Caminhos Do Sertão (1)
CAMINHOS DO SERTÃO (1). Simplificação do Trabalho Rural. A presença de terra farta para lavrar e desfrutar, a co- existência, de início, depois a disponibilidade, a maior ou me- nor distância, de índios da terra, agentes potenciais de traba- lho, por fim os estorvos que se oferecem ao incremento de produções coloniais de larga procura, condicionam decisiva- mente, pelo menos até aos últimos anos do Setecentos, o teor da vida rural na área abrangida pelas velhas donatárias de São Vicente e Santo Amaro . Já que falta acjui estímulo para uma disciplina rigorosa no exercício da lavoura, bastam tais fa- tõres para forçar naturalmente a radical simplificação dos métodos agrícolas vindos do além-mar. O assenhoreamento das técnicas indígenas é fruto, no adventício, dessa possibili- dade, quase se pode dizer dessa necessidade, de simplificação, mais do que de uma aquiescência passiva a padrões divergen- tes da tradição européia. Nenhum dêsses padrões, aliás, seria profundamente alheio ou antipático aos portuguêses, nem sequer a prática das quei- madas, que na primeira metade do século XVI tinha acabado de dissipar em sua terra de origem uma densa cobertura flo- restal ainda intacta ao tempo de D. João I (2) . Não foi outro o recurso de que se valeram os mesmos portuguêses em al- guns de seus primeiros descobrimentos e conquistas, parti- cularmente nas ilhas do Atlântico. No caso da Madeira, bem conhecido graças à relação de Cadamosto, as primeiras habi- tações e arroteias só são possíveis depois de consumido pelo fogo o matagal de grandíssimas árvores que dá nome à ilha, sem ficar um palmo de terra desnuda: tamanho foi o fogo, diz um depoimento, que João Gonçalves Zarco se meteu no mar com a mulher, filhos e mais gente para não morrer, con- servando-se por dois dias com água ao pescoço, sem comer nem beber (3) .
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