Fundamentos Históricos Da Poesia Luso-Árabe (No Século De Almutâmide) Na Nova Música Portuguesa O Amor E O Vinho
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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA POESIA LUSO-ÁRABE (NO SÉCULO DE ALMUTÂMIDE) NA NOVA MÚSICA PORTUGUESA O AMOR E O VINHO Eduardo Manuel da Conceição Candeias Raposo DISSERTAÇÃO DE DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA CULTURAL E DAS MENTALIDADES CONTEMPORÂNEAS 2009 Sob Orientação do Professor Doutor António Pedro Vicente O AMOR E O VINHO Eduardo Manuel da Conceição Candeias Raposo OUTUBRO DE 2009 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA POESIA LUSO-ÁRABE (NO SÉCULO DE ALMUTÂMIDE) NA NOVA MÚSICA PORTUGUESA Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História Cultural e das Mentalidades Contemporâneas, realizada sob orientação científica do Professor Doutor António Pedro Vicente Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar. O candidato Lisboa, 20 de Outubro de 2009 Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar. O orientador Lisboa, 20 de Outubro de 2009 Maria Maria Nascida no monte À beira da estrada Maria Bebida na fonte Nas ervas criada Talvez Que Maria se espante De ser tão louvada Mas não Quem por ela se prende De a ver tão prendada Maria Nascida do trevo Criada no trigo Quem dera Maria que o trevo Casara comigo Prouvera A Maria sem medo Crer no que lhe digo Maria Nascida no trevo Beiral do mendigo Maria Nascida no trevo Beiral do mendigo Maria De todas primeira De todas menina Maria Soubera a cigana Ler a tua sina Não sei Se deveras se engana Quem demais se afina Maria Sol da madrugada Flor de tangerina Maria Sol de madrugada Flor de tangerina José Afonso (Cantares de José Afonso – 1964) Nota de Abertura A Poesia da Música ao som da Pintura Este trabalho foi escrito no Sul. E, mesmo quando pontualmente ali não estava fisicamente, o Sul estava-me no corpo, estava-me no olhar, era o sabor do Sul que tinha nos lábios. Havia telas com o Sul na alma, havia Música, havia Poesia, havia a amizade fraterna do meu amigo Manel (o pintor Manuel Casa Branca). O meu mundo era o seu simpático e suave atelier e era o castelo – o castelo mais bonito de todos, não só pelas suas ruínas e pela imagem de longe, muito doce harmoniosa, mas também quando caminhamos por entre o Paço do Alcaide, nas suas etéreas ruínas, tão românticas. O meu mundo era as amoras que colhia diariamente na Ecopista e me deliciava com cada recanto daquele lugar paradisíaco, lugar solar ou nocturno, onde eu gostava de caminhar ao anoitecer. Escrevia e esperava. A minha rotina era então uma descoberta permanente, um deslumbramento quase contínuo por cada pedra, cada monte em ruínas. Escrevia, caminhava. Escrevia e esperava, esperava serenamente… Agradecimentos Em primeiro lugar, ao Professor Doutor António Pedro Vicente que me “aturou” ao longo de mais de cinco longos anos, Mestre da História e da sua investigação e também, como um dia escrevi “ficar à conversa com o Professor Pedro Vicente é uma experiência avassaladora de simplicidade, de humanismo, de argúcia intelectual, de compreensão do mundo e da vida e do papel da história nos nossos dias.” Os meus profundos agradecimentos ao meu amigo, o pintor Manuel Casa Branca que me abriu as portas do seu atelier e da sua galeria, onde passei temporadas – sempre que me permitiam as obrigações profissionais - nos últimos meses, entre a música de que é apaixonado e a beleza etérea da sua pintura, como intitulei o breve texto anterior: “A Poesia da Música ao Som da Pintura”. Esse gesto fraterno do meu amigo foi determinante para chegar ao fim deste trabalho, depois de ultrapassar tantos escolhos exteriores. A galeria 9Ocre foi tantas vezes o meu porto de abrigo. Obrigado Amigo. Agradecer a um restrito grupo de amigos, que como escrevi na última edição do Canto de Intervenção 1960-1974, “cada um à sua maneira iluminam os meus dias”: sugerindo, apoiando, revendo infatigavelmente, encontrando soluções informáticas, enfim reafirmando a solidez da amizade e de como são imprescindíveis na minha vida: sem eles, se existisse, seria infeliz, menos humano, menos sereno, menos fraterno, menos lutador, menos sensível… não existia! Queria também agradecer aos intérpretes, músicos, “cantautores”, investigadores e arabistas que se disponibilizaram a ouvir as minhas interrogações e a sugerir caminhos: Professor António Borges Coelho – decano dos arabistas da contemporaneidade - Professora Teresa Rita Lopes, Dr. Adalberto Alves, Ruben de Carvalho, Luís Represas, Manuel Rocha, Tiago Bensetil e muito especialmente ao Cláudio Torres, Rui Curto, Janita Salomé, João Afonso e também Nuno Bernardo. Aos arabistas A. Borges Coelho, Adalberto Alves e Cláudio Torres e o CAM (Santiago Macias e a restante equipa), José Alberto Alegria e Adel Sidarus uma palavra muito especial pelo contributo decisivo que, cada um à sua maneira, têm tido para a divulgação do legado islâmico em Portugal. A vós devo a revelação desse passado em mim adormecido mas tão forte, tão presente. O meu profundo reconhecimento. Agradecimentos também ao amigo Francisco Constantino Pinto, assim como ao Dr. José Domingues Gaspar e ao Dr. José Gonçalves (CMA) pelas facilidades concedidas. Resumo Fundamentos Históricos da Poesia Luso-Árabe (no Século de Almutâmide) na Nova Música Portuguesa O Amor e o Vinho Eduardo Manuel da Conceição Candeias Raposo Palavras-chave: Poesia, Sul, Portugal, Beleza, Amor, Vinho Temos como objectivo estudar a importância que a Poesia tem na Nova Música Portuguesa, dando assim continuidade cronológica ao estudo anterior, resultante da tese de mestrado e depois publicado: Canto de Intervenção 1960- 1974. A “Canção de Coimbra” levou-nos ao lirismo trovadoresco e este ao Zéjel, nascido em finais do século IX, na região de Córdova, para ser cantado, fruto de um encontro de línguas e culturas. A presença do Sul será sempre uma constante. Percebemos então a importância que o “Século de Almutâmide”- Poeta- Rei (1040-1095) nascido em Beja - poderá ter tido para a génese da nossa poesia lírica, assim como este período de apogeu civilizacional, possibilitou o “caldo de cultura” existente no Garbe al-Andalus, onde poucas décadas depois surgiu o reino de Portugal. Terá sido nos séculos XI e XII que se inicia a “caminhada” poética que percorremos, destacando-se D. Dinis (e seu avô Afonso X, o sábio), João Roiz de Castelo Branco, Bernardim Ribeiro, António Ferreira, Gil Vicente, Luís de Camões, Francisco Rodrigues Lobo, Bocage, Marquesa de Alorna, e as várias gerações do Romantismo, entre outros, que são o rosto visível desta “aventura” lírica que marca indelevelmente a História de Portugal. Pessoa revê-se neste imaginário poético de há quase mil anos. Hoje, em 2009, depois de Coimbra e do Canto de Intervenção, os intérpretes, “cantautores” e “escritores de canções”, identificados com a matriz do génio da nossa música popular, José Afonso, trilharam novos e inovadores caminhos musicais, mas a poesia, a grande poesia é a marca da perenidade. É assim que Sérgio Godinho, Rui Veloso, Janita Salomé, Vitorino, Fausto, Luís Represas e Trovante, mas também a Brigada Víctor Jara, João Afonso, Francisco Naia ou Eduardo Ramos (cantam-se ou) cantam, desde Almutâmide e Ibne Sara a Carlos Tê, João Monge, Carlos Mota de Oliveira, José Jorge Letria, Hélia Correia, Luís Andrade (Pignatelli) e claro, Manuel Alegre, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Maria Rosa Colaço, José Afonso, entre muitos, não esquecendo os temas de raiz popular. Assim, apenas vos queremos falar da Beleza. Da Beleza presente na Poesia e na Vida, o Amor e o Vinho - temas nos poemas transcritos - elementos caracterizadores deste país com um património genético no Sul mediterrânico, onde o Sol dá o tom certo da sensualidade dos corpos e o vinho produz a languidez da libertação dos sentidos. Deste país que também é fruto da sensibilidade dos seus poetas, dos seus reis-poetas. Bebendo no apogeu civilizacional que acabava de acontecer no al- Andalus e nomeadamente aqui no Garbe – fruto da síntese das civilizações mediterrânicas que o Islão nos legou - nasceu Portugal. E sem esse legado anterior à nacionalidade mas tão presente, no dizer de Adalberto Alves: “nós Portugueses seríamos também outros, menos apaixonados”(…) e “Talvez que a Saudade não fosse dita em português e Camões ou Pessoa não pudessem ter sido.” Summary Historical Grounds of Luso-Arabic Poetry (in the Century of Almutâmide) in New Portuguese Music Love and Wine Eduardo Manuel da Conceição Candeias Raposo Keywords: Poetry, South, Portugal, Beauty, Love, Wine Our aim is to study the importance that Poetry has in the New Portuguese Music, thus giving chronological continuity to the previous study, which resulted from the master’s thesis and was then published: Canto de Intervenção 1960-1974. The “Canção de Coimbra” took us to troubadoresque lyricism and this to Zéjel, born in the end of the IX century, in the region of Córdova, to be sung, the result of a meeting between languages and cultures. The presence of the South will always be a constant. We then understood the importance that “Século de Almutâmide”- Poet-King (1040-1095) born in Beja – could have had to the genesis of our lyrical poetry, as well as how this period of civilizational apex, enabled the “cultural melting pot” which existed in Garbe al-Andalus, where a few decades later the kingdom of Portugal would arise. It was in the XI and XII century that the poetic “path” we travelled began, with highlight to D. Dinis (and his grandfather Afonso X, the wise), João Roiz de Castelo Branco, Bernardim Ribeiro, António Ferreira, Gil Vicente, Luís de Camões, Francisco Rodrigues Lobo, Bocage, Marquesa de Alorna, and the many generations of Romanticism, among others, who are the visible face of this lyrical “adventure” which indelibly marks the History of Portugal. Pessoa sees himself in this poetic imaginary of almost a thousand years.