Universidade Federal Fluminense Instituto De Ciências Humanas E Filosofia Bacharelado Em Sociologia
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA BACHARELADO EM SOCIOLOGIA GUSTAVO AFFONSO MARINHO REDES DE PROTEÇÃO E A OPERACIONALIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO DAS MÁQUINAS CAÇA-NÍQUEIS NO RIO DE JANEIRO Niterói 2018 GUSTAVO AFFONSO MARINHO REDES DE PROTEÇÃO E A OPERACIONALIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO DAS MÁQUINAS CAÇA-NÍQUEIS NO RIO DE JANEIRO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado em Sociologia, como requisito parcial para conclusão do curso. Orientador: Prof. Dr. Daniel Veloso Hirata. Niterói 2018 2 Ficha catalográfica automática - SDC/BCG M337r Marinho, Gustavo Affonso Redes de proteção e a operacionalização e exploração das máquinas de caça-níqueis no Rio de Janeiro / Gustavo Affonso Marinho ; Daniel Veloso Hirata, orientador. Niterói, 2018. 75 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Sociologia)- Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Niterói, 2018. 1. Jogos de azar. 2. Máquinas caça-níqueis. 3. Redes de proteção. 4. Contravenção. 5. Produção intelectual. I. Título II. Hirata,Daniel Veloso, orientador. III. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais. CDD - Bibliotecária responsável: Angela Albuquerque de Insfrán - CRB7/2318 3 GUSTAVO AFFONSO MARINHO REDES DE PROTEÇÃO E A OPERACIONALIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO DAS MÁQUINAS CAÇA-NÍQUEIS NO RIO DE JANEIRO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Bacharelado em Sociologia, como requisito parcial para conclusão do curso. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Dr. Daniel Veloso Hirata (Orientador) Universidade Federal Fluminense _____________________________________________ Prof. Dr. Antônio Carlos Rafael Barbosa (Parecerista) Universidade Federal Fluminense _____________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Pereira de Mello (Parecerista) Universidade Federal Fluminense Niterói 2018 4 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Daniel Hirata pelos muitos e valiosos ensinamentos, apoio, dedicação e, principalmente, paciência. Aos professores que contribuíram direta ou indiretamente neste trabalho, mas sobretudo, influenciaram em minha formação como sociólogo, mesmo aqueles que infelizmente não foram meus professores em sala de aula: Livia de Tommasi, Taniele Rui, Antonio Carlos Rafael Barbosa, Camila Sampaio, Hélène Petry e Alessandro Leme. Agradeço também àqueles que durante o percurso na universidade possibilitaram os primeiros contatos profissionais como estagiário do Laboratório de Comunicação e Saúde do ICICT / FIOCRUZ (LACES) e do Instituto Pereira Passos (IPP), nas figuras de Izamara Bastos, Janine Cardoso, Kátia Lerner e Inesita Soares, do primeiro e Luis Fernando Valverde Salandía e Felipe Magalhães Lins, do segundo. Aos amigos que apoiaram algumas escolhas e criticaram outras, incitando valiosas reflexões, além do divertimento e muitas cervejas bebidas durante os anos de convívio, em especial ao Pedro Lobo, irmão de alma literalmente, Adriel Ignácio, Dafne Velazco e Flávia Viana pela amizade que segue e seguirá para fora dos muros da universidade. À Brigida Nogueira pelo incentivo à retomada do processo de escrita e pela ajuda na leitura dos textos, à Luísa Sales pelo apoio durante momentos importantes. Aos meus interlocutores que por questões éticas não poderei nomear, pela confiança e pela enorme colaboração dada à pesquisa. Por fim e não menos importante, à minha mãe, Sonia e ao meu pai, Paulo, pelos ensinamentos. Ao Caboclo Sete Flechas, à Vovó Maria Benedita, ao Vovô João do Congo e às minhas entidades. Ao pai Flávio Sacilotti, à irmã Natanne Viegas e aos demais irmãos e irmãs do TUCASEF. 5 RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar uma análise sobre a operacionalização e a exploração das máquinas caça-níqueis no Rio de Janeiro a partir do acionamento de redes de proteção. Metodologicamente, a narrativa se concentra nas trajetórias dos atores e interlocutores que compõem a pesquisa, assim como na contextualização histórica das origens do jogo do bicho e da introdução das caça-níqueis nas atividades contravencionais. Deste modo, ensaiou-se uma espécie de mapeamento dos pilares da economia criminal, tipificados nas redes de proteção jurídico-policial e familiar, articuladas para operar as atividades da “Jogos Eletrônicos Ltda”, empresa utilizada como fachada para a montagem, distribuição e exploração das máquinas. Dividido em três capítulos, o trabalho é parte de uma pesquisa que vem sendo realizada há pouco mais de três anos e que permitiu o mapeamento não só das atividades exploradas pela empresa e os circuitos acionados para viabilizar a compra e transporte dos componentes utilizados na montagem das máquinas, mas também o que se configurou como uma rede de proteção paralela. E é através dessa rede que funcionários da empresa negociam seus próprios “esquemas”, criando uma espécie de ilegalismo dentro do ilegalismo e inserindo uma série de impasses e necessidades de se estabelecer um circuito fechado entre aqueles que operam essa rede. Palavras-chave: jogos de azar; máquinas caça-níqueis; redes de proteção; ilegalismo; contravenção. 6 ABSTRACT The paper seeks to analyze the instrumentalization and the exploration of slot machines in Rio de Janeiro through protection rackets. Methodologically, the narrative focuses on the paths of the actors and interlocutors which were part of the research, and also on the historical contextualization of the origins of the “jogo do bicho” (the animal game, an illegal Brazilian gambling activity) and the acknowledgment of the slot machines as felonious activities. A sort of mapping of the pillars of criminal economy is then proposed, embodied by juridical/police and family protection rackets, articulated to operate the activities of "Jogos Eletrônicos Ltda", a shell company used for the assembly, distribution and exploration of machines. Organized in three chapters, the paper is part of a research that has been carried out for over three years and has produced the mapping of not only of the activities explored by the company and the circuits activated to enable the purchase and transportation of the components used in the assembly of the machines, but also what came to be a parallel protection racket. It is through this network that the company’s employees negotiate their own "schemes", creating, to some extent, illegality within the illegality, and initiating a series of dilemmas and requirements in order to establish a closed circuit between those who operate this network. Keywords: gambling; slot-machines; protection rackets; illegality; felony. 7 Lista de Abreviaturas e Siglas AESB Associação das Escolas de Samba do Brasil CD Compact Disc CNPJ Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica DMI Diretoria de Material de Intendência FUNDESP Fundo Nacional de Desenvolvimento Desportivo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LIESA Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro PCERJ Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro PRB Partido Republicano Brasileiro SNI Serviço Nacional de Informações SIAN Serviço de Informações do Arquivo Nacional TAR Teoria Ator-Rede 8 Sumário Introdução ....................................................................................................... 10 1. Jogo do bicho: identidade carioca ..................................................... 17 2. Império da contravenção ..................................................................... 30 2.1. Aposta máxima ....................................................................................... 37 2.2. O jogo é para ser jogado ........................................................................ 42 3. A economia criminal e suas redes de proteção ................................. 46 Considerações Finais .................................................................................... 61 Bibliografia ...................................................................................................... 66 9 Introdução De lembrança, foi aos cinco ou seis anos de idade que indiretamente fiz minhas primeiras apostas no jogo do bicho ou como meu pai se referia ao jogo, a “fezinha”. À época, eu e minha família vivíamos em um morro localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, em um local conhecido pelos moradores como Montes1. Pela pouca idade, não tinha noção do que era o jogo do bicho. Cena comum do cotidiano familiar, meu pai, na sala, pedia para que eu e minha mãe falássemos quatro dezenas. Ele, confiante nos palpites, anotava tudo e saia de casa para jogar. Várias foram as vezes em que me levou junto. As primeiras lembranças são dos apostadores organizados em filas na frente de um senhor sentado num bar próximo de casa, enquanto este anotava os palpites. O jogo, apesar de ser feito em bares ou na rua, ou seja, em locais vistos por todos, era quase que secreto. Os apostadores sussurravam os números para o bicheiro2 ou lhe apresentavam uma cópia da aposta que queriam fazer. A questão da ilegalidade do jogo em si, era talvez, a menor das preocupações, visto que não havia a possibilidade eminente de uma abordagem policial, sem antes, pela dinâmica3 do tráfico local, os moradores tomarem conhecimento de uma incursão. O cuidado dos apostadores era para que outros jogadores ou pessoas que estavam por perto da banca, não escutassem os números apostados. Um misto de superstição e ganância. Independentemente do número de vencedores o que determinava o valor a ser recebido era o tipo de aposta realizada e