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Filipa Ramalhete Margarida Tavares da Conceição Inês Lobo

2020 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 3 Atlas Almirante Reis Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 4 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 5

Prefácio

«[…] dizia Ray Bradbury (em A Cidade Fantástica) que muitas comunidades aparen- temente banais podem ser, afnal, caleidoscópios fascinantes de destinos humanos.» (João Seixas e António B. Guterres, O pulsar político de um eixo dorsal, apud Atlas Almirante Reis)

«[…] nunca se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve, e contudo entre eles há relação.» (Italo Calvino, cit. por Marluci Menezes, Os mundos de uma avenida em Lisboa: todos parte do mesmo retrato, apud Atlas Almirante Reis)

Atlas Almirante Reis é um livro singular cuja originalidade e qualidade defnem o que, desde já, considero um modelo a seguir para estudar/divulgar Lisboa, através de enfoque preciso sobre uma parcela do seu território. Na Introdução, a equipa dos coordenadores enuncia, com clareza, as componentes que defnem a «originalidade» e a «qualidade» com que adjetivo esta obra: por um lado, a pluridisciplinaridade dos estudos que cruzam, com excelente dinamismo, contributos oriundos da história, particularmente da história da arte (onde englobo a história do urbanismo e da ar- quitetura), da sociologia, da geografa, da antropologia e da arquitetura. Os autores são ou investigadores de obra feita que juntam o trabalho académico e a intervenção, de diversas maneiras, na gestão concreta da cidade, ou jovens investigadores, compro- metidos com diversas linhas de pesquisa, integradas em projetos de médio ou longo prazo. Por outro lado, há que destacar a qualidade conceptual da abordagem do objeto de estudo, defnido, com rigor e sentido poético, entre «Linha de água: ampliar» e «Linha de festo: articular», assim juntando, com notável parcimónia, geografa, história, vivências (abordadas também no álbum fotográfco extremamente criterioso) e desejos propositivos, estes vindos sobretudo do exercício do projeto por parte dos professores e estudantes de arquitetura envolvidos. O ineditismo de algumas fontes, a fuidez da escrita, o empenho que se pressente em todos os artigos, manifestam idêntica qualidade. Destaco ainda a intensidade plástica das fotografas de Paulo Catrica, que celebram o território à Almirante Reis com um efeito de distanciação que diria brechtiano: comungando na celebração da- quele sítio múltiplo, mas abrindo, em cada um dos leitores, uma incerteza que impede conclusões simplistas ou o enunciado de fnais felizes. No entanto, apesar do entusiasmo com que li, de fo a pavio, este grosso volume, só o posso abordar do ponto de vista da história de Lisboa, que tenho vindo a estudar desde a década de 1980, quando realizei a minha dissertação de mestrado sobre a «Lisboa das », sendo que «essas avenidas» designavam o conjunto da extensão da cidade desde a até ao Campo Grande. Nesse estudo, a Avenida Almirante Reis, com os seus primeiros bairros envolventes, era pouco mais que uma referência. Deste ponto de vista, segui o que José-Augusto França tinha já feito: aquela extensão oriental era como que um «projeto número dois», muito 5 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 6

prefácio

prolongado no tempo e sem a energia do modelo haussmanniano que Frederico Ressano Garcia e a sua equipa tinham em mente, quando, a partir de 1874, concentraram, na renovada Repartição Técnica da Câmara Municipal de Lisboa, todos os projetos de ampliação da cidade, antes partilhados com o Ministério das Obras Públicas. No en- tanto, devo dizer que, desde sempre, a questão da Almirante Reis me atraiu, talvez motivada por alguns maravilhosos textos, de olisipógrafos ou de escritores da craveira de Rodrigues Miguéis ou Cardoso Pires, que, como não podia deixar de ser, são muito bem citados em alguns dos artigos deste livro. Assim, limitar-me-ei a sintetizar as razões que, do ponto de vista da história oito- centista de Lisboa, constituem a particularidade da Almirante Reis. Em primeiro lugar, a sua extensão, única em Lisboa, gerando um eixo direcional com peculiar imaginabi- lidade (como diria Kevin Lynch) que, num alinhamento quase sem hesitações, conduz da Baixa às «portas da cidade», segundo a bela expressão que ainda se usava início do século XX. De imediato, esse é um claro contraste com as linhas quebradas do eixo central, da Rotunda do Marquês ao Campo Grande, que torna o conjunto da Avenida da República, paralelas e incidentes, uma espécie de corpo exógeno que demorou muito tempo a colar à cidade antiga. Em segundo lugar, como aparece valorizado em vários textos, esse eixo direcional, e de grande extensão para a dimensão de Lisboa, está carregado de história que, na sua origem mais próxima, entronca na Rua da Palma. A extraordinária antiguidade desta artéria (que recua ao século XVI) e o modo como a nova avenida se sobrepõe, sem des- truição integral, à velha Rua dos Anjos, enraízam-na no território medieval de Lisboa, distanciando-a da secura e abstração do urbanismo pragmático e higienista que orienta o crescimento moderno das cidades europeias. Esta particularidade é reforçada pela relativa estreiteza do traçado, que também não cumpre as expectativas do modelo, man- tendo-a com uma memória ativa de estrada de articulação com os subúrbios a norte. Dois outros aspetos defnem a originalidade da Avenida Almirante Reis: o fasea- mento da execução, que surge elencado num brilhante artigo, com cronologia ampliada de 1890 à década de 1940, atravessando contextos políticos, normas urbanísticas e es- tilísticas arquitetónicas substancialmente diferentes. Essa longa duração, atravessada pela história, foi acolhendo estratos da população urbana bastantes distintos que, sem grande convívio entre si, não deixavam de se encontrar e cruzar no corpo circulante daquela artéria vital. Finalmente, o processo de delineamento e construção dos primeiros bairros. Ao con- trário do que aconteceu nas Avenidas a norte da Rotunda, em que a venda dos lotes foi centralizada na Câmara Municipal (com a expectativa, progressivamente gorada, de rentabilizar o pesado investimento), mas também nos novos bairros de e da Estefânia, à Almirante Reis, a iniciativa de urbanização foi, nas primeiras fases, integralmente privada, em alguns casos chegando a anteceder a efetiva abertura dos seus primeiros troços. Houve, na cidade, outras urbanizações privadas, de que os bairros Barata Salgueiro e Camões são paradigmáticos, mas nada que se assemelhe ao dinamismo e efcácia do lugar em análise. Naquela década depois do Ultimatum, quando o Partido Republicano ia alargando a sua base de apoio social, é evidente que a efervescência e ilusão da mudança estimulam e promovem novos investidores, de escala relativamente modesta, embora este seja um tema que continua a carecer de in- vestigação específca. É possível que, deste ponto de vista, possamos considerar, como bem captou José Rodrigues Miguéis, a Almirante Reis como uma das sedes da Lisboa republicana, promovida por uma pequena burguesia ligada aos serviços, ao comércio e alguma indústria, e que compreendeu a possibilidade de lucro relativamente fácil no setor da construção e venda de casas, quase exclusivamente plurifamiliares. Sendo verdade que um dos primeiros prédios de efcaz retórica fachadista, projetado pelo 6 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 7

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arquiteto Adães Bermudes, foi Prémio Valmor em 1908, nessa década e na seguinte, não volta a haver nenhum outro caso, ao contrário do que acontece nas Avenidas Novas centrais, onde Miguel Ventura Terra, Norte Júnior, Raul Lino, Álvaro Machado ou Miguel Nogueira assinam projetos qualifcados de prédios, mas sobretudo de casas unifamiliares, algumas das quais intencionais palacetes. Em contraste, à Almirante Reis domina largamente, até ao fnal da Primeira República, a autoria anónima, numa linha de continuidade em relação às propostas do meio do século XIX, como é bem estudado em vários artigos deste livro. Mas, como é por demais evidente, não é só de história que vive o Atlas. O traço mais peculiar da sua qualidade é ter sido realizado a partir de um tempo presente, particularmente estimulante. A fxação neste território de comunidades emigrantes, oriundas de fortíssimas culturas não europeias, tornou a Almirante Reis um dos sítios mais interessantes e surpreendentes de Lisboa. Essas comunidades habitam de facto os bairros da velha Avenida primo-oitocentista que se cose, sem iludir defciências muito antigas, com as franjas da Mouraria e os limites modestos e traseiros da Baixa. Habitam, abrem comércios, escolas, igrejas, associações, tornando-se, para os órgãos de governo municipal, um repto inesperado para investimentos culturais. Por outro lado, nos bairros à Almirante Reis «intermédia», há também uma in- vejável taxa de residência efetiva, muitas vezes de recém-chegados, atraídos por preços que, até recentemente, eram dos mais aceitáveis de Lisboa, quer para compra, quer para arrendamento. Chegaram também os turistas circulantes que, se geram alguns problemas com esses corpos estáveis, estimulam maior investimento em diversos campos que não apenas a restauração, e, em bons casos, cimentam elos com as comunidades residentes a sul ou mais a norte. É este dinamismo demográfco residente, estimulando o pequeno comércio, que diversos autores do Atlas consideram promissor numa direção de transformação positiva. Daí a importância dos enfoques da sociologia, da geografa humana e da antropologia que os jovens estudantes de arquitetura transmutam em propósitos de requalifcação. Não tenho qualquer dúvida de que a originalidade e qualidade do projeto justifcam este otimismo, provando que as periferias são quase sempre, na história e na vida, lugares de questionação e de reelaboração, propícios ao desejo utópico do futuro.

Raquel Henriques da Silva Carcavelos, 8 de abril de 2020

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Introdução

O livro Atlas Almirante Reis é o produto de um projeto de investigação multidiscipli- nar, que resultou de uma parceria entre o Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa (CEACT/UAL), o Centro Inter- disciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (CICS.Nova) e o Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, com o apoio da entidade instituidora da UAL, sem os quais este livro não se seria concretizado. Iniciado em 2016, teve como objetivo principal recensear os diversos aspetos urba- nos e urbanísticos da Avenida Almirante Reis, uma das mais extensas avenidas de Lisboa e uma das principais artérias de ligação entre a cidade da segunda metade do século xx e a Baixa de Lisboa. Uma via com características singulares, já que numa única linha de expansão são visíveis as várias épocas do crescimento urbano da capital. No entanto, ao contrário de outras áreas urbanas, a Almirante Reis nunca tinha sido estudada em toda a sua extensão e densidade. A intenção foi mapear a avenida sem perder a ligação ao contexto da cidade como um todo. Da refexão sobre a sua diversidade apurámos o título, simples e englobador: atlas, o que queremos dar a ver, o que foi mapeado, e o topónimo Almirante Reis, que tanto pode referir-se à avenida como às suas zonas envolventes ou ao que está mais ambiguamente nos interstícios. Em outubro de 2016, a conferência Atlas/Cidade, realizada no Mercado de com o apoio da Junta de Freguesia, permitiu a apresentação do projeto e a reunião de investigadores, de algum modo alicerçando a obra que se apresenta aqui. Em simultâ- neo, a Avenida Almirante Reis foi o território sobre o qual trabalharam os alunos do 5.º ano do curso de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, sob coordena- ção de Inês Lobo e Júlia Varela, tendo o tema do espaço público como linha de análise fundamental. Os quatro mapas que se apresentam resultam de dois anos de trabalho (2016-2018) desenvolvido pelos alunos, no âmbito das suas dissertações e da investiga- ção do projeto. Foi feita uma refexão sobre as possibilidades de intervenção no espaço público da Almirante Reis, num sistema de trabalho dinâmico de que resultaram hipó- teses de transformação e de leitura deste lugar. Deste modo, os mapas balizam as quatro secções do livro, a que correspondem grupos de capítulos, cada um deles com conteúdos autónomos, mas com ligações entre si, potenciando leituras cruzadas. Inicia-se a apresentação da avenida com a secção «Limite: identifcação de um território». O território da Almirante Reis, tal como é aqui defnido, apresenta uma assimetria pronunciada relativamente ao eixo da avenida. A poente, o limite coincide com os espaços que esta defne no encontro com a antiga Estrada de Sacavém e a linha de água, no vale. A nascente, o território abarca uma sequência de unidades-bairro, até ao encontro com a estrada situada à cota alta, ao longo da linha de festo. Linha de água e linha de festo são os limites estabelecidos, ao mesmo tempo que servem de suporte à construção de duas estratégias para a leitura e intervenção neste lugar, sin- tetizadas nos dois mapas que abrem as secções seguintes: «Linha de água: ampliar» e «Linha de festo: articular». 9 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 10

introdução

Acompanha este primeiro mapa um capítulo de síntese escrito a várias mãos, único onde aparece a referência ao nome: «Almirante Reis: (como construir) uma avenida em seis etapas», que pretende fornecer a sequência organizada das diferentes fases de abertura da avenida, desde a porta de saída da muralha medieval até ao remate da Praça do . Segue-se a secção «Linha de água: ampliar». O território da linha de água estende- -se pelo vale, ao longo da antiga Ribeira de Arroios. Fruto de tempos e lógicas de de- senho diferentes, este é um sistema urbano pouco claro e hoje algo degradado, onde persistem espaços ambíguos associados à memória da presença do elemento água, e que, no seu conjunto, apresentam grande potencial na requalifcação urbana da própria avenida. Trabalhou-se a hipótese de implementar no vale uma sequência de praças e equipamentos que, em contraponto a um eixo viário sobrecarregado pelo trânsito automóvel, se possa constituir como um lugar para a ampliação do espaço público da Avenida Almirante Reis. Uma sequência que sirva os bairros, nas encostas, e que sirva de suporte à implementação de programas a outra escala, capazes de reforçar o papel deste grande eixo viário na cidade. Complementarmente à leitura do desenho, apresenta-se um conjunto de capítulos onde se aprofundam os tempos e a sua resultante material, reunindo a investigação de âmbito urbanístico e arquitetónico, amarrando-os cronologicamente com dados novos ou em estudo, fruto de investigações académicas. No capítulo «Da Rua da Palma à Estrada da Circunvalação: a abertura da Avenida dos Anjos (1877-1915)», de Hélia Silva e Rita Mégre, mostra-se a força das preexis- tências, como os dois conventos e várias igrejas, e os tempos complexos da abertura e construção da via. Segue-se «Habitar à Almirante Reis: os Bairros Andrade e dos Castelinhos», onde Tiago Borges Lourenço investiga a génese e o desenvolvimento dos processos de urbanização levados a cabo pela iniciativa privada em fnais do século xix. Já a diversidade da tipologia arquitetónica permite alargar a cronologia, estudando «Cinquenta anos de prédios de rendimento» (João Appleton, João Vieira Caldas). A avenida ganhou corpo, habitação, mescla de público e privado na linha de água, aspeto abordado no capítulo «Três encomendas de arte pública comemorativa no Estado Novo» (Helena Elias, Sérgio Vicente), onde se refete sobre o signifcado da arte pública, também como ornamento urbano, quase epidérmico. Como contraponto e resultado da ampliação da linha de água, a estratégia desig- nada como «Linha de Festo» propõe uma refexão sobre modos de incrementar as possibilidades de ligações transversais no interior deste território, entre o vale e o cimo das encostas. A poente, as ligações à cota alta são diretamente decorrentes das propos- tas para a ampliação do espaço público no vale. A nascente, a extensão abrangida obriga a encontrar estratégias que permitam ligar dois sistemas viários consolidados que, à cota alta e à cota baixa, fazem o cintamento dos bairros: entre a Avenida Almirante Reis, no vale, e a sequência de vias existentes ao longo da linha de festo. Ambos os siste- mas desempenham um papel estruturante neste território, enquanto suporte de funções de serviço e comércio, indispensáveis à vida nos bairros, vocação essa que importa con- solidar e reforçar. Assim, esta segunda proposta de intervenção trata sobretudo do es- tabelecimento de ligações da avenida com as áreas situadas nos seus limites, através da criação de espaços públicos capazes de cruzar os bairros situados nas encostas e de es- tabelecer ligações à cota alta. Esta secção introduz o estudo global sobre as «Divisões socioespaciais, coexistên- cias e (in)visibilidades urbanas» (João Pedro Nunes, Luís V. Baptista) da avenida, aqui abordada como um espaço socioterritorial de fronteira entre mundos e mundividências. Esta introdução às componentes socioespaciais é seguida pela apresentação de um dos aspetos mais marcantes da Almirante Reis, a atividade comercial, que é explorada por 10 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 11

introdução

Gonçalo Antunes e Nuno Pires Soares em «Atividade comercial: quantifcar e mapear». Segue-se uma outra abordagem à geografa urbana desta via, em «Habitar: população e edifícios», de Teresa Santos e Nuno Pires Soares. Estes capítulos oferecem uma visão sobre o tecido social da avenida e a sua expressão enquanto espaço onde coexistem lógicas e realidades que se justapõem e interpenetram. É nesta sequência que surge o capítulo «Novos regulamentos para velhos hábitos: criadas e porteiras em meados do século xx», de Filipa Ramalhete, Maria Assunção Gato e Raquel Vicente, que mantém uma linha de análise do geral para o particular, através do estudo de uma realidade espácio- temporal delimitada, que contribui para conhecer aspetos singulares no contexto da his- tória e da vivência da cidade, no que diz respeito ao seu quotidiano e domesticidade. Por fm, esta secção apresenta um ensaio visual, «Coletivos de criação e partilha artística», dedicado ao tema do associativismo e das coletividades, da autoria de Ágata Sequeira e Pedro Frade, onde se observa a transição entre espaços tradicionais e contemporâneos. O ponto de chegada deste trabalho é o mapa «Cartografa: cidade e projeto», que defne um limite para este território no quadro de uma visão crítica que aponta linhas de leitura (do ponto de vista da história, da morfologia urbana e da topografa), mas também refete intenções e propõe estratégias de intervenção, a partir de uma refexão sobre o espaço público. Longe de ser uma representação objetiva da realidade da Avenida Almirante Reis nas primeiras décadas do século xxi, confrma o caráter eminentemente parcial e subjetivo de qualquer mapa enquanto construção cultural, adstrito a contextos e intenções. Simultaneamente produto de processos de análise e de síntese, os mapas são documentos condicionados, desde logo pelas limitações técnicas, bem como pelo esforço de conceptualização e abstração que qualquer representação e redução da rea- lidade a uma imagem implica. Os últimos dois textos são «O pulsar político de um eixo dorsal», de João Seixas e António Brito Guterres, onde se retoma uma escala mais abrangente, centrada na análise da vitalidade urbana e da governança da avenida no contexto da cidade; e «Mundos da avenida: todos num só retrato de diversidade?», de Marluci Menezes, que posiciona a abordagem na relação entre o local e o global, tendo como ponto de partida as questões da interculturalidade e da gentrifcação. Cremos que o resultado, entre todos os elementos textuais e visuais, cartográfcos e fotográfcos, que inclui o contributo do fotógrafo Paulo Catrica, refete o trabalho conjunto de edição e análise, indo mais longe do que a mera soma das partes. Esse as- peto é expresso num recentramento metodológico do projeto como forma de conhe- cimento, onde o desenho suporta o caráter exploratório da atividade projetual, na sua capacidade de produzir imagens que permitam testar hipóteses, ensaiar novos modos de discussão. De facto, a atividade projetual introduz uma perspetiva de transformação, que ultrapassa a leitura da realidade presente e do seu passado, apontando para a con- ceção de cenários futuros. Neste sentido, o Atlas Almirante Reis pretende ir além da visão disciplinar de cada contributo. Optou-se, deliberadamente, por apresentar contributos diversifcados — opção que não é indiferente à (apenas aparente) desconexão da avenida, aliás bem re- presentada pela capa desta obra. Não se pretendeu abarcar todos os temas possíveis, nem mesmo esgotar cada um deles. Pretendeu-se, sobretudo, apresentar um primeiro contributo para uma refexão sobre a Almirante Reis, que esperamos inovador na sua intenção de abrir novas possibilidades de leitura para a cidade da Lisboa.

Filipa Ramalhete Margarida Tavares da Conceição Inês Lobo Júlia Varela 11 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 12 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 13 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:07 Página 14

Limite:

Inês Lobo Júlia Varela

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1 Lisboa, Avenida Almirante Reis, Alinhar os principais dados históricos e urbanísticos da Avenida Almirante Reis e dar vista sul-norte, 1945. CML, AML, PT/AMLSB/POR/052561. a conhecer as características globais da sua evolução é o objetivo deste texto. Eixo viário fundamental desde a sua mais antiga delimitação no terreno e resultado de um com- plexo processo de planeamento e realização, a avenida apresenta hoje uma soma de espaços consolidados e estruturados, mas ainda não estabilizados (caso da ligação a sul através da Praça Martim Moniz). A fm de permitir uma visão de conjunto sobre os diferentes tempos deste longo caminho, que assume o sentido profundo de avenida como sinónimo de vinda ou via de chegada, identifcam-se seis etapas distintas, pen- sadas como um caminho alternativo de entrada e saída da cidade. De certa maneira, cada uma delas corresponde a um arruamento independente de uma via compósita, refexo da atualização dos modelos urbanísticos que foram guiando a sua expansão e imagem urbanas. Assim, esta «avenida em seis etapas» — expressão que procura desafar a ideia de unidade deste eixo — corresponde a seis momentos construtivos/defnidores que, em bom rigor, se prolongam por quase quatro séculos: a primeira via, rasgada ainda no século XVI (Rua Nova da Palma), que, numa interessante operação urbanística, retif- cou o traçado que ligava o Convento de São Domingos à muralha fernandina, no vale da Mouraria; já em meados de Oitocentos e depois de alargada cerca de um século antes, identifca-se o prolongamento dessa rua até ao Largo do Intendente, aí entroncando na Rua Direita dos Anjos; seguiram-se os três troços da Avenida Almirante Reis, um ainda sob a designação de Avenida dos Anjos até à confrontação com a Estrada da Circunvalação (no local da atual Praça do Chile), um outro de pequenas dimensões (parcialmente aberto na cerca do Hospital de Arroios) que se estende até ao local da nova alameda, e o seu derradeiro prolongamento até ao Areeiro, em cujo topo se deli- neou uma praça enquadrada por um monumental conjunto arquitetónico. 23 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:08 Página 24

(como construir) uma avenida

2 Lisboa, topografia com marcação No entanto, este eixo formado pela Rua da Palma e pela Avenida Almirante Reis do Eixo da Avenida Almirante Reis e Avenida Gago Coutinho, a partir não se esgota em si mesmo, nem se extingue com o remate da nova praça, conforme de Lxi-Lisboa Interactiva. prova o seu prolongamento até à Portela de Sacavém, já prevista pelo menos desde o início do século XX. Trata-se de um último troço com outro topónimo — Avenida Gago Coutinho — e já com um diferente programa arquitetónico que, datado de f- nais da década de 1940, corresponde neste esquema à sexta e última etapa de uma via com mais de 5,5 quilómetros de extensão.

O que se sabia sobre a avenida… A falta de distanciamento temporal terá impedido os historiadores e olisipógrafos dos três primeiros quartéis de Novecentos de produzirem obra sobre a «Lisboa de Ressano Garcia», um dos esteios do moderno planeamento e desenvolvimento da ci- dade, a par da do Marquês de Pombal («Lisboa Pombalina») e da de Duarte Pacheco («Lisboa do Estado Novo»). Daí que só a partir da década de 1980 tenha surgido um conjunto de estudos dedicados a este período, de entre os quais se destaca a tese de mestrado de Raquel Henriques da Silva (Silva, 1985), ainda hoje o mais completo e relevante trabalho sobre as Avenidas Novas. O tema mereceu igualmente destaque em capítulos de obras de José -Augusto França (França, 1980 e 2008), no catálogo da exposição dedicada a Ressano Garcia (Silva, 1989) e em obras de autores vários sobre a cidade, sua história e urbanismo (nomeadamente em Silva, 1994). Embora desde então o estudo do desenvolvimento urbano da Lisboa de entre os séculos tenha vindo a captar a atenção dos investigadores, está ainda por desbravar o conhecimento da Avenida Almirante Reis e zona envolvente, nas vertentes histórica, urbanística e habitacional. Neste contexto específco, destacam-se os estudos de Pedro Azevedo (Azevedo, 1899-1900) e Maria da Luz Mouta (Mouta, 1958), importantes para compreender as preexistências do local, e os dois trabalhos de Maria de Lurdes Ribeiro publicados nos Cadernos do Arquivo Municipal (Ribeiro, 2000 e 2001), o se- gundo integralmente dedicado ao processo de rasgamento da nova artéria. A relevância deste estudo deve-se principalmente à transcrição integral da memória descritiva do projeto da Avenida dos Anjos, datado de 1892. 24 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:08 Página 25

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Recentemente, o projeto LxConventos1, que tem vindo a estudar o impacto urbano da extinção das casas religiosas de Lisboa decretada a 30 de maio de 1834, trouxe à luz dados importantes sobre esta área da cidade, na sequência do estudo da história, arquitetura e evolução urbanística do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro e do Convento de Nossa Senhora da Luz a Arroios, em cujas cercas a Avenida Almirante Reis se rasga parcialmente. Em data ainda mais recente, a tese de doutoramento de João Guilherme Appleton (2018) permite compreender em profundidade o processo evolutivo da tipologia arquitetónica que deu corpo aos sucessivos momentos da avenida. Devemos mencionar igualmente a investigação de doutoramento de Tiago Borges Lourenço2, atualmente em curso, que se centra no desenvolvimento das primeiras etapas da avenida e das áreas urbanas adjacentes.

Antes da avenida: as preexistências Muito antes de surgir a ideia moderna de avenida, a função urbanística primária já se encontrava presente: a ligação do centro à periferia norte-nordeste é muito an- tiga, provavelmente quase tanto quanto o próprio povoamento deste território. Esta espécie de preexistência funcional, estrutural do ponto de vista urbanístico, fcou im- pressa na designação tipológica do eixo como avenida. Na sua aceção corrente, o termo aparece obviamente por infuência do francês avenue, enquanto rua importante, larga e arborizada (moderna no século XIX), mas a verdade é que a designação francesa refete essa matriz ancestral do caminho e do acesso à cidade: à venir 3. Pelo menos desde a conquista cristã medieval, se não antes, a ligação entre o es- teiro oriental da Baixa e os caminhos de saída para nordeste (em direção a Sacavém) coincidia com esta linha de talvegue, constituindo o equivalente simétrico oriental de Valverde, que marcava um caminho para noroeste (em direção a São Sebastião da Pedreira – Benfca). Tal como neste último se formou a Rua das Portas de Santo Antão, a partir da porta homónima aberta na cerca fernandina, no lado oriental existia uma porta da ci- dade, a Porta de São Vicente da Mouraria, marcando o início da ligação com o exterior. O eixo iniciava-se na Rua Direita da Mouraria, paralela à Rua Nova da Palma, seguindo continuamente pela Rua do Paço do Benformoso e pela Rua Direita dos Anjos (troço hoje equivalente à Rua do Benformoso), alargando-se no Largo do Intendente, conf- gurado a partir do século XVIII. O topónimo Rua Direita dos Anjos, na qual se im- plantava a Igreja dos Anjos (no exato ponto a partir do qual o regueirão, ainda no século XIX, seguia a céu aberto), mantinha-se até ao Campo de Santa Bárbara. Daí em diante, e já como Rua Direita de Arroios, o caminho desembocava no Largo de Arroios (Igreja de São Jorge), de onde partiam três caminhos: a poente, a Calçada de Arroios (em direção ao Campo Pequeno); ao centro, a Estrada da Charneca (em dire- ção a Alvalade); e a nascente, a Estrada de Sacavém4. A importância desta trifurcação reside no cruzamento das três vias com a primeira Estrada da Circunvalação, que, coincidindo com a Linha Fundamental da Fortifcação (tal como implantada no século XVII), delimitou até fns do século XIX o perímetro urbano de Lisboa. De facto, a Rua Direita dos Anjos/Arroios, formada a partir da sedimentação do caminho, já em fnais do século XVIII apresentava algumas frentes urbanizadas, mas era ainda uma área ocupada maioritariamente por quintas, mostrando um característico crescimento linear não planeado e muito descontínuo. O local e o trajeto escolhidos para a implantação da via moderna não causam qual- quer surpresa. De facto, no contexto de fnal de Oitocentos, a cidade era feita segundo novas preocupações higienistas e funcionalistas, as quais se conjugavam com outras de natureza mais pragmática e economicista, levando ao rasgamento de novas ruas e avenidas como duplicação das antigas vias, num quase integral respeito e manutenção 25 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:08 Página 26

(como construir) uma avenida

3 Vista de Lisboa, observando-se ao centro o e Hospital de Todos-os-Santos, tendo do lado direito a linha do vale dos Anjos. Lisboa amplissima lusitaniæ civitas, totius indiæ orientalis et occidental: emporium celeberrimum, 1619. Amesterdão: Judocus Hondius.

destas últimas. Só assim se justifca que, em pleno século XXI, se consigam encontrar quase intactas as preexistências viárias da antiga saída para Sacavém, de que esta nova avenida praticamente copia o trajeto, desde a Rua do Paço do Benformoso até à antiga Portela de Sacavém.

Primeira etapa: a primitiva Rua Nova da Palma (1554-1555) Em princípios de Quinhentos, grande parte das terras do vale da Mouraria perten- cia aos cónegos regrantes de Santo Agostinho do Mosteiro de São Vicente de Fora. As suas propriedades principiariam a sul, no caminho fronteiro à fachada lateral da Igreja do Convento de São Domingos, e estender-se-iam para além da muralha fer- nandina que separava fsicamente as hortas de dentro e de fora. No interior da muralha, a quase totalidade dos terrenos da horta foi aforada a Catarina Pires e seu marido, Fernão Dias da Palma, que em 1515 negociaram com os religiosos de São Vicente de Fora a divisão de parte deste seu terreno e o respetivo aforamento. Resultando na génese do processo de consolidação do antigo caminho que passava à ilharga do Convento de São Domingos, esta operação seria o prelúdio para outra de maiores dimensões, concretizada por João da Palma5 no início da se- gunda metade do século e que resultaria na consolidação defnitiva do vale da Mouraria, por via da abertura de dois novos arruamentos no sentido sul-norte, a Rua Nova da Palma e a Rua dos Canos: «[Em 1552]6, vendo os frades e os novos foreiros que dera bom resultado o afora- mento da faixa sul da horta […], intensifcaram o trabalho de estudo da abertura de uma outra rua que atravessasse a horta no sentido norte-sul. Mediu-se o ter- reno, fzeram-se cálculos, e chegou-se à conclusão de que se poderiam fazer mais de trinta casas, com chão para quintal, e que, além disto, o assentamento de casas da horta fcaria com poço de nora e tanque. […] Levantou-se uma planta, medi- ram-se os chãos, e a nova rua foi traçada a cordel para seguir a direito, mais ou menos paralela à dos Canos da Moiraria, ‘da maneira e pela ordenança que já está feita no debuxo mostrado pelo dito João da Palma’.» (Sequeira, 1949: 38) Através de um desenho que consta de um livro de foros do cartório do Mosteiro de São Vicente de Fora7, é possível perceber a exata extensão desta iniciativa, que 26 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:08 Página 27

limite

contava com um total de 45 foros quase totalmente implantados nas duas frontarias da Rua Nova da Palma e do lado norte da Rua do Canos. No espaço de quarenta anos e em duas operações contíguas, o aforamento de mais de sessenta chãos por parte dos cónegos de São Vicente de Fora contribuiu defnitivamente para a consolidação ur- banística da área. O facto de ter sido rasgada no interior de uma horta terá permitido dar à Rua Nova da Palma uma maior largura e desafogo (15 palmos, cerca de 3,30 metros de largura), assim servindo de alternativa no escoamento do tráfego de saída para norte, cronicamente difcultado pelo afunilamento do lado de dentro da muralha. Até então, esse escoamento era feito por intermédio da Rua da Mouraria, que encaminhava o trânsito vindo da zona do rio para a Porta de São Vicente da Mouraria e daí pela Rua do Boy Formoso (atual Rua do Benformoso) e pela Rua Direita dos Anjos em direção a norte. Permitindo um acesso mais direto por São Domingos, a nova via começou desde logo a ser encarada como uma alternativa, comprovada pela abertura quase imediata de um postigo na muralha no seu enfamento (daí em diante conhecido como o Postigo da Rua da Palma8), assim como pelo teor do decreto de 2 de dezembro de 1562, assinado pela regente D. Catarina, considerando que junto da «porta de São vycente da mouraria e [d]o postigo que se abrio ao jogo da pella da parte de fora [era] muyto necessareo fazer hua ponte de pedra […] por se [ter] ab[erto] a Rua nova da palma da parte de dentro e […] se abrir o dito postigo»9. Um mapa que consta do primeiro volume de A Cerca Fernandina de Lisboa de Augusto Vieira da Silva (Silva, 1948, mapa II, [s.p.]) permite perceber a estreita ligação entre a Rua Nova da Palma e o recém-aberto postigo com esta ponte, parecendo os três elementos resultado de uma (primeira) tentativa de operação de regularização urbanística na zona. No decorrer dos séculos seguintes, a Rua Nova da Palma e o seu postigo passaram a ser largamente utilizados como troço inicial da saída para norte, sendo logo em 1673 considerada «hua das principais serventias desta Cidade, assi pela grande parte dos moradores desta, como para os do Termos, e maiormente em dias de Feira»10. O na- tural aumento do fuxo de tráfego foi tornando a sua confguração limitada, embora as tentativas de regularização e alargamento do seu traçado tenham surgido apenas na sequência do terramoto de 1755 e dos planos de modifcação e expansão da cidade. Após uma sequência de projetos não concretizados (caso da construção de uma nova 27 Miolo ATLAS 5 Final.qxp_Layout 1 14/07/20 13:08 Página 28

(como construir) uma avenida

4 Carta Topográfica de Lisboa (1856-1858) com a marcação da Rua da Palma e da Rua Nova da Palma. CML, Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, Dir. Filipe Folque, folhas 28 e 36, PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/05/01/30 e PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/05/01/30.

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Ágata Dourado Sequeira João Pedro Silva Nunes Paulo Catrica CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de IHC – Instituto de História Contemporânea, Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Sociais e Humanas, Universidade Nova de Sociais e Humanas. Departamento de Universidade Nova de Lisboa. Lisboa Sociologia, Universidade Nova de Lisboa Pedro Frade António Brito Guterres João Seixas CEACT/UAL – Centro de Estudos de Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Arquitetura, Cidade e Território da DINÂMIA’CET-IUL, Centro de Estudos sobre Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Universidade Autónoma de Lisboa a Mudança Socioeconómica e o Território Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa Raquel Vicente Filipa Ramalhete CEACT/UAL – Centro de Estudos de CEACT/UAL – Centro de Estudos de João Vieira Caldas Arquitetura, Cidade e Território da Arquitetura, Cidade e Território da CITUA, Instituto Superior Técnico, Universidade Autónoma de Lisboa Universidade Autónoma de Lisboa Universidade de Lisboa DA/UAL – Departamento de Arquitetura Rita Mégre da Universidade Autónoma de Lisboa Júlia Varela Departamento de Património Cultural, CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de CEACT/UAL – Centro de Estudos de Direção Municipal de Cultura, Câmara Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Arquitetura, Cidade e Território da Municipal de Lisboa Sociais e Humanas, Universidade Nova Universidade Autónoma de Lisboa de Lisboa Da/UAL – Departamento de Arquitetura Sérgio Vicente da Universidade Autónoma de Lisboa CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos Gonçalo Antunes CHAIA-UÉ - Centro de História da Arte em Belas-Artes, Faculdade de Belas Artes, CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de e Investigação Artística, Universidade Universidade de Lisboa Ciências Sociais, Faculdade de Ciências de Évora Sociais e Humanas, Universidade Nova Teresa Santos de Lisboa Luís Vicente Baptista CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de CICS.NOVA - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Helena Elias Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de VICARTE, Faculdade de Belas Artes, Sociais e Humanas. Departamento de Lisboa Universidade de Lisboa Sociologia, Universidade Nova de Lisboa Tiago Borges Lourenço Hélia Silva Margarida Tavares da Conceição IHA – Instituto de História da Arte, Faculdade Departamento de Património Cultural, CEACT/UAL – Centro de Estudos de de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Direção Municipal de Cultura, Câmara Arquitetura, Cidade e Território da Nova de Lisboa Municipal de Lisboa Universidade Autónoma de Lisboa IHA – Instituto de História da Arte, Faculdade Da/UAL – Departamento de Arquitetura de Ciências Sociais e Humanas, Universidade da Universidade Autónoma de Lisboa Nova de Lisboa IHA – Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Inês Lobo Nova de Lisboa CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Maria Assunção Gato Universidade Autónoma de Lisboa Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Da/UAL – Departamento de Arquitetura DINÂMIA’CET-IUL, Centro de Estudos sobre a da Universidade Autónoma de Lisboa Mudança Socioeconómica e o Território

João Guilherme Appleton Marluci Menezes CITUA, Instituto Superior Técnico, LNEC – Laboratório Nacional Universidade de Lisboa de Engenharia Civil

Nuno Pires Soares CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Universidade Nova de Lisboa

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5 118 Prefácio Divisões socioespaciais, coexistências Raquel Henriques da Silva e (in)visibilidades urbanas João Pedro Silva Nunes, Luís Vicente Baptista 9 Introdução 146 Filipa Ramalhete, Margarida Tavares da Conceição, Atividade comercial: quantifcar Inês Lobo e mapear Gonçalo Antunes, Nuno Pires Soares 14 Limite: identifcação de um território 156 Inês Lobo, Júlia Varela Habitar: população e edifícios Teresa Santos, Nuno Pires Soares

22

Almirante Reis: (como construir) 168 Novos regulamentos para velhos uma avenida em seis etapas Hélia Silva, João Appleton, Margarida Tavares hábitos: criadas e porteiras em meados do século XX da Conceição, Rita Mégre, Tiago Borges Lourenço Filipa Ramalhete, Maria Assunção Gato,

Raquel Vicente 42 Linha de água: ampliar 182 Inês Lobo, Júlia Varela Coletivos de criação e partilha artística: um ensaio visual 50 Ágata Dourado Sequeira, Pedro Frade Da Rua da Palma à Estrada da

Circunvalação: a abertura da Avenida 208 dos Anjos (1877-1915) Cartografa: Cidade e projeto Hélia Silva, Rita Mégre Inês Lobo, Júlia Varela

64 216 Habitar à Almirante Reis: os Bairros O pulsar político de um eixo dorsal Andrade e dos Castelinhos João Seixas, António Brito Guterres Tiago Borges Lourenço 228 78 Os mundos de uma avenida em Lisboa: Cinquenta anos de prédios todos parte de um mesmo retrato? de rendimento Marluci Menezes João Appleton, João Vieira Caldas 238 98 Séries fotográfcas Três encomendas de arte pública Paulo Catrica comemorativa no Estado Novo Helena Elias, Sérgio Vicente

110 Linha de festo: articular Inês Lobo, Júlia Varela

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Título Instituições participantes Atlas Almirante Reis CEACT/UAL – Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma Coordenação de Lisboa Filipa Ramalhete CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Inês Lobo Sociais da Universidade Nova de Lisboa Margarida Tavares da Conceição CML – Câmara Municipal de Lisboa, Direção Municipal de Cultura, Revisão científica Departamento de Património Cultural Filipa Ramalhete Margarida Tavares da Conceição Agradecimentos Arquivo Municipal de Lisboa Revisão de texto Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca Tinta-da-china de Arte e Arquivos Junta de Freguesia de Arroios Fotografia A autoria das fotografias é identificada na Impressão respetiva legenda, com exceção das séries Gráfica Maiadouro fotográficas de Paulo Catrica, realizadas no âmbito de projetos em colaboração com o Atelier Depósito legal Inês Lobo. As séries RE USE e QUESTA É UNA 472 077/20 FINESTRA integraram a exposição AN-ARQUITECTURA, BESART (2014), ISBN curadoria de Nuno Crespo. A série PALMA 978-989-671-560-1 & BEMFORMOSO foi exposta na Bienal de Arquitetura de Veneza (2016). DOI Capa: Mfc547.8 * f45/4_3.04.2016_13:35h https://doi.org/10.26619/978-989-671-560-1 (série PALMA & BEMFORMOSO, 2016) Contracapa e abertura: série RE USE (2014) Data de edição Separadores: série QUESTA É UNA 1.ª edição: julho de 2020 FINESTRA (2014) pp. 239-252: série PALMA & BEMFORMOSO (2016) Edição Mfc547.12 * f45/4_3.04.2016_13:47 h Tinta-da-china Mfc547.6 * f45/4_3.04.2016_13:05 h Rua Francisco Ferrer, n.º 6-A Mfc546.8 * f32/15_2.04.2016_15:29 h 1500-461 Lisboa Mfc551.11 * f32/4segs._15.04.2016_12:09h Tels.: 217 269 028/29 Mfc549.8 * f45/4_9.04.2016_14:53h [email protected] Mfc554.12 * f32/10segs_18.04.2016_17:44h Mfc551.5 * f32/1:10min._3.04.2016_11:25h As imagens presentes da obra pertencem aos Mfc554.6 * f22/30segs_18.04.2016_14:39h arquivos e autores indicados e não podem ser Mfc552.4 * f16/5segs_18.04.2016_13:52h reproduzidas a partir desta edição. Mfc552.7 * f16/7segs_18.04.2016_14:01h Mfc552.10 * f16/5segs_18.04.2016_14:11h Mfc553.5 * f22.5/45segs._18.04.2016_14:47h Mfc553.4 * f22/30segs_18.04.2016_14:39h Mfc553.12 * f32/1:00min_18.04.2016_15:10h

Desenho gráfico Atelier Pedro Falcão Proporção [A4] – 21 × 29,7 cm Tipos de letra Garamond Pro; Akkurat; Mazagan

Financiamento CEU – Cooperativa de Ensino Universitário A Cooperativa de Ensino Universitário, entidade instituidora da Universidade Autónoma de Lisboa, promove a produção científica em vários segmentos culturais, valorizando a relação entre a comunidade académica e a sociedade. Desta forma, apoia a edição desta publicação, contribuindo para a divulgação doconhecimento. CML – Câmara Municipal de Lisboa CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa O CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto «UIDB/04647/2020».

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