A Bacia Do Rio Tibagi
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS A BACIA DO RIO TIBAGI Moacyr E. Medri Edmilson Bianchini Oscar A. Shibatta José A. Pimenta editores A BACIA DO RIO TIBAGI Londrina - Paraná 2002 Copyright © 2002 dos Autores Todos os direitos reservados. ISBN 85-902390-1-2 / 85-902392-1-7 / 85-902394-1-1 / 85-902395-1-9 Coordenação da Edição: Ivani Cócus Foto da Capa: Luiz dos Anjos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) A bacia do rio Tibagi / Moacyr E. Medri... [et al.], editores . -- Londrina, PR : M.E. Medri, 2002. Outros editores: Edmilson Bianchini, Oscar A. Shibatta, José A. Pimenta Vários autores. Bibliografia. 1. Bacias hidrográficas 2. Tibagi, Rio I. Medri, Moacyr E. II. Bianchini, Edmilson. III. Shibatta, Oscar A. IV. Pimenta, José A. 03-0122 CDD-333.73098162 Índices para catálogo sistemático: 1. Paraná : Estado : Rio Tibagi : Bacia hidrográfica 333.73098162 2. Rio Tibagi : Bacia hidrográfica : Paraná : Estado 333.73098162 3. Tibagi : Rio : Bacia hidrográfica : Paraná : Estado 333.73098162 A bacia do rio Tibagi Capítulo 13 Mamíferos não-voadores da bacia do rio Tibagi Adriano L. Peracchi, Vlamir J. Rocha e Nelio R. dos Reis ABSTRACT – (Non-flying mammals of the Tibagi River Basin) The Tibagi River Basin covers an area of approximately 25,000 km2 where the remains of forests and a great diversity of habitats are still found. So far, 60 species of non-flying mammals have been registered in the area and several of them are threatened by extinction. This chapter describes some biological information on the species, as well as the area of the basin where they occur, including plant-animal interactions. Key words – Forest fragments, frugivore, mammals, Tibagi River Basin. INTRODUÇÃO mamíferos neotropicais têm porte menor e a maioria apresenta hábitos noturnos, além de habitar florestas O Brasil ocupa posição de destaque no cenário densas, onde a visão fica limitada a poucos metros. mundial devido à sua diversidade biológica. A fauna de mamíferos que ocorre em nosso território ultrapassa BIOLOGIA GERAL DAS ESPÉCIES 524 espécies (Fonseca et al. 1996), colocando o Brasil entre os três países mais ricos do mundo nesse tipo de A seguir, este capítulo aborda informações sobre a fauna (os outros dois são o México e a Indonésia). biologia das 60 espécies de mamíferos registradas até o Entretanto, o país detém o maior número de espécies momento para a bacia do rio Tibagi (apêndice 1). A animais ameaçadas de extinção de todo o planeta, tota- maioria da nomenclatura adotada e a seqüência das ordens lizando 318, das quais 66 são mamíferos. dos mamíferos seguiram Wilson & Reeder (1993). Os mamíferos constituem um dos grupos mais com- plexos do reino animal. Geralmente apresentam o corpo Ordem Didelphimorphia (fig.1) coberto de pêlos, que mudam periodicamente, e a pele com muitas glândulas, entre as quais se destacam as Família Didelphidae glândulas mamárias, que produzem leite para amamentar os filhotes. O cuidado com a prole é bastante desen- Monodelphis dimidiata (Wagner, 1847) volvido nesses animais, que devem seu espetacular su- cesso a muitas características, várias delas associadas Espécie de pequena cuíca encontrada nas regiões ao desenvolvimento da inteligência e de habilidades sen- Sudeste e Sul do Brasil, no Uruguai e no nordeste da soriais, ao aumento da eficiência reprodutiva e à apre- Argentina. ensão e processamento dos alimentos. Além disso, o Sua coloração geral é marrom nas partes superiores aleitamento favoreceu a permanência prolongada dos e mais clara ventralmente. A cauda é curta, quase toda filhotes junto aos pais, propiciando o desenvolvimento nua, e as fêmeas são desprovidas de marsúpio (bolsa de complexos comportamentos sociais. de pele no ventre) (Lange & Jablonski, 1998). Pode ser Por outro lado, os mamíferos neotropicais consti- confundida com um pequeno rato. tuem o grupo taxonômico menos estudado, e alguns Vive nas matas, na proximidade da água, andando fatos contribuem para o pouco conhecimento desse gru- principalmente no solo, procurando pequenos seres po. Diferentemente dos mamíferos africanos, que em vivos, de que se alimenta, mas também consome frutos. geral se destacam pelo grande porte, com muitos deles O peso pode variar de 58 a 95 g (Nowak, 1999). Um possuindo hábitos diurnos e habitando as savanas (tipo estudo realizado na Argentina mostrou que essa cuíca de formação vegetal que facilita a observação), os pode apresentar hábito diurno. 225 Mamíferos não-voadores da bacia do rio Tibagi Philander opossum (Linnaeus, 1758) A cuíca-verdadeira, ou cuíca-de-quatro-olhos, tem ampla distribuição geográfica, sendo encontrada desde o México até o nordeste da Argentina. O comprimento de cabeça e corpo varia de 25 a 35 cm, e o da cauda, de 20 a 33 cm; o peso oscila entre 240 e 400 g. Apresenta coloração cinza-escura nas partes superiores, com uma mancha amarela-esbranquiçada sobre cada olho. As partes inferiores têm colorido amarelo-esbranquiçado e a cauda é preta ou cinza-escura até um pouco além da metade basal, tornando-se branca para o ápice. A pelagem é curta e densa, sendo que na Figura 1. Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca; raposa), cauda recobre somente o quarto basal. As orelhas são representante da ordem Didelphimorphia. (Foto: M. Kokubum) nuas e a cauda é preênsil. As fêmeas apresentam bolsa, Monodelphis brevicaudis (Olfers, 1818) em cujo interior se encontram de cinco a nove mamilos. Essa cuíca habita áreas florestadas e é freqüentemente Pequena cuíca encontrada nas regiões Sul e Sudeste encontrada perto de coleções d’água. Apesar de ser boa do Brasil, no Paraguai e no nordeste da Argentina. trepadora e nadar com desenvoltura, é predominan- Segundo Lange & Jablonski (1998), sua coloração temente terrestre. Se refugia em buracos no solo, mas geral é marrom-alaranjada nas partes superiores e cinza- também pode construir ninhos, de aproximadamente alaranjada na região inferior, podendo ocorrer variações 30 cm de diâmetro, em moitas e ramos das árvores. É de tonalidade. A cauda é curta, quase toda nua e pouco predominantemente noturna e onívora, comendo pe- preênsil; a fêmea é desprovida de marsúpio. Essa espécie quenos mamíferos, aves, répteis, anfíbios, insetos, crus- de cuíca, como a anterior, pode ser confundida com um táceos de água doce, caramujos e minhocas, mas também pequeno rato. O peso pode variar de 24 a 78 g (Nowak, ingere frutas. As fêmeas podem parir duas ou mais ninha- 1999). das por ano, que podem conter de dois a sete filhotes. Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842) Lutreolina crassicaudata (Desmarest, 1804) A guaiquica, ou cuíca-graciosa, distribui-se pelas A cuíca-de-cauda-grossa ocupa vasta área da Amé- regiões Sul e Sudeste do Brasil. O nome científico dessa rica do Sul, sendo encontrada na Bolívia, no leste dos cuíca, como o nome comum, faz referência à sua gracio- Andes, no Sudeste do Brasil, no Paraguai, no Uruguai e sidade: em latim, gracilis significa grácil, e nanos, no norte da Argentina. Uma outra população é encon- pequeno. trada no norte da América do Sul: leste da Colômbia, O comprimento de cabeça e corpo varia de 7 a Venezuela e oeste da Guiana. 8,5 cm, e o da cauda, que é preênsil, de 10 a 13 cm, O comprimento da cauda varia de 20 a 30 cm, e o de sendo geralmente um terço maior que o comprimento cabeça e corpo, de 25 a 40 cm. Os adultos pesam de de cabeça e corpo. O peso pode variar de 5 a 15 g. De 200 a 750 g. O pêlo é curto e denso. A coloração da acordo com Lange & Jablonski (1998), o colorido geral parte superior do corpo varia de amarela-clara a castanha- das partes superiores é canelino-vivo, com a base dos escura, e a das partes inferiores, de amarela-avermelhada pêlos cinza, mais clara nos flancos; ventralmente a a marrom-escura. Não ocorrem manchas claras arre- coloração é amarela-acinzentada e, embaixo do queixo, dondadas na cabeça, como em outras cuícas. A forma o tom é amarelo-puro. Ao redor dos olhos possui um do corpo lembra o de uma doninha; as orelhas são curtas anel de pêlos pretos, e a cauda tem pêlos quase imper- e arredondadas e as patas são curtas e robustas. A cauda, ceptíveis. As fêmeas são desprovidas de marsúpio. que não é preênsil como em outros marsupiais, é caracte- Segundo Nowak (1999), possui de 11 a 15 mamas rizada por ser revestida de pelagem muito curta e densa (algumas peitorais e, a maioria, no abdome). na base e, em muitos indivíduos, a metade apical é nua. Os nascimentos podem ocorrer ao longo de todo o Não ocorre um marsúpio ou bolsa bem desenvolvida, e ano se houver disponibilidade de alimentos, com até existem nove mamilos no ventre (Nowak, 1999). seis filhotes por ninhada. Os ninhos são construídos Essa cuíca é encontrada em áreas de campo e em em ocos de árvores, constituídos de folhas verdes e matas de galeria, geralmente perto de coleções d’água, refeitos a cada noite. sendo uma excelente nadadora. É um animal que sai de Animal solitário e noturno, alimenta-se de frutos, seus refúgios (ocos de árvores, buracos no solo) à noite exudatos e pequenos invertebrados. Em período muito para predar pequenos mamíferos, aves, repteis, peixes e frio pode entrar em torpor. artrópodos, mas também se alimenta de itens vegetais, 226 A bacia do rio Tibagi conforme observado por Monteiro Filho & Dias (1990), Colômbia, no Equador, no Peru, no Brasil, na Bolívia, que encontraram em suas fezes sementes de Cecropia no Paraguai, no Uruguai e na metade norte da Argentina cinerea e Piper sp., além de fragmentos de Miconia sp., (Wilson & Reeder, 1993). Syagrus romanzoffiana, Acrocomia sclerocarpa, Passi- Em sua pelagem existem longos pêlos pretos, mes- flora sp.