Jornal Pessoal A AGENDA Amazônica de Lúcio Flávio Pinto • Ano XXIX • No 592 • SETEMBRO de 2015 • 1a quinzena • R$ 5,00

JADER BARBALHO A volta por cima? Livrando-se dos muitos processos instaurados na justiça, poderá voltar ao topo do poder político no Pará? Parece ser o objetivo da sua atual ofensiva pela notoriedade e a presença pública.

uase todos os dias o Diário do Pará ter correspondência ativa com os integrantes do publica pelo menos uma notícia na governo federal e de outras instâncias do poder, qual o protagonista é o senador Ja- procurando assumir a paternidade, a coautoria der Barbalho. Nada a estranhar: o ou a ressonância a causas populares, ele vai a so- Qjornal é de propriedade do líder do PMDB no lenidades públicas, dá entrevistas e até discursa. Pará. Ainda assim, até algum tempo atrás isso Abandonou a antiga estratégia, que executou não acontecia. Por um motivo simples: não havia por mais de 10 anos, de se tornar uma sombra o que relatar sobre as atividades do ex-governa- ou simplesmente desaparecer. dor. Ele evitava aparição em público e iniciativas Agindo assim, evitava se expor a novas reve- que provocassem a atenção da sociedade. Prefe- lações e críticas sobre o seu enriquecimento ilíci- ria atuar sempre nos bastidores, sem aparecer no to, tema monocórdio na imprensa nacional a seu plenário do Senado, muito menos ocupar a sua respeito. Parece que Jader Fontenele Barbalho tribuna. voltou a ser político em tempo integral e dedi- Essa situação mudou. Agora, além de man- cação exclusiva, como antes de bater boca no Se-

JP: 28 ANOS AGORA É LULA A HISTÓRIA E ALACID nado com Antonio Carlos Magalhães, formação de quadrilha, estelionato e la- perior, que acabou vindo do Supremo. derrotá-lo numa disputa política e ter vagem de dinheiro, pelos quais Jader foi Certamente o voto útil passou ao largo que renunciar em seguida para não ser denunciado pelo próprio Ministério Pú- do seu nome. cassado, em 2001. blico Federal, já estavam prescritos, não Esse fato poderia servir de garantia Ao longo desse inferno (e inver- podendo mais ser punidos. Janot opi- de que conseguirá renovar o mandato no) astral, que prenunciava o seu fim, nou pelo arquivamento dos autos. em 2018, favorecendo-se do arquiva- Jader foi preso, processado, ameaçado No ano passado, a motivação do mento de todos os processos instaura- por nova prisão, atacado de forma in- arquivamento de outras duas ações pe- dos na justiça. Ele poderia fazer dobra- clemente e sistemática pela imprensa e nais e um inquérito, também relacio- dinha com o filho, dando-lhe reforço por seus adversários, viu seu estoque de nados a desvio de recursos da Sudam, especial para a conquista do governo, votos emagrecer e amargou derrotas de foi de que Jader completou 70 anos em que lhe escapou no segundo turno da aliados e do principal candidato a suce- outubro. A partir dessa idade, o prazo eleição de 2014, depois de ter vencido a dê-lo, o filho, , derro- de prescrição cai pela metade, o que primeira disputa. tado por Simão Jatene na eleição para automaticamente tornou prescritos os Será então que Jader Barbalho, aos 74 o governo paraense, em 2014. A con- crimes que lhe foram imputados, ocor- anos, dará a volta por cima? Mais uma juntura mudou e, com ela, o proscrito ridos no começo dos anos 2000. vez, não será fácil. Enquanto os proces- de ontem. Neste ano, mais ações perderam sos em curso são extintos, surge a pers- Mais uma indicação de mudança foi sua validade legal. Em março, a minis- pectiva de novos contenciosos judiciais. dada duas semanas atrás, quando o Su- tra Rosa Weber determinou o arquiva- Seu nome começa a esquentar como premo Tribunal Federal arquivou mais mento de um inquérito que, desde 2003, suspeito de se ter beneficiado da cor- três ações penais contra o senador. O investigava o senador por tráfico de in- rupção na Petrobrás. A edição da revista ministro Edson Fachin reconheceu que fluência. Em maio, o ministro Gilmar Época desta semana diz que ele pode ter essas ações foram alcançadas pela pres- Mendes tomou a mesma providência tido sua cota – de dois milhões de dó- crição. A demora no seu processamento em ação penal por peculato e lavagem lares – nos US$ 15 milhões de propina foi tal que chegou ao fim o prazo para que apurava suposto pagamento de pro- paga pela Odebrecht para conquistar a a aplicação da justiça estatal. Em con- pina para liberação de recursos do Fun- conta da reforma da refinaria de Pasade- sequência, o réu não poderia mais ser do de Investimentos da Amazônia, ad- na, nos Estados Unidos, junto com seu punido pelo devido processo legal. ministrado pela Sudam, a empresários. colega peemedebista , A denúncia foi recebida em feverei- Já em agosto, a idade do réu levou a Pri- presidente do Senado, e o senador petis- ro de 2002, antes de Jader completar 70 meira Turma do Supremo a mandar ar- ta Delcídio Amaral. anos. Logo, o recebimento da denúncia quivar uma ação na qual o senador era A informação teria sido prestada aos ocorreu em momento no qual a pres- acusado de ter autorizado, em 1988, na investigadores da Operação Lava-Jato crição ainda era calculada pelo prazo condição de ministro da reforma agrá- pelo ex-diretor internacional da Petro- normal. Com a nova idade ele passou ria no governo José Sarney, pagamento brás, Ernesto Cerveró, que ainda não a ter direito ao benefício da redução do em “montante supervalorizado” pela conseguiu fechar um acordo de delação prazo prescricional à metade. desapropriação de uma fazenda no mu- para aliviar sua condenação, a 17 anos A ação foi aberta em nicípio de Parintins, no Amazonas. A de prisão. Isso porque Fernando Baiano, em 2002, mas chegou ao Supremo em denúncia foi formulada originalmente operador das bancadas do PMDB no Se- 2004. Seu primeiro relator foi o minis- por este Jornal Pessoal. nado e, em menor grau, na Câmara, pro- tro (já aposentado) Carlos Velloso. De- A idade mais avançada e uma jus- meteu entregar as contas dos desvios de pois, o processo foi remetido para Ri- tiça seduzida pela lentidão nos delitos dinheiro de Pasadena e das sondas con- cardo Lewandowski. Como ele assumiu de colarinho branco vão, dessa ma- tratadas pela área internacional da Petro- a presidência do Supremo, o caso foi neira, limpando o prontuário de Jader bras. Aí estariam as provas contra Jader. para Fachin. No total, desde o ano pas- Fontenele Barbalho. Mais um pouco e O ex-governador negou tudo para a sado, sete ações contra o ex-governador seus assentamentos legais estarão intei- revista e sua argumentação tem senti- do Pará chegaram ao fim no Supremo ramente limpos. do, mesmo que não seja suficiente para devido à mesma causa: a lentidão na Seu retorno ao Senado, 10 anos de- assegurar sua inocência. Às vésperas sua instrução em juízo. pois da renúncia à sua cadeira, no últi- da eleição de 2006, quando os negócios Nos três últimos processos arqui- mo teste eleitoral, em 2010, foi sofrido. teriam sido fechados, ele era ainda um vados, o ex-ministro era acusado de Ele obteve 1.799.762 votos, mas não foi personagem oculto, que se candidata- desvio e emprego irregular de verbas o mais votado desta vez, ficando em se- ra apenas a deputado federal. Deixara públicas e de crimes contra o sistema gundo lugar, depois de , de ser político da linha de frente. Teria financeiro nacional. Ele foi responsa- do PSDB. Sua posse foi bloqueada pela prestígio e influência para prestar favo- bilizado por supostos desvios de verbas justiça eleitoral com base na lei da ficha recimento e se credenciar à propina, que em projetos da iniciativa privada apro- limpa, por causa da sua condenação em estava sendo negociada na alta cúpula? vados pela Superintendência do Desen- instância recursal. Mas em 2011 o STF o Por enquanto, os indícios contra ele volvimento para Amazônia nos anos de liberou para assumir o mandato. são vagos, mas foram o suficiente para 1990, principalmente quando a chefia O senador pode argumentar em de- colocá-lo negativamente na manchete da Sudam era ocupada por Arthur Tou- fesa da sua liderança que quase 1,8 mi- de capa de O Liberal, que certamente vai rinho Neto, indicado por Jader. lhão de eleitores o escolheram, apesar fazer o assunto render. Afinal, trata-se Antes da decisão do ministro do STF, de saberem que ele poderia perder o de Jader Barbalho, em quem esse tipo de o procurador-geral da República, Rodri- mandato. Por isso, sua votação não foi matéria gruda com facilidade. Ele con- go Janot, também acatou o argumento computada no boletim oficial da justi- seguirá se livrar desse estigma? É o seu da defesa de que os crimes de peculato, ça, ficando à espera de deliberação su- maior e mais difícil desafio.

2 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena A passagem de Alacid pela história do Pará

Alacid da Silva Nunes morreu no dia pai em 1958, para depor o adversário. ao meu lado. Partilhava com meu pai 5 de setembro, de infarto agudo, a pou- Uma inspeção do Tribunal de Contas a presunção de que eu estaria envolvi- co mais de dois meses de completar 91 e o afastamento provisório do prefeito do emocionalmente pelo episódio san- anos. Acompanhei sua carreira política, eram as senhas para o golpe, que nem grento até o fim. Mas a objetividade que iniciada em junho de 1964 – meio sécu- uma reintegração judicial no cargo foi me impus ao me tornar jornalista pro- lo atrás, portanto – quase desde o início, respeitada. fissional falou sempre mais alto, algo e pude testemunhar-lhe o fim. Utilizarei Uma tropa de 150 PMs, comandada que nenhum dos dois personagens, de o artigo que escrevi para o blog como pelo sanguinário tenente (e delegado cada lado do front, entendia - e meu pai fonte de testemunho pessoal e na pró- da polícia civil) Lauro Viana, impediu não aceitava. xima edição aprofundarei a análise, que que cinco mil pessoas em passeata re- A objetividade, que é o compromis- exige mais tempo e espaço para situar o pusessem o prefeito na sua cadeira, que so com os fatos, me ensinou a relativi- personagem no campo próprio em que esquentou por apenas nove meses, até zar o discurso e mesmo a prática dos ele se introduziu: o da história. seu afastamento pela maioria da Câ- políticos. Circulando entre eles, ouvin- Quando do nosso primeiro contato mara (nove dos 12 vereadores eram do-os e checando o que diziam, vi au- pessoal, em 1966, ele iniciava o primei- da Arena). Foi um combate sangrento, mentar a distância entre os dois planos. ro dos seus dois mandatos como gover- com três mortes de pessoas do povo. É o que dá dinamismo à história, ainda nador, para o qual ascendeu através de A mais tardia delas foi a do briga- que contribua também para o oportu- eleição direta, no ano anterior, com 70% deiro (da reserva da Aeronáutica) e de- nismo dos seus autores, que é preciso dos votos válidos. Sua vitória sepultou a putado federal da própria Arena, Ha- mostrar para o distinto público. figura política do marechal Zacarias de roldo Veloso, personagem histórico das O golpe militar de 1964 permitiu Assunção, mais um militar na história revoltas de Jacareacanga e Aragarças que seus o tenente-coronel Jarbas Pas- política do Pará. (contra o presidente JK), que liderou a sarinho e o major saltas- Foi a última eleição direta para passeata, ao lado do meu pai. Ele só es- sem de uma posição intermediária na cargo de chefia do executivo na escala capou dos tiros que lhe foram dirigidos tropa para o comando da política no descendente do regime militar até a es- porque um grupo de mulheres lhe deu Pará. Passarinho já tinha então no seu curidão, que adquiriu sua coloração de- cobertura, o médico Valdemar Pena currículo uma participação assinalável finitiva e, depois, foi sendo degradada impediu a entrada dos militares em sua na política nacional, que faltava a Ala- até 1985, partindo do AI-5, no eclipse clínica de saúde, onde papai se homi- cid. Mas ambos, a partir do impulso de 1968. ziara, e uma tropa da Aeronáutica, co- dado pela força das armas, formaram Cobri uma solenidade qualquer, mandada pelo futuro brigadeiro Paulo seu próprio capital de votos, sem dei- na qual a figura do “homem mau”, que Vítor da Silva, o resgatou, apontando xar de aproveitar as oportunidades que Alacid ainda usava, se combinava com metralhadoras para os fuzis dos PMs. ainda tiveram graças às ferramentas ex- o dono de uma votação que lhe era Tenho a transcrição de todas as cepcionais da ditadura. própria e legitimava a formação de um mensagens de rádio trocadas entre Em 1982 mediram forças, cada um novo grupo político, dos “alacidistas”, Belém e Santarém, que documentam à sua maneira: Passarinho, com a for- em aliança com os adeptos de Jarbas o que sempre se soube: a ordem era ça federal; Alacid, com a máquina es- Passarinho, os “jarbistas”, que subiram impedir que o prefeito reassumisse, de tadual. É fruto da desatenção creditar ao poder derrubando do topo os “bara- qualquer maneira, mesmo através da a Alacid protagonismo na abertura à tistas”, em mais um movimento de sobe violência. A primeira saraivada de tiros democracia. Ele só apoiou Jader Barba- -e-desce da gangora paraense. foi para o ar. A segunda foi na direção lho ao governo do Estado, contra o em- Poucos meses depois meu pai, Elias da massa. O soldado que feriu Veloso presário Oziel Carneiro, para derrotar Pinto, venceu Ubaldo Correa, com dois com o golpe de baioneta, dado quando o antigo correligionário, que se tornou terços dos votos válidos, na disputa pela a vítima já estava no chão, ferida, sem seu maior inimigo. prefeitura de Santarém, o segundo mu- condições de defesa, gritou para o dele- Achava que, quatro anos depois, nicípio do Estado. O partido do gover- gado Lauro Viana: “missão cumprida”. voltaria ao poder, mas Jader tinha con- no, a Arena, prosseguiu no massacre Outro soldado repetiu o aviso quando tas a acertar do passado e descartou o eleitoral iniciado no ano anterior, mas um popular foi morto. Ele se parecia aliado essencial, tão logo pôde. O “ala- essa vitória do MDB, a única de porte, com o meu pai. cidismo” foi se desmilinguindo e o lí- ficou entalada na garganta de Alacid. Ele Muitos anos depois, cruzando com der acabou sofrendo uma rasteira de viu se frustrar seu desejo de dar uma de- o tenente no fórum criminal de Belém, um político iniciante, Vic Pires Franco, monstração de força maior do que a de parei-o, me apresentei e, sob seu olhar que lhe retirou a cadeira permanente Passarinho em 1965, que o elegera e as- duro e hostil, cobrei-lhe uma versão. na Câmara Federal, antecipando-lhe sumira ascendência sobre ele (agora na Ele me encarou e respondeu: “ainda é o fim. Ao invés de desfrutar dos bene- política, antes na carreira militar). cedo”. Virou-se e foi embora. fícios que o apoio a Jader lhe deviam Eleito, papai tentou uma coexistên- Nunca cobrei esse depoimento de proporcionar, Alacid contribuiu para o cia pacífica com o governador. Alacid Alacid Nunes, nem quando conversa- surgimento de um “neobaratismo”, com o recebeu em palácio. Parecia ter res- mos em “off”, duas ou três vezes. Ele o qual a roda da história voltou no tem- pondido bem à iniciativa. Na verdade, achava que eu podia estar querendo po e o Pará, na história. porém, endossava as manobras coman- me vingar. Tratava-me bem, mas sem- Pode ser um epitáfio justo para Ala- dadas por Ubaldo, que derrotara meu pre desconfiado. Não ficava à vontade cid da Silva Nunes.

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 3 A corrupção do PT chegará até Lula? Há quase uma década e meia o sinal de de reagir que ele adotou, na sexta-feira da rosos antecedentes semelhantes na história alerta, intensamente amarelo e, logo em se- semana passada, ao ser procurado em Bue- brasileira (e universal). guida, fortemente vermelho, acendeu para nos Aires, onde estava, por jornalistas. O delegado da PF, depois de analisar o Partido dos Trabalhadores. Quando do Os repórteres queriam saber como ele os volumosos autos do inquérito, concluiu assassinato do prefeito de Santo André, recebia a informação, divulgada na véspera, estar diante de um “esquema de poder po- Celso Daniel, em 2002, os sinais de pro- através do portal da revista Época, de São lítico alimentado com vultosos recursos da miscuidade entre política e negócios par- Paulo, de que o delegado da Polícia Federal, maior empresa do Brasil”, que durou uma ticulares, receita partidária e propina, atos Josélio Azevedo de Sousa, pedira autoriza- década e abrangeu seis dos oito anos do go- administrativos e tráfico de influência, se ção ao Supremo Tribunal Federal para ou- verno Lula, além de todo o primeiro man- misturavam e se confundiam. vir o ex-presidente da república na inves- dato da sucessora que ele escolheu solita- Há uma hipótese de crime comum para tigação da Operação Lava-Jato. A razão da riamente e impôs a todos, inclusive ao país. o assassinato, transformada em verdade necessidade do depoimento: Lula pode ter Não constitui nenhuma novidade sua oficial. Mas a versão de atentado político sido “beneficiado pelo esquema em curso observação de que, nesse período, só con- tem ingredientes que obrigam a uma re- na Petrobrás”. seguiam ocupar cargos de direção na esta- visão à luz dos fatos atuais. Celso Daniel “Eu não sei como comunicaram a você tal as pessoas que contassem com respaldo tinha 50 anos, 10 dos quais como prefeito e não me comunicaram. É uma pena”, rea- político, do PT e dos seus principais alia- da importante cidade do ABC paulista, vi- giu Lula. Uma reação sutilmente inteligen- dos. Era um acerto de segundo ou terceiro zinha ao município que marcou a origem te: busca comprometer e tornar suspeito o escalão? É o que os defensores do governo política de Lula e do PT, reeleito para um autor da convocação, lançando sobre ele a argumentam. O delegado Josélio de Souza, terceiro mandato. suspeita de ter sido o responsável pelo va- porém, diz que, dentro da lógica desse es- Era um dos mais antigos e experientes zamento da informação e questionando o quema, “os indícios de participação devem dirigentes políticos petistas a alcançar o processo que o atinge, por ter possibilitado ser buscados não apenas no rastreamento poder executivo, deixando de ser apenas à imprensa saber do fato antes que ele fosse e identificação de vantagens pessoais por- um oposicionista parlamentar ou militante citado. A tática foi complementada pelo PT ventura obtidas pelo então presidente, mas social. Os documentos deixados por Celso ao destacar que o pedido do depoimento também nos atos de governo que possibili- Daniel, que era coordenador de campanha foi feito por um delegado individualmente taram que o esquema se instituísse e fosse nacional do PT, mostram que ele investia e não pela corporação. mantido”, já que, na sua avaliação, “não se justamente contra o desvio de recursos ob- A estratégia é vã. A ori- trata apenas de um caso de corrupção clás- tidos através de contatos junto a doadores gem do vazamento da sico”. É um esquema global de poder. potenciais de recursos para o partido. Ao informação pode ser sus- Ele assumiu um tamanho tal que o de- invés de irem parar no caixa partidário, va- peita e deve ser investi- legado informa ter começado em 2011 um zavam para bolsos particulares. Dirigentes gada. Mas esse incidente conflito interno no governo Dilma entre petistas começavam a se corromper. dois grupos do Partido Popular, um dos A cúpula desconhecia a formação desse de percurso não autori- mais ativos na base aliada do PT e dentro da fenômeno, de desnaturação das bandeiras za o ex-presidente a se Petrobrás, que disputavam a indicação para de luta do principal – e o mais ideológico – declarar vítima de uma a diretoria de abastecimento da estatal: “O dos partidos de oposição no Brasil? A tática trama (ou conspiração). objetivo seria concentrar o recebimento da de declarada alienação dos fatos subterrâ- No curso do procedimento, a partir da propina extraída de concorrentes”. neos e dos bastidores da vida pública, ado- chegada do ofício ao STF, a inconfidência No mesmo dia em que a revista Época tada por Lula com uma constância e deter- podia acontecer de modo natural sem atro- divulgava com exclusividade o pedido do minação impressionantes, não convence, a pelar a tramitação regular do pedido. depoimento de Lula, o jornal Nacional da não ser aos fanáticos ou aos que – por di- O relator do processo, ministro Teori TV Globo vazava trechos do depoimento versos motivos – se recusam a ver os fatos. Zavascki, submeterá a solicitação ao Pro- do chefe do cartel de 27 empresas que atua- O crescimento do volume de dinhei- curador Geral da República antes de deci- vam na Petrobrás. Ricardo Pessoa, dono da ro em circulação pelas engrenagens do dir se autoriza ou não a oitiva de Lula. Pode empreiteira UTC, disse que em 10 anos, a partido, cada vez mais próximo do poder ainda desqualificar o pedido e remetê-lo a partir de 2004, pagou – entre doações ofi- nacional, saltava aos olhos e transbordava uma instância inferior da justiça, já que, na ciais e entregas em dinheiro vivo – 20,5 do sigilo e da confidencialidade dos perso- condição de ex-presidente, Lula deixou de milhões de reais. Até 2008, apenas a repre- nagens em episódios patéticos, como o do ter foro privilegiado. sentantes dos partidos situacionistas e seus dinheiro escondido na cueca. O erro mo- Quanto ao delegado, ele exerceu sua intermediários. Só a partir daí, também a numental desses dirigentes partidários em competência quando enviou seu requeri- funcionários da Petrobrás. processo de corrupção foi achar que a ban- mento diretamente ao relator dos processos Segundo o relato do empreiteiro, João deira do PT os ocultaria sempre. derivados da Operação Lava-Jato, sem sub- Vaccari Neto, tesoureiro do PT, “já ia con- É a síndrome de Harry Potter, o per- metê-lo ao seu superior hierárquico. Como versar sobre os pagamentos com o conheci- sonagem da ficção que se tornava invisível presidente do inquérito, um dentre tantos mento completo da situação, tendo detalhes quando ficava debaixo da sua capa mági- que estão sendo realizados a partir das ações da obra, do valor e tendo conhecimento de ca. Essa ilusão fez os petistas corrompidos judiciais em torno da corrupção na Petro- que a UTC havia vencido o contrato”. Logo, perderem o senso do perigo. Julgaram-se brás, ele tem autonomia para agir assim. com informações e cobertura dadas a partir inatingíveis. Sempre podiam alegar que es- Independentemente dos desdobramen- do alto, acima dele. tavam defendendo a causa. tos da sua iniciativa, que trato neste mo- Quem estava nessa altura? É a resposta De escândalo em escândalo, de flagran- mento (sábado, 12), sem poder prevê-los que a partir de agora a continuação da in- te criminal em flagrante criminal, o braço até a edição deste jornal, há um aspecto vestigação irá buscar. Dependendo da sua institucional do Estado chega agora ao co- relevante no ofício do delegado, a ressaltar fundamentação, ela será o atestado de óbito larinho do seu principal líder, Luiz Inácio o ineditismo da corrupção na qual mergu- do PT como alternativa de verdadeira mu- Lula da Silva. É quase inverossímil a forma lhou o PT em relação aos extensos e nume- dança no Brasil. 4 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena fundamental para o processamento de O fim do extrativismo: determinados produtos alimentícios. Com a descoberta, vieram as em- presas interessadas em lucrar com o uma terra devastada recurso. Foi quando Nauru começou a se desenvolver numa velocidade fora de O livro que a jornalista americana Naomi Klein acaba de qualquer parâmetro razoável. As em- lançar pela prestigiosa editora Simon & Schuster (This Changes presas continuaram minerando fosfato Everything) serviu de mote para uma das melhores matérias de forma gananciosa durante 30 a 40 que li recentemente na grande imprensa, que Amelia Gonzalez anos. “Parecia mesmo que o objetivo escreveu e o portal de notícias G1, da Globo, publicou, sob o de Austrália e Nova Zelândia era tirar todo o composto da ilha até que ela se título “Crise do clima põe em xeque o modelo do extrativismo”. transformasse praticamente numa con- Nauru é uma ilha com apenas 21 quilômetros quadrados cha vazia”, escreve a jornalista. no Oceano Pacífico. Não pode ser comparada ao Brasil, “Não que os dois países tivessem um dos maiores países do mundo, com 8,5 milhões de km2, algum tipo de intenção genocida. Era nem à Amazônia, com dois terços desse território. Mas serve apenas o fato de que a morte de uma de alegoria fantasmagórica e assustadora para questões ilha, que poucos sabiam sequer que que se distinguem profundamente, mas sob o mesmo existia, parecia um sacrifício tolerável contexto: a exploração desenfreada e empobrecedora dos em nome do progresso representa- do pela agricultura industrial”, conta recursos naturais da região, em especial o minério e, em Klein. particular, a exaustão do minério de ferro de Carajás. Em 1968, os nauruenses decidiram A escala dessa exploração já é gigantesca, de 130 milhões de tomar conta de seu país, tornaram-se toneladas, mas vai quase dobrar a partir do próximo ano, quando independentes da Austrália e puseram entrar em operação a mina de Serra Sul, o ferro mais precioso uma grande soma da receita de suas da coroa de rochas mineralizadas dessa região do Pará, rica e minerações em um fundo, de empre- abandonada, atrasada e na vanguarda do colonialismo mundial. endimentos imobiliários, que os go- vernantes da época acreditavam ser As distorções e bizarrias de Nauru, a ilha da Micronésia, se estável. Não deu certo, e a riqueza da assustarem os leitores, talvez tenham o efeito pedagógico de mineração do país foi desperdiçada. fazê-los se interessar o que está a 550 quilômetros de Belém, Enquanto o governo tentava segurar mas parece estar a anos-luz da capital dos paraenses. As um pouco a riqueza das minerações, condições específicas de Nauru diferem totalmente, na escala e décadas de dinheiro fácil acabaram por na qualidade, das que prevalecem em Carajás. Mas, guardadas minar a consciência dos políticos, e a as diferenças, essa história, que já se aproxima de um final corrupção se alastrou. Ao mesmo tem- po, a população passou a beber mui- infeliz, serve de alerta ao que nos espera, se continuarmos a to e o alcoolismo foi, durante muito esperar as decisões que tomam por nós – e em nosso nome. tempo, a primeira causa de morte. A Compactei o texto de Amelia Gonzales para destacar os aspectos obesidade veio como resultado de uma do modelo extrativo que se aplicam aos dois mundos – e a todos nutrição baseada apenas em alimentos os mundos nos quais ele prevalece. Mas recomendo a leitura processados, já que grande parte do da íntegra do artigo, de rara densidade nos tempos atuais. território do país estava sendo absor- vido pela mineração, praticamente não havia terra para plantar. auru é a menor república do Nas décadas de 70 e 80, quando “Nos anos 90, Nauru estava tão de- mundo. É uma ilha que fica Nauru tornou-se independente da sesperado por moeda estrangeira que na Micronésia, banhada pelo Austrália, a ilha estava esbanjando ri- perseguiu alguns esquemas de enri- NOceano Pacífico, e tem cerca de dez queza. Era mais ou menos o que hoje quecimento fácil distintamente obs- mil habitantes espalhados em 21 qui- é Dubai para o mundo, e tinha o maior curos. Muito ajudado pela onda de lômetros quadrados. Os moradores Produto Interno Bruto entre todas as desregulamentação financeira, o país de Nauru ostentam hoje o primeiro lu- nações. Seus habitantes tinham aten- tornou-se um paraíso para lavagem de gar num ranking que não traz nenhum dimento médico gratuito, educação, e dinheiro”, escreve Klein. orgulho: são as pessoas mais gordas do não havia sem-tetos. Os lares tinham Tudo isso resultou que atualmente planeta. Há vários males que podem ar condicionado e o povo, muito fes- Nauru vive uma falência dupla: 90% de acontecer por causa da obesidade. E teiro, costumava dar presentes exóticos seu território foram degradados pela a população adulta de Nauru está so- e caros, muito caros, como almofadas mineração, o que é uma falência eco- frendo com um deles, a diabetes 2, do- cheias de dólares, para crianças. lógica; e tem uma dívida de pelo menos ença causada por excesso de alimen- Toda essa riqueza derivava de um 800 milhões de dólares, o que o leva a tos ricos em corantes, conservantes estranho fato geológico. Alguém des- uma falência financeira. e outros compostos necessários para cobriu naquele território pedras feitas No caminho para tentar se livrar, conservar comida. Os nauruenses co- de fosfato. Os compostos de fosfato ao menos, da falência financeira, o go- mem, basicamente, produtos importa- são constituintes naturais de quase to- verno de Nauru fez um acordo com a dos e processados dos os alimentos e sua importância é Austrália em 2000. O acordo envolvia

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 5 os refugiados, que já naquela época em remover sempre mais maté- vinham mostrando ao mundo que rias primas da terra, geralmente não se pode tratar seres humanos para exportar aos colonizadores, como se fossem lixo, sem conse- que vão “agregar valor”. Tornou- quências. Assim que essas pesso- se um hábito acreditar que mo- as desembarcavam na Austrália, delos econômicos baseados em elas eram levadas para Nauru e, lá, crescimento sem fim podem ser depositadas num campo que, em viáveis. Todos os governos, mes- 2013, foi considerado pela Anistia mo os não capitalistas, abraçam o Internacional como o mais cruel e modelo de empobrecimento ba- degradante jamais visto. seado na extração de recursos e é Com tudo o que aconteceu, os esta lógica que as mudanças cli- líderes da Ilha teriam direito de cul- máticas põem em questão”. par não só seus colonizadores, como Deve haver algumas outras his- os investidores e até os países ricos, tórias parecidas com a da ilha Nau- cujas emissões agora ameaçam a permitiu, a nós e a nossos ancestrais, ru. São casos que valem a pena pequena nação de desaparecer, já que o nos relacionarmos com tanta violên- serem explorados com mais profun- nível dos oceanos vai subir. Muitos fize- cia contra o planeta. Não só cavan- didade, porque ilustram muito bem a ram isso. Mas a maioria da liderança de do e minerando tudo o que achamos extensão dos desafios da crise climá- organizações do país decidiu que Nau- necessário como deixando para trás tica. São desafios que atingem não só ru seria uma espécie de alerta contra o todo o lixo desta produção. Esta falta o modelo capitalista, mas os discursos aquecimento global. de cuidado é o centro do modelo eco- que embasam o crescimento-a-qual- Escreve Klein: “A maior lição que nômico que alguns cientistas políticos quer-custo e o progresso, dentro dos Nauru tem para oferecer ao resto do chamam de “extrativismo”, termo usa- quais estamos todos, de uma maneira mundo é sobre a mentalidade que do para descrever economias baseadas ou de outra, ainda presos.

Os difíceis negócios paralelos do empresário da comunicação

A única marca que destaca o An- receio de represálias nos veículos de vendas depois de tanto tempo: um nú- gelina Maiorana, prédio de 19 andares comunicação que uma atitude dessas mero crescente de pessoas mostra-se localizado na travessa Pirajá, no bairro poderia provocar. Mas se aceitaram temerosa de fazer negócio com o maior da Pedreira, é que promoveu a maior passivamente serem lesados de tal empresário da comunicação social do campanha publicitária da história de forma, encontraram sua compensação norte do Brasil. um lançamento imobiliário no Pará, indiretamente: mesmo com uma cam- Romulo Júnior não se tornou famo- talvez no Brasil e, provavelmente, no panha de promoção recorde, Romulo so exatamente por ser um bom pagador. mundo. Muitas dezenas de páginas Júnior ainda não conseguiu comercia- Essa marca é complementada por seu foram usadas para anunciá-lo em dois lizar todas as unidades do seu primeiro arraigado hábito de impor permutas de jornais diários. Nenhum outro concor- empreendimento imobiliário. Muitos publicidade a quem negocia com ele, rente poderia acompanhar esse exem- anúncios depois, ainda restam dois como faz com anunciantes poderosos, plo. E quem o deu só pôde fazer essa apartamentos por vender – há meses. como a Unimed e a Celpa. Além disso, campanha sem igual porque não pagou Se o sucesso não foi pro- usa seus jornais para atacar quem o de- um centímetro de espaço publicitário. porcional ao investimen- sagrada ou contraria, mesmo que seja à Romulo Maiorana Júnior, o dono to, já existem comprado- custa de ofender os fatos, ou de logo se da incorporadora (a Roma) responsável res passando em frente contradizer, se vier a ser atendido e se pelo edifício residencial, é também um seus imóveis antes da sentir satisfeito. dos proprietários do grupo de comunica- inauguração do prédio. É É o que explica o sucesso ainda mais ção que tem sua maior força na afiliação o caso de Márcio Holan- opaco com o segundo e maior empre- de sua emissora de televisão, a Liberal, da, que desde 27 de julho endimento imobiliário, quase na orla da à Rede Globo. Não se sabe como essa tenta transferir seu “be- cidade, no valorizado bairro do Uma- enxurrada de anúncios foi contabilizada líssimo” apartamento. rizal. As lajes do edifício sobem lenta- nos livros de escrituração dos jornais O O valor da transferência, que era de mente, mas nem assim as adesões se- Liberal e Amazônia, mas ambos não re- 128 mil reais, baixou, em menos de guem esse ritmo. Parece que, mais uma ceberam um tostão do anunciante. Como dois meses, para R$ 125 mil, ainda sem vez, pode se apresentar no horizonte de a Roma é apenas de Romulo Júnior, os encontrar comprador. Talvez influa so- Romulo Jr. o estigma de que o negó- quatro dos seus seis irmãos que ainda bre essa falta de ânimo, além da crise cio que para ele dá certo é o que o pai, possuem ações da empresa (dois já co- imobiliária, o fato de que os 87 metros fundador do império de comunicação, mercializaram suas cotas com o próprio quadrados de área útil do imóvel, com transferiu para ele e os demais filhos. Júnior) não tiraram nenhum proveito três quartos (um deles suíte) dão direito Ao invés de cuidar bem dessa galinha desse favorecimento individual. a apenas uma vaga de garagem. dos ovos de ouro, o principal herdeiro Nenhum dos integrantes do merca- Mas também há um fator para ex- a sujeita ao risco de negócios paralelos do imobiliário reagiu a essa evidente plicar o contraste entre a abundância sem a dimensão do empreendimento concorrência desleal, certamente por promocional e o efeito discreto das original de Romulo Maiorana.

6 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena JORNALISMO DE MEIO SÉCULO O maior bandeirante da Amazônia Finalizo o ABC de Pedro Teixeira, iniciado na edição passada. É texto de uma edição especial de A Província do Pará de 1966, dos 350 anos de Belém e da inauguração da estátua do bandeirante português.

amília – Pedro Teixeira era ca- Padre Andrés de Artieda, em cuja via- sofreu uma derrota, mas de nada se Fsado com Ana da Cunha. Tinha gem cumpriram ambos, no tocante ao vangloriava. Era enérgico, embora dois irmãos. Em deles se tornou reli- serviço de Sua Majestade”. O original simples e de bom coração. gioso no Pará e o outro permaneceu em foi escrito em espanhol. Acuna fez um Olvido – Morto há 325 anos [com- Portugal. precioso relato sobre a viagem. pletados em 1966], permaneceu no es- Guerra – Na jornada de Francisco Líder – Pedro Teixeira possuía quecimento, tanto de brasileiros como Caldeira Castelo Branco para a con- qualidades inatas de grande líder, além de portugueses por muito tempo. Não quista do Grão-Pará, Pedro Teixeira de vastos atributos morais. Seu domí- houve, durante todo esse período, qual- aparece entre os oficiais menores, com nio sobre as massas era enorme. Um quer graça ou comenda digna dos seus o posto de alferes. Combatendo os in- grande exemplo dessa liderança pes- grandes feitos na América. Em Belém, vasores “hereges”, se sobressai contra soal é a própria viagem expedicionária a igreja das Mercês lembrava o herói, os ingleses, tomando-lhes o forte de a Quito. Nela tomaram parte mais de levantada que foi em homenagem aos Torrego. Teve o mesmo sucesso contra mil pessoas, viajando em grandes ca- expedicionários de Quito, que trouxe- os redutos do Xingu, em Mandiutu- noas, durante 24 meses, tempo dispen- ram consigo padres mercedários cons- ba e no Cajari. Em todas as suas ex- dido na ida e na volta. Durante todo trutores de templos. plorações, trouxe troféus das vitórias. esse tempo, Pedro Teixeira comandou Pará-Maranhão – Foi Pedro Tei- Também a ele foi atribuída a primeira os expedicionários, não permitindo xeira quem organizou o primeiro ro- batalha naval em águas do Amazonas. que, mesmo diante das condições ad- teiro ou traçado de uma estrada entre Investiu contra o invasor e o dominou, versas da viagem (falta de alimentos, Belém e São Luiz do Maranhão. To- trazendo para o forte português os ca- embarcações rústicas, demora na via- mou essa iniciativa por ordem de Bento nhões e suas munições. Assim fortale- gem e sem o prenúncio da chegada ao Maciel Parente, que temia sua concor- ceu a defesa da povoação do Mairi. destino), os viajantes se amotinassem, rência quando o ilustre militar perma- Honrarias – Em 1640, Felipe IV, como chegaram a pretender. Enfren- neceu na sede da colônia. da Espanha, como prêmio pela sua tando todos os problemas da dura ex- Quito – Quando da chegada de Pe- bandeira a Quito, concedeu-lhe o títu- pedição e as reclamações da tripula- dro Teixeira e sua expedição à cidade lo de marquês de Aquilla Blanca. Mas ção, e chegando a Quito sem qualquer de Quito, todos foram alvo de signifi- não chegou a usá-lo porque a revolu- motim, ele demonstrou sua condição cativa homenagem por parte do povo ção portuguesa livrou a sua pátria da de formidável comandante. castelhano, que nele reconheceram o submissão a Castela. Sendo um patrio- Missionários – O retorno de Pe- conquistador do grande rio, sob o rei- ta português, jamais aceitaria tal dis- dro Teixeira de Quito, em fevereiro de no de Castela, embora a caravana fos- tinção dos opressores de Portugal, em 1639, trouxe para Belém o mercedário se portuguesa e sediada no Estado do nome do qual anexara a Amazônia. Pedro de La Rua Cirne e João da Mercê, Maranhão. O novo capitão foi levado Índios – Outra distinção importante que se fixaram na cidade e ergueram a ao templo mais importante da cidade recebeu Pedro Teixeira no mesmo ano. sua primeira capela, em 1640, de onde e aí o fizeram sentar numa poltrona de Esta representava, na época, uma ver- se originou, posteriormente, a igreja veludo carmesim, recebendo na soleni- dadeira fortuna: foram-lhe dados 300 das Mercês. É interessante notar que os dade a patente de descobridor da Ama- casais de índios de administração, que próprios soldados de Teixeira tomaram zõnia, sob a égide dos Filipes. lhe pertenceriam por mais três vidas, a iniciativa de pedir ao seu comandan- Relato – Cristovam de Acuna, isto é, até os seus bisnetos. Pedro Tei- te que interviesse junto aos superiores jesuíta, diretor do colégio de Cuen- xeira recusou a doação, que represen- das Mercês, em Quito, para permitirem cas, por ordem do vice-reinado do tava a escravização desses 300 casais. a vinda de missionários dessa Ordem, a Peru, acompanhou Pedro Teixeira na Jesuítas – Para comprovar sua es- fim de instalar em Belém um convento sua viagem de retorno ao Grão-Pa- tada na expedição, o padre Cristoval dos filhos de São Pedro Nolasco. rá, juntamente com o colega Andrés de Acuna pediu e obteve de Pedro Nascimento – Não há notícias a de Artiega. Também da Companhia Teixeira uma certidão que, passada respeito do desbravador entre a data de Jesus. Ao primeiro se deve o re- em Belém, em 3 de março de 1640, do seu nascimento e a sua chega- lato Nuevo descobrimiento del gran afirmava ser verdade que “por ordem da ao Maranhão. Sabe-se que nas- rio de lãs Amazonas, publicado em de Sua Majestade, e por particular ceu em Cantanhede, vila próxima a Madrid, em 1641. No livro, descre- provisão despachada pela Real Audi- Coimbra, em Portugal. Já aparece no ve em detalhes a longa travessia de ência de Quito, veio em minha com- Brasil compondo a expedição “mila- Quito a Belém. Acuna, logo depois panhia desde a dita cidade, até o Pará, grosa” de Jerônimo de Albuquerque, da sua chegada, em 12 de dezembro o Reverendo Padre Cristoval de Acu- no posto de alferes. Desde a batalha de 1639, seguiu para a Espanha, a fim na, Religioso da Companhia de Jesus, de Guaxenduba até o seu regresso da de dar conhecimento à coroa das suas com seu companheiro o Reverendo conquista do rio Amazonas, jamais observações sobre o rio-mar.

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 7 Sepultamento – Nascido em 1570, dirigida pelo próprio Xenofobia (1) – A Pedro Teixeira faleceu em Belém, em Teixeira. Manten- viagem de Pedro Tei- 4 de junho de 1641. Foi sepultado sob do sempre uma boa xeira a Quito demorou- a capela-mor da antiga igreja de Nossa distância, o grupo se ainda mais porque, Senhora da Graça. A pedra que marcava da frente chegou pri- além da grande dis- o seu túmulo, segundo alguns biógrafos, meiro ao rio Napo, tância a percorrer e da serviu de marco fundamental à atual ca- no Peru. reduzida ou às vezes tedral metropolitana. Sobre a existência Violência – Na nula a velocidade das dessa pedra – única coisa que teria resta- região dos índios grandes canoas, o na- do da demolição pouco se pode afirmar, “encabelados”, tri- vegador penetrava em por inexistir qualquer documento que a bo que dizimara a qualquer afluente, Para- descreva ou prove a sua existência. caravana espanho- ná ou furo do rio Ama- Troféus – Dois canhões e uma ca- la de Juan de Palá- zonas para balizar todas ravela holandesa, afundada por Pedro cios, Pedro Teixeira as zonas marginais. Teixeira durante uma batalha naval em deixou, garantindo Xenofobia (2) – que os seus inimigos foram completa- o avanço, um gru- Pedro Teixeira sobre- mente derrotados, ainda subsistem: es- po militar sob o co- pujou os bandeirantes tão (ou devem estar) no Museu Impe- mando de Pedro da paulistas, tão decan- rial do . Esses canhões, Costa Favela e Pe- tados pela história. de alto poderio para a época, foram dro Baião de Abreu. Além de suas viagens recolhidos das águas por Teixeira, le- Ao regressar, soube do morticínio terem um fundo essencialmente terri- vados para o forte do Castelo e depois cometido pelos índios. Mandou re- torialista, isto é, a conquista de novas enviados para o Rio. construir as embarcações, inutiliza- terras, pela expansão das fronteiras, Última – A fim de evitar motins das nos combates, e avançou contra ele também não buscava escravizar ou pelos integrantes da expedição, Pedro essa tribo, quase a dizimando, com matar o habitante nativo, como fariam Teixeira dividiu a caravana em duas: violência e barbárie. Alguns cronis- os paulistas, que provocavam no índio à frente uma parte, comandada por tas afirmam que essa atitude foi uma o sentimento de xenofobia, de aversão Bento Oliveira, seguida por outra, nódoa na biografia do navegador, completa ao colonizador. Jornal Pessoal: 28 anos

O Jornal Pessoal completa 28 anos mais nos fazem assistir e participar de criei para abrigar a cabanagem, a mine- nesta edição, sua 592ª (sem contar as um espetáculo que não nos agrada. radora Vale e uma enciclopédia amazô- edições extras) quase igual ao do pri- Pior do que não agradar é não cor- nica, além do site deste JP, no momen- meiro número: sem publicidade, sem responder ao que foi e continua a ser a to inerte) completou um ano. Só agora fotografias (exceto as da memória do co- nossa razão de existir como elemento da começa a se constituir num fórum de tidiano), sem cor, sem mulher nua, sem sociedade. O jornalismo, como eu o pra- debates travados com respeito, serie- coluna social, sem recursos gráficos es- tico – e comigo, alguns companheiros de dade, argumentos e informações, nos peciais, apenas com ilustrações do Luiz viagem – está em extinção. Estamos no quais o anonimato é rara exceção. Pinto. tiragem de dois mil exemplares, alvo dos caçadores de críticos, daqueles Para manter o periscópio acima da 16 páginas (quatro a mais, acrescentadas críticos que só falam sobre os temas que linha d’água, pedi que o leitor do blog o para justificar certa elevação do preço de dominam – se não em profundidade, mantivesse com doações, por mínimas capa, cujo valor a inflação de dona Dil- o suficientemente bem fundamentado que fossem. No mais fecundo dos me- ma, como bicho do mato feroz, engoliu) para suportar um entrevero, quando di- ses, o de agosto, a soma das contribui- e no olho do furacão. Tão ameaçado álogo não há. Devem desaparecer para ções ficou em 800 reais. É esse o valor quanto a grande imprensa pelas novas não engolir os embromadores, os enga- que os leitores consideram suficiente mídias sociais, a nova cultura, os novos nadores, os fraudadores, qualquer que para viabilizar o espaço? (e lamentáveis) tempos. seja o tamanho do seu poder e da sua Além de não cumprir essa função, O preço do papel voltou a subir, as recusa a serem contrariados. ele avilta ainda mais o efeito negativo pessoas estão menos dispostas a ler Num mundo informático e perfor- da informação séria porém gratuita na textos impressos em papel, a se deslo- mático, por paradoxal que pareça, é internet: reduziu sensivelmente as ven- car até as bancas para comprar o exem- cada vez mais fácil vender ilusões e fan- das deste jornal. Sem a receita do leitor, plar da sua leitura, a pagar – mais do tasias, anestesiar consciências, forçar o JP chegará ao fim. Com três edições que pela informação – pelo direito de covardias, atemorizar e calar. Os exem- no vermelho, ele se aproxima desse não serem embromadas, manipuladas, plos se multiplicam à observação diá- desfecho. Assim como a imprensa con- desrespeitadas – a pagar por uma fonte ria. Por constatá-los, vi que o intervalo vencional e tradicional, este veículo al- confiável de informações. A lei do me- quinzenal deste jornal constitui vácuo ternativo dará seu último suspiro, pedi- nor esforço, a praga do jeitinho, a cultu- demasiadamente extenso. O cotidiano rá passagem, e irá à cata do seu lugar no ra do narcisismo e da superficialidade, se tornou uma guerra não declarada. É campo santo da história. a antiética do “farinha pouca, meu pi- preciso montar trincheira no dia a dia, Até que isso aconteça, resta o con- rão primeiro”, a leniência e conivência oferecendo alternativa ao cidadão. solo de chegar aos 28 anos com o seu com a corrupção – tudo isso e muito Meu blog de notícias (à parte os que produto mais nobre: a dignidade.

8 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena A cobertura da imprensa na Amazônia: ainda exótica

Estive em São Paulo para participar de uma de 13 de dezembro desse ano. Nunca procurei discussão sobre a reportagem. Ao invés de interferir na linha editorial, mesmo quando relatar eu mesmo como foi o acontecimento, ocupei temporariamente o cargo de secretário do prefiro reproduzir a matéria escrita por jornal, e mesmo sabendo que os inimigos do meu correspondentes universitários da revista pai estavam por trás de algumas dessas notícias. eletrônica Comunique-se, publicada no Reconheci serem procedentes certas críticas à dia 4. Fiz algumas ligeiras correções administração de Elias Pinto, que proporcionou e mais esta, que é mais relevante. ao MDB, a oposição ao ainda iniciante governo No debate, ao ser indagado sobre o assunto, militar, a sua maior vitória eleitoral no Pará. disse que trabalhava num jornal, A Província do Mas ressaltei que não foi por elas que ele foi Pará, que fazia oposição ao meu pai, Elias Pinto, afastado do cargo, impedido de a ele retornar e quando prefeito de Santarém, e a crise política cassado, mas sim pela façanha de ter impedido em que esteve envolvido, entre 1967 e 1968, o o então governador Alacid Nunes de vencer último grande episódio político antes do AI-5, no segundo maior município do Estado.

ornalistas participaram na quar- Além de Eliane Brum como media- dizendo que eu havia me envolvido em ta-feira, 2, da segunda edição da dora, a roda de conversa contou com uma briga. Eu não tinha brigado com Jsérie “Repórter”, realizada no Itaú as presenças de Leonencio Nossa (re- ninguém, fui agredido”, desabafou. Cultural, na Av. Paulista, região cen- pórter do Estadão em Brasília), Paulina “Não sou herói, mas também não sou tral de São Paulo. Organizada pela Chamorro (apresentadora da Rádio Es- covarde”, completou. jornalista e escritora Eliane Brum, o tadão) e Claudiney Ferreira (jornalista Ainda sobre os desafetos do colega, evento tem como objetivo homenage- e gerente do Núcleo de Audiovisual e Eliane Brum fez questão de lembrar a ar e registrar a memória de repórte- Literatura do Itaú Cultural). “vaquinha” feita para o comunicador res do país, no formato de entrevistas Para se ter ideia do espírito comba- arrecadar dinheiro para um proces- abertas, que contam com a participa- tivo de Lúcio Flávio, os jornalistas par- so. “Uma empreiteira me processou ção e interação de profissionais da co- ticipantes da entrevista lembraram que no valor de R$ 28 mil. Não me restou munciação e do público. o repórter, no início de sua carreira, fa- escolha. Tive que fazer uma vaquinha O grande homenageado da edição zia oposição ao seu próprio pai (Elias pela internet e arrecadar essa quantia foi José Hamilton Ribeiro, conside- Ribeiro Pinto, prefeito de Santarém), para colaborar ainda mais com o en- rado o “Repórter do Século”, por ter no jornal A Província do Pará. Em re- riquecimento da família da emprei- vivido coberturas históricas, como a lação à história, ele contou que, “apesar teira”, salientou. da Guerra do Vietnã (quando perdeu de ter sido um bom prefeito”, as críticas Mesmo tendo convivido com os uma perna, depois que pisou em uma foram “merecidas”. horrores da ditadura militar, Lúcio Flá- mina), e ter mais de 60 anos de repor- Por causa de suas matérias ácidas e vio questiona o período democrático tagem. O evento, porém, foi aberto engajadas, denunciando nomes fortes atual e vê a mesma dificuldade de atuar com uma entrevista com outro jorna- da elite amazônica, Lúcio Flávio cole- como jornalista. “De todos os proces- lista: Lúcio Flávio Pinto. ciona desafetos. Ele já respondeu a 33 sos que tive, apenas um foi na época da Nascido em Santarém, no oeste do processos na Justiça, o mais conhecido ditadura militar. Os demais foram to- Pará, Lúcio Flávio, 65 anos, passou foi o caso envolvendo Ronaldo Maio- dos na época da democracia”. pelos jornais Correio da Manhã (Rio rana, diretor da Comissão de Defesa Eliane também recordou o choro de Janeiro), O Estado de São Paulo, O à Liberdade de Imprensa pela Ordem compulsivo do jornalista ao se de- Liberal (Pará) e A Província do Pará. dos Advogados do Brasil (OAB) do parar com uma barragem constru- Formado em Sociologia, abriu o en- Pará. Após ser citado no texto intitu- ída no Rio Tocantins, no Pará, que contro revelando que optou pelo curso lado “O rei da Quitanda”, Maiorana se tornou a Usina Hidroelétrica de porque “já trabalhava há muito tempo agrediu o jornalista [o citado foi o ir- Tucuruí, e comparou a situação às com jornalismo”. mão, Romulo Maiorana Júnior]. “- agressões ambientais que estão sen- Hoje, o repórter segue com seu Jor- dita que ainda fui processado por ter do feitas para a implementação da nal Pessoal, publicação criada e dirigi- dito que fui espancado?”, indagou o Usina de Belo Monte. Emocionado, da por ele há 28 anos, na qual faz aná- repórter, em tom irônico. ele enfatizou. “Chorei e ainda choro, lises profundas do contexto político e O jornalista guarda mágoa pela for- pois estou vendo o homem inter- social da Amazônia. É um trabalho in- ma como o fato foi noticiado na mídia. rompendo a natureza”. dependente e de muita coragem e per- “A agressão foi horrível, mas o pior foi o Sobre o Jornal Pessoal, Lúcio Flá- severança, já que o repórter não conta dia seguinte. O jornal no qual trabalhei vio afirmou que já pensou em “matar com anunciantes e se dedica a apontar por mais de 18 anos [Estadão], saben- o jornal” diversas vezes, mas “sempre as mazelas da região. do do ocorrido, escreveu um notinha que vinha com essa ideia, acontecia

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 9 algo para noticiar e a edição vendia jamais contrariar os fatos”. Ele também tes de tudo um forte”. Por ser um jor- muito bem, então, por ora, desistia”. lamentou a covardia de boa parte dos nalista que optou pelo trabalho inde- Ele ressaltou que a cobertura que a repórteres. “Nada me deixa mais triste pendente, e ainda como ele relata um imprensa paulista faz da Amazônia é do que jornalista que não publica uma trabalho de “campo, de linha de frente”. muito deficiente. “A imprensa paulista matéria para não se comprometer”. Por ser uma “testemunha dos fatos e po- ainda faz uma cobertura exótica da re- No final da entrevista, foi categórico der dizer o que viu e denunciar as maze- gião, que em nada colabora com a po- ao responder à pergunta do jornalista las”. Só nós os jornalistas que denuncia- pulação local. Isso porque para cobrir a Leonecio Nossa sobre os motivos de ele mos as práticas irregulares daqueles que Amazônia não dá para ser a distância e continuar trabalhando como repórter, se acham senhores do lugar, sabemos nem ir lá uma ou duas vezes. É preciso ao contrário de muitos colegas da mes- como é o modus operandi: enfrentamos realmente conhecer a região”. Ele com- ma época, que hoje atuam em áreas ad- a intimidação, a ameaça, e os processos plementou dizendo que o problema do ministrativas e políticas. “Sou da linha forjados, que buscam a criminaliza- jornalismo hoje está no fato de existi- de frente, porque o jornalista é o úni- ção do profissional como retaliação. rem poucos repórteres que vão a campo. co que pode dizer que viu, então que- Profissional esse cuja atividade é infor- “Esta faltando vivência no jornalismo, ro continuar sendo testemunha ocular mar o que é de interesse público. estar próximo de onde os acontecimen- dos acontecimentos”. E realmente é de se lamentar a co- tos emergem. O repórter de retaguarda, *Por Kaique Dalapola, Katia Barre- vardia. E condenar a dissimulação de de computador, não faz tanta falta como to, Gigi Pavanello e Vinícius Vieira. Es- certos(as) Jornalistas. Que fizeram par- o que fica na linha de frente”. tudantes da Faculdade do Povo de São te de um projeto (eco) ambiental na Lúcio Flávio Pinto apontou outros Paulo (Fap-SP) e integrantes do projeto TV, e se descobre que não estão nem aí grandes pecados cometidos pelos no- ‘Correspondente Universitário’ do Portal para a questão do meio ambiente. vos jornalistas, dentre eles, a falta de Comunique-se. Mas para os que não fogem à luta, é objetividade. “Sem objetividade não Comentário de Paulo Sérgio bom saber que existem colegas na linha tem jornalismo. Tenho obsessão em Aguiar – Pelo visto Lúcio Flávio “é an- de frente.

Joel Rufino dos Santos

Em 1961, com 19 anos, Joel Rufino Joel já era clandestino quando lojinha da fábrica de Ovomaltine na dos Santos, filho de pernambucanos nossos caminhos – e de muitos outros via Dutra para o café da manhã e de nascido no subúrbio de Cascadura, no – se cruzaram em São Paulo. Formá- entrada na Cidade Maravilhosa, onde Rio de Janeiro, foi estudar história com vamos legiões de cidadãos que tran- ele me apresentou ao seu grande mes- Nelson Werneck Sodré. Mesmo sendo sitavam pelo mundo cultural, intelec- tre, no apartamento/academia em que general do Exército e de uma tradicio- tual e profissional com um pé fora da Sodré morava, em Botafogo. Ríamos nal família carioca, Sodré era comu- margem sancionada e um olho na re- e brincávamos, além de aprender. nista, Sob o amparo da democracia de pressão, enquanto o restante do corpo Quando Joel foi preso, em 1972, eu Juscelino Kubitscheck de Oliveira, di- convivia com a ilegalidade persegui- estava em mais uma temporada bele- rigia o ISEB, um órgão oficial de pes- da e a vida normal. Moramos algum nense. A partir daí tive notícias dele quisa histórica. Dois tempo sob o mesmo por via oblíqua. Sabia-o subindo em anos depois, Joel as- teto, numa república cargos institucionais, comandando sinou com o mestre paraense avançada projetos culturais e escrevendo, escre- e outros discípulos a sobre o reduto pau- vendo muito: foram 50 livros, muitos História Nova, ou o listano. Apesar do deles de saboroso gosto infanto-juve- início de uma nova perigo sempre à es- nil, que filtravam o lado educacional abordagem da histó- preita, tentávamos e paternal do historiador, dando-lhe ria brasileira, ainda ignorá-lo. prêmios por sua qualidade literária e em dois dos quatro Eu, por exemplo, acento humano. volumes prometidos. sabia da condição Joel Rufino dos Santos morreu de Os restantes nun- de Joel, mas não da complicações cardíacas no dia 4, no ca saíram. Nelson sua ligação à ALN de Rio, aos 74 anos. Soube da notícia Werneck Sodré foi Marighela. Não sabia em São Paulo, no cenário da nossa preso e processado porque não me inte- intensa e inesquecível convivência, pelos autores do gol- ressava saber, o que mais as de Palmério Dória e Aurélio pe militar de 1964. podia me custar caro Delgado, os outros membros da nos- O ISEB foi extinto e seus alunos e pes- se o acaso me colocasse ao alcance da sa república papachibé. O abalo cau- quisadores seguiram uma diáspora. turma do delegado Sérgio Paranhos sado pela triste revelação não che- Também esquerdista, Joel trocou de Fleury. Meu álibi seria suficiente? gou a me fazer chorar, mas fiquei um nome para fugir da polícia. Adotou o Talvez não. Mas até o teste, o melhor pouco mais velho pela perda de mais de Pedro Ivo, personagem da história que se podia fazer era participar das um amigo querido, ainda que distan- que, desde então, ele se empenhou em peladas na praia, em Santos, ou no te há tempos. Joel foi especial. Essa ajustar aos seus principais protagonis- campo do IPT, na USP. condição o manterá na memória dos tas, questionando a versão sancionada Ou fazer as constantes viagens en- que tiveram a honra e o prazer de tê pelas elites escrevinhadoras. tre São Paulo e o Rio, parando numa -lo por companheiro.

10 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena Fernando Coutinho Jorge e o início do planejamento

Resolvi transformar em zendo parte de um grupo preliminar já estavam mudando um pouco, mas artigo a carta que Rose, a para pensar na futura implantação do também foi muito importante a ajuda esposa de Fernando Coutinho planejamento no Para. Entres outros, do General Moraes Rego no governo fazia parte desse grupo o grande eco- do Coronel Alacid para a consolidação Jorge, enviou ao jornal a nomista Marcelino Monteiro da Cos- da implantação do planejamento, como prpopósito de artigo sobre ta, nosso grande amigo e padrinho de vinha se processando no Para, que, in- ele publicado na edição casamento, que era dado como certo clusive, exportou o modelo para vários passada. Há informações como o futuro Secretário. Estados do Brasil. Podes imaginar a nossa surpresa Quando Fernando se afastou para inéditas em seu testemunho, quando Fernando foi chamado pelo Dr. concorrer a uma cadeira de Deputado que precisam ser registradas e Aloysio para assumis a pasta! Ele era Federal, ficou em seu lugar o seu subse- destacadas para uma melhor o mais novo da equipe, inclusive tinha cretário, Roberto Ferreira, que fazia parte reconstituição da história dado algum trabalho ao Prof. Aloysio do grupo original, que ele trouxe de seus como Reitor e ele como Presidente do melhores alunos da UFPA e do NAEA. O do planejamento no Pará. Diretório de Economia! Estava longe Jatene foi, nessa segunda administra- de passar pela nos- m nome de Fernando e no meu e sas cabeças tais ins- de meus filhos, quero agradecer-te pirações! E o pior pelo artigo que publicaste recente- era que, como era Emente sobre Fernando e sua postura de dada como certa a vida. Realmente me emocionou muito.... indicação de Marce- por tuas palavras e pelas recordações de lino, já havia come- um tempo tão feliz de nossas vidas.Tomei morações e brindes a liberdade de publicá-lo nas páginas do pelo fato. Ao ser meu Face, pois muito pouco esta atual convidado e aceito, geração tem conhecimento da história do foi feita uma única nosso passado recente.Tomo a liberdade exigência: não podia de esclarecer alguns pontos que venham vazar a informação te auxiliar nos teus registros. de forma alguma. É verdade que foi a coragem e a visão Pensa numa sinuca do Professor Aloysio Chaves que conse- de bico! Continua- guiu em seu governo implantar o Siste- ram as reuniões do ma Estadual de Planejamento no Pará, grupo e Marcelino se responsabilizando pessoalmente por como o futuro qua- um jovem de 32 anos perante o Governo se certo Secretário e Federal e os órgãos de informações, nos o Fernando, que, a quais este jovem não tinha uma ficha meu ver ficou como aceitável, e que já haviam barrado an- um João sem Braço... teriormente, quando Fernando passou O que resultou na primeira colocação nacional de um desse imbróglio? concurso no Basa não o deixaram assu- Marcelino ficou abor- mir. Mas com o empenho e determina- recido com Fernan- ção do Governador Dr Aloysio, ele foi do, que na opinião empossado primeiro como presidente dele o tinha traído. do Idesp, para aí formar a equipe que se- Se o Fernando nunca ria a semente da futura Seplan. me traiu, o que é mais A indicação de Fernando para essa comum no mundo missão foi do nosso querido Armando masculino, ia trair um amigo? Essa é uma ção do Fernando, o Coordenador das Po- Mendes, que ao ser convidado para tal história que com certeza não conhecias. líticas Municipais, Com a eleição de Jader empreitada se achou impossibilitado Mas o intuito maior dessa mensa- para Governador, Jatene foi colocado no por já ter assumido o compromisso gem, além de agradecer-te, é de evi- lugar do Roberto e este foi para a Sefa, o com o então Ministro da Educação, tar praticares uma injustiça com o Fred Monteiro para administração. Acre- Ney Braga, para ser seu Secretário Coronel Alacid. O processo de implan- dito que dai em diante estejas mais a par Geral. Para nossa grande surpresa, o tação do Sistema de Planejamento,con- do que veio acontecendo no Planejamen- nome que ele indicou para substituí-lo tinuou com o mesmo ritmo e às vezes to do Pará do que possa acrescentar. foi o de Fernando, que já estava fa- com maior liberdade, porque os tempos Rose Jorge

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 11 IMPORTADORA

Quando o último ano de duração da Se- gunda Guerra Mundial começava, em 1945, a Importadora de Ferragens era uma das maio- memória res firmas do Pará e das mais expressivas do Brasil no seu setor, que ia de ferragens em ge- do Cotidiano ral a automóveis e caminhões. Representava 29 grandes firmas, quase todas americanas, da General Motors à General Eletric, incluindo a Caterpilar e a Fairchild, de aviação. Tinha seis CONTRABANDO lojas espalhadas por Belém: os armazéns Ânco- ra, Cosmopolita, A Doméstica, Pêgo, Mascote e Em 1962 o contrabando estava no auge, sendo o responsável pelo des- Bragantina. taque nacional (e até internacional) de Belém. Lojas vendiam produtos im- Uma potência realmente. Como nunca mais portados ilegalmente e pelas ruas da cidade circulavam carros estrangeiros. houve igual. Apesar da origem, essas mercadorias eram legalizadas por um processo engenhoso: depois de apreendidas, eram levadas a leilão e arrematadas, COSTURA inclusive pelos autores do contrabando, que, em alguns casos, eram tam- bém as pessoas que denunciavam aos fiscais da alfândega a chegada dos Ficava na avenida Ceará, na Terra Firme, a produtos ilicitamente introduzidos no país. Quando eram carros, os bens Escola de Cortes Geométricos Santa Rita, diri- mais valorizados, tiravam uma peça essencial do veículo, de modo que só gida pela professora Joana Martins Rodrigues. esses contrabandistas podiam se interessar pela mercadoria. Em 1953 ela formou 11 novas professoras nessa Os leilões eram realizados na sede da Alfândega, com a presença das atividade, todas posando em seu traje de gala autoridades e dos interessados, vários dos quais vinham de outros Esta- para a meia página publicada pela Folha do dos, atraídos pela perspectiva de um excelente negócio, para concorrer Norte, depois de serem aprovadas pela exami- com os pretendentes locais (em geral, os vencedores ou intermediários nadora Teresa Cândida daSilva. Costurar era nas transações). coisa séria. Num dos leilões de 1962, um dos mais fracos, W. M. Costa arrematou 1.080 garrafas do muito apreciado (e forte) uísque Cavalo Branco (White ENGENHEIROS Horse). A. Severino (que tinha loja no térreo do edifício Palácio do Rádio) ficou com 205 garrafas de White Horge, McLeans, Grant’s e Queen Anne. A turma de engenheiros civis formada pela Foram leiloados ainda pares de sandália japonesa, aparelho de rádio Escola de Engenharia do Pará em 1954 tinha e 2,5 mil bicos para canetas esferográficas, sugestivamente arrematados 30 alunos, dos quais apenas uma mulher, Célia pela firma Canetas Bic. Cunha e Silva. Ela chegou a exercer a profis- são? O orador foi Renato Christo Mendes Leite. CAIXINHA Dentre os diplomados estavam Ocyr Proença, Guilherme Athayde, Isaac Barcessat, Evandro Em 1962 todas as balanças do mercado de peixes do Ver-o-Peso eram Bonna, Flávio do Espírito Santo, Paulo Borges fraudadas, os pesos eram irregulares e dificilmente os peixeiros obede- Leal e Ramiro Nobre e Silva. Foram homenage- ciam aos preços tabelados. Um grupo de ocupantes de boxes no mercado ados os professores Lima Paes (estabilidade das fez a denúncia porque, decidindo suspender o pagamento de propina aos construções), Lourival (higiene geral e fiscais, estavam sendo perseguidos por eles e pela polícia, que lhes dava saneamento), Angenor Pena de Carvalho (por- cobertura. “Rigoroso inquérito” foi instaurado, mas teve o fim de sempre: tos de mar, rios e canais) e Raul Pereira (astro- nada apurou. nomia de campo-geodésia). E hoje?

PROPAGANDA A era do laquê

Em 1962 dançava-se agarradinho. O cavaleiro, mais alto, encostava o nariz no volumoso cabelo da parceira. Volumoso porque ela usava laquê. E essa “névoa mágica”, mesmo quando fabricada pela nossa querida Phebo (de então), fedia e grudava, apesar da promessa do fabricante de que o cabelo da cliente ficaria “deliciosamente perfu- mado com o suave odor da Seiva de Alfazema”. Devia ser assim apenas no moderno vaporizador que ia para o Abí- lio Couceiro mirar e se nele se inspirar para criar a peça na sua saudosa Mercúrio Publicidade. No tutano, era preciso amor para encarar a amada na casa de caba do laquê.

12 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena FOTOGRAFIA Subúrbio belenense PROFETA COMÉRCIO Assim ainda eram os Em sua coluna Periscópio, pu- Prossigo na identificação dos imóveis de Belém subúrbios de Belém ape- blicada em A Província do Pará, há 50 anos, em 1965, no elo da principal via do co- nas 40 anos atrás. Em Carlos Rocque deu destaque a mércio da cidade nessa época. Depois da rua Santo 1974, a Cosanpa implan- algumas das “profecias”que o jor- Antonio, é a vez da Conselheiro João Alfredo, que tava nova rede de distri- nalista e deputado estadual Hélio começa na avenida Portugal (onde o seu estado atual buição de água na Ma- Gueiros, baseado na sua “grande é lastimável: abandonada, suja, com mato crescendo, rambaia. Nova, sim, mas tarimba política”, fez no programa a terra já exposta, sem a cobertura dos paralelepípe- com capacidade para va- que tinha na TV Marajoara: dos, talvez num plano ardiloso da prefeitura sobre zão reduzida. Boa part’e “a – Não haverá eleição direta os ambulantes) e termina na praça Visconde do Rio das casas era de madeira nos 11 Estados onde os Governa- Branco, mais conhecida por largo das Mercês. e palha. As ruas não ti- dores terão de ser renovados no No primeiro trecho (até a travessa 7 de Setem- nham saneamento bá- ano em curso [houve e o PSD de bro), segundo as Páginas Amarelas da Lista Telefô- sico nem pavimentação Hélio foi derrotado]; b – O Pre- nica, estava, a Farmácia e Drogaria do Povo, Casa (como os carros podiam feito de Belém contará com forte Corcovado, Hotel América, Loja Pires Franco, A passar?). Valas faziam as oposição na Câmara Municipal, Vencedora, Casa Pinheiro, N. Fraiha & Cia., Bazar vezes de canais. Os pos- não sendo poucos os atritos (aliás, Sta. Terezinha, Sapataria da Moda, Loja Machado, tes de luz eram poucos e atritos já há, em surdina) entre o Escritório de Ferreira D’Oliveira (também de co- de madeira. Os terrenos Executivo e o Legislativo da Cida- mércio e navegação), Casa Zig-Zag, Joalheria e Óti- ocupados pelas constru- de [a grande maioria dos vereado- ca Moderna, Loja 4400 (nos três andares do então ções rústicas não eram res aderiu aos novos donos do po- concorrido prédio estavam os escritórios de Brasil legalizados. Ao fundo, a der]; c) Catette Pinheiro pode até Luizileno, F. Espírito Santo, F. G. S. Moreira, Egídio vegetação sobrevivia. ser apoiado pelo PSD, se Alacid Sales, Armando Mendes, Importadora e Exportado- Alguém consegue iden- tentar se candidatar a Governador ra Jabras, Acácio Centeno, Elias Hage, Octávio Leite, tificar qual é essa área no [Alacid foi candidato e o futuro Cláudio Santos, Bernardo Koury, José Luiz ferreira, bairro? senador Catette o apoiou]; d – O Carlos Platilha, Domingos Silva, José Araújo Moura xadrez do CPOR passará o ano e Pedro Moura Palha), Durval Lobato Paes, Joalheria cheio (uma indireta venenosa ao Porta de Ouro, Casa Mont’Alto, Cia de Engenharia autoritarismo do comandante da José R. Ferreira, Casa O Círio, João Francisco Lima, corporação, coronel José Lopes de Loja Primavera, escritório de advocacia e contabili- Oliveira, um dos líderes fardados dade Moacyr Gonçalves Pamplona, Raymundo No- do movimento militar que pôs leto, Bar Sporting, Galeria Paulista, Foto Amazônia, fim, do Pará, ao domínio político Tecidos Carvalho, Mundo Elegante, F. Flexa Ribeiro, do partido de Gueiros, que tam- Casa Silva, Casa do Linho Puro, Casa Pará e Sapata- bém nunca foi um bom profeta). ria Leão de Ouro.

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 13 cart@s Passarinho cida má vontade com Jarbas, o Jarbas é inflexível nos seus te dos próprios brasileiros tem a És um jornalista, sociólogo, que acho que não é o teu caso, conceitos, e por isso paga um respeito de seu país, principal- com inteligência privilegiada e podem interpretar a tua per- preço caro dos historicidas, que mente das regiões mais afasta- vasta cultura. Há pessoas que gunta como se o mesmo fosse resolveram reescrever os fatos das do centro administrativo e acompanham cegamente as torturador ou, à época, tivesse que se passaram antes de 64, decisório, as ladainhas ganham tuas opiniões e por isso fazem conhecimento de práticas tão movidos pelo ódio. Deveriam sua força retórica. juízos apressados com base nas deploráveis. contestar Daniel Aarão Reis Ao ignorar o nosso mundo lo- tuas colunas: eis o caso: Sabes bem que, em relação Filho, notável professor univer- cal e real, em contraponto, há No JP nº 591, sob o títu- a Jarbas, nem os seus inimigos, sitário, Jacob Gorender e tantos um outro imposto devidamente lo “Delegado Rafael Bezerra”, e nem falo em adversários, atri- outros que com honestidade “fabricado “ por interesses di- abres a matéria narrando um buíram a ele tortura ou malver- mostraram o clima que antece- fusos e pouco (ou nada) pal- episódio relativo a uma entre- sação do dinheiro público. Leva deu o 31 de março. páveis em justos e produtivos vista dada pelo então Senador uma vida modesta, que, desgra- Ronaldo Passarinho retornos para todos. É quando ao chegar em çadamente, para nós, parentes, MINHA RESPOSTA saem do forno, ou melhor, dos Belém. Algum jornalista, ávido amigos e admiradores, está Como o próprio Ronaldo Passa- gabinetes refrigerados, ou de de colher informações encos- chegando ao fim. Não que isso rinho deixou claro, nunca atribuí outros cantos não identificados, tou o microfone nos lábios dele. seja verdade absoluta, pois não ao ex-senador Jarbas Passarinho percepções outras do que possa Dizes que “acuado em meio ao conhecemos o nosso destino participação ou conivência com ser considerado como progres- interesse da imprensa sobre ele e morrer antes dele. a tortura praticada durante o so e bem estar. em mais um momento de crise Mas, a lógica diz ao contrário. regime militar, na sua fase mais E para que isso fique bem republicana, saiu-se com uma Diversas vezes o entrevis- aguda entre 1969 e 1975 (do AI-5 entendido, impõem-se tais boutade: - Deveríamos ter no- taste e já declaraste publica- ao assassinato no cárcere do jor- com força e coerção de um meados jornalistas para arran- mente através da tua trincheira nalista Vladimir Herzog). Minha poder bem mais acima, in- car informações nos IPM’s dos que é o JP, que em momento crítica mais extremada ao ex-go- questionável em sua pretensa presos em 64”, completaste di- algum foste molestado. O úni- vernador foi sua adesão ao Ato “infalibilidade”. zendo: “assim não precisariam co defeito de Jarbas é ter sido Institucional número cinco com É quando é dado o sinal haver torturas”. coerente com os seus pensa- o acréscimo da frase infeliz de se verde para entrar em cena A pergunta, fruto da im- mentos e suas atitudes, o que desfazer dos escrúpulos da cons- aqueles nossos modelos mais petuosidade da tua juventude, gerou respeito e até amizade de ciência para apor sua assinatura visíveis – carvoarias, pasta- não te criou nenhum problema, adversários do quilate de Paulo no nefando documento, um dos gens, plantations agrobusiness apesar de ser agressiva. Não Brossard, Pedro Simon e Mário mais tristes, soturnos e maléficos e extensos latifúndios multi- foste chamado a nenhum órgão Covas. O então deputado Paulo da história brasileira. plicados via grilagem . de segurança, nem te cobraram Paim, hoje senador, sem qual- Durante a ditadura e depois Sob uma capa moderna (re- a afirmação. Como salientaste quer simpatia pelo movimento dela, conversei muito com Pas- lativamente), as bênçãos dos no teu termo, foi uma boutade de 64, declarou em uma sessão sarinho em “off”. Foram conver- poderes omissos dão uma so- (tirada espirituosa, engraça- da Unilegis em que Jarbas foi sas proveitosas e terem se repe- brevida pra lá de insidiosa a ve- da...), e não deveria ter sido mal homenageado com o título de tido, apesar das minhas críticas lhos propósitos de dominação. analisada, e digo isso, porque Doutor Honoris Causa: “Jarbas constantes a ele, é a comprova- Nesse espaço generoso, as algumas pessoas de reconhe- Passarinho na Constituinte era ção da sua tolerância e do seu ladainhas vão enriquecendo o o elemento que fazia o meio de espírito público. Algumas vezes o leque de abstracionismos típi- campo para as emendas de nos- início dessas conversas foi difícil cos emulados de um centro de Jornal Pessoal sa iniciativa, que seriam rejeita- e doloroso. Nunca, porém, o seu decisões distante, confinado em das pelas nossas posições ide- encerramento. Devemos essas seus guetos, apartado dos inte- Editor Lúcio Flávio Pinto ológicas. Fernando Henrique oportunidades de diálogo com resses mais concretos relacio- Cardoso, Mário Covas, Pedro uma agenda elevada ao respeito nados ao país que proclamam Contato Rua Aristides Lobo, 871 Simon e eu, diz ele, levávamos mútuo, que continua inalterado. administrar pelo bem comum. as nossas emendas à Jarbas. E até hoje, é assim – tantas CEP Discutíamos, mas ele jamais se Ladainhas repúblicas depois. 66.053-020 negou em apresentá-las”. Além daqueles adjetivos Luiz Otavio Cardoso Fone Ao contrário da Rede Glo- grandiosos que lhes são, por 091) 3241-7626 bo, que em “pungente arre- justiça, peculiares, a Amazô- Antagonismo E-mail pendimento”, lido no Jornal nia também sofre o assédio das Parabéns pelo merecido con- [email protected] Nacional pelo William Bonner tantas ladainhas que se escutam vite para participar de mais uma Site com muita solenidade, e publi- e se reverberam país afora. Pa- edição do Itaú Cultural. Seus cado no jornal O Globo, pediu lavrórios vazios que se inten- leitores aguardam uma resenha www.jornalpessoal.com.br publicamente desculpas à so- tam tornar em verdades, repe- do evento. Antecipo as minhas Blog ciedade por terem apoiado a tidas que são tantas vezes – mas felicitações pela passagem dos http://lucioflaviopinto.wordpress.com revolução de 1964. Sabes bem, isso talvez já se faça por pura 28 anos do nosso Jornal Pessoal. Diagramação/ilustração que poucos se beneficiaram inércia dos ouvintes. Aproveito o ensejo, para enca- Luiz Pinto tanto do regime militar, quan- Ajudadas pela visão ainda minhar, anexo, um comentário to a Rede Globo. bem distorcida que grande par- sobre o assunto em destaque.

14 - JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena Lucros para poucos

No mês passado a Austrália bateu um novo recorde de mas desfruta do melhor minério do planeta, o de Cara- exportação de minério de ferro para a China: vendeu quase jás. Os técnicos acreditam que a China deixará de pro- 40 milhões de toneladas, 14% a mais do que as remessas de duzir neste ano 120 milhões de toneladas, o equivalente julho. Até o final do ano as exportações aus- à produção de Carajás. tralianas deverão atingir 748 milhões de to- Isso também significa que por longo neladas. Em 2016 o volume poderá ser ainda tempo o preço do ferro para a China gra- maior: 824 milhões de toneladas. vitará em torno de 50 dólares a tonelada, São dois os objetivos e são os mesmo que foi a média do último mês e o fator da Vale. Primeiro, tirar do mercado os que levou os australianos a incrementa- competidores que têm jazidas menores rem suas exportações, juntamente com os ou mais pobres e com custos de produção brasileiros. Para quem produz abaixo de mais elevados. Em segundo lugar, forçar 30 ou mesmo de 20 dólares por tonelada, a própria China a fechar suas minas, que será um grande lucro. Mas eles são pou- se enquadram nessas características: são cos, o que aumentará a oligopolização do obsoletas e caras. Assim, são induzidos a comprar mais mercado internacional de minério de ferro. Com uma minério da Austrália, que tem um produto menos nobre, questão lateral: quanto desse lucro ficará para os verda- mas está muito mais próxima, e do Brasil, que é distante, deiros donos dessa riqueza?

O título da matéria de capa da exposição não consegue es- 54% da população brasileira. euro, o índice é de 91,9%, do do Jornal Pessoal n. 590, de conder os acenos favoráveis ao Muitas outras conquistas PIB, nos EUA 101,5% do PIB e agosto/15, deve ter sido desagra- conteúdo das iniciativas preda- sociais foram realizadas e cana- no Reino Unido 51,5%, do PIB. dável para muitas pessoas, posto doras da oposição, antes e de- lizadas para a base da pirâmide A comparação não almeja justi- que ele designa extremos. Mes- pois das eleições. e que serão preservadas desde ficar a situação brasileira, com- mo aquelas identificadas com a Embora recebendo a adver- que se mude a política fiscal, prova-se que a crise econômica oposição ao governo atual não tência de prolixidade da carta procurando onerar a renda dos é sistêmica. devem concordar com a polari- anterior, ainda assim, preten- que têm mais. Seja através dos Haveria mais indicadores zação, porque é o tipo de atitude de-se abordar os principais depósitos compulsórios, seja econômicos para melhorar a que gera violência, e daí para a itens do JP citado, pela ordem pela taxação das grandes fortu- imagem negativa que muita insanidade total é um passo só. de importância: 1) as pesqui- nas, previsto na Constituição de gente teima em vender, porém Não é preciso ser versado em sas da Folha (Datafolha) são 1988 e não regulamentado até isso levaria tempo e espaço des- ciência social para perceber que suspeitas, identificam-se com o dia de hoje. O caminho para se JP. De qualquer forma, em- uma multidão tomada pelo ódio aquela do Paraná que deu o viabilizar receitas é amplo e di- bora acanhadamente, criou-se apenas, sem liderança e sequer candidato tucano eleito, uma verso, sem que o peso e o tempo uma imagem do Brasil diferen- munida de proposta conciliató- semana antes do pleito; 2) por da recessão venham a atingir os te do que a modelada no texto ria, pode levar para uma situa- que a implicância com o índice mais carentes. Os ajustes po- de capa. Para terminar, não se ção insustentável de caos, aonde de popularidade, governo eleito dem seguir caminhos variados, discute as razões da direita con- as que jogam pedras hoje serão pelo voto, pode se dar ao luxo dependendo dos atores que irão clamar as forças armadas para apedrejadas na sequência dos de ser impopular, ademais o discuti-los e executá-los. A cer- combater a insurreição de “co- dias. Caminha-se para aquilo direito brasileiro e o internacio- teza é que o país não está falido, munistas”, em especial a “pre- que um estudioso chamou de nal não abrigam a tese de afas- como sugere o artigo do Jornal gação moralista” dos golpistas. “niilismo passivo”: quando não tamento sumário diante de uma Pessoal. Qual a moral deles? O que urge existem lideranças, há somente frequência negativa de apoio O último relatório do FMI esclarecer, como foi levantado o “rebanho desordenado”. momentâneo; 3) não há “crise indica 19 países ligados ao euro, na citação de Luiz Carlos Pres- Disto resulta um ambien- de confiança”, existem sim, es- com índices de crescimento de tes, é que o Partido dos Traba- te que alguém denominou de pasmos de insatisfação devidos 0,3% no primeiro semestre lhadores ganhou as eleições em “fascismo do bem”, isto é, “a aos três períodos que estão fora deste ano, incluindo a Alema- 2002, mas não assumiu o poder. gente joga bomba em nome do poder; 4) os grupos minori- nha, Itália e França, sendo que As velhas oligarquias café-com do bem, espanca em nome do tários, particularmente “aquela a última está com a economia -leite, apodrecidas, mantive- bem, mata em nome do bem.” imprensa” é que incitam a po- estagnada. A oligarquia finan- ram-se ilesas, só que com “nova Os mais antigos conhecem e pulação insatisfeita, por conta ceira pretende erigir um muro gerência”. Como não conse- viveram essa estória de “quem dos problemas econômicos, a de contenção para impedir o guiram retornar, até hoje, a ge- pensa no bem”, e os mais no- pregar a animosidade selvagem, acesso dos trabalhadores às rência do poder, pela via legal, vos cidadãos certamente foram que grassa nas redes sociais e melhores condições de bem tentam pelo ”golpe”. O Brasil é instruídos dos fatos nos bancos nas manifestações de ruas; 5) estar. Um dado interessante, tudo isso. O próximo partido escolares. Espera-se que as li- não existe “retórica de esquer- considerando o tamanho da dí- popular que sair vitorioso de deranças apareçam e possam da” para a manutenção da Pre- vida pública bruta de 16 países, uma eleição tem de assumir o mudar estes ventos agoureiros. sidente, trata-se de defender a do Brasil (58,9%, do PIB), é o governo e o poder. De qualquer forma, a dialética um mandato outorgado por menor. Nas nações da zona do Rodolfo Lisboa Cerveira

JORNAL PESSOAL Nº 592 • SETEMBRO DE 2015 • 1ª quinzena - 15 Belém não é mais a capital? A redivisão territorial do Pará está que impressiona, porém, é o deslo- Proporcionalmente ainda mais ex- se tornando mesmo uma fatalidade, camento de população internamente pressivos são os incrementos demográ- uma tendência inevitável. Belém con- e a migração para o interior do Pará. ficos de São Félix do Xingu, de 4,3%, tinua a se esvaziar economicamente e Marabá, na 4ª posição, com 292.500 fazendo-o subir para 11º lugar (116.181 demograficamente, perdendo posição habitantes, está encostando em San- habitantes) e Canaã dos Carajás, de no conjunto nacional e internamente. tarém, a 3ª, com 262.050. Impressio- 3,9% (32.632). Todos eles em áreas É o que mostram as Estimativas da pioneiras, por onde há a expansão da População para Estados e Municí- fronteira econômica em dinâmicas pios, publicação do IBGE divulga- que independem de Belém e, por isso, das no mês passado. rejeitam o seu controle e jurisdição. O Pará se mantém como o 9º É a configuração de uma espacia- Estado em população do Brasil, lidade nova, que desafia Belém. Se a mas Belém caiu para a 11ª posição. cidade quiser manter sua condição de O crescimento da sua população capital desse território em uma dinâmi- entre 2014 e julho deste ano foi ca nova, vai precisar responder ao de- de 0,47%, enquanto o crescimento safio que a história atual lhe impõe. Ou nacional foi quase o dobro, 0,86%, será atropelada pelos fatos. É o que já e o estadual atingiu 1,25%. está acontecendo. As situações se esta- A população de Ananindeua, nante é o crescimento de Parauape- belecem e os conflitos se precipitam in- de 505 mil habitantes, superou um bas, de 3,58%, que a fez subir para teiramente à revelia da capital, que não terço da população da capital, que o 5ª maior município paraense, com consegue mais se apresentar como me- não chegou a 1,5 milhão (1.439.561, 189.921, à frente do seguinte, Casta- diadora, interlocutora e, menos ainda, segundo os cálculos do IBGE). O nhal (189.784). como autora do que acontece no Pará. O amigo do rei

Romulo Maiorana Júnior criou a ORM Air Táxi Aereo de anunciar o fim dos contratos, também, usou o jatinho em 2000. A empresa é só dele. Talvez para se proteger, in- executivo da ORM Air. cluiu sua mãe, Lucidéa Batista Maiorana, na sociedade. Não No seu terceiro mandato, Simão Jatene mantém sua fide- se preocupou com esse detalhe, que poderia colocar a viúva lidade à empresa, apesar das investidas do Ministério Público de Romulo Maiorana em dificuldades se alguma irregulari- e da justiça do Estado pela renvogação dessa relação, consi- dade fosse praticada. Irregularidades foram cometidas e Déa derada irregular. O patrimônio da companhia, como os dos só não responderá por elas porque já ultrapassou a faixa dos PMs que respoondem pelos contratos na Casa Militar, foram 70 anos. Mas a ORM já foi denunciada pelos ministerios pú- declarados indisponíveis até o limite de 123 mil reais por cau- blicos federal e estadual em ações recebidas e em tramitação sa dos erros na contratação dos serviços, que rendeu mais de pelas justiças estadual e federal. dois milhões de reais entre 2012 e 2014 e deverá gerar outros Apesar de estar sendo processada por evasão de divi- R$ 774 mil se o novo contrato, assinado no final do próximo sas, sonegação fiscal e outras capitulações cíveis e crimi- ano, não for derrubado. nais, a empresa de táxi aereo continua a receber o amparo Essa receita garantida talvez tenha servido de estímulo para do governo do Estado. Ele é o seu único grande cliente. Romulo Jr. praticar fraudes na importação do seu atual jato exe- Diga-se, a bem da verdade, que o favorecimento remon- cutivo e mantenha uma empresa com apenas dois funcionários. ta ao início da empresa e se constitui na sua própria ra- Assim, enquanto fatura junto ao governo o suficiente para exis- zão de ser. Os tucanos têm sido os principais parceiros tir e ter lucros, é das meores empresas pra quantidade de em- de Maiorana Jr., mas a petista Ana Júlia Carepa, depois pregos que oferece do Pará. Graças ao governo Jatene? O drama da Unimed A Unimed tem 350 mil clientes no tervenção branca, ameaçada de per- tomando para se livrar do risco de Pará e é de propriedade de 1.800 mé- der a sua clientela se não atender as desaparecer. O intrigante é consta- dicos. É uma das maiores comunidades exigências impostas, a principal das tar que, apesar de sua campanha de de interesse do Estado. Interesse que se quais é se capitalizar em quase 50 anúncios e informes publicitários, a traduz em dezenas de milhões de reais milhões de reais nos próximos me- Unimed não merece a atenção edi- todos os meses. Clientes, sócios e fami- ses, para continuar a funcionar nor- torial da imprensa local. A imprensa liares ultrapassam um milhão de pesso- malmente. É de alto interesse públi- paraense quer faturar, informar ficou as. Elas ficaram sobressaltadas quando co que a Unimed Belém, organizada secundário. Por isso a desorientaçõa a Agência Nacional de Saúde interveio sob a forma de cooperativa, prossiga geral impossibilita os interessados na Unimed de São Paulo. nas suas atividades. Mas só com boa de saber se a entidade estáq no eumo Temeram pela sorte da unidade informação os interessados poderão certo ou nãqo. Um debate mais pro- paraense, que está sob regime de in- saber os rumos que a entidade está fundo se torna urgemte.