Factores Determinantes Do Comércio Internacional
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Factores determinantes do comércio internacional: a abordagem empírica Autor(es): Fontoura, Maria Paula Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26229 Accessed : 11-Oct-2021 02:11:40 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. 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Alguns referem explicitamente o objectivo do teste destas teorias, outros, menos ambiciosamente, limitam-se à sua análise emp{rica. O objectivo deste texto reside no balanço da literatura existente com vista à seguinte problemática: terá o trabalho empírico relativo às teorias explicativas dos factores detenm nantes do comércio internacional tido algum impacte na forma como os economistas pensam sobre o assunto? Uma questão prévia refere-se à possibilidade de as teo rias serem "testadas". Os modelos das TC! incorporam hipó- * Texto apresentado como suporte da lição de síntese das provas de agregação no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universi dade Técnica de Lisboa. Agradeço os comentários da Prof. MARGARIDA PROENÇA DE ALMEIDA, arguente da prova. Naturalmente, aplica-se a ressalva usual. 84 te e que raramente têm em consideraçã as complexidades do mundo real . A análi e empírica não segue, consequente mente, o tradicional percurso da formulação de hipóteses, te te, rejeição e reformulação. LEAMER r ume o problema afirmando que um modelo, end um in trumento podero so para organizar o pensamento, não é literalmente verdadeiro, e con lui que, por i o, não exi te razão para o testarmos. Em vez di o, de eríamos detenrunar a ua "accuracy and u efulne ", donde a ua sugestão de: "estirnate, not test" (LEAMER,1994, pp. 66 e 67) . O papel da análise empírica nas Ter só pode ser devida mente compreendido e enquadrado em opções de natureza metodológica. O raciocínio de LEAMER exprime o aprioris mo que remonta à década de 30, nomeadamente a opinião de que a economia «é e encialmente um si tema de dedu çõe puras a partir de uma érie de postulados (.. .) que não e tão ele próprio abertos a verificação exterior" (BLAUG, 1994, p. 139). Em 1953, FRIEDMAN formulava a sua tese, ainda hoje dominante I , de que os economistas não se devi am incomodar em tornar os seus pressupostos "realistas" (tese da irrelevância do pre supostos) e que "o único teste relevante da validade de uma teoria é a comparação das suas previ ões com a experiência" (FRIEDMAN, 1953, pp. 8-9). Neste entido, a análise empírica deveria ser dirigida sobre tudo à correlação entre as previsões teóricas e os dados empírico . O que não abona a favor dos re ultados empí• rico porque, me mo admitindo que as previsões acuradas são o único teste relevante da validade das teorias, são conhecidas as dificuldades de distinguir entre correlações genuínas e espúrias. Esta atitude metodológica terá tido como principal ob jectivo "proteger a economia contra as críticas contínuas dos seus pressupostos irrealistas" (BLAUG, op. cit., p. 157) e ex- I V. , por exemplo, SCHUPACK (1994) . 85 plicará a atracção dos economistas pela metodologia de LAKATO , com o eu conceito de núcleo duro, ou seja, um conjunto de hipóteses irrefutáveis. Como além disso, e con tinuando a citar BLAUG, se verificam diversas reacções con tra uma "estridente exigência de testes severos das previ- ões", promove-se, na prática, uma certa permissividade den tro das "regras do jogo": quase qualquer modelo serve, des de que formulado rigorosamente, construído com elegância, e prometa ser potencialmente relevante para situações do mundo reaJ2 . Neste contexto, compreende-se que o papel da análise empírica na confirmação das TCI seja secundário. Isto é ver dade sobretudo quando as teorias do comércio internacional dispunham de um corpo teórico sólido e coerente (teoria neoclássica ortodoxa) . O balanço é outro, porém, quando referido à evolu ção das teorias. De facto} conforme procuraremos evi denciar, a questão da relevância dos pressupostos tem sido frequentemente invocada e explorada sempre que a evi dência empírica não é conforme às previsões das teorias. Recorde-se, a propósito, o célebre paradoxo de LEONTIEF e o facto de grande parte das tentativas de o superar residirem em provar que os pressupostos da teoria não se verificavam nos EUA no período do "teste". Esta reacção traduz o que REDMAN (1993) designou de "striving to be objective" (p . 124). e explica que mesmo os que pro fessam as dificuldades do falsificacionismo na economia salientem, simultaneamente, a sua necessidade. Este "in conformismo" dos analistas "empíricos" tem conduzido a que a análise empírica tenha proporcionado importantes insights à análise teórica, mesmo quando os seus objecti vos iniciais se limitavam à confirmação ou refutação das previsões das teorias disponíveis. 2 V . BLAUG, op. cit ., p. 171. 86 A análi e que se segue é dividida em quatro secções. Na secção 2 aborda- e o caso da teorias da vantagem com parativa (teoria ortodoxa), modelizada para explicar o "comércio do lado da oferta" em contextos de concorrência perfeita. A primeira dificuldade empírica com que nos de frontamo nestes modelos refere-se à medição da vantagem comparativa, tópico com o qual iniciamo esta secção. Se guidamente, de tacam-se algumas dificuldades metodológicas na análi e empírica da teoria ricardiana e do teorema HECKSCHER-OHLIN (H- ). Acentuado destaque é dado ao egundo por e ter tornado dominante, preponderância que uscita alguns comentários no final da secção. Na secção 3 são abordada as "novas teorias do comércio", designação que abrange uma série de modelos diversos que têm como caracterí tica comum o facto de se basearem em hipóteses diferente das da teoria ortodoxa: teorias da procura, da tecnologia, e modelos de comércio intra-ramo. Na secção 4 perspectivamos alguns rumos para a investigação empírica. Na secção 5 formulamos algumas considerações finais. 2. ANÁLISE EMPÍRICA DOS MODELOS DE VANTAGEM COMPARATIVA "Econornic doctrines are usually tested, not by systernatic methods, but by a DAR WINIAN struggle for survival in the arena of history" (NIEHANS, 1981, p. 174). 2.1. A medição da vantagem comparativa As tentativas de quantificação das diferenças internacio nais na vantagem comparativa têm sido sujeitas a severas críticas. O problema central é o conceito ser definido em termos dos preços relativos em situação de autarcia. Assim, medir a vantagem comparativa a partir desses preços é tarefa 87 obviamente impossível e, quanto aos preços observáveis, es tão já influenciados pelo comércio. Em geral, adopta-se a solução de BALASSA (1965) que, atendendo à Lei da vantagem comparativa, sugeriu a cons trução de indicadores de vantagem comparativa revelada (VCR) com base nos valores dos fluxos de comércio. Para o efeito propôs o "indicador das exportações relativas" e a "razão exportação-importação", mas recomendou que fosse preferencialmente utilizado o indicador baseado somente nas 3 exportações , devido à abundância de mecanismos protecto res das importações de incidência não uniforme entre os diversos sectores. Outros indicadores baseados em dados pós-comércio têm entretanto sido usados, principalmente 4 inspirados nos de BALASSA • Estas medidas têm sido aplica das, tanto em termos cardinais como ordinais, sobretudo aos produtos de um determinado país; mas podem também ser calculadas em termos do grau de vantagem comparativa de um produto em diversos países. O problema central com qualquer indicador de VCR é, porém, não termos uma relação determinística entre o pa drão de vantagem comparativa e o padrão de comércio. Por exemplo, no modelo ricardiano, a direcção do comércio de pende dos preços autárcicos, mas a quantidade exportada depende da procura mundial ou da capacidade produtiva, consoante o que for menor. Os mesmos factores são decisi vos no caso do teorema H-O, e sabe-se, desde BALDWIN (1979), que, se o modelo tiver muitos factores, a direcção do comércio é indeterminada. A solução tem consistido em considerar que, com algumas restrições, o padrão de comércio observado é expli cado pela vantagem comparativaS, concentrando-se a inves- 3 (X,/X.)/CX;jXJ, em que i,k e w se referem respectivamente ao produto, país e mundo. 4 V. a este propósito, BALLANCE, FORSTNER e MURRAY (1987) . 5 DEARDORFF provou-o em termos da versão fraca da Lei da vantagem comparativa (v. secção 2.2.2.1.) 88 na apre ia ão rítica da abordagem tradi ional, i.e., u "indi ad r da e portaç ~ rei tiva " para medir a vantagem mparativa ao nível de um paí 6. E tes contributos permitem-n que tionar re ultado e c nclu õe de e tudo basead ne ta medi ão, sendo a alternativas con truída "in tuiti amente", em adequada di cu são teórica, ou igual mente pa ívei de conte tação.