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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (PPGEOG)

FERNANDA PEREIRA DA SILVA SANTANA

DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO SOLO EM CAETITÉ – BA: LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

São João del-Rei, MG, 2019.

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (PPGEOG)

DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO SOLO EM CAETITÉ – BA: LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

Fernanda Pereira da Silva Santana

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de concentração: Análise Ambiental e Territorial. Linha de Pesquisa: Dinâmica do Espaço Rural e Urbano

Orientadora: Profa. Dra. Daniela Abritta Cota.

São João del-Rei, MG, 2019.

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Santana, Fernanda Pereira da Silva. S231d DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO SOLO EM CAETITÉ – BA: LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL / Fernanda Pereira da Silva Santana; orientadora Daniela Abritta Cota. -- São João del-Rei, 2019. 144 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Geografia) -- Universidade Federal de São João del Rei, 2019.

1. Plano Diretor de Caetité. 2. dinâmica imobiliária. 3. ocupação em zonas de proteção ambiental. 4. limites da regulação. I. Abritta Cota, Daniela , orient. II. Título.

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Aos meus pais, Antônio e Nair, por todo apoio e compreensão que recebi durante a elaboração deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação é resultado de um longo período de trabalho e de um doloroso processo de amadurecimento acadêmico. Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade e graça alcançada. Obrigada a minha mãe, Nair, pelo cuidado, pelas preocupações, pelas orações, por ser minha mãe. Tudo isso é pra ti, uma forma de reconhecimento à sua existência que sempre, mesmo distante, torceu por mim. Ao meu pai, Antônio, e irmãos Alexandre e Rafael, que se esforçaram para compreender o que fazia nesses dois anos. Agradeço ao Valcimar Silva de Andrade e demais professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Campus Governador Valadares, pelo carinho e disponibilidade no meu retorno aos estudos. Foi por intermédio de vocês que retomei meu caminho acadêmico e nele permaneci. Agradeço à Profa. Dra. Daniela Abritta Cota, pela paciência e importantes momentos de orientação, sem os quais este trabalho não teria terminado. Aos mestres do PPGeog, que me conduziram pelas disciplinas e me despertaram mais ainda o interesse pelo tema. Agradeço imensamente às professoras Tatiane Marina Pinto Godoy e Fernanda Nascimento Corghi, pelas preciosas contribuições na banca de qualificação. Às Professoras Natália Aguiar Mol, Tatiane Marina Pinto Godoy novamente, pela participação na banca de defesa. À Mônica e demais funcionários do PPGeog, pela disponibilidade e prontidão em esclarecer todas as dúvidas. Aos colegas do curso de PPGeog, turma 2017, pela troca de experiência, auxílio nas horas de dúvidas e dificuldades, por contribuírem durante todo o tempo de estudo e dedicação a este trabalho. Agradeço à colega Jaqueline, por me acolher, pelas nossas conversas, pela parceria e generosidade constantes e a sua inabalável disposição para ajudar. Agradeço também à colega Viviane, pela parceria na hora do almoço. Aos estimados alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Campus Ouro Branco. A forma como me acolheram, os abraços e as palavras de apoio e incentivo também foram determinantes para conclusão deste trabalho. Sempre levarei um pouco de vocês no meu coração.

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Aos servidores dos órgãos citados nesta pesquisa, que contribuíram para que a mesma se concretizasse: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Limpeza Pública, Secretaria de Serviços Públicos e a Gerência Municipal de Tributos, que forneceram importantes dados e, desse modo, colaboraram para o andamento e conclusão da pesquisa. Na impossibilidade de mencionar a totalidade daqueles que contribuíram com esta pesquisa, agradeço a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização desta etapa muito importante da minha vida. Não tenho condições de expressar em palavras toda minha gratidão e admiração por todos aqueles que trazem coisas positivas para minha vida. Sem vocês, este trabalho não seria possível.

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Semente do Amanhã

“Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã...

Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar

Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida Fé no homem, fé no que virá!

Nós podemos tudo, Nós podemos mais Vamos lá fazer o que será!”

(Gonzaguinha)

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RESUMO

As forças políticas e econômicas que querem manter sua hegemonia costumam lançar mão de diferentes estratégicas de controle socioespacial. Dentre essas estratégias de controle, estão a ordenação, a produção e a regulação territorial. O espaço social torna-se um território controlado por um Estado que se utiliza de um conjunto de normas, símbolos e signos socialmente aceitos para legitimar suas ações em defesa dos interesses do capital. Esta pesquisa objetiva analisar a ocupação do solo urbano nas Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) de Caetité – BA, a partir da aprovação do Plano Desenvolvimento do Município (Plano Diretor), Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, e refletir sobre os limites deste instrumento como ferramenta de regulação do território. Para uma melhor compreensão da produção do espaço urbano, será tratada a atuação dos agentes responsáveis por essa produção, principalmente os promotores e incorporadores imobiliários e o Estado. A discussão parte do princípio de que, dentro do processo de acumulação capitalista, o solo urbano, elemento fundamental para sua reprodução, possui uma dinâmica de ocupação e utilização que resulta da interação de determinados agentes. O presente trabalho traz como contribuição a discussão dos critérios considerados no planejamento urbano de Caetité e a reflexão sobre a limitação do Plano Diretor como instrumento de regulação.

Palavras-Chave: Plano Diretor de Caetité, dinâmica imobiliária, ocupação em zonas de proteção ambiental, limites da regulação

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ABSTRACT

Political and economic forces that want to maintain their hegemony tend to use different socio-spatial control strategies. Among these control strategies are the ordering, production and territorial regulation. Social space becomes a territory controlled by a state that uses a set of socially accepted norms, symbols and signs to legitimize its actions in defense of the interests of capital. This research aims to analyze the urban land occupation in Caetité - BA Environmental Protection Zones (ZPA), after approval of the Municipal Development Plan (Master Plan), Law no. 632, of October 10, 2006, and to reflect on the limits of this instrument as a tool for territorial regulation. For a better understanding of the production of the urban space will be treated the action of the agents responsible for this production mainly the promoters and real estate developers and the State. The discussion starts from the principle that within the process of capitalist accumulation, the urban soil, a fundamental element for its reproduction, has a dynamics of occupation and use that results from the interaction of certain agents. The present work brings as contribution the discussion of the criteria considered in the urban planning of Caetité and the reflection on the limitation of the Master Plan as an instrument of regulation.

Keywords: Caetité Master Plan, real estate dynamics, occupation in environmental protection zones, limits of regulation

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa Brasil – – Caetité e Distritos...... 43 Figura 2 – Caetité: Praça da Catedral 1930...... 44 Figura 3 – Caetité: Vista Parcial em 1970...... 45 Figura 4 – Zoneamento Urbano e Bairros de Caetité...... 52 Figura 5 – Figura 5: Zoneamento Urbano e a localização das Nascentes e dos Riachos de Caetité...... 58 Figura 6 – Entulho de loteamentos recentes, Bairro Alto do Cristo...... 68 Figura 7 – Enxurrada, Avenida Santana – Centro, 2017...... 69 Figura 8 – Rua sem pavimentação, Loteamento Village Santa Rita, Bairro Santa Rita...... 70 Figura 9 – Rua sem pavimentação, Loteamento Bosque do , Bairro Alto do Cristo...... 70 Figura 10 – Publicação realizada pelo morador na rede social Facebook, sobre a situação dos novos loteamentos nos bairros Alto do Cristo e São Vicente...... 73 Figura 11 – Localização da Avenida D. Manuel Raimundo de Melo...... 75 Figura 12 – Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo...... 76 Figura 13 – Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo...... 76 Figura 14 – Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo...... 77 Figura 15 – Minas e Geradores em Caetité...... 80 Figura 16 – Evolução Urbana de Caetité no período de 2004 – 2016...... 85 Figura 17 – Localização dos Loteamentos Aprovados entre 2006 – 2016...... 89 Figura 18 – Mapa Hipsométrico e a Localização dos Objetos de Estudo...... 94 Figura 19 – Outdoor do Loteamento Village Santa Rita...... 95 Figura 20 – Loteamento Village Santa Rita...... 97 Figura 21 – Casas de alto padrão Rua Barbara Ivo no Bairro Santa Rita...... 98 Figura 22 – Loteamento Village Santa Rita, Rua Capitão João Fraga...... 98 Figura 23 – Loteamento São Vicente III...... 101 Figura 24 – Vista da Avenida São Vicente, Bairro São Vicente...... 102 Figura 25 – Residência do Bairro São Vicente, Avenida São Vicente...... 103 Figura 26 – Área de Verde do Loteamento São Vicente III...... 104 Figura 27 – Rua Pavimentada, Loteamento Morada Imperial...... 107

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Figura 28 – Infraestrutura para o escoamento de águas pluviais e soluções para o esgotamento sanitário...... 107 Figura 29 – Informe publicitário do Loteamento Morada Imperial...... 108 Figura 30: Informe publicitário do Loteamento Morada Imperial...... 109 Figura 31 – Loteamento Morada Imperial...... 110 Figura 32 – Loteamento Morada Imperial...... 111

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Loteamentos implantados em Caetité 1980–1986...... 46 Tabela 2 – Loteamentos implantados em Caetité 1990–2005...... 47 Tabela 3 – As novas corporações implantadas em Caetité – BA de 1995 – 2012...... 65 Tabela 4 – Evolução do Produto Interno Bruto de Caetité 2010 – 2015...... 81 Tabela 5 – Crescimento Populacional de Caetité de 1970 a 2010...... 82 Tabela 6 – Porte e Área do Parcelamento do Solo: Loteamentos e Desmembramentos sujeitos ao Licenciamento Ambiental...... 84 Tabela 7 – Composição do Loteamento Village Santa Rita...... 96 Tabela 8 – Composição do Loteamento São Vicente III...... 102 Tabela 9 – Composição do Loteamento Morada Imperial...... 108

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Loteamentos em Caetité 2006 – 2016...... 87 e 88

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APA - Área de Proteção Ambiental

APP - Área de Preservação Permanente

BAMIN - Bahia Mineração

BNH - Banco Nacional de Habitação

CERB - Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos

CDNDU - Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano

CNPU - Comissão Nacional de Política Urbana

DIREC - Diretoria Regional de Educação

DIRES - Diretoria Regional de Saúde

EC – Estatuto da Cidade

EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário

EIA - Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança

FFCLC - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caetité

FIOL - Ferrovia de Integração Oeste Leste

IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IBF - Instituto Baiano de Desenvolvimento Florestal e Recursos Naturais

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPASE - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado

IPTU - Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana

INB - Indústrias Nucleares do Brasil

LAC - Licença Ambiental por Adesão e Compromisso

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LI - Licença de Instalação

LO - Licença de Operação

LP - Licença Prévia

LU - Licença Unificada

MNRU - Movimento Nacional pela Reforma Urbana

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PCA - Plano de Controle Ambiental

PD – Plano Diretor

PDM - Plano de Desenvolvimento do Município

PIBP - Produto Interno Bruto

PND - Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano

PNDU - Política Nacional de Desenvolvimento Urbano

RCA - Relatório de Controle Ambiental

SERFHAU - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo

SFH - Sistema Financeiro da Habitação

UC - Unidades de Conservação

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

ZPA - Zona de Proteção Ambiental

ZRN - Zona Residencial Norte

ZRS - Zona Residencial Sul

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO...... 18

1. PLANO DIRETOR: INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO REFORMISTA?...... 24 1.1 Movimento da Reforma Urbana no Brasil e o Plano Diretor como instrumento da política urbana...... 24 1.2 Planos Diretores no contexto da política urbana vigente...... 29

2. O PAPEL DO ESTADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO...... 34 2.1 Agentes produtores do espaço e o papel do Estado no modo de produção capitalista...... 34

2.2 Estado capitalista e a produção do espaço...... 37

3. A FORMAÇÃO ESPACIAL DE CAETITÉ, EVOLUÇÃO URBANA E ANÁLISE DOS INTRUMENTOS DE REGULAÇÃO DO TERRITÓRIO...... 42

3.1 Evolução Urbana de Caetité até a Aprovação do PDM...... 42

3.2 O PDM e outros instrumentos de regulação urbana vigentes em Caetité...... 48 3.2.1 Lei Orgânica do Município de Caetité...... 48 3.2.2 Plano de Desenvolvimento do Município de Caetité (Plano Diretor)...... 50 3.2.3 Código de Meio Ambiente do Município de Caetité...... 56

3.3 Processo de Licenciamento Ambiental e Aprovação de Loteamento em Caetité...... 61

3.4 Regulação urbano-ambiental em Caetité: garantia do controle e da conservação ambiental?...... 66

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4. DINAMICA RECENTE E OS ESTUDOS DE CASO: LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (ZPA) EM CAETITÉ – BA...... 79

4.1 Caetité: Dinâmica urbana recente...... 79

4.2 Estudos de Caso: Loteamentos em Zonas de Proteção Ambiental...... 91 4.2.1 Loteamento Village Santa Rita...... 95 4.2.2 Loteamento São Vicente III...... 100 4.2.3 Loteamento Morada Imperial...... 106

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 116

REFERÊNCIAS...... 121

ANEXOS...... 130

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem por objetivo discutir a ocupação do solo urbano nas Zonas de Proteção Ambiental de Caetité – BA, pois, de acordo com a definição do Plano Diretor, essas áreas possuem restrição para ocupação urbana. Assim, buscaremos discutir os instrumentos de regulação do território do município de Caetité – BA e a atuação do Estado e dos demais agentes sociais na configuração do espaço urbano, no período correspondente a 2006 e 2016. A cidade atual é o resultado cumulativo de transformações sociais ocorridas através dos tempos, e o espaço urbano pode ser considerado um produto social (LEFEBVRE, 2006). Nesse sentido, entender os empreendimentos imobiliários e sua relação com os agentes produtores do espaço – no caso específico deste estudo, tratando dos loteamentos em áreas de proteção ambiental na cidade de Caetité – ajuda-nos a compreender como o espaço é produzido historicamente, definindo, inclusive, a forma de apropriação dos espaços por determinados grupos – o que, numa cidade capitalista, acaba delimitando os segmentos da população que, de alguma forma, irão possuí-lo. Segundo Lefebvre (2008, p. 159): Hoje as classes dominantes se servem do espaço como um instrumento. Instrumento para vários fins: dispersar a classe operária, reparti-la nos lugares prescritos, organizar os fluxos diversos subordinando os espaços a regras institucionais; subordinar, por conseguinte, o espaço ao poder; controlar o espaço e reger, tecnocraticamente, a sociedade inteira, conservando as relações capitalistas (LEFEBVRE, 2008, p.159).

A estruturação física em diferentes bairros, a separação destes entre ricos e pobres, as apropriações da natureza como área de moradia, centros e periferias são manifestações das relações socioeconômicas, do acesso desigual aos meios e condições de produção e de trabalho. Nesse sentido, a urbanização difunde-se no território “[...], como um modo de vida determinado pelo quadro de vida e pelas formas de inserção dos trabalhadores no processo produtivo, enquanto parte do processo espacial, social e econômico mais amplo” (LIMONAD,2007, p.11). Na tentativa de minimizar essa desigualdade, diversos movimentos sociais marcaram os anos 1980 no que se refere à política urbana, e sua maior conquista foi a inserção dos artigos 182 e 183 na Constituição Federal de 1988 (MARICATO, 2013). No parágrafo 1º do artigo 182, institui-se o Plano Diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

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Contudo, a ideia de Plano Diretor no Brasil não é nova, já existindo planos desde década de 1930 (VILLAÇA, 2005). Desde então, segundo Villaça (2005), a elite brasileira difundiu a ideia do Plano Diretor como um poderoso instrumento para a solução de problemas urbanos. Desde seus primórdios, o planejamento urbano no Brasil esteve vinculado aos interesses da elite brasileira (COTA, 2010). As décadas de 1930 a 1950 são marcadas pela elaboração de planos que têm por objetivo uma visão de totalidade – que na época era limitada à proposição da articulação entre bairros, o centro e a extensão das cidades, através de sistemas de vias e de transportes. Como lembra Villaça: O conceito de plano diretor (físico-territorial ou não) desenvolveu-se no Brasil mais ou menos a partir dos anos 50, embora a expressão “plano diretor” já aparecesse no Plano Agache, para o Rio de Janeiro, que é de 1930 (VILLAÇA, 1999, p.238)

Entre as décadas de 1930 e a de 1970, observa-se uma ascensão do zoneamento em substituição ao plano, utilizado praticamente como um instrumento autônomo. Feldman (2005) identifica que o processo de declínio da importância do plano como instrumento de intervenção no espaço urbano corresponde à ascensão da legislação como instrumento, por excelência, do planejamento. Nessa linha, ela destaca o papel determinante da legislação urbanística no Brasil, exercido por meio da legitimação do zoneamento como o principal instrumento de planejamento urbano. O que há de novo na Constituição de 1988 é o fato de não somente recuperar a importância do plano como instrumento de controle territorial, mas também vincular o cumprimento da função social da cidade e da propriedade às disposições do Plano Diretor, como forma de se instituir uma cidade socialmente mais justa e democrática, ou seja, cada município, por meio desse instrumento, pode definir o que se entende por cumprimento da função social da cidade e da propriedade e quais as ferramentas para efetivá-las. Assim, cabe ao Plano Diretor definir o conteúdo da função social da propriedade (art. 39) que, a partir de então, deixa de ser uma mera “recomendação” para se concretizar na realidade brasileira (FONTES, SANTORO e CYMBALISTA, 2007, p.66), devendo fornecer orientações para as ações que, de alguma maneira, influenciam no desenvolvimento urbano. Essas ações, no seu conjunto, definem o desenvolvimento da cidade; portanto, é necessário que elas sejam orientadas segundo uma estratégia mais ampla, para que todos possam trabalhar em conjunto na direção dos objetivos estabelecidos.

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A Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, o Estatuto da Cidade, reforça o papel do Plano Diretor como figura central e decisiva da política urbana (MARICATO, 2013), sendo obrigatório, para cidades com mais de vinte mil, os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, os localizados em áreas de especial interesse turístico e, por fim, os municípios inseridos nas áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional, independentemente da dimensão da população. Caetité, município localizado a 757 quilômetros da capital Salvador (IBGE, 2016), é caracterizado pelo desenvolvimento de atividades econômicas de extrativismo mineral (urânio, minério de ferro e ametista) e exploração de energia eólica. Atendendo às disposições do Estatuto da Cidade1, aprovou seu Plano de Desenvolvimento do Município (PDM) de Caetité (Plano Diretor), Lei nº 632, em 10 de outubro de 2006. O PDM estabelece, dentre outras disposições, o zoneamento urbano do município, definindo zonas em função da capacidade (ou não) de ocupação, a exemplo das Zonas de Proteção Ambiental - ZPA. As ZPAs, foco deste trabalho, foram delimitadas de acordo com a localização das nascentes dos riachos Pedreira, Alegre e Jatobá e da Serra do Gambá. De acordo com o PDM, são áreas com restrição na ocupação urbana definidas no Art. 11, Inciso V: V- ZPA – Zona de Proteção Ambiental – Corresponde às áreas não passiveis de ocupação, e/ou que deverão obedecer a critérios específicos para isso. (CAETITÉ, 2006, p. 4)

Embora na definição das ZPAs no PDM de Caetité haja a exigência de critérios que regulamentariam sua ocupação, em nenhum artigo da lei em questão – e nem em regulamentação posterior –, esses critérios foram definidos. Novos loteamentos seguem sendo aprovados nessas áreas, mediante a concessão de licença ambiental, na qual são estabelecidos os critérios para o desenvolvimento do projeto do loteamento/desmembramento. A aprovação desses empreendimentos atende à pressão dos proprietários das terras localizadas nas ZPAs, próximas à Zona Residencial Sul (ZRS), que se destaca por imóveis residenciais de status com grande valor no mercado imobiliário local. Esses agentes atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas

1 Tanto por possuir mais de 20.000 habitantes como por situar em área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental.

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propriedades, destinando produtos imobiliários aos segmentos de renda média e alta da população. Entretanto, observando o processo de urbanização brasileiro, com a implantação das grandes indústrias, a migração acelerada e concentrada, e o consequente aumento da demanda pela moradia urbana, somada à ausência de uma política de habitação pública eficaz, houve a formação e consolidação de muitos assentamentos irregulares, particularmente em áreas de preservação ambiental (GONDIM, 2012). Todavia, a ocupação de áreas não passíveis de ocupação, como as Áreas de Preservação Permanente (APP), ou outras definidas pelos planejamentos municipais – como no caso de Caetité –, é realizada pelas classes de média e alta rendas nas cidades, a partir da atuação de promotores imobiliários que produzem e ofertam, no mercado, seus produtos, de modo a obter a máxima taxa de lucro, o que pode influenciar no direcionamento da ocupação do espaço (COTA, MOL, 2008, p.236). Segundo as autoras, a regulação do uso e da ocupação do solo pode criar condições para a implementação de novas frentes lucrativas de ocupação do espaço intraurbano. A apropriação desses espaços por esses agentes privilegia as relações estabelecidas no interior do sistema capitalista, causadas pelas disparidades nos baixos salários e pela atuação do Estado mantenedor das leis do mercado e agente homogeneizante das diferenças. Dentro desse contexto, a área de estudo justificou- se pelo forte processo de crescimento econômico decorrente de atividades relacionadas ao extrativismo mineral e exploração de energia eólica, que têm ocasionado transformações radicais no espaço urbano de Caetité, com o aumento da demanda por imóveis – especialmente por parte da mão-de-obra qualificada que tem se deslocado para o município, por meio da ação do mercado imobiliário local e do Estado nas ZPAs. A demanda por terras e habitações depende do aparecimento de novas camadas sociais, oriundas, em parte, de novos fluxos migratórios, e que detêm nível de renda que os torna capazes de participar do mercado de terras e de habitações (CORREA, 1989, p. 17). Assim, a pesquisa tem como objetivo geral analisar a ocupação do solo urbano nas ZPAs de Caetité - BA, a partir da aprovação do Plano Diretor Municipal (2006- 2016), e refletir sobre os limites desse instrumento como ferramenta de regulação do

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território. Para melhor elucidar a discussão, no presente trabalho, serão apresentados três loteamentos aprovados: o loteamento Village Santa Rita, o São Vicente III e o loteamento Morada Imperial. A escolha desses loteamentos justifica-se pelo fato de esses loteamentos situarem-se em Zonas de Proteção Ambiental e dentro da ampliação do limite do perímetro urbano, de acordo com a lei nº 790, de 22 de junho de 2015, e por atender às classes de média e alta rendas. Para contemplar o objetivo geral da pesquisa, são propostos os seguintes objetivos específicos: • Relacionar a expansão urbana de Caetité-BA com o desenvolvimento das atividades econômicas nos setores de extrativismo mineral e produção de energia, no período de 2006 a 2016; • Conhecer o Plano Diretor de Caetité e as leis ambientais e urbanísticas correlatas, verificando as disposições legais existentes para as Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs); • Identificar os loteamentos aprovados em Zonas de Proteção Ambiental, no período de 2006 a 2016; • Caracterizar o processo de mercantilização das áreas supostamente não passíveis de ocupação urbana, conforme disposições do Plano Diretor sobre o zoneamento urbano de Caetité, verificando motivos que levam os agentes a escolherem tais áreas para loteamento e possíveis consequências dessa ocupação; • Refletir sobre a efetividade do Plano Diretor como instrumento reformista. A pesquisa apresenta uma abordagem metodológica baseada no pensamento dialético e busca compreender a produção do espaço através de sua articulação com os agentes sociais, bem como com as contradições promovidas pela relação entre esses agentes. A metodologia adotada para o desenvolvimento desta pesquisa, e para contemplar os objetivos propostos, compõe-se de métodos quantitativos e qualitativos assim descritos: análise dos dados estatísticos censitários provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2006 e 2016, análise dos documentos referentes à legislação urbana e ambiental do município, verificando as disposições legais existentes para as ZPAs, visita a órgãos da administração municipal (Secretarias de Meio Ambiente e Limpeza Pública e Secretaria de Serviços

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Públicos) para o levantamentos dos loteamentos nas Zonas de Proteção Ambiental e dos processos de desmembramento/loteamentos no município, além de entrevistas com os servidores públicos ligados ao processo de desmembramento/ loteamentos e com agentes do mercado imobiliário. Por fim, a caracterização do uso e ocupação do solo urbano de acordo com o zoneamento no Plano Diretor de Caetité-BA, através da apreciação de imagens orbitais (período de 2006 e 2016) e visitas a campo. A dissertação se estrutura da seguinte forma: no primeiro capítulo, refletiremos sobre o papel do Plano Diretor como instrumento para o Planejamento Reformista, uma vez que esta pesquisa se propõe a analisar a ocupação do solo a partir da aprovação do Plano Diretor de Caetité (2006-2016), e refletir sobre os limites deste instrumento como ferramenta de regulação do território. No segundo capítulo, buscaremos discutir o papel do Estado e suas formas de organização juntamente com os demais agentes sociais na construção do espaço urbano. O terceiro capítulo refere-se ao processo de formação espacial de Caetité – BA até a aprovação do PDM, a análise dos instrumentos de regulação urbana do município e as consequências da aplicação (ou não) desses instrumentos no planejamento territorial. O quarto capítulo consiste na apresentação da sua dinâmica urbana recente e na análise de três loteamentos que se inserem nas ZPAs em Caetité, dando destaque para a dinâmica do processo de aprovação, sua configuração e as implicações da ocupação desses empreendimentos para a cidade. Ao final desse capítulo, busca-se refletir sobre a capacidade limitada dos instrumentos de regulação urbano-ambiental no cumprimento da função social e do direito à cidade, para o caso específico de Caetité. Nas considerações finais, faremos uma reflexão geral sobre os efeitos do modo de regulação empreendido pelo Estado em Caetité, considerando a análise realizada para os casos de loteamentos aprovados em Zonas de Proteção Ambiental.

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1 PLANO DIRETOR: INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO REFORMISTA?

De modo geral, o Plano Diretor é visto como o “instrumento básico da política urbana” com o intuito de fazer cumprir a função social da cidade e da propriedade. Nesse sentido, este capítulo tem por objetivo refletir sobre o papel Plano Diretor como instrumento para o Planejamento Reformista, uma vez que esta pesquisa se propõe a analisar a ocupação do solo a partir da aprovação do PDM de Caetité, (Plano Diretor), e discorrer sobre os limites desse instrumento como ferramenta de regulação do território. Ressalta-se que os instrumentos de regulação urbana – especialmente aqueles que seriam instituídos via Plano Diretor – poderiam atuar de forma a reduzir a desigualdade socioespacial e a viabilizar uma cidade mais justa e igualitária. Buscaremos verificar se isso também ocorre no caso de Caetité - BA.

1.1 Movimento da Reforma Urbana no Brasil e o Plano Diretor como Instrumento da Política Urbana

O Brasil, até o final do século XIX, apresentava 30% de sua população nas cidades (CALDAS, 2015). Entre as décadas de 1940 e 1980, houve uma inversão do lugar da residência brasileira, pois a taxa de urbanização na década de 1940 era de 26,35% e em 1980 alcança 68,86% (SANTOS, 1993). Esse considerável crescimento resultou em um gigantesco movimento de construção na e da cidade, necessário para o assentamento residencial dessa população, bem como de suas necessidades (MARICATO, 2013). No governo de Juscelino Kubitschek, a urbanização foi impulsionada definitivamente, com investimentos estrangeiros na indústria, que investiu em infraestrutura, especialmente rodoviária, além da construção de Brasília (CALDAS, 2015). O país passa a produzir bens duráveis e até mesmo bens de produção, modificando, de forma significativa, o modo de vida dos consumidores, e gerando impactos, também, na habitação e nas cidades (MARICATO, 2013). A autora (2013, p. 20) salienta que, entre 1940 e 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a índices superiores a 7% ao ano; porém, essa riqueza é bastante concentrada, o que interfere na forma de acesso à moradia, por exemplo: Ao lado do grande contingente de trabalhadores que permaneceu na informalidade, os operários empregados do setor industrial não tiveram seus salários regulados pelas necessidades de sua reprodução, com a inclusão

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dos gastos com a moradia, por exemplo. A cidade ilegal e precária é um subproduto dessa complexidade verificada no mercado de trabalho e da forma como se processou a industrialização. Até mesmo parte dos trabalhadores empregados na indústria automobilística, que ingressa no Brasil nos anos 50, mora em favela. (MARICATO, 2013, p. 41)

A industrialização dos anos 1950 em diante se deu justamente condicionada à manutenção dos baixos salários e grande concentração de renda, fatores expressos na reprodução do espaço (FERREIRA e MOTSUKE, 2007). Em países como o Brasil, é marcante a presença de periferias urbanas precárias, parcialmente integradas à dinâmica urbana, o que resultou e ainda resulta no agravamento das condições de exclusão urbana (MONTE MÓR, 2006). A urbanização empreendida sob o comando dos interesses das grandes corporações constitui um receptáculo das consequências do capitalismo devorante dos recursos públicos, em detrimento dos gastos sociais (SANTOS, 1993, p.95). Após o governo de Juscelino Kubitscheck, foi realizada uma nova eleição em 1960, e a vitória coube a Jânio Quadros e João Goulart. O governo Jânio adotou uma política econômica externa e interna que não conquistou os políticos do partido, os setores das Forças Armadas e os diversos setores da sociedade (AZEVEDO, FREITAS, 2014). Após a renúncia de Jânio, depois de sete meses de governo, o vice- presidente João Goulart, assumiu o governo. Por meio do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social (1962-1964), elaborado por Celso Furtado, então Ministro do Planejamento, determinou-se a realização das chamadas reformas de base. No início da década de 1960, já havia a consciência da necessidade de que o desenvolvimento urbano fosse assumido como uma tarefa fundamental do governo; contudo, a questão urbana não havia sido contemplada no plano de governo João Goulart. Em 1963, foi realizado o Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana, com o objetivo de inserir a questão urbana nas discussões das reformas de base do governo (COTA, 2010). Organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em conjunto com o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), o seminário foi realizado em duas etapas, sendo a primeira no Rio de Janeiro e a segunda em São Paulo, e objetivava alterações nos instrumentos de regulação e de mediação dos conflitos sociais urbanos, ensejando a inclusão de mecanismos de controle do mercado imobiliário. (AZEVEDO, FREITAS, 2014). A sessão de encerramento do

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evento teve a participação de representantes públicos, denotando uma preocupação do governo em enfrentar os desafios elencados pelas instituições a frente do evento, tanto que o presidente João Goulart se apropriou de algumas ideias contidas no documento final em sua mensagem encaminhada ao Congresso Nacional em 1964, incorporando muitas recomendações ao seu plano de governo. Contudo, tais mudanças, atreladas às propostas de reforma de base debatidas e defendidas pelo presidente, não foram contempladas (AZEVEDO, FREITAS, 2014). Como resultado desse seminário, tem-se o documento contendo um conjunto de debates ocorridos, intitulado “Conclusão do Seminário de Habitação e Reforma Urbana” (COTA, 2010), enfatizando a questão habitacional no país, considerando-o como um problema decorrente de uma sucessão de fatos e processos espoliativos que levaram ao subdesenvolvimento da América Latina (AZEVEDO, FREITAS, 2014). Em 1964, por meio de um golpe, uma junta militar assumiu o poder, e as propostas políticas das reformas de base que estavam sendo construídas democraticamente foram revertidas (MARICATO, 2013). O Estado assumiu uma postura nitidamente autoritária e opressora, impedindo qualquer movimento reivindicatório. Assim, a partir do golpe militar de 1964, a política urbana caminharia em outra direção, diferente das propostas discutidas e dos objetivos traçados em 1963 (COTA, 2010). Em contrapartida, o governo militar criou, em 1964, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), cujo objetivo era prestar assistência técnica aos municípios e incentivar a criação de órgãos locais de planejamento (COTA, 2010, p.99), com base no documento resultante do Seminário de Habitação e Reforma Urbana de 1963. Concomitante ao SERFHAU, foram criados o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH), incentivando financeiramente os municípios a adotarem os planos de desenvolvimento local integrados, o que favoreceria a recuperação econômica e a resolução de problemas sociais da população de baixa renda. [...] a expansão da construção civil viria gerar emprego exatamente nas áreas onde o desemprego ou subemprego apresentavam um quadro social mais grave: as cidades maiores, onde a concentração de migrantes não- qualificados crescia, aumentando a marginalização e as tensões sociais. (MONTE MÓR,1981, p. 19).

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Segundo Cota, (2010, p.100), por vários motivos, “os resultados de tais iniciativas foram ínfimos, tanto do ponto de vista econômico quanto do social”, haja vista que o BNH privilegiou os segmentos de renda média e alta da população, uma vez que “não incluiu o atendimento das famílias com renda inferior a um salário mínimo”. Maricato acrescenta: Os recursos despejados no financiamento habitacional alimentaram a especulação fundiária, subsidiaram, em especial, a classe média, que deu sustentação ao regime, e transformaram a indústria da construção de edificações (mas não suas características de atraso estrutural). (MARICATO, 2013, p. 85)

Tais investimentos não ampliaram a oferta de moradia e o “direito à cidade” para aqueles que não tinham condições de acesso ao mercado imobiliário legal (MARICATO, 2013). Portanto, convém observar, como afirma Santos (1993), que o regime autoritário, mediante rígido controle das manifestações de uma opinião pública já por si deformada, contribuiu para a manutenção desse esquema. Assim Com a maior parte dos empreendimentos voltados para atender às classes de renda altas e médias, a população pobre continuava sem alternativa a não ser ocupar as áreas desprezadas pelo mercado, ou seja, as encostas, as áreas de inundação e áreas de preservação, sob o olhar conivente do poder público. Este, quando atuou para implantar moradias para atender a demanda desta faixa de renda, frequentemente construiu conjuntos habitacionais afastados das áreas urbanizadas, verdadeiros guetos, distantes das fontes de emprego e renda, institucionalizando a segregação socioespacial e contribuindo para consolidar a especulação imobiliária ao atribuir mais valia urbana às terras ociosas que separavam as cidades dos pobres da cidades dos ricos. (CALDAS, 2015, p.30 e 31)

Maricato (2013) salienta que o Brasil perdeu uma grande chance de fazer uma reforma fundiária com a criação do BNH, pois a execução do programa ratificou a propriedade capitalista travestida da ideia de que todos os trabalhadores podem ter acesso à propriedade de uma habitação para morar, difundida como se todos passassem a ser proprietários capitalistas (RODRIGUES, 2012, p.16). A partir da segunda metade da década de 1970, tiveram início as manifestações sociais daqueles a quem cabiam as migalhas do “milagre brasileiro” (MARICATO, 2013). Com apoio da Igreja Católica, diversos movimentos sociais eclodiram, retornando a pauta do “direito à cidade” de forma crescente, principalmente nos locais onde a atividade industrial se concentrava massivamente (CALDAS, 2015). A atuação dos movimentos sociais foi metamorfoseado na tragédia urbana dos anos 1970, conjuntura que consolidou o capitalismo monopolista no Brasil através do braço armado dos militares e da ciência urbanística dos planejadores (BURNETT, 2011,

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p.264). A racionalização do espaço urbano por meio da tecnocracia e da burocracia estatista atende aos anseios da acumulação de capital e das relações dominantes de classe. Ainda em 1979, o Congresso Nacional aprova a Lei 6.766, que estabelece diretrizes para o parcelamento do solo e criminaliza o promotor de loteamentos ilegais (MARICATO, 2013). Essa lei deu início a uma mudança de abordagem em relação à expansão urbana, constituindo-se uma lei que objetiva ordenar o crescimento nas regiões urbanas, definindo padrões para a implantação dos loteamentos (COTA, 2002). Contudo, mesmo com a oferta de melhores empreendimentos para a população, essa nova exigência ocasionou o aumento do preço dos lotes, dificultando o acesso à moradia pela parcela da população de baixa renda. Alguns acontecimentos históricos marcaram a década de 1980: o governo militar enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei 7752; é criado o Ministério do Desenvolvimento Urbano (1985), que teve seu nome modificado diversas vezes, até se tornar uma secretaria; e em 1986, o BNH é extinto e suas atribuições são transferidas à Caixa Econômica Federal no mesmo ano (MARICATO, 2013). Essa década foi marcada também pelo evidente desgaste do regime militar e seu autoritarismo, e o fortalecimento dos movimentos sociais no sentido de derrubar o regime e restabelecer a democracia (COTA, 2002). Como reflexo da intensa mobilização popular em defesa da cidade justa e democrática, diversos movimentos sociais passaram a reivindicar o direito à cidade: A extrema precariedade dos assentamentos periféricos, a absoluta ausência do Estado na implementação de políticas habitacionais e urbanas durante décadas, geraram um paulatino, mas consistente, movimento de insatisfação e de mobilização da população excluída, que se reforçou com movimentos de organização política promovidos pela Igreja Católica – Comissão Pastoral da Terra e as Comunidades Eclesiais de Base –, pelos sindicatos, pela universidade e pelo Partido dos Trabalhadores, em especial na década de 1980. (FERREIRA e MOTSUKE, 2007, p. 41)

Destacou-se o Movimento Nacional pela Reforma Urbana – MNRU, entidade constituída por setores da Igreja Católica progressista, setores não governamentais e técnicos de assessoria aos movimentos sociais e urbanos, e pelas próprias lideranças dos movimentos sociais (CALDAS, 2015, p.39), focados no fortalecimento da gestão pública para a condicionamento da propriedade urbana a uma função social, na institucionalização dos meios democráticos para a gestão da cidade e na priorização

2 Dispõe sobre os objetivos e a promoção do desenvolvimento urbano e da outras providencias.

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dos investimentos públicos para diminuir a desigualdade no acesso à cidade pelas camadas menos favorecidas da população (CALDAS, 2015). Em 1988, resultante da atuação do movimento da Reforma Urbana que agrupou diversos movimentos sociais, ocorreu a maior conquista no que se refere à política urbana: a emenda popular da Reforma Urbana foi encaminhada ao Congresso Constituinte, possibilitando a introdução dos artigos 182 e 183 na Constituição Federal de 1988 (MARICATO, 2013), que tratam da função social da propriedade urbana e do Plano Diretor como instrumento básico da política urbana. Pouca coisa da emenda foi, de fato, introduzida na Constituição, e os dois artigos aprovados necessitavam de regulamentação posterior – que foi aprovada somente em 2001, através da Lei nº 10.257 – o Estatuto da Cidade. Segundo Cota (2010, p. 211), a partir de 1988, “o município se fortalece como principal instância de controle das formas de ocupação do solo urbano e de definição das formas democráticas de governo”. Assim, a partir da CF de 1988, muitos municípios, especialmente as grandes cidades, elaboraram suas Leis Orgânicas e começaram a se estruturarem para elaborar seus Planos Diretores.

1.2 Planos Diretores no contexto da Política Urbana Vigente

Conforme Caldas (2015), o Estatuto da Cidade, que regulamentou e expandiu os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, demorou mais de dez anos para ser aprovado. Aprovada em julho de 2001 pelo Congresso Nacional, a Lei Federal 10.257 institui a nova moldura institucional urbana a ser feita pela União, pelos Estados e Municípios (FONTES, SANTORO e CYMBALISTA, 2007). Essa Lei visa a ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, e atribui ao planejamento municipal a elaboração do Plano Diretor, que é obrigatório para todo município com mais de vinte mil habitantes3. Segundo Fontes, Santoro e Cymbalista (2007), o Plano Diretor define a realização concreta das diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e a aplicação dos instrumentos

3 Segundo o Artigo 41 do Estatuto da Cidade, o PD também é obrigatório para cidades: integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal; integrantes de áreas de especial interesse turístico; inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos.

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de política urbana no território da cidade. Assim, o Estatuto da Cidade põe à disposição dos municípios ferramentas de ordem pública e interesse social para regular o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança, bem como da equilíbrio ambiental. Ferreira e Motsuke (2007) afirmam que a regulamentação do Estatuto da Cidade, junto com os demais instrumentos urbanísticos, criou uma grande expectativa no aumento da capacidade do controle dos municípios sobre os processos de produção e apropriação do espaço, sendo resultantes das variadas demandas dos diversos setores da sociedade. O Estatuto da Cidade atribui ao Plano Diretor uma importância central na regulação do uso do solo e na efetivação da função social da propriedade (FONTES, SANTORO e CYMBALISTA, 2007). Várias foram as inovações do Estatuto da Cidade em relação ao planejamento e à gestão urbana no país, entretanto as que mais têm sido convocadas são: [...] a renovação dos princípios e diretrizes que devem ser seguidos nas políticas urbanas; o detalhamento do conceitos de função social da propriedade; a regulamentação de instrumentos com maior capacidade para intervir nos mercados de terras; a maior facilidade para conduzir processos de regularização fundiária; o imperativo de que o planejamento urbano vise sempre construir a gestão democrática da cidade. (FONTES, SANTORO E CYMBALISTA, 2007, p.60)

O Estatuto da Cidade instituiu: a) instrumentos de intervenção na lógica do mercado imobiliário, com o objetivo de enfrentar os processos especulativos tais como Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios, o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) Progressivo no Tempo, a Desapropriação para fins da Reforma Urbana, o Direito de Preempção, a Transferência do Direito de Construir, a Regularização Fundiária; b) instrumentos de recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenta resultado a valorização de imóveis urbanos, como a Outorga Onerosa do Direito de Construir e as Operações Urbanas Consorciadas (CALDAS, 2015), e c) instrumentos de gestão democrática, a exemplo do Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV. O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) é um instrumento da política urbana que corresponde ao planejamento urbano ambiental. Seu objetivo é o de avaliar os impactos positivos e negativos do empreendimento ou atividade em relação à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, garantindo- se, assim, o convívio social entre os moradores dos centros urbanos (JUNIOR & LIMA, 2016, p. 159). Assim como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), o EIV utiliza como

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base os princípios da precaução e da prevenção para aprovar o empreendimento ou atividade, estabelecendo condições ou contrapartidas para seu funcionamento, exigindo medidas mitigadoras ou compensatórias dos impactos que podem ser gerados pela instalação do empreendimento ou atividade. É importante lembrar que, para o município poder usufruir destes instrumentos, os mesmos devem estar instituídos no Plano Diretor. Nesse sentido, o Plano Diretor transformou-se na peça básica da política urbana do município, responsável pela definição de elementos estratégicos na esfera local, a exemplo da definição de critérios para o cumprimento da função social da propriedade (CYMBALISTA, 2007). Responsável pela condução da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), foi instituído, em 2003, o Ministério das Cidades. Sua estrutura foi baseada nos três principais problemas sociais urbanos: moradia, o saneamento ambiental e as questões relacionadas à mobilidade e ao trânsito (MARICATO, 2006). Para dar início ao processo participativo de discussão e formulação da PNDU, o Ministério das Cidades realizou a I Conferência Nacional das Cidades, que resultou na eleição da primeira composição do Conselho Nacional das Cidades. O Conselho foi responsável pela aprovação das propostas de políticas nacionais de habitação, saneamento ambiental, trânsito, mobilidade e transporte, bem como pela Campanha Nacional pelos Planos Diretores Participativos (MARICATO, 2006), destinada a viabilizar a elaboração de 1700 planos diretores nos municípios que tinham a obrigação de fazê-los até outubro de 2006 (CYMBALISTA, 2007). Entretanto, na prática, o que se observou foi que alguns planos diretores participativos, em muitas cidades do país, continuaram a atender a lógica do mercado, pois “mesmo com a inovação da lei ainda estão subordinados aos interesses privados, às alianças eleitoreiras, ao elitismo e a tecnocracia” (BURNETT, 2011). [...]o planejamento, independentemente de sua vertente, inclusive a que destaca a importância da gestão social, é um instrumento de referendo da propriedade capitalista e da reprodução ampliada do capital. Apesar de contemplar os princípios da função social da cidade e da propriedade, não altera o significado da cidade como mercadoria, e oculta, mais do que mostra, a realidade da cidade e do urbano. (RODRIGUES, 2012, p. 22)

Apesar de serem identificadas, no Estatuto da Cidade, diretrizes que tratam da necessidade de corrigir a imensa dívida social com a população pobre, por meio da regularização fundiária e da urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda (CALDAS, 2015, p.52), o planejamento urbano com caráter democrático participativo, ao buscar atender as demandas das classes menos favorecidas, ainda

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tem se configurado como uma oportunidade para o capital imobiliário obter lucro, algo favorecido por práticas clientelistas sobre a população desorganizada e dominada, presente em alguns contextos urbanos brasileiros (BURNETT, 2011). As cidades brasileiras passaram, ao longo desses anos, por um processo de implementação dessas diretrizes para ordenação do desenvolvimento urbano, resultado da política urbana exigida pelo Estatuto das Cidades quanto à implantação de Planos Diretores Municipais. Porém, a eficácia da ação de instrumentos urbanísticos no Brasil confronta-se com a necessidade de mudança estrutural das formas de organização da nossa sociedade e do nosso Estado, sem a qual esses instrumentos apenas cumprem o um papel remediador das desigualdades urbanas mais graves (FERREIRA, MOTISUKE, 2007). Apesar de o Estatuto da Cidade ser composto por instrumentos que permitem efetivar o cumprimento da função social da propriedade – a exemplo do IPTU Progressivo no Tempo, a Obrigação ao Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsórios, a aplicação destes instrumentos ainda depende do interesse do poder público local, em inseri-los no plano diretor, pois os imóveis sujeitos a esses instrumentos, em específico, devem estar descritos no plano, e muitos desses são propriedades de agentes locais vinculados ao mercado imobiliário local (MARICATO, 2013). Segundo Maricato: Para que os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade não se tornem “letra morta” ou, até mesmo, para aqueles que eles não venham alimentar ainda mais a dinâmica do mercado excludente [..], há muito o que fazer. Não resta dúvida que a nova lei dá condições para a mudança histórica do direito da propriedade urbana e, portanto, para mudar o rumo do crescimento das cidades marcado pela desigualdade social como já vimos. Mas essa condição prevê a aprovação, pelas Câmaras Municipais de um PD que vá contra os interesses dos proprietários fundiários e daqueles que lucram com a atividade especulativa imobiliária, que são, em geral, integrantes dos grupos que controlam o poder local. (MARICATO, 2013, p.113)

Assim, o plano diretor, entendido por muitos como o principal meio para a conquista da justiça urbana, pode configurar como uma ilusão, nesse sentido, uma vez que pode estar condicionado a atender os interesses dos grupos locais no poder. A população, de forma geral, pode mudar esse quadro, cobrando desses representantes ações que transitem no atendimento dos interesses de quem promove a especulação imobiliária e dos que almejam a instituição da função social da propriedade urbana.

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Acreditamos que a limitação do planejamento urbano no Brasil está ligada à implementação. Não há dúvidas de que o Estatuto da Cidade reforça a ideia do Plano Diretor como figura central e decisiva da política urbana (MARICATO, 2013); porém, muitos Planos Diretores têm se limitado a princípios, objetivos e diretrizes gerais (VILLAÇA, 1999) que pouco têm contribuído para alterar a dinâmica de produção do espaço já existente nessas cidades. Em muitos casos, acaba cumprindo a obrigação legal, fazendo perpetuar o papel ideológico da classe dominante, que insiste em manter sob sua custódia o setor imobiliário, uma vez que o mercado residencial privado legal é restrito a uma parcela da população que não ultrapassa a 30%, em alguns municípios (MARICATO, 2013). Em suma, a obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com mais de vinte mil habitantes parece não garantir a democratização do solo urbano para a maior parte da população, pois, conforme Villaça (1999), a superestimação dos poderes de um Plano Diretor ainda é um dos mecanismos mais utilizados pela ideologia dominante para desmoralizar o planejamento urbano. Ao que parece, o Plano Diretor mantém a lógica da produção capitalista calcada na propriedade privada, que continua sendo um obstáculo para se aplicarem instrumentos que visem a alcançar o direito à cidade.

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2 O PAPEL DO ESTADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Considerando o Estado como condutor do processo de produção do espaço urbano, através dos mecanismos de regulação urbanística e ambiental, buscaremos discutir, neste capítulo, o seu papel e suas formas de organização, juntamente com os demais agentes sociais. Neste estudo, em particular, acreditamos que o Estado desempenha papel relevante para assegurar os interesses capitalistas, em detrimento do interesse público de preservação ambiental de determinadas áreas, especialmente se essas áreas são tomadas pelo mercado imobiliário como forma de maximizar seus lucros.

2.1. Agentes produtores do espaço e o papel do Estado no modo de produção capitalista

À medida que se desenvolvem as relações capitalistas, o espaço absorve e expressa a atuação dos seus diversos agentes sociais que o produziram (e o produzem) ao longo do tempo (CORREA, 1989). Segundo Correa (1989), esses agentes sociais transformam o espaço a partir de práticas constantes de reorganização espacial que, embora alterem o espaço urbano, o mantêm “simultaneamente fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, ainda que as formas espaciais e suas funções tenham mudado” (idem, p.11). De acordo com Correa (1989), são agentes produtores do espaço: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, os grupos sociais excluídos e o Estado. Os proprietários dos meios de produção representam as grandes empresas industriais e de serviços que necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes ao desenvolvimento das suas atividades; os proprietários fundiários atuam no sentido de obter a maior renda fundiária de suas propriedades, fundamentalmente interessados no valor de troca da terra e não no valor de uso4; os promotores imobiliários incluem loteadores, construtoras e

4 O valor de uso de um produto se efetiva apenas no seu uso ou no seu consumo. Ele constitui, ao mesmo tempo, o suporte material do valor de troca (MARX, 2013, p. 97). O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço (Idem). Ao aplicar esses conceitos vinculados à produção do espaço, Lefebvre (2008, citado por TONUCCI FILHO, MAGALHÃES, 2017. p. 449) considera que a cidade é uma obra coletiva, calcada

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incorporadoras, corretoras e corretores imobiliários que operam de forma desigual no espaço, criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista, já que também estão interessados no valor de troca da terra produzida. Os grupos sociais excluídos são aqueles não atendidos por nenhum dos agentes anteriores e, sem renda para pagar o aluguel ou a produção de uma habitação, têm como possibilidades de moradia a ocupação de cortiços ou de imóveis abandonados, ou a casa produzida pelo sistema de autoconstrução em loteamentos periféricos, ou a ocupação de área em favela, ou, ainda, a moradia em conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado. O Estado atua de forma complexa e variável, tanto no tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da qual faz parte: seja legislando sobre o uso e a ocupação do solo, seja destinando investimento para determinadas áreas da cidade em detrimento de outras, seja produzindo habitação pública para segmentos de baixa renda da população ou, ainda, definindo formas de regulação urbana (normas e procedimentos) que podem beneficiar os outros agentes. Assim, a ação dos agentes produtores do espaço se faz em um marco jurídico que regula as suas atuações – marco este que “não é neutro” e que sempre reflete os interesses dominantes de um ou mais agentes (CORREA, 1989, p.11). No caso estudado neste trabalho, acreditamos que o Estado desempenha papel relevante para viabilizar os interesses capitalistas, ao permitir (seja se omitindo, seja legitimando determinadas práticas de produção do espaço pelo capital imobiliário) a viabilização dos interesses capitalistas em detrimento do interesse público de preservação das áreas ora estudadas nesta pesquisa. Pode-se dizer que o Estado é, supostamente, um agente social que adota mecanismos e dispositivos para a regulação da sociedade, com o objetivo de manter a estabilidade do sistema capitalista na reprodução do espaço. Harvey (2004), ao referir-se a Marx, afirma que as condições de acumulação do capital são garantidas por um Estado facilitador, que tem por função principal “permitir que a acumulação por espoliação ocorra sem desencadear um colapso geral” (HARVEY, 2004, 126).

no uso (e no valor de uso), em detrimento da mercadoria, do valor de troca. Assim, produzida pelos agentes citados por Correa (1989), a cidade seria diferente de todos os demais produtos: o que lhe dá especificidade é o primado do valor de uso sobre o valor de troca. Entretanto, na cidade capitalista, o valor de uso é tomado pela lógica do mercado e pela difusão da propriedade privada (da terra, dos imóveis, do espaço, etc.) em função do valor de troca que cada espaço da cidade representa.

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De forma geral, o debate a respeito do papel do Estado realizado por boa parte dos adeptos do marxismo assumiu duas tendências diferenciadas: uma ótica instrumentalista e outra estruturalista, ambas derivadas de uma ampla gama de posições (PINTO e BALANCO, 2014, p. 43). Segundo Poulantzas (1977, p. 22), o Estado, na concepção instrumentalista, é passivo, senão neutro, totalmente manipulado por uma única fração de classe, caso em que se reconhece nenhuma autonomia ao Estado. Na perspectiva estruturalista, o Estado tem papel de criador autônomo, acima dos conflitos de classes (PINTO e BALANCO, 2014, p. 43), é árbitro entre as classes sociais. Além dessas duas concepções, alguns autores reconhecem que há outra concepção de Estado: a derivacionista. A teoria da derivação do Estado, ao contrário das teorias anteriormente citadas, trata de buscar o princípio de unidade que fundamenta a separação das relações sociais (ora como relações econômicas, ora como relações políticas), esclarecendo a lógica imanente de articulação de elementos aparentemente dissociados (BOLAÑO, 2003, p.61). O Estado e o capital, aparentemente separados, seriam, na verdade, indissociáveis dentro do sistema capitalista. Por exemplo: no bojo da articulação entre o capital e o trabalho, o Estado legaliza e legitima a transformação da força de trabalho em mercadoria. A força de trabalho necessita de um contrato para vender sua força de trabalho, mediante a existência de normas trabalhistas que aparentemente garantem segurança e direito aos trabalhadores, mas protege também o patrão, pois assegura que a relação permaneça verticalizada e reconhece a propriedade dos meios de produção e do produto (MELO, 2016, p.55). Acreditamos que a concepção derivacionista coaduna com a visão de Estado que adotamos neste trabalho, já que defende as relações entre Estado e capital são orgânicas, ou seja, são mais do que relações de mera exterioridade, não havendo separação real entre eles (Idem, p.52). Entretanto, resultante do caráter contraditório e instável do capitalismo, o Estado precisa assegurar as condições de acumulação e, ao mesmo tempo, permanecer exterior a elas, garantindo sua autonomia e sua legitimação perante as demais frações de classe (POULANTZAS, 1977). O capitalismo, em sua essência, não está dissociado do Estado; muito pelo contrário: a ilusória separação da instância estatal é necessária à reprodução do capitalismo, principalmente por meio da regulação jurídica que busca promover uma

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(falsa) noção de igualdade na intermediação de conflitos e contradições também observadas na produção do espaço urbano. Segundo Correa (1989), a atuação do Estado na organização espacial tem sido complexa e variável ao longo do tempo, derivando da dinâmica de acumulação do capital e das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela surgem; do contrário, o capitalismo deve dar lugar a um outro método de organizar a produção material e a vida cotidiana (HARVEY, 2005, p.93) A produção do espaço urbano tende a ser hierarquizada de acordo com a própria hierarquização social existente. A competição e a mercantilização dos espaços da cidade fragilizam a equidade social em prol da apropriação desigual da riqueza por poucos. Assim, a intervenção do Estado é necessária, pois um sistema com base no interesse próprio e na competição não é capaz de expressar o interesse coletivo (HARVEY, 2005, p.85). Entretanto, se, supostamente, essa é a função do Estado – garantir o interesse público –, veremos que o Estado é, na verdade, peça fundamental na produção do espaço, uma vez que, sob essa roupagem, acaba viabilizando os interesses das classes dominantes e seus agentes, e mantendo a hegemonia sob as classes dominadas (POULANTZAS, 1977).

2.2 Estado capitalista, regulação e a produção do espaço

Entendendo o Estado como um mediador do sistema capitalista, que tenta minimizar os conflitos de classe, sua atuação em conjunto com os demais agentes sociais resulta em um espaço urbano fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, de um conjunto de símbolos e campo de lutas (CORREA, 1989, p. 11). Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, as mazelas trazidas pela globalização5 neoliberal aprofundaram a pobreza e as desigualdades urbanas nas cidades periféricas (MARICATO, 2010, p.11). A flexibilização dos mercados, em

5Por globalização entendemos a ampliação internacional dos mercados revolucionada por grandes mudanças tecnológicas (movimento estrutural) combinada ao ideário neoliberal: primazia do mercado, enfraquecimento dos Estados-Nação, recuo das políticas sociais, privatizações e mercantilização dos serviços coletivos, e consequente aumento do desemprego e da violência. (MARICATO, 2010, p.11).

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decorrência da globalização da produção, intensificou as desigualdades dos espaços, tendo o Estado como agente atuante nesse processo: O discurso do Estado em sua forma chamada de neoliberal foi, portanto, marcado pelo retorno da menor intervenção na economia, porém, na prática, essa forma de Estado continuou a intervir significativamente na dinâmica do mercado e em seu território, seja na produção, na circulação, no consumo ou na cultura. (SANTOS, 2015, p.66)

Ou seja, se supostamente o Estado reduz sua participação na produção das condições gerais para a acumulação, na prática, ele é peça fundamental para garantir os lucros dos outros agentes, via produção do espaço. Segundo Rodrigues (2007, p. 75), o Estado parece estar acima das contradições e conflitos que produzem e reproduzem as desigualdades socioespaciais, mas ao intervir na produção do espaço através de investimentos, ou na regulação do espaço, intensifica a segregação do espaço, uma vez que somente têm acesso à habitação aqueles que podem pagar por ela (COTA, 2010, p. 79).

A divisão territorial do trabalho expressa as configurações da reprodução do modo de produção capitalista que combina desigualmente o desenvolvimento para a acumulação da riqueza que, por sua vez, é também a concentração territorial da riqueza (GODOY, 2012, p. 173 e 174)

Através de seus instrumentos reguladores, o Estado organiza o espaço, produzindo impacto no valor do solo urbano, ao estabelecer regras e normas. Assim:

O conteúdo e o alcance dessas decisões estatais e sua influência sobre o valor dos terrenos remetem às formas concretas pelas quais o poder público intervém no funcionamento do mercado imobiliário, em geral, e no mercado de terras urbanas, em particular. Essa atuação acaba promovendo “rendas fundiárias urbanas”, em especial quando define normas e parâmetros diferenciados de utilização dos terrenos. (COTA, 2010, p.76)

Então, como agente regulador, o Poder Público tem a responsabilidade de fazer cumprir as leis em prol do bem comum, por meio da regulação. Araújo (2009, p. 34) afirma que: O termo regulação está etimologicamente ligado à noção de submissão a regras exercidas pelo Estado ou outra forma de autoridade, visando o controle do comportamento de indivíduos ou partes da sociedade com o objetivo de ajustá-los ao padrão de funcionamento idealizado para o todo como um bem comum. (ARAÚJO, 2009, p.34)

Neste contexto, a regulação pode ser entendida como um instrumento de intermediação de conflitos e contradições existentes na sociedade e reproduzidas no âmbito do Estado (COTA, 2013, p. 75). Essa forma de intermediação de conflitos é definida pelos teóricos regulacionistas como essencial ao “regime de acumulação”,

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sendo também aplicada como estratégia de reprodução do capital via produção do espaço (idem, p.72).

No que se refere à análise da estruturação do espaço urbano, parece-nos que o conceito de regulação urbanatorna-se aplicável, e busca articular o mercado, o Estado e os cidadãos para a manutenção da hegemonia dos interesses dominantes. Assim, a organização do espaço via regulação urbana expressa a dimensão espacial das relações sociais e reflete a articulação que se processa, a partir dos modos de produção capitalista, entre os agentes produtores do espaço e seus interesses específicos (COTA, 2013, p.76-77)

Assim, o Estado, atuando direta ou indiretamente, por meio da regulação urbana e da provisão de infraestrutura, define, de modo preciso, a ocupação e a utilização dos espaços da cidade pelos diferentes segmentos da sociedade (MOL, 2004, p.38). Pode-se dizer que a supervalorização de determinadas localidades tem o Estado como um dos agentes fundamentais deste processo, pois é quem financia a produção, distribuição e a administração da grande maioria dos meios de consumo coletivos no espaço urbano, além de regular a ação dos demais agentes, inclusive vinculados ao setor imobiliário. A construção de um estádio de futebol, de um hospital ou de um centro administrativo municipal, ou de estradas e ferrovias, faz emergir novas centralidades urbanas que incorporam a essas regiões mais-valias urbanas. Quão intensamente sejam as desigualdades quantitativas, qualitativas e locacionais dos empreendimentos imobiliários, maiores serão as diferenças dos valores de uso e também dos valores de troca de cada porção de terra na cidade. Essa disputa pelo valor de uso ou pelo valor de troca é mais acirrada na cidade periférica, onde estão presentes a escassez de terras urbanizadas e a escassez de moradia (MARICATO, 2010, p.14). Segundo Lefebvre (2008, p.44), o espaço urbano é contradição concreta: ele é fruto da produção social capitalista, que se (re)produz desigualmente. O espaço, ao ser produzido e organizado dentro da lógica hegemônica capitalista, acaba por gerar uma organização espacial hierarquizada de poder, servindo como instrumento para a perpetuação e reprodução do capital. Pode-se dizer que o setor imobiliário se apropria das rendas fundiárias promovidas com recursos públicos – e, por que não dizer (?), da coletividade – e obter a máxima taxa de lucro (COTA, 2010, p. 79).

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A criação dos espaços de consumo e o consumo do espaço visando ao valor de troca produzem espaços cada vez mais excludentes e distantes das centralidades. A aparente ausência do Estado, nesses espaços, também aprofunda as contradições do modo de produção capitalista, quando este se omite nas diversas formas de apropriação do espaço: na ocupação de áreas de risco pela população de baixa renda, na omissão, ao permitir agentes produzirem loteamentos em áreas de preservação ambiental, na falta de fiscalização, na não instituição de instrumentos capazes de recuperar as mais-valias fundiárias urbanas, ou, ainda, quando aprova conjuntos habitacionais em áreas distantes, em descontinuidade com o tecido urbano, e sem oferta de bens de uso coletivo. As contradições do espaço ocorrem mediante o conflito entre o espaço abstrato e o espaço social. Segundo Lefebvre (2006), o espaço abstrato tende à homogeneidade; ele se constitui em espaço do poder, ou seja, é instrumento da dominação e hierarquização para reprodução das relações de produção. No capitalismo, o próprio espaço é uma mercadoria produzida para a troca e as relações assumem formas fetichizadas e alienadas, assim como no processo de produção das mercadorias (SANTOS, 2015, 172). O Estado segue a lógica da representação do espaço/espaço abstrato, construída por grupos ou classes sociais, sob a imposição de normatizações e restrições, na intenção de manter o espaço, homogeneizando a diferença para reprodução do sistema. Nesse sentido, pode-se dizer que o Estado, através das normas e da regulação urbana, proclama a igualdade entre os diferentes (no discurso), mas, na prática, não deixa de legitimar e promover os interesses do capital, produzindo um espaço abstrato. Segundo Cota (2013, p.85), as leis urbanísticas podem ser consideradas “táticas estratégicas” que viabilizam interesses hegemônicos, mesmo em instâncias consideradas democráticas na política urbana brasileira, especialmente a partir da Constituição Federal de 1988. Assim, a aprovação de Planos Diretores pelas localidades brasileiras não está isenta deste jogo político, que supostamente busca viabilizar os interesses dos diferentes agentes produtores do espaço por meio do Estado. Acreditamos que as ações implementadas pelo Estado têm contribuído para valorizar determinadas áreas da cidade, em especial aquelas destinadas à

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preservação ambiental, segundo disposições do PDM de Caetité. As glebas situadas em ZPAs e próximas a bairros consolidados vêm sendo loteadas para atender à população de média e alta rendas. Assim, observaremos se a forma de regulação urbana adotada em Caetité tem interferido na utilização dos terrenos por seus proprietários e incorporadores.

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3 A FORMAÇÃO ESPACIAL DE CAETITÉ, EVOLUÇÃO URBANA E ANÁLISE DOS INTRUMENTOS DE REGULAÇÃO DO TERRITÓRIO

O objetivo deste capítulo é contribuir para uma maior aproximação entre os temas apresentados nos capítulos anteriores e a realidade concreta, apresentando a formação e consolidação do espaço urbano de Caetité – BA – até a aprovação do PDM, a análise dos instrumentos de regulação urbana do município e as consequências da aplicação (ou não) desses instrumentos no planejamento territorial. Desde a aprovação do PDM, o parcelamento do solo urbano tem sido realizado mediante o processo de licenciamento ambiental; contudo, como veremos adiante, os instrumentos de regulação e gestão ambiental do município estão subordinados aos interesses privados/capitalistas. O Poder Público segue a lógica da representação do espaço/espaço abstrato, engendrada por grupos dominantes sob a imposição da legislação, que, apesar de propor a preservação ambiental na norma, tem legitimado aqueles interesses, em sua prática, provocando consequências (socioambientais) para a cidade.

3.1 Evolução Urbana de Caetité até a Aprovação do PDM

Caetité é um município baiano localizado a 757 quilômetros da capital Salvador (IBGE, 2016), sendo formado por quatro distritos: Brejinho das Ametistas, Caldeiras, Maniaçu e Pajeú do Vento (ver figura 1), e destaca-se no contexto nacional por ser a principal área de produção de urânio no Brasil. Segundo dados do IBGE, a população estimada em 2017 era de 52.853 habitantes (IBGE, 2017). Com altitude de 825 metros, caracteriza-se pelo clima semiárido e subúmido a seco (BAHIA, 2018, p.1), com predominância do bioma Caatinga (OLIVEIRA, 2012, p.2).

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Figura 1: Mapa Brasil- Bahia- Caetité e Distritos.

Elaborado por: CASTRO, L.F.(2018) Organização: Fernanda P. da S. Santana. As terras que integram o município de Caetité foram primitivamente habitadas por tribos indígenas. Devido à quantidade abundante de água regada pelos riachos Pedreiras, Jatobá e Alegre (SANTOS,1995) e outros aspectos, o núcleo ganhou importância com a chegada e permanência de inúmeras famílias. Bandeirantes, no começo do século XVIII, atravessaram a região e se estabeleceram, dando origem ao pequeno arraial, cuja ocupação foi impulsionada a partir de 1740, pela família Carvalho (proprietária da primeira fazenda), que ergueu uma capela a Sant’ana e doou terras para a fundação da freguesia, em 1754, pelo Alvará Régio e Provisão do Arcebispo do Brasil Dom Botelho de Matos (SANTOS, 1995). A vila foi criada em 1803 e instalada somente em 1810, com a denominação de Vila Nova do Príncipe e Santana do Caetité, desmembrando-se de Minas do , apesar de forte oposição, por entender que esse gesto diminuiria seu território e suas rendas (SILVA, 1932). A elevação à cidade ocorreu por meio da lei provincial n° 995, de 12 de outubro de 1867 (SANTOS, 1995). Na condição de cidade, foram instalados diversos

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serviços que visavam a uma modernização da mesma: criação do Cemitério (1890), do primeiro Mercado Municipal (1897), Teatro Centenário (1922), escolas, entre elas a primeira Escola Normal do Alto Sertão, que funcionou apenas por nove anos, sendo fechada, em 1903, por motivos políticos, e reaberta, nos anos de 1920, por Anísio Teixeira (MARCELO, NEVES e TEIXEIRA, 2012). Até a primeira metade do século XX, Caetité pouco tinha mudado sua fisionomia; a população ainda se mantinha concentrada em torno de seu núcleo histórico de povoamento. A configuração urbana consistia em ruas compridas e estreitas, casas baixas e espaçosas cobertas de telhas. Conforme Figura 2, observa- se uma considerável concentração urbana nas proximidades da Praça da Igreja Matriz àquela época.

Figura 2: Caetité: Praça da Catedral 1930

Catedral de Senhora Sant’ana Fonte: Arquivo pessoal de Luís Benevides.

Anos mais adiante, as interações espaciais com outras localidades foram intensificadas com a inauguração do Instituto de Educação Anísio Teixeira, na segunda metade da década de 1950, e a construção do Hospital e Maternidade Senhora Santana, que pertence à Fundação Senhora Santana, ligada à Igreja Católica, inaugurado em 1962, considerado o único da região (SANTOS, 1995). Em razão da oferta desses serviços – educação e saúde, Caetité se constituiu como polo de atração de pessoas das áreas vizinhas, pois, segundo o Censo Demográfico de

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1960 e de 1970, a população total de Caetité, que era de 31.236 habitantes (IBGE, 1960), passou para 40.200 habitantes (IBGE,1970). Na Figura 3, observa-se a vista parcial de Caetité na década de 1970, com a localização do Instituto de Educação Anísio Teixeira e a Fundação Senhora Santana no Centro da cidade.

Figura 3: Caetité: Vista Parcial em 1970

Instituto de Educação Anísio Teixeira. Fundação Hospitalar Senhora Santana Fonte: Arquivo Público de Caetité, 2018 Organização: Organização: Fernanda P. da S. Santana

Em relação à economia de Caetité, a atividade agrícola e a pecuária são largamente desenvolvidas para atender o mercado local. O comércio destaca-se, contando com variadas lojas, feira livre, agências bancárias, supermercados, fábricas, torrefações, comércio formal e informal. Têm-se ainda indústrias com a produção de cerâmicas e manufaturas têxteis. A produção de cerâmicas, no final da década de 1970, ocupou e ocupa o espaço no entorno na cidade, no eixo das BR-030 e BR-430, o que possibilitou uma maior contribuição socioeconômica naquele momento. A sua produção corresponde ao segmento de cerâmica vermelha, produzindo blocos e telhas que são fornecidos para a construção de imóveis residenciais e comerciais de Caetité, além de serem comercializados em outras cidades, como: , , ,

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Ilhéus, Irecê, Jequié, , Santa Maria da Vitória, Salvador, Valença, entre outros (MARCELO, NEVES e TEIXEIRA, 2012). Em 1980, Caetité passou a compor uma das Regiões Administrativas do Estado da Bahia, e foram instalados órgãos estaduais, entre os quais podemos destacar: Diretoria Regional de Educação (DIREC 24), formada por 10 (dez) municípios (Caetité, Caculé, , Ibiassucê, Igaporã, Jacaraci, , Licínio de Almeida, e Rio do Antônio); Diretoria Regional de Saúde (DIRES 24), composta por 11 municípios (Caculé, Caetité, Ibiassucê, Igaporã, Jacaraci, Lagoa Real, Licínio de Almeida, Mortugaba, Riacho de Santana, Rio do Antônio e ); Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité (FFCLC), atual Universidade do Estado da Bahia (UNEB) (MARCELO, LIMA e SILVA, 2013, p.8), fundada em 1983. A implantação da Região Administrativa fortalece as relações da cidade com a região, nas quais Caetité assume papel de um subcentro regional, polarizando alguns municípios, somando-se ainda à implantação da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA), da Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos (CERB) (NEVES, MAGALHÃES e MARCELO, 2013). Como possível reflexo da implantação desses órgãos administrativos, verificou-se, em Caetité, aumento da população e, consequentemente, da ocupação urbana na década de 1980, ocorrendo a implantação de onze loteamentos como mostra a tabela 1.

Tabela 1 – Loteamentos implantados na década de 1980

Nome do Loteamento Ano de Criação Área (ha) São Vicente I 1983 20,6 São João 1983 3 São José 1983 - Santo Antônio 1985 - Souza e Brito 1985 6 Ilha do Brás 1987 9 Bandeirantes 1987 18 Chácara 1988 3,4 Nossa Senhora da Paz 1988 - São Luiz 1988 11,8 São Vicente II 1988 14,3 TOTAL 86,1 Fonte: MARCELO, LIMA e SILVA, 2013 Organização: Fernanda P. da S. Santana

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Até a década de 1980, Caetité se constituiu como um pequeno núcleo urbano ao redor da Catedral de Senhora Sant’Ana, mas, com a implantação de diversos órgãos estaduais e educacionais, alterou sua dinâmica urbana, o que favoreceu a incorporação de áreas rurais ao urbano através do parcelamento de terras. O crescimento urbano se manteve também na década de 1990, embora de forma menos intensa. Segundo Costa (2014), Caetité, com a instalação no final da década de 1990 das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal responsável pela exploração e produção do concentrado de urânio, colocou o município em evidência no país e no exterior. A mina está localizada a pouco mais de quarenta quilômetros da sede do município de Caetité, onde se encontram reservas estimadas em 100 mil toneladas de urânio. A Província Uranífera de Caetité foi descoberta entre 1976 e 1977, durante a execução dessas séries de atividades de pesquisas promovidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), sendo que o projeto básico da mina foi concluído em 1996 (OLIVEIRA, 2015, p. 97 e 98), e o início das operações da mina de Caetité em 1999 (INB, 2018). Segundo Oliveira (2015), a presença da INB em Caetité (BA) dinamizou a oferta dos serviços oferecidos na cidade, principalmente os restaurantes, bares, hotelaria, transporte, saúde, água e esgoto, energia, além de aumentar a demanda por imóveis. Na tabela 2, pode-se observar os loteamentos desenvolvidos no final do século XX e início do século XXI, o que sugere que esses empreendimentos foram desenvolvidos para atender a essa nova demanda do município.

Tabela 2 – Loteamentos implantados em Caetité antes da aprovação do PDM Nome do Loteamento Ano de Criação Área (ha) Santa Rita 1991 19,7 Alto da Boa Vista 1992 2,43 Chácara São Vicente 1997 16,7 Urbano 2000 1,7 Rancho Alegre Village 2001 56 Sagrada Família 2003 3 Samambaia 2004 - TOTAL 99,53 Fonte: MARCELO, LIMA e SILVA, 2013 Organização: Fernanda P. da S. Santana

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Ao relacionar o crescimento urbano aos loteamentos implantados no município das tabelas 1 e 2, observa-se um crescimento de 115,6%. O aumento na oferta de imóveis atendeu a demanda decorrente da instalação da INB, que atraiu trabalhadores de diversas regiões do país, uma vez que o município não possuía a mão-de-obra qualificada para o desenvolvimento das atividades da empresa. Em 2006, foi aprovado o PDM (Plano Diretor), atendendo duas das seis hipóteses do Art. 41 do Estatuto da Cidade, que torna esse plano obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, como é o caso, e também pela inserção de Caetité em uma área de influência de atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional e nacional, a mineração de urânio. Desde então, o PDM norteia a regulação do território caetiteense, mediante licenciamento ambiental.

3.2 Instrumentos de Regulação Urbana em Caetité

O PDM (Plano Diretor), Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, é definido, em seu Art. 1º, como: (...) o instrumento básico para o desenvolvimento municipal, sob aspectos físico, social e econômico, visando a sustentabilidade do Município, atendendo as aspirações da comunidade e orientando as ações do Poder Público. (CAETITÉ, 2006, p. 1)

O PDM estabelece, dentre outras disposições, o zoneamento urbano do município, definindo zonas em função da capacidade (ou não) de ocupação, a exemplo das Zonas de Proteção Ambiental, objeto de nosso estudo particular, neste trabalho. Os instrumentos normativos que regulam a utilização do território do município de Caetité são a Lei Orgânica, sancionada em 5 de abril de 1990, o Plano do Desenvolvimento do Município (Plano Diretor), Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, além do Código Municipal de Meio Ambiente, Lei nº. 809, de 21 de março de 2016.

3.2.1 Lei Orgânica do Município de Caetité

Sancionada em 5 de abril de 1990, a Lei Orgânica do município de Caetité ratifica a Constituição Federal de 1988, proclamando, em seu preâmbulo, seus objetivos:

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Estabelecer e promover dentro dos preceitos expressos na Constituição Federal e na Constituição Estadual o desenvolvimento geral do Município, assegurando a todos os mesmos direitos e oportunidades [...] (CAETITÉ, 1990 pag. 9)

Dividida em cinco títulos, a Lei Orgânica de Caetité indica as diretrizes locais de desenvolvimento econômico, social, ambiental e urbano. Os princípios da lei orgânica do município reafirmam o exercício do poder local e fundamentam sua organização. Tais princípios estão estruturados em seu Art. 4º C, Incisos I ao VII: I - o pleno exercício da autonomia municipal; II - a cooperação articulada com os demais níveis de governo, com outros municípios e com entidades regionais que o Município integre ou venha a integrar; III - o exercício da soberania e a participação popular na administração municipal e no controle de seus atos; IV - a garantia de acesso de todos os munícipes, deforma justa e igualitária, aos bens serviços públicos que assegurem as condições essenciais de existência digna; V - a defesa e a preservação do território, dos recursos naturais e do meio ambiente; VI - a preservação dos valores e da história da população, fundamentada no reconhecimento e assimilação da pluralidade étnica, cultural e religiosa, peculiares à sua formação; VII - a probidade na administração. (CAETITÉ, 1990 p.13 e 14)

A defesa e a preservação do território, dos recursos naturais e do meio ambiente são objeto do Inciso V. Atendendo o Art. 225 da Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica do município, em seu Art.172, define:

Art. 172º - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial a sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espécies ou submetem os animais a crueldade. (...) §4º- As áreas de interesse ambiental terão as condições de utilização e ocupação estabelecidas em legislação própria, incluindo-se entre as obrigações dos usuários: I - Conservar os recursos naturais e paisagísticos do Município; II - Reparar, repor ou recuperar os recursos naturais danificados pela sua má utilização. (CAETITÉ, 1990 p.100 e 101)

Ressalta-se que a Lei Orgânica de Caetité também institui a política de desenvolvimento urbano municipal, com o objetivo de ordenar o pleno

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desenvolvimento das funções sociais da cidade, através da aprovação do Plano Diretor. Na Seção III, que se refere à Política Urbana do município, tem-se: Art. 167º - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei têm por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. §1º- O plano diretor aprovado pela Câmara Municipal é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. §2º- A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressão no plano diretor. (CAETITÉ, 1990 p.98)

A Lei Orgânica traz, para a responsabilidade municipal, os preceitos da Política Urbana expressos nos Art. 182 e 183 da Constituição Federal, por meio da aprovação do Plano Diretor, do Código de Parcelamento do Solo e do Código de Meio Ambiente, objetos de leis complementares. Apesar da Constituição Federal de 1988, incorporar às leis orgânicas figuras jurídicas, tais como conselhos, iniciativas populares, audiências públicas, elogios e formulações técnicas legais não garantem, entretanto, que a democratização das relações sociais vá ocorrer (MARICATO,2013). Caetité é marcada por uma topografia acidentada e tem no valor dos seus imóveis um fator limitante ao acesso para maior parte da população. Segundo os agentes imobiliários, o relevo inclinado é um dos elementos que dificulta e aumenta o preço da construção (MARCELO, LIMA e SILVA, 2013, p.12), comprometendo a função social da propriedade e cidade, assegurada pela Constituição Federal de 1988, pela Constituição Estadual e pela própria Lei Orgânica do município.

3.2.2 Plano de Desenvolvimento do Município de Caetité (Plano Diretor)

Caetité aprovou seu PDM (Plano Diretor) para atender o artigo 41 da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, Estatuto da Cidade, que torna o Plano Diretor obrigatório para cidade com mais de vinte mil habitantes, sendo o plano também motivado por Caetité estar inserida em uma área de influência de atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional e nacional – a mineração de urânio. Na época em que o PDM foi aprovado, a população era de 46.192 habitantes (IBGE, 2007). Desde então, a Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, norteia o planejamento urbano e está estruturada em nove títulos, descritos a seguir.

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No Título I, apresenta a definição do Plano de Desenvolvimento do Município, seus objetivos, princípios e as funções sociais da cidade e da propriedade urbana. O Título II versa sobre a política urbana do município, com seus objetivos, os princípios do ordenamento do território, as propostas para estruturação territorial, a definição e a delimitação do zoneamento urbano. O Título III aborda os objetivos da Política de Meio Ambiente e Saneamento Básico, e define o Conselho Municipal de Meio Ambiente como órgão máximo dessa política. Determina também quais são os serviços de Saneamento Básico como sendo o abastecimento de água potável na zona rural e urbana, o esgotamento sanitário, a drenagem de águas pluviais, a limpeza urbana e o controle de vetores. O Título IV refere-se à Política de Infraestrutura e Serviços Urbanos (telefonia fixa e móvel, pavimentação e manutenção das vias urbanas e saneamento urbano), que tem como diretriz principal norteadora a consolidação das estruturas básicas de apoio ao desenvolvimento do Município de Caetité e ao atendimento amplo de seus cidadãos, em consonância com as demais diretrizes estabelecidas no Plano de Desenvolvimento do Município, sempre dentro dos princípios do desenvolvimento humano sustentável, criando as condições necessárias para a sua implementação. O Título V trata da Política de Habitação, definindo seus objetivos e diretrizes. O VI aborda as Políticas Sociais, dentro dos contextos da educação, cultura, esporte, lazer e saúde. O VII corresponde à Política de Desenvolvimento Econômico, tendo ações previstas no desenvolvimento da agricultura e da pecuária, comércio/serviços e desenvolvimento do turismo. O VIII refere-se à implementação do Plano, atribuindo ao poder Executivo e ao Legislativo a promoção do desenvolvimento sustentável. Por fim, o Título IX traz as Disposições Finais, além dos anexos, como Mapa do Município, a Descrição do Perímetro Urbano e o Zoneamento Urbano. O PDM divide o território municipal em macrozonas denominadas Zona Rural e Zona Urbana. A Zona Urbana da sede do município, por sua vez, é subdividida, considerando a disponibilidade de infraestrutura, o meio-físico, o patrimônio natural, a capacidade de adensamento e o grau de incômodo e de poluição causados ao meio ambiente (figura 4). Nos anexos VI e VII do PD, as zonas que integram o perímetro urbano estão classificadas, em função do uso predominante de cada uma. Vale salientar que o Anexo VI é referente à Ocupação e Uso do Solo, e o Anexo VII, aos Parâmetros Urbanísticos. Nenhum tipo de uso é admitido nas ZPAs.

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Figura 4: Zoneamento Urbano e Bairros de Caetité.

Elaborado por: MARTINS, A. (2018) Organização: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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De acordo com o PDM, as zonas são classificadas, em seu Art. 11, como:

I-ZRN 1- Zona Residencial Norte. Área destinada exclusivamente ao uso de residências. II- ZRS 2, Zona residencial Sul é uma área destinada ao uso exclusivo de residências. III- ZUM 1- Zona de Usos Mistos – Corresponde à área urbana hoje ocupada tanto por residências, como por atividades comerciais, industriais e de serviços, compatíveis com o uso residencial predominante pelo seu porte, sendo a região que apresenta melhores condições de adensamento e verticalização, pelo seu relevo, pela infraestrutura disponível, pela possibilidade de expansão e pela articulação com as outras zonas. IV- ZUM 2- Zona de Usos Mistos –. É ocupada por residências, agroindústria, pequenos sítios de produtores de hortifrutigranjeiros. O Teto Máximo é dois pavimentos acima do nível do solo. V- ZPA – Zona de proteção Ambiental – Corresponde às áreas não passiveis de ocupação, e/ou que deverão obedecer a critérios específicos para isso, se subdividindo em: ZPA 1 – Zona de proteção das nascentes do Riacho da Pedreira. ZPA 2 - Zona de proteção das nascentes do Riacho do Jatobá. ZPA 3 - Zona de proteção das nascentes do Riacho do Alegre. ZPA 4 - Zona de proteção da Serra do Gambá. VI- ZUM 3- Área pertencente ao Município de Caetité, invadida por posseiros, onde se localizam algumas residências e pequenas chácaras. VII- ZIM- Zona Industrial Mista destinada a um futuro Centro Industrial. Localização privilegiada. Situada na convergência da BR 030 e a BR 262, distante da cidade 3,00km, topografia plana, situada em cota superior a 900,00m e acima da cidade de Caetité, cerca de 250,00m, portanto, livrando a cidade de poluição atmosférica e sonora. Parágrafo Único- O Poder Executivo através dos seus órgãos competentes, deverá estabelecer regulamentação para a utilização das Zonas de Proteção Ambiental ZPA 1, 2, 3, e 4, através dos seus respectivos Planos de Manejos, assim como, a descrição técnica e demarcação de seus perímetros, tomando as medidas legais cabíveis para a sua implementação. (CAETITÉ, 2006.p. 3 e 4)

Diante da caracterização geral do PDM de Caetité, cabe aqui uma análise crítica frente a alguns aspectos do mesmo. As ZPAs, foco deste trabalho, foram delimitadas de acordo com a localização de áreas naturais, com características ambientais específicas para proteção dos recursos hídricos e estabilidade geológica, como as nascentes dos riachos Pedreira, Alegre e Jatobá e a Serra do Gambá. Os entornos das nascentes dos riachos do Alegre e do Jatobá vêm sofrendo com o avanço das construções que se intensificam na região, com a retirada da vegetação da mata ciliar e toda vegetação do seu entorno nos últimos anos (BARBOSA et al, 2016). Essas áreas são objeto da expansão urbana no município, condicionada pela atuação dos proprietários fundiários, de promotores fundiários e do próprio Estado (CORREA, 1989). De acordo com Correa (1989), a ação destes agentes se faz dentro

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do marco jurídico – no caso, o Plano de Desenvolvimento do Município – que regula a atuação desses agentes (CORREA, 1989, p. 12). Na porção Sul da cidade, mais precisamente nos bairros Alto do Cristo e São Vicente, houve a criação de diversos loteamentos, como Bosque do Jacaraci, Morada Imperial e Loteamento São Vicente II e III. As glebas foram loteadas pelos proprietários e estão localizadas nas porções mais altas da cidade, dentro da ZPA das nascentes do Riacho do Jatobá – exceto o loteamento Morada Imperial e parte do loteamento Bosque do Jacaraci, que são direcionados ao público de média e alta renda. O Riacho Jatobá atravessava o município de norte a sul até o século XIX, mas com o soterramento – principalmente onde se localiza a Praça Jairo Pontes – e sua posterior canalização, o mesmo sofreu sucessivas degradações, reduzindo o riacho a um pequeno trecho, hoje tomado pelo esgoto (OLIVEIRA, 2012, p. 12). Na região Sudoeste do município, está o bairro Santa Rita, próximo à Zona de Proteção Ambiental Serra do Gambá, com loteamentos direcionados ao público de média e alta renda. Em entrevistas realizadas com os representantes das imobiliárias atuantes no mercado local, nos bairros São Vicente e Santa Rita, estão situados os lotes com maior procura por parte da população. São lotes em áreas com infraestrutura consolidada, relativamente perto do centro da cidade, e direcionados ao público de média renda e alta renda. O valor dos lotes, de acordo com uma pesquisa6, variam de R$70.000,00 a R$ 180.000,00. No centro da cidade, os lotes são raros, mas podem variar de R$250.000,00 a R$300.000,00. O PDM indica que as ZPAs foram criadas para proteção das nascentes dos riachos que integram o perímetro urbano de Caetité, sob a gestão da Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública; contudo, pela grande extensão e pela falta de delimitação das áreas de preservação permanente, as ZPAs são alvo da especulação imobiliária. A ocupação desses espaços ocorre sem contar com a regulamentação de parâmetros específicos de ocupação e sem ampliar a discussão sobre esses parâmetros, dentro de um sistema efetivo de gestão democrática participativa. A construção de novos espaços democráticos implica na existência de relações sociais baseadas nos princípios da solidariedade e da democracia radical, como aquela em que a participação seja efetiva em todos os níveis (GODOY,2012, p. 194),

6 Pesquisa realizada através de telefonemas e consulta às redes sociais das imobiliárias de Caetité.

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o que não vem ocorrendo no caso de Caetité, apesar do Artigo 189 determinar o seguinte: Art. 189º - A participação da sociedade civil no processo de implementação e gestão do Plano Diretor de Desenvolvimento será garantida pela criação do Conselho Municipal da Cidade no uso de suas atribuições estabelecidas pelo Decreto nº 5.790 de 25 de maio de 2006, instância de representação da comunidade nos diversos segmentos que a compõem, com as seguintes atribuições: I - Acompanhar e deliberar sobre a elaboração de legislação complementar a esta Lei; II - Avaliar a implementação do Plano Diretor de Desenvolvimento, nos seus aspectos urbano, rural, econômico e social; III - Solicitar informações e esclarecimentos sobre planos, programas e projetos relativos ao desenvolvimento econômico e gestão municipal; IV - Acompanhar e deliberar sobre as alterações propostas à legislação vigente; V - Acompanhar e deliberar sobre a aprovação de empreendimentos de impacto econômico, social, urbanístico e/ou ambiental; VI - Deliberar sobre a compatibilidade do Plano Plurianual e Lei Orçamentária Anual com as diretrizes do Plano Diretor de Desenvolvimento. (CAETITÉ, 2006.p. 59)

Segundo entrevista7 realizada com os representantes da Secretaria de Serviços Públicos (equivalente a Secretaria de Infraestrutura), o Conselho Municipal da Cidade não foi instituído. O IPTU Progressivo no Tempo, a Outorga Onerosa do Direito de Construir e de Alteração de Uso, o Direito de Preempção, a Transferência do Direito de Construir, as Operações Urbanas Consorciadas e o Estudo de Impacto de Vizinhança são alguns dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade para, supostamente, efetivarem-se a função social da propriedade urbana e a participação para a gestão democrática urbana; no entanto, tais instrumentos dependem de um Estado fortemente comprometido com a justiça social, o que parece, a cada dia, mais utópico na realidade brasileira (FERREIRA e MOTISUKE, p.36). A propriedade privada da terra urbana continua sendo um obstáculo instransponível para se aplicarem instrumentos que visem a obter a função social da cidade (RODRIGUES, 2012, p.24). A desigualdade socioespacial demonstra a existência de classes sociais e as diferentes formas de apropriação da riqueza produzida (RODRIGUES, 2007, p.75). Ao entendermos o espaço como reflexo das relações de produção, temos como expressão dessa lógica o espaço abstrato, que evidencia o processo de espacialização promovido pelos agentes produtores do espaço, e tem como objetivo

7 Entrevista realizada em Caetité (BA), em 16/01/2018 cf. Entrevista concedida à autora.

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servir a reprodução ampliada do capital e do mundo das mercadorias (SANTOS, 2015, p. 171). O espaço abstrato tenta negar as diferenças/conflitos existentes e tem o Estado como seu condutor. Assim, observaremos, no Quarto Capítulo, se o Plano Diretor de Caetité tem sido efetivo para minimizar as contradições intrínsecas à produção do espaço, ao darmos ênfase à análise dos loteamentos voltados ao segmento de média e alta renda implantados em Zonas de Proteção Ambiental.

3.2.3 Código de Meio Ambiente do Município de Caetité

A Política Ambiental Municipal é o documento que norteia e consolida a forma da gestão ambiental municipal, assegurando a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. O Código do Meio Ambiente do Município de Caetité, Lei nº 809, de 21 de março de 2016, contempla, em seu conteúdo, a estrutura administrativa, os valores envolvidos, os objetivos e os instrumentos pertinentes, de forma a permitir que o poder público tenha condições de estabelecer ações ordenadas e práticas para atingir os objetivos definidos para os vários aspectos da questão ambiental. Dentre os diversos aspectos que norteiam a referida Lei, o Artigo 6º, Inciso II, indica que é considerada matéria de interesse local a criação de espaços protegidos e Unidades de Conservação (UC). No entanto, conforme consulta, não foi encontrada nenhuma UC cadastrada em nenhuma das três esferas administrativas, no município de Caetité8. Nos artigos 26 a 29, são definidas e delimitadas as áreas de preservação permanente devendo ser cadastradas como espaços territoriais especialmente protegidos. Trata-se das áreas de proteção das nascentes e dos cursos dos riachos que circundam o município definidas em seu artigo 27: Art. 27. Consideram-se de preservação permanente e deverão ser cadastradas como espaços territoriais especialmente protegidos, as seguintes áreas: I. ao longo dos riachos da Pedreira, do Jatobá, do Alegre e do Flor da Índia, nas áreas ainda não atingidas por canalizações ou urbanização, do Rio São João em toda sua extensão no Município de Caetité, de seus afluentes, e dos rios da vertente da Bacia do rio S. Francisco, dentro dos limites do Município

8 Pesquisa realizada no dia 17 de setembro de 2018, no endereço eletrônico: http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs/consulta-por-uc.htmlpesquisas

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de Caetité e de qualquer curso d’água, em faixa determinada pela legislação federal, desde o seu nível mais alto em faixa marginal; II. ao redor das nascentes dos riachos da Pedreira, Jatobá, do Alegre, das nascentes existentes no lado Oeste da Serra do Espinhaço e das nascentes de água termal de Água Quente, Sitio do Ouro e as de Brejinho das Ametistas; § 1° Nas áreas de preservação permanente, o manejo deve limitar-se ao mínimo indispensável para atender às necessidades de manutenção da biodiversidade, de acordo com a Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. § 2° É vedada a aplicação de agrotóxicos em áreas de preservação permanente, por qualquer forma, numa distância de 1.000m (mil metros) de qualquer corpo d’água § 3° Será permitido o aproveitamento das fontes termais para fins de turismo e lazer desde que os projetos de aproveitamento estejam de acordo com as normas vigentes de proteção ambiental. (CAETITÉ, 2016 p.26)

A localização de algumas dessas áreas de preservação definidas no artigo 27 do Código de Meio Ambiente coincidem com as ZPAs definidas no PDM como pode ser observado na figura 5. Ressalta-se que os canais fluviais que cortam Caetité, os riachos do Alegre, Jatobá e Pedreira encontram-se contaminados, principalmente por águas servidas e resíduos sólidos (OLIVEIRA, 2012, p. 5).

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Figura 5: Zoneamento Urbano e a localização das Nascentes e dos Riachos de Caetité

Elaborado por: MARTINS, A. (2018) Organização: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Segundo o Código de Meio Ambiente, a Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública é o órgão ambiental municipal responsável por propor a criação unidades de conservação e os espaços protegidos, visitas técnicas e parecer técnico acerca dessas atividades, autorização de supressão vegetal e pela regularização das atividades que causam possíveis danos ao meio ambiente, através da emissão de licenças ambientais. Essas ações são apreciadas pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente (CODEMAC). O Art. 13 do Código de Meio Ambiente do Município de Caetité versa sobre as competências e atribuições do CODEMAC: Art. 13. Ao Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente - CODEMAC, Órgão colegiado de assessoramento, de natureza permanente, com caráter normativo, consultivo, deliberativo, propositivo, licenciador, fiscalizador e recursal, que passará a ser regulado por esta Lei e pelo seu Regimento Interno. (CAETITÉ, 2016, p. 17)

Segundo o Código Municipal de Meio Ambiente, em seu Art. 14, o CODEMAC é formado por 12 (doze) membros titulares representantes do Poder Público, da Sociedade Civil e do Setor Econômico. Em entrevista9, o representante da Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública, salientou que o CODEMAC existe há quatro anos, porém, passou por um tempo em standyby, pois o Ministério Público determinou sua reformulação. Segundo o representante, atendendo a essa determinação, o CODEMAC foi renomeado e o regimento interno foi alterado. Ainda segundo o representante, as reuniões ocorrem mensalmente, em toda segunda quarta-feira do mês; porém, a data da próxima reunião ou o cronograma de reuniões não foi informado durante a entrevista, o que denota que o conselho não é atuante no município. O licenciamento ambiental é uma das atribuições dos entes federados, conforme a Lei Complementar 140, de 8 de dezembro de 2011. Essa lei é importante, pois avança na caracterização das atribuições de licenciamento ambiental efetuado por diferentes entes federativos, de forma a definir os tipos de empreendimentos e atividades desses licenciados. Essa Lei avança também no compartilhamento de responsabilidades federativas para uma gama de ações administrativas, que vão além do licenciamento ambiental, cobrindo os diversos aspectos da gestão ambiental.

9 Entrevista realizada em Caetité (BA), em 16/01/2018, cf. Entrevista concedida à autora.

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O prévio EIA e EIV fazem parte dos critérios para o licenciamento de atividades que possam causar impacto ao meio ambiente, previstas no Código de Meio Ambiente de Caetité. O EIV é previsto no Artigo 47: Art. 47. Consideram-se geradores de impacto de vizinhança os usos previstos no Código de Obra e os previstos como de impacto ambiental em legislação ambiental municipal, estadual e federal, dentre eles as instalações de: I. Indústrias; II. Escolas, centros de compras, mercados; III. Auditório para convenções, congressos e conferências; IV. Estádio; V. Autódromo, velódromo e hipódromo; VI. Espaços e edificações para exposições e para shows; VII. Terminal rodoviário urbano e interurbano; VIII. Estacionamento para veículos de grande porte; IX. Jardim zoológico, parques de animais selvagens, ornamentais e de lazer; X. Torre de telecomunicações; XI. Aterros sanitários e estações de transbordo de lixo; XII. Casas de detenção e penitenciárias; e XIII. Estações de Rádio-base. Parágrafo único - O Estudo de Impacto de Vizinhança, a ser realizado pelo Poder Executivo ou pelo interessado, será apreciado pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente e encaminhado ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano, que deliberará sobre o assunto. (CAETITÉ, 2016, p.31)

O Art. 3710, do Estatuto da Cidade, estabelece o conteúdo mínimo a ser abordado no EIV. Ao observar o conteúdo mínimo do EIV relacionado no Estatuto da Cidade, pode-se perceber que se trata de importante instrumento de diagnóstico, no qual se avalia um determinado empreendimento à luz de diversos componentes, para orientar a decisão do poder público em cada caso concreto, possibilitando a mediação entre os interesses privados dos empreendedores e o direito à qualidade urbana daqueles que moram ou transitam em seu entorno. A elaboração de EIV faz parte do Licenciamento Urbanístico, oferecendo subsídios ao poder público, para decidir sobre a concessão da licença ou condicioná- la à implantação de medidas compensatórias, contemplando a participação da população e a análise de impactos nas condições funcionais, paisagísticas e urbanísticas.

10Segundo o Artigo 37 do Estatuto da Cidade, o EIV será executado de forma a contemplar, no mínimo, as seguintes questões: adensamento populacional; equipamentos urbanos e comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de tráfego e demanda por transporte público; ventilação e iluminação; paisagem urbana e patrimônio natural.

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Assim como o Estudo de Impacto Ambiental – EIA11, são obrigatórias a divulgação e a disponibilização, a qualquer interessado, de todos os documentos e estudos relativos ao EIV, ampliando a transparência do ato de licenciamento e o diálogo com a sociedade. Os EIA e o EIV constituem ferramentas para o controle do uso e ocupação do solo, pois algumas intervenções podem alterar por completo as condições originais do meio natural (TOMANIK, 2008, p.14). Conforme Junior e Lima (2016, p.159): [...] esses instrumentos são espécies de Avaliação de Impactos que utilizam como base os princípios da precaução e da prevenção, os quais auxiliam a Administração Pública na tomada de decisão sobre a instalação de certos empreendimentos no território brasileiro. (JUNIOR e LIMA, 2016, p.159)

Mas vale salientar que a elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação do EIA, conforme o artigo 38 do Estatuto da Cidade, e que esses instrumentos possuem diferenças. O EIA é previsto na Constituição Federal, possui maior complexidade e é direcionado, primeiramente, ao licenciamento e a legislação ambiental para atividades de significativo impacto ambiental, enquanto o EIV faz parte do licenciamento urbanístico, previsto no Estatuto da Cidade, exigível nos casos em que a lei municipal determinar, independente do grau de impacto na vizinhança (JUNIOR e LIMA, 2016). No entanto, em Caetité, as atividades de licenciamento ambiental estão suspensas, atualmente, por conta de uma determinação do Ministério Público, em ação civil pública, que registra a falta de equipe técnica multidisciplinar capacitada para desenvolver essas funções. A ação, dentre outras adequações, pede que o município realize concurso público para servidores que deverão atuar nesse setor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (PINHEIRO, 2018).

3.3 Processo de Licenciamento Ambiental e Aprovação de Loteamento em Caetité

A gestão ambiental é um dos elementos que o compõem o PDM de Caetité, através da fiscalização e do licenciamento ambiental das atividades ou obras

11 Segundo o Art. 225 da Constituição Federal de 1988, Parágrafo 1º, Inciso IV, incumbe ao Poder Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), ao qual deverá ser dada publicidade.

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potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental, no processo de parcelamento do solo urbano. O processo de licenciamento ambiental para o parcelamento do solo urbano era realizado pela Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública do Município antes da determinação do Ministério Público, que suspendeu o licenciamento ambiental na esfera municipal, até que as adequações sejam atendidas. Assim, ao dar início ao processo de loteamento/desmembramento, o empreendedor entra em contato com as secretarias de Meio Ambiente e Limpeza Pública e com a de Serviços Públicos. Por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública, o empreendedor recebe um formulário intitulado “Análise Prévia do Processo de Loteamento/Condomínio, para obtenção da Licença Unificada” (ver Anexo II). Ao retornar à Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública, os documentos exigidos no PDM, que deverão ser analisados, são: o Relatório de Controle Ambiental (RCA) e o Plano de Controle Ambiental (PCA), constituído por diagnóstico sucinto da área e seu entorno, identificação dos impactos e proposta de medidas mitigadoras e/ou compensatórias, laudo geotécnico assinado por profissional habilitado, comprovando a capacidade de suporte do solo, anuência prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), relativa à intervenção em áreas de preservação permanente, parecer do Instituto Baiano de Desenvolvimento Florestal e Recursos Naturais (IBF), relativo ao meio biótico (caput do Art. 39 da Lei nº. 632 de 10 de outubro de 2006). Essa documentação deve ser entregue juntamente com o Termo de Responsabilidade Ambiental (ver Anexo II), assinado pelo proprietário do imóvel, juntamente com o projeto do loteamento. Segundo o Art.50, Incisos I ao IV, o projeto deverá ser composto de: I– Planta da gleba que se pretende lotear, na escala de 1: 10.000, contendo: a) Suas divisas geometricamente definidas de acordo com as normas técnicas oficiais vigentes; b) Localização dos cursos d’água e área alagadiças; c) Localização de rodovias, linhas de transmissão de energia elétrica, redes de telefonia, dutos e demais instalações e suas respectivas faixas de domínio ou servidão; d) Localização das áreas arborizadas e das construções existentes; e) Altimetria da gleba, com delimitação das áreas com declividade acima de 30% (trinta por cento); f) Arruamentos contíguos a todo o perímetro com os elementos necessários à integração do loteamento com as áreas circunvizinhas; g) Localização das áreas de risco geológico previstas na informação básica. II–Tipo de uso predominante a que o loteamento se destina;

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III– Laudo previsto no Art.41º12, quando for o caso. §1-As diretrizes referidas no “caput” devem compreender, pelo menos: I– O traçado e a classificação das principais vias de circulação e sua articulação com a rede viária do Município e da região a que pertence: II– A definição do zoneamento ao longo dessas vias; III– A indicação das áreas: a) De preservação permanente; b) Destinadas a espaços livres de uso público e a equipamentos urbanos e comunitários. IV– A indicação da infraestrutura necessária, observada a Seção III. §2- As diretrizes expedidas vigorarão pelo prazo de 2 (dois) anos contados da data de sua entrega ao requerente. §3- O prazo de validade das diretrizes previsto não afasta a possibilidade de alteração das mesmas pela Prefeitura Municipal se, no decorrer desse período e caso não tenha sido aprovado o loteamento e nem iniciada a sua execução, sobrevier legislação nova que necessariamente imponha alteração nas condições fixadas na planta do loteamento. (CAETITÉ, 2006, p.16 e17)

Após a entrega da documentação ao responsável técnico da Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública, é feita análise. Constatada alguma irregularidade, é emitida notificação, solicitando ajuste de conduta ou ajuste do item irregular. Depois da correção, é emitida a Licença Ambiental, sem a apreciação do CODEMAC, ou seja, o processo de licenciamento ambiental e a aprovação de loteamento em Caetité ocorrem apenas para atender uma etapa burocrática a ser cumprida pelo loteador. Uma das condicionantes que constam nas Licenças Ambientais para a aprovação dos processos de loteamentos/desmembramentos em Caetité é o atendimento ao Art. 55, da Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, Plano Diretor, que se refere às obras de infraestrutura dos loteamentos:

Art.55º - Em qualquer loteamento é obrigatória a execução, pelo loteador e às suas expensas, de acordo com os respectivos projetos aprovados pela Prefeitura Municipal: I- Das vias de circulação interna e de articulação com a rede viária existente; II- Da demarcação no local de todas as áreas previstas no projeto, tais como lotes, logradouros, áreas públicas e comunitárias; III- Da infraestrutura para abastecimento de água, esgotamento sanitário e fornecimento de energia elétrica; IV- Das obras de escoamento das águas pluviais e a contenção de encostas e aterros: §1º- Observadas as características do loteamento, a Prefeitura Municipal poderá, complementarmente, exigir do loteador a execução de outras obras não previstas neste artigo, que sejam consideradas necessárias.

12 O laudo mencionado no Inciso III refere-se a laudo geotécnico; e também os projetos de contenção devem estar acompanhados de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), do Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia (CREA) – BA.

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§2º- A execução das vias de circulação compreende, no mínimo, a abertura do sistema viário, sua terraplanagem, o assentamento dos meios-fios e a pavimentação poliédrica, asfáltica ou similar do leito de arteriais, coletoras e todas as vias com (grade) acima de 10% (dez por cento), ou que forem indicadas pela Prefeitura Municipal. §3º- Deverão ser adotadas soluções alternativas de abastecimento de água e esgotamento sanitário nos casos de não haver rede pública e disposição adequada, a serem estabelecidas com fundamento em parecer técnico. § 4º- Nos loteamentos para programas de interesse social, o padrão de urbanização mínimo compreende: I-Abertura de vias; II- Demarcação de quadras e logradouros; III- Assentamento de meio-fio e pavimentação; IV- Infraestrutura para abastecimento de água e esgotamento sanitário; V- Energia elétrica e iluminação pública, de acordo com as especificações técnicas indicadas pelo órgão competente. (CAETITÉ, 2006, p. 18)

A Licença Ambiental, emitida na maioria dos processos de parcelamento do solo em Caetité, é a Licença Ambiental Unificada, assinada pelo responsável técnico e o proprietário do empreendimento. Consta da Política Estadual de Meio Ambiente, Lei Nº 10.431, de 20 de dezembro de 2006 (Art. 45 Inciso VI), sobre a Licença Unificada: VI - Licença Unificada (LU): concedida para empreendimentos definidos em regulamento, nos casos em que as características do empreendimento assim o indiquem, para as fases de localização, implantação e operação, como uma única licença;(...) (POLÍTICA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, 2006, p. 21).

Esse tipo de licença é emitida para empreendimentos de Classe 113 e Classe 214, segundo o Decreto Estadual nº 16.963, de 17 de agosto de 2016, que altera o Regulamento da Lei nº 10.43115, de 20 de dezembro de 2006, e da Lei nº 11.61216, de 08 de outubro de 2009, aprovado pelo Decreto nº 14.024, de 06 de junho de 2012. Conforme a tabela 3, o Parcelamento do solo urbano, de acordo com o Decreto Estadual nº 16.963, de 17 de agosto de 2016, é definido como médio potencial poluidor, independente do seu porte, e, por isso, está sujeito ao licenciamento ambiental.

13 Empreendimentos de Classe 1 são classificados como pequeno porte e pequeno potencial poluidor.

14 Empreendimentos de Classe 2 são classificados como pequeno porte e médio potencial poluidor.

15 Dispõe sobre a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da Bahia e dá outras providências.

16Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências.

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Tabela 3 – Porte e Área do Parcelamento do Solo: Loteamentos e Desmembramentos sujeitos ao Licenciamento Ambiental Área do Parcelamento do Classe Porte Potencial Poluidor Solo (ha) 2 Pequeno Médio > = 10 < 50 3 Médio Médio > = 50 < 200 5 Grande Médio > = 200

Fonte: Decreto Estadual nº 16.963 de 17 de agosto de 2016. Organização: Fernanda P. da S. Santana

Diferente de empreendimentos qualificados na classe 2, os que estão nas classes 3 e 5, deverão seguir as etapas da Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI), Licença de Operação (LO), conforme o Decreto Estadual nº 16.963, de 17 de agosto de 2016. À Secretaria de Serviços Públicos cabe a análise do projeto parcial, para aprovação e a fiscalização do desenvolvimento do projeto, após a aprovação do loteamento. A documentação final do processo de loteamento, conforme o Art. 52 do PDM, Incisos I ao X, deverá ser composta de: I– Cópia do título de propriedade do imóvel em que conste a correspondência entre a área real e a mencionada nos documentos; II– Certidão negativa dos tributos municipais; III–Projeto do parcelamento em planta na escala de 1:1.000 ou 1: 2.000 (nos casos de áreas maiores sendo que, nesses casos deverão ser apresentadas as plantas das quadras separadamente na escala 1:1.000) contendo: indicação das áreas com declividade acima de 30% (trinta por cento), das áreas de cobertura vegetal e das áreas públicas que passarão ao domínio do Município, o traçado do sistem a viário, a subdivisão das quadras em lotes, com as respectivas dimensões e numerações, a denominação e a destinação de áreas remanescentes, as indicações dos marcos de alinhamento e nivelamento, os recuos exigidos, a legenda e o quadro-resumo das áreas com sua discriminação (área em metros quadrados e percentual em relação à área total parcelada); IV- Memorial descritivo de cada unidade de lote com as medidas respectivas, áreas e limites; V- Planta de locação topográfica na escala 1:1.000 ou 1:2.000, contendo: o traçado do sistema viário, o eixo de locação das vias, as dimensões lineares e angulares do projeto, raios, cordas, arcos, pontos de tangência e ângulo centrais das vias curvilíneas, quadro resumo dos elementos topográficos indicação de marcos existentes; VI - Perfis longitudinais (grades) tirados das linhas dos eixos de cada via pública em 3 (três) vias, na escala 1:1.000 vertical; VII- Seções transversais de todas as vias de circulação e praças, em número suficiente para cada uma delas, na escala 1:2.000; VIII-Além dos projetos acima mencionados, o interessado apresentará, de acordo com o estabelecido na comunicação das diretrizes básicas, o projeto de água potável, das redes de escoamento das águas pluviais e superficiais, guias e meios-fios ou sarjetas;

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IX- Indicação de servidões e restrições especiais que eventualmente grave áreas do terreno; X-Cronograma físico de cada projeto. (CAETITÉ, 2006, p.17 e 18)

Com base nas diretrizes fornecidas pelo Município, o projeto do loteamento será desenvolvido, sendo fornecido, ao loteador, uma cópia do ato de aprovação e uma cópia das peças do projeto para o encaminhamento ao Registro Imobiliário.

3.4. Regulação urbano-ambiental em Caetité: garantia do controle e da conservação ambiental?

Conforme Rodrigues (2004, p. 12), a cidade é compreendida como produto coletivo e não apenas decorrente dos agentes tipicamente capitalistas. A participação da população, nesse sentido, é fundamental para a garantia do “direito à cidade”. De acordo com Lefebvre (2016, p. 127), o “direito à cidade” se afirma como um apelo, como uma exigência, não podendo ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno às cidades tradicionais. É o direito de estar e pensar a cidade em sua plenitude, de apropriá-la segundo a dimensão do cotidiano, do espaço vivido, dos espaços de representação (LEFEBVRE, 1999), o que significa um enfrentamento aos interesses mercantilistas intrínsecos à produção do espaço. O Estatuto da Cidade foi resultado da ativa participação dos movimentos da sociedade civil que lutam pela reforma urbana (RODRIGUES, 2004). Tomanik (2008, p.59) observa que a participação da população nos processos de planejamento e gestão cria vínculos de motivação e autoestima em relação à cidade e forma uma comunidade engajada na defesa da qualidade ambiental e urbana, propondo medidas mitigadoras e compensatórias para minimizar os impactos. Entretanto, esse é um aspecto que tem sido absolutamente negligenciado pelas administrações municipais (PERES e CASSIANO, 2017, p. 16). Além disso, “reforma” não é “revolução urbana”, no sentido lefebvriano, o que significa dizer que os instrumentos de regulação urbana, inclusive o Plano Diretor, terão uma capacidade limitada em relação à efetivação do cumprimento da função social e do direito à cidade, uma vez que não enfrentam as contradições inerentes ao processo de produção do espaço, explicitando o caráter ambíguo das normas urbanísticas e ambientais: se, por um lado, elas deveriam controlar as formas de apropriação e

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garantir o uso equitativo da cidade, por outro, elas segregam, excluem e reproduzem os interesses privados de determinados agentes. No caso de Caetité, esse caráter ambíguo é reforçado pela pouca participação coletiva na aprovação e revisão dos instrumentos. Desde a aprovação do PDM, o zoneamento urbano do município foi alterado duas vezes, sem a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, como orienta o Estatuto da Cidade, em seu Artigo 40, § 4º, Inciso I. O perímetro urbano da sede do município foi alterado mediante a aprovação da Lei nº 73017, de 08 de dezembro de 2011, e da Lei nº 79018, de 22 de junho de 2015, na gestão do então Prefeito José Barreira de Alencar Filho, por meio de Projetos de Lei encaminhados à Câmara de Vereadores. A participação ficou, assim, restrita a essa instância participativa. O PDM, em seu Art. 187º, sugere que: (...) PDM poderá ser avaliado e atualizado periodicamente, em intervalos de cinco anos, quando suas diretrizes deverão ser revistas, em função das mudanças ocorridas, mediante proposta do Executivo Municipal e pelo voto da maioria absoluta dos membros da Câmara Municipal e definidos os projetos prioritários para cada período. (CAETITÉ, 2006, p.59).

O representante da Imobiliária Caetité chama a atenção para dois aspetos que devem ser prioridades no processo de aprovação de um loteamento em Caetité: a Licença Ambiental e o projeto de drenagem. De acordo com o representante, estão sendo desenvolvidos loteamentos dentro e fora do perímetro urbano, sem a Licença Ambiental, com valor de lote bem abaixo do mercado, em torno de R$1.500,00 a R$ 2.000,00. Notadamente, a gestão do território de Caetité não está acompanhando o atual crescimento, resultando em uma fiscalização pouco eficiente ou inexistente. A falta de projeto de drenagem, em alguns loteamentos, por exemplo, provocou impactos socioambientais na cidade, tais como as enchentes e assoreamento no leito dos riachos. [...]embora se tenha um arcabouço legal que permite avanços sociais e ambientais inerentes à qualquer pratica de planejamento no território nacional, em suma, na realidade das cidades, este serve de instrumento à típica e clara manutenção hegemônica do capital, em detrimento de lógicas locais, ambientais e sociais. (CORGHI, 2014, p.23)

17 Altera o Artigo 11 da Lei Municipal nº 632, de 10 de outubro de 2006, e dá outras providências. Que altera a delimitação Zona Residencial Norte. 18 Altera o Inciso II, do Artigo 11, da Lei Municipal 632, de 10 de outubro de 2006, e dá outras providências. Que altera a delimitação da Zona Residencial Sul.

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Ou seja, o espaço concebido (LEFEBVRE, 1999) pelos planejadores não tem incluído a dimensão da prática espacial e das necessidades dos diferentes segmentos da população e da cidade como um todo. Em entrevista19 concedida à autora deste trabalho, o representante da Imobiliária Caetité ressalta que a falta de drenagem pluvial, em alguns loteamentos no município, causou inúmeros problemas, devido à chuva que ocorreu no dia 13 de novembro de 2017. Essa chuva foi caracterizada pelo carreamento de sedimentos dos solos expostos e resíduos das construções já realizadas nos loteamentos com alta declividade para a parte mais baixa da vertente, o centro da cidade, causando inúmeros transtornos aos que habitam e desenvolvem suas atividades nessa área da cidade, como pode ser observado nas figuras 6 e 7.

Figura 6: Entulho de loteamentos recentes, Bairro Alto do Cristo.

Foto: Cláudio Amaral, 2017.

19 Entrevista realizada em Caetité (BA), em 17/10/2018. cf. Entrevista concedida a autora.

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Figura 7: Enxurrada, Avenida Santana - Centro.

Foto: Agência Sertão, 2017.

Tais transtornos poderiam ter sido evitados se houvesse a suspensão da implementação de loteamentos que estão em áreas de acentuada declividade, como a ZPA do Riacho Jatobá. Ou seja, se o Plano Diretor tivesse sido regulamentado, definindo critérios específicos para ocupação nessa área, ampliando a permeabilidade do solo à montante ou prevendo bacias de retenção, por exemplo, tais transtornos poderiam ser minimizados. Aos loteamentos aprovados caberia uma fiscalização contínua, no que se refere à implantação da infraestrutura obrigatória a ser executada pelo loteador, como obras de escoamento das águas pluviais (projeto de drenagem urbana que normalmente não é executado) e a contenção de encostas e aterros, além de uma postura menos omissa ou conivente do Estado (poder público municipal) quanto aos critérios de ocupação e à liberação do loteamento para ocupação. Salientamos que os loteamentos Bosque do Jacaraci e Village Santa Rita, por exemplo, foram aprovados sem a pavimentação poliédrica, asfáltica ou similar (ver figuras 8 e 9), como determina o §2, do Inciso IV, do Art. 55 do PDM.

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Figura 8: Rua sem pavimentação, Loteamento Village Santa Rita, Bairro Santa Rita.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2017.

Figura 9: Rua sem pavimentação, Loteamento Bosque do Jacaraci, Bairro Alto do Cristo.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2017.

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Tal prática sugere que essas obras deverão ser realizadas, a posteriori, pelo governo municipal, normalmente em uma situação de favorecimento de determinados segmentos da população ou em troca de favores (voto, por exemplo). Nesse sentido: A atuação do Estado se faz perceptível através de investimentos em infraestruturas e na criação de condições gerais de reprodução para diferentes grupos sociais e econômicos, que tende a privilegiar também parcelas dos setores não-hegemônicos, o que contribui para legitimar estas ações em nome de um desenvolvimento econômico e social. (LIMONAD, 2014, p.8)

O Estado, como mediador do sistema capitalista, assegura a propriedade privada do espaço, fomenta as necessidades do mercado, lançando mão de diferentes estratégias de controle socioespacial, com a definição de leis de controle da ocupação territorial. Conforme Santos (2014), as forças políticas, econômicas ou culturais querem manter sua hegemonia e, dentre as estratégias de controle socioespacial, estão a ordenação, a produção e a regulação territorial. A população observa as intervenções desastrosas do Estado e, quando questiona a legitimidade dessas intervenções estatais, o discurso que ouvem como resposta é o de que tais práticas estão em conformidade com a legislação vigente, naturalizando as relações de poder que estão por trás do processo de produção do espaço, e considerando a regulação como um fim em si mesma. A atuação do Estado, no contexto caetiteense, favorece as classes dominantes, uma vez que suas ações privilegiam a manutenção dos seus interesses, corroborando na segregação espacial notadamente observada nos bairros que compõem seu perímetro urbano. Mesmo com a obrigatoriedade do Plano Diretor, esse instrumento não está sendo determinante no controle da ocupação no município, pois esta parece obedecer a uma estrutura informal do poder: a lei de mercado, em detrimento da lei/norma jurídica (MARICATO, 2013, p.83). A oferta de imóveis dentro e fora da área urbana do município de Caetité cresceu tendo o Estado como um agente social. Sobre esse agente, Rodrigues (2007) afirma: A presença e a aparente ausência do Estado aprofundam contradições inerentes ao modo de produção capitalista. A presença diz respeito, entre outras dinâmicas, à definição do salário mínimo, às normas jurídicas de apropriação e propriedade da terra, à legislação de uso da terra e edificações, à implantação de infra-estrutura e equipamentos de uso coletivo. O Estado parece ausente ao definir salários insuficientes para a reprodução da vida, não prover o acesso universal aos meios e equipamentos de uso e consumo coletivo. (RODRIGUES, 2007, p.74)

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Um morador publicou em sua página do Facebook um relato sobre sua preocupação com a aproximação do período chuvoso em 2018 e a falta de pavimentação de alguns loteamentos. O morador sugere aos lojistas e moradores das regiões procurarem a Prefeitura Municipal ou órgãos competentes, para que esses possam tomar medidas preventivas para evitar “a situação catastrófica ocorrida no ano passado20”. Na figura 10, podemos observar a publicação do morador.

20 O morador se refere à chuva ocorrida em novembro de 2017.

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Figura 10 - Publicação realizada pelo morador na rede social Facebook, sobre a situação dos novos loteamentos nos bairros Alto do Cristo e São Vicente.

Fonte: Facebook. Publicado em: outubro de 2018.

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Na tentativa de atenuar os transtornos causados por loteamentos aprovados sem fiscalização efetiva que garanta a construção ao menos da rede drenagem pluvial, a população das áreas atingidas pelas chuvas, nos últimos anos, construiu barreiras de contenção, como pode ser observado nas figuras 12,13 e 14, na Avenida D. Raimundo de Melo, que se situa abaixo dos Loteamentos Morada Imperial e São Vicente III, localizados nos Bairros Alto do Cristo e São Vicente, respectivamente (ver Figura 11).

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Figura 11: Localização da Avenida D. Manuel Raimundo de Melo

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Figura 12: Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

, 2018. Figura 13: Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018

.

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Figura 14: Barreira de contenção, Av. Dom Manoel Raimundo de Melo

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018

. Segundo Corghi (2014, p.24), a existência de planos e de planejamento não tem evitado que a manipulação do solo urbano ocorra prioritariamente pelos interesses do capital, com a conivência do Poder Público Municipal, ao longo do processo de urbanização brasileira. Nas ZPAs, conforme PDM de Caetité, a ocupação deveria ser restringida mediante critérios estabelecidos pelo órgão da administração municipal, a Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública. É perceptível, a partir da análise das licenças ambientais concedidas a alguns loteamentos, o estabelecimento de medidas mitigadoras de impactos, como o replantio de árvores espécies nativas, na margem dos riachos, e definição de área de preservação ambiental dentro do loteamento, com a doação, a título de compensação ambiental, mas não há critérios e parâmetros estabelecidos para sua ocupação. Por outro lado, há também loteamentos implantados em ZPAs sem definição de nenhuma medida específica em suas licenças ambientais. Critérios como levantamento florístico da área a ser loteada, realização de EIV, nos moldes estabelecidos pelo Código de Meio Ambiente do Município e do Estatuto da Cidade, deveriam fazer parte do processo anterior à concessão da licença ambiental, mas são condicionantes de algumas das licenças ambientais dos loteamentos analisados.

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O EIV é instrumento de natureza técnica que deve ser realizado por equipe multidisciplinar, coordenado por profissional competente, com registro de responsabilidade técnica (SCHVARSBERG, MARTINS e CAVALCANTE, 2016, p. 15), que possibilita a avaliação prévia das consequências da instalação de empreendimentos de grande impacto em suas áreas vizinhas, baseando-se na distribuição dos ônus e das benesses da urbanização. Ante o exposto, podemos concluir que a regulação imposta às ZPAs (normas e procedimentos de licenciamento ambiental) está legitimando a ocupação das ZPAs, objeto de grande especulação imobiliária, aumentando consideravelmente seu valor de troca. Ao definir essas áreas como de proteção ambiental, o Plano Diretor acabou direcionando os segmentos de menor renda para outros eixos de expansão urbana, mais ao norte do município. A consequência foi a “reserva de área” não ocupada, próxima ao centro, que acabou sendo “tomada” pelos interesses imobiliários, cujos agentes têm implantado produtos direcionados aos setores de média renda da população, aumentando o valor de troca dessas áreas. Diante da análise legal dos instrumentos que regulam a ocupação do território de Caetité, em espacial o Plano Diretor, salienta-se que esses instrumentos têm efetividade limitada no exercício da função social da cidade e na garantia do direito à cidade a todos os moradores da cidade.

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4. DINAMICA RECENTE E OS LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (ZPA) EM CAETITÉ - BA: ESTUDOS DE CASO

Neste capítulo, buscamos analisar a dinâmica recente e refletir sobre o papel do Estado e das leis referentes ao planejamento urbano, no contexto da produção (capitalista) do espaço no âmbito de nosso estudo particular – o município de Caetité - BA, dando ênfase à análise do objeto de estudo desta pesquisa – os loteamentos situados em zoneamentos de preservação ambiental, segundo disposições do PDM, articulando a discussão dos mesmos às reflexões realizadas nos capítulos anteriores. Para tal, os objetos de estudo, ora apresentados, trarão contribuição ao trabalho, ao possibilitar a transposição de aspectos teóricos à realidade observada.

5.1 Caetité: Dinâmica urbana recente

No início do século XXI, observa-se significativo crescimento da população de Caetité, em decorrência do estabelecimento de atividades ligadas à mineração e a produção de energia. Além da extração do urânio, o município se destaca por possuir uma jazida de minério de ferro, cuja a exploração está sob a responsabilidade da Bahia Mineração Ltda. (BAMIN), e pela produção de energia eólica. Podemos verificar, no mapa abaixo (figura 15), a localização dessas corporações e dos parques eólicos.

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Figura 15: Minas e Geradores em Caetité

Elaborado por: MARTINS, A. (2019) Organização: Fernanda P. da S. Santana, 2019.

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A instalação dessas corporações desdobrou inúmeras atividades gerando atração de mão-de-obra de outras partes do estado e do país, o que se observa na tabela 4, contribuindo para a expansão urbana, conforme abordaremos adiante.

Tabela 4– Corporações implantadas em Caetité - BA no século XXI Empresa Ano Número de Investimento Trabalhadores BAMIN 2010 8.000 2,5 bilhões FIOL 2010 18.000 7,43 bilhões RENOVA 2011 1.300 1,2 bilhões Fonte: MARCELO, LIMA e SILVA, (2013, p. 4). Organização: Fernanda P. da S. Santaa

Nota: Os trabalhadores da empresa Renova Energia e das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste estão distribuídos entre os municípios da região de alcance desses empreendimentos.

O futuro Complexo Minerário Pedra de Ferro, da Bahia Mineração Ltda., localiza-se a cerca de trinta e cinco quilômetros21 da cidade de Caetité, e pretende produzir dezoito milhões de toneladas de minério de ferro por ano, o que tornará a Bahia o terceiro maior produtor de minério de ferro do Brasil. A jazida possui uma reserva de quatrocentos e setenta milhões de toneladas de minério de ferro, com teor médio de 41% de ferro. O Complexo Minerário Pedra de Ferro tinha previsão para o início das atividades em 2013, mas, em função de fatores como a conjuntura atual do preço da commodity de minério de ferro e do aumento da reserva medida, identificada através de novas sondagens, a Bahia Mineração (BAMIN) priorizou a atualização do Projeto Pedra de Ferro, desenvolvendo o New Concept Review, que buscou a otimização de todo processo produtivo (BAMIN, 2017, p.4), o que atrasou o início das atividades. A BAMIN (2018) pretende comercializar o minério de ferro com a indústria siderúrgica, extraindo e beneficiando o produto. Com o objetivo de atender ao escoamento da produção desse empreendimento, está sendo construída a Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL). Essa ferrovia ligará o futuro porto de Ilhéus (no litoral baiano) a Figueirópolis (em Tocantins), ponto em que se conectará com a Ferrovia Norte Sul, com extensão

21 Dados obtidos em vídeo disponibilizado em: https://www.youtube.com/watch?v=QoSZHc9JRWw

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aproximada de 1.527 km, e sua construção está sob responsabilidade da estatal VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. A ideia de construir a ferrovia está ligada também ao escoamento de grãos do Oeste Baiano. Além do extrativismo mineral, Caetité também se destaca na produção de energia eólica, a partir da qual foram instalados vários empreendimentos. A Renova implantou três Complexos Eólicos: Alto Sertão I, II e III, nos municípios de Caetité, , Igaporã, Pindaí, Licínio de Almeida e . O Complexo Eólico do Alto Sertão I, nos municípios de Caetité, Guanambi e Igaporã, é apontado pela Renova Energia como o maior complexo da América Latina, que possui 14 parques eólicos que comportam 184 aerogeradores de 293,6 MW (RENOVA ENERGIA, 2017). Após dois anos de atraso, decorrente da construção das linhas de transmissão que interligam o complexo ao Sistema Interligado Nacional, o Complexo Eólico do Alto Sertão I entrou em operação comercial, em julho de 2014 (RENONA ENERGIA, 2018). Conforme a tabela 5, observa-se um grande crescimento no setor industrial, em 2014, que pode ser atribuído ao início da operação do Complexo Eólico do Alto Sertão I.

Tabela 5: Evolução do Produto Interno Bruto de Caetité 2010-2015 (Valor adicionado bruto a preços correntes)

Anos Agropecuária Ranking1 Serviços2 Ranking Indústria Ranking

2010 14.689 201º 108.512 56º 65.764 50º 2011 15.078 190º 139.182 53º 79.169 47º 2012 13.391 197º 150.841 53º 53.134 50º 2013 15.333 200º 186.543 53º 71.149 56º 2014 19.458,62 187º 216.647,27 48º 207.908,653 27º 2015 22.869,40 184º 234.156,29 49º 244.534,83 25º Nota:1 Ranking entre os municípios da Bahia; 2 Serviços ligados a administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social; 3Início da operação do Complexo Eólico do Alto Sertão I Fonte: IBGE, 2010 Organização: Fernanda P. da S. Santana

Conforme Pereira (2012), 53% do potencial eólico brasileiro está concentrado na região nordeste, particularmente na região central da Bahia e nos litorais do Rio Grande do Norte e Ceará. Entre os benefícios socioeconômicos da energia eólica, destacam-se a ampliação da indústria nacional, oportunidades de emprego e

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benefícios ambientais, como a redução da poluição do ar e a descentralização da produção de energia. Traldi (2018) ressalta que a primeira etapa de implantação das torres (terraplanagem, construção da fundação e pavimentação do complexo) e a segunda etapa (montagem dos equipamentos) exigem um grande número de trabalhadores, e nem sempre a mão-de-obra contratada é local, já que há uma grande demanda por trabalhadores com habilidades e conhecimentos específicos. Além desses aspectos, a autora observa que municípios pequenos dispõem de uma quantidade limitada de mão-de-obra especializada na construção civil, sendo necessária a importação de trabalhadores de outras regiões.

Em canteiros de obras da empresa Renova Energia, por exemplo, localizados em Caetité (BA), muitos dos operadores de máquinas e caminhões, que vinham atuando na etapa das obras civis, eram oriundos do estado de Santa Catarina, conforme informado pelos próprios trabalhadores. A dificuldade que as empresas têm para encontrar localmente trabalhadores qualificados para operação de máquinas, tratores e caminhões, explica a contratação de mão de obra proveniente de outras regiões. (TRALDI, 2018, p.16)

Marcelo, Lima e Silva (2013) salientam que as instalações dessas novas corporações aprofundam as relações capitalistas na cidade e na região, atraindo trabalhadores e promovendo mudanças no cotidiano dos habitantes, bem como no ambiente urbano. Ainda segundo os autores, a inexistência de mão-de-obra qualificada na cidade e região, para ocupar os novos postos de trabalho, e a consequente chegada de novos moradores para ocupar tais cargos ampliaram os problemas urbanos em Caetité, como a escassez e racionamento no abastecimento de água, a falta de saneamento básico, especificamente rede de esgoto, e o surgimento desordenado de loteamentos urbanos. A cidade, ao longo dos anos, presenciou o crescimento considerável da população urbana, que pode ser verificado na tabela 6, que apresenta os dados do crescimento populacional de Caetité entre os anos de 1970 a 2010.

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Tabela 6– Crescimento Populacional de Caetité de 1970 a 2010

Ano Total População População Taxa de População Urbana Rural Urbanização (%) 1970 40.200 8.731 31.469 21,72 1980 45.319 11.287 34.032 24,91 1991 40.460 16.858 23.574 41,67 2000 45.241 23.478 21.754 51,90 2010 47.524 28.456 19.068 59,90 Fonte: MARCELO, LIMA; SILVA (2013, p. 5). Organização: Fernanda P. da S. Santana

Outra consequência importante da chegada de empreendimentos, como os parque eólicos na região, é a elevação do preço da terra rural e urbana:

De acordo com o corretor de imóveis Álvaro Matos22, logo no início da chegada das empresas de energia eólica em Caetité (BA) os preços dos terrenos ainda eram muito baixos, dessa forma as primeiras empresas que chegaram se beneficiaram do bom momento e adquiriram terrenos que apresentavam elevado potencial eólico por preços considerados muito baixos, em torno de 800 a 950 reais o hectare. Muitos dos investidores que passaram a comprar terras no município eram provenientes de outros estados brasileiros, com destaque para investidores do estado do Paraná. Quando da realização da entrevista, o hectare na zona rural de Caetité (BA) estava custando em torno de 1.500 a 2.500 reais. (TRALDI, 2018, p.22)

Em relação à terra urbana, devido à demanda por imóveis, houve uma valorização imobiliária. Em entrevista ao representante da Imobiliária Caetité23, observa que, quando as empresas do setor eólico começaram a chegar ao município, rapidamente todos os imóveis que se encontravam disponíveis para aluguel na cidade foram alugados e ainda havia déficit de imóveis (TRALDI, 2018, p.26). Assim, estimulado por importantes empreendimentos com alcance nacional, o município começou a se expandir em todas as direções. Diante desse cenário, cabe notar que a porção Norte do perímetro urbano é composta por imóveis direcionados ou ocupados pela população de baixa e média rendas, e a porção Sul possui imóveis e empreendimentos direcionados para população de média e alta rendas. Na Figura 16, observa-se a expansão urbana do município desde 2004 – contudo, o período que corresponde à pesquisa é entre os anos de 2006-2016.

22 Entrevista realizada em Caetité (BA), em 22/07/2013 cf. Tradi (2018, p.26). 23 idem.

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Figura 16: Evolução Urbana de Caetité no período de 2004 – 2016

Elaborado por: MARTINS, A. (2018) Organização: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Na porção Norte e Noroeste, a malha urbana cresceu, indo além dos bairros Buenos Aires, Nossa Senhora da Paz e, no final da década de 2000, intensificou se a ocupação do atual bairro Prisco Viana, área anteriormente intitulada pela população como Loteamento Escola Agrícola24. Ao Sul, as habitações ultrapassaram o bairro Alto do Cristo. A Oeste, avançou para o bairro São José, originando uma área moderna e que se estendeu praticamente até a localidade conhecida como Brás. A implantação de grandes corporações, em Caetité, fez expandir a oferta de imóveis e, por consequência, a implantação de loteamentos nos diversos bairros da cidade no final da década de 2000 e início da década de 2010. Contudo, podemos observar, no Quadro 1 e na figura 17, os loteamentos aprovados entre 2006 e 2016, período de análise da pesquisa.

24Essa área foi desapropriada entre os anos de 1937 e 1940, pela União, e constitui o lugar onde seria implantada uma escola de técnicas agrícolas; atualmente é ocupada pela parcela da população com baixo poder aquisitivo.

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Quadro 1 - Loteamentos em Caetité 2006 – 2016 Origem do Quantidade Nome do Ano de Proprietário do Bairro Zonas Área (ha) Proprietário(s) da Gleba (s) de lotes Loteamento Criação Loteamento Proprietário São Vicente 2008 São ZRS/ZPA 2 7,21431 José Carvalho Costa e espólio de José Carvalho 168 II Vicente Joaquim de Carvalho, representado Costa e espólio de pela inventariante Eurizelia Teles de Joaquim de Carvalho Costa Carvalho, Caetité representado pela inventariante Eurizelia Teles de Carvalho Costa Bosque do 2009 Alto do ZRS/ZPA2 14,629837 Olympio Conegundes Júnior Olympio Caetité 231 Jacaraci Cristo Conegundes Júnior Village 2010 Santa ZPA 4 10,992 Maria Rodrigues Lima Ledo Valdik Sebastião Caetité 156 Santa Rita Rita dos Santos Lima Bosque 2011 Santa ZRS 1,866442 José Renério da Silva Filho e esposa; Santa Rita Rita Maria Madalena Souza Batista; Helder Batista; Hermany Souza e esposa; Karen Martins Souza; lúcia Souza Bezerra e esposo; Ricardo Imobiliária Caetité Caetité 38 Alexandre da Silva Souza e esposa; Eutrópio da Silva Souza; Lauriana Souza Gama e esposo. Representante Procurador: José Renério da Silva Filho Nova 2011 Buenos ZRN 12,0001 Ana Cláudia Cardoso de Azevedo Empresa Nova Salvador 473 Caetité Aires Lima e o esposo Gilmar Lima Caetité Loteamento SPE LTDA Bela Vista 2012 Prisco ZRN 7,584406 Almi José de Magalhães Almi José de Caetité 183 Viana Magalhães São Vicente 2012 São ZPA 2 18 José de Carvalho Costa e sua José de Carvalho III Vicente esposa; Eurizélia Teles Santos de Costa; Eurizélia Carvalho Costa; José Vicente Costa Teles Santos de Caetité 360 Neto e esposa; Adson Teles de Carvalho Costa, e Carvalho Costa e esposa; André filhos Teles de Carvalho Costa e esposa.

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Vista da 2012 Chácara ZRN 6,002494 - Valtécio Neves Caetité - Chácara Aguiar Morada 2013 Santa ZRS (ao 0,4132997 Ademar José da Cruz e Leocione Ademar José da Caetité Nobre Rita lado da Teixeira Xavier Cruz Caetité margem 14 esquerda do rio do Alegre) Morada 2013 Centro ZRS (ao 0,3514842 Ademar José da Cruz e Leocione Ademar José da Caetité Nobre lado da Teixeira Xavier Cruz Caetité II margem do 12 Riacho da Pedreira) Morada 2014 Santo ZRN 6,143508 Elias Caires Moreira e Domingas Elias Caires Caetité 473 Nova Antônio Silva Moreira (esposa) Moreira Morada 2015 Alto do ZRS (LEI 15,3 Empresa Loteamento Bosque do Construtora e Imperial Cristo 790 de Jacaraci LTDA – EPP, Incorporadora 22/06/2015) Representante dos sócios Srª Maria Imperial LTDA Caetité 383 Therezinha Cardoso Neves Azevedo e o Padre Adhemar Cardoso Neves Batista Terra Brasil 2016 Prisco ZUM 2 44,9 Oswaldo Brasil Celina e Sodemiris Empresa Oswaldo Caetité 322 Viana Lemos Malheiros Brasil (esposa) Brasil Celina ME

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Figura 17: Localização dos Loteamentos Aprovados entre 2006 – 2016

Elaborado por: MARTINS, A. (2018) Organização: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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A porção Norte do município, composta pelos bairros Prisco Viana, Nossa Senhora da Paz, Alto Bueno Aires, Santo Antônio e Ovídio Teixeira, destaca-se pela oferta de imóveis populares. Está sendo construído, no bairro Nossa Senhora da Paz, o Conjunto Residencial Esmeralda, destinado a famílias de baixa renda. Os imóveis possuem cinco cômodos: sala, dois dormitórios, banheiro, cozinha e área frontal. São 300 moradias para famílias pré-selecionadas, de acordo com critérios da Caixa Econômica Federal, distribuídas em 150 prédios, que possuirão duas residências, uma no térreo e outra no primeiro andar. Outro empreendimento desenvolvido nesse bairro é o loteamento Nova Caetité, comercializado pela Imobiliária Caetité. Trata-se de um loteamento popular, com lotes no valor entre R$ 30.000,00 e R$ 40.000,00. O loteamento tem água encanada, rede elétrica, projeto de drenagem, mas não possui ruas calçadas, apenas com cascalho. Em entrevista ao representante da imobiliária, este destacou que o calçamento não foi realizado para não acrescer o valor dos lotes, que tem como principal público a população de baixa renda. No bairro Prisco Viana, está localizado o Centro Administrativo Municipal, inaugurado em dezembro de 2016, composto por oito prédios que receberão toda a estrutura administrativa da cidade de Caetité. O empreendimento retira as repartições públicas localizadas no centro da cidade. Segundo Lefebvre (1999, p.46), o centro urbano é preenchido até a saturação; ele apodrece ou explode. O Centro de Caetité é o polo principal de atração de comércio e serviços urbanos, e tal configuração tornou cada vez mais raro o espaço, implicando em aumento da capacidade de ganho e no seu valor de troca para os proprietários. Isso fez com que o entorno próximo fosse ocupado e valorizado. Na porção Sul e Sudoeste, destacam-se os bairros São Vicente e Santa Rita, direcionados ao público de média e alta renda. As glebas que deram origem ao loteamento no bairro São Vicente foram loteadas pelos seus proprietários, como pode ser observado no Quadro 1. Esse bairro destaca-se por ser residencial, com casas de auto padrão e relativamente perto do centro da cidade, assim como o bairro Santa Rita. O bairro Santa Rita foi implantado no início da década de 1990 e, ao longo dos anos, teve sua área ampliada por diversos loteamentos, como o Village Santa Rita, o

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Bosque Santa Rita e o Morada Nobre I, totalizando um acréscimo de 13,3 ha. Segundo Marcelo, Lima e Silva (2013), a área que deu origem ao bairro Santa Rita era de 1,9 ha. no início da década de 1990. A valorização do solo urbano caetiteense contribui para acumulação do capital, que reproduz interesses das classes dominantes, em parceria com as diferentes esferas do poder público. Nesse sentido, a configuração da cidade revela-se muito mais como produto da necessidade de reprodução do capital do que como obra coletiva. Conforme Lefebvre (2016, p.110), o zoneamento já implica segregação, separação, isolamento. O Zoneamento Urbano Caetiteense segrega a população, privilegiando práticas burguesas concentradas na região Sul da cidade, altamente valorizada em detrimento da região Norte, com a implantação de empreendimentos populares, como o Conjunto Residencial Esmeralda. É possível identificar a convergência entre o governo local e o empreendedorismo urbano, beneficiando a instituição do espaço abstrato, segundo dizer de Lefebvre.

5.2 Estudos de Caso: Loteamentos em Zonas de Proteção Ambiental

A responsabilidade pela política urbana foi transferida aos municípios, a partir da inserção do Capítulo Política Urbana, na Constituição Federal de 1988, cabendo a esse ente federativo a implementação do ideário e dos instrumentos de reforma urbana. Cabe ao poder público municipal estabelecer, juntamente com a sociedade, no Plano Diretor, as diretrizes do desenvolvimento da cidade, com intuito de promover o direito à cidade e o combate à especulação imobiliária. Segundo Maricato (2010, p. 5), o Estatuto da Cidade, lei federal brasileira nº 10.257, aprovada em 2001, reúne, por meio de um enfoque holístico, diversos aspectos relativos ao governo democrático da cidade, à justiça urbana e ao equilíbrio ambiental. Ela traz à tona a questão urbana e a insere na agenda política nacional, em um país, até pouco tempo, marcado pela cultura rural. Nesse sentido, o direito à cidade tem a perspectiva do direito de reconstruir e recriar a cidade como um corpo político que erradique a pobreza e a desigualdade social e cure as feridas da desastrosa degradação ambiental (HARVEY, 2014, p.246).

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Embora o texto legal seja essencial para um país desigual como o nosso, não é suficiente para resolver problemas estruturais de uma sociedade historicamente segregada, na qual os direitos, como por exemplo o direito à cidade ou à moradia legal, não são assegurados para a maioria da população (MARICATO, 2010, p.5). Limonad (2003, p.89) salienta que, nas grandes e médias cidades brasileiras, o "Estatuto da Cidade" traz, entre seus instrumentos, dispositivos que podem minimizar ou contribuir para um agravamento dos problemas os quais se propõe a sanar – tudo vai depender dos agentes que atuam em cada localidade e da correlação de forças existente entre eles (COTA, 2010). Ao longo dos últimos anos, a demanda por imóveis em Caetité tem aumentado, como consequência dos empreendimentos privados aí instalados. Essa demanda por imóveis, em geral destinados aos segmentos de renda média e alta da população, tem sido tomada como uma oportunidade pelo mercado imobiliário, que busca aumentar seus lucros, com a abertura de novos loteamentos, destinados a tais segmentos socioeconômicos. O que chama a atenção é que a maioria destes loteamentos voltados a esse nicho de mercado, está localizada em áreas definidas como ZPAs, pelo Plano Diretor. Assim, várias glebas situadas nas ZPAs foram loteadas pelos seus proprietários, com a conivência do poder público local, uma vez que, ao não regulamentar os parâmetros urbanísticos para esses zoneamentos (ZPAs), acaba legitimando sua ocupação, com critérios pouco eficientes, estabelecidos nas licenças ambientais concedidas no processo de loteamento/desmembramento, com diretrizes fornecidas pelos instrumentos analisados no capítulo anterior. Os loteamentos aprovados em ZPAs, objeto dos lucros imobiliários em Caetité, estão próximos a bairros já consolidados do município e também direcionados ao público de média e alta rendas, porém, em localização mais periférica. As áreas localizadas na porção Norte da sede do município, precisamente na Zona Residencial Norte (ZRN), são ocupadas pela população de baixa renda e, de acordo com entrevistas aos representantes das imobiliárias do município, são pouco procuradas. No entanto, a atuação do mercado imobiliário se concentra nas áreas próximas ZRS, por ser constituída por bairros de status e pela oferta de produtos específicos, voltados aos segmentos de média e alta rendas do município.

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Diante do exposto, para efeito deste trabalho, serão analisados os loteamentos Village Santa Rita, São Vicente III e o Morada Imperial. A escolha desses loteamentos se justifica por situarem em ZPAs e dentro da ampliação do limite do perímetro urbano, de acordo com a lei nº 790, de 22 de junho de 2015, e por atender aos segmentos de renda média e alta da população. São loteamentos localizados em áreas com acentuada declividade e elevada altitude, em relação ao centro da cidade, como pode ser observado na figura 18.

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Figura 18: Mapa Hipsométrico e a Localização dos Objetos de Estudo.

Elaborado por: MARTINS, A. (2018). Organizado pela Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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4.2.1 Loteamento Village Santa Rita

O Loteamento Village Santa Rita, localizado no Bairro Santa Rita e na Zona de Proteção Serra do Gambá, ZPA IV, possui uma área de 109.920,00 m2 (cento e nove mil, novecentos e vinte metros quadrados), confrontando, a norte, com a rua 12 de Outubro. O empreendimento pertence a Valdick Sebastião dos Santos Lima25. Inicialmente comercializado pela Imobiliária Caetité, é um empreendimento que garante aos interessados água canalizada, energia elétrica, principal avenida pavimentada, área verde e áreas institucionais (Ver figura 19). Diferentes imobiliárias de Caetité comercializam, atualmente, os lotes do Village Santa Rita, e seus representantes salientam que há uma procura significativa pelo público.

Figura 19: Outdoor do Loteamento Village Santa Rita.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2017.

Ao contrário da maioria dos loteamentos analisados, a gleba que deu origem ao loteamento era de posse de outro proprietário. De acordo com o projeto aprovado, o loteamento possui 156 lotes distribuídos em 13 quadras, duas áreas institucionais, parque infantil, área verde (ver figura 20 e tabela 7).

25 Dados obtidos no Decreto nº 016 de 09 de abril de 2012 que aprova o projeto do Loteamento Village Santa Rita dá outras providências.

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Tabela 7– Composição do Loteamento Village Santa Rita Descrição Área (m2) % Lotes 51.063,00 46,95 Área Institucional 1 1.672,53 1,5 Área Institucional 2 9.200,18 8,0 Sistema Viário 15.909,38 14,5 Área Verde 31.534,91 28,7 Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité Organização: Fernanda P. da S. Santana.

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Figura 20: Loteamento Village Santa Rita.

Elaborado por: SILVA, Ana Luiza Aureliano. (2018). Organizado pela Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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O Loteamento Village Santa Rita está inserido dentro do Bairro Santa Rita, com imóveis direcionados principalmente para a população de alta renda da cidade, apresentando casas luxuosas (ver Figura 21), além de algumas instituições de ensino público e particular e o Fórum Cesar Zama.

Figura 21: Casas de alto padrão, Rua Barbara Ivo no Bairro Santa Rita

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018. O preço dos lotes do Village Santa Rita (Figura 22) varia entre R$ 70.000,00 e R$ 150.000,00. As casas de alto padrão e os lotes mais caros se localizam na rua principal, que é pavimentada com lotes com valor estimado em R$ 150.000,00.

Figura 22: Loteamento Village Santa Rita, Rua Capitão João Fraga.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Ressalta-se que o modelo de urbanização desenvolvido recentemente em Caetité tende a intensificar a segregação espacial. Tal desigualdade é intensificada pelo alto valor dos lotes comercializados em bairros consolidados, ou em suas áreas de expansão e próximas do centro26, aprofundando diferenças sociais existentes ou mesmo gerando-as. Segundo Lefebvre (2008, p.62), a produção do espaço vincula-se a grupos particulares, que se apropriam do espaço para geri-lo, para explorá-lo. Nessas condições, o espaço se reduz a demandas de grupos particularizados, jamais aos interesses coletivos. Tomanik (2008, p.3) ressalta que, na maioria das cidades brasileiras, ocorre o emprego de medidas corretivas, em substituição de planos preventivos, e as consequências dessas políticas estão expressas na degradação do ambiente, ou seja, na supressão da vegetação, poluição das águas e utilização excessiva dos recursos naturais. A Licença Ambiental Simplificada nº 026/201127, concedida ao empreendimento, tem como condicionantes: 1 Atender a Legislação do Ministério do Trabalho e Emprego no que se refere a Norma Reguladora NR6 – Artigo 166. A empresa é obrigada a fornecer EPI aos funcionários, gratuitamente adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 2 Atender a Legislação do Ministério do Trabalho e Emprego, no que se refere a Norma Regulamentadora NR7. Programa Controle Médico de Saúde Operacional. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 3 Atender as Normas exigidas no Plano de Desenvolvimento Urbano do Município de Caetité – PDM, conforme Art. 55 – Incisos I, II, III e IV. E os parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º Incisos I, II; IV e V. Prazo de cumprimento – Imediatamente. 4 Apresentar o levantamento florístico da área loteada. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 5 É de Responsabilidade do (s) proprietário (s) efetuar os trabalhos referentes à infraestrutura necessárias no loteamento. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 6 Assinar convênio com a COPERCICLI (Cooperativa de Catadores de Caetité), para que sejam destinados todos os materiais recicláveis à mesma. Prazo para cumprimento – 30 dias. - O não atendimento as condicionantes acima acarretará em sanções, multas, suspensão ou cancelamento de acordo com legislação vigente.

(Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité)

26 Conforme consulta as imobiliárias, são raros os lotes no centro da cidade e, por isso, os que ainda existem, podem variar de R$250.000 a R$300.000. São imóveis antigos que, ao serem adquiridos, são demolidos, dando lugar a construções de alto padrão. 27 Licença publicada no dia 20 de setembro de 2011, com validade de três anos, a contar a partir da sua data de publicação.

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A Licença Ambiental concedida ao loteamento demonstra a fragilidade da regulamentação, exercida pelo poder público às atividades que concernem a ocupação urbana. O loteamento está em situação irregular, pois apenas a rua principal é pavimentada, apesar de a licença ambiental responsabilizar o proprietário em efetuar os trabalhos referentes à infraestrutura necessárias no loteamento. Mesmo com a exigência do licenciamento ambiental para o parcelamento do solo urbano, essas e outras conquistas institucionais não lograram mudar as principais forças que conduzem as cidades brasileiras para a condição de tragédia social e ambiental (MARICATO, 2014, p.84). Maricato (2013) salienta que o controle urbanístico (fiscalização e aplicação da lei) em áreas de proteção ambiental, sobre as quais incidem leis federais, estaduais e municipais, deveria ocorrer com mais rigor, algo que não vem ocorrendo no caso de Caetité, que vem ignorando as disposições definidas no Plano Diretor para tais áreas. Diante do exposto, o licenciamento ambiental e urbanístico executado para aprovação do Loteamento Village Santa parece legitimar a reprodução espacial do mercado fundiário e imobiliário, sem nenhuma atenção às possibilidades de degradação ambiental que essa ocupação possa gerar, pois, dentro das condicionantes estabelecidas, não há uma definição específica dos critérios de ocupação urbana da Zona de Proteção Serra do Gambá, que, ao longo dos últimos anos, tem sido foco de atuação do mercado, atendendo à demanda do público de alto status do município.

4.2.2 Loteamento São Vicente III

O Loteamento São Vicente III, localizado no Bairro São Vicente, à margem direita da Estrada Caetité/Brejinho das Ametistas, na denominada Zona de Proteção das nascentes do Riacho do Jatobá, ZPA II, possui uma área de 180.000,00 m2 (cento e oitenta mil metros quadrados). O empreendimento pertence a José Carvalho Costa e Espólio de Joaquim Carvalho Costa.28. O loteamento possui 360 lotes distribuídos em 24 quadras, duas praças, uma área verde e ruas pavimentadas (ver figura 23 e tabela 8).

28 Dados obtidos no Decreto nº 071 de 19 de novembro de 2013 que aprova o projeto do Loteamento São Vicente III dá outras providências.

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Figura 23: Loteamento São Vicente III

Elaborado por: SILVA, Ana Luiza Aureliano. (2018). Organizado pela Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Tabela 8– Composição do Loteamento São Vicente III Descrição Área (m2) % Lotes 109.870,00 61,04 Praças 4.761 2,65 Vias Públicas 46.073,80 25,60 Área Verde 19.295 10,71

Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité Organização: Fernanda P. da S. Santana

Em meados da década de 1970, com o avançar do período de estiagem de quase dois anos e com o aumento da população na cidade, o povoamento ao longo das margens do riacho Jatobá, em direção à nascente, intensificou-se (SANTOS, MITSUKA, 2009). Atualmente, a região da nascente do Riacho Jatobá, em suas porções mais baixas, está em contato direto com o espaço urbano, nas divisas com o bairro São Vicente, onde boa parte da vegetação foi retirada para a implantação de loteamentos (BARBOSA et al, 2016). São três loteamentos que formam o bairro: São Vicente I, II e III. O São Vicente II e o III estão dentro da Zona de Proteção Ambiental das nascentes do Riacho do Jatobá, ZPA II, o que pode configurar um atrativo aos moradores da região, por oferecer uma certa tranquilidade em relação ao centro, proximidade da natureza e uma vista panorâmica da cidade, conforme figura 24.

Figura 24: Vista da Avenida São Vicente, Bairro São Vicente.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Com ruas tranquilas e pouco movimentadas, o bairro São Vicente é predominantemente residencial com imóveis de alto padrão (ver figura 25), sem centros de comércio.

Figura 25: Residência do Bairro São Vicente, Avenida São Vicente.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018. Em relação ao valor dos lotes do loteamento São Vicente III, os preços correspondem a R$75.000,00, R$ 100.000,00, R$ 120.000,00 e R$ 150.000,00. Esses valores são determinados pela localização e tamanho dos lotes. Nota-se um acentuado processo de sobrevalorização das áreas destinadas a proteção ambiental, como uma fonte de volumosos e rentáveis negócios. Diferentemente da Licença Ambiental do Loteamento Village Santa Rita, a Licença Ambiental do Loteamento São Vicente III possui critérios ambientais diretamente associados à Zona de Proteção Ambiental das nascentes do Riacho do Jatobá. A Licença Ambiental Simplificada nº 013/201229, concedida ao Loteamento São Vicente III, tem como condicionantes: 1 Atender a Legislação do Ministério do Trabalho e Emprego, no que se refere à Norma Regulamentadora NR 6 – Artigo 166. A empresa é obrigada a fornecer EPI aos funcionários, gratuitamente adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 2 Atender a Legislação do Ministério do Trabalho e Emprego, no que se refere à Norma Regulamentadora NR 7 – Programa de Controle

29 Licença publicada no dia de 03 de agosto de 2012, com validade de três anos a contar a partir da sua data de publicação.

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Médio de Saúde Ocupacional. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 3 Atender às normas exigidas no Plano de Desenvolvimento Urbano do Município de Caetité – PDM, conforme Art. 55 Incisos I, II, III e IV. E os parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º. Incisos: I, II, III, IV e V. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 4 Apresentar o levantamento florístico e dendrométrico da área a ser loteada. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 5 Preservar a Área Verde de 19.295 m2, conforme consta planta de localização do empreendimento; 6 Manter e preservar área de APP, situada à margem direita do Riacho Jatobá. 7 Destinar/ Doar a título de compensação ambiental de uma área de aproximadamente 4 hectares, situada entre a APP (margem direita do Riacho do Jatobá) e a Rua 5, para que seja transformada em Área de Preservação Ambiental – APA. 8 É de responsabilidade do (s) proprietário (s), efetuar os trabalhos referentes a infraestrutura necessários no loteamento. Prazo para cumprimento – Imediatamente. 9 Assinar convênio com a COOPERCICLI (Cooperativa de Catadores de Caetité), para que sejam destinados todos os materiais recicláveis à mesma. Prazo para cumprimento – 30 dias. - O não atendimento às condicionantes acima acarretará em sanções, multas, suspensão ou cancelamento de acordo com a legislação vigente. Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité (grifo nosso)

Dentre as condicionantes estabelecidas pelo órgão competente do município está “manter e preservar a APP à direita do Riacho Jatobá”. Constatamos que, conforme o projeto do loteamento (Figura 23) a área verde que será transformada em APA foi delimitada (ver Figura 26).

FiguraLocalização 26:Área da de Área Verde de Verde do Loteamento do Loteamento São São VicenteVicente III. III. Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

Localização da Área de Verde do Loteamento São Vicente III. Localização da Nascente do Riacho Jatobá. Loteamento São Vicente III. Fonte: Elaborado pela autora com base em imagem do Google Earth, 2019.

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O crescimento populacional e as tendências recentes da urbanização brasileira apontam para uma pressão crescente sobre as APPs, com o consentimento do poder público. Embora as APPs e as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) tenham por meta garantir a função social e ambiental da propriedade e possuam um potencial poderoso de regulação urbano-ambiental, ambas enfrentam diversos obstáculos para sua instituição legal de fato ou para sua preservação efetiva (LIMONAD, 2008, p.2). A delimitação de áreas de relevante interesse ambiental pode não assegurar a sua preservação ambiental, mesmo porque o Poder Público Municipal tende a fazer concessões a interesses diversos, em nome de um desenvolvimento local, que muitas vezes tende a comprometer os recursos naturais do município (LIMONAD, 2008, p.3). A avaliação do impacto da urbanização em APAs e APPs carece de uma abordagem crítica e efetiva, pois a regulação e preservação ambiental precisam ser melhor analisadas, de forma a identificar com maior precisão sua área de impacto. Com a implantação do loteamento São Vicente III e de outros loteamentos no entorno, as enxurradas, nos períodos chuvosos, passaram a ser caracterizadas por fluxos intensos de água que se deslocam rapidamente para as áreas mais baixas da vertente – o centro municipal, o que tem causado prejuízos para a população caetiteense. Acreditamos que o poder público local não está capacitado para a gestão ambiental urbana e para o controle sobre ocupações de áreas ambientalmente frágeis, devido a deficiências em recursos humanos e financeiros, que está associada à (não) aplicação da legislação vigente e à falta de fiscalização dos órgãos competentes. A própria normatização e institucionalização do processo de ocupação urbana instituída pelo Estado – no caso, o poder público municipal – parece legitimar a subordinação da regulação urbana às dinâmicas dos processos econômicos que fundamentam a lógica da produção capitalista, permitindo a reprodução de lucros via produção do espaço.

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4.2.3 Loteamento Morada Imperial

O Loteamento Morada Imperial possui uma área de 153.000,00 m2 (cento e cinquenta e três mil metros quadrados), tendo sido implantado pela Construtora e Incorporadora Imperial LTDA30. Segundo o PDM, Lei nº 632, de 10 de outubro de 2006, os loteamentos Village Santa Rita e São Vicente III são empreendimentos desenvolvidos dentro de ZPAs. Nesse contexto, a análise do Loteamento Morada Imperial é relevante neste estudo, por se tratar de uma área que foi anexada ao perímetro urbano da sede do município de Caetité, pelo Estado, em conformidade com os anseios do mercado imobiliário do município. Assim como os outros já analisados, esse empreendimento fomenta a ocupação de áreas localizadas próximas a bairros consolidados, na região Sul da cidade. O empreendimento é comercializado exclusivamente pela empresa Sindac Corretora de Imóveis. Em entrevista a esta autora, o representante da empresa relatou que a gleba onde foi desenvolvido o loteamento era de propriedade do loteador, que optou em loteá-la pela proximidade do loteamento Bosque do Jacaraci, e por possuir boa aceitação no mercado. O Loteamento Morada Imperial, localizado no Bairro Alto do Cristo, possui uma considerável infraestrutura com ruas asfaltadas, escoamento de águas pluviais e soluções para o esgotamento sanitário (ver figuras 27 e 28).

30Dados obtidos no Decreto nº 046 de 05 de novembro de 2015, aprova o projeto do Loteamento Morada Imperial dá outras providências.

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Figura 27: Rua Pavimentada, Loteamento Morada Imperial

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

Figura 28: Infraestrutura para o escoamento de águas pluviais e soluções para o esgotamento sanitário.

Foto: Fernanda P. da S. Santana, 2018.

Conforme um informe publicitário divulgado em site de compartilhamento de vídeos, e informes publicitários da empresa em sua página, em uma rede

Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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social (Ver Figura 2931), o representante da empresa Sindac Corretora de Imóveis assegura aos seus futuros clientes o fornecimento de água, energia e escritura pública32. Entretanto, a construção dos imóveis ainda não foi autorizada até momento da entrevista, devido à ausência de energia elétrica.

Figura 29: Informe publicitário do Loteamento Morada Imperial.

Fonte:Com Facebook 383. lotes distribuídos em 17 quadras, segundo consta na Tabela 9 e PublicadoFigura 2 em:098, o Loteamento de outubro de Morada 2015. Imperial tem a seguinte composição:

Tabela 9 – Composição do Loteamento Morada Imperial Descrição Área (m2) % Lotes 99.198,50 64,84 Área Institucional 9.312,60 6,09 Avenidas/ Passeio 42.095,90 27,51 Área Verde 2.393,00 1,56 Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité Organização: Fernanda P. da S. Santana.

O loteamento é direcionado ao público de média e baixa rendas, com lotes a partir de R$ 29.990,00 (ver Figura 3033). O valor do metro quadrado dos lotes

31 Disponível em:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=177307789271846&set=pb.100009778786002.- 2207520000.1545593467.&type=3&theater 32 Dados obtidos em vídeo disponibilizado em: https://www.youtube.com/watch?v=iClbd_xsjOU 33 Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=142088719460420&set=pb.100009778786002.- 2207520000.1545594261.&type=3&theater

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é determinado de acordo com a sua localização, conforme a Figura 3134. Os lotes que estão próximos do Loteamento Bosque do Jacaraci têm o valor mais alto, sendo que os preços variam entre R$ 29.990,00 a R$ 70.000,00. O loteamento também é demonstrado na Figura 32.

Figura 30: Informe publicitário do Loteamento Morada Imperial.

Fonte: Facebook. Publicado em:06 de agosto de 2015.

34 Disponível em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=174399436229348&set=pb.100009778786002.- 2207520000.1545593473.&type=3&theater

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Figura 31: Loteamento Morada Imperial.

Elaborado por: SILVA, Ana Luiza Aureliano. (2018). Organizado pela Fernanda P. da S. Santana, 2018.

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Figura 32: Loteamento Morada Imperial.

Fonte: Facebook. Publicado em:01 outubro de 2015.

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A Licença Ambiental Unificada nº 028/201535, emitida para o empreendimento, tem como condicionantes:

I – Apresentar Certidão comprovando o registro do loteamento no Cartório de Registro de Imóveis; II – Apresentar e executar projeto de abastecimento de água pela EMBASA e fornecimento de energia aprovado pela COELBA. III – Apresentar estudos e teste exigidos para implantação do sistema de fossa – sumidouro com infiltração no solo, conforme disposto na carta de viabilidade da EMBASA. IV – Realizar diagnóstico sucinto da área e seu entorno, identificação dos impactos, proposta de medidas mitigadoras e/ou compensatórias e comprovar a capacidade de suporte do solo, para execução do projeto. V – Atender as normas exigidas no Plano de Desenvolvimento do Município de Caetité – BA – PDM, conforme Art. 55 – Incisos I, II, III e IV. E os parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º. Prazo para cumprimento: Imediatamente VI – Executar os serviços conforme projeto apresentado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Prazo: Imediatamente. VII – Executar o projeto de drenagem para escoamento das águas pluviais. Prazo: Imediatamente. VIII – Entregar todo material na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, impresso e em meio digital. Prazo: Imediatamente. IX – É de responsabilidade do (s) proprietários (s) efetuar os trabalhos referentes à infraestrutura no loteamento. Prazo: No decorrer dos trabalhos. X – Obedecer a largura mínima de 7,0 m para as pistas de rolamento e 1,50 m para os passeios (calçadas). XI – Apresentar o levantamento florístico da área a ser loteada. Prazo: Imediatamente. - O não atendimento às condicionantes acima acarretará sanções multas, suspensão ou cancelamento de acordo com a legislação vigente. Fonte: Projeto Aprovado pela Prefeitura Municipal de Caetité

Conforme entrevista36 realizada com o representante da empresa Sindac Corretora de Imóveis, o desenvolvimento do projeto atendeu todas as condicionantes estabelecidas pela Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública, pois os lotes também são vendidos mediante financiamento bancário e, por isso, devem estar dentro dos parâmetros exigidos no PDM e demais legislações urbanísticas e ambientais. Ainda que não haja conformidade entre o projeto aprovado e a sua execução, não há no município, um corpo técnico permanente responsável pela fiscalização da gestão da política urbana e ambiental.

35 Licença publicada no dia 29 de setembro de 2015, com validade de três anos a contar a partir da sua data de publicação. 36 Entrevista realizada em Caetité (BA), em 18/10/2018 cf. Entrevista concedida à autora.

113

A gestão comprometida com a implantação dos instrumentos da política urbana combateria o uso especulativo da terra, mas acaba por atender os interesses dos proprietários fundiários. Vale salientar que, o loteamento foi implantado em antiga área rural, sendo introduzido dentro do perímetro urbano com a aprovação da Lei nº 79037, de 22 de junho 2015. De acordo com a base cartográfica da Lei nº 790/2015, a ampliação do perímetro urbano ocorreu apenas na área correspondente a esse loteamento. A facilidade que o mercado possui em organizar a produção e ocupação do espaço urbano deriva da falta de empenho do poder público em implantar os preceitos da política urbana, já que isso implica em enfrentar os interesses dos proprietários fundiários e promotores imobiliários. Assim, “vemos que o direito à cidade vem caindo nas mãos de interesses privados ou quase privados” (HARVEY, 2014, p. 62) – ou seja, parece se efetivar apenas para quem pode pagar por esse direito. A atuação do poder público caetiteense, nesse contexto, sede à pressão dos proprietários de terras fundamentalmente interessados no valor de troca da terra urbana – no caso desse loteamento, especialmente, pela transformação da terra rural em terra urbana – e ocasionando a expansão da cidade. A expansão do tecido urbano de Caetité tem ocorrido com a intervenção do Estado a favor dos proprietários fundiários e dos promotores imobiliários, seja legitimando suas ações, seja se omitindo na regulamentação de critérios específicos para as ZPAs. Segundo Correa (1989, p. 16), a propriedade fundiária da periferia urbana constitui-se como alvo de atenção dos proprietários de terras, por estar associada à transformação do espaço rural em urbano. Assim, podemos observar que os agentes sociais responsáveis pelo Loteamento Morada Imperial consideraram a possibilidade de agregar valor à área, transformando em lucrativos produtos imobiliários voltados a atender um público fora do foco da expansão urbana do município, o público de média e baixa renda. * * * A análise dos três objetos de estudo foi importante para avaliarmos tanto o processo de gestão urbano-ambiental – ou seja, verificar, na prática, o que tem

37 Altera a Lei Municipal Nº 632, de 10 de outubro de 2006, e dá outras Providências.

114 sido efetivado pelo município e o que às vezes é omitido no processo de licenciamento ou na liberação para a ocupação – quanto às formas de ocupação que têm sido legitimadas nas ZPAs e suas consequências para a cidade. Em entrevistas38, os representantes da Secretaria de Serviços Públicos e da Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Pública salientam que a ocupação das ZPAs é possível através de critérios específicos. Contudo, após a análise dos processos dos loteamentos, observamos a ausência de critérios específicos para a ocupação das ZPAs, que provoca na cidade um constante estado de alerta durante os períodos chuvosos, devido aos transtornos ocasionados pelas fortes enxurradas e inundações, que causam prejuízos ao comércio e aos moradores das áreas à jusante destes loteamentos. Quando comparamos os três loteamentos analisados, verificamos que a área dos lotes do primeiro loteamento analisado é menor, em comparação aos outros dois loteamentos; os critérios ambientais da Licença Ambiental do loteamento São Vicente III são diretamente associados a ZPA, o que não acontece com o loteamento Village Santa Rita; a área verde dos dois primeiros é muito maior que a do terceiro loteamento e, talvez, esse seja um critério a ser regulamentado, pensando na necessidade de ampliar as áreas permeáveis à montante da cidade. Especialmente no caso de Caetité, acreditamos que pensar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento para se definir o zoneamento da cidade, seria algo muito importante em uma futura revisão do Plano Diretor, já que os impactos da ocupação das ZPAs estão diretamente ligados à pouca atenção dada à bacia bem como à drenagem urbana. Pensar pontualmente as áreas de nascente de riachos ou de áreas de serras não tem garantido uma ocupação condizente com a preservação ambiental requerida, conforme as disposições do Plano Diretor. Outra questão a ser apontada é que, ao serem “tomadas” por interesses mercantis, as ZPAs deixam de cumprir sua função social – a de preservação, para se tornarem lucrativos produtos imobiliários destinados a um público que pode pagar por esses imóveis, o que por sua vez, amplia a segregação socioespacial na cidade e os problemas ambientais.

38 Entrevistas realizadas em Caetité (BA), em 16/01/2018 cf. Entrevista concedida à autora.

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Nesse sentido, a regulação urbanística tem sido insuficiente para se cumprir a função social da cidade e da propriedade, e o Plano Diretor tem sido utilizado para legitimar interesses privados, tendo uma atuação limitada no controle da ocupação.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação objetivou analisar a ocupação do solo urbano em ZPAs de Caetité - BA, a partir da aprovação do Plano Diretor Municipal (2006-2016), uma vez que, apesar de proibir a ocupação nesses zoneamentos, por questões ambientais, loteamentos de uso residencial voltados aos segmentos de renda média e alta da população seguem sendo aprovados. Além disso, buscamos refletir sobre os limites deste instrumento – o PD – como ferramenta de regulação do território. Vimos, no primeiro capítulo, que, apesar da expectativa do Planejamento Reformista no Brasil para resolver as injustiças sociais do processo de urbanização brasileira, a implementação dos Planos Diretores não têm correspondido a tal expectativa e, na prática, mantêm a lógica da produção capitalista, continuando a atender as demandas do mercado imobiliário, em detrimento dos interesses coletivos. O Estatuto da Cidade define princípios e objetivos, estabelece diretrizes e instrumentos de gestão urbana a serem utilizados pelo poder público municipal, na tentativa de minimizar as desigualdades na forma e nas condições de apropriação das cidades pela população mais pobre. Entretanto, todas essas conquistas foram extremamente prejudicadas pelas dinâmicas próprias do capitalismo e de sua relação com o Estado. Segundo Caldas:

[...]embora tenha havido importantes avanços no marco legal urbanístico, a partir da Constituição Federal de 1988, a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano preconizada enquanto concretização desse marco legal não existiu, na medida em que não enfrentou a sua questão central - a propriedade da terra urbana - e, portanto, não promoveu, de fato, nenhuma mudança sistêmica no modo de produção das cidades.(CALDAS, 2015, p.251)

Maricato (2014, p.186) observa que o Estatuto da Cidade, é tido como um exemplo para o mundo, objeto de cursos para urbanistas até na Holanda. No entanto, confrontamos com a realidade na qual os “planos diretores aprovados é peça discursiva, de conteúdo genérico e sem aplicabilidade no que se refere aos instrumentos de interesse popular” (BURNETT, 2007, p.107). No desenvolvimento do trabalho, ficou evidente que o Plano Diretor não é o fim em

117 si mesmo, ou seja, a sua existência não é capaz de resolver as injustiças sociais da cidade e, por isso, ela é negada aos que não podem pagar por ela. No que se refere ao papel do Estado na produção do espaço urbano, vimos no segundo capítulo que, com uma postura aparentemente neutra, legitima o interesse do mercado imobiliário. A comercialização de imóveis em Caetité tornou-se uma grande oportunidade para o incremento do valor da propriedade particular urbana através e da apropriação indevida das mais-valias- urbanas39, com conivência do Estado, ao admitir o parcelamento de áreas em ZPAs que estão próximas aos bairros consolidados – zoneamentos que, conforme o PD municipal, não deveriam ser ocupados. O Estado, com sua capacidade de se apresentar perante a sociedade como algo acima dela, supostamente neutro, competente e racional, representa “talvez a forma maior e mais permanente da fetichização das relações sociais no capitalismo” (BURNETT, 2007, p. 478). Desse modo, nossas cidades prosseguem sendo resultado das relações injustas entre o Estado e o interesse capitalista, pois a terra urbana e a capacidade de pagar por ela continua constituindo o fator decisivo para definir quem tem direito de exercer cidadania e quem ficará de fora da cidade. Tudo isso com conivência do Estado e muito recurso público (CALDAS, 2015, p.253). Em Caetité, o papel ambíguo do Estado pode ser confirmado com a aprovação de leis que ampliaram o perímetro urbano sem a participação popular – conforme orienta o Estatuto da Cidade. Cabe registrar que, no início de 2018, a atual gestão encaminhou à Câmara de Vereadores o Projeto de Lei nº 879 de 20 de fevereiro de 2018, que propõe mais uma alteração no PDM. Trata-se do aumento do limite urbano em direção às localidades próximas a Tábua, à Palmeira, Lixão e ao Pirajá (REDE CAETITÉ NOTÍCIAS, 2018). O projeto causou polêmica nas redes sociais, por parte dos moradores dessas localidades, pedindo que essas áreas não fossem incluídas no perímetro urbano e continuassem como zona rural, além da necessidade de se fazer uma audiência pública prévia à aprovação da mudança legal. Pode-se dizer que o

39Segundo Baltrusis (2006, p.124) essas mais-valias urbanas resultam em geral de ações alheias ao proprietário e, mais notadamente, derivam da atuação pública, seja através de investimentos em infraestrutura ou de decisões regulatórias sobre o uso do solo urbano

118 caráter ambíguo do poder público fomenta a regulação do espaço urbano, assim como seu crescimento de forma dispersa e segregada. O processo de formação espacial de Caetité, o estudo dos instrumentos de regulação e gestão ambiental do município, no terceiro capítulo, permitiu inferir que o Conselho Municipal da Cidade e o Conselho Municipal do Meio Ambiente não são atuantes, gerando risco de fragmentação da participação em torno da política de desenvolvimento urbano e ambiental do município. Outro elemento que merece ser destacado diz respeito ao licenciamento ambiental desenvolvido nos processos de parcelamento do solo em Caetité, resultante de uma visão antagônica de cidade e de natureza, cuja consequência é a incapacidade de se perceber e enfrentar conflitos urbanos ambientais na sua complexidade (JUNIOR e MONTANDON, 2011, p. 42 e 43). Acreditamos que o planejamento urbano e ambiental integrado é crucial para todos aqueles que querem cidades mais justas e ambientalmente menos predatórias. Nesse sentido, o EIV, instrumento de caráter preventivo, é uma importante ferramenta que pode ser aplicada efetivamente nos processos de licenciamento ambiental, pois complementa a regulação do parcelamento do solo urbano, e possibilita a avaliação prévia das consequências da instalação de empreendimentos de grande impacto em suas áreas vizinhas, garantindo a possibilidade de minimizar os impactos indesejados e favorecer impactos positivos para coletividade. No entanto, a aplicação desse e de outros instrumentos depende da regulamentação específica e de uma gestão comprometida com a aplicação desses instrumentos. Isso quer dizer que, dependendo da forma que a mesma for aprovada, pode contribuir para manter a ação predatória e a apropriação exclusiva dos benefícios da urbanização pelo capital pela classe hegemônica. A análise da dinâmica urbana recente de Caetité, no quarto capítulo, permitiu concluir que, com a instalação de empresas ligadas às atividades de mineração e produção de energia eólica, desencadeou-se uma considerável expansão do perímetro urbano em direção as ZPAs, principalmente nos bairros São Vicente e Santa Rita, direcionados ao público de média e alta rendas e situados na periferia do município. O assentamento desses segmentos sociais nas franjas ou periferias da cidade produziu efeitos atípicos no espaço urbano local. No entanto, no caso de

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Caetité, essa localização periférica, mas ao mesmo tempo próxima ao centro, atende ao interesse desse público que se instalou recentemente na cidade e que encontrou, nessas áreas, produtos imobiliários compatíveis com suas demandas. A apresentação dos estudos de caso evidenciou a necessidade de revisão ou discussão da regulação urbana colocada em prática na cidade, especialmente nos casos de ZPAs. Os loteamentos estudados demonstraram que a regulação adotada pela gestão municipal ocorre mediante critérios pouco eficazes – ou inexistentes, a exemplo dos parâmetros urbanísticos das ZPAs – que impactam na qualidade de vida dos moradores, provocando um constante estado de alerta durante os períodos chuvosos, devido aos prejuízos causados pelas fortes enxurradas aos cidadãos das áreas à juzante dos loteamentos aprovados em ZPAs. Além disso, o estudo nos permitiu verificar a capacidade limitada do Plano Diretor enquanto instrumento de regulação do território, sendo insuficiente para se cumprir a função social da cidade e da propriedade. Enfim, o Plano Diretor tem sido utilizado para legitimar interesses privados, tendo uma atuação limitada tanto na preservação ambiental quanto no controle das formas de uso do território. Diante do exposto nesta pesquisa, ressaltamos que as mudanças propostas no Projeto da Reforma Urbana pouco avançaram em municípios como Caetité, porque representam mudanças significativas nas parcelas influentes da sociedade, com a proposição de instrumentos reformistas para o planejamento urbano, que podem representar muitas perdas econômicas para as classes dominantes e, por isso, não foram implantados. A propriedade privada constitui a principal barreira no acesso ao direito à cidade pela coletividade, e impede as diferentes formas de utilização do espaço em relação à diversidade de necessidades dos indivíduos. A presente investigação nos levou a considerar a necessidade de retomar o planejamento urbano em Caetité, sob uma perspectiva inclusiva, para a qual seria fundamental desenvolver os ideais do planejamento participativo. A participação ativa das comunidades é essencial quando se deseja promover não somente a apropriação efetiva do espaço público por todos os munícipes, mas também o controle do solo urbano de forma condizente com os interesses

120 coletivos, dando prioridade ao valor de uso dos espaços em detrimento do seu valor de troca. Acreditamos que os cidadãos precisam não só recuperar a capacidade de mobilização e organização presenciada na década de 1960, com a realização do Seminário da Reforma Urbana, e na de 1980, com a organização do o Movimento Nacional pela Reforma Urbana, mas devem atuar de forma mais efetiva na construção da regulação e na gestão das cidades. Expressões como função social da cidade, função social da propriedade e direito à cidade precisam ser apropriadas pela sociedade para a luta direta e conjunta contra as estruturas que promovem a opressão e a exclusão na cidade capitalista. Assim, concordamos com Lefebvre (2016, p. 43) na afirmação de que apenas o proletariado pode pôr fim às separações (as alienações), construindo “uma outra” sociedade, que reconheça os direitos efetivos dos cidadãos e caminhem no sentido do espaço diferencial e da realização do direito à cidade.

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RENOVA ENERGIA. Inaugurado o maior parque eólico da América Latina na região de Guanambi-Bahia. Disponível em: http://www.renovaenergia.com.br/pt- br/imprensa/noticias/paginas/noticia.aspx?idn=19n=19. Acesso: 31/07/2017.

RODRIGUES, Arlete Moysés. Políticas Públicas: FGTS e Planos Diretores. Conteúdos e Significados. Cidades, Rio Claro, v. 9, n. 16, 2012, p. 11-30.

RODRIGUES, Arlete Moysés. Estatuto da Cidade: função social da cidade e da propriedade. Alguns aspectos sobre população urbana e espaço. Cadernos Metrópole, São Paulo, n. 12, 2004, p. 09-25.

RODRIGUES, Arlete Moysés. Desigualdades Socioespaciais – A luta pelo direito à cidade. Revista Cidades, v. 4, n. 6, 2007, p. 73-88. Disponível: http://revista.fct.unesp.br/index.php/revistacidades/article/viewFile/571/602. Acesso: outubro 2018.

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SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. Hucitec: São Paulo, 1988.

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SANTOS, T. A. dos. A produção do espaço a partir de Henri Lefebvre e a dimensão espacial da ação política. In: COSTA, Geraldo M.; COSTA, Heloisa S.

129

M.; MONTE-MÓR, Roberto L. de M. (Orgs.) Teorias e práticas urbanas: condições paraa sociedade urbana. 1. Ed. Belo Horizonte: C/Arte, 2015. V. 1. P. 169 – 192.

SANTOS, Thiago Andrade dos. A vida da e na Cidade entre a obra e o Produto: Uma reflexão a partir da produção do espaço da metrópole belo- horizontina. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Geografia, Belo Horizonte, 2014. 215f.

SCHVARSBERG, Benny. MARTINS, Giselle C. CAVALCANTI, Carolina B. (org.) Estudo de Impacto de Vizinhança: Caderno Técnico de Regulamentação e Implementação, volume 4. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.

SILVA, Pedro Celestino da. Notícias Históricas e Geographicas do Município de Caetité. Revista do Instituto Geographico e Histórico da Bahia, n. 58, p. 89- 294, 1932.

TOMANIK, Raquel. Estudo de Impacto de Vizinhança e Licenciamento Urbanístico – Ambiental: Desafios e Inovações. Dissertação (Mestrado). São Carlos: UFSCar, 2008. 116f.

VILLAÇA, Flávio José Magalhães. Dilemas do plano diretor. In: Fundação Prefeito faria Lima - CEPAM. O município no século XXI: cenários e perspectivas[S.l: s.n.], 1999.

VILLAÇA, Flávio. As ilusões do plano diretor. Edição do autor, São Paulo; 1ª edição, 2005.

130

ANEXOS

131

ANEXO I Questionário destinado as Secretarias de Meio Ambiente e Limpeza Pública e a Secretaria de Serviços Públicos

132

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CAMPUS SÃO JOÃO DEL REI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu Sensu EM GEOGRAFIA Pesquisador responsável: Prof. Esp. Fernanda Pereira da Silva Santana Orientadora: Prof. Dr. Daniela Abritta Cota

Roteiro de Entrevista

Representante(s) Prefeitura Municipal

Nome Completo:______

Data da entrevista:____/____/____

Função na prefeitura:______

1. Como era realizado o processo de aprovação de loteamento antes da Lei nº. 632 de 10 de outubro de 2006?

2. O que mudou no processo para aprovação de loteamentos a partir da vigência do Plano Diretor?

3. Atualmente o processo para aprovação de um loteamento passa por alguma comissão de diretrizes de parcelamento?

4. Quem analisa os projetos de loteamento? Quais setores da prefeitura? Qual é o caminho/ trâmite na prefeitura para se aprovar um loteamento?

5. O zoneamento contido no Plano Diretor contribuiu para alguma mudança nas exigências/ critérios ou procedimentos de aprovação?

6. Quais os meios utilizados pela prefeitura para divulgar os parcelamentos do solo urbano aprovados? (decreto?)

7. Durante a implantação do loteamento pelo empreendedor, há algum acompanhamento da prefeitura? Em caso positivo, o que se realiza neste acompanhamento?

133

8. Há na prefeitura equipe responsável pela fiscalização das obras exigidas nos loteamentos?

9. Muitos loteamentos recentemente aprovados estão em ZPA, no qual a ocupação deve ser inibida. Com qual base legal esses loteamentos seguem sendo aprovados?

10. Os condomínios fechados existentes em Caetité atendem as determinações contidas no plano diretor? Como eles têm sido aprovados (com qual base legal)?

11. Quais parcelamentos foram discutidos pelos Codema (do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente)?

12. No artigo 126 do Plano Diretor está prevista a elaboração, por parte do executivo Municipal, do Programa Municipal de Meio Ambiente, submetendo-o à apreciação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA), preliminarmente à aprovação da Câmara Municipal. Esse programa foi elaborado? Qual a sua interface com a aprovação de loteamentos?

13. No artigo 129 do Plano Diretor do município está previsto através de seus órgãos competentes, a implantação de um banco de dados ambientais, integrado ao sistema municipal de informações, contendo informações atividades de monitoramento ambiental, cadastro com mapeamento das áreas degradadas urbana, rural, e classificação dos impactos ambientais existentes, dentre outros. Como acessar esse banco?

14. Existe no município algum Conselho de Desenvolvimento Urbano ou de Política urbana?

134

ANEXO II Formulários para o processo de loteamento/ desmembramento no Munícipio de Caetité

135

PREFEITURA DE CAETITÉ SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE Análise Prévia de Processos

Requerente:

Atividade: LOTEAMENTO/CONDOMINIO

Código: Responsável: Análise Prévia

USO EXLUSIVO DA GERÊNCIA DE DEFESA E FISCALIZAÇÃO JOÃO NATALIO BASTOS SOUZA Porte: 24/08/2016 Tipo de Licença: LICENÇA UNIFICADA

Valor da Taxa:

Item Documentos Necessários √

1. Requerimento (Formulário SeMMA) √ 2. Documentação comprobatória da qualidade de representante legal do signatário do Requerimento √

3. Original da publicação do pedido da Licença em jornal, conforme modelo padronizado pela GEDF

4. Comprovante de pagamento da taxa Ambiental √

5. Comprovante de pagamento da taxa Florestal

6. Alvará de Funcionamento

7. Documentos pessoais do requerente (xerox autenticada) √

8. Anuência Prévia da Secretaria de Infra-estrutura Urbana

9. Planta de Situação √

10. Termo de Responsabilidade Ambiental, conforme Termo de Referência SeMMA √

11. ART (Nível Superior) do profissional responsável pelo licenciamento ambiental √

12. Carta de viabilidade da EMBASA e Carta de viabilidade da COELBA √

13. Política Ambiental da Empresa divulgada em jornal de grande circulação da Região Sudoeste

14. Laudo do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN

15. Documento de propriedade ou justa posse do imóvel √

16. Autorização de passagens por propriedade de terceiros

17. Levantamento PlaniAltimétrico que demonstre a declividade do terreno √

18. Levantamento Florístico √

19. Projeto de drenagem de águas pluviais √

20. Projeto de pavimentação das ruas, praças etc; √

136

21. Alvará de Pesquisa (DNPM)

22. Aprovação do relatório de pesquisa (DNPM)

23. Guia de utilização do minério (DNPM)

24. Portaria de lavra (DNPM)

25. Requerimento de registro de Licença (DNPM)

26. Plano de Recuperação de Área Degradada - PRAD

27. Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – PGRS

28. Cronograma de execução das Obras de Infraestrutura Básica √ Teste de infiltração conforme Orientação Técnica do Manual de Saneamento da FUNASA/2007 (Para casos 29. de utilização de Fossa Séptica) √ Sondagem do Solo para determinar o nível do Lençol Freático (Para casos de utilização de Fossa Séptica) 30. Indica-se NBR 6484/2001 -Solo - Sondagens de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio √ 31. Cópia de registro anterior Avaliação do cumprimento dos condicionantes da Licença ou Autorização Ambiental anterior, acompanhado 32. de documentação comprobatória (laudos, relatórios e registros fotográficos no que couber) devidamente assinada pelo responsável técnico. Roteiro de Caracterização do Empreendimento – RCE, incluindo mapas, plantas, desenhos, memoriais e fotografias representativas do local. Os estudos apresentados a Gerência de Defesa e Fiscalização deverão 33. ser assinados por profissionais legalmente habilitados e devidamente credenciados nos respectivos Conselhos √ de Classe, sendo necessária à apresentação do registro de ART, ou documento equivalente Obs: quando se tratar de LA e RLO, o RCE deve estar contemplado no ALA 34. Auto – avaliação para o Licenciamento Ambiental - ALA

Informações Básicas para Enquadramento (preencher apenas os campos pertinentes à atividade):

( ) Área construída (m²) ______( ) Investimento total R$______( ) Nº funcionários______( ) Piscicultura ou Carcinicultura ( extensiva, semi-intensiva e intensiva): Área (Ha)______( ) Carcinicultura super-intensiva / Ranicultura / Ostreicultura: Área ( m2 )______( ) Piscicultura super-intensiva: Volume (m3) ______( ) Empreendimentos de Base Florestal ou Projetos Urbanísticos: Área total (Ha) ______( ) Linhas de Transmissão, Distribuição ou Rodovias: Extensão (Km) ______( ) Capacidade de Armazenamento (m3)______( ) Aterros Sanitários: Produção (t/dia) ______( ) Poços de Petróleo: Profundidade (m) ______( ) ERB: Potência irradiada (w)______( ) Área irrigada (Ha) ______( ) Hospitais: nº de leitos ______

Observação:

Atenção Requerente Nota 1: Os documentos apresentados em forma de fotocópia deverão ser autenticados ou acompanhados do documento original, para conferência pelo atendimento da Gerência de Defesa e Fiscalização, conforme o Art. 181 § 3º do Regulamento da Lei Estadual n.º 7.799/01, aprovado pelo Decreto Estadual n.º 7967/01. Nota2: Para uma mesma empresa, que possua várias unidades de produção, com diferentes localizações, a Licença ou Autorização Ambiental é obrigatória e específica para cada uma de suas unidades.

137

Declaração Declaro, para os devidos fins, que entreguei a Gerência de Defesa e Fiscalização os documentos requeridos e acima assinalados. Local, / / .

______Nome por extenso do representante legal Assinatura

ESPAÇO RESERVADO PARA GERÊNCIA DE DEFESA E FISCALIZAÇÃO: Formação do Processo Nº do Processo: Assinatura:

Data:

138

TERMO DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Pelo presente instrumento o (a) ______declara (identificação do requerente) que a atividade ______localizada (descrever a atividade) ______objeto (endereço completo) do Requerimento da Licença de ______está (descrever modalidade da Licença) de acordo com as normas ambientais vigentes aplicáveis ao empreendimento, e respaldada nos estudos técnicos apresentados a SMMA, que foram elaborados pelo Sr. ______(nome do profissional) profissional legalmente habilitado e devidamente credenciado no respectivo Conselho de Classe ______com o registro de ART (nº do Registro)

______, ou documento equivalente, e que adotará todas as (nº da ART) medidas necessárias para evitar, atenuar ou reparar os impactos resultantes desta atividade, mantendo disponível à fiscalização da SEMA e aos demais órgãos do Sistema Estadual e Federal de Administração dos Recursos Ambientais – os documentos relativos ao cumprimento dos condicionantes que serão estabelecidos na referida Licença.

Declara ainda, que independente da existência de culpa, indenizará ou reparará os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados pela sua atividade, conforme previsto na legislação pertinente.

______Local e data

______NOME DO REPRESENTANTE LEGAL

Obs.: Este documento deverá ter a firma do signatário reconhecida em Cartório

139

ANEXO III Questionário destinados aos Proprietários/Construtores Imobiliários e as Imobiliárias de Caetité

140

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CAMPUS SÃO JOÃO DEL REI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu Sensu EM GEOGRAFIA Pesquisadora responsável: Prof. Esp. Fernanda Pereira da Silva Santana Orientadora: Prof. Dr. Daniela Abritta Cota

Representantes das Imobiliárias

Nome Completo:______

Data da entrevista:____/____/____

Função na imobiliária:______

1. Quais são os loteamentos ou lotes comercializados atualmente? 2. Eles se direcionam ao público de qual faixa de renda? 3. Por que os loteamentos estão se localizando preferencialmente na porção sul do município (Bairros Alto do Cristo e São Vicente)? O que tem atraído o mercado a investir nessas áreas? 4. Qual (ou quais) loteamento(s) ou lote (s) com maior procura por parte da população? 5. Quais são os atrativos oferecidos? Algum de caráter ambiental? 6. A empresa possui algum projeto de loteamento? 7. O Plano Diretor de alguma forma contribui para concepção e execução do projeto de parcelamento? Em caso positivo, como? 8. Quais medidas mitigadoras ou condicionantes exigidas durante o processo de parcelamento por parte da Prefeitura Municipal? 9. É realizada por parte da Prefeitura Municipal algum tipo de fiscalização antes da liberação do loteamento para a ocupação? 10. Pra você, quais fatores têm contribuído para a ocupação da Zonas de Proteção Ambiental no município?

141

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CAMPUS SÃO JOÃO DEL REI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu Sensu EM GEOGRAFIA Pesquisadora responsável: Prof. Esp. Fernanda Pereira da Silva Santana Orientadora: Prof. Dr. Daniela Abritta Cota

Proprietários ou Construtores Imobiliários

Nome Completo:______

Data da entrevista:____/____/____

Função na imobiliária:______

1. O que tem levado você a lotear nessa área? Que atributos ela tem que atraiu o seu empreendimento? 2. Durante o processo de elaboração do projeto do loteamento ou aprovação do mesmo apareceram alguns “empecilhos” por parte da legislação ou da prefeitura? 3. O fato de seu loteamento estar em uma Zona de Proteção Ambiental implicou alguma mudança nos critérios de aprovação do loteamento? 4. O que o licenciamento ambiental deste loteamento garantiu como benefício a cidade?

142

ANEXO IV TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE

143

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu Sensu EM GEOGRAFIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE

Eu______, abaixo assinado(a), autorizo Fernanda Pereira da Silva Santana, estudante do Programa de Pós- Graduação Strictu Senso em Geografia (Mestrado) da Universidade Federal de São João Del Rei, a utilizar as informações por mim prestadas, para a elaboração da sua Dissertação, que tem como título: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO SOLO EM CAETITÉ -BA: LOTEAMENTOS EM ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL que está sendo orientado pela Prof.ª Dr.ª Daniela Abritta Cota. Minha participação consistirá em conceder uma entrevista que será gravada e transcrita. Entendo que esse estudo possui finalidade de pesquisa acadêmica, que os dados obtidos não serão divulgados, a não ser com prévia autorização, e que nesse caso será preservado o anonimato dos participantes, assegurando assim minha privacidade.

Caetité, ______de ______. de 20______.

Assinatura