Teatro 6, 7, 8 de outubro 2012

The Select () O Select (O Sol Nasce Sempre) de Elevator Repair Service © Rob Strong Baseado no romance The Sun Also Rises (O Sol Nasce Sempre) de Criação e interpretação Elevator Repair Service Texto Ernest Hemingway Encenação John Collins Com Mike Iveson* (Jake Barnes), Matt Tierney (Robert Cohn), Kate Scelsa* (Frances, entre outras), Ben Williams (Bill Gorton e Zizi, entre outros), Pete Simpson (Mike Campbell, entre outros), Kaneza Schaal (Georgette, porteira, baterista e Belmonte, entre outras), Julian Fleisher* (Conde Mippipopolous, Braddocks e Montoya, entre outros), Lucy Taylor* (Brett Ashley), Frank Boyd* (Harvey Stone e Harris, entre outros) e Susie Sokol (Pedro Romero, entre outros) Cenografia e figurinos David Zinn Desenho de luz Mark Barton Desenho de som Matt Tierney e Ben Williams Diretora de produção Ariana Smart Truman Direção de cena e assistência de encenação Sarah Hughes Diretor técnico B.D. White Figurinos adicionais Colleen Werthmann Desenhadora de luz associada Dans Maree Sheehan Ensaiadora de dança e movimento Katherine Profeta Engenheiro de som Jason Sebastian Produtora Lindsay Hockaday Estreia 14 de agosto de 2010, Royal Lyceum Theatre, Festival Internacional de Edimburgo

Por especial acordo com Patrick Hemingway, Hemingway Family Trust, Hemingway Copyrights, LLC, e o Hemingway Foreign Rights Trust, c/o Lazarus & Harris LLP, 561 Seventh Avenue, New York, NY 10018.

Agradecimentos aos que trabalharam no desenvolvimento desta peça Dominique Bousquet (tradução), Katherine Brook (assistência dramatúrgica), Jacob Climer (figurinos), Naama Greenfield-Simpson (guarda-roupa), Alexandra Kuechler-Caffall (adereços), Vin Knight e Scott Shepherd (intérpretes)

Coprodução ERS e New York Theatre Workshop Uma encomenda Ringling International Arts Festival, John and Mable Ringling Museum of Art, em associação com o Baryshnikov Arts Center; Philadelphia Live Arts Festival financiado pelo The Pew Center for Arts & Heritage através da Philadelphia Theatre Initiative; ArtsEmerson: the World on Stage; e Festival Theaterformen.

The Select (The Sun Also Rises) foi financiado em parte com dinheiros públicos de National Endowment for the Arts, New York State Council on the Arts com o apoio do Governador Andrew Cuomo e da New York State Legislature, e do New York City Department of Cultural Affairs em parceria com o City Council. O espetáculo é ainda apoiado por Andrew W. Mellon Foundation New York Theater Program, Edward T. Cone Foundation, Foundation for Contemporary Arts, Greenwall Foundation, Scherman Foundation, Shubert Foundation, Tony Randall Theatrical Fund, J.P. Chase Regrant Fund em conjunto com a Booth Ferris Foundation, um projeto de A.R.T./New York, Off-Broadway Angels, e Mental Insight Foundation, bem como muitos e generosos donativos individuais. Elevator Repair Service está extremamente grato pelo apoio generoso de todos os seus financiadores.

Sáb 6, dom 7, seg 8 de outubro * Os atores participam por cortesia da Actors' Equity Association, sindicato de atores profissionais 21h30 (dom às 17h) · Grande Auditório · M12 e diretores de cena dos Estados Unidos. Fundada em 1913, a AEA representa mais de 40.000 trabalhadores. Negoceia salários e condições de trabalho, providenciando benefícios como planos de Duração: 3h05 (I Parte: 1h05 · Intervalo de 15 minutos · II Parte: 1h45) saúde e de reforma. Integra a AFL-CIO e está ligada à FIA, uma organização internacional de sindicatos Espectáculo em inglês, legendado em português das artes performativas. www.actorsequity.org Nota do Encenador concebemos uma abordagem nova para Geografia Absoluta caracterizadas por “danças” bizarras e cada livro. Para The Select, demos por vibrantes, textos justapostos e fragmen- Em 2006, os ERS estrearam Gatz. Foi nós a aparar e a editar e a concentrar Estamos no fim da tarde de 8 de abril tados provenientes de fontes diversas a nossa primeira experiência de pôr o trabalho no diálogo retesado e espi- de 2010 e eu subo a correr a Bowery e uma caracterização de banda-dese- um romance em cena e deu início ao rituoso de Hemingway. Enquanto que prestes a virar na East 4th Street no nhada para os espetáculos mais recentes que viria a ser uma trilogia de peças. tratámos o texto inteiro de Gatsby como East Village de Manhattan para uma que assinalam um compromisso Continuámos com a encenação da uma peça, dizendo cada palavra como sala de ensaios no New York Theatre sustentado com romances americanos primeira parte de O Som e a Fúria de se fosse diálogo, em O Sol Nasce Sempre Workshop. A companhia de teatro clássicos do período de entre as guerras. e completamos agora desvendámos a peça dentro do romance. Elevator Repair Service (ERS) está A encenação destas peças namora uma esta trilogia com The Select. Os modos na primeira semana de um período espécie de realismo, embora uma versão como este tipo de prosa literária é John Collins intensivo de conceção do seu novo retrabalhada e “citada” dos traços desadequada para o palco são precisa- espetáculo baseado no romance de desse género familiar. O teatro dos ERS mente o que nos atraiu para o material Ernest Hemingway O Sol Nasce Sempre. sempre foi buscar inspiração a fontes e a nossa tática para lidar com este Escrito em 1926, o romance garantiu não-teatrais – de géneros de música a problema aliciante veio de meses de a reputação de Hemingway como um sequências gestuais copiadas de filmes prolongada exposição e experimenta- dos grandes escritores americanos e programas de televisão, ou compor- ção. Lendo uns para os outros em voz do pós-guerra. Através dos olhos do tamento de personagens observado e alta uma e outra vez, testando diferentes seu narrador, o ferido de guerra Jake roubado de documentários e da vida configurações físicas e estilos teatrais, Barnes, o livro cartografa as aventu- quotidiana em Nova Iorque. Num certo ras de uma mão-cheia dispersa de sentido, então, a viragem do grupo para socialites e escritores expatriados que a literatura prossegue um exame de vivem uma boémia pintalgada pela coisas que não pertencem originalmente melancolia do desencanto e do ennui ao palco numa tentativa de expandir os existencial e vagueiam para Sul de Paris limites da potencialidade do teatro. até Pamplona (Navarra, no Norte de Entro na sala de ensaios na altura Espanha) para presenciar as corridas em que se tenta resolver uma coisa. de touros. Cadeiras de café castanho-avermelha- É o meu primeiro dia a assistir das parecem aleatoriamente espalhadas novamente a ensaios da companhia – pelo palco e têm um claro lugar de observando, pensando, tirando notas – destaque neste espetáculo. Os ERS são e é a 14.ª produção da companhia desde sempre seletivos e desenrascados na sua que começaram a criar peças em 1991, prática; até os erros podem tornar-se quando eram um grupo de licenciados intencionais e muitas vezes isso acon- de Yale e da New York University. Ao tece. De um lado há uma mesa comprida longo dos anos, a pertença à companhia assente em cavaletes. John Collins evoluiu organicamente com cada espe- (o Diretor Artístico) está sentado em táculo. Desde 1997, quando comecei a palco virado para fora, pensativo. Ben ver o seu trabalho, o seu tipo de criação Williams, que faz o papel do machão desenvolveu-se de formas tão surpreen- Bill Gorton, está deitado de costas, dentes quanto lógicas. O grupo passou ao centro da boca de cena, com uma de performances intensamente físicas garrafa vazia de vinho e um exemplar © Rob Strong

4 5 © Rob Strong do romance ao lado (afinal de contas Depois de pensarem um bocado sobre isto é Hemingway). Gesticula com as a cena que estão a criar, Collins diz: mãos enquanto explica qualquer coisa “Sinto que estou a ter de resolver uma a Collins. Matt Tierney, o teimoso e lógica qualquer que não me interessa”, preocupado Robert Cohn no espetáculo referindo-se ao modo peculiar como as e desenhador de som juntamente com condições que se constroem para gerar Williams, está sentado a uma secretá- uma obra específica podem facilmente ria frente a um portátil, ao fundo e ao acabar por inibir material novo fazendo centro, ouvindo atentamente. Faz expe- com que não haja espaço suficiente para riências com diferentes possibilidades a invenção. O que está neste momento de som em combinações apropriadas, em jogo torna-se rapidamente funda- e outras tantas vezes desapropriadas mental para o desenvolvimento de The – tudo desde o ruído agudo e humorís- Select (The Sun Also Rises), porque se tico de uma mola enrolada até um coro refere à quantidade de narração que masculino distante, um ribeiro tagarela se conserva do romance original de ou a pancada surda de um forte “zás” Hemingway ou que pode ser descar- assemelhando-se a um murro violento. tada. No fim de contas, isto não é uma É dada prioridade ao som enquanto simples adaptação. É antes uma tenta- arquitetura que ajuda a construir cada tiva de mais uma vez, tal como nos seus espetáculo dos ERS. Mike Iveson (Jake Gatz (2006) e The Sound and the Fury Barnes) senta-se para um lado. (April Seventh, 1928) (2008), encenar o antes no contexto de uma firma con- entre passado, presente e futuro. Um Quando entro na sala a discussão encontro entre literatura e teatro, pro- temporânea bastante encardida cujos inquérito formal tão desafiante é levado concentra-se na pergunta sobre “quanto longando assim a investigação anterior. trabalhadores estão simultaneamente a cabo por Collins e a companhia como trabalho é que o público vai ter”. Este O objetivo é em parte o de preservar o enredados nas mundanas atividades um conjunto de objetivos que acabam inquérito é frequentemente central para livro-enquanto-livro arranjando espaço diárias do escritório e nas personagens por ajudar a estruturar cada espetáculo, os ERS enquanto criadores de teatro para as constrições literárias dentro da e ações que o romance retrata. Por algo que ele descreve como um “com- experimental, quer dizer, uma preo- situação cénica, em vez de abandonar outras palavras, os intérpretes pare- promisso radical” com o material e as cupação com a negociação do sentido as convenções narrativas do romance. cem ocupar os dois mundos ao mesmo regras inventadas que simultaneamente entre espetáculo e público, entre o jogo Como Collins afirmou mais tarde, o tempo, escritório (real) e romance limitam e libertam cada apresentação. desenfreado e o desejo de interpretação: desafio deste espetáculo em particular (ficcional). É um feito teatral ambicioso No entanto, e de forma equivalente, até onde é que nós (o público) somos é uma tentativa de “encontrar a peça e aliciante, que parece ser bem sucedido o compromisso dos ERS para com a supostos viajar e que tipo de compreen- dentro do romance ao invés de tratar o sem esforço. Em The Sound and the ludicidade desregrada que descobrem são é necessário para lá chegar? Valerá romance como uma peça”. Esta aborda- Fury (April Seventh, 1928), situado na na sua busca distingue o seu teatro com a pena? Este tipo de troca é crucial no gem faz sentido se tivermos em conta as sala de estar de uma família do Sul dos uma mistura característica de inteligên- desenvolvimento de cada novo espe- duas produções anteriores. Estados Unidos, o público depara-se cia habilidosa igualada por um arrojado táculo, onde as regras do jogo – o que No espetáculo de seis horas Gatz, com o desafiante primeiro capítulo do humor slapstick. parece “permissível” em palco, que lê-se em palco toda e cada frase da romance de Faulkner (60 e tal páginas Passado um momento o estado de comportamento pode ou não ocorrer obra-prima de F. Scott Fitzgerald do romance) cujos acontecimentos são espírito no ensaio mudou totalmente. dentro da moldura conceptual da peça O Grande Gatsby (1925), palavra por percebidos através dos olhos de Benjy Chegou o ator Vin Knight (Montoya e – se definem lentamente através de palavra, embora não seja representado Compson, um mudo e deficiente mental outras personagens – substituído em um processo atento de tentativa e erro. no cenário que o romance descreve mas de 33 anos que não é capaz de distinguir Lisboa por Julian Fleisher), e estão de

6 7 pé reunidos à volta da mesa, experi- citadas em vez de absorvidas. Não é difí- vez de metafóricas. Exige demonstração perceção de passado e presente, per- mentando uma louca cena de restau- cil rir desta irreverência inofensiva e do em vez de inferência ou alusão subtis, e sonagens e acontecimentos através do rante que rebenta de gags físicos: chega ar desajeitado que ostenta. Os ensaios promove relações concretas em vez de prisma da experiência contemporânea. uma sucessão interminável de pratos; dos ERS dedicam-se tanto à tentativa realismo psicológico como justificação A renovação é sempre possível apesar abundam as poses viris que contrastam de preservar esse humor travesso e os subjacente a cada passo. Libertados do conjunto rígido de códigos do teatro, com angustiados comportamentos seus efeitos no tecido da peça como da causa e efeito, tudo parece possível, e independentemente da visão segundo nervosos. Circulam pela sala piadas de ao trabalho mais sério de inventar as mas aqui a afinação da cadência e do a qual ele pode ter passado de moda ensaio conhecidas. De repente Williams regras mais estritas que lhes permitem ritmo informa as decisões que guiam enquanto forma de arte quando compa- (enquanto Bill Gorton) está de pé na criar maneiras novas de pôr material em a sequenciação e desenvolvimento do rado com os novos media e tecnologias. boca de cena virado para a frente, a cena. O riso é muitas vezes provocado espetáculo. Os ERS permanecem empenhados “barbear-se”. Cada golpe de navalha do pela própria tentativa de fazer teatro e Ao ver os ERS criar esta peça teatral no teatro enquanto base para a sua queixo à bochecha é acompanhado por a infantilidade dessa busca: de ser um ao longo das semanas subsequentes, experimentação, por mais que explorem um efeito sonoro alto e exagerado de adulto a fingir que é outra pessoa noutro especialmente os dias iniciais em que os seus encontros com outras discipli- lâmina contra a pele seguido do sibilar lugar, ocupando uma temporalidade as regras e o material ainda estão por nas artísticas e materiais não-teatrais. da água quando limpa a lâmina, amplifi- diferente num palco artificialmente ilu- descobrir, a minha compreensão do Nisso dão continuidade à linhagem cando a imagem para lá do realismo. As minado e rodeado de adereços face a um teatro experimental como potencial- de artistas americanos de avant-garde partituras sonoras dos espetáculos dos auditório às escuras cheio de pessoas mente uma prática vital e um campo do pós-II Guerra Mundial através da ERS contribuem para a definição nítida expectantes. Trabalhar com literatura expansivo, definido pelo rigor apesar combinação interdisciplinar de formas, e cartunesca do seu estilo performativo, em vez de peças de teatro encoraja o da sua aparente falta de leis, é mais estilos e géneros de alta e baixa cultura. onde as ações surgem intencionalmente desenvolvimento de soluções literais em uma vez confirmada. Atualmente este Com cada novo espetáculo regressam grupo nova-iorquino está na vanguarda às cláusulas do que se pode obrigar o da invenção e da expansão de novos teatro a fazer, embora, como observa vocabulários para o teatro. A trilogia de Collins sobre a sua companhia, “Aquilo “obras literárias”, com The Select (The que nunca faríamos é duas vezes a Sun Also Rises) como última presta- mesma coisa”. ção da série, trouxe-lhes finalmente Os ERS estão empenhados em minar reconhecimento internacional, depois os limites que fazer teatro impõe, já de uns 20 anos a fazer teatro juntos. enfrentando as suas fronteiras na espe- Estes trabalhos são pouco comuns no rança de descobrir diferentes maneiras modo como imaginam um virtuosismo de revelar tanto a própria experiência particular para a cena, calibrado pelas de pôr em cena como a coisa ence- limitações formais da prática da escrita- nada. Interessa pouco quão banal ou -para-ser-lida em vez do salto performa- impossível possa parecer um objetivo, tivo implícito em toda a escrita-para-a- desde traduzir para uma sequência de -representação. Desafiando convenções dança as ações de um desenho animado aceites, estas peças procuram formas de Betty Boop (Cab Legs, 1997) até alternativas de construir uma narrativa demonstrar o estado de possessão e em palco através de um compromisso assombração ao representar um espetá- com as tradições de outras formas. culo inteiro na semiobscuridade (Room Fazer teatro pode ser uma práxis fluida Tone, 2002), a reinvenção de uma que acomoda ou perturba a nossa tragédia grega com a inclusão de objetos © Rob Strong

8 9 domésticos enquanto personagens nho, algures no meio, sem resolução. (As Bacantes de Eurípedes em Highway Neste encontro, ambas as formas to Tomorrow, 1999) ou convocar para ficam comprometidas mas no processo o palco as correntes subterrâneas do de renegociação materializa-se um desejo masculino numa viagem de pesca território desconhecido. Já que, no seu à truta no rio Irati no norte de Espanha radical compromisso com a expansão durantes os anos 1920 (The Select (The da forma, Collins e o grupo descobrem Sun Also Rises)). Considere-se por o que ele descreve como a “geografia um momento as coisas que o teatro se absoluta” da “peça dentro do romance” esforça por fazer bem mas não consegue de Hemingway e assim parecem expan- verdadeiramente devido ao facto de ser dir a paisagem imaginária do romance ao vivo e provisório, o que muitas vezes desenterrando mais da sua potencia- impede a ocultação dos seus labores lidade, não abandonando o livro à sua (pense-se nas limitações ligadas à frente mas confrontando a dureza da representação da temporalidade, idade, sua escrita e igualando a sua brusquidão género, classe, fantasia, morte e assim com as desajeitadas operações do palco. por diante). Sem a sofisticação do corte Em The Select (The Sun Also Rises), os brusco ou do grande-plano na monta- ERS, bastante literalmente, e talvez gem que o cinema oferece, por exemplo, inevitavelmente, pegam o touro de mas usando ao invés quatro mesas, Hemingway de caras. uma data de cadeiras, algumas portas e paredes falsas, um reservatório de sons Sara Jane Bailes samplados e dez intérpretes, como é que se pode criar um fervilhante café Sara Jane Bailes é escritora, artista parisiense dos anos 1920 cheio de fumo, de teatro e Professora Associada de bebida e dança insinuante? Ou pôr em Teatro e Estudos de Performance na cena a excitação e o ritual cerimonial Universidade de Sussex. Os seus textos de uma tourada à espanhola? Em vez sobre o teatro de Elevator Repair de suspendermos a nossa descrença, Service estão publicados em Making e se suspendêssemos a nossa crença e Contemporary Theatre (Ed. Jen Harvie e apreciássemos instalar-nos na realidade Andy Lavender, MUP, 2010) e de forma absurda das soluções pouco convincen- mais alongada no seu livro Performance tes diante de nós? Theatre and the Poetics of Failure É neste mundo forjado com humor (Routledge, 2010), que analisa a prática perante as suas próprias insuficiên- do grupo em conjunto com a das com- cias e o prazer do acidente feliz – um panhias de teatro Forced Entertainment espaço que mais do que quebrar as e Goat Island. regras pressiona-as para ficarem mais flexíveis e permissivas – que os ERS começam a redefinir a literatura e o teatro ao encontrarem-se a meio-cami- © Rob Strong

10 11 Ernest Hemingway em 1926 com o título Fiesta (que foi Elevator Repair Service Espetáculos produzidos: também o título da tradução portuguesa Ernest Miller Hemingway nasceu a 21 de Jorge de Sena publicada em 1954). Elevator Repair Service é uma compa- 1991-1992 Mr. Antipyrene, Fire de julho de 1899 em Oak Park, Illinois. O livro destaca-se pela escrita vigorosa nhia nova-iorquina que cria peças para Extinguisher Depois do liceu trabalhou uns meses que identifica o estilo de Hemingway: teatro originais e inovadoras com um 1992 Marx Brothers On Horseback Salad como repórter no Kansas City Star, sem pormenores desnecessários, com elenco permanente. Construiu uma 1992-1993 Spine Check antes de ir para a frente italiana, onde se uso rarefeito de advérbios, metáforas e obra que lhe granjeou seguidores fiéis 1993-1994 McGurk: A Cautionary Tale tornou condutor de ambulância durante comparações a não ser as mais vívidas e fez dela uma das mais aclamadas 1993-1994 Language Instruction: Love a I Guerra Mundial. Em 1918 ficou e sucintas. Hemingway descreveu a companhias de teatro experimental de Family vs Andy Kaufman seriamente ferido e regressou a casa. sua prosa recorrendo à imagem de um Nova Iorque. O seu trabalho foi visto 1995-1996 Shut Up I Tell You (I Said A experiência de guerra esteve na base iceberg, com uma pequena parte visível na América, Europa, Austrália e Ásia, Shut Up I Tell You) do seu romance A Farewell to Arms [Um e o resto omitido mas subentendido. e receberam diversos prémios, entre 1996-1998 Cab Legs Adeus às Armas] (1929). O Sol Nasce Sempre foi adaptado ao os quais: Obie de 2012 por Excelência; 1998 Total Fictional Lie Depois de trabalhar para uma revista cinema em 1957, com Tyrone Power, Ava para The Select: prémios Lucille Lortel 1999-2002 Highway To Tomorrow em Chicago, mudou-se com a primeira Gardner, Mel Ferrer e Errol Flynn nos e Obie de 2012 pelo Desenho de Som 2001-2002 Room Tone mulher para Paris em 1921, onde traba- protagonistas. (Matt Tierney e Ben Williams); e para 2003-2006 Gatz lhou como correspondente do Toronto Durante a Guerra Civil Espanhola, Gatz: prémios Elliot Norton de 2010 2005-2006 No Great Society Star. Durante esse período conheceu Hemingway foi jornalista, angariou para Encenação, Espetáculo Convidado 2007-2008 The Sound and the Fury escritores modernistas e artistas da dinheiro para os Republicanos contra e Ator (Scott Shepherd); prémio Lucille (April Seventh, 1928) comunidade expatriada dos anos 20, Franco e escreveu uma peça baseada Lortel de 2011 para Experiência Teatral 2008-2011 The Select (The Sun Also entre os quais Gertrude Stein (autora nas suas experiências. Escreveu depois Alternativa e Melhor Encenador; e um Rises) da expressão “geração perdida” para For Whom the Bell Tolls [Por Quem Obie de 2011 para Scott Shepherd por 2011 Shuffle caracterizar este grupo desencantado), os Sinos Dobram] (1940). Durante a Interpretação. ERS faz parte de TCG, da Ezra Pound, Ford Madox Ford, F. Scott II Guerra estava em Londres e voou em DBAA e A.R.T./New York, e é compa- Works-in-progress: Fitzgerald, James Joyce, Juan Miró e várias missões com a Royal Air Force. nhia residente do New York Theatre Arguendo Pablo Picasso. Esteve presente no Desembarque da Workshop. Nova Peça baseada no texto Fondly, A ideia para The Sun Also Rises Normandia e na Libertação de Paris. Na Culturgest, os ERS apresentaram Collette Richland de Sibyl Kempson [O Sol Nasce Sempre] surgiu no verão de Pouco depois da publicação de The Gatz em junho de 2007 (considerado o 1925, dois anos depois da primeira visita Old Man and the Sea [O Velho e o Mar] melhor espetáculo do ano pelos jornais www.elevator.org à Fiesta de San Fermín em Pamplona, em 1952, pelo qual recebeu um Prémio Público e Expresso) e The Sound and The onde nasceu o seu fascínio pela tourada Pulitzer, fez um safari em África, onde Fury (April Seventh, 1928) em janeiro de (que partilhava com Picasso). Os amigos quase morreu em dois desastres de 2009 (também um dos espetáculos do que o acompanharam nessa viagem avião que o debilitaram durante grande ano para o Público). serviram de inspiração para criar as per- parte da vida. Ganhou o Prémio Nobel Conselho de Administração: sonagens de Lady Brett Ashley e Robert em 1954. Mudou-se para a Europa e Scott Watson (Chair), John Collins Cohn, tendo Hemingway várias carac- depois para Cuba, onde escreveu as suas (Presidente), Victoria Vazquez (Vice- terísticas em comum com o narrador memórias, publicadas postumamente. ‑presidente/Tesoureira), Steve Bodow, Jake Barnes. Em setembro terminou um Em 1959 mudou-se para Ketchum, Douglas Curtis, Elizabeth Derbes, David primeiro rascunho, mas passou vários Idaho, onde se suicidou a 2 de julho de Gilbert, Wayne Kabak, Sarah Paley, Zoe meses do ano seguinte para concluir 1961. E. Rotter, Nan Strauss, Anne Stringfield, o segundo. O romance foi publicado Susan Wheeler.

12 13 Próximo espetáculo

© João Nuno Silva Avis Rara Gaiteiros de Lisboa

Música Seg 15 outubro Grande Auditório · 21h30 · Dur. 1h30 · M3

Poucos serão os nomes na música da Música Tradicional Portuguesa”, Culturgest, uma redução total de 16 500 kWh/ano, portuguesa que reúnam um tão gene- explica Carlos Guerreiro. Espaço CarbonoZero® o equivalente a cerca de 220 viagens de ralizado e sólido consenso como o Os Gaiteiros de Lisboa nasceram A compensação das emissões de carro Lisboa-Porto. dos Gaiteiros de Lisboa. Chamar-lhes em 1993 pela mão de Paulo Marinho, carbono decorrentes da utilização dos Apesar de contribuírem para a “instituição” poderia acarretar o perigo o homem da gaita de foles nos Sétima espaços da Culturgest, localizados redução das emissões de carbono, estas de lhes imputar alguma rigidez, mas os Legião. Atualmente, integra os Gaiteiros no Edifício Sede da Caixa Geral de ações não são suficientes para evitar Gaiteiros de Lisboa exibem com orgulho um verdadeiro grupo de luxo feito com Depósitos, está integrada na estratégia por completo estas emissões. Assim, as o estatuto de Grupo de Manifesto gente que ostenta uma experiência rica do Grupo para o combate às alterações restantes emissões são compensadas Interesse Cultural atribuído pela que participa nas carreiras de nomes climáticas. Esta iniciativa enquadra-se através da aquisição de créditos de Secretaria de Estado da Cultura e têm grandes da música portuguesa como num conjunto mais alargado de ações, carbono provenientes de um projeto sido tudo menos rígidos na sua história, José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, que vão desde a inventariação das emis- tecnológico localizado no Brasil e que feita de abertura, de imaginação e de um Amélia Muge, Rui Veloso, Sétima Legião sões associadas ao consumo de energia cumpre os requisitos Voluntary Carbon sucesso só explicável com a qualidade. ou Adufe. Os Gaiteiros de Lisboa, enfim, e ao tratamento dos resíduos produzi- Standard (VCS). A compensação das Há agora um novo capítulo nesta his- têm-se afirmado como um tesouro vivo dos nas instalações, à implementação emissões inevitáveis da Culturgest tória de invenção e aventuras. Tem por da nossa música. E no palco, Avis Rara de medidas de eficiência energética constitui, assim, uma internalização título Avis Rara e é o novo álbum dos promete ganhar asas e surpreender. para redução das emissões. Com efeito, da variável carbono decorrente da Gaiteiros, que passará do disco para o tem-se vindo a assistir a uma redução utilização dos seus espaços e contribui, palco num espetáculo que incluirá con- das emissões de carbono observando- igualmente, para a meta de neutralidade vidados especiais. “Avis Rara é um título -se um decréscimo progressivo de carbónica expressa no Programa Caixa que de certa forma traduz o conteúdo cerca de 35% face a 2008. Esta é uma Carbono Zero. deste trabalho, não só pela estranheza redução com tendência a acentuar-se de sons e arranjos que ele contém, Mais informações em: com a implementação de um conjunto www.cgd.pt/Institucional/ como pela originalidade e irreverência de medidas adicionais, estando prevista Caixa-Carbono-Zero na abordagem do já tão explorado filão Conselho de Administração Culturgest Porto Iluminação de Cena Presidente Susana Sameiro Fernando Ricardo chefe Fernando Faria de Oliveira Rui Osório de Castro Nuno Alves Administradores Miguel Lobo Antunes Comunicação Maquinaria de Cena Margarida Ferraz Filipe Folhadela Moreira Artur Brandão

Assessores Publicações Técnico Auxiliar Dança Marta Cardoso Álvaro Coelho Gil Mendo Rosário Sousa Machado Teatro Frente de Casa Francisco Frazão Atividades Comerciais Rute Sousa Arte Contemporânea Catarina Carmona Miguel Wandschneider Patrícia Blazquez Bilheteira Serviço Educativo Manuela Fialho Raquel dos Santos Arada Serviços Administrativos e Financeiros Edgar Andrade Pietra Fraga Cristina Ribeiro Clara Troni Luísa Fonseca Paulo Silva estagiária Teresa Figueiredo Receção Sofia Fernandes Direção de Produção Direção Técnica Ana Luísa Jacinto Margarida Mota Paulo Prata Ramos Auxiliar Administrativo Produção e Secretariado Direção de Cena e Luzes Nuno Cunha Patrícia Blázquez Horácio Fernandes Mariana Cardoso de Lemos Coleção da Caixa Geral de Depósitos Jorge Epifânio Assistente de direção cenotécnica Isabel Corte-Real José Manuel Rodrigues Inês Costa Dias Exposições Maria Manuel Conceição Coordenação de Produção Audiovisuais Mário Valente Américo Firmino Produção coordenador Edifício Sede da CGD António Sequeira Lopes Paulo Abrantes Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa, Piso 1 Paula Tavares dos Santos Ricardo Guerreiro Tel: 21 790 51 55 · Fax: 21 848 39 03 Fernando Teixeira Tiago Bernardo [email protected] · www.culturgest.pt

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