BIBLIOTHECA 0\ t',-OGlACÃO DOS ARCIlEOLOGOS PORTUGI Edificio Historico do Carmo Tomo Xill - N.o 4-1915 5.a Série

BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO DOS ARCHEOLOGOS PORTUGUEZES (Real Associaçao dos Archltect os Civis e Archeoloqos Portuanezes, fuMada em 1863) Proprietari.t e editora a Associação COll1missão redactora: - Ascensão Valder, A. Lamas, Rocha Dias

A responsabilidade dos escritos publicados neste boletim pertence exclusivamente aos seus aucto res •

• /1. Associação do. Archeologos Portuguczes, absolutamente tstranha a qualQuer partido politico, lem como fim

A relações dos reis visigodos com os imperadores do Oriente favoreceram indubitavelmente a introdução do estilo bi antino na peninsula hispanica, e sabe-se que no tempo da monarquia goda a arte não foi tão pobre e miseravel como geralmente se crê. Os godos erigiram muitas igrejas, palacios e mosteiros. As suas construções eram simples, mas de muita solidez e de pedras quadrad ~s . «As egrejas, diz Pons, são pequenas, escuras e inteiramente destituidas de grandiosidade e magnificencia.» Em todo o caso havia templos magestosos, construídos pelas reis godos, como o de Santa Leocadia em Toledo, de que os historiadores falam como de obra portentosa e magnifica, e as catedraes de Sevilha, aragoça, l\Ierida, e os palacios e castelos de Toledo e seus arredores. Os arabes, assenhoreando se da peninsula, destruiram muitos monumentos e impediram que a arquitetura cristã progredisse na sua evolução. Todavia contribuiram muito para o progresso da arte, exis­ tindo ainda vestigios do seu gosto e adiantamento. Na arquitetura arabe nota-se a ausencia completa de figuras humanas, porque o sel;! culto lh'as não permitia, e a arte entre os musulmanos está subordinada á religião. i36

Para as substituir, recorriam aos arabescos, ás legendas, ás douraduras, ás côres, o que era um excesso de ornamento. Não foram originaes. Estudaram os exemplares da Grecia e contemplaram na Peninsula os monumentos goticos, e sobre uns e outros fundaram o seu estilo. A mesquita de Cordova é das suas obras talvez a mais bizarra e rica. Portugal que nasce com o caracter completo de nacionali­ dade no primeiro quartel do seculo XII, despedaça o crescente e adota a cruz como O primeiro e unico simbolo da sua iode­ pendencia. O espirito portllguez transforma as bélas artes, outr'ora fa · mosas epopeias da idolatna, em sublime epopeia do cristianismo, converte-as em canticos em louvor do redentor, em expressão àe dogmas ou factos da historia eclesiastica. Dos dois elementos, o sentimento e a fórrna, que constituem a arte, é sempre aquêle o que mais se manifesta nas produçõe'i artisticas portuguezas. Longas e porfiadas foram as lutas, que os nossos primeiros reis tiveram de sustentar contra os mouros para extensão do ter­ ritono. Soberano e rov(l viviam por assim dizer no campo da ba· talha e o seu unico objectivo era a gloria militar. A guerra absorvia as atenções, empregava os braços, excitava e inquietava os espiritos, descuidava quasi em absoluto a agricul­ tura, a IOdustria e o comercio, e acarretava como consequencia necessaria a pobreza publica, a frugalidade ob, igada, a repulsãú do luxo. o despreso das artes uteis, quanto mais das bdas. No meio destas lutas, alguns artistas estrangeiros, vindos provavelmente da Borgunha para Portugal, aqui introduziram o estilo romano-bisantino, em que eram amestrados, não com os defeitos e vacilações de uma arte que começa, mas com a perfei­ ção e firmesa de um estilo acabado, como era por esse tempo o da Lombardia e o d'algumas provJncias da França. Mas a sociedade portuguêsa, absorvida pelas porfiadas lutas com encarniçados iOlmigoc;, não estava nas condições proprias para aproveitar o impulso dos mestres estrangeiros. A arquitetura e as outras artes atravessaram por isso um pe­ riodo de abatimento, de que só começam a levantar-se no reinado de D. Diniz, progredindo depois sem interrução, posto que um pouco embargadas em seus passos pelas lutas com Castela e com os mouros em Africa ~ pela febre das d~scobertas até o reinado de D. Manuel, em que chegam ao seu maior esplendor, para tor- 137

narem depois a decair com a desorganisaçao e enfraquecimento da sociedade portuguêsa. Todavia ainda se veem em Guimarães o castelo e paços do Conde D. Henrique e da Rainha D. Thereza, cuja estreitesa e humildade são prova autentica do viver sem fausto desses pri­ meiros soberanos. São da mesma época algumas igrejas de Coimbra, a de S. Pedro de Leiria: a de S. João d'Alporão em Santarem, a parte primitiva da Sé de Lisboa, os restos de um pequeno templo na mata da Pena em Cintra, as igrejas de Cedofeita no Porto, de S. Miguel do Castelo em Guimaráes, de Santa :vlaria d'Almacave em Lamego, cujos arcos ogivaes marcam positivamente os fins do seculo XI ou o seculo XI! como limite an.tes do qual não podiam ter sido edificados. Tambem está ligada com a fundação da monarquia, merecendo especial menção a igreja do bispo bracarense S. Pedro de Rates, na povoação de Rat~s a poucos kilometros da Povoa de Varzim. O conde D. Henrique e D. Thereza, informados e talvez tes­ temunhas presenciaes da devoção dos fieis para com S. Pedro de Rates, levantaram-lhe aquele belo templo, de estilo gotico, com tres naves formadas por pilares de pequenas· colunas reunidas em grupo arredondado, com capela mór de pequena grandeza e ;:om duas capelas no cruzeiro da igreja. As paredes são grossissimas, de pedra de cantaria lavrada, de granito grosseiro, mas tão rijo, que oito seculos o não tem po­ dido gastar nem desunir. A forma exterior, vista de longe, representa um castelo go­ tico. O portal da entrada principal não é destituido de eJegancia; é muito semelhante ao da Sé Velha de Coimbra. As frestas nas paredes são muito estreitas, o que torna es­ curo o interior, mas é uma das caracteristicas das construcções religiosas da época. Debaixo de um altar existe um tumulo de pedra, sem arte alguma, que a tradição diz ser o de S. Pedro de Rates, mas re­ fere a historia que o arcebispo de Braga D. Balthazar Limpo le­ vára d'ali para aquela cidade no ano de 1,52 as reliquias daquêle Santo, deixando apenas uma, que é guardada e exposta com so­ lenidade no dia da festa. No tempo de D. Afonso Henriques construem-se a igreja e o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, os mosteiros de Tarouca, de Alcobaça e S. Vicente de Fóra. 138

Nos reinados seguintes levantam-se inumeraveis e fortes cas­ telos e altas muralhas que tiveram grande importancia sob o ponto de vista da grandeza e da defeza do reino, mas sem valor arqui­ tetonico, se se exceptuar uma ou outra porta, janela, capitel ou decoração de um trabalho curioso, analogos aos de outros paizes. D. Diniz, subindo ao trono aos I~ anos de idade, achou o reino livre das causas desorganisadoras que haviam. inquietado os seus predecessores, e com a sua inteligencia robusta e educação esmerada, soube e poude, nos ocios da paz, dar notavel incre­ mento á agricultura, á administração, ás sciencias, letras e artes .

• Nobres vilas de novo edificou. Fortalezas, castelos mui seguros; E quasi todo o reino reformou Com edificios grandes e altos muros." (LlIsiada., Canto 111- Est. gS)

São do tem po de D. Diniz O' claustro de Alcobaça, a fortaleza de Freixo de Espada·á-Cinta, cuja torre octogonal do centro é bela e está bem conservada. Dos Ires reinados imediatos nada conhecemos digno de menção. No tempo de D. João I expande-se triunfantemente em Por­ tugal a arquitetura gotica. Embora a dispula aos mouros do senhorio de Africa e as primeiras tentativas da navegação além das costas de Portugal embargassem e entorpecessem um pouco o desenvolvimento das artes belas, é no seu tempo que se levanta a obra prima da arqui. tetura portuguêsa -a Capeia e Conve1lto da Batalha, onde tudo é grande, sumptuoso e belo. «A Batalha, diz um escritor, é uma obra monumental de uma arte rerdlda, expressão gloriosa do sentir de outro tempo, epopeia magnifica escrita nas I

Portugal torna-se rico; a riqueza origina o luxo; o luxo cria e dá incremento e lustro ás boas e belas artes. A época de D. Manuel está bem retratada ao natural nos pa­ drões que nos legou e que· patenteiam _um estilo especial, sui ge­ llen"s, que do seu nome se chama manuelino. O amor do belo era uma feição proeminente de D. Manuel. No seu reinadu é que se tunda uma escola nacional de pinto­ res comparavel ás das nações onde a arte da pintura havia che­ gado á maior perfeição. Mas a arte de que êle se mostrou mais apaixonado foi a arquitetura. Querendo perpetuar a memoria do peito ilustre lusitano e mostrar aos vindouros, por sinaes imarcessiveis, a altura a que poude chegar o nome português, engrandeceu o reino com muitos edificios, em cujas pedras deixou gravadas as tradições gloriosas do seu reinado O real exemplo era imitado pelos fidalgos, que edificavam tambem, de modo que as riquezas trazidas de alem-mar noS ga­ leões facultavam a todos luxuosa ostentação de sumptuosidades arquiletonicas. A seu convite veem para Portugal varios artistas que aqui desenvolvem a arquitetura: mestre Nicolau Francez, João de Ruão, Jacques Loguim e Filippe Uduarte) que aqui introduzem o estilo da Renascença. Mas, conservando· se os artistas nacionaes fieis á tradição go­ tica ou ogival, faz-se a mistura dos dois estilos em todas as artes belas, e esta mistura constitue o estilo manuelino, CUjdS divisas são: beleza da fórma, tendencia para a realidade, independencia da pintura e escultura da arquitetura. Nos edificios que D. Manuel mandou construir acha-se gra· vada toda a gloriosa cronica deste afortunado monarca. Os emblemas e divisas esculpidos no Mosteiro de Belem narram as suas em prezas gigantescas que assombraram o mundo, que, aproximando os povos, abriram as portas á moderna civilisaçáo. Ao palacio de Cintra, de origem arabe, que hwia sido me­ lhorado e aformoseado por D. João I, deu D. Manuel a grandeza que ora tem. As capelas imperfeitas da Batalha são modêlo de arte aper­ feiçoada. E' no seu tempo que, por ordem do bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas, conhecido pelo nome de Calçadilha, derivado da terrfl da sua naturalidade, 'se construe a abobada da Sé de Vizeu e o uo

côro alto de arco abatido, em que se diz ter trabalhado João de Castilho, que mais tarde, 1517 aIS 19, encontramos trabalhando no Mosteiro e Torre de Belem. E' tambem no seu tempo que muito se desenvolve em Evora a arquitetura. No reinado de D. João III construem-se já pelo estilo Renas­ cença os Paçús Reaes de Coimbra (hoje Universidade) em que trabalhou como arquiteto Diogo de Castilho e, por sua morte, Marco Pires. No tempo deste monarca voltam de Italia a Portugal os ar­ tistas que ali tinham ido aprender, designadamente Francisco de Holanda, que são os arbitros da nova orientação. Tendo estudado naquele paiz as obras da antiguidade e as produzidas então pelos grandes e radiantes genios que eram o assombro do mundo e o orgulho dos papas Julio II e Leão x, expandem neste reino as scintilações belas, arrojadas, realIstas, pagãs, da nova arte. E' obra desta epoca o Convento de Cristo em Tomar, co­ meçado pelo arquiteto João de Castilho, em que ainda se vêem formas goticas, mas já de mistura com as da Renascença. Ha, porém, trechos arquiteturaes do mais rigoroso e puro classicismo greco-romano, como são os do soberbo claustro, que dele constitue:l1 um exemplar rico, monumental, unico, e cujo ar­ quiteto foi DIOgo de Tarralva. Em cada pedra se lê uma pagina da nossa historia, uma es­ trofe da nossa gloria, do nosso triunfo. E' um monumento magnifico, nacional, patriotico. D. João JII introduziu no reino dois dos mais poderosos facto­ res da nossa decad~ncia literaria e artistica, os Jesuitas e a In­ quisição, que sufocaram o glorioso inicio da soberba Renascença, que tão beneficamente tinha beijado Portugal. D'ai em de ante a intelectualidade portuguêsa moldou-se nos estreitos limites instrutivos dos novos educadores. As sciencias e as artes, que tão grande impulso haviam rece­ bido, não poderam ir além, estacionaram nestes dois nefastos empecilhos. Muitps sabios tiveram de emigrar. Depois de D. João 11\ ~ rapida a decadencia. () desastre de Alcacer-Quivir, a sujeição á Hespanha, as lu­ tas da Independencia, os desperdicios de D. Pedro II e de D. João v produziram uma completa derrocada Ui

Todavia no tempo deste monarca levanta-se a Basilica de Mafra e a soberba Arcada das Aguas Livres que tanto honra os arquitetos do seu reinado, designadamente Manuel da Maía. O Marquez de Pombal remexe e revolve todo o caduco edi­ ficio social portuguez. Chama artistas estrangeiros para ensina­ rem os nossos. Construem-se alguns edificios publicos e particulares, mas sem gosto. As casas apinhadas são mais proprias para prisões do seculo XVII do que para habitações. As edificações da primeira metade do seculo XIX em pouco variam das da segunda metade do seculo XVIII. Na segunda metade daquele seculo o espirito artistico pottu­ guês desenvolveu-se, e para o estimular estabeleceu o benemerito Visconde de Valmát um premio para o construtor do mais belo predio em Lisboa em cada ano. Para apreciar as obras do nosso tempo ainda é cedo. Só as gerações vindouras o poderão fazer com vantagem. Vizeu, I:' de outubro de 1913. MAXIMIANO ARAGÃO. U2

AHeraldica no Museu do Carmo

(COl1lin, do II,· a7lt~cedenle,paG', ,30/.)

Escudos das armas nacionais Brazão n,o I - Escudo coroado, representando as armas de Portugal. Está no topo inferior da tampa do sarcofago de D. Fernando I e é repetido mais doze vel',es na mesma tampa, mas sem corôas. Nos escudetes que já estão bastante sumidos tem por vezes cinco besantes ft:itos modernamente a compasso por algum curioso perIgoso. Depois duma analise minuciosa encontrei nove besantes fei­ tos na primitiva em um dcs escudetes. Este precioso sarcofago tem no catalogo os n.os 2300 e ~301 correspondentes á tampa e ao corpo principal do sarcofago. A paginas 96 do Boletirr, n o 6 da 2. a série, corr~spondente a 1875, vem um artigo intitulado «Chronica» assinado por J. da Silva. Neste artigo vem referencia a este sarcofago nos seguin­ tes termos: -- Um rico objf:'cto e esculptura de apurado gosto artistico do fim do XIV seculo, acha-se agora depositado no Museu Archeo­ logico do Carmo, é o magnifico tumulo d'EI-Rei D. Fernando I, o qual estava na igreja profanada de S Francisco de Santarem, e ha muito já vasio e quebrado, corr.o havia notado Garrett em 1833, lastimando então a sua ruina e abandono. Este lindo sarco­ fago de forma abaulada com primorosas esculpturas em todas as taces, compõe-se de vinte e dois grandes escudos e de trinta e dois bustos de esmerado lavor. O seu comprimento é de 3 me­ tros, altura 1,80 centimetros, largura I, IS centimetros; tendo de peso 3:500 kilogrammas. Nos intervalos que ha entre os escudos e os circulas dentr o dos quaes ocupam o espaço, foram esculpidas figuras grotescas de singular composição, notando-se um alchimista sentado em uma poltrona mirando um frasco, porém está prezo a uma corrente que do pescoço termina a um cêpo que se vê aos seus pés,

SARCOFAGO DE EL' HEI D. FERNANDO (BRAZÕES N.o. I E 65) 145

a fim de que os seus malcficios não possam ser nocivos aos ho­ mens. - A paginas 111 do Boletim n.O 7 da mesma série e ano, no artigo «Chronica» tambem assinado por J. da Silva, vem a se· guinte noticia: - O jornal inglez d'architectura n.o 1072 de 23 de julho do presente anno, na pago 99, dá a noticia de estar exposto no Mu­ seu do Carmo o sarcophago que pertenceu a EI·Rei D. Fernando I, gabando a perfeição e a riqueza das esculpturas; reputa'ndo-o sêr um dos melhores especimens dos tumulos do seculo XIV que exis· tem em Portugal.- A paginas 122 do Boletim n.O 8 ainda referente ao mesmo ánno, tambem assinado pelo arquitecto J. da Silva, vem um ar­ tigo intitulado «Tumulo d'EI-Rei D. Fernando I de Portugal.» Desse artigo transcrevo a parte que interessa aos fins heraldicos: - Nota se uma particularidade, que á primeira vista parece de dificil explicação: isto é, que, examinando os escudos d'armas que figuram nas duas faces na caixa marmore l, não representtm as armas reaes portugllezas, como aqllcIlcs que occllpam a facé superior da campa. A razão disto vem a ser, que o illustre genro d'EI·Rei D. F ernando, o Conde de Gijon c de Noronha, D. Affonso, filho bas­ tardo d'EI· Rei D. Henrique II de CastelIa, e esposo de D. Izabel, filh a natural do primeiro destes soberanos, foi quem mandou fa· zer este tumlllo. muito tempo depois do obito do monarcha, e para constar que fôra quem ordenára esta obra, collocaram o sêu brazão nas faces lateraes do cofre deste tumulo. O epitafio é do teor seguinte, copiado fielmente conforme foi esculpido:

... MUY: NOBRE: REY:. DON FERNANDO: FILHO DU MUI NOBRE: REY: DON PEDRO: E DA YNFANTE: DON: I A COSTANCA: FILHA: DE DON YOHAN MANUEL: QE FYNOU EN LYXBOA: NO ABYTO DE SAN FRAN­ CISCO: FERIA QYNTA: XX. / II DYAS DE O TUBRO: ERA DE MIL: E CCç E XXY ANOS:

A delicadeza da escultura e a perfeição desta obra faz sup­ pôr ser trabalho de artista italiano, não havendo memoria do nome deste habil esculptor para que ficasse registado nos anaes artisti­ cos de Portugal. -- . 146

Ainda encontrei um outro artígo assinado por J. P. N. da Silva, intitulado: «Sarcophago d' EI-Rei D. Fernando». Este artigo vem ~ paginas 153 do Boletim n. ° 10 referente a 1876. O brazão que se encontra nove \'ezes repetido é o escudo dos Manueis e ao qual me refiro sob n.O 65.

Brazão n.O 2 - Escudo coroado representando as armas de Portugal. A paginas 80 do Boletim n.O 5 da 2. a série correspondente a 1875 vem: - O Sr. Luiz Power, Vi ce Consul da Russia em Gi­ braltar, descobriu em Marrocos, no logar de Mazagan, no qual OS portugueses noutro tempo edificaram um forre, que tinha sido aballdonado em 1769, um brazão que estava enterrado, conhecen­ do-se pelos castellos ser do tempo d'EI-Rei D. Manuel, por ter sete castdlos e a coroa aberta conforme havia adoptado aquelle soberano no ultimo tempo do seu reinado. Este brazão está actual­ mente no Museu d'Archeologia do Carmo. tendo sido offerecido pelo Sr. Power; havendo-nos penhorado sobremaneira proceder tão delicado, assim como qual é a illustração d'este cavalheiro. -- A paginas 89 do Boletim n.O 6 da mesma série, vem publi­ cada a «Synopse dos trabalhos efectuados no anno de 1874 lida pelo secretario na sessão solemne de 6 de malO de 1875 •. - Nesta Sinopse encontrei: - O Vice-Consul da Russia em Gibraltar, Mr. L. Power na sua vinda a Lisboa procurou o Sr. Presidente a fim de lhe offerecer, para ser depositado no Museu, um brazão portuguez que trouxe de Marrocos e por elle desco­ berto em Magassar do tempo d'El-Rei D. ManueJ.- No catalogo tem este escudo o n.O 38~4.

Brazão n.o 3 - Escudo coroado representando as armas de Portugal.

Brazão n. ° 4 - Escudo coroado representando as armas de Portugal que no catalogo tem o n. O 3888 com a seguinte reft'ren­ cia: - Brazão real portuguez, tel do nove castellos e curoa aberta, do reinado de EI Rei D. Fernanqo 1350: Otferecido pelo sr. An- onio Santa Rita. ~ • Já existia no Museu em 1876. Este Sr. offereceu outro escudo com oito casteIlos do ano de 1323 que não encontrei no Museu e que no catalogo tem o n.O 3 8 ~9· 14i

Bralão n.O 5 - Escudo coroado representando as armas de Portugal do tempo de D. João 1. Faz parte do fccho duma abobada.

Brazão n.O 6 - Escudo coroado, representando as armas de Portugal que faz parte da esta tua, em madeira, de D. Afonso VI. No Boletim n.O 9 referente a 1884. Tomo IV da 2." série a paginas 144 vem publicado um artigo intitulado «Chronica» e por elle se vê que - Na Villa de Alcobaça descobriu· se uma pequena esta tua representando EI Rei D. Affonso VI; pelo digno adminis­ trador do Concelho o Sr. Augusto Cesar Marques, foi otferecida para o Museu do Carmo. Louvores sejam dados aos funcclOnarios publicos que sabem apreciar as antiguidades e fazem com que se conservem. -

Brazão n. Q 7 - Escudo coroado, representando as armas de Portugal, que esteve no antigo edificio da Impre.nsa Nacional. Em volta por entre ornatos, tem a st:guinte lt:genda:

INTE. ET 11'1. SEMI:>IE. TUO. IMPERlUM M!:.VM

Veio para este Museu em 27 de julho de 1911 por interme­ dio do socio Sr. João Rodrigues Fernandes. Encontrava se em deposito na Cerca de Jesus.

Brazão n. D B - Escudo coroado representando as armas de Portugal existente na estatua de D. Maria I, que se acha exposta no Museu. Este escudo está sobre um mallto, tendo na base do escudo a cruz de Christo suspensa duma fita que está interlaçando os pés duma palma e dum ramo de carvalho.

Brazão n.o 9 - Escudo coroado representando as armas de Portugal. Este escudo está á direita do escudo dos carmelitas que á sua esquerda tem o escudo dos Pereiras, formando todos tres o fecho do arco do Cruzeiro da Cape lia-Mór da Egreja do Carmo.

Brazão n.o 10 - Escudo coroado representando as armas de Portuga I, aberto num marco. Está bastante sumido, percebendo· se porém que tem um banco de pinchar e dois escudetes a mais, de forma rectangular. . H8

No verso do marco tem a fórma dum escudo e coroa de iguaes dimensões, mas aLI não foi acabado ou foi picado. Por baixo do escudo que está visivel, tem os seguintes cara­ cteres: R GO D SACA

Que provavelmente quererá dizer=Reguengo de Sacavem. Na acta da sessão da Assembléa Geral de 22 de Maio de 1907, o Sr. Rosendo Carvalheira disse-que fôra o Sr. Conde dos e Penha Longa que oferecera para o Museu do Carmo o Marco reguengueiro encontrado na sua propríedade da Quínta do Cabeço nos Olivais. Não podia determinar a epoca daquele monumento de dupla face, que talvez fosse para demarcação dos terrenos do antigo in­ fantado; nem o Sr. Conde pudéra dar· lhe esclarecimento nenhum a semelhante respeito; submetia esse assunto ao estudo dos con­ sacias arqueologos que via presentes e propünha que se enviasse um oficio de agradecimento ao oferente.-

Brazão n.o II -Pequeno escudo das armas de Portugal aberto num bloco de pedra aparelhado em duas faces. Está partido, ven­ do-se só parte do escudo.

Brazão n.O 12 -Escudo representando as armas de Portugal. Tem paquife e está bastante deteriorado pela acção do tempo. Veio do Arsenal de Marinha em lO de Novembro de 1902 e per­ tenceu ao Forte de S. Paulo.

Brazão n.O 13 - Escudo d'armas de Portllgal do tempo de D. João I. Faz parte do fecho duma abobada.

Escudos das ordens religiosas

Brazão n.o 14-Escudo coroado, represeutando a cruz da Or­ dem de Cristo, aberto num pequeno bloco de pedra.

Brazão n.O 15 -Escudo coroado, representando as armas de Portugal sobre os emblemas e distintivos da Ordem de S. Francisco. Veio do Convento de S. Francisco da Cidade em 24 d~ Fe­ vereiro de 1909. 16 ,150

A paginas 779 do Boletim n.O II do Tomo XI referente a I ~j09, vem a seguinte informação: -Pedra que veio da Ordem 3.a de S. Francisco. Armas Reais sobre dois grandes braços vestidos, em volta o cordão Francisca­ no. O qUI! é vulgar é estar nú um dos braços, nú o de Cristo, vestido o de S. Francisco d'Assis. Aqui estáo ambc s vestidos. -

Brazão n.O 16 -Escudo coroado, representando as armas dos Carmelitas. No Catalogo tcm o n.O 3890 com a indicação de ter sido en­ contrado no entulho da Egreja do Carmo. Numa fotografia tirada pelo socio Munró, da Associação dos Arqueologos, publicada no Boletim n.O 7 referente a dezembro de [886 do Arquivo de Arquitectura Civil, está reproduzido este es­ cudo entre outras peças que faziam parte do Museu do Carmo.

Brazão n. ° 17 - Escudo coroado, representando as armas dos Carmelitas, que está numa verga da porta que dava entrada para o Mosteiro do Carmo. 10 Relatorio da gerenci~ do Conselho Facultativo em 1905, vem :- Foi oferecido pelo nosso consocio, o Senhor Coronel Ma­ laquias de Lemos, enire outras coisas, os restos do antigo Portal de entrada para o Mosteiro do Carmo.-

Brazão n O 18 - Escudo coroado com as armas dos Carmeli­ tas. Foi encontrado no entulho que estava na Egreja do Carmo.

Brazão n.O 19 - Escudo com coroa aberta e paquife. Tem ao centro 11ma cruz sobre tres bolas. Sobre a cruz tem as iniciais l N R l .

Brazão n,o 20 - Escudo com uma coroa de espinhos e uma Cruz por umbre. O escudo tem por bordadura o cordão de S. Francisco. É partido tendo no 1.0 uma chaga gotejante e no 2.° as armas na· cionais. Em volta tem a seguinte legenda:

POENITENTIVM T E~T1VS S EXV. M. CAPIT. VTRVMOVE.

A paginas 779 do Boletim n.O II do Tomo XI referente a 1909, vem transcrita esta inscrição e indicação: que este escudo veio da Ordem 3. a de S. Francisco.

Brazão n.O 21-Escudo representando as armas de Jl!rusalem, que veio do Convento de S. Francisco da Cidade em 24 de Feve. reiro de 1909. Está entre ornatos, nnma verga da porta que anti­ game'nte dava ingresso ao edificio do Governo Civil. No Relatorío da gerencia do Conselho Facultativo em 1906 encontrei sobre este escudo a seguinte referencia: - A pedido do Conselho, mandou o Sr. Conselheiro Eduardo Segurado, Gover­ nador Civil do Distrito de Lisboa, entregar a esta Associação para o Museu, o brazão que encimava a porta principal do Go­ verno Cívil, que fôra apeado em virtude das obras que se estão realizando no edificio daquéla repartição do. Estado.- .

Brazão n. O22-Escudo com cinco chagas gotejantes, em aspa. Está numa verga duma porta, exposta no Museu.

Brazão n.O 23 - Escudo d'armas dos Carmelitas que se en­ contra no fecho do arco da Capella.mór da ex-Egreja do Carmo.

Brazão n.o 24 - Escudo da Ordem de Malta, bastante dete­ riorado. Escudos de nobreza

Brllzão n. ° 25 - Escudo coroado. Esquartelado das quinas de Portugal e Gusmões com bordadura dos Castellos.

Brazão n. o 26-Escudo coroado, esquartelado com as armas dos Sousas de Prado e Pachecos.

Brazão n.o 27-Escudo coroado com as armas dos Gamas de D. Vasco da Gama. Tem paquife.

Brazão n.O 28-Escudo existente numa campa que foi do Car­ deal da Mota. Foi encontrada nas' escavações feitas na Egreja do Carmo para assentar a im: gem de S. João Nepomuceno a meio do cru- zeiro onde hoje está a estatua de D. Maria r. . Existia neste ponto da Egreja um carneiro a que tinha abatido a abobada e 'onde se encontraram ossos espalhados e

{53 restos dum esquife de ferro. O craneo tinha ' a parte superior serrada. O Cardeal da Mota morreu em 4 de Outubro de 1739 e teve grandes exequías no Carmo. O escudo tem o chapeu e insignias de Cardeal, é partido, na I.:l não se conhece nada do que teria, na 2.:l tem um leão coroado conforme o croquis que apresento. Por baixo do escudo existem entre os ornatos, ramos de loiro c de carvalho e a seguinte inscrição: DOM IOANNES S. R. E. PRESB. CARDI NALIS DA MOITA VIXIT ....

ANNOS LXII MENS ••••• ~ • DIE X;XI OBIJT IV ••• OCTOBRIS ANN ••• DOMINI MDCC X. .. VII

Brazão n.o 29-Escudo timbrado, contendo a roda de Santa Caterina e por timbre uma cruz. É uma reprodução em gesso oferecida pelo socio Sr. Mena, e entrada no Museu em 2:; de No­ vembro de 'g02. O original está no teto da Capela· mór da Egreja de S. Pedro de Penaferrim, junto a Cintra. Este escudo está a'J1parado por dois anjos ajoelhados tendo cada um sobre a cabeça uma pomba que com o bico amparam o timbre. Constitue este escudo o emblema que D. Alvaro de Castro adotou por em 154' ter sido armado Cavaleiro por D. Estevão da Gama, á vista de Monte Sinai.

Brazão n. o 30-Escudo timbrlido, amparado por duas sereias, de dois rabos, que seguram uma fita que enlaça a vieira do timbre. Esta lapide está partida e foi encontrada no Campo das Ce­ bôlas quando se construia um predio.

Brazão n. Q 31 - Escudo timbrado, representando as armas dos Rebellos. Tem pagu,ife e elmo a tres quartos. A pedra que contém este escudo, tem pelo lado de traz a se­ guinte inscrição: LOUVADO SEIA o SANTISSIMO SACRAMENTO . 1632 , ;-; -Na se~são da Assembleia Geral de 3 de Junho de Ig09, 'foi lida a correspondencia, entre a qual o documento n.O 10, c.onstava de -;;.- dois oficios do Ex.mo Sr. Alvaro Nobre 'da Veiga, dignissimo Tenente-coronel. Comandante de artilharia n.O 8, comunicando no primeiro a existencia de um brazão de armas, naquele quartel, u qual fôra achado em l)mas escavações na parede do regimento, ,a ; e no segundo a sua oferta por parte daquele corpo, ao nosso museu. - O sr. Gustavo Matos Sequeíra que secretariou esta AS5em­ bleia, declarou: - achar-se já tal brazão dentro do edificio do Carmo, prometend(1 para breve, a apresentação de uma noticia sobre este objeto, como base 'parcial para a factura do catalogo.-

Brazão n.O 32 - Escudo timbra?o com as armas dos Rebellos, tendo por diferença.-.um::trifuoo ~ ~ ~ 1M f Tem elmo de frente e paquife. No Relatorio da ,gerencia do Conselho Facultativo em 1903, vem: - oferecido pelo Sr. Francisco Martins, um curioso brazão de armas.- Deu este escudo entrada no museu em 14 de Fevereiro de 1903, mas não trazia o timbre. ' Um dia o pai do Sr. Francisco Martins visitando o museu, reparou que o escudo oferecido pelo seu filho, que já tinha fale­ cido, não tinha o timbre, pelo que o obteve e ofereceu ao museu.

Brazão n.O 33 - Escudo timbrado com as armas dos t\ndra­ des, tendo por diferença uma de oito bicos. Este escudo com paquife está I}uma campa que actualmente serve de verga á porta que da ex-Capela-Mór da Egreja do Car­ mo dá para- a Capela, hoje Biblioteca da Associação dos Arqueo­ l~gos. Por baixo do escudo tem a seguinte inscrição:

s. a DE MIGVEL DAM DRADE E DE SVA MOLER - BARBORA BOTE LHA F. ER •• _ •••

O resto da inscrição não se pode ler por estar metida na parede.

Brazão n.O 34 - Escudo timbrado, representando as armas dos-Alvare'i; de Andráde, oe perfeitissima- execüção em marmore branco com elmo a tres quartos e paquife. Está' nurha"krande"camp-a inteira. O brazão está ao balon. Já existia esta preciosa 12pide neste museu em ,,866 conforme se' vê numa fotografia que já citei, tirada pelo sodo Munró e pu· blícadá com o Boletim n.O 7 de Dezembro de 1866 no «Archivo j de Arquitetura Cívil / Jornalj dos j Arquitetos portugueses e Ar­ cheologos. Por, baixo do brazáQ está a seguint~ insc~ição, : " ,

(;APELLA. E. SE!'''I TURA . DE FERNÁ DALVAREZ , DÁDRADÉ. DO CONSELHO OELREI nó. JoÃo. o. III DE CEDO PER LINHA DERElTA DA NOBRE GERAÇÃO DOS CÓDES UÃDRADE DE GALIZA FALLECEO E MARCO DE MDLII E DE DONA ISABEl, DE PAIVA SVA MOLHER FALLECEU EM. MAIO DE MULXXX E DE SEVS DECENDENTES.

No catalogo tem esta lapide o n. o 2310 com a indicação de que foi encontrada numas escavações feitas em frente do Palacio do Conde de Penafiel e oferecida por este titúlar a este museu. Isto é um engano que sempre tem sido conservado. Esta la­ pide entrou no museu em 26 de Fevereiro de 1866, vindo do con­ vento das freiras da' Anunciada em Lisboa. A lapide oferecida pelo Sr. Conde de Penafiel é a que tem o brazão que apresento sob n.O 56.

Brazão n.O 35 - Escudo timbrado, talvez dos Seromenhos com elmo a tres quartos. No catalogo tem o n.O 3891, com a se­ guinte informação: - Um brazão de marmore, tendo por emblema um leão sobre o capacete: oferecido pelo socio o Sr. Visconde de Alemquer. - '

Brazão n. O 36 - Escudo timbrado com elmo a tres quartos e paquife. COllsiste numa pedra muito bem trabalhada e que tem um brazão embutido. O brazão desapareceu, havendo conheci­ mento (relia timbre que devia pertencer aos Andrades. Esta pedra existe no Museu desde os primeiros 'anos da sua fundação, pois que aparece na fotografia já referida e que foi publicada com o bol~tirn n.O do Arclúvo da AI'chitelurü Civil. Nesta fotografia por cima do escudo apareceu um letreiro {56

que consegúi ler com auxilio duma lente. Desse letreiro apúrei o seguinte: -«Escudo das armas da Familia dos Andrades e Sousas, achado em Santarem J No catalogo antigo vem sob o n.O 3886 a seguinte indica­ ção:-«Escudo d'armas dos Andrades e Sousa-1543: oferecido pelo Snr. João de Matos Gomes.»-

Brazão R.O 37-Escudo d'armas esquartelado, talvez dos Pi­ menteis e Maldonados. Está ao balon, tem elmo a tres quartos e paquife. Foi depositado pela Sr. a D. Elisa Olaia Pimentel Maldo­ nado, conforme consta do Rdatorio do Conselho Facultativo em 1906.

Brazão R.O 38-Escudo timbrado com as armas dos Brandões com elmo a tres quartos e timbre. Está numa campa. Por baixo do escudo tem a seguinte inscrição:

ESTA CAPEL E SEPVL TVRA HE DE ANRíQE BRANDAM D 15

Foi encontrado nas ruinas do Mosteiro do Carmo e oferecido para o Museu pelo General Queiroz em 24 de março de 1895. Esta campa está partida. É natural que em vista desta campa se encontrar nos escom­ bros do Mosteiro do Carmo, tenha relação com um jazigo exis­ tente nesta Egreja na «Capela de Nossa Senhora dos Prazeres!) e que tinha a seguinte inscrição:

AQUI JAS DARTE BRANDÃO, CAVALLEIRO DA GARROTEA, A QUAL GANHOU NO REINO DE INGLATERRA POR MUITOS AFAMADOS SERVIÇOS QUE FEZ A EL-REI DUARTE, QUE A ESTE TEMPO ERA NO I

Brazão R.O 39 -Escudo timbrado com paguife e elmo a tres quartos. Não é português. 00 00 00

00 00 00

L/Jóoa - /9/3 158

Tem por baixo a seguinte inscrição:

• • •• DE HENRIQVE COELER E DE SVA MO • • •• IA VENTVRA E DE SEVS DES • ••• ES HERDEIROS E SUCCESSORES • • •• POR TRESPAÇASSÁO Q LHES IRMANS SOBRINHA E HERDEIRA • ••• MPOS INSTITVIDORA POR ESCRI · •• , NOTAS DO TABALlAM DOs CAR ••• , 20 DE ABRIL DO ANNO DE 1630

N esta campa falta-lhe o canto inferior esquerdo, tornando p~rlanto incompleta a inscrição qut! pela leitura facilmente se re· cons·titue. Ha tradição de que esta campa foi encontrada no Mosteiro do Carmo e que veio para este Museu em 1895, oferecida pelo general Queiroz, quando comandante das Guardas Municípais.

Bra7.ão n.o 4 0-Escudo timbrado com paquife e elmo de frente. Entrou no Museu em 23 de Agosto de 1900, vindo de Mon­ te lavar por diligencia do Sr. Rosendo Carvalheira, conform~ co~sta do Relatorio do Conselho Facultativo, em 190 I.

Brazão n .O 41 - Escudo existente num baixo relevo da base do monumento de D. Maria J, exposto neste museu.

Brazão n.O 42 -- Escudo repetido cinco vezes no sarcofago do Infante D. Sancho. . No catalogo tem este tumulo o n.o 2302 e a seguinte indic~­ ção: - Sarcofago do Infante D. Sancho, filho de el· r-e i D. Drniz, o qual faleceu em Santarem, por ter sido me rdido por um javali numa caçada em A Imeirim. Nota-se estar a figura do corpo dei­ tada em decubito, quando é costume representar o defunto deitado de costas.- A paginas 169 do 3. 0 volume do Boletim vem um artigo as­ sinado pelo arquiteto J. P. N. da Silva sobre este sarcofago de que vou transcrever parte: -: .. . é um dos mais raros exemplares que possue o Museu de Arqueologia da Real Associação dos Arquit-etos Civis e Ar­ queologos Portugueses, e que está exposto no edificio do Museu do Carmo em Lisboa, havendo mais outro, que representa o fi- SARCOFAGO DO PRINCIPE D. AFONSO SANCHES (BRAzÃO N." 42) t60 nado deitado sobre a ilharga, existente no jazigo real de S. Diniz em França, porque geralmente o cadaver era sempre posto de costas, não só para ocupar o espaço todo que cobria o seu jazigo, como poder mostrar o rosto fitando o céo, parecendo esperar qut! naquela habitação celeste sua alma seria recolhida entre os bem­ aventurados. Foi desde o XlI seculo que se principiou a colocar sobre a campa dos sarcofagos o vul~o da pessoa neles encerrada; não se escoudia no seio da terra o corpo do defunto, como se fosse um objeto de terror e de aflição, pois que, representando· se sobre a campa o seu corpo, vendo·se a sua atitude tranquila e conservan· do as mãos postas em oração, exprimia o descanço da sua alma, a resignação e a esperança de alcançar o premio de suas vir­ tudes. EI-Rei D. Diniz prezava mais o seu filho natural D. Afonsu Sanches do que o filho legitimo D. Afonso, que herdou depois a corôa; havia, pois, ciumes deste, pela afeição mais pronunciada do soberano para com o primeiro. D. Sanches indo um dia caçar a Almeirim, estando a côrte em Santarem, foi mordido por um javali, cuja ferida causou a sua morte, vindo a falecer naquela vila, sendo sepultado no Convento de S. Domingos, EI-Rei D. Dinis mandou· lhe fazer este sarcofago, estando representado na face principal o fatal acontecimento da caçada, onde se observa o principe a cavalo acometendo o animal, e os creados temerosos refugiando-se sobre as arvores; e posto que esta escultura em alto relevo esteja mutilada em dois logares, por um encaixe que lhe abriram Ce nós explicaremos depois o mo­ tivo deste vandalismo), todavia, deixa ver o facto que cau~ou a morte prem'atura do principe, que o artista representou com vi­ gorosa execução. Ainda que não conste a razão por que a efigie do principe esteja na posição que não era uso adoptar-se, ousamos na nossa humilde opinião, supor que o motivo de ficar por este modo deitado, seria que a mordedura do feroz animal fosse feita sobre a perna esquerda, impossibilitando o ferido de se poder deitar sobre o outro lado, e ter falecido naquela posição. O distinto secretario da Associação Franceza de Archeologia, Snr. J. M. Lauriere, que veio a Lisboa em 1880, ao congresso de antropologia e arqueologia prehistoricas, o qual visitou na companhia dos outros membros o Museu de Arqueologia do Car­ mo, exprime.se ácerca do merecimento artistico desta escultura, 16t

pelo modo seguinte a paginas 617 do volume vi (1881 ) do Bulle­ tin Monumental d' Archéologie, num artigo intitulado «Souvenirs Archéologiques du Portugal»: aParmi les objets du moyen âge, d'anciens tombeaux de per­ sonnages historiques attirent l'attention et donnent d'excellents types de ces sortes de monuments, en usage en Portugal et en Espagne aux xíve et xv e siecles. Les coffres rectangulaires, en pierre ou en marbre, comme celui du roi Don Fernando L er, avec couvercle en forme de pyramide basse et tranquée, tirent un puis­ sant effet décoratif de la présence, sur leur faces, d'écussons hé­ raldiques enfermés dans des cadres multilobés. D'autres plus sim­ ples, ornés d'écussons, montrent sur leurs couvercles plats, dans l'immcbilité de la mort, les graves phisionomies des défuQts, comme le sarcoph ,~ ge de D. Gonçalves de Sousa, grand comman­ deur de l'ordre du Christ. Parmi les tombeaux portant les eifigies des pel'sollllages, ii en est 2m, celui de Don AifollsO Sanches, dont la stalue est cOllchée SII1' le flanc, exemple tres-rare d'une excep­ lioll à l'usage cOllsacd avant le xvie szecle de représenter le dé­ funt étendu, le visage tourné vers le ciel. La chevelure parlagée sI/r le [roal et lombant en ondes sOlples SUl' les épaules, la barbe 7'aide, aJoulent e/lcore Gl cette eifigie 1tI1 caractere de curieuse OI-i- 7'igillalilé» . - Quando em 1866 fomos a Santarem diligenciar que as obras de arte que se achavam abandonadas, mutiladas e desprezadas nas egrejas profanadas, daquela cidade, pudessem ser conservadas para servir á hist0ria das Bella:i Artes do nosso paiz; notámos que na remota Capela do Rosario de Nossa Senhora de Oliveira, da fundação de 1222, e junto da qual se edificou depois o Con­ vento de S. Domingos em 1225, bavia, defronte do retabulo, per­ tencente ao tumulo de Ruy de Menezes, uma grande pedra lavrada a picão, encravada na parede e a tosca face no destorcimento .la paredt: de alvenaria! Causou nos admiração vêr a pedra colocada por aquela fórma, e a fim de verificar o motivo de similhante construção, mandamos esburacar a parede sobre os dois lados da dita pedra (munidos da precisa autorização), e veio a descobrir-se que estava entaipado o sarcofago. Ficámos surpreendidos por tão inesperado achado! Procurámos explicar qual seria o poderoso motivo que tivesse determínado aos frades ocultar aquele tumulo e mutila 10_ Não obstante não haver nada escrito a este respeito. podemos coojeturar, com plausivel probabilidade, que depoís do passamento de el-rei b. Diniz, e de ter subido ao trono seu filho t6~

legitimo D. Afonso IV, os frades sabendo a rivalidade que havia existido entre os dois irmãos, com o fim de lisonjear o novo so­ berano, esconderam dentro da parede as esculturas e o rosto do infeliz principe D. Sanches: e no mesmo logar onde tinha sido posto o sarcofago, aparecia então uma grande pedra tosca, qUI! por modo algum fazia recordar ter pertencido ao tumulo do filho natural do rei finado! Ora como a grossura da parede não per­ mitisse esconder totalmente todo o tumulo, porque havia duas hombreiras e uma porta fingida sobre a face oposta, que fazi:\ fundo ao tumulo, tiveram de mutilar as esculturas da face princi. paI do sarcofago em dois logares, a fim de fazer a necessaria caixa para entrar todo o aito relevo no tardoz das ditas hombreiras, e ficar só a pedra das costas do mencionado tumulo apparente na parede da capela. A Historia de San/arem edificada, obra publi..:ada pelo co­ nego Inacio da Piedade e Vasconce los, em '740, posto que des­ crevesse todos os tumulos que havia na egreja deste convento, não menciona este sarcofago; talvez por ignorar, quando deu á luz a sua obra, que ele estava entaipado havia 4J 5 anos. -

Brazão ".0 43 - Escudo de armas dos Pereiras repetido quatro vezes no sarcofago em madeira, do Con.destavel D. Nuno Alvares Pereira. No catalogo tem o n.umero 2324 e a seguinte informação:• Mausoleu de madeira, que substituiu o de marmore, destruido pelo terramoto de 1755, e que encerrava os despojos mortais do CondestilVel D. Nuno Alvares Pereira. Ignorava-se o destino que se lhe teria dado, mas o Sr. Possidonio da Silva pôde descobri·lo, restituindo·o em 1868 ao seu devido lugar na antiga Igreja de Nossa Senhora do Vencimento, fundada por aquele inclito varão, para comemorar a celebre vitoria de Aljubarrota em 1385.- D. Nuno Alvares Pereira, segundo Condestavel de Portugal, Conde de Ourem, de Barcelos e de Arraiolos, o vencedor de tantas e tão grandes batalhas, nasceu em Sernache do Bomjardim

no dia 24 de junho de J 3f'0, morrendo em Lisboa no dia (.0 de Novembro de 143 I com pouco mais de 71 anos de idade. Filho de D. Fr. Alvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato, companheiro em 1340 de D. Afonso IV á batalha do Sa­ lado, e de Eiria Gonçalves do Carvalhal, foi casado com D. Leo­ nor d'Alvim e pae de D. Brites Pereira de Alvim, que casando com D. Afonso, Conde de Barcelos e primeiro Duque de Bra- FAC-SIMILE EM MADEIRA DO SARCOFAGO E ESTATUA DE D. NUNO ALVARES PEREIRA (BRAzÃO N.· 43) 164

gança filho de D. João 1, foram os progenitores' da Dinastia Brigantina. " , O que foi a vida do grande Condestavel, todos os portugue- zes o sabem. . Sendo religioso carmelita calçado no convento da sua funda­ ção e da invocação de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, faleceu como acima disse em I de novembro de 1431. Em sepultura rasa a meio da capela mór da Egreja do Carmo, onde hoje é a sala das sessóes da Associação dos Arqueologos, ficaram sepultados os restos mcrtaes desse grande vulto historico. Na campa que o cobria lia-se:

ILLE CGME· STABILlS BRAGANTI NOMINIS AUTHOR NUNVS ADEST, IJUX MAXIMUS HIC MONACHUSQUE BEATUS QUI REG NUM ASCIVIT VI VENS SORTIBUS lN Ol-VUM COELUM CUN SUPERIS NAM POST NUMEROSA TROPHOEA CON SUMPSIT POMPAS HUMlLISQUE EX PRICIPE FACTUS HOC TEMPLUM POSUIT, cOLUíT, CENSUNQUE DECAVIT.

El-Rei D. Duarte mandou colocar lima lampàda de prata sobre esta sepultura. Em (53: uma neta de D. Nuno, a Princeza D. Joana, filha dos Reis de Castela D. Fernando e D. Isabel, e mulher do Conde de Flandres, Fílipe o Formoso, filho do Imperador Maximiliano I, fez trasladar os restos mortaes de seu avô para um sarcofago de alabastro de Firen{e. Este sarcofago foi colocado no Presbyterio da Capela-mór, dentro de um arco ao lado da Epistola. Em 1548 foi mudado o sarcofago para o lado do Evangelho. Na parede contigua a este tumulo, numa lapide filetada d'ouro com o brazão dos Pereiras em relevo, lia-se a seguinte inscrição:

AQUI JAZ A Mui HONRADA E VIRTUOSA DONA EIRÍA GONÇALVES, MADRE DO SANTO CONDE, QUE MANDOU FAZER FSTE MOSTEÍRO.

Tudo isto foi desfeito pelo destruidor terramoto de. I de novem­ bro de (755, a que se seguiu um incendio que completou a destruição. Encontrados os restos de D_ Nuno por entre os fragmentos do sumptuoso sarcofago, foram depositados dentro dum n"ovo tu­ mulo de madeira, copia fiel do primeiro. t65

Foi este novo tumulo colocado na Capela.mór ao lado dó Evangelho da nova Egreja feita entre a portaria regular do con­ vento e a portaria do carro. EI-Rei D. José I mandou colocar na frente deste tumulo uma lampada de prata. O decreto de 28 de maio de 1834 deu por extinctos os con­ ventos em Portugal, sendo a Igreja do Carmo que estava em re­ construção, votada ao abandono. Por este motivo foi o tumulo de madeira referido, contendo os restos de D. Nuno, trasladado para a Igr eja de S. Vicente de Fóra, no dia I4 de maio de 1836. O abade de Castro" no seu artigo «O tumulot acompanhado do desenho do sarcofago e publicado em outubro de 1866 no Bo­ letim D.O 6 do A"qllívo de Arquitectll1'a Civil já referido, cita esta data de 14 de maio de 1836 como sendo a da trasladação para S. Vicente de Fóra. O Sr. Rocha Dias, no seu artigo «Trasladação dos restos mor­ taes do Santo Condestavel para a Igreja de S. Vicente. publicado a paginas 33 e 34 do Tomo IX do Boletim da Associação dos Ar­ queologos, cita a pagina 630 do' Dia rio do Govênw n.O I [7 de 18 de m 'lio de 1836 em que se lê: . - «No mez de março ultimo se concluiu a seguinte obra que vae índicada com a sua respectiva importancia: Trasladação do Tumulo do Condestavel D. Nuno Alvares Pereira da Igreja do extincto convento do Carmo para o de S. Vicente ... 41.063 rt!is. Intendencia das Obras Publicas, 7 de maio de 183ú, Braam­ camp.- A paginas 13 do Boletim n.O I [ da 4.:1 serie, Tomo ix, vem com o titulo: «Estatua e sarcofago de D, Nuno Alvares Pe­ reira ~ , o seguinte:-Ministerio do Reino-Direcção Geral da Administração Politica.-2.3 Repartição-L.o 23 n.o 372. Sua Ma­ jestade EI·Rei, atendendo ao que em seu requerimento lhe repre­ sentou a Associação dos Arquitetos Portuguezes, estabelecida na antiga Igreja do Carmo desta cidade, pedindo que lhe seja entre­ gue, com o fim de ser depositada no seu museu arqueologico, a estatua de madeira do Condestavel D. Nuno Alvares Pereira, atualmente guardada em uma capela do claustro da Igreja de S. Vicente de Fóra ; Ha por bem, conformando-se com a informação do Vigario Geral interino encarregado do Governo do P atriarcado de Lisboa, na ausencia do Cardeal P atriarca, conceder á referida t66

Associação não só a esta tua que solicita como tambem uma urna em forma de sarcofago que existe no sobredito local, devendo a pessoa pela mesma Associação encarregada da receção destes dois valiosos monumentos, apresentar nesse acto o competente recibo passado em devida fórma. O que assim se participa, pela Secretaria de Estado dos Ne· gocios do Reino, à Associação dos Arquitetos Portugueses, para sua inteligencia e efeitos devidos. Paço da em 29 de Julho de 1865. - Julio Gomes da Silva Sanches.» - Voltou pois o sarcofago para a ex-Igreja do Carmo transfor­ mada em Museu Arqueolagíco, -ficando os restos do Condestavel depositados juntamente com os de sua mãi, Eirla Gonçalves do Carvalhal, na capela, no claustro de S. Vicente, onde estão os tu­ mulas dos Meninos de Palhavã, filhos de D. João V, principes D. Antonio e D. José. Num dos topos do referido tumulo de madeira está a seguinte inscrição:

ESTE TUMULO DE MADEIRA É FAC SJMILE DO DE A LABASTRO, FEITO EM FLORENÇA NO AN!'IO DE 1531 QUE FOI DESTRUIDO PELO TERRAMOTO DE 1755 POR MANDADO E EXPENSAS DA SNR.· D. JOANNA DUQUEZA DE BORGONHA 4," NETA DE D. NUNO ALVARES PEREIRA 2.0 CONDESTAVEL DE PORTUGAL MULHER DE FILIPE (o DAS MÃOS BRANCAS) DUQUE D'AQUELLES ESTADOS ONDE JAZIA o REFERIDO CONDESTAVEL NO REAL MOSTEIRO DE S. VICENTE DE FÓRA ATÉ Á PORTARIA DO MINISTERIO DO REINO 29 DE JULHO DE 1865 EM QUE O MANDOU ENTREGAR A ASSOCIAÇÃO DOS ARCHITETOS C[VIS PORTUGUEZES PARA O MUSEU ' DE 'ARCHEOLOGIA NO EDIFICIO GonCO DO LARGO DO CARMO. QUE FOI DEPOIS RAINHA D'AR,\GÁO i67

Brazão nO44 - Escudo das armas talvez dos Seromenhos. Tem paquífe e elmo a tres quartos com uma pluma. Deu entrada no museu em 5 de Setembro de 1898, vindo de Alemquer e oferecido pelo Sr. Rosendo Carvalheira.

Brazão n:' 45 - Escudo das armas dos Pereiras existente DO fecho do arco da capela mór da ex-Igreja do Carmo que está acompanhado pelos escudos já referidos sob os n.O S 9 e 23.

Brazão n.O 46 - Escudo das armas da Familia Almeida, ten­ do o paquife igual ao do brazão n.o 62. No Boletim de 1908 foi, pelo socio sr. Manuel José da Cunha Brandão, publícado um trabalho intitulado «As ruinas do Carmo» em que descreve a Igreja do Carmo antes do terramoto de 1755. Da descrição da Capela de S. Roque que existiu na mesma igreja, transcrevo o seguinte: - «Proximo a esta capela, mas na face interna da frontaria, existia um grande mausoleu de pedrarias brunidas e de varias côres, assente sobre dois leões. No remate dos pilares do arco, dois brazóes de arrr as. A ' direita, o dos Almeidas, á esquerda, o dos Castr

O. MICHAEL O' ALMElDA, COMES AI3RANTINUS, VÉRE P.-\TRIA': PATER, CERTE FILlUS LUSlrANIA':, PRO CUJOS ACCLÁMATA L1BERTATE AN:\O 1640, PRIMUS

GI AOIUM EflUXIT: lN REGIS POSTEA ALPHON~I SEXTl INAUGURATIONE AD ' CEPTRUM BENI:: AUGURATUS PRO EO VICEM ~ENUIT: REGINA<: rncoNoMUS MAIOR, A':TATE GRANDIS, MERITlS GRANOIOR, OI3lT DrE 28 NOVEMBRIS ANNO 1656. D. VASCUS DA GAMA, MARCHIO DE NIZA, AVUNCULO suo AMANTlS­ SIMO HOC MONUMENTUM P. A. & o. E. Este escudo, assim como o n.o 62, foram encontrados no en­ tulho que foi removido da Igreja do Carmo.

Brazão n.O 47 - Escudo das armas da Familia Castelo Bran­ co. Faz parte duma lapide a que se refere o Relatorio da Geren­ cia do Conselho Facultativo em 1905, liOS seguintes termos: - Pelo Ministerio da Guerra foram oferecidas á nossa Asso­ ciação e postas á porta deste edificio duas lapides sepulcrais com brazão. Estas lapides do seculo XVI vieram da Igreja do Convento de Cheias e pertenciél~ a sepulturas de duas Priorezas daquele mosteiro. - 168

Esta lapide tem por cima do brazão a seguinte inscrição:

AQ.' JÁZ • DÓNA BRIAT1!' • DE CA S TEL BRANCO. PRIORESA. Q FOY DES TE • MUSTEIRO • DA CHELAS • Q SE FY NOU NA ERA DE MIL Q'NHETOS XXI

A outra lapide da mesma procedencia e que tem brazão iden­ tico vai indicada sob o n.O 50.

Brazão n. o 48 - Escudo das armas dos Pereiras, aberto em cada uma das humbreiras interiores da porta principal da Igre,ia do Carmo. Igualmente se encontra na humbreira esquerda da porta late­ ral do cruzeiro da igreja.

Brazão n.o 49 - Escudo das armas dos Castros, com paqu1- fe. Entrou no museu em 25 de Outubro de 1902. Na sessão da Assembleia Geral de 27 de Outubro de 1902 foi comunicado que: - Do Sr. Joaquim da Silva Leitão recebeu­ se um brazão do Marquez de Cascais que estava numa proprie­ dade do oferente e que remonta a 15g8. No Relatorio da Gerencia do Conselho Facultativo em 1902, encontrei: - Um brazão de armas do Marquez de Cascaes com a data de 1588 (sic) (oferecido) pelo Sr. Joaquim da Silva Leitão. Nos arabescos da base do escudo, tem a seguinte inscrição:

PINTVS 15g8 FACIEBAT

Por esta data se vê que este brazão não foi mandado fazer pelo 1.° Marquez de Cascais e 6.° Conde de Monsanto, D. Alvaro Pires de Castro que faleceu em Ançã em I I de Julho de ,674. Entre outros cargos, era: Fronteiro-mór, Coudel-mór, Couteiro­ mór, Alcaide-m()r de Lisboa, Senhor das Vilas de Cascais, Lou­ rinhã, Ançã, S. Lourenço do Bairro, Monsanto e Castelo Mendo. Era filho do 5.° Conde de Monsanto D. Luiz de Castro, Pre­ sidente do Paço e Conselheiro de Estado e sucedeu em 1604 á grande casa de Monsanto, falecendo em 16 12 e tendo desempe­ nhado os cargos que o filho acima desempenhou. D. Luiz de Castro era filho do 4'° Conde de Alonsanto D. An- 169

tonío de Castro. que com sua mulher, D. Inez Pimentel, fundaram o co.nvento de Nossa Senho.ra da Piedade em Cascaes em 1594. Devia ser, portanto, o 4.° Conde de Monsanto que mandou fazer o escudo acima referido, em face das datas.

Brazão n.° 50 - Escudo d'armas que pode pertencer a varias familias, mas que provavelmente é do.s Castelos Brancos, visto que tem a mesma procedencia que o apresentado sob n.O 47. Po.r cima do escudo tem a seguinte inscrição:

AQ.i .IAZ . DÓNA. M/JCIA PIREIRA PRIOREZA. Q FOY DESTE MUSTEIRo.

DA CHELAS. FALECEo. ~A. ERA DE J\IIL Q 'NHENTOS. TRINTA NOUE.

No. Relatorio da gerencia do Co.nselho Facultativo em 190.5, encontrei a seguinte referencia. - Pelo Ministerio da Guerra fo­ ram o.ferecidas á nossa asso.ciação e postas á porta deste edificio. duas lapides sepulchraís com brazão. Estas lapides do seculo XVI vieram da Igreja do co.nvento. de Cheias e pertenceram a sepul­ turas de duas priorezas d'aquele mosteiro.. - .

Brazão ".° 51- Escudo. existente num fragmento duma campa, muito gasta e deterio.rada. Só existe um terço do escudo e em vo.lta o.S seguintes restos duma inscrição:

E SVA. SErv ... • Brazão ".° 52 - Escudo das armas da Familia Pimentel. Tem elmo de frente e paquife. •

Brazão n. O53 - "Brazão. co.m paquife, que existe numa lapide co.m a seguinte inscrição :

s' DO. SARG.TO MAIOR AN'o COIIREIA DANI RADA . FlUAL GO CAVALEIRO. Po.RFESO

NA ORDE X ('0 DA . CASA DE S . E DE SVA Mo.LHER ANTA DE MADVREIRA P!Ti\ NAT VRAIS 0 .\ CiDADE DE TA.ó GER E DE SEVS ERDEIROS 1677 tiO

Por baixo, num tipo de letra muito maIS moderoa, está o seguinte:

ESTA CAMPA VElO DA IGREJA DA SR.A DA GLORIA DE LAGOS E For MANDADA RENOVAR POR SEU QUARTO NETO O BARÃO DA CAPF.LlNHA

Manuel Joaquim Tavares Paes de Sousa e Andrade, 1.0 Ba­ rão e 1.0 Visconde da Capelinha, nasceu em 9 de abril de 1799 e faleceu em Tavira a 23 de setembro de 1873. Era Fidalgo Cava leiro por alvará de 23 novembro de 1855, do Conselho de D. Ma­ ria 1/, Comendador da Ordem de Christo, 7.° administrador dos Morgados da Quinta da Capelinha, Valongo e de Vai de Mouti­ nha, em Alvalade. Foi Capitão de infantaria em Africa, antigo Capitão-Mór das ordenanças de Tavira e Coronel do Batalhão Nacional de Caça• dores da mesma cidade. Era fidalgo de Cota de Armas por carta de brazão passada a 16 de Janeiro de 1828 e registada a folhas 214 verso do livro VII[ do Cartorio da Nobreza. O brazão que lhe foi concedido foi o dos Tavares, tendo por timbre, meio cavalo selado de côr sanguinha, com freio de ouro. O titulo de Barão foi·lhe concedido por decreto de 20 de Outubro de 1852, registado no livro das Mercês de D. Maria II. O título de Visconde foi-lhe concedido por decreto de 22 de Setembro de 1870, registado no livro das Mercês de D. Luiz 1. O Visconde da Capelinha deixou um filho Pedro Joaquim Tavares Pais de Souza e Andrade, legitimado por alvará de 3 [ de Outubro de 1855 e que nasceu em 29- de Outubro de 184" Pedro Joaquim Tavares Pais de Souza e Andrade era Fidalgo Cavaleiro por alvará de 3 de Dezembro de 1855 e Bacharel for­ m ado em direito. Casou em 1870 com a Condessa do Prado de Selva, D. Maria Tereza Emilia de Almada Quadros Souza Len­ castre da Fonseca Saldanha e Albuquerque que nasceu a 14 de Julho de 1852 e morreu em Tavira a 22 de Outubro de /875 . 1." filha do Par do Reino Francisco de Almada Quadros Souza e Lencastre, 2.° Conde e 2.° Barão de Tavarede, e de sua mulher D. Eugenia de Saldanha Oliveira e Daun, Dama de Honor da Rainha, da Ordem das Damas Nobres de Maria Luiza de Espa­ nha, e da Ordem de S. Carlos do Mexico, filha do primeiro Du- UI

que, Marquez e Conde de Saldanha. Esta senhora, depois de viuva, casou com o 2.° Conde de Farrob::>. Do casamento de Pedro Joaquim Tavares Pais de Souza e­ Andrade com a Condessa do Prado da Selva nasceram duas fi­ lhas: D. Maria da Salete em 1872 e D. Eugenia Maria em 1873. O Visconde da Capelinha era filho de Pedro Manuel Tavares Pais de Souza, natural de Messejana, Cavaleiro Fidalgo por al­ vará de 24 de Abril de 1829 e portaria da Mordomia-mór de 5 de Novembro de 1828. Capitão-mór de ordenanças da cidade de Tavira, administrador éntre outros dos morgados da Capelinha e do Vai de Moutinha em Alvalade, e de sua mulher e prima direi­ ta D. Caterina Placida de Mendonça Lacerda, Morgada da Cape­ linha e filha de Lourenço de Mendonça do Vale, Morgado de Mon­ talegre e Gome;ra e de sua mulher D. Isabel Francisca Xavier de Madureira, Morgada da Capelinha, filha de Manuel Pais de Sou­ za, Senhor do referido morgado e de sua mulher D. Antonia de Madureira Pita, filha de Antonio Correia de Andrade a que se re­ fere a lapide acima.

Brazão n.O 54 - , Escudo das armas dos .cortereais. Tem el­ mo a tres quartos e paquife.

Brazão n.O55 - Escudo de armas com elmo de frente e pa­ quife. Conhece-se que teve timbre. Deu entrada no Museu cm 23 de Agosto de 1900 vindo de Montelavar por diligencia do Sr. Rosendo Carvalheira. No Relatorio do Conselho Facultativo em 1900, vem referen­ cia ao oferecimento deste brazão, sem, porém, dar qualquer escla­ recimento de origem.

Brazão n.O 56-Escudo das armas dos Lemos e Montarroios. Existe esta campa neste museu desde os primeiros tempos da sua fundação, pois que aparece na fotografia já citada que vem junta ao Boletim n. o 7 do Arquivo de Arquitetura Civil publicado em 1866. Nessa fotografia, por- cima da lapide, ve-se um letreiro de que só se lê metade, poís que uma sombra qualquer a cortou ao alto, ficando a outra metade perfeítamente negra sem se poder ler o que contém. Na parte legivel vê-se - «Brazão da Familia M ... » oferecido pelo socio Ex.mo .•• » ~S_5 __~ __~ ~S6____ ~ __~ r5_7 __-r ~~~5_8~~,-~

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Ora no Boletim n.O 4 da L " serie publicado em abril de 1866, do Arquivo de Arquitetura Civil, vem: - ofereceu o Ex.mo Socio, o Sr. Conde de Penafiel, para o Museu Arqueologico, uma campa com escudo d'armas, pertencente á ilustre familia dos Montaroyos. Parece que este brazão fôra em outro tempo divisa de um Cava­ mo leiro que privara com El-Rei D. João I. E' o Ex. Conde de Pe­ nafiel um socio que muito presa a arqueologia; é um português que tem alta veneração pelas nossas antiguidades.- Em volta da campa ha letras goticas, umas muito gastas e outras cortadas. Das muito gastas e depois dum aturado exame, consegui descobrir o seguinte:

ESTA S4 HE DE ••• RO ., .NES DE LEMOS

que talvez queira dizer: Pedro Eannes de Lemos. No catalogo sob o n.o 2310 está a seguinte referencia:­ Grande Campa de Marmore branco de Italia com o belissimo bra­ zão de Pedro Ennes, descoberto no terreno onde se construio o Palacio do Marquez de Penafiel ás Pedras Negras; oferecido por S. Ex." a esta Real Associação. -

Brazão n.O 57 - Escudo d'armas alguma coisa deteriorado, pois que lhe faltam peças que eram embutidas. E em torma de lisonja, tem as armas de Portugal, dos Henriques e dos Sás, Peí­ xotos ou Alcofurados. No Catalogo tem o D.o 2319 e a seguinte referencia: - ~scudo de marmore sustentado pelas mãos dum genio, brazão da familia a que se refere o n.o 2316 - que diz: - Medalhão de marmore de Carrara com duas cabeças de mãe e filha duma familia nobre de Portugal, ambas falecidas no mesmo dia.- Já fazia parte do museu em 1866, como se vê na fotografia já referida, publicada no n.O 7 do Boletim do Arquivo de Arqui­ tetura Civil. No referido medalhão que é um primor de escultura, está um B junto a um coração atravessado por um punhal. No Catalogo vem indicação de que o n.o 231 6 foi depositado pelo Sr. Joaquim Possidonio Narciso da Silva, e o n.o 2319, por seu filho o Sr. Ernesto da Silva.

Brazão n. O 58 - , Escudo d'armas dos Mendonças. Está partido. tn

Brazão n. O 59 - Escudo d'armas, esquartelado dos Corrê as de Aguiar e Cortereaes, com elmo a tres quartos e paquife. Está numa campa já bastante gasta. Por baixo do brazão tem uma inscrição de que consegui ler o seguinte:

S DE FERNAM LOPEZ CO REA E DE SVA MOLHER FRANCISQA DE M.IRANDA E ERDE Q •••

No Relatorio da Gerencia do Conselho Facultativo em Ig05, vem: - O Digno Par do Reino e erudito escritor o Sr. Anselmo Braamcamp Fréire teve a amabilidade de dar para o nosso mu­ seu uma campa com inscrição e brazão d'armas. Esta loisa era pertencente á sepultura de Fernão Lopes Correa, Guarda Roupa d' El-Rei D. Manuel.-

Brazão n.O 60 - Escudo d'armas esquartelado dos Vilas Lo­ bos e talvez Silveiras. Tem paquift! e está partido a meio. Entrou para o Museu em zi) de janeiro de IgIZ, sendo ofe­ recido pelo Sr. Antonio Bengo, encarregado duma obra na Rua da Gloria á Praça d'Alegria em cujas escavações foi encontrado.

Brazão n. O 61- Escudos d'armas dos Noronhas como foram usadas pelos Condes dos Arcos e Marquezes d'Angeja. Está porém invertido, pois que o primeiro e quarto é que deviam ser as armas nacionais_ No Catalogo tem o 11. 0 38g5. A paginas IZ7 do Boletim 11. 0 8 de r884, série z.", Tomo IV, no artigo «Cronica da nossa associação», vem : - O Sr. Costa, proprietario da oficina de canteiro á Trindade, ofereceu para o Museu dos Arquítetos e Arqueo!ogos Portuguezes um grande bra­ zão perfeitamente conservado, descoberto nos terrenos que per­ tenceram ao extinto convento da Trindade, por ocasião de se abrir um fundo cabouco. Muita satisfação teve a Associação em receber esta obra de escultura, e muito mais a estimou por vêr que os nossos patricios principiam a apreciar as obras de outras eras, e reconhecer a utilidade de não as destruirem. Sirva este louva\-el procedimento do sr. Costa de incentivo para outros o imitarem, e os seus nomes se conservarem no catalogo do Museu Arqueologi­ co que no nosso paiz foi o primeiro. - 175

Brazão n.O 62 - Escudo de arma dos Castros, com paquife, que fazia parte do tumulo a que me referi quando tratei do Bra­ zão n.O 46.

Brazão n.O 63 - Escudo de armas da Familia Atouguia.

Brazão n. O 64 - Escudo com paquife. E' esquartelado consti­ tuindo o primeiro e terceiro as armas dos Cabe dos, o 2.° dos Vasconcelos e o 4.° dos MeIos Oll Almeidas.

Brazão n.n 65 - Escudo das armas dos Manueis repetido 9 vezes no sarcofago de El-Rei D. Fernando r, que descrevi sob o n.O I.

Bra7.ão n.O 66 - Escudo repetido 8 vezes no sarcofago de D. Gonçalo de Souza que no catalogo tem o n. u 2306. A paginas [24 do Boletim n.O 8 da séfie 2. a, tomo II, referen­ te ao ano de [878 vem uma fotografia e um artigo assinado por J. da Silva, nos seguintes termos: - Secção de Arqueologia. Explicação da fotografia que acom· panha o presente numero do «Boletim» :- - Representa a fotografia o ilustre varão D. Gonçalo de Sou· za, deitado sobre a campa do seu sarcofago, com as mãos pos­ tas, tendo na cintura a bolsa de esmoler, e aos pés um galgo, simbolo de fidelidade. Um friso circumda esta campa na qual está ,- gravado com o maior primor o epitatio que reproduzimos em seguiàa. O cofre que teria encerrado os despojos. ~ortais deste nobre cavaleiro, pois não existiam já nenhuns vestigios do finado, quan­ do nos foi entregue aquele tumulo, tem sobre cada uma das suas duas faces longitudinais tres escudos, os quais apresentam, es­ quartelados, o leão dos Souzas e as quinas reais, por ser D. Gon­ çalo descendente de pessoa real. Este sarcofago estava colocado no meio dum jazigo construido ' de alvenaria dentro do adro da igreja de Tomar, do lado norte; porém já a abobada tinha abatido e as paredes laterais haviam-se desmoronado quasi até á base, estando o tumulo cercado por or- 1 tigas, como se a Natureza quizesse ocultar á vista esta prova de vergonhoso esquecimento de tão famigerado cavaleiro, este imenso desdouro para-a-geração actual por desprezar assim as nossas re­ cordações historicas! . SARCOFAGO DE D. GONÇALO DE SOUSA (SRAzÃO H.O 66) 177

A leitura do epitafio nos dá a couhecer a categoria· dos altos cargos que este varão havia exercido. Tendo' nós diligenciado co­ lher mai!., cópia de noticias biograficas a seu respeito, unicamente obtivemos os seguintes apontamentos que devemos á bondade do ilustrado sr. João Pedro da Costa Basto, oficial maior da Torre do Tombo. Da sua obsequiosa carta transcrevemos estas impor~ tantes informações:

«Na falta de noticias originaes, recorri á Historia Gellealo­

gica, e do tomo XII, parte 2. li (tanto no texto como nas taboas 29 e 30) extrai o seguinte:

«Gonçalo de Souza - Comm.or mór da Ordem de Christo f.o de Gonçalo Annes de S.za - 3. o senhor de Mortagua - neto de Martim Aff.o de S.za Chichorro - 2.° s.or «bisneto de Martim Af­ fonso de Souza - 3. 0 neto de Martim A ffonso Chichorro, filho natural de D. Affonso 3.°»

«Diz o A. da Hist. Geneal, que tanto Gouçalo de Souza como seu pae, Gonçalo Annes de Souza, eram bastardos, e aponta a legitimação seguinte, que encontrei por extrâcto a foI. 174 v. do liv. 2.0 da chancelaria de D. João 1.»

• Outra legitimação ouve GonçaIl eanes de Sousa filho ' de martim afonso de sousa e de dona maria de briteíros, seendo am­ bos parentes e casados de facto em braga VI dias de novembro de 1438 annos (corresponde ao anno de Christo de 1400).» «N. B. - A palavra Britei/"os está escrípta por uutra letra, tendo ~ido raspado o pergaminho nesse logar. «Encontrei tambem numa coleção de titulos genealogicos, que tem por titulo Nobilim"quia de Portocan"eiro, uma pequena no­ ticia djzendo que Gonçalo de Sousa vivera em Alviobeira, termo de Thomar, onde tinha uma commenda. «Se não se encontrar noticia de Gonçalo de Sousa ter sido aio do infante D. Henrique e esmoler de D. Affonso v, a inseri'" ção do sarcofago fica tendo' um grande valo1" historico, por ser a unica prova de ele ter exercído estas funções.» A inscrição que está gravada em caracteres alemâes goticos em tres linhas, á r:oda do friso que separa a campa do tumulo, é muito curiosa, e posto, qU!! lhe faltem algumas palavras por estar quebrada em parte a pedra, leu-a assim o sr. Gomes Goes: J78

•..... o DO NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESU-CHRISTO DE 1469 ,EDIFICOU E MANDOU FAZER ESTA CAPELLA E CASAS COM TODO O SEU CIR­ CUITO O HONRADO CAVALLEIRO D. FR. GONÇALO DE SOUSA COMMENDA­ DOR-MÓR DA CAVALLARIA DA ORDEM DE NOSSO SENHOR JESU-CHRISTO: DO CONSELHO DELREI D. APHONSO O V: CBlADO E FEITURA DE MENINO DO MUITO NOBRE E EXCELLENTE E COMPRIDO DE MUITAS VIRTUDES O INFANTE D. HENRIQUE, QUE FOI GOVERNADOR E MINIST ••••• QUE DE VIZEU F SE­ NHOR DI\. COViLHAN, O QUE ACHOU •• - ••• Ti FICOU TODAS AS ILHAS DA MADEIRA E DOS AÇORES, CO~ TpDA A COSTA DE GUiNÉ ATÉ As INDIAS: FILHO DO MUI NOBRE REI D. JOAo I E DA RAINHA D. PHILlPPA. O QUAL COMMENDADOR-MÓR FOI VEDOR DA CASA E FAZENDA DO DITO INFA!"TE, E SEU CHANCELLER E ALFERES' MÓR ; AS QUAES VIRTUDES QUE EM ESTE IN­ FANTE HAVIA, ESTE CO~MENDADOR-MÓR AS MANDOU AQUl ESCREVER, E SÃO ESTAS •••••• DOU NENHUMA COUSA AO D6MO, E QUANDO LHE FAZIA DESPRAZER TUDO DAVA A DEUS; NEM DIZIA MAL DE NENHUM, NEM CUB!­ ÇAVA A NENHUM MAL: 'NEM BEBIA VINHO; NUNCA ' JUROU POR DEUS, NEM POR SANTOS...... DAS QUARESMAS E FESTAS DE JESU'CHRISTO E UE SANTA MARIA, E APOSTOLOS E OUTROS SANTOS MUlTOS MUlTO JEJUAVA, E PELA MAIOR PARTE A PÃO EM AGUA; ERA MUITO CATHOLlCO, E CUMPRiA EM TUDO O OFFICLO DA EGRAJA; FOI MUITO OBEDIENTE A SEU PAE E MÃE E A SEU REI E A TODO •••..• »

Eis, portanto, maís um objecto de subido valor arqueologico que possue o museu do Carmo' á Associação dos Arquitectos Portugueses se deve a conservação deste notavel sarcof&go.-

Brazão n. O67 - Escudo d'armas esquartelado dos Pinas ou Carreiras e dos Monizes, encontrado dentro duma parede da casa da Quinta dos Passarinhos á Fonte do Louro no Vale de CheIas. Esta quinta pertencia á Familia Moniz. No catalogo, tem o n.O 3893 dizendo que é dos Coutinhos. A paginas 175 do Boletim n. o I I refere:1te a 1888, série 2." do tomo V, no artigo. Cronica» vem o seguinte: - O nosso digno socio·;monsenhor Alfredo Elviro dos ~antos , ofereceu mais outro obiccto antigo, um brazão da nobre familia dqs Coutinhos (sic) que foi encontrado entre a alvenaria da parede de uma casa sita na Quinta dos Passarinhos á Fonte do Louro no Vale de Cheias; apresenta a notavel particularidade de ter esculpido um bonito ornato arabesco que se póde supõr seja do tempo da dominação arabe, o qual foi mutilado a fim de se apro.veitar a pedra para o br3zão. Este interes~e que o nosso socio tem em concorrer para f7ll

o engraodecimento do museu, prova- tambem quanto presa as ano tiguidades do nosso paiz. -

Brazão ".0 68 - Escudo ampaI:qdQ por dois meninos. No Catalogo tem o n.O 3885 ~om a indicação de que foi - Oferecido pelo sr. Dr. Barbosa Amorim, de Santarem, ao Sr. Possidonio da Silva.- Nas fa..:has dos lados tem a seguinte inscrição:

ESTE E HO MEU MÉU PRAZÉR

Na tacha do centro tem:

A SEU TEMPO

Brazão ".0 69 - Escudo sem paquife parecido com o que apresento sob n.O 68. Nas fachas dos lados tem a seguinte inscrição:

ESTE E HO MEU PRAZER HU MEU PRAZER ESTE É HO Mim PRAZER

Na facha do centro tem:

A SEU TEMPO

Brazão ".0 70 - Escudo das armas da cidade de Lisboa. Entrou no museu em II de Março de 1902 vindo do Arma­ zem de Ver o PelO á Ribeira Velha, cujo edificio foi demolido, vindo para este mus~u por dihgencia do socio Sr. Liberato Teles. No relatorio da gerencia do Conselho Facultativo em 1902, vem o seguinte: - O nosso socio, de saudosa memoria, o Sr. Li­ berato Teles .ofereceu nos ultimos dias da sua vida prestimosa e activa, um brazão d'armas. -

Brazão ".071 - Escudo d'armas dos <":arvalhos. Quando já tinha terminado os croquis dos 70 brazões ante· riores 'e_na' ocasião ell! que 'preparavam a sala da<; ses!iões da As­ sociação dos Arqueologos para a sessão solen.e do ;0.0 aniversa- 180

sario da sua fundação, ao ser deslocado um quadro de azulejo foi encontrado na parede o escudo dos Carvalhos. Foi ali posto quando reconstruiram a capela-mór, o que se prova pela sua posição; está colocado com o timbre para baixo e nalgum ponto mais saliente foi picado para ficar alinhado com o resto da parede talvez para ser rebocada.

E' natural portanto que este escudo tivesse pertencido a al­ gum tumulo ou capela desta igreja, que ficasse destruido pelo ter­ remoto e que depois na tentativa de reconstrucção fosse aprovei­ tado como o foram outros muitos fragmentos que se veem pelas paredes. Com o apelido Carvalho, existiu nas naves da Egreja do Carmo, junto ao prímeiro confessionario, do lado direito, uma mscnçaoJ • ~ nos segumtes• termos: .

SEPULTVRA PERPETUA DE JO.:\.o GONÇALVES CARVALHO HOMÉM NOBRE E MOEDEIRO DO NUMERO DA CASA DA MOEDA DE EL-l

Haverá relação entre esta inscrição e aquele escudo? Aqui ficam as duas referencias para estudo. i81

E' muito natural que haja erros em algumas das origens que atribuo aos exemplares acima descritos, o que não admira pela falta de identificação da maioria dos objectos expostos no museu do Carmo. Percorrendo o arquivo, algumas referencias encontrei tao cla­ ras que duvida alguma póde existir sobre os brazões a que se re­ ferem. Ha porém alguns apontamentos que sem justificarem a sua existencia estão errados e estabelecem muito mais confusao do que se não existissem. Muitos exemplos poderia citar sobre este facto para comprovar o que digo, referindo-me porém a um, por a sso me vêr obrigado, pois que já estava impressa a referencia errada ao Brazao n.O 39 a paginas 179, quando descobri a verda­ deira origem. Duvidando eu um pouco da origem que no museu davam a este escudo, fui dizendo na sua altura que - Ha tradição de que esta campa foi encontrada no Mosteiro do Carmo e que veio para este Museu em 1895, oferecida pelo General Queiroz, quando Co­ mandante das Guardas Municipaes.- Eu digo que duvidei, porque para organisar esse trabalho, li tudo quanto conhecia sobre o Convento do Carmo para ficar co­ nhecendo todos os brazões e inscrições que ali existiram e não en­ contrei o nome Henrique Coe ler nem nada que se parecesse, en­ tre as pessoas ali sepultadas. No arquivo da Associação dos Arqueologos existem umas pastas com uma grande quantidade de croquis, apontamentos, pri­ morosos desenhos e muitas referencias que pertenceram ao sacio José Valentim de Freitas, distinto iluminador e que tomou a seu c3rgo croquisar e tomar apontamentos de todas as Igrejas que eram modificadas ou demolidas em Lisboa' são estes croquis e estudos que existem no referido arquivo. Nessa preciosa colecção existem apontamentos sobre umas modificações feitas na Igreja de Nossa Senhora dos Anjos de S. Francisco da Cidade e lá está um croquis do brazão e inscrição a que me refiro sob o n.O 39. Portanto assim fica retificado que a lapide de Henrique Coe­ ler veio da referida Igreja dos Anjos e não do Convento do Carmo. Acabo tambem de saber da existencia de um Henrique Cuel­ lar que evidentemente é o mesmo. e que formando~se em medicina na Universidade de Paris, foi a convite de D. João lU um dos 18'2

primeiros mestres da Universidade de Coimbra depois da' refor­ ma realisada no tempo daquele monarca. Henrique Cueller tomou posse da cadeira de prima em 2 de Maio de 1543 e no mesmo ano imprimiu em Coimbra uma obra sua intitulada: Commelltaria in Prognostica Hypocratis cum Commentariis Galelli.

Na ousca que fiz no arquivo da Associação encontrei varias referencias que não consegui identificar. Foram e!las as seguintes:

3 A paginas 19 do Boletim n.o 2 referente a 1883, da série 2. , tomo IV, vem publicada a .Synopse dos trabalhos da Associação. na qual se diz: - entrou no museu, um brazão t:!sculpido· em pe­ dra, do nosso socio Sr. João Antonio Pinto.-

Tambem encontrei referencia que o Sr. Possidonio da Silva tínha comprado - um belo brazão de marmore branco, tendo por emblema um leão sobre um capacete, trabalho feíto com esmero. Este brazão é procedente de Alemquer.

A paginas 64 do Boletim n. ° 4 da série 2. a referente a 1883, tomo IV, no artigo «Cronica da nossa Associação» vem o seguin­ te: - O director do Real Conservatorio de Lisboa, sr. Luiz Au· gusto Palmeirim, enviou para o museu um brazão e um medalháo com busto em marmore, do extinto Convento dos Caetanos. Foi agradecido e louvado o empenho que S. Ex. a manifesta na con­ servação dos objectos de Belas Artes.- Resa a tradição no Museu que este escudo e medalhão são os que apresento sob o 11. 0 57, mas é um puro engano, pois que foi em 1883 que aqueles objt:!ctos vieram do Conservatorio ofere­ cidos pelo sr. Luiz Augusto Palmeirim e o brazão que aponto sob o n.O 57 já ex.istia no museu em 18(;6 como em sua altura de­ monstro e mesmo no catalogo com os n.o s 2316 e 2319 está bem claro que foram oferecidos pelo sr. J. Possidonio Narciso da .Silva e por seu filho o Sr. Ernesto da Silva. A paginas 143 do Boletim n.O 9 de 1~87, série .2. a Tomo v, no artigo «Chronica da Nossa Associação», vem: -Alcançou o nosso presidente; do acreditado comerciante o sr. Pillaud, esta· 183

belecido na Ribeira Velha, e proprietario de parte da antiga mu­ ralha da cidade, do tempo d'EI·Rei D. Fernando I, um antigo brazão de marmore que estava assente nessa mnralha, para o museu da nossa Associação. Esta oferta não sómente nos con­ vence da generosidade deste honrado cidadão, mas tambem do desejo de contribuir para a conservação das antiguidades, exem­ plo este digno dos maiores louvores e da nossa gratidão. - No catalogo está indicado com o 11.° 3896 e a seguinte ri!fe­ rencia : - Brazão de marmore duma porta das muralhas da ci­ dade do tempo d'EI-Rei D. Fernando I, á Ribeira Velha: ofere­ cido pelo comerciante Sr. Pillaud, e obtido pelo Sr. Possidonio da Silva.-

No mesmo Boletim e no mesmo artigo, - Um outro brazão português de memoravel facto historico: aquele da mudança da Universidade de Coimbra para a capital em 143 r, pertencente ao edificio em Lisboa, na rua das Escolas Geraes; foi tambem obtido pelo nosso presidente para augmentar a numerosa coleção de brazóes que já pos~ue o museu do Carmo. No catalogo tem ú n.O 3894 com a seguinte referencia:­ Brazão que pertenceu em Lisboa á Universidade de Coimbra, na rua das Escolas Geraes em 1431: obtido pelo Sr. Possidonio da Silva.-

A paginas 13 do Boletim n.O 1 de 1894, Tomo VII da 3.:1 sé­ rie, vem publicáda a transcrição duma -correspondencia em que o conselheiro João Calvet de Magalhães participa que na alfan­ dega de Lisboa de que é director, existe uma lapide tumular, pe­ dindo para que a vão examinar para se o merecer entrar neste museu, a qual foi entregue por despacho do ministerio da fazenda, de 25 de agosto de 1893.-

No Relatorio dos Actos do Conselho Facultativo em 1901, vem: -- Pelo Sr. Visconde d'Almeida Araujo, um brazão d'armas extraido do Palacio da Travessa da Queimada n.O 35, que per­ tenceu á Familia Zagalo. Entrou para o museu em 29 de janeiro de 1901.

Na sessão da Assembleia Geral de 30 de dezembro de 1903. leu-se um oficio de Monsenhor Alfredo Elviro dos Santos - ofe­ recendo para o nosso museu um brazão do arruinado palacio do fH4,

Co\ as, a , e enviando por deposito duas lapídes com inscrição em português, relativas ao extincto hospicio do clero.- Do Relatorio da Gerencia do Conselho Facultativo em 1903, consta que foi oferecido: - Por Monsenhor Alfredo Elviro dos Santos, um braziío d'armas que pertenceu ao pala cio denominado do Covas, hoje em ruinas. O mesmo Monsenhor depositou no museu desta Associação, em nome da Irmandade dos Clerigos Pobres, duas lapides que estavam colocadas junto da porta da Igreja do extincto convento de Santa Martha e hospicio do clero d'esta capital. Uma referente á posse que a mencionada Irmandade tomou daquele edificio, em virtude da carta régia datada de 13 de Janei­ ro de 1889. Do Relatorio da Gerencía do Conselho Facultativo em 1905, consta que: - Por Monsenhor Alfredo Elviro dos Santos, foram oferecidos dois pilares e uma lapide sepulcral, encontrados numa escavação a que modernamente se procedeu no denominado Pateo dos Sargentos, sito no Campo de Santa Clara, n.o 172. No oficio que acompanhou aquela dadiva, posta no nosso Museu a expensas do nosso presado socio, explica ele, e funda­ menta a razão por que deveriam ter pertencido ao Convento de Santa Clara, destruido pelo terramoto de 1755. - Não consegui encontrar o referido oficio.

No catalogo consta que sob n.O 3897, existe no Museu - um escudo real de EI-Rei D. Fernando I: oferecido pelo Sr. Dr. Amora.-

No mesmo catalogo wb o n.O 3830; ha referencia a um­ Brazão de armas com um epitafio pertencente á demolida Igreja de S. Francisco de Lisboa.-

Num apontamento de alguns objectos entrados no Museu en­ contrei referencia a um - Brazão dum predio da rua dos Baca­ lhoeiros em Lisboa - que deu entrada em 13 de Novembro de 1873.

Varios Brazóes estão prometidos para o Museu do Carmo e que tentei vêr para me poder referir a eles, visto haver tenção d;) 185

um dia fazerem parte da colecção já existen!e. As referencias que encontrei a esses escudos, foram as seguintes:

Igreja dos Anjos:

Na sessão da Assembleia Geral de 6 de Março de 1907 foi lido um oficio: - Do Sr. Teodoro Pinto Basto, Presidente da Cam ara Municipal de Lisboa, dando conhecimento de que a mes­ ma Cam ara, em sessão de 14 de Fevereiro ultimo, deliberára ce­ der para o Museu do Carmo todos os objectos de caracter histo­ rico e arqueologico que possam resultar da proxima demolição da Igreja dos Anjos, conforme lhe foi solicitado por esta Associação em oficio n.O 517, e que não forem utilisados na nova Igreja. ~ Na sessão da Assembleia Geral de 29 de Abril de 1911 - o socio Sr. Julio Ferreira,· comunicou estarem á disposição do Mu­ seu as campas que se encontram na demolição da antiga Igreja dos Anjos, ficando o mesmo Sr. encarregado de, oficiosamente, pelo arquiteto da Camara, tratar da sua remoção para o Museu.-

Na sessão da Assembleia Geral de 31 de Janeiro de 1913, depois de lida e aprovada a acta da sessão anterior, o Sr. Presi­ dente comunicou que - por informação que lhe forneceu o arqui­ teto da Cam ara Municipal de Lisboa, e digno consocio Sr. Soares, vão em breve dar entrada no Museu as lapides sepulcrais retira­ das da demolição da antiga Igreja dos Anjos.-

Convento das Francezinhas:

Na sessão da Assembleia Geral de 31 de Maio de 1911, foi lida uma carta do General Conselheiro Sr. Adolfo Loureiro, lemo brando o oficio que deve fazer-se para o Diretor das Obras Publi­ cas, pedindo os objectos do Convento das Francezinhas que pos­ sam passar para o nosso Museu.

Na sessão da Assembleia Geral de 27 de Julho de 191 I, foi resolvido pedir-se ao Ministro do Interior, entre outras coisas, o seguinte: ·- Que quaisquer peças de valor arqueologico ou ar­ tistico do antigo Convento das Francezinhas, em demolição, que porventura não sejam encorporadas no Museu Nacional de Arte Antiga ou no Museu Etnologico, sejam concedidas a esta Asso· t86 ciação para o seu Museu, taes são, por exemplo, epitafios, bra­ zões, azulejos antigos, etc.-- Em seguida, por proposta do Sr. Adães Bermudes, foi no­ meada - uma comissão composta dos Srs. Mena Junior, Q 'Suli· vand e Santos Ferreira, para visitarem o Convento das Francezi­ nhas a fim de mencionarem o que fôr digno de figurar no nosso Museu.

Na sessão da Assembleia Geral de 29 dI! Abril de 1912, o Sr. Mena Junior comunicou ter ido - com os Srs. Q 'Sulivand e Nogueira de Brito, ao extinto Convento das Francezinhas, a fim de escolherem o que de lá pudesse vir para o nosso Museu. Na sua visita minuciosa escolheram: os azulejos que estão sobre o arco do Cruzeiro, dois brazões da fundadora, duas cancelas de ferro (seculo XVIII) , um lavabo que está na sacristia (em estilo c1assico) e a campa do almirante Pedro de Souza Maris Sarmento (1822). -

Convento do Salvador:

Na sessão da Assembleia Geral de 30 de Dezembro de 1912, foi lido um oficio do Sr. J. J. d'Ascensão Valdez- pedindo a acção desta Associação para que venham para o Museu as lapides tumulares do extincto Convento do Salvador, de Lisboa, entre as quaes está a do fundador, o 2.° Arcebispo de Lisboa, D. João Esteves d' Azambuja. -

Fui á Igreja dos Anjos e nada lá existe para vir para o Mu­ seu do Carmo, ou foram esses objectos transportados para outro sítio ou então desapareceram. Fui ás ruinas da Igreja do Convento das Francezinhas, não podendo desenhar os croquis dos escudos por estarem arrumados com cantarias por cima e a lapide do Almirante Maris Sarmento estar sepultada debaixo de centos de carradas de entulho. Com uma espectativa destas não fui ao Convento do Salvador. Aqui termina, pois, o iue apurei das minhas investigações.

Lisboa-Novembro-1913 . AFFON o DE DORNELLAS . 13IBLIOTHECA DA 187 ~OOlAçÃO DOS AROHEOWGOS PORTe Erl ificio Historico do Carmo

RClatorio da qcrcncia da nirÉ~ão CID 1913

SESHORES E CONSOCIOS:

Corno o tacto culminante da vida assoc-iativa durante o ano de 191 ~ foi, evidentemente, a comemoração do meio centena­ rio da fundação desta colectividade, pareceu-nos que só depois de encerrada essa comemoração conviria que vos apresentasse­ mos o relatorio da nossa gerencia. Por outra parte, a morte do nosso de.dicado e saudoso con­ socio tesoureiro, ocorrida nos meados de janeiro, impossivel tornava a apresentação de contas no prazo n·ormal. Nesse senti­ do deliberastes, sob proposta nossa, em sessão de 24 daquêle mês. Anunciámos então que, na sessão ordinaria de março, cum· pririamos o dever de vos darmos conta da nossa gerencia e pe­ rante vós esboçarmos, em rapida sintese, a historia da vida as­ sociativa no 50. 0 anno da sua existencia. Succedeu, porém, con­ tra a nossa previsão, que só em 24 de março poude ser inaugu­ rada, prolongando.se até 10 de maio, a exposição olisiponense, que constituiu um dos numeros, e decerto o mais interessante, da aludida comemoração. E, corno a entrega dos objétos exposto e a liquidação de contas referentes a esse curioso certamen absor­ veram ainda algumas semanas, só hoje podemos dar cumprimen. 0 to ao que os nossos Estatutos preceituam, em seu artigo 44. , n.O 8. Justificado assim o largo adiamento da sessão administrati­ va ordinaria, começaremos por exarar neste relatorio o brilhantismo que atingiram, mercê de singulares dedicações, os actos de que se compôs a comemoração do nosso semiceqtenario. O numero especial do Boletim, distintamente colaborado por muitos dos nossos consocios, acompanhado de gravuras e res · guardado por urna capa expressamente desenhada pelo primoro­ so aguarelista Sr. Alberto de Sousa, nosso devotado consocio, é t88

decerto um dos mais interessantes e valiosos, na série, já longa, dessa publicação. A sessão soléne de 26 de novembro, a que se dignaram assistir o Ex.mo Sr. Presidente da Republica e, como represen· tante do Governo, o Sr. Dr. Antonio Macieira, então Ministro dos Negocios Estrangeiros, foi notavelmente brilhante, devido á ele­ gantissima alocução que nela proferiu o nosso ilustre presiden­ te, Dr. Alfredo da Cunha, e ao sentido e comovente elogio dos socios falecidos - Valentim Correia, Conde de S. Januario, Joa· quim José da Nova, Adolfo Loureiro e Gabriel Pereira, - cujos retr:1tos foram então inaugurados, - trabalho do nosso vice-presi­ dente, Sr. Rosendo Carvalheira, que soube precedê-lo de um ve­ hemente e eloquentissimo brado em favor das tradições e monu­ mentos, tantas vezes vilipendiados neste nosso Portugal, que, ten· do uma historia tão singularmente bela e um passado tão inten­ samente glorioso, em tão alto grau deveria (é claro, sem se desinteressar do presente e sem descurar o futuro) defender e re­ verenciar os documentos materiaes que, a atestarem esse reful· gente passado, a deporem a respeito d'ele, a perpetuarem a su­ gestiva lição que para nós encerra, ainda se encontram nesta lin­ da terra em qUe nascemos. A exposição organizada pela Secção de Arqueologia Lisbonen­ se, apesar de não ser completa, porque nem o tempo, nem o es­ paço, nem os recursos materiaes consentiram que o fosse, consti­ tuiu um repositorio interessantissimo, cheio de imprevistas reve­ lações, dos mais variados documentos para a reconstituição do passado da nossa capital, não só nos seus aspectos materiaes, como na vida da sua população. Felizmente, o publico soube compensar os esforços da Secção, afluindo todos os dias, em grande numero, a visitar com o mais vivo interesse a curiosa exposição, em que, pela vez primeira, podia estudar, agrupados, numerosissimos elemen­ tos de diversas indoles para o estudo da formosa cidade do Tejo nos seculos volvidos. E' justissimo acentuar, com o mais caloro­ so louvor, a rara dedicação com que prepararam e organizaram a eXFosição olisiponense os nossos consodos José Queiroz e Gusta­ vo de Matos Sequeira, que foram tambem os coordenadores dos dois catalogos, Os quaes, pela sua minucia, não teem, apenas, o valor efémero de guias para o visitante, mas ficam a documen­ tar: a brilhante tentativa e hão de ser consultados sempre com proveito, como repositorios de elerr.entos bibliograficos e icono­ graficos referentes a Lisboa e como subsidio para o estudo da 1SU ceramica lisbonense, desde o seculo XVI até ao seculo XIX. Apro­ veitando a composição, mandámos reunir num só volume, im­ presso em papel de linho e com as gravuras «hors texte», esses dois catalogos, em edição limitada a cincoenta exemplares, que esperavamos poder facilmente colocar por elevado preço. A ex­ cessiva e injustificavel demora havida na entrega dessa edição, as imperfeições que apresenta e que são absolutamente inadmis­ siveis numa obra luxuosa e cara, e, ainda, o preço exagerado que a tipografia lhe marcou, levaram-nos a rejeitar esse trabalho, o que constituiu um incidente sobremodo desagradavel e que,mau grado nosso, não póde, talvez, ainda, considerar-se perfeitamente encerrado. Esperamos que, da exposição olisiponense, resulte o consti· tuir-se, em o nosso museu, uma secção especialmente consagrada ao passado da capital. Para essa secção contamos já com algu­ mas peças de incontestavel interesse, entre eIlas uma valiosa planta que adquirimos, em condições excécionalmente vantajosas, do nosso colega Sr. Ganhado. E' de indeclinavel justiça fris~r que muito concorreu para o brilhante exito da exposição, quer trazendo-lhe a adesão de mui­ tos colécionadores, quer chamando para elá a attenção do pu­ blico, a imprensa jornalistica. Se o efeito moral da exposição olisiponense foi, para a nos­ sa colétividade, da mais alta importancia, pela evidencia e pres­ tigio que Ibe trouxe, apreciavel foi tambem o resultado material dela, como podereis verificar pelas contas do ano corrente, que na sessão ordinaria' de janeiro de 1915 vos serão presentes. Justissimo é registar que, sendo diminutissimo o saldo disponi ­ vel, ao preparar-se a sessão soléne de 26 de novembro, necessario se tornou fazer um apêlo à generosidade e dedicação dos nossos tonsocios, que bizarramente a elle corresponderam, obtendo ·se p)r esse modo uma receita de relativa importancia, sem a qual impossivel teria sido iniciar os trabalhos. Com as festas do nosso semi·centenario coincidiu a realisa­ ção de um antigo desidel'atum de todos nós;: - a publicação de uma série de bilhetes postaes, ilustrados com aspectos e peças do Museu. Devemos, em grande parte, a satisfação desse vivo desejo ao Sr. Antonio José Martins, habilissimo fotografo amador, que executou, com verdadeira mestria, não só as fotografias que esses bilhetes reproduzem, como outras, havendo, portanto, legiti­ mamente conquistado o titulo de benemerito, que, sob proposta 190

nossa e iniciativa da Secção de Arqueologia Lisbonense, lhe con­ feristes. Um dos bilhetes reproduz um fidelissimo desenho do nosso ilustrado consocio Sr. Cristino da Silva. Temos o prazer de vos anunciar que está sendo executado o cunho para a medalha-distinctivo e para a medalha-premio, em harmonia com a proposta que vos foi apresentada. Quanto ao diploma, quis encarregar·se da sua composição e desenho, o nossC\ devotado consocio Sr. Alberto de Sousa, que, artista distincto como é, decerto se desempenhará brilhantemente do encargo que sobre si tomou. Continuou a Secção de Arqueologia Lisbonense a trabalhar com invulgar assiduidade, tendo não só organisado a notavel ex­ posição a que ha pouco nos referimos, como levado a cabo ou­ tros interessantes trabalhos. Foram notaveis, pela intensidade pouco vulgar, os esforços empregados por essa Secção para que fosse poupado o Arco de Santo André, que, embora classificado como monumento nacional, veiu a ser derrubado, desaparecen·· do com êle uma das portas da cêrca fernandina da cidade. Outra bela iniciativa tomou ainda essa ecção, sob proposta do seu presidente, o Sr. José Queiroz: - a de se libertar a capela de S. Roque, na igreja da Misericordia~ dos quadros e obras de ta­ lha que estavam ocultando, em grande parte, os seus magnificos azulejos, dos fins do seculo XVI, assinados pelo celebre ceramista . português Franr:isco de Matos. Infelizmente, do lado do Evange­ lho o revestimento está in.::ompleto, tendo sido necessario repõr o quadro que ali se encontrava, por ter a Comissão de Monumen­ tos entendido que se não deveria completar esse revestimento. Em todo esse trabalho, dirigido pelo Sr. Queiroz e ao qual se deve o poder hoje apreciar-se mais completa e perfeitamente a notabilissima obra de Francisco de Matos, cooperaram dedicada­ men'te com a Secção o Sr. Pereira de Miranda, zeloso Provedor da Misericordia, e os esclarecidos funcionarios superiores dessa benemerita instituição, Srs. Victor Ribeiro e João CHmpelo Jales. Um dos trabólhos que muito importa levar a cabo com ur­ gencia é, sem duvida, a remodelação e catalogação do Museu. Logo que a exposição olisiponense terminou, conferenciámos so­ bre esse importantissimo assunto com os nossos distintos con­ socios que teern actualmente a seu cargo o Museu, os Srs. Dr. Felix Alves Pereira, Mêna Junior e José Queiroz, estando já definido o plano a que essa remodelação deve obedecer, - plano que não poderá, como é obvio, ser executado ernquanto se náo tiverem 19i

realizado as obras solicitadas e prometidas, - e tendo-se dado ás peças expostas nas cinco salas uma dísposição de caracter provi­ sorio, mas que permitiu franqueá-Ias ao publico, segundo era ne ~ cessario. - Sairam do Museu, cumprindo·se assim a resolução por vós tomada em 31 de outubro de 1913, os modelos das sobreportas da sala onde funciona o Senado, do grupo que decora o arco do Terreiro do Paço e do viaducto de Andaluz, tendo sido esta peça depositada na Cam ara Municipal, com destino ao Museu da Cida­ de, e aquellas na séde do Conselho de Arte e Arqueologia da 1. a circunscrição. Com algumas interessantes peças foram enriquecidas as nos­ sas coléções. Mencionaremos algumas moedas antigas e cédulas, oferecidas pelo Sr. Dr. Xavier da Costa' dois brasões, umem m~sai­ co, outro esculpido, doados pela provedoria da Misericordia de Lisboa, e varias pedras sepulcraes provenientes do convento de Santa Joana desta cidade, que foram transferidas para o Museu por ordem do Sr. Manuel Maria Augusto da Silva Bruschy, ilus­ tre · director geral da Fazenda Publica e zelosa interferencia dq nosso devotado consocio, o Sr. Ascensão Valdez. A nossa biblioteca está sendo átiva e inteligentemente reor­ ganizada e catalogada pelo Sr. Alberto de Gusmão Navarro, socio de recente data, mas cuja dedicação a esta colétividade está já largamente provada, tendo recebido apreciaveis ofertas de livros, tanto de socios como de pessoas estranhas á Associação, entre elas o Sr. João Teles M.artins, e de varias corporações. Do Mi­ nisterio da Guerra recebemos, em troca do nosso Boletim, a His­ toria do Exel'cito Por""gliê~, obra do erupito acad~mico Sr. Cris­ tovam Aires. . Terminou a consolidação dos arcos .da nav~, do lado esquer­ do, interrompendo-se logo depois a·s .obras, em consequencia da exposição olisiponens~, e qão tendo ainda recomeçado, por moti­ YOS de indole orçamental. Esperamos, porém, que, dentro de pou­ cos dias, recomecem e que se não restrinjam á consolidação dos arcos da outra renque (trabalho de que poderá talvez, até, pres­ cindir-se), abrangendo lambem ~s demais obras tantas vezes pe~ didas, entre ellas o acesso aos t~rraços, que, segundo parece, será estabelecido pela escada -da torre, ain~a ..rraticaveI em parte, como teve ensejo de o verificar , ? qosso colega o Sr. O'Sulivand, e d~ facII comunicação çom o ed,ificio, pela pequena porta ogival da ul­ tima capela do lado. esquerdo, ha muitos annos entaipada. i92

E' de absoluta justiça consignar neste documento que, em tudo quanto a obras se refere, teem dado frisantissimas demons­ trações de benevolencia para com a nossa Associação os Srs. en· genheiros Cordeiro de Sousa e Pinto Camêlo e arquitéto Leonel Gaia, havendo tambem prestado relevantissimo serviço a esta colétividade o engenheiro Sr. Antonio Mnria da Silva, que, sen' do Ministro do Fomento, deu as ordens necessarias para que ra­ pidamente se desarmassem os andaimes que tinham servido para a consolidação dos arcos, o que era condição imprescindivel para o bom exilo da exposição olisiponense. Apesar de reiteradas di­ ligencias anteriores, não tinhamos conseguido que as naves fos­ sem desobstruidas, como era de absoluta necessidade, e, todavia, a exposição estava completamente organizada e era impossivel adiar por muito mais tempo a sua inauguração. Ao nosso erudito e venerando consocio Sr. Visconde de Cas­ tilho fizemos entrega do manuscrito Memo/-ias de Carllide, obra do pároco José Bátista Pereira, porque, tendo falecido a unica herdeira do autor, sua irmã, entendeu S. Ex. a que não deveria receber, em troca dêsse trabalho inedíto, de que era depositario, qualquer quantia, competindo-lhe apenas dá-lo á estampa, como preito á memoria do estudioso investigador e para divulgação de interessantes noticias historicas ácêrca dessa localidade dos su­ burbios de Lisboa. Declarou-nos S. Ex. a que, para a publícação desse trabalho, se via forçado a dar preferencia ao Instituto de Coimbra, por conter o nosso Boletim mais límitado numero de paginas e delI:! sairem sómente quatro numeros por ano. E, já que ao nosso Boletim nos referimos, aproveitemos o ensejo para declarar, em relação á proposta apresentada pelo Sr. Alberto de Gusmão Navarro em sessão de 12 de junho ultimo e sobre a qual resolvestes que nos pronunciássemos, ser nossa opinião que, constituindo essa publicação uma das mais antigas revistas scientiticas portuguesas, sendo, como é, tão larga e vanta­ josamente conhecida no país e no estrangeiro, e estando, como inegavelmente está, de tal modo identificada com a propría Asso­ ciação, que bem pó de dizer-se que esta vive do seu Museu e do seu BOletim, devem ser mantidos o titulo e o formato de tal publicação, deixando, contudo, ela de estar subordinada a numero fixo de paginas e de sair em determinados prazos, e pas · sando a depender de acordo entre a Comissão Redactora e a Di­ recção (tendo em vista os recursos do cofre) o numero de paginas do fasciculo e a oportunidade da sua publicação. 193

A' ' enhora D. ofia de ousà Viterbo entregámos, como fôra por vós deliberado, um exemplar da obra de seu pae, o nosso saudoso consocio Dr. Sousa Viterbo, Cem artigos de jornal, com uma bela encadernação. A ilustre senhora, exemplo comovente e raro de um amor filial que o tempo não extingue, nem sequ er en· fraquece, mostrou-se bastante sensivel a mais esta homenagem prestada á memoria do ilustre arqueólogo por uma colétivi­ dade que êle tanto honrou. Em sessão de 4 de Março proximo passado, apresentou o nosso ilustrado consocio Sr. Dr. Santos Farinha uma proposta tendente a evitar que, em consequencia da lei que separou do Estado as Igrejas, sejam demolidos ou modificados alguns tem· pIos, que, embora não reunam os predi.:ados necessarios para entrarem na categoria de monumentos nacionais, constituem, no entanto, apreciaveis conjuntos de arte, deven·do, portanto, ser con­ servados, sem modificações que lhes alterem a estructura ou a de­ coração. Sobre essa proposta, deliberastes que nos pronunciassemos. A tal ponto no absorveram, porém, tempo e atenção os traba­ lhos de natureza administrativa que constituem a parte funda­ mental da nossa missão, que impossivel nos f6i ocuparmo-nos de tão importante proposta, a qual se relaciona inteiramente com outra, ha pouco apresentada á Secção de Arqueologia Lisbonense pelo seu presidente, o Sr. José Queiroz. De ambas deve a nossa Associação ocupar-se sem detença, tentando, com a maxima in­ tensidade e energia, levá-las, á pratica, porque: a defesa do nosso pa­ trimonio artístico é, sem contestação, um dos artigos basilares do nosso programa. Quatro socios perdemos desde o começo do ano de 1913 até esta data:- Julio Augusto Ferreir~; que exerceu devotadamente o cargo de bibliotecario e que muitas e frisantissimas provas deu a esta colétividade de entranhada dedicação; Augusto Ribeiro, que, tendo-se, embora, especializado nos estudos coloniaes, era, toda­ via, um apreciavel erudito, que, como vogal do extincto Conselho dos Monumentos Nacionaes, teve ensejo de revela o interesse que lhe mt:reciam os nossos edificios historÍcos; Ernesto da Silva, que, durante largo periodo, desempenhou com singular dedicação o cargo de tesoureiro e que, no fervoroso culto que, até aos ulti­ mos momentos da sua vida, prestou á memoria de seu venerando pae, o ilustre arqueo(ogo Possidonio da Silva, envolvia a mais constante e solicita dedicação pela nossa colétividade; e, por fim, t94 o Visconde da Torre da Murta, que tambem exerceu por muito tempo e com invulgar solicitude o cargo de bibliotecario, sendo notaveis, pela pureza e elegancia da fórma e pela erudição que revelavam, os seus relatorios anuaes. Não atenua decerto, a saudade que nos causou a perda dêsses quatro companheiros de trabalho, mas dá-nos a consoladora cer­ teza de que as nossas fileiras, bem longe de rarearem, se vão, pelo contrario, cerrando cada vez mais e fortalecendo de dia para dia com elementos de subido valor, o facto, que muito nos apraz consignar, de terem sido admitidos socios efectivos, desde o co­ meço do ano de 1913 até á data deste relatorio, os Srs. Augusto Vieira da Silva, Augusto Botelho da Costa Veiga, Alberto de Sousa, Francísco Xavier de Ataide e Oliveira, Dr. Eduardo de Almeida Esteves Figueira, Dr. Luiz Xavier Barbosa da Costa, José Frederico Ferreira Martins, Luiz José Fernandes, Dr. Reynaldo dos Santos, Dr. Alberto Mac-Bride Fernandes, Dr. Manuel José dos Santos Farinha, Antonio José Arroyo, Dr. Tomás de Melo Breyner e Joaquim Rasteiro. Não se extingue, decerto, nem afrouxa na sua acção, antes se revela cheia de força e prestigio e se afirma como orgão cuja funcção na vida portuguesa corresponde a uma real necessidade, uma corporação, que, em tão curto prazo, assim alcança tantas e tão valiosas adesões. Em harmonia com o artigo 2:'.0 dos nossos Estatutos, foi conferido o titulo de benemen'Lo aos Srs. Antonio Maria da Silva, José Maria Cordeiro de Sousa e Antonio José Martins, a cujos serviços nos referimos já; e ao Sr. general Encarnação Ri­ beiro, que, por ocasião da sessão soléne de 26 de ,novembro e da exposição olisiponense, nos prestou, na sua qualidade de coman­ dante da Guarda Nacional Republicana, devotado auxilio, che­ gando a ordenar que dois dos concertos semanaes da banda dessa corporação se real izassem, durante o periodo da exposição, numa das' naves do arruinado e histoflco templo que temos como séde. Como facilmente se compreende, o serviço de escrituração e expediente aumentou de modo consideravel com a sessão so­ léne e, sobretudo, com a exposição olisiponense e com a reorga­ nização da biblioteca. Indispensavel nos foi, portanto, nomear um escriturario, cujos serviços, como em anteriores relatorios fize­ mós sentir, dificilml!nte poderão ser dispensados, ainda mesmo depoís de encerrado o reríodo e ,\traordinario em que entrámos em novembro do ano findo e que deverá considerar-se prolongado até que terminem a remodelaçã0 e catalogação do Museu. Aqui tendes, Senhores e Consocios, sumariamente descritos, os principaes factos da vida associativa durante o ano de 1913 e os primeiros meses de 1914, assim como os actos mais importantes da nossa gerencia. Corresponde sem duvida este periodo a uma das fáses mais brilhantes da vida desta colétividade, a um dos ciclos em que maior evidencia, força e prestigio alcançou. De to­ dos os elementos que para esse brilhante resultado contribuiram, o menos valioso foi, decerto, a nossa cooperação. Diz·nos, po­ rém, a consciencia que a prestámos de boa vontade.

Lisboa, Carmo, em 30 de Junho de 1914.

A DIRÉçÁo:

D. José Ma";a da S;'lva Pessanha Eduardo Augusto da Rocha Dias Ajonso de Dorneias Lui~ de Albuquerque Betencourt F"ancísco Soares O' Su/ivemd Jesuillo Ar/1W Ganhado Alberto de Gusmão Navan'o, {97

Relatório da gerencia da niré~ão em 1914

SENHORES E CONsocros:

Curto é o periodo a que este documento se refere, visto ser datado de 30 de Junho de 1914 o relatório precedente. Continuámos diligenciando que no historico edíficio que a nossa Associação ocupa, se realizem as obras tantas vezes recla­ madas e que são as seguintes: 1.0 Esgôto das aguas pluviais; 2. o Pavimentação das cinco capelas por m,eio de tijôlo; 3. o Complemento da escada da torre e sua comunicação com a ultima capela á esquerda, fazendo se por meio dessa escada o acesso aos terraços; 4.0 Pintura das portas e taipais exteriores; S.o Construcção de marquises de ferro e vidro para os tu­ mulos de D. Fernando, infante D. Sancho e D. Constança, ou cobertura, por meio tambem de ferro e vidro, dos dois braços do transepto. Esperamos que estas obras sejam em breve iniciadas, contri· buindo para firmar esta esperança a decidida boa vontade que te­ mos encontrado nos Srs. engenheíros Cordeiro de Sousa e Pinto Camêlo e arquitéto Leonel Gaia. Está já executado o cunho para a medalha-distinctivo, não tendo nós ainda mandado proceder á cunhagem por falta de re­ cursos. Pelo mesmo motivo continúa suspensa a publicação do Bo­ letim. Ao nosso Museu foi oferecida uma valiosa série de peças ar­ queologicas do periodo neolitico, encontradas na Damaia, junto a Bemfica. Devemos esta · oferta á gentileza do esclarecido proprie­ tario dos terrenos, o Sr. Pereira Machado. A proposito, seja-nos 198 permitido formular o de ejo de que as obras no edificio que ocu­ pamos se concluam em breve, porque, sem isso, impossivel será remodelar o nosso Museu e proceder á respétiva catalogação. Distribuímos pelas bibliotecas publicas e por algumas associações sCÍ7ntificas os dois catalogas da exposiçã~ olisi­ ponense. Em o nosso precedente relatorio, aludimos a um desagrada­ vel incidente ocorrido com a Tipografia do Comercio aproposito da edição especial dos dois catalogos em um só volume. Acha·se, felizmente, terminado esse incídente, havendo vós homologado a deliberação, que tomámos, de propôr á Tipografia a redução do custo a 75;fJJoo e o pagamento á medida que a edição fôr sendo colocada, sem fixação de prazo, e tendo a Tipografia acedido. Sem encargos para a Associação, realizaram alguns socios, no passado outôno, tres excursões de estudo - duas a localidades do concelho de Loures e uma a Setubal, Palmela e Azeitão -das quais trouxeram interessantes apontamentos e fotografias. Assim se deu cumprimento a uma deliberação por vós tomada. Temo-nos ocupado da trasladação da ossada do notavel escri­ tor Padre José Agostinho de Macedo, tendo-se resolvido, por falta de recursos para a transportar desde já para Beja, pedir á'Camara Municipal de Lisboa a cedencia de um compartimento no ossua­ rio do Cemiterio dos Prazeres, para ali ficar provisoriamente de­ positada. Teve já deferimento o nosso redido e em breve se efétuará a trasladação, devendo os ossos do vigoros0 polemista ser estuda­ dos por uma comissão de socios medicos. É com a maior satisfação que neste documento regista­ mos os nomes dos socios inscritos durante o segundo semes­ tre de 19[4: -Vísconde de Meireles-Visconde de Santarem -Conde de Castro e Sola-Dr. Alberto Osorio de Castro. Um consocio perdemos: Pedro Wence'ilau de Brito Aranha, escritor, jornalista e bibliografo, a quem tantas provas de deferen­ cia esta Associação mereceu, Entendemos dever registar tambem neste relatório o faleci­ mento do nosso antigo e zeloso empregado, Bernardo de Fi­ gueiredo. Eis, em breves e despretenciosas palavras,· o resumo dos prin­ cipais actos da nossa gerencia, na qual (podemos conscienciosa­ mente afirmá-lo) empregámos toda a nossa boa vontade. E aten- 19.9 dendo a esta circunstancia que esperamos ser relevados das faltas em que porventura tenhamos incorrido.

Lisboa IS de Janeiro de 1915.

A DIRECÇÃO:

D. José Pessallha. Eduardo Augusto da Rocha Dias Luis Filipe de Albuquerque Betellcourt Afonso de D07'nelas Francisco Soares O' Sulivalld Jesuino Artur Ganhado Alberto de Gusmão Navarro.

IIlo"im e ••'o d e T ello,u"a ,"ia e ll. 19 13

Saldo em 31 de Dezembro de 191Z . .. 1 Z7;f!J 14, I Receita geral do ano de 1913...... S69~90 -----"---=-- Despesa geral do ano de 1913 .. , ..... Saldo que transita para I~H4 .. Esc.

o TESOUREIRO INTERINO,

Luis de Albuqueloque Beleucourl.

A comissão revisora de contas, declarando verdadeiras e exa­ ctas todas as quantias, propõe: Que sejam aprovadas pela Assem­ bleia Geral as contas referentes ao ano de 1913.

Lisboa, Edificio Historico do Carmo, em 3 de Julho de 1914.

Luís Xavier Barbosa da Costa Francisco Nogueú'a de Brito José Joaquim da Ascensão Valde:;.. '200

lIIo"i,nelllo fie Te80U,"a,"ia eln 1914

Saldo em 31 de Dezembro de 1913 .. .

Receita geral do ano de 1914 ...... I :73o.tP33 Despesa geral do ano de 1914 ...... I :613.tP3o

Saldo que transita para 1915 .. Esc. I I7.tPo3

o TESOUREIRO,

Luis de Albuquel·que Betencourt.

A comissão revisora de contas, declarando verdadeiras e exa­ ctas todas as quantias e perfeita a escrituração, propõe: Que se­ jam aprovadas pela Assembleia Geral as contas relativas ao ano de 1914.

Lisboa, Edificio Historico do Carmo, em 23 de Fevereiro de 1915.

Jose Ferreira 'Braga Luis Xavier Harbosa da Costa José Joaquim da Ascensão Valde:r

1915 Tlpollrafla CASA PORTUBUEZA 139, R . do Mundo, lU-Lisboa

TELEF. 220