Travessia Na Floresta
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Travessia na Floresta Publicado por Amaravati Publications Amaravati Monastério Budista Hertfordshire, Great Britain [email protected] www.amaravati.org Este livro encontra-se disponível para distribuição gratuita em www.fsbooks.org ISBN 978-1-78432-047-8 Copyright © Amaravati Publications 2016 Imagem de capa de autoria de Nick Sheerbart, licenciada sob Dedicação ao Domínio Público. www.nick-scheerbart.com Compilação e Tradução: Ajahn Mudito Capa: Nick Sheerbart Formatação: Venerável Gambhīro Para distribuição gratuita Sabbadānaṃ dhammadānaṃ jinati ‘A oferta de Dhamma é superior a qualquer outra oferta.’ Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Veja página 207 para mais detalhes sobre direitos e restrições desta licença. Produzido com o sistema tipográfico LATEX. Fonte utilizada: Gentium, Alegreya Sans e Crimson Roman. CONTEÚDO Prefácio iii Nota do tradutor v 1 · Infância 1 2 · Vida como bhikkhu 11 3 · Conhecendo novas terras 15 4 · Vida na estrada 21 5 · Luang Pu Man Bhūridatto 29 6 · Vencendo o medo de fantasmas 39 7 · Luang Pu Kinari 49 8 · De volta à estrada 59 9 · O monge sem raiva 77 10 · Voltando para casa 91 11 · Viagem à região central 95 12 · Estabelecendo Wat Nong Pah Pong 105 13 · Lidando com obstáculos 119 14 · Treinamento nos primeiros anos 131 15 · Anos posteriores 153 16 · A chegada dos ocidentais 171 17 · Divulgando o Dhamma no ocidente 183 18 · Doença e morte 191 Glossário 201 i PREFÁCIO Esta biografia do falecido Tahn Ajahn Chah Subbhato oferece a opor- tunidade de aprendermos mais sobre a vida de um monge budista verdadeiramente sábio que influenciou e inspirou tantos dentre nós a valorizar e compreender a Tradição da Floresta Tailandesa, com sua ênfase no sábio uso da disciplina (Vinaya) que foi esta- belecida pelo próprio Buddha há 2559 anos, assim como a ênfase muito significativa na aplicação prática – o “pôr em prática” – dos ensinamentos do Dhamma do Buddha. Eu me encontrei com Ajahn Chah pela primeira vez em 1967 quando havia recentemente recebido ordenação como bhikkhu. Meu upajjhāya enviou-me ao monastério de Ajahn Chah para receber o treinamento apropriado que dá suporte à vida de um bhikkhu. Eu tive muita sorte de ter conhecido esse mestre quando ele ainda era jovem – ele tinha então 48 anos de idade. Senti uma conexão tão forte com ele que vivi os primeiros dez anos de minha vida como bhikkhu ou com ele, em seu monastério, Wat Nong Pah Pong, ou em vários monastérios filiados das proximidades. Foi durante esse período que meu amor e respeito pela vida monás- tica tradicional desenvolveu-se. Ajahn Chah era um exemplo vivo de um ser “realizado” que havia cultivado o caminho alcançado pelo Buddha. Que esta biografia compilada e traduzida por Ajahn Mudito inspire e encoraje o leitor em seus esforços para apreciar os ensinamentos de sabedoria do Buddha. Ajahn Sumedho Vinhedo, Brasil Oito de Fevereiro de 2016 iii NOTA DO TRADUTOR Com a data de comemoração do centenário de nascimento de Ajahn Chah se aproximando, meu professor, Luang Pó Piak, notou que ainda hoje não havia nenhum livro em língua ocidental que rela- tasse de forma concisa a história de vida de Ajahn Chah. A princípio ele me pediu que preparasse um texto em inglês, mas assim que terminei o primeiro manuscrito, deixei-o sob responsabilidade da sangha de Wat Pah Nanachat para que se encarregassem de produzir aquela versão do livro e então comecei a trabalhar na versão em português que você agora tem em mãos. Apesar de o primeiro rascunho ter sido composto em inglês, tomei o cuidado de retraduzir todas as citações do tailandês para garantir a maior fidelidade possível ao original. Também adaptei a grafia de nomes tailandeses à fonética portuguesa (nomes como Ajahn Mun e Luang Pu Kinaree foram escritos como Ajahn Man e Luang Pu Kinari). Um outro detalhe que vale a pena mencionar é a escolha de traduzir o termo tudong (ธุดงค์) como “peregrinação”. É necessário explicar que, diferente do que conhecemos no ocidente, no caso tailandês essa “peregrinação” nem sempre almeja ir a um local sagrado ou consiste em “pagar uma promessa”. Em geral se trata de um modo de vida: os monges simplesmente vivem como andari- lhos, treinando a si mesmos a enfrentar todo tipo de dificuldades e buscando locais isolados e conducentes à prática de meditação. O livro não foi composto com o objetivo de ser um documento completo sobre a vida e obra de Ajahn Chah – a quantidade de histórias e ensinamentos disponíveis fariam a tarefa de compilar tal livro um trabalho verdadeiramente hercúleo – mas apenas dar uma boa noção de quem era Ajahn Chah e de como ele chegou a ser o v vi Travessia na Floresta grande mestre que todos conhecem hoje. A quem tem interesse em se aprofundar mais nos ensinamentos de Ajahn Chah, recomendo a leitura de “An Introduction to the Life and Teachings of Ajahn Chah”, escrita por Ajahn Amaro e também a coleção “The Collec- ted Teachings of Ajahn Chah”, ambos disponíveis gratuitamente em forestsanghapublications.org. Até o presente momento, só existe uma compilação de ensinamentos de Ajahn Chah em português que tenha sido traduzida direta do tailandês, chamada “Darma da Floresta”, que também está disponível através da Forest Sangha Publications. Além disso, o site dhammadafloresta.org oferece uma quantidade grande de ensinamentos de Ajahn Chah, seus discípulos e outros mestres da tradição da floresta tailandesa, assim como links para mais fontes de informações. O público-alvo desse trabalho são pessoas que já têm algum conheci- mento sobre budismo e mais especificamente a tradição Theravada da qual fazia parte Ajahn Chah, mas, ainda assim, incluí inúmeras notas explicativas e um glossário ao final do texto para auxiliar a compreensão dos termos mais difíceis. O texto aqui contido é uma compilação de várias fontes, mas prin- cipalmente do livro อุปลมณี, escrito por Ajahn Jayasaro; outras fontes foram สุภทททานุสสรณ์ e ใต้ร่มโพธิญาณ, ambos escritos por Ajahn Mahā Amón Kemacitto; มิขันติคือให้พรแก่ตัวเอง, por Mitsuo Shibaiashi; Still Forest Pool, por Jack Kornfield e Paul Breiter, No Worries, por Aruna Publications e diversas gravações de áudio e vídeo onde discípulos de Ajahn Chah contavam suas histórias com o mestre. Gostaria de agradecer a Ven. Gambhīro pela composição das edições impressa e eletrônica do livro e Carla Pedro Schiavetto, Luciano Tadeu e Ângelo de Vita por ajudarem na revisão do texto. Peço que quaisquer omissões ou erros contidos neste trabalho sejam de minha inteira responsabilidade, e que os méritos gerados aqui sejam de benefício aos que ajudaram na composição deste livro assim como a todos que têm respeito e reverência pela Aryia Sangha, cuja presença entre nós, ainda na época atual, é o verdadeiro testemunho de que os ensinamentos do Buddha jamais perderam sua validade ou eficácia para aqueles que de fato estejam dispostos a praticá-los com humildade, sinceridade e dedicação. Que todos possam estar livres de aflição e angústia. Que todos este- jam sempre acompanhados de bons amigos. Que todos encontrem o caminho da paz e libertação. Anumodanā. Mudito Bhikkhu Nota do tradutor vii “Como poderia alguém que caído em um rio de forte corren- teza e sendo carregado pelas águas, ajudar os demais a cruzar à outra margem? Da mesma forma, como poderia alguém que não conhece o Dhamma, não escutou as explicações dos Sábios, é ignorante e coberto de dúvidas, ajudar os demais a realizarem aquele mesmo Dhamma? Aquele que sobe num barco robusto, equipado com bom leme e bons remos, pode ajudar muitos a cruzar à outra margem, graças à sua habilidade, consideração e experiência. Da mesma forma, aquele que é sábio e desenvolveu a si mesmo, que é munido de conhecimento e mente estável, que compreende o Dhamma, pode ajudar outros a realizá-lo se estes ouvirem com atenção. Portanto, busque a companhia dos Nobres, daqueles que são sábios e possuidores de conhecimento, que compreendem o significado do Dhamma. Seguindo o caminho e realizando o Dhamma, você atingirá a felicidade.” Sutta Nipāta, 319-323 1. INFÂNCIA Ajahn Chah, carinhosamente chamado de “Luang Pó” (venerável pai) por seus discípulos, nasceu numa sexta-feira, dia 17 de junho de 1918, num pequeno vilarejo no distrito de Warin Chamrap chamado Ban Kó, localizado na província de Ubon Ratchatani – um lugar famoso por ter sido lar de muitas sábias personalidades no passado. Filho de Sr. Maa e Sra. Pim Chuang Choti, tinha um total de dez irmãos e irmãs. Luang Pó foi criado em uma família em que havia muito carinho e harmonia, sendo ela uma das mais abastadas do vilarejo e possuidora do hábito de ajudar as famílias mais pobres quando os tempos eram difíceis. Quando criança, Luang Pó era rechonchudo e barrigudo. Um de seus amigos de infância, Put Tumakon, conta que seu comportamento, já quando criança pequena, era de ser bastante extrovertido e um líder natural. Sempre que estava com seus amigos, quer brincando ou fa- zendo qualquer outra coisa, era ele quem fazia os planos e delegava tarefas. Na maior parte do tempo, era bem-humorado e alegre e, quando não estava por perto, as demais crianças se sentiam ente- diadas e sem ânimo – conversar e brincar já não era tão divertido como antes. Crianças, especialmente aquelas que vivem no campo, gostam de jogos de ação e competição, de brincadeiras energéticas, como brincar de soldados, polícia-e-ladrão e assim por diante, mas 1 2 Travessia na Floresta o modo de brincar do jovem Chah era um pouco incomum. Em certa ocasião Luang Pó falou a respeito: “Quando eu era criança, queria brincar de ser monge, então me declarava abade e vestia um pano branco como se fosse um manto monástico. Quando chegava o horário do almoço, eu batia um sino e meus amigos que na brincadeira eram os leigos traziam água para me oferecer, recebiam os cinco preceitos1 e uma benção.” Outra característica aparente desde sua infância era seu amor pela paz – ninguém nunca o presenciou tendo problemas com ninguém, muito menos brigando com alguém mais fraco que ele.