Universidade Federal de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Laísy Damiani Pinheiro Rocha

BOM JARDIM DE MINAS: UMA POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL PARA A PRAÇA PRESIDENTE VARGAS E PROXIMIDADES

Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso I.

Orientador: Prof. Ms. Victor Hugo Godoy Nascimento

Juiz de Fora Julho/2017

Aos meus pais, sem eles não seria possível chegar até aqui.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à Deus, que está sempre comigo. Aos meus pais, por tornarem meus sonhos possíveis. Em especial, à minha mãe, a mulher mais forte que eu conheço, agradeço por todo apoio, amor e dedicação. Ao meu pai, por me entender e sempre acreditar em mim e em meus sonhos. Ao meu irmão, pelo amor e por estar sempre presente. Aos meus familiares, avós, tios e primos, pelo amor e pela torcida. Aos moradores de Bom Jardim de Minas, cidade que eu amo, pela boa vontade em colaborar com seus conhecimentos, especialmente os moradores entrevistados para o desenvolvimento deste trabalho: Monsenhor Elias Saleh, Henrique Alves, Francisco Mattos e Silva, Tereza Rachid Ozório da Fonseca e meu pai, João Batista da Silva Rocha. Ao Antoninho Guido de Paula e ao José Marinho de Araújo, que mesmo não estando mais entre nós, deixaram suas pesquisas históricas sobre a cidade, que foram de extrema importância durante o estudo. Ao meu orientador e amigo, Prof. Ms. Victor, por toda ajuda e compreensão. À vocês, toda a minha gratidão!

“A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.”

PLATÃO

Resumo

Com o crescimento acelerado das cidades, a busca pelo aprimoramento da qualidade dos espaços públicos urbanos tem crescido nos últimos tempos. O desenvolvimento sócio-espacial é aquele que promove a melhoria na qualidade de vida dos usuários de um determinado local, o que só é possível conhecendo-se as demandas do mesmo. O objetivo deste trabalho é compreender o que é desenvolvimento sócio- espacial para propor soluções para a área de estudo em questão, o que torna necessário conhecer outras questões envolvidas, determinantes para o sucesso ou o fracasso destes lugares. Além disso, busca-se entender como a melhoria de um espaço pode influenciar a qualidade de vida de seus usuários. Assim, para a realização deste trabalho buscou-se embasamento teórico para um projeto de requalificação na área central da cidade de Bom Jardim de Minas, MG. Para isto, propõe-se que o centro da cidade seja fechado e passe a ser de uso exclusivo de pedestres, criando-se um calçadão. Para compreender como o sucesso ou o fracasso dos calçadões ocorrem, foram realizados três estudos de casos, o primeiro em Curitiba, PR, na Rua XV de Novembro, o segundo em Juiz de Fora, MG, na Rua Halfeld e o terceiro em Nova Iorque, EUA, na Times Square. Os calçadões podem ter usos multifuncionais, como, local de passagem, podem se tornar local de encontro e permanência, podem servir como um espaço para manifestações culturais e, por fim, influenciar positivamente o comércio em seu entorno, caracterizando- se como uma mudança positiva, uma vez que hajam demandas para a sua realização.

Palavras-chave

Desenvolvimento sócio-espacial; espaços públicos urbanos; calçadões.

Lista de imagens

Imagem 1: Bom Jardim de Minas, localização...... 07

Imagem 2: Igreja Senhor dos Passos (Antiga matriz) ...... 11

Imagem 3: Recanto do Saber...... 12

Imagem 4: Antiga estação ferroviária...... 14

Imagem 5: Cachoeira do Tito Venço, Bom Jardim de Minas...... 18

Imagem 6: Parque Ecológico Municipal de Taboão, Bom Jardim de Minas...... 18

Imagem 7: Cristo de Bom Jardim de Minas...... 19

Imagem 8: Cristo de Bom Jardim de Minas...... 19

Imagem 9: Arruamento de Bom Jardim de Minas, 1995...... 21

Imagem 10: Prefeitura Municipal de Bom Jardim de Minas...... 22

Imagem 11: Praça Cônego Ignácio de Almeida (Praça da Igreja) ...... 24

Imagem 12: Praça Antônio Jacinto de Farias (Praça da Rodoviária) ...... 24

Imagem 13: Localização da Praça Presidente Vargas, Bom Jardim de Minas ...... 25

Imagem 14: Praça Presidente Vargas, ano desconhecido...... 26

Imagem 15: Praça Presidente Vargas, ano desconhecido...... 26

Imagem 16: Praça Presidente Vargas, local onde atualmente é a Praça do Banco do Brasil, ano desconhecido...... 26

Imagem 17: Praça do Banco do Brasil, o coreto deixa de existir e dá lugar à praça, ano desconhecido...... 27

Imagem 18: Praça Presidente Vargas, década de 1940 ou 1950...... 27

Imagem 19: Praça Presidente Vargas, década de 1940 ou 1950...... 28

Imagem 20: Praça Presidente Vargas, década de 1970...... 28

Imagem 21: Praça Presidente Vargas, década de 1980...... 29

Imagem 22: Praça Presidente Vargas atualmente...... 29

Imagem 23: Praça Presidente Vargas atualmente...... 30

Imagem 24: Praça Presidente Vargas atualmente. Rua com 6,60m...... 30

Imagem 25: Praça Presidente Vargas atualmente. Largo com 11,60m...... 31

Imagem 26: Praça Presidente Vargas atualmente, destaque para as edificações do entorno...... 31

Imagem 27: Praça Presidente Vargas atualmente, destaque para as edificações do entorno...... 32

Imagem 28: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por Monsenhor Elias José Saleh Filho...... 38

Imagem 29: Mapa mental do centro de Bom jardim de Minas, feito por Terezinha Rachid Ozório da Fonseca...... 39

Imagem 30: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por José Francisco Mattos e Silva...... 40

Imagem 31: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por João Batista da Silva Rocha...... 41

Imagem 32: Localização da Rua XV de Novembro em Curitiba, PR...... 42

Imagem 33: Rua XV de Novembro, 1913...... 43

Imagem 34: Rua XV de Novembro, década de 1950...... 44

Imagem 35: Rua das Flores, Curitiba...... 45

Imagem 36: Comércio informal na Rua XV de novembro...... 46

Imagem 37: Calçadão de Curitiba, equipado com mobiliários urbanos...... 46

Imagem 38: Espaço denominado “Boca Maldita”, onde geralmente acontecem diversas manifestações...... 47

Imagem 39: Pavimentação do Calçadão da Rua XV de Novembro, Curitiba...... 47

Imagem 40: Localização do Calçadão da Rua Halfeld, Juiz de Fora - MG...... 48

Imagem 41: Rua Halfeld, por volta de 1915...... 49

Imagem 42: Rua Halfeld, 1966...... 49

Imagem 43: Inauguração do calçadão da Rua Halfeld, 1975...... 50

Imagem 44: Alguns dos edifícios presentes no calçadão da Rua Halfeld...... 50

Imagem 45: Edifícios na Rua Halfeld, parte baixa...... 51

Imagem 46: Inauguração do calçadão em 1975, destaque para os postes de iluminação antigos...... 51

Imagem 47: Calçadão da Rua Halfeld antes da retirada das jardineiras e a troca das luminárias...... 52

Imagem 48: Fragmento do calçadão antes da retirada dos letreiros...... 52

Imagem 49: Calçadão da Rua Halfeld atualmente...... 53

Imagem 50: Localização da Times Square, Nova Iorque, EUA...... 54

Imagem 51: Times Square, por volta de 1904...... 55

Imagem 52: Times Square, 1986...... 55

Imagem 53: Antes da requalificação da Times Square, pelo escritório Snøhetta...... 56

Imagem 54: Depois da requalificação da Times Square, pelo escritório Snøhetta...... 57

Imagem 55: Distribuição das cinco novas praças...... 57

Imagem 56: Rebaixamento de calçadas da Times Square...... 58

Imagem 57: Pisos utilizados no projeto...... 58

Imagem 58: Mobiliários urbanos utilizados no projeto...... 59

Imagem 59: Antes e depois da Times Square...... 59

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Bom Jardim de Minas: Arborização das vias públicas...... 23

Lista de abreviaturas e siglas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

COPASA Companhia de Saneamento de

CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais

PSF Programa Saúde da Família

Sumário

Introdução ...... 01

1. DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL ...... 05

2. CONTEXTO ...... 07 2.1. A cidade de Bom Jardim de Minas...... 07 2.2. Histórico e desenvolvimento...... 08 2.3. Diagnóstico...... 17 2.4. A Praça Presidente Vargas...... 25

3. ENTREVISTAS ...... 32 3.1. Respostas...... 33 3.2. Mapas mentais...... 37

4. ESTUDOS DE CASO ...... 41 4.1. Calçadão da Rua XV de Novembro, Curitiba, PR ...... 42 4.2. Calçadão da Rua Halfeld, Juiz de Fora, MG ...... 48 4.3. Calçadão da Times Square, Nova Iorque, EUA ...... 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 60

REFERÊNCIAS ...... 63

ANEXOS ...... 65

Introdução

Atualmente, com o crescimento acelerado das cidades, tem se buscado o aprimoramento do espaço urbano, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população. No entanto, o que pode ser observado é que as cidades tem priorizado cada vez mais os veículos, em detrimento dos pedestres. Além disso, observa-se que há pouca preocupação quanto a inclusão social, tendo como prioridade os interesses socioeconômicos, o que torna, muitas vezes, os espaços belos, mas sem uso. Ou ainda, espaços que possuem potencial, mas que por falta de criatividade dos seus realizadores, se tornam pouco utilizados.

Neste trabalho de conclusão de curso, busca-se compreender o que é desenvolvimento sócio-espacial para propor soluções que possam melhorar a qualidade de vida dos usuários da área de estudo em questão.

Justificativa

A escolha do local do estudo, Bom Jardim de Minas, localizado em Minas Gerais, se deu porque a cidade passa por constantes transformações, e, estas não têm privilegiado os pedestres. Bom Jardim de Minas é uma cidade de pequeno porte, que será mais detalhadamente apresentada no capítulo 2. O município possui muitos espaços públicos com potencial de uso, como as praças localizadas no centro da cidade. Na área central, a Praça Presidente Vargas está localizada num destes espaços. Trata-se de um largo onde encontra-se uma praça homônima. Devido a esta praça, a via tornou-se estreita, porém, continua possuindo mão dupla. Com o aumento da circulação de automóveis, está se tornando inviável circular pelo centro da cidade, além de ser permitido estacionar no local, o que é um agravante. Esta situação pode vir a causar acidentes em um futuro próximo.

Objetivos

1

Os objetivos deste trabalho serão organizados em gerais e específicos.

O objetivo geral consiste em buscar embasamento teórico e projetual através de leituras e estudos de referências bibliográficas e artigos científicos, além de estudos de caso referentes ao tema, para o projeto de um calçadão na Praça Presidente Vargas, em Bom Jardim de Minas – MG, além da revitalização das áreas do entorno.

Objetivos específicos:

Os objetivos específicos que constituem esse trabalho estão divididos nos seguintes pontos:

• Compreender o que é desenvolvimento sócio-espacial e como acontece a apropriação dos espaços públicos;

• Conhecer a história da cidade de maneira aprofundada, bem como seu desenvolvimento, seus costumes e sua cultura, para que sejam levados em conta no momento da concepção do projeto, levando seus moradores a se sentirem identificados com o mesmo;

• Analisar as condições em que a cidade se encontra, para propor diretrizes que ajudem a melhorar o espaço urbano da cidade em geral, afim de melhorar a qualidade de vida da população;

• Conhecer a área de projeto e mudanças que nela já ocorreram ao longo do tempo;

• Observar, através de estudos de casos, os impactos da criação de um calçadão, afim de saber se são positivos ou negativos;

2

Metodologia

Optou-se pela utilização dos métodos de documentação indireta, com pesquisas bibliográficas e estudos de caso e entrevista aberta.

Buscou-se pesquisar materiais que fornecessem informações sobre desenvolvimento sócio-espacial e temas relacionados para a obtenção do mesmo. Uma vez que, um espaço bem projetado é o que promove o desenvolvimento.

A utilização dos estudos de caso mostrou-se muito eficaz, uma vez que estes trazem referências, positivas ou negativas, que ajudarão posteriormente no projeto do calçadão na Praça Presidente Vargas, em Bom Jardim de Minas – MG.

Outro ponto importante foi a utilização das entrevistas abertas. Nelas, alguns moradores relataram suas opiniões acerca dos problemas existentes no município, possíveis soluções, como ele era em tempos mais antigos e, também, um mapa mental do centro da cidade, que poderá ser observado no capítulo 3.

Toda esta pesquisa se mostrou muito importante para o desenvolvimento do trabalho, gerando muitas reflexões que direcionarão o projeto no futuro.

Estrutura da monografia

Este trabalho de conclusão de curso é composto por 4 capítulos. O primeiro capítulo estuda o desenvolvimento sócio-espacial, buscando compreender o que este significa e quais temas são importantes para o seu entendimento. O segundo capítulo é composto por 4 subcapítulos, onde é apresentada a cidade de Bom Jardim de Minas, sua história e desenvolvimento, uma análise geral acerca de sua situação atual e, por fim, é apresentado o local onde o projeto será realizado. O terceiro capítulo apresenta as entrevistas, contento dois subcapítulos, onde são apresentadas as questões realizadas e feita uma análise das respostas e dos mapas mentais desenhados pelos

3 entrevistados. O quarto capítulo se refere aos estudos de casos, que são muito importantes para o trabalho, já que servem como referências, positivas ou não, para a proposta de requalificação do centro de Bom Jardim de Minas através da criação de um calçadão. Para isto, foram escolhidos 3 estudos de casos referentes a calçadões.

Por fim, todo este desenvolvimento levará às propostas de projeto que serão apresentadas nas considerações finais.

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1. Desenvolvimento sócio-espacial

Este primeiro capítulo tem como objetivo conhecer mais acerca do tema escolhido - desenvolvimento sócio-espacial – a fim de melhorar a qualidade do trabalho.

Primeiramente, é preciso compreender que para haver desenvolvimento sócio-espacial, é necessário que haja o desenvolvimento em todos os ângulos. Por isso, torna-se importante conhecer outros temas envolvidos, como espaços públicos, apropriação, e lugar.

Para Souza (2011), desenvolvimento é entendido como uma mudança social positiva.

A mudança social positiva, no caso, precisa contemplar não apenas as relações sociais mas, igualmente, a espacialidade. A importância do espaço (que é palco, fonte de recursos, recurso em si [localização], arena, referencial simbólico/identitário e condicionador; que é substrato material, lugar e território), na sua multidimensionalidade, tem sido comumente negligenciada pela literatura standart sobre teoria do desenvolvimento. (SOUZA, 2011, p. 61).

Seguindo este raciocínio, deve-se então compreender como as interações sociais ocorrem nos espaços públicos, sendo estes:

[...] entende-se que uma noção de espaço público requer, para qualificar como públicos determinados espaços urbanos da vida contemporânea, uma inserção conceitual de mão dupla entre espaço e sociabilidade pública. Implica, portanto, relacionar dois processos interdependentes, que concorrem simultaneamente para uma única direção: a construção social do espaço, enquanto produto e produtor de práticas sociais; e a construção espacial da sociabilidade pública, enquanto produto e produtor das espacializações da vida social. (LEITE, 2004, p. 196).

As interações nestes espaços se dão através da apropriação, podendo os mesmos serem ou não apropriados, fato que pode ser determinado por vários

5 aspectos, como físicos, naturais, construtivos e também socioeconômicos. A apropriação pode ser entendida como:

[...] eventos cotidianos relacionados à própria vida urbana e devem ser reconhecidas, entre outros aspectos, como reveladoras de necessidades de reestruturações físicas, de modo a permitir flexibilidade no uso do espaço. (NISHIKAWA, 1984 apud MENDONÇA, 2007, p.297).

Quando um espaço passa a ser apropriado, ele adquire valor, significado, para quem o utiliza, tornando-se assim um lugar. Podendo este ser definido como:

Finalmente, o lugar é necessariamente histórico a partir do momento em que, conjugando identidade e relação, ele se define por uma identidade mínima. Por isso é que aqueles que nele vivem podem aí reconhecer marcos que não tem de ser objetos de conhecimento. (AUGÉ, 1994, p.53)

Com o entendimento de como e porque estas interações acontecem ou não nos espaços, passa a ser possível promover um desenvolvimento que englobe todas as esferas, espaciais e sociais, levando assim a uma melhoria na qualidade de vida da população.

Desenvolvimento é mudança, decerto: uma mudança para melhor. Um “desenvolvimento” que traga efeitos colaterais sérios não é legítimo e, portanto, não merece ser chamado como tal. [...] Em termos muito singelos e puramente introdutórios, pode-se dizer que se está diante de um autêntico processo de desenvolvimento sócio-espacial quando se constata uma melhoria na qualidade de vida e um aumento da justiça social. (SOUZA, 2011, p. 61).

Ainda segundo Souza (2011):

No que tange à melhoria da qualidade de vida, ela corresponde à crescente satisfação das necessidades – tanto básicas quanto não-básicas, tanto materiais quanto imateriais – de uma parcela cada vez maior da população. (SOUZA, 2011, p. 62).

Pode-se concluir, portanto, que o desenvolvimento sócio-espacial promove uma melhoria na qualidade de vida uma vez que leva em conta não somente os interesses econômicos, mas também e principalmente os interesses sociais, buscando a igualdade e a inclusão, fazendo com que os espaços sejam melhores e mais apropriados, fato que leva a uma série de consequências positivas, como, por

6 exemplo, a preservação da identidade dos lugares e consequentemente da própria cidade.

Na prática, para alcançar um resultado satisfatório em um projeto que vise realizar alterações em qualquer escala urbana - neste caso em particular, o centro de uma cidade pequena - de maneira não-superficial, faz-se necessária uma análise mais aprofundada, como, por exemplo, acerca da história, dos usos e apropriações, compreender os impactos que estas modificações podem causar e observar se são positivos, para obter além da estética, um resultado de qualidade.

2. Contexto

O objetivo deste capítulo é conhecer de forma aprofundada o local da proposta de projeto.

2.1. A cidade de Bom Jardim de Minas

Imagem 1: Bom Jardim de Minas, localização.

Fonte: Google

Cidade localizada na Zona da Mata mineira, na Serra da Mantiqueira, a 1.186 metros de altitude, possui 6.501 habitantes (IBGE, 2010). As margens da BR 267 com a MG 457 e a MG 494, permite acesso à várias regiões e outros estados. O 7 clima é caracterizado como tropical mesotérmico brando úmido, com invernos considerados rigorosos.

A área do município é de 412,021 km² (IBGE, 2015), sendo que 1,7197 km² constituem a zona urbana e os 410,301 km² restantes constituem a zona rural. Está a uma distância de 295 quilômetros a sul da capital mineira. Seus municípios limítrofes são Passa Vinte e , a sul, e Liberdade, a oeste, Andrelândia, a norte, e Rio Preto, Olaria e Lima Duarte, a leste.

O relevo é predominantemente ondulado, sendo constituído por planaltos, com altitude média de 1.100 metros, diminuindo em direção ao Rio Grande, para formar a planície pluvial. A altitude máxima encontra-se na Serra da Bandeira, no distrito de Taboão, que chega a 1.733 metros de altitude.

Quanto a fauna e a flora, observa-se que a vegetação nativa é formada por duas classes principais, a , constituída pela Mata Atlântica e a Campestre. Formando assim uma cobertura vegetal diversificada. No interior da cidade é possível observar algumas árvores nativas da Mata Atlântica, como ipês amarelos, quaresmeiras e araucárias. Já a fauna, possui alguns animais de porte médio e grande, como a capivara, a jaguatirica, paca, lontra, além de primatas, como o mico- estrela. Possui grande variedade de aves e peixes, nos córregos e ribeirões da região, sendo estes alvos de caçada e pesca irregulares.

2.2. História e desenvolvimento

BOM JARDIM

Qual do Ipiranga às margens levantara

Da independência o brado altissonante,

Vibrante na altivez briosa e cára,

Um povo másculo, forte, edificante,

Que a pátria livre logo transformara,

Do cordeiro que fora, um gigante; 8

Um povo que a sua terra sublimara,

De amor e de civismo delirante!

De liberdade, assim nos empunhamos

O facho multicor, e a conquistamos,

Da nossa terra, para a maior glória!

Mas é mister que a marcha continuemos

E um “Bom Jardim” formoso edifiquemos

Sobre o alicerce férreo da vitória!

José Augusto da Rocha

Bom Jardim/Janeiro de 1939

Por volta do século XVIII, a região aurífera era compreendida em sua maior parte por um grande planalto formado principalmente pela serra da Mantiqueira e suas ramificações. Sobre esse planalto erguem-se novas serranias, cheias de montes e maciços, em cujos valores correm perenes cursos de água.

Enquanto os altos dessas montanhas são, na maioria das vezes rochosos, as encostas e os platôs são cobertos por gramíneas, com uma árvore ou outra, destacando-se o Ipê, o velante, o barbatimão e as canelas-de-ema.

Os vales cobrem-se de matas espessas onde a vegetação robusta denota a fertilidade do solo, enriquecida por milenares depósitos de humo, concentrados pelas águas pluviais, que, com regularidade, se precipitam de setembro a abril.

Por esse tempos, estavam os povos circunscritos à região serrana e suas vizinhanças, mantendo-se desconhecido e inexplorado o Sertão da Mantiqueira sul, que incluía terras banhadas pelos rios do Peixe, , Paraibuna e Preto, nos

9 atuais municípios de Lima Duarte, Rio Preto, , Santos Dumont, Juiz de Fora, Bom Jardim de Minas e Santa Rita de Jacutinga.

Bom Jardim de Minas ficava no roteiro dos bandeirantes e dos aventureiros de ouro, porém, a maior parte de suas terras ficaram longos anos “incultas”, por estarem situadas nas chamadas “Áreas proibidas”.

O período dos bandeirantes já se encontrava em declínio e a “pedra-verde” tão procurada por Fernão Dias Leme dava lugar ao ouro.

Toda a região de Bom Jardim de Minas era habitada pelos índios Purís, índios bravios que defendiam suas terras contra as pretensões dos colonizadores.

Segundo Ferreira (1958):

Sabe-se que, no ano de 1770, chegou, onde se situa o município, Manoel Arriaga de Oliveira, acompanhado de sua mulher e seis filhos, fundando a colônia de Campo Vermelho em local próximo ao da atual cidade de Bom Jardim de Minas. A colônia de Campo Vermelho foi atacada por uma tribo indígena que habitava a região, tendo, durante o ataque, sido massacrado um dos filhos de Manoel Arriaga. Este, pelo acontecido, resolveu então se afastar da colônia, indo fixar residência às margens do córrego do Milho Branco, onde organizou uma fazenda. (FERREIRA, 1958, p. 209)

O córrego teria recebido esta denominação pelos colonizadores, que dedicavam-se à exploração de minérios, por ter em suas margens culturas de milho de cor clara, diferenciando-se das colheitas feitas em outros lugares. Atualmente, o mesmo banha o núcleo urbano da cidade.

Por volta de 1770, o português Manoel Arriaga deixa o trabalho de mineração, que já estava escassa, deixando os mineradores, que eram nômades, seguirem o curso do Rio Grande.

Teve notícias de um homem já cheio de experiência no sentido de que se procedesse a fixação do homem no solo, fazendo com que ele produzisse o necessário para o seu sustento. Era ele um compatrício seu, o Coronel Antônio Correia de Lacerda, casado com dona Ana de Souza Guarda.

Convidou-o, e então, o Capitão Antônio Correia de Lacerda, que vinha acompanhado de sua esposa e filhos, simpatizaram-se com o local e associaram-se 10 a Manoel para a ampliação da fazenda, iniciando o cultivo da terra em grande escala. A produção agrícola e a pecuária leiteira foram estabelecidas, consolidando-se como importantes práticas ainda nos dias atuais.

A Fazenda recebeu o nome de “Fazenda Bom Jardim”, devido a um bem cuidado jardim, que havia nas proximidades da sede da fazenda. A mesma contava com cerca de três mil alqueires de terras, com as bem-feitorias indispensáveis, tais como engenho de serra, moinhos, monjolos, chácaras com arvoredos, valos, taipas e regos d’água. Foi dividida em 1875. As suas terras alcançavam as divisas do atual município de Rio Preto, no alto da Mantiqueira.

Em torno da fazenda logo começaram a surgir algumas moradias e logo formou-se um povoado.

No terreiro da fazenda Bom Jardim, a pedido do Capitão Lacerda, em 1770, os colonizadores mandaram erguer uma ermida, para a prática da fé religiosa e a veneração do Senhor Bom Jesus. O local desta capela primitiva é o mesmo, onde hoje está a Igreja dos Passos, que até o início dos anos setenta, foi a matriz de Bom Jardim de Minas. A edificação da capela (antiga Matriz) tornou-se o marco da fé católica do local, além de um referencial geográfico. Em 1781, a primitiva capela recebe a imagem do Senhor Bom Jesus do , do qual o Coronel era devoto. Esculpida com quatro cravos, características típicas do século XVIII.

Imagem 2: Igreja Senhor dos Passos (Antiga matriz).

Fonte: Recanto do Saber. 11

Ainda hoje, existem controvérsias quanto ao verdadeiro local da construção da Fazenda Bom Jardim, pois, embora a história tida como oficial reconheça que a fazenda fora construída no alto de uma colina, existem indícios de que a fazenda estaria localizada onde hoje é o centro da cidade, mais especificadamente onde hoje está localizado o Recanto do Saber, um centro cultural inaugurado há poucos anos, que utiliza um casarão antigo como sede. Este mesmo casarão, segundo pesquisas feitas por alguns moradores, como Francisco Mattos e Silva, ex-presidente do Conselho do Patrimônio Histórico da cidade, ainda contém algumas paredes originárias da época da fazenda, tendo esta sofrido diversas alterações ao longo tempo, tornando-se o que conhece-se atualmente. Ainda segundo estas pesquisas, não foram encontrados registros sobre a real existência de Manoel Arriaga de Oliveira, tido como um dos fundadores da cidade. Quanto ao Capitão Antônio Correia de Lacerda, além de documentos que comprovam sua existência, existem ainda alguns de seus descendentes.

Imagem 3: Recanto do Saber.

Fonte: Recanto do Saber.

Com a morte de Antônio Correa de Lacerda a Fazenda do Bom Jardim e os bens integrados passaram aos cuidados de seus treze filhos, entre eles: Ana de Souza Guarda, Fernando Afonso Correa de Lacerda, Inácia Cateana de Souza da Guarda e Lacerda, José Antônio Correa de Lacerda e José Luís Correa de Lacerda. Com as doações de pequenas propriedades nas proximidades da capela e com as divisões entre os herdeiros do Coronel, a povoação continuou a crescer, formando o Arraial do Senhor do Bom Jesus do Bom Jardim, cuja capela era filiada a paróquia do Turvo (hoje Andrelândia).

12

Em 2 de maio de 1856, pela Lei Provincial número 761, criou-se o distrito do Senhor Bom Jesus do Bom Jardim, pertencente a Vila de Nossa Turvo (Andrelândia).

Em 1856 a Capela de Bom Jesus foi elevada a freguesia do Senhor Bom Jesus do Bom Jardim.

A agência de correios foi criada no ano de 1879, tendo como primeiro agente, Sabino Tertuliano de Novais. Antes da criação da agência, já havia desde 1867 uma linha de correio entre a Vila de Nossa Senhora do Porto Turvo e Santa Isabel do Rio Preto. A condução era feita a cavalo.

O distrito do Bom Jesus ficava localizado à margem direita do Rio Grande. Lentamente, foi se transformando em um importante centro de comércio, principalmente entre o Rio de Janeiro e São João Del Rei.

Um dos principais problemas, dentre as povoações da região, em meados do século XIX, eram as vias de comunicação, por onde pudessem exportar sua produção e importar os produtos necessários a vida diária. Carecia-se de uma via de acesso que lhes colocasse em contato com centros maiores e inclusive com a corte.

Por iniciativa de Manoel Pereira da Silva Júnior, fazendeiro do Vale do Rio Preto, com autorização para construir, pelos cofres públicos da província, a estrada foi sendo aberta. Foram sendo construídas pontes e uma série de bueiros, no decurso da estrada. Porém, apesar de alguns desejarem a estrada, outros não se conformavam em ver suas culturas e seus domínios serem destruídos por sua passagem. Manoel Pereira passou então a sofrer uma série de perseguições, entre elas, a derrubada da Ponte do Boqueirão, feita pelos escravos da Fazenda Santa Clara, na noite de 20 de abril de 1856. Algum tempo depois, terminou por ser assassinado, nas proximidades da mesma fazenda.

O trabalho de Manoel Pereira deu à cidade duas importantes vias de acesso, uma do Vale do Paraíba e outra do Rio Preto.

Em 1889 foi feito o projeto para a Construção da ferrovia entre Bom Jardim de Minas e Santa Rita de Jacutinga, sendo aprovado em dezembro de 1893. Em 1895 foi inaugurada a Estação do Pacau, sendo que, o tráfego de linha entre Pacau e Bom Jardim de Minas foi entregue em 2 de janeiro de 1897. 13

Em 1916, foi concluído o trecho entre Bom Jardim de Minas e Arantina, nesta época já havia a ligação ferroviária entre Bom Jardim e Liberdade. Assim, os trens passaram a ser o meio de transporte mais usado na região.

A antiga estação rodoviária de Bom Jardim de Minas, construída de madeira de Pinho de Riga, ficava onde hoje está localizada a praça da rodoviária. A última linha de passageiros, ligava Bom Jardim a e, foi extinta em 1977. A velha estação, de 67 anos aproximadamente, foi incendiada no dia 17 de novembro de 1980.

Imagem 4: Antiga estação ferroviária.

Fonte: Recanto do Saber.

No último quartel do século XIX, o distrito começou a receber numerosas famílias de imigrantes asiáticos e europeus: da Itália vieram os Altomare, Marcherine, Alexandre, Gentille, Guizalberth e outros, entre os sírios libaneses destacam-se os Rachid, Saleh e Abbud que estabeleceram-se na área urbana, dedicando-se principalmente ao comércio.

Em 7 de setembro de 1923, o distrito do Senhor Bom Jesus do Bom Jardim passou a denominar-se distrito "Bom Jardim", continuando a pertencer ao município de Turvo (atual Andrelândia). Até que em 17 de dezembro de 1938 é elevado à categoria de município com a denominação de Bom Jardim, adotando Bom Jardim de Minas a partir de 1943. O município de Bom Jardim possuía o distrito de Taboão e o

14 distrito de Arantina, sendo que em 30 de dezembro de 1962 ocorre a emancipação de Arantina.

O primeiro prefeito da cidade de Bom Jardim de Minas, nomeado pelo Governo do Estado, foi o Coronel Américo Ferreira Pena, tendo este sido recebido com grande festividade pelos bonjardinenses.

Nesta época, não haviam ruas calçadas, nem tratamento de esgotos. Havia abastecimento de água, desde 1917, porém, carecendo de melhorias, visto que não era suficiente para toda a população, constituindo o principal problema do município. A iluminação pública foi inaugurada em 1928, porém, a cidade cresceu, tornando-a muito precária. Consta que em um Congresso de Prefeitos, realizado em , no período de 25 de julho a 16 de agosto de 1941, o então prefeito, Coronel Américo Ferreira Pena, apresentava estas questões quanto ao município, além de outras, tais como: Pedido de construção de escolas, uma cadeia e uma ponte sobre o Rio Grande.

Em julho de 1945, terminaram as obras de abastecimento de água da cidade. Além disso, o prefeito tratou de melhorar a fisionomia do lugar, contratando, em 1940, um perito para a construção de dois jardins modernos, um na Praça do Cruzeiro e outro na Praça Presidente Vargas, no centro da cidade. Isto porque não havia jardim algum nesta época, que explicasse o nome do município.

Nos primeiros anos de Bom Jardim de Minas como cidade, a vida social dos moradores baseava-se em festas de rua, em datas comemorativas, como a do próprio aniversário do município, o carnaval e as festas da igreja católica. Havia banda de música, apresentações de poesias, teatros e os desfiles de carnaval eram usados para fazer elogios e críticas ao governo tanto municipal quanto Estadual. Todas as comemorações eram organizadas por alguns moradores que se dispunham, como, por exemplo, algumas professoras da escola municipal e outras senhorinhas.

Quanto a imprensa, existiam vários jornais que circulavam pela cidade, como “A Palavra”, que foi um dos primeiros, “O Ipiranga”, de 1938, “O Cruzado”, de 1929, “A Independência”, de 1928 e o “O Sorriso”, que não consta nenhuma data. Ao que se sabe, todos estes tiveram duração efêmera, sendo que “O Satélite”, pertencente a Andrelândia, foi o que teve maior duração, circulando até 1945.

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O serviço telefônico foi inaugurado juntamente com a luz elétrica, porém, era insatisfatório, passando por muitas etapas de aprimoramento.

A rodovia ligando Lima Duarte a Bom Jardim de Minas foi inaugurada em 1949.

A população do município em primeiro de julho de 1950 era de 7.256 habitantes, sendo que a sede continha 2.061 habitantes.

Apenas em 1950, foi inaugurado o primeiro grupo escolar de Bom Jardim de Minas, de nome Monsenhor Marciano, atual Escola Estadual Monsenhor Nardy, que funciona até os dias atuais. Anteriormente a esta data, existiam 3 pequenas escolas em prédios alugados, que não eram adaptadas para tal finalidade e que já não davam suporte ao grande número de alunos.

A primeira corporação musical do município foi a Corporação Santa Cecília, inaugurada em 22 de novembro 1929, tendo como professor o maestro Francisco de Souza Maciel, que mudou-se para a cidade neste mesmo ano, e, não encontrando nenhuma banda de música, resolveu ensinar a doze rapazes. Funcionou por 15 anos. Já a Corporação Musical União Bonjardinense, foi fundada em 1953. Houve uma temporada em que a mesma deixou de existir, por falta de financiamento por parte do município, voltando a funcionar em 1984 e estando em vigor ainda atualmente.

A indústria que movimenta o município é a de laticínios, sendo que, a primeira fábrica de manteiga foi inaugurada no dia 4 de fevereiro de 1904, no distrito de Taboão, por Augusto Alves, um comerciante. Anteriormente a antecipação, o local já era exportador de queijo Minas, para centros consumidores do Rio de Janeiro e em São Paulo. Por volta de 1939, logo nos primeiros dias como município, os produtores e comerciantes do produto tiveram a ideia de organizar um entreposto único, para controlar a grande exportação do produto, bem como a organização de uma casa bancária. Assim, foi inaugurado o Entreposto de Queijos, de propriedade da Companhia Bonjardinense de Laticínios, organizada pelos capitalistas locais. A organização tinha a finalidade de valorizar seu principal produto e incentivar o aumento de sua produção.

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Na década de 1970 houve a chegada da Ferrovia do Aço e a construção da BR 267, que liga a cidade a Juiz de Fora e Caxambu, o que corroborou para o crescimento e desenvolvimento da cidade.

2.3. Diagnóstico

A administração municipal se dá pelos poderes Executivo e Legislativo. Atualmente, o prefeito municipal é Sérgio Martins, do Partido Democratas, que venceu as eleições em 2016.

O poder Legislativo se instalou na cidade no dia 13 de dezembro de 1947, por André Rodrigues Sarmento, juiz de direito da Comarca de Andrelândia da época. É constituído pela câmara, composta por nove vereadores eleitos para mandatos de quatro anos.

O poder Judiciário, conjunto dos órgãos públicos com função jurisdicional, foi regularizado pela lei nº 9.886, de 3 de março de 1888, quando foi criado o Cartório de Registro Civil e Tabelionato, iniciando-se as atividades de registro civil, casamentos e óbitos no dia 1º de janeiro de 1889. O primeiro juiz de paz e escrivão foi o Capitão Zótico Marcelino de Carvalho, exercendo suas funções por 40 anos consecutivos. Anterior a este o responsável pela função era o vigário da cidade. Bom Jardim de Minas pertence à Comarca de Andrelândia.

A economia da cidade é baseada na agropecuária e prestação de serviços, sendo que a indústria é o segundo setor mais relevante para a economia do município. Destacam-se a Real Comércio e Laticínios Ltda., e os Laticínios Bom Jardim e Rio do Peixe. Quanto ao comércio, o movimento tem crescido nos últimos anos, em períodos de festas e altas temporadas de turismo, por exemplo, a atividade torna-se maior.

Por estar localizada em uma região de grande altitude e possuir muitas nascentes em suas proximidades, bem como também alguns afluentes do Rio Grande, a cidade conta com inúmeras serras e cachoeiras, algumas ainda pouco exploradas, em alguns pontos com matas ciliares intocadas. Recentemente, a secretaria de turismo criou alguns circuitos turísticos, que incluem várias cachoeiras, montanhas, vales e o centro histórico, pertencentes ao município, afim de desenvolver o mesmo. Porém, ainda são pouco conhecidos, não recebendo tantos visitantes. Por vezes, para algumas atividades, se faz necessário esperar que sejam criadas turmas,

17 para que estas atividades se tornem viáveis. Como por exemplo, o rapel, realizado nos paredões existentes nos arredores do município

. Imagem 5: Cachoeira do Tito Venço, Bom Jardim de Minas.

Fonte: Bom Jardim de Minas Turismo.

Imagem 6: Parque Ecológico Municipal de Taboão, Bom Jardim de Minas.

Fonte: Bom Jardim de Minas Turismo.

Um ponto turístico que merece destaque, é o Cristo Redentor, com 1370 metros de altitude, está posicionado de frente para a cidade, destacando-se de longe, podendo ser visto por quem passa nas proximidades do município, tendo sido tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal.

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Imagem 7: Cristo de Bom Jardim de Minas.

Fonte: Bom Jardim de Minas Turismo.

Imagem 8: Cristo de Bom Jardim de Minas.

Fonte: Janet Maria Almeida.

O município possui água tratada pela COPASA, desde a segunda metade da década de 1990. Porém, abrange apenas a sede da cidade, não chegando ao distrito de Taboão nem as zonas rurais. Já a iluminação, abrange quase todo o município, assim como a coleta de esgotos. Quanto a coleta de lixo, esta ocorre através da passagem de um caminhão comum, em dias e horários previamente determinados e vão para um aterro, que até poucos anos era um lixão. Existe uma usina de reciclagem, porém, ainda não há coleta seletiva.

Possui uma escola primária, uma escola secundária e um ginásio, sendo que este último funciona em dois prédios diferentes. Há ainda, cursos técnicos, disponíveis de forma gratuita para a população, sendo estes: Contabilidade e 19 enfermagem, onde, qualquer pessoa que esteja cursando ou já cursou o segundo ano do ensino médio pode se matricular. Porém, não há nenhuma instituição de ensino superior, portanto, caso as pessoas desejem cursar uma faculdade, é preciso mudar- se para outra cidade. Há 4 anos, a prefeitura tem disponibilizado ônibus, que vai e volta todos os dias da cidade de Juiz de Fora, transportando estudantes no fim da tarde, para estudarem em horário noturno. Quanto a saúde, Bom Jardim de Minas possui o Hospital Municipal, um PSF e o posto de saúde antigo, que ainda é utilizado para alguns fins. É possível constatar que há constantes reclamações quanto a falta de médicos no Hospital Municipal, bem como também reclamações sobre mau atendimento. O hospital não faz nenhum tipo de cirurgia, e, para procedimentos mais graves ou urgentes, é preciso que os moradores se locomovam para outras cidades, indo principalmente para as cidades de Juiz de Fora e Aiuruoca. Existe apenas um banco, o Banco do Brasil, uma lotérica, o correio e um correspondente do Banco do Bradesco.

Nunca houve nenhum tipo de planejamento urbano. A cidade começou a se desenvolver a partir do que hoje é a área central e a partir da Antiga Igreja Matriz, localizada no alto de uma colina. Não há legislação alguma para construir. Existe apenas um código de postura, datado de 1950, portanto, totalmente ultrapassado. Isto acaba gerando problemas que podem ser observados no cotidiano da população, que constrói de maneira irresponsável, como, exemplo, a falta de afastamento entre edificações vizinhas, que prejudicam a ventilação e causam humidade nas paredes. Bem como também, pode vir a prejudicar a paisagem futuramente, descaracterizando a cidade. Outro ponto negativo a este respeito, é que tornou-se inviável larguear as ruas e as calçadas das áreas mais urbanizadas. Outra consequência da falta de planejamento, é que existem problemas em alguns locais quanto ao fluxo de carros, o que, futuramente, com o aumento da população, pode vir a causar acidentes.

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Imagem 9: Arruamento de Bom Jardim de Minas, 1995.

Fonte: Prefeitura Municipal.

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Quanto aos bens-histórico-culturais, não existem muitas edificações tombadas no município. A maior parte das edificações do início da colonização se perderam. Há o Cristo Redentor, que foi recentemente restaurado e a prefeitura municipal, que pertence ao estilo modernista, construída em concreto armado, com pilotis e fachadas idênticas, todas de vidro. Além disso, em seu interior, possui planta livre. Ambos construídos na década de 1980. Já o centro da cidade, possui algumas edificações ecléticas, da primeira metade do século XX. O casarão onde hoje está localizado o Centro Cultural Recanto do Saber, o qual suspeita-se ser a própria “Fazenda Bom Jardim”, supostamente ainda contendo algumas paredes originais, está entre estas edificações. Por fim, havia uma antiga casa, com mais de cem anos, também localizada no centro da cidade, que, por estar em más condições de preservação, veio a cair há alguns anos, sendo totalmente reconstruída. Recentemente, a mesma passou a guardar o acervo histórico e cultural da cidade.

Imagem 10: Prefeitura Municipal de Bom Jardim de Minas.

Fonte: http://www.tripmondo.com/brazil/minas-gerais/bom-jardim-de-minas/

Embora em seu entorno existam mares de morros e algumas matas, a cidade em si não possui ruas arborizadas. A maior parte da vegetação do município é particular, presente nos terrenos das casas dos moradores, e, também, nas praças. Em comparação com as cidades da região, Bom Jardim de Minas encontra-se bem

22 arborizada. Mas, a nível nacional, o contrário pode ser observado. Como pode-se observar no gráfico [IBGE,2010]:

Gráfico 1: Bom Jardim de Minas: Arborização das vias públicas.

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/mg/bom-jardim-de-minas/panorama

As principais manifestações religiosas e sociais da cidade são a festa do padroeiro, Bom Jesus do Matozinhos, realizada em agosto, festa de maio, em homenagem a Nossa Senhora Aparecida e São Benedito, a Semana Santa, onde ocorrem encenações da morte e paixão de Cristo, a festa do padroeiro do distrito de Taboão, que é São Sebastião e o carnaval de rua.

O município possui um acervo histórico-cultural, atualmente localizado no centro da cidade, porém, o mesmo se mantém fechado, desde que o seu proprietário, Antoninho Guido de Paula, veio a falecer, por volta do ano de 2012, tendo doado todos os itens para a prefeitura. Lá, encontram-se fotos de tempos antigos, e artefatos colecionados, como, uma corda camelo de cinquenta e quatro metros de comprimento, encontrada em 1971, durante uma reforma na Igreja Senhor dos Passos, antiga matriz da igreja católica. A corda possui mais de 150 anos de existência, estando em perfeito estado de conservação. Além disso, possui também a história da cidade.

A culinária é predominantemente mineira, sendo comuns o arroz, o feijão, o angu, a couve, o torresmo e o queijo. Além da feijoada e o frango com quiabo.

Bom Jardim de Minas, em sua área central, possui muitas áreas públicas, principalmente praças, constituídas por canteiros, bancos e lixeiras. Apesar de muito utilizadas durante o dia, seja para fins de passagem ou permanência, se tornam

23 desertas a noite - com exceção dos finais de semana - visto que há poucos atrativos em seus entornos, o que dá espaço à marginalização.

Imagem 11: Praça Cônego Ignácio de Almeida (Praça da Igreja).

Fonte: Imagem própria.

Imagem 12: Praça Antônio Jacinto de Farias (Praça da Rodoviária).

Fonte: Imagem própria.

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2.4. A Praça Presidente Vargas

Imagem 13: Localização da Praça Presidente Vargas, Bom Jardim de Minas.

Fonte: Google.

Até 1940, o centro da cidade era constituído por um largo com chão de terra. O local compreende a área em torno da rotatória da “Praça do Banco do Brasil” e vai até o início do casarão onde hoje funciona o “Recanto do Saber”. Apesar da existência de uma rua e do largo, toda esta área recebe a nomeação de Praça Presidente Vargas. Desde sempre, provavelmente em consequência da localização da Fazenda Bom Jardim, ali foi um local de encontro e de manifestações. Havia também um cruzeiro, localizado em frente ao casarão. Até que, em 1940, o então prefeito Américo Ferreira Pena manda que seja construída uma praça, como já mencionado anteriormente. No local onde hoje é a Praça do Banco do Brasil, havia um coreto.

Imagem 14: Praça Presidente Vargas, ano desconhecido. 25

Fonte: Recanto do Saber.

Imagem 15: Praça Presidente Vargas, ano desconhecido.

Fonte: Recanto do Saber.

Imagem 16: Praça Presidente Vargas, local onde atualmente é a Praça do Banco do Brasil, ano desconhecido.

Fonte: Recanto do Saber.

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Imagem 17: Praça do Banco do Brasil, o coreto deixa de existir e dá lugar à praça, ano desconhecido.

Fonte: Recanto do Saber.

A praça sofreu quatro alterações ao longo dos anos, sendo destruída e reconstruída totalmente. No primeiro modelo de praça, construído em 1940, a praça era constituída por uma ilha, tendo uma via de mão única em seu entorno. Possuía calçadas em volta e um jardim no centro, com mobiliários, canteiros e uma fonte com peixes. O chão da mesma aparentemente era de cimento. Nota-se que houve uma preocupação quanto a arborização da rua, com a presença de pequenas árvores, hoje inexistentes nas calçadas.

Imagem 18: Praça Presidente Vargas, década de 1940 ou 1950.

Fonte: Recanto do Saber.

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Imagem 19: Praça Presidente Vargas, década de 1940 ou 1950.

Fonte: Recanto do Saber.

A segunda praça foi construída por volta da década de 1970, durante o mandato do prefeito Octaviano Ribeiro Nardy. Os canteiros foram completamente alterados, embora a fonte tenha sido mantida. O chão passou a ser de pedra São Tomé e possuía poucos mobiliários urbanos.

Imagem 20: Praça Presidente Vargas, década de 1970.

Fonte: Recanto do Saber.

A terceira reconstrução da praça aconteceu na década de 1980, no mandato do prefeito Sebastião Delgado de Almeida, mais conhecido como Tozinho. A rua que circundava em torno da praça foi então fechada, ampliando a área da mesma. O chão de pedra São Tomé foi mantido e os canteiros passaram a ter formatos arredondados. Além disso, foram instalados bancos de concreto.

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Imagem 21: Praça Presidente Vargas, década de 1980.

Fonte: Recanto do Saber.

O quarto e atual modelo existente, foi construído em 2003, no mandato do então prefeito Valtencir de Paula Nunes, mais conhecido como Vande. O chão de pedra São Tomé foi substituído por pisos de concreto intertravado. Os canteiros também foram completamente modificados, passando a ter formatos ovalares e os bancos de concreto deram lugar aos de madeira e ferro.

Imagem 22: Praça Presidente Vargas atualmente.

Fonte: Imagem própria.

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Imagem 23: Praça Presidente Vargas atualmente.

Fonte: Imagem própria.

Atualmente, a rua que passa em frente à praça possui 6,60 metros de largura e é mão dupla. Sendo de grande movimento e com estacionamento permitido do lado contrário a praça, levando a princípios de congestionamento. Enquanto o largo que restou de tempos antigos possui 11,60 metros.

Imagem 24: Praça Presidente Vargas atualmente. Rua com 6,60m.

Fonte: Imagem própria.

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Imagem 25: Praça Presidente Vargas atualmente. Largo com 11,60m.

Fonte: Imagem própria.

O conjunto arquitetônico que circunda o local, é, em sua maioria, do início do século XX, no estilo eclético. Algumas encontram-se atualmente sem uso e outras em mau estado de conservação.

Imagem 26: Praça Presidente Vargas atualmente, destaque para as edificações do entorno.

Fonte: Imagem própria.

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Imagem 27: Praça Presidente Vargas atualmente, destaque para as edificações do entorno.

Fonte: Imagem própria.

3. Entrevistas

Este capítulo tem como objetivo conhecer mais acerca da história do município e seus costumes de outrora. Bem como também saber a opinião de pessoas residentes da cidade sobre seus problemas e possíveis soluções. Outro ponto importante nessas análises são os desenhos realizados, que permitem se ter noção do quanto o espaço em questão tem importância para a população.

As entrevistas foram realizadas com cinco pessoas, com questões diretas e pontuais, sendo composta por 3 perguntas abertas e um desenho da área central da cidade.

Para a escolha dos entrevistados, foi adotado como critério que estes deveriam ser moradores de Bom Jardim de Minas, por, pelo menos, boa parte de suas vidas, possuindo assim uma identidade forte para com a mesma, e, consequentemente, conhecimentos históricos. Buscou-se por pessoas que tivessem opiniões formadas sobre os assuntos relacionados, visto que é uma cidade pequena e as pessoas entrevistas são bastante conhecidas entre os moradores.

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As perguntas presentes na entrevista foram:

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

2) Quais problemas você consegue identificar?

3) O que poderia melhorar? Como?

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

3.1. Respostas

Na primeira questão, nota-se que cada pessoa identificou aspectos diferentes da cidade e em épocas distintas. Monsenhor Elias destacou aspectos gerais da cidade, como, água, luz, saúde e educação, enquanto João falou mais sobre os aspectos físicos, como, as ruas mais povoadas, como era a iluminação e os calçamentos existentes. Já Terezinha, descreveu melhor o centro da cidade, visto que residia na Praça Presidente Vargas, e, também, os costumes sociais de seu tempo de juventude. José Francisco relata poucas mudanças na cidade, visto que é o mais jovem dentre os entrevistados, e, por fim, Henrique levou mais em consideração o fato da cidade ser muito atrasada na primeira metade do século XX.

O primeiro entrevistado foi o Monsenhor Elias José Saleh Filho, de 80 anos. Mudou-se de Bom Jardim de Minas por 40 anos, para exercer o sacerdócio, retornando há quinze anos.

Ele retrata Bom Jardim de Minas de 1946. Segundo Monsenhor Elias, a cidade não tinha calçamento, nem rede de esgoto. Possuía rede hidráulica precária e sem tratamento de água, com pouca energia elétrica.

A área urbana era bem menor, constando poucas ruas. Não havia estrutura administrativa, nem escolar, nem hospitalar.

A cidade era dominada pela Igreja Católica. Todas as atividades sociais e comunitárias se restringiam as festas religiosas.

Ainda segundo Monsenhor Elias, na época, o movimento ferroviário possuía muita expressão. As pessoas tinham o costume de ir ver a chegada e a saída do trem.

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As escolhas primárias funcionavam em casas particulares alugadas.

O atendimento hospitalar era realizado pelo farmacêutico prático da cidade e o tratamento dentário, era somente feito com extração.

Ele ainda retrata que a sociedade era dividida entre ricos e pobres, negros e brancos e que estes não se misturavam.

Os empregos se restringiam ao comércio, em funcionários da prefeitura e em professores particulares. Era inexpressiva a produção rural.

Bom Jardim de Minas já exportava queijo caseiro e o abastecimento necessário à vida diária era importado pelo trem.

A música e os artesanatos possuíam alguma expressão.

Com a chegada na MRV Engenharia nas décadas seguintes, houve um impulso ferroviário e com as ligações asfálticas na década de 70, houve um grande afluxo na obra do asfalto e da ferrovia do aço. Por fim, entre 1980 a 2000, houve a instalação da CEMIG, a COPASA e outras benfeitorias.

Já João Batista da Silva Rocha, retrata Bom Jardim de Minas da sua época de infância e adolescência. João tem cinquenta e dois anos e morou na cidade durante toda a sua vida.

Segundo ele, o centro da cidade era o único local que possuía calçamento, sendo este de paralelepípedo. A iluminação era feita de trilhos de linha e, muito fraca, vindo a melhorar apenas com a chegada da CEMIG. A praça central possuía um jardim, porém, havia uma rua que passava pela frente do casarão, atual Recanto do Saber. Quase todas as ruas eram de terra. Segundo João, os bairros mais afastados tinham pouquíssimas casas. Naquela época, retrata ele, somente a Avenida Governador Valadares, a Rua Correia de Lacerda, a Rua Liberdade, a Rua Dom Silvério, A Rua São Vicente e o centro – Praça Presidente Vargas – eram bem povoados.

A terceira entrevistada foi Terezinha Rachid Ozório da Fonseca, de cinquenta e oito anos de idade, também nascida e residente de Bom Jardim de Minas.

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Segundo Terezinha, a Praça Presidente Vargas possuía um projeto arquitetônico e paisagismo muito bem feito e harmônico. Com várias espécies de flora, como, ipês amarelos e quaresmeiras. Possuía também um lago com peixes e, segundo ela, era muito bem cuidada.

As moças e os rapazes circulavam em sentidos contrários, para paquerarem. Havia o Clube Social, localizado onde hoje é o Pub Baiuca, com bailes nos fins de semana, com grupo musical.

A rede elétrica da cidade tinha como responsável o “Sr. Tico da Luz”, que ligava o transformador da cidade as dezoito horas, utilizando uma vara de madeira.

Terezinha ainda conta que gestões de governos posteriores destruíram a antiga praça e construíram canteiros disformes e sem identidade arquitetônica.

As crianças brincavam em todas as ruas, sendo a cidade muito tranquila.

Na época de Terezinha o hábito de assistir a chegada do trem ainda permanecia como o acontecimento diário.

Por fim, ela afirma que a cidade sofreu algumas modificações nos últimos anos, como a luz elétrica com acendimento automático, calçamentos das ruas e aumento de imóveis dos arredores da praça.

O quarto entrevistado foi José Francisco Mattos e Silva, advogado e ex- presidente do Conselho do Patrimônio Histórico Municipal, de trinta e cinco anos e também morador. De acordo com José Francisco, a cidade ainda preserva hábitos da época da Fazenda Bom Jardim, como, animais criados soltos e lotes sem marcação. Ele, por ser mais jovem do que os outros entrevistados, relata poucas mudanças, como a construção da Praça da Rodoviária, a questão da preservação do patrimônio histórico do centro, que é bem atual, e, também relata a presença de um monumento estilo art-decó, na antiga Praça do Banco do Brasil, que, assim como a Praça Presidente Vargas, foi totalmente destruída e reconstruída, sem deixar vestígios da existência do mesmo.

O quinto entrevistado foi Henrique Alves, de oitenta e sete anos. Henrique mudou-se para Bom Jardim de Minas aos dois anos de idade e permaneceu na cidade

35 desde então, tornando-se escrivão. Henrique observou que na época, não havia ligações telefônicas, quase nenhum carro e poucas opções de emprego.

Na segunda questão, foi perguntado sobre quais problemas os entrevistados conseguiam identificar na cidade, o primeiro entrevistado, João, ressaltou questões gerais, como, desemprego e a falta de indústrias, também citou questões como segurança saúde e educação.

Enquanto Elias observou que há falta de lideranças e falta de atitude por parte das pessoas em geral. Também segundo ele, a cultura, a economia e a religião estão estagnadas.

Já Terezinha, destacou problemas urbanos e de administração, como a falta de limpeza das ruas e gestores públicos despreparados. Falta de “beleza arquitetônica”, pouca arborização, cultura e artes restritas e a falta de segurança.

José Francisco chamou a atenção para a falta de planejamento urbano, saúde e educação. Falou ainda sobre a falta de participação da comunidade.

E, por fim, Henrique expressou uma opinião completamente diferente, segundo ele, não há problemas, visto que, segundo ele, pessoas das cidades grandes estão se mudando para Bom Jardim de Minas.

Na terceira e última questão, quando foram perguntados sobre o que poderia melhorar no município, os entrevistados também observaram diferentes aspectos. João apresentou questões de governo, como o desenvolvimento do turismo, a iluminação pública, investimentos em saúde e educação, apoio ao agricultor e produtor rural.

Já segundo Elias, as pessoas precisam ter mais atitude pessoal.

Terezinha destacou que a cidade necessita de um plano diretor e de um código de posturas para regular o uso dos espaços públicos. Tudo isso com uma gestão pública competente e com conhecimento técnico e específico com cada área da gestão municipal.

Francisco ressaltou a cultura e a educação. Um ponto interessante é que, segundo ele, as pessoas precisam se conhecer, se auto educar e que o estado deveria estimular essa tomada de consciência. 36

Para finalizar, Henrique acredita que não há nenhuma dificuldade, mas que a administração precisa trabalhar mais pela cidade.

3.2. Mapas mentais

Na quarta questão, foi pedido aos entrevistados que desenhassem a cidade, tendo como referência a área central, com o objetivo de analisar as relações de afetividade e percepção ambiental, existentes entre os moradores e o lugar – tendo este último já sido conceituado anteriormente.

Para Lynch (1960),

As imagens do meio ambiente são o resultado de um processo bilateral entre o observador e o meio. O meio ambiente sugere distinções e relações, e o observador – com grande adaptação e à luz dos seus objetivos próprios – seleciona, organiza e dota de sentido aquilo que vê. (LYNCH, 1960, p. 16)

A percepção ambiental pode ser definida como “um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente” (DEL RIO, 1999, p.3). Este processo permite que as pessoas criem vínculos com os lugares, gerando a apropriação dos espaços. Ao identificar-se ou não com estes espaços, as pessoas desenvolvem afeto ou repulsa pelos mesmos e a esse sentimento Tuan (1980) chamou de topofilia.

Apenas quatro dos cinco entrevistados fizeram o mapa mental, isto porque o quinto entrevistado, Henrique Alves, é atualmente deficiente visual.

Primeiramente, quanto a questões gerais, é possível observar que todos os entrevistados utilizaram as vias como limites, onde não há edificações presentes - com exceção para o desenho realizado pela Terezinha. Outro ponto importante é que nenhum dos desenhos possuem representação de pessoas. Em todos há a presença de algumas árvores no local onde há praças, denotando a falta de arborização ao longo das ruas.

Quanto a particularidades, é interessante notar que no desenho feito pelo João (Imagem 31), a praça foi representada como uma ilha, como já foi há algumas décadas. Já Elias (Imagem 28) representou algumas edificações como referência, ligadas através de linhas, representando as vias. Nota-se que ele representou não somente a área central, mas também a Igreja Senhor dos Passos, interligando-a com o centro e a Praça da Rodoviária. Francisco (Imagem 30) destacou em seu mapa 37 mental as edificações históricas presentes no centro e também as árvores da praça, com certa precisão. Além disso, fez críticas escritas, chamando a atenção para o fato de que a Praça da Rodoviária não contém indícios da existência da antiga estação ferroviária que ali existiu, para a rotatória da mesma praça, que não possui nenhuma relação com seu entorno e quanto a má utilização de uma rua a qual ele chamou de “beco das lamentações”, que é completamente abandonada. Terezinha (Imagem 29) foi a única a representar um maior número de edificações. Houve uma distorção muito grande quanto a largura da via que passa pela praça e, ela também representou a Igreja Senhor dos Passos, a Igreja Matriz e a Praça da Rodoviária.

É possível perceber uma grande identificação dos moradores com a praça em si, visto que em todos os desenhos houve a sua representação, mesmo que de forma escrita, como no caso do desenho feito por Elias. Bem como também se percebe a importância da Igreja Senhor dos Passos, que, mesmo não se localizando na área central, foi representada em dois mapas, o mesmo acontece com a Praça da Rodoviária.

Imagem 28: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por Monsenhor Elias José Saleh Filho.

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Imagem 29: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por Terezinha Rachid Ozório da Fonseca.

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Imagem 30: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas, feito por José Francisco Mattos e Silva.

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Imagem 31: Mapa mental do centro de Bom Jardim de Minas feito por João Batista da Silva Rocha.

4. Estudos de casos

Os estudos de casos têm como objetivo serem referências projetuais positivas ou negativas para o projeto de requalificação do centro de Bom Jardim de Minas, através da criação de um calçadão.

Entendendo um pouco sobre calçadões, estes tem como objetivo a priorização dos pedestres, através do uso exclusivo:

“[...] os calçadões de forma geral têm como princípio básico proporcionar um espaço público exclusivo para o trânsito de pedestres, que se servem do comércio, serviços ou do lazer local. As políticas públicas relativas ao Calçadão têm como foco principal o bem-estar, uma vez que incentivam a implantação de equipamentos e mobiliários públicos urbanos, e proporcionam segurança dos que por ele transitam, já que esses não têm que dividir o espaço com veículos automotores.” (DITTRICH et. al., 2015)

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Busca-se entender qual a importância e os impactos da criação do mesmo, através dos exemplos analisados:

“Brambilla & Longo (1977) nos apresentam as razões para a implantação de calçadões divididas em quatro grandes áreas de atuação, são elas: (1) gestão do tráfego, (2) revitalização econômica, (3) melhoria das condições ambientais, e (4) benefícios sociais.” (Brambilla & Longo, 1977 apud Fonseca, p. 83, 2012)

Serão realizados três estudos de casos, o primeiro localizado em Curitiba - PR, na Rua XV de Novembro, também conhecido como Rua das Flores, o segundo, o Calçadão da Rua Halfeld, em Juiz de Fora – MG, e o terceiro em Nova Iorque, na Times Square, EUA.

4.1. Calçadão da Rua XV de Novembro, Curitiba – Paraná

Imagem 32: Localização da Rua XV de Novembro em Curitiba, PR.

Fonte: Google.

A Rua XV de Novembro atravessa dois bairros da cidade de Curitiba, começando no Centro, no encontro com a Rua Ébano Pereira e a Travessa Oliveira Belo, tendo seu final no bairro Alto da Rua XV, no viaduto da Praça das Nações, na interseção com a Avenida Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Durante o século XX, a via foi aos poucos se tornando o principal ponto de encontro dos curitibanos, influenciados pelos cinemas de rua, pelas lojas e pela Praça General Osório.

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Imagem 33: Rua XV de Novembro, 1913.

Fonte: http://www.curitiba.pr.gov.br/conhecendocuritiba/ruaxv

O calçadão de Curitiba foi a primeira via a ser fechada para trânsito exclusivo de pedestres no país, sendo inaugurado em 20 de maio de 1972. Dois anos depois, o trecho entre o Palácio Avenida e a Praça Santos Andrade foi tombado pela Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná, reunindo várias edificações antigas, com arquitetura eclética e também construções mais modernas, sendo estas principalmente representadas pelo neoclassicismo e pelo Art Nouveau. Na década de 1960, possuía grande fluxo de automóveis e de pessoas, o que acarretava grandes congestionamentos.

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Imagem 34: Rua XV de Novembro, década de 1950.

Fonte: http://www.curitiba.pr.gov.br/conhecendocuritiba/ruaxv

A Rua XV de Novembro sempre foi de uso predominantemente comercial e estes congestionamentos refletiam no comércio, pois, as pessoas observavam de dentro dos carros as vitrines, sem poder descer para consumir. Porém, os comerciantes tinham receio de que o comércio declinasse ainda mais com a criação do calçadão, com medo de que a rua se tornasse abandonada, posicionando-se contra o seu fechamento. Os motoristas também achavam inadmissível fechar o trânsito naquela rua para criar uma praça linear.

Para impedir que mandados de segurança fossem requeridos pelos comerciantes, a prefeitura iniciou as obras de calçamento da Rua XV em um final de semana. Plantaram-se as árvores adultas e fixaram as floreiras.

Uma semana depois, um grupo de automobilismo decidiu fazer um protesto, subindo com carros antigos no calçadão, porém, a prefeitura foi mais rápida e criou um evento para crianças, distribuindo tintas para que as mesmas desenhassem num papel que fora esticado no chão. Com isso, os carros não puderam passar e foi o fim do protesto. Na época, os comerciantes chegaram a querer a substituição do prefeito.

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Porém, com o passar dos dias, houve o aumento da circulação de pedestres, pois pessoas que passavam ali por perto, moravam ou trabalhavam nas proximidades, passaram a desviar o seu caminho para caminhar e olhar as flores. Consequentemente, houve o crescimento do comércio e foi então que os mesmos comerciantes que se posicionaram contra viram uma mudança positiva.

O Calçadão de Curitiba manteve suas características originais, exibindo ainda nos dias de hoje várias árvores floreiras, sendo também conhecido como “Rua das Flores”.

Imagem 35: Rua das Flores, Curitiba.

Fonte: http://curitibaparanaocuritibanos.blogspot.com.br/2011/07/calcadao-rua-das-flores.html

A Rua XV de Novembro e a Avenida Luiz Xavier oferecem diversos tipos de serviços e produtos comerciais. Possui também bares e lanchonetes. Além do comércio informal.

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Imagem 36: Comércio informal na Rua XV de novembro.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/tomada-por-ambulantes-rua-xv-de-novembro-se- transforma-em-mercadao-e8nokzb3j45up7adf0mdx6s4j

Além disso, possui equipamentos e mobiliários urbanos, servindo, além de local de passagem, como área de permanência e de encontro para os seus frequentadores.

Imagem 37: Calçadão de Curitiba, equipado com mobiliários urbanos.

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Fonte: http://www.outrasterras.com.br/o-que-fazer-em-curitiba-comece-pela-rua-das-flores/

Outro ponto importante, é a existência de um espaço democrático, denominado “Boca Maldita”, onde diversos tipos de pessoas – comerciantes, políticos, empresários – se reúnem para discutir assuntos relativos a cidade.

Imagem 38: Espaço denominado “Boca Maldita”, onde geralmente acontecem diversas manifestações.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/dimas_benedict/3042539259

O calçadão é feito em pedras portuguesas – petit pavê – possuindo vários desenhos ao longo de sua extensão, tornando a paginação mais um atrativo do lugar.

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Imagem 39: Pavimentação do Calçadão da Rua XV de Novembro, Curitiba.

Fonte: http://www.circulandoporcuritiba.com.br/2013/09/a-nossa-rosacea-paranista.html

O Calçadão da Rua XV, portanto, pode ser visto como uma referência positiva, pois é um espaço aberto democrático e seguro, uma vez que as pessoas podem circular livremente, sem se preocupar com a circulação de automóveis. Além disso, mantém as características originais da rua que foi um dia. É um espaço que une comércio e lazer, se mantendo como local de encontro, de permanência e de socialização, possuindo equipamentos e mobiliários urbanos adequados, bem como lugar onde ocorrem manifestações culturais. Ajudou a promover o desenvolvimento econômico da região, através do aumento da circulação de pessoas. Por fim, tornou-se um espaço sociocultural, que prima pelo bem-estar da população, o que corrobora para a sua manutenção e vitalidade. Atualmente, permanece como um dos pontos turísticos culturais mais importantes de Curitiba.

4.2 Calçadão da Rua Halfeld, Juiz de Fora – Minas Gerais

Imagem 40: Localização do Calçadão da Rua Halfeld, Juiz de Fora - MG.

Fonte: Google.

A Rua Halfeld foi aberta em 1853, sendo seu nome uma homenagem a Henrique Halfeld, a quem é atribuído o seu traçado. Inicialmente era chamada de Rua da Califórnia. Devido a sua localização central, evoluiu de maneira muito rápida. Passou por muitas alterações ao longo do século XX, principalmente quanto a infraestrutura e em seus edifícios, possuindo uma tendência à verticalização.

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Imagem 41: Rua Halfeld, por volta de 1915.

Fonte: http://www.mariadoresguardo.com.br/2010/04/rua-halfeld-em-1915-ou-anterior-do.html

Imagem 42: Rua Halfeld, 1966.

Fonte: http://www.mariadoresguardo.com.br/2011/09/rua-halfeld-decada-de-1960-arquivo-h.html

Em razão do intenso fluxo de pessoas, em 15 de novembro de 1975, foi inaugurado o calçadão, sendo este limitado entre as Avenidas Barão do Rio Branco e Getúlio Vargas.

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Imagem 43: Inauguração do calçadão da Rua Halfeld, 1975.

Fonte: http://mauricioresgatandoopassado.blogspot.com.br/

Na área em que se constitui o calçadão, os usos são predominantemente comerciais e de serviços. A Rua também possui muitos edifícios bem conservados, de várias décadas, denotando a passagem do tempo.

Imagem 44: Alguns dos edifícios presentes no calçadão da Rua Halfeld.

Fonte: http://colunaacontecendo.blogspot.com.br/2012/10/juiz-de-fora-calcadao-da-rua-halfeld.html

É possível observar que na parte baixa da rua, que também possui edificações antigas variadas, onde não há a presença do calçadão, as mesmas se encontram mais degradadas.

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Imagem 45: Edifícios na Rua Halfeld, parte baixa.

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1384946

Passou por diversas alterações ao longo do tempo, dentre elas, a retirada das jardineiras e do chafariz na praça João Pessoa, em frente ao Cine Teatro Central. Possuía ainda postes de iluminação iguais aos das outras ruas.

Imagem 46: Inauguração do calçadão em 1975, destaque para os postes de iluminação antigos.

Fonte: http://mauricioresgatandoopassado.blogspot.com.br/

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Posteriormente, em 1987, foram planejados os equipamentos, as jardineiras, o paisagismo e as luminárias, que permaneceram até a década de 2000.

Imagem 47: Calçadão da Rua Halfeld antes da retirada das jardineiras e a troca das luminárias.

Fonte: http://juizdeforaconvention.com.br/v2/compras#.WVYKzvnR_IU

Na década de 2000, foram instaladas câmeras de segurança ao longo do calçadão, como forma de garantir a segurança dos usuários. Houve também a retirada das jardineiras, a substituição dos postes de iluminação e a retirada dos letreiros que causavam poluição visual. Foram feitas regras quanto a colocação de letreiros, o que vem se mostrando como uma medida positiva.

Imagem 48: Fragmento do calçadão antes da retirada dos letreiros.

Fonte: https://www.pjf.mg.gov.br/noticias/view.php?modo=link2&idnoticia2=18396

Com a retirada dos equipamentos e as jardineiras, o calçadão da Rua Halfeld se tornou uma via livre para passagem de pedestres, sem quase nenhum obstáculo à circulação e também sem vegetação.

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De todas as alterações pelas quais o local passou, a pavimentação em pedras portuguesas brancas e vermelhas se manteve com o mesmo desenho que hoje é visto como marca registrada do lugar.

Imagem 49: Calçadão da Rua Halfeld atualmente.

Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g887228-d2423828-i163603141- Calcadao_da_Rua_Halfeld-Juiz_de_Fora_State_of_Minas_Gerais.html

Atualmente, o calçadão da rua Halfeld possui em seu entorno imediato edificações com usos diversificados, sendo predominantes o comércio e os serviços. Durante o dia, o mesmo se mantém como local de passagem. Já durante a noite, acontecem feiras, com comércios ambulantes. Há também os bares, que colocam suas mesas para fora e então, o local se torna de permanência. Além disso, também ocorrem manifestações de todos os tipos, políticas, culturais e sociais. Estas atividades mantém o lugar bem movimentado durante o dia e também durante a noite, o que é um ponto muito positivo. Outro ponto positivo é a presença das galerias que cortam caminho para as ruas em seu entorno, facilitando o acesso. E, há também a questão da conservação dos bens histórico-culturais, que é facilitada pela existência do calçadão. Por outro lado, a falta de vegetação ao longo de sua extensão faz falta na paisagem, bem como também a falta de acessibilidade espacial, visto que o calçadão é bastante desnivelado, dificultando o acesso à pessoas que possuem determinados tipos de limitações. E, por fim, a mudança dos postes de iluminação, que ainda hoje é motivo de discussão.

No entanto, essa variedade de usos demonstra como o calçadão da Rua Halfeld se consolidou como um importante espaço público central, hora de passagem, 53 hora de permanência e hora de manifestações culturais, se tornando uma referência para a cidade.

4.3. Calçadão da Times Square, Nova Iorque - EUA.

Imagem 50: Localização da Times Square, Nova Iorque, EUA.

Fonte: Google

A Times Square é um importante cruzamento comercial e um bairro no centro de Manhattan, compreendido entre a Rua 42, a Sétima Avenida e a Broadway. Até o início do século XX, essa região da cidade era conhecida como Longacre Square, porém, devido ao novo prédio do The New York Times, ali construído no começo do século XX, ficando conhecido como The Times, o local teve o seu nome modificado para Times Square.

Para comemorar a mudança de sua sede, em 1904, o The New York Times organizou uma grande festa com fogos de artifício, nascendo assim a tradição de se comemorar a virada do ano na Times Square.

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Imagem 51: Times Square, por volta de 1904.

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2016/03/os-segredos-da-times-square-em-nova- york.html

Nas décadas de 1920 e 1930, o local foi cenário de muitos filmes e objeto de interesse de muitos artistas da época, fazendo com que o local se consolidasse como um símbolo cultural. Foi também palco de manifestações durante a crise de 1929 e de comemorações de quando esta chegou ao fim.

Porém, por causa da falta de investimentos, entre a década de 1960 e meados de 1980, o local encontrava-se muito degradado, até que, no final dessa mesma década e na próxima, o local passou por uma revitalização que o trouxe de volta à vida, fechando lojas de pornografia, aumentando o policiamento, atraindo o edifício da Walt Disney e lojas das marcas mais famosas do mundo, bem como também melhorando a sua infraestrutura, se firmando como espaço de entretenimento.

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Imagem 52: Times Square, 1986.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/apos-30-anos-reforma-da-times-square-sera- concluida/n1237859935213.html

Por ter se tornado um dos maiores polos de turismo – atualmente o lugar mais visitado do mundo -, a Times Square teve um aumento muito grande em seu fluxo de pessoas e de automóveis, o que levou a grande poluição sonora e visual, além de ter se tornado uma via muito perigosa para pedestres, visto que passou a ser difícil separar os dois fluxos.

Em 2009, parte da Avenida Broadway foi fechada para automóveis, onde se instalaram praças temporárias.Com o objetivo de diminuir a poluição visual e sonora, aumentar a segurança para pedestres, diminuir os congestionamentos e melhorar a qualidade do espaço para os seus usuários.

A medida foi bem sucedida e em 2010 a mudança se tornou permanente entre as avenidas 42 e 47, o que melhorou o comércio e tornou o espaço um dos mais seguros da cidade. Atualmente, a Times Square já se consolidou como um local de pedestres.

Recentemente, foi inaugurado o projeto de requalificação da Times Square, do escritório Snøhetta, tornando o lugar uma grande praça pública, com mais de nove mil metros quadrados, para pedestres e ciclistas, com o objetivo principal de melhorar não somente a estética, mas também trazer benefícios de diferentes setores a longo prazo, proporcionando saúde, bem-estar e um local de encontro e permanência para os seus usuários, que vivem numa cidade muito movimentada.

Imagem 53: Antes da requalificação da Times Square, pelo escritório Snøhetta.

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Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/871088/projeto-de-snohetta-para-a-times-square-e-inaugurado

Imagem 54: Depois da requalificação da Times Square, pelo escritório Snøhetta.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/871088/projeto-de-snohetta-para-a-times-square-e-inaugurado

No total, o projeto contempla 130.000 m² e a construção de cinco praças, sendo a distribuição dos bancos é similar em todas, servindo assim para eventos públicos. O piso dos passeios de pedestres é de concreto com discos de aço embutidos, refletindo as luzes das fachadas. Houve também o rebaixamento das calçadas, facilitando a acessibilidade e o escoamento da água das chuvas.

Imagem 55: Distribuição das cinco novas praças.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/601289/pedestrianizacao-da-times-square-deve-ser-concluida-em- 2016

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Imagem 56: Rebaixamento de calçadas da Times Square.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/601289/pedestrianizacao-da-times-square-deve-ser-concluida-em- 2016

Imagem 57: Pisos utilizados no projeto.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/601289/pedestrianizacao-da-times-square-deve-ser-concluida-em- 2016

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Imagem 58: Mobiliários urbanos utilizados no projeto.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/601289/pedestrianizacao-da-times-square-deve-ser-concluida-em- 2016

O fechamento da Times Square configura uma grande conquista para os pedestres, uma vez que este constitui um local conhecido em todo o mundo, o que demonstra que a preocupação com a qualidade do espaço urbano das cidades tem aumentado nos últimos anos, sendo que casos como este podem ser observados também em outros países. Cada vez mais tem se buscado realizar projetos que visem o desenvolvimento do espaço, contemplando todas as áreas e melhorando assim a qualidade de vida de seus usuários.

Imagem 59: Antes e depois da Times Square.

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/601289/pedestrianizacao-da-times-square-deve-ser-concluida-em- 2016

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Considerações finais

O desenvolvimento sócio-espacial é aquele que compreende todas as áreas do desenvolvimento, melhorando assim a qualidade de vida dos usuários de um determinado espaço. Para tanto, é necessário um estudo mais aprofundado acerca do local de projeto, afim de entender como o espaço funciona, seus usos e apropriações, para que sejam encontradas as melhores soluções.

Com base nos estudos realizados neste trabalho, foi possível perceber o quanto os ambientes urbanos podem influenciar a qualidade de vida da população. Isto porque, além de se tornarem bem apropriados, se bem pensados, podem se tornar espaços mais seguros e confortáveis. Além disso, é possível encontrar meios que ajudem a desenvolver o lado socioeconômico, trazendo benefícios a todas as partes envolvidas.

Locais bem projetados são capazes de gerar a apropriação, o que leva as pessoas a se identificarem com os espaços, tornando-os um lugar. O processo de percepção é o que permite esta identificação, portanto, analisar a percepção ambiental pode vir a ser muito enriquecedor. A partir do momento em que estes se tornam lugares, passam a estar presentes na memória coletiva dos usuários, fazendo com que os mesmos zelem pela preservação dos espaços, o que acaba gerando a preservação não apenas do lugar em si, mas da própria cidade.

Com o desenvolver da pesquisa, percebeu-se que a partir do momento em que o pedestre passa a ser a prioridade em um determinado espaço, este, ao contrário do que se espera, passa a ser mais utilizado, o que leva aos outros pontos positivos já mencionados, como a segurança.

Um ponto interessante a ser observado é que todos os locais analisados acabaram por ser espaços multifuncionais, com usos diversos, o que se mostrou muito positivo, constatando-se que os mesmos lugares, por serem públicos, podem impactar a qualidade de vida de diferentes pessoas, idades, gostos e culturas, constituindo portanto um fator determinante para o sucesso dos mesmos.

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Falando brevemente sobre calçadões, como já mencionado anteriormente, estes tem como objetivo principal priorizar o pedestre através do uso exclusivo. Aliados a equipamentos e mobiliários urbanos, passam a ser não somente um local de passagem, mas também de lazer e permanência. Além disso, podem se transformar em local de manifestações culturais, valorizar o comércio através da intensificação do fluxo de pessoas e consequentemente podem colaborar para manter a identidade da cidade. Através dos estudos de caso pôde-se perceber que o fechamento de vias para uso exclusivo de pedestres se mantém como uma tendência positiva, ocorrendo em vários lugares não somente no país, mas também no mundo, trazendo inúmeros benefícios para a população.

“Com estas justificativas e exemplos, percebemos que a implantação de calçadões pode assumir um papel preponderante não somente para mudanças e melhorias no aspecto físico das ruas, mas também sociais, ambientais, e econômicas para áreas urbanas como um todo, desde que consideradas preexistências, demandas já consolidadas e características de uso das ruas. Ou seja, o sucesso dos calçadões não pode ser atribuído somente às suas qualidades físicas, mas também às características sociais, culturais e econômicas.” (FONSECA, 2012, p. 88)

Por fim, através dos estudos realizados, notou-se que o atual centro da cidade de Bom Jardim de Minas sempre foi um local de encontro e permanência, antes mesmo da existência de uma praça. A partir do levantamento histórico da cidade, das pesquisas e do diagnóstico feito, têm-se, portanto, como diretrizes projetuais, os seguintes pontos:

• Requalificação: Criação de um calçadão no centro da cidade – Praça Presidente Vargas – com o objetivo de priorizar o pedestre, ampliar os espaços de lazer, permanência e vegetação, de uma maneira que venha a valorizar a história e a cultura do lugar.

• Revitalização das praças do entorno imediato: Praça Antônio Jacinto de Farias (Praça da Rodoviária) e Praça Cônego Antônio Ignácio de Almeida (Praça da Igreja).

• Diretrizes urbanas que busquem melhorar o espaço físico da cidade e, consequentemente, a qualidade de vida da população.

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Para a concepção do projeto de requalificação, será buscado, principalmente, aliar a nova função do espaço com a antiga, ou seja, um calçadão que também seja uma praça, ocorrendo a existência de equipamentos, mobiliários urbanos e jardins. Para as demais praças, serão considerados os usos pré-existentes, afim de que a identidade não seja perdida. Em todo o conjunto se buscará remeter à história do local, desde a concepção até a escolha dos materiais.

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Referências

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AUGÉ, M. Não-lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. 3. ed., Coleção Travessia do século. Campinas, Papirus, 1994.

CRUZ, Jose Luis Gabriel. Snøhetta faz da Times Square uma rua permanentemente de pedestres. Disponível em: Acesso em 4 de junho 2017.

DEL RIO, Vicente. Cidade da mente, cidade real: percepção ambiental e revitalização na área portuária do RJ. p. 3-22. In: DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lívia de (Orgs.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. 2ª ed. São Paulo: Studio Nobel, 1999. 265 p.

DITTRICH, M. et al. O calçadão de Curitiba: sua história como espaço público social da cidade. Revista Brasileira de Tecnologias Sociais, v.2, n.2, 2015.

FERREIRA, Jurandir Pires. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1958.

FONSECA, Fábio Luiz da. Os calçadões e sua importância para a qualidade urbana na área central de Juiz de Fora. Juiz de Fora: UFJF, 2012.

GAETE, Constanza Martínez. Pedestrianização da Times Square deve ser concluída em 2016. Disponível em: Acesso em: 4 de junho 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Cidades: Bom Jardim de Minas. Disponível em: Acesso em: 20 de maio 2017.

LEITE, R. P. Contra-usos da cidade: lugares e espaço público na experiência urbana contemporânea. Campinas: UNICAMP; Aracajú: UFS, 2004. 63

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Tradução: Maria Cristina Tavares Afonso. São Paulo: Arte e Comunicação, 1982.

LYNCH, Patrick. Projeto de Snøhetta para a Times Square é inaugurado. Tradução: Romullo Baratto. Disponível em: < http://www.archdaily.com.br/br/871088/projeto-de- snohetta-para-a-times-square-e-inaugurado> Acesso em: 4 de junho 2017

MENDONÇA, E. M. S. Apropriações do espaço público: alguns conceitos. Estudos e pesquisas em psicologia, v. 7, n. 2, p. 296-306, 2007.

SOUZA, M. L. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

TUAN, Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.

WIKIPEDIA. Bom Jardim de Minas. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Bom_Jardim_de_Minas> Acesso em: 5 de abril 2017.

WIKIPEDIA. Rua das Flores (Curitiba). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Rua_das_Flores_(Curitiba)> Acesso em: 9 de junho 2017.

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Anexos

ANEXO A – Entrevistas

Nome: JOAO BATISTA DA SILVA ROCHA.

Idade: 52 anos.

Morador há quantos anos: 52 anos.

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

Só tinha um pedacinho de calçamento no centro, de paralelepípedo. A iluminação era de trilho de linha e muito fraquinha, sempre dava problema, era precária. Só melhorou com a CEMIG. A “praça de baixo”, - a atual “Praça da Rodoviária” - era um jardim, porém tinha uma rua no canto que virava em frente ao casarão. A cidade era quase toda de ruas de terra. Os bairros mais afastados tinham pouquíssimas coisas. Apenas as ruas Av. Governador Valadares, a Correa de Lacerda, R. Liberdade, Dom Silvério, São Vicente e o Centro eram bem povoadas.

2) Quais problemas você consegue identificar?

Saúde, segurança, educação (podia ter mais opções para os alunos), desemprego e faltam indústrias.

3) O que poderia melhorar? Como?

Desenvolver o turismo, iluminação, investir na educação, procurar trazer uma faculdade para o município, maior apoio ao agricultor e ao produtor rural.

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

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Nome: TEREZINHA RACHID OZÓRIO DA FONSECA

Idade: 58 anos

Morador há quantos anos: 58 anos

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

Nas minhas lembranças de infância, havia beleza e para o olhar de uma criança tudo era enorme. Posso falar de parte da cidade onde vivi.

Moradora da Praça Presidente Vargas - antigo Largo do Cruzeiro, coração da cidade.

Uma praça linda, com projeto arquitetônico e paisagístico bem feito e harmônico. Praça com várias espécies de flora; ipês amarelos, quaresmeiras, etc., com lagos de peixes e muito bem cuidada, onde moças e rapazes circulavam em sentido contrário para paquerarem. Nela, ficava o clube social da cidade, com bailes nos finais de semana, com conjunto musical e a “estação da luz” que era a casa de morada e escritório do Senhor Tico da Luz.” Este era responsável pela manutenção da rede elétrica da cidade. As 18 horas ele, com vara de madeira, ligava o transformador e a praça e a rua se iluminavam.

Em gestões posteriores, a Praça Presidente Vargas foi destruída e reconstruída (mais de uma vez), com canteiros disformes e sem identidades arquitetônicas.

Brincávamos em todas as ruas que circundam a praça. A cidade era tranqüila e as crianças brincavam nas ruas de queimada, bandeirinha, pique-esconde e outras típicas da época.

Íamos a estação ferroviária esperar o trem chegar, acontecimento diário que criava boas expectativas na cidade.

A cidade, no decorrer dos anos teve algumas modificações, como, luz elétrica com acendimento automático, gestões públicas fizeram intervenções, como calçamentos e houve um aumento de imóveis nos arredores da praça.

2) Quais problemas você consegue identificar?

Gestores públicos despreparados para administrar a cidade causando transtornos em vários setores: 66

• Limpeza urbana e coleta de lixo deficitária;

• Cidade sem beleza arquitetônica, exceto o casarão do centro histórico, por ser inventariado e não poder ser derrubado;

• Pouca arborização, incompatível com o nome da cidade;

• Parte cultural, artística e social muito restrita, numa cidade que já foi mais evoluída nestes aspectos.

• Questões de segurança pública intrinsecamente ligadas ao tráfico de drogas, que não tem o combate devido pelas autoridades;

3) O que poderia melhorar? Como?

• Criação do plano Diretor, embora não obrigatório em cidades com menos de 20 mil habitantes, necessário para a proposição de um crescimento ordenado.

• Código de posturas municipal para regular o uso dos espaços públicos.

• Gestão pública competente e com conhecimento técnico e específico em cada área da gesta municipal.

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

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Nome: JOSÉ FRANCISCO MATTOS E SILVA

Idade: 35 anos

Morador há quantos anos: 35 anos

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

A fazenda virou cidade mas a cidade ainda preserva alguns hábitos da época de fazenda, como, animais soltos e lotes sem cerca. Poucas mudanças, a praça era de paralelepípedos (substituídos por bloquetes ). Houve 4 mudanças na praça central. A praça da rodoviária foi construída. Preservação do patrimônio histórico do centro. Havia um monumento estilo art-deco em frente ao Banco do Brasil que foi destruído.

2) Quais problemas você consegue identificar?

Grande problema urbano - Falta de planejamento, falta de um plano diretor. Educação menos pragmática e mais formadora de consciência. Falta de participação da comunidade.

Na saúde, falta de prevenção, não há trabalho preventivo - coração, alcoolismo, câncer e depressão.

3) O que poderia melhorar? Como?

Cultura e Educação.

Você tem que se conhecer e se convencer, assim você se auto-educa e se torna um cidadão que tende para o bem ou para o mal. E o estado tem que estimular isso.

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

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Nome: ELIAS JOSÉ SALLEH

Idade: 81 anos.

Morador há quantos anos: 81 anos.

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

Bom jardim – 1946 - Não tinha calçamento, não tinha rede de esgoto, rede hidráulico precária, sem tratamento de água e pouca energia elétrica. A área urbana constava de poucas ruas na extensão. Não havia estrutura administrativa, nem escolar, nem hospitalar. O que dominava a cidade (1500 habitantes) era a igreja católica, cuja matriz é do século XVII. Todas as atividades sociais comunitárias se restringiam as festas religiosas.

Passava a estrada de ferro, ligando Barra do Piraí, passando para Santa Rita de Jacutinga, estendendo até Caxambu. O movimento ferroviário tinha muita expressão. Era um costume as pessoas irem ver a chegada e saída do trem, pelo qual havia as comunicações.

As escolas primárias se instalavam em casa particulares alugadas. O atendimento de emergência se fazia na farmácia do farmacêutico prático. Tratamento dentário era só extração. A sociedade era dividida entre ricos e pobres, entre brancos e negros, que não se misturavam. O trabalho e o emprego se restringiam ao comércio, em funcionários da prefeitura e em professores particulares, sendo inexpressiva no município a produção rural, apesar de que era grande a população nas fazendas. Bom Jardim exportava média-produção de queijo caseiro. O abastecimento necessário era importado pelo trem. Tinha certa expressão a música e os artesanatos.

Nas décadas seguintes, houve um impulso ferroviário com a instalação da oficina com grande número de operários da RMV. Com a esperança das ligações asfálticas, na década de 70 houve um grande afluxo na obra do asfalto e da ferrovia do aço.

Nessas últimas duas décadas, 1980 a 2000, instalou-se a CEMIG, a COPASA e outras benfeitorias.

2) Quais problemas você consegue identificar?

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Uma meta atual em 2017 é que a comunidade carece de lideranças competentes e atuantes. Há uma estagnação econômica e cultural, e mesmo religiosa. Nota-se uma dispersão, ideológica, política, educacional e cultural. Quase nada esportiva. A população sofre um marasmo. Dispersando-se as tradições e a índole que caracterizava Bom Jardim.

Falta objetivo, estímulo, planejamento, elementos a altura das necessidades. Com crescimento urbano rápido devido a mudança do meio rural para a cidade é notável o número de aposentados de regresso.

3) O que poderia melhorar? Como?

A nossa cidade está perdendo a respeitabilidade e a admiração da vizinhança. Falta atitude pessoal.

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

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Nome: HENRIQUE ALVES

Idade: 87 anos.

Morador há quantos anos: 85 anos.

1) Como era a cidade antigamente? Como você se lembra da cidade anos atrás?

Muito atrasada. Não tinha telefone, poucos carros, pouco emprego.

2) Quais problemas você consegue identificar?

Não tem problemas, as pessoas da cidade grande estão se mudando para cá.

3) O que poderia melhorar? Como?

Não existe nenhuma dificuldade.

A administração precisa trabalhar mais pela cidade.

Tudo que procura tem.

4) Desenhe Bom Jardim de Minas, tendo como referência a área central.

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