PE), a Loja Maçônica também é uma importante exposições, onde há uma mostra fotográfica referência cultural local para os cidadãos de Pedras de Fogo. Sempre lembrada como um importante permanente das cidades de Pedras de Fogo e Itambé, marco histórico por se tratar do berço da maçonaria brasileira em 1796. e também uma sala dedicada ao frei Dom Vital. O A segundo piso é usado para as atividades culturais Faziam parte do Areópago os dois irmãos Arruda Câmara, os três irmãos Cavalcanti de Albuquerque, os como aulas de rabeca, sanfona, violão, flauta, padres Velho Cardoso, Pereira Tinoco, Albuquerque Montenegro, João Ribeiro Pessoa e José Luís Cavalcanti percussão, teatro, cavalo marinho, ballet, circense, Lima, sendo este último vigário de Recife (PE). A Loja Areópago de Itambé hoje está ligada ao Grande Oriente entre outras. O terceiro piso (o sótão), de menor Independente de Pernambuco e filiada à Confederação Maçônica do Brasil (COMAB). tamanho, foi adaptado exclusivamente para as aulas A Loja Maçônica no 17º Areópago de Itambé foi um projeto político, pautado na luta pela igualdade, de desenho artístico e pintura. liberdade e fraternidade. Fechada em 1801, devido aos conflitos com a Coroa Imperial, foi reaberta em 1980 por comerciantes locais em uma casa de farinha. O obelisco está localizado onde teria sido a primeira casa de reunião Casarão Dom Vital, atual do Aerópago. Casarão de Cultura. Loja Maçônica e obelisco ao Areópago de Itambé. Foto: Paôla Bonfim. Foto à esq.: Paôla Bonfim. Foto à dir.: Glício Lee. 17 18 Edificações Igrejas Evangélicas Santuário de N. Sra. da Conceição

Igreja Matriz de Pedras de Fogo teve sua construção iniciada em 1860 e sua Afinalização no ano de 1865, durante o período do Brasil Imperial. Dom Vital lutou por recursos para construir a Igreja, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição. Por fim, os recursos e o projeto arquitetônico foram conseguidos na Itália por iniciativa do capuchinho Frei Serafim de Catânea. Quando da inauguração em 1865 foi realizada uma procissão solene saída do porto de Recife (PE), aonde desembarcaram as imagens chegadas de navio da Itália, com destino a Pedras de Fogo. Além da imagem da padroeira, as demais presentes no altar, em tamanho natural, são as dos santos apóstolos, São Pedro e São Paulo, e a dos santos Capuchinhos, São Francisco e São Serafim. A mesma ordem de Dom Vital. No dia 08 de dezembro de 2007, dia de Nossa Senhora da Conceição, a matriz foi elevada a om diversas denominações presentes no município a comunidade evangélica em Pedras de Fogo é dignidade de Santuário pelo o Arcebispo da Paraíba, bastante atuante. É possível identificar pelas ruas do município o templo dos adventistas, batistas e Dom Aldo diCilloPagotto, atendendo ao pedido do então padre Cícero Alberes. Cdos assembleanos (com diversas sedes espalhadas pela cidade). Também encontram-se na cultura Pertencente a Diocese de João Pessoa, no ano religiosa da comunidade o Salão do Reino das Testemunhas de Jeová e outras igrejas como a Universal do Reino de 2015 celebrou 150 anos de construção com de Deus e a Palavra & Vida. Santuário, missa e imagem de N. Sra. da Conceição. Igrejas Evangélicas de diversas denominações. grande festa local. Fotos: Paôla Bonfim. Fotos: Paôla Bonfim e Fabiana Araújo. 19 20 Celebrações Festa dos Motoristas

corre há mais de 50 anos em Pedras de Fogo, Festa de Nossa Senhora da Conceição no último sábado do mês de maio, dia Odedicado a São Cristóvão. Sob o patrocínio da Associação dos Comerciantes, as atividades incluem “Mãos unidas em oração sempre a nos guardar uma procissão de carros, com bênção dos automóveis e Em teu dia querida mãe viemos te homenagear leilão. Um parque de diversões também é montado e Com teu povo em romaria seguimos em procissão ocorrem apresentações de caboclinho, ciranda, cavalo- Queremos neste teu dia te dar nosso coração”. marinho, banda filarmônica e outras atrações da terra. Trecho do Hino da padroeira de Pedras de Fogo, Os festejos acontecem 1 ano em Pedras de Fogo e no Nossa Senhora da Conceição ano seguinte em Itambé.

Procissão com a imagem de São Cristóvão. Disponível em: http://www.blogdoclaudioamorim.com.br/2017/05/evento-festa- s festividades a Nossa Senhora da Conceição tem início no dia 20 de outubro com peregrinação da dos-motoristas-de-itambe.html. imagem da santa, ao longo de um mês, pelos bairros e comunidades, de casa em casa. No último dia a Aimagem retorna ao Santuário e se inicia o período do novenário na Igreja. A abertura do novenário se dá no dia 29 de novembro e tem seu ápice no dia 08 de dezembro, que é o dia da Forró Fogo santa. O dia 29 é o dia da procissão e hasteamento das Bandeiras. Após a celebração da Santa Missa e das vento realizado já há 20 anos, nos dias 05, 06 e apresentações culturais a iluminação natalina é inaugurada. Os outros nove dias seguem com missas e 07 de maio, em comemoração a emancipação apresentações artísticas como grupos de coral, shows católicos, orquestra de rabecas, grupos de teatro e ballet, Eda cidade. Considerado um grande São João banda marcial e bingo. Os moradores mais antigos relatam que os festejos também davam lugar para leilões e fora de época, o evento conta com grandes palcos para apresentações do gênero musical forró pop ou forró pavilhões que não ocorrem mais. eletrônico. Para aqueles que apreciam um forró pé de No grande dia 08 de dezembro os festejos começam às 5 horas, tradicionalmente, com a alvorada de fogos e serra a Prefeitura monta um palhoção (área coberta e repique dos sinos, e às 9 horas tem a missa solene com a presença do Arcebispo da Paraíba. Às 16 horas ocorre com decoração junina), na rua principal. O palhoção uma Missa Campal de encerramento, seguida de uma procissão com a imagem de Nossa Senhora da Conceição fica montado até o final do mês de junho e a cada domingo um trio de forró pé de serra da região toca no pelas ruas da cidade e Benção Solene de término da festa. Para finalizar, sempre é apresentado um grande show local, do final da tarde até às 20h. As atrações também para a animação dos presentes que conta também com fiéis de Itambé (PE) e cidades vizinhas. incluem grupos folclóricos e artesanato local.

Festa de N. Sra. da Conceição. Disponível em: https://pt.foursquare.com/v/santu%C3%A1rio- Público do Forró Fogo. Disponível em: de-nossa-senhora-da-concei%C3%A7%C3%A3o/4f2488afe4b0a93fbf0d10b6/photos. http://blogitabaianahoje.blogspot.com.br/2017/05/prefeitura-de-pedras-de-fogo-realiza-o_6.html. 21 22 Celebrações Candomblé Umbanda e Jurema iferente do que muitos imaginam, a Umbanda não é uma religião afrodescendente (religiões Dque procuram manter sua estrutura organizacional como as existentes na África). A Umbanda é brasileira e traz em suas expressões de fé influências das matrizes africana, indígena, kardecista e católica. Contudo, Orixá não é um santo e os terreiros não precisam ter imagens católicas em sua composição. A eligião de origem africana, o candomblé foi trazido ao Brasil pelos negros escravizados que pertenciam a Umbanda tem Deus (também chamado de Zambi ou vários grupos étnicos. Monoteístas, seu culto e adoração são voltados para Deus (um ser supremo, Olorum) como supremo e onipotente. Rcriador) e para os Orixás (divindades africanas representantes das forças da natureza). Sua base para as Mãe Lú de Oxum pratica a Umbanda desde os 15 expressões de fé está no respeito à ancestralidade e na preservação do equilíbrio da natureza. No Candomblé anos. Quando visitou um terreiro em existe uma hierarquia bastante rígida, onde a mãe-de-santo ou pai-de-santo são responsáveis por guiar o ritual “”virou santo (quando a entidade incorpora) no primeiro religioso. toque de orixá e depois com o toque da Jurema. Sua Em Pedras de Fogo, há sete anos, existe a nação Ketu e atualmente conta com aproximadamente 30 feitura (ritual de iniciação) aconteceu quando estava com membros. A Nação está se organizando para a construção do seu terreiro (também chamada roça ou casa) de 30 anos de idade. Hoje é Mestre da Jurema há 18 anos, Candomblé. com cerca de 20 filhos espirituais. No terreiro de A mãe-de-santo Valkíria de Oxóssi iniciou no Candomblé aos 14 anos sob a influência do avô. Passou 19 umbanda Berço da Mãe Oxum, ela prepara mix de ervas anos em preparação para assumir a missão dada pelos seus Orixás e hoje tem 12 filhos e 9 netos espirituais. Todos para tomar ao toque da Jurema durante as celebrações. os meses organiza celebrações em homenagem a um Orixá. Na sexta-feira, dia de Oxalá (Pai supremo), ela veste branco, só come peixe e guarda o silêncio. Ela também joga búzios e faz questão de dizer que não pratica o mal a Mãe Lú também é rezadeira e utiliza o rosário nas ninguém. suas bendições. Ela afirma ser uma “” autodidata , tendo As reuniões da Nação Ketu acontecem na casa de Mãe Valkíria, mas em dias especiais ela utiliza o terreiro de “ouvido as rezas diretamente dos santos católicos” em Mãe Lú de Oxum no Terreiro Berço de Mãe Oxum. Mãe Lú (com quem compartilha respeito e admiração mútua). Candomblé do Ketu. quem deposita muita fé. Acervo: Glício Lee. Acervo:Glício Lee. Fotos: Lucas Lourenço. 23 24 Saberes e Ofícios Casas de Farinha Artesanato em Couro

eu Severino Agostinho Dias de Abreu, ou apenas Bibiu Abreu, trabalha com o couro desde S1970. Ele conta que gostava muito de animais e um dia, de modo autodidata, resolveu tentar fazer uma sela e uma cabeçada (acessórios para montaria). Trabalhava como agente penitenciário, mas desde que se aposentou em 2015 abriu uma loja de produtos de couro, a SOS Arreio. Hoje se dedica exclusivamente a essa atividade. m Pedras de Fogo são poucas as casas de farinha em funcionamento. Duas delas se localizam em terrenos Econtíguos, a de Seu Manuel Belo e a de Seu Brito Abreu, a qual produz o alimento de terça à sexta-feira e emprega cerca de 40 pessoas. Para se obter a farinha, após a mandioca ser descascada e cevada (mergulhada em água) a goma é colocada em uma prensa para ser espremida por 10 minutos. Volta-se a cevar para soltar os grãos e então é encaminhada para secagem num forno em alta temperatura. O produto passa por uma peneira e só depois é armazenada em sacos de 25 ou 50 kg.

Já a casa de farinha de Seu Antonio é de cunho mais familiar. Casa de farinha de Seu Brito Abreu: Além das mulheres que descascam a raíz, a casa emprega apenas mulheres descascando a mandioca (acima Seu Bibiu Abreu em sua loja de produtos de couro (acima). à esq.) e maquinário (acima à dir.). O trabalho artesanal com o couro (abaixo à esq.) outras 3 pessoas. Toda sua produção é vendida nos dias de feira em Seu Antonio em sua Casa de farinha Cabeçadas e bainha (estojo para faca) em couro (abaixo à dir.). artesanal (abaixo). Fotos: Paôla Bonfim. Pedras de Fogo. Fotos: Paôla Bonfim. 25 26 s letras cantadas, seguidas de palmas e o ritmo tocado pelo berimbau guiam o sistema de Capoeira Formas de Expressão Aauto-defesa tradicional criado pelos escravos no Brasil. Outros instrumentos contribuem para a musicalidade da capoeira. São eles: agogô, reco-reco, adufe, atabaque, pandeiro, caxixi, etc. Caboclinhos Em Pedras de Fogo, os mestres mencionados anifestação cultural símbolo da memória da como referências local são: o mestre Cuscuz e mestre resistência indígena no Brasil. Caracterizada Marcos Traíra. Esse último aprendeu a arte aos 15 pela vestimenta típica e arco e flecha, a anos de idade e em 1995 criou o “Grupo Arte e Dança M “Agremiação Águia Negra” insere em suas da Cultura Negra”, o qual hoje possui cerca de 100 apresentações o tarol, o apito, a flauta e o surdo. O integrantes de idades entre 10 e 50 anos. As aulas grupo possui três mestres, os quais se dividem para a acontecem na Praça da Vila, em Itambé, às segundas e produção das melodias e cantorias. quintas-feiras. A partir da experiência nesse grupo de Pedras de Mestre Traíra também é artesão e fabrica seus Fogo, o Mestre Geraldo do Índio resolveu fundar em próprios instrumentos. Ele compra o couro de boi 2010 sua própria brincadeira: a Agremiação Canindé ainda verde, faz o tratamento e depois produz seu do Índio”, que hoje conta com 47 participantes. Os atabaque com madeira de jatobá ou massaranduba em Apresentação da Agremiação Águia Negra. ensaios acontecem na rua, entre janeiro e fevereiro. A Roda de capoeira, com apresentação do maculelê. Acervo: Mestre Geraldo do Índio. própria família do Mestre é quem produz as mais ou menos 15 dias. Já o berimbau ou o caxixi ele Acervo: Mestre Marcos Traíra. confecciona em cerca de 1 hora e meia. indumentária e os adereços do grupo.

Babau/Mamulengo “Óh grande Jesus amado, filho da Virgem Maria Dê-me uma força santa, com vossa soberania Violeiro babau ou Mamulengo é um espetáculo pra eu mostrar para todos o que é a cantoria”. popular com bonecos. Eles podem ser de luva, s Cantadores de Viola surgem no Nordeste vareta, haste e fio. Suas história representam O do Brasil como um tipo de canção rural. Eles dramas da vida cotidiana e são apresentadas por trás de cantam de improviso. A melodia é solta, uma cortina chamada de empanada. O como uma poesia falada com acompanhamento Mestre Araújo começou a brincar em 1922, aos 17 musical. anos. Ele aprendeu a manipular os bonecos com Mestre Mestre Bibiu Abreu, além de artesão em couro, Francisco Joaquim e ele mesmo confeccionou seus cerca também é violeiro e repentista. Ele conta que escutou de 400 bonecos. A brincadeira era composta repente aos 8 anos de idade com um tio e se apaixonou principalmente pelo João Redondo, Benedito, Maria de imediato. Cafumbú. Tinha ainda músicos que animavam a Compôs seu primeiro verso em 1968 e hoje é brincadeira com a rabeca, pandeiro e triângulo. famoso na cidade por causa da Noite da Cultura no Infelizmente Mestre Araújo precisou vender seus Casarão, ocasião em que celebra o seu aniversário Mestre Araújo com seus últimos bonecos. bonecos devido a uma praga de cupim. Mestre Bibiu Abreu com sua viola. Acervo: Amanda Viana, 2015. reunindo poetas e músicos convidados. Foto: Paôla Bonfim. 27 28 Cavalo Marinho Formas de Expressão cavalo marinho é um folguedo da cultura nordestina, típico da zona da mata norte de Pernambuco. Está presente no município de Pedras de Fogo devido sua proximidade com essa região. As apresentações Ofazem parte do ciclo de festejo natalino, em homenagem aos Reis Magos. Contudo se apresentam entre os meses de julho e janeiro, geralmente nas festas de São João, São Pedro, Sábado de Santana, dia do Folclore, Natal, Ano-Novo e Dia de Reis. É caracterizada como teatro, que inclui dança, música e poesia. Os instrumentos que compõem o banco são: rabeca; pandeiro; reco-reco; bagé de taboca; zabumbas e ganzá. Sobre os personagens ao todo são 76, distribuídos em três categorias: humana (Capitão, Mateus, Bastião, Mestre Ambrosio, Soldado da Guarita, Mané do Baile, Valentão, Pisa Pilão, Barre Rua, entre outros); fantástica (Caboclo de Urubá, Parece mas não é, Morte, Diabo, Babau, Jaraguá) e animal (Boi, Ema, Cavalo, Onça e Burra). Quando todos os personagens estão presentes a apresentação pode durar até 11 horas. Em Pedras de Fogo, a tradição é representada por três grupos: o “Boi de Ouro” do Mestre Araújo, brincadeira criada em 1988; o “Boi Maneiro”, de Mestre Pinto; e o “Boi de Prata”, brincadeira com o intuito de promover ações culturais junto as crianças de Pedras de Fogo e Itambé. A atividade está sob a responsabilidade do professor Glício Lee. Também tem o Luís Miguel, responsável pela direção do cavalo-marinho. Ele iniciou no folguedo aos 10 anos, representando a dama (quando as mulheres ainda não participavam da brincadeira), passou por todos os personagens até chegar a categoria de mestre. Segundo ele: “Quando comecei a brincar se fazia por prazer, porque se gostava de brincar”. Maracatu Rural s mais antigos maracatus foram criados em engenhos na Zona da Mata pernambucana, onde seus fundadores eram Otrabalhadores rurais do canavial e cortadores de cana-de- açúcar, entre fins do século XIX e início do XX. Alguns personagens que compõem o maracatu rural são: caboclos de lança; caboclo de pena; Catirina; Mateus; Catita; reis e rainhas. Em Pedras de Fogo a manifestação é representada pelo Maracatu Rural “Leãozinho das Flores” de Mestre Ezequiel. Contudo, existem maracatus mais antigos como o “Leão da Fronteira”, de Mestre Bola do Norte, que se localiza em Itambé e o “Onça Pintada”, também fundado por Mestre Ezequiel. Além do cavalo-marinho, Mestre Luís Miguel também brinca no Maracatu. Iniciou no folguedo aos 8 anos de idade como caboclo. Hoje ele atua pelo “Águia de Ouro de Igaraçu” que sai os três dias de Maracatu Leão da Fronteira. Cavalo-Marinho em Pedras de Fogo. carnaval. Acervo: Glício Lee. Acervo: Glício Lee. Foto: Lucas Lourenço. 29 ransitavam na vereda tropeiros, Caaporã pescadores e trabalhadores do porto. Ao um município paraibano, localizado na região metropolitana de João Pessoa, na Microrregião Litoral Tlongo do tempo foram surgindo casas no Sul e Mesorregião da Mata. Faz fronteira com: Alhandra ao Norte, Goiana (PE) ao Sul, a Leste caminho da “boca da mata” que dava acesso aos Ée Pedras de Fogo a Oeste. Portos de Acaú e de Goiana. Nesse processo os Do indígena “Boca da Mata”, Caaporã era um território pertencente ao Sr. José de Sá e ao Coronel primeiros bairros da cidade foram Divina Santa Cruz Monteiro. (ou Piquete), Saboeiro, Pindorama e Cinco Bocas. O território de Caaporã se localizava na Fazenda “Tabu”, propriedade família Lundgren (originária de Rio Nos anos 1980 a população da cidade cresceu Tinto), e foi a princípio ocupado por viajantes que rumavam do Litoral Sul para o interior. Por volta de 1843 fazia devido a criação de conjuntos habitacionais populares parte da vereda de 3 km de extensão por onde migravam os itinerantes de Goiana (PE)em direção às praias de em sua periferia (Nova Caaporã, Vitória e Lírio dos Pitimbu e Acaú. Vales). O estabelecimento de fábricas na região contribuiu, mais recentemente, para o incremento da densidade populacional urbana. Em 27 de dezembro de 1963, Caaporã foi desmembrada de Pedras de Fogo e promovida a município pela Lei Estadual de nº 3.130.

Acima: Rua Presidente João Pessoa, com vistas para igreja São Sebastião (anos 1950). Ao centro: Rua Salomão Veloso, em frente ao atual “Sopão” (anos 1950). Abaixo: Fanfarra da cidade, com vistas para a Igreja Mapa de localização do município de Caaporã (PB). São Sebastião (anos 1950). Fonte: History Makers. Mapa: Natallia Azevedo. 31 32 Praça do Piquete Lugares

ocalizada no bairro Divina Santa Cruz, era área de entrada da cidade e caminho Mercado Público Lobrigatório para os viajantes que carregavam mercadorias de Goiana (PE) para Acaú e Pimtibú. Havia um posto fiscal com cancela e as cargas que ali passavam eram taxadas para evitar contrabando. Daí surgiu o nome Praça do Piquete. Inicialmente, na pequena praça havia uma grande cruz de madeira, que deu origem ao nome do bairro e em 2002 foi substituída por uma estátua de São José. Estátua de São José, na Praça do Piquete. Foto: Paôla Bonfim.

Praça do Colorido

naugurada em 2010, seu nome homenageia o Mercado Público e Feira Livre. Foto: Paôla Bonfim. falecido vereador Genilson Fernandes IBarbosa, conhecido como “Colorido”. A área itua-se no centro de Caaporã e é usado para A feira livre do município de Caaporã é conta com uma quadra poliesportiva, uma quadra de comercialização de hortifrutigranjeiros e realizada no entorno o Mercado Público da cidade, areia, brinquedos infantis, pista de skate, outros itens de uso doméstico de aos sábados, das 05 às 14 horas e reúne um grande equipamentos de ginástica e de fisioterapia. O local S atrai principalmente os jovens da cidade. produtores locais. Há barracas de vegetais, carnes, número de pessoas, vendendo e comprando peixes, comidas típicas, roupas, brinquedos, entre mercadorias. É um dia de intensa movimentação e Praça do Colorido. outros. comercialização. Foto: Fabiana Araújo. 33 34 Lugares Porto de Gongaçari

ua influência comercial e cultural para o também há um considerável número de casas de município é registrada desde a década de taipa de pau a pique construídas com esteios de S1940, quando havia uma grande madeira e barro, extraídos da própria região. Nessas movimentação, especialmente, em função da casas são abrigados os materiais de pesca. Companhia Paulista, de propriedade de Alberto de Na vila também se encontra a Capela de São Lündgren, que retirava madeira da Mata do Abiaí e Pedro, onde, todos os anos, é celebrada a tradicional redondezas. A madeira extraída era transportada em missa de São Pedro, no dia 29 de junho, na ocasião locomotivas até o porto onde era feita a distribuição dos festejos juninos. O evento também é marcado para todo o Brasil, através de navios rebocadores pela realização da procissão fluvial, quando um (LIMA, 2014). grande número de fiéis aguardam a passagem da Na atualidade, o Porto é habitado por uma vila imagem de São Pedro e Nosso Senhor dos composta de casas feitas de alvenaria, assim como Navegantes.

Vila de pescadores no Porto de Gongaçari (à esq.). Foto: Paôla Bonfim. Porto de Gongaçari. Casario com Capela de São Pedro ao centro (à dir.). Foto: Sandra Santana. Foto: Paôla Bonfim. 35 36 Lugares Fazenda Tabu casa-grande situa-se na Vila operária da Destilaria Tabu, onde é possível ver outros exemplares de e acordo com relatos históricos da localidade, a Fazenda Tabu pertenceu ao Coronel Miranda, que a arquitetura construídos, possivelmente, também em meados do século XX. São edificações contíguas, vendeu para João de Sá em 1843, só sendo repassada para outro proprietário em meados de 1918, Acom linhas retas , balaústres e pouca ou nenhuma ornamentação nos seus compartimentos. Ddesta feita adquirida pelo Coronel Alberto Lündgren, que abrigou em 1920, as atividades de engenho Tabu (LIMA, 2014). A casa-grande da Fazenda Tabu foi edificada no início do século XX, com a utilização de tijolos cerâmicos com o intuito de referenciar o período colonial. Atualmente o imóvel se encontra reformado e adaptado à contemporaneidade, contudo ainda conserva em seu interior o piso em tábuas de madeira no primeiro pavimento, as aberturas em forma de arcos e a escada de acesso ao primeiro piso, em madeira, características da sua edificação original.

Casa-grande da Fazenda Tabu, zona rural de Caaporã (pág. anterior). Edificações da vila operária (acima). Fotos: Paôla Bonfim.

Em visita ao lugar identificamos que parte do conjunto foi demolido pelos proprietários, tratava-se do engenho para fabricação da cachaça e rapadura. Segundo relatos havia rumores de que toda a área seria demolida, incluindo as edificações da vila operária, mas por pressão popular parte do conjunto histórico municipal foi preservado.

Parte do conjunto demolido que existia em 2016. Foto atual da área apenas com a chaminé. Foto: Paôla Bonfim. Foto: Sandra Santana. 37 38 Edificações Igrejas Evangélicas Igrejas Católicas público evangélico em Caaporã é bastante significativo e influente. Na igreja de São Sebastião, primeira igreja católica de Ocidade diversas denominações Caaporã foi construída de taipa (ou pau a pique) por edificaram seus templos, os quais estão abertos à Amoradores locais em 1930, sendo posteriormente população. substituída por uma construção em alvenaria e dedicada a Nossa A principal referência histórica é a Primeira Senhora da Conceição, padroeira da cidade. Passado algum Igreja Batista de Caaporã, construída em 1946. Ela foi tempo, por iniciativa da comunidade, o padroeiro da igreja demolida e a nova sede construída em 2009 funciona até os dias atuais. passou a ser São Sebastião. Fato que também acarretou a Outra referência é a Igreja Universal do Reino de mudança do nome da igreja, que se mantém até a atualidade Deus, que se estabeleceu em 2002 e conta com cerca de (LIMA, 2014, p. 161). 150 fiéis. Também está presente na cidade desde 1998, A Igreja de São José é dedicada a um dos santos mais a Paróquia Anglicana Boas Novas, que conta com 70 venerados de Caaporã, cuja festa começa com um missa membros. celebrada em diversas comunidades durante oito dias. Há mais de 70 anos a denominação Assembleia A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição está de Deus atua em Caaporã e seu primeiro templo foi localizada no centro de Caaporã e foi construída na década de demolido e ainda não reconstruído. Enquanto isso os 1990, com o auxílio de um grupo vinculado à igreja católica membros se encontram num galpão até que a nova alemã, que financiou a aquisição do terreno e a construção da edificação seja concretizada. igreja (LIMA, 2014). Primeira Igreja Batista de Caaporã, antiga sede Igreja de São Sebastião (acima), (edificação demolida, acima). Igreja de São José (ao centro) e Assembleia de Deus de Caaporã, antiga sede Igreja Matriz N. Sra. da Conceição (abaixo). (edificação demolida, abaixo). Fotos: Paôla Bonfim e Fabiana Araújo. Acervo: Lúcia Santos Lima. 39 40 Celebrações Festa de São Pedro

procissão fluvial, realizada no dia 29 de junho, dia da festa de São Pedro é um dos destaques da atividade cultural de Caaporã. Nesse dia, na década de 1960, embarcações carregavam a imagem de ASão Pedro Pescador, saindo do distrito de Povoação com destino ao Porto de Gongaçari, quando seguia via terrestre, até a Igreja de São Sebastião. Atualmente a procissão passa pelo porto apenas para a realização de uma missa e segue para o município de Goaina (PE). Em um evento organizado pela colônia de pescadores e a comunidade católica, os participantes aguardam a passagem da procissão fluvial enquanto degustam comidas típicas e ouvem musicas nas barracas . Essa confraternização dura até o momento de ser celebrada a missa na Capela de São Pedro.

Procissão fluvial de São Pedro (à esq.) e comunidade aguardando a chegada da procissão no Porto de Gongaçari (à dir.). Barco com as imagens santas. Acervo: Lúcia Santos Lima Acervo: Lúcia Santos Lima. 41 Celebrações Jurema Sagrada e Umbanda

or influência do município vizinho Alhandra (considerada a cidade mundial e berço da Jurema Sagrada), Caaporã é marcada pela prática dessa religião, também conhecida como Catimbó. A Pdenominação desse ritual vem de uma árvore de mesmo nome. Dotada de um “espírito próprio” ela é o centro dessa prática que, segundo a crença, pode intervir nos problemas e se comunicar com as pessoas. Essa religião conjuga elementos da tradição indígena e das culturas afro e cristã. Em suas celebrações podem ser vistos: música, dança, comida, fumo e bebidas. Nelas os indivíduos fazem oferendas para que os espíritos venham lhes trazer saúde e atender suas necessidades.

m Caaporã é possível encontrar o centro de Seu Biu Toco, seu Severino Vicente Ferreira, que alega ter como herança materna o dom da mediunidade. Ele exerce os seus trabalhos espirituais, guiado pelo ECaboclo Manoel Pinto. Durante o ano ele homenageia, em seu templo, seus caboclos-guias: Iemanjá, Cosme e Damião, Oxum, Xangó, Dona Iançã, Pomba Gira, Exú, entre outras referências (LIMA, 2014). Outro nome conhecido na cidade é o de Dona Maria José Ramos, ou apenas Dona Zezinha, que realiza trabalhos de “mesa branca”, seguindo uma tradição familiar espírita, a linha da Jurema associada à Umbanda. São práticas diferenciadas para revelar dois universos distintos entre orixás e santos, mestres e caboclos, cultuados no toque para Jurema. Celebração no Centro de Seu Biu Toco (acima). Seu Biu Toco. Acervo: Lúcia Santos Lima. Acervo: Lúcia Santos Lima. 43 44 Saberes e Ofícios Carpintaria Naval

Pesca Artesanal

pesca é uma das principais fontes de renda da região. A prática conta com a Colônia de Pescadores do Porto de Gongaçari, fundada em 1977, e atualmente possui 400 trabalhadores registrados. Além Adesses, há aqueles que pescam para consumo próprio. Com o auxílio de redes e armadilhas como covo e jereré, é comum a pesca de peixes e ainda de guaiamum, espécie de caranguejo lá encontrada no mangue próximo ao rio. Apesar das dificuldades, os pescadores locais afirmam que é possível sobreviver desse ofício e a pesca pode render até cerca de 10 kg por semana. função do carpinteiro naval é consertar Seu Zé Manga é morador do Porto de Gongaçari há quarenta e três anos, quando no local havia poucas e construir barcos e, de acordo com seu residências. Tanto ele como a esposa são pescadores e, enquanto consertava sua rede de Nylon de seda, ele AAntônio José Fernandes, cada etapa contava que construíram a própria casa de taipa de onde afirma nunca querer sair. desse ofício requer especialização mesmo para quem já é carpinteiro. Ele está nessa profissão há 25 Seu Givanildo é pescador há anos e aprendeu seu ofício espontaneamente por dezenove anos e conta que a lida é difícil, meio da observação. saindo todos os dias de madrugada para Seu Antônio conta que é mais simples fazer garantir o sustento. um novo barco que consertar um avariado. Ainda explica que é o único da região a fabricar

Seu Givanildo com seus embarcações, os outros apenas realizam consertos. instrumentos de pesca como o jereré e covo (à esq.) e Seu Zé De modo que esse é um saber ameaçado de Manga fazendo reparos em sua rede de pesca (à dir.). desaparecimento pois são poucos os interessados Seu Antonio em sua oficina de carpintaria naval (pág. ao lado). em exercê-lo. Fotos: Paôla Bonfim. 45 46 Saberes e Ofícios Luminárias de fibra de coco Cestas e balaios de cipó

“Acho que nasci assim, pois quando eu via meu pai fazendo as peças, eu pegava “O que as pessoas descartam, eu um pouco de cipó e corria para o mato tentar fazer igual”. transformo e faço arte. Meu trabalho é a minha identidade”.

ona Elza Maria Nicácio da Silva produz cestos e balaios de cipó desde criança, ofício senhora Gilma Pereira de Oliveira utiliza o que aprendeu com o pai, vendo-o trabalhar miolo da palha do coqueiro na produção D de luminárias decorativas. Para realizar sua com os recursos naturais. Ela afirma utilizar como A produção ela faz a coleta nas praias de Pitimbu, Acaú matéria-prima qualquer tipo de árvore, desde japecanga, e Carne de Vaca. Gilma trabalha sozinha e dispõe ripa de dendê, timbó, tirara, dentre outras. apenas da ajuda do esposo de Dona Elza para fazer a Mesmo com a diversidade da vegetação de coleta dos cipós dentro da mata. Caaporã, está cada vez mais difícil encontrar cipó. De Atuava como professora, mas agora modo que a artista precisa recorrer ao sobrinho para profissionalizou-se como artesã e concilia sua procurar a matéria prima em outros lugares. atividade com a da lavoura. Ela tem o sonho de ter Os produtos de Dona Elza são expostos na varanda seu próprio ateliê, bem como uma escola de artes. Sua produção é exposta nas grandes feiras de de sua residência, situada à Rua Clemente Ferreira, artesanato a exemplo das que ocorrem na Paraíba, principal via pública de Caaporã. A artífice já chegou a Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além do produzir dez peças por dia, fornecendo para igrejas, orgulho de ter suas peças admiradas por designers escolas e festas, porém, problemas na visão têm impedido conceituados. Atualmente, está atendendo uma Dona Elza de manter a sua produção. encomenda para clientes em Paris. Dona Elza com seus cestos e balaios. Dona Gilma na produção de suas luminárias. Foto: Sandra Santana. Foto: Paôla Bonfim. 47 48 Cerâmica Saberes e Ofícios

eu José Hildo Bezerra é conhecido em toda a Ele mantém o ateliê nos fundos de sua região por sua atividade como ceramista, residência, no distrito de Cupissura (zona rural de Rabeca Sofício que declara ter por herança familiar. A Caaporã), onde produz potes de barro, moringas, oaquim Camilo Barbosa é tocador de rabeca. Ele afirma ter aprendido olaria de sua propriedade pertenceu aos seus avós e filtros, porquinhos para guardar moedas, vasos para essa atividade com um amigo, que inclusive lhe vendeu o instrumento. depois foi assumida por seu pai, também praticante plantas, pratos e panelas. Seu Deinha fabrica, por JMesmo tendo seis filhos nenhum consegui aprender a arte do pai, fato da arte. Posteriormente, o legado foi passado para semana, em torno de 200 peças pequenas e 80 que entristece seu Joaquim. Seu Deinha e irmãos. O ceramista também já está grandes. Todas fornecidas ao comércio de Ele guarda seu instrumento com amor e dedicação, relembrando que transmitindo a herança cultural para seus filhos. Pernambuco e Caaporã. fora convidado para tocar em muitos eventos, quando podia exibir sua atividade artística marcada por um repertório variado. Seu Joaquim afirma que já animou ocasiões como bailes, pastoril, festas de babaus ou mamulengos, em diversos lugares na Paraíba, dentre os quais citamos: Acaú, Carne de Vaca e Caaporã.

Azeite de Dendê Ainda na área rural, distrito de Cupissura, encontra-se Seu Ivanildo Irineu Correia que produz o óleo de dendê. Ele conta que passa três dias para preparar o azeite. Segundo ele, além de ser apreciado na culinária, o dendê é também utilizado por indústrias para diversos fins.

Seu Joaquim tocando a rabeca (acima). Seu Deinha na produção de vaso de argila e outras peças dispostas no ateliê. Seu Ivanildo e o azeite de dendê (abaixo). Fotos: Paôla Bonfim. Fotos: Paôla Bonfim. 49 50 m Caaporã existe um grupo de capoeira formado por crianças, adolescentes e adultos Capoeira Formas de Expressão Esob a coordenação do professor André Silva, mais conhecido como André Pirulito. O Grupo de Capoeira “ Cordão de Ouro” está vinculado ao Mestre Suassuna da Academia Matriz Grupo Cordão de Ouro (SP); ao Mestre Irani da academia Cordão de Ouro Natal Maracatu (RN) e ao Mestre Pernambucano do Cordão de Ouro Corumbá ( MS). As rodas de capoeira acontecem sempre nas quartas e quintas-feiras, das 19 às 22 horas, no Centro de Caaporã (Praça do Colorido), mas também faz exibições quando é convidado para eventos. O grupo já tem grande representatividade com filiais não apenas no Brasil, mas no exterior também.

Literatura de Cordel maracatu teve sua representação identificada na comunidade de Cupissura, área rural do município,

ona Lúcia Santos Lima é professora aposentada da por meio de um grupo conhecido como “Maracatu do Baque Solto Água Dourada de Caaporã”. rede municipal de ensino. Cordelista, já escreveu Participam do folguedo 60 pessoas, sendo 40 de Caaporã e 20 de Condado (PE). Eles se reúnem diversos cordéis nos quais retrata o município de O D mensalmente para a realização dos ensaios também chamados de sambadas. O mestre do grupo, Jeronimo Caaporã e seus lugares, como o Porto de Gongaçari, por exemplo, e também sobre alguns cidadãos ilustres da cidade. Gomes da Mota é pernambucano e se instalou em Caaporã em 1988. Mas só criou o grupo em 2016, cadastrando- Além dos cordéis, Dona Lúcia escreveu também o livro “ A o na Associação de Maracatu do Baque Solto de Pernambuco. História de Caaporã” , que já está em sua segunda edição. No Segundo o Mestre Jeronimo, o maracatu de Caaporã não explora o aspecto religioso típico do folguedo, livro registra diversos aspectos sociais, econômicos e culturais mas apenas o lado da brincadeira. Mesmo assim, antes de sair para o carnaval, o grupo realiza “o pacto da oração”. da região. Fato que a assegura como referência cultural para o município. Contudo, alguns dos caboclos têm suas próprias tradições e, para esses é respeitada a abstinência sexual e o não consumo de bebidas alcoólicas 15 dias antes do carnaval e 2 dias após o término das apresentações. Roda de capoeira (acima). Acervo: Lúcia Santos Lima. Mestre Jeronimo trajado como caboclo de lança (à esq.) e Dona Lúcia e sua produção literária (ao lado). os instrumentos musicais da batacuda (à dir.). Foto: Paôla Bonfim. Fotos: Paôla Bonfim. 51 52 Considerações Finais Referências Bibliográficas

atrimônio Cultural, herança de memórias, cultural que existe nessses municípios. Eles possuem CASCO, Ana Carmen Amorim Jara. Sociedade e Educação Patrimonial. Brasília, DF: Iphan. Disponível em: de histórias de tantos lugares. Cotidiano de um importante conjunto histórico e artístico Acessado em abril 2014. Ppoderes, de resistências, de encontros e representado tanto em suas formas materiais quanto COMPANHIA BRASILEIRA DE VIDROS PLANOS; REAL CONSULTORIA. Estudo de Impacto Ambiental desencontros. Experiências de vida que se imateriais. As expressões e comprovações desse fato (EIA) para lavra de areia em terra firme, propriedade Popocas-Salamargo. Vol. III. Capítulo 4: Meio Antrópico, concretizam nas edificações, se multiplicam nos se dão não apenas pelas histórias contadas, mas Patrimônio Histórico, Cultural, Paisagístico e Arqueológico. João Pessoa: 2016. objetos, se fortalecem nas ruas e praças. Instantes também por seus artistas, objetos, mestres, FLORÊNCIO, Sônia Rampim; CLEROT, Pedro; BEZERRA, Juliana; RAMASSOTE, Rodrigo. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília, DF: Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc, 2014. que se elevam nas celebrações, nas trocas de construções, recantos e encantos, pessoas comuns e conhecimentos, que se fazem afetivos na música, na também as incomuns, que tratam da composição GRUNGERG, Evelina. Manual de atividades práticas de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2007. poesia, na dança, nas brincadeiras. desses lugares. HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Para entender tudo isso, somente olhando de A beleza natural e substancial dos rios que Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999. novo. Somente andando com as pessoas, somente geram a pesca, o lazer, a crença e a procissão, as INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Educação Patrimonial: orientações ao escutando os barulhos e os silêncios. A palavra é histórias contadas nas fazendas, nas casas de farinha e professor. Caderno Temático 1. João Pessoa: Superintendência do Iphan na Paraíba, 2011. conviver, revisitar o já vivido. que chegam à cidade, povoando as feiras, os LIMA, Lúcia Santos. A História de Caaporã. 2. ed. João Pessoa: A União, 2014. Permitindo-se experimentar as manifestações mercados e suas redondezas. Essas são belezas que SILVA, Ligia Betânia Wanderley. A feira livre em Pedras de Fogo-PB. João Pessoa: editora UFPB, 2006. de Pedras de Fogo e Caaporã, é possível sentir a força perpassam pelas pessoas e se estabelecem nelas. VOTORANTIM CIMENTOS N/NE S/A; MENDES ARCHEOLOGIA. Educação Patrimonial: Bens Culturais de Caaporã. João Pessoa: Gráfica São Mateus Ltda., 2017.

Agradecimentos especiais a Lúcia Santos Lima, Glício Lee Batista da Silva e Marcos Antônio Rodrigues da Azulejos do Casarão de Cultura Silva. Sem o apoio de vocês essa pesquisa não teria sido de Pedras de Fogo. possível. Foto ao lado: Paôla Bonfim. 53

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