Os Folhetins De Nelson Rodrigues: Um Universo De Obsessões Em Fatias Parcimoniosas
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA SANDRA MARIA PASTRO Os folhetins de Nelson Rodrigues: um universo de obsessões em fatias parcimoniosas São Paulo 2008 2 SANDRA MARIA PASTRO Os folhetins de Nelson Rodrigues: um universo de obsessões em fatias parcimoniosas Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestrado em Letras. Área de Concentração: Literatura Comparada Orientador: Profª. Drª.Cláudia de Arruda Campos São Paulo 2008 3 DEDICATÓRIA A meus queridos pais, Lurdes e Valdir, com amor, admiração e gratidão eterna. 4 AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Cláudia de Arruda Campos, pela dedicação, apoio, incentivo, vigilância e imprescindível orientação durante todo o processo de tessitura deste trabalho. À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, pela concessão da Bolsa Mestrado e apoio financeiro. Aos professores Zenir Campos Reis e Maria Célia Rua de Almeida Paulilo, membros da banda de Qualificação, pela leitura cuidadosa, críticas e sugestões que tentei aqui incorporar. Aos eternos amigos Márcio Moraes, pelo incentivo inicial, estímulo à reflexão crítica e carinho permanente, e Luís de Mattos Alves, pela amabilidade constante, ternura e preciosos auxílios. À querida amiga Maria da Graça Salles Godoy Drigo, pelo carinho e competência no trabalho de revisão do texto e por tudo que aprendi, no pouco tempo em que trabalhamos juntas. À generosa amiga Regina Célia Kalume Hidd Kondo, pelo apoio especial, gentilezas e grandeza de alma. As minhas amadas e insubstituíveis irmãs, Sara e Sonale, pela compreensão, debates, apoios bibliográficos, paciência e, principalmente, pelo sentido que sempre deram à minha vida. A meu querido Marcelo, que tanto fez pelo meu coração e espírito, agradeço as conversas carinhosas, a doçura dispensada quando me encontrava triste e cansada, as risadas preciosas, o “apoio técnico” e, principalmente, o amor. E, finalmente, a meus pais, por seu amor eterno, generosidade, carinho, compreensão, doce presença e incansável estímulo. 5 “Escrever é abalar os sentidos do mundo, dispor nele uma interrogação indireta, à qual o escritor, por último suspense, se abstém de responder. A resposta é cada um que a dá, pondo nela a sua história, a sua linguagem, a sua liberdade”. Roland Barthes (Mitologias ,1988). “... todo grande homem tem de ser, obviamente, obsessivo. Não sei se me entendem. Mas o grande homem é a soma de suas idéias fixas. São elas que o potencializam.” Nelson Rodrigues ( O Globo , 21/01/1970). 6 RESUMO PASTRO, S. M. Os folhetins de Nelson Rodrigues: um universo de obsessões em fatias parcimoniosas. 2008. 226f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que se debruçou sobre um viés ainda pouco estudado da expressão de Nelson Rodrigues: seus textos folhetinescos. Buscou- se localizar, identificar e caracterizar, nos folhetins escritos para os jornais nas décadas de 1940 e 1950, a estrutura teatral de Nelson Rodrigues em germe. Adentrando o terreno da experiência cotidiana e da circunstância nacional, procuramos discutir a conexão desse tipo de literatura com o momento histórico e o papel reproduzido por elas nas formas de pensar as relações sociais do momento de sua divulgação. A partir das dimensões cotidianas captadas no Brasil de 1940, refletiu-se especialmente sobre as representações sociais reproduzidas nos enredos criados por Nelson Rodrigues na pele de Suzana Flag e Myrna, discutindo com mais ênfase o retrato da mulher e do casamento, dentro de uma sociedade conservadora. Buscou- se, ainda, fixar as constantes temáticas dos textos do dramaturgo e seus posteriores desdobramentos. Paralelamente, ensejou-se vislumbrar as necessidades do homem moderno de absorver mundos imaginários por elas erigidos e discutir o fenômeno de leitura que tais obras representaram. Para tanto, abrangeu-se desde suas experiências como repórter policial no jornal do pai, Mario Rodrigues, até suas “experiências femininas” como folhetinista em jornais da época ( O Jornal , Crítica , O cruzeiro ) e posteriores práticas como dramaturgo e cronista. Foram analisados os folhetins Meu destino é pecar (1944); Escravas do amor (1944); Minha vida (1946); Núpcias de Fogo (1948) e O homem proibido ( 1951), escritos sob o pseudônimo de Suzana Flag; A mulher que amou demais (1949), de Myrna, relacionando-os com alguns contos da coluna diária A vida como ela é... (1951-1961) e algumas de suas peças teatrais. Por fim, buscou-se verificar o que os folhetins A mentira (1953) e Asfalto Selvagem (1959-60) revelam da atmosfera obsedante das composições rodriguianas. Palavras-chave Nelson Rodrigues, Suzana Flag, Myrna, folhetim, Literatura Comparada. 7 ABSTRACT This work shows the results of a search whose focuses was a point of view of a little bit explored Nelson Rodrigues’s expression: his feuilletons texts. First of all, we tended to localize, to identify and to characterize in the feuilletons written for the newspapers during the 40s and the 50s the Author’s dramatic structure. Into the quotidian experience subject and the national scenery, we tried to discuss the connexion between this kind of literature and the historical situation, and their reproductions on the social thoughts and relationships in the moment of publication. From the quotidian dimension founded in Brazil of the 40s we have thought especially about the social representations brought in the intrigues created by Rodrigues using his female pseudonyms Suzana Flag and Myrna, discussing with more emphasis the womanhood and the states of the marriage into a conservatory society. May further purpose to fix the constantly dramatist’s set of themes and his posterior evolution. Drawing a parallel, tented to show the modern man needs in assimilate imaginary worlds created by this impetus and to discuss the phenomenon of literature which this works meant. For this, the studies embraced since Rodrigues’s experiences as a journalist in Mario Rodrigues’s – his father – publications, until his “female experiences” as writer in journals from that time ( O Jornal, Crítica, O cruzeiro ), and the posterior practices as a dramatist and chronicler. It was analysed the feuilletons Meu destino é pecar (1944); Escravas do amor (1944); Minha vida (1946); Núpcias de Fogo (1948) and O homem proibido ( 1951), written under Suzana Flag’s pseudonym; A mulher que amou demais (1949), written under Myrna’s pseudonym, connecting them with the daily column A vida como ela é... (1951-1961) and some plays for theatre. At the end, we tended to observe what the feuilletons A mentira (1953) and Asfalto Selvagem (1959-60) disclose about Rodrigues’s universe. Keywords Nelson Rodrigues, Suzana Flag, Myrna, feuilletons. 8 SUMÁRIO 1. Introdução 9 2. As origens do folhetim como gênero e seus desdobramentos no Brasil 21 2.1 O folhetim no Brasil 27 3. A eterna simpatia pela ficção e realidade romanceada 40 4. Nelson Rodrigues: um autor polêmico 59 5. Um pirata de suas próprias criações 68 6. Suzana Flag e Myrna: frutos de uma época 83 6.1 A fórmula e a forma 110 7. Um universo emaranhado: gêneros, procedimentos e situações em permanente entrelaçamento 125 8. A mentira e Asfalto Selvagem : um inventário das obsessões compartilhadas 171 8.1 A mentira : um folhetim de contrastes 179 8.2 Asfalto Selvagem : mais do mesmo 185 9.Considerações Finais 212 10. Referências Bibliográficas 218 9 1. Introdução Muito já se sondou a respeito de uma definição exata do gênero a que modernamente se convencionou chamar “romance-folhetim”. Desde seu surgimento, institutos acadêmicos, escritores e críticos vieram tentando, sem muito êxito, resolver essa questão. Gênero escorregadio, porque voluntarioso; texto literário desmedido, porque composto de muitos assuntos e idéias; o “romance-folhetim” nunca teve sua natureza determinada de modo eficaz. José de Alencar, que algumas vezes, “ao correr da pena”, arriscou delimitar sentido exato do termo, chegou à conclusão pouco satisfatória: É uma felicidade que não me tenha ainda dado ao trabalho de saber quem foi o inventor deste monstro de Horácio, deste novo Proteu, que chamam folhetim; senão aproveitaria alguns momentos em que estivesse de candeias às avessas, e escrever-lhe-ia uma biografia, que, com as anotações jeito ter um inferno no purgatório onde necessariamente deve estar o inventor de tão desastrada idéia. (...) De um lado um crítico, aliás de boa-fé, é de opinião que o folhetinista inventou em vez de contar, o que por conseguinte excedeu os limites da crônica. Outro afirma que plagiou, e prova imediatamente que tal autor, se não disse a mesma coisa, teve intenção de dizer, porque, enfim nihil sub novum. Se se trata de coisa séria, a amável leitora amarrota o jornal, e atira-o de lado com um momozinho displicente a que é impossível resistir. (...) Nada, isto não tem jeito! É preciso acabar de uma vez com semelhante confusão, e estabelecer a ordem nestas coisas. (...) O poeta glosa o mote, que lhe dão, o músico fantasia sobre um tema favorito, o escritor adota um título para seu livro ou o seu artigo. Somente o folhetim é que há de sair fora da regra geral, e ser uma espécie de panacéia, um tratado de omni scibili et possibili, um dicionário espanhol que contenha todas as coisas e algumas coisinhas mais? Enquanto o Instituto de França e a Academia de Lisboa não concordarem numa exata definição do folhetim, tenho para mim que a coisa é impossível.(ALENCAR, José; apud MEYER, 1992, p.131) 1 Há quem - eclipsando o fato de o folhetim ter surgido como segmento do romance propriamente dito e, como tal, ser um estilo que nasceu como forma de ruptura com a ficção antiga 2 - aposta na idéia de que as raízes desse gênero são muito mais antigas e intrincadas do 1 ALENCAR, José de.