Tese Final Rahul
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Universidade de Lisboa Instituto de Ciências Sociais A pureza perdida do desporto: futebol no Estado Novo Rahul Mahendra Kumar Doutoramento em Sociologia Especialidade Teorias e Métodos de Sociologia 2014 Universidade de Lisboa Instituto de Ciências Sociais A pureza perdida do desporto: futebol no Estado Novo Rahul Mahendra Kumar Tese orientada pelo Professor Doutor José Manuel Sobral Doutoramento em Sociologia Especialidade Teorias e Métodos de Sociologia Tese apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/44577/2008 2014 Índice Agradecimentos i Resumo iv Abstract v Introdução 1 I. Sociogénese do campo desportivo português _ Introdução 21 _ Os primórdios do desporto em Portugal: uma prática distintiva 22 _ Comité Olímpico Português e o modelo aristocrático-militar 31 _ Alargamento e popularização do campo desportivo: o ciclismo e o boxe 38 _ A difusão do futebol e o crescimento da sociedade civil 48 _ Associativismo e ecletismo: dois traços fundamentais das organizações desportivas nacionais 52 _ A formação dos quadros competitivos e a popularização do jogo 55 _ O futebol no Algarve e o desenvolvimento do sector conserveiro: um estudo de caso 59 _ Olhanense campeão: a vitória do futebol popular 65 _ Os primeiros passos do semi-profissionalismo: o início e o fim do amor à camisola 71 _ A imprensa e a produção de uma narrativa desportiva 79 _ A selecção nacional nos Jogos Olímpicos de 1928: Cândido de Oliveira e António Ferro 83 _ Conclusão 94 II. Estado Novo e o desporto: ideologias e instituições _ Introdução 97 _ Decadência e regeneração: o lugar do desporto 104 _ Os primeiros programas estatais de educação física 111 _ O regulamento dos liceus de 1932: os médicos e o primado da ginástica respiratória 113 _ A educação física e os desportos no I Congresso da União Nacional: o triunfo dos militares 119 _ A institucionalização do Estado Novo 127 _ A escola e o desporto 131 _ Instituto Nacional de Educação Física: o centro irradiador de doutrina 136 _ Mocidade Portuguesa: ordem nos espíritos e disciplina nos corpos 140 _ Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho: mais gente nos campos menos nas bancadas 150 _ Emissora Nacional: elevar o gosto 163 _ A Direcção Geral de Educação Física, Desportos e Saúde Escolar: disciplinar o desporto 168 _ Conclusão 216 III. A pureza perdida do desporto: a profissionalização do jogador de futebol e a sua denegação administrativa _ Introdução 219 _ A ligação húngara e os novos estrangeiros no futebol português: a luta pela modernidade e as raízes do profissionalismo 228 _ Profissionalismo global 245 _ A situação portuguesa: a persistência do debate sobre o profissionalismo 258 _ O novo regulamento de transferências 263 _ Os passos finais para a profissionalização 280 _ O “Estatuto do Jogador” e o início da mudança legislativa 289 _ O debate na Câmara Corporativa e na Assembleia Nacional 301 _ Conclusão 309 Conclusão 311 Fontes e Bibliografia 317 Agradecimentos Uma tese de doutoramento é um dos símbolos máximos das chamadas obras puras. É vivida muitas vezes mais como uma questão pessoal do que um problema social. Surge como uma obra cujo valor se avalia em si mesmo, sem ter em consideração as condições sociais da sua produção, ou seja, o contexto económico e político em que é realizada. Também eu não irei fugir a esse modo de apresentação. Contudo, tenho de referir o contributo de algumas pessoas para a concretização do presente trabalho. Com isto não pretendo responsabilizar ninguém pelas falhas, lacunas e erros que esta tese certamente terá. Esses são apenas meus. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Professor Doutor José Manuel Sobral. Com a sua reconhecida erudição mas também com uma imensa sensibilidade teórica orientou muitas das escolhas do trabalho que agora se apresenta. A generosidade com que me permitiu seguir as minhas próprias ideias e a paciência que em diversas ocasiões demonstrou perante um processo de investigação que nem sempre evoluiu ao ritmo desejado foram verdadeiramente fundamentais para a elaboração desta tese. No Instituto de Ciências Sociais não posso deixar de referir a importância do Professor Doutor José Luís Garcia, entre i outras razões, pelo ambiente de franco e estimulante debate que promoveu durante estes anos. O José Neves e a Nina Clara Tiesler foram interlocutores sempre interessados. Uma parte importante daquilo que hoje em dia se designa por excelência das organizações passa pelo trabalho de um vasto conjunto de pessoas que nem sempre é devidamente valorizado. Tenho a certeza de que sem o inquestionável conhecimento e saber com que a Andreia Parente, a Elvira Costa, a Madalena Reis e a Paula Costa gerem a biblioteca do ICS muita da investigação que ali se realiza, e em especial esta tese, não teria a mesma qualidade. Como se isso não fosse suficiente, penso que posso tratá-las, hoje, como amigas. À Ana Mafalda Graça, à Élia Paiva e à Dra. Maria Goretti Matias devo a resolução, sem complicações, de muitos dos problemas e obrigações de natureza administrativa e burocrática que foram surgindo ao longo destes anos. Entre conferências, debates e publicações, ou outros contextos, diferentes pessoas foram criticando e discutindo aspectos desta tese. Desde logo o apoio do Miguel Chaves foi importante na preparação do projecto. Tenho em seguida de referir os comentários e leituras atentas de diversos capítulos efectuadas por Nuno Domingos e José Nuno Matos, pelo Professor Doutor João Sedas Nunes e pelo Professor Doutor João Carlos Graça. A Professora Doutora Margarida Marques, o Professor Doutor Diogo Ramada Curto e o João Pedro George convidaram-me para apresentar o meu trabalho aos seus alunos na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Devo um reconhecimento especial à Patrícia Pereira, ao Tiago Ralha e à Marta Alves, cujo contributo se tornou essencial para concluir a tese. A Inês Brasão foi uma das pessoas que me acompanhou do início ao fim deste trabalho. Leu, comentou e criticou todas as suas versões, do projecto ao texto definitivo. Penso que isso diz tudo sobre o quanto lhe estou agradecido. Felizmente não consigo nomear, porque foram demasiadas e extraordinárias, todas as formas através das quais outros colegas e amigos contribuíram para este trabalho. Limito-me, portanto, correndo o risco de me ter esquecido de alguém e de não lhe dar o devido crédito, a nomeá-los por ordem alfabética, assim lhes transmitindo o meu obrigado: Alice Samara, Ana Gonçalves, Bárbara Direito, Bruno Peixe, Cristina Gomes da Silva, Cristina Pinto, Edalina Sanches, Helder Capela, Inês Costa, José Mapril, José Pedro Silva, Marcos Cardão, Nuno Dias, Nuno Estevão Ferreira, Nuno Oliveira, Patrícia Dias da Silva, Pedro Gomes, Pedro Mendonça e Victor Pereira. Acresce que esta ii investigação nunca teria sido possível sem a amabilidade dos funcionários da Biblioteca Nacional, que foi também durante muito tempo o meu local de trabalho, e dos funcionários do Arquivo do Ministério da Educação. O mesmo se aplica à Fundação para a Ciência e Tecnologia, que me atribuiu uma bolsa de doutoramento. Sem a ajuda da Maria Helena, do Francisco, da Zé, da Eduarda e da Joana nunca teria conseguido acabar esta tese. Não se tratam de palavras de circunstância. Não lhes conseguirei nunca agradecer a forma como saíram em meu socorro nos últimos meses de escrita e revisão do trabalho. Tratou-se de uma fase marcada por solicitações conflituantes. Por um lado, a urgência em finalizar o presente trabalho. Por outro, a obrigação de cuidar do Miguel e da Rita, que nasceram em Agosto de 2013. A eles espero dedicar o futuro. À minha irmã Nehal e aos meus pais sei que não preciso de agradecer. À Marta também não, até porque não saberia como e, sobretudo porque seria um reconhecimento insignificante para compensar quem hoje sabe mais de futebol do que alguma vez pensou querer saber. Trata-se de uma crueldade da qual me demorarei anos a redimir. Tenho tempo, espero. Apesar de noutras profissões ou ocupações, tidas como desqualificadas, não ser habitual dedicar os resultados do trabalho àqueles que nos são mais queridos, no caso da investigação essa é uma prática habitual. Dedico, portanto, esta tese aos meus pais, à Bina e ao Mahendra. iii Resumo Ao longo deste trabalho interrogamos o lugar do futebol no Estado Novo e na cultura popular portuguesa da época. A presente investigação toma como objecto privilegiado a relação entre o futebol – como parte de um campo desportivo autónomo que se encontrava na década de 1940 no final de um processo de institucionalização – e o Estado Novo – um poder político que se procurava impor ao espaço social português, desde o início da década de 1930. A hipótese aqui apresentada é a de que o desenvolvimento do futebol e a sua inscrição na cultura popular portuguesa contemporânea não foram promovidas pelo Estado Novo, e pelas suas organizações, nem podem primeiramente ser compreendidas à luz de uma história política. Na primeira parte do texto, procuramos interpretar a história da introdução dos desportos modernos em Portugal, a partir dos seus agentes e instituições. É no âmbito dessa mesma história que situamos o processo de popularização do futebol. Na segunda parte, identificamos os programas ideológicos mas também os quadros institucionais a partir dos quais o Estado Novo procurou regular a esfera dos lazeres e influenciar a configuração do campo desportivo português. A distinção entre educação e física e desportos é, neste contexto fundamental. A intervenção política neste campo autónomo, e em particular no terreno do futebol, é analisada mais aprofundadamente com base no arquivo da Direcção Geral de Educação Física Desportos e Saúde Escolar. Na terceira parte, debruçamo-nos sobre o significado desta política, que continuou até ao inicio da década de sessenta a advogar o amadorismo como o modelo oficial para a prática desportiva.