Interciencia ISSN: 0378-1844 [email protected] Asociación Interciencia Venezuela

Albuquerque, Ulysses Paulino de; de Holanda Cavalcanti Andrade, Laise Uso de recursos vegetales de la : el caso del campesino del estado de (nordeste de Brasil) Interciencia, vol. 27, núm. 7, julio, 2002, pp. 336-346 Asociación Interciencia Caracas, Venezuela

Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33907002

Cómo citar el artículo Número completo Sistema de Información Científica Más información del artículo Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Página de la revista en redalyc.org Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto USO DE RECURSOS VEGETAIS DA CAATINGA: O CASO DO AGRESTE DO ESTADO DE PERNAMBUCO (NORDESTE DO BRASIL)

ULYSSES PAULINO DE ALBUQUERQUE e LAISE DE HOLANDA CAVALCANTI ANDRADE

studos etnobotânicos no sos autores (Diegues, 1994; Begossi, mente utilizados no atendimento das ne- semi-árido brasileiro são 1998; Rêgo, 1999; Albuquerque, 1999). cessidades gerais ou se convertem em pro- ainda muito escassos, o No Nordeste do Brasil a dutos de venda ou troca? 3) Quais os pro- que reflete a grande falta de interesse pe- expansão pecuária é um processo marcan- dutos vegetais obtidos diretamente do las florestas secas, consideradas por Jan- te, que se reflete na conversão de flores- ecossistema? 4) A disponibilidade desses zen (1997) como um dos mais ameaçados tas em pastagens e cultivos. Algumas po- recursos e o atendimento das necessidades ecossistemas do planeta. As atuais formas líticas e programas destinados à região das pessoas na comunidade estudada obe- de uso e aproveitamento da terra são ex- são insuficientes e muitas vezes inconsis- decem a fatores temporais? 5) Há espécies tremamente precárias e não respeitam a tentes, pois derivam de um pobre conhe- que recebem maior atenção das pessoas? complexidade desses delicados ecossiste- cimento sobre os recursos e sobre a com- Muitas das espécies vegetais da caatinga mas. Uma das alternativas que têm sido plexidade da relação pessoas/ambiente. O estão atualmente ameaçadas de extinção apontadas para solucionar esse problema estudo de informações sobre a interação por várias razões, principalmente pela for- seria o estudo sobre o conhecimento e uso pessoas/plantas pode contribuir para mu- te pressão extrativista de madeira para que as populações locais fazem dos recur- dar o quadro atual e pode dar-se em dois produção de carvão e/ou materiais de sos naturais e a análise detalhada do im- níveis: padrão geral de uso da terra rela- construção. pacto de suas práticas sobre a biodiversi- cionado com atividades econômicas e dade (Albuquerque, 1997, 1999; Toledo et “background” cultural; e estudos por co- Área de Estudo al., 1995). munidades, grupos culturais ou táxons As rápidas mudanças so- (Bye, 1995). No presente artigo, objeti- O município de Alagoi- ciais e os processos de aculturação eco- vou-se especialmente estudar a relação de nha, com área de 181km2, está localiza- nômica e cultural afetam fortemente o uma comunidade rural, inserida no ecos- do no Nordeste do Brasil na sub-zona conhecimento local sobre o uso de recur- sistema caatinga, com as plantas da loca- do agreste de Pernambuco (08º27’59” S; sos naturais (Amorozo e Gély, 1988; Ca- lidade, tendo em vista a importância de 36º46’33” W), distando 225,5km da ca- niago e Siebert, 1998; Benz et al., 2000). um tal conjunto de informações para o pital deste Estado (FIDEM, 2001; Figura Os problemas decorrentes dessa perda conhecimento dos recursos desta região. 1). O clima é semi-árido quente de bai- cultural são irreversíveis e, com ela, as Este trabalho explora a xas latitudes. Segundo a classificação de possibilidades de desenvolver sustentavel- relação pessoas/plantas no ecossistema ca- Köppen, esse clima enquadra-se no tipo mente uma região com base na experiên- atinga (uma floresta seca), no município BSHs’. A temperatura média anual é de cia local são reduzidas. Quando se fala de Alagoinha, estado de Pernambuco (Bra- 25ºC e a precipitação pluviométrica anu- em desenvolvimento sustentável, deve-se sil). Os seguintes questionamentos nortea- al é de 599mm, com chuvas distribuídas garantir os meios de sobrevivência para ram o seu desenvolvimento: 1) De que irregularmente durante o ano. A vegeta- as comunidades locais antes de qualquer forma a comunidade local aproveita os re- ção natural consiste de floresta tropical outra coisa. Na verdade, todos esses as- cursos vegetais da região? 2) Aproveitando seca do tipo caatinga arbórea pectos já vêm sendo discutidos por diver- os recursos disponíveis, estes são direta- hiperxerófila, a qual se caracteriza pela

PALAVRAS CHAVE / Brasil / Caatinga / Comunidade Rural / Etnobotânica / Uso de Recursos Naturais / Recebido: 05/10/2001. Modificado: 20/02/2002. Aceito: 09/04/2002

Ulysses Paulino de Albuquerque. Mestre e Doutor em Biologia Vegetal, Universidad Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. Professor Adjunto I. Endereço: Departamento de Biologia, Área de Botânica, Universidade Federal Rural de Pernambuco, R. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, -PE, Brasil. e- mail: [email protected] Laise de Holanda Cavalcanti Andrade. Mestra e Doutora em Botânica, Universidade de São Paulo, Brasil. Professor Ajunto IV. Endereço: Laboratório de Etnobotânica e Botânica Aplicada (LEBA), Universidade Fede- ral de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rêgo s/n, Cidade Universitária, Recife-PE.

336 0378-1844/02/07/336-11 $ 3.00/0 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 presença de espécies xerófitas e decíduas, bem como de representantes das famílias Cactaceae e Bromeliaceae. Apresenta espécies que permanecem com folhas na estação seca, como é o caso do juá (Ziziphus joazeiro Mart.) ou parcialmente, como o umbu (Spondias tuberosa Arr. Câm.). A vegetação de caatin- ga, que cobre uma vasta área da região Nordeste do Brasil, é caracterizada pela deficiência hídrica originada da baixa pluviosidade, da alta evapotranspiração potencial e da distribuição irregular das chuvas (Rodal et al., 1992; Sampaio, 1995). Segundo Sampaio (1995) a flora é ainda pouco conhecida, incluindo aproximadamente 339 espécies de árvo- res e arbustos, sendo as famílias com o maior número de espécies Leguminosae, Euphorbiaceae e Cactaceae. A vegetação de caatinga não forma um conjunto es- trutural e florístico homogêneo, mas va- ria em função de fatores como solo, ín- dice xerotérmico, fisionomia e gêneros característicos, a saber: Tabebuia, Aspidosperma, Astronium, Cavanillesia, Schinopsis, Caesalpinia, Mimosa, Syagrus, Spondias, Cereus, Pilosocereus, Jatropha, Piptadenia, etc. (Sampaio, 1995). Na área de estudo, a agropecuária e o comércio são os dois principais setores econômicos. A agricul- tura é baseada no cultivo de feijão, man- dioca, milho e goiaba. A comunidade ru- ral, com 5793 habitantes dos 12522 ha- bitantes do total (FIDEM, 2001), apre- senta muitas unidades familiares caracte- rizadas por uma economia de subsistên- cia cultivando plantas como mandioca, milho, goiaba e pinha, e criando bovinos e/ou caprinos. Produtos excedentes são comercializados nas feiras e mercados da cidade ou de municípios vizinhos. Extensas áreas de vegetação são conver- tidas em pastagens ou derrubadas para produção de madeira e carvão. As pe- quenas propriedades da zona rural são Figura 1. Local de estudo. Município de Alagoinha, estado de Pernambuco, Nordeste do física e estruturalmente muito semelhan- Brasil. tes e a grande maioria apresenta parte de sua área cultivada com Opuntia spp., usada como forragem. Pode-se observar lheres com idade variando de 18-76 anos 1993; Martin, 1995). Um detalhado le- na região um sistema de manejo dos re- e seis homens com idade variando de 49- vantamento etnobotânico foi obtido e o cursos naturais caracterizado basicamen- 64 anos, empregando-se a técnica de en- material botânico decorrente dele foi co- te por ser um bioextrativismo, notada- trevista semi-estruturada (Martin, 1995). letado com o auxílio dos informantes mente de fruteiras nativas como o umbu. Os informantes foram questionados so- que identificaram as plantas no campo bre as plantas conhecidas e o uso que se por seu nome vernáculo. Umas poucas Materiais e Métodos faz delas na região. Além disso, um le- plantas citadas pelos informantes não fo- vantamento geral para análise de produ- ram encontradas durante as excursões de Realizou-se entrevistas tos com potencial de mercado foi feito coleta; por isso os nomes científicos re- com 30 informantes na área conhecida com base nos procedimentos adotados feridos para este conjunto de plantas são por Laje do Carrapicho e adjacências, en- por Mutchnick e McCarthy (1997). Ob- aqueles mais comuns ligados aos nomes volvendo todas as residências habitadas e servações sobre práticas agrícolas e de populares. Alguns materiais foram com pessoas dispostas a colaborar com a manejo também foram realizadas através coletados estéreis e identificados no nível pesquisa. No total entrevistou-se 24 mu- de observação participante (Mauss, de gênero. Estudos (por exemplo, Griz,

JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 337 1996) já realizados na região contribuí- ram com material de herbário para fins de comparação. Material-testemunho en- contra-se depositado no herbário UFP (Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco). Como complemento às etapas anteriores, buscou-se identificar os componentes da vegetação nativa presentes na alimentação e a sua importância. Os in- formantes foram diretamente questionados sobre isso, juntamente com observações pessoais. Ainda solicitou-se aos informantes que recordassem do que se alimentaram nas últimas 24 horas. Uma Tabela baseada nos dados dos informantes e em um ano de observações de campo (1999-2000), permi- tiu identificar a disponibilidade temporal dos fitorecursos conhecidos e consumidos envolvendo principalmente os dados relaci- onados com os produtos diretamente obti- dos e o seu oferecimento. Na análise da disponibilidade temporal foram excluídas as espécies que só ocorrem sob cultivo.

Análise dos Dados

Com base nas informa- ções obtidas processou-se uma análise quantitativa dos dados com objetivo de identificar as plantas mais importantes e o grau de coincidência das respostas dos in- formantes. Dentre os vários métodos repor- tados na literatura (Phillips, 1996), selecio- nou-se o de Friedman et al. (1986), modifi- cado por Amorozo e Gély (1988), por base- ar-se no consenso dos informantes. Para cada planta calculou-se o nível de fidedig- nidade (NF) das respostas, como a razão Figura 2. Disponibilidade temporal das plantas medicinais ao longo de um ano para uma entre o número de informantes que referi- comunidade rural no município de Alagoinha, Pernambuco (Nordeste do Brasil). As espéci- ram principais usos (indicados pelos infor- es estão listadas de acordo com a sua importância na comunidade (“rank order priority”). mantes como os mais importantes para uma espécie em particular) da espécie e o nú- mero total de informantes que menciona- ram qualquer uso para a espécie, expressan- do-se o resultado na forma de porcentagem. Em seguida, calculou-se o “rank order priority” (ROP) que combina o NF x PR (popularidade relativa). A popularidade re- lativa é expressa pela razão entre o número de vezes em que os informantes citaram uma dada espécie pelo número de infor- mantes que citaram a espécie mais citada. Os recursos foram em um primeiro mo- mento enquadrados em categorias e subcategorias de uso adotadas por Toledo et al. (1995). O teste do χ2 de indepen- dência e de Kruskal-Wallis foi usado para identificar diferenças nos padrões de uso dos recursos na comunidade. Empregou-se o percentual de espécies úteis em cada uma das categorias mais importantes para testar hipóteses relacionadas à fonte de obtenção Figura 3. Disponibilidade temporal das plantas comestíveis ao longo de um ano para uma dos recursos e ao potencial de mercado de comunidade rural no município de Alagoinha, Pernambuco (Nordeste do Brasil). As espéci- produtos nas diferentes categorias. es estão listadas de acordo com a sua importância na comunidade (“rank order priority”).

338 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 Resultados e Discussão TABELA I PLANTAS USADAS EM UMA COMUNIDADE RURAL DO MUNICÍPIO DE ALAGOINHA, A identidade das plantas usadas na co- ESTADO DE PERNAMBUCO (BRASIL): USOS E IMPORTÂNCIA RELATIVA munidade, seu conhecimento e disponibi- lidade temporal Táxons Nome Vulgar Voucher Usos NF(%) PR ROP A comunidade estudada Amaranthaceae identifica e usa 75 espécies pertencentes Amaranthus spinosus L. Bredo-de-espinho 24312 A(a),G 100 0,05 5,00 a 62 gêneros e 31 famílias; destas apenas Amaranthus viridis L. Bredo-de-porco 24353 A (a),G,E 50 0,10 5,00 quatro foram identificadas somente ao ní- Anacardiaceae vel genérico. As famílias mais importan- Anacardium occidentale L. Caju 23615 A (b),B 87,5 0,80 70,00 tes em número de espécies foram Eu- Mangifera indica L. Manga n.c A(b) 100 0,30 30,00 phorbiaceae (8 spp.), Mimosaceae (7 Myracrodruon urundeuva (Engl.) Aroeira 23382 B,C 85,7 0,70 59,90 spp.), Myrtaceae (7 spp.), Anacardiaceae Fr. All. (6 spp.), Caesalpiniaceae (5 spp.) e Ca- Schinopsis brasiliensis Engl. Braúna 23746 B,C 66,6 0,30 19,98 pparaceae (4 spp.). Muito embora o nú- Spondias purpurea L. Ciriguela 23641 A(b) 100 0,05 5,00 mero de espécies pareça baixo, é próximo Spondias tuberosa Arr. Cam. Umbu 24234 A(b) 100 1 100 ao referido por Sales e Lima (1985), que Annonaceae encontraram 66 espécies em um estudo Annona muricata L. Graviola n.c A(b) 100 0,10 10,00 sobre o uso da flora da caatinga no esta- Annona squamosa L. Pinha 23723 A(b) 85,7 0,35 29,90 do da Paraíba. Talvez isso seja decorrente Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro 24318 C 100 0,05 5,00 do significado de “planta útil” dentro da Asteraceae comunidade. Caniago e Siebert (1998) re- Acanthospermum hispidum DC. Espinho- 24327 B 100 0,05 5,00 forçam a opinião de alguns autores se- de-cigano gundo a qual nem todas as culturas e in- Egletes viscosa Less. Macela 23450 B 100 0,10 10,00 divíduos possuem a mesma compreensão Bignoniaceae de “planta útil”. A idéia de que todas as Tabebuia sp. Pau d’arco n.c C 100 0,05 5,00 plantas são úteis encontra-se disseminada Cactaceae em várias culturas (Silva, 1997; Caniago Cereus jamacaru DC. Mandacaru n.c A(b),B 50 0,10 5,00 e Siebert, 1998). Alguns dos informantes Opuntia ficus-indica Mill. Palma 23379 A(b),E 100 0,65 65,00 foram capazes de nomear e reconhecer Melocactus zehntneri Coroa- 24823 A(b) 100 0,05 5,00 algumas espécies simplesmente pelas (Britton e Rose) Lutzelb. de-frade plântulas sem, contudo, atribuir-lhes um Caesalpiniaceae uso direto. Comumente afirmavam que Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó 24284 A (c),B,C 60 0,25 15,00 “todas as plantas servem para alguma Caesalpinia ferrea Mart. Jucá 23639 B 100 0,20 20,00 coisa” mesmo que para eles não tivessem Caesalpinia pyramidalis Tul. Catingueira 23650 B,C 85,7 0,35 29,90 qualquer utilidade. Disso depreende-se Hymenaea courbaril L. Jatobá 24306 A(b),B 83,3 0,60 49,98 que a idéia de “útil”, na comunidade, não Senna martiana (Benth.) H.S. Canafístula 23638 B 100 0,10 10,00 está associada à de valor prático. Irwin e Barneby As Figuras 2 e 3 resu- Capparaceae mem as informações sobre a disponibili- Capparis flexuosa L. Feijão-de-boi, 23380 B,E 50 0,20 10,00 dade temporal das plantas com os princi- Feijão-bravo pais usos detectados (medicinais e ali- Capparis jacobinae Moric. Icó 23738 A(b) 100 0,20 20,00 mentícios), excluindo-se as plantas que só Cleome spinosa Jacq. Mussambê 23448 B 100 0,05 5,00 ocorrem sob cultivo. Ao analisar a dispo- Crataeva tapia L. Trapiá 23728 A(b) 100 0,05 5,00 Caricaceae nibilidade das plantas medicinais usadas Carica papaya L. Mamão 23617 A(b) 100 0,05 5,00 na comunidade, observa-se que as mais Celastraceae importantes são as que geralmente ofere- Maytenus rigida Mart. Bom-nome 23383 B 100 0,15 15,00 cem seus produtos continuamente. Nota- Chenopodiaceae damente, estas plantas são as que forne- Chenopodium ambrosioides L. Mastruz n.c B 100 0,15 15,00 cem a casca do caule, com a exceção das Crassulaceae espécies que ofertam seus produtos tam- Kalanchoe brasiliensis Cam. Pratudo 23440 B 100 0,05 5,00 bém de forma contínua variando, algumas Cucurbitaceae vezes, a intensidade dessa oferta, como Momordica charantia L. Melão-de- n.c B 100 0,05 5,00 C. spinosa e S. paniculatum. As plantas São Caetano que têm seus produtos oferecidos durante Euphorbiaceae poucos meses, principalmente naqueles Cnidoscolus urens (L.) Arthur Urtiga 23442 B 100 0,10 10,00 onde ocorreram chuvas, mesmo que es- Croton argyrophylloides Muell. Sacatinga, 24310 B,C,D,G 42,8 0,35 14,98 parsas, são geralmente ervas ou subarbus- Arg. Marmeleiro- tos que ofertam folhas ou flores para branco consumo, como P. foetida, E. viscosa e B. Croton rhamnifolius Muell. Arg. Velame 23447 B 100 0,15 15,00 diffusa. Estas são pouco citadas na comu- Jatropha curcas L. Pinhão-bravo B 100 0,10 10,00 nidade e raramente utilizadas, como o Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Pinhão-manso 23377 B 100 0,30 30,00 confirmam a sua importância relativa Manihot glaziovii Muell. Arg. Maniçoba 23375 F 100 0,10 10,00 (ROP) indicada na Tabela I e pelas obser- Phyllanthus niruri L. Quebra-pedra n.c B 100 0,05 5,00 vações de campo. Normalmente entre os Sapium sp. Burra-leiteira 24291 F 100 0,05 5,00

JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 339 meses de maio e agosto, com a presença TABELA I (cont) das chuvas, existe uma grande oferta de ervas ruderais que se desenvolvem abun- Táxons Nome Vulgar Voucher Usos NF(%) PR ROP dantemente na região. Seu aproveitamento é conhecido, mas existe uma preferência Fabaceae da comunidade em utilizar os recursos Amburana cearensis (Arr. Cam.) Imburana 23737 B,C 81,25 0,80 65,00 silvestres arbóreos, cuja coleta requer, al- A.C. Smith. -de-cheiro gumas vezes, longas caminhadas em bus- Cajanus cajan (L.) Millsp. Feijão-guandu 23721 A(c) 100 0,05 5,00 ca dos produtos desejados. Dioclea grandiflora Mart. Mucunã 24235 A(c),B,F 50 0,10 5,00 As plantas comestíveis Erythrina velutina Willd. Mulungu 23612 B 100 0,20 20,00 silvestres são utilizadas em menor núme- Lamiaceae ro e o seu consumo é ocasional, não es- Ocimum campechianum Mill. Mangericão 24761 B 100 0,05 5,00 tando presentes na comunidade como ele- Plectranthus sp. Hortelã 24957 B 100 0,40 40,00 mentos de complementaridade dietética. Rosmarinus officinalis L. Alecrim n.c B 100 0,05 5,00 São consumidos quando ofertados pelo Malvaceae ambiente e mesmo nessas situações, al- Gossypium herbaceum L. Algodão 23647 B 100 0,05 5,00 guns recursos não são procurados. Na Fi- Malpighiaceae gura 3 observa-se que a maioria desses Malpighia glabra L. Acerola 24241 A(b) 100 0,15 15,00 recursos é oferecida por poucos meses. Mimosaceae Algumas espécies como S. obtusifolium Acacia sp. Avoador 23374 C 100 0,05 5,00 têm frutos pequenos, e os poucos indiví- -vermelho duos apresentam uma distribuição muito Anadenanthera colubrina (Vell.) Angico 23634 B,C,F 92,3 0,65 59,99 dispersa. Outras espécies, como C. jaco- -de-caroço binae, ofertam frutos durante um período Brenan var. cebil (Griseb) Altschul maior e de coleta grandemente facilitada Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema-preta 23745 B,C 75 0,40 30,00 por ser uma planta de pequeno porte e de Piptadenia stipulacea Ducke Carcará, 23717 B,C 83,3 0,30 24,99 frutos grandes, não tão apreciados pela rasga-beiço comunidade. Piptadenia zehntneri Harms Angico-liso 24249 C 100 0,35 35,00 Prosopis julifora DC. Algaroba 23633 A(b,c),C,E 40 0,25 10,00 As árvores e arbustos Myrtaceae são a fonte primária de recursos em nú- Eucalyptus sp. Eucalipto 23631 B 100 0,25 25,00 mero total de espécies (57), tendo as er- Eugenia sp.1 Pirim 23625 A(b) 100 0,10 10,00 vas e subarbustos uma menor proporção Eugenia sp.2 Ubaia 23648 A(b) 100 0,10 10,00 (18). De aproximadamente 21 espécies Eugenia uniflora L. Pitanga n.c A(b) 100 0,05 5,00 utilizam-se folhas, mas nem sempre este Myrciaria caulifora Berg. Jabuticaba 23718 A(b) 100 0,35 35,00 é o único produto oferecido pela planta. Psidium sp. Araçá n.c A(b) 100 0,10 10,00 Geralmente são as ervas e subarbustos os Psidium guajava L. Goiaba 23613 A(b),B 100 0,50 50,00 mais procurados para obtenção de folhas. Nyctaginaceae O restante das plantas têm seus frutos, Boerhavia diffusa L. Pega-pinto 24239 B 100 0,10 10,00 raízes ou caules procurados para as mais Passifloraceae diversas finalidades. Um outro detalhe Passiflora foetida L. Maracujá 24313 A(b),B 50 0,10 5,00 importante é que as ervas são procuradas -de-estalo para obtenção de raízes. O número mais Poaceae elevado de árvores como fonte de recur- Cymbopogon citratus (DC) Stapf. Capim-santo n.c B 100 0,40 40,00 sos, e por oferecerem produtos disponí- Rhamnaceae veis por um grande período de tempo, Ziziphus joazeiro Mart. Juá 23376 A(b),B 100 0,35 35,00 permite formular a hipótese de que comu- Rutaceae nidades que habitam ou vivem no entor- Citrus aurantium L. Laranja 23742 A(b),B 100 0,05 5,00 no de florestas secas dependem mais das Ruta graveolens L. Arruda n.c B 100 0,30 30,00 árvores e caules como fonte de produtos Sapindaceae úteis. Partindo-se da premissa que o co- Sapindus saponaria L. Sabonete 23729 B,D 66,6 0,15 9,99 nhecimento botânico tradicional, apreen- Serjania comata Radlk. Ariu 23443 B 100 0,05 5,00 dido das relações e observações dos fe- Talisia esculenta (St. Hil.) Radlk. Pitomba 23727 A(b) 100 0,15 15,00 nômenos naturais, é produto do intelecto Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium n.c A(b),B 93,75 0,80 75,00 humano como resposta direta às suas ne- (Roem. e Schult.) T.D. Penn. cessidades reais frente a estímulos de na- Solanaceae tureza diversa (Albuquerque, 1997), tal Solanum paniculatum L. Jurubeba 23449 B 100 0,05 5,00 hipótese encontra aí seus fundamentos. Verbenaceae No ecossistema caatinga o estrato herbá- Lippia alba (Mill.) Brow. Erva-cidreira 24233 B 100 0,65 65,00 ceo é muito efêmero, surgindo com vigor Lippia sp. Alecrim 24303 B 100 0,10 10,00 apenas no período das chuvas. Todas as Violaceae ervas e subarbustos nativos ou espontâne- Hybanthus cf. ipecacuanha (L.) Pepaconha 23441 B 100 0,15 15,00 os situaram-se na faixa de uso entre 5- Baill. 15%. Isso pode ser justificado pelo fato que essas plantas só se encontram dispo- Convenções: NF: nível de fidedignidade; PR: popularidade relativa; ROP: “rank order priority”; A: co- níveis no curto período das chuvas. As mestível (a: verdura; b: fruta; c: sementes); B: medicinal; C: madeira; D: uso doméstico; E: forragem; F: espécies mais importantes, segundo a pri- veneno; G: repelente de insetos.

340 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 são devido ao fato que nelas as mulheres geralmente têm mais responsabilidades para com a família e freqüentemente ten- dem a cuidar de campos e jardins. Na área estudada as mulheres dividem-se en- tre as tarefas domésticas e o trabalho em pequenos campos. Os homens, em sua maioria, trabalham como empregados em propriedades maiores, em diversos setores Figura 4. Número de espécies segundo suas de atividades, mas principalmente no tra- fontes de coleta em uma comunidade rural to com animais de criação. no município de Alagoinha, Pernambuco Figura 5. Número de espécies consideradas (Nordeste do Brasil). A: comestível; B: me- A agricultura e as plantas comestíveis como de potencial de mercado segundo dicinal; C: madeira; D: uso doméstico; E: uma comunidade rural no município de forragem; F: veneno; G: repelente de insetos. A comunidade depende Alagoinha, Pernambuco (Nordeste do Bra- de várias atividades produtivas, dentre as sil). A: comestível; B: medicinal; C: madei- quais predomina uma economia de sub- ra; D: uso doméstico; E: forragem; F: vene- oridade de uso, são (Tabela I): S. tube- sistência baseada no cultivo de feijão no; G: repelente de insetos. rosa (100%), A. occidentale (70%), A. (Phaseolus vulgaris L.), milho (Zea mays cearensis (65%), S. obtusifolium (75%), L.), mandioca (Manihot esculenta L. alba (65%), O. ficus-indica (65%), A. Crantz), e de algumas fruteiras como a colubrina var. cebil (59,9%), M. urun- pinha (Annona squamosa L.) e a goiaba nho. No entanto, os pequenos agricultores deuva (59,9%), P. guajava (50%) e H. (Psidium guajava L.). No período da es- podem perder a colheita, principalmente courbaril (49,98%). No cômputo geral as tação seca a deficiência alimentar é muito nos anos caracterizados pela baixa preci- espécies nativas são as mais importantes, grande, com uma grande escassez dos pitação pluviométrica. excetuando-se algumas ervas usadas para alimentos básicos, sendo por isso neces- Basicamente, as plantas fins medicinais como o C. citratus (40%) sário comprá-los. Grandes áreas são culti- consumidas são preferidas por seus frutos e R. graveolens (30%), espécies comu- vadas com a palma forrageira (Opuntia e folhas, usados quando ofertados pelo mente mencionadas em levantamentos ficus-indica Mill.) para a alimentação de ambiente (Figura 3). Não há iniciativas etnobotânicos (Figueiredo et al., 1993; animais e coleta de frutos para consumo de armazenamento, principalmente das Begossi et al., 1993). humano. Os locais de cultivo geralmente espécies que aparecem em abundância no O teste do χ2 revelou di- estão na área das casas, aqui denomina- período das chuvas. Duas espécies são ferenças significativas na distribuição das das de unidades produtivas. O plantio em consumidas como verdura, A. spinosus e espécies por categorias em relação às geral é feito nas primeiras chuvas que A. viridis, com as quais se prepara um fontes de sua obtenção, zonas antropogê- geralmente caem nos meses de abril a ju- guisado muito apreciado. Espécies de nicas e de vegetação nativa (Tabela II). Frei et al. (2000) em duas comunidades TABELA II no México, semelhante ao observado, en- COMPARAÇÃO DO PERCENTUAL DE ESPÉCIES ÚTEIS POR CATEGORIAS contraram que os tipos de vegetação DE USO MAIS IMPORTANTES SEGUNDO AS FONTES DE COLETA, antropogênica são mais importantes para EM UMA COMUNIDADE RURAL DO MUNICÍPIO DE ALAGOINHA, a obtenção de plantas medicinais. As pes- ESTADO DE PERNAMBUCO (BRASIL) soas obtêm mais plantas alimentícias nas zonas antropogênicas, enquanto as áreas de vegetação nativa oferecem mais plan- Alimento Medicinal Madeira Usos Soma tas medicinais e produtos madeireiros menores das linhas (Figura 4). Diferenças estatisticamente significantes também foram encontradas Natural 18,51 46,29 22,22 11,11 98,13 em relação às espécies com potencial de Antropogênica 39,20 45,09 3,92 11,76 99,97 mercado e sua distribuição em categorias Soma das colunas 57,71 91,38 26,14 22,87 de destaque (Tabela III). Espécies alimen- tícias e medicinais com potencial de mer- χ2 = 20,24; P<0,1. cado considerado pelos informantes se TABELA III destacaram em relação a outras categorias COMPARAÇÃO DO PERCENTUAL DE ESPÉCIES ÚTEIS POR CATEGORIAS de menor importância local (Figura 5). DE USO MAIS IMPORTANTES SEGUNDO O SEU POTENCIAL DE MERCADO, No caso das plantas medicinais, as espé- EM UMA COMUNIDADE RURAL DO MUNICÍPIO DE ALAGOINHA, cies com valor de mercado atendem basi- ESTADO DE PERNAMBUCO (BRASIL) camente a uma economia informal. Existe diferenças de do- mínio cognitivo com relação às plantas Alimento Medicinal Madeira Usos Soma dentro de uma comunidade relacionadas menores das linhas com a idade e sexo, como já relataram diferentes pesquisadores (Phillips e Gen- Sem potencial 18,18 41,81 18,18 21,81 99,98 try, 1993a,b; Amorozo, 1996). Caniago e Potenciais 40,0 50,0 8,0 2,0 100,0 Siebert (1998), com base em outros auto- Soma das colunas 58,18 91,81 26,18 23,81 res, afirmam que essas diferenças de co- nhecimento em muitas sociedades rurais χ2 = 29,35; P<0,01.

JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 341 Amaranthus são muito importantes para zando-os principalmente nas margens de dentalis (sementes), Portulaca oleacea algumas comunidades humanas, fornecen- estradas e rodovias. (verdura), Crotalaria spp. (verduras), So- do sementes usadas como pseudocereais e Uma outra planta impor- lanum nigrum (verdura), o que também folhas comestíveis (Mapes et al., 1996, tante, que fornece frutos muito apreciados aponta para a possibilidade de introdução 1997). As folhas têm um alto valor nutri- na comunidade é a palma. Os frutos são na região de novos usos com o objetivo tivo e o grão apresenta uma grande por- consumidos in natura e complementam a de colaborar para que as pessoas passem centagem de conteúdo protéico (Castro et dieta habitual, mas também só estão dis- o período de seca mantendo suas necessi- al., 1992). No entanto, na região, é um poníveis por um curto período (Figura 3). dades calóricas diárias. recurso disponível apenas na estação chu- Durante as observações, uma das infor- vosa, mas não durante toda ela, que sem mantes coletou 15 baldes com capacidade Plantas usadas na medicina popular dúvida poderia ser melhor aproveitado de 20 litros de frutos somente em culti- pela comunidade e até mesmo cultivado e vos próximos à sua unidade produtiva. Os Foram registradas 48 empregado como um complemento na di- frutos desta espécie também são usados plantas usadas para fins medicinais, co- eta. Um fato observado, é que muito em- na Etiópia como um doce, e as flores no rrespondendo a 64% do total. Destas bora nos meses mais produtivos do ano o tratamento de lepra (Wilson e Mariam, 41,6% também foram indicadas para ou- ambiente ofereça uma grande variedade 1979). A palma é uma planta importante tras finalidades. Na Tabela IV são repor- de recursos que poderiam ser utilizados por fornecer forragem durante todo o tados detalhadamente a indicação e o como complementos alimentares, como é ano. Todavia, a potencialidade da espécie modo de uso de cada uma dessas plantas. o caso das duas espécies de Amarantha- é subestimada em toda a região do semi- A maioria delas é genuinamente brasilei- ceae, a comunidade de modo geral os árido do estado de Pernambuco, pois é ra ou especificamente nativa da região desconhece. uma planta que produz frutos de valor Nordeste, como a aroeira (M. urundeuva), Das 30 espécies utiliza- comercial, além de mostrar-se perfeita- a braúna (S. brasiliensis), o angico (A. das como alimento (Tabela I), 14 são cul- mente adaptada a sistemas de agricultura colubrina (Vell.) Brenan var cebil (Gri- tivadas nas unidades produtivas. As de- extensiva e intensiva (Barbera et al., seb) Altschul), a imburana de cheiro (A. mais são encontradas em habitates natu- 1992). Outras cactáceas menos importan- cearensis), o juá (Z. joazeiro) e a quixaba rais ou antropogênicos. Entre as espécies tes quanto aos frutos são o mandacaru (S. obtusifolium). Algumas são plantas tí- cultivadas encontram-se a manga (M. in- (C. jamacaru) e a coroa-de-frade (M. picas da caatinga e podem ser considera- dica), a ciriguela (S. purpurea), a pinha zehntneri). No geral, as demais plantas das ameaçadas devido às técnicas destru- (A. squamosa), a graviola (A. muricata citadas como alimento são coletadas pelas tivas para obtenção do produto (cascas do L.), a palma (O. ficus-indica), o mamão crianças e consumidas ocasionalmente ou caule, afetando os sistemas condutores da (C. papaya), o feijão guandu (C. cajan), como “divertimento”, segundo os próprios planta). Essas espécies são comumente a acerola (M. glabra), a pitanga (E. uni- informantes. Outras plantas eram utiliza- comercializadas nos mercados e feiras li- flora), a goiaba (P. guajava), a jabuticaba das na alimentação em períodos de secas vres de cidades vizinhas e mesmo na ca- (M. cauliflora), a laranja (C. aurantium), prolongadas. Um bom exemplo é o de D. pital do Estado. Grandes quantidades de a pitomba (T. esculenta) e o caju (A. oc- grandiflora cujos frutos, no passado, cascas do caule são vendidas o que, de- cidentale). eram consumidos na forma de uma fari- pendendo da espécie, pode afetar a estru- Com exceção de S. tube- nha cozida, o que não se faz mais hoje, tura das populações naturais. Usualmente rosa, as demais espécies silvestres são evidenciando que na caatinga as pressões elas são indicadas no tratamento e com- unicamente coletadas na natureza. Entre ambientais também podem determinar o bate de inflamações e infecções. Um es- estas plantas pode-se encontrar diversas padrão de uso de plantas por uma dada tudo sistemático com as plantas da região formas de manejo, desde a simples coleta comunidade e em uma dada circunstân- pode oferecer alternativas eficazes, dimi- em populações naturais, à tolerância em cia. nuindo o impacto da coleta sobre as po- campos e em áreas próximas as unidades Com base nos dados ob- pulações naturais, principalmente ao se produtivas e ao cultivo incipiente em jar- tidos, pode-se reconhecer quatro padrões constatar que a maioria das espécies, in- dins domésticos ou campos de proporções de consumo e utilização de plantas co- cluindo as ervas, recebem as mesmas in- modestas. S. tuberosa é uma espécie im- mestíveis na área: Consumo ocasional de dicações terapêuticas (Tabela IV). portante que floresce e frutifica na esta- plantas coletadas em áreas silvestres ou Algumas plantas são fre- ção seca e início da chuvosa. Fornece antropogênicas, consumo regular de espé- qüentemente indicadas como antídoto para frutos com os quais se preparam doces, cies nativas, consumo regular de espécies picada de cobras, como o feijão-de-boi (C. sucos, além de serem consumidos in cultivadas para as necessidades locais, e flexuosa), o pinhão-bravo (J. curcas) e o natura; dos seus tubérculos são prepara- comércio de espécies nativas e cultivadas pinhão-manso (J. molissima), tanto no tra- dos doces comercializados em mercados em mercados e em feiras, mas de forma tamento de animais como de humanos. Se- populares e feiras livres. Os frutos são inexpressiva. gundo Dennis (1988) diversas sociedades comercializados em grande escala e ven- Na área estudada, os re- possuem um arsenal de antídotos, mas o didos para outros estados do Brasil. Se- sultados sugerem que é possível usar os curioso é observar que às vezes culturas gundo Pires (1990), não há plantios dessa fitorecursos alimentícios em programas tão distantes tenham as mesmas explica- espécie sendo os frutos coletados direta- de nutrição visando melhorar a qualidade ções para justificar o uso de determinadas mente de populações silvestres e em se- de vida das pessoas, como também indi- plantas. Na região estudada, justifica-se o guida comercializados ou transportados cam Salinas et al. (1993) no estudo com uso das espécies de Jatropha pela observa- para as capitais nordestinas. Na natureza plantas alimentícias no México. Algumas ção do comportamento de um réptil que podem ser observados frutos de diferentes espécies que ocorrem na área, não citadas ingere o látex da planta antes de enfrentar tamanhos, forma e cor, e de sabor que pelos informantes como de uso alimentí- uma cobra. Os informantes relataram que varia do acre ao doce. Nos períodos de cio ou apontadas para alguma outra fina- foi dessa forma que eles aprenderam a farta colheita, a comunidade consome os lidade, são recursos alimentícios para ou- usar as plantas no caso de acidentes com frutos do umbuzeiro e ainda pode conver- tras comunidades (cf. Casas et al., 1994): humanos ou animais. A mesma explicação tê-los em produtos de venda, comerciali- C. ambrosioides (verdura), Senna occi- é encontrada na Índia para o caso de

342 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 TABELA IV PLANTAS USADAS PARA FINS MEDICINAIS EM UMA COMUNIDADE RURAL DO MUNICÍPIO DE ALAGOINHA, ESTADO DE PERNAMBUCO (BRASIL)* Espécies Parte usada Formas de uso e indicações terapêuticas Acanthospermum hispidum DC. Raiz Com um infuso prepara-se um xarope para combater a tosse e a asma. Amburana cearensis (Arr. Cam.) A.C. Smith. Casca do caule Com um infuso prepara-se um xarope para tosse. Para a gripe na forma de chá. Anacardium occidentale L. Casca do caule A tintura ou o decocto são usados externamente contra inflamações e pancadas. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. Casca do caule Com um infuso prepara-se um xarope para a tosse. cebil (Griseb) Altschul Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Sementes, folhas e cascas Torra-se e pulveriza-se as sementes preparando uma bebida ingerida para a dor de do caule cabeça. Com um infuso das folhas ou cascas do caule prepara-se um xarope para a tosse e expectorante. O chá das folhas também é usado para diabetes. Boerhavia diffusa L. Raiz Com um infuso prepara-se um xarope para a tosse. O chá é usado para combater inflamações. Caesalpinia ferrea Mart. Cascas do caule Prepara-se um decocto que é usado na forma de chá para labirintite. Também empregado nos problemas renais. Caesalpinia pyramidalis Tul. Casca do caule Com um infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Capparis flexuosa L. Cascas do caule As cascas são raspadas e deixadas em água. Bebe-se o líquido resultante contra picada de cobras. Cereus jamacaru DC. Caule As cascas são raspadas e deixadas em água. Bebe-se o líquido resultante contra problemas renais. Chenopodium ambrosioides L. Folhas Com um infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Citrus aurantium L. Folhas Com o infuso prepara-se um chá para combater a febre. Cleome spinosa Jacq. Flor e folhas A flor em tintura para uso externo em inflamações. As folhas como lambedor para combater a tosse. Cnidoscolus urens (L.) Arthur Raiz Com o decocto prepare-se um chá para combater inflamações. Croton argyrophylloides Muell. Arg. Casca do caule Coloca-se de molho em água esfregando-se vigorosamente. Bebe-se para aliviar a dor de barriga. Croton rhamnifolius Muell. Arg. Folha O chá das folhas é considerado depurativo. Cymbopogon citratus (DC) Stapf. Folhas Com o infuso prepara-se um chá usado para problemas digestivos (dor de barriga, má digestão), dores de cabeça e febre. Dioclea grandiflora Mart. ? ? Egletes viscosa Less. Folhas Com o infuso prepara-se um chá que é usado para problemas digestivos (dor de barriga, má digestão). Erythrina velutina Willd. Casca do caule Com o infuso prepara-se um chá para combater inflamações (internamente ou externamente) e como tranqüilizante. Eucalyptus sp. Folha Com o infuso prepara-se um chá para debelar a febre. Gossypium herbaceum L. Folha Prepara-se um emplasto e aplica-se diretamente em queimaduras. Hybanthus cf. ipecacuanha (L.) Baill. Raiz Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Hymenaea courbaril L. Casca do caule Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse, a bronquite, fraqueza e debilidade. Jatropha curcas L. Látex Usado contra picadas de cobras. Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Látex Usado contra picadas de cobras. Kalanchoe brasiliensis Cam. Folha A folha é aquecida e colocada sobre locais doloridos. Lippia sp. Folhas Com o infuso prepara-se um chá que é usado para problemas digestivos (dor de barriga, má digestão). Lippia alba (Mill.) Brow. Folhas Com o infuso prepara-se um chá que é usado para problemas digestivos (dor de barriga, má digestão), dores de cabeça, febre e pressão alta. Maytenus rigida Mart. Casca do caule Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Para o reumatismo, as cascas são deixadas em repouso em uma garrafa com água por três dias. Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Folhas e casca do caule Folhas usadas topicamente para aliviar a dor de dente. Com as cascas do caule prepara-se uma infusão aplicada externamente para inflamações. Momordica charantia L. Toda a planta Prepara-se um infuso que é utilizado banhando-se o corpo para aliviar alergias ou erupções cutâneas de outras origens. Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All. Casca do caule A tintura ou decocto é usado externamente contra inflamações e pancadas. Para aliviar a gastrite bebe-se um preparado feito com as cascas deixadas de repouso em água. Ocimum campechianum Mill. Folhas Com o infuso prepara-se um chá que é usado para problemas digestivos (dor de barriga, má digestão). Passiflora foetida L. A planta toda Com um decocto, acrescido de sal, prepara-se um xarope para combater a tosse. Phyllanthus niruri L. Raiz Com o infuso prepara-se um chá para problemas renais (inflamações e pedras nos rins). Piptadenia stipulacea Ducke Casca do caule A tintura ou decocto é usado externamente contra inflamações. Plectranthus sp. Folhas Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Psidium guajava L. Folhas Com o infuso prepara-se um chá para combater disenteria. Rosmarinus officinalis L. Folhas Com o infuso prepara-se um chá para combater a febre. Ruta graveolens L. Folhas Prepara-se uma tintura em álcool para dor de cabeça. Sapindus saponaria L. Casca do caule Prepara-se um decocto com o qual lava-se o cabelo para combater micoses. Schinopsis brasiliensis Engl. Casca do caule Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Para a gripe é usado na forma de chá. Senna martiana (Benth.) H.S. Irwin e Barneby Casca do caule Com o infuso prepara-se um xarope para combater a tosse. Serjania comata Radlk. Raiz O infuso é usado na forma de chá para combater o reumatismo. Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) Casca do caule A tintura ou decocto é usado externamente contra inflamações e pancadas, e como T.D. Penn. cicatrizante. Solanum paniculatum L. Raiz/frutos O infuso é usado na forma de chá para combater inflamações gerais e afecções do fígado. Ziziphus joazeiro Mart. Casca do caule As cascas são raspadas e deixadas em água. Bebe-se o líquido como cicatrizante. Para combater a tosse usa-se na forma de xarope. *As espécies estão listadas por ordem alfabética. Informações adicionais encontram-se na Tabela I.

JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 343 Rauvolfia serpentina (Apocynaceae; Balick e Cox, 1996). As plantas usadas como medicinais na comunidade podem ser or- ganizadas em quatro grupos de acordo com a fonte de onde são obtidas: 1. plan- tas domesticadas cultivadas em jardins residenciais; 2. plantas de áreas perturba- das, margens de estradas, próximo às habi- tações; 3. plantas nativas toleradas ou pro- movidas na área das unidades produtivas; 4. plantas encontradas na vegetação natu- ral. Essas fontes, com algumas modifica- ções, também foram reconhecidas por Sequeira (1994). Apenas uma pequena proporção das plantas citadas (29,16%) são cultivadas em jardins domésticos, no entanto são recursos disponíveis apenas na estação chuvosa. Em contrapartida, são as plantas nativas das quais se utiliza a casca do caule, uma fonte de recursos disponí- Figura 6. Distribuição das plantas usadas como medicinais segundo sistemas corporais ou veis durante todo o ano. Menos importan- propriedades farmacológicas atribuídas, em uma comunidade rural no município de Ala- tes são as plantas efêmeras que crescem goinha, Pernambuco (Nordeste do Brasil). próximas às habitações ou que medram em áreas perturbadas, terrenos cultivados, cultivos abandonados ou em margens de conversão de grandes áreas em proprieda- Conclusões estradas. Um fato curioso é o de não te- des para criação de animais. As espécies rem sido citadas plantas ou doenças com que fornecem madeiras para a comunida- A presente pesquisa mos- referências “mágico-religiosas”, já que de estudada correspondem a 17,33% de trou que a comunidade de Alagoinha tem muitas pesquisas documentaram o uso de todas as plantas documentadas. A madei- uma dependência relativa dos recursos ve- plantas para combater doenças de ra é comumente usada na fabricação de getais localmente disponíveis, especial- conotações espirituais (Wilson e Mariam, carvão ou estacas para construção de cer- mente de plantas medicinais. Os frutos e 1979; Bhat et al., 1990; Bye, 1986; cas na delimitação de propriedades ou de os caules indicam ser os órgãos mais uti- Sequeira, 1994). cercados para o controle de animais do- lizados na área. Outras partes só ocasio- Um maior número de es- mésticos. Duas espécies muito apreciadas nalmente são consumidas, como nos ca- pécies são indicadas no tratamento das para essa finalidade são M. tenuiflora (Ju- sos das sementes. A disponibilidade de afecções respiratórias, seguido das infla- rema-preta) e P. zehntneri (angico mon- alguns recursos está ligada a fatores tem- mações em geral e as diversas formas de jolo). Muito embora sejam usadas outras porais. Apenas uma pequena proporção afecções intestinais (Figura 6). Geralmente espécies, como A. colubrina var. cebil e de plantas é cultivada e o sucesso do seu as desordens intestinais ocupam lugar de S. brasiliensis, elas são consideradas cultivo depende das raras e ocasionais destaque em muitos levantamentos “madeiras fracas”, facilmente suscetíveis chuvas. O uso de recursos coletados de etnobotânicos (Ankli et al., 1999), como ao ataque de cupins. A extração de recur- fruteiras é de grande importância para a uma categoria que concentra maior núme- sos madeireiros a partir do pequeno per- economia de subsistência da comunidade. ro de espécies ou de indicações. Na área centual de espécies citadas, não parece O fato das plantas usadas na área apre- estudada, as pessoas usam um conjunto ser expressiva à primeira vista. sentarem usos distintos de outras comuni- maior de plantas para tratar problemas res- Uma das estratégias de- dades revela possibilidades interessantes piratórios, mas pouco diverso nas indica- senvolvidas pelas pessoas que habitam re- para indicar às pessoas da comunidade ções (normalmente para tratar de tosse). giões semi-áridas foi o desenvolvimento e alguns dos meios e acesso à sua seguran- Quanto à efetividade te- experimentação de plantas forrageiras ça alimentar e adequada assistência tera- rapêutica das plantas documentadas, mui- para suprir as necessidades dos animais pêutica com base nos recursos locais. Na tas já possuem informações farmacológi- nos longos períodos de seca. Na área es- comunidade existe uma grande tendência cas que podem justificar o seu uso popu- tudada basicamente duas espécies desta- em substituir os produtos de coleta pelos lar como: A. cearensis, A. occidentale, cam-se, O. ficus-indica e P. juliflora. Esta cultivos, muito embora aqueles represen- Lippia spp., Plectranthus spp., M. urun- última espécie fornece sombra e forragem tem uma possibilidade de enriquecer a di- deuva, Ocimum spp., C. citratus, S. pani- e foi introduzida no Nordeste em meados eta. A comunidade padece de uma degra- culatum e Z. joazeiro (Sousa et al., 1991; do século passado. Hoje é uma planta dação do seu modo de vida e, como um Matos, 1998; Albuquerque e Andrade, amplamente disseminada na região, mas todo, desconhece uma grande variedade 1998). com a totalidade de suas potencialidades de recursos silvestres que poderiam ser e limitações ainda desconhecidas pelas utilizados na alimentação e mesmo for- Plantas que fornecem madeira pessoas. Espécies de Amaranthus e C. mas tradicionais, simples, de armazenar e e forragem flexuosa são de menor importância. Na manejar os recursos disponíveis, como no verdade, os informantes tendem a consi- caso da O. ficus-indica. Na verdade, o Não há dúvidas de que derar a maioria das plantas que crescem uso e manejo adequado dessa espécie em as florestas secas fornecem uma grande na estação chuvosa como alimento para cultivo revela-se muito promissor, e pode- diversidade de recursos madeireiros, o animais, mas são poucas as que recebem rá fornecer a essas comunidades alternati- que resulta na rápida desflorestação e na atenção especial como forrageiras. vas viáveis para a região.

344 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 Fica patente que, para o de estrategias de manejo y conservación en Gamboa (Itacuruçá Island, ). Human desenvolvimento da região, são necessá- las florestas tropicales. Biotemas 12: 31-47. Ecol. 21: 419-430. rias algumas medidas: 1) Estudos que Albuquerque UP, Andrade LHC (1998) Etnobotá- Frei B, Sticher O, Heinrich M (2000) Zapotec investiguem o uso tradicional de plantas nica del género Ocimum L. (Lamiaceae) en and Mixe use of tropical habitats for secur- comestíveis integrando-as em estudos las comunidades afrobrasileñas. Anales del ing medicinal plants in México. Economic Jardín Botánico de Madrid 56: 107-118. Botany 54: 73-81. fitoquímicos, nutricionais e de melhora- mento; 2) difusão do conhecimento e do Amorozo MCM (1996) A abordagem etnobotâni- Friedman J, Yaniv Z, Dafni A, Palewitch D ca na pesquisa de plantas medicinais. Em Di (1986) A preliminary classification of the aproveitamento de plantas pouco conhe- Stasi LC (Ed.) Plantas medicinais: arte e ci- healing potential of medicinal plants based cidas dentro da própria comunidade; 3) ência. UNESP. São Paulo. pp. 47-58. on a rational analysis of an ethnopharmaco- difusão de tecnologias simples e de téc- Amorozo MCM, Gély AL (1988) Uso de plantas logical field survey among Bedouins in the nicas que visem o manejo adequado das medicinais por caboclos do Baixo Amazo- Negev Desert, Israel. J. Ethnopharmacol. 16: espécies já tradicionalmente utilizadas nas, Barcarena, PA, Brasil. Boletim do Mu- 275-287. na comunidade. Entretanto, sem a orga- seu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica Griz LMS (1996) Dispersão de sementes na caa- nização dessas comunidades e de sua 4: 47-131. tinga de Pernambuco, Nordeste do Brasil. ativa participação durante todo o proces- Ankli A, Sticher O, Heinrich M (1999) Medical Dissertação de Mestrado. Universidade Fede- ral Rural de Pernambuco. Recife. 75 pp. so, todas as tentativas poderão ser infru- ethnobotany of the Yucatec Maya: healers consensus as a quantitative criterion. Eco- Janzen DH (1997) Florestas tropicais secas: o tíferas. nomic Botany 53: 144-160. A efetividade terapêutica mais ameaçado dos ecossistemas tropicais. Balick MJ, Cox PA (1996) Plants, people and Em Wilson EO (Ed.) Biodiversidade. Nova de muitas das plantas usadas para fins culture: the science of ethnobotany. Scien- Fronteira. Rio de Janeiro. pp. 166-176. medicinais precisa ser avaliada para sua tific American Library. New York. 228 pp. Mapes C, Caballero J, Epistia E, Bye RA (1996) utilização em programas de assistência Barbera G, Carimi F, Inglese P (1992) Past and Morphophysiological variation in some primária à saúde na região. Muitas das present role on the Indian-fig Prickly-pear Mexican species of vegetable Amaranthus: plantas registradas durante a pesquisa não (Opuntia ficus-indica (L.) Miller, Cactaceae) evolutionary tendencies under domestication. têm uso regular pelas pessoas por várias in the agriculture of Sicily. Economic Botany Genetic Resources and Crop Evolution 43: razões, que vão desde a preferência por 46: 10-20. 283-290. determinadas espécies até mesmo a dis- Begossi A (1998) Extractive reserve in the Bra- Mapes C, Basurto F, Bye R (1997) Ethnobotany ponibilidade temporal que determina as zilian Amazon: an example to be followed in of quintonil: knowledge, use and manage- the Atlantic Forest? Ciência e Cultura 50: ment of edible greens Amaranthus spp. relações das pessoas com os recursos de 24-28. (Amaranthaceae) in the Sierra Norte of uma região. Begossi A, Leitão-Filho HF, Richerson PJ (1993) Puebla, Mexico. Economic Botany 51: 293- Essas observações, alia- Plant uses in a Brazilian coastal fishing 306. das aos dados específicos sobre os re- community (Búzios Island). J. Ethnobiol. 13: Martin G (1995) Ethnobotany - a methods ma- cursos vegetais da região, sua variabili- 233-256. nual. Chapman Hall. London. 268 pp. dade, podem fundamentar iniciativas de Benz BF, Cevallos J, Santana F, Rosales J, Graff Matos FJ (1998) Farmácias vivas. UFC. Fortale- conservação e manejo da caatinga. O re- M (2000) Losing Knowledge about plant use za. 219 pp. conhecimento e a melhor atenção para in the Sierra de Manantlan Biosphere Reser- ve, Mexico. Economic Botany 54: 183-191. Mauss M (1993) Manual de etnografia. Dom as formas locais de manejar e usar esses Quixote. Lisboa. 250 pp. recursos são importantes para propósitos Bhat RB, Etejere EO, Oladivo VT (1990) Ethno- de conservação. Além do que os dados botanical studies from central Nigeria. Eco- Mutchnick PA, McCarthy BC (1997) An ethno- nomic Botany 44: 382-390. botanical analysis of the tree species com- quantitativos revelaram-se extremamente mon to the subtropical moist forests of the Bye RA (1986): Medicinal plants of the Sierra úteis na identificação de recursos impor- Petén, Guatemala. Economic Botany 51: Madre: comparative study of Tarahumara 158-183. tantes. Um grande desafio não é mais and Mexican market plants. Economic Bo- provar a produtividade da caatinga, mas tany 40: 103-124. Phillips O (1996) Some quantitative methods for oferecer alternativas à desflorestação Bye RA (1995) Ethnobotany of the Mexican tro- analyzing ethnobotanical knowledge. Em pelo corte de madeira e expansão da pe- pical dry forests. Em Bullock SH, Mooney Alexiades MN (Ed.) Selected guidelines for cuária. HA, Medina E (Eds.) Seasonally dry tropical ethnobotanical research: a field manual. The forests. Cambridge University Press. New New York Botanical Garden. New York. pp. 171-197. AGRADECIMENTOS York. pp. 423-437. Caniago I, Siebert SF (1998) Medicinal plant Phillips O, Gentry AH (1993a) The useful plants À comunidade estudada ecology, knowledge and conservation in of Tambopata, Peru: I Statistical hypotheses Kalimantan, Indonesia. Economic Botany 52: tests with a new quantitative technique. Eco- do município de Alagoinha, ao WWF e à 229-250. nomic Botany 47: 15-32. USAID pelo suporte financeiro, à CAPES Phillips O, Gentry AH (1993b) The useful plants (Coordenação de Aperfeiçoamento de Casas A, Viveros JL, Caballero J (1994) Etnobo- tánica mixteca. Presencias. México. 366 pp. of Tambopata, Peru: II Additional hypotheses Pessoal de Nível Superior) pela bolsa de testing in quantitative ethnobotany. Economic estudos concedida ao primeiro autor, a Castro EB, Tenorio MC, Cruells MG, Juaristi Botany 47: 33-43. CM, Ollero HS (1992) México, gentes de Fernando Valença, Cecília Almeida, Ana maíz. Jardín Botánico de Córdoba. Córdoba. Pires MGM (1990) Estudo taxonômico e área de Carolina Silva, Fernanda Melo, Kátia 40 pp. ocorrência de Spondias tuberosa Arr. Câm. (umbuzeiro) no estado de Pernambuco, Bra- Chisaki e Mirtes Guedes, pelo auxílio no Dennis PA (1988) Herbal medicine among the trabalho de campo; e aos revisores anôni- sil. Dissertação de Mestrado. Universidade Miskito of eastern Nicaragua. Economic Bo- Federal Rural de Pernambuco. Recife. 291 mos pelas importantes sugestões. tany 42: 16-28. pp. Diegues AC (1994) O mito moderno da natureza REFERÊNCIAS Rêgo JF (1999) Amazônia: do extrativismo ao intocada. NUPAUB. São Paulo. 163 pp. neoextrativismo. Ciência Hoje 25: 62-65. FIDEM (2001) Perfil Municipal. Fundação de Albuquerque UP (1997) Etnobotânica: uma apro- Rodal MJN, Sampaio EVSB, Figueiredo MA Desenvolvimento Municipal. Recife. 3 pp. ximação teórica e epistemológica. Revista (1992) Manual sobre métodos de estudo flo- Brasileira de Farmácia 78: 60-64. Figueiredo GM, Leitão-Filho HF, Begossi A rístico e fitossociológico: ecossistema caatin- Albuquerque UP (1999) La importancia de los (1993) Ethnobotany of Atlantic forest coastal ga. Sociedade Botânica do Brasil. São Pau- estudios etnobiológicos para establecimiento communities: diversity of plant uses in lo. 29 pp.

JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 345 Sales MF, Lima MJA (1985) Formas de uso da Medina E (Eds.) Seasonally dry tropical Toledo VM, Batis AI, Becerra R, Martínez E, flora da caatinga pelo assentamento da forests. Cambridge University Press. New Ramos CH (1995) La selva util: etnobotá- microrregião de Soledade (PB). Anais da York. pp. 35-63. nica cuantitativa de los grupos indígenas del VIII Reunião Nordestina de Botânica. Reci- trópico húmedo de México. Interciência fe: Sociedade Botânica do Brasil, Seccional Sequeira V (1994) Medicinal plants and conser- 20:177-187. de Pernambuco, Brasil. pp. 165-184. vation in São Tomé. Biodiversity and Con- servation 3: 910-926. Vasques R, Gentry AH (1995) Use and misuse of Salinas JLV, Fernández AC, Caballero J (1993) forest-harvest fruits in the Iquitos area. Em Las plantas y la alimentación entre los mix- Silva VA (1997) Etnobotânica dos índios Xucuru Ehrenfeld D (Ed.) To preserve biodiversity. An tecos de Guerrero. Em Leff E, Carabias J com ênfase às espécies da Serra do Ororobá (Pes- overview: reading from conservation biology. (Eds.) Cultura y manejo sustentable de los queira-PE). Dissertação de Mestrado. Univer- Blackwell Science and The Society for recursos naturales. Centro de Investigaciones sidade Federal de Pernambuco. Recife. 75 pp. Conservation Biology. Oxford. pp. 96-107. Interdisciplinares en Humanidades, UNAM. México. pp. 625-670. Sousa MP, Matos MEO, Matos FJA, Machado Wilson RT, Mariam WG (1979) Medicine and MIL, Craveiro AA (1991) Constituintes quí- magic in Central Tigre: a contribution to the Sampaio EVSB (1995) Overview of the Brazilian micos ativos de plantas medicinais brasilei- ethnobotany of the Ethiopian Plateau. Eco- caatinga. Em Bullock SH, Mooney HA, ras. UFC. Fortaleza. 416 pp. nomic Botany 33: 29-34.

346 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7