MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE PARQUE NACIONAL DO JURUENA AM/MT

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- PIBIC/ICMBio

Relatório Final (2017-2018)

INVENTÁRIO DA ICTIOFAUNA DE CORPOS D’ ÁGUA DO PARNA JURUENA – MT, BRASIL

Estudante de IC: Luciano Dias da Conceição

Orientadora: Lourdes Iarema Co-Orientadora: Solange Arrolho

Alta Floresta – MT Agosto - 2018 RESUMO

A bacia Amazônica conserva uma hidrografia composta por inúmeros e imensos rios, igarapés e lagos, onde pouco se conhece sobre a sua taxonomia, distribuição, biologia e ecologia dos peixe desta região. Por esta necessidade o presente estudo tem por objetivo contribuir na realização do levantamento ictiofaunístico em corpos d´água do Parque Nacional do Juruena. Foram realizadas coletas no Rio Juruena e em igarapés dentro do parque, em 2017 e 2018, foram estabelecidos seis (6) trechos no rio Juruena e em sete (7) igarapés, as coletas foram realizadas com o uso de puçás, rede de arrasto, rede de espera e pesca. As amostras foram fixadas em solução de formalina a 10% no local de coleta e transportadas ao Laboratório de Ictiologia da Amazônia Meridional, na Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT, onde foram identificadas e incorporados à coleção. Na coleta realizada no rio Juruena foram coletados 1654 exemplares, distribuídos em 6 ordens, 26 famílias 62 gêneros e 98 espécies. Coletas realizadas nos igarapés constaram 357 exemplares, distribuídos em 5 ordens 18 famílias, 38 gêneros e 68 espécies. Foi realizado incisão abdominal para determinação de sexo e estádio de maturação gonadal, e determinação da dieta alimentar. Foram analisados 12 conteúdos estomacais onde 67% consumiram peixe ou restos de peixes e inseto, os demais 33% não possuíam alimento, as gônadas apresentaram 7 catalogadas como fêmeas e 5 machos. Esse estudo permite avaliar que a conservação das áreas amostradas é um fator determinante para a alta diversidade ictiológica encontrada nestes locais.

Palavras chave: Alimentação, Diversidade, Reprodução

ABSTRACT

The conserves a hydrography composed of innumerable and immense rivers, streams and lakes, where little is known about its , distribution, biology and ecology of the fish of this region. Due to this need the present study aims to contribute to the accomplishment of the ichthyofaunistic survey in water bodies of the Juruena National Park. Collections were made in Juruena River and in igarapés within the park, in 2017 and 2018, six (6) stretches were established on the Juruena River and seven (7) igarapés, the collections were carried out with the use of puçás, trawl, net of waiting and fishing. The samples were fixed in 10% formalin solution at the collection site and transported to the Ichthyology Laboratory of Southern Amazonia at the State University of Mato Grosso UNEMAT, where they were identified and incorporated into the collection. In the collection made in the river Juruena were collected 1654 specimens, distributed in 6 orders, 26 families 62 genera and 98 . Collections carried out in the igarapés consisted of 357 specimens, distributed in 5 orders 18 families, 38 genera and 68 species. Was An abdominal incision was made to determine the sex and stage of gonadal maturation, and dietary diet determination. Twelve stomach contents were analyzed in which 67% consumed fish or fish and insect remnants, the other 33% did not have food, the gonads presented 7 cataloged as females and 5 males. This study allows to evaluate that the conservation of the sampled areas is a determining factor for the high ichthyological diversity found in these sites.

Keywords: Food, Diversity, Reproduction

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Aplicação dos métodos de coleta. A - Armação de rede de espera; B - Utilização de puçás; C - realização de pesca convencional. Fotos: Fotos B e C Arrolho, 2017; A e D Conceição 2017...... 16

Figura 2 - Peixes coletados pelo método de pesca no rio Juruena; A: Pesca realizada no trecho 3; B: Soltura de zungaro zungaro no trecho 3; C: Retirada da medidas de comprimento de Phractocephalus hemioliopterus no trecho 5; D: Registro fotografico de Ramdhia quelen no trecho 5. Fotos: CONCEIÇÃO, 2018...... 22

GRÁFICOS

Gráfico 1 - Porcentagem dos táxons de peixes registrados no Monitoramento do PARNA Juruena, em 2016...... 15

Gráfico 2 - Porcentagem de ordens de peixes coletadas no ano de 2017 no rio Juruena...... 20

Gráfico 3 - Porcentagem das ordens coletadas nos igarapés do PARNA Juruena...... 25

Gráfico 4 - Número de peixes coletados no PARNA Juruena, de acordo com seus estádios gonadais, Outubro de 2017...... 28

Gráfico 5 - Comparação da temperatura da água entre os anos de 2017 e 2018...... 29

Gráfico 6 - Comparação do pH nos trechos de coleta no anos de 2017 e 2018...... 30

TABELAS Tabela 1 - Lista de Locais de Coleta da Ictiofauna no rio Juruena, coordenadas geográficas DATUM WGS 84...... 13

Tabela 2 - Lista de espécies de coletadas no rio Juruena, para cada trecho de coleta. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas...... 17

Tabela 3 - Numero de peixes coletados pela pesca no rio Juruena, nos anos de 2017 e 2018. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas...... 21

Tabela 4 - Lista de espécies de coletadas nos igarapés do PARNA Juruena. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas...... 23

Tabela 5 - amostra dos estômagos analisados referente a coleta de Outubro de 2017. Legenda Guilda: NAIA – Número Amostral Insuficiente para análise. ... 26

Tabela 6 - Espécies da ictiofauna com os estádios de maturação gonadal coletados em Outubro de 2017...... 27

Tabela 7 - Atributos físicos e químicos da água dos trechos de amostragem, para a coleta de Outubro de 2017...... 28

Tabela 8 - Atributos físicos e químicos da água dos trechos de amostragem, para a coleta de Outubro de 2018...... 29

ABREVIATURAS

ICMBio Instituto Chico Mende de Conservação da biodiversidade

LIAM laboratório de Ictiologia da Amazônia Meridional

PARNA Juruena Parque Nacional do Juruena pH Potencial hidrogeniônico

PPBio Programa de Pesquisa em Biodiversidade

UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso

Sumário

INTRODUÇÃO ...... 9 OBJETIVOS ...... 11 Objetivo Geral ...... 11 Objetivos Específicos ...... 11 MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO ...... 12 Auxílio na Manutenção da coleção de ictiologia da UNEMAT ...... 12 Auxílio nas Coletas de dados em Campo...... 12 Coleta com puçás/peneira ...... 13 Coleta com rede de arrasto ...... 13 Coleta com rede de espera ...... 14 Coleta com varas de pesca ...... 14 Fixação e conservação dos espécimes ...... 14 Análise de qualidade da água ...... 15 RESULTADOS ...... 15 Coleta através da pesca ...... 21 Coletas em igarapés ...... 23 Guildas Tróficas ...... 26 Processo Reprodutivo ...... 27 Qualidade da água...... 28 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ...... 30 RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO ...... 32 AGRADECIMENTOS ...... 32 CITAÇÕES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 33

INTRODUÇÃO

A floresta Amazônica conserva uma hidrografia composta por inúmeros e imensos rios, igarapés e lagos, onde concentra a mais rica ictiofauna de água doce do mundo, sendo estimada por Bohlke et al. (1978) um número final de 5.000 espécies. Schaefer (1998) presumiu o impressionante número de 8.000 espécies, representando assim um oitavo de toda a biodiversidade estimada de vertebrados viventes (Vari & Malabarba, 1998). Goulding & Barthem (1997), estimam uma diversidade entre 2.000 e 3.000 espécies, e Lévêque et al., (2008) diz que cerca de 2.400 espécies são válidas. Entretanto, estima-se que de 30 a 40% dessa ictiofauna é ainda desconhecida (Uieda & Castro, 1999). Os denominados “grandes rios” tem sido objeto de estudos de uma ampla variedade de trabalhos realizados nos últimos 50 anos (Tundisi & Tundisi, 2008). Mas como apresentado por Zanson (1999) a maior parte da ictiofauna na Amazônia, constituída por espécies de pequeno e médio porte, encontradas em igarapés e riachos, com poucos registros publicados além da descrição original. Sendo preocupantes devido a pressões ambientais atuais gerados pela devastação de áreas florestais e alterações generalizadas em sistemas aquáticos, na forma de poluição, assoreamento e barramentos. Ainda hoje há muitas espécies de peixes sendo descritas, algumas de porte muito grande e que surpreendentemente passaram despercebidas até bem pouco tempo atrás (Berra, 1997). A Amazônia é insuperável em sua biodiversidade, a dimensão da sua bacia permite a existência de ecossistemas aquáticos de enorme complexidade. Esta variedade de ambientes contribui para que a Amazônia tenha a maior fauna de água doce do mundo (Val & Honczaryk, 1995). Na Amazônia as variações na aparência e conteúdo químico de seus sistemas aquáticos naturais estão associadas aos diferentes padrões de distribuição das condições geológicas e mineralógicas dentro de sua imensa bacia hidrográfica (Sioli, 1968). Os modelos de distribuição da ictiofauna ocorrem de acordo com as variáveis limnológicas inerentes a vida aquática, como pH, dureza, condutividade e temperatura (Esteves, 1978), até mesmo mecanismos complexos, como disposição de mata ciliar (Barrella et al; 1994) e a disponibilidade de habitas (Rincon, 1999). Sendo presença ou ausência de fendas de rochas, galhos e troncos submersos ou vegetação aquática, definidos por Ueida (1989).

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O regime de precipitação exibe variações anuais, é caracterizado um período chuvoso e de estiagem (Souza & Cunha, 2010), essas variações alteram as características físicas e químicas da água, como pH, condutividade, oxigênio dissolvido, fluxo e temperatura, fatores determinantes (Tejerina-Garro et al., 1998). Regulando as comunidades aquáticas e tornando estes ambientes muito dinâmicos e diversos em espécies (Junk et al., 1989). O Parque Nacional Juruena (PARNA Juruena) foi criado em 2006 e possui uma área de aproximadamente 1.958.000 hectares. Datum SAD-69, projeção UTM, Zona 21, é o quarto maior Parque Nacional, abrange áreas no sul do estado do Amazonas nos municípios de Apuí e Maués e ao norte do Mato Grosso, nos municípios de Apiacás, Nova Bandeirantes e Cotriguaçu (ICMBio, 2011). Pouco se conhece sobre a taxonomia, distribuição, biologia e ecologia das espécies de peixes que ocorrem na calha do rio Juruena, como também da grande maioria das espécies encontradas em toda a bacia Amazônica (Masson, 2005). Por esta necessidade o presente estudo tem por objetivo contribuir na realização do levantamento ictiofaunístico em corpos d´água do Parque Nacional do Juruena, bem como organizar e auxiliar na implementação do banco de dados sobre a biologia das espécies encontradas na região. O conhecimento técnico-científico sobre a assembleia de peixes, o reconhecimento e a compreensão de padrões que a estruturam e a biologia das espécies, serão fundamentais para a tomada de decisão na gestão do território. Pois os grandes rios brasileiros apresentarem uma elevada demanda em se construir reservatórios, com fins principalmente de geração de energia (Agostinho et al., 2008; Agostinho & Gomes, 2005; Doria et al., 2012a).

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OBJETIVOS

Objetivo Geral

• Contribuir na realização do levantamento ictiofaunístico em corpos d´água do Parque Nacional do Juruena (PARNA - Juruena), Estado do Mato Grosso, Brasil, bem como organizar e auxiliar na implementação de banco de dados sobre a biologia das espécies encontradas na região.

Objetivos Específicos

• Auxiliar na tabulação de dados visando evidenciar as espécies de peixes que tenham importância, tanto para a conservação como para a caracterização das comunidades naturais; • Auxiliar nas análises da biologia reprodutiva em relação ao período de piracema no estado de Mato Grosso. • Auxiliar na tabulação de dados para verificar a diversidade de espécies ictiológica do rio Juruena e seus igarapés.

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MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO

Auxílio na Manutenção da coleção de ictiologia da UNEMAT

O Laboratório de Ictiologia da Amazônia Meridional (LIAM) localizado NA UNEMAT campus de Alta Floresta – MT no endereço MT 208, km 146, Jardim Tropical- Alta Floresta, 78580-000, (66) 3521-0206, começou suas atividades no ano de 2004. Realiza projetos de pesquisa e extensão com enfoque no diagnóstico e, monitoramento da ictiofauna de usinas hidrelétricas nos rios Teles Pires e Juruena, bem como estudos de ecologia e distribuição das diversas espécies de peixes presentes no Mosaico da Amazônia Meridional, que abrange os estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia. O LIAM também atua com peixes de áreas degradadas e Unidades de Conservação como o Parque Estadual do Cristalino e Parque Nacional do Juruena (UNEMAT, 2014). No LIAM foram realizada as atividades de identificação, biometria e pesagem dos peixes, para assim serem destinados a Coleção do laboratório. Todos os peixes foram organizados de acordo com os métodos de capturas, trechos e datas que foram coletadas, tornando assim mais prático de se encontrar determinados peixes.

Auxílio nas Coletas de dados em Campo

O rio Juruena possui extensão de 1.080 km, nasce nas encostas setentrionais da Serra dos Parecis em altitudes próximas a 700 m, no seu encontro com o rio Teles Pires passa a formar rio Tapajós, já na tríplice divisa dos estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso (Vasconcelos, 2014). Compreende uma bacia de drenagem de 63.988 km². A região possui um clima equatorial com pluviosidade média de 2.100 mm, o regime pluviométrico tem uma precipitação máxima de 2.700 mm anuais. O período seco abrange cinco meses, de maio a setembro, e um período de chuvas, que tem início geralmente de outubro e se estende até abril (CNEC, 2009). A metodologia de coleta será de acordo com a descrita pelo programa de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio e PPBio –Amazônia (PETTS, 1994). Para as coletas foram estabelecidos seis (06) pontos de coleta no rio Juruena e em 7 igarapés que cruzavam as trilhas de monitoramento dentro do parque (Tabela 1).

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Tabela 1 - Lista de Locais de Coleta da Ictiofauna no rio Juruena, coordenadas geográficas DATUM WGS 84. Trechos Locais Coordenadas Trecho 1 Rio São João S 8.950381 W 58.543771 Trecho 2 Pequena lagoa marginal S 8.949161 W 58.555968 Trecho 3 Rio Juruena a montante do Salto Augusto -Paredão S 8.945045 W 58.560413 Trecho 4 Rio Água Preta S 8.890900 W 58.571048 Trecho 5 Rio Juruena - Salto Augusto S 8.88599 W 58.552696 Trecho 6 Igarapé que corta o garimpo do Juruena S 9.047620 W 58.591319 Trilha Cobra Igarapé no km 2900 da trilha S 9.0245112 W 58.6342653 Trilha Cobra Igarapé no km 4900 da trilha S 9.0199687 W 58.6530688 Trilha Escorpião Igarapé aos 550 m da trilha S 8.9816120 W 58.5922137 Trilha Escorpião Igarapé no km 1300 da trilha S 8.9784723 W 58.5984106 Trilha Saruê Igarapé aos 500 m da trilha S 8.9558623 W 58.5445182 Trilha Saruê Igarapé no km 1300 da trilha S 8.9662105 W 58.5444400 Trilha Saruê Igarapé no km 3000 da trilha S 8.9783239 W 58.5444350

Coleta com puçás/peneira

Este é um método ativo de coleta de peixes, que geralmente constitui de captura peixes de pequeno porte (<100mm), possibilita a captura de exemplares alojados em áreas de vegetação densa, folhiço submerso ou nas margens. Esta técnica de captura foi aplicada em todos os trechos e igarapés, em locais próximos a vegetação aquática e em contato com a água. Este método foi aplicado em áreas de até 1,5 m de profundidade. O tempo de coleta foi uma hora em cada ponto de coleta (matutino ou vespertino).

Coleta com rede de arrasto Este método foi utilizado por dois coletores, e buscou acessar uma fauna associada ao leito dos rios. As redes de arrasto foram aplicadas manualmente em locais menos profundos até 1,5 metros. A rede era lançada em direção aos locais mais profundos e arrastadas em direção a margem, então erguida e retirados os peixes capturados. Esse método também foi aplicado nos igarapés, apenas alguns não foi possível a aplicação do método devido ao grande 13

número de raízes e galhos, que impossibilitavam o uso do arrasto.

Coleta com rede de espera

Este método passivo de coleta de peixes foi empregado para a captura de peixes de médio e grande porte que habitam ou esporadicamente utilizam os igarapés ou as margens do rio para alguma de suas atividades biológicas. Nos trechos foi empregada uma bateria de redes de diferentes malhas (1.5, 2, 3, 4, 5, 8, 10 cm entre nós opostos e rede feiticeira), a fim de capturar exemplares de vários tamanhos e formas. Cada bateria foi constituída de 5 redes entre 10 e 30 metros de extensão e entre 2 e 3 metros de altura. As redes foram mantidas expostas, paralelamente aos corpos d’água, por até 24 horas e revisadas 4 vezes.

Coleta com varas de pesca

No intervalo entre as verificações das redes, foram realizadas coletas com o uso de material de pesca convencional, ou seja, com varas de fibra de carbono equipadas com carretilha ou molinete. Este equipamento usa linhas de nylon de capacidade de tensão apropriada para o tipo de peixe esperado. Foram arremessadas com este equipamento, iscas artificiais de diversos modelos, tamanhos e formas e iscas naturais (Minhoca, milho, etc), no intuito de capturar os peixes de médio e grande porte.

Fixação e conservação dos espécimes

Cada sequência de amostras (rede, puçá ou vara de pesca) foi devidamente etiquetada, e o material coletado anestesiado com o uso de Eugenol, conforme Resolução N° 714 do Conselho Federal de Medicina Veterinária e imediatamente fixado em solução de formalina a 10% no local de coleta. Para exemplares de proporções corporais maiores, estes foram fixados através de injeções de formol 10% ao longo de toda a musculatura e no interior da cavidade abdominal e acondicionado em recipientes com formol 10%. Os peixes capturados vivos nas redes de espera e na pesca com vara e anzol foram realizadas as medidas de peso, comprimento e fotografados in situ em condição de sobrevivência, e soltos. Os peixes capturados foram transportados para o Laboratório de Ictiologia da

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Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Campus de Alta Floresta, para serem identificados e analisados, e depositados em recipientes com álcool 70%. Para os peixes mortos nas redes de espera foi efetuada incisão abdominal para determinação de sexo e estádio de maturação gonadal, e retirados tratos digestivos para determinação da dieta alimentar. Todos os exemplares coletados foram depositados na Coleção de Peixes do Campus de Alta Floresta – UNEMAT, estando à disposição para visitas técnicas dos órgãos ambientais e pesquisadores interessados. Análise de qualidade da água

As variáveis ligadas a qualidade da água, foram aferidas com medidores portáteis para análise de multiparâmetros sendo eles o, pHmetro para medidas de pH e condutividade elétrica, e o Oximetro para realizar a medida de temperatura da água, medidas de Oxigênio dissolvido na água em porcentagem e a quantidade em ml/L, todas as informações eram anotadas no caderno de campo.

RESULTADOS

Para o monitoramento de 2016 foi possível observa um total de 74 espécies, sendo de 95 famílias e de 4 ordens, como é demonstrada no gráfico 1, abaixo disponibilizado pelo LIAM.

Gráfico 1 - Porcentagem dos táxons de peixes registrados no Monitoramento do PARNA Juruena, em 2016. 15

A coleta da segunda campanha e terceira no geral do PARNA Juruena ocorreu entre os dias 23 a 27 de outubro de 2017. Para a captura dos peixes foram utilizados puçás, rede de arrasto, rede de espera e material de pesca.

A B

C D

Figura 1 - Aplicação dos métodos de coleta. A - Armação de rede de espera; B - Utilização de puçás; C - realização de pesca convencional. Fotos: Fotos B e C Arrolho, 2017; A e D Conceição 2017.

A coleta em igarapés ocorreu entre os dias 14 a 18 de abriu de 2018, nos igarapés que cruzavam as trilhas de monitoramento dentro do parque, para a captura dos peixes foram estabelecidos trechos de 100 m em cada igarapé, do qual foram divididos em quatro (04) pontos de coleta de 25 m cada, para a captura foi utilizado puçás e rede de arrasto. Após a coleta os peixes foram transportados para o Laboratório de Ictiologia da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Campus de Alta Floresta, onde estão em processo de análise e de identificação,

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Nas Coletas de 2017 foram registrados um total de 1654 exemplares, distribuídos em 5 ordens, 26 famílias 62 gêneros e 98 espécies (tabela 2).

Tabela 2 - Lista de espécies de coletadas no rio Juruena, para cada trecho de coleta. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas.

Táxons T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Ordem Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus 3 1 Família Anostomidae Anastomoides laticeps 1 Leporinus britskii 1 6 1 Leporinus brunneus 1 1 Leporinus fasciatus 2 2 Leporinus friderici 1 1 1 3 Família Characidae Acestrocephalus stigmatus 1 Agoniates halencinus 1 Argonectes robertsi 12 23 3 Brycon falcatus 4 1 1 1 Brycon pesu 6 Bryconexodon juruenae 4 Bryconops sp. "Falso creatochanes" 1 Hemigrammus levis 19 Hemigrammus sp. "Prata" 4 Hyphessobrycon aff. heliacus Hyphessobrycon kayabi 15 Hyphessobrycon sp. "prata" 1 Jupiaba acanthogaster 2 1 4 32 22 Jupiaba pirana 14 128 10 1 Knodus cf. heteresthes 2 5 20 Knodus sp. "comum" 16 42 28 Microschemobrycon elongatus 2 Microschemobrycon geisleri 4 Microschemobrycon sp. 3 Moenkhausia celibela 4 Moenkhausia cotinho 1 3 Moenkhausia mikia 7 Moenkhausia lepidura 5 12 4 43 9 Moenkhausia oligolepis 5

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Táxons T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Monkhausia cf. pirauba 1 Moenkhausia sp. 2 21 Moenkhausia sp. "lepidura longa" 6 35 Moenkhausia sp. 5 132 340 145 Moenkhausia sp. 5 “mancha pendunculo" 8 Moenkhausia sp. "mancha umeral alongada 2 1 Myleus setiger 3 1 5 3 Myleus sp. "juvenil" 2 8 Phenacogaster gr. pectinatus 8 Serrapinnus cf. notomelas 6 Tetragonopterus chalceus 1 1 1 Tetragonopterus sp. 1 Tometes sp. "Teles Pires" 2 Triportheus albus 1 Família Chilodontidae Caenotropus schizodon 1 Caenotropus labyrinthicus 1 1 Família Ctenoluciidae Boulengerella cuvieri 1 7 1 Família Curimatidae Curimata inornata 2 45 8 2 Cyphocharax cf. spiluropsis 12 12 Cyphocarax aff. notatus 3 Cyphocarax cf. notatus 4 2 Steindachnerina fasciata 1 Família Crenuchidae Characidium zebra 2 Família armatus 1 3 1 1 Hydrolycus tatauaia 1 Família Erythrinidae Erythrinus erythrinus 1 Hoplias malabaricus 2 1 2 3 Hoplias aimara 1 1 1 Família Hemiodontidae Hemiodus microlepis 3 Hemiodus unimaculatus 6 1 3 Família nigricans 10 3 Ordem Gymnotiformes Família Gymnotidae Gymnotus aff. diamantinensis 6

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Táxons T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Família Sternopygidae Eigenmannia cf. macrops 11 Ordem Perciformes Família Cichlidae Aequidens sp. "juvenil" 1 Apistogramma gr. steindacheneri 1 Apistogramma sp. 1 Crenicichla lepidota 2 1 Geophagus cf. altifrons 1 1 Geophagus neambi 1 5 11 Geophagus sp. "juvenil" 9 Satanoperca cf. lilith 9 1 Família Sciaenidae Pachyurus junki 1 Plagioscion sp. "juvenil" 2 Plagioscion squamosissimus 16 1 Ordem Siluriformes Família Callichthyidae Corydoras aff. loretoensis 1 5 Corydoras cf. polystictus 4 Corydoras xinguensis 1 Megalechis picta 1 Família Doradidae Hassar shewellkeimi 4 Família Heptapteridae Imparfinis cf. stictonotus 2 Pimelodella aff. howesi 1 1 Rhamdia quelen 1 Família Loricariidae Ancistrus sp. "lineolatus" 4 Baryancistrus sp. 1 "bolinha" 16 1 2 Farlowella cf.smithi 1 Hypostomus cf. plecostomus 4 2 4 Hypostomus emarginatus 1 Otocinclus cf. hasemani 1 Pseudancistrus kayabi 1 Pseudoancistrus sp. 2 5 Rineloricaria sp. 1 16 Família Pimelodidae Sorubim trigonocephalus 2 Pimelodus tretamerus 2 3 2 Pseudoplatystoma punctifer 1 Zungaro zungaro 1 1 6 1 19

Táxons T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Familia Pseudopimelodidae Microglanis cf. poecilus 23 FamíliaTrichomycteridae Ituglanis amazonicus 2 Schultzichthys bondi 1 8 1 Ordem Synbranchiformes Família Synbranchidae Synbranchus cf. madeirae 1

As 98 espécies coletadas foram distribuídas da seguinte forma: Characiformes com 86% da riqueza de espécies (10 famílias, 30 gêneros, 59 espécies e 1437 indivíduos), Gymnotiformes com 1% (2 famílias, 2 gêneros, 2 espécies e 17 indivíduos), Perciformes com 4% (2 famílias, 7 gêneros, 11 espécies e 64 indivíduos), Siluriformes com 8% (7 famílias, 17 gêneros, 24 espécies e 135 indivíduos) e Synbranchiformes com 1% (1 família, 1 gênero, 1 espécie e 1 indivíduo).

Gráfico 2 - Porcentagem de ordens de peixes coletadas no ano de 2017 no rio Juruena.

Os exemplares coletados durante a campanha de 2017 apresentaram uma biomassa de 28,541 kg, com um comprimento médio de 4,13 cm. Das espécies coletadas Moenkhausia sp. 5 foi a mais abundante com um número de 617 exemplares capturados em dois trechos. E o

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gênero Moenkhausia foi o mais abrangente com um número de 786 exemplares e 11 espécies coletadas, somente não houve ocorrência deste gênero no trecho 5.

Coleta através da pesca

Na coleta realizada por pesca foram registrados um total de 41 peixes, sendo de 9 gêneros, 6 famílias e 10 espécies. Apresentaram uma biomassa de 141,240 kg, com um comprimento médio de 55 cm. Sendo maior capturado com 94 cm e 14,00 kg. Os únicos trechos onde não foram capturados nenhum espécime foram os trechos 1 e 2. E o trecho com maior número de exemplares coletado foi o trecho 5, com um total de 22 espécimes das quais a mais abundante foi o Zungaro zungaro (Figura 1).

Tabela 3 - Numero de peixes coletados pela pesca no rio Juruena, nos anos de 2017 e 2018. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas.

TÁXONS T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Ordem Characiformes Família Anostomidae 1 Leporinus fasciatus Família Characidae 1 1 Brycon falcatus Família Cynodontidae 1 6 1 Hydrolycus armatus Família Erythrinidae 1 2 Hoplias aimara 1 Hoplias malabaricus Ordem Perciformes Família Sciaenidae Plagioscion squamosissimus 1 Ordem Siluriformes Família Pimelodidae 1 Phractocephalus hemioliopterus 1 Pseudoplatystoma punctifer 1 Rhamdia quelen 6 1 13 1 Zungaro zungaro

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A B

C D

Figura 2 - Peixes coletados pelo método de pesca no rio Juruena; A: Pesca realizada no trecho 3; B: Soltura de zungaro zungaro no trecho 3; C: Retirada da medidas de comprimento de Phractocephalus hemioliopterus no trecho 5; D: Registro fotografico de Ramdhia quelen no trecho 5. Fotos: CONCEIÇÃO, 2018.

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Coletas em igarapés

As coletas em igarapés apresentaram um total de 353 exemplares, distribuídos em 4 ordens 17 famílias, 39 gêneros e 56 espécies (Tabela 4). Durante a campanha alguns igarapés não foram possíveis realizar coletas pois estavam com o nível da água elevados impossibilitando assim identificar o leito original do rio.

Tabela 4 - Lista de espécies de coletadas nos igarapés do PARNA Juruena. Legenda: As colunas representadas como T seguido de um número representam os trechos de coletas. Cobra Escorpião Saruê Saruê Saruê Táxons 4.950 m 1.300 m 500 m 1.300 m 3.000 m Ordem Characiformes Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus 1 Família Anostomidae Anastomoides sp. 1 Leporinus friderici 1 Leporinus vanzoi 1 Família Characidae Astyanax cf. bimaculatus 1 1 Astyanax cf. anterior 2 1 Bryconops caudomaculatus 2 Hemigrammus sp."plain'' 3 Hyphessobrycon kayabi 6 3 Hyphessobrycon 1 pulchripinnis Hyphessobrycon scutulatus 2 Jupiaba acanthogaster 5 Jubiaba poranga 1 6 Knodus sp. "faixa grossa" 1 2 7 Moenkhausia cotinho 1 6 Moenkhausia collettii 2 1 1 Moenkhausia phaeonota 1 Moenkhausia gr. 1 grandisquamis Moenkhausia mikia 9 7 Moenkhausia lepidura 39 21 6 Moenkhausia oligolepis 3 1 6 3 Monkhausia cf. pirauba 4 Moenkhausia cf. gracilima 1 Moenkhausia sp. 13

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Cobra Escorpião Saruê Saruê Saruê Táxons 4.950 m 1.300 m 500 m 1.300 m 3.000 m Moenkhausia sp. "lepidura 14 longa" Cyphocharax biocellatus 1 Família Crenuchidae Characidium zebra 1 Família Erythrinidae Erythrinus erythrinus 9 5 3 5 Hoplias malabaricus 1 1 Ordem Gymnotiformes Família Gymnotidae Apteronotus sp. 1 1 Gymnotus aff. 1 7 7 3 6 diamantinensis Família Hypopomidae Brachyhypopomus sp. 1 2 Família Sternopygidae Eigenmannia cf. macrops 2 1 5 4 4 Eigenmannia gr. trilineata 1 Ordem Perciformes Família Cichlidae Aequidens epae 4 6 2 Crenicichla lepidota 1 Geophagus sp."faixinha" 3 Ordem Siluriformes Família Auchenipteridae Tatia intermedia 1 Família Callichthyidae Callichthys callichthys 2 Corydoras aff. guiannses 1 Corydoras cf. polystictus 1 Familia Cetopside Ageneiosus sp. 1 Helogenes marmoratus 2 2 10 15 Phenacorhamdia sp. 1 1 Família Heptapteridae Cetopsorhamdium aff. 3 orientale Cetopsorhamdia sp. 2 Imparfinis sp. 1 Pimelodella aff. howesi 3 2 Família Loricariidae Hisonotus luteofrenatus 3 3

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Cobra Escorpião Saruê Saruê Saruê Táxons 4.950 m 1.300 m 500 m 1.300 m 3.000 m Hypostomus cf. plecostomus 2 Otocinclus cf. hasemani 3 4 1 Parotocinclus dani 1 Rineloricaria sp. 1 1 3 Familia Pseudopimelodidae Microglanis sp. 2 FamíliaTrichomycteridae Ituglanis amazonicus 5 Ordem Synbranchiformes Família Synbranchidae Synbranchus marmoratus 1

As 56 espécies coletadas foram distribuídas da seguinte forma: Characiformes com 61% da riqueza de espécies (10 famílias, 30 gêneros, 59 espécies e 1437 indivíduos), Gymnotiformes com 13% (2 famílias, 2 gêneros, 2 espécies e 17 indivíduos), Perciformes com 4,5% (2 famílias, 7 gêneros, 11 espécies e 64 indivíduos), Siluriformes com 21,5% (7 famílias, 17 gêneros, 24 espécies e 135 indivíduos) e Synbranchiformes com 0,2% (1 família, 1 gênero, 1 espécie e 1 indivíduo) (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Porcentagem das ordens coletadas nos igarapés do PARNA Juruena.

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Os exemplares coletados nos igarapés apresentaram uma biomassa de 8,4514 kg, com um comprimento médio de 3,6 cm. Das quais a espécie mais abundante foi Moenkhausia lepidura, que apresentou 66 exemplares e houve ocorrência nos igarapés presente nas 3 trilhas, Cobra, Escorpião e Saruê. A trilha Saruê continha 3 igarapés que foram possíveis realizar as coletas, e a ocorrência da Moenkhausia lepidura ocorreu no igarapés que se encontra nos 1,300 M da trilha. O gênero Moenkhausia foi o mais abrangente, pois foi amostrado em todos os igarapés.

Guildas Tróficas

Foram realizadas análises dos conteúdos estomacais de 12 exemplares pertencentes a 3 ordens, 5 famílias e 6 espécies, apresentando uma biomassa de 28.990 gramas (Tabela 3).

Tabela 5 - amostra dos estômagos analisados referente a coleta de Outubro de 2017. Legenda Guilda: NAIA – Número Amostral Insuficiente para análise.

Taxons Nome Comum N Itens Consumidos Guilda Ordem Characiformes Família Characidae Brycon falcatus Matrinxã 2 Vazio NAIA Família Erythrinidae Hoplias aimara Trairão 3 Peixe e inseto NAIA Família Cynodontidae Hydrolycus armatus Cachorra 2 Peixe NAIA Ordem Perciformes Família Sciaenidae Plagioscions quamosissimus Curvina branca 3 Peixe e inseto NAIA Ordem Siluriformes Família Pimelodidae Pseudoplatystoma punctifer Cachara 1 Vazio NAIA Zungaro zungaro Jaú 1 Vazio NAIA

Dos conteúdos estomacais analisados apenas 67% apresentaram algum alimento os demais 33% não possuíam alimentos, ficando assim sem a possibilidade de estabelecer em quais guildas tróficas os peixes estão presentes. Foi possível verificar o principal alimento consumido era de origem autóctone (peixes ou suas partes e insetos aquáticos). De acordo com as análises realizadas para a coleta de 2017 em comparação com as análises de 2016, não houve a ocorrência de peixes que continham algum tipo de vegetal em 26

seus estômagos. Enquanto em 2016 19% das análises apresentaram matéria vegetal, em 2017 100% dos que continham alimento eram peixes ou insetos.

Processo Reprodutivo

Foram analisadas gônadas de 12 exemplares, que teve como resultado uma proporção maior de fêmeas com uma representatividade de 7 exemplares e machos com um total de 5 peixes (tabela 6).

Tabela 6 - Espécies da ictiofauna com os estádios de maturação gonadal coletados em Outubro de 2017.

Táxons Estádio (A) Estádio (B) Estádio (C) Estádio (D) Total F M F M F M F M Ordem Characiformes Família Characidae Brycon falcatus 1 1 2 Família Erythrinidae Hoplias aimara 1 1 1 3 Família Cynodontidae Hydrolycus armatus 1 1 2 Ordem Perciformes FamíliaSciaenidae Plagioscions quamosissimus 1 1 1 3 Ordem Siluriformes Família Pimelodidae Pseudoplatystoma punctifer 1 1 Zungaro zungaro 1 1

O estádio de maturação gonadal mais representativo foi o estádio B – em maturação com 6 peixes, seguido do C – Maturo com 5 e D – com apenas 1 exemplar (gráfico 4). Para a classificação dos estádios gonadais foi usado à escala proposta por Vazzoler (1996), onde A - Imaturo; B - Em maturação; C – Maturo; D – Esvaziado. Estes dados são poucos para podermos afirmar a época que estas espécies se reproduzem, mas podemos supor que elas se reproduzem na época das chuvas.

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Gráfico 4 - Número de peixes coletados no PARNA Juruena, de acordo com seus estádios gonadais, Outubro de 2017.

Em comparação com as análises de 2016, em que 35% dos peixes apresentaram o estádio gonadal maturo sendo mais amostrados peixes já com as gônadas em estádio D – esvaziadas, em 2017 o número de 50% das gônadas analisadas apresentaram estádio C enquanto apenas 1 espécime apresentou o estádio D. Qualidade da água.

Foi possível verificar que os parâmetros físico-químicos demonstram baixa variação e que a qualidade de água pode ser considerada propícia para sobrevivência de peixes (tabela 7). O trecho que apresenta o maior índice de pH foi o trecho 1, seguidos dos trechos 5 e 3 respectivamente. Para as temperaturas o trecho 1 também apresentou os valores mais altos seguido do trecho 2.

Tabela 7 - Atributos físicos e químicos da água dos trechos de amostragem, para a coleta de Outubro de 2017.

Atributos T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Temperatura da água (C°) 31,6 31 30,9 26,6 30,5 29,5 Potencial Hidrogeniônico (pH) 6,95 6,70 6,80 6,72 6,82 6,42 Condutividade (MV) 64 51 55 51 58 32 Oxigênio (mg/l) 5,73 6,84 7,1 6,12 8,04 6,25 Oxigênio (%) 84,4 95.5 88,7 80 113,2 85,2

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O trecho 5 apresentou os maiores valores para o Oxigênio (%) e para oxigênio dissolvido na água seguido do trecho 2, porém esses trechos apresentam fortes correntes e o trecho 5 apresenta diversas quedas d´agua. Nas coletas de 2018 realizadas em julho foram medidos os valores parâmetros físico- químicos da água do rio Juruena, para assim relaciona-los e verificar se está ocorrendo mudanças nestes parâmetros que posso interferi na reprodução ou alimentação dos peixes. Os valores obtidos para o ano de 2018 encontram-se na tabela 8.

Tabela 8 - Atributos físicos e químicos da água dos trechos de amostragem, para a coleta de Outubro de 2018.

Atributos T 1 T 2 T 3 T 4 T 5 T 6 Temperatura da água (C°) 27,4 26,5 26,5 22,7 28,6 21,4 Potencial Hidrogeniônico (pH) 6,5 7,3 6,98 6,2 6,9 6,49 Condutividade (MV) 50 83 71 12 58 136 Oxigênio (mg/l) 6,65 6,67 6,88 6,75 8,8 6,54 Oxigênio (%) 88 96 91,5 80,2 99,2 71,5

Em comparação com os valores de 2017, todos os trechos tiveram muitas mudanças em seu aspectos físico-químicos da água, em alguns trechos foi possível notar um aumento na porcentagem de oxigênio presente na água, mas os principais aspectos que tiveram grandes mudanças foram os de temperatura (Gráfico 5) e de pH (Gráfico 6), onde é possível observar uma grande variação, em todos os trechos de amostragem.

Gráfico 5 - Comparação da temperatura da água entre os anos de 2017 e 2018.

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A temperatura da água comparada entre os anos de 2017 e 2018 os trechos que demonstraram maiores varrições foram os trechos 1, 2 e 3, que demonstram uma variação de mais de 4 °C, e de 8 °C de varrição no trecho 6.

Gráfico 6 - Comparação do pH nos trechos de coleta no anos de 2017 e 2018.

O valores de pH dos trechos de coleta também tiveram algumas variações apenas em os trechos 1 e 4 o pH diminui, nos demais trechos o pH aumentaram, principalmente no trecho 2, que demonstra um valo muito elevado em comparação com o ano anterior.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A ocorrência de espécies das ordens Characiformes e Siluriformes destacadas como sendo as mais abundantes dentre os peixes coletados no rio Juruena, confirmam os dados de Martins (2004) e Lowe-Mcconnell (1999) para rios e riachos da região neotropical. Segundo Silva (1993), os peixes de rios se caracterizam por estarem sempre em movimentos, pois muitas vezes depende de migrações tróficas ou reprodutivas, enquanto peixes de igarapés são mais fixas pois muitas das espécies ali presentes não realizam esse processo de migração passando o seu tempo no mesmo habitat ou sistema aquático, onde se reproduzem e se alimentam. Os peixes que tiveram seus conteúdos estomacais analisados em 2017 são tidos como peixes piscívoros, por se alimentarem de outros peixes (Simon, 1983), porém alguns

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apresentaram outros tipos de alimento em seus estômagos, onde é possível destacar as análises Gerking (1994) e Wootton (1999) de que os peixes apresentam uma grande forma de adaptação trófica, significando que são potencialmente capazes de utilizar todos os recursos alimentares que sejam adequados a sua tática alimentar, aparato alimentar e capacidade digestiva. Confirmando os resultados obtidos por Arrolho e colaboradores, durante as coletas para o diagnóstico da ictiofauna do Plano de Manejo do PARNA Juruena em 2010. As variáveis ambientais como temperatura e as precipitações pluviométricas atuam sobre os indivíduos, de modo que as condições possam ser favoráveis à sobrevivência e crescimento da prole (Silva, 1988; Vazzoler, 1996). Podendo assim modificar seu período de reprodução. Os resultados obtidos demonstram que a maior parte dos peixes analisados apresentam estádio gonadais entre B e C que são caracterizados por Vazzoler (1996) como sendo estádios de preparação para a reprodução. De acordo com as datas nas quais as gônadas foram analisadas, destacam que o período reprodutivo pode variar entre outubro e março como evidenciado por Smerman (2007) em seus estudos para os afluentes do rio Teles Pires. Os valores obtidos em relação ao pH da água corroboram com a afirmação de Bezerra (2012) que para a sobrevivência e reprodução dos organismos, a água precisa apresentar um pH de 6,0 a 9,0. Pois todos os locais apresentaram peixes já em período reprodutivo. Como destacado por Junk (1989) um dos mais importantes atributos para a água é a quantidade de oxigênio dissolvido, pois atua decisivamente regulando as atividades metabólicas dos peixes. Para Sipaúba-Tavares (1994), os limites de tolerância de oxigênio dissolvido podem variar de acordo com as espécies, mas em geral teores abaixo de 1 mg/l são letais, sendo o ideal níveis entre 4 e 6 mg/l. para os valores obtidos nos trechos de coleta no PARNA Juruena, apesar de serem valores altos, as quantidades de oxigênio dissolvido não são letais para os peixes. De acordo com Zavala-camin (2004) a temperatura da água e de extrema importância para a vida aquática pois atua sobre as reações químicas, principalmente sobre as enzimas e sobre o metabolismo de seus organismos. A modificação da fauna é esperada com a construção de barragens, destruição da vegetação ripária. Assim, riachos e suas cabeceiras são ambientes que devem receber prioridade nos estudos, antes que muitas informações sejam perdidas (BÖHLKE; WEITZMAN; MENEZES, 1978; CASTRO, 1999).

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RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO

Desenvolver estudos ligados a dieta, biologia reprodutiva, migração, distribuição taxonomia, mapeamento genético para as espécies ictiológicas são de extrema importância, afim de subsidiar conhecimento para auxiliar na conservação das mesmas, e com esse conhecimento poder avaliar os impactos causados pela pesca esportiva e amadora na região de entorno do Parque. Monitorar a qualidade da água e das atividades que geram contaminação das mesmas, uma vez que possui a ocorrência de garimpo no entorno do parque, verificando se estes fatores relacionados a água, interferem direta e indiretamente na distribuição da fauna aquática. Conservar locais de nascentes de rios e igarapés, pois muitas dessas nascentes ocorrem em locais arenosos sujeitos a degradações irreversíveis.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao ICMBio pela concessão da Bolsas de Iniciação Científica pelo PIBIC, e a minha orientadora Lourdes Iarema e co-orientadora Solange Arrolho por toda a ajuda durante este período. Agradeço também ao Marcelo, Rafael, Dinho, Jonas e senhor Graciano por terem auxiliado durante as coletas em campo. Agradeço também ao Pedro e ao Lucas por terem dado todo apoio na logística de transporte para o parque durante as campanhas.

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CITAÇÕES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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