Flora Da Bahia: Astraea (Euphorbiaceae)

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Flora Da Bahia: Astraea (Euphorbiaceae) DOI: 10.13102/scb5273 ARTIGO Flora da Bahia: Astraea (Euphorbiaceae) Otávio Luis Marques da Silva1*, Daniela Santos Carneiro Torres2,a & Inês Cordeiro1,b 1 Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, Instituto de Botânica, Núcleo de Pesquisa Curadoria do Herbário SP, São Paulo, Brasil. 2 Programa de Pós-graduação em Botânica, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil. Resumo – Apresentamos aqui o tratamento taxonômico do gênero Astraea (Euphorbiaeae) na Bahia. O estado, junto com Minas Gerais, possui a maior diversidade de Astraea, com sete espécies reconhecidas: A. digitata, A. gracilis, A. klotzschii, A. paulina, A. praetervisa, A. subcomosa e A. surinamensis. O tratamento inclui chave de identificação, descrições, fotografias e mapas de distribuição, além de comentários relativos à distribuição geográfica, habitat e fenologia. Palavras-chave adicionais: Brasil, Crotoneae, Taxonomia. Abstract (Flora of Bahia: Astraea (Euphorbiaceae)) – This work presents the taxonomic treatment of the genus Astraea in Bahia. The state, along with Minas Gerais, has the highest diversity of Astraea, with seven species recognized: A. digitata, A. gracilis, A. klotzschii, A. paulina, A. praetervisa, A. subcomosa and A. surinamensis. The treatment includes an identification key, descriptions, photographs and distribution maps, besides comments on geographical distribution, habitat and phenology. Additional key words: Brazil, Crotoneae, Taxonomy. Euphorbiaceae possui cerca de 6.750 espécies e 300 espécies (Flora do Brasil 2020, em construção), 200 gêneros, e distribuição quase cosmopolita, apesar além de Acidocroton Griseb., Astraea Klotzsch, de mais diversa ao longo dos trópicos (Webster 2014). Brasiliocroton P.E. Berry & Cordeiro, Sagotia Baill A família é muito variada morfologicamente, mas e Sandwithia Lanj. (Wurdack et al. 2005; Riina et al. características diagnósticas em campo incluem a 2014; Webster 2014; Silva et al. 2020). As espécies comum presença de látex, folhas alternas com de Astraea, foco deste trabalho, podem ser estípulas, flores em geral diminutas e sempre reconhecidas entre os gêneros de Euphorbiaceae pelo unissexuadas, as pistiladas com ovário súpero, hábito herbáceo a arbustivo; folhas alternas, trilocular e com apenas um óvulo por lóculo do frequentemente partidas, sem nectários na base da ovário, além dos frutos do tipo cápsula com lâmina (mas com um aglomerado de coléteres nesta deiscência tanto septicida quanto loculicida, mesma posição); inflorescências espiciformes; flores conhecidos popularmente como tricocas, com uma pistiladas com lobos do cálice acrescente no fruto e semente por lóculo, que pode apresentar carúncula portando coléteres ao longo da margem, e estiletes (Webster 2014). No Brasil, Euphorbiaceae está entre cilíndricos e multífidos; flores estaminadas com as 10 famílias mais representativas, contando com pétalas portando tricomas moniliformes ao longo da 970 espécies em 64 gêneros, e elevado grau de porção basal das margens e estames inflexos no endemismo (BFG 2015; Flora do Brasil 2020, em construção). Já para a flora da Bahia, são registradas botão; e frutos geralmente lustrosos, com sementes cerca de 320 espécies de Euphorbiaceae, e a família tetragonais, arredondadas apenas em A. cincta têm sido abordada em diversas floras locais (e.g., (Müll.Arg.) Caruzo & Cordeiro, e com carúncula Cordeiro 1995; Carneiro-Torres et al. 2014; Hurbath (Silva & Cordeiro 2020). et al. 2016), porém o tratamento para Euphorbia L. foi único publicado dentro do projeto Flora da Bahia Astraea Klotzsch (Carneiro-Torres et al. 2017). Ervas ou subarbustos, monoicos, glabros ou com A família está atualmente dividida em 4 subfamílias indumento variado, composto por tricomas simples, (Cheilosoideae, Acalyphoideae, Crotonoideae e estrelados ou estrelado-porrectos, látex incolor ou Euphorbioideae), compreendendo 29 tribos (Webster esbranquiçado, geralmente não abundante. Folhas 2014). Entre as tribos, o grupo de maior destaque em simples, alternas, inteiras ou 2–5-partidas, às vezes toda região Neotropical é Crotoneae, na qual está o ambos os tipos em um mesmo indivíduo, margens gigante Croton L., representado no Brasil por cerca de serreadas a crenadas; estípulas geralmente subuladas, inteiras ou partidas. Inflorescências do tipo tirso *Autor para correspondência: [email protected]; especiforme, terminais; címulas proximais [email protected]; [email protected] unissexuadas (apenas pistiladas) ou bissexuadas, Editor responsável: Alessandro Rapini címulas distais exclusivamente estaminadas, com 1–6 Submetido: 6 maio 2020; aceito: 26 jun. 2020 flores cada; brácteas subuladas a lineares. Flores Publicação elestrônica: 17 jul. 2020; versão final: 23 jul. 2020 estaminadas diclamídeas, dispostas em címulas com 1– ISSN 2238-4103 Sitientibus série Ciências Biológicas 20 Silva et al. – Astraea (Euphorbiaceae) da Bahia 6 flores; cálice gamossépalo, lobos 5, unidos apenas na 3'. Folhas cartáceas, inteiras ou 2- ou 3-partidas. base; corola dialipétala, pétalas 5, com indumento denso 5. Ramos jovens tomentosos ....................... de tricomas moniliformes ao longo da porção basal da ....................................... 6. A. subcomosa margem; receptáculo glabro ou piloso; nectários 5, 5'. Ramos jovens glabros, pilosos a opostos às sépalas; estames 11–15, filetes livres, pubescentes. encurvados no botão, anteras 2-tecas, basifixas, 6. Estípulas deltoides; face abaxial das extrorsas, tecas divergentes, deiscência horizontal. folhas glabras ou com indumento Flores pistiladas monoclamídeas; cálice gamossépalo, composto por tricomas simples ........... lobos 5–7, unidos apenas na base, acrescentes no fruto, ................................... 3. A. klotzschii com coléteres ao longo da margem; ovário 3-locular, 6'. Estípulas subuladas; face abaxial das com um óvulo por lóculo, estiletes 3, 6–8-ramificados, folhas com indumento composto unidos na base. Frutos cápsulas de deiscência septicida- principalmente por tricomas estrelados loculicida, geralmente lustrosas; sementes geralmente ...................................... 4. A. paulina tetragonais em secção transversal, verrucosas, carunculadas. 1. Astraea digitata (Müll.Arg.) O.L.M.Silva & Astraea é um gênero monofilético (Silva et al. 2020) Cordeiro, Phytotaxa 317: 297. 2017. com 13 espécies, encontrado ao longo de toda a região Figuras 1A, B e 2. neotropical, e também no Velho Mundo, mas então Arbustos ou subartbustos perenes, até 1(–1,5) m alt.; apenas representado por espécies ruderais e invasoras: ramos jovens esparsamente pubescentes a A. lobata (L.) Klotzsch, A. surinamensis (Miq.) glabrescentes, com tricomas simples e/ou estrelados. O.L.M.Silva & Cordeiro e A. trilobata (Forssk.) Folhas 3(–5)-partidas, lobo médio elíptico a largo- O.L.M.Silva & Cordeiro (Silva & Cordeiro 2020). A elíptico, 5–8(–11) × 2,5–3(–4) cm, lobos laterais maior diversidade do gênero se concentra no leste do elípticos a oblongos, (2,5–)4–7(–9,5) × 1,5–2(–3) cm, Brasil, sendo Bahia e Minas Gerais os estados com o membranáceas, base cordada a subcordada, face adaxial maior número de espécies (Flora do Brasil 2020, em pubescente, indumento mais denso na base e ao longo construção). Na Bahia, foram registradas sete espécies das nervuras primárias, com tricomas simples e longos de Astraea, que ocorrem em todos os domínios (> 1 mm compr.), especialmente próximo da base, face fitogeográficos do estado, mas com maior diversidade abaxial densamente pubescente, indumento mais denso na Mata Atlântica. Estas espécies podem ser na base e ao longo das nervuras, com tricomas simples encontradas em ambientes antropizados, campos e curtos, exceto sobre as nervuras, onde são simples e rupestres, bordas de florestas úmidas e estacionais, longos (> 1 mm compr.), nervuras actinódromas; matas de galeria ou restingas. Ilustrações e/ou imagens pecíolos (1,5–)4–8,5(–10) cm compr.; estípulas de campo de todas as espécies tratadas aqui também subuladas, inteiras ou 3-lobadas. Tirsos 15–35 cm podem ser encontradas em Silva & Cordeiro (2020). compr.; címulas estaminadas com 4 ou 5 flores cada. Flores pistiladas com pedicelo ca. 1(–5, no fruto) mm Chave para as espécies compr.; lobos do cálice oblongos a estreito-obovados, 1. Estípulas glanduliformes .............. 5. A. praetervisa 2–3,5(–8, no fruto) mm compr., pilosos na face externa, 1'. Estípulas subuladas ou deltoides. com tricomas simples e longos, ca. 1 mm compr.; ovário 2. Indumento dos ramos jovens composto por glabro. Cápsulas 4,5–5,5 × 4,5–5,5 mm, glabras; tricomas estrelado-porrectos com raio central sementes 3–3,5 × 2,5–2,8 mm, carúncula 0,3–0,5 × 0,8– muito maior que os laterais (até 3–4 mm compr.) 1 mm. ............................................. 7. A. surinamensis Restrita à Região Nordeste, ocorrendo em Alagoas, 2'. Indumento dos ramos jovens composto por Bahia, Paraíba e Pernambuco. E8, E9, E/F9, F/G8, G8, tricomas simples, estrelados ou, se estrelado- G8/9 e H8/9: Mata Atlântica, em bordas de florestas porrectos, com raio central não muito maior que úmidas. Encontrada com flores e/ou frutos o ano todo. os laterais. Material selecionado: Amélia Rodrigues, 23 mar. 1994 (fl., 3. Folhas membranáceas, 3–5-partidas. fr.), F. França 957 (HUEFS, SP); Camamu, 16 jun. 2003 (fl., fr.), G. 4. Face abaxial das folhas com tricomas Hatschbach 75396 (ALCB, MBM); Conceição do Almeida, 6 set. simples e longos (> 1 mm compr.) sobre 1959 (fl., fr.), A.L. Costa s.n. (ALCB 2068); Cruz
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