Uso De Recursos Vegetales De La Caatinga: El Caso Del Campesino Del Estado De Pernambuco (Nordeste De Brasil) Interciencia, Vol

Uso De Recursos Vegetales De La Caatinga: El Caso Del Campesino Del Estado De Pernambuco (Nordeste De Brasil) Interciencia, Vol

Interciencia ISSN: 0378-1844 [email protected] Asociación Interciencia Venezuela Albuquerque, Ulysses Paulino de; de Holanda Cavalcanti Andrade, Laise Uso de recursos vegetales de la caatinga: el caso del campesino del estado de pernambuco (nordeste de Brasil) Interciencia, vol. 27, núm. 7, julio, 2002, pp. 336-346 Asociación Interciencia Caracas, Venezuela Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33907002 Cómo citar el artículo Número completo Sistema de Información Científica Más información del artículo Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Página de la revista en redalyc.org Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto USO DE RECURSOS VEGETAIS DA CAATINGA: O CASO DO AGRESTE DO ESTADO DE PERNAMBUCO (NORDESTE DO BRASIL) ULYSSES PAULINO DE ALBUQUERQUE e LAISE DE HOLANDA CAVALCANTI ANDRADE studos etnobotânicos no sos autores (Diegues, 1994; Begossi, mente utilizados no atendimento das ne- semi-árido brasileiro são 1998; Rêgo, 1999; Albuquerque, 1999). cessidades gerais ou se convertem em pro- ainda muito escassos, o No Nordeste do Brasil a dutos de venda ou troca? 3) Quais os pro- que reflete a grande falta de interesse pe- expansão pecuária é um processo marcan- dutos vegetais obtidos diretamente do las florestas secas, consideradas por Jan- te, que se reflete na conversão de flores- ecossistema? 4) A disponibilidade desses zen (1997) como um dos mais ameaçados tas em pastagens e cultivos. Algumas po- recursos e o atendimento das necessidades ecossistemas do planeta. As atuais formas líticas e programas destinados à região das pessoas na comunidade estudada obe- de uso e aproveitamento da terra são ex- são insuficientes e muitas vezes inconsis- decem a fatores temporais? 5) Há espécies tremamente precárias e não respeitam a tentes, pois derivam de um pobre conhe- que recebem maior atenção das pessoas? complexidade desses delicados ecossiste- cimento sobre os recursos e sobre a com- Muitas das espécies vegetais da caatinga mas. Uma das alternativas que têm sido plexidade da relação pessoas/ambiente. O estão atualmente ameaçadas de extinção apontadas para solucionar esse problema estudo de informações sobre a interação por várias razões, principalmente pela for- seria o estudo sobre o conhecimento e uso pessoas/plantas pode contribuir para mu- te pressão extrativista de madeira para que as populações locais fazem dos recur- dar o quadro atual e pode dar-se em dois produção de carvão e/ou materiais de sos naturais e a análise detalhada do im- níveis: padrão geral de uso da terra rela- construção. pacto de suas práticas sobre a biodiversi- cionado com atividades econômicas e dade (Albuquerque, 1997, 1999; Toledo et “background” cultural; e estudos por co- Área de Estudo al., 1995). munidades, grupos culturais ou táxons As rápidas mudanças so- (Bye, 1995). No presente artigo, objeti- O município de Alagoi- ciais e os processos de aculturação eco- vou-se especialmente estudar a relação de nha, com área de 181km2, está localiza- nômica e cultural afetam fortemente o uma comunidade rural, inserida no ecos- do no Nordeste do Brasil na sub-zona conhecimento local sobre o uso de recur- sistema caatinga, com as plantas da loca- do agreste de Pernambuco (08º27’59” S; sos naturais (Amorozo e Gély, 1988; Ca- lidade, tendo em vista a importância de 36º46’33” W), distando 225,5km da ca- niago e Siebert, 1998; Benz et al., 2000). um tal conjunto de informações para o pital deste Estado (FIDEM, 2001; Figura Os problemas decorrentes dessa perda conhecimento dos recursos desta região. 1). O clima é semi-árido quente de bai- cultural são irreversíveis e, com ela, as Este trabalho explora a xas latitudes. Segundo a classificação de possibilidades de desenvolver sustentavel- relação pessoas/plantas no ecossistema ca- Köppen, esse clima enquadra-se no tipo mente uma região com base na experiên- atinga (uma floresta seca), no município BSHs’. A temperatura média anual é de cia local são reduzidas. Quando se fala de Alagoinha, estado de Pernambuco (Bra- 25ºC e a precipitação pluviométrica anu- em desenvolvimento sustentável, deve-se sil). Os seguintes questionamentos nortea- al é de 599mm, com chuvas distribuídas garantir os meios de sobrevivência para ram o seu desenvolvimento: 1) De que irregularmente durante o ano. A vegeta- as comunidades locais antes de qualquer forma a comunidade local aproveita os re- ção natural consiste de floresta tropical outra coisa. Na verdade, todos esses as- cursos vegetais da região? 2) Aproveitando seca do tipo caatinga arbórea pectos já vêm sendo discutidos por diver- os recursos disponíveis, estes são direta- hiperxerófila, a qual se caracteriza pela PALAVRAS CHAVE / Brasil / Caatinga / Comunidade Rural / Etnobotânica / Uso de Recursos Naturais / Recebido: 05/10/2001. Modificado: 20/02/2002. Aceito: 09/04/2002 Ulysses Paulino de Albuquerque. Mestre e Doutor em Biologia Vegetal, Universidad Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. Professor Adjunto I. Endereço: Departamento de Biologia, Área de Botânica, Universidade Federal Rural de Pernambuco, R. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, Brasil. e- mail: [email protected] Laise de Holanda Cavalcanti Andrade. Mestra e Doutora em Botânica, Universidade de São Paulo, Brasil. Professor Ajunto IV. Endereço: Laboratório de Etnobotânica e Botânica Aplicada (LEBA), Universidade Fede- ral de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rêgo s/n, Cidade Universitária, Recife-PE. 336 0378-1844/02/07/336-11 $ 3.00/0 JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 presença de espécies xerófitas e decíduas, bem como de representantes das famílias Cactaceae e Bromeliaceae. Apresenta espécies que permanecem com folhas na estação seca, como é o caso do juá (Ziziphus joazeiro Mart.) ou parcialmente, como o umbu (Spondias tuberosa Arr. Câm.). A vegetação de caatin- ga, que cobre uma vasta área da região Nordeste do Brasil, é caracterizada pela deficiência hídrica originada da baixa pluviosidade, da alta evapotranspiração potencial e da distribuição irregular das chuvas (Rodal et al., 1992; Sampaio, 1995). Segundo Sampaio (1995) a flora é ainda pouco conhecida, incluindo aproximadamente 339 espécies de árvo- res e arbustos, sendo as famílias com o maior número de espécies Leguminosae, Euphorbiaceae e Cactaceae. A vegetação de caatinga não forma um conjunto es- trutural e florístico homogêneo, mas va- ria em função de fatores como solo, ín- dice xerotérmico, fisionomia e gêneros característicos, a saber: Tabebuia, Aspidosperma, Astronium, Cavanillesia, Schinopsis, Caesalpinia, Mimosa, Syagrus, Spondias, Cereus, Pilosocereus, Jatropha, Piptadenia, etc. (Sampaio, 1995). Na área de estudo, a agropecuária e o comércio são os dois principais setores econômicos. A agricul- tura é baseada no cultivo de feijão, man- dioca, milho e goiaba. A comunidade ru- ral, com 5793 habitantes dos 12522 ha- bitantes do total (FIDEM, 2001), apre- senta muitas unidades familiares caracte- rizadas por uma economia de subsistên- cia cultivando plantas como mandioca, milho, goiaba e pinha, e criando bovinos e/ou caprinos. Produtos excedentes são comercializados nas feiras e mercados da cidade ou de municípios vizinhos. Extensas áreas de vegetação são conver- tidas em pastagens ou derrubadas para produção de madeira e carvão. As pe- quenas propriedades da zona rural são Figura 1. Local de estudo. Município de Alagoinha, estado de Pernambuco, Nordeste do física e estruturalmente muito semelhan- Brasil. tes e a grande maioria apresenta parte de sua área cultivada com Opuntia spp., usada como forragem. Pode-se observar lheres com idade variando de 18-76 anos 1993; Martin, 1995). Um detalhado le- na região um sistema de manejo dos re- e seis homens com idade variando de 49- vantamento etnobotânico foi obtido e o cursos naturais caracterizado basicamen- 64 anos, empregando-se a técnica de en- material botânico decorrente dele foi co- te por ser um bioextrativismo, notada- trevista semi-estruturada (Martin, 1995). letado com o auxílio dos informantes mente de fruteiras nativas como o umbu. Os informantes foram questionados so- que identificaram as plantas no campo bre as plantas conhecidas e o uso que se por seu nome vernáculo. Umas poucas Materiais e Métodos faz delas na região. Além disso, um le- plantas citadas pelos informantes não fo- vantamento geral para análise de produ- ram encontradas durante as excursões de Realizou-se entrevistas tos com potencial de mercado foi feito coleta; por isso os nomes científicos re- com 30 informantes na área conhecida com base nos procedimentos adotados feridos para este conjunto de plantas são por Laje do Carrapicho e adjacências, en- por Mutchnick e McCarthy (1997). Ob- aqueles mais comuns ligados aos nomes volvendo todas as residências habitadas e servações sobre práticas agrícolas e de populares. Alguns materiais foram com pessoas dispostas a colaborar com a manejo também foram realizadas através coletados estéreis e identificados no nível pesquisa. No total entrevistou-se 24 mu- de observação participante (Mauss, de gênero. Estudos (por exemplo, Griz, JUL 2002, VOL. 27 Nº 7 337 1996) já realizados na região contribuí- ram com material de herbário para fins de comparação. Material-testemunho en- contra-se depositado no herbário UFP (Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco). Como complemento às etapas anteriores, buscou-se identificar os componentes da vegetação nativa presentes na alimentação e a sua importância. Os in- formantes foram diretamente questionados sobre isso, juntamente com

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