Liziane Nathália Vicenzi

DO DISCURSO POLÍTICO AO DISCURSO JORNALÍSTICO: A construção da imagem de si nos pronunciamentos de e a produção de sentidos nos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

Dissertação submetida ao Programa de Pós- graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de mestre em Jornalismo. Orientadora: Prof. Dra. Daiane Bertasso

Florianópolis 2019

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Liziane Nathália Vicenzi

DO DISCURSO POLÍTICO AO DISCURSO JORNALÍSTICO: A construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos nos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof.(a) Carlos Locatelli Dr. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Prof.(a) Samuel Pantoja Lima Dr. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Prof.(a) Luciana Panke Dr(a). Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de mestre em Jornalismo.

______Prof. Dr.(a) Cárlida Emerim Coordenador(a) do Programa

______Prof. Dr.(a) Daiane Bertasso Orientador(a)

Florianópolis, 2019

AGRADECIMENTOS

Eu tenho absoluta convicção que Deus preparou tudo isso. Desde a seleção até o fim do mestrado. Então, agradeço primeiramente a Ele por ter sido tão bom e por ter me sustentado, surpreendido e cuidado em todo o tempo e nos mínimos detalhes. Agradeço à Maritânia e Leopoldo por serem pais tão espetaculares, por todo amor, apoio, confiança e incentivo. Sem vocês nada teria sentido ou sequer seria possível. Obrigada à Eulália e Anderson por me ajudarem tanto e serem tão maravilhosos desde sempre. Igualmente agradeço a todos da minha família por todo o suporte e motivação nesses dois anos. Obrigada à Ana Bourscheid por toda a contribuição na elaboração do projeto e apoio durante o processo seletivo. Igualmente, agradeço ao Professor Vagner Dalbosco, que não mediu esforços para me ajudar com o projeto, com as decisões profissionais e que certamente é um dos meus referenciais como professor e pesquisador. Agradeço a todos os amigos do PPGJOR, em especial aos mestrandos e doutorandos da turma incrível de 2017/2. Muito obrigada aos amigos do Xadrez da UFSC, do Clube de Xadrez de Florianópolis (CXF), de todo o estado e do Brasil. Vocês são fundamentais na minha vida. Também agradeço aos amigos e líderes da Florianópolis House Of Prayer (Fhop) por cuidarem tão bem de mim nesses dois anos e por me confrontarem em amor para que eu pudesse ser uma pessoa melhor. Agradeço a todos os meus amigos de Xaxim (em especial, Patrícia, Caroline, Letícia, Juliane e Gabriel) por me apoiarem nessa jornada e por serem tão especiais na minha vida. Muito obrigada a todos os Professores e demais colaboradores do PPGJOR por todos os ensinamentos, apoio e por demonstrarem tanto amor e dedicação ao Jornalismo. Agradeço, em especial, aos integrantes da minha banca: Muito Obrigada Luciana Panke, Carlos Locatelli, Samuel Lima, Jorge Ijuim e Valentina Nunes. Sinto-me honrada e grata por ter a oportunidade de ser avaliada por vocês. Agradeço imensamente a minha orientadora, Professora Daiane por ter sido tão presente, atenciosa, dedicada, compreensiva e por compartilhar tanto conhecimento em todos os momentos. Obrigada também a Professora Maria Terezinha pela atenção e comprometimento em me orientar por um semestre. Por fim, agradeço a CAPES pela bolsa concedida que permitiu a dedicação exclusiva para o mestrado.

RESUMO

Esta dissertação se insere nas reflexões a respeito da conjuntura política brasileira delimitada no governo do ex-presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer, em decorrência do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O objeto de estudo do trabalho é a construção da imagem de si (ethos discursivo) nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referente aos pronunciamentos presidenciais no período de 12 de maio de 2016 a 31 de dezembro de 2018. O objetivo geral é justamente compreender as possíveis mudanças desse discurso político para o discurso jornalístico e, especificamente, analisar a construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer, questionar “se” e “como” os portais problematizaram esses pronunciamentos a partir da produção de sentidos no discurso jornalístico e refletir a respeito das possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses da imagem de si e do discurso jornalístico. O eixo interpretativo aciona o aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa (AD) em um corpus de 13 pronunciamentos do ex-presidente e de 64 notícias referentes a esses pronunciamentos em G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. A análise da imagem de si conta com 195 sequências discursivas que compõem as formações discursivas: “Sou reformista e confio no progresso”, “Sou conservador e confio na Constituição”, “Sou crente na união e no diálogo”, “Sou corajoso e salvei o país”, “Sou totalmente honesto e vítima”. Na produção de sentidos nos portais jornalísticos constituem o corpus 247 sequências discursivas em G1/O Globo e 171 sequências discursivas em Uol/Folha de S. Paulo englobadas nas formações discursivas: “Temer é alvo da oposição e de denúncias”, “Temer é um presidente polêmico em suas declarações”, “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”, “Temer quer união e prega o diálogo”, “Temer vai gerar emprego e crescimento” e “Temer é reformista”. Diante disso, os resultados possibilitam a conclusão de que o discurso político de Michel Temer foi direcionado para sua base aliada e não para a população. A abordagem dos portais se limitou a categoria do “jornalismo declaratório”, a considerar Temer “polêmico” e amenizar as denúncias e índices de rejeição do presidente a partir dos resultados das pesquisas de opinião divulgadas ao decorrer do mandato. A semelhança nos sentidos das formações discursivas da imagem de si e nas formações discursivas dos portais demonstra ser um fator preocupante acerca da atuação do jornalismo dentro do sistema político-midiático configurado no Brasil. Palavras-chave: Jornalismo. Discurso jornalístico. Discurso Político. Imagem de si. Michel Temer.

ABSTRACT

This paper submerges itself on the reflections about ’s political climate during the government of now former president, Michel Temer, who came to power after his predecessor Dilma Rousseff was impeached. The object of study is the construction of a self-image (discursive ethos) in his discourses and the creation of meanings by the news portals G1/O Globo and Uol/Folha de S. Paulo in the period of 12th of may, 2016 till december 31st, 2018. The general objective is to understand the possible changes from his politic discourses to the journalistic discourses and, more specifically, analyze the construction of a self-image in Michel Temer’s discourses, to question “if” and “how” the news portals problematized his discourses from the production of meanings in journalistic discourse and to reflect on the possible analogies in the effects of meanings, relationships and interests of self image and journalistic discourse. We use theoretical-methodological French Discourse Analysis in a corpus of 13 of the former president’s discourses and 64 news articles about this particular speeches published by G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. The analysis of his self-image counts on 195 discursive sequences that make up the discursive formations: “I am a reformer and I believe in progress”, “I am a conservative and I trust the Constitution”, “I am a believer in union and dialogue”, “I am brave and I saved the country”, “I am absolutely honest and a victim”. The production of meanings in the news portals constitute a corpus of 247 discursive sequences at G1/O Globo and 171 discursive sequences at Uol/Folha de S. Paulo comprising of: “Temer is a target of accusations and the opposition”, “Temer is a polemic in his declarations”, “Temer stands by the impeachment and the institutions”, “Temer wants union and dialogue”, “Temer will create jobs and growth” and “Temer is a reformist”. From this, the conclusion is that Michel Temer’s political discourse was directed at his own base and not the population as a whole. The news outlets limited themselves to “declaratory journalism”, by considering Temer “polemic” and phasing his accusations and rejection rates polled during his term. The resemblance in meaning in the discursive formations of his self-image and the discursive formation of the news portals represent a worrying factor surrounding journalism in the midiatic-political system set about in Brazil. Keywords: Journalism. Journalistic discourse. Political discourse. Self-image. Michel Temer.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mensagem de Temer em sua conta no Twitter ...... 33 Figura 2 - Mensagem de Temer em 01/01/2019 na cerimônia de posse de transmissão de faixa presidencial...... 68 Figura 3 – Michel Temer de 1925 a 1975...... 69 Figura 4 – Michel Temer de 1981 a 1985...... 70 Figura 5 – Michel Temer de 1986 a 1998...... 71 Figura 6 – Michel Temer de 1998 a 2014...... 72 Figura 7 – Michel Temer em 2015...... 73 Figura 8 – Michel Temer em 2016...... 74 Figura 9 – Michel Temer em 2017...... 75 Figura 10 – Michel Temer em 2018...... 76 Figura 11 - Michel Temer em 2019...... 77

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Trâmites resumidos do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional ...... 38 Quadro 2 – Denúncias e Inquéritos de Michel Temer...... 53 Quadro 3 – A Esplanada de Temer: 1º nome indicado para cada ministério...... 65

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Síntese das formações discursivas acerca da Imagem de Si de Michel Temer em seus pronunciamentos ...... 115 Tabela 2 – Síntese das formações discursivas acerca das notícias dos pronunciamentos de Michel Temer nos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo...... 147

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...... 12 2. A TRAJETÓRIA POLÍTICA E O GOVERNO DO EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO BRASIL MICHEL TEMER (2016- 2018)...... 23 2.1 O político Michel Temer, impeachment e presidência em 2016...... 23 2.2 Denúncias e inquéritos ...... 45 2.3 Medidas econômicas e sociais...... 56 2.4 Linha do Tempo...... 69

3. DISCURSO E PRODUÇÃO DE SENTIDOS...... 78 3.1 A produção de sentidos no discurso jornalístico...... 78 3.1.1 Perspectivas construcionistas do discurso jornalístico...... 84 3.1.2 O Discurso Político na configuração midiática...... 88 3.2 O aporte teórico-metodológico da análise de discurso (AD) francesa para a compreensão dos discursos...... 92 3.2.1 Ideologia, interdiscurso, formações discursivas e ethos discursivo (imagem de si)...... 96 3.2.2 As condições de produção e a identificação dos sentidos...... 104

4. IMAGEM DE SI DE MICHEL TEMER E SENTIDOS PRODUZIDOS PELO DISCURSO JORNALÍSTICO DE O GLOBO/G1 E FOLHA DE S. PAULO/UOL...... 109 4.1 A relevância do estudo de mídias hegemônicas e procedimentos para a análise...... 109 4.2 A imagem de si do ex-presidente Michel Temer a partir dos pronunciamentos oficiais...... 115 4.2.1 FD1: “Sou conservador e confio na Constituição”...... 116 4.2.2 FD2: “Sou reformista e confio no progresso”...... 124 4.2.3 FD3: “Sou corajoso e salvei o país”...... 130 4.2.4 FD4: “Sou crente na união e no diálogo”...... 137 4.2.5 FD5: “Sou totalmente honesto e vítima”...... 141 4.3 O discurso jornalístico em O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol...... 147 4.3.1 FD1: “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”...... 148 4.3.2 FD2: “Temer quer união e prega o diálogo”...... 152 4.3.3 FD3: “Temer é um presidente polêmico em suas declarações”...... 154 4.3.4 FD4: “Temer vai gerar emprego e crescimento”...... 158 4.3.5 FD5: “Temer é reformista”...... 160 4.3.6 FD6: “Temer é alvo da oposição e de denúncias”...... 162 4.4 Do discurso político ao discurso jornalístico: possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses...... 167 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 169 REFERÊNCIAS...... 178 APÊNDICE A...... 202 APÊNDICE B...... 203

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1. INTRODUÇÃO

Quando John Kennedy discursou em sua posse como presidente dos Estados Unidos em 1961 certamente não imaginou a repercussão que a frase “Não perguntes o que o vosso país pode fazer por vós e sim o que podes fazer por vosso país” alcançaria por tantas décadas. Ou quando Sócrates, séculos antes, recebeu o anúncio de condenação de morte por envenenamento do tribunal ateniense e demonstrou em um discurso que nem mesmo a morte o faria abrir mão de defender suas ideias. Da mesma forma, o estadista venezuelano Simon Bolívar conhecido como “Libertador” discursou em 1821 como representante da luta pela independência da América Espanhola. Ou o discurso do ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush, após o ataque terrorista do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, ao lamentar as vidas perdidas, proferiu palavras de esperança que diziam que as fundações dos maiores edifícios estavam abaladas, mas apesar dos atos terroristas terem destruído “aço”, não poderiam sequer arranhar a “determinação de aço” do povo estadunidense (FIGUEIREDO, 2002). Os discursos políticos, especialmente os proferidos por lideranças com projeção nacional e até mundial como de um presidente quando reverberados pelas mídias jornalísticas provocam marcas na história política de um país. No Brasil, o discurso do ex-presidente Getúlio Vargas por meio da Carta Testamento ainda é lembrado pelas palavras de quem disse “sair da vida para entrar na história”. O pronunciamento de Tancredo Neves em 1985 também representou um novo começo para o Brasil que contava com o primeiro presidente eleito após o período militar. Um dos discursos1 que também perdura na história política brasileira foi do ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, que em 13 de agosto de 19922 convocou o povo brasileiro para que fosse às ruas vestindo verde e amarelo como forma de apoiá-lo. O discurso, no entanto, tomou proporções inversas às desejadas pelo presidente. Como maneira de apoiar o impeachment do então presidente, o povo saía às ruas vestindo roupas pretas. O discurso carrega um potencial de perpetuar-se e com palavras que permanecem para sempre na história como traço de um ato de comunicação sócio historicamente determinado. Chama-se discurso um conjunto de enunciados que provêm da mesma formação discursiva,

1 Disponível em: Acesso em 25 set. 2018. 2 Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/biografia. Acesso em 15 set. 2018.

13 de um tipo de discurso (“discurso jornalístico”, “discurso político”, “discurso administrativo”), das produções verbais específicas de uma categoria de locutores (o “discurso das enfermeiras”, o “discurso das mães de família”), de uma função da linguagem (“o discurso polêmico”, “o discurso prescritivo”) (FOUCAULT, 1969). O discurso supõe uma organização transfrástica, é orientado, é uma forma de ação, interativo, contextualizado, assumido, regido por normas e assumido no bojo do interdiscurso (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2006). É pertinente compreender como um discurso revela muito do próprio orador. As palavras vêm carregadas de intencionalidades e carregam marcas do contexto histórico no qual são proferidas. Os vários tipos de discursos, as condições de produção e as posições ocupadas por aqueles que discursam jamais são ditas de forma arbitrária, mas com ideologia implícita e carregada de motivações e intenções. Neste sentido, esse trabalho se torna relevante para discutir a importância dos discursos políticos e dos discursos jornalísticos. O primeiro deles busca o convencimento, a persuasão, certamente carrega aspectos informativos, mas pelo viés do potencial de convencer, da empatia, da aceitação do público, do fazer sentir e do pertencimento. Já o discurso jornalístico é delineado por normas. Ele não pode ser uma invenção, não pode ser uma história contada conforme a própria percepção, ou pelo que for mais belo, atraente ou leve. O discurso jornalístico é o que possui índices de que é real, de que é a verdade dos fatos como realmente ocorreram. É fazer saber e ser entendido. É um discurso perpassado pela credibilidade. Ambos os discursos coexistem, são dependentes um do outro e se confrontam ou se conectam em muitas situações. O discurso político e o discurso jornalístico alternam interdependências, entretanto o discurso político pode ser ressignificado conforme a interpretação (produção de sentidos) do jornalismo (CHARAUDEAU, 2008; 2009), que exerce papel importante na construção da imagem de agentes políticos (GOMES, 2004). Os discursos que serão analisados nesta pesquisa, por meio dos portais jornalísticos, são do ex-presidente da República Federativa do Brasil, Michel Temer, com o objetivo de entender as relações e idiossincrasias tanto do discurso jornalístico quanto do discurso político presidencial. Um dos pronunciamentos que motivou a pesquisa foi o discurso proferido no dia 8 de março de 2017, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, na qual Temer discursou com o objetivo de homenagear as mulheres. No entanto, as declarações geraram repercussão negativa na imprensa nacional e até internacional. O discurso recebeu críticas nas redes sociais e inúmeros sites de notícias

14 repercutiram negativamente o pronunciamento. O site Pragmatismo Político3 destacou que vários veículos internacionais de comunicação como CNN, The New York Times, The Independent repercutiram negativamente o discurso do presidente, com o título da matéria “Discurso de Temer no Dia da Mulher vira vergonha nacional”. O portal ressaltou ainda que o jornal britânico Telegraph fez duras críticas ao governante e destacou a impopularidade de Temer entre as mulheres pela atuação no impeachment, por ter iniciado o governo com um Ministério completamente masculino e por ter abolido o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O portal G14 intitulou a matéria com: “Temer diz que só mulher é capaz de indicar ‘desajustes’ no preço do supermercado”. A Folha de S. Paulo5 também destacou o discurso do presidente com a matéria: “‘Tenho convicção do que a mulher faz pela casa’, diz Temer no Dia da Mulher”. Ou seja, o pronunciamento alcançou, além de destaque na mídia jornalística brasileira, alcance internacional. Além das correlações entre discurso político e o discurso jornalístico, a pesquisa também se justifica por um interesse pessoal acerca da relação dos agentes políticos e do jornalismo a partir de estudos realizados em iniciação científica e na monografia de conclusão de curso que motivaram esse estudo aprofundado sobre o discurso político e o jornalístico. Especificamente, analisar o discurso jornalístico acerca de uma figura com projeção política nacional auxilia na própria compreensão do perfil do agente político e de como a conjuntura política brasileira se configura. São motivações que permitem preencher lacunas nos estudos sobre discursos jornalísticos que se referem a agentes políticos. O estudo também avança na busca da compreensão do próprio contexto político que atravessa o Brasil e os desdobramentos da atuação jornalística do ex-presidente da república estudado que atingiu a mais alta taxa de reprovação da história desde a redemocratização do Brasil, com reprovação de 82% dos eleitores em pesquisa divulgada pelo Instituto de pesquisa Datafolha6 em 10 de junho de 2018. Com o objetivo de identificar os trabalhos que dialogam com o objeto de estudo aqui proposto, “A construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção

3 Disponível em: Acesso em 15 jun. 2018. 4 Disponível em: Acesso em 15 de jun. 2018. 5 Disponível em: Acesso em 15 de jun. 2018. 6 Segundo o Datafolha, a pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de junho em 174 municípios. Foram entrevistadas 2.824 pessoas. A margem de erro apontada é de dois pontos percentuais.

15 de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais no período de 12 de maio de 2016 a 31 de dezembro de 2018 foram identificadas7 as contribuições de diversas áreas que auxiliam na compreensão dos conceitos que perpassam o discurso jornalístico e político a partir dos pronunciamentos de Michel Temer. A busca contou com as seguintes palavras-chave: Discurso jornalístico; Discurso Político; Michel Temer; Pronunciamentos e Imagem de si. Os percursos teórico-metodológicos identificados incluíram trabalhos com análise de conteúdo, de enquadramento, etnografia digital, análise de discurso de linha francesa (AD), análise crítica do discurso (ACD), análise lexicográfica, análise de representações, entre outros. As produções abordaram os pronunciamentos de posse em 12 de maio de 2016, como presidente interino e em 31 de agosto de 2016 como presidente efetivo; discursos após denúncias de corrupção que acentuaram a crise no governo; durante posse de ministros do estado. O discurso referente ao Dia da Mulher em 8 de março de 2017 também foi objeto de estudo recorrente dos trabalhos elencados a seguir. A dissertação de Motta de Campos (2019) apresentou uma investigação das estratégias de comunicação do governo federal na gestão Dilma Rousseff (PT) e no governo Michel Temer (MDB), nos momentos em que Temer assumiu como presidente interino, como efetivo e nas crises do governo após as denúncias de corrupção. A metodologia utilizada no estudo foi a Análise de Conteúdo e de Enquadramento a partir do estudo dos pronunciamentos realizados por Dilma e por Temer. A pesquisa também objetivou analisar o enquadramento noticioso realizado pelo jornal Folha de S. Paulo como representação da cobertura midiática. A análise de enquadramento a partir do jornal Folha de S. Paulo demonstrou que ambos os governos ganharam enquadramentos negativos em momentos de crise. No entanto, ao tratar das temáticas econômicas, o veículo noticioso enquadrou o governo Temer de forma mais positiva se comparado ao governo petista. Na análise de conteúdo aplicada aos pronunciamentos, a autora concluiu que os pronunciamentos de Temer utilizaram uma estratégia de união, colocando no centro das falas a sua equipe de governo, o Legislativo, o Judiciário e até mesmo a população como forma de atrair aprovações necessárias para conseguir governar e aprovar as reformas intencionadas. As conclusões apontaram que Temer

7A pesquisa foi realizada no Banco de Teses e Dissertações da Capes , nas bibliotecas digitais de Teses e Dissertações de Instituições de Ensino Superior e no acervo digital de pesquisas dos programas de Pós-Graduação em Comunicação e Jornalismo.

16 adotou a estratégia de superação da crise econômica nos pronunciamentos e após as polêmicas como o vazamento dos áudios, Temer reforçou o personalismo e afirmou idoneidade perante as experiências na trajetória política percorrida. Em artigo publicado na revista Compolítica, Iacomini Junior et al (2018), analisaram os dois primeiros discursos proferidos pelo presidente em 12 de maio de 2016, na posse como presidente interino e em 31 de agosto na posse como presidente efetivo. Segundo os autores é pertinente compreender que os discursos não são apresentados como “discursos oficiais de posse”, mas em um contexto de informalidade. Os textos dos pronunciamentos foram analisados com base no software Iramuteq de análise lexicográfica que reúne palavras de acordo com a afinidade que demonstram nos discursos. Na comparação entre os dois discursos, os resultados apontaram ênfase na área econômica, disposição de governar com o apoio de uma elite parlamentar, que segundo os autores, é expressa pelo uso frequente do pronome “nós”, que caracterizaria oposição a um governo popular. Com o objetivo de analisar o processo de desconstrução de ethos de Michel Temer e refletir sobre os recursos linguísticos do processo, a pesquisa de Araújo (2018) também analisou o pronunciamento de Temer ao assumir a presidência da República efetivamente, em 31 de agosto de 2016. A partir da análise de discurso de linha francesa e do acionamento do conceito de ethos discursivo, os resultados da monografia apontaram que ocorreu um processo de desconstrução do ethos de Michel Temer, ou seja, ele precisou se desfazer de uma imagem supostamente negativa para construir outra que fosse aceita pelos brasileiros. Essa desconstrução ocorreu por meio de estratégias empregadas pelo sujeito discursivo (Michel Temer), no intuito de desfazer uma imagem de golpista, usurpador e construir a imagem de um homem honesto e digno de confiança (ARAÚJO, 2018). Silva e Correio (2018) também interpretaram o pronunciamento de Temer em 31 de agosto de 2016. Baseado na Gramática Sistêmico–Funcional e na Análise Crítica do Discurso (ACD), o objetivo do artigo foi entender como Temer representou linguisticamente a si mesmo e ao governo no primeiro pronunciamento à nação. Os resultados demonstraram que Temer caracterizou o governo como moderno, dinâmico, progressista e sinalizou o governo anterior como retrógrado e inoperante (SILVA; CORREIO, 2018). Os discursos de Temer em 12 de maio de 2016, como presidente interino e em 31 de agosto de 2016, como presidente efetivo foram o corpus utilizado por Santos (2017) em um artigo com o objetivo de avaliar a clareza nas propostas apresentadas aos cidadãos à luz da

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Análise Crítica do Discurso (ACD). Os apontamentos da autora concluíram que Temer seguiu as orientações do Manual da Presidência da República8 ao proferir os discursos. No entanto, os pronunciamentos tiveram destinatários diferentes e não somente a população, já que Temer teria falado em tom mais rebuscado e técnico, o que dificultaria o claro entendimento por parte do cidadão. As conclusões apontaram ainda que os discursos contaram com o uso de estratégias de padronização, racionalização, simbolização da unidade e narrativização (THOMPSON, 1995), utilizadas para conclamar união, enfatizar argumentações, e mascarar o sentido de colocações importantes. Outro artigo que permitiu reflexões pertinentes para contribuir com a pesquisa consistiu em uma análise do áudio de WhatsApp de Michel Temer vazado à imprensa em 11 de abril de 2016, data da aprovação do parecer pela abertura do processo de afastamento de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Os autores Pimentel et al (2017) compararam esse áudio com o discurso proferido na posse de Temer como presidente interino, em 12 de maio de 2016. Por meio de uma metodologia que consistiu na mescla entre Análise de Conteúdo e Análise do Discurso, proposta por Panke e Cervi9 (2011) e com a Análise do Discurso por meio da Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), o resultado do estudo apontou que ocorreu um padrão temático de 71,4% entre ambos os discursos, o que confirmou a hipótese inicial dos autores de que o áudio vazado pode ser interpretado como uma prévia do discurso de posse proferido por Michel Temer, não de forma proposital, mas que se transformou em estratégia de marketing político ao ressaltar temas e argumentos que seriam posteriormente recorrentes no discurso de posse (PIMENTEL et al, 2017). Com o objetivo de compreender as abordagens e representações sociais utilizadas nos discursos presidenciais em contextos de crise política por meio da análise de conteúdo, Albernaz (2016) estudou o pronunciamento de Michel Temer em 31 de agosto de 2016. Os resultados do estudo apontaram que as palavras mais proferidas pelo presidente no discurso foram “governo”, no sentido de autoafirmação e legitimação de posição enquanto líder do país e deslegitimação do argumento de golpe político. Em relação à imagem pública ou ethos político, os resultados da pesquisa apontaram ainda que foram utilizadas estratégias persuasivas da “palavra de decisão”, que promete soluções para problemas conhecidos e a

8 Documento que rege todas as comunicações redigidas pelo Poder Público e que instrui a necessidade de um texto impessoal, uso do padrão culto da linguagem com clareza e concisão. 9 PANKE, L.; CERVI, E. U. Análise da Comunicação Eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos de HGPE. Revista Contemporânea. V. 9. N. 3. 2011 (p. 390 a 403).

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“simplicidade” relacionada ao raciocínio pragmático e ausência de aprofundamento nos temas tratados. As conclusões demonstraram ainda que Temer proferiu um discurso superficial, que se comparou positivamente a outros governos, se colocou como “diferente” e buscou transmitir uma imagem de credibilidade e legitimação pública ao assumir a presidência do país. Os pronunciamentos após as denúncias que acentuaram a crise no governo Temer também foram objeto de pesquisas. Pereira et al (2018) tiveram como objetivo identificar as operações ideológicas presentes no pronunciamento do ex-presidente Michel Temer proferido em 27 de junho de 2017, após denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crime de corrupção passiva. O artigo contemplou dez trechos do pronunciamento para identificar as estratégias ideológicas que sustentaram e legitimaram as relações de poder. A análise foi fundamentada nos conceitos de hegemonia de Gramsci (1995; 2001), de discurso de Fairclough (2001) e de ideologia de Thompson (2011). Os resultados apontaram a existência de modos de operação de ideologia como legitimação, unificação, fragmentação e dissimulação com o propósito de convencimento/adesão das pessoas frente aos argumentos do presidente. Os sentidos mobilizados no pronunciamento serviram como sustentação das relações de dominação e busca pela manutenção da hegemonia como presidente e como grupo político (PEREIRA et al., 2018). Com o objetivo de refletir sobre relações entre mídia e política, Campos e Coimbra (2018) analisaram como o jornal Folha de S. Paulo enquadrou os pronunciamentos de Michel Temer diante de momentos de crise no governo10. Por meio da perspectiva do enquadramento e da análise de conteúdo de quatro matérias, a conclusão do artigo apontou que o ex- presidente Michel Temer foi citado 14 vezes, sendo 10 de forma negativa (71%) e quatro de forma positiva (29%). Os resultados demonstraram ainda que a imagem do governo foi enquadrada de forma mais negativa nos momentos de crise e as temáticas mais recorrentes nas matérias foram as reformas e a possibilidade de recuperação econômica. Nas matérias analisadas, constatou-se também o destaque dado a falas polêmicas e a necessidade de mostrar os bastidores da crise política no governo emedebista, reforçando a ideia da espetacularização midiática (CAMPOS; COIMBRA, 2018).

10 Os momentos de crise selecionados para o estudo foram: 1) Após a divulgação das delações da JBS, que citaram Temer; 2) Após manifestações contra o governo depois da divulgação das delações; 3) Após Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, apresentar denúncia de corrupção passiva contra Temer, 4) Após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu pelo arquivamento do processo contra Temer.

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O pronunciamento de Michel Temer no Dia Internacional da Mulher em 8 de março de 2017 gerou polêmica no Brasil e internacionalmente, nos veículos de mídia jornalística e nas redes sociais. Neves e Barcellos (2017) em um artigo baseado na etnografia digital, por meio do mapeamento de publicações nas redes sociais e do pronunciamento de Temer interpretaram o discurso11 como machista, sem exposição de dados e que tornou evidente a ética do cuidado para definir papéis às mulheres em espaços determinados na sociedade, fator agravado por ter sido proferido por um homem em posição de poder e privilégio (NEVES; BARCELLOS, 2017). Canci e Pereira (2018) também analisaram o pronunciamento de Temer no Dia da Mulher de 2017 em um artigo sob a ótica da Análise do Discurso que obteve como conclusão que Temer limita o papel social da mulher aos cuidados do lar e dos filhos, sem potencial para ocupar espaços tradicionalmente tidos como masculinos, como a própria presidência da República e os ministérios, e que a fala de Temer contribuiu para a permanência de dizeres enraizados na sociedade, provenientes do discurso machista e patriarcal (CANCI; PEREIRA, 2018). Em uma dissertação sobre a representação discursiva no discurso de Michel Temer proferido também acerca do Dia da Mulher de 2017, Matoso (2018), a partir do aporte teórico-metodológico da Linguística Textual, dimensão semântica do texto e da Análise Textual dos Discursos (ATD) concluiu que Temer a partir das escolhas linguísticas, designou às mulheres papéis passivos além de reduzir a responsabilidade social das mulheres à formação de bons cidadãos brasileiros (MATOSO, 2018). Auatt da Silva e Azevedo (2017) em um artigo a partir da Análise de Discurso (AD) de linha francesa concluiu que Temer não teve a intenção de ofender as mulheres em seu pronunciamento, mas que acentuou o papel da mulher por meio de uma visão tradicional que não representa a luta das mulheres ao longo dos anos. A conclusão apontou também que o discurso foi direcionado para pessoas de formação discursiva semelhante que valorizam e reverberam essa visão “tradicional” e “superficial” da mulher. Com base no que foi explanado até aqui, a questão norteadora da pesquisa é: Quais as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico? A partir dessa questão, o estudo também levanta outras questões, como compreender qual a imagem de si produzida por Michel Temer em seus pronunciamentos oficiais? Os veículos jornalísticos problematizam o

11 Esse pronunciamento também será analisado nesta pesquisa.

20 conteúdo desses pronunciamentos do ex-presidente? A partir do que foi publicado sobre os pronunciamentos presidenciais, quais foram os sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso jornalístico do G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo? O objetivo geral da dissertação é justamente compreender as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico e os objetivos específicos contemplam: a) analisar a construção da imagem de si (ethos discursivo) nos pronunciamentos de Michel Temer; b) questionar “se” e “como” os portais problematizaram esses pronunciamentos a partir da produção de sentidos no discurso jornalístico e c) refletir a respeito das possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses da imagem de si e do discurso jornalístico. Para responder aos objetivos dispostos, estruturou-se essa dissertação em introdução e mais três capítulos. O segundo capítulo intitulado “A trajetória política e o governo do ex- presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer (2016-2018)” contempla a trajetória política e o governo do ex-presidente da República, Michel Temer. Numa perspectiva temporal-histórica é abordada a biografia do presidente, desde o percurso acadêmico até a experiência política; a atuação de Temer no processo de impeachment; Contextualização do governo Temer com detalhamento e explicação das denúncias, inquéritos, medidas econômicas e sociais, reprovação recorde e as últimas medidas de 2019, avaliação do governo e uma linha do tempo que resume a carreira política e o governo de Michel Temer. O terceiro capítulo da pesquisa intitulado “Discurso e produção de sentidos” detalha as relações e especificidades do discurso jornalístico e do discurso político, ancorados nas reflexões sobre os conceitos desses dois tipos de discurso e as correlações entre ambos. O capítulo contempla uma abordagem sobre o aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, com aspectos do surgimento, principais autores, procedimentos para a análise firmados no entendimento da AD como teoria que extrapola o limite metodológico e fundamenta as percepções dos sentidos inerentes aos discursos e o contexto sócio histórico, destacando conceitos e noções operatórias da produção de sentidos e perspectivas construcionistas do discurso jornalístico. Os autores acionados para a discussão, entre outros são Charaudeau (2008; 2016), Maingueneau (2004, 2015), Berger e Luckmann (1985, 2009), Amossy (2008), Hackett (2016), Benetti (2006), Gomes (2009), Vizeu (2003), Traquina (2016), Tuchman (2016), Berger e Luckmann (2009), Panke (2016), Pêcheux

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(1997), Orlandi (2007), Gregolin (2007), Brandão (1994), Bakhtin (2004) e Molotch e Lesters (2016). O quarto capítulo, “Imagem de si de Michel Temer e sentidos produzidos pelo discurso jornalístico de O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol” inicia com uma discussão acerca da relevância do estudo de mídias hegemônicas com detalhamentos dos procedimentos para análise. Posteriormente, fundamentado no aporte teórico-metodológicos da Análise de linha francesa, a primeira etapa da análise detalhada nesse capítulo consiste na identificação da “imagem de si – ethos discursivo” de Michel Temer a partir da seleção de 13 pronunciamentos: Pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016); como presidente efetivo (31 de agosto de 2016); durante conferência na Organização das Nações Unidas (ONU) (20 de setembro de 2016); após aprovação da PEC do Teto de Gastos (em 13 de dezembro de 2016); após a Sanção da Lei do Novo Ensino Médio (16 de fevereiro de 2017); pronunciamento no Dia da Mulher (8 de março de 2017); pronunciamento após delação JBS (18 de maio de 2017); após denúncia sobre corrupção passiva (27 de junho de 2017); após rejeição da denúncia por corrupção passiva (2 de agosto de 2017); pronunciamento após denúncia do Inquérito dos Portos (27 de abril de 2018), pronunciamento de aniversário de dois anos de governo (15 de maio de 2018), pronunciamento sobre a Greve dos Caminhoneiros (27 de maio de 2018) e pronunciamento de última reunião ministerial (19 de dezembro de 2018). Os pronunciamentos foram escolhidos pelo critério de relevância, repercussão e por serem marcantes e constitutivos da própria história do mandato presidencial de Michel Temer. Além disso, esses pronunciamentos se tornaram pauta para os veículos jornalísticos em estudo, posts nas redes sociais, geraram polêmica e englobaram vários temas pertinentes ao governo. Na análise da “imagem de si” foram identificadas 195 sequências discursivas que contribuíram para a composição das formações discursivas que totalizaram cinco núcleos principais: Formação Discursiva (FD) 1: “Sou conservador e confio na constituição”, com 50 sequências discursivas; FD2: “Sou reformista e confio no progresso”, com 92 sequências discursivas; FD3: “Sou corajoso e salvei o país” com 32 sequências discursivas; FD4: “Sou crente na união e no diálogo”, com 38 sequências discursivas e FD5: “Sou totalmente honesto e vítima” com 30 sequências discursivas. Na segunda etapa da análise são analisadas as notícias dos portais O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol referentes aos 13 pronunciamentos de Michel Temer noticiados no período de

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12 de maio de 2016 a 31 dezembro de 2018, quando encerrou o mandato presidencial. A análise dos sentidos consistiu na identificação das regularidades discursivas presentes nas sequências discursivas que foram destacadas dos textos. O corpus total da análise dos portais contabilizou 64 notícias, sendo, G1 (20 notícias) O Globo (13 notícias), Uol (19 notícias) e Folha de S. Paulo (12 notícias), todas publicadas nos portais on-line de cada veículo. Na identificação da produção de sentidos, o total foi de 247 sequências discursivas em G1/O Globo com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva e de 171 sequências discursivas em Uol/Folha de S. Paulo, também com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva. As formações discursivas identificadas foram: FD1: “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”, com 34 sequências discursivas (SDs) em G1/O Globo e 45 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; “FD2: “Temer quer união e prega o diálogo” com 56 SDs em G1/O Globo e 32 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; FD3: “Temer é um presidente polêmico em suas declarações” com 65 SDs em G1/O Globo e 46 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; FD4: “Temer vai gerar emprego e crescimento” com 43 SDs em G1/O Globo e 24 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; FD5: “Temer é reformista” com 28 sequências discursivas em G1/O Globo e 32 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; e FD6: “Temer é alvo da oposição e de denúncias” com 92 SDs em G1/O Globo e 55 SDs em Uol/Folha de S. Paulo, com a análise detalhada sobre cada formação discursiva no capítulo quatro dessa dissertação. Ainda nesse capítulo, concentrou-se uma discussão que responde o terceiro objetivo específico da pesquisa sobre a reflexão a respeito das mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, com base nos sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso dos portais jornalísticos associadas às possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses. Posteriormente seguem as considerações finais e referências empregadas no estudo.

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2. A TRAJETÓRIA POLÍTICA E O GOVERNO DO EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MICHEL TEMER (2016-2018)

Este capítulo inicia com o detalhamento da trajetória política e o governo do ex- presidente da República, Michel Temer. Numa perspectiva temporal-histórica é abordada a biografia do presidente, desde o percurso acadêmico até a experiência política; a atuação de Temer no processo de impeachment; Contextualização do governo Temer com explanação das denúncias, inquéritos, medidas econômicas e sociais, reprovação recorde e as últimas medidas de 2019, avaliação do governo e uma linha do tempo que resume a carreira política e o governo de Michel Temer.

2.1 O político Michel Temer, impeachment e presidência em 2016

Michel Miguel Elias Temer Lulia12 é um político brasileiro, casado13, advogado e professor, ex-presidente da República Federativa do Brasil e filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) desde 1981. Temer nasceu em 23 de setembro de 1940, em Tietê – SP. É o caçula da família com mais sete irmãos e filho de Miguel Elias Temer Lulia e March Barbar Lulia. Eles deixaram o Líbano em 1925 para viver no Brasil após a 1ª Guerra Mundial. No Brasil, os pais de Temer empreenderam em um negócio de produção de arroz e café que garantiu estabilidade econômica para a família. Aos 16 anos, em 1957, Temer se mudou para São Paulo para concluir o Ensino Médio. Em 1959 ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), o mesmo percurso de quatro de seus irmãos. Durante a graduação, Michel Temer era atuante no movimento estudantil e vivenciou sua primeira experiência e frustração em disputa política em 1962, aos 22 anos, quando deixou o cargo de segundo-tesoureiro do “Centro Acadêmico (CA) 11 de Agosto” para concorrer à presidência do CA, mas foi derrotado por uma diferença

12Informação do site da Câmara dos Deputados. Disponível em: / http://micheltemer.com.br/biografia e http://www.brasil.gov.br/governo/2011/01/biografia-do-vice-presidente Acesso em 18 out. 2018. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/biografia. Acesso em 15 set. 2018. 13Temer é casado com a ex-modelo Marcela Tedeschi Araújo Temer desde 2003 e com ela teve o filho Michel Miguel Elias Temer Lulia Filho, nascido em 2009. Temer já foi casado com Maria Célia de Toledo, com quem teve três filhas: Luciana (1969), Maristela (1972) e Clarissa (1974). O casal se divorciou em 1987. O segundo casamento de Temer foi com Neusa Aparecida Popinigis, sua professora de inglês. O casal não teve filhos. Temer teve um filho, Eduardo (1999), com a jornalista Érica Ferraz.

24 de 82 votos. Nessa época, Temer também conquistou amizades com professores e dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que possuíam influência política. Outro fato marcante do movimento estudantil foi em 1963 quando Temer chegou a ser indicado para assumir a presidência do Diretório Central dos Estudantes, mas abriu mão para não concorrer com o atual presidente da União Nacional dos Estudantes, na época José Serra, que tinha um posicionamento esquerdista, oposto ao de Temer (ÉPOCA, 2016). Após estar formado, em meados de 1963, Temer trabalhou como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, que foi seu professor na USP e era secretário de Educação do Estado de São Paulo no governo Ademar de Barros, inspirador do slogan “Rouba, mas faz”14. Em 1964, Temer atuou ainda como advogado em um escritório próprio e iniciou a carreira docente na Faculdade de Direito de Itu (FADITU) e na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), instituição na qual também exerceu cargo de direção do Departamento de Pós-Graduação ao lado do também professor e amigo André Franco Montoro, considerado um político experiente que já possuía no currículo dois mandatos como deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Em 1970, Temer é aprovado no concurso público para atuar no setor de mandado de segurança da Procuradoria Administrativa do Estado de São Paulo. Michel Temer seguiu na carreira acadêmica e titulou-se doutor em Direito Público pela PUC- SP, em 1974. O primeiro livro15, “Elementos de Direito Constitucional”, foi publicado após a defesa da tese “Território Federal nas Constituições Brasileiras”. As experiências políticas e administrativas perpassaram a carreira pública de Michel Temer que atuou como diretor do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional e também integrou o Instituto Ibero-Americano de Direito Constitucional. Por intermédio da amizade com André Franco Montoro, Temer ingressa no recém-criado partido do Movimento Democrático brasileiro (MDB16) em 1981, único partido autorizado pela ditadura a atuar

14Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-plano-temer/ Acesso em 06 de jun. 2019. 15Esse livro foi publicado originalmente em 1982 e foi totalmente reformulado após a Constituição de 1988. A obra já vendeu mais de 200 mil cópias e é elogiada por possuir uma linguagem mais compreensível, sem o "juridiquês" que marca os livros da área. Temer também é autor de outros livros nas áreas jurídicas, política, além de um livro de poesias. Os demais livros escritos por Temer são: “Constituição e Política” (1994); “Democracia e Cidadania” (2006); e em 2013 também publicou um livro intitulado “Anônima Intimidade”, sobre poemas e ficção. 16O MDB ganhou a sigla “P” de partido em 1981, que permaneceu até maio de 2018. Em 15 de maio de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou por unanimidade, a mudança do nome e da sigla do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) para Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Maio/aprovada-mudanca-do-nome-do-partido-do-movimento- democratico-brasileiro-pmdb> Acesso em 18 de out. 2018. O partido não elegeu (até 2019) nenhum presidente

25 como oposição e partido no qual Temer seria presidente por 15 anos, de 2001 a 2016 e que permanece filiado até hoje (2019). Em 1983, Montoro se tornou governador do Estado de São Paulo e convida Temer para ocupar o cargo de procurador-geral do Estado de São Paulo. Temer atua na função de 16 de março de 1983 a 31 de janeiro de 1984. Posteriormente, em 1984, Temer foi convidado para assumir a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo. No cumprimento do cargo, Temer criou a primeira “Delegacia de Defesa da Mulher” no Brasil em seis de agosto de 198517. Em 12 de abril de 201718, em discurso durante cerimônia de Assinatura de Atos em prol das Mulheres e como presidente da República, Michel Temer relembrou a experiência durante a criação da Delegacia:

[...] Eu na ocasião recebi um grupo de mulheres que reclamava do atendimento nas delegacias de polícia. Até porque, eram normalmente atendidas por homens, investigadores, escrivães, delegados, e a gente sabe como é essa história não é? Vai lá contar de uma agressão do marido à companheira, ou uma violência sexual, sempre há uma palavra desairosa em relação a esses episódios. [...] E o que fiz eu? Coloquei duas delegadas de polícia, oito, dez escrivães, mulheres escrivães mulheres, e 20, 30, investigadoras mulheres, para atender a mulher. Vejam que é um ato da maior singeleza administrativa, mas que teve uma repercussão extraordinária (TEMER, 2017).

Michel Temer deixa a Secretaria para iniciar carreira política com a disputa da eleição para deputado federal no estado de São Paulo, pelo MDB em 1986. Na época, Temer recebeu apenas 43.747 votos e não conquistou o cargo. Apesar da derrota, garantiu a suplência do deputado Tidei de Lima e em 16 de março de 1987, assumiu o cargo na Câmara dos Deputados após uma decisão de Lima de licenciar-se do mandato. Temer também atuou na elaboração da nova Constituição no ano de 1988, no período de renovação democrática com o presidente civil José Sarney após os 21 anos de regime militar. O emedebista votou a favor da legalização do aborto e da ampliação do mandato de cinco anos para o mandato de Sarney. Nessa época, o PMDB de Temer passou por mudanças com a saída de lideranças de destaque

da república por meio do voto direto, mas já contou com três vice-presidentes que se assumiram a presidência devido a falecimento ou impeachment do(a) presidente(a) eleito(a). O MDB é considerado o maior partido do Brasil com mais de 2,3 milhões de filiados. O atual presidente do partido é o Senador Romero Jucá que assumiu o posto em 5 de abril de 2016, no lugar de Michel Temer. Disponível em: https://www.mdb.org.br/conheca/presidentes-do-mdb/ Acesso em 31 mai. 2019. 17Em 1985 Temer também instituiu a Delegacia de Proteção aos Direitos Autorais, considerada um importante instrumento de combate à pirataria conforme informações do portal do Governo Federal. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2011/01/biografia-do-vice-presidente. Acesso em 10 out. 2018. 18Disponível em: http://especiais.g1.globo.com/politica/2017/todas-as-falas-do-presidente-temer/#!/discurso- direitos-mulheres Acesso em 30 mai. 2019.

26 como Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso que decidiram fundar o PSDB, decisão que não foi seguida por Temer.

Pouco antes da promulgação, em outubro de 1988, Covas, Serra, FHC e Montoro saíram do PMDB para fundar o PSDB. Nessa oportunidade, Temer viveu outro momento-chave. Em vez de seguir os colegas, ficou no PMDB, aceitando um conselho do próprio ex-governador Montoro e colega de PUC: “No PSDB, a fila vai ser grande para você” (ESTADÃO, 2016).

Nas eleições de 1990, Temer concorreu novamente como deputado federal pelo Estado de São Paulo e obteve 32.024 votos o que garantiu somente o cargo de suplente. Em 1992, Temer foi convidado para assumir novamente a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo no governo de Luiz Antonio Fleury. Temer assumiu seis dias após o “massacre do Carandiru”, considerada uma das piores rebeliões penitenciárias da história do Brasil, com 111 presos assassinados por ordem do comando da Polícia Militar em uma rebelião na Casa de Detenção. Temer obteve reconhecimento do governo estadual por conter a crise durante os acontecimentos da rebelião. A vitória tão almejada na Câmara foi concretizada em 1994, quando foi eleito deputado federal do estado de São Paulo com 70.968 mil votos e líder do MDB na Câmara dos Deputados. O primeiro mandato de Temer ocorreu junto ao primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso – FHC, (PSDB) como presidente do Brasil.

Naquele ano, o MDB elegeu a maior bancada da Câmara (107 deputados), o que daria ao partido o direito à Presidência da Casa. A antiga ligação com a cúpula tucana fez de Temer o principal interlocutor da sigla com o recém-eleito presidente Fernando Henrique Cardoso. Contudo, em vez de exigir a cadeira de presidente da Câmara, Temer propôs um acordo com o PFL (atual DEM), partido que ajudou o PSDB a conquistar a presidência: o deputado baiano Luís Eduardo Magalhães (PFL) – filho do então senador Antônio Carlos Magalhães, que apelidou o emedebista de “mordomo de filme de terror” – seria o presidente no biênio 1995-1997 e Temer lhe sucederia no cargo pelos dois anos seguintes. O acordo foi aceito e cumprido (ESTADÃO, 2016).

Na presidência da Câmara dos Deputados entre 1997 e 1998, Temer vivenciou a experiência de assumir a Presidência da República interinamente: de 27 a 31 de janeiro de 1998, fato que ocorreria novamente, 18 anos mais tarde, em 2016. Em 1998, Temer disputou a reeleição para deputado federal e foi reeleito com 206.154 votos, o político mais votado do MDB no estado de São Paulo. O emedebista assumiu novamente a presidência da Câmara, de 1999 a 2001. Nesse ano, FHC também foi reeleito presidente do Brasil.

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Temer não passou desapercebido durante seu mandato. Triplicou a verba das despesas dos parlamentares. Ganhou moral com seus colegas. Ficou ainda mais influente dentro da casa. [...] Coincidência com os tempos atuais, ou não, foi nessa época que Temer virou presidente pela primeira vez: durante uma viagem do Presidente e seu vice, o emedeista assumiu o controle do país por quatro dias. Em 1999 voltou a assumir a presidência da Câmara, quando vetou o impeachment de Fernando Henrique. Também assumiu o cargo em 2009 - dessa vez, com o apoio de Lula, também chegando a assumir a presidência quando ele e seu vice saíram do país (ÉPOCA, 2016).

Em 2001, Temer foi eleito presidente nacional do MDB, com aproximadamente 60% dos votos, após a rejeição de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo nas eleições de 2002. Ainda em 2002, Temer disputou novamente as eleições e foi reeleito no cargo de deputado federal com 252 mil votos, mesmo ano do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa época, Temer articulou apoio à candidatura de José Serra ao Planalto e iniciou o relacionamento com o PT.

Em 2005, [Temer] tentou voltar à presidência da Câmara após a renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PE), envolvido num esquema de cobrança de propina no restaurante da Câmara. Temer, que na oportunidade integrava a ala oposicionista do MDB, pediu para o governista Renan Calheiros convencer a Lula a apoiá-lo na empreitada. Quando o alagoano enfrentou a acusação de ter a pensão de uma filha fora do casamento paga pela empreiteira Mendes Júnior e teve de deixar o comando do Senado, o deputado paulista o ajudou a pelo menos conservar o mandato parlamentar. A aliados, Temer diz que Renan prometeu ajudá-lo, mas, ao reunir-se com Lula, defendeu o nome de Aldo Rebelo (PC do B-SP), que acabou assumindo a cadeira (ESTADÃO, 2016).

Temer disputou as eleições novamente em 2006 com 99 mil votos para o quarto mandato como deputado federal com menos da metade dos votos conquistados em 2002. Temer foi o 54º deputado mais votado, em uma lista de 70 e somente conseguiu garantir a eleição devido ao sistema de eleição proporcional para deputados, com a última das três vagas conquistadas pelo MDB19. Na época, “[...] Temer acertou que o petista Arlindo Chinaglia seria presidente entre 2007 e 2009 e o emedebista nos dois anos seguintes” (ESTADÃO, 2016). A presidência projetou imagem de poder de Temer no partido que influenciou para a composição na chapa presidencial com Dilma Rousseff, em 2010, ano em que também foi reeleito presidente do MDB. Com o aceno positivo para a composição da chapa, Temer

19Disponível em: https://observador.pt/especiais/michel-temer-brasileiro-paciente/ Acesso em 30 mai. 2019.

28 comemorou sua primeira vitória como vice-presidente nas eleições presidenciais de 31 de outubro de 2010 com 55,7 milhões de votos. Nessa época, Dilma e Temer mal se conheciam e Temer apareceu nos programas eleitorais apenas no segundo turno20.

Apesar do currículo, Temer nunca foi a primeira opção de Lula para vice de Dilma. Suas excelentes relações com o PSDB, especialmente com o senador José Serra, levantavam – e ainda levantam – desconfiança. No PMDB, Lula sempre preferiu ter como interlocutores Renan Calheiros e José Sarney. Temer acabou se viabilizando como uma espécie de mínimo denominador comum do partido, um agregador na confederação de caciques que é o PMDB. O PT se viu constrangido a engoli-lo (PIAUÍ, 2016).

A presença de Temer auxiliava o PT na medida em que fortalecia a imagem de Dilma diante dos políticos eleitos em todo o país, superior ao número do PT. Já para o MDB, Dilma era a chance de permanecer no poder, já que o partido não dispunha de nomes fortes para enfrentar PT e PSDB. “Os dois pouco se conheciam, mas conseguiram formar uma chapa vitoriosa naquela eleição. Mesmo com desentendimentos ao longo do primeiro mandato e menor apoio de emedebistas, a dupla Dilma-Temer foi mantida em 2014” (ESTADÃO, 2016). Em 2014, Dilma Rousseff e Michel Temer foram reeleitos no segundo turno com 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB) e . Do impeachment (golpe) ao governo Temer: A vitória apertada no segundo turno da chapa Dilma-Temer seria o prenúncio de um segundo mandato que começaria afetado por crises, rupturas, polêmicas e instabilidade política. É pertinente compreender como Temer chegou ao poder e todo o processo de impeachment que marcou a história da política brasileira. Miguel (2019) demonstra a partir dos próprios títulos dos capítulos da sua obra a sequência do que significou o contexto de golpe no Brasil: uma transição política e a crise na democracia no Brasil com semelhanças da ditadura em 1964; O PT e o lulismo, desde ascensão à queda; A recomposição da direita brasileira; Os meios de comunicação como personagens do golpe; As eleições de 2014, a produção do golpe, e o futuro da resistência democrática (MIGUEL, 2019). Conforme o autor, as bases da democracia construídas após o fim da ditadura militar foram abaladas e praticamente destruídas a partir da ofensiva de Direita, do golpe de 2016 e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

20Disponível em: https://observador.pt/especiais/michel-temer-brasileiro-paciente/ Acesso em 13 mar. 2019.

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O golpe, portanto, não foi um evento, ou uma sucessão de eventos: a abertura do processo de impeachment por Eduardo Cunha, em 2 de dezembro de 2015; a votação na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016; o afastamento provisório de Dilma Rousseff pelo Senado, em 12 de maio de 2016; a derrubada definitiva da presidente, em 31 de agosto de 2016. O golpe foi um processo, emblematizado pela queda de Dilma, mas que não se esgotou ela, um golpe cujo sentido é o retrocesso nos direitos, a redução do peso do campo popular na produção da decisão política e o adormecimento do projeto de construcao de uma sociedade mais justa. A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 foi um desdobramento, em certa medida imprevisto, deste processo, que continua em aberto e para o qual, infelizmente, não há perspectiva de solução a curto prazo (MIGUEL, 2019, p. 22).

Entre os eixos discursivos do impeachment, os argumentos contra o governo Dilma foram, entre outros, a defesa da “meritocracia” e denúncia dos “vagabundos”. Esses argumentos corroboraram com o trabalho ideológico da direita nos últimos anos que dizia ser “necessário” interromper o ciclo petista. Essa construção de clima de “instabilidade” foi fortalecida pela campanha de Michel Temer de que era preciso “tirar o país do vermelho”, em um sentido duplo facilmente decifrável. O golpe ainda foi articulado a partir dos protestos populares de 2013, conhecidos como “Jornadas de Junho” que abalaram a base eleitoral do PT, pelos escândalos da Lava-Jato, outra sucessiva derrota da direita nas eleições de 2014, força crescente do Poder Judiciário e a atuação seletiva do aparato repressivo do Estado (MIGUEL, 2019). Gomes (2016) corrobora com esse entendimento e aponta o consenso entre Eduardo Cunha e Michel Temer e o oportunismo para se livrar de acusações e conquistar o poder.

A eleição à Câmara dos Deputados, em 2014, de cerca de 250 deputados financiados por inúmeros setores empresariais voltados à defesa de interesses do grande capital, nacional e internacional. Setores como agronegócio, segurança privada, medicina particular, negócios evangélicos, entre tantos outros, financiaram candidatos ostensivamente vinculados a esses interesses. Para tanto, Michel Temer e Eduardo Cunha – aliados de primeira hora – foram os articuladores nacionais desse financiamento e, mais importante, os receptores dos valores que seriam distribuídos aos candidatos representantes do capital que, além do mais, foram escolhidos por sua posição relativamente consensual a respeito da derrogação dos direitos sociais e trabalhistas, assim como da defesa incondicional do Golpe a ser dado (em 2016) e do “governo” a ser instituído e capitaneado por Temer. Além do financiamento empresarial, a dupla Temer/Cunha estava entranhada em diversos aparatos estatais, como a Caixa Econômica Federal, e diversos ministérios, gerenciando propinas que seriam parcialmente voltadas ao financiamento de campanhas (FONSECA, 2018, p. 60).

As ofensivas contra o governo Dilma antes mesmo do processo de impeachment eram baseadas em invenções sobre a atuação do PT, como a doutrinação comunista, ideologia de gênero e marxismo cultural. Ainda nesse caminho, os meios de comunicação de massa foram fundamentais para produzir um clima de tensão e de que o país precisava de “salvação”. O

30 controle da informação por grupos privados não eliminou a centralidade da mídia, mas dificultou o estabelecimento de um jornalismo democrático e plural (MIGUEL, 2019).

Na prática, formou-se no Brasil uma triangulação entre aparelho repressivo, mídia e fábrica de fake News. Informações contrárias a Lula e ao PT eram vazadas por policiais, procuradores ou juízes e repercutidas com alarde no noticiário; ou então, a informação, apresentada como um furo de reportagem motivava uma investigação da polícia ou do Ministério Público. Isso criava o clima de opinião propício para que organizações da extrema-direita produzissem seu próprio material – versões exageradas das notícias iniciais ou simples mistificações – ancoradas na credibilidade original dos funcionários públicos e do jornalismo profissional. A mídia gerava, portanto, o ambiente para que as fake News prosperassem. Sem a reiterada afirmação de que lula era o chefe e o PT uma quadrilha criminosa, as histórias sobre seus filhos serem proprietários de grandes empresas ou ele possuir contas bilionárias no exterior teriam mais dificuldade para se propagar. Sem o discurso reiteado de que Bolsonaro e o PT representavam formas opostas, mas simétricas, de “extremismo”, oapoio envergonhado que muitos conservadores deram ao ex-capitão, em 2018, teria sido mais custoso. (MIGUEL, 2019, p. 145).

O golpe de 2016 teria sido gestado ao menos dois anos antes, corroendo as bases de sustentação dos governos petistas, reforço aos ataques ao PT e especialmente às figuras de Lula e Dilma na insistente tentativa de neutralizar a imagem pública do ex-presidente Lula. Ainda nesse processo, jornais de grande circulação se posicionaram em uma campanha de convencimento de que o país estava quebrado oferecendo “alternativas” como a reforma trabalhista e da previdência como únicas soluções para conter a crise causada pelos governos petistas (DIAS; SOUSA, 2018).

A Folha de S. Paulo, do dia 13/3/2016 utilizando-se de um método supostamente “científico” contabilizaram 500 mil pessoas na Avenida Paulista em São Paulo a favor do impeachment. Na semana seguinte em 18/03/2016 ocorreu a manifestação em defesa do governo, mas essa não teve o mesmo espaço de divulgação nos meios de comunicação e, segundo o mesmo método “científico” do jornal, alcançou um volume de 95 mil pessoas. Número bem inferior, portanto, à manifestação contra o governo que ocorreu na mesma avenida em favor do Golpe uma semana antes. Curiosamente, quando observamos as fotos aéreas, contudo, não é possível identificar uma diferença tão grande no volume de manifestantes (DIAS; SOUSA, 2018, p. 50).

Deve-se ressaltar o papel decisivo e primordial do Sistema Globo nesse processo, embora articulado com os outros meios e veículos. Igualmente, embora voltado a setores minoritários, tanto o mundo digital dos portais, sites, blogs como das redes sociais (Facebook e Twitter) e também o Whatsapp, representaram campo de batalha significativa entre dois segmentos opostos: os pró e os contra o impeachment. Esses canais foram e são utilizados para expressar: pontos de vista alternativos aos da grande mídia, desconstruindo suas meias verdades, mentiras e manipulações, a opinião de grupos golpistas, que não apenas reforçaram

31 a narrativa da grande imprensa associada ao Poder Judiciário desestabilizador como também veicularam imensidão de fake News, contribuindo para a criação da histeria coletiva, pois municiada, reitere-se, pela grande mídia, por sua vez ancorada nos “fatos criados” pela Operação Lava Jato/Ministérios Públicos/STF. (FONSECA, 2018, p. 63).

Quatro famílias que atuam decisivamente no controle e influência do sistema político-midiático no Brasil trabalharam na linha de frente para criar uma atmosfera para a efetivação do golpe de Estado: Família Marinho (Organizações Globo), Civita (Grupo Abril/Veja), Frias (Grupo Folha) e Mesquita (Grupo Estado) além de outras com mídias de segunda linha como os Alzugaray (Editora Três/Istoé), Saad (Rede Bandeirantes), Sirotsky (RBS, influente no Sul do país) (LOPES, 2016).

Como na campanha do inicio dos anos 60, as famílias que controlam as grandes mídias nacionais assumiram um protagonismo político decidido, sob a liderança dos Marinho. Na televisão, foram sucessivas edições do Jornal Nacional voltadas a destruir Lula – com o objetivo de criminaliza-lo a ponto de impedir sua candidatura nas eleições de 2018, o PT e, finalmente, Dilma. O Jornal Nacional não é mais o mesmo. Apenas nos últimos quatro anos, desde 2012, perdeu um quarto de sua audiência, mas ainda assim é capaz de manter 40% da audiência nas regiões metropolitanas do país (LOPES, 2016, p. 121).

O Jornal Nacional foi um dos principais divulgadores da condução coercitiva de Lula em 5 de março de 2016, com uma edição histórica de 40 minutos contra o principal líder popular do país desde Getúlio Vargas. Tanto Lula quanto os demais acusados do PT não tiveram voz no telejornal. Isso ocorreu com artistas, intelectuais e políticos de esquerda que também foram vetados nesses meios de comunicação de massa. A imprensa brasileira atuou assim por meses ao convocar manifestações contra o governo, vazamento de investigações e demais publicações em editoriais, artigos, entrevistas e pesquisas. (LOPES, 2016). Entretanto, a imprensa internacional apresentou outra narrativa sobre o golpe e denunciou o ataque à democracia sofrido no Brasil:

Dois editoriais consecutivos do The New York Times desmontaram todo o edifício discursivo do império midiático brasileiro. No primeiro, em 15 de maio, o mais relevante jornal do planeta afirmou que Dilma caiu por “permitir” as investigações contra a corrupção. O segundo, em 6 de junho, intitulado “Brasil, medalha de ouro em corrupção”, foi um ataque direto ao governo golpista “As nomeações de Temer reforçaram as suspeitas de que o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff no mês passado, por acusações de maquiar ilegalmente as contas do governo, teve uma segunda intenção: afastar a investigação (de corrupção). Para o NYT, os sucessivos escândalos no recém-empossado ministério forçaram “Temer a prometer, na semana passada, que o Executivo não interferirá nas investigações da Petrobras, nas quais estão envolvidos mais de quarenta político. Considerando os homens de quem Temer se cercou, a promessa soa oca” (LOPES, 2016, p. 122).

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As iniciativas de imprensa independente que divulgavam conteúdos expressivos e contrários aos noticiados pelas famílias dominantes foram, entre outros, a Mídia Ninja (com mais de 850 mil seguidores no Facebook) e os Jornalistas Livres (com mais de 450 mil seguidores). “Nos momentos mais dramáticos do desenrolar do golpe, a rede de mídias independentes atingiu um público estimado em mais de 30 milhões de pessoas, algo como 15% da população brasileira” (LOPES, 2016, p. 122). O governo Temer (que viria assumir a presidência) buscou o estrangulamento econômico desses meios de comunicação independentes e ampliou de forma significativa a remuneração oferecida aos grupos da mídia empresarial. O futuro governo seria sustentado ideologicamente em um programa neoliberal pelas classes médias superiores e parte significativa do Capital nacional e internacional e pela institucionalidade e apoio do Congresso Nacional (FONSECA, 2018). A construção do golpe começou a ser articulada desde o Mensalão, prosseguiu com as Jornadas21 de Junho de 2013 que culminaram com várias pessoas nas ruas que criticavam o governo e na eleição disputada de 2014 (PIAUÍ, 2016). A consolidação do golpe se deu a partir da união jurídica, midiática e política influenciada por elites econômicas e oligopólios midiáticos além do próprio Congresso Nacional. “Desde que Dilma vencera a eleição, em outubro de 2014, na disputa mais acirrada desde a redemocratização, quando derrotou o tucano Aécio Neves por pouco mais de três milhões de votos, o impeachment rondava o Planalto como uma assombração” (PIAUÍ, 2016). O processo: Um dos acontecimentos significativos para compreender o impeachment é a eleição de Eduardo Cunha22 para a presidência da Câmara dos Deputados em 1ª de fevereiro de 2015. O político foi eleito sem o apoio do PT, que apostou no candidato Arlindo Chinaglia. A vitória de Cunha foi consistente ainda no primeiro turno com 267 votos, inclusive com a estimativa de 15 dos votos serem de petistas. O presidente do PT, na época, Ruy Falcão defendeu o

21As Jornadas de Junho de 2013 iniciaram após manifestações populares em todo país por conta do aumento nas tarifas de transporte público nas principais capitais. O aumento nas tarifas suscitou os protestos, mas posteriormente outras questões foram levantadas, como gastos do governo federal, má qualidade de serviços públicos, democratização da mídia e para impedir a aprovação de projetos como a “Cura gay”. 22 Em 7 de julho de 2016, Eduardo Cunha renunciou à presidência da Câmara dos Deputados e em 19 de outubro foi preso em Brasília. A condenação foi de receber propina de US$ 1,5 milhão, por um contrato de exploração de petróleo em Benin, na África, firmado pela Petrobras. O ex-deputado foi condenado a 14 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em 31 de maio de 2016 foi transferido do Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais – Curitiba para o Rio de Janeiro onde seguirá cumprindo a pena.

33 enfrentamento do partido à Cunha, entretanto o partido já começava a sentir os efeitos da Lava Jato e da crise econômica que permeavam o governo Dilma.

[...] Falcão diz não se arrepender do enfrentamento. Avalia que, mesmo se tivesse recebido apoio do PT, Cunha teria rompido com o governo quando se enrolou na Lava Jato. “Ele já vinha operando contra nós desde a liderança do MDB. Vinha seduzindo gente e seduziu gente na eleição. Daria para fazer acordo se ele fosse um político normal, mas ele não era confiável”, comentou o presidente do PT. O deputado Pepe Vargas, do PT gaúcho, à época ministro das Relações Institucionais, admite que o governo avaliou mal o processo. “Imaginamos que era possível levar a candidatura Chinaglia para o segundo turno. Foi um erro”, me disse em novembro, em seu gabinete, na Câmara. “Mas não me arrependo um milímetro da posição que tínhamos de evitar a candidatura de Cunha. Essa candidatura se mostrou, sim, uma candidatura da oposição.” A vitória de Cunha escancarou a debilidade política do governo, num ambiente em que o Planalto já tinha de lidar com os efeitos da Lava Jato e da crise econômica (PIAUÍ, 2016).

Entre fevereiro e março de 2015, os protestos contra Dilma se intensificaram e pairava uma possibilidade de impeachment, que inicialmente foi descartada por Michel Temer que publicou em sua conta no twitter uma das mensagens mais polêmicas da carreira política, na figura 1:

Figura 1. Mensagem de Temer em sua conta no Twitter

Fonte: Twitter

Em abril de 2015, a crise no governo foi intensificada e Dilma recorreu a Temer na tentativa de “aliviar as tensões”:

O governo mal completava 100 dias, e uma sucessão de reveses, agravados desde a eleição de Eduardo Cunha, evidenciava que o Executivo havia perdido o controle do Legislativo e estava à deriva. Temer foi chamado para assumir a articulação política, depois de , ministro da Aviação Civil e grande aliado do vice no MDB, ter recusado o cargo. “O governo estava no chão”, relembrou Temer no fim de janeiro, ao repórter Raymundo Costa, do Valor Econômico. Sua missão era viabilizar a aprovação do ajuste fiscal justamente no momento em que Rodrigo

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Janot, na esteira da Lava Jato, havia pedido ao STF a abertura de inquérito contra 48 políticos, entre os quais Eduardo Cunha e Renan Calheiros (PIAUÍ, 2016).

No começo de agosto, Temer recebeu grupo de deputados da base que ameaçavam aprovar pautas-bomba caso suas indicações não fossem aprovadas, o que causaria impacto de bilhões no governo. Após o encontro, Temer ofereceu-se para realizar um pronunciamento diante do momento crítico. Com a aprovação de Dilma, Michel Temer convocou a imprensa, porém começou a deixar evidente sua crítica à atuação de Dilma. “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, reunir a todos, de fazer esse apelo. Eu estou tomando a liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, nós podemos entrar numa crise desagradável para o país” (TEMER, 2016). A fala de Temer acentuou o relacionamento desgastado com Dilma e o PT. Em 24 de agosto, período em que Dilma enfrentava fortes índices de rejeição com popularidade somente entre 7% e 8%, Temer evidenciou a oposição à Dilma e abandonou a função na articulação política e consequentemente começou a se distanciar mais ainda do governo. Em sua residência oficial, no Palácio do Jaburu, recebia constantemente visitas de (ex-ministro de Dilma) e que foi alvo de diversas acusações junto à Temer, (ex-ministro de Lula) e inclusive de Eduardo Cunha (PIAUÍ, 2016). No mês seguinte, em setembro de 2015, Temer ainda figurou como protagonista em um vídeo lançado na televisão com outros 50 políticos do MDB que criticam o governo Dilma e entoavam a necessidade de alguém para “reunificar o Brasil”. A resposta de Dilma, no auge da crise, em cinco de outubro de 2015, foi cortar oito das 39 pastas do governo e aumentar a participação do MDB no governo de seis para sete ministérios, entregando a Saúde, para um dos deputados da sigla (PIAUÍ, 2016). Entretanto, a estratégia não foi suficiente e em outubro de 2015, a pauta do impeachment se tornou incontestável e a influência de Cunha se consolidou devastadora para Dilma, que ainda presenciava a aproximação de Cunha e Temer:

Em 30 de novembro, Cunha almoçou com o então vice-presidente, Michel Temer e contou que negociava “escapar” do processo no Conselho de Ética e contava com três votos do PT e em troca, ajudaria o Planalto na agenda de votações, entre elas a tramitação da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras, a CPMF e barrar o processo de impeachment. [...] “Temer ouviu em silêncio e seguiu o estilo discreto que até então marcara seus anos na Vice-Presidência. Não insuflou Cunha, mas também não o desmotivou: ‘Faça o que achar melhor’, disse, lavando as mãos” (PIAUÍ, 2016).

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Ainda em 2015, Temer incumbiu a Moreira Franco uma tarefa de criar um programa com propostas econômicas, que também contou com o auxílio de Roberto Brant, ex-ministro da Previdência de Fernando Henrique Cardoso. O documento intitulado “Uma Ponte para o Futuro” foi lido em encontro do MDB e posteriormente seria utilizado como programa do governo Temer (PIAUÍ, 2016).

A ideia era apresentar ao país algo que agradasse não só ao empresariado como também aos economistas ortodoxos, dos quais partiam os ataques mais severos ao ideário econômico de Dilma. Brant compilou teses e artigos publicados em jornais que estavam em consonância com esse pensamento. Pediu ajuda a Delfim Netto, que conversou com José Serra. Os economistas José Márcio Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e Marcos Lisboa, presidente do Insper, ambas escolas de inspiração liberal, com formação divergente da Unicamp, foram escalados para reler o documento, que recebeu o nome oficial de “Uma Ponte para o Futuro”. Mas passou a ser chamado, sem o menor constrangimento, de “Plano Temer” (PIAUÍ, 2016).

O programa que seria implementado, caso fosse bem-sucedida a manobra para derrubar Dilma, já estava pronto e dado a público desde outubro de 2015. Tratava-se de “Uma ponte para o futuro”, documento programático produzido pelo MDB, partido do vice-presidente Michel Temer. A essência do documento é o resgate pleno da agenda neoliberal (o modelo perdedor nas eleições de 2014), purificando-a dos arroubos sociais dos governos do PT e retomando o processo de privatização, relativamente brecado nas gestões de Lula e Dilma (PAULANI, 2016, p. 74).

O “Ponte Para o Futuro” focava em ajuste fiscal e “orçamento base zero”, uma avaliação anual dos programas do governo por um comitê independente que poderia sugerir a manutenção ou extinção dos mesmos. Entretanto, Temer manteve todos os programas do governo Lula-Dilma. Outro ponto era a Reforma da Previdência com instituição de idade mínima para a aposentadoria (EBC Brasil, 2016)23. No final de 2015, com a justificativa da reeleição para a presidência do MDB, Temer viajou para quase todos os estados do país no que ficou conhecida como “Caravana da União”. Nesses encontros Temer divulgava o “Ponte para o Futuro” e também se aproximava de empresários e demais políticos sempre se colocando como a melhor opção para a “unificação” do país. O embate entre Dilma e Cunha foi acentuado no mês de dezembro de 2015. Desde 28 de outubro, estava em trâmite no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados uma acusação de que Eduardo Cunha teria mentido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de negar possuir contas no exterior com dinheiro de corrupção na Petrobras. Nessa época, Cunha pedia

23 Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-05/acoes-do-governo-temer-estarao- baseadas-no-documento-uma-ponte-para-o Acesso em 15 mai. 2019.

36 votos dos petistas que compunham a Comissão com o objetivo de arquivar processo contra ele, que em troca, arquivaria os pedidos de impeachment contra Dilma. No entanto, em dois de dezembro de 2015, por pressão da militância, do partido e dos demais integrantes, os deputados petistas votaram a favor das investigações contra Cunha. O presidente do PT, Ruy Falcão e a própria Dilma defendiam a decisão do partido e acreditavam que o impeachment não aconteceria, e que seria muito pior ter a imagem do partido associada às supostas corrupções de Eduardo Cunha. Nesse mesmo dia, o Congresso aprovou a nova meta fiscal com rombo de 119,9 bilhões de reais no orçamento de 2015, apoiada pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB).

Com duas derrotas na cabeça, Cunha trancou-se em seu gabinete. Só saiu de lá para anunciar o acolhimento do impeachment. Do Planalto, Jaques Wagner desabafou: “É melhor um final trágico que uma tragédia sem fim.” A partir daquele momento, a guerra mudou de campo. Atravessou a Praça dos Três Poderes e foi para o STF, onde a decisão do presidente da Câmara passou a ser questionada pelo governo (PIAUÍ, 2016).

Cunha acatou um dos 34 pedidos de impeachment, recebeu e colocou na pauta da Casa a denúncia de crime de responsabilidade pela ex-presidenta Dilma Rousseff. Conforme a Constituição Federal de 1988, este crime é considerado o único meio legal para se destituir um presidente. Essa denúncia havia sido protocolada de forma oficial na Câmara Federal em 15 de outubro de 2015 por Hélio Pereira Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Conceição Paschoal.

[...] A perda do cargo de Dilma Rousseff por crime de responsabilidade dependeria, então, no caso dessa denúncia, da comprovação de determinadas ações de Dilma que atentem contra as normas de gestão no orçamento do Estado, mais especificamente a criação de seis créditos suplementares sem autorização do Congresso, que juntos ultrapassaram em quase 100 bilhões o orçamento de 2015, e a abertura de créditos com bancos públicos por meio de práticas conhecidas como pedaladas fiscais. [...] Na busca por refutar ou comprovar essas ações, parlamentares do Congresso seguiram, pelo menos em parte, a formalidade do processo de impeachment, iniciado pela submissão da denúncia por agentes contrários ao governo Dilma (GHIORZI, 2018, p. 49).

Cinco dias depois da abertura do processo, em sete de dezembro de 2015, a imprensa nacional divulgou uma carta polêmica enviada por Michel Temer a Dilma Rousseff. Na carta, Temer reclamava por ter sido tratado com “vice decorativo”, “acessório” e que se sentia “desprezado”. A carta foi motivo de constrangimento para seus aliados, mas evidenciava,

37 ainda que de forma implícita, o desejo do vice de se desligar do atual governo. Com o objetivo de negar que a carta representaria um rompimento, o próprio Temer divulgou o documento na íntegra que foi publicado pelo “O Globo24”. No entanto, poucos meses depois, Temer deixaria o governo e passaria a atuar em oposição à Dilma.

“Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do MDB e as crises políticas. Jamais eu ou o MDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários” (TEMER, 2015)25.

Em 2010, Temer formou a chapa com Dilma Rousseff para concorrer, como vice- presidente, ao Planalto. No primeiro mandato, foi considerado como um "vice decorativo", tendo pouco poder ou influência no governo. Essa condição mudou no segundo mandato, quando uma rebelião na base aliada ameaçava as aprovações dos projetos do governo no Congresso. Temer assumiu o posto de articulador político do governo e se manteve nessa função até agosto de 2015. A partir do final de 2015, Temer passou a apostar mais ativamente na possibilidade de assumir a Presidência. Lançou um pacote de propostas chamado "Uma Ponte para o Futuro" em outubro. Sua carta a Dilma e o vazamento de um áudio em que ele discursa como presidente se transformaram em munição para o PT e o governo acusá-lo de "traidor", "conspirador" e "golpista" (ÉPOCA, 2016).

Quando a infame carta veio a público, muitos a consideraram infantil. Hoje, ela parece parte de uma estratégia. Neste ano, a crise econômica e política só se agravou. O impeachment de Dilma passou a ser uma possibilidade palpável. Temer antecipou-se, colocando-se numa posição distante e discreta o suficiente para esperar que a faixa presidencial caia em seu torso como que por força da gravidade (ÉPOCA, 2016).

Poucos meses depois, em 29 de março de 2016, o MDB decidiu abandonar o governo de Dilma Rousseff após rápida reunião do diretório nacional. A decisão do partido consistia em deixar progressivamente cargos que ocupava no governo, com exceção de Michel Temer, e apoiar o processo de impeachment. Em 11 de abril, a imprensa brasileira divulgou um áudio de Temer como se o impeachment já fosse garantido. Além disso, Temer afirmava em entrevistas o quanto “estava preparado para assumir o governo”, caso o impeachment fosse concretizado.

“Há mais de um mês me recolhi para não aparentar que estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto, com vistas a ocupar o lugar da senhora Presidente da República. Recolhi-me o quanto pude, mas evidentemente neste período fui

24 Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-moreno/post/exclusivo-carta-de-temer-dilma.html Acesso em 10 jan. 2019. 25 Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel- temer-dilma.html Acesso em 10 jan. 2019.

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procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país” (TEMER, 2016).

Dilma reagiu à divulgação do áudio ao chamar Temer de “chefe do golpe” e “traidor”.

“O gesto, que revela a traição a mim e à democracia ainda explicita que este chefe conspirador também não tem compromisso com o povo. Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa, a traição em curso, não há mais. Se havia alguma dúvida sobre a minha denúncia de que há um golpe de estado em andamento, não pode haver mais” (ROUSSEFF, 2016).

No momento em que o MDB anunciou o rompimento com o governo, Temer também vivenciou oposição nas redes sociais com o #RenunciaTemer, que figurou entre as hashtags mais usadas no mundo. “Um dos questionamentos era: como um partido rompe com um governo e deixa o vice-presidente de brinde? Falso dilema: ao contrário de colegas que foram indicados para cargos, Temer foi eleito para o seu” (ÉPOCA, 2016). Após o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha ter aceitado o pedido de abertura de processo de impeachment da presidenta, o debate na Câmara iniciou oficialmente em 17 de março de 2016, após o recesso do legislativo. “Entre março e abril de 2016, foram realizadas mais de dez reuniões e sessões, que juntas somaram mais de 70 horas de debates, acusações, defesas e votações na comissão especial do impeachment e no plenário” (GHIORZI, 2018, p. 54). O resumo sobre os trâmites do processo de impeachment no Congresso Nacional pode ser conferido no quadro que segue (Quadro 1):

Quadro 1 - Trâmites resumidos do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional (Continua)

Poder Trâmite do processo de impeachment no Congresso Período de Legislativo Nacional atuação

CÂMARA O presidente da Câmara, Eduardo Cunha acata a denúncia de crime de 02/12/2015 FEDERAL responsabilidade contra a presidenta da República.

CÂMARA A comissão especial do impeachment na Câmara Federal analisa a denúncia 17/03/2016 a FEDERAL de crime de responsabilidade contra a presidenta Dilma Rousseff. 11/04/2016

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CÂMARA A comissão especial do impeachment na Câmara Federal aprova por 38 FEDERAL votos a favor e 27 contra o relatório do deputado Jovair Arantes que 15/04/2016 a defende a continuidade do processo contra a presidenta Dilma Rousseff. 17/04/2016

CÂMARA Ocorre debate no plenário da Câmara Federal para deputados se 15/04/2016 a FEDERAL posicionarem sobre o relatório do deputado Jovair Arantes. 17/04/2016

CÂMARA A votação no plenário da Câmara Federal autoriza a continuidade do 17/04/2016 FEDERAL processo de impeachment pelo Senado por 367 votos a favor e 137 contra.

SENADO A comissão Especial do impeachment no Senado debate relatório do 25/04/2016 a FEDERAL deputado Jovair Arantes. 06/05/2016

SENADO A Comissão Especial do impeachment aprova o relatório do deputado FEDERAL Jovair Arantes por 15 votos a favor e 5 contra, enviando-o para o plenário 06/05/2016 do Senado.

SENADO Ocorre debate no plenário do Senado para senadores se posicionarem sobre 09/05/2016 a FEDERAL o relatório do deputado Jovair Arantes. 11/05/2016

Votação no Plenário do Senado decide pela continuidade do processo SENADO com 53 votos a favor e 21 contra, afastando Dilma Rousseff da 12/05/2016 FEDERAL Presidência por até 180 dias. Michel Temer assume como presidente interino.

SENADO A votação na comissão especial do impeachment aprova por 14 votos a 04/08/2016 FEDERAL favor e cinco contra o parecer do senador Antonio Anastasia que afirma que Dilma cometeu crime de responsabilidade.

SENADO Ocorre votação no plenário do Senado que aprova por 59 votos a favor e 21 10/08/2016 FEDERAL contra o parecer do senador Antonio Anastasia e decide que Dilma deve ser julgada.

SENADO Ocorre julgamento de Dilma no Senado presidido pelo Presidente do 25/08/2016 a FEDERAL Supremo Tribunal Federal (STF) 31/08/2016

SENADO Ocorre votação final no Senado que decide pela destituição de Dilma da 31/08/2016 FEDERAL Presidência. Michel Temer assume efetivamente como presidente do Brasil para um mandato até 31 de dezembro de 2018.

Fonte: Elaborado pela autora com base na tabela de GHIORZI, 2018.

A votação na Câmara foi realizada em um domingo, 17 de abril, quando os deputados aprovaram o pedido por 367 a 137 votos, em uma sessão que foi muito transmitida

40 ao vivo por quase todos os canais de televisão, rádio e internet. Já no Senado, a admissibilidade do pedido foi votada em 12 de maio de 2016, com 55 votos a favor e 22 contra. Dilma foi afastada por 180 dias e o vice-presidente Michel Temer assumiu interinamente a presidência da República (RIZOTTO et al, 2017). Ao assumir como presidente interino Temer realizou pronunciamento em que pedia confiança na sua gestão, pacificação e união por parte dos brasileiros. Temer também enfatizou que seu governo seria de “salvação nacional” para tirar o país da crise com foco no equilíbrio das contas públicas e que manteria os programas sociais do governo petista como ProUni, Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida. O presidente interino também anunciou o novo slogan que marcaria o caráter desenvolvimentista da gestão: “Governo Federal: Ordem e Progresso”, sendo a última parte, com os mesmos dizeres presentes na bandeira nacional. O novo lema substituiu “Brasil: Pátria Educadora” da era Lula-Dilma. Ao assumir o governo, Temer empossou 24 novos ministros no governo, em uma medida de redução de ministérios, que anteriormente eram de 32. Entre as principais mudanças esteve a transformação de pastas que integravam funções de secretarias e de ministérios extintos, além da criação do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle (ex-CGU) e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Os ministros empossados26 por Temer foram: - MDB (Fazenda); Romero Jucá – MDB (Planejamento); Marcos Pereira (Desenvolvimento, Indústria e Comércio); José Serra – PSDB (Relações Exteriores – inclui Comércio Exterior), Eliseu Padilha – MDB (Casa Civil); Geddel Vieira Lima – MDB (Secretaria de Governo), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional – inclui Abin), Mendonça Filho – DEM (Educação e Cultura), Ricardo Barros – PP (Saúde), (Justiça e Cidadania), – PP (Agricultura), – PTB (Trabalho), –MDB (Desenvolvimento Social e Agrário), – PV (Meio Ambiente), Bruno Araújo – PSDB (Cidades), – PSD (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Maurício Quintella – PR (Transportes), Fabio Medina (Advocacia-Geral da União AGU), Fabiano Augusto Martins Silveira (Fiscalização, Transparência e Controle, ex- CGU), – PPS (Defesa), Henrique Alves – MDB (Turismo), – MDB (Esporte), (Integração Nacional) e Fernando Filho (Minas e

26 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2016/05/conheca-o-perfil-dos-novos-ministros-do-governo- temer Acesso em 20 mai. 2016.

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Energia). A posse dos ministros contou com repercussão polêmica pelo fato de nenhuma mulher compor a Esplanada dos Ministérios. De acordo com o portal Folha de S. Paulo27, Temer foi o primeiro presidente desde Ernesto Geisel (1974-1979) a não indicar mulheres para os cargos. Temer também afirmou que criaria medidas para conter a crise econômica, reequilibrar as contas públicas, manteria os programas sociais do governo do PT e confiava nas investigações da Operação Lava Jato.

O período do governo Michel Temer foi marcado por investigações de corrupção, decisões políticas impopulares, gabinetes acusados de falta de representatividade na sua composição e queda de ministros. Logo no inicio diminuiu o número de ministérios de 32 para 23, não nomeou nenhuma mulher para o cargo de liderança, algo que não acontecia desde o governo Ernesto Geisel. O marco da administração de Michel Temer foi a [tentativa da] nova proposta de Reforma da Previdência. Com aumento de anos do tempo de trabalho para 40 anos para chegar a 100% do valor da aposentadoria, além da mudança na idade mínima (GUIA ESTUDO, 2019).

O fato de Michel Temer não nomear nenhuma mulher para a composição de ministérios foi entendido como machismo social e definido como um “[...] Ministério de homens, brancos, heterossexuais e cisgêneros, representantes dos tradicionais donos do poder. Homens de pele branca, de idade avançada, oriundos da mesma classe social reuniram-se par ritualizar a volta daqueles que nunca saíram do poder” (VECCHIATTI, 2018, p. 61).

Em nenhum país do mundo civilizado se concebe que os principais postos de poder de um Governo não tenham mulheres deles fazendo parte. Ao receber essas críticas, Michel Temer tentou se safar, dizendo que iria nomear mulheres para importantes Secretarias (sem status de ministérios) de seu Governo. Mas a emenda até agravou o soneto, pois as Secretarias são vinculadas/subordinadas a Ministérios, logo, Temer implicitamente (e talvez inconscientemente) deixou claro que, em sua visão inicial de Governo, só vislumbrava mulheres subordinadas a homens, visto que só atribuiria a elas cargos subordinados a Ministérios, então dominados apenas por homens. Como se sabe, depois de generalizadas críticas, Temer começou, em agir estratégico, a convidar mulheres para assumir cargos de destaque em seu Governo, inicialmente no Ministério da Cultura, o qual ele havia extinto, mas recriou apenas forte pressão social (VECCHIATTI, 2018, p. 220 -221).

De maio até agosto, o Brasil viveu um clima de instabilidade. A votação final do impeachment ocorreu na tarde do dia 31 de agosto e afastou Dilma Rousseff com 59 votos a favor e 21 contra. Michel Temer assumiu em definitivo como 37º presidente do país, empossado pelo presidente do Congresso Nacional, na época, Renan Calheiros (MDB-AL), às

27Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770420-ministeriado-de-temer-deve-ser-o- primeiro-sem-mulheres-desde-geisel.shtml Acesso em 20 mai. 2016.

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16h40, três horas após Dilma ser oficialmente destituída do cargo, em cerimônia no plenário do Senado28. Temer assumiu a presidência sendo o mais idoso da história da política brasileira, com 75 anos. Na noite do dia 31 de agosto de 2016, Temer realizou pronunciamento oficial em cadeia de rádio e televisão. A fala foi veiculada às 20h com duração de cinco minutos. O emedebista apontou a avaliação do processo de impeachment como uma “decisão democrática e transparente do Congresso Nacional”. Temer destacou a urgência de uma reforma da Previdência Social e alterações nas regras trabalhistas. Após assumir como presidente, enfrentou forte oposição das ruas com o movimento “Fora Temer” que esteve presente nas redes sociais por meio da hashtag “ForaTemer”, por meio de protestos nas ruas, pedidos de “Diretas Já” e de eleições gerais:

No dia seguinte ao impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff, a população de muitas capitais e cidades brasileiras foi às ruas protestar contra o governo que, de temporário, passou a ser permanente. No último dia 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, houve manifestações em todos os 26 estados brasileiros (incluindo o Distrito Federal) em favor da queda do atual presidente Michel Temer (POLITIZE, 2016).

Entre os presentes nos protestos estiveram jovens, trabalhadores, professores, representantes do PT, da Central única dos Trabalhadores (CUT), de movimentos de esquerda, de movimentos sociais além de outras centrais sindicais. As reivindicações temiam os cortes de verbas na educação pública e na saúde, a reforma nas leis trabalhistas, a extinção de Ministérios como da Cultura, Igualdade Racial, Direitos Humanos e das Mulheres, além de Temer não ter escolhido nenhuma Ministra mulher. Entretanto, a unanimidade dos que estiveram nas ruas era a queda do governo Temer29.

A resposta da classe trabalhadora frente a esses ataques se materializou por mobilizações e cortes de ruas, barricadas, com paralisação de trabalhadores de várias categorias em 15/3/2017 e 31/3/2017, e com a deflagração da greve geral em 28/4/2017 que se constituiu na maior greve, qualitativa e quantitativamente, já ocorrida no país, com a paralisação de 35 milhões de trabalhadores, organizada por

28Disponível em: http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/temer-e- empossado-presidente-da-republica-em-solenidade-no-senado.html Acesso em 09 set. 2016. 29 Na época, as manifestações também pediam a cassação da chapa Dilma-Temer que contava com quatro ações no Tribunal Superior Eleitoral, entretanto, em junho de 2017, em julgamento no TSE a chapa foi absolvida com o entendimento de que não houve abuso de poder político e econômico na disputa eleitoral em 2014, conforme acusou o PSDB.

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sete centrais sindicais, interferindo na produção e na circulação (ABRAMIDES, 2018, p. 174).

Em maio de 2017, também foram registradas manifestações que pediam “Fora Temer”, em 19 estados e no Distrito Federal. Os atos ocorreram após a delação premiada dos empresários Joesley e Wesley Batista, no caso da JBS (que será detalhado no próximo subcapítulo).

Em 24 de maio de 2017, 150 mil trabalhadores de todo o país estiverem presentes no “Ocupa Brasília” na luta contra as contrarreformas e o governo ilegítimo de Michel Temer. A manifestação sofreu forte repressão policial com prisões, pessoas feridas, se assemelhando à repressão estabelecida no período da ditadura militar (ABRAMIDES, 2018, p. 174-175).

Durante todo o processo de impeachment e após ele, muitos veículos de mídia alternativa produziram conteúdo que reforçava a instauração do golpe contra o estado democrático de direito no Brasil. É pertinente destacar publicações no portal Brasil de Fato, que publicou inclusive um artigo em 17 de abril de 2019 com autoria da ex-presidente Dilma Rousseff que avaliou o Brasil após o impeachment:

Faz três anos, hoje, que a Câmara dos Deputados, comandada por um deputado condenado por corrupção, aprovou a abertura de um processo de impeachment contra mim, sem que houvesse crime de responsabilidade que justificasse tal decisão. Aquela votação em plenário foi um dos momentos mais infames da história brasileira. Envergonhou o Brasil diante de si mesmo e perante o mundo (ROUSSEFF, 2019).

A construção do golpe se deu no Congresso, na mídia, em segmentos do Judiciário e no mercado financeiro. Compartilhavam os interesses dos derrotados nas urnas e agiam em sincronia para inviabilizar o governo (ROUSSEFF, 2019, grifo nosso).

O principal objetivo do golpe foi o enquadramento do Brasil na agenda neoliberal, que, por quatro eleições presidenciais consecutivas havia sido derrotada nas urnas. Para tanto, uma das primeiras ações dos interessados no golpe foi a formação de uma oposição selvagem no Congresso. Seu objetivo era impedir o governo recém- reeleito de governar, criando uma grave crise fiscal. Para isto, lançaram mão de pautas-bomba que aumentavam gastos e reduziam receitas. Impedia também, de forma sistemática, a aprovação de projetos cruciais para a estabilidade econômica do país. E, nos primeiros seis meses de governo, apresentaram 15 pedidos de impeachment (ROUSSEFF, 2019).

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O portal Carta Maior, em um artigo30 escrito por Teun Van Dijk também critica a atuação da Rede Globo especialmente por meio do Jornal Nacional na pertinência em deslegitimar a atuação da então presidente Dilma Rousseff. No artigo, Van Dijk apresenta um resumo da teoria da manipulação, a partir de uma abordagem que ele classifica como multidisciplinar e sociocognitiva dos Estudos Críticos do Discurso. A base do estudo do autor consistiu em uma análise sistemática dos editoriais do jornal “O Globo” publicados entre março e abril de 2016, que segundo ele revela que a “[...] opinião pública, os protestos, e a subsequente decisão política tomada foram manipuladas por uma cobertura parcial e deturpada” (CARTA MAIOR, 2016). Segundo Van Dijk, a votação do Senado em 2016 foi com base na suposição de que Dilma teria feito ajustes no orçamento nacional por meio de operações financeiras “ilegais”. Toda essa “trama” teria sido composta por meses de debate nacional acirrado, travado na grande imprensa, na internet e na Câmara dos Deputados.

Esse impeachment foi resultado de uma enorme manipulação feita pelas Organizações Globo, o maior conglomerado midiático do país, voz da classe-média conservadora e, de maneira mais geral, representante da elite oligárquica conservadora brasileira. Juntamente com outros jornais e revistas, o jornal O Globo e, especialmente, a Rede Globo, com seu Jornal Nacional, o noticiário televisivo mais assistido no país, aumentaram de maneira acentuada, desde 2012, seus ataques a Lula, Dilma e seu partido, o Partido dos Trabalhadores. A imprensa seletivamente os culpou pela pior crise econômica enfrentada pelo país em décadas (VAN DIJK, 2016).

Ainda conforme o autor, a campanha midiática na época se ocupou do descontentamento geral em relação à corrupção política e instigou protestos feitos pela classe média conservadora. “Nesse contexto sociopolítico, o parlamento usou as operações financeiras realizadas por Dilma Rousseff como pretexto para por fim em 13 anos de governo petista” (CARTA MAIOR, 2016). O portal Carta Maior ainda divulgou31 que a imprensa internacional em publicações no Der Spiegel (Alemanha), The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Público (Portugal), The Guardian (Inglaterra), Página 12 (Argentina) e até mesmo a rede de televisão Al-Jazeera, entre outros, questionaram a decisão do STF e a mídia brasileira como influente para construção do golpe.

30 Documento eletrônico não paginado. Disponível em:https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Como-a- Rede-Globo-manipulou-o-impeachment-da-presidente-do-Brasil-Dilma-Rousseff/12/37490. Acesso em: 5 mar. 2019. 31Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Imprensa-internacional-denuncia-o-golpe-no- Brasil/12/35784 Acesso em 5 mar. 2019.

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2.2.Denúncias e inquéritos

O governo do ex-presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer (MDB) de dois anos e sete meses de mandato de 12 de maio de 2016 - como interino (e efetivo após o impeachment em 31 de agosto de 2016) até 31 de dezembro de 2018 –– ficou marcado pela impopularidade. As taxas de rejeição foram as maiores desde o período de redemocratização em 1985. A gestão de Michel Temer foi marcada por denúncias e inquéritos ao longo dos dois anos e meio de governo. Antes mesmo de assumir a presidência, Temer foi citado 21 vezes em documentos da Operação Castelo de Areia, em 2009, quando seu nome foi associado a um montante de 345 mil dólares. No entanto, o Supremo Tribunal de Justiça anulou a investigação e Temer não recebeu condenação (ÉPOCA, 2016). Em março e maio de 2019, o ex-presidente foi inclusive preso pela Operação Lava-Jato em uma Operação da Polícia Federal e ao perder o foro privilegiado da presidência se tornou réu em várias investigações: Mala de 500 mil: Temer foi denunciado pela primeira vez ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República (PGR) pelos crimes de organização criminosa, obstrução da justiça, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia ocorreu em 26 de junho de 2017 quando o procurador-geral da República, na época, Rodrigo Janot, denunciou Michel Temer e seu ex-assessor e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR), ao STF sob a acusação de corrupção passiva.

Os dois são acusados de corrupção passiva pelo recebimento de vantagem indevida no valor de R$ 500 mil, ofertada por Joesley Batista e entregue pelo executivo da J&F Ricardo Saud. Segundo o procurador-geral, os pagamentos poderiam chegar ao patamar de R$ 38 milhões ao longo de nove meses (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA32, 2018).

Janot denunciou essa atuação conjunta de Temer com o ex-assessor Rocha Loures com o objetivo de beneficiar os executivos da J&F, dono do frigorífico JBS, em troca de propina. A acusação foi baseada em delações de executivos da empresa JBS feitas para a Operação Lava Jato. O ex-assessor do ex-presidente Rocha Loures foi filmado com uma mala contendo R$ 500 mil, propina que seria destinada a Temer. O procurador-geral Rodrigo Janot pediu que

32Disponível em: http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/pgr-denuncia-michel-temer-e-rodrigo-loures-por- corrupcao-passiva-1 Acesso em 02 jan. 2019.

46 o presidente fosse condenado a pagar R$ 10 milhões, e o ex-assessor, R$ 2 milhões. Na época, o procurador33 também pediu a perda de mandato dos detentores do cargo. Foi a primeira vez na história brasileira que um presidente da República foi acusado formalmente de crime no exercício do cargo.

Conforme a narrativa apresentada na peça, os diversos episódios narrados apontam para o desdobramento criminoso que se iniciou no encontro entre Michel Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu, em sete de março de 2017, por volta das 22h40min, e culminou com a entrega de R$ 500 mil, efetuada por Ricardo Saud a Rodrigo Loures em 28 de abril deste ano (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA34, 2018).

No período da denúncia, também foi divulgado um áudio – que teve repercussão nacional e foi uma prova utilizada no processo – de uma conversa de Temer com o empresário Joesley Bastista, um dos donos da empresa, que teria gravado o diálogo no mês de março de 2017, em uma reunião não registrada na agenda presidencial, no Palácio do Jaburu.

Em determinado momento, Joesley dizia ter zerado pendências com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e que estava bem com o parlamentar preso na Operação Lava Jato, jogando no ar uma possível referência à compra do silêncio de Cunha. "Tem que manter isso", comentou Temer em seguida. A divulgação do áudio estremeceu Brasília, fazendo surgir a expectativa de que o presidente renunciaria (UOL35, 2018).

Apesar dessa expectativa, Temer discursou com a afirmativa de que seguiria no cargo. “Deste momento em diante, sua base de apoio no Congresso serviu mais para adiar investigações contra ele do que para dar sequência à aprovação de sua agenda de projetos” (UOL, 2018). Temer36 negou todas as acusações e disse que teria ouvido reclamações do empresário, mas sem ter feito qualquer ação para ajudá-lo. A denúncia também rendeu manifestações por todo país no que ficou conhecido como movimento “Fora, Temer”,

33Disponível em: http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/pgr-denuncia-michel-temer-e-rodrigo-loures-por- corrupcao-passiva-1 Acesso em 2 jan. 2019. 34 Disponível em: https://www.proordem.com.br/abc/blog/pgr-denuncia-michel-temer-e-rodrigo-loures-por- corrupcao-passiva Acesso em 10 fev. 2019. 35 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/30/temer-o-impopular-o-que- mudou-no-pais-em-dois-anos-de-governo.htm Acesso em 15 mar. 2019. 36 Em discurso na última reunião ministerial do governo, em 19 de dezembro de 2018, Temer destacou que nesse caso foi vítima de “uma trama de tal natureza, que foi depois desvendada” cujos "detratores acabaram presos", "que entraram com gravadorzinho da feira do Paraguai". "Além do que, devo dizer que, naquela gravação, criou- se uma frase falsa", disse (G1, 2018). Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/19/em- ultima-reuniao-ministerial-temer-brinca-e-diz-que-sentira-falta-do-fora-temer.ghtml. Acesso em 7 jan. 2019.

47 impulsionado por movimentações nas redes sociais. No discurso realizado na última reunião ministerial, em 19 de dezembro de 2018, Temer ironizou o movimento e a atuação da imprensa no período: [...] “Havia manifestações no início do nosso governo, uma manifestação política, que eu até vou sentir muita falta, do 'Fora, Temer', mas eram manifestações políticas, que quando falavam 'Fora, Temer' é porque eu estava dentro. Agora, estarei fora mesmo. Mas levou tempo, levou dois anos e meio. Levou dois anos e oito meses não só com protesto de natureza política, mas com empenho extraordinário de parte da imprensa que tentou nos derrubar” (TEMER, 2018).

Essa primeira denúncia contra Michel Temer não seguiu para a análise do Supremo Tribunal Federal (STF) porque foi rejeitada e arquivada pela Câmara dos Deputados em dia 2 de agosto de 2017. A votação foi realizada por 492 dos 513 deputados; 263 foram a favor do relatório e 227 contra além de duas abstenções. O relatório recomendava ao plenário a rejeição da denúncia por corrupção passiva da PGR contra Temer. Segundo o portal Uol37, a votação positiva para o presidente foi conquistada após agenda de reuniões com senadores e deputados aliados, liberação de emendas parlamentares, e de verbas de Orçamento destinada a obras e projetos indicados pelos deputados (UOL, 2017). O planalto afirmou que as liberações de emendas são consideradas imposições legais, sem relações com a votação na Câmara. Após o fim do mandato como presidente e consequentemente o fim do foro privilegiado, em 28 de março de 2019, Temer se tornou réu nesse processo. A denúncia de Janot foi ratificada pelo procurador da República Carlos Henrique Martins Lima e o processo tramita na 15ª Vara Federal. Quadrilhão do MDB: A segunda denúncia apresentada contra Temer ocorreu em 14 de setembro de 2017. O ex-presidente foi acusado de obstrução da Justiça e organização criminosa. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot38 denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF), Michel Temer e os demais políticos Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco, integrantes do chamado "MDB da Câmara". Segundo a denúncia, eles teriam praticado:

[...] Ações ilícitas em troca de propina por meio da utilização de diversos órgãos públicos, como Petrobras, Furnas, Caixa Econômica, Ministério da Integração

37Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/08/02/deputados-livram-temer-de- denuncia-por-corrupcao.htm Acesso em 02 jan. 2019. 38A denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot foi realizada três dias antes da transmissão de cargo para a próxima procuradora geral, Raquel Dodge.

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Nacional e Câmara dos Deputados. Michel Temer é acusado de ter atuado como líder da organização criminosa desde maio de 2016 (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2017).

A denúncia ainda apontava a tentativa de obstrução da Justiça por parte de Temer pela determinação de pagamentos indevidos ao doleiro e operador do MDB Lúcio Funaro, com o objetivo “comprar o silêncio” e de evitar delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), o que acabou ocorrendo depois.

[...] Também há imputação do crime de obstrução de justiça por causa dos pagamentos indevidos para evitar que Lúcio Funaro firmasse acordo de colaboração premiada. Neste sentido, Michel Temer é acusado de instigar Joesley Batista a pagar, por meio de Ricardo Saud, vantagens a Roberta Funaro, irmã de Lúcio Funaro. Os três são denunciados por embaraçar as investigações de infrações praticadas pela organização criminosa. Apesar da tentativa, Lúcio Funaro firmou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República, que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal, e as informações prestadas constam da denúncia (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2017).

A Procuradoria-Geral da República explanou na denúncia que o esquema teria permitido aos denunciados o recebimento de pelo menos R$ 587 milhões de propina.

A denúncia explica que o núcleo político da organização era composto também por integrantes do PP e do PT, que compunham subnúcleos políticos específicos, além de outros integrantes do chamado “PMDB do Senado”. Para Janot, em maio de 2016, com a reformulação do núcleo político da organização criminosa, os integrantes do "PMDB da Câmara", especialmente Michel Temer, passaram a ocupar papel de destaque que antes havia sido dos integrantes do PT em razão da concentração de poderes na Presidência da República (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2017).

Pela segunda vez, a Câmara dos Deputados barrou que a segunda denúncia fosse analisada pelo STF. A votação foi realizada no dia 25 de outubro de 2017 com a presença de 487 deputados. Foram 251 votos “sim” para barrar a denúncia e 233 votos “não” para o prosseguimento das investigações. A base aliada necessitava de, no mínimo, 172 votos. Foram registradas ainda 25 ausências e duas abstenções no plenário. Apesar da vitória em barrar a investigação, Temer recebeu 12 votos a menos em comparação com a primeira denúncia, reduzindo o apoio dos parlamentares ao seu governo. O inquérito dessa investigação foi enviado para o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília que pode decidir ainda se aceitará ou rejeitará a denúncia. Caso aceite, Temer se tornará réu.

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Inquérito dos Portos: A 12 dias do fim do mandato presidencial, em 19 de dezembro de 2018, Temer foi denunciado pela terceira vez pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A denúncia foi executada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge ao Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia anterior ao recesso do Judiciário. Temer foi denunciado por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro no caso intitulado “Inquérito dos Portos”. A denúncia destaca que Temer é suspeito de atuar no favorecimento de empresas do setor portuário por meio da edição de um decreto presidencial. “A ação descreve a existência de um esquema antigo envolvendo o pagamento de vantagens indevidas a Michel Temer por meio das empresas mencionadas na peça” (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2018). Além do ex-presidente também foram denunciados João Baptista Lima Filho, o amigo pessoal do ex-presidente, Carlos Alberto Costa, sócio de Lima, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures e os empresários Antônio Grecco e Ricardo Mesquita, ambos da Rodrimar. Temer teria emitido um decreto que ampliaria de 25 para 35 anos as concessões portuárias em troca de propina.

[...] O ato normativo beneficiou empresas do setor portuário, com destaque para o Grupo Rodrimar, que opera no Porto de Santos. O grupo foi apontado pelos investigadores como um dos responsáveis pelo pagamento de vantagens indevidas ao presidente da República por meio das empresas Argeplan, Eliland do Brasil, PDA Administração e Participação e PDA Projeto e Direção Arquitetônica. [...] Ao todo, é apontada movimentação indevida de R$ 32,6 milhões (PROCURADORIA- GERAL DA REPÚBLICA, 2018).

A PGR pedia ainda que todos fossem condenados a pagar indenização por danos morais de R$ 32,6 milhões, perda da função pública, além da “decretação do perdimento de bens e valores pertencentes às empresas envolvidas”, conforme texto da PGR.

[...] A denúncia traz, ainda, relatos de conversas, seja por mensagem escrita, seja por conversas telefônicas entre os envolvidos e outros indícios que retratam aspectos de como este dinheiro saiu dos empresários e chegou ao núcleo político do esquema comandado por Michel Temer. [...] Também são mencionados fatos apurados em outros inquéritos como o 4.462, que apura o recebimento por Michel Temer de R$ 1,4 milhão, repassados pela Construtora Odebrecht, além do 4.327, que já fundamentou denúncia e refere-se a pagamento de vantagem indevida por parte do Grupo Econômico J&F (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2018).

“A denúncia, como já exposto, descreve detalhadamente o funcionamento de um esquema duradouro de corrupção que se teria formado em torno do ex-presidente da República Michel Temer. Em suma, o denunciado teria se valido largamente de seus cargos públicos, ao longo de mais de 20 anos, para conceder benefícios indevidos a empresas do setor portuário, em troca de um fluxo constante de pagamento de

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propinas”, observou Barroso em sua decisão, assinada nesta segunda-feira (ESTADÃO, 2019).

Por ser apresentada a 12 dias do fim do mandato presidencial, não houve tempo hábil para que o Congresso decidisse o prosseguimento da denúncia conforme os parâmetros constitucionais. A defesa do Palácio do Planalto, enquanto Temer era presidente, afirmou que não houve irregularidades na edição do decreto dos portos. Esse caso tramita na 1ª Instância da Justiça Federal em Brasília. Em 29 de abril de 2019, a denúncia foi aceita pelo juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, o que tornou Temer réu pela quarta vez. Prisões em 2019: Em fevereiro de 2019, o Superior Tribunal Federal mandou para a primeira instância as denúncias contra Temer e o Ministro Luís Alberto Barroso, do STF, autorizou a abertura de outras cinco investigações. Uma delas esteve na responsabilidade do juiz Marcelo Bretas, da Laja-Jato do Rio de Janeiro (UOL 2019). Além das três denúncias detalhadas anteriormente, o ex-presidente é investigado em dez inquéritos e outras duas denúncias. Após deixar a Presidência da República, quatro das acusações contra Temer foram para a 1ª Instância da Justiça Federal em Brasília; quatro estão na Justiça Federal em São Paulo; uma para a Justiça Federal no Rio de Janeiro; e uma está na Justiça Eleitoral, também em São Paulo. Pagamento de propina a Temer por contrato nas obras da Usina Angra 3: Em 21 de março de 2019 o ex-presidente Michel Temer teve a prisão preventiva decretada em São Paulo, em sua residência. Posteriormente, foi transferido para o Rio de Janeiro. A prisão aconteceu 79 dias após Temer deixar a presidência – e o foro privilegiado. A investigação é um desdobramento das operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade39. Temer foi o segundo presidente do Brasil preso depois de investigação na esfera penal, sendo o primeiro Luiz Inácio Lula da Silva. A prisão foi ordenada pelo juiz Marcelo Bretas, da Operação Lava Jato que solicitou a prisão preventiva de Temer e mais nove pessoas: João Baptista Lima Filho (coronel Lima), amigo de Temer desde 1980 e dono da Argeplan; Wellington Moreira Franco, ex-ministro do governo Temer; Maria Rita Fratezi, arquiteta e mulher do coronel Lima; Carlos Alberto Costa, sócio do coronel Lima na Argeplan; Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan e filho de Carlos Alberto Costa; Vanderlei de Natale, sócio da Construbase; Carlos Alberto Montenegro Gallo, administrador da empresa CG

39Para detalhes sobre as operações: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/desmembramentos/rio- de-janeiro Acesso em 4 de jun. 2019.

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IMPEX; Rodrigo Castro Alves Neves, responsável pela Alumi Publicidades e Carlos Jorge Zimmermann, representante da empresa finlandesa-sueca AF Consult. A Procuradoria da República apresentou duas acusações contra Temer, uma por corrupção e lavagem de dinheiro e outra por peculato e lavagem de dinheiro. As denúncias contemplam a “Operação Descontaminação”, um desdobramento da Operação “Radioatividade” que investiga supostos desvios milionários nas obras da Usina Nuclear de Angra 3, obra que está em construção em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O Ministério Público Federal (MPF) acusou Temer de liderar há mais de 40 anos um esquema criminoso de desvio de verba pública de até 1,8 bilhão de reais, somando valores de "propina paga" ou "promessa de propina" relacionados aos investigados. Os procuradores destacaram que o esquema envolveu núcleos políticos e núcleos empresariais compostos por empresários dispostos a pagar vantagens ilícitas para se beneficiarem de atos políticos e que Temer teria acumulado um “crédito” de propina e teria promessa de pagamento ao longo de mais de 20 anos para o codinome ‘MT’, que significaria Michel Temer”. A investigação começa a partir da Lava-Jato no Rio de Janeiro que investiga a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobrás. Conforme os procuradores, o ex-presidente da empresa, Othon Luiz Pinheiro da Silva, que está preso desde agosto de 2015, teria sido indicado para o cargo por Michel Temer em troca da contratação da Argeplan, empresa do Coronel Lima. No entanto, a Argeplan teria sido subcontratada para prestação de serviços que fugiam de sua área de atuação. José Antunes Sobrinho, dono da Engevix, empresa que fechou um contrato em um projeto da usina de Angra 3, disse em delação que pagou propina a pedido do coronel Lima e do ex-ministro Moreira Franco com o conhecimento de Temer. A empresa de Lima, a Argeplan, também integrava esse consórcio de Angra 3 e reforma no imóvel de uma das filhas de Temer, Maristela Temer, teria sido uma das formas usadas para disfarçar o pagamento de propina. O dono da Engevix, José Antunes Sobrinho, disse na delação que pagou propina a pedido do coronel Lima amigo pessoal de Temer e do ex-ministro Moreira Franco com o conhecimento de Temer para fechar um contrato em um projeto da Usina de Angra 3 (BBC BRASIL, 2019). A empresa de Lima, a Argeplan, também integrava esse consórcio de Angra 3 e a reforma no imóvel de uma das filhas de Temer, Maristela Temer, teria sido uma das formas usadas para disfarçar o pagamento de propina.

Na delação, Sobrinho disse à Polícia Federal que pagou R$ 1.091.475,50 ao Coronel Lima. Para os investigadores, Lima era o operador financeiro de Temer, e o ex-

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presidente teria conhecimento do acerto. O ex-ministro Moreira Franco, preso ontem, também teria pedido o dinheiro a Sobrinho. O dinheiro teria origem em um contrato superfaturado da empresa finlandesa AF Consult com a Eletronuclear para a realização de obras na usina nuclear de Angra 3, que está sendo construída na praia de Itaorna, no município fluminense de Angra dos Reis. A AF Consult subcontratou a Engevix para entregar o serviço (BBC BRASIL, 2019).

A prisão de Temer pela Polícia Federal ocorreu quando Temer deixava sua casa, na Rua Bennet, Jardim Universidade, zona oeste da capital paulista. A Polícia Federal fez buscas na casa e no escritório de Temer. A defesa de Temer argumentou que não existiam provas e que a prisão consistia em “um mais um, e um dos mais graves, atentados ao Estado democrático de Direito no Brasil”. Os advogados entraram com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 2º Região (TRF-2). Temer foi solto quatro dias após a prisão na noite da segunda-feira, em 25 de março por ordem do juiz federal Antonio Ivan Athié, do TRF-2. O habeas corpus também foi concedido aos outros sete presos. Temer permaneceu na prisão detido em uma sala de 46,52m² na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. O juiz Athié concedeu o habeas corpus a todos os presos antes do julgamento pelo colegiado que ocorreria no dia 27 de março. No dia 9 de maio de 2019, Temer voltou a prisão novamente por esse mesmo caso da Usina de Angra 3. Diferente do episódio da primeira prisão, Temer se entregou à Polícia Federal na sede do Comando de Policiamento de Choque, da Polícia Militar, em São Paulo após o TRF-2 revogar no dia 8 de maio o habeas corpus concedido em 25 de março. Também foi revogado o habeas corpus concedido a João Baptista Lima Filho, o Coronel Lima. Os demais acusados tiveram o habeas corpus mantido e seguem em liberdade. Novamente a defesa de Temer e Lima negou qualquer participação nas irregularidades apontadas. Em 14 de maio, Temer e Lima foram soltos novamente após decisão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que decidiu pela concessão de habeas corpus ao ex- presidente Michel Temer. Os ministros Antônio Saldanha, Laurita Vaz, Rogério Schietti e Néfi Cordeiro acordaram em votação unânime a libertação de Temer e João Baptista Lima Filho. O entendimento dos ministros foi o de que os fatos apurados podem ser considerados “razoavelmente antigos” e que os crimes não teriam sido cometidos com violência. Ambos permanecem em liberdade até o julgamento definitivo do mérito do habeas corpus, pela própria Sexta Turma, em data ainda não definida. Apesar da liberdade, Temer e Lima

53 receberam medidas cautelares e estão proibidos de manter contato com outros investigados; de mudar de endereço e de se ausentar do país. Ambos também precisaram entregar o passaporte, tiveram o bloqueio dos bens até o limite de sua responsabilidade, não podem ter contato com pessoas jurídicas relacionadas ao processo e estão proibidos de ocupar cargos públicos e exercer funções de direção em órgãos partidários. Além das denúncias, Temer enfrenta uma série de inquéritos e demais acusações, resumidas no quadro abaixo:

Quadro 2 – Denúncias e Inquéritos de Michel Temer (continua) Descrição da denúncia ou Data Inquérito Situação na Justiça 1ª Denúncia: Caso JBS - Mala de 500 mil: Dias após A denúncia foi rejeitada e arquivada Quando: 26 de junho reunião entre Michel Temer e o empresário pela Câmara dos Deputados em dia 2 de de 2017 Joesley Batista no Palácio do Jaburu, um ex- agosto de 2017. A votação foi realizada assessor do presidente, Rodrigo Rocha por 492 dos 513 deputados: 263 foram a Por quem: Loures, recebeu R$ 500 mil da JBS. A cena favor do relatório e 227 contra, além de Procurador-geral da de Loures carregando a mala de dinheiro duas abstenções. República, na época, foi filmada pela Polícia Federal. Rodrigo Janot O caso continua tramitando na 1ª A mesma delação trouxe o áudio da Instância da Justiça do DF em um Denunciado por: conversa entre Temer e Joesley Batista, na segundo inquérito, que apurava a Organização qual o ex-presidente diz ao empresário que suposta obstrução de Justiça por parte criminosa, obstrução "tem que manter isso, viu?", depois de de Temer no caso. da justiça, corrupção Joesley afirmar que tinha uma "boa relação" passiva e lavagem de com Eduardo Cunha. dinheiro. A denúncia também rendeu manifestações por todo país no que ficou conhecido como movimento “Fora, Temer”, impulsionado por movimentações nas redes sociais. 2ª Denúncia: "Quadrilhão do MDB": Temer foi Pela segunda vez, a Câmara dos Quando: 14 de denunciado por organização criminosa e Deputados barrou que a segunda setembro de 2017 obstrução de Justiça no caso em que denúncia fosse analisada pelo STF. A membros do MDB foram acusados de fazer votação foi realizada no dia 25 de Por quem: pelo uma quadrilha para fraudar a Petrobrás e outubro de 2017 com a presença de 487 procurador-geral da outras estatais. deputados. Foram 251 votos “sim” para República, na época, barrar a denúncia e 233 votos “não” Rodrigo Janot Conforme a denúncia, os integrantes teriam para o prosseguimento das praticado ações ilícitas em troca de propina investigações. A base aliada necessitava Denunciado por: por meio da utilização de diversos órgãos de, no mínimo, 172 votos. obstrução da Justiça e públicos, como Petrobras, Furnas, Caixa organização Econômica, Ministério da Integração O inquérito (que tramitou no STF sob o criminosa. Nacional e Câmara dos Deputados. número 4327) foi enviado para o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília. Ele ainda não decidiu se aceitará ou rejeitará a denúncia. Caso aceite, Temer se tornará réu.

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Inquérito dos Portos: A denúncia destaca O caso tramita hoje na 1ª Instância da 3ª denúncia: que Temer é suspeito de atuar no Justiça Federal em Brasília. No dia 29 favorecimento de empresas do setor de abril, a denúncia foi aceita pelo juiz Quando: 19 de portuário por meio da edição de um decreto Marcus Vinicius Reis Bastos, tornando dezembro de 2018 presidencial. Além do ex-presidente Temer réu pela 4ª vez em menos de um também foram denunciados João Baptista mês. Por quem: Lima Filho, o amigo pessoal do ex- Procuradora-geral da presidente, Carlos Alberto Costa, sócio de República, Raquel Lima, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures Dodge e os empresários Antônio Grecco e Ricardo Mesquita, ambos da Rodrimar. Temer teria Denunciado por: emitido um decreto que ampliaria de 25 para corrupção ativa e 35 anos as concessões portuárias em troca de passiva e lavagem de propina. dinheiro 4ª e 5ª denúncias: Pagamento de propina a Temer por É por causa das investigações deste contrato nas obras da Usina Angra inquérito que Temer foi preso no dia 21 Quando: 21 de 3/Engevix: Nesta investigação, o Ministério de março de 2019, mas foi solto quatro março e 9 de maio de Público acusa Michel Temer de ter bancado dias depois, em 25 de março, por ordem 2019 politicamente a indicação do ex-presidente do juiz federal Antonio Ivan Athié, do da empresa estatal Eletronuclear, Othon Luiz TRF-2. O habeas corpus também foi Por quem: Pinheiro da Silva. A Eletronuclear teria concedido aos outros sete presos na Procuradoria da então aceitado o superfaturamento de obras operação. República e prisão foi contratadas com a empreiteira Engevix, e ordenada pelo juiz esta teria devolvido parte dos valores a No dia 9 de maio de 2019, Temer e o Marcelo Bretas da Temer por meio de seu amigo pessoal João Coronel Lima voltaram a prisão Lava-Jato do RJ Baptista Lima Filho, o Coronel Lima. novamente por esse mesmo caso da Usina de Angra 3, após revogação do Denunciado por: A investigação foi um desdobramento das habeas corpus de 25 de março. No corrupção ativa e operações Radioatividade, Pripyat e entanto, em 14 de maio, Temer e Lima passiva e lavagem de Irmandade. foram soltos novamente após decisão da dinheiro, uma por Sexta Turma do Superior Tribunal de corrupção e lavagem Justiça (STJ) que decidiu pela de dinheiro e outra concessão de habeas corpus ao ex- por peculato e presidente Michel Temer. Os ministros lavagem de dinheiro. Antônio Saldanha, Laurita Vaz, Rogério Schietti e Néfi Cordeiro acordaram em votação unânime a libertação de Temer e João Baptista Lima Filho (Coronel Lima).

Inquérito Contrato superfaturado da empresa de A investigação tramita na 1ª Instância Lima com o TJSP, Tribunal de Justiça de da Justiça Federal de São Paulo. O Inquérito aberto São Paulo: Neste caso, a investigação gira TJSP é a 2ª Instância da Justiça depois de Temer em torno do suposto superfaturamento de Estadual, e por isso não cuidará deste deixar o mandato de obras da Argeplan com o Tribunal de Justiça caso. presidente da de São Paulo (TJSP). Coronel Lima é um República. dos sócios da Argeplan. Em consórcio com a empresa Concremat, a Argeplan presta serviços ao tribunal desde 2013, mas a investigação diz respeito especificamente a um edital de 2017. O tribunal teria criado um edital que favoreceria o consórcio Argeplan/Concremat na disputa por um contrato de R$ 260 milhões – e que não era para a realização de obras, mas apenas de projetos de arquitetura

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para 36 novos fóruns em várias cidades do Estado de São Paulo, com o posterior acompanhamento das obras. Depois, o valor foi baixado para R$ 128 milhões.

Inquérito Lavagem de dinheiro no Porto de Santos: O inquérito foi aberto pelo STF a O delator Flávio Calazans e uma auditoria pedido da ex-procuradora-geral da O inquérito foi aberto interna da empresa Pérola S/A indicam a República, Raquel Dodge. O caso está pelo STF ainda na existência de um contrato fictício de na Justiça Federal de São Paulo. gestão da ex- prestação de serviço no valor de R$ 375 mil procuradora-geral da no porto de Santos. República, Raquel Dodge Inquérito Contratos da Fibria Celulose com a A ex-procuradora-geral da República, Argeplan: A Justiça Federal de São Paulo Raquel Dodge pediu a abertura do novo A ex-procuradora- analisa suspeitas de contrato irregular entre a inquérito no dia 18 de dezembro de geral da República, Argeplan Arquitetura e Engenharia e a 2018. A PGR dá poucos detalhes sobre Raquel Dodge pediu empresa Fibria Celulose S/A, com valores o caso neste texto – não diz, por a abertura do novo em torno de R$ 15,5 milhões, além de exemplo, quais são as possíveis inquérito no dia 18 de relações entre a Construbase Engenharia irregularidades a serem investigadas. dezembro de 2018. LTDA e a PDA Projeto e Direção Arquitetônica - foram 58 transações, entre 2010 a 2015, envolvendo R$ 17.743.218,01.

Inquérito Reforma da casa da filha de Temer, Um inquérito específico para este tema Maristela Temer: A Justiça Federal de São foi aberto no dia 18 de dezembro de A ex-procuradora- Paulo analisa suposto crime de lavagem de 2018, a pedido da ex-procuradora-geral geral da República, dinheiro cometido na reforma de um imóvel da República, Raquel Dodge. E, no dia Raquel Dodge pediu da filha de Temer, Maristela, em São Paulo. 2 de abril de 2019, o Ministério Público a abertura do novo Segundo pedido de investigação apresentado Federal (MPF) ofereceu denúncia inquérito no dia 18 de pela procuradora-geral da República, Raquel contra Temer neste caso. A denúncia foi dezembro de 2018. Dodge, a reforma foi feita e custeada pela aceita dois dias depois, em 4 de abril. A Argeplan (do Coronel Lima), sem investigação está a cargo da 6ª Vara reembolso. Criminal da Justiça Federal de São Paulo. A obra teria custado entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. A PF diz que a quantia de R$ 1 milhão veio de um pagamento de propina do grupo J&F, a pedido de Temer, e que o dinheiro foi entregue por dois funcionários do grupo, diretamente ao coronel Lima, na sede da Argeplan, em setembro de 2014. A arquiteta responsável pela reforma era Maria Rita Fratezzi, mulher do coronel Lima. Inquérito Jantar de R$ 10 milhões no Jaburu: O A inclusão de Temer no inquérito foi inquérito apura suposto recebimento de R$ pedida pela sucessora de Janot na PGR, Este caso – inclusive 10 milhões em vantagens indevidas da ex-procuradora-geral da República, a parte relativa a Odebrecht por Temer e pelos ex-ministros Raquel Dodge. Ao aceitar o pedido, Temer – foi enviado Moreira Franco e Eliseu Padilha. Segundo o Fachin ressaltou que a inclusão de no começo de 2019 à delator Cláudio Melo Filho, ex-vice- Temer não significa que ele seja Justiça Eleitoral em presidente de Relações Institucionais da culpado. Este caso – inclusive a parte São Paulo. empreiteira Odebrecht, em um jantar no relativa a Temer – está a cargo da Palácio do Jaburu, em 2014, foi acertado o Justiça Eleitoral em São Paulo. repasse ilícito do dinheiro ao MDB.

O executivo afirmou ainda que as doações feitas periodicamente a diversos políticos

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tinham como objetivo a atuação destes na aprovação de medidas de interesse da Odebrecht. Seria, segundo ele, uma "espécie de contrapartida institucional esperada entre público e privado".

Fonte: Elaborado pela autora com base em reportagens do Estadão, BBC Brasil e G1.

2.3.Medidas econômicas e sociais

Temer assumiu a presidência com o discurso reformista de “salvação” para combater a crise e acelerar o desenvolvimento econômico. A primeira reforma implantada pelo governo foi a PEC 55 do “Teto de Gastos”, que impôs limites para os gastos do governo federal por 20 anos. Aprovada em dezembro de 2016, a proposta demonstrou a força da base aliada de Temer. Outra medida marcante do governo foi a Reforma Trabalhista, que contou com muita oposição das Centrais Sindicais, mas acabou aprovada em 11 de Julho de 2017. A oposição buscou reafirmar o quanto as reformas significaram retrocesso como a perda dos direitos dos trabalhadores garantidos pela Constituição de 1988 por meio de manifestações pedindo a saída de Temer em várias partes do país (CAMPOS; COIMBRA, 2018). O maior desejo de Temer era a aprovação da Reforma da Previdência. Para isso, o governo investiu em publicidade além de o tema ser pauta recorrente nos pronunciamentos do presidente, além de ser constantemente reforçada pelos Ministros. No entanto, após a denúncia do procurador-geral, Rodrigo Janot, acerca do escândalo que envolveu a JBS, em 18 de maio de 2017, Temer perdeu força política no Congresso, precisou garantir acordos políticos para evitar o avanço de mais denúncias e inquéritos que viriam em seguida, e a Previdência não entrou mais em pauta para votações. Reforma da Previdência Social: A proposta da Reforma da Previdência Social recebeu investida do ex-presidente Michel Temer ao longo de todo o mandato. Desde 2016, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287/2016, tinha o objetivo de alterar as principais regras da aposentadoria e recebeu inúmeras críticas, desaprovações e rejeições por parte da oposição. Ao final do governo Temer, a proposta – muito polêmica – não foi aprovada e voltou a ser citada na nova gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL). A proposta fixava uma idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e 62 para as mulheres, dos setores público e privado, com exceção dos militares. A mudança também previa alteração no prazo

57 de contribuição para a Previdência Social, de 15 para 25 anos. No mês de outubro de 2018, em evento em Curitiba40, Temer destacou a frustração pela medida não ter sido aprovada e especialmente por não ter apoio entre os parlamentares em um ano conturbado com eleições.

[...] “Nós estávamos com os votos contados na Câmara Federal e no Senado Federal para aprovar a reforma da Previdência, mas houve uma trama aí que impediu exatamente em função dos privilégios. As pessoas acham que não podem perder privilégios e aí não perde, basta, evidentemente, colaborar um pouco mais. E eu acho que ela é inevitável. [...] O déficit da Previdência, neste ano, supera os R$ 180 bilhões, e a previsão para o ano que vem é de R$ 218 bilhões” (TEMER, 2018).

Pré-sal da Petrobrás: Ainda em 2016, o governo Temer também sancionou lei que revogou a obrigatoriedade de exploração do pré-sal pela Petrobras. A sanção de Temer ocorreu no dia 30 de novembro de 2016, data em que foi publicada no Diário Oficial da União. A proposta foi de autoria do senador José Serra (PSDB–SP).

[...] Pela lei anterior, de 2010, a Petrobras atuava como operadora única dos campos do pré-sal, com uma participação de pelo menos 30%. Além de ser a empresa responsável pela condução e execução, direta ou indireta, de todas as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção. De acordo com a nova lei, caberá ao Conselho Nacional de Política Energética oferecer à Petrobras a exploração mínima de 30% em cada campo, e a empresa se manifestará se aceita ou não a responsabilidade (SENADO NOTÍCIAS41, 2016).

De acordo com o portal “Senado Notícias”, a defesa do senador foi de que o projeto aliviaria a Petrobras que enfrentava dificuldades financeiras e uma dívida de R$ 500 bilhões.

As divergências dos senadores sobre a matéria foram discutidas em Plenário por seis horas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, acredita que a mudança atende ao interesse nacional com o propósito de atrair investimento. Para os opositores da proposta, a iniciativa de acelerar os leilões é um risco à soberania nacional, inoportuna e prejudicial à Petrobras (SENADO NOTÍCIAS, 2016).

“Teto dos Gastos”: Em 15 de dezembro de 2016, os brasileiros veriam uma das medidas econômicas mais marcantes do governo Michel Temer, com a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) do “Teto de Gastos” (241 ou 55). A emenda criou um teto de gastos públicos do Governo Federal por 20 anos e impede que as despesas cresçam além da

40 Disponível em: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2018/10/16/temer-diz-que-uma-trama-impediu-a- votacao-da-reforma-da-previdencia-durante-o-governo-dele.ghtml Acesso em 5 jan. 2019. 41 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/11/30/sancionada-lei-que-revoga- obrigatoriedade-de-exploracao-do-pre-sal-pela-petrobras Acesso em 8 jan. 2019.

58 inflação do ano anterior. Ou seja, o orçamento disponível para gastos de um novo ano será o mesmo do ano anterior, acrescido da inflação daquele ano. O objetivo da PEC é reduzir o crescimento dos gastos públicos e balancear as contas públicas.

“O reequilíbrio das contas não é um fim em si mesmo, mas um meio para retomada do crescimento, redução das taxas de juros e aumento do emprego. Orçamento equilibrado representa a garantia que haverá no futuro os recursos necessários para as políticas sociais de combate à pobreza, saúde e educação”, disse o porta-voz, na noite de hoje, no Palácio do Planalto (MICHEL TEMER, 2016).

A medida foi criticada pela oposição especialmente pelos investimentos em saúde e educação. Com o crescimento na economia, os investimentos aumentaram nessas áreas. No entanto, com a proposta de Temer, as duas áreas recebem um piso com reajustes conforme a variação da inflação. Uma pesquisa elaborada pelo instituto Datafolha no período da aprovação da PEC demonstrou que 60% dos brasileiros foram contra a aprovação da medida, 24% a favor, 4% indiferentes e 19% não sabiam como responder. Foram entrevistadas 2.828 pessoas entre os dias 7 e 8 de dezembro de 2016. Lei do “Novo Ensino Médio”: Outro marco do governo foi a sanção da Lei do “Novo Ensino Médio”, em 16 de fevereiro de 2017, mas apresentadas por meio de novas diretrizes pelo governo federal em setembro de 2016. A medida foi elaborada e defendida pelo então ministro da Educação na época, Mendonça Filho. A medida causou protestos em todo o Brasil, com registros de ocupações de escolas e universidades em 2016 por ter sido aprovada sem consulta à opinião da população. O Novo Ensino Médio consistiu em uma reforma da grade curricular atual com a exclusão ou não obrigação de algumas disciplinas no currículo escolar. Entre as principais alterações destacam-se a implementação geral e gradual do ensino integral, exclusão e opções de escolha para disciplinas e possibilidade de profissionais sem licenciatura poderem dar aulas. Lei da Terceirização: Outras medidas aprovadas no governo Temer também causaram repercussão nacional e polêmicas durante o mandato. Entre elas, esteve a aprovação da Lei da Terceirização em 31 de março de 2017. Sancionada com três vetos, e publicada no Diário Oficial da União, a lei liberou o contrato de serviços terceirizados para todas as atividades de empresas. Anteriormente, a terceirização só era permitida atividade-meio, não sendo permitida para atividade-fim das empresas. Entre as mudanças ficou definido que a empresa terá a responsabilidade na contratação e remuneração. A empresa contratante

59 também será responsável pela segurança, higiene e salubridade dos contratados. “O tempo de duração do trabalho temporário passa de até 90 dias para até 180 dias, consecutivos ou não. Após o término do contrato, o trabalhador temporário só poderá prestar novamente o mesmo tipo de serviço à empresa após esperar três meses” (G1, 201742). Lei da Reforma Trabalhista: Ainda em 2017, em 13 de julho, Temer aprovou a Lei da Reforma Trabalhista, uma das maiores alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A reforma entrou em vigor43 120 dias depois, em 11 de novembro. Entre as principais alterações esteve a regra para férias de 30 dias que antes poderiam ser em dois períodos e agora podem ser em até três mediante negociação; a jornada de trabalho diária passou de oito horas para 12 horas com 36 horas de descanso, desde que respeitado o limite de 44 horas semanais (ou 48 horas, com horas extras). O plano de cargos e salários também sofreu alterações. Anteriormente precisava da homologação do Ministério de Trabalho e após a Reforma Trabalhista pode ser negociado entre patrões e empregados, podendo ser alterado conforme necessidade. O famoso “Home Office” também passou a ser formalizado a partir de contrato, entre dezenas de outras medidas. Liberação de saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS): Em 2017, o governo44 liberou o saque dos saldos do FGTS para contas que estavam inativas até 31 de dezembro de 2015. Segundo dados do Governo, a ação injetou R$ 44 bilhões na economia. No total, aproximadamente 25,9 milhões de pessoas retiraram o dinheiro. Os saques do FGTS foram realizados até o dia 31 de julho de 2017. Não é permitido o saque de contas do FGTS, com exceção de situações em que ocorrem demissões sem justa causa, rescisão por acordo ou na ocorrência de doenças como câncer e HIV. Decreto de Intervenção na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro: O Governo Temer também foi marcado por um Decreto de Intervenção na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 16 de fevereiro de 2018. De acordo com informações do site da presidência da República, o objetivo da intervenção foi o combate ao crime organizado proeminente no Rio de Janeiro. A medida foi considerada inédita em um governo federal com validade até 31 de dezembro de 2018.

42Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/temer-sanciona-com-3-vetos-projeto-da-camara-sobre- terceirizacao.ghtml Acesso em 8 jan. 2019. 43Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/veja-principais-pontos-das-reformas-trabalhista-e-da- previdencia.ghtml Acesso em 8 jan. 2019. 44Disponível em: http://www.brasil.gov.br/valeubrasil/pdfs/balanco-governo-federal.pdf Acesso em 8 jan. 2019.

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Com a edição do decreto, Temer nomeou o general de Exército Walter Braga Netto para o cargo de interventor. Agora, caberá a ele comandar o sistema de segurança do Rio, que abrange as polícias Civil e Militar, o corpo de bombeiros e o sistema penitenciário. [...] O decreto descreve que o interventor "poderá requisitar a quaisquer órgãos, civis e militares, da administração pública federal, os meios necessários para a consecução do objetivo da intervenção". Assim, ele pode admitir e demitir agentes, além de determinar as ações estratégicas que serão adotadas pelas equipes de segurança no combate ao crime organizado. No plano nacional, o presidente anunciou a criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, que vai coordenar os trabalhos junto aos estados (PLANALTO45, 2018).

Em 15 de agosto de 2018, o portal Folha de S. Paulo elaborou uma matéria de avaliação da intervenção. Segundo o portal46, a operação não conseguiu reduzir os homicídios e contou com maior índice de mortes por policiais desde 2008 (FOLHA DE S. PAULO, 2018).

Os representantes do governo Michel Temer também intensificaram as operações em favelas, sem comprar ainda os materiais prometidos às polícias com o R$ 1,2 bilhão liberado pelo Palácio do Planalto. Por outro lado, conseguiram reduzir os roubos de carga e de rua, e doações emergenciais de equipamentos (FOLHA DE S. PAULO, 2018).

Ainda conforme a matéria da Folha de S. Paulo, para o Observatório da Intervenção, grupo de pesquisadores da Universidade Cândido Mendes, a intervenção teve “forte cunho político e permitiu que Temer abandonasse a reforma da Previdência, já que é proibido mudar a Constituição diante de intervenções” (FOLHA DE S. PAULO47, 2018). Sobre a real necessidade da medida, o portal ressaltou que outros estados como Rio Grande do Sul e Acre possuem taxas de mortes violentas piores do que as apresentadas no Rio de Janeiro. “A medida também foi decretada (às pressas e sem um plano pronto) logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado” (FOLHA DE S. PAULO, 2018).

45Disponível em: http://www.secretariadegoverno.gov.br/noticias/2018/fevereiro/cinco-fatos-sobre-a- intervencao-federal-no-rio-de-janeiro Acesso em 7 jan. 2019. 46 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/intervencao-federal-no-rj-faz-6-meses- entenda-o-que-aconteceu-ate-agora.shtml Acesso em 7 jan. 2019. 47 Disponível em: https://www.pressreader.com/brazil/folha-de-s-paulo/20180815/282153587118378 Acesso em 10 jun. 2019.

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Preços dos combustíveis e greve dos caminhoneiros: Greves também estiveram presentes no governo Temer. A pior delas aconteceu com os caminhoneiros, no mês de maio de 2018. A categoria reivindicava, especialmente, valor mínimo para o frete e redução no preço de óleo diesel. O ex-presidente realizou um pronunciamento oficial no Palácio do Planalto no dia 15 de maio de 201848 e destacou o orgulho em tirar o país da maior recessão da sua história ao ter “salvo a Petrobras”, após, segundo ele, ter recebido a companhia em colapso. “Hoje, é com muita alegria que nós podemos anunciar que a Petrobras está recuperada. A empresa acaba de obter quase R$ 7 bilhões de lucro no primeiro trimestre deste ano" (TEMER, 2018). No entanto, a afirmação de Temer seria contrariada poucos dias depois após a deflagração da greve dos caminhoneiros e gerou uma perda de R$ 126 bilhões em valor de mercado para Petrobras49, além do pedido de demissão do presidente da estatal, Pedro Parente. Os petroleiros também entraram em greve na busca por mudanças na política de preços dos combustíveis e pelo afastamento do presidente da Petrobras50. Ou seja, o contexto posterior apresentado pela greve dos caminhoneiros expôs a contradição ou mesmo a falácia do discurso presidencial. Em 27 de maio de 2018, o ex-presidente discursou em pronunciamento transmitido pela televisão e anunciou cinco medidas para atender, em partes, as reivindicações da categoria. A primeira delas foi a redução no preço do diesel a 46 centavos por litro com preço válido por 60 dias. Temer também decidiu suspender a cobrança do pedágio para caminhões com eixos suspensos nas rodovias além de estabelecer uma tabela mínima para os preços dos fretes. A greve durou 11 dias com encerramento em 31 de maio de 2018, conforme relato da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Durante a greve, o Brasil vivenciou bloqueios em estradas por todo o território nacional que causaram problemas na manutenção de serviços de abastecimento em hospitais, supermercados, aeroportos, além da paralisação de empresas. Também foram registradas mortes de animais como aves e

48Pronunciamento oficial disponível em: Acesso em 5 jun. 2018. 49Dados obtidos por meio de levantamento feito por Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da empresa de informações financeiras Economatica. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil- 44230784 Acesso em 8 jan. 2019. 50Matéria disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/05/petroleiros-encerram-greve- iniciada-na-quarta-30-em-varios-estados.html Acesso em 24 jun. 2018.

62 pintinhos. Em 12 de junho de 2018, o Ministério da Fazenda informou que a greve registrou um prejuízo de 15,9 bilhões à economia51. Reprovação recorde: As denúncias e a greve contribuíram para que em 10 de junho de 2018, o governo Temer apresentasse uma reprovação recorde52 de 82% dos eleitores em pesquisa divulgada pelo Instituto de pesquisa Datafolha53. A matéria publicada no portal da revista Veja54 destacou que o presidente teria atingido a mais alta taxa de reprovação da história do instituto, segundo dados desde a redemocratização do Brasil. “[...] O número é muito superior ao registrado mesmo pelos dois ex-presidentes que sofreram impeachment, Dilma Rousseff (PT) e Fernando Collor (PTC), com 71% e 68% nos piores momentos” (VEJA, 2018). A última pesquisa55 de avaliação do governo Michel Temer foi divulgada em 13 de dezembro de 2018, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ouviu 2 mil pessoas em 127 municípios entre 29 de novembro e 2 de dezembro de 2018. A pesquisa do Instituto Ibope destacou que 74% dos entrevistados considerou o governo ruim/péssimo; 5% ótimo/bom; 18% regular e 5%, não souberam/não responderam. Acerca do nível de confiança no presidente, 90% responderam que não confiam, 3% não responderam e somente 7% responderam que confiavam. Em comparação com pesquisa realizada pelo instituto no mês de setembro, 78% consideraram o governo "ruim/péssimo"; 16%, "regular"; e 4% avaliavam como "bom/ótimo".

Michel Temer e seus aliados foram extremamente criticados desde o início do processo de impeachment até o fim do mandato. Temer é considerado um político impopular. Em pesquisas realizadas pelo Datafolha em 2017, teve o maior índice de rejeição da história do país. Em outro levante, desta vez internacional, Temer só tinha 3% de aprovação, tornando-se o presidente mais rejeitado do mundo (GUIA ESTUDO56, 2019).

51 Disponível em:https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,greve-de-caminhoneiros-deixa-rastro-de- prejuizos-bilionarios-em-todo-o-pais,70002331980 e https://www.metropoles.com/brasil/economia-br/prejuizos- causados-por-greve-dos-caminhoneiros-passam-de-r-50-bilhoesAcesso em 8 jan. 2019. 52 Conforme relatório da Pesquisa Ipsos, realizada em abril de 2017, 87% dos brasileiros rejeitavam o governo Temer. 53 Segundo o Instituto Datafolha, a pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de junho em 174 municípios. Foram entrevistadas 2.824 pessoas. A margem de erro apontada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. 54 Matéria disponível em: Acesso em 10 out. 2018. 55 Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/13/75-veem-bolsonaro-e-equipe-no-caminho- certo-diz-pesquisa-ibope-aprovacao-de-temer-e-de-5.ghtml Acesso em 8 de jan. 2019. 56 Disponível em: https://www.guiaestudo.com.br/michel-temer Acesso em 15 mar. 2019.

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Em sete de outubro de 2018, após a divulgação do resultado do primeiro turno das eleições e a confirmação dos candidatos para o segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), viralizou a hashtag “FicaTemer” que atingiu57 o trending topics (assuntos mais comentados do Twitter) do twitter no Brasil sendo compartilhada mais de 76 mil vezes. Além disso, nessa época, vários memes viralizaram e pediam a permanência de Temer, alguns com ironia no sentido de pedir a permanência de Temer por meio de “outro golpe”, ou de que “antes de Bolsonaro, preferimos Temer”. A página oficial do presidente no Facebook também contou com vários comentários na foto do perfil seguindo esse movimento irônico do “FicaTemer”. Apesar da baixa popularidade e do movimento “ForaTemer” que foi mais intenso durante a gestão do ex-presidente, em entrevista publicada no Portal Terra em 2018, Michel Temer destacou que poderia ter o trabalho reconhecido posteriormente, a exemplo do ex- presidente Itamar Franco. “[...] Há poucos dias, fui almoçar num restaurante de classe média, em São Paulo. Você sabe que, quando saí, fui aplaudido? Falei: ‘Puxa vida, eu posso ir a restaurante, não é verdade?’ (TERRA57, 2018). Últimas medidas e avaliação de governo: Uma das últimas ações do ex-presidente Michel Temer, no último mês de governo, foi uma medida provisória que criou a “Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais58”, a ANPD59, uma agência responsável em fiscalizar o tratamento de dados do Estado. O portal Folha de S. Paulo informou que o órgão contará com cinco pessoas indicadas pelo presidente e um conselho consultivo de mais 23 integrantes que representarão setores privado e público, Comitê Gestor da Internet e Terceiro Setor. Serão funções do órgão orientar sobre as leis e determinar diretrizes sobre o tratamento de dados no Brasil. “[...] A ANPD fica responsável pela fiscalização e imposição de multas, que podem chegar a 2% do faturamento no último exercício, limitada a R$ 50 milhões por infração. A MP segue para votação no Congresso nos próximos 60 dias” (FOLHA DE S. PAULO, 2018).

57Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/vou-viver-comigo-mesmo-diz-temer-sobre-seu-futuro- politico,17e43de49efed18a9da11727320e2b4ag3g1ovuw.html Acesso em 15 jan. 2019. 58Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/temer-cria-autoridade-de-protecao-de-dados- vinculada-a-presidencia.shtml Acesso em 8 jan. 2019. 59 A medida provisória foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União no dia 28 de dezembro de 2018.

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No último mês de governo, Temer também sancionou lei60 acerca do aumento da multa para quem desistir da compra de um imóvel na planta (distrato imobiliário). A lei estipula que caso o comprador desista do negócio ou pare de pagar as prestações do imóvel, a empresa que for responsável pela obra ficará com até 50% do dinheiro pago pelo comprador (G1, 2018). De acordo com o portal G1, a mudança contempla imóveis do regime do “patrimônio de afetação”, que são os imóveis que não estão registrados como patrimônio da construtora. Na série das últimas medidas, Temer fixou em 3,5% a meta de redução de homicídios para 201961. Segundo o texto, essa meta integra o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social que incorpora objetivos que devem ser cumpridos no prazo de 10 anos. “[...] O plano também prevê o fortalecimento do aparato de segurança para aumentar o controle de divisas, fronteiras, portos e aeroportos e o controle de munições” (G1, 2018). Outro decreto62 publicado por Temer consistiu na eliminação gradativa por cinco anos de subsídios nas contas de luz para a área rural, companhias de água, esgoto e saneamento (G1, 2018). Conforme especificado no decreto, serão retirados 20% dos subsídios a cada ano até que ocorra a extinção completa do desconto. Estima-se, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que ao final dos cinco anos, a retirada dos descontos resultará em redução de 2,5% nas contas de luz. Temer também nomeou63 para o conselho da Itaipu Binacional com mandato até 2020. A exoneração e posterior nomeação foram publicadas no Diário Oficial da União em 31 de dezembro de 2018. Marun deixou o cargo na Secretaria de Governo que era responsável pela articulação política entre Palácio do Planalto e Congresso. “[...] Tanto na Câmara quanto no Planalto, Marun foi um defensor de Temer. Apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, que levou Temer à Presidência, e se posicionou contrário em duas das denúncias apresentadas pela PGR contra o presidente” (G1, 2018).

60Lei publicada no Diário Oficial da União no dia 28 de dezembro de 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/27/distrato-temer-sanciona-lei-que-eleva-multa-para-quem-desiste- da-compra-de-imovel-na-planta.ghtml Acesso em 10 jan. 2019. 61O decreto foi publicado em 27 de dezembro de 2018 no Diário Oficial da União. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/2018/12/27/governo-temer-edita-e-envia-a-moro-decreto- que-fixa-em-35-a-meta-de-reducao-de-homicidios.ghtml Acesso em 12 jan. 2019. 62Decreto publicado no Diário Oficial da União em 28 de dezembro de 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/12/28/temer-publica-decreto-que-pode-levar-a-reducao-de-25-do- valor-das-contas-de-luz-em-5-anos.ghtml Acesso em 2 fev. 2019. 63Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/31/temer-nomeia-marun-para-o-conselho-de- itaipu-binacional.ghtml Acesso em 20 jan. 2019.

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Ainda em dezembro, no dia 19, Michel Temer inaugurou um “Centro de Memória” com mais de 76 mil itens de sua biografia, entre eles e-mails, cartas, documentos de viagens, correspondências, fotos, presentes recebidos, materiais audiovisuais, livros e discursos proferidos por Temer no Brasil e no exterior durante os anos de atuação política. O Centro foi inaugurado na Faculdade de Direito de Itu (FADITU-SP), instituição na qual Temer foi professor e também Diretor entre 1969 e 1984. A instituição reformou uma área para alocar o acervo de Temer com disponibilidade para visitação agendada. O memorial possui 211 metros quadrados e foi desenvolvido junto à Fundação Ulysses Guimarães, vinculada ao MDB, partido de Temer. No dia da inauguração, Temer esteve presente no local e foi homenageado por mantenedores e representantes da faculdade que destacaram e homenagearam a atuação de Temer como professor (G1, 201864). Saída de ministros: Conforme matéria publicada no portal 360, somente sete ministros dos 28 indicados por Temer em 12 de maio de 2016 permaneceram até o fim do mandato. Os ministros que permaneceram foram Eliseu Padilha (Casa Civil); Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia); Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional); Raul Jungmann (ex-Defesa e agora na Segurança Pública); Blairo Maggi (Agricultura); (Banco Central); e Moreira Franco (ex-Secretaria Geral da Presidência e hoje em Minas e Energia). Desses nomeados, o senador Romero Jucá (MDB) foi o que ficou menos tempo no cargo, por apenas 12 dias. “Jucá saiu do Ministério do Planejamento após vazamento de conversa onde sugeriu um “pacto” para barrar a Lava Jato ao falar com o ex- presidente da Transpetro Sérgio Machado. Ele negou as acusações” (PODER 360, 2018). O governo Temer iniciou com 24 ministérios e encerrou com 29 conforme quadro abaixo:

Quadro 3 - A Esplanada de Temer: 1º nome indicado para cada ministério65 (continua)

1º nome indicado Ministério Data de Data de Tempo para cada ministério posse saída total66

Eliseu Padilha Casa Civil 12/05/2016 31/12/2018 2 anos e 7 meses e 5 dias

64Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2018/12/19/michel-temer-inaugura-centro-de- memoria-que-reune-acervo-do-presidente-em-itu.ghtml Acesso em 10 jan. 2019. 65Tabela elaborada pela autora com base no site Poder 360. Disponível em: https://www.poder360.com.br/governo/apenas-7-ministros-do-time-a-de-michel-temer-resistiram-ate-fim-do- governo/ 66Até 31 de dezembro de 2018.

66

Gilberto Kasssab Ciência e Tecnologia 12/05/2016 31/12/2018 2 anos e 7 meses e 5 dias

Sérgio Etchegoyen Gabinete de Segurança 12/05/2016 31/12/2018 2 anos e 7 Constitucional meses e 5 dias

Raul Jungmann67 Defesa / Segurança Pública 12/05/2016 31/12/2018 2 anos e 7 meses e 5 dias

Blairo Maggi Agricultura 12/05/2016 31/12/2018 2 anos e 7 meses e 5 dias

Ilan Goldfajn Banco Central 09/06/2016 06/04/2018 2 anos, 6 meses e 8 dias

Henrique Meirelles Fazenda 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Henrique Alves Turismo 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Mendonça Filho Educação 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Ricardo Barros Saúde 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Osmar Terra Desenvolvimento Agrário 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Sarney Filho Meio Ambiente 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Maurício Quintella Transportes 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Leonardo Picciani Esporte 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Fernando Coelho Filho Minas e Energia 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Helder Barbalho Integração Nacional 12/05/2016 06/04/2018 1 ano, 10 meses e 25 dias

Moreira Franco Secretaria Geral da 03/02/2017 31/12/2018 1 ano, 10 Presidência/Minas e Energia meses e 14 dias

Marcos Pereira Indústria 12/05/2016 05/01/2018 1 ano, 7 meses e 24 dias

Ronaldo Nogueira Trabalho 12/05/2016 29/12/2017 1 ano, 7 meses

67 Raul Jungmann foi o 1º titular da Defesa e Segurança Pública. Fonte: Diário Oficial da União

67

e 17 dias

Bruno Araújo Cidades 12/05/2016 14/11/2017 1 ano, 6 meses e 2 dias

Luislinda Valois Direitos Humanos 03/02/2017 20/02/2018 1 ano e 17 dias

Alexandre de Moraes Justiça 12/05/2016 07/02/2017 8 meses e 26 dias

José Serra Relações Exteriores 12/05/2016 23/01/2017 8 meses e 11 dias

Geddel Vieira Lima Secretaria de Governo 12/05/2016 25/11/2016 6 meses e 13 dias

Marcelo Calero Cultura 23/05/2016 22/11/2016 5 meses e 30 dias

Fabio Medina Advocacia Geral da União 12/05/2016 09/09/2016 3 meses e 28 dias

Fabiano Augusto Martins Fiscalização, Transparência e 12/05/2016 31/05/2016 19 dias Silveira Controle

Romero Jucá Planejamento 12/05/2016 24/05/2016 12 dias Fonte: Elaborado pela autora, com base no site Poder 360.

O portal Terra publicou uma entrevista68 com o ex-presidente no dia 30 de dezembro de 2018. Entre os pontos abordados esteve a entrega de um caderno para o presidente eleito, Jair Bolsonaro com o recado de que “Não há espaço para retroceder. As mudanças precisam continuar”. Conforme a entrevista, essas mudanças seriam a continuidade do programa “Ponte para o Futuro” lançado em 2015 e reelaborado em 2016, quando Temer assumiu o governo de forma definitiva. Temer também afirmou que recuperou a Petrobrás e aumentou o patrimônio público em três vezes. O ex-presidente também destacou os resultados na intervenção no Rio de Janeiro e apresentou os dados de que houve redução de 12,6% nos homicídios e 5.800 vidas poupadas. Em maio de 2016, o PIB era negativo em 5,4%; em dezembro, já era 3,6%. Este ano, não fosse a greve dos caminhoneiros, o PIB seria de 3,3%. Mas, de qualquer maneira, vai ser positivo. Demos aumento para o Bolsa Família, mantivemos o Minha Casa Minha Vida, o financiamento de curso superior (TERRA, 2018).

68Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/vou-viver-comigo-mesmo-diz-temer-sobre-seu-futuro- politico,17e43de49efed18a9da11727320e2b4ag3g1ovuw.html Acesso em 20 de jan. 2019.

68

Ainda na entrevista, foram abordados os “palpites” de Michel Temer para o sucessor Bolsonaro. Temer apontou a reforma da Previdência como o mais urgente. “[...] Como opinião, se você pegar aquilo que já foi feito e levar para o plenário, fica mais fácil. Não tem como fugir dessa questão da idade, do corte de privilégios. Se começar do zero, é claro que haverá as mais variadas resistências” (TERRA, 2018). No final da entrevista, em questionamento sobre o futuro após deixar a presidência, Temer destacou que voltaria para o escritório de advocacia em São Paulo com a intenção de escrever mais um livro. Na transmissão da faixa presidencial em 1º de janeiro de 2019, Temer afirmou em mensagem no twitter (Figura 2) não ter poupado esforços para vencer obstáculos e que entregava um Brasil melhor para os brasileiros:

Figura 2 - Mensagem de Temer69 em 1º de janeiro de 2019 na cerimônia de posse de transmissão de faixa presidencial.

Fonte: Twitter

69 Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/01/temer-diz-que-deixa-presidencia-com-a- alma-leve-e-a-consciencia-do-dever-cumprido.ghtml Acesso em 10 fev. 2019.

69

2.4.Linha do Tempo

A seguir uma linha do tempo ilustra e resume a carreira política e o governo de Michel Temer. Figura 3 – Michel Temer de 1925 a 1975

Fonte: Elaborada pela autora.

70

Figura 4 – Michel Temer de 1981 a 1985

Fonte: Elaborada pela autora. 71

Figura 5 – Michel Temer de 1986 a 1998

Fonte: Elaborada pela autora.

72

Figura 6 – Michel Temer de 1998 a 2014

Fonte: Elaborada pela autora.

73

Figura 7 – Michel Temer em 2015

Fonte: Elaborada pela autora.

74

Figura 8 – Michel Temer em 2016

Fonte: Elaborada pela autora. 75

Figura 9 – Michel Temer em 2017

Fonte: Elaborada pela autora. 76

Figura 10 – Michel Temer em 2018

Fonte: Elaborada pela autora.

77

Figura 11 – Michel Temer em 2019

Fonte: Elaborada pela autora.

78

3. DISCURSO E PRODUÇÃO DE SENTIDOS

O esforço empreendido nesse capítulo detalha as relações e especificidades do discurso jornalístico e do discurso político, ancorado nas reflexões sobre os conceitos desses dois tipos de discurso e as correlações entre ambos. O capítulo contempla uma abordagem sobre o aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, com aspectos do surgimento, principais autores, procedimentos para a análise firmados no entendimento da AD como teoria que extrapola o limite metodológico e fundamenta as percepções dos sentidos inerentes aos discursos e o contexto sócio histórico, destacando conceitos e noções operatórias da produção de sentidos e perspectivas construcionistas do discurso jornalístico. Os autores acionados para a discussão, entre outros são Charaudeau (2008; 2016), Maingueneau (2004, 2015), Berger e Luckmann (1985, 2009), Amossy (2008), Hackett (2016), Benetti (2006), Gomes (2009), Vizeu (2003), Traquina (2016), Tuchman (2016), Berger e Luckmann (2009), Panke (2016), Pêcheux (1997), Orlandi (2007), Gregolin (2007), Brandão (1994), Bakhtin (2004) e Molotch e Lesters (2016).

3.1. A produção de sentidos no Discurso Jornalístico

As enunciações tanto dos discursos jornalísticos como dos discursos políticos são perpassadas – entre dezenas de outros fatores - pela influência do jornalismo, das projeções e feedbacks da opinião pública e do jogo de interesses dos partidos políticos. A parcela de influência de cada instituição social e do protagonismo inerente a cada um destes fatores é difícil de delimitar. No entanto, considerar esse jogo de influências e relações de poder a que ambos estão submetidos permite avanços nas reflexões acerca dos conceitos. Partimos do pressuposto de que os jornalistas são dependentes das fontes de informação, mas precisam ser independentes da influência política que estas fontes tentam exercer sobre eles (CHARAUDEAU, 2008). Essa premissa, por si só, levanta uma série de reflexões sobre a configuração do jornalismo perpassado nos discursos políticos da contemporaneidade. Apesar de Charaudeau (2008) aferir que os jornalistas precisam ser independentes da influência política, as mídias70 se encontram muitas vezes em uma situação de dependência de assuntos noticiosos vindos de fontes institucionais que detêm posições privilegiadas (HALL et. al., 2016). Uma dessas posições privilegiadas é ocupada pelo campo político. No entanto,

70Utilizaremos o termo utilizado pelo autor, mas que se refere às mídias jornalísticas.

79 o mundo das mídias (CHARAUDEAU, 2018) tem a pretensão inicial de se definir contra o poder e a manipulação e não poderia ser refém dessa influência. O autor delibera que a forma mais usual da compreensão de parcialidade política ou ideológica da mídia seria o favoritismo a um ator ou grupo político em detrimento de outros (HACKETT, 2016). A própria deontologia da profissão jornalística costuma utilizar critérios de parcialidade e objetividade como conceitos pertinentes ao jornalismo (HACKETT, 2016). Os aspectos inerentes à produção jornalística como pressões do tempo para finalizar matérias e exigências profissionais de imparcialidade e objetividade seriam, então, as premissas que reforçariam esse apelo à recorrência às fontes com poder institucional. “O resultado dessa preferência estruturada dada pelos media às opiniões dos poderosos é que estes ‘porta-vozes’ se transformam no que se apelida de definidores primários (primary definers) de tópicos” (HALL et. al., 2016, P. 316). A mídia não é em definição puramente superficial um primary definer, mas coloca-se, na grande maioria das vezes, em posição “subordinada” a esses definidores e reflete as práticas daqueles que detêm o poder (MOLOTCH; LESTERS, 2016). Além da influência do campo político, a necessidade da audiência pauta a instância midiática para captar o maior número de consumidores – leitores, ouvintes e telespectadores, como uma empresa preocupada em rentabilizar seu produto. O jornalista é um produtor de enunciações ameaçado pelas exigências de sucesso e de audiência impostas pela máquina midiática. É o responsável por interpretar e analisar conforme sua própria experiência somada à sua racionalidade, cultura e às técnicas apreendidas sobre como fazer jornalismo de qualidade. Isso gera uma enorme responsabilidade, porque o jornalista torna-se uma testemunha esclarecida que precisa relatar o mais fiel possível o acontecimento. A instância midiática produziria ao cidadão uma visão de mundo com o objetivo de ser apreendida como a visão correta, a visão natural do mundo (CHARAUDEAU, 2016). Com o propósito de gerar essa visão de mundo, Charaudeau (2016b) evidencia a dupla finalidade da instância de produção midiática e da instância de recepção pública. Uma delas é a comercial que objetiva atingir a maior quantidade de público, considerando o órgão de informação à lógica da sobrevivência e concorrência. A outra finalidade é a ética com a obrigatoriedade de reportar os acontecimentos de maneira crível pautada na credibilidade (CHARAUDEAU, 2016b). Essa relação estabelecida entre a mídia com o público receptor é intrínseca ao conceito de contrato de informação midiática que seria uma espécie de “acordo” entre o jornalista e o

80 público, no qual os envolvidos sabem e esperam como o outro vai agir. Considerar o contrato de comunicação entre jornalistas, fontes e leitores é uma premissa para compreender o funcionamento do discurso jornalístico situado em um campo de interação. O discurso jornalístico é idealmente polifônico - com a circulação de muitas vozes - fontes, o jornalista que assina o texto, as instituições, os leitores (BENETTI, 2006).

Assim, o contrato de informação midiática é, em seu fundamento, marcado pela contradição: finalidade de fazer saber, que deve buscar um grau zero de espetacularização da informação, para satisfazer o princípio de seriedade ao produzir efeitos de credibilidade; finalidade de fazer sentir, que deve fazer escolhas estratégicas apropriadas à encenação da informação para satisfazer o princípio de emoção ao produzir efeitos de dramatização (CHARAUDEAU, 2016a, p. 93).

O contrato de comunicação está ancorado no dialogismo, ou seja, todo ato de linguagem está perpassado por uma troca interacional - entre um eu e um tu – que são conectados por um princípio de intencionalidade. “O sujeito comunicante, ao tomar posse da palavra institui-se sujeito enunciante” (CHARAUDEAU, 2016b). Ao tornar-se enunciante, ou enunciador, torna o sujeito interpretante em sujeito destinatário. Nesta troca interacional de enunciação, os jornalistas produzem discursos e a linguagem flui de um campo de ação para uma dimensão constitutiva. O norte do jornalista é presumir que a audiência tenha interesse no enunciado produzido. O objetivo da fala é poder se colocar em relação à alteridade, seja pela consciência de diferenciação e da existência do outro. A abordagem vai ao encontro do entendimento de que o indivíduo se torna o que é a partir da ação dos outros a partir de uma relação dialética de identificação e autoidentificação, influências, o quanto se toma consciência acerca da realidade no qual essa construção social está disposta (BERGER; LUCKMANN, 1985). O discurso de informação está situado na troca linguageira, no interior de um universo de outros discursos, os interdiscursos71 (MAINGUENEAU, 2004). As palavras não são pronunciadas de forma arbitrária, mas fazem parte da construção social de quem as fala, depende da posição em que fala, se é um professor, ou se é um aluno, por exemplo. A interdiscursividade revela que o que o sujeito diz está ligado a muitos outros discursos, especialmente no caso de atores políticos que utilizam dessa ferramenta (CHARAUDEAU, 2018). O sentido é construído justamente por essa troca linguageira e pela relação com o outro, pela existência do outro. A informação e relação entre os indivíduos dependerá do

71 O conceito de interdiscurso será abordado no próximo subcapítulo.

81 campo de conhecimentos, da situação de enunciação e do dispositivo por meio do qual será posta em funcionamento (CHARAUDEAU, 2018). Para compreender a amplitude do conceito de discurso jornalístico, cabe a compreensão acerca da construção de sentido e a relação com o efeito de verdade no receptor (CHARAUDEAU, 2018). O efeito de verdade está ligado ao “acreditar ser verdadeiro” e não necessariamente ao “ser verdadeiro”, ou das condições de validade da palavra emitida. A credibilidade está relacionada à posição ocupada pelo informador, do quanto sua autenticidade, representatividade possui influência, se a informação dita pode ser recebida e aceitável como real a partir de provas da verdade. Para Gomes (2009), o conceito de verdade deve ser entendido conforme a visão dos aristotélicos que é perpassada pela adequação entre as coisas e o nosso entendimento delas. “Em suma, como qualquer criança sabe, quando se diz algo sobre as coisas e elas são como se diz, então se falou a verdade” (GOMES, 2009, p. 13).

A notícia é verdadeira quando diz a verdade a respeito dos fatos. Esta fórmula, muito simples, exprime a convicção comum de que a verdade pode residir no discurso que é a notícia e que a verdade situa-se numa forma de adequação entre a notícia e o fato que se noticia (GOMES, 2009, p. 34-35).

Assim, a partir da perspectiva de Gomes, a notícia pode ser compreendida como um discurso que produz a crença de que está falando a verdade por meio da narração de fatos. O autor questiona essa produção discursiva do jornalismo por meio de uma perspectiva filosófica, desde os conceitos de ‘fato’, ‘interesse’, ‘narrativa’ para refletir sobre o conceito de ‘verdade’ e ‘interesse público’ que legitimam o discurso jornalístico e que influenciam na esfera de visibilidade pública e política, no exercício da democracia e naquilo que a sociedade consensualmente entende como opinião pública. Gomes questiona o discurso de autolegitimação do campo, assim como questiona o senso comum acerca da definição de jornalismo e de verdade. Para Gomes “verdade da notícia” deve ser compreendida em duas dimensões: No primeiro caso, a “verdade da notícia” é a compreensão verdadeira daquilo que a notícia é ou diz, significando “verdade”, neste caso, a desvelação daquilo que a notícia manifesta. Assim, a verdade da notícia tem a ver, portanto, com o sentido verdadeiro do texto. Já no segundo caso, a “verdade da notícia” é a verdade daquilo que fala a notícia acerca do fato, verdade aqui é a desvelação (na notícia) daquilo do que a notícia fala, tem a ver,

82 portanto, literalmente com a verdade do texto. Não se trata mais da compreensão verdadeira da notícia, mas da verdade do que é noticiado sobre os fatos (GOMES, 2009, p. 35). No primeiro caso, é a interpretação que está em jogo, e segundo diz respeito à teoria do conhecimento. Ainda na tentativa de compreensão do conceito de verdade, Gomes explana modelos de conhecimento, construtivista e perspectivista. O primeiro quer dizer as coisas como se manifestam a nós, “[...] que o dado da experiência é organizado e constituído na própria experiência” (GOMES, 2009, p. 36). Já no conhecimento perspectivista, o único discurso legítimo das coisas é aquele conforme o modo de cada um conhecê-las. “[...] A partir do modo como as coisas se dispõem em face das nossas faculdades de conhecimento – não há discurso autêntico (não-teológico ou metafísico) segundo a ordem da verdade mesma das coisas” (GOMES, 2009, p. 37). Ou seja, no relativismo, verdade e falsidade acontecem conforme a visão de cada um. “[...] É contraditório que devamos aceitar como verdadeira uma declaração acerca da notícia quando declaramos a impossibilidade da verdade e/ou falsidade de qualquer declaração – suposto, que a notícia é uma forma de declaração como todas as outras” (GOMES, 2009, p. 48).

Não se confundirá, portanto, legitimidade e credibilidade: a primeira determina um “direito do sujeito de dizer ou de fazer”, a segunda, uma “capacidade do sujeito de dizer ou de fazer”. Questionar a legitimidade é questionar o próprio direito e não a pessoa; questionar a credibilidade é questionar a pessoa, uma vez que ela não apresenta provas de seu poder de dizer ou de fazer (CHARAUDEAU, 2008, p. 67).

Controlar os efeitos da informação é uma dificuldade quando os acontecimentos precisam alcançar a audiência. O discurso da instância midiática almeja garantir a fidelidade do público ao buscar declarações dos políticos e do que esteja encoberto (CHARAUDEAU, 2008). O autor compara diferentes tipos de discurso para enaltecer e pormenorizar as características do discurso informativo. Tanto o discurso informativo quanto o discurso propagandista são ambos centrados para um alvo. O propagandista almeja convencer o público e contempla benesses futuras perpassadas por promessas de “resoluções mágicas”, como nas utilizadas para vendas. Já o discurso informativo tem como intuito a transmissão de saber, o conhecimento e é da ordem do ocorrido. “Num discurso propagandista, não há nada a provar: o modelo proposto é o do desejo. Num discurso de informação, é preciso, ao contrário, provar a veracidade dos fatos transmitidos: o modelo proposto é o da credibilidade” (CHARAUDEAU, 2008, p. 61). O discurso científico se assemelha com o informativo por meio da prova. Porém, o científico precisa de demonstrações racionais e o informativo conta

83 com os testemunhos, constatação e reconstituições. Outro tipo de discurso enfatizado é o didático, também com afinidades ao informativo. Ambos estão na ordem da explicação, intentam alvos amplos, necessitam ser acessíveis e atingir uma grande parcela de pessoas. As mídias recorrem a muitos tipos de discursos para atingir seus objetivos, dentre eles a audiência. A estratégia é reportar os acontecimentos além do factual, de uma maneira que interesse o maior número possível de pessoas (CHARAUDEAU, 2018).

Dentre esses diferentes tipos de discursos, o informativo tem uma posição central, na medida em que os discursos demonstrativo, didático e propagandista compreendem de algum modo uma parte da atividade informativa. E isso confere ao sujeito que procura seduzir, persuadir, demonstrar ou explicar uma posição forte de autoridade, pois em todos os casos é detentor de um saber que o outro não possui (CHARAUDEAU, 2018, p. 63).

O autor também evidencia a diferença entre os saberes de conhecimento e os saberes de crença. Os saberes de conhecimento buscam interpretar o mundo objetivamente, voltado para as finalidades, motivos ou intenções relacionadas ao acontecimento e futuros desdobramentos. Já os saberes de crenças objetivam interpretar o mundo por meio de um olhar subjetivo, do olhar singular de cada um em relação às coisas (CHARAUDEAU, 2008). “Quando essas crenças se inserem numa enunciação informativa, servem para fazer com que o outro compartilhe os julgamentos sobre o mundo, criando assim uma relação de cumplicidade” (CHARAUDEAU, 2018, p. 46).

Assim, todo discurso, antes de representar o mundo, representa uma relação, ou, mais exatamente, representa o mundo ao representar uma relação. E isso também é verdade para o discurso de informação. O sujeito informador, capturado nas malhas do processo de transação, só pode construir sua informação em função dos dados específicos da situação de troca (CHARAUDEAU, 2018, p. 42).

O discurso pode manipular as escolhas políticas a partir da conquista da opinião pública (CHARAUDEAU, 2016). O autor ainda relaciona o conceito de “ethos72”, que significa a alternância do posicionamento de um comportamento do indivíduo perante a percepção do outro. “Trata-se de cruzamento de olhares: olhar do outro sobre aquele que fala, olhar daquele que fala sobre a maneira pela qual pensa que o outro o vê” (CHARAUDEAU, 2016, p. 72).

72 Nos próximos subcapítulos será detalhado o conceito de “ethos discursivo” – a construção da imagem de si pelo discurso.

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Não se trata aqui de nosso posicionamento ideológico, do conteúdo de nosso pensamento, de nossas opiniões, mas do que sobressai de nosso comportamento, da relação que temos com os outros e conosco mesmos, e que oferecemos à percepção do outro, todas as coisas que remetem à subjetividade do sujeito falante, às suas características psicológicas, ao seu corpo como expressão de um ser interior. (CHARAUDEAU, 2016, p. 72).

Embora não se pretende esgotar essa discussão, vale observar algumas questões que envolvem o discurso midiático como o entendimento do caráter específico e contorno particular de atuar e atravessar todos os discursos (MAINGUENEAU, 2015, p. 148).

3.1.1 Perspectivas construcionistas do discurso jornalístico

O discurso jornalístico é uma espécie de saber explicativo dos processos sociais e interfere na construção social da realidade. Esse discurso baseia-se na inferência de outros códigos, vozes e múltiplas polifonias oriundas de outros campos (VIZEU, 2003, TRAQUINA, 2016; TUCHMAN, 2016). As influências na construção social da realidade perpassam um entendimento no qual as pessoas se assumem perante o mundo, por meio de um processo dialético fundamental identificado por Berger e Luckmann (1985) como exteriorização, objetivação e interiorização. Na exteriorização os sentimentos ganham forma, a interação da criança com um ambiente exterior. Na objetivação, esses pensamentos são transformados em linguagem e o comportamento se ajusta aos parâmetros sociais, influência das instituições, normas. Na interiorização, o indivíduo interpreta o mundo a partir do que já está socialmente aceito. Berger e Luckman entendem que o mundo é socialmente construído, que o homem constrói a realidade, mas também é influenciado por ela. Sobre esse aspecto, é importante diferenciar duas fases da socialização. A primeira, a socialização primária é na infância, quando a criança visualiza e vive a rotina de seus pais (ou quem forem os responsáveis) e apreende noções desse mundo. Entretanto, não é um mundo qualquer. É o “mundo”, é o único possível. A criança não tem escolha nessa seleção dos “outros significativos”, ela identifica-se automaticamente com eles, com seus costumes e tradições (BERGER; LUCKMANN, 1985).

Esta abstração dos papeis e atitudes dos outros significativos concretos é chamada o outro generalizado. Sua formação na consciência significa que o indivíduo identifica-se agora não somente com os outros concretos mas com uma generalidade de outros, isto é, com uma sociedade. Somente em virtude desta identificação generalidade sua identificação consigo mesmo alcança estabilidade e continuidade. O indivíduo tem agora não somente uma identidade em face deste ou daquele outro

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significativo, mas uma identidade em geral, subjetivamente apreendida como constante, não importando que outros, significativos ou não, sejam encontrados (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 178).

Quando cresce, a partir da socialização secundária, conhece as instituições e com elas toda uma gama de outros “mundos” e entende que aquele mundo vivido quando era criança não é o único “mundo possível”.

Empiricamente, está claro, o mundo institucional transmitido pela maioria dos pais já tem o caráter de realidade histórica e objetiva. O processo de transmissão simplesmente reforça o sentido que os pais têm da realidade, quanto mais não seja porque, falando cruamente, ao dizer “É assim que estas coisas são feitas”, frequentemente o próprio indivíduo acredita que é isso mesmo (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 86).

Os autores partem do pressuposto de que a realidade e o conhecimento apreendidos na consciência são um produto da sociedade “[...] Desde o momento do nascimento, o desenvolvimento orgânico do homem, e na verdade uma grande parte de seu ser biológico enquanto tal está submetido a uma contínua interferência socialmente determinada” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 71). Desse modo, considera-se pertinente o esforço dos autores em demonstrar a validade do estudo da sociologia do conhecimento. O engajamento é vislumbrar o contexto social em que as pessoas se encontram, a maneira pela qual a realidade é construída, os processos da dialética da sociedade e o que está posto no senso comum como foco da sociologia do conhecimento, ou seja, uma forma de analisar os processos que constituem a realidade. “[...] O indivíduo não nasce membro da sociedade. Nasce com a predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 173). Amparada nas teorias construcionistas do jornalismo – inseridas no paradigma construtivista – que atestam que o jornalismo ajuda a construir socialmente a realidade (BENETTI, 2006, 2008, 2013; GENRO FILHO, 2012; TRAQUINA, 2016; TUCHMAN,

2016, HALL et. al., 2016; MOLOTCH; LESTER, 2016, HACKETT, 2016, BIRD;

DARDENNE, 2016; BERGER; LUCKMANN, 1985), o estudo do discurso atravessa correntes construtivistas e é por meio dele que se constrói a realidade social (MAINGUENEAU, 2015). A teoria construtivista contrapõe o paradigma positivista e a teoria do espelho que entendem que o jornalismo reflete a realidade.

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O jornalismo é um modo de conhecimento (GENRO FILHO, 2012), que produz saber particular sobre os fatos do mundo e reproduz os conhecimentos gerados por outras instituições ou atores sociais (BENETTI, 2006; 2008). Apesar de ser condicionado pelo capitalismo, o jornalismo dispõe de um potencial para ultrapassar as limitações e condicionantes do sistema. O potencial da notícia extrapola a definição de ser uma mercadoria, manipulada e com foco na objetividade jornalística (GENRO FILHO, 2012) e a mídia ajuda ativamente a construir esse mundo (HACKETT, 2016). Pensar o jornalismo como uma mera reprodução do real – como um espelho da realidade - configura-se como uma imposição de limites ao potencial do campo (VIZEU, 2003). Ao contrapor a teoria do espelho, Traquina (2016) observa que nessa concepção, o jornalista é visto como um “comunicador desinteressado” que precisaria se colocar como neutro e em hipótese alguma emitir opiniões. Essa prerrogativa acompanha os questionamentos ao conceito de objetividade, entendidos pelo autor como “empirismos ingênuos”. Acerca da objetividade, Gaye Tuchman (2016) apresenta importantes contribuições ao campo. Para Tuchman (2016), os jornalistas utilizam a objetividade como um ritual estratégico para autoproteção dos riscos que a profissão incorre. “Os jornalistas acreditam que podem mitigar pressões contínuas como sejam os prazos, os possíveis processos de difamação e as repressões antecipadas dos superiores, com a argumentação de que o seu trabalho é ‘objetivo’” (TUCHMAN, 2016, p. 111). O emprego da objetividade se tornaria recorrente e perpassado por fatores como a forma, as relações interorganizacionais e o conteúdo (TUCHMAN, 2016) e os acontecimentos seriam socialmente construídos (MOLOTCH; LESTERS, 2016; TRAQUINA, 2016) e a noticiabilidade não está contida nos traços objetivos.

A objetividade nos media já não pode ser entendida como o oposto de ideologia, se bem que as formas e a retórica da objetividade ajudam a reproduzir os enquadramentos políticos dominantes, ou a posicionar o público como observador e consumidor passivo (MOLOTCH; LESTERS, 2016, p. 181).

Quatro atributos supostamente fariam a notícia ser considerada “objetiva”: apresentação de possibilidades conflitantes, com variadas fontes e contrapontos sobre determinadas questões; outro ponto seria a apresentação de provas auxiliares, com a agregação de fatos suplementares que geralmente são aceitos como verdadeiros; o uso de aspas, especialmente para que o jornalista possa omitir suas opiniões nas notícias e

87 conseguindo que as fontes digam o que ele próprio pensa; e a estruturação da informação em uma sequência apropriada, com o lead, contendo os elementos mais importantes e os desdobramentos nos parágrafos subsequentes (TUCHMAN, 2016). A autora contrapõe esses preceitos ao demonstrar que eles são uma “tentativa” de atingir a objetividade, que não é possível ser alcançada, já que haveria uma clara discrepância entre os preceitos procurados e os de fato, alcançados:

[...] De fato, tem sido sugerido que esses procedimentos: 1) constituem um convite à percepção seletiva; 2) Insistem erradamente na ideia de que “os fatos falam por si”; 3) são um instrumento de descrédito e um meio do jornalista fazer passar a sua opinião; 4) são limitados pela política editorial de uma determinada organização jornalística; e 5) iludem o leitor ao sugerir que a “análise” é convincente, ponderada ou definitiva (TUCHMAN, 2016, p. 129).

Segundo Tuchman (2016), o processamento das notícias não permite tempo para uma análise epistemológica reflexiva e as notícias se configuram como “fatos” avaliados e estruturados pelos jornalistas. Assim, se os jornalistas puderem seguir as estratégias de trabalho que identificam como notícias objetivas, poderiam reduzir os riscos a partir dessa perspicácia profissional (news judgement) – uma escolha objetiva para decidir quais fatos são mais importantes – isso seria um conhecimento sagrado do jornalista, em comparação com as outras pessoas (TUCHMAN, 2016). “Atacados devido a uma controversa apresentação de “fatos”, os jornalistas invocam a sua objetividade quase do mesmo modo que um camponês mediterrânico põe um colar de alhos à volta do pescoço para afastar os espíritos malignos” (TUCHMAN, 2016, p. 112).

[...] Os jornalistas não são simplesmente observadores passivos, mas participantes ativos no processo de construção da realidade. E as notícias não podem ser vistas como emergindo naturalmente dos acontecimentos do mundo real; as notícias acontecem na conjunção de acontecimentos e de textos. Enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia também cria o acontecimento (TRAQUINA, 2016, p. 234).

No entendimento de Molotch e Lesters (2016), todos os indivíduos são produtores de notícias a partir dos modos como veem e relatam aquilo que creem ser o mundo. As questões fundamentais do lead “quem, o quê, onde, quando, como, por que” aliadas aos critérios de atualidade, relevância e necessidade de selecionar, excluir ou acentuar diferentes aspectos do acontecimento também marcariam o posicionamento de que a notícia, criando o acontecimento é construtora da realidade (TRAQUINA, 2016).

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As notícias são o resultado de um processo de produção, definido como a percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as notícias). Os acontecimentos constituem imenso universo de matéria-prima; a estratificação deste recurso consiste na seleção do que irá ser tratado, ou seja, na escolha do que se julga ser matéria-prima digna de adquirir a existência pública de notícias, numa palavra – noticiável (TRAQUINA, 2016, p. 236).

Entre as pressões do campo, Traquina (2006) cita o tempo escasso para a produção de notícias e o desafio de “entregar” o produto final, como nos jornais e telejornais. Além dessas pressões condicionantes da profissão, também é tratada a convenção da “credibilidade da autoridade”. O conceito pretende uma definição que as fontes com maior autoridade e poder seriam favorecidas no processo de produção das notícias, já que autoridade, neste caso, estaria aliada à legitimidade para tratar dos assuntos em que é solicitada (TRAQUINA, 2006).

3.1.2 O Discurso Político na configuração midiática

A discussão aqui proposta sobre a relação entre discurso político e discurso jornalístico atravessa entendimentos de que o comportamento do público está diretamente ligado aos discursos relacionados aos imaginários de mitos e de símbolos representativos que impulsionam adesão e confiança do público (CHARAUDEAU, 2008; 2018). O político estaria envolvido por uma dramaturgia que o obrigaria a construir um personagem, uma imagem de si que ainda necessitaria corresponder às expectativas dos governados/público, ou seja, o discurso pode manipular as escolhas políticas a partir da conquista da opinião pública (CHARAUDEAU, 2008, 2016, 2018).

Não existe um ato de linguagem que não passe pela construção de uma imagem de si. Quer queiramos ou não, calculemos ou neguemos, a partir do momento em que falamos, aparece (transparece) uma imagem daquilo que somos por meio daquilo que dizemos. Não se trata tanto de nosso posicionamento ideológico, do conteúdo de nosso pensamento, de nossa opinião, quanto daquilo que sobressai da relação que mantemos conosco e que oferecemos à percepção dos outros. O sujeito que fala não escapa à questão do ethos, a fortiori o sujeito político (CHARAUDEAU, 2008, p. 86).

Desse modo, é possível compreender o discurso político também como uma encenação, dramaturgia (CHARAUDEAU, 2008). Essa dramaturgia reúne elementos de razão, paixão, estratégias e persuasão. “Para o político, é uma questão da estratégia a ser adotada na construção de sua imagem (ethos) para fins de credibilidade e de sedução da

89 dramatização do ato de tomar a palavra (pathos) para fins de persuasão, da escolha e da apresentação dos valores para fins de fundamento do projeto político” (CHARAUDEAU, 2008, p. 84). Na concepção do autor, o político realiza um triplo papel, de ator, personagem e pessoa. Como ator, mostraria sua “suposta” verdadeira imagem e carisma. Como personagem, a intenção seria mostrar o papel de político atuante, trabalhador. Como pessoa, a intenção seria mostrar-se vulnerável, sensível aos sentimentos e disposto a ouvir. A expectativa do público seria reconhecer no político a ligação com esses três papéis (CHARAUDEAU, 2008). A abordagem vai ao encontro do entendimento de Maingueneau (2015) que assegura que a personalidade é tecida de múltiplos “papéis” e suas respectivas atribuições confrontadas por uma teatralidade. Na discussão acerca do papel do discurso político está ancorada uma delimitação de campo onde os diversos posicionamentos são confrontados e submetidos a uma lógica de concorrência na qual cada um busca modificar relações de força em benefício próprio. Os atores políticos encontram-se em uma competição acirrada para deter o monopólio da autoridade enunciativa, falar em nome do povo e pretender um alcance global (MAINGUENEAU, 2015).

Nessas condições, estudar o “percurso” de uma pequena frase de um político contemporâneo – como de um enunciado célebre de César, Napoleão ou Luís XV – não é examinar em que medida seu sentido é “verdadeiro”, o que supostamente estava na cabeça de quem a proferiu, teria sido “alterado”, “deformado”: é observar um incessante trabalho de recontextualização, em função dos interesses dos que a convocam em seus discursos (MAINGUENEAU, 2015, p. 98).

O discurso político também pode ser interpretado como instrumento de comunicação política e governamental, visto que todos os agentes políticos utilizam o discurso como ferramenta reforçadora de uma imagem positiva no cenário da visibilidade pública. Conforme Rego (1985), os discursos integram a comunicação política e buscam proporcionar uma influência positiva na opinião pública “[...] com vistas a estabelecer fluxos informativos com a sociedade e um discurso que lhe confira identidade, legitimidade e imagem pública positiva junto ao eleitor/cidadão” (REGO, 1985, p. 194). Importa compreender um entendimento de Panke (2016), que aponta a existência do descrédito na política acentuada pelo não cumprimento de promessas pelos agentes políticos. “Discurso na política tornou-se sinônimo de mentiras. Justamente por isso, torna-se necessário refletir sobre o que é discurso” (PANKE, 2016, p. 155). O discurso político, no entendimento

90 de Panke (2016) perpassa relações sociais e contextuais, é um recurso social para a manifestação de ideias e para a manutenção do exercício de poder.

Desse modo, considera-se “discurso político” uma das categorias na qual os sujeitos envolvidos referem-se às decisões para o espaço público. Na política, delibera-se, negocia-se, argumenta-se e não há possibilidade de um posicionamento imparcial. A neutralidade, impossível de ser alcançada pelo fato de as opções semânticas demonstrarem preferências ideológicas, torna-se mais improvável neste momento. Ainda que o autor expresse algo aparentemente “em cima do muro”, é possível observar sua posição na aparente busca de imparcialidade (PANKE, 2016, p. 156- 157).

O discurso ocupa um lugar de engajamento, justificação de posicionamento e influência sobre o outro. O discurso político é o resultado de um jogo complexo de entrecruzamento de saberes e crenças construídas e reconstruídas. “Essa construção- reconstrução se opera segundo o lugar ocupado no contrato e, ao mesmo tempo, segundo o posicionamento dos indivíduos que ocupam essas posições” (CHARAUDEAU, 2008, p. 53). Há de se compreender, que o discurso político tem um propósito de ser um discurso de força de verdade, já que cada político apresentaria a sua própria verdade. Essa é uma “[...] força que deve ser superior à do adversário ou do contraditório; na verdade, superior à de qualquer outro que em algum momento poderia a ela se opor” (CHARAUDEAU, 2008, p. 209). Para o autor, discurso político é entendido como uma arte que busca alcançar o maior número de indivíduos para fazê-los aderir a valores comuns, ou seja, massas que seriam influenciadas. Neste sentido, Hackett (2016) pontua que as conferências de imprensa e a maioria dos discursos políticos são exemplos de pseudoacontecimentos com apropriação para influenciar tendências sociais e políticas a partir das notícias (HACKETT, 2016).

Seu suposto estado de não competência, aliado à indeterminação, na verdade, à heterogeneidade de opiniões que elas encerram, as tornam manipuláveis, e a luta para adquirir uma posição de soberania ou para exercê-la torna-se nesse momento, a arte de manipular as massas. Evidentemente, isso não pode ser dito explicitamente, nenhum político poderia se valer de tal ideologia, dado o risco de se ver desacreditado (CHARAUDEAU, 2008, p. 240).

O discurso político encontra-se, portanto, entre a influência da instância política e a reinvindicação da instância cidadã. Dois olhares assimétricos, que encontram interpretações divergentes, algumas nem ouvidas e outras facilmente compreendidas. “Assim, a opinião pública construída pelas mídias escapa ao político, pois apenas raramente ele corresponde ao

91 que deveria ser o alvo do discurso político: uma consciência política” (CHARAUDEAU, 2008, p. 295). Dentro desse universo do discurso político, a instância midiática também se esbarra com a realidade de que todo órgão de informação é uma empresa que visa o lucro. E isso impulsiona a lógica da concorrência para atingir a audiência fazendo existir a lógica da informação, que precisa ser credível e confiável e a lógica do mercado com a necessidade de atingir números. Desse modo, o cidadão é colocado em uma posição esquizofrênica: ele é espectador de combates que envolvem o ideal político e ao mesmo tempo lhe é dada ilusão de ser ator que intervém nas mídias de diferentes formas; é pedida sua opinião, mas ele jamais pode discuti-la; seria desejado que se exprimisse racionalmente, mas só suas emoções são solicitadas. Além do mais, as mídias incitam a instância cidadã à impaciência. Ao selecionar as noticias em função do que é julgado mais evidente na atualidade, interpelando os políticos e destacando sua impotência ou sua procrastinação, elas incentivam a instância cidadã a pedir resultados com urgência, ao passo que se sabe que o tempo da ação política e jurídica não é o das mídias, que trabalham no efêmero (CHARAUDEAU, 2008, p. 295).

A instância midiática dispõe de um potencial de deliberação e auxilia na ação cidadã, contempla papeis ao investigar, prover, transmitir, comentar e provocar informações - no sentido de realizar debates para confrontar pontos de vistas divergentes dos atores sociais e políticos. Parte-se do pressuposto do autor, para quem o discurso jornalístico não pode se contentar em somente reportar fatos, mas garantir uma fiel explicação do por que e do como ao cidadão visando o esclarecimento. O discurso jornalístico produz um discurso de análise e de explicação, não pode se referir a nenhum quadro teórico, não segue nenhuma metodologia particular, não manipula nenhum conceito. (CHARAUDEAU, 2016b).

O discurso jornalístico também é conduzido em nome da finalidade comercial e da aposta de captação que traz consigo, deslizando para um discurso persuasivo, o que não está inscrito no contrato midiático: abundância de testemunhas apresentadas como única prova de autenticidade dos fatos ou da explicação dada. [...] Da mesma forma, o enunciador jornalista é levado a tomar posição, fabricando-se uma imagem de denunciador e seu discurso passa de uma visão de “fazer saber” a uma visão de “fazer pensar” (CHARAUDEAU, 2016b, p. 11).

Com relação à essa questão, Charaudeau (2016b), entende que o discurso jornalístico não pode ser confundido com o discurso político, que está encaminhado a “[...] persuadir o cidadão das benfeitorias de seu projeto ou de sua ação política: ele procura ‘fazer fazer’ ao ‘fazer acreditar’” (CHARAUDEAU, 2016b, p. 11). Para fazer acreditar, as estratégias recorrentes implicam em construir uma imagem de líder incontestável com um discurso de persuasão e adesão, na construção de um ethos de convicção, autoridade, capacidade, em

92 oposição aos adversários (CHARAUDEAU, 2016b). Embora não se pretenda esgotar essa discussão, vale observar novamente que o jornalismo opera na construção social da realidade (VIZEU, 2003; TUCHMAN, 2016, TRAQUINA, 2016) e funcionamento da mídia enquanto uma instituição ideológica (HACKETT, 2016), que o discurso político insiste na desordem social da qual o cidadão seria considerado uma “vítima” (CHARAUDEAU, 2008). Feita essa contextualização pode-se observar que o discurso jornalístico precisa atender a uma intenção de informação, de um “fazer saber”, construindo um ethos de saber, uma intenção que diferencia os posicionamentos dos enunciadores do discurso político, que além do “fazer saber”, precisam fazer crer, convencer e persuadir (CHARAUDEAU, 2016b).

3.2 O aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso (AD) francesa para a compreensão dos discursos

O ponto de partida para compreender o aporte teórico-metodológico da análise de discurso de acordo com a escola francesa começa na década de 1960, com os trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault, especialmente nos Estados Unidos, na França e Inglaterra, com contributos dos campos da filosofia e da linguística (MAINGUENEAU, 2015). “A partir dos anos 1980, se constituiu um espaço de pesquisa verdadeiramente mundial, que integrou correntes teóricas que tinham se desenvolvido independentemente umas das outras em disciplinas e em países distintos” (MAINGUENEAU, 2015, p. 16). A Análise de Discurso (AD) busca compreender não só o que se diz, mas inteiramente “como se diz” em um contexto sócio histórico. Nada é dito fora de um contexto, de uma realidade que abarca sobre si a potencialidade do que é dito. A escola francesa busca a interdisciplinaridade e aptidão para omitir a neutralidade do processo analítico. Outro movimento do aporte-teórico é entender todo processo discursivo inscrito em uma relação ideológica de classes perpassado pela subjetividade, discursividade e pela ideologia. A necessidade de uma teoria materialista do discurso se dá justamente com a existência espontânea do sujeito à evidência do sentido, presente em toda a filosofia idealista da linguagem (PÊCHEUX, 1987a). Ou seja, o sentido de uma palavra ou expressão tem influências determinantes das posições ideológicas dentro de um processo sócio-histórico. “As palavras, expressões, proposições, mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as

93 empregam” (PÊCHEUX, 1995, p. 160). A preocupação central de Pêcheux era a ligação entre o discurso e a prática política perpassada pela ideologia (PÊCHEUX, 1997a, 1997b, 1995). O processo de produção de um discurso é apreendido sempre determinado pelas “condições de produção”: “[...] papel dado ao contexto ou à situação, como pano de fundo específico dos discursos, que torna possível sua formulação e sua compreensão” (PÊCHEUX, 1997b, p. 75). Um discurso é sempre pronunciado a partir de condições de produção dadas, ou seja, o processo discursivo não tem início, supõe uma recorrência infinita e está sempre conjugado a partir de um discurso prévio remetido às relações de sentido nas quais é produzido. “Isto supõe que é impossível analisar um discurso como um texto, isto é, como uma sequência linguística fechada sobre si mesma, mas que é necessário referi-lo ao conjunto de discursos possíveis a partir de um estado definido das condições de produção” (PÊCHEUX, 1997b, p.79). Também fundamentam a escola francesa os autores Dominique Maingueneau (2004) e Patrick Charaudeau (2016) que compreendem que o discurso pode ser interpretado a partir de variáveis como ser orientado, estruturar crenças e mobilizar diferentes estruturas, inscrever-se em contextos, creditado como uma força de ação sobre o outro, interativo, contextualizado, assumido por um sujeito, regido por normas, assumido no bojo de um interdiscurso, marcado por interesses e por construir socialmente o sentido (MAINGUENEAU, 2015). Dentro desses preceitos, destaca-se a definição de ser contextualizado. Neste caso, o discurso detém o poder de modificar o contexto a partir da posição da alteridade. O discurso é assumido por sujeitos responsáveis pelo que estão dizendo: “[...] Um enunciado simples como ‘está chovendo’ é colocado como verdadeiro pelo enunciador, que se apresenta como responsável pelo enunciado, como o fiador da sua veracidade” (MAINGUENEAU, 2004, p. 55). A análise do discurso é um empreendimento que estabelece pontes onde habitualmente prevaleceria a descontinuidade: entre texto e contexto, entre fala e ação, fala e instituição. Os estudos do discurso perpassam analisar esses funcionamentos e exercer poder de criticidade, relacionadas ao funcionamento das instituições que os produzem (MAINGUENEAU, 2015). Conforme explana Charaudeau (2008), o sujeito que fala não é totalmente livre para falar, depende da situação de comunicação e da posição em que se encontra e dos propósitos específicos de cada discurso, sejam eles políticos, publicitários, didáticos, científicos, jurídicos ou religiosos, entre outros (CHARAUDEAU, 2008). A discussão aqui proposta sobre o discurso apresenta definições do potencial das possibilidades que esse campo

94 apresenta, relacionadas às múltiplas interpretações, localização na historicidade e pelo viés da interação texto/leitor (BENETTI, 2006). As autoras brasileiras Eni Orlandi, Marcia Benetti, Helena Brandão fundamentam muito dos estudos de análise de discurso no território brasileiro ancorada nos estudos das obras dos autores franceses. A tradição europeia buscava a interdisciplinaridade e uniu o estudo da psicanálise, linguística, e do materialismo histórico. A psicanálise está embasada no fato de o indivíduo ter a ilusão de ser a origem de tudo o que diz, no entanto, está imerso em um universo de interdiscursos e relações entre o dito e não dito que exercem clara influência nos dizeres. A linguística prevê o sujeito como sócio histórico e a ligação entre aquele que fala, a história e a sociedade que o envolvem. O materialismo histórico diz respeito ao indivíduo e suas diferentes participações, pertencimentos e aleatoriedades nas diferentes classes sociais (ORLANDI, 2002). A AD tem como ponto fundamental identificar a produção de sentidos. Para isso, Orlandi (2007) destaca que é necessária uma identificação da discursividade, e o trabalho com paráfrases e relação do dito com o não dito. “Esta etapa prepara o analista para que ele comece a vislumbrar a configuração das formações discursivas que estão dominando a prática discursiva em questão” (ORLANDI, 2007, p. 78). A articulação entre os estudos da mídia e os de análise do discurso é reforçada por Gregolin (2007), que teoriza que ambos são complementares já que objetivam as produções sociais de sentidos. Para a autora, os textos da mídia permitem ao leitor produzir suas próprias formas simbólicas de representar a realidade e não somente conferir legitimidade à realidade oferecida pela mídia: “Os campos da AD e dos estudos da mídia podem estabelecer um diálogo extremamente rico, a fim de entender o papel dos discursos na produção das identidades sociais” (GREGOLIN, 2007, p. 13). De acordo com Benetti (2006), uma metodologia ultrapassa a superficialidade de ser apenas um procedimento para resolver os problemas. “Uma metodologia insere-se, necessariamente, em quadros teóricos capazes de sustentar uma visão particular sobre o objeto de pesquisa” (BENETTI, 2006, p. 2). Há de se assimilar ainda que a AD busca compreender como um discurso funciona. Para isso o analista precisa identificar que sentidos estão sendo produzidos, quem são os sujeitos que falam, para quem estão falando, que e quais posições ocupam para enunciar, anterior e exteriormente e também como os diversos discursos estão sendo articulados nos modos de controle do poder-dizer (BENETTI, 2016).

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Como se pode perceber, a noção de sujeito é fundamental à AD. Ainda assim, este sujeito do discurso não fala com plena liberdade, pois é assujeitado pelas condições históricas materiais, pela ideologia e pela cultura. Não sendo totalmente livre, também não é totalmente assujeitado, havendo uma tensão importante entre o que o constitui socialmente e o que ele traz de único. Nada disso é mensurável pelo analista de discurso. O essencial é compreender esta dinâmica em que o sujeito é descentrado, dividido e integrado ao funcionamento dos processos discursivos (BENETTI, 2016, p. 239).

Na análise de discurso, procura-se a compreensão de como a língua produz sentidos por/para os sujeitos. O discurso é voltado para a produção de sentidos e perpassado por ideologias (ORLANDI, 2002). Com o objetivo de compreender a produção social de sentidos realizada por sujeitos históricos e por meio da materialidade das linguagens (GREGOLIN, 2007), a análise do discurso é posicionada com um papel de auxiliar na significação do homem e no protagonismo da linguagem necessário ao convívio social (ORLANDI, 2002).

Em suma, a AD visa à compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica em explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido (ORLANDI, 2002, p. 26-27).

Para Panke (2014), os discursos dimensionam o mundo e apresentam recortes da realidade em que estão inseridos. “Portanto, a palavra passa a ser um bem a ser conquistado, pois sua utilização pública – para públicos ou massa” (PANKE, 2014, p. 19). A autora destaca que o discurso leva o ouvinte a tomar uma atitude, definir uma posição.

O discurso, por sua vez, conceitua-se como o resultado de um efeito de sentido construído pela articulação entre processos ideológicos, fenômenos linguísticos e não linguísticos. Ele é construído e modificado pelas situações nas quais está inserido e influenciado por posições ideológicas subjacentes, conforme a Análise de Discurso (AD) originada da França (PANKE, 2014, p. 19).

Conforme Brandão (1994), entender a análise de discurso é compreender que o discurso estará munido de sujeito e contexto que permitem identificar uma intencionalidade interpelada por uma manifestação de ideologias. A linguagem, enquanto discurso, portanto, não significa apenas um agrupado de palavras inertes e neutras, ao contrário, permite a interpretação de que nenhum discurso é proferido de forma imparcial.

A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento; a linguagem enquanto discurso é interação, e um modo de produção social; ela não é neutra, inocente (na medida em que está engajada numa intencionalidade) e nem natural,

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por isso o lugar privilegiado de manifestação da ideologia (BRANDÃO, 1994, p. 12).

De acordo com Panke (2014), não existe neutralidade discursiva, pois se um enunciado encontra-se em uma forma de apresentação é porque deriva de uma escolha, esvaindo a imparcialidade. “[...] O efeito de sentido causado no encadeamento lexical rege-se pelo contexto em que está inserido e pertence a um processo de enunciação” (PANKE, 2014, p. 25). É imprescindível atentar para o que é dito e para o que se deixa de dizer. É significativo ter em mente que o sujeito por meio do discurso produz sentidos e que a análise e interpretação precisam ocorrer com base nesses fatores. Nesta linha de interpretação, Orlandi (2007) explana que o texto73 é protagonista de um jogo de sentidos e instrumento de interpretação “[...] Um texto é só uma peça de linguagem de um processo discursivo bem mais abrangente e é assim que deve ser considerado. Ele é um exemplar do discurso” (ORLANDI, 2007, p. 72). Maingueneau (2015) considera que o sentido é continuamente construído e reconstruído no interior de práticas sociais determinadas por indivíduos inseridos em configurações sociais de diversos níveis (MAINGUENEAU, 2015). Pertencente a esse jogo de sentidos, o discurso é influenciado pelo contexto que também permeia sobre aquele que diz. Conforme Foucault (1996):

O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos; e, quando tudo pode, enfim, tomar a forma do discurso, quando tudo pode ser dito a propósito de tudo, isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado e intercambiado seu sentido, podem voltar à interioridade silenciosa da consciência de si (FOUCAULT, 1996, p. 49).

Orlandi (2002) destaca que a análise de discurso não considera sequer, essa neutralidade ou a transparência. “Desse modo ela não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. A questão que ela coloca é: como este texto significa?” (ORLANDI, 2002, p. 17). Acerca dos sentidos, Benetti (2006) explana que eles precisam ser pensados na sua historicidade. Isso quer dizer que o dizer do homem perpassa o sistema de significação em que se inscreve por meio do discurso.

3.2.1 Ideologia, interdiscurso, formações discursivas e ethos discursivo (imagem de si)

73O conceito de texto aqui empregado é amplo, se refere à materialidade daquilo que está em análise discursiva, podendo ser texto verbal, imagens, sons, etc.

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Dentro da análise de discurso é necessário compreender o conceito de ideologia para relacioná-lo dentro do processo analítico. Uma das concepções mais conhecidas é a de Marx e Engels. Para eles, a ideologia é a separação que se faz entre a produção das ideias e as condições sociais e históricas em que são produzidas (BRANDÃO, 1994). Pêcheux (1997a) parte do pressuposto de que a ideologia interpela os indivíduos em sujeitos. Ou seja, fornece evidências para o senso comum do entendimento do que é um patrão ou empregado, que fazem enunciados dizer o que realmente querem dizer: o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. Feita esta contextualização, pode-se observar que os sentidos das proposições não existem “em si mesmo”, mas são determinados conforme posições ideológicas do próprio contexto sócio histórico que são produzidas (PÊCHEUX, 1997a). Ainda conforme Brandão (1994), para Althusser, essa dominação que prevalece a partir da classe dominante entra em acordo com o Estado. São introduzidos os Aparelhos Repressores do Estado (ARE), que compreendem o governo, a administração, o exército, a política, os tribunais e prisões. Também são protagonistas os Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE), que são a religião, a escola, família, o direito, a política, o sindicato, a cultura e a informação. De acordo com Brandão (1994), ancorada em Althusser, o Estado por meio desses aparelhos “[...] intervém ou pela repressão ou pela ideologia, tentando forçar a classe dominada a submeter-se às relações e condições de exploração” (BRANDÃO, 1994, p. 22). Estudioso da escola linguística russa, Bakhtin (2004) destaca que a ideologia é compreendida por meio de signos, sendo que sem eles não pode haver ideologia. “[...] O domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico” (BAKHTIN, 2004, p. 32). De acordo com Bakhtin (2004), os signos estão interligados a condições socioeconômicas, a uma ideologia do cotidiano e a um contexto histórico. Também destaca os signos como uma arena para luta de classes:

Os signos também são objetos naturais, específicos, e, como vimos, todo produto natural, tecnológico ou de consumo pode tornar-se signo e adquirir, assim, um sentido que ultrapasse suas próprias particularidades. Um signo não existe apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico. (BAKHTIN, 2004, p. 32).

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Para o autor, a ideologia que permeia esses signos e interpela os sujeitos, resulta nas palavras. “[...] Tanto é verdade que a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos. [...] As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios” (BAKHTIN, 2004, p. 41). O processo de Análise do Discurso segundo Pêcheux (1995) identifica duas formas de esquecimento, que fazem com que o orador tenha a ilusão de que tem controle no que diz. Conforme Pêcheux (1995), um deles é o ideológico, que compreende ter a ilusão de que somos a origem do que dizemos, quando, o que ocorre é a retomada de sentidos já existentes. Esse esquecimento está no sistema inconsciente e revela a interferência da ideologia. O segundo esquecimento é o enunciativo e se relaciona em escolher uma palavra e não outra, quando o sujeito-falante “seleciona” no interior da formação discursiva que o domina. Importa compreender que a instância ideológica faz que os sujeitos tenham a impressão de estarem exercendo sua livre vontade, mas são realidades complexas designadas pelos “aparelhos ideológicos do Estado” (PÊCHEUX, 1997b). Orlandi (2007) explana que linguagem e ideologia se articulam já que todas as palavras do nosso cotidiano já vêm carregadas de sentido.

Podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem. As formações discursivas, por sua vez, representam no discurso as formações ideológicas. Desse modo, os sentidos sempre são determinados ideologicamente. Não há sentido que não o seja. Tudo que dizemos tem, pois, um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. (ORLANDI, 2007, p. 43).

Conforme Brandão (1994), o sujeito para ter identidade, precisa estar inteirado com o outro. E não há discurso sem sujeito e sujeito sem ideologia. A AD vale-se desses recursos para obter uma análise completa do que se buscou dizer e quais intenções estavam impregnadas na fala.

Para a Análise do Discurso, é essa concepção de sujeito – que vai perdendo a polaridade centrada ora no eu ora no tu e se enriquecendo com uma relação dinâmica entre identidade e alteridade – que vai ocupar o centro de suas preocupações atuais. Para ela, o centro da relação não está nem no eu nem no tu, mas no espaço discursivo criado entre ambos. O sujeito só constrói sua identidade na interação com o outro. E o espaço dessa interação é o texto. (BRANDÃO, 1994, p. 62).

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Para Brandão (1994), tudo o que é dito é carregado de uma ideologia, que às vezes protagoniza-se inerte para aquele que diz. Aquele que diz, utiliza palavras e expressões que podem alternar o sentido, portanto, o orador/sujeito traz consigo uma experiência e memória discursiva onde atuam a formação ideológica e discursiva. É o que analisa Orlandi (2007):

Ao dizer, o sujeito significa em condições determinadas, impelido, de um lado, pela língua e, de outro, pelo mundo, pela sua experiência, por fatos que reclamam sentidos, e também por sua memória discursiva, por um saber/poder/dever dizer, em que os fatos fazem sentido por se inscreverem em formações discursivas que representam no discurso as injunções ideológicas. (ORLANDI, 2007, p. 53).

Ainda, de acordo com Orlandi (2007), as palavras não são propriedades exclusivas nossas. “O sujeito diz, pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem nele” (ORLANDI, 2007, p. 32).

O dizer do homem é afetado pelo sistema de significação em que o indivíduo se inscreve. Esse sistema é formado pela língua, pela cultura, pela ideologia e pelo imaginário – com toda a complexidade e diversidade que esses campos pressupõem. Dizer e interpretar são movimentos de construção de sentidos, e, assim como o dizer, também o interpretar está afetado por sistemas de significação. A AD está preocupada com este movimento de instauração de sentidos, que requer compreender os modos de funcionamento de um discurso (BENETTI, 2006, p. 4).

Isso quer dizer que ao comunicar, o sujeito até pensa ter domínio sobre o que está falando, porém, ao dizer já está carregado de ideologia e de sentidos. De acordo com Courtine e Marandin (apud Brandão, 1994), uma característica dos discursos é a heterogeneidade. Isso quer dizer que para a análise ocorrer é preciso levar em conta:

A constituição de um corpus discursivo fechado em que a retomada de sequências discursivas seja garantida; As operações de extração e de segmentação, nesse corpus, de sequências organizadas em torno de unidades lexicais consideradas “chaves” ou “pivôs”; esse procedimento torna o corpus mais homogêneo ao tratá-lo como dicionário em que a frequência da repetição dos vocábulos fornece as entradas. (COURTINE; MARANDIN apud BRANDÃO, 1994, p. 71-72).

Orlandi (2007) aponta que essa observação/marcação é feita a partir de formações imaginárias baseadas na imagem pré-concebida da determinada pessoa analisada no discurso. Para realizar essa análise é preciso que predomine o esquecimento número dois (enunciação). A análise deve desfazer esse esquecimento que nos faz pensar que o que é dito só poderia ser dito da maneira que foi. “Construímos, a partir do material bruto, um objeto discursivo em

100 que analisamos o que é dito nesse discurso e o que é dito em outros, em outras condições, afetados por diferentes memórias discursivas”. (ORLANDI, 2007, p. 65). Além da clara noção de que os discursos produzem sentidos, que possuem sujeitos e ideologia e que se estabelecem em uma formação ideológica e discursiva é fundamental entender sua relação com os interdiscursos. Maingueneau (2015) aponta que o sujeito não pode ser a origem do sentido, já que o analista de discurso estudará elementos pré-construídos no interdiscurso (MAINGUENEAU, 2015). Brandão (1994) destaca que a especificidade de um discurso ocorre quando ele é colocado em relação com outros discursos, ou seja, pela interdiscursividade. Portanto, o desafio maior da análise de discurso é “[...] realizar leituras críticas e reflexivas que não reduzam o discurso a análises de aspectos puramente linguísticos nem o dissolvam num trabalho histórico sobre a ideologia” (BRANDÃO, 1995, p. 83).

O interdiscurso é todo um conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que elas já façam sentido. E isto é efeito do interdiscurso: é preciso que o que foi dito por um sujeito específico, em um momento particular se apague na memória para que, passando para o ‘anonimato’, possa fazer sentido em ‘minhas’ palavras (ORLANDI, 2001, p. 33-4).

Em uma argumentação que corrobora com Orlandi, Maingueneau (2004) detalha que o discurso só adquire sentido quando está em sintonia com demais discursos. “Cada gênero de discurso tem sua maneira de tratar a multiplicidade das relações interdiscursivas” (MAINGUENEAU, 2004, p. 55-56). Conforme Maingueneau (2004), o discurso “só adquire sentido no interior de um universo de outros discursos, lugar no qual ele deve traçar seu caminho” (MAINGUENEAU, 2004, p. 55). Isso requer a interpretação e relação com outros discursos. Orlandi (2007) reitera o conceito de interdiscurso e reflete que não somos a origem do que dizemos, mas que somos dotados de uma memória discursiva que abarca ideologia e inconsciente que estão fortemente manifestados. Acredita-se ter uma opinião pessoal, mas logo se percebe que não é exclusivamente nossa (CHARAUDEAU, 2016).

Como dissemos, o interdiscurso – a memória discursiva – sustenta o dizer em uma estratificação de formulações já feitas, mas esquecidas e que vão construindo uma história de sentidos. É sobre essa memória, de que não detemos o controle, que nossos sentidos se constroem, dando-nos a impressão de sabermos do que estamos falando. Como sabemos, aí se forma a ilusão de que somos a origem do que dizemos (ORLANDI, 2007, p. 54).

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Há sempre no dizer um “não dizer” (ORLANDI, 2007). Baseada nos estudos de Ducrot (1972), Orlandi entende que “[...] quando se diz ‘x’, o não dito ‘y’ permanece como uma relação de sentido que informa o dizer de ‘x’” (ORLANDI, 2007, p. 82). Por exemplo, ao dizer “sem medo”, a pessoa deixa de falar “com coragem”. “Em outras palavras, o interdiscurso determina o intradiscurso: o dizer (presentificado) se sustenta na memória (ausência) discursiva” (ORLANDI, 2007, p. 82-83). Também há o silêncio que acompanha as palavras e que também tem sua significação. Essa interferência implica na observação do que não está sendo dito e o contexto para isso ter ocorrido. Os discursos não são fechados - compõe um processo no qual se podem recortar e analisar estados diferentes, sempre relacionando com outros pela interdiscursividade (ORLANDI, 2007). Maingueneau (2004) destaca que para determinar o sentido de um enunciado é fundamental mobilizar regras denominadas pragmáticas. “O leitor presumirá, sem dúvida, que uma repartição pública não se daria ao trabalho de colocar um cartaz que não se destinasse expressamente às pessoas que ocupassem aquela sala” (MAINGUENEAU, 2004, p. 27-28). Isso quer dizer que os discursos são feitos com base em quem os ouvirá, portanto o direcionamento é pré-existente.

Como em um jogo de xadrez, é melhor orador aquele que consegue antecipar o maior número de “jogadas”, ou seja, aquele que mobiliza melhor o jogo de imagens na constituição dos sujeitos (no caso, eleitores), esperando-os onde eles estão, com as palavras que eles “querem” (gostariam de, deveriam etc.) ouvir (ORLANDI, 2007, p. 41-42).

Maingueneau (2004) aponta a sinceridade e o engajamento do enunciador que revela as consequências em tudo o que é dito. Todo ato de fala, entendido como “prometer”, “afirmar” ou “desejar” implica em regras. “Por exemplo, para afirmar algo, deve-se estar em condições de garantir a verdade do que se diz; para dar uma ordem, deve-se querer que a ordem seja obedecida, não ordenar alguma coisa impossível ou já realizada” (MAINGUENEAU, 2004, p. 35). Ao pensar em interdiscurso e consequências no ato de fala, torna-se pertinente a clareza acerca dos conceitos de formação ideológica (FI) e formação discursiva (FD). A formação ideológica abarca uma ou várias formações discursivas e isso implica dizer que os discursos são governados por formações ideológicas. De acordo com Pêcheux (1995), os sentidos se configuram em torno das formações discursivas (FD) que representam aquilo que

102 pode e deve ser dito, em contraposição ao que não pode e não deve ser dito, a partir de uma posição dada, em uma conjuntura dada (PÊCHEUX, 1988). A produção de sentido é parte integrante da interpelação do indivíduo em sujeito do seu discurso que se realiza pela identificação com a formação discursiva que o domina. A consequência é que por meio desse processo as palavras, expressões e proposições recebem seus sentidos da formação discursiva à qual pertencem (PÊCHEUX, 1997). Essas formações, segundo Pêcheux (1995) apontam para a materialidade do discurso e do sentido. A discursividade é, portanto, uma das formas específicas da ideologia respaldada pelo que Pêcheux chama de “todo complexo das formações discursivas (o interdiscurso) intrincado nas formações ideológicas” (PÊCHEUX, 1997a). “As palavras refletem sentidos de discursos já realizados, imaginados ou possíveis. É desse modo que a história se faz presente na língua” (ORLANDI, 2007, p. 67). Com a finalidade de conectar as formações discursivas e ideológicas, Pêcheux (1995), detalha que os indivíduos são “interpelados”, que quer dizer, explicar, ser dirigidos em sujeitos do seu próprio discurso “[...] pelas formações discursivas que representam ‘na linguagem’ as formações ideológicas que lhes são correspondentes”. (PÊCHEUX, 1995, p. 161). Os processos discursivos não se originam no sujeito. No entanto, precisam do sujeito para se realizarem (processo de assujeitamento). O discurso concreto é um complexo de processos que remetem a diferentes condições que culminam no sujeito se apropriar da ilusão de ser a fonte do sentido (PÊCHEUX, 1997b).

Por exemplo, a “posição mãe”, e mais particularmente mãe em uma cultura e em uma época, é uma posição de sujeito já um tanto estruturada que uma mulher específica vem ocupar para enunciar, e quando enuncia já não o faz de modo totalmente livre, mas de um modo transformado pela representação daquele lugar no processo discursivo. Esse modo transformado ocorre porque ela, que enuncia, incorpora algo (quase tudo, muito, pouco, quase nada?) daquele lugar onde se posiciona para enunciar, mas também porque seu discurso é uma potência que se concretiza quando o interlocutor recria seus sentidos. E não podemos esquecer que o interlocutor – também ele – se posiciona para interpretar, e quando o faz ocupa certa posição de sujeito, não sendo também totalmente livre (BENETTI, 2016, p. 237).

Acerca das formações imaginárias, Benetti (2016) explana como sendo um “lugar determinado na estrutura de uma formação social”, ligado com a posição do sujeito e o lugar construído socialmente para ele, já que não é possível imaginar o funcionamento de qualquer discurso sem considerar que os sujeitos envolvidos ocupam posições que lhes são anteriores.

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De modo correlato ao entendimento a respeito das formações imaginárias, é relevante o conceito de ethos discursivo (imagem de si), proposto por Dominique Maingueneau que significa uma representação do locutor condicionada pela enunciação, enviesada por posturas e estilos além da própria fala. A aceitabilidade ou recusa da enunciação está atrelada aos estereótipos e representações sociais que circundam o discurso. E as representações da imagem de si no caráter discursivo ocorrem antes mesmo que o enunciador fale. Dito de outra forma, pelas formações imaginárias já se tem uma situação pré-discursiva porque se entende que o orador já é pertencente a um quadro de representação social que o molda e o condiciona para falar o que se espera que seja falado nas situações determinadas conforme os papeis sociais empregados (MAINGUENEAU, 2008). O conceito de ethos discursivo tem origem na retórica de Aristotélica e com o “parecer ser” de honestidade que o orador precisa transmitir, os efeitos de verdade. Entende-se que segundo Barthes (apud AMOSSY, 2005, p. 70), ethos "são traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório (pouco importando sua sinceridade) para causar boa impressão”.

O ethos faz parte, como o “logos” e o “pathos”, da trilogia aristotélica dos meios de prova. Adquire em Aristóteles um duplo sentido: por um lado, designa as virtudes morais que garantem credibilidade ao orador, tais quais a prudência, a virtude e a benevolência; por outro, comporta uma dimensão social, na medida em que o orador convence ao se exprimir de modo apropriado a seu caráter e a seu tipo social. Nos dois casos, trata-se da imagem de si que o orador produz em seu discurso, e não de sua pessoa real (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2006, p. 220).

Em pragmática, a imagem de si está situada na centralidade da enunciação visto que as modalidades do dizer permitem conhecer melhor o locutor do que aquilo que ele pode afirmar sobre si mesmo. Maingueneau retoma o conceito afirmando que o enunciador deve legitimar seu dizer em uma determinada cenografia, que é um cenário familiar que dita a postura, como exemplifica ao se referir a um pai benevolente diante de seus filhos ou a um homem de fala rude e direta. “A imagem discursiva de si é, assim, ancorada em estereótipos, um arsenal de representações coletivas que determinam, parcialmente, a apresentação de si e sua eficácia em uma determinada cultura” (CHARAUDEAU, MAINGUENEAU, 2006, p. 221). Toda a maneira de dizer remete a uma maneira de ser e pelo enunciado o fiador deve legitimar a maneira de dizer que está configurada sócio historicamente. O ethos discursivo extrapola os limites de um caráter persuasivo e é pertencente a uma cena de enunciação com vistas a validar a condição de ser enunciado. Essa cena é composta pela “cena englobante”,

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“cena genérica” e “cenografia”. A primeira é o tipo do discurso, seu estatuto pragmático. A genérica é a instituição discursiva, como um editorial ou sermão. Já a cenografia é construída pelo próprio texto (MAINGUENEAU; AMOSSY, 2008).

Pode-se, na verdade, falar de “cena” para caracterizar qualquer gênero do discurso que implica um tipo de dramaturgia. A cena de fala não pode, portanto, ser concebida como um simples quadro, uma decoração, como se o discurso sobreviesse no interior de um espaço já construído e independente desse discurso. Ela é constitutiva dele (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2006, p. 95).

A cena de enunciação, no que concerne ao discurso, aciona o fato de a enunciação ocorrer em um espaço instituído, um discurso como realidade da fala, em uma configuração sócio-histórica na qual está inscrita e pressupõe a influência da realidade social, que perpassa até mesmo a transmissão de informações e o ensino educacional, por exemplo. Preexiste a uma série de regras, comportamentos e, principalmente, disparidades e classes que podem atuar, inclusive, implicitamente em tudo que vai interferir para compor o ethos discursivo do orador (CHARAUDEAU, 2008).

O ethos discursivo mantém relação estreita com a imagem prévia que o auditório pode ter do orador ou, pelo menos, com a ideia que este faz do modo como seus alocutários o percebem. A representação da pessoa do locutor anterior a sua tomada de turno – às vezes denominada ethos prévio ou pré-discursivo – está frequentemente no fundamento da imagem que ele constrói em seu discurso: com efeito, ele tenta consolidá-la, retificá-la, retrabalhá-la ou atenuá-la. Essa noção, que permanece problemática, dado que extradiscursiva, é, entretanto, adotada, com diversas precauções, por mais de um analista (AMOSSY, 2008).

A necessidade à uma interação particular que implica dois parceiros, relação com a alteridade, correspondente ao discurso, confere à enunciação a necessidade da intencionalidade da verdade. Ethos é, portanto, através do discurso, processo interativo de influência sobre o outro, noção sócio discursiva, comportamento socialmente avaliado e condicionado.

3.2.2 As condições de produção e a identificação dos sentidos

A Análise de Discurso de linha francesa pensada especificamente ao campo jornalístico permite, principalmente, dois tipos de estudo, classificados como identificação dos sentidos a partir das formações discursivas, silenciamento, movimentos de paráfrase e

105 polissemia e o outro voltado para o mapeamento das vozes: jornalista, instituição, fonte, leitor (BENETTI, 2006). O foco desse estudo é a identificação dos sentidos, mas que não deixa de ter relação com o estudo das vozes. Em nosso gesto interpretativo, utilizaremos a análise dos sentidos do discurso político e do discurso jornalístico. O jornalismo constrói sentidos sobre a realidade em um processo de circulação e produção. “De forma sucinta, o jornalismo é um discurso: a) dialógico; b) polifônico; c) opaco; d) ao mesmo tempo efeito e produtor de sentidos; e) elaborado segundo condições de produção e rotinas particulares” (BENETTI, 2010, p. 107).

O objeto da análise do discurso não são, então, nem os funcionamentos textuais, nem a situação de comunicação, mas o que os amarra por meio de um dispositivo de enunciação simultaneamente resultante do verbal e do institucional. Nessa perspectiva, pensar os lugares independentemente das falas (reducionismo sociológico) ou pensar as falas independentemente dos lugares do quais são parte pregnante (reducionismo linguístico) é permanecer aquém das exigências que fundam a análise do discurso. Quer entremos no discurso pelo viés de sua inscrição social ou pelo dos funcionamentos linguísticos, somos levados, de um modo ou de outro, a encontrar sua vertente (MAINGUENEAU, 2015, p. 47).

No processo de mapeamento dos sentidos, o analista pode trabalhar com a delimitação dos “sentidos nucleares” a partir da identificação das formações discursivas (FDs), que podem ser numerosas tanto quanto os sentidos.

Uma palavra, uma expressão ou uma proposição não têm um sentido que lhes seria próprio, preso a sua literalidade. [...] O sentido é sempre uma palavra, uma expressão ou uma proposição por outra palavra, outra expressão ou proposição; e esse relacionamento, essa superposição, essa transferência (meta-phora), pela qual elementos significantes passam a se confrontar, de modo que “se revestem de um sentido”, não poderia ser predeterminada por propriedades da língua, por exemplo, ligações “linguísticas” entre sintaxe e léxico (PÊCHEUX, 1997a, p. 263).

O método da análise de discurso requer disposição intelectual do pesquisador. Normalmente, as formações discursivas são numeradas para indicar o sentido principal de cada uma a partir da identificação das marcas discursivas de sentido englobadas em cada uma delas (BENETTI, 2010). A noção de formação discursiva permite a constituição de corpora heterogêneos e a união de enunciados originários de diversos tipos de unidades tópicas que resultam em vários tipos de formações discursivas (MAINGUENEAU, 2015).

No caso de uma pesquisa que trata de notícias sobre religião, por exemplo, as marcas de um tipo de discurso (católico, evangélico, judaico, islâmico etc.) levarão o pesquisador à teoria das religiões para compreender as formações ideológicas que,

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existindo anterior e exteriormente ao objeto pesquisado, acabaram por determinar aquelas formações discursivas identificadas no texto (BENETTI, 2010, p. 113).

Benetti (2006) reflete sobre a Análise do Discurso francesa (AD) como um método de estudo dos textos jornalísticos pertinentes aos campos do jornalismo e da linguagem. O início do estudo compreende a análise do texto, na qual é preciso levar em consideração que este ocorre a partir de um movimento de forças exteriores e anteriores, conforme Benetti (2010, p.111):

O texto é a parte visível ou material de um processo altamente complexo que inicia em outro lugar: na sociedade, na cultura, na ideologia, no imaginário. A conjugação de forças que compõem o texto nem sempre e aparente – diríamos mesmo que raramente é visível por si mesma, e só o método arqueológico do analista de discurso pode evidenciar esta origem.

As vozes que falam na mídia fazem eco a outros dizeres provenientes de outros lugares da sociedade (GREGOLIN, 2007) e esses discursos da mídia reconstroem, reformatam e propõe novas identidades. O próprio dizer carrega uma carga semântica com intencionalidade no fluxo da história e dos poderes. A mídia se desenha como uma fonte de produção de subjetividades na rede de discursos que modelam a história do presente (GREGOLIN, 2007). É necessária a compreensão de que existe algo externo e anterior na produção do discurso. Ou seja, parte-se do texto para apreender o que é anterior e exterior: o texto não é um fim em si mesmo, pelo contrário, já se encontra abastecido de ideologias e de produção de sentidos. No texto, isso fica evidenciado porque se enxerga a camada discursiva, mas é fundamental que o analista, por meio da análise do discurso e da identificação das formações discursivas, aponte a camada/configuração ideológica. “A lógica da AD nos diz que um sentido sempre vem representar aquilo que poderia ser dito, naquela conjuntura específica, por aqueles sujeitos em particular, instados ideologicamente a dizer uma coisa, e não outra” (BENETTI, 2010, p. 112).

A análise de discurso não pode estudar textos, a não ser que sejam convertidos em corpus. Um corpus pode ser constituído por um conjunto mais ou menos vasto de textos ou de trechos de textos, até mesmo por um único texto. [...] Os analisas do discurso não estudam obras; eles constituem corpora, eles reúnem os materiais que julgam necessários para responder a esse ou àquele questionamento explícito, em função das restrições impostas pelos métodos aos quais recorrem (MAINGUENEAU, 2015, p. 40).

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Outro conceito fundamental em AD é o de dialogismo no qual a palavra orienta-se para alguém. O termo compreende a relação entre sujeitos (intersubjetividade) e à relação entre discursos (interdiscursividade). “A relação se dá sempre entre sujeitos, e o texto é uma materialidade discursiva em potência, que se concretiza ao produzir sentidos por um sujeito que o enuncia ou interpreta” (BENETTI, 2016, p. 236). Na interpretação de Charaudeau e Maingueneau (2006), o conceito compreende as relações que todo enunciado mantem com aqueles produzidos anteriormente e os enunciados futuros (2006, p.163):

Devido às numerosas interpretações, sempre divergentes, que se fizeram das concepções do Círculo de Bakhtin, a partir de seus diferentes tradutores, emprega-se o termo “dialogismo” como um simples substituto de “dialogal” [...] que propõe cruzar os pares monologal/dialogal e monológico/dialógico, a fim de evitar toda e qualquer ambiguidade e tornar a descrição mais clara. Conceito operatório incontestavelmente sedutor e produtivo, o dialogismo, com efeito, não permite, sozinho, descrever os textos ou dados empíricos aos quais a análise do discurso se encontra confrontada, e necessita do auxílio de noções descritivas emprestadas majoritariamente das teorias enunciativas.

Na identificação das sequências discursivas74, elencadas preliminarmente para depois ocorrer o reconhecimento das formações discursivas, também ocorre o movimento da paráfrase que é a repetição do mesmo sentido, nas variadas sequências discursivas no esforço de mapear e analisar os sentidos hegemônicos dos discursos. Sobre esse aspecto, é importante diferenciar o conceito de polissemia. “Ao movimento da repetição dá-se o nome de paráfrase; ao movimento de deslocamento, abertura de sentidos, ruptura dos processos de significação, dá-se o nome de polissemia” (BENETTI, 2016, p. 241). Feita esta contextualização, pode-se observar que o discurso jornalístico quase nunca se basta unicamente para a análise.

O analista só conseguirá perceber a complexidade discursiva e a articulação dos sentidos se conhecer os modos de funcionamento do discurso em análise: quais as suas finalidades, como distribui os lugares de fala, que características conferem legitimidade ao enunciador, como constrói os lugares de leitura e interpretação, quais são suas regras gerais de controle e funcionamento (BENETTI, 2016, p. 245).

Não existe uma fórmula concreta para analisar o discurso. Dependerá do analista interpretar dentro desses pressupostos e ter clareza de que o discurso jornalístico tem a

74 Segundo Benetti (2016) a definição de sequência discursiva (SD) compreende um trecho recortado do texto em análise pelo pesquisador, porque contém elementos que respondem à questão de pesquisa; seu início e seu final são definidos pela correspondência a essa questão. É habitual numerar cada SD, para facilitar a organização do corpus da pesquisa (BENETTI, 2016, p. 248).

108 pretensão de ser plural e que o não dito apresenta tanta força quanto o dito nesse processo (BENETTI, 2016). O pesquisador deverá buscar fora do âmbito do texto, as formações ideológicas entendidas como discursos “outros”, instados em outras instâncias como a política, religiosa, econômica (BENETTI, 2016).

A primeira etapa – manual – do procedimento consiste em dividir o corpus em Sequências Discursivas Autônomas (SDA) que constituem as unidades máximas de comparação. A ideia de uma segmentação em SDA é coerente com uma das hipóteses principais da AAD, que diz respeito ao processo de produção de efeito de sentido. Na verdade, é a partir da relação de suas sequências, do estudo de suas possibilidades de comutação, de substituição, eventualmente de equivalência, que poderemos pôr em evidência os processos discursivos. As SDA são, no entanto, o produto de um “arrancar” pedaços do texto, que impede todo tratamento desse texto em sua sequencialidade (PÊCHEUX, 1997, p. 257-258).

Panke (2016) compreende discurso como efeito de sentido a partir da interação entre os sujeitos dependendo das condições de produção. Essas condições, conforme a autora interferem no processo de comunicação na medida em que permeiam aspectos subjetivos como o próprio ambiente, contexto sócio-histórico e ideologia. A abordagem vai ao encontro do entendimento de Pêcheux (1997b), para quem discurso não é necessariamente uma transmissão de informação entre interlocutores, mas um “efeito de sentidos” sobre a alteridade.

O sentido, portanto, não é dado, é construído. Uma vez que o discurso é uma prática social, a prática do discurso não poderá ser entendida separadamente das práticas que não são discursivas – mas a relação do discurso com o que não é discurso é algo que se dá discursivamente. Portanto, deve-se incluir o lugar de onde se fala. Esse lugar, metaforicamente falando, é o papel institucional do sujeito. Quem fala enquanto líder de um grupo, como o presidente da associação de bairros, por exemplo, pode ter peso e conotação diferentes desse mesmo indivíduo em uma situação familiar (PANKE, 2016, p. 156).

Os estudos do discurso se configuram como um campo de pesquisa que se alimenta de forças contraditórias, partilhado entre a multiplicação de suas correntes e o crescimento das trocas entre elas, das condições de produção, perpassado pela ideologia e produção de sentidos. O campo do discurso constitui um novo posto de observação das práticas de uma sociedade, um posto que faça expandir a forma pela qual se reflete e se apreende interdisciplinarmente a linguagem, a subjetividade, a sociedade e o sentido (CHARAUDEAU, 2008, 2016, 2018; MAINGUENEAU, 2015, 2004).

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4. IMAGEM DE SI DE MICHEL TEMER E SENTIDOS PRODUZIDOS PELO DISCURSO JORNALÍSTICO DE O GLOBO/G1 E FOLHA DE S. PAULO/UOL

Neste capítulo discute-se sobre a relevância do estudo de mídias hegemônicas com detalhamentos dos procedimentos de análise. Especialmente, buscou-se responder aos objetivos específicos dispostos para a pesquisa: analisar a construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos no discurso jornalístico dos portais em estudo, referentes aos pronunciamentos presidenciais; b) questionar “se” e “como” os portais jornalísticos problematizaram os pronunciamentos; c) refletir a respeito das mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, com base nos sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso dos portais jornalísticos. Do ponto de vista teórico-metodológico, examinamos, à luz da Análise do Discurso o ethos discursivo (imagem de si) do então presidente Michel Temer com a exposição das sequências discursivas (SDs) que constituem os núcleos de sentidos alocados posteriormente nas formações discursivas (FDs). Posteriormente, também na visada da Análise do Discurso emprega-se a segunda etapa da investigação, com a seleção das notícias dos portais e análise da produção de sentidos em G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. O capítulo é complementado com a retomada das duas etapas da análise, no esforço de explanar as possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses presentes nas produções discursivas do discurso político ao discurso jornalístico.

4.1.A relevância do estudo de mídias hegemônicas e procedimentos para a análise

Definir o sistema de mídia brasileiro é uma tarefa que precisa estar atrelada ao sistema político. Alguns aspectos permanecem inalteráveis ao longo dos anos, como o monopólio familiar, a propriedade cruzada nos meios de comunicação de massa, a pequena diversidade externa e o viés conservador (AZEVEDO, 2006). Esse viés conservador está atrelado a uma mídia voltada para os interesses das classes mais ricas e sob a influência de grupos que há anos integram um oligopólio com poderosos alcances político-midiáticos. O autor brasileiro Azevedo (2006) discorre sobre o sistema de mídia brasileiro e sua relação com o sistema

110 político. O sistema político-midiático do Brasil configura-se como Pluralista Polarizado75, no qual também estão classificados países como França, Grécia, Itália, Portugal e Espanha. O modelo brasileiro está pautado no surgimento tardio da imprensa e dos jornais comerciais, além da centralidade e hegemonia da televisão. As características desse modelo integram a presença de jornais de baixa circulação com orientação para a elite política, frágeis do ponto de vista econômico, dependentes da ajuda governamental e publicidade oficial, além do protagonismo do rádio e a televisão no mercado da informação. O modelo é baseado na definição dos tipos ideais de Weber, portanto não é um modelo puro, mas é o que mais se aproxima da realidade. “O paralelismo político é alto, com a predominância de um jornalismo opinativo orientado para a defesa de interesses ideológicos, políticos e econômicos ou, em casos mais extremos, simplesmente a serviço de governos, partidos ou grupos econômicos” (AZEVEDO, 2006, p. 90). O Brasil se “encaixa” nesse modelo também por um passado autoritário, que impediu a liberdade de imprensa por longos períodos, além da presença de um Estado intervencionista na comunicação. Acerca dessas intervenções, Lima (2011), aponta que o uso político da mídia no Brasil começou durante a ditadura militar (1964-1985) com o uso político da mídia não só por meio da censura, mas também com um apoio de redes impressas e eletrônicas, algumas, inclusive, consolidadas durante o próprio período ditatorial (LIMA, 2011). Depois que a mídia se transformou em ator político com considerável interferência nos processos políticos, o Brasil opera no chamado “trusteeship model”, que significa a entrega do setor de radiodifusão à exploração comercial da empresa privada por meio de concessões (LIMA, 2011). A concentração midiática configura-se como uma herança desse modelo e faz com que as grandes empresas atuem em parceria com as repetidoras regionais, o que fortalece o elo entre jornalismo nacional e regional. Os conglomerados se mantêm por meio das concessões e até hoje determinam o funcionamento da radiodifusão brasileira. A distribuição de concessões ocorreu de forma acentuada no regime militar e no período pós-ditadura nos governos Sarney e Figueiredo com mais de 700 concessões de rádio e TV (PINTO, 2010). A falta de regulamentação jurídica não impediu, portanto, que um mesmo veículo de

75 Essa definição é baseada em Hallin e Mancini (2004) que caracteriza um sistema de mídia a partir das dimensões de mercado de mídia, paralelismo político, desenvolvimento do jornalismo profissional, grau e a natureza da intervenção estatal no campo da comunicação.

111 comunicação controlasse jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão, tornando a radiodifusão um oligopólio no Brasil.

[....] Foi dessa maneira que se formaram os maiores grupos de mídia concentrada e controlada por um reduzido grupo de empresas. Os principais exemplos são os Diários e Emissoras Associadas, até a metade do século passado, e as Organizações Globo, a partir da década de 1970. Consolidou-se, portanto, entre nós, um sistema concentrado, liderado pela televisão e, em boa parte, controlado por grupos familiares vinculados às oligarquias políticas regionais e locais. Essas características específicas fazem com que, no Brasil, o poder da grande mídia assuma, potencialmente, proporções ainda maiores do que em outros sistemas políticos (LIMA, 2011, p. 161).

O sistema de mídia no Brasil configurou-se por meio de uma divisão geopolítica que perpassa a produção de “diversos jornalismos” conforme a realidade local de jornalistas e empresários da mídia. Uma das inúmeras desvantagens dessa configuração é o enquadramento em duas categorias: um jornalismo nacional que cobre temas de todo o país e um jornalismo regional/local, focado nos temas locais (PINTO, 2010). Outro agravante dessa herança de concentração midiática é o “coronelismo eletrônico”, que ocorre quando políticos controlam e utilizam a mídia local ou regional para interesses políticos e eleitorais (AZEVEDO, 2006).

Em resumo, o monopólio familiar, a propriedade cruzada dos principais meios de comunicação de massa, o controle parcial de redes locais e regionais de TV e rádio por políticos profissionais, e a inexistência de uma imprensa partidária ligada a interesses sociais minoritários com alguma expressão nacional faz com que nosso sistema de mídia apresente ainda, depois de mais de duas décadas do retorno à democracia, uma reduzida e precária diversidade externa (AZEVEDO, 2006, p. 101).

O coronelismo eletrônico faz com que as emissoras de rádio e televisão sejam mantidas por publicidade oficial e vinculadas a consensos políticos, uma moeda de troca baseada no controle da informação e no poder de influência na opinião pública (LIMA, 2011). Apesar dessa realidade, é fundamental que os meios de comunicação de massa, assegurem condições democráticas com diversidade ideológica, política e cultural da sociedade (AZEVEDO, 2006). Essa breve contextualização acerca do sistema político-midiático brasileiro reforça o pressuposto da legitimidade do estudo de mídias hegemônicas para compreender a atuação jornalística de portais referências no Brasil. Com isso, pretende-se detalhar os procedimentos

112 teórico-metodológicos que ampararam a análise. O norte da pesquisa esteve no objetivo geral que consistiu em compreender as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, a partir da análise da construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e da produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais nos dois anos do mandato de Temer, de 12 de maio de 2016 até 31 de dezembro de 2018. Para responder à primeira parte do objetivo geral, delimitou-se um objetivo específico que buscou analisar a construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer. Inicialmente foram selecionados 13 pronunciamentos: Pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016), como presidente efetivo (31 de agosto de 2016), pronunciamento durante conferência na Organização das Nações Unidas (ONU), (20 de setembro de 2016), aprovação da PEC do Teto de Gastos (em 13 de dezembro de 2016), Sanção da Lei do Novo Ensino Médio (16 de fevereiro de 2017), pronunciamento no Dia da Mulher (8 de março de 2017), pronunciamento após denúncia (18 de maio de 2017), após denúncia sobre corrupção passiva (27 de junho de 2017), após rejeição da denúncia por corrupção passiva (2 de agosto de 2017), pronunciamento após denúncia do Inquérito dos Portos (27 de abril de 2018), aniversário de dois anos de governo (15 de maio de 2018), pronunciamento sobre a Greve dos Caminhoneiros (27 de maio de 2018) e pronunciamento da última reunião ministerial (19 de dezembro de 2018). Os pronunciamentos foram escolhidos pelo critério de relevância, repercussão e por serem marcantes e constitutivos da própria história do mandato presidencial de Michel Temer. Após a leitura atenta de todos os pronunciamentos, o próximo passo da análise consistiu em identificar os sentidos para a classificação das sequências discursivas que quantitativamente resultaram em 195. Após a classificação das sequências discursivas alocamos os enunciados em formações de sentido mais amplas: as formações discursivas, que foram agrupadas em cinco sentidos principais para a construção da “imagem de si”, ethos discursivo de Michel Temer. Para a organização do material, o processo consistiu na elaboração de tabelas para facilitar a identificação das sequências discursivas e, posteriormente, das formações discursivas. Após a elaboração das tabelas, realizamos a contextualização e explanação sobre os sentidos que foram reiterados nos pronunciamentos buscando responder aos objetivos da pesquisa especificamente no próximo subcapítulo número 4.2.

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O eixo interpretativo da análise prosseguiu com o objetivo de analisar a produção de sentidos no discurso jornalístico dos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais nos dois anos do mandato de Temer (2016-2018) e também questionar “se” e “como” os portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo problematizaram os pronunciamentos. Para isso, optou-se pelo estudo dos quatro portais G1/Globo e Uol/Folha de S. Paulo. De acordo com o portal institucional Folha76, o Grupo é considerado um dos “principais e maiores conglomerados de mídia do país” (FOLHA DE S. PAULO, 2018), que controla o jornal Folha de S. Paulo, a Uol, a gráfica Plural, entre outros negócios de comunicação, entretenimento e cultura. A história do Grupo inicia em 1921 com a criação do “Folha da Noite”, um jornal em São Paulo direcionado para a classe média urbana. Posteriormente, foram instituídos o "Folha da Manhã" (1925) e o "Folha da Tarde" (1949). Em 1960, com a junção dos três jornais surgiu a “Folha de S. Paulo”. “A Folha é hoje o jornal brasileiro de maior tiragem e circulação entre os diários nacionais de interesse geral” (FOLHA DE S. PAULO, 2018). Ainda segundo o portal, a missão do Grupo é produzir “informação e análise jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e agilidade, baseadas nos princípios editoriais do Grupo Folha” (FOLHA DE S. PAULO, 2018). A fundação do UOL77 (Universo Online) foi em 1996, definida como o “primeiro serviço online de grande porte no país”. “No mesmo ano, o Universo Online e o Brasil Online, do Grupo Abril, se fundiram em nova empresa, o Universo Online S.A” (FOLHA DE S. PAULO, 2018). O grupo se apresenta como necessário para o aprimoramento da democracia, conscientização da cidadania, independência econômica e editorial, ética, comprometido com a defesa da liberdade de expressão, da livre iniciativa e pautado no compromisso com o leitor e respeito à diversidade. Fundado em 1925 por Irineu Marinho, o jornal “O Globo” nasceu78 de um “recomeço” na vida do jornalista. Segundo o portal “Memória Roberto Marinho79”, Irineu Marinho teria sido traído pelo sócio no jornal “A Noite”. Após a decepção, Marinho contou com apoio de

76 Disponível em:Acesso em 10 out. 2018. 77 Disponível em: Acesso em 10 out. 2018. 78Disponível em: Acesso em 10 out. 2018. 79Disponível em: Acesso em 10 out. 2018.

114 colegas do jornal “A Noite” na criação do novo jornal, “O Globo”, que contou com a publicação da primeira edição no dia 29 de julho de 1925. A escolha do nome do jornal ocorreu por meio de um concurso promovido por Irineu. O título mais votado foi “Correio da Noite”. No entanto, a patente já estava registrada e o segundo nome mais votado, “O Globo”, foi escolhido. Apesar da alegria, Irineu faleceu 21 dias após a fundação do jornal. Seu filho e também jornalista Roberto Marinho auxiliou na manutenção do jornal e em 1931 assumiu a função de diretor e consolidou o jornal como uma das maiores tiragens do país. O portal G1, do Grupo Globo, foi criado em 18 de setembro de 2006, na véspera das eleições. “[...] Lançamos novas editorias e as páginas do G1 em todos os estados – o G1 está presente em todo o Brasil, com quase 60 páginas locais” (G1, 2018)80. O portal se intitula com a missão de oferecer notícias em tempo real, 24 horas por dia. Conforme dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC)81 divulgados em uma pesquisa sobre circulação de jornais de 2013 a 2017, a Folha registrou de 2013 até dezembro de 2017, uma circulação média diária de 121.007 assinaturas impressas e 164.327 assinaturas digitais. Já, O Globo contou com 130.417 assinaturas impressas e 112.987 assinaturas digitais. Justifica-se a escolha de dois veículos de informação para cada grupo de mídia porque em alguns casos não foram localizadas notícias acerca dos pronunciamentos em um dos portais do respectivo grupo. Para fins de classificação das sequências discursivas, a divisão foi realizada por grupo de comunicação, ou seja, as sequências discursivas de O Globo e G1 foram classificadas juntas, assim como as da Folha de S.Paulo e Uol por entendermos que são dois grupos de mídia hegemônica que trabalham com as mesmas plataformas, o que justifica essa “união”. Também foi considerado o acesso gratuito no caso de G1 e Uol e algumas matérias que também podem ser acessadas mensalmente sem custos em O Globo e Folha de S. Paulo, o que justificaria a abrangência dos discursos e disponibilidade de acesso para mais pessoas. Portanto, entende-se que todos os veículos de comunicação jornalística representam mídias jornalísticas hegemônicas já consolidadas e com grande influência no cenário nacional. Inicialmente foram localizadas todas as notícias que abordavam sobre os pronunciamentos elencados, o que totalizou 64 notícias, sendo, G1 (20 notícias) O Globo (13

80Disponível em: Acesso em 10 out. 2018. 81 Disponível em: Acesso em 10 out. 2018.

115 notícias), Uol (19 notícias) e Folha de S. Paulo (12 notícias). Na identificação da produção de sentidos, o total foi de 247 sequências discursivas em G1/O Globo com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva e de 171 sequências discursivas em Uol/Folha de S. Paulo, também com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva. Após a classificação das sequências discursivas alocamos os enunciados em núcleos de sentidos mais amplos: as formações discursivas, que foram agrupadas em seis núcleos de sentidos principais para compreender as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico e a produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais nos dois anos do mandato de Temer. A explanação detalhada da análise está no subcapítulo 4.3. Por fim, no subcapítulo 4.4, buscou-se responder ao terceiro objetivo específico proposto na pesquisa: refletir a respeito das possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses da imagem de si e do discurso jornalístico, tencionando com algumas das perspectivas teóricas já abordadas nos capítulos anteriores.

4.2 A imagem de si do ex-presidente Michel Temer a partir dos pronunciamentos oficiais

Fundamentado no conceito de ethos discursivo (MAINGUENEAU, 2008), buscou-se identificar a imagem de si produzida por Michel Temer em seus pronunciamentos oficiais referentes ao mandato de 12 de maio de 2016 até 31 de dezembro de 2018. Com base na identificação dos sentidos para a classificação das sequências discursivas o resultado obtido foi de 195 sequências discursivas, que posteriormente foram alocadas em núcleos de sentidos mais amplos: as formações discursivas (FDs). Identificamos cinco núcleos de sentido a partir das FDs, que compõem a construção da “imagem de si” de Michel Temer, dispostas no quadro a seguir:

Tabela 1: Síntese das formações discursivas acerca da Imagem de Si de Michel Temer em seus pronunciamentos (continua) Formações Discursivas Núcleos de Sentido  50 Sequências Discursivas; FD1: “Sou conservador e 1) “Acredito na Constituição, nas Instituições e nos confio na Constituição” valores do Direito”; 2) “Sou conservador e apegado aos valores tradicionais

116

da família e da sociedade”. FD2: “Sou reformista e  92 Sequências Discursivas; confio no progresso” 1) “Sou reformista”; 2) “Confio no progresso” FD3: “Sou corajoso e  32 Sequências Discursivas; salvei o país” 1) “Salvo o país da crise”; 2) “Sou um gestor preparado e competente, líder ousado e corajoso”; FD4: “Sou crente na  38 Sequências Discursivas; união e no diálogo” 1) “Acredito na união das diversas pessoas e forças políticas do país”; 2) “O diálogo é fundamental para mim e no meu governo.”

FD5: “Sou totalmente  30 Sequências Discursivas; honesto e vítima” 1) “Sou totalmente honesto e inocente”; 2) “Sou vítima de artimanhas”. Fonte: Elaborado pela autora.

As interpretações dos sentidos de cada formação discursiva permitem a identificação de elementos que contribuem no que entendemos ser o ethos discursivo de Michel Temer, ou seja, como ele se mostra, a “imagem de si” do ex-presidente da República. A seguir, detalhamos as abordagens de cada formação discursiva:

4.2.1 FD1: “Sou conservador e confio na Constituição”

Uma “imagem de si” de quem se mostra como conservador e que confia na constituição. Os sentidos identificados nessa formação discursiva (FD) corresponderam a 50 sequências discursivas que reiteraram – conjuntamente – uma imagem de si de quem confia totalmente na Constituição de 1988 e nos valores do Direito, atrelados às autoridades constituídas da Câmara dos Deputados, do Senado e do Judiciário. Ainda compõe essa formação discursiva uma reiteração de sentidos de um Michel Temer que acredita que o impeachment foi um processo totalmente democrático e que a Lava-Jato é eficiente e fundamental para o país. Temer se mostra como conservador, de direita e a favor do Estado Mínimo, uma visão exposta de maneira implícita, mas recorrente em seus pronunciamentos. Temer ainda destaca que a aprovação da qual realmente precisa é a das autoridades constituídas - da Câmara, do Senado e do Judiciário - e não necessariamente da sociedade ou dos números expostos nas pesquisas de avaliação de governo. O então presidente também se

117 mostra como alguém apegado e convencido da autoridade das instituições, como um diplomata que enaltece valores de uma família “tradicional” e conservadora. Para fins de explicação, consideram-se dois principais núcleos de sentido nessa formação: 1) Acredito na Constituição, nas Instituições e nos valores do Direito. 2) Sou conservador e apegado aos valores tradicionais da família e da sociedade. Michel Temer demonstra uma imagem de si de quem acredita muito na Constituição de 1988 e repetidamente retoma o sentido de quem “sabe do que está falando”. Ou seja, a formação como advogado é seguidamente reiterada para convencer de que ele confia no Direito porque estudou, porque domina as leis e a Constituição como nos exemplos das Sequências Discursivas 9, 25 e 90:

SD 9: Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Como menos fosse sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica. Quando me pedirem para fazer alguma coisa, eu farei como Dutra, o que é que diz o livrinho? O livrinho é a Constituição Federal.

É pertinente destacar que essa forma de enunciar “sê-lo-ia” também caracteriza o jeito tradicional e conservador, da mesma maneira que o “que nós ajudamos” presente na SD 25 a seguir, que também reforça o tom legalista.

SD 25: Quero falar um pouco sobre a atuação nas linhas interna e externa do Brasil. E esses princípios estão consagrados na Constituição de [19]88, senador Mauro Benevides, que nós ajudamos a redigir, não é? Eu indico, porque esses preceitos indicam caminho natural para definição das linhas da atuação interna e externa do Brasil. Os senhores veem que eu insisto muito no tema da Constituição porque, ao meu modo de ver, toda vez que nós nos desviamos dos padrões jurídicos, e o Direito existe, exata e precisamente, para regular as relações sociais, quando nós nos desviamos dos limites do Direito, nós criamos a instabilidade social e a instabilidade política. Por isto eu insisto sempre em invocação do texto constitucional. [...] E traça uma imagem de um País pacífico e ciente dos direitos e deveres estabelecidos pela nossa Constituição.

SD 90: Vocês sabem que eu sou da área jurídica. Eu não me impressiono, muitas vezes, com os fundamentos, ou quem sabe até a falta de fundamentos jurídicos, porque advoguei por mais de 40 anos. Eu sei bem como são essas coisas. Eu sei quando a matéria é substanciosa, quando tem fundamentos jurídicos e quando não tem. Então, sob o foco jurídico a minha preocupação é mínima. É claro que eu aguardarei com toda tranquilidade uma decisão do Judiciário. Respeito absoluto meu pelas decisões judiciais. Mas, evidentemente, se fosse só o aspecto jurídico, eu não estaria fazendo esse esclarecimento à imprensa brasileira e ao povo brasileiro.

Além de defender a Constituição, Temer acredita que as regulações do Direito são supremas, inquestionáveis e que o padrão a ser seguido é o determinado pelas leis como fica

118 evidenciado na SD 90 quando utiliza reiteradamente o pronome “eu” (“eu” não me impressiono, “eu sei” bem como são essas coisas, “eu sei” quando a matéria é substanciosa). Temer acredita ainda que se o país seguir os preceitos da Constituição será um país “pacífico e ciente dos direitos e deveres estabelecidos pela Constituição”. Sobre esse aspecto é pertinente entender a produção de sentidos sobre alguém que confia nas instituições, Temer fortalece a imagem de quem governa junto ao Congresso e que necessita desse apoio constantemente para exercer um governo “democrático”. Além disso, o ex-presidente também reitera sentidos de que a “aprovação” que ele precisa está na sanção das leis enviadas ao Congresso Nacional, ou na confirmação da equipe de governo sobre suas proposições, em vez da aprovação do povo por meio das pesquisas de opinião como exemplificado a seguir na SD 66. Lembramos que em 10 de junho de 2018, o governo Temer obteve uma reprovação recorde de 82% dos eleitores em pesquisa divulgada pelo Instituto de pesquisa Datafolha82. O presidente83 teria atingido a mais alta taxa de reprovação da história do instituto, segundo dados desde a redemocratização do Brasil.

SD 66: Interessante, Mendonça me dizia, no primeiro momento do lançamento da reforma do ensino médio, a aprovação era, digamos, lá 56, 57%, ao depois, dois, três meses depois, a aprovação, com força desse debate, já era de 84%. E hoje, eu vejo pela presença das autoridades que estão aqui, que a aprovação é de 100%. Portanto, não tenho dúvida de que foi, Mendonça, uma coisa extraordinária que fizemos. E, por isso, que eu digo que é com especialíssima satisfação que eu sanciono, esta nova lei do ensino médio. Aqui foi dito, redito, afirmado e reafirmado, que é preciso modernizar a educação no País.

As sequências discursivas 14, 30, 36, 42 e 186 são exemplos da imagem de si de quem se mostra como um líder que governa “com a parceria” do Congresso Nacional e que se inclui na governabilidade. Temer também enfatiza como um dos alicerces do governo a segurança jurídica, algo que estará presente em vários enunciados do corpus da pesquisa.

SD 14: Então, nós vamos precisar muito da governabilidade e a governabilidade exige - além do que eu chamo de governança que é o apoio da classe política no Congresso Nacional - precisam também de governabilidade, que é o apoio do povo. O povo precisa colaborar e aplaudir as medidas que venhamos a tomar. E nesse sentido a classe política unida ao povo conduzirá ao crescimento do País [...]

82 Segundo o Instituto Datafolha, a pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de junho em 174 municípios. Foram entrevistadas 2.824 pessoas. A margem de erro apontada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. 83 Matéria disponível em: Acesso em 10 out. 2018.

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SD 30: E aí, meus amigos, eu quero dizer, mais uma vez, da importância dessa harmonia entre os Poderes, em primeiro lugar. Em segundo lugar, a determinação, na própria Constituição - e eu a cumprirei - no sentido de que cada órgão do Poder tem as suas tarefas: o Executivo executa, o Legislativo legisla, o Judiciário julga. Ninguém pode interferir em um ou outro poder por uma razão singela: a Constituição diz que os poderes são independentes e harmônicos entre si.

SD 36: Sob essa crença, destaco os alicerces de nosso governo: eficiência administrativa, retomada do crescimento, geração de emprego, segurança jurídica, ampliação dos programas sociais e a pacificação do país.

SD 42: [...] Respeitarei a independência entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

SD 186: Aqui ao lado da Grace, a doutora Grace, o Marun. Que na verdade, tem uma atividade destemida, desassombrada, não é? Na defesa do governo de um lado, e na interação com o Congresso Nacional. Essa integração com o Congresso Nacional, antes feita pelo Imbassahy, por outros que passaram pela área, tiveram, trouxeram, ajudaram a trazer, o Congresso ao nosso lado.

Especialmente na sequência discursiva 15 (a seguir) em que Temer se refere à Lava Jato, esse sentido de confiança será repetido várias vezes nos pronunciamentos – delimitados na análise dessa dissertação – que garantem que Temer confia na Lava Jato. O ex-presidente também agradece explicitamente o “apoio” do Congresso Nacional, como exemplificado na sequência discursiva 62:

SD 15: A moral pública será permanentemente buscada por meio dos instrumentos de controle e apuração de desvios. Nesse contexto, tomo a liberdade de dizer que a Lava Jato tornou-se referência e como tal, deve ter proteção contra qualquer tentativa de enfraquecê-la.

SD 62: E nesse particular, eu fiz uma menção ao Congresso Nacional para registrar mais uma vez o agradecimento ao Congresso Nacional. O Congresso Nacional foi de uma competência, aliás, melhor me expressando, uma preocupação absoluta com o Brasil, fez uma parceria conosco. Nós fizemos uma parceria com o Congresso Nacional, de molde a que nós tivéssemos as vitórias que nós estamos tendo naquela casa legislativa.

Esta noção de “parceria” apresentada por Temer contempla um caráter implícito de desonestidade. As divulgações por meio da mídia evidenciaram acusações de que Temer teria “comprado” votos no Congresso por meio de emendas parlamentares. “A liberação desses recursos é vista como uma espécie de moeda de troca entre o Palácio do Planalto e o

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Congresso, e costuma ser usada pelo governo para garantir apoio em votações importantes” (GAZETA DO POVO84, 2017).

Nós estimamos que a compra de votos gira em torno de R$ 300 bilhões. O esquema se constitui em liberação de verbas, cargos e outros benefícios. O parlamentar se declara indeciso, diz que ainda não definiu o voto. Se você acompanhar o ‘Diário Oficial’, a liberação de emendas de recursos segue uma ordem cronológica de mudança de votos. Ele é chamado ao Palácio do Planalto, submetido a conversas e agendas, ele adquire aquilo que ele quer e muda o voto (PORTAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES85, 2017).

Essa suposta compra ocorreu quando Temer foi denunciado pela primeira vez ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República (PGR) pelos crimes de organização criminosa, obstrução da justiça, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia ocorreu em 26 de junho de 2017 quando o procurador-geral da República, na época, Rodrigo Janot, denunciou Michel Temer e seu ex-assessor e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR), ao STF sob a acusação de corrupção passiva. A denúncia contra Michel Temer não seguiu para a análise do Supremo Tribunal Federal (STF) porque foi rejeitada e arquivada pela Câmara dos Deputados em 2 de agosto de 2017. A votação foi realizada por 492 dos 513 deputados; 263 foram a favor do relatório e 227 contra, além de duas abstenções. O relatório recomendava ao plenário a rejeição da denúncia por corrupção passiva da PGR contra Temer. Segundo o portal Uol86, a votação positiva para o presidente foi “conquistada” após agenda de reuniões com senadores e deputados aliados, liberação de emendas parlamentares, e de verbas de Orçamento destinada a obras e projetos indicados pelos deputados (UOL, 2017). O planalto afirmou que as liberações de emendas são consideradas imposições legais, sem relações com a votação na Câmara. Após o fim do mandato como presidente e consequentemente o fim do foro privilegiado, em 28 de março de 2019, Temer se tornou réu nesse processo. A denúncia de Janot foi ratificada

84 Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/oposicao-acusa-temer-de-comprar-votos- de-deputados-e-pede-investigacao-10ss7x0xvmjjukb9pzpxxw46o/ Acesso em 10 jun. 2019. 85Disponível em: https://ptnosenado.org.br/temer-gasta-r-300-bilhoes-para-comprar-votos-na-camara/ Acesso em 10 jun. 2019. 86Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/08/02/deputados-livram-temer-de- denuncia-por-corrupcao.htm Acesso em 02 jan. 2019.

121 pelo procurador da República Carlos Henrique Martins Lima e o processo tramita na 15ª Vara Federal87. No prosseguimento da análise das sequências discursivas, o então presidente Michel Temer também mostra a si mesmo e ao país como sendo “a mesma instituição”. Ou seja, quando ocorre alguma denúncia contra ele seria o mesmo que “atacar o país”, algo equiparado a: “Instituição presidente da república”. Junto a essa interpretação, outro entendimento de Michel Temer é o de quem acredita que as votações afirmativas no Congresso Nacional contemplam todos os anseios e posicionamentos da população brasileira:

SD 101: Portanto, o que há é um atentado contra, na verdade, contra o nosso País. Eu, sabem os senhores, eu sou o responsável por todos os atos administrativos do meu governo [...].

SD 105: Meus amigos, minhas amigas, Eu quero fazer um breve pronunciamento no dia em que a Câmara dos Deputados, que representa o povo brasileiro, manifestou-se de forma clara e incontestável. A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do Estado Democrático de Direito, da força das instituições e da própria Constituição.

SD 106: O poder da autoridade tenho repetido isso com muita frequência, emana da lei. Extrapolar o que a Constituição determina é violar a democracia. Todos devem - vou dizer o óbvio - obedecer à lei e à Constituição. São os princípios do Direito que nos garantem a normalidade nas relações pessoais ou institucionais. Hoje, esses princípios venceram com votos acima da maioria absoluta na Câmara dos Deputados.

SD 112: [...] Portanto, em palavras finais, eu quero agradecer à Câmara dos Deputados por sua decisão e a todos os brasileiros e brasileiras de boa vontade que acreditaram em nosso País. Vamos trabalhar juntos pelo Brasil. Muito obrigado.

SD 143: Aos congressistas, um agradecimento especialíssimo, porque colocaram o Brasil acima de qualquer interesse político-partidário e aprovaram as reformas tão necessárias ao nosso crescimento. Eu tenho dito com frequência que eu exerci uma espécie de semipresidencialismo, porque eu trouxe o legislativo para governar conosco, e isto deu muita harmonia, aliás, nada mais fizemos do que promover algo que a soberania popular, ao criar o Estado brasileiro, determinou, os poderes são independentes, mas harmônicos entre si. Toda vez que há uma desarmonia, o que há é uma inconstitucionalidade, e nós fizemos isso, nós trouxemos o Legislativo, o Legislativo e o Executivo governaram juntos [...]

SD 145: [...] O texto constitucional é o que dá unidade à Nação, não é? Nós todos sabemos, nós estamos aqui, nós sabemos quais são nossas funções, não porque queiramos exercitá-las, mas porque a Constituição determina qual é o exercício que nos é determinado pela soberania popular ao criar o Estado brasileiro. A Constituição é que organiza a sociedade. Se nós tivermos

87Explicações detalhadas sobre as denúncias envolvendo o ex-presidente estão disponíveis para consulta no Capítulo 1 dessa dissertação.

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consciência de que nós temos que cumprir rigorosamente o texto constitucional, isto é que dá segurança jurídica.

Acerca da confiança nos poderes executivos, Temer ainda retoma pontos sobre sua visão acerca do impeachment, que corroboram para a construção do sentido de quem confia plenamente nas decisões do Judiciário – da mesma forma em relação ao Congresso Nacional, à Câmara e ao Senado. Nas referências ao impeachment, Michel Temer é enfático ao demonstrar que aceitar a decisão de assumir o cargo como presidente do país e todo o processo percorrido por Dilma configuraria “um absoluto respeito constitucional” e que o processo se deu de forma absolutamente “democrática e transparente”, eximindo qualquer interpretação sobre “golpe”, como nos exemplos das SDs 27, 34 e 52:

SD 27: Faço questão, e espero que sirva de exemplo, e declarar meu absoluto respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as razões pelas quais foi afastada. Quero apenas sublinhar a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia nas questões, no trato das questões institucionais. É uma coisa que nós temos que recuperar no nosso País.

SD 34: Assumo a Presidência do Brasil, após decisão democrática e transparente do Congresso Nacional.

SD 52: Trago às Nações Unidas, por fim, uma mensagem de compromisso inegociável com a democracia. O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu, devo ressaltar, dentro do mais absoluto respeito constitucional. O fato de termos dado esse exemplo ao mundo verifica que não há democracia sem Estado de direito – sem que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz por meio a um processo de depuração de seu sistema político. Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever.

Acerca do segundo núcleo de sentido “Sou conservador e apegado aos valores tradicionais da família e da sociedade”, é possível apreender uma imagem de si de quem acredita nos valores de ser conservador, desapegado das lutas contra o machismo e da valorização da mulher. Especialmente no pronunciamento realizado no dia 8 de março de 2017, em cerimônia referente ao Dia da Mulher, Michel Temer expõe essa imagem de si conservadora ao equiparar conquistas das mulheres com as dos homens e acreditar que elas conquistaram uma faixa de igualdade na sociedade contemporânea. Temer também deixa evidente a sua avaliação sobre qual seria o papel da mulher na sociedade, como sendo a

123 responsável por cuidar dos afazeres domésticos, do lar, dos filhos e das compras no supermercado, como exemplificadas a seguir:

SD 76: Eu digo isso com a maior tranquilidade, porque eu tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz pelo lar, o que faz pelos filhos.

SD 77: E, portanto, se a sociedade de alguma maneira vai bem, quando os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada educação e formação em suas casas. E seguramente isso quem faz não é o homem, isso quem faz é a mulher.

SD 81: De modo que, ao longo do tempo as senhoras, as mulheres, deram uma colaboração extraordinária ao nosso sistema. E hoje, como as mulheres participam em intensamente de todos os debates, eu vou até tomar a liberdade de dizer que na economia também, a mulher tem uma grande participação. Ninguém mais é capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher. Ninguém é capaz de melhor detectar as eventuais flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico maior ou menor.

SD 84: E significa também que a mulher, além de cuidar dos afazeres domésticos, vai vendo um campo cada vez mais largo para o emprego. Porque hoje homens e mulheres são igualmente empregados. Com algumas restrições ainda. Mas a gente vê em muitas reportagens, das mais variadas, como a mulher hoje ocupa um espaço executivo de grande relevância.

SD 137: Mas o que eu penso que fez o trabalhador e economia ainda mais satisfeitos foi a liberação dos saques do FGTS, Dyogo, você se lembra, , isso foi muito gratificante. Teve gente que fez a reforma da casa, pagou dívidas, gente que trocou de carro e até gente que casou a filha [...]

SD 157: Os senhores vejam, as senhoras, vocês vejam, um dia eu falei senhores e senhoras, um jornalista criticou, disse que eu era muito formal, que chamava os senhores e senhoras de senhores e senhoras. Eu acho que até vale a pena. Sabe que essa relação um pouco litúrgica institucional, educada, vale a pena. Que é o que não se tem feito no Brasil. No Brasil, a ideia de liturgia, de educação, de boa formatação pessoal normalmente é criticada. Então, eu vou chamá-los de meus amigos e minhas amigas para dizer que nós continuaremos.

SD 185: Doutora Grace, com a nossa homenagem e pela, eu não vou fazer uma brincadeira que o Moreira Franco faz sempre. Mas se me permite, Grace, ele de vez em quando diz: “nós temos um único homem no governo que é a Grace”. Uma coisa preconceituosa, não é? Porque a doutora Grace, além da habilidade extraordinária no trato pessoal e esta habilidade é importante no contato com os ministros do Supremo, no STJ. Mas ela tem uma formação jurídica nos termos que eu aqui estou apregoando, mas também uma visão de como colocar as coisas em um determinado procedimento de natureza judicial [...]

Nessa formação discursiva o esforço empregado foi para demonstrar como Temer se mostra como alguém conservador e que confia na Constituição. A explicação foi concentrada em explanar primeiramente que o sentido de acreditar na Constituição remete aos valores do Direito e avança para uma confiança que perpassa também as instituições, especialmente a Lava-Jato e as autoridades constituídas: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Poder

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Judiciário Brasileiro. Temer também demonstra uma inquestionável confiança na aplicabilidade das leis, reforça constantemente sua formação em Direito, experiência política, acadêmica e atuação no campo do Direito. Análogo a esse sentido, Temer também se mostra como conservador e apegado aos valores tradicionais da família e da sociedade. Essa identificação com valores tradicionais suscita questionamentos e certamente contradições, já que esses “valores” podem representar, inclusive, machismo, como se destacou na análise do pronunciamento referente ao Dia da Mulher. Lippmann (2008) destaca que a percepção das pessoas está carregada de estereótipos, culturas próprias e agitações políticas que fazem com que a imaginação ocorra antes da experimentação, intervindo em todo o processo de percepção. “Os fatos que vemos dependem de onde estamos posicionados e dos hábitos de nossos olhos” (LIPPMANN, 2008, p. 84). Ou seja, as pessoas estariam acostumadas a uma determinada interpretação dos fatos a partir de uma carga de cultura e ideologia já pré-concebidas nas pessoas – a definição do que é aquele determinado fato ocorre antes de ele ser visto. O fato de onde as pessoas estão posicionadas corrobora com o que Charaudeau (2016) teoriza sobre os papeis encenados pelas pessoas e como agir a partir deles. Neves e Barcellos (2017) em um artigo que estudou esse pronunciamento de Temer apontaram que o então presidente favoreceu um estereótipo de que seria considerado papel e responsabilidade da mulher a criação e boa educação dos filhos. Essa fala se torna ainda mais grave por ter sido proferida por um homem em posição de poder e privilégio, o que estaria contribuindo para a manutenção de um preconceito que é definir os papeis ocupados na sociedade, exatamente uma herança histórica pautada por lutas para uma desconstrução desses papeis pré-concebidos a homens e mulheres.

4.2.2 FD2: “Sou reformista e confio no progresso”

A Formação Discursiva 2: “Sou reformista e confio no progresso” é a formação com a maior quantidade de sequências discursivas, com um total de 92 SDs, ou seja, a partir dessa análise, essa imagem de si de ser reformista e confiar no progresso é a mais marcante em Michel Temer. O sentido identificado aqui parte de um Temer que não quer falar em crise, de um gestor que se mostra como desenvolvimentista e reformista. De um Temer que almeja desempenhos acima de tudo. A imagem de si evidenciada é a de um presidente que despacha o que estava parado, que possui espírito empreendedor, do “acorda cedo e dorme tarde”, o

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Temer do esforço e recompensa, “para mudar é só querer”, da vontade e do ânimo, vencedor, que almeja o crescimento da economia e um governo de ousadia voltado para o desenvolvimento. Um dos núcleos de sentido que pode ser identificado é o específico das reformas “1) Sou reformista”, no qual Temer destaca as reformas que propôs para o governo e todas as que almejava concretizar. O outro núcleo de sentido “2) Confio no progresso”, está relacionado a esse pensamento de não pensar em crise, de que é necessário o crescimento do Brasil, especialmente crescimento econômico e sentidos voltados à meritocracia, de que quando ocorre o esforço, certamente haverá a recompensa. Acerca do núcleo de sentido de “Ser reformista”, Temer defende a necessidade da realização das reformas para o crescimento econômico do Brasil. A mais mencionada em seu discurso se refere à Previdência Social e o quanto ela precisa ser agilizada para o “benefício do país”. Na visão de Temer, ser um governo de reformas está atrelado a ser uma presidência de ousadias bem sucedidas que facilitam a vida das pessoas, conforme os exemplos das SDs a seguir:

SD 38: Para garantir o pagamento das aposentadorias, teremos que reformar a Previdência Social. Sem reforma, em poucos anos o governo não terá como pagar os aposentados. Nosso objetivo é garantir um sistema de aposentadorias pagas em dia, sem calotes, sem truques. Um sistema que proteja os idosos, sem punir os mais jovens.

SD 61: Até aproveito para dizer, mais uma vez, que no tocante à Previdência Social, eu insisto nesse ponto porque já estamos mostrando o que nós estamos fazendo pela economia. No tocante à Previdência Social digo mais uma obviedade: nós estamos fazendo hoje e, volto a dizer, poderia não fazê-lo, deixar para depois mas, se deixar para depois, eu não sei, em 2019, ministro Padilha, como estaria ou como estaria a Previdência Social. Aliás, as projeções indicam que se é R$ 140 hoje será R$ 180 no ano que vem, será R$ 250 no outro ano, não sei onde nós vamos parar. Então, quando fazemos a Previdência Social, nós estamos fazendo pensando nas gerações futuras. É claro que nesse tópico, nós apresentamos a nossa proposta, a proposta que nós achamos útil para o país. Mas o palco para essa discussão, como convém a uma democracia, é no Congresso Nacional. É lá que os congressistas vão debater, é lá que os congressistas vão receber as propostas nessa ou naquela direção. E nós seremos obedientes, naturalmente, àquilo que o Congresso Nacional deliberar. Até porque, é uma Proposta de Emenda Constitucional que não passa mais pelo Executivo, será promulgada pelo Congresso Nacional.

SD 67: Então, este momento, é um momento, digamos, Mendonça, muito revelador do nosso governo, que é um governo de reforma e um governo, volto a dizer, de ousadias. Mas ousadias responsáveis. Ousadias necessárias para que o País possa crescer, para que o País possa prosperar.

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SD 69: Eu quero dizer que essa ousadia das reformas é fundamental. Nós temos mandado propostas que têm tido muita polêmica, e uma saudável polêmica, porque nós vivemos em um Estado democrático. E no Estado democrático, o que mais deve se fazer é polemizar. Porque a polêmica, crítica, portanto, gera aperfeiçoamento [...]

SD 71: Vocês sabem que propor a reforma do teto dos gastos públicos foi uma ousadia bem-sucedida. Porque também há uma interlocução muito sólida com o Congresso Nacional. Hoje, essa foi a primeira aprovada, agora com o apoio de todos aprovada a reforma do ensino médio. Mais duas ou três reformas que nós já mandamos para lá e estão sendo examinadas. Examinadas, discutidas, ampliadas ou restringidas, não importa, mas com grande sucesso. Este é, portanto, meus amigos, um governo de reformas. E, interessante, quando se fala em reforma, reformar é formar de novo, formar outra vez [...]

SD 103: E não permitirei que me acusem de crimes que jamais cometi. A minha disposição é continuar a trabalhar pelo Brasil, para gerar crescimento, emprego. Para continuar as reformas fundamentais como a trabalhista, a previdenciária, como já fizemos com o teto de gastos, como já fizemos com o ensino médio, como já fizemos com as estatais, como já fizemos com o petróleo.

No núcleo de sentido sobre “ser reformista”, Temer também aborda os temas referentes à reforma trabalhista, do Ensino Médio e o quanto “ele avançou” para concretizar essas ações: SD 121: Permitam-me que eu volte um pouco a falar sobre as reformas. Eu começo, Ronaldo Nogueira e Helton, eu começo pela a modernização da lei trabalhista, que foi sem dúvidas uma grande reforma, uma grande conquista. Pois garantiu a todos os direitos dos trabalhadores, os trabalhadores não têm um direito sequer eliminado, até mesmo dos terceirizados e temporários. E o Ronaldo Nogueira, até reitero, foi fundamental, porque, usando a capacidade de diálogo, que é uma das marcas do nosso governo, foi capaz de conversar com o Congresso Nacional, foi capaz de conversar com as Centrais Sindicais, foi capaz de conversar com as federações para chegar a esse sistema flexibilizando as relações de trabalho, portanto, empregadores, empregados podem dialogar e encontrar, juntos, o melhor caminho e as melhores soluções.

SD 123: E também, não sei se o Mendonça está aí, mas fomos responsáveis por diversas mudanças na educação. Eu reitero sempre, Mendonça já ouviu isso, (...) ouviu também, quando eu fui presidente da Câmara em [19]97, em 1997, já se falava em reforma do Ensino Médio, e agora, 20 anos depois, conseguimos aprová-la no nosso governo. Portanto, nós esperávamos por essa reforma há 20 anos. E nestes dois anos de governo, antes mesmo de completar os dois anos, conseguimos fazê-lo. E a mudança na educação das nossas crianças e jovens já começou. Pois um País, vou dizer obviedades, só é forte com uma educação de qualidade.

SD 133: Permitam-me que eu volte um pouco a falar sobre as reformas. Eu começo, Ronaldo Nogueira e Helton, eu começo pela modernização da lei trabalhista, que foi sem dúvidas uma grande reforma, uma grande conquista. Pois garantiu a todos os direitos dos trabalhadores, os trabalhadores não têm um direito sequer eliminado, até mesmo dos terceirizados e temporários. E o Ronaldo Nogueira, até reitero, foi fundamental, porque, usando a capacidade de diálogo, que é uma das marcas do nosso governo, foi capaz de conversar com o Congresso Nacional, foi capaz de conversar com as Centrais Sindicais, foi capaz de conversar com as federações para chegar a esse sistema flexibilizando as

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relações de trabalho, portanto, empregadores, empregados podem dialogar e encontrar, juntos, o melhor caminho e as melhores soluções.

O núcleo de sentido “Confio no progresso” se refere especialmente ao entendimento de Temer de buscar uma “superação” da crise no Brasil. Confiar no progresso para Temer também é expor dados sobre as obras concluídas e os avanços econômicos, no emprego, habitação, saúde e educação:

SD 32: Dizia aos senhores que a partir de agora nós não podemos mais falar em crise. Trabalharemos. Aliás, há pouco tempo, eu passava por um posto de gasolina, na Castelo Branco, e o sujeito botou uma placa lá: “Não fale em crise, trabalhe”. Eu quero ver até se consigo espalhar essa frase em 10, 20 milhões de outdoors por todo o Brasil, porque isso cria também um clima de harmonia, de interesse, de otimismo, não é verdade? Então, não vamos falar em crise, vamos trabalhar.

SD 36: Sob essa crença, destaco os alicerces de nosso governo: eficiência administrativa, retomada do crescimento, geração de emprego, segurança jurídica, ampliação dos programas sociais e a pacificação do país.

SD 41: Já ampliamos os programas sociais. Aumentamos o valor do Bolsa Família. O Minha Casa Minha Vida foi revitalizado. E, ainda na área de habitação, dobramos o valor do financiamento para a classe média. Decidimos concluir mais de mil e quinhentas obras federais que se encontravam inacabadas. O Brasil é um país extraordinário. Possuímos recursos naturais em abundância. Temos um agronegócio exuberante que não conhece crises. Trabalhamos muito. Somos pessoas dispostas a acordar cedo e dormir tarde, em busca do nosso sonho. Temos espírito empreendedor, dos microempresários aos grandes industriais. Presente e futuro nos desafiam. Não podemos olhar para frente com os olhos do passado. Meu único interesse, e que encaro como questão de honra, é entregar ao meu sucessor um país reconciliado, pacificado e em ritmo de crescimento. Um país que dê orgulho aos seus cidadãos.

SD 43: Despeço-me lembrando que ordem e progresso sempre caminham juntos. E com a certeza de que, juntos, vamos fazer um Brasil muito melhor. Podem acreditar: quando o Brasil quer, o Brasil muda. Obrigado, boa noite a todos, e que Deus nos abençoe nessa nossa caminhada.

SD 46: Queremos um mundo em que o direito prevaleça sobre a força. Queremos regras que reflitam a pluralidade do concerto das nações. Queremos uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo. Nossos debates e negociações não podem confinar-se a estas salas e corredores.

SD 53: Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre. Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social [...]

SD 60: Ou seja, nós não falhamos naquilo que dissemos no passado: que primeiro era preciso combater a recessão e depois, logo em seguida, iniciar o crescimento. Crescimento que se dará, mais adiante, muito acentuadamente pela confiança e pela credibilidade que estas medidas, digamos, anti-recessivas estão sendo tomadas neste momento. Confiança que também será gerada pelos R$ 3 bilhões que estão

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sendo liberados agora, mais R$ 5 bilhões e tanto pelo BNDES e outros tantos projetos que irão adiante. Então, nós temos que seguir adiante. E, para isso, volto a dizer a vocês, a palavra é a mesma palavra que eu usei lá atrás: é preciso coragem porque, convenhamos, que nós estamos enfrentando muitas adversidades. Mas adversidade é um vocábulo que vem ad verso, nós estamos enfrentando a adversidade para obter o verso mais adiante. A adversidade é o embaraço, mas o verso será, digamos, o crescimento do país, será a compreensão daquilo que nós estamos fazendo.

SD 75: Porque colocar, por exemplo, ordem nas contas públicas, vocês sabem que na verdade é criar condições para a retomada do crescimento e geração de empregos. Especialmente assegurar recursos para a educação. Quem vive na sua casa sabe que não consegue desempenhar-se bem se a cada momento a família tiver um ganho menor do que aquele que pode gastar. O Estado também tem de comportar-se da mesma maneira. Portanto, nós sabemos que esse é o rumo que o Brasil precisa, é o rumo que tem sido apoiado pelo Congresso Nacional, é o rumo que pouco a pouco vai sendo compreendido pela sociedade. Especialmente quando se faz um ato como o ato de hoje, que é enaltecer a educação brasileira como força motriz para o crescimento e para desenvolvimento do País.

Na sequência discursiva 113, Temer também comemora os feitos do governo e alia, novamente, o progresso ao trabalho e dedicação, lutas e vitórias:

SD 113: Esta, na verdade, é uma reunião de trabalho que eu resolvi chamar todo o governo para que pudéssemos, e verão que não muito sinteticamente, mas talvez exaustivamente, fazer um relato de tudo aquilo que foi feito ao longo destes dois anos de governo. E fazendo-a, com todas as homenagens, eu quero reiterar que, ao completar dois anos de governo, eu registro que foram dois anos de muito trabalho mas também de muitas realizações. Dois anos - os senhores todos acompanharam, os senhores e as senhoras -, dois anos de muita luta, mas também, graças a Deus, de muitas vitórias. Dois anos combatendo a inflação, combatendo a recessão, enfrentando todos os problemas do País e encontrando a solução que estamos apresentando hoje.

Temer também destaca sobre a “Ponte para o Futuro88”, um projeto apresentado logo no início do governo e que tinha o objetivo de direcionar a atuação do presidente. O documento também contempla o discurso do “progresso e avanços”, da mesma forma que o lema do governo: “Ordem e Progresso”.

SD 114: Porque nós tínhamos um plano. Mas, acima do plano, convenhamos, coragem para pôr em prática. Por ter objetivos, tendo estratégias e não apenas desejos. E nós tínhamos tudo isso, não tínhamos dúvida, não tínhamos hesitações, e tínhamos caminhos traçados. Tínhamos um lema, aparentemente trivial, mas de grande significação, e foi o lema “Ordem e Progresso” que apontou a direção para o nosso governo. Afinal, era tudo o que o Brasil pedia e, naturalmente, o que o povo brasileiro queria. Nós tínhamos rumos já pensados e traçados e um documento elaborado antes mesmo de tomar posse. A chamada “Ponte para o Futuro” foi o mapa que nos guiou até aqui, até este momento de prestação e contas. Nós tínhamos, e eu senti isto desde o primeiro momento, que

88O detalhamento sobre o projeto está apresentado no Capítulo 1 deste trabalho.

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montar um grupo capaz de vencer a pior recessão da nossa história e, convenhamos, conseguimos uma das melhores equipes, penso eu, de todos os tempos. E os resultados estão aí. Nestes 24 meses de trabalho, nós avançamos.

É possível identificar também uma imagem de si de Temer sobre alguém que “não desiste fácil”, que permanece trabalhando e justamente que o trabalho é a solução dos problemas, ou seja, se as pessoas seguirem trabalhando, permanecerem nesse “ritmo” é certo que o crescimento se concretizará.

SD 153: Agora, convenhamos, vocês acompanharam o meu primeiro depoimento, há muito tempo atrás, quando eu disse que não renunciaria. E até pedi que anotassem em letras garrafais. Isso já tem quase um ano mais ou menos. Eu estou aqui hoje como presidente da República. Sobre estar como Presidente da República, nós não paramos de trabalhar [...]

SD 161: Então evidentemente, quando os senhores caminhoneiros, caminhoneiras, voltarem ao trabalho, estes problemas estarão superados.

Temer também enaltece sobre a equipe e uma imagem de si de quem não busca “holofotes”, para si mesmo e nem para a equipe de governo. Uma imagem de si de humildade e de quem foi eficiente na escolha da equipe de governo.

SD 178: A grande parte dos agentes governativos costuma se transformar em uma espécie de carro alegórico, não é? Quer ser visto de qualquer maneira. E nós evitamos isso. Desde a Presidência da República, até os vários Ministérios. Além do que, eu confesso, nós demos muita autonomia para os nossos Ministérios e esta autonomia, essa descentralização é que permitiu que nós pudéssemos hoje fazer uma reunião comemorando os vários dados positivos do governo.

SD 187: E aqui eu faço um corte para dizer que o nosso ministério, já cerca de 15, a essa altura, 16 ministros, já foram chamados para a área Federal e para os vários estados brasileiros. Além dos vários secretários executivos, que também foram chamados para tarefas nos estados ou na União.

Novamente Temer reforça a imagem de ironia acerca das críticas, quando menciona o “Fora Temer” e o sentido de superação ao destacar que na Cultura ocorreu uma harmonia e exemplo de trabalho, persistência e competência:

SD 192: Na cultura, o Sérgio Sá Leitão promoveu uma harmonia extraordinária. O pessoal da Cultura, no começo, era o pessoal mais fanático do “Fora Temer”, não é? Quando o Sérgio chegou lá, aí ele promoveu uma pacificação extraordinária, mas porque nós prestigiamos a cultura brasileira, não é verdade? O Sérgio deu exemplos de muito trabalho, de muita persistência e de muita competência. Tanto que vai indo também para o estado de São Paulo, não é? Como secretário.

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Essa formação discursiva na qual Temer se mostra como reformista e que confia no progresso, que foi a maior em quantidade de sequências discursivas, os sentidos empregados aqui demonstraram o quanto Temer almejou mostrar-se como reformista, como alguém que acreditava no potencial das reformas. Temer demonstrou inclusive o quanto se sentiu frustrado quando a Reforma da Previdência não avançou para votação. Confiar no progresso também compôs o ethos discursivo do então presidente, que buscava evitar falar de crise, ansiava pelo crescimento econômico acelerado, partilhava do conceito de meritocracia e avanços. Em muitos momentos, essas decisões foram expostas de maneira unilateral, como na sanção da Lei do Novo Ensino Médio. Apesar de Temer destacar que houve apoio da população, a sanção foi marcada por greves e manifestações dos estudantes em todo o país, que gerou muita reprovação na população e que culminava nos índices de desaprovação do governo.

4.2.3 FD3: “Sou corajoso e salvei o país”

Na Formação Discursiva número 3 foi possível identificar o sentido de “Sou corajoso e salvei o país”, em 32 sequências discursivas, com uma imagem de si de um Temer que se enxerga como a solução para o Brasil. Destacam-se dois núcleos de sentidos principais: 1) Uma imagem de si de salvador, de quem salva o país da crise; e 2) De um gestor preparado e competente, líder ousado e corajoso, que assume as responsabilidades e garante às pessoas que o “pior já passou”. A imagem de si em que Temer se mostra como alguém que “salvou o país da crise” é reiterada em um contexto de apresentação de dados nos quais estão em déficit principalmente relacionados ao desemprego. Temer utiliza muito de um tom de confiança, para demonstrar que é um gestor motivador que estimula as pessoas a acreditarem que o “futuro será melhor”, como exemplificadas nas sequências discursivas a seguir:

SD 3: É urgente fazermos um governo de salvação nacional. Partidos políticos, lideranças e entidades organizadas e o povo brasileiro hão de emprestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos.

SD 16: O Brasil, meus amigos, vive hoje sua pior crise econômica. São 11 milhões de desempregados, inflação de dois dígitos, déficit quase de R$ 100 bilhões, recessão e também grave a situação caótica da saúde pública. Nosso maior desafio é estancar o processo de queda livre na atividade econômica, que tem levado ao aumento do desemprego e a perda do bem-estar da população.

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SD 39: O caminho que temos pela frente é desafiador. Conforta-nos, entretanto, saber que o pior já passou. Indicadores da economia sinalizam o resgate da confiança no país. Nossa missão é mostrar a empresários e investidores de todo o mundo nossa disposição para proporcionar bons negócios que vão trazer empregos ao Brasil. Temos que garantir aos investidores estabilidade política e segurança jurídica.

Dentro dessa formação discursiva, Michel Temer também evidencia uma posição “neutra” no contexto do impeachment, ao afirmar que ele e sua equipe teriam “recebido” o país, ou seja, um sentido de que o país atravessava uma grave crise, tudo estava em desordem e ele “recebe”, como quem recebe um “presente” e é o responsável por “tomar conta disso” e acelerar o crescimento e toda essa “recuperação”, conforme exemplificado nas SDs 35, 107 e 115 (a seguir). É preciso ressaltar que Temer não era alguém “fora do governo” porque já era o vice-presidente de Dilma em um segundo mandato de governo, então esse discurso de que “recebe” o país pode ser considerado como uma falácia, já que antes mesmo de assumir como presidente efetivo já conhecia as dificuldades que o país enfrentava e consequentemente era corresponsável por elas.

SD 35: O momento é de esperança e de retomada da confiança no Brasil. A incerteza chegou ao fim. É hora de unir o país e colocar os interesses nacionais acima dos interesses de grupos. Esta é a nossa bandeira. Tenho consciência do tamanho e do peso da responsabilidade que carrego nos ombros. E digo isso porque recebemos o país mergulhado em uma grave crise econômica: são quase 12 milhões de desempregados e mais de R$ 170 bilhões de déficit nas contas públicas. Meu compromisso é o de resgatar a força da nossa economia e recolocar o Brasil nos trilhos.

SD 107: E é diante dessa eloquente decisão que eu posso dizer que agora seguiremos em frente com as ações necessárias para concluir o trabalho que meu governo começou, convenhamos, há pouco mais de um ano. Estamos retirando o Brasil da mais grave crise econômica de nossa história. Embora seja repetitivo, eu digo que é urgente colocar o País nos trilhos do crescimento, da geração de empregos, da modernização e da justiça social. Eu penso que todos sabem que eu não parei um minuto sequer desde 12 de maio de 2016, quando assumi o governo. E não descansarei até 31 de dezembro de 2018, quando encerrarei o governo. Mas é durante esse breve período que eu espero terminar a maior transformação já feita no nosso País, em vários setores, do Estado e da sociedade.

SD 115: Mas eu gostaria de fazer, diante dos meus colegas de trabalho, os senhores e as senhoras, uma reflexão. Eu confesso, diante de todos, que me sinto responsável pelas atitudes e escolhas que fiz, sempre pensando em um Brasil maior. Nós somos responsáveis e orgulhosos por, afinal, repito, tirar o País da maior recessão de sua história.

Nessa formação discursiva que evidencia a imagem de si de “salvador” e “corajoso”, a temática do trabalho é muito reforçada nas falas de Temer. A imagem de si que é possível ser

132 interpretada é a de um presidente que acredita na força do trabalho e que esse trabalho “ideal” seria aquele alicerçado à meritocracia: de uma rotina de acordar cedo e dormir tarde, possuir espírito empreendedor e ter como espelho a categoria empresarial, como exemplificado a seguir:

SD 41: [...] Trabalhamos muito. Somos pessoas dispostas a acordar cedo e dormir tarde, em busca do nosso sonho. Temos espírito empreendedor, dos microempresários aos grandes industriais. Presente e futuro nos desafiam. Não podemos olhar para frente com os olhos do passado. Meu único interesse, e que encaro como questão de honra, é entregar ao meu sucessor um país reconciliado, pacificado e em ritmo de crescimento. Um país que dê orgulho aos seus cidadãos.

Ainda no sentido da salvação, Michel Temer reitera em seus pronunciamentos o feito de ter “salvo” a Petrobras e de ter recebido a companhia em “colapso”. Essa premissa confirma a imagem de si como líder de uma equipe que “salvou” a maior empresa de petróleo do país em meio a um contexto de crise, como no exemplo da sequência discursiva 126 (a seguir). No entanto, a afirmação de Temer seria contrariada com a deflagração da maior greve vivenciada no governo, que foi a dos caminhoneiros e que literalmente parou o país enquanto ocorreu. A greve gerou uma perda89 de R$ 126 bilhões em valor de mercado para Petrobras, além do pedido de demissão do presidente da estatal, Pedro Parente. Os petroleiros também entraram em greve na busca por mudanças na política de preços dos combustíveis e pelo afastamento do presidente da Petrobras90.

SD 126: Salvar uma vida é uma honra. E salvar a vida da maior empresa de petróleo do País, convenhamos, é um privilégio. Nós salvamos a Petrobras. Ao assumir o governo, todos sabemos, eu recebi a companhia em colapso. E hoje, ministros, ministras, presidentes de estatais, secretários executivos, deputados, senadores, hoje é com muita alegria que nós podemos anunciar que a Petrobras está recuperada, a empresa acaba de obter quase 7 bilhões de lucro no primeiro trimestre deste ano. E isso representa uma alta de 56%, a maior desde 2013.

No pronunciamento em que Temer se dirigiu aos caminhoneiros e que pôs fim a greve, também é possível perceber a imagem de si de salvador, quando destaca que “O governo está assumindo sacrifícios”, de um presidente que estaria “salvando” os caminhoneiros ao anunciar medidas “incontestáveis” de eficiência para o fim da greve, como está exemplificado na SD 159:

89Matéria disponível em: < http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/05/com-greve-petrobras-perde-r- 126-bilhoes-em-valor-de-mercado.html>Acesso em 24 jun. 2018. 90Matéria disponível em: < http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/05/petroleiros-encerram-greve- iniciada-na-quarta-30-em-varios-estados.html> Acesso em 24 jun. 2018.

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SD 159: Começo pela primeira: a primeira, reivindicação dos caminhoneiros, o preço do diesel terá uma redução de 46 centavos por litro. Para que cada caminhoneiro tenha exatamente esse resultado na hora de encher o tanque. Essa redução corresponde na verdade, aos valores do PIS/COFINS e da CIDE somados. Para chegar a esses 46 centavos, eu quero que todos os brasileiros e brasileiras saibam disso, os caminhoneiros compreendam esta situação, o governo está assumindo sacrifícios no orçamento e naturalmente honrará essa diferença de custo, sem nenhum prejuízo para a Petrobras. Os senhores sabem, que a Petrobras recuperou-se nestes últimos 2 anos e não é possível criar à Petrobras uma dificuldade operacional e de recursos que retire dela o grande prestígio nacional e internacional que recuperou nestes 2 anos.

O segundo principal núcleo de sentido dessa formação discursiva sobre “um gestor preparado e competente, líder ousado e corajoso”, demonstra uma imagem de si de quem não teria medo de enfrentar os desafios propostos pelo governo, de quem se vê com ousadia para propor leis e PECs, de quem possui as melhores ideias para o governo do país:

SD 55: E é interessante notar que, coincidentemente, nós acabamos de participar ou acompanhar uma votação no Senado Federal onde completou-se o ciclo da primeira Emenda à Constituição e visa, naturalmente, a tirar o país da recessão. Nós temos dito, ao longo do tempo, que esta matéria jamais foi tentada, desde a Constituição de [19]88. E isto significa que é preciso ter coragem para governar. E coragem nós temos, não tenho a menor dúvida disso. Aliás, eu disse, a palavra-chave, a palavra, digamos assim, que é a força mobilizadora desse encontro em que vários líderes foram premiados é a palavra “coragem”. E hoje no Brasil, se você não tiver coragem, você não consegue governar. Se você não tiver coragem, para que que eu vou restringir os gastos em um governo de dois anos e pouco? Nenhum sentido teria essa restrição.

SD 56: Se não tivéssemos coragem, para que eu vou mexer na questão da Previdência? Ora, poderia perfeitamente deixar para depois, não é? Poderia deixar para depois, outro que vier em 2018 que cuide do país todo atrapalhado e todo desarticulado. Mas essa não é a missão de quem deve tudo ao Brasil e de quem ama o Brasil. A missão de quem ama o Brasil, é exata e precisamente unir esforços e tomar essas atitudes que eu estou rotulando, modestamente, de corajosas.

SD 60: Ou seja, nós não falhamos naquilo que dissemos no passado: que primeiro era preciso combater a recessão e depois, logo em seguida, iniciar o crescimento. Crescimento que se dará, mais adiante, muito acentuadamente pela confiança e pela credibilidade que estas medidas, digamos, anti-recessivas estão sendo tomadas neste momento. Confiança que também será gerada pelos R$ 3 bilhões que estão sendo liberados agora, mais R$ 5 bilhões e tanto pelo BNDES e outros tantos projetos que irão adiante. Então, nós temos que seguir adiante. E, para isso, volto a dizer a vocês, a palavra é a mesma palavra que eu usei lá atrás: é preciso coragem porque, convenhamos, que nós estamos enfrentando muitas adversidades. Mas adversidade é um vocábulo que vem ad verso, nós estamos enfrentando a adversidade para obter o verso mais adiante. A adversidade é o embaraço, mas o verso será, digamos, o crescimento do país, será a compreensão daquilo que nós estamos fazendo.

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SD 74: Então, eu estou dando esses dados para dizer que nós vamos prosseguir com essa ousadia. Uma ousadia como disse responsável, uma ousadia planejada, algo que possa ser compreendido pelo Congresso e pela sociedade, como tem sido compreendido.

SD 65: E é interessante salientar, quero registrar isso enfaticamente, que nos dias atuais, mais do que coragem para governar, é preciso ousadia. E por isso que cumprimento a ousadia que teve o ministro da Educação ao dizer: “olha aqui, Temer, presidente, vamos fazer – senador, Eunício – por meio de uma medida provisória”. Porque esta matéria está sendo debatida há mais de 20 anos no Congresso Nacional, foi debatido em vários fóruns, talvez não com a insistência que devesse ser debatida ao longo do tempo. E se nós editarmos uma medida provisória, seguramente ela ganhará um espaço nacional extraordinário no debate. E vocês sabem, eu logo concordei, por isso falo em ousadia, eu logo concordei, e realmente quando editamos a medida provisória, vocês todos puderam verificar a grande movimentação que se verificou no País. Com argumentos intelectuais, movimentações até físicas, houve um debate extraordinário nestes meses.

Para reforçar o sentido de ser “um gestor preparado e competente, líder ousado e corajoso”, Temer demonstra essa imagem de si de ousadia ao listar em seus pronunciamentos ações que fez no governo que ele considera como ousadas, entre elas: a PEC do Teto de Gastos, a criação da primeira Delegacia da Mulher, a Reforma do Ensino Médio, ações de proteção ambiental, a Intervenção Federal no Rio de Janeiro e a criação do Ministério da Segurança Pública.

SD 70: Mas não é só, convenhamos, que nesse brevíssimo de período de seis, sete, oito meses que estamos à frente do governo, nós estamos ousando, não é? Quem ousaria fazer um teto para os gastos públicos? Ou quem teria disposição para isso? Convenhamos, que seria muito mais útil, mais tranquilo, mais pacificante se o presidente chegasse e dissesse: “olhe, vamos gastar a vontade primeiro, gastar a vontade, tenho pouco tempo de governo. Não vamos nos preocupar com as reformas fundamentais”. Ou seja, não vamos nos preocupar com o País do futuro, vamos preocupar com o mandato presidencial do presente e nada mais do que isso. E nós não estamos fazendo isso.

SD 79: Quando a Fátima Pelaes relembra que, quando criei a primeira Delegacia da Mulher, parece um fato extraordinário, não é? Mas era uma consequência natural da luta das mulheres e até conto muito rapidamente como isso se deu. Eu era secretário da Segurança Pública em São Paulo, pelos idos de 85, quando uma comissão de mulheres veio a mim e me contou, naturalmente, das violências que sofriam, da mais variada natureza, e do mau atendimento que tinham nas delegacias porque eram atendidas por homens, pelo escrivão, pelo investigador, pelo delegado. E aqui comigo logo surgiu a ideia interessante de algo que não tem, ou não tinha, e não tem, nenhum custo orçamentário. Por que que eu não coloco uma ou duas delegadas mulheres, três, quatro escrivãs, 15, 20 investigadoras para atender a mulher? E assim se deu com a instalação da primeira Delegacia da Mulher no Brasil. Ela teve tanto sucesso, ministro Imbassahy, que a primeira delegada da mulher logo depois foi eleita deputada estadual, tamanha repercussão que se verificou, e eleita, naturalmente, pelas mulheres. E ao depois, quando voltei a ser secretário da Segurança, tempos depois, havia praticamente mais de 90 delegacias da

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Mulher no estado de São Paulo e no Brasil. É um reconhecimento, portanto, da posição da mulher no conserto nacional.

SD 124: E também, não sei se o Mendonça está aí, mas fomos responsáveis por diversas mudanças na educação. Eu reitero sempre, Mendonça já ouviu isso, [...] ouviu também, quando eu fui presidente da Câmara em [19]97, em 1997, já se falava em reforma do Ensino Médio, e agora, 20 anos depois, conseguimos aprová-la no nosso governo. Portanto, nós esperávamos por essa reforma há 20 anos. E nestes dois anos de governo, antes mesmo de completar os dois anos, conseguimos fazê-lo. E a mudança na educação das nossas crianças e jovens já começou. Pois um País vou dizer obviedades, só é forte com uma educação de qualidade.

SD 131: E agora, depois de falar do Velho Chico, eu quero falar aos jovens brasileiros. A maior herança que nós podemos deixar para vocês e para as futuras gerações, mais que o Brasil que ajudei a transformar, é o Brasil que ajudei a preservar. Por isso, anunciei um decreto agora em março criando as duas maiores unidades de conservação marinha do Brasil, uma área equivalente aos estados de Minas Gerais e Goiás juntos. E o Brasil passa de 1,5 a 25% de algas marinhas protegidas. E não foi só no mar, foi na terra também. Nós revertemos, por exemplo, a curva de desmatamento na Amazônia em pelo menos 12%. Um belo trabalho do nosso ministro Zequinha Sarney.

SD 140: Nosso ministro, nosso governo, ministro Jungmann, ministro Torquato, entende que a luta contra o crime merece uma atenção toda especial para situações extremas. Soluções extremas demandam soluções também extremas, ou problemas extremos demandam soluções extremas. A criação do Ministério da Segurança Pública e intervenção federal no Rio de Janeiro, mais do que um ato de coragem, são respostas extremas à extrema violência que presenciamos em nosso país. A nossa luta, naturalmente, continua. Os números estão aí e comprovam que, após a intervenção do Rio de Janeiro, houve redução de homicídios, redução no roubo de cargas e até veículos. E a Polícia Federal bateu recorde histórico na apreensão de armas e drogas, como sempre defendeu o ministro . Estamos, portanto, mais cautelosos e mais atentos em todo o País.

SD 179: A questão da Inteligência, por exemplo, hoje é coordenada pela área Federal graças ao trabalho inaugural que nasceu na GSI, foi crescendo e resultou até no Ministério da Segurança Pública. Que foi outro gesto ousado, não é? Porque ao longo do tempo as pessoas diziam: “olhe, não vamos cuidar de Segurança Pública, porque isso é matéria dos estados. Não vamos nos meter nisso” [...]

A imagem de si de corajoso também é salientada em pronunciamentos nos quais Temer precisa defender-se ou prestar esclarecimentos acerca de denúncias e investigações que envolviam o seu nome. O “ser corajoso” está presente implicitamente quando Temer reitera falas em “defesa” da instituição Presidência da República, da honra pessoal em ocupar esse cargo. Temer também se defende das denúncias alegando que “não fugiria das batalhas” e nem das “guerras”, portanto, referências a “se ver como corajoso”.

SD 102: Falo hoje em defesa da instituição Presidência da República, e mais, talvez, na defesa à minha honra pessoal. Eu tenho orgulho de ser presidente,

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convenhamos, é uma coisa extraordinária. Para mim é algo tocante, é algo que não sei como Deus me colocou aqui. Dando-me uma tarefa difícil, mas certamente para que eu pudesse cumpri-la. Portanto, tenho a honra de ser presidente, especialmente, não porque sou presidente e pelos avanços que o meu governo praticou.

SD 104: Portanto, eu não fugirei das batalhas, nem a guerra que temos pela frente. A minha disposição não diminuirá com ataques irresponsáveis à instituição Presidência da República, não quero ataques a ela, e muito menos ao homem Michel Temer. Não me falta coragem para seguir na reconstrução do País e, convenhamos, na defesa da minha dignidade pessoal.

SD 195: Mas dizer que, olhem aqui, o nosso governo sofreu à beça mas, convenhamos, nós conseguimos enfrentar. E este enfrentamento é um dado adicional para revelar a fortaleza do nosso governo, não é?

O presidente também demonstra se ver como corajoso para “enfrentar a imprensa” que supostamente estaria tentando derrubar o presidente. A sequência discursiva 168 que exemplifica um contexto de “superação” das dificuldades, novamente com “coragem” e “ousadia”.

SD 168: Mas levou tempo, levou dois anos e meio. E olhe que levou dois anos e meio, dois anos e 8 meses, não só de protestos de natureza política, mas com um empenho extraordinário de parte da imprensa, que tentou nos derrubar, vocês sabem disso. Hoje eu não, aliás de vez em quando me dizem: “olhe, você teve uma coragem extraordinária”, porque nós pudemos enfrentar sem embargos da imprensa, de setores até governamentais, que tentavam criar problemas para nosso governo, nós fomos adiante. E eu fui adiante amparado naturalmente pelos senhores e pela senhora, doutora Grace.

Nessa Formação Discursiva número 3 “Sou corajoso e salvei o país”, destacou-se o ethos discursivo de quem se apresentou como a solução para o país no “momento certo, na hora certa”. Temer demonstra uma postura de salvador, herói, alguém preparado para administrar o país. O contraditório inerente à essa postura é que Temer já estava no governo, não é como a oposição que assume com um projeto totalmente novo, mas é alguém que já fazia parte e que conhece tudo o que está acontecendo. Temer se coloca como um gestor preparado, ousado, corajoso, e salienta que o “pior já passou”. No entanto, encontra-se outra contradição. Na formação discursiva anterior, o ethos discursivo que Temer buscava transmitir era de um presidente que pede para que as pessoas parem de falar em crise e trabalhem. Já nessa reiteração de sentido, Temer reforça que o Brasil vive a pior crise econômica, como detalhado nas sequências discursivas três e 16. Ou seja, a crise não pode existir para a população, que deve trabalhar e se esforçar, garantir o “mérito” do esforço. Do

137 lado do governo, a crise existe e dificulta o trabalho, e que o então presidente Michel Temer é a salvação para isso.

4.2.4 FD4: “Sou crente na união e no diálogo”

Nesta formação discursiva, Michel Temer se vê como facilitador e enaltecedor dos diálogos, como líder que sabe o que o povo quer, disposto a envolver todos para trabalharem juntos. Temer ainda enaltece valores conservadores, como já referido na FD1, para detalhar que almeja interesses nacionais acima de interesses de grupos, e que é um dos grandes responsáveis em pacificar o país, além de ser ver como homem de fé. Todos estes sentidos estiveram presentes em 38 sequências discursivas e, novamente, dois núcleos de sentidos principais ficam evidentes: 1) Acredito na união das diversas pessoas e forças políticas do país; e 2) O diálogo é fundamental para mim e no meu governo. As sequências discursivas a seguir são exemplos de sentidos em que o presidente vê a união como fator fundamental do governo e destaca essa necessidade de “unificar” o Brasil. Temer também pontua sobre a união dos poderes, do executivo e do Congresso Nacional solicitando o apoio da população:

SD 2: Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente pacificar a Nação e unificar o Brasil.

SD 5: Ninguém, absolutamente ninguém, individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos, vamos encontrá-las.

SD 31: Ora, bem, nós não somos os donos do poder, nós somos exercentes do poder. O poder, está definido na Constituição, é do povo. Quando o povo cria o Estado, ele nos dá uma ordem: “Olha aqui, vocês, que vão ocupar os poderes, exerçam-no com harmonia porque são órgãos exercentes de funções”. Ora, quando há uma desarmonia, o que há é uma desobediência à soberania popular, portanto há uma inconstitucionalidade. E isso nós não queremos jamais permitir que se pratique.

SD 35: O momento é de esperança e de retomada da confiança no Brasil. A incerteza chegou ao fim. É hora de unir o país e colocar os interesses nacionais acima dos interesses de grupos. Esta é a nossa bandeira [...]

SD 36: Sob essa crença, destaco os alicerces de nosso governo: eficiência administrativa, retomada do crescimento, geração de emprego, segurança jurídica, ampliação dos programas sociais e a pacificação do país.

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Temer também destaca a união que ultrapassaria as fronteiras nacionais e também seria indispensável nas relações com os outros países. Esse sentido reitera um movimento que busca a integração e paz, seguidamente ressaltadas em pronunciamentos do presidente:

SD 48: A promoção da confiança entre brasileiros e argentinos na área nuclear, que acabei de exemplificar, está na origem de nossa experiência de integração. Está na base de projetos como o Mercosul. A integração latino-americana é, para o Brasil, não apenas uma política de governo, mas é um princípio constitucional e prioridade permanente da política externa. Coexistem hoje, sabemos todos, em nossa região governos de diferentes inclinações políticas. Mas isso é natural e salutar. O essencial é que haja respeito mútuo e que sejamos capazes de convergir em função de objetivos básicos, como o crescimento econômico, os direitos humanos, os avanços sociais, a segurança e a liberdade de nossos cidadãos.

SD 51: O Brasil é obra de imigrantes, homens e mulheres de todos os continentes. Repudiamos todas as formas de racismo, xenofobia e outras manifestações de intolerância. Damos abrigo a refugiados e migrantes, como pude reiterar também no encontro de ontem. Num mundo ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e energia. Pela primeira vez, aliás, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos Olímpicos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater o preconceito.

Sobre o núcleo de sentido do “Diálogo é fundamental para mim e no meu governo”, Temer reitera que o diálogo é um passo significativo para garantir a retomada do crescimento no Brasil, um sentido que identifica uma imagem de si de um gestor que busca ouvir, que está atento às necessidades e disposto a dialogar com todas as pessoas:

SD 47: Muitos são os desafios que ultrapassam as fronteiras nacionais. Entre eles, o tráfico de drogas e de armas que se faz sentir nas nossas cidades, nas nossas escolas, nas nossas famílias. O combate ao crime organizado requer que trabalhemos de mãos dadas. A segurança de nossos cidadãos depende da qualidade de nossa ação coletiva. Mas, evidentemente que nem tudo são más notícias. Há exemplos conhecidos – já citados em diferentes oportunidades, em ocasiões anteriores neste plenário – daquilo que podemos obter por meio do diálogo. Celebramos, por exemplo, a vitória da diplomacia na condução do dossiê nuclear iraniano. Encorajamos o pleno entendimento alcançado. Com os acordos entre o governo colombiano e as FARC, vislumbramos o fim do derradeiro conflito armado de nosso continente. Por isso mesmo, cumprimento o Presidente Juan Manuel Santos e todos os colombianos. O Brasil continua disposto a contribuir para a paz na Colômbia.

SD 4: O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios para avançar e garantir a retomada do crescimento.

SD 12: Esta agenda, difícil, complicada, não é fácil, ela será balizada, de um lado pelo diálogo e de outro pela conjugação de esforços. Ou seja, quando editarmos uma norma referente a essas matérias, será pela compreensão da sociedade brasileira. E, para isso, é que nós queremos uma base parlamentar sólida, que nos permita conversar com a classe política e também com a sociedade.

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SD 23: E com base no diálogo, nós adotaremos políticas adequadas para incentivar a indústria, o comércio, os serviços e os trabalhadores.

SD 28: Tudo o que disse, meus amigos, faz parte de um ideário que ofereço ao País, não em busca da unanimidade, o que é impossível, mas como início de diálogo com busca de entendimento.

SD 44: O Brasil traz às Nações Unidas sua vocação de abertura ao mundo. Somos um país que se constrói pela força da diversidade. Acreditamos no poder do diálogo. Defendemos com afinco os princípios que regem esta Organização. Princípios que são, hoje, mais necessários do que nunca.

O estabelecimento de um clima de “paz e harmonia”, também é evidenciado por Temer que se vê como um pacificador. Especialmente, o ex-presidente convoca essa paz no cenário de disputas eleitorais do ano de 2018. A perspectiva de paz de Temer está ancorada em uma definição de ausência de conflitos, questionamentos e debates:

SD 111: Aqueles que tentam dividir os brasileiros, erram. Isso eu digo sem medo de errar. Todos nós somos brasileiros, filhos da mesma nação, detentores dos mesmos direitos e deveres. Devemos todos - e este é meu objetivo, é objetivo do meu governo - nos dedicar a fazer um Brasil cada vez melhor. E eu reitero, juntamente com minha equipe de governo, farei isso a cada minuto, a cada instante, até o fim do meu mandato. Na verdade, eu quero construir, com cada brasileiro e com cada brasileira, um País melhor, pacificado, justo, sem ódio ou rancor.

SD 112: Nosso destino inexorável é ser um grande país. Portanto, é preciso acabar com os muros que nos separam e nos tornam menores. É hora de atravessarmos juntos a ponte que nos conduzirá ao grande futuro que o Brasil merece. Portanto, em palavras finais, eu quero agradecer à Câmara dos Deputados por sua decisão e a todos os brasileiros e brasileiras de boa vontade que acreditaram em nosso País. Vamos trabalhar juntos pelo Brasil. Muito obrigado. SD 133: Permitam-me que eu volte um pouco a falar sobre as reformas. Eu começo, Ronaldo Nogueira e Helton, eu começo pela a modernização da lei trabalhista, que foi sem dúvidas uma grande reforma, uma grande conquista. Pois garantiu a todos os direitos dos trabalhadores, os trabalhadores não têm um direito sequer eliminado, até mesmo dos terceirizados e temporários. E o Ronaldo Nogueira, até reitero, foi fundamental, porque, usando a capacidade de diálogo, que é uma das marcas do nosso governo, foi capaz de conversar com o Congresso Nacional, foi capaz de conversar com as Centrais Sindicais, foi capaz de conversar com as federações para chegar a esse sistema flexibilizando as relações de trabalho, portanto, empregadores, empregados podem dialogar e encontrar, juntos, o melhor caminho e as melhores soluções.

SD 144: Portanto, não percam a esperança e não aceitem outro Brasil. E eu quero, se me permitem, muito rapidamente, agora já vou concluir, eu quero deixar uma mensagem político-institucional à Nação. Os senhores sabem, todos sabem, que eu sempre trabalhei pela pacificação das várias correntes existentes no País. Porque aprendi, desde muito cedo, que na vida política você tem dois momentos distintos: momento político-eleitoral, que é exata e precisamente o que estamos agora vivendo, quando as várias tendências, naturalmente, se contestam, controvertem, se testam, apresentam seus programas para dizer como o País deve continuar. Este é um momento político, chamado político-eleitoral. Mas este

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momento deve parar assim que venham as eleições, porque, logo após as eleições, vem o chamado momento político-administrativo, em que todos devem unir-se em busca do bem comum, tanto a situação quanto a oposição.

Na abordagem do sentido da sequência discursiva 144, Temer se vê como alguém que trabalhou pela pacificação de várias correntes no país, um político pacificador, preocupado com o bem-comum das pessoas, responsável e focado nos interesses do Brasil e não em interesses próprios ou político-partidários. Esse sentido pode ser apreendido de maneira implícita, como uma reflexão do conceito do “não dito”, no qual “[...] quando se diz X, o ‘não dito Y’, permanece como uma relação de sentido que informa o dizer de X” (ORLANDI, 2002, p. 82). Ou seja, as pessoas escolhem palavras em detrimento de outras, e ao efetivar essa escolha demonstram uma ideologia que está implícita, mas que interferiu neste processo de optar por determinada palavra, proferir um enunciado (ORLANDI, 2002). Mesmo que Temer não diga que se vê como um pacificador, é possível entender que as palavras utilizadas por ele demonstram que busca evidenciar essa imagem de si. Acerca desse pedido de “união das tendências políticas”, o discurso pode ser considerado duvidoso, já que foi no mesmo período de lançamento do nome do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles como candidato à presidência91 pelo MDB, o que evidencia que o presidente também atua em função de interesses partidários e não supostamente apenas pelo bem comum conforme a imagem que tenta projetar de si mesmo. Nas sequências discursivas apresentadas abaixo Temer também utiliza do argumento de trabalhar em prol do diálogo para destacar a eficiência do governo como uma estratégia para atenuar as críticas recebidas no período:

SD 192: Na cultura, o Sérgio Sá Leitão promoveu uma harmonia extraordinária. O pessoal da Cultura, no começo, era o pessoal mais fanático do “Fora Temer”, não é? Quando o Sérgio chegou lá, aí ele promoveu uma pacificação extraordinária, mas porque nós prestigiamos a cultura brasileira, não é verdade? O Sérgio deu exemplos de muito trabalho, de muita persistência e de muita competência. Tanto que vai indo também para o estado de São Paulo, não é? Como secretário.

SD 162: O primeiro, é que compreendendo as suas naturais reivindicações e naturais angústias, nós estamos providenciando todas essas medidas que acabei de anunciar. E vejam bem, tudo por meio do diálogo. E ao mesmo tempo, pelo exercício da autoridade conferida naturalmente, pela legislação brasileira. Mas jamais abandonamos o diálogo e este é um ponto fundamental do nosso governo. Um ponto da democracia brasileira, do qual jamais vamos abrir mão. Portanto, nós

91Matéria disponível em: < https://g1.globo.com/politica/noticia/em-evento-do-mdb-temer-diz-a-meirelles- chamamos-voce-para-ser-presidente-brasil.ghtml>Acesso em 24 de jun. 2018.

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fizemos, brasileiros e brasileiras, nós fizemos nossa parte para atenuar problemas e sofrimentos.

Procurou-se demonstrar através dessa formação discursiva as principais sequências discursivas que permitiram a identificação do ethos discursivo de Temer como político crente na união e no diálogo. Essa formação discursiva se assemelha ao sentido do próprio slogan do governo: “ordem e progresso”. Temer almeja manter essa “ordem”, que pode ser interpretada como certa busca de uma “inércia” em relação a alguém que não quer ser questionado, confrontado e que, ao mesmo tempo, se mostra ser acessível ao diálogo. A união e o diálogo desejados são bem-vindos somente dos apoiadores, da base aliada, do MDB e da equipe ministerial. A união almejada é aquela na qual Congresso e presidência podem se beneficiar. O governo de Temer é voltado para os seus e circunscrito aos limites do Palácio do Planalto.

4.2.5 FD5: “Sou totalmente honesto e vítima”

“Eu me vejo como totalmente honesto e vítima”. Essa formação discursiva com 30 sequências discursivas evidencia uma imagem de si na qual Michel Temer reforça suas qualidades de caráter de honestidade e se defende das acusações das denúncias como sendo inocente e vítima de artimanhas durante o governo. Inclusive as propostas que não avançaram como a “Reforma da Previdência” também se enquadram no discurso do presidente ao manifestar o quanto foi vítima das denúncias e crises ocorridas em seu governo e o quanto “forças políticas contrárias” – como ele define - teriam trabalhado para impedir esses “avanços”. Nessa formação discursiva Temer também se vê como detentor de valores de honra e que enaltece os valores tradicionais e conservadores. Novamente classificamos em dois núcleos de sentido essa FD: 1) Sou totalmente honesto e inocente e 2) Sou vítima de artimanhas. Acerca do núcleo de sentido “1) Sou totalmente honesto e inocente”, é possível identificar que Temer acredita na demonstração de provas físicas para atestar a veracidade dos fatos. Algo que corrobora com a imagem de si de ser conservador e confiar nas instituições como descrito na Formação Discursiva 1. As sequências discursivas 63, 85, 100 e 101, expostas a seguir, são nas quais Temer se vê como alguém que precisa provar o que diz e que almeja que as pessoas também façam isso para validar o discurso proferido. Outra interpretação recorrente do ex-presidente é a de que essas denúncias ou quaisquer críticas

142 teriam o efeito e poder de “paralisar o país”. Ou seja, tudo que é contrário ou questionador ao governo é interpretado como paralisante e/ou anestesiante para evitar o “crescimento do país”.

SD 63: Há conflitos, há problemas no país? Há. Nós não podemos mantê-los indefinidamente. Não foi sem razão que ainda ontem eu pedia que essas coisas todas, muitas vezes acusatórias, que venham logo à luz. Que vindo a luz, quem for acusado poderá defender-se, explicar-se ou o que seja, porque na verdade nós estamos na primeira fase da chamada acusação. A acusação é um longo processo, onde há defesa, isso, aquilo, não é? Então nós não podemos deixar que isto paralise o país. E nós não permitiremos que isto aconteça. Pode acontecer, pode vir a notícia que vier, etc., o país não ficará paralisado. Quando digo “o país não ficará paralisado” é porque, digamos assim, contra o argumento eu apresento documento. Contra o argumento eu apresento fato. Se há um argumento, há o fato que está sendo apresentado aqui, de propostas que estão sendo aprovadas pelo Congresso Nacional, há valores que estão sendo disponibilizados para o crescimento do país.

SD 85: Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada. Portanto, todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do País.

SD 100: E ainda vejam bem, vou dizer aos senhores, ainda se fatiam as denúncias para provocar fatos semanais contra o governo. Querem parar o País, parar o Congresso num ato político com denúncias frágeis e precárias. Atingem a Presidência da República. Não é uma coisa qualquer [...]

SD 101: Portanto, o que há é um atentado contra, na verdade, contra o nosso País. Eu, sabem os senhores, eu sou o responsável por todos os atos administrativos do meu governo. Não foi sem razão, embora estando há um ano apenas, nós trabalhamos pela queda da inflação, pela redução dos juros, pela geração de empregos, pelas reformas estruturantes, pela liberação do Fundo de Garantia para milhões de brasileiros, e pelo fim da recessão.

As demais sequências discursivas também são exemplos dessa imagem de si de “honesto e inocente”. Especialmente na SD 167, Temer destaca sobre o movimento “Fora Temer”, uma manifestação política que permeou todo o seu governo e que reforça a visão que o próprio Temer teve do movimento, inclusive quando ironiza a manifestação e demonstra seu posicionamento de quem não está preocupado com essas críticas ou com a oposição ao seu próprio governo:

SD 167: Mas devo registrar também um fato curioso que, sob o ângulo de protestos sociais, de fora à parte a greve dos caminhoneiros, os senhores e as senhoras percebem que não há, não houve greves durante o nosso governo, não é? É claro, havia manifestações no início do nosso governo, uma manifestação política. Que

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eu até vou sentir muita falta do Fora Temer, não é? Mas eram manifestações políticas, porque quando falavam Fora Temer, é porque eu estava dentro. Agora estarei fora.

Temer também justifica constantemente a sua honestidade e inocência com argumentos sobre sua atuação profissional. Ou seja, para ele, toda a carreira e ter um nome limpo e conhecido validam a credibilidade do seu discurso e da sua inocência. O então presidente Temer também pondera sobre o constrangimento que ele e a família sentem quando ocorrem denúncias e que as explicações seriam necessárias ao povo brasileiro e à família e amigos, enaltecendo uma interpretação de proximidade, como quem explica aos amigos o que está acontecendo certo de que vão acreditar nele e que já sabem, antecipadamente, sobre sua inocência.

SD 86: Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo empresário. Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome indevidamente.

SD 89: E o meu objetivo aqui, agora me dirijo mais uma vez cumprimentando a imprensa, toda a imprensa brasileira, não sei se há internacional também, mas eu quero me dirigir à imprensa para salientar, preambularmente, preliminarmente que eu me sinto no dever de fazer esta declaração. Não vou chamá-la de pronunciamento, acho que é um pouco pretensioso, mas é uma declaração, de alguma maneira, esclarecedora, tendo em vista uma denúncia ontem apresentada.

SD 95: Eu digo, meus amigos, minhas amigas, sem medo de errar, que a denúncia é uma ficção. Eu devo explicações, como disse, ao povo brasileiro, a cada cidadão brasileiro, especialmente à minha família e amigos. Porque, olhe, vou fazer um parêntese aqui: Não há nada mais desagradável, os senhores têm familiares, do que a sua família estar a todo momento ligando a televisão, ou os jornais, e dizendo que o seu irmão, seu tio, seu pai é corrupto. Não há nada mais desagradável que isso. Este é o ponto que mais me toca.

Sobre a imagem de se ver como “vítima de artimanhas”, Temer profere repetidas vezes que quando é denunciado é porque foi vítima de “uma trama de novela”, ou que “armaram para ele”, “infâmias”, o que nos permite identificar essa imagem de si de quem se vê e se coloca em posição de vítima, que é perseguido e sofre com essas injustiças.

SD 91: E exatamente neste momento, em que nós estamos colocando o país nos trilhos, é que somos vítimas dessa infâmia de natureza política. Os senhores sabem que eu fui denunciado por corrupção passiva. Notem, vou repetir a

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expressão, corrupção passiva a essa altura da vida, sem jamais ter recebido valores, nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Afinal, isto é que vale.

SD 92: Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem. Aliás, examinando a denúncia, eu percebo - e falo com conhecimento de causa - eu percebo que reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria, a denúncia por ilação. Se alguém cometeu um crime, e eu o conheço, ou quem sabe se eu tirei uma fotografia ao lado de alguém, logo a relação é que eu sou também criminoso.

SD 93: Abriu-se, portanto, meus amigos deputados, deputadas, senadores e senadoras, minhas senhoras e meus senhores, um precedente perigosíssimo em nosso Direito. Esse tipo de trabalho trôpego permite as mais variadas conclusões sobre pessoas de bem e honestas. Até dou um exemplo, se me permitem: como nós estamos falando de ilações - a ilação inaugurada por essa denúncia, ela não existe no Código Penal -, permitiria construir-se a seguinte hipótese: o assessor muito próximo ao procurador-geral da República, e dou o seu nome. E dou o nome por uma única razão, porque o meu nome foi usado deslavadamente inúmeras vezes na denúncia. Havia até, digamos assim, um desejo de ressaltar quase em letras garrafais o meu nome. Por isso eu dou o nome desse procurador da República de nome Marcelo Miller. Homem da mais estrita confiança do senhor procurador-geral. Pois bem, eu que sou da área jurídica, meus amigos, eu digo a vocês que o sonho de todo acadêmico em Direito, de todo advogado era prestar concurso para ser procurador da República. Pois bem, este senhor, que eu acabei de mencionar, e lamento ter de fazê-lo, deixa um emprego, que como disse, é um sonho de milhares de jovens acadêmicos, advogados, abandona o Ministério Público para trabalhar em empresa que faz delação premiada ao procurador-geral. Pelas novas leis penais, que eu estou dizendo da chamada ilação, ora criada nesta denúncia, que não existe no Código Penal, poderíamos concluir nessa hipótese que estou mencionando, que talvez os milhões de honorários recebidos não fossem unicamente para o assessor de confiança, que, na verdade, deixou a Procuradoria para trabalhar nessa matéria. Mas eu tenho responsabilidade. Eu não farei ilações. Não farei ilações. Eu tenho a mais absoluta convicção de que não posso denunciar sem provas. Não posso fazer, portanto, ilações. Não posso ser irresponsável.

SD 94: E no caso do senhor grampeador, o desespero de se safar da cadeia moveu a ele e seus capangas, para, na sequência, haver homologação de uma delação, e distribuir o prêmio da impunidade. Criaram uma trama de novela.

SD 183: E fizemos essas reformas todas fundamentais que vocês conhecem. Só não fizemos a da Previdência, porque aqui eu também revelo em alto e bom som, para que todos ouçam e reproduzam isso. Só não foi possível porque houve uma urvidura, uma trama, de uma tal natureza, trama que foi depois desvendada, ou seja, os meus detratores, aqueles que urdiram a trama, acabaram presos, não é? O pessoal que entrou com o gravadorzinho da feira do Paraguai, para gravar, etc., foram presos e procuradores que foram, que já trabalhavam para a empresa enquanto estavam na Procuradoria foram denunciados pela própria Procuradoria. Além do que, devo dizer, enfatizar, ressaltar o fato de que naquela gravação criou-se uma frase falsa, não é? Uma frase falsa, depois detectada quando se ouve o áudio. Mas certos setores da imprensa que pegaram aquilo e tentaram cavar na minha voz, na minha palavra, a frase que não existe. A frase que simplesmente não existe [...]

Uma das denúncias que mais abalou o governo de Michel Temer foi relacionada à JBS, na qual Temer mais se defende e justifica suas ações:

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SD 96: O que eu tenho consciência é que não posso criar falsos fatos, para atingir objetivos subalternos. Por tradição e formação, eu acredito na Justiça. Não serei irresponsável. O desespero de se safar da cadeia é que moveu o cidadão Joesley e seus capangas. Foi isto que fez com que se houvesse homologação de uma delação e a distribuição de um prêmio de impunidade.

SD 97: E eles conseguiram isso, o delator, porque foram preparados, treinados, prova armada, conversas induzidas. Eu sei, para enfrentar o tema, que criticam- me por ter recebido tarde da noite em minha casa o empresário Joesley. Recebi, sim, naquela oportunidade o maior produtor de proteína animal do País, senão do mundo, do mundo. Interessante, que eu descobri o verdadeiro Joesley, o bandido confesso, junto com todos os brasileiros, quando ele revelou os crimes que cometeu ao Ministério Público, sem nenhuma punição.

SD 98: Quero lembrar que o fruto dessa conversa é uma prova ilícita, inválida para a justiça. Basta até dizer aos senhores e às senhoras, quem deitar os olhos sobre a Constituição, eu recomendo a leitura do artigo 5°, inciso LVI, onde está dito expressamente como direito fundamental que não se pode admitir provas ilícitas. Ora bem, essa gravação foi questionada por um jornal, dois jornais, três jornais, pelo perito que eu coloquei, e agora mesmo na pesquisa feita seriamente pela Polícia Federal, pelo seu Instituto de Criminalística, está dito que há cerca de 120 interrupções, não é? O que torna a prova inteiramente ilícita.

Para se defender de outra denúncia, Temer utiliza novamente os argumentos de quem se via como totalmente honesto e inocente e vítima dessa “trama de acusação”, ou seja, ao mencionar os argumentos de que o fruto da conversa é uma prova ilícita, inválida, é um modo de reforçar inocência. Especialmente na sequência discursiva 148, Temer destaca sobre o quanto se vê como honesto. Novamente, a denúncia é rebatida com dizeres que reforçam as qualidades de caráter que ele enxerga ter como honra e união da família:

SD 148: Muito bem, meus amigos e minhas amigas, eu venho aqui, mais uma vez, naturalmente para protestar contra mentiras que são lançadas contra a minha honra. Não se trata até de mentiras já sacadas contra a minha posição funcional: é contra a minha honra e, pior ainda, mentiras que atingem a minha família e meu filho, que hoje tem nove anos de idade.

Temer reitera em seus discursos o entendimento de que sua carreira como advogado, professor, procurador, presidente da Câmara dos Deputados e o cargo na presidência validam a inocência em um sentido de alguém que tem uma reputação a zelar e que não arriscaria “manchar o seu nome” ao se envolver com corrupção. Outra justificativa é a não “ostentação” de bens, quando diz que não possui casa de campo ou apartamentos no exterior:

SD 149: Eu trabalho, meus amigos, há quase 60 anos, advogado, professor universitário, procurador do Estado, presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente do Brasil e agora presidente. São quase 60 anos de salários,

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honorários recebidos, seja na atividade, seja na aposentadoria, absolutamente dentro da lei e devidamente declarados nas minhas várias declarações do imposto sobre a renda. Eu não tenho casa de praia, eu não tenho casa de campo, eu não tenho apartamento em Miami, eu não tenho vencimentos de salários, a não ser aqueles absolutamente dentro da lei. Aliás, aqui na Presidência da República, eu obedeço o teto relativo à minha aposentadoria, eu ganho aqui um complemento que chega a R$ 2.000,00, R$ 2.500,00, por aí e só.

Outro argumento utilizado pelo ex-presidente para reafirmar sua honestidade e garantir que é “vítima das armações” é a de acusar pessoas e a imprensa por descobrir e divulgar rapidamente sem checar as informações, como uma perseguição:

SD 150: Aliás, qualquer contador, qualquer pessoa de bem, qualquer professor de matemática consegue concluir que, ao longo do tempo, eu obtive recursos suficientes para comprar os imóveis que comprei e reformar os imóveis que reformei. Só um irresponsável, mal intencionado, ousaria tentar me incriminar, a minha família, minha filha, meu filho, de nove anos de idade, como lavadores de dinheiro, dizer que lavei dinheiro em uma casa alugada, dizer que gastei R$ 2 milhões, a insinuação até se trata de uma reforma em uma casa alugada e uma outra casa. Em que mundo é que estamos?

SD 151: Aí eu pergunto: como é que a imprensa consegue estas informações? Eu duvido que a imprensa entre de madrugada, seja na Polícia Federal ou onde seja, para, digamos, sorrateiramente ter acesso a esses dados. Alguém, naturalmente, vaza esses dados irresponsáveis. E a imprensa, muito legitimamente, acaba por divulgá- los. É uma, na verdade vou usar a palavra gasta, mas é uma perseguição criminosa, disfarçada de investigação.

SD 152: Vejam, vocês estão me ouvindo, se vocês fossem titulares dessa investigação, vocês diriam: “Olhe aqui, presidente, vem cá. Apresente os documentos aí referentes à doação que fez, referentes à compra que fez”. Agora me perguntem se alguém até hoje me solicitou que apresentasse esses documentos. Ao contrário: o que passou a ser muito comum, e desde o primeiro momento eu denunciei, foram as ilações. Fazem-se ilações, as mais variadas. Supõe-se que, achamos que, e o “supõe-se que” e o “achamos que” é divulgado para a imprensa. Sem que, volto a dizer, a defesa tenha a menor possibilidade de ter acesso aos autos para ali manifestar-se adequadamente.

SD 153: Agora, convenhamos, vocês acompanharam o meu primeiro depoimento, há muito tempo atrás, quando eu disse que não renunciaria. E até pedi que anotassem em letras garrafais. Isso já tem quase um ano mais ou menos. Eu estou aqui hoje como presidente da República. Sobre estar como Presidente da República, nós não paramos de trabalhar. Veja o Brasil de ontem e o Brasil de hoje, sem embargo dessa tentativa criminosa de tentar atrapalhar o País, criando problemas para o presidente da República. [...] O ataque é de natureza moral, de pessoas que eu não sei se têm moral para fazê-lo, essa é a grande realidade.

SD 155: Mas, eu sei, meus amigos, minhas amigas, eu sei me defender, especialmente defender a minha família, os meus filhos, porque eu não posso sair daqui da Presidência, não sei quando, para carregar essa pecha irresponsável que tentam impor a todo momento, porque as pessoas de má-fé estão manipulando informações, fazendo ilações sem nenhuma prova documental e usando a imprensa para seus propósitos de atingir a minha honra. Os investigadores ainda vão tentar rastrear a origem dos recursos para a

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compra dos imóveis. Até hoje não pediram. Como então já afirmam que são de origem ilícita? Eles têm por acaso as escrituras? Tem os instrumentos de doação? Eles têm esses documentos em mãos? Não têm. Não pedem. E não deixam que se junte. O que que se fez? Pediu-se mais 60 dias para ver se ampliava o inquérito e fazer o que está sendo feito agora. Passa-se o período de 60 dias, e agora se pede mais 60 dias. A significar que, daqui a 60 dias, pedir-se-á novamente 60 dias. Ou seja, quer se deixar o presidente da República numa situação de incômodo institucional, porque não tenha ilusões. Isto tem as maiores repercussões não só nacionais como internacionais.

A última formação discursiva evidenciou e validou o ethos discursivo de Temer como totalmente honesto e vítima. A validação do caráter de honestidade ocorria quando Temer precisava se defender de alguma denúncia ou inquérito. Ao mesmo tempo, o então presidente se posicionava como vítima, alvo da oposição. O então presidente também se coloca em um lugar de alguém que invalida todas as críticas que recebe e que por vezes contra-ataca as pessoas que o acusam. Temer aciona valores da família, que podem ser interligados com os sentidos identificados na formação discursiva 1, para fundamentar sua defesa, alegando que é um homem honrado, íntegro, “pai de família” que não mereceria exposição e acusações.

4.3 O discurso jornalístico em O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol

O período delimitado para o estudo foi de 12 de maio de 2016, quando Temer assumiu como presidente interino até 31 de dezembro de 2018, quando encerrou o mandato presidencial. O primeiro passo consistiu na localização de todas as notícias que remetessem aos referidos pronunciamentos de Temer que totalizaram 67 notícias, sendo 14 notícias do O Globo on-line, 22 notícias do portal G1, 12 notícias da Folha de S. Paulo on-line e 19 notícias do Uol (tabela abaixo). Após a classificação das sequências discursivas alocamos os enunciados em núcleos de sentido mais amplos: as formações discursivas, que foram agrupadas em seis núcleos de sentidos principais para compreender as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico e a produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais no mandato de Temer (2016-2018). As formações discursivas designadas foram:

Tabela 2: Síntese das formações discursivas acerca das notícias dos pronunciamentos de Michel Temer nos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

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Formações Discursivas G1/O Globo Uol/Folha de S. Paulo

FD1: Temer defende a  34 sequências  45 sequências constitucionalidade do impeachment discursivas. discursivas. e as instituições FD2: Temer quer união e prega o  56 sequências  32 sequências diálogo discursivas. discursivas.

FD3: Temer é um presidente  65 sequências  46 sequências polêmico em suas declarações discursivas. discursivas.

FD4: Temer vai gerar emprego e  43 sequências  24 sequências crescimento discursivas. discursivas.

FD5: Temer é reformista  28 sequências  15 sequências discursivas. discursivas.

FD6: Temer é alvo da oposição e  92 sequências  55 sequências denúncias discursivas. discursivas.

Total:  Total de 247  Total de 171 sequências sequências discursivas. discursivas.

Fonte: Elaborado pela autora.

A partir da análise foi possível identificar que ambos os portais/jornais contemplam sentidos semelhantes, o que norteou a escolha de apresentar as ocorrências de sequências discursivas e da identificação dos sentidos pelos nomes das FDs com o cuidado de mostrar as diferenças de incidências nos portais, por meio dos núcleos de sentidos dentro do que é mais recorrente em cada um. As interpretações dos sentidos de cada formação discursiva permitem a identificação de elementos que contribuem para reforçar ou não a “imagem de si” de Michel Temer e apreender como e se o discurso político dos pronunciamentos é problematizado posteriormente pelo discurso jornalístico dos portais.

4.3.1 FD1: “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”

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Essa formação discursiva demonstra que Temer defende a constitucionalidade do processo de impeachment, que todos os ritos que levaram a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff foram democráticos, da mesma maneira que ocorre com a “imagem de si” na qual Temer se vê como alguém legalista, que confia nos valores do Direito. Os portais também evidenciam esse significado e atentam ainda mais para a questão do impeachment. Ou seja, quando Temer menciona isso em um pronunciamento torna-se um elemento singular, que vai passar a ocupar a centralidade da notícia/reportagem. Os portais também acentuam o sentido do então presidente que considera a Lava-Jato extremamente confiável e eficaz. A mesma Operação Lava-Jato que prenderia Temer em 2019 é objeto de defesa do presidente nos pronunciamentos, o que reforça o significado de alguém que confia nas instituições, no poder legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado e da mesma forma na atuação dos juízes. Outro sentido pertinente é o de um então presidente a favor do Estado mínimo e presidente diplomata, contra o protecionismo e a favor das privatizações. De um Temer que prioriza sua ideologia de direita e conservadora. Igualmente, como é evidenciado no ethos discursivo, o discurso jornalístico mostra que Temer ancora seus pronunciamentos na sua expertise em Direito, como alguém que conhece todos os trâmites constitucionais e, portanto, estaria preparado para se defender de qualquer ataque, para entender qualquer situação política e, consequentemente, seria inocente e honesto em todas as situações. Como resultado da classificação, em G1/O Globo foram 34 sequências discursivas e no Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi maior, com 45 sequências discursivas. Abaixo, algumas das sequências discursivas identificadas:

Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD1:

SD2: Presidente interino manifesta apoio à Lava-Jato em seu primeiro pronunciamento.

SD14: Para o peemedebista, é importante que haja harmonia entre os poderes, sem interferência de um no outro. Essa é uma das maiores críticas do Congresso Nacional ao Judiciário, que por vezes interferiu no Legislativo para garantir o funcionamento do poder.

SD31: Em meio ao pronunciamento, ele mencionou a situação de Dilma, sem mencionar as razões pelas quais ela foi afastada da Presidência, e disse declarar "absoluto respeito institucional" a ela. Ele, entretanto, aproveitou para alfinetar a presidente afastada, que, mais cedo, em seu discurso de despedida do Planalto, havia repetido novamente que está sendo vítima de um "golpe". “Quero apenas sublinhar

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a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia nas questões, no trato das questões institucionais. É uma coisa que nós temos que recuperar no nosso país [...]”

SD37: Segundo o presidente em exercício, quando toda vez que propuser mudanças estruturais nessas regras previdenciárias e trabalhistas será motivado “pela compreensão da sociedade brasileira”. Por isso, observou, precisa de uma base parlamentar sólida no Congresso Nacional que converse com a sociedade.

SD40: Presidente nacional do MDB, um dos principais partidos envolvidos no esquema de corrupção que atuava na Petrobras, Michel Temer aproveitou seu primeiro discurso como presidente em exercício para elogiar o trabalho da Operação Lava Jato. Ele afirmou que, depois de se tornar uma referência no combate à corrupção, as investigações das irregularidades cometidas na estatal do petróleo tem de prosseguir "contra qualquer tentativa de enfraquecê-la". "A moral pública será permanentemente buscada por meio de instrumentos de controle e apuração de desvios. Tomo a liberdade de dizer que a Lava Jato tornou-se referência e deve ter prosseguimento contra qualquer tentativa de enfraquecê-la", disse o presidente em exercício.

SD53: Tradicionalmente, cabe ao presidente do Brasil fazer o discurso de abertura da reunião. Em sua fala, Temer afirmou a chefes de Estado do mundo inteiro que o processo de impeachment que culminou no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência "transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional". O peemedebista comentou o impeachment de Dilma quase ao final de seu discurso de 20 minutos na tribuna da ONU.

SD105: "Criaram uma trama de novela. Eu digo, sem medo de errar, que a denúncia é uma ficção. [...] Tentaram imputar a mim um ato criminoso e não conseguiram porque não existe, juridica ou politicamente", complementou. Em outro momento do pronunciamento, Temer se disse tranquilo, do ponto de vista jurídico. Isso porque, para ele, não há fundamentos que embasem a denúncia. "Eu não me impressiono, muitas vezes, com os fundamentos, ou quem sabe até a falta de fundamentos jurídicos, porque advoguei por mais de 40 anos. Eu sei bem como são essas coisas. Eu sei quando a matéria é substanciosa, quando tem fundamentos jurídicos e quando não tem. Então, sob o foco jurídico a minha preocupação é mínima", afirmou o presidente. Segundo ele, acrescentou-se ao direito penal "uma nova categoria: a denúncia por ilação".

SD191: No pronunciamento, Temer destacou ainda que trabalha "há quase 60 anos", lembrando sua atuação com advogado, professor universitário, procurador do Estado, presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e presidente da República. "São quase 60 anos de salários e honorários recebidos, seja na atividade seja na aposentadoria. Absolutamente dentro da lei e devidamente declarados nas minhas várias declarações de imposto sobre a renda", disse.

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD1:

SD3: Temer reforçou em seu discurso que manterá programas sociais dos governos anteriores, como o Bolsa Família, e que assegurará a continuidade da Operação Lava Jato. Temer falou horas depois de ter assumido as funções da presidente afastada, Dilma Rousseff. SD15: Temer, que não discursou no Congresso, falou em reunião ministerial no Planalto logo após a posse. No mais, contestar a partir de agora essa coisa de golpista. Dizer: golpista é você, que está contra a Constituição.

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SD27: Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) como presidente, Michel Temer defendeu nesta terça (20) a legitimidade do processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e disse que no Brasil ninguém está imune à ação da lei. "O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional. Não há democracia sem Estado de direito - sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos", disse Temer.

SD39: [...] O presidente iniciou seu discurso comentando os oito votos a menos a favor do governo na comparação com a primeira votação, em novembro, quando 75 senadores votaram (61 a favor e 14 contra). Segundo ele, a vantagem numérica menor foi resultado do horário da sessão. “Quero esclarecer que a votação foi menor que a primeira e isso se deve ao fato do Renan [Calheiros] ter antecipado a votação, que iria ser votada à tarde. Muitos senadores estão chegando agora ao Senado. O número mudou, mas não mudou o apoio ao governo”, disse.

SD70: Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem. Examinando a denúncia, percebo que reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação." "Não me impressiono muitas vezes com a falta de fundamentos jurídicos porque eu advoguei por mais de 40 anos. Eu sei quando a matéria é substanciosa, quando tem fundamentos jurídicos, e quando não tem", atacou. Segundo o presidente, a denúncia de Janot foi motivada por fatores "políticos", não jurídicos, e é um “ataque injurioso, indigno, infamante à minha dignidade pessoal”. Temer disse ainda que teve “uma vida muito produtiva e muito limpa”, e que agora é “vítima dessa infâmia de natureza política”.

É possível perceber que essa formação discursiva se assemelha com o efeito de sentidos da formação discursiva da imagem de si. Dito de outra forma, os portais mantiveram a imagem que Temer buscou efetivar. Entre o discurso de Temer e aquilo que foi editorialmente selecionado pelos portais/jornais para ser publicado, não se encontram muitas problematizações. Os veículos de informação jornalística realçam o quanto o então presidente confia nas instituições, como mostrado na sequência discursiva dois, do grupo G1/O Globo: “Presidente interino manifesta apoio à Lava-Jato em seu primeiro pronunciamento”. Acerca do processo de impeachment percebe-se essa tentativa de neutralidade por parte dos portais em não estabelecer uma conclusão, mas apresentar os diferentes posicionamentos de Dilma e Temer somente como quem lança as informações sem ter aprofundamento. A iniciativa em garantir a imagem de honesto e de reafirmar a necessidade das leis, não é objeto de questionamento dos portais. A sequência discursiva 202 do grupo G1/O Globo conta com uma fala de Temer em que menciona que recebe salário há quase 60 anos e que tudo está “absolutamente dentro da lei”, uma afirmação que não é confrontada, nem mesmo em um momento no qual Temer é denunciado. Ainda sobre o processo de impeachment, Temer destaca na sequência discursiva 15 do grupo Uol/Folha de S. Paulo que “golpista é quem está

152 contra a constituição”. Dito de outro modo, Temer traz a Constituição para o seu lado, ou seja, todos os questionamentos e confrontos significam confrontos à constituição, à instituição presidência da república, sendo considerados como uma ousadia e infâmia.

4.3.2 FD2: “Temer quer união e prega o diálogo”

O significado identificado aqui é de Temer como um presidente facilitador e enaltecedor dos diálogos e da união, que sabe o que o povo quer, que envolve as pessoas para trabalharem juntas. De um Temer que garante à sociedade que manteria os programas sociais na tentativa de contribuir para esse clima de “paz”. O sentido atribuído também demonstra que especialmente após o impeachment, Temer prega a necessidade de união, como se após o impeachment toda a disputa política precisasse acabar e todos devessem trabalhar para o bem do país, sem oposição, questionamentos ou resistência. Os sentidos empregados aqui demonstram Temer como um ex-presidente que avalia que é o diálogo que gera união, que almeja pacificar e unir o país e que sobrepõe os interesses nacionais acima dos interesses dos grupos. Em G1/O Globo foram 56 sequências discursivas e no Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi de 32 sequências discursivas.

Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD2:

SD3: Em seu primeiro pronunciamento já na condição de presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP) pregou o diálogo e a união do povo brasileiro e de todos os poderes para garantir a governabilidade.

SD7: O presidente interino garantiu que vai manter os programas sociais executados pelos governos petistas, como o Bolsa Família, o Pronatec, o Fies e o ProUni.

SD12: Temer disse que é preciso governar em conjunto, e pediu não só o apoio da classe política, mas da sociedade brasileira.

SD19: Ele se dirigiu aos brasileiros, em sua primeira fala pública como presidente interino, e falou em confiança para que, com a união entre todos, o país possa superar desafios.

SD62: O presidente disse ainda que se preocupa com a falta de uma perspectiva de paz entre Israel e Palestina e também defendeu o fim da ameaça nuclear no mundo. Temer disse que apoia a solução de paz na Colômbia, a retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba e se preocupa com o aumento de tensão na península da Coreia. O brasileiro defendeu os programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família e exortou todos os países a terminarem com a fome no mundo, além de alertar para a necessidade de que todos os países aceitem o acordo

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de Paris sobre mudanças climáticas, que levará a uma redução da emissão de gases de efeito estufa. — Num mundo ainda tão marcado por ódios e sectarismos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio mostraram que é possível o encontro entre as nações em atmosfera de paz e harmonia. Pela primeira vez, uma delegação de refugiados competiu nos Jogos. Por meio do esporte, pudemos promover a paz, lutar contra a exclusão e combater o preconceito — disse Temer.

SD208: Durante seu pronunciamento, Temer afirmou que compreende "reivindicações e angústias" dos caminhoneiros e que "jamais" abandou o diálogo. "Fizemos a nossa parte para atenuar os problemas e os sofrimentos. As medidas que acabo de anunciar, repito, atendem a praticamente todas as reivindicações apresentadas. Quero apresentar plena confiança num espírito natural de responsabilidade, solidariedade e patriotismo de cada um daqueles caminhoneiros que servem ao nosso país", concluiu o presidente.

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD2:

SD9: No final de seu discurso, o presidente interino diz que quer fazer um governo "fundado em alto critério religioso". "Vamos religar toda a sociedade com os valores fundamentais do país", afirmou, pedindo que Deus abençoe a todos.

SD21: Ele defendeu ainda a necessidade de uma reforma previdenciária que garanta o pagamento das aposentadorias. "Nosso objetivo é garantir um sistema de aposentadorias pagas em dia, sem calotes e sem truques. Um sistema que proteja os idosos sem punir os mais jovens", disse. "O presente e o futuro nos desafiam. Não podemos olhar para frente com os olhos do passado. Meu único interesse é entregar ao meu sucessor um país reconciliado, pacificado e em ritmo de crescimento. Um país que dá orgulho aos seus cidadãos", disse.

SD102: [...] No discurso, Temer voltou a falar da necessidade de se pacificar o país e não deixar que as pessoas se voltem umas contra as outras por divergências políticas. Ao citar eleições de outubro deste ano, disse que todos devem ir em busca do bem comum.

SD128: Temer cede e reduz em R$ 0,46 o litro do diesel por 60 dias

SD135: Temer cede a caminhoneiros para conter greve que paralisa o país

SD170: No encontro, Temer ainda elogiou o ministro de Ciência, Gilberto Kassab, que foi alvo de operação nesta quarta-feira (19) da Polícia Federal e teve sigilos bancário e telefônico quebrados. Ele é investigado no rastro de suposto esquema de recebimento de recursos ilícitos. "[Quero relembrar] o que foi feito por Kassab na área de Ciência, Tecnologia e Comunicação. A área científica não é fácil e houve uma pacificação extraordinária dessas áreas por conta da habilidade extraordinária do Kassab", disse.

Os sentidos que foram evidenciados aqui demonstram as poucas diferenças de interpretações dos portais. As sequências discursivas do grupo G1/O Globo, em sua maioria, fazem referência aos pronunciamentos de Temer enquanto presidente interino e efetivo, nas datas de posse, durante a primeira fala como presidente na ONU e no discurso que anunciou as medidas para conter a greve dos caminhoneiros. Foram momentos em que o contexto social

154 e econômico do país estava marcado pela instabilidade e o presidente reforçou um ethos discursivo de compreensão que foi acatado pelos veículos. Iacomini Junior et al (2018) analisaram em um artigo os dois pronunciamentos de Temer nas posses como presidente efetivo e interino. O primeiro discurso foi marcado pela convocação de paz geral, tentativa de reunir forças políticas que estavam separadas. O segundo discurso buscou a ênfase em diretrizes gerais para o país, um governo confiante nas mudanças, que se afirmava como tendo o poder necessário para implementá-las. Outra conclusão foi o crescimento de três sujeitos do primeiro para o segundo discurso: “nós”, “governo” e “partido” e a abundância de expressões e locuções com o sufixo “re”: “recuperação da economia nacional”, “retomada do crescimento”, “religação de toda a sociedade brasileira”. Outro ponto pertinente a partir da análise efetuada no artigo é que esses “nós de Temer” não significaram ligação com a população em geral, mas com a própria equipe de governo e com o MDB, partido de Temer (IACOMINI JUNIOR et al, 2018). A conclusão que os autores chegaram de que Temer buscou essa ligação não com a população em geral, mas com a equipe de governo também é demonstrada por meio da análise aqui empregada e do quanto Temer busca se pronunciar fechado aos limites do Palácio do Planalto, ao evitar o possível respaldo negativo da população.

4.3.3 FD3: “Temer é um presidente polêmico em suas declarações”

Essa formação discursiva representa todas as falas em que Temer é polêmico, nas quais a partir do pronunciamento ocorre repercussão e de como o pronunciamento gera manifestações nas redes sociais e até nas ruas. É uma polêmica no sentido crítica, porém, sem definir exatamente se Temer estaria “certo” ou “errado” sobre o tema, apenas que suas declarações foram polêmicas e repercutiram na imprensa, nas redes sociais, entre os ministros e na oposição. As notícias em que esse sentido está mais perceptível são aquelas em referência ao pronunciamento do Dia da Mulher em março de 2017 e de defesa após a divulgação das denúncias que investigaram Temer. Em G1/O Globo foram 65 sequências discursivas e em Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi de 46.

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Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD3:

SD72: Temer afirmou que algumas das propostas enviadas pelo governo ao Congresso, como a reforma do ensino médio, têm suscitado polêmica. Mas, segundo ele, são polêmicas "saudáveis". “Temos mandado propostas que têm tido muita polêmica, e uma saudável polêmica, porque vivemos em um estado democrático. E no estado democrático o que mais se deve fazer é polemizar, porque a polêmica gera aperfeiçoamento”, ressaltou.

SD78: O presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira (8), em discurso no Palácio do Planalto, que somente a mulher é capaz de indicar "desajustes" de preços no supermercado. No mesmo discurso, Temer disse que a mulher ainda é tratada como "figura de segundo grau" no Brasil e que, se a sociedade "vai bem", é porque as pessoas tiveram boa formação em casa, e "quem faz isso é a mulher". Temer deu as declarações durante evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher no qual o governo anunciou medidas para humanizar o parto normal e reduzir intervenções consideradas desnecessárias

SD82: Aliados defendem Temer: Após o evento, a secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, foi questionada sobre se as declarações do presidente haviam sido, na avaliação dela, machistas. Fátima, então, disse que não. Para a secretária, o presidente somente fez uma referência à jornada doméstica e profissional vivida pela mulher atualmente. A secretária defendeu a trajetória de Temer como o responsável pela criação da delegacia da mulher e disse que é preciso analisar as atitudes dele, não as falas separadamente.

SD106: No discurso, o presidente afirmou que não lhe falta coragem para "seguir na reconstrução do país" e disse que tem "orgulho" de ser presidente. "Eu tenho orgulho de ser presidente, convenhamos, é uma coisa extraordinária. Para mim é algo tocante, é algo que não sei como Deus me colocou aqui. Dando-me uma tarefa difícil, mas certamente para que eu pudesse cumpri-la. Portanto, tenho a honra de ser presidente, especialmente, não porque sou presidente, mas é pelos avanços que o meu governo praticou.. [...] Não me falta coragem para seguir na reconstrução do país, e convenhamos, na defesa da minha dignidade pessoal", concluiu.

SD128: 'Não sei como Deus me colocou aqui': frase de Temer vira piada nas redes. Presidente fez pronunciamento um dia após ser denunciado por corrupção passiva

SD161: Crises: Nesses dois anos à frente do Planalto, Temer enfrentou uma série de polêmicas causadas por denúncias, delações, prisões de assessores mais próximos e investigações da Polícia Federal. No ano passado, o presidente foi denunciado duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República (PGR). Os crimes: corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. As denúncias, baseadas nas delações da JBS, fizeram Temer viver seu momento mais dramático no governo. Segundo o Ministério Público, numa conversa com o dono da empresa, Joesley Batista, Temer deu aval ao pagamento de dinheiro para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, o que o presidente nega. O encontro aconteceu no fim da noite, fora da agenda, e foi gravado por Joesley. O STF só poderia analisar as denúncias, porém, se a Câmara autorizasse. Nos dois casos, a maioria dos deputados votou contra o prosseguimento dos processos e, com isso, as acusações contra Temer só poderão ser analisadas após ele deixar o Planalto.

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD3:

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SD12: O peemedebista acabará com o Ministério da Cultura, integrando-o ao Ministério da Educação. Outra medida foi fundir a Secretaria de Direitos Humanos com o Ministério da Justiça, que passará a ser chamado de Ministério da Justiça e Cidadania. Antes mesmo do anúncio, o novo quadro de ministros causou polêmica. Marcos Pereira, cotado para a Ciência, foi criticado por ser pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Acabou sendo trocado por Gilberto Kassab. Pereira, porém, permaneceu como ministro da Indústria e Comércio. Depois da forte reação negativa das Forças Armadas à informação de que Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) seria o ministro da Defesa, Temer mudou de ideia sobre a indicação ao deputado mineiro, criticado por não ter tradição nem experiência na área. Em seu lugar, entrou Raul Jungmann.

SD16: Renan declarou Temer empossado pelo período de "31 de agosto a 31 de dezembro de 2018". A cerimônia foi rápida, durou 12 minutos, e não houve discurso do presidente. Ao final da cerimônia, Renan disse a Temer "estamos juntos", em áudio vazado pelas câmeras de TV. Renan votou a favor do impeachment horas antes.

SD46: OUSADIA: A tramitação por medida provisória provocou críticas por impossibilitar um debate amplo com professores e alunos. Temer e o ministro Mendonça Filho (DEM) repetiram na quinta que a reforma representa "coragem" e "ousadia". "Vamos prosseguir com essa ousadia responsável e planejada", afirmou Temer. Mendonça disse que a reforma é a "maior e mais importante" da área educacional em 20 anos. O Supremo Tribunal Federal ainda julga ação de inconstitucionalidade da reforma feita por medida provisória. Em dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou que a MP era inconstitucional, por "falta de urgência" da proposta.

SD47: Declarações de Temer no Dia da Mulher geram polêmica

SD57: Pesquisas recentes, no entanto, mostram que mulheres ganham menos que os homens mesmo exercendo os cargos iguais. Temer disse que as mulheres ainda são tratadas "como figuras de segundo grau em outras partes do mundo". Segundo ele, elas "devem ocupar o primeiro grau em todas as sociedades". De 28 pastas na Esplanada dos Ministérios do governo peemedebista, apenas duas são ocupadas por mulheres: a AGU (Advocacia-Geral da União) e Direitos Humanos. O presidente afirmou ainda que o Plano Nacional de Segurança de seu governo traz projetos específicos sobre o combate ao feminicídio e à violência contra a mulher e que há um estudo em sua gestão para criar um fundo com recursos exclusivos para essas medidas. "Isso tudo é fruto do movimento das mulheres e da compreensão dos homens, digamos assim", finalizou.

SD171: Nos agradecimentos, ele fez ainda uma referência, que reconheceu ser "meio preconceituosa", à ministra-chefe da AGU (Advocacia Geral da União), Grace Mendonça, única mulher no primeiro escalão do governo federal. "Não vou fazer uma brincadeira que o Moreira [Franco] faz sempre. Mas, se me permite, Grace, ele de vez em quando diz: 'Nós temos um único homem no governo, que é a Grace’. Uma coisa meio preconceituosa", disse.

Nessa análise, os portais retrataram os pronunciamentos de Temer como “polêmicos”. As sequências discursivas do grupo G1/O Globo fazem referência ao pronunciamento do Dia da Mulher, em março de 2017 e após a defesa contra uma denúncia, na qual a frase de Temer alcançou repercussão negativa. Na sequência discursiva 89, a frase de Temer de que “somente

157 a mulher é capaz de indicar ‘desajustes’ de preços no supermercado” foi considerada muito negativa pelas redes sociais e por toda imprensa brasileira e até internacional. O grupo Globo produziu uma matéria na qual “analisa” todas as falas do presidente. A matéria se limitou a dizer que a “frase causou polêmica e teve reação negativa imediata” e que “a declaração foi vista como machista e teve repercussão instantânea nas redes sociais”. Ou seja, o veículo jornalístico transfere todo o potencial de problematização para as redes sociais e se limita a informar a “polêmica”. O grupo apresenta dados somente quando Temer cita que o número de mulheres que comandam empresas e diretorias é imenso. O portal aponta dados da pesquisa Internacional Business Report (IBR) – Women in Business para contestar que mais da metade das empresas brasileiras não tem mulheres em cargos de liderança e que apenas 16% dos cargos de CEO e diretoria são ocupados por mulheres no Brasil. O portal informa ainda que de acordo com o Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina, no Brasil, as mulheres também só ocupam 18,2% dos gabinetes ministeriais e 9,9% dos cargos na Câmara dos Deputados. Esse confronto à Temer é a atitude esperada do portal, que se limita a uma matéria sobre ao assunto, quando poderia manter a criticidade em todas as demais matérias que foram produzidas a respeito do tema. Ainda relacionada às sequências discursivas do grupo G1/O Globo, a SD 172 destaca como a maioria dos deputados votou contra o prosseguimento dos processos nos casos de denúncia contra Temer, denúncias essas que passaram a serem analisadas depois que o presidente encerrou o mandato. É pertinente reforçar que o resultado positivo para Temer na votação ocorreu após liberação de emendas parlamentares e muita negociação da base aliada de Temer. A defesa do planalto foi a de que as liberações de emendas eram consideradas imposições legais, sem relações com a votação na Câmara. Nas sequências discursivas do grupo Uol/Folha de S. Paulo é pertinente ressaltar sobre a sequência discursiva 12 na qual o portal destaca que Temer acabaria com o Ministério da Cultura, integrando-o ao Ministério da Educação. Na época, a ação de Temer gerou enorme indignação social com manifestações e protestos inclusive de artistas renomados no cenário nacional. O que se percebe é que o pronunciamento de Temer é noticiado de forma isolada dos demais acontecimentos que compõe o contexto social-econômico do período, uma inércia do jornalismo favorece a afirmação do ethos discursivo do presidente “da união e do diálogo”. No entanto, na sequência discursiva 57 percebeu-se uma problematização por parte do grupo Uol/Folha de S. Paulo, que sublinha que “pesquisas recentes mostram que mulheres

158 ganham menos que os homens exercendo cargos iguais”, em referência ao pronunciamento do Dia da Mulher e que das 28 pastas na Esplanada dos Ministérios, apenas duas eram ocupadas por mulheres. Percebe-se o grupo Uol/Folha de S. Paulo apresenta facetas mais críticas em relação às falas do então presidente.

4.3.4 FD4: “Temer vai gerar emprego e crescimento”

Essa Formação Discursiva representa sentidos identificados que avaliam o governo Temer como um governo que almeja superar a crise, salvar o país por meio do emprego e crescimento. Imagem de um gestor e governo desenvolvimentistas. Resultados, crescimento na economia e desenvolvimento, ordem e progresso. Outro sentido atribuído a essa FD é a necessidade de gerar empregos, estabelecer um governo de “salvação” e lutar contra a crise econômica. Em G1/O Globo foram 43 sequências discursivas e no Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi de 24: Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD4:

SD13: Quase sem voz, Michel Temer afirmou que, quanto antes consiga reequilibrar as contas públicas, mais rápido o país retomará o crescimento e a economia.

SD33: Michel Temer também afirmou que, além de melhorar o ambiente de negócios no país para o setor privado produzir e gerar emprego, é necessário restaurar as contas públicas. Segundo ele, o corte de ministérios que promoveu em seu governo é parte das medidas de reequilíbrio fiscal. O emedebista reduziu de 32 para 24 o número pastas na Esplanada dos Ministérios. Temer informou ainda que encomendou estudos para avaliar a redução de cargos comissionados e funções gratificadas. Ele, contudo, não sinalizou quantos postos podem ser extintos nem quando pretende enxugá-los.

SD59: O presidente brasileiro disse que a maior tarefa agora é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos. “Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social” reforçou o presidente, que disse que a confiança ao país já está voltando.

SD146: Em um discurso no Palácio do Planalto nesta terça-feira (15) para fazer um balanço dos dois anos de sua gestão, o presidente Michel Temer (MDB) listou as ações tomadas pelo governo no período e disse que "tirou o Brasil do vermelho".

SD237: Balanço: Temer afirmou que, ao assumir, o país estava um PIB negativo e, em dezembro de 2017 já era positivo e que o país só não conseguiu um desempenho melhor em razão da greve dos caminhoneiros em maio deste ano, que paralisou o abastecimento do país. Ele citou ainda a queda da inflação e dos juros como conquistas da sua gestão.

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SD239: Temer também citou o trabalho do ministro Gilberto Kassab à frente da pasta de Ciência e Tecnologia. Disse que conseguiu grandes avanços e até pediu ao ministro para reduzir "um pouco as solenidades porque a cada dia tinha um fato novo".

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD4:

SD1: Temer defende Estado mínimo e propõe parceria público-privada contra crise

SD11: Temer disse que uma das prioridades é cortar gastos e recuperar as finanças do governo. Para isso, deu como primeiro exemplo a redução no número de ministérios --agora são 23, contra 32 de Dilma-- e revelou um plano para cortar "milhares" de cargos sem concurso público no governo federal. Entre idas e vindas, o evento de início de governo, que também deu posse aos ministros, foi marcado por adiamentos de horário e mudanças de local

SD101: Em convite do cerimonial, o Planalto havia escrito como slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”, mas, devido a possíveis interpretações dúbias, como a de que o país regressou ao patamar de 20 anos atrás sem a vírgula, preferiu modificar a frase. O presidente lembrou de quando sua cúpula assumiu o Planalto e disse que isso só foi possível por terem um “plano” – se referindo ao documento “Ponte para o Futuro” do MDB – e “coragem” para colocar objetivos e estratégias em práticas, não apenas “desejos”. Segundo ele, o lema de ordem e progresso é "aparentemente trivial", mas era o que o Brasil pedia e o povo queria.

SD154: 'Teremos PIB positivo', afirma Temer durante reunião ministerial

SD156: O presidente frisou que sua popularidade "aumentou 100%", passando de 4% para 8%. Em contraponto, citou pesquisa da XP segundo a qual 78% do mercado aprova o governo, e outros 18% dos pesquisados o consideram regular. Os dados, disse Temer, estão dissonantes com as taxas de popularidade, mas já estão no mercado. Em "brevíssimo" tempo, afirmou ele, chegarão ao conhecimento de todos. "E isso vai resultar na formulação da verdade."

SD160: Greve dos caminhoneiros: O presidente afirmou que se não fosse pela greve dos caminhoneiros, em maio deste ano, o crescimento do PIB de 2018 seria superior a 3%, em comparação com o PIB em queda quando ele substituiu a presidente Dilma Rousseff, em maio de 2016, após processo de impeachment. "Veja o avanço que nós demos e, de igual maneira, ainda neste ano, nós teremos um PIB positivo, sem embargo da greve dos caminhoneiros que, convenhamos, nós temos que apontar esse dado como um dado que dificultou naturalmente um PIB muito maior que poderia chegar a 3% ou 3,2%", afirmou.

Novamente, uma formação discursiva que se assemelhou ao ethos discursivo, especificamente o número dois “sou reformista e confio no progresso”. Os portais, de uma maneira geral, demonstraram que Temer estava preocupado e atento em gerar empregos e garantir o crescimento do país. Na sequência discursiva 33 do grupo G1/O Globo percebe-se uma problematização, quando o portal destaca que Temer não sinalizou quantos postos seriam extintos ou enxugados para restaurar as contas públicas e garantir o reequilíbrio fiscal. O

160 grupo Uol/Folha de S. Paulo também segue uma linha mais interpretativa na sequência discursiva um, que destaca no título “Temer defende Estado mínimo e propõe parceria público-privada contra crise”. O portal consegue apreender o que estava implícito no discurso de Temer acerca de afastar as responsabilidades do Estado e almejar as privatizações.

4.3.5 FD5: “Temer é reformista”

Essa formação discursiva representa um governo pautado nas reformas, especialmente nos temas da reforma trabalhista, do ensino médio, da tentativa de efetivar a reforma da previdência, pedidos de apoio à reforma, à compreensão e aprovação da população para realizar as reformas. Em G1/O Globo foram 28 sequências discursivas e no Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi de 15.

Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD5:

SD10: Disse Temer, reafirmando que nenhuma reforma vai alterar direitos já adquiridos pelos brasileiros: — Quero fazer uma observação: nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos.

SD43: O novo presidente da República, Michel Temer, fez na noite desta quarta- feira (31) seu primeiro pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV como chefe efetivo do Executivo federal. Na fala de cinco minutos, veiculada às 20h, o emedebista afirmou que o governo não terá como garantir o pagamento da aposentadoria sem uma reforma na Previdência Social e defendeu mudanças nas regras trabalhistas.

SD46: Pouco antes dessa fala, Temer já havia dito que o caminho que o país terá pela frente "é desafiador", mas "conforta" saber "que o pior já passou". "Indicadores da economia sinalizam o resgate da confiança no país. Nossa missão é mostrar a empresários e investidores de todo o mundo nossa disposição para proporcionar bons negócios que vão trazer empregos ao Brasil. Temos que garantir aos investidores estabilidade politica e segurança jurídica", disse o presidente da República. Em nota divulgada nesta quarta-feira, após a posse de Temer, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, cobrou que as reformas trabalhista e previdenciária devem ser as prioridades do novo presidente. A entidade que representa os donos das indústrias brasileiras tem dado apoio à gestão do peemedebista desde que ele assumiu interinamente o comando do país. "A nossa expectativa é que o governo seja perseverante com as reformas estruturais, necessárias para a solução de problemas crônicos do país. É urgente fazermos a reforma da Previdência Social e a modernizar a legislação trabalhista", diz Andrade em trecho da nota.

SD70: O presidente da República, Michel Temer, sancionou nesta quinta-feira (16), em cerimônia no Palácio do Planalto, a lei que estabelece a reforma do ensino médio. Por ter sido enviada ao Congresso por meio de uma medida provisória, a reforma tem força de lei desde a publicação no Diário Oficial, em setembro do ano passado. No entanto, ainda não vai ser colocada em prática. Isso porque a aplicação

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do novo modelo ainda depende da definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que está sendo elaborada e deve ser homologada em 2017. A reforma do ensino médio é considerada pelo governo como uma das mais importantes da gestão de Temer.

SD73: Temer sanciona reforma do ensino médio e aumento na carga horária. Mudanças na grade curricular estimularão os alunos a optarem por áreas de interesse.

SD76: A reforma foi feita por meio de Medida Provisória — instrumento muito utilizado pela gestão Temer —, o que gerou críticas. Em dezembro, o procurador- geral da República, Rodrigo Janot, defendeu a inconstitucionalidade da medida ao Supremo Tribunal Federal (STF). No parecer, Janot argumenta que a reforma não teria tamanha urgência, e que mudanças em políticas públicas deveriam ter mais debate. A Medida Provisória tem que ser aprovada por Câmara e Senado em até quatro meses, e, depois, sancionada pelo presidente. A pauta das Casas pode ser obstruída para que a medida seja apreciada. Já o governo defende que havia "pressa", e que mudanças para o ensino médio eram debatidas a anos, sem mudanças concretas. Em discursos, Temer costuma dizer que, como consequência do envio da MP para o Congresso, houve um grande "debate" no país. — É uma discussão que remonta a praticamente 20 anos. Debate houve. O que não existia, na prática, era vontade e decisão política para fazer avançar — discursou o ministro da Educação, Mendonça Filho.

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD5: SD10: O discurso teve também vários recados sobre a situação econômica. Em seu pronunciamento, citou a crise que começou no governo Dilma e assegurou que as eventuais mudanças na lei trabalhista e na aposentadoria não vão afetar direitos adquiridos dos trabalhadores. "Tenho compromisso com reformas, mas quero fazer uma observação. Nenhuma das reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros". Ele disse que vai respeitar a Constituição e ouvir a sociedade antes de qualquer mudança.

SD38: O presidente Michel Temer (PMDB) classificou como uma “vitória” a aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 55, que estabelece teto para os gastos do governo em 20 anos. “Quero registrar o meu agradecimento ao Congresso Nacional, que foi de uma preocupação absoluta com o Brasil, que fez essa parceria conosco para que tivéssemos a vitória que estamos tendo na Casa Legislativa", afirmou durante evento oficial de lançamento do programa de renovação da frota de ônibus do sistema de transporte público, em Brasília, na tarde desta terça-feira (13). Temer disse ainda que “completou-se o ciclo da primeira emenda da constitucional que visa a tirar o país da recessão”.

SD41: Reforma da Previdência: Ainda durante o discurso, o presidente falou da importância de outra PEC, a da Previdência, que começou a ser analisada na segunda-feira (12) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, no primeiro passo da tramitação do projeto no Congresso Nacional. “Colocamos a nossa proposta, a que achamos útil para o nosso país, mas o palco do debate é o Congresso Nacional. Seremos obedientes naquilo que o Congresso Nacional deliberar. Estamos pensando nas gerações futuras, mas mais do que isso, estamos pensando naqueles que já estão aposentados. Não podemos ficar como a Grécia as pessoas batiam na porta do poder público e não encontravam pagamento”, disse. O emedebista afirmou ainda que é preciso “ter coragem” para tirar o país da recessão. “Se não tivesse coragem por que mexeria na previdência? Poderia deixar para depois. Quem viesse depois de 2018 que cuidasse do país, todo

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desarticulado. Mas a missão de quem ama o Brasil é unir esforços e tomar essas atitudes corajosas”, disse.

SD46: OUSADIA: A tramitação por medida provisória provocou críticas por impossibilitar um debate amplo com professores e alunos. Temer e o ministro Mendonça Filho (DEM) repetiram na quinta que a reforma representa "coragem" e "ousadia". "Vamos prosseguir com essa ousadia responsável e planejada", afirmou Temer. Mendonça disse que a reforma é a "maior e mais importante" da área educacional em 20 anos. O Supremo Tribunal Federal ainda julga ação de inconstitucionalidade da reforma feita por medida provisória. Em dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou que a MP era inconstitucional, por "falta de urgência" da proposta.

SD158: Temer diz que reforma da Previdência permanece na pauta e será aprovada

SD162: Só não fizemos reforma da Previdência porque houve 'trama', diz Temer

SD164: Temer reivindicou para si o fato de ter colocado o tema da reforma da Previdência na pauta do país. "O que mais se fala agora é precisamente o momento em que se fará a reforma da Previdência", comentou. "Ela será feita, não tem a menor dúvida de que isso será feito”.

A formação discursiva sobre Temer ser reformista também se assemelha ao que foi abordado na FD4, e segue a interpretação do ethos discursivo de “ser reformista e confiar no progresso”. É pertinente notar como os portais apresentam falas do presidente e não questionam as contradições existentes. Na sequência discursiva 10, das matérias do grupo G1/O Globo referente ao primeiro pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016), Temer disse que nenhuma reforma vai alterar os direitos adquiridos pelos brasileiros. Já na sequência discursiva 43, no pronunciamento como presidente efetivo (31 de agosto de 2016), Temer destacou que o governo não pode garantir o pagamento da aposentadoria (um direito adquirido pelos brasileiros garantido pela constituição) sem a reforma da Previdência. Dito de outro modo, o mesmo presidente que garantiu que não alteraria direitos, passa a deixar a situação em estado pendente porque tudo passa a depender da aprovação das reformas na Previdência Social, gerando na população um clima de medo e insegurança.

4.3.6 FD6: “Temer é alvo da oposição e de denúncias”

A formação discursiva mais recorrente em ambos os portais. Neste caso, o governo Temer é visto como um governo que sofre oposição e resistência tanto nas ruas quanto nas redes sociais, um governo que sofre denúncias e precisa se defender, que recebe críticas e por

163 consequência tem baixos índices de aprovação. Em G1/O Globo foram 92 sequências discursivas e no Uol/Folha de S. Paulo, a incidência foi de 55. Sequências discursivas (SDs) G1/O Globo referentes à FD6:

SD23: Enquanto Temer recebia aliados no Jaburu, pela manhã, a presidente afastada Dilma Rousseff também fez um pronunciamento no Planalto, logo após ter sido intimada pelo senador Vicentinho Alves (PR-TO) sobre a decisão do Congresso Nacional. Dilma voltou a dizer que o impeachment é "golpe" e que o afastamento dela é "a maior das brutalidades". Em seguida, Dilma fez um discurso no pé da rampa do Planalto, a um grupo de integrantes de movimentos sociais que decidiram apoiá-la. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a acompanhou.

SD41: Em sua delação premiada, o ex-líder do governo e senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS) relatou ao Ministério Público o suposto envolvimento de Temer em um esquema de compra superfaturada de etanol na BR Distribuidora, subsidiária de combustíveis da estatal do petróleo. De acordo com Delcídio, as supostas irregularidades teriam ocorrido entre 1997 e 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ainda segundo o senador cassado, o operador do esquema seria João Augusto Rezende Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora, que diz ter sido “apadrinhado" por Michel Temer no esquema de compra ilícita de etanol que teria ocorrido durante a gestão FHC. À época em que a denúncia do ex-líder do governo veio à tona, Temer afirmou, por meio de nota, que refutava as “insinuações” de Delcídio.

SD54: No momento em que o presidente brasileiro subia à tribuna da ONU para discursar, os representantes de Venezuela, Equador e Nicarágua se levantaram e deixaram o plenário. A maioria dos integrantes da delegação da Costa Rica também abandonou a sala quando o novo presidente brasileiro se preparava para discursar. Nenhum dos chefes de Estado destes países estava presente no plenário. O protesto silencioso foi realizado por diplomatas e ministros. Os diplomatas da Bolívia e de Cuba haviam se retirado do plenário um pouco antes e se recusaram a entrar enquanto Temer estava discursando. Eles retornaram ao recinto somente após o peemedebista concluir sua fala.

SD55: Temer também foi alvo de protestos nas ruas de Nova York ao chegar no último domingo (18) ao hotel onde está hospedado na metrópole norte-americana. Um grupo de manifestantes o recepcionou em frente ao hotel com cartazes e faixas pedindo a saída dele da Presidência e o chamando de "golpista".

SD65: O presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Sólis, divulgou nota pelo Twitter para explicar o protesto. — Nos preocupa a situação desse país, cujo povo apreciamos e nos sentimos sempre próximos. No entanto, nossa decisão, soberana e individual, de não escutar o discurso do senhor Michel Temer na Assembleia Geral obedece a nossa dúvida de que, diante de certas atitudes e ações, que querem se passar por democráticas.

SD97: Temer disse que pediu oficialmente ao Supremo acesso ao conteúdo das delações, mas não conseguiu. "Meu governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento", disse Temer, em referência a indicadores de inflação, emprego e desempenho da economia e à revelação da delação dos donos da JBS. "Todo o esforço para tirar o país da recessão pode se tornar inútil", afirmou. Segundo o presidente, "a revelação de conversas gravadas clandestinamente trouxe fantasmas de crise politica de proporção ainda não dimensionada".

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SD103: "Eu tive ao longo da vida uma vida, graças a Deus, muito produtiva e muito limpa. E exatamente neste momento, em que nós estamos colocando o país nos trilhos, é que somos vítimas dessa infâmia de natureza política. [...] Eu fui denunciado por corrupção passiva. Notem, vou repetir a expressão, corrupção passiva a essa altura da vida, sem jamais ter recebido valores. Nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem", afirmou o presidente.

SD133: O presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira (2), em pronunciamento no Palácio do Planalto, que a rejeição da denúncia pela Câmara dos Deputados é uma "conquista do estado democrático". Temer convocou a imprensa para um pronunciamento logo após a Câmara rejeitar a denúncia da Procuradoria Geral da República por 263 votos a 227 (houve duas abstenções e 19 ausências). "Quero fazer um breve pronunciamento no dia em que a Câmara dos Deputados, que representa o povo brasileiro, manifestou-se de forma clara e incontestável. A decisão soberana do parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do estado democrático, da força das instituições e da própria Constituição", afirmou o presidente.

SD236: Em um trecho da conversa gravada, Joesley disse estar “de bem com o Eduardo”, ao que Temer respondeu: “Tem que manter isso, viu”. Para a PGR, a frase de Temer referia-se a uma suposta compra do silêncio de Cunha.

Sequências discursivas (SDs) Uol/Folha de S. Paulo referentes à FD6:

SD23: Manifestantes pró-Dilma Rousseff reuniram-se em um protesto contra a destituição da presidente na noite desta quarta-feira (31) no centro do Rio. Aos gritos de "fora, Temer", o protesto se concentrou na Cinelândia, onde manifestantes discursaram contra o recém-empossado presidente Michel Temer (PMDB). O protesto foi organizado pelos movimentos Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo. A polícia militar acompanhou a movimentação, que até as 21h não havia registrado confusão.

SD25: Durante o pronunciamento de Temer em cadeia de rádio e televisão, panelaços foram ouvidos em bairros da zona norte e da zona sul, como Copacabana.

SD29: Líderes de seis países da América Latina não assistiram ao pronunciamento em sinal de protesto, Equador, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Costa Rica e Venezuela. Sem perceber o boicote, o presidente Temer reconheceu em seu discurso "as diferentes inclinações políticas" dos governos da região e disse que "o essencial é que haja respeito mútuo". Questionado sobre o protesto, o chanceler José Serra minimizou seu impacto, afirmando que "é próximo de zero". Ele disse que a reação dos países bolivarianos já era esperada, mas demonstrou surpresa com o gesto da Costa Rica. Mais tarde, o Itamaraty convocou o embaixador costa-riquenho em Brasília para prestar esclarecimentos.

SD32: Delegações latino-americanas saem da sala durante discurso de Temer

SD40: A maioria da população brasileira (60%) é contrária à PEC 55, de acordo com pesquisa feita pelo Datafolha, O instituto entrevistou 2.828 pessoas em 7 e 8 de dezembro.

SD67: O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que protocolou o primeiro pedido, na noite desta quarta, disse que vai insistir na cassação pelo Congresso e disse

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esperar que o TSE antecipe para a semana que vem a retomada do julgamento da chapa Dilma-Temer.

SD71: De acordo com Janot, Temer se valeu do cargo de presidente para receber vantagem indevida de R$ 500 mil, por meio de Loures, oferecida pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS e cuja delação desencadeou a atual investigação contra o peemedebista. De acordo com a denúncia, Temer e Loures também "aceitaram a promessa" de vantagem indevida de R$ 38 milhões. Em nota publicada após o duro discurso de Temer, a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou que a denúncia apresentada é baseada em “fartos elementos de prova”.

SD90: TOMA LÁ, DÁ CÁ: Com um dos menores índices de popularidade da história, na casa dos 7%, Temer é o primeiro presidente da história do país denunciado no exercício do cargo. Desde que ficou com o mandato sob risco, ele promoveu uma série de ações com o intuito de angariar votos na Câmara, principalmente de partidos do chamado "centrão", grupo de legenda médias e grandes, como PP, PR e PTB, que reúne cerca de 200 deputados. Ele recebeu individualmente mais de uma centena de deputados – só nesta terça (1º) se encontrou com ao menos 35, incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP- SP), almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do baixo clero. Vários pleitos foram atendidos, como cargos na máquina federal e dinheiro para as emendas que os parlamentares fazem ao Orçamento.

SD113: No material entregue durante a cerimônia, foi usada também a palavra "Avançamos", grafada com o símbolo de "V de Vitória", também interpretado como uma referência aos dois anos. Foi distribuída uma cartilha com um balanço da gestão do MDB na Presidência. O documento de 32 páginas apresentou parcialmente dados oficiais, mas ignora os escândalos de corrupção que envolvem o emedebista e aliados.

SD118: Marcela Temer, sua mulher, e o filho do casal são donos de alguns desses imóveis. O emedebista chamou de última hora um pronunciamento para se defender das acusações apontadas pela PF. Ao fim de sua fala, que durou 13 minutos, ele disse que vai sugerir ao ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) que determine a investigação do vazamento das informações. "Como que a imprensa consegue essas informações? Eu duvido que a imprensa entre de madrugada, seja na Polícia Federal, onde seja, para sorrateiramente ter acesso a esses dados. Alguém naturalmente vaza esses dados", disse. Temer disse ainda que as investigações têm como propósito um ataque moral. "É contra a minha honra e pior ainda. São mentiras que atingem minha família e meu filho que tem 9 anos de idade", disse. "Só um irresponsável mal-intencionado ousaria tentar me incriminar, a minha família, o meu filho de nove anos de idade, como lavadores de dinheiro."

Em ambos os portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, o sentido de que “Temer enfrenta oposição/resistências e denúncias” foi o mais presente. Em seguida, também em ambos os portais o sentido de que “Temer é um presidente polêmico em suas declarações” também foi a segunda formação discursiva mais presente em ambos os portais. No entanto, apesar do sentido parecer “negativo”, o que se percebe é realmente a presença da “polêmica” e um empenho em parecer “neutro”, evidenciado em todos os veículos, assim como uma espécie de repetição do discurso político, no sentido de vitimização de Temer por ser “atacado”, ser “o alvo”. As “polêmicas” envolvendo denúncias ou frases de Temer que

166 repercutiram com efeito negativo são tratadas a partir do efeito que geraram especialmente se referindo às redes sociais. A ausência de fontes ou de mais problematizações nas matérias acerca dos pronunciamentos também é evidente. Acerca da formação discursiva 247 do portal G1/O Globo é importante lembrar que a divulgação desse áudio estremeceu o governo e impediu a concretização de muitas das reformas propostas por Temer. A sequência destaca que “Para a PGR, a frase de Temer (tem que manter isso, viu?) referia-se a uma suposta compra do silêncio de Cunha”. O trecho é parte de matéria do O Globo sobre a última reunião ministerial, em 19 de dezembro de 2018, na qual Temer disse que sentiria falta do “Fora Temer”. O portal destaca que o “Fora Temer” foi motivado pela delação premiada dos empresários da JBS, Joesley e Wesley Batista. O portal contextualiza a defesa de Temer sem grandes problematizações. No entanto, é pertinente pontuar essa criticidade do portal em contextualizar o que foi o movimento e como o então presidente agiu diante das acusações. O eixo interpretativo dessa formação discursiva demonstra uma postura mais crítica dos veículos de comunicação. Em G1/O Globo as sequências discursivas 54 e 65 manifestaram o protesto de líderes de países que não presenciaram o discurso de Michel Temer durante evento da Organizações das Nações Unidas (ONU) em 20 de setembro de 2016, após o impeachment e depois de Temer assumir como presidente efetivo do Brasil. As matérias do grupo G1/O Globo das quais foram retiradas as sequências discursivas acentuaram a saída dos líderes e mencionaram o posicionamento deles nas redes sociais. Da mesma forma, o grupo Uol/Folha de S. Paulo também enfatizou esse acontecimento, conforme exposto nas sequências discursivas 29 e 32, o que também infere uma postura mais crítica a respeito do presidente e da oposição vivenciada nesse momento recente pós- impeachment. O grupo Uol/Folha de S. Paulo salientou em trecho da sequência discursiva 90 a denúncia de Temer como primeiro presidente da história denunciado no exercício do cargo, um dos menores índices de popularidade da história e as ações para conquistar votos na Câmara após a denúncia do caso JBS. Essas abordagens tornam essa formação discursiva sobre ser alvo da oposição e de denúncias, a mais crítica em relação ao presidente, porque são expostas todas as vulnerabilidades com ênfase ao que a oposição considera acerca de Temer. No entanto, percebe-se a ausência de fontes para representar a oposição, normalmente os portais utilizam o pronunciamento de Temer para citar ou contextualizar sobre a oposição,

167 mas não consultam fontes, dados ou demais argumentos que pudessem realmente sustentar essa crítica.

4.4 Do discurso político ao discurso jornalístico: possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses

Em resposta ao último objetivo específico dessa dissertação, é pertinente ressaltar as possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses que perpassam o discurso político compreendido no ethos discursivo de Michel Temer até a produção de sentidos no discurso jornalístico dos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. Inicialmente, serão retomados os pontos principais de cada formação discursiva na análise da imagem de si e como interdiscursivamente corroboraram para o entendimento do ethos discursivo do então presidente Michel Temer. Com a maior reiteração de sentidos, a formação discursiva dois “Sou reformista e confio no progresso” abordou como Temer se mostrava como alguém que confiava no progresso e ansiava reforçar o potencial das reformas no governo. A partir dessa formação discursiva percebeu-se uma contradição no discurso de Temer. Ao mesmo tempo em que se mostrava como propagador de um discurso que excluía o pensamento de crise, Temer recorreu aos argumentos de crise para mostrar o quanto seu governo representava “renovação” em detrimento da atuação de Dilma Rousseff. Ou seja, Temer assume uma postura de que é necessário que assuma o governo, de que a administração de Dilma Rousseff era um caos, uma crise completa para o Brasil e consequentemente de que o governo Temer “recebeu” o país em crise. Porém, depois que assume não se deve mais falar em crise. É preciso trabalhar e ignorar o desemprego, uma luta que estaria nas mãos dos próprios trabalhadores para manterem-se empregados, eximindo o governo dessa responsabilidade. O argumento da meritocracia também foi constante nas falas do então presidente. O próprio slogan admitido para o governo de “ordem e progresso” corroborou com essa construção de uma imagem de governo voltado para o crescimento e desenvolvimento. Temer também teve sua figura projetada por meio do partido, MDB e do documento “Ponte para o Futuro”, que ele mesmo destacou como algo elaborado antes mesmo da posse. Ou seja, o partido e o ex- presidente empreenderam a construção de uma imagem de progresso antes mesmo de assumir efetivamente o governo.

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A segunda formação discursiva (FD) mais proeminente foi a FD1 “Sou conservador e confio na Constituição” com 50 sequências discursivas. O fato de Temer enaltecer explicitamente a defesa da Constituição também está ligado à sua própria trajetória pessoal e profissional de quem atuou na elaboração da nova Constituição em 1988. Em uma estratégia de discurso político, Temer reaviva passagens de sua vida em que exerceu atuações decisivas e reprisa esses momentos – uma estratégia de repetição. O discurso legalista voltado para as instituições é perpassado pela utilização da norma culta da língua portuguesa além do necessário, o que gera o entendimento de que Temer não se preocupa tanto em ser compreendido por todos, mas que direciona seu discurso para uma elite privilegiada. O mesmo direcionamento ocorre em relação à popularidade, já que implicitamente é possível perceber como Temer anseia pela aprovação das autoridades constituídas (Câmara dos Deputados, Senado e Judiciário) e constantemente invalida as pesquisas de opinião dos Institutos consagrados como Datafolha e Ibope. Acerca do processo de impeachment, Temer também busca mostrar-se como alguém em posição transparente ao defender a Lava-Jato, o Estado Mínimo e um espectro político de Direita. A defesa da operação Lava-Jato, no entanto, é algo questionável, já que ao final do mandato e com o fim do foro privilegiado, foi por meio de investigações da Operação que Temer acabou preso. Com a prisão, o discurso foi alterado e a Lava-Jato passou a ser invalidada nos argumentos do ex-presidente. Ao discorrer sobre a formação profissional, Michel Temer reitera argumentos para validar sua honestidade e se mostrar como alguém digno de confiabilidade. É como se a experiência política, os diversos cargos de liderança, concursos e a experiência como professor garantissem uma bagagem de inocência e equidade ao ex-presidente que constantemente reforça o quanto isso o torna virtuoso e respeitável. No entanto, sabe-se que a experiência política, cargos, conhecimento da legislação não garantem que uma pessoa seja considerada honesta e íntegra. O ex-presidente também sublinha argumentos de apelo ao povo ao pedir colaboração e até “aplausos” para as medidas que o governo implementou. Essa estratégia também é questionável visto que limita espaços de diálogo, de confrontos, discussões para melhorias. É como se o diálogo fosse uma das últimas necessidades da gestão. Especialmente no pronunciamento relativo ao Dia da Mulher, a intepretação é de alguém que se mostra como conservador. No entanto, o pronunciamento pode ser considerado machista, já que Temer lista argumentos de que homens e mulheres estão igualmente empregados, mais uma falácia do discurso presidencial, algo que está longe de ser visto na

169 sociedade contemporânea. Neves e Barcellos (2017) em um estudo sobre o pronunciamento constataram intenções machistas na fala de Temer. A análise das pesquisadoras teve como conclusão que Temer ignorou dados na exposição de seu discurso, e tornou evidente a ética do cuidado para definir papéis às mulheres em espaços determinados na sociedade. As autoras interpretaram que Temer declarou ser responsabilidade exclusiva das mulheres os afazeres domésticos, o cuidado e a educação dos filhos e, como consequência, os homens estariam isentos dessas responsabilidades. A crítica das autoras é que por meio do discurso considerado machista, Temer reforçou e favoreceu uma lógica de que é papel e responsabilidade das mulheres a criação e boa educação dos filhos, fator que se agrava por ter sido proferido por um homem em posição de poder e privilégio (NEVES; BARCELLOS, 2017). Há de se compreender ainda os sentidos da formação discursiva quatro “Sou crente na união e no diálogo” que contou com 38 sequências discursivas. Novamente, os sentidos identificados aqui demonstraram um discurso presidencial permeado por paradoxos, já que ao evidenciar a validação da aprovação das autoridades constituídas e invalidar as pesquisas de opinião, Temer não deixa espaço para diálogos. No entanto, reforça ser um presidente aberto a essa possibilidade, o que na prática não ocorre, principalmente porque as condições de produção da maioria dos pronunciamentos demonstraram um espelho do próprio governo: direcionado para as autoridades, sem abrir espaço para o contraditório e para a validação da opinião da população. Os argumentos empregados para reforçar isso estão dispostos nas próprias falas de Temer quando ironiza o movimento “Fora Temer” e diz até que vai sentir falta, como uma oposição que não “abalou” o governo, mas que na realidade culminou para a desaprovação e para que Temer fosse considerado o presidente mais impopular do Brasil após a ditadura. Neste sentido, outra conclusão pertinente acerca dessa formação discursiva relacionada à união e diálogo é que a união que Temer se refere é a união entre as autoridades constituídas, entre “Instituição Presidência da República” e Câmara, Senado, Judiciário em detrimento de uma união da sociedade, como no exemplo da sequência discursiva 35: “É hora de unir o país e colocar os interesses nacionais acima dos interesses de grupo”. No entanto, Temer solicita essa união por parte da população após assumir o governo tanto como presidente interino quanto como presidente efetivo e após a eleição. Essa solicitação ocorre em momentos de efervescência política que evidentemente apresentam posicionamentos políticos confrontantes, logo, implicitamente Temer anseia “abafar” a oposição, os

170 argumentos de crítica, de denúncias, de contradição às suas medidas do governo. O então presidente reforça a necessidade de união por um “bem comum”, que seria o bem do progresso do país. Teoricamente o argumento é válido, mas na situação empregada por Temer expressa adesão à sua presidência, às suas vontades, às decisões do partido (MDB), ao projeto “Ponte para o Futuro”, invalidando as possibilidades reais de diálogo e união com a população. Com 32 sequências discursivas a formação discursiva “Sou corajoso e salvei o país” se estabelece interdiscursivamente com as demais FDs em um sentido crítico de falácia do discurso presidencial. Temer se mostra como alguém que salvou o país, mas que já era integrante do governo, já era responsável pelo país antes de assumir como presidente efetivo, pois já era vice-presidente. Os argumentos empregados pelo então presidente se estabelecem com o objetivo de “tirar o país da crise”, o que já foi apontado anteriormente como contraditório já que em alguns momentos Temer destaca a crise e em outros pede para que a população trabalhe e esqueça completamente da crise. O argumento de salvação, especialmente da Petrobrás, também foi contraposto pela greve dos caminhoneiros que culminou em déficit para a estatal e gerou crise no governo. Temer também se demonstrou como líder corajoso, salvador e evidenciou isso em momentos de crítica por parte da imprensa. O ex-presidente demonstrou que qualquer crítica ao governo deve ser interpretada como ataque e que ele encara isso com coragem, como alguém destemido, disposto a superar esses “obstáculos, embargos” que significam, na verdade, as críticas pertinentes às debilidades apresentadas pelo governo. Apesar de ser quantitativamente menos expressiva do que as formações discursivas anteriores, a Formação Discursiva cinco “Sou totalmente honesto e vítima de armações” que contou com 30 sequências discursivas demonstrou Temer como um político honesto e inocente das acusações. Um dos argumentos empregados por Temer foi o de que as reformas pretendidas pelo governo não avançaram por conta de “ataques” ou “tramas” da oposição, quando na verdade foram denúncias que ainda seguem trâmites no judiciário e levaram, inclusive, a prisão do ex-presidente e que, na época, enfraqueceram as possibilidades de aprovação do governo. Acerca dessa formação discursiva é pertinente evidenciar o quanto as críticas são invalidadas pelo então presidente, quando as trata como tentativas de “paralisar” o país. No entanto, questionar o governo, fazer oposição não é sinônimo de “ser contra o país”,

171 ao contrário, a democracia necessita da oposição, do contraponto, da crítica construtiva para o avanço. Temer busca persuadir por meio do argumento que ele é a “instituição presidência da república”, recorrendo a um argumento de vitimização. Essa estratégia também ocorre quando ironiza o movimento político “Fora Temer” e em todas as falas em que se defende das acusações. Do mesmo modo que ocorre com a formação discursiva um sobre “ser conservador”, o ex-presidente reforça a atuação política como argumento válido para ser inocente, destaca sobre honra, sobre a necessidade de proteger a família da exposição negativa ocorrida por meio das denúncias. O ex-presidente ainda se considera inocente e vítima ao detalhar a falta de ostentação de bens. Ou seja, mais uma vez, utiliza um argumento insuficiente para legitimar sua inocência ao se referir como alguém que não possui casa de praia ou de campo, posses internacionais ou por obedecer ao teto de salário sem bonificações. A crítica é a de que não possuir ou não ostentar bens considerados “necessários” ou “legítimos” para quem detém posição financeira confortável não representa honestidade, não garante lisura ou inocência. Bem como Temer declara que por ilação não se pode denunciar alguém, ou seja, sem provas não é possível autenticar as denúncias, esses argumentos não legitimam a sua inocência e honestidade. A visibilidade pública proporcionada pelo jornalismo pode colaborar de forma determinante para a construção da imagem dos agentes políticos. A partir desse pressuposto, buscou-se compreender como ocorreu essa passagem do discurso político – baseado na análise do ethos discursivo de Michel Temer – para a produção de sentidos no discurso jornalístico dos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais no mandato de Temer (2016-2018). É possível estabelecer correlações entre as produções de sentidos estabelecidas nas formações discursivas da imagem de si e entre as formações discursivas dos portais jornalísticos. Em especial, os portais de informação corroboraram no contexto de disputa por visibilidade, o que caracteriza a importância da imagem ainda mais acentuada no contexto da comunicação midiática do século XXI. Inicialmente é pertinente ressaltar que o fato de os grupos de mídia apresentarem formações discursivas semelhantes é um resultado que aponta para a reiteração do discurso jornalístico de ambos os portais. A formação discursiva sobre “Temer ser alvo de oposição e de denúncias” foi a produção de sentidos mais recorrente em

172 ambos os portais, o que demonstrou que os veículos buscaram criticidade ao noticiar os momentos mais polêmicos do governo, ainda que de forma amena. Nas demais formações discursivas, os grupos de mídia também apresentam semelhanças. A segunda FD com sequências discursivas mais recorrentes foi a “Temer como presidente polêmico em suas declarações”. A partir da terceira FD é que ocorreu uma diferença. Em G1/O Globo está a FD de “Temer quer união e prega o diálogo”, enquanto que em Uol/Folha de S. Paulo, o sentido é de Temer defender a constitucionalidade do impeachmet e as instituições. Posteriormente G1/O Globo contou com a reiteração de sentidos das formações discursivas “Temer vai gerar emprego e crescimento”, “Temer defende constitucionalidade do impeachment e as instituições” e “Temer é Reformista”, que totalizaram 247 sequências discursivas, várias classificadas em mais de uma formação discursiva por conta do potencial de interdiscurso. Já em Uol/Folha de S. Paulo a classificação contou com o ordenamento de “Temer quer união e prega o diálogo”, “Temer vai gerar emprego e crescimento” e “Temer é reformista”, que totalizou 171 sequências discursivas, também com várias classificadas em mais de uma formação discursiva. Em ambos os grupos de mídia, a formação discursiva de que Temer é reformista foi a menos presente, o que aponta que apesar da estratégia de ethos discursivo de se mostrar como um político interessado nas reformas e de se apresentar como alguém reformista, os portais não enfatizaram tanto essa intenção de Michel Temer. Tendo em vista as condições de produção de cada pronunciamento, é pertinente compreender o local de fala de Temer e em quais circunstâncias o pronunciamento ocorre. O primeiro deles selecionado para a pesquisa ocorreu em 12 de maio de 2016, quando Temer assumiu como presidente interino e discursou no Palácio do Planalto. Discursar no Palácio do Planalto se caracterizou como uma das marcas do governo Temer: limitado para autoridades. O segundo pronunciamento, como presidente efetivo ocorreu em 31 de agosto de 2016 e foi realizado em cadeia de Rádio e TV. O terceiro discurso ocorreu na abertura do Debate Geral da 71ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 20 de setembro de 2016, em Nova York. Outro discurso escolhido para a dissertação foi o da aprovação da PEC do Teto de Gastos em 13 de dezembro de 2016. Esse pronunciamento ocorreu um dia após a aprovação da PEC, durante evento de lançamento do programa de renovação da frota de ônibus do sistema de transporte público, em Brasília. Em 16 de fevereiro de 2017, Temer também discursou no Palácio do Planalto em cerimônia que sancionou a Lei do Novo Ensino Médio. Um dos discursos mais polêmicos durante o mandato ocorreu em oito de março de 2017, em

173 cerimônia para homenagear as mulheres, também no Palácio do Planalto. No mês de maio de 2017, ocorreu a delação do empresário Joesley Batista, da JBS que gerou a expectativa de renúncia do presidente, que não ocorreu. O pronunciamento de Temer foi realizado em 18 de maio de 2017, novamente no Palácio do Planalto alegando que não renunciaria. Acerca dessa denúncia, em 27 de junho de 2017, Temer foi oficialmente denunciado por corrupção passiva e se pronunciou novamente no Palácio do Planalto. No entanto, essa denúncia não prosseguiu para investigação e Temer discursou após essa rejeição em dois de agosto de 2017, também no Palácio do Planalto. O então presidente foi denunciado novamente no Inquérito dos Portos e se pronunciou em 27 de abril de 2018, novamente no Palácio do Planalto. No aniversário de dois anos de governo, Temer realizou cerimônia em 15 de maio de 2018, no Palácio do Planalto. Os dois últimos discursos escolhidos para a análise da dissertação ocorreram em 27 de maio de 2018 quando Temer anunciou medidas do governo para conter a Greve dos Caminhoneiros. A fala foi realizada novamente no Palácio do Planalto. O último discurso analisado ocorreu em 19 de dezembro de 2018, na última reunião ministerial da equipe de governo, também no Palácio do Planalto. Os 13 pronunciamentos foram escolhidos pelos critérios de relevância, repercussão e por serem marcantes e constitutivos da própria história do mandato presidencial de Michel Temer. É oportuno sublinhar que desses treze pronunciamentos, considerados como os mais marcantes do governo, dez deles ocorreram no Palácio do Planalto. Parte-se do entendimento que o sujeito não é a fonte do discurso (PÊCHEUX, 1997). E as condições de produção referidas aqui não são simplistas ao ponto das “circunstâncias” nas quais o discurso é produzido, mas extrapolam para o contexto no qual o discurso estará condicionado (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2006). Do ponto de vista teórico-metodológico, examinamos os sujeitos, o contexto sócio histórico, os interdiscursos perpassados pela ideologia e situação discursiva (GADET, 1997). A interpretação, portanto, é a de que o então presidente discursou em um ambiente familiar, em que se pressupõe estar mais à vontade e de certa forma “protegido” já que estaria cercado por integrantes da base aliada, por ministros e demais pessoas que acreditavam e validavam o governo. Os sentidos mobilizados nos pronunciamentos e analisados à luz da imagem de si e da interpretação dos portais permite estabelecer inter-relações ao considerarmos Michel Temer como uma “instituição” portadora de um discurso político que busca a persuasão (CHARAUDEAU, 2016). É pertinente

174 identificar que ao se pronunciar dez vezes no Palácio do Planalto (na delimitação do corpus da pesquisa), Temer reforça a imagem de si de quem confia nas instituições e no legalismo e de quem almeja a aprovação das autoridades constituídas. Na perspectiva de Gomes (2004), o agente político por meio de suas ações de comunicação estratégica começa a motivar no público uma determinada imagem pública, que é a maneira como ele é percebido pelas pessoas em um processo que está intrínseco à cobertura midiática. “A configuração da imagem ideal depende, em grande parte, de fatores ligados a contextos discursivos midiáticos” (GOMES, 2004, p. 281). A sociedade é composta pela esfera civil integrada por aqueles que detêm direitos e deveres e a esfera da decisão política, composta por aqueles que conduzem o Estado. Na esfera da decisão política, na qual estão os agentes políticos, existe a necessidade de a visibilidade estar sobre o que é vantajoso. Esse é o esforço das assessorias de comunicação, consultorias e demais profissionais relacionados à produção desses “fatores positivos” da imagem pública. A mídia possui influência determinante sobre o que o público irá consumir acerca dos agentes políticos, o que pode acarretar em uma exposição negativa, mesmo que não seja conjecturada (GOMES, 2004). Portanto, as paridades entre as formações discursivas da imagem de si e as formações discursivas dos portais favorecem a construção de uma imagem pública (efeito de sentido) positiva do então presidente Michel Temer. Há de se compreender ainda que o fenômeno da imagem pública iniciou a partir do advento de sociedades democráticas e do predomínio da comunicação de massa (GOMES, 2004). A partir disso, a preocupação com a imagem na política deixou de ser acessória para ser um fenômeno decisivo, que se reconhece a partir das mensagens, ações e apresentações. A produção da imagem pública perpassa disputas de visibilidade entre o mundo político que facilita e intermedia a exposição positiva de fatos e discursos e o midiático. “[...] Um ator político jamais trabalha sozinho a recepção. Há de disputar esta batalha pela colonização do imaginário com os seus adversários do mundo político e com os diversos agentes do mundo da comunicação” (GOMES, 2004, p. 290). Segundo o autor, existe uma competição entre os agentes do campo político e os agentes do campo jornalístico na qual os jornalistas possuem vantagem por controlarem a esfera de visibilidade pública92. A imposição da imagem é uma condição de luta constante,

92 Atualmente, os diversos campos sociais, inclusive o político, habitam a esfera midiática e dispõem de mídias para produção de sentidos e busca de visibilidade. Assim sendo, diferente de Gomes (2004), hoje não dá para

175 que exige dos agentes políticos a urgência de serem confiáveis e demonstrarem credibilidade. Essa disputa abarca diversos atores que são afetados pelas negociações partidárias, pelos arranjos políticos, pesquisas de opinião e índices de popularidade. “Disputam-se audiência, atenção, interesse e predileção do público, disputa-se o tempo livre do cidadão” (GOMES, 2004). Sobre esse aspecto é importante entender que o criador de imagens busca ajustar personagens reais a perfis ideais e às expectativas dos públicos. Também é um desafio controlar os conteúdos que chegam através da esfera pública e são perpassados pelo sistema informativo e pesquisas de opinião (GOMES, 2004). Conforme Weber, os agentes políticos estão imersos em um estado de representação submetidos ao público - o consumidor de ideias e de discursos - que será o responsável por avaliar e garantir a efemeridade das percepções positivas ou negativas da imagem pública. Segundo a autora, no cenário de visibilidade pública existe uma linha tênue sobre o que é real do que é criado e muitas vezes as visualizações – o parecer ser real – vale tanto quanto as ações concretas. A imagem pública converte-se em uma ação política reinterpretada no campo da mídia e que será construída por meio das pesquisas de opinião, fatores pertinentes para o exercício de uma representação pública bem construída. Para isso, é necessário aos agentes políticos estratégias para garantia de visibilidade pública, que extrapolem os discursos políticos nas tribunas e os arranjos partidários, mas que visem o contato direto com o público (WEBER, 2009). Segundo Weber, a permanência de determinadas imagens públicas pessoais ou institucionais ocorrem na medida em que as informações de todos os tipos de comunicação são convergentes, seguindo para um caminho de fortalecimento e repetição de imagens, fotos, declarações e opiniões. A imagem pública nessa perspectiva pode ser positiva e melhor explorada também para quem detiver poder financeiro, político e mediático (WEBER, 2009). A autora destaca que os agentes políticos precisam ser reconhecidos como políticos para depois buscar representação nos poderes executivo, legislativo ou judiciário. Weber explana que os veículos de comunicação trabalham com a exposição de temas e inclusive com o reforço de alguns deles. Esse trabalho pode favorecer a exposição da imagem pública, porque conforme o

afirmar que o campo jornalístico controla a esfera de visibilidade pública, entretanto, ele é um campo que historicamente teve legitimidade e autoridade para produzir sentidos e influenciar a opinião pública, papel este que ainda desempenha, embora em um cenário de maior competividade com os demais campos sociais.

176 interesse do indivíduo por determinados temas, ele ampliará a rede de informações e a possibilidade da formação crítica da imagem pública de instituições e sujeitos. Visibilidade é um conceito caracterizado também por Thompson (2008), que explica as transformações intrínsecas ao termo. Segundo o autor, vivemos em um mundo de “visibilidade mediada” sendo que, com o fortalecimento e crescimento constantes da internet e das mídias, há a substituição da necessidade de uma visibilidade de interação face a face, na significação de co-presença. As mídias comunicacionais fazem nascer uma “sociedade da autopromoção”, na qual os agentes políticos podem apresentar-se a partir de qualquer lugar e revelar aspectos do seu cotidiano, alcançar pessoas que não alcançariam antes e falar diretamente com o público, como se estivessem face a face, em conversa com amigos, por exemplo. Essa reconfiguração da visibilidade proporciona facilidade para alcançar públicos, mas também deslinda críticas, que agora, também possuem um alcance e impactos muito maiores. “[...] A mídia permite que poucos estejam visíveis para muitos: graças à mídia, basicamente aqueles que exercem o poder, mais do que aqueles sobre os quais o poder se aplica, é que estão sujeitos a um novo tipo de visibilidade” (THOMPSON, 2008, p. 27). O interesse público direciona ambas as atuações, mas coloca os assessorados/instituições em situação de risco permanente, já que a visibilidade nem sempre recai sobre fatores positivos. Define-se, portanto, que a imagem pública é construída constantemente e que as mídias, em especial as do campo jornalístico, detém um poder determinante para reafirmá-la e/ou questioná-la. Porém, não atua sozinha nesse processo. O público, as pesquisas de opinião, as próprias assessorias de imprensa atuam no processo de produção discursiva, ao reforçar, criticar ou estabelecer determinadas imagens públicas. Não se exime o compromisso do público de ser um verificador entre as convergências ou desequilíbrios entre a identidade e a imagem pública dos agentes políticos, mas apontam-se as responsabilidades do jornalismo no processo, já que a produção de sentidos por parte do campo jornalístico pode favorecer a imagem pública de um agente social e/ou político, como observou-se na homologia entre muitos sentidos das FDs da construção da imagem de si de Temer em seus pronunciamentos e os sentidos das FDs relativas às matérias dos portais jornalísticos do G1/O Globo e Uol/ Folha de S.Paulo. A discussão aqui proposta sobre a relação do discurso político e o discurso jornalístico e as possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses buscou reflexões e respostas acerca dos objetivos específicos da dissertação que compreendiam questionar “se” e

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“como” os portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo problematizaram os pronunciamentos e refletir a respeito das mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, com base nos sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso jornalístico do G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. Essa produção de sentidos por parte do jornalismo, que reforçou os sentidos produzidos pelos pronunciamentos oficiais causou efeitos de sentidos positivos para a imagem pública de Temer, contrariando as pesquisas de opinião, mas colaborando para manter “a ordem e o progresso” do país, além de manter os mesmos grupos no poder que possuem interesses similares aos daqueles que são donos dos grandes conglomerados midiáticos de que fazem parte os portais analisados.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partiu-se da premissa de que o jornalismo opera como instituição social, com potencial de controle e influência na construção social da realidade. Nesse contexto, os veículos de comunicação exercem potencial de mediar a interação do indivíduo com a sociedade e também do indivíduo com outras instituições (BERGER; LUCKMANN, 2004). O discurso jornalístico e o discurso político ganham, portanto, dimensões únicas nesse contexto. O primeiro com a finalidade de fazer saber, de informar com precisão, contar a verdade, os fatos como realmente aconteceram. E o segundo, com a finalidade da persuasão, de fazer crer, fazer sentir, voltado para o espetáculo político e disposto a conquistar a atenção e o convencimento da mídia (CHARAUDEAU, 2008; 2009; 2016). Com base nesses pressupostos, procurou-se responder à pergunta norteadora sobre quais as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, a partir da análise da construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e da produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais no mandato de Temer (2016-2018)? Com vistas a responder à pergunta norteadora, foi acionado o referencial teórico que iniciou com o capítulo sobre a trajetória política e o governo do ex-presidente da República do Brasil, Michel Temer, de 12 de maio de 2016 a 31 de dezembro de 2019. O capítulo contou com um detalhamento sobre a carreira política de Michel Temer, desde sua formação acadêmica até assumir o posto de vice-presidente do país; todos os trâmites do impeachment que levaram Temer a assumir a presidência do Brasil; as denúncias e inquéritos que marcaram o governo; as medidas econômicas e sociais implementadas durante os dois anos de mandato; a reprovação recorde de Temer, as últimas medidas no mês de dezembro de 2018 e a avaliação do governo pela mídia. Ao que se refere a esse capítulo é importante salientar como conclusão a reprovação recorde de Michel Temer que atingiu a porcentagem de 82% no mês de junho de 2018 a partir da pesquisa do Instituto Datafolha que mencionou ser a mais alta taxa de reprovação da história de um presidente desde a redemocratização do Brasil. No contexto das denúncias, é significativo retomar que Temer foi denunciado cinco vezes além dos inquéritos que ainda tramitam na justiça. Michel Temer também foi preso duas vezes em 2019 (até o mês de julho) desde que deixou de ter foro privilegiado em primeiro de janeiro. As investigações seguem

179 em diferentes instâncias e atualmente o ex-presidente recebeu medidas cautelares que o impedem de manter contato com outros investigados, de mudar de endereço e de se ausentar do país. Temer também precisou entregar o passaporte, está com os bens bloqueados até o limite de sua responsabilidade, não pode ter contato com pessoas jurídicas relacionadas ao processo e está proibido de ocupar cargos públicos e exercer funções de direção em órgãos partidários93. Foi possível reconhecer Temer como um agente político que priorizou o “primeiro-damismo”, no qual o papel concedido á mulher na política é o da bem-comportada auxiliar de seu marido, sorrindo nos jantares e patrocinando programas assistenciais (MIGUEL, 2019). Com o objetivo de enriquecer o debate sobre discurso e produção de sentidos, o terceiro capítulo da dissertação acionou conceitos da produção de sentidos no discurso jornalístico, perpassou as perspectivas construcionistas do discurso jornalístico, o discurso político na configuração midiática, o aporte teórico-metodológico da análise de discurso (AD) francesa e os conceitos norteadores de ethos discursivo, ideologia, interdiscurso, formações discursivas, condições de produção e a identificação dos sentidos. O embasamento teórico desse capítulo permitiu, através do aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa, identificar os sentidos dos pronunciamentos analisados posteriormente no capítulo quatro. Para isso, se justificou como fundamental conhecer os modos de funcionamento do discurso político, as finalidades, distribuição dos lugares de características que conferem legitimidade ao enunciador e regras gerais de controle e funcionamento (BENETTI, 2016). O último capítulo da dissertação contou com a análise da identificação da imagem de si (ethos discursivo), a partir de 13 pronunciamentos considerados relevantes e polêmicos, de um ex-presidente que se mostrava como reformista e que confiava no progresso (92 Sequências Discursivas-SDs); alguém conservador, que confia na Constituição (50 SDs), crente na união e no diálogo (38 SDs); corajoso e que salvou o país (32 SDs); e que é honesto e vítima de armações (30 SDs). Na análise dos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, o discurso jornalístico demonstrou uma interpretação do ex-presidente como político que defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições; que prega união e diálogo; que é

93 Essas determinações foram atualizadas nesse trabalho até o dia 25 de julho de 2019.

180 polêmico em suas declarações; que vai gerar emprego e crescimento; é reformista; e que é alvo da oposição e de denúncias. Em G1/O Globo a principal formação discursiva foi a de que Temer é alvo da oposição e de denúncias (92 SDs); Temer é um presidente polêmico em suas declarações (65 SDs); Temer quer união e prega o diálogo (56 SDs); Temer vai gerar emprego e crescimento (43 SDs); Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições (34 SDs); e Temer é reformista (28 SDs). Já em Uol/Folha de S. Paulo a formação discursiva mais proeminente também é a de que Temer é alvo da oposição e de denúncias (55 SDs); Temer é um presidente polêmico em suas declarações (46 SDs); Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições (45 SDs); Temer quer união e prega o diálogo (32 SDs); Temer vai gerar emprego e crescimento (24 SDs) e Temer é reformista (15 SDs). Se compararmos as formações discursivas mais proeminentes da imagem de si: (Sou reformista e confio no progresso, Sou conservador e confio na Constituição, Sou crente na união e no diálogo) com as mais acentuadas nos portais G1/O Globo (Temer é alvo de oposição e de denúncias, Temer é um presidente polêmico em suas declarações, Temer quer união e prega o diálogo) e Uol e Folha de S. Paulo (Temer enfrenta é alvo de oposição e de denúncias; Temer é um presidente polêmico em suas declarações, Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições), é possível perceber que as nuances de “mudanças” de sentidos apresentadas do discurso político da imagem de si (ethos discursivo) para o discurso jornalístico expressam uma repetição, como se o público recebesse o mesmo discurso duas vezes. Na imagem de si, Temer se mostra como conservador, e no discurso jornalístico esse conservador se torna “polêmico”. A criticidade dos veículos ocorreu em momentos de denúncia, ou quando a oposição se posicionou como no pronunciamento na ONU em 20 de setembro de 2016, quando líderes de países latino-americanos deixaram a sala durante o pronunciamento de Temer. Os veículos também problematizaram as falas de Temer no discurso do Dia da Mulher, ao acentuar a repercussão nas redes sociais. No entanto, se for considerado que a crítica existiu, essa ocorrência foi representada de forma amena, sem grandes contestações. Apesar dessa crítica amena, foi possível perceber que o grupo Folha de S. Paulo/Uol tornou mais complexa as problematizações do discurso político por evidenciar a relação do presidente com escândalos de corrupção, o desinteresse dos seus ministros, a falta de apoio de outras lideranças políticas e a baixa popularidade. As condições de produção nos

181 ajudam na assimilação quanto às formações imaginárias a respeito da posição na qual Temer ocupava e do que é esperado dele enquanto interlocutor (PÊCHEUX, 1988). Os altos índices de reprovação do governo tornam claro o quanto o ex-presidente não se expressou enquanto líder popular, mas que correspondeu ao que era esperado pela sua base aliada e pela sua equipe de governo, muito mais do que para a população, que idealmente se esperaria como o público-alvo dos pronunciamentos. O discurso jornalístico se configurou como declaratório na maioria das abordagens sobre os pronunciamentos. No estudo da Análise de Discurso entende-se que as condições de produção são determinantes para a enunciação do discurso, ou seja, em muitos casos, Temer também precisou discursar em situações desfavoráveis, sofrendo pressão de denúncias, graves acusações, impopularidade e a abordagem do jornalismo foi branda e não tencionou esses momentos. O ex-presidente com a mais baixa popularidade após a redemocratização, que assume após um impeachment polêmico e contraditório tem seus discursos políticos praticamente reproduzidos sem grandes ressalvas em quatro veículos da mídia hegemônica brasileira. De acordo com Pinto (2010), a imprensa pode assumir papel de produzir tensões entre a mídia e interesses privados. Porém, é necessário que o jornalismo praticado pelos veículos de comunicação com alcance nacional, regional ou local seja o jornalismo questionador que descarta interesses políticos. Conforme Miguel (2019), a ausência de pluralismo jornalístico ocorre devido à origem social dos profissionais, às organizações capitalistas voltadas para o lucro, concorrência comercial, ideologia da objetividade e competição interna. As ações para ampliar a pluralidade consistem em vontade política, em frear a concentração das propriedades das empresas e estimular a produção de informação por mídias alternativas. É o avanço necessário para que o coronelismo eletrônico e o oligopólio do sistema midiático não se tornem um instrumento político de controle da opinião pública. Entende-se que o papel da imprensa deve estar a serviço do interesse público e não de interesses políticos. Problematizar e questionar os atores políticos e suas ações deve ser o papel fundamental dos veículos de comunicação no Brasil. É um passo para avançar na pluralidade de informações e contrapor os interesses políticos presentes neste oligopólio midiático. A pesquisa teve como objetivo enriquecer esse debate entre o discurso político e o discurso jornalístico, preencher uma lacuna para avançar na compreensão de como o jornalismo brasileiro trata os pronunciamentos oficiais da maior autoridade do país e todo o

182 contexto sócio histórico que perpassa as condições de produção desses discursos. O trabalho também aponta para pesquisas futuras sobre o tema geral ou as relações do discurso político com o discurso jornalístico como o estudo de fontes e o estudo de vozes (no caso da análise do discurso). É possível concluir que o comportamento dos meios de comunicação de massa durante o processo de destituição de Dilma Rousseff foi claramente enviesado e por ocupar lugar de centralidade no sistema político brasileiro, desempenhou obstáculos às práticas democráticas. O contexto que levou Temer a presidência foi caracterizado por uma intensa disputa política em torno da interpretação dos fatos e no qual a justiça e a imprensa de modo geral também se tornaram atores políticos (MIGUEL, 2019). A partir do material empírico selecionado não se pode aferir que todos os outros pronunciamentos seguiram na mesma lógica, no entanto, pelo nível de relevância dos discursos selecionados e por toda análise detalhada é possível concluir que Michel Temer discursou direcionado para sua base aliada e não para a população, que a criticidade dos veículos de comunicação estudados G1/Globo e Uol/Folha de S. Paulo se limitaram a considerar Temer “polêmico” e não problematizaram as denúncias e os índices de rejeição do presidente. A abordagem dos portais se limitou a categoria do “jornalismo declaratório” e a semelhança dos sentidos presentes nas formações discursivas da imagem de si e na produção de sentidos dos portais se configura como um fator preocupante acerca da atuação do jornalismo brasileiro e no impacto que essas relações discursivas e de poder podem trazer, em médio e longo prazo, para a democracia no país.

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REFERÊNCIAS

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TEMER anuncia redução no diesel e preço mínimo de frete; leia íntegra do pronunciamento. Folha de São Paulo. Brasília, 27 maio 2018. Mercado. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/temer-anuncia-reducao-no-diesel-e-preco- minimo-de-frete-leia-integra-do-pronunciamento.shtml. Acesso em: 8 mar. 2019.

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TEMER cede a pressões de caminhoneiros em greve e reduz o preço do diesel. UOL Notícias, [S.l.], 27 maio 2018. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2018/05/27/temer-cede-a-pressoes-de- caminhoneiros-em-greve-e-reduz-preco-do-diesel.htm. Acesso em: 7 abr. 2019.

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201

VEJA principais pontos das reformas trabalhistas e da Previdência. G1, Brasília, 20 abr. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/veja-principais-pontos-das-reformas- trabalhista-e-da-previdencia.ghtml. Acesso em: 8 jan. 2019.

VIVAS, Fernanda. Distrato: Temer sanciona lei que eleva multa para quem desiste da compra de imóvel na planta. G1, Brasília, 27 dez. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/27/distrato-temer-sanciona-lei-que-eleva-multa- para-quem-desiste-da-compra-de-imovel-na-planta.ghtml. Acesso em: 10 jan. 2019.

VIZEU, Alfredo. A produção de sentidos no jornalismo: da teoria da enunciação à enunciação jornalística. Famecos. Vol. 10. N. 22. P. 107-116. Porto Alegre, 2003.

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APÊNDICE A - Links de acesso aos pronunciamentos oficiais utilizados na análise

Pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016): https://glo.bo/1OnQ13X Pronunciamento como presidente efetivo (31 de agosto de 2016): https://bit.ly/2JVYwnm Pronunciamento Durante conferência na Organização das Nações Unidas (ONU) (20 de setembro de 2016): https://bit.ly/2H6zUdJ Pronunciamento após aprovação da PEC do Teto de Gastos (em 13 de dezembro de 2016): https://bit.ly/2Y3qMK2 Pronunciamento Após a Sanção da Lei do Novo Ensino Médio (16 de fevereiro de 2017): https://bit.ly/2JHqqF2 Pronunciamento no Dia da Mulher (8 de março de 2017): https://bit.ly/2JUJPkp Pronunciamento após delação JBS (18 de maio de 2017): https://bit.ly/2pYw9ts Pronunciamento após denúncia sobre corrupção passiva (27 de junho de 2017): https://bit.ly/2Z1eoeB Pronunciamento após rejeição da denúncia por corrupção passiva (2 de agosto de 2017): https://bit.ly/2JHSvf2 Pronunciamento após denúncia do Inquérito dos Portos (27 de abril de 2018): https://bit.ly/30FCz2A Pronunciamento de aniversário de dois anos de governo (15 de maio de 2018): https://bit.ly/2LAcvma Pronunciamento sobre a Greve dos Caminhoneiros (27 de maio de 2018): https://bit.ly/2YgpjnB Pronunciamento de última reunião ministerial (19 de dezembro de 2018): https://bit.ly/2y0brPK

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APÊNDICE B – Links de acesso as notícias selecionadas para a análise

Notícias sobre o pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016):

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/em-posse-de-ministros-temer-garante-programas-sociais- prega-dialogo-19293300

G1:http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/michel-temer-da- posse-aos-novos-ministros-do-governo.html http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/presidente-em- exercicio-michel-temer-anuncia-ministerio-do-novo-governo.html http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/temer-diz-que-ha- urgencia-em-pacificar-e-unificar-o-brasil.html

Uol: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2016/05/12/temer-defende-estado-minimo-e- propoe-parceria-publico-privada-contra-crise.htm https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/05/12/michel-temer-discursa-apos-assumir- presidencia.htm

Notícias sobre o pronunciamento de Temer como presidente efetivo (31 de agosto de 2016):

G1:http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/temer-faz- pronunciamento-em-cadeia-nacional-de-radio-e-tv.html http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/dilma-foi-notificada- do-impeachment-15h05-temer-15h30.html

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/08/31/michel-temer-assume- presidencia-da-republica.htm

Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1809029-em-cadeia-nacional- temer-diz-que-a-incerteza-acabou-e-que-e-hora-de-uniao.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1809061-rio-tem-panelaco-anti-temer-e-protesto- contra-impeachment.shtml

Notícias sobre o pronunciamento de Temer durante conferência na Organização das Nações Unidas (ONU) (20 de setembro de 2016):

G1:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/diplomatas-e-ministros-de-5-paises-protestam-contra- temer-na-onu.html

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/na-onu-temer-afirma-que-impeachment-foi-exemplo- brasileiro-20143838 https://oglobo.globo.com/brasil/paises-criticos-ao-impeachment-se-retiram-da-assembleia-da-onu- durante-discurso-de-temer-20145413

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Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/09/1815053-em-discurso-na-onu- temer-diz-que-impeachment-respeitou-constituicao.shtml https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/09/1815119-delegacoes-latino-americanas-saem-da-sala- durante-discurso-de-temer.shtml

Notícias sobre o Pronunciamento após aprovação da PEC do Teto de Gastos (em 13 de dezembro de 2016):

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/12/13/temer-comemora-aprovacao-e- diz-que-teto-dos-gastos-tirara-brasil-da-recessao.htm

G1, O Globo e Folha de S. Paulo noticiaram sobre a aprovação e não sobre o pronunciamento de Temer.

Notícias sobre o pronunciamento após a Sanção da Lei do Novo Ensino Médio (16 de fevereiro de 2017):

G1: https://g1.globo.com/educacao/noticia/temer-sanciona-a-medida-provisoria-da-reforma-do- ensino-medio.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/sociedade/temer-sanciona-reforma-do-ensino-medio-aumento-na- carga-horaria-20936022

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/02/16/temer-sanciona-lei-para-novo- ensino-medio-100-de-aprovacao.htm

Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/02/1859530-novo-ensino-medio- de-temer-livra-rede-de-ampliar-opcoes-aos-alunos.shtml

Notícias sobre o pronunciamento no Dia da Mulher (8 de março de 2017):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/mulher-ainda-e-tratada-como-figura-de-segundo-grau-no- brasil-diz-temer.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/temer-diz-que-mulheres-analisam-melhor-precos-de- supermercado-21032564

Uol: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2017/03/08/declaracoes-de-temer-no-dia-da- mulher-geram-polemica.htm

Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1864708-tenho-conviccao-do-que- a-mulher-faz-pela-casa-diz-temer-no-dia-da-mulher.shtml

Notícias sobre o pronunciamento após delação JBS (18 de maio de 2017):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/nao-renunciarei-afirma-temer.ghtml

UOL: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/18/pronunciamento-de-temer.htm

Notícias sobre pronunciamento após denúncia sobre corrupção passiva (27 de junho de 2017):

205

G1: https://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/temer-se-defende-de-denuncia-de- corrupcao-em-pronunciamento-no-planalto.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/politicos-repercutem-pronunciamento-de-temer-sobre-denuncia- da-pgr.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/nao-sei-como-deus-me-colocou-aqui-frase-de-temer-vira- piada-nas-redes-21525923

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/06/27/temer-questiona-provas-ataca- janot-e-diz-que-denuncia-e-ficcao.htm https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/06/27/nao-sei-como-deus-me-colocou-aqui- diz-temer-em-pronunciamento.htm

Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/07/1905783-denunciado-temer-reedita- discurso-de-dilma-rousseff.shtml

Notícias sobre pronunciamento após rejeição da denúncia por corrupção passiva (2 de agosto de 2017):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/temer-faz-pronunciamento-apos-camara-rejeitar-da- denuncia-da-pgr.ghtml https://g1.globo.com/resumo-do-dia/noticia/quarta-feira-2-de-agosto-de-2017.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/rejeicao-de-segunda-denuncia-repercute-na-midia- internacional-temer-se-safa-21993381

Folha: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/08/1906618-temer-obtem-votos-para-barrar- denuncia-de-corrupcao-na-camara.shtml

Notícias sobre pronunciamento após denúncia do Inquérito dos Portos (27 de abril de 2018):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/temer-diz-que-e-alvo-de-mentiras-contra-sua-honra-e- tentativas-de-incriminar-a-ele-e-sua-familia.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/associacao-de-delegados-se-diz-preocupada-com-fala-de-temer- e-afirma-que-pf-nao-persegue.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/delegados-da-pf-dizem-que-nao-admitirao-pressao-pedem- serenidade-temer-22636209

Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/04/temer-diz-que-e-vitima-de- perseguicao-criminosa-disfarcada-de-investigacao.shtml

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/04/27/temer-diz-que-acusacao-de- lavagem-por-imoveis-e-disparate-e-tenta-desmoralizar-a-presidencia.htm

Notícias sobre pronunciamento de aniversário de dois anos de governo (15 de maio de 2018):

206

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/temer-balanco-2-anos-governo.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/aos-2-anos-governo-temer-festeja-economia-mas-enfrenta- impopularidade-denuncias-e-crise-politica-relembre.ghtml

O Globo: https://glo.bo/2y22IwO https://glo.bo/2y3BVjQ

Uol: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/05/15/balanco-de-2-anos-do-governo- temer.htm

Folha de S. Paulo: https://bit.ly/2jVoKdn https://bit.ly/2PhBmt2

Notícias sobre pronunciamento na Greve dos Caminhoneiros (27 de maio de 2018):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/em-nova-tentativa-de-por-fim-a-greve-de-caminhoneiros- temer-anuncia-reducao-de-r-046-no-litro-do-diesel-por-60-dias.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/caminhoneiros-autonomos-se-dizem-satisfeitos-com-nova- proposta-de-temer.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/economia/temer-anuncia-novas-medidas-para-encerrar-greve-de- caminhoneiros-incluindo-reducao-do-piscofins-22723434 https://oglobo.globo.com/economia/panelacos-sao-registrados-em-varias-cidades-do-pais-durante- pronunciamento-de-temer-22723687

Uol: https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2018/05/27/temer-cede-a-pressoes-de-caminhoneiros- em-greve-e-reduz-preco-do-diesel.htm https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/05/27/temer-cede-e-reduz-r-046-o-litro-do-diesel- por-60-dias.htm https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2018/05/27/temer-cede-a-caminhoneiros-para-conter- greve-que-paralisa-o-pais.htm https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/05/27/temer-panelaco.htm https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/temer-anuncia-reducao-no-diesel-e-preco-minimo- de-frete-leia-integra-do-pronunciamento.shtml

Notícias sobre pronunciamento de última reunião ministerial (19 de dezembro de 2018):

G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/19/em-ultima-reuniao-ministerial-temer-brinca-e- diz-que-sentira-falta-do-fora-temer.ghtml

O Globo: https://oglobo.globo.com/brasil/ao-se-despedir-de-ministros-presidente-diz-que-sentira- falta-do-fora-temer-23315798

207

Uol: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/12/19/teremos-pib-positivo- afirma-temer-durante-reuniao-ministerial.htm https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2018/12/19/temer-afirma-que-reforma-da-previdencia- permanece-na-pauta-e-sera-aprovada.htm https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2018/12/19/so-nao-fizemos-reforma-da- previdencia-porque-houve-trama-diz-temer.htm

Folha: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/12/em-despedida-presidente-diz-que-sentira-muita- falta-do-fora-temer.shtml