Uma Cultura da Imunização?: vacinas, programas de saúde e cidadania* Gilberto Hochman Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz Av. Brasil 4036/403 21045-900 Rio de Janeiro Brasil
[email protected] Resumo em português: O objetivo dessa apresentação é discutir como as campanhas de vacinação em massa produziram o que denomino de "cultura da imunização", principalmente a partir da campanha de erradicação da varíola no Brasil (1966-1973) que ocorre no período da ditadura militar. Essa "cultura" se construiu ao longo de décadas e se expressou mais claramente quando a população aderiu aos programas governamentais de imunização e demanda cada vez mais vacinas do poder público. Isso contrasta com a resistência a vacinação que foi tão bem expressa pelo episódio da "Revolta da Vacina" de novembro 1904 no Rio de Janeiro e de alguns episódios subsequentes e anteriores de vacinofobia. Meu interesse é especular o que teria mudado no Brasil para que, 60 anos depois, a população, ao invés de fazer barricadas, não só saiu de suas casas e entrou em filas para ser vacinada entre 1967 e 1973 como, depois da erradicação da varíola (certificada em 1973), continuou a participar de campanhas públicas de vacinação, em particular as contra a poliomielite desde os anos 80, e mais recentemente as de sarampo, rubéola, inluenza, entre outras doenças imunopreviníveis. A demanda por mais vacinas vem sendo associada a compreensão, consagrada na Constituição de 1988, de que a saúde (e a imunização) é um direito a ser garantido pelo Estado. No caso brasileiro, a cesta de vacinas oferecidas gratuitamente pelo serviços públicos de saúde é maior do que aquela recomendada pelas organizações de saúde internacionais como a Organização Pan- Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).