XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

ANÁLISE TAXONÔMICA DAS EXSICATAS DO GÊNERO J.V. LAMOUR. (, ) DEPOSITADAS NO HERBÁRIO PROF. VASCONCELOS SOBRINHO (PEUFR).

Mayara Caroline Barbosa dos Santos Rocha1, Maria de Fátima de Oliveira-Carvalho2, Sônia Maria Barreto Pereira3.

Introdução Udotea é um gênero calcificado de algas verdes, pertencente à Ordem (Chlorophyta). Seus representantes se caracterizam por apresentar talo ereto, fixo ao substrato por um sistema rizoidal, do qual se origina um pedúnculo (estipe) e porção terminal laminar plana ou afunilada, dotada de filamentos com ou sem apêndices laterais (Littler & Littler, 1990; Pereira, 2011). Nos mares tropicais, as espécies de talos calcificados estão entre os principais produtores primários em recifes de corais e contribuem também na estrutura dos mesmos (Leliaert et al., 2012).Mundialmente, são reconhecidos 34 táxons infragenéricos (Guiry & Guiry, 2013). No Brasil, apenas oito táxons infragenéricos foram reconhecidos (Moura, 2010), sendo que a maioria de suas informações está baseada em levantamentos florísticos realizados em diversas localidades. Através desses estudos, representantes de Udotea foram coletados e depositados em herbários nacionais indexados. Atualmente verifica-se que a maioria desse material depositado, está identificada a nível genérico e/ou identificado erroneamente. A presente pesquisa faz parte do projeto intitulado “Taxonomia e filogenia dos gêneros Halimeda J. V. Lamour. e Udotea J. V. Lamour. (Bryopsidales – Chlorophyta) no Brasil” e teve como objetivo analisar as exsicatas de Udotea depositadas no Herbário Prof. Vasconcelos Sobrinho (PEUFR) da Universidade Federal Rural de Pernambuco coletadas na costa nordestina.

Material e métodos Foram analisadas no Laboratório de Ficologia (LABOFIC) da Universidade Federal Rural de Pernambuco, as exsicatas depositadas no Herbário PEUFR coletadas na costa dos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A identificação foi baseada na morfologia externa (hábito e padrão da porção terminal) e interna (diâmetro dos filamentos e apêndices laterais). Para a visualização das estruturas internas, foram retirados pequenos fragmentos (estipe e laminar), os quais foram descalcificados com ácido clorídrico (20%) e posteriormente hidratados em água morna. Os filamentos foram dissociados com auxílio de estiletes e lâminas semipermanentes foram feitas. Foi utilizado microscópio estereoscópico e microscópio Zeiss óptico binocular para a observação das referidas estruturas. As medidas anatômicas foram feitas com uma ocular micrométrica Zeiss e a confirmação dos táxons foi baseada em bibliografias pertinentes.

Resultados e Discussão Foram analisadas 58 exsicatas de Udotea para o Nordeste Brasileiro coletadas entre os anos de 1966-2009. O maior número ocorreu no litoral de Pernambuco (39). A maioria dos espécimes analisados é proveniente da região entre-marés e, apenas, 14 refere-se a material dragado pelo Barco Pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP até 35m de profundidade. Até o momento foram identificados seis táxons infragenéricos os quais estão descritos a seguir.

Udotea cyathiformis Decaisne var. cyathiformis f. cyathiformis Annales dês Sciences Naturelles, Botanique, Seconde Série 18: 106. 1842. Figura 1 (A, A1 e A2). Descrição: Talo ereto, de coloração verde-claro a esbranquiçada, levemente calcificado com até 5,5 cm de altura. Fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe achatado com até 4 mm de largura, formado por filamentos cenocíticos (30-70µm de diâmetro), densamente emaranhados, do qual partem para as extremidades projeções laterais ramificadas dicotomicamente. Porção laminar terminal em forma de taça, com nítidas zonações concêntricas, constituída por filamentos cilíndricos, ramificados dicotomicamente (30-80µm de diâmetro), ausentes de apêndices laterais. Material selecionado: Rio Grande do Norte: PEURF 4978 – Estação 163 (05° 17’ 00’’S e 35° 08’ 00’’ W), col. Barco Pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP, 22/I/1979, prof. 34m. Paraíba: PEURF 6517- Estação 78 (06°39’05’’ S e 34° 46’W), col. Barco pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP, 28/V/1981; Prof. 35m.

U. cyathiformis var. cyathiformis f. sublittoralis (W.R. Taylor) D.S. Littler & Littler 1990: 216 Systematics of Udotea species (Bryopsidales, Chlorophyta) in the tropical western Atlantic. Phycologia 29(2): 206-252. Figura 1 (B, B1 E B2) Descrição: Talo ereto, verde-claro, levemente calcificado com até 5,0cm de altura, fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe achatado curto formado por filamentos cenocíticos (60-80µm diâmetro), densamente emaranhados, partindo para as extremidades projeções laterais ramificados dicotomicamente com ápices achatados. Porção laminar terminal em forma de taça, espessa, fibrosa, com margens irregulares, com nítidas zonações concêntricas., constituída por filamentos cilíndricos, ramificados dicotomicamente ( 50-90µm de diâmetro), ausentes de apêndices laterais. Material selecionado: Rio Grande do Norte: PEURF 5206 - Estação 261, Lat. 04° 49’ 00’’ S e long. 36° 36’ 05’’ W; col. Barco Pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP; 27/III/1980; prof. 14m. Paraíba: PEURF 5686 - Estação 7 (Lat. 07° 31’ 00’’ S e long. 34° 42’ 00’’ W); col. Barco Pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP; 23/I/1981; prof. 16m.

1 Primeira Autora é aluna de Licenciatura em Ciências Biológicas e faz parte do PIBIC/CNPq do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco E-mail: [email protected]. ² Segunda Autora é Pós-Doutoranda do Programa Nacional de Pós-Doutorado PNPD/CAPES da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. Recife, PE, CEP 52171-900. 3 Terceira Autora é Professora Titular do Departamento de Biologia da Área de Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Apoio financeiro do PNPD/CAPES/UFRPE.

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Udotea cyathiformis var. flabellifolia D.S.Littler & M.M.Littler 1990: 220Systematics of Udotea species (Bryopsidales, Chlorophyta) in the tropical western Atlantic. Phycologia 29(2): 206-252. Figura 1 (C, C1 e C2) Descrição: Talo ereto, verde-claro, levemente calcificado com até 5,0 cm de altura, fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe curto constituído por filamentos cenocíticos (50-80µm de diâmetro), densamente emaranhados, do qual surgem para as extremidades projeções laterais ramificadas dicotomicamente com ápices achatados. Porção terminal em forma de leque, fibrosa constituída por filamentos cilíndricos, ramificados dicotomicamente variando de 30-70µm, ausentes de apêndices laterais. Material selecionado: Paraíba: PEUFR 5703 – Estação 30 (07°15’05’’ S e 34°33’00’’ W), col. Barco Pesquisador IV/SUDENE/DRN/RP, 01/IV/1981; Prof. 35m.

Udotea dixonii D.S.Littler & M.M.Littler 1990: 220 Systematics of Udotea species (Bryopsidales, Chlorophyta) in the tropical western Atlantic. Phycologia 29(2): 206-252. Figura 1 (D, D1 e D2) Descrição: Talo ereto, verde-claro até 9,5 cm de altura, fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe curto, fortemente calcificado, de difícil dissociação, medindo até 5 mm de largura, constituído por filamentos cenocíticos (40- 70µm de diâmetro), densamente emaranhados, do qual partem projeções laterais com pedúnculos longos, ramificadas dicotomicamente com ápices truncados ou arredondados. Porção laminar terminal em forma de leque, alongada, de consistência fina, visivelmente zonadas constituída por filamentos cilíndricos (20-40µm de diâmetro), portando projeções laterais com pedúnculos longos, ramificados dicotomicamente, com ápices truncados a arredondados. Material analisado selecionado: Ceará: PEUFR 17.872 – Praia de Guajiru, Trairi, Col. N. P. Dantas, 20/III/1992. Pernambuco: PEUFR 31.128 - Praia de Pontas de Pedras, Goiana, col. M.F. Oliveira – Carvalho & M. D. Santos, 17/X/1997. PEUFR 20.468 – Praia de Candeias, col. J.A. Angeiras & A.L.M. Cocentino, 11/VII/1991.

Udotea flabellum (Ellis & Solander) Lamouroux Bull. Torrey Bot. Club., 21:94, 1904 . Basiônimo: Corallina flabellum Ellis & Solander. Nat. Hist. Zoophy.: 124. 1786 Figura 1 (E, E1 E E2). Descrição: Talo ereto, verde-claro a esbranquiçado com até 11,5cm de altura, fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe medindo até 5 mm de largura, constituído por filamentos cenocíticos (30-50µm de diâmetro), densamente emaranhados, do qual surgem para as extremidades projeções laterais com pedúnculos longos, ramificados dicotomicamente com ápices arredondados. Porção laminar terminal em forma de leque, portando proliferações e visivelmente zonadas, constituída por filamentos cilíndricos, variando de 20-80µm de diâmetro, com projeções laterais, com pedúnculo curto, ramificados dicotomicamente, com ápices arredondados. Material selecionado: Pernambuco: PEUFR 12.914 - Serrambi, Ipojuca, Col. M. da C. Accioly, 131/III/1987. PEUFR 12.918 – Serrambi, Ipojuca, Col. M. da C. Accioly, 14/IV/1987. PEUFR 27.606 – Praia de Ponta de Pedras, Goiana, Col. M. F. de Oliveira & G. S. Souza, 21/VII/1997.

Udotea occidentalis A. Gepp & E.S. GeppCodiac. Sib. Exped., v.62, p.127.1911 Figura 1 (F, F1 e F2) Descrição: Talo ereto, coloração verde-clara a esbranquiçada medindo até 4,5cm de altura, fixo ao substrato por uma porção basal bulbosa. Estipe curto, achatado, medindo até 5 mm de largura, constituído por filamentos cenocíticos (40- 70µm de diâmetro), densamente emaranhados, partindo para as extremidades projeções laterais com pedúnculos longos, ramificados dicotomicamente com ápices arredondados. Porção laminar achatada em forma de leque, levemente lobada, portando proliferações, visivelmente zonadas, com filamentos densamente compactados de 20-40µm de largura, portando projeções laterais com pedúnculo curto, ramificados dicotomicamente, com ápices arredondados. Material selecionado: Pernambuco: PEUFR 12.912 - Praia de Serrambi – Ipojuca, col. M.C. Accioly, 25/IV/1986. PEUFR 12.915 – Ilha de Fora, Ipojuca, col. M.C. Accioly, Det. S. M. B. Pereira & M. da C. Accioly, 28/IV/1987.

U. cyathiformis é uma espécie facilmente identificada pela característica forma de taça de sua região terminal. A maioria de suas exsicatas encontrava-se identificada, apenas, em nível de espécie. No entanto, a referida espécie possui categorias taxonômicas infraespecíficas como foi proposto por Littler; Littler (1990) em sua revisão taxonômica de Udotea para o Oeste Atlântico Tropical. Através da presente pesquisa, U. cyathiformis var. cyathformis f. cyathformis, U. cyathiformis var. cyathiformis f. sublittoralis e U. cyathiformis var. flabellifolia tiveram sua distribuição geográfica confirmada para a costa Nordeste. Com relação aos representantes com porção terminal em forma de leque, foram identificados U. dixonii, U. flabellum e U. occidentalis. Esses táxons são morfologicamente semelhantes e geralmente são confundidos e este fato foi observado na coleção do Herbário PEUFR. A maioria do material analisado como U. flabellum, tratava-se, na realidade de U. dixonii. Esta espécie teve sua distribuição geográfica ampliada para os estados de Pernambuco e Ceará, pois anteriormente estava restrita, apenas, para o litoral do Espírito Santo (Moura, 2010).

Agradecimento A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no âmbito do Programa Nacional de Pós-Doutorado, pelo apoio financeiro e pela concessão de Bolsa de Pós-Doutorado, juntamente com a Fundação de Amparo a Ciências e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) a segunda autora.

Referências Guiry, M.D.; Guiry, G.M. AlgaeBase. World-wide eletronic publication, National University of Ireland, Galway http://www.algaebase.org: 09 oct. 2013.

Leliaert, F.; Smith, D.R.; Moreau, H.; Herron M.D.; Verbruggen, H.; Delelwiche, C.F.; De Clerck, O. Phylogeny and Molecular Evolution of the Green Algae. Critical Reviews in Plant Sciences, v. 31, p.1-46, 2012.

Littler, D. S.; Littler, M. Systematics of Udotea species (Bryopsidales, Chlorophyta) in the tropical western Atlantic. Phycologia, v.29, n.2, p. 206-252. 1990.

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Moura, C.WN. . In: Forzza, R.C.; Leitman, P.M.; Costa, A.F.; Carvalho Jr., A.A.; Peixoto, A.L.; Walter, B.M.T.; Bicudo, C.; Zappi, D.; Costa, D.P.; Lleras, E.; Martinelli, G.; Lima, H.C.; Prado, J.; Stehmann, J.R.; Baumgratz, J.F.A.; Pirani, J.R.; Sylvestre, L.; Maia, L.C.;. (Org.). Lista de Espécies da Flora do Brasil. Lista de Espécies da Flora do Brasil. 1ed.. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de Janeiro/ Ministério do Meio Ambiente, 2010, v. 1, p. 438-448.

Pereira, S.M.B; Moura, C.W.N.; Gestinari, L.M.S.; Bandeira-Pedrosa, M.E.; Alves, A.M.; Santos, A.A.; Alves, G.L.; Oliveira, I. S.; Oliveira, I.B.: Moniz-Brito, K.L.; Oliveira-Carvalho, M. F.; Andrade, N.A.; Freitas, N.S.; Brayner- Barros, S . Taxonomia das clorófitas marinhas. In: Pedrini, A.G. (Org.). Macroalgas (Chlorophyta) e gramas marinhas (Magnoliophyta) Marinhas do Brasil. 1ed. Rio de Janeiro: Techinical Books, 2011, v. 2, p. 41-99.

Figura 1 – Táxons infragenéricos de Udotea identificadas para o Nordeste brasileiro. A. Udotea cyathiformis Decne. var. cyathiformis f. cyathiformis - Hábito do talo. Lâmina em forma de taça com textura fibrosa a delgada. A1- Filamento da lâmina sem apêndices laterais. A2 – Filamento do estipe com apêndices laterais ramificados com ápice achatado. B. Udotea cyathiformis Decne. var. cyathiformis f. sublittoralis - Hábito do talo. Lâmina em forma de taça com textura espessa. B1- Filamento da lâmina sem apêndices laterais. B2 – Filamento do estipe com apêndices laterais não amplamente ramificados. C - U. cyathiformis var. flabellifolia Littler & Littler - Hábito do talo. Lâmina em forma de leque. C1- Filamento da lâmina sem apêndices laterais. C2 – Filamento do estipe com apêndices laterais ramificados. D - U. dixonni D.S. Littler & Littler - Hábito do talo. Lâmina em forma de leque, textura delgada, mais estreita do que larga. D1- Filamento da lâmina densamente coberto por apêndices laterais. D2 – Filamento do estipe com apêndices laterais dicotomicamente divididos. E- U. flabellum (J. Ellis & Sol.) J. V. Lamour - Hábito do talo. Lâmina em forma de leque, textura espessa. E1- Filamento da lâmina portando apêndices laterais distribuídos espaçadamente. E2 - Filamento do estipe com apêndices laterais ramificados dicotomicamente, com pontas arredondadas. F. U. occidentalis A. Gepp & E.S. Gepp. - Hábito do talo. Lâmina em forma de leque, textura delgada, lobada. F1- Filamento da lâmina portando apêndices laterais tufados nos ápices. F2 - Filamento do estipe com apêndices laterais ramificados dicotomicamente, com pontas arredondadas.