Sonhos Verticais
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sonhos verticais Sonhos Verticais Manoel Morgado Manoel Morgado sonhos verticais escaladas ao Cho Oyu e Everest Sonhos Verticais © Manoel Augusto Monteiro Morgado, 2012 Fotos do arquivo pessoal do Autor e do projeto Challenge8000 Edição, projeto gráfico e editoração Antônio Wenzel Luzzatto Supervisão editorial Samara Kalil Revisão Renato Deitos conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M845s Morgado, Manoel Sonhos verticais : escaladas ao Cho Oyu e Everest / Manoel Morgado. - Porto Alegre, RS : Artes e Ofícios, 2012. 216p. : il. ; 16x23cm. “Inclui minidicionário de termos técnicos, como começar no montanhismo, filosofia budista para as escaladas da vida” ISBN 978-85-7421-205-0 1. Morgado, Manoel - Viagens - Everest, Monte (China e Nepal). 2. Morgado, Manoel - Viagens - Cho Oyu, Monte (China e Nepal). 3. Everest, Monte (China e Nepal) - Descrições e viagens. 4. Cho Oyu, Monte (China e Nepal) - Descrições e viagens. I. Título. 12-0688. CDD: 915.496 CDU: 913(541.35) 06.02.12 09.02.12 033037 Reservados todos os direitos de publicação para ARTES E OFÍCIOS EDITORA LTDA Rua Almirante Barroso, 215 — Floresta CEP 90220-021 — Porto Alegre, RS (51) 3311.0832 [email protected] www.arteseoficios.com.br IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL ISBN 978-85-7421-205-0 Manoel Morgado onhos, verticais ou não, impulsionam a vida. Sonhar nos dá a di- Sreção — para aonde queremos ir, aonde queremos chegar. Sonhos nos dão a coragem para ousar, ir mais além, superar — são a realidade vislumbrada de quem queremos ser. Todos meus projetos sempre começaram com um sonho. De início aparentemente impossíveis, mas, como um lento quebra-cabeças, aos poucos vão tomando forma, cada peça se encaixando com perfeição. O que vejo nos sonhos me impulsiona, me dá a força necessária para a dedicação, foco e trabalho duro que fazem um sonho se transfor- mar em realidade. Por muito tempo o Everest visto de sua base, nos entardeceres no Kala Patar, há oito quilômetros de distância de seu cume, me parecia uma aspiração impossível, própria para super-homens, intrépidos, fortes, despidos de amor a vida. Depois descobri que, para mim, es- tar no topo do Everest era algo que eu desejava imensamente — e os desejos se transformaram em um sonho e o sonho em um plano, e finalmente o plano em realidade. Naquele momento mágico, às 8h da manhã do dia 17 de maio de 2010, mais uma vez eu comprovei o que sempre soube: sonhar é fundamental, é o primeiro passo para a incessante busca do que quero ser. Sonhem! Sonhos Verticais Manoel Morgado Sumário Apresentação, Waldemar Niclevicz, 9 Prólogo, 13 Deusa Turquesa, a Expedição Abençoada Relato da escalada do Cho Oyu (8.201 metros), a sexta montanha mais alta da Terra A aproximação, 16 O primeiro ciclo, 39 O segundo ciclo, 65 O terceiro ciclo, 82 O cume, 87 A volta, 95 De volta a Katmandu, 103 Chomolungma, a Deusa Mãe da Terra Relato da escalada do Everest (8.848 metros), a montanha mais alta da Terra O preparo, 106 Sonhos Verticais O trek, 112 Island Peak, 119 A aclimatação, 123 A escalada, 159 A volta, 178 Epílogo, 183 Agradecimentos, 185 Como começar no montanhismo, 187 Filosofia budista para as escaladas da vida, Tenzin Chogkyi, 189 Minidicionário de termos técnicos, 195 Manoel Morgado Apresentação Após uma árdua subida, enfrentando o vento gelado e uma leve e insistente nevasca, fomos superando uma rampa que beirava os 60° de inclinação, na expectativa do terreno a nossa frente perder a in- clinação, o que finalmente foi acontecendo, tão rapidamente como o cessar do vento e a chegada dos raios do sol. Parecia inacreditável, aquela morna tarde de 27 de julho de 2000 trazia tudo o que eu havia esperado naqueles últimos três anos da minha vida, castigados por duas tentativas frustradas de escalar o K2, a Montanha das Montanhas. Eu e meus dois amigos italianos não perdemos tempo, fomos logo montando o nosso acampamento 3, a 7.450 metros de altitude, mas, a cada minuto que passava, a paisagem se tornava mais contemplativa, com as nuvens já douradas pelo entardecer para o lado do Broad Peak, enquanto acima de nossas cabeças se firmava um céu cada vez mais azul, cada vez mais infinito. A expectativa de atingir o cume do mais desejado dos 14 Oito Mil nos dias seguintes não era apenas nossa. Pelo menos três dezenas de outros alpinistas estavam nos acampamentos abaixo ávidos por no- vidades, e um dos momentos mais esperados era o contato via rádio. Quando fizemos a comunicação, a troca de informação animou a to- dos, não só as condições do K2 pareciam perfeitas acima dos 7.500m, SonhosApresentação Verticais como a previsão do tempo nos garantia pelo menos dois dias estáveis. Estávamos no lugar certo, na hora certa. Então, uma voz completamente inesperada me chama pelo rádio, em português. Naquele momento, naquele lugar, quem seria? — Oi Waldemar, aqui é o Manoel Morgado, tudo bem? Jamais imaginava que eu seria confortado pela língua falada no meu país, naquele momento tão envolvente e especial, quando estava prestes a iniciar o ataque final àquela que é considerada a montanha mais difícil do mundo. Morgado, com uma voz calma mas cheia de entusiasmo, desejou-me boa sorte, dizendo que acreditava que tudo daria certo. Foi impossível eu não me emocionar. No dia seguinte ele seguiu rumo ao Ali Camp para completar um dos circuitos de caminhada mais lindos do mundo. E na madrugada seguinte, quando ele cruzava o Passo Gondogoro, eu começava a es- calada dos últimos 600 metros do K2. Certamente ele fez suas orações olhando para trás, para o K2. Felizmente, deu tudo certo. Naquela época, Manoel Morgado já era famoso como um dos brasi- leiros que mais conhecia o Himalaia, e nos anos seguintes sua paixão pela cultura da Ásia, pelos costumes e pelas tradições de povos que estão fortemente ligados à natureza e à religião, só se fez aumentar. Inevitavelmente, em cada uma de suas caminhadas entre as maio- res montanhas do mundo, principalmente até os pés do Everest, nas- ceu nele um desejo de galgar aquelas alturas para completar a sua experiência física e espiritual. Por onde começar? A resposta é mais simples do que muitos pos- sam imaginar. Embora todos sejam atraídos pelo magnetismo do Everest, sabem que para chegar até os seus 8.848 metros de altitude é preciso muita experiência. Existem 14 montanhas no mundo com mais de 8 mil metros de altitude, e quem conseguir escalar pelo me- nos uma delas antes de ir para o Everest vai ter uma boa ideia de como o ar rarefeito e o frio daquelas altitudes podem nos abalar. Não existe nenhum 8 mil fácil, mesmo aqueles mais baixos conti- nuam sendo uma das 14 maiores montanhas do mundo! Mas o Cho 0 ManoelApresentação Morgado Oyu tornou-se o lugar ideal para se ter o primeiro contato com um 8 mil devido a facilidade do seu acesso pelo altiplano tibetano. Todos os anos, dezenas de expedições, às vezes centenas de pessoas, acampam em suas encostas, e acabam criando uma infraestrutura que dá o su- porte suficiente para a sua escalada. Pode se ter toda a logística, mas é você quem vai ter que escalar, é assim que se aprende. Manoel Morgado nos conta neste livro essa sua profunda experiên- cia, a do “primeiro 8 mil”, a escalada do Cho Oyu. Mas não se contenta, em busca de sua evolução, parte como um peregrino para o Everest, mostrando que para quem tem fé, e está disposto a aprender, nem o sonho de escalar a maior montanha do mundo é inatingível. Waldemar Niclevicz primeiro brasileiro a escalar o Everest, o Cho Oyu, o Shisha Pangma, o Makalu, o Lhotse, o Gasherbrum II e o K2 SonhosApresentação Verticais 11 12 Manoel Morgado Prólogo Normalmente, o encantamento acontece aos poucos. Experimentamos, repetimos e gradualmente vamos nos acostumando e gostando mais. Em outras oportunidades, já na primeira vez acontece como se, para que sejamos felizes, precisássemos ter aquela emoção conosco... Com as montanhas e comigo foi assim. Na primeira vez em que viajei à Bolívia, em 1974, com apenas 17 anos, vi as montanhas nevadas dos Andes e senti que meu destino de alguma forma teria de estar ligado a elas. E, nesses 35 anos, nunca mais fui capaz de me deslumbrar com nenhuma outra situação ou paisagem da mesma maneira como me sinto quando estou próximo a uma montanha nevada. Há 20 anos percorro o mundo, já tendo viajado por muitos países em todos os continentes e visto lugares deslumbrantes, culturas fas- cinantes e paisagens de sonho. Tenho uma coleção de experiências e histórias que levaria outra vida para lembrar e contar. Mas, cada vez que estou cercado de montanhas, sinto a mesma emoção: paz, harmonia, o sentimento de tudo estar como deveria, um pequeno vis- lumbre da felicidade perfeita. Há 18 anos guio grupos de brasileiros em viagens de trekking ou de escalada. Por mais de 40 vezes percorri as trilhas do Khumbu, a região do Everest, dividindo minha paixão com uma infinidade de pessoas. Nessas ocasiões, ao pôr do sol, a apenas 8 quilômetros do Sonhos Verticais 13 Everest e vendo claramente o Colo Sul, a pequena sela que une o Eve- rest ao Lhotse, o ponto de partida para a última etapa da escalada da maior montanha da Terra, eu me perguntava: o que será que os escaladores que lá estavam sentiam? Solidão? Medo? Ansiedade de ver-se frente a frente com seu destino e seus sonhos? Naquela época, eu também sonhava com a experiência. Hoje, tendo escalado o Cho Oyu, a sexta mais alta montanha da Ter- ra, e o Everest, o ponto culminante do planeta, já sei algumas respostas, mas outras ainda me fogem.