PROCESSO Nº : 13.393-0/2018 ÓRGÃO : PREFEITURA MUNICIPAL DE INTERESSADO : JEFERSON FERREIRA GOMES ASSUNTO : MONITORAMENTO RELATOR : CONSELHEIRO INTERINO JOÃO BATISTA DE CAMARGO JÚNIOR

VOTO

15. O monitoramento se justifica pela necessidade de verificação de cumprimento das determinações e recomendações exaradas por este Tribunal e possui previsão no artigo 148, inciso V e § 6º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de (RI-TCE/MT), que assim dispõe:

Art. 148. O Tribunal, no exercício de suas atribuições, poderá realizar fiscalizações nos órgãos e entidades sob sua jurisdição, com vistas a verificar a legalidade, a economicidade, a legitimidade, a eficiência, a eficácia e a efetividade de atos, contratos e fatos administrativos, mediante os seguintes instrumentos: I. Auditorias; II. Levantamentos; III. Inspeções; IV. Acompanhamentos; V. Monitoramentos. […] § 6º. Monitoramento é o instrumento de fiscalização utilizado pelo Tribunal para verificar o cumprimento de suas decisões e os resultados delas advindos. (grifei)

16. Como demonstrado no relatório, este monitoramento foi instaurado com o objetivo de verificar a implementação das determinações e recomendações exaradas no Acórdão nº 361/2017 – TP (Processo nº 10.129-0/2017) a alguns municípios do estado, entre eles, Comodoro, sob a responsabilidade do Sr. Jeferson Ferreira Gomes – Prefeito Municipal, vejamos:

1) DETERMINAR: a) aos gestores dos municípios de: Glória D' Oeste, Novo São Joaquim, Poconé, Ribeirão Cascalheira, Santo Antônio de Leverger e Vila Bela da Santíssima Trindade que instituam a Planta Genérica de Valores até o dia 31-5-2020, considerando a definição e a metodologia legal para apuração genérica em massa dos valores venais dos imóveis para fins de cobrança do IPTU; b) aos gestores dos municípios de: Água Boa, Cáceres, Canarana, , Campos de Júlio, Chapada dos Guimarães, Gaúcha do Norte, Conquista D' Oeste, Nova Nazaré, , , Porto Esperidião, Querência e que revisem a Planta Genérica de Valores até o dia 31-5- 2019, considerando a Portaria do Ministério das Cidades nº 511, de 7 de dezembro de 2009, nos termos do artigo 30, §§ 2º a 5º; c) aos gestores dos municípios de: Água Boa, Cáceres, Campo Novo do Parecis, Canarana,

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Cocalinho, Comodoro, Conquista D' Oeste, Gaúcha do Norte, , Nova Nazaré, Pontes e Lacerda, Querência e Sorriso que atualizem a Planta Genérica de Valores até 31-12-2017, para que tenha efeitos tributários no exercício de 2018, considerando o artigo 2º da Resolução nº 31/2012 deste Tribunal; e, d) aos gestores dos municípios citados nas alíneas “a”, “b” e “c”, que efetuem o encaminhamento de cronograma para o cumprimento das determinações exaradas nesta decisão no prazo de 90 dias;

17. Inicialmente, cabe ressaltar que a Planta Genérica de Valores (PGV) determina o valor venal dos imóveis, o qual irá compor a base de cálculo de diversos tributos. Por conseguinte, sua atualização influencia diretamente na arrecadação de tributos pela Administração Municipal, bem como na implantação, implementação e desenvolvimento das Políticas Públicas custeadas por esses tributos.

18. Nessa linha, Helton Kramer Lustoza, Eduardo Castro e Marcus Gouvêa1 têm posição no sentido de que:

A Planta Genérica de Valores é o documento ideal para definir a valorização imobiliária, fixando o valor venal com base em critérios técnicos de valoração, apuração e enquadramento dos imóveis. Leva em conta condições individuais do imóvel como seu tamanho, área construída, localização, infraestrutura existente, condição de solo, entre outros elementos. Estas informações são mantidas em um cadastro imobiliário municipal, onde constam os dados necessários sobre os imóveis, como a existência de edificações, área, tipo número de pavimentos, etc. A atualização do cadastro imobiliário é essencial para acompanhamento acerca da expansão urbana, por isso ela serve tanto para função fiscal quanto extrafiscal. Por isso, é dever da Administração Pública apurar o correto valor venal do imóvel, o que normalmente é feito através da elaboração da Planta Genérica de Valores, que acompanhará a valorização imobiliária. (grifei)

19. Isso posto, com base no relatório da equipe técnica, na alegação da defesa e na manifestação do Ministério Público de Contas, cumpre-me fazer juízo de valor dos fatos abordados no monitoramento.

Determinação: Atualize a Planta Genérica de Valores até 31.12.2017, para que tenha efeitos tributários no exercício de 2018, considerando o artigo 2º da Resolução Normativa nº 31/2012 deste Tribunal.

20. A primeira determinação ao Município de Comodoro foi quanto à atualização da Planta Genérica de Valores, que deveria ocorrer até 31/12/2017, para que tivesse

1 CASTRO, Eduardo Moreira Lima Rodrigues de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em espécie. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 777. 2

efeito tributário no exercício de 2018. De acordo com o artigo 2º da Resolução Normativa nº 31/2012 – TCE/MT, essa atualização da Planta Genérica de Valores dos municípios deve ser determinada periodicamente, vejamos:

Art. 2º. Determinar a atualização periódica da Planta Genérica de Valores do município para subsidiar o cálculo do ITBI – Imposto sobre Transmissão de Bens Móveis e IPTU - Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana e outros tributos correlatos. (grifei)

21. Em sua defesa, o gestor apresentou a Portaria nº 337/20142, de 29/8/2014, a qual dispõe sobre a formação da comissão para estudo e atualização da Planta Genérica de Valores por metro quadrado de terreno e edificação dos imóveis do município.

Fonte: Documento Digital nº 102069/2018, p. 6.

22. A despeito disso, não ficou comprovado que o gestor atendeu à determinação, tendo em vista que a portaria encaminhada é de 2014 e a sua atualização deveria ter sido realizada em 2017, para obter efeitos tributários no exercício de 2018.

23. Ressalto ainda que não foi apresentada nenhuma Lei Complementar ou o Decreto do exercício de 2018 para comprovar a atualização da Planta Genérica de Valores, apenas a portaria formando a comissão para estudo e a Lei Municipal n° 1.623/20153, que versa sobre a atualização da Planta Genérica de Valores para o

2 Documento Digital nº 102069/2018, p. 6 a 8. 3 Documento Digital nº 311802/2017. 3

exercício de 2016. Desse modo, não ficou demonstrado que foi dada continuidade à atualização.

24. Assim, em consonância com a equipe técnica e com o Ministério Público de Contas, ante o descumprimento da atualização da Planta Genérica de Valores do Município de Comodoro, mantenho a irregularidade “NA01”, de natureza gravíssima.

25. À vista disso, determino4 ao gestor que atualize a Planta Genérica de Valores do município no presente exercício para que tenha efeitos tributários no vindouro, conforme dispõe o art. 2º da Resolução Normativa nº 31/2012.

26. Desse modo, voto pelo descumprimento do Acórdão nº 361/2017 - TP, item 1, alínea “c”, com aplicação de multa no montante de 11 UPF/MT, nos termos do artigo 3º, I, alínea “a”, da Resolução Normativa nº 17/2016, ao Sr. Jeferson Ferreira Gomes (Prefeito).

Determinação: Aos gestores dos municípios citados nas alíneas “a”, “b” e “c”, que efetuem o encaminhamento de cronograma para o cumprimento das determinações exaradas nesta decisão no prazo de 90 dias.

27. Quanto à segunda determinação, trata-se da elaboração e encaminhamento do cronograma de atualização da Planta Genérica de Valores do Município de Comodoro para esta Corte de Contas no prazo de 90 (noventa) dias, conforme disposto no Acórdão nº 361/2017 - TP.

28. Para fins de esclarecimento, informo que o referido acórdão foi julgado em 15/8/2017, de modo que o gestor tinha como prazo final o dia 16/11/2017 para o cumprimento da determinação.

29. Em análise aos documentos acostados pela defesa, verifico que o cronograma de atualização da Planta Genérica de Valores foi anexado em 4/6/2018, juntamente com o Ofício nº 328/GP/20185. Portanto, foi encaminhado já fora do prazo de 90 (noventa) dias estabelecido pela determinação.

4 Art. 22. Para efeitos desta lei, considera-se: [...] § 2º. Determinações legais, as medidas indicadas pelo Relator para fins de atendimento de dispositivo constitucional ou legal. Lei Complementar nº 269/2007 (Lei Orgânica do TCE/MT). 5 Documento Digital nº 102069/2018. 4

30. Apesar de o cronograma ter sido encaminhado fora do prazo, coaduno-me com o entendimento do Ministério Público de Contas e entendo que ele foi elaborado de forma padronizada ao ser revisado e alterado pela Comissão de Avaliação da Portaria nº 337/2014.

Documento Digital nº 102069/2018, p.4 e 5.

31. Todavia, entendo que o cronograma deve ser periódico e referente ao exercício corrente da atualização da Planta Genérica de Valores, conforme dispõe o art. 3º da Resolução Normativa nº 31/2012 – TP6, e, neste caso, é nítido que o documento não se refere ao exercício de 2017, tendo em vista que não houve a renovação legislativa para a atualização da Planta Genérica de Valores do Município de Comodoro para o ano em que foi publicado o Acórdão nº 361/2017 – TP.

32. Portanto, corroboro o entendimento do Parquet de Contas e mantenho a irregularidade “NA01”, de natureza gravíssima, determinando que o Município de

6 Art. 3º. Determinar o envio anual ao Tribunal de Contas do Estado, na carga de janeiro do APLIC, da Planta Genérica de Valores atualizada e vigente para o exercício, a partir da competência 2014; (grifei) 5

Comodoro apresente um novo cronograma de atividades para o cumprimento do Acórdão nº 361/207 - TP, item 1, alínea “d”, de forma realista e ajustada, no prazo de 90 (noventa) dias.

33. Assim, em vista do não cumprimento da determinação, aplico multa de 11 UPF/MT ao Sr. Jeferson Ferreira Gomes (Prefeito), nos termos do artigo 3º, I, alínea “a”, da Resolução Normativa nº 17/2016.

DISPOSITIVO

34. Diante do exposto, com base no art. 89, inciso II, da Resolução Normativa TCE/MT nº 14/2007, acolho o parecer do Ministério Público de Contas nº 3.042/2018, da lavra do Procurador-Geral de Contas Alisson Carvalho de Alencar, e voto:

a) pela declaração de descumprimento das determinações exaradas por este Tribunal de Contas por meio do Acórdão nº 361/2017 - TP, publicado no Diário Oficial de Contas em 24/8/2017, edição nº 1183, e pela procedência da irregularidade “NA01” diagnosticada neste monitoramento;

b) pela aplicação de multa de 22 UPF/MT ao Senhor Jeferson Ferreira Gomes, Prefeito de Comodoro/MT, sendo 11 UPF/MT pela constatação da irregularidade “NA01”, de natureza gravíssima, em razão do não cumprimento das providências elencadas no item 1, alínea “c”, e 11 UPF/MT pelo não cumprimento das providências da alínea “d”, nos termos do artigo 3º, I, alínea “a”, da Resolução Normativa nº 17/2016;

c) pela renovação das determinações, com fulcro no art. 22, § 2º, da Lei da Complementar nº 269/2007 (Lei Orgânica do TCE/MT), a fim de que a gestão da Prefeitura de Comodoro:

c.1) atualize a Planta Genérica de Valores do município no presente exercício para que tenha efeitos tributários no ano vindouro, em atenção ao disposto na Resolução Normativa nº 31/2012;

c.2) apresente novo cronograma de atividades da Planta Genérica de 6

Valores, no prazo de 90 (noventa) dias, e encaminhe a este Tribunal os documentos necessários à comprovação do cumprimento das determinações.

35. Por fim, saliento que o não cumprimento das determinações impostas incidirá em aplicação de multa por reincidência no descumprimento de decisão deste Tribunal, fundada no artigo 75, VII, da Lei Orgânica do TCE/MT c/c artigo 286, VI, do Regimento Interno do TCE/MT c/c artigo 2º, VI, da Resolução Normativa nº 17/2016, bem como no julgamento irregular das contas de gestão da entidade ou órgão jurisdicionados, nos termos do artigo 194, § 1º, do Regimento Interno.

É como voto.

Cuiabá/MT, 1º de agosto de 2019.

(assinatura digital)7 JOÃO BATISTA DE CAMARGO JÚNIOR Conselheiro Interino (Portaria nº 127/2017, DOC TCE/MT de 18/09/2017)

7 Documento firmado por assinatura digital, baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, nos termos da Lei Federal nº 11.419/2006 e Resolução Normativa Nº 9/2012 do TCE/MT. 7