Cadernos IHUideias ISSN 1679-0316 (impresso) • ISSN 2448-0304 (online) ano 19 • nº 320 • vol. 19 • 2021

Pindó Poty é Guarani!

Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini Cadernos IHUideias

Pindó Poty é Guarani!

Roberto Antonio Liebgott Missionário leigo e integrante da Comissão Colegiada do Conselho Indigenista Missionário - CIMI Sul

Aloir Pacini Jesuíta, antropólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

ISSN 1679-0316 (impresso) • ISSN 2448-0304 (online) ano 19 • nº 320 • vol. 19 • 2021 Cadernos IHU ideias é uma publicação quinzenal impressa e digital do Instituto Humanitas – IHU que apresenta artigos produzidos por palestrantes e convidados(as) dos eventos promovidos pelo Instituto, além de artigos inéditos de pesquisadores em diversas universidades e instituições de pesquisa. A diversidade transdisciplinar dos temas, abrangendo as mais diferentes áreas do conhecimento, é a característica essencial desta publicação.

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Cadernos IHU ideias Ano XIX – Nº 320– V. 19 – 2021 ISSN 1679-0316 (impresso) ISSN 2448-0304 (online)

Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos Conselho editorial: MS Rafael Francisco Hiller; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Prof. Dr. Lucas Henrique da Luz; MS Marcia Rosane Junges; Profa. Dra. Marilene Maia; Profa. Dra. Susana Rocca. Conselho científico: Prof. Dr. Adriano Naves de Brito, Unisinos, doutor em Filosofia; Profa. Dra. Angelica Massuquetti, Unisinos, doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade; Profa. Dra. Berenice Corsetti, Unisinos, doutora em Educação; Prof. Dr. Celso Cândido de Azambuja, Unisinos, doutor em Psicologia; Prof. Dr. César Sanson, UFRN, doutor em Sociologia; Prof. Dr. Gentil Corazza, UFRGS, doutor em Economia; Profa. Dra. Suzana Kilpp, Unisinos, doutora em Comunicação. Responsável técnico: Bel. Guilherme Tenher Rodrigues Imagem da capa: Pixabay Revisão: Carla Bigliardi Editoração: Guilherme Tenher Rodrigues Impressão: Impressos Portão

Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1 (2003)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- . v. Quinzenal (durante o ano letivo). Publicado também on-line: . Descrição baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); última edição consultada: Ano 11, n. 204 (2013). ISSN 1679-0316 1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Hu- manitas Unisinos. CDU 316 1 32 Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

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PINDÓ POTY É GUARANI!

Roberto Antonio Liebgott Missionário leigo e integrante da Comissão Colegiada do Conselho Indigenista Missionário - CIMI Sul

Aloir Pacini Jesuíta, antropólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

“É tão ladrão esse governo que, além de roubar nossas terras, nos- sos direitos, ele vem pegar algo que nós fizemos na luta e conquis- tamos pra querer mandar em nós, pra querer tirar nossos direitos, porque a Funai e Sesai são órgãos que foram criados a partir da luta indígena.”

(Kerexu, cacique da Terra Indígena Morro dos Cavalos e articuladora da Comissão Yvyrupa) 1

1 Transcrição de fala em vídeo Pindó Poty é Guarani! Antimídia (YouTube em 05/05/2021) https://www.bing.com/videos/search?q=Pindó+Poty+é+Guarani!&ru=%2fsearch%3f- q%3dPind%25C3%25B3%2bPoty%2b%25C3%25A9%2bGuarani!%26cvid%3d43e- 8f50e128348d8aa69857cbb6a4b42%26aqs%3dedge..69i57.3348j0j1%26pglt%3d2083%- 26FORM%3dANSPA1%26PC%3dDCTS&mmscn=vwrc&view=detail&mid=1A011D- F0228903BB05BB1A011DF0228903BB05BB&rvsmid=9198A785489B17614F369198A- 785489B17614F36&FORM=VDQVAP 5 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Caminhamos até aqui aprendendo com os indígenas a adiar o fim do mundo, diria Ailton Krenak 2. Isso, mesmo que os estudos mostrem geno- cídios e etnocídios sem precedentes desses povos, ou por causa disso mesmo. Dos milhões de habitantes do território que viria a tornar-se o Brasil e os países vizinhos, os indígenas foram diminuídos drasticamente em conflitos armados, mas principalmente por conta das epidemias, dos trabalhos forçados etc. Os primeiros donos dessa Ameríndia se organiza- vam de forma capilar nas terras baixas, em milhares de povos diferentes, estavam presentes em todos os lugares, e muito se perdeu com o desas- trado processo da colonização. Contudo, resistem de forma criativa e con- tinuam lutando pelo direito de continuarem a viver neste chão para nos ensinar a bem viver. De acordo com o IBGE, existem atualmente no Brasil cerca de 817.963 indígenas, agrupados em 305 povos, de 270 línguas diferentes. No século XVII eram muito mais, no Rio Grande do Sul e adjacências vi- viam cerca de 40 povos diferentes. Atualmente aqui temos três etnias muito diferentes entre si: os Kaingang, que vivem em aldeias maiores e chegam a cerca de 30 mil pessoas; os Guaranis 3, que estão mais espa- lhados e chegam a duas mil pessoas; os Charrua, que já foram tidos co- mo extintos – eram muito aguerridos, talvez por isso foram duramente combatidos –, mas dizem que muitos estão escondidos no Rio Grande do Sul e no Uruguai, chegam talvez a umas 50 pessoas, mais concentrados na Lomba do Pinheiro, um bairro de Porto Alegre (RS); e a comunidade Laklaño Konglui (Xokleng) em São Francisco de Paula, na RS 484, em frente à Floresta Nacional.

2 O líder indígena Ailton Krenak mostra-se indignado porque percebe que os indígenas estão sendo massacrados, por isso quer pensar o fim do Capitalismo para adiar o fim do mundo de for- ma apocalíptica, pautado pelas formas de respeito à vida própria dos indígenas. Ver https://jor- nalistaslivres.org/as-flechas-de-ailton-krenak-contra-o-capital-e-a-sociedade-de-consumo/ 3 Usaremos Guarani sempre com letra maiúscula em reconhecimento, no plural quando está dito num contexto geral e quando especificamos uma etnia dentro do povo maior colocamos o hífen para mostrar a vinculação profunda, sem plural, assim: Mbyá-Guarani. 6 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Milho Guarani (foto Alass Derivas).

Aqui vamos acompanhar um caso sui generis dos Guaranis nesse tempo de pandemia. Em Porto Alegre, no bairro Lami, vive a Comunidade Mbyá-Guarani Pindó Poty que, em português, quer dizer Flor do Coquei- ro. Em 15 de abril de 2021, o Cacique Roberto Ramires e a comunidade Pindó Poty alertaram a Funai, o Ministério Público Federal (MPF), a De- fensoria Pública da União (DPU), o Conselho Indigenista Missionário (Ci- mi) etc. que seu território estava sendo invadido e loteado pelos juruás, os não indígenas. Estavam roçando, cercando com arame farpado e cons- truindo mais barracos e colocando roupas nos varais, mas não tinha água no local para lavar a roupa, o que indicava que as ações estavam sendo utilizadas como tática de grilagem.4 Uma outra cerca foi instalada logo depois da roça de mandioca, milho e melancia dos indígenas. Atrás da cerca foram erguidos três barracos de madeira, aparentemente pessoas pobres que reivindicam um pedaço de chão para morar. A organização indígena acionou o movimento indígena em rede, com denúncias na forma de organização própria para os parentes indíge- nas e os poderes públicos e outras forças da sociedade, como os Conse- lhos Estaduais dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos. As entida- des indigenistas e demais organizações de apoio formaram uma rede de proteção que acompanhamos com cuidado, pois estávamos em tempo de pandemia e isolamento social. Com o jornalismo de Alass Derivas foi pos-

4 A expansão da cidade de Porto Alegre para a zona rural leva a crer na especulação imobi- liária, pois os indígenas são acusados de ocupar as chamadas "áreas nobres" da capital e impedir o “desenvolvimento”. 7 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

sível criar uma rede de solidariedade usando os veículos de comunicação.5 A Terra Indígena Pindó Poty teve o procedimento de demarcação iniciado pela Funai em 2012, mas seu representante alegou não poder fazer nada contra a invasão porque a terra não era demarcada. Urgente era a retirada dos invasores para evitar maiores violências contra os Mbyá-Guarani, dado que as famílias da comunidade estão em situação de vulnerabilidade, na beira da estrada do Varejão. No dia 19 de abril, o Repórter Popular, o Cimi, a Comissão Yvyrupá, a Associação de Estudos e Projetos com Povos Indígenas e Minoritários (Aepim), e diversas outras entidades, grupos, parlamentares e outros apoiadores, visitaram a aldeia para mostrar que os indígenas não estão sós nas suas lutas. A chegada dos Guaranis de outras localidades levou a um processo de decisão sobre o que seria feito para resistir à invasão, insistentemente em reuniões circulares, como aparece nas fotografias.

Cacique Júlia Gimenes, Terra Som dos Pássaros, Maquiné (foto de Liebgott, 19/04/2021).

As sete famílias de Pindó Poty ocupam esse território ancestral Gua- rani-Mbyá, que perpassa as regiões do Lami, de Itapuã, da Ponta do Ara- do, Cantagalo e Lomba do Pinheiro. Roberto Ramires agradece a presen-

5 Alass Derivas, enquanto fotógrafo e jornalista, cobriu os dias 27 e 28, 29 e 30 de abril. https://derivajornalismo.com.br/post/aldeia-guarani-denuncia-invasao-e-loteamen- to-do-territorio-indigena/; https://cimi.org.br/2021/04/alerta-urgente-povos-origina- rios-aliados-causa-indigena/?utm_content=162548252&utm_medium=social&utm_ source=facebook&hss_channel=fbp-159103797542; http://reporterpopular.com.br/ aldeia-guarani-mbya-sofre-invasao-e-grilagem-de-terras-em-porto-alegre/ 8 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

ça do Cacique Élio, da aldeia Canto dos Pássaros em Maquiné, e faz memória do cacique Sebastião, Valdomiro, Pedro e outros que, depois de 1940, passaram a morar nesses lugares. Ramires planta ali aipim, milho crioulo Mbyá, melancia, banana, butiá, laranja, bergamota para sustentar sua família e parentes. Ramires também mostrou que terminaram de construir a Opý, a casa de rezo da comunidade.

Opý, Casa de rezo recentemente inaugurada no Pindó Poty (foto de Liebgott).

Na ocasião, o cacique Ramires, o fotojornalista Alass e Roberto Lie- bgott do Cimi foram chamados de “vagabundos” e hostilizados por ho- mens próximos ao mercado em frente a Pindó Poty. A questão é que uma família juruá já ocupa parte do território Guarani, construiu uma casa de madeira e alvenaria há mais ou menos um ano e meio, e fica constrange- dor retirar uma família que não tem para onde ir. Os Guaranis precisam pouco para viver: comida boa, representada pelo milho nativo; um Tekohá, representada pela aldeia ou comunidade e o território demarcado, a casa comum como terra-mãe, diria o Papa Fran- cisco; e rezo, representado pela Opý com relações espirituais com Deus e seus representantes, e seus antepassados. O uso da palavra bem-dita conduz os Guaranis a cantar suas lutas e suas vitórias no caminho que é possível trilhar em terras invadidas e colo- nizadas, uma vitória que reflete a força da mobilização dos Mbyá-Guarani nos parâmetros das lutas de seus antepassados. Mesmo entre juruá, nas cidades e na beira de estradas conseguem conectar-se com o essencial, 9 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

com o mundo sistêmico que traz equilíbrio para o pouco tempo que esta- mos peregrinos nessa terra.

Renato Mathias entoando suas palavras; Tiago Dinarte e seu atabaque para ani- mar os jovens (fotos de Alass Derivas).

A comunidade Pindó Poty, em reunião com lideranças Mbyá da Co- missão Guarani Yvyrupa,6 planejou ações políticas, jurídicas e de fortale- cimento da resistência na comunidade e os apoiadores reforçaram a luta e o protagonismo Mbyá-Guarani junto a parlamentares, grupos de apoio e pessoas solidárias, com atos culturais a partir do feriado de 19 de abril de 2021. A Comissão Guarani Yvyrupa denunciou formalmente a invasão da Terra Indígena Lami / Pindó Poty no dia 21 de abril e cobrou providên- cias das seguintes autoridades: MPF, DPU, Funai (DPT e CR Litoral Sul) e Secretarias Municipal e Estadual do Meio Ambiente.

Momento de formação dos jovens no Tehohá Poty (foto de Liebgott e de Alass Derivas).

6 Indígenas dos povos Xerente, Krahô, Takaywra, Xokleng, Kaingang, Terena, Guarani e Kayowá, Kinikinau, Munduruku, Tupinambá e Arapium cobram a demarcação de seus ter- ritórios em manifestação na frente da sede da Fundação Nacional do Índio de Brasília em conexão com Pindó Poty. 10 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Os atos tiveram o objetivo de expressar apoio à luta da comunidade pela demarcação de sua terra e colocar um fim ao processo de invasão e esbulho da área. Cada passo era acompanhado com apreensão para ver os desdobramentos da invasão de Pindó Poty. O ato cultural e espiritual Teko Porã Tenondeve rã (O futuro do nosso Bem Viver) também era polí- tico porque realizado na comunidade Pindó Poty, nesse contexto de inva- são, e seria avisado para seguir as regras de distanciamento. No dia 21 de abril ficou restrito para as comunidades indígenas e no dia 22 de abril7 foi aberto para todos os que quisessem conhecer suas lutas, uma forma de alargar alianças, com exposição de artefatos e apresentação do coral. Kerexu Yxapyry, coordenadora da Comissão Guarani Yvyrupa e liderança Guarani em Santa Catarina, explica a estratégia: “A nossa forma de lutar não é o enfrentamento, é muito mais ligada ao fortalecimento das tradi- ções, à espiritualidade. Por isso os mais velhos estão chegando, os tion- daro [guerreiros] vêm fazer a proteção, os jovens estão cantando e vai ter muita reza na casa de oração”.

Jovem se preparando para pensar e agir como Guarani (fotos Alass Derivas).

Os jovens Guaranis fizeram um mutirão no dia 21 de abril para er- guer uma cerca ao redor da aldeia Pindó Poty, “para a segurança do nosso povo”, explica Roberto Ramires. Diariamente, os Guaranis de ou- tras aldeias urbanas de Porto Alegre, do interior e até de Santa Catarina chegavam e souberam encontrar lugar para quase uma centena de pa- rentes e amigos: “Assim é feita a luta dos Guaranis. Tem que ser todo mundo junto!”, afirmou Ramires. Foram recepcionados também os apoiadores que chegavam. A to- dos denunciavam os processos de invasão e esbulho que estão aconte-

7 Fomos surpreendidos com vídeo nas redes sociais mostrando a cadeia da comunidade Kaingang em chamas na madrugada de 22 de abril na Terra Indígena Serrinha, norte do Rio Grande do Sul. Quatro pessoas morreram carbonizadas e uma sobreviveu. Isso criou comoção social e precisamos rever alguns aspectos da justiça comunitária. 11 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

cendo há tempo dentro da Terra Indígena Lami,8 uma situação de viola- ção da terra e dos filhos da terra com o fim do convencimento a respeito dos seus direitos tradicionais. Fortaleceram assim a luta da comunidade pela demarcação de sua Terra com outras aldeias em rituais de canto e dança junto com anciões, mulheres, jovens e crianças Mbyá em seu terri- tório tradicional, fizeram plantios de mudas frutíferas e nativas no entorno da comunidade.

Kunhã Regina, Terra Ponta do Arado (foto de Liebgott).

Timóteo de Oliveira Karai Mirim, cacique na Ponta do Arado, em Belém Novo, outra comunidade Guarani em Porto Alegre, falou que reto- maram em 18 de junho de 2018 uma “terrinha que é nossa para criar nossos filhos”,9 mas estava ali para apoiar essa luta, pois já andava no Pindó Poty com seu pai em visita aos parentes, faz muito tempo. “Pindó Poty nunca ficava vazia, sempre tinha Guarani passando por aqui para fazer uma roça, colher uma fruta”, afirma.

8 https://www.facebook.com/548705488530012/posts/4032247370175789/; https://www.ma- tinaljornalismo.com.br/matinal/reportagem-matinal/guaranis-vem-a-porto-alegre/ 9 No dia 11 de janeiro de 2019 foram atacados a tiros por homens encapuzados de madru- gada, atiraram dezenas de vezes sobre os barracos. Esse território está em disputa com Arado Empreendimentos Imobiliários S/A, mas está garantido na Justiça (pelo desembar- gador Rogério Favreto) o direito de passagem dos indígenas na região e o acesso deles aos serviços públicos de saúde e educação. As descobertas arqueológicas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no território que foi retomado pelos Gua- rani-Mbyá atestam mais elementos acerca dessa ocupação antes da invasão portuguesa. Decisão judicial garante a posse da terra e o direito de passagem aos Guarani Mbyá da Ponta do Arado | Cimi. 12 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Timóteo de Oliveira Karai Mirim, da Ponta do Arado, no Pindó Poty (foto Liebgott).

Segundo os estudos de Roberto Liebgott, as evidências são de uma aldeia no Pindó Poty em 1940, pois era o centro de um vasto território ancestral Guarani. Trata-se de uma espécie de ponto estratégico nas re- lações de circulação tradicional que mantém os Guaranis vivos, porque está situada junto a um pequeno córrego que era navegável e que desá- gua no Guaíba. Assim, permitia acessar pela água comunidades que es- tão na outra margem do Guaíba, noutros municípios do Guaíba, Barra do Ribeiro e Tapes. Dali também era fácil chegar por terra às comunidades Guaranis do extremo sul de Porto Alegre: Cantagalo, Itapuã, Belém Novo, Lomba do Pinheiro.

Mapa Porto Alegre,1876. Fonte. https://prati.com.br 13 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Em 2006, um Grupo de Trabalho da Funai realizou um levantamento das demandas fundiárias de cerca de 30 aldeias Guaranis no Rio Grande do Sul; uma delas é Pindó Poty. Depois de muita pressão dos indígenas e do MPF, que moveu um Inquérito Civil Público para agilizar o processo de demarcação, a Funai agiu somente em 2012. A portaria que nomeou o Grupo Técnico para os estudos que comprovam sua posse tradicional do território já foi entregue em 2017 com o material resultante dos estudos fundiários, segundo o antropólogo coordenador do Relatório Circunstan- ciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Lami.

Aldeia Mbyá-Guarani no Lami na década de 1980 (foto do acervo pessoal de Re- nato Mathias).

Mas foi eleito com a promessa de que nenhuma Terra Indígena seria reconhecida em seu mandato. Assim aparelhou a Funai para não agir e as invasões se multiplicam geometricamente, principal- mente dos locais não regularizados. A cidade está chegando cada vez mais próxima da aldeia e os empreendimentos imobiliários, como sempre fizeram, vão empurrando os indígenas para outros lugares nas periferias. Em resposta ao procurador da República Jorge Irajá Louro Sodré, a Funai afirmou que não podia atuar em defesa dos indígenas porque “a área supostamente indígena Lami não possui polígono aprovado até o momento visto que os estudos de identificação e delimitação ainda não foram concluídos”. Com a omissão da Funai, o procurador do MPF ajui- zou ação de reintegração de posse. Após analisar a situação, um verea- dor de Porto Alegre cochichou: “Isso aí se resolve com gasolina!” Imedia- 14 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

tamente foi questionado sobre o pós-ato, sobre a segurança do Cacique e das famílias moradoras da Aldeia Pindó Poty, compostas em sua maio- ria por crianças e idosos, que pouco se expressam em português. O vere- ador silenciou e não voltou mais à aldeia.

Casas de invasão meio improvisadas (foto Liebgott, 15/04/2021).

Aos poucos, a questão vai se esclarecendo: existe uma ação de rein- tegração de posse que corre na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, movida pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Estado do Rio Grande do Sul, e talvez isso faça com que o processo de demarcação ande na Funai. Leonel Hoch procurou explicar que não era um invasor, mas estava ali com seus companheiros porque eram só- cios da “Cooperativa” e entraram na área “para marcar terreno” e que também era seu direito estar ali. Então compreendemos que se tratava de alguns trabalhadores dessa Federação que seria a “proprietária” original de parte da área indígena e que entrara na Justiça contra a demarcação para os indígenas. Esses “invasores” estavam buscando algum ressarci- mento de sua parte na Federação. Os barracos erguidos não têm água encanada, nem energia elétrica, porque a invasão era ilegal. Um dos in- vasores afirmou que tinha 11 filhos e três com deficiência, não consegue mais pagar aluguel na pandemia, porque não tem mais trabalho.

O desfecho da tensão nessa invasão

Assim a luta pela vida e pela terra prosseguirá de diversas formas. No dia 26 de abril houve outro encontro cultural, religioso, político e de resistência do povo Mbyá-Guarani com entidades e movimentos de luta pela terra; a Tekohá Pindó Poty, no Lami, conectou-se com o Conselho 15 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Continental da Nação Guarani (CCNAGUA), que tem o apoio da Rede Indigenista Guarani nos quatro países. Assim realizou um evento paralelo na XX Sessão do Fórum Permanente da ONU com o tema “Desterritoria- lização, autodeterminação e pandemia, a situação dos direitos humanos dos povos Guaranis na América do Sul”. De forma online, reuniram-se representantes do Povo Guarani da América do Sul, lideranças das prin- cipais organizações Guaranis da Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, que pediram Justiça e Paz para os Guaranis do Tekohá Pindó Poty.10 No dia 27 de abril, integrantes da Comissão Guarani Yvyrupa, do Cimi Sul e da Aepim reuniram-se com a comunidade Mbyá-Guarani Pindó Poty para apoiar mais uma semana de atividades em defesa da terra. E no dia 28/04/2021 aconteceu a reunião das lideranças com o Procurador do MPF de Porto Alegre, Dr. Jorge Irajá, e o diálogo com a Defensoria Pública da União no sentido de contar com apoio em medidas judiciais após denúncia de invasão da aldeia Pindó Poty (Terra Indígena Lami). O encontro virtual teve a participação de todas as lideranças da Pindó Poty e outros parentes que afirmavam novamente que não estavam pedindo favor, exigiam e cobravam o direito da demarcação e a segurança contra as invasões do território. Fica claro que querem permanecer em seu terri- tório tradicional e nele bem viver, com saúde, de acordo com seus costu- mes tradicionais. Lembraram que esses direitos são garantidos pela Constituição e pela Convenção 169 da OIT, e que a Funai permanece omissa no seu dever de fiscalizar o território e retirar invasores, e estão contentes com o MPF por atender ao seu pedido de socorro. O procurador observou que acionou a Funai para que retirasse os invasores, mas que a resposta foi negativa, com a alegação de que não agiria uma vez que a demarcação daquela terra não havia sido concluída. Também informou que o MPF ingressou com uma Ação Civil Pública na Justiça Federal pedindo que a Funai demarcasse a terra e que esta foi julgada procedente pelo TRF4, mas que, em função da pandemia, os pra- zos estão suspensos para cumprimento da sentença pela Funai. Disse ainda que abriu um Inquérito Civil Público com o objetivo de apurar as denúncias de invasões e que designou uma diligência da Polícia Federal na área para identificar os invasores e que esta foi realizada no dia 26. A partir das informações obtidas naquele momento, o MPF se comprometeu a ingressar até dia 30 de abril com uma Ação de Reintegração de Posse para proceder à remoção dos invasores, se o pedido for julgado proce- dente pela Justiça Federal.

10 https://bit.ly/3xpcSEM; https://www.facebook.com/watch/?v=513982493344986; https:// www.facebook.com/548705488530012/posts/4055134004553792/ 16 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Acontece que, enquanto os Guaranis estavam reunidos com o MPF, concentrados no núcleo da Aldeia de frente para a Estrada do Varejão para compreender as instâncias de nossa Justiça, pelos fundos os inva- sores cercaram e desmataram um lote maior, cerca de cem metros da invasão anterior, o que alertou os Guaranis, pois mostrava uma decisão de invasão cada vez maior. As noites são oportunidades para escutar os espíritos da mata, ouvir a voz dos ancestrais e compreender o que lhes cabe fazer nessa situação. Desde o dia 29 de abril, os Mbyá-Guarani passaram a realizar rituais mais intensos.

Rituais de discernimento (fotos de Valentim da Frente Quilombola, 29/04/2021).

A comunidade Pindó Poty foi mobilizada e se tornou vigilante. Na vigília do dia 29 para o dia 30 de abril de 2021, Marcelo Nhamandu Papa (34 anos), apoiado no bastão de autoridade e de mando, Cacique da Al- deia de Canelinha, Santa Catarina, atraiu os olhares e atenção de todos, especialmente os jovens sedentos da sabedoria dos mais velhos, quando contou que esteve pela primeira vez em uma luta pela terra aos 13 anos e destaca a importância de se colocar na luta para preservar a cultura Guarani, por isso está ali na resistência da aldeia Pindó Poty.11 A partir de seus rezos e do clamor das ancestralidades, nessa noite santa, articularam ações com o objetivo de dar um basta diante das ame- aças e das invasões. Diante da morosidade dos Poderes Públicos e pelo fato de as invasões não terem sido coibidas pelas autoridades e, por cau- sa disso, terem se intensificado nos últimos dias, decidiram, em torno do chimarrão, agir como seus antepassados, fazer a retomada com suas próprias mãos no amanhecer do dia 30 de abril de 2021. Os Guaranis decidiram não esperar mais, porque seu território esta- va sendo desmatado e invadido de forma até irreversível. Já às cinco

11 Ver http://www.nonada.com.br/2021/05/caminhares-guarani-em-defesa-da-aldeia-pindo- -poty/ 17 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

horas da manhã, as lideranças e os xondaros se dirigiram até a área lote- ada, destruíram as cercas e queimaram os barracos instalados recente- mente na Terra Indígena. Entraram nos lotes como se donos do lugar fossem, derrubaram os barracos e foram construindo estruturas para ocu- par o local e não permitir mais a entrada de invasores. Os xondaros e apoiadores da Frente Quilombola, Coletivo Alicerce e outros se puseram em atenção e vigília redobrada porque poderia haver uma reação violenta dos invasores. Xondaro Kuery fez reza onde juruá Kuery invadiu e, depois da retomada, a alegria se fez presente no Tekohá Pindó Poty. A ação decisiva dos Guaranis surtiu efeito imediato nos ór- gãos públicos e acelerou o ritmo burocrático do MPF. O procurador perce- beu que o fato exigia urgência, dada a omissão da Funai, e estava na iminência de um confronto entre os Guaranis e invasores com risco da integridade das pessoas, uma vez que muitos jovens estavam prontos para o enfrentamento direto com os invasores, como é próprio do seu papel nessa idade agir pela bílis, muitas vezes sem a prudência dos ido- sos. O procurador Jorge Irajá e outros agentes do MPF apareceram no território por volta das 15 horas. Foram recebidos pelos Guaranis e pas- saram pela cerimônia de boas-vindas. Depois sentaram para escutar os relatos da invasão por parte do Cacique Roberto Ramires e da Kerexu, da Comissão Yvyrupa, um indício de desfecho favorável depois da ação de- cisiva da manhã.

MPF no Tekohá Pindó Poty, falando com invasores, e os Guaranis observando tudo (fotos Alass Derivas, 30/04/2021).

Depois foram ao lugar invadido conferir a área desmatada pelos in- vasores, e as cercas recém tiradas pelos Guaranis. Viram as trilhas feitas pelos invasores para entrar no território, com árvores nativas cortadas recentemente. Presenciaram o esgoto oriundo do empreendimento co- mercial Bom Lami, que escorre por dentro da Terra Indígena, contaminan- do o solo e as águas, todo o meio ambiente naquela região e o equilíbrio 18 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

dos espíritos que ali habitam, o que traz doenças, principalmente para as crianças que ali brincam. O procurador Jorge Irajá se comprometeu a entrar com reintegração de posse também para as duas casas que estão construídas há mais tempo em cima da Terra Indígena, ao lado da área que estava sendo lo- teada agora. Nesta reintegração de posse, incluirá um interdito de proibi- ção de entrada de estranhos não convidados pela comunidade. Com isso, quem invadir a Terra Indígena ou estimular a entrada de terceiros “poderá ser preso”. Além disso, o procurador intimará judicialmente a Funai para que toque com urgência o processo de demarcação da área. No feriado de 01 de maio de 2021, a mobilização dos Mbyá-Guarani, no Tekohá Pindó Poty, continuou com força e entusiasmo porque perce- beram que estavam no caminho certo. Durante a noite mantiveram-se em vigília na área retomada e contaram com apoio solidário da Frente Qui- lombola, que permaneceu na área com 11 pessoas. Foi bonito ver os Quilombolas e Guaranis em volta da fogueira, durante a noite e na madru- gada, com tambores e maracás, sob as bênçãos dos Encantados, dos Espíritos, das ancestralidades e Orixás, irmanados e sintonizados na mesma luta pelo bem viver. No final da manhã do dia 02/05/2021, a comunidade recebeu as de- legações indígenas vindas de Guarita e Santa Maria para somarem na luta pela terra Pindó Poty. Também dois policiais militares da Brigada Ambiental vieram para fazer uma averiguação dos danos ambientais cau- sados pelos invasores. Foi mostrado o desmatamento e um despejo de esgoto dentro da área indígena, um esgoto canalizado que tem origem, segundo informações da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, na escola no bairro Lami e no empreendimento comercial Bom Lami, que passa por debaixo de via pública e desemboca dentro da Terra Indígena, com danos irreparáveis ao ambiente.

Cacique Ramires e Eunice Kerexu Yxapyry explicando os crimes ambientais da invasão no Pindó Poty para a Brigada Ambiental (fotos de Liebgott, 02/05/2021). 19 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Os policiais alertaram que os indígenas estão enfrentando gente muito poderosa da região. Durante a parte da tarde, os Mbyá fizeram o plantio de mudas frutíferas e árvores nativas dentro do território, dando continuidade à autodemarcação. A luta articulou de forma sistêmica um grande abraço com alegria, cânticos e muita reza Mbyá-Guarani e refor- çou todos a seguir com fé nesse maio de Tekohá Pindó Poty! Ampliou-se também a rede de solidariedade e apoio aos Mbyá, com doações de rou- pas e alimentos.

Um processo tem idas e vindas

No dia 03/05 houve oficialmente o interdito proibitório ou a "ordem de não invasão", e a reintegração de posse. No processo de número 5021288-72.2021.4.04.7100 determinava-se a intimação da União e da Funai para manifestação e a posterior decisão: "Redistribua-se ao Juízo Substituto desta Nona Vara Federal, por dependência à Reintegração de Posse 50384577720184047100". Ou seja, estavam conclusos os Proces- sos para decisão/despacho. E, na manhã do dia 06/05, foi acatado o pe- dido do procurador e a juíza Clarides Rahmeier (9ª Vara Federal de Porto Alegre) emitiu uma liminar determinando a reintegração de posse e con- cedendo 10 dias para os posseiros todos, também os das duas casas de invasões mais antigas, às margens desse loteamento recente, deixarem o local de forma voluntária. Eis o despacho: defiro a liminar de reintegração na posse em terreno que integra a área reivindicada pela comunidade como território indígena (Terra In- dígena Pindó Poty), situada na Rua Edgar Pires de Castro nº 12.179, Bairro Lageado, Lami, no Município de Porto Alegre e contra Nee- mias Bento, Maria da Graça, Paulo Iur Pereira de Souza, Cleoni Pe- droso Lopes e Outros (ocupantes não-indígenas não identificados), concedendo aos mesmos prazo de 10 dias para desocupação volun- tária da área, sob pena de expedição de mandado de reintegração e execução forçada, nos termos da lei e com apoio de força pública, se necessário; defiro a liminar de interdito proibitório para que não- -indígenas se abstenham de exercer qualquer medida que importe no esbulho ou turbação do imóvel objeto desta demanda, sob pena de multa de R$ 10.000,00. No despacho consta também o interdito proibitório, que torna crime a entrada de não-indígenas não autorizados no território e também intima a Funai e o IBAMA a cumprirem suas atribuições na fiscalização desta determinação. E foi demandado à Funai para que demarque a terra Pindó Poty, uma grande vitória do movimento Guarani na luta por esse território ancestral. 20 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Ritual de agradecimento em torno do fogo (foto de Liebgott).12

A luta segue pela demarcação da área, uma garantia mais sólida do que uma liminar. Refletindo, os parentes de diversas aldeias foram forta- lecer a luta de Tekohá Pindó Poty. Assim, apoiados pelas lideranças de São Paulo, Espírito Santo,13 Santa Catarina (Canelinha, Morro dos Cava- los), aldeias Guaranis de Porto Alegre e de outras áreas do Rio Grande do Sul (Viamão, Maquiné, Rio Grande, Terra de Areia, Charqueadas) que se concentraram no Lami e passaram por um processo de mobilização, articulação e reivindicação junto aos órgãos públicos no sentido de coibir as invasões, é que obtiveram a conquista da reintegração de posse e a desocupação da área invadida na Justiça. Ou seja, a vitória é de todos os Mbyá-Guarani porque os invasores de Pindó Poty têm o prazo de dez dias para desocupar voluntariamente a área, senão serão forçados a sair nos termos da lei. Após o prazo, um Oficial de Justiça comparecerá ao local para verificar se houve a desocupação.14

12 As fotografias sem data são do encontro de jovens nos dias 13, 14 e 15 de maio de 2021. 13 Eunice Kerexu, liderança guarani da Terra Indígena Morro dos Cavalos, integrante da Co- missão Yvyrupa, explica o modo cultural de articular e fazer a caminhada de um lugar para outro para apoiar, não deixar sozinho o parente, porque assim fortalece o corpo e o espírito. 14 Foram notificados para que saíssem em dez dias e, com isso, cumpririam a decisão liminar. Até o momento, o oficial de justiça não foi ver se as duas casas mais antigas foram desocu- padas e não há evidência de que sairão. Provavelmente Pindó Poty terá que acionar a juíza para que peça o despejo forçado, já que não houve ainda cumprimento da decisão. 21 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Na aldeia sempre tem tempo para uma brincadeira e para assuntos sérios. Toni- nho Guarani, liderança do Espírito Santo (fotos de Alass Derivas).

A alegria voltou para a aldeia, mas não se pode dar bobeira, pois a Justiça na terra vai e vem. Concedida a liminar de reintegração de posse contra invasores do Tekohá Pindó Poty, a luta agora segue pela demar- cação da terra. Como experiência de grande articulação e vitória para os Mbyá foi de fato a "autorreintegração de posse", isso gerou também a grande mudança de manifestação pública a respeito dos limites do seu território tradicional ali, ou seja, aquele lugar agora tem história, é Pindó Poty. Por outro lado, a ordem que determina que não se pode mais invadir a área tornou mais firme a reação indígena e fica fácil responsabilizar eventuais invasores.

A força da resistência no Pindó Poty (foto de Liebgott). 22 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

A Terra indígena Pindó Poty, no bairro Lami de Porto Alegre, está em processo de resistência em meio à falta de ação da Funai por sua proteção, o que é replicado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e nas redes de apoio que pedem justiça para os indígenas. Eunice Kerexu Yxapyry, liderança da Terra Indígena Morro dos Cavalos, de Santa Cata- rina e da Comissão Guarani Yvirupa, explica que a reunião de lideranças de diversas aldeias fortaleceu a luta e gerou consensos na ação: Estamos muito felizes, pois é um momento muito desafiador que a gente vem vivendo, pela nossa sobrevivência, pela nossa vida como povo indígena e, especificamente, como povo Guarani, conseguir fazer valer o direito que já existe [...]. Essa vitória para nós na Teko- há Pindó Poty só vem fortalecer isso, garantir esse direito. E não é somente pra terra do Lami, a gente quer fortalecer também todas as outras aldeias e terras indígenas que estão passando por esse mes- mo processo. [...] Meu povo, Guarani, como eu brinco, ele é conhe- cido cientificamente como um povo nômade. Transita bastante. Nós chamamos isso de mobilidade, é ela que move a vida. Por exemplo, a terra é um corpo e ele precisa de movimento, quando ele começa a paralisar a gente começa a ver que a terra vai perdendo a energia.15

A articuladora Mbyá-Guarani Kerexu (foto Alass Derivas).

Ir pra luta no Lami e fazer esses encontros, esses rezos, esses plan- tios, ajudar os rezadores a fortalecer a casa de rezo, ele faz parte

15 Leia no Brasil de Fato RS: https://www.brasildefators.com.br/2021/05/06/indigenas-amea- cados-em-porto-alegre-conquistam-reintegracao-de-posse-contra-invasores 23 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

dessa mobilidade que está paralisada pela pandemia. Foi um mo- mento de muito fortalecimento do povo Guarani. Fazer isso, essa mobilidade, é um desafio porque a pandemia não acabou. Embora todos os indígenas estejam vacinados, a gente sabe do risco que está correndo, então a gente está fazendo essa mobilidade para for- talecer a vida da terra e do povo também [...]. Nós não vamos para esse confronto com o inimigo, mas com o sentimento e certeza da- quilo que a gente está buscando. Com muito rezo, espiritualidade e nossa alegria, a gente coloca essa energia de uma forma muito boa em meio a um conflito muito tenso como era o da Pindó Poty, com interesses muito maiores por cima disso. (Eunice Kerexu, mesma fonte). As denúncias da situação por vias legais somente tiveram efeito por causa das atividades de fortalecimento de sua cultura em um espaço de convívio e diálogo em roda do fogo, em rituais que expressam uma espi- ritualidade Guarani viva. A união para derrubar as cercas e as casas ins- taladas no território pelos invasores brotou quase que como uma conse- quência natural da dinâmica de mobilização, como forma de resistência. Tudo foi documentado através das redes sociais da Comissão Guarani Yvirupa que chamava novos aliados. E Kerexu conclui que, a longo prazo, quem está invadindo precisa também entender esse direito dos indíge- nas, para que a vitória seja permanente. No dia 05 despediu-se a delegação Mbyá-Guarani de Canelinha (Santa Catarina) e chegaram lideranças de outros tekohás do Rio Grande do Sul, pois sentiam que a luta continuava. E no dia 07/05 os Guaranis de Pindó Poty denunciaram um novo ataque à comunidade: pessoas não identificadas destruíram uma área de terra onde haviam realizado o plan- tio de mudas de árvores frutíferas e nativas. Ali os nativos de Pindó Poty se preparavam para construir casas e morar para melhor vigiar seu lugar, mas todo o material de construção foi levado pelos invasores.

Os jovens e seus instrumentos, as rodas de conversa e de música (foto Liebgott et Comissão Yvy Rupá). 24 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

As fotografias acima mostram os jovens e a saída da aldeia para a estrada asfaltada bem próximo, o que indica uma vulnerabilidade em re- lação a possíveis violências físicas. Parece que tudo recomeçava, pois, após a primeira invasão, uma intensa mobilização do povo Guarani se iniciou e se fortificou no Dia do Índio e começaram a chegar parentes para somar na defesa do território, chegando a mais de 100 pessoas na flor da palmeira (a tradução de Pindó Poty), em um fluxo intenso de vindas e idas. Nas entradas da Aldeia, os xondaros vigiavam quem chegava e saía, porque a situação era tensa.

Os xondaros vigiando a entrada da aldeia (foto de Liebgott, 01/05/2021).

Os círculos de jovens que se formavam, tocando violão e outros ins- trumentos, dançando e cantando músicas tradicionais, geralmente em torno do fogo, aqueciam-se no frio. Os círculos maiores, abaixo da figuei- ra, eram reuniões das lideranças para tomar decisões que gerassem con- senso e fossem encaminhadas ações mais consequentes. Estes espaços de formação para os jovens eram também associados com círculos para conversar com visitantes ou autoridades que vinham para solucionar o problema da invasão na Aldeia Pindó Poty. 25 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Ritual em torno do fogo no Pindó Poty (foto Alass Derivas).

A pretexto da invasão da Aldeia Pindó Poty, esse lugar sagrado tor- nou-se um espaço de convívio, de transmissão dos saberes ancestrais Guaranis e de formação para a vida e a luta, uma ocupação saudável para os mais jovens que estavam entediados com as medidas de reclu- são social por causa da pandemia. Os xondaros eram convocados para integrar o círculo dos mais velhos que compartilhavam experiências de pelejas passadas. Desde o começo, os Guaranis convenceram a todos como era fundamental a intervenção dos poderes públicos para barrar as invasões, não havia como criar um enfrentamento como o vereador, inex- periente ou inescrupulosamente, sugeria: colocar simplesmente fogo nas casas. Era preciso paciência e indicação espiritual para agir. Mesmo que a Funai se omitisse, existiam outras instâncias que podiam ser acionadas para a ocupação dos territórios ser pacífica, ou seja, os Guaranis ressal- taram sempre a estratégia de luta na resistência, composta de muita reza e canto, porque na guerra seriam eliminados, pois o inimigo é mais forte.

Ação estratégica Guarani e o fogo das mulheres no amanhecer do dia 30/04/2021 (fotos de Alass Derivas). 26 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Foram as mulheres que deixaram o fogo aceso e fizeram a parte que liga a vida com o alimento e a terra mãe. Humilde é quem caminha saben- do apoiar-se nos demais. Os Guaranis já resistem durante milênios para não serem subsumidos e, como um dos povos mais populosos da Améri- ca do Sul, vivem de forma original. Passaram a sofrer uma pressão sem precedentes com sua desterritorialização depois da chegada dos espa- nhóis e portugueses, mas imensamente mais intensa nos últimos anos. Mas sabem usar de sabedoria para buscar a terra sem males.

Roça Guarani de milho no Pindó Poty (foto de Liebgott).

A mata, o rio ou a roça, com plantação de milho ou mandioca, sem- pre fez parte de uma tradição que busca o alimento saudável, uma vida em comunhão com a natureza. Buscam a conexão com seus ancestrais, trazem na memória suas músicas e seus mitos que se tornam ritos. Entre uma pitada e outra no cachimbo, uma baforada de fumaça de tabaco e outra, esperam chegar à palavra certa para fundamentar sua sabedoria e constituir a Tekohá, na terra sem males, o bem viver que é possível até nos tempos atuais. 06 de maio de 2021 foi dia de celebrar algumas vitó- rias no Tekohá Pindó Poty, de fazer despedidas e agradecer pelo apoio dado e recebido. A delegação Mbyá de Santa Catarina despediu-se e re- tornou para seu Tekohá. Todos que vieram para a luta saíam com a sen- sação do dever cumprido, mas junto dos agradecimentos estavam refle- xões sobre a continuidade das lutas no sentido do cuidado da terra-mãe, compromisso com uma luta sem trégua. Nem deu tempo para descansar, pois na tarde de 06 de maio de 2021, através de pessoas ainda não identificadas, houve a destruição com um trator de uma área de terra onde a comunidade indígena realizou o plantio de mudas de árvores frutíferas e nativas. Parece ser uma retalia- ção por causa da vitória na Justiça Federal com a expedição de liminar de 27 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

reintegração de posse contra os invasores, uma forma de intimidação e de esbulho na terra Mbyá-Guarani. A área destruída constitui uma parcela do território que está sendo demarcado pela Funai como sendo terra de ocupação tradicional dos Mbyá-Guarani no Bairro Lami. Também foram destruídos os espaços onde se construiriam as casas e, além disso, todo o material de construção que lá estava foi levado pelos invasores.

O Cacique Roberto Ramires, Mbyá-Guarani do Tekohá Pindó Poty, no local em que o trator estragou a plantação (foto de Liebgott em 07/05/2021).

Assim foi reforçada a luta. Organizaram nova mobilização, agora com o dobro de gente. De 13 a 15 de maio de 2021 reuniram-se, no Tekohá Pindó Poty, Bairro Lami, em Porto Alegre, 28 Caciques das áreas Mbyá-Guarani do Rio Grande do Sul, lideranças religiosas e espirituais, os Karai e as Kunhã Karai, integrantes da Comissão Guarani Yvyrupa e Arpinsul do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Es- pírito Santo. Foram realizados estudos, debates e reflexões entre os jo- vens e adolescentes no Tekohá Pindó Poty. A mãe terra e o movimento de luta e resistência das lideranças Mbyá Guarani foram temas centrais no encontro.16

16 http://desacato.info/a-mae-terra-e-o-movimento-de-luta-e-resistencia-das-liderancas-m- bya-guarani/ 28 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Douglas Karai do Cantagalo no centro da roda da Tekohá Pindó Poty (fotos de Liebgott).

Cerca de 200 pessoas vieram de lugares diversos, vilas, cidades, fazendas, algumas de áreas demarcadas, outras de acampamentos de beira de estradas ou espaços degradados, cedidos por órgãos públicos, muitos deles afetados pelas invasões de posseiros, empresas, minerado- ras etc. Os jovens Guaranis foram generosos na aldeia Pindó Poty e en- traram nas dinâmicas de unificação de suas lutas. Assim deu-se continui- dade às intensas mobilizações dos Mbyá-Guarani contra as invasões na Terra Indígena Pindó Poty. Houve uma inter-relação entre os desafios, inquietações e problemas das demais comunidades com o esbulho terri- torial e o desrespeito ao modo de ser Guarani que ocorria no Tekohá Pindó Poty. As violações aos direitos Mbyá tornaram-se um sinal de alerta e despertaram a vontade de se reencontrar, organizar e unificar as lutas contra a violência dos juruás e do governo, que não cumpre com suas obrigações constitucionais de demarcar as terras, protegê-las e fiscalizá-las. 29 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Kunhã Karai Talcira Gomes com tipoia para segurar o bebê, da Terra Pará Roke, Rio Grande (fotos de Liebgott).

Forçoso é observar que as dores e os sofrimentos provocados por essas invasões não impediram que os Mbyá-Guarani se mantivessem alegres, entusiasmados, celebrativos, afetuosos, generosos etc. A comu- nhão com Ñhanderu é permanente, pois o percebem guiando-os e sem- pre junto na luta pela vida, porque está em todos os lugares, nas matas, nas águas, nas estradas, na terra e no céu, mas de modo especial nas suas lutas, o que compõe sua cultura e seu modo de ser Guarani. Quando identificam-se e vivem na tekohá como aconteceu nesses tempos de Pin- dó Poty, tornam-se mais solidários e os vínculos cultivados alimentam e fortalecem a esperança construída no caminho da terra sem males, como expressaram no documento final do encontro: Nós, caciques e lideranças Mbya Guarani de mais de 30 aldeias do Rio Grande do Sul, estivemos reunidos nos dias 13, 14 e 15 de maio de 2021, na Tekoa Pindó Poty, bairro Lami, em Porto Alegre/RS, com o objetivo de fortalecer a luta em defesa de nosso território. O presente encontro aconteceu na tekoa Pindó Poty por ser uma terra cujo processo de demarcação encontra-se paralisado na FUNAI em Brasília, enquanto a área vem sofrendo esbulho e ataques pratica- dos pelo juruá (não-indígena). [...] Encerramos esse encontro com as belas palavras dos Xeramoi e das Xejaryi, nossos anciões e anciãs, que iluminam nossos caminhos e nossa luta com os ensinamentos de nossos ancestrais, sob o olhar de Ñhanderu. Aguyjavete! Tekoa Pindó Poty (Documento, 15 de maio de 2021).17 Ato contínuo, na tarde de 18 de maio de 2021, alguns representantes do CAPG, CEPI, CEDH e Cimi Sul18 estiveram na comunidade Mbyá- -Guarani Ñhu'ú Poty - Flor do Campo nas margens da BR 116, Km 316, no município de Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul, e confirmaram que estes também estão ameaçados de perderem a terra onde vivem. As fa- mílias informaram que nas últimas semanas estão recebendo visitas de

17 Ao longo dos três dias de encontro, discutiu-se sobre a realidade dos Povos Indígenas no RS e sobre os direitos que são garantidos na Constituição Federal. Para quem deseja aces- sar o Documento final do encontro de lideranças e caciques Mbya Guarani do Rio Grande do Sul, segue: http://desacato.info/documento-final-do-encontro-de-liderancas-e-caciques- -mbya-guarani-do-rio-grande-do-sul/ e vídeo Povo Mbya Guarani do tekoha Pindó Poty, em Porto Alegre, tem vitória contra invasores, porém, novos ataques são registrados | Desacato 18 Por causa de ameaças, a comunidade acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério Público Federal (MPF), o Conselho de Articulação do Povo Guarani (CAPG), a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), o Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPI-RS), o Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI -Regional Sul). 30 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

um capataz (gerente) que se diz representante do proprietário da Vinícola Laurentia, que está localizada nos fundos onde a comunidade Mbyá-Gua- rani está, para dizer que eles devem sair da terra onde vivem. É necessário enfatizar que a presença indígena na região é ances- tral, que a terra em questão, também conhecida como Passo Grande – nome de um arroio que circunda a área –, vem sendo demarcada pela Portaria 902 de agosto de 2009 (Funai) que constituiu o Grupo de Traba- lho para proceder aos estudos circunstanciados de identificação e delimi- tação das terras Mbyá-Guarani Arroio do Conde, Petim e Passo Grande. Os estudos foram coordenados pela antropóloga Maria Paula Prates. Na- quele período, a vinícola era de propriedade do cardiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Dr. Guilherme Schwarts- mann que, em função da repercussão dos estudos da Funai, confeccio- nou um contrato de comodato – assinado por ele e pelo cacique Mbyá- -Guarani da época – no qual ele autorizava formalmente a fixação da comunidade naquelas terras.

Procurador do Rio Grande do Sul na comunidade Mbyá-Guarani Ñhu'ú Poty - Flor do Campo nas margens da BR 116, Km 316 (fotos de Liebgott, 18/05/2021).

Nessa comunidade a escola funciona regularmente há mais de dez anos e as 24 famílias estão vinculadas ao programa de compensação em função dos impactos causados aos indígenas, pela duplicação da BR- 116, recebem assistência da Funai e Sesai, possuem energia elétrica e água encanada. Na Terra Indígena Passo Grande estão duas comunida- des. A subsistência alimentar e financeira é obtida através de trabalhos braçais junto aos fazendeiros locais, na vinícola e com a venda de artefa- tos nas margens da rodovia e nos municípios próximos. A comunidade conta com o apoio das demais instituições da sociedade civil e das comu- nidades Mbyá-Guarani, Kaingang, Xokleng, Charrua e afirma que se manterá firme, dado que a posse na área é antiga e que talvez esse im- 31 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

passe apresse o procedimento de demarcação de terra que se arrasta há 12 anos. Finalizando, a omissão criminosa da Funai merece ser julgada. Mes- mo em tempos de pandemia, os indígenas estão sofrendo enormemente da insegurança jurídica no Brasil. Nos lugares onde está demarcada a Terra Indígena se incentiva garimpar como nos Yanomami, ou plantar soja nas Terras Parecis, Xavante, Bakairi, Manoki etc. para sustentar o capitalismo e devastar os territórios indígenas. Aqui se baseiam numa falácia gritante, mais que retórica, pois dizer que a terra não está demar- cada ou regularizada é desculpa para não fazer nada e deixar a boiada passar. A falácia petitio principii (petição de princípio) indica uma retórica falaciosa que consiste em afirmar a tese de que não podem agir na inva- são da terra dos Guarani-Mbyá, pois a Funai não demarcou, se omitiu e, por Pindó Poty não estar demarcado, não pode cumprir a função de pro- teção dos indígenas que ali vivem. Ou seja, não remar num rio é também uma ação que faz a barca ir para trás, não fazer nada é também descum- prir a lei. No Estado do Brasil que se compreendeu como pluriétnico e multi- cultural na Constituição de 1988, não cabe mais a eliminação da diversi- dade étnica e a invasão dos territórios indígenas, quilombolas e de comu- nidades tradicionais. Aqui a etnicidade e a territorialidade que são próprias dos indígenas estão resguardados pela legislação e acontecem no mo- mento atual de formas originais. A etnogênese das diferentes etnicidades precisam ser pensadas não de forma fixa, pois as etnias estão em movi- mento, vem acontecendo de diversas formas ligadas aos processos de demarcação das terras indígenas, mas com as mudanças culturais que acontecem desde sempre nas formas de se identificarem os indígenas, mas não só eles, todos os povos e nós também mudamos. A Convenção 169 da OIT e outras convenções internacionais, como da biodiversidade, dos direitos humanos indígenas trazem o conceito de territorialidade próprio das Terras Indígenas hoje demarcadas no Brasil, o que está na raiz da relação da proteção dos povos indígenas e da nature- za. Ou seja, a garantia dos direitos indígenas e da natureza é o que se discute hoje, e o conceito de territorialidade indígena vai na direção da autodeterminação dos povos indígenas, isso relacionado com o usufruto exclusivo e posse permanente dos povos indígenas. Compreender o papel da Funai como um intermediário entre o Esta- do e as etnias indígenas é outra grande questão colocada a partir desse caso da invasão de Pindó Poty, do território tradicional Chiquitano e ou- tros. Mas o governo atual quer usar a Funai para atuar como fator de inte- gração do indígena e seus territórios serem usados de forma capitalista, 32 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

essa forma de agir da Funai é colonizadora, também pela omissão, para eliminar os povos indígenas. As regras de demarcação das Terras Indíge- nas pela forma da legislação atual é obrigação imposta aos governos, possui um processo da mediação do antropólogo para fazer garantir que o território demarcado seja conforme estudos sérios das formas de ocu- pação tradicional da etnia em questão. Assim, a constituição de uma Terra Indígena atualmente tem um es- tatuto próprio, pois a transformação étnica da natureza tem a ver com a dinâmica própria da proteção da etnia que deverá sobreviver dessa terra demarcada de forma autóctone. Por isso não pode ser pensada como propriedade privada porque é uma propriedade coletiva, o que reforça uma ideia antiga do direito originário dos povos indígenas sobre os seus territórios tradicionais, o que garante aos povos indígenas o direito de sobreviverem no Brasil sem serem exterminados. Mas a pressão que acontece sobre os territórios indígenas que ainda estão com recursos que a sociedade envolvente deseja apropriar-se continua de forma avassaladora. A forma de atuação do governo atual é também contrária à política do Estado do Brasil que se compreendia como aquele que tem obrigação de cuidar das Terras Indígenas, a começar pela demarcação. Não demar- car uma Terra que é obrigação constitucional da União, com o usufruto exclusivo dos indígenas e posse permanente para os povos indígenas, é omissão grave que deve ser judicializada porque é um direito originário de autodeterminação desses povos que fazem parte do Brasil. Graças a Deus, ninguém se contagiou com a Covid-19 nas ativida- des no Pindó Poty, pois, se pensaram que podiam invadir ou “fazer a boiada passar” já que estávamos em pandemia, houve proteção espiritual e a luta dos Guaranis saiu mais fortalecida. Estes dias de vigília e de ocu- pação intensa dos Guaranis na aldeia Pindó Poty teve na autodemarca- ção de seu território tradicional um ato profético com irradiação sem pre- cedentes para essa Terra Indígena, ficará na memória e no coração dos que ali participaram de suas estratégias de luta. Usaram as cercas, instru- mento limitador imposto pelos juruás a seu favor, como o será também a própria demarcação para a defesa da terra da não destruição. A autode- marcação consistiu também na construção da nova Opý (casa de reza) antes da invasão, na transferência do núcleo da aldeia para uma área sem alagamentos, no plantio de mudas frutíferas, na formação dos jovens para as próximas lutas, no aprendizado dos rituais e no amor ao lugar dos antepassados, especialmente dentro de suas memórias, dentro de seus corpos e corações. Agora é Ñhu'ú Poty - Flor do Campo que sofre amea- 33 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

ças e vão pipocando os problemas neste mundo em que só a sabedoria indígena tem paciência de esperar soluções.

Epílogo

No dia 07 de junho o desembargador Cândido Alfredo, da 04 Turma, do Tribunal Regional Federal da 4 Região, deu provimento ao Agravo de Instrumento interposto por Paulo de Souza e Cleonir Lopes, dois dos in- vasores que ocupam uma parcela do Tekohá Pindó Poty e suspendeu os efeitos da decisão liminar concedida, contra os invasores, pela Juíza da Nona Vara da Justiça Federal de Porto Alegre. O desembargador alega que os dois ocupantes da área não foram responsáveis pelas invasões e pelo esbulho atacados na decisão liminar e, além disso, afirmou que a demarcação é controversa e a posse dos dois é antiga. Ele argumenta que, embora sejam graves os fatos descritos na ação de reintegração de posse, estes fatos não são de responsabilidade desses ocupantes. Ato contínuo, no dia 08 de junho os invasores adentraram na área e derruba- ram a cerca que estava dentro dos limites da terra indígena em demarca- ção e margeia a rodovia e o Tekohá Pindó Poty. Quanto ao esgoto dos comércios locais despejados no Pindó Poty não houve ação na Justiça e nos órgãos ambientais. Assim, as decisões judiciais contrárias aos direi- tos indígenas, em geral, são mais ágeis e tornam-se ferramentas autori- zativas para o esbulho, a grilagem, a contaminação e a depredação das Terras Indígenas e seu meio ambiente. 34 • Roberto Antonio Liebgott e Aloir Pacini

Aloir Pacini. Jesuíta, antropólogo e professor da Uni- versidade Federal de Mato Grosso - UFMT em estágio pós-doutoral com pesquisa sobre o território transna- cional dos Guaranis. Desde 2000 está próximo dos Chiquitanos, mas sua pesquisa aprofundou-se no dou- torado pela UFRGS (2008-2012) quando mostrou por diversos meios que o Brasil negociou com a Bolívia e avançou suas fronteiras para dentro do território tradi- cional Chiquitano e que são falsas as acusações de que os Chiquitanos são estrangeiros. Trata-se de uma população majoritária que ocupa toda a fronteira, desde antes de estabelecerem os limites atuais dos Estados. Até os dias de hoje não são reconhecidos como cidadãos plenos no Brasil. Um dos sinais é que o governo tem legalizado grande parte dessa fronteira para os colonos e não demarca o território tradicional para seus legítimos donos, que o utilizam segundo seus usos e costumes. Outro dado está no Cadernos IHU ideias nº 292: As identidades Chiquitanas em perigo nas Fronteiras (2019). E o terceiro sinal está sendo trazido agora, com a chacinagem dessa população.

Roberto Antonio Liebgott. Missionário leigo do Con- selho Indigenista Missionário /Cimi, atua há 30 anos com povos indígenas; conviveu com diferentes povos no Brasil - especialmente nas regiões Norte e Sul. É formado em Filosofia e Direito. Atualmente compõem a Coordenação Colegiada do Cimi Sul, que abrange os estados do RJ, SP, PR, SC e RS. CADERNOS IHU IDEIAS N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emer- gente mercado religioso brasileiro: uma análise antropoló- N. 01 A teoria da justiça de John Rawls – José Nedel gica – Airton Luiz Jungblut N. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções N. 37 As concepções teórico-analíticas e as proposições de polí- teóricas – Edla Eggert tica econômica de Keynes – Fernando Ferrari Filho O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São N. 38 Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Leopoldo – Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas Anemarie Luiz Mott Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss N. 39 Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Glo- capitalismo – Gentil Corazza bo – Sonia Montaño N. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina – Adriana Braga N. 04 Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – N. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx – Leda Maria Paulani Luiz Gilberto Kronbauer N. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação N. 05 O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Manfred Zeuch após um século de “A Teoria da Classe Ociosa” – N. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo Leonardo Monteiro Monasterio – Renato Janine Ribeiro N. 43 Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etnográ- N. 07 Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Suzana fica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo Marques Leistner, Kilpp Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity N. 08 Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Márcia Lo- N. 44 Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de pes Duarte Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual do mundo – N. 09 Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as Gérard Donnadieu barreiras à entrada – Valério Cruz Brittos N. 45 A realidade quântica como base da visão de Teilhard de N. 10 Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir de Chardin e uma nova concepção da evolução biológica – um jogo – Édison Luis Gastaldo Lothar Schäfer N. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de N. 46 “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre Auschwitz – Márcia Tiburi o passado missioneiro no Rio Grande do Sul: a figura de N. 12 A domesticação do exótico – Paula Caleffi Sepé Tiaraju – Ceres Karam Brum N. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fa- N. 47 O desenvolvimento econômico na visão de Joseph zer Igreja, Teologia e Educação Popular – Edla Eggert Schumpeter – Achyles Barcelos da Costa N. 14 Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política N. 48 Religião e elo social. O caso do cristianismo – Gérard no RS – Gunter Axt Donnadieu N. 15 Medicina social: um instrumento para denúncia – Stela N. 49 Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do univer- Nazareth Meneghel so – Geraldo Monteiro Sigaud N. 16 Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – N. 50 Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Evi- Débora Krischke Leitão lázio Teixeira N. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e N. 51 Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hen- trivialidade – Mário Maestri nington e Stela Nazareth Meneghel N. 18 Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Maria da N. 52 Ética e emoções morais – Thomas Kesselring Conceição de Almeida Juízos ou emoções: de quem é a primazia na moral? – N. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Helga Iracema Adriano Naves de Brito Ladgraf Piccolo N. 53 Computação Quântica. Desafios para o Século XXI – Fer- N. 20 Sobre técnica e humanismo – Oswaldo Giacóia Junior nando Haas N. 21 Construindo novos caminhos para a intervenção societária N. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na – Lucilda Selli Europa e no Brasil – An Vranckx N. 22 Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o N. 55 Terra habitável: o grande desafio para a humanidade – Gil- seu conteúdo essencial – Paulo Henrique Dionísio berto Dupas N. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva N. 56 O decrescimento como condição de uma sociedade convi- de sua crítica a um solipsismo prático – Valério Rohden vial – Serge Latouche N. 24 Imagens da exclusão no cinema nacional – Miriam Rossini N. 57 A natureza da natureza: auto-organização e caos – N. 25 A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da in- Günter Küppers formação – Nísia Martins do Rosário N. 58 Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável: N. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do limites e possibilidades – Hazel Henderson Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – Rosa Maria Serra N. 59 Globalização – mas como? – Karen Gloy Bavaresco N. 60 A emergência da nova subjetividade operária: a sociabili- N. 27 O modo de objetivação jornalística – Beatriz Alcaraz dade invertida – Cesar Sanson Marocco N. 61 Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico N. 28 A cidade afetada pela cultura digital – Paulo Edison Belo Veríssimo – Regina Zilberman Reyes N. 62 Três episódios de descoberta científica: da caricatura em- N. 29 Prevalência de violência de gênero perpetrada por compa- pirista a uma outra história – Fernando Lang da Silveira e nheiro: Estudo em um serviço de atenção primária à saúde Luiz O. Q. Peduzzi – Porto Alegre, RS – José Fernando Dresch Kronbauer N. 63 Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Juven- N. 30 Getúlio, romance ou biografia? – Juremir Machado da tude – Cátia Andressa da Silva Silva N. 64 Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo N. 31 A crise e o êxodo da sociedade salarial – André Gorz – Artur Cesar Isaia N. 32 À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus N. 65 e o O povo brasileiro: uma alegoria humanis- dilemas e possibilidades – André Sidnei Musskopf ta tropical – Léa Freitas Perez N. 33 O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas consi- N. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não derações – Marcelo Pizarro Noronha cura nas reduções jesuítico-guaranis (1609-1675) – Eliane N. 34 O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e Cristina Deckmann Fleck seus impactos – Marco Aurélio Santana N. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira N. 35 Adam Smith: filósofo e economista – Ana Maria Bianchi e dos Santos na obra de Guimarães Rosa – João Guilherme Antonio Tiago Loureiro Araújo dos Santos Barone N. 68 Contingência nas ciências físicas – Fernando Haas N. 69 A cosmologia de Newton – Ney Lemke N. 70 Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Fernando Haas N. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Hu- N. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim manas: Igualdade e Liberdade nos discursos educacionais Pedro de Andrade – Miriam de Souza Rossini contemporâneos – Paula Corrêa Henning N. 72 Da religião e de juventude: modulações e articulações – N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a famí- Léa Freitas Perez lia na vitrine – Maria Isabel Barros Bellini N. 73 Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Eduardo N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos F. Coutinho solidário, terno e democrático? – Telmo Adams N. 74 Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho – N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Celso Can- Mário Maestri dido de Azambuja N. 75 A Geologia Arqueológica na Unisinos – Carlos Henrique N. 110 Formação e trabalho em narrativas – Leandro R. Pinheiro Nowatzki N. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da administra- N. 76 Campesinato negro no período pós-abolição: repensando ção – Yeda Crusius no Rio Grande do Sul – Mário Maestri Coronelismo, enxada e voto – Ana Maria Lugão Rios N. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São N. 77 Progresso: como mito ou ideologia – Gilberto Dupas Paulo e o contexto da publicidade e propaganda – Denis N. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da Mo- Gerson Simões eda – Octavio A. C. Conceição N. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra N. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul – Moa- – Esp. Yentl Delanhesi cyr Flores N. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – Sonia N. 80 Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e Montaño seu território – Arno Alvarez Kern N. 115 Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – N. 81 Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura e Carlos Daniel Baioto a produção de poemas na sala de aula – Gláucia de Souza N. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos Fávero N. 82 Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindi- N. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – calismo populista” em questão – Marco Aurélio Santana Róber Freitas Bachinski N. 83 Dimensões normativas da Bioética – Alfredo Culleton e Vi- N. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal cente de Paulo Barretto N. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescência N. 84 A Ciência como instrumento de leitura para explicar as – Luciana F. Marques e Débora D. Dell’Aglio transformações da natureza – Attico Chassot N. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagun- N. 85 Demanda por empresas responsáveis e Ética Concor- des Cabral e Nedio Seminotti rencial: desafios e uma proposta para a gestão da ação N. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos – organizada do varejo – Patrícia Almeida Ashley Eduardo R. Cruz N. 86 Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Mario Fleig N. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José Rogé- N. 87 Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Maria Eunice rio Lopes Maciel N. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de N. 88 A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da marcos regulatórios – Wilson Engelmann obra de Henrique C. de Lima Vaz – Marcelo Perine N. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e Silva N. 89 Limites, possibilidades e contradições da formação huma- N. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto Fagan na na Universidade – Laurício Neumann N. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela de N. 90 Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Lima Regina Almeida – Maria Cristina Bohn Martins N. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura N. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann – Alexander Solje- cristianismo – Franklin Leopoldo e Silva nítsin – Philip Roth – Karl-Josef Kuschel N. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunida- N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à de de catadores: um estudo na perspectiva da Etnomate- identidade genética – Ingo Wolfgang Sarlet e Selma Rodri- mática – Daiane Martins Bocasanta gues Petterle N. 93 A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no N. 129 Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – campo religioso brasileiro – Carlos Alberto Steil Ivan Amaral Guerrini N. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próxi- N. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sus- mos anos – Cesar Sanson tentável – Paulo Roberto Martins N. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnoci- N. 131 A philía como critério de inteligibilidade da mediação comu- ência – Peter A. Schulz nitária – Rosa Maria Zaia Borges Abrão N. 96 Vianna Moog como intérprete do Brasil – Enildo de Moura N. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Marle- Carvalho ne Teixeira e Éderson de Oliveira Cabral N. 97 A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Mari- N. 133 A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no proces- nês Andrea Kunz so sob a ótica da teoria dos sistemas sociais de Nicklass N. 98 Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – Luhmann – Leonardo Grison Susana María Rocca Larrosa N. 134 Motores Biomoleculares – Ney Lemke e Luciano N. 99 Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Hennemann Vanessa Andrade Pereira N. 135 As redes e a construção de espaços sociais na digitaliza- N. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant – Valerio Rohden ção – Ana Maria Oliveira Rosa N. 101 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria N. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para Monetária: parte 1 – Roberto Camps Moraes o estudo das religiões afro-brasileiras – Rodrigo Marques N. 102 Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a partir Leistner da sociologia da ciência – Adriano Premebida N. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: N. 103 ECODI – A criação de espaços de convivência digital vir- sobre como as pessoas reconstroem suas vidas – Breno tual no contexto dos processos de ensino e aprendizagem Augusto Souto Maior Fontes em metaverso – Eliane Schlemmer N. 138 As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso N. 104 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria dos guaranis – Maria Cristina Bohn Martins Monetária: parte 2 – Roberto Camps Moraes N. 139 Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico identidades – Marise Borba da Silva sobre o núcleo de mulheres gremistas – Marcelo Pizarro N. 140 Platão e os Guarani – Beatriz Helena Domingues Noronha N. 141 Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da Motta N. 142 Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de N. 173 Técnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influência do Crianças na Recepção da Revista Recreio – Greyce poder pastoral – João Roberto Barros II Vargas N. 174 Da mônada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas – N. 143 Derrida e o pensamento da desconstrução: o redimensio- Marcelo Fabri namento do sujeito – Paulo Cesar Duque-Estrada N. 175 Um caminho de educação para a paz segundo Hobbes – Lu- N. 144 Inclusão e Biopolítica – Maura Corcini Lopes, Kamila Lo- cas Mateus Dalsotto e Everaldo Cescon ckmann, Morgana Domênica Hattge e Viviane Klaus N. 176 Da magnitude e ambivalência à necessária humanização N. 145 Os povos indígenas e a política de saúde mental no Brasil: da tecnociência segundo Hans Jonas – Jelson Roberto de composição simétrica de saberes para a construção do Oliveira presente – Bianca Sordi Stock N. 177 Um caminho de educação para a paz segundo Locke – N. 146 Reflexões estruturais sobre o mecanismo de REDD – Ca- Odair Camati e Paulo César Nodari mila Moreno N. 178 Crime e sociedade estamental no Brasil: De como la ley es N. 147 O animal como próximo: por uma antropologia dos movi- como la serpiente; solo pica a los descalzos – Lenio Luiz mentos de defesa dos direitos animais – Caetano Sordi Streck N. 148 Avaliação econômica de impactos ambientais: o caso do N. 179 Um caminho de educação para a paz segundo Rousseau aterro sanitário em Canoas-RS – Fernanda Schutz – Mateus Boldori e Paulo César Nodari N. 149 Cidadania, autonomia e renda básica – Josué Pereira da N. 180 Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil: Silva entre o reconhecimento e a concretização – Afonso Maria N. 150 Imagética e formações religiosas contemporâneas: entre a das Chagas performance e a ética – José Rogério Lopes N. 181 Apátridas e refugiados: direitos humanos a partir da ética N. 151 As reformas político-econômicas pombalinas para a Ama- da alteridade – Gustavo Oliveira de Lima Pereira zônia: e a expulsão dos jesuítas do Grão-Pará e Maranhão N. 182 Censo 2010 e religiões:reflexões a partir do novo mapa – Luiz Fernando Medeiros Rodrigues religioso brasileiro – José Rogério Lopes N. 152 Entre a Revolução Mexicana e o Movimento de Chiapas: a N. 183 A Europa e a ideia de uma economia civil – Stefano Zamagni tese da hegemonia burguesa no México ou “por que voltar N. 184 Para um discurso jurídico-penal libertário: a pena como ao México 100 anos depois” – Claudia Wasserman dispositivo político (ou o direito penal como “discurso-limi- N. 153 Globalização e o pensamento econômico franciscano: te”) – Augusto Jobim do Amaral Orientação do pensamento econômico franciscano e Ca- N. 185 A identidade e a missão de uma universidade católica na ritas in Veritate – Stefano Zamagni atualidade – Stefano Zamagni N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experiência de inclusão N. 186 A hospitalidade frente ao processo de reassentamento soli- digital indígena na aldeia kaiowá e guarani Te’ýikue no dário aos refugiados – Joseane Mariéle Schuck Pinto município de Caarapó-MS – Neimar Machado de Sousa, N. 187 Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, Antonio Brand e José Francisco Sarmento pesquisa e extensão na educação superior brasileira e sua N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro após a crise econô- contribuição para um projeto de sociedade sustentável no mica – Stefano Zamagni Brasil – Marcelo F. de Aquino N. 156 Intermitências no cotidiano: a clínica como resistência in- N. 188 Os riscos e as loucuras dos discursos da razão no campo ventiva – Mário Francis Petry Londero e Simone Mainieri da prevenção – Luis David Castiel Paulon N. 189 Produções tecnológicas e biomédicas e seus efeitos pro- N. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento – dutivos e prescritivos nas práticas sociais e de gênero – Stefano Zamagni Marlene Tamanini N. 158 “Passemos para a outra margem”: da homofobia ao respei- N. 190 Ciência e justiça: Considerações em torno da apropriação to à diversidade – Omar Lucas Perrout Fortes de Sales da tecnologia de DNA pelo direito – Claudia Fonseca N. 159 A ética católica e o espírito do capitalismo – Stefano N. 191 #VEMpraRUA: Outono brasileiro? Leituras – Bruno Lima Zamagni Rocha, Carlos Gadea, Giovanni Alves, Giuseppe Cocco, N. 160 O Slow Food e novos princípios para o mercado – Eriberto Luiz Werneck Vianna e Rudá Ricci Nascente Silveira N. 192 A ciência em ação de Bruno Latour – Leticia de Luna Freire N. 161 O pensamento ético de Henri Bergson: sobre As duas fon- N. 193 Laboratórios e Extrações: quando um problema técnico se tes da moral e da religião – André Brayner de Farias torna uma questão sociotécnica – Rodrigo Ciconet Dornelles N. 162 O modus operandi das políticas econômicas keynesianas N. 194 A pessoa na era da biopolítica: autonomia, corpo e subjeti- – Fernando Ferrari Filho e Fábio Henrique Bittes Terra vidade – Heloisa Helena Barboza N. 163 Cultura popular tradicional: novas mediações e legitima- N. 195 Felicidade e Economia: uma retrospectiva histórica – Pedro ções culturais de mestres populares paulistas – André Luiz Henrique de Morais Campetti e Tiago Wickstrom Alves da Silva N. 196 A colaboração de Jesuítas, Leigos e Leigas nas Universi- N. 164 Será o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? – Serge dades confiadas à Companhia de Jesus: o diálogo entre Latouche humanismo evangélico e humanismo tecnocientífico – N. 165 Agostos! A “Crise da Legalidade”: vista da janela do Con- Adolfo Nicolás sulado dos Estados Unidos em Porto Alegre – Carla Simo- N. 197 Brasil: verso e reverso constitucional – Fábio Konder ne Rodeghero Comparato N. 166 Convivialidade e decrescimento – Serge Latouche N. 198 Sem-religião no Brasil: Dois estranhos sob o guarda-chuva N. 167 O impacto da plantação extensiva de eucalipto nas cultu- – Jorge Claudio Ribeiro ras tradicionais: Estudo de caso de São Luis do Paraitinga N. 199 Uma ideia de educação segundo Kant: uma possível con- – Marcelo Henrique Santos Toledo tribuição para o século XXI – Felipe Bragagnolo e Paulo N. 168 O decrescimento e o sagrado – Serge Latouche César Nodari N. 169 A busca de um ethos planetário – N. 200 Aspectos do direito de resistir e a luta socialpor moradia N. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionalização urbana: a experiência da ocupação Raízes da Praia – Na- do ser: um convite ao abolicionismo – Marco Antonio de talia Martinuzzi Castilho Abreu Scapini N. 201 Desafios éticos, filosóficos e políticos da biologia sintética N. 171 Sub specie aeternitatis – O uso do conceito de tempo – Jordi Maiso como estratégia pedagógica de religação dos saberes – N. 202 Fim da Política, do Estado e da cidadania? – Roberto Romano Gerson Egas Severo N. 203 Constituição Federal e Direitos Sociais: avanços e recuos N. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tecno- da cidadania – Maria da Glória Gohn logias digitais – Bruno Pucci N. 204 As origens históricas do racionalismo, segundo Feyerabend – Miguel Ângelo Flach N. 205 Compreensão histórica do regime empresarial-militar N. 245 Esquecer o neoliberalismo: aceleracionismo como terceiro brasileiro – Fábio Konder Comparato espírito do capitalismo – Moysés da Fontoura Pinto Neto N. 206 Sociedade tecnológica e a defesa do sujeito: Technological N. 246 O conceito de subsunção do trabalho ao capital: rumo à society and the defense of the individual – Karla Saraiva subsunção da vida no capitalismo biocognitivo – Andrea N. 207 Territórios da Paz: Territórios Produtivos? – Giuseppe Cocco Fumagalli N. 208 Justiça de Transição como Reconhecimento: limites e possibi- N. 247 Educação, indivíduo e biopolítica: A crise do governamento – lidades do processo brasileiro – Roberta Camineiro Baggio Dora Lilia Marín-Díaz N. 209 As possibilidades da Revolução em Ellul – Jorge N. 248 Reinvenção do espaço público e político: o individualismo Barrientos-Parra atual e a possibilidade de uma democracia – Roberto Romano N. 210 A grande política em Nietzsche e a política que vem em N. 249 Jesuítas em campo: a Companhia de Jesus e a questão agrá- Agamben – Márcia Rosane Junges ria no tempo do CLACIAS (1966-1980) – Iraneidson Santos N. 211 Foucault e a Universidade: Entre o governo dos outros e o Costa governo de si mesmo – Sandra Caponi N. 250 A Liberdade Vigiada: Sobre Privacidade, Anonimato e N. 212 Verdade e História: arqueologia de uma relação – José Vigilantismo com a Internet – Pedro Antonio Dourado de D’Assunção Barros Rezende N. 213 A Relevante Herança Social do Pe. Amstad SJ – José N. 251 Políticas Públicas, Capitalismo Contemporâneo e os horizon- Odelso Schneider tes de uma Democracia Estrangeira – Francini Lube Guizardi N. 214 Sobre o dispositivo. Foucault, Agamben, Deleuze – Sandro N. 252 A Justiça, Verdade e Memória: Comissão Estadual da Verda- Chignola de – Carlos Frederico Guazzelli N. 215 Repensar os Direitos Humanos no Horizonte da Libertação – N. 253 Reflexões sobre os espaços urbanos Alejandro Rosillo Martínez contemporâneos: N. 216 A realidade complexa da tecnologia – Alberto Cupani quais as nossas cidades? – Vinícius Nicastro Honesko N. 217 A Arte da Ciência e a Ciência da Arte: Uma abordagem a partir N. 254 Ubuntu como ética africana, humanista e inclusiva de Paul Feyerabend – Hans Georg Flickinger – Jean-Bosco Kakozi Kashindi N. 218 O ser humano na idade da técnica – Humberto Galimberti N. 255 Mobilização e ocupações dos espaços físicos e N. 219 A Racionalidade Contextualizada em Feyerabend e virtuais: possibilidades e limites da reinvenção da suas Implicações Éticas: Um Paralelo com Alasdair política nas metrópoles – Marcelo Castañeda MacIntyre – Halina Macedo Leal N. 256 Indicadores de Bem-Estar Humano para Povos N. 220 O Marquês de Pombal e a Invenção do Brasil – José Eduardo Tradicionais: O caso de uma comunidade indí- Franco gena na fronteira da Amazônia Brasileira – Luiz N. 221 Neurofuturos para sociedades de controle – Timothy Lenoir Felipe Barbosa Lacerda e Luis Eduardo Acosta Muñoz N. 222 O poder judiciário no Brasil – Fábio Konder Comparato N. 257 Cerrado. O laboratório antropológico ameaçado N. 223 Os marcos e as ferramentas éticas das tecnologias de gestão pela desterritorialização – Altair Sales Barbosa – Jesús Conill Sancho N. 258 O impensado como potência e a desativação N. 224 O restabelecimento da Companhia de Jesus no extremo sul das máquinas de poder – Rodrigo Karmy Bolton do Brasil (1842-1867) – Luiz Fernando Medeiros Rodrigues N. 259 Identidade de Esquerda ou Pragmatismo Radi- N. 225 O grande desafio dos indígenas nos países andinos: seus cal? – Moysés Pinto Neto direitos sobre os recursos naturais – Xavier Albó N. 260 Itinerários versados: redes e identizações nas N. 226 Justiça e perdão – Xabier Etxeberria Mauleon periferias de Porto Alegre? – Leandro Rogério N. 227 Paraguai: primeira vigilância massiva norte-americana e a Pinheiro descoberta do Arquivo do Terror (Operação Condor) – Martín N. 261 Fugindo para a frente: limites da reinvenção da Almada política no Brasil contemporâneo – Henrique Costa N. 228 A vida, o trabalho, a linguagem. Biopolítica e biocapitalismo – N. 262 As sociabilidades virtuais glocalizadas na me- Sandro Chignola trópole: experiências do ativismo cibernético do N. 229 Um olhar biopolítico sobre a bioética – Anna Quintanas Feixas grupo Direitos Urbanos no Recife – Breno Augusto N. 230 Biopoder e a constituição étnico-racial das populações: Racia- Souto Maior Fontes e Davi Barboza Cavalcanti lismo, eugenia e a gestão biopolítica da mestiçagem no Brasil N. 263 Seis hipóteses para ler a conjuntura brasileira – – Gustavo da Silva Kern Sauro Bellezza N. 231 Bioética e biopolítica na perspectiva hermenêutica: uma ética N. 264 Saúde e igualdade: a relevância do Sistema do cuidado da vida – Jesús Conill Sancho Único de Saúde (SUS) – Stela N. Meneghel N. 232 Migrantes por necessidade: o caso dos senegaleses no N. 265 Economia política aristotélica: cuidando da ca- Norte do Rio Grande do Sul – Dirceu Benincá e Vânia Aguiar sa, cuidando do comum – Armando de Melo Lisboa Pinheiro N. 266 Contribuições da teoria biopolítica para a refle- N. 233 Capitalismo biocognitivo e trabalho: desafios à saúde e segu- xão sobre os direitos humanos – Aline Albuquerque rança – Elsa Cristine Bevian N. 267 O que resta da ditadura? Estado democrático de N. 234 O capital no século XXI e sua aplicabilidade à realidade brasi- direito e exceção no Brasil – Giuseppe Tosi leira – Róber Iturriet Avila & João Batista Santos Conceição N. 268 Contato e improvisação: O que pode querer di- N. 235 Biopolítica, raça e nação no Brasil (1870-1945) – Mozart Li- zer autonomia? – Alana Moraes de Souza nhares da Silva N. 269 A perversão da política moderna: a apropriação N. 236 Economias Biopolíticas da Dívida – Michael A. Peters de conceitos teológicos pela máquina governa- N. 237 Paul Feyerabend e Contra o Método: Quarenta Anos do Início mental do Ocidente – Osiel Lourenço de Carvalho de uma Provocação – Halina Macedo Leal N. 270 O campo de concentração: Um marco para a N. 238 O trabalho nos frigoríficos: escravidão local e global? – Lean- (bio) política moderna – Viviane Zarembski Braga dro Inácio Walter N. 271 O que caminhar ensina sobre o bem-viver? Tho- N. 239 Brasil: A dialética da dissimulação – Fábio Konder Comparato reau e o apelo da natureza – Flavio Williges N. 240 O irrepresentável – Homero Santiago N. 272 Interfaces da morte no imaginário da cultura po- N. 241 O poder pastoral, as artes de governo e o estado moderno – pular mexicana – Rafael Lopez Villasenor Castor Bartolomé Ruiz N. 273 Poder, persuasão e novos domínios da(s) identi- N. 242 Uma crise de sentido, ou seja, de direção – Stefano Zamagni dade(s) diante do(s) fundamentalismo(s) religio- – Celso N. 243 Diagnóstico Socioterritorial entre o chão e a gestão – Dirce so(s) na contemporaneidade brasileira Gabatz Koga N. 274 Tarefa da esquerda permanece a mesma: barrar N. 244 A função-educador na perspectiva da biopolítica e da gover- o caráter predatório automático do capitalismo – namentalidade neoliberal – Alexandre Filordi de Carvalho Acauam Oliveira N. 275 Tendências econômicas do mundo contemporâ- N. 296 O desassossego do leitor: subjetividades juve- neo – Alessandra Smerilli nis e leitura na contemporaneidade – Maria Isabel N. 276 Uma crítica filosófica à teoria da Sociedade do Mendes de Almeida Espetáculo em Guy Debord – Atilio Machado Peppe N. 297 Escatologias tecnopolíticas contemporâneas – N. 277 O Modelo atual de Capitalismo e suas formas Ednei Genaro de Captura da Subjetividade e de Exploração N. 298 Narrativa de uma Travessia – Faustino Teixeira Social – José Roque Junges N. 299 Efeito covid-19: espaço liso e Bem Viver– Wallace N. 278 Da esperança ao ódio: Juventude, política e Antonio Dias Silva pobreza do lulismo ao bolsonarismo – Rosana N. 300 Zeitgeist pós-iluminista e contrarrevolução cien- Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco tificista na análise econômica– Armando de Melo N. 279 O mal-estar na cultura medicamentalizada – Luis Lisboa David Castiel N. 301 Educação, tecnologias 4.0 e a estetização ilimi- N. 280 Mistérios da economia (divina) e do ministério tada da vida: pistas para uma crítica curricular– (angélico). Roberto Rafael Dias da Silva Quando a teologia fornece um paradigma para a N. 302 Mídia, infância e socialização: perspectivas contemporâ- filosofia política e esta retroage à teologia – Alain neas - Renata Tomaz Gignac N. 303 A colonialidade do poder no direito à cidade: a experiência N. 281 A Campanha da Legalidade e a radicalização do do Cais Mauá de Porto Alegre - Karina Macedo Gomes PTB na década de 1960. Reflexos no contexto Fernandes atual – Mário José Maestri Filho N. 304 Ártico, o canário da mina para o aquecimento global - Fla- N. 282 A filosofia moral de Adam Smith face às leituras vio Marcelo de Mattos Paim reducionistas de sua obra: ensaio sobre os fun- N 305 A transformação dos atores sociais em produção e recep- damentos do indivíduo egoísta contemporâneo ção:trajeto empírico-metodológico de uma pesquisa - Aline – Angela Ganem Weschenfelder N. 283 Vai, malandra. O despertar ontológico do plane- N. 306 Impactos Ambientais de Parques Eólicos no Semiárido ta fome – Armando de Melo Lisboa Baiano: do licenciamento atual a novas perspectivas - N. 284 Renda básica em tempos difíceis – Josué Pereira Rosana Batista Almeida da Silva N. 307 História de José, O Carpinteiro,como narratividade de N. 285 Isabelle Stengers No tempo das catástrofes. Esperança - Patrik Bruno Furquim dos Santos Quinze questões e um artifício sobre a obras – N. 308 Violências, injustiças e sofrimento humano: o impacto Ricardo de Jesus Machado das desigualda-des sociais nas percepções de Martín- N. 286 O “velho capitalismo” e seu fôlego para domina- -Baró, Ricoeur e Nietzsche - Lina Faria e Rafael Andrés ção do tempo e do espaço – Belluzzo Patino N. 287 A tecnologia na vida cotidiana e nas instituições: N. 309 Catadores de materiais recicláveis: novos sujeitos de Heidegger, Agamben e Sloterdijk – Itamar Soares direitos na construção da sustentabilidade ambiental - Veiga Mariza Rios e Giovanna Rodrigues de Assis N. 288 Para arejar a cúpula do judiciário – Fábio Konder N. 310 A imagem do pobre nos filmes de Pasolini e Glauber Comparato como chave para compreender a ação do capitalismo - N. 289 A Nova Previdência via de transformação es- Vladimir Lacerda Santafé trutural da seguridade social brasileira – Mari- N. 311 Aprendizados no campo da metodologia de orientação linda Marques Fernandes acadêmica - Faustino Teixeira N. 290 A Universidade em busca de um novo tempo – N. 312 O Desespero Inconsciente de Kierkegaard: melancolia, Prof. Dr. Pe. Pedro Gilberto Gomes preguiça, vertigem e suicídio - Paulo Abe N. 291 Tributação, políticas públicas e propostas fiscais N. 313 Os Direitos Humanos como parâmetro para as demo- do novo governo – Róber Iturriet Avila e Mário Lúcio cracias contemporâneas: o caso brasileiro - José Dalvo Pedrosa Gomes Martins Santiago da Cruz N. 292 As identidades Chiquitanas em perigo nas fron- N.314 Algoritmização da vida: a nova governamentalização das teiras – Aloir Pacini condutas - Castor M.M. Bartolomé Ruiz N. 293 Mudança de paradigma pós-crise do coronaví- N. 315 Capital e ideologia de Thomas Piketty: um breve guia de rus – Fábio Carlos Rodrigues Alves leitura - Alexandre Alves N. 294 O Mar da Unidade: roteiro livre para a leitura do N. 316 “Ecologia com espírito dentro”: sobre Povos Indígenas, Masnavi de Rûmî – Faustino Teixeira Xamanismo e Antropoceno - Nicole Soares Pinto N. 295 Função social da propriedade e as tragédias N.317 A chacinagem dos chiquitanos - Aloir Pacini e Loyuá Ri- socioambientais de Mariana e Brumadinho: Um beiro F. M. da Costa – Cristia- constitucionalismo que não é para valer N. 318 Mestre Eckhart: Deus se faz presente enquanto ausên- no de Melo Bastos cia de imagens e de privilégios - Matteo Raschietti N. 319 Indígenas nas cidades: memórias “esquecidas” e direitos violados - Alenice Baeta