Votoo Senhor Ministro Edson Fachin
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
INQUÉRITO 4.112 DISTRITO FEDERAL V O T O O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): 1. Iniciando com o exame dos autos, que correspondem hoje a 11 (onze) volumes, num total de 2601 (duas mil seiscentos e uma) páginas e 10 (dez) apensos, começo com a análise das diversas questões preliminares suscitadas pelos denunciados. Rejeito o pleito formulado pelo acusado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, no sentido da reabertura do prazo para aditamento de sua defesa, após vista dos documentos mencionados na denúncia (PET 5.673) e nos requerimentos de fls. 1.385-1.386 (documentos 1 e 4 que instruíram a inicial e as 10 mídias referidas na certidão de fl. 1005), fls. 1.399-1.406 (todos os procedimentos em trâmite nesta Corte Superior pertinentes ao acusado) e petição n. 56.667/2015 (fl. 1.480). Com efeito, sabido ser indispensável à defesa ter acesso a todos os elementos indiciários de que se utilizou o Ministério Público para subsidiar sua denúncia, providência efetivamente observada no caso, pois, desde a abertura do prazo de resposta, os documentos que se referem ao acusadoCópia encontram-se à disposição nos autos. Aliás, especificamente quanto às suscitações do denunciado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, os autos da AC 3.909 aportaram a esta Corte em 29.10.2015, enquanto a PET 5.673, em que constava o termo de colaboração de Ricardo Ribeiro Pessoa, foi apensada nestes autos em 1º.11.2015. Por sua vez, as mídias aludidas na certidão de fl. 1.005 são mera cópia de segurança daquelas juntadas ao processo, cujo acesso foi adequadamente disponibilizado à defesa. Merecem destaque, nesse sentido, as diversas certidões dando conta do recebimento, por parte da defesa desse acusado, de mídia digital com cópias extraídas do procedimento (fls. 1.410, 1.442, 1.530, dentre outras), evidências que levam à conclusão de ter sido franqueado o acesso a todos os documentos e mídias juntados ao presente inquérito. Não fosse isso, sequer é indicada, de modo específico, a relevância INQ 4112 / DF do conteúdo de peças nas quais embasada a denúncia, a respeito das quais não tenha a defesa tido ciência anteriormente. Aliás, acaso seja admitida a acusação, os elementos informativos serão, novamente e necessariamente, submetidos ao crivo do contraditório, com integral participação das partes. 2. Após a apresentação das respostas à denúncia, deu-se vista dos autos ao Ministério Público, nos termos do art. 5º da Lei 8.038/1990. Em petição autônoma (fls. 2.553-2.557), a denunciada Caroline Serejo Medeiros Collor de Mello afirma que a manifestação do Procurador-Geral da República é intempestiva e sem fundamento, porque, a uma, ofertada 12 (doze) dias após o recebimento dos autos; a duas, porque a peça não tece qualquer comentário acerca dos documentos novos apresentados, focando-se em rebater as teses defensivas e criar ilações inéditas sobre o mérito da acusação, inclusive mencionando novos elementos sequer constantes da denúncia. Pedido de desentranhamento dessa mesma réplica, também com esteio na extrapolação do prazo para sua apresentação, foi formulado pelo denunciado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, em petição avulsa (fls. 2.559-2.561). Sobre o tema, o SupremoCópia Tribunal Federal possui o entendimento de que “quando a defesa argui questão preliminar nas alegações finais, é legítima a abertura de vista e a manifestação do Ministério Público, ambos com respaldo legal na aplicação analógica do art. 327, primeira parte, do Código de Processo Civil (atual art. 351 do CPC - 2015), como previsto no art. 3º do Código de Processo Penal, pois em tal caso é de rigor que a outra parte se manifeste, em homenagem ao princípio do contraditório, cujo exercício não é monopólio da defesa (HC nº 76.240/SP, Segunda Turma, da relatoria do Ministro Maurício Corrêa, DJ de 14/8/98)” (RHC 104.261, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe de 7.8.2012). Embora não se trate, na espécie, de preliminares apresentadas pela defesa no âmbito de alegações finais, raciocínio análogo deve ser adotado. Nessa linha, esta Segunda Turma assentou: 2 INQ 4112 / DF “(...) possível assegurar, também no âmbito da Lei 8.038/1990, o direito ao órgão acusador de réplica às respostas dos denunciados, especialmente quando suscitadas questões que, se acolhidas, poderão impedir a deflagração da ação penal. Só assim se estará prestigiando o princípio constitucional do contraditório (art. 5º, LV, CF), que garante aos litigantes, e não apenas à defesa, a efetiva participação na decisão judicial” (Inq 3.997, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de 26.9.2016). Ao lado disso, a apresentação da citada manifestação pelo Ministério Público, após o transcurso do prazo de 5 (cinco) dias prescrito no art. 5º da Lei 8.038/1990, em face da função pública desempenhada pelo Procurador-Geral da República - titular da ação penal no âmbito do Supremo Tribunal Federal -, leva à consideração de prazo impróprio, mormente quando o oferecimento da peça é faculdade do órgão acusador, e não dever funcional. Logo, a sua inobservância não gera vício processual, destacando-se que, na situação em exame, as teses constantes da réplica estão plenamente correlatas às argumentações que subsidiaram as respostas à acusação, não sendo inferida qualquer inovação acusatória. 3. Ainda pertinenteCópia à réplica do Ministério Público Federal, o acusado Fernando Affonso Collor de Mello sustenta a desproporcionalidade dos prazos propiciados aos denunciados e à acusação e, consequentemente, a ocorrência de cerceamento de defesa. Pormenoriza que, desde a instauração do INQ 3.883, o Ministério Público Federal vem exercendo seu prazo de réplica, sem, contudo, oferecê-la efetivamente, enquanto à defesa foi imposto prazo exíguo, mesmo sem o conhecimento integral dos documentos apreendidos por ocasião do cumprimento da AC 3.909. Razão não lhe assiste. De fato, o INQ 3.883, do qual se originou estes autos, teve longa tramitação, entretanto, esse procedimento investigou fatos diversos daqueles objeto desta denúncia, abrangendo, inclusive, pessoas não arroladas na exordial acusatória em apreço. Esta Segunda 3 INQ 4112 / DF Turma (INQ 4.112, Rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º.9.2015), aliás, deferiu à época aos denunciados, por serem representados por diferentes procuradores, prazo em dobro para apresentação de defesa, fazendo interpretação do antigo Código de Processo Civil. Vale rememorar, outrossim, que os autos da AC 3.909 encontram-se nesta Corte desde 29.10.2015, sendo que o próprio denunciado admite ter tido acesso ao seu conteúdo. Não bastasse, também os termos de colaboração firmados por Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Rafael Ângulo Lopes e Ricardo Ribeiro Pessoa não mais tramitam sob o regime de sigilo, de modo que o acesso aos seus depoimentos reclamava simples pedido à Secretaria de Processos Originários Criminais do STF. 4. Afirmam as defesas dos acusados Fernando Affonso Collor de Mello e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos que este inquérito e a denúncia nele encartada teriam origem em declarações prestadas por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef em procedimento criminal (5049557-13.2013.4.04.7000) oriundo de inquérito (2006.70.00.018662-8), no qual foi usurpada a competência originária do Supremo Tribunal Federal, uma vez que visava investigar crimes cometidos por José Janene, deputado federal à épocaCópia de sua instauração, em fatos conexos com os apurados na AP 470, já em curso nesta Suprema Corte. O denunciado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos aduz a ocorrência de equívoco, na origem, quando da distribuição do inquérito 2006.70.00.018662-8 por dependência ao processo 2004.70.00.002414-0, pois este, “além de já estar arquivado na época dos fatos, sequer tinha relação com o objeto do apuratório, a não ser por tratarem ambos de crimes supostamente cometidos por Alberto Youssef” (fl. 1.484). Destaca que, mesmo após a redistribuição do inquérito da família Janene a então 3ª Vara Federal Criminal, o inquérito 2006.70.00.018662-8 permaneceu na 2ª Vara Federal Criminal, atual 13ª Vara Federal. Sustenta o denunciado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, ainda, a ilegalidade das interceptações telefônicas realizadas na quebra de 4 INQ 4112 / DF sigilo que deram origem à operação de repercussão nacional, porquanto “teriam sido realizadas fora do período abrangido pela decisão” do juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba, no processo 5026387- 12.2013.404.7000 (fl. 1.486). Agrega a defesa do denunciado Fernando Affonso Collor de Mello que, para além da violação ao foro por prerrogativa de função, as investigações recaíram contra si em virtude do desdobramento da apuração em relação a fatos desconexos, independentes e fortuitos, dirigida, em verdade, a identificar superfaturamento em obras de responsabilidade do Consórcio Camargo Corrêa, na unidade de coqueamento retardado da Refinaria de Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco, o qual não estava sob a jurisdição do Juízo Federal da 13ª Vara Federal de Curitiba. Invoca, por essas razões, a nulidade da busca e apreensão realizada na GFD Investimento Ltda. e das provas colhidas. Sem qualquer razão as defesas nessas afirmações. Registro, em primeiro lugar, que as arguições do denunciado Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos foram objeto de debate quando do julgamento, por esta Segunda Turma, do Inq 3.990, de minha relatoria (j. 14.3.2017). Naquela assentada, enfatizou-se a insuficiência da documentação apresentada pelo referido acusado para dirimir a controvérsia, que reclamaCópia a completa averiguação do conteúdo das investigações realizadas nos processos 2004.70.00.002414-0, 2006.70.00.018662-8 e 5049557-13.2013.4.04.7000, circunstância que também se faz presente no atual exame do pleito. A propósito da aventada usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “b”, da Constituição Federal), referida controvérsia foi dirimida com o julgamento das Questões de Ordem nas AP 871 a AP 878 (Rel.