Joane Venceu Taça AF Braga ǁǁǁ͘ăƶƚžįdž͘ɖƚ 02 DIÁRIO DO MINHO / SEGUNDA-FEIRA / 11.06.18
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SEGUNDA-FEIRA.11.JUN 2018 WWW.DIARIODOMINHO.PT 0,90 € Diretor: DAMIÃO A. GONÇALVES PEREIRA | Ano XCIX | n.º 31788 DM Catequese nas ruas de Vila Verde com procissão de Santo António REGIÃO P.10 DM MIXÕES DA SERRA CUMPRIU TRADIÇÃO RELIGIÃO P.14-15 Diocese de Viana reforça identidade com peregrinação REGIÃO P.09 ao Sagrado Coração de Jesus DM UMinho recebe 200 académicos em Congresso de Justiça Estúdios Lima/VilaEstúdios Verde Terapêutica P.04 Minhotos conquistam mais medalhas nos Europeus de Canoagem P.35 STAND Nº1 DESPORTO P.18-22 Joane venceu Taça AF Braga ǁǁǁ͘ĂƵƚŽĮdž͘Ɖƚ 02 DIÁRIO DO MINHO / SEGUNDA-FEIRA / 11.06.18 www.diariodominho.pt António sílvio couto paulo fafe [email protected] [email protected] Quando o livro reina, Os abafadores fazendo cultura uita gente se espantou pelo PCP, pela voz de Je- rónimo de Sousa, ter votado contra os projetos de lei sobre a eutanásia. O bispo de Leiria Fáti- a sua 88.ª edição, a "feira do livro de Não é tão grande quanto seria desejável o le- ma, sua eminência D. António Marto, afirmou: Lisboa" é, durante cerca de três se- que de autores que escrevem em português e di- “a posição do PCP na eutanásia surpreende mas manas, um grande espaço de apre- zemo-lo sobretudo atendendo às questões de fé, é humanista”. Claro que é um partido humanis- sentação de novidades editoriais, de que não de mera religião. Se virmos os pavilhões Mta na estrita ideia de que o homem é o centro principal de toda a lançamentos e autógrafos, de misci- específicos onde se podem encontrar abordagens existência. É um humanismo sem Deus ou, se quisermos, coloca genação de culturas, tendo por de- à dimensão espiritual, à intelectualidade e à for- o homem no centro de todas as coisas sem necessidade de inter- Nnominador comum o texto impresso, sobretu- mulação de questões de âmbito religioso cristão ferência divina. Para os que se apressam a tirar paralelismo entre do, em papel. poderemos perceber que, em Portugal, há muita o humanismo cristão e humanismo ateu, aqui fica o alerta e a re- Em razão da minha participação no lançamen- religiosidade com cariz cristão/católico, mas que flexão. Na discussão parlamentar sobre a legalização da eutanásia, to e apresentação do último livro – "Nesta Igreja poucos, muito poucos, o exprimem em forma de um dos deputados, referiu-se a uma personagem de Miguel Tor- que amo e sirvo" – bem como da sessão de autó- escrita… correndo o risco de exporem-se e de se- ga em Novos Contos da Montanha, o Alma Grande. Nesse conto, grafos no dia seguinte, pude ver a grande afluên- rem criticados (no sentido positivo e/ou negati- o Alma Grande tem o nome de abafador; era chamado pelos fa- cia – num domingo e numa 2.ª feira – de visitan- vo) pelo que dizem ou pensam. miliares para esganar os doentes que, estando na hora da morte, tes, compradores e cultivadores da cultura através Para além de certos escritos devocionais – mui- demoravam a morrer. No conto, o moribundo chamava-se Isaac. do livro. Nota-se a presença de muitas crianças, tos deles de qualidade gráfica e doutrinal a roçar o O médico tinha recomendado à sua mulher que lhe fosse enco- normalmente, acompanhas pelos pais, que as vão sofrível – não tenho visto, na "feira do livro", pu- mendando o caixão. Quando o abafador entrou no quarto, o Isaac introduzindo ao gosto pela leitura, certamente, blicações mais ou menos desenvolvidas – a vo- gritou-lhe, “não… não… ainda não”. Hesitou o abafador e desistiu. cultivada em casa e aprimorada na instrução e lumetria e as páginas nem sempre são o critério O Isaac “vinte dias depois comia o caldo ao lume como se nada aprendizagem nas escolas. Nesta faceta da habi- supremo para avaliação – segundo a capacidade tivesse sido”. O conto não acaba assim, mas assim fica em suspen- tuação ao texto escrito tem muita importância a dos nossos leitores. Há questões que devem ser so, pela minha parte. Daqui se conclui que Miguel Torga, que era cativação desde tenra idade, pois isso também se levadas ao terreno da "feira do livro", pois nin- médico de profissão, disse-nos, com a sua sensibilidade de escri- aprende a gostar como outros hábitos que fomos guém sabe se não andará por lá alguém à procura tor, que a luta pela vida vale a pena, mesmo depois de desenga- adquirindo desde novos. de Deus e do sentido para a sua vida. Não pode- nado pela ciência médica. Os quatro projectos de legalização da Há, no entanto, dados e situações que podem mos embarcar na onda de certos critérios edito- eutanásia, são abafadores como o Alma Grande. As razões para o favorecer ou desmotivar quem leia ou quem es- riais só porque nos foi proposto um tema – vin- abafamento pressupõem causas piedosas para com o sujeito e res- creva. Desde o preço dos livros e a sua aquisição do de Roma ou de alguma diocese – e enquanto peito pelo seu livre arbítrio. Que livre arbítrio há nos dementes, por necessidade, por gosto ou mesmo por educa- dura o "ano de qualquer coisa" saem a propósito nos catatónicos, nos em coma profunda? Qual a diferença entre ção. Aqui se poderá ver com mais acentuada co- ou a despropósito muitas publicações. Há ques- a eutanásia e este abafador de Miguel Torga? Também ele matava nexão a distinção entre instrução e cultura, pois tões que precisam de ser aprofundadas, estuda- depois da desistência da ciência; também ele matava com o con- esta pressupõe aquela e a segunda se aprofunda das e esmiuçadas sempre. Eis algumas sugestões: sentimento de familiares e da própria mulher, também ele ma- usando os meios mais adequados para o seu en- o tema da Igreja será sempre útil e atual; as ques- tava por consentimento social. Esta questão de quem determi- raizamento. Será sempre de questionar se os pro- tões acerca da vida não pode ser abordadas por na a hora da morte, é tão assustadora em seus contornos morais fessores são instrutores da palavra e da novidade atacada só quando são introduzidas questões fra- e existenciais, que não sei como alguém tem uma convicção tão pela leitura. Quantas vezes se pode exigir que se turantes; assuntos de âmbito moral e não só afu- forte assim, que possa arriscar ser juiz. Juiz ou carrasco? “ser ou saiba o mínimo, mas não se lançar as sementes nilada nas tribulações sexuais; os temas de com- não ser”, diria o dramaturgo Shakespear. Aliviar um sofrimento para que se possa crescer pelos próprios meios. promisso social, como a economia e o trabalho, sem cura é um ato de misericórdia ou um egoísmo de quem não Isto consegue-se quando se for criando o gosto os direitos/deveres sociais, a vivência política, etc. quer sofrer por ver sofrer? Mas ser capaz de chamar um matador pelo estudo, tanto dos assuntos de escolarização, Com o devido respeito e a máxima compreen- para eliminar um familiar em sofrimento, só porque o seu sofri- quanto de aprendizagens para que o pensamento são, ouso sugerir que talvez fosse desejável que os mento é o meu sofrimento, é de um egoísmo sem limite; não po- se eduque e cresça com ferramentas de que cada ínclitos e veneráveis professores das nossas uni- de deixar de acrescentar sentimentos de culpa para quem disser, um sente necessidade socorrer-se. versidades com formação e compromisso católico «desligue a máquina, mate o meu filho». E este debate prossegui- se dessem mais a conhecer, publicando com re- rá dentro da próxima legislatura. Para que o debate tenha o con- = De entre a multiplicidade de propostas e su- gularidade e numa linha de reflexão/partilha com tributo de todos nós, torna-se honesto e sincero e democrático gestões que a "feira do livro" coloca poderemos os seus irmãos na fé. Até mesmo os membros de que cada partido diga, em seus programas, se sim se não à lega- considerar que a especialização do livro preci- congregações e institutos religiosos, bem como lização da eutanásia, suicídio ou morte assistida. Assim, os votan- sa de ser assumida. Cultura e livros não podem os padres diocesanos precisam de deixar escrito tes, ao escolherem o partido em que vão votar, saberão que es- ser dois binómios de uma campanha onde a li- algo mais que façanhas ocasionais de obras ma- tão a dar ou não autorização para a morte legal. O Alma Grande teratura (dita) criativa e (mais ou menos) vendá- teriais e de arranjos em monumentos… era um abafador oficial, legalizado pelos usos e costumes daque- vel seja uma espécie de efabulação veiculadora las gentes, socialmente aceite como um bem; nós teremos de sa- de ideias, de sensibilidades e de correntes a pe- ber se queremos um abafador legal ou não. “Eis a questão”. Para dido. Com efeito, escrever é comunicar e todos esclarecimento duma possível controvérsia: não coloco nesta dis- sabemos que, se ao lermos seja o que for, a es- cussão, sentimentos religiosos, filosóficos, ideológicos, agnósticos crita não estiver clara, simples e apelativa, com ou ateus; nem criacionismo, nem evolucionismo; o meu pensa- facilidade abandonamos esse texto e procurare- mento emerge puro, límpido e inocente da sensibilidade e respei- mos quem nos comunique algo que seja percetí- to que tenho pela vida. Para mim ela é uma essência e não apenas vel à nossa cultura. um percurso. Quebrar o frasco não mata a essência. 11.06.18 / SEGUNDA-FEIRA / Publicidade / DIÁRIO DO MINHO 03 www.diariodominho.pt 04 DIÁRIO DO MINHO / SEGUNDA-FEIRA / 11.06.18 www.diariodominho.pt Hoje A justiça terapêutica é um novo paradigma no contexto jurídico O início do congresso está marcado Braga para as 09h00, com profissionais nacional e internacional.