capítulo III Cerrado Cerrado Volume I

360 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Efeitos de queimadas bienais e quadrienais meses a partir de janeiro de 2002, toda a biomassa com diâmetro sucessivas sobre a biomassa do estrato rasteiro de inferior a 6 mm, contida em 10 quadrados (50 cm x 50 cm) lança- campo sujo de cerrado dos ao acaso. Após a coleta, o material foi levado ao laboratório, Abisoye Emmanuel Onigemoa,b, Heloísa Sinátora Mirandab, separado em folhas, gramíneas e ramos vivos e mortos, e seco em o Mundayatan Haridasanb estufa a 80 C. [email protected] 3. Resultados e Discussão bDepartamento de Ecologia, CP 04457, Universidade de Brasília, Antes da queimada de junho de 2000 a biomassa total do Brasília DF 70919-970 estrato rasteiro foi 0,60 ± 0,15 kg m-2 na queima bienal precoce, 0,55 ± 0,19 kg m-2 na queimada bienal modal, 0,72 ± 0,19 kg m-2 1. Introdução na queima bienal tardia e 0,68 ± 0,22 kg m-2 na queima quadrienal. Entre as perturbações naturais que a vegetação do cerrado A biomassa de gramíneas constituiu 66%, 59% e 60% do total da sofre periodicamente, nenhuma é mais importante do que o fogo biomassa nos tratamentos precoce, modal e tardia nas queimadas (Eiten, 1972, Coutinho, 1980, 1982). O cerrado é susceptível a bienais e 56% na queima quadrienal. O componente vivo da queimadas especialmente durante a estação seca quando a camada biomassa das gramíneas foi apenas 10,4%, 7,7% e 11,0% antes das rasteira, dominada por gramíneas, seca. A intensidade do fogo varia queimas nestas parcelas. com a quantidade de combustível acumulado na superfície do solo Ao final de 2 anos, antes das queimas de 2002, o total de desde a última queimada, a produção primária da camada rasteira biomassa foi de 0,68 ± 0,14 kg m-2 na queima bienal precoce, e a quantidade de serapilheira produzida por arbustos e árvores 0,48 ± 0,07 kg m-2 na queima bienal modal, 0,41 ± 0,11 kg m-2 na (Miranda et al., 1996). O fogo destrói completamente a parte queima bienal tardia e 0,42 ± 0,18 kg m-2 na queima quadrienal. A aérea da camada rasteira. É impressionante a capacidade de recu- proporção de gramíneas foi de 74% na precoce, 61% na modal, peração da camada rasteira dentro de poucas semanas após a quei- 48% na tardia e 74% na quadrienal. O componente vivo da mada (Coutinho, 1990). Durante as primeiras semanas a camada biomassa das gramíneas foi apenas 12,2%, 5,6%, 5,5% e 17,3% rasteira apresenta uma predominância de não-gramineas, mas den- antes das queimas nestas parcelas. tro de um ano a proporção original de gramíneas pode ser recupe- Os valores de biomassa encontrados antes das queimas de rada (Batmanian & Haridasan 1985). Existem vários relatos na 2000 e 2002 são semelhantes aos encontrados por Andrade (1998) literatura brasileira sobre os efeitos do fogo sobre o estrato rasteiro na mesma área antes das queimas de 1998 e por Coutinho et al. (César, 1980; Rosa, 1990). Entretanto, estes trabalhos investigam (1982) para o estrato rasteiro de campo cerrado em Pirassununga, os efeitos de apenas um evento de fogo. Estudos sobre os efeitos de SP. Entretanto os valores são o dobro dos apresentados por sucessivas queimadas e de diferentes freqüências e épocas de quei- Haridasan & Batmanian (1995) para o estrato rasteiro de um madas são poucos (Andrade, 1998; Sato, 2003). cerrado sensu stricto na Fazenda Água Limpa, pouco distante da Estamos investigando os efeitos do fogo sobre diferentes as- atual área experimental. A redução na proporção de gramíneas pectos do funcionamento dos ecossistemas do cerrado há mais de registrada para a queimada tardia em setembro é semelhante a uma década nas parcelas permanentes estabelecidas na Reserva obtida para áreas de campo sujo em Brasília (Medeiros 2002) e Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em pastagens nativas no Pantanal Sul Mato Grossense (Cardoso et al. Brasília (Andrade, 1998; Neto et al., 1994; Sato, 2003). Este pro- 2000) submetidas a queimadas anuais. jeto da Universidade de Brasília tornou-se um dos principais com- Até o final da estação chuvosa de 2001, todas as parcelas apre- ponentes do sítio PELD (Pesquisa Ecológica de Longa Duração) sentaram recuperação da biomassa do estrato rasteiro, sendo do cerrado, desde 1998. Um dos principais objetivos do projeto é mantida até o final da estação chuvosa de 2002. Haridasan & monitorar as alterações em longo prazo na acumulação da biomassa Batmanian (1985) estimaram em 18 meses o período necessário da vegetação após sucessivas queimadas bienais e quadrienais. Alem para a recuperação da biomassa do estrato rasteiro de cerrado sensu da periodicidade das queimadas, está sendo estudada a influência stricto. Andrade (1998) e Neto et al. (1998) estimam que cerca de da época da queima na estação seca (início, meio e final) no caso de 70% da biomassa do estrato rasteiro de campo sujo é recuperada queimadas bienais. cerca de um ano após queimadas realizadas em diferentes épocas Neste trabalho, apresentamos os resultados de monitoramento da estação seca e o total é atingido um ano após a queimada. de biomassa da vegetação do estrato rasteiro da área de campo sujo 4. Conclusões nas parcelas submetidas às queimadas bienais e quadrienais desde 1. As queimadas bienais em diferentes épocas da estação seca e 1992, durante o período de junho de 2000 a setembro de 2002. O as queimadas quadrienais impostas desde 1992 não resultaram na nosso objetivo específico é uma comparação da recuperação da perda da capacidade de recuperação da biomassa da vegetação do biomassa entre as duas freqüências e as três épocas da queima, estrato rasteiro do campo sujo estudado. entre as queimadas sucessivas de 2000 e 2002. 2. Independente da época da queimada bienal de 2000, a 2. Métodos biomassa do estrato rasteiro foi recuperada até o final da estação O trabalho foi realizado na Reserva Ecológica do Instituto chuvosa de 2001. Brasileiro de Geografia e Estatística, uma área de Pesquisa Ecoló- 3. Entretanto, a parcela submetida a queimada quadrienal em gica de Longa Duração (PELD), localizada a 35 km ao sul de 1998 manteve até maio de 2002 maior biomassa do que as parcelas Brasília (15º56’41’’S e 47º51’02’’W). Os detalhes do delineamen- submetidas as queimadas bienais em 2000. to experimental estão disponíveis no site www.recor.org.br. As co- 5. Agradecimentos letas foram realizadas em quatro parcelas (4 ha cada) de campo Agradecemos a Sra. Maria Iracema Gonzales, Chefe da Divi- sujo, pertencentes ao Projeto Fogo. Três parcelas estão sendo sub- são de Estudos Ambientais do Cerrado – DIEAC/DF, Reserva Eco- metidas a um regime de queima bienal desde 1992, quando esta- lógica do IBGE, a Brigada de Combate a Incêndios do IBGE, ao vam protegidas do fogo por 18 anos e a quarta parcela é queimada, USDA/FS, ao Programa PELD/CNPq e ao CNPq pela bolsa con- em agosto, quadrienalmente desde 1991. As queimadas bienais são cedida ao primeiro autor. realizadas no início da estação seca em junho (precoce), no meio 6. Referências Bibliográficas em agosto (modal) e no final em setembro (tardia). Andrade, S. M. A. (1998). Dinâmica do combustível fino e produção Para o acompanhamento da recuperação da vegetação do es- primária do estrato rasteiro de áreas de campo sujo de cerrado submeti- trato rasteiro, foram coletadas, imediatamente antes das queima- das a diferentes regimes de queima. Brasília: Universidade de Brasília, das de 2000, e a intervalos de um mês, por um ano, e a cada dois

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 361 Cerrado Volume I

52p. Dissertação de mestrado. possuir dois estratos: um arbóreo e um herbáceo com ausência de Batmanian, G. J.; Haridasan, M. (1985). Primary production and lianas e epífitas (Rizzini, 1979). A origem e a formação dos cerra- accumulation of nutrients by the ground layer community of cerra- dos do Brasil central ocorreram dentro de pulsações climáticas do do vegetation of central Brazil. and Soil, 88:437-440. Quaternário quando as florestas expandiram-se durante os interglaciais sobre o espaço do cerrado e retraíram-se durante as Cardoso, E. L.; Crispim, S. M. A.; Rodrigues, C. A. G.; Baroni glaciações, (Salgado-Labouriau, et al., 1998). Júnior, W. (2000). Biomassa aérea e produção primária do estrato Na bacia do Rio Preguiças, região Barreirinhas – Urbano San- herbáceo em campo de Elyonurus muticus submetido à queima tos, nordeste do Maranhão, a vegetação que predomina é o cerra- anual, no Pantanal. Pesq. agropec. bras. 35:1501-1507. do que forma um mosaico complexo de matas mesófilas, ciliares e César, L. (1980). Efeitos da queima e corte sobre a vegetação de um de restingas com alguns elementos de caatinga. Estudos campo sujo na Fazenda Água Limpa, Brasília–DF. Brasília: Universi- palinológicos realizados em sedimentos da Lagoa do Caçó (~55 dade de Brasília, 57p. Dissertação de mestrado. km de Barreirinhas) demonstraram um incremento de polens dos Coutinho, L. M. (1980). As queimadas e seu papel ecológico. táxons de Podocarpus sp, Ilex sp e Myrsine sp datados do final ultimo Brasil Florestal, 44:7-23. máximo glacial (UMG) que foram interpretados como indicativo Coutinho, L. M. (1982). Ecological effects of fire in Brazilian de mudanças significativas no clima para mais úmido e frio que o cerrados. In: Huntley, B. J.; Walker, B. H. (eds.). Ecology of tropical atual. Após o resfriamento estabeleceu-se uma vegetação de cerra- savannas. Ecological Studies, Vol. 42. Berlin: Springer-Verlag, p. do marcado por acentuada estabilidade durante o Holoceno. Essa 273-291. condição paleoclimática provavelmente afetou parte do clima da região Nordeste, (Ledru et. al., 2000). Coutinho, L. M. (1990). Fire in the ecology of the Brazilian cerra- Neste estudo analisou-se a dinâmica da vegetação do cerrado do. In: Goldammer, J.G. (ed.) Fire in tropical biota – Ecosystem num o mosaico de florestas e matas ciliares e de restinga que com- processes and global changes. Ecological Studies, vol. 8A, Berlin: põem a bacia do Rio Preguiças, utilizou-se de técnicas isotópicas Springer-Verlag. p. 82-105. do carbono do solo e das plantas para reconstrução da paleovegetação Coutinho, L. M.; de Vuono, Y. S.; Sousa, J. S. (1982). Aspectos e clima do Quaternário tardio.. ecológicos do fogo no cerrado. IV-A época da queimada e a produ- 2. Material e Métodos. tividade primária líquida epigéia do estrato herbáceo subarbustivo. Área de Estudo: Uma transecção de 80 km entre Barreirinhas Rvta brasil. Bot. 5:37-41 (2º 52’159S e 45º55’222W) e Urbano Santos (3º10’924S e Eiten, G. (1972). The cerrado vegetation of central Brazil. Bot. 43º22’105W). Rev. 38:201-341. Florística e estrutura e fitossociologia: A composição florística Miranda, H. S.; Silva, E. P. R.; Miranda, A. C. (1996). Comporta- foi determinada adaptando-se de levantamentos florísticos do cer- mento do fogo em queimadas de campo sujo. In: Miranda, H. S.; rado do Brasil por Ratter et al. (2000). A estrutura arbórea foi Saito, C. H.; DIAS, B. F. de Souza (org.). Impactos de queimadas em determinada pelo método de parcelas não-fixas em ponto – aéreas de cerrados e restinga. Brasília: Universidade de Brasília, p 1- quadrante errante, Brower & Zar (1984). A fitossociologia avaliou 10. os parâmetros: densidade (DR), freqüência (FR) e dominância (DoR) e determinou Índices de Valor de Importância (IVI) para Medeiros, M. B. (2002). Efeitos do fogo nos padrões de rebrotamento famílias e espécies. de plantas lenhosas, em campo sujo, após queimadas prescritas. Brasília, Calibração isotópica do carbono da MOS e das plantas. Fo- Universidade de Brasília,. 120p. Tese de doutorado. ram determinados os d13C foliares e amostras de solos da superfície Neto, W. N.; Andrade, S. M. A.; Miranda, H. S. (1998). The até uma profundidade de 400 cm. Para calibrar os isótopos do dynamics of the herbaceous layer following prescribed burning: a carbono das plantas e da superfície testou-se as variáveis de densi- four year study in the Brazilian savanna. In: Viegas, D. X. (ed.) dade (D) e área basal (G), volume de Biomassa e a cobertura Proceedings of III International Conference on Forest Fire Research arbórea (ICA). Luso: ADAI/University of Coimbra. Vol. II, p. 1785-1792. Datação por C-14 dos fragmentos de carvão e da humina na Rosa, C. M. M. (1990). Recuperação pós-fogo do estrato rasteiro MOS. As amostras de ~10kg solo foram retiradas de diversas cama- de um campo sujo de cerrado. Brasília: Universidade de Brasília, das para extração química dos ácidos orgânicos e obtenção da humina 144p. Dissertação de mestrado. (Pessenda et al., (1991, 1996) e as datações por 14C foram por AMS Sato, M. N. (2003). Efeito a longo prazo de queimadas prescritas na (Accelerator Mass Spectrometry). As idades dos fragmentos de car- estrutura da comunidade lenhosa da vegetação do cerrado sensu stricto. vões em quantidades acima de 5 g/kg foram determinadas Cintilação Brasília: Universidade de Brasília, 91p. Tese de doutorado. Liquida e frações pequenas determinou-se em AMS. 3. Resultados e discussão Os valores isotópicos do carbono d13C da MOS na transecção Dinâmica da vegetação do cerrado no nordeste do de 80 Km indicaram que entre aproximadamente 9.000 e 3.000 Maranhão durante os períodos Pleistoceno tardio e anos AP ocorreu a expansão do cerrado, provavelmente devido à Holoceno. presença de clima seco, enquanto os dados palinológicos do sedi- Adauto de Souza Ribeiro1([email protected]); Luiz Carlos Ruiz mento (Ledru et al. 2000) indicavam certa estabilidade com pou- Pessenda2 , Suzy Eli Marques Gouveia2; José Albertino Bendassolli3, cas mudanças na comunidade. De 3.000 anos AP até o presente os Rene Boulett4. (1) / Depto de Biologia – Universidade Federal de dados de d13C dos solos apresentaram-se mais empobrecidos em Sergipe (2) Laboratório 14C CENA–USP; (3) Lab. Isótopos Estáveis vários pontos da transecção que foram interpretados como uma CENA-USP; (4) IG-USP (IRD-França). expansão da floresta sobre o cerrado, devido ao retorno a um clima mais úmido e provavelmente similar ao atual. Com exceção no 1. Introdução: cerrado do Km 54 (~11 Km da Lagoa do Caçó) verificou-se uma O cerrado do Nordeste ocupa 20,5% do seu território e cons- certa estabilidade nos valores isotópicos (d13C) em -19,5‰ a 300 titui-se no segundo maior domínio florístico – vegetacional da cm de profundidade (cerca de 9000 anos AP datação fragmentos região com distribuição significativa nos estados do Maranhão, carvões), caracterizou-se a presença desta vegetação aberta desde o Piauí e Bahia representando aproximadamente 318.000 Km2 final do Pleistoceno/início do Holoceno. O enriquecimento (Kuhlmann, 1977). Esse complexo vegetacional apresenta uma isotópico até -17,4‰ a 50 cm de profundidade (cerca de 2.500 enorme variabilidade estrutural, mas caracteriza-se geralmente por

362 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado anos AP) seguiu a tendência geral e reforçou a hipótese da presença areias eólicas em direção do interior, um fator que pode estar de um paleocerrado (Ribeiro, 2002). interrompendo a dispersão. É possível que as espécies de floresta A dinâmica da vegetação atual foi avaliada a partir da composi- estejam percorrendo um caminho mais longo através das baixadas ção florística e da fitossociologia. Numa transecção de 80 km, o úmidas, as matas ciliares e galeria. Assim, a proposta de um corre- levantamento florístico indicou a presença de 154 espécies distribu- dor no sentido Noroeste-Sudeste-Noroeste do Brasil Central pro- ídas em 123 gêneros e 54 famílias, sendo que as matas mesófilas/ posto por (Oliveira-Filho, 1995; Oliveira-Filho & Ratter, 2001) ciliares apresentaram 98 sp, o cerrado 97 sp e as matas restingas 75 estaria em parte explicando como as espécies estão dispersando até sp. Constatou-se que o cerrado apresentou forte índice de similari- o Rio Preguiças, enquanto a hipótese da dispersão pela costa Atlân- dade (IS) em relação as matas ciliares (42%) e as matas de restinga tica, este corredor deve ocorrer apenas nos períodos mais úmidos e (41%). Ao nível de família a similaridade do cerrado e as restingas e frios do que o atual como ocorreu no UMG. as matas ciliares foram de 75% e 65% respectivamente. Com exce- 5. Agradecimentos: FAPESP / CNPq ção o cerrado do Km 54 que apresentou baixos índices de similarida- 6. Referências bibliográficas de com as matas adjacentes que variaram entre 27 e 17%. Outra Brower, J.E.; Zar, J.H. Field and laboratory methods for general característica deste paleocerrado foi a ocorrência dos menores índi- ecology. 2.ed. Dubuque: W.M.C. Brown Publishers, 1984. 226p. ces de cobertura arbórea (37%), diâmetro basal, densidade arbórea, Freitas, H.A.; Pessenda, L.C.R.; Aravena, R.; Gouveia, S.E.M.; enquanto freqüência de espécies gramíneas (8) e ciperáceas (3) todas Ribeiro, A.S.; Boulet, R. Late Quaternary vegetation dynamics in apresentaram valores isotópicos indicativo (C ) predominante no 4 the Southern Amazon Basin inferred from carbon isotopes in soil estrato herbáceo com poucas plantas herbáceas (C ). 3 organic matter. Quaternary Research v.55, p.39-46, 2001. A hipótese de expansão da floresta sobre o cerrado teve como indicativo a alta freqüência de Platonia insignis e Eschweilera ovata, Kuhlmann, E. Região Nordeste. In: Garcia, R (Coord.) Geografia porem os valores de IVI foram baixos em relação aos valores en- do Brasil: Vegetação. IBGE. Rio de Janeiro, 1977. v.2, p.85-133. contrados nas habitates de matas mesófilas e de restinga, todavia Ledru, M.-P.; Cordeiro, R.C.; Domingues, J.M.L.; Martin, L.; observou que algumas espécies apresentaram forte tendência à Mourguiart, P.; Sifeddine, A.; Turcq, B. Late-Glacial cooling in arbustividade no cerrado. Verificou-se também o aumento signifi- Amazonia inferred from pollen at Lagoa do Caçó, Northen Brazil. cativo em indivíduos de Parkia platycephala e Qualea Quaternary Research, v.55, p.47-56, 2001. parviflora,,espécies de cerrado, adaptando-se às condições de Oliveira-Filho, A.T. Study of the origin of Central Brazilian by the arbustividade do de restinga com redução seus portes analysis of plant species distribution patterns. Endinburgh Journal arbóreos. A Himatanthus articulatus uma espécie do cerrado vem of Botany, v.52, p.141-194, 1995. desenvolvendo característica de arbustividade e cespitosidade ao Oliveira-Filho, A.T.; Ratter, J.A. Padrões florístico das matas ciliares nível de caule, provavelmente devido a atividade fogo e do corte da região do cerrado e a evolução das paisagens do Brasil Central rente a superfície do solo. durante o Quaternário tardio. In: Rodrigues, R.R.; Leitão-Filho, Foi construído um banco de dados literatura contendo infor- H.F. (Coord.) Matas ciliares: conservação e recuperação. 2.ed. São mações das espécies de cerrado do Brasil Central, Amazônia orien- Paulo: FAPESP, 2001. p.73-90. tal, Caatinga, mata Atlântica e restingas do nordeste em que asso- ciava a distribuição e a fitogeográfica e habitat. Verificou-se que as Pessenda, L.C.R.; Aravena, R.; Melfi, A.J.; Telles, E.C.C.; Boulet, espécies do cerrado de Barreirinhas (38,6%) são estritas e ocorrem R.; Valencia, E.P.E.; Tomazello, M. The use of carbon isotopes (C- no cerrado do Brasil Central, enquanto (21,6%) ocorrem nas ma- 13, C-14) in soil to evaluate vegetation changes during the tas mesófilas e ciliares do Brasil Central. A influencia das matas de in Central Brazil. Radiocarbon, v.38, n.2, p.191-201, 1996. restingas e Atlântica do Nordeste foi de 14,8% e 10,8% respectiva- Pessenda, L.C.R.; Gomes, B.M.; Aravena, R.; Ribeiro, A.S.; Boulet, mente, enquanto poucas espécies da caatinga (8,5%) e floresta R.; Gouveia, S.E.M. The carbon isotope record in soils along a Amazônica (5,7%) ocorreram na região. Assim como as matas forest-cerrado ecossystem transect: implications for vegetation ciliares apresentaram baixa similaridade com a mata Atlântica changes in the Rondônia state, Southwestern Brazilian Amazon (14,1%) e Amazônica (9,9). As espécies coletadas não identificadas region. The Holocene, v.11, n.2, p.250-254, 2001. forma aproximadamente (14%), não exclui a possibilidade de Prado, D.F.; Gibbs, P.E. Patterns of species distribution in the dry endemismo na região. seasonal forests of Sounth America. Annals of the Missouri Botanical 4. Conclusões Garden, v.80, p.902-927, 1993. Os dados isotópicos (d13C) e as datações 14C dos fragmentos de carvões em todo o perfil do solo indicaram que aproximada- Ratter, J.A.S.; Bridgwater, J.F.; Ribeiro, T.A.B.; Silva, M.R. Distri- buição das espécies lenhosas da fitofisionomia cerrado sentido restri- mente de 15.000 a 9.000 anos AP, uma vegetação arbórea predo- minou em toda a transecção de 80 km do ecótono floresta – cerra- to nos estados compreendidos pelo bioma cerrado. Boletim do do - restinga, provavelmente relacionado com a presença de um Herbário E.P.Heringer. Jardim Botânico de Brasília, v.5, p.5-43, 2000. clima úmido, exceto no paleocerrado do Km54 apresentou-se pou- Ribeiro, A S. Dinâmica paleoambiental da vegetação e clima du- cas mudanças tanto na estrutura com na composição. Estes dados rante o Quaternário tardio em domínios da mata Atlântica, brejo estão de acordo com registros polínicos observados nos sedimen- do semi-árido e cerrado nordestinos, utilizando isótopos do carbo- tos da Lagoa do Caçó, (Ledru et al., 2000) e as mudanças no da matéria orgânica do solo e das plantas. (Tese de Doutorado) paleoclimáticas ocorridas no sul da Amazônia (Rondônia), (Pessenda Piracicaba, 2001. 216p. Tese (Doutorado) - Centro de Energia et al., 2001; Freitas et al., 2001). Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo. As baixas freqüências das espécies de habitat de florestas Atlân- Rizzini, C.T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, tica e Amazônica nas matas mesófilas da região também indicam sociológicos e florísticos. São Paulo: Hucitec, 1979. v.1-2. que provavelmente esta região esteja sendo isolada devido ao pro- Salgado-Labouriau, M.L.; Barberi, M.; Ferraz-Vicentini, K.R.; longado período de estiagem das chuvas em mais de 6 meses versus Parizzi G. A dry climatic event during the late Quaternary of 4 da Amazônia. Outros fatores naturais, tais como o fogo e os tropical, Brazil. Review of Palaeobotany and Palynology, v.99, p.115- desmatamentos constantes devem ser considerados. 129, 1998. Uma explicação para a baixa densidade de espécies Amazônica e Atlântica na região estaria na orientação da bacia do Rio Pregui- ças voltada para o norte associada a dinâmica e o movimento das

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 363 Cerrado Volume I

Fitossociologia de uma várzea na Área de Proteção altura do peito - DAP superior ou igual a 3 cm, sendo plotadas sete Ambiental do Guariroba, Campo Grande, MS. parcelas, totalizando 700m2. Ademir Kleber Morbeck de Oliveiraa, Ubirazilda Maria Rezendea & Todos os indivíduos eram identificados com chapas de metal Felipe Dias Ribeirob numeradas e coletados, posteriormente herborizados e deposita- aUniversidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do dos no herbário CG/UFMS, de onde foram encaminhado para Pantanal ([email protected]) bDoutorando Universi- especialistas para sua determinação e/ou confirmação do epíteto dade de São Paulo específico. Através de fita métrica própria foram obtidos os dados de 1. Introdução diâmetro a altura do peito (DAP), altura da planta, sendo tomado A devastação das formações vegetacionais que protegem os como base a altura conhecida de uma pessoa próxima ao tronco. mananciais hídricos utilizados para o abastecimento público é um As coletas foram realizadas durante os meses de dezembro de problema que se agrava a cada dia. O resultado imediato de tal 1997 à março de 1998. ação são processos de assoreamento e contaminação que levam a 3. Discussão e Resultados degradação deste recurso hídrico. Além desse fator, a perda de A área apresenta solo hidromórfico, com uma grande quanti- biodiversidade encontrada nestes locais é mais um problema a ser dade de matéria orgânica em processo de decomposição, sendo combatido (Ribeiro e Walter, 2001). constante a presença de água no solo, que se encontrava totalmen- Esse tipo de formação apresenta características próprias, rela- te encharcado, caracterizando um ambiente anóxico para as raízes cionadas com a presença de um lençol freático bastante próximo a das plantas. superfície, solos hidromorficos, alta umidade relativa e inundações Foram encontradas na área 20 famílias, 26 gêneros e 28 espé- periódicas, causadas pela precipitação (Correia et al., 2001; Ferreira cies (Anacardiaceae - Tapirira guianesis Aubl., Annonaceae - Xylopia e Ribeiro, 2001). emarginata Mart., Apocynaceae - Aspidosperma cf. discolor A. DC.; Em determinados locais o lençol aflora na superfície, forman- Bignoniaceae - Tabebuia dura (Bur. & K. Schum.) Spreng. & Standl., do nascentes, que são circundadas por um tipo característico de Burseraceae - Protium spruceanum (Benth.) Engl., Protium vegetação. heptaphyllum Aubl. March.; Cecropiaceae - Cecropia pachystachya Na região Centro-Oeste, uma das características desse tipo Troc., Celastraceae - Maytenus robusta Reiss; Clusiaceae - vegetacional, em diferentes locais, é estar cercada pelo cerrado, o Calophyllum brasiliense Camb., Hippocrateaceae - Salacia elliptica que cria mudanças bruscas na fisionomia observada. Esse fator (Mart.) G. Don., Lauraceae - Endlicheria paniculata (Spreng.) acaba ocasionando problemas de conservação relacionados as ati- MacBride, Nectandra lanceolata Nees et Mart. ex Nees, Ocotea vidades econômicas desenvolvidas nestas áreas, que normalmente diospyrifolia (Meisn.) Mez, Ocotea velloziana (Meisn.) Mez; são utilizadas para a pecuária ou agricultura, não respeitando as Magnoliaceae - Talauma ovata St. Hil.; Melastomataceae - Miconia faixas mínimas de proteção previstas pela legislação ambiental. elegans Cogn., Moraceae - Ficus sp, Ficus insipida Willd., Sorocea Tal processo de ocupação econômica gerou fragmentos flores- bonplandii (Baill.) Burg. Lanj. & Boer.; Myrsinaceae - Rapanea tais dispersos, que isolados entre si, não permitem um fluxo de guianensis Aubl.; Myrtaceae - Eugenia florida DC.; Palmae - Geonoma informação genético, que permita sua manutenção. Tal processo, brevispatha Barb. Rodr.; Polygonaceae - Coccoloba sp; Rubiaceae - aliado a um manejo inadequado do solo, que gera grandes proces- Coutarea hexandra (Jacq.) Schum., Psychotria mapourioides DC., sos erosivos, põem em risco a manutenção deste ecossistema, vital Rustia formosa (Chamb. & Schltdl.) Klotzsch; Sapindaceae - Matayba para a qualidade e quantidade dos recursos hidrícos. guianensis Aubl., Talisia esculenta (St. Hil.) Radlk e Styracaceae - Dessa maneira, o conhecimento das características florísticas e Styrax acuminatus Phol. fitossociológicas dessa vegetação se torna primordial para processos Foram marcados 460 indivíduos, sendo que destes, 17 estavam de recuperação de áreas degradadas visando não somente o abasteci- mortos, indicando que o processo de sucessão esta ocorrendo. As mento público mas também a manutenção do equilíbrio biológico. espécies que apresentaram o maior número de indivíduos foram C. Como não existem informações no Estado de Mato Grosso do brasiliense (88), T. ovata (85), X. emarginata (46), O. velloziana Sul sobre a espécies que compõem estas áreas, além das mesmas (40), T. guianesis (30) e C. hexandra (27). As outras espécies apre- sofrerem com a ação antrópica que ameaça a manutenção das sentaram um número menor que 20 indivíduos. mesmas, o presente trabalho visa contribuir para o conhecimento Com maior DAP médio se encontram as espécies Coccoloba sp da vegetação de várzea em processo de regeneração, visando obter (23,5), P. heptaphyllum (19,7), P. spruceanum (18,9), N. lanceolata informações para subsidiar o processo de recomposição de áreas (17), T. ovata (15,3), C. brasiliense (12,3), T. guianesis (12,7) e F. degradadas da bacia que compõem a Área de Proteção Ambiental insipida (11,5). A espécie que apresentou maior DAP tinha apenas do Guariroba. um indivíduo na área, tal como outras espécies, como T. dura, N. 2. Métodos lanceolata, P. spruceanum, S. bonplandii, A. cf. discolor, F. insipida, S. A área estudada localiza-se na Área de Proteção Ambiental do acuminatus, T. esculenta, P. mapourioides e S. elliptica que também Guariroba, localizada no município de Campo Grande - MS (20° apresentaram apenas um ou dois indivíduos. 26’ 34” latitude Sul e 54° 38’ 47” longitude Oeste), sendo a área Na borda da área dominavam 04 espécies (O. velloziana, M. escolhida uma várzea, localizada nas coordenadas UTM 0774112 elegans, R. guianensis), indicando essas serem espécies heliófilas e e 7724812. provavelmente, pioneiras para esse tipo de ambiente. O clima predominante na região é tropical úmido com tempe- As espécies C. brasiliense, M. guianensis e T. ovata são encontra- ratura média anual de 22oC e precipitação de 1.435mm, distribu- das tanto na borda como no interior da vereda, possuindo indiví- ídos entre os meses de outubro a março. O solo dominante é de duos distribuídos por toda a área, com diferentes DAP. Este com- areias quartzosas, com alta susceptibilidade à erosão, com portamento pode indicar espécies do tipo pioneiras e/ou secundá- declividade variando de 5 a 10% (Mato Grosso do Sul, 1988). rias iniciais. A área total da bacia do Guariroba é de 389,25 Km2, em sua As espécies de maior altura são T. ovata (20m), C. brasiliense maior parte sendo utilizada para a criação extensiva de gado. (20m), O. velloziana (16m) e X. emarginata (15m) e M. guianensis A metodologia utilizada foi o método das parcelas (Muller- (15) e T. guianesis (15m), sendo que T. ovata apresentou a maior Dombois & Ellemberg, 1974; Martins, 1978), com parcelas de média (9,8m), indicando que pode ter sido uma das primeiras 10x10m distribuídas na área estudada. No levantamento foram espécies arbórea a colonizar a área. coletadas informações de espécies que apresentaram diâmetro na As espécies que apresentaram o maior Índice de Valor de Im-

364 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado portância foram T. ovata (55,27), C. brasiliense (46,48), X. Composição da Avifauna no Nordeste do Maranhão, emarginata (24,45) e O. velloziana (20,55). Município Urbano Santos, Brasil. Este grupo de espécies se destaca na área, seja no número de Adriano Kid Azambujaa & Antonio A. F. Rodriguesb indivíduos, altura ou IVI, indicando que são as dominantes. a Graduando em Ciências Biológicas (UFMA) e bolsista da FAPEM De acordo com Lorenzi (1992), T. ovata e C. brasiliense são ([email protected]) comuns na mata pluvial atlântica, sendo freqüentemente encon- b Professor do Departamento de Biologia (UFMA) trada no interior nas várzeas úmidas, podendo formar maciços quase homogêneos. X. emarginata também é encontrada em solos 1. Introdução úmidos ou brejosos, em vários estágios de sucessão, podendo tam- Devido às crescentes pressões sofridas nas florestas tropicais, bém formar populações quase puras. Pott & Pott (1994) cita O. que estão sendo derrubadas na alarmante taxa de 17 milhões de velloziana como uma espécie comum em matas ciliares nos rios que hectares a cada ano (Ricklefs, 1993), a identificação de áreas descem ao Pantanal. prioritárias para conservação são fundamentais para a manutenção Felfili et al (2001) coloca que estas quatro espécies aparecem da biodiversidade. nas Matas de Galeria e Ciliares do Brasil Central. Porém, as famí- Para a identificação dessas áreas, o levantamento da avifauna lias que apresentam maior riqueza de espécies e gêneros constitui uma importante e acessível ferramenta de trabalho, pois, (Caesalpinoideae, Mimosoideae e Papilionoideae) neste tipo de de acordo com Pough (1999) as aves quase podem ser designadas vegetação não são as que apresentam maior riqueza na área como animais vertebrados ideais para os biólogos estudarem, pois (Lauraceae (4), Rubiaceae (3) e Moraceae (3)). Provavelmente elas são diversificadas (quase 9.700 espécies), têm ampla distribui- para este estágio de sucessão, estas famílias, na região da APA do ção, são conspícuas e amplamente diurnas. Guariroba, sejam as mais adaptadas. A riqueza das aves do Maranhão foi documentada por Oren 4. Conclusões (1991) que registrou um total de 636 espécies. A provável explica- Na APA do Guariroba, município de Campo Grande, as espé- ção desta riqueza pode ser a posição ocupada pelo Maranhão, cies T. ovata, C. brasiliense, X. emarginata e O. velloziana são as que tipicamente transacional entre os domínios da Amazônia, da Caa- apresentam maior destaque, pois estão distribuídas por toda área, tinga e do Cerrado (Ab’saber 1977). possuindo indivíduos com diferentes diâmetros e alturas. Isto indi- A composição das aves do bioma Cerrado responde a um gra- ca uma adaptação a este ambiente, podendo as mesmas ser utiliza- diente vegetacional apresentado por este Bioma de tal modo que das nos processos iniciais de recuperação de áreas degradadas rela- Silva (1995) reconhece três conjuntos de espécie quanto ao uso do cionadas às várzeas na região citada. habitat: restritas a ambientes abertos, restritas a ambientes flores- 5. Referências Bibliográficas tais e semidependentes de ambientes florestais. Correia, J. R.; Haridasan, M.; Reatto, A.; Martins, E. S.; Walter, A avifauna deste bioma é pouco conhecida, sendo que aspectos B. M. T. (2001). Influência de fatores edáficos em Matas de Gale- referentes a sua biogeografia e conservação vêm sendo esclarecidos ria na região do Cerrado: uma revisão. In: Ribeiro, J. F.; Fonseca, C. apenas recentemente. A riqueza de espécies de aves dessa região é E. L.; Sousa-Silva, J. C. Cerrado: caracterização e recuperação de extremamente alta: 837 espécies (50% do total para o Brasil) sen- Matas de Galeria. 899p. do que cerca de 67% dessa avifauna está associada a Matas de Galeria ou Matas Secas (Silva, 1995). Essas matas exerceram e Felfili, J. M.; Mendonça, R. C.; Walter, B. M. T.; Silva Júnior, ainda exercem um papel fundamental na colonização de elementos M. C.; Nóbrega, M. G. G.; Fagg, C. W.; Sevilha, A. C. Silva, M. A. (2001). Flora fanerogâmica das Matas de Galeria e florestais, com centro de distribuição nas Florestas Amazônica e Atlântica, presentes no Cerrado (Silva, 1996). Ciliares do Brasil Central. In: Ribeiro, J. F.; Fonseca, C. E. L.; Como parte do bioma Cerrado, a Mata Ciliar do nordeste do Sousa-Silva, J. C. Cerrado: caracterização e recuperação de Matas de Galeria. 899p. Maranhão é muito pouco conhecida. Esse levantamento tem como objetivo verificar a composição da avifauna em uma mancha de Ferreira, J. N.; Ribeiro, J. F. (2001). Ecologia da inundação em Mata Ciliar (Galeria) situada no nordeste do Maranhão, municí- Matas de Galeria. In: Ribeiro, J. F.; Fonseca, C. E. L.; Sousa- pio de Urbano Santos. Este é o primeiro trabalho com as aves do Silva, J. C. Cerrado: caracterização e recuperação de Matas de local sendo que o mesmo tem como objetivo a amostragem dessa Galeria. 899p. avifauna para que se determine o grau de conservação da área e Lorenzi, H. (1992). Árvores brasileiras: manual de identificação e servir de base para futuros estudos ecológicos mais específicos. cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Editora Plantarum. 2. Métodos Nova Odessa.. 352p. A área de estudo possui uma área 990ha, com predominância de Martins, F. R. (1978). Estrutura de uma floresta mesófila. Editora Mata Ciliar sendo cercada por roças de milho, capinzais e capoeiras. da UNICAMP, Campinas. 246p. Foram realizadas entre o intervalo de Setembro/2002 à Julho/ 2003, 14 visitas à área de estudo com duração entre 2 e 10 dias de Mato Grosso do Sul (1988) Secretária de Planejamento e Coorde- permanência na área, que totalizaram 32 dias de atividades de campo. nação Geral. Fundação Instituto de Apoio ao Planejamento do As atividades de campo executadas foram: a observação e a Estado. Coordenadoria de Geografia e Cartografia; IBGE. Mapa captura de indivíduos da avifauna local. A observação foi auxiliada de Solos. Campo Grande – MS. com a utilização de binóculos (7X35) em transectos definidos Mueller-Dombois, D.; Ellenberg, H. (1974). Aims and methods of onde foram registrados todos os indivíduos que foram visualizados vegetation ecology. John Wiley & Sons. New York. 547p. e identificados durante a execução da caminhada. Pott, A.; Pott, V. J. (1994). Plantas do Pantanal. Empresa Brasilei- A captura foi feita com redes ornitológicas, dispostas em ra de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do transectos contínuos, colocadas com a parte inferior próxima ao Pantanal. Corumbá. 320p. chão e a parte superior cerca de 3 metros de altura. Os indivíduos Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. (2001). As Matas de Galeria no capturados foram identificados, fotografados e anilhados com ani- contexto do bioma Cerrado. In: Ribeiro, J. F.; Fonseca, C. E. L.; lha colorida para que fossem registradas as recapturas. Dados Sousa-Silva, J. C. Cerrado: caracterização e recuperação de Matas biométricos foram coletados para cada indivíduo capturado. As de Galeria. 899p. redes foram abertas aproximadamente às 5:30hs e fechadas às 18:00hs. Este procedimento era modificado quando chovia, pois as redes eram fechadas para evitar a morte de indivíduos na chuva.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 365 Cerrado Volume I

A identificação dos indivíduos ao nível de espécie foi feita no 4. Conclusões momento da observação e/ou captura com auxílio de guias de A área estudada apresentou um total de 56 espécies distribuídas campo (Schauensee e Phelps, 1978; Hilty & Brown, 1986; Souza, em 26 famílias (ou subfamílias). A grande maioria, 94% das espécies, 2002) e com a utilização das fotografias para confirmação posteri- é considerada semidependente de ambientes florestais, que indica or. A nomenclatura utilizada para a classificação das espécies foi que a preservação da área em questão é de extrema importância para definida por Sick (1997). a manutenção da avifauna amostrada neste trabalho. 3. Resultados e Discussão Um monitoramento na flutuação da população de P. mystaceus, Foram registradas 56 espécies que compreendem cerca de 8,8% espécie bioindicadora de qualidade ambiental encontrada abun- da avifauna registrada por Oren (1991) para todo o Estado do dantemente na área, pode facilitar a identificação de possíveis pro- Maranhão e cerca de 6,7% da avifauna registrada por (Silva, 1995) blemas relacionados à saúde deste ecossistema. para o bioma Cerrado. 5. Referências Bibliográficas A família onde foi registrado o maior número de espécies foi a Ab’saber, A.N. (1997).Os domínios morfoclimáticos na América do Formicariidae com 12,5% do total de espécies registradas na área. Sul, Geomorfologia 52: 1-21. As espécies desta família se caracterizam por procurar insetos e Bagno, M.A. & Filho, J.M. (2001). A avifauna do Distrito Federal: outros artrópodes (Sick, 1997). Os Formicariidae compõem a uso de ambientes abertos e florestais e ameaças. In: Cerrado: carac- Subordem dos Suboscines que são passeriformes autóctones da terização e recuperação de Matas de Galeria/ Eds. José Felipe Ribeiro, região neotropical, representados no Brasil por 36,2% do total de Carlos Eduardo Lazarini da Fonseca, José Carlos Sousa-Silva. sua avifauna (Sick, 1997). Neste trabalho os Suboscines represen- Planaltina: Embrapa Cerrados. taram cerca 37% do total de espécies. A espécie mais abundante registrada neste trabalho foi Hilty, S.L. & Brown, W.L. (1986). A guide to the Birds of Colombia. Chiroxiphia pareola (família Pipridae) com 17% das capturas e New Jersey, Princeton University Press. 20% das observações. Oren, D.C. (1991). As aves do estado do Maranhão, Brasil. Goeldiana Pyriglena leuconota (família Formicariidae) também foi muito Zoll 9: 1-54. amostrada neste trabalho com 15% das capturas e 19% das obser- Pough, F.H., Heiser, J. B. & Mcfarland, W. N. (1999). A vida dos vações. Essa espécie se caracteriza por ser uma das mais assíduas Vertebrados. 2a edição. Atheneu Editora, São Paulo. seguidoras das correições de formigas chamando muito a atenção Ricklefs, R.E. (1993). A Economia da Natureza. 3ª Edição. Edito- pelo vozerio (Sick, 1997), razão pela qual foi bastante observada ra Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro. durante as atividades de campo sendo quase sempre associada a uma grande movimentação de formigas e casualmente em Bandos Schauensee, M. R. & Phelps, H. W. Jr. (1978). A guide to the Birds Mistos, que acompanhavam as formigas, juntamente com Basileteurus of Venezulela. New Jersey, Princeton University Press. flaveolus (Subfamília Parulinae), Xiphorhyncus guttatus (família Sick, H. (1997). Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Ed. Nova Dendrocolaptidae) e Formicarius colma (família Formicariidae). Fronteira A presença de espécies como o Thamnophilus amazonicus, de Silva, J.M.C. da. (1995).Birds of the Cerrado region, South America. distribuição amazônica (Sick, 1997), confirmam a tendência das Steenstrupia, v.21, p.69-92 Matas de Galeria de funcionarem como corredores de distribuição de espécies, com centro de distribuição na Floresta Amazônica, Silva, J.M.C. da. (1996). Distribution of amazonian and atlantic birds in galery Forest of the Cerrado region, South America. Ornitol. para as formações florestais do Bioma Cerrado (Silva, 1996). De acordo com Ricklefs (1993) espécies individuais podem ter Neotr., v.7, p.1-18 considerável valor como indicadores de mudanças ambientais am- Souza, D. (2002). All the Birds of Brazil an Identification Guide. plas e de longo alcance. O Platyrinchus mystaceus (família Tyrannidae) Salvador, Gráfica Santa Helena. com 15% das capturas e o Dysithamnus mentalis (família Wilson, E. O. (1997). A situação atual da diversidade biológica. Formicariidae) com 9% das capturas constituem dois bons exem- Biodiversidade. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira. 3-25. plos de bioindicadores, pois são consideradas por Bagno (2001) Apoio: aves totalmente dependentes de ambientes florestais, ou seja, en- contradas no bioma Cerrado apenas nas fitofisionomias florestais. Companhia e Agrícola Paineiras Ltda. Outras espécies, registradas neste trabalho, que também podem PELD/ECOCEM/TROPEN ser utilizadas como bioindicadores segundo Bagno (2001) e Sick (1997) são: Micrastur semitorquatus, Schiffornis turdinus, Campephilus Impacto de queimadas prescritas na reprodução de melanoleucos, Amazona amazonica, Orthopsittaca manilata e Mimosa lanuginosa Glaz. ex Burkart (Mimosaceae) Chloroceryle americana. Alba Evangelista Ramosab, Heloisa Sinátora Mirandab Foi registrada nas observações Herpsilochmus pectoralis (família aSAP/DF ([email protected]), bDepartamento de Ecologia, Universi- Formicariidae) que é uma espécie que consta na lista nacional dade de Brasília, Brasília, DF (Ministério do meio ambiente) das espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. 1. Introdução A família Trochilidae constitui um importante grupo de aves, Estudos sobre impactos de queimadas na reprodução de plan- composto de espécies polinizadoras que são de fundamental impor- tas do Cerrado ainda são insuficientes para o entendimento do tância na dinâmica da mata sendo registradas três espécies desta papel do fogo neste Bioma. Alguns estudos têm se dedicado à família: Phaethornis longuemareus, Thalurania furcata e Hylocharis investigação da ação do fogo na indução da floração de espécies do cyanus. As espécies dispersoras de semente, igualmente importantes, estrato herbáceo-subarbustivo (Coutinho 1992), fenologia de co- representaram cerca de 30% das espécies registradas para o local. munidades (Barbosa 1997), no conhecimento do banco de semen- A falta de registro de Oryzoborus angolensis (Subfamília Emberizinae) tes (Andrade 2002). Entretanto, há lacunas de conhecimento so- antigamente muito comum na área de estudo e atualmente abundante bre o efeito do fogo na fenologia, produção e viabilidade das se- nas gaiolas de Urbano Santos retrata o efeito antrópico sobre a área mentes das espécies de plantas do Cerrado. O estrato herbáceo- estudada que é muito afetada pela caça indiscriminada, pela criação de subarbustivo constitui o combustível das queimadas do Cerrado. animais domésticos e pelas constantes queimadas efetuadas nas roças Logo, as espécies deste estrato que estão se reproduzindo na época ao redor da mesma que adentram a mata. das queimadas são susceptíveis a este evento. Este estudo teve por

366 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado objetivo avaliar a ação de queimadas bienal e quadrienal prescritas frutificando no mês de setembro. na reprodução da espécie herbácea Mimosa lanuginosa O adiantamento da manifestação das fenofases exibido pelas (Mimosaceae). plantas submetidas ao regime de queima bienal em agosto em 2. Métodos relação à queima quadrienal, pode ser ocasionado pela maior pene- O estudo foi desenvolvido na Reserva Ecológica do IBGE tração de luminosidade, devido ao raleamento da vegetação em (RECOR), Distrito Federal, coordenadas geográficas (15º56’S e decorrência do próprio regime de queima. 47º53’W), nas áreas experimentais do Projeto Fogo Os frutos coletados de plantas da parcela de queima bienal em (www.recor.org.br). O clima da região é subquente semi-úmido na agosto, antes da queimada prescrita, estavam ainda imaturos. Das classificação de Nímer (1977). Na estação seca de 2002, as tempe- sementes produzidas 94,7% eram imaturas e 5,3% apresentaram raturas médias na RECOR variaram de 20,7ºC (junho) a 25,6ºC sinais de predação. Não foi possível realizar o teste de germinação (outubro), a pluviosidade total variou de zero, no mês de junho a com estas sementes. O teste de germinação realizado para as se- 4,6 mm em maio e a umidade relativa do ar variou de 45,9% mentes originadas das plantas submetidas à queima quadrienal (agosto) a 64,0% (maio). apresentou um resultado positivo de 72,5%, sendo que, a emissão Os experimentos foram locados nas parcelas que sofrem quei- das radículas ocorreu, aproximadamente, até o terceiro dia do ma bienal e quadrienal. A fitofisionomia no início do Projeto Fogo experimento, revelando que esta espécie não apresenta restrições (1990) era de cerrado sensu stricto. A parcela de tratamento de quanto à germinação e que, possivelmente, dispersando as semen- queima bienal já sofreu seis queimas prescritas desde 1992 e a de tes no final da estação seca/início da estação chuvosa, haveria con- quadrienal, três. Os dados foram coletados entre fevereiro de 2002 dições para uma rápida germinação e pronto estabelecimento du- e maio de 2003. Em 13/08/2002 a parcela de queima bienal sofreu rante as chuvas. a última queimada. Os dados de comportamento de fogo para a área Estudos de biologia reprodutiva feitos por Oliveira (1998) encontram-se em Miranda et al. (1996). Foi acompanhada a popula- mostram que o cerrado é uma comunidade estável, na qual, os ção reprodutiva de M. lanuginosa em uma área de 4,2 ha. Quinzenal- sistemas reprodutivos são comparáveis aos de florestas tropicais. A mente, registraram-se a produção de botões, flores, frutos e disper- reprodução sexuada seria um processo que ocorreria sem grandes são de sementes. O tamanho da população reprodutiva foi avaliado restrições. Entretanto, pela sincronização da floração, frutificação por meio de uma curva de performance (Brower et al., 1998) onde se e dispersão de sementes de muitas espécies com a época de ocor- plotou a média acumulada do número de indivíduos reprodutivos rência de queimadas, é possível a ocorrência de danos irreversíveis pela área amostrada. Foram avaliadas as durações da floração, da nos propágulos, plântulas e jovens, que vão refletir na dinâmica frutificação e dispersão das sementes por comparação das percenta- populacional das espécies mais sensíveis, podendo causar ao longo gens de indivíduos por fenofase ao longo do tempo. Antes da quei- do tempo, alterações na composição de espécies da comunidade. mada, foi coletada uma amostra de 100 frutos de indivíduos da Como outras espécies do cerrado, Mimosa lanuginosa tem seu perí- parcela de queima bienal em agosto, para avaliação da sanidade e odo reprodutivo ocorrendo na estação seca, época de maior ocor- germinabilidade. Frutos de plantas da parcela de queima quadrienal rência de fogo no cerrado. É possível, portanto, que a grande dife- foram coletados entre agosto e outubro. Em laboratório, foi feita a rença obtida nos valores de densidade entre as duas situações de germinação, em germinador regulado na temperatura de 20-30ºC, regime de queima, seja devido à ocorrência de queimadas repetidas usando-se como substrato papel germitest. Foi considerada germi- na estação seca que podem consumir todo o esforço de produção nada, a semente que emitiu a radícula. de sementes daquele ano. 3. Resultados e Discussão Sob este regime, ao longo do tempo, a espécie tem dificultada O regime de queima bienal em agosto vem ocasionando um a sua capacidade de se recuperar, seja pela germinação e estabeleci- raleamento do cerrado típico ao longo dos 10 anos de experimento mento, seja pela formação de banco de sementes a espera de época do Projeto Fogo, conforme demonstram os dados de Sato (2003). A propícia para germinar, porque a ocorrência de uma queimada na curva de performance obtida para cada uma das populações demons- fenofase reprodutiva é um evento catastrófico para a espécie. Uma trou que as populações estudadas são representativas. A população alternativa seria o investimento em propagação vegetativa, que não de M. lanuginosa submetida à queimada bienal de agosto apresentou foi avaliado neste experimento. uma densidade de 8,1 indivíduos/ha (N=34 indivíduos), enquanto 4. Conclusões que na parcela de queima quadrienal em agosto, foi de 33,6 indivídu- Este trabalho procurou contribuir para o entendimento do os/ha (N=141 indivíduos). Os padrões fenológicos registrados de- papel do fogo na reprodução de espécies do estrato herbáceo do monstram que no regime de queima bienal houve um adiantamento cerrado, demonstrando que há diferenças na fenologia, densidade da ocorrência das fenofases, que foram interrompidas, posterior- populacional e produção de frutos e sementes de M.lanuginosa, sob mente, devido à queimada experimental realizada. regime de queima bienal e quadrienal. Na parcela de queima bienal em agosto, a produção de botões Agradecimentos: se iniciou no início de março e se estendeu até o dia da queimada. Agradecemos à brigada de combate aos incêndios florestais da Os maiores percentuais de indivíduos produzindo botões ocorre- Reserva Ecológica do IBGE pelo apoio na execução do fogo con- ram entre maio (94,1%) e junho (85,3%). O período de floração trolado, à Embrapa Recursos Genéticos, ao Samuel Dias Ramos, começou na última semana de abril se estendendo até a queimada, Maria Goreth Nóbrega e Mariana Oliveira pelo apoio nos traba- com picos de percentuais de indivíduos ocorrendo entre maio lhos de campo, ao USDA/FS e ao Programa PELD/CNPq. (91,2%) e junho (79,4%).O início da frutificação se deu no final 5. Referências Bibliográficas de maio e teve um crescimento registrado até início de agosto, Andrade, L.A.Z. 2002. Impacto do fogo no banco de sementes de quando 70,6% estavam produzindo frutos e toda a produção foi cerrado sensu stricto. Brasília. UnB, ECL. Tese de Doutorado. incinerada pela queimada experimental. Barbosa, A.A.A. 1997. Biologia reprodutiva de uma comunidade de Na parcela de queima quadrienal em agosto, a produção de campo sujo, Uberlândia/MG. Departamento de Ecologia, Universi- botões se iniciou no final de abril, se estendendo até final de setem- dade Estadual de Campinas, Campinas. SP. Tese de doutorado. bro, com máximas em maio, junho e julho, com respectivamente 90%, 99,3% e 94,3% dos indivíduos nesta fenofase. A floração, Brower, J.E., Zar, J.H. & Ende, C.N., 1998. Field and Laboratory th exceto pelo início, que foi na segunda quinzena de maio, apresen- Methods for General Ecology. ECB/McGraw-Hill. 4 edition. Boston. tou o mesmo padrão. A produção de frutos ocorreu desde a última Coutinho, L.M. 1982. Ecological effect of fire in Brazilian cerrado. semana de junho até final de janeiro, com 71,6% dos indivíduos In: B.J. Huntley & B.H. Walker (ed). Ecology of Tropical Savannas.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 367 Cerrado Volume I

Springer-Verlag. Berlin. madeira caídos ou semi-enterrados na superfície do solo e no solo Miranda, H. S., Rocha e Silva, E.P. & Miranda, A.C. 1996. Com- adjacente abaixo deles, em meio ao folhiço, serapilheira e solo portamento do fogo em queimadas de campo sujo. In: Miranda, imediatamente abaixo. Após esse exame, foram escavadas, em dife- H.S., Saito, C.H. & Dias, B.F.S. (Orgs.). Impactos de queimadas em rentes locais do quadrat, três trincheiras com 30cm de profundida- áreas de cerrado e restinga. Brasília: UnB, ECL. pp. 1-10. de por 60cm de comprimento, buscando detectar a presença de térmites abaixo do solo. Foram tomadas algumas precauções para Nímer, E. 1977. Clima. In: Geografia do Brasil: Região Centro-Oeste. reduzir a probabilidade de coletar mais de uma amostra da mesma IBGE. Rio de Janeiro, pp. 435-438. colônia: utilização de quadrats pequenos; maior distância entre Oliveira, P. E. 1998. Fenologia e biologia reprodutiva das espécies eles; além disso, sempre que indivíduos da mesma espécie eram de Cerrado. In: Sano, S. M. & Almeida, S. P. (eds.). Cerrado: encontrados em dois locais do quadrat, era feita uma investigação Ambiente e Flora. Embrapa-CPAC. Planaltina. pp.169-192. mais detalhada, a fim de detectar a existência de contato ente eles Sato, M.N. 2003. Efeito de longo prazo de queimadas prescritas na (o que indicaria pertencerem a uma mesma colônia).Os dados estrutura da comunidade lenhosa da vegetação do cerrado sensu stricto. foram coletados durante os meses de novembro de 2001 a fevereiro Brasília. UnB, ECL. Tese de Doutorado. de 2002. www.recor.org.br 3. Discussão e Resultados Foram encontradas 22 espécies, pertencentes a 14 gêneros e duas famílias (Rhinotermitidae e Termitidae). No total, foram Variação na Composição de Espécies e no Padrão de registradas 301 colônias, e a espécie mais abundante foi Anoplotermes Riqueza e Abundância de Cupins ao Longo de uma sp, com 61 colônias, seguida de Nasutitermes Kemneri, com 51 colô- Transição Cerrado – Campo Rupestre, no Morro Feio, nias e Velocitermes heteropterus, com 31 colônias. A composição de Município de Hidrolândia, Goiás espécies variou ao longo do gradiente de altitude e tanto a riqueza Aleide R. G. Oliveira a,b , Gabriel A. Freitas c , Euler C. Chaves c , quanto a abundância total declinaram com o aumento da altitude. Guilherme F. de Lima Filho b , Diogo A. Costa b , Thiago Santos c , Resultados semelhantes foram encontrados por outros autores Leandro S. Crispim c & Divino Brandão d em diferentes locais. Collins (1980) relatou uma significante corre- a Universidade Estadual de Goiás ([email protected]); b Pós- lação negativa entre a variável altitude e a abundância e biomassa Graduação em Biologia, UFG; c Graduação em Biologia, UFG; d de cupins em 11 locais ao longo do gradiente de altitude no Monte Universidade Federal de Goiás Mulu em Borneo. Jones (2000) registrou diminuição na riqueza e abundância de cupins com o aumento da altitude em dois 1.Introdução de florestas, na Malásia. Gathorne-Hardy et al. (2001), na Os cupins são provavelmente a forma dominante de vida ani- Indonésia, também observaram que tanto a riqueza quanto a com- mal em algumas áreas do Cerrado, tanto em número de espécies posição de espécies de cupins foram significativamente afetados quanto em biomassa (Constantino, 1992, 1999). Apesar disso, pela altitude. entre os vários tipos de formações que compõem a província do Dentispicotermes globicephalus, Paracornitermes laticephalus, Cerrado, alguns permanecem muito pouco estudados do ponto de Cornitermes snyderi e Cylindrotermes sp ocorreram com exclusivida- vista da termitofauna, e entre esses estão os campos rupestres. Esses de nas faixas mais altas, indicando a possibilidade da existência de campos, segundo Eiten (1994), ocorrem sobre topos de serras e uma composição de espécies de Isoptera característica dos campos chapadas com altitude acima de 1000m, onde os solos são rasos, rupestres. derivados de quartzitos, com a presença de fragmentos ainda não 4.Conclusões completamente intemperizados, e onde a rocha mãe ainda aflora A riqueza de espécies e a abundância de colônias diminuíram em blocos. Eles possuem uma rica flora endêmica composta de ao longo do gradiente de altitude do Morro Feio. A composição de espécies bem adaptadas às condições desses locais (Menezes & espécies também apresentou variação, havendo espécies que ocor- Giulietti, 1986; Alves & Kolbeck, 1994), e ao longo do gradiente reram exclusivamente nas partes mais altas. de altitude das encostas dessas serras, há uma substituição paulati- (Agradecimentos: Os autores agradecem a Funape - UFG pelo na das espécies vegetais, caracterizando, a partir de determinada auxílio financeiro concedido para a realização desse trabalho) altitude, uma transição de cerrado para campo rupestre. 5. Referências Bibliográficas Existem, na literatura, poucos estudos faunísticos nesses cam- Alves, R.J.V.; Kolbek, J. (1994). Plant species endemism in savanna pos, como o de Fernandes et al. (1997), sendo que não há sequer um vegetation on table mountains (Campo Rupestre) in Brazil. Vegetatio. trabalho de levantamento de cupins, mas é de se supor que, também 113:125-139. nesse grupo, haja espécies características de campos rupestres e que, como ocorre com a flora, ocorra uma sucessão de espécies ao longo Brühl, C.A.; Mohamed, M.; Linsenmair, K.E. (1999). Altitudinal do gradiente de altitude. Alguns estudos realizados em outras regiões distribution of leaf litter along a transect in primary forests on da Terra demonstram que alguns parâmetros demográficos ou co- Mount Kinabalu, Sabah, Malaysia. Journal of Tropical Ecology. 15: munitários dos cupins respondem aos efeitos de gradientes ambientais 265-277. e, particularmente, em relação à altitude, Collins (1980) em Borneo, Collins, N.M. (1980). The distibution of soil macrofaunaon the Jones (2000) na Malásia e Gathorne-Hardy et al. (2001) na Indonésia, West Ridge of Gunung (Mount) Mulu, Sarawak. Oecologia. 44: relataram efeitos sobre composição de espécies e padrões de riqueza, 263-275. abundância e biomassa de cupins. Constantino, R. (1992). Abundance and diversity of termites 2. Métodos (Insecta: Isoptera) in two sites of primary rain florest in Brasilian O Morro Feio, localizado no Município de Hidrolândia, possui Amazonia. Biotropica 24(3): 420-430. altitude máxima de pouco mais de 920 metros e sua base está a 720 Constantino, R. (1999). Chave ilustrada para identificação dos metros. Mediante a utilização de um altímetro, o gradiente de gêneros de cupins (Insecta: Isoptera) que ocorrem no Brasil. Papeis altitude do Morro Feio foi dividido em 10 faixas, denominadas por avulsos de zoologia. 40(25): 387-448. letras ( A a J ). Em cada faixa foram demarcados cinco quadrats de 5mX5m, distantes não menos que 50m entre si. A demarcação dos Eiten, G. (1994). Vegetação do cerrado. In: Novaes Pinto, M.(org.). quadrats foi feita ao longo de uma curva de nível. Cada quadrat foi Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. 2ª ed. Editora Uni- examinado cuidadosamente à procura de térmites. Eles foram versidade de Brasília, Brasília. p17-73. pesquisados na superfície do solo, nas plantas, nos fragmentos de

368 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Fernandes, G.W.; Araújo, L.M.; Carneiro, M.A.A.; Cornelissen, tes em cada comunidade. As manchas favoráveis (devido à disponi- T.G.; Barcelos-Greco, M.C.; Lara, A.C.F.; Ribeiro, S.P. (1997). bilidade de nutrientes e/ou fatores abióticos desejáveis, Padrões de riqueza de insetos em gradientes altitudinais na Serra inacessibilidade de predadores e herbívoros, etc.) tendem a ser do Cipó, Minas Gerais. In: Leite, L. L. & Saito, C. H. (org) colonizadas e ocupadas, no entanto, pode haver a ocorrência de Contribuição ao conhecimento ecológico do Cerrado. Brasília, UnB. p. manchas favoráveis não-colonizadas pelo fato de elas ainda não 191-195. terem sido “descobertas”, ou seja, atingidas pelos propágulos das Gathorne-Hardy, F.; Syaukani; Eggleton, P. (2001). The effects of espécies potencialmente colonizadoras (Begon et al 1996). altitude and rainfall on the composition of the termites (Isoptera) A distribuição espacial de indivíduos de uma população em um of the Leuser Ecosystem (Sumatra, Indonesia). Journal of Tropical ecossistema é reflexo tanto das condições bióticas e abióticas que Ecology. 17: 379-393. influenciam o estabelecimento, crescimento e reprodução dos in- divíduos quanto das características de dispersão dos propágulos da Janzen, D.H.; Ataroff, M.; Farinas, M.; Reyes, S.; Rincon, N.; espécie (Morin 1999). A distribuição espacial de uma população Soler, A.; Soriano, P.; Vera, M. (1976). Changes in the pode variar de acordo com a escala amostrada. Parcelas de diferen- community along an elevational transect in the Venezuelan Andes. tes tamanhos, ou mesmo unidades amostrais variadas podem ca- Biotropica. 8(3): 193-203. racterizar a distribuição de uma mesma população de maneiras Jones, D.T. (2000). Termite assemblages in two distinct montane bem distintas (Begon et al 1996). Técnicas estatísticas foram de- forest types at 1000 m elevation in the Maliau Basin, Sabah. Journal senvolvidas para quantificar as relações espaciais entre organismos Tropical Ecology. 16: 271-286. em uma população; uma destas técnicas usa a variância sobre mé- McCoy, E.D. (1990). The distribution of along elevational dia de indivíduos por parcela (Pianka 1974). gradients. Oikos. 58: 313-322. Vellozia squamata Pohl. (Velloziaceae), popularmente conheci- Menezes, N.L.; Giulietti, A.M. (1986). Campos rupestres: paraíso da por canela-de-ema, é uma espécie arbustiva comum no Cerra- botânico na Serra do Cipó. Ciência Hoje. 25:39-44. do. Os arbustos chegam a atingir 2,5 metros de altura, apresentan- do folhas estreitas e compridas, reunidas no ápice dos ramos. A Olson, D.M. (1994). The distribution of litter invertebrates along floração ocorre de novembro a julho, sendo que as flores lilases a Neotropical altitudinal gradient. Journal of Tropical Ecology. 10: também são dispostas no ápice dos ramos. Os frutos se formam 129-150. entre maio e agosto que contem grande número de sementes muito Samson, D.A.; Rickart, E.A.; Gonzales, P.C. (1997). diversity pequenas (Silva 1998). A casca e as raízes da canela-de-ema são and abundance along an elevational gradient in the Philipines. utilizadas no combate ao reumatismo, dores na coluna e proble- Biotropica. 29(30): 349-363. mas renais (Silva 1998). Wolda, H. (1987). Altitude, habitat and tropical diversity. O presente estudo teve por objetivo caracterizar a distribuição Biological Journal of the Linnean Society. 30: 313-323. espacial de Vellozia squamata em uma área de Cerrado da Fazenda Água Limpa – FAL, Brasília - DF. Distribuição espacial de Vellozia squamata Pohl. 2. Material e Métodos (Velloziaceae) em uma área de Cerrado da Fazenda Área de estudo O Cerrado, segundo maior bioma da América do Sul em ex- Água Limpa, DF. tensão, possui cerca de 1,8 milhões de km2, ocupando aproximada- Alexandre S. Avelino1 ([email protected]), Bruna Souza1, Bruno mente 23% do território brasileiro. Apresenta fronteiras com os Anzolin1, Gabriel Costa1, Isabel B. Schmidt1, Luiz A. M. da Silva1, principais biomas do Continente como os de formações florestais Sheila Rodovalho1, John Du Vall Hay2. (Floresta Amazônica e Mata Atlântica) e os de formações secas 1 Programa de Pós – Graduação em Ecologia, Universidade de (Caatinga e Chaco) (Ribeiro & Walter 1998). Brasília Este trabalho foi desenvolvido em uma área de cerrado sensu 2 Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília. 70910-900, stricto (Goodland 1971) situada na fazenda Água Limpa (FAL), de Brasília – DF propriedade da Universidade de Brasília e, juntamente com a Esta- ção Ecológica do Jardim Botânico de Brasília e da Reserva Ecoló- 1. Introdução gica do IBGE, pertence a Área de Proteção Ambiental Gama Ca- Existem dois modos extremos de distribuição de organismos beça de Veado. por uma paisagem: ou ocorrem em grupos (distribuição agrupada), A FAL localiza-se a 18 Km a sudoeste da Rodoviária de Brasília quando a presença de um indivíduo favorece o estabelecimento de na região sul do DF. Ocupa uma área de cerca de 4190 ha a apro- outro indivíduo da mesma espécie; ou indivíduos podem ser regu- ximadamente 1.100 m de altitude. O clima é do tipo AW segundo larmente esparsados (distribuição dispersa, regular ou uniforme), a classificação de Köppen com precipitação média anual de 1.600 quando os indivíduos tendem a evitar uns aos outros, ou seja, mm, apresentando duas estações nítidas sendo uma chuvosa e quen- encontram-se mais afastados do que seria esperado ao acaso. De te (outubro a abril) e a outra seca e fria (maio a setembro). forma intermediária entre esses dois extremos está a distribuição O aspecto vegetacional da FAL pode ser visto com detalhes em aleatória, na qual organismos estão espalhados randomicamente Ratter (1991) e a área de estudo pode ser caracterizada pela pre- pela paisagem quando a probabilidade de encontrar um indivíduo sença de árvores com um dossel descontínuo e altura média do em qualquer ponto do espaço é a mesma (Begon et al, 1996; Odum estrato de 3 a 5 m (Ribeiro et al. 1983). 1988; Pianka 1974). Metodologia A disponibilidade de recursos, presença de competidores, pre- O estudo foi conduzido em uma área que abrangia dadores e/ou parasitas são fatores determinantes do padrão de fitofisionomias de cerrado denso e de campo cerrado. Uma área de distribuição especial de espécies vegetais (Morin 1999; Begon & 50 x 70 metros próxima à estrada (15°57’33,3’’S, 47°55’52,6’’W), Mortimer 1981). Os padrões de distribuição espacial apresenta- onde predominava cerrado denso, foi subdividida em parcelas de dos por populações vegetais indicam parte do processo pelo qual 10 x 10 metros; uma segunda área de 8 x 350 metros, vizinha à estas populações se mantêm no ambiente enquanto este muda, e primeira (15°57’41,6’’S, 47°56’00,2’’W), foi dividida em 70 par- enquanto as plantas modificam o ambiente em que vivem (Begon et celas de 8 x 5 metros, indo do cerrado denso ao campo cerrado. Os al 1996). indivíduos de Vellozia squamata Pohl. em cada parcelas foram O ambiente pode ser considerado como um conjunto de man- amostrados. chas favoráveis e não-favoráveis para as diferentes espécies presen-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 369 Cerrado Volume I

Para se determinar o tipo de distribuição espacial de indivídu- plântulas. Em contraste, quando fatores abióticos de mortalidade os de V. squamata utilizou-se a segunda área, calculando-se as dis- são de maior relevância, mortalidade pode ser negativamente depen- tribuições de Poisson, a Razão Variância/Média (Índice de Disper- dente da densidade, pois maior parte das mortes de indivíduos tende são), Qui-quadrado, Binomial Negativa e a metodologia de Qua- a ocorrer na borda da distribuição da população, onde condições são drado-Variância (Hay 2000), através do programa Ludwig & menos favoráveis e o recrutamento foi menor e mais agrupado. Essa Reynolds (1988). mortalidade inversamente dependente da densidade significa que o A metodologia de Quadrado-Variância consiste no agrupa- padrão de distribuição espacial de plantas maduras é mais agregado mento das parcelas para combinação de amostras. Este método que da população de plântulas (Hutchings 1987). avalia as mudanças na média e na variância do número de indivídu- 4. Bibliografia os por unidade de amostra, de acordo com variações no tamanho Begon, M., Harper, J.L. & Townsend, C.R. 1996. Ecology: de parcelas combinadas e na distância entre estas. São três os individuals, Populations and Communities. Third Edition, Blackwell métodos empregados para esse fim (Ludwig & Goodall 1978): Science. Berlin- Germany. (1) Blocked-Quadrat Variance (BQV) que agrupa as parcelas Begon, M.E. & Mortimer, M. 1981. Population Ecology. Blackwell contíguas em blocos de tamanhos determinados (um a um, dois a Scientific Publications, Oxford. dois, quatro a quatro, etc.); (2) Two-Term Local Quadrat Variance (TTLQV) que agrupa Goodland, R. 1971. A physionomic analysis of the “cerrado” as parcelas contíguas em duplas, depois trios, e assim por diante; vegetation of central Brazil. Journal of Ecology 59: 411-419. (3) Paired-Quadrat Variance (PQV) que agrupa as parcelas Hay, J. V., Bizerril, M. X., Calouro, A. M. et al. 2000. Comparação que apresentam as mesmas distâncias entre si. do padrão da distribuição espacial em escalas diferentes de espécies 3. Resultados e Discussão nativas do cerrado, em Brasília, DF. Rev. bras. Bot. 23(3): 341-347. A densidade encontrada de Vellozia squamata para as 35 parce- Hutchings, M. J. 1987. The structure of plant populations. In: las de 10 x 10 m foi de 511 indivíduos por hectare. Outros traba- Plant Ecology. M.J. Crawley (ed). Blackwell Scientific Publications, lhos também realizados na Fazenda Água Limpa, porém em locais Oxford. pp 97-136. com diferentes paisagens de cerrado (campo sujo, campo cerrado, Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the number of tree species in cerrado aberto, cerrado e cerrado denso), mostraram valores mui- tropical forests. American Naturalist 104: 501-528. to variados de densidade (dados não publicados),. O teste para a distribuição de Poisson utilizando as freqüências Ludwig, J.A.& Reynolds, J.F. 1988. Statistical Ecology. John Wiley observadas no transecto com 70 parcelas de 8 x 5 m revelou que os & Sons, New York. indivíduos de V. squamata não estão distribuídos aleatoreamente Ludwig, J.A. & Goodall, D.W. 1978. A comparation of paired – (c2=9,482, p>0,05), resultado encontrado também pelo teste de with blocked-quadrat variance methods for the analysis of spatial Variância/Média (s2/m =1,9). Padrões de distribuição estritamente pattern. Vegetatio 38 (1): 49-59. aleatórios são raros em populações de plantas, bem como padrões Morin, P.J., 1999. Community Ecology. Blackwell Science, Oxford. regulares; a maior parte dos estudos de padrões de distribuição em Odum, E.P.,1988. Ecologia. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro populações têm mostrado algum grau de agregação (Hutchings 1987). As análises feitas com os métodos BQV, TTLQV e PQV indi- Pianka, E.R. 1974. Evolutionary Ecology. Harper & How Publishers, cam que os indivíduos se distribuem de forma agregada. A análise New York. com método BQV apresentou picos em tamanho de bloco 16 e 32; Ratter, J.A. 1991. Notas sobre a vegetação da Fazenda Água Limpa para TTLQV ocorreram picos nos tamanho de bloco 15 e 30 e (Brasília, DF). Textos Universitários 3ª edição. Ed. UnB, Brasília, DF. para PQV os maiores picos ocorreram nos tamanhos de bloco 12 Ribeiro, J. F.; Sano, S. M.; Macedo, J.; Silva, J. A. 1983. Os e 30. O teste para a distribuição Binomial Negativa utilizando as principais tipos fitofisionômicos da região dos cerrados. Boletim de freqüências observadas indicou que a distribuição é agrupada/ale- Pesquisa 21: EMBRAPA/CPAC, Brasília, DF. atória (c 2= 0,703, p<0,01), ocorrendo o mesmo em outros traba- lhos realizados na Fazenda Água Limpa (dados não publicados). Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. 1998. Fitofisionomias Do Bioma A distribuição agregada pode estar associada, entre outros fa- Cerrado. In: Cerrado: Ambiente e Flora. S.M. Sano & S.P. Almeida tores, ao tipo de dispersão de propágulos a pequenas distâncias ao (eds). Embrapa-Cpac. pp 89-166. estabelecimento de novos indivíduos próximos às plantas-mãe e a Silva, S.R. 1998. Plantas do Cerrado utilizadas pelas comunidades da regeneração do tipo vegetativa (Westelaken & Maun 1985) e a região do Grande Sertão Veredas. Fundação Pró-Natureza- fatores edáficos como os locais favoráveis ao estabelecimento de FUNATURA, Brasília - DF. plântulas estarem agrupados devido a ação de microrganismos ou a Westelaken, I. L. & Maun, M. A. 1985. Reproducitve capacity, diferenças na estrutura do solo (Hutchings 1987). germination and survivorship Lithospermum caroliniense on Lake Entre os fatores responsáveis por agregação está a distância de Huron sand dunes. Oecologia 66(2): 238-245. dispersão de sementes do indivíduo parental. Segundo a ‘hipótese da distância’ de Janzen (1970), a maior parte das sementes cai próxima à Monitoramento do crescimento de oito espécies planta-mãe, onde pode ser maior a mortalidade causada por predado- nativas do cerrado em casa de vegetação. res de semente, herbívoros de plântulas e fungos; os valores de morta- Alves, T.H.S.1 ([email protected]); Grandinetti, L.A.S.1 lidade decrescem a medida em que a semente se estabelece mais longe Freitas, V.L.O.2 CETEC 3 da planta. Um modelo alternativo sugere que o risco de mortalidade 1– Bolsistas de Iniciação Científica – FAPEMIG. de sementes devido a predação, herbívoros ou a fungos é uma função 2 – Pesquisadora do Setor de Recursos da Terra da Fundação Centro da densidade de sementes. Ambos os processos produziriam um pico Tecnológico de Minas Gerias – CETEC, Belo Horizonte, Minas Gerais. de recrutamento a uma certa distância do indivíduo parental, pois a 3– Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. Av. José Candido mortalidade próximo dele é muito alta (Pianka 1974). da Silveira, 2000. Horto. CEP: 31.170-00. Belo Horizonte, Minas A distribuição espacial de plantas adultas reflete padrões espaci- Gerais. Tel: 55+(31) 3489-2000. FAX: 55+(31) 3489-2200. ais de recrutamento e a influência de fatores de mortalidade, os quais diferem em intensidade de local para local. Então, onde a mortalida- 1. Introdução de dependente da densidade é importante, a distribuição espacial de A escolha de espécies para a utilização em recuperação de áreas plantas maduras torna-se menos agregada que a distribuição de degradadas deve ter como ponto de partida estudos da composição

370 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado florística das matas remanescentes da região. A partir destes levan- 50,26 e 0,75; Farinha seca 20,3 e 0,48; Jacarandá 8,3 e 0,095; tamentos, experimentos silviculturais devem ser montados procu- Maria pobre 5,20 e 0,15. Já para as secundárias obteve-se: Mama rando explorar a variação ambiental e níveis de tecnologia. Esse cadela 4,94 e 0,1; Cagaita 4,29 e 0,09; Jatobá 7,0 e 0,188. E, para método de observação necessita de um embasamento científico a espécie clímax: Aroeira 5,29 e 0,14. que comprove essas práticas. Com isso muitas técnicas ainda po- A espécie que mais investiu em um rápido crescimento tanto em dem ser aprimoradas através de trabalhos desenvolvidos em uni- altura quanto em diâmetro foi a Candeia, seguida pela Farinha seca. versidades e centros de pesquisas (Moraes, 1992). As espécies pio- As demais espécies pesquisadas apresentaram valores de incremento neiras e secundárias iniciais deverão ter prioridade na primeira fase tanto em altura como em DAS relativamente semelhantes. de seleção de espécies. (Davide, 1994). Para tal, os profissionais de Os vigores de crescimento encontrados foram os seguintes: ecologia de restauração devem ter uma compreensão clara de como Jatobá 0,43 (secundária); Mama cadela 0,37 (secundária); Cagaita os sistemas naturais funcionam e que métodos de restauração são 0,35 (secundária); Maria pobre 0,30 (pioneira); Candeia 0,27 (pi- viáveis (Primack & Rodrigues, 2001). Neste esforço algumas ca- oneira); Jacarandá 0,25 (pioneira); Farinha seca 0,23 (pioneira) e racterísticas tais como crescimento rápido, sistema radicular bem Aroeira 0,22 (clímax). desenvolvido, copa larga e densa, boa deposição de matéria orgâni- As espécies secundárias apresentaram maior vigor de cresci- ca do solo, fixadoras de nitrogênio, boa dispersão de sementes e mento se comparadas com as primárias, uma vez que uma caracte- propágulos vegetativos, elevado e balanceado armazenamento de rística fisiológica que distingue esses dois grupos ecológicos, é que nutrientes e rusticidade (Budowski, 1965; Whitmore, 1982; Fran- as espécies consideradas pioneiras na sucessão, investem em um co et al. 1991; Santos & Valcarcel 1997) devem ser levadas em crescimento rápido em altura tendo assim, uma razão diâmetro/ consideração. Variações de tamanho, forma e crescimento refletem altura menor. respostas adaptativas dos indivíduos a condições ambientais e es- 4. Conclusão tão sujeitas a restrições filogenéticas que limitam as possibilidades Com estes resultados, podemos inferir que a candeia e a fari- de desenvolvimento (Sposito, 1999). O polimorfismo das plântulas nha seca foram as espécies vegetais que tiveram as maiores taxas de pode acentuar sua especialização ecológica e é essencialmente nes- crescimento. As demais espécies apresentaram níveis semelhantes. se estágio que um indivíduo se mostra ou não adaptado exprimin- Das espécies estudadas, todas podem ser recomendadas para do mais intensamente o comportamento da espécie (Moraes & programas de recomposição vegetal no cerrado por serem plantas Paoli, 1999). Este trabalho visa estabelecer o potencial para re- adaptadas a este ambiente e possuírem características propicias composição de algumas espécies nativas do cerrado na recuperação para tal como, facilidade na obtenção de sementes, na germinação de áreas degradadas através do acompanhamento e comparação do e na manutenção entre muitas outras. crescimento de plântulas em casa de vegetação. 5. Referências Bibliográficas 2. Métodos BUDOWSKI, 1965. Distribution of tropical american rain forest species As espécies nativas do cerrado utilizadas nesse trabalho foram in the light of successional process”. Turrialba, Turrialba, 15. p.40-42. as pioneiras Vanillosmpsis erythropappa Schult. Bip. – Candeia DAVIDE, A.C. 1994. Seleção de espécies vegetais para recuperação (Asteraceae), Peltophorum dubium (Spreng) Taub. - Farinha seca de áreas degradadas. In: I Simpósio Sul-americano e II Simpósio (Caesalpinaceae), Machaerium acutifolium Vog. - Jacarandá do Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. 06 a 10 de novem- cerrado (Fabaceae), Dilodedron bipinatum Rad Kl. - Maria pobre bro. Foz do Iguaçu, PR. p.111-122. (Sapindaceae), as secundárias Brosimum of. gaudichaudii Tec. - Mama cadela (Apocynaceae), Hymenaea stignocarpa Mart. Ex FRANCO, A.A.; CAMPOS NETO, D.; CUNH, C.O.; CAMPELLO, E.F.; Hayne - Jatobá do cerrado (Fabaceae), Eugenia dysenterica DC. – MONTEIRO, E.M.S.; SANTOS, C.J.F.; FONTES, A.M.; FARIA, S.M. 1991. Cagaita (Myrtaceae) e a clímax Myracrodruon urundeuva Fr. All. - Revegetação de solos degradados. In: I Workshop sobre Recupera- Aroeira brava (Anacardioceae). As sementes foram coletadas entre ção de Áreas Degradadas. 09-12 de julho. Itaguaí, RJ. p. 133-145. maio e outubro de 2001 no município de Papagaios, MG procu- MORAES, E.C. 1992. Aspectos Jurídicos na Recuperação de Áreas rando manter a diversidade genética das populações (20 indivíduos Degradadas. In: I Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas de cada espécie). Posteriormente, foram armazenadas em sacos de Degradadas. 25 a 29 de outubro. Curitiba, PR. p.34-39. papel, em condições ambientais no Laboratório de Ecofisiologia MORAES, P.L.R. & PAOLI, A.A.S. 1999. Morfologia e estabeleci- do CETEC, onde foram utilizadas técnicas necessárias para a que- mento de plântulas de Cryptocarya moschata, Ocotea catharinensis e bra de dormência, quando presente. As plântulas produzidas no Enclicheria paniculata (Lauraceae). Revista Brasileira de Botânica. laboratório foram replicadas em sacos plásticos pretos (25 cm Æ x 22: 287-295. 35 cm de altura) com capacidade para 2,0Kg. A produção de mu- PRIMACK, R.B. & RODRIGUES, E. 2001. Biologia da Conservação. das deu-se também pelo plantio direto em semeadeiras e em sacos Londrina, PR. 328p. de plásticos apropriados, ambos no viveiro de mudas no Campus do CETEC. As mudas foram mantidas na casa de vegetação onde SANTOS, M.C. & VALCARCEL, R. 1997. Efeito de tratos silviculturais eram regadas constantemente. na formação do cinturão verde em áreas de empréstimo. In: III Foram feitas coletas de dados semanais de 30 exemplares de Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. 18 a 24 cada espécie com tamanho inicial semelhante no período de no- de Maio. Ouro Preto, MG. p. 511-513. vembro de 2001 a junho de 2002. Eram anotados os diâmetros à SPOSITO, T.C.D, 1999. Tamanho, forma, alometria e crescimento de altura do solo (DAS), as alturas até as gemas apicais (Alt) e o algumas espécies de Cecropia (Cecropiaceae) do Brasil. Instituto de número de folhas sadias e danificadas. Também foram tiradas foto- Biologia. Universidade Estadual de Campinas. Tese de Doutorado. grafias de um indivíduo representante de cada espécie para regis- WHITMORE, T.C. 1982. On Petterns and Procedss in forest. In: trar e ilustrar o crescimento. Newman, E.I. (ed) The plant community as a working mechanism. Para análise dos dados, foram calculados os incrementos (di- Britsh Ecological Society Special Publications No. 1. Oxford ferenças das medidas finais e iniciais) em altura e em DAS para cada Blackwel Scientific Publications p. 45-59. espécie. Também foi analisado o vigor das mudas de cada espécie (medida do diâmetro sobre a altura). Agradecimentos: 3. Resultados Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta- As médias dos incrementos das alturas e dos DAS encontra- do de Minas Gerais - FAPEMIG dos para as espécies pionerias foram, respectivamente: Candeia

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 371 Cerrado Volume I

Herbivoria em Vellozia squamata Pohl (Velloziaceae) O diâmetro foi mensurado com um paquímetro com medição em cerrado sensu stricto no Distrito Federal, Brasil. de 0,1mm de precisão. A altura total foi obtida com uma trena de Amaral, P.S.T1([email protected]), Medeiros, M.A1., Silva,.R. R1., medição de 1mm de precisão. O comprimento de cada módulo foi Silva, R. S1., obtido com uma fita métrica, esticada desde a base do módulo até Rodrigues, A. P1. & Hay,J2 a gema apical. As estruturas reprodutivas, quando presentes, eram 1 Alunos do Curso de Pós-graduação em Ecologia.Departamento e contadas e computadas por indivíduo e em que módulo se encon- Ecologia. Instituto de Ciências Biológicas Universidade de Brasília. travam. Levou-se em conta também o período em que surgiram: Cep: 70.910-900. recente, quando a estrutura surgiu em 2003; passada, quando se 2 Professor do Curso de Pós-graduação em Ecologia. Departamento e tratava de estrutura de anos anteriores. Ecologia. Instituto de Ciências Biológicas. Universidade de Brasília. Para a análise de dados, os 38 indivíduos de V. squamata foram Cep: 70.910-900. divididos em classes de altura, determinadas pela equação N = A/ R, onde A = amplitude e R = algorítimo de Sturges (Paixão, 1993). 1. Introdução Foi utilizado o teste do Qui-quadrado (p<0,05) para verificar as Estima-se que em média mais de 10% da produção vegetal em diferenças entre as proporções nas classes de comprimento de ecossistemas naturais é consumida anualmente pelos herbívoros e módulos vivos e mortos. Para verificar a relação entre o porte dos que o a herbivoria não é igualmente distribuída entre todas as indivíduos e as taxas de predação, o número de módulos e as taxas espécies de plantas(Coley et.al, 1985). Os herbívoros exercem uma de predação e o número de perfurações e estruturas reprodutivas forte pressão seletiva sobre plantas e influenciam o sucesso foi utilizado o teste de correlação de Pearson (p<0,05). reprodutivo delas. A produção de defesas é favorecida pela seleção 3. Resultados e Discussão natural quando o custo da produção é menor que o benefício da Os 38 indivíduos analisados foram separados em seis classes de proteção contra os herbívoros (Coley et. al 1985). Existem, no altura determinadas por: A (0,5 – 0,88m), B (0,89 – 1,27m), C entanto, alguns trabalhos a respeito de herbivoria em plantas nati- (1,28 – 1,66m), D (1,67 – 2,05m), E (2,06 – 2,44m) e F (2,45 – vas do Cerrado (Diniz et al., 1995, 2001; Diniz & Morais, 1997; 3,0m). As medidas de altura apresentaram média de 1,33 m (dp=0,5 Landau et al.,1998; Loyola & Fernandes, 1993; Nascimento & m), e as medidas de circunferência do caule variaram entre 21,5 e Hay, 1993,1994).Na região dos Cerrados, há uma típica espécie 92 cm, com média 48,78 cm (dp=16,5 cm). modular denominada Vellozia squamata Pohl ou canela-de-ema,. O número de módulos variou entre 1 e 42, com média de Vellozia squamata Pohl (Velloziaceae) é um arbusto perene, de fo- 12,58 (dp=12,2) por indivíduo. O resultado da análise estatística lhas duras e alongadas densamente dispostas em espiral, concen- mostra que há diferenças significativas entre as proporções nas tradas no ápice da planta. Possui caules nodosos, sempre nus na classes de altura de módulos mortos e vivos (X2 = 36,5154; p< parte inferior e, geralmente, com bifurcações. Suas flores são gran- 0,05), sendo que há predominância de módulos vivos nas classes de des e solitárias (Joly, 1991), com tépalas lilases semelhantes a lírios. altura intermediária (C), inicial (A) e final (F). Oliveira et al. (1991) estudaram a biologia reprodutiva de V. squamata O número de perfurações por indivíduo apresentou média de mostrando que a fenologia de floração da espécie é diferenciada, 3,68 (dp=6,75). Foi verificada uma correlação significativa entre o que não é encontrada em nenhuma outra planta do cerrado, em tamanho dos indivíduos e número de perfurações (r=0,41; p<0,05). congêneros e nem em outras Velloziaceae. A floração acontece de Indivíduos incluídos na classe C apresentaram maior número de março a junho (Almeida et al., 1998). Cada ramo possui uma gema perfurações. Estes dados estão de acordo com a hipótese que plan- apical e pode ser considerado como um módulo. tas de maior porte permitiriam maiores populações de herbívoros Sabendo-se que o conhecimento ecológico da flora do cerrado, e seriam mais visualmente expostas aos insetos (Collevatti & Hay bem como das relações inseto-planta são ainda insipientes, o presen- 1996). Em Metrodorea pubescens, Nascimento & Hay (1993) tam- te estudo tem como objetivo analisar os processos de herbivoria, bém observaram maiores taxas de predação em indivíduos de mai- relacionando-os com o desenvolvimento da espécie estudada. or porte e, Loyola Jr. & Fernandes (1993), estudando a herbivoria 2. Métodos por insetos em Kielmeyera coriacea (Guttiferae), também observa- O estudo foi realizado em uma área de cerrado sensu stricto, na ram que os insetos eram mais abundantes nas plantas adultas. A Fazenda Água Limpa (FAL), uma estação ecológica experimental influência da altura da planta e do número de flores sobre a herbivoria pertencente à Universidade de Brasília, DF, Brasil. A FAL está foi estudada por Landau et al. (1998) em Vellozia nivea. As espécies localizada a 15º57’33” S e 47º55’52” W e possui uma área de, encontradas pertencem às ordens Coleoptera, e aproximadamente, 4062ha. A topografia é variada, sendo a altitu- Thysanoptera, não sendo registrada nenhuma espécie perfuradora de média de 1100m. O clima da área de estudo é aquele classifica- do tronco. Os dados de altura e número de flores por planta não se do para o Distrito Federal que, de acordo com a classificação de relacionaram com a riqueza de herbívoros, mas mostraram relação Köppen, é “tropical de Savana”, com a concentração da precipita- com a abundancia. ção pluviométrica no verão (outubro-abril). O clima é sazonal, Também foi verificada uma correlação significativa entre o com um inverno frio e seco (maio a setembro) e um verão quente número de módulos e número de perfurações (r=0,64, p<0,05), o e úmido nos outros meses. A temperatura média anual varia de 18º que significa um aumento de predação em indivíduos com arquite- a 22º C, sendo os meses de setembro e outubro os mais quentes, tura mais complexa. É provável que a maior complexidade estrutu- com médias superiores a 22º C, e o mês de julho como o mais frio, ral das plantas permita uma maior colonização de herbívoros devi- com temperaturas médias que variam entre 16ºC e 18ºC. A preci- do à maior riqueza de microhabitats, como observado em Collevatti pitação média anual varia entre 1200mm a 1700m. & Hay (1996). (www.semarh.df.gov.br/site/cap03/03.htm). Em relação à predação, seis indivíduos (15,8%) apresentaram Durante o estudo, realizado em maio de 2003, foram analisa- folhas comidas, indicando o ataque por larvas de Lepidoptera. dos 38 indivíduos, escolhidos ao acaso, de Vellozia squamata, dos Diniz et al. (2001) apresentaram uma lista de 416 espécies de 36 quais obteve-se, por indivíduo, o diâmetro da base do caule à 30cm famílias de Lepidoptera e suas plantas hospedeiras no Cerrado do do solo, a altura total (do chão até o módulo mais alto), o número Distrito Federal. Nesta lista citaram a presença de Fregela semiluna de módulos (acima de 10cm de comprimento), o comprimento de (Walker) (Arctiidae) em Vellozia sp. Esta espécie é generalista e cada módulo, a presença/ausência de estruturas reprodutivas (flo- apresentou maior amplitude de dieta, sendo capaz de se alimentar res e/ou frutos), presença/ausência de perfurações e o número de e completar seu ciclo biológico em 21 famílias de plantas. Apesar módulos vivos e mortos. do grande esforço de coleta empregado para a realização deste

372 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado trabalho, os autores ponderam que a lista representa cerca de 5% Dinâmica populacional da planta clonal Leiothrix do número estimado de lepidópteros presentes no cerrado. spiralis (Eriocaulaceae)em campo rupestre da Serra Não foi observada correlação significativa (r=0,09; p>0,05) en- do Cipó, MG. tre o número de estruturas reprodutivas e o número de perfurações. Ana Carolina O. Neves a, Leonardo Quirinob , Flávia de Freitas Assim, aparentemente não há relação entre uma maior oferta de Coelhoc , Christina Capelod frutos e predação. Oliveira et al (1991) registrou a predação durante & José Eugênio Côrtes Figueirae a fase inicial de desenvolvimento dos frutos de Vellozia pela abelha a Graduação Universidade Federal de Minas Gerais sem ferrão Trigona spinipes e por um gafanhoto não identificado. ([email protected]) 4. Conclusões b Instituto Izabella Hendrix Apesar da pequena quantidade de dados coletados nesse estu- c Doutorado Universidade Federal de Minas Gerais do podemos notar que há uma similaridade dos padrões encontra- d Graduação Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais dos com estudos antecedentes. Relações como tamanho do indiví- e Professor adjunto Universidade Federal de Minas Gerais duo e taxa de herbivoria são corroboradas pela literatura, porem nossos dados são muito preliminares, se fazendo necessário uma 1.Introdução maior investigação com estudos a longo prazo mostrando a As Eriocaulaceae são notáveis do ponto de vista ornamental. sazonalidade e possíveis predadores. De acordo com Giulietti (1987), encontram-se na área do Par- 5. Referências Bibliográficas que Nacional da Serra do Cipó cerca de 84 espécies desta família. Almeida, S.P., Proença, C.E.B., Sano, S.M., Ribeiro, J.F. 1998. Cerra- Estas plantas recebem a designação de sempre-vivas e, devido à do: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC,1ªed., 464p. sua coleta indiscriminada, estão ameaçadas de extinção (Giulietti Collevatti,R.G. & Hay,J. D. 1996. Arquitetura e riqueza de herbí- & Menezes 2000). A reprodução clonal desenvolveu-se como alternativa para a voros em Ouratea hexasperma Baill. (Ochnaeae), em um cerrado da reserva ecológica do IBGE,Brasília,DF.In: Leite,L. L. & Saito,C.H. reprodução sexuada na maioria das espécies de Eriocaulaceae. No Contribuição ao conhecimento Ecológico do Cerrado-Trabalhos gênero Leiothrix ocorrem várias estratégias reprodutivas clonais não usuais, que só agora começam a ser quantificadas (Coelho et al. selecionados do 3o Congresso de Ecologia do Brasil. Brasília, Dept. Ecologia-Universidade de Brasília. 2002, Del Sarto & Figueira 2001a,b). Este gênero que se restringe à América do Sul, tem na Serra do Cipó sua maior diversidade Coley, P.D.; Bryant, J.P. & Chapin III, F.S. 1985. Resource Availablility genética: cerca de 19 espécies (Giulietti & Hensold 1990). and Plant Antiherbivory Defense. Science, 230 (4728):895-899. A morfologia de plantas clonais resulta do crescimento coor- Diniz, I.R, Morais, H.C. & Camargo, A.J.A. 2001. Host of denado de células que formam o meristema, levando ao desenvol- Lepidopteran caterpillars in the Cerrado of the Distrito Federal, Brazil. vimento de ramos vegetativos ou hastes, o que garante a aquisição Revista Brasileira de Entomologia, 45 (2): 107-122. de recursos e a capacidade de expansão para novas áreas. Uma Diniz, I.R. & Morais, H.C. 1997. Lepidopteran caterpillar fauna of forma de reprodução clonal é a pseudoviviparidade. Nesta, Cerrado host plants. and Conservation, 6: 817-836. propágulos assexuais são gerados a partir de tecidos reprodutivos (Elmqvist, 1996). Segundo este autor, espécies pseudovivíparas Diniz, I.R.; Morais, H.C.; Botelho, A.M.F.; Venturali, F.; Cabral, ocorrem em ambientes fortemente sazonais, áridos ou semi-áridos B.C. 1995 Lepdopteran caterpila fauna on lactiferuos host plants in the e em elevadas altitutes e latitudes. central Brazilian Cerrado. Rev. Brasil. Biol, 59 (4): 627-635. Leiothrix spiralis, uma das espécies mais abundantes e bem distri- Joly, A.B.1991.Botânica: introdução à taxonomia vegetal. 10ª ed., buídas do gênero no ParNa Cipó, ocorrendo em altitudes acima de São Paulo: Editora Nacional. 1000m, apresenta 3 formas de reprodução: a) sexuada, através da Landau, E.C.; Gonçalves-Alvim, S. de J.; Fagundes, M. & Fernandes, produção de sementes em inflorescências do tipo capítulo; b) clonal, G.W. 1998. Riqueza e abundância de herbívoros em flores de Vellozia a partir de brotamentos do meristema caulinar (rizoma) e c) clonal, nívea (Velloziaceae). Acta Bot. Bras., 12(3): 403-409. por pseudoviviparidade, por brotamentos vegetativos da região cen- Loyla Jr., R. & Fernades, W. 1993. Herbivoria em Kielmeyra coriacea tro-apical dos capítulos (Monteiro-Scanavacca et. al. 1976). Neste (Guttiferare): efeito da idade da planta, desenvolvimento e aspectos processo ocorre o crescimento das hastes que sustentam os capítu- qualitativos de folhas. Rev. Brasil. Biol., 53(2):295-304. los, que originam pequenas rosetas (rametes), capazes de se enraizar quando tocam o solo. Estes rametes logo tornam-se independentes Morais, H.C., Diniz, I.R. & Hay, J.D. Grau de especificidade de dieta: através do rompimento das hastes de até 60 cm. lagartas em plantas hospedeiras do Cerrado.“Em preparação”. Mesmo existindo muitas espécies de Leiothrix endêmicas na Morais, H.C., Diniz. I.R., Silva, D.M.S. 1999. Caterpillar seasonality região de Minas Gerais, há carência de pesquisas sobre a biologia in a Central Brazil Cerrado. Rev. Biol. Trop., 47(4): 1025-1033. reprodutiva e ecologia destas plantas. Estudos urgentes são neces- Nascimento, M.T. & Hay, J.D. 1993. Intraespecific variation in sários, uma vez que espécies do gênero já estão extintas ou herbivory on Metrodorea pubescens (Rutaceae) in two forest types in ameaçadas (Giulietti & Menezes 2000). As principais ameaças são Central Brazil. Rev.Brasil.Biol., 53(1):143-153. o extrativismo (Saturnino et al.1977) e o fogo, que é ateado por Nascimento, M.T. & Hay, J.D. 1994. The impact of simulated coletores de sempre-vivas para induzir florações em massa (Bedê, folivory on juveniles of Metrodorea pubescens (Rutaceae) in a Gallery em prep.), visando a renovação dos pastos ou mesmo criminosa- Forest near Brasilia, Federal District, Brazil. Journal of Tropical mente (Miranda 2002). O fogo pode atingir populações de Leiothrix Ecology, 10:611-620. em plena fase reprodutiva, matando indivíduos e rompendo as conexões entre os membros dos clones (obs. pess.). Oliveira, P.E.; Gibbs, P.E. & Bianchi, M. 1991. Pollination and Com o objetivo de conhecer a ecologia e dinâmica populacional breeding system of Vellozia squamata (Liliales: Velloziaceae): a species of de Leiothrix spiralis, uma população foi acompanhada de setembro the Brazilan Cerrados. Bot. Acta, 104:392-398. de 2002 a junho de 2003. O conhecimento gerado poderá ajudar Paixão, I.L.S.C. 1993. Estrutura e dinâmica de populações de espécies a definir estratégias para conservar e manejar suas populações. arbustivo-arbóreas das vertentes norte e sul do Morro da Boa Vista, Além disso, a comparação das estratégias de vida de L. spiralis com Maciço da Tijuca, RJ. Tese de doutorado. Universidade Estadual de outras espécies do gênero poderá ajudar a compreender a varieda- Campinas, Campinas. de de opções evolutivas originadas durante a irradiação destas plan- tas nas serras da cadeia do Espinhaço (Coelho et. al, 2003).

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 373 Cerrado Volume I

Neste estudo, tentamos responder às seguintes questões: a) Ao longo dos meses, a estrutura da população variou muito, Como se caracteriza a estrutura populacional de L. spiralis e como mostrando que o crescimento das rosetas pertencentes a uma mesma ela se modifica ao longo do tempo; b) Como varia a probabilidade classe de tamanho não é uniforme. A reprodução através da de reprodução com o tamanho das rosetas; c) Como varia a produ- pseudoviviparidade concentrou-se no período de dezembro a junho, ção de capítulos com o tamanho das rosetas; c) Qual a probabili- enquanto a reprodução através de rizomas ocorreu em fevereiro. A dade de transformação de capítulos em rosetas; d) Qual a impor- reprodução sexuada foi maior nos meses em que existiam capítulos tância relativa da reprodução sexuada x clonal. na população, mas quando estes estavam ausentes, novos indivíduos 2. Métodos também foram gerados, embora em menor quantidade. Isto aponta A área estudada encontra-se no ParNa Cipó, a ~1500m de para a possibilidade de formação de banco de sementes. altitude, próximo do Km 122 da rodovia MG-10. O Parque situa- Em junho, havia 155 indivíduos na população, distribuídos em se na parte sul da cadeia do Espinhaço, na área central do Estado 10 classes de tamanho de roseta, variando de 0 a 5cm. As classes de Minas Gerais, entre as coordenadas 19o12’ e 19o 34’ S e 43o 27’ melhor representadas foram as de 0,5 a 1,0cm, 1,0 a 1,5cm e 1,5 a e 43o 38’ W. O clima da Serra do Cipó é do tipo tropical de 2,0cm, correspondendo, respectivamente, a 20,6%, 15,5% e 14,8% altitude (Cwb de Köppen 1931), com verões frescos e estação seca da amostra. A maior freqüência de indivíduos com diâmetros me- bem pronunciada (abril a setembro). As temperaturas médias anu- nores foi devida ao recrutamento de novas plantas, principalmente ais oscilam entre 17o e 18,5oC e as precipitações médias, entre através da pseudo-viviparidade. Nesta época, havia ainda na popu- 1.450 e 1.800 mm, apresentando um déficit hídrico anual que lação 66 capítulos não diferenciados em rosetas. pode chegar a 60 mm. A vegetação da área de estudo é predomi- De setembro a junho, 2,7% dos indivíduos que surgiram nesta nantemente composta por gramíneas e o solo é arenoso. L. spiralis população originaram-se através da reprodução por rizoma, 28,8% predomina em solos desnudos. provavelmente por reprodução sexuada e 68,5% através da pseudo- Para a obtenção de dados referentes à demografia e dinâmica viviparidade. Muitos autores (e.g. van der Pijl 1983 apud Elmqvist da população desta espécie, todos os indivíduos situados dentro de 1996) sugerem que a pseudoviviparidade é favorecida quando a um quadrado de 0.48m2 foram marcados com placas de metal produção de propágulos grandes é vantajosa, ou seja, quando a numeradas. De setembro de 2002 até junho de 2003 (com exceção germinação e o desenvolvimento de raízes profundas precisam ocor- de novembro e abril) foram tomadas, mensalmente, as seguintes rer nos breves períodos com condições favoráveis. Desta forma, a medidas: a) Diâmetro das rosetas, b) Número de capítulos produ- sazonalidade bem definida na Serra do Cipó, com elevado déficit zidos, c) Freqüência de capítulos transformados em rosetas, d) hídrico na estação seca, agravada pelas características do solo, que Número de rosetas ligadas por rizoma, e) Número de indivíduos se torna extremamente compacto na seca, pode explicar a prevalência que morreram. Para observar as modificações na estrutura da po- da pseudoviviparidade como forma de reprodução em L. spiralis. pulação ao longo do tempo, os indivíduos foram agrupados em Tem sido sugerido (Cook 1985) que a dinâmica populacional de classes de tamanho de roseta (de 0,5cm). Foram calculadas: proba- plantas clonais é basicamente determinada pelo nascimento e mor- bilidade de reprodução, produção de capítulos e probabilidade de te de rametes e que o recrutamento de novos genetes através de transformação de capítulos em rosetas. As análises estatísticas fo- sementes é raro. ram feitas utilizando-se o programa SYSTAT 5.0. 4.Conclusão 3.Resultados e Discussão L. spiralis é uma planta policárpica, com reprodução anual. O Em setembro, a população de L. spiralis estudada possuía 104 recrutamento é determinado principalmente pela proliferação de indivíduos, distribuídos em 10 classes de tamanho, variando de 0 a rosetas originadas de capítulos. Estas rosetas logo se enraízam, apro- 5cm. A classe com maior freqüência foi a de 0,5 a 1,0cm, seguida veitando o breve período em que as condições para o estabelecimen- pelas de 2,0 a 2,5cm e 2,5 a 3,0cm, correspondendo, respectiva- to são ideais, como solo úmido e macio, que ocorrem durante a mente, a 25,0%, 21,2% e 16,4% da amostra. Esta distribuição estação chuvosa. O crescimento destas rosetas é rápido: no final da concentrada em poucas classes de tamanho provavelmente se deve estação chuvosa, elas já atingiram tamanhos nos quais a reprodução ao fato da maioria destas plantas ter-se originado em um evento de é possível, embora não tenha sido verificada. Nesta época, a estrutu- reprodução clonal por pseudoviviparidade ocorrido na estação ra populacional era semelhante à do ano anterior, com predominân- anterior. Nesta época, 79 indivíduos encontravam-se independen- cia de indivíduos de até 2.0cm, sugerindo alta taxa de substituição. tes e 20 encontravam-se ligados por rizoma. Foi observada uma Sua dinâmica é, portanto, marcada por processos populacionais rá- única haste portando capítulo e 5 rametes enraizados, ligados a pidos (Apoio CNPq, processo 109.831/01-2). plantas adultas, remanescentes da última estação reprodutiva. Em 5. Referências Bibliográficas outubro, todas estas hastes haviam sido rompidas. Bedê, L.C. Busca de alternativas para o uso sustentado de sempre- Com o início da estação chuvosa, em dezembro, um novo ciclo vivas na região de Diamantina, MG: estudo dos efeitos decorrentes reprodutivo iniciou-se, sendo produzidos 133 capítulos. Esta pro- do manejo extrativista sobre a dinâmica populacional de dução aumentou com o diâmetro das rosetas reprodutivas (Cap = Syngonanthus venustus (Eriocaulaceae). Tese de Doutorado, em 2 3,2 Diam – 7,3, r = 0,657, p < 0,001, n = 37). O diâmetro mínimo preparação. para a produção de capítulos foi de 2,0cm. A probabilidade de Coelho, F.F., Figueira, J. E. C., Del Sarto, M. C. L., Souza, J. D., reprodução (excluindo-se a reprodução por rizoma) aumentou com Palhares, C. A., Gomes, D. L. M & Ferreira, R. M. (2002). The o tamanho das rosetas, atingindo seu máximo em 4,0cm, quando cloning reproductive strategies of Leiothrix (Eriocaulaceae) in todos os indivíduos passaram a produzir capítulos. rupestrian grasslands, SE. Trabalho apresentado durante o 45th Com o crescimento das hastes, em dois meses, os primeiros Symposium of the International Association for Vegetation Science, capítulos já tocavam o solo, originando pequenas rosetas. O es- Porto Alegre - 03 a 08 de fevereiro. tabelecimento de novos indivíduos originados por pseudoviviparidade prosseguiu até o mês de maio, com o início Coelho, F. F., Capelo, C., Neves, A. C. O., Vale, F. H. A., Goulart, E. da estação seca. Foram produzidos em média 1.13 rosetas por & Figueira, J. E. C. (2003). Crescimento clonal em plantas do gênero indivíduo reprodutivo. O rompimento das hastes iniciou-se em Leiothrix (Eriocaulaceae) na Serra do Cipó-MG. VI Congresso de março (um mês após o estabelecimento das primeiras rosetas) e Ecologia do Brasil. Fortaleza, 09 a 14 de novembro de 2003. prosseguiu até junho, sendo que este processo deve continuar Cook, R.E. (1985). Growth and development in clonal plant nos meses seguintes. Até o mês de junho, a probabilidade de populations. In Population Biology and Evolution of Clonal transformação de capítulos em rosetas foi de 0,33. Organisms (eds. Jackson JBC, LW Buss & R. Cook) pp. 259-296.

374 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Yale University Press, New Haven. cem estar também envolvidos com o desenvolvimento do pênfigo Del Sarto, M.C. & Figueira, J.E.C. (2001a). Potencial Reprodutivo foliáceo, ou fogo selvagem, endêmico nos Estados de São Paulo, da Planta Clonal Leiotrix sp (Eriocaulaceae) em Campos Rupestres de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Minas Gerais. V Congresso de Ecologia do Brasil, Porto Alegre, RS. Sul. Essa doença é caracterizada pelo aparecimento sucessivo de bolhas e vesículas. Inicialmente elas aparecem na boca e na gargan- Del Sarto, M.C. & Figueira, J.E.C. (2001b). Potencial de Disper- ta e depois no resto do corpo, causando uma sensação de ardor ou são dos Rametes da Planta Clonal Leiotrix sp (Eriocaulaceae) em queimação. Foi observado que a doença sempre estava presente em Campos Rupestres de Minas Gerais. V Congresso de Ecologia do locais com grandes quantidades de borrachudos. Aparentemente, Brasil, Porto Alegre, RS. as picadas de simulídeos irrompem determinado tipo de reação Elmqvist, T. & Cox, P. A. (1996). The evolution of vivipary in imunológica, que provoca o surgimento do quadro clínico da do- flowering plants. Oikos77: 3-9. ença (EATON et al, 1998). Giulietti, A. M., Menezes, N. L., Pirani J. R., Meguro M. & O estudo da família Simuliidae no Brasil teve início com Adolph Wanderley, M. G. L. (1987). Flora da Serra do Cipó, Minas Ge- Lutz em trabalhos de 1909, 1910, 1917 e 1922 que descreveram rais: caracterização e lista das espécies. Bolm Botânica, Univ. S. grande parte das espécies encontradas no território brasileiro. De Paulo 9: 1- 151. acordo com o levantamento apresentado no catálogo de Crosskey Giulietti, A. M. & Menezes, N. L. (2000). Campos rupestres, pp. e Howard (1996) estão listadas cerca de 78 espécies e no mundo 65-73. In Mendonça, M. P. & Lins, L. V. (orgs.) Lista Vermelha das estão listadas cerca de 1663 espécies vivas e 10 espécies fósseis. espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais. Fundação Como a família é um grupo muito homogêneo, as chaves para Biodiversitas, Fundação Zoobotânica. identificação e descrições apropriadas são escassas. Há controvér- sia quanto à situação taxonômica de várias espécies de simulídeos Giulietti, A. M. & Hensold, N. (1990). Padrões de distribuição no Brasil. Atualmente, a fim de um estudo mais completo, são geográfica dos gêneros de Eriocaulaceae. Acta Botânica Brasílica 4: empregadas técnicas de conhecimentos citogenéticos, biológicos e 133-158. outras técnicas (MAIA-HERZOG, 1991). Shelley et al (1982 e Miranda, C. A. (2002). Dinânica de Combustível Vegetal na Serra do 1987) levantaram e confirmaram a suspeita da existência de com- Cipó: Paepalanthus polyanthus como bioindicadora. Dissertação de plexos de espécies entre os simulídeos no Brasil. Mestrado. Pós Graduação em ECMVS, UFMG. Belo Horizonte. Os objetivos deste trabalho são o de melhor conhecer a Monteiro-Scanavacca, W. R., Mazzoni, S. C. & Giulietti, A. M. simuliofauna da região afetada pela construção do Aproveitamento (1976). Reprodução vegetativa a partir da inflorescência em Múltiplo de Manso, no estado do Mato Grosso e também o de Eriocaulaceae. Bolm Botânica, Univ. S. Paulo 4: 61-71. identificar as espécies antropofílicas da região. Saturnino, H.M., Saturnino M.A.C. & Ferreira M.B. (1977). Al- 2. Métodos gumas considerações sobre exportação e importação de plantas A Usina Hidrelétrica de Manso (APM Manso) encontra-se a ornamentais em Minas Gerais. An. Soc. Bot. Bras. 28: 213-217. 100 quilômetros de Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso, no município de Chapada dos Guimarães. A Usina foi construída no Rio Manso, principal afluente do Rio Cuiabá. Dados preliminares sobre a simuliofauna em área A região do lago formado pela construção do APM Manso foi sob influência do Aproveitamento Múltiplo de dividida em quatro quadrantes, a serem estudados em quatro viagens Manso, Mato Grosso, Brasil à região. Em cada viagem, todos os rios, córregos ou filetes de água Ana Carolina S. Valente*, Antonio Paulino A. Luna Dias; Marilene que, aprentemente, apresentassem as condições necessárias para o Costa Alves & Marilza Maia Herzog** desenvolvimento dos imaturos dos simulídeos foram investigados. Laboratório de Simulídeos e Oncocercose, Deptº de Entomologia, Uma vez no campo, data, hora, pH, temperatura da água e do Fundação Oswaldo Cruz ambiente, dimensões e tipo de leito do rio, vegetação, dentre ou- (*[email protected]; **[email protected]) tros, foram observados e anotados. Palavras-chave: Simulídeos, APM Manso – MT, Levantamento. No momento da coleta, os imaturos e seus respectivos substratos eram acondicionados em sacos plásticos arejados e os exemplares 1. Introdução adultos coletados picando em humanos, colocados em recipientes Os simulídeos são dípteros, nematóceros e pertencem à Famí- próprios. Todo o material foi acondicionado em caixas térmicas lia Simuliidae. No Brasil são conhecidos como borrachudos, piuns com gelo, para evitar deterioração do material com o aumento da ou casaquinhos-de-couro. Já nos países de língua inglesa, são conhe- temperatura. cidos como blackflies e nos de língua espanhola, jejenes. As pupas foram colocadas em recipientes de vidro para obten- Em geral apresentam cor escura, asas largas, pernas curtas e ção de adultos e as larvas, em álcool etílico a 80%. Após a triagem, tórax arqueado, característica mais proeminente nos machos as pupas não emergidas foram acondicionadas em álcool etílico a (ROSS, 1965). 80% e cerca de 60% dos adultos obtidos (tanto por emergência ou As espécies antropofílicas, normalmente, apresentam pica- repasto humano) foram alfinetados e 40% acondicionados em ál- das dolorosas. O indivíduo atacado pode apresentar reação alér- cool, para futura montagem de lâminas microscópicas. gica (KIM & MERRIT, 1987). Segundo ROSS (1965), as regi- 3. Resultados ões do corpo preferidas para o repasto são áreas expostas do A primeira viagem foi realizada em Outubro de 2002, época de rosto, mãos e tornozelos. No Brasil, as espécies que transmitem seca na região. Foram visitadas 30 (trinta) criadouros, sendo que a oncocercose procuram, mais freqüentemente, a região inferi- em 09 (nove) deles nada foi encontrado, embora, aparentemente, or do corpo para o repasto. apresentassem as condições necessárias para o desenvolvimento Os simulídeos podem ser vetores de diversos patógenos, que dos imaturos do simulídeo. A temperatura da água variava próximo incluem vírus, protozoários e nematódeos. O nematódeo aos 20ºC e o pH em torno de 6,0. Onchocerca é de particular importância, pois além dos humanos Foram encontradas apenas 02 (duas) espécie em hematofagia, infecta outros animais, causando a Oncocercose (CUPP, 1996). A sendo uma S. minusculum. Através das pupas, obtivemos 67 (ses- oncocercose humana, denominada na África de cegueira dos rios, é senta e sete) adultos alfinetados, dentro os quais 33 (trinta e três) caracterizada pela formação de nódulos e, nos seus estágios mais fêmeas e 34 (trinta e quatro) machos. avançados, pode levar à cegueira irreversível. Estes dípteros pare- Até o momento, foram identificadas as seguintes espécies para

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 375 Cerrado Volume I os obtidos através das pupas: S. auripellitum, S. nigrimanum, S. 1 - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zoologia de perflavum, S. venezuelense, S. minusculum e uma nova espécie. Vertebrados da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 4. Conclusão 2 - Docente do Programa de Pós-Graduação em Zoologia de De acordo com o catálogo de Crosskey e Howard (1996) S. Vertebrados da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais auripellitum, S. nigrimanum, S. perflavum, S. venezuelense, S. 3 - Endereço Eletrônico: [email protected] minusculum, já haviam sido assinaladas na região. A espécie nova foi denominada S. tangaraense e o diagnóstico 1. Introdução da espécie entregue para publicação nas Memórias do Instituto A vocalização é reconhecida como o mais importante sinal de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ comunicação para a maioria dos anfíbios anuros, embora a utiliza- 5. Referências Bibliográficas ção de sinais químicos, táteis e visuais seja observada em algumas CUPP, E. W., 1996 Blackflies and the Agents they transmit In espécies (Pough et al., 1998). Beaty, B. J. & Marquardt, W. C. The Biology of Disease Vectors. Reconhece-se uma grande variação na taxa e frequência de Colorado, University Press of Colorado, 1996. pulsos sonoros emitidos pelas diversas espécies de anuros, sendo observada uma partilha acústica e espacial dentro de uma determi- CROSSKEY, R. W., HOWARD, T. 1996 A new taxonomic and nada comunidade (Duellman & Trueb, 1994). O canto pode ser geographical inventory of world blackflies (Diptera: Simuliidae) composto por diversos tipos de chamados, como sons curtos Department of Entomlogy, The Natural History Museum, (“clicklike”), sons agudos (“tonelike”) e sussurros com diferentes London, UK. frequências, além de uma variedade de sons simples ou cantos KIM, KE CHUNG & MERRIT, RICHARD W. Blackflies; p. compostos, formados por uma série de pulsos sonoros distintos XIII, 1986. ISBN: 0 – 271 – 00417 – 7. (Pough et al., 1998). Observa-se ainda que as propriedades acústi- EATON, D.P.; DIAZ, L. A.; HANS-FILHO, G.; SANTOS, V.; cas do canto em anuros são também afetadas pelo tamanho corpo- AOKI, V.; FRIEDMAN, H.; RIVITTI, E. E.; SAMPAIO, S. A. P.; ral e pelo tamanho relativo do aparato vocal dos indivíduos GOTTLIEB, M. S.; GIUDICE, G. J.; LOPEZ, A.; CUPP, E. W. & (Duellman & Trueb, 1994). THE COOPERATIVE GROUP ON FOGO SELVAGEM A vocalização em anuros apresenta várias funções, sendo reco- RESAERCH., 1998. Comparison of Black Fly Species (Diptera: nhecidos diversos tipos de canto. Segundo Duellman & Trueb Simuliidae) on na Amerindian Reservation with a High Prevalence (1994) os cantos podem ser agrupados em canto de anúncio, que of Fogo Selvagem to neighboring Disease-Free Sites in the State of se subdivide em territorial, de encontro e de acasalamento; canto Mato Grosso do Sul, Brazil, J. Med. Entomol. 35 (2): 120-131. de reciprocidade; canto de soltura e canto de alívio. Os cantos de LUTZ, A. Contribuição para o conhecimento das espécies brasi- anúncio são caracterizados como vocalizações primárias que pos- leiras do gênero Simulium. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. Rio de suem função na atração de fêmeas e enviam mensagens de ocupa- Janeiro, 1: 124-146, 1909. ção territorial, correspondendo à primeira categoria no escalonamento de comportamentos territoriais (Haddad & Car- LUTZ, A. Segunda contribuição para o conhecimento das espéci- doso, 1989). Evidências atuais sugerem que os cantos de anúncio es brasileiras do gênero Simulium. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. Rio variam entre e em populações de uma mesma espécie e que fêmeas de Janeiro, 2: 213-267, 1910. preferem algumas variações de canto a outras (Tárano, 2001). LUTZ, A. Terceira contribuição para o conhecimento das espécies Entretanto, é difícil determinar se a seleção sexual exercida pelas brasileiras do gênero Simulium: o Piun do Norte. Mem. Inst. fêmeas atua sobre o tamanho do macho ou sobre a frequência dos Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 9: 124-146, 1917 cantos, caracteres fortemente relacionados em algumas espécies de LUTZ, A. Zoológica médica: Nematoceros hematophagos não perten- anuros (Ryan, 1983 apud Haddad & Cardoso, 1992). centes aos Culicídeos. A folha médica. Rio de Janeiro, 3: 89-92, 1922 Desta forma, o presente estudo objetivou investigar a existên- cia de correlação entre o tamanho dos machos de Hyla rubicundula MAIA-HERZOG, M. Estudos Comparativos de Simulium e o número de pulsos sonoros emitidos durante o processo de (Psaroniocompsa) Incrustatum e Simulium (Psaroniocompsa) vocalização, em um intervalo de tempo determinado, contribuin- yarzabali (Diptera: SIMULIIDAE). Dissertação (Mestrado em do para o entendimento do processo de seleção sexual desempe- Parasitologia Veterinária), Tese de Mestrado não publicada, Uni- nhado pelas fêmeas da espécie estudada. versidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1991. 2. Metodologia a ROSS, HERBERT H. A textbook of Entomology, 3 edição, Área de Estudo New York, 1965; p. 376. ISBN: 0–471–73692– 9. O presente estudo foi desenvolvido na Serra do Cipó, loca- SHELLEY, A. J.; PINGER, R. R. & MORAES, M. A. P. The lizada no Estado de Minas Gerais, região sudeste do Brasil. A , biology and Medical Importance of Simulium Serra cobre uma área de aproximadamente 33.800 ha e está amazonicum Goeldi (Diptera: Simuliidae), With a Review of Related compreendida entre as coordenadas 19º12' - 19º20' S e 43º30' Species. Bull. Br. Mus. London, 44 (1): 1 - 29, 1982. - 43º40' W, caracterizando-se como uma região de campos SHELLEY, A. J.; LUNA DIAS, A. P. A.; MAIA-HERZOG, M.; rupestres, com altitudes que variam de 1.095 a 1.485 m PROCUNIER, W. S. & MORAES, M. A. P. Identification of (Eterovick, 2002; IBAMA, 2002). Vector Species (Diptera: Simuliidae) of Human Onchocerciasis in O clima da região é do tipo tropical de altitude, com estações the Amazonia Focus of Brazil and Venezuela. Mem. Inst. Oswaldo seca e chuvosa bem distintas, sendo a última entre os meses de Cruz, Rio de Janeiro, 82 (4): 461 - 465, 1987. outubro e março (Eterovick, 2002). A temperatura média anual encontra-se em torno de 21,2 ºC e apresenta precipitação média Variação do comprimento rostro-cloacal, peso de 1.622 mm por ano (IBAMA, 2002). Coleta de Dados corporal e taxa de pulsos sonoros emitidos por As observações dos machos de Hyla rubicundula foram realiza- machos de Hyla rubicundula na Serra do Cipó, Minas das em duas noites (dezembro de 2002), com uma duração média Gerais de 3 horas. Foram visitadas duas lagoas, estando uma delas locali- Ana Carolina Srbek-Araujo1,3; Cristiano Schetini de Azevedo1; zada próximo ao limite do Parque Nacional da Serra do Cipó Dimas Fernando de Moura1; Jefferson Lopes Gonçalves1; Luciana (entrada principal) (Lagoa A) e a outra inserida na área de reserva, 1 1 2 Barçante Fereira ; Paula Lara Ruiz & Paula Cabral Eterovick nas proximidades do Alojamento para Pesquisadores (Lagoa B).

376 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Para a localização dos espécimes foi realizada a identificação De acordo com o estudo desenvolvido por Haddad & Cardo- da vocalização da espécie seguida da procura ativa pelos indivídu- so (1992), foi observado que as fêmeas de Hyla minuta eram pouco os, o que foi realizado com o auxílio de uma lanterna coberta com atraídas quando os cantos reproduzidos possuíam função territorial papel celofane vermelho. Segundo Haddad & Cardoso (1992), a ou representavam sobreposição de cantos, preferindo cantos com- luz vermelha tem sido utilizada com frequência em outros estudos, postos e contínuos. Os autores verificaram também uma preferên- uma vez esta parece exercer pouca interferência no comportamen- cia a estímulos acústicos emitidos mais vezes por unidade de tem- to de algumas espécies de anuros. po e que, de maneira geral, as fêmeas escolhem os machos mais Após a visualização do espécime era realizada a contagem do ativos do coro. Para os autores o tamanho do macho não parece número de pulsos sonoros emitidos durante o período de desempenhar uma função primordial na escolha das fêmeas, po- vocalização, em um intervalo de um minuto (taxa), cuja mensuração dendo os estímulos olfativos e visuais, além do canto, desempenha- era iniciada juntamente com o início da atividade de vocalização/ rem uma importante função na formação dos casais (Haddad & canto do espécime. A contagem dos pulsos era favorecida pela Cardoso, 1992). observação da expansão e retração do saco vocal/região gular du- Observou-se que para Hyla rubicundula a taxa de vocalização rante o processo de vocalização. Após o período de observação os não esteve relacionada ao comprimento rostro-cloacal e peso cor- indivíduos eram coletados para mensuração do peso e do compri- poral dos machos, devendo estar associada ao estado geral do indi- mento rostro-cloacal, mantidos em um saco plástico contendo um víduo e às reservas energéticas de cada , uma vez que a pouco de água (manutenção da umidade) e soltos após o encerra- atividade de vocalização resulta em um grande gasto energético mento das atividades. Tal procedimento foi adotado para evitar (Pough et al., 1998). Deve-se considerar também que as caracterís- que um mesmo indivíduo fosse observado e registrado mais de uma ticas do canto podem estar relacionadas a uma combinação de vez. Os dados biométricos foram coletados com o auxílio de uma fatores, não sendo determinadas por um único fator isoladamente. balança de 5 gramas (marca Pesola) e de um paquímetro. Sugere-se que, de forma semelhante ao observado por Tárano Para análise dos dados foi realizado o teste de Correlação de (2001) e Haddad & Cardoso (1992) para Physalaemus enesefae e Spearman (Spearman Rank) para verificação da existência de corre- Hyla minuta, respectivamente, as fêmeas de Hyla rubicundula se- lações entre os dados biométricos coletados e o número de pulsos jam mais sensíveis a variações no intervalo entre os pulsos emitidos emitidos pelos indivíduos durante o período de tempo observado. pelos machos em relação ao tamanho dos mesmos. Destaca-se a 3. Resultados necessidade de realização de estudos envolvendo análises detalha- Foram amostrados 20 machos de Hyla rubicundula, dos quais das de características do canto e preferência sexual das fêmeas de apenas 4 foram encontrados na Lagoa A. Os indivíduos observados Hyla rubicundula para embasamento de discussões e conclusões apresentaram em média 21,36 mm de comprimento rostro-cloacal mais concretas. (amplitude: 18,30-26,50 mm / mediana: 21,30 mm / desvio pa- 5. Referências bibliográficas drão: 1,82 mm) e 0,63 g de peso corporal (amplitude: 0,40-0,80 g Duellman, W. E. & Trueb, L. (1994). Biology of . Jonh / mediana: 0,60 g / desvio padrão: 0,09 g), tendo sido registrados Hopkins, Baltimore and London. 47,35 pulsos/min em média (amplitude: 23-101 pulsos/min / me- Eterovick, P. C. (2002). Estrutura de comunidades de anuros em diana: 35 pulsos/min / desvio padrão: 22,59 pulsos/min). ambientes de campos rupestres. Tese de Doutorado. Universidade Para os dados de comprimento rostro-cloacal e peso obser- Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. vam-se similaridades entre os valores de média e mediana, sugerin- do uma distribuição próxima à normal. Destaca-se uma maior Haddad, C. F. B. & Cardoso, A. J. (1992). Eleccion del macho por variação individual entre os dados relativos ao número de pulsos la hembra de Hyla minuta (Amphibia: Anura). Acta Zoológica Lilloana. emitidos, sendo observado um elevado valor para o desvio padrão, 41: 81-91. com uma amplitude igualmente significativa. IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Não foram observados valores significativos (p > 0,05) para o Naturais Renováveis) (2002). Parque Nacional da Serra do Cipó. Teste de Correlação de Spearman, não sendo reconhecidas corre- Obtido via internet: http://www2.ibama.gov.br/unidades/parques/ lações entre o peso corporal e o comprimento rostro-cloacal reuc/1026.html. Acessado em 17 de Dezembro de 2002. (p=0,393), o peso corporal e o número de pulsos sonoros observa- Pough, F. H.; Andrews, R. M.; Cadle, J. E.; Crump, M. L.; Savitzky, dos durante a vocalização (p=0,123) ou o comprimento rostro- A. H. & Wells, K. D. (1998). Herpetology. Prentice Hall, London. cloacal e o número de pulsos sonoros observados (p=0,802). Ryan, M. J. (1983). Sexual selection and communication in a 4. Discussão e Conclusão neotropical , Physalaemus pustulosus. Evolution. 37 (2): 261-272. Através da análise dos dados obtidos não foram verificadas correlações entre o tamanho ou o peso do macho de Hyla rubicundula Tárano, Z. (1999). Reconocimiento coespecífico y selección sexu- com o número de pulsos sonoros emitidos por minuto, embora a al en la rana Physalaemus enesefae. Tese de Doutorado. Universidad taxa de cantos tenha sido muito variável entre os indivíduos. Simón Bolívar. Caracas. Venezuela. Segundo Tárano (2001) há uma fraca mas significativa corre- Tárano, Z. (2001). Variantion in male advertisement calls in the lação negativa entre o peso do macho e características da neotropical frog Physalaemus enesefae. Copeia. 4: 1064-1072. vocalização (frequência dominante e frequências inicial e final da harmônica dominante) em Physalaemus enesefae, não tendo sido FRUTOS CARBONIZADOS SEM FOGO detectadas correlações entre o comprimento rostro-cloacal e o Ana Paula de Assis Oliveira a & Christian Westerkamp b peso corporal dos indivíduos para outras características do can- a Pós Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – to. A autora destaca ainda que em muitos anuros a frequência dos UFU ([email protected]) chamados é inversamente proporcional à massa corporal do ma- b Instituto de Biologia – UFC ([email protected]) cho, apesar de grande parte da variação por ela observada não poder ser explicada por esta relação (Tárano, 2001). As fêmeas 1. Introdução de P. enesefae mostraram-se sensíveis a variações no intervalo en- Durante o ciclo de vida das plantas existem pelo menos duas tre os chamados, reconhecendo-se uma preferência por chama- fases nas quais a sobrevivência da espécie depende totalmente de dos repetidos em pequenos intervalos (inferior a 3 segundos), em fatores externos favoráveis que a planta não pode influenciar. Estes relação a longos intervalos entre os chamados (superior a 5 se- são a polinização das flores e a dispersão dos frutos. Cada espécie gundos) (Tárano, 1999 apud Tárano, 2001). adotou uma solução especial para estes dois problemas, geralmen-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 377 Cerrado Volume I te com parceiros diferentes para cada assunto. Na maioria dos (Fabaceae; Europa) ou Chamaecrista flexuosa (Caesalpiniaceae; Bra- casos, animais de diversos grupos sistemáticos estão envolvidos, sil), que também se tornam pretos quando maduros. Nestes casos, em grande parte insetos na polinização e vertebrados na dispersão, a deiscência da vagem seca ocorre explosivamente expulsando as que entram numa interação mais ou menos intensa com a planta. sementes ativamente (Kerner, 1891). Aqui, a carbonização é des- Em outros casos, água, vento e fogo são os responsáveis. Faegri & crita como mecanismo resultante da coleta de raios de sol para Pijl (1978: polinização) e Pijl (1982: dispersão) caracterizam as aumentar a temperatura (e com isso o processo da secagem) com o síndromes envolvidas. Estas ainda foram pouco estudadas no cer- fim de alcançar o rompimento do fruto característico de uma típica rado (resumido em Oliveira 1998). autocoria (ballautocoria). Interessantemente, a solução para a dispersão dos diásporos Em Esterhazya splendida, no entanto, observa-se um comporta- no cerrado é bem diferente do que se espera em um ambiente mento diferente. A cápsula se abre só um pouquinho, e não explo- tropical. Um notável número de espécies usufrui dos ventos fortes sivamente. O resultado são fendas estreitas, mas não o rompimen- do inverno (Oliveira, obs. pess.), um fato desconhecido em outras to do fruto e conseqüentemente as sementes não são ejetadas, mas matas tropicais nas quais o vento tem papel menor. Esta estratégia ficam na cápsula. Em vez disso, os frutos ficam inteiros em cima lembra mais a dos “Wintersteher” (literalmente: “que fica fixado dos caules longos e delgados da planta materna, que representam até o inverno”) na Europa (Westerkamp, obs. pess.), onde frutos varas rígidas. Como a frutificação coincide com as condições cli- ficam aderidos às árvores desfolhadas durante o inverno, aguardan- máticas do inverno no cerrado (Rosa et al., 1991), os frutos madu- do a força grande das tempestades desta estação. Quando são ros são expostos aos ventos fortes desta estação. Eles conseguem fortes o suficiente para liberar os diásporos da planta-mãe, conse- encurvar a planta, que depois ressalta elasticamente para a posição guem transportá-los para distâncias maiores. original. Quando os frutos são parados bruscamente em cima dos Durante um levantamento dos tipos de frutos e da sua fenologia eixos rígidos, as sementes ainda ficam com o impulso do movimen- numa área de cerrado encontrou-se frutos bem estranhos e até hoje to e com isso são jogadas para fora do fruto. Este processo, que desconhecidos em Esterhazya splendida (Orobanchaceae): dentro deveria ser denominado como anemoballista, lembra o de Papaver do cálice verde o fruto se apresentou totalmente preto, com um (Kadereit & Leins 1988), onde as sementes foram catapultadas até aspecto de queimadura – mas apenas do fruto. Por isso não tinha distâncias de 15 m (Pijl, 1982). Isso não exclui que animais de nada a ver com fogo, acontecimento regular nesta área. grande porte, como os tamanduás (Tamandua sp., O que esta coloração estranha significa? Será que tem a ver Myrmecophagidae) que naturalmente ocorrem neste ambiente, com as condições ambientais do cerrado? No seguinte apresenta- desloquem as plantas ao caminhar pelo cerrado, assim agilizando o mos as primeiras observações e conclusões. mecanismo de ejeção das sementes (rhipsozoocoria). 2. Métodos Ao contrário do caso de Cytisus, observa-se uma separação da As observações foram realizadas durante um levantamento deiscência (pelo calor do sol) da dispersão (pela força do vento), fenológico (abril/2002 a junho/2003) que incluiu visitas semanais. assim se encaixando com o clima mais frio e mais ventoso do Estudamos uma área de cerrado na Reserva do Clube Caça e Pesca inverno no cerrado. Isso assegura que a disseminação só acontece Itororó de Uberlândia, Minas Gerais. com ventos fortes o suficiente. Primeiras observações mostram um Os frutos encontrados foram caracterizados morfologicamente sistema semelhante em Buchnera sp. (também Orobanchaceae). após observações diretas realizadas em campo e laboratório, se- Os mecanismos que formam a base desta disseminação como os guindo os critérios adotados por Barroso et al. (1999). O mecanis- tecidos e a química da alteração da cor que resultam na abertura mo de dispersão das sementes foi inferido de acordo com a classi- cuidadosa dos frutos ainda precisam ser estudados. ficação de síndromes de dispersão adotada por van der Pijl (1982). 4. Conclusões 3. Resultados e Discussão Com as suas adaptações, os frutos de Esterhazya splendida com- Não apenas os frutos de Esterhazya splendida (Orobanchaceae) binam perfeitamente com as condições de vento no inverno do mas também suas flores são notáveis: apresentam um vermelho cerrado assim como muitas outras espécies (“Wintersteher”, Oli- chamativo e são tipicamente ornitófilas. Durante o levantamento, veira, obs. pess.), que também usufruem da força destes ventos nós nunca observamos visitantes, Freitas & Sazima (2001) descre- para alcançar alvos mais distantes. Um comportamento não espe- vem raras visitas por beija-flores (em Esterhazya macrodonta). A rado, especialmente em comparação com a quase ausência de morfologia da flor (tubo muito mais amplo do que em flores anemofilia (polinização pelo vento) em ambientes tropicais. A pe- polinizadas por beija-flores, lábio inferior dobrado para trás) e da quena abertura da cápsula com o pouco sol do inverno e a espera inflorescência (área sem folhas em baixo das flores), porém, indi- do vento forte desta estação para a dispersão das sementes mos- cam um encaixe com pássaros que pousam e se agarram antes de tram uma regulagem mais exata (fine tuning) inesperada às condi- inserir o bico na flor (Vogel 1954, Westerkamp 1990) em vez de ções invernais do cerrado. pairarem no ar – este fato ainda precisa de mais observações. (CW agradece ao CNPq pela bolsa de pesquisador visitante na Por volta da segunda quinzena de agosto, observam-se fru- Universidade Federal de Uberlândia) tos maduros que podem ser encontrados até meados de outu- 5. Referências Bibliográficas bro. Depois de deixar cair a corola e a maior parte do estilete, Barroso, G. M., Morim, M. P., Peixoto, A. L. & Ichaso, C. L. F. o fruto cresce um pouco (10,55 mm, n=20) e assume uma (1999). Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de forma ovóide. Morfologicamente caracteriza-se como cápsula dicotiledôneas. Ed. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 443 p. seca. Quando amadurecendo, a cápsula muda a cor de verde Faegri, K. & Pijl, L. van der (1978). The principles of pollination passando por vermelho até finalmente ficar pretíssima e fosca, ecology. 3rd revised ed. Pergamon Press, Oxford enquanto os órgãos ao redor, especialmente o cálice, ainda permanecem vivos e verdes, contrastando fortemente com a Freitas, L. & Sazima, M. (2001). Nectar features in Esterhazya cápsula. Esta se abre em quatro válvulas, cada uma com restos macrodonta, a hummingbird-pollinated Scrophulariaceae in da base do estilete. Entre si, elas deixam frestas estreitas, pou- Southeastern Brazil. J. Plant Res. 114: 187 – 191 co mais amplas que o diâmetro das sementes minúsculas. A Kadereit, J.W. & Leins, P. (1988). A wind tunnel experiment on abertura é loculicida (Barroso et al. 1999). seed dispersal in Papaver L. sects. Argemonidium Spach and Frutos pretos são bem conhecidos nas espécies que são disper- Rhoeadium Spach (Papaveraceae). Flora 181: 189 – 203 sas por pássaros (endozoocoria e estomatocoria), mas nestes casos Kerner von Marilaun, A. (1891). Pflanzenleben. Bibliographisches são sempre brilhantes e indeiscentes. No entanto, frutos pretos Institut, Leipzig foscos lembram os de algumas leguminosas como Cytisus scoparius

378 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Oliveira, P. E. A. M. (1998). Fenologia e biologia reprodutiva das 2. Métodos espécies de cerrado, pp. 169 - 192 in: Sano, S. M. & Almeida, S. P. O estudo foi realizado em uma mata de galeria inundável, a qual (eds.): Cerrado: ambiente e flora. EMBRAPA-CPAC, Brasília, DF faz parte de uma área de reserva permanente com 13,57 ha, de 556 p. propriedade de Árvore S.A. Empreendimentos e Participações, loca- o o Pijl, L. van der (1982). Principles of dispersal in higher plants. 3rd. lizada no município de Uberlândia, MG (18 52’11” a 18 52’25”S, o o ed. Heidelberg: Springer 244 p. 48 14’46” a 48 15’00”W, 860 m de altitude). O interior da mata apresenta duas linhas de drenagem, uma natural e outra artificial, Rosa, R., Lima, S. C. & Assunção, W. L. (1991). Abordagem que, associadas à topografia relativamente plana, conferem alta umi- preliminar das condições climáticas de Uberlândia (MG). Socie- dade ao solo durante todo o ano (Nogueira 2002). O clima regional dade & Natureza 3: 91-108. é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, apresentando in- Vogel, S. (1954). Blütenbiologische Typen als Elemente der verno frio e seco, e verão quente e chuvoso (Schiavini 1992). Sippengliederung, dargestellt anhand der Flora Südafrikas. Bot. A área de estudo apresenta um número reduzido de espécies Stud. 1: 1 – 338 arbóreas, quando comparado com áreas de mata de galeria típicas. Westerkamp, C. (1990): Bird-flowers: Hovering versus perching Nessa área, X. emarginata é uma espécie que ocupa o estrato mais exploitation. Bot. Acta 103: 366 - 371 alto da mata, ocorrendo com freqüência como emergente. Além dos indivíduos emergentes, a espécie apresenta um grande número Ecologia de população de Xylopia emarginata Mart. de indivíduos em todos os estratos, indicando apresentar uma po- (Annonaceae) em mata de galeria inundável, pulação estruturada. O período de floração ocorre durante os meses de novembro a janeiro e a maturação dos frutos de setembro a Uberlândia, MG novembro. Seus frutos são deiscentes e, quando maduros, procura- Ana Paula de Oliveiraab & Ivan Schiavinic dos por várias espécies de aves, as quais consomem o arilo que aPós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília envolve a semente (Lorenzi 1992). ([email protected]); bBolsista do CNPq; cInstituto de Biologia, No período de março a junho de 2001, todos os indivíduos de Universidade Federal de Uberlândia X. emarginata foram mapeados e classificados nas seguintes catego- rias de tamanho: jovens 1 (20 parcelas de 5 x 5 m), que apresenta- 1. Introdução vam altura inferior a 1 m; jovens 2 (20 parcelas de 10 x 10 m), com Matas de galeria são formações florestais que margeiam os altura superior a 1 m e circunferência à altura do peito (CAP) cursos de água no Bioma Cerrado. Essas matas possuem caracterís- menor que 15 cm e adultos (62 parcelas de 10 x 10 m), com CAP ticas únicas como inundações periódicas, manchas de solo maior ou igual a 15 cm. Para todos os indivíduos foram feitas hidromórficos e, imediatamente próximo à margem do rio, ocor- medições de altura. Nos jovens 1 e 2, mediu-se o diâmetro à altura rem freqüentes deposições de sedimentos, formando um solo are- do solo (DAS) e nos adultos foi medida a CAP. noso e bem drenado (Schiavini et al. 2001). Essa fitofisionomia, No recenso (março a junho de 2002), somente os indivíduos freqüentemente, é circundada por faixas de vegetação não florestal das categorias jovens 1 e 2 foram novamente medidos, sendo tam- em ambas as margens e, em geral, ocorre uma transição brusca com bém incluídas as informações sobre o número de indivíduos mor- formações savânicas e campestres (Ribeiro & Walter 1998). As tos e o número daqueles recrutados na população. Nesse trabalho, matas de galeria são heterogêneas quanto à composição florística, o termo recrutamento, refere-se à incorporação de novos indivídu- apresentando espécies endêmicas e algumas em comum com cerra- os na população, considerando cada uma das categorias descritas. dos e florestas (Eiten 1984, Oliveira Filho & Ratter 1995). A mortalidade foi considerada para as plantas que estavam mortas O conhecimento sobre as estratégias de ocupação das espécies ou não foram encontradas no segundo censo. representativas das comunidades de mata de galeria, e suas varia- A partir do número de indivíduos encontrados para cada cate- ções ao longo dos ciclos de vida, permitirão encontrar padrões de goria de tamanho foi calculada a densidade por metro quadrado. comportamento e estabelecimento das espécies destes ambientes Para os jovens (1 e 2), foram feitas comparações da densidade (Ribeiro & Schiavini 1998). Investigações sobre a estrutura das populacional entre os dois censos, por meio do teste do qui-qua- espécies vegetais podem ser conduzidas no âmbito da comunidade drado (c2) (Brower & Zar 1984). como um todo ou em populações isoladas, podendo envolver ava- Para o período de um ano, foi calculada a taxa de mortali- liações estruturais ou temporais (Schiavini et al. 2001). dade (Brower & Zar 1984). O crescimento foi obtido tomando-se As comunidades florestais são dinâmicas e as mudanças ocor- como padrão comparativo a diferença entre os tamanhos alcança- rem continuamente, em níveis individual e populacional ao longo dos nos dois censos, para cada indivíduo sobrevivente. do tempo, devido a um balanço entre crescimento, recrutamento e 3. Resultados e Discussão mortalidade (Swaine et al. 1987). Pela quantificação dos recruta- No primeiro censo, foram encontrados 433, 732 e 540 indiví- mentos e mortes é possível responder questões referentes à coexis- duos pertencentes às categorias jovens 1, jovens 2 e adultos, em tência de espécies raras e comuns, bem como determinar quais uma área de 500, 2000 e 6200 m2, respectivamente. A categoria processos são responsáveis pela flutuação de seus números na co- jovens 1 apresentou maior densidade (0,87 ind./m2) que jovens 2 munidade (Watkinson 1997), além de fornecer informações sobre (0,37 ind./m2) e adultos (0,32 ind./m2), seguida por jovens 2. No a capacidade de regeneração e a ocorrência de perturbações em recenso, foi observada uma diminuição significativa na densidade determinado local (Harper 1977). populacional para as categorias jovens 1 (c2 = 6,53; p < 0,05) e 2 (c2 Em análises florísticas realizadas em 15 matas de galeria no = 5,37; p < 0,05). Os elevados valores de densidade observados Distrito Federal, houve a ocorrência de Annonaceae em todas as podem ser devidos às condições físicas da área (topografia relativa- áreas estudadas, sendo Xylopia emarginata Mart. a espécie mais mente plana, saturação hídrica do solo elevada), já que se trata de freqüentemente amostrada (Silva Júnior et al. 1998). Além disso, uma espécie tolerante à inundação e com alta dominância na área trata-se de uma espécie que pode ser utilizada para formar o povo- de estudo. A diminuição na densidade dos jovens observada no amento inicial nos processos de reabilitação das Matas de Galeria segundo levantamento se deve às elevadas taxas de mortalidade em ambientes mais úmidos (Felfili et al. 2000). Nesse contexto, foi (19,6 e 10,0% para jovens 1 e jovens 2, respectivamente), aliadas à estudada uma população de Xylopia emarginata, em uma mata de quase ausência de recrutamento de indivíduos na população, pelo galeria inundável do Triângulo Mineiro, com o objetivo de descre- menos no período de estudo. ver a estrutura da população, bem como a mortalidade, o recruta- A mortalidade foi maior para os indivíduos que apresentaram mento e o crescimento dos indivíduos para o período de um ano.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 379 Cerrado Volume I altura inferior a 1 m (19,6%). Quanto ao recrutamento, apenas Eiten, G. (1984). Vegetation of Brasilia. Phytocoenologia 12: 271-292. um indivíduo, proveniente da categoria jovens 1, ingressou na se- Felfili, J.M. (1997). Dynamics of the natural regeneration in the gunda categoria. Entretanto, 14 plantas que pertenciam à catego- Gama gallery forest in central Brazil. Forest Ecology and ria jovens 2 no primeiro levantamento retornaram para jovens 1 no Management 91: 235-245. recenso, devido à redução de suas alturas a valores inferiores a 1 m, Felfili, J.M., Ribeiro, J.F., Fagg, C.W. & Machado, J.W.B. (2000). o que não foi considerado recrutamento, de acordo com o critério Recuperação de matas de galeria. Embrapa, Planaltina. pré-estabelecido. As desigualdades entre as taxas de decréscimo na densidade populacional e as taxas de mortalidade para os jovens Harper, J.L. (1977). Population biology of plants. Academic Press, são devidas a essa transição de plantas de uma categoria para outra. London. A falta de recrutamento para a população estudada se deve, prova- Lorenzi, H. (1992). Árvores brasileiras - Manual de identificação e velmente, a ausência de frutificação no ano de 2001 pois, apesar da cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Plantarum LTDA, floração ter sido observada, não foram observadas sementes disper- Nova Odessa. sas. De acordo com Felfili (1997), nem todas as espécies em uma Nogueira, M.F. (2002). Composição e estrutura da comunidade floresta produzem sementes anualmente, sendo evidente a variabi- arbórea de uma mata de galeria inundável em Uberlândia, MG. lidade temporal no recrutamento dos indivíduos. Nesse sentido, o Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, aparente declínio populacional observado é conseqüência das Uberlândia. flutuações numéricas na população, a qual poderá sofrer um novo Oliveira Filho, A.T. & Ratter, J.A. (1995). A study of the origin of evento reprodutivo de grande intensidade, que equilibre as taxas central brazilian forests by the analysis of plant species distribution de mortalidade encontradas. pattern. Edinburgh Journal of botany 52: 141-194. O incremento médio em diâmetro para as categorias jovens 1 e 2 foi, respectivamente, 0,21 cm (DP = 0,31) e 0,68 cm (DP = Primack, R.B, Ashton, P.S, Chai, P. & Lee, H.S. (1985). Growth 1,17). Não foi observada redução em diâmetro para nenhum indi- rates and population structure of Moraceae trees in Sarawak, east víduo no intervalo de tempo estudado e 40,5% dos jovens 1 e Malaysia. Ecology 66: 577-588. 28,2% dos jovens 2 não apresentaram incremento em seus diâme- Ribeiro, J.F. & Schiavini, I. (1998). Recuperação de matas de tros. O incremento médio em altura foi de 1,07 cm (DP = 5,12) galeria: integração entre a oferta ambiental e a biologia das espéci- para jovens 1 e de -3,5 cm (DP = 52,21) para jovens 2. Dentre os es. In Cerrado – Matas de Galeria (J.F. Ribeiro, ed.). Embrapa, jovens, 19,5% e 36,3% dos indivíduos pertencentes às categorias Planaltina, p.135-153. jovens 1 e 2, respectivamente, não apresentaram incremento em Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. (1998). Fitofisionomias do bioma altura. No entanto, 19,3% e 24,4% dos indivíduos pertencentes a Cerrado. In Cerrado – Ambiente e Flora (S.M. Sano, & S.P. Almeida, essas categorias apresentaram diminuição de suas alturas. As taxas eds.). Embrapa, Planaltina, p.89-166. de crescimento em altura e diâmetro foram variáveis entre os indi- Schiavini, I. (1992). Estrutura de comunidades arbóreas de mata víduos da população estudada, o que sugere a existência de diferen- ças na alocação de recursos para esse crescimento durante a de galeria da Estação Ecológica do Panga (Uberlândia-MG). Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. ontogenia. A ausência de incremento em tamanho para uma gran- de proporção de indivíduos de ambas as categorias pode ser um Schiavini, I., Resende, J.C.F. & Aquino, F.G. (2001). Dinâmica de reflexo da capacidade dos indivíduos de sobreviver a longos perío- populações de espécies arbóreas em mata de galeria e mata mesófila dos de supressão (Primack et al. 1985). Por outro lado, a grande na margem do Ribeirão Panga, MG. In Cerrado – Caracterização proporção de plantas que apresentaram diminuição de altura pare- e Recuperação de Matas de Galeria (J.F.Ribeiro, C.E. Fonseca, & ce refletir a ocorrência de danos físicos nos indivíduos de X. J.C. Sousa-Silva, eds.). Embrapa, Planaltina, p.267-299. emarginata na área de estudo. Silva Júnior, M.C.; Felfili, J.M.; Nogueira, P.E. & Rezende, A.V. 4. Conclusões (1998). Análise florística das matas de galeria no Distrito Federal. Os resultados obtidos para X. emarginata na área de estudo In Cerrado – Matas de Galeria (J.F. Ribeiro, ed.). Embrapa, permitem inferir sobre o grande sucesso da espécie na área, primei- Planaltina, p.53-84. ro por apresentar um alto valor de importância na comunidade Swaine, M.D, Lieberman, D. & Putz, F.E. (1987). The dynamics arbórea estabelecida e segundo, por apresentar uma alta densidade of tree populations in tropical forest: a review. Journal of Tropical de indivíduos em todas as categorias de tamanho estudadas. Trata- Ecology 3: 359-366. se, sem dúvida, de uma espécie muito bem adaptada às condições ambientais atuais da mata de galeria inundável. Além disso, quan- Watkinson, A.R. (1997). Plant population dynamics. In Plant do se comparou o resultado aqui demonstrado com as observações Ecology (M.J. Crawley, , ed.). Blackwell Scientific Publications, no campo sobre a população da outra espécie de alta abundância London, p.359-400. no sítio estudado (Richeria grandis), notou-se a quase ausência de indivíduos de R. grandis fora do estrato arbóreo estabelecido (ape- Síndromes de dispersão em fragmentos de cerrado nas 12 indivíduos na categoria jovens 2 - Amorim (2002)), de- no Centro-Oeste brasileiro monstrando a diferença na projeção de automanutenção na estru- André Vitor Fleuri Jardim a & Marco Antônio Batalha b tura da comunidade arbórea entre as duas espécies mais importan- a Bacharelado em Ciências Biológicas – Universidade Federal de São tes da área estudada: X. emarginata, com grande possibilidade de se Carlos manter na comunidade devido a sua população estruturada e R. b Departamento de Botânica – Universidade Federal de São Carlos grandis, tendendo a sair da comunidade, após a morte dos indiví- duos adultos estabelecidos. 1. Introdução 5. Referências Bibliográficas As condições ambientais distintas entre a borda e o interior de Amorim, E.H. (2002). Composição e estrutura do estrato fragmentos de vegetação, especialmente quanto à umidade, ilumi- regenerativo da mata de galeria inundável da fazenda Marileuza, nação e movimentação de ar, aumentam as diferenças entre nichos Uberlândia/MG. Dissertação de mestrado. Universidade Federal ecológicos (Roth 1987). Assim, é possível que ocorram diferentes de Uberlândia, Uberlândia. síndromes de dispersão entre a borda e o interior de um fragmento Brower, J.E. & Zar, J.H. (1984). Field & laboratory methods for de vegetação (Yamamoto et al. no prelo). As síndromes anemocórica general ecology. 2 ed. Wm. C. Publishers, Iowa. e autocórica têm sido relacionadas por diversos autores a ambien-

380 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado tes mais secos (Frankie et al. 1974), à vegetação mais aberta (Opler Batalha, M. A.; Aragaki, S. & Mantovani, W. (1998). Chave de et al. 1980, Howe & Smallwood 1982, Roth 1987) e à borda de identificação das espécies vasculares do cerrado em Emas fragmentos (Oliveira & Moreira 1992, Tabarelli et al. 1999), en- (Pirassununga, SP) baseada em caracteres vegetativos. Boletim de quanto que a síndrome zoocórica tem sido associada à vegetação Botânica da Universidade de São Paulo 17: 85-108. mais densa (Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger 1983). O Batalha, M. A & Mantovani, W. (1999). Chaves de identificação objetivo deste trabalho foi testar, em fragmentos de cerrado na das espécies vegetais vasculares baseada em caracteres vegetativos região Centro-Oeste do Brasil, os postulados segundo os quais: 1) para a ARIE Cerrado Pé-de-Gigante (Santa Rita do Passa Quatro, a proporção de indivíduos com síndrome zoocórica aumenta em SP). Revista do Instituto Florestal 11: 137-158. função da distância da borda do fragmento; 2) a proporção de Batalha, M. A. & Martins, F. R. (2002). The vascular flora of the indivíduos com síndrome anemocórica diminui em função da dis- cerrado in Emas National Park (Goiás, central Brazil). Sida, tância da borda do fragmento; 3) a proporção de indivíduos com contributions to Botany 20: 295-312. síndrome autocórica diminui em função da distância da borda do fragmento. Drezner, T. D.; Fall, P. L. & Stromberg, J. C. (2001). Plant distribution 2. Métodos and dispersal mechanisms at the Hassayampa River Preserve, Arizona, Dentro da área de abrangência do estudo, sorteamos oito frag- USA. Global Ecology & Biogeography 10: 205-217. mentos com a mesma fisionomia de cerrado. Em cada fragmento, Frankie, G. W., Baker, H. G. & Opler, P. A. (1974). Comparative fizemos quatro transecções, perpendiculares às bordas dos frag- phenological studies of trees in tropical wet and dry forest in the mentos, nas quais lançamos pontos de amostragem a cada 10 m. lowlands of Costa Rica. Journal of Ecology 62: 881-919. Cada transecção tinha 15 pontos amostrais, o primeiro a 10 m da Gottsberger, G. & Silberbauer-Gottsberger, I. (1983). Dispersal borda e o último a 150 m. Usamos o método de quadrantes and distribution in the cerrado vegetation of Brazil. Sonderbände (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974, Martins 1991) para a des Naturwissenschaftlichen Vereins in Hamburg 7: 315-352. amostragem do componente arbustivo-arbóreo da vegetação. Em Howe, H. F. & Smallwood, J. (1982). Ecology of seed dispersal. cada ponto, amostramos quatro indivíduos lenhosos com diâme- Annual Review of Ecoogy and Systematics 13: 201-228. tro do caule no nível do solo igual ou maior que 3 cm (SMA 1997). Em seguida, identificamos as espécies amostradas em campo ou Mantovani, W.; Leitão-Filho, H. F. DE & Martins, F. R. (1985). coletamos um ramo do indivíduo para identificarmos posterior- Chave baseada em caracteres vegetativos para a identificação de mente por meio de comparações com material depositado em espécies lenhosas do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, herbário, chaves de identificação baseadas em caracteres vegetativos Estado de São Paulo. Hoehnea 12: 35-56. (Mantovani et al. 1985, Batalha et al. 1998, Batalha & Mantovani Mantovani, W. & Martins, F. R. (1988). Variações fenológicas das 1999) e a coleção de referência da flora do Parque Nacional das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Mogi Guaçu, Estado Emas (Batalha & Martins 2002). Determinamos as síndromes de de São Paulo. Revta. brasil. Bot. 11: 101-112. dispersão, de acordo com Pijl (1972), de cada espécie e calculamos Martins, F. R. (1991). Estrutura de uma floresta mesófila. São Paulo, a proporção de indivíduos anemo, auto e zoocóricos de acordo Universidade Estadual de São Paulo. com a distância da borda. Fizemos análises de regressão (Zar 1999) para cada síndrome, em que a distância da borda foi a variável Mueller-Dombois, D. & Ellenberg, H. (1974). Aims and methods independente e a proporção de indivíduos com uma determinada of vegetation ecology. New York, John Willey & Sons. síndrome a variável dependente. Oliveira, P. E. A. M. & Moreira, A. G. (1992). Anemocoria em 3. Resultados e discussão espécies de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Revista Brasi- A proporção de indivíduos com síndrome zoocórica e com leira de Botânica 15: 163-174. síndrome anemocórica não variou significativamente em relação à Opler, P. A., Baker, H. G. & Frankie, G. W. (1980). Plant distância da borda (r2 = 0,2131, p = 0,0833; r2 = 0,0371, p = reproductive characteristics during secondary succession in 0,4915, respectivamente). A proporção de indivíduos com síndrome Neotropical lowland forest ecosystems. Biotropica Suplemento: de dispersão autocórica diminuiu da borda em direção ao interior 40-46. 2 dos fragmentos (r = 0,4014, p = 0,0112). A proporção igual de Pijl, L. VAN DER. (1972). Principles of dispersion in higher plants. indivíduos anemo e zoocóricos em função da distância da borda Berlin, Springer. pode estar relacionada à fisionomia savânica dos fragmentos amostrados. Como essa fisionomia é aberta, os diásporos poderiam Roth, I. (1987). Stratification of a tropical forest as seen in dispersal ser levados pelo vento e pelos animais tanto na borda quanto no types. Dordrecht, Dr. W. Junk. interior dos fragmentos sem distinção significativa entre esses lo- SMA (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE) cais. A maior proporção de indivíduos autocóricos na borda é (1997). Cerrado: bases para conservação e uso sustentável das áreas de esperada, pois, em ambientes mais expostos, como a borda, a cerrado do estado de São Paulo. São Paulo, Secretaria de Estado do autocoria é considerada mais vantajosa (Roth 1987). Nesse tipo de Meio Ambiente. ambiente, o ar seco também favoreceria a deiscência de frutos Tabarelli, M., Mantovani, W. & Peres, C. A. (1999). Effects of autocóricos (Mantovani & Martins 1988). habitats fragmentation on plant guild structure in the montane 4. Conclusões Atlantic forest of southeastern Brazil. Biological Conservation 91: Poucos estudos avaliaram as síndromes de dispersão em rela- 119-127. ção à distância da borda de fragmentos de vegetação (Yamamoto et Yamamoto, L. F.; Martins, F. R. & Kinoshita, L. S. (2002). Síndromes al. no prelo). A maior parte dos estudos referentes a tais síndromes de polinização e dispersão em fragmentos da Floresta Estacional concentram-se na elucidação de mecanismos de dispersão de espé- Semidecídua Montana. Acta Botanica Brasilica, no prelo. cies isoladamente (Drezner et al. 2001). Para apreciarmos mais profundamente as variações ecológicas e geográficas das síndromes Zar, J. H. (1999). Biostatiscal analysis. Upper Saddle River, de dispersão, e generalizarmos essas análises em fragmentos de Prentice Hall. cerrado, esse tipo de estudo deve se estender a diferentes estratos vegetacionais e a outras fisionomias. (Agradeço à FAPESP pelo financiamento deste trabalho) 5. Referências bibliográficas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 381 Cerrado Volume I

Variação espacial da estrutura populacional de ha. Para a análise das áreas com fisionomias semelhantes dentro de Xylopia aromatica e Roupala montana em um mesmo fragmento, no Valério foram amostradas 3 áreas fragmentos de cerrado demarcadas como acima (denominadas Valério 1, 2 e 3), separadas Aneliza de Almeida Miranda-Melo a, Flavio Antonio Maës dos por uma distância que variou de 500 a 900 m. Em cada parcela Santosb & Fernando Roberto Martinsb foram marcados todos os indivíduos com diâmetro do caule no a Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, IB - UNICAMP nível do solo (DAS) superior ou igual a 3 cm. Em uma parcela de 1 e Bolsista Fapesp (Proc. no. 01/13046-1) ([email protected]) m2, sorteada dentre os vértices de cada parcela de 25 m², foram b Departamento de Botânica, IB - UNICAMP marcados os indivíduos com DAS menor que 3 cm. No período de julho a setembro de 2002, foram registradas, uma única vez, a 1-Introdução altura total e o DAS de todos os indivíduos marcados. Os estádios A vegetação de cerrado do estado de São Paulo não foi exceção ontogenéticos identificados foram plântula (PL), jovem 1 (J1), dentro da realidade histórica de substituição da cobertura vegetal, jovem 2 (J2), imaturo (IM), adulto vegetativo (AV) e adulto restando hoje algumas áreas de cerrado disjuntas, que sobreviveram reprodutivo (AR). a ações antrópicas. Tal ação atua como agente de perturbação sobre A estrutura populacional foi analisada por meio da distri- a vegetação, resultando na fragmentação do cerrado, antes mesmo buição de freqüência dos indivíduos em cada estádio ontogenético. que se conheçam os processos ecológicos envolvidos nesta fisionomia, As distribuições de estádios ontogenéticos entre os fragmentos e e em transformações em sua estrutura e nos processos de regenera- entre as espécies foram comparadas através de testes de Kolmogorov- ção, sendo uma das principais causas da extinção de espécies. Smirnov (Zar 1999), com correções de Bonferroni para testes A caracterização do ambiente, juntamente com estudos de seqüenciais (Rice 1989). Além disso, foram feitas análises compa- estrutura de tamanho e/ou de estádios ontogenéticos são um dos rando as hierarquias de tamanho (Weiner & Solbrig, 1984) entre primeiros passos no sentido de compreender quais fatores influen- as áreas de estudo, utilizando-se o programa WINGINI versão 2.0 ciam os processos populacionais, a regeneração e as perturbações (Flavio A. M. Santos). em um determinado local. A caracterização das espécies e dos Para se ter uma medida de perturbação, foram feitas entrevis- fatores que influenciam sua dinâmica populacional, precisam levar tas com funcionários do Instituto Florestal e com moradores de em consideração possíveis variações espaciais na estrutura Itirapina e estimou-se a porcentagem de indivíduos das duas espé- populacional. Desse modo, análises da estrutura populacional em cies com rebrotas em cada fragmento e em cada estádio ontogenético. áreas diferentes são necessárias, pois ajudam a entender se as estru- 3- Resultados turas descritas são resultados de perturbações passadas, ou de um As três áreas do Valério apresentaram maior densidade total de desvio na composição, não relacionada a distúrbios (Manokaran Xylopia (2682 no Valério 1, 9642 no Valério 2 e 10612 ind/ha no & Kochummen 1987). Diferenças na taxa de mortalidade, cresci- Valério 3), enquanto o Fepasa apresentou a menor, com cerca de mento e recrutamento podem ser atributos da espécie per se, ou 12 vezes menos indivíduos. Nas três áreas do Valério, Xylopia apre- resultantes de diferenças nas condições ambientais impostas a uma sentou maior proporção de jovem 2, embora com diferenças entre população (Swaine et al. 1987). as três áreas. No Valério 1, a proporção de J2 foi 7 vezes maior que Alguns autores têm observado que uma mesma espécie pode de J1 e 1,7 vezes maior que de IM. No Valério 2, a proporção de J2 apresentar diferenças na estrutura de tamanho em diferentes forma- foi 2,2 vezes maior que de J1 e 2,3 vezes maior do que de IM. No ções e entre locais dentro de uma mesma formação. Assim, con- Valério 3, a área a que apresentou a menor proporção de J2, esta foi siderando-se fragmentos diferentes em relação à cobertura vege- 1,5 vezes maior que a de J1 e 1,3 vezes maior que a de IM. tal, ao histórico de perturbação, e à pressões externas, podemos Xylopia, no Broa, apresentou predomínio de jovens 1, com esperar diferenças na estrutura populacional de uma espécie, en- cerca de 60% dos indivíduos nesse estádio, enquanto no Estrela e tre fragmentos. no Fepasa as proporção de J1 e J2 foram similares (cerca de 43% de Este estudo avaliou a variação espacial da estrutura populacional J1 e 36% de J2 no Estrela e 48% para ambos no Fepasa). Nesses de duas espécies, Xylopia aromatica (Lam.) Mart (Annonaceae) e dois últimos fragmentos, os números médios de J1 por AR foram os Roupala montana Aubl. (Protaceae), entre fragmentos de cerrado maiores, com 13,64 J1 por AR no Estrela e 16,67 no Fepasa, sem semelhantes quanto ao clima e formação vegetal, mas com diferen- que nenhum AV e poucos IM (16,5% no Estrela e 0,9% no Fepasa) tes fisionomias e históricos de perturbação e entre áreas de cerrado tenham sido amostrado nesses fragmentos. As distribuições de es- com fisionomias semelhantes dentro de um mesmo fragmento. tádios ontogenéticos de Xylopia diferiram entre os fragmentos (p<

Além disso, de acordo com Hoffmann (1998), Roupala montana 0,01), exceto entre o Estrela e o Fepasa (Dmáx = 0,15; p > 0,05). apresenta propagação vegetativa, ao contrário de Xylopia aromatica. A distribuição de estádios ontogenéticos de Roupala no Valério

Diante disso, espera-se que existam diferenças na estrutura 1 diferiu daquela no Broa (Dmáx = 0,32 p < 0,01). A mesma espécie populacional entre as espécies em uma mesma área, pois o tipo de apresentou a maior freqüência de jovens 1 (80% contra 47%) e o reprodução adotada por uma espécie pode gerar diferenças na es- maior número médio de J1 por AR, cerca de 80 vezes maior no trutura populacional. Valério 1 do que no Broa. 2- Métodos Entre as espécies, na área do Valério 1, Roupala apresentou O estudo foi realizado em quatro fragmentos de cerrado, deno- aproximadamente 4 vezes mais indivíduos, maior proporção de J1 minados de Valério, Broa, Estrela e Fepasa, na microrregião de (80% contra 7,5%) e maior número médio de J1 por AR (cerca de Itirapina (SP) (22º 15’ S; 47º 48’ W). Os fragmentos apresentam 323 vezes maior) do que Xylopia. As distribuições de estádios diferi- fisionomias que variam de cerrado ralo (Estrela), a cerrado stricto ram entre as espécies (Dmáx = 0,73, p < 0,01). No Broa, as densidades sensu (Broa e Fepasa) e cerrado denso (florestal) (Valério), estando foram bem menores (1164 ind/ha de Xylopia e 1680 ind/ha de Roupala) submetidos a diferentes impactos antrópicos, principalmente quei- do que no Valério 1 (2682 ind/ha de Xylopia e 10700 ind/ha de madas freqüentes, extração de resina e corte de Pinus sp, extração Roupala). No Broa, apesar de ambas espécies apresentarem maior por raizeiros e pastejo pelo gado, estando submetidos a pressões proporção de indivíduos J1 do que dos demais estádios, Xylopia externas diferenciadas, como reflorestamento de Pinus sp (Valério), apresentou 1,3 vezes mais J1, 1,7 vezes mais IM e 2,7 vezes menos J2 atividades agropastoris (Broa), plantios de laranja (Estrela), ou es- do que Roupala. As distribuições de indivíduos nos estádios tando localizado dentro do distrito industrial do município (Fepasa). ontogenéticos entre essas espécies diferiram (Dmáx = 0,12, p < 0,01). Em cada fragmento foi instalada uma grade de 50 x 100 m, As distribuições de tamanho diferiram entre as espécies e entre subdividida em 200 parcelas contíguas de 5 x 5 m, totalizando 0,5 fragmentos para ambos os descritores de tamanho (p < 0,001), no

382 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado entanto, as comparações dos coeficientes de Gini para o parâmetro garantir a sua permanência no ambiente, afetando a dinâmica de diâmetro em Xylopia mostraram menos diferenças entre as hierarquias. regeneração da vegetação (Borges 2000). Além disso, indivíduos Os coeficientes de Gini, para o descritor diâmetro, variaram de 0,61 a produzidos por propagação vegetativa, geralmente possuem me- 0,73 para Xylopia e de 0,58 a 0,62 em Roupala e para o descritor altura, nor taxa de mortalidade do que plântulas de idade similar, e ten- de 0,53 a 0,65 para Xylopia e de 0,54 a 0,55 para Roupala. dem a alcançar a maturidade sexual mais cedo, o que pode contri- Ocorreu alta porcentagem de rebrota, principalmente nas áre- buir para o aumento das taxas de crescimento populacional. as do Valério e do Broa para Xylopia (entre 31,7% e 46,8%) e no 4- Conclusões Broa para Roupala (39,4%). O fogo ocorre com freqüência nos Diferenças nas estruturas de tamanho e de estádios fragmentos do Broa, Estrela e Fepasa (com. pess. moradores de ontogenéticos, como observadas neste trabalho, levam a concluir Itirapina/SP). Já nas áreas do Valério, a última ocorrência de fogo que estudos que enfocam variações espaciais dentro e entre áreas e foi há dezoito anos, afetando principalmente a área do Valério 2 as características das espécies e seus habitats são de fundamental (com. pess. Instituto Florestal). Também foi documentada a ocor- importância para compreender melhor quais fatores influenciam rência de uma forte geada no ano de 1995 e a presença constante os processos populacionais. de gado no Fepasa (com. pess. moradores de Itirapina/SP e Institu- 5- Referências bibliográficas to Florestal). Por fim, através dessas informações pode-se inferir ALMEIDA, S.P., PROENÇA, C.E., SANO, S.M. & RIBEIRO, J.F. uma medida do nível de perturbação, o qual indica que as áreas do 1998. Cerrado: espécies vegetais úteis. Embrapa. Planaltina, DF. Valério, principalmente o Valério 1, são menos perturbadas do que BORGES, H.B.N. 2000. Biologia reprodutiva e conservação do os fragmentos do Broa, Estrela e Fepasa. E entre esses, o último é estrato lenhoso numa comunidade do cerrado. Tese de doutorado. o mais perturbado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 4- Discussão A predominância de diferentes estádios e as diferentes propor- FRAZER, G.W., CANHAM, C.D. & LERTZMAN, K.P. 1999. ções entre estádios geraram estruturas populacionais diferentes Gap Light Analyzer (GLA). Simon Fraser University, Burnaby, que podem ter sido influenciadas pela própria característica das British Columbia, e The Institute of Ecosystem Studies, Millbrook, fisionomias em questão, que variam de cerrado ralo a cerrado den- New York. so (florestal), pelo histórico de perturbação e por diferentes tipos HOFFMANN. W.A. 1998. Post-burn reproduction of woody de reprodução, com Roupala apresentando propagação vegetativa plants in a Neotropical savanna: the relative importance of sexual e Xylopia não. and vegetative reproduction. Journal of Applied Ecology 35:422- As condições de luminosidade são essenciais na fase inicial de 433. crescimento, principalmente para espécies intolerantes à sombra, HOFFMANN, W.A. & SOLBRIG, O.T. 2003. The role of topkill como Xylopia e Roupala (Almeida et al. 1998). Assim, as fisionomias in the differential response of savanna woody species to fire. Forest de cerrado mais denso, principalmente o Valério 1, parecem estar Ecology and Management 6172:1-14. associadas a uma maior a proporção de indivíduos de Xylopia em KHAN, M.L.; RAI, J.P. N. & TRIPATHI, R.S. 1987. Population estádios intermediários, enquanto que nas fisionomias mais aber- structure of some tree species in disturbed and protected subtropical tas, como no Broa, no Estrela e no Fepasa, ocorrem maiores pro- forests of north-east India. Acta Oecologica 8: 247-256. porções de indivíduos das duas espécies em estádios iniciais. Se- gundo Khan et al. (1987), em áreas mais abertas e/ou perturbadas MANOKARAN, N. & KOCHUMMEN, K. M. 1987. espera-se maior recrutamento dos estádios iniciais, devido à ocor- Recruitment,growth and mortality of tree species in a lowland rência de um grande número de microssítios favoráveis, gerados dipterocarp forest in Peninsular Malaysia. Journal of Tropical Ecology pela perturbação, aumentando a germinação e as chances de esta- 3:315-330. belecimento de plântulas, devido ao aumento da radiação solar RICE, W.R. 1989. Analyzing tables of statistical tests. Evolution incidente e o conseqüente aumento da temperatura, além da redu- 43: 223-225. ção na competição com árvores estabelecidas. SWAINE, M.D., LIEBERMAN, D. & PUTZ, F.E. 1987. The O fogo também tem um importante efeito na demografia de dynamics of tree populations in tropical forest: a review. Journal of plantas lenhosas do cerrado através do seu impacto na sobrevivên- Tropical Ecology 3:359-366. cia, no crescimento e na morte de biomassa aérea (Hoffmann & TIVER, F., NICHOLAS, M., KRITICOS, D. & BROWN, J. R. Solbrig 2003). Este tipo de perturbação age reduzindo a dominância de plantas estabelecidas e aumenta a disponibilidade de recursos 2001. Low density of prickly Acacia under sheep grazing in para plântulas, além de remover serrapilheira e húmus, que podem Queensland. Journal Range Management 54: 382-389. agir como barreiras para o estabelecimento de plântulas (Hoffmann WEINER, J. & SOLBRIG, O.T. 1984. The meaning and 1998). Como resultado disso, freqüentemente se observa que após measurement of size hierarchies in plant populations. Oecologia, uma perturbação, ocorre aumento no estabelecimento e cresci- 61:334-336. mento de plântulas, diminuição na taxa de recrutamento e aumen- ZAR, J.H. 1999. Bioestatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. to na mortalidade de plantas juvenis. Isso parece ter ocorrido com Xylopia nos fragmentos onde o fogo ocorre freqüentemente, princi- Micromorfologia e Anatomia Foliar de Erythroxylum palmente no Estrela e no Fepasa. P. Browne (Erythroxylaceae) do Cerrado do Estado A ocorrência de uma forte geada em 1995, pode ter ocasionado de São Paulo morte da parte aérea e posterior rebrotamento dos indivíduos, sen- do, possivelmente, o fator responsável pela alta proporção de rebrotas, Angela Cristina Bieras & Maria das Graças Sajo o que parece ter influenciado as distribuições de tamanho, principal- Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista (UNESP), mente a distribuição de diâmetro em Xylopia. A presença de gado no Rio Claro, SP ([email protected]) fragmento Fepasa, provavelmente é responsável pela baixa densidade e menor proporção dos indivíduos dos estádios intermediários a 1. Introdução O Cerrado abrange 20 a 25% do território nacional (Joly tardios em Xylopia, pois o gado geralmente tem um efeito negativo na 1970; Hueck 1978; Ferri 1980; Ratter et al. 1997) e apresenta um taxa de recrutamento, levando ao aumento na mortalidade de juve- nis (entre 1-3 m de altura) (Tiver et al. 2001). gradiente fisionômico que varia desde uma paisagem campestre (os campos limpos) até uma paisagem com aspecto florestal (os A propagação vegetativa em Roupala pode levar a espécie a cerradões) (Coutinho 1978). Reúne uma flora bastante rica e

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 383 Cerrado Volume I diversificada com cerca de 6062 espécies de fanerógamas e 267 NERVAÇÃO: Todas as espécies estudadas apresentam nervura espécies de pteridófitas (Mendonça et al. 1998). principal com traçado reto e nervação secundária do tipo No estado de São Paulo, o Cerrado originalmente se encontra- camptódromo-broquidódromo. As nervuras terciárias e de ordens va na região centro – norte, mas devido ao ritmo intenso e superiores determinam aréolas imperfeitas, de formato irregular e desordenado de ocupação sua área original foi drasticamente redu- distribuídas ao acaso. Na maioria das espécies, a nervação última zida. Algumas espécies de Erythroxylum, com súber espesso e ga- marginal é do tipo em arco, entretanto, em E. cuneifolium e E. lhos retorcidos, são bastante características deste tipo de formação ambiguum ela é do tipo incompleta. Numa mesma folha, as ter- vegetal. O gênero compreende cerca de 180 espécies neotropicais minações vasculares podem ser simples ou ramificadas. (Ribeiro et al. 1999), sendo que para o Brasil foram listadas 130 De acordo com Rury (1981), embora o padrão de nervação espécies em ambientes florestais e de cerrado sensu lato. Reúne seja variável nas espécies de coca (E. coca e E. novogranatense) e suas representantes arbóreos, arbustivos e subarbustivos com folhas in- variedades, esse caráter pode ser taxonômicamente útil dentro de teiras, glabras, membranáceas a coriáceas, de filotaxia alterna ou Erythroxylaceae. oposta e portadoras de estípulas interpeciolares, geralmente per- ANATOMIA: Em E. campestre e E. suberosum os pecíolos apre- sistentes e estriadas no sentido longitudinal (Amaral Junior 1980; sentam configuração do tecido vascular em forma de arco fechado, Ribeiro et al. 1999). nas demais espécies estudadas os mesmos apresentam-se em forma O presente trabalho descreve a anatomia foliar das nove espécies de arco aberto. de Erythroxylum do Cerrado do estado de São Paulo, com o objetivo As lâminas foliares são dorsiventrais e apresentam células de apontar caracteres que auxiliem na delimitação desses táxons. mucilaginosas, nas duas faces da epiderme, conforme referido por 2. Material e Métodos Metcalfe & Chalk (1957). Na face adaxial a epiderme pode ser Foram coletadas folhas adultas dos Erythroxylum presentes nos uniestratificada, ocasionalmente biestratificada ou biestratificada. remanescentes de Cerrado de Botucatu, Itirapina, Corumbataí (Área Em E. pelleterianum a epiderme se mostra papilosa na face abaxial. de Proteção Ambiental) e Mogi Guaçu (Reserva Biológica e Esta- De acordo com Metcalfe & Chalk (1957), papilas epidérmicas são ção Experimental de Mogi Guaçu): Seção Archerythroxyllum O. E. freqüentes em Erythroxylum, podendo ser um caráter útil na sepa- Schulz: E. ambiguum Peyr. e E. tortuosum Mart.; Seção Macrocalyx ração de espécies e variedades de cocas (Machado 1972; Rury & O. E. Schulz: E. suberosum St. Hil.; Seção Microphyllum O. E. Plowman 1983). Schulz: E. cuneifolium (Mart.) O. E. Schulz, E.microphyllum St. Para o mesofilo das espécies estudadas, observam-se dois pa- Hil.; Seção Rhabdophyllum O. E. Schulz: E. campestre St. Hil., E. drões distintos de organização: parênquima paliçádico/lacunoso deciduum St. Hil., E. nanum St. Hil., E. pelleterianum St. Hil.. ocupando respectivamente 30/70%, da espessura da lâmina, e Os estudos foram realizados utilizando-se folhas pertencentes parênquima paliçádico/lacunoso ocupando a mesma porcentagem ao 3º e/ou 4º nó, previamente fixadas em FAA 50 (Johansen 1940) do mesofilo (50/50%). e estocadas em álcool 50% glicerinado. Esclereídeos ramificados e dispersos no mesofilo são comuns A micromorfologia da superfície foliar foi analisada com o uso em E. campestre e E. suberosum, confirmando as observações de do Microscópio Eletrônico de Varredura. A classificação dos tipos Rury (1981). Segundo Ballard (1926) a presença ou não de de cera epicuticular baseou-se trabalho de Barthlott et al. (1998). esclereídeos pode auxiliar na delimitação das espécies de Para o estudo do padrão de nervação foliar utilizou-se o proces- Erythroxylum; no presente estudo essa característica foi usada como so de diafanização proposto por Shobe & Lersten (1967), com auxiliar na identificação dos táxons. algumas modificações. Para a descrição e classificação dos padrões de Os bordos foliares, em corte transversal, podem apresentar nervação, utilizou-se os tipos básicos definidos por Hickey (1979). forma acuminada ou arredondada. Para os estudos anatômicos os cortes histológicos transversais A nervura central, em corte transversal, pode ser convexa nas foram confeccionados à mão-livre, nas regiões apical dos pecíolos e duas faces, acuminada na face adaxial e convexa na abaxial ou mediana dos limbos. Os cortes foram clarificados com água sanitária pouco saliente nas duas faces, como observado apenas em E. 20%, corados com astra-blau e safranina (safrablau) (Kraus & Arduin microphyllum. Sendo formada por um único feixe em E. 1997) e, posteriormente, montados em lâminas semi-permanentes. microphyllum ou por feixes unidos que se dispõem em anel, em Os resultados obtidos foram registrados por meio de fotomicrografias, ferradura ou em arco aberto. Segundo Ballard (1926) a configura- e as escalas fotografadas nas mesmas condições ópticas. ção da nervura central pode auxiliar na identificação de determina- 3. Resultados e Discussão dos Erythroxylum, embora Rury (1981) considere esse caráter im- SUPERFÍCIE: A cera epicuticular não se distribui portante apenas em casos restritos. Para os representantes aqui homogeneamente nas duas faces foliares. Para a maioria das espéci- estudados, a forma e configuração do tecido vascular da nervura es esta se encontra distribuída esparsamente na face adaxial e den- central se mostraram úteis na delimitação das espécies. samente na abaxial. Cristais de cera dos tipos grânulos e plaquetas Para as folhas de Erythroxylum aqui estudadas pode-se dizer arranjadas em rosetas podem ser vistos em ambas as faces foliares. que algumas características são de ampla distribuição, enquanto Na face abaxial de E. tortuosum são observados cristais na forma de que outras aparecem apenas em determinados táxons. A ocorrên- plaquetas membranáceas. Segundo Barthlott et al. (1998), cristais cia ou não dos diferentes caracteres permitiu elaborar a seguinte de cera formando placas ou plaquetas encontram-se amplamente chave de identificação para as espécies de Erythroxylum que ocor- distribuídos nas plantas apresentando, portanto, pouco significado rem no Cerrado do estado de São Paulo. taxonômico. Os estômatos, restritos à face abaxial, não são facilmente visí- CHAVE DE IDENTIFICAÇÃO BASEADA EM veis devido ao acúmulo de ceras e à espessura da cutícula. Entre- CARACTERES ANATÔMICOS tanto, notam-se fendas na epiderme que correspondem aos pontos onde estas estruturas estão alojadas. 1. Nervura central formada por vários feixes vasculares .....2 Na superfície abaxial das folhas de E. deciduum e E. suberosum 2.Presença de esclereídeos no mesofilo ...... 3 observam-se projeções, formadas devido ao acúmulo de cristais de 3. Epiderme ocasionalmente biestratificada na face adaxial .....E. cera. De acordo com Salatino et al. (1986), a presença de estrias campestre cuticulares, de cristais de cera e de tricomas nas folhas, podem 3. Epiderme uniestratificada na face adaxial ...... E. suberosum indicar adaptações às condições do cerrado, onde predominam 2. Ausência de esclereídeos no mesofilo ...... 4 altas intensidades luminosas. 4. Nervura central com a face adaxial acuminada ...... 5

384 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

4. Nervura central com a face adaxial convexa ...... E. Salatino, A.; Montenegro, G. & Salatino, M.L.F. (1986). ambiguum Microscopia eletrônica de varredura de superfícies foliares de espéci- 5. Nervura central com sistema vascular em ferradura ...... 6 es lenhosas do cerrado. Revista Brasileira de Botânica 9: 117-24. 5. Nervura central com sistema vascular em arco aberto ...E. Shobe, W.R. & Lersten, N.R. (1967). A technique for clearing and cuneifolium staining gymnosperm leaves. Botanical Gazette 127 (2): 150-52. 6. Ausência de papilas na face epidérmica abaxial...... 7 (CAPES, CNPq, FAPESP) 6. Presença de papilas na face epidérmica abaxial ...... E. pelleterianum 7. Epiderme biestratificada na face adaxial...... 8 Influência do tamanho e da distância interindividual 7. Epiderme uniestratificada na face adaxial ...... E. nanum em Kielmeyera variabilis (Clusiaceae) na predação 8. Parênquima paliçádico/lacunoso = 30/70 % ...... E. deciduum por insetos herbívoros 8. Parênquima paliçádico/lacunoso = 50/50 % ...... E. tortuosum Angelita S. Coelho 1, Rafael D. Loyola 1, Marcelo S. Moretti 1 e 1. Nervura central formada por um único feixe vascular Nilson G. Fonseca 2 ...... E. microphyllum 1 Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo 4. Referências Bibliográficas da Vida Silvestre Amaral Junior, A. (1980) Erythroxyláceas. In: Reitz, R. (ed). Flora Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]) ilustrada catarinense. Herbário Barbosa Rodrigues. Itajaí, 64p. 2 Universidade Federal de Minas Gerais Ballard, C.W. (1926). Structural variations in Erythroxylon leaves. Journal of the American Pharmaceutical Association 15: 343-59, 433- 1. Introdução 53, 533-49. A Hipótese da Concentração de Recursos proposta por Root (1973) postula que “é mais provável que herbívoros encontrem e Barthlott, W.; Neinhuis, C.; Cutller, D.; Ditsch, F.; Meusel, I.; permaneçam em hospedeiros que crescem em manchas densas e de Theisen, I. & Wilhelmi, H. (1998). Classification and terminology uma única espécie”. Diversos exemplos confirmam esta hipótese. of plant epicuticular waxes. Botanical Journal of the Linnean Society Murton et al. (1966) demonstraram que indivíduos de Columba 126: 237-60. palumbus se agregam em áreas com altas densidades de trevos e, Coutinho, L.M. (1978). O conceito de cerrado. Revista Brasileira Coll e Bottrell (1994) observaram que Epilachna varivestis coloniza de Botânica 1 (1): 17-24. mais rapidamente monoculturas de feijão, comparando-se com Ferri, M.G. (1980). Vegetação brasileira. EDUSP, São Paulo. culturas mistas (feijão e milho). Além disso, organismos não herbí- voros exibem a mesma tendência: Smith e Dawkins (1971) mos- Hickey, L.J. (1979). A revised classification of the architecture of traram que indivíduos de Parus major permanecem mais tempo em dicotyledonous leaves. Pp. 25-39. In: Metcalfe, C.R. & Chalk, L. manchas com maior abundância de presas (Tenebrio mollitor) e Anatomy of the dicotyledons. 2ed. New York Claredon Press, Oxford. sabe-se que larvas de Coccinella septempunctata gastam mais tempo Hueck, K. (1978). Los bosques de Sudamérica. Sociedad Alemania em folhas com altas densidades de afídeos (Brevicoryne brassicae) de Cooperación Técnica, Ltda. (GTZ), Eschborn. (Begon et al., 1996). Johansen, D.A. (1940). Plant microtechnique. Mac Graw-Hill, Herbívoros forrageando em manchas com recursos decrescen- New York. tes devem decidir quanto tempo permanecer nas mesmas (Charnov, Joly, A.B. (1970). Conheça a vegetação brasileira. Polígono: EDUSP, 1976). Dois fatores básicos influenciam tal decisão: o tamanho da São Paulo. mancha (abundância e qualidade do recurso) e a distância entre manchas (tempo de busca). A própria diversidade de insetos herbí- Kraus, J.E. & Arduin, M. (1997). Manual básico de métodos em voros é influenciada por estes fatores (Strong et al., 1984). Além morfologia vegetal. EDUR, Rio de Janeiro. disso, a distribuição espacial e o grau de heterogeneidade do ambi- Machado C.E. (1972). El gênero Erythroxylon en el Peru. ente também refletem diretamente na diversidade de herbívoros Raymondiana 5: 5-101. (Brown e Allen, 1989). Uma vez que herbívoros tendem a se agre- Mendonça, R.C.; Felfili, J.M.; Walter, B.M.T.; Silva Junior, M.C.; gar em áreas com maior concentração de recursos, e tal agregação Rezende, A.V.; Filgueiras, T.S. & Nogueira, P.E. (1998). Flora pode levar a um aumento da herbivoria, espera-se que plantas mais vascular do cerrado. Pp. 289-556. In: Sano, S.M. & Almeida, S.P. próximas umas das outras sejam mais predadas que aquelas que Cerrado: ambiente e flora. EMBRAPA-CPAC, Planaltina. apresentam maiores distâncias interindividuais. Deve-se ressaltar Metcalfe, C.R. & Chalk, L. (1957). Anatomy of the dicotyledons – que a agregação de herbívoros em manchas de recurso pode elevar leaves, stem, and wood in relation to taxonomy with notes on economic a competição local, favorecendo o deslocamento em busca de ou- uses. v.1. Claredon Press, Oxford. tras manchas (Strong et al., 1984). Kilmeyera variabilis (Spreng.) Mart é um arbusto característico Ratter, J.A., Ribeiro, J.F., Bridgewater, S. (1997). The brasilian do cerrado que apresenta, em geral, 3 a 6 m de altura, com tronco cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany bastante suberoso de 20 a 30 cm de diâmetro. Suas folhas são 8 (3): 223-30. coriáceas com cerca de um palmo de comprimento, elípticas, com Ribeiro, J.E.L.da S.; Hopkins, M.J.G.; Vicentini, A.; Sothers, C.A.; base e ápice arredondado. Floresce de novembro a janeiro e seus Costa, M.A. da S.; Brito, J.M. de; Souza, M.A.D. de; Martins, frutos amadurecem entre setembro e outubro. É uma planta L.H.P.; Lohmann, L.G.; Assunção, P.A.C.L.; Pereira, E. da C.; heliófita e xerófita. Ocorre desde Piauí até São Paulo e no Mato Silva, C.F. da; Mesquita, M.R. & Procópio, L.C. (1999). Flora da Grosso do Sul. No entanto, na área estudada a espécie cresce sob Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma a forma de touceiras muito ramificadas e de pequeno porte, não floresta de terra-firme na Amazônia Central. IMPA, Manaus. ultrapassando 90 cm de altura. Rury, P.M. (1981). Systematic anatomy of Erythroxylum P. Browne: Este estudo teve como objetivo testar as predições das seguin- practical and evolutionary implications for the cultivated cocas. tes hipóteses: (1) quanto mais próximos estiverem os indivíduos de Journal of Ethnopharmacology 3: 229-63. K. variabilis, maior será a herbivoria encontrada em suas folhas e Rury, P.M. & Plowman, T. (1983). Morphological studies of (2) quanto maior o indivíduo de K. variabilis maior a porcentagem archeological and recent coca leaves (Erythroxylum sp.). Botanical de folhas predadas no mesmo. Neste artigo, discutimos um pouco Museum Leaflets 29 (4): 279-341. a respeito da Hipótese de Concentração de Recursos e sobre que

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 385 Cerrado Volume I efeitos parecem ser mais importantes na determinação das taxas de a Hipótese da Concentração de Recursos, a qual é normalmente herbivoria sobre indivíduos de K. variabilis em campos metalíferos estudada em termos de duas variáveis, a abundância absoluta de do Quadrilátero Ferrífero, MG, um ambiente que impõe restri- uma planta hospedeira e a densidade relativa em relação a outras ções ecológicas às comunidades que nele se desenvolvem, como espécies de planta. Outras espécies vegetais podem reduzir a dis- baixa retenção de umidade e escassez de solos. ponibilidade da planta alvo para os principais herbívoros “escon- 2. Métodos dendo-a” em uma mescla de hospedeiros não utilizáveis (Atsatt e O estudo foi realizado em um campo de canga nodular, situa- O’Dowd, 1976). do a aproximadamente 25 Km ao sul da cidade de Belo Horizonte, Um grande número de estudos tem testado a influência da próximo ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça, Minas Ge- densidade e da diversidade de espécies de vegetais sobre a abun- rais. As formações vegetais observadas na área são o cerrado (até dância de espécies herbívoras especificas (Bach, 1980; Kareiva, 800 m), campos rupestres (acima de 1200 m), e matas de galeria 1982). Os resultados apresentados neste artigo são uma mostra nos vales. Entre altitudes de 800 e 1200 m zonas de ecótones de clara que a concentração de recursos leva a uma maior utilização cerrado e campo rupestre são observadas. A região adjacente à área dos mesmos. Não obstante, defesas físicas e químicas de plantas de estudo possui grande número de nascentes, perturbadas perio- restringem a predação. De fato, a esclerofilia é um fenômeno co- dicamente por queimadas na época das secas. Os solos são rasos, mum em plantas de cerrado e limita, de certa forma, a predação com inúmeros afloramentos rochosos de quartzitos, o que propicia por insetos herbívoros de vida livre neste bioma (Ribeiro, 1992). a formação das nascentes. Além disso, se a herbivoria estivesse relacionada unicamente com a Em uma área total de 0,6 ha, foram identificados e marcados 45 idade da planta, esperar-se-ia uma relação negativa entre o tama- indivíduos de K. variabilis. Em seguida, mediu-se a distância dos nho da mesma e a porcentagem de folhas predadas. Contudo, o cinco vizinhos mais próximos a cada indivíduo. Contou-se o número mesmo não foi observado, pois a relação, ainda que não significati- total de folhas, o número de folhas predadas e não predadas de cada va, foi positiva. Deve-se ressaltar que o fato de não existirem indi- um dos indivíduos marcados, assim como de seus vizinhos, totalizando víduos com predominância de folhas jovens na área, durante o 133 plantas amostradas. Este número é inferior a 225 (45 indivíduos período de estudo, impossibilita o teste adequado desta hipótese. x 5 vizinhos), pois muitas plantas apresentavam vizinhos em comum. A existência de outros fatores que determinam a distribuição Foram consideradas como predadas folhas que apresentassem mar- dos insetos herbívoros (e.g., competição) pode ser responsável pela cas visíveis de herbivoria produzidas por insetos mordedores. Mar- baixa correlação observada entre a distancia entre indivíduos de K. cas realizadas por insetos minadores foram excluídas da amostragem variabilis e o numero de folhas predadas; e a inexistência de corre- por serem extremamente raras (menos que 1%) e outras marcas de lação entre a disponibilidade de folhas e a predação. Embora a herbivoria (e.g., provocadas por insetos raspadores) não foram ob- correlação seja significativa, o modelo explica pouco o padrão de servadas durante o período de estudo. distribuição dos insetos (± 30%). Se a competição fosse um fator Para testar a predição da primeira hipótese, foi feita uma cor- importante na estruturação da comunidade, ela estaria limitando relação de Pearson entre a porcentagem de folhas predadas e a uma agregação mais intensa dos insetos nas manchas ao favorecer a média de distância dos cinco vizinhos mais próximos e, para verifi- dispersão em busca de manchas menos utilizadas. Ainda assim, os car a validade da hipótese em menor escala, entre a porcentagem resultados obtidos nos permitem concluir que, na área estudada, a de folhas predadas e a distância do vizinho mais próximo. herbivoria ocasionada por insetos sobre a espécie K. variabilis é A predição da segunda hipótese foi testada através de uma influenciada pela distribuição espacial da planta, ou seja, pela dis- correlação de Pearson entre a porcentagem de folhas predadas e o tância interindividual, e não pela disponibilidade de recursos, i. e., número total de folhas de cada indivíduo. O número total de pelo tamanho da planta. folhas foi utilizado como estimativa indireta do tamanho da plan- 5. Referências Bibliográficas ta, ou seja, da quantidade de recursos disponibilizada por cada ATSATT, P. R. & O’DOWD, D .J. 1976. Plant defense guilds. indivíduo. Os dados relativos às distâncias interindividuais e ao Science 193: 24-29. número de folhas sofreram transformação logarítmica para que BACH, C. E., 1980. Effect of plant density and diversity on the apresentassem uma distribuição normal (Zar, 1996). population dynamics of a specialist herbivore, the striped cucumber 3. Resultados beetle, Acalymma vittata (Fab.). Ecology 61: 1515-1530. Foi observada uma relação negativa entre a porcentagem de predação e a média das distâncias dos cinco vizinhos mais próxi- BEGON, M., HARPER, J. L. & TOWNSEND, C. R. 1996. Ecology: a mos (r2=0,297, p=0,007). A relação manteve-se significativamente Individuals, Populations and Communities. 3 ed. Blackwell, Oxford. negativa, considerando-se apenas a distância do vizinho mais pró- BROWN, B. J. & ALLEN, T. F. H., 1989. The importance of scale ximo (r2=0,180, p=0,043), entretanto, tal relação foi melhor in evaluating herbivory impacts. Oikos 54 (2): 189-194 explicada pelo primeiro modelo. Estes resultados corroboram a CHARNOV, E. L. 1976. Optimal foraging: the marginal value primeira hipótese e, portanto, evidenciam que quanto mais próxi- theorem. Theoretical Population Biology 9: 129-136. mos estão os indivíduos de K. variabilis, mais predados eles são. COLL, M. & BOTTRELL, D. G. 1994. Effects of nonhost plants Vale a pena ressaltar que os modelos propostos, embora sejam on an insect herbivore in diverse habitats. Ecology 75: 723-731. significativos, explicam pouco da variação encontrada em relação ao padrão de distribuição dos insetos. KAREIVA, P. 1982. Influence of vegetation texture on herbivore Não se observou uma relação significativa entre o número de populations: resource concentration and herbivore movement. In: total de folhas e a porcentagem de predação (r2=0,078, p=0,195). Variable Plants and Herbivores in Natural and Managed Ecosystems. Este resultado refuta a segunda hipótese, que predizia que quanto Ed. R.F. Denno & M.S. McClure. Academic Press, New York, maiores fossem os indivíduos de K. variabilis (maior número de pp.259-289. folhas disponíveis), mais predados eles seriam. Tal resultado pode MURTON, R. K., ISAACSON, A. J. & WESTWOOD, N. J. estar relacionado com o fato de que plantas maiores seriam mais 1966. The relationships between wood pigeons and their clover velhas. Sendo assim, apresentariam folhas mais velhas, com defesas food supply and the mechanism of population control. Journal of físicas mais eficazes contra a herbivoria, como por exemplo, maior Applied Ecology, 3:55-93. concentração de fibras, o que tornaria a folha mais coriácea. RIBEIRO, S. P. 1992. Distribuição de insetos herbívoros em cer- 4. Conclusão rados e campos rupestres na Serra do Cipó: o papel de compostos Os resultados encontrados neste estudo estão de acordo com fenólicos em plantas esclerófilas. Tese de Mestrado. ICB/Universi-

386 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado dade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. temáticos, de restrições ambientais, fundiário e de zoneamento ROOT, R.B. 1973. Organization of a plant-arthropod association territorial (PDOT, 1997; UNESCO, 2000; SEMARH-DF, 2000) in simple and diverse habitats: the fauna of collards (Brassica oleracea). conjugando-os com imagens de satélite (projeção UTM do Parque Ecological Monographs 43: 95-124. Nacional de Brasília e da Estação Ecológica de Águas Emendadas e cartas-imagem de 2000 a 2002 do IBGE e EMBRAPA) visando SMITH, J.N.M. & DAWKINS, R. 1971. The hunting behaviour definir o local e as dimensões mais adequadas para o corredor, com of individual great tits in relation to spatial variations in their food observância ao Código Florestal, lei nº 4.771 de 15/09/65, e à density. Animal Behaviour. 19: 698-706. Resolução nº 09 (24/10/96) do CONAMA. STRONG, D.R., LAWTON, J.H. & SOUTHWOOD, R. 1984. 3 Resultados Insects on Plants. Harvard University Press, Cambridge. Constatou-se que, a partir da década de 80, o crescimento ZAR, J.A. 1996. Bioestatistical Analyses. 3a ed. Prentice Hall, New populacional do Distrito Federal intensificou-se e passou a transgre- Jersey. dir as especificações estabelecidas pelo Plano de Ordenamento Territorial (PDOT-DF) com assentamentos urbanos estabelecen- Planejamento de Corredor Ecológico entre o Parque do-se em áreas de uso rural, de proteção ambiental e de mananciais. Nacional de Brasília e a Estação Ecológica de Águas Observou-se a presença de vegetação nativa em sua integridade nas zonas-núcleo da RBC. Todavia, pôde-se verificar, com as ima- Emendadas – Distrito Federal – Brasil. gens de satélite, que estão cercadas por áreas antropizadas, estando, Anna Paula Rodrigues ([email protected])1, Cláudio Benedito portanto, completamente afastadas umas das outras (fragmentadas). Valladares Pádua2 e Jeanine Maria Felfili Fagg2 Os limites das matas de galeria e demais Áreas de Proteção 1 Mestranda em Ciências Florestais, Universidade de Brasília Permanente (APPs) não estão sendo respeitados, havendo explora- 2 Professores do Departamento de Engenharia Florestal, Universidade ção de madeira e abertura de áreas para agricultura. Verificou-se, de Brasília também, que as restrições de ocupação das zonas-tampão da RBC são igualmente desrespeitadas. 1 Introdução As regiões norte e nordeste do DF, justamente onde o Parque A atual situação dos parques e reservas ambientais no Brasil é Nacional de Brasília e a Estação Ecológica estão, respectivamente, crítica. O número de unidades de conservação (UCs) e a área que localizadas, apresentam os melhores índices de preservação cobrem são pequenos em relação às dimensões do país. O Cerrado ambiental, talvez por possuírem formação topográfica acidentada, é um exemplo dos biomas ameaçados pela fragmentação, encon- o que pode estar dificultando a sua ocupação. A topografia aciden- trando-se extremamente em risco pelas atividades antrópicas, ha- tada, a baixa densidade humana e o melhor estado de preservação vendo estudos afirmando que cerca de 60% do Bioma não existem dessa região são fatores facilitadores à implantação de corredores mais (UNESCO, 2000), o que o coloca entre um dos Hot Spots do ecológicos nessa área mundo (Myers et al., 2000). A parte norte do PNB, de topografia acidentada e com suscep- Na tentativa de evitar o agravamento da situação, a UNESCO, tibilidade a processos erosivos, ainda possui vegetação nativa em organização das Nações Unidas, estabeleceu em 1993 a Reserva da boa quantidade e qualidade, onde está o Rio das Salinas e outros Biosfera do Cerrado (RBC) como forma de preservar o remanes- córregos, podendo constituir uma zona de proteção ambiental. cente desse Bioma. A RBC é constituída por zonas de transição, Sua proximidade do PNB a tornaria uma zona-tampão bastante tampão e três zonas-núcleo localizadas no Distrito Federal: o Par- extensa, englobando diferentes ecossistemas. Estando dentro da que Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Águas Emendadas APA do Cafuringa, pode ser utilizada, desde que sejam mantidas as e as reservas do IBGE, do Jardim Botânico e da Fazenda Água suas qualidades ambientais, deve ter a sua ocupação controlada e Limpa/UnB que, ao todo, abrangem 226.000 hectares ou 40% do ordenada. Outro fator que facilitaria a implantação do corredor território do DF (Felfili & Santos, 2002). nessa zona é a existência de pequenas propriedades agrícolas, que Nos últimos 20 anos, entretanto, o Distrito Federal tem sofri- não causariam grandes impactos ao corredor, desde de que super- do um inchamento populacional que vem promovendo a ocupação visionados e orientados de modo a respeitar as restrições para essas desenfreada do território, em sua maioria em áreas de proteção atividades em uma APA (Resolução 010/88 do CONAMA), ambiental e susceptíveis à erosão (Paixão, 2001). As zonas-núcleo averbarem-se reservas legais e APPs. da RBC encontram-se cercadas por diferentes formas de atividades O Rio da Palma, localizado à noroeste do PNB, seria outro antrópicas, tornando-as cada vez mais isoladas umas das outras e ponto de conexão com o corredor. É uma região ocupada por aumentando a freqüência e o número de distúrbios dentro delas. terras agrícolas, mas que têm suas matas em boas condições de O Parque Nacional de Brasília (PNB) e a Estação Ecológica de conservação. A acentuada inclinação das suas terras manteve a Águas Emendadas (ESECAE) são dois núcleos de extrema impor- ocupação distante das margens do rio. Seus morros e fendas de tância ecológica para o Bioma (abrigam diferentes ecossistemas, declividade acentuada devem, portanto, ser protegidos, como de- além de áreas de beleza cênica, arqueológica e sítios históricos) e termina a Legislação, a uma atenção regular dos serviços de fiscali- para o DF (protegem corpos d’água de abastecimento). zação e monitoramento ambientais. O presente projeto propôs a formação de um sistema de corre- As áreas ocupadas pela CAESB (Companhia de Água e Esgoto dores ecológicos interligando o PNB e a ESECAE para atenuar o de Brasília) e pela EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telé- seu isolamento para reduzir os impactos e distúrbios antrópicos grafos), no limite sudeste do PNB, encontram-se com vegetação impostos sobre as reservas e, assim, garantir a preservação, a longo nativa preservada. O PDOT contém uma proposta de torná-las prazo, do maior número de espécies possível, e a qualidade e dispo- uma unidade de conservação, devido à susceptibilidade a degrada- nibilidade de água para o DF e Entorno. ção ambiental e à relevância como poligonal de proteção de ma- 2 Metodologia nancial. Estando ao lado do Parque Nacional, serviria como um A área de estudo está localizada na Área de Proteção Ambiental segundo ponto de conexão entre a reserva e o corredor ecológico. (APA) do Cafuringa ao norte do Distrito Federal. Esta é uma É porta de entrada dos Ribeirões da Contagem e Sobradinho e unidade de conservação de uso direto (SNUC, 2000), onde está única área em que as matas de galeria estão protegidas. parte da Chapada da Contagem e a Bacia do Rio Maranhão. A ESECAE encontra-se praticamente envolvida por áreas Realizou-se um estudo comparativo e evolutivo da ocupação antropizadas, o que dificultou a determinação de pontos de humana, desde os anos de implantação da Capital até o ano 2002, integração. No limite oeste, encontra-se o Ribeirão Palmeiras o nas áreas do entorno e entre as reservas, por meio de mapas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 387 Cerrado Volume I qual, por ser mais próximo à reserva, foi considerado apropriado São Paulo, 29 de outubro de 1999, São Paulo. para fazer parte da conexão entre a reserva e o corredor ecológico. MEFFE, G.K; CARROLL, C.R. Principles of Conservation Seria preciso um programa de recomposição das matas do Ribeirão Biology. Sinauer Associates, Inc. Sunderland: MA, USA, 1994. para que a conexão fosse viabilizada. MMA e PP-G7, Projeto Parques e Reservas, versão 2.0, Vol. 1 – A parte norte da ESECAE seria conectada pelo córrego Vereda Geral, Ministério do Meio Ambiente/IBAMA, 1997. Grande e pelo Rio Maranhão. Apesar de suas terras vizinhas esta- rem ocupadas por culturas agrícolas e a mata de galeria não estar MYERS, N; MITTERMEIER, R.A; MITTERMEIER, C.G; em boas condições de preservação, um trabalho de recuperação da FONSECA, G.A.B; KENT, J. Biodiversity hotspots for Conservation vegetação nativa possibilitaria que a Estação Ecológica fosse Priorities, p. 853 – 858. In: Nature, vol. 403, 24 February 2000. conectada ao corredor via estes dois cursos d’água, os quais abaste- PAIXÃO, A.H. Explosão na Periferia. Correio Braziliense, 16 de cem a vereda. O corredor, por aquela rota, serviria como zona fevereiro de 2001, Seção Cidades, p. 19. tampão para os distúrbios antrópicos exteriores aos quais a reserva TAHAN, F; PAIXÃO, A.H. Verde Destruído. Correio Braziliense, encontra-se exposta. 31 de Janeiro de 2001, SeçãoTema do Dia, p. 6, Brasília. Pela parte sul, a conexão poderia ser feita através da mata de SCOTT, J.M; CSUTI, B; CAICCO, S. Gap Analysis: Assessing galeria do Córrego Atoleiro, que passa por Planaltina e entra na Protection Needs. Section I, Chapter 1, p.15-26. In: HUDSON, reserva. A Lagoa Bonita, que atualmente, encontra-se separada da W.E. (ed.) Landscape Linkages and Biodiversity. Island Press, Wa- ESECAE devido a ocupação indevida de seus arredores, é um pon- shington – DC, Defenders of Wildlife, 1991. to de relevante interesse ecológico pela própria Lagoa e também em razão dos córregos e cursos d’água que adentram a ESECAE, SNUC, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, 2000 que, desprotegidos, servem de acesso aos distúrbios externos. Infe- UNESCO, Vegetação no Distrito Federal – tempo e espaço, Fase lizmente, a área que o corredor proposto cobriria seria menor I. Brasília: UNESCO, 2000. devido ao alto grau de ocupação humana daquelas áreas e o proces- www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br/go/index.htm, Embrapa so de desapropriação dos terrenos particulares e até mesmo das Monitoramento por Satélite, 2002. terras invadidas que estão com infraestrutura consolidada, dificul- taria a implementação de futuros projetos. Os demais pontos de implantação do corredor ecológico Forrageamento da formiga Camponotus atriceps PNB-ESECAE seguiriam os cursos d’água, procurando-se estabe- Smith, 1858 (hymenoptera: formicidae) em lecer o limite mínimo de 100m de largura da vegetação constituin- condições urbanas te. As terras com pouca ocupação humana também poderiam vir a Anne Pinheiro Costaa & Marcus Teixeira Marcolinob constituir o corredor ecológico, pois haveria mais facilidade de aGraduação Ciências Biológicas Universidade Federal de Uberlândia controle da expansão humana sobre essas áreas. ([email protected]) 4 Conclusões bPós-graduação Instituto de Genética e Bioquímica Universidade Ante o relatado neste estudo, concluiu-se que a ocupação in- Federal de Uberlândia tensiva e desordenada do Distrito Federal, desde a construção de Brasília, vem provocando sérios danos ao meio ambiente. A preser- 1. Introdução vação da região em tela é crucial haja vista a sua fragilidade ambiental As formigas Camponotus (formigas carpinteiras) estão distribu- e a sua importância sócio-ambiental para a população do DF e ídas por todo o mundo e possuem cerca de 1.000 espécies. Possu- Entorno. A implantação do sistema de corredores entre o PNB e a em hábito noturno e são facilmente atraídas por substâncias doces ESECAE seria possível, garantindo a conservação e sustentabilidade (Hölldobler e Wilson, 1990). das Unidades de Conservação, bem como preservando a qualidade Nos últimos anos, a espécie Camponotus atriceps tem apresen- e a disponibilidade dos recursos hídricos para o abastecimento do tado uma intensa atividade sinantrópica e sua adaptação à ambien- Distrito Federal. tes urbanos tem provocado prejuízos econômicos como os que já Procurar-se-ia o apoio de órgão distritais e federais para auxi- ocorrem com outras espécies de Camponotus nos EUA (Fowler, liar o cumprimento das legislações ambientais no tocante à manu- 1990). Na região de Uberlândia a formiga Camponotus vem cau- tenção das Reservas Legais nas propriedades rurais e, em relação sando vários problemas na área urbana e ainda prejudica a apicul- aos particulares, no estímulo à criação de Reservas Particulares do tura e a meliponicultura (Marcolino et al, 2000; Marcolino, 1999). Patrimônio Natural. A maioria das espécies de formigas é generalista. Existem, en- 5 Bibliografia Consultada tretanto, algumas bastante especializadas e que apresentam adap- tações morfológicas e comportamentais para a aquisição e ARAGÃO, L.T. Ocupação Humana de Brasília. Cap. 5, p. 163- processamento do alimento (Diehl-Fleig, 1995; Ramos, 2000). 180. In: PINTO, M.N (org.). In: Cerrado: Caracterização, Ocu- Todos os indivíduos de uma colônia compartilham os alimentos pação e Perspectiva. Brasília: Editora UnB, 1990. dentro do ninho, mas somente algumas operárias saem do ninho FELFILI, J.M.; SANTOS, A.Á.B. Direito Ambiental e Subsídios para procurar os alimentos (Fowler et al., 1991). Uma variedade de para a Revegetação de Áreas Degradadas no Distrito Federal. Co- modos de forrageamento é utilizada pelas formigas, de individual municações Técnicas Florestais, Volume 4, nº 2, Universidade de ou difuso a forragemanto em grupo (Hölldobler e Wilson, 1990). Brasília, Departamento de Engenharia Florestal, 2002. Os mecanismos através dos quais a sociedades de formigas HAY, K.G. Greenways and Biodiversity. Cap. 10, p.162-175. In: conseguem agrupar grandes quantidades de formigas em torno de HUDSON, W.E. (ed.) Landscape Linkages and Biodiversity. Island fontes de alimento constituem o recrutamento (Verhaeghe e Press, Washington DC, Defenders of Wildlife, 1991. Deneuborg, 1983). De acordo com Hölldobler e Wilson (1990), HOBBS, R.J; WILSON, A.M. Corridors: theory, practice and the ele permite haver múltiplas estratégias de forrageamento e a explo- achievement of conservation objectives. p. 265-279. In: DOVER, ração de uma maior variedade de itens alimentares. J.W. & BUNCE, R.G. (ed.), Key Concepts in Landscape Ecology. Geralmente, os sistemas de recrutamento estão integrados num IALE European Congress, United Kingdom, Preston, 1998. sistema de comunicação feromonal, o qual regula a transmissão da informação por toda a colônia (Höllldobler, 1978). São compo- MARQUES, H. Água do Parque Nacional do DF está contamina- nentes importantes na análise da ecologia nutricional das formigas da: Laudo confirmou problema em setembro, mas direção do par- porque permitem respostas rápidas às variações nas fontes de ali- que não alertou usuários. Seção Geral Ambiente. In: O Estado de

388 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado mentos. Também determinam, segundo Fowler et al., (1991), o sem, sempre que C. atriceps não o fizesse antes. Formigas C. atriceps sucesso na exploração dessas fontes, na presença de outras espécies de outras colônias foram vistas compartilhando o mesmo recurso de formigas e animais que exploram os mesmos recursos. sem que houvesse comportamento antagonístico. Já esse compor- O objetivo deste estudo foi identificar e caracterizar o com- tamento foi observado na presença de outras espécies nos itens portamento de forrageamento em C. atriceps em ambiente urbano explorados por C. atriceps. Observações semelhantes foram feitas frente às iscas oferecidas. por Le Moli e Mori (1986). 2. Métodos Após o fim dos recursos, o fluxo de indivíduos nas caixas foi O experimento foi conduzido no Laboratório de Genética do mantido durante seu período de atividade, verificando-se uma con- Comportamento do Instituto de Genética e Bioquímica da Uni- tinuidade no forrageamento. Essa contínua atividade pode estar versidade Federal de Uberlândia com colônias de Camponotus atriceps relacionada, alem da busca de alimento, com a manutenção do que nidificam em caixas de abelhas desocupadas. As formigas en- território e exploração de novas áreas. Além dos itens oferecidos, traram de forma espontânea nessas caixas, se instalando natural- observou-se C. atriceps se alimentando de dípteros, lepidópteros, mente. Todas as possíveis saídas dos indivíduos das caixas foram coleópteros e outros himenópteros. vedadas, restando apenas um orifício ao qual foi conectada uma 4. Conclusões mangueira plástica transparente, que possibilitava o monitoramento O presente estudo verificou um contínuo forrageamento da de entrada e saída dos mesmos. Como iscas foram usadas: mel; espécie durante o seu período de atividade, mesmo após o fim dos larvas de Tenebrio sp. (Meudec e Dubuc, 1989; Fowler et al., 1991); recursos oferecidos. As operárias sempre foram as responsáveis pelo sardinha frescas; baratas mortas (De Biseau et al., 1997); doce de recrutamento. Fontes protéicas foram mais procuradas em relação leite; refrigerante e refresco de laranja, visto que em outras ocasi- às fontes de carboidrato, sendo a barata o item que mobilizou mais ões, essas já foram observadas se alimentando desses itens em am- indivíduos em sua exploração. Nesse sentido as formigas podem ser bientes urbanos. Todos os itens, possuindo o mesmo peso em gra- benéficas em ambientes urbanos, ajudando a controlar a quantida- mas ou volume, no caso do mel, refrigerante e refresco, foram de de insetos, os quais podem transportar agentes infecciosos, fun- oferecidos às formigas em placas de Petri, a fim de se verificar o cionando como vetores na infecção hospitalar. Dentre as fontes de comportamento exploratório e a possível preferência alimentar carboidrato, observou-se uma maior procura por alimentos líqui- dessa formigas. Os alimentos foram dispostos ao acaso a cada repe- dos, a exceção do mel, provavelmente devido a adaptações tição, a diferentes distâncias dos ninhos, que variavam de 50 a morfológicas dessa espécie à dieta líquida. Uma vez que a demanda 350cm. Fez-se também uma contagem do fluxo de entrada e saída por carboidratos e proteínas pode ter variações sazonais, a dieta de de indivíduos do ninho durante dez minutos a cada hora de obser- uma espécie não deve ser avaliada durante um curto período de vação, fluxo de indivíduos na trilhas estabelecidas e o número de tempo, não podendo, portanto, inferir preferência por determina- indivíduos em cada item alimentar. do item alimentar. 3. Discussão e Resultados 5. Referências Bibliográficas O período de atividade desta espécie caracterizou-se por um Cotton, M. F.; Wasserman, E.; Pieper, C. H.; Theron, D. C. van grande fluxo de entrada e saída de indivíduos das caixas. De acordo Thubbergh, D.; Campell, G.; Fang, F. C.; Barnest, J. (2000). Invasive com Marcolino et al. (2000), o pico de atividade de C. atriceps disease due to extended spectrum beta-lactamase-producing acontece por volta das 19:00 h, com período de maior atividade Klebsiella pneumoniae in a neonata unit: the possible role of ocorrendo entre as 18:00 e as 23:00 h. Operárias eram sempre as cockroaches. Jounal of Hospital Infection, 44: 13-17. primeiras a deixarem os ninhos e a descobrirem os itens, sendo em de Biseau, J.-C.; Pasteels, J. M. (2000). Response thresholds to todos os casos as responsáveis pelo recrutamento. Os soldados só recruitment signal and the regulation of foraging intensity in the deixavam os ninhos após haver recrutamento. ant Myrmica sabuleti (Hymenoptera, Formicidae). Behavioural Pro- Verificou-se uma maior procura por fontes protéicas em rela- cesses, 48: 137-148. ção às fontes de carboidrato. Embora a sardinha fresca fosse, geralmente, o primeiro item a ser descoberto, foi o que menos Diehl-Fleig, E. (1995). Formigas: organização social e ecologia mobilizou indivíduos no recrutamento, o que poderia ser explica- comportamental. Editora Unisinos, 168p., São Leopoldo. do pela característica de Camponotus de se alimentar de fluidos Eisner, T. (1957). A comparative morphological study of the pro- (Eisner, 1957). Já com as iscas de inseto, barata e larva de Tenebrio ventriculus of ants (Hymenoptera: Formicidae). Bull. Muss. Comp. sp., não ocorre o mesmo, sendo totalmente consumidas. De acor- Zool. 116: 439- 490. do com Fowler et al. (1991), a maioria das formigas diversifica suas Faulde, M.; Sobe, D.; Burghardt, H.; Wermter, R. (2001). Hospi- fontes de obtenção de proteína, sendo uma das mais importantes a tal infestation by the cluster fly, Pollenia rudis sensu stricto Fabricius coleta de animais mortos, especialmente de origem invertebrada. 1794 (Diptera: Calliphoridae), and its possible role in transmition Em relação à barata, aparentemente, é o item que mais recruta of bacterial pathogens in Germany. International Jounal of Hygiene indivíduos. Neste sentido, as formigas podem exercer um relevante and Environmental Health, 203: 201-204. papel no controle biológico desses insetos, em áreas urbanas. For- Fotedar, R.; Shriniwas, B.; Verma, A. Cockraches (Blatella germanica) migas, dípteros, baratas e outros artrópodes podem transportar as carriers os microorganisms of medical importance in hospitals. agentes infecciosos, sendo muitas vezes importantes vetores de (1991). Epidemiol. Infect., 107: 181-187. infecção hospitalar, funcionando como agentes mecânicos na dis- persão de bactérias patogênicas (Fotedar et al., 1991; Cotton et al., Fowler, H.G. (1990). Carpenter ants (Camponotus spp.): pest status 2000; Faulde, M. et al., 2001). and human perception. In: Vander Meer, R. K., Jaffe, K.; Cedeno, Quanto às fontes de carboidrato, os itens mais visitados foram A., Applied myrmecology a world perspective. Westview Press, p. 525 o refrigerante e o refresco de laranja. O mel e a isca de doce de leite - 532, Boulder, Colorado. em pasta não se mostraram eficientes na atração das formigas expli- Fowler, H. G.; Forti, L. C.; Brandão, C.R.F., Delabie, J. H. C.; cados talvez pelo fato de sua consistência e/ou viscosidade. Uma Vasconcelos, H. L. (1991). Ecologia nutricional de formigas. p. vez que formigas desse gênero possuem adaptações morfológicas 131 – 223. Panizzi, A. R. & Parra, J. R. P. Ecologia nutricional de para uma dieta líquida (Eisner, 1957), espera-se que suas escolhas insetos e suas implicações no manejo de pragas. Editora Manole Ltda., se baseiem na viscosidade do alimento, além de sua concentração 359p., São Paulo. de açúcar (Josens et al., 1998). Esse pouco interesse pelo mel e Hölldobler, B. (1978). Ethological aspects of chemical doce de leite permitiu que formigas de outras espécies os exploras- communication in ants. Adv. Stud. Behav., 8: 75-115.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 389 Cerrado Volume I

Hölldobler, B.; Wilson. O. (1990). The Ants, Belknap Press of galerias, quando se alimenta e reproduz. Verifica-se nesta fase sua Harvard University Press, 733p., Cambridge, Massachussetts. maior ação na decomposição da metéria orgânica e revolvimento Josens, R. B.; Farina, W. M.; Roces, F. (1998). Nectar feeding by the do solo, melhorando sua fertilidade e aeração (RIESM, 1994). A ant Camponotus mus: intake rate and crop filling as a function of distribuição desta espécie parece restrita à região central de Minas sucrose concentration. Journal of Insect Physiology, 44: 579-585. Gerais, o que aumenta em muito os riscos provenientes de sua extração. Sabe-se que apesar de ser um animal silvestre e, portanto, Le Moli, F. e Mori, A. (1986). The agression test as a possible protegido por lei ambiental, a sua extração predatória vem sendo taxonomic tool in the Formica rufa group. Agressive Behavior, 12: feita, podendo implicar em sua extinção local. Além disso, como é 93-102. um animal que permanece durante vários meses a uma profundida- Marcolino, M. T. (1999). Estudos genéticos e comportamentais de que pode atingir mais de um metro sob a superfície do solo, os de formigas carpinteiras Camponotus atriceps Smith (Hymenoptera, extratores utilizam-se, freqüentemente, da queimada para a locali- Formicidae). Tese de Mestrado. Universidade Federal de Uberlândia, zação de suas tocas, e conseqüente extração. Estas queimadas têm Uberlândia, MG. 62p. provocado problemas ambientais e sociais. Este projeto visa avali- Marcolino, M. T.; Brandeburgo, M. A. M.; Oliveira Junior, W. P. ar o impacto ambiental e social da extração, integrando duas áreas (2000). Aspectos comportamentais da interação entre formigas e abordagens do conhecimento: sociologia e ecologia. Na área Camponotus atriceps Smith (Hymenoptera, Formicidae) e abelhas sociológica, este projeto visa avaliar os impactos desta extração africanizadas Apis mellifera (L.) (Hymenoptera, Apidae). Naturalia, sobre a renda familiar, a economia local e as relações sociais, bem 25: 321-330. como identificar possíveis fontes alternativas de renda. Na área Meudec, M.; Dubuc, C. (1989). Feeding and emigration of the ant ecológica, visamos avaliar o impacto da extração sobre a população Tapinoma erraticum (Formicidae: Dolichoderinae). Experimental de minhocuçu e sobre o ambiente. analysys of the use of space. Behavioural Processes, 20: 199-208. 2. Métodos Para avaliar o declínio populacional do minhocuçu estão sen- Ramos, F. A. (2000). Forrageamento em formigas. Universitas, do comparadas áreas exploradas e não exploradas comercialmente. Biociências 1 (1): 51–67. A densidade de minhocuçu está sendo avaliada contando-se o nú- Verhaeghe, J. C.; Deneuborg, J. L. (1983). Experimental study and mero de “bosteiros” (montículos de excrementos secos da minho- modelling of food recruitment in the ant Tetramorium impurum ca), em parcelas de área fixa. As unidades amostrais foram quadra- (Hym. Form.). Insectes Sociaux 30 (3): 347-360. dos de 1x1m, cuja localização foi sorteada em grades de 50x50m. Até o momento foram amostradas quatro áreas: (1) se localiza na Extração do Minhocuçu no Ecossistema de Cerrado: Floresta Nacional (FLONA) de Paraopeba, numa área de cerradão; Impactos Sociais e Ambientais (2) uma área de pastagem (braquiária); (3) campo sujo na Floresta Ansani,C.V.a; Sperber,C.F.b; Botelho,M.I.V.c; Resende, E.M.S.d & Nacional de Paraopeba; (4) área gradeada (arada) recentemente. Ribeiro,O.d Em cada área foram feitas 30 amostras. Os dados foram submeti- aCiências Biológicas ([email protected]); bDepto. Biologia dos a análise análoga à ANCOVA, utilizando modelos lineares Geral; cDepto. Economia Rural; dAgronomia; Universidade Federal generalizados (Crawley, 1993). Usou-se a diferença de número de de Viçosa, 36570-000, Viçosa, MG bosteiros novos para bosteiros velhos como variável resposta, que estima a recuperação local da população de minhocuçus. As variá- 1. Introdução veis explicativas utilizadas foram área (bloco), e porcentagem de A atividade extrativa do minhocuçu, na região do município de solo revolvido, como estimador de intensidade de extração. Paraopeba, Minas Gerais, desempenha importante papel na gera- Os conflitos sociais provenientes da atividade estão sendo es- ção de renda de famílias que utilizam esta atividade com o intuito tudados a partir da aplicação de entrevistas semi-estruturadas, abor- de minimizar suas precárias condições de vida. Os municípios às dando o histórico da atividade na região, a relação entre os atores margens da atual BR 040, rodovia que liga a capital federal ao envolvidos e os costumes locais. Na mesma entrevista buscam-se Estado do Rio de Janeiro, beneficiam-se de sua localização estraté- informações que possibilitem propor fontes alternativas de renda. gica, pois por essa rodovia circula, nos períodos de pesca, o público Até o momento foram feitas duas visitas ao município de consumidor do minhocuçu, utilizado como prestigiosa isca, prin- Caetanópolis, próximo a Paraopeba, MG. Foram coletados espéci- cipalmente na pesca de grandes peixes de couro de água doce. O mes de minhocuçu, que estão sendo mantidos vivos em laborató- destino desse pescadores é principalmente o rio São Francisco e a rio, para posterior identificação. Foram visitados locais onde ocor- Represa de Três Marias (RIESM, 1994). Também são reu extração em períodos diferentes e em diferentes intensidades, comercializados minhocuçus para outros estados, principalmente onde coletamos dados a respeito da densidade de minhocuçus. No Goiás e Mato Grosso, utilizando-se o despacho via aérea ou terres- local, foram entrevistados os seguintes atores: extrator, proprietá- tre. Minhocuçu é o nome popular dado a minhocas grandes, rio rural, prefeitura e vendedor. Nossas hipóteses são que a extra- utilizadas como iscas vivas para a pesca esportiva (OESP, 2001). ção passou a ter uso comercial quando outras fontes de renda Em Minas Gerais são citadas três espécies de minhocuçu: Fimoscolex diminuíram, e que esta extração é fomentada pela demanda econô- sporadochaetus Michaelsen, 1918; Rhinodrilus alatus Righi, 1971 e mica, vinda dos pescadores esportivos. Do ponto de vista ecológi- R. fafner Michaelsen, 1926 (Oligochaeta, Glossoscolescidae). Des- co, sugerimos as hipóteses de que a extração está reduzindo a tas, duas podem já estar extintas, enquanto R. alatus é citada como densidade populacional de minhocuçu na área, ameaçando de ameaçada de extinção (Fundação Biodiversitas, 1998). O minhocuçu extinção a(s) espécie(s) de minhocuçu do local. Além disso sugeri- tem taxas reprodutivas muito baixas, apenas dois a três ovos por mos a hipótese de que há impactos indiretos da atividade extratora, anos, e o prazo para atingir a fase adulta é de dois a três anos que são a degradação do solo e a eliminação da vegetação herbácea (AMDA, 2001). No período de seca na região o minhocuçu encon- e arbustiva do cerrado. tra-se isolado, em estado de hibernação, em uma “panela”, a apro- 3. Resultados ximadamente 50 cm de profundidade. Esta panela se comunica Não houve relação entre recuperação da população e intensi- com a superfífie por meio de uma galeria, que fica obtruída por dade de extração, (P > 0,05). A área 1 (Cerradão na FLONA) bolotas fecais (“bosteiros”). Os bosteiros são utilizados pelos apresentou recuperação significativamente menor que as outras extratores (“minhoqueiros”) para a constatação da presença do (F(1,118) = 48,23; P < 0,0001). A partir das entrevistas, fizemos as minhocuçu. No período chuvoso, o minhocuçu é encontrado nas seguintes observações: (i) o município surgiu em torno da fábrica

390 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado de tecidos “Cedro e Cachoeira”, em 1872, época em que toda a Prospecção da biodiversidade (vegetal) nos mão-de-obra local era absorvida por esta indústria. A partir dos cerrados marginais do Nordeste. anos 70, com o avanço tecnológico industrial, passou a haver um Antonio Alberto Jorge Farias Castro1, Maria Elisane Araújo Sousa declínio na oferta de empregos. Na ausência de alternativas, a saída Cipriano2 Francisco de Assis Rodrigues Soares2, Maria do Socorro econômica encontrada foi o extrativismo. (ii) Hoje há ampla Viana do Nascimento3, Nívea Maria Carneiro Farias Castro1, comercialização dos minhocuçus junto à estrada BR040, mantidos Clarissa Gomes Reis Lopes4, Maria Carolina de Abreu5, Elisangela em panelas de barro. (iii) Todos os atores entrevistados avaliam Fátima da Silva2. que a densidade e tamanho médio dos minhocuçus tem diminuído. 1Pesquisador do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Afirmaram também que as áreas onde ocorre extração têm sido Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) e Departamento de cada vez mais distantes do município. (iv) Todos os consultados Biologia (CCN, UFPI), 2Bolsista PELD/CNPq, 3Consultora ZEE/ afirmaram haver produtores rurais que arrendam terras, que irão MMA, 4Bolsista Tropen, 5Estagiária Tropen. ([email protected]). ser limpas para formação de pastagens, a extratores. Quanto à atividade extratora, observamos que ocorre em época seca, quando 1. Introdução é sabido que o minhocussu entra em estado de hibernação, sendo Uma das maiores concentrações dos cerrados no Nordeste de fácil localização e extração. Na estação das chuvas, o minhocuçu encontra-se nos estados do Piauí e do Maranhão, ocupando as se encontra nos “corredores”, canais horizontais e mais rasos usa- porções centro-sul e nordeste (Maranhão) e sudoeste e centro- dos para locomoção e reprodução, sendo difícil prever localização norte (Piauí), cobrindo uma área estimada de 21.656.866 ha, e arriscado extraí-lo, uma vez que pode ser ferido pelas ferramentas correspondendo aproximadamente 13,98% da área total da re- do minhoqueiro durante a extração. O “minhoqueiro” localiza o gião, ou 67,35% da área total do Nordeste (Castro, 1996; CEPRO, “bosteiro”, que é o montículo de excrementos secos da minhoca, e 1992; Fernandes & Bezerra, 1990). remove a vegetação em torno deste, permitindo a localização dos No Piauí, um total de 11.856.866 ha (36,9% dos cerrados dutos de acesso à “panela”, que é um compartimento subterrâneo nordestinos) corresponde ao cerrado sensu lato, dos quais 8.349.759 onde o minhocuçu se aloja durante o período de hibernação. O ha (70,4%) encontram-se em áreas de domínio e 3.507.107 ha minhocuçu é extraído manualmente e colocado em sacos de pano (29,6%) em sua área de transição (CEPRO, 1992). (“capangas”). O estado do Maranhão possui uma extensão territorial de 4. Conclusão 32.866.300 ha, situando-se em uma posição de transição entre as 2 Em escala espacial local (1m ), não houve relação entre recu- regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os cerrados ocupam peração da população de minhocuçus e intensidade de extração, quase 10.000.000 ha, correspondendo, ou seja, em torno de 30,43% mas houve diferenças na recuperação em escala espacial maior. do estado, distribuídos em mais de 38 municípios, dos quais em 23 Uma das áreas apresentou menor número de bosteiros recentes em a cobertura por esta formação vegetal é total (Conceição, 2000). relação a bosteiros antigos. Uma explicação possível é que áreas Os cerrados do Piauí e do Maranhão apresentam grande diver- muito degradadas são pouco exploradas, por não terem uma den- sidade de espécies. O potencial de utilização racional de sua sidade elevada de minhocuçus, o que encobre a relação entre ex- fitodiversidade é extraordinário, porém, praticamente desconheci- ploração e recuperação. Áreas com maior intensidade de extração do. Em decorrência do desenvolvimento e da expansão contínua (área 1) têm menor recuperação, uma vez que o ciclo de vida do da fronteira agrícola, a região do cerrado vem sofrendo grandes minhocuçu é longo e as extrações no local são freqüentes. Tal fato degradações de sua biodiversidade. é confirmado pelos relatos de que o tamanho médio dos minhocuçus Este trabalho tem como objetivo contribuir para o conheci- vem reduzindo e que é preciso se deslocar para áreas cada vez mais mento da biodiversidade (florística e fitossociologia) das áreas, 111 afastadas para se encontrar minhocuçus para extração. Há evidên- no Nordeste do Maranhão e 110 no Nordeste do Piauí, bem como cias para as seguintes hipóteses: (i) correlação negativa entre al- de toda a área do Site 10 (Site ECOCEM) do Programa de Pesqui- ternativas de renda e intensidade da extração; (ii) correlação positiva sas Ecológicas de Longa Duração (PELD/CNPq), delimitada pe- entre demanda gerada pelos pescadores, e preço; (iii) já houve declínio las coordenadas 03°-05°’S e 41°-44°W, e ainda desenvolver proje- da densidade populacional de minhocuçu na região; (iv) os impactos tos ecológicos que permitam detectar os principais mecanismos ambientais diretos sobre solo e vegetação não parecem ser tão gran- envolvidos nas alterações da estrutura das populações favorecidos des. Na área sociológica, o próximo passo deste projeto é o levanta- ou ameaçados do bioma Cerrado e fornecer dados para o planeja- mento de dados que permitam analisar e compreender a realidade mento e manejo de áreas fragmentadas nos cerrados marginais do social. Do ponto de vista ecológico, será feita a quantificação dos Nordeste, visando a determinação de formas menos impactantes impactos, de forma a testar as hipóteses elaboradas. de ocupação de paisagens. 5. Referências Bibliográficas 2. Métodos AMDA, Associação Mineira de Defesa Ambiental (2001). “Extra- Foram inventariados até o momento seis trechos de vegetação, ção e comércio do minhocuçu na região de Paraopeba - MG.” , A três no estado do Maranhão - São Bernardo (Área 1, 03°12’S, & M Consultores Associados. 42°26' e 42m), Timon (Área 2, 05°04’S, 42°52' e 147m) e Caxias Biodiversitas, F. (1998). O livro vermelho das espécies ameaçadas (Área 3, 04°55’S, 43°07' e 120m) e três no estado do Piauí - Baixa de extinção em Minas Gerais, Fundação Biodiversitas, Belo Hori- Grande do Ribeiro (Área 4, 08°52’S, 44°58’ e 300m), Bom Jesus zonte. (Área 5, 09°18’S, 44°58’ e 595m) e Uruçuí (Área 6, 07°25’S, 44°50’ e 300m). Crawley, M. J. (1993). GLIM for ecologists, Blackwell Scientific O tipo de solo predominante das áreas amostradas é o latossolo Publications, Oxford. vermelho-amarelo, exceto na Área 6, onde predomina os latossolos OESP, O Estado de São Paulo (2001). “Minhocuçu é protegida litólicos. As Áreas 1, 2 e 3 apresentam clima sub-úmido úmido com por lei amibiental.” O Estado de São Paulo, São Paulo. temperatura média anual de 27,5°C e precipitação média anual RIESM, Relatório do I Encontro sobre Minhocuçú (1994). Dire- variando de 1.200mm a 1.800mm, enquanto que as demais áreas toria de Incentivo à Pesquisa e Divulgação, Paraopeba. apresentam clima sub-úmido seco com temperatura média anual (Bolsa aprovada PIBIC-Fapemig) em torno de 26°C (Lima, 2002) e precipitação média anual de 924,2mm (IBGE, 1984). Os estudos fitossociológicos foram realizados através do Mé- todo de Quadrantes (Cottam & Curtis, 1950; Goodland & Ferri,

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 391 Cerrado Volume I

1979; Martins, 1991) e de um delineamento amostral conforme 5 (Bom Jesus), por se tratar, provavelmente, de uma área de colo- Castro (2001). Um total de 100 pontos amostrais foi utilizado nização mais antiga e mais fortemente impactada. A Área 6 (Uruçuí) com um interdistanciamento de 10m, em picadas paralelas. Foram apresentou o maior índice de riqueza de espécies, provavelmente amostrados todos os indivíduos vivos, um por quadrante, cuja porque sua história de ocupação é uma das mais recentes. posição foi determinada pela posição de uma cruzeta móvel sobre A maior divergência florística encontrada entre as áreas de cada ponto-estaca, com diâmetro do caule ao nível do solo (DNS) Cerrado estudadas e as áreas do Complexo de Campo Maior, reve- ³ 3,0cm (Castro, 1994). Os dados foram processados através do ladas nas análises de agrupamento, reflete o fato das últimas esta- Pacote FITOPAC (Shepherd, 1995). rem inseridas em uma zona ecotonal. Foi efetivada uma comparação qualitativa entre as seis áreas Os métodos de análise ecológica servem como uma ferramenta amostradas e com duas outras, no município de Campo Maior valiosa para mapear tipos de vegetação bem como degradação eco- (Área 7 e Área 8), Piauí a partir de uma matriz de presença/ausên- lógica. No entanto, o decorrer da pesquisa de longa duração per- cia, calculou-se a similaridade florística através de Dice (ID) e mitirá o levantamento de um maior número de locais e coleta de Jaccard (IJ) e construídos dendogramas utilizando o software “SPSS valores médios típicos contribuindo, assim, para um maior conhe- for Windows”, versão 10.0 (SPSS, 1997). cimento da biodiversidade dos cerrados marginais do Nordeste. No intuito de avaliar a diversidade das espécies fez-se o uso do (PIE/PELD, MCT/ CNPq, TROPEN/UFPI/UFMA). Índice de riqueza de espécies de Whittaker (RE), sendo RE=E/In 5. Bibliografia (N), onde E é o número de espécies amostradas e N, o número CASTRO, A.A.J.F., 1994. Comparação Florístico-Geográfica (Bra- total de indivíduos amostrados. sil) e Fitossociológica (Piauí-São Paulo) de amostras de cerrado. 3. Resultados Tese de Doutorado. Campinas, UNICAMP. Entre as espécies amostradas em São Bernardo (40 espécies), CASTRO, A.A.J.F., 1996. Cerrados do Brasil e do Nordeste: con- Timon (46), Caxias (41), Baixa Grande do Ribeiro (42), Bom siderações sobre os fatores ecológicos atuantes, ocupação, conser- Jesus (27) e Uruçuí (55), Plathymenia reticulata Benth., Qualea vação e fitodiversidade. Revista Econômica do Nordeste, Fortale- grandiflora Mart., Diospyros hispida DC. Pouteria ramiflora (Mart.) za, vol.27, n.2, abr./jun. 451-460. Radlk., Sclerolobium paniculatum Vogel e Qualea parviflora Mart. foram as que apresentaram os maiores valores de importância (IVI) CEPRO, 1992. Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e So- em cada área, respectivamente. Em termos de família, as mais ciais do Piauí. Cerrados piauienses: estudo preliminar de suas importantes foram Mimosaceae na Área 1, Caesalpiniaceae na Área potencialidades.Teresina: CEPRO, 63p. 5 e Vochysiaceae nas Áreas 2, 3, 4 e 6. COTTAM, G. & CURTIS, J.T., 1956. The use of distance measures A maior densidade total foi encontrada para a Área 2 (3.108,08 in phytosociological sampling. Ecology 37: 451-460. -1 -1 ind/ha ) seguida pelas Área 3 (1.912,43 ind/ha ), Área 1 (1.863,81 CONCEIÇÃO, G.M.da, 2000. Florística e fitossociologia de uma -1 -1 -1 ind/ha ), Área 4 (1.238,62 ind/ha ), Área 6 (1.165,13ind/ha ) e área de cerrado marginal, Parque Estadual do Mirador, Mirador, -1 Área 5 (767,46 ind/ha ). Os índices de Shannon (H’) foram 3.605 Maranhão. Recife: UFPE, 148 p. Dissertação de Mestrado. (área 5), 3.201 (Área 6), 3.141(Área 1), 3.028 (Área 2), 2.863 FERNANDES, A. BEZERRA, P., 1990. Estudos fitogeográficos (Área 3) e 2.097 (Área 4) nats/ind. do Brasil. Fortaleza: Stylus Comunicações, 205p. A altura média variou de 2,67m a 4,24m e a máxima de 9,00m a 17,00m. Com relação aos diâmetros, os valores médios variaram GOODLAND, R.J.A. & FERRI, M.G., 1979.Ecologia de cerra- de 9,92cm a 17,95cm e os máximos de 41,32cm a 191,00cm. Os do. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade maiores valores de altura e diâmetros máximos foram registrados de São Paulo, 193p. na Área 6. IBGE., 1984 Atlas do Maranhão. Rio de Janeiro: IBGE, 104p. Das 97 espécies analisadas nos oito levantamentos LIMA, M. G. de, 2002 Estimativa da temperatura do ar no Piauí. fitossociológicos, incluindo as duas amostras do município de Cam- Teresina: UFPI, 48p. po Maior, destacam-se Qualea grandiflora Mart. e Qualea parviflora MARTINS, F.R., 1989 Fitossociologia de florestas do Brasil: um Mart. por ocorrerem em 87,5% do total dos levantamentos, segui- da por Dimorphandra gardneriana Tul. e Bowdichia virgilioides Kunth. histórico bibliográfico. Pesquisas, série Botânica, v.40. 164p. em 75%. O que mostra que essas espécies possuem uma ampla SHEPHERD, G.J., 1995 Fitopac 1 – Manual do usuário. Campi- distribuição ecológica não restrita às áreas estritamente de Cerra- nas: Departamento de Botânica da UNICAMP, 93p. do. Cerca de 34% das espécies foram citadas em apenas um levan- SPSS, 1997. Prodution Facility. Copyright (c) SPSS. Inc, versão tamento, sendo que a Área 8 se destacou por apresentar o maior 10.0. CD-ROM-Programa estatístico. número de espécies exclusivas, 33,8%, provavelmente porque nes- ta área houve muita inclusividade de táxons, por causa de questões Fitossociologia e similaridade florística do componente metodológicas. herbáceo-arbustivo em um gradiente florestal da O índice de riqueza de Whittaker variou de 4,5 nats/esp-1 em estação ecológica do panga, Uberlândia, MG. Bom Jesus (Área 5) a 9,2 nats/esp-1 no município de Uruçuí (Área 1 2 3 6), sendo bastante significativo para a maioria das áreas. Arantes, A. A. ; Schiavini, I. ; Monteiro, R. . 1 Professora do Departamento de Biologia, ILES/ULBRA, Através da análise de agrupamento realizado com os índices de similaridade de Dice e Jaccard, verificou-se que o primeiro índice Itumbiara, GO e Técnica doInstituto de Biologia/UFU, Uberlândia, MG; 2 Professor do Instituto de Biologia/UFU; 3 Professor do fez uma melhor formação de dois grupos. O primeiro compreen- Departamento de Botânica/UNESP, Rio Claro, SP. dendo seis amostras (Áreas 2, 5, 3, 1, 4 e 6) e um segundo compre- ([email protected]). endendo duas (Áreas 7 e 8). O primeiro grupo corresponde a áreas de cerrado e o segundo a área de transição vegetacional. Os maio- 1. Introdução res índices de similaridade foram verificados entre as Áreas 2 e 5 As formações florestais presentes no bioma Cerrado perten- (ID=72% e IJ=57%) e entre as Áreas 7 e 8 (ID=73% e IJ=48%). cem a dois grupos: aquele associado aos cursos de água (ribeiri- 4. Conclusão nhas) e o que não possui associação com cursos de água (interflúvio) Apesar dos indícios de perturbação recente, em função da (Ribeiro & Walter, 2001). Estas florestas englobam tipos de vege- fisionomia e do histórico de cada área, as amostras apresentaram tação com predominância de espécies arbóreas e formação de dossel, elevados índices de diversidade florística, com exceção para a Área ocorrendo entremeadas na vegetação de cerrado, principalmente

392 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado na região do Brasil Central. Como exemplos de matas associadas a indicando dominância neste estrato. cursos de água são conhecidas a Mata Ciliar e a Mata de Galeria, Comparando dados dos parâmetros levantados para famílias que podem ocorrer em terrenos bem ou mal drenados. Para aque- amostradas neste estrato, com os dados do levantamento para o las matas que não possuem associações com cursos de água são estrato arbóreo por Schiavini et al. (dados não publicados) encon- encontradas as Matas Semidecíduas de Encosta, Cerradões, dentre tramos 51 famílias em comuns. Observou-se que a família outras, que ocorrem nos interflúvios. Para Oliveira-Filho & Ratter Myrtaceae ocupou lugar de destaque nos dois levantamentos, tan- (2000), a composição florística destas formações está relacionada to em riqueza específica como na abundância de indivíduos. Esta principalmente com a Floresta Amazônica e Atlântica, através de família tem sido citada em estudos florísticos e fitossociológicos corredores florestais contínuos que podem estabelecer conecções dentre as principais no componente das florestas do sul e sudeste com estas formações. Muitas vezes, as Matas de Galeria e Mesófilas do Brasil (Oliveira-Filho & Ratter, 2000) demonstrando grande Semidecíduas alongam-se e vão se unir encosta acima, formando adaptação a estes ambientes. Com relação à família Rubiaceae foi gradientes florestais. observou-se maior diversidade de espécies (7,0%) no componente Uma das questões de grande interesse entre os pesquisadores é arbustivo-subarbustivo em comparação com o arbóreo (5,5%). saber como ocorrem as mudanças na composição e na estrutura No que diz respeito à abundância de indivíduos, Rubiaceae ocu- das florestas em gradientes ambientais. A análise de um gradiente pou a segunda posição no estrato arbóreo, demonstrando também envolve estudos de modelos de ocupação espacial da vegetação em ser importante na composição dos dois estratos. relação a três tipos de variáveis: fatores ambientais, composição e As seis famílias mais abundantes e diversificadas nos dois levan- estrutura das populações de espécies, e características das comuni- tamentos foram: Myrtaceae, Rubiaceae, Lauraceae, Sapindaceae, dades (Shimwell, 1971). O conhecimento dos padrões e das causas Mimosaceae e Apocynaceae, que podem melhor caracterizar o da variabilidade espacial das espécies nas florestas tropicais pode gradiente estudado, e serem usadas como indicadoras das condi- contribuir para a resolução de importantes questões sobre estes ções ambientais desta área. Porém, se considerarmos as formas de ecossistemas (Clark et al., 1995). vida dos representantes das famílias amostradas para os dois estu- O presente trabalho teve como objetivo principal testar a hi- dos, fica claro que existem diferentes contribuições destas famílias pótese da existência de um gradiente florestal para o estrato herbá- na composição e estrutura de cada estrato. Das 56 famílias ceo-arbustivo da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG. amostradas por Schiavini et al. (dados não publicados) no estrato 2. Métodos arbóreo, cinco não foram amostradas no estrato inferior A Estação Ecológica do Panga compreende uma área de 409,5 (Boraginaceae, Lecytidaceae, Caryocaraceae, Ulmaceae e hectares, situada à cerca de 30 km ao sul da cidade de Uberlândia, Verbenaceae). Por outro lado, das 78 famílias amostradas neste MG, entre as coordenadas geográficas 19009’20” e 19011’10” S e estudo, 16 foram exclusivas deste estrato inferior (Poaceae, 48023’20” e 48024’35”W e altitude variável entre 740 a 840 m. A Lacistemaceae, Acanthaceae, Piperaceae, Solanaceae, área escolhida para este estudo compreendeu um gradiente flores- Theophrastaceae, Heliconiaceae, Cyperaceae, Malvaceae, tal contínuo de 15 ha, situado na porção norte da Estação e delimi- Commelinaceae, Violaceae, Araceae, Polygalaceae, Dilleniaceae, tado, ao norte pelas margens do ribeirão do Panga e, ao sul pelo Costaceae e Rutaceae). Campo Cerrado. No interior do gradiente observa-se uma faixa Dentre as 202 espécies amostradas neste levantamento, 39 florestal contínua formada por Mata de Galeria que varia gradual- (19,3%) acumularam 75% da densidade relativa do estrato herbá- mente para uma fisionomia de Mata Mesófila Semidecídua de ceo-arbustivo. Destas, as que melhor representam este estrato em Encosta e, por último, em uma topografia mais elevada, observa- abundância são, em ordem decrescente de número de indivíduos: se a fisionomia de Cerradão. Alibertia sessilis, Psychotria deflexa, Olyra ciliatifolia, Erythroxylum Foi realizado o levantamento fitossociológico do componente subracemosum, Myrcia rostrata, Coussarea hydrangeifolia, Lacistema herbáceo-arbustivo em 30 parcelas de 5m x 5m (10 em cada hasslerianum, Faramea cyanea, Matayba guianensis, Psychotria fitofisionomia florestal), onde todos os indivíduos com altura mí- carthagenensis, Panicum laxum, Bauhinia ungulata, Eugenia florida, nima de 20 cm e PAP< 15 cm foram amostrados. Para todos os Nectrandra cissiflora, Acacia glomerosa, Acalypha gracilis e Oplismenus indivíduos amostrados foram procedidas as medidas do diâmetro hirtellus. Estas somam juntas 51% do total de indivíduos da área. do caule (um ou mais fustes) ao nível do solo (DAS) e a altura. Os As espécies de maiores valores de importância (VI) foram parâmetros fitossociológicos foram calculados pelo programa Alibertia sessilis, Coussarea hydrangeifolia, Matayba guianensis, FITOPAC. 1 (Shepherd, 1995). Erythroxylum subracemosum, Lacistema hasslerianum, Psychotria Para verificar similaridade florística entre as parcelas foi usada deflexa, Vochysia tucanorum, Olyra ciliatifolia e Psychotria carthagenensis. a técnica de ordenação e classificação, através do cálculo do coefi- A abordagem de análise de gradientes envolve a disposição de ciente de Índice de SÆrensen–Czekanowski, e a construção do populações ao longo de um gradiente ou eixo ambiental uni - ou dendrograma baseado na média de grupo (UPGMA). Todos os multi-dimensional, com o reconhecimento da comunidade basea- cálculos foram realizados pelos aplicativos Matriz, Coef e Clusters do em distribuições de freqüências, em coeficientes de similaridade do programa FITOPAC. 1 (Shepherd, 1995). ou em outras comparações estatísticas (Odum, 1988). A ordena- 3. Resultados e Discussões ção e classificação das parcelas pelo coeficiente do Índice de Ao todo foram registrados 6.536 indivíduos em 202 espécies, Sørensen-Czekanowiski agrupou as parcelas em grupos 79 famílias e 135 gêneros e 13 morfo-espécies no levantamento vegetacionais diferenciados. As parcelas instaladas na Mata Mesófila fitossociológico. 32 famílias, ou 41% , acumularam 75% da rique- Semidecídua de Encosta apresentou coeficientes de similaridade za específica do gradiente estudado, apresentando no máximo 21 variando entre 50% a 66% . A maior similaridade ocorreu entre as espécies e no mínimo duas. As dez famílias (ou 13%) que acumu- parcelas da Mata Mesófila Semidecídua de Encosta e da Mata de laram 44% da riqueza de espécies foram Myrtaceae, Rubiaceae, Galeria, com coeficientes de similaridade de 50%. As parcelas do Asteraceae, Lauraceae, Poaceae, Mimosaceae, Apocynaceae, cerradão se mostraram mais agrupadas entre si, evidenciando uma Sapindaceae, Piperaceae e Fabaceae. As 12 famílias (16,66%) mais flora distinta das demais fisionomias, alcançando menor similari- abundantes desta formação e que acumularam 75% do número de dade (37%) com as parcelas da Mata de Galeria e Mata Mesófila. indivíduos foram Rubiaceae, Myrtaceae, Poaceae, Lauraceae, Neste grupo, a maior similaridade ocorreu entre as parcelas F174 e Sapindaceae, Erythroxylaceae, Caesalpiniaceae, Mimosaceae, H208, do Cerradão, com coeficiente de similaridade igual a 72%. Lacistemaceae, Asteraceae, Apocynaceae e Euphorbiaceae. So- Este alto coeficiente de similaridade se deve ao elevado número de mente as três primeiras detêm 44,5% do total de indivíduos, espécies em comuns (36 espécies).

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 393 Cerrado Volume I

Estudos que comparam a estrutura da vegetação de diferentes expansão de fronteiras agrícolas do país, atraindo grande parte da fitofisionomias de Cerrado têm encontrado variações significativas agroindústria nacional (monocultura de soja e grandes áreas de pas- entre os ambientes. Como exemplo, têm-se o estudo realizado por tagens extensivas em sua maioria) ao custo da degradação de imensas Batalha et al. (2001) que encontraram diferenças estruturais entre áreas naturais (Corrêa 1998). Assim, qualquer estudo que procure as formações, apesar da grande similaridade florística entre elas. identificar e compreender os processos reprodutivos de espécies des- 4. Conclusões te bioma será de grande importância para a conservação e manejo, Foram observadas diferenças estruturais no estrato herbáceo- num futuro breve, das áreas de Cerrado em nosso país. arbsutivo entre as três fisionomias do gradiente estudado. De Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo descrever o maneira geral, a densidade, a área basal, a freqüência e o volume comportamento germinativo de sementes de Qualea dichotoma (Warm.) apresentaram tendências de aumento, partindo da Mata de Gale- Stafl. submetidas a diferentes temperaturas, estresse térmico envelhe- ria, passando pela Mata Mesófila Semidecídua de Encosta e che- cimento acelerado e, proporcionando subsídios para estudos posteri- gando ao Cerradão. O Cerradão se destacou por apresentar os ores relacionados ao cultivo e plantio da espécie em questão. maiores valores em todos os parâmetros estruturais. No entanto, 2.Métodos as variações estruturais e florísticas não apresentaram interrupções Sementes de Q. dichotoma foram coletadas de 12 indivíduos abruptas entre as fitofisionomias, e somente se tornaram mais cla- diferentes, distanciados mais de 100 metros entre si (Kageyama ras após as análises individuais das fitofisionomias. O uso do coefi- 2003), localizados dentro da Reserva de Cerrado do campus da ciente do Índice de Sørensen-Czekanowiski para a ordenação e Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. As sementes classificação das parcelas foi eficiente para o agrupamento da vege- foram retiradas de frutos semi-abertos e deixadas em recipiente tação, destacando no gradiente as parcelas mais similares daquelas aberto, em temperatura de ambiente de laboratório durante a menos similares floristicamente. O resultado do agrupamento do condução dos experimentos. Antes da realização dos experimen- componente herbáceo-arbustivo permitiu a separação do gradien- tos descritos a seguir, foi realizado um teste de embebição, onde te em três fitofisionomias, que coincidiram com o agrupamento não foi constatada a presença de dormência tegumentar. Para a realizado anteriormente para o estrato arbóreo. realização dos testes de germinação foram utilizadas placas de 5.Bibliografia Petri de 15 cm de diâmetro, forradas com uma folha de papel BATALHA, M.A.; MANTOVANI, M. & MESQUITA JÚNIOR, filtro umedecido com 12 ml água destilada, onde foram dispostas H. N. de. 2001. Vegetation strutcture in cerrado physiognomies in 20 sementes por placa, com quatro réplicas por teste. As semen- south-eastern Brazil. Brazilian Journal of Biology, v.61, n.3, p. tes assim preparadas foram colocadas para germinar em incuba- 475-483. doras tipo B.O.D. nas temperaturas de 10; 15; 20; 24; 27; 30; 34; 36; 40; 44; 48 e 50 ºC, para avaliação dos limites mínimo, CLARK, D.A.; CLARK, D.B., ROSA, S. & CASTRO, M.V. 1995. máximo e faixa ótima de germinação. Para a determinação do Edaphic and human effects on landscape-scale distributions of tro- efeito do estresse térmico, as sementes foram submetidas às tem- pical rain forest palms. Ecology, v.76, n. 8, p. 2581-2594. peraturas de 60 e 70ºC, durante 24; 48 e 72 horas e em seguida, ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Editora Interamericana, Rio de colocadas para germinar em placas de Petri forradas com uma Janeiro. 434p folha de papel de filtro umedecida com 12 mL de água destilada, OLIVEIRA-FILHO, A.T. & RATTER, J.A. 2000. Padrões vedadas com filme de PVC e mantidas em temperatura ótima florísticos das matas ciliares da região do cerrado e a evolução das determinada pelo teste anterior (30 ºC). paisagens do Brasil Central durante o Quaternário tardio. In. Para avaliar a tolerância ao envelhecimento precoce foram uti- RODRIGUES, R. R. & LEITÃO FILHO, H. (eds.). Matas lizadas caixas de plástico tipo gerbox, nas quais foi adaptada uma Ciliares: Conservação e recuperação. São Paulo: Editora USP, tela de alumínio, e sobre esta foram dispostas as sementes após a Fapesp. p.73-89. adição de 40 ml de água destilada no fundo. As sementes assim RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. 2001. As Matas de galeria no preparadas foram colocadas em câmara de envelhecimento acele- Contexto do Bioma Cerrado.. In. RIBEIRO, J. F. (eds). Cerrado: rado a 100% de UR, a 40 e 45 ºC, durante 0, 12, 24 e 36 horas Caracterização e Recuperação de Matas de Galeria. EMBRAPA, (Marcos Filho 1994). Decorrido este período de tempo, as quatro Planaltina: EMBRAPA-CPAC. p. 29-45. réplicas de 20 sementes, referentes a cada temperatura e período de envelhecimento, foram dispostas em placas de Perti de 15 cm de SHEPHERD, G.J. 1995. FITOPAC 1: Manual do Usuário. Uni- diâmetro forradas com papel filtro umedecido com água destilada, versidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. seladas com filme PVC e mantidas a 30 ºC. SHIMWELL, D. W. 1971. Description and Classification of Para os testes de estresse térmico e de envelhecimento precoce Vegetation. London: Sidwick & Jackson. 322p. foram utilizadas sementes armazenadas durante 6 meses em emba- lagens de vidro transparente, mantidos sobre bancada à tempera- Ecofisiologia da Germinação de Qualea dichotoma tura de ambiente de laboratório. (Warm.) Stafl. Foram realizadas leituras diárias e no mesmo horário, para Barbieri Júnior, C. A. a, Tonin, G. A.b ; Araújo, E. C. E.c; Peres, S. cálculos de porcentagem e velocidade de germinação. Foram con- C. J. G. A.d sideradas germinadas as sementes que apresentavam protusão a Bacharelado em Ciências Biológicas - Universidade Federal de São radicular maior que 2mm e/ou curvatura geotropica positiva. As Carlos ([email protected]) sementes assim identificadas foram contadas e retiradas das placas b Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais – Universidade de Petri. Os testes foram considerados encerrados quando todas as Federal de São Carlos sementes haviam germinado ou quando as restantes nas placas c Pesquisador Embrapa Meio-Norte apresentaram sinais de deterioração (Duran & Tortosa 1985). Os d Departamento de Botânica – Universidade Federal de São Carlos cálculos de porcentagem e velocidade de germinação foram reali- zados conforme Labouriau & Agudo (1987). Os dados de percen- 1.Introdução tagem de germinação foram convertidos em arco seno Ö% e junta- Devido a presença de um relevo relativamente plano, com solos mente com os dados de velocidade de germinação foram submeti- melhores que os da Amazônia e principalmente, por não existirem dos a uma análise de variância e, quando significantes, ao teste de leis que se preocupem especificamente com sua preservação, o bioma Tukey a 5% de significância. Cerrado apresenta as maiores taxas e o mais rápido processo de

394 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

3. Discussão e Resultados 5. Referências Bibliográficas Os limites mímimo, máximo estão situados entre 10 a 15°C e BEGNAMI, C.N. & CORTELAZZO, A. L. 1996. Cellular alterations 48a 50ºC, respectivamente e a faixa ótima para germinação entre during accelerated aging of French bean seeds. Seed Science & 27 e 34ºC . Technology, Zürich, v.24, n.2, p. 295-303. Esta ampla faixa de temperatura de germinação verificada para CORRÊA, R. S.; MELO FILHO, B. DE, 1998. In Ecologia e Recuperação de as sementes desta espécie, propicia uma elevada capacidade de Áreas Degradas no Cerrado. Brasília, Paralelo 15 p. 13-21. estabelecimento em campo, o que pode lhe conferir uma vantagem sobre as espécies que apresentam germinação em faixa de tempera- DURAN, J.M. & TORTOSA, M.E. 1985. The effect of mechanical and tura mais estreita, principalmente em ambientes tropicais, onde a chemical scarafication on germination of charlock Sinapsis arvensis temperatura é bastante variável ao longo do ano. As espécies tropi- L. seed. Seed Science & Technology 13, p.155-163. cais têm uma notável tolerância às altas temperaturas, apresentan- FELIPE, G.M.; SILVA, J.C.S. 1984. Estudos de germinação em espécies do um limite máximo acima ou igual a 35oC, sendo mais sensíveis do cerrado. Revista Brasileira de Botânica 7 (2) p.157-163. às baixas temperaturas, apresentando um limite mínimo elevado, KAGEYAMA, P. 2003. Avanços Tecnológicos no Programa de Restau- o geralmente acima de 5 C (Okusanya 1980). ração com Espécies Nativas – Convênio Esalq/CESP, In Seminário Após seis meses de armazenamento nas condições supracitadas de Restauração Florestal – Fundamentos e Estudos de Caso. EMBRAPA não houve redução significativa na porcentagem e velocidade de Florestas, Curitiba , PR. germinação, por isto as sementes foram usadas nos testes de estresse LABOURIAU, L. G.; AGUDO, M. 1987. On the physiology of germination térmico e envelhecimento precoce. in Salvia hispanica L. temperature effects. Anais da Academia Brasi- Quando a tolerância desta espécie ao estresse térmico de dife- leira de Ciências 59(1) p. 57-69. rentes intensidades foi avaliada, verificou – se que mesmo após a exposição a 70ºC durante 72h, não houve redução significativa da LORENZI, H. 1998. Árvores Brasileiras, v.1, Nova Odessa, porcentagem e velocidade e germinação em relação ao grupo con- Plantarum, p.346. trole, portanto pode ser considerada uma espécie termotolerante. MARCOS FILHO, J. 1994. Teste de envelhecimento acelerado In: A avaliação da intensidade do estresse térmico imposto a VIEIRA, R. D.; CARVALHO N. M. (Ed.). Testes de vigor em semen- uma semente deve ser feita levando-se em consideração o tem- tes. Jaboticabal: Funep, p.133-150. po que a mesma ficou exposta a uma dada temperatura OKUSANYA, O.T. 1980. Germination and growth of Celosia cristata (Taylorson 1986). De acordo com Felipe & Silva (1984) um L. under various light and temperature regimes. American Journal choque rápido com altas temperaturas não afeta a germina- of Botany 67(6) p. 854-858. ção, porém, por um período prolongado, causa efeitos deleté- rios à semente. TAYLORSON, R.B. 1986. Stress-induced germination of giant foxtail (Setaria faberi) seeds. In Weed Science 34(6) p. 871-875. Quando valores críticos de temperatura são ultrapassados, as estruturas e funções celulares são danificadas e, nessa situação, o protoplasma é morto imediatamente. Mapeamento de Áreas Prioritárias para a Após as sementes terem sido submetidas ao envelheciemtno Conservação da Biodiversidade do Cerrado do Sul do acelerado, verificou–se uma redução significativa da porcentagem Estado do Maranhão – Região Gerais de Balsas e velocidade de germinação, em relação ao grupo controle, a partir Barreto, L1.; Arzabe, C 2.; Cavalcante, P.R.S 3; Ibañez, M.S.R.4; de 72h de permanência na câmara de envelhecimento acelerado a Correia, M. F.5; Figueiredo, N.6; Castro, A C. L.7; Rego, M. M. o 100% de UR e 45ºC. O envelhecimento acelerado realizado 40 C, C 8; Galvão, L.9, Silva, M. J.10; Albuquerque e Melo, C. F. C.11 durante 24, 48 e 72h não provocou reduções na viabilidade e no & Hass, A 12 vigor das sementes de Q. dichotoma, em relação ao grupo controle. 1Universidade Federal do Maranhão ([email protected]);2 Embrapa A variação da temperatura e tempo de exposição o utilizados Meio Norte;3 Universidade Federal do Maranhão;4Universidade de no envelhecimento precoce determinam a sensibilidade diferencial Brasília;5 Universidade Federal do Maranhão;6 Universidade Federal entre diferentes espécies e lotes. De acordo com Begnami & do Maranhão;7Universidade Federal do Maranhão;8Universidade Cortelazzo (1996), o envelhecimento precoce resulta em decrésci- Federal do Maranhão;9 Universidade de Brasília;10 Universidade de mo da taxa de síntese de proteína, degradação do DNA, redução da Brasília;11 Universidade de Brasília, 12CNPq produção de ATP e aumento da peroxidação de lipídeos. Assim, pode-se afirmar que as sementes de Q. dichotoma man- 1.Introdução tém um bom potencial germinativo após o armazenamento duran- O reconhecimento de áreas protegidas é importante para a te 6 meses e não exigem condições especiais de armazenagem, manutenção dos recursos genéticos da fauna e da flora, e também apesar de não apresentarem tegumento rígido ou qualquer tipo de para a reserva estratégica de água dos mananciais aquíferos, princi- dormência. palmente em áreas de nascente. Devido aos motivos expostos acima, e por produzir grandes O Maranhão comporta 60% de Cerrado, representando mais quantidades de sementes viáveis, esta é uma espécie indicada da metade de todos os biomas existentes no Estado (Sematur, para recuperação de áreas degradadas, tendo como inconveni- 1991). O Cerrado é uma das regiões de maior biodiversidade do entes a obtenção das sementes, pois estas são aladas se disper- mundo e cobre 25% do território nacional. Devido a esta excepci- sando com facilidade, e a localização das árvores matrizes pois onal riqueza biológica, o Cerrado, ao lado da Mata Atlântica, é esta é uma espécie de dispersão ampla, porém irregular e considerado um dos “hotspots” mundiais, isto é, um dos biomas descontínua ocorrendo em baixa frequência nas formações se- mais ricos e ameaçados do planeta (MMA, 1999). Por ser o cundárias (Lorenzi 1998). Maranhão, um Estado de transição geográfica, pode-se considerar 4. Conclusões que muitas áreas estão servindo de corredores ecológicos no pro- Nas condições metodológicas em que os experimentos foram cesso de distribuição das espécies, influenciando assim na dinâmica conduzidos pode–se concluir que as sementes de Qualea dichotoma dos ecossistemas. Além disso, é onde ocorre o ponto extremo ori- (Warm.) Stafl. não possuem dormência imposta pela casca, são ental da distribuição das formações Amazônica e, no extremo Nor- euritérmicas e termotolerantes e constituem um bom material bi- deste, de Cerrado e Caatinga, o qual é muito representativo com ológico para estudos de germinação. relação a algumas espécies endêmicas. Este estudo fornecerá as bases para um futuro zoneamento sócio-econômico sustentável

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 395 Cerrado Volume I para a região de Balsas. Esta região tem sido alvo da implantação de Bentos: As coletas foram feitas utilizando uma rede de bentos grandes projetos agrícolas como o PRODECER (Programa de em forma de “D”, passada na margem dos rios. O material amostrado Desenvolvimento do Cerrado), Batavo, Nova Holanda. Atualmente, pela rede foi lavado em peneiras de 0,5 e 0,125 mm de malha. Os a região vem sofrendo um processo de degradação ambiental pelo organismos encontrados foram fixados em formol a 4% durante 24 uso intensivo do solo para fins agriculturais (Sematur, 1991). horas e depois transferidos para álcool a 70%, onde se encontram O objetivo deste estudo é fazer o mapeamento das preservados. potencialidades da biodiversidade, dando embasamento a um mo- Apifauna: O levantamento das abelhas foi realizado com redes delo de gerenciamento do bioma Cerrado do Estado do Maranhão entomológicas por dois coletores. Os locais de parada, durante os (Região Gerais de Balsas) e priorizando áreas para conservação na percursos percorridos (trilhas, morros, margens de rio etc) obede- linha de corredores ecológicos pela presença de espécies endêmicas ceram ao critério de maior floração observada, presença de estra- e de bioindicadores. dos de nidificação e material em decomposição. Também foram 2. Métodos utilizadas iscas odores na mata ciliar e nas “trilhas ecológicas” A área de estudo está situada na região de Balsas (7º 39’ 02’’: próximas ao rio Balsas, para atração de um grupo específico de 46º 21’ 31’’; 7º 47’10’’: 46º 10’ 16’’). Essa área foi selecionada abelhas, os Euglossini. através de mapas e imagens satélites do Diagnóstico do Zoneamento Ictiofauna: Os exemplares foram capturados com auxílio de Ecológico e Econômico do Maranhão (UEMA, 1997). Ela se man- redes de tarrafa e peneiras, em cinco pontos amostrais. Os indiví- tém relativamente conservada, distante 30km de Balsas, e apresen- duos foram fixados em formol a 10%, etiquetados e acondiciona- ta limites naturais formados por cursos d’água, abrangendo uma dos em vidros. Em laboratório foram obtidas medidas área total de 35.000 ha morfométricas, anatômicas e efetuada a identificação sistemática. Este é um projeto multidisciplinar e multiinstitucional que Herpetofuana: A herpetofauna está sendo amostrada em oito vem sendo desenvolvido desde de 2001, e os resultados até então pontos da área Gado Bravo, com o uso de armadilhas (pit-falls) e obtidos são oriundos de quatro expedições científicas. As áreas também manualmente. Para os anfíbios, alguns desses pontos são investigadas são: geomorfologia, geologia (geoindicadores), fauna e hábitats de mata ciliar e poças e/ou açudes ao longo da estrada. flora de ambientes aquáticos e terrestres, limnologia, educação Oitenta armadilhas do tipo alçapão, com baldes de 30l ao nível do ambiental. No momento, está sendo articulado pela Conservation solo, foram instaladas em áreas de cerrado aberto sensu stricto (Área International do Brasil e pela equipe deste projeto, o processo de I) que apresentam alguns impactos ambientais tais como queima- criação de Unidade de Conservação da área atual de estudo que se das. Outras duzentos e vinte armadilhas do mesmo tipo foram chama Gado Bravo. Após esta fase de diagnóstico e posterior im- instaladas em outra área aberta de cerrado (distante cerca de 20 plantação da Unidade, na modalidade Parque Municipal, realizar- km da Área I) apresentando bom estado de conservação. se-á a fase de monitoramento e plano de manejo. Além da área do Avifauna: Para inventariar as aves foram utilizados censos Gado Bravo, duas outras adicionais direcionadas para o sul do em transecto linear; censos por pontos circulares e registros de Estado, fronteira com o Estado do Tocantins, foram pré-selecionadas todas as observações. As espécies foram identificadas com auxí- para futuras criações de Unidades de Conservação na proposta de lio de binóculos, vocalizações e guias de campo (Sick, 1997; Corredor Ecológico. Abaixo seguem as metodologias específicas de Hilty & Brown, 1986). cada área. Os dados da mastofauna ainda estão bastante prelimina- Botânica: O inventário florístico está sendo feito através de res e não serão incluídos. uma análise quantitativa, de amostragem intensiva da vegetação de Limnologia: Foram realizadas coletas de água em sete pontos um Cerrado na área Gado Bravo de Balsas-MA. Todo indivíduo distribuídos principalmente ao longo de dois tributários do Rio coletado, com auxílio de poda ou manual, foi colocado para secar Balsas, os ribeirões Gado Bravo e Bom Acerto, que se desenvolvem em uma estufa de campo, para posterior montagem e inclusão no entre chapadas situadas em área de cerrado com cotas altimétricas herbário do Depto. de Biologia da UFMA. A identificação do da ordem de 250 e 400 m para formar, juntamente com o Rio material coletado se dará através da consulta a herbários, biblio- Balsas, um quadrilátero fluvial em área de cerrado com caracterís- grafia técnica e a especialistas para os grupos taxonomicamente ticas pristinas. Amostras superficiais de água foram coletadas com mais complexos. o auxílio de uma garrafa de Van Dorn e medidos “in situ” seus 3. Resultados e Discussão principais parâmetros físico-químicos. Após a coleta, as amostras Os resultados indicaram águas bem oxigenadas (>60% de sa- foram acondicionadas em recipientes plásticos e mantidas ao abri- turação), condutividade elétrica de 3 a 40 ìS/cm, exceto para o go da luz durante seu transporte ao laboratório de apoio localizado trecho do Rio Balsas (Ferrugem) cujo valor foi o dobro do maximo na cidade de Balsas, onde foram analisadas para nutrientes encontrado nos ribeirões, pH ácido (4,6 a 6,0) e baixas concentra- inorgânicos e oxigênio dissolvido. ções de nutrientes, indicando uma natureza oligotrófica para as os Zooplâncton: As amostras de zooplâncton foram coletadas cursos d’àgua investigados, que é típica para ecossistemas aquáti- nos mesmos sete pontos de coleta de água. As amostras para análise cos apresentando reduzido grau de intervenção antrópica do cerra- qualitativa foram coletadas com rede de plâncton, com 68 mm de do, com a vegetação marginal desempenhando um papel relevante abertura de malha, em arrastos horizontais e fixadas com formol no suprimento de nutrientes e funcionamento desses ambientes. 4%. As amostras foram coradas com rosa de bengala devido à Para o fitoplâncton, foram identificados um total de 71 táxons. Foi grande quantidade de sedimento. A análise foi efetuada a partir de representado pelas Cyanophyta (10), Bacillariophyta (29), uma alíquota de 1 ml, em câmara de Sedwick-Rafter, em microscó- Chrysophyta (1), Euglenophyta (2) e Chlorophyta (29). As divi- pio invertido Zeiss (aumento de até 400x). Os indivíduos foram sões Chlorophyta e Bacillariophyta destacaram-se por estarem pre- contados a fim de se obter uma estimativa da abundância das sentes em todas os pontos amostrados. Do zooplâncton, foram espécies observadas. encontrados 27 taxa no total. Destes, 15 taxa pertencem ao grupo Fitoplâncton: Foram realizados arrastos na horizontal, com o dos Rotifera. Foram observados 4 espécies de Cladocera, 4 taxa de auxílio de rede de plâncton com malha de 40 µm, nos sete pontos Protozoa e 3 taxa de larvas de inseto. Foram registrados indivíduos amostrados. Para o perifíton utilizou-se a técnica da raspagem com jovens de Copepoda Cyclopoida. Nos pontos amostrados foram o auxílio de canivete, nos mesmos pontos em que foram coletados encontrados organismos dos bentos, pertencentes à ordem Diptera, amostras de fitoplâncton. As amostras de fitoplâncton e perifíton Odonata, Coleoptera e Ephemeroptera, ao filo Oligochaeta e foram acondicionadas em frascos plásticos etiquetados e fixados Acarine. Cerca de 29 espécies de abelhas foram coletadas. Dentre em solução de formalina a 4%. as solitárias, os Centridini e Exomalopsini se destacaram, sendo o

396 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado gênero Centris e Epicharis os mais freqüentes; duas espécies de 3- UNESP/São José do Rio Preto-SP Paratetrapedia foram amostradas. Foram identificadas 10 espécies 4- UNESP/Botucatu-SP de peixes da Ordem dos Characiformes e da Ordem dos Siluriformes, entre elas Atyanax bimaculatus e Pimelodus blochii, 1- Introdução respectivamente. Da herpetofauna, vinte e uma espécie (21) de Atualmente são conhecidas cerca de 180 espécies de anfíbios anuros de 04 famílias e 12 gêneros e 22 répteis (11 lagartos, 09 anuros no Estado de São Paulo, o que corresponde a aproximada- cobras e 2 tartarugas) foram encontrados nas coletas iniciais da mente 35% das espécies conhecidas para o Brasil e cerca de 5% da área de estudo. Entre as espécies de anuros podemos citar Bufo diversidade mundial de anfíbios (HADDAD, 1998). A importân- margaritifer, Bufo granulosus, sp, Leptodactylus fuscus, cia da chuva na ocorrência e na abundância das espécies de anfíbios Hyla minuta, Hyla nana; dos lagartos, Mabuya têm sido demonstrada em vários estudos (ROSSA-FERES & JIM, nigropunctata,,Cnemidophorus ocellifer, Micrablepharus maximilliani; 1994; ETEROVICK & SAZIMA, 2000). Na zona temperada co- das cobras, Leptodeira annulata, Hydrodinastes gigas; e das tartaru- munidades de anfíbios tendem a mostrar uma progressão regular gas, Phrynops gibbus e Podocnemis unifilis. Da avifauna, a região na reprodução das espécies em diferentes épocas do ano (HEYER amostrada possui 140 espécies de aves distribuídas em 18 ordens e et al., 1990).Diversos estudos (ROSSA-FERES, 1997; MELO, 42 famílias, correspondendo a 18 % da fauna do Cerrado. Foram 2000) registraram segregação sazonal em comunidades de anuros encontradas cinco espécies endêmicas, Melanopareia torquata, de região tropical sazonal. O presente trabalho descreve a distri- Antilophia galeata, Cyanocorax cristatellus, Cypsnagra hirundinacea e buição sazonal em uma comunidade de anfíbios, adultos e larvas, Saltator atricollis, o que corresponde a 15% das espécies endêmicas na região de Bauru, Estado de São Paulo. do bioma. Duas espécies encontradas na região estão ameaçadas de 2- Métodos extinção, o gavião pato - Spizastur melanoleucus e a arara azul - O presente estudo foi desenvolvido na Fazenda Nossa Senhora Anodorhynchus hyacinthinus. Dos dados de vegetação, foram Aparecida (49º 09’W e 22º 20’ S), município de Bauru, São Paulo. amostrados 840 indivíduos pertencentes a 36 famílias dentre elas: A sazonalidade climática é definida por duas estações: seca, de abril Anarcadiaceae (Anacardium sp), Annonaceae (Annona crasifolia), a agosto e úmida, de setembro a março. Os fragmentos de vegeta- Apocynaceae (Aspidosperma sp), Rubiaceae (Rubiacreae sp), ção nativa remanescente na região indicam uma vegetação pretéri- Malpighiaceae (Byrsonima sp). ta do tipo cerrado. No local de estudo a vegetação original foi 4. Conclusões substituída por pastagem. Os resultados obtidos até o momento mostram uma diversida- Foram realizadas 67 visitas em um açude e um brejo. O brejo de faunística e florística bastante peculiar para a região. Como a possui vegetação emergente composta de Cyperaceae, Poaceae, área de estudo é de transição entre dois biomas (Amazônia à Leste Solanaceae e Typhaceae, a vegetação marginal é abundante e cons- e Caatinga à Oeste), é possível que ocorra espécies endêmicas do tituída predominantemente por gramíneas de baixo porte. O açu- Cerrado coexistindo com espécies da Amazônia e da Caatinga. de tem pouca vegetação marginal e emergente, caracterizadas prin- Porém, uma revisão taxonômica é necessária para completar a lista cipalmente por Poaceae e Cyperaceae de baixo porte. das espécies, contribuindo assim para futuros planos de manejo e A ocorrência sazonal foi determinada para os anuros adultos monitoramento. Dos ecossistemas aquáticos, os dados apontam dos dois ambientes e para os girinos do brejo. As coletas de dados espécies bioindicadoras de qualidade de hábitat, como os sobre os adultos foram desenvolvidas entre 18 e 22 hs, no período quironomídeos. de setembro de 2001 a maio de 2003. Os adultos foram localiza- Agradecimentos: dos visual ou auditivamente e eram identificados e contados. A Este projeto recebe apoio da Conservation International do amostragem dos girinos foi feita entre 16 e 18 hs, no período de Brasil, UFMA, UEMA, UnB, Embrapa Meio-Norte, IBAMA, Pre- maio de 2002 a maio de 2003.Com puçá de tela de arame que era feitura de Balsas e Fundação Sousândrade. passado aleatóriamente em todo o corpo d’água e os girinos eram 5. Referências Bibliográficas anestesiados com benzocaína e fixados em formol a 10%. A tempe- ratura e a umidade relativa do ar foram registradas a cada coleta Hilty, S. L. & W.L. Brown. 1986. A guide to the birds of Colombia. com um termohigrômetro (Minipa, MT-242). A similaridade na New Jersey: Princeton University Press, 836p. ocorrência sazonal dos adultos e dos girinos foi determinada pelo Ministério do Meio Ambiente–MMA. 1999. Ações Prioritárias método de média não ponderada (UPGMA), aplicado na matriz para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal. Mi- do Coeficiente de Jaccard, para os dados de presença e ausência das nistério do Meio Ambiente – Funatura – Conservation International espécies (KREBS, 1989). – Fundação Biodiversitas – Universidade de Brasília, Brasília, D.F. 3- Resultados Sematur, Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Turismo. 1991. Foram registrados adultos de 16 e girinos de 10 espécies de Diagnóstico dos Principais Problemas Ambientais do Estado do anuros, pertencentes a quatro famílias: Hylidae, , Maranhão. São Luís-MA,19p. Bufonidae e Microhylidae. Apenas machos de Hyla minuta Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova vocalizaram durante todo o período de estudo. Todas as espécies Fronteira. 912 pp. estiveram ativas no período quente e úmido: H. minuta, H. nana, H. faber, H. albopunctata, H. elianeae, Scinax fuscovarius, S. similis, UEMA, 1997. Maranhão: Diagnóstico geoambiental e Sócio-Eco- Leptodactylus fuscus, L. mystacinus, L. podicipinus, Physalaemus cuvieri, nômico da Zona Sul do Estado do Maranhão, UEMA. Centro de P. nattereri, P. fuscomaculatus, P. centralis, Elachistocleis ovalis e Bufo Ciências Agrárias. Laboratório de Geoprocessamento (Labgeo). schneideri. Nenhuma espécie apresentou período de vocalização restrito à estação mais fria e seca do ano (abril a agosto), mas duas Distribuição sazonal em comunidade de anfíbios espécies (em negrito na lista acima) vocalizaram também nessa anuros, em área de cerrado na região centro oeste estação. O início da vocalização dos machos esteve relacionado do Estado de São Paulo. com as primeiras chuvas da estação, que ocorreram no final de BASTAZINI, C. V1; ALMEIDA, S. C2; ROSSA-FERES, D. C3 & agosto. A maior riqueza de espécies ocorreu nos meses com os JIM, J.4 maiores índices pluviométricos (janeiro/fevereiro). Espécies como 1- Curso de Ciências Biológicas, UNESP-Bauru, e- mail: P. centralis, P. fuscomaculatus, H. elianeae e S. similis ocorreram ape- [email protected] nas após fortes precipitações. No início da estação chuvosa houve 2- Pós graduação em zoologia, UNESP/Rio Claro predomínio de leptodactilídeos, enquanto os hilídeos ocorreram

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 397 Cerrado Volume I preponderantemente nos meses de alta pluviosidade. Este padrão é de girinos na estação chuvosa. Apenas girinos de H. faber foram semelhante ao verificado por ROSSA-FERES & JIM (1994) e encontrados durante grande parte do ano. Os pares de espécies ARZABE (1999). Segundo ARZABE (1999), essa característica taxonomicamente próximas – Scinax fuscovarius e S. similis, dos leptodactilídeos está relacionada com o modo reprodutivo, Physalaemus cuvieri e P. centralis, P. nattereri e P. fuscomaculatus – pois estes desovam em ninho de espuma. Os hilídeos e os diferiram no período de ocorrência, apresentando pequena microhilídeos depositam os ovos em uma massa gelatinosa submersa sobreposição sazonal. No presente estudo foi possível comparar ou na superfície da água (DUELLMAN & TRUEB, 1986), por um ano com regime de chuvas normal (início da temporada de isso geralmente ocorrem mais tarde, quando o volume de chuva chuvas em setembro) com um ano em que houve grande atraso no aumenta e as chances dos corpos d´água secarem são menores início da temporada de chuvas. O período seco ocorrido no segun- (ROSSA-FERES & JIM, 2001). O período de seca foi muito do semestre de 2002, afetou a ocorrência e a duração da tempora- extenso e o brejo secou totalmente em outubro. Apenas espécies da de reprodução de várias espécies. O atraso do início da tempo- que não eram exclusivas do brejo vocalizaram no açude: H. minuta, rada de chuvas atrasou e encurtou o período reprodutivo de seis L. fuscus, P. cuvieri e E. ovalis que geralmente são encontradas nos espécies de anuros (P. centralis, P. fuscomaculatus, H. elianeae, S. dois ambientes, durante o período de seca foram registrados ape- similis, E. ovalis e H. faber). Isso demonstra que alterações ambientais, nas na margem do açude. Em novembro, com o início das chuvas, mesmo em pequena escala, podem ter grande impacto na ocorrên- ocorreu a reposição de metade do volume de água do brejo. Esse cia e persistência de populações locais. período extenso de seca foi prejudicial para H. faber, os machos 5- Bibliografia não vocalizaram nesse ano, enquanto no ano anterior vocalizaram ARZABE, C. 1999. Reproductive activity patterns of anurans in de novembro/2001 até março/2002. Machos de E. ovalis também two different altitudinal sites within Brazilian iniciaram a vocalização dois meses mais tarde (novembro/2002) Caatinga. Revta bras. Zool. 16(3): 851-864. em relação ao ano anterior. O período de ocorrência dos girinos, de modo geral, se sobre- DUELLMANN, W.E., TRUEB,L., Biology of Amphibians. New pôs com o período de vocalização dos adultos. Nos meses de agos- York: Mc Graw-Hell, 1986. 670p. to a março foram encontrados girinos da maioria das espécies: B. ETEROVICK, P. C., SAZIMA, I. 2000. Structure of an anuran schneideri, H. faber, H. albopunctata, L. fuscus, P. cuvieri, H. minuta, community in a montane meadow in E. ovalis, S. similis, H. nana e S. fuscovarius. Na estação fria e seca, southeastern Brazil: effects of seasonality, habitat, and predation. de abril a agosto, foram coletados apenas girinos de H. faber, de H. Amphibia-Reptilia, 21: 439-461. albopunctata e de H. minuta. HADDAD, C. F. B. Biodiversidade dos anfíbios no Estado de São Houve grande sobreposição na ocorrência sazonal dos adultos; Paulo. In: Joly, C. A., Bicudo, C. E. M. (Org) Biodiversidade do apenas B. schneideri, L. mystacinus, H. faber, S. similis e P. fuscomaculatus Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do apresentaram valores de sobreposição abaixo de 60%. A análise de século XX. 6: Vertebrados. 15-26p. 1998. agrupamento evidenciou três agrupamentos de espécies: 1- Espécies que ocorreram de setembro a março: HEYER, et al. 1990. of Boracéia. Arquivos de Zoologia. .31 1a: P. cuvieri, L. podicipinus, H. nana e S. fuscovarius, que ocor- (4): 237-410. reram de setembro a março; KREBS, C.J. 1989. Ecological methodology. New York: Harper & 1b: L. fuscus, E. ovalis e P. nattereri, que ocorreram de setembro Row. 652p. a fevereiro; MELO, G. V. 2000. Dieta e ecologia de uma comunidade de 2- H. minuta e H. albopunctata, que ocorreram o ano todo; anfíbios anuros em Botucatu, SP. (Mestrado 3- P. centralis e H. elianeae, que ocorreram em janeiro e fevereiro. em Ciências Biológicas, Zoologia) IB, UNESP/Botucatu. A similaridade sazonal entre os girinos foi analisada pela ocor- rência mensal. A análise de agrupamento evidenciou três agrupa- ROSSA-FERES, D. C & JIM. J. 1994. Distribuição sazonal em mentos com valores de sobreposição acima de 60%: comunidades de anfíbios anuros na região de 1- S. similis, E. ovalis e H. nana, que ocorreram de janeiro a março; Botucatu, São Paulo. Revta bras. Biol. 54 (2): 323-334. 2- P. cuvieiri e H. minuta, que ocorreram de dezembro a maio; ROSSA-FERES, D. C. 1997. Ecologia de uma comunidade de 3- H. faber e H. albopunctata, que ocorreram de abril a outubro. anfíbios anuros da região noroeste do Na comunidade estudada, alguns pares de espécies são consi- deradas próximas pois pertencem ao mesmo grupo intragenérico, estado de São Paulo: microhabitat, sazonalidade, dieta e nicho de acordo com FROST (2002): S. fuscovarius e S. similis, P. nattereri multidimensional. (Doutorado em Ciências e P. fuscomaculatus, P. cuvieri e P. centralis. Essas espécies Biológicas, Zoologia) IB, UNESP/Rio Claro. taxonomicamente próximas não apresentaram sobreposição sazo- ROSSA-FERES, D. C & JIM. J.2001 Similaridade do sítio de nal, e uma espécie de cada par (a primeira) apresentou um período vocalização em uma comunidade de anfíbios de ocorrência mais longo. Physalaemus fuscomaculatus e P. centralis Anuros na região noroeste do Estado de São Paulo. Revta bras. apresentaram período reprodutivo curto, apenas após a precipita- Zool. 18(2):439-454. ção de um grande volume de chuva, o que é uma das características de espécies com reprodução explosiva. 4- Conclusão Fenologia de Lavoisiera cordata e Lavoisiera A distribuição sazonal registrada na região de Bauru pode ser francavillana (Melastomataceae), espécies incluída no modelo observado em regiões de clima sazonal, princi- simpátricas da Serra do Cipó, MG. palmente em relação a chuva, com o maior número de espécies Bernardo Dourado Ranieri ([email protected]), Daniel ocorrendo na estação quente e úmida (ROSSA-FERES & JIM, Negreiros, Tate Corrêa Lana & G. Wilson Fernandes. 1994). Os leptodactilídeos foram os primeiros a ocorrer, repetindo Lab. de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, DBG/ICB, CP o padrão observado por ARZABE (1999). A ocorrência e a suces- 486,Universidade Federal de Minas Gerais, CEP 30161-970, Belo são de espécies foi afetada pelo clima, diferindo nas duas estações Horizonte -MG. chuvosas estudadas: uma “normal/mais úmida”, quando as chuvas iniciaram em setembro e outra “tardia/mais seca”, quando as chu- 1. Introdução vas iniciaram apenas em novembro. Também houve maior riqueza As espécies de campos rupestres, assim como as outras espécies de Cerrado, apresentam variações de formação de flores e frutos

398 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado periódicas que refletem adaptações a fatores bióticos e abióticos mais indivíduos nesta fenofase (83,3%). O pico de floração ocor- (Van Scchaick et al., 1993), determinadas por caracteres genéticos reu também em janeiro (86,2%), mas foram observados alguns intrínsecos (Salysbury & Ross, 1992). Da mesma forma, os pa- poucos indivíduos com flores até o meio da estação seca, nos meses drões fenológicos podem refletir adaptações morfológicas e fisioló- de maio e junho. O início do período de frutificação ocorreu no gicas nas plantas para a utilização de recursos (Van Schaick et al., mês de fevereiro quando mais de 80% dos indivíduos apresenta- 1993). Devido ao fato de que a água é o recurso limitante mais vam frutos verdes e se estendeu até o mês de julho. Em agosto e importante em ecossistemas áridos e semi-áridos como os campos setembro (início da estação chuvosa), foi atingido o pico do núme- rupestres, padrões de crescimento e reprodução de plantas têm ro de indivíduos com frutos maduros (80%). Em agosto começa- sido relacionados à sua disponibilidade (Pavón & Briones, 2001). ram a ser observados alguns indivíduos com frutos em dispersão O conhecimentoda fenologia de espécies filogeneticamente re- sendo que a maior porcentagem de indivíduos nesta fenofase foi lacionadas, mas que ocupam micro-hábitats distintos, é importante observado no mês de outubro (63,3%), depois que todos os frutos para a compreensão de processos comunitários como sucessão, esta- já estavam amadurecidos. No mês de dezembro já não haviam belecimento de plântulas e regeneração natural. Os objetivos princi- indivíduos de L. cordata com frutos em dispersão pais deste é conhecer o comportamento fenológico de populações .Lavoisiera francavillana apresentou mais de 80% dos indivídu- destas duas espécies ao longo de um ano. A espécie L. cordata Cogn. os da população estudada com botões e flores abertas em abril. possui hábitats xéricos enquanto L. francavillana Cogn. habita áreas Foram observados indivíduos portando frutos verdes durante todo mésicas. Estas duas espécies foram selecionadas por que ocorrem em o período de estudo. No entanto, a porcentagem de indivíduos que micro-hábitats com características muito distintas apesar de serem apresentavam frutos verdes se mostrou acima de 50% durante o espécies simpátricas e congenéricas. Os dados obtidos serão tam- período de janeiro a agosto. Da mesma forma, durante todo o ano bém de grande valia para compreender os traços fisiológicos da foram observados frutos maduros fechados na maioria dos indiví- fenologia e da germinação que refletem adaptações às circunstâncias duos de L. francavillana sendo que no mês de setembro foi observa- ecológicas às quais as duas espécies estão sujeitas. da a maior porcentagem de indivíduos nesta fenofase (93,3%). Os 2. Material e Métodos frutos em dispersão foram observados na maioria dos indivíduos O estudo foi realizado na Serra do Cipó, que está situada na durante todo o período de estudo. Os meses de maio e junho porção sul da Cadeia do Espinhaço, no estado de Minas Gerais, foram o período em que a maior porcentagem de indivíduos com Brasil, entre os paralelos 19o 12‘- 19o 20‘S a longitude de 43o 40‘ - frutos em dispersão estavam presentes na população (89,7 % e 43o 40‘W, e apresenta-se sob forma de um conjunto de elevações em 90,0 % respectivamente). torno de 1200 m. A região é caracterizada por um clima mesotérmico 4. Discussão com invernos secos de 4 a 5 meses verões chuvosos de 7 a 8 meses Um dos fatores que mais influenciam o comportamento com uma média pluvial anual de 1500 mm (veja Madeira & Fernandes fenológico de uma espécie é o seu habitat (Seghieri et al, 1995). 1999). Seus solos são normalmente rasos, arenosos, secos e com Padrões climáticos como os encontrados na Serra do Cipó atuam pouca retenção de água (Giulietti et al. 1987). como uma forte força seletiva aos comportamentos fenológicos Os dados de fenologia foram coletados do mês de janeiro a principalmente devido à variação na disponibilidade de água para dezembro de 2001. Foram marcados 30 indivíduos de cada espécie as plantas. de populações localizadas na Reserva Particular Natural Vellozia, Espécies como Lavoisiera cordata cujo hábitat apresenta solos uma área adjacente ao parque Nacional da Serra do Cipó- MG que retém pouca quantidade de água, têm seus comportamentos (19º 17’S, 43º 35’W) localizada entre o quilômetro 106 e 108 da fenológicos mais suscetíveis à variação anual de precipitação, ou rodovia MG 010. Todos os 30 indivíduos tiveram suas alturas seja, disponibilidade de água (Seghieri et al, 1995). Esta espécie totais e diâmetros do tronco a 1 cm do solo registrados. Os indiví- apresentou padrão de floração explosivo e limitado à estação chu- duos foram acompanhados todo dia 20 de cada mês tendo os vosa, quando as condições climáticas permitem maior tempo em números de botões, flores, frutos verdes, frutos maduros e frutos de exposição de flores e maior atividade de polinizadores (Rathcke em dispersão registrados em cada indivíduo. O estado vegetativo & Lacey, 1985). dos indivíduos também foi anotado mensalmente considerando-se Um longo período de maturação dos frutos foi observado para os indivíduos em brotação, em dormência ou em senescência. Lavoisiera cordata, que mantém seus frutos fechados até o começo Foram determinadas curvas de porcentagens de indivíduos da estação chuvosa seguinte. Dessa forma esta espécie pode disper- apresentando cada fenofase durante o período de estudo. Foram sar suas sementes no começo da estação chuvosa, quando as condi- utilizadas análises de Komolgorov-Smirnov Two Sample para de- ções estarão propícias à germinação e estabelecimento das plântulas terminar a ocorrência de diferenças, entre as espécies, nos padrões resultantes e também devido à ação mecânica das gotas sobre as de distribuição das porcentagens de indivíduos apresentando cada cápsulas secas, bem como as enxurradas, importantes agentes fenofase ao longo do ano (Zar, 1984). disseminadores (Stone & Weber, 1988). 3. Resultados Espécies como L francavillana cujos hábitats são providos de O estado vegetativo de Lavoisiera cordata e Lavoisiera água durante todo o ano, possuem comportamentos fenológicos francavillana variou pouco durante o ano de 2001. Os indivíduos moldados mais fortemente por fatores bióticos. É provável que os em dormência foram poucos durante todo o ano de 2001 para as indivíduos desta espécie floresçam mais de uma vez durante o ano duas espécies sendo que na maior parte do ano a maioria dos após períodos de chuvas esporádicas uma vez que muitos dos indi- indivíduos se encontravam em brotação. No entanto, em maio e víduos já apresentavam frutos verdes e maduros no início do acom- no período de agosto a outubro, foram encontrados alguns indiví- panhamento mensal. Tal comportamento de floração é possível duos neste estado vegetativo. para espécies de hábitats mésicos e pode ter divergido de forma a Quanto ao comportamento reprodutivo as duas espécies de- evitar a competição interespecífica por polinizadores (Rathcke & monstraram diferentes distribuições nas porcentagens de indivídu- Lacey, 1985). A raridade do hábitat preferencial de L. francavillana os com botões, flores, frutos maduros e frutos dispersando ao lon- pode estar relacionada ao longo período de dispersão o que au- go do ano (Kolmogorov-Smirnov, N=30, P<0.05). No entanto, foi mentaria a distancia de dispersão (Lacey, 1980). A duração esten- possível observar convergência quanto à distribuição da porcenta- dida de dispersão pode ter sido também causa de frutificação gem de indivíduos com frutos verdes ao longo do ano (P>0.05). assincrônica entre os indivíduos da população estudada. Lavoisiera cordata apresentou a emissão de botões florais restrita ao O período de pré-maturação de frutos de ambas as espécies período de chuvas no qual o mês de janeiro foi o que apresentou ocorreram durante a estação seca é o mais propenso à ação de

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 399 Cerrado Volume I predadores devido às características dos exocarpos que, se apresen- populações através da reprodução, dispersão e sobrevivência du- tam tenros e atrativos para Coleópteros (Ranieri, obs pess.). A rante períodos desfavoráveis (Vazquez-Yanes e Orozco-Segovia, convergência no padrão desta fenofase pode estar relacionada a 1993). Para isto, elas necessitam permanecer viáveis, apresentando esta forte pressão biótica que moldou os comportamentos fenológicos longevidade suficiente e às vezes dormência, formando um banco de forma que a maturação de frutos ocorresse no período mais no solo. Este banco pode ser caracterizado por uma agregação de desfavorável aos predadores. sementes que não germinaram, potencialmente capazes de repor As diferenças adaptativas da fenologia de L. cordata e L. os adultos (Baker, 1989). francavillana, indicam que estas duas espécies são bem adaptadas O banco de sementes representa um registro histórico das aos hábitats onde ocorrem. Tais diferenças dentro de um mesmo condições ambientais vividas por uma comunidade vegetal, e é um gênero contradizem as hipóteses que as características fenológicas componente fundamental do potencial para responder a distúrbios seriam seletivamente neutras devido à proximidade filogenética (Coffin e Lauenroth 1989; Parker et al, 1989; Kirkman e Sharitz, (Ollerton e Lack, 1992). Maior conhecimento sobre as relações 1994), tendo grande importância para a manutenção da diversida- entre espécies filogeneticamente relacionadas e seus hábitats seri- de, estabelecimento de grupos ecológicos e restauração da riqueza am importantes para elucidar os mecanismos que determinam a (Baider et al, 1999). distribuição das espécies no mosaico de hábitats da Serra do Cipó. Os bancos de sementes de formações florestais tropicais têm 5. Referências Bibliográficas sido relativamente bem estudados (e.g., Baider et al. 2001). Con- Giulietti, A.M., Menezes,N.L., Pirani, J.R., Meguro, M.e tudo, o mesmo não ocorre para vegetações abertas tropicais, e Wanderley, M.G.L. 1987. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: menos ainda no Brasil. No cerrado brasileiro, Sassaki et al. (1999) caracterização e lista das espécies. Boletim de Botânica 9:1-153. compararam o número de sementes e emergência de plântulas do cerrado sensu stricto, cerradão e mata de galeria. Lacey, E.P. 1980. The influence of hygroscopic movement on seed Dada a importância ecológica do banco de sementes e a escas- dispersal in Daucus carota (Apiaceae). Oecologia 47: 100-114. sez de estudos, o objetivo deste trabalho foi verificar a existência Madeira JA & Fernandes G.W. 1999. Reproductive phenology of do mesmo em campos rupestres, comparando-o com o cerrado, sympatric species of Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipó, mata de galeria e capões de mata (ver descrição adiante) na Serra Brazil. Journal of Tropical Ecology 15: 463-479. do Cipó (MG), através da emergência de plântulas do banco. Des- Ollerton, J & Lack, A. J. 1992. Flowering phenology: an example ta maneira, pretendeu-se avaliar o potencial regenerativo destes of relaxation of natural selection?. Trend s in Ecology and Evolution solos e ao mesmo tempo caracterizar as diferentes fitofisionomias 7: 274-2762. de acordo com parâmetros físicos e químicos do solo. Pavón, N.P.& Briones, O. 2001. Phenological patterns of nine Com base nesta análise, testou-se a “hipótese da favorabilidade perenial plants in an intertropical semi-arid Mexican scrub. Journal do habitat” que prediz que as taxas de emergência de plântulas seja of Arid Environments 49:165-277. maior naquelas fitofisionomias que apresentam condições microclimáticas e nutricionais mais favoráveis ao estabelecimento Rathcke, B.J. & Lacey, E.P. 1985. Phenological patterns of terrestrial das plantas, já que o risco de manter sementes em solos ricos e plants. Annual Review of Ecology and Systematics 16: 179-214. abundantes em microorganismos decompositores, predadores e Ribeiro, K.T. & Fernandes, G.W. 2000 Patterns of abundance of a parasitas é muito alto. Assim espera-se que as taxas de emergência narrow endemic species in a tropical and infertile habitat. Plant de plântulas seja maior nos ambientes de mata (veja Vazquez- Ecology 147: 205-218 Yanes e Orozco-Segovia, 1993). Salisbury, F.B. & Ross, C.W.1992. Plant Physiology. Belmont: 2.Métodos Wadsworth. A Serra do Cipó localiza-se na região sudeste da Cadeia do Seghieri, J., Floret, C. & Pontanier, R. 1995. Plant phenology in Espinhaço, estando sujeita a um regime de chuvas mais intenso que relation to water availability: herbaceus and woody species in the o restante da cadeia (Giulietti et al, 1987). A altitude das áreas de savannas of norther Cameroon. Journal of Tropical Ecology 11: estudo foi de 800 a 1340m. A cobertura vegetal varia de acordo 237-254. com as condições fisiográficas - topografia e condições de umidade, e conseqüentemente, nutricionais (Giulietti et al, 1987). Encon- Stone, B.C., & Weber, A. 1988. A new species of Phyllagathis tram-se quatro fitofisionomias: (Melastomataceae) from the Endau-Rompin proposed national 1. Campos Rupestres - tipo de maior extensão, dominante park, Malaysia. Proceedings of the Academy of Natural Sciences of acima dos 1000m. Formam áreas planas com solos arenosos ou Philadelphia 139: 307-313. cascalhamento, raso, ácido, pobre em nutrientes e matéria orgâni- Van Schaick, C.P., Terborg, J.W. & Wright, S.J. 1993. The ca, entremeados por bolsões mais úmidos, onde o substrato é im- phenology of tropical forest: adaptative significance and permeável, formando brejos. Há ainda diversos afloramentos ro- consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology chosos, onde uma flora rupícola típica é encontrada. Há alta diver- and Systematics 24: 353-377. sidade e elevado endemismo. Zar, J.H. 1984. Biostatistical Analisys, 2 ed. Prentice-Hall, 2. Campo Cerrado - ocorre principalmente entre 800 e Englewood Ciffs, N.J. 1000m. Contém preponderantemente espécies de ampla distribui- ção geográfica. Potencial Regenerativo do Solo da Serra do Cipó, MG 3. Matas de Galeria - acompanham as linhas de drenagem. A vegetação é rica, composta principalmente por espécies de ampla Branca M. O. Medina, Emmanuel D. Almada, Gustavo M. Moraes, distribuição geográfica com centro de dispersão na Amazônia. & G. Wilson Fernandes Muitas vezes esta formação se alonga encosta acima até os capões Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]) de mata. 4. Capões (ilhas) de Mata - estão localizados nos topos arre- 1. Introdução dondados e nas encostas. Os solos são de quartzito, granito e O estudo de banco de sementes de uma comunidade vegetal gnaisse. Há algumas espécies em comum com a formação anterior, tem se mostrado importante para o entendimento dos processos mas geralmente apresenta flora típica. de estabelecimento, sucessão ecológica e regeneração. O principal Foram coletadas cinco amostras de solo de 20cm de diâmetro papel das sementes esta associado à manutenção e crescimento das por 5 de profundidade de cada fitofisionomia, sendo que cada uma

400 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado foi amostrada em quatro áreas de ocorrência. O total amostral foi uma espécie não identificada amplamente distribuída entre todas de n=210, pois sempre que foi possível, foram retiradas amostras a fisionomias (n= 158). Outra espécie não identificada ocorreu so- duas profundidades distintas, de 0 a 5 e de 5 a 10cm. Nos campos mente em capões de mata (n= 96) enquanto outra espécie também rupestres, foram amostradas as tipologias mais representativas: ainda não identificada ocorreu nos cerrados e matas de galeria (n= afloramentos rochosos quartzíticos e brejos arenosos (n=3) e 91). Algumas espécies endêmicas a Serra do Cipó também emergi- turfosos (2) (Ribeiro e Fernandes, 2000). A serrapilheira foi coleta- ram do banco, com destaque para Marcetia taxifolia da separadamente e colocada sobre as amostras de 5cm. (Melastomataceae, n=46), ocorrendo principalmente em Os solos foram coletados ao final da época seca, em agosto de afloramentos rochosos e brejos arenosos; Cambecedesia cf hilariana 2002, a fim de se coletar o maior número possível de sementes (Melastomataceae, 11), distribuida por brejos arenosos e turfosos, prestes a germinar (Sassaki et al., 1999). Também foi coletado solo Diplusodon orbiculares (Lythraceae, 11), apenas nos afloramentos; para análise física (granulometria e umidade, que foi estimada da Lavoisiera confertifolia (Melastomataceae, 10), nos brejos arenosos seguinte forma: [peso fresco - peso seco] / peso seco) e química e Chamaecrista dentata (Leguminoseae, 2), em capões de mata. completa padrão, para caracterizar as formações vegetacionais quan- Portanto, apesar das espécies invasoras constituírem a maior parte to às suas condições para o estabelecimento das plantas (Holl, 1999). dos indivíduos, a regeneração natural conta uma fração significati- As amostras foram homegeinizadas e colocadas para germinar va de espécies endêmicas. em bandejas de isopor de 450cm2 em casa de vegetação bem fecha- Foram encontradas diferenças significativas nos parâmetros fí- da. Para controlar a contaminação com a chuva de sementes local, sicos e químicos do solo entre as fitofisionomias. De modo geral, os foram espalhadas aleatoriamente bandejas com areia e substrato solos foram ácidos, o que está de acordo com o padrão tropical. Os inerte como controle. A emergência das plântulas foi acompanha- ambientes abertos (A, BA, BT e C) apresentaram as menores umi- da quinzenalmente desde setembro de 2002. Os exemplares estão dades, contrastando com os ambientes fechados (G e M). A e BA sendo identificados ao nível de espécie. Apesar deste método su- apresentaram baixo teor de matéria orgânica, pouca argila e, baixa bestimar a composição das espécies existentes no banco, ele provê porcentagem de saturação por bases. BA se diferenciou dos uma estimativa da fração prontamente germinável (Kirkman e afloramentos por ter um pH maior porém muito variável, ter me- Sharitz, 1994), ou seja, o potencial regenerativo. nos potássio e alumínio e ainda menos bases trocáveis. Provavel- As 6 fisionomias - afloramentos rochosos (A), brejos arenosos mente estas características relativamente desfavoráveis expliquem (BA), brejos turfosos (BT), cerrado (C), mata de galeria (G) e capão a baixa riqueza de espécies e abundância de indivíduos observadas de mata (M) - foram contrastadas por one-way ANOVAs, utilizando assim como a emergência de plântulas de espécies mais restritas (e os parâmetros: riqueza de morfoespécies que emergiram do banco, adaptadas) aos campos rupestres desta serra. abundância de indivíduos, pH, fósforo total e remanescente, potás- Os brejos turfosos são mais siltosos e apresentam grande sio, cálcio, magnésio, alumínio, saturação por bases (total e relativa), quantidade de matéria orgânica, pouco fósforo total, porém o re- capacidade de troca catiônica, matéria orgânica, zinco, ferro, manescente é relativamente alto. Provavelmente, por causa da grande manganês, cobre, umidade/g solo, quantidades de areia grossa, fina, quantidade de matéria orgânica, possui muito zinco, ferro e cobre. silte e argila. Todos os dados foram normalizados (log). Assim como nos anteriores, foi encontrado pouco cálcio. A alta 3. Discussão e Resultados riqueza de plântulas encontrada neste ambiente pode ser devido ao A emergência de plântulas iniciou-se em novembro de 2002 e fato deste ambiente apresentar maior concentração de matéria até maio de 2003, 2244 indivíduos emergiram (2,38/m2, variando orgânica, propiciando melhores condições para o desenvolvimento de 0 a 148 indivíduos/bandeja), pertencentes a 348 morfoespécies de microorganismos e fungos decompositores, predadores e parasi- (variando de 0 a 11 por bandeja), sem considerar gramíneas e tas. Assim, esta situação não favorece bancos de sementes persis- cyperaceas. tentes e estimula a germinação. Os capões de mata também apre- O cerrado apresentou a maior riqueza e abundância de sentaram elevado teor de matéria orgânica, assim como alta umi- plântulas e os ambientes com maior proporção de areia, afloramentos dade, o que pode ter levado à alta abundância de plântulas pelo rochosos e brejos arenosos, foram os que tiveram menos espécies e mesmo motivo exposto anteriormente. Os capões apresentaram a indivíduos. Contudo, o cerrado não diferenciou-se significativa- maior quantidade de fósforo total, que é um estimulador do desen- mente dos brejos turfosos quanto à riqueza, e nem dos capões de volvimento das plântulas (Lopes, 1989), porém a menor de rema- mata quanto à abundância (Riqueza: F(5, 204)=6,97; p<0,00001; nescente. Isto pode se dever às altas concentrações de ferro, alumí- A=0,83±1,77; BA=0,73±2,05; BT=3,10±3,66; C=3,25±3,30; nio e manganês, que precipitam o fósforo tornando-o indisponível.

G=2,30±3,05 e M=2,58±2,90. Abundância: F(5, 204)=6,83; As matas de galeria não apresentaram características marcantes, p<0,00001; A=1,78±4,73; BA=15,58±5,0; BT=9,05±12,90; apesar de terem sido significativamente diferentes das outras C=23,65±37,08; G=10,35±22,13 e M=11,86±18,41.). Estes da- fisionomias em diversos parâmetros. Em geral, apresentaram valo- dos estão de acordo com o encontrado por Sassaki et al. (1999), res intermediários. onde o cerrado sensu sricto apresentou maior riqueza e abundância Os cerrados apresentaram pouco conteúdo de matéria orgânica, de sementes do que cerradão e mata de galeria. a maior porcentagem de saturação de bases, capacidade de troca As amostras de 0 a 5cm apresentaram significativamente maior catiônica intermediária, pouco ferro, bastante alumínio e quantida- riqueza e abundância de plântulas que as de 5 a 10cm (F(1, 208)=41,43; des dos outros íons extremamente variáveis. Apesar dos cerrados p<0,00001; 5cm=3,26±3,33; 10cm=0,95±1,92 e F(1, 208)=36,34; aparentemente não apresentar nenhuma característica marcante que p<0,00001; 5cm=16,78±26,08; 10cm=4,52±22,73, respectivamen- explique as elevadas riquezas e abundâncias observadas, uma possí- te). Na fração mais superficial do solo houve maior acúmulo de vel explicação seria a grande capacidade tampão de seus solos, prote- sementes, provavelmente devido ao maior aporte de sementes, gendo as sementes e plântulas de variações bruscas de pH. maior luminosidade, oxigênio e maior concentração de nutrientes 4. Conclusões do que nas camadas mais profundas do banco (Sassaki et al., 1999; A hipótese inicial deste trabalho foi parcialmente corroborada, Reuss et al., 2001). considerando-se a maior riqueza de espécies (turfas) e abundância Das espécies já identificadas, a mais abundante foi Sida gaziovii de indivíduos (capões de mata) encontrada nos ambientes com (Malvaceae, n=285), que ocorreu somente nos cerrados. A segun- condições melhores ao desenvolvimento de organismos da no ranking foi Ageratum myriadenium (Asteraceae, 206), distri- decompositores e predadores de sementes. Estes dados indicam buída por cerrados (195), afloramentos rochosos, brejos turfosos e que outros fatores além dos edáficos tem papel importante na matas de galeria. Ambas são herbáceas invasoras. Em seguida há determinação da emergência das plântulas.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 401 Cerrado Volume I

5. Referências Bibliográficas dieta de vários animais (BELTZER, 1987). Baider, C., Tabarelli, M. e Mantovani, W. (1999) O banco de Em termos de abundância relativa, as formigas representam de sementes de um trecho de floresta atlântica montana (São Paulo, 10% a 25% do total da biomassa animal na maioria dos ecossistemas, Brasil). Revista Brasileira de Biologia 59: 319-328. sendo importante concentrador de energia e regulador da ciclagem de nutrientes. Em outros aspectos elas participam da aeragem do Baker, H. G. 1989. Some aspects of the natural history of seed solo, polinização e dispersão de sementes, como por exemplo, no banks. Em: Ecology of soil seed banks. Leck, M. A., Parker, V.T. e repovoamento vegetal em áreas de mineração e várias espécies Simpson, R. L (eds). Academic Press, California. 462. predam importantes pragas agrícolas (FOREL, 1874). Coffin, D. P. e Lauenroth, W. K. (1989) Spatial and temporal Os Hymenopteros são eusociais, apresentam superposição de vatriation in the seed bank of a semiarid grassland. American Journal gerações, indivíduos estéreis e reprodutivos e o cuidado cooperati- of Botany 76: 53-58. vo com a prole (WILSON, 1971). O comportamento social das Giulietti, A. M., Menezes, N. A., Pirani, J. R. e Vanderley, M. G. formigas resulta da interação das instruções herdadas com o ambi- L. (1987) Flora da Serra do Cipó: caracterização e lista de espécie. ente em que se desenvolve o organismo (DIEHL-FLEIG, 1995). Boletim Botânico 9: 1-151. As formigas fornecem vantagens para se investigar questões Holl, K. D. (1999) Factors limiting rain forest regeneration in biológicas, populacionais e evolutivas. A colônia pode ser conside- abandoned pasture: seed rain, seed germination, microclimate and rada como um superorganismo, onde os indivíduos ocupam os soil. Biotropica 31: 229-242. lugares de células. Desta forma através de divisão de tarefas e da existência de castas morfológicas, comportamentais e/ou fisiológi- Parker, V.T., Simpson, R. L. e Leck, M. A. (1989) Pattern and cas, pode-se estudar os processos envolvidos nesta diferenciação e process in the dynamics of seed banks. Em: Ecology of soil seed de que modo a divisão de trabalho e as castas favorece o maior banks. Leck, M. A., Parker, V.T. e Simpson, R. L (eds). Academic sucesso. As formigas também são organismos especiais para estu- Press, California. 462. dos em ecologia comportamental, além de oferecerem oportunida- Reuss, S. A., Buhler, D. D. e Gunsolus, J. L. (2001) Effects of soil des excepcionais para se investigar e documentar fenômenos e teo- depth and aggregate size on weed seed distribution and viability in rias, tais como seleção de parentes e altruísmo; seleção de grupo e a silt loam soil. Applied Soil Ecology 16: 209-217. competição nos três níveis de organização: indivíduo, colônia e Ribeiro, K. T. e Fernandes, G. W. (2000) Patterns of abundance of população (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990). a narrow endemic species in a tropical and infertile montane habitat. A grande diversidade de espécies de formigas reflete não so- Plant Ecology 147: 205-218. mente a quantidade de variedades de habitat que possibilitam sua Sassaki, R. M., Rondon, J. N., Zaidan, L. B. P. e Felippe, G. M. nidificação, mas também o sucesso ecológico obtido pela divisão (1999) Number of buried seeds and seedlings emergence in de trabalho (WILSON, 1987). O Cerrado como um habitat natu- cerradão, cerrado and gallery forest soils at Pedregulho, Itirapina ral de formigas, ao passo que é degradado pelo homem faz com que (SP), Brazil. Revista Brasileira de Botânica 22: 147-152. as espécies nativas se readaptem as novas condições, migrem ou acabem sumindo (MARCOLINO, 1999). Vazquez, C V. e Orozco-Segovia, A. (1993) Patterns of seed longevity Uma outra ação antrópica que pode interferir na diversidade de and germination in the tropical rainforest. Annual Review of Ecology espécies de formigas é a poluição dos rios através da deposição de and Systematics 24: 69-87. resíduos e poluentes. Alteração do equilíbrio dos ecossistemas colo- ca em risco as relações que levaram centenas ou milhares de anos Um estudo da ação antrópica sobre a mirmecofauna para se estabelecerem. O objetivo deste trabalho visou correlacionar da margem do rio uberabinha, município de a diversidade de gêneros de formigas presentes ao longo da margem Uberlândia, MG. do Rio Uberabinha, na porção que percorre o município de Bruna Borges de Araújo1 Weruska Karyna Freitas Santos1 Virgínia Uberlândia, com os impactos ambientais causados pelo homem, tais Barbosa de Alvarenga1 Daniela Azevedo Mendes1 & Marcus Teixeira como a poluição do rio e a devastação da vegetação nativa. Marcolino2 2- Material e Métodos 1 Instituto de Biologia, Graduação em Ciências Biológicas, UFU, O experimento foi desenvolvido na Cidade de Uberlândia, Mi- Campus Umuarama, Bloco 2D, nas Gerais, Brasil. A vegetação característica é o cerrado entrecortado CEP 38400-902, Uberlândia, MG, Brasil. por veredas, com solos ácidos e poucos férteis. Em sua hidrografia 2Instituto de Genética e Bioquímica, Pós Graduação em Genética e destaca-se a bacia do Rio Uberabinha que possui uma área de 2.200 Bioquímica, UFU, Campus Umuarama, Bloco 2E – sala 33, CEP Km2, aproximadamente (Prefeitura de Uberlândia). 38400-902, Uberlândia, MG, Brasil. Foram realizadas coletas ao longo do rio, no mês de novembro [email protected] - [email protected] do ano de 2001. A temperatura e a umidade também foram aferidas. Em cada ponto de coleta, foram retiradas três amostras distin- 1- Introdução tas com relação a distancia da margem, uma próxima ao rio, uma Dentro do Reino Animal, o Filo Arthropoda contém a maioria na periferia da mata ou perímetro urbano e uma intermediaria dos animais conhecidos aproximadamente 1.000.000 de espécies. entre os dois pontos anteriores. As coletas foram realizadas no A classe de maior destaque é a Classe Insecta, constituída por mais período das 16:00 as 20:00h. de 900.000 espécies (STORER, 1999). A Ordem Hymenoptera Os pontos de coleta foram os seguintes: a primeira área de engloba vespas, abelhas e formigas, sendo esta última representan- coleta (Mata Ciliar Água Limpa - MCAL), a segunda área de coleta tes Formicidae a qual possui 16 Subfamílias, 296 gêneros e 9.944 (Sem Mata Ciliar Água Limpa – SMCAL), a terceira coleta (Sem espécies (BOLTON, 1995), embora se estime que este número Mata Ciliar Água Suja – SMCAS) e a quarta coleta (Mata Ciliar possa atingir 20.000 (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990). Água Suja – MCAS). As formigas são animais dominantes na maioria dos ecossistemas Foram utilizados dois tipos de iscas atrativas, mel e sardinha, terrestres (WILSON, 1987) apresentando importantes papéis no colocadas em um espaço de 1m2 delimitado por barbante preso a fluxo de energia e nutrientes. Elas não possuem asas, pelo menos as estacas de madeira. Além das espécies presentes nas iscas, captura- operárias, sendo então restritas à procura de alimentos, sob a su- ram-se também aquelas presentes no espaço delimitado. As formi- perfície, no solo, na serapilheira ou nas plantas (FOWLER et gas eram então acondicionadas em tubos de ensaio identificados al.,1991). Podem constituir o item alimentar mais importante da contendo álcool a 70%.

402 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

A identificação segundo Bolton (1995) e quantificação das Composição da fauna de Meliponini (Hymenoptera, amostras coletas foram realizadas no laboratório. Apidae) em áreas de cerrado e mata ciliar no 3- Resultados e Discussão município de Urbano Santos, MA Nas quatro áreas de estudo registraram-se variações de tempe- Bruna Danielle V. Serra1, Claudivã Matos Maia2, Lenira de Melo ratura e de umidade. Observou-se que o número de gêneros de Lacerda3 & Murilo S. Drummond3 formigas coletados foi variável em todas as localidades.Na área de 1 Graduanda em Ciências Biológicas (UFMA) MCAL ocorreu uma maior riqueza de gêneros de formigas, talvez ([email protected]), 2 Bolsista CNPq / PELD (UFMA),3 pela ausência da ação antrópica. Neste ponto o habitat permanece Professor do Departamento de Biologia (UFMA), “intacto”, condicionando um equilíbrio entre as várias espécies animais e vegetais. 1. Introdução Na área SMCAL, com a ausência da vegetação nativa, as vari- O estudo sobre insetos, em qualquer ecossistema, requer in- ações ambientais já diferem. O aumento da temperatura e a queda formações sobre a riqueza e a abundância de espécies, para que se na umidade relativa podem influenciar na queda do número de possa trabalhar questões como biodiversidade e dinâmicas desses gêneros. organismos no meio em que se encontram. Dados a respeito do Já na SMCAS, onde o impacto ambiental é maior, regis- número relativo ou absoluto de espécies são inadequados quando trou-se uma redução de 50% no número de gêneros de formi- considerados isolados; comparações de suas distribuições tornam- gas em relação ao primeiro ponto. se necessárias para o entendimento de fatores históricos e atuais Na MCAS, mesmo apresentando uma vegetação primária, há determinantes de sua biogeografia e seleção de áreas prioritárias um declínio de gêneros de formigas. Provavelmente o fator de para conservação (DINIZ, 1998). O uso de invertebrados como interferência é a água, pois estando poluída, poderia estar afetando indicadores de qualidade ambiental tem-se revelado eficaz devido a cadeia alimentar local, afetando o equilíbrio ecológico. A diferen- à susceptibilidade de alguns destes a alterações climáticas, florísticas ça no número de formigas parece ser diretamente influenciado e faunísticas (LA SALLE & GAULD, !993). Os Meliponini, em pelas condições ambientais do Rio Uberabinha. A poluição do Rio especial, por possuírem colônias perenes com grande número de reduziu o número de formigas e de gêneros encontrados. indivíduos e requerem determinadas condições como presença de 4- Conclusão fontes de pólen e néctar e cavidades em árvores para nidificação, Os resultados obtidos indicam que as alterações ambientais têm se mostrado um instrumento adequado para avaliação de áreas geradas pela ação antrópica afetam a diversidade de formigas, dimi- naturais (ROUBIK, 1989). O presente trabalho visa descrever nuindo a riqueza de gêneros. A ausência da Mata Ciliar provoca variações na composição da fauna de Meliponini entre habitats um aumento da temperatura e uma redução da umidade relativa, diferentes, cerrado e fragmento de mata ciliar, fornecendo subsídi- afetando diretamente o número de formigas presentes nessas áreas. os para o monitoramento de áreas protegidas. Na área SMCAS a redução do número de indivíduos, talvez seja 2. Metodologia explicada pelas variações nos índices de temperatura e umidade se As coletas foram realizadas mensalmente de jul/2001 a mar/ comparado a área MCAL. A poluição do Rio influenciou direta- 2003 em 2 áreas de cerrado e 2 áreas de mata ciliar, com 71, 5 ha mente na redução do número de formigas, gerando uma pressão e 72 ha, respectivamente, localizadas no município de Urbano sobre as comunidade e assembléias presentes nesses habitats e, de Santos, MA. O clima da região é tropical quente e úmido, com algum modo agem como fator limitante nas populações naturais, precipitação média anual de 1500 mm, uma estação chuvosa de principalmente as margens do Rio. janeiro a junho e de estiagem de julho a dezembro (BULHÃO & 5- Bibliografia FIGUEIREDO, 2002). No cerrado estabeleceu-se transectos de BELTZER, A. H.,1987, Ecologia alimentar do batora grande, Taraba 20 m de largura e comprimento correspondente à extensão da área major (Aves : Formicariidae) en el valle aluvial del Rio Paraná médio, a ser percorrida. Nos fragmentos de mata ciliar, entretanto, onde Argentina. Stud. Neotropl. Fauna Environ. 22: 137-144. há melhores condições para orientação, utilizou-se o método de BOLTON, B., 1995, A new general catalogue of the ants of the world. varredura. Em ambos os habitats, o solo e a cobertura vegetal das Harvard University Press, Cambridge, London, England. 504p. áreas foram minuciosamente inspecionados visando detectar a pre- sença de ninhos de Meliponini. As coletas foram realizadas prefe- DIEHL-FLEIG, E. & SOUZA, F. M., 1995, Estrutura social de rencialmente nos horários de maior atividade dessas abelhas, início Acromyrmex sp. (Hymenoptera: Formicidae). Anais 15° Cong. da manhã e final da tarde, facilitando a localização de seus ninhos. Entomol. Caxambu, MG. P.154. Cada ninho encontrado recebeu numeração, e características como FOREL, A., 1874, Les fourmis de la Suisse. Société Helvétique des sua disposição no substrato utilizado para nidificação e arquitetura Sciences Naturelles, Zurich. Iv + 452p. externa foram tomados para auxiliar na identificação dos espéci- FOWLER, H. G., FORTI, L. C., BRANDÃO, C. R. F., DELABIE, mes coletados. As análises das variações na composição da fauna de J. H. C. & VASCONCELOS, H. L., 1991, Ecologia nutricional de Meliponini foram feitas apenas até o nível de gênero, devido às formigas. p. 131-223. In: A. R. Panizzi & J. R.P. Parra (eds.), dificuldades taxonômicas. Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. Cerrado Editora Malone Ltda., São Paulo, SP. A vegetação de cerrado das áreas de estudo é em maior parte de HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E. O., 1990, The ants. The Belknap cerrado strictu sensu, com fisionomia aberta ou fechada composta Press of Harvard University Press. Cambridge, Mass. pp. 732. por árvores e arbustos que formam uma camada descontínua, e por gramíneas e herbáceas que formam uma camada contínua (FERRI, MARCOLINO, M. T., BRANDEBURGO, M. A. M. & OLI- 1955 apud LIBANO, 2001). A presença de manchas de cerradão é VEIRA JUNIOR, W. P., 2000, Aspectos comportamentais da distinguível por parte da vegetação apresentar características dife- interação entre formigas Camponotus atriceps Smith (Hymenoptera: renciadas relacionadas à composição florística, espaçamento entre Formicidae) e abelhas africanizadas Apis mellifera(L.) (Hymenoptera: as espécies vegetais, densidade de árvores e tortuosidade de seus Apidae) Naturalia, São Paulo, 25: 321-330. troncos. WILSON, E. O., 1971, The insects societies. Belknap Press of Mata ciliar Harvard Univ. Press. Cambridge, Mass. É composta por vegetação secundária marginal ao Rio Mocambo WILSON, E. O., 1987, Causes of ecological success: the case of e possui algumas espécies vegetais típicas de cerrado. Um dos frag- the ants. Journal Animal Ecology. 56: 1-9. mentos (mata de terra firme semi-decídua) possui vegetação arbórea

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 403 Cerrado Volume I com maior densidade, espécies vegetais menos robustas e troncos 1. Introdução de menor diâmetro. O segundo fragmento (mata mesófila) apre- As sementes representam uma fonte concentrada de proteínas senta menor densidade, espécies vegetais mais robustas e troncos e minerais (Mattson 1980) que podem ser exploradas por uma com maior diâmetro. ampla variedade de animais, especialmente insetos. Diversos estu- 3. Resultados e Discussão dos demonstram a ocorrência de predação de sementes pré-disper- Foram encontrados um total de 78 ninhos. 39,74% (31 ni- são por insetos (principalmente larvas de Diptera, Coleoptera e nhos) nas áreas de cerrado e 60,26% (47 ninhos) nos fragmentos Lepidoptera), em um grande número de famílias de plantas (veja de mata ciliar. Os gêneros Frieseomelitta e Tetragonisca ocorreram Crawley 1992). A perda de sementes antes da dispersão varia entre apenas no cerrado, cada um representado por 3,23% (n = 31); já espécies e populações de plantas, mas freqüentemente atinge mais Scaptotrigona ocorreu somente na mata ciliar. Oxytrigona foi o gê- de 90% das sementes produzidas (e.g. Mattson 1980, Randall nero mais abundante no cerrado (35,48%) e o menos abundante 1986, Crawley & Gillman 1989). Além disso, a predação de se- na mata (4,25%). Partamona (25,81%) foi o segundo gênero em mentes reduz não apenas o número de sementes que uma planta abundância no cerrado, seguida por Trigona (16,13%), Melipona produz, mas, conseqüentemente, também o número de plântulas e (12,9%) e Tetragona (3,23%). Na mata ciliar o gênero mais abun- indivíduos adultos reprodutivos na próxima geração (Louda & dante foi Trigona (38,3%). Em seguida ocorreram Melipona Potvin 1995). Dessa maneira, a predação de sementes pode afetar (29,79%), Scaptotrigona (12,77%), Tetragona (8,51%), Partamona a dinâmica da planta hospedeira e exercer uma redução considerá- (6,38%) e Oxytrigona (4,25%). A não ocorrência de Frieseomelitta e vel em seu valor adaptativo. Por outro lado, predadores de semen- Tetragonisca na mata ciliar ou de Scaptotrigona no cerrado, e as tes tendem a ser altamente especializados e podem ser suscetíveis a diferentes proporções na abundância dos demais gêneros amostrados, pequenas alterações na planta hospedeira, como no número e ta- pode estar associado à composição e arquitetura da vegetação dos manho das sementes e em seus níveis de nutrientes (Tamura & dois habitats, que oferecem oportunidades distintas de associação Hiara 1998). dos Meliponini com as formações vegetais, ou ainda, devido às Os efeitos da planta hospedeira sobre os predadores de semen- diferentes condições de visualização dentro da mata e do cerrado, tes podem afetar a interação entre estes e seus inimigos naturais, que podem facilitar ou dificultar a localização dos ninhos. O grau notadamente parasitóides. De fato, poucos trabalhos avaliaram as diferenciado de conservação dos habitats também pode ter levado interações entre plantas hospedeiras, seus predadores de sementes e a variações estruturais florísticas que se refletem na composição os parasitóides destes (Redfern et al. 1992, Jones et al. 1996), sendo das espécies de abelhas, além da possibilidade de erros amostrais que nenhum deles foi realizado em ambientes tropicais. Assim, este interferirem na caracterização da comunidade de Meliponini. trabalho tem como objetivo determinar os padrões de ataque de um 4. Conclusão predador de sementes (Coleoptera: Bruchidae) não-identificado de A composição da fauna de abelhas, do cerrado e da mata, Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong (Leguminosae: apresentou diferenças relacionadas aos gêneros encontrados e à Mimosoidae) e de seu parasitóide (Hymenoptera) não-identificado abundância de ninhos pertencentes a cada gênero. Maiores varia- e a relação destes com a planta hospedeira. Especificamente, preten- ções referentes à riqueza e à diversidade entre os dois habitats serão deu-se responder às seguintes perguntas: i) Existe relação entre o obtidas após identificação dos Meliponini até o nível de espécie. tamanho dos frutos (peso do fruto e número de sementes) e o ataque 5. Bibliografia pelos predadores de sementes? ii) Existe relação entre o tamanho dos BULHÃO, C. F. & FIGUEIREDO, P. S. Fenologia de leguminosas frutos (peso do fruto e número de sementes) e o ataque pelos arbóreas em uma área de cerrado marginal no nordeste do parasitóides? iii) O ataque pelo parasitóide tem relação com o ata- Maranhão. Rvta. Bras. de Botânica, v. 25, n.3. 2002. p. 361-369. que pelos predadores de sementes? 2. Métodos DINIZ, Ivone (coord.). Grupo temático INVERTEBRADOS: O estudo foi realizado na Reserva do Reservatório de Jura- relatório preliminar. Workshop Ações Prioritárias para Conserva- mento (16°46’20’’S e 43°39’56’’W), localizada no município de ção da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal. In: Juramento, norte de Minas Gerais, a cerca de 39 km do município www.bdt.fat.org.br/pdf/workcerrado/INVERTEBRADOS. 1998. de Montes Claros. Os rios Juramento, Saracura e Canoas – sub- Capturado em 10/07/2003. bacia do rio Verde Grande, bacia do rio São Francisco - formam o LA SALLE, J. & GAULD, I. D. Their diversity, and their impact reservatório, que possui uma área inundada de 7,6 km2 e está on the diversity of other organisms. In: LA SALLE & GAULD inserido em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), (ed.). Hymenoptera and biodiversity. C.A.B. International. 1993. com área de cerca de 3.100 ha (Dabés 2001). A Reserva de Juramen- LIBANO, A. M. Estrutura do estrato arbóreo de uma área de to está localizada em uma área de transição entre os biomas do cerrado (Strictu sensu) na Fazenda Baixão-1, Santa Quitéria-MA. cerrado e da caatinga, sendo dominada pelas seguintes fisionomias (Monografia). São Luís, 2001. 29 p. vegetais: mata seca (floresta estacional decidual), mata ciliar (próxi- ROUBIK, D. W. Ecology and natural history of tropical bees. mo aos rios que drenam o reservatório) e caatinga. O clima é tropical New York: Cambridge University Press, 1989. 514 p. sazonal, caracterizado por um verão chuvoso, entre os meses de outubro a março, e um inverno seco, entre os meses de abril a APOIO: AMAVIDA/PAN/PAINEIRAS/CNPq/PELD/ setembro. Ao contrário da pluviosidade, que apresenta grande ECOCEM/TROPEN sazonalidade, as temperaturas médias apresentam pequena variação durante o ano. A temperatura média anual é de cerca de 22,0ºC e a Predadores de sementes e seus parasitóides em pluviosidade anual fica em torno de 1.100 mm (DNMET 1992). Enterolobium contortisiliquum (Leguminosae: Enterolobium contortisiliquum (Leguminosae: Mimosoidae) é Mimosoideae). uma espécie arbórea, que atinge entre 20 e 35 m de altura e entre Bruno Gini Madeira a ([email protected]), Rubens Manoel dos 80 e 160 cm de diâmetro no tronco. Apresenta folhas compostas Santos b, Danielle Lima Braga b & Marcílio Fagundes a bipinadas com duas a sete jugas. Ocorre desde o Pará, Maranhão e a Laboratório de Ecologia Aplicada, DBG/CCBS, Universidade Piauí até o Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, principal- Estadual de Montes Claros, b graduação em Ciências Biológicas, mente em floresta pluvial e semidecídua (Lorenzi 2000). É decídua Universidade Estadual de Montes Claros no inverno, heliófita, seletiva higrófita e pioneira. A floração ocorre a partir de meados de setembro e prolonga-se até novembro. En- tretanto, E. contortisiliquum não produz sementes todos os anos e

404 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado a maturação dos frutos ocorre durante os meses de junho e julho, com o número de sementes parasitadas (y = 0,056 + 0,178x, F = sendo que podem permanecer na árvore por mais alguns meses. As 225,799, n = 999, r2 = 0,185, p < 0,001), indicando que o ataque sementes são predadas por uma espécie não-identificada de do parasitóide se concentra em frutos com um grande número de Bruchidae (Coleoptera) e esta é parasitada por uma espécie não- sementes predadas. Entretanto, a porcentagem de sementes identificada de Hymenoptera. A detecção da predação da semente parasitadas por fruto não aumentou em função da porcentagem é facilmente verificada pela presença da larva do coleóptero no de sementes predadas (F = 1,273, r2 = 0,002, p = 0,26). Assim, interior da semente, enquanto o parasitismo pode ser detectado parece que as fêmeas do parasitóide não selecionam para o ata- pela presença da pupa do parasitóide. que frutos com altas taxas de predação (porcentagem de semen- Em setembro de 2002, 20 indivíduos de E. contortisiliquum tes predadas). Os parasitóides estariam, então, abandonando fru- foram selecionados aleatoriamente no campo e 50 frutos foram tos muito predados após atacarem apenas algumas sementes coletados em cada indivíduo, totalizando 1.000 frutos na popula- predadas. Dessa maneira, é possível que nos frutos de E. ção amostrada. Os frutos foram posteriormente levados ao labora- contortisiliquum esteja ocorrendo o fenômeno de marcação do tório, onde tiveram seu peso determinado. Após a pesagem, os hospedeiro, pelo qual as fêmeas de parasitóides abandonam uma frutos foram abertos e o número de sementes em cada fruto foi mancha de hospedeiros com alta freqüência de hospedeiros mar- contado. As sementes foram então avaliadas quanto à presença de cados (i.e., atacados) (Waage 1979). predadores e/ou de seus parasitóides. Assim, foram determinados o 4. Conclusões número de sementes intactas e o número de sementes predadas e Os predadores de sementes de E. contortisiliquum parecem parasitadas em cada fruto. Dessa maneira, foi obtida a porcenta- discriminar os frutos por seu tamanho e/ou número de sementes ao gem de sementes predadas e parasitadas por fruto. Os dados foram depositar seus ovos. Já os parasitóides não utilizam o tamanho do analisados através de correlação de Spearman, análise de regressão fruto como pista para a oviposição, embora frutos predados sejam linear, análise de variância e teste t de Student (Zar 1996). maiores do que frutos não predados. Os parasitóides parecem uti- 3. Resultados e Discussão lizar o número de sementes predadas como pista para o ataque. O peso médio dos frutos de E. contortisiliquum foi 21,15 ± Entretanto, as taxas de ataque de parasitóides não aumentam com 0,37g (média ± erro padrão) e variou entre 2,18 e 95,0g, apresen- as taxas de ataque dos predadores de sementes. Dessa maneira, os tando diferença significativa entre os diferentes indivíduos (F = parasitóides parecem regular seu ataque de acordo com o ataque 84,383, gl = 19, p < 0,001). O número médio de sementes por dos predadores de sementes. Estudos mais detalhados são necessá- fruto foi 13,14 ± 0,14 e variou entre 0 e 24 sementes por fruto, rios para elucidar a relação entre o ataque dos predadores de se- também apresentando diferença significativa entre os indivíduos mentes e de seus parasitóides em E. contortisiliquum e os possíveis amostrados (F = 21,094, gl = 19, p < 0,001). A porcentagem de efeitos da planta hospedeira como mediadora dessa interação. frutos predados na população amostrada foi de 77,6%, enquanto a 5. Referências Bibliográficas porcentagem de frutos parasitados foi de 31,8%. A porcentagem Crawley, M.J. 1992. Seed predators and plant population dynamics. média de sementes predadas por fruto foi 26,7 ± 0,8%, enquanto a In: Fenner M (ed) Seeds: the ecology of regeneration in plant porcentagem média de sementes parasitadas por fruto foi 20,8 ± communities. CAB International, Wallingford, pp 157–191. 1,1%. O número de sementes se correlacionou de maneira positiva Crawley, M.J., Gillman, M.P. 1989. Population dynamics of com o peso do fruto (correlação de Spearman: r = 0,317, n = 1000, s cinnabar moth and ragwort in grassland. Journal of Animal Ecology p < 0,001), indicando uma tendência de aumento do número de 58:1035–1050. sementes por fruto com o peso do fruto. Não houve relação estatisticamente significativa entre o peso Dabés, M.B.G.S., Ladeia, M.M., Pedralli, G. 2001. Estudo das do fruto e a porcentagem de sementes predadas (F = 0,227, p = macrófitas aquáticas da barragem do rio Juramento, visando o 0,634). Esse resultado parece indicar que a fêmea do predador não manejo limnológico. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Enge- utiliza o tamanho do fruto como pista para oviposição. Entretan- nharia Sanitária e Ambiental. Espaço Cultural José Lins do Rego, to, o peso médio dos frutos foi significativamente maior em frutos João Pessoa, 16 a 21 de setembro. predados (frutos predados = 22,22 ± 0,43g; frutos não predados = DNMET- Departamento Nacional de Meteorologia. 1992. Nor- 17,43 ± 0,73g; teste t de Student = - 5,426, gl = 997, p < 0,001). mais climatológicas da região de Montes Claros, MG. Brasília. Além disso, frutos predados apresentaram maior número de se- Jones, T.H., Godfray, H.C.J., Hassell, M.P. 1996. Relative mentes do que frutos não predados (frutos predados = 13,35 ± movement patterns of a tephritid fly and its parasitoid wasps. 0,15; frutos não predados = 12,43 ± 0,34; teste t de Student = - Oecologia 106:317–324. 2,726, gl = 997, p < 0,01), ainda que o número de sementes por Lorenzi, H. (2000). Árvores brasileiras: manual de identificação e fruto tenha apresentado uma pequena relação negativa com a por- cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, vol I. 3a ed. Instituto centagem de sementes predadas (y = 0,437 – 0,013x, F = 54,04, n Plantarum, Nova Odessa, São Paulo. 352 pp. = 994, r2 = 0,052, p < 0,001). Assim, os resultados indicam que as fêmeas do predador de sementes atacam principalmente frutos Louda, S.M., Potvin, M.A. 1995. Effect of inflorescence-feeding maiores e com maior número de sementes em seu interior, uma vez insects on the demography and lifetime fitness of a native plant. que esses devem representar um recurso maior e mais aparente Ecology 76:229–245. (Root 1973), embora as sementes desses frutos sejam atacadas em Mattson, W.J. Jr.1980. Herbivory in relation to plant nitrogen menor proporção do que em frutos menores. content. Annual Review of Ecology and Systematics 11: 119-161. O peso do fruto e o número de sementes por fruto não apre- Randall, M.G.M. 1986. The predation of predispersed Juncus sentaram relação estatisticamente significativa com a porcentagem squarrosus seeds by Coleophora alticolella (Lepidoptera) larvae over 2 de sementes parasitadas por fruto (peso do fruto: F = 1,384, r = a range of altitudes in northern England. Oecologia 69:460–465. 0,002, p = 0,24; número de sementes: F = 2,81, r2 = 0,004, p = Redfern M., Jones, T.H., Hassell, M.P. 1992. Heterogeneity and 0,094). Esses resultados indicam que a fêmea do parasitóide não utiliza o tamanho do fruto, seja ele representado pelo peso do fruto density dependence in a field study of a tephritid-parasitoid e/ou pelo número de sementes, como pista para o ataque às larvas interaction. Ecological Entomology 17:255–262. do bruquídeo predador de sementes, ainda que frutos predados Root, R.B. 1973. Organization of a plant arthropod association in sejam maiores que frutos não predados. simple and diverse habitats: the fauna of collards (Brassica oleracea). O número de sementes predadas apresentou relação positiva Ecological Monographs 43:95–124.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 405 Cerrado Volume I

Tamura, S., Hiara, T. 1998. Proximate factors affecting fruit set nas folhas, conforme análise realizada na Embrapa/CPAC. Como and seed mass of Styrax obassia in a masting year. Ecoscience substrato para as colônias controle, foi selecionada B. variegata 5:100–107. (Leguminosae), esta possui 56ppm de alumínio, apresenta boa acei- Waage, J.K. 1979. Foraging for patchily-distributed hosts by tação pelas saúvas e conteúdo nutricional capaz de promover cresci- the parasitoid, Nemeritis cansescens. Journal of Animal Ecology mento do fungo usado como alimentação das saúvas, assim como 48: 353-371. bom desenvolvimento das colônias (Kitayama et al. 2002). Três colô- nias foram aleatoriamente selecionadas para o grupo experimental, Zar, J.H. 1996. Biostatistical analysis. 3a ed. Prentice Hall, Upper tendo uma dieta restrita a Q. parviflora e outras duas foram reserva- Saddle River, New Jersey. das ao grupo controle, expostas a uma dieta restrita a B. variegata. Para verificar os efeitos da alimentação com altas concentra- Estudo de altas concentrações de alumínio na dieta ções de alumínio na dinâmica colonial de A. sexdens foram definidas de Atta sexdens Aspectos da dinâmica colonial as seguintes metodologias com medições bimestrais: Estimativa do Caio A. Rébulaa , Helena C. Moraisb, Felipe S. Airesc número de indivíduos que é uma adaptação do método de marcação aMestrado em Ecologia, Universidade de Brasília e recaptura, foi desenvolvida com objetivo de quantificar popula- ([email protected]), bDepartamento de Ecologia, Universi- ções de insetos que habitam camadas sub-corticais ou subterrâne- dade de Brasília, cGraduação em Biologia, Universidade de Brasília. as. Este método foi utilizado para estimativas de populações de formigas a partir do número e composição dos forrageadores em 1. Introdução uma colônia (Holt, 1955). Produção de lixo pela colônia consiste em Representantes do gênero Atta constituem os herbívoros do- medições do tamanho de populações baseado em seus produtos e minantes em ecossistemas tropicais, sendo responsáveis pela maio- efeitos. Produtos utilizados neste tipo de teste são geralmente ria do fluxo de energia e nutrientes nestes ecossistemas. A formiga exúvias e fezes dos insetos (Southwood, 1978). Sendo assim, é cortadeira Atta sexdens popularmente conhecida como saúva limão, possível realizar um acompanhamento de variações no tamanho da tem sido considerada praga de monoculturas, desfolhando as espé- população por meio da análise do peso do lixo. Consumo foliar cies vegetais nas proximidades de seus ninhos (Holldobler & Wil- diário que foi encontrado subtraindo o peso seco das folhas son, 1990). Numerosos esforços de controle são aplicados contra consumidas do peso seco ofertado, obtendo a definição do peso as saúvas, muitos deles com efeitos temporários e em muitos casos seco consumido, em um intervalo de 24h. Consumo foliar diário as tentativas de controle causam danos ao ambiente. seletivo foi utilizado para determinar se os efeitos da alimentação Foi relatado que na região do cerrado, cujo solo é frequente- eram específicos para Q. parviflora. Foi oferecido ao fim do experi- mente distrófico com grande concentração de alumínio, muitas mento M. albicans (Melastomataceae), uma outra espécie espécies vegetais nativas acumulam este metal sem qualquer efeito acumuladora de alumínio nativa do cerrado e Q. parviflora simulta- deletério à absorção de outros nutrientes. Espécies classificadas neamente, durante oito dias. Foi aplicado o método de regressão como acumuladoras de alumínio apresentariam valores maiores linear para a análise do desenvolvimento das colônias do grupo que 1000 mg do metal por peso seco (Haridasan, 1982). Diversos controle, tendo como base para o cálculo os resultados dos testes fatores são responsáveis pela determinação da vegetação do cerra- propostos acima. do, como queimadas, características pedomórficas, disponibilida- 3. Resultados de de nutrientes (Haridasan, 1992) e os efeitos de formigas As colônias experimentais, no início do experimento, apresen- cortadeiras (Coutinho, 1984). taram 6833±3520 indivíduos por ninho, produção de lixo de Poucos trabalhos foram realizados para elucidar os possíveis 26,67±17,25g e consumo foliar de 6,33±3,30g. Duas semanas após efeitos de uma dieta rica em alumínio em insetos, a maioria destes o início do experimento ocorreu uma grande queda no consumo com o objetivo de encontrar um bio-indicador de poluição (Frick foliar possivelmente devido a rejeição das folhas. Estas eram corta- & Herrmann, 1990) ou um novo mecanismo de controle a uma das e carregadas para a área do jardim de fungos e depois despreza- espécie considerada praga (Salim & Saxena, 1992). Alguns dos das, após comunicação de operárias no interior do ninho com a efeitos esperados como resultado da exposição de insetos à altas operária que portava a carga. No mesmo período, duas observa- concentrações de alumínio compreendem a redução na longevidade, ções sugerem o efeito tóxico da alimentação com Q. parviflora, na emergência de adultos, na fecundidade (Raina et al., 2001) e o sendo estas uma grande redução no jardim de fungos nas três colô- acúmulo de alumínio no interior do corpo (Sumi et al. 1991) com nias do grupo experimental e conseqüente elevação na produção grande parte sendo secretado para o exterior do corpo na exúvia, de lixo, assim como a ocorrência de um grande número de adultos assim como efeitos negativos na respiração e conseqüente metabo- recém emersos mortos no lixo. Dois meses após o início da alimen- lismo de O2 (Correa et al., 1985). tação com Q. parviflora houve um crescimento no número de indi- O objetivo deste trabalho foi analisar alguns dos possíveis efei- víduos para 11667±3659, a produção de lixo foi elevada para tos da alimentação de A. sexdens com folhas de plantas que apresen- 34,33±13,60g e o consumo foliar caiu para 1,33±0,47g. As medi- tam altas concentrações de alumínio. ções durante o quarto mês revelaram um grande decréscimo a 2. Métodos 3333±2460 indivíduos, uma queda na produção de lixo para Colônias de A. sexdens foram desenvolvidas em laboratório 12,33±9,81 e um consumo foliar inferior a um grama. Ao término unicamente para o experimento, de acordo com o método utiliza- do experimento, após seis meses de alimentação com Q. parviflora, do por Kitayama et al. (2002). Foram amostradas sete espécies de as colônias do grupo experimental estavam mortas. Já o grupo plantas acumuladoras de alumínio nativas do cerrado, sendo estas controle demonstrou crescimento linear e bom desenvolvimento Miconia pohliana, M. albicans, M. ferruginea, M. sp, Qualea parvilora, de suas colônias, apresentando r2=0,908 para a estimativa do nú- Q. grandiflora e Q. multiflora e Bauhinia variegata que é uma espé- mero de indivíduos, r2=0,749 para a produção de lixo e r2=0,833 cie exótica usada para arborização. Foi escolhida como substrato para o consumo foliar, ao longo dos seis meses de experimento. O Q. parviflora (Vochysiaceae) para as colônias experimentais por teste de consumo foliar seletivo revelou no grupo experimental um diversos fatores. Esta espécie apresenta alta taxa de herbivoria e consumo diário de 0,51±0,21g de Q. parviflora e 0,44±0,25g de M. ausência tanto de compostos possivelmente tóxicos como de adap- albicans, indicando um nível de rejeição semelhante para ambos os tações capazes de reduzir a herbivoria (Marquis et al.2001). Tam- substratos oferecidos. No grupo controle o consumo foliar diário bém apresenta conteúdo nutricional semelhante à planta escolhida foi 34,33±1,96g de B. variegata, 1,38±0,75 de Q. parviflora e como controle e uma alta concentração de 18000ppm de alumínio 1,65±0,76g de M. albicans, demonstrando grande aceitação da plan-

406 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ta controle contra pouca atratividade das espécies acumuladoras polluted river with heavy metals. Zool Sci 8: 287-293. de alumínio. (Agradecimentos: UnB, CNPq, CAPES) Os testes indicam que a alimentação restrita a altas concentra- ções de alumínio resulta em mortalidade do jardim de fungos e das Influência da Biologia floral e viabilidade do pólen operárias, após duas semanas de exposição. A partir da redução no consumo foliar, evidenciado pela rejeição de Q. parviflora após duas no processo de frutificação de Erythrina speciosa semanas, ocorreu um corte na entrada de substrato para as colônias. Andr. (Leguminosae) 1 1 Houve crescimento das colônias por mais dois meses até o total Cano, Elenice Cristaldo , Macieira, Andréa Carvalho , Martinz, 1 1 1 consumo do jardim de fungos, resultando em uma elevação na pro- Elaine Dinalli , Neves, Deise , Ribas, Augusto Cesar Aquino 1 dução de lixo por redução no jardim de fungos sendo consumido. Graduando(a) em Ciências Biológicas ([email protected]) – Sem o substrato para a alimentação ocorreu redução no número de Universidade Federal de Mato Grosso do Sul indivíduos. A comparação com M. albicans, outra acumuladora de alumínio, demonstra que possivelmente há um mecanismo de reco- 1. Introdução nhecimento de plantas acumuladoras de alumínio, evitando que As características de flores têm sido consideradas para compre- estas sejam utilizadas como substrato para o fungo. ender as síndromes de caracteres que indicam a dispersão e 4. Conclusão polinização de Erythrina speciosa. Seu tronco e ramos são cobertos Os resultados indicam que dietas restritas a plantas de espinhos e sua folhagem cai totalmente no inverno, dando lugar acumuladoras de alumínio causam perda de produtividade e con- a belas flores, atraindo pássaros e abelhas. Plantas do gênero seqüente morte da colônia. A rejeição a plantas acumuladoras de Erythrina são bem conhecidas pela produção de flores ricas em alumínio sugere que a presença de altas concentrações de alumínio néctar polinizadas por aves. E. speciosa também é muito utilizada pode ser identificada pelas operárias, sendo um caráter importante para fins ornamentais e alguns estudos demonstram que esta planta a ser considerado na estratégia de forrageamento de Atta sexdens. têm importância medicinal, não sendo estudados neste trabalho. 5. Referências Bibliográficas Uma vez que a polinização é um dos pontos decisivos para o crescimento e desenvolvimento do fruto, contribuindo com os Correa, M.; Coler, R.A.; Yin, C.M.; Venables, B.J. 1985. The impact gametas masculinos para a fecundação e determinando, assim o of depressed pH and elevated aluminum concentrations on specific processo de frutificação, e uma vez que a análise da fertilidade do dynamic action in Somatochlora cingulata. Comp Biochem Physiol pólen é uma condição preliminar indispensável para determinar o C 82(1):199-201. sucesso da polinização seja com o auxílio de polinizadores ou não, Coutinho, L.M. 1984. Aspectos ecológicos da saúva no cerrado. A o significado da polinização para a produção difere grandemente saúva, as queimadas e sua possível relação na ciclagem de nutrien- em diferentes variedades. Os principais fatores dizem respeito à tes minerais. Bolm Zool Univ S Paulo 8: 1-9. quantidade de pólen funcional, facilidades para a polinização, im- Frick, K.G.; Herrmann, J. 1990. Alluminum accumulation in a portância do pólen para a geração de embrião zigótico e/ou desen- lotic mayfly at low pH – a laboratory study. Ecotoxicol Environ Saf volvimento dos embriões nucelares nas sementes dessas variedades Feb 19(1):81-88 e a habilidade de algumas variedades para produzir frutos sem Haridasan, M. 1982. Aluminum accumulation by some Cerrado sementes (partenocárpicos) com ou sem polinização (Frost & Soost, native species of central Brazil. Ecology 59:411-419 1968). Dentre as plantas polinizadas por vertebrados, Erythrina inclui espécies arbóreas polinizadas por aves, e se enquadra no Haridasan, M. 1992. Observation on soil, foliar nutrients grupo polinizadas por beija-flores e o de espécies polinizadas por concentrations and floristic composition of cerrado «sensu stricto» aves que não os beija-flores. A floração, foi aparentemente muito and «cerradão» communities in central Brazil. In: Furley, P.A.; sincrônica durante o período mais seco do ano. Proctor, J.; Ratter, J.A. Nature and Dynamics of forest-savannah O objetivo deste trabalho foi analisar a morfologia floral e a boundaries. London, Chapman & Hall, p. 171-184. viabilidade do pólen na influência do processo de frutificação de Holldobler, B. Wilson, E.O. 1990. The ants. Cambridge, Harvard Erythrina speciosa no campus da Universidade Federal de Mato Gros- University Press. 733p. so do Sul de Campo Grande. Holt, S.J. 1955. On the foraging activitity of the wood ant. J. 2. Métodos Anim. Ecol. 24:1-34 O presente trabalho foi realizado em um trecho de cerrado na Kitayama, K.; Gramacho, M.G.; Hay, J.D.; Pic, M. 2002. Foraging reserva da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em Cam- fidelity of Atta sexdens(Hymenoptera-Formicidae) in a laboratory po Grande (aprox. 20º30’35’’ S e 53º36’55’’ W). As observações colony. Sociobiology 39(3):423-428. foram realizadas ao longo de dez dias não consecutivos, no período matutino e vespertino, totalizando 20 horas de observações. Fo- Marquis, R.J.; Diniz, I.R.; Morais, H.C. 2001. Patterns and ram feitas análises das flores e testada a viabilidade do pólen no correlates of interspecific variation in foliar insect herbivory and laboratório de Botânica do departamento de Biologia da Universi- pathogen attack in Brazilian cerrado. Journal of Tropical Ecology dade Federal de Mato Grosso do Sul, com a supervisão de profes- 17:127-148. sores e especialistas em taxonomia. Raina, R.M.; Pawar, P.; Sharma, R.N. 2001. Developmental Foram coletados 10 botões florais em máximo desenvolvimen- inhibition and reproductive potential impairment in Musca domes- to, em pré antese, de 5 árvores aleatoriamente. Estes botões foram tica by heavy metals. Indian J. Exp. Biol. Jan. 39(1):78-81. ensacados com papel impermeável e no dia seguinte foram feitos Salim, M.; Saxena, R.C. 1992. Iron, silica and aluminum stresses testes de autopolinização espontânea, polinização manual, e and varietal resistance in rice – effects on whitebacked planthopper. polinização cruzada. Alguns botões, não ensacados foram utiliza- Crop Science 32(1):212-219 dos como controle. Para o teste de viabilidade polínica, outros dez botões foram coletados de duas em duas horas, colocados em uma Southwood, T.R.E. 1978. Ecological methods – with particular reference to the study of insect populations. 2nd ed. Chapman and caixa de isopor com gelo, e levadas ao laboratório. As anteras foram Hall, Cambridge Press, London. 524p. maceradas em uma lâmina, coradas com carmim acético a 25%, recobertas com uma lamínula e analisadas ao microscópio óptico, Sumi, Y.; Fukuoka, H.R.; Murakami, T.; Susuki, T.; Hatakeyama, seguindo metodologia apresentada por Moreira & Gurgel (1940, S; Susuki, K.T. 1991. Histochemical localization of copper, iron 1941). As lâminas foram levemente aquecidas sobre chama para and zinc in the larvae of the mayfly Baetis thermicus inhabiting a melhoria da coloração antes da contagem. Avaliou-se 10 lâminas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 407 Cerrado Volume I preparadas e foram feitas três leituras para cada lamínula. Em cada Apesar de espécies de Erythrina exibirem atributos morfológicos leitura obteve-se um número de grãos de pólen viáveis e outro de para adaptação à polinização por pássaros nectarívoros menciona- grãos de pólen inviáveis. dos na literatura, E. speciosa é polinizada por muitas abelhas (Apinae Para estimar a exploração das flores pelos pássaros foi feito e Meliponinae) o que mostra uma grande ocorrência urbana. A os seguinte cálculo: O número de visitas x o tempo de cada composição de pássaros visitando essa espécie foi quase a mesma, e visita x o número de flores exploradas por minuto. Os pássa- as diferenças podem se dever aos diferentes locais de estudo. Porém ros que entravam em contato com as anteras e visitavam mais neste trabalho foi observado que as abelhas agiam somente como plantas foram considerado como verdadeiros polinizadores. pilhadoras, não possuindo comportamento de polinizadores. Es- Pequenos insetos como formigas não foram considerados nes- tudos mais detalhados são necessários para comprovar o real com- te trabalho. portamento de abelhas em relação à E. speciosa e sua relação com o Com o auxílio de um binóculo 8x30, foram observados os processo de frutificação. visitantes às inflorescências e como eles entravam em contato com 4. Conclusões o pólen em relação às partes do corpo. Também foi analisada a Neste trabalho foi constatado que E. speciosa é uma flor biologia floral da Erythrina speciosa. autoincompatível, com predominância de xenogamia, sendo os 3. Discussão e resultados polinizadores importantes para a fecundação e produção de frutos. Erythrina speciosa apresenta 5 pétalas de cor avermelhada, uma Por C. flaveola apresentar um comportamento que danificava as mais desenvolvida formando um tubo com uma fenda longitudinal flores, não foi considerado um polinizador eficiente, sendo então do ápice da flor até a base do cálice, que esconde tanto o androceu os beija-flores com maior êxito na polinização. Devido a sua gran- como gineceu, protegendo a flor de visitas ilegítimas. As outras de adaptabilidade às condições de seca esta planta pode ser consi- quatro pétalas interiores são menores e atrofiadas. A inflorescência derada uma fonte alternativa de néctar e pólen, sendo a espécie é do tipo racemo, sendo que a antese ocorre primeiramente nas mais frequentada por pássaros da região e também por abelhas. flores inferiores seguido das flores superiores. O androceu apresen- A viabilidade do pólen de E. speciosa apresentou uma porcenta- ta 5 alturas para os estames, são gamostemones inclusos, com gem relativamente alta (80,5%±6,5) se comparado a outros traba- anteras dorsifixas de fenda longitudinal, introrsa diteca e de pólen lhos do gênero Erythrina (Terborgh, 1986; Terborgh & Stern, pulverulento. A concentração de néctares e aminoácidos é relativa- 1987; Ferrari & Strier, 1992). Portanto, os pólens podem ser uti- mente associada ao modo de polinização. Erythrina speciosa é uma lizados em polinizações cruzadas, sem prejuízos na fecundação, planta semi-decídua, comum nas florestas do oeste do Brasil. por pássaros nas condições testadas no ambiente. Foram observados, para os diferentes genótipos estudados, grãos Referências bibliográficas de pólen: a) bem coloridos e uniformes, considerados viáveis e b) Faegri,K.; PIJL,L. van der. Principles of pollination ecology. 3.ed. grãos de pólen pequenos, aparentemente inviáveis e degenerados. London: Pergamon Press, 1980. 244p. De um modo geral os grãos de pólen viáveis apresentaram-se me- lhor desenvolvidos, mais circulares e coraram-se melhor na presen- Ferrari, S. F. & Strier, K. B. Exploitation of Mabea fistulifera nectar ça do carmim acético. Já os inviáveis, apresentaram-se mal forma- by marmosets (Callitrix flaviceps) and muriquis (Brachyteles dos, normalmente elípticos e pouco corados pelo carmim. Verifi- arachnoides) in south-east Brazil. J. Trop. Ecol., 8: 225-239, 1992. cou-se que a viabilidade do pólen era uma média de 80,5%±6,5. Frost,H.B.; Soost,R.K. Seed reproduction: development of gametes A alta taxa de grãos de pólen viáveis apresentada por esta and embryos. In: REUTHER, W.; BATCHELOR, L.D.; espécie foi similar à observada em Erythrina crista-gali e em outras WEBBER, H.J. (Ed.) The citrus industry. Berkeley: University of espécies dióicas ( Huang-Keh-Feng & Liou-Ling-Erl, 1997). Essa California Press, 1968. v.2, p.292-334. grande quantidade de grãos de pólen produzidos, em relação ao Huang-Keh-Feng & Liou-Ling-Erl, Exploitation of Erythrina cris- número de óvulos disponíveis na população, é uma característica ta-galli. American Science. 107: 272. 1997 de árvores tropicais e pode ser uma estratégia para aumentar as Percival,M.S. Floral biology. London: Pergamon Press, 1969. 243p chances dos grãos chegarem aos estigmas, mesmo se houver gran- des perdas. Terborgh, J. Keystone plant resources in the tropical forest. In: M. As inflorescências de Erythrina foram visitadas por 4 espécies Soulé (ed.), Conservation biology. Sinauer, Sunderland, de aves: Coereba flaveola (Linnaeus, 1758), Clorostilbon aureoventris Massachussets, 1986. (d’Orbigny & Lafresnaye, 1838), Eupetomena macroura (Gmelin, Terborgh, J. & Stern, M. The surreptitious life of the saddle-back 1788) e Hylocharis chrysura, sendo as visitas no período da manhã tamarin. American. Science., 75: 260. 1987. mais freqüentes. Abelhas Trigona sp. visitaram durante todo o tempo E. speciosa, mas sempre exibiam um comportamento de Partição de biomassa e resposta da fotossíntese à pilhadoras, não entrando em contato com o pólen . radiação e à concentração de CO em espécies Beija-flores, foram observados visitando as flores e estes apre- 2 lenhosas jovens de cerrado sob diferentes sentaram comportamento de visita semelhante, com o adejamento a uma determinada flor, introduzindo parte do bico no interior da disponibilidades de radiação. 1 1 corola, sugando o néctar e contatando as estruturas reprodutivas Carlos Cesar Ronquim , Carlos Henrique Brito de Assis Prado , 1 1 com a parte apical do bico. Nas visitas de C. flaveola., o pólen Paula Novaes , & Júlio Cesar Ronquim 1 ficava depositado na parte superior da cabeça. As flores de E. speciosa Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e visitadas por estes pássaros apresentam coloração e forma que se da Saúde, Departamento de Botânica, Laboratório de Fisiologia enquadram no padrão típico das flores ornitófilas, que se caracte- Vegetal, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. [email protected] rizam por serem tubulares e de coloração vermelha (Percival, 1969; Faegri & Pijl, 1980). 1. Introdução Dos cruzamentos realizados, E. speciosa não demonstrou ser Devido ao grande número de espécies de árvores que uma flor autocompatível, pois a autopolinização espontânea não caracterizam uma formação florestal tropical (e.g. cerradão), as obteve êxito na produção de frutos. A polinização manual obteve espécies são forçadas a coexistirem e adotarem diferentes estra- 73% e somente a polinização cruzada apresentou 100% de suces- tégias de utilização da luz. A menor disponibilidade de radiação so. O fruto é do tipo legume, característica das plantas da família irá condicionar menores taxas de fotossíntese líquida e conseqüen- leguminosae, com tamanho em média de 30 cm. temente menor acúmulo de biomassa total (Ronquim et al., 2003)

408 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado em plantas lenhosas do cerrado. 5 discos por planta) pela área do disco foliar (Prado and Moraes A capacidade fotossintética de espécies lenhosas de cerrado 1997). A divisão da taxa fotossintética líquida máxima expressa em não é pequena (expressa em massa ou em área de folha) se compa- área (Amaxa) em função do FFFA e em função da concentração de rada com outras vegetações tropicais ou temperadas (Prado & CO2 (AmaxaCO2) divido pelo valor médio da MEF resultou nas

Moraes, 1997). A exposição das plantas do cerrado a maiores con- respectivas taxas fotossintéticas máximas expressas em massa (Amaxm centrações de CO2 pode elevar ainda mais a capacidade e AmaxmCO2) (Prado and Moraes 1997). fotossintética das espécies lenhosas alterando o balanço de carbo- Os testes de Komogorov-Smirnov e Bartlett foram utilizados no (Hoffmann et al., 2000). As grandes áreas ocupadas pelas savanas, para testar a homogeneidade e normalidade da distribuição dos e em particular pelo cerrado, têm potencial para influenciar o dados. Quando esta condição não foi encontrada, as transforma- balanço regional e possivelmente global de carbono (Miranda et ções raiz quadrada de x, log x + 1 e 1/x foram aplicadas proporcio- al., 1997). nando a estabilização das variâncias para massa seca total, altura, Neste trabalho o objetivo principal foi o de avaliar o impacto diâmetro, razão raiz/parte aérea, área foliar total, massa específica da disponibilidade de radiação e CO2 no balanço de carbono du- foliar (MEF), razão da área foliar (RAF) e número de folíolos em rante a fase jovem das espécies lenhosas: Anadenanthera falcata cada tratamento nos dois períodos de amostragem. Para determi- Benth. Speg. (Mimosoideae), Stryphnodendron adstringens Mart. nar a significâncias das diferenças entre as médias foi utilizado o Coville (Mimosoideae), Cybistax antisyphilitica, (Mart) Mart. teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. (Zar, 1999). (Bignoniaceae) e Copaifera langsdorffii Desf. (Caesalpinioideae). As 3. Resultados e Discussão respostas da fotossíntese também foram seguidas pela obtenção de As plantas sob forte sombreamento apresentaram alterações dados de alocação de biomassa buscando revelar adaptações que que levam a maximizar a captura de luz, como aumento da razão assegurassem a sobrevivência de indivíduos jovens crescendo sob de área foliar e diminuição na massa foliar específica. As alterações condições contrastantes de radiação no cerrado. morfológicas, entretanto, nem sempre garantem aumento de ma- 2. Materiais e Métodos téria seca (Ronquim, 2003) e as alterações morfológicas ocorridas Plantas jovens de A. falcata, S. adstringens, C. antisyphilitica, e C. nas quatro espécies não impediram uma redução nas taxas de assi- langsdorffii cresceram em sacos plásticos com capacidade de 10 L milação líquida e de crescimento, levando a uma redução em massa de solo em área sem sombreamento durante todo o curso dia no seca. As alocações de estoques de carbono preferencialmente para Jardim Experimental do Departamento de Botânica da UFSCar as raízes foram mantidas para todas espécies independentemente (21o58’-22o00’ S e 47o51’-47o52’ W) e em um sub-bosque locali- da condição de transmitância. Plantas jovens crescendo em solos zado ao lado do Jardim Experimental da UFSCar. Os dados de inférteis alocam mais fotossintatos para as raízes, ademais as espé- fotossíntese, biomassa, área foliar e biometria (altura, diâmetro do cies de cerrado alocam preferencialmente maiores quantidades de caule, razão de área foliar- RAF e massa específica foliar- MEF) biomassa para as raízes (Hoffmann, 2000). foram coletados em plantas jovens com idade de 240 e 360 dias A pleno sol os indivíduos das quatro espécies apresentaram após a semeadura (DAS) nas quatro espécies estudadas. maiores valores de altura, diâmetro do caule, valores totais de As curvas da resposta da fotossíntese líquida (A) em função do aérea foliar e número de folíolos. Assim, ficou evidente o efeito Fluxo de Fótons Fotossinteticamente Ativos (FFFA) foram obtidas significativo e positivo da radiação solar plena, dando condições de em ao menos um folíolo por planta de três distintos indivíduos agregar maior quantidade de matéria seca e, provavelmente, au- para cada espécie, através de um analisador portátil de gás por mentando a capacidade de defesa e desenvolvimento da planta infra-vermelho (IRGA) da firma Inglesa Analytical Development jovem (os dois processos mais importantes antes da fase adulta). Company (ADC, Hoddesdon, UK) modelo LCA-4, acoplado a As quatro espécies apresentaram valores máximos de -2 -1 um canhão de luz com controle de radiação (PLU-2, ADC, fotossíntese (Amaxa) variando entre 4,6 mmol m s (sub bosque) a Hoddesdon, UK) e conectado a uma câmara foliar PLCN-4 (ADC). 14,1 mmol m-2 s-1 (pleno sol). Mesmo quando cultivadas sob som-

A equação utilizada para ajustar os pares de pontos na curva A- bra os valores da máxima taxa de assimilação de CO2 das quatro FFFA foi a mesma utilizada por Prado and Moraes (1997) para espécies esteve próximo aos valores encontrados por Prado & obter os valores de Amax = fotossíntese líquida máxima, PCL = Moraes, 1997 em um cerrado sensu stricto para 20 espécies lenhosas ponto de compensação à luz, ponto de saturação à luz (PSL) e da adultas. Diminuindo as taxas de Re as quatro espécies puderam respiração no escuro (Re) : compensar, ao menos em parte, os menores valores de Amaxa. A manutenção de um balanço positivo de carbono sob intenso -k.(FFFA -PCL) A= Amax. ( 1-e ) (1) sombreamento é condicionada principalmente por baixas taxas de respiração (Medina, 1998). Com a diminuição dos valores de PCL,

As curvas A-CO2 foram obtidas com o auxílio de um diluidor LSF, Amaxa e Re os indivíduos cultivados no sub-bosque puderam de gases modelo GD-602 (ADC), um rotâmetro (manufaturado também aproveitar melhor a radiação atenuada neste ambiente, pela OMEL, São Paulo, Brasil) e um registro para controle de principalmente no início e no final do dia. pressão e fluxo de saída de gás do cilindro contendo CO2 a 1600 Quando a fotossíntese líquida é expressa em massa os maiores ppm. Os valores máximos de fotossíntese líquida em função do valores foram obtidos nos exemplares cultivados no sub-bosque.

CO2 (AmaxaCO2) e a respiração no claro (Rc) foram determinados Isto ocorreu devido a uma diminuição mais acentuada dos valores através dos resultados obtidos nas curvas A-CO2 utilizando a de massa específica foliar MEF. Esta alteração demonstra a capaci- equação (1) porém trocando a variável independente: de FFFA dade de adaptação das quatro espécies lenhosas estudadas, cons- para concentração de CO2. Os valores de eficiência de truindo folhas estruturalmente mais simples. carboxilação (EC) foram obtidos através da primeira derivada Apesar da concentração de N foliar expresso em área não apre- da equação (1) utilizando os dados de concentração interna de sentar clara relação com os valores de Amaxa e de massa seca foliar,

CO2 (Ci, valores calculados pelo IRGA nas curvas A-CO2) em das folhas expostas ao sol a maior EUN das folhas expostas ao sol curvas A-Ci (Larcher, 2000): relacionou-se positivamente com estas duas variáveis. Por unidade de N, as folhas desenvolvendo-se sob sombra geralmente exibem k PCCO EC= k Amax. ( e 2) (2) baixa capacidade fotossintética, pois elas repartem relativamente mais N dentro dos tilacóides a favor de um maior investimento no O valor médio da MEF foi obtido pela divisão da massa seca de sistema antena (Evans, 1989).

(50) discos foliares em cada tratamento em cada espécies (cerca de Os valores de capacidade fotossintética em função do CO2 nas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 409 Cerrado Volume I condições do sub-bosque, são menores que os correspondentes sob delas é a Isoptera, a qual compreende os cupins. A outra é a sol pleno. As curvas A-CO2 evidenciaram que os indivíduos das Hymenoptera, que inclui formigas e abelhas. Todo inseto social quatro espécies cultivados sob radiação solar plena se mostraram exibe um grau de polimorfismo e os diferentes tipos de indivíduos mais capazes de seqüestrar CO2 atmosférico sob altas concentrações da colônia são chamados castas. momentâneas por área de folha, apresentando valores de capacidade Térmitas (cupins) vivem em ninhos usualmente construídos fotossintética expressa em área, em média, duas vezes superior aos no solo, os quais em muitas espécies podem ser grandes e estrutu- indivíduos cultivados no sub-bosque. Em folhas de sol menos limita- ralmente complexos. Muitos térmitas dependem da celulose como das pela quantidade de rubisco disponível que folhas de sombra fonte de alimento e flagelados simbióticos para a sua decomposi-

(Larcher, 2003), o direto efeito da maior concentração de CO2 ção (Rupert & Barnes, 1994). disponível é mais pronunciado. Essa condição ambiental possibilita- Os cupins formam um importante componente da fauna de ria uma maior capacidade de seqüestro de carbono por essas espéci- solo de regiões tropicais, sendo notável sua participação na decom- es. Com os resultados obtidos neste trabalho, parece razoável assu- posição e ciclagem de nutrientes. Eles apresentam grande abun- mir que a instantânea elevação atmosférica de CO2 estimula o ganho dância em florestas e savanas tropicais, como é o caso da Floresta fotossintético e possivelmente o crescimento das plantas de cerrado, Amazônica, onde, juntamente com as formigas correspondem à ao menos durante a fase inicial de desenvolvimento. cerca de 30% da biomassa animal (Constantino & 4. Conclusões Schlemmemeyer,2000). Em regiões de cerrado eles atingem densi- O balanço de carbono mais positivo e as condições mais favo- dades impressionantes sendo potencialmente considerados espéci- ráveis para suprir as duas principais demandas neste estágio do es chaves (Redford,1984) e representam provavelmente a forma ciclo de vida da planta: o crescimento e a defesa ocorreram sob luz animal dominante em muitas áreas do Brasil Central, tanto em plena total. Quanto à concentração momentânea de CO2 tanto os número de espécies como biomassa indivíduos cultivados no sub-bosque quanto sob radiação solar ( Negret & Redford,1982). plena responderam efetivamente com alterações significativas na Os térmitas constituem uma considerável fonte de alimento assimilação (capacidade fotossintética) e na desassimilação (respi- para outros invertebrados assim como, para muitos vertebrados, ração). No entanto, ainda são necessárias uma série de experimen- além disso, seus ninhos fornecem um atraente hábitat para uma tações com plantas de cerrado, jovens e adultas expostas por perí- ampla assembléia de organismos, desde anfíbios, répteis, mamífe- odos mais longos a altas concentrações de CO2. Neste tipo de ros a várias espécies de artrópodes. No entanto, a natureza de tais experimento poderiam ser avaliadas as respostas pós- exposição, as associações com térmitas nos neotrópicos é, na maioria dos casos, quais podem ser muito diferentes das respostas imediatas. pouco conhecida (Araújo,1970). (Este trabalho teve o apoio da FAPESP, bolsa Doutoramento, O trabalho teve como objetivos: (a) avaliar a composição de 00/11838-5R e do Fundo Nacional do Meio Ambiente-FNMA). fauna de invertebrados encontrada em ninhos de térmitas; (b) de- 5. Referências Bibliográficas terminar se há alguma diferença entre as duas fisionomias, cerrado Evans, J. R. 1989. Photosynthesis and nitrogen relationships in sentido restrito e campo sujo, com relação às espécies encontradas. laves of C plants. Oecologia 78, 9-19. 2. Métodos 3 O estudo foi conduzido em duas áreas do Parque Estadual da Hoffmann, W. A., Bazzaz, F. A., Chatterton, N. J., Harrison, P. A. Serra de Caldas Novas (PESCAN) entre os municípios de Caldas & Jakson, R. B. 2000. Elevated CO enhances resprouting of a 2 Novas e Rio Quente-GO, na primeira semana de outubro de 2002. tropical savanna tree. Oecologia 123: 312-317. Uma das áreas compreende formação de cerrado sentido restrito e ª Larcher, W. 2003. Physiological Plant ecology. 4 ed., New York, a outra de campo sujo, distando as duas aproximadamente 500m. Springer-Verlag,. 506p. Em cada área foram feitos transectos de 20X50m dispostos parale- Medina, E. Seedling establishment and endurance in tropical forests: lamente a uma das estradas que cortam o Parque. Na área de ecophysiology of stress during early stages of growth 1998. In: cerrado de coordenadas 17° 47’07” S e 48° 40’ 06” O, regristradas Scarano, F. R. & Franco, A. C. (eds) Ecophysiological strategies of a partir de um dos pontos da estrada, foram feitos quatro transectos xerophitic and amphibious plants in the neotropics. Oecologia e na de campo sujo, 17° 46’ 47” S e 48° 40’ 20” O, cinco. Brasiliensis. Rio de Janeiro, PPGE-UFRJ, vol. IV, p. 23-43. Foram considerados todos os ninhos terrestres encontrados e Miranda AC, Miranda HS, Lloyd J, Grace J, Francey RJ, Mcintyre suas alturas e circunferências medidas. Os ninhos danificados, com JA, Meir P, Riggan P, Lockwood R, Brass J. 1997. Fluxes of carbon, arranhões na superfície ou com buracos na base foram anotados. water and energy over Brazilian cerrado: an analysis using eddy Naqueles que apresentavam buracos, foi introduzido gás butano, covariance and stable isotopes. Plant Cell Environ 20:315–328. para forçar a saída de possíveis animais abrigados em seu interior. Posteriormente os ninhos foram destruídos e os organismos encon- Prado, C.H.B.A. & Moraes, J.A.P.V. 1997. Photosynthetic capacity trados recolhidos em vidros com álcool a 70% e levados para and specific leaf mass in twenty woody species of cerrado vegetation identificação. under field conditions. Photosynthetica 33: 103-112. Para o cálculo do valor de c2 foi utilizado o pacote Systat- Ronquim, C. C., Prado C. H. B. de A. & Paula, N. F. 2003. 5.03, 1990. Growth photosynthetic capacity in two woody species of cerrado 3. Discussão e resultados vegetation under different radiation availability. Brazilian Archives Foram encontrados 59 ninhos na área de campo sujo e 34 na of Biology and Technology 46 (2): 243 - 252. de cerrado, sendo que na primeira área a densidade de ninhos foi Zar J. H. 1999. Biostatistical Analysis, London, Prentice Hall, pp 663. aproximadamente 72% maior que na segunda. Já a densidade de formigas por ninho foi igual para as duas áreas, 0,61 formigueiro/ Relação entre a fauna de Invertebrados e ninhos de ninho de cupim. Térmitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de Pela análise dos organismos retirados dos ninhos, o grupo Hymenoptera foi o que apresentou a maior distribuição e maior Cerrado do Pescan-Go número de espécies, 13 ou 44% do total, sendo que, destas, 11 Carlos Henrique Gonçalves Angeluci, ( [email protected] )pós- foram da família Formicidae. O segundo maior grupo foi o Aranae graduação em Ecologia Universidade Federal de Uberlândia-MG com quatro espécies, seguido respectivamente por Ortóptera e Blatária com três, Opilione e Chilopoda com duas, Díptera, 1.Introdução Diplópoda e Coleóptera com uma espécie cada. As espécies de A organização social envolve duas Ordens em Insetos, uma

410 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado formigas mais encontradas foram principalmente as do gênero ______.1983.Preferência alimentar de Armitermes Camponotus, oito espécies , sendo C. ranggeri a que apresentou euamignathus (Isoptera,Termitidae,Nasutitermes) em cinco forma- maior freqüência. Foi verificadas ainda a presença de duas espécies ções vegetais do cerrado. Ver. Brasil.Biol.,43(4); 339-344. de Crematogaster e uma de Pseudomyrmex. LACHERT,T.E.& ALHO,C.J.R. 1986. Termite community 4.Conclusões composition and mound characteristics in two grassland formation Como observado em outras regiões, através de estudos feitos in Central Brazil. Biotropica,18 (4); 356-369. por Dejean e Durand (1996), a ocorrência de formigas em NEGRET,H.R. & REDFORD,K.H. 1982. The biology of nine cupinzeiros para a área estudada também apresentou grande nú- species (Isoptera,Termitidae) from the Cerrado of Central Brazil. mero de espécies, apesar de ser pouco notado a dieta dessas invaso- ras, sendo algumas provavelmente exclusivamente termitófilas REDFORD,H.K. 1984. The Termitaria of Cornitermes cumulans Do total de ninhos observados, 57% apresentaram algum tipo (Isoptera, Termitidae) and their role in determining a potencial de dano, perfuração ou escavação, provavelmente causados respec- keystone species. Biotropica,16(2): 112-119. tivamente por tatus e tamanduás, os principais vertebrados preda- RUPERT,E.E. & BARNES,R.D. 1996. Zoologia dos dores de térmitas neste ambiente. Os tatus cavam buracos caracte- invertebrados.6 ed-São Paulo,1029p. rísticos com diâmetro maior que 10cm na base dos ninhos. Já os SANTOS,P.S. & FERREIRA,R.L. 2001.Fauna de artrópodes as- tamanduás usualmente arranham a superfície dos mesmos sociada a ninhos de Constrictotermes cyphergaster (Isoptera, (Redford,1984). Os ninhos de térmitas quando intactos, sem da- Termitidae) em área de cerrado no Estado de Minas Gerais,. Rela- nos, oferecem uma barreira difícil de ser transposta pelos tório de Campo-UFMG: 93-101. invertebrados invasores, ocorrendo que, quando danificados, mui- tos animais como formigas, vespas, besouros e aranhas aproveitam Diferença de diversidade de larva de lepidóptera esse período vulnerável para realizarem rápidos ataques e invasões. Pelas freqüências de ninhos danificados e não danificados en- entre espécie arbórea (Diospyros burchellii) e contradas nas duas áreas, foi observado que a presença de formigas espécie arbustiva (Sabicea brasiliensis) do cerrado. não está associada com danos nos cupinzeiros, arranhões ou bura- Carolina Bernardes a & Helena C. Morais b cos, como seria de se prever, nem tampouco com o tipo de a graduação Ecologia Universidade de Brasilia b fisionomia. Os ambientes são relativamente iguais com ralação à ([email protected]) Universidade de Brasília freqüência total, presença de formigas nos ninhos. Esta ausência de correlação entre os danos nos ninhos e a 1.Introdução presença de formigas pode também estar relacionada com o fato de A associação herbívoro-planta exerce um grande impacto tan- que, quando o ataque por mamíferos não chega a ser tão prejudici- to no aspecto ecológico quanto no aspecto evolutivo (Coley et al., al, eliminando pequena porção da colônia e não matando a rainha, 1985). A ação de insetos herbívoros pode prejudicar a capacidade os operários podem reparar rapidamente o buraco ou arranhões, reprodutiva das plantas com as quais os insetos interagem.Com eliminando desta forma, os vestígios de danos. isso as plantas estão constantemente sofrendo pressões seletivas O resultado do Teste c2 para avaliar a relação entre a porcenta- para se adaptarem contra a ação de insetos herbívoros (Fernandes gem de ninhos danificados entre os dois ambientes também não foi & Bicalho, 1995). significativo.(c2 = 2,533; gl=1; P=0,112). Existem poucas informações sobre a fauna de lepidópteras em Com relação à distribuição das espécies de formigas, somente regiões neotropicais. A fauna de lepidópteras identificadas na re- Camponotus ranggeri e C. indet 1 apresentaram diferença entre as gião do cerrado Brasileiro foi estimada através da identificação dos duas fisionomias, aparecendo preferencialmente na região de campo indivíduos adultos.A lista atual das larvas de lepidópteras com suas sujo. Para as outras espécies não foi verificado diferença significativa. plantas hospedeiras representa cerca de 5% (ca.10,000 espécies), A relação entre as formigas e os cupins pode ser apenas de da fauna estimada de lepidópteras (Diniz et al., 2001). inquilinismo, como também não harmônica como predação ou “rou- As plantas do cerrado possuem características físico - químicas bo” de recurso alimentar ( Araújo,1970). Os Formicidae foram en- que estão diretamente relacionadas com a diversidade e abundancia contrados preferencialmente na porção lateral dos ninhos de térmitas, de larvas de lepidópteras encontradas nessas plantas. Dentre estas provavelmente em câmaras isoladas, e quando essas divisórias são características podem ser mencionadas: presença de látex, presen- destruídas pode haver ataque das formigas aos cupins. ça de diversos compostos secundários , folhas coreacea , folhas Em dois ninhos foram encontrados, no interior de buracos cava- pilosas e arquitetura da planta. Plantas hospedeiras com uma ar- dos por tatus, restos de frutos de Syagrus flexuosa . Tais frutos foram quitetura mais complexa da parte área(arbórea) tendem a sofrer comidos e apresentavam marcas de mordidas que indicavam ser de um numero maior de ataques por herbívoros do que plantas com roedores (Marinho-Filho, J. com. pess.), o que se supõe que estes uma arquitetura da parte aérea menos elaborada (arbustiva) . Plan- mamíferos possivelmente utilizam esses ambientes como abrigo. tas arbóreas tendem a disponibilizar uma maior abundancia de 5. Referências Bibliográficas recursos para o consumo de herbívoros do que plantas arbustivas (Fowler,1985).O trabalho foi feito com o objetivo de verificar se ARAÚJO, R.L. 1970.Térmites of Neotropial Region.In Biology of existe uma diferença na diversidade e abundancia de larvas de Térmites. Vol.11:527-535. Academy Press.N.Y. lepidópteras em duas espécies de plantas de cerrado sensu strictu, CONSTANTINO,R.& SCHLEMMEYER,T. 2000. Fauna silves- sendo uma arbórea (Diospyros burchellii) e a outra arbustiva(Sabicea tre da região do Rio Manso-MT. Brasília: Ministério do Meio brasiliensis). Ambiente, 268p. 2.Métodos DEJEAN,A. & DURAND,J.L. 1996. Ants inhabitanting Foi iniciado um levantamento da associação de larvas de Cubitermes termitaries in African Rain Forests. Biotropica,28(4b): lepidópteras com Sabicea brasiliensis da família Rubiaceae e Diospyros 701-713. burchellii da família Ebenaceae .As duas espécies de plantas são DOMINGOS,D.J.. 1985. Densidade e distribuição espacial de encontradas no cerrado sensu stricto. Sendo que o habito das res- ninhos de duas espécies de Armitermes (Isoptera,Termitidae) pectivas espécies foi catalogado como sendo arbustivo e arbóreo. A em cinco formações vegetais do cerrado. Rev.Brasil.Bio.,45(3): presença de pêlos nas folhas é característica das duas espécies. 233-240. O levantamento foi feito de dezembro de 2000 ate maio de 2003 . As coletas foram feitas na fazenda Água Limpa da Universi-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 411 Cerrado Volume I dade de Brasília (FAL). O levantamento teve inicio na parte oeste abundância quando comparada com outra espécie. do corredor de preservação da FAL. Em cada saída de campo, 15 5.Referências Bibliográficas indivíduos de cada espécie devem ser examinados. Foram coletadas Coley, P.D., Bryant, J.P. & Chapin, F.S. 1985. Resource availability informações como altura, porcentagem de folhas novas, números and plant antiherbivore defense. Science 230: 895-899. de larva, característica das larvas encontradas (vistosa ou criptica, livre ou em abrigo, solitária ou em grupo) e característica da folha Diniz, I.R., Morais, H.C. & Camargo, A.J.A. 2001. Host plants of onde a larva fora encontrada, para cada individuo examinado. lepidopteran caterpillars in the cerrado of the Distrito Federal, As larvas de lepidópteras encontradas no levantamento foram Brazil. Revista Brasileira de Entomologia. 45: 107-122. levadas para o laboratório na Universidade de Brasília. Cada indivíduo Fernandes, G.W & Bicalho, J.A. 1995. Herbívora por insetos em foi descrito, adquirindo um numero de morfoespécie. As lagartas fo- Chamaecrista dentata (Leguminosae). Revta bras. Ent. 39:725-731. ram colocadas em um pote de plástico coberto com um filó, contendo Fowler,S.V. 1985.Differences in insectspecies richness and faunal folhas da espécie onde a lagarta foi encontrada. Um pedaço de algodão composition of birch seedlings,samplings and trees:the importance foi colocado em cima do fio com a finalidade de manter o ambiente do of plant architecture. Ecological Entomology 10:159-169. pote úmido. De tempos em tempos as folhas dos potes eram trocadas Langenheim,J.H. & Hall,G.D. 1983.Sesquiterpene Deterrence of por folhas da mesma espécie que a larva foi coletada. a Leaf-Tying Lepdopteran, Stenoma ferrocanella,on Hymenaea A data em que a lagarta empupou e quando o adulto emergiu stignocarpa in Central Brazil. Biochimical Systematics and foi anotada. Os indivíduos adultos foram congelados e montados Ecology.vol. 11 (1) : pp,29-36 para futura identificação. As analises estatísticas consistiram no calculo do índice de Zar,J.H. 1999. Biostatistical Analysis.4a edição .Prentice Hall ,USA. Shannon-Weaver (H) para verificar a diversidade de cada espécie. Posteriormente foi efetuado um teste t para verificar se havia uma Análise bioacústica em quatro espécies dos gêneros diferença significativa entre os índices de diversidade.(Zar,1999) de leptodactylus e hyla do Estado de Goiás 3.Discussão e Resultados (ANURA). Para Sabicea brasiliensis foi verificada um variação de larvas de Carolina Fernandes Canêdo1; Thiago Barbosa e Silva1,2; Hugo lepidópteras durante o período de coleta, ocorrendo picos em Antunes Lima2; Carlos Eduardo Santos Araújo1,2; Lorena Dall´Ara maio/2002 e março/2003. Foi observada uma abundancia de11 Guimarães3. (1. BIOMA Pesquisas Biológicas; 2. Universidade morfoespécies em um total de 38 indivíduos.O índice de diversida- Católica de Goiás; 3. Universidade Estadual de Goiás) de (H) encontrado para Sabicea brasiliensis foi 0,482. [email protected]. Em Diospyros burchellii também ocorreu variações de abundancia de lepidópteras durante o período de coleta,com os 1. Introdução picas de abundancia de larvas de lepidópteras em janeiro/2002, As vocalizações dos anuros são reconhecidamente importan- abril /2002 e janeiro/ 2003.Foi observada uma abundancia de17 tes como mecanismo de isolamento reprodutivo e para a comuni- morfoespécies em um total de 352 indivíduos.O índice de diversi- cação social (Haddad, 1987; Howard & Palmer, 1995, Littlejohn, dade (H) para Diospyros burchellii foi 1,025. 1977; Wells, 1977a), tendo aparecido provavelmente no início da

O resultado do teste t (t 0,05(2) ,61=7,78 ; P<0,05)demonstra história evolutiva do grupo, pois está presente em quase todas as que a diversidade de larvas de lepidópteras em Diospyros burchellii espécies (Haddad, 1987). Na análise filogenética, as características é significantemente maior do que em Sabicea brasiliensis. Alem da acústicas podem ser utilizadas juntamente com outras informa- diversidade ser maior em Diospyros burchellii a abundância de larvas ções, para gerar hipóteses sobre a história evolutiva de um grupo de de lepidópteras é maior em Diospyros burchellii.. animais (Gerhardt, 1998). Este resultado pode ser explicado pelo fato de Diospyros As variações nas propriedades acústicas (freqüência dominan- burchellii ter uma arquitetura arbórea com a parte aérea mais com- te, número de pulsos, duração, taxa de repetição) da vocalização plexa, disponibilizando uma maior quantidade de recursos, tendo de anúncio de várias espécies de Anura estão relacionadas com conseqüentemente uma maior abundancia e diversidade de larvas padrões de preferência das fêmeas (Gerhardt, 1991; Klump & de lepidópteras. A diferença de diversidade não pode ser atribuída Gerhardt, 1987; Rand & Ryan, 1981; Ryan, 1980; Ryan & Keddy- somente pela diferença de arquitetura encontrada entre as duas Hector, 1992). De acordo com Given (1996), dois critérios preci- plantas, mas fatores físico-químicos da planta também devem ser sam ser observados para demonstrar que variação na propriedade levados em consideração para a analise de abundancia e diversida- do canto é importante em termos de seleção sexual: (1) a variabi- de de larvas de lepidópteras em plantas diferentes (Langenheim lidade deve ser significante e consistente entre machos de uma &Hall,1983). população; (2) fêmeas devem ser capazes de discriminar entre os O baixo índice de diversidade encontrado para Sabicea indivíduos que situam dentro da escala de variação natural para brasiliensis,pode ser explicado não somente pela sua menor com- aquela propriedade. plexidade da parte aérea, mas também pelo fato da espécie possuir Da análise de sinais acústicos provém a base para a determina- provavelmente uma maior quantidade de compostos secundários ção de repertórios de indivíduos e espécies e para relacionar a nas suas folhas, que inviabilizam a utilização das mesmas por larvas variação na estrutura do sinal com outras características fenotípicas de lepidópteras, diminuindo assim a abundância e diversidade de do indivíduo vocalizante (Bastos & Haddad, 1999; Duellman & larvas de lepidópteras em Sabicea brasiliensis quando comparado Piles, 1983; Gerhardt, 1975; Loftus-Hills & Littlejohn, 1971; com Diospyros burchellii. Nevo, 1969, 1973; Rand, 1985; Sullivan & Hinshaw, 1990; 4.Conclusão Wagner, 1989). Geralmente são encontradas correlações entre a Existe uma relação do aumento de diversidade e abundância estrutura da vocalização e os contextos ecológicos e sociais em que em espécies arbóreas (Diospyros burchellii) e espécies é produzida (Wells, 1988; Wagner, 1992). arbustivas(Sabicea brasiliensis) do cerrado sensu stricto.Entre tanto O canto de anúncio é a vocalização mais freqüentemente emi- não só o fator da arquitetura da planta pode ser levado em conside- tida pelos machos dentro do coro (Wells, 1977a). Assiduamente, ração para se explicar a maior diversidade e abundância em plantas estes coros incluem centenas de indivíduos em torno de um mesmo arbóreas.Características como por exemplo compostos secundári- ambiente. Para muitas espécies de anuros, têm sido observado um os e rigidez da folha também são importantes na hora de determi- certo nível de organização social na estrutura do coro (Salthe & nar se uma determinada espécie possue uma maior diversidade e Mecham, 1974).

412 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Para o desenvolvimento deste trabalho foram escolhidas qua- quatro cantos diferentes, todos apresentaram estrutura harmôni- tro espécies de anfíbios: Hyla minuta e Hyla pseudopseudis, da famí- ca. Os valores de freqüência e duração de canto divergiram bastan- lia Hylidae; Leptodactylus fuscus e Physalaemus nattereri, da família te entre as espécies de mesma família. Podendo ainda dizer que Leptodactylidae. além de fatores como técnica de gravação e análise, fatores como o O objetivo deste trabalho foi analisar os parâmetros acústicos habitat em que vive o animal podem interferir em sonogramas, dos cantos de anúncio, tais como: estrutura do canto, freqüência além disso fatores ambientais podem interferir nas vocalizações. dominante e duração do canto das quatro espécies de anfíbios, nos 5. Bibliografia municípios de Piracanjuba, Porangatu e Silvânia, e compará-las. ALHO, C. J. R. & MARTINS, E. S. De grão em grão, o cerrado 2. Métodos perde espaço. In: Cerrado-Impactos do Processo de Ocupação. WWF, As áreas de estudo pertencem ao Bioma Cerrado. De acordo Brasília, Brasil, 66pp., 1995. com Alho & Martins (1995), o Cerrado localiza-se predominante- BASTOS & HADDAD, C. F. B. Breeding activity of the neotropical mente no Planalto Central do Brasil e constitui-se na segunda maior treefrog Hyla elegans (Anura, Hylidae). J. Herpetol. 30 (3): 355 - formação vegetal brasileira. Este bioma estende-se de 5 a 20O de 360, 1996. latitude Sul e de 45 a 60O de longitude Oeste, representando 22% do território nacional. Segundo Eiten (1994), o bioma do Cerrado BASTOS & HADDAD, C. F. B. Atividade reprodutiva de Scinax tem um clima tropical com precipitação variando de 750-2000 mm/ rizibilis (Anura, Hylidae) na Floresta Atlântica, sudeste do Brasil. ano em média (clima de Koppen Aw e, ao longo da borda sul mais Revta. Bras Zool. 16 (2): 409 - 422, 1999. fresca, Cwa). A duração da estação seca é de aproximadamente cinco DUELLMAN, W. E. & PYLES, R. A. Acoustic resourse partitioning meses, do meado de maio até o meado de outubro, sendo que o mês in anurans communities. Copeia 1983: 639 - 649, 1983. mais seco tem até 30 mm de chuva em média. DUELLMAN, W. E. & TRUEB, L. Biology of amphibians. Cada turno de observação foi iniciado aproximadamente entre Baltimore: The John Hopkins University Press, 670 pp., 1986. 1800h e 1900h, pouco antes do pôr-do-sol, quando machos de EITEN, G. Vegetação do Cerrado. In: PINTO, M. N. (ed.). Cer- muitas espécies de anuros iniciam suas atividades de vocalização. rado. Edunb e Sematec, Brasília, Brasil, 681 pp., 1994. O fim das observações variou conforme diminuísse o número de indivíduos ou a atenção da observadora. GERHARDT, H. C. Sound pressures levels and radiation patterns As observações acerca das atividades de vocalização e interações of the vocalizations of some North American frogs and toads. J. acústicas foram feitas utilizando-se lanterna manual, a pilha, de luz Comp. Physiol. 102: 1 - 12, 1975. branca, utilizando-se os métodos de “animal focal”, de “todas as GERHARDT, H. C. Female mate choice in treefrogs: static and ocorrências” e de “ seqüências ” (Lehner, 1979; Martin & Bateson, dynamic acoustic criteria. Anim. Behav.42: 615-635, 1991. 1986). Aparentemente, os indivíduos não apresentaram incomo- GERHARDT, H. C. Acoustic signals of : recording, field dados com a presença da observadora ou da luz. Foram anotadas, measurements, analysis and description. In: HOPP, S. L., para todos os turnos, as seguintes variáveis ambientais: temperatu- OWREN, M. J. & EVANS, C. S. (Eds.). Animal acoustic ra do ar, umidade relativa, condições meteorológicas (chuva, clari- communication. Verlag: Spring, 1998. dade e fase da lua, presença de trovões, presença de vento). As vocalizações dos machos adultos foram registrados em gra- GIVEN, M. F. Intensity modulation of advertisement calls in Bufo vador DAT Sony TCD-D100, utilizando-se microfone direcional woodhousii fowleri. Copeia 1996 (4): 970 - 977, 1996. Sony ECM-MS907, e posteriormente digitalizadas em computa- HADDAD, C. F. B. Comportamento reprodutivo e comunicação sono- dor na forma de arquivos de som. Estes arquivos foram decompos- ra de Hyla minuta Peters, 1872 (Amphibia, Anura, Hylidae). Disser- tos, gerando gráficos que permitem a visualização e mensuração do tação de Mestrado, 135pp. Universidade Estadual de Campinas, sinal acústico (sonogramas). Os sonogramas foram confeccionados 1987. em computador PC Pentium 233 MHz, utilizando - se os progra- HOWARD, R. D. & PALMER, J. G. Female choice in Bufo mas Avisoft SONAGRAPH light e Cool Edit version 1.53. A in- americanus: effects of dominant frequency and call order. Copeia tensidade sonora das vocalizações foi medida a cerca de 30 cm de 1995 (3): 741 - 746, 1995. distância do indivíduo vocalizante com decibilímetro Minipa MSL- KLUMP, G. M. & GERHARDT, H. C. Use of non-arbitrary 1352. A taxa de repetição de canto emitida por machos durante acoustic criteria in mate choice by female gray tree frogs. Nature um minuto também foi medida. 326: 286 - 288, 1987. Os termos relativos ao estudo de bioacústica que foram utili- zados estão de acordo com Bastos & Haddad (1996); Duellman & LEHNER, P. N. Handbook of ethological methods. New York, Trueb (1986); Gerhardt (1998) e Haddad (1987). Garland STPm Press, 403 pp., 1979. 3. Resultados LITTLEJOHN, M. J. Long-range acoustic communities in anurans: A vocalização de anúncio de Hyla minuta apresenta um canto de an integrated and evolutionary approach. In: TAYLOR, D. H.; estrutura harmônica, com freqüência dominante média de 4712,94 GUTTMAN, S. I. (Eds.). The reproductive biology of amphibians. Hz. A duração média deste canto é de 120,8 ms (N=5 cantos). New York: Phenum Press, p. 263 - 264, 1977. Hyla pseudopseudis apresenta um canto de estrutura harmônica, LOFTUS-HILLS, J. J. & LITTLEJOHN, M. J. Mating-call uma freqüência dominante média de 699,6 Hz. Cada canto é formado sound intensities of anuran amphibians. J. Acoust. Soc. Am. 49: de quatro a seis notas, que apresentam duração média de 72,08 ms. A 1327 - 1329, 1971. duração total média de cada canto é de 663,0 ms (N=5 cantos). MARTIN, P. & BATESON, P. Measuring. behaviour. An introdutory Leptodactylus fuscus também apresenta estrutura harmônica, guide. Cambridge, Cambridge Univ. Press., 199 p., 1986. com freqüência dominante média de 1539,52 Hz e a duração total média do canto é de 301,2 ms (N=5 cantos). NEVO, E. Discussion on the systematic significance of isolating A vocalização de Physalaemus nattereri possui estrutura harmô- mechanisms. System. Biol. 485 - 489,1969. nica, freqüência dominante média de 715,37 Hz. A duração total NEVO, E. Adaptative color polymorphism in cricket frogs. média do canto é de 40,0 ms (N=5 cantos). Evolution 27 (3): 353 - 367, 1973. 4. Conclusão RAND, A. S. Tradeoffs in the evolution of frog calls. Anim. Sci. 94 Podemos concluir com este trabalho a grande importância da (6): 623 – 637, 1985. vocalização na reprodução de anuros. Apesar de serem analisados

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 413 Cerrado Volume I

RAND, A. S. & RYAN, M. J. The adaptative significance of a forma, função e exigências genéticas daquela vegetação, parece complex vocal repertoire in a neotropical frog. Z. Tierpsychol. 57: ainda não ser bem conhecida. 209 - 214, 1981. 2. Métodos RYAN, M. J. Female mate choice in a neotropical frog. Science 204: O trabalho foi desenvolvido na Reserva Ecológica do Campus 523 - 525, 1980. de Bauru da Unesp (22º 20’ 30” S e 49º 00’ 30” W), em um trecho intermediário entre ambiente de cerrado e mata ribeirinha do RYAN, M. J. & KEDDY - HECTOR, A. Directional patterns of córrego Vargem Limpa. Utilizou-se uma área de 1250m², dividida female mate choice and the role of sensory biases. Am. Nat. 139: 4 em 4 parcelas de 312,5m², localizada em uma área de cerrado com - 35, 1992. indício de degradação antrópica e invadida por braquiária (Brachiaria SALTHE, S. N. & MECHAN, J. S. Reproductive and courtship decumbens Stapf). As parcelas receberam diferente tratamento, tendo patterns. In: LOFTS, B. (ed.). Physiology of the Amphibia, v. II. sido a parcela 1, capinada, sem o enriquecimento com mudas de Academic Press, 309-521, New York, 1974. espécies nativas; a parcela 2, capinada, enriquecida com mudas de SULLIVAN, B. K. & HINSHAW, S. H. Female choice and espécies nativas; a parcela 3, não capinada, enriquecida com mudas selection on male calling behavior in the grey treefrog Hyla versicolor. de espécies nativas; e a parcela 4 como controle. Para analisar a Anim. Behav. 44: 733 - 744, 1992. regeneração natural foram identificadas, em todas as parcelas, as WAGNER, W. E., Jr. Graded aggressive signals in blanchard’s cricket plantas lenhosas que surgiram espontaneamente, bem como o tipo frog: vocal responses to opponent proximity and size. Anim. Behav. de propágulo que lhe deu origem: propágulo reprodutivo (semen- 38: 1025 - 1038, 1989. te), ou propágulo vegetativo (broto). Tal identificação foi feita a cada três meses no período de outubro de 2000 à janeiro de 2001, WAGNER, W. E., Jr. Deceptive or honest signalling of fighting então, a identificação passou a ser semestral devido as dificuldades ability? A test of alternative hypothesis for the function of changes encontradas na área com o aumento de plantas invasoras. in call dominant frequency by male cricket frogs. Anim. Behav. 44: Para avaliação da recomposição com introdução de mudas, 449 - 462, 1992. houve o plantio no dia 26 de abril de 2000 e o seu desenvolvimento WELLS, K. D. The social behaviour of anuran amphibians. Anim. avaliado trimestralmente, através da medida das alturas. As medi- Behav. 25: 666 - 693, 1977. ções foram feitas no período de abril de 2000 à junho de 2001. WELLS, K. D. The effect of social interactions on anurans vocal Em cada parcela, foram instaladas 4 caixas coletoras de behaviour. In: FRITZSCH, B., RYAN, M. J., WILCZYNSKIL, serapilheira com 50cm de lado, 5cm de borda de madeira e fundo W., HETHERINGTON, T. E., WALKOWIAK, W. (Eds.) The de náilon, elevada a 10cm do solo, para o estudo da chuva de evolution of the auditory system. New York: John Wiley sementes. A serapilheira acumulada nas caixas foi coletada mensal- and sons, 1988. mente de maio de 2000 à maio de2002. O material foi levado para o laboratório onde foi seco em estufa à 70°C até peso constante. A contribuição relativa de propágulos reprodutivos Posteriormente este material foi separado nas porções folha, galho, e vegetativos na recomposição da vegetação de fruto e semente e flores para avaliação da contribuição de cada fração da planta na serapilheira acumulada no solo e na chuva de cerrado em um trecho degradado na Reserva sementes que atinge a área. Ecológica do Campus de Bauru da Unesp. Fez-se ainda, a coleta de solos, em cada parcela, para germina- Cavassan, Osmar¹, Bertoncini, Alzira Politi², Almeida Neto, Luis ção do banco de sementes em casa de vegetação. A terra foi coleta- 4 1 2 Carlos³, Carboni, Marina ,. DCB/FC/Bauru/UNESP; Doutoran- da no dia 12 de janeiro de 2001, com o auxílio de um molde de 3 da UNICAMP; Jardim Botânico Municipal de Bauru; madeira de 750cm² (30cmx25cm), e 3cm de altura. Foram coletadas 4 Graduanda UNESP, Bolsista CNPq. [email protected] 6 amostras por parcelas, e levadas para germinação em casa de vegetação com sombrite de 70% e regas periódicas. 1. Introdução 3. Resultados As reservas ecológicas de cerrado diminuem a cada ano, e a As parcelas 1 e 2 onde ocorreu capina, mostraram-se mais preocupação com a recuperação dessas áreas degradadas vem au- propicias ao crescimento de mudas introduzidas e o surgimento de mentando no Brasil. Ações visando à recomposição de áreas per- propágulos, seja reprodutivo ou vegetativo.Nos resultados obtidos turbadas ou degradadas vêm sendo realizadas com maior freqüên- de outubro de 2000 à julho de 2001, primeiro período de observa- cia, nos últimos tempos. A preocupação fundamental é recriar a ção, a maior quantidade de plântulas registradas eram originadas vegetação existente, restabelecendo tanto a sua estrutura como a de propágulos vegetativos correspondente a 50% do total de 120 função que ela exercia no ambiente. A regeneração de clareiras, propágulos surgidos, sendo o restante, 38%, de propágulos originadas por distúrbios naturais ou antrópicos, pode ocorrer, em reprodutivos e 12% não foi possível identificar, o que corrobora matas tropicais, desde que existam disponibilidade de sementes de com a hipótese de que há uma maior freqüência na reprodução espécies pioneiras no solo (banco de sementes) e de espécies pio- vegetativa de espécies de cerrado em condições naturais.No entan- neiras e não pioneiras de matas adjacentes (fonte de sementes) to, os resultados obtidos durante todo o experimento, realizado no (Kageyama et al. 1982). Tem-se que considerar, no entanto, que período de outubro de 2000 à abril de 2002, mostraram o inverso. propágulos vegetativos, que permaneceram no solo, ou expandi- A freqüência e porcentagem das espécies surgidas por propágulos ram-se a partir de espécimens remanescentes no entorno, podem reprodutivos, mostrou-se mais representativa, apresentando 89% desenvolver gemas, dando origem a novos indivíduos. Na vegeta- do total de 699 propágulos. Essa diferença na porcentagem e nos ção de cerrado, a presença de propágulos vegetativos parece ser tipos de propágulos observados em um primeiro período do expe- maior do que na mata, aumentando o seu potencial de regenera- rimento e posteriormente no final, corresponde ao surgimento e ção. (São Paulo, 1997). No entanto, experiências em recuperação desenvolvimento das espécies colonizadoras da área em estudo da vegetação de cerrado são mais escassas do que em matas. Nes- contribuindo fortemente com o aumento da biomassa vegetal. As tas, é freqüente o uso de mudas, plantadas visando obedecer uma espécies colonizadoras primárias, avaliadas através da chuva de necessidade sucessional e/ou genética. Em cerrados, a dificuldade sementes parecem representar melhor este modo de colonização em produção de mudas, tem limitado o uso destas estratégias. do que aquelas presentes no banco de sementes do solo, pelo Assim, a mais eficiente estratégia de recuperação de uma área de- menos, na área experimental.O período de maior dispersão de gradada de cerrado, onde se deseja, restabelecer em curto tempo a sementes foi de novembro à março, coincidindo com o pico de

414 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado dispersão anemocórica durante o fim da estação seca e início das tornem-se mais importantes, principalmente nas regiões de fron- chuvas (Penhalber e Mantovani, 1997 e Oliveira 1992) As parcelas teira, devido ao recém-criado Mercosul, pois, rotineiramente é 3 e 4 não foram capinadas o que influenciou no resultado devido a preciso saber se determinada espécie ocorre naquele país e em grande dispersão de sementes de braquiária e outras invasoras nes- quais hospedeiros. ta área.O banco de sementes, avaliado 4 meses após a coleta do Na região Centro-Oeste do Brasil, as moscas frugívoras, repre- solo,. observou-se apenas a germinação de espécies herbáceas inva- sentam um dos principais fatores de perda da produção frutícula soras, e nenhuma espécie lenhosa, no solo mantido em estufa. (Uchôa-Fernandes et al. 2002, Veloso et al., 1994). São escassos os 4. Conclusões registros de dípteros associados à frutas no Estado de Mato Grosso Os dados obtidos sugerem que a capinação estimula o do Sul. A pomicultura é uma atividade relativamente nova, mas brotamento de propágulos vegetativos e/ou reduz a competição com grande potencial de desenvolvimento em Mato Grosso do com as invasoras, acelerando o processo de recomposição. No Sul. As condições climáticas da região são extremamente favoráveis entanto, tem-se que admitir que tal procedimento pode, apenas, à produção de frutas e hortaliças. adiantar o processo de recuperação natural, sendo que o desenvol- O presente trabalho tem como objetivo avaliar a riqueza de vimento de propágulos em região não capinadas, embora mais espécies de moscas frugívoras em pomares da região de Dourados, MS. tarde, compensaria com o menor investimento na ação mecânica. 2. Material e Métodos O surgimento de espécies lenhosas por propágulos vegetativos O trabalho foi realizado no pomar do Núcleo de Ciências mostrou-se predominante no início da revegetação, quando a terra Agrárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) estava ainda sem nenhum tipo de vegetação. Após a capina, com o (22°11’46”S e 54°55’59”W) e em outros pomares domésticos da aumento na biomassa vegetal na área do experimento, a revegetação área urbana e rural do Destrito de Panambi, Dourados-MS, no se deu predominantemente por propágulos reprodutivos. Com isso, período de maio a setembro de 2000. a recomposição, mesmo que mais lentamente, ocorre desde que a As coletas foram realizadas de acordo com a época de maturação área seja isola de qualquer tipo de interferência. A introdução de dos frutos, sendo colhidos da planta, exceto os de sete-copa mudas, no processo de recomposição vegetal mostrou-se impor- (Terminalia catappa), que por ser uma planta de grande porte, cole- tante para o aumento da diversidade das espécies, que em uma tou-se aqueles caídos sobre o solo. Os frutos foram pesados e recomposição natural acaba ficando restrita as poucas espécies. mantidos em bandejas plásticas com suportes telados contendo A constatação do baixo poder regenerativo a partir do banco uma lâmina de cerca de 15 mm de água para impedir que formigas de sementes, pode estar associado ao agente de perturbação na e outros insetos chegassem até estes no laboratório e para retenção área, onde sinais de carvão no súber das árvores remanescentes, das larvas no último instar que os abandonam para empupar. indicam ocorrência de incêndios em períodos climáticos mais se- As frutas permaneceram por um período de quarenta dias, para cos. Conclui-se portanto, que nesta área, os propágulos vegetativos que todos os insetos associados completassem a fase larval (Uchôa- são importantes no início do processo de revegetação, mas o au- Fernandes & Zucchi, 1999). mento da biomassa torna-se mais acelerado a partir da ocorrência As larvas foram coletadas a intervalos de 12h, sendo retiradas de plântulas originadas de sementes dispersadas para aquela área A das bandejas e colocadas em potes de plástico de 500ml com areia introdução de mudas de espécies nativas, além de também contri- esterilizada, umedecida com água fervida para o empupamento e buir para o aumento desta biomassa, mostrou-se importante no emergência dos adultos. Após a emergência as moscas foram retira- processo de enriquecimento em espécies. das, sacrificadas e armazenadas em frascos com álcool 70% para 5. Referências Bibliográficas posterior identificação. Os índices de infestação foram calculados pelas equações: IB = KAGEYAMA, P. Y.; CASTRO, C. F. A.; CARPANEZZI, A., A. ni/kg, sendo: IB = índice de infestação da biomassa; ni = número de Implantação de matas ciliares: estratégias para auxiliar a sucessão larvas de último instar, kg = biomassa total da espécie de fruto; IF secundária. In: CONGRESSO DE ESSÊNCIAS NATIVAS, 1; 1982, = Nº L3/NF, sendo: L3 = número de larvas de 3º instar e NF = Campos do Jordão, 1982. Anais São Paulo, 1982. p.130-141. número total de frutos. OLIVEIRA, P. E. A. M. de & MOREIRA, A G. Anemocoria em 3. Resultados e discussão espécies de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Revta.brasil.Bot., Não ocorreu infestação de moscas frugívoras em laranjas. Ape- São Paulo, v.15(2), p. 163-174. sar de serem consideradas pragas importantes dos citros, muitos PENHALBER, E. F., MANTOVANI, W. Floração e chuva de autores acreditam que as moscas-de-frutas não estão perfeitamen- sementes em mata secundária em São Paulo. Revta.brasil.Bot, São te adaptadas ao desenvolvimento nestes frutos. Esta menor adap- Paulo, v.20, p.205-220, 1997. tação em citros já foi confirmada por diversos autores (Nascimento SÃO PAULO. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Cerrado: et al., 1994). bases para conservação e uso sustentável das áreas de cerrado do estado de Pesquisas realizadas com moscas-de-frutas em citros no Esta- São Paulo. São Paulo, 1997. do de São Paulo, evidenciaram grande mortalidade de larvas após terem atravessado a camada de células mortas que envolvem a câmara de postura devido a ação de substâncias pécticas. Foi cons- Moscas colonizando frutos nativos e cultivados na tatado que apenas 11% das larvas em laranjas azedas e 2% em região de dourados, Mato Grosso do Sul laranjas doces deram origem a adultos (Branco et al., 2000). Por- Christiane dos Santos Felix, Veruska Lopes Pereira, Solange de tanto, os dados deste trabalho são coerentes com as informações Aquino, Marcilene Lima Cardoso & Manoel A. Uchôa-Fernandes. disponíveis na literatura, isto é, os citros não parecem ser hospe- Laboratório de Insetos Frugívoros, Caixa Postal 241, Departamento deiros adequados para as moscas do gênero Anastrepha. Embora as de Ciências Biológicas (DCB), Universidade Federal de Mato Grosso moscas do gênero Neosilba McAlpine, 1962 sejam pragas impor- do Sul (UFMS), 79804-970 Dourados, MS. E-mail: tantes em laranjas e tangerinas em pomares de Mato Grosso do Sul [email protected] (Uchôa-Fernandes, 1999), não foram obtidos adultos desses lonqueídeos neste trabalho. Talvez isso se deva ao fato das coletas 1. Introdução terem sido restritas ao período de inverno ou, porque a quantidade Os levantamentos das espécies frugívoras de moscas, suas plan- de frutos amostrados foi relativamente pequena (12 kg). tas hospedeiras e seus parasitóides são estudos fundamentais para Os frutos de sete-copas (Terminalia catappa), apresentaram uma uma melhor compreensão desse grupo de insetos, pragas-chave da baixa infestação por moscas frugívoras. Já é conhecido que este pomicultura no mundo todo. A tendência é que esses estudos

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 415 Cerrado Volume I hospedeiro é responsável pela manutenção de várias espécies de Uchôa-Feranades, M. A. & Zucchi, R. A. 1999. Metodología da moscas frugívoras no meio urbano (Uchôa-Fernandes & Nicácio, colecta de Tephritidae y Lonchaedae frugívoros (Diptera: 2000). Entretanto, os frutos amostrados neste trabalho, podem ter Tephritidae) y sus parasitoides (Hymenoptera). An. Soc. Entomol. recebido interferência das baixas temperaturas (0° a 10° C) duran- Brasil., V. 28, n. 4, pp. 601-610. te o período de coleta (maio-junho/2000). Foram encontrados Uchôa-Fernandes, M. A & Nicácio, J. N. 2000. First survey on apenas duas espécies, em maior incidência Neosilba sp.(Lonchaeidae) fruit flies, frugivorous Lonchaeidae (Diptera: Tephritidae) and their e em menor proporção Atherigona orientalis (Muscidae). host fruits in the south Pantal, Mato Grosso do Sul state, Brasil Foi registrada a ocorrência de Neoleucinodes elegantalis (Guenée, p.716. In: XXI International Congress of Entomology. Foz do 1854) (Lepidoptera, Pyradidae) em frutos de jurubeba (Solanum Iguaçú Brasil, 2000. manosum). N. elegantalis é uma praga-chave dos frutos do tomatei- Uchôa-Fernandes, M. A; Oliveira, I; Molina, R. M. da S. & Zuchi, ro (Solanum esculentum).Verificou-se que esta espécie utiliza a R. A. 2002. Species diversyty of frugivorous flies (Diptera: jurubeba como hospedeiro alternativo na região de Dourados-MS. Tephritoidea) from hosts in the Cerrado of the State of Mato Em frutos de goiaba Psidium guajava foi encontrado a maior Grosso do Sul, Brasil. Neotrop. Entomol., V.31, n.4, pp.515-524. diversidade de espécies colonizadoras: Anastrepha sorocula Zucchi 1979; Anastrepha striata Schiner 1868; Anastrepha fraterculus Veloso, V. R. S.; Fernandes, P. M.; Rocha, M. R.; Queiroz, M. V. (Wiedemam, 1830), e Ceratitis capitata (Wiedemann, 1824). & Silva, R. M. R. 1994. Armadilha para o monitoramento e con- Dentre as espécies do gênero Anastrepha, A. fraterculus é a espé- trole das moscas-das-frutas Anastrepha spp. e Ceratitis capitata (Wied) cies mais polífaga, atacando maior número de espécies (80) de frutos An. Soc. Entomol. Brasil., V.23, n.3, pp.487-493. hospedeiros (Norrbom & Kim 1988). Esta espécie apresenta prefe- Zucchi, R. A. 1988. Moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) no rência por frutos da família Myrtaceae (Malavasi & Morgante 1980, Brasil: Taxonomia, distribuição geográfica e hospedeiros. pp. 1-10. Malavasi et al 1983; Zucchi, 1988; Kovaleski, 1997). In: Souza, H. M. L. (coord.), Moscas-das-frutas no Brasil. Funda- Anastrepha striata está associada as famílias Anarcadiaceae, ção Cargill. Campinas, SP. 1988. Plassifloraceae e Myrtaceae (Zucchi, 2000), sendo considerada Zucchi, R. A. 2000. Espécies de Anastrepha, sinonímias, plantas uma praga importante, pois ataca grande diversidade de frutos. O hospedeiras e parasitóides. In: Malavasi, A. & Zucchi, R. A. (eds.). gênero Ceratitis Macleary, 1829 é composto de aproximadamente Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil: conheci- 65 espécies, mas no Brasil, ocorre somente C. capitata (Wiedemann, mento básico e aplicado. Ribeirão preto. FAPESP- Holos. 327p. 1824) que está distribuída em quase todas as áreas tropicais e temperadas quentes do mundo. Esta espécie foi introduzida no Monitoramento e Avaliação de Áreas Reabilitadas Brasil no início do século (Ihering , 1901). Nos frutos de ameixa foram encontrados: Neosilba sp. e C. Utilizando Formigas como Bioindicadores em Uma capitata. Este é o primeiro levantamento de moscas frugívoras em Área da Mineração Rio Novo, Diamantina - Mg frutíferas na região de Dourados MS, que é considerada um dos Cinthia Borges da Costaa,b; Igor Rismo Coelhob; Ricardo Idelfonso de principais pólos agrícolas de Mato Grosso do Sul. Camposc; Sabrina Silva Pinheiro de Almeidab & Sérvio Pontes b 4. Referências Bibliográficas Ribeiro aGraduação Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto Branco, E. da S.; Vendramim, J.D. & Denardi, F. 2000. Resistência ([email protected]) b Laboratório de Ecologia Evolutiva de às moscas-das-frutas em fruteiras. In: Malavasi, A. & Zuchi, R. Herbivoros de Dossel e Sucessão Natural, Universidade Federal de A.(eds). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil: Ouro Preto cMestrado Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, conhecimento aplicado. FAPESP-Holos. Ribeirão Preto. 327p. Universidade Federal de Uberlândia Ihering, H. von. 1901. Laranjas bichadas. Revta. Agr.,V.6, n.70, pp. 179-181. 1.Introdução Kovaleski, A. 1997. Processos adaptativos na colonização da maçã Majer, em 1989, considerou animais invertebrados em progra- (Malus domestica L.) por Anastrepha fraterculus (Wied)(Diptera: mas de reabilitação de áreas impactadas por mineradoras. Através Tephritidae) na região de Vacaria, RS. Tese de Doutorado, IB- desse estudo descobriu-se que a estrutura e fertilidade do solo USP, São Paulo, SP, 122p. estão ligadas a animais específicos que devem estar presentes no Malavasi. A. & Morgante J.S. 1980. Biologia de moscas-das-frutas solo, e que a sucessão natural de plantas também é moldada por (Diptera: Tephritidae). II. Índice de infestação em diferentes hos- atividades de invertebrados, como por exemplo, herbivoria, pedeiros e localidades. Revta.bras. Biol., V.40, n.1, pp. 17-24. polinização e agentes dispersores de semente. A inclusão de avali- ações de invertebrados é deixada muitas vezes para trás pela falta Malavasi. A., Morgante J.S. & R. J. Prokopy. 1983. Distribuition de estudos de longa duração nos quais se avalia se a reabilitação foi and activities of Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae) flies bem sucedida ou não. Isto geralmente resulta da falta de um com- on host and nonhost trees. Ann. Entomol. Soc. Am., V.76. pp. promisso em longo prazo para formar uma pesquisa de reabilita- 286-292. ção. Porém, a escolha certa do taxa de invertebrado pode agir Nascimento, A. S.; Haji, F. N. P.; Carvalho, R. da S. & Coutinho, como um bioindicador útil nos níveis de sucesso nos programas de C. 1994. Monitoramento e caracterização de moscas-das-frutas reabilitação. (Dipetra: Tephritidae), presente na região do submédio São Fran- Vários estudos têm declarado a ligação entre abundância de cisco, pp. 1169-1170. XIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, invertebrados com a diversidade de estrutura e funcionamento dos Resumo. SEB, Salvador, BA. ecossistemas. Na Austrália, o bioindicador mais comumente utili- Norrbom, A . L. & K.C. Kim. 1988 . A list of the reported host zado são assembléias de formigas. As formigas têm sido considera- plants of the species of Anastrepha (Diptera: Tephritidae). USDA. das um bom grupo de indicadores por serem abundantes, exibirem APHIS 81-52, 114p. alta riqueza, serem de fácil amostragem e identificação, entre ou- Uchôa-Fernandes M. A. 1999. Biodiversidade de moscas frugívoras tras características (Majer 1983; Andersen et al. 1996). (Diptera, Tephritidae), seus frutos hospedeiros e parasitóides A reabilitação tem como objetivo restaurar a estrutura, diver- (Hymenoptera) em áreas de cerrado do Estado Mato Grosso do sidade, funções e dinâmicas dos ecossistemas que sofreram distúr- Sul. Tese de Doutorado, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, 104p. bio (Wilson 1987, Erwin 1991). A sucessão ecológica, então, é iniciada no momento em que uma comunidade ecológica sofre uma perturbação, alterando sua composição de espécies e os pro-

416 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

cessos interativos da comunidade no decorrer do tempo (Connell interação área x habitat: F12,191 = 5,2; p < 0,0001, MDS, p < 0,05). & Slatyer 1977). Quando os ecossistemas que sofreram distúrbio Dorymyrmex sp1 é uma espécie típica de praias ribeirinhas, mas na são recuperados, a área torna-se estabilizada com o replantio da presente situação sua abundância relativa e absoluta indica áreas vegetação nativa e o aumento da variedade de suportes. em reabilitação em estágios iniciais de sucessão, ou impactadas. De Desde 1993, comunidades de formigas têm sido utilizadas no uma forma geral, o decréscimo da importância relativa desta espé- gerenciamento e na bioindicação de qualidade das áreas reabilita- cie diante de outras, típicas de formações vegetacionais arbóreas das ao longo do rio Jequitinhonha após dragagem para prospecção (cerrado ou mata ciliar), é um dos principais parâmetros para este de diamante pela Mineração Rio Novo. A assembléias de formigas monitoramento com uso de assembléias de formigas para têm sido utilizada para monitorar o retorno da estrutura do solo, bioindicação. recursos alimentares e diversidade per se.. Através do uso das formigas como bioindicadoras foi possível Os objetivos desse trabalho foram: avaliar através da dar o diagnóstico dos níveis de sucessão natural de cada área estu- mirmecofauna se as diversas técnicas de revegetação e estabilização dada. As áreas 19, 20 e 28 os estágios de reabilitação estão em do solo estão sendo o suficiente para a reabilitação da comunidade andamento, porém há algumas restrições. Nas áreas 24 e 26 há ecológica; utilizar a mirmecofauna para bioindicação de processos uma má preservação da vegetação de entorno tornando a fauna ligados à sucessão natural. pobre em ambas. Áreas E e F estão com praias bem estruturadas, 2.Métodos porém ainda com a faixa intermediária pobre. As áreas controles D, O estudo foi realizado entre os dias 13 e 19 de novembro de 21 e ecótone da 19 estão com vegetação bem estruturada indican- 2002, na Mineração Rio Novo, situada aproximadamente a 70Km do altos níveis de sucessão natural. de Diamantina, no norte do estado de Minas Gerais. Foi monitorado 4.Conclusões um total de nove áreas, seis pertencentes ao conjunto da draga Com o monitoramento foi possível indicar a velocidade e dire- Maria Bonita (áreas 19, 20, 21, 24, 26 e 28) e três pertencentes ao ção dos processos sucessionais nas diferentes áreas de reabilitação. conjunto da draga Chica da Silva (áreas D, E e F), perfazendo um As áreas em reabilitação têm melhorado substancialmente com o total de 849.196 m2 ao longo de 11Km de rio. Sendo que, as áreas tempo, enquanto outras apresentam problemas inerentes as suas mais antigas possuem seis anos de reabilitação e a área mais nova áreas. Áreas próximas a vegetação preservada tendem a ter uma com dois anos de reabilitação. Cada área foi subdividida em outras fauna mais rica, mostrando como é importante o estado de preser- três áreas, praia (P), intermediária (I) e ecótone (C). Três dessas vação da vegetação adjacente à área diretamente impactada pela nove áreas foram consideradas áreas controle (remanescentes) 21, mineração para o processo de recuperação ambiental. D e Cerrado da 19. Para amostragem das formigas o método utili- 5. Referências Bibliográficas zado foi iscas de sardinhas. Brown, V. K. (1984). Secondary Succession: Insect-Plant 3.Discussão e Resultados Relationships. Bioscience vol. 34(11): 710-715. Foram amostradas um total de 13.509 formigas, distribuídas Coley, P. D. (1983). Herbivory and defensive characteristics of tree em 22 morfoespécies. As espécies mais representativas foram species in a lowland tropical forest. Ecol. Monogr. 53: 209-233. Dorymyrmex sp1 (46.61%) e Solenopsis sp3 (19.55%). As áreas mais abundantes foram 28 (22.72%) e 19 (19.38%), e as áreas mais Coley, P. D., Bryant, J. P. & Chapin, F. S. III (1985). Resource ricas foram 19 (30.77%) e 28 (23.08%). As áreas D, ecótone da 20 availability and plant antiherbivore defense. Science, 230: 890-899. e 21 possuem espécies de Crematogaster sp1 e Camponotus sericeiventris, Connell, J. H. & Slatyer, R. O. (1977). Mechanisms of succession indicando níveis avançados de sucessão natural. Leptothorax sp1 e in natural communities and tfeir role in community stability and Solenopsis sp2 foram encontradas somente em áreas bem preserva- organization. The American Naturalist., 982: 1119-1141. Majer, das, como a área 21. Cephalotes attratus e Formica sp3 indicam J. D. (1989). Animals in primary sucession. The role of fauna in formações vegetacionais arbóreas de sucessão secundária (21 e reclaimed lands. Cambridge University Press, 547 pp, Cambridge. ecótone da 19). Majer, J. D. (1992). Ant recolonization of rehabilitated bauxite Com relação ao número de espécies por habitat, não foi obser- mines of Poços de Caldas, Brazil. Journal of Tropical Ecology 8:97- vado variação significativa entre praias, faixas intermediárias, 108, Austrália. ecótones ou controles (ANOVA, F2,191 = 0,84; p > 0,05). Em parte este resultado foi afetado pela dispersão dos resíduos (alto coefici- Fenologia e oferta de recursos florais de ente de variação), particularmente para os sítios controle, os quais tiveram o maior número absoluto de espécies. Em outras palavras, Stachytarpheta glabra (Verbenaceae) estes habitats se distinguem pela composição de espécies e pela em área de canga couraçada, MG distribuição das mesmas, e não pela riqueza absoluta. Por outro Claudia M. Jacobi & Yasmine Antonini lado, foi observado um efeito significativo das áreas de esforço na Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]) distribuição da riqueza de espécies (ANOVA, F7,191 = 12,1; p < 0,0001), resultando inclusive em interação entre habitats e áreas 1. Introdução Os campos ferruginosos constituem uma vasta porcentagem (ANOVA, F12,191 = 2,15; p < 0,016). Assim, as áreas 24 e 26 apre- sentaram a menor riqueza de espécies, enquanto a mata ciliar 21 do estado de Minas Gerais, e apresentam-se como um dos apresentou a maior (método da mínima distância significativa, ecossistemas atualmente mais ameaçados e menos protegidos por MDS; p < 0,05). Com relação à distribuição de espécies dentro dos unidades de conservação. Existe falta de conhecimentos básicos habitats de cada área, observou-se que as praias 20, 24 e 26 foram sobre o funcionamento destes ecossistemas, a começar pela sua mais pobres que as demais, que o ecótone 24 foi mais pobre de inclusão na literatura como campos rupestres sem diferenciar a todos. A mata ciliar 21 e o cerrado adjacente da área 19 tiveram origem do substrato. Apesar das semelhanças entre campos valores similares de riqueza de espécies (MDS, p > 0,05). Todas quartzíticos e ferruginosos, como altitude e clima, há, no entanto, áreas intermediárias tiveram valores iguais de riqueza de espécies diferenças marcantes quanto ao solo. A vegetação de campos (MDS, p > 0,05). ferruginosos cresce diretamente sobre a canga hematítica (minério Um padrão similar foi observado para a abundância de formi- intemperizado). Quando o solo está pouco intemperizado, a canga gas, refletindo neste caso uma alta densidade de Dorymyrmex sp1 é denominada couraçada. em praias bem estruturadas (19, 28, E e F), em faixas intermediá- A seleção de espécies vegetais nestes ecossistemas é, sem dúvi- rias (E e F), ou em ecótones impactados (24 e 26) (ANOVA, da, muito forte, moldada principalmente pela concentração de metais pesados, baixa retenção de água e pobreza de nutrientes

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 417 Cerrado Volume I

(Silva et al.,1996). As plantas que conseguem se estabelecer, por A florada da população é prolongada, com início, na região, outro lado, estariam menos sujeitas a pressões competitivas, em por volta de novembro e final em junho. As flores têm antese virtude dessas condições extremas. Muitas espécies epilíticas de noturna ou ao raiar o dia, dependendo da temperatura, e a sua Velloziaceae e Orchidaceae, por exemplo, que estão adaptadas à longevidade é de um dia ou menos. Já a produção de flores em seca e têm mecanismos diferenciados de absorção de nutrientes, inflorescências individuais foi estimada entre 4-6 semanas. Devido destacam-se na paisagem pelas suas populações densas. a esta longevidade, caracteristicamente observa-se que cada planta Uma das espécies numericamente mais importante destes cam- apresenta botões, flores e frutos maduros em praticamente todos pos de altitude é Stachytarpheta glabra (Verbenaceae), que foi recen- os meses da florada, sendo os meses mais frios aqueles nos quais se temente apontada como fonte de recursos para beijaflores e várias observa somente frutos, verdes ou secos. O início observável da guildas de insetos, dentre eles nectarívoros e herbívoros (Antonini e formação de botões ocorre ainda na estação seca e fria, por volta de Jacobi, 2000; Vincent et al., 2002). Trabalhos recentes (Souza, 2002; agosto, e a produção permanece alta (60-90% do ramos) até o final Loyola, 2003) mostraram que mais de trinta espécies de insetos de maio. A produção de flores tem seu pico em dezembro-feverei- visitam esta planta para coletar pólen e, principalmente, néctar. ro, embora com variado número diário de flores por planta (0-123 Para estabelecer uma relação entre as características fenológicas flores/ind). Como ocorre defasagem de floração entre indivíduos, a desta espécie vegetal e a diversidade de visitantes florais apontada população continua a oferecer recursos florais durante boa parte em diversos estudos, foi avaliada a quantidade e previsibilidade de do ano. A queda dos frutos (esquizocarpos secos portando duas recursos florais no tempo e no espaço em uma população crescen- sementes) realiza-se com ajuda do vento em qualquer época do do sobre canga couraçada. ano, e frutos da estação anterior são freqüentemente encontrados 2. Métodos na planta que inicia a sua florada. A área de estudo compreende uma região de campos plana a O número de plantas nas parcelas de 4m2 foi extremamente 1200m de altitude, inserida no bioma cerrado, pertencente ao variável, indo de zero a 22. Dentro das agregações mais densas, a Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, MG (20o03’60”S, média por metro quadrado chega a 5,5 indivíduos, evidenciando o 44o02’00”W). pequeno porte descrito anteriormente. Apesar da espécie ser do- Na paisagem destacam-se os indivíduos de S. glabra, de porte minante numérica nestes campos, a sua distribuição parece seguir arbustivo a sub-arbustivo. Nota-se uma agregação dos indivíduos um padrão agregado, alternando-se com áreas descobertas e man- em manchas, que na época da florada são intensamente visitados e chas em que predominam espécies sub-arbustivas como a arnica protegidos por beijaflores, os visitantes mais conspícuos. As flores (Lychnophora sp.). O padrão de agregação parece ser comum em são tubulares medindo 2 cm, de cor azul, e crescem em outras áreas de campo ferruginoso (Souza, 2002). Esta distribui- inflorescências terminais. Produzem de 4 a 14 ml de néctar por dia ção justifica a grande diferença observada no tamanho de território em uma concentração média de 22% (Jacobi e Antonini, 1999). defendido do seu principal visitante floral vertebrado, o beijaflor Ficam bem expostas e propícias para a visita de animais, principal- Colibri serrirostris, cujos indivíduos, no pico da florada (janeiro), mente nectarívoros (Vincent et al., 2002). Pesquisas sobre a sua defendem territórios de 400 a 600 m2, variando com a densidade fenologia, biologia floral e associações faunísticas vêm sendo de- de recursos (Jacobi e Antonini, 1999). Também nesse período é senvolvidos na área desde 1998 (Jacobi e Antonini, 1999). comum a visita de pelo menos dez espécies de abelhas e quatro de Para estudos quantitativos da fenologia, foram medidas, a cada lepidópteros (Antonini e Jacobi, 2000). mês durante um ano, de 120 a 140 plantas ao acaso na população, 4. Conclusões abrangendo uma área de aproximadamente 0,8 km2. Indivíduos As características fenológicas aliadas à alta densidade da espé- abaixo de 20 cm foram considerados plântulas e não foram incluí- cie na área e ao fato de serem plantas perenes fazem com que a dos no censo. Em cada ocasião foi medida a altura de cada indiví- oferta de recursos florais por S. glabra seja alta durante boa parte duo, indicativo do seu tamanho, a quantidade de flores abertas, e do ano, com picos de produção no meio da estação chuvosa e avaliada a proporção de ramos terminais portando inflorescências ausência de flores nos meses de inverno (estação fria e seca). com botões, frutos verdes e frutos maduros.Também, em épocas A produção de flores entre os meses de novembro e junho é diferentes ao longo da florada, foram delimitados grupos de 10 garantida pela combinação da longevidade das inflorescências e da parcelas de 2x2 m2 para complementar estudos prévios de densida- florada asincrônica entre os indivíduos, já que a duração de flores de de recursos florais. individuais não passa de um dia. 3. Resultados e Discussão Destaque-se que em um ambiente com poucas opções de re- A altura máxima dos indivíduos no local de estudo não ultra- cursos para os visitantes florais, estas características fenológicas passou 120 cm, sendo a classe de tamanho mais freqüentes aquela fazem de S. glabra um recurso floral previsível e de longa duração, de 40-60 cm. A espécie, no entanto, pode se apresentar com maior o que justifica a grande variedade de visitantes observada, repre- porte, até 2 m, em áreas mais ricas em nutrientes, como se observa sentados por insetos e inclusive aves. em canga nodular (Souza, 2002). Não houve uma relação signifi- 5. Referências Bibliográficas cativa entre a altura dos indivíduos e a sua capacidade reprodutiva, já Antonini, Y.; Jacobi, C. M. (2000). Use of Stachytarpheta glabra que mesmo as plantas de menor tamanho (20 cm) apresentaram-se Cham. (Verbenaceae) by herbivorous and nectarivorous insects in floridas e com botões, e plantas de maior altura apresentaram núme- a metaliferous altitudinal region, Minas Gerais, Brazil. IN: XXI ro muito variado de flores. Esta característica de reprodução precoce International Congress of Entomology, Foz do Iguaçu, Abstracts, v. é conhecida em ambientes de solos pobres, em que as plantas se II, p. 907. desenvolvem pouco e investem na reprodução (Crawley, 1997). Crawley, M. J. (1997). Plant Ecology. Blackwell, 2a. ed., Londres. A porcentagem de ramos com estruturas reprodutivas foi mais baixa em plantas maiores (50-70%, altura acima de 80 cm) do que Jacobi, C.M.; Antonini, Y. (1999). Stachytarpheta glabra Cham. menores (70-90%, altura 40-80 cm), possivelmente por dois mo- (Verbenaceae): fonte de recursos defendida por beija-flores em o tivos não excludentes: 1) quanto maior a quantidade de ramos, uma área de canga em Minas Gerais. IN: 50 Congresso Nacional maior a chance de algum deles não estar fértil em determinada de Botânica, Resumos, p. 211. época do ano, 2) plantas maiores indicariam seu estabelecimento Loyola, R. D. (2003). Efeitos da oferta de recursos florais sobre a em micro-hábitats mais favoráveis (como fendas que acumulam riqueza em espécies, taxas de visitação e comportamento de abe- matéria orgânica e retêm umidade), e portanto menor propensão à lhas. Monografia de bacharelado, UFMG. alocação de recursos para reprodução. Silva, M. F. F.; Secco, R. S.; Lobo, M. G. A. (1996). Aspectos

418 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ecológicos da vegetação rupestre da serra dos Carajás, estado do cenozóicos e possuindo forma convexa, com declividades vari- Pará, Brasil. Acta Amazonica 26:17-44. ando de 3 a 15 graus (Baccaro 1991). Souza, H. G. G. (2002). Diversidade, abundância e comporta- No local de estudo foram demarcadas 211 parcelas (de 10 X mento dos visitantes florais de Stachytarpheta glabra, em uma área 10 m), distribuídas em oito transectos aproximadamente paralelos de campo ferruginoso, Ouro Preto, Minas Gerais. Monografia de entre si e perpendiculares ao ribeirão do Panga. A partir da margem bacharelado, UFOP. deste ribeirão foi amostrado o gradiente florestal, formado por mata de galeria, mata mesófila semidecídua e cerradão. Os transectos Vincent, R. C.; Jacobi, C. M.; Antonini, Y. (2002). Diversidade na terminam no limite do cerradão com um campo cerrado. adversidade. Ciência Hoje, 185:64-67. Rio de Janeiro. Foram realizados dois levantamentos nas parcelas demarcadas. O primeiro, entre março e junho de 1997 (Schiavini et al., dados Dinâmica de cinco anos (1997-2002) de uma não publicados) e o segundo, entre março e maio de 2002. Nos comunidade arbórea florestal na Estação Ecológica dois levantamentos foram registradas as medidas de circunferência do Panga, Uberlândia, MG. à altura do peito (CAP) mínima de 15 cm (4,8 cm de diâmetro à Cláudio Franco Munizab & Ivan Schiavinic altura do peito) de todas as árvores em pé. aPós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal de Uberlândia Para a comunidade arbórea amostrada, foram calculadas, para ([email protected]); bBolsista CAPES - Mestrado; cInstituto de o intervalo de tempo de 4,91 anos (1997 – 2002), as taxas médias Biologia, Universidade Federal de Uberlândia anuais de mortalidade e recrutamento (indivíduos ingressantes no segundo levantamento) em número de indivíduos, e as taxas médi- 1. Introdução as anuais de mortalidade e de acréscimo em área basal (ingrowth). Comunidades florestais são dinâmicas e as mudanças ocorrem O acréscimo em área basal é decorrente do crescimento das árvo- continuamente em níveis individuais e populacionais ao longo do res sobreviventes, somado à área basal dos recrutas. Para o cálculo tempo, mesmo que a comunidade como um todo, seja considerada dessas taxas utilizou-se o modelo logarítmico desenvolvido por estável devido a um balanço entre crescimento, recrutamento e Lieberman et al. (1985). mortalidade (Felfili, 1995). Estudos de longo prazo sobre as mu- Por meio do programa FITOPAC (Shepherd,1995) foram cal- danças temporais dos remanescentes de florestas tropicais são ne- culados os valores relativos de densidade, dominância e freqüência, cessários, pois podem contribuir para predições sobre o crescimen- além do índice de valor de importância (IVI), para os dois levanta- to e a produtividade florestal, facilitando a implantação de progra- mentos fitossociológicos na comunidade. Esses parâmetros tam- mas de manejo, a utilização racional e a recuperação das florestas bém foram calculados para os indivíduos arbóreos mortos e para os tropicais (Hartshorn, 1990, Jardim, 1990). Além disso, tais estu- recrutados, entre os levantamentos. dos podem facilitar a distinção entre o impacto causado por ativi- 3. Resultados e Discussão dades humanas daqueles causados por distúrbios naturais que po- A comunidade arbórea amostrada no gradiente florestal da dem ocorrer nessas florestas (Korning & Balslev, 1994). EEP, no primeiro (1997) e segundo (2002) levantamentos, apre- O declínio acelerado das comunidades vegetais nas regiões sentou respectivamente, 3.798 e 3.665 árvores, indicando uma tropicais e a preocupação com a perda de sua elevada biodiversidade, perda líquida de 133 árvores (3,50%). Essa perda foi resultante têm motivado o estabelecimento de programas de conservação de da morte de 485 indivíduos (12,77%) e do acréscimo de 241 tais ecossistemas (Laurance & Bierregaard, 1997). No Brasil, o (6,35%). A área basal encontrada nos dois estudos foi, respec- Cerrado vem sendo substituído por monoculturas em um ritmo tivamente, 50,60 m² e 52,30 m², representando um aumento de acelerado (Felfili, 1997), apesar de ser considerada a flora mais rica 3,36%. Árvores mortas neste período representaram a perda de entre as savanas mundiais (Klink, 1996, Mendonça et al., 1998). 5,04 m², enquanto o recrutamento e o crescimento dos sobre- Neste sentido, há urgente necessidade de conhecer os processos viventes contribuíram com 0,84 m² e 0,98 m², respectivamente. pelos quais as mudanças ocorrem, em níveis de espécies e comuni- As taxas médias anuais de recrutamento e mortalidade em nú- dades, nesse tipo de formação vegetal. mero de indivíduos foram, respectivamente, 1,90% ano-1 e 2,60% Na região do Triângulo Mineiro, apesar da ocorrência de diver- ano-1. Em termos de área basal, as taxas médias anuais de mor- sos tipos fitofisionômicos do Cerrado, tais como: vereda, campo, talidade (2,02% ano-1) superaram as taxas médias anuais de mata de galeria, mata mesófila semidecídua e cerradão, ainda são acréscimo (0,34% ano-1). muito escassos os trabalhos relacionados à dinâmica de comunida- A estrutura da comunidade arbórea estudada, mudou em des vegetais. cinco anos (1997 a 2002). A taxa anual de mortalidade obtida O presente estudo descreve a dinâmica de uma comunidade para a comunidade (2,60%), representou um valor dentro da arbórea florestal formada por um gradiente de mata de galeria, amplitude observada (1 a 3%) na maioria das florestas tropicais mata mesófila semidecídua e cerradão (Cardoso & Schiavini 2002) (Matelson et al. 1995). Em alguns estudos, foram encontradas na Estação Ecológica do Panga (EEP), Uberlândia-MG, referente taxas de mortalidade superiores a 3% (Hubbell & Foster 1990, a um período de cinco anos (1997-2002). Foram analisadas as Korning & Balslev 1994, Felfili 1995). A taxa de recrutamento taxas de crescimento, recrutamento e mortalidade na comunidade. anual de 1,90% foi inferior àquela encontrada por Oliveira- O objetivo do presente estudo foi testar a seguinte hipótese: houve Filho et al. (1997) (3,83%) em um fragmento de mata mesófila mudança na estrutura da comunidade após cinco anos? semidecídua em Lavras, MG. O desequilíbrio entre as taxas de 2. Métodos mortalidade e recrutamento pode ser um indicativo de que as O presente estudo foi realizado na Estação Ecológica do Panga florestas apresentam ciclos alternados de perda de indivíduos e – EEP (19º 09’ 20’’ S e 48º 24’ 35’’ W) ao Sul no município de reposição, como indicam alguns autores (Swaine et al. 1987, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil. A EEP pertence à Gentry & Terborgh 1990, Felfili 1995, Korning & Balslev 1994, Universidade Federal de Uberlândia desde 1986 e constitui uma Oliveira-Filho et al. 1997). unidade de conservação na categoria Reserva Particular do Em 1997, haviam 162 espécies distribuídas em 56 famílias Patrimônio Natural – RPPN (Cardoso & Schiavini 2002). e em 2002, 161 espécies em 55 famílias. Foram ordenadas, em O clima da região é do tipo Aw, segundo a classificação de ordem decrescente, as espécies que somaram 50% do IVI para Köppen, com verão quente e úmido, e inverno frio e seco os dois levantamentos, por representarem melhor a comuni- (Schiavini & Araújo 1989). O relevo local apresenta-se dade e facilitar a análise das mudanças ocorridas. As espécies medianamente dissecado sobre sedimentos inconsolidados que permaneceram nessa ordenação, nos dois anos (1997 e

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 419 Cerrado Volume I

2002), foram: Chrysophyllum marginatum, Anadenanthera Ecology. Blackwell, Oxford. macrocarpa, Diospyros hispida, Alibertia sessilis, Tapirira guianensis, Jardim, F.C.S. 1990. Mortalidade e Crescimento na Floresta Equa- Matayba guianensis, Lithrea molleoides, Campomanesia velutina, torial de Terra Firme. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Terminalia brasiliensis, Cupania vernalis, Luehea grandiflora, Série Botânica 6(2): 227-234. Styrax camporum, Qualea grandiflora, Aspidosperma cuspa e Klink, C.A. 1996. Relação entre o desenvolvimento agrícola e a Casearia sylvestris. A espécie que deixou de pertencer ao grupo biodiversidade. Pp. 25-27. In: PEREIRA, R.C., NASSER, L.C.B. daquelas que somaram 50% do IVI, em 1997, foi Guazuma (eds.). Anais VIII Simpósio sobre o Cerrado, 1st International Symposium ulmifolia, devido, principalmente, ao declínio da densidade. on Tropical Savanas – Biodiversidade e Produção Sustentável de Ali- Em 2002, Terminalia phaeocarpa e Hymenaea courbaril apre- mentos e Fibras nos Cerrados. Embrapa CPAC. Brasília. sentaram incremento significativo na dominância e passaram a pertencer ao grupo das espécies que somaram 50% do IVI. C. Korning, J. & Balslev, H. 1994. Growth rates and mortality patterns marginatum continuou sendo a espécie de maior IVI nos dois of tropical lowland trees species and relation to forest structure in levantamentos (19,07 em 1997 e 17,44 em 2002), porém, Amazonian Ecuador. Journal of Tropical Ecology 10: 151-166. com um ligeiro decréscimo (1,63), resultado da alta mortali- Laurance, W.F. & Bierregaard, R.O. (eds.) Tropical forest remnants: dade e baixo recrutamento. C. velutina, L. molleoides e Q. ecology, managements and conservation of fragmented communities. grandiflora não tiveram recrutamento no período de cinco anos, University Chicago Press, Chicago. mas a mortalidade foi alta (27,34%, 42,86% e 6,74%, respec- Matelson, T.J., Nadkarni, N.M. & Solano, R. 1995. Tree tivamente). Os maiores percentuais de recrutamento foram damageand annual mortality in a montane forest in Monteverde, das seguintes espécies: A. sessilis (29,02%), T. guianensis Costa Rica. Biotropica 27: 441-447. (14,00%), M. guianensis (13,44%) e C. sylvestris (9,41%). Mendonça, R.C., Felfili, J.M., Silva-Jr, M.C., Rezende, A.V., No- 4. Conclusões gueira, P.E., Walter, B.M.T., Filgueiras, T.S. 1998. Flora vascular A população de Chrysophyllum marginatum, apesar de man- do cerrado. Pp. 289-539. In: SANO, S.M., ALMEIDA, S.P. (eds.). ter o maior IVI após cinco anos, apresentou mortalidade oito Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa CPAC. Planaltina. vezes maior que o recrutamento. Anadenanthera macrocarpa, Alibertia sessilis e Diospyros híspida (2º, 3º e 4º maior IVI em 2002, Oliveira-Filho, A.T., Mello, J.M. & Scolforo, J.R. 1997. Effects of respectivamente) apresentaram aumento do IVI no segundo le- past disturbance and edges on tree community structure and vantamento. Tais resultados sugerem que a comunidade está em dynamics within a fragment of tropical semideciduous Forest in pleno desenvolvimento sucessional. Se a dinâmica da comunida- south-eastern Brazil over a five-year period (1987-1992). Plant de mantiver esses padrões no futuro, é possível que C. marginatum, Ecology 131: 45-66. uma espécie típica de formações florestais abertas e bordas de Schiavini, I. & Araújo, G.M. 1989. Considerações sobre a vegeta- mata da região, seja extinta da área. Neste sentido, A. sessilis, que ção da Reserva Ecológica do Panga (Uberlândia, MG). Revista é uma espécie típica de sub-bosque das matas da região, poderá Sociedade & Natureza 1: 61-66. tornar-se a mais importante no futuro, pois apresentou aumento Shepherd, G.J. 1995. FITOPAC 1: manual do usuário. Universi- na densidade, passando do 4º maior IVI para o 3º, em cinco dade Estadual de Campinas, Campinas. anos. Desse modo, o presente estudo ofereceu uma visão ampla de vários aspectos da estrutura e dinâmica das espécies arbóreas Swaine, M.D., Lieberman, D. & Putz, F.E. 1987. The dynamics of tree populations in tropical forests: a review. Journal of Tropical na EEP, e mostrou que a estrutura comunitária mudou em cinco anos. Espera-se, com estudos dessa natureza, oferecer subsídios Ecology 3: 359-366. para a manutenção e criação de novas unidades de preservação ambiental em áreas de Cerrado. (Agradecimentos: à instituição Ocorrência do gênero Lonomia (SATURNNIDAE- financiadora CAPES, 1º autor; às colegas que auxiliaram no tra- HEMILEUCIINAE) no Distrito Federal balho de campo: Ana Paula e Michelle). Coelho, C.L.M.b; Freitas, E. F.b;Costa, G.F. b; Bittencourt, S.E.T.ª; e 5. Referências Bibliográficas Pinto, A. S.a Baccaro, C.A.D. 1991. Unidades Geomorfológicas do Triângulo Ciências Biológicas, Faculdade da Terra de Brasília - FTB. Mineiro: estudo preliminar. Revista Sociedade & Natureza 3: 37-42. 1. Introdução Cardoso, E. & Schiavini, I. 2002. Relação entre distribuição de Os artrópodes são o grupo com maior número de espécies espécies arbóreas e topografia em um gradiente florestal na Estação dentro do reino animal. A enorme diversidade do filo lhes permitiu Ecológica do Panga (Uberlândia, MG). Revista Brasil. Bot. 25(3): a ocupação de praticamente todos os habitats. Possuem exempla- 277-289. res de interesse econômico, mas também podem causar prejuízos à Felfili, J.M. 1995. Growth, recruitment and mortality in the Gama produção agrícola, ou diretamente à saúde humana como, por gallery forest in central Brazil over a six-year period (1985-1991). exemplo, acidentes causados por aracnídeos ou por escorpiões. Journal of Tropical Ecology 11: 67-83. Menos conhecidos, mas com igual ou até mesmo maior gravidades Felfili, J.M. 1997. Dynamics of the natural regeneration in the Gama são os acidentes provocados pela fase larval de alguns tipos de gallery forest in central Brazil. Forest Ecology and Management 91: lepidópteros peçonhentos conhecidos popularmente como 235-245. taturanas.(FUNASA, 2001) Um dos gêneros (Lonomia sp.), des- Gentry, A.H. & Terborgh, J. 1990. Composition and dynamics of crito como peçonhento pertence à família SATURNIIDAE e the Cosha Cashu “mature” floodplain forest. In: GENTRY, A.H. subfamília HEMILEUCIINAE. (CAMARGO, 1997). Four Neotropical Rainforests. Yale University Press, New Haven. Pp. Na Venezuela e países vizinhos, os acidentes com lagartas de 542-564. Lonomia achelous vêm sendo relatados desde a década de 60. (AROCHA-PINÃNZO, 2000). A espécie Lonomia obliqua vem Hartshorn, G.S. 1990. An overview of neotropical forest dynamics. sendo descrita como causadora de acidentes em toda a região sul Pp. 585-600. In: GENTRY, A.H. (ed.). Four neotropical rainforests. do Brasil, desde a década de 80.(FRAIHA, 1986). Alguns acidentes Yale University Press, New Haven. descritos com esta espécie relatam o desenvolvimento de hemorra- Hubbel, S.P. & Foster, R.B. 1986. Canopy gaps and dynamics of a gias, coagulação intravascular, insuficiência renal e em alguns casos tropical rain forest. Pp. 25-41. In: CRAWLEY, M.J. (ed.). Plant o óbito. Os casos relatados aconteceram principalmente com agri-

420 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado cultores ou filhos de agricultores.(MORAIS 1991; FRAIHA, 1986). então prejuízo na demanda pessoal ou para a própria lavoura. O número de exemplares coletados e a proximidade da casa de 5. Referência Bibliográfica agricultores podem acarretar acidentes que, quando não diagnostica- AROCHA-PINÃNGO,C.L.; MARVAL, B.G.E. Lomonia dos corretamente e tratados, podem levar a morte (MORAIS, 1991). caterpillar toxins: Biochemical aspects. Société française de A gravidade do acidente depende do número de lagartas envolvidas, do biochimie et biologie moléculaie. Èditions scientifigques et medical tamanho do indivíduo e da sensibilidade da região afetada. Além da elsevier SAS. 2000. gravidade dos sintomas causados pelo acidente o tempo de atuação do veneno pode variar entre 0 e 10 dias e o tratamento também pode se CAMARGO, A.J.A. Relações biogeográficas e influência da esta- prolongar a mais de 10 dias (FUNASA, 2001). ção seca na distribuição de mariposas da família saturniidae No Distrito Federal, a descrição deste gênero foi feita por (Lepidóptera) da região dos Cerrados. Dissertação de Mestrado, Camargo (1997), ao desenvolver pesquisa de identificação de Ed.; UnB. Brasília; 1997. lepidópteros da família SATURNIIDAE em Planaltina - DF. Du- FUNASA, ZOONOSES, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. rante sua pesquisa foram coletados e classificados adultos, entre Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais elas as espécies Lonomia achelous e Lonomia obliqua. A distribuição peçonhentos. ed.; 2ª. Ed.;Fundação nacional de saúde. Brasília; 2001. do gênero Lonomia, bem como sua identificação é de grande im- FRAIHA, H.; BALLARINI, A.J. et al. Síndrome hemorrágia por portância epidemiológica, pois uma vez identificado, medidas pre- contato com larvas de mariposa (LEPIDOPTERA, ventivas podem ser sugeridas para evitar acidentes. SATURNIIDAE). XXII Congresso da sociedade brasileira de me- Foi com o intuito de identificar e obter dados de ocorrência do dicina tropical, São Paulo; 1986. gênero Lonomia no DF, que foi realizado este trabalho. LUCAS, S. Perigo: esta lagarta pode matar. Globo Rural, Março, 2. Metodologia 1991.29-33. Foram feitas coletas matutinas semanais em áreas preservadas do Country Club de Brasília (CCB) (Mata Galeria e Cerrado) e em MORAIS, R.H.P. Perigosos caprichos da natureza. Revista região agrourbana - Incra 7 (próximo a Brazlândia-DF) durante 5 UNIMED. ed ;11ª Ano IV.1991. Pg.; 30-31. meses. As áreas de coletas foram visitadas uma vez por semana MORAIS, C.H.; DINIZ, R.I. Lepidopteran caterpillar fauna of sempre de manhã (entre 7:00h e 12:00h). Durante as coletas foram cerrado host plants. Biodiversity and conservation. Vol .;06. Ed. capturadas lagartas contendo pêlos longos e/ou ramificados. Os UnB, Brasília; 1997. Pg.; 817-836. exemplares coletados foram mantidos em vasilhas plásticas, to- TU, A. T. Handbook of natural toxins. Volume 2. Marcel Dekker, mando o cuidado de se manter as colônias (quando gregárias) e a inc. New York, 1984. umidade local, até a obtenção de pupa e adultos. No estado larval a alimentação foi feita a base de Quaresmeira (Tibouchina granulosa Dinâmica populacional do lagarto Eurolophosaurus Cogn.), goiabeira (Psidium grajava L.) e pata de vaca (Bauhinia nanuzae Rodrigues 1981 (Sauria; Tropiduridae) em fosficata). O adulto foi, posteriormente, submetido a montagem e área de campo rupestre no Estado de Minas Gerais identificação por pesquisadores do CPAC- EMBRAPA de Brasília. Conrado A. B. Galdino*, Emiliane G. Pereira, Monique Van Sluys* 3. Resultados e Discussão Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universi- Durante as coletas nos diferentes locais foram registrados 205 dade do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, indivíduos sendo: 88na área do Incra 7, onde foi também descrito pelo 20550-013, Rio de Janeiro, Brasil moradores um agregado eliminado de 90 exemplares, e 27 coletados CABG: [email protected] em mata galeria no CCB. Deste total, 84 indivíduos foram mantidos em laboratório, 8 chegaram a pupa e somente 4 emergiram. 1. Introdução Quando submetido à cálculos de porcentagem percebe-se que Estudos sobre a dinâmica populacional de espécies de lagartos 13% dos exemplares foram coletados em região preservada e 86% que abordem questões tais como variações temporais na taxa de em região antropizada. Áreas antropizadas parece favorecer o crescimento, razão sexual, taxas de mortalidade e natalidade e uso surgimento de lepidópteros peçonhentos (LUCAS, 1991) por se- do espaço, permitem a compreensão de como uma população exis- rem animais polifogos (TU, 1984; MORAES, 1991) sua adapta- te e se mantém no tempo (Blair, 1960). Poucos estudos sobre este ção pode estar ainda mais favorecida. tema foram realizados envolvendo espécies sul-americanas. No Brasil, A presença de Lonomia no Cerrado Brasiliense foi descrita por onde a fauna de lagartos é uma das mais diversas do planeta, o Camargo, 1997, estes animais tem como principal características a conhecimento sobre os parâmetros populacionais de suas espécies presença de pêlos (cerdas) ramificadas ao longo do corpo. Tais de lagartos é ainda bastante escasso (Rocha 1994), o que impede cerdas carregam consigo substâncias tóxicas que provocam aciden- comparações entre seus diferentes taxa e entre diferentes popula- tes que levam a dores leves ou intensas no local do contato a até ções de uma dada espécie. hemorragias, IRA (insuficiência renal aguda), podendo chegar a Variações temporais nos fatores ambientais de temperatura, morte. (FUNASA, 2001; AROCHA-PINÃNGO, 2000) chuva e fotoperíodo já foram demonstradas como tendo implica- No Distrito Federal, no ano de 1999, do total de 531 acidentes ções nos atributos da história de vida de lagartos (Dunham, 1981, com animal peçonhentos registrados 20 (4%) foram atribuídos a Rocha, 1992, Adolph e Porter, 1993 e Van Sluys, 2000). Porém os Lonomia. (dado cedido pelo Departamento de Saúde Publica do DF) fatores históricos não podem ser negligenciados e a filogenia pode, Embora já tenha sido anteriormente constatada a presença de também, exercer influência sobre atributos populacionais. Lonomia no DF, esta é a primeira descrição deste gênero em áreas O lagarto Eurolophosaurus nanuzae é endêmico da cadeia do de produção agrícola. Os acidentes, quando ocorridos com alguém Espinhaço, sudeste brasileiro, ocorre em áreas acima de 1000m de diretamente envolvido com a produção, pode levar a perdas eco- altitude onde a fisionomia vegetal é tipicamente de campo rupestre nômicas pro causa do longo tratamento ou a morte do acidentado. (Rodrigues, 1988). A reprodução é cíclica, começando no fim da 4. Conclusão estação seca estendendo-se até o fim da estação chuvosa (Galdino Embora sejam resultados preliminares, a descrição de et al., no prelo) sendo o pico de sua atividade reprodutiva coinci- lepidópteros de gênero Lonomia próximo a regiões agrourbanas, dente com o período de maiores valores de precipitação. Desta pode representar um perigo potencial aos agricultores da região. Se forma é esperado que os atributos populacionais variem refletindo sua abundancia for realmente favorecida pela antropização este o padrão de reprodução cíclico. poderá vir a ser um dos principais causadores de acidentes gerando Especificamente este estudo pretendeu responder as seguintes

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 421 Cerrado Volume I questões:1) De que modo os atributos populacionais de abundân- variação entre as estações, outros estudos demonstram que os atri- cia e biomassa e estrutura etária variam ao longo do tempo? 2)Esta butos populacionais das espécies de lagartos variam de modo a variação está relacionada a variações dos fatores ambientais? 3)A refletir a sazonalidade reprodutiva (Van Sluys, 2000) estando rela- razão sexual varia ao longo do tempo para jovens e os adultos? cionado aos efeitos das chuvas (James, 1991). A não relação dos 2. Metodologia atributos populacionais estudados com os fatores ambientais pode Foi delimitada uma grade com área de 2,4ha (160 x 150m) estar relacionada, entre outros, ao ajuste na dieta deste lagarto. com pontos de referência a cada 10 metros, onde se desenvolve um Kiefer (1998) indica que formigas e cupins são os itens mais inge- trabalho de marcação e recaptura. O estudo foi realizado entre ridos por esta espécie na Serra do Cipó, sendo que formigas foram junho de 2001e abril de 2003. Os lagartos foram coletados com os itens mais disponíveis em ambas estações, além do mais, à medi- laço ou manualmente por um período de quatro dias por mês.Os da que a estação seca vai se estabelecendo (período com menor indivíduos capturados foram medidos com paquímetro (precisão disponibilidade de artrópodes) foi notado um aumento no consu- de 0,1mm) em seu comprimento rostro-anal (CRA), largura e com- mo de material vegetal. Galdino et al.(no prelo) aponta que duran- primento da mandíbula, comprimento da cabeça e a altura e largu- te a estação seca ocorre um aumento na massa dos corpos gorduro- ra do corpo. Os animais foram pesados com dinamômetros Pesola® sos, mais uma evidência de que o alimento não é limitante naquela (precisão 0,2g). O processo de marcação dos indivíduos é feito área. Isto permitiria a manutenção de uma abundância populacional pela amputação de artelhos (Waichman, 1992) e pela marcação durante a estação seca semelhante à encontrada no período de com tinta para tecido não tóxica. As recapturas são registradas chuvoso. Um outro fator que poderia explicar essa não relação através da captura e/ou visualização dos indivíduos marcados. A seria a utilização de áreas de vidas com sítios com condições térmi- abundância populacional mensal foi estimada pelo número de in- cas ótimas em ambas estações. Acima dos 1000m na Serra do Cipó divíduos registrados por mês. A biomassa mensal foi estimada pelo os ventos são abundantes e as condições térmicas variam de um peso médio dos lagartos capturados no mês em questão, multipli- calor abundante na estação chuvosa a um frio abundante na esta- cado pelo número estimado de indivíduos na população e dividido ção seca, o que poderia causar um estresse para uma espécie de pelo tamanho da área (Rocha, 1992), calculou-se também a taxa pequeno tamanho corporal. Áreas que possibilitariam a manuten- intrínseca de crescimento populacional. As áreas adjacentes até ção de um sítio com condições termais ideais ao longo das estações 50m da margem da grade estabelecida estão sendo monitoradas em permitiria a manutenção de uma população com um tamanho busca de animais marcados, por pelo menos um dia por mês, para relativamente constante ao longo do ano. avaliar a dispersão de indivíduos na população. Os atributos A estrutura etária da população muda ao longo do tempo em populacionais foram relacionados às variáveis ambientais de tem- conformidade com o ciclo reprodutivo da espécie (Galdino et al., peratura e pluviosidade de longo termo (período de 20 anos – de no prelo), sendo este padrão encontrado para outras espécies bra- 1971 a 1990) e fotoperíodo através de regressão múltipla. sileiras (e.g. Tropidurus itambere - Van Sluys, 2000). Jovens são 3. Resultados & Discussão encontrados de abril a outubro. Os primeiros corresponderiam à Foram marcados um total de 128 indivíduos, entre junho de prole referente ao final do período reprodutivo da estação anterior 2001 e abril de 2003; 49 machos, 46 fêmeas, 19 jovens e 14 adultos e os que aparecem em setembro outubro correspondentes à prole cujo sexo não pode ser determinado. Dos 128 indivíduos 75 (58.6%) dos primeiros indivíduos reprodutivos da estação vigente. foram recapturados pelo menos uma vez. A razão sexual total, 4. Conclusões considerando todos os lagartos amostrados não diferiu significati- Os atributos abundancia e biomassa ,da população estu- vamente de 1:1 para os indivíduos adultos (machos = 0.52: fêmeas dada, não estão relacionados as variáveis ambientais precipi- = 0.48; X2 = 0.095 P>0,05, n= 95). Também não foram encontra- tação e temperatura. das diferenças na proporção sexual na estação seca e na estação A estrutura etária da população muda ao longo do tempo chuvosa (X2 = 0,41, P = 0,52 e X2 = 0,23, P = 0,63. A estrutura estando relacionada ao ciclo reprodutivo da espécie etária muda sazonalmente. A população consiste de adultos duran- 5. Bibliografia te grande parte do ano e a entrada de jovens na população ocorre de abril a outubro. A abundância populacional média estimada foi Adolph, S.C.; Porter, P. 1993. Temperature activity, and lizard life de 14,4 ± 5,4 indivíduos oscilando ao longo do período amostral. histories. Am. Nat. 142:273-295. A biomassa também variou ao longo do período tendo um valor Blair, W. F. 1960. The rusty lizard: A population study. Univ. of médio de 27±10,9 g/ha. Os atributos abundância populacional, Texas Press, Austin, Texas. biomassa e taxa intrínseca de crescimento não foram relacionada a Bull, C. M. 1994. Population dynamics and pair fidelity in sleep 2 nenhum dos fatores testados (F1,19 = 0,581, R = 0,08, P = 0,635; lizards Pp. 159-174. In L. J. Vitt e Pianka E. R. (Eds). Lizard 2 2 F1,19 = 0,166, R = 0,026, P = 0,918; F1,19 = 0,546, R = 0,08, P = Ecolog: Historyical and experimental perspectives. Princeton 0,657 respectivamente). Também não foram observadas variações, University Press. Princeton. New Jersey. USA. entre os anos, para os atributos de abundância populacional e Dunham, A.E.1981. Populations in a fluctuating environment: the biomassa (ANOVA F = 2,73, R2 = 0,12, P = 0,11 e F = 1,77, 1,21 1,21 comparative population ecology of Seloporus merriani and R2 = 0,08 p = 0,67 respectivamente). Urosaurus ornatus. Misc. Pub. of the Mus. Zool. University of A taxa intrínseca de crescimento populacional variou durante Michingan 158:1-62. o período estudado sendo o período onde os valores positivos foram encontrados coincidente com o período reprodutivo da po- James, C. D. 1991. Population dynamics, demography, and life pulação estudada, e coincidente, também, com o período de recru- history of sympatric scincid lizards (Ctenotus) in central . tamento. A taxa de crescimento média foi de -0,03±0,4(variando Herpetologica 47: 194-210. de –1,15 a 0,7). Kiefer, M.C. 1998. Dieta e modo de forrageamento e uso do Em geral para espécies de lagartos tropicais de ambientes sazo- microhabitat em duas espécies simpátricas de Tropidurus (Sauria, nais é esperado que os atributos populacionais estejam relaciona- Tropiduridae) na Serra do Cipó, Minas Gerais. Dissertação de dos com as variáveis ambientais (e.g. Rocha, 1992, Wiederhecker, Mestrado, UNESP, Rio Claro, SP. 92p. 1999 e Van Sluys, 2000). Bull (1994) aponta que novos estudos Rocha, C.F.D.1992. Ecologia e comportamento de Liolaemus sobre ecologia de lagartos devam revelar novos padrões ao invés de lutzae (Sauria: Tropiduridae) em uma área de restinga do sudeste simplesmente enquadrar o padrão estudado em um previamente do Brasil. Dissert. Doutor., Inst. Biol.UNICAMP. 180p. descrito. Os atributos populacionais estudados não apresentam

422 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

______. 1994 Introdução à ecologia de lagartos brasileiros 2. Métodos Em: Herpetologia no Brasil, 1. L.B. Nascimento; A.T. Bernardes Folhas adultas de plantas de Copaifera langsdorffii foram & G.A. Cotta (eds.), PUCMG, Fundação Biodiversitas & Funda- coletadas de indivíduos plantados no Campo Sujo e o Cerradão. ção Ezequiel Dias, Minas Gerais, p. 39-57 Foram amostradas quatro plantas em cada fitofisionomia para os Rodrigues, M. T. 1988. Distribution of lizards of the genus cortes anatômicos e dez plantas de cada ambiente para a análise Tropidurus in Brazil (Sauria, Iguanidae). In Heyer, W.R. e P.E. estomática. As plantas atualmente com três anos e sete meses apre- Vanzolini (eds) Proceedings of a -Workshop on Neotropical sentam altura média de 16,25 ± 1,3 e 10,9 ± 0,64 cm de altura no Distribution Patterns. Acd. Bras. Ciências, Rio de Janeiro. Pp: campo sujo e cerradão respectivamente. 305-315. O grau de sombreamento dos dois ambientes foi obtido utili- zando-se fotodiôdos instalados em duas hastes metálicas, a 5,15 e Van Sluys, M. 2000. Population dynamics of the saxicolous lizard 50cm de altura da superfície do solo, apresentando uma porcenta- Tropidurus itambere(Tropiduridae) in a seasonal habitat of gem de sombreamento no cerradão de 77% na seca e 75% na southeastern Brazil. Herpetologica. 56:55-62. época chuvosa, e no campo sujo de 29% na época seca e 13% na Waichman, A.V. 1992. An alphanumeric code for toe-clipping época chuvosa entre as alturas de 5 a 15cm. amphibians and reptiles. Her. Rev. 23:19-21. De cada planta, uma folha foi amostrada, tendo sido coletados Wiederhecker, 1999. Ciclo reprodutivo de Tropidurus torquatus folíolos do ápice, base e meio da folha, totalizando três folíolos por (Squamata: Tropiduridae) no cerrado do Distrito Federal, Brasil. indivíduo. Terços médios dos folíolos foram fixados em FAA 50ºGL Dissertação de Mestrado, UNB, Brasilia-DF. 92p. e posteriormente desidratados em série etílica e incluídos em para- (CABG agradece à CAPES pela concessão da bolsa de fina (Johansen, 1940; Sass, 1958). A espessura dos cortes foi fixada doutoramento. MVS recebe Bolsa de Produtividade em Pesquisa/ em 12 mm. Foi utilizada a dupla coloração safranina - “fast green” CNPq. Ao IBAMA pela concessão da licença e apoio logístico, à e para a montagem das lâminas foi utilizado entellan como meio. Tadeu José Gerra pelo apoio logístico; ao Prof. Dr. Geraldo W. As observações das epidermes adaxial e abaxial em vista de face Fernades Wilson pela permissão de trabalho em sua propriedade.) foram feitas a partir das impressões epidérmicas da superfície da folha com cola plástica. Medidas da espessura cuticular, espessura das epidermes adaxial Comparação anatômica de folíolos de plantas de e abaxial, espessura do mesofilo, diâmetro do metaxilema, compri- Copaifera langsdorffii Desf. cultivadas em campo mento e largura dos estômatos e abertura ostiolar foram feitas com sujo e cerradão no Planalto Central do Brasil nônio ocular e calculadas para o fator correspondente. Os três Cornelio, I. N. a, Azevedo, I. N. C. b, Gomes, L. O. c& Franco, A. C. d primeiros parâmetros acima foram tomados com dez medidas ale- a Programa de Pós-Graduação em Ecologia ([email protected]), atórias para cada planta. Foram tomadas cinco medidas para o b Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, Centro diâmetro do metaxilema e 20 para a análise estomática por planta. c Universitário de Brasília, Departamento de Botânica, Universidade O número de estômatos presentes na epiderme abaxial foi de Brasília obtido projetando-se, no papel, um quadrado de 0,5mm de lado. A soma da contagem em quatro áreas contíguas representou o núme- 1. Introdução ro de estômatos presentes em 1mm². Foram realizadas 80 conta- O Cerrado está localizado predominantemente no Planalto gens para cada tratamento, obtendo-se uma amostragem de n=20. Central do Brasil, sendo o segundo maior bioma do país em área, Tanto para as medidas quanto para a contagem de estômatos, sendo menor apenas que a Floresta Amazônica (Ribeiro & Walter, foram calculados a média, desvio padrão e realizado um teste t de 1998). O Cerrado apresenta uma enorme diversidade estrutural e Student para a comparação de médias, com a=0,05, com o auxílio biológica. Sua grande plasticidade a fatores ambientais e do programa estatístico SAS do SAS Institute Inc. antropogênicos gera uma variabilidade de fisionomias, abrangendo 3. Resultados e Discussão desde formações campestres a predominantemente arbóreas. Uma A descrição anatômica de Copaifera langsdorffi observada para os das formações campestres mais características é o campo sujo, que dois ambientes está de acordo com o observado por Morretes (1967) apresenta um estrato herbáceo continuo, com arbustos e em indivíduos adultos, com exceção do número de camadas de subarbustos esparsos. Entre as fisionomias florestais, se destaca o parênquima paliçádico, que para as plantas tanto de Campo Sujo Cerradão, uma formação arbórea com aspectos xeromórficos, que quanto de Cerradão apresentam apenas uma camada. A epiderme apresenta o estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo bem diferencia- adaxial é desprovida de estômatos, sendo as células epidérmicas dos. Sua cobertura arbórea pode oscilar de 50 a 90% (Ribeiro & maiores na região das nervuras. Em vista frontal, observa-se um Walter, 1998). padrão ondulado na junção das paredes celulares de células adjacen- Plantas nesses ambientes distintos devem ser capazes de tole- tes. Os estômatos observados na face abaxial são do tipo paracítico. rar diferentes níveis de sombreamento. Isso pode ocorrer através Na nervura principal observa-se um feixe vascular anficrival, envolvi- de adaptações anatômicas nas folhas. Björkman (1981) relatou do por uma bainha de esclerênquima. Abaixo e acima do feixe, en- que a capacidade de alteração das folhas em resposta a diferentes contra-se parênquima desprovido de cloroplastos. Observam-se es- níveis de luz é comum em espécies com amplo potencial de truturas secretoras distribuídas ao longo do mesofilo. aclimatação. Das medidas realizadas, apresentaram diferenças significativas Copaifera langsdorffii Desf. é uma árvore da família Leguminosae- no teste t de comparação de médias, com a<0,05, a espessura da Caesalpinoideae, que atinge 35m de altura, amplamente dispersa cutícula (campo sujo=3,2±1,2mm ; cerradão=2,8±0,8mm, t0,05(2),238=- pelos cerrados do Brasil, ocorrendo em Mata de Galeria, Mata 3,1, p=0,02), a espessura da epiderme (campo sujo=7,6±2,0mm; Mesofítica de Interflúvio, Cerradão Distrófico e Cerrado (Almeida cerradão=7,1±1,6mm, t =-2,1, p=0,03), mesofilo (campo et al., 1998). Este estudo teve como objetivo comparar a anatomia 0,05(2),238 sujo=112,8±14,0mm; cerradão=105,6±10,7mm, t0,05(2),238=-4,45, foliolar de plantas de Copaifera langsdorffii nestas duas p<0,0001), largura de estômatos (campo sujo=13,4±1,7mm; fitofisionomias típicas do cerrado - o Campo Sujo e o Cerradão. cerradão=12,5±2,0mm, t0,05(2),358=-4,85, p<0,0001), comprimento Nos estádios iniciais de desenvolvimento, plantas dessa espécie de estômatos (campo sujo=20,1±2,5mm; cerradão=17,5±2,2mm, estão expostas a altos níveis de irradiação solar no campo sujo e t t=-10,27, p<0,0001) e abertura ostiolar (campo sombreamento considerável no Cerradão. 0,05(2),358 sujo=5,74±1,3mm; cerradão=5,28±1,6mm, t0,05(2),238=-2,24, p=0,02). Tal resultado era esperado, pois o campo sujo está exposto a inten-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 423 Cerrado Volume I sidades luminosas maiores. Maiores espessuras de cutícula, epiderme Distribuição de Peixes da Ordem Siluriformes na e mesofilo vão afetar a resistência à difusão de vapor de água dos Planície do Bananal – espaços intercelulares à superfície da folha. Mato Grosso Nobel (1977) relatou que o aumento na espessura das folhas de Cristhiana P. Röpke1 & Cesar E. de Melo1 plantas crescidas em ambientes com maiores intensidades luminosas 1 Laboratório de Ictiologia e Limnologia da Universidade do Estado pela adição ou alongamento de células do parênquima paliçádico de Mato Grosso, Campus Universitário de Nova Xavantina. poderiam estar relacionados a uma redução na resistência do mesofilo [email protected] & [email protected] ao dióxido de carbono. Além disso, pode haver uma correlação desse aumento de espessura com o aumento de fatores que limitam a 1. Introdução fotossíntese (Björkman, 1981). Goulet & Bellefleur (1986) relata- A ordem Siluriformes é composta por cerca de 412 gêneros e ram que os efeitos da luz também influenciam na plasticidade foliar, 2405 espécies de peixes. Destes, aproximadamente 1440 espécies alterando a espessura, a área e outras características da folha. A maior ocorrem no novo mundo (Nelson, 1994). Estando o restante espa- espessura do mesofilo também pode estar relacionada à proteção lhado sobre os outros continentes, com a maior concentração nas contra danos por altas intensidades luminosas. regiões tropicais da África e Ásia (Burges, 1989). Já para as dimensões estomáticas esperava-se o oposto, pois A fauna de peixes da bacia Amazônica é a mais rica do mundo menores dimensões estomáticas diminuem a probabilidade de per- (Lowe-McConnell, 1999). E a ordem Siluriformes representa o se- da de água. A capacidade de reduzir a transpiração permite que as gundo mais diverso e espetacular grupo de peixes encontrados na plantas tenham uma melhor gestão da água disponível no solo. Amazônia, perdendo apenas para os Characiformes (Val e Almeida- Folhas que se desenvolvem em períodos de seca geralmente Val, 1995). Goulding et al. (1988) e Lowe-McConnell (1999), em apresentam estômatos menores e mais numerosos (Larcher, pesquisas realizadas na região amazônica encontraram respectivamen- 1995). Quanto ao número de estômatos, não se constatou dife- te 29% e aproximadamente 40% de Siluriformes do total amostrado. rença significativa entre os dois ambientes (campo -2 -2 Conhecidos popularmente como bagres, os Siluriformes estão sujo=82,48±17,1 mm ; cerradão=84,64±18,9mm ; entre os peixes mais espetaculares da Amazônia, na forma e hábito t0,05(2),158=0,76 p=0,4490). A área foliolar também não diferiu 2 de vida, o tamanho pode variar desde o minúsculo candiru, entre as fitofisionomias (campo sujo=11,6 ±5,6 cm ; Trichomycteridae, com cerca de 2,5cm ao gigante Brachyplatystoma cerradão=10,17 ±5,7 cm2, t t=1,02, p=0,31). 0,05(2),64 que atinge quase 3m (Fink e Fink, 1979; Val e Almeida-Val, 1995). 4. Conclusões Estes peixes compreendem no geral hábitos bentônicos e noturnos Plantas de Copaifera langsdorffii no cerradão e campo sujo apre- mas, muitas são ativas durante o dia e principalmente em águas sentaram diferenças significativas na espessura de diversos tecidos turvas (Britski, Silimon e Lopes, 1999). foliares, que estão relacionadas à influência dos diferentes regimes A zoogeografia ou a distribuição dos animais apresenta os mais de luz nesses dois ambientes. Como a capacidade de alteração das fascinantes problemas para os biologistas, que tem considerado folhas em resposta a diferentes níveis de luz é comum em espécies uma variedade de fatores em ordem para entender a distribuição com amplo potencial de aclimatação (Björkman, 1981), sugere-se quase cosmopolitana de algumas espécies e a distribuição extrema- que a plasticidade foliar em C. langsdorffii esteja relacionada a sua mente restrita de outras (Greenwood, 1975). Recentemente capacidade de colonizar diferentes fisionomias do Cerrado. (Apoio Rodrigues e Lewis (1997) propuseram que a distribuição dos pei- CNPq e PRONEX) xes pode ser influenciada pela transparência da água, conforme o 5. Referências Bibliográficas modelo PTM (Piscivory Transparency Morphometry). Almeida, S.P.; Proença, C.E.B.; Sano, S.M.; Ribeiro, J.F. (1998). Este trabalho tem como objetivo analisar a ocorrência e distri- Cerrado: espécies vegetais úteis, 464p. buição de Siluriformes na Planície do Bananal em Mato Grosso, Björkman, O. (1981). Responses to different quantum flux densities. relacionando-as com a transparência da água, verificando a In Physiological plant ecology I. (Enciclopedia of plant physiology, aplicabilidade do modelo PTM para esta região. NS. Vol. 12A). Edited by O. L. Lange, P. S. Nobel, C. B. Osmond, 2. Métodos H. Ziegler. Springer-Verlag, Berlin. pp. 57-107. Os exemplares estudados são oriundos de ambientes lóticos e lênticos da Planície do Bananal, uma extensa planície, com aproxi- Goulet, F. & Bellefleur, P. (1986). Leaf morphology plasticity in madamente 70.000 km2, sujeita à inundação periódica entre o Rio response to light environment in deciduos tree species and its das Mortes e rio Araguaia. Na região predomina a vegetação de implication on forest succession. Can.Journal Forest Research 16: cerrado tipo savana aberta com ocorrência de campos em várias 1192-1195. áreas (Brasil, 1981). A fragilidade da vegetação facilita o Johansen, D. A.. (1940). Plant microtechnique. McGraw-Hill Book desmatamento e intensifica o processo de degradação ambiental, Company, New York. com predominância dos grandes latifúndios para criação extensiva Larcher, W. (1995). Physiological Plant Ecology. Springer, Berlin. de gado bovino. Em muitas regiões da Planície as matas de galeria foram retiradas e substituídas por pastagem. No solo arenoso as Morretes, B. L. (1967). Contribuição ao estudo da anatomia das erosões são freqüentes e alguns lagos de menor porte estão com- folhas de plantas do cerrado II. Bol. da Fac. de Fil. Ciências e Letras prometidos pelo assoreamento. da Univ. de São Paulo 305,Botânica 22: 207-244. Foram amostrados 6 ambientes lóticos e 8 ambientes lênticos, Nobel, P. S. (1977). Internal leaf area and cellular CO2 resistance: sendo eles: Córrego Areões, Rio Araguaia , Rio Corrente, Rio das photosynthetic implications of variations with growth conditions Mortes, Rio Pindaíba, Rio Cristalino, Lago Diadomã, Lago Lagoão, and plant species. Physiologia Plantarum 40: 137-144. Lago da Beleza, Lago do Rosico, Lago das Piranhas, Lago Melan- Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do bioma cia, Lago Redondo e Lago Baía da Saudade. do Cerrado. In Cerrado: Ambiente e Flora (S. M. Sano & S. P. Os exemplares analisados foram obtidos na coleção ictiológica Almeida, eds.). EMBRAPA, Planaltina, DF. P. 89-166. do Laboratório de Ictiologia e Limnologia, do Depto. de Ciências Sass, J. E.. (1958). Botanical microtechnique. The Iowa State College Biológicas na Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Press, Iowa. de Nova Xavantina. Os peixes foram coletados no período de junho de 1998 a junho de 2001, com auxílio de tarrafas malhas 2,5 e 4 cm entre nós opostos; redes de arrasto com malhas de 2,0 cm e

424 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

40 m de comprimento por 2,5 m de altura; redes de espera com portantes para a sobrevivência. A maximização destes mecanismos malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14, 18 e 22 cm entre nós opostos, em águas turvas, uma vez que torna ainda mais difícil a visualização com 10 m de comprimento e 1,5 m de altura. Todos os exemplares destes peixes por outros pode ser um dos fatores que contribuem coletados eram fixados em campo com solução de formol a 10%, e para a sua preferência por este tipo de ambiente. Winemiller (1992) após 72 horas, lavados e conservados em solução de etanol 70%. comenta que a morfologia do corpo reflete aspectos da sua ecolo- Após este procedimento os exemplares foram identificados e tom- gia e que características morfológicas básicas dos peixes, desempe- bados na coleção ictiológica. nho ecológico e morfologia têm sido usada com sucesso como Determinou-se também a transparência da água por meio de substituto para a ecologia. disco de Secchi. E com base nas proporções de Siluriformes captu- O ventre chato adaptado à vida no fundo dos ambientes aqu- rados e a transparência da água foi determinada a similaridade áticos, sua coloração, bem como as estruturas sensitivas e a não entre os ambientes, por meio de análise de cluster, pelo método obrigatoriedade do uso da visão podem explicar a maior ocorrência UPGMA com distâncias Euclidianas, com o auxílio do programa deste grupo de peixes principalmente em ambientes de água turva. STATISTIC. Assim, a distribuição dos Siluriformes na Planície do Bananal 3. Resultados e Discussão está de acordo com o previsto no modelo PTM. Nos 14 ambientes amostrados foram coletadas 44 espécies de 4. Conclusão Siluriformes. Os ambientes que apresentaram a maior proporção A ocorrência e distribuição dos Siluriformes na Planície do Ba- de Siluriformes em relação a outros grupos taxonômicos foram: nanal estão estritamente relacionadas com a transparência da água. Rio Araguaia onde os Siluriformes representaram 36,96% do total O modelo PTM se aplica satisfatoriamente para explicar a capturado, Lago Lagoão com 29,80% e Lago Melancia com ocorrência e distribuição destes táxons na Planície do Bananal. 23,83%. E os com menor percentual de Siluriformes capturados 5. Referências Bibliográficas foram o Lago Baía da Saudade com 2,72%, Lago da Beleza 2,10% Brasil, Ministério das Minas e Energia. (1981). Projeto e Rio Cristalino 2,97%. RADAMBRASIL. Folha SD. 22 Goiás; geologia, geomorfologia, As espécies mais amplamente distribuídas foram Pimelodus pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 640 p. blochii e Rineloricaria sp. presentes em 9 dos ambientes amostrados, Hemisorubim plathyrhynchos e Pseudoplatystoma fasciatum ocorren- Britski, H.A.; Silimon, Z. de S. de; Lopes, B.S. (1999). do em 7 e 6 ambientes respectivamente. Peixes do Pantanal: manual de identificação. EMBRAPA, As menores transparências da água ocorreram no Lago Lagoão Brasília , 184 p. (21cm), Rio Araguaia (43cm) e Lago Melancia (63,4cm) e as mai- Burges, W.E. (1989). Freshwater and Marine Catfishes: a preliminary ores transparências ocorreram no Rio das Mortes (208,7cm), Lago Survey of the Siluriformes. T.F.H., New Jersey, 789 p. Baía da Saudade (188,3cm) e Rio Cristalino (180cm). Fink, W.I.; Fink, S.V. (1979). A Amazônia Central e seus Peixes. A análise de cluster com base nas distâncias Euclidianas, indi- Acta Amazônica, 8 (4): 19-42. cou a formação de 3 grupos. O primeiro agrupamento foi formado Goulding, M.; Carvalho, M.L.; Ferreira E.G. (1988). Rio Negro: pelo Lago da Beleza, Rio das Mortes, Rio Cristalino e Lago Baía da rich life in poor water Amazonian diversity and foodchain ecology as Saudade, estes ambientes são os que apresentaram maior transpa- seen thought fish communities. SPB Academic Publishing, California, rência da água (entre150 e 208,7cm) e também os que possuíram 200 p. menor proporção de Siluriformes capturados (entre 2,10% e 4,51%). O segundo grupo reuniu os ambientes com as menores Greenwood, P.H. (1975). A history of Fishes. Ernest Eenn Limited, transparências da água estando entre 21 e 63,4cm, e que apresen- London, 466 p. taram maiores proporções de Siluriformes capturados (12.55% e Lowe–McConnell, R.H. (1999). Estudos Ecológicos de Comunida- 36,66%), a exceção do Lago Diadomã que apresentou baixa trans- des de Peixes Tropicais. USP, São Paulo, 535 p. parência com apenas 25cm de visibilidade, porém a porcentagem Nelson, J.S. (1994). Fishes of the world.. 3.ed. John Wiley & Sons, de Siluriformes capturados foi de apenas 6,11%. Este lago estava New York, 600 p. sujeito a forte impacto pela entrada de argila originária de uma voçoroca em uma das margens, o que tornava suas águas leitosas. Rodríguez, M . A.; Lewis, W.M.Jr. (1997). Structure of fish Até pouco tempo atrás estas águas eram bem mais claras. Isto assemblages along environmental gradients in foodplains lakes of the Orinoco River. Ecological Monographs, 67: 109–128. talvez explique a maior turbidez sem, no entanto, maior ocorrên- cia de Siluriformes. O terceiro grupo formado pelo Córrego Areões, Val, A.L.; Almeida-Val, V.M.F. de. (1995). Fishes of the Amazon and Rio Corrente e Lago Redondo reuniu os ambientes com transpa- their Environment: physiological and biochemical aspect. Springer, rência e proporção de Siluriformes intermediárias às dos grupos Berlin, 224 p. anteriores, entre 7,12% e 9,63% de Siluriformes e 90 a 112,8cm Winemiller, K.O. (1992). Ecomorphology of Freshwater Fisher. de transparência. National Geographic Research & Explorations, 8 (3): 308-327. A preferência dos Siluriformes por águas turvas é comentada por Bristki, Silimon e Lopes (1999), Val e Almeida-Val (1995) e Efeito da poda na sobrevivência e na produção de Burges (1989). Segundo Burges (1989) estes peixes detectam o ramos de Lychnophora ericoides (Compositae: alimento principalmente pelo paladar e olfato e raramente pela Asteraceae). visão, sendo os barbilhões, estruturas que possuem altas concen- 1 2 trações de células sensitivas, os principais responsáveis pela localiza- Delano M. S. Silva ([email protected]) & John D. Hay 1 2 ção de itens alimentares em águas turvas ou durante a noite, também Pós – graduação, Dept. Ecologia, UnB Dept. Ecologia, UnB sendo utilizados na orientação para detectar dimensões de fendas e passagens estreitas. A detecção de suas presas provavelmente é quí- 1. Introdução mica ou por vibrações na água (Lowe-McConnell, 1999). O gênero Lychnophora é endêmico de campos rupestres (Eiten, Em geral os bagres apresentam dorso com coloração escura e 1978). As espécies do gênero ocorrem em solos superficiais retidos corpo achatado ventralmente, uma adaptação para sua vida no em arenito, quartzito ou depósitos ferrosos, ou areia branca pro- fundo, essas características podem estar associadas a estratégias de funda, parecendo que estão edáficamente restritas a um substrato defesa como o ocultamento ou mesmo mimetismo, Lowe- particular ou a diferentes tipos de umidade (Coile & Jones, 1981). McConnell (1999) comenta que tais estratégias parecem ser im- A espécie Lychnophora ericoides Mart. (Compositae: Asteraceae) é popularmente conhecida como arnica, candeia, candieiro e pau-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 425 Cerrado Volume I candeia (Almeida et al. 1998), sendo encontrada nos estados da 3. Resultados BA, ES, GO, MG, SP e no Distrito Federal. É uma planta Dos 30 indivíduos do grupo controle apenas um indivíduo hermafrodita de hábito arbustivo com altura variando entre 0,3 – médio morreu durante o período de estudo. Nos demais tratamen- 3,0 m. Suas folhas são alternas simples, suas inflorescências são tos só ocorreram mortes nos indivíduos com 100 % de poda, sendo glomérulos de capítulos terminais, formando frutos tipo aquênios 5 pequenos, 7 médios e 7 grandes. Os indivíduos dos tratamentos com cerca de 2 – 3 cm de comprimento (Coile & Jones, 1981). Sua de poda que sobreviveram, independente do tratamento ou do floração ocorre de junho à outubro ou de dezembro à janeiro, porte, começaram a rebrotar ou produzir ramos novos entre 4 a 6 produzindo frutos de março à junho e ocasionalmente em outubro semanas após a poda. (Almeida et al. 1998). Com relação à produção de ramos novos os indivíduos dos A arnica é utilizada pela população como planta ornamental grupos controle dos portes médio e grande produziram em média ou para uso medicinal, em pomadas ou enfusões com álcool 0,94 (dp = 1,71) e 3,5 (dp = 6,9) ramos, respectivamente. Os (Almeida et al., 1998). Em estudos farmacológicos preliminares , indivíduos que sofreram poda de 50% dos seus ramos para estes Rizzo (1981) constatou um surpreendente poder antiflamatório tamanhos produziram em média 0,3 (dp = 0,67) e 6 (dp=10,37) de L. ericoides. Mais recentemente, encontrou-se que as substânci- ramos, respectivamente. Essas diferenças na produção de ramos as antiflamatórias estão presentes com mais intensidade nas folhas nos dois tratamentos não são estatisticamente significativas. Ape- e raízes, sendo que na raiz também encontra-se substâncias analgé- sar de poucos indivíduos terem sobrevivido ao tratamento 3 (100%), sicas (N. P. Lopes, dados não publicados). Porém, assim como a produção média de ramos dos indivíduos de portes médio e outras plantas medicinais, a arnica é utilizada pela população ainda grande foi bem maior que a do grupo controle, sendo de 5,5 (dp = de uma forma extrativista. Entre os raizeiros existe um amplo co- 3,53) ramos nos indivíduos médios e de 8,5 (dp = 0,7) ramos para nhecimento sobre a sua finalidade medicinal e de seu local de os indivíduos grandes. Essa diferença na produção de ramos é sig- ocorrência, porém não existe o mesmo consenso quanto à forma de nificativa para os indivíduos médios (U = 1,5; p = 0,024), mas não administração e a quantidade a ser administrada, além de não se é para os indivíduos grandes (U = 4,0; p =0,089). preocuparem com os danos causados pelas coletas na planta Os indivíduos pequenos dos tratamentos 2 e 3 produziram em (Rodrigues e Carvalho, 2001). média 2,3 (dp = 5,18) e 1,2 (dp = 1,78) ramos, respectivamente, Atualmente L. ericoides é uma espécie vulnerável, pois suas po- sendo que esta diferença não é significativa. pulações estão sendo dizimadas devido à sua exploração, destruição 4. Discussão do habitat ou outras alterações ambientais (Sociedade Botânica do Nossos dados indicam que a uma poda severa nos indivíduos Brasil, 1992). Devido ao uso intensivo da espécie L. ericoides, torna- de arnica pode influenciar sua sobrevivência, pois mais de 60% dos se importante e urgente à obtenção de informações científicas sobre indivíduos do tratamento 3 morreram, enquanto a poda parcial seu comportamento em habitat natural e seus aspectos reprodutivos, mesmo reduzindo significativamente a biomassa do indivíduo não visando futuramente, o manejo racional da espécie evitando-se o seu o leva a morte. Resultado semelhante foi encontrado por Oba racionamento, além de fornecer subsídios para cultivos com fins (1994) avaliando o efeito da herbivoria simulada em Indigofera comerciais. Além disso, este conhecimento é necessário para que a spinosa, onde o autor pôde observar que os indivíduos que tiveram preservação da espécie seja garantida, pois a coleta de seus ramos e poda de 90% de suas folhas tiveram uma maior mortalidade que os folhas jovens feita pela população não permite a planta continuar indivíduos que sofreram níveis menores de poda. Em outros estu- seu metabolismo para a diferenciação em botões florais, e, dos com tratamentos de poda observa-se que os indivíduos que consequentemente, florescimento e frutificação, o que causa grandes sofrem podas parciais (até 50%) além deste dano não afetar signi- danos à perpetuação da espécies em seus locais de ocorrência. ficativamente sua sobrevivência, ocorre uma compensação da Este estudo tem como objetivo avaliar o impacto que as cole- biomassa perdida como uma maior produção de ramos quando tas feitas pela população causam na sobrevivência e na produção comparados com o grupo controle (Ernest, 2001). Segundo alguns de novos ramos em L. ericoides, através da aplicação de diferentes autores essa reposta após a poda depende de reservas armazenadas níveis de poda de ramos nos indivíduos desta espécie. na planta assim como da disponibilidade de nutrientes e água no 2. Material e Métodos solo (Heyden & Stock, 1996; Cruz et al., 2003). Nossos dados Este estudo foi realizado numa área (15o 57’ 36,5” S e 47o 57’ indicam que para L. ericoides não ocorrem esse crescimento com- 13,5” W) dentro da Fazenda Água Limpa (UnB), no período de pensatório, pois os indivíduos do tratamento 2, independente do fevereiro à junho de 2003. seu porte, não apresentaram uma produção significativamente maior Os indivíduos de arnica da área de estudo foram classificados que os indivíduos do tratamento controle. em 3 classes de tamanho: pequenos (30 – 60 cm), médios (60 – Diante disso, um dado que chama a atenção é a alta produção 120 cm) e grandes (> 120 cm). Para cada classe de tamanho foram de ramos novos dos indivíduos sobreviventes do tratamento 3. No realizados 3 tratamentos de poda: controle (1), 50% (2) e 100 % caso dos indivíduos de porte médio essa produção chegou a ser (3) de poda. Nos tratamentos com poda os ramos eram cortados cerca de cinco vezes maior que a produção do grupo controle para na sua base, sendo que para o tratamento 3 somente os ramos o mesmo porte. Esse crescimento “supercompesatório” é previsto foram cortados, preservando assim o eixo principal da planta. na literatura (Paige, 1999), porém não parece ser um padrão para Para o tratamento controle foram marcados aleatoriamente 30 a espécie e sim uma característica de determinados indivíduos de indivíduos, sendo 15 de porte médio e 15 de porte grande. Para os L. ericoides. demais tratamentos foram marcados 10 indivíduos de cada tama- Existem cerca de 118 espécies utilizadas medicinalmente pela nho. Somente para o primeiro estrato não foi possível realizar população na flora nativa do cerrado (Rodrigues e Carvalho, 2001). todos os tratamentos devido à escassez de indivíduos deste porte, Porém, a utilização destes recursos pela população ainda é essencial- sendo que para este grupo não temos um grupo controle. Todos os mente extrativista (Ribeiro et al., 1994) e sem uma preocupação com indivíduos foram podados em fevereiro de 2003. a conservação destes recursos vivos para uma utilização mais racio- Para os indivíduos do tratamento controle foi realizado um nal (Rodrigues e Carvalho, 2001). Desse modo, é de fundamental acompanhamento semanal do número de ramos vivos, com base na importância avaliarmos o impacto dessas coletas extrativistas em contagem destes. Para os demais tratamentos o acompanhamento populações naturais e desenvolvermos estudos que proporcionem era mensal, sendo que a cada visita ao campo além da contagem conhecimento para uma utilização mais racional destes recursos. dos ramos vivos era verificada a presença de rebrotas nos indivídu- os do tratamento 3.

426 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

5. Referências Bibliográficas como um todo (Barbosa & Mantovani, 2000). Assim, a necessidade de se recuperar o meio ambiente vem ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, sendo a cada dia uma discussão pertinente pela real situação na F. B. (1998). Cerrado: espécies vegetais úteis. Embrapa – CPAC, qual se encontram os ecossistemas brasileiros. Planaltina – DF, 464 p. Embora existam muitas metodologias que instrumentalizam o COILE, N. C. & JONES, S. B. (1981). Lychnophora (Compositae: objetivo de restaurar um ecossistema florestal ou subtropical, uma Vernoniaceae), a genus endemic to the brazilian planalto. Brittonia, abordagem científica desta questão implica conhecer a complexi- 33 (4): 528-542. dade dos fenômenos que se desenvolvem nesta floresta e compre- CRUZ, A; PEREZ, B.; MORENO, J. M. (2003). Plant stored ender os processos definidores a estruturação e manutenção destes reserves do not drive resprouting of the lignotuberous shrub Erica ecossistemas no tempo (Rodrigues & Gandolfi, 1998). australis. New Phytologist, 157 (2): 251-261. Uma das alternativas ao plantio de mudas de espécies florestais EITEN, G. (1978). Delimitation of the cerrado concept. Vegetatio, é o uso de semeadura direta, esse modelo visa aumentar as popula- 36: 169-178. ções de algumas espécies de alta densidade, que em função da degradação, tiveram suas populações muito reduzidas na área, po- ERNEST, K. A. & FRY, R. K. (2001). Effects of simulated rodent dendo estar condicionadas ao isolamento reprodutivo (Rodrigues herbivory on Carey’s balsamroot (Balsamorhiza careyana): & Gandolfi, 2000). compensatory leaf growth. Northwest-Science, 75 (3): 236-243. Em busca de estratégias que possibilitem a redução de custo HEYDEN, F. & STOCK, W. D. (1996). Regrowth of a semiarid dessa recuperação, está a necessidade de se estudar metodologias shrub following simulated browsing: the role of reserve carbon. que se fundamentem no manejo e indução dos processos ecológi- Functional-Ecology, 10 (5): 647-653. cos aproveitando ou incrementando a capacidade estocada de auto OBA, G. (1994). Responses of Indigofera spinosa to simulated recuperação dessas áreas (Rodrigues & Gandolfi, 2000) herbivory in a semidesert of North – West Kenya. Acta Oecologica, Desse modo, o estudo de novas metodologias, se torna uma 15 (2) 105-117. questão cada vez mais necessária nos programas de recuperação, o PAIGE, K. N. (1999). Regrowth following ungulate herbivory in presente projeto tem por finalidade estudar uma metodologia que Ipomopsis aggregata: geographic evidence for overcompensation. possibilite reduzir o custo de recuperação de áreas, baseando-se Oecologia, 118: 316-323. nos processos ecológicos e tendo como estratégia o uso do banco de sementes para tal fim. RIBEIRO, J. F.; SILVA, J. A. da; FONSECA, C. E. I.; ALMEIDA, 2. Métodos S. P.; PROENÇA, C. B.; SILVA, J. A.; SANO, S. M. (1994). A área do experimento localiza-se na Fazenda Paineiras, noroeste Espécies arbóreas de usos múltiplos na Região do Cerrado. In: do Estado de São Paulo no município de Sales Oliveira, nas coordena- CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS das 21º 46’ 12” S e 48º 14’ 24” W, a Fazenda Paineiras é uma propri- AGROFLORESTAIS. Anais. Embrapa – CNPF/CPAF, Porto Ve- edade particular, pertencente a Cia. Açucareira Vale do Rosário. lho, v. 1, p. 335-356. O clima da região é classificado como tropical chuvoso, tipo RIZZO, J. A. (1981). Bando de dados – Plantas Medicinais e Aw de acordo com a classificação climática de Koeppen, onde as Tóxicas. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 32, chuvas ocorrem no período de outubro a março, a temperatura Terezina. Anais. Terezina, SBB, p. 319-322. média do mês mais frio é superior a 18 °C e a do mês mais quente, RODRIGUES, V. E. G. e CARVALHO, D. A. (2001). Levan- superior a 22 °C. tamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio do O solo da área é caracterizado como Latossolo roxo distrófico cerrado na região do Alto Rio Grande – MG. Ciênc. Agrotec., com moderada textura argilosa até muito argilosa. 25(1): 102-123. O experimento foi instalado em fevereiro de 2003, em deline- SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL. (1992). Centuria amento em blocos casualizados (DBC), no esquema fatorial plantarum brasiliensium exstintionis minitata. Brasília, 167 p. (3x2x6x2) com três repetições. As sementes foram arranjadas em três grupos ecológicos (pioneiras, secundárias iniciais e tardias), divididas em três níveis (pioneiras, pioneiras e secundárias e secun- Avaliação da Semeadura a Lanço de Espécies dárias), e testadas puras e peletizadas com gel hidrofílico, cada Florestais Nativas para Recuperação de Áreas grupo com 10 diferentes espécies florestais, semeadas sob 3 condi- Degradadas (Três Condições de Substratos, Com e ções de substrato (1 – solo puro, 2 – solo + matéria orgânica, 3 – Sem Incorporação do Solo), Sales Oliveira – SP solo + matéria orgânica + adubo) e 2 condições pós-semeadura Denis Faquim Araki a & Ricardo Ribeiro Rodrigues b (com e sem incorporação da semente no solo). Nas parcelas que a mestrando em ecologia de agroecossistemas – Escola Superior de receberam tratamentos com matéria orgânica foi utilizada uma Agricultura “Luiz de Queiroz” /USP ([email protected]) média de 180 litros ou 121kg de esterco bovino curtido, o que b professor doutor orientador – Escola Superior de Agricultura “Luiz representa 72000 litros ou 48400kg por hectare. O adubo utiliza- de Queiroz” /USP do nos tratamentos foi o fosfato (superfosfato simples), na propor- ção de 2,5kg/parcela, elevando a concentração de fósforo no solo 1. Introdução para 100mg/dm3 ou 1000kg/ha. Cada parcela ocupou uma área de A expansão econômica mundial no século XX promoveu uma 25m2, totalizando 38 parcelas (36 tratamentos e 2 tratamentos intensa ocupação de áreas, causando com isso, grandes perturba- adicionais - testemunhas) por bloco. O experimento ocupou uma ções ao meio ambiente pela intensa fragmentação de biomas. No área total de 3670m2 e uma área útil de 2700m2. Brasil, a conseqüente fragmentação de paisagens por estas ativida- Os tratamentos foram divididos de acordo com os níveis dos des constitui uma das mais marcantes interferências ambientais grupos ecológicos das espécies escolhidas para a semeadura. Assim, causadas pelo homem. Este processo teve início com a coloniza- as parcelas que receberam tratamento com espécies pioneiras, se- ção, sendo intensificado neste último século. O uso e a ocupação meou-se 411 sementes, de secundarias 338 e de pioneiras e secunda- desordenada tal como tem ocorrido, em todo território brasileiro rias 749 sementes o que definiu neste último um banco de sementes tanto para exploração agrícola como para expansão de áreas urba- com densidade superior aos demais. As sementes foram semeadas a nas e industriais tem acarretado preocupações com o uso dos re- lanço em cada parcela e para incorporação no solo foi utilizado um cursos naturais por estas e pelas futuras gerações para a sociedade soquete de madeira penetrando a semente 0,5 a 1cm no solo.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 427 Cerrado Volume I

Para as espécies Myracrodruon urundeuva Fr. All., Jacaranda germinações das sementes variam nos períodos quando os dados cuspidifolia Mart., Cytharexyllum myrianthum Cham., Psidium são coletados, em função disso as conclusões apresentadas a seguir guajava L., Dilodendron bipinnatum Radkl., Ormosea arborea (Vell.) são parciais por ter havido somente duas avaliações até o momen- Harms, Zanthoxylum rhoifolium Lam., Anadenanthera falcata Benth. to. Vale ressaltar que este trabalho será acompanhado por um Spreg., Pterogyne nitens Tul., Cecropia pachystachya Trec., Solanum período de doze meses. Os resultados preliminares apontam que a erianthum D. Don foram semeadas 30 sementes de cada uma por germinação de sementes é superior quando incorporadas no solo. parcela de acordo com os tratamentos, para Acacia polyphylla DC. Embora a quantidade de sementes semeadas e a diversidade de 24, Genipa americana L. e Cedrela fissilis Vell. 36, Albizia hasslerii espécies germinadas estejam relativamente baixas, o número de (Chodat) Burr. 38, Platypodium elegans Vog. 39, Bauhinia forficata indivíduos de espécies pioneiras por hectare é significante em se Link 40, Croton floribundus Spreng. 42, Trema micrantha (L.) Blum. tratando de uma cobertura rápida da área a ser restaurada, basean- 48 e Casearia sylvestris Sw. 66. A densidade empregada neste experi- do-se em projetos de recuperação de áreas degradadas onde se mento foi definida, levando em consideração as características das usam 1000 a 1400 indivíduos pioneiros por hectare, representados espécies pioneiras e trabalhos sobre banco de sementes, pois ainda por uma ou duas espécies (Kageyama et al. 1992). Para avaliações não existe relato em literatura, sobre o número de sementes que futuras, o resultado esperado é de que o número de germinação deve ser empregado em estudos de revegetação por meio da seme- bem como a diversidade de espécies aumente em razão da dormência adura direta de espécies nativas de florestas tropicais. de algumas espécies semeadas. As avaliações da germinação e das características de crescimen- 5. Referências Bibliográficas to das espécies florestais estudadas no projeto de semeadura direta Barbosa, L. M. & Mantovani, W. Degradação Ambiental: em campo, foram realizadas em dois períodos, sendo aos 60 e 100 Conceituação e Bases para o repovoamento vegetal. In: Recupera- dias após a semeadura. Essa avaliação foi realizada amostrando ção de Áreas Degradadas da Serra do Mar e Formações Florestais Lito- todos os indivíduos germinados dentro de cada parcela, identifi- râneas, p. 33-40, 2000. cando-os e coletando dados sobre altura. Todos os indivíduos fo- Koeppen, W. Climatologia. México: Fundo de Cultura Econômica, ram identificados no campo, e aqueles que ainda não puderam ser 1948. identificados foram classificados como morfo - espécie ou identifi- cados somente em família. Kageyama, P.;Freixedas, V. M.; Geres, W. L. A.; DIAS, J. H.; As avaliações de emergência das plântulas foram analisadas BORGES, A. S. Consorcio de espécies nativas de diferentes grupos através do programa SAS (Littell et al., 1996). sucessionais em Teodoro Sampaio – SP. Revista do Instituto Florestal, 3. Resultados e Discussão São Paulo, v. 4, n. 2, p. 527-533, mar. 1992. De acordo com a análise estatística realizada, foi verificado Littell, R.C.; Milliken, G. A.; Stroup, W. W.; Wolfinger, R. D. efeito significativo no fator condição de solo. As duas avaliações SAS –System for mixed models. (SAS Institute Inc). Cary, NC, 633p. aos 60 e 100 dias após a semeadura mostraram que os tratamentos 1996. onde tiveram as sementes incorporadas no solo apresentam efici- Rodrigues, R. R. & Gandolfi, S. Restauração de Florestas Tropi- ência superior as não incorporadas. Os grupos ecológicos (pionei- cais: Subsídios para uma definição metodológica e indicadores de ra, pioneira e secundária e secundária), as sementes peletizadas ou avaliação e monitoramento. In: Recuperação de Áreas não, as condições de substratos e as interações (G x S x SU x C) não Degradadas.(eds). Dias, L.E., Mello, J. V. UFV, Viçosa, p. 204 – apresentaram significância na análise comparativa dos resultados. 215, 1998. Na primeira avaliação aos 60 dias após a semeadura, os maio- Rodrigues, R. R. & Gandolfi, S. Conceitos, Tendências e Ações res resultados de porcentagem de germinação foram obtidos nos Para Recuperação de Florestas Ciliares. In: Rodrigues, R.R, Lei- tratamentos em que as sementes foram incorporadas no solo. Nes- tão. Filho, H. F. (eds), Mata Ciliares (conservação e recuperação), sa primeira avaliação foram amostradas 230 plântulas nos 2700m2, edusp, p. 235 –247, 2000. uma média de 2,13 plântulas por parcela o que representa um total de 851,86 plântulas por hectare. Rodrigues, R. R. Uma reflexão conceitual, prática e econômica da Na segunda avaliação aos 100 dias após a semeadura, os maio- recuperação de áreas degradadas. In: Citricultura Atual, GCOMCI res resultados de porcentagem de germinação também foram obti- (Grupo de consultores em citrus),p. 15, 2000. dos nos tratamentos em que as sementes foram incorporadas no (Agência Financiadora: Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta- solo. Nessa segunda avaliação foram amostradas 273 plântulas em do de São Paulo – FAPESP – processo no 01/11065-9) 2700m2, uma média de 2,53 plântulas por parcela o que representa um total de 1011,11 plântulas por hectare, com um aumento A heterostilia reduz a autopolinização em Rourea significativo da taxa germinação de 15,75% em relação às avalia- induta, uma espécie arbustiva em cerrado no Brasil ções aos 60 dias. Nessa segunda avaliação os tratamentos onde as Central? sementes foram incorporadas no solo quando comparadas suas Eddie Lenza a; Joice Nunes Ferreira a & Fabiana de Gois Aquino c médias totais de germinação demonstram efetivamente que há efeito a Doutorandos em Ecologia Universidade de Brasília na incorporação ou não da semente no solo. ([email protected]); Foram semeadas nos 2700m2, cerca de 53064 sementes, per- c EMBRAPA/CERRADOS-DF tencentes a 20 espécies florestais diferentes, distribuídas em 17 famílias. Desse total de sementes, germinaram 0,51% ou 273 1.Introdução plântulas. Essas pertencem a 11 espécies distribuídas em 9 famílias, A heterostilia é um polimorfismo floral caracterizado pela se- de três diferentes grupos ecológicos: pioneira, secundária inicial e paração espacial de anteras e estigmas dentro da mesma flor e secundária tardia. As três espécies que apresentaram o maior nú- pelo posicionamento recíproco de estames e pistilos entre distintas mero de plântulas nos 2700m2, foram: Platypodium elegans (104), formas florais (Barrett et al., 2000). A distilia é a forma mais co- Jacaranda cuspidifolia (99) e Pterogyne nitens (56) representando mum de heterostilia (Ganders, 1979), sendo caracterizada por 94,87% do total da amostra com alturas médias de 7,01, 6,66 e populações com indivíduos brevistilados (flores com estilete cur- 7,24cm respectivamente. O restante das espécies apresentou me- to) e longistilados (flores com estilete longo). nos que 6 plântulas, representando 5,13% do total amostrado. A heterostilia é interpretada como um mecanismo que reduz a 4. Conclusões geitonogamia (polinização entre flores de um mesmo indivíduo), Por se tratar de semeadura com diversidade de espécies, as interferência sexual e desperdício de pólen em plantas zoófilas

428 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

(Webb & Lloyd, 1986), além de promover a transferência mais facultativa, na qual ocorre polinização cruzada na presença de precisa de pólen entre formas florais ou polinização dissortativa vetores de pólen, mas autopolinização pode ocorrer na ausência (Barrett, 2002). destes. Este fenômeno foi corroborado pelas análises do sistema Espécies heterostílicas muito freqüentemente apresentam in- reprodutivo nas quais foi observada igualdade significativa na pro- compatibilidade entre flores de um mesmo indivíduo e entre for- dução de frutos entre controle e autopolinização espontânea, 2 mas florais semelhantes (Ganders, 1979; Barrett & Cruzan, 1994). tanto em flores brevistilas (c 1 = 0,0696; p = 0,7918) quanto 2 O dimorfismo floral, associado a mecanismos de longistilas (c 1 = 0,7270; p = 0,3939). Fica assim caracterizada autoincompatibilidade potencializariam os níveis de polinização xenogamia facultativa na população estudada. Não houve forma- cruzada entre formas florais em espécies heterostílicas ção de frutos por apomixia. (Charlesworth, 1979). A floração na população de R. induta foi do tipo “Big Bang” Espécies da família Connaraceae possuem diferentes graus de (Gentry, 1974), com pico de uma semana, durante o qual foi ob- heterostilia (Ganders, 1979), polimorfismo registrado para vários servado grande número de flores nos indivíduos e alta sincronia gêneros de conaráceas africanas, incluindo Rourea (Lemmens, 1989). temporal entre indivíduos brevistilados e longistilados. Este trabalho teve como objetivo analisar aspectos reprodutivos As flores de R. induta foram visitadas exclusivamente por insetos de uma população de Rourea induta, uma espécie heterostílica dos grupos de abelhas (10 spp), moscas (8 spp) borboletas (4 spp) e ocorrente em cerrado, testando a hipótese de que o dimorfismo vespas (4 spp). O grupo de visitantes florais mais representativo foi o floral seria responsável por aumentar os níveis de polinização cru- de abelhas sociais, tanto em número de espécies (35%) quanto de zada e dissortativa em uma população desta espécie. indivíduos (84%), com destaque para Scaptotrigona postica (44 indi- 2.Métodos víduos), Paratrigona lineata (21 Indivíduos), Apis mellifera (16 Indiví- A biologia reprodutiva de uma população de R. induta foi duos) e Trigona spinipes (15 Indivíduos). Este grupo de visitantes estudada em um cerrado sentido restrito da Reserva Ecológica do mostrou comportamento similar, visitando diferentes flores de uma IBGE, Distrito Federal, Brasil (15º55’06”-15º57’57”S e 47º51’22”- mesma inflorescência e em seguida, com vôos curtos, alcançando 47º54’07”W). Os estudos foram desenvolvidos entre setembro de outra inflorescência da mesma planta e repetindo este comporta- 1998 e março de 2001, abordando os seguintes aspectos: mento. As abelhas colocavam a probóscide no interior das flores 1)morfologia floral para 10 flores por indivíduo em 12 plantas procurando néctar ou coletando pólen diretamente das anteras, to- da população; cando os verticilos reprodutivos com diferentes partes do corpo. 2)comparação do comprimento dos verticilos reprodutivos O pequeno tamanho e a morfologia pouco especializada das entre flores de quatro indivíduos brevistilados e quatro longistilados; flores de R. induta facilitam o acesso aos recursos florais (pólen e 3)determinação da taxa pólen-óvulo para quatro flores néctar) pelos visitantes e permitem que estes toquem tanto as super- brevistilas e quatro longistilas de diferentes indivíduos; fícies estigmáticas quanto as anteras com diferentes partes do corpo, 4)caracterização da fenologia reprodutiva através de censos durante uma mesma visita às flores. Por outro lado, o grande número semanais em 39 indivíduos da população durante o período de de flores por indivíduo durante o pico de floração da população setembro de 2000 e março de 2001; induz à permanência dos visitantes em um mesmo indivíduo por um 5)determinação dos visitantes florais e caracterização do com- longo período de tempo e faz com que estes visitem inúmeras flores portamento de visita; em uma mesma planta. Conseqüentemente há redução no movi- 6)análise do sistema reprodutivo através de três tratamentos: mento dos visitantes florais entre indivíduos da população. Os fenô- a. controle (197 flores brevistilas e 229 longistilas) - botões florais menos descritos acima reduzem os níveis de xenogamia e elevam os marcados e flores deixadas expostas aos agentes polinizadores; b. níveis de autogamia e geitonogamia em espécies autocompatíveis autopolinização espontânea (88 flores brevistilas e 56 longistilas) - (De Jong et al. 1993; Harder & Barrett 1995) como R. induta. botões protegidos com sacos de organza e assim mantidos após a 4. Conclusões antese; c. apomixia (60 flores brevistilas e 15 longistilas) - botões Apesar da distilia evidente devem ocorrer elevados níveis de em pré-antese emasculados e isolados com sacos de organza. autogamia e geitonogamia na população de R. induta estudada A comparação do comprimento dos verticilos reprodutivos devido a associação de diferentes mecanismos como: a. morfologia entre as duas formas florais foi feita através de Análise de Variância pouco especializada das flores b. pequena distância entre os verticilos (ANOVA) dos dados ranqueados para dois fatores, forma floral reprodutivos em uma mesma flor; c. comportamento dos princi- (brevistila e longistila) e tipo de verticilo (estame grande, estame pais visitantes florais, d. ausência de reciprocidade completa entre pequeno e pistilo). Nas análises de sistema reprodutivo a produção formas florais. Adicionalmente, a produção de frutos por de frutos entre os tratamentos foi comparada aplicando-se o teste autopolinização é garantida pela ausência de mecanismos de exato de Fisher para aproximação de c2. Foi adotado o nível de autoincompatibilidade nas duas formas florais da espécie. significância de 5%. 5. Referências Bibliográficas 3. Resultados e Discussão Barrett, S. C. H. (2002). The evolution of plant sexual diversity. As flores de R. induta são planas, com morfologia pouco espe- Nature Reviews Genetics 3:237-284. cializada, medem ca. de 11 mm de diâmetro e possuem cinco Barrett, S. C. H. & Cruzan, M. B. (1994). Incompatibility in pistilos e dez estames (cinco grandes e cinco pequenos). Foi detec- heterostylous plants. In: Genetic control of self-incompatibility tada distilia na espécie, com flores brevistilas apresentando meno- and reproductive development in flowering plants (E. G. Williams, res comprimentos de pistilo e maiores comprimentos de estames A. E. Clarke & R. B. Knox,. eds.). Kluwer Academic Publishers, grandes e pequenos, quando comparadas às flores longistilas, sem- Dordrecht, p. 189-219. pre com p < 0,0001. Foi encontrada reciprocidade do gineceu e androceu, quanto ao comprimento dos pistilos e estames entre as Barrett, S. C. H.; Jesson, L. K. & Baker, A. M. (2000). The evolution duas formas florais, apenas entre os pistilos das flores longistilas e and function of stylar polymorphisms in flowering plants. Annals of os estames grandes das flores brevistilas (p = 0,4229). Dessa forma, Botany 85 S:253-265. a distilia em R. induta pode ser considerada imperfeita, caracterís- Charlesworth, D. & Charlesworth, B. (1979). A model for the tica comum em algumas espécies distílicas (Lloyd & Web, 1992). evolution of distyly. The American Naturalist 114(4):467-498. A taxa pólen-óvulo foi 1050 ± 296 para flores brevistilas e Cruden, R. W. (1977). Pollen-ovule ratios: A conservative indicator 1360 ± 500 para flores longistilas. Segundo Cruden (1977), estes of breeding systems in flowering plants. Evolution 31:32-46. valores estão entre aqueles que caracterizam espécies com xenogamia De Jong, T. J.; Waser, N. M. & Klinkhamer, P. G. L. (1993).

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 429 Cerrado Volume I

Geitonogamy the neglected side of selfing. Trends in Ecology and Mueller-Dombois & Ellenberg (1974), sendo que, frequência ab- Evolution 8:321-325. soluta é calculada dividindo-se o número de ocorrência da espécie Ganders, F. R. (1979). The biology of heterostyly. New Zealand pelo número de amostras, e freqüência relativa é o valor percentual Journal of Botany 17:607-635. obtido dividindo-se o número de ocorrência da espécie pelo núme- ro total de ocorrência de todas as espécies. Gentry, A. H. (1974). Flowering phenology and diversity in tropi- 3. Resultados e Discussão cal Bignoniaceae. Biotropica 6(1):64-68. No total, foram coletadas, pelo método das parcelas, 30 espé- Harder, L. D. & Barrett, S. C. H. (1995). Mating cost of large cies diferentes pertencentes a 17 famílias. Pelo método dos pontos, floral displays in hermaphrodite plants. Nature 373:512-515. foram coletadas, 23 espécies pertencentes a 12 famílias. Lemmens, R. H. M. J. (1989). Heterostyly. In : The Connaraceae: As famílias mais representativas em ambos os métodos foram a taxonomic study with emphasis on Africa (C. C. H. Jongkind & Poaceae, seguida de Cyperaceae e Asteraceae, com as seguintes R. H. M. J. Lemmens, eds.).p 56-72. espécies coletadas: Juncus microcephalus Kunth (Juncaceae); Lloyd, D. G. & Webb, C. J. (1992). The Evolution of heterostyly. Rhynchospora marisculus, Cyperus haspan L., Cyperus aggregatus In: Evolution and fuction of heterostyly (S. C. H Barrett ed.). (Willd.) Endl., Cyperus pohlii (Nees) Steud., Bulbostylis vestita Spring Verlag, Berlin, p. 151-178. (Kunth) C.B.Clarke, Tristachya leiostachya Nees. (Cyperaceae); Andropogon bicornis, Rhynchelytrum repens (Willd.) C. E. Hubb., Webb, C. J. & D. G. Lloyd (1986). The avoidance of interference Loudetiopsis chrysothrix (Nees) Conert, Panicum cyanescens Nees ex between the presentation of pollen and stigmas in angiosperms. Trin., Trachypogon vestitus Andersson, Axonopus chrysoblepharis (Lag.) New Zealand Journal of Botany 24:163-178. Chase, Axonopus suffultus (Trin.) Parodi, Sporobolus indicus (L.) R.Br., Melinis minutiflora P. Beauv., Digitaria sp. (Poaceae); Sida Comparação entre os métodos de parcelas e de glaziovii K. Schum. In Mart. (Malvaceae); Hyptis caespitosa St. Hil. pontos para avaliar a composição específica do ex Benth. (Lamiaceae); Byrsonima intermedia A. Juss. estrato herbáceo, no cerrado de Itirapina, SP (Malpighiaceae); Xyris seubertii Alb. Nilss. (Xyridaceae); Jacaranda Eduardo Forestoa , Mariana Fantinatib & Vânia Pivelloa decurrens Cham. (Bignoniaceae); Syagrus petraea (Mart). Becc. a Dept. Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo (Arecaceae); Croton glandulosus L. (Euphorbiaceae); Mikania ([email protected]) cordifolia (L. f.) Willd, Baccharis dracunculifolia DC., Bidens gardneri b Dept. Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo Baker, Achyrocline satureioides (Lam.) DC., Bacharis trinervis, Bacharis sp. 3 (Asteraceae); Microlicia elegans Naudin (Melastomataceae); 1. Introdução Borreria sp. (Rubiaceae); Colycolpus sp. (Myrtaceae); Chamaechrista Para a realização do levantamento florístico do estrato herbáceo, desvauxii (Collad.) Killip (Fabaceae); Mayaca fluviatilis Aublet são usados vários métodos: de parcelas, pontos, ponto quadrante (Mayacaceae); Forsteronia glabrescens, Oxypetalum balansae centrado, interceptação linear, dentre outros (Moore & Chapman 1986). (Apocynaceae); Paepalanthus sp. (Eriocaulaceae). No Brasil, o método de parcelas vem sendo muito utilizado, Muitas das famílias encontradas são típicas de ambientes úmi- para a análise desse estrato. Esse método consiste na demarcação dos, como as espécies da família Cyperaceae (Cronquist, 1981). As de áreas de igual tamanho, nas quais são amostrados todos os Xyridaceae também ocorrem nestes ambientes e algumas espécies indivíduos do estrato a ser estudado (Matteucci & Colma 1982). dessa família são aquáticas (Cronquist 1981; Kubitzki 1998). As O método dos pontos foi desenvolvido para o estudo de espé- espécies de Mayacaceae ocorrem em águas rasas ou ambientes cies herbáceas e é de aplicação mais fácil que o de parcelas. Ele muito encharcados (Cronquist 1981) e existem muitas representa a máxima redução das parcelas, para um ponto. Para sua Melastomataceae que vivem em campos brejosos (Joly 1991). aplicação, uma vara de metal é lançada verticalmente na vegetação, Mantovani (1987) fez um levantamento florístico do estrato anotando-se a altura, o número e as espécies de plantas que a herbáceo-subarbustivo em campo cerrado de Itirapina e Mogi- tocam (Levy & Madden apud Mantovani & Martins 1990). Guaçu. Nesse trabalho, ele também encontrou como família mais A proposta desse trabalho consiste em comparar a eficiência representativa Poaceae, seguida de Asteraceae. A família Fabaceae dos métodos de pontos e de parcelas, para amostrar a vegetação também foi muito bem representada em seu trabalho. Já Cyperaceae herbácea, em estudos fitossociológicos. não apareceu como uma das principais famílias e isso pode ter 2. Métodos ocorrido devido ao estudo de Mantovani ter sido feito em ambien- A área utilizada para o estudo é um campo limpo de cerrado, te seco e não em ambiente úmido, como é o caso desse estudo. caracterizado como apresentando cobertura herbácea e graminóide, Em levantamento das espécies mais comuns encontradas nos sem árvores (Rizzini 1979), sujeito a inundação periódica, locali- cerrados do estado de São Paulo (SMA 1997), Asteraceae apresen- zado na Estação Ecológica de Itirapina, ao redor de uma lagoa, a tou o maior número de espécies dentre as herbáceas, seguida por lagoa Nova. A coleta de dados foi realizada em quatro datas no ano Convolvulaceae e Poaceae. Nessa lista, Cyperaceae apresenta ape- de 2002 (fevereiro, março, abril e setembro), da seguinte forma: nas 3 espécies, sendo que, no presente trabalho foram encontradas 1) Por meio de 10 parcelas de 1x1 m, equidistantes, ao longo 6 espécies, ressaltando-se novamente o fato deste estudo ter sido de 4 transectos, de 60 m cada um, nos sentidos norte, sul, leste e feito em ambiente úmido. oeste, percorrendo um gradiente de umidade, partindo de um pon- A análise dos dados revela que o método das parcelas conse- to alagado até a extremidade seca e totalizando 40 parcelas. Todas guiu amostrar um maior número de espécies do que o método dos as espécies que ocorrem são identificadas, ou diretamente no cam- pontos, em todas as datas e em todos os transectos. po, ou posteriormente, no laboratório. O transecto do sentido norte é o que apresentou menor rique- 2) Pelo método de pontos, lançando-se a vareta graduada ao za e o mês de março foi a época que apresentou uma maior riqueza, longo dos mesmos 4 transectos, com distância de 1m entre os segundo dados obtidos de ambos os métodos. pontos, em um número total de 240 pontos. Apesar do grande número de espécies amostradas, apenas cin- Todo material foi coletado segundo os métodos usuais em co delas (Andropogon bicornis, Loudetiopsis chrisotrix, Rhynchelytrum florística e depositado em herbário para ser utilizado como mate- repens, Axonopus chrysoblepharis e Rhynchospora marisculus) foram rial de referência. coletadas pelos dois métodos em todas os sentidos e também são as Foram calculadas as freqüências absolutas e relativas das espé- espécies mais abundantes no local de estudo, portanto, as análises cies coletadas por ambos os métodos, seguindo os parâmetros de foram centradas nessas cinco espécies.

430 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

A partir do cálculo das frequências absolutas e relativas dessas tencialmente aptas para a recuperação de áreas degradadas e pro- cinco espécies, observou-se que os valores de freqüência absoluta gramas de conservação (Monteiro & Ramos, 1997). Assim, a foram bem maiores para o método das parcelas. Quanto à freqüên- descrição dos mecanismos que regulam a germinação das sementes cia relativa, os valores foram parecidos, utilizando-se os dois méto- de espécies nativas se torna essencial para programas de reabilita- dos de amostragem. Só para Rhynchospora marisculus é que houve ção de habitats, uma vez que a germinação constitui um dos pon- bastante diferença, sendo a freqüência relativa bem maior no mé- tos mais críticos no ciclo de vida das plantas. Este processo é todo dos pontos. fortemente influenciado por fatores bióticos, intrínsecos a própria Esses resultados demonstram que cada parcela de 1x1m é ca- semente, assim como por fatores abióticos, como luz, temperatura paz de amostrar um número maior de espécies do que 6 pontos e umidade (Popinigis 1977, Baskin & Baskin 1998). (uma vez que o número total de pontos foi 6 vezes superior ao Dentre as espécies promissoras para programas de restauração número total de parcelas). Porém, esse efeito do método de ambiental, Machaerium opacum Vog. (Fabaceae-Faboideae) se des- amostragem é compensado quando se calcula a freqüência relativa, taca, uma vez que consegue se estabelecer em ambientes perturba- já que os valores são obtidos a partir do próprio método. dos, com baixa disponibilidade de nutrientes no solo. Esta árvore, 4. Conclusões conhecida popularmente como jacarandá ou jacarandá-do-cerra- Diante dos resultados obtidos, verifica-se que o método das do, é bastante freqüente nas formações de mata seca do cerrado parcelas, com o número de parcelas aqui utilizado, foi mais eficien- mineiro (Lorenzi 1998). M. opacucum produz grande quantidade te para amostrar a riqueza e a composição específica do estrato de frutos alados (sâmaras), com pelo menos dois tegumentos pro- herbáceo que compõem o campo limpo de Itirapina, comparado tetores que envolvem a semente. Estes tegumentos, aparentemen- ao método dos pontos e considerando-se uma proporção entre te, podem comprometer a entrada de água na semente, dificultan- pontos e parcelas de 6:1. do a hidratação do embrião e conseqüente germinação das semen- Assim, conclui-se que, para que o método de pontos atinja a tes (Baskin & Baskin 1998). Outro fator importante para a so- mesma eficiência que o método de parcelas na amostragem do brevivência/ germinação das sementes do jacarandá-do-cerrado está estrato herbáceo, é necessário um número de pontos superior a seis associado a alta taxa de predação por insetos (Coleoptera: vezes o número de parcelas. Bruchidae:) (observação pessoal). De fato, em muitas espécies 5. Referências Bibliográficas vegetais, a predação de frutos pode levar a mortalidade das semen- Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of flowering tes devido à danificação do embrião ou através da abertura de plants.. V II. New York, Columbia University Press. 1262p. “janelas de vulnerabilidade” que facilitam a ação de agentes patogênicos como fungos e bactérias (Folgarait et al. 1995). Por Joly, A. B. 1991. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. V. 4. 10° outro lado, o rompimento do tegumento pelos predadores, tam- edição. São Paulo, Editora Nacional. 777p. bém pode facilitar a embebição das sementes, auxiliando o proces- Kubitzki, K. 1998. The families and genera of vascular plants. V. 4. so germinativo. Assim sendo, este trabalho teve como objetivo Verlag, Berlin, Heidelberg and New York, Springer. 511p. avaliar os efeitos da escarificação do fruto e da predação na germi- Mantovani, W. & F.R. Martins. 1990. O método dos pontos. Acta nação de sementes de M. opacum, procurando fornecer informa- bot. bras., 4 (2): 95-122. ções básicas da germinação in natura da espécie para a produção de Mantovani, W. 1987. Análise florística do estrato herbáceo-arbustivo mudas para programas de recomposição de áreas degradadas. do cerrado da Reserva de Mogi-Guaçu e em Itirapina. Universidade 2. Materiais e Métodos Estadual de Campinas, Campinas. Tese de Doutorado. Os frutos de M. opacum utilizados neste experimento foram coletados na segunda quinzena de maio de 2003, em dez matrizes Matteucci, S. D. & A. Colma. 1982. Metodologia para el estudio de arbóreas localizadas na Área de Preservação da COPASA, Municí- la vegetacion. O.E.A., Washington. 168p. pio de Juramento, norte do Estado de Minas Gerais. A reserva Moore, P. D. & S. B. Chapman. 1986. Methods in plant ecology. situa-se a aproximadamente 39 km da cidade de Montes Claros 2nd. ed. Osney Mead, Oxford. 589p. (16°46’20” S e 43°39’56” W), e possui uma área de aproximada- Mueller-Dombois, D. & Ellenber, H. 1974. Aims and methods of mente 3.100 ha. Esta área está inserida entre os Domínios do vegetation ecology. John Wiley, New York. Cerrado e da Caatinga, apresentando como principais fisionomias Rizzini, C. T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos socio- a mata seca (Floresta Estacional Decidual) e o cerrado sentido lógicos e florísticos. V. 2. São Paulo, Editora da Universidade de São restrito (Nunes et al. 2002). Paulo. 374p. Os frutos coletados foram levados para o Laboratório de Eco- logia da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), SMA- Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 1997. onde foram triados e separados em: frutos inteiros (com duas cas- Cerrado: bases para conservação e uso sustentável das áreas de cerrado do cas), frutos inteiros predados, frutos com uma casca e sementes Estado de São Paulo. São Paulo, SMA. Série PROBIO/SP. nuas. Os efeitos da escarificação e da predação na germinação Instituição Financiadora (CNPq) destas sementes foram avaliados através de seis tratamentos: (1) sementes nuas, (2) sementes nuas tratadas com fungicida Efeitos da espessura do tegumento na germinação (Micostatin 1: 1000ml), (3) frutos predados, (4) frutos com uma de sementes de Machaerium Opacum (fabaceae: casca, (5) frutos inteiros e (6) frutos inteiros tratados com fungicida faboideae) (Micostatin 1: 1000ml). Neste teste foi utilizado um delineamen- Elizângela Almeida Rochaa; Danielle de Lima Bragaa; Anne Priscila to experimental casualizado, com dez repetições e vinte sementes Dias Gonzagaa; Yule Roberta Ferreira Nunesb; Marcílio Fagundesb; ou frutos em cada repetição As sementes ou frutos foram acondi- Giovana Rodrigues da Luza & Carlos Henrique Pires Magalhãesa cionados em caixa gerbox, com espuma de 1,0 cm de espessura sob aGraduação em Biologia e bDepartamento de Biologia Geral papel filtro, embebidos com 20 ml de água destilada. Os experi- Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES mentos foram conduzidos em germinador com temperaturas e luz ([email protected]) alternadas (30°C luz/12 horas: 20°C escuro/12 horas). A taxa de germinação foi avaliada diariamente, sendo consideradas sementes 1. Introdução germinadas aquelas cujas radículas encontravam-se expostas para A caracterização do ciclo de vida das árvores nativas é de fun- fora do tegumento. Os efeitos dos diferentes tratamentos na ger- damental importância, uma vez que várias destas espécies são po- minação das sementes foram avaliados através de ANOVA para

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 431 Cerrado Volume I medidas repetidas, sendo que a porcentagem de germinação foi 4. Bibliografia transformada para a função arcoseno (Zar 1996). Baskin, C. C.; Baskin, J. M. (1998). Seeds: ecology, biogegraphy, and 3. Resultados e discussão evolution of dormancy and germination. Academic Press. London. Os diferentes tratamentos (F = 48,968; p< 0,001; n = 55) 666p. afetaram a germinação das sementes de M. opacum. Além disto, a Cruz, E. D.; Martins, F. O.; Carvalho, J. E. U. (2001). Biometria porcentagem de germinação também variou entre os dias de per- de Frutos e Sementes e Germinação de sementes de Jatobá - Curuba manência no germinador (F = 58,751; p< 0,001, n = 55). As (Hymenaea intermédia Ducke, Leguminosae- Caesalpinioideae). sementes nuas tratadas com fungicida (x = 0,620 ± 0,091 DP) Revista Brasileira de Botânica 24(2): 161-165. seguidas pelas sementes nuas (x = 0,500 ± 0,078 DP), apresenta- ram maiores porcentagens de germinação. Este fato indica que o Folgarait, P. J.; Marquis, R. J.; Ingvarsson, P.; Braker, H. E.; Arguedas, tegumento do fruto interfere na germinação das sementes, prova- M. (1995) Patterns of Attack by Insect Herbivores and a Fungus velmente impedindo ou retardando a entrada de água na semente. on Sapling in a Tropical Tree Plantation. Environmental Entomology Além disto, nestas condições, as sementes apresentaram maior ve- 24(6): 1487-1494. locidade de germinação, com pico entre o quinto e o sexto de Furlan, S. H.; Amaral, H. M.; Moraes, M. H. D.; Bueno, J. T.; incubação. Neste caso, também deve ser salientado que o uso do Mentem, J. O M. (1986). Efeito de quatro fungicidas na incidên- fungicida não afetou a germinação das sementes nuas, uma vez que cia de Colleototrichum gossypii e Fusarium spp. Em sementes de a taxa de germinação destes tratamentos não diferiram entre si. algodão (Gossipium hirsutum L.) e sua relação com o vigor das As sementes de frutos inteiros (x = 0,190 ± 0,070 DP) e de sementes. Revista Brasileira de Sementes 8(2) : 67-75. frutos com uma casca (x = 0,175 ± 0,086 DP) apresentaram por- Garcia, A.; Vieira, R. D. (1994). Germinação, armazenamento e centagens de germinação mais baixas do que as sementes que não tratamento fungicida de sementes de seringueira (Hevea brasiliensis possuíam a proteção do tegumento do fruto (sementes nuas). Muell. Arg.) Revista Brasileira de Sementes 16(2): 128-133. Entretanto, observou-se uma tendência das sementes dos frutos Gomes, V.; Fernandes, G. W. (2002). Germinação de Aquênios de que apresentavam apenas uma casca germinarem mais rápido do Baccharis dracunculifolia D. C. ( Asteraceae). Acta Botânica Brasílica que as sementes de frutos inteiros. Assim as sementes de frutos 16(4): 421-427. escarificados apresentaram pico de germinação no sexto dia, en- quanto que a maior porcentagem de germinação dos frutos inteiros Goulart, A. C. P. (1991). Eficiência do tratamento químico de ocorreu no oitavo dia. Este resultado indica que a retirada de uma sementes de soja no controle de Colletotrichum dematium var. única casca não influencia porcentagem de germinação total das truncata. Revista Brasileira de Sementes 13(1): 1-4. sementes, mas pode auxiliar a entrada de água na semente, acele- Nascimento, W. M.; Cicero, S. M. (1991a). Qualidade de semen- rando o processo germinativo. tes de ervilha tratada com fungicida. I: Qualidade sanitária, Revis- As menores porcentagens de germinação foram observadas nos ta Brasileira de Sementes 13(1): 5-12. tratamentos de frutos predados (x = 0,015 ± 0,034 DP) e de frutos Nascimento, W. M.; Cicero, S. M. (1991b). Qualidade de semen- inteiros tratados com fungicida (x = 0,060 ± 0,066 DP). Estes tes de ervilha tratada com fungicida. II: Qualidade fisiológica. Re- valores foram estatisticamente semelhantes, distinguindo-se vista Brasileira de Sementes 13(1): 13-19. marcadamente dos demais tratamentos. Deste modo, estes resul- tados indicam que a predação, não auxilia o processo germinativo Novembre, A. D. L. C.; Marcos-Filho, J. (1991). Tratamento com fungicida e conservação de sementes de feijão. Revista Brasileira de da semente, através da escarificação do tegumento do fruto. Ao contrário, a predação inviabiliza grande parte das sementes de M. Sementes 13(2): 105-113. opacum. Este dano provavelmente encontra-se associado a injúria Nunes, Y.R.F.; Fagundes, M.; Melo, G.A.; Castro, G.C.; Pacheco, direta provocada pelo bruchídeo ao embrião da semente ou indire- M.V.; Soares, M.P.; Mendonça, R.L; Santos, R.M. (2002). Germi- tamente, através da facilitação da entrada de patógenos na semen- nação de sementes das espécies arbóreas mais importantes da Área de te. Entretanto, deve ser salientado que algumas sementes predadas Reserva da Barragem do Rio Juramento. Relatório Técnico. germinaram normalmente, indicando que o papel destes predado- UNIMONTES, Montes Claros. 60p. res deve ser melhor estudado neste sistema. Por exemplo, o papel Pereira, l. A G.; Costa, N. P.; Almeida, A M. R.; França-neto, J. B.; da predação em função do número de sementes produzidas por Gilioli, J.; Henning, A. A. (1993). Tratamento de sementes de soja árvore deve ser avaliado quando se tratar do sucesso reprodutivo com fungicida e/ou antibiótico, sob condições de semeadura em de indivíduos que produzem número diferentes de frutos. solo com baixa disponibilidade hídrica. Revista Brasileira de Semen- Finalmente, deve ser discutido os efeitos do uso de produtos tes 15(2): 241-246. químicos controladores de fungos ou bactérias na germinação de Popinigis, F. (1997). Fisiologia da semente. AGIPLAN, Brasilia. 289p. sementes de espécies nativas (e.g. Furlan et al. 1986, Goulart 1991, Pereira et al. 1993, Von Pinho et al. 1995, Silveira et al. 2001). Silveira, A P.; Araujo, E. L.; Araujo, F. S. (2001). Influencia da Neste estudo, ao contrário do ocorrido com as sementes nuas, que assepsia na germinação de sementes de Auxemma Miers não foram afetadas pelo fungicida, as sementes de frutos intactos (Boraginaceae). 52° Congresso Nacional de Botânica e XXIV Reu- sofreram uma inibição da germinação por este controlador de nião Nordestina de Botânica. Resumos. Sociedade Botânica do Brasil microorganismos. Provavelmente este fato encontra-se relaciona- e Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. P. 41. do a componentes químicos do tegumento do fruto que podem Von Pinho, E. V. R.; Cavariani, C.; Alexandre, A. D.; Mentem, J. interagir com o fungicida, causando um aumento na A. M.; Morais, M. . D. (1995). Efeitos do tratamento fungicida impermeabilidade da casca à entrada de água. Deste modo, a sobre a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de milho (Zea utilização de fungicidas, principalmente visando a preservação da mays L.). Revista Brasileira de Sementes 17(1): 23-28. semente, tem sido muito discutida e reportada em vários trabalhos Zar, J. H. (1996). Biostatistical analysis. 3rd ed. Prentice-Hall, (veja Nascimento & Cícero 1991a e 1991b, Novembre & Marcos- New Jersey, USA. Filho 1991, Garcia & Vieira 1994), sugerindo que novos estudos que melhor caracterizem o papel destes antibióticos devem ser desenvolvidos, principalmente quando se trata de espécies nativas. (Apoio COPASA S. A. e FAPEMIG)

432 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Ocorrência e prevalência de Trypanosoma spp, em 98% em algumas espécies de peixes de água doce. A temperatura cascudos (Liposarcus anisitsi) da água, a sensibilidade da técnica de diagnóstico e a idade dos Elzir Amorim1, Emanuele Pomini & Fernando Paiva peixes são fatores que contribuem para esta variação. 1- Acadêmica de graduação, Universidade Federal de Mato Grosso do Os indivíduos parasitados (média = 23,8 cm ± 6,7 DP, n = 27) Sul (UFMS), Caixa Postal 549, Campo Grande-MS, CEP 79.070- foram significativamente menores que os não parasitados ( média = 900 - [email protected] 32,6 cm ± 7,1 DP, n = 11), de acordo com o teste t de Student ( t = 3,62, 1.Introdução gl = 36, p = 0,001). Neste estudo os peixes não puderam ser Atualmente estão descritas mais de 140 espécies de Trypanosoma classificados em faixas etárias, e a amostra continha espécimes de em peixes de água doce, classificadas pelas características tamanhos variados coletados ao acaso. Indivíduos jovens ou que morfométricas dos espécimes encontrados em esfregaços sangüíneos sofreram uma infecção primária provavelmente são mais susceptí- (Hoare, 1972). Segundo Woo (1994), além destas características, veis aos Trypanosoma que indivíduos adultos ou aqueles que sofre- a especificidade de hospedeiro e a presença/ausência de grânulos ram infecção secundária, uma vez que, sob condições experimen- nos Trypanosoma são importantes na identificação da espécie. Os tais, a maioria dos peixes que sobreviveram à infecção primária únicos vetores conhecidos de Trypanosoma em peixes são as san- desenvolveu resistência à re-infecção (Bienek et al., 2002). De acordo guessugas, porém pouco se conhece sobre suas relações parasita- com Jones et al. (2001), diversos são os mecanismos anti-parasitá- hospedeiro (Jones, 1991). rios que os peixes podem desenvolver, e a manifestação dos meca- São descritas flutuações sazonais na prevalência de Trypanosoma nismos de imunidade adaptativa lenta e limitada dos pecilotérmicos em várias espécies de peixes de água doce, naturalmente infectados, confere uma vantagem seletiva àqueles que possuem mecanismos supondo-se que a multiplicação e transmissão destes parasitas seja naturais de resistência a doenças. Esta resistência inata pode refle- maior em épocas quentes (Woo, 1994). A maioria dos Trypanosoma tir uma associação histórica entre a população de hospedeiros e sua de peixes não tem se mostrado patogênica a seus hospedeiros; fauna parasita, indicando uma coevolução entre o hospedeiro e os entretanto, algumas espécies podem provocar anemia, anorexia ou parasitas. Interações hospedeiro-parasita são freqüentemente com- morte em animais experimentalmente infectados (Woo, loc cit) . plexas e refletem diferenças comportamentais, fisiológicas e/ou Este estudo teve como objetivo verificar a ocorrência e estimar imunológicas entre os indivíduos. a prevalência de Trypanosoma spp. em cascudos (Liposarcus anisitsi), O valor médio de KN foi de 10,5 ± 1,5 mm; para NA encontra- relacionando o hematócrito (VG) e dados biométricos dos peixes mos valor médio 9,7 ± 1,8 mm. A maioria dos Trypanosoma de à presença ou ausência de infecção. peixes são longos e esguios. Algumas espécies, entretanto, apresen- 2. Metodologia tam formas relativamente curtas (T. mrigali, T. bengalensis). Para T. Foram examinados trinta e seis espécimes de cascudos burresoni (Jones & Woo, 1993) foram encontrados valores médios (Liposarcus anisitsi) capturados, por meio de tarrafa, nos tanques da para KN entre 13,0 ± 4,3 e 23,7 ± 2,5 e para NA entre 8,4 ± 1,0 e Estação de Piscicultura (EP) da Universidade Federal de Mato 13,6 ± 7,3. Os mesmos autores, em 1992, encontraram valores de Grosso do Sul (UFMS). A EP está localizada na Reserva Biológica 24,9 ± 1,9 para KN e 19.6 ± 1.9 para NA em peixes naturalmente da UFMS, no campus de Campo Grande, com dez tanques distri- infectados por T. catostomi. O tamanho dos indivíduos de uma buídos por uma área aproximada de 1,5 ha. A EP é aberta, não espécie de Trypanosoma pode variar significativamente, tanto numa havendo climatização, e a área ao redor da EP é coberta por mata. espécie de hospedeiro, como em espécies diferentes (Woo, 1994). A água dos tanques provém de uma nascente situada próximo à Para uma correta determinação da espécie, fatores como caracte- estação. rísticas em meio de cultura, padrões de desenvolvimento no vetor, Todos os peixes foram pesados em balança digital com preci- especificidade por um vetor e especificidade por uma espécie de são de decigramas, e medidos com auxílio de um ictiômetro. As peixe também devem ser considerados. amostras de sangue foram colhidas por punção cardíaca, utilizan- O índice que determina a posição média do núcleo foi de 0,9 do-se seringa do tipo insulina e agulha de comprimento variável, ± 0,2. Este valor mostra núcleo em posição central. A posição do conforme o tamanho dos peixes. O sangue colhido foi depositado núcleo é um dos parâmetros morfométricos para se definir a espé- em tubos de ensaio devidamente identificados contendo uma gota cie de Trypanosoma. Segundo Woo (1994), T. wangi e T. colisi de anticoagulante EDTA a 1%. apresentam núcleo anterior, T. anabasi e T. tandoni, núcleo em Para o diagnóstico de Trypanosoma foi utilizada a técnica do posição central e T. bengalensis e T. pancali, núcleo posterior. microhematócrito - [HTC], descrita por Woo (1969), com o 4. Conclusão processamento de dois tubos para cada amostra. Das amostras Espécies de Trypanosoma ocorrem amplamente em peixes, po- positivas para a presença de Trypanosoma, foram confeccionados rém a relação destes parasitas com seus hospedeiros continua sen- esfregaços sanguíneos, fixados em metanol e corados por Giemsa, do pouco estudada, assim como os mecanismos de imunidade que para caracterização morfométrica. Foram medidas as distâncias os peixes desenvolvem contra os Trypanosoma. A especificidade de cinetoplasto - núcleo (KN) e núcleo - extremidade anterior (NA). hospedeiro, o vetor e as características em meio de cultura deste O índice que determina a posição do núcleo foi calculado pela parasita são praticamente desconhecidos para espécies encontra- razão entre as duas medidas. Para a realização das medidas, os das em cascudos. O gênero é monofilético, porém estudos Trypanosoma foram inicialmente desenhados em papel com auxílio filogenéticos somente foram desenvolvidos com Trypanosoma de de microscópio com câmara clara. Posteriormente os desenhos mamíferos. foram digitalizados e as medidas foram feitas por meio de um Este trabalho visou a obtenção de dados preliminares relativos programa gráfico para trabalho com mapas (GPS Trackmaker). à prevalência de Trypanosoma spp. em peixes da família Loricariidae. 3. Resultados e Discussão Além disso, são apresentadas informações sobre características Os peixes examinados tinham em média 26,3 ± 8,09 cm de morfométricas dos parasitas, importantes na definição das espécies comprimento padrão e pesavam, em média, 403,3 ± 349,89 g. Os deste gênero. VGs médios foram de 26,8 ± 9,05. Trypanosoma spp infectavam 5. Referências Bibliográficas 78% dos peixes. Esta prevalência é superior aos valores encontra- BIENEK, D.R., PLOUFFE, D.A., WIEEGERTJES, G.F. AND BELOSEVIC, M. dos por Jones & Woo (1992), que descrevem prevalências entre 21 (2002). Immunization of goldfish with excretory/secretory e 66% para Catostomus commersoni no Canadá, e semelhantes às molecules of Trypanosoma danilewskyi confers protection against citadas por Woo (1994), onde os valores flutuaram entre 36 e infection. Dev. Comp. Immunol. 26: 649-657.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 433 Cerrado Volume I

HOARE, C. A. (1972). The Trypanosomes of Mammals: A zoological Pseudopaludicola mineira foi descrita por Lobo (1994), com monograph. Blackwell Scientific Publications, Oxford. p. 60-79. base em exemplares depositados no Museu de Zoologia de São JONES S.R.M., AND WOO, P.T.K. (1991). Development and infectivity Paulo, provenientes da Serra do Cipó, Minas Gerais. Entretanto, of Trypanosoma phaleri in leech and fish hosts. Can. J. Zool. 69: informações sobre a autoecologia desta espécie, são até o momen- 1522-1529. to, indisponíveis em literatura. O objetivo deste estudo foi relaci- onar o período de atividade e o turno de vocalização dos indivídu- JONES S.R.M., AND WOO, P.T.K. (1992). Vector specificity of os de P. mineira aos fatores ambientais (temperatura e umidade Trypanosoma catostomi and its infectivity to freshwater fishes. J. relativa do ar). Parasitology 78: 87-92. 2. Metodologia JONES S.R.M., AND WOO, P.T.K. (1993). Biology of Trypanosoma A Serra do Cipó está localizada na porção sul do Complexo do burresoni n. sp. from the american eel, Anguilla rostrata. J. Espinhaço e se estende a leste do rio São Francisco desde Ouro Parasitology 79: 542-547. Preto até o norte da Bahia. A cobertura vegetal da região varia com JONES S.R.M. (2001). The occurence and mechanisms of inate immunity a altitude, sendo encontradas matas ciliares ao longo das linhas de against parasites in fish. Dev. Comp. Immunol. 25: 841-852. drenagem e manchas de cerrado (GIULIETTI et al., 1987). Acima WOO P.T.K. (1969) The haematocrit centrifuge for the detection of de 1000 m de altitude predomina a vegetação campestre e rupícola trypanosomes in blood. Can J Zool. 47: 921-923. (campos rupestres). A área amostrada foi uma poça temporária em ambiente de cerrado, alterado pela prática agropecuária e turística, WOO P.T.K. (1994) Flagellate parasites of fish. In: Parasitic Protozoa. localizada nas proximidades do Parque Nacional da Serra do Cipó Ed. J.P.Kreier. 2nd edition. Academic Press, New York, USA, p.1-80. (aproximadamente 19°20’57”S, 43°37’12”W, 798m de altitude), no distrito da Serra do Cipó, município de Santana do Riacho, Período de atividade e turno de vocalização de Minas Gerais. Pseudopaludicola mineira lobo, 1994 (anura, Para determinar o período de atividade e o turno de vocalização leptodactylidae) em um ambiente temporário na foram realizados dois períodos de observação de 24 horas Serra do Cipó, MG. (desconsiderando-se o horário de verão) em novembro de 2002 e Emiliane G. Pereira1; Luciana B. Nascimento 2,3; Conrado A. B. janeiro de 2003. Nestas atividades foram estabelecidos, de acordo Galdino4 & Pedro C. F. Carneiro4. com o nível de água e com a ocorrência de indivíduos na poça, 1 Bolsista do PROBIC/PUC Minas ([email protected]); 2 pontos de amostragem localizados no entorno da poça, sendo qua- Museu de Ciências Naturais, Departamento de Ciências Biológicas e tro pontos para o mês de novembro de 2002 e dois pontos para o Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP)/PUC Minas; 3 Programa de mês de janeiro de 2003. Durante cinco minutos a cada intervalo de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), Museu Nacional, hora os respectivos pontos eram visitados e registrados dados refe- Universidade Federal do Rio de Janeiro; 4 Programa de Pós- rentes ao número de indivíduos presentes, número de indivíduos Graduação em Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcântara em atividade de vocalização, temperatura do ar (termômetro de Gomes, Universidade Estadual do Rio de Janeiro. precisão 0,5°C) e umidade relativa do ar (termo-higrômetro de leitura direta), totalizando 11 horas e 30 minutos de observação. 1. Introdução Para a análise dos resultados foram consideradas as freqüências As interações de fatores bióticos e abióticos determinam a relativas do total de indivíduos visualizados e de indivíduos em estrutura de comunidades de anuros em ambientes temporários atividade de canto, a média da temperatura e umidade relativa do (WILBUR, 1987). O tempo de permanência destes ambientes ar entre os dois dias de observação, a cada intervalo de hora. A depende de vários fatores como o padrão de chuvas, fatores edáficos freqüência relativa de indivíduos total (visualizados e± vocalizando) relacionados à taxa de drenagem de água no solo e a intensidade de e a freqüência relativa de indivíduos em atividade de canto foram evaporação, que podem variar, dentro de certos limites, de forma relacionadas com a temperatura e umidade relativa do ar através de imprevisível de um ano para outro (ANDRADE, 1995). Diaz- regressão múltipla (ZAR, 1999). Paniagua (1990) considera como fator limitante para o desenvolvi- Para satisfazer a premissa da normalidade, os dados de fre- mento de anfíbios neste ambiente, o tempo de persistência do qüência relativa foram transformados para a raiz quadrada do mesmo, podendo esta imprevisibilidade ser compensada pela flexi- arcoseno (ZAR, 1999). Os valores da umidade relativa do ar regis- bilidade de temporada reprodutiva e pela duração do estágio larval. trado a cada hora foram utilizados na análise da hora seguinte, por A maioria dos anuros tropicais é capaz de reproduzir ao longo se considerar que este fator tem efeito subseqüente na atividade do ano e a chuva parece ser o fator extrínseco primário controlan- dos anuros. do o tempo de atividade reprodutiva (DUELLMAN & TRUEB, 3. Resultados e Discussão 1986). Entretanto, outros fatores ambientais locais podem afetar a A atividade de P. mineira se estende ao longo de todo o dia, reprodução das espécies, tais como a umidade relativa do ar (CREE, sendo que entre 19:00 e 03:00h foi observado o maior número de 1989) e a temperatura (LICHT, 1969). Em várias espécies, o ta- indivíduos, com o pico de atividade ocorrendo entre 20:00 e 21:00 manho do período reprodutivo pode ser limitado pela regulação h. A partir de 03:00 h, foi observado um declínio no número de do clima e a variabilidade de sítios reprodutivos adequados, mas indivíduos, sendo o valor mais baixo registrado às 6:00 h. A partir fatores ecológicos, como a competição larval, abundância de pre- das 7:00 h ocorre um aumento no número de indivíduos ativos. dadores e fatores demográficos, assim como idade específica de O pico de atividade de P. mineira está relacionado principal- mortalidade do adulto, idade de primeira reprodução, tamanho de mente com as primeiras horas da noite, o que parece ser uma desova e freqüência de reprodução das fêmeas também devem ser adaptação contra dessecação (POMBAL, 1997). Cardoso & considerados (WELLS, 1977) O turno e a temporada de Haddad (1992) e Pombal (1997) indicaram que somente a família vocalização podem diminuir a interferência entre as espécies que se Leptodactylidae apresenta atividade diurna de vocalização. Estes reproduzem em um dado ambiente (POMBAL, 1997). Haddad mesmos autores relacionam esta característica com o fato desta (1991) refere pouca segregação entre os turnos de vocalização dos família vocalizar próxima ou junto ao solo, que devido a sua umi- anuros, sendo que a maioria das espécies está em atividade de dade, conceberia maior proteção contra desidratação. Possivel- vocalização nas primeiras horas da noite. No entanto, informações mente, a umidade é o principal fator determinando a atividade sobre turnos de atividade de anuros e da existência de mecanismos noturna nos anuros, entretanto, os efeitos da predação também de controle desta são escassos (CARDOSO & HADDAD, 1992). devem ser considerados, pois alguns leptodactilídeos com ativida-

434 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado de diurna são crípticos e provavelmente bem protegidos contra HADDAD, C.F.B. & CARDOSO, A.D., (1987). Taxonomia de predadores visualmente orientados (POMBAL, 1997). Um outro três espécies de Pseudopaludicola (Anura, Leptodactylidae). Pap. fator que poderia explicar a atividade de P. mineira seria seu ciclo Avulsos de Zoologia 36(24): 287-300. reprodutivo, uma vez que espécies com reprodução explosiva ten- HADDAD, C. F. B. (1991). Ecologia reprodutiva de uma comunida- dem a ter uma maior atividade diária comparando-se com espécies de de anfíbios anuros na Serra do Japi, sudeste do Brasil. Tese de de reprodução prolongada (WELLS, 1977). Machos de P. mineira Doutorado, Universidade Estadual de Campinas. vocalizam desde as horas mais quentes do dia até a noite. Haddad HATANO, F. H.; ROCHA, C. F. D.; VANS-SLUYS. M. (2002). e Cardoso (1987) registraram indivíduos de P .falcipes, P. mystacalis Environmental factors affecting calling activity of a tropical diurnal e P. saltica vocalizando em ambientes semelhantes ao encontrado frog (Hylodes phyllodes; Leptodactylidae). Jounal of Herpetology. para P. mineira, sendo que P. mystacalis vocaliza desde as horas mais 36(2): 314-318. quentes do dia até a noite. Myers e Donnelly (2001) registraram P. llanera em ambientes de altitude na Venezuela (1200 m), LICHT, L. E. (1969). Comparative breeding biology of the red- vocalizando somente durante o dia e em lugares rasos com vegeta- legged frog (Rana aurora aurora) and the western spotted frog (Rana ção aquática esparsa. pretiosa pretiosa) in southwestern british Colombia. Canadian Journal Os efeitos associados da temperatura e umidade relativa do ar of Zoology. 47: 505-509. não afetam a freqüência de indivíduos ativos ao longo do dia nem LOBO, F., (1994). Descripcion de una nueva especie de a atividade de vocalização (R²=0,178; F 2,19=2,058; p=0,155; n=22; Pseudopaludicola (Anura: Leptodactylidae), redescripcion de P.

R²=0,232; F 2,19=2,871; p=0,081; n=22 respectivamente), mas as falcipes (Hensel, 1867) y P. Saltica (Cope, 1887) y osteologia de las parciais da regressão indicam que a atividade está relacionada de tres especies. Cuad. Herp. 8(2): 177-199. modo inverso a estes fatores quando desconsiderado o efeito de um MYERS, C. W. & DONNELLY, M. A. (2001). Herpetofauna of fator sobre o outro (t= -2,248; p=0,037; t= -2,358; p=0,029 res- the Yutajé-Corocoro massif, Venezuela: second report from the pectivamente). Robert G. Goelet American Museum-Terramar Expedition to the A temperatura afeta a atividade vocal de anuros ao longo do northwestern Tepuis. Bulletin of the American Museum of Natural dia e do ano (HATANO et al., 2002). Esta variável isoladamente History. 261: 85p. afetou o número de indivíduos em atividade de canto ao longo do POMBAL, J. P. JR. (1997). Distribuição espacial e temporal de dia de forma inversa, ou seja, à medida que a temperatura do ar anuros (Amphibia) em poça permanente na Serra do Paranapiacaba, diminui, a freqüência de indivíduos vocalizando aumenta. Este Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Biologia. 57(4): p. 583-594. padrão pode ser resultado de uma adaptação fisiológica as pressões seletivas do ambiente, evitando assim a desidratação (POMBAL, WELLS, K., D. (1977). The social behaviour of anuram amphibians. 1997). A umidade relativa do ar também esteve relacionada de Animal Behaviour. 25: p. 666-693. forma inversa com a atividade vocal da espécie. Esta tendência WILBUR, H. M., (1987). Regulation of structure in complex pode ser explicada pelo fato que o aumento contínuo da umidade systems: experimental temporary pond communities. Ecology, 68(5): relativa até a saturação (100%), indica o acontecimento de chuvas, p. 1437-1452. que podem ter ação mecânica sobre os indivíduos, e conseqüente- ZAR, J. H. (1999). Bioestatiscal Analysis. 4 ed. New Jersey: Prentice- mente resulta na diminuição de indivíduos vocalizando (HATANO Hall International, Inc. 718p. et al., 2002). 4. Conclusões O período de atividade diária de P. mineira se estende ao longo Comunidade de invertebrados de um fragmento de do dia e está relacionado com o padrão temporal reprodutivo Cerrado Campo Grande, Mato Grasso do Sul 1 1 explosivo, predação e fatores históricos. O pico desta atividade Eurico A Sczesny-Moraes , Natália C. Campos , Luiz F. A. C. 1 1 1 ocorre nas primeiras horas da noite, indicando uma adaptação Carvalho, , Nicolay L. Cunha , Paulo F. F. Dutra . 1 contra desidratação. A relação inversa da atividade de canto com as Graduação em Ciências Biológicas - Universidade Federal do Mato variáveis temperatura e umidade relativa do ar indicam adaptações Grosso do Sul – UFMS ([email protected]) aos fatores ambientais, evidenciando a importância destes fatores na regulação da atividade das espécies. 1. Introdução 5. Referências Bibliográficas Os artrópodos correspondem a 75% dos animais sobre a terra, sendo que destes, 89% são insetos [Buzzi & Miyazaki, 1993]. ANDRADE, G. V. (1995). A historia de vida de Physalaemus cuvieri Como os artrópodos, em geral, respondem rapidamente a mudan- (Anura, Leptodactylidae) em um ambiente temporário. Tese de Dou- ças ambientais e apresentam alta diversidade, são considerados um torado (Ecologia), Univ. Est. Camp., Campinas, 176p. grupo importante nos estudos sobre biodiversidade [Longino, CARDOSO, A. J. & HADDAD, C. F. B. (1992). Diversidade e 1994]. A diversidade de insetos influência a dinâmica dos turno de vocalização de anuros em comunidade neotropical. Acta ecossistemas por intermédio de numerosos mecanismos como de- Zoológica Lilloana 41: 93-105. composição da serapilheira, polinização, supressão do crescimento CREE, A. (1989). Relationship between environmental conditions de plantas e servindo como presa a carnívoros [Seastedt & Crossley, and nocturnal activity of the terrestrial frog, Leiopelma archeyi. 1984]. Os artrópodos existentes no solo são importantes para a Journal of Herpetology 1: 61-68. ciclagem de nutrientes provenientes da serapilheira; que compre- DIAZ-PANIAGUA, C., (1990). Temporary ponds as breeding sites ende o material precipitado no solo pela biota. Este material inclui of amphibians at a locality in south western Spain. Herpetological principalmente folhas, caules, frutos, sementes, flores e resíduos Journal 1: 447-453. animais [Dias & Oliveira Filho, 1997]. A disponibilidade de recur- sos na serapilheira, ou próximo a ela, pode ser considerada abun- DUELLMAN, W. E., & TRUEB, L., (1986). Biology of Amphibians. dante, favorecendo um alto número de espécies neste microhabitat. New York: McGraw-Hill. 670p. Algumas diferenças no local podem permitir a coexistência de vári- GIUILLIETTI, A., M.; N. L. MENEZES; J. B. PIRANI; M. as espécies, onde cada uma domina um microambiente particular MEGURO; WANDERLEY. M. G. L. (1987). Flora da Serra do [Price, 1984]. Os estudos no cerrado mostram que a composição Cipó, Minas Gerais: Caracterização e lista de espécies. Boletim de de espécies de insetos e de outros invertebrados varia muito entre Botânica 9:1-51. localidades e que, muitas vezes, as distâncias envolvidas nessas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 435 Cerrado Volume I diferenças são curtas [Raw, A]. Este trabalho teve como objetivo das espécies coletadas são comuns em ambas às fisionomias. Ainda verificar a riqueza e diversidade da fauna de artrópodos existentes que os ambientes apresentem índices de diversidade, dominância no solo do cerrado; comparando duas fisionomias vegetais: Cerradão e equitabilidade próximos, eles não compartilham 76,2% das espé- (com árvores altas, densidade maior e composição distinta) e Cer- cies. A composição de espécies muda radicalmente de uma área rado Senso Stricto (com progressiva redução da densidade arbórea). para a outra, incluindo as espécies dominantes. E verificar qual a similaridade das comunidades existentes nesses 4. Conclusão dois habitats, que possuem coberturas vegetais diferentes. Ao menos nessa época do ano (inverno seco), a riqueza de 2. Métodos espécies de invertebrados entre as duas áreas é a mesma, e a diver- A área estudada, consiste em um fragmento de cerrado, situa- sidade é ligeiramente maior no Cerrado Senso Stricto, que no do na região Norte de Campo Grande-MS, chamada “Mata Cerradão. Assim como a dominância exercida pela Ordem Surucuá” (S20o25,157';W54o 36,778'), localizada entre bairros Hymenóptera, nos dois ambientes. residenciais. A área possui aproximadamente 3,5 ha, e, apresenta as A falta de similaridade dos ambientes, mesmo considerando a duas fisionomias, Cerradão e Cerrado Senso Stricto. Armadilhas do proximidade dos pontos de coleta (aproximadamente 100 m), in- tipo pitfall foram usadas para a coleta, em cada área, foram coloca- dica que a escala de estudo é um fator importante para o conheci- das 15 armadilhas, com aproximadamente 100 m de distância en- mento da comunidade de invertebrados. O tamanho desses ani- tre as fisionomias, que tiveram aproximadamente 72 h de exposi- mais aliado à heterogeneidade dos ambientes, pode determinar ção individual, totalizando 2160 h de esforço de amostragem, do mudanças abruptas na comunidade em termos de substituição de dia 26 ao dia 29 de Junho de 2003. As armadilhas foram enterra- espécies em escalas de dezenas de metros, como verificaram Gui- das, com sua borda ficando ao mesmo nível do solo, contendo marães e colaboradores (2001). É provável que exista um padrão formol 10%, com solução detergente. de substituição de espécies menos abrupto ao longo do gradiente Os pitfalls ficaram dispostos no formato aproximado de um Y, Senso Stricto – Cerradão, o qual poderia ser verificado através de possuindo cerca de 50 cm de distância entre si. O material coleta- transecto em linha com pontos de amostragem a cada 5-10 m. do foi separado em laboratório, entre as diferentes classes e ordens, 5. Bibliografia utilizando chave de identificação. Os indivíduos foram contados e Buzzi, Z.J.; Miyazaki, R.D. Entomologia didática. Curitiba: UFPR. classificados em morfoespécies, os quais foram encaminhadas para 262p. 1993. identificação. Dias, H. C. T.; Oliveira Filho, A. T. Variação temporal e espacial da 3. Resultados e discussão produção de serapilheira em uma área de floresta estacional No Cerradão foram coletados 1493 indivíduos, distribuídos semidecídua montana em Lavras – MG. Revista Árvore. Viçosa nas seguintes classes: Arachnida (N=28), Chilopoda (N=2), Crus- – MG. v. 21, n. 1, p. 11-26. 1997. tácea (N=1) e Insecta (N=1462); subdivididas em 79 morfoespécies (MSP). Dentro da classe Insecta, foram identificadas as Ordens: Guimarães Jr, P. R; Ramos, J.V.R.; Russo, M.R.; Camargo, G. & Collêmbola (N=5; 1 MSP), Coleóptera (N=8; 5 MSP), Díptera Amaral, P. P. Efeito da escala na abundância de formigas e na (N=64, 24 MSP), Hemíptera (N=3; 3 MSP), Homóptera (N=9; 2 profundidade do folhedo. In: Ecologia do Pantanal: curso de cam- MSP), Hymenóptera (N=1326; 16 MSP), Isóptera (N=2; 2 MSP), po 2001. Editora Oeste. p. 11-13. 2001. Lepidóptera (N=1; 1 MSP), Orthóptera (N=43, 8 MSP) e Longino, J.T. How to measure arthtropod diversity in a tropical Strepsíptera (N=1; 1 MSP). Na Classe Arachnida, encontramos a rainforest. Biology International, v.28, p.3-13. 1994. Ordem Araneae (N=28, 13 MSP). Na Classe Crustácea foi encon- Price, P. W. Insect Ecology. ( 2 ed ). Wiley Interscience, New trada apenas a Ordem Isópode (N=1). York. 1984. No Cerrado Sensu Stricto foram coletados 1572 indivíduos, das Raw, A. Números de insetos, sua riqueza de espécies e zoogeografia classes: Arachnida (N=41), Crustacea (N=3), Diplopoda (N=1) e nos cerrados com referência a certos grupos. http:// Insecta (N=1527); subdivididas em 77 MSP. Dentro da classe www.bdt.fat.org.br/pdf/workcerrado/ISOCIAIS.PDF 25/06/2003. Insecta, foram identificadas as Ordens: Collêmbola (N=42; 2 MSP), Coleóptera (N=25; 8 MSP), Díptera (N=115, 19 MSP), Hemíptera Seastedt, T.R.; Crossley, D.A. The influence of on (N=1; 1 MSP), Homóptera (N=11; 1 MSP), Hymenóptera ecosystems. Bioscience. v.34, p.157-161. 1984. (N=1272; 14 MSP), Isóptera (N=13; 4 MSP), Lepidóptera (N=1; 1 MSP), Orthóptera (N=46, 12 MSP) e Zoráptera (N=1, MSP=1). Insetos herbívoros em estruturas reprodutivas de Na Classe Arachnida, encontramos: Ordem Araneae (N=28, 10 Vochysia elliptica: comparação entre duas áreas de MSP), Ixodida (N=10, 1 MSP) e Pseudoscorpiones (N=3, 1 MSP). cerrado do Distrito Federal Na Classe Crustacea apenas a Ordem Isópode é presente (N=3). Fabio S. P. de Godoi¹; Juliano B. Carregaro¹; Ivone R. Diniz² & Esses resultados demonstram uma grande ocorrência de indivíduos Helena C. Morais³ da Ordem Hymenóptera nas duas áreas, seguidas pelos Dípteras e 1. Bolsista IC CNPq; 2. Departamento de Zoologia ([email protected]); Orthópteras no Cerradão. No Cerrado”SS”, as Ordens Collêmbola 3. Departamento de Ecologia - Instituto de Ciências Biológicas, e Coleóptera também apresentaram números significativos. Universidade de Brasília, 70910-900 Brasília, DF A riqueza das fisionomias estudadas (Total=126 MSP) é se- melhante: Cerradão 79 morfoespécies e Cerrado Senso Stricto 77 1. Introdução morfoespécies, demonstrando certa equivalência no total de es- Flores e frutos são estruturas efêmeras e recursos menos apa- pécies. O índice de diversidade de Shannon calculado para as rentes do que folhas, mas tendem a ser mais nutritivos e menos espécies das duas áreas, foi maior para o Cerrado Senso Stricto protegidos contra herbívoros. Insetos que atacam estruturas (H’=1,468) do que o encontrado no Cerradão (H’=1,356). Dis- reprodutivas das plantas tendem a se especializar nestes recursos tribuições espécie-abundância randômicas foram simuladas para sincronizando seu ciclo de vida ou utilizando tais recursos de ma- cada hábitat, cujos resultados confirmaram as distribuições reais neira seqüencial (Monteiro 1990). Um grande número de espécies encontradas. (Cerrado Senso Stricto H’=1,45 e Cerradão H’=1,33). de larvas Lepidoptera utiliza botões e flores de plantas de cerrado A equitabilidade no Cerradão foi de 0.31, no Cerrado Sensu como alimento (Diniz & Morais no prelo) e podem causar um Stricto foi 0.34 e o total foi de 0,41. sério impacto na reprodução das plantas (Baker-Méio 2001). O Índice de Jaccard foi de 0,238, indicando que apenas 23,8% O presente estudo tem como objetivo comparar a fauna de insetos herbívoros associada a estruturas reprodutivas de Vochysia

436 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado elliptica (Vochysiaceae) em duas áreas de cerrado do Distrito Federal. que pode explicar parcialmente o pequeno número de adultos de 2. Metodologia besouros e mariposas obtidos nas inflorescências mantidas em la- As atividades de pesquisa foram desenvolvidas na Fazenda Água boratório. Apesar dessa variação na abundancia de insetos herbívo- Limpa (FAL) e na Reserva Ecológica do IBGE (RECOR), entre ros e de parasitoides, a riqueza de espécies entre as duas áreas é março e junho de 2003. As duas áreas fazem parte da Área de bastante semelhante. Proteção Ambiental Gama-Cabeça de Veado, com 10.000 ha, lo- Baker-Méio (2001), trabalhando com o ataque de insetos her- calizada ao sul da cidade de Brasília e a distância entre os locais de bívoros a estruturas reprodutivas Ouratea hexasperma, encontrou estudo é de cerca de dois quilômetros. Na RECOR foi utilizada uma grande variação na proporção de ataque entre áreas da FAL, uma área de cerrado típico e, na FAL, uma área de cerrado mais da RECOR e do Parque Nacional de Brasília. Essa variação espa- elevado, com solo laterítico e vegetação mais baixa. cial no ataque de insetos a estruturas reprodutivas de plantas é Vochysia elliptica é uma árvore nativa do cerrado, e é abundante comum em cerrado e em outros ambientes e, freqüentemente, está nos cerrados do Distrito Federal. Possui grandes inflorescências relacionada a uma variação na fenologia das plantas entre as áreas amarelo escuro e sua floração vai de abril a agosto. Na área de (Bischop & Schemske 1998; Eriksson 1995; Evans et al. 1989). estudos da FAL apresenta porte arbustivo, com até dois metros de No entanto, esse não foi o caso em Vochysia elliptica, pois a fenologia altura, e na RECOR apresenta porte arbóreo. A produção de não diferiu entre as áreas de estudo. inflorescências mais precoces ou tardias é variável entre os indiví- V. elliptica apresenta um longo período de floração e ocorre duos mas não diferiu entre as duas áreas de estudo. uma assincronia na produção de botões e flores entre os indivíduos A cada semana, estruturas reprodutivas de V. elliptica (botões e de uma mesma área. Eventualmente, como encontrado por Eriksson flores) eram coletadas e mantidas em potes plásticos no laborató- (1995), indivíduos com floração mais precoce ou mais tardia so- rio objetivando a obtenção de adultos dos diferentes tipos de inse- frem ataques diferenciais de insetos herbívoros mas este tópico não tos cujos estágios imaturos estão atacando internamente os botões foi examinado neste trabalho. Em O. hexasperma foi observado e flores. Na RECOR foram examinados 100 indivíduos e coletada diferentes níveis de ataque no início e no final do período de floração uma inflorescência por indivíduo, enquanto na FAL foram coletadas, mas esse resultado varia entre anos (Baker-Méio 2001). De qual- no mínimo, duas inflorescências nos 102 indivíduos examinados. quer forma, essas variações temporais e espaciais do ataque de Os adultos obtidos foram montados a seco, em alfinete herbívoros, e de parasitoides, têm conseqüências no sucesso entomológico, e incluídos na Coleção de Entomologia do Depar- reprodutivo das plantas. tamento de Zoologia da Universidade de Brasília. Os lepidópteros 5. Referências Bibliográficas foram identificados por um dos autores (I. R. Diniz) com auxílio Baker-Méio, B. 2001. Impacto de insetos predadores de flores e do Dr. Vitor O. Becker, especialista no grupo. Os coleópteros frutos sobre a reprodução de Ouratea hexasperma (Ochnaceae). foram separados em família e, juntamente com os himenópteros, Dissertação de Mestrado em Ecologia, Universidade de Brasília. aguardam identificação. Bischop, J. G. & Schemske, D. W. 1998. Variation in flowering 3. Resultados phenology and its consequences for Lupines colonizing Mount St. Foi amostrado um total de 202 indivíduos, com 100 Helens. Ecology 79: 534-546. inflorescências para a RECOR e 223 para a FAL. Foram obtidos insetos adultos em 32% dessas inflorescências sendo 26% para as Diniz, I. R. & Morais, H. C. (no prelo). Local pattern of host da RECOR e 38% para as da FAL. Foi obtido um total de 354 utilization by lepidopteran larvae in the cerrado vegetation. insetos adultos, sendo 180 lepidópteros, 28 coleópteros e 146 Entomotropica 17(2): (Venezuela). himenópteros. Eriksson, O. 1995. Asynchronous flowering reduces seed predation Os Lepidoptera estão representados por oito espécies sendo in the perenial forest herb Actaea spicata. Acta OEcologica 16: cinco espécies de Gelechiidae ainda não nomeados, duas espécies 195-203. de Compsolechia (Gelechiidae) e uma espécie de Episimus Evans, E. W., Smith, C. C. & Gendron, R. P. 1989. Timing of (Tortricidae). Apenas três espécies ocorrem nas duas áreas de estu- reproduction in a prairie legume: seasonal impacts of insect do, as duas espécies de Compsolechia e a de Episimus. Dos 180 consuming flowers and seeds. Oecologia 78: 220-230. lepidópteros, 77% foram obtidos de inflorescências coletadas na Monteiro, R. F. 1990. Cryptic larval polychromatism in Rekoa FAL sendo representados por seis espécies, enquanto na RECOR marius Lucas and R. palegon Cramer (Lycaenidae: Thecline). Journal ocorreram cinco espécies. A espécie mais abundante foi Compsolechia of Research on the Lepidoptera 29: 77-84. sp. 1 com 79 adultos. Esta espécie é altamente polífaga, já tendo sido encontrada em inflorescências de Miconia albicans (Melastomataceae), Palicourea rigida (Rubiaceae) e Qualea Distribuição de abundância de espécies arbustivo- grandiflora (Vochysiaceae), em outros levantamentos realizados na arbóreas em um fragmento de cerrado sensu stricto FAL (Diniz & Morais no prelo). Compsolechia sp. 15, a segunda na área da Universidade Federal de São Carlos espécie mais abundante, e Episimus sp. 4 só foram encontrados até (UFSCar) agora em inflorescências de V. elliptica. Fabíola Ferreira Oliveira 1 & Marco Antônio Batalha 2 Os Coleoptera estão representados por duas famílias, 1 graduação em Ciências Biológicas Universidade Federal de São Curculionidae e Rhizophagidae. Os curculionídeos aparentemen- Carlos ([email protected]) te pertencem à mesma espécie e ocorreram nas duas áreas, enquan- 2 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica, to a espécie de Rhizophagidae ocorreu apenas nas inflorescências São Carlos - SP coletadas na RECOR. Dos 28 adultos, cerca de 80% foram obti- dos de inflorescências coletadas na FAL. 1. Introdução A abundancia de himenópteros parasitoides foi maior na Em nenhuma comunidade, as espécies que a constituem apre- RECOR que apresentou cerca de 59% dos adultos obtidos. sentam-se igualmente abundantes. Algumas espécies são muito 4. Discussão e Conclusões abundantes, outras com vários graus intermediários de abundância A área de estudos da FAL apresentou uma maior proporção de e muitas representadas por poucos indivíduos. Essa observação inflorescências com ataque de herbívoros e uma maior abundancia levou ao desenvolvimento de quatro modelos matemáticos extre- de lepidópteros e coleópteros. Por outro lado, na área da RECOR mos que descrevem a distribuição de abundância entre as espécies ocorreu uma maior abundancia de himenópteros parasitoides o de uma comunidade (Magurran 1988): o da vara-quebrada, o nor-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 437 Cerrado Volume I mal-logarítmico, o da série-logarítmica e o da série geométrica. comparamos os resultados encontrados com aqueles esperados te- No modelo da vara-quebrada (MacArthur 1957), a abundân- oricamente pelo modelo normal-logarítmico, utilizando os proce- cia é semelhante entre as espécies, ou seja, a equabilidade é grande. dimentos descritos por Magurran (1988) e Wilson (1991). No modelo normal-logarítmico (Preston 1948), poucas espécies 3. Resultados e Discussão apresentam grande abundância, e a maioria, apresenta abundância Identificamos 31 famílias e 63 espécies dentre os 800 indivídu- intermediária. No modelo da série-logarítmica (Fisher et al. 1943), os amostrados. De todas as espécies encontradas, 12 foram repre- algumas espécies apresentam grande abundância e a maioria, apre- sentadas por apenas um indivíduo e somente uma pôde ser consi- senta abundância muito pequena. No modelo da série geométrica derada como mais abundante, a Anadenanthera falcata (Benth.) (Whittaker 1965), a abundância é muito grande em uma espécie e Speg. (23,12%). As demais espécies apresentaram abundâncias in- diminui rápida e constantemente nas demais. Assim, a equabilidade termediárias. Esses resultados estão de acordo com as premissas é maior no modelo da vara-quebrada, diminuindo progressivamen- assumidas por Preston (1965) para o ajuste do modelo normal- te nos modelos normal-logarítmico e da série-logarítmica, até che- logarítmico a uma comunidade, ou seja, poucas espécies da comu- gar ao mínimo no modelo geométrico. nidade teriam valores de abundância altos e baixos, enquanto a O modelo normal-logarítmico (Preston 1948) é caracterizado maioria, valores médios. também pela curva em formato de sino, que apresenta quando o O histograma da a distribuição de freqüências das espécies tamanho da amostra é suficiente para incluir as espécies raras da apresentou nove “oitavas”; dentre as quais, aquela com a maior comunidade. Caso contrário, a curva lognormal terá um ponto de representatividade foi a “oitava” de quatro a oito indivíduos, cuja truncamento, a “linha do véu” (Magurran 1988). Este modelo é freqüência de espécies foi de 15 (23,8%). freqüentemente encontrado nas comunidades constituídas por Por meio do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov, a muitas espécies funcionalmente heterogêneas, cujas abundâncias 5% de significância, nós obtivemos um valor de p = 0,1208 e uma são influenciadas por muitos fatores independentes (May 1975), curva normal, ainda que sutilmente truncada. Assim, não rejeita- como as comunidades vegetais de cerrado. Embora muitos levan- mos a hipótese nula de que a distribuição de abundâncias é normal. tamentos fitossociológicos em diferentes áreas de cerrado já te- Portanto, as abundâncias das espécies para esta comunidade de nham sido realizados, nenhum deles aplicou modelos de distribui- cerrado se ajustaram ao modelo normal-logarítmico. ções de abundância às comunidades estudadas. O objetivo do nos- O truncamento da curva pôde nos indicar que a maioria das so trabalho foi estudar a distribuição de abundância das espécies espécies foi amostrada com poucos indivíduos e poucas espécies arbustivo-arbóreas amostradas em uma comunidade vegetal de com um grande número de indivíduos. A curva truncada também cerrado sensu stricto, testando a hipótese de que essa distribuição se revela que muitas espécies com baixa abundância e as espécies ajustaria ao modelo normal-logarítmico. raras, ainda não foram amostradas. Rolim e Nascimento (1997) 2. Métodos verificaram que um aumento no tamanho da amostragem, além de O estudo foi conduzido na Reserva Legal, campus da Univer- ter incluído as espécies de baixa abundância, permitiu que novas sidade Federal de São Carlos (UFSCar), situado na área rural do espécies surgissem, e que as espécies já existentes mudassem suas município de São Carlos, estado de São Paulo (22º00’-30’S, 47º30- abundâncias e, conseqüentemente, que a curva característica da 48º00’W), distante cerca de 235 km da capital (Santos et al. distribuição normal-logarítmica ficasse mais evidenciada. 1999). O sítio de estudo é coberto por vegetação de cerrado sensu Embora esse modelo seja muito criticado, ele parece ser o mais stricto e é delimitado por quatro aceiros. satisfatório para a interpretação das abundâncias relativas das es- Inicialmente, marcamos as coordenadas dos pontos extremos pécies na natureza, tendo se ajustado bem às comunidades estuda- da área de estudo com um Sistema de Posicionamento Global das (Whittaker 1965); isso porque ele considera tanto a riqueza (SPG). Com isso, nós pudemos calcular o perímetro do nosso sítio das espécies, quanto a sua abundância e, deste modo, se torna uma de estudo – sendo este o valor máximo a ser sorteado como ponto boa ferramenta para o estudo da diversidade (Magurran 1988). inicial das transecções. Sorteamos 20 transecções e somente foram Muitas controvérsias têm surgido com relação ao significado consideradas aquelas que estavam totalmente contidas na área de ecológico da distribuição lognormal. Existem três argumentos prin- estudo, que não se sobrepuseram e que distaram mais de 10 m de cipais que tentam explicar o ajuste ao modelo; porém, nenhum outra previamente sorteada.Cada transecção era perpendicular ao deles é tido como mais adequado. O primeiro deles, propõe que a aceiro e tinha 110 m de comprimento, com dez pontos demarca- distribuição de abundância das espécies fosse proporcional à soma dos sistematicamente a partir de 10 m de sua origem. dos recursos utilizados pelas mesmas e, com isso, essa distribuição Amostramos a comunidade vegetal com o método de quadrantes refletiria a estrutura do nicho de uma comunidade (Sugihara 1980). (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974, Martins 1991) e considera- O segundo é que as populações cresceriam logaritmicamente e o mos como indivíduo arbustivo-arbóreo, todo aquele indivíduo produto da mistura de muitas espécies implicaria uma distribuição lenhoso com mais de 3 cm de diâmetro do caule no nível do solo lognormal (May 1975). A terceira provável explicação seria a de (Sema, 1997). Obtivemos um total de 800 indivíduos arbustivo- que os indivíduos de muitas espécies seriam influenciados por muitos arbóreos amostrados, os quais foram identificados com auxílio de fatores (May 1975). bibliografia pertinente e/ou exsicatas depositadas no herbário do Ugland e Gray (1982) assumem que uma comunidade é com- Departamento de Botânica da UFSCar. posta de diversos grupos – sendo cada um, adaptado ao habitat de Ao identificarmos todos os indivíduos amostrados, obtivemos uma maneira diferente – e as interações dos mesmos resultariam uma estimativa da abundância de cada espécie. Ordenamos as em uma distribuição lognormal, caso a comunidade estivesse no espécies em ordem decrescente de abundância, e o número de considerado “equilíbrio”. Este equilíbrio é, todavia, dinâmico; de indivíduos de cada espécie foi transformado em seus logaritmos maneira que, o aumento na abundância de algumas espécies é binários. Construímos um gráfico da distribuição de freqüências compensado pela diminuição de outras. Assim, para esses autores, em que o número de espécies (eixo y) é lançado contra o número o modelo normal-logarítmico é usualmente encontrado em locais de indivíduos por espécie (eixo x), com o eixo x em escala logarítmica pouco ou quase nada perturbados. A distribuição lognormal pode binária. Essa base logarítmica delimita classes de abundância das ser utilizada como indicador de perturbação em comunidades na- espécies, chamadas de “oitavas” (Preston 1948). turais (Hill e Hamer 1998) e para o manejo e conservação do meio Verificamos a normalidade da curva obtida para a distribuição ambiente (Kevan et al. 1997). das abundâncias das espécies com o teste de Kolmogorov-Smirnov 4. Conclusão por meio do Programa Statistica versão 5 para Windows 6.0 e Por meio deste trabalho, podemos concluir que a nossa hipó-

438 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado tese foi corroborada, ou seja, a distribuição da abundância das Diversidade de formigas epígeas em cerrado espécies arbustivo-arbóreas ajustou-se ao modelo normal- antropizado do Morro do Serrinha no município de logarítmico. Embora o truncamento evidenciado na curva obtida Goiânia-GO indique uma amostragem insuficiente, o teste aplicado comprovou Fabíola Simões Rodrigues da Fonsecaa , Hélida Ferreira da Cunhaa , a normalidade da distribuição. Jorge Luiz Machado Dinizb É importante ressaltar que a área de estudo não comportaria a Universidade Federal de Goiás, ICB-I, DBG, Cx. P. 131, CEP um maior número de transecções, pois provavelmente, haveria 74001-970, Goiânia-GO ([email protected]) sobreposição das mesmas, o que as descartaria da amostragem. b Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí-GO Desta forma, seria muito difícil aumentar a amostragem para que o formato de sino da curva fosse revelado. 1. Introdução Podemos sugerir que estudos posteriores sejam desenvolvidos As formigas estão entre os mais numerosos artrópodes das tanto para verificar se a comunidade estudada se ajustaria aos de- florestas tropicais (Davidson e Patrell-Kim, 1996) e constituem mais modelos, quanto para aplicar os modelos de distribuição de um dos grupos de insetos mais abundantes (Wilson, 1971; abundância a outras comunidades vegetais de cerrado, de modo a Holldobler e Wilson, 1990). A ampla distribuição de formigas possibilitar a comparação entre as áreas. pelo mundo em diversos hábitats faz delas fortes indicadores da Agradecimentos: diversidade biológica (Roth et al., 1994). A grande diversidade de Agradecemos ao Cnpq/PIBIC pela bolsa de iniciação científica formigas tem sido relacionada com efeitos de perturbação e com- que contribuiu para a realização deste projeto. plexidade ambiental (Greenslade e Greenslade, 1977; Roth et al., 5. Referências Bibliográficas 1994), sazonalidade (Levings, 1983), microclima e competição Fisher, R. A.; Cobert, A. S.; Williams, C. B. (1943). The relation (Torres, 1984 a, b). A diversidade da fauna de formigas tende a between the number of species and the number of individuals in a variar de acordo com a complexidade estrutural da vegetação. Tra- random sample of an animal population. Journal of Animal Ecology balhos recentes apontam que áreas como cerrado (Tavares et al, 12:42-58. 2001; Silvestre e Brandão, 2000) e florestas (Soares et al, 1998) Hill, J.K.; Hamer, K.C. (1998). Using species abundance models possuem uma riqueza mais elevada que quando comparadas a áreas as indicators of habitat disturbance in tropical forests. Journal of de monocultura. Applied Ecology 35: 458-460. Estes insetos podem ser sensíveis a alterações na estrutura da vegetação, podendo inclusive servir como bioindicadores da in- Kevan, P.G.; Greco, C.F.; Belaoussoff, S. ( 1977). Lognormality of tegridade de florestas (Moutinho, 1998). Como indicadores de biodiversity and abundance in diagnosis and measuring of condições do ecossistema, grupamentos de formigas ecossystemic health: pesticide stress on pollinators on blueberry freqüentemente refletem o grau de perturbação de hábitats (Tor- heaths. Journal of Applied Ecology 34:1122-1136. res, 1984 a, b) e algumas espécies podem efetivamente funcionar MacArthur, R. H. (1957). On the relative abundance of birds como um indicador de modificação ambiental. (Andersen, 1997; species. Proceeding of the national academy of science 43:293-295 Andersen e Read, 2000). Magurran, A. E. (1988). Ecological diversity and its measurement. A riqueza faunística de alguns grupos tem sido utilizada para Princeton, Princeton University. definir áreas prioritárias para conservação no Cerrado. Os dados Martins, F. R. (1991). Estrutura de uma floresta mesófila. São Paulo, do PROBIO revelam que as ordens Hymenoptera, Lepidoptera e Unesp. Isoptera representam 47% da fauna de invertebrados estimada para o Brasil. May, R. M. (1975). Patterns of species abundance and diversity. Este trabalho teve por objetivo conhecer a diversidade de for- In: Cody, M. L. & Diamond, J. M (eds). Ecology and evolution of migas em uma área de cerrado antropizada na região metropolita- communities. Cambridge, Harvard University. p. 81-120. na de Goiânia-GO. Mueller-Dombois, D. & Ellenberg, H. (1974). Aims and methods 2. Métodos of vegetation ecology. New York, John Willey & sons. A área de coleta escolhida para realizar o presente trabalho é Preston, F. W. (1948). The commonness and the rarity of species. conhecida como Morro do Serrinha. Esta área é umas das poucas, Ecology 29:254-283 senão única, área de fisionomia de cerrado típico (Brandão e Ferreira, 2001) localizada na região sul de Goiânia-GO. Este cerrado é Rolim, S. G.; Nascimento, H. E. M. do (1997). Análise da riqueza, caracterizado pela presença de duas camadas: uma rasteira e outra diversidade e relação espécie-abundância de uma comunidade arbórea tropical em diferentes intensidades amostrais. Scientia arbórea formada por árvores de caule tortuoso e de porte baixo. Por estar localizada dentro da região metropolitana de Goiânia e Forestalis 52: 7-16. por não existir nenhum planejamento ambiental, a área encontra- Santos, J. E. dos; Paese, A. & Pires, J. S. R. (1999). Unidades da se com um alto grau de antropização, sendo utilizada por morado- paisagem (biótopos) do campus da UFSCar. São Carlos, UFSCar. res da região para fins religiosos e para lazer. Foram encontrados Sema (Secretaria de estado do meio ambiente) (1997). Cerrado: restos de fogueiras, entulhos e durante as coletas várias pessoas bases para conservação e uso sustentável das áreas de cerrado do estado de foram observadas fazendo cultos religiosos, coletando plantas e São Paulo. São Paulo, SEMA. passeando na área com crianças e animais. Sugihara, G. (1980). Minimal community structure: na explanation A coleta foi realizada nos dias 18 a 21 de maio de 2002. No dia of species abundance patterns. The American Naturalist, 116(6): 18, as armadilhas foram apenas montadas e a captura de material 770-787 biológico aconteceu nos três dias seguintes com intervalo de 24h entre cada coleta. Dias antes da coleta, a área tinha sofrido uma Ugland, K.I.; Gray, J.S. (1982). Lognormal distributions and the queimada e no penúltimo dia de coleta, choveu durante a madru- concept of community equilibrium. Oikos 39(2): 171-178. gada. Foi utilizada armadilha pitfall, constituída por um recipiente Whittaker, R. H. (1965). Dominance and diversity in land plant contendo água e algumas gotas de detergente, para evitar que os communities. Science 147:250-260. insetos escapassem pelas laterais dos potes. Os pitfalls foram distri- Wilson, J.B. (1991). Methods for fitting dominance/diversity cur- buídos a uma distância média de 10 metros entre cada um e a uma ves. Journal of Vegetation Science 2: 35-46. distância de 5 metros da borda do cerrado. O material coletado foi levado para o laboratório para triagem, onde as formigas foram

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 439 Cerrado Volume I separadas utilizando-se a definição de morfoespécie. Soc. 24: 163-182. A diversidade de formigas foi analisada através do índice de Holldobler, B.; Wilson, E. O. (1990). The ants. Harvard University Shanon-Weaver e de Equitabilidade. Os dados de riqueza e de Press, Cambridge. abundância foram relacionados através de uma Análise de Regres- Huston, M. (1979). A general hypotesis of species diversity. Am. são Linear para verificar se esta amostra foi capaz de descrever a Nat. 113: 81-101. diversidade local. 3. Resultados Levings, S. C. (1983). Seasonal, annual and among site variation Em um levantamento rápido de apenas quatro dias de coleta, in the ground ant community of a deciduos tropical forest: some foram amostradas 118 morfoespécies de formigas ao todo. A abun- causes of patchy species distributions. Ecol. Monogr. 53: 435- dância de gêneros e subfamílias foi: Acromyrmex – 3; Acropyga – 1; 4.55. Anochetes – 1; Atta – 65; Brachymyrmex –246; Camponotus – 183; Ludwig, J. A.; Reynolds, J. F. (1988). Statistical Ecology: a primer Cardiocondyla – 1; Conomyrma – 3; Cyphormyrmex – 2; Dinoponera on methods and computing. John Wiley & Sons. – 22; Dolichoderinae – 111; Ectatomma – 68; – 5; Maury, C. M. (2002). Avaliação e Identificação de Áreas e Ações Iridomyrmex – 41; Myrmicinae – 3; Pachycondila – 15; Pheidole – Prioritárias para Conservação, Utilização Sustentável e Reparti- 469; Pogonomyrmex – 1; Pseudomyrmex – 15; Solenopsis – 1; Tapynoma ção de Benefícios da Biodiversidade Brasileira. Brasília: MMA / – 2; Wasmania – 77. SBF.. 404 p. Os dados amostrados nessa área descreveram bem a relação Moutinho, P. R. S. (1998). Impactos da formação de pastagens entre riqueza e abundância (r2 = 0,543***, t = 5.228 P = 0.0001). sobre a fauna de formigas: conseqüências para a recuperação flores- O índice de diversidade de Shannon-Wiever obtido foi de 5,38 e a tal na Amazônia Oriental. Pp.: 155-170, In: Gascon, C.; Moutinho, Eqüitabilidade foi de 0,92. P. R. S. (eds.) Floresta amazônica: Dinâmica, Regeneraçao e Ma- 4.Conclusão nejo. Ministério da Ciência e Tecnologia/INPA, Manaus. A diversidade de formigas em áreas antropizadas de cerrado pode ser verificada através de um levantamento rápido. Roth, D.; Perfecto, I.; Ratchke, B. (1994). The effect of Obtivemos um alto índice de diversidade de Shanon-Wiever, management systems on groung-foraging ant diversity in Costa reforçado por uma eqüitabilidade de valor quase igual a 1,0, o que Rica. Ecol. Appl. 4: 423-436. indica uma distribuição equilibrada das espécies na área. Silvestre Soares et al, (1998). Riqueza de espécies de formigas edáficas em e Brandão (2000) amostrou através de iscas em área de cerrado, plantação de Eucalipto e em mata secundária nativa. Revta bras. encontrou para o mesmo índice de diversidade o valor de 3,46 e Zool. 15 (4): 889-898. considerou uma alta diversidade local de espécies. Silvestre & Brandão, (2000). Formigas (Hymenoptera, Formicidae) Reforçamos que formigas são insetos pioneiros e oportunistas, atraídas por iscas em uma “ilha” de Cerrado no município de capazes de ocuparem mesmo as áreas mais alteradas e antropizadas. Cajuru, Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Huston (1979) sugere que uma maior heterogeneidade ambiental Entomologia, São Paulo, 44 (1/2): 71-77. levaria a uma maior diversidade de formigas. Os grupos mais abundantes que foram encontrados – Atta, Tavares et al, (2001). Comunidaes de formigas epigéicas Brachymyrmex, Camponotus, Dolichoderinae, Ectatomma, Pheidole, (Hymenoptera, Formicidae) em áreas de Eucalyptus cloeziana F. Wasmania –estão relacionados a ambientes com alto grau de Muell. e de vegetação nativa numa região de cerrado. Revista Bra- antropização como o Morro do Serrinha (área de maior sileira de Entomologia 45 (3): 251-256. heterrogeneidade ambiental) e possuem distribuições amplas Torres, J. A. (1984a). Niches and coexistence of ant communities (Holldobler e Wilson, 1990). in Puerto Rico: repeated patterns. Biotropica, 16: 284-295. Os gêneros Pheidole e Camponotus são os mais amplamente Torres, J. A. (1984b). Diversity and distribution of ant communities distribuídos e também os mais predominantes em espécies do in Puerto Rico. Biotropica, 16: 296-303. mundo (Wilson, 1976). As espécies de Pheidole têm sua ecologia Wilson, E. O. (1971). The insects societies. Belknap Press of muito diversificada podendo ser coletoras de sementes, onívoras, Harvard Press, Cambridge. predadoras ou ainda ter relações de mutualismo com plantas ou com Homoptera (Hollddobler &Wilson, 1990). Já as espécies de Wilson, E. O. (1959). Some ecological characteristics of ants in Camponotus, são consideradas um dos gêneros com maior tolerân- New Guinea rain forests. Ecology 40: 437-445. cia ecológica permitindo então uma maior colonização de ambi- entes (Brown, 1973). Soares et al. (1998) concluiu que Wasmania Anatomia da raiz, caule, folha e escapo de espécies auropunctata e Ectatomma edentatum são mais adaptadas a ambien- de Eriocaulaceae da Serra do Cipó (Minas Gerais) a tes heterogêneos de mata que a monoculturas. Fabrícia Borges Gomes ([email protected]) b , Ana 5. Bibliografia Cristina Honória de Oliveira b, Igor Mendonça Rezende b, Mariana b b Andersen e Read, (2000). The value of ants as early warning Resende Silva , Patrícia Fátima Tavares de Souza , Meyr Pereira b b bioindicators: responses to pulsed cattle grazing at an Australian Cruz , Núbia da Silva Araújo , Cristiano Xavier Fernandes& c arid zone locality. Journal of Arid Environments. 45: 231-251. Neuza Maria de Castro . a Trabalho desenvolvido na disciplina Anatomia Ecológica. b Andersen, (1997). Using ants as bioindicators: multiscale issues in Graduandos do curso de Ciências Biológicas - Universidade Federal ants community ecology. Conservation Ecology (on line) 1(1): 8. de Uberlândia. c. Instituto de Biologia da Universidade Federal de Available from the internet. URL: http://www.consecol.org/vol1/ Uberlândia. iss1/art8. Brandão e Ferreira, (2001). Vegetação e flora do Morro do Serrinha. 1.Introdução Artigo não publicado. A família Eriocaulaceae apresenta 10 gêneros e cerca de 1200 Davidson, D. W.; Patrell-Kim, L. (1996). Tropical arboreal ants: espécies que se distribuem nas regiões tropicais e subtropicais do Why so abundant? In: A. C. Gibson (ed.) Neotropical Biodiversity mundo (Giulietti e Hensold, 1990). and Conservation. Pp. 127-140. A maior concentração de gêneros e espécies da família ocorre Greenslade, P. J. M.; Greenslade, P. (1977). Some effects of nas regiões montanhosas da América do Sul, principalmente, na vegetation cover and disturbance on a tropical ant fauna. Insects Venezuela, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, com o centro de

440 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado diversidade genética localizado nas serras da Cadeia do Espinhaço, Scatena e Menezes, 1996; Scatena e Moraes, 1996; Coan, Scatena em Minas Gerais (Giulietti e Hensold, 1990). e Giulietti, 2002). A Serra do Cipó corresponde à porção da Cadeia do Espinhaço Nas três espécies, o mesófilo é descontínuo; os feixes vasculares localizada no Município de Santana Do Riacho (MG). A região são colaterais e envolvidos pela endoderme parenquimática e por apresenta altitude média de 1200 m, temperatura média anual uma ou mais camadas de fibras pericíclicas. Os feixes vasculares oscilando entre 18º e 20ºC e os campos rupestres são o tipo de maiores são ligados à epiderme por extensões de bainha. vegetação predominante na região. Em Syngonanthus cipoensis verificou-se a presença de fungos Os estudos anatômicos das Eriocaulaceae iniciaram-se nos envolvendo os tricomas da folha. primórdios do século passado com Malmanche (1919) e na segun- O escapo é cilíndrico em Paepalanthus chlorocephalus e da metade do século XIX, Tomlinson (1969) publicou uma revisão Syngonanthus cipoensis e triangular em Syngonanthus caulescens. do que já havia sido estudado sobre o assunto até a década de 60. Observa-se também que, nas três espécies, o córtex é consti- Na Serra do Cipó as Eriocaulaceae crescem em solos arenosos tuído por costelas formadas de tecido de paredes espessadas alter- secos ou úmidos com algumas espécies aquáticas. nadas por parênquima clorofiliano, que no conjunto apresenta As características anatômicas dos diferentes órgãos das espéci- aspecto radiado. es de Eriocaulaceae revelam as adaptações observadas na família 4. Conclusões aos diferentes habitats ocupados, bem como, têm sido de grande As características anatômicas encontradas em Paepalanthus importância para os estudos sobre taxonomia do grupo. chlorocephalus e Syngonanthus cipoensis, tais como: revelam caracte- O presente trabalho tem o objetivo de analisar a anatomia de rísticas xeromórficas, enquanto Syngonanthus caulescens apresenta Paepalanthus chlorocephalus Alv. Silv.; Syngonanthus caulescens Ruhl. características higromórficas. e Syngonanthus cipoensis Ruhl., bem como, relacionar suas caracte- Agradecimentos: rísticas anatômicas com o ambiente onde as espécies crescem. À FAPEMIG pelo apoio financeiro recebido. 2.Metodologia 5. Referências Bibliográficas As amostras foram coletadas na Serra do Cipó (MG), em maio Castro, N. M.; Menezes, N. L (1990). Considerações sobre a de 2002. natureza das células altas da Epiderme abaxial das folhas de A fixação foi feita com FAA + glutaraldeído (Lersten e Curtis, Paepalanthus Kunth, Eriocaulaceae. Boletim de Botânica da Uni- 1988), por um período de 18-24 horas. versidade de São Paulo 12:.95-100., São Paulo. Após a fixação as amostras foram conservadas em etanol 50%. Coan, A. I., Scatena, V. L.; Giulietti, A. M. (2002). Anatomia de Para a análise anatômica foram feitas secções à mão livre, algumas espécies aquáticas de Eriocaulaceae brasileiras. Acta da folha, raiz e escapo. Botanica Brasilica 16(4):371-384., Brasília. Os cortes foram clarificados em solução de hipoclorito de sódio a 5% (Kraus e Arduin, 1997) e corados com a azul de astra + Esau, K.. (1977) Anatomy of seed plants. 2. ed., 550p., Santa Barbara fuccina básica (Luque et al., 1996). , Califórnia. Foram preparadas lâminas temporárias, usando-se como meio Giulietti, A. M.; Hensold, N. (1990). Padrões de distribuição ge- de montagem água glicerinada 50% (Mayer, 1937 apud Kraus e ográfica dos gêneros de Eriocaulaceae. Acta Botânica Brasilica 4(1): Arduin, 1997). 133-159., Brasília. O material foi analisado sob microscópio óptico de luz fotônica Kraus, J. E.; Arduin, M. (1997). Manual básico de métodos em e fotografado com máquina acoplada ao microscópio Zeiss/Axioplan morfologia vegetal. Editora Universidade Rural (EDUR),. 198 p. com filme Kodak Gold 100. Km 47 Antiga Rodovia Rio - São Paulo. 3. Resultados e Discussão Lersten, N. R.; Curtis, J. L. (1988). Secretory reservois (ducts) of A epiderme da raiz é unisseriada formada por células de pare- two kinds in giant ragweed (Ambrosia trifida, Asteraceae). American des delgadas. O córtex da raiz em Syngonathus caulescens e Journal of Botany 75(9): 1313-1323, Columbus. Syngonanthus cipoensis apresenta aerênquima, enquanto em Paepalanthus chlorocephalus é do tipo compacto, formado por Luque, R., Souza, H. C.; Kraus, J. E. (1996). Métodos de Colora- parênquima fundamental. ção de Roeser (1972) - Modificado - e Kropp (1972) visando a Segundo Malmanche (1919) e Tomlinson (1969) as Substituição do Azul de Astra por Azul de Alcião 8GS ou 8GX. Eriocaulaceae apresentam dois tipos básicos de raiz: as vermiformes Acta Botanica Brasilica 10(2):199-212., Brasília. ou articuladas, com diafragmas corticais que reservam ar, nas espé- Malmanche, L. A. (1919). Contribuition a l’ estude anatomique dês cies aquáticas ou que crescem em solos encharcados e as raízes Eriocaulacées et dês families voisines. Restiacées, Centrolepidacées, uniformes sem os diafragmas corticais, que não reservam ar, naque- Xyridacées, Philydracées, Mayacacées. 165 p. Tese (Doutorado em las espécies que crescem em solos secos. Botânica), St. Clond. A endoderme é unisseriada e no cilindro vascular o periciclo é Scatena, V. L.; Menezes, N. L. (1996). Anatomia de escapos e unisseriado em Paepalanthus chlorocephalus e multisseriado nas duas folhas de Syngonanthus Ruhl. (Eriocaulaceae) de campos rupestres. espécies de Syngonanthus. Revista Brasileira de Biologia 56(2): 317-332., São Paulo. Apenas Syngonanthus caulescens apresenta caule aéreo com Scatena, V. L.; Moraes, A. R. S. (1996). Anatomia de raízes, folhas aerênquima bem desenvolvido na região cortical e Paepalanthus chlorocephalus e Syngonanthus cipoensis são espécies “acaule”. e escapos de espécies de Paepalanthus subgênero Platycaulon A folha de Paepalanthus chlorocephalus e Syngonanthus cipoensis (Eriocaulaceae). Arquivos Brasileiros de Biologia e Tecnologia 39(4):1021-1035., Curitiba. revela características xeromórficas tais com epiderme de paredes espessadas e uma grande quantidade de feixes vasculares, enquan- Tomlinson, P. B. (1969). Commelinales-Zingiberales, In to, Syngonanthus caulescens apresenta características higromórficas, METCALF, C.R. (ed.) Anatomy of the . Claredon tais como, epiderme formada por células de paredes delgadas. Press, Oxford, vol.3, 446 p. O espaçamento tangencial nas paredes externas da epiderme é característico de plantas de ambiente seco (Esau, 1977; Castro e Menezes, 1990). A folha é hipoestomática nas três espécies analisadas e os estômatos são do tipo paracítico, como o observado em todas as espécies de Eriocaulaceae já estudadas (Castro e Menezes, 1990;

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 441 Cerrado Volume I

Biologia Reprodutiva de Tibouchina granulosa qual era vibrada sobre as anteras, imitando o comportamento (Desr.) Cong., Melastomataceae vibrátil das abelhas. Na polinização cruzada, as flores foram FALEIRO, Wender¹,²; MAGALHÃES, Carolina Costa¹; OLIVEI- emasculadas e polinizadas com pólen de flor de outro indivíduo. RA, Paulo Eugênio³ Na agamospermia, as flores foram apenas emasculadas. Após cada 1 - Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas – UFU tratamento as flores eram novamente ensacadas, com exceção das 2 - Bolsista do Programa Especial de Treinamento – PET/BIOLO- controle que foram apenas marcadas com uma cor de cola, sem GIA-UFU SESu/MEC nenhuma manipulação. Os sacos foram retirados ao final da floração 3 - Instituto de Biologia – UFU para a observação de formação ou não de frutos. [email protected] Para todos os tratamentos foi feita a observação do crescimen- to de tubos polínicos, inclusive para agamospermia (para verifica- 1. Introdução ção de possível contaminação do estigma por grãos-de-pólen), em Com distribuição quase que exclusivamente nos trópicos, intervalos de tempo regulares (24, 48 e 72h). Dois pistilos, de cada Melastomataceae constitui uma das grandes famílias das tratamento e de cada intervalo de tempo, foram submetidos à angiospermas, com aproximadamente 190 gêneros e cerca de 4800 técnica de coloração de Martin (1959), e observados sob espécies (Renner apud Guimarães 1997). São plantas de fácil reco- microscopia de fluorescência. nhecimento por apresentarem folhas simples, opostas ou Material testemunho está sendo preparado e será depositado verticiladas, curvinérveas, com três a cinco nervuras principais, no Herbário Uberlandense (HUFU). androceu diplostemone e anteras poricidas. Suas flores possuem 3. Resultados e Discussão sempre números de pétalas e sépalas iguais. A espécie Tibouchina granulosa (Desr.) Cong., possui porte O sistema reprodutivo predominante na família é o xenógamo arbóreo com até 6 m de altura, ramos alados, folhas pecioladas, (Renner, 1989) favorecido pela separação espacial entre o estigma oblongo-lanceolada, base obtusa, ápice agudo, margem inteira, e o pólen. A existência de mecanismos de auto-incompatibilidade face superior adpresso-escabra e inferior com tricomas estrelados genética é relativamente comum nas tribos Rhexieae e Miconieae, na base, cinco nervuras sendo que as mais externas confluem acima e menos característica nas tribos Melastomeae e Microliceae da base, panícula terminal ou axilar e brácteas 1,2-1,5 cm x 1-1,3 (Goldenberg & Shepherd, 1998). E com relativa freqüência apre- cm. As flores são hermafroditas, actinomorfas com cinco pétalas sentam casos de apomixia, principalmente entre espécies da tribo livres de 3-3,3 cm x 2,2-2,7 cm, roxas ou róseos, 10 estames pouco Miconieae. dimorfos, filetes com tricomas longos na metade superior, tecas O presente trabalho apresenta aspectos relacionados á biolo- 13-14 cm de comprimento, conectivo 2-2,5 mm prolongados, gia floral, aos visitantes florais e ao sistema de reprodução de anteras com deiscência poricida. Possuem cerca de 10.700 grãos de Tibouchina granulosa. pólen, dos quais 95,33% são viáveis. Ovário 8 x 4 mm, semi-ínfero, 2. Material e métodos plurilocular, com aproximadamente 400 óvulos. Estilete 2,2-2,5 O trabalho foi desenvolvido no Campus Umuarama da Uni- cm de comprimento, terminal e glabro. A proporção de óvulo por versidade Federal de Uberlândia, localizado no bairro Umuarama, grãos de pólen é 1/27. município de Uberlândia, Minas Gerais. O campus possui uma A antese ocorre em torno das 06:00h, onde já se observa libe- grande riqueza e diversidade arbórea, a qual abriga várias espécies ração de odor, disponibilidade de grãos de pólen e viabilidade de invertebrados e aves. De acordo com a classificação de Köppen, estigmática. As flores permanecem com seus estames por 72h e o clima do local é do tipo Aw (clima de savana), com inverno seco com seus pistilos e pétalas por 120h. Antes da abscisão das partes e frio e verão úmido e quente. florais, observa-se apenas leve descoloração e murchamento. Os trabalhos de campo foram desenvolvidos no mês fevereiro A análise dos pistilos previamente tratados permitiu observar: de 2003, envolvendo 05 indivíduos de Tibouchina granulosa. Fo- 1) nas autopolinizações manuais, polinizações cruzadas e contro- ram observados: a) número de flores produzidas/indivíduo; b) ho- les, após 24h, presença de grãos-de-polén germinados e tubos rário de antese das flores; c) tempo de duração das partes florais; d) polínicos em início de desenvolvimento e após 48 e 72h crescimen- emissão de odor; e) produção de néctar; f) receptividade estigmática; to dos tubos polínicos atingindo o final do estilete; 2) nas g) viabilidade dos grãos de pólen. emasculações, testando apomixia, não foi encontrado nenhum grão-

A receptividade do estigma foi testada com Peróxido de hidro- de-polén contaminando o estigma. Para os testes sobre o sistema gênio (H2O2). Para verificar a viabilidade dos grãos de pólen, flores reprodutivo foram utilizadas 24 flores para cada tratamento, ob- foram fixadas, logo após a antese, em álcool 70% por 48h. Lâminas tendo a seguinte porcentagem para a formação de frutos: com anteras foram preparadas com carmim acético 1,2%, e 200 emasculação (37,5%); condições naturais (25%); polinização cru- grãos de pólen foram analisados por lâmina. Para verificação da zada (8,33%); autopolinização manual (4,17%). proporção grãos-de-polén por óvulos, Foi feita a contagem de grãos- Trabalhos recentes têm mostrado, com relativa freqüência, a de-polén e de óvulos pertencentes a uma flor. ocorrência de casos de apomixia em Melastomataceae (Renner Os visitantes foram observados entre 06:00 e 18:00h, sendo 1989; Goldenberg & Varassin, 2001). A apomixia é um fenômeno anotadas a freqüência, a duração e o horário de suas visitas, bem pelo qual uma planta é capaz de produzir sementes com embriões como o comportamento dos visitantes mais freqüentes. Exempla- viáveis sem que antes houvesse a fusão de gametas e formação de res foram coletados para a posterior identificação. zigotos (Goldenberg & Varassin, 2001). A ocorrência de apomixia Para determinar a sistema de reprodução da espécie, flores aparentemente não está relacionada a adaptações e a determinadas foram submetidas aos experimentos de autopolinização manual, condições ambientais ou ecológicas, estando mais claramente, se- agamospermia e polinização cruzada, bem como observadas para gundo Goldenberg & Varassin 2001, ligada à expressão ou conse- estimar o sucesso da polinização em condições naturais (controle). qüência de outros processos, tais quais hibridação e poliploidia. Para cada tratamento utilizaram-se 30 flores ensacadas na pré- Durante o período de observação dos visitantes florais, obser- antese, com sacos de papel impermeáveis e emasculadas quando vou-se apenas uma espécie de abelha, Trigona sp. As visitas inicia- necessário. Cada experimento foi marcado com uma cor, com au- vam-se a partir das 7:30h estendendo-se até às 17:00h. Os visitan- xilio de colas coloridas. No tratamento de autopolinização manu- tes apresentavam pouca atividade, eles aproximavam-se das flores al, as flores ensacadas no dia anterior à antese foram polinizadas frontalmente e pousavam diretamente sobre as mesmas. A abelha após a abertura. Para isso utilizou-se pólen da própria flor previa- permanecia alguns segundos sobre uma flor, sobrevoava as flores ao mente coletado com o auxílio de lâminas e uma pinça cirúrgica, a redor, voltava novamente na mesma flor, e logo após visitava outra

442 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado flor. A única recompensa que a planta disponibilizava para o visi- A distilia é encontrada em 416 espécies distribuídas em 91 gêneros tante era o pólen, o qual era coletado em pequena quantidade, de Rubiaceae (Castro & Oliveira 2002). O gênero Psychotria L. é possivelmente por o visitante não apresentar comportamento o maior dentro da família Rubiaceae e da tribo Psychotrieae, pos- vibrátil, “buzz pollination”. Segundo Faegri & Van Der Pijl 1979 e suindo, aproximadamente 2000 espécies distribuídas nos trópicos Buchmann 1983, a maioria das espécies que apresentam anteras e sub-trópicos em ambos os hemisférios, sendo comumente repre- poricidas, exigem polinização vibrátil, logo podemos inferir que sentado por arbustos, pequenas árvores, ervas e raramente por este visitante não é um polinizador de T. granulosa. Fato interessan- epífitas (Delprete 2001). Suas flores são pequenas polinizadas por te foi notado por Goldenberg & Varassin 2001, que as espécies abelhas, moscas, mariposas e aves (Hamilton 1990). Este trabalho apomíticas de Melastomataceae, não recebiam visitas de abelhas teve como objetivo estudar a frequência dos morfos e os aspectos com comportamento vibrátil ou estas, eram apenas esporádicas. da biologia floral de Psychotria carthaginensis L. e Psychotria deflexa Os testes sobre sistema reprodutivo permitem inferir que T. D. C. na Estação Ecológica do Panga, Uberlândia – MG. granulosa é uma espécie apomítica, haja vista a não contaminação 2. Métodos dos pistilos por grãos-de-polén, no tratamento de emasculação, O estudo foi realizado em mata mesófila semidecídua de encos- havendo 37,5% de formação de frutos, porcentagem bem superior ta localizada na Estação Ecológica do Panga (EEP), a qual pertence aos demais tratamentos. à Universidade Federal de Uberlândia. O trabalho de campo foi 4. Referências Bibliográficas realizado no período de floração das espécies no ano 2002. A EEP BUCHMANN, S. L. Buzz Pollination in Angiosperms. In: JONES encontra-se situada a 30 Km do centro de Uberlândia nas coordena- C. E. & LITTLE R. J., editor. Handbook of experimental das 19º09’20”, 19º11’10” S e 48º23’20” - 48º24’35” W, numa pollination biology. Van Nostrand Reinhold, New York. altitude média de 800m (Schiavini & Araújo 1989). O clima da região é Aw megatérmico (segundo a classificação de Köppen), com FAEGRI, K. & VANDER PIJL. The principales of pollination duas estações muito bem definidas (Rosa et al. 1991). A morfologia Ecology. Pergamon Press: London, 1979. floral foi estudada em flores fixadas em álcool 70% (40 flores/morfo, FORNI-MARTINS, E. R.; MARQUES, M. C. M.; LEMES, M. em 10 indivíduos) com auxílio de paquímetro com precisão de R. Biologia Floral e reprodução de Solanum paniculatum L. 0,1mm. As medidas tomadas foram: (1) comprimento da corola; (2) (Solanaceae) no Estado de São Paulo, Brasil – Revista Brasileira de número de pétalas; (3) número de estames; (4) largura mínima da Botânica: São Paulo, 1998. v. 21, n. 2; p. 117-124. corola; (5) largura máxima da corola; (6) comprimento da antera; GOLDENBERG, R.; VARASSIN, I. G. Sistemas reprodutivos de (7) altura da antera [comprimento do filete somado a metade do espécies de Melastomataceae da Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo, comprimento da antera]; (8) comprimento do estigma (lobos Brasil. Revista Brasileira de Botânica: São Paulo, 2001. v. 24, n. 3; 9 p. estigmáticos fechados); (9) altura do estigma [comprimento do estilete GUIMARÃES, P. J. F.; MARTINS, A. B. Tibouchina sect. Pleroma somado com comprimento do estigma]. A separação estigma-antera (d. Don) cong. (Melastomataceae) no Estado de São Paulo. Revis- (10) foi calculada para cada flor como valor absoluto da altura da ta Brasileira de Botânica: São Paulo, 1997. v. 20, n. 1; p. 11-33. antera (7) menos altura do estigma (9) (Faivre &McDade 2001). Para averiguar a ocorrência de isopletia nas duas populações, foi RENNER, S. S. A survey of reprodutive biology in Neotropical usado o método de varredura, na qual foram levantados os 100 Melastomataceae and Memecylaceae. Annals of the Missouri primeiros indivíduos de cada espécie. Para medidas morfométricas a Botical Garden, 1989. análise estatística foi feita usando ANOVA e para constatar isopletia foi usado o teste de Qui-quadrado. Frequência dos morfos e variação floral em duas 3. Resultados espécies distílicas de Rubiaceae na Estação Psychotria deflexa e P. carthaginensis são espécies arbustivas po- Ecológica do Panga, Uberlândia – MG dendo atingir de 0.3m a 1.5m e 0.5 a 6m, respectivamente. Ambas Felipe Amorim1, Hélder Consolaro1, 2 , Alexandre Silva de Oliveira1 encontram-se distribuídas na mata mesófila, tendo P. carthaginensis e Paulo Eugênio de Oliveira1 maior ocorrência na mata de galeria e P. deflexa no interior da mata. 1Universidade Federal de Uberlândia - Instituto de Biologia; As flores são actinomorfas, pentâmeras, gamossépalas e 2Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos hermafroditas. P. deflexa apresenta flores com coloração amarela Naturais ([email protected]) esverdeado e estames dispostos de forma agrupada de um lado da corola, enquanto P. carthaginensis as flores são brancas com estames 1. Introdução dispostos de forma cíclica ao redor da corola. Para as duas espécies, Heterostilia é um polimorfismo floral que compreende popu- a análise morfológica das flores indica a presença de dois tipos lações compostas de dois morfos (distilia) ou três morfos (tristilia), florais, brevistilos e longistilos, em indivíduos diferentes, o que diferenciando-se pelo posicionamento recíproco das alturas do caracteriza heterostilia do tipo distílica. Entretanto, a proporção estilete e do estame (Ganders 1979; Barrett 1992; Mal & Lovett- de indivíduos com flores brevistilas e longistilas difere entre as Doust 1997). Em um indivíduo distílico, todas as flores são espécies. Em P. deflexa, a frequência dos morfos não diferiu signifi- longistilas ou brevistilas (Faivre & McDade 2001). Flores longistilas cativamente (isopletia - X2=0.18, p<0,05), ocorrendo proporção possuem o estigma posicionado acima das anteras e em flores próxima da razão 1:1. P. carthaginensis, apresentou uma frequência brevistilas o estigma encontra-se abaixo das anteras (Richards & de morfos que diferiu significativamente da razão esperada Koptur 1993). Em uma população distílica, é esperado um equilí- (anisopletia - X2= 63.19, p< 0.05); flores longistilas tiveram uma brio entre os dois morfos florais (isopletia), ou seja, uma razão de alta predominância (99 indivíduos longistilas e um brevistila). 1:1 entre morfos florais (Castro & Oliveira 2002; Endels et al. Devido a este desvio na isopletia e ao indivíduo brevistilo ter pro- 2002; Ganders 1979; Dulberger 1992). Além do polimorfismo duzido poucas flores ao longo da floração, testes estatísticos para floral, espécies heterostílicas possuem um sistema de incompatibi- comparação entre os morfos florais não foram executados. lidade genético, o qual previne a autopolinização e a polinização P. deflexa apresenta diferença significativa na altura das anteras intramorfo (Faivre & McDade 2001). Heterostilia é encontrada e do estigma entre os morfos florais. Para flores brevistilas, a altura em aproximadamente 28 famílias de Angiospermas, sendo Rubiaceae das anteras excedeu significativamente a altura das anteras de flores a que contém o maior número de espécies distílicas de todas as longistilas (F= 434.22; p<0.05) e a altura do estigma, para flores famílias onde essa característica é conhecida, e talvez mais espécies longistilas, excedeu significativamente a das flores brevistilas (F= distílicas do que todas as outras famílias reunidas (Ganders 1979). 293.54; p< 0.05). A separação estigma-antera não variou significa-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 443 Cerrado Volume I tivamente entre os morfos florais. Flores longistilas apresentaram in pin-thrum rartios in populations of the heterostyle Primula comprimento da antera e do estigma significativamente menor que vulgaris Huds: Does imbalance affect populations persistence? Flo- em flores brevistilas (F= 4.053; p< 0.05 e F= 87.35; p<0.05, respec- ra 197: 326-331. tivamente). As demais medidas não apresentaram variação signifi- Faivre A. M. & McDade L. A. 2001. Population-level variation in cativa entre os morfos florais. the expression of heterostyly in three species of Rubiaceae: does 4. Discussão reciprocal placement of anthers and stigmas characterize Psychotria deflexa e P. carthaginensis são morfologicamente heterostyly? Am. J. Bot. 88: 841-853. distílicas com os dois morfos apresentando altura recíproca do Ganders, F. R. 1979. The biology of heterostyly. New Zealand estigma e da antera, possuindo assim hercogamia recíproca (Lloyd Journal of Botany 17: 607-635. & Webb 1992; Pailler & Thompson 1997), componente essencial da heterostilia, pois explica a evolução e a permanência deste Hamilton, C. W. 1990. Variations on a Distylous Theme in polimorfismo baseada no aumento da polinização cruzada (Faivre Mesoamerican Psychotria subgenus Psychotria (Rubiaceae). Memoirs & McDane 2001; Charlesworth & Charlesworth 1979; Lloyd & of the New York Botanical Garden 55: 65-75. Webb 1992). Apesar de P. carthaginensis possuir apenas um indiví- Lloyd, D. G. & Webb, C. J. 1992. The evolution of heterostyly. In: duo brevistilo no local de estudo a espécie pode ser considerada Barret, S. C. H. (ed.). Evolution and function of heterostyly. Monographs distílica, pois levantamentos feitos em herbários indicam a presen- on theorical and applied genetics. Springer-Verlag. 279 p. ça dos dois morfos em outras populações da espécie. A presença de Mal, T. K. & Lovett-Doust, J. 1997. Morph frequencies and floral anisopletia na população estudada pode estar associada a vários variation in a heterostylous colonizing weed, Lythrum salicaria. fatores, tais como perturbação ambiental, a qual pode proporcio- Can. J. Bot. 75: 1034-1045. nar vantagens na dominância de um morfotipo, principalmente em Pailler, T, Thompson J. D. 1997. Distyly and variation in se tratando de populações pequenas (Endels et al. 2002). Este heteromorphic incompatibility in Gaertnera vaginata (Rubiaceae) desequilíbrio na proporção dos morfos pode acarretar alterações endemic to La Reunion Island. Am. J. Bot. 84: 315-317. no sucesso reprodutivo dessas populações em decorrência do dis- túrbio ou da redução da transferência dos grãos de pólen entre os Richards, J. H. & Koptur, S. 1993. Floral variation and distyly in morfos (Endels et al. 2002). Interação entre um tipo de polinizador Guettarda scabra (Rubiaceae). Am J. Bot. 80 (1): 31-40. e variação nas características florais podem ser fatores importantes Rosa, R.; Lima, S. C. & Assunção, W. L. 1991. Abordagem preli- na seleção do morfotipo floral (Thompson 2001). Desvio na isopletia minar das condições climáticas de Uberlândia (MG). Sociedade e também pode estar associado a espécies com algum grau de Natureza 3: 91-108. autocompatibilidade e/ou colonização por crescimento vegetativo Schiavini, I. & Araújo, G. M. 1989. Considerações sobre a vegeta- (Sobrevila et al. 1983). Em Palicourea petiolaris (Sobrevila et al. ção da Estação Ecológica do Panga (Uberlândia). Sociedade e 1983), o morfo longistilo também prevalece na população. Em se Natureza, 1-1: 61-65. tratando de variação entre morfos, P. deflexa foi similar a outras espécies distílicas, ou seja, algumas características variando entre Sobrevila, C.; Ramirez, N. & Enrech, N. X. de. 1983. Reproductive biology of Palicourea fendleri and P. petiolares (Rubiaceae), os morfos e outras não. Como encontrado em Gaertnera vaginata (Pailler & Thompson 1997), o tamanho da antera variou entre os heterostylous shrubs of a tropical cloud forest in Venezuela. morfos florais, sendo maiores em brevistilas, talvez pelo fato destas Biotropica 15 (3): 161-169. possuírem grãos de pólen maiores do que flores longistilas. O mai- Thompson, J. D. 2001. How do visitation patterns vary among or comprimento do estigma em flores brevistilas de P. deflexa tam- pollinators in relation to floral display and floral design in generalist bém foi encontrado em Gaertnera vaginata (Pailler & Thompson pollination system? Oecologia 126: 386-394. 1997), entretanto para essa espécie a variação ocorreu entre popu- (Apoio: CAPES e CNPq - 570872/96-7) lações. O encontrado em P. deflexa pode estar relacionado à loca- lização interna do estigma na corola. Por estar menos exposto a A fauna de Coleoptera (Insecta) em monocultura de polinização, aumentar a superfície de contato pode contra balan- Eucaliptus sp., mata de galeria e campo limpo cear este déficit de pólen. Dada a caracterização de Psychotria deflexa Fernanda de Vasconcellos Barros1, Cecília Gontijo Leal 1, Cesar Felipe e Psychotria carthaginensis como espécies distílicas, conhecer os de Souza Palmuti1, Eduardo Rodrigues de Souza1, Letícia Couto mecanismos de auto-incompatibilidade genética destas espécies Garcia 1, Júlio Cesar Rodrigues Fontenelle1. seria de suma importância para entender as diferenças morfológicas 1 Depto. Biologia Geral / ICB-UFMG, 31270-110, Belo Horizonte, e a freqüência de morfos encontradas no presente estudo. MG. ([email protected]) 5. Referência Bibliográfica Barret, S. C. H. 1992. Evolution and function of heterostyly. 1. Introdução Springer-Verlag. Berlin. A Ordem Coleoptera é a mais diversificada entre os insetos, Castro, C. C. & Oliveira, P. E. 2002. Pollination biology of distylous existem aproximadamente 350.000 espécies em todo o mundo. Rubiaceae in the Atlantic Rain Forest, SE Brazil. Plant biol. 4: Esse total equivale a 40% de todas as espécies da Classe Insecta e 640-646. 30% de todos os animais (Borror & Delong, 1988). No Brasil Charlesworth, D. & Charlesworth, B. 1979. A model for evolution existem aproximadamente 30.000 espécies de coleópteros (Costa, of heterostyly. Am. Nat. 114: 467-498. 1999). Eles estão presentes em inúmeros ambientes e possuem importante papel ecológico na reciclagem de matéria orgânica e Delprete, P. G. 2001. Notes on some South American species of atuam como predadores, pragas agrícolas, comensais e fitófagos Psychotria subgenus Heteropsychotria (Rubiaceae), with observations (Borror & Delong, 1988). on rubiaceous taxonomic characters. Brittonia 53: 396-404. Estudos realizados com a mesofauna de alguns solos destacam Dulberger, R. 1992. Floral polymorphisms and their functional sua importância no processo de decomposição, juntamente com significance in the heterostylous syndrome. In: Barret, S. C. H. microorganismos do solo e fatores ambientais, além de atuarem em (ed.). Evolution and function of heterostyly. Monographs on diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar como herbívoros e theorical and applied genetics. Springer-Verlag. 279 p. predadores. São considerados formadores da base da cadeia trófica- Endels, P.; Jacquemyn, H.; Brys, R. & Hermy, M. 2002. Changes energética contribuindo com a degradação da matéria orgânica através de suas excreções, que fornecem ao solo proteínas e subs-

444 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado tâncias de crescimento para o desenvolvimento de populações No geral, as famílias Staphylinidae e Nitidulidae tiveram maior microbianas as quais irão acelerar o processo de decomposição representatividade quanto ao número de morfoespécies, 26% e (Odum, 1985). Dessa forma a matéria orgânica estará desintegra- 21% respectivamente, o que também ocorreu quanto ao número da e seus constituintes serão liberados e redistribuídos no de indivíduos. As famílias Cincidelidae, Elateridae, Tenebrionidae ecossistema, gerando um fluxo de nutrientes e de energia (Swift et e Cerambycidae tiveram menor representatividade quanto ao nú- al., 1979). mero de indivíduos e de morfoespécies, apenas 1% cada, sendo O presente trabalho tem como objetivo comparar a composi- encontradas apenas na mata de galeria. Com exceção de Nitidulidae, ção da fauna de coleópteros em mata de galeria, monocultura de que foi significativamente mais freqüente no eucaliptal, a análise Eucaliptus sp. e campo limpo. estatística demonstrou que as outras quatro famílias mais abun- 2. Metodologia dantes, Staphylinidae, Pitiliidae, Carabeidae e Scolytidae apresen- O estudo foi desenvolvido no condomínio Lagoa do Miguelão, taram maior número de indivíduos na mata de galeria. município de Nova Lima, situado a 30 Km da saída de Belo Hori- Comparando os índice de diversidade de Shannon e zonte. Foram escolhidas três áreas para análise da fauna de equitabilidade de Pielou entre as áreas podemos inferir que a mata Coleoptera: mata de galeria, monocultura de Eucaliptus sp. e cam- de galeria apresentou maior diversidade (H’=1,298) e equitabilidade po limpo. As matas de galeria são compostas por vegetação hetero- (E=0,72) do que o campo (H’=1,125 e E=0,68) e o eucaliptal gênea que acompanha rios de pequeno porte formando corredores (H’=1,094 e E=0,68). fechados sobre cursos d’água. Em geral ocorre uma transição brus- O índice de similaridade de Jaccard não indicou grandes dife- ca da borda da mata para formações campestres e de cerrado renças entre as áreas (0,47; 0,47; 0,50) sendo que os valores deste (Almeida, 1998). A monocultura de Eucaliptus sp. caracteriza-se índice ficaram muito próximos. Tal fato pode ter ocorrido devido por sub-bosque pouco desenvolvido e dossel descontínuo. E o ao curto período amostral, não sendo suficiente para inferir a res- campo limpo, situado em solo ferruginoso, apresenta aspecto uni- peito da diferença na composição dessas áreas. formemente herbáceo composto predominantemente por gramíneas Foi verificada uma variação significativa (p<0,01) na abundân- e ciperáceas (Ferri, 1979). As três áreas apresentam-se em um cia de coleópteros de cada área no decorrer das coletas. O que declive em direção ao vale, estando o eucaliptal no topo, o campo pode ser devido a uma maior movimentação de indivíduos entre as no declive e a mata no vale. áreas já que as coletas foram realizadas no período de chuva. Os coleópteros foram coletados utilizando pitfalls (Churchill, 4. Conclusões 1999) armados de 12 em 12 m, no período de Janeiro a Fevereiro - A mata de galeria mostrou uma composição mais rica e de 2003, em dois transectos lineares ao longo do declive, atraves- diversificada de coleópteros; sando dessa forma as três áreas. Cada transecto possuía 168m de - Apesar do eucaliptal ser uma monocultura, sua diversidade comprimento, distantes 12m um do outro. No total foram dez na fauna de coleópteros não foi muito diferente daquela encontra- pitfalls por área, sendo cinco em cada transecto. Os transectos da da no campo; mata interceptaram o riacho. As armadilhas foram substituídas a - O aparecimento de 4 famílias apenas na mata não indica que cada sete dias, totalizando 120 amostras. O material coletado foi elas sejam predominantes nesta área, pois a representatividade des- acondicionado em recipientes contendo solução de álcool 70% e tas famílias foi de apenas 1% o que pode ser devido a um baixo levado para laboratório, onde, com o auxílio de lupas, os coleópteros número amostral. foram identificados em famílias e morfoespécies. 5.Referências bibliográficas Foram calculados o índice de diversidade de Shannon, - Almeida, S. P. & Sano, S. M. (1998). Cerrado, ambiente e flora. equitabilidade de Pielou e similaridade de Jaccard para as três Ed. EMBRAPA. Planatina, DF. p. 107-108. áreas. Para a análise dos dados foi utilizado o programa estatístico - Borror, D. J. & Delong, D. M. (1988). Introdução ao Estudo dos SYSTAT versão 8.0 para Windows. O modelo de análise de variâcia Insetos. Ed. Edgard Bliicher, São Paulo. ANOVA foi utilizado para verificar e houve diferença significativas entre as áreas nos resultados obtidos. - Churchill, T. B. & Arthur, J. M. (1999). Measuring spider richness: 3. Resultados e discussão effects of different sampling methods and spatial and temporal Do total de 2507 coleópteros coletados, a maioria, 56% foi cole- scales. Journal of Insect Conservation. V. 3, p. 287 – 295. tada na mata de galeria, 26% foram coletados no eucaliptal e 18% no - Costa, C. (1999). Coleptera Linnaeus, 1758. In: Biodiversidade campo limpo, sendo, significativa esta diferença (p<0,01). A mata de do Estado de São Paulo, Brasil. Joly, C.A. & C.E.M. Bicudo (orgs.). galeria também apresentou maior riqueza de morfoespécies (64) do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, São que o campo (46) e o eucaliptal (39), o que pode ser reflexo de uma Paulo, SP. maior presença de microhabitats na mata que possui um microclima - Elton, C. S. (1973). The structure of invertebrate populations mais estável com maior umidade e sombreamento, fornecendo condi- inside neotropical rain fores. J.Anim. Ecol. V. 42, p. 55-103. ções múltiplas para existência de uma maior biodiversidade (Elton, - Ferreira, R. L. & Marques, M. M. G. S. (1998). A Fauna de 1973). O número de nichos que são encontrados disponíveis num Artrópodes de Serrapilheira de Áreas de Monocultura com Eucalyptus habitat influencia na diversidade de espécies de animais que podem ser sp. e Mata Secundária Heterogênea. Belo Horizonte, MG. Anais da encontrados nesse ecossistema (Lima, 1993). Sociedade Entomológica do Brasil. V. 27(3), p. 395 – 403 Das doze famílias amostradas todas foram encontradas na mata de galeria, 7 foram encontradas no campo limpo e 7 no eucaliptal. - Ferri, M. G. & Goodland, R. (1979). Ecologia do Cerrado. Belo O fato do eucaliptal superar o campo em número significativo Horizonte, MG. Ed. Itatiaia. (p<0,01) de indivíduos e possuir a mesma quantidade de famílias - Lima, W. P. (1993). Impacto ambiental do eucalipto,2a edi- encontradas neste, não era esperado, uma vez que as folhas de ção. Edusp. Eucaliptus sp. possuem grandes concentrações de óleos essenciais - Odum, E. P. (1985). Ecologia. Ed. Da Universidade de São Paulo. que as torna pouco palatáveis (Ferreira, 1998). Além disso, o p.434 eucaliptal é caracterizado como uma monocultura, que é reconhe- cida por sua baixa capacidade de sustentar uma grande diversidade - Swift, M. J. Heal, O. W. e Anderson, J. M. (1979). Decomposition in terrestrial ecossystems. Blackwell Scientefic Publications, London. faunística, podendo ter uma redução drástica na quantidade de nutrientes e energia circulantes (Lima,1993). (Agradecemos a equipe do laboratório de Aracnologia pela colabo- ração na triagem do material, em especial a Éwerton Machado.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 445 Cerrado Volume I

Agradecemos também a José Leite e Felipe Leite pela ajuda no chuvoso e inverno seco, classificado segundo o sistema Aw (Köppen trabalho de campo). 1948). Usamos o método de quadrantes centrados (Mueller- Dombois & Ellenberg 1974, Martins 1991) para caracterizar a es- Síndromes de Polinização em Fragmentos de Cerrado trutura e a composição florística de cada um dos sítios amostrados. no Sudoeste de Goiás Em cada fragmento, lançamos quatro transecções, cada uma delas com 15 pontos-quadrantes. A partir da borda, a cada 10 m, lança- Fernanda Quintas Martins1 & Marco Antônio Batalha2 1 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica, mos um ponto quadrante e amostramos os indivíduos, pertencentes Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Caixa Postal 676, ao componente arbustivo-arbóreo, definido aqui como os indivídu- 13.565-905, São Carlos, SP, Brasil. os lenhosos com diâmetro do caule no nível do solo maior ou igual a ([email protected]) 3 cm (DAS = 3 cm), conforme o recomendado pela SMA (1997). 2 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica. Identificamos o material botânico coletado com chaves de identifi- Caixa Postal 676, 13.565-905, São Carlos, SP, Brasil. cação baseadas em caracteres vegetativos (Mantovani et al. 1985, ([email protected]) Batalha et al. 1998, Batalha & Mantovani 1999) e por comparação com exsicatas depositadas nos herbários da Universidade Federal de 1. Introdução São Carlos (Hufscar), da Universidade Estadual de Campinas (UEC) A polinização é um processo ecológico crítico que afeta direta- e do Instituto de Botânica da Secretaria de Meio Ambiente do mente o sucesso reprodutivo das plantas, podendo levar à perda de Estado de São Paulo (SP). Classificamos a síndrome de polinização espécies vegetais caso seja afetada (Corlett & Turner 1997, de cada espécie com base nos critérios propostos por Pijl & Dodson Wunderlee 1997). As relações entre planta e polinizador são muito (1969) e Real (1983) e em consultas à literatura pertinente (e.g., importantes na estruturação dessas comunidades, pois podem in- Morelatto 1991, Buzzato 1995, Sazima et al. 1999). Considerare- fluenciar a distribuição espacial das plantas, a riqueza, a abundân- mos as seguintes síndromes de polinização: anemofilia (vento), cia de espécies, a estrutura trófica e a fenodinâmica (Bawa et al. cantarofilia (besouros), falenofilia (mariposas), melitofilia (borbole- 1985, Roth 1987, Morellato 1991). A reprodução nas plantas tas), miofilia (moscas), ornitofilia (aves), psicofilia (borboletas), envolve muitas etapas (Murcia 1996) e a diversidade genética é quiropterofilia (morcegos) e não-especializadas (insetos polinizadores influenciada pelos polinizadores com a promoção do fluxo de genes não especializados que visitam flores morfologicamente pouco (Nason et al. 1997). Portanto, alterações ambientais podem levar à especializadas). Em seguida, fizemos análises de regressão (Zar 1999) extinção das plantas, tanto por meio de ações diretas sobre elas para tentar responder às perguntas: as síndromes de polinização quanto por meio de efeitos indiretos nos polinizadores (Laurence variam de acordo com a distância da borda? As síndromes de & Bierregard 1997). Cada espécie de planta apresenta característi- polinização variam de acordo com os estratos vegetais? cas morfológicas e fisiológicas específicas que podem atrair certos 3. Discussão e Resultados grupos de visitantes florais em detrimento de outros. Tradicional- Os 1.200 indivíduos coletados nas 20 transecções compreen- mente, a essa atração diferencial das flores tem sido dada grande deram 102 espécies e 36 famílias. Dentre os indivíduos, 1.014 importância, pois, visitantes específicos são observados em flores apresentam síndrome melitofílica (85% dos indivíduos); 111, específicas e isso tem conduzido ao estabelecimento das “síndromes síndrome falenofílica (9%); 32, síndrome psicofílica (3%); 27, de polinização” (baseado na cor da flor, forma, odor, recompensa e síndrome cantarofílica (2% das espécies); e apenas 16 indivíduos sistema reprodutivo) (Faegri & van der Pijl 1979). Como a estru- com síndrome quiropterofílica (1%). A família mais representativa tura vertical da vegetação resulta na estratificação de recursos ali- foi Fabaceae, com 17 espécies, seguida por Myrtaceae, com 15 mentares e do microclima, a comunidade de animais também é espécies. As duas espécies mais abundantes foram Davilla elliptica estratificada, de modo que cada estrato vegetacional tem seus A. St-Hil, com 130 indivíduos, e Miconia albicans Triana, com 91 polinizadores característicos (Smith 1973). Essas diferenças tam- indivíduos. Com a análise de regressão constatamos que as síndromes bém ocorrem entre ambientes diferenciados, como a borda e o de polinização não variaram significativamente com relação à dis- 2 interior da floresta. Assim, espera-se que diferentes síndromes de tância da borda (melitofilia: p = 0,95 e r = 0,0003; quiropterofilia: 2 2 polinização ocorram tanto entre diferentes estratos quanto entre p = 0,82 e r = 0,0038; cantarofilia: p = 0,68 e r = 0,0142; falenofilia: 2 2 diferentes ambientes (Yamamoto et al. no prelo). As síndromes de p = 0,57 e r = 0,0497; psicofilia: p = 0,54 e r = 0,0307). Em polinização são diferentes entre as espécies vegetais que atingem o fisionomias abertas, a variação entre borda e interior não deve ser dossel e as camadas inferiores, sendo que no dossel predominariam tão grande quanto em fisionomias fechadas. Já com relação à espécies com flores polinizadas por abelhas médias a grandes estratificação, as síndromes melitofílica e psicofílica variaram signi- 2 2 (Appanah 1981, Bawa et al. 1985). Espécies com síndromes de ficativamente (p = 0,016 e r = 0,0894; p = 0,007 e r = 0,1124, polinização pelo vento são predominantes em vegetação secundá- respectivamente), mais comuns em alturas de 0,5-4,0 m e 0,5-3,0 ria, indicando preferência por esse ambiente (Opler et al. 1980, m, respectivamente. Já as síndromes quiropterofílica, falenofílica e Morellato 1991). Essa anemofilia é encontrada principalmente na cantarofílica não obtiveram uma variação significativa com relação 2 2 borda, pois é provável que no interior da floresta a velocidade do aos diferentes estratos (p = 0,573 e r = 0,0106; p = 0,686 e r = 2 vento seja muito pequena (Faegri & Pijl 1979) e a posição das 0,0028; p = 0,160 e r = 0,0316, respectivamente). espécies anemófilas na borda facilitaria o fluxo de pólen (Arruda & Segundo Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger (1988), a Sazima 1988). Síndromes mais especializadas, como quiropterofilia zoofilia – polinização por animais – é a forma de polinização mais e ornitofilia, devem ocorrer preferencialmente na borda dos frag- encontrada nos cerrados brasileiros (86%), seguida pela anemofilia mentos, já que morcegos e aves necessitam de espaço para voar – polinização pelo vento –, com 14%. No cerrado estudado por (Yamamoto et al. no prelo). Morellato (1991) encontrou espécies esses autores, das plantas zoófilas, a polinização mais encontrada com essas síndromes somente na borda e nos estratos superiores do foi por abelhas; seguida por dípteros; lepidópteros diurnos; vespas; interior do fragmento. Também é de se esperar que flores polinizadas coleópteros; beija-flores; esfingídeos; lepidópteros noturnos e mor- por abelhas ocorram com maior freqüência no interior dos fragmen- cegos. Os nossos resultados também indicam a melitofilia como a tos e nas fisionomias fechadas de cerrado (Yamamoto et al. no prelo). principal síndrome de polinização entre os indivíduos arbustivo- 2. Métodos arbóreos de cerrado. O papel das abelhas na polinização das plan- Desenvolvemos este estudo na região do Alto Taquari, estados tas do cerrado não somente é o mais importante pelo fato destas de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em cinco fragmentos polinizarem a maioria das espécies, mas também por serem o grupo de cerrado sensu stricto. O clima regional é tropical úmido com verão de maior exclusividade. A melitofilia é a síndrome de polinização

446 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado mais freqüente não só no cerrado, mas também na flora neotropical MUELLER-DOMBOIS, D. & ELLENBERG, H. 1974. Aims como um todo (Gentry 1982). and methods of vegetation ecology. New York, John Willey & Sons. 4. Conclusões MURCIA, C. 1996. Forest fragmentation and pollination of Este estudo nos leva a concluir que numa fisionomia de cerra- Neotropical plants. In Schellas J. & Greeberg R. (ed.). Forest patches do sensu stricto a síndrome de polinização mais freqüente é a in tropical landscapes. Island, Washington. melitofilia, sendo que não houve uma diferença significativa com NASON, J.D., ALDRICH, P.R. & HAMRICK, J.L. 1997. relação à distância da borda para nenhuma das síndromes. Com Dispersal and the dynamics of genetic structure in fragmented relação à estratificação, houve uma variação significativa das tropical tree populations. In Laurence, W.F. & Bierregard Jr., R.O. síndromes melitofílica e psicofílica. A ausência de variação nas (ed). Tropical forest remnants. Ecology, management, and conservation síndromes de polinização com a distância da borda pode ser conse- of fragmented communities. University of Chicago, Chicago. qüência da fisionomia savânica dos fragmentos estudados. A varia- ção entre as síndromes conforme a distância da borda, encontrada OPLER, P.A., BAKER, H.G. & FRANKIE, G.W. 1980. Plant por outros autores em florestas estacionais e pluviais, pode existir reproductive characteristics during secondary succession in na fisionomia florestal do cerrado, o cerradão. Neotropical lowland forest ecosystems. Biotropica Suplemento: 40- 5. Referências Bibliografias 46. APPANAH, S. 1981. Pollination in Malaysian primary forest. PIJL, L. VAN DER. & DODSON, C.H. 1969. Orchid Flowers – Malaysian For. 44: 37-42. Their pollination and evolution. Fairchild Tropical Garden & University of Miami, Coral Gables. ARRUDA, V.L.V. & SAZIMA, M. 1988. Polinização e reprodu- ção de Celtis iquane (Ulmaceae), uma espécie anemófila. Rev. Bra- REAL, L. 1983. Pollination biology. Academic, Flórida. sil. Bot. 11: 113-122. ROTH, I. 1987. Stratification of a tropical forest as seen in dispersal BATALHA, M. A., ARAGAKI, S. & MANTOVANI, W. 1998. types. Dr W. Junk Publishers, Dordrecht. Chave de identificação das espécies vasculares do cerrado em Emas SAZIMA, M., BUZZATO, S. & SAZIMA, I. 1999. Bat-pollinated (Pirassununga, SP) baseada em caracteres vegetativos. Bolm. Bot. flower assemblages bat visitor at two Atlantic Forest Sites in Brazil. Univ. S.Paulo 17: 85-108. Ann. Bot. 83:705-712. BATALHA, M. A & MANTOVANI, W. 1999. Chaves de identi- SMA. SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. ficação das espécies vegetais vasculares baseada em caracteres 1997. Cerrado: bases para conservação e uso sustentável das áreas de vegetativos para a ARIE Cerrado Pé-de-Gigante (Santa Rita do cerrado do estado de São Paulo. Secretaria de Estado do Meio Ambi- Passa Quatro, SP). Rev. Inst. Flor. 11: 137-158. ente, São Paulo. BAWA, K.S., BULLOCH, S.H., PERRY, D.R., COVILLE, R.E. SMITH, A.P. 1973. Stratification of temperate tropical forest. & GRAYUM, M.H. 1985. Reproduction biology of tropical Am. Nat. 107:671-683. lowland rain forest tree. II. Pollination system. Am. J. Bot. 72: 346- WUNDERLEE Jr. & J.M. 1997. The role of animal seed dispersal 356. in accelerating native forest regeneration on degraded tropical lands. BUZZATO, S. 1995. Estudo comparativo de flores polinizadas por For. Ecol. Manag. 99: 223-235. beija-flores em três comunidades da Mata Atlântica no sudoeste do YAMAMOTO, L.F., MARTINS, F.R. & KINOSHITA, L.S. No Brasil. Tese de Doutorado, Instituto de Biologia, Universidade prelo. Síndromes de polinização e dispersão em fragmentos da Estadual de Campinas, Campinas. floresta estacional semidecídua Montana. Acta Bot. Bras. CORLETT, R.T. & TURNER, I.M. 1997. Long term survival in ZAR, J.H. 1999. Biostatiscal analysis. Prentice Hall, Upper Saddle River. tropical forest remnants in Singapure and Hong Kong. In Laurence, W.F. & Bierregard Jr., R.O. (ed.). Tropical forest remnants. Ecology, Germinação de sementes de uma espécie nativa do management, and conservation of fragmented communities.. University of Chicago, Chicago. cerrado com potencial invasor, Ananas comosus var. ananassoides (Baker) Coppens & Leal FAEGRI, K. & PIJL, L. VAN DER. 1979. The principles of pollination ecology. Pergamon, New York. () Fernando A. O. Silveira, Jean Carlos Santos, Ellen Christie, Maria GENTRY, A. H. 1982. Neotropical Floristic Diversity: C. Ferreira e G. Wilson Fernandes. Phytogeographical connections between Central and South Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais/DBG, CP 486, ICB/ America, Pleistocene climatic flutuations, or an accident of the Universidade Federal de Minas Gerais, 30161-970 Belo Horizonte Andean Orogeny? Annals of the Missouri Botanical Garden 69: 557- MG, BRAZIL. [email protected] 593. KÖPPEN, W. 1948. Climatología. Fondo de Cultura Económica, 1. Introdução México. O conhecimento da biologia das sementes é fundamental para o LAURENCE, W.F. & BIERREGARD Jr., R.O. 1997. Tropical entendimento de processos como o estabelecimento de plântulas, forest remnants. Ecology, management, and conservation of fragmented sucessão e regeneração natural. Além disto, fornecem dados básicos communities. University of Chicago, Chicago. para a propagação de espécies para programas de conservação e reabilitação ambiental (Vásques-Yanes & Orozco-Segovia 1993, MANTOVANI, W., LEITÃO-FILHO, H. F. DE & MARTINS, Marques 2002). Apesar do cerrado ser um dos biomas mais ricos e F. R. 1985. Chave baseada em caracteres vegetativos para a identi- ameaçados do planeta, representando um dos hotspots mundiais da ficação de espécies lenhosas do cerrado da Reserva Biológica de biodiversidade (Myers et al. 2000), trabalhos sobre germinação de Moji Guaçu, Estado de São Paulo. Hoehnea 12: 35-56. sementes no cerrado ainda são necessários (Melo et al. 1998), prin- MARTINS, F. R. 1991. Estrutura de uma floresta mesófila. Universi- cipalmente quando se considera a propagação de espécies frutíferas dade Estadual de Campinas, São Paulo. nativas que podem servir para o sustento da população local. MORELLATO, L.P.C. 1991. Estudo da fenologia de árvores, arbus- Dentro das Bromeliaceae, pouco se sabe sobre a propagação tos e lianas de uma floresta semidecídua no Sudoeste do Brasil. Tese de sexuada (por sementes) e assexuada (veja Marques 2002). São vários Doutorado, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Cam- os fatores ambientais que influenciam na germinação das sementes e pinas, Campinas. no estabelecimento de plântulas. Dentre eles destacam-se a luz, a

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 447 Cerrado Volume I temperatura e a umidade (Bewley & Black 1994). Mesmo em con- horas. Marques (2002) estudando, a germinação de 12 Bromeliaceae dições ambientais adequadas, algumas sementes podem não germi- de campo rupestre verificou que a maioria delas é fotoblástica nar, caracterizando dormência que pode estar localizada no envoltório indiferente e que apenas uma espécie é fotoblástica positiva restri- da semente (física) ou no embrião (fisiológica). ta. Por outro lado, Mercier & Guerreiro-Filho (1990) verificaram Para as espécies que não produzem sementes, como o abacaxi que todas as 8 espécies de bromélias estudadas são fotoblásticas (Ananas comosus), alguns estudos de cultura de tecidos foram reali- positivas a 25ºC. zados na tentativa de propagá-lo (Almeida et al. 2002). Ananas Não houve diferenças significativas na germinação de sementes comosus var. ananassoides (= Ananas ananassoides; d´Eckenbrugge & controle e escarificadas quimicamente nas temperaturas de 25 e Leal 2003) é uma Bromeliaceae típica de regiões de cerrado que 30ºC. Apesar da germinação não ter sido aumentada pela possui sementes. Sua infrutescência carnosa pode ser utilizada para escarificação química, o tempo médio de germinação de sementes consumo da população local, mas pouco se sabe sobre a germina- escarificadas foi menor do que sementes controle (p < 0,001). ção de suas sementes. Arrigoni-Blank et al. (1997) verificaram que Entretanto, a escarificação química aumentou a germinação de as sementes podem ser consideradas fotoblásticas positivas a 25ºC. sementes no claro a 35ºC (p < 0,001) embora o tempo médio de Estes mesmos autores verificaram que a dormência das sementes germinação tenha sido maior nas sementes controle (p < 0,001). pode ser superada pela escarificação química, mas não pela No escuro, não foram observadas diferenças significativas. escarificação mecânica. O tegumento impermeável à entrada de água, as presenças de Na Estação Ecológica de Pirapitinga, a Bromeliaceae A. comosus var. inibidores no tegumento e tegumento resistente à emergência têm ananassoides tem se propagado de forma espetacular, ocupando uma sido relatadas como as principais causas de dormência física (Bewley grande área na porção oeste da ilha. Nestas áreas a bromélia ocupa tanto & Black 1994), sendo que a escarificação química tem se mostrado ambientes sombreadas quanto ensolarados formando manchas de cen- um eficiente método para quebrar este tipo de dormência (Rolston tenas de indivíduos. 1978, Arrigoni-Blank et al. 1997). É possível dizer que o tegumento Com a finalidade de aumentar o conhecimento sobre a propa- da semente atrasa o processo germinativo, mas não há dados sufi- gação de espécies nativas do cerrado, objetivamos neste trabalho cientes para afirmar que a espécie em estudo possui dormência verificar a influência da luz, temperatura e escarificação química na física, uma vez que este tipo de dormência ainda não foi relatado germinação de sementes de A. comosus var. ananassoides. para Bromeliaceae (Baskin et al. 2000). De fato, Marques (2002) 2. Material e Métodos e Rosa & Ferreira (1998) não utilizaram nenhum método de Sementes de A. comosus var. ananassoides foram coletadas no escarificação em sementes de Bromeliaceae. mês de Abril de 2003 a partir de frutos maduros, na Estação Eco- Em sementes controle, tanto no claro como no escuro, a tem- lógica de Pirapitinga (EEP), Três Marias, MG. Os frutos foram peratura de 35ºC reduziu significativamente a germinação quando conservados em geladeira durante uma semana e então as sementes comparada com 25 e 30ºC (p < 0,001). Já em sementes foram retiradas dos frutos e desinfetadas com hipoclorito de sódio escarificadas, a influência da temperatura foi pouco significativa. a 2% por 5 minutos seguindo-se uma lavagem em água corrente No escuro, não foi observada nenhuma diferença entre as médias por mais 5 minutos. Lotes de sementes foram submetidos a testes de germinação entre temperaturas, enquanto que no claro, a ger- de germinação nas temperaturas constantes de 25, 30 e 35ºC sob minação a 25ºC foi superior a germinação a 35ºC. fotoperíodo de 12 horas e em ausência de luz durante 30 dias. Diversos estudos têm demonstrado a influência da temperatu- As placas de Petri (forradas com folha dupla de papel filtro e ra na germinação de espécies de cerrado (Melo et al. 1998), o que umedecidas com solução de nistatina) foram colocadas em câma- pode limitar a distribuição das espécies. Altas temperaturas podem ras de germinação (B.O.D.) sendo que a germinação foi verificada favorecer a germinação de algumas espécies (Diniz 2002) ou inibir a cada 24 horas e o critério para se considerar uma semente como completamente a germinação (Silveira et al. 2003). Rosa & Ferreira germinada foi a protrusão radicular. (1998) demonstraram que as sementes de Bromelia antiacantaha O tratamento de ausência de luz foi obtido envolvendo-se as germinam acima de 70% entre 25 e 35ºC e que baixas temperatu- placas de Petri em folhas duplas de papel alumínio. A observação ras diminuem a porcentagem de germinação. Por outro lado, a da germinação foi realizada sob luz verde de segurança. A escarificação maioria das espécies estudadas por Marques (2002) mostrou alta química foi obtida mergulhando-se as sementes em ácido sulfúrico germinabilidade entre 20 e 30ºC. Esta mesma autora verificou que 100% por 5 minutos seguindo-se de lavagem em água corrente por a germinação foi reduzida em grande parte das espécies quando as 10 minutos (Arrigoni-Blank et al. 1997). sementes foram submetidas à temperatura de 35ºC. A diminuição O delineamento experimental foi o totalmente casualizado da taxa de germinação em ensiformis, V. hieroglyphica e Pitcairnia com 4 repetições de 25 sementes por tratamento. Os valores de flammea a 35ºC foi observada por Mercier e Guerreiro-Filho (1990) porcentagem de germinação foram transformados em raiz de arco quando as sementes foram submetidas à condição de luz contínua. seno para sua normalização. As médias entre os tratamentos foram Parece não haver um padrão consistente no processo germinativo comparadas por análise de variância fatorial seguida do teste de de Bromeliaceae em relação aos requerimentos de luz e temperatu- Tukey a 5% de significância (Zar 1996). O tempo médio de germi- ra para que a germinação ocorra. nação foi calculado segundo Labouriau (1983). Nossos dados fornecem importantes subsídios para a propaga- 3. Resultados e Discussão ção de uma espécie frutífera nativa, já que muitas espécies de A luz aumentou a germinação das sementes controle e Bromeliaceae são coletadas de populações naturais em larga escala escarificadas nas temperaturas de 25 e 30ºC (p < 0,001). Todavia, (Mercier & Guerreiro-Filho 1990, Marques 2002). Além disso, a 35ºC apenas nas sementes escarificadas a germinação de semen- estes dados são de grande importância considerando-se o potencial tes submetidas ao fotoperíodo de 12 horas foi superior à germina- invasor da espécie nesta ilha de cerrado. ção no escuro. Nesta temperatura não foram observadas diferenças 4. Bibliografia significativas entre a germinação no claro e no escuro nas sementes Almeida, W.A.B., Santana, G.S., Rodríguez, A.P.M. & Costa, controle. Dessa forma, as sementes desta espécie podem ser consi- M.A.P.C. 2002. Optimization of a protocol for the deradas como fotoblásticas positivas relativas nestas temperaturas. micropropagation of pineapple. Revista Brasileira de Fruticultura. Contrariamente a nosso estudo, Rosa & Ferreira (1998) observa- 24: 296-300. ram que o processo germinativo de Bromelia antiacantaha é retar- Arrigoni-Blank, M.F., Blank, A.F., Laura, V.A., Alvarenga, A.A. 1997. dado no claro quando comparado ao escuro. Entretanto, é impor- Efeitos da escarificação mecânica, química e da luz sobre a germi- tante salientar que estes autores utilizaram um fotoperíodo de 9

448 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado nação das sementes de Ananas ananasoides (Baker) L.B. Smith. 1. Introdução Ensaios e Ciência. 1: 85-91. O gênero Leiothrix está restrito a América do Sul e inclui 37 Baskin, J.M., Baskin, C.C. & Li, X. 2000. Taxonomy, anatomy and espécies, sendo as serras de Minas Gerais o principal centro de evolution of physical dormancy in seeds. Plant Species Biology. 15: diversidade genética do gênero, onde ocorrem 25 espécies, 19 de- 139-152. las na Serra do Cipó (Giulietti & Hensold 1990). Em razão de sua distribuição restrita, ação do fogo e do extrativismo, muitas espé- Bewley, J.D. & Black, M. 1994. Seeds: Physiology of Development cies estão em vias de extinção (Giulietti et al. 1987), e por isso and Germination. Plenum Press: New York and London, 430p. dados da biologia dessas espécies são necessários e muito impor- d´Eckenbrugge, G.C. & Leal, F. 2003. Morphology, anatomy and tantes, pois podem orientar planos de manejo e/ou conservação. taxonomy. In: Bartholomew, D.P., Paull, R.E. Rohrbach, K.G. The A história de vida de uma espécie, que é uma expressão de seu Pineapple: botany, production and uses. Cabi-publishing. p.13-31. programa genotípico através de seu ciclo de vida, pode ser conside- Diniz, I.S.S. 2002. Comportamento germinativo e potencial para rada como uma conseqüência de sua história ecológico-evolutiva a formação de banco de sementes em espécies de Velloziaceae da (Kawano et al.1982). Portanto, uma comparação das característi- Serra do Cipó (MG). Dissertação de Mestrado, UFMG, Minas cas das histórias de vida de um grupo de espécies aparentadas que Gerais. ocupam o mesmo habitat, ou habitats similares, ou ainda habitats Labouriau, L. G. 1983. A germinação das sementes. Organização diferentes, pode nos fornecer informações valiosas da história do dos Estados Americanos, Washington, 174p. passado das espécies e sua diferenciação, e/ou seu “status” ecológi- co presente, dentro de suas respectivas comunidades. Marques, A.R. 2002. Ecofisiologia e contribuições para a conser- O gênero Leiothrix apresenta estratégias reprodutivas mistas, vação das bromélias da Serra da Piedade. Tese de Doutorado, combinando reprodução sexuada e crescimento clonal através de UFMG, Minas Gerais. rizomas. Além disto, desenvolveu um sistema alternativo de propa- Melo, J.T., Silva, J.A., Torres, R.A.A., Silveira, C.E.S. & Caldas, gação vegetativa denominado pseudoviviparidade: os capítulos ori- L.S. 1998. Coleta, propagação e desenvolvimeno inicial de espéci- ginam uma nova roseta por brotamento das células apicais, na es do cerrado. In: Sano, S.M. & Almeida, S.P. (Org.) Cerrado: porção central do capítulo. A pseudoviviparidade foi descrita ape- ambiente e flora. Planaltina: Embrapa, Cap.5, p.195-246. nas para cerca de 50 famílias de angiospermas (Elmqvist & Cox Mercier, H. & Guerreiro-Filho, O. 1990. Propagação sexuada de 1996). Apresentando a maioria das espécies desse gênero uma dis- algumas bromélias nativas da mata Atlântica: efeito da luz e da tribuição restrita, esta flexibilidade nos padrões reprodutivos pode temperatura na germinação. Hoehnea 17: 19-26. assegurar a persistência das populações naturais. Myers. N., R.A. Mittermeier, C.G. Mittermeier, G.A.B. Fonseca No presente estudo, descrevemos algumas características & J. Kent. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. morfológicas relacionadas à multiplicação clonal (através dos Nature 403: 853-858. rizomas ou através dos brotamentos vegetativos originados no ca- pítulo), de cinco espécies de Leiothrix, para avaliarmos a importân- Rolston, M.P. 1978. Water impermeable seed dormancy. The cia relativa dessas duas formas de proliferação. Botanical Review. 44: 365-396. 2. Métodos Rosa, S.G.T. & Ferreira, A.G. 1998. Germinação de sementes de Este estudo foi realizado na Serra do Cipó, em Minas Gerais, espécies medicinais do Rio Grande do Sul: Bromelia antiacantha localizada ao sul da cadeia do Espinhaço, entre os paralelos 19°12¢- Berth., Cuphea carthagenensis (Jacq.) Macbride, e Talinum patens 19°20¢ S e 40°30¢-43°40¢ W. O clima é do tipo mesotérmico (Jacq) Willdenow. Acta Botanica Brasilica 12: 515-522. com verões brandos e estação chuvosa no verão, cuja temperatura Silveira, F.A.O., Negreiro, D. & Fernandes, G.W. 2003. Influência média varia de 17,4 a 19,8°C. A precipitação anual da região está da luz e da temperatura na germinação de sementes de Marcetia em torno de 1500mm, com um período seco de três a quatro taxifolia (St. Hil) DC. (Melastomataceae). Acta Botanica Brasilica. meses, coincidindo com o inverno, e um período úmido de sete a in press. oito meses. A cobertura vegetal é diversificada, sendo a maior ex- Vásques-Yanes, C. & Orozco-Segovia, A. 1993. Patterns of seed tensão ocupada pelos campos rupestres, acima dos 1000-1100m longevity and germination in the tropical rain forest. Annual Review de altitude, sobre solo arenoso, fino ou cascalhento, raso, ácido, of Ecology and Systematics 24: 69–87. pobre em nutrientes e matéria orgânica (Giulietti et al. 1987). As populações das cinco espécies de Leiothrix estudadas (L. Zar, J.H. 1996. Biostatistical analysis. New Jersey: 3.ed., Prentice Hall. curvifolia var. lanuginosa, L. spiralis, L.vivipara, L.crassifolia e L. sp.) 5. Agradecimentos localizavam-se no interior ou no entorno do Parque Nacional da Agradecemos a JA Lombardi pela identificação da espécie, ao Serra do Cipó. Essas espécies podem apresentar até três estratégias IBAMA pelo apoio logístico e P Alvarenga, C Mendes e M Amorim distintas de reprodução vegetativa, além da reprodução por se- pelo auxílio em laboratório. Agradecemos também pelo apoio do mentes: a) produção de novas rosetas a partir de rizomas, b) a CNPq (52 1772/95-8, 47.9684/2001-4, Fapemig Cra 388/01) e partir dos capítulos e c) e tanto a partir de rizomas quanto de Idea Wild Foundation. Bolsa de doutorado CNPq para J.C. San- capítulos. Em todas essas espécies a reprodução coincide com o tos (140071/2003-2). período das chuvas. Para cada espécie estabelecemos quadrados permanentes, onde Crescimento clonal em plantas do gênero Leiothrix marcamos de 30 a 51 rosetas e/ou clones com etiquetas de alumí- (Eriocaulaceae) na Serra do Cipó- MG nio numeradas. Tomamos as seguintes medidas ou contamos: 1) Flávia de Freitas Coelhoª, Christina Dorvalina L. Capelob, Ana diâmetro das rosetas; 2) diâmetro dos clones; 3) capítulos por Carolina O. Nevesc, Fernando Henrique Aguiar Valed, Emília roseta; 4) capítulos por clone; 5) capítulos originando rosetas; 6) Goulartc& José Eugênio Côrtes Figueirad. comprimento máximo das hastes produtoras de capítulos; 7) dis- ªdoutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da tância de fixação da rosetas-filhas; 8) rosetas por clone; 9) freqüên- Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]), cia de formação de rosetas ligadas por rizoma; 10) freqüência de bgraduação na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, formação de rosetas através de capítulos. Fizemos as amostragens cgraduação na Universidade Federal de Minas Gerais, dUniversidade das cinco espécies entre fevereiro e junho de 2003, coincidindo Federal de Minas Gerais. com o início e final da estação reprodutiva. A freqüência de rosetas originadas através de capítulo ou de

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 449 Cerrado Volume I rizomas permitiu avaliar a importância relativa das duas formas de ram encontrados no solo, próximos aos clones. A porcentagem de crescimento e expansão clonal. Através de correlação e regressão rosetas ligadas por rizomas não variou, continuando a representar verificamos o potencial de proliferação clonal em função do tama- 26% dos clones. O número de rosetas por clone variou de duas a nho das rosetas e o potencial de dispersão clonal, através da relação oito, representando 94,1% (rosetas classe 4) contra 5,9% das rose- entre o comprimento máximo das hastes e as distâncias reais de tas isoladas (rosetas classe 3). fixação das novas rosetas. Noventa e sete porcento dos indivíduos de Leiothrix sp. esta- Para cada espécies dividimos as rosetas em classes de desenvol- vam representados pela classe 4, ou seja, ligados a outras rosetas vimento: 1- rosetas originadas de capítulos permanecendo aéreas; por rizomas. Encontramos uma grande variação no número de 2- rosetas originadas de capítulos fixadas ao solo; 3- rosetas isola- rosetas por clone nesta espécie: de duas rosetas até 29. Contudo a das; 4-rosetas ligadas por rizoma formando clones. maioria dos clones (60,01%) é formada de duas a nove rosetas. A 3. Discussão e Resultados proporção de clones que produzem capítulos foi semelhante à Sabe-se que a reprodução vegetativa ou crescimento clonal nas proporção de rosetas ligadas por rizomas, 48 e 52% respectiva- angiospermas pode se manifestar sob diversas formas e condições, mente. Não encontramos grande variação na segunda amostragem, nos diferentes órgãos da planta. Entre os principais tipos de cresci- nem para a produção de capítulos (46%) nem para a produção de mento clonal se encontram a fragmentação e a formação de estolões rizomas (54%). Encontramos uma relação linear e positiva (r²=0.78, ou de rizomas, sendo a pseudoviviparidade menos comum. As cin- p<0.001) entre a produção de capítulos e a produção de rizomas, co espécies do gênero Leiothrix estudas formam sementes, sendo indicando não haver um “trade-off” entre estas variáveis. Portanto, duas delas pseudovivíparas: L. vivipara e L. spiralis e as três restan- é possível que o recrutamento de indivíduos através de sementes tes: Leiothrix sp., L. crassifolia e L. curvifolia var. lanuginosa seja igualmente importante para esta espécie. rizomatosas. Em L. spiralis, o eixo portador da inflorescência (esca- Quarenta e um porcento das rosetas de L. curvifolia. var. po) cresce à medida que os capítulos se tornam maduros. Nesta lanuginosa estavam isoladas (classe 3). Contudo, houve grande va- fase, os capítulos apresentam brotamentos vegetativos onde ocor- riação no número de rosetas (classe4) por clone: de 2 até 19. A rem apenas folhas. O escapo floral inclina e o capítulo com maioria dos clones apresentava de duas a três rosetas, representan- brotamentos foliares toca o solo, iniciando-se a formação de raízes do 29,4% dos 51 clones amostrados. A produção de capítulos que fixam o capítulo (Giulietti 1978), formando uma nova roseta parece ser de extrema importância para esta espécie, pois tanto na (classe 2). Já em L. vivipara as rosetas (classe1 e 2) são formados primeira quanto na segunda amostragem a proporção de clones independente do tamanho do escapo floral, freqüentemente quan- que produziu capítulos foi muito maior que a proporção de rosetas do o escapo é ainda curto. Dessa forma uma alta proporção de que produziu rizomas: 84% e 16% na primeira amostragem e 83% rosetas-classe1 é mantida na população, cerca de 81,25%. Os ca- e 17% na segunda. Observamos nesta espécie grande número de pítulos proliferam dando origem a folhas e escapos, repetindo-se o sementes e plântulas sempre muito próximas aos clones, o que processo por várias vezes. pode indicar baixa capacidade de dispersão de sementes. No início da estação reprodutiva de L. spiralis, encontramos 4. Conclusões 68% das rosetas-mãe portando capítulos e 32% das rosetas-mãe As espécies de Leiothrix estudadas apresentam estratégias apresentando rosetas originadas do capítulo e ligadas a elas através reprodutivas mistas, combinando reprodução sexuada com repro- dos escapos florais. Estes escapos são, do ponto de vista funcional, dução clonal (através de rizomas e/ou através de estruturas equivalentes aos estolões. No final da estação reprodutiva pseudoviviparidade), o que permite a persistência das populações apenas 36% das rosetas portavam capítulos, enquanto 48% dos naturais sujeitas a estresses como escassez de nutrientes e água no capítulos originaram rosetas. As rosetas restantes (16%), tiveram solo, comum nos campos rupestres. seus capítulos rompidos antes da formação de novas rosetas. Além Leiothrix spiralis e L.vivipara apresentaram ampla variação no de apresentar pseudoviviparidade, L. spiralis apresenta reprodução número de capítulos e no número de rosetas-classe 2 para ambas e vegetativa por rizomas. Contudo, a freqüência de rosetas ligadas a classe 1 somente para L.vivipara durante o período de amostragem. uma ou mais rosetas por rizomas foi de 40% na primeira amostragem Já as espécies formadas tipicamente pela classe 4, L. crassifolia, L. e 30% na segunda. As rosetas (classe 2) não realizam seu potencial curvifolia var. lanuginosa e Leiothrix sp. apresentaram grande estabi- máximo de dispersão, sendo a distância de fixação freqüentemente lidade com relação aos parâmetros morfológicos medidos ao longo menor que o tamanho do escapo floral, cerca de 72,52% do mes- do tempo. mo. De qualquer forma, a correlação entre estas varíaveis é positi- 5. Referências Bibliográficas va: r=0,866. Giulietti, A.M. & Hensold, N. (1990) Padrões de distribuição geográ- Na primeira amostragem de Leiothrix vivipara, feita logo após o fica dos gêneros de Eriocaulaceae. Acta Botânica Brasilica 4, 133-158. período das chuvas, encontramos 52 rosetas originadas de capítu- Kawano S, Hiratsujka A & Hayashi K (1982). Life History characteristics los, das quais 12 já estavam fixadas ao solo, e apenas nove capítu- and survivorship of Erythronium japonicum. Oikos 38: 129-149. los. Na segunda amostragem, encontramos uma abundante produ- ção de capítulos: 401. Tanto o número de rosetas originadas de Elmvist, T. & Cox, PA. (1996) The Evolution of vivipary in floring capítulos quanto o número de rosetas fixadas ao solo aumentou, plants. Oikos 77: 3-9. 66 e 24 respectivamente. Apesar deste aumento não ter sido signi- Giulietti, A.M.; Menezes, N.L.; Pirani, J.R.; Meguro, M. & ficativo para o número de rosetas aéreas originadas de capítulos Wanderley, M.G.L. (1987) Flora de Serra do Cipó, Minas Gerais: (U-teste=391,5; p=0,46), e para número de rosetas fixadas ao solo caracterização geral e lista de espécies. Boletim Botânica 9:151p. (U-teste=406; p=0.33), o aumento no número de capítulos foi Giulietti, A.M.(1978) Os gêneros Eriocaulon L. e Leiothrix Ruhl. altamente significativo (U-teste=1; p<0,000), o que provavelmen- (Eriocaulaceae) na Serra do Cipó Minas Gerais- Brasil. Tese apresen- te levará a um aumento no número de rosetas originadas de capítu- tada ao Departamento de Botânica do Instituto de Biociência da los ao longo do tempo. Universidade de São Paulo, para obtenção do título de “Doutor Dos 30 clones de L. crassifolia amostrados, 74% produziram em Ciências”. São Paulo –Brasil. capítulos, enquanto 26% reproduziram-se por rizomas. Esta pro- porção praticamente não variou na segunda amostragem, realiza- da, pois 71,6% dos clones ainda apresentavam capítulos. Contu- do, 2,4% dos clones que anteriormente apresentavam capítulos estavam com os escapos quebrados, e muitos desses capítulos fo-

450 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Caracterização limnológica do canal principal do rio As amostras destinadas à determinação dos parâmetros físico- Meia Ponte, GO. químico foram analisadas e posteriormente comparados os resulta- Flávia Hirata de Carvalho¹, Francisco Leonardo Tejerina Garro¹ dos com os padrão legais de qualidade das águas de classe 2, esta- (1.Universidade Católica de Goiás [email protected]) belecido pela Resolução n°20 do CONAMA (1986). - Análise estatística 1. Introdução Os dados foram submetidos a estatística descritiva, analisados O desenvolvimento econômico e social de qualquer país está através do programa estatístico Systat® 9 (1998) para análises de fundamentado na disponibilidade de água de boa qualidade e na variância ANOVA e teste de t. Foram comparados as médias dos capacidade de conservação e proteção dos recursos hídricos valores analíticos (físico-químico) nos anos de 1999 a 2002 para (Tundisi, 1999). avaliar as flutuações anuais, também foram comparadas as médias Para avaliar o quanto os níveis de qualidade do ambiente está dos valores analíticos (físico químico) para 6 pontos de amostragens ou não em conformidade com a legislação referente à qualidade das distribuídos no canal principal da bacia, com avaliação indepen- águas e preservação ambiental, foram realizadas algumas análises dente dos períodos sazonais (chuva e seca). O teste de t foi realiza- das concentrações dos contituintes da água que estão referidos na do para analisar as médias analíticas (físico-químico) diante de sua legislação brasileira do Conselho Nacional do Meio Ambiente expressão significativa em ambos períodos sazonais (chuva e seca), (CONAMA), na Resolução n°20, de 18/06/86 e posteriormente nos anos analisados e pontos amostrados. comparadas às concentrações obtidas com limites máximos aceitá- 3. Resultados veis (ou mínimos para alguns contituintes) recomendados nessa -Análise interanual legislação para concentração de cada constituinte da água. A ANOVA dos pontos amostrais englobando os períodos de Goiânia e Entorno têm hoje aproximadamente 1.300.000 (um chuva e seca durante os anos de 1999 a 2002, foi significativo para milhão e trezentos mil) habitantes, tendo a necessidade da utiliza- a DBO (P<0,02). Esta variável apresenta em 1999 o valor médio ção de suas águas para o abastecimento de sua população (Agência inicial de 11.832 mg/L, para logo diminuir até 2002 Ambiental, 2002). Este abastecimento da região metropolitana de (média=3.147mg/L). Goiânia é um dos usos e pressões ocasionadas na bacia, junto a Os valores de DBO diminuem ao mesmo tempo que os valores irrigação, a dessedentação de criação animais e vegetais, recreação, de OD aumentam ao longo dos anos de 1999 a 2002. Esta última diluição de efluentes domésticos além da retirada de água para variável aumenta do ano de 1999 a 2001, sendo as médias de 3.30 captação industrial, esta a qual promove maior pressão, pois, mes- mg/L e 5.543 mg/L, respectivamente. Houve uma queda em 2002 mo tratando os efluentes, as cargas remanescentes estão exigindo diminuindo a média para 5.257 mg/L, mantendo-se neste nível nos capacidade de autodepuração do rio, que com o aumento das anos de 2000 e 2001. Estas diferenças são significativas (P<0.001). cargas poluentes, faz uma constante modificação na qualidade de O parâmetro CND (P<0.013),apresenta queda nos valores suas águas, as quais fornecem diversas utilidades para o Estado. Vista entre os anos de 1999 a 2001 (média=163.012 mS/cm e mé- a importância dos lançamentos de efluentes ao longo da bacia do rio dia=102.324 mS/cm, respectivamente), em 2002 o valor aumen- Meia Ponte, este estudo objetiva a caracterização limnológicas no tou (média=115.419 mS/cm), mas não ultrapassou o correspon- canal principal da bacia, em seis pontos distribuídos ao longo deste dente a 2000 (média=118.244 mS/cm). nos períodos sazonais (chuva e seca) de 1999 a 2002. O pH, apresenta o crescimento dos valores no ano de 1999 a 2. Metodologia 2002 com aumento gradativo das médias com o valor máximo em - Caracterização do local de estudo 2002 (média=6.674 pH e média=7.503 pH, respectivamente). A O estudo foi realizado na bacia do rio Meia Ponte, Goiás, região diferença entre os anos é significativa (P<0.012). O aumento dos Centro Oeste. O clima é tropical, quente e semi-úmido com cinco valores de pH representa para água a passagem da característica a seis meses secos (abril-setembro) e o restante chuvosos (outubro- levemente ácida para neutra de 1999 a 2000 e de neutra para março). Apresenta temperatura média entre 30 a 32°C no período levemente alcalina de 2000 a 2002. chuva, e inferior a 20° C na seca (Nimer et al., 1989). Nesta análise não apresenta diferença significativa os parâmetros O rio Meia Ponte nasce na Serra dos Brandões, município de físico-químicos de TDS (P<0.086) e temperatura amostral Itauçú, região de Mato Dentro, no Estado de Goiás à altitude de (P<0.053). 983 m. Sua bacia hidrográfica está situada no centro-sul do Estado -Análise sazonal (chuva e seca) de Goiás, Brasil, entre as coordenadas 48°46’48” e 49°44’51”W e - Pontos amostrais separados por chuva e seca 16°06’38” e 18°32’53”S. Estende-se até sua confluência com rio Os resultados da ANOVA para os parâmetros físico-químicos Paranaíba. nos diferentes pontos de amostragens no período de chuva e seca - Seleção e descrição dos pontos de amostragens indicam que a CND e o TDS apresentam variações significativas As amostragens no rio Meia Ponte foram realizadas em 6 esta- para ambos períodos sazonais (CND na chuva P<0.013, CND na ções ao longo da bacia, seguindo os critérios estabelecidos por seca P<0.001; TDS na chuva P< 0.033; TDS na seca P< 0.002). Porto et al. (1991) e normas técnicas da ABNT (1987) para plane- No período da chuva a CND aumenta do ponto 1 ao ponto 4 jamento de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores. (49.771mS/cm e 184.96 mS/cm, respectivamente), a seguir ocorre -Técnicas de coleta e análise a queda dos valores no ponto 5 (média=87.226 mS/cm) e um As técnicas de coleta e análise obedeceram o APHA (1995) pequeno aumento no ponto 6 (média=99.250 mS/cm). para cada parâmetro físico-químico analisado. O TDS segue parecido a oscilação no modelo de gráfico com o As análises medidas in situ tais como potencial hidrogeniônico- da CND, pois tem o aumento dos valores do ponto 1 ao 4 (mé- pH, temperatura da amostra-TAM, condutividade-CND e sólidos dia=24.971 mg/L e média=92.260 mg/L, respectivamente). Os totais dissolvidos-TDS, foram necessárias devido possuírem carac- pontos 5 e 6 sofrem decréscimo dos valores progressivamente (mé- terísticas próprias para cada ponto de amostragem do rio. Estes dia=64.513 e média=49.950 mg/L). parâmetros tiveram suas medições realizadas através de aparelhos No período da seca a CND aumenta do ponto 1 ao 3 (mé- kit-potenciométricos, marca Hach. dia=45.550 mS/cm e média=187.88 mS/cm, respectivamente). As amostragens coletadas e encaminhadas ao laboratório fo- Posteriormente, esta diminui do ponto 4 ao 6 (média=180.03 mS/ ram analisadas pelo método de diluição e incubação a 20°C, 5 dias cm e média=167.41 mS/cm. Neste período também se faz presente para demanda bioquímica de oxigênio-DBO e Winkler modifica- a oscilação das médias de CND com as de TDS, que tem nesta do pela azida sódica para oxigênio dissolvido-OD. última o aumento dos valores do ponto 1 ao 3 (média=26.183 mg/

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 451 Cerrado Volume I

L e média=93.971 mg/L, respectivamente), nos pontos 4 e 5 AGÊNCIA GOIANA DO MEIO AMBIENTE. Projeto do sistema apresenta uma diminuição gradual (média=89.889 mg/L e mé- integrado de monitoramento da qualidade e quantidade das águas dia=64.767 mg/L) e após no ponto 6 ocorre um pequeno aumento superficiais da bacia hidrográfica do alto Meia Ponte, Goiânia: (média=83.800 mg/L). FEMAGO 2002. (mimiografado). A temperatura amostral (P<0.033), apresenta o aumento pro- AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION – APHA. gressivo dos valores do ponto 1 ao 5 (média=23.15°C e Standard Methods for the examination of water and wastewater. 20ª média=25.86°C, respectivamente), no ponto 6 tem uma pequena ed. Washington, 1995. 10 cap. queda da temperatura (média=25.18°C). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Nesta análise não apresenta diferença significativa no período Planejamento de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores. de chuva para os parâmetros físico-químicos de DBO (P<0.335), Rio de Janeiro: ABNT, 01:062.02-001, 1987. 14p. OD (P<0.316), pH (P<0.833) e no período de seca para DBO (P<0.519), OD (P<0.088), pH (P<0.702) e TAM (P<0.469). CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – - Pontos amostrais agrupados por chuva e seca CONAMA. Resolução N°20, de 18 de junho de 1986. Brasília DF. Para o teste de teste de t, a CND apresenta valores maiores no Publicado no D.O.U. de 30/07/1986. período da seca (média=136.306 mS/cm) que na chuva (mé- NIMER, E.; PINHEIRO FILHO, A.A. & AMADOR, E.S. dia=104.976 mS/cm) ( P<0.039). Climatologia da Região Centro Oeste. In : Nimer E. ( ed. ). Climatologia Na temperatura da água apresenta maiores valores no período do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. 1989. 393-421p. de chuva (média=24.71°C) que no período de seca PORTO, M.A.; BRANCO, S.B.& LUCA, S.J. Caracterização da (média=22.60°C). A diferença entre os períodos sazonais é signifi- qualidade da água. In: Porto, RLL (org.) Hidrologia Ambiental. cativa (P<0.00). São Paulo: ABRH., EDUSP, 3:27-66, 1991.SYSTAT: The system Nesta análise não apresenta diferença significativa nos for statistics. Copyright SPSS Inc. 1998. 660p. parâmetros físico-químicos de DBO (P<0.056), OD (P<0.451), TUNDISI, J.G. Limnologia no século XXI: perspectiva e desafios. São TDS (P<0.145) e pH (P<0.718). Carlos: IIE, 1999. 24p. No período da seca a CND aumenta do ponto 1 ao 3 (mé- dia=45.550 mS/cm e média=187.88 mS/cm, respectivamente). Posteriormente, esta diminui do ponto 4 ao 6 (média=180.03 mS/ Síndromes de dispersão de sementes cm e média=167.41 mS/cm. Neste período também se faz presente em duas ilhas de mata de galeria inundável, a oscilação das médias de CND com as de TDS, que tem nesta Uberlândia (MG). última o aumento dos valores do ponto 1 ao 3 (média=26.183 mg/ Francielle Paulina de Araújo 1, Isa Lucia de Morais Resende 1, L e média=93.971 mg/L, respectivamente), nos pontos 4 e 5 Viviane Santos Brandão 1, Nilson Santos dos Reis 1, Ana Paula de apresenta uma diminuição gradual (média=89.889 mg/L e mé- Assis Oliveira 1 & Cecília Lomônaco de Paula 1. dia=64.767 mg/L) e após no ponto 6 ocorre um pequeno aumento 1 Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia (média=83.800 mg/L). ([email protected]) A temperatura amostral (P<0.033), apresenta o aumento pro- gressivo dos valores do ponto 1 ao 5 (média=23.15°C e 1. Introdução média=25.86°C, respectivamente), no ponto 6 tem uma pequena As interações entre plantas e dispersores possibilitam a perma- queda da temperatura (média=25.18°C). nência destes dois componentes básicos no ambiente uma vez que Nesta análise não apresenta diferença significativa no período as plantas dependem de animais para garantir seu sucesso reprodutivo de chuva para os parâmetros físico-químicos de DBO (P<0.335), e os animais precisam das plantas como fonte de recursos (Frankie OD (P<0.316), pH (P<0.833) e no período de seca para DBO et al., 1974). Desta forma, a disponibilidade de frutos bem como a (P<0.519), OD (P<0.088), pH (P<0.702) e TAM (P<0.469). morfologia dos mesmos estão diretamente relacionadas com seus - Pontos amostrais agrupados por chuva e seca possíveis agentes dispersores. Frutos maduros apresentam diferen- Para o teste de teste de t, a CND apresenta valores maiores no tes características como cor, presença de alas, deiscência de cápsula período da seca (média=136.306 mS/cm) que na chuva (mé- e apresentação de semente com arilo, que indicam adaptações para dia=104.976 mS/cm) ( P<0.039). a dispersão por diferentes vetores (Morellato & Leitão-Filho, 1992). Na temperatura da água apresenta maiores valores no período Alguns trabalhos acerca de disponibilidade de frutos e síndromes de chuva (média=24.71°C) que no período de seca de dispersão na região dos cerrados têm sido desenvolvidos, por (média=22.60°C). A diferença entre os períodos sazonais é signifi- exemplo: Oliveira & Moreira, 1992; Dalponte & Lima, 1999; cativa (P<0.00). Neves, 1999; dentre outros. Entretanto, há ainda muito o que ser Nesta análise não apresenta diferença significativa nos descrito, pois para a maioria das espécies vegetais, estas informa- parâmetros físico-químicos de DBO (P<0.056), OD (P<0.451), ções são incompletas ou inexistentes. Além disto, pesquisas que TDS (P<0.145) e pH (P<0.718). disponibilizem um melhor entendimento dos diversos tipos de 4. Conclusão interações planta-animal são de grande importância para a defini- Este estudo indica que: ção de critérios adequados para a conservação, manejo e recupera- - a análise interanual entre os anos de 1999 a 2002 mostra ção do bioma cerrado (Oliveira, 2001). oscilações significativas da DBO, OD, CND e pH, o que parece Dentro deste contexto, encontra-se o tema deste trabalho, estar relacionado com o melhoramento na qualidade das águas que teve como objetivo obter informações sobre a síndrome de devido ao incremento da fiscalização; dispersão de frutos em duas ilhas de mata de galeria inundáveis na - a análise sazonal por pontos de amostragens indicam que Reserva do Clube Caça e Pesca Itororó de Uberlândia-MG e ca- existem diferenças significativas da CND e do TDS no período da racterizar, morfologicamente, os tipos de frutos encontrados. chuva e da seca. A TAM foi significativa apenas no período de 2. Material e Métodos chuva. As características geomorfológicas da bacia assim como os O trabalho foi realizado na Reserva do Clube Caça e Pesca impactos ambientais representados por efluentes e barragens pare- Itororó de Uberlândia (CCPIU), em Uberlândia, Minas Gerais, cem interferir entre os pontos amostrais; situado na região do Triângulo Mineiro. Encontra-se limitado pe- - a CND e a TAM foram significativas na análise de médias las coordenadas geográficas de 18º 30’ - 19º 30’ de latitude sul e entre os períodos sazonais (chuva e seca). 47º 50’ - 48º 50’ de longitude leste de Greenwich (Lima et al., 5. Referências Bibliográficas

452 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

1989; Nishiyama, 1989). O clima caracteriza-se, segundo a classi- chegarem a sítios seguros é menor que na zoocoria (van der ficação climática de Köppen, como sendo do tipo Aw, megatérmico, Pijl,1972). A baixa porcentagem de espécies autocóricas também com chuvas no verão e seca no inverno (Rosa et al., 1991). foi encontrada por (Pereira 1997) em formações florestais. A Reserva do CCPIU localiza-se a oeste do perímetro urbano Em relação às características dos frutos, houve uma predominân- a 18º 57’ S e 48º 42’ W. No local, o cerrado (sentido amplo) é cia de frutos carnosos seguido de frutos secos. O tipo de fruto mais atravessado por uma vereda onde ocorrem seis pequenas ilhas de comum foi nuculânio, seguido de bacácio, cápsula, bacídio e drupa. mata e ainda apresenta o gradiente campo sujo e cerrado (sentido O tamanho dos frutos durante o período de estudo apresentou restrito), sendo esta a vegetação dominante na área (Appolinário, uma grande amplitude de variação, sendo que as maiores médias 1995). As duas maiores ilhas de mata da reserva foram selecionadas no comprimento, largura e peso foram encontradas entre os frutos para a realização do estudo, sendo que a maior delas foi chamada zoocóricos. Os frutos anemocóricos compreenderam médias de de Mata I e a outra Mata II. O termo ilha foi utilizado na sua largura e de peso intermediárias, porém com comprimento inferior caracterização por serem áreas relativamente isoladas de outras aos autocóricos. As maiores medidas dos frutos zoocóricos foram formações florestais, sendo estas matas totalmente circundadas encontradas em Posoqueria latifolia, com peso de 74,7g, largura de por vereda (Resende 2003). 33,7mm e comprimento de 35,7mm, e as menores medidas em O monitoramento das espécies e a coleta dos frutos foram Miconia theaezans, com peso de 0,011g, largura de 2,5mm e com- realizados quinzenalmente no período de março/2003 a junho/ primento de 2,3mm. A maiores medidas dos frutos anemocóricos 2003. Foram marcadas sete trilhas aleatoriamente na Mata I e foram encontradas em Bilbergia porteana, com peso de 0,934g, cinco trilhas na Mata II. Ao longo da caminhada todas as espécies largura de 11,2mm e comprimento de 16,2mm, e as menores me- em estádio de frutificação foram amostradas. As seguintes informa- didas para Symphyopappus cuneatus, com peso de 0,00014g, largura ções foram registradas para cada espécie: data de coleta, mata de de 0,551mm e comprimento de 2,204mm. Ludwigia tomentosa foi origem, nome da espécie e da família e tipo de fruto. Sempre que a única espécie que apresentou fruto autocórico, de peso 0,492g, possível, foram coletados cerca de 50 frutos maduros de cada espé- largura de 8,34mm e comprimento de 23,235mm. cie, para sua caracterização morfologica, segundo os critérios 4. Conclusão adotados por Barroso et al. (1999). No laboratório, os frutos ainda Os frutos zoocóricos ocorreram em maior número de espécies frescos, foram medidos quanto ao comprimento e diâmetro, com o e com variados tamanhos indicando que estas matas representam auxílio de um paquímetro com precisão de 0,05 mm. O peso foi uma importante fonte de recursos para frugívoros da região. Estas verificado em uma balança digital de precisão (mg). Os frutos informações criam subsídios para estudos ecológicos de popula- carnosos foram fixados em álcool 70% e os frutos secos passaram ções e comunidades fornecendo um conjunto de dados para a por um processo de secagem em estufa com temperatura de apro- implantação de projetos de manejo e recuperação de florestas. ximadamente 80 ºC, por no mínimo 48 horas. 5. Referências Bibliográficas: Os mecanismos de dispersão das espécies que frutificaram na área Appolinário, V.C.R. 1995. Levantamento fitossociológico das espécies foram inferidos de acordo com a classificação de síndromes de disper- arbóreas de cerrado (sentido restrito) do Clube Caça e Pesca Itororó de são adotada por Mantovani & Martins (1988). Segundo estes autores, Uberlândia-MG . Monografia de Bacharelado, 43p. Universidade os frutos podem ser distribuídos em três grandes grupos: zoocóricos – Federal de Uberlândia, Uberlândia. diásporos adaptados à dispersão por animais; anemocóricos – diásporos Barroso, G.M.; Morim, M.P.; A.L. & Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e adaptados à dispersão pelo vento e autocóricos - diásporos que não sementes: morfologia aprlicada à sistemática de dicotiledôneas. Ed. apresentam adaptação morfológica evidente para a dispersão pelas Universidade Federal de viçosa, Viçosa. 443p. outras categorias citadas anteriormente. 3. Resultados e Discussão: Dalponte, J.C. & Lima, E.S. 1999. Disponibilidade de frutos e a Foram encontrados até o momento 26 espécies frutificando no dieta de Lycalopex vetulus (Carnivora – Canidae) em um cerrado de período de estudo, sendo 15 de origem da Mata I e 15 da Mata II. Mato Grosso, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 22 (2): 325-332. Destas espécies, quatro ocorreram nas duas matas. As espécies Lima, S.C.; Rosa, R. & Feltran-Filho, A.1989. Mapeamento do estão distribuídas em 20 famílias. A família mais representativa foi uso do solo no Município de Uberlândia-MG, através de imagens Rubiaceae com cinco espécies (Posoqueria latifolia, Psychotria TM/LANDSAT. Sociedade & Natureza 1(2): 127-145. carthagenensis, Psychotria paracatuensis, Psychotria poeppigiana e Mantovani, W. & Martins, F.R. 1988. Variações fenológicas das Psychotria sp.) seguida por Melastomataceae com duas espécies espécies do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guacu, Estado (Miconia chamissois e Miconia theaezans) e Orchidaceae com duas de São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 11: 101-112. espécies (sp1 e sp2). As demais famílias tiveram apenas uma espécie Morellato,L.P.C. & Leitão-Filho, H.F. 1992. Padrões de frutificação representante: Bromeliaceae (Bilbergia porteana), Malpighiaceae e dispersão na Serra do Japi. In: História Natural da Serra do Japi: (Byrsonima sp), Clusiaceae (Calophylum brasiliensis), Solanaceae Ecologia e preservação de uma área florestal no sudeste do Brasil (Cestrum schlechtendalii), Vitaceae (Cissus erosa), Costaceae (Costus (MORELATO, L.P.C., org.) Ed. da Universidade Estadual de spiralis), Araliaceae (Dendropanax cuneatum), Dioscoreaceae Campinas, Campinas, Pp 112-139. (Dioscorea scabra), Alismataceae (Echinodorus longipetalus), Arecaceae (Geonoma brevisphata), Myrtaceae (Gomidesia Neves, S.F.B. 1999. Dispersão de sementes e estrutura da população de gaudichaudiana), Ericaceae (Leuchotoe chapadensis), Onagraceae Platypodium elegans Vog (Fabaceae) em Cerradão da Estação Ecológica (Ludwigia tomentosa) Passifloraceae (Passiflora sp), Meliaceae (Guarea do Panga (Uberlândia, MG). Monografia de Bacharelado, 46p. macrophyla), Asteraceae (Symphyopappus cuneatus) e Monimiaceae Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. (Siparuna guianensis). Nishiyama, L. 1989. Geologia do Município de Uberlândia e áreas Quanto à análise das síndromes de dispersão foi encontrado adjacentes. Sociedade & Natureza 1 (1): 9-16. nas duas matas uma predominância de zoocoria com 69% seguida Oliveira, P.E.A.M & Moreira, A.G. 1992. Anemocoria em espéci- de anemocoria 27% e de autocoria 4%. A zoocoria é um mecanis- es de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Revista Brasileira de mo de dispersão predominante em diversas comunidades Botânica 15 (2): 163-174. neotropicais (Morellato & Leitão-Filho, 1992). As espécies Oliveira, A.P.A. 2001. Frutos e síndromes de dispersão de sementes em anemocóricas apesar de serem amplamente distribuídas entre as angiospermas, ocuparam uma segunda posição em relação à uma área de cerrado. Monografia de bacharelado, 37 Pp. Universi- zoocoria, talvez por que a possibilidade dos diásporos anemocóricos dade Federal de Uberlândia, Uberlândia.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 453 Cerrado Volume I

Pereira, K.A.R. 1997. Dispersão de espécies arbóreas em formações do Espinhaço em Minas Gerais e ralacioná-las à riqueza de insetos florestais da Estação Ecológica do Panga. Monografia de Bacharelado, galhadores associados a cada espécie de Baccharis. 50p. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. 2. Materiais e Métodos: Resende, I.L.M. 2003. Florística, fenologia e biologia floral da comu- As amostragens foram concentradas principalmente em regi- nidade de uma ilha de mata de galeria inundável em Uberlândia, MG. ões de cerrado e campos rupestres em Minas Gerais, principalmen- Dissertação de Mestrado, 74p. Universidade Federal de Uberlândia, te nas regiões de Diamantina e Serra do Cipó (19°20’S e 43°44”W), Uberlândia. Ouro Preto e Mariana (20°23’S e 43°34’W) e Serra da Moeda (19°51’S e 43°56’ W), situadas na porção sul da Cadeia do Espinhaço. Rosa, R.; Lima, S.C. & Asunção, W.L. 1991. Abordagem prelimi- A comunidade de insetos galhadores associada a 30 indivíduos nar das condições climáticas de Uberlândia (MG). Sociedade & de 18 espécies de Baccharis foi determinado através da contagem de Natureza 3 (5 e 6): 91-108. todos os indivíduos de cada morfo-espécie de galha. Todas as plan- Van der Pijl.1972. Principles of dispersal in higher plants. Springer- tas tiveram sua altura medida e foram contados o número total de Verlag, Berlin. Heidelberg. New York. 2º. Ed, 161p. ramos de segundo, terceiro, quarto níveis Em 3 ramos secundários escolhidos ao acaso, foram contadas as ramificações nos 15 últimos Arquitetura da planta e riqueza de insetos centímetros de cada ramo. Dezesseis plantas foram coletadas e galhadores associados a Baccharis (Asteraceae) na secas em estufas a 60 ºC por duas semanas e pesadas para determi- Cadeia do Espinhaço- MG. nação do peso seco de cada espécie. Para avaliar os efeitos da Francisco R. de Andrade-Neto, Bruno G. Pacheco, Renato P. arquitetura da planta em sua riqueza de herbívoros, foi realizada Ferreira, Mário M. Espírito-Santo, Frederico S. Neves & G. W. uma análise discriminante com os parâmetros arquiteturais medi- Fernandes. dos para cada espécie. Os escores dos grupos obtidos para cada Lab. de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, DBG/ICB, CP espécie de Baccharis foram considerados como índice de arquitetu- 486,Universidade Federal de Minas Gerais, CEP 30161-970, Belo ra das espécies. Este índice foi relacionado à riqueza de galhadores Horizonte- MG. em cada espécie de Baccharis através de regressão linear simples. Além disso, a influência de cada parâmetro arquitetônico (altura, número de ramificações, nível máximo de ramificação, número de 1. Introdução: º Insetos galhadores são herbívoros altamente específicos na ramos de 4 nível e biomassa) na riqueza de galhadores foi determi- escolha da planta hospedeira e do órgão a ser atacado (Rohfritsch nada através de regressão linear múltipla. 3. Resultados e discussão & Shorthouse 1982). Devido a esta forte especificidade, os Foram encontradas 88 morfo-espécies de galhas nas 18 espéci- galhadores são altamente susceptíveis a variações na qualidade da es de Baccharis estudadas, sendo a maioria pertencente à família planta hospedeira. Assim, a abundância e riqueza destes insetos são Cecidomyiidae (Diptera). A riqueza de galhas variou de 1 espécie influenciadas pela disponibilidade de recursos da planta (Price em Baccharis sp.3 até 14 em Baccharis dracunculifolia. Estes grande 1991) e concentração de substâncias químicas (Abrahamson et al. número de insetos galhadores no gênero Baccharis corrobora a 1991). Já foram descritas mais de 15.000 espécies de insetos conclusão de Fernandes et al,. (1996) de que este grupo de plantas galhadores em todo o mundo (Rohfritsch & Shorthouse 1982), e provavelmente sustenta a maior riqueza de insetos galhadores da vários mecanismos já foram propostos para explicar a grande região Neotropical. especiação destes insetos, tais como características físicas, quími- O índice de arquitetura da planta obtido a partir da análise cas e fenológicas das plantas hospedeiras, competição entre dife- discriminante influenciou positivamente a riqueza de galhadores rentes espécies de galhadores e pressão de inimigos naturais das 18 espécies de Baccharis (r2 = 0,51, p < 0,01, y = 5,72x + 1,57), (Abrahamson et al. 1993, Price et al. 1987, Fernandes & Price indicando que os insetos galhadores respondem à complexidade 1988, 1992). estrutural das espécies de Baccharis. A análise de regressão linear Para insetos galhadores, Faria (2002) propôs que a abundância múltipla mostrou que o número de ramificações e o número de de galhas de um Psyllidae (Neopelma baccharidis) aumenta com o ramos de 4o nível das plantas foram os fatores que mais influencia- número de ramificações de sua planta hospedeira, postulando um ram a riqueza de insetos (r2 =0,88 , p < 0,005, p < 0,001), possível efeito da arquitetura da planta (número de meristemas) no nramif ram4 sendo que o número de ramos de 4o nível é responsável por 82% da sucesso de ataque de galhadores. Assim, é possível que as variações variação na riqueza de galhas. Estas duas variáveis refletem princi- na riqueza de insetos galhadores em plantas taxonomicamente re- palmente o número de meristemas das plantas. Como insetos lacionadas estejam relacionadas com seu padrão arquitetural. galhadores precisam de meristemas ativos para seu desenvolvimen- Fernandes & Price (1988) testaram os efeitos da arquitetura em to (Shorthouse 1992), plantas mais ramificadas podem sustentar galhadores entre ervas, árvores e arbustos, mas não encontraram um maior número de espécies de insetos desta guilda. O fato da efeitos da complexidade arquitetônica das plantas hospedeiras na altura e biomassa das plantas terem sido removidas do modelo na riqueza de galhas. Entretanto, são necessários trabalhos avaliando regressão múltipla exclui um possível efeito do tamanho das plan- um maior número de características que indiquem com maior pre- tas sobre a riqueza de galhadores. cisão o grau de complexidade arquitetônica. A maioria dos trabalhos anteriores sobre os efeitos da arquite- Baccharis é um gênero típico de campos rupestres e cerrados no tura na riqueza de insetos herbívoros compararam apenas 3 amplas Brasil. Minas Gerais é um dos estados de maior diversidade de categorias de complexidade: ervas, arbustos e árvores (Lawton 1983, espécies deste gênero, com 71 espécies (Barroso 1976). Baccharis Fernandes & Price 1988). Para insetos galhadores, não foram ob- suporta uma das mais ricas faunas de insetos galhadores da região servados efeitos da complexidade estrutural da planta no número neotropical, com 121 espécies em 40 espécies de plantas hospedei- de espécies (Fernandes & Price 1988). Neste estudo, a complexi- ras amostradas (Fernandes et al. 1996; Sáiz & Paz 1999). Além dade estrutural foi analisada de uma forma mais minuciosa, com 5 disso, as espécies deste gênero apresentam grande variação variáveis utilizadas para determinar os mecanismos responsáveis arquitetônica, possuindo desde espécies herbáceas até arbustos de pela riqueza de galhadores dentro de um mesmo gênero de plantas 2-4 m de altura. Por estas características, o gênero Baccharis cons- hospedeiras. Estes resultados estão de acordo com a “hipótese de titui um excelente sistema para a determinação da influencia da sincronização de recursos”, proposta por Mendonça (2001) para a arquitetura na riqueza de insetos galhadores. O objetivo deste explicar o padrão encontrado por Price et al. (1998) para a riqueza trabalho é analisar as variações nas características arquitetônicas de galhadores em escala global. Segundo este autor, vegetações de 18 espécies do gênero Baccharis, distribuídas ao longo da cadeia

454 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado escleromórficas de latitudes médias apresentaram maior riqueza de formation (Cecidomyiidae: Asphondylia spp.) on creosote bush. galhadores devido ao efeito do fogo, que causa a rebrota sincroni- Ecol. Entomol. 15: 87-95. zada das plantas. Assim, haveria maior disponibilidade de tecidos jovens em crescimento para oviposição por insetos galhadores. Em Levantamento Florístico em Seis Comunidades uma escala diferente, a riqueza de galhadores em Baccharis também Vegetais de Vereda no Triângulo Mineiro é fortemente influenciada pela quantidade de tecido jovem de cada Geraldo Célio de Oliveira a Glein Monteiro de Araújob & Ana espécie de planta hospedeira, constituindo um indicativo claro dos Angélica Almeida Barbosab mecanismos envolvidos no processo de diversificação deste grupo a Mestrando em Ecologia, Instituto de Biologia – UFU de insetos. ([email protected]) b Instituto de Biologia UFU 4. Conclusões: Neste estudo pôde-se verificar uma alta riqueza de insetos 1.Introdução galhadores associados ao gênero Baccharis, fortemente influenciada As veredas são formações fitogeográficas situadas em solos pela complexidade estrutural da planta. As variáveis arquitetônicas hidromórficos no Bioma Cerrado. São caracterizadas por vegeta- determinantes da riqueza de galhas são o número de ramificações e ção herbáceo-graminosa composta em grande parte por Poaceae, o o número de ramos de 4 nível, que indicam o número de meristemas, Cyperaceae, Eriocaulaceae e Melastomataceae, muitas vezes cir- partes de crescimento ativo da planta essenciais para o desenvolvi- cundando agrupamentos de espécies arbustivas (Martius e Spix, mento dos galhadores. A relação observada neste entre a riqueza de 1938; Melo Barreto, 1949; Rizzini, 1963; Magalhães, 1956, 1963 galhadores e a disponibilidade de meristemas está de acordo com o e 1964). Uma espécie de palmeira de alto porte, com indivíduos mecanismo proposto pela “hipótese de sincronização de recursos” que podem ter mais de 10 metros de altura, Mauritia flexuosa L.f., (Mendonça 2001) para explicar padrões globais de riqueza de vulgarmente conhecida como buriti, caracteriza esta fisionomia galhadores. Estudos com outros gêneros de plantas hospedeiras e (Boaventura, 1978). A ocorrência dessas comunidades está condi- em diferentes habitats são necessários para que se possa confirmar cionada ao afloramento do lençol freático, decorrente entre outros os mecanismos determinantes da diversidade de galhadores em fatores, da alternância de camadas do solo de permeabilidades diferentes escalas. diferentes, em áreas sedimentares do Terciário (Castro, 1981; Car- 5. Bibliografia: valho, 1991; Ribeiro & Walter, 1998). As veredas possuem parte Abrahamson, W G., K. D. McCrea, A. J. Whitwell & L. A. Vernieri. brejosa estacional e permanente (Eiten, 1983), onde a saturação (1991). The role of phenolics in goldenrod ball gall resistance and hídrica do solo por vários meses impede sua oxigenação, favorecen- formation. Biochem. Syst. Ecol, 19: 615-622. do o acúmulo de húmus (Askew et al. 1970 e 1971). Barroso, G M (1976) Compositae – subtribo Baccharidinae Em Minas Gerais ocorrem no Triângulo Mineiro, nas bacias Hoffman: estudo das espécies ocorrentes no Brasil. Rodriguesia dos rios Paranaíba, São Francisco e Grande. No município de 40: 3-273. Uberlândia, as veredas e campos úmidos ocupam uma área aproxi- mada de 6,68% do município, ocorrendo em grande parte, nas Faria, M L, (2002). Preferencia e performance de insetos herbívoros associados a Baccharis dracunculifolia (Asteraceae) . Tese de doutora- nascentes situadas nas chapadas no interflúvio dos rios Araguari, do. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Uberabinha e Tijuco (Lima, 1996; Lima e Queiroz Neto, 1996). São ambientes sensíveis a alterações e de pequena capacidade auto- Fernandes, G W & Price, P W. (1988). Biogeographical gradients regenerativa, considerada e protegida por lei como áreas de preser- in galling species richness. Oecologia. 76: 161-167 vação permanente (Minas Gerais, 1988). Estudos fitossocilógicos Fernandes, G W & P. W. Price. (1992). The adaptive significance (Amaral, 1999; Guimarães et al. 2002) e florísticos (Amaral, 2002 of insect gall distribution: survivorship of species in xeric and mesic Araújo et al. 2002; Silva Júnior e Felfili, 1998; Azevedo, 1999) habitats. Oecologia 90: 14-20. dessas comunidades vegetais foram realizados na região do Triân- Fernandes, G. W., M. A. A. Carneiro, A. C. F. Lara, L. A. Allain, G. gulo Mineiro e Planalto Central do Brasil. I. Andrade, G. Julião, T. C. Reis & I. M. Silva. (1996). Galling O objetivo do presente estudo foi determinar a composição florística insects on neotropical species of Baccharis (Asteraceae). Trop. Zool. de seis veredas, compará-las entre si e com outras áreas similares, 9: 315-332. ampliando os conhecimentos sobre essas comunidades vegetais. 2.Métodos Lawton, J.H. 1983. Plant architeture and he diversity of O levantamento florístico foi realizado na “cabeceira” de seis phytophagous insects . Ann. Ver. Entoml. 28: 23-39 veredas, onde predomina a vegetação herbácea e indivíduos da Ngakan, P. O. & J. Yukawa. (1997). Synchronization with host palmeira buriti, sendo cinco no município de Uberlândia, MG e plant phenology and gall site preference of Dinipponaphis autumma uma no município de Uberaba, MG. Três dessas veredas situam-se (Homoptera: Aphididae). Appl. Entomol. Zool. 32: 81-90. a menos de 850 metros de altitude, em solos originários do arenito Mendonça, MS. (2001). Galling insect diversity patterns: the Bauru, com textura arenosa (Baccaro, 1994), que designaremos resource synchronization hypothesis. Oikos 95: 171-176 veredas do Bauru (B1 – 19o 00’ S e 48o 18’ W; B2 – 18o 57’ S e 48o o o Price, P W. (1991). The plant vigor hypotheses and herbivore 21’ W; B3 – 19 00’ S e 48 27’ W). As outras três situam-se em attack. Oikos 62: 244-251. altitude superior a 850 metros, em locais onde predominam Latossolos com textura argilosa e relevo de chapadas (Baccaro, Rohfritsch, O. & J. D. Shorthouse. (1982). Insect galls. pp. 132— 1994). Estas veredas foram denominadas por veredas da chapada 151. In G. Kall and J. S. Schell (Eds.), Molecular biology of plant (C1 – 19o 05’ S e 48o 08’ W; C2 – 19o 06’ S e 48o 07’ W; C3 – 19o tumors. Academic, New York. 17’ S e 48o 07’ W). Rohfritsch, O. (1992). Patterns in gall development. Pages 60-86 As coletas dos exemplares botânicos foram feitas em uma área in J. D. Shorthouse and O. Rohfritsch, editors. Biology of insect- que possuía 100 m de comprimento ao longo da borda da vereda induced galls. Oxford University Pres, New york, New York, USA. pela largura da mesma. No interior da área delimitada foram Sáiz, F. & M. Paz. (1999). Aspectos ecológicos de las cecidias de coletadas aleatoriamente as espécies vegetais em fase reprodutiva. Baccharis salicifolia (R. et P.) pers., en Chile central. An. Mus. Hist. As coletas em cada vereda foram realizadas mensalmente, no perí- Nat. Valparaíso 24: 47-60. odo de 12 meses (de janeiro a dezembro de 2002). Waring, G. L. & P. W. Price. (1990). Plant water stress and gall O material coletado foi prensado e herborizado conforme procedimento usual (Fidalgo e Bononi, 1984). A sua identificação

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 455 Cerrado Volume I foi feita com o uso de chaves e/ou por comparação com o material deral de Uberlândia, Minas Gerais. existente no Herbarium Uberlandense (HUFU- Universidade Fe- Amaral, A.F. (2002). Alterações decorrentes da queima e corte na vegeta- deral de Uberlândia) onde as exsicatas foram incorporadas. Algu- ção natural de uma vereda, em Uberlândia – MG. Dissertação de mas espécies foram identificadas por especialistas. A similaridade Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais. florística entre as veredas foi feita utilizando-se o índice de Jaccard Araújo, G.M; Barbosa, A.A.A; Arantes, A. A; Amaral, A. F. (2002). (Mueller-Dombois e Ellenberg, 1974) e a análise de agrupamento Composição florística de veredas no município de Uberlândia, hierárquica, de acordo com o método de ligação de Wilkinson MG. Revista Brasileira de Botânica 25(4):475-493. (1998), utilizando-se o programa SYSTAT 8.0 para Windows. 3.Discussão e Resultados Askew, G.P.; Moffat, D.J.; Montgmery, R.F. e Searl, P.L. (1970). Nas seis veredas foram amostradas um total de 298 espécies Soil landscape in northeastern Mato Grosso. Geographical Journal pertencentes a 148 gêneros distribuídos em 55 famílias botâni- 136:211-227. cas. O número total de espécies foi menor, quando comparado Askew, G.P.; Moffat, D.J.; Montgomery, R.F. e Searl, P.L. (1971). ao de Araújo et al. (2002) (526 espécies), que realizou a amostragem Soils and soil moisture as factors influencing the distribuition of ao longo de quatro veredas por um período de dois anos no the vegetation formations of the Serra do Roncador, Mato Grosso. município de Uberlândia. Porém, a riqueza de espécies no pre- In III Simpósio Sobre Cerrado, (M.G. Ferri, coord.), Ed. Edgard sente estudo foi maior do que as de Amaral (1999), Azevedo Blucher & Ed. Universidade de São Paulo, p.150-160. (1999), Amaral (2002) e Guimarães et al. (2002), que registra- Azevedo, F.F.A. (1999). Florística e Fenologia de uma área de vereda ram, respectivamente, 99, 123, 141 e 101 espécies. No presente em Uberlândia/MG. Monografia de Bacharelado, Universidade estudo, 20,4% do total amostrado (61 espécies), não foram en- Federal de Uberlândia, Minas Gerais. contradas nos trabalhos acima citados. Destas, 70,5% (43 espé- Baccaro, C.A.D. (1994). As unidades geomorfológicas e a erosão cies), foram registradas exclusivamente nas veredas de chapada, nos chapadões do município de Uberlândia. Sociedade e Natureza 6 sugerindo que são espécies bem competitivas nesses ambientes (11/12):19-33. de constituição edáfica mais argilosa. Nas veredas situadas em solos originários de arenito do grupo Boaventura, R.S. (1978). Contribuição aos estudos sobre evolu- Bauru registrou-se 207 espécies, sendo 59 delas exclusivas desse ção das veredas. In Encontro Nacional de Geógrafos, 3. AGB/ ambiente. Nas veredas de chapada amostrou-se 206 espécies, sen- UFC, Fortaleza, CE. do 76 exclusivas a esses ambientes. Em geral, as veredas B1 (com Carvalho, P.G.S. (1991). As Veredas e sua importância no domínio um total de129 espécies) e C3 (total de125 espécies) apresentaram dos cerrados. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, 15 168, 54-56. o maior número de espécies exclusivas quando comparadas com as Castro, J.P.C. (1981). As veredas e sua proteção jurídica, o regime demais. A área amostrada em B1 tem maior extensão, zona de administrativo florestal no Brasil. Brasil Florestal. 46: 39-54. borda mais ampla e situa-se em local mais preservado. A C3 foi a de Eiten, G. (1983). Classificação da vegetação do Brasil. Brasília CNPq. p.23. menor área entre todas as veredas amostradas, porém, possui dife- rentes microambientes edáficos. As veredas do grupo Bauru, B2 e Fidalgo, O. e Bononi, V.L.R. (coord.) (1984). Técnicas de coleta, B3, com 92 espécies cada, foram as que apresentaram menor nú- preservação e herborização de material botânico. São Paulo. Instituto mero de espécies. de Botânica. As dez famílias mais ricas tiveram 67,1% do total de espécies Guimarães, A.J.M; Araújo, G.M; Corrêa, G.F. (2002). Estrutura amostradas, indicando a importância destas nas veredas. As cinco fitossociológica em área natural e antropizada de uma vereda em famílias com maior número de espécies no presente estudo foram, Uberlândia, MG. Acta Botanica Brasilica. 16 (3): 317-329. Poaceae (47), Asteraceae (44), Cyperaceae (28), Melastomataceae Lima, S.C. (1996). As Veredas do Ribeirão do Panga no Triângulo (18) e Eriocaulaceae (15). Os resultados de outros estudos em Mineiro e a evolução da paisagem. Tese de Doutorado. Universidade veredas, mostraram que, em geral, as três famílias mais ricas foram de São Paulo, São Paulo. Poaceae, Asteraceae e Cyperaceae (Araújo et al 2002 ; Guimarães et al. 2002). Dentre as famílias que apresentaram uma única espécie, Lima, S.C. e Queiroz Neto, J. P. (1996). As veredas e a evolução do 20 ocorreram nos ambientes mais úmidos, sendo que algumas delas relevo. Sociedade e Natureza 15: 481- 488. como, Alismataceae e Mayacaceae, são aquáticas. A similaridade Magalhães, G.M. (1956). Características de alguns tipos florísticos florística entre as veredas foi baixa (menos de 35%). Na análise de de Minas Gerais. Revista Brasileira de Biologia 1 (1) 76-92. agrupamento distinguiram-se dois grupos: o primeiro formado pelas Magalhães, G.M. (1963). Fitogeografia do Estado de Minas Gerais. três veredas da chapada (C1, C2 e C3) com a vereda B1 do grupo Reunião Brasileira do Cerrado de Sete Lagoas: IPEACO, (boletim, 15). Bauru e o segundo entre as duas veredas do grupo Bauru (B2 e B3). Magalhães, G.M. (1964). Dados fitogeográficos do SE do Planalto 4.Conclusões Central. In Congresso Nacional de Botânica, 14, Manaus: Anais, O presente trabalho mostrou que as comunidades das veredas Manaus. Sociedade Botânica do Brasil, p.364-373. analisadas, são ricas em termos de composição florística. A simila- ridade florística entre as veredas foi pequena, possivelmente, não Martius, C.F. von e Spix, J.B. (1938). Viagens pelo Brasil. Tradução em decorrência das diferenças nas características do solo, mas de- de Lúcia Furquim Lahmeyer. vido ao tamanho da área amostrada e o histórico de antropização Mello Barreto, H.L. (1949). Regiões fitogeográficas de Minas em cada uma delas. Gerais. Anuário Brasileiro de Economia Florestal, 2 (2):352-359. A proteção efetiva das veredas é de fundamental importância Minas Gerais. (1988). Lei n. 9682, de 12 de outubro de 1988. para a manutenção de sua flora bastante diversa, o que refletirá Declara de interesse comum e de preservação permanente os ecossistemas diretamente na vazão das águas. A proteção desses ecossistemas das veredas no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG. v.193. devem ser estimulados e até mesmo fiscalizados pelo poder públi- Mueller – Dombois, D. e Ellenberg, H. (1974). Aims and methods co, a fim de evitar a extinção dessas áreas imprescindíveis para a of vegetation ecology. Willey & Sons, New York. manutenção da qualidade ambiental. 5.Referências Bibliográficas Ribeiro, F.J. e Walter, B.M.T. (1998). Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In Cerrado ambiente e flora (S.M. Sano & S.P. Almeida, Amaral, A.F. (1999). Estrutura Comunitária da Vegetação em uma (eds.) EMBRAPA-CPAC. p.89-152. Seção Transversal, em Vereda da Reserva Vegetal do Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia. Monografia de Bacharelado, Universidade Fe- Rizzini, C.T. (1963). Notas Prévias sobre a divisão fitogeográfica

456 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

(florístico sociológica) do Brasil. Revista Brasileira de Geografia: getação de área de estudo, através de imagens índice de vegetação 25:3-64. diferença normalizada (IVDN). Este levantamento serviu de base Silva Júnior, M.C. e Felfili, J.M. (1998). A vegetação da estação para a realização de um levantamento florístico expeditivo (Durigan ecológica de Águas Emendadas. Instituto de Ecologia e Meio Ambi- 1999), o qual possibilitou refinar as informações disponíveis sobre ente do Distrito Federal, Brasília. a vegetação da área. Com base nestes dados, foi feito um zoneamento fisionômico estrutural da vegetação, a partir do qual Wilkinson, L. (1998). SYSTAT 8.0 for Windows: Statistics. SPSS foram escolhidos os pontos de coleta de dados de fitomassa. O Inc., Chicago, IL. método usado para a quantificação deste parâmetro biofísico foi o de quadrantes centrados (Mueller-Dombois e Ellemberg 1974). Imagens de Sensoriamento Remoto por Radar na Foram definidas 10 áreas, sendo que em cada uma delas medi- Estimativa da Fitomassa Lenhosa Aérea em Áreas de ram-se 20 quadrantes, com quatro árvores cada um. As determina- Cerrado no Estado de São Paulo ções realizadas no campo foram diâmetro à altura do peito (DAP) Gerardo Kuntschik a & Marisa Dantas Bitencourt b e altura (h). a Depto. Ecologia, Universidade de São Paulo ([email protected]), b O cálculo de fitomassa aérea foi feito através da aplicação de Depto. Ecologia, Universidade de São Paulo. equações alométricas desenvolvidas por Delitti et al. (2002). Estas equações foram estabelecidas para vegetação de cerrado stricto sensu 1. Introdução e cerradão no Estado de São Paulo. O cerrado é o bioma brasileiro que vêm sofrendo maior grau A imagem SAR foi lida, recortada e georreferenciada no pro- de devastação. Assim, o Estado de São Paulo, que antigamente grama ENVI 3.5. Com o intuito de diminuir o efeito do ruído tinha 14% do seu território coberto por diferentes fisionomias speckle, a imagem foi submetida a uma filtragem com o filtro de deste bioma, atualmente conta com apenas 1,7% da área original Frost, de 3x3. Nesta imagem, foram delimitadas áreas representati- (São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente 1997). A estimativa da vas em torno de cada ponto correspondente a cada uma das áreas biomassa da vegetação que constitui esse bioma tem recebido pou- amostradas no campo. Os valores de retroespalhamento conside- ca atenção (Castro 1998), a despeito de sua importância no rados foram os valores médios para cada área. armazenamento de carbono. O sensoriamento remoto tem sido Foi determinada uma equação que representaria a relação en- freqüentemente utilizado para quantificação de biomassa vegetal. tre os valores de biomassa, expressos em toneladas/hectare, e de No entanto, a ênfase geralmente é feita nas ferramentas do retroespalhamento (s). sensoriamento remoto óptico (Hyyppä et al. 2000), principalmen- 3. Resultados te através de índices de vegetação (Jackson et al. 1991). Estes A metodologia utilizada para o levantamento das variáveis índices apresentam bom desempenho quando os órgãos preponde- biofísicas, a escolha da estratégia de amostragem através do méto- rantes da vegetação são fotossintéticos, como no caso de plantas do de quadrantes centrados e o cálculo posterior de fitomassa herbáceas (Huete et al. 1997). Entretanto, quando a maior parte lenhosa aérea a través de equações alométricas permitiram caracte- da fitomassa é constituída por tecidos e órgãos não fotossintéticos, rizar um amplio espectro da vegetação. Assim foram computados o sensoriamento remoto por radar tem apresentado resultados valores de fitomassa lenhosa aérea em um range desde 3,32 ton/ha. mais promissores (Luckman et al. 1998). O objetivo deste trabalho até 120,35 ton/ha. é procurar uma relação entre a biomassa aérea lenhosa de cerrado Foi determinada uma equação que representa a relação existen- stricto sensu e cerradão e o sinal de registrado em imagens de radar te entre a biomassa lenhosa aérea (tn/há) e o sinal (ó) registrado pelo de abertura sintética na banda L. Desta forma será possível estimar radar (db). Esta equação é y=1/(a+bxc), sendo: a =-0,046029471; b e espacializar os valores que este parâmetro biofísico assume atra- =-0,010977094; c =0,31863977. Foi determinado um r=0,948, o vés deste tipo de imagens, de forma rápida e econômica. que indica um alto grau de ajuste dos dados à equação. 2. Métodos A análise da curva permite concluir que os valores de O trabalho foi desenvolvido em duas fazendas do Município retroespalhamento aumentam com o incremento da fitomassa. de Campos Novos Paulista, no Oeste do Estado de São Paulo. A Entretanto, a equação que relaciona ambas variáveis é logarítmica. área de estudo encontra-se dentro do retângulo definido pelas Assim, os valores de retroespalhamento tendem à estabilidade à coordenadas 587.500 E, 607.500 E, e 7.500.000 N, 7.515.000 N medida que aumenta a quantidade de biomassa. no fuso 22 do sistema de projeção UTM. A área originariamente O comportamento de ambas variáveis permite sugerir a utili- encontrava-se coberta por diferentes fisionomias do bioma cerrado e dade das imagens de radar na banda L, especificamente do sensor incluía algumas áreas de ecótono deste bioma com floresta estacional imageador de microondas do satélite JERS-1 na quantificação de semidecidual. Atualmente, a maior parte da vegetação natural en- fitomassa lenhosa aérea em áreas de cerrado. contra-se substituída principalmente por pastagens e, em menor As microondas interagem com os troncos das árvores e o sinal grau, por culturas agrícolas. Alguns remanescentes de cerrado, no de retorno está relacionado à quantidade de biomassa em pé. No entanto, permanecem na região, tendo sido incluídos no Inventário entanto, é importante salientar que o sinal está influenciado tanto Florestal do Estado de São Paulo (Kronka et al. 1993). pelas árvores vivas quanto pelas mortas. Assim, é necessário consi- No trabalho, foi utilizada uma imagem adquirida pelo satélite derar que os dados que podem ser derivados a partir das imagens de japonês JERS-1, no dia 20 de dezembro de 1995, na órbita ponto radar integram o sinal da biomassa viva e morta em pé. 389/-338. Este satélite operava na região espectral das microon- A tendência à estabilidade da curva, à medida que se das, especificamente na banda L, cujo comprimento de onda é de incrementam os valores de biomassa, poderia ser responsável por ~ 23 cm. uma diminuição da eficácia desta ferramenta em condições flores- Também foi utilizada uma imagem gerada pelo sensor ETM a tais muito densas, como no caso de florestas tropicais pluviais. bordo do satélite Landsat7, correspondente à órbita ponto 221/76 Santos et al (2000) também utilizaram imagens de radar JERS- do sistema de referência (WRS). A data de aquisição da imagem é 1 na quantificação de fitomassa aérea de cerradão e floresta Ama- 26 de junho de 2002. Esta imagem foi georreferenciada através de zônica, em uma área de contato entre estas duas formações vege- pontos de controle obtidos no campo com um receptor GPS e da tais. Eles observaram, em sua área de estudo, valores de biomassa carta topográfica Campos Novos Paulista SF-22-Z-A-V-2 escala que superavam grandemente os do limite superior do presente 1:50 000 publicada pelo IBGE. trabalho. Embora o tipo de cerrado pesquisado no presente traba- Foi realizado um levantamento fisionômico preliminar da ve- lho seja muito diferente do estudado por esses autores, o compor-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 457 Cerrado Volume I tamento de ambas variáveis é similar nos dois trabalhos. J.C. M.; Kandler. (2000) Biomass estimation of Forest and savanna Em uma análise qualitativa, Sano et al. (2001) utilizaram ima- transition vegetation zone by JERS-1 and SIR-C backscatter data. gens do mesmo satélite para a separação de fisionomias vegetais de International Archives of Photogrammetry and Remote Sensing. cerrado na região central de domínio deste bioma. Estes autores Amsterdam. (33), part 7, 377-381. encontraram valores de retroespalhamento (ó) de -6,67 dB para São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente. (1977) Cerrado: bases floresta de galeria. No presente trabalho, os valores de ó para o para conservação e uso sustentável das áreas de cerrado de São Paulo. cerradao com maior biomassa flutuaram em torno do valor (ó=- São Paulo: Secretaría de Estado do Meio Ambiente, 113 p. 9,86). Sano e colaboradores acharam tambem valores de ó=13,6 dB nas areas de cerrado stricto sensu mais aberto, enquanto que Caracterização do estrato arbóreo, herbáceo e liana neste trabalho os valores de retroespalhamento em áreas dessa fisionomia oscilaram entre -17,8 e -13,2 dB. da borda e centro de um fragmento de Cerrado da 4. Conclusão UFMS, Campo Grande – MS As imagens de sensores remotos que operam na banda L das Gisaine de A. Amador, Graziela P. Nunes, Ticiane Ramires, microondas, utilizadas com a metodologia exposta mostraram-se Mariana F. Felismino & Laura C. P. Lima adequadas para a quantificação de fitomassa aérea em áreas de Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia, Universida- cerrado. Os autores consideram conveniente desenvolver traba- de Federal de Mato Grosso do Sul, 79070-900, Campo Grande, lhos com o objetivo de definir o limite superior de biomassa que Mato Grosso do Sul ([email protected]). pode ser quantificado através das imagens JERS-1. É importante salientar a validade do presente trabalho, pois a 1.Introdução imagem JERS-1 foi adquirida pelo satélite seis anos antes da reali- A vegetação do Cerrado caracteriza-se por grandes variedades zação dos levantamentos no campo. Sem dúvida, a vegetação so- fitofisionômicas, dentre elas o cerradão, com espécies ocorrentes freu alterações ao longo do tempo transcorrido. A amplitude des- no cerrado e também de mata (Ribeiro & Walter 1998), e o cerra- sas mudanças é de difícil quantificação, mas o estado de conserva- do sensu strictu com árvores baixas e retorcidas, arbustos, subarbustos ção do fragmento de cerrado é considerado muito bom, o que dá e ervas (Silva et al. 2001). sustento à validade dos resultados obtidos. No Mato Grosso do Sul as pesquisas para esse bioma perma- 5. Referências bibliográficas necem escassas, mesmo sendo essa a vegetação predominante (Ratter et al.1988; Prance & Schaller 1982). Atividades como a agropecuária Castro, E. A.; Kauffman, J. B. (1998)Ecosystem Structure in the tem influenciado no desaparecimento e fragmentação do Cerrado, Brazilian Cerrado: a vegetation gradient of aboveground biomass, onde se espera que a borda do fragmento formado apresente uma root mass and consumption by fire. Journal of Tropical Ecology, v. vegetação composta principalmente por espécies pioneiras e o cen- 14, p. 263-283. tro por espécies num estágio sucessional diferenciado. Foram ob- Delitti, W. B. C.; Meguro, M.; Pausas, J. (2002) Allometric relations servados poucos estudos que enfoquem os efeitos provocados por and biomass estimates in cerrado ecosystems. Não publicado. Comuni- essas alterações na composição florística do Estado. Portanto, o cação pessoal. São Paulo, 34 p. presente trabalho tem o objetivo de verificar diferenças entre o Durigan, G. (1999) Levantamento Botânico Expedito no Municí- estrato arbóreo, herbáceo e liana da borda e do centro de um pio de Campos Novos Paulista SP. Dados em: http:// fragmento de cerrado sensu strictu e cerradão na Reserva da Univer- sinbiota.cria.org.br/. sidade Federal de Mato Grosso do Sul. Huete, A.; Liu, H. Q.; Van Leeuwen, J. D. (1997)The use of 2.Métodos vegetation indices in forested regions: issues of linearity and O estudo foi realizado nos meses de abril a junho de 2003, em saturation. IEE Transactions on Geosciences and remote sensing um fragmento (ca. 30 ha) de cerrado sensu strictu e cerradão, per- In Proceedings of IGARSS ’97 - International Geosciences and Remote tencente à Reserva da Universidade Federal de Mato Grosso do Sensing Seminar (Vol. 4, 1966-1968). Noordwijk, The Netherlands: Sul, campus Campo Grande, próximo às coordenadas 20°30’33"S ESA Publications. e 54°36’55"W. Esta área encontra-se bastante degradada devido à intensa atividade antrópica no local, tal como trilhas abertas por Hyyppä, J.; Hyyppä, H.; Inkinen, M.; Engdahl, M.; Linko, S.; transeuntes e acúmulo de lixo pela vizinhança. Zhu, Y. (2000) Acuracy comparison of various remote sensing Para a amostragem do estrato arbóreo (PAP maior ou igual a data sources in the retrieval of Forest stand attributes. Forest Ecology 15cm, estimado apenas no campo), demarcou-se aleatoriamente and Management, n. 128, p. 109-120. 10 parcelas de 10x10m, cinco na borda e cinco no centro (interior) Jackson, R. D.; Huete, A. R. (1991) Interpreting vegetation indices. do fragmento. A distância entre parcelas foi de 40m na borda e Preventive Veterinary Medicine, n. 11, p.185-200. 20m no interior. Para o estrato herbáceo (plantas não lenhosas Kronka, F.; Matsukuma, C. K.; Nalon, M. A.; Del Cali, I. H.; com altura até 50cm) e lianas, demarcou-se uma sub-parcela de Rossi, M.; Mattos, I. F. A.; Shin-Ike-Ywane, M. S.; Pontinhas, A. 2x2m dentro de cada uma das parcelas maiores. O material botâ- A. S. (1993) InventarioFlorestal do Estado de São Paulo. São Paulo: nico foi coletado, prensado e identificado com auxílio de bibliogra- Instituto Florestal do Estado de São Paulo/ SEMA. fia especializada, comparação de material de herbários e consulta a Luckman, A.; Baker, J.; Honzák, M.; Lucas, R. (1998) Tropical especialistas. O sistema de classificação adotado foi o de Cronquist (1981). Forest Biomass Density Estimation Using JERS-1 SAR: Seasonal Foram estimados os seguintes parâmetros fitossociológicos (se- Variation, Confidence Limits, and Aplication to Image Mosaics. gundo Müller-Dombois & Ellemberg apud Durigan et al. 2002): Remote Sensing of Environment, n. 63, p. 126-139. número de indivíduos (NI), número de ocorrência (NO), densida- de absoluta (DA), densidade relativa (DR), freqüência absoluta Mueller-Dombois, D, Ellemberg, H. (1974) Aims and Methods of (FA) e freqüência relativa (FR). Foi calculado o Índice de Diversi- Vegetation Ecology. New York: Wiley, 547 p. dade de Shannon-Wiener (H’), a riqueza de espécies e o coeficien- Sano, E.E.; Pinheiro, G.G.C. e Meneses, P.R. (2001) Assessing te de dissimilaridade de Bray-Curtis. Para a discussão da diversida- JERS-1 synthetic aperture radar data for vegetation mapping in de, riqueza e dissimilaridade, os resultados foram reunidos em dois the Brazilian savanna. Journal of the Remote Sensing Society of Japan, grupos: o primeiro das arbóreas e o segundo das herbáceas e lianas. Vol.21, n.2, pp.158-167. 3.Resultados e Discussão Santos, J. R.; Keil, M.; Araújo, L. S.; Pardi Lacruz, M. S.; Krämer, Foram amostrados no total 595 indivíduos, distribuídos em 32 famílias e 85 espécies. O estrato arbóreo apresentou 266 indivídu-

458 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado os e 72 espécies, pertencentes a 28 famílias. A família Vochysiaceae 4.Conclusão foi a que obteve maior número de indivíduos arbóreos na Este estudo propôs uma caracterização preliminar de um frag- amostragem total (66), o que pode ser justificado pelo fato desse mento de cerrado sensu strictu e cerradão que ocorre na Reserva da grupo taxonômico ser praticamente o mais importante do Cerrado UFMS, na região de Campo Grande (MS). Esta Reserva ainda (Ribeiro & Haridasan apud Ribeiro et al. 1985). apresenta condições naturais de regeneração, devido à presença de Com relação à densidade e freqüência relativas, Qualea matrizes de espécies representativas de suas formações e uma gran- grandiflora e Q. parviflora tiveram os maiores valores tanto no de quantidade de indivíduos jovens. Estudos detalhados e de longo centro (DR: 18,7% e FR: 7,02%, para ambas) quanto na borda prazo necessitam ser desenvolvidos para o pleno conhecimento da (DR: 15,38% para a primeira e 11,19 para Q. parviflora, e FR de composição florística deste fragmento, e fornecer subsídios para 5,88 para ambas). Vários autores destacam que estas espécies são planos que visem a conservação e manejo da diversidade do local. pioneiras, tolerantes ao fogo e características de regiões de solos 5.Agradecimentos pobres (Pott & Pott 1994, Almeida et al. 1998, Lorenzi 1992, 1998, Agradecemos às pessoas que contribuíram para a realização Silva et al. 2001), implicando que elas possam ser utilizadas em deste trabalho como Ubirazilda Maria Resende, Arnildo e Vali reflorestamentos destinados à recuperação de áreas degradadas. Pott, na identificação botânica; George Camargo e Marcel Tanaka Para herbáceas e lianas, o total de indivíduos foi de 329, distri- na análise estatística e José Milton Longo, Luciana Paiva e Franco buídos em 7 famílias e 13 espécies, e duas espécies indeterminadas. Leonardo, na leitura crítica. A família Leguminosae apresentou o maior número de indivíduos 6.Referências Bibliográficas (dentre herbáceas e lianas) no centro (22) e a família Poaceae na Almeida, S. P.; Proença, C. E. B.; Sano, S. M.; Ribeiro, J. F. 1998. borda (285), estando ambas entre as mais representativas do Cer- Cerrado: Espécies vegetais úteis. Planaltina: Embrapa-CPAC. rado, sendo a primeira tipicamente rica nos trópicos e a última de Bernacci, L. M. & Leitão Filho, H. 1996. Flora Fanerogâmica da ambiente savânico (Mendonça et al. In Sano & Almeida 1998). Fazenda São Vicente, Campinas, SP. Revta. brasil. Bot.19(2): 149-164. Brachiaria decumbens e Camptosema sp. foram as espécies que apre- sentaram maiores densidade e freqüência relativas na borda (DR: Begon, M.; Harper, J. L.& Townsend, C.R. 1996. Ecology: 98,95% e FR: 71,43%) e no centro (DR: 24% e FR: 7,14%), Individuals, Population, and Communities. Blackwell Scientific respectivamente. Publications, Oxford. O número de espécies arbóreas apresentou-se maior na borda Botrel, M. D. A.; Novaes, L. P. N. & Alvim, M. J. 1998. Caracte- (42) do que no centro (30), comparado com o de herbáceas e rísticas forrageiras de algumas gramíneas tropicais. Embrapa lianas que foi maior no centro (12) do que na borda (2). Para o CNPGL: Juiz de Fora, MG. 35p. estrato arbóreo, este resultado era esperado porque, na borda do Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of fragmento, ocorrem tanto espécies características do Cerrado (se- flowering plants. New York: Columbia Uni. Press, 1262 p. cundárias) quanto pioneiras. Para as herbáceas, o baixo número de Durigan, G.; Nishikawa, D. L. L.; Rocha, E.; Silveira, E. R.; espécies na borda deve-se ao fato da presença de B. decumbens, que Pulitano, F. M.; Regalado, L. B.; Carvalhaes, M. A.; Paranaguá, P. é uma espécie daninha, e possui alto grau de competição (Lorenzi A. & Ranieri, V. E. L. 2002. Caracterização de dois estratos da 1982, Botrel et al. 1998), dificultando o estabelecimento de outras vegetação em uma área de cerrado no município de Brotas, SP, espécies. As lianas apresentaram maior quantidade de espécies no Brasil. Acta Botanica Brasílica 16(3): 251-262. centro do fragmento. Embora estudos voltados para o conheci- mento de lianas sejam escassos e realizados, sobretudo, em flores- Lombardi, J. A.; Temponi, L. G. & Leite, C. A. 1999. Mortality tas (Bernacci & Leitão Filho 1996, Lombardi et al. 1999), essas são and diameter growth of lianas in a semideciduous forest fragment importantes componentes de ambientes alterados. in Southeastern Brazil. Acta bot. bras. 13(2): 159-165. Houve grande similaridade (aproximadamente 55%) entre a Lorenzi, H. 1982. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáti- parcela três do centro e cinco da borda para as espécies arbóreas, cas, parasitas, tóxicas e medicinais. Nova Odessa, SP : H Lorenzi. indicando que existem mais espécies comuns entre estas parcelas Lorenzi, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação e do que em relação às demais. O resultado da análise de cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. v1. Plantarum, Nova dissimilaridade das herbáceas mostrou que as parcelas da borda Odessa. apresentam composição florística semelhante (51%), no entanto, Lorenzi, H. 1998. Árvores brasileiras: manual de identificação e estas espécies foram totalmente distintas em relação às do centro. Não houve nenhuma similaridade entre as parcelas do centro. cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. v2. Plantarum, Nova A diversidade e a riqueza das espécies arbóreas foi maior na Odessa. borda do que no centro (H’= 3,1 no centro; H’= 3,4 na borda), McCook, L. J. 1994. Understanding Ecological Communities sendo que a última deve-se ao fato de que, na borda, ocorrem tanto Sucession. Vegetatio. 110: 115-147. espécies secundárias quanto pioneiras. A diversidade total (H’= Mendonça, R. C. de; Felfili, J. M.; Walter, D. M. T.; Silva Júnior, 2,53) foi menor que o obtido para arbóreas. Estes valores indicam M. C. da; Rezende, A. V.; Filgueiras, T. S.; Nogueira, P. E. 1998. que perturbações abrem espaço para colonização e iniciam o ciclo In: Sano, S. M. & Almeida, S. P. de Cerrado: Ambiente e Flora. de sucessão de espécies adaptadas a colonizar sítios perturbados Planaltina: Embrapa-CPAC. (Ricklefs 1996), como o que ocorrera na área de estudo. A diversi- Prance, G.T. & Schaller,G.B. 1982. Preliminary study of some dade e a riqueza das espécies herbáceas foi maior no centro do que vegetation types of the Pantanal, Mato Grosso,Brazil. Brittonia. na borda, sendo a última explicada pelo fato de que na borda houve 34(2):228-51. predomínio de Brachiaria decumbens, que é uma espécie r-estrate- gista e, neste caso, atua como uma invasora, impedindo o estabele- Pott, A. & Pott, V.J. 1994. Plantas do Pantanal. Embrapa, Brasília. cimento de outras espécies. A diversidade total foi maior que o Ratter, J. A.; Pott, A.; Pott. V. J.; Cunha, C.N. & Haridasan, obtido para herbáceas. Segundo Begon et al. (1996), as espécies M.1988. Observations on woody vegetation types in the Pantanal pioneiras podem alterar as condições do meio, influenciando desta and at Corumbá, Brazil. EDINB. 45(3):503-525. forma a entrada de outras espécies; elas podem facilitar, impedir ou Ribeiro, J.F; Silva, J. C. S. & Batmanian, G. J. 1985. Fitossociologia não ter efeito algum no estabelecimento dessas outras espécies de tipos fisionômicos de cerrado em Planaltina - DF. Revta. Brazil. (McCook 1992). Bot. 8:131-142. Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do bioma

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 459 Cerrado Volume I

Cerrado. Pp 89-166. In: Sano, S. M. & Almeida, S. P. de Cerrado: 8cm de profundidade) dispostas a 2 m da base das árvores. Na Ambiente e Flora. Planaltina: Embrapa-CPAC. primeira área, 24 ninhos foram dispostos em 4 transectos (100m x Ricklefs, R. E. 1996. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro, 20m), sendo dois transectos em cada sub-área. Na área 2 as arma- Guanabara Koogan, 3ª ed. 470p. dilhas foram instaladas nas 5 sub-áreas dispostas nos vértices de uma quadrícula de 20m x 20m e um armadilha central, totalizando Silva, S.R.; Silva, A.P.; Munhoz, C.B.; Silva Júnior, M.C.; Medeiros, 25 armadilhas na área 2. M.B. 2001.Guia de plantas do cerrado: utilizadas na Chapada dos Durante as coletas, os ninhos foram inspecionados com o au- Veadeiros.WWF, Brasília. xílio de um otoscópio, e aqueles ocupados foram retirados e subs- tituídos por novos. Os ninhos foram levados para o laboratório e Parasitismo em ninhos-armadilha ocupados por abertos após a emersão dos indivíduos. Para comparação do grau Centris (Hemisiella) tarsata (Hymenoptera, Apidae, de parasitismo entre as áreas foi utilizado o teste Qui Quadrado Centridini) em duas áreas de cerrado do Nordeste (SIEGEL, 1975). do Maranhão.e 3. Resultados e discussão Gisele Barreto Moreira a, Viviane Cardoso Pires b, Lenira de Melo Fêmeas de Centris tarsata fundaram 223 ninhos, destes, 105 Lacerda c & Murilo Sérgio Drummond d foram encontrados na mata ciliar (47,08%) e 118 no cerrado (52,9%). a Bolsista PET/ SESU/ UFMA, graduação em Ciências Biológicas Nos ninhos da mata foram observadas 373 células e no cerrado, (UFMA) ([email protected]), b graduação em Ciências 384. Os ninhos foram parasitados por Coelioxys sp., Mesocheira bicolor Biológicas (UFMA), cProf. Depto de Biologia UFMA/ Laboratório e uma espécie não identificada de Díptera. A primeira espécie citada de Estudos sobre Abelhas – LEA, d Prof. Depto de Biologia UFMA/ foi a mais freqüente nas duas áreas (33.45% na mata e 21,25% no Laboratório de Genética e Evolução, cerrado), diferindo dos resultados de Aguiar & Martins (2002) nos quais M. bicolor foi o parasita mais abundante. 1. Introdução O número de indivíduos de C. tarsata emergidos nos ninhos O bioma Cerrado ocupa 23% do território brasileiro (Ratter, 1997) coletados no cerrado (n= 254) foi superior ao da mata (n=154) devido, possuindo clima tropical, com distribuição estacional das chuvas. En- provavelmente, ao menor grau de parasitismo verificado nesta área (x² contra-se nesse bioma desde formações vegetais abertas até mais fecha- = 138,07 e p < 0,0001). Além disso, há que se considerar o fato de das, como matas ciliares (Camargo, 1999). Essa heterogeneidade é refle- Centris tarsata ser mais freqüente em áreas abertas com temperatura tida na diversidade existente, principalmente de insetos (Camargo, 1999). mais elevada (Aguiar, 2002; Silva et al, 2001), como é o caso da área 2. Estes, assim como em outras áreas morfoclimáticas, são responsáveis por 4. Conclusão grande parte da polinização, sendo as abelhas o grupo mais significativo A taxa de ocupação dos ninhos-armadilha por Centris tarsata e (Batra, 1984; Michener, 2000). o número total de células construídas não variaram significativa- Dentro dos Apoidea, 85% são abelhas solitárias (Batra, 1984), mente nas duas áreas. Todavia o maior grau de parasitismo verifi- caracterizando-se pela independência das fêmeas na construção e cado nos ninhos da mata, parece ter afetado o numero total de aprovisionamento de seus ninhos, sem cooperação entre fêmeas de indivíduos emergidos nos mesmos. uma mesma geração, ou de gerações diferentes (Silva et al, 2001). 5. Referências bibliográficas O grande número de espécies solitárias, muitas sendo raras Aguiar, A. J. C. ; Martins, C. F. 2002. Abelhas e vespas solitárias em (Assis & Camillo, 1999), reflete na diversidade de comportamen- ninhos-armadilha na Reserva Biológica Guaribas (Mamanguape, tos, inclusive o de nidificação (Silva et al, 1997). Diversas espécies Paraíba, Brasil). Revista Brasileira Zoologia (Supl 1): 101-116. nidificam em orifícios pré-existentes (Campos, 2000; Garófalo, Aguiar, C. M. L. 2002. Abelhas (Hymenoptera, Apoidea) que 2000). Além das abelhas fundadoras, os ninhos podem ser ocupa- nidificam em ninhos-armadilha, em áreas de caatinga e floresta dos por abelhas parasitas e ainda por uma entomofauna associada estacional semi-decídua do Estado da Bahia, Brasil. Anais V Encon- (Garófalo, 2000). A utilização de ninhos-armadilha apresenta-se tro sobre Abelhas. Ribeirão Preto. como uma alternativa promissora em levantamentos, pois permite a obtenção de indivíduos residentes no local, evitando aqueles que Assis, J. M. F. ; Camillo, E. 1997. Diversidade, sazonalidade e estariam apenas de passagem para forrageamento (Krombein, 1967). aspectos biológicos de vespas solitárias (Hymenoptera: Sphecidae Neste trabalho objetivou-se comparar a abundância de Centris : Vespidae) em ninhos armadilhas na região de Ituiutaba, MG. tarsata e seus parasitas associados, em duas áreas, cerrado sensu Anais Sociedade Entomológica Brasil 26 (2). sricto e mata ciliar. Batra, S. W. T. 1984. Solitary bees. Scientific American, v. 250, n.2. 2. Metodologia Bulhão, C. F. ; Figueiredo, P. S. 2002. Fenologia de leguminosas A área 1 compreende duas sub-áreas de mata ciliar localizadas arbóreas em uma área de cerrado marginal no nordeste do na Fazenda Santo Amaro de propriedade da Comercial Agrícola Maranhão. Revista Brasileira de Botânica, V. 25, n. 3. Paineiras (03º12’28”S, 43º24’12”W), apresentando clima quente Camargo, A. J. A. 1999. Estudo comparativo sobre a composição e e úmido e vegetação mais densa em uma sub-área que outra. A área a diversidade de Lepidópteros noturnos em cinco áreas da região 2 é subdividida em cinco sub-áreas de fisionomias semelhantes dos cerrados. Revta. Bras. Zool. 16 (2). situadas na Fazenda Bonfm (03º20’20”S, 43º08’57”W), também pertencentes a Paineiras, sendo caracterizadas como cerrado sensu Krombein, K. V. 1967. Trap-nesting wasps and bees: life history, nestes stricto com algumas manchas de cerradão. and associates. Smithsonian Press Washington, D. C. As áreas apresentam clima do tipo tropical quente e úmido, Ratter, J. A; Ribeiro, J. F. ; Bridgewater, L. 1997. The Brasilian com estação seca (julho a dezembro) e chuvosa (janeiro a junho), Cerrado Vegetation and Threats to its Biodiversity. Annals of Botany precipitação média anual de 1500 mm (Bulhão & Figueiredo, 2002) 80: 223-230. e temperatura variando de 23-32º C. Siegel,S.1975. Estatística não-paramétrica. Tradução Alfredo Alves Realizaram-se mensalmente, em duas áreas de cerrado no nor- de Farias. Ed. McGraw-Hill do Brasil. deste do Maranhão, coletas de abelhas que nidificam em cavidades Silva, F. O, Viana, B. F. ; Neves, E. L. 2001.Biologia e arquitetura pré-existentes, utilizando a técnica de ninhos-armadilha (Krombein, de ninhos de Centris (Hemisiella) tarsata Smith (Hymenoptera: 1967), entre outubro de 2001 a junho de 2003.As armadilhas, são Apidae: Centridini) Neotropical Entomology 30 (4). compostas por um conjunto de 12 ninhos-armadilha de madeira (duas peças unidas, formando um orifício de 0,8 cm de diâmetro e AMAVIDA/PAN/PAINEIRAS/CNPq/PELD/ECOCEM/ TROPEN/UFMA

460 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Características Foliares de Espécies do Cerrado no Sheflera macrocarpum até 0,795 dm2/g em Qualea parviflora. Estes Brasil Central valores são inferiores aos registrados para as espécies do cerrado Giselle de Souza Leite ([email protected] ) & Raimundo por Rizzini (1979). O IS médio para as 13 espécies foi de 2,527 g/ Paulo Barros Henriques dm2 (±0,787), com o mínimo de 1,465 g/dm2 em Pterodon pubescens Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, e o máximo de 3,767 g/dm2 em Scheflera macrocarpum. O HP 70919-970 Cx. Postal 04457, Brasília, DF. variou entre 48,7 e 64,4% para Roupala montana e Kilmeyera coriacea, respectivamente. Na comparação dos dois grupos funcionais (pe- 1. Introdução renes e decíduas) apresentaram diferenças significativas: AFE e IS. 2 As características foliares possuem um papel central nas com- As plantas decíduas apresentaram AFE maior (0,652 ± 0,108 dm / 2 plexas relações adaptativa das plantas com o ambiente (Givnish, g) do que as perenes (0,454 ± 0,081 dm /g), sendo essa diferença 1979). Entre os atributos particularmente importantes nesta rela- significativa (t = 3,686; GL = 11; P < 0,005). Reich et al (1997) ção, estão a área foliar e a área foliar específica (AFE, razão da área também encontrou um resultado semelhante para uma grande gama pela massa), que diminuem com gradientes decrescentes de umida- de comunidades. IS foi maior nas plantas perenes (2,999 ± 0,657 g/ 2 2 de e/ou disponibilidade de nutrientes (Cunningham et al, 1999, dm ) do que nas plantas decíduas (2,123 ± 0,682 g/dm ), essa Fonseca et al, 2000). A área foliar e AFE também diminuem com a diferença também foi significativa (t = 2,349; GL = 11; P < 0,05). AF, HP e A não apresentaram diferença significativa entre plan- maior disponibilidade de luz (Niinemets e Kull, 1994; Ackerly et max al, 2002). Outros atributos foliares importantes são a hidratação tas perenes e decíduas. potencial (HP, teor máximo de água nas folhas) e o índice de A área foliar foi correlacionada significativamente com AFE (r suculência (IS, razão da massa de água pela área) (Rizzini, 1976). = -0,71; P < 0,025) e com IS (r = 0,6; P < 0,05). AFE A correlação dos atributos foliares com a forma de crescimento, e IS foram negativamente correlacionados (r = 0,8: P < 0,001), características funcionais e da bionomia das espécies (Reich et al, sugerindo que as folhas mais esclerofilas foram as mais suculentas. 1997), abre a possibilidade da alta biodiversidade tropical ser re- HP não teve correlação significativa com nenhuma das caracterís- duzida para poucos componentes explanadores dos padrões e ticas foliares analisadas. Estes resultados indicam que as folhas processos do ecossistema. São poucos os estudos dos atributos foliares maiores apresentam uma área menor por unidade de massa e maior conteúdo de água por unidade de área. AFE e A foram negativa- na vegetação brasileira e suas inter-relações, particularmente na ve- max getação do cerrado (Rizzini, 1979). Neste estudo nós analisamos os mente correlacionados (r = 0,61; P < 0,025). Este resultado é atributos foliares para 13 espécies, relativamente abundantes de um semelhante a outros estudos em outras comunidades (Reich et al, cerrado sensu stricto no Brasil Central. Particularmente, determina- 1997). A correlação entre esses diferentes atributos foliares sugere mos para as espécies: (1) a variação do tamanho foliar, AFE, HP e IS; que eles estão associados com o mesmo fator/fatores ambientais, (2) a correlação entre AFE e a fotossíntese máxima; (3) e as diferen- ou estratégias ecofisiológicas. AFE indica o grau de esclerofilia ças entre plantas decíduas e perenes nos atributos foliares. (Edwards et al, 2000). Baixos valores de AFE correspondem a fo- lhas mais esclerofilas e menores valores de A (Reich et al, 1997). 2. Métodos max A área de estudo está localizada na Fazenda Água Limpa (FAL), 4. Conclusões estação experimental da Universidade de Brasília, Distrito Federal Neste estudo nós analisamos os atributos foliares de 13 espéci- a -15o57’S e -47o53’W, 25 km SW de Brasília. O clima da área é es de arbustos e árvores em um cerrado s. s., o grau de inter- marcadamente sazonal com a estação seca ocorrendo entre maio e correlação e sua associação com a caducifólia (plantas perenes e agosto, quando a precipitação pode ser <10%. A temperatura mé- decíduas). Ao nível da espécie, a área foliar foi significativamente o correlacionada com AFE, IS e A . AFE também foi correlacionada dia é de 21,9 C e a precipitação média anual é de 1534 mm. As max espécies foram amostradas de um cerrado s.s., que ocorre sobre um significativamente com IS, mas não com HP. A estratégia de Latossolo Vermelho Escuro, bem drenado, profundo, muito pobre maximizar a assimilação fotossintética nas plantas do cerrado, sem em nutrientes e ácido (Haridassan, 1982). As folhas foram coletadas limitação de luz e com limitação de nutrientes, parece estar associ- de março a junho de 2003. Para cada espécie foram coletadas 20 ada ao aumento das áreas foliares, redução de AFE e aumento de folhas, sendo duas folhas para cada um dos dez indivíduos, para as IS. Nossos resultados confirmam a idéia apresentada na introdu- folhas compostas foram coletados dois folíolos. Foram coletadas ção de que os atributos foliares (AFE e IS) podem ser usados para apenas folhas adultas expandidas e livres de danos por herbívoros e diferenciar os grupos funcionais. patógenos. Para a medida simultânea da área foliar, AFE, HP e IS, A grande diversidade de estratégias foliares entre espécies, su- na mesma folha foi estabelecido o seguinte protocolo: (1) primeiro gere uma grande diversidade no uso da água e do balanço energético foi medido a área foliar, com o aparelho Laser Area Meter CI-203; foliar entre as espécies. O que pode ser um mecanismo de coexis- (2) as folha foram colocadas em uma câmara de saturação por 24 tência para a alta diversidade de espécies de plantas no Cerrado. horas, com os pecíolos mergulhados em água destilada (Rizzini, 5. Referências Bibliográficas 1976); (3) o peso saturado era tomado; (4) em seguida as folhas Ackerly, D. D.; Knight, C. A.; Weiss, S. B.; Barton, K.; Starmer, K. foram colocadas em estufa a 70°C por 24 horas; (5) o peso seco era P. (2002). Leaf size, specific leaf area and microhabitat distribution medido. A assimilação máxima (Amax) e a classificação em dois of chaparral woody plants: contrasting patterns in species level and grupos funcionais (perenes e decíduas), foram retiradas da literatu- community level analysis. Oecologia 130: 449-457. ra (Franco, 2002) e usadas para correlacionar com os atributos Cunnimgham, S. A.; Summerhayes, B. A.; Westoby, M. (1999). foliares medidos. Evolutionary divergences in leaf structure and chemistry, 3. Resultados e Discussão comparinng rainfall and soil nutrient gradients. Ecological Foi estudado um total de 13 espécies. Entre as 11 espécies de Monographs 69: 569-588. folhas simples, o tamanho variou por uma ordem de magnitude de Edwards, C.; Read, J.; Sanson, G. (2000). Characterising 8,6x, incluindo as duas espécies de folhas compostas a variação sclerophylly: some mechanical properties of leaves from heath and chega a 65x. O valor médio da área foliar para as 13 espécies foi de forest. Oecologia 123: 158-167. 0,478 dm2 (±0,361). Entre as espécies de folhas inteiras a área variou de um mínimo de 0,121 dm2 (Blefarocalyx salicifolius) até o Fonseca, C. R.; Overton, J. M.; Collins, B.; Westoby, M. (2000). máximo de 1,039 dm2 (Miconia ferruginata). O menor folíolo foi de Shifts in trait-combinations along rainfall and phsphorous gradient. Dalbergia miscolobium (0,016 dm2). A AFE apresentou um valor Journal of Ecology 88: 964-977. médio de 0,561 dm2/g (±0,138), variando de 0,334 dm2/g em Givnish, T. (1979). On the adaptive significance of leaf form. In

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 461 Cerrado Volume I

Topics in plant population biology (Solbrig, O. T.; Jain, S. Johnson, com outros lagartos. Seguimos a metodologia de Cooper et al. G. B. e Raven, P. H., Eds). P. 375-407. Columbia University Press, (2001) para o cálculo das variáveis MPM, PTM e PAM. Obtive- New York. mos a porcentagem de insolação no dia 20 de julho de 2002, ao 2 Haridasan, M. (1982). Aluminium accumulation by some cerrado redor de 12:00h, através de quatro quadrados de 1m , subdividi- 2 native species of central Brazil. Plant and Soil 65: 265-273. dos em 0,1 m , alocados aleatoriamente em cada habitat. Relacionamos as medidas das variáveis MPM/PTM, MPM/ Niinemets, U.; Kull, K. (1994). Leaf weight per área and leaf size PAM e PTM/PAM para as espécies observadas, através do coefici- of 85 Estonian woody species in relation to shade tolerance and ente de correlação de Spearmann (r ). Relacionamos o número de light availability. Forest Ecology and Management 70: 1-10. s espécies, o de lagartos observados e as variáveis MPM, PTM e Rizzini, C. T. (1976). Tratado de fitogeografia do Brasil. Aspectos PAM com a porcentagem de insolação de cada ambiente, através ecológicos. Vol. 1., HUCITEC.Ed. da Universidade de São Paulo, do coeficiente de correlação de Spearmann (rs). Para as quatro São Paulo, 327p. espécies com pelo menos cinco indivíduos observados ao longo do Reich, P. B.; Walters, M. B.; Ellsworth, D. S.(1997). Fron tropics tempo mínimo de 3 min, testamos a existência de diferenças no to tundra: global convergence in plant functioning. Proc. Natl. forrageamento (MPM, PTM e PAM) através do teste de Kruskal- Acad. Sci. USA 94: 13730-13734. Wallis (Siegel, 1979). Também comparamos, através do teste U (Mann-Whitney), os modos de forrageamento entre jovens de Comparação do modo de forrageamento de lagartos Ameiva ameiva e de Kentropix calcarata, com porte semelhante, e através de variáveis quantitativas no nordeste do entre jovens e adultos de Gonatodes humeralis. 3. Resultados e Discussão Maranhão Fizemos 153 observações de 12 espécies de lagartos. As espéci- Gissele Botelho dos Santos1,3, Gilda Vasconcellos de Andrade2 , Allen es mais observadas foram Ameiva ameiva (73), Gonatodes humeralis Leandro Santos Pinto3 (22), Cnemidophorus ocellifer (21), Kentropix calcarata (18) e Anolis 1,3 bolsista PIBIC/CNPq ([email protected]), 2 Departamento nitens (7). Destas espécies, G. humeralis e A. nitens estavam apenas de Biologia, Universidade Federal do Maranhão e 3 graduação em nas áreas de mata. Anolis nitens é parcialmente heliotérmica, viven- Ciências Biológicas, UFMA do em áreas onde a insolação é fraca (Vitt & Zani, 1996) e G. humeralis é uma espécie não-heliotérmica, que passa a maior parte 1. Introdução do dia em lugares sombreados (Vitt et al., 2000). Kentropix calcarata Podemos considerar a existência de um continuum de modos ocorreu mais na Mata Ciliar e C. ocellifer principalmente na Área de forrageamento de lagartos, desde o forrageador ativo até o se- aberta e Eucaliptal. A espécie mais observada em todos os ambien- dentário ou senta-e-espera (Pianka, 1966; Schoener, 1971; tes foi A. ameiva, que é uma espécie forrageadora ativa, típica de Magnusson et al., 1985). Para medir quantitativamente o modo de áreas abertas e ensolaradas (Ávila-Pires, 1995). Cnemidophorus forrageamento, Cooper et al. (2001) propuseram a utilização de ocellifer, forrageadora ativa, é também encontrada em áreas abertas uma variável baseada no método de descoberta de presas, a PAM e eucaliptais de outras áreas no Maranhão (Andrade et al. 1999). (proporção de ataques a presas descobertas durante os desloca- Kentropix calcarata, forrageadora ativa como A. ameiva e C. ocellifer, mentos), além das variáveis utilizadas por outros autores (princi- é comumente mais restrita a andar em solos ou troncos e ramos palmente, MPM - movimentos por minuto e PTM - proporção de caídos em áreas de mata, próxima a manchas de sol (Ávila-Pires, tempo gasto nos deslocamentos). A vantagem da PAM, segundo 1995). O habitat com maior número de observações foi a Mata estes autores, é o uso de uma medida diretamente associada ao Mesófila (55; 9spp), seguida da Mata Ciliar (37; 8spp), Eucaliptal forrageamento, uma vez que os deslocamentos podem ser motiva- (34; 3spp) e Área aberta (27; 4spp). As áreas de mata fornecem dos por outros fatores, que não a procura de presas. microhabitats mais diversificados, o que pode explicar a ocorrência Este estudo visa a caracterização quantitativa dos modos de de mais espécies nesses habitats. forrageamento dos lagartos em fragmentos de mata e em planta- Os maiores valores de MPM, PTM e PAM foram para A. ções de eucalipto e áreas abertas adjacentes. Pretende-se, em longo ameiva (n=26; médias, respectivamente: 1,14; 19,94; 0,48) e K. prazo, monitorar o modo de forrageamento de cada espécie nos calcarata (n=10; médias, respectivamente: 1,05; 10,87; 0,30). Ameiva diferentes habitats, avaliando possíveis alterações decorrentes da ameiva apresentou MPM, PTM e PAM significativamente maio- fragmentação do ambiente. res do que os das outras espécies (respectivamente: H=47,89; 53,38; 2. Métodos 24,62; p<0,0001), podendo ser claramente considerado um O estudo foi realizado em uma área localizada na Fazenda forrageador ativo. Magnusson et al. (1985) também encontraram Santo Amaro, de propriedade da Comercial e Agrícola Paineiras altos valores de MPM para esta espécie. Anolis nitens (n=5) apre- Ltda., no município de Urbano Santos (3° 12’ 28’’ S; 43° 24’ 12’’ sentou apenas MPM (média=0,15) e PTM (média=0,38) signifi- W), estado do Maranhão. O local de estudo, com ca. de 100 ha., cativamente menores do que as outras três espécies (p=0,0095 e engloba um fragmento de mata ciliar, associado a um dos principais 0,0160, respectivamente); a ausência de diferença significativa para rios do município (rio Mocambo) e um fragmento de mata secun- PAM (média=0,00) deve estar associada ao pequeno tempo de dária mesófila, em região de Cerrado. Esses fragmentos ocorrem observação (máximo de 1h por indivíduo). Kentropix calcarata e G. paralelos à estrada que liga o município de Urbano Santos a São humeralis (n=18; médias, respectivamente: 0,30; 0,83; 0,00) não Luís, sendo também circundados por plantações de eucalipto com diferiram entre si em relação ao MPM, PTM e PAM. Os baixos sub-bosque desenvolvido e áreas abertas (estradas, trilhas, aceiros valores de MPM, PTM e PAM para G. humeralis e A. nitens refle- e clareiras). Amostramos esses quatro habitats: Eucaliptal, Mata tem o modo de forrageamento senta-e-espera. Mesófila, Mata Ciliar e Áreas abertas. Não encontramos diferença significativa para MPM e PAM As observações, de julho de 2001 a janeiro de 2003, foram de (U=21,00;p>0,05) e para PTM (U=19,00;p>0,05) entre jovens de dois dias a cada quinzena, das 9:00h às 16:00h. Cada habitat foi A. ameiva (n=8; médias, respectivamente: 1,18; 0,58; 18,93) e de percorrido por duas pessoas, por pelo menos 1h a cada dia de K. calcarata (n=7; médias, respectivamente: 0,93; 0,29; 10,63), observação. Observamos cada lagarto por um período mínimo de apesar dos maiores valores para a primeira espécie. Os jovens de G. 3 min a um máximo de 1h. Para cada minuto de observação, ano- humeralis se deslocaram menos do que os adultos (médias para tamos o tempo gasto em deslocamento e em termorregulação, com MPM e PTM, respectivamente: 0,18 e 0,53 para jovens, n=4; 0,31 auxílio de um cronômetro, e o comportamento do lagarto, incluin- e 0,83 para adultos, n=11). do o número de ataques a presas e a interação, quando ocorreu,

462 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Considerando as oito espécies (Ameiva ameiva, Gonatodes Siegel, S. 1979. Estatística não-paramétrica (para as ciências do com- humeralis, Cnemidophorus ocellifer, Kentropix calcarata, Anolis nitens, portamento). A. A. Farias trad. McGrow-Hill do Brasil, Ltda. Ix+ Polychrus acutirostris, Tropidurus hispidus e Mabuya nigropunctata) 350 pp; para as quais foi possível o cálculo das variáveis, houve correlação Vitt, L. J. & Zani, P. A. 1996a. Ecology of the South American lizard positiva significativa entre MPM e PTM (rs =0,81; p=0,0149), Norops chrysolepis (Polychrotidae). Copeia 1996: 56-68; entre MPM e PAM (r =0,92; p=0,0015) e entre PTM e PAM (r s s Vitt, L. J.; Sousa, R. A.; Sartorius, S. S.; Ávila-Pires, T. C. S. & =0,71; p= 0,0483). Esses resultados concordam com o trabalho de Espósito, M. C. 2000. Comparative ecology of sympatric Gonatodes Cooper et al. (2001), que encontraram forte correlação entre estas (Squamata: Gekkonidae) in the Western Amazon of Brazil. Copeia, 1: variáveis para 16 espécies de lagartos americanos. O MPM é uma 83-95. medida com extrema variação, e não deve ser utilizada isoladamen- te para medir o forrageamento (Cooper et al., 2001). Estes autores (Apoio: PELD/CNPq/TROPEN; Comercial e Agrícola Paineiras Ltda.) encontraram forte correlação entre PTM e PAM, considerando esta variável muito útil para distinguir os modos de forrageamento. Padrões de Forrageamento de Atta laevigata Estes autores encontraram também grandes lacunas separando os (Myrmicinae: Attini) na Serra do Cipó – Minas Gerais valores de PTM e PAM entre forrageadores ativos e sedentários, Glênio P. dos Santos1, Leonardo R. Viana1, Jean C. Santos2, Leandro mas sobreposição dos valores de MPM. Pelos nossos dados, embo- J. Arruda1 & Geraldo W. Fernandes2 ra as médias para K. calcarata e G. humeralis indiquem uma lacuna 1 Departamento de Biologia Geral. Instituto de Ciências Biológicas. (veja acima), os desvios foram grandes e não encontramos diferen- Universidade Federal de Minas Gerais. CP. 486. CEP: 30161-970. ça significativa para nenhuma variável. Mas o MPM se Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil. E-mail: correlacionou mais perfeitamente com o PAM do que o PTM. [email protected] Portanto, consideramos importante utilizar as três variáveis para 2 Laboratório de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais – avaliar a estratégia de forrageamento. LEEHT. Departamento de Biologia Geral. Instituto de Ciências Para as três espécies heliófilas mais abundantes, não houve Biológicas. Universidade Federal de Minas Gerais. CP. 486. CEP: correlação significativa das variáveis MPM e PTM com a insolação 30161-970. Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil. nos diferentes habitats. A presença de muitas trilhas e clareiras nas matas, aumentando a penetração do sol, favorece a utilização des- 1. Introdução tes locais por essas espécies. Para as espécies sedentárias, A. nitens e Formigas cortadeiras provocam um enorme impacto predatório G. humeralis, houve uma tendência à correlação negativa (rs =- em plantas nos trópicos (Wilson 1980). Elas são responsáveis pela 0,9487;p=0,0513) dessas variáveis e do número de lagartos com a destruição de mais de 17% da produção total de folhas em florestas insolação, esperada para essas espécies de locais mais sombreados. tropicais (Begon 1996). Contudo, o impacto da formiga cortadeira 4. Conclusão Atta laevigata em habitats de cerrado tem recebido pouca atenção, As variáveis analisadas não permitiram separar as quatro espé- mesmo embora o cerrado tenha sido designado como hotspot da cies de acordo com o modo de forrageamento, exceto para os diversidade biológica (Myer et al. 2000). Baseado no impacto das extremos Ameiva ameiva, forrageador ativo, e Anolis nitens (exceto formigas em outras regiões tropicais e no grande potencial da Atta de para PAM), forrageador sedentário. causar impacto nas plantas do cerrado, nosso objetivo foi determinar Para as análises deve-se, sempre que possível, comparar indiví- os padrões de forrageamento de A. laevigata para, posteriormente, duos com porte semelhante, uma vez que encontramos diferenças determinar mais detalhadamente o impacto desta espécie na vegeta- entre o modo de forrageamento de jovens e adultos de uma mesma ção. Nossa hipótese é que os padrões de forrageamento são diferen- espécie (G. humeralis) e não encontramos diferença entre indivídu- tes em relação a variações nas condições atmosféricas e da tempera- os jovens de duas espécies diferentes (A. ameiva e K. calcarata), com tura do ar durante o dia (veja Whitford 1999). porte semelhante, mas que haviam diferido quando analisados jun- 2. Metodologia to com os adultos. O estudo foi realizado no Parque Nacional da Serra do Cipó, O MPM se mostrou importante na avaliação da estratégia de Minas Gerais, Brasil. A vegetação dominante é do tipo cerrado forrageamento, devido à alta correlação com a PAM. As três vari- (Goodland & Ferri 1979, Eiten 1993). O clima típico da área é de áveis devem ser utilizadas conjuntamente para o monitoramento tropical de altitude, com duas estações bem definidas, seca (Maio das estratégias de forrageamento dessas espécies. a Outubro) e chuvosa (Novembro a Abril). A temperatura média 5. Referências Bibliográficas anual varia entre 17ºC e 21ºC e a precipitação média anual é de Andrade, G. V., Miranda, J. P., Silva, D. V. & Lima, J. D. 1999. 1450 mm (Madeira & Fernandes 1999). A. laevigata é um dos Saurofauna em fragmentos de mata pré-amazônica circundados por membros mais complexos da tribo Attini devido ao polimorfismo eucaliptos e áreas abertas no estado do Maranhão. XII Encontro de dos indivíduos, com castas bem distintas (Leal & Oliveira 2000, Zoologia do Nordeste, Feira de Santana BA. Resumo; Anderson & McShea 2001). Ávila-Pires, T. C. S. 1995. Lizards of Brazilian Amazônia (Reptilia: A coleta de dados foi realizada de novembro de 2002 a janeiro Squamata). Zool. Verh. Leiden 299: 1-706; de 2003. As partes de plantas foram coletadas removendo-se o que estava sendo carregado por todas as formigas de uma determinada Cooper, W. E.; Vitt, L. J.; Caldwell, J. P. & Fox, S. F. 2001. entrada do ninho com mais atividade em relação ao resto do ninho. Foraging modes of some american lizards: relationships among Três formigueiros de tamanhos variados foram selecionados para measurement variables and discreteness of modes. Herpetologica, 57 este estudo. Eles foram chamados de ninhos 1, 2 e 3 e possuíam (1): 65-76; 7.06 m2, 79.52 m2 e 272.69 m2 de área, respectivamente. Foram Magnusson, W. E.; Paiva, L. J.; Rocha, R. M.; Franke, C. R.; coletadas quarenta amostras de material vegetal (ninho 1 = 12; Kasper, L. A. & Lima, A. P. 1985. The correlates of foraging mode in ninho 2 = 12; ninho 3 = 16) durante os primeiros e últimos 15 a community of Brazilian lizards. Herpetologica, 41 (3): 324-332; minutos de três períodos de uma hora cada (10:00-11:00; 13:00- Pianka, E. R. 1966. Convexity, desert lizards, and spatial heterogeneity. 14:00 e 16:00-17:00) que resultou em seis coletas por ninho/dia. Ecology, 47: 1055-1059; O início e o fim da coleta foram preliminarmente baseados nas Schoener, T. W. 1971. Theory of feeding strategies. Ann. Rev. Ecol. constrições que variações de temperatura e umidade causam nas and Syst., 2: 369-404; formigas (veja Wilson 1971, Hölldobler & Wilson 1990). Basea- do nesta informação e em observações prévias, foi hipotetizado

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 463 Cerrado Volume I que a maior atividade de A. laevigata é diurna e diretamente ligada populations and communities. London, Blackwell, 1068p. às mudanças de temperatura ao longo do dia. Eiten, G. 1993. Vegetação de Cerrado, p. 17-73. In M. N. Pinto 3. Resultados e Discussão (eds.), Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. Brasília, Em dias ensolarados as formigas exibiram uma distribuição Editora da Universidade de Brasília, 681p. bimodal do forrageamento com picos nas primeiras horas da manhã Goodland, R. & M.G. Ferri. 1979. Ecologia do Cerrado. São e à tarde e diminuição durante o meio-dia. Este resultado está con- Paulo, Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo. dizente com os padrões de temperatura diária, onde as maiores temperaturas geralmente correspondem com o meio-dia. Após aná- Hölldobler, B., & E. O. Wilson, 1990. The Ants. Cambridge, lise do peso seco do material coletado no “ninho 2” versus a tempe- Harvard University Press, 732p. ratura ambiente em dias abertos e com sol, foi observado que os Leal, I. R., & P. S. Oliveira. 2000. Foraging ecology of Attine ants maiores pesos secos encontrados ocorreram entre 30ºC e 33ºC, in a Neotropical savanna: seasonal use of fungal substrate in the indicando estes limites como a temperatura ótima de forrageamento. cerrado vegetation of Brazil. Insect. Soc. 47: 376-382. Durante períodos de chuva houve uma redução considerável Madeira J. A. & G.W. Fernandes 1999. Reproductive phenology no peso seco das amostras obtidas. Um pequeno aumento nos of sympatric taxa of Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipó, padrões de forrageamento foi observado após os eventos de chuva. Brazil. J. Trop. Ecol. 15: 463 – 479. Estas diferenças nos padrões de forrageamento indicam que A. Myers, N., Mittermeier, R. A., Mittermeier, C. G., Fonseca, G. A. laevigata, assim como muitas outras espécies de formigas, parecem B. & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. ser orientadas não por um, mas vários fatores ambientais e adap- Nature 403: 853 – 858. tam seu forrageamento às condições imediatas do microhabitat (Hölldobler & Wilson 1990). Para melhor compreendermos o Whitford, W. G. 1999. Seasonal and diurnal activity patterns in ant impacto de A. laevigata, comparamos o peso seco total coletado communities in a vegetation transition region of southeastern New nos ninhos em dias claros (0,9713 ± 0,1358g, n = 10) versus o peso Mexico (Hymenoptera: Formicidae). Sociobiology 34: 477-491. seco total em dias chuvosos (0,4485 ± 0,1120g, n = 10). O peso Wilson, E. O. 1971. The insect societies. Belknap Press of Harvard seco total coletado foi, aproximadamente, duas vezes maior em University Press, Cambridge, Mass., 548p. dias claros que em dias chuvosos (P < 0,001, U = 95,00). Wilson, E. O. 1980. Caste and division of labor in leaf-cutter ants Padrões bimodais de forrageamento são típicos em muitas es- (Hymenoptera: Formicidae: Atta) I. The overall pattern in A. sexdens. pécies que ocorrem em desertos (Hölldobler & Wilson 1990). Behav. Ecol. Sociobiol. 7: 143-156. A.laevigata exibe, provavelmente, o mesmo padrão devido aos cincos meses da estação seca no cerrado (Madeira & Fernandes 1999). Os padrões observados durante dias chuvosos pareceram ser mais Anatomia foliar de Dalbergia miscolobium Benth. dependentes de condições específicas de microhabitat, pois muitas expostas a condições contrastantes de das atividades das formigas foram retomadas imediatamente após a sombreamento em duas fitofisionomias de cerrado chuva. A chuva não somente muda os padrões de forrageamento, Gomes, L. O. a; Cornelio, I. N. b & Franco, A.C. c mas também reduz de forma considerável a quantidade de matéria a Faculdade de Ciências da Saúde, Centro Universitário de Brasília vegetal coletada, de um modo geral. As condições de microhabitat ([email protected]), b Programa de Pós-Graduação em Ecologia, também representam uma importante função durante dias Universidade de Brasília c Departamento de Botânica, Universidade ensolarados. Algumas evidências mostram que a Atta é capaz de de Brasília mudar as entradas do formigueiro durante os momentos mais quen- tes do dia para continuar o forrageamento por um determinado 1.Introdução tempo (Viana 2003 comunicação pessoal). O complexo vegetacional do Cerrado ocupa cerca de dois 4. Conclusões milhões de quilômetros quadrados, predominantemente no Brasil Determinar os padrões de forrageamento e como eles são con- Central, sendo a segunda maior formação vegetal do Brasil (Ratter trolados pelas diferentes variáveis ambientais é importante para et al., 1997). O Cerrado apresenta uma grande diversidade de uma avaliação correta do impacto de A. laevigata em comunidades fitofisionomias que englobam formações florestais, savânicas e cam- tropicais. Devido ao curto período de coleta é difícil fazer uma pestres (Ribeiro & Walter, 1998), e se caracteriza pela presença de avaliação exata da herbivoria. No entanto, este é um dos primeiros árvores tortuosas, apresentando muitas vezes, folhas coriáceas, de estudos que descrevem o impacto de A. laevigata em hábitats natu- cutículas espessas. Dentre os tipos fisionômicos do Cerrado, uma rais de cerrado e fornece embasamento teórico para pesquisas futu- dos mais característicos é o campo sujo, uma formação campestre, ras neste assunto. com arbustos e subarbustos entremeados no estrato herbáceo. Entre As mudanças sazonais, em hábitats de cerrado, parecem exer- as formações savânicas, destaca-se o cerrado sensu stricto, em que cer maior influência no forrageamento de A. laevigata. Avaliando os predomina árvores baixas, inclinadas e tortuosas, com ramificações padrões de forrageamento ao longo destas estações, provavelmen- irregulares e retorcidas (Ribeiro & Walter, 1998). te, o impacto total da A. laevigata na biodiversidade do rico cerrado Em ambientes naturais, os efeitos do sombreamento pelo dossel possa ser descrito com mais exatidão. são particularmente críticos nos primeiros estágios de desenvolvi- (Agradecemos a H Vasconcelos pela identificação da espécie mento de uma planta, afetando a sua sobrevivência e o crescimento de formiga, PARNA Serra do Cipó, CNPq 52 1772/95-8 e ao (Fenner, 1985). Estas alterações no microclima devido ao Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo sombreamento podem também afetar o balanço hídrico do vege- de Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais pelo tal. A interceptação da irradiação solar pelo dossel arbóreo minimiza suporte. J. C. Santos agradece ao CNPq pela bolsa de doutorado as variações microclimáticas no interior de uma floresta ou de uma 140071/2003-2.) savana arbustiva-arbórea. Formações campestres geralmente estão 5. Referências Bibliográficas mais expostas ao déficit hídrico devido à alta insolação, altas tem- peraturas e um maior déficit de saturação de vapor do ar. Anderson, C. & D. W. McShea. 2001. Individual versus social Uma das espécies típicas do bioma Cerrado é Dalbergia complexity, with particular reference to ant colonies. Biol. Rev. 76: miscolobium Benth. É uma árvore com altura de 8-16m, com tron- 211-237. co de 30-50cm de diâmetro e folhas de 15-22cm de comprimento, Begon, M., J.L. Harper & C. L. Townsend. 1996. Ecology: individuals, compostas de 4-8 folíolos com comprimento de 1,5 - 3,5cm

464 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

(Lorenzi, 2000). A heterogeneidade nas condições luminosas em ambas faces adaxial e abaxial. O feixe vascular é do tipo colateral, função da variabilidade do componente arbóreo, implica que espé- sendo o floema esparsamente interrompido pelo tecido xilemático. cies típicas do cerrado deveriam possuir capacidade de aclimatação Existem células desprovidas de cloroplastos envolvendo o feixe. a condições contrastantes de microclima que estão expostas nas Das medidas realizadas, apresentaram diferenças significativa diferentes fitofisionomias de cerrado. Sendo a folha o órgão da no teste t de comparação de médias, com a<0,05, a espessura da planta que apresenta a maior plasticidade, freqüentemente altera- epiderme (campo sujo=21,2±4,7mm; cerrado=22,1±3,6mm, do de acordo com o meio ambiente, o presente trabalho tem como t0,05(2),438=2,04, p=0,04), mesofilo (campo sujo=170,1±26,8mm; objetivo comparar a anatomia de indivíduos jovens dessa espécie, cerrado=145,1±17,7mm, t0,05(2),438=-10,3, p<0,0001), comprimento em duas fitofisionomias típicas do cerrado, o campo sujo e o cerra- de estômatos (campo sujo=18,0±3,8mm; cerrado=21,1±2,7mm, do sensu stricto. t0,05(2),238=2,04, p<0,0001), abertura ostiolar (campo

2. Métodos sujo=3,19±1,2mm; cerrado=3,83±1,4mm, t0,05(2),238=3,8, Folhas adultas foram coletadas de indivíduos jovens de Dalbergia p=0,0002) e número de estômatos (campo sujo=49,09±12,6 mm- 2 -2 miscolobium plantados em duas fitofisionomias do Cerrado - Cam- ; cerrado=58,55±18mm ; t0,05(2),158=3,77, p=0,0002). Quanto às po Sujo e o Cerrado sensu stricto. Foram amostradas cinco plantas dimensões de estômatos, tal resultado era esperado, pois o campo no Cerrado sensu stricto e dez no Campo Sujo para os cortes sujo está exposto a intensidades luminosas maiores e isso sugere a anatômicos e cinco plantas de cada ambiente para a análise necessidade de um controle maior da saída de água, que pode ser estomática. As plantas tinham aproximadamente 27,7 ± 2,7 e 21,6 obtido com menores dimensões estomáticas e menor número de ± 3,98 cm de altura no campo sujo e cerrado respectivamente. estômatos (Larcher, 1995). De cada planta, uma folha foi amostrada, tendo sido coletados A maior espessura do mesofilo pode estar relacionada à prote- folíolos do ápice, base e meio da folha, totalizando três folíolos por ção contra altas intensidades luminosas. Por outro lado, Nobel indivíduo. Terços médios dos folíolos foram fixados em FAA 50ºGL (1977) relatou que o aumento na espessura das folhas de plantas e posteriormente desidratados em série etílica e incluídos em para- crescidas em ambientes com maiores intensidades luminosas pela fina (Johansen, 1940; Sass, 1958). A espessura dos cortes foi fixada adição ou alongamento de células do parênquima paliçádico pode- em 12 mm. Foi utilizada a dupla coloração safranina-“fast green” e riam estar relacionado a uma redução na resistência do mesofilo a entellan como meio de montagem. difusão dióxido de carbono. Já para epiderme, o resultado foi o As observações das epidermes adaxial e abaxial em vista de face contrário do esperado, pois uma maior espessura da epiderme im- foram feitas a partir das impressões epidérmicas da superfície da plica em uma proteção tecidual contra intensidades luminosas folha com cola plástica. maiores, ao aumentar a absorção de luz neste tecido. Medidas da espessura cuticular, espessura das epidermes adaxial 4. Conclusões e abaxial, espessura do mesofilo, diâmetro do metaxilema, compri- A capacidade de alteração das folhas em resposta a diferentes mento e largura dos estômatos e abertura ostiolar foram feitas com níveis de luz é comum em espécies com amplo potencial de nônio ocular e calculadas para o fator correspondente. Os três pri- aclimatação (Björkman, 1981). Durante os primeiros anos de de- meiros parâmetros acima foram tomados com dez medidas aleatóri- senvolvimento, Dalbergia miscolobium apresenta adaptações as para cada planta. Foram tomadas cinco medidas para o diâmetro anatômicas distintas no cerrado e campo sujo, que podem estar do metaxilema e vinte para a análise estomática por planta. relacionadas às diferenças de intensidades luminosas nesses ambi- O número de estômatos presentes na epiderme abaxial foi entes e/ou diferenças de exposição ao déficit hídrico. (Apoio CNPq, obtido projetando-se, no papel, um quadrado de 0,5mm de lado. A PRONEX) soma da contagem em quatro áreas contíguas representou o núme- 5. Referências Bibliográficas ro de estômatos presentes em 1mm². Foram realizadas 80 conta- Björkman, O. (1981). Responses to different quantum flux densities. gens para cada tratamento, obtendo-se uma amostragem de n=20. In Physiological plant ecology I. (Encyclopedia of plant physiology, Tanto para as medidas quanto para a contagem de estômatos, NS. Vol. 12A). Edited by O. L. Lange, P. S. Nobel, C. B. Osmond, foram calculados a média, desvio padrão e realizado um teste t de H. Ziegler. Springer-Verlag, Berlin. pp. 57-107. Student para a comparação de médias, com a=0,05, com o auxílio Fenner, M. (1985). Seed Ecology. London: Chapman and Hall. do programa estatístico SAS do SAS Institute Inc. O grau de sombreamento nos dois ambientes foi medido com Johansen, D. A.. (1940). Plant microtechnique. McGraw-Hill Book fotodiôdos instalados horizontalmente em uma haste metálica a 5, Company, New York. 10, 15, 20 e 50 cm de altura do solo. Os sensores foram calibrados Larcher, W. (1995). Physiological Plant Ecology. Springer, Berlin. para medir a densidade de fluxo de fótons na faixa Lorenzi, H., (2000). Árvores brasileiras: manual de identificação e fotossintenticamente ativa (DFFF; 400 a 700 nm). cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, vol. 1, 3 ed., Nova 3. Resultados e Discussão Odessa, SP: Instituto Plantarum. O Campo sujo e o Cerrado sensu stricto apresentam diferentes Nobel, P. S. (1977). Internal leaf area and cellular CO2 resistance: condições de luminosidade. O sensor a 50cm de altura no campo photosynthetic implications of variations with growth conditions sujo não sofreu sombreamento e a porcentagem de luz incidente no and plant species. Physiologia Plantarum 40: 137-144. sensor de 20cm de altura, no campo sujo, foi de 42% da irradiação incidente em uma superfície exposta enquanto que no cerrado sensu Ratter, J. A., Riberio, J. F., and Bridgewater, S. (1997). The Brazilian stricto foi de 25%, considerando os valores médios de DFFF. cerrado vegetation and threats to its biodiversity.Annals of Botany Dalbegia miscolobium apresenta ambas epidermes glabras, cons- 80: 223-230. tituídas de células de diferentes tamanhos, sendo maiores na região Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do bioma das nervuras. A face adaxial é desprovida de estômatos, sendo os do Cerrado. In Cerrado: Ambiente e Flora (S. M. Sano & S. P. estômatos da face abaxial predominantemente anisocíticos, tendo Almeida, eds.). EMBRAPA, Planaltina, DF. P. 89-166. sido observado o padrão anomocítico com menor freqüência. Os Sass, J. E.. (1958). Botanical microtechnique. The Iowa State College estômatos encontram-se um nível abaixo das células subsidiárias. Press, Iowa. Tanto para o Cerrado quanto para o Campo Sujo, as plantas apre- sentaram um parênquima paliçádico de três a cinco camadas de células, ocupando o lacunoso uma menor proporção do mesofilo, comparado ao paliçádico. A nervura principal apresenta fibras em

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 465 Cerrado Volume I

Entomofauna de solo na vereda do Clube de Caça e Collembola, Blattodea, Isoptera, Mantodea, Neuroptera, Pesca Itororó de Uberlândia – Minas Gerais Psocoptera, Phasmatodea, Dermaptera, Lepidoptera, Embioptera Graziella Diogenes Vieira Marques1& Kleber Del-Claro2,3 e Thysanoptera. 1Universidade Federal de Uberlândia A ordem mais numerosa foi Hymenoptera (56,19%), seguida ([email protected]), 2Laboratório de Ecologia de Coleoptera (20,58%) e Hemiptera (7,43%). As ordens de me- Comportamental e de Interações (LECI) – Instituto de Biologia, nor representatividade foram agrupadas em uma categoria deno- Universidade Federal de Uberlândia, 3FAPEMIG, CNPq minada “Outras”, que compreende Isoptera, Mantodea, Neuroptera, Psocoptera, Phasmatodea, Dermaptera, Lepidoptera, 1. Introdução Embioptera e Thysanoptera. Levantamentos da fauna de invertebrados vêm sendo O maior número de insetos coletados foi encontrado entre os freqüentemente utilizados para identificar espécies indicadoras de meses de março e maio, onde o pico máximo se deu em maio com mudanças ecológicas após perturbações de habitats (ex.: 2627 insetos, sendo os himenópteros a ordem mais capturada. RODRÍGUEZ et al., 1998) e que possam ser utilizadas em progra- A biomassa total amostrada foi de 62,4740g de peso seco den- mas de avaliação, conservação e manejo ambiental (DUFRÊNE & tre as ordens mais representativas estão, Orthoptera (51,00%), LEGENDRE, 1997). Coleoptera (26,97%) e Hymenoptera (12,84%). As menos repre- Estimativas locais de biodiversidade que não consideram sentativas foram Collembola, Diptera e Outras. invertebrados omitem a maior parte da biota que eles se propõem Os maiores índices de biomassa situaram-se nos meses de ja- a medir, ignorando o segmento de fauna que mais contribui para os neiro, maio e novembro, tendo um pico máximo de 18,4541g em processos essenciais dos ecossistemas (ex.: CRANSTON & maio. A ordem Orthoptera foi a mais representativa alcançando TRUEMAN, 1997). Portanto, o conhecimento de diferentes or- nestes meses, respectivamente 3,3987g, 13,8406g e 6,7640g de dens de insetos é de vital importância, principalmente para a ma- peso seco. nutenção da biodiversidade (YORK, 1994). As ordens mais representativas: Hymenoptera, Coleoptera e Dessa forma, os objetivos deste estudo foram determinar a Orthoptera tanto para o número de insetos quanto para a biomassa sazonalidade e a biomassa de ordens de insetos terrestres amostradas sofrem influência dos fatores climáticos. Nos meses mais frios e em uma vereda no domínio dos cerrados do centro-oeste do Brasil, secos (junho e julho) observa-se uma baixa freqüência, já nos meses com o intuito de verificar a disponibilidade de tais insetos para mais úmidos e quentes a freqüência alcança maiores índices (mar- animais insetívoros. Além disso determinar quais as ordens que ço, abril e maio). mais contribuem para a dieta desses animais. 4. Discussão 2. Métodos As dificuldades em se comparar resultados de levantamentos O trabalho de campo foi desenvolvido na área da reserva de de fauna, especialmente de artrópodes, são devidas principalmente Cerrado do Clube de Caça e Pesca Itororó de Uberlândia, MG - ao uso de diferentes métodos de coleta aplicados a ambientes di- CCPIU. O clima da região segundo a classificação de Koppen, é do versos, onde cada método amostra um conjunto diferente de espé- tipo Aw, caracterizado por estações seca e chuvosa bem definidas. cies (ROMERO e JAFFÉ, 1989). Apesar dessas dificuldades, os A vereda estudada constitui-se de estrato herbáceo homogêneo, aspectos gerais tornam-se a base de comparação até que estudos em solos saturados de água durante a maior parte do ano. melhor delineados possam ser feitos. Para a coleta de dados foram utilizadas armadilhas do tipo Alguns autores encontraram uma abundância total na “pitfall”. Construiu-se cinco baterias de armadilhas, dispostas ao macrofauna de solo entre 100 e 500 indivíduos m-2 em um amplo longo da vereda. Cada bateria, foi constituída por três baldes de 36 espectro de tipos vegetacionais em variados habitats tropicais (ex.: centímetros de diâmetro de boca e 35 litros de capacidade, cada LAVELLE & PASHANASHI, 1989). Tal padrão sugere, para o um contendo 15 litros de formol a 10%. Estes baldes foram enter- presente estudo, que o cerrado apresente uma abundância de inse- rados ao nível do solo e alinhados seqüencialmente distantes uns tos de solo bastante considerável. O fato de Hymenoptera ser a dos outros 2,5m. Sobre os baldes armou-se uma rede de oito metros mais representativa quantitativamente corrobora o observado por de comprimento e 50 centímetros de altura. Sendo que cinco vários estudos em diversos habitats (ex.: PELLENS & GARAY centímetros (5 cm) foram enterrados e fixados por meio de estacas 1999) e diferentes métodos de amostragem. A proporção encon- distribuídas eqüitativamente entre os baldes. trada nas amostras da estação seca para Formicidae, Coleoptera, A coleta de dados ocorreu nos meses de janeiro a dezembro de Arachnida e Isoptera em áreas abertas varia entre 56 e 97% 2000, sendo que o intervalo de recolhimento foi semanal (verão) (DANGERFIELD, 1997), o que também corrobora os dados ob- ou quinzenal (inverno). O material das armadilhas foi recolhido tidos na vereda para Formicidae (Hymenoptera) e Coleoptera. por meio de uma peneira com 15 centímetros de diâmetro e malha Quanto a ordem Coleoptera, sua representatividade no presente de 1,0 mm. Os espécimes foram acondicionados em sacos plásticos estudo condiz com o encontrado por outros autores em termos de identificados por meio de etiquetas colocadas dentro dos mesmos. número de indivíduos (ex.: PELLENS & GARAY 1999 ). Como Dentre as baterias coletadas foram escolhidas ao acaso um PELLENS e GARAY (1999) destacaram, dois aspectos podem balde de cada mês para a triagem e posterior identificação em interferir em tais amostragens, o primeiro diz respeito a socialidade ordens por meio do uso de chaves de identificação, em seguida presente em Hymenoptera, especialmente formigas, justifica que foram acondicionados em placas de Petri e colocados em estufa sua abundância alcancem índices mais elevados que os de outras (45ºC), durante uma semana, após o que foram pesados para ob- ordens. O segundo trata da variação sazonal que em Hymenoptera tenção da biomassa (gramas de peso seco). oscila pouco enquanto que para insetos não sociais, como é o caso O monitoramento de fatores climáticos durante o período de de Coleoptera a variação é maior. estudo foi feito a partir de dados mensais de temperatura média, Sazonalidade em populações de fauna de solo são comuns umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica, relativos ao (CEPEDA & WHITFORD, 1989). REDDY & VENKATAIAH período de janeiro a dezembro de 2000 obtidos no Laboratório de (1990) mostraram que no caso de artrópodos de superfície de solo Climatologia e Recursos Hídricos do Instituto de Geografia da pegos em armadilhas tipo “pitfall”, ocorrem em maior na abundân- Universidade Federal de Uberlândia. cia estação chuvosa do que no verão quente e seco, em um habitat 3. Resultados de savana semi-árida no sul da Índia. DANGERFIELD (1997) Foram coletados 12900 insetos distribuídos entre as ordens: amostrou que, em áreas de campos, o número de insetos é maior na Hymenoptera, Coleoptera, Hemiptera, Orthoptera, Diptera, estação chuvosa do que na estação seca. Os resultados obtidos na

466 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado vereda no presente estudo sugerem um padrão similar que (Coleoptera: Cicindelidae) appropriate indicators for monitoring corresponde ao aumento do número de insetos na estação chuvosa. the degradation of tropical forests in Venezuela? Biol. Conserv. 83 O estresse de umidade observado nos meses de junho a agosto é (1): 69-76. uma característica da vereda (OLIVEIRA-FILHO & RATTER, ROMERO, H. & JAFFÉ, K. 1989. A comparision of methods for 2002). O aumento do número de insetos pode ser causado em parte sampling ants (Himenoptera, Formicidae) in Savannas. Biotropica pela migração de alguns grupos para a superfície em resposta a umi- 21 (4): 348-352. dade disponível como notado para mesofauna temperada (ex. HASSAL YORK, A. 1994. The long-term effects of fire on forest ant et al, 1986). Entretanto, isso pode também ser uma resposta communities: management implications for the conservation of comportamental para explorar recursos de superfície, como em biodiversity. Mem. Qld. Mus. 36 (1): 231-39. milípedes que são ativos sazonalmente (DANGERFIELD et al, 1993). A variação dos índices da biomassa nas principais ordens amostradas sugere que não há uma relação direta com os fatores climáticos. Análise Morfométrica de Tamanduás-bandeira A variabilidade na abundância e composição de espécies em (Myrmecophaga tridactyla) capturados no Parque comunidades naturais são provavelmente provindas de uma com- Nacional das Emas (GO) e Entorno binação de fatores ao acaso e de restrições determinísticas Guilherme H. B. de Miranda a, Flavio H. G. Rodrigues b, Fernanda (LAWTON & McGARVIN, 1986). O presente estudo estabelece V. dos Santos, Fabiana R. Lopes, Paulo A. L. Borges e Pablo S. T. que, no ambiente de cerrado, particularmente em vereda, as or- Amaral a dens Hymenoptera e Coleoptera são mais abundantes na estação a Programa de Pós-Graduação em Ecologia - Universidade de chuvosa e que Coleoptera e Orthoptera concentram a maior par- Brasília ([email protected]) b Associação Pró-Carnivoros & cela da biomassa, a despeito de suas densidades. Departamento de Zoologia – Universidade de Brasília 5. Referências Bibliográficas ([email protected]) CEPEDA, J. G. & WHITFORD, W. G. 1989. The relationship between abiotic factors and the abundance patterns of soil 1. Introdução microarthropods on a desert watershed. Pedobiologia 33: 79-86. O tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla, é o maior re- CRANSTON, P. S.; TRUEMAN, J. W. H. 1997. “Indicator” taxa presentante da família Myrmecophagidae e consta na lista oficial in invertebrate biodiversity assessment. Mem. Mus. Vic. 56 (2): dos mamíferos brasileiros ameaçados de extinção (MMA, 2003). 267-274. Apesar de sua ampla distribuição original, do México à Argentina, o tamanduá-bandeira já não é mais encontrado em diversas áreas e DANGERFIELD, J. M. 1997. Abundance and diversity of soil em outras ocorre em densidades muito baixas. Atualmente, popu- macrofauna in northern Botswana. Journal of Tropical Ecology 13: lações grandes de tamanduás podem ser encontradas apenas em 527-538. algumas poucas áreas, com destaque para o Parque Nacional da DANGERFIELD, J. M., MILNER, A. E. & MATTHEWS, R. Serra da Canastra, MG, e para o Parque Nacional das Emas, GO. 1993. Seasonal activity patterns and behaviour of juliform Existe pouca informação disponível sobre esta espécie, principal- millipedes in south-eastern Botswana. Journal of Tropical Ecology mente considerando-se estudos de campo (Drumond 1992; Redford 8: 451-464. 1985; Shaw et al. 1985, 1987). Nos meses de julho, agosto e setem- DUFRÊNE, M.; LEGENDRE, P. 1997. Species assemblages and bro de 2001, agosto de 2002 e de janeiro a abril de 2003, realiza- indicator species: the need for a flexible asymetrical approach. mos capturas de tamanduás-bandeira no Parque Nacional das Emas Ecol. Monogr. 6 (3): 345-66. (PNE) para um estudo visando fornecer subsídios para o desenvol- vimento de estratégias de conservação. HASSAL, M., VISSER, S. I., PARKINSON, D. 1986. Vertical 2. Métodos migration of Onychiurus subtenuis (Collembola) in relation to rainfall Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos ao longo de and microbial activity. Pedobiologia 29: 175-182. quase dois anos de atividade de campo, relacionada ao Projeto LAVELLE, P. & PASHANASHI, B. 1989. Soil macrofauna and Ecologia e Conservação do Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga land management in Peruvian Amazonia (Yurimaguas, Loreto). tridactyla) no PNE. Pedobiologia 33: 283-291. Foram tomadas medidas morfométricas de 25 animais adultos LAWTON, J. H. & McGARVIN, M. 1986. The organisation of capturados, por meio de dinamômetro e trena metálica flexível, herbivore communities. In: KIKKAWA, J. & ANDERSON, D. J. enquanto os mesmos estavam sob efeito de anestesia. Com base (Eds). Community ecology: pattern and process. Blackwell Scientifc nessas medidas morfométricas foram realizadas comparações entre Publications. Oxford. pp. 163-186. o tamanho médio dos machos e fêmeas de tamanduá-bandeira, OLIVEIRA-FILHO, A. T.; RATTER, J. A. 2002. Vegetation bem como entre indivíduos do núcleo e da periferia do PNE. Além Physiognomies and Woody Flora of the Cerrado Biome. In: OLI- da identificação do sexo, foram medidos: massa (M), comprimento VEIRA, P. S.; MARQUIS, R.J. (Eds.). The Cerrado of Brazil: rostro-anal (CoRA), comprimento da cauda (CoCau) comprimen- Ecology and Natural History of a Neotropical Savanna. New York: to da pata traseira direita com garra (CoPat), largura da pata trasei- Columbia University Press. pp. 91-120. ra direita (LPat), comprimento da orelha direita (CoO), largura da orelha direita (LO), comprimento da cabeça (CoCab), circunfe- PELLENS, R. & GARAY, I. 1999. A comunidade de rência da cabeça (CiCab), circunferência do pescoço (CiPes) e macroartrópodos edáficos em uma plantação de Coffea robusta circunferência do tórax (CiT). Linden (Rubiaceae) em uma floresta primária em Linhares, Espíri- As comparações das medidas morfométricas entre machos e to Santo, Brasil. Revta. Bras. Zoo. 16 (1): 245-258. fêmeas e entre animais do núcleo e periferia foram realizadas por REDDY, M. V. & VENKATAIAH, B. 1990. Seasonal abundance meio de teste t para variáveis independentes (programa Statistica, of soil-surface arthropods in relation to some meteorological and versão 99). Adicionalmente, utilizamos o programa PC-ORD4 v4.10 edaphic variables of the grassland and tree-planted areas in a tropi- para gerar análises de componentes principais (PCA), definindo as cal semi-arid savanna. International Journal of Biometeorology 34: variáveis morfométricas mais importantes para caracterizar a popu- 49-59. lação de tamanduás estudada, comparando machos e fêmeas. RODRÍGUEZ, J. P.; PEARSON, D. L.; BARRERA, R. R. 1998. 3. Resultados e Discussão A test for the adequacy of bioindicator taxa: are tiger beetles Para realizar a primeira análise ( teste-t, variáveis independen-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 467 Cerrado Volume I tes, dados agrupados por sexo), os registros de captura foram triados relação aos machos tenha influenciado este resultado e uma maior e organizados em planilha eletrônica (18 machos e 7 fêmeas, todos amostragem, especialmente de fêmeas, implique em diferenças sig- adultos, uma variável qualitativa e onze quantitativas). nificativas. A tendência de machos serem maiores pode resultar de Os valores médios de cinco das onze variáveis medidas (M, um processo de seleção sexual, onde os machos disputam (direta CoRA, CoPat, CiPes e CiT) foram maiores nos machos que nas ou indiretamente) as fêmeas e assim machos maiores são favoreci- fêmeas, porém essa diferença só foi significativa para CoRA (Mm = dos. Da mesma forma, indivíduos do interior do Parque foram

1279,44 mm e Fm = 1204,57 mm; t = 2,64; p = 0,0145). Apenas a maiores que os da periferia, apesar de apenas uma medida ter sido média de CoCau das fêmeas foi maior que a dos machos, resultado significativa. A tendência dos animais do interior serem maiores não-significativo (Mm = 630,22 mm e Fm = 672,14 mm; t = 1,108; pode ser explicada por uma maior abundância de recursos nesta p = 0,2791). As médias das outras cinco variáveis (LPat, CoO, LO, região, em relação às áreas antropizadas e pela necessidade dos CoCab e CiCab) apresentaram valores similares (a média das fême- indivíduos da periferia se deslocarem por grandes distâncias entre as inclusa no intervalo de erro padrão da média dos machos e/ou uma área natural e outra, atravessando lavouras menos produtivas vice-versa). em relação aos seus alimentos principais (cupins e formigas). No- Na segunda etapa de análise, os mesmos registros foram agru- vamente as diferenças podem não ter sido significativas devido ao pados (25 indivíduos) de acordo com o local de captura (14 indi- baixo número amostral. víduos na região nuclear e 11 na região periférica/entorno do par- Os autores gostariam de agradecer a colaboração da bióloga que). Os valores médios de cinco das onze variáveis analisadas (M, Valéria Maria Gomes Barros e dos estudantes Andréa Couto Be- CoRA, CoPat, CoCab e CiT) foram maiores no grupo de indivídu- zerra, Leandro Drigo, Josemar Gontijo Mourão, Hélio Shigenobu os capturados na região nuclear do PNE que no grupo periférico. Mori, Helena Leonardos, João Riecken Teixeira, Alexandre de Porém, uma vez mais, essa diferença só foi significativa para uma Souza Portella, Frederico Gemesio. O projeto Ecologia e Conser- variável, desta vez, CoCab (Nm = 396,50 mm e Pm = 373,45 mm; t vação do Tamanduá-bandeira no Parque Nacional das Emas rece- = 3,17; p = 0,00424). Os valores médios das demais variáveis beu apoio da: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza / (CoCau, CoO, Lpat, LO,CiCab e CiPes) foram muito próximos (a MacArthur Foundation, The Whitley Laing Foundation / Rufford média de um grupo inclusa no intervalo de erro padrão da média Small Grants, Centro Nacional de Pesquisas para Conservação de do outro). Mais uma vez, o comportamento da variável CoCau Predadores Naturais – CENAP/IBAMA e Instituto Conservation divergiu do das demais, apresentando valor médio do grupo nucle- International do Brasil. ar menor que o do grupo periférico, não significativo (Nm = 622,07 5. Referências Bibliográficas mm e Pm = 667,27 mm; t = -1,337; p = 0,1945). A comparação Drumond, M. A. 1992. Padrões de forrageamento do tamanduá- morfométrica entre indivíduos que vivem na região nuclear e na bandeira (Myrmecophaga tridactyla) no Parque Nacional da Serra da periferia do PNE, mostrou que tamanduás-bandeira do núcleo são Canastra: dieta, comportamento alimentar e efeito de queimadas. Dis- maiores, o que é coerente com a maior disponibilidade de recursos sertação de Mestrado. Instituto de Ciências Biológicas, Universi- no parque que no entorno, sugerindo que indivíduos de maior dade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. porte ocupam os melhores locais. Eisenberg, J. F. e Redford, K. H. 1999. Mammals of the Neotropics. Comparando as amplitudes das variáveis citadas na literatura es- The Central Neotropics, Volume 3. The University of Chicago Press, pecializada (Emmons, 1990; Nowak, 1999, Eisenberg e Redford, 1999) Chicago. com as medidas dos tamanduás do PNE, constatou-se que houve certa discrepância uma vez que, apesar de mais pesados (amplitude = Emmons, L. H. e Feer, F. 1990. Neotropical Rainforest Mammals. A 24,5 a 43,1 kg, média = 33,91 kg), os tamanduás-bandeira do PNE Field Guide. The University of Chicago Press, Chicago. apresentaram medidas de CoRA (amplitude = 1080 a 1370 mm; MMA. 2003. Lista nacional das espécies da fauna brasileira ameaçadas média = 1258,48 mm), CoPat (amplitude = 120 a 185 mm; média = de extinção. http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm 148,64 mm), CoCau (amplitude = 380 a 790 mm; média = 641,96 Nowak, R. M. 1999. Walker´s Mammals of the World. Volume I. mm) e CoO (amplitude = 35 a 56 mm; média = 46,75) relativamente Sixth Edition. The Johns Hopkins University Press, Baltimore. pequenas, quando comparadas com os dados publicados. Redford, K. H. 1985. Feeding and food preferences in captive and Como a matriz de dados (25 linhas x 11 colunas) ficou incom- wild giant anteaters (Myrmecophaga tridactyla). J. Zool., Lond. pleta, devido à falta de algumas medidas em cinco machos, os 205:559-572. campos vazios foram preenchidos pelos valores médios dos machos restantes naquela coluna. Na Análise de Componentes Principais Shaw, J. H.; Carter, T. S. & Machado-Neto, J. C. 1985. Ecology of (PCA), os dois primeiros eixos-componentes explicaram apenas the giant anteater Myrmecophaga tridactyla in Serra da Canastra, 46,61% da variação total dos dados, sendo necessário considerar a Minas Gerais, Brasil: a pilot study. Em: G. G. Montgomery (ed.), variância acumulada dos seis primeiros eixos para se obter uma The Evolution and Ecology of Armadillos, Sloths, and Vermilinguas, representação de 84,18% da variação dos dados. As variáveis M, pp.379-384. Smithsonian Institution Press, Washington, D.C. CiT e Cocau foram os principais constituintes do eixo 1, que Shaw, J. H.;Machado-Neto, J. C. & Carter, T. S. 1987. Behavior of reflete variações no tamanho dos indivíduos. O eixo 2, represen- free-living giant Anteater (Myrmecophaga tridactyla). Biotropica tando variações na forma dos tamanduás, foi formado 19(3):255-259. prioritariamente por CoO e CoPat. 4. Conclusões Predação de sementes de Jatobá do cerrado, A despeito do número de indivíduos relativamente pequeno (n Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne (Leguminosae = 25), os procedimentos estatísticos utilizados foram capazes de – Caesalpinoideae) indicar, mesmo que parcial e preliminarmente, as tendências 1 2 morfométricas da população de tamanduás do PNE. As medidas Hélder Consolaro & Ernestino de Souza G. Guarino 1Universidade Federal de Uberlândia - Instituto de Biologia; mais importantes para definir a variação de forma e tamanho dos Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos animais estudados foram massa, comprimento do tórax da pata Naturais; ([email protected]); 2Universidade de Brasília – traseira e comprimento da cauda. Os machos foram em geral mai- Instituto de Biologia; Programa de Pós-graduação em Ecologia ores que as fêmeas, apesar de apenas uma das medidas (compri- mento rostro-anal) ter resultado significativamente diferente entre os sexos. É possível que o menor número de fêmeas capturadas em 1. Introdução A estrutura das comunidades e suas populações são reguladas

468 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado pela competição, predação, disponibilidade de recurso e fatores botões florais de seus hospedeiros. Adultos também foram abióticos (Begon et al., 1996). Frutos, flores e sementes, por con- registrados em frutos de Kielmeyera nos estados de Goiás, Mato centrarem nutrientes como carboidratos, proteínas, lipídeos e mi- Grosso, Minas Gerais e São Paulo (Clark & Martíns, 1987). Ou- nerais são procurados por diversos animais, principalmente insetos tros estudos indicam forte grau de relação na especificidade de (Lacerda et al., 2000, Fenner, 2002). Existem alguns insetos, prin- hospedagem de Coleópteras, incluindo trabalhos de Martíns (1971) cipalmente besouros, que são capazes de aproveitar efetivamente para Cerambycidae e Lewinsohn (1980) para Cryptorrynchine os frutos e predar as sementes, tornado-as inviáveis (Lopes, 1997). (Curculionidae) associado com Hymenea (Clark & Martíns, 1987). A intensidade e o padrão deste tipo de predação podem afetar Este comportamento de alocação, provavelmente garante prote- diretamente a biologia de populações de fanerógamas (Janzen, ção contra dessecação, predadores e parasitas (Clark & Martíns, 1970). Dentre o número total de sementes que podem ser produ- 1987). O jatobá é uma espécie que investe na produção de nume- zidas durante o ciclo de vida de uma planta, apenas uma pequena rosos frutos grandes com poucas sementes e com recompensa aos proporção sobrevive até o estabelecimento ao estágio adulto; a seus dispersores (Lopes, 1997). Apesar de H. stignocarpa produzir grande maioria sucumbe a predadores e/ou patógenos antes da apenas sementes grandes e em pequena quantidade seu investi- germinação ou no estágio de plântula (Shepherd & Chapman, mento na produção de numerosos frutos corroboram com uma das 1998). Os efeitos positivos e negativos proporcionados direta e estratégias de defesas antipredação elaboradas por Janzen (1971); indiretamente pela predação e competição são responsáveis por saciação do predador, na qual a produção de sementes é superior à uma gama de situações com diferentes combinações entre preda- capacidade de consumo dos predadores. Os numerosos frutos gran- dores e presas (Etherington, 1976). Vários estudos discutem algu- des, aliado com a alta resistência da casca à penetração, possivel- mas possíveis respostas evolutivas de plantas contra predação (Wil- mente aumentam a eficácia deste mecanismo de defesa. O grande son & Janzen, 1972; Center & Johnson, 1974; Lomônaco, 1994). tamanho, consistência flexível e a alta oferta energética das semen- O jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne tes de H. stigonocarpa parece beneficiar a ação dos predadores, (Leguminosae – Caesalpinoideae), produz uma grande quantidade possibilitando a deposição de mais de uma larva por semente. A de frutos, servindo provavelmente, como uma importante fonte de preferência por sementes grandes para predação é citada por Smith recurso para a fauna local. Assim, o objetivo deste trabalho foi (1975) como um dos padrões pelos quais predadores interagem investigar a predação de sementes de jatobá do cerrado. com sementes. Isso pode ter implicações na quantidade de recur- 2. Material e Métodos sos necessários e disponíveis à sobrevivência destes insetos O estudo foi realizado no mês de outubro de 2002 no Parque (Lomônaco, 1994). Entretanto, na maioria das sementes predadas Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) localizado entre os foi encontrado apenas um predador, devido, possivelmente o re- municípios de Caldas Novas e Rio Quente - GO, sendo a área curso não se tornar um fator limitante e conseqüentemente não caracterizada por um cerrado sentido restrito. Foram coletados ocorrer competição intraespecífica. Segundo Forget et al. 1994, frutos em pré-dispersão de cinco indivíduos adultos de Hymenaea besouros atacam sementes em diferentes proporções conforme o stigonocarpa (jatobá do cerrado, Leguminosae – Caesalpinoideae). habitat e o período do ano. A consideração de Anthonomus Em três indivíduos foram recolhidos todos os frutos, devido o biplagiatus. como o predador em potencial está relacionado a ele pequeno número de frutos presentes, variando, desta forma o nú- ser o único encontrado danificando e alocando as sementes em mero de frutos analisados entre os indivíduos. Em laboratório, todos os seus estágios do ciclo de vida. Os outros não foram con- foram coletados todos os invertebrados encontrados no interior siderados predadores, devido eles não estarem danificando nem das sementes e anotadas as seguintes medidas: peso e comprimento utilizando nenhuma das sementes, além deles, possivelmente pro- dos frutos, número de sementes por fruto e o número de predado- porcionarem um benefício à planta quando ingerem a polpa do res por semente. Utilizou-se o Índice de correlação de Pearson fruto e deixam as sementes limpas para germinação (F. Pedroni, com o nível de significância de p<0,05 (programa BioEstat 2.0). com. pess.). 3. Resultados e Discussão 4. Conclusão O número total de sementes analisadas foi de 275, distribuídas A predação é um tipo de interação que pode influenciar a em 47 frutos, perfazendo uma média de 5,85 (± 2,53) sementes por organização de uma comunidade, podendo restringir a distribui- fruto. O número de sementes por fruto apresentou uma correlação ção e a abundância de uma população, sendo uma importante significativa com o tamanho do fruto (r=0.74; p<0,05). O tama- força seletiva (Janzen, 1970). Isso pode estar acontecendo com H. nho médio dos frutos foi de 14,79cm (± 3,28). As sementes apre- stignocarpa, pois durante a coleta dos frutos não foram observadas sentaram tamanho relativamente grande com uma aparente re- plântulas próximas aos indivíduos adultos. compensa energética. Não foi encontrada correlação significativa 5. Referências Bibliográficas entre o comprimento do fruto e número de predadores. Foram Begon, M., Mortimer, M. & Thompson, D. J., 1996. Population encontradas três possíveis espécies de predadores: Anthonomus Ecology – A unified study of animals and plants. Blackwell Science biplagiatus (Curculionidae, Coleoptera), Pseudomyrmex sp. 3° Ed. 247p. (Formicidae, Formicinae) e uma espécie de Blattaria. O número Clark, W. E. & Martíns, R. P., 1987. Anthonomus biplagiatus total destes possíveis predadores foi de 256, perfazendo uma média Redtenbacher (Coleoptera: Curculionidae), a brazilian weevil de 5,44 (±7,16) predadores por fruto.. O número de sementes associated with Kielmeyera (Guttiferae). The Coleopterists Bulletin analisadas (275) em relação ao número total de predadores encon- 41 (2): 157-164. trados (256) aproxima-se da razão 1:1, entretanto os predadores foram responsáveis por apenas 40,36% das sementes predadas. Foi Etherington, J. R., 1976. Environment and Plant Ecology. Wiley considerado como predador em potencial somente A. biplagiatus, Manchester 2° Ed. sendo-o encontrado em estágio larval (154), pupa (90) e adulto Fenner, M., Cresswell, J. E., Hurley, R. A. & Baldwin T., 2002. (12). Dentre as sementes, 59,63% não apresentaram nenhum tipo Relationship between capitulum size and pre-dispersal seed de predador (sementes viáveis), 18.18% apresentaram um tipo, predation by insect larvae in common Asteraceae. Oecologia 130: 6,54% apresentaram dois, 7,63% três, 2,9% quatro, 3,27% cinco, 72-77. 1,45% seis e 0,36% sete. O número de sementes por fruto não Forget, P. M., Munhoz, E. & Leight, E. G., 1994. Predation by apresentou uma correlação significativa com o número de semen- Rodents and Bruchid Beetles os Seed os Sheelea Palms on Barro tes predadas. Colorado Island, Panama. Biotropica 26: 420-427. Larvas de Anthonomus biplagiatus alimentam-se de sementes e Janzen, D. H., 1970. Herbivores and the number of tree species in

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 469 Cerrado Volume I tropical forest. Am. Nat. 1047: 501-528. o Panamá até a região meridional da América do Sul (Heyer, 1978). Janzen, D. H., 1971. Seed predation by animals. Ann. Rev. Ecol. No Brasil, ocorre em áreas abertas tanto preservadas quanto bastan- Syst. 2: 465-492. te antropizadas. Estudos vêm sendo realizados principalmente em relação à reprodução desta espécie (e.g. Sazima , 1975; Martins, Lacerda, A. C. R., Silveira, A. B., Ilha, I. M. N. & Netto, R. R., 1988, Rossa-Feres, 1999). No entanto, nenhum deles abordou a 2000. Predação de sementes de Attalea phalerata (Palmae) em variação individual na vocalização das populações estudadas. cordilheiras no Pantanal da Nhecolândia. Ecologia do Pantanal – Este estudo teve como objetivos principais: 1) verificar a influ- Curo de Campo 2000. 93-95p. ência da temperatura do ar nos parâmetros do canto de anúncio da Lomônaco, C., 1994. Predação de sementes de Leguminosas por população de Leptodatylus fuscus da Estação Ecológica de Itirapina; Bruquídeos (Insecta: Coleoptera) na Serra dos Carajás, Pará, Bra- e 2) verificar se as características do canto de anúncio são relacio- sil. Acta bot. bras. 8(2): 121-127. nadas ao comprimento e/ou à massa do macho. Lopes, F. P. P., 1997. Predação de frutos de jatobá, Hymenae courbaril 2. Materiais e Métodos variedade stilbocarpa (Raynie) Lee & Lang. (Leguminosae – Este estudo foi realizado na Estação Ecológica de Itirapina, Caesalpinoidae), em fase pré-dispersão por uma espécie de localizada nos municípios de Itirapina e Brotas, São Paulo (22º 00' Curculionidae (Coleoptera). Curso de Campo em Ecologia – Tra- e 22º 15' S e 47º 45' e 48º 00' W). A estação representa um dos balhos individuais, UnB. 14-17p. últimos remanesncentes de campos preservados da região Sudeste, Shepherd, V. E. & Chapman, C. A., 1998. Dung beetles as secondary e apresenta diferentes fisionomias, como campo limpo, campo sujo, seed dispersers: impact on seed predation and germination. Journal campo cerrado, cerrado sensu stricto, campo úmido e matas de of Tropical Ecology 14: 199-215. galeria. As gravações das vocalizações foram realizadas em três lagoas naturais e em suas proximidades. Smith, C. C., 1975. The coevolution of plants and seed predators. O trabalho de campo foi realizado de novembro de 2002 a in Gilbert, L. E. & Raven, P. H. (eds.) Coevolution of animals and fevereiro 2003. As viagens foram quinzenais, com duração de qua- plants. Austin, Texas University Press. p. 53-77. tro noites consecutivas. As atividades de campo iniciavam-se por (Agradecimentos: a Caio Rébula, Marcela Yamamoto e Carlos volta das 17:30h, ao entardecer, e encerravam-se quando as ativi- Henrique Angeluci pela identificação dos invertebrados, ao Prof° dades de vocalização de L. fuscus diminuíam, por volta das 24:00h. Dr° Jader Marinho-Filho e ao Prof° Dr° Fernando Pedroni pela A cada noite de amostragem os machos vocalizantes eram orientação do projeto e ao Pedro C. Estrela pelas dicas no decorrer localizados com auxílio de lanterna de cabeça e o canto de do trabalho - Instituição financiadora: CAPES). anúncio do indivíduo era registrado com gravador cassete Marantz PMD22 com velocidade de 19 cm/s e microfone Variação no canto de anúncio em uma população de direcional Sennheiser ME 66. Após o término da gravação do Leptodactylus fuscus (Anura: Leptodactylidae) em canto, o indivíduo era capturado e eram tomadas, quando um fragmento de cerrado no interior do Estado de possível, as seguintes informações: comprimento rostro- São Paulo. cloacal, (CRC; mm), com paquímetro Mitutoyo mecânico (precisão 0,01 mm); e massa (g) com dinamômetro portátil Hilton M. Oyamaguchi, Cinthia A. Brasileiro, Elaine Lucas , Marcio (Pesola). A temperatura do ar foi obtida com termo-higrômetro Martins Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de digital Header. São Paulo.([email protected]) Os termos de cantos e notas foram usados de acordo com Haddad (1987): 1) Canto: emissão sonora formada por uma ou 1. Introdução mais notas estereotipadas e; 2) Notas: emissões sonoras que com- A vocalização, na maioria dos anuros, é a forma mais impor- põem o canto. No presente trabalho, o canto de anúncio de L. tante de comunicação. A maioria das espécies de anuros apresenta fuscus foi considerado como sendo composto por apenas uma nota diferentes tipos de vocalizações emitidas em diferentes contextos com modulação ascendente. comportamentais. A vocalização emitida durante a estação Em laboratório, as gravações foram digitalizadas em computa- reprodutiva com maior freqüência é denominada canto de anúncio dor com o auxílio do programa Cool Edit 96 (Syntrillium Software (Duellman & Trueb, 1994). O canto de anúncio possui principal- Corporation, 1996) com o FFT (Fast Fourier Transform) de 512 mente duas funções: atrair as fêmeas para corte e alertar os machos pontos, com resolução de 16 bits. Em cada amostra gravada foram da mesma ou de outras espécies sobre a presença do emissor medidas as seguintes características: freqüência mínima (Hz), fre- (Duelman & Trueb, 1994). qüência máxima (Hz), freqüência dominante (Hz), intervalo entre O canto de anúncio dos anuros pode potencialmente indi- cantos (ms) e duração do canto (ms). Para todos os cantos analisa- car para uma fêmea informações relevantes sobre o macho co- dos (n = 712) foram calculadas as médias de cada característica. específico e possivelmente caracteres físicos e/ou genéticos do Foram feitas correlações (coeficiente de correlação de Spearman) macho (“fitness”) vocalizante (Forester & Czarnowsky, 1985). entre as médias obtidas para cada característica (de cada indivíduo gra- Em diversos estudos, em diferentes espécies, análises dos can- vado) e a temperatura do ar, comprimento rostro-cloacal (mm) e massa tos de anúncio têm demonstrado diferenças significativas em (g). As análises estatísticas foram realizados com programa Statistica 6.0 caracteres do canto entre indivíduos de mesma espécie e estes (StatSoft, 2003) e considerado nível de significância p < 0,05. geralmente estão associadas ao tamanho do corpo (Ryan, 1980; 3. Resultados e Discussão Ramer et al. 1983; Radwan & Schneider 1988; Castellano et Foram gravadas vocalizações de 32 machos de L. fuscus. O al. 1999). CRC dos machos variou entre 40,2 e 48,7 mm (x = 43,9 ± 2,1 ; n Nos anuros, a temperatura pode influenciar a emissão do sinal = 29) e a massa entre 7,0 e 11,7 g (x = 9,2 ± 1,3; n = 30). De cada acústico, alterando diversas características da vocalização, princi- gravação foram caracterizadas entre cinco e 30 (x = 22,25 ± 6,2; n palmente as temporais (e.g Gehardt & Huber, 2002; Sullivan, = 712) cantos de anúncio, sendo analisados os primeiros cantos 1982; Wells, 1996; Gayou, 1984). registrados. No Brasil, são raros os estudos que abordam as variações indi- O canto de anúncio da população estudada de L. fuscus, com viduais nas vocalizações de espécies de anuros, mesmo nas espécies base na média de cada parâmetro para cada indivíduo gravado, mais abundantes e comuns. pode ser caracterizado por apresentar a duração do canto variando Leptodactylus fuscus apresenta ampla distribuição, ocorrendo desde entre 151,6 e 320,4 ms (x = 251,5 ± 36,9 n=32), freqüência míni-

470 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ma entre 734 e 927 Hz (x = 800,7 ± 42,8; n = 32), freqüência J. Zool. Lond. 248: 83-90. máxima entre 1.923 e 2.552 Hz (x = 2.228,8 ± 153,5; n = 32), FORESTER, D. C.; CZARNOWSKY, R. 1985. Sexual selection freqüência dominante entre 1.215 e 1.729 Hz ( = 1.451,9 ± 146,0; in the spring peeper, Hyla crucifer (Amphibia, Anura): Role of the n = 32) e o intervalo entre cantos entre 1.009 e 14.734 ms (x = advertisement call. Behaviour (92): 112-128 4.529,0 ± 3.466,5; n = 32). GIANOTTI, E. 1988. Composição florística e estrutura Nenhuma das características analisadas apresentou correlação fitossociológica da vegetação de cerrado e de transição entre cerra- significativa com a temperatura do ar (duração do canto: r = -0,03 do e mata ciliar de Estação Experimental de Itirapina. (SP). Cam- p = 0,88 n = 32; freqüência mínima: r = 0,03 p = 0,89; freqüência pinas – SP: Universidade Estadual de Campinas. Dissertação de máxima: r=-0,13 p = 0,49; freqüência dominante: r = 0,03 p = 0,87 Mestrado, 222p. e; intervalo entre cantos: r = 0,11 p = 0,52; n = 32). Durante o estudo, a temperatura do ar apresentou pequena variação entre os GAYOU, D. C. 1984. Effects of Temperature on the Mating Call dias e/ou horários das gravações (18,7 a 24,6ºC, = 20,9 ± 1,3; n = of Hyla versicolor. Copeia 1984(3): 733-738. 32). Em estudos realizados para verificar a influência da tempera- GERHARDT, H. C., HUBER, F. 2002. Acoustic Signals: tura nos parâmetros do canto, a variação na temperatura foi consi- Description and Peripheral Mechanisms. In: Acoustic deravelmente maior, sendo estas maiores do que 15 ºC (e.g. Gayou, Communication in Insects and Anurans. 9-47p . The University of 1984; Wells et al., 1996). Provavelmente, para detectar a influên- Chicago Press. Chicago and London. cia da temperatura nos parâmetros do canto de L. fuscus seria DUELLMAN, W. E.; TRUEB, L. 1994. Vocalization. In: Biology necessário gravá-los em uma amplitude maior de temperatura. of Amphibians. The Johns Hopkins University Press, Beltimor, Devido à ausência de influência da temperatura sobre as London. características do canto de anúncio de L. fuscus, a variação de HADDAD, C. F. B. 1987. Comportamento Reprodutivo e Comu- todas as características pôde ser analisada em relação às carac- nicação Sonora de Hyla Minuta PETERS, 1872 (AMPHIBIA, terísticas intrínsecas de cada indivíduo, como tamanho e mas- ANURA, HYLIDAE). Campinas – SP: Universidade Estadual de sa. Não foi encontrada relação entre a massa dos indivíduos Campinas. Dissertação de Mestrado. gravados de L. fuscus e os parâmetros do canto (Duração do canto: r = 0,26 p = 0,15; Freqüência mínima: r = 0,25 p = 0,17; HEYER, W. R. 1978. Systematics of the Fuscus group of the frog freqüência máxima: r = 0,16 p = 0,40; freqüência dominante: genus Leptodactylus (Amphibia, Leptodactylidae). Natural History r = 0,29 p = 0,11; intervalo entre cantos: r = 0,20 p = 0,27; Museum of Los Angeles County, Science Bulletin. n=30). No entanto, a freqüência mínima (r = -0,40; n = 29; p LESCURE, J. 1972. Contribuitions a L´étude dês Amphibens de = 0,03), a freqüência dominante (r = -0,42; n = 29; p = 0,02) Guyane Française II. Leptodactylus fuscus (SCHNEIDER). e o intervalo entre cantos (r = 0,37; n = 29; p = 0,04) foram Observations Écologiques et Èthologiques. Ann. Mus. Hist. Nat. significativamente relacionados com o CRC dos machos. Em Nice 1: 91-100. diversos estudos foi verificada também a relação entre MARTINS, M. 1988. Biologia reprodutiva de Leptodactylus fuscus parâmetros relativos à freqüência e comprimento do corpo, em Boa Vista, Roraima (Amphibia: Anura). Rev. Brasil. Biol., 48 como em Physalaemus pustulosus (Ryan 1980), Rana lessonae (4): 969-977. (Radwan & Schneider 1988), Bufo viridis (Castellano et al. 1999) e em Rana clamitans (Ramer et al. 1983), em que ma- RADWAN, N. M. M.; SCHNEIDER, H. 1988. Social behaviour, call repertory and variation in the calls of the pool frog, Rana chos maiores possuíam freqüências mais baixas de modo se- melhante ao registrado para a população estudada. Geralmen- lessonae (Anura: Ranidae). E. J. Brill, Leiden. Amphibia-Reptilia 9: te, os parâmetros temporais do canto são fortemente influen- 329-351. ciados por fatores extrínsecos, como temperatura, densidade RAMER, J. D., JENSSEN, T. A.; HURST, C. J. 1983. Size-Related de machos vocalizantes e/ou distância entre vizinhos (e.g. Variation in the Advertisement Call of Rana clamitans (Anura: Wells, 1978; Gerhardt, 2002). São ainda necessários estudos Ranidae), and Its Effect on Conspecific Males. Copeia (1983) que verifiquem a influência da densidade e distância entre 1:141-155. vizinhos na variação do canto de L. fuscus. ROSSA-FERES, D. C.; MENIN M.; IZZO, T. J. 1999. Ocorrên- Análises especificas na variação das características dos cantos em cia Sazonal e Comportamento Territorial em Leptodactylus fuscus diferentes espécies de anuros têm demonstrado que a variação nos (Anura, Leptodactylidae). Iheringia, Ser. Zool., Porto Alegre, (87): parâmetros relacionados à freqüência variam pouco em um mesmo 93-100. indivíduo ao longo da estação reprodutiva, quando comparados aos RYAN, M. 1980. Female Mate Choice in a Neotropical Frog. parâmetros temporais (Gerhardt & Huber, 2002). Para L. fuscus, Science 209:523-525. diferenças na variação dos diferentes parâmetros não podem ser discutidos neste sentido, pois ainda é necessário um número maior SAZIMA, I. 1975 Hábitos Reprodutivos e Fase Larvária de de gravações do canto de um mesmo indivíduo; só assim seria possí- Leptodactylus mystacinus e L. sibilatrix (Anura, Leptodactilidae). São vel verificar a variabilidade intraindividual da cada parâmetro. Paulo: Universidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Em todos os estudos realizados abordando aspectos da STATISTICA FOR WINDOWS, Release 6.1. Statsoft, Inc. vocalização de L. fuscus (e.g Lescure, 1972; Sazima, 1975; Martins, Tulsa.2003. 1988) apenas foram descritos os tipos e funções dos cantos, mas SYNTRILLUM SOFTWARE CORPORATION, Phonix. USA. 1996. em nenhum deles foi explorada a variação individual dos cantos em SULLIVAN, B. K. 1982. Significante of Size, Temperature and cada população, o que torna este estudo pioneiro. Conhecendo as Call Attributes to Sexual Selection in Bufo woodhousei australis. variações individuais nos cantos e os fatores determinantes destas Journal of Herpetology 16 (2):103-106. variações, estudos referentes às interações entre machos e princi- palmente à escolha das fêmeas por determinados machos poderão WELLS, K. D.; TAIGEN, T. L.; O´BRIEN, J. A. 1996. The effect of ser realizados. temperature on calling energetics of the spring peeper (Pseudacris (Agradecimentos: FAPESP e O Boticário) crucifer). E. J. Brill, Leiden. Amphibia-Reptilia 17: 149-158. 5. Referências bibliográficas CASTELLANO, S.; ROSSO, A.; DOGLIO, S.; GIACOMA, C. 1999. Body size and calling variation in the green toad (Bufo viridis).

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 471 Cerrado Volume I

Ecologia de Comunidades de Anfíbios Anuros da Mata Grande); as observações também se realizaram ao longo de Região de São Miguel do Araguaia, Estado de Goiás. corpos d’água, em uma represa, áreas alagadas, em matas e campos. Hugo Antunes Lima1; Leôncio Pedrosa Lima2; Thiago Barbosa e Os pontos amostrais foram marcados e divididos de acordo com Silva1; Carolina Fernandes Canedo1; Lorena Dall´Ara Guimarães3,4 seus ambientes: (A) brejo associado ao cerrado sensu strictu,, ponto (1.Universidade Católica de Goiás [email protected]; 1 ; (B) brejo associado a mata de galeria, ponto 2; (C) mata de 2. Museu Antropológico/Laboratório de Arqueologia da Universida- galeria, ponto 3; (D) brejo alterado, pontos 4, 5, 6 e 7 . de Federal de Goiás; 3.Universidade Estadual de Goiás; 4.Universi- Foi estabelecido, 120 minutos de esforço de procura para cada dade Federal de Goiás). ponto amostral. Algumas vezes foram percorridos mais de um pon- to por noite, e neste caso o trabalho durava até o fim das atividades 1. Introdução de vocalizações da maioria das espécies de anfíbios. Uma comunidade pode ser caracterizada pelas espécies que ocu- A técnica usada para a obtenção dos dados quantitativos, é a pam um mesmo espaço e tempo, interagindo intra e de procura/captura por unidade de tempo (Campbell & Christman, interespecificamente (Begon, et. al. 1988; Ricklefs & Schluter, 1993). 1982). Os anfíbios coletados manualmente, foram posteriormente Em alguns ecossistemas, os anfíbios são os vertebrados mais acondicionados em sacos plásticos contendo um pouco de ar e abundantes, de modo que sua ausência pode desestabilizar perigo- água. Em seguida foram transportados até a base de apoio para samente o funcionamento do resto da comunidade ecológica. serem triados, fixados em solução de formalina 10%, identificados Estudos recentes indicam que apenas cerca de 20% do bioma e quantificados. Posteriormente foram etiquetados e armazenados Cerrado ainda possuem uma vegetação nativa em estado relativa- em recipientes contendo solução de álcool 70%. mente intacto (Mantovani & Pereira, 1998). Em algumas áreas do A descrição dos sítios de vocalização (gramíneas, arbustos, Cerrado, no Centro-Oeste do Brasil, o empobrecimento das co- árvores, chão de mata, pedras ou poças) foi realizada no momento munidades de anuros tem sido registrado e pode ser atribuído à da captura dos anfíbios anuros. degradação dos ambientes pela ação do homem. Segundo Jim (1980), A identificação dos anuros foi realizada segundo bibliografia essas modificações produzidas pela ação do homem nas feições especializada (Cochran, 1955; Lutz, 1973; Heyer et al.,1990) e ambientais, conduzem via de regra, em direção a uma uniformiza- por comparação com indivíduos depositados em outras coleções. ção ambiental, isto é, redução das diferenças antes existentes pela Como auxílio para a identificação das espécies de anfíbios anuros, retirada total ou parcial da cobertura vegetal original, e em conse- utilizamos o recurso de gravar as vocalizações para que pudesse ser qüência há tendência para redução no número de espécies e au- feita a comparação com gravações anteriores. mento da abundância de algumas delas. 3. Resultados É de vital importância conhecer os mecanismos de interação Foram encontradas nos 4 ambientes, 20 espécies, distribuídos das comunidades de anfíbios com seu ambiente, saber quais as em 8 gêneros de 3 famílias. espécies mais resistentes à interferência do homem e saber quais Das 20 espécies de anfíbios registradas nos quatro ambientes, aquelas que só ocorrem em ambientes preservados, assim, será 40% foram encontrados no brejo associado a cerrado sensu strictu, possível conhecer as espécies que estão sendo ameaçadas de extinção, 50% no brejo associado à mata de galeria, 30% na mata de galeria além de caracterizar algumas outras como indicadoras de qualida- e 90% no brejo alterado. Foram 6 espécies encontradas em somen- de ambiental (Feio, 1990). te um ambiente, Hyla cruzi, Phillomedusa hipocondrialis, Physalaemus O conhecimento sobre os répteis e anfíbios do Cerrado ainda fuscomaculatus e Elachistocleis ovalis (em brejo alterado) , Hyla nana é restrito e novas descobertas vêm sendo realizadas nos últimos (em brejo associado a mata de galeria) e Leptodactylus podicipinus anos, incluindo um significativo número de espécies endêmicas (em mata de galeria) este último foi registrado somente sua (Araújo & Coli, 1998). Marinho-Filho (1998), estima que existem vocalização, pois nenhum indivíduo foi coletado. As espécies Scinax cerca de 113 espécies de anfíbios no Cerrado, e destas, 32 espécies gr. rubra, Leptodactylus fuscus e Physalaemus cuvieri foram encontra- seriam endêmicas. das em todos os ambientes. O presente estudo foi realizado no município de São Miguel As duas famílias mais representativas em relação ao número de do Araguaia, localizado ao norte do Estado de Goiás (13o16’30”S espécies foram Hylidae e Leptodactylidae, com 12 e 7 espécies e 50o10’00”W), fazendo parte da Bacia Hidrográfica do Araguaia, respectivamente. A outra família, Microhylidae foi representada mais precisamente da região do Médio Araguaia. por apenas 1 espécie. Em porcentagem, esses dados seriam 60%, Nenhuma lista ou estudo sobre comunidades de anuros en- 35% e 5%, respectivamente. contra-se disponível na literatura sobre o município de São Miguel As espécies mais freqüentes na região foram: Scinax do Araguaia. Na tentativa de suprir esta falta de informações, o fusfomarginatus, Pseudopalludicola saltica, Pseudis bolbodactyla, presente trabalho teve como objetivo realizar o levantamento da Physalaemus cuvieri e Hyla nana; e as espécies que apresentaram as fauna de anuros em quatro fisionomias de Cerrado da região, ca- menores freqüências foram: Leptodactylus podicipinus, Physalaemus racterizando os ambientes e micro-ambientes ocupados pelas es- fucomaculatus, Hyla gr. Pulchela, Elachistocleis ovalis e Leptodactylus pécies registradas. ocellatus. As espécies de ocorrências mais constantes foram: 2. Metodologia Physalaemus cuvieri, Scinax gr. rubra e Leptodactylus fuscus; e as me- Este estudo foi realizado durante os períodos de chuva, nos nos constantes foram: Leptodactylus podicipinus, Physalaemus meses de Janeiro de 2002, e Fevereiro de 2003. Cada turno de fuscomaculatus e Elachistocleis ovalis . observação foi iniciado aproximadamente entre as 1800h e 1900h, As espécies consideradas mais abundantes foram: Scinax pouco antes do pôr do sol (quando os machos de muitas espécies fuscomarginatus, Pseudis bolbodactyla e Pseudopalludicola saltica. As de anuros iniciam suas atividades de vocalização). Não foram con- espécies consideradas menos abundantes (raras) foram: Hyla sideradas as alterações estabelecidas pelo horário de verão. albopunctata, H. multifasciata, H. gr. rubra, Phillomedusa As coletas e observações foram realizadas em quatro ambien- hipocondrialis, Leptodactylus ocellatus, L. podicipinus, Physalaemus tes: sendo três tipos fisionômicos de Cerrado; brejo associado ao fuscomaculatus e Elachistocleis ovalis. Cerrado sensu strictu, brejo associado à mata de galeria e mata de Analisando-se os dados por ambientes, podemos determinar galeria; e em uma área antropizada, o brejo associado à pastagem. que o ambiente que apresentou maior índice de diversidade foi o As áreas escolhidas para este trabalho compreenderam poças tem- ambiente de brejo alterado, seguido pelo brejo associado à mata de porárias localizadas ao lado de estradas, ou em fazendas (Fazenda galeria, depois pela mata de galeria e por último pelo brejo associ- Formiga, Fazenda Uberlândia, Fazenda das Tartarugas e Fazenda ado ao Cerrado sensu strictu; utilizando-se da mesma fórmula apli-

472 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado cada por ponto de coleta, o ponto com o maior índice de diversi- RICLEFS, R.E. & SHLUTER, D. Species diversity in ecological dade foi o ponto 7 (brejo alterado), seguido pelo ponto 2 (brejo communities. University of Chicago Press. Chicago, Illinois, associado a mata de galeria), com o mesmo índice o ponto 3 (mata USA. 1993. de galeria) e o ponto 5 (brejo alterado), seguido pelo ponto 6 Apoio Financeiro: Universidade Estadual de Goiás) (brejo alterado), depois pelo ponto 4 (brejo alterado) e por último o ponto 1 (brejo associado ao Cerrado sensu strictu). Efeitos de diferentes graus de herbivoria no Através do dendograma obtido pelo índice de similaridade de Sorensen, observamos que os pontos 3 e 4 (mata de galeria e brejo crescimento e na reprodução de Davilla elliptica alterado) são os mais próximos em relação a similaridade de fauna, (Dilleniaceae) em cerrado do Distrito Federal seguido pelos pontos 1 e 7 (brejo associado à cerrado sensu strictu e Iracema S. Coutinho¹ & Helena C. Morais² brejo alterado), que também se aproximam bastante do ponto 2 (brejo 1. Programa de Pós Graduação em Ecologia, Universidade de associado a mata de galeria); todos esses juntos formam um grupo que Brasília é bem diferenciado daquele encontrado nos pontos 5 e 6 (ambos brejo 2. Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade de alterado), sendo este último o mais diferenciado de todos. Brasília [email protected] 4. Conclusão No município de São Miguel do Araguaia, foram registradas a 1. Introdução presença de 20 espécies de anfíbios anuros, distribuídos em 8 gêne- A herbivoria, medida como proporção de área foliar consumida, ros de 3 famílias. raramente excede 20% em comunidades florestais ficando em mé- O ambiente de brejo alterado mostrou-se possuidor dos mai- dia em torno de 7% em florestas temperadas, 11% em florestas ores valores de diversidade de espécies. Os demais ambientes, se tropicais úmidas e em 14% em florestas tropicais secas (Coley & mostraram bastantes homogêneos em sua fauna de anuros. Barone, 1996). Em cerrado a proporção média de área foliar Segundo o índice de similaridade de Sorensen, os pontos mais consumida foi 6,8% (Marquis et al., 2001, 2002). Apesar de uma similares, quanto as espécies registradas, foram os pontos 3 e 4, perda anual de 10% da área foliar não parecer extrema ela é sufici- embora sejam ambientes diferentes, ambos possuem mata de gale- ente para reduzir a aptidão da planta, como mostrado para uma ria, em menor ou maior grau de degradação, que possivelmente espécie de Piper em que uma desfoliação experimental de 10% deve exercer algum tipo de influência sobre a anurofauna; e depois resultou em redução de crescimento, de produção e de viabilidade os pontos 1 e 7, que também são ambientes diferentes, mas devem de sementes (Marquis 1992). ser influenciados por áreas de pastagem que se encontram próxi- O uso de diferentes graus de desfoliação experimental no exa- mas aos pontos. me dos efeitos de herbivoria em plantas é bastante comum na Ocorreram espécies que só foram registradas em ambientes literatura (p. ex., Dominguez & Dirzo, 1994; Nascimento & Hay, naturais (Hyla nana e Leptodactylus podicipinus), ou seja, não ocor- 1994). Davilla elliptica (Dilleniaceae), conhecida popularmente reram em ambientes antropizados, esse dado pode ser um indicativo como lixeirinha, é um arbusto muito comum em cerrados do Dis- dessas espécies como bioindicadores de qualidade ambiental. trito Federal. Essa planta é fortemente atacada por lagartas de um 5. Referências Bibliográficas lepidóptero, Pycnotena sp. (Zygaenidae). Esse lepidóptero é local- ARAÚJO, A. & COLI, G. Répteis e anfíbios. In: Ações Prioritárias mente especializado nessa planta hospedeira. Suas lagartas são Para a conservação do Cerrado e Pantanal (Relatório Técnico), gregárias, com grupos de até 150 indivíduos, e raspam o parênquima FUNATURA, Conservation International, Biodiversitas, Brasília: foliar deixando intactas as nervuras o que resulta em folhas secas e UnB\GEF\MMA\CNPq. P.21-48, 1998. com um aspecto rendilhado. O ataque de Pycnotena sp. varia muito entre os indivíduos de D. elliptica e, em menos de um hectare de BEGON, M.; HARPER, J.L. & TOWNSEND, C.R. Ecology: cerrado, é possível encontrar indivíduos não atacados até indivídu- individuals, populations and communities. 3 ed. Oxford: Blackweel os com praticamente 100% das folhas consumidas. D. elliptica é Science, 1068p., 1996. decídua, perdendo suas folhas na segunda metade da estação seca COCHRAN, D. M. Frogs of Southeastern Brasil. Bulls. U.S. Nat. (jun.-set.) e o ataque de lagartas ocorre principalmente no final da Mus. 206: 1-423 + xviii, 1955. estação de chuvas e início da estação seca (fev.-maio) (Righetti, FEIO, R.N. Aspectos biotecnológicos dos anfíbios registrados no parque 1992). Essas características tornam o sistema Davilla-Pycnotena Estadual de Ibitipoca, Minas Gerais (Amphibia, Anura). Rio de Janei- interessante para o estudo dos efeitos da herbivoria natural na ro: Museu Nacional do Rio de Janeiro: UFRJ, 1990 – 114p. (Dis- planta hospedeira. sertação de Mestrado em Zoologia) – Museu Nacional do Rio de Nesse trabalho foram investigados os efeitos de diferentes graus Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990. de herbivoria natural no crescimento e na reprodução de Davilla HEYER, W.R.; RAND, A. S.; CRUZ, C.A.G.; PEIXOTO, O.L. & elliptica. NELSON, C. E. Frogs of Boracéia. Arq. Zool. 31(4): 231-410, 1990. 2. Metodologia O trabalho foi realizado na Fazenda Água Limpa (15º 56’S- JIM, J. Aspectos ecológicos dos anfíbios registrados na região de Botucatu 44º 55’W), uma estação experimental da Universidade de Brasília, (Amphibia,Anura). Tese de Doutorado, 332 pp. Universidade de de abril de 2001 a outubro de 2002. Em uma área de cerrado sensu São Paulo, 1980. stricto, com cerca de 1 ha, foram marcados 190 indivíduos de D. LUTZ, B. Brazilian specie of Hyla. Univ. Texas Press, Austin, p.1- elliptica maiores que 30 cm de altura. Em cada planta foi marcado 260 + xviii, 1973. um ramo que foi acompanhado durante todo o trabalho, sendo MATOVANI, J. E. & PEREIRA, A. Estimativa da integridade da medido o comprimento a partir da inserção no caule principal, o cobertura vegetal de Cerrado através de dados TM/Landsat. INPE – número de folhas e o de inflorescências. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São José dos Campos/ A herbivoria foi medida nas folhas de cada ramo quando as SP. Brasil. (in press). 1998. mesmas estavam velhas e secas (ago/01 e jul/02). Os ramos foram MARINHO-FILHO, J. Mamíferos. In: Ações Prioritárias Para a separados em classes de proporção de dano foliar, sendo (1) sem conservação do Cerrado e Pantanal. (Relatório Técnico), dano, (2) até 30%, (3) de 31 a 60% e (4) maior que 60%. De 2000 FUNATURA, Conservation International, Biodiversitas, Brasília: para 2001 as plantas sofreram um forte ataque de herbívoros e, no UnB\GEF\MMA\CNPq. P.5-20, 1998. inicio do estudo, em mar.-abr./01 vários indivíduos estavam com folhas secas. Essas folhas caíram e ocorreu produção de folhas em

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 473 Cerrado Volume I abr.-maio/01. Essa herbivoria inicial foi estimada e os indivíduos mento e produção de folhas nos ramos com maior dano. Também foram separados nas mesmas classes de dano foliar apresentadas não mostrou uma resposta de super compensação como a encon- acima. Essa herbivoria foi considerada com da estação de 2000. trada em outras plantas (Agrawal, 2000), mas os resultados de As plantas iniciaram o período reprodutivo em junho-julho de produção de folhas em 2001 sugerem que isso pode eventualmente 2001 e de 2002. O número de inflorescências por ramo marcado ocorrer. Por outro lado, uma maior herbivoria reduz a produção de foi contado e foi marcada uma inflorescência em que foi acompa- estruturas reprodutivas em D. elliptica. nhado o número de botões, flores, frutos e sementes produzidos. 4. Conclusões Foram analisados os efeitos da herbivoria da estação anterior Trabalhos sobre efeitos de herbivoria foliar em plantas são no crescimento, no número de folhas e de inflorescências produzi- freqüentemente feitos com desfolhação experimental. Nesse traba- das na estação seguinte. Foram analisados, ainda, os efeitos do lho esses efeitos são investigados em um sistema com herbivoria crescimento e produção de folhas no ataque subseqüente de herbí- natural causados por um lepidóptero especialista. D. elliptica sofre voros na mesma estação, investigando se Pycnotena sp. apresenta uma proporção de dano foliar muito maior que a média obtida preferência por ramos mais vigorosos. para outras espécies de plantas do cerrado. 3. Resultados e Discussão Ramos com mais de 60% de área foliar consumida não mos- A intensidade de dano foliar nos ramos marcados variou entre tram diferenças na produção de folhas e no crescimento quando estações, sendo maior em 2000, quando 45% dos ramos sofreram comparados com ramos com menores proporções de dano foliar. mais de 60% de herbivoria, e menor em 2001, quando 79% dos Por outro lado, ramos com mais de 60% de área foliar consumida ramos não sofreram herbivoria. A produção de folhas em ramos produzem menos inflorescências e menos botões por inflorescência que sofreram diferentes graus de herbivoria na estação anterior não do que aqueles com menor proporção de dano foliar. diferiu significativamente para 2000/2001 (F[3,186] = 0,78 p = 0,059) 5. Referências Bibliográficas e para 2001/2002 (F[3, 186] = 0,31 p = 0,815). Altos níveis de Agrawal, A. A. 2000. Overcompensation of plants in response to herbivoria foliar não afetaram o crescimento dos ramos na estação herbivory and the by-product benefits of mutualism. Trends in (p > 0,83 para 2000/01 e para 2001/02). Esses resultados indicam Plant Science, 5: 309-313. que uma maior intensidade de herbivoria não afeta o crescimento Barone, J. A. 1998. Host-specificity of folivorous insects in a moist vegetativo de D. elliptica. Eventualmente uma intensa herbivoria tropical forest. Journal of Animal Ecology 67: 400-409. que leva as plantas a uma substituição de folhas no final da estação de chuvas, como a ocorrida no início deste estudo, pode aumentar Coley, P. D. & Barone, J. A. 1996. Herbivory and plant defenses in a produção de folhas na estação seguinte, como sugerido pelo valor tropical forests. Annual Review of Ecology and Systematics, 27: marginal de p na comparação de 2000/01. Ramos com mais de 305-315. 60% de dano foliar produziram em média 4 folhas, enquanto ra- Dominguez, C. A. & Dirzo, R. 1994. Effects of defoliation on mos sem dano produziram em média 2 folhas. Erythroxylum havanense, a tropical proleptic species. Ecology, 75: Houve uma diferença significativa no número de inflorescências 1886-1902. produzidas em ramos das diferentes classes de dano foliar para Marquis, R. J. 1992. A bite is a bite is a bite? Constraints on 2001 e para 2002 (p < 0,001), sendo que os ramos com mais de response to folivory in Piper arieianum (Piperaceae). Ecology, 73: 60% de herbivoria foliar produziram menos inflorescências. Essa 143-152. diferença permaneceu significativa (p < 0,02) para o número de Marquis, R. J.; Diniz, I. R. & Morais, H. C. 2001. Patterns and botões produzidos por inflorescência nos dois anos, bem como correlates of interspecific variation in foliar insect herbivory and para a produção de flores, frutos e sementes em 2001. Entretanto, pathogen attack in Brazilian cerrado. Journal of Tropical Ecology, a produção de flores e frutos não foi significativamente diferente 17: 127-148. entre ramos com diferentes graus de herbivoria em 2002. Em 2001, em ramos que não sofreram herbivoria foliar o número médio de Marquis, R. J.; Morais, H. C. & Diniz, I. R. 2002. Interactions sementes produzidas por inflorescência foi 5, enquanto em ramos among cerrado plants and their herbivores: unique or typical? p. com mais de 60% de herbivoria essa média foi de 2 sementes. Os 206-328. In: R. J. Marquis & P. S. Oliveira (eds.) The cerrados of resultados indicam que um maior grau de herbivoria sofrido pelo Brazil: ecology and natural history of a neotropical savanna. ramo afeta negativamente a produção de inflorescências no mesmo Columbia University Press, New York. e pode afetar a produção de frutos e sementes por inflorescência. Nascimento, M. T. & Hay, J. D. 1994. The impact of simulated Não foram encontradas diferenças entre alturas médias das folivory on juveniles of Metrodorea pubescens (Rutaceae) in a plantas nas quatro classes de herbivoria para os dois anos. Não foi gallery forest near Brasilia, Federal District, Brazil. Journal of Tro- encontrada, também, uma relação entre a produção de folhas nos pical Ecology, 10: 611-620. ramos e a proporção de dano foliar subseqüente. Esses resultados Pessoa-Queiroz, R. 2003. História natural e comportamento de indicam que Pycnotena sp. não mostrou preferência por plantas Gonioterma exquisite Duckworth, 1964 (Elachistidae) em maiores nem por ramos mais vigorosos. Byrsonima pachyphylla Griseb (Malpiguiaceae). Dissertação de Apesar da herbivoria foliar média em cerrado, obtida para 25 Mestrado em Biologia Animal, Universidade de Brasília. espécies de plantas, ser pequena quando comparada com a de Riguetti, S. M. 1992. O papel do fogo na interação inseto-planta: outros ambientes (Marquis et al., 2002), os resultados apresenta- dos aqui mostram que Davilla elliptica sofre uma forte herbivoria. A danos foliares e regimes de queima. Dissertação de Mestrado em alta proporção de área foliar consumida pode estar relacionada Ecologia, Universidade de Brasília. com o fato de que o principal herbívoro desta planta é um inseto monófago. Barone (1998) mostrou que lagartas especialistas cau- Germinação de sementes de capim dourado: sam maior dano foliar às plantas hospedeiras do que lagartas “sempre-viva” utilizada na confecção de artesanato generalistas, um resultado similar ao obtido por Pessoa-Queiroz no Jalapão – TO (2003) que trabalhou com lagartas em um espécie de Malpighiaceae Isabel B. Schmidt1; Felipe L.B. Câmara2 & Aldicir Scariot3 na mesma área de cerrado em que foi desenvolvido este estudo. 1-Mestranda em Ecologia- UnB, Analista Ambiental – Núcleo de Os danos causados por Picnotena sp. em D. elliptica varia muito Plantas Medicinais e Aromáticas/Ibama ([email protected]); 2– entre indivíduos e varia, também, entre anos. No geral, D. elliptica estagiário– Núcleo de Plantas Medicinais e Aromáticas/Ibama; 3- não mostra uma resposta negativa à herbivoria quanto ao cresci- Pesquisador Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

474 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

1. Introdução 3. Resultados e discussões O Cerrado é a maior e mais rica savana do planeta, sendo tam- Esta espécie de Syngonanthus tem sementes menores que 1mm, bém a mais ameaçada. Com apenas 1,2% de sua superfície em Uni- dispostas duas a duas em cada lóculo dos frutos. As sementes apre- dades de Conservação, o Cerrado está listado entre os 25 Hotspots de sentam formato elíptico, coloração castanho-clara e padrão de biodiversidade mundiais. (Mittermeier et al.,2000; Myers et al., 2000). escultura estriado. O Jalapão, leste do estado de Tocantins, é uma das poucas Sementes coletadas em diferentes épocas de 2002 (agosto a áreas em que o Cerrado ainda se encontra em bom estado de dezembro) têm diferenças de coloração. Sementes colhidas em conservação (MMA, 1999). As recém-criadas UCs da região- Esta- agosto parecem estar imaturas, em relação às coletadas a partir de ção Ecológica Serra Geral do Tocantins, (716.306 ha., criada em setembro. setembro/2002) e Parque Estadual do Jalapão (PEJ), (158.885 As sementes colhidas no ano de 2001 estavam inviáveis (viabi- ha., criado em janeiro/2001) - representam a maior área contígua lidade de sementes não germinadas aferida com teste Tetrazólio), o em UCs no Cerrado (Silva & Bates, 2002). que indica que a longevidade das sementes desta espécie é menor A economia da região baseia-se tradicionalmente na pecuária que 18 meses. Este resultado difere do encontrado para extensiva, agricultura de subsistência e, mais recentemente, no Syngonanthus curralensis e S. mucugensis, que têm sementes mais artesanato de capim dourado, que vem se tornando conhecido e longêvas (A.M.Giulietti, comunicação pessoal). vendido em centros urbanos em todo país (CI Brasil, 2002). A germinação das sementes iniciou após sete dias de embebição, O capim dourado (Syngonanthus sp.), Eriocaulaceae, é uma mas não foi simultânea, havendo sementes que germinaram após “sempre-viva”, que ocorre em áreas intermediárias de umidade nos 30 dias de embebição, sendo mais lenta e mais dispersa ao longo do campos úmidos do Jalapão (Scariot et al., 2002). O incremento da tempo que outras espécies de Syngonanthus (A.M.Giulietti, comu- divulgação e venda do artesanato, antes confeccionado apenas por nicação pessoal; Scatena et al.,1996). mulheres da comunidade negra de Mumbuca, tem causado grande A germinabilidade das sementes coletadas entre agosto e de- aumento no número de artesãos e coletores, bem como da pressão zembro de 2002 foi alta (84 a 100%). Não houve diferença signi- de coleta de escapos (CI Brasil, 2002). ficativa entre a germinação das sementes dos quatro lotes observa-

Apesar da importância social e econômica das sempre-vivas, há dos (Kolmogorov-Smirnov, p>0.10; -0,5=dmáx=0; n=4) (Zar, 1999). escassez de informações científicas sobre a biologia e ecologia deste Quantificações preliminares do número de sementes por capí- grupo de plantas (Giulietti, 1996, Scatena, 1996). Associado a tulo mostraram que não há diferença entre o número de sementes isto, a grande pressão de coleta sobre os escapos e inflorescências em capítulos coletados entre agosto e outubro (cerca de 50 semen- no Brasil, fez que algumas sempre-vivas constem em listas de espé- tes/capítulo, n=10 capítulos/lote). Por outro lado, os escapos cies ameaçadas de extinção (Mendonça & Lins, 2000). coletados em dezembro já tiveram grande parte das sementes dis- A exploração sem controle, associada à falta de métodos de persas (média de 2,7 sementes/capítulo, n=10), o que indica que a manejo sustentável, traz prejuízos não só à conservação das espéci- colheita de escapos de capim dourado pelos extrativistas é feita es e seus habitats, mas também às populações humanas que as antes da dispersão dos propágulos. exploram. Formas de manejo e cultivo de sempre-vivas na nature- 4. Considerações finais za, bem como estudos científicos que tenham por objetivo Os resultados obtidos até o momento, indicam que o potenci- desenvolvê-las, são atualmente incipientes (Giulietti,A.M., comu- al de produção de plântulas de Syngonanthus sp. a partir de semen- nicação pessoal). tes, nos campos úmidos do Jalapão, é elevado. A alta germinabilidade Caracterizar a germinação de sementes de capim dourado é das sementes de capim dourado é semelhante à de outras espécies importante para o desenvolvimento de técnicas de cultivo e mane- do mesmo gênero, por outro lado, a longevidade das sementes é jo do Syngonanthus sp. na região do Jalapão, o que pode contribuir menor que a de outras espécies de Syngonanthus (A.M.Giulietti, para a sustentabilidade social, econômica e ecológica da atividade comunicação pessoal; Scatena et al.,1996). artesanal na região. A colheita de escapos para confecção de artesanato de capim Este estudo teve por objetivo caracterizar a germinação de dourado ocorre antes do período de maior dispersão de sementes, sementes de Syngonanthus sp. colhidas em diferentes épocas do ano o que pode prejudicar a reprodução sexuada da espécie, visto que de 2002. grande parte das sementes é retirada dos campos úmidos, junta- 2. Métodos mente com os escapos e inflorescências. Inflorescências de capim dourado foram obtidas com artesãs Este estudo foi feito com sementes coletadas por artesãos da em comunidades da região do Jalapão (Mumbuca, Carrapato e região do Jalapão, não tendo havido controle preciso sobre a ori- área urbana de Mateiros). Foram separadas em três lotes, de acor- gem e época de colheita dos escapos. Por isto, a representatividade do com a época de colheita declarada pelas artesãs: agosto; setem- da amostra em relação à população de Syngonanthus sp. no Jalapão bro/outubro e outubro. Um quarto lote consistia de inflorescências deve ser tomada com cautela. Por outro lado, os resultados obtidos coletadas em dezembro de 2002, em diversos campos úmidos. podem ser utilizados como norteadores das atividades de colheita Inflorescências coletadas durante a época colheita (agosto-outu- para o ano de 2003, bem como para futuros trabalhos sobre a bro) do ano de 2001 também foram utilizadas neste experimento ecologia da espécie, visando-se o desenvolvimento de técnicas de (lote: 2001). manejo do capim dourado nos campos úmidos do Jalapão. Excetuando-se o lote de dezembro de 2002, as inflorescências 5. Referências Bibliográficas coletadas foram obtidas com artesãs (que conservam escapos de Conservation Internatonal do Brasil – CI Brasil, 2002. Jalapão: capim dourado entre as vigas e o telhado de suas residências) em Uso de recursos naturais. Relatório Final de Atividades: Edital junho de 2002 (lote 2001) e em dezembro de 2002 (lotes: agosto, 003/2001, FNMA/ PROBIO – Uso sustentável de recursos no setembro/outubro e outubro) e foram armazenadas desde então em entorno de Unidades de Conservação. sacos plásticos. Giulietti,N., Giulietti,A.M., Pirani,J.R. & Menezes,N.L. 1988. As sementes foram retiradas das inflorescências e dispostas em Estudos em sempre-vivas: importância econômica do extrativismo caixas Gerbox, com algodão umedecido e papel de filtro e levadas em Minas Gerasi, Brasil (1). Acta Bot. Bras. 1(2): 179-193. à câmara de germinação, com luz constante e temperatura de 25ºC. A germinação de 200 sementes (4x50) de cada lote foi verificada a Giulietti,A.M., Wanderley, M.G.L., Longhi-Wagner, H.M., Pirani, cada dois dias, a partir de 28 de abril de 2003, com auxílio de lupa. J.R. & Parra, L.R. 1996. Estudos em sempre-vivas: taxonomia com ênfase nas espécies de Minas Gerais, Brasil. Acta Bot. Bras.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 475 Cerrado Volume I

10(2):329-359. 2. Material e Métodos Mendonça, M. P. & Lins, L. V. (org.) 2000. Lista Vermelha das A espécie Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg., família Espécies Ameaçadas de extinção da Flora de Minas Gerais. Belo Hori- Myrtaceae, é uma espécie arbórea de ampla distribuição e que zonte, MG: Fundação Biodiversitas, Fundação Zoo-Botânica de ocorre em várias fitofisionomias do cerrado, que vão desde cerrado Belo Horizonte, MG. sensu stricto até cerradão, e presentes também em matas de galeria. O período de floração e frutificação, desta espécie, ocorre durante MMA,1999. Ações prioritárias para conservação da biodiversidade do a estação chuvosa, em geral ,entre outubro e fevereiro. Os frutos Cerrado e Pantanal. MMA, Funatura, Conservation International, são bagas globosas pequena (5 mm), contendo 1 a 4 sementes Fundação Biodiversitas e Universidade de Brasília. Brasília – DF. (Lorenzi, 1992). Mittermeier, R.A., Myers,N. & Myers,C.G., 2000. Hotspots: Earth’s O trabalho foi desenvolvido na Reserva Ecológica da Fazenda Biollogically Richest and Most Endagered Terrestrial Region Água Limpa (15°57' S e 47°57' O) pertencente a Universidade de Ecoregions.Mexico City, CEMEX. Brasília, entre os meses de outubro a dezembro de 2002. O estudo Myers,N., Mittermeier,R.A. & Mittermeier,G.C., Fonseca, G.A.B. foi conduzido em duas áreas distantes entre si e de vegetação dis- & Kent,J., 2000.Biodiversity tinta, uma em cerrado sensu stricto (vegetação savânica com estrato Hotspots for conservation priorities. Nature 403:853-858. arbóreo descontínuo e estrato herbáceo-arbustivo presente) e ou- tra no cerradão (ambiente florestal com cobertura arbórea entre Scariot, A., Cavalcanti, T.B., Sevilha, A.C., Sampaio, A.B., Silva, 50 e 90%). M.C. & Silva, G.P. 2002. Flora e Foram marcados dez indivíduos de Blepharocalyx salicifolius no Vegetação do Entorno do Parque Estadual do Jalapão (TO). cerrado sensu stricto e vinte e um indivíduos no cerradão ainda em Relatório de Atividades. floração (8 de outubro de 2002), em cada fitofisionomia. Foram Scatena, V.L., Lemos-Filho, J.P. & Lima, A.A.A.1996. Morfologia anotadas medidas morfométricas como, altura e diâmetro do cau- do desenvolvimento pós- le. A partir deste momento, foram acompanhados os períodos de seminal de Syngonanthus elegans e S. niveus (Eriocaulaceae). Acta formação e amadurecimento dos frutos. Bot. Bras. 10(1):85-91. As observações focais, foram realizadas no período da manhã e início da tarde (entre 05:30 e 13:00 h) totalizando 55 horas de Silva, J.M.C. & Bates, J.M., 2002. Biogeographic patterns and observação no cerrado sensu stricto e 46 horas no cerradão. As conservation in South American Cerrado: a tropical savanna hotspot. observações limitavam-se aos indivíduos de Blepharocalyx salicifolius Bioscience 52(3):225-233. que apresentassem frutos maduros (n = 3) no cerrado sensu stricto e Zar, J.H., 1999. Biostatistical Analysis. Fourth Ed., Prentice Hall, (n = 4) no cerradão. Durante o período de estudo, frutos verdes, New Jersey, USA. amarelos e alaranjados (quase maduros) e vermelhos (maduros) estiveram disponíveis na planta, exceto nos últimos dias. As obser- Frugivoria e Dispersão de Sementes de vações foram feitas a partir de pontos que distavam cerca de 10 Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg. em Duas metros da planta, com o auxílio de binóculos (8-20x). Fitofisionomias Distintas do Cerrado do Distrito Foram anotadas as espécies visitantes, a ocorrência ou não de Federal. consumo de frutos, a quantidade de frutos ingeridos, o tempo de duração da visitação e a forma de coleta e ingestão. As análises Iubatã Paula de Fariaa e Carolina Bernardesb, estatísticas utilizadas foram realizadas no programa estatísto SAS e aMestrado pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia, UnB o nível de significância adotado foi de 0,05. ([email protected]), bGraduação em Ciências Biológicas, UnB. 3. Resultados e Discussão Os indivíduos marcados de Blepharocalyx salicifolius apresenta- 1.Introdução ram altura média igual a 6,88 ± 0.37 metros no cerrado e 8,49 ± A interação entre árvores frutíferas, seus frugívoros e dispersores 0,48 no cerradão, diferindo significativamente (t0,05(2),29 = | 0.0414 é complexa, sendo influenciada por diversas características dos |). No cerrado sensu stricto, do total de dez espécies de aves registradas grupos de organismos envolvidos. A dispersão de sementes por como visitantes dos indivíduos de Blepharocalyx salicifolius, quatro animais, pode aumentar o sucesso reprodutivo da planta, ao remo- espécies foram observadas consumindo frutos da planta focal, sen- ver as sementes de um micro-habitat e transportá-las à sítios ade- do três da família Tyrannidae; Elaenia chiriquensis, Elaenia flavogaster, quados de germinação, em contrapartida a frugivoria pode signifi- Elaenia sp e uma da família Emberizidae, Dacnis cayana. car também a predação das sementes, o que diminuiria o sucesso No cerradão, foram registradas nove espécies de aves, sendo da planta (Janzen, 1983). Dentre os agentes dispersores de semen- que quatro consumindo frutos, Elaenia chiriquensis (Tyrannidae), tes, as aves desempenham um importante papel, primeiro pela Dacnis cayana, Tangara cayana (Emberizidae) e Amazona aestiva abundância do grupo e depois pela frequência com que se alimen- (Psittacidae). O único mamífero observado consumindo frutos tam de frutos (Sick, 1997; Motta-Júnior, 1991; Foster, 1987; dessa Myrtaceae foi o mico-estrela Callithrix penicillata, encontra- Jordano, 1983). do no cerradão em uma única ocasião. O casal de Callithrix penicillata O Cerrado do Brasil Central apresenta fitofisionomias distin- foi observado por volta das 11:00 h, permaneceu 5 minutos em tas, que variam desde formações campestres e savânicas até flores- uma planta focal e consumiu três frutos maduros. tais e caracteriza-se por duas estações climáticas bem definidas, Apesar de algumas espécies de aves terem sido observadas nas uma chuvosa e outra seca (Eiten, 1972). Apesar de se tratar de um plantas focal em ambas fitofisionomias, como é o caso de Dacnis ecossistema com distribuição ampla, trata-se de um dos biomas cayana e Elaenia chiriquensis, outras espécies como Elaenia flavogaster, menos conhecidos no continente sul-americano (Silva, 1995) e Tyrannus melancholicus, Tyrannus savana (Tyrannidae), Neothraupis com alguns poucos trabalhos relacionados à ornitocoria (Alves, fasciata (Emberizidae) foram observadas apenas em indivíduos de 1991; Gottsberger e Gottsberger, 1983; Silva, 1980). Blepharocalyx salicifolius do cerrado, e espécies de aves como, O objetivo deste estudo foi relatar as espécies de vertebrados, Dendrocolaptes platyrostris e Amazilia fimbriata, visitaram apenas principalmente aves, consumidores de frutos de Blepharocalyx plantas no cerradão. O que pode caracterizar espécies de frugívoros salicifolius em duas fitofisionomias distintas de cerrado (cerrado e dispersores distintos em cada fitofisionomias. sensu stricto e cerradão), bem como verificar o comportamento e o Quarenta e oito visitas foram registradas no cerrado sensu stricto. tempo de duração das visitações. O tempo médio de duração das visitas das aves na planta focal do

476 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado cerrado foi 35,65 ± 7,96 segundos (média ± erro padrão). No tação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília. cerradão, foram registradas vinte e uma visitas, e o tempo médio Silva, J.M.C. (1995). Avian inventory of the Cerrado region, South por visita igual a 110,43 ± 24,39 segundos. O tempo médio das America: Implications for biological conservation. Bird Conservation visitas das aves no cerradão é significativamente maior (t0,05(2),67 = | International 5:15-28. 3.646 |) quando comparamos ao cerrado. Elaenia chiriquensis foi a ave com maior número de registros de visitas e consumo de frutos Efeitos de Repelentes Naturais a base de Andiroba e em ambas as fitofisionomia, porém o tempo de visitação (17,50 ± 2,74 segundos) no cerrado sensu stricto e (27,50 ± 4,61 segundos) Citronela testados em fêmeas do mosquito Aedes no cerradão não foi diferente estatisticamente entre as aegypti Izabela M. Matosinhos; Álvaro E. Eiras, Camila M. Gonçalves, fitofisionomias (t0,05(2),20 = | 1.895 |). As espécies que consumiram os frutos de Blepharocalyx salicifolius Marilene D. Xisto & Michele G. Penna; podem ser considerados possíveis dispersores, pois consumiram Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]) apenas frutos maduros e disponíveis na copa da árvore e logo após o consumo saiam da planta focal. As espécies observadas, inclusive 1. Introdução Amazona aestiva, ingeriam a polpa inteira com as sementes, com O mosquito Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) é de grande exceção do mico-estrela Callithrix penicillata que aparentava masti- importância para o homem por ser o transmissor do dengue e da gar os frutos. febre amarela. Popularmente chamado de mosquito rajado, ele 4. Conclusão apresenta uma coloração escura, com faixas brancas nas patas e um Apesar do baixo número de registros de aves visitando desenho em forma de “lira” na parte dorsal do tórax (Eiras, 2000). Blepharocalyx salicifolius podemos ter algumas conclusões impor- Vive e se reproduz em ambientes com água limpa, próximos a tantes de acordo com os resultados deste estudo. A espécie Elaenia habitação humana. Coloca seus ovos na parede de recipientes com chiriquensis foi a ave que mais consumiu frutos de Blepharocalyx água, como: vasos, tambores, pneus, etc. Apenas as fêmeas picam e salicifolius nas duas fitofisionomias estudadas. Portanto, esta espé- sugam o sangue, pois elas necessitam de uma substância presente cie pode ser um importante dispersor das sementes desta planta. neste, a albumina, para completar o processo de amadurecimento Em relação ao consumo de frutos, apenas frutos vermelhos de seus ovos. O Aedes age preferencialmente durante o dia e se (maduros) foram consumidos. Frutos imaturos são discretos infecta ao picar uma pessoa que contenha o vírus, ficando apto a (esverdeados), porém durante o processo de amadurecimento transmiti-lo à população humana. O mosquito apenas transmite a mudam para uma coloração vermelha, aumentando a facilidade de doença, mas não sofre seus efeitos. Ao contrário da febre amarela, localização pelos frugívoros, portanto a probabilidade de uma se- ainda não existe vacina contra o dengue, o que dificulta ainda mais mente imatura ser ingerida é menor. o controle dessa doença. Em relação as espécies que consomem os frutos, o registro de O dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de Dacnis cayana no cerradão e no cerrado sensu stricto pode significar evolução benigna na forma clássica. É hoje a mais importante uma interação importante, já que trata-se de uma espécie de ave, arbovirose que afeta o homem e constitui sério problema de saúde bem mais associada a ambientes florestais. (Agradecimentos: Pro- pública no mundo, principalmente na maioria dos países tropicais, grama de Pós-graduação em Ecologia, UnB) onde o clima e os hábitos urbanos criam as condições que favore- 5. Referências Bibliográficas cem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, o mosqui- to vetor. Alves, M.A.S. (1991). Dieta e táticas de forrageamento de O controle dos Culicidae, como quase todos os insetos, é um Neothraupis fasciata em cerrado no Distrito Federal, Brasil problema ainda a ser resolvido. Os culicídeos são mosquitos de (Passeriformes:Emberizidae). Ararajuba 2:25-29. grande plasticidade genética o que faz com que estes insetos adqui- Eiten, G. (1972). The Cerrado vegetation of Brazil. The Botanical ram rapidamente resistência aos inseticidas usados inadequada- Review 38(2):201-341. mente. O uso de repelentes pode ser uma alternativa para a prote- Foster, M.S. (1987). Feeding methods and efficiencies of selected ção pessoal, por esse motivo, numerosas substâncias estão sendo frugivorous birds. Condor89:566-580. testadas com esse intuito. Gottsberger, G. e Gottsberger, I. S. (1983). Dispersal and A citronela (Cymbopogon nardus) tem um cheiro que lembra o distribution in the Cerrado Vegetation of Brazil. Sonderbd. eucalipto, sendo a planta muito parecida com o capim. Seu valor Naturwiss. Ver. Hamburg, 7: 315-352. comercial encontra-se na essência, extraída das folhas, que tem propriedades repelentes de insetos. O método industrial de extra- Janzen, D.H. (1983). Dispersal of seed by vertebrates guts, pp.232- ção do óleo essencial da citronela é conhecido como “arrasto de 262. In: Futuyma D.J. e Slatkin, C. (eds), Coevolution. Sinauer, vapor”. As folhas são colocadas em um recipiente e passam a rece- Sunderland, 555 p. ber vapor d’água constantemente. A água é aquecida em uma cal- Jordano, P. (1983). Fig-seed predation and dispersal by birds. deira. Ao passar pelas folhas da citronela, o vapor leva junto o óleo Biotropica 15:38-41. essencial, separado da água, em seguida, por condensação. Lorenzi, H. (1992). Árvores Brasileiras.Nova Odessa: A andiroba (Carapa sp.) é uma árvore de grande porte podendo Plantarum, 352 p. atingir até 30 metros de altura. Pertence à família do mogno e é Motta-Júnior, J.C. (1991). A exploração de frutos como alimento por muito comum nas várzeas da Amazônia. As flores têm cor creme e aves de mata ciliar numa região do Distrito Federal. Tese de mestrado, o fruto é uma cápsula que se abre quando cai no chão, liberando de UNESP, Rio Claro. quatro a seis sementes, de onde é extraído o óleo de andiroba, com propriedades repelentes. Ribeiro, J. F. e Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do Bioma O presente estudo tem como objetivo testar repelentes natu- Cerrado, pp 89-152. In: Sano, S. M. e Almeida, S. P. Cerrado – rais na orientação de fêmeas do Aedes aegypti, como uma forma de Ambiente e Flora. EMBRAPA/CPAC. Planaltina, DF. 556 p. prevenção às picadas desse mosquito. Sick, H. (1997). Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, Rio de 2. Métodos Janeiro, 862 p. Criação de insetos: O primeiro passo foi acompanhar o desen- Silva, E.M.D. (1980). Composição e comportamento de grupos volvimento do mosquito, que possui metamorfose completa. Os heteroespecíficos de aves em área de cerrado, no Distrito Federal. Disser- ovos foram colocados para eclodir em água, dando origem às larvas

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 477 Cerrado Volume I aquáticas, que passam pelos estágios L-1, L-2, L-3 e L-4, para cada pessoa, observou-se uma tendência da mão esquerda atrair depois virarem pupas, fase na qual é feita a separação por tamanho mais insetos do que a mão direita, apesar da alternância na coloca- entre machos e fêmeas, já que as pupas de fêmeas são consideravel- ção das mãos no aparelho olfatômetro, com o intuito de se evitar mente maiores que as dos machos. Essa etapa desde a eclosão dos alguma tendência dos insetos irem sempre para o mesmo local ovos até a obtenção das pupas dura cerca de 10 a 15 dias, e a independente da diferença ente os odores. Por esse motivo, optou- separação em vários recipientes, para evitar a competição por espa- se por passar o repelente na forma de creme na mão esquerda de ço entre as larvas pode diminuir o tempo deste processo. Quando cada pessoa, para possibilitar uma melhor evidência da ação do estão no estágio larval os insetos são alimentados com uma ração produto testado. especial para larvas, colocada no fundo do recipiente com água, Os resultados obtidos com os cremes a base de citronela (con- onde se encontram. Já no estágio de pupa os insetos não se alimen- centrações de 10 % e 50 %) demonstraram um alto grau de tam, ficando apenas suspensos em água pura. Cerca de 48 horas repelência, comprovando, assim, a grande eficiência dos mesmos. após empuparem começam a aparecer os primeiros adultos, que Já a andiroba 50 % mostrou-se mais eficaz do que o creme com 10 são mantidos em uma gaiola e alimentados com uma solução açu- % de concentração, mas ambos foram inferiores aos resultados carada. Para obter uma melhor resposta ao odor humano, esperou- alcançados com a citronela, que mais se aproximaram à eficiência se que os adultos completassem uma semana de vida, para que os do Autan ® (Bayer), que já havia sido comprovada. testes fossem realizados. A utilização desses produtos naturais deve ser incentivada pelo Repelentes: foram testados cremes inodoros com diferentes fato de apresentarem uma solução ecológica para afugentar moscas concentrações de citronela e andiroba, plantas que segundo a cren- e mosquitos, sem a liberação de substâncias tóxicas no meio ambi- dice popular e alguns estudos já realizados, cumprem a função de ente, servindo como uma forma eficaz para a proteção pessoal à repelir insetos. Como grupo controle foi usado o produto industri- picadas de insetos que podem ser transmissores de doenças, como alizado Autan ® (Bayer), cuja eficiência para repelir insetos já foi é o caso do Aedes aegypti. comprovada através de estudos. 5. Referência Bibliográfica Bioensaios: Foi utilizado o olfatômetro de dupla escolha (Geier Eiras, A.E. 2000. Família Culicidae. in Parasitologia Humana, et al, 1999), que permite testar a resposta dos insetos a diferentes Atheneu, 10ª ed. odores. Para evitar a influência de outros odores que não fosse o Geier, M. & J. Boeckh 1999. A new Y-tube olfactometer for humano, as mãos foram lavadas com sabonete neutro inodoro duas mosquitoes to measure the attractiveness of host odours. horas antes de começarem os testes e nenhum outro produto foi Entomologia Experimentalis et Applicata, 92, 09-19. utilizado nestas. Inicialmente se realizaram os testes de atratividade das mãos direita e esquerda de cada pessoa envolvida no estudo. Marcondes, C.B 2001; Entomologia Medica e Veterinária, Atheneu. Para isso foram feitas quatro repetições, alternando-se a colocação das mãos nos locais apropriados, para evitar a tendência dos mosqui- Estrutura da ictiofauna em um lago na planície tos. Cada pessoa testou um repelente em forma de creme, passando- inundável do Rio das Mortes – MT o na mão esquerda e repetindo quatro vezes os testes, sempre alter- Jane Dilvana Limaa, Vangil Pinto-Silvab, Cesar Enrique de Meloa nando as mãos (estímulos olfativos) no olfatômetro. Com base nos a DCB-Laboratório de Ictiologia e Limnologia, Universidade do dados de atratividade de cada pessoa e o nível de repelência apresen- Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina-MT, tado pelos cremes, observou-se a eficiência de cada produto. ([email protected]) b PPG-Ecologia e Conservação da 3. Resultados Biodiversidade, IB/UFMT. A pessoa que realizou os testes com o grupo controle autan apresentou uma atratividade de 31 % na mão direita e 69 % na 1. Introdução mão esquerda. Após a aplicação do produto na mão esquerda, a A bacia amazônica possui a maior diversidade de peixes de mão direita passou a atrair 97 % dos mosquitos enquanto a esquer- água doce do mundo (Lowe-McConnell, 1999), e a maioria de da não atraiu nenhum mosquito. seus tributários também partilha esta característica (Santos e Em relação à Andiroba 10 %, a atratividade inicial foi de Ferreira, 1999). A bacia Araguaia-Tocantins, embora não esteja 37 % na mão direita e 63 % na mão esquerda. Com a aplica- diretamente ligada ao rio Amazonas, compartilha com este parte ção do produto na mão esquerda os números passaram a ser de importante da ictiofauna (Barthem e Goulding, 1997) em função 36 % na mão direita e 47 % na mão esquerda. Já a Andiroba de se conectarem na região do estuário amazônico e por outros com concentração de 50 % foi testada em uma pessoa que fatores históricos. apresentou 50 % de atratividade na mão direita e 44 % na Embora os trabalhos nesta bacia ainda sejam raros, os poucos mão esquerda. Após a aplicação do produto, a mão direita, realizados até o momento demonstram altos valores de riqueza e sem repelente, passou a atrair 79 % dos mosquitos, enquanto diversidade de espécies, especialmente em ambientes associados a a mão esquerda atraiu apenas 15 %. planícies de inundação (Tejerina-Garro et al., 1998; Melo, 2000). Os testes com Citronela 10 %, apresentaram uma atratividade O Rio das Mortes é o principal afluente do rio Araguaia e sua inicial de 35 % na mão direita e 44 % na mão esquerda. Após a ictiofauna é meramente estudada. A ampla área de inundação que aplicação do produto na mão esquerda, a mão direita passou a acompanha este rio desde seu curso médio até a foz, associada à atrair 80 % dos mosquitos enquanto a esquerda atraiu apenas 5 %. acentuada sazonalidade do cerrado, produz uma série de hábitats Já a Citronela com concentração de 50% foi testada em uma pes- distintos. Este mosaico ambiental é característica básica para ma- soa que apresentou 24 % de atratividade na mão direita e 76 % na nutenção de altos níveis de diversidade em ambientes aquáticos mão esquerda. Após a aplicação do produto, a mão direita, sem (Winemiller, 1996). repelente, passou a atrair 78 % dos mosquitos, enquanto a mão As alterações nas condições ambientais resultantes do regime esquerda atraiu apenas 2 %. hidrológico altamente sazonal da região tropical refletem-se em va- As diferenças encontradas em determinados experimentos que riações na estrutura da ictiofauna (Winemiller, 1989). Alguns estu- não atingiram 100 % de atratividade se deve a algumas fêmeas de dos recentes apontam as condições de transparência da água como Aedes aegypti que não responderam ao estímulo do odor, sendo fator determinante na organização das comunidades de peixes em consideradas inativas. lagos tropicais (Rodriguez e Lewis, 1997; Tejerina-Garro et al., 1998). 4. Conclusão Assim, é objetivo deste trabalho verificar a estrutura da comu- Com base nos resultados obtidos nos testes de atratividade de nidade de peixes em um lago de meandro associado à planície de

478 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado inundação do Rio das Mortes e apontar fatores que determinem bro (H’=3,181 bits p/ ind). Em relação à uniformidade, o maior sua organização ao longo do ano. valor também foi obtido no período de cheia, em dezembro 2. Métodos (U=0,812) e o menor em setembro (U=0,638). O estudo foi realizado no lago Melancia (51º28’28”S e Embora a ictiofauna tenha sido avaliada em poucos lagos e rios 13º40’24”W), um lago de meandro com cerca de 100 ha e 4 km de amazônicos, os estudos realizados até o momento revelam altos extensão. Este lago permanece conectado ao Rio das Mortes ao valores de riqueza e diversidade (Santos e Ferreira, 1999; Goulding longo do ano, por uma conexão mínima na seca. Está inserido em et al., 1988). Na bacia Araguaia-Tocantins estudos envolvendo a uma ampla área inundável de cerca de 70.000 km2, representada diversidade da ictiofauna ainda são raros e esparsos, sendo destaca- pelas unidades geomorfológicas Depressão do Araguaia e Planície dos os trabalhos de Melo (2000) em córregos de cerrado, Mérona do Bananal. (1986/87) no baixo Tocantins e Tejerina-Garro et al., (1998) em As coletas da ictiofauna foram realizadas em dezembro/2000 lagos do Araguaia. Quando comparada a estes ambientes, a diver- (cheia), abril (final de cheia), junho (início de seca) e setembro/ sidade específica da ictiofauna no lago Melancia está entre as mais 2001 (seca), com auxílio de redes de emalhar com diferentes tama- elevadas da bacia amazônica. nhos de malha, durante 24 horas consecutivas em cada campanha, Os maiores valores de diversidade específica foram obtidos na sendo revisadas a cada 4 horas. Os espécimes coletados estão de- cheia. Neste período, a conexão mais ampla com o rio principal positados na coleção ictiológica do Laboratório de Ictiologia e facilita a migração de um grande número de espécies, principal- Limnologia da UNEMAT, campus de Nova Xavantina. mente piscívoras, em busca dos novos hábitats oferecidos pela A diversidade de espécies, em bits por indivíduos, foi calculada inundação da vegetação marginal e da maior oferta de recursos pelo índice de Shannon-Wiener (Krebs, 1989), e a dominância alóctones e autóctones (Goulding et al., 1988). Esta maior dispo- pela frequência relativa da espécie mais abundante. A captura por nibilidade de recursos espaciais e alimentares durante as águas unidade de esforço (CPUE) foi calculada para o total de coletas elevadas possibilita a coexistência de um maior número de espéci- por período sazonal em g/m2/24h (Ferreira, 1993). es, elevando assim os índices de diversidade. A transparência da água, verificada por meio do disco de Secchi, Os valores de dominância relativa e de uniformidade também e a profundidade foram medidas no local de instalação das redes. foram menores na seca. Isto ocorre porque no início da seca o nível 3. Resultados e Discussão das águas do lago está baixo e grande parte das espécies presentes Foram coletados 1312 indivíduos distribuídos em 79 espécies. no período anterior já retornou para o Rio das Mortes. As espécies O maior número de indivíduos foi capturado em junho (33,8%), que permanecem estão expostas a condições ambientais mais seve- seguido por abril (23,8%), dezembro (22,6%) e o menor em setem- ras (Rodriguez e Lewis, 1994) e assim, um menor número tende a bro (19,8%). Os valores de riqueza encontrados foram de 29 espéci- ser selecionado e favorecido (Winemiller e Jepsen, 1998). Além es em dezembro, 53 em abril, 42 em junho e 31 em setembro. disso, o número de predadores diminui consideravelmente na seca, Os Characiformes foram dominantes em três das quatro coletas, o que também eleva a dominância de algumas espécies. com maior abundância no final da cheia (abril), quando representou Os Characiformes apresentaram a maior abundância numé- 76,7% dos indivíduos coletados. Os Siluriformes dominaram na rica no período de maior transparência da água, em abril (110 seca (setembro) e representaram 48,5% do total coletado neste cm). A partir deste período, com o declínio da transparência e período. Na análise anual, Characiformes foi dominante com 64,5%, da profundidade do lago, a proporção de Characiformes dimi- seguido por Siluriformes, com 28,4%. Os outros taxa (Clupeiformes, nuiu em relação aos Siluriformes. Em setembro, período de Perciformes, Rajiformes, Gymnotiformes e Pleuronectiformes) re- menor transparência (29 cm), os Siluriformes apresentaram presentaram, juntos, 7,1 % do total coletado. maior abundância relativa. Em dezembro, as duas espécies mais dominantes (Auchenipterus Os dados demonstram que a abundância relativa dos taxa su- nuchalis e Psectrogaster amazonica) representaram 37,8% do total periores está relacionada com a transparência da água, conforme coletado, em abril (Pygocentrus nattereri e Triportheus angulatus) 33,8%, previsto pelo modelo PTM (Piscivory-Transparency- em junho (Auchenipterichthys thoracatus e P. amazonica) 40,8% e em Morphometry). Este modelo prevê que ao longo de um gradiente setembro (A. thoracatus e P. amazonica) representaram 59,2%. espacial ou temporal onde declina a transparência, peixes diurnos A densidade relativa da ictiofauna, medida pela captura por que se guiam principalmente pela visão serão substituídos por aque- unidade de esforço (CPUE), apresentou maior valor em abril (246,1 les adaptados às condições de baixa visibilidade (Rodriguez e Lewis, g/m2/24h). A partir deste período a densidade diminuiu até atingir 1997; Tejerina-Garro et al., 1998). o menor valor, registrado em setembro, com 123,2 g/m2/24h. Vá- Os Characiformes são representados principalmente por pei- rios estudos em lagos amazônicos têm relatado o aumento da den- xes diurnos, visualmente orientados (Moyle e Cech, 1996), en- sidade de peixes na seca, quando estes se agrupam nas áreas cada quanto que os Siluriformes são, em sua maioria, peixes com adap- vez mais reduzidas dos lagos (Mérona e Bittencourt, 1993; Santos tações sensoriais aos baixos níveis de luminosidade (Tejerina-Garro e Ferreira, 1999), no entanto, o inverso ocorreu no lago Melancia. et al., 1998). Em abril, as condições de alta visibilidade atraem Por ser um lago de meandro, o lago Melancia ainda mantém o grande número de Characiformes, principalmente piscívoros, e es- canal bem delineado, com margens de desnível abrupto. Com isto, tes são largamente dominantes. Os Perciformes, especialmente a retração horizontal da água no corpo do lago é mínima, e o que ciclídeos, são dependentes da visão para a captura da presa e tam- mais varia é a profundidade. Desta forma, mesmo com menor bém apresentaram maior abundância neste período. volume de água a área do lago disponível para os peixes entre o A partir do início da seca (junho), com o declínio acentuado da início e final da seca não difere acentuadamente. Assim, a diminui- transparência, a abundância dos Characiformes e Perciformes di- ção na densidade de peixes na seca é determinada principalmente minui em relação aos Siluriformes. Em setembro, sob condições de por fatores bióticos como migração e predação (Winemiller, 1996; baixa transparência, este grupo apresenta maior abundância relati- Winemiller e Jepsen, 1998; Tejerina-Garro et al., 1998) e as condi- va e são dominantes na comunidade. Esta dominância é influenci- ções geomorfológicas têm um efeito secundário. ada principalmente por A. thoracatus, que apresenta olhos bastante A diversidade de espécies foi elevada (H’=4,544 bits p/ ind.) desenvolvidos e adaptados para visualização noturna, além dos para os quatro períodos de amostragem. Na análise sazonal, os barbilhões quimiotáteis (Burgess, 1989). valores de diversidade foram levemente superiores nos períodos de Assim, a transparência e a profundidade da água são considera- cheia (dezembro e abril) do na seca (junho e setembro). O maior das como bons preditores da estrutura e organização da ictiofauna valor ocorreu em abril (H’=4,636 bits p/ ind.) e o menor em setem- no lago Melancia, principalmente em relação à diversidade e rique-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 479 Cerrado Volume I za de espécies e a dominância dos principais grupos taxonômicos Regeneração natural em um fragmento florestal de peixes. urbano, Uberlândia, MG 4. Conclusões Jania Cabrelli Salles1 & Ivan Schiavini2 O lago Melancia apresenta alta diversidade de espécies, com- 1Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais parável aos ambientes aquáticos mais diversos da região Amazôni- ([email protected]); 2 Instituto de Biologia, Universidade ca e a outros lagos associados a planícies de inundação. Federal de Uberlândia. A ictiofauna tem sua composição e dominância alterada sazo- nalmente, em resposta as mudanças nas condições ambientais e aos 1. Introdução: processos migratórios, mais acentuados durante a cheia. A taxa de conversão das comunidades vegetais das Florestas A transparência da água e, em menor grau, a profundidade Tropicais em fragmentos florestais atualmente excede 1,2% ao ano demonstram ser bons preditores da riqueza, diversidade e densida- (Galetti et al. 2003). A intensidade na qual ocorre a deterioração de relativa da ictiofauna, bem como da abundância dos principais de uma paisagem composta por fragmentos depende das caracte- taxa superiores ao longo dos períodos sazonais. rísticas do ambiente no qual estão inseridos; logo, o tamanho, a 5. Referências Bibliográficas forma e o tipo de vizinhança influenciam no número de espécies Barthem, R. B.; Goulding, M. (1997). Os bagres balizadores: ecolo- capazes de sobreviver em um fragmento (Saunders et al. 1991; gia, migração e conservação de peixes amazônicos. Sociedade Civil Viana et al. 1992; Nascimento et al. 1999). A maioria dos remanes- Mamirauá, Tefé, 140 p. centes florestais encontra-se imersos numa paisagem dominada pela agricultura e grandes centros urbanos (Nascimento et al. 1999), Burgess, W. E. (1989). An Atlas of freshwater and marine catfishes: a submetidos a um grande número de fatores de perturbação, os preliminary survey of the Siluriformes. T.F.H., Netune City, 784 p. quais contribuem para a sua descaracterização fisionômica e Ferreira, E. J. G. (1993).Composição, distribuição e aspectos eco- florística (Cielo Filho & Santin 2002; Pereira et al. 2002). lógicos da ictiofauna de um trecho do rio Trombetas, na área de A regeneração natural a partir de uma condição de perturba- influência da futura UHE cachoeira Porteira, Estado do Pará, Bra- ção é, em geral, lenta, imprevisível e cheia de dificuldades sil. Acta Amazonica, 23 (1/4): 1-89. (Kozlowski 2002). A perturbação antrópica sofrida pelas comuni- Goulding, M.; Carvalho, M.L.; Ferreira, E. G. (1988). Rio Negro: dades vegetais urbanas cria novas condições ambientais, caracterís- rich life in poor water. SPB Academic Publishing, Netherlands, 200 p. ticas ecológicas distintas e um ambiente com inter-relações delica- Krebs, C.J. (1989). Ecological Methodology. Harper & Row, New das (Grapow & Blasi 1998; Paula & Lemos Filho 2001), os quais York, 654 p. exigem estudos detalhados que ofereçam informações para a elabo- ração de projetos de recuperação destes ecossistemas. Conhecer a Lowe-McConnell, R. H. (1999). Estudos ecológicos de comunidades composição e a estrutura florística do estrato regenerativo, e a pos- de peixes tropicais. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, terior comparação com a estrutura da comunidade adulta pode tra- 534 p. zer respostas instantâneas sobre a dinâmica ambiental, ou seja, per- Melo, C. E. (2000). Ecologia comparada da ictiofauna em córregos de mite visualizar a reposição quantitativa e qualitativa da vegetação cerrado do Brasil Central. São Carlos, UFSCar, 84 p. (Tese). com maior chance de ocupar o dossel futuramente (Mendes 2002). Mérona, B. (1986/87). Aspectos ecológicos da ictiofauna no baixo Tendo em vista a grande escassez de informações no que se Tocantins. Acta Amazonica,16/17:109-124. refere ao potencial regenerativo das formações vegetais do Cerra- Moyle, P. B. ; Cech-Jr., J. J. (1996). Fishes: an introduction to do, este estudo teve como objetivo conhecer a estrutura e a com- ichthyology. Prentice-Hall, Englewood cliffs, 590 p. posição florística do componente arbóreo da regeneração natural de um remanescente urbano de mata estacional semidecidual. Rodríguez, M. A.; Lewis, W. M. Jr. (1994). Regulation and stability 2. Metodologia: in fish assemblages along environmental gradients in floodplain A área de estudo localiza-se no Parque Municipal do Sabiá, no lakes of the Orinoco River. Ecol. Monogr. 67: 109-128. perímetro urbano da cidade de Uberlândia, Minas Gerais, entre as Rodríguez, M. A.; Lewis, W. M. Jr. (1997). Structure of fish assemblages coordenadas 18°54’52” e 48°14’02”. O clima da região é do tipo of neotropical floodplain lakes. Oecologia, 99: 166-180. Aw Megatérmico, com verões chuvosos e invernos secos. Os solos Santos, G. M.; Ferreira, E. J. G. (1999). Peixes da Bacia Amazônica. são caracterizados como Latossolo Vermelho – Amarelo Álico. O In: Lowe-McConnell, R. H. Estudos ecológicos de comunidades de levantamento foi realizado em 30 parcelas de 10m X 10m, sorteadas peixes tropicais. Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 345-373. aleatoriamente dentre 104 parcelas permanentes utilizadas no le- Tejerina-Garro, F. L.; Fortin, R.; Rodríguez, M. A. (1998). Fish vantamento dos indivíduos adultos, realizado por Rosa (2002). community structure in relation to environmental variation in Essas parcelas encontram-se distribuídas em oito transectos dis- floodplain lakes of the Araguaia River, Amazon Basin. Environmental postos paralelamente e distantes 50m entre si. De acordo com a Biology of Fishes 51: 399-410. definição de Felfili et al. (2000), o estrato regenerativo é constitu- ído por indivíduos de espécies arbóreas com altura igual ou superi- Winemiller, K. O. (1989). Ontogenetic diet shifts and resource or a um metro. Assim, todas as plantas que não entraram no levan- partitioning among piscivorous fishes in Venezuelan ilanos. tamento do estrato superior (com altura igual ou superior a um Environmental Biology of Fishes, 26: 177-199. metro e CAP > 15cm), tiveram medidos a altura e o diâmetro, ao Winemiller, K. O. (1996). Dynamic diversity in fish assemblages of nível do solo. tropical rivers. In: Cody, M. L. & Smallwood, J. A. (eds). Long-Term 3. Resultados e discussão: studies of vertebrate communities. Academic Press, Orlando, p. 99-134. Foram identificadas 63 espécies em 32 famílias, num total de Winemiller, K. O. ; Jepsen, D. B. (1998). Effects of seasonality and 1268 indivíduos, apresentando densidade estimada de 4.226 ind./ fish movement on tropical river food webs. Journal of Biology, 53 ha e índice de diversidade de Shannon igual a 3,109 nats/ind.. O (suplement A): 267-296. valor de densidade obtido no presente estudo é considerado baixo, quando comparado a outros levantamentos do estrato regenerativo, os quais utilizaram a mesma metodologia. Mendes (2002) e Amorim (2002), estudando a regeneração de duas matas de galeria, dentro de diferentes Unidades de Conservação, encontraram densidade estimada igual a 7.267 e 12.190 ind./ha, respectivamente. A utili-

480 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado zação de técnicas inadequadas de manejo por parte da administra- regeneration of harvested and disturbed forest stands: implications ção do Parque do Sabiá, como a limpeza do sub-bosque realizada for forest management. Forest Ecology and Management. 158:195– até 1994, pode explicar a grande discrepância entre os dados obti- 221. dos nos três estudos. Além disso, perturbações advindas da visitação MENDES, S. 2002. Comparação entre os estratos arbóreo e de pública, tais como pisoteio, podem estar comprometendo o recru- regeneração na mata de galeria da Estação Ecológica do Panga, tamento de indivíduos jovens. O índice de diversidade encontra-se Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal entre os valores encontrados em outros estudos do estrato de Uberlândia. pp. 77. regenerativo na região, como Mendes (2002) e Souza (2003). NASCIMENTO, H.E.M.; DIAS, A.S.; TABANEZ, A.A.J. & VIANA, No levantamento do estrato arbóreo adulto, realizado por V.M. 1999. Estrutura e dinâmica de populações arbóreas de um frag- Rosa (2002), foram identificadas 80 espécies, de 37 famílias, com mento de Floresta Estacional Semidecidual na região de Piracicaba, densidade de 985 ind./ha e índice de diversidade igual a 3,547 São Paulo. Revista Brasileira de Botânica. 59(2): 329–342. nats/ind.. De acordo com a autora, a baixa densidade de indivíduos adultos se deve à alta taxa de mortalidade, conseqüência dos vários PEREIRA, I.M.; ANDRADE, L.A.; COSTA, J.R.M. & DIAS, anos de manejo e uso inadequados. Além disso, a presença de J.M. 2001. Regeneração natural em um remanescente de Caatinga maior densidade de indivíduos jovens é esperada, já que estes ainda sob diferentes níveis de perturbação, no Agreste Paraibano. Acta passarão por uma forte ação seletiva do ambiente até se estabelece- Botânica Brasílica. 15(3): 413–426. rem definitivamente. Em relação à diversidade, o menor valor apre- ROSA, A.G. 2002. Estrutura da comunidade arbórea em um re- sentado pelo estrato de regeneração pode indicar que, apesar de manescente florestal urbano (Parque do Sabiá, Uberlândia, MG). possuir maior número de espécies, a distribuição dos indivíduos Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de entre elas é irregular. Resultados semelhantes, quanto à compara- Uberlândia.pp.36. ção entre estrato regenerativo e adulto, também foram encontra- SAUNDERS, D.A.; HOBBS, R.J. & MARGULES, C.R. 1991. dos por Mendes (2002), Amorim (2002) e Souza (2003). Biological consequences of ecosystem fragmentation: a review. As cinco espécies com maiores valores de IVI foram: Piptocarpha Conservation Biology. 5: 518-532. macropoda (39,25), Ocotea corymbosa (27,52), Casearia grandiflora SOUZA, J.P. 2003. Estrutura florística e fitossociológica do estra- (23,89), Xylopia aromatica (18,04) e Ocotea spixiana (17,62), repre- to de regeneração de uma floresta mesófila semidecídua urbana em sentando 42,10% do IVI total. P. macropoda apresentou grande Araguari – MG. Monografia de Bacharelado, Universidade Federal número de indivíduos (n = 188) e o maior valor de dominância de Uberlândia. pp.25. relativa (20,22), enquanto que O. corymbosa apresentou o mesmo número de indivíduos, mas com baixa dominância relativa (6,11). VIANA, V.M.; TABANEZ, A.A.J. & MARTINEZ, J.L.A. 1992. No estrato arbóreo adulto, as espécies mais importantes foram Restauração e manejo de fragmentos florestais. In: II Congresso Tapirira marchandii (24,44), Virola sebifera (19,93), Casearia Nacional sobre Essências Nativas. Instituto Florestal de São Paulo. grandiflora (17,25), Copaifera langsdorffii (16,03) e Inga vera (15,70), São Paulo. p. 400-407. com P. macropoda ocupando o sexto lugar (14,48) e O. corymbosa, o 21º lugar (4,26 - Rosa 2002). O fato de P. macropoda ser uma Preferência e performance de Contarinia sp. espécie pioneira e apresentar maior número de indivíduos e (Cecidomyiidae) em Bauhinia brevipes dominância relativa no estrato regenerativo, indica que a área de (Leguminosae) estudo está respondendo bem aos distúrbios que sofre. Jean C. Santos, Fernando A. O. Silveira, Ellen Christie, Mariana Com base nesses resultados, pode-se inferir que a mata, apesar Hilarino, Camila Mendes, Paloma A. Cortes, Maria C. Ferreira & da freqüência e intensidade das perturbações antrópicas que sofre, G. Wilson Fernandes. apresenta relativo sucesso no processo de regeneração. Entretanto, Laboratório de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais. Pós- recomenda-se a utilização de técnicas de manejo, no sentido de graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre. evitar a colonização por espécies invasoras (especialmente o bam- Departamento de Biologia Geral. Instituto de Ciências Biológicas. bu Olyra sp., nativo da mata de galeria adjacente) e a compactação Universidade Federal de Minas Gerais. CP: 486. CEP: 30161-970. e erosão do solo (que impede o recrutamento e estabelecimento de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. [email protected] indivíduos jovens e provoca a queda dos indivíduos adultos). 4. Bibliografia: 1. Introdução AMORIM, E.H. 2002. Composição e estrutura do estrato Diversos fatores influenciam na seleção da planta hospedeira regenerativo da mata de galeria inundável da Fazenda Marileuza, por insetos herbívoros. Nas últimas décadas diversas hipóteses têm Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal sido formuladas na tentativa de explicar os padrões de oviposição de Uberlândia. pp. 54. das fêmeas de insetos herbívoros. Por exemplo, algumas destas CIELO FILHO, R. & SANTIN, D.A. 2002. Estudo florístico e hipóteses consideram a densidade e a complexidade estrutural do fitossociológico de um fragmento florestal urbano – Bosque dos hospedeiro (Root 1973, Lawton 1983). A hipótese de vigor de Alemães, Campinas, SP. Revista Brasileira de Botânica. 25 (3): plantas (HVP) prediz que insetos herbívoros exibem uma prefe- 291–301. rência de oviposição em plantas ou módulos mais vigorosos onde a performance da prole é maximizada. Desta forma, as fêmeas esco- FELFILI, J.M.; RIBEIRO, J.F.; FAGG, C.W. & MACHADO, lheriam ramos maiores, os quais apresentariam maiores recursos J.W.B. 2000. Recuperação de matas de galeria. Planaltina – DF, para sua prole (Price 1991). Por outro lado, a hipótese de estresse EMBRAPA. 21: 1-45. de plantas (HSP) prediz que ramos, ou plantas, mais estressadas GALETTI, M.; ALVES – COSTA, C.P. & CAZETTA, E. 2003. são selecionadas para a oviposição (White 1984). Assim, as fêmeas Effects of forest fragmentation, anthropogenic edges and fruit colour escolheriam ramos menores, nos quais os compostos de defesa on the consumption of ornithocoric fruits. Biological Conservation. estariam em menores concentrações. Já a hipótese nula prediz que 111: 269–273. a o tamanho do ramo não influencia na preferência de oviposição GRAPOW, L.C. & BLASI, C.A. 1998. Comparison of the urban de fêmeas. Estudos em regiões neotropicais têm refutado e confir- flora of different phytoclimatic regions in Italy. Global Ecology and mado estas hipóteses (Prada et al. 1995, Freitas et al. 1999, Faria Biogeography Letters. 7: 367-378. & Fernandes 2001). Neste trabalho analisamos os padrões de ata- KOZLOWSKI, T.T. 2002. Physiological ecology of natural que de Contarinia sp. (Cecidomyiidae) em Bauhinia brevipes

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 481 Cerrado Volume I

(Leguminosae) durante o ano de 1999. Trabalhos anteriores sobre dade nutricional maior. Então, a HVP não foi corroborada como esse sistema foram realizados entre 1993 e 1998 por Fernandes e um todo, uma vez que, a performance de insetos galhadores não foi colaboradores (veja Cornelissen et al. 1997, Fernandes 1998, aumentada nos ramos maiores. Cornelissen & Fernandes 2001). O objetivo deste trabalho foi res- Outro aspecto relevante é a presença da hipersensitividade ponder às seguintes perguntas: 1) qual o efeito do tamanho do ramo como poderoso e eficiente mecanismo de defesa induzida em plan- na preferência de oviposição de Contarinia sp.? 2) qual o efeito do tas (Fernandes 1990, 1998). Se a planta hospedeira não apresen- tamanho do ramo na performance da prole de Contarinia sp.? e 3) tasse esta resposta induzida, haveria cerca de 26 vezes mais galhas quais são os fatores de mortalidade de prole de Contarinia sp.? desenvolvidas. A soma de todos os fatores “top-down” foi respon- 2. Métodos sável por apenas 2,7% de mortalidade das galhas de Contarinia sp., B. brevipes é um arbusto do cerrado que floresce entre junho e enquanto que a reação de hipersensitividade foi responsável por agosto e frutifica entre agosto e setembro. Seus ramos são atacados 93,7%. Resultados similares foram encontrados neste mesmo sis- por setes espécies de galhadores, dentre eles, uma espécie não tema entre 1993 e 1998 (Cornelissen et al. 1997, Fernandes 1998, identificada de Contarinia. Em dezembro de 1999 foram coletados Cornelissen & Fernandes 2001). Portanto, este estudo mostra que até 25 ramos de 116 indivíduos de B. brevipes na Estação Ecológica o efeito da planta hospedeira no controle populacional de insetos de Pirapitinga, Três Marias - MG. Os ramos foram ensacados e herbívoros ao longo de um período de 8 anos tem se mantido levados para o laboratório onde foram medidos o comprimento constante, confirmando que a resposta induzida pode funcionar dos ramos e das folhas, e quantificados o número de folhas por como um importante mecanismo de controle populacional ramo, de folhas galhadas, de galhas de Contarinia sp., de reações de “bottom-up” de insetos herbívoros (Fernandes & Negreiros 2001). hipersensitividade (RH) por folhas e ramos. Além disso, foram 5. Bibliografia anotados o número de galhas de outras espécies e número de folhas Cornelissen, T. G. & Fernandes, G. W. 2001. Induced defenses to atacadas por herbívoros de vida livre. O comprimento dos ramos herbivory: effects of damage-induced changes on leaf quality and (n = 2334) foi agrupado em classes de tamanho de intervalo de 3 insect herbivore attack. Trees 15: 236 – 241. cm (13 classes). Foram anotados os fatores de mortalidade das Cornelissen, T. G. & Fernandes, G. W. 2001. Patterns of attack by galhas Contarinia sp. segundo Fernandes & Price (1992): sobrevi- herbivores on the tropical shrub Bauhinia brevipes (leguminoseae): vência, fungos, parasitismo, predação, reação de hipersensitividade vigor or chance? European Journal Of Entomology 98: 37 – 40. e fatores indeterminados. 3. Resultados Cornelissen, T. G., Madeira, B. G., Allain, L. R., Lara, A. C. F., Foram coletadas 7971 galhas em 116 indivíduos de B. brevipes. Araújo, L. M. & Fernandes, G. W. 1997. Multiple responses of Ramos maiores apresentaram maior quantidade de recursos para Insect herbivores to plant vigor. Ciência e Cultura: 49: 285 – 288. os herbívoros (r2 = 0,572; F = 136.385; P<0,0001) do que ramos Faria, M. L. & Fernandes, G. W. 2001. Vigour of a dioecious shurb menores. Ramos maiores foram mais atacados que ramos menores, and attack by a galling herbivore. Ecological Entomomology 26: tanto para insetos de vida livre (r2 = 0,323; F = 54.939; P<0,0001) 37 – 45. 2 quanto para galhas induzidas por Contaria sp. (r = 0,252; F = Fernandes, G. W. 1998. Hypersensitivity as a phenotypic basis of 38.764; P<0,0001). No entanto, quando se divide o número de plant resistance against herbivory. Environmental Entomology 27: folhas atacadas e o número de galhas por unidade de comprimento 260 – 067. de ramo, não foi observado nenhuma relação estatística em relação Fernandes, G. W. 1990. Hypersensitivity: a neglected plant ao comprimento dos ramos (folhas atacadas - r2 = 0,001; F = 0.146; resistance mechanism against insect herbivores. Environmental P= 0,703 e galhas - r2 = 0,005; F = 0.612; P = 0,436). Portanto, o Entomology 19: 1173 – 1182. comprimento do ramo não influenciou na preferência de oviposição das fêmeas e na sobrevivência da prole, refutando a HVP. A ausên- Fernandes, G. W., Cornelissen, T. G., Isaias, R. M. S. & Lara, A. cia de relação entre a preferência e performance neste estudo pode C. F. 2000. Plants fight gall formation: hypersensitivity. Ciência e ser atribuída à reação de hipersensitividade. A hipersensitividade Cultura 52: 49 – 54. foi responsável por 93,7% da mortalidade das galhas de Contarinia Fernandes, G. W. & Negreiros, D. 2001. The occurrence and sp. seguido de predação (1,1%), parasitismo (0,5%), fungos (0,5%) effectiveness of hypersensitive reaction against galling herbivores e outros fatores não identificados (0,6%). Apenas 3,6% dos insetos across host taxa. Ecological Entomology 26: 46 – 55. nas galhas sobreviveram. Dessa forma, a HVP não foi corroborada Freitas, A.V.L., Leal, I.R. & Ferreira, S.O. 1999. Selection of neste estudo. oviposition sites by a lepidopteran community of tropical forest in 4. Discussão e Conclusão southeastern Brazil. Biotropica 31: 372-375. Várias hipóteses tentam explicar o padrão de ataque de herbí- voros em plantas. A HVP (Price 1991) é uma das principais, em- Gonçalves-Alvim, S. J., Faria, M. L. & Fernandes, G. W. 1999. bora vários estudos têm corroborado e refutado a mesma (Prada et Relationships between four neotropical species of galling insects and shoot vigor. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil 28: al. 1995, Cornelissen et al. 1997, Freitas et al. 1999, Gonçalves – Alvim et al. 1999, Faria & Fernandes 2001). Os resultados deste 147 – 155. estudo demonstraram que os insetos de vida livre e galhadores Lawton, J.H. 1983. Plant architecture and the diversity of atacaram ramos maiores, os quais ocorreram em B. brevipes em phytophagous insects. Annual Review of Entomology. 28: 23-39. menor proporção. No entanto, ao incluir nas análises de disponibi- Prada, M., Marini-filho, O. J. & Price, P. W. 1995. Insects in lidade de recurso por centímetro, o padrão de ataque desapareceu, flower heads of Aspilia foliaceae (Asteraceae) after a fire in a central demonstrando que Contarinia sp. e insetos de vida livre não seleci- brazilian savanna: evidence for the plant vigor hypothesis. Biotropica onam ramos mais longos, contrapondo assim a HVP. Portanto, a 27: 513 - 518. HVP neste estudo foi corroborada em parte. Os ramos maiores Price, P. W. 1991. The plant vigor hypothesis and herbivores attack. foram mais atacados que os ramos menores, não pelo fato de terem Oikos 62: 244 - 251. mais folhas, mas sim, por apresentaram uma qualidade nutricional superior aos ramos menores. No entanto, quando dividiu-se o Root, R. B. 1973. Organization of a plant-arthropod association número de folhas pelo comprimento do ramo, notou-se que ramos in simple and diverse habitats: The fauna of collards (Brassica maiores não possuíam mais folhas que ramos menores. Assim sen- oleracea). Ecological Monographs 43: 95 – 124. do, os ramos maiores foram mais atacados porque possuíam quali- White, T. C. R. 1984. The abundance of invertebrate herbivores in

482 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado relation to the availability of nitrogen in stress food plants. de trabalho distribuídas igualmente entre os habitats nas estações Oecologia 63: 90 - 105. seca e chuvosa. Em dezembro de 2002 instalamos armadilhas de 6. Agradecimentos queda (pitfall traps) para coleta dos lagartos terrícolas: 96 baldes Agradecemos ao apoio da Estação Ecológica de Pirapitinga-IBAMA, de 37 litros, enterrados até a boca, dispostos em grupos de 4 em CNPq (521772/95-8), Bolsa de doutorado CNPq para J.C. San- linha reta e separados entre si por 15m (segundo Cechin & Martins, tos (140071/2003-2) e Pós-graduação em Ecologia, Conservação 2000). Entre cada balde, instalamos uma cerca guia, de plástico e Manejo de Vida Silvestre – ICB/ UFMG. preto grosso, que se prolongou cerca de 2m após os baldes das pontas da linha. Em cada habitat (exceto no buritizal, que, por ser uma área alagada, não é viável para a instalação das armadilhas) Similaridade de espécies de lagartos entre instalamos 6 linhas (24 baldes), distantes entre si no mínimo 200m. diferentes fitofisionomias de Cerrado no nordeste Essas armadilhas, até julho/2003, totalizaram um esforço amostral do Maranhão de 25 dias (2400 baldes/dia). Os exemplares que caíram nas arma- 1,2 2 Jerriane Oliveira Gomes ; Pedro Carvalho Freire ; Gilda dilhas foram identificados, medidos com um paquímetro (preci- 3 Vasconcellos de Andrade são: 0,02mm), marcados segundo um código de amputação de 1 2 Bolsista PELD/CNPq ([email protected]) Graduação dígitos (Hero, 1989) e soltos próximo ao local de captura. 3 em Biologia – Universidade Federal do Maranhão Departamento de Comparamos a ocorrência das espécies nos diferentes habitats Biologia – Universidade Federal do Maranhão com base na presença e na ausência das espécies (índice de Jaccard) e na abundância relativa de cada espécie (índice de Bray-Curtis). 1. Introdução Essas comparações foram feitas somente nos quatro habitats que O bioma Cerrado constitui-se no segundo maior domínio apresentaram as armadilhas de queda, para igualar o esforço morfoclimático do Brasil e da América do Sul, ocupando 22% do amostral em cada ambiente (Krebs, 1989). território brasileiro, perdendo em área apenas para a Floresta Ama- 3. Resultados e discussão zônica (Ab‘Saber, 1977 apud Camargo, 1999). Muitas comunida- Nesse período encontramos 17 espécies de lagartos distribuí- des pouco conhecidas, principalmente no que se refere à fauna, das em 8 famílias: Teiidae (5 espécies), Gekkonidae (4 espécies), ocorrem nesse bioma, devido às diversificadas condições ecológi- Gymnophtalmidae (2 espécies), Polychrotidae (2 espécies), cas, como um grande número de habitats naturais, com gradiente Hoplocercidae (1 espécie), Iguanidae (1 espécie), Tropiduridae (1 ambiental variando desde formações vegetais abertas até mais fe- espécie) e Scincidae (1 espécie). Dessas espécies, 15 estão entre as chadas, úmidas até mais secas (Alho, 1994; Camargo, 1999). 48 listadas para o Cerrado (Colli et al., 2002; Colli et al., 2003). As Mesmo com o recente interesse pelo estudo dos Cerrados, a duas espécies não citadas por estes autores são Hemidactylus agrius grande maioria dos trabalhos publicados sobre saurofauna desse e Mabuya cf. heathi. Esse bioma abriga 13 espécies de lagartos bioma são da região do Brasil Central (e. g.: Araújo & Colli, 2001; endêmicos (Colli et al., 2002; Colli et al, 2003), das quais uma Brandão & Araújo, 1998; 2001), representando o presente estudo espécie (Hoplocercus spinosus) ocorreu na área de estudo. uma importante contribuição para o conhecimento da ecologia A mata ciliar apresentou a maior riqueza de espécies (12) se- dos lagartos nos Cerrados marginais do nordeste. guida por cerrado sensu stricto (10), cerradão (7), eucaliptal (5) e Na região deste estudo, a Comercial e Agrícola Paineiras Ltda. buritizal (3). De acordo com as observações da saurofauna nos (CAP) está elaborando um zoneamento ambiental que definirá cinco habitats estudados, podemos definir 3 padrões distintos de áreas, atualmente cobertas por vegetação de Cerrado, a serem des- distribuição espacial: 1 – espécie generalista, que pode ser encon- tinadas para uso comercial (plantação de eucaliptos) e as que serão trada em 4 até 5 habitats; 2 – espécie intermediária, encontrada em protegidas como reservas. Essas reservas ficarão interligadas entre 2 até 3 habitats; 3 – espécie exclusiva, encontrada em um único si através de vegetação nativa (corredores ecológicos). Alguns au- hábitat. Quatro espécies, típicas de áreas abertas (Ameiva ameiva, tores (cf. Shafer, 1990; Primack & Rodrigues, 2001) sugerem que Cnemidophorus ocellifer, Micrablepharus maximiliani e Tropidurus a conservação da biodiversidade em reservas depende da ligação hispidus), mostraram-se generalistas em relação ao uso do hábitat. dessas áreas por faixas de vegetação nativa, que podem aumentar a A exclusividade de hábitat foi registrada para 6 espécies, sendo 3 na taxa de imigração, evitando endocruzamento além de aumentar a mata ciliar (Hoplocercus spinosus, Iguana iguana e Polychrus área para forrageamento ou de escape de predadores. acutirostris), 2 no cerrado sensu stricto (Hemidactylus agrius e O objetivo deste trabalho é mostrar a composição de espécies Tupinambis meriane) e 1 no cerradão (Coleodactylus meridionalis). e a similaridade entre os diversos habitats utilizados pelos lagartos Dentre estas, 2 (C. meridionalis e I. iguana) são comumente relaci- em uma área de Cerrado, antes do corte da vegetação nativa para onadas a ambientes florestais (Freire, 1996). As outras espécies uso comercial, permitindo, a longo prazo, o monitoramento da apesar de exclusivas, também habitam áreas abertas em outras fauna de lagartos e a avaliação dos efeitos da fragmentação dos localidades (Vanzolini et al., 1980; Zaher, 2001). As outras 7 espé- habitats. cies apresentaram um padrão intermediário (Anolis nitens, 2. Métodos Colobosaura modesta, Gonatodes humeralis, Hemidactylus mabouia, Amostramos de março de 2002 a julho de 2003 os diversos Kentropix calcarata, Mabuya cf. heathi e Tupinambis teguixin). habitats existentes em uma área de Cerrado de abrangência do Observamos 10 espécies terrestres e 7 arborícolas. Com relação projeto de florestamento da CAP, situada na Fazenda Bonfim ao período de atividade, 15 espécies são diurnas e 2 são noturnas (3°20’S; 43°09’W), município de Urbano Santos, estado do (Hemidactylus mabouia e H. agrius), confirmando a colocação de Maranhão. Adotamos a classificação proposta por Ribeiro & Walter Brandão & Araújo (1998) que também contrariaram a hipótese de (1998) para caracterizar esses diversos habitats: cerrado sensu stricto, Vanzolini (1963 apud Brandão & Araújo, 1998) de que as espécies cerradão, mata ciliar, buritizal (vereda), além de um eucaliptal noturnas e/ou fossórias seriam a maioria da saurofauna do Cerrado. plantado há 10 anos com sub-bosque bem desenvolvido. Encontramos baixos valores de similaridade pelos dois méto- As viagens foram quinzenais à região, com permanência de dois dos usados. De acordo com o índice de Jaccard, o valor de seme- dias, exceto no mês de março de 2003, quando ficamos 7 dias lhança mais baixo foi entre eucaliptal e mata ciliar (0,1905) e os seguidos fazendo coletas e observação. Procuramos ativamente valores mais altos (0,25) foram entre cerradão e eucaliptal e entre lagartos terrícolas e arborícolas, com observações diretas usando cerrado e eucaliptal. Já pelo método de Bray-Curtis, o menor valor binóculos (8x40), durante caminhadas aleatórias diurnas e notur- de semelhança ocorreu entre cerrado e mata ciliar (0,2295) e o nas, em todos os habitats, totalizando 46 dias, somando 276 horas maior valor (0,4728) ocorreu entre cerradão e eucaliptal. Essa

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 483 Cerrado Volume I maior semelhança entre o cerradão e o eucaliptal está possivelmen- Shafer, C. L. (1990). Nature reserves: island theory and conservation te relacionada a presença de sub-bosque bem desenvolvido neste practice. Smithsonian Inst. Press., Washington 189pp. último ambiente. Nossos dados mostram, de maneira geral, o bai- Vanzolini, P. E.; Ramos-Costa, A. M. M. & Vitt, L. J. (1980). xo compartilhamento de espécies entre os hábitats, já que somente Repteis das Caatingas. Academia Brasileira de Ciência, Rio de Janei- 23,5% das espécies estiveram representadas em todos os hábitats. ro, 1980. 161pp. O “turnover” de espécies entre habitats foi em média de 38%, bem Zaher, H. E. D. (coord.). (2001). Diversidade de vertebrados terres- próximo à sugestão de 40% feita por Araújo & Colli (2001) para o tres da estação ecológica de Uruçuí-una, Piauí. Relatório final. Uni- Cerrado do Brasil Central. versidade de São Paulo, São Paulo, 110pp + 24 pranchas. 4. Conclusões A região estudada está bem representada em relação ao núme- (Apôio: PELD/ECOCEM/TROPEN e Comercial e Agrícola ro de espécies de lagartos, já que no Cerrado a variação dessa Paineiras Ltda.) riqueza local vai de 14 a 25 espécies (Brandão & Araújo, 2001; Colli et al., 2002). Efeito da Mudança de Cor em Flores de Lantana Podemos dizer que os diferentes tipos de habitats estudados têm camara L. (Verbenaceae) Sobre a Atração dos grande influência na composição da saurofauna, pois foram encon- Visitantes Florais. trados valores baixos de semelhança entre si. Por isso, é fundamen- João Cláudio Paiva Drumond a & Claudia Maria Jacobi b tal a inclusão de todos os habitats nas futuras áreas destinadas como a Departamento de Biologia Geral - ICB - Universidade Federal de reservas, evitando, assim, a perda de diversidade local. Minas Gerais ([email protected]) b Departamento de 5. Referências bibliográficas Biologia Geral - ICB - Universidade Federal de Minas Gerais Alho, C. J. R. (1994). Distribuição da Fauna num Gradiente de Recursos em Mosaico, p.213-262. In: Pinto, M. N. ed.. Cerrado: 1.Introdução caracterização, ocupação e perspectivas. Brasília, Sematec, Univ. de O sucesso reprodutivo em angiospermas é resultado do serviço Brasília, XXI+657p. de polinização, e depende da taxa de visitação e da eficiência do Araújo, A. F. B. & Colli, G. R. (2001). Biodiversidade do Cerrado polinizador em seu serviço (Motten et al., 1981). A maioria das Herpetofauna. http:/www.bdt.fat.org.br/workcerrado/ espécies vegetais perde suas flores ou partes florais não relaciona- REPTEIS.PDF. das ao desenvolvimento do fruto assim que o estigma deixa de ser receptivo ou após a fertilização (Lamont, 1985). No entanto mui- Brandão, R. A. & Araújo, A.F.B. (1998). A herpetofauna da Esta- tas espécies vegetais costumam manter as corolas de flores velhas e ção Ecológica de Águas Emendadas. In: Marinho-Filho, J. S., ed. já visitadas no intuito de aumentar o número total de visitas por Vertebrados da Estação Ecológica de Águas Emendadas: história natu- polinizadore, a disseminação de pólen e incrementar o “display” ral e ecologia em um fragmento de Cerrado do Brasil Central. floral (Ashman & Schoen, 1996). Brasília: IEMA/SEMATEC, p.9-21. Lantana camara L. é uma espécie arbustiva perene da família Brandão, R. A. & Araújo, A.F.B. (2001). A herpetofauna associada Verbenaceae originária da América tropical, de grande importân- às matas de galeria no Distrito Federal. In: Ribeiro, J.F., Fonseca, cia, comum em ambientes alterados e com várias utilidades (Morton, C.E.L. & Silva, J.C.S. eds. Cerrado: caracterização e recuperação de 1994; Pereira et al., 2003). Possui inflorescências umbeladas for- Matas de Galeria. EMBRAPA Cerrados, pp 561-570, Brasília, 2001. madas por flores tubulares e apresenta mudança de cor em suas Camargo, A. J. A. (1999). Estudo comparativo sobre a composição flores. Flores jovens são amarelas e flores velhas são vermelhas. As e a diversidade de lepidópteros noturnos em cinco áreas da Região flores velhas são mantidas por até dois dias na inflorescência. As dos Cerrados. Rev. Brasil. Biol., 16(2):369-380. flores de L. camara produzem néctar apenas no primeiro dia Cechin, S. Z. & Martins, M. (2000). Eficiência de armadilhas de (Schemske, 1976; Weiss, 1997). queda (pitfall traps) em amostragens de anfíbios e répteis no Brasil. Interações entre flores que apresentam mecanismo de mudan- Rev. Bras. Zool. 17:729-740. ça de cor e seus polinizadores são importantes componentes em muitos e diversificados sistemas polinizador-planta (Weiss, 1995). Colli, G. R.; Bastos, R. P. & Araújo, A. F. B. (2002). The character Essa mudança de cor direciona o polinizador para as flores mais and dynamics of the Cerrado herpetofauna. In: Oliveira, P. S. & receptivas (Delph & Lively, 1989), e dessa forma as plantas rece- Marquis, R. J. eds. The Cerrados of Brazil: Ecology and Natural bem um serviço de polinização mais eficiente assim como os History of a Neotropical Savanna: 223-241.. New York, NY: Columbia polinizadores podem avaliar a recompensa que terão pela visita University Press. (Gori, 1989), economizando tempo e energia durante o seu Colli, G. R.; Caldwell, J. P.; Costa, G. C.; Gainsbury, A. M.; Garda, forrageamento (Weiss, 1995). A. A.; Mesquita, D. O.; Filho, C. M. M.; Soares, A. H. B.; Silva, V. Os principais polinizadores de L. camara são borboletas. Muitas N.; Valdujo, P. H.; Vieira, G. H. C.; Vitt, L. J.; Werneck, F. P.; borboletas têm uma preferência nata por certas cores (Faegri & van Wiederhecker, H. C. & Zatz, M G. (2003). A new species of der Pijl, 1980), além disso, borboletas são capazes de aprender a Cnemidophorus (Squamata, Teiidae) from the Cerrado biome in associar certas cores à um melhor forrageio de néctar ou a melhores central Brazil. Occasional Papers Of The Oklahoma Museum Of locais de oviposição (Lamont & Collins, 1988; Weiss, 1997). Dados Natural History, v. 14, p. 1-14. obtidos através de estudos de colorimetria, eletroretinogramas e Freire, E. M. X. (1996). Estudo ecológico e zoogeográfico sobre a estudos comportamentais de insetos indicam que para a maioria dos fauna de lagartos (Sauria) das dunas de Natal, Rio Grande do insetos, incluindo algumas espécies de abelhas e borboletas, tons de Norte e da restinga de Ponta de Campinas, Cabedelo, Paraíba, vermelho aparecem como preto (Kevan, 1972 apud Sinha & Sharma, Brasil. Rev. Bras. Zool., 13(4):903-921. 1984). Desta forma é presumível que as flores velhas de L. camara Hero, J. M. (1989). A simple code for toe clipping anurans. Herp. são vistas como pretas por seus visitantes e assim evitadas em relação Rev.20:66-67. às flores amarelas (Sinha & Sharma, 1984). Neste trabalho foi realizado um experimento para analisar as Krebs, C. J. (1989). Ecological methodology. Harper & Row estratégias de atratividade do arranjo floral de L. camara. Testa a Publ., New York, 654pp. influência desta mudança de cor na atração dos visitantes e a pos- Primack, R. B. & Rodrigues, E. (2001). Biologia da conservação. sibilidade de, após o visitante se aproximar da planta ele ser capaz Copyright by Primack, R. B. & Rodrigues, E., 2001. 328pp. de avaliar a recompensa pela cor das flores presentes e a influência

484 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado dessa avaliação no forrageio e no deslocamento para outra planta. visitas (média = 147 ± 7,61). A planta do tratamento Velhas sem- 2. Métodos pre recebia um número menor de visitas (média = 59,75 ± 6,66). A O trabalho foi realizado na Estação Ecológica da Universidade partir dos resultados da análise de variância e do teste de Tukey foi Federal de Minas Gerais, localizada no campus Pampulha. Foram possível ver que os tratamentos Controle e Jovens estão bem pró- escolhidos na area da Estação Ecológica da UFMG, dois locais ximos quanto ao número de visitações, e o tratamento Velhas fica onde estivessem presentes pelo menos três indivíduos de L. camara. isolado com um número menor de visitas. Uma das áreas de estudos (aqui denominada Mata) situava-se em Como o grupo contendo apenas flores jovens foi menos visita- uma borda de mata secundária onde a vegetação predominante era do que o controle, é possível inferir que o contraste entre a cor de de árvores e cipós. A outra area de estudos (Brejo) era mais aberta flores novas e velhas também é uma importante ferramenta de em relação à área de mata, predominando arbustos e gramíneas. atração e sinalização. De acordo com a idéia de que o visitante Essa área se encontra circundada por um brejo com vegetação aprende qual o tipo de flor tem a melhor recompensa e cria uma higrófila e por uma mata secundária. imagem de busca, era de se esperar que as inflorescências do grupo Foram realizados três tratamentos em L. camara. Em uma Jovens fossem mais visitadas, aumentando a eficiência do planta (Controle) foram mantidas todas as flores, em uma Segunda polinizador e conseqüentemente o sucesso reprodutivo da planta (Jovens) foram mantidas apenas as flores amarelas e no último (Motten et al., 1981). Uma explicação que pode ser proposta para (Velhas) foram mantidas apenas as flores vermelhas. Após a monta- essa maior quantidade de visitas no grupo controle é de que as gem do experimento, os três indivíduos de L. camara foram obser- inflorescências do grupo controle estando intactas, podem funcio- vados seguidamente formando uma repetição das 09:00 até as 17:00 nar como melhores plataformas de pouso para seus visitantes. Outra horas. A cada visita anotava-se a hora da visita e o tipo de visitante. explicação mais simples é aceitar que todos os visitantes já estão Foi observado o comportamento do visitante ao se aproximar da condicionados com as inflorescências do grupo controle, já que é planta, em relação ao pouso e à coleta do recurso. Foram realiza- dessa forma que elas a encontram na natureza (Hill et al., 1997; dos quatro dias de observação. Para comparar o número médio de Weiss, 1997). visitas em plantas de cada tratamento foi feita uma análise de No tratamento Velhas houve casos em que o visitante, após se variância e um teste de Tukey. aproximar da planta, não chegava a visitar efetivamente a Para avaliar a quantidade de nectar nas flores, foram colocados inflorescência. Na área Mata, de 97 borboletas que se aproxima- sacos de tule em cinco inflorescências de L. camara protegendo-as de ram da planta, apenas 44 realmente chegaram a pousar sobre a serem visitadas. Essas inflorescências, ensacadas por volta do meio inflorescência e buscar a recompensa, enquanto 53 borboletas iam dia, ficaram na área Brejo por 48 horas. Após esse período as embora ou em direção a outra planta. Na área Brejo, de 142 visitas inflorescências foram coletadas, junto com outras cinco inflorescências o número de borboletas que buscavam a recompensa foi de 80 e o que não estavam protegidas pelos sacos. As inflorescências foram de desistências foi de 62. O número total de desistências corresponde levadas para o laboratório e sob um lupa foi examinada a presença de a 48,11 % do total de visitantes que se aproximaram às plantas néctar em flores vermelhas, amarelas e botões. A quantidade de deste tratamento. néctar foi medida com uma micro seringa e a concentração de açúcar 4. Conclusões no néctar medida com um refratômetro de mão. A partir dos resultados obtidos pela avaliação de ocorrência e 3. Discussão e Resultados quantidade de néctar podemos então concluir que uma flor verme- O procedimento realizado para avaliar a presença, volume e lha terá néctar desde que não seja visitada em seu primeiro dia de concentração do néctar apresentou interessantes resultados. Nas vida. Isso justifica o número considerável de visitas que o trata- inflorescência não ensacadas, de 30 flores vermelhas observadas, mento Velhas recebeu. O polinizador inexperiente ao visitar uma 27 não tinham néctar, duas tinham néctar em quantidades míni- inflorescência e encontrar uma flor vermelha com néctar, computa mas (não mensuráveis), e uma tinha 2,5 ml de néctar na concentra- a informação de que mesmo sendo as flores amarelas mais ricas em ção de 5% de açúcar. De 69 flores amarelas, apenas oito nãn ti- néctar, algumas vermelhas também o têm. A partir dessa idéia ele nham néctar, 54 tinham quantidades imensuráveis e sete tinham de passa então a considerar a possibilidade de flores vermelhas terem um a dois ml de néctar, com a concentração variando de 7 a 11%. néctar, mesmo que em menor freqüência. A ausência de néctar na maioria das flores vermelhas sujere que Ao que tudo indica, a estratégia de Lantana camara de manter apenas algumas flores que não tinha sido visitadas no dia anterior as suas flores velhas no arranjo floral é eficiente na atração de continham néctar. Nas flores amarelas a presença de néctar em visitantes florais, pois o tratamento com ambas as flores foi o mais quantidades muito pequenas indica que, como essas flores foram visitado. Porém também foi observada a grande importância que coletadas após o meio dia, o período da manhã foi suficiente para têm as flores jovens, já que são a fonte de recompensa e o real a maior parte das flores serem visitadas. atrativo para o visitante. Isso pode ser dito já que as inflorescências Nas inflorescências ensacadas, todas as flores continham néc- com flores velhas foram significativamente menos visitadas, pelo tar. Para 33 flores vermelhas, cinco apresentaram quantidades não fato de serem vistas como manchas negras pelas borboletas. mensuráveis, e 28 flores tinham boas quantidades de néctar. A O menor número de visitantes no grupo Velhas indica que média do volume de néctar encontrado nessas flores era 2,43 ± ocorre um significativo aprendizado por parte dos visitantes em 1,15 ml; e a da concentração do néctar 9,92 ± 3,49 %. Todas as busca de uma melhor recompensa. Isso também pode ser reforçado flores amarelas apresentaram boas quantidades de néctar sendo a pelo grande número que após se aproximar destas plantas não média do volume de 2,94 ± 0,62 ml e a da concentração 14,20 ± chegava a visitar as inflorescências. Esses resultados podem sugerir 2,44 %. Como as inflorescências estavam todas protegidas, é possí- uma coevolução entre a planta e o visitante. vel assegurar que as flores não foram visitadas nesse período. As flores 5. Referências Bibliográficas vermelhas apresentaram menores quantidades e concentrações de ASHMAN, T. & SCHOEM, D. J., 1996. Floral Longevity: Fitness néctar pelo fato das flores que estavam amarelas no momento em Consequences and Resource Costs, pp 112-139, Floral Biology, que foram ensacadas já terem recebido visitas pela manhã. Como as Chapman & Hall flores amarelas ensacadas não receberam nenhuma visita, elas apre- DELPH, L. F. & LIVELY, C. M., 1989. The Evolution of Floral sentaram maiores quantidades e concentrações de néctar. Color Change: Pollinator Attraction Versus Physiological Constraints Em todos os dias de observação o indivíduo de L. camara mais in Fuchsia excorticata. Evolution, 43 (6), pp 1252-1262 visitado era o de tratamento Controle (média = 164,75 ± 13,61). A planta do tratamento Jovens também recebia um número alto de FAEGRI, K. & VAN DER PIJL, L., 1980. The Principles of

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 485 Cerrado Volume I

Pollination Ecology. 3.a edição revisada, Pergamon Press, 221 pp Entre esses fatores, um dos que mais afetam a fisiologia das GORI, D. F., 1989. Floral Color Change in Lupinus argenteus plantas, é o armazenamento temporário de água no solo (ARM), o (Fabaceae): Why Should Plants Advertise the Location of qual é de fundamental importância no estudo da disponibilidade Unrewarding Flowers to Pollinators. Evolution, 43 (4), pp 870-881 de água para as plantas (Oliveira et. al., 1995). As variações de água no solo são um reflexo das taxas de evapotranspiração, precipita- HILL, P. S. M., WELLS, P. H. & WELLS, H., 1997. Spontaneous ção e movimentos da água no perfil do solo (Reichardt, 1988). Flower Constancy and Learning in Honey Bees as a Function of Thornthwaite e Mather (1955) desenvolveram um método sim- Colour. Animal Behaviour, 54, pp 615-627 ples de se calcular o ARM. Desse modo, através da precipitação e KEVAN, P. G., 1972. Floral Colours in the High Arctic with Refe- evapotranspiração potencial, passou a ser possível determinar a rente to Insect Flower Relations and Pollinators. Canadian Journal variação do armazenamento de água no solo, agilizando-se os estu- of Botany, 50, pp 289 dos de disponibilidade hídrica local e regional, no sentido de se LAMONT, B., 1985. The Significance of Flower Colour Change obter uma compreensão cada vez maior do balanço hídrico, e do in Eight Co-occurring Shrub Species. Botanical Journal of the Linnean seu efeito sobre o rendimento das espécies e avaliar a capacidade de Society, 90, pp 145-155 manutenção da água no sistema. LAMONT, B. & COLLINS, B. G., 1988. Flower Colour Change Em vista disso, este trabalho teve como objetivo comparar o in Banksia ilicifolia: A Signal for Pollinators. Australian Journal of ARM medido com o ARM calculado através do balanço hídrico, Ecology, 13, pp 129-135 sob o cultivo de duas espécies de uso múltiplo, nativas do cerrado. 2. Material e métodos MORTON, J. F., 1994. Lantana, or Red Sage (Lantana camara L., Foi dado prosseguimento a um trabalho iniciado em 1999, em [Verbenaceae]), Notorious Weed and Popular Garden Flower; Some um agroecossistema onde estão sendo estudados o comportamen- Cases of Poisoning in Florida. Economic Botany, 48 (3) pp 259-270 to das seguintes espécies: taxi-branco, Sclerobium paniculatum (ma- MOTTEN, A. F., CAMPBELL, D. R., ALEXANDER, D. E. & deira) e mangabeira, Hancornia speciosa (frutífera / látex). MILLER, H. L., 1981. Pollination Effectiveness of Specialist and O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Generalist Visitors to a North Carolina Population of Claytonia UFMT, no município de Santo Antônio do Leverger - MT (15,8º virginica. Ecology, 62 (5), pp 1278-1287 S e longitude 56,1º W), com altitude de 140 m. A região do PEREIRA, J. M., BARRETO, R. W., ELLISON, C. A., MAFFIA, Experimento é denominada Depressão Cuiabana e apresenta clima L. A., 2003. Corynespora cassiicola f. sp lantanae: a potential tipo Aw, segundo Köppen, vegetação de savana arbórea aberta e biocontrol agent from Brazil for Lantana camara. Biological Control, solos concressionários com profundidade média de 0,9 m. 26, pp 21-31 O espaçamento utilizado foi o de 3m x 3 m e cada parcela foi SCHEMSKE, D. W., 1976. Pollinatior Specificity in Lantana camara composta por 40 plantas. O experimento foi avaliado no período and L. trifolia (Verbenaceae). Biotropica, 8 (4), pp 260-264 de setembro de 2002 a março de 2003. Foram coletadas mensalmente no período, amostras deforma- SINHA, S. & SHARMA, A., 1984. Lantana camara L. – A Review. das de solo para a determinação do armazenamento temporário de Feddes Repertorium, 95 (9-10), pp 621-633 água (ARM), nas profundidades de 15, 45 e 75. As amostras de WEISS, M. R., 1995. Floral Colour Change: A Widespread solo foram coletadas embaixo da copa das 2 espécies avaliadas, Functional Convergence. American Journal of Botany, 82 (2), pp então transportadas para o laboratório, onde se determinou a mas- 167-185 sa úmida. As amostras foram colocadas em estufa a 105 ºC, por 24 WEISS, M. R., 1997. Innate Colour Preferences and Flexible horas, obtendo-se a umidade em porcentagem (%) da massa seca. Colour Learning in the Pipevine Swallowtail. Animal Behaviour, Além disso, para avaliação da densidade do solo foram feitas cole- 53 (5), pp 1043-1052 tas de amostras de solo indeformadas, em 3 repetições nas profun- didades supra citadas. Com isso, obteve-se a umidade a base de 3 3 Estimativa do armazenamento de água no solo sob volume (cm .cm ) e o ARM (mm). cultivos de espécies de uso múltiplos nativas do Comparou-se, o armazenamento temporário de água medido, com o calculado através do balanço hídrico desenvolvido por cerrado Thornthaite-Mather (1955), adaptado por Camargo e Pereira a b Joaquim Alex Rodrigues Duran , José Holanda Campelo Júnior , (1990) para cultivos. No caso do balanço hídrico específico de um Luciano Roberto Brauwers e Giovani José da Silvaa a cultivo, visa-se calcular o ARM levando-se em consideração tanto Estudante de Mestrado em Agricultura Tropical o tipo de vegetação como sua fase de crescimento e desenvolvi- ([email protected]) bProf. Dr. Depto. de solos e Eng. Rural - mento. A capacidade de armazenamento de água do solo (CAD) Núcleo de Tecnologia em Armazenamento - NTA/FAMEV/UFMT. foi estimada em 81 mm na camada de 90 cm. Para o cálculo da Evapotranspiração Potencial ETo, nos decê- 1. Introdução nios, foi utilizado o método de Thornthwaite (1948) corrigido por Na conservação da natureza, particularmente do solo e água, é Amorim et al. (1999), baseado em dados de temperatura média do necessário o entendimento e o monitoramento dos efeitos ar. Para o balanço hídrico da cultura, considerou-se a ambientais sobre os agroecossistemas. Nas áreas onde a destruição Evapotranspiração Máxima da Cultura (Etc), que é estimada pelo da mata ocorre, a sua recomposição com a introdução de espécies coeficiente de ajuste, denominado de Coeficiente de Cultura (Kc). arbóreas pode ser uma alternativa para o manejo adequado de Os coeficientes Kc das espécies observadas, foram obtidos pelo bacias hidrográficas. método proposto por Camargo e Pereira (1990), através do Índice Na região de cerrados, árvores de uso múltiplo com potencial de Área Foliar (IAF) e cobertura do solo pelo mato das entrelinhas. madereiro, frutífero e medicinal devem ser avaliados, visando tanto Assumiu-se que o mato cobriu 40 % do terreno. a recuperação de áreas degradadas quanto o enriquecimento de A área foliar (m2), foi obtido na mangabeira, através da retirada áreas destinadas à preservação ambiental (Rezende, 1998). Entre- de todas as folhas em 3 plantas sorteadas aleatoriamente num tanto, a recomendação do uso dessas espécies, deve ser precedida plantio contíguo a área experimental, em 3 repetições. No taxi, o pela realização de estudos que identifiquem qual é o comporta- procedimento foi diferente, pois em vez da retirada de todas as mento de cada uma, frente aos fatores ambientais que afetam o seu folhas, retirou-se as folhas de um ramo representativo das plantas. crescimento e desenvolvimento. As folhas foram transportadas para o laboratório, onde foi fotogra-

486 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado fada uma sub-amostra de cada espécies, e medida a área foliar acordo com a espécie. através do aplicativo SCANPRO. A matéria seca das folhas, das 5.Referência bibliográfica amostras e subamostras, foi determinada, em estufa a 70º C por 72 Amorim, M. C., Tomasella, J. Sediyama, G. C. E Rossato, L. (1999). horas, e calculou-se para a amostra área foliar total. Através da área Um fator de correção para o modelo de Thornthwaite. Engenharia foliar medida e das medidas de projeção de copa, foi obtida uma agrícola, v. 7, n. 4. Out/Dez. p. 224 - 232. equação de regressão, que permitiu estimar a área foliar de todas as Camargo, A. P. E Pereira, A. R. (1990). Prescrição de rega por plantas em 5 épocas diferentes. Para se obter o IAF (m2.m-2) divi- método climatológico. Fun. Cargill. 27 p. diu-se a área foliar pela área do espaçamento (9 m2). Os dados diários de precipitação (mm) e de temperatura (ºC) Campelo Júnior, J. H.; Medeiros, R. A.; Brauwers, L. R. (2002). foram registrados na Estação Agloclimatólogica Padre Ricardo Remetter, Simulação do balanço hídrico do solo em pastagem sob condições de instalada a aproximadamente 1.000 m do local do experimento. cerrado. In: XIV Reunião Brasileira de manejo e conservação do 3. Resultados e discussão solo e da água. Cuiabá. Anais... Cuiabá: Editora da UFMT. p. 148. A densidade do solo não variou entre as parcelas das espécies, Evett, S. R. & Lascano, R. J. (1993) ENWATBAL.BAS: a porém apresentou diferença estatística pelo teste de Tukey a 5% de mechanistic evapo-transpiracion model written in compiled basic. probabilidade nas profundidades, na camada de 0 - 30 foi de 1,37 Madison: Agronomy Journal, v. 85, n. 3, 1993. p. 763 - 772. 3 3 3 g/cm ; 30- 60, 1,30 g/cm e; 60 -90 cm, 1,26 g/cm . Larcher, W. (2000). Ecofisiologia vegetal. Rima, ed 1. São Carlos. A área foliar da mangabeira foi calculada através da equação 1: P. 231-294. AF = 1,9068 x (PC) - 0,2495 R2 = 0,8357...... 1 Oliveira, O. J.; Valle Júnior, R. F.; Bastos, E. R. E Carvalho, L. G. Em que: AF = Área foliar e PC = Projeção de Copa (1995) Determinação da difusividade hidráulica em um latossolo Para o taxi, a área foliar foi calculada pela equação 2: roxo distrófico. Revista Agricultura Tropical, vol. 1, n. 1. Cuiabá: AF = 1,1709 x (PC) + 1,8809 R2 = 0,8857...... 2 UFMT. p. 56 - 63, O taxi, apresentou maiores valores de IAF, variando de 2,31 a 3,17 m2.m-2 , na mangabeira o IAF variou de 0,26 a 0,6 m2.m-2. Pereira, A. R., Angelocci, L. R. E Sentelhas, P. C. (2002) Possivelmente, o maior IAF verificado no taxi está correlacionado Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Guaíba: Agropecuária.270-271 p. com a eficiência do aproveitamento da água e CO2 e sua transfor- mação em biomassa. Segundo Larcher (2000), o IAF está em es- Reichardt, K. (1985) Processos de transferência no sistema solo- treita relação com as condições predominantes do ambiente e com planta-atmosfera. Ed. 4. Campinas: Fundação Cargill. 445 p. os tipos ecofisiologicamente distintos (características morfológicas Rezende, A. V. (1998). Importância das matas de galeria: manu- e fisiológicas). O valor de Kc variou de 0,67 a 0,7656 no taxi e 0,52 tenção e recuperação. In: Cerrado: matas de galeria. RIBEIRO, J. a 0,67 na mangabeira. Segundo Pereira et al. (2002) em culturas F. EMBRAPA - CPAC, 1998 (PLANALTINA:DF). 3 - 16 p. perenes, após a maturidade (fase produtiva), os valores de Kc vari- Thornthwaite,C. W. (1948). An approach toward a rational am apenas em função da desfolha que ocorre no período repouso vegetativo, para regiões tropicais na época da seca, apresentando clasification of climate. Geogr. Review 38:55-94. uma variação de 0,65 a 0,9. Thornthwaite,C. W.; Mather, J. R. (1955). The water balance. A água armazenada no solo nas parcelas de mangabeira, duran- Publications in Climatology, New Jersey, Drexel Inst. Of te o período de avaliação, apresentaram valores de ARM que vari- Technology. 104 p. aram de 13,77 mm a 102,22 mm, no perfil de 0 - 90 cm de profun- didade. Para o taxi, observou-se no mês de setembro de 2002 (final Composição e estrutura da vegetação lenhosa de um do período seco) valores de umidade abaixo do Ponto de Murcha cerrado strictu sensu localizado na região de Permamente, assim não havendo água disponível às plantas. Em transição Cerrado-Floresta amazônica, Brasil. fevereiro de 2003 obteve-se 106,65 mm de ARM. Joice Nunes Ferreira a, Mercedes Maria da Cunha Bustamante a , De acordo com o coeficiente de determinação, o ARM calcu- Diana Garcia Montiel b ,Pedro Luiz Simpson Junior a, César Luiz lado foi satisfatório quando comparados com o ARM medido em Prado Coelho a, Danielle Sousa Matias a, Ana Paula Martins Ferreira ambas espécies. No taxi o ARM medido pode ser explicado em a, Eric Davidsonb, Igo Lepschc cerca de 70 % através do ARM calculado pelo balanço hídrico da a Universidade de Brasília ([email protected]), bThe Woods cultura. A correlação linear foi positiva de 0,8359 (equação 3): Hole Research Center, USA, 2 ARM medido = 1,0073ARM calculado - 3,2222 R = 0,6987...3 c Universidade Federal de Lavras Quanto a mangabeira, o coeficiente de determinação foi de 84%, representando significativamente o ARM medido, apresen- 1. Introdução tando correlação linear positiva de 0,9168 nas condições do O Cerrado, termo local para a savana brasileira, ocupa área experimento(equação 4): superior a 1,5 milhão de Km2, situando-se entre as latitudes 3º S e ARM medido = 1,8282ARM calculado - 62,86 R2 = 0,8405.....4 24º S e longitudes 41º W e 63º W. Apesar de ocorrer em ampla Na literatura encontra-se diversos modelos matemáticos que faixa geográfica, as distintas áreas deste bioma têm em comum a estimam satisfatoriamente a umidade do solo (Evett e Lascano, sazonalidade das chuvas, concentradas em cerca de seis meses do 1993). Campelo Júnior, et al. (2002) avaliando o desempenho de ano, solos oligotróficos e a ocorrência freqüente de fogo. A dispo- um modelo de simulação no regime de umidade num solo sob nibilidade de água é uma limitação ecológica crucial para as plantas pastagem, verificou que a umidade calculada foi capaz de explicar de ambientes sazonais como o Cerrado. As camadas do solo mais mai de 75 % da varância da umidade do solo medida. próximas da superfície mostram um contraste abrupto de umidade As variações de armazenamento de água no solo ao longo do entre as estações seca e úmida. tempo, acompanharam o comportamento da precipitação Dentre todas as savanas neotropicais, a flora do Cerrado se pluviométrica observada no mesmo período, e o padrão das varia- destaca como a mais diversa e estruturalmente complexa (Solbrig ções foi diferente nas parcelas das duas espécies. 1996). Estudos fitogeográficos deste bioma têm se intensificado 4. Conclusões recentemente e mostram que diferenças notáveis existem desde - Nas condições do estudo o ARM calculado pelo método de escalas menores a escala regional (Felfili et al. 2001; Ratter et al. Thornthwaite-Mather (1955) foi semelhante ao ARM medido; 2000). Os estudos de Ratter et al. (1998, 2000) mostraram que o - A quantidade de água armazenada no perfil do solo, varia de

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 487 Cerrado Volume I

Cerrado possui elevado número de espécies mas que a composição Kielmeyera latrophyton foram exclusivas de Javaés-2. Em Javaés-5, destas espécies em cada local é extremamente heterogênea com foram exclusivas as espécies Heteropteris byrsonimfolia, Vochysia rufa, poucos táxons amplamente distribuídos. Ratter et al. (1996) de- Salacia crassifolia, Tocoyena formosa, Hirtella glandulosa, Annona monstraram existir um forte padrão geográfico na distribuição da coriacea, Aspidosperma macrocarpa, Psidium myrsinites, Dipteryx alata, flora do Cerrado, onde a região norte - Maranhão, Piauí, Tocantins Eriotheca parvifolia, Enterolobium gummiferum, Tabebuia aurea, e Pará – compõe um grupo com maior afinidade florística entre si, Tabebuia ochraceae, Himatanthus obovatus, e Acosmium dasycarpum. sendo separado dos grupos central, centro-oeste, sudeste, sul e Dentre as espécies mais importantes na comunidade, Myrcia amazônico. multiflora se destacou em relação a densidade e freqüência nas Apesar dos avanços no entendimento da distribuição da flora parcelas enquanto Qualea parviflora apresentou a maior dominância do Cerrado (Ratter 1998, 2000), as áreas localizadas nos limites de relativa (área basal). Em termos de número de indivíduos, estas distribuição do bioma permanecem pouco conhecidas. O objetivo duas espécies representaram 45,47% da comunidade. Q. parviflora deste estudo foi caracterizar, florística e estruturalmente, uma área é uma espécie de ampla distribuição ao longo do cerrado (Ratter et de Cerrado localizada na região de transição com a Floresta Ama- al. 2000) mostrando-se ecologicamente bastante generalista. Por zônica, estabelecendo comparações com áreas do cerrado central. outro lado, M. multiflora é uma espécie de distribuição muito 2. Métodos restrita (cerrados de Paraná, São Paulo e Goiás), cuja ocorrência A área de estudo localiza-se na Planície do Araguaia, estado do ainda não havia sido registrada para o Tocantins nos levantamentos Tocantins, em região de ecótono Cerrado-Floresta Amazônica. A de Ratter (2000). A ocorrência restrita sugere a existência de espe- precipitação média anual é cerca de 1900 mm e a altitude local cialização de nicho. A área de estudo apresenta condições edáficas cerca de 200 m. Foram estudados dois sítios: Javaés-2 (10°06.078’S– peculiares uma vez que os solos dominados por concreções lateríticas 49° 52.889’W) e Javaés-5 (10°03.311’S–49°52.245’W). Um representam apenas pequena parte (< 10%) das classes de solos do transecto de 275 m de comprimento foi estabelecido em cada sítio cerrado (Adámoli et al. 1985). O conteúdo gravimétrico de água para estudos da composição e estrutura da vegetação lenhosa, do variou de 5,7 a 19,2% na estação seca e de 8,0 a 34,9% na estação conteúdo de água do solo e descrição geral dos solos. chuvosa. Estes solos devem impor pressões seletivas fortes à comu- Para os estudos da vegetação, foram distribuídas sistematica- nidade vegetal especialmente pela baixa capacidade de retenção de mente 28 parcelas contíguas de 10 m x 10 m ao longo do transecto umidade e pela distribuição em matriz laterítica. de estudo. Foram selecionadas, a partir dos dados de disponibilida- As estimativas de densidade por hectare foram de 2177,78 de hídrica, 18 parcelas para o sítio Javaés-2 e 14 parcelas para para Javaés-2 e 6671,43 para Javaés-5. Em relação à área basal, as Javaés-5 perfazendo uma área de 3200 m2. Nas parcelas estimativas por hectare foram 11,374 m2 e 19,085 m2 para os sítios selecionadas, todas as plantas lenhosas vivas com perímetro maior 2 e 5, respectivamente. As comunidades estudadas diferiram consi- ou igual a 9 cm foram identificadas e medidas quanto a altura e deravelmente em termos estruturais da grande maioria dos sítios diâmetro a 30 cm do nível do solo. do cerrado central. Sítios de cerrado estudados por Felfili et al. O conteúdo de água do solo foi determinado no fim da estação (1993) apresentaram densidades por hectare variando entre 664 seca (setembro/2002) e no fim da estação chuvosa (maio/2003) pelo indivíduos em Minas Gerais e 1396 na Estação Ecológica de Águas método gravimétrico. Tradagens foram feitas em três pontos ao lon- Emendadas, Distrito Federal. go do transecto para as seguintes profundidades: 0-10cm, 10-20cm, 4. Conclusões 40-50cm, 90-100cm, 150-160cm, 200-210cm, sendo as duas últi- O cerrado marginal estudado apresentou, em comparação ao mas apenas para o período chuvoso. Duas trincheiras de 1 metro de cerrado central, níveis intermediários de riqueza e diversidade de profundidade foram excavadas para descrição geral dos solos. espécies lenhosas, com dominância relativamente alta de alguns 2. Discussão e Resultados táxons. A alta densidade em número de indivíduos foi a principal Nas duas áreas amostradas, foram encontrados 1326 indivídu- peculiaridade da comunidade. As relações de uso de água das dife- os pertencentes a 47 espécies e 22 famílias. Destas, 26 espécies rentes espécies sob solos plínticos merecem ser investigadas. ocorreram em Javaés-2 e 43 espécies ocorreram em Javaés-5. A 5. Referências Bibliográficas riqueza da flora na região é compatível com áreas do cerrado cen- Felfili, J.M., Sevilha, A.C. & Silva-Junior, M.C. (2001). Compara- tral que apresentam riqueza variando entre 50 e 80 espécies em 1 ção entre as unidades fisiográficas Chapada Pratinha, Veadeiros e hectare (Felfili & Silva-Junior 1993). A similaridade florística pelo Espigão Mestre do São Francisco. In Biogeografia do bioma cerra- índice de Sorensen entre as duas áreas foi 0,69. Em relação a do – estudo fitofisionômico da Chapada Espigão Mestre do São diversidade de espécies, os índices de Shannon foram de 2,131 para Francisco. In Felfili, J.M. & Silva-Junior, M.C. (Orgs.).Universidade Javaés-2 e de 2,634 para Javaés-5. A equabilidade de Pielou foi de de Brasília, Depto. Engenharia Florestal. p. 80-102. 0,654 em Javaés-2 e de 0,7 em Javaés-5. Os índices de diversidade Felfili, J.M. & Silva-Junior, M. C. (1993). A comparative study of comumente encontrados no Brasil Central variam de 3,044 a 3,734 cerrado (sensu stricto) vegetation in Central Brazil. Journal of Tro- para 1 hectare de área amostrada. Comparando-se os valores de pical Ecology 9: 277-289. equabilidade àqueles obtidos para o cerrado core, entre 0,753 e 0,884 (Felfili & Silva-Junior 2001), observa-se que a área estudada Ratter, J. A., S. Bridgewater, et al. (1996). Analysis of the floristic apresenta distribuição do número de indivíduos sensivelmente composition of the brazilian cerrado vegetation II: comparison of menos eqüitativa. the woody vegetation of 98 areas. Edinburgh Journal.of Botany. Dentre as 22 famílias encontradas, 15 ocorreram no primeiro 53(2): 153-180. sítio e 20 no segundo sítio. As espécies mais importantes na comu- Ratter, J.A., Bridgewater, S., Ribeiro, J.F., Dias, T.A.B., Silva, M.R. nidade foram respectivamente Myrcia multiflora, Qualea parviflora, (2000). Distribuição das espécies lenhosas da fitofisionomia Cer- Erytroxylum cf suberosum e Davilla elliptica. As duas áreas apresen- rado sentido restrito nos estados compreendidos pelo bioma Cer- taram em comum as quatro famílias mais importantes, sendo em rado. Boletim do Herbário Ezechias Paulo Heringer 5: 5-43. ordem decrescente: Vochysiaceae, Myrtaceae, Dilleniaceae e Solbrig, O.T. 1996. The diversity of the savanna ecosystem. In Solbrig, Erytroxylaceae. As demais famílias alternaram-se em posição de O.T., E. Medina and J.A. Silva, editors. Biodiversity and Savanna importância entre os dois sítios. As famílias Caryocaraceae e Ecosystem Processes, Springer Verlag, Heidelberg, Pages 1-27 Guttiferae foram exclusivas de Javaés-2. As famílias Rubiaceae, Hippocrateaceae, Apocynaceae, Annonaceae, Chrysobalanaceae e Bombacaceae foram exclusivas de Javaés-5. Em relação às espécies, Hymeneae stigonocarpa, Caryocar brasiliensis, Tabebuia serratifolia e

488 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Espécies vegetais utilizadas na medicina popular do racterizam irregulares do ponto de vista legal, porém atualmente bairro Vila Marielza, UberlAndia - MG. os moradores estão se mobilizando para a regularização dos mes- Jomar Magalhães Barbosaa ([email protected]); Fabiana da mos. As delimitações espaciais dos quintais são bem definidas com Silva Paulaa; muros e cercas. A atividade agropecuária na região é basicamente a Jimi Naoki Nakajimab horticultura, que emprega grande parte da população do bairro. a Graduando do curso Ciências Biológicas - Universidade Federal de Para a coleta de dados foi elaborado um questionário semi- Uberlândia. estruturado. O questionário abordou dados farmacológicos como b Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia indicação terapêutica e partes utilizadas, além disto, dados sobre manejo considerando os cuidados diários e especiais com as plan- 1. Introdução: tas medicinais. Dentre as plantas citadas pelos informantes foi Por meio do contato contínuo com os vegetais o homem feita, com auxilio bibliográfico, uma relação de quais são nativas do foi selecionando as espécies úteis para seu cotidiano. Esta seleção Cerrado, quais podem ocorrer no mesmo de forma invasora, e ocorreu por meio da experimentação empírica (DIEGUES & ARRUDA, quais são encontradas apenas nas hortas caseiras. 2001), resultando no conjunto de plantas utilizadas na medicina A escolha dos informantes foi por meio de indicações da pró- popular do mundo contemporâneo. pria população. Os informantes selecionados são pessoas ampla- Diante de relatos de cura e pela experiência própria dos efeitos mente conhecidas no bairro devido ao seu vasto conhecimento de determinadas plantas medicinais, as pessoas inserem essas plan- acerca de plantas medicinais e por possuírem em seus quintais uma tas no seu cotidiano cultural. As interações entre populações hu- abundancia das mesmas. . Foram visitados cinco quintais da região manas e as espécies vegetais são intermediadas por conhecimentos, urbana e um da zona rural. Em apenas um destes locais foram crenças, sentimentos e comportamentos (MARQUES, 2002). Neste entrevistados dois informantes simultaneamente. A amostragem contexto, fatores como formas de organização comunitária, ocu- foi representativa pelo fato de serem os únicos indicados pelos pação espacial, manejo e momento histórico são abordagens passí- moradores e conseqüentemente foi considerado que eles eram do- veis de serem incluídas. tados de grande parte do conhecimento de toda a comunidade. O Cerrado possui uma enorme diversidade de plantas O período de coleta de dados foi de maio a julho de 2003, com medicinais, distribuídas por todas as suas fitofisionomias, utiliza- visitas quinzenais a campo. Foram consideradas apenas as plantas das pelas populações locais (RODRIGUES, 1998; GAVILANES & coletadas e identificadas. A identificação botânica foi feita por BRANDÃO, 1998). Seja pelo seu difícil acesso ou por sua maior comparação com a bibliografia (LORENZI,2002) e auxílio dos pro- importância, algumas espécies vegetais são retiradas de seu ambi- fessores do Instituto de Biologia – UFU. O material botânico está ente natural e cultivadas nos quintais das casas. Uma característica incorporado ao herbário da Universidade Federal de Uberlândia. importante destes ambientes é o acesso imediato, o que faz com 3. Resultados e Discussão: que a manutenção de espécies importantes e o processo de Todos os entrevistados são de origem rural e de faixa etária aclimatação se tornem mais fáceis (AMOROZO, 2002). O manejo e entre 65 e 75 anos. Entre os sete, cinco são do sexo feminino e dois cultivo destas plantas podem acarretar em modificações adaptativas, do sexo masculino. Todos demonstram possuir um vasto conheci- aumentando o grau de dependência em relação ao homem (PERONI, mento acerca de plantas medicinais. Dentro da comunidade são 2002). conhecidos como os “conhecedores do assunto”, e geralmente as As plantas cultivadas em quintais, por não estarem em seu pessoas que os indicavam já haviam tido algum tipo de contato ambiente natural, necessitam constantemente de cuidados do ho- com eles e são acostumados a buscar plantas em seus quintais e mem. Sendo assim, este terá que ter uma certa noção de manejo informações de como emprega-las. Em alguns aspectos eles se asse- para cuidar das plantas de seu quintal como propagação das espé- melham com os curandeiros antecedentes que criam relações co- cies, exposição ao sol, preferência de substrato, umidade e munitárias fraternas e sem fins lucrativos (RODRIGUES, 1998). beneficiamento (CORREIA JUNIOR et. al., 1994). Em todos os quintais registrou-se um total de 41 espécies, as A destruição dos ambientes naturais do Cerrado somado a quais estão distribuídas em 21 famílias Lamiaceae (9); Asteraceae decrescente importância dada aos conhecimentos tradicionais acer- (8); Solanaceae (3); Umbelliferae(3); Gramineae (1); ca das plantas medicinais, gera a necessidade de um melhor enten- Chenopodiaceae (1); Bixaceae (1); Plantaginaceae (1); Verbenaceae dimento e resgate das relações que o homem possui com os recur- (1); Crassulaceae (1); Leguminoseae (1); Apocynaceae (1); Rutaceae sos vegetais. Tudo isto para que se amplie a inclusão do entendi- (1); Malvaceae (1); Moraceae (1); Amarantaceae (1); Polygalaceae mento da relação homem/recursos naturais nos programas de ma- (1); Phytolaccaceae (1); Boraginaceae (1); Zingiberaceae (2); nejo de áreas (BEGOSSI et.al., 2002) e de educação ambiental Poaceae (1). Destas, 33 encontram-se identificadas até espécie, 4 (MARCATTO, 2002). até gênero e 4 até família. Os objetivos do trabalho foram levantar as plantas encontra- Por meio de consultas bibliográficas e de especialistas pôde-se das nos quintais do bairro Vila Marielza utilizadas na medicina verificar que nenhuma das espécies é nativa do bioma Cerrado, popular da comunidade e analisar qualitativamente a forma de apesar de sua riqueza em plantas com potencial medicinal. Sete (7) manejo que os informantes mantêm com as plantas medicinais de espécies (Costus spicatus (Jacq.) Sw, Acanthospermum australe (Loefl.) seus quintais. Kuntze, Ageratum conyzoides L., Solanum paniculatum L., Bidens 2. Método: pilosa L., Achyrocline saturoides (Lam.) DC., Coix lacryma Job. L.) O município de Uberlândia – MG encontra-se no Triângulo são encontradas no cerrado como espécies oportunistas ou invaso- Mineiro, estando este em uma região sob domínio do Cerrado. O ras, sendo originárias de outras regiões ou até de outros países clima do município é do tipo CWA segundo a classificação de (LORENZI, 2000) ou também cultivada, como Bixa orellana L. Koppen, com estações seca e chuvosa bem definidas, versões quen- (urucum). O restante das espécies pode ser encontrado em terre- tes e úmidos e invernos frios e secos (ROSA et al. 1991). O solo é nos baldios e/ou em quintais. Todos os informantes demonstram principalmente Latossolo Vermelho-Escuro Álico, de baixa fertili- possuir também um amplo conhecimento sobre as plantas medici- dade (EMBRAPA-SNLCS/EPAMIG, 1982). nais do cerrado. As plantas cultivadas nos quintais acabam sendo O estudo foi realizado em quintais residenciais no bairro Vila mais utilizadas devido à facilidade de serem obtidas, portanto são Marielza, o qual se encontra a 23 Km do centro da cidade e a 3 Km plantas de acesso imediato. Porém, em nenhum momento os infor- do bairro mais próximo. O loteamento foi feito em 1976 (NASCI- mantes relataram dar privilégio a essas plantas, sendo que constan- MENTO, 1988). Desde o período de loteamento os terrenos se ca- temente recorrem ao cerrado para coletar espécies nativas, e foram

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 489 Cerrado Volume I

relatados vários casos de preparações caseira que utilizam tanto de LORENZI, H., MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e plantas domésticas quanto do cerrado. exóticas cultivadas. Nova Odessa: Instituto Plantarum. 2002. 512p. As partes mais utilizadas são folha (60,53%), todo o ramo MARCATTO, C. Utilização de Plantas Medicinais em Educação (28,95%) e raiz (13,15%). Foram relatadas também, porém em Ambiental. São Paulo: Rede Ambiente, 2001. Disponível em:< menor quantidade, utilizações de flor, semente, fruto, látex e caule. http://www.redeambiente.org.br> Acesso em: 10 dez. 2002. Quanto às enfermidades às quais as plantas são indicadas, consta- MARQUES, J. G. W. Olhar (des)multiplicado. O papel do interdisciplinar tou-se que as mais significativas são doenças respiratórias, doenças e do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. In: AMOROZO, gênito-urinárias e doenças do sistema circulatório. M. C. M.; Ming, L. C.; Silva, S. P. (Ed.). Métodos de coleta e análise Ao questionar os informantes sobre a forma de manejo que eles de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio mantém em seus quintais e cuidados especiais com as plantas me- Claro: Unesp. 2002. p. 31-46. dicinais, todos responderam que cuidam constantemente. A irrigação é feita diariamente, sendo que algumas plantas medicinais NASCIMENTO, D. A. Uberlândia Cem Anos. Câmara dos Vereadores necessitam de menor e outras de maior quantidade de água. Os de Uberlândia. 1988. outros cuidados citados foram poda, limpeza diária, capina (“para PERONI, N. Manejo Agrícola Intinerante e Domesticação de plan- não deixar o mato aniquilar as plantas”), transplantar a muda, tas Neotropicais: o Papel das Capoeiras. In: ALBUQUERQUE, U. P. adubação orgânica, etc. Foi notável como alguns entrevistados (et. al.). Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: SBEE. possuem um maior cuidado com seus quintais que os outros. 2002. p. 97-108. 4. Conclusão: ROSA, R.; LIMA, S. C.; ASSUNÇÃO, W. L. Abordagem preliminar das O bairro não dispõe de posto de saúde ou farmácia o que faz condições climáticas de Uberlândia (MG). Sociedade e Natureza, com que a população mantenha vários tipos de tratamentos com 1991. 3: 91-108. plantas medicinais juntamente com tratamentos com remédios RODRIGUES, V. E. G. Levantamento Etnobotânico de plantas medici- alopáticos. nais dos cerrados na região do Alto Rio Grande – Minas Gerais. In: Com a crescente inserção dos remédios alopáticos no mundo Levantamento Florístico e Etnobotânico de plantas medicinais dos moderno, ainda se observa a manutenção do uso de plantas medi- cerrados na região do Alto Rio Grande – Minas Gerais. Lavras: UFLA, cinais em algumas populações. Desta forma, os quintais de casas 1998, 234p. (Dissertação – Mestrado em Engenharia Florestal). em regiões mais afastadas do centro urbano são áreas que mantém um certo número de espécies vegetais para fins medicinais. Mesmo que as espécies encontradas não sejam da região estudada as influ- Relação das fitofisionomias do cerrado com o estado ências das interações entre homem/planta são observadas. de conservação potencial de remanescentes de A riqueza de plantas medicinais nos quintais depende bastante cerrado no Estado de São Paulo da importância dada pelo proprietário e/ou pessoa que cuida do Jorge Alberto Bustamante Becerra ([email protected]) 1 e Marisa quintal, do quanto a pessoa conhece sobre a utilização destas plan- Dantas Bitencourt 1 tas e também da intensidade que a comunidade local (parentes, 1 Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação – LEPaC, amigos e vizinhos) procura os mantenedores das mesmas para os Departamento de Ecologia - IB, Universidade de São Paulo – USP tratamentos de saúde e obtenção de mudas. Matão - Travessa 14 - nº 321 CEP: 05508-900, Cidade Universitá- 5. Bibliografia: ria, São Paulo - SP AMOROZO, M. C. M. A Abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: DI STASI, L. C. (org.). Plantas medicinais: 1. Introdução arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: Unesp. Os remanescentes de cerrado no estado de São Paulo e em 1996. p. 47-68. outros estados do Brasil, correspondem na sua grande maioria a áreas defendidas pela legislação federal, estadual ou municipal AMOROZO, M. C. M. Agricultura Tradicional, Espaços de Resistência (Burger, et al, 2002). Desta maneira, em geral, os remanescentes de e o Prazer de Plantar. In: ALBUQUERQUE [et. Al.]. Atualidades em cerrado que ocorrem nas três áreas de estudo correspondem à Etnobiologia e Etnoecologia. Recife: SBBE. 2002. p. 123-131. categoria de reserva legal, e em conseqüência, devem ser na sua BEGOSSI, A.; HANAZAKI, N; SILVANO, R. A. M. Ecologia Humana, maioria áreas com domínio de estrato arbóreo. Esta situação foi Etnoecologia e conservação. In: AMOROZO, M. C. M.; Ming, L. C.; comprovada no campo, onde das três áreas estudadas, somente Silva, S. P. (Ed.). Métodos de coleta e análise de dados em uma possui fragmentos de cerrado que pertencem a alguma catego- etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: ria de unidade de conservação. Unesp. 2002. p. 93-128. A partir destes conhecimentos, as áreas de estudo possuem, na CORREA JÚNIRO, C.; MING, L. C. ; SCHEFFER, M. C.. Cultivo de sua grande maioria, fragmentos de cerrado que correspondem a Plantas Medicinais, Condimentares e Aromáticas. Jaboticabal: categoria de reserva legal. Onde, por lei, somente se encaixam FUNEP. 2° Ed. 1994.162p áreas de cerrado com domínio de estrato arbóreo (cerradão e cer- rado). Já as áreas com domínio de estrato arbustivo herbáceo, não DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. (org). Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; são incluídas na reserva legal, as quais na sua grande maioria são São Paulo: USP. Biodiversidade 4. 2001. 176p. utilizadas como pastagem para pecuária. Desta maneira, pode ser avaliada a qualidade da vegetação, dos EMBRAPA-SNLCS/EPAMIG. Levantamento de reconhecimen- fragmentos de cerrado, das áreas de estudo usando o IVDN (Mes- to de média intrnsidade dos solos e avaliação da aptidão agrícola quita, 1998). Assim, quando analisados estes fragmentos com o das terras do Triângulo Mineiro. Rio de Janeiro: 1982. 526 p. IVDN, podemos inferir que aqueles com domínio de estrato GAVILANES, M. L. Brandão, M.; Plantas consideradas medicinais arbóreo, representam fragmentos melhor conservados. Já os frag- ocorrentes na Reserva Biológica Municipal do Poço Bonito. Belo mentos que mostram domínio de estrato herbáceo, representam Horizonte: Daphne. V.8, n.2, 1998, p.57-68. fragmentos com maior grau de perturbação. LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, para- O objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade potencial da sitas e tóxicas. Nova Odessa, SP: Instiruto Plantarum. 3° Ed. 2000. vegetação utilizando uma técnica de sensoriamento remoto para 608 p. vegetação com o intuito de elaborar um descritor do estado de conservação de remanescentes de cerrado.

490 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

2. Métodos to identificado, podemos observar que na grande maioria dos frag- A área de estudo corresponde a três Àreas Prioritárias para mentos dominam a fisionomia de cerradão, exceto no fragmento Conservação dos Remanescentes de Cerrado no Estado de São Nº 2 onde domina a fisionomia de cerrado ss. No fragmento Nº 4 Paulo (PROBIO/SP, 1997). Estas áreas foram denominadas como pode ser observado, além do domínio do estrato arbóreo, fisionomias B (que pertence à região de São Pedro do Turvo), C (Agudos) e D campestres que também evidenciam algum tipo de perturbação (Bauru), e estão localizadas na região centro-oeste do Estado. As antrôpica. três áreas estão localizadas na Bacia Sedimentar do Paraná, região No município de Bauru (Área D) foram identificados 17 frag- ocidental do Estado de São Paulo. Ocupando predominantemente mentos de cerrado. A soma das áreas dos fragmentos que possuem o Planalto Ocidental Paulista, caracterizado por colinas amplas e vegetação de cerrado é de 3713,31 ha. As fisionomias que domi- baixas, e em menor proporção o Planalto Residual de Marília, nam, quase que exclusivamente, estes fragmentos são as de cerrado caracterizado por colinas com topos amplos. ss (com 51,31%) e as de campo cerrado (com 48,41%). Em pro- A técnica de sensoriamento remoto para vegetação é o IVDN, porções inexpressíveis, encontram-se a fisionomia de campo com índice de vegetação diferença normalizada (Rouse et al, 1974) 0,24%, e as áreas sem vegetação que representam 0,01%. É impor- baseia-se nos dados de refletância coletados para a vegetação, como tante destacar que a fisionomia de cerradão representou o 0,03% a absorção da radiação no vermelho devido aos pigmentos de clo- das áreas com fragmentos de cerrado. rofila presentes nas folhas verdes do dossel e a alta reflectância no Desta maneira, diferente ao acontecido nas áreas de estudo B infravermelho próximo, devido a estrutura interna da folha (interfase e C, a fisionomia dominante nesta área é cerrado ss. Outra carac- celular) e sua orientação (Jensen, 2000). Desse modo, o IVDN, terística importante é a quase ausência da fisionomia cerradão. computados para os dados Landsat5– TM, é expresso pela seguin- Este resultado, em parte pode ser explicado pela própria natureza te equação: da vegetação que compõem esses fragmentos quanto a característi- IVDN = tm4 – tm3/tm4 – tm3 cas edáficas e climáticas. Por outro lado, também pode ser explica- Onde, tm4 e tm3, correspondem respectivamente, as imagens do pela clara pressão urbana da cidade de Bauru que limita direta- nas faixas espectrais do infravermelho próximo, 0,9 – 1,1 ?m e do mente com os fragmentos desta área de estudo, que se comporta vermelho, 0,64 – 0,69 ?m. Este índice varia de -1 a 1, onde os como a principal fonte de perturbação. É o caso, dos terrenos do valores mais elevados estão associados a uma maior densidade de Jardim Botânico que sofre ocupação ilegal de moradores, nas bor- cobertura vegetal. Assim, quando analisadas as fitofisionomias de das do Jardim, com construção de moradias e invasão de gado, cerrado, o cerradão (formação florestal de cerrado), é a assim como também, ocupação ilegal de algumas áreas pelas fábri- fitofisionomia com maiores valores de IVDN. Já, as formações cas que usam estes terrenos como depósito de lixo industrial, cau- savânicas, como campo, apresentam menores valores de IVDN. sando sérios problemas de poluição ambiental por metais pesados. 3. Resultados Quanto à composição das fisionomias de cerrado por fragmen- No município de São Pedro do Turvo (Área B) foram identifi- to identificado, pode se observar a falta de fisionomia de cerradão cados 17 fragmentos de cerrado. A soma das áreas dos fragmentos nos fragmentos analisados e o domínio das fisionomias cerrado ss e que possuem vegetação de cerrado é de 2342,79 ha. As fisionomias campo cerrado. A fisionomia campestre que corresponde a áreas que dominam estes fragmentos é o cerradão, com 54,94% destas abertas, com pouca cobertura arbórea, esta localizada principal- áreas, e o cerrado ss, que ocupa o 40,61%. A fisionomia de campo- mente no fragmento Nº 8, que corresponde à mancha de cerrado cerrado com 1,66%, a fisionomia de campo com 1,73% e áreas de maior tamanho nesta área de estudo. sem vegetação representam 0,06%. Finalmente, nesta área de estudo não foram incluídas as áreas Desta maneira, cerradão e cerrado são, claramente, as fisionomias com forte pressão humana, já que elas foram classificadas como dominantes. Este resultado é explicado devido à natureza dos frag- área urbana, pela presença contínua de casas, moradores e gado mentos que nesta área de estudo correspondem a áreas de reserva que descaracterizaram as fisionomias de cerrado que na sua maio- legal das fazendas. Por outro lado, a localização da Área B, é a mais ria foram derrubadas para dar passo as atividades mencionadas. distante dos principais centros urbanos da região: Bauru, Marilia ou 4. Conclusões Ourinhos, que via de regra são as principais fontes de perturbação. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que os frag- Quanto à composição das fisionomias de cerrado por fragmen- mentos com alguma proporção de fitofisonomias savânicas, especi- to identificado, pode se observar que na grande maioria dos frag- almente campo-cerrado e campo, podem ser associados com graus mentos dominam as duas principais fisionomias com domínio de de perturbação antrópica. Fato conferido com o trabalho de verda- estrato arbóreo, cerradão e cerrado, exceto no fragmento Nº 7 de terrestre e no trabalho de Bustamante Becerra e Bitencourt onde dominam as fisionomias de campo e campo cerrado. Este (2002). Finalmente, pode-se concluir que a metodologia utilizada caso de domínio de fisionomias campestres é um claro exemplo de conseguiu caracterizar as fisionomias de cerrado e, também, avaliar áreas que deveriam ser preservadas, mas sofrem perturbações via o grau de conservação, sempre levando em conta que os fragmen- ingresso de gado, ou então, presença de algum tipo de atividade tos estudados correspondem a reservas legais. agrícola, como pode ser constatado no campo. 5. Bibliografia No município de Agudos (Área C) foram identificados 17 frag- Bustamante Becerra, J.A. e Bitencourt, M. 2002. Mapeamento mentos de cerrado. A soma das áreas dos fragmentos que possuem temático de fisionomias de cerrado usando classificação vegetação de cerrado é de 1075,41 ha. A fisionomia que domina supervisonada fuzzy. Simpósio Ecologia e Biodiversidade do Cer- estes fragmentos é o cerradão, com 76,09% destas áreas. A fisionomia rado. Brasília-DF. de cerrado ss ocupa o 18,09%, a fisionomia de campo-cerrado com Burger, W.P.; Gadel, C. e Pivello, V.R. 2002. Conflitos legais de 4,82%, a fisionomia de campo com 0,89% e áreas sem vegetação uso das terras no entorno do Parque Estadual Vassununga, Santa representam 0,12%. Rita do Passa Quatro-SP. Simpósio Ecologia e Biodiversidade do Sendo assim, cerradão é, claramente, a fisionomia dominante. Cerrado. Brasília-DF. Nesta área de estudo, como na Área B, os fragmentos de cerrado correspondem a áreas de reserva legal das fazendas e em alguns Jensen, J.R. 2000. Processing Remotely Sensed Data: Hardware casos da indústria de celulose e madeira. Por outro lado, a localiza- and Software Considerations. In Remote Sensing in Hydrology ção da Área C, é próxima a cidade de Bauru, principal centro and Water Management, edited by G.A Schultz and E.T. Engman. urbano da região. Berlin: Springer-Verlag. Quanto à composição das fisionomias de cerrado por fragmen- Mesquita Jr, H. 1998, Análise com sensor orbital de unidades

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 491 Cerrado Volume I fisionomias de cerrado na gleba Pé-de-Gigante (Parque Estadual hectares e faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) das Vassununga – SP). Dissertação Mestrado, USP. Bacias do Gama e Cabeça do Veado, abrangendo as Áreas Relevan- PROBIO/SP, 1997. Cerrado: Bases para conservação e uso sus- tes de Interesse Ecológico (ARIEs) Capetinga/Taquara, também tentável das áreas de cerrado do Estado de São Paulo. Secretaria do denominadas Estação Ecológica da Universidade de Brasília. 2 Meio Ambiente do Estado de São Paulo, SP. 184p. A área experimental de 3500 m está situada a uma altitude de aproximadamente de 1050m (15o57’33,3”S; 47o55’52,6”W). Pela Rouse, J. W., Haas, R. H., Schell, J.A. and Deering, D. W. classificação de Köppen o clima da região corresponde ao tipo 1974.Monitoring Vegetation Systems in the Great Plains with Cwa, com precipitação pluviométrica anual entre 1400 e 1600 ERTS, Proceedings, Third Earth Resources Technology Satellite - mm, temperatura média anual de 20,4° C e umidade relativa do ar 1 Symposium, Greenbelt: Nasa SP-351, 3010-317. de 50% a 70% (Nimer & Brandão, 1989). Os solos mais comuns nas áreas de cerrado sensu stricto são Latossolos Vermelho-Escuros Estrutura populacional de Vellozia flavicans Mart. Ex. e Latossolos Vermelho-Amarelos (Haridasan, 1993). Schult. (Velloziaceae) em uma área de cerrado sensu A área foi dividida em parcelas de 10 x 10 m (35), e foram stricto da Fazenda Água Limpa, Brasília, DF. medidos os seguintes parâmetros: número de indivíduos; altura da José Benito Guerreroabd; Ana Paula de Oliveiraab; Márcia M. Mauésae; planta (medida desde a base do caule até maior ponto de cresci- Clarissa M. Knoechelmannab; Diana G. Simõesab; Letice C. Françaac; mento); circunferência a 30 cm do solo (indivíduos com bifurcação Paulina A. Ribeiroac & John Du Vall Hayf antes deste ponto não foram registrados); número de bifurcações aPós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília; bBolsista do por individuo; número de módulos vivos e mortos (com tamanho CNPq; cBolsista da CAPES; dInstituto de Pesquisa Ambiental da igual ou maior a 10 cm) e indícios de reprodução do ano anterior Amazônia; eEmbrapa Amazônia Oriental; fDepartamento de e atual, através de estruturas reprodutivas (flores, frutos e Ecologia, Universidade de Brasília pedúnculos florais secos) presentes nas plantas. Os dados foram coletados durante o mês de maio de 2003, no período de transição 1. Introdução entre a estação chuvosa e a estação seca. Entre os grandes tipos de vegetação no mundo, o Cerrado Para determinar a relação entre as variáveis foram feitas corre- pode ser classificado como uma savana tropical (Eiten, 1979). As lações e aplicadas análises de regressão simples, calculando-se coe- formações savânicas na América do Sul ocupam 2,5 milhões de ficientes e as equações correspondentes. A regressão logística foi km2, dos quais cerca de 80 % correspondem ao Cerrado brasileiro usada para determinar a probabilidade de reprodução em função (Sarmiento, 1984), que ocorre principalmente no planalto central, da altura e o diâmetro dos indivíduos. As análises das estruturas constituindo o segundo maior bioma do país (Ribeiro & Walter, populacionais consistiram da elaboração de histogramas, cujos in- 1998). Embora o fogo seja considerado um determinante da vege- tervalos de classe foram definidos pela fórmula A/K (Paixão, 1993), tação do Cerrado, a sua rápida ocupação resultou na alteração do onde A representa a amplitude para o parâmetro (altura ou diâme- regime natural do fogo (época e freqüência), com conseqüências na tro) e K é definido pelo algoritmo de Sturges: K=1+3,3 log N, onde estrutura e composição da vegetação (Raw & Hay, 1985; Miranda N é o número de indivíduos amostrados (Schiavini et al., 2001). et al., 2002). 3. Resultados e Discussão A variação no tamanho entre indivíduos de uma população de Foram registrados 164 indivíduos de V. flavicans nas 35 parcelas plantas assume importância relevante, uma vez que, o tamanho amostradas. A distribuição de freqüência por classes de altura mos- pode estar correlacionado com a sobrevivência e a fecundidade. O trou um padrão diferente do esperado, pois não houve predomínio crescimento das plantas é intensificado pela produção de módulos de indivíduos pequenos, verificando-se um maior número de indiví- reprodutivos. Por isso é quase sempre encontrada a correlação duos nas classes intermediárias. A população estudada não mostrou entre tamanho (número de módulos) e fecundidade (Weiner, 1988). padrão de distribuição em forma de “J invertido” discordando dos Estudos da estrutura populacional de espécies nativas do cerrado resultados encontrados para Kielmeyera coriaceae por Oliveira et têm importância econômica e científica. O seu conhecimento for- al.(1989) em áreas de cerrado no Distrito Federal. Para Solbrig nece subsídios para a realização de outros estudos comparativos, (1981), a maioria das populações de plantas consiste de relativamen- contribuindo para o conhecimento da ecologia daquelas espécies te, poucos indivíduos grandes e muitos pequenos. Entretanto, Weiner (Dusi, 1989). (1985) menciona diversas causas possíveis para desigualdades na A família Velloziaceae é representada por cinco gêneros no distribuição de tamanho, as quais estariam relacionadas com dife- Cerrado, dos quais Vellozia possui 42 representantes. Vellozia renças nas taxas de mortalidade e recrutamento. Conforme, Schiavini squamata Pohl = Vellozia flavicans Mart. Ex Schult. (Mendonça et et al. (2001) a estrutura populacional de espécies que não apresen- al., 1998), nome comum “canela-de-ema”, é uma planta lenhosa tam padrão em forma de “J invertido” caracteriza populações com auto-incompatível, com até 4 m de altura, caule grosso e escamoso baixo potencial regenerativo, provavelmente com baixas taxas de e folhas longas e fibrosas, floresce de março a abril, apresenta flores recrutamento e altas taxas de mortalidade. A predominância de indi- solitárias lilases, grandes e vistosas, polinizadas por abelhas peque- víduos das classes de maior tamanho pode ser resultado da ação de nas e generalistas (Oliveira et al., 1991). outros fatores como competição, herbivoria, doenças, fogo e clima Vellozia flavicans encontra-se entre as espécies arbustivas mais que poderiam afetar o recrutamento e a sobrevivência dos indivíduos freqüentes no cerrado sensu stricto (Felfili et al., 1994). Contudo, jovens, modificando a estrutura da população. dados sobre o crescimento e regeneração, que forneçam informa- A população estudada apresentou distribuição de classes de ções para auxiliar no entendimento da estrutura e dinâmica circunferência ajustada à curva exponencial negativa, característica populacional dessa espécie são escassos na literatura, portanto, de populações estruturadas. De acordo com Silvertown (1987), o estudos acerca dos principais fatores associados a sua distribuição tipo de distribuição semelhante a um “J invertido” indica a estrutu- são necessários. Este trabalho teve por objetivo determinar a estru- ra de uma população estável, com taxas constantes de mortalidade tura populacional de Vellozia flavicans em uma área de cerrado sensu e recrutamento. Quanto à distribuição relativa dos indivíduos de stricto na Fazenda Água Limpa – Universidade de Brasília, DF. V. flavicans nas classes de módulos vivos e mortos, verificou-se que 2. Material e Métodos a maior parte dos indivíduos apresentou, no máximo, cinco módulos, O presente trabalho foi realizado em uma área de cerrado sensu na sua maioria, mortos. A herbivoria e o fogo estão entre as prová- stricto da Fazenda Água Limpa (FAL), situada a 20 km ao sul da veis causas para a alta mortalidade de módulos na área estudada. A cidade de Brasília, Distrito Federal. A área da FAL é de 4.340 correlação entre o número de módulos vivos e mortos com a cir-

492 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado cunferência foi alta (r = 0,72 e 0,65, respectivamente) e ambas Nimer, E. & Brandão, A.M.P.M. 1989. Balanço hídrico e clima da significativas (P<0,05). região dos cerrados. IBGE, Rio de Janeiro. 162p. O resultado das análises evidenciou uma correlação alta e po- Oliveira, P.E.A.M.: Ribeiro, J.F. & Gonzales, I.M. 1989. Estrutura sitiva entre circunferência e altura (r=0,73) e a regressão mostrou e distribuição espacial de uma população de Kielmeyera coriacea 2 uma dependência linear (y =36,5+4,35x; r =0,53) altamente signi- Mart. de cerrados de Brasília. Revista Brasileira de Botânica. 12: ficativa (F=151,2; P<0,0001). A regressão logística (Quase-Newton) 39-47. sugere que a probabilidade de reprodução foi significativamente Oliveira, P.E.; Gibbs, P.E. & Bianchi, M. 1991. Pollination and maior (c2= 128,6; P<0,0001) nos indivíduos com altura entre 50- breeding system of Vellozia squamata (Liliales: Velloziaceae): A species 200 cm e com circunferência de 5,0 cm a 25 cm (c2= 64,6; of the Brazilian Cerrados. Botânica Acta. 104: 392-398. P<0,0001). Esses resultados indicam que a maioria dos indivíduos reprodutivos se encontra nas classes de maior altura, pois uma vez Paixão, I.L.S.C. 1993. Estrutura e dinâmica de populações de es- estabelecidos há maior alocação de recursos para reprodução, em pécies arbustivo-arbóreas das vertentes norte e sul do Morro da detrimento do crescimento. O incremento da circunferência pro- Boa Vista, Maciço da Tijuca, RJ. Tese de doutorado. Universidade porciona o suporte estrutural necessário ao estabelecimento de Estadual de Campinas, Campinas. plantas maiores e com maior número de módulos reprodutivos. A Raw, A. & Hay, J. 1985. Fire and other factors affecting a population correlação entre a ocorrência e o número de bifurcações com as of Simarouba amara in “cerradão“ near Brasília, Brazil. Revista. outras variáveis foram baixas e negativamente correlacionadas com Brasileira de Botânica. 8(1): 101-108. a altura, sugerindo que como é característica nas plantas lenhosas, Ribeiro, J.F. & Walter, M.T. 1998. Fitofisionomias do bioma Cer- a quebra da dominância apical afeta diretamente o crescimento do rado In: Sano, S.M. & Almeida, S.P. (eds.). Cerrado ambiente e caule, estimulando a brotação de gemas laterais. flora. p. 89-166. Embrapa, Planaltina, DF. O comportamento de V. flavicans em relação ao crescimento Sarmiento, G. 1984. The Ecology of Neotropical Savannas. pode ser considerado típico de espécies estrategistas, que, segundo Cambridge, Massachusetts, Harvard University Press. Lambers et al. (2000), possuem altas taxas de crescimento e ocupam ambientes com alto estresse (baixa disponibilidade de água e nutri- Schiavini, I., Resende, J.C.F. & Aquino, F.G. 2001. Dinâmica de entes) e perturbação moderada (herbivoria, fogo e vento), as quais populações de espécies arbóreas em mata de galeria e mata mesófila nos estágios iniciais do desenvolvimento, investem mais recursos no na margem do Ribeirão Panga, MG. In: Ribeiro, J.F. & Sousa- crescimento vegetativo para poder ocupar rapidamente os espaços Silva, J.C. (eds.). Cerrado – Caracterização e Recuperação de Matas na comunidade e ter maior sucesso no seu estabelecimento. de Galeria. p. 267-299. Embrapa, Planaltina, DF. 4. Conclusões Silvertown, J.W. 1987. Introduction to plant population ecology. Os resultados desse estudo, em conjunto com outros traba- 2 ed. Longman Scientific & technical, London. lhos similares sobre a mesma espécie realizados no local, sugerem Solbrig, O.T. 1981. Studies on the population biology of the genus que V. flavicans apresenta uma estrutura populacional que pode ser Viola. II. The effect of plant size on fitness in Viola sororia. Evolution influenciada por diversos agentes de perturbação, principalmente 35: 1080-1093. o fogo e a herbivoria. Existem evidências, pela presença de floração em indivíduos, Weiner, J. 1985. Size hierarchies in experimental populations of de que esta espécie possui boa capacidade de reprodução na área annual plants. Ecology 66: 743-752. estudada, entretanto o baixo número de indivíduos nas classes de Weiner, J. 1988. Variation in the performance of individuals in plant menor altura indica falhas no estabelecimento de plântulas, que populations. In: A.J. Davy; M.J.Hutchings; A.R. Watkinson (eds.). poderiam ser resultado de deficiência na germinação das sementes Plant Population Ecology. Blackwell Scientific Publications, 478p. e/ou a ocorrência de espécies melhor competidoras e adaptadas a esse ambiente. Análise das variações demográficas entre os grupos 5. Referências Bibliográficas ecológicos das espécies arbóreas em uma floresta Dusi, R.L.M. 1989. Padrão espacial, estrutura de populações e de Vale no Brasil Central associação de Syagrus comosa Mart. e Syagrus flexuosa Mart. (Palmae) José Roberto Rodrigues Pinto1 & John Du Vall Hay2 em cerrado no Jardim Botânico – DF. Dissertação de mestrado, 1 Universidade de Brasília - UnB, Departamento de Engenharia Departamento de Biologia Vegetal, Universidade de Brasília, DF. Florestal. Bolsista ProDoc. ([email protected]) 2 Universidade de Eiten, G. 1979. Formas fisionômicas do Cerrado. Revista Brasilei- Brasília, Departamento de Ecologia. * Parte da Tese de Doutorado do ra de Botânica, 2(2): 139-148. primeiro autor. Felfili, J.M; Filgueiras, T. S.; Haridasan, M.; Silva Jr., M. C.; Men- 1. Introdução donça, R.C., Rezende, A.V. 1994. Projeto biogeografia do bioma A densidade e biomassa das espécies de plantas estão em cons- cerrado: vegetação e solos. Cadernos de geociências. 12 (4): 75-166. tante mudança ao longo do tempo e espaço (Nascimento et al., Haridasan, M. 1993. Solos do Distrito Federal. In: Pinto, N. M. 1999). Avaliar estas mudanças constitui uma das alternativas para (org.) Cerrado: Caracterização, ocupação e perspectivas. p. 309- se entender os processos que regem os ecossistemas florestais. Po- 330. Editora Universidade de Brasília, Brasília – DF. rém, a grande riqueza de espécies encontrada nas florestas tropi- Lambers, H.; Chapin III, F. S. & Pons, T. L. 2000. Plant Physiological cais, bem como a baixa densidade em que muitas delas são Ecology. Springer – Verlag, New York. 540p. amostradas dificulta analisar e descrever padrões para todas elas. Mendonça, R.C.; Felfili, J.M.; Walter, B.M.T.; Silva Jr., M.C.; Talvez, determinar a estrutura e a dinâmica das espécies agrupan- Rezende, A.V.; Filgueiras, T.S. & Nogueira, P.E. Flora vascular do do-as de acordo com suas estratégias de vida seja uma das alterna- cerrado. In: Sano, S. M & Almeida, S. P. Cerrado: ambiente e flora. tivas para facilitar o entendimento do funcionamento ecológico (eds.).p. :289-556. Embrapa, Planaltina, DF. das comunidades florestais tropicais. Swaine (1990) sugere que esforços sejam concentrados no entendimento das diferenças entre Miranda, H.S.; Bustamante, M.M.C. & Miranda, A.C. The fire os grupos ecológicos, e os efeitos destas diferenças sobre a dinâmi- factor. 2002. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (eds). The Cerra- ca da comunidade (ver Oliveira-Filho et al., 1997; Werneck et al., dos of Brazil: Ecology and Natural History of a Neotropical 2000; Bertani et al., 2001). Savanna. p. 51-68. Columbia Unversity Press, New york. Assim, este trabalho tem como objetivo avaliar a dinâmica

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 493 Cerrado Volume I entre os grupos ecológicos das espécies arbóreas, através da análise duos e de espécies dentro das categorias de desenvolvimento foram das mudanças nas classes de diâmetro e de altura e no número de pequenas, porém todas positivas. A categoria das árvores aumen- espécies e de indivíduos nas três categorias de desenvolvimento tou de 1.202 para 1.229 indivíduos e de 143 para 147 espécies; as amostradas na floresta de vale do Véu de Noiva, Parque Nacional arvoretas de 656 para 766 indivíduos e 108 para 113 espécies, da Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil. enquanto as juvenis mudaram de 709 para 756 indivíduos e 103 2. Material e Métodos para 104 espécies. Esta mesma tendência de aumento também se A área de estudo está localizada no Parque Nacional da Chapada repetiu para a área basal. dos Guimarães, Mato Grasso, Brasil. O Parque está situado na Entre os grupos ecológicos as mudanças foram bastante varia- porção Centro-Sul do estado, entre as coordenadas 15°10´ - 15°30´S das, com as arvoretas apresentando as maiores mudanças em número e 55°47´ - 56°00´W e conta com aproximadamente 32.670 ha. O de indivíduos (+50 CS, +51 CL e nenhum P), e as árvores em núme- clima predominante da região é do tipo Aw e Cw, segunda a classi- ro de espécies (+2 CS, +4 CL e -2 P). Entretanto, em nenhuma das ficação de Köppen (IBAMA, 1994), com precipitação média anual categorias de desenvolvimento as mudanças nos números de indiví- em torno de 1800 a 2000 mm (Oliveira-Filho e Martins, 1986). duos e de espécies entre os grupos ecológicos foram significativas No Parque a altitude varia de 350 m na Baixada Cuiabana a 800 m (teste G; P > 0,05). Porém, algumas pequenas tendências puderam no alto da Chapada. Os solos são classificados como Areias ser observadas, por exemplo, o grupo das CL apresentou as maiores Quartzosas e Latossolos Vermelho-amarelo nas Chapadas e encos- mudanças absolutas nas três categorias, tanto em número de indiví- tas, e Litólitos e Aluviais no fundo dos vales (Pinto, 1997). A duos como em espécies e área basal, todas positivas. Por outro lado, vegetação do Parque é formada basicamente pelo Cerrado, com o grupo das P apresentou maior número de mudanças negativas. suas diferentes fitofisionomias (sensu Ribeiro e Walter, 1998). Em relação à distribuição de freqüência nas classes de diâme- O estudo foi realizado no vale formado logo após a queda tro e altura para a comunidade toda, apenas a categoria das árvores d’água Véu de Noiva, região central do Parque. O vale está alojado apresentou o padrão típico de florestas tropicais heterogêneas em uma depressão com cerca de 70 m em relação às áreas adjacen- multiâneas, com distribuição do tipo sigmóide para as classes de tes e ocupa cerca de 30 ha. Como é difícil separar fisionomicamente altura e exponencial negativa, (‘J-invertido’), para as classes de o que é floresta de galeria do que é floresta de encosta, adotou-se diâmetros. As arvoretas e juvenis apresentaram distribuições ten- para a vegetação ali existente a denominação ‘floresta de vale’ dendo a linear negativa, principalmente as classes de diâmetro, (sensu Eiten, 1994). para as arvoretas, e de altura, para as juvenis. Com base nos grupos O estudo foi conduzido em três transeções paralelas distribu- ecológicos, as clímax exigentes de luz e as tolerantes à sombra ídas de forma sistemática e eqüidistante, sendo: próximo à queda foram representadas na maioria das classes tanto em diâmetro, d’água, no meio do vale e na extremidade oposta à queda d’água. como em altura, enquanto as pioneiras ficaram restritas às menores Cada transeção é formada por seis pontos de amostragens instala- classes. Ou seja, entre as árvores elas foram amostradas apenas nas das em três setores topográficos em ambas vertentes, ou seja: beira classes com DAP < 30 cm e altura < 16 m, entre as arvoretas nas do córrego, meio e alto da encosta, como adotado por Pinto e classes com até 4,5 cm de DAP e 5,5 m de altura e entre as juvenis Oliveira-Filho (1999). nas classes de altura < 1,5 m. O levantamento foi realizado em 1996 e 1999, para as árvores Em geral, a distribuição diamétrica dos grupos ecológicos nas (diâmetro à altura do peito – DAP ³ 5 cm), em 18 parcelas de 600 m2 três categorias de desenvolvimento não diferiu do padrão apresen- (20´30 m e 10´60 m) e 1999 e 2001 para as arvoretas (1 ³ DAP < 5 tado pela comunidade toda (Qui-quadrado; P > 0,05). Já a distri- cm) e juvenis (altura ³ 30 cm e DAP < 1 cm), em 18 subparcelas de buição em altura, foi diferente para os três grupos ecológicos na 50 m2 (5´10 m) e 6 m2 (2´3 m), respectivamente. As subparcelas categoria das árvores (Qui-quadrado; P < 0,05) e para o grupo das foram alocadas de forma sistemática no interior das parcelas de pioneiras entre as arvoretas (c2 = 23,30; P < 0,05). Ao passo que maior tamanho sucessivamente, conforme adotado por Felfili (1997). dentro dos grupos ecológicos, para as mesmas categorias de desen- Todas as espécies amostradas foram classificadas em grupos volvimento, não houve diferença significativa na distribuição de ecológicos, de acordo com o sistema proposto por Swaine e freqüência entre os anos inventariados, tanto em altura, com em Whitmore (1988), modificado por Oliveira-Filho et al. (1994). diâmetro (Kolmogorov-Smirnov; P > 0,05). Os grupos ecológicos foram: clímax tolerante à sombra (CS); clí- 4. Discussão max exigente de luz (CL) e pioneiras (P). As flutuações na densidade e riqueza entre os grupos ecoló- Os dados foram agrupados nas categorias de desenvolvimento gicos estão associadas ao estágio sucessional em que se encontra organizados de acordo com os grupos ecológicos e calculadas as a comunidade (Gentry e Terborgh, 1990). No entanto, fatores taxas de mudança, com base no número de espécies e de indivídu- externos como a interferência antrópica ou grandes distúrbios os. Além de calcular a distribuição de freqüência dos indivíduos nas podem afetar a estrutura da comunidade fazendo com que esta classes de altura e de diâmetro. Os cálculos estatísticos foram não atinja a condição de equilíbrio (Swaine e Hall, 1988). Por processados no BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000). outro lado, a própria dinâmica da área pode alterar a composi- 3. Resultados ção e estrutura da floresta, mesmo sem o registro de grandes No total foram amostrados 3.045 indivíduos, pertencentes a distúrbios na área. 210 espécies, 137 gêneros e 59 famílias, sendo registrado como Provavelmente, o grande número de espécies e indivíduos clí- árvores 1.323 indivíduos e 150 espécies; como arvoretas 823 e 117 max exigentes de luz encontrada na floresta de vale do Véu de e; como juvenis 899 e 110, respectivamente. A lista completa das Noiva está associado à própria dinâmica processual da comunida- espécies está disponível em Pinto (2002). de. Geralmente ecossistemas ribeirinhos são caracterizados por Nos dois períodos inventariados o grupo das clímax exigente constantes aberturas de clareiras naturais de pequeno porte e, muitas de luz foi o que apresentou o maior número de indivíduos e de vezes, distúrbios de origem antrópica, além é claro do efeito de espécies nas três categorias de desenvolvimento e das pioneiras as borda tanto na divisa com a vegetação adjacente e com o curso menos abundantes, enquanto das clímax tolerantes à sombra ocu- d’água. Maior número de espécies e indivíduos clímax exigentes de param posição intermediária. Sendo que o número de indivíduos luz e reduzido número de pioneiras também foi observado por entre os grupos ecológicos, dentro das mesmas categorias de tama- outros autores (Pagano et al., 1995; Felfili, 1997; Oliveira-Filho et nho, foram significativamente diferentes, nas três categorias (teste al., 1997; Nascimento et al., 1999; Werneck et al., 2000; Bertani de Qui-quadrado; P << 0,01). et al., 2001). Durante o período estudado as variações no número de indiví- Em geral, a perda e ganho de espécies na comunidade não se

494 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado distribuem uniformemente entre os grupos ecológicos (Nascimen- Pagano, S.R.; Leitão-Filho, H.F.; Cavassan, O. (1995). Variação to et al., 1999; Werneck et al., 2000). No Véu de Noiva, apesar das temporal da composição florística e estrutura fotossociológica de alterações entre os grupos ecológicos terem sido pequenas, as mu- uma floresta mesófila semidecíua - Rio Claro, estado de São Paulo. danças observadas sugerem que as clímax estão aumentando sua Revta. Brasil. Biol., 55:241-258. participação, principalmente entre as arvoretas e arvoretas, en- Pinto, J.R.R. (1997). Levantamento florístico, estrutura da comuni- quanto o grupo das pioneiras está reduzindo, provavelmente, sen- dade arbóreo-arbustiva e suas correlações com as variáveis ambientais do substituído gradativamente pelos grupos sucessionais mais avan- em uma floresta de vale no Parque Nacional da Chapada dos Guima- çados, como encontrado por Werneck et al. (2000). Talvez, o fato rães, Mato Grosso. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal desta floresta ser caracterizada por distúrbios de pequeno porte de Lavras. (Pinto e Oliveira-Filho, 1999), estas proporções entre os grupos Pinto, J.R.R. (2002). Dinâmica da comunidade arbóreo-arbustiva ecológicos sejam mantidas como mais ou menos constantes, ao em uma floresta de vale no Parque Nacional da Chapada dos Guima- longo do tempo. Porém, sempre mantendo maior número de indi- rães, Mato Grosso. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília. víduos e espécies heliófitas. Ou talvez, o intervalo estudado, três anos para as árvores e dois anos para as arvoretas e juvenil tenha Pinto, J.R.R.; Oliveira-Filho, A.T. (1999). Perfil florístico da co- sido curto para que as diferenças entre e dentre os grupos ecológi- munidade arbórea de uma floresta de vale no Parque Nacional da cos fossem significativos. Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil. Revta. brasil. Bot., 5. Conclusão 22:53-67. Apesar das alterações entre os grupos ecológicos terem sido Ribeiro, J.F.; Walter, B.M.T. (2001). Fitofisionomias do bioma pequenas, as mudanças observadas sugerem que o grupo das clímax Cerrado. In: S. M. Sano eS. P. Almeida (eds.), Cerrado: ambiente e está aumentando sua participação na composição florística e estru- flora, pp. 87-166. EMBRAPA-CPAC, Planaltina. tura da floresta de vale do Véu de Noiva, enquanto o grupo das Swaine, M.D. (1990). Population dynamics of tree species in tro- pioneiras está reduzindo. Talvez, este quadro de instabilidade en- pical forests. In: L. B. Holm-Nielsen, I. C. Nielsen e H. Balslev tre os grupos ecológicos seja mantido ao longo do tempo, devido à (eds.), Tropical forest: botanical dynamics, speciation and diversity, pp. própria dinâmica desta floresta. Porém, provavelmente sempre com 101-110. Academic Press, London. maior número de indivíduos e de espécies heliófitas. Swaine, M.D.; Hall, J.B. (1988). The mosaic theory of forest 6. Referências Bibliográficas regeneration and the determination of forest composition in Ghana. Ayres, M., Ayres-Júnior, M.; Ayres, D.L.; Santos, A.S. (2000). J. Trop. Ecol., 4:253-269. BioEstat 2.0: aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e Swaine, M.D.; Whitmore, T.C. (1988). On the definition of médicas. Sociedade Civil Mamirauá, Belém. the ecological species groups in tropical rain forests. Vegetatio, Bertani, D.F.; Rodrigues, R.R.; Batista, J.L.F.; Shepherd, 75:81-86. G.J. (2001). Análise temporal da heterogeneidade florística Werneck, M.S.; Franceschinelli, E.V.; Tameirão-Neto, E. e estrutural em uma floresta ribeirinha. Revta. brasil. Bot., (2000). Mudança na florística e florística e estrutura de uma 24:11-23. floresta decídua durante um período de quatro anos (1994- Eiten, G. (1994). Vegetação do cerrado. In: M. N. Pinto (ed.), 1998), na região do triângulo mineiro, MG. Revta. brasil. Bot., Cerrado: caracterização, ocupação e perpectivas, pp. 17-73. Editora 23:399-411. UnB, Brasília. Felfili, J.M. (1997). Dynamics of the natural regeneration in Falconiformes em uma área de cerrado em the Gama gallery forest in Central Brazil. For. Ecol. Manag., Uberlândia, M.G. 91:235-245. José Rodrigues Júnior.a & Fernando Pedroni b Gentry, A.H.; Terborgh, J. (1990). Composition and dynamics of agraduado Ciências Biológicas ([email protected]) Universidade the Cocha Cashu mature floodplain Forest. In: A. H. Gentry (ed.), Federal de Uberlândia bUniversidade Federal Mato Grosso. Four Neotropical Rainforests, pp. 542-564. Yale Univ. Press, New Haven. 01. Introdução IBAMA. (1994). Plano de ação emergencial: documento e informações Considerando as formações vegetais do estado de Minas Ge- básicas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Instituto rais, é possível discriminar uma série de fitofisionomias do cerrado Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis onde são observadas aves de várias espécies. O cerrado, no sentido - IBAMA/MT, Cuiabá. amplo, ocupa maior parte do estado, abrangendo zonas geográficas Nascimento, H.E.M.; Dias, A.S.; Tabanez, A.A.J.; Viana, V.M. do triângulo mineiro. O cerrado no sentido restrito é a formação (1999). Estrutura e dinâmica de populações arbóreas de um frag- dominante deste ecossistema mineiro, que é composto também mento de floresta estacional semidecidual na região de Piracicaba, por campo limpo, campo cerrado, veredas, cerradão, matas ciliares SP. Rev. Brasil. Biol., 59:329-342. e matas de galeria (Sano & Almeida, 1998). Em resposta à crescente preocupação com a conservação Oliveira-Filho, A.T.; Martins, F.R. (1986). Distribuição, caracterização e composição florística das formações vegetais da região da Salgadeira, ambiental, foram feitos estudos em parques, reservas e áreas com remanescentes florestais (Willis, 1979; Willis & Oniki, 1981; Scott, Chapada dos Guimarães (MT). Revta. brasil. Bot., 9:207-223. 1994), trazendo informações sobre os efeitos que as pressões Oliveira-Filho, A.T.; Mello, J.M.; Scolforo, J.R.S. (1997). Effects ambientais, derivadas das alterações na vegetação, podem causar of past disturbance and edges on tree community structure and sobre a ocorrência e abundância das aves, sendo sugeridas medidas dynamic within a fragment of tropical semideciduous forest in para minimizar estes efeitos. Segundo PRIMACK (1993), a des- south-eastern Brazil over a five-year period (1987-1992). Plant truição de ambientes naturais e conseqüente fragmentação de Ecology, 131:45-66. hábitats podem limitar o potencial de dispersão e colonização de Oliveira-Filho, A.T.; Vilela, A.E.; Gavilanes, M.L.; Carvalho, D.A. espécies. A ocorrência de determinadas espécies de falconiformes (1994). Effect of soil and topography on the distribution of tree pode estar intimamente relacionada com as condições ambientais species in a tropical riverine forest in south-eastern, Brazil. J. Trop. de uma área. (Seipke & Cabanne, 2003.) Falconiformes é uma Ecol., 10:483-508. ordem formada geralmente por animais que buscam presas de mai-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 495 Cerrado Volume I or porte em relação às aves de outras ordens, facilmente reconhe- Polyborus plancus, na atividade de vôo de forrageamento foi pratica- cíveis pelo bico adunco e garras afiadas (Sick, 1999). Dentre as mente o mesmo nos dois períodos do dia: pela manhã 13,7% do espécies componentes desta Ordem e que são comuns no bioma total, enquanto no período da tarde 14,4%. No período da tarde cerrado destaca-se Polyborus plancus, popularmente conhecido como Polyborus plancus foi observado com mais freqüência pousado caracará, carancho, carcará, caracaraí ou gavião-de-queimada. É (75,9%), do que no período da manhã (59,0%). Padrão de ativida- uma espécie que se alimenta de insetos, pequenos vertebrados, de diário similar foi observado por MAGALHÃES (1990) em sementes e até mesmo de animais em decomposição (Sick, 1999). Rostrhamus sociabilis. Segundo este autor, a espécie dá preferência à Caracteriza-se também por ser uma espécie totalmente beneficiária atividade de forrageamento de pouso e observação no período da da converção das florestas em áreas de pastagens, como aconteceu tarde para reduzir gastos energéticos devido a maior probabilidade no leste do Paraná (Sick, 1999). As informações apresentadas neste de insucessos na captura de presas com a diminuição da luminosidade trabalho poderão contribuir para a compreensão de aspectos im- no período vespertino. As atividades de Vôo-Pouso foram mais fre- portantes do comportamento destes rapineiros como: padrão de qüentes no período da manhã (7,3%) em relação ao período da tarde atividade diária de Polyborus plancus e a freqüência relativa de cada (1,9%), esta atividade pode ter a finalidade de busca de poleiro de espécie na área, o que, associado a estudos mais detalhados, poderá alimentação ou ponto ideal para observação (Scott,1994). Esta dife- representar um diagnóstico das reais condições ambientais da re- rença deve estar relacionada com a preferência dos falconiformes serva em relação ao subsídio à vida natural das espécies de gaviões. pelo período da manhã para as suas atividades de forrageamento. O 02. Material e Métodos percentual de tempo alocado por estas aves para higiene foi 7,6% no O presente estudo foi desenvolvido na reserva do Clube de período da tarde e 1,0% no período da manhã. Considerando que a Caça e Pesca Itororó de Uberlândia (CCPIU), situada a oeste do higiene é uma atividade que acarreta menores gastos energéticos, o perímetro urbano da cidade (18059‘S e 48018‘W). É uma reserva período da tarde deve ser o mais propício para esta atividade, pois os de bioma cerrado tendo como fitofisionomias predominantes o indivíduos passam a maior parte do tempo pousados e talvez, econo- cerrado (sentido restrito) e a vereda e possui 127 ha. É registrada mizando energia. Apenas pela manhã, a atividade de processamento no IBAMA como Reserva Particular do Patrimônio Natural de presa foi registrada (13,7%). (RPPN). O clima da região, segundo a classificação de Koppen, é Em duas ocasiões foi possível identificar que as presas eram do tipo Aw, mega-térmico, com chuvas de verão e seca no inverno roedores. Não foram observadas disputas interespecíficas por po- (Rosa et al. 1991).As observações foram realizadas na trilha princi- leiros de observação ou de processamento de presas. Em um dos pal de 3,6 Km que corta a reserva, utilizando um binóculo 8 x 50 casos, foi observado que o poleiro de observação foi o mesmo para mm, um gravador tcm-323 para o registro das espécies encontradas o processamento de presa para o mesmo indivíduo. MAGALHÃES, e um cronômetro para determinar o período envolvido em cada (1990), estudando hábitos alimentares de Rostrhamus sociabilis atividade de forrageio de Polyborus plancus. Entre os meses de abril à no pantanal de Mato Grosso, também observou que a atividade de julho de 2002 foram feitas 20 visitas à reserva com duração aproxi- processamento de presa ocorreu apenas durante a manhã. Outras mada de duas horas, totalizando 42 horas de observações. As obser- atividades como a confecção de ninho (5,0%) foi observada no vações foram feitas entre 07:30 e 10:30 pela manhã e entre 13:30 e CCPIU somente no período da manhã. 16:30 no período da tarde. Quando um Falconiforme era avistado Nesta área, o período da tarde estudado não apresenta menor registrava-se a espécie (segundo Sick, 1999). Quando a espécie avis- luminosidade que o período da manhã. Portanto, é provável que a tada era Polyborus plancus iniciava-se um segundo momento no estu- baixa freqüência nas atividades de forrageamento no período da do onde era cronômetrado o tempo alocado pela espécie para cada tarde esteja relacionada com a saciação dos gaviões em função do uma das atividades desempenhadas (observações contínuas -ad que comeram no período da manhã. libitum, Altmann, 1974). A freqüência relativa das espécies (fr), esti- 04. Conclusões mada de acordo com a presença ou ausência de registros diários no O que pode ser observado é que espécies habituadas à áreas período de abril a julho, foi classificada em categorias de ocupação alteradas tiveram maior frequência relativa neste período do ano segundo MENDONÇA-LIMA & FONTANA (2000) em: Residen- na reserva , talvez isso seja fruto da conversão dos ambientes natu- te (R), Provável Residentes (P), Ocasional e/ou Sobrevoante (O). rais por áreas de pastagens e pela urbanização. Polyborus plancus foi Os padrões de atividades de Polyborus plancus foram categorizados a espécie mais freqüente e assim como as outras de maiores ocor- conforme MAGALHÃES (1990) em Vôo, Vôo-Pouso, Pouso, Hi- rências Milvago chimachima, Falco femoralis e Rupornis magnirostris giene e Processamento de presa. forragearam com preferencialmente no período da manhã e prova- 03- Resultados e Discussão velmente saciadas, tendem a economizar energia no período da Foram registradas nove espécies de Falconiformes na reserva. A tarde com a atividade de pouso sendo a mais observada. espécie com o maior número de registros foi Polyborus plancus 05. Referências Bibliográficas (n=66, fr=0,80), cuja freqüência permite classificá-la como uma ALTMANN, J. 1974. Observational study of behavorial: sampling espécie Residente (R). As espécies mais freqüentes consideradas methods. Allee Laboratory of Animal Behavior, University of Chi- Provável Residentes (P) foram: Milvago chimachima (n=19, fr=0,50), cago, Chicago, Illnois. U.S.A. 1: 227-265. Falco femoralis (n=12, fr=0,40), Rupornis magnirrostris, (n=10, HOFLING, E. & CAMARGO, H.F.A. 1999. Aves no campus. Ed. fr=0,45), Buteo albicaudatus (fr=0,30, n=6). Falco sparverius, (n=3, Universidade de São Paulo, S.P.Vol. único. fr=0,10) gavião bastante comum nas periferias das cidades e com registros até mesmo nos centros das áreas urbanas (Sick, 1999) foi MAGALHÃES, C.A. 1990. Hábitos alimentares e estratégias de considerada Ocasional e/ou Sobrevoante (O). Com três ocorrên- forrageamento de Rostrhamus sociabilis no pantanal de Mato Gros- cias Falco sparverius teve o mesmo número de registros que Buteogallus so, Brasil. Revta. Bras. de Ornit. 1: 95-98. meridionallis que é uma espécie comum de falcão em áreas preser- MALACCO, G.B. 2002. Frugivoria por aves de cerrado e vereda vadas (Höfling & Camargo, 1999), porém, com (fr=0,15) esta do município de Uberlândia-M.G. Monografia. Universidade Fe- última fora considerada Provável Residente (P). Outras duas espé- deral de Uberlândia. cies foram registradas apenas uma vez e foram classificadas como MENDONÇA - LIMA, A. & FONTANA, C.S. 2000. Composi- Ocasionais e/ou Sobrevoantes (O), Elanus leucurus (fr=0,05) e ção, freqüência e aspectos biológicos da avifauna no Porto Alegre Herpetotheres cachinnans (fr=0,05). MALACCO, 2002, em um maior Country Clube, Rio Grande do Sul. Revta. Bras. Ornit. 8:1-8 espaço de tempo, conseguiu registrar 12 espécies de Falconiformes .PRIMACK, R.B. 1993 Essentials of conservation biology. nesta mesma área. Sunderland: Sinauer associates Inc. Papeis avulsos. Com relação aos padrões de atividades desempenhadas por

496 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

ROSA, R.; LIMA, S.C.C. & ASSUNÇÃO, W.L. 1991. Aborda- Mensalmente o folhedo foi coletado, separado por estrutura ( gem preliminar das condições climáticas de Uberlândia (M.G.). frações: galhos, ramos, folhas, flores, frutos) e a massa quantificada Sociedade e Natureza. 3: 91-108. após secagem em estufa a 60ºC até atingir peso constante. SANO, S.M. & ALMEIDA, S.P. 1998. Cerrado – Ambiente e Outro procedimento adotado foi a marcação das folhas emer- flora. Embrapa-Planaltina. D.F.Vol. único. gentes com fins de determinação do fluxo de brotação e também para definir a expectativa de vida foliar. Para isso marcou-se as SCOTT, K. R. 1994. Habitat selection and foraging ecology in folhas de 21 indivíduos (do experimento anterior), utilizando “tags” raptors in amazoniam Peru. Biotropica, 26: 443-458. ou fios de cobre coloridos, amarrados no pecíolo das mesmas, SEIPKE, S.H. & CABANNE, G.S. 2002. Raptors observed in a conforme Aidar (1992). Esta etapa iniciou-se em setembro, época forest area of San Pedro, Misiones, Argentina.13 (3): 273-282. em que a espécie inicia sua fase de brotamento foliar, até novem- SICK, H. 1999. Ornitologia brasileira, uma introdução. Vol. 2. bro, no total de 3.830 folhas jovens marcadas. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. A distribuição populacional foi observada e mapeada em uma WILLIS, E.O. 1979. The composition of avian communities in área de 2000 metros quadrados, dividido em 20 parcelas contíguas remanecent woodlots in southern Brazil. Papéis avulsos de zoolo- (10m x 10m). Os indivíduos encontrados foram identificados com gia, São Paulo, 31:1-25. uma placa de metal (4 cm x 3 cm) e as medidas de altura, DAS e DAP foram obtidas. WILLIS, E. O. & ONIKI, Y. 1981. Levantamento preliminar de aves Todos os experimentos iniciaram-se logo com as primeiras em treze áreas do estado de São Paulo, Revta. Brás. de Bio. 41: 121-35. chuvas da estação do verão. 3. Resultados e Discussão Bauhinia holophylla Steud. (Leguminosae - A quantidade de massa seca de serapilheira durante foi de 86,8 Caesalpinioideae): Dinâmica de Serapilheira e kg ha-1 ano-1 de folhas, 8,7 kg ha-1 ano-1 de galhos,2,6 kg ha-1 ano-1 Estratégia de Regeneração em uma Área de Cerrado de flores e 1,9 kg ha-1 ano-1 de frutos entre as estações seca e do Estado de São Paulo chuvosa. O pico de floração da espécie ocorreu em janeiro, apre- Josimara Rondon,a Marcos Pereira Marinho Aidar b & Lilian Beatriz sentando alta incidência de abortamento de botões e flores. Este Penteado Zaidan b aspecto talvez pode justificar o baixo investimento materno da a Pós-Graduação em Biologia Vegetal na Universidade Estadual de espécie na produção de flores e frutos. Os processos de floração, Campinas - UNICAMP reiteração a partir de novos ramos e rebrotamento de B. holophylla ([email protected])b Seção de Fisiologia e Bioquímica ocorrem a partir de novembro, quando conforme Mantovani & de Plantas Martins (1988), há aumento de incidência de luz, disponibilidade Instituto de Botânica de São Paulo – Av. Miguel Stefano, 3.687- de nutrientes no solo, precipitação, temperatura e fotoperíodo. C.P.: 04301012. Resultado semelhante foi encontrado por Monteiro et al. (2002) em estudos sobre aspectos fenológicos em plantas de Michelia 1. Introdução champaca L. O método usado para marcar folhas ao longo do Espécies de cerrado, como aquelas de outras formações período de brotamento indica um decréscimo linear de folhas no- savânicas sob climas estacionais, apresentam variações sazonais no vas (r= 0.99) p<0,05, justificando uma distribuição homogênea que diz respeito à produção de folhas, flores e frutos que represen- dos “tags” durante o período de brotamento foliar. A expectativa tam adaptações a fatores bióticos e abióticos. Estas adaptações se de vida foliar foi em torno de oito meses para a coorte 1, sete para dão por características funcionais ou estruturais, observadas em a coorte 2 e seis para a coorte 3, indicando que o tempo de vida espécies diferentes ou em uma única espécie (Lieth, 1974). está associado ao seu brotamento. Estas coortes tem uma estraté- Os métodos que vêm sendo usados nos estudos destes eventos gia fisiológica, pois, aparentemente as coortes 1 e 2, de modo geral, biológicos baseiam-se em dados obtidos através de escalas de são importantes para o início do processo de fotossíntese, enquan- mensuração em que são atribuídos valores numéricos aos diferen- to a floração é marcante após a coorte 3. O papel fundamental tes níveis de atividade ou intensidade dos eventos biológicos. Con- destas folhas é realizar a fotossíntese a qual sustenta todo o proces- tudo, quando se pretende estudar uma população é interessante se so de crescimento vegetal; por isso as folhas enquanto presentes na fazer uso de métodos mais precisos, de modo a auxiliar a compre- planta produzem os fotoassimilados durante o verão, sendo ensão da ecofisiologia vegetal, ferramenta vital na seleção de espé- abscisadas na estação seca (inverno). Portanto as coortes foliares cies-modelo para a formação de florestas heterogêneas e savânicas. de B. holophylla representam o papel ecofisiológico na manutenção Além da abordagem teórica, o conhecimento adquirido neste desta espécie no bioma Cerrado. tipo de estudo têm implicações práticas sustentáveis na produtivi- Espécies com hábito sempre-verde ou decíduo em ambientes dade de culturas agroflorestais, no controle de pragas, na recupera- sazonalmente secos representam extremos de um gradiente vegetal ção de áreas degradadas e manejo de unidades de conservação. determinado pelo teor de água das plantas durante a estação seca. O objetivo deste trabalho foi buscar maior entendimento so- Para o cerrado da Reserva Biológica e Estação Experimental de bre a ecofisiologia do estabelecimento em campo e em condições Moji Guaçu, por exemplo, a abscisão foliar e a morte dos ramos de de laboratório, com vistas a ampliar o conhecimento sobre popu- brotamento e das plantas anuais estão relacionadas à diminuição lações de outras espécies ocorrentes no cerrado da Reserva Bioló- da temperatura, da disponibilidade de água no solo, do fotoperíodo gica e Estação Experimental de Moji Guaçu, S.P, possibilitando e da umidade relativa do ar; a diminuição da cobertura vegetal, apoiar ações de ocupação e uso nesse bioma, principalmente no observada entre os meses de maio e setembro, pode favorecer a sentido de auxiliar na recuperação de áreas pertubadas. indução da germinação de sementes fotoblásticas (Mantovani & 2. Material e Métodos Martins, 1988). As análises fenológicas foram realizadas através de coletores de O período de dispersão das sementes de B. holophylla coincide serapilheira (folhas, flores e frutos) dispostos entre 21 plantas adul- com os de uma população de Stryphnodendron adstringens (Mart.) tas em uma área de campo cerrado localizado na Reserva Biológica Coville, em que a maturação e a dispersão dos frutos na estação e Estação Experimental de Moji Guaçu, São Paulo. Foram usados seca aumentam as chances de germinação e crescimento de plântulas 42 coletores de madeira ( 0,50 x 0,50 m), construídos com tela na próxima estação chuvosa, quando as sementes são beneficiadas nylon com malha de 1 mm, sustentados por um suporte a 20 cm de pela umidade e pela abundância de nutrientes liberados da decom- altura do solo, segundo metodologia de Aidar & Joly (2003). posição da serrapilheira em uma área de cerrado sensu stricto da

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 497 Cerrado Volume I

Fazenda Água Limpa no Distrito Federal (Felfili et al., 1999). O Bacia do rio Jacaré-Pepira, São Paulo. Tese de mestrado, segundo sistema de amadurecimento dos frutos entre árvores tro- UNICAMP.100 págs. picais decíduas proposto por Janzen (1980) mostra-se válido para AIDAR, M. P. M. & JOLY, C. A. 2003. Dinâmica da produção e explicar o comportamento dos frutos de B. holophylla. Neste siste- decomposição da serapilheira do araribá (Centrolobium tomentosum ma há um grupo de espécies que apresentam frutos cujo desenvol- Guill. ex Benth. – Fabaceae) em uma mata ciliar, Rio Jacaré-Pepira, vimento em tamanho é pleno logo após a floração, porém perma- São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 26(2):193-202. necendo verdes por até um ano, amadurecendo a seguir. Os frutos FELFILI, J. M., SILVA JUNIOR, M. C., DIAS, B. J. & REZENDE, de B. holophylla permanecem por até oito meses presos à árvore A . V. 1999. Estudo fenológico de Stryphnodendron adstringens (Mart.) antes da dispersão de suas sementes. Fato semelhante ocorre em Coville no cerrado sensu stricto da Fazenda Água Limpa no Distrito Dilennia indica L. (Monteiro, 2000). O comportamento fortemen- Federal, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 22:83-90. te sazonal de B. holophylla indica atividade metabólica concentrada nos meses de setembro a fevereiro, quando a reiteração de ramos e JANZEN, D. H. 1980. Ecologia vegetal nos trópicos. EDUSP. 79 págs. produção foliar seguida da fase reprodutiva com formação de flores e LIETH, H. 1974. Phenology and seasonality modeling. N.Y. subsequentemente de frutos é marcada pela estação chuvosa no Springer cerrado; entre os meses de maio a julho, há a maturação os frutos e LABOURIAU, L. G., VÁLIO, I. F. M., LABOURIAU, M. L. S. & a dispersão das sementes por barocoria, assim como grande perda de HANDRO, W. 1963. Notas sobre a germinação de sementes de folhas. Os dados climáticos corroboram que o crescimento vegetativo plantas de cerrados em condições naturais. Revista Brasileira de e reprodutivo observados: ocorrem na estação chuvosa e com Biologia 23(3):227-237. luminosidade de temperatura altas, maior produção vegetativa e MONTEIRO, I. A. P. 2000. Biologia da reprodução de duas espé- reprodutiva, e alta perda da biomassa na estação seca (durante o cies de Angiospermas filogeneticamente basais: Xylopia aromatica Lam. inverno). No início da estação chuvosa, observaram-se novos ramos (Annonacae) e Dillenia indica L. (Dilleniaceae). Tese de doutorado provenientes de rebrotas próximo da base do indivíduo adulto. Em em Ciëncias Biológicas da Universidade de São Paulo. 179 págs. observações sistemáticas de campo, foi visto que estas brotações ocorrem por meio através de propagação vegetativa a partir de raízes MONTEIRO, I. A. P.; CARARETO, C. M. A. & COLEMAN, J. gemíferas subterrâneas, chamadas também de xilopódios. Tal R. 2002. Aspectos fenológicos em plantas de Michelia champaca L. rebrotamento sugere também uma translocação de nutrientes e ( Magnoliaceae) cultivadas em São José do Rio Preto, São Paulo, carboidratos (mecanismo de “source-sink”) que ficam armazenados Brasil. Iheringia série Botânica 57(2):203-214. nestes xilopódios (Rizzini & Heringer, 1961). Estas substâncias, MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R. 1988. Variação fenológica com aumento de temperatura e um mínimo de água disponível são das espécies de cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, Esta- degradados e utilizados no metabolismo vegetal. Esta estrutura pode do de São Paulo. Revista Brasileira de Botânica 11 (1/2): 101-112. se mover em várias direções produzindo clones da planta, substituin- PEDRONI, F., SANCHEZ, M. & SANTOS, F. A. M. 2002. do o papel dos cotilédones quanto ao fornecimento de reservas para Fenologia da copaíba (Copaifera langsdorffii Desf. – Leguminosae, o crescimento da plântula. Plantas que não produzem rebrota (re- Caesalpinioideae) em uma floresta semidecídua no sudeste do Bra- produção vegetativa), terminam por realizar reiteração dos seus ra- sil. Revista Brasileira de Botânica 25(2): 183-194. mos ou investem em reprodução sexuada. No entanto, sabe-se que nos cerrados não há formação de banco RIZZINI, C. T. & HERINGER, E. P. 1961. Underground organs the plants of southern Brazilian savannas, with special reference of de sementes no solo, devido ao alto nível de predação das sementes logo após sua dispersão ou presença de semente estéril (sem em- the xylopodium. Phyton 17(1):101-124. brião) como é o caso de algumas herbáceas. E que a reprodução vegetativa é um evento comum em espécies de cerrado (Labouriau et Efeito do fogo na floração de Bulbostylis paradoxa al., 1963). Portanto, a reprodução vegetativa por meio de xilopódios (Spreng.) Lindm. (Cyperaceae) na Reserva Ecológica realizada por B. holophylla justifica sua colonização e estabelecimen- do IBGE to aparentemente estáveis quanto ao predomínio de sua população Juan Felipe Negret Scalia ([email protected]) & Heloisa frente a outras populações de espécies do cerrado. Sinátora Miranda 4. Conclusões Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF A expectativa foliar de B. holophylla apresentam coortes diferen- tes mas com função semelhante. A fenologia desta espécie é 1. Introdução marcadamente sazonal, tendo brotação foliar e floração no verão No Cerrado, as queimadas, de origem antrópica ou natural, (estação chuvosa) e abscisão foliar e dispersão de frutos e/ou semen- são comuns durante a estação seca, e têm sido por milhares de tes no inverno (estação seca). Centrolobium tomentosum, uma anos. Coutinho (1981) e Ferraz-Vicentini (1992) reportam a ocor- leguminosa de mata ciliar apresenta o mesmo padrão sazonal de rência de queimadas na região dos cerrados há 8000 e 32000 anos, deciduidade e de floração (Aidar & Joly, 2003). Esta espécie está respectivamente. Embora o fogo seja considerado um dos incluída no segundo sistema de estabelecimento de árvores tropicais determinantes da vegetação do Cerrado (Coutinho 1990), a alta decíduas proposto por Janzen (1980), tendo todo o seu desenvolvi- incidência de queimadas pode reduzir a riqueza biológica nos mento influenciado pela sazonalidade dos cerrados. A taxa de morta- ecossistemas de Cerrado. O fogo pode ser benéfico ou prejudicial lidade foliar é maior durante a estação seca quando a produção de ao ecossistema dependendo da época do ano e freqüência das quei- fotoassimilados é interrompida durante o processo de abscisão foliar. madas (Luke & McArthur 1978). Apresenta marcada sazonalidade na queda de folhas, perdendo gran- Vários efeitos do fogo na vegetação do Cerrado têm sido estu- de proporção destas no final durante a estação seca, assim como em dados e versam principalmente sobre produção primária, dispersão Copaifera langsdorffii Desf. (Pedroni et al. 2002). de sementes, recuperação da biomassa após o fogo e danos em Agradecimentos: plantas lenhosas (Mistry 1998, Coutinho 1990, 1982). Entretan- Ao CNPq pelo auxílio financeiro (bolsa de doutorado) na exe- to, poucos são os trabalhos que investigam os efeitos do fogo na cução deste projeto. floração de espécies nativas (Oliveira et al. 1996, César 1980, 5. Referências Bibliográficas Coutinho 1976) e no sucesso reprodutivo de espécies lenhosas do AIDAR, M. P. M. 1992. Ecologia do araribá (Centrolobium Cerrado (Silva et al. 1996, Landim & Hay 1996). tomentosum Guill. ex Benth – Fabaceae) e o ecótono mata ciliar da Coutinho (1976) apresenta uma lista de 150 espécies do estra-

498 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado to herbáceo subarbustivo que floresceram em até 90 dias após a 5. Agradecimentos ocorrência de queimadas em diferentes estados da região do Cerra- Agradecemos a Sra. Maria Iracema Gonzales, Chefe da Divi- do. Em estudo sobre o efeito da queima e corte na vegetação de são de Estudos Ambientais do Cerrado – DIEAC/DF, Reserva Eco- campo sujo César (1980) reporta 46 espécies florescendo entre 4 e lógica do IBGE, a Brigada de Combate a Incêndios do IBGE, ao 100 dias após uma queimada. Os dois autores reportam a floração USDA/FS e ao Programa PELD/CNPq. de Bulbostylis paradoxa poucos dias após a passagem do fogo, porém 6. Referências Bibliográficas César (1980) observou que B. paradoxa floresceu apenas na área Andrade L. A. Z. (2002). Impacto do fogo no banco de sementes de queimada e classificou a espécie como dependente de fogo para cerrado sensu stricto. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília. florir. Entretanto, Andrade (2002) em um trabalho sobre banco de sementes do solo de cerrado sensu stricto queimado há quatro anos, César, H. L. (1980). Efeitos da queima e corte sobre a vegetação de um encontrou sementes viáveis de B. paradoxa, o que pode indicar que campo sujo na Fazenda Água Limpa, Brasília - DF. Dissertação de B. paradoxa produza sementes independente da ocorrência do fogo, Mestrado, Universidade de Brasília. ou que as mesmas apresentem um longo período de dormência. Coutinho, L. M. (1976). Contribuição ao conhecimento do papel Este trabalho teve como objetivo investigar o papel do fogo e ecológico das queimadas na floração de espécies do cerrado. Tese de da poda como agentes estimuladores da floração de B. paradoxa. Livre Docência, Universidade de São Paulo. 2. Métodos Coutinho, L. M. (1981). Aspectos ecológicos do fogo no cerrado. O projeto foi desenvolvido na Reserva Ecológica do IBGE IV - Nota sobre a ocorrência de carvões vegetais encontrados no o o (15 56’41”S 47 51’02”W), uma área de Pesquisa Ecológica de interior do solo, em Emas. Revista Brasileira de Botânica 4:115-117. Longa Duração (PELD), em áreas de campo sujo pertencentes ao Coutinho, L. M. (1982). Ecological effects of fire in Brazilian Projeto Fogo. Uma área vem sofrendo tratamento de queimadas Cerrado. In: Huntley, B. J.; Walker, B. H. (eds.) Ecology of tropical prescritas, em agosto, em intervalos de 2 anos desde 1992 quando savannas. Springer-Verlag, Berlin. p.273-291. estava protegida da ação do fogo há 18 anos e a outra permanece sem queima há 28 anos. Coutinho, L. M. (1990). Fire in the ecology of the Brazilian Cer- Na parcela a ser queimada foram marcados, ao acaso, 20 indi- rado. In: Goldammer, J. G. (ed.) Fire in the Tropical Biota - Ecosystem víduos de B. paradoxa para acompanhamento da floração após a Processes and Global Challenges. Ecological Studies Vol 8A. Springer passagem do fogo. Na área controle, 10 indivíduos, escolhidos ao Verlag. Berlin. p. 82-105. acaso, foram marcados e podados. A queimada foi realizada em 12 Ferraz-Vicentini, K. R. (1992). Análise palinológica de uma vereda em de agosto de 2002 e no mesmo dia foi realizada a poda nos indiví- Cromínia - GO. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília. duos da área sem queima. Durante dois meses foram realizadas Gill, A. M.; Ingwersen, F. (1976). Growth of Xanthorrhoea australis visitas semanais as áreas de estudo para a contagem das R. Br. in relation to fire. Journal of Applied Ecology 13:195-203. inflorescências. Haddad, C. R. B.; Valio, I. M. F. (1993). Effect of fire on flowering of 3. Resultados e Discussão Nas duas áreas foram observadas inflorescências ao final da Lantana montevidensis Briq. Journal of Plant Physiology 141:704-707. primeira semana pós-fogo e poda. Na área submetida a queima Landim, M. F.; Hay, J. D. (1996). Impacto do fogo sobre alguns 95% dos indivíduos marcados produziram inflorescências enquan- aspectos da biologia reprodutiva de Kielmeyera coriacea Mart. Revis- to 70% dos submetidos a poda floresceram. Na área queimada o ta Brasileira de Biologia 56:127-134. número de inflorescências por indivíduo variou de 1 a 440, com Luke, R. H .; McArthur, A. G. (1978). Bushfires in Australia. um valor mediano de 30 inflorescências por indivíduo. Para os Australian Government Publishing Service, Camberra. 359p. indivíduos submetidos a poda a variação no número de Mistry, J. (1998). Fire in the cerrado (savannas) of Brazil: an inflorescências foi de 6 a 60 com valor mediano de 17 inflorescências ecological review. Progress in Physical Geography 22:425-448. por indivíduo, tendo sido a produção de inflorescências significati- vamente maior (p<0,05) na área queimada. A indução do Oliveira, R. S.; Batista, J. A. N.; Proença, C. E. B.; Bianchetti, L. florescimento nos dois tratamentos confirmam as observações de (1996). Influência do fogo na floração de espécies de Orchidaceae Coutinho (1976) para Lantana montevidensis, Stylosanthes capitata, em cerrado. In: Miranda, H. S.; Saito, C. H.; Dias, B. F. S. (orgs.) Vernonia grandiflora e Wedelia glauca que floresceram após serem Impactos do fogo em áreas de Cerrado e Restinga. ECL/UnB, Brasília. submetidas a queima, poda e seca induzida, levando o autor a p. 61-67. concluir que é a remoção da parte epigéia e não os efeitos térmicos Silva, D. M. S., Hay, J. D.; Morais, H. C. (1996). Sucesso do fogo que induzem a floração. Hadad & Valio (1993) mostram reprodutivo de Byrsonima crassa (Malpighiaceae) após uma quei- que indivíduos de L. montevidenses submetidos a queima e corte mada em um cerrado de Brasília - DF. In: Miranda, H. S.; Saito, C. apresentaram o início da floração quase simultaneamente, 22 dias H.; Dias, B. F. S. (orgs.) Impactos do fogo em áreas de Cerrado e para queima e 24 dias para poda. Gill & Ingerwersen (1976) obser- Restinga. ECL/UnB, Brasília. p.122-127. varam que a queima e a poda estimulavam a produção de flores em Xanthorrhoea australis, não tendo sido observada diferença signifi- Alocação de Biomassa em Flores Hermafroditas de cativa no número de indivíduos em floração quando submetidos Plantas de Cerrado aos dois tratamentos. Juliana Alves Thoméa; Márcia Motta Mauésab ; Alexandre Avelinoa & 4. Conclusão Raimundo Henriquesa Um maior número de indivíduos de Bulbostylis paradoxa (25%) aPós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília produziu inflorescências na área submetida a queima, com núme- ([email protected]).; bEmbrapa Amazônia Oriental; ro máximo de inflorescências cerca de sete vezes maior do que aqueles submetidos à poda. Assim, os resultados obtidos sugerem 1. Introdução que tanto o fogo quanto a poda estimulam a floração de B. Padrões de alocação de matéria seca para as estruturas paradoxa, porém com maior produção de inflorescências nos in- reprodutivas (órgãos sexuais: gineceu e androceu) e vegetativas divíduos submetidos a queima, confirmando os relatos na litera- (cálice e corola) em flores hermafroditas tem sido objeto de estu- tura de que a remoção da parte aérea, seja pelo fogo ou pela poda, dos em plantas de região temperada (Doust & Cavers, 1982; Cruden estimula a floração de algumas espécies do estrato rasteiro da & Lyon, 1985; Goldman & Wilson, 1986; Delesalle & Mooreside, vegetação do Cerrado. 1995). Em plantas hermafroditas com fecundação cruzada, seria

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 499 Cerrado Volume I esperada uma razão 1:1 de alocação de recursos reprodutivos, po- maior que o peso seco do androceu, enquanto que em S. ferrugineus rém esta razão pode variar em função da estrutura populacional, e S. lycocarpum, o androceu teve maiores valores de peso seco do dispersão e tipo de polinizador (Goldman & Wilson, 1986). Doust que o gineceu. Em relação à razão androceu: gineceu foi constata- & Cavers (1982) mencionam que em plantas hermafroditas espe- do comportamento variável de acordo com a espécie estudada. A ra-se existirem custos para as funções reprodutivas masculinas e menor razão foi verificada em V. elliptica (0,656 ± 0,360) e a maior femininas, bem como “trade-offs” entre essas funções, e ainda a foi encontrada em S. lycocarpum (13,405 ± 5,526), valores inter- demanda por recursos. mediários foram apresentados por V. squamata (1,027 ± 0,133) e S. Flores são estruturas complexas, fechadas e divididas em uni- ferrugineus (3,218 ± 1,507). Esses resultados diferem dos encontra- dades estruturais com funções distintas, que se desenvolvem a par- dos por Cruden & Lyon (1985) para 21 plantas com diferentes tir do meristema apical (Endress, 1994). Em flores hermafroditas, sistemas reprodutivos, nas quais o peso seco do androceu foi sem- as unidades são formadas em um receptáculo comum, sendo pro- pre superior ao do gineceu, no entanto são análogos aos resultados vável ocorrer competição pelos recursos através do pedúnculo (Doust encontrados por Doust & Cavers (1982). & Cavers, 1982). Com relação à proporção de matéria seca para os verticilos Este trabalho analisou a alocação de biomassa através do reprodutivos e estéreis nas espécies estudadas, verificou-se que em peso seco dos verticilos reprodutivos e estéreis em quatro plan- V. elliptica, S. ferrugineus e S. lycocarpum a alocação de biomassa tas lenhosas nativas do Cerrado: Vellozia squamata Pohl para as partes vegetativas foi significativamente (P<0,01) superior (Velloziaceae), hermafrodita, com antese diurna, florescimento do que para as partes reprodutivas, concordando com os resulta- em pulsos e ISI=0,10; Vochysia elliptica Mart. (Vochysiaceae), dos de Doust & Cavers (1982). Resposta diferente foi observada hermafrodita, com antese diurna, florescimento em cornucópia, em relação à alocação de biomassa de V. squamata que não apresen- ISI=0,26; Styrax ferrugineus Nees & Mart. (Styracaceae), tou diferença significativa (P=0,078) nessa variável. Considerando hermafrodita, antese diurna, padrão cornucópia e ISI=0,00 e que uma das funções principais do perianto é atração aos Solanum lycocarpum St. Hill. (Solanaceae),hermafrodita/ polinizadores (Endress, 1994), é esperado que haja um elevado andromonóica,antese diurna,padrão de florescimento “steady investimento em biomassa para esta estrutura, como uma estraté- state” e ISI=0,00. O objetivo principal foi determinar onde se gia que contribui para o sucesso reprodutivo da planta. concentra o esforço reprodutivo em flores de plantas Em relação ao percentual de biomassa de cada verticilo por hermafroditas tropicais, baseando-se nas seguintes perguntas: espécie foi constatado que em V. squamata os valores do cálice e 1) A alocação de biomassa para as estruturas reprodutivas e corola foram semelhantes, (22,2% e 21,5%), refletindo a estru- vegetativas em plantas alógamas hermafroditas é semelhante? tura morfológica da flor, cujos verticilos estéreis formam o 2) Há diferenças na alocação de biomassa para o androceu e o perigônio (não há diferenciação morfológica que permita dis- gineceu em função de características da biologia reprodutiva? tinguir sépalas e pétalas), enquanto que dentre os verticilos 2. Métodos reprodutivos, houve maior percentual de biomassa alocada para Este trabalho foi realizado nos meses de abril e maio de 2003, o gineceu (36%), cujo estigma é importante na atração visual e em duas fisionomias do Cerrado, campo cerrado e cerrado sensu como plataforma de pouso para os polinizadores (Oliveira et stricto, na Fazenda Água Limpa (FAL), situada a 20 Km ao sul da al., 1991). Para V. elliptica e S. lycocarpum houve maior investi- cidade de Brasília, Distrito Federal. A área da FAL tem 4.340 mento no cálice, com 70% e 51,3%, respectivamente, em com- hectares e faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) das paração com os demais verticilos. Em V. elliptica, esses resulta- Bacias do Gama e Cabeça do Veado, abrangendo as Áreas Relevan- dos pode ser decorrentes da presença da cálcara, uma estrutura tes de Interesse Ecológico (ARIEs) Capetinga/Taquara, também robusta em forma de esporão que é encontrada na sépala (Oli- denominadas Estação Ecológica da Universidade de Brasília. veira et al., 1991). Por outro lado, a resposta de S. lycocarpum As espécies estudadas, Vellozia squamata Pohl (Velloziaceae), pode ter ocorrido em função da ornamentação do cálice com Vochysia elliptica Mart. (Vochysiaceae), Styrax ferrugineus Nees & tricomas e acúleos (Oliveira-Filho & Oliveira, 1988). S. Mart. (Styracaceae) e Solanum lycocarpum St. Hill. (Solanaceae) ferrugineus apresentou maior percentual de biomassa no cálice, foram selecionadas em função da ocorrência de florescimento du- que tem uma estrutura robusta. rante o período do trabalho e da existência de informações sobre a 4. Conclusão sua biologia reprodutiva na literatura. Os dados obtidos nesse trabalho apresentam evidências de Foram coletados botões florais um ou dois dias antes da que a alocação de biomassa para os verticilos reprodutivos e antese em sete a dez indivíduos de cada espécie, os quais foram vegetativos, bem como para os órgãos sexuais masculinos e fe- preservados em álcool a 70%, e dissecados para a separação dos mininos, em flores hermafroditas, ocorre de forma diferenciada, verticilos florais estéreis e reprodutivos. Essas estruturas inclu- discordando da teoria de alocação de biomassa para as funções íam o cálice (sépalas), corola (pétalas), androceu (estames, file- sexuais em plantas hermafroditas auto-incompatíveis de te) e gineceu (estigma, estilete e ovário). O material foi seco em Goldman & Willson (1986). A alocação de biomassa para as estufa a uma temperatura de 60º durante 48 horas e depois funções masculinas e femininas em flores hermafroditas de pesado em uma balança de precisão para obter-se o peso seco angiospermas auto-incompatíveis ocorre, em geral, de forma de cada verticilo. O peso do perianto (verticilos estéreis ou heterogênea e os dados disponíveis na literatura indicam um vegetativos) foi obtido através da soma do peso seco do cálice padrão de alocação de biomassa semelhante entre os diferentes somado ao da corola. O peso do androceu somado ao do gineceu, sistemas sexuais (Cruden & Lyon, 1985). representou o peso total dos verticilos reprodutivos. A razão do A determinação dos fatores que limitam a alocação de biomassa peso seco do androceu: gineceu foi calculada e comparada atra- para as funções reprodutivas masculinas e femininas nas plantas é vés do Teste t. O investimento de biomassa para os verticilos bastante complexa, em função das variações nas populações e nos vegetativos e reprodutivos foi analisado estatisticamente atra- indivíduos (Goldman & Willson, 1986). As espécies estudadas vés do Teste-t. Os resultados foram discutidos em função do nesse trabalho apresentam características semelhantes quanto à investimento de biomassa para cada verticilo. biologia reprodutiva, sendo todas hermafroditas, auto-incompatí- 3. Discussão e Resultados veis e polinizadas por abelhas, no entanto não houve um padrão O resumo das análises estatísticas do peso seco dos verticilos uniforme para a alocação de biomassa para os verticilos florais. florais mostrou diferença altamente significativa (P<0,01) entre 5. Referência Bibliográfica peso seco do androceu e do gineceu nas flores de todas as espécies Cruden, R. W. & Lyon, D. L. 1985. Patterns of biomass allocation estudadas. Para V. squamata e V. elliptica, o peso seco do gineceu foi

500 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado to male and female functions in plants with different matin systems. não consecutivos, junho de 2000 a junho de 2001 (ano 1) e junho Oecologia. 66:299-306. de 2002 a junho de 2003 (ano 2). Foram realizadas vistorias sema- Delesalle, V. A. & Mooreside, P. D. 1995. Estimating the costs of nais à procura de lagartas, mas o esforço de coleta entre os dois allocation to male and female functions in a monoecious curcubit, levantamentos variou. As lagartas encontradas eram coletadas, des- Lagenaria siceraria. Oecologia. 102:9-16. critas em morfoespécie, fotografadas e criadas em laboratório para a obtenção de adultos. Os adultos foram identificados pelo Dr. Doust, J. L. & Cavers, P. B. 1982.Biomass allocation in Vitor Osmar Becker e depositados na Coleção Entomológica do hermaphodite flowers.Can.J. Bot. 60:2530-2534. Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília. O banco Endress, P. K. 1994. Diversity and evolutionary biology of tropical de dados do projeto sobre lagartas do cerrado, desenvolvido na flowers. Cambridge University Press, Cambridge, 511p. última década foi utilizado para caracterizar a amplitude da dieta Gentry, A.H. 1974. Flowering phenology and diversity in tropical da lagartas encontradas nessa planta hospedeira, as espécies que Bignoniaceae. Biotropica 6:64-68. foram encontradas em mais de uma família de planta foram consi- Goldman, D. A. & Willson, M. F. 1986. Sex allocation in funcionally deradas polífagas. hermaphroditic plants: a review and critique. The Botanical Review. 3. Resultados 52(2):157-194. Um total de 965 plantas foram vistoriadas, sendo que 25,2% dessas vistorias foram realizadas no primeiro ano e 74,8% no se- Oliveira, P. E. & Gibbs, P. E. 1994. Pollination and breeding gundo. No geral 10% das plantas examinadas tinham lagartas, mas systems of six Vochysia species (Vochysiaceae). Journal of Tropical essa ocupação foi maior no ano 1 (25,5%) do que no ano 2 (4,7%). Ecology. 10:509-522 A riqueza de larvas nos dois levantamentos também diferiu, no Oliveira-Filho, A. T. & Oliveira, L. C. A. 1988.Biologia floral de primeiro ano foram encontradas 37 morfoespécies e no segundo uma população de Solanum lycocarpum St. Hil.(Solanaceae) em apenas 19 morfos. Lavras,MG. Revista Brasileira de Botânica. 11:23-32. No primeiro ano a curva de acumulo de espécies não se estabi- Saraiva, L. C; César, º & Monteiro, R. 1988. Biologia da polinização lizou e nos seis últimos meses foram encontradas oito novas morfos. e sistema de reprodução de Styrax camporum Pohl e S. ferrugineus Nees Já nos últimos seis meses do segundo levantamento ocorreu o et Mart. (Styracaceae). Revista Brasileira de Botânica. 11:71-80. acréscimo de apenas uma morfoespécie. A similaridade foi de ape- nas seis espécies sendo quatro já identificadas e duas morfos, mas Variação anual na fauna de lagartas associadas a este número é subestimado, pois as comparações de morfoespécies Styrax ferrugineus (Styracaceae) foram feitas com fotos e nem todas as larvas foram fotografadas. A fauna já identificada nos dois levantamentos e em coletas Juliana de S. Araújo¹; Indra M. Mahajan¹; Ivone R. Diniz² & anteriores é de 25 espécies, sendo 14 monófagas e 11 polífagas. A Helena C. Morais³ similaridade entre os dois anos foi de somente quatro espécies: 1. Bolsista IC CNPq; 2. Departamento de Zoologia; 3. Departamen- Hyperthaema sp 1 e Ripha matilde, ambas da família Arctiidae, Inga to de Ecologia encamina (Oecophoridae), Trosia sp 2 (Megalopygidae). Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília e-mail: [email protected] A espécie mais abundante no ano 1 foi Chlamydastis smodicopa (Elachistidae), ainda não encontrada em outras plantas hospedeiras, 1. Introdução e no ano 2 foi Inga haemataula (Oecophoridae) uma espécie alta- A diversidade da fauna de Lepidoptera no cerrado é muito gran- mente polífaga tendo sido encontrada em 19 espécies de plantas. 4. Discussão e conclusão de e vem sendo estudada desde 1967 por Brown e Mielke e mais recentemente por Becker (1991), que a estima em mais de 10.000 Apesar do considerável aumento no esforço de coleta no se- espécies (V. O. Becker, com. pes.). Já estudos das associações dessa gundo ano, este não foi acompanhado de um maior encontro de lagartas nas plantas hospedeiras. A proporção geral de plantas com fauna com plantas hospedeiras é mais recente e vem sendo estudadas desde 1991 no cerrado de Brasília. Nesse período foram coletadas, lagartas (10%) coincide com a média de ocupação encontrada para em mais de 80 espécies de plantas hospedeiras, cerca de 5.000 lagar- diferentes espécies de plantas no cerrado (Diniz e Morais 1997). No entanto, essa proporção foi mais que o dobro no primeiro ano tas e criadas no laboratório aproximadamente 500 espécies de Lepidoptera e com esse acúmulo de dados algumas listas dessas e apenas cerca da metade do valor médio no segundo ano. associações foram mostradas por Diniz e Morais (1995) e Diniz et al Não apenas a abundância de lagartas, mas também a riqueza de espécies foi muito maior no primeiro ano. A baixa similaridade (2001). Várias características da comunidade foram obtidas como: alta riqueza e baixa abundância de Lepidoptera por planta hospedei- faunística entre coletas indica que a riqueza de espécies de lagartas ra (Price et al, 1995; Diniz e Morais, 1997; Andrade et al, 1999; associadas localmente a Styrax ferrugineus deve ser ainda muito maior. Outro aspecto importante é a diferença de riqueza quando Milhomem et al, 1997), distribuição sazonal, com um pico de lagar- tas no início da estação seca (Morais et al 1999), variação na fenologia consideramos morfoespécies de lagartas (40 espécies) e os adultos foliar, na abundância de larvas e nos dados causados pela herbivoria identificados (25 espécies). Esse resultado está influenciado pela eficiência e/ou dificuldade na criação de lagartas em laboratório e numa mesma planta hospedeira (Pinheiro et al, 1997; Morais et al, 1995), variação na composição de espécies entre áreas de cerrado e mostra como o uso de material de coleção para informação sobre uma baixa similaridade de fauna entre plantas hospedeiras (Diniz e riqueza pode subestimar este valor. Ainda assim, a riqueza de espé- cies identificadas encontrada em Styrax ferrugineus (25) é maior Morais, 1997). A flora do cerrado também é bastante rica, mas algumas famílias são representadas por poucas espécies, como por que a média obtida para outras 62 espécies estudadas na área. exemplo Caryocaraceae e Styracaceae. O objetivo desse trabalho é Os resultados mostram também que as lagartas mais abundan- tes em uma espécie de planta não são sempre as mesmas e podem avaliar a diversidade de espécies, a amplitude de dieta e analisar a similaridade da fauna de lagartas entre diferentes anos na espécie ser especialistas ou generalistas em plantas hospedeiras. Styrax ferrugineus (Styracaceae). A forte variação na riqueza, abundância e composição de espé- cies de lagartas encontradas entre anos nessa planta hospedeira 2. Metodologia Styrax ferrugineus (Styracaceae), uma espécie arbustivo-arbórea, indicam a necessidade de cuidados nas comparações de riqueza de decídua, bastante abundante no cerrado foi vistoriada em uma área insetos entre espécies de plantas hospedeiras. Não só o esforço de coleta, mas também a época em que as coletas foram feitas devem de cerrado sensu stricto na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília, no Distrito Federal. O trabalho foi realizado em dois anos ser levadas em conta.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 501 Cerrado Volume I

5. Bibliografia a faixas mais estreitas de temperatura (Haddad, 1996). Physalaemus Andrade, I; H. C. Morais; I. R. Diniz & Van der Berg. 1999. cuvieri é um dos representantes da família Leptodactylidae que Richness and abundance of caterpillars on Byrsonima agrupa mais ou menos 900 espécies e mais de 40 gêneros (Heyer et (Malpighiaceae) species in an area of cerrado vegetation in Central al., 1988). É uma espécie comum em áreas de cerrado, apresentan- Brazil. Revista Biological Tropical. 47 (4): 691-695. do hábitos noturnos mas podem ser encontrados vocalizando mes- mo nas horas mais quentes do dia, durante o período reprodutivo Becker, V. O. 1991. Fauna de lepidópteros dos cerrados: composi- (Bokermann, 1962). O presente trabalho apresenta informações ção e afinidades com as faunas das regiões vizinhas. I Encontro de sobre a biologia reprodutiva de Physalaemus cuvieri, procurando Botânicos do Centro Oeste (Brasília, DF), p. 91. investigar também, a existência de dimorfismo sexual ou mesmo Brown, K. S. & O. H. H. Mielke 1967. Lepidoptera of central diferenças entre os indivíduos de cada área (Fazenda Sucupira – Brazil plateau. I. Preliminary list of Rhopalocera (continued): EMBRAPA e Campus II – Faculdade da Terra de Brasília) em Lycaenidae, Pieridae, Papilionidae, Hesperiidae. Journal caracteres morfológicos. Lepidoptera Society, 21: 145-168. 2.Métodos Diniz, I. R. & H. C. Morais. 1995. Larvas de Lepidoptera e suas Os dados foram coletados durante a estação chuvosa, entre os plantas hospedeiras em um cerrado de Brasília, DF, Brasil. Revista meses de setembro de 2002 a fevereiro de 2003, utilizando-se dois Brasileira de Entomologia, 39(4):755-770. métodos: procura ativa (Fazenda Sucupira), onde toda a área que Diniz, I. R. & H. C. Morais. 1997. Lepidopteran caterpillar fauna margeava os dois açudes era sistematicamente vistoriada em busca of cerrado host plants. Biodiversity and Conservation, 6: 817-836. dos animais, uma vez por semana; e através de armadilhas de queda (Campus II) do tipo alçapão (Pitfall traps), consistindo de 10 Diniz, I. R., H. C. Morais & A. J. A. Camargo. 2001. Host plants conjuntos de armadilhas dispostos em Y. As armadilhas foram of lepidopteran caterpillars in the cerrado of the Distrito Federal, construídas com baldes plásticos de 20 litros e cercas de lona Brazil. Revista Brasileira de Entomologia, 45(2): 107-122. plástica e TNT (tecido), com aproximadamente meio metro de Milhomem, M.; H. C. Morais; Diniz I. R. & J. D. Hay. 1997. altura e cinco de comprimento. Os “pitfalls” permaneceram aber- Distribuição temporal das espécies de lagartas em Erytroxylum spp. tos por intervalos de sete dias, intercalados por igual período no em um cerrado de Brasília. P.107-111. In Leite. L.L. & C. Saito qual permaneciam fechados. (org.). Contribuição ao conhecimento ecológico do cerrado. No laboratório, foram realizados a sexagem e verificado a con- Brasília , DF. dição reprodutiva pela observação direta das gônadas e/ou mesmo Morais, H. C.; Diniz I. R. & L. C. Baumgarten. 1995. Padrões de características do saco vocal. As fêmeas foram divididas em três produção de folhas e sua utilização por larvas de Lepidoptera em um classes: I - o ovário encontrava-se desenovelado e com tamanho cerrado de Brasília. Revista Brasileira de Botânica 8(2): 163-170. reduzido; II - o ovário estava parcialmente enovelado e com tama- Morais, H.C.; Diniz, I.R. & D. M. S. Silva. 1999. Caterpillar nho intermediário e III - o ovário estava completamente enovelado seasonality in a central Brazilian Cerrado. Revista de Biologia Tro- e dilatado; sendo apenas nesta classe consideradas como reprodutiva pical, 47:1025-1033. (Mesquita et al. manuscrito em preparação). Quanto aos machos foi analisada a presença do saco vocal em três categorias: reduzido Pinheiro, F.; H. C. Morais & Diniz, I. R. 1997. Composição de (SVR), parcialmente evidente (SVI) e completamente evidente herbívoros em plantas hospedeiras com látex: Lepidoptera em (SVE). Para auxiliar esta classificação, foram tomados o compri- Kielmeyra spp. (Guttiferae).p.101-106. In Leite, L.L. & C. Saito mento e a largura dos testículos e seu volume foi calculado através (org.). Contribuição ao conhecimento ecológico do cerrado. da fórmula de um elipsóide. Todos os animais foram também me- Brasília, DF. didos o comprimento rostro-cloacal (CRC) e o comprimento (CC) Price, P.W.; I. R. Diniz; H. C. Morais & E. S. A Marques. 1995. –, largura (LC) e altura da cabeça (AC), com o auxílio de um The abundance of insect herbivore species in the tropics: the high paquímetro. Todas as variáveis morfométricas foram log10-trans- local richness of rare species. Biotropica, 27: 468-478. formadas, para aproximar a amostra de uma distribuição normal e Agência Financiadora: PIBIC/CNPq reduzir efeitos de escala. O CRC foi então comparado entre os sexos e localidades através de uma ANOVA para dois fatores (sexo Aspectos reprodutivos de Physalaemus cuvieri e localidade). Quanto as demais variáveis, foram feitas regressões (Fitzinger,1982) em duas áreas de cerrado do lineares simples entre o CRC e as mesmas, sendo salvo os resíduos, para que se reduzisse o efeito de tamanho (no caso CRC) sobre Distrito Federal (Anura, Leptodactylidae) essas variáveis. Os resíduos provenientes dessas regressões foram a a b Klarissa T. R. Meira ; Maria D. M. Silva ; Adriana Bocchiglieri & utilizados em uma MANOVA, para verificar diferenças entre os Renato G. Fariab a sexos na forma. Aluno de graduação Faculdade da Terra de Brasília 3. Resultados e Discussão ([email protected]) b Docente do curso de Ciências Biológicas, Não foi verificada diferença entre os sexos (ANOVA, F = Faculdade da Terra de Brasília; cPós-graduação em Biologia Animal, 1,194 0,860; p = 0,355), nem entre a interação sexo e localidade (F = Universidade de Brasília 1,194 1,133, p = 0,289), para o tamanho do corpo (CRC). Porém quan- do considerou-se apenas as localidades, verificou-se tamanhos di- 1. Introdução ferenciados (ANOVA, F = 10,473, p = 0,001), com os espéci- Os anuros apresentam uma grande diversidade de padrões de 1,194 mes da Fazenda Sucupira apresentando maior tamanho atividade e estratégias reprodutivas, principalmente entre as espé- (x=30,82+2,10mm; N=113), quando comparados aos do Campus cies da região tropical (Rodrigues, 2001). Em locais onde a umida- II (x=25,90+4,09mm; N=173). Diferenças significativas foram tam- de e a temperatura são mais ou menos altas e constantes, os anuros bém verificadas na forma (Wilks’ lambda = 0,772; F =27,808; tendem a reproduzir durante todo o ano, já em regiões que apre- 3,282 p<0,00001), com os machos sendo ligeiramente mais robustos que sentam períodos secos ou frios, a reprodução é concentrada no as fêmeas. Todas as fêmeas com o CRC menor que 20 mm apresen- período mais favorável (Duellman &Trueb, 1994). Na região tro- taram oviduto na categoria determinada como classe I. A maioria pical a chuva é o fator que mais influencia na época e duração do das fêmeas coletadas (69,38%) possuía CRC entre 20,1 mm e 30,0 dos eventos reprodutivos (Galatti, 1992), tendo as oscilações tér- mm e apresentaram características dos ovidutos nas classes I e II. micas um efeito menor, por serem mais brandas quando compara- Na classe III foram verificadas tanto fêmeas entre 20,1 mm e 30,0 das a locais de clima temperado, podendo os animais adaptarem-se

502 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado mm (N = 9), quanto acima de 30,1 mm (N = 15). Foram encontra- pentadactylus in a central Amazonian rainforest. Journal of dos também algumas fêmeas acima de 30,01 mm também nos dois Herpetology 26:23-31. primeiro estágios. A menor fêmea reprodutiva coletada tinha um Heyer, W.R.; Rand, A.S.; Gonçalves, C.A. & Peixoto, O.L. 1988. CRC de 22,4 mm. Quanto aos machos, o volume dos testículos Decimations, extinctions, and colonizations of frogs populations esquerdo e direito foram respectivamente de 0,004 e 0,005 mm in southeast Brasil and their evolutionary implications. Biotropica para indivíduos com CRC menores ou iguais a 30,0mm e de 0,008 29(3): 230-235. e 0,009 para aqueles com CRC maiores que 30,0mm. Com relação Haddad, C. F. B.; Andrade, G. V. & Cardoso, A. J. 1988. Anfíbios ao saco vocal, os indivíduos apresentaram principalmente sacos anuros no Parque Nacional da Serra da Canastra, Estado de Minas vocais na categoria SVR, independente da classe de tamanho em Gerais. Brasil Florestal 64: 9-20. que ele estava . Indivíduos acima de 30mm de CRC também foram encontrados nas classes SVI e SVE. Os resultados de certo Haddad, C. F. B. 1996. Estudo da diversidade de espécies de anfí- modo, contrastam com o esperado, que seria de machos acima de bios do Estado de São Paulo. Disponível em http:// 30,0mm concentrando-se principalmente nas classes SVI e SVE, www.biota.org.br/info/historico/workshop/revisoes/anfibios.pdf . esses resultados podem ter sido mascarados quando da fixação Data de acesso 24/07/2003. desses animais, que podem ter a forma do saco vocal alterada Magnusson, W. G. & Silva, E. V. 1993. Relative effects of size, com esse processo. season and species on the diets of some Amazonia Savanna lizards. O dimorfismo sexual no tamanho do corpo, coloração e carac- Journal of Herpetology 27: 380-385 terísticas morfológicas são bem conhecidos em anfíbios e répteis, Rodrigues, D. J. 2001. Estratégias reprodutivas da anurofauna em sendo normalmente resultante da competição entre indivíduos do áreas de inundações temporárias da Serra da Bodoquena, mato mesmo sexo (normalmente machos) pelo acesso ao outro sexo Grosso do Sul. Dissertação de Mestrado. Ecologia e Conservação. (Zug et al., 2001). Physalaemus cuvieri amostrados nas duas áreas Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS, Campo não apresentaram dimorfismo sexual no tamanho (CRC), porém Grande, Brasil. os machos apresentaram-se mais robustos quando comparados às Zug, G. R.; Vitt, L. J. & Caldwell, J. P. 2001. Herpetology: An fêmeas. Evidências de seleção sexual em anuros sugerem que o Introductory Biology of amphibians and Repililes. 2ad. Academic Press. maior tamanho em machos deveria ser favorecido em muitas espé- USA. 630p. cies onde essa característica traz vantagens sobre outros machos; porém na maioria das espécies de Anura, a fêmea é normalmente Woolbright, l. l. 1982. Sexual selection and size dimorphism in maior, o que estaria relacionado a uma maior produção de ovos e anuran amphibia. The American Naturalist 121 (1): 110-119. fecundidade das mesmas (Woolbright,1982; Zug et al., 2001). Gastos energéticos em machos com a vocalização, defesa de terri- Análise da Distribuição dos Acidentes Ofídicos tórios e diferenças na dieta podem afetar o tamanho em espécies Ocorridos na Área de Abrangência do Hospital com períodos reprodutivos prolongados (Woolbright,1982). O Universitário Clemente de Faria – HUCF Segundo dimorfismo sexual no tamanho das estruturas tróficas podem tam- Aspectos Sintomatológicos bém reduzir a competição entre os sexos por recursos alimentares, Laura Cavalcanti a, Rodrigo Cayô a, Sarah Santos a, Tatianne capacitando o uso de tamanhos de presas distintas em cada um dos Marques a, Wagner Alkmim a & João Canela b. sexos (Magnusson & Silva, 1993; Van Sluys et al., 2001). Porém essa a Graduandos de Biologia Bacharelado – UNIMONTES característica pode estar mais relacionada a partilha de recursos en- ([email protected]) b Professor do Centro de Ciências tre espécies do que entre os sexos (Magnusson & Silva, 1993). Biológicas e da Saúde – UNIMONTES Os indivíduos do Campus II, apresentaram tamanhos ligeira- mente menores do que os espécimes da Fazenda Sucupira, o que 1.Introdução provavelmente pode estar refletindo em diferenças na disponibili- Os acidentes por animais peçonhentos constituem um proble- dade de alimento encontrada em cada área, ou que os indivíduos ma de saúde pública para países em desenvolvimento, dada a inci- do Campus II seriam espécimes em sua maioria imaturos que se dência, a gravidade e as seqüelas deixadas no doente (Barraviera, encontravam dispersando, visto a distância relativamente longa do 1996). As serpentes peçonhentas são encontradas em quase todo corpo d’água mais próximo do qual se encontravam. Os indivíduos mundo, mas habitam principalmente as regiões temperadas e tro- da Fazenda sucupira, já foram coletados às margens de açudes, picais, em especial pela sua dependência do calor externo para locais propícios ao acasalamento dessa espécie, o que justificaria de efetuar, por mecanismos comportamentais (e não metabólicos) sua certo modo seu maior tamanho. termorregulação. Como os demais répteis, são animais ectodérmicos, 4.Conclusões a diferença de aves e mamíferos (endotérmicos). As grandes famíli- Diferenças no tamanho entre as fêmeas jovens e as potencial- as de serpentes ocuparam praticamente todos os ambientes dispo- mente reprodutivas foram observadas, o mesmo não tendo ocorri- níveis, desde os terrestres, subterrâneos e arbóreos, até as águas do entre os machos, que apresentaram testículos desenvolvidos ou continentais e oceânicas, diversificando-se notavelmente para se não, independente de seu tamanho, sugerindo uma assincronia na adaptar as exigências tão díspares (Vanzolini et al, 1980). No Bra- reprodução. Diferenças intersexuais na forma e tamanho de sil, o Ministério da Saúde tornou obrigatória, a partir de 1986, a Physalaemus cuvieri, provavelmente surgiram em função da seleção notificação dos acidentes ofídicos. A região mais acometida é a sexual que favoreceu machos maiores e mais robustos, trazendo Sudeste (42,62%); seguida das regiões Nordeste (16,99%), Cen- vantagens sobre outros indivíduos do mesmo sexo; aumentando tro-Oeste (15,76%), Sul (15,27%) e Norte (9,36%). Os indivídu- assim seu sucesso reprodutivo. os do sexo masculino são os mais acometidos (74,84%). Em rela- 5.Referências Bibliográficas ção ao gênero das serpentes, a maioria dos acidentes é causada por Bokermann, W. C. A. 1962. Observações biológicas sobre serpentes do gênero Bothrops (86,16%), seguidos das serpentes do Physalaemus cuvieri Fitz. 1826 (Amphibia, Salientia). Rev. Bras. gênero Crotalus (8,94%), Lachesis (2,39%), Micrurus (0,63%) e Biol. 22: 391-399. não-peçonhentas (1,88%) (Ferreira, 2002). Em Minas Gerais a Duellman, W. E. & Trueb. L. 1994. Biology of Amphibians. Jons fauna de serpentes é composta de aproximadamente 120 espécies Hopkins University Press, Baltimore. 670 p. com ocorrência de algumas raras, com hábitos estritamente fossoriais (Leptotyphlops, Liotyphlops), das quais se tem pouca informação so- Galatti, U. 1992. Population biology of the frog Leptodactylus bre a biologia e a situação atual de conservação no estado. Com

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 503 Cerrado Volume I relação às serpentes peçonhentas, são conhecidas em Minas Ge- Assim, existe uma relação direta com o período destinado ao ma- rais, doze espécies, com destaque para Micrurus ibiboboca (Norte), nejo da terra, ao plantio e colheita da safra agrícola. Nesta época, Bothrops fonsecai (Sul), Bothrops erythromelas (Norte e Nordeste), são maiores os números de trabalhadores rurais em atividade, o Bothrops itapetiningae (Triângulo Mineiro) e Lachesis muta rhombeata número de presas e, conseqüentemente o número de ofídios. Por (Mata Atlântica), por apresentarem distribuição restrita em Minas isso, verifica-se que a maioria dos casos atinge lavradores com Gerais. As duas últimas espécies encontram-se ameaçadas de 47,14% (n=99). O horário de maior ocorrência dos acidentes si- extinção no estado, e L. m. rhombeata, também em nível nacional. tuou-se no período diurno com 57,61% (n=121), coincidindo com No Cerrado, temos caracterizações de serpentes para a região de a maior atividade do homem e maior incidência do sol. No período Lagoa Santa, no Triângulo Mineiro e em regiões de transição entre noturno foram registrados 79 acidentes (37,61%). Dos casos avalia- o cerrado e caatinga, como no Norte do estado. É possível deter- dos, 75,71% ocorreram com indivíduos do sexo masculino (n=159), minar os gêneros dos ofídios de acordo com os sinais e sintomas das enquanto que os do sexo feminino registraram percentual de 24,29% vítimas. O quadro clínico provocado por serpentes peçonhentas é (n=51). As faixas etárias em que houve o maior número de acidenta- determinado pelas ações básicas do veneno que se observa a partir dos foi as de 10-20 e 30-40 anos, representando respectivamente da sintomatologia local, de alterações no tempo de coagulação, de 20,0% e 18,57%. Observou-se que o número de acidentes decresce hemorragias sistêmicas, por complicações locais e/ou sistêmicas. de modo considerável na faixa etária acima dos 60 anos, apresentan- Os venenos apresentam ainda ações coagulantes, citotóxicas ou do índice de apenas 7,14%. De todos os casos ocorridos no período proteolíticas, vasculotóxica, além de outras. O presente trabalho estudado, foram registrados óbitos em 1,43% (n=3). tem como objetivo analisar a distribuição geográfica dos acidentes 4. Conclusões ofídicos na região de abrangência do Hospital Universitário Cle- Entre os pacientes atacados por cobra no HUCF é observada mente de Faria – HUCF através da caracterização dos ofídios se- uma pequena parcela de acidentes com serpentes não - peçonhentas. gundo a sintomatologia dos pacientes. Em sua maior parte, as vítimas são acometidas por serpentes 2. Métodos peçonhentas do gênero Crotalus e Bothrops, não havendo ocorrên- Em Minas Gerais, podemos destacar as regiões Norte de Mi- cia do gênero Micrurus e Lachesis. Os pacientes que apresentavam nas e Jequitinhonha / Mucuri que compreendem a área Mineira da sintomas tais como insuficiência renal crônica, lesões locais (rubor, Sudene, ocupando 32,6 % da área de MG e abrigando 2,4 milhões edema, bolhas, necrose), hemorragias sistêmicas, vômitos e dor de habitantes, em 142 municípios. Essa região é atendida pelo abdominal foram classificados como acidente bothrópico. Já os Hospital Universitário Clemente de Faria sendo referência regio- pacientes que apresentavam formação de um pequeno edema, dor nal para os acidentes por picada de cobra. As atividades foram no local da picada pouco freqüente (quando existente, não inten- realizadas no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde sa), a região em geral adormecida, intensa mialgia generalizada, dor (NIPES), localizado no HUCF da Universidade Estadual de Mon- no pescoço, diminuição e até perda da visão, ptose palpebral bila- tes Claros – Unimontes. Foram avaliados todos os casos de aciden- teral, sonolência, mioglobinúria foram classificados como acidente tes por serpentes no período compreendido entre Janeiro de 2000 crotálico. A distribuição geográfica dos acidentes pode ser verificada a Junho de 2003, o número de casos perfez um total de 210 pron- nas áreas com predomínio de Cerrado, onde são encontradas es- tuários. A partir das quais foram analisadas as seguintes variáveis: truturas favoráveis para essas serpentes como a vegetação, o clima características do ferimento (lesão) e sintomas, a localidade, horá- e a temperatura. O declínio dos acidentes de Maio a Setembro, rio em que ocorreu o acidente, época do ano, profissão, sexo e coincide com o inverno. Nesta época, além das serpentes se movi- idade do paciente. mentarem pouco, as atividades agrícolas também diminuem. Por- 3. Resultados e Discussão tanto, é evidente o maior número de casos em lavradores e a faixa Na área de abrangência do HUCF, a serpente que ocasionou o etária dos indivíduos acometidos esta relacionada com a idade em maior número de acidentes entre Janeiro de 2000 e Junho de 2003 que a força de trabalho no campo é maior. Essas observações pare- foi a do gênero Bothrops (jararaca), que aparece em 78,57% (n=165) cem salientar a idéia de que o acidente ofídico é um acidente do dos casos registrados. Em seguida encontra-se Crotalus (cascavel) trabalho, uma vez que sua incidência está relacionada com o deslo- em 14,29% (n=30), não-peçonhentas em 6,19% (n=13) e em dois camento do trabalhador rural para as suas atividades. Além disso, casos não foi possível identificar o gênero da serpente. Esta distri- esses indivíduos não utilizam, de maneira adequada, os equipamen- buição se deve ao fato do cerrado ser constituído por uma vegeta- tos de proteção individual (EPIs): sapatos, botas, perneiras e luvas. E ção de arbustos, pequenas árvores retorcidas e de folhas grossas, a prática de qualquer medida inicial deve ser combatida, principal- surgindo de uma camada herbácea rasteira. Os troncos das árvores mente o garroteamento, que pode agravar os efeitos locais do veneno são normalmente marcados por sinais de queimadas, com sérios e a perda de membros, dificultando, assim, o trabalho médico. problemas devido à falta de água, tornando seu aspecto semelhante 5. Referências Bibliográficas ao de uma vegetação seca o que propicia o aparecimento deste tipo Barraviera, B. Acidentes Ofídicos. In: Veronesi, R; Focaccia, R. de serpente. Em relação ao gênero Micrurus, a ausência de registros (1996). Tratado de Infectologia. São Paulo: Ateneu, p.1561-1577. pode estar ligada aos seus hábitos. Já o gênero Lachesis é uma Ferreira, A. S. B. S.; Barraviera, B.; Barraviera, S. R. S. & Ferreira espécie florestal, era encontrada na bacia do rio Jequitinhonha, – Júnior, R. S. (2003). Curso de extensão universitária on-line a onde provavelmente está extinta devido ao desmatamento, uma distância “Acidentes com Animais Peçonhentos - uma vez que não sobrevive em pequenos fragmentos de mata. As locali- Experiência”.In: Resumo do XXXIX Congresso da Sociedade Brasilei- dades com maior número de acidentes foram os municípios de ra de Medicina Tropical..36: suplemento 1, p.11. Belém , PA Montes Claros (n=57) com 27,14% dos casos, Francisco Sá (n=12) com 5,71%, Itacambira (n=11) com 5,24% e São Francisco (n=10) Hospital Universitário Clemente de Faria-HUCF (2003). Prontu- com 4,76%. Constata-se que a ocorrência dos acidentes apresenta ários de Acidentes Ofídicos 2000 -2003, Montes Claros. um acréscimo de Outubro a Abril e um decréscimo de Maio a Vanzolini, P. E.; Ramos-Costa, A. M. M. & Vitt, L. J. (1980). Répteis Setembro. Janeiro foi o mês de maior incidência de acidentes da Caatinga. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências. ofídicos, quando foram notificados 18,10% (n=38) dos casos. Os meses de Fevereiro e Março apresentaram picos secundários com 17,14% (n=36) e 13,33% (n=28), respectivamente. Deve ser rati- ficado que os períodos de incremento do número de acidentes estão relacionados com o aumento das atividades do setor agrícola.

504 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Estrutura de comunidades das larvas de Trichoptera sa (março/2000); outras duas realizadas no período da estação seca em dois córregos de Cerrado de baixa ordem do (julho e setembro/ 2000); e por último uma coleta também no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas período chuvoso (janeiro/2001). Novas, Goiás. Em cada ponto foram coletadas 10 subamostras aleatórias da Leandro Gonçalves Oliveiraa, Leo Caetano Fernandes da Silvab, macrofauna bentônica com auxílio de um amostrador Surber (Merrit Allan Valle Toledo da Silveirab & Celisa Laureano Prata Cardosob & Cummins, 1996), com malha de aproximadamente 0.225mm, 2 a Universidade Federal de Goiás ([email protected]), b Mestrando totalizando uma área de 1m em trechos de corredeira, com (Biologia-Ecologia) Universidade Federal de Goiás substrato constituído de pedras, areia e folhas. O material coleta- ([email protected]) do foi triado e acondicionado em vidros com álcool 80, com tampa “snap-cap”, devidamente etiquetados. Em seguida, as larvas foram identificadas até o nível de gênero, sendo utilizados as chaves 1- Introdução taxonômicas de Wiggins (1977), Merritt & Cummins (1996), As larvas de tricópteros constituem um relevante grupo aquá- Oliveira (1990) e Angrisano in Lopretto & Tell (1995). tico devido a sua grande importância na transferência de energia, Numa tentativa de associação entre a distribuição espaço-tem- através dos níveis tróficos de muitos sistemas aquáticos (Cummins, poral das larvas de tricópteros e de alguns fatores abióticos, os 1974; Wiggins, 1977). Além disso, várias espécies tem sido estuda- valores da temperatura do ar e água, velocidade média, vazão, das como possíveis indicadoras do nível de poluição e perturbação condutividade, potencial hidrogeniônico (pH) e quantidade total dentro de corpos aquáticos (Rosenberg & Resh, 1993). Segundo de sólidos dissolvidos, foram registrados para todos os pontos de Petersen & Petersen (1983), algumas espécies do gênero Helicopsyche amostragem nas quatro coletas. A temperatura do ar foi obtida exibem anomalias na estrutura de suas redes, como resposta a com auxílio de um termômetro a álcool (0 - 50oC). A velocidade foi diversos agentes poluentes de determinados córregos. mensurada através do método do flutuador (Slobodchikoff & Parrot, Vários fatores abióticos atuam na distribuição da fauna 1977) e a vazão calculada através do produto da velocidade média bentônica de muitos grupos de insetos aquáticos, afetando de for- da água por uma área de secção feita no córrego. Os valores da ma direta os diversos habitats ocupados nos sistemas lóticos temperatura da água, condutividade, quantidade total de sólidos (Guerold et al., 1993). dissolvidos e do potencial hidrogeniônico (pH), foram obtidos Alguns dos fatores físicos muito importante no estudo de co- através pelo multianalisador de variáveis físico-químicas da água munidades lóticas são a velocidade e vazão da água, as quais depen- HORIBA (modelo U- 21). dem basicamente do relevo da localidade. Neste contexto, as larvas Para análise estatística multivariada os dados das espécies fo- que constroem redes são, na sua maioria, confinadas em áreas com ram logaritimizados (log x+1). Dessa matriz foram retirados os uma certa velocidade mínima de correnteza da água. A correnteza dados de março, pois estes apresentaram valores de abundância é importante para estas larvas, pois além de suprirem suas redes muito baixos. Essa matriz foi então, submetida à Análise de Cor- com partículas alimentares, também fornece oxigênio à sua respi- respondência Distendenciada (DCA). ração (Hynes, 1970). Segundo Macan (1962), existe certa prefe- 3- Resultados e Discussão rência de algumas espécies de Trichoptera em ocupar a superfície Foram coletadas 443 larvas de Trichoptera nos dois córregos superior de pedras sujeitas a uma elevada velocidade da água, em- amostrados, sendo 308 no ponto 1 e 135 no ponto2. 20 gêneros bora outras, ocupem locais de velocidade mais baixa. Relata ainda, foram coletados, sendo que dois gêneros foram coletados apenas que redes de algumas espécies sofrem colapso em baixa velocidade no ponto 1 e quatro gêneros apenas no ponto 2. de correnteza da água. Os dois córregos apresentaram características semelhantes tanto O presente trabalho tem como objetivos a avaliação da estru- entre eles quanto sazonalmente, exceto em relação à condutividade, tura de duas comunidades de larvas de Trichoptera em dois córregos que variou sazonalmente aumentando na estação seca, e em rela- de baixa ordem, ambientalmente semelhantes, ao longo de perío- ção à vazão que variou sazonalmente e espacialmente, sendo que o dos sazonais diferentes. ponto 1 apresentou maior vazão nas quatro coletas. 2- Métodos Nos dois pontos de amostragem a abundância foi maior nas Área de Estudo duas coletas realizadas no período de seca corroborando com Oli- O presente estudo foi realizado em dois córregos, Ribeirão veira e Froehlich 1997. No mês de março ambos os pontos apre- Bagre (ponto 1) e Córrego Bálsamo (ponto 2), que nascem nas sentaram a menor abundância (5 e 9 respectivamente) e maior encostas da Serra de Caldas, Município de Caldas Novas, Estado vazão. A menor abundância no período chuvoso pode ter sido de Goiás, cujas coordenadas geográficas são: 17°30’ e 18°00’S e provocada pelo aumento da vazão que desestabilizaria o ambiente 48°30’ e 49°00’W conforme carta topográfica na escala de e aumentaria o carreamento dos organismos. Dentre os insetos 1:100.000, do Ministério do Exército, vide folha SE 22-X-D-V. aquáticos, Trichoptera é um dos grupos mais afetados por esse Desde 1974, a referida serra pertence ao Parque Estadual Serra carreamento, devido à forma do corpo e pelo fato de alguns grupos de Caldas, sendo uma enorme chapada oval, com 15km de compri- mais freqüentes viverem totalmente expostos a correnteza (Olivei- mento por 9km de largura, localizada a 1043m de altitude. Trata- ra e Froehlich 1997). É muito provável que grupos como se de uma região bastante protegida, onde ainda ocorrem algumas Ephemeroptera e Plecoptera podem ser menos afetados pela vazão espécies em risco de extinção, como o tatú-canastra, o tamanduá- devido às formas deprimidas de seus corpos. bandeira, o veado galheiro e o urubú-rei, indicando ser a área, um A DCA mostrou uma maior heterogeneidade temporal de co- local que apresenta seus recursos hídricos numa boa qualidade de munidades de larvas de Trichoptera no ponto 2, quando comparada preservação. ao ponto 1. Provavelmente essa heterogeneidade está ligada a menor Segundo Nimer (1989), o que caracteriza a Região Centro- abundância coletada no ponto 2 nas três coletas o que pode levar a Oeste é o vasto domínio de clima tropical quente e semi-úmido, não amostragem de alguns grupos que ocorrem em menor quantida- com uma estação chuvosa no verão (dezembro, janeiro e feverei- de. Organismos como Chimarra e Polyplectropus ocorreram em mai- ro), e uma estação seca com duração média de 4 a 5 meses, centra- or número no ponto 1, enquanto que Hydroptila e Macronema, ocor- lizada no inverno (maio e setembro). A temperatura média do mês reram preferencialmente no ponto 2. Os resultados demonstraram mais quente é de 24°C nas superfícies elevadas, e a temperatura que apesar da similaridade ambiental, as abundâncias foram distintas média do mês mais frio é de 18°C. entre os dois córregos o que pode demonstrar que existem ouros Coletas fatores influenciando a distribuição das larvas. Foram realizadas quatro coletas; uma no final da estação chuvo-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 505 Cerrado Volume I

4- Conclusões Os resultados deste estudo poderão servir como referência e A fauna de larvas de Trichoptera nos córregos estudada aparen- incentivo para futuros estudos na região, bem como permitirão temente é fortemente influenciada pela vazão dos corpos aquáticos comparações com outras regiões montanhosas da Cadeia do e, apesar de serem córregos muito semelhantes temporalmente e Espinhaço. entre si em ralação às variáveis medidas, a comunidade não se Área de estudo encontra estável, apresentando uma heterogeneidade temporal e A cadeia do Espinhaço compreende um grupo de serras com espacial. altitudes superiores a 800 m. que constitui o divisor de águas entre 5- Referências Bibliográficas a bacia do rio São Francisco e as bacias costeiras do Oceano Atlân- Cummins, K.W. (1974). Structure and function of stream tico, separando conseqüentemente a Floresta Atlântica Costeira ecossystems. BioScience 24(11):633-644 das formações abertas do Brasil central (Cerrado/Caatinga). O complexo do Espinhaço apresenta uma importância ecológi- Hynes, H.B.N. (1970). The Ecology of Running Waters. Liverpool ca muito grande devido à complexidade de suas relações com os University Press. UK. XXIV + 555p domínios morfoclimáticos brasileiros (Ab’Saber, 1977) e a notável Lopretto, E.C. & Tell, C. (1995). Ecosistemas de Aguas Continentales. riqueza de formas endêmicas (Giuletti e Pirani, 1988; Heyer, 1999; Ediciones Sur. Tomo III. 1199-1237p Vanzolini, 1982). A Serra do Cipó esta localizada na porção sul da Macan, T.T. (1962). Ecology of aquatic insects. Ann. Rev. Entomol. Cadeia do Espinhaço, no centro de Minas Gerais. É difícil definir em 7:261-288 qual domínio morfoclimático os campos rupestres da serra do Merritt, R.W. & Cummins, K.W. (1996). An Introduction to Aquatic Espinhaço estão inseridos, visto que essa cadeia montanhosa encon- Insects of North America. (4ª Ed). Ed. Kendall/Hunt Publushing tra-se numa área de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado. Company. Iowa. 849p. A vegetação típica de campo rupestre é normalmente classifi- cada como um tipo de Cerrado (sensu-lato), visto que sua flora Nimer, E. (1989). Climatologia do Brasil. IBGE. 421p apresenta mais afinidade com esse tipo vegetacional. Porém, as Oliveira, L.G. (1990). A ordem Trichoptera, com especial referência à matas de galeria ali presentes tendem a apresentar espécies típicas fauna brasileira. 59p FFCLRP, USP. (Exame de Qualificação). da Mata Atlântica, já que estas representam enclaves mésicos em Oliveira, L.G. & Froehlich, C.G. (1997). Diversity and community meio a esses campos rochosos. structure of aquatic insects (Ephemeroptera, Plecoptera and A estação chuvosa coincide com o verão e começa nos meses Trichoptera) in a southeastern brazilian mountain stream. Acta de outubro-novembro durando até março-abril, enquanto a esta- Limnol. Brasil. IX:139-148 ção seca e fria dura de 3 a 4 meses e coincide com o inverno. Poucos Oliveira, L.G. & Bispo, P.C. (2001). Ecologia de comunidades das estudos sobre a anurofauna foram desenvolvidos na Cadeia do larvas de Trichoptera Kirby (insecta) em dois córregos de primeira Espinhaço, com exceção de alguns estudos feitos no Parque Naci- ordem da Serra dos Pirineus, Pirenópolis, Goiás, Brasil. Revta. onal da Serra do Cipó - PARNA cipó, por Feio et al. (in press). Brás. Zool. 18 (4): 1245-1252. 2. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido no período de julho de Petersen, L.B.M. & Petersen, R.C.Jr. (1983). Anomalies in 2002 até julho de 2003. As viagens de campo foram feitas mensal- hydropsychid capture nets from polluted streams. Freshwat. Biol. mente, cobrindo assim todas as estações, e tiveram no mínimo uma 13:185-191 semana de duração. Foram reconhecidas diversas áreas do Parque Rosenberg, D.M. & Resh, V.H. (1993). Freshwater Biomonitoring and Municipal Ribeirão do Campo (PMRC), a fim de que fossem Benthic Macroinvertebrates. Chapman & Hall, London. IX + 488p escolhidos diferentes e representativos locais para reprodução de Slobodchikoff, C.N. & Parrott, J.E. (1977). Seasonal diversity in anfíbios, onde o estudo pudesse ser desenvolvido regularmente. aquatic insect communities in an all-year stream system. Todos os tipos de ambientes utilizados por anfíbios para a repro- Hydrobiologia 52(2-3):143-151 dução foram visitados (poças, lagos, brejos, riachos, rios, etc.). A Wiggins, G.B. (1977). Larvae of the North American Caddisfly Genera ocorrência das espécies foi assinalada através de procura visual e/ (Trichoptera). University of Toronto Press. XI + 401p ou pelo reconhecimento de suas vocalizações características. In- formações a respeito de distribuição sazonal e ocupação ambiental foram coletadas a cada excursão. Como os hábitos da maioria dos Anfíbios do parque natural municipal Ribeirão do anuros são conhecidos principalmente durante sua atividade Campo/Tabuleiro, Conceição do Mato Dentro-MG. reprodutiva, considerações sobre sua distribuição por habitas são Leite, F. S. F. ([email protected])1; Grandinetti, L. A. S.1 & feitas com base nessa atividade. 2 Eterovick, P. C. As freqüências de ocorrência das espécies em nossas coletas 1 Universidade Federal de Minas Gerais foram divididas em 3 categorias. As espécies que ocorreram em 2 Professora do mestrado da Pontifícia Universidade Católica de 50% ou mais das coletas, foram consideradas constantes; entre Minas Gerais 25 e 50%, acessórias e as que ocorreram em menos de 25% das coletas, acidentais. Todas as espécies foram coletadas, fotogra- 1. Introdução fadas e depositadas no Museu de Ciências Naturais da Pontifícia A necessidade de estudo da anurofauna na região sudeste do Universidade Católica de Minas Gerais (MCNAM). Essas in- Brasil não decorre apenas da diversidade ambiental encontrada. formações são importantes para que os processos ecológicos Acrescenta-se a este fato a grande descaracterização que a região dessa taxocenose possam ser melhor entendidos (Eterovick e vem sofrendo devido à ação antrópica (Heyer et al., 1988). As Fernandes, 2001). regiões montanhosas do sudeste brasileiro vêm atraindo o interesse 3. Resultados e discussão de pesquisadores por ainda preservar boa parte de sua biota origi- Foram registradas 38 espécies de anfíbios (Anura) no PMRC, nal devido ao seu difícil acesso, o que dificultou a sua exploração. distribuídas em cinco famílias : Bufonidae (Bufo rufus), Centrolenidae Junta-se ainda a sua considerável riqueza de espécies endêmicas (Hyalinobatrachium aff. eurygnathum), Mycrohylidae (Elachistocleis (Giuletti e Pirani, 1988; Heyer, 1999; Vanzolini, 1982). ovallis), Leptodactylidae (Leptodactylus acellatus, L. labirynthicus, L. O objetivo do presente trabalho é sumarizar as espécies de jolyi, L. camaquara, L. fuscus, L. furnarius, L. sp., Physalaemus cuviere, anuros que ocorrem no Parque Municipal Ribeirão do Campo P. evangelistai, P. aff. olffersi, Odontophrynus americanus, Proceratoprys (PMRC), bem como caracterizá-las em relação a sua ocupação cururu, Crossodactylus bokermanni, Thoropa megathympanum, ambiental e distribuição sazonal.

506 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Eleuterodactylus juipoca), Hylidae (Hyla alvarengai, H. saxicola, H. Feio, R. N., Bokermann, W. C. A. & Sazima, I. In press. Anfíbios cipoensis, H. faber, H. albopunctata, H. gr. parviceps, H. nanuzae, H. anuros da Serra do Cipó, Minas Gerais, in Fernandes G. W. (ed.). senicola, H. crepitans, H. elegans, Scinax fuscovarius, S. squalirostris, S. Serra do Cipó : ecologia e evolução. Atheneu Editora, Rio de Janeiro. machadoi, S. aff. duartei, S. aff. eurydice, S. aff. perereca, Scinax sp.1, Giuletti, A. M., & Pirani, J. R. 1988. Patterns of geographic Scinax sp.2). distribution of some plant species from the Espinhaço range, Mi- Distribuição sazonal nas Gerais and Bahia, Brazil. Pp. 39-69 in P. E. Vanzolini & Heyer, Treze espécies foram consideradas constantes (Hyla alvarengai, W. R., eds., Proceedings of a workshop on Neotropical distribution H. saxicola, H. minuta, H. polytaenia, H. cipoensis, H. albopunctata, patterns held 12-16 January 1987. Academia Brasileira de Ciênci- H. faber, H. nanuzae, Scinax aff. duartei, Leptodactylus ocellatus, L. as, Rio de Janeiro, 488 pp. jolyi, Thoropa megathympanum, Hyalinobatrachium aff. Heyer, W. R.; Rand, A. S.; Cruz, C. A.G. & Peixoto, O. L. 1988. eurygnathum), oito acessórias (Scinax fuscovarius, S. squalirostris, S. Decimations, extinctions, and colonizations of frogs’ populations aff. perereca, L. labirynthicus, , L. camaquara, L. fuscus, Physalaemus in the southeast Brazil and their evolutionary implications. cuviere, , Odontophrynus americanus) e dezessete acidentais (Hyla gr Biotropica, 20: 230-235. parviceps, H. senicola, H. crepitans, H. elegans, Scinax machadoi, S. aff. eurydice, Scinax sp.1, Scinax sp.2, Leptodactylus furnarius, Heyer, W. R. 1999. A new genus and species of frog from Bahia, Leptodactylus sp., Physalaemus evangelistai, P. aff. olffersi, Proceratophrys Brazil (Amphibia: Anura: Leptodactylidae) with comments on the cururu, Crossodactylus bokermanni, Eleuterodactylus juipoca, Bufo rufus, zoogeography of the Brazilian campos rupestres. Elachistocleis ovallis). Vanzolini, P. E. 1982. A new Gymnodactylus from Minas Gerais, A maioria das espécies foi registrada durante a estação chuvo- Brasil, with remarks on the genus, on the area and on montane sa. Porém, algumas espécies foram encontradas quase o ano todo, endemisms in Brasil (Sauria, Gekkonidae).- Papéis Avulsos de Zo- inclusive nos meses mais frios do ano (i.e. Hyla polytaenia). Várias ologia 34: 403-413. espécies apresentaram períodos de reprodução curtos e restritos aos meses de chuva (i.e. Physalaemus evangelistai, Hyla gr. parviceps, Formação de ecótipos de Davilla elliptica St. Hill. H. senicola, H. elegans). (Dilleniaceae) em uma área de transição cerrado- Ocupação ambiental vereda. Os anfíbios dos campos rupestres do PMRC, foram conveni- Léo Correia da Rocha Filho1 e Cecília Lomônaco2 entemente agrupados, no que diz respeito a ambientes utilizados 1Curso de Ciências Biológicas, 2Instituto de Biologia, Universidade para reprodução, em dois grupos : os que se reproduzem em áreas Federal de Uberlândia, CP 593, Uberlândia, MG. 38.400-902, abertas e em mata de galeria. Dentro desses ambientes, registrou- [email protected] se os habitats onde os anfíbios foram encontrados em atividade: lagoas e brejos temporários e perenes, riachos temporários e pere- 1. Introdução nes, alagadiços temporários, pedras molhadas e campos de Ecótipos descrevem variedades genéticas e/ou fenotípicas de gramíneas. uma mesma espécie em ambientes diferentes (Krebs, 1970). O Das amostragens feitas em áreas abertas, os corpos d’água valor no qual a expressão das características individuais de um lênticos apresentaram a maior riqueza de espécies; 35,7% das es- genótipo é modificada pelo ambiente é a medida da plasticidade pécies que freqüentam esse tipo de ambiente, foram encontradas desses caracteres (Bradshaw, 1965). A resposta plástica de caracte- em atividade em lagoas e brejos temporários e 21,4%, em lagoas e rísticas fenotípicas induzidas pelo ambiente é um foco de pesquisa brejos permanentes. Já nos ambientes de mata de galeria, os ria- comum em várias disciplinas – da ecologia à biologia evolutiva; da chos permanentes, que podem ser considerados os habitats mais fisiologia à genética molecular (Callahan et al. 1997). Portanto, a representativos e importantes nesse tipo de formação, foram os relação entre o caráter de plasticidade e a aptidão é de considerável mais ricos em abundância de espécies, abrigando 64,3% do total importância para o entendimento de como as mudanças nos pa- das espécies encontradas em atividade nesse ambiente. drões de reação podem se desenvolver (Levins, 1963; Via, 1993; 4. Conclusão Weis & Gorman, 1990). O PMRC compreende uma importante área de preservação Plasticidade fenotípica refere-se à habilidade de um organismo na região da Serra do Cipó, pois apesar de estar localizado geogra- alterar sua morfologia, fisiologia ou desenvolvimento em resposta a ficamente próximo ao PARNA cipó, apresenta algumas espécies de variações ambientais, porém, sem que mudanças genéticas sejam anfíbios (Anura) que não ocorre nesta última localidade. Isso pode necessárias (Bradshaw, 1965; Schlichting, 1986; Stearns, 1989; ser explicado pela diferente influência morfoclimática que o PMRC Scheiner, 1993). A plasticidade fenotípica é um elemento central está submetido, pois seu território está na encosta leste da Cadeia na adaptação e diversificação de plantas em ambientes instáveis, do Espinhaço, sofrendo assim, forte influência da Mata Atlântica. heterogêneos ou de transição (Bradshaw, 1965; Schlichting, 1986; Algumas espécies de anuros que não foram encontradas no PARNA Sultan, 1987; Via, 1987; Scheiner, 1993). Desse modo, a formação cipó: Hyla gr. parviceps, H. senicola, H. elegans, Scinax sp.1, S. aff. de ecótipos pode ser bastante favorecida em ambientes ocupados perereca, Physalaemus aff. olffersi. pelo bioma do Cerrado (Cardoso & Lomônaco, 2003), em áreas É importante também ressaltar as ocorrências de Physalaemus entrecortadas pelas veredas, que se constituem de vegetação pre- evangelistai,espécie rara que a muito tempo não é mais encontrada dominantemente herbácea e que se estabelecem em áreas de nas- no PARNA cipó, e de Crossodactylus bokermanni, espécie presente centes, fornecendo água, abrigo e alimento para a fauna silvestre no Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna (Castro, 1980). de Minas Gerais. O Cerrado, segundo maior complexo vegetacional da América 5. Bibliografia do Sul, se estende por uma área de aproximadamente dois milhões Ab’Saber, A. N. 1977. Os domínios morfoclimáticos na América de quilômetros quadrados. No que tange às espécies endêmicas, o do Sul. Primeira aproximação. Geomorfológica 52: 1-21. Cerrado abriga a maior diversidade do continente (Mares, 1986). Eterovick, P. C. & Fernandes, G. W. 2001. Tadpole distribution Em termos de fisionomia, este tipo de vegetação é constituído por within montane meadow streams at the Serra do Cipó, southeastern uma grande variedade de formas, incluindo o cerrado sensu strictu Brazil: ecological or phylogenetic constrains? Journal of Tropical (fisionomia dominante), cerradão, campo cerrado, campo sujo, Ecology 17: 683-693. campo limpo. Porém, a despeito de suas proporções e de conter

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 507 Cerrado Volume I uma alta diversidade de espécies, o Cerrado ainda sofre com a falta Com relação ao número de frutos, ao índice foliar e à assimetria de dados ecológicos, fisiológicos, florísticos e fitossociológicos e flutuante, não houve diferenças significativas entre as áreas estuda- coletas de material botânico ainda não foram realizadas em várias das. Sugere-se que as variações observadas tenham caráter localidades (Felfili et al., 1993).Vale ressaltar, ainda, que é impor- adaptativo, contribuindo para a sobrevivência e aumento na pro- tante conhecer as variedades ou ecótipos de espécies nativas do dutividade. cerrado para que programas de manejo e conservação de reservas O aumento de tamanho do limbo foliar na área de cerrado ecológicas possam ser elaborados com maior eficiência. ppd, que possui maior cobertura vegetal, pode estar associado ao Este trabalho verificou a formação de ecótipos em Davilla aumento na eficiência da captação de luz (Pons et al., 2001; elliptica em uma área que apresenta gradiente de transição cerrado- Niinemets, 1999; Pigliucci et al., 1995). vereda, no Município de Uberlândia, MG. Sugere-se que o ambiente de borda de vereda seja mais favorá- 2. Métodos vel para o estabelecimento e desenvolvimento desta espécie, visto Espécie estudada - D. elliptica é uma planta de porte arbustivo, que plantas neste ambiente são maiores, mais freqüentes e produ- intensamente ramificada, conhecida popularmente como zem frutos com maior biomassa total. Trabalhos similares a este “lixeirinha”, “lixeira-rasteira” e “lixinha”, por apresentar a face su- feitos com Cabralea canjerana subsp. polytricha (Fuzeto & Lomônaco, perior de suas folhas bastante áspera, conferindo-lhe um aspecto 2000) e com Eugenia calycina (Cardoso & Lomônaco, 2003) indi- de lixa (Pott & Pott, 1994). Pertence à família Dilleniaceae, que caram que as diferenças observadas entre indivíduos de cerrado abrange cerca de 10 gêneros com uma ampla distribuição pelas ppd e borda de vereda foram geradas não somente por componen- regiões tropicais e subtropicais do planeta. Possui folhas inteiras, tes genéticos, mas também por plasticidade fenotípica. Isto sugere alternas, elípticas, pecioladas e ásperas (Joly 1987) e é amplamente que ambientes heterogêneos geram variabilidade adicional à co- encontrada no bioma do Cerrado. Suas flores são amarelas e munidades de plantas. efêmeras (duram apenas meio dia), com antese diurna. Seus frutos 4. Conclusão são envoltos por sépalas grandes e persistentes. De acordo com As variações fenotípicas observadas podem ser consideradas Pott & Pott (1994), a espécie apresenta um importante uso medi- adaptativas, pois contribuem para a sobrevivência e reprodução cinal, de modo que as folhas agem contra inflamações externas e a das plantas nas áreas estudadas. raiz atua como anticoncepcional. Além do que, a planta produz 5. Bibliografia ramos que podem ser usados na indústria de vime. Tem como BARBOSA, A.A.A. 1997. Biologia reprodutiva de uma comunida- polinizadores principais as abelhas de pequeno porte, tais como de de campo sujo, Uberlândia/MG. Tese de Doutorado, Universi- Apis mellifera e Trigona spinipes, podendo também ser polinizada dade Estadual de Campinas, Campinas, SP. por moscas como Ornidia obesa (Barbosa 1997), além de ter sua BRADSHAW, A.D. 1965. Evolutionary significance of phenotypic dispersão de sementes feita por aves. plasticity in plants. In: Advances in genetics (E.M. Caspary & J.M. Coleta de dados - As coletas foram realizadas, em duas áreas, Thoday. eds.). Academic Press. New York. p. 115-155. durante o período de setembro de 2002 a março de 2003 na Reser- va Ecológica do Clube Caça & Pesca Itororó Uberlândia (CCPIU), CALLAHAN, H.S., PIGLIUCCI, M. & SCHLICHTING, C.D. que dista 10km do centro da cidade. Esta reserva apresenta clima 1997. Developmental phenotypic plasticity: where ecology and caracterizado por duas estações bem definidas: uma seca e outra evolution meet molecular biology. BioEssays 19: 519-525. úmida, de maneira que na estação seca é comum a ocorrência de CARDOSO, G.L. & LOMÔNACO, 2003. Variações fenotípicas e geadas durante o inverno. As áreas estudadas foram: a) região de potencial plástico de Eugenia calycina Camb. (Myrtaceae) em uma borda de vereda e b) região com vegetação de cerrado propriamen- área de transição cerrado-vereda. Rev. Bras. Bot. 26(1):131-140. te dito (ppd). Em cada uma delas, foram escolhidas aleatoriamen- CASTRO, J.P.C. 1980. As veredas e a sua proteção jurídica. Aná- te, cerca de 20 plantas para a coleta dos dados: altura dos indivídu- lise e Conjuntura 10:321-331. os, peso de frutos inteiros e nus, número de frutos por planta, EVANS, A.S. & MARSHALL, M. 1996. Developmental instability largura e comprimento das folhas, medidas dos semilimbos direito in Brassica campestris (Cruciferae): fluctuating asymmetry of foliar e esquerdo, número de indivíduos por parcelas (10 m x 10 m). and floral traits. Journal of Evolutionary Biology 9:717-736. Análise estatística - Foram estimadas a assimetria flutuante (AF) (somatório da diferença entre as medidas dos semilimbos FELFILI, J. M.; SILVA JR., M.C.; REZENDE, A.V.; MACHA- direito e esquerdo dividido pelo número de folhas dos indivíduos DO, J.W.B.; WALTER, B.M.T.; SILVA, P.E.N. & HAY, J.D. 1993. de cada área). A assimetria flutuante é um tipo de distúrbio no Análise comparativa da florística e fitossociologia da vegetação desenvolvimento de caracteres com simetria bilateral e pode ser arbórea do cerrado sensu stricto na Chapada Pratinha, DF-Brasil. indicativa de estresse ambiental (Evans & Marshall, 1996). Foi Acta Botanica Brasilica 6(2): 27-46. também obtido o índice foliar (IF) (largura dividida pelo compri- FUZETO, A.P & LOMÔNACO, C. 2000. Potencial plástico de mento da folha, que descreve o alongamento das folhas). A densi- Cabralea canjerana subsp. polytricha (Adr. Juss.) Penn. (Meliaceae) dade de ocorrência de indivíduos em cada área foi também estima- e seu papel na formação de ecótipos em área de cerrado e vereda, da. Para verificar se as distribuições eram normais, foi utilizado o Uberlândia, MG. Rev. Bras. Bot. 23(2): 169-176. teste de Kolmogorov-Smirnov. Diferenças destas variáveis entre as JOLY, A.B. 1987. Botânica: Introdução à Taxonomia Vegetal. áreas foram verificadas pelo teste de Mann-Whitney (Zar, 1984). Companhia Editora Nacional. São Paulo, SP. 3. Resultados e Discussão Os ecótipos foram caracterizados quanto à altura dos indiví- KREBS, C.J. 1970. Ecology: the experimental analysis of distribution and abundance. Harper & Row, New York. duos, peso dos frutos inteiros (com sépalas persistentes), peso dos frutos nus (com sépalas extirpadas), densidade de ocorrência nas LEVINS, R. 1963. Theory of fitness in a heterogeneous áreas de coleta, largura e comprimento das folhas. Na borda de environment. II. Developmental flexibility and niche selection. vereda, o peso dos frutos inteiros (U=1652; P<0,001), peso dos Amer. Nat. 47:75-90. frutos nus (U=1299; P=0,010), altura das plantas (U=125,5; MARES, M. A., 1986. Conservation in South America: Problems, P=0,002) e densidade (U=48,5; P<0,001) foram maiores quando consequences, and solutions. Science 233:734-739. comparados aos valores encontrados na área de cerrado ppd. Con- NIINEMETS, U. 1999. Components of leaf dry mass per area – trariamente, verificou-se que o comprimento e a largura das folhas thickness ad density – alter leaf photosynthetic capacity in reverse foram maiores na área de cerrado do que na borda de vereda directions in wood plants. New Phytologist 144(1):35-47. (U=9105,5; P<0,001 e U=8975; P<0,001, respectivamente).

508 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

PIGLIUCCI, M., WHITTON, J.J. & SCHLICHTING, C.D. and their impact on the reproductive success of their hosts. Thus, 1995. Reactions norms of Arabidopsis. I. Plasticity of characters the role of fungi in community structure is still unclear mainly in and correlations across water, nutrients and light gradients. Journal the tropics, where few studies of plant-fungi interactions have been of Evolutionary Biology 8:421-438. conducted (Gilbert 2002). Despite the fact that the cerrado PONS, T.L., JORDI, W. & KUIPER, D. 2001. Acclimation of vegetation (savanna) of Brazil is considered one of the most plants to light gradients in leaf canopies: evidence for a possible important areas for biodiversity conservation (Myers et al. 2000), role for cytokinins transported in the transpiration stream. Journal little is known about fungus attack in native species. The goal of of Experimental Botany 52(360):1563-1574. this study was to address whether the colonization by a fungus, Pestalotiopsis guepinii (Desm.) Stey. affects host performance of a POTT, A. & POTT, V.J. 1994. Plantas do Pantanal. EMBRAPA- native shrub from the Brazilian cerrado, Miconia albicans CPAP, Corumbá, MS. (Melastomataceae). SCHEINER, S.M. 1993. Plasticity as a selectable trait: reply to 2. Material And Methods via. Amer. Nat. 142(2): 371-373. This study was performed in the Pirapitinga Ecological Station SCHLICHTING, C. 1986. The evolution of phenotypic plasticity (IBAMA) in Três Marias-MG, southeastern Brazil, in December in plants. Annu. Rev. Ecol. Syst. 17:667-693. 2002. The biological station is a man-made island, built in 1965 in o o STEARNS, A.D. 1989. The evolutionary significance of phenotipyc the Três Marias reservoir (18 23’S; 45 20’W), at an altitude of 560m plasticity. Bioscience 39:436-445. above sea level. The average annual temperature in the region varies from 20 to 22ºC, and the average annual precipitation is 1600 mm SULTAN, S.E. 1987. Evolutionary implications of phenotypic (Goodland & Ferri 1979). The island has 1100 ha and its vegetation plasticity in plants. Evolutionary Biology. 21:127-178. is primarily cerrado (savanna) (Gonçalves-Alvim & Fernandes 2001). VIA, S. 1987. Evolution of genetic variability in a spatially Miconia albicans (SW) Triana (Melastomataceae) is a shrub heterogeneous environment: effects of genotype-environment commonly found in the cerrado vegetation of Brazil reaching up to interaction. Genet. Res. 49:147-156. 3 meters (Goldenberg & Shepherd 1998). Its fruits are dispersed VIA, S. 1993. Adaptative phenotypic plasticity: target or by-product by birds, rodents and probably ants (Magnusson & Sanaiotti 1987, of selection in a variable environment. The American Naturalist Goldenberg & Shepherd 1998), while its leaves can suffer high 142:352-365. levels of herbivory by phytophagous insects (Paleari & Santos 1998). WEIS, A. E, & GORMAN, W.L.1990. Measuring selection on Although M. albicans seedlings and seeds are sensitive to fire, the reaction norms: an exploration of the Eurosta Solidago system. small-sized seeds can potentially form a seed bank as they are long- Evolution 44: 820-831. lived (Hoffmann 2000). Also, Haridasan (1988) showed that M. albicans is an aluminum accumulating species in Brazilian cerrado, ZAR, J.H. 1984. Biostatistical analysis. Prentice Hall, Inc., which might account for its wide distribution. New Jersey. Pestalotiopsis guepinii (Desm.) Stey. is a fungus species frequently isolated from soil, live plants, and plant debris (Sutton 1980) The impact of Pestalotiopsis guepinii colonizing leaves of phylogenetically unrelated hosts such as Wollemia (Coelomycetes) on the reproductive success of nobilis (Araucariaceae) (Strobel et al. 1997) hazelnut and walnut Miconia albicans (Melastomataceae). (Karaca & Erper 2001), cashew (Anacardium occidentale L.) (Freire Leonardo R. Viana1, Fernando A. O. Silveira1, Jean C. Santos1, & Barguil 2001) and Cocos nucifera (Anjos et al. 2000). The isolated Luiz H. Rosa2, G. Wilson Fernandes1 specimen in this study was deposited in the Fungi Culture 1 Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais. Departamento de Collection of the Departamento de Microbiologia, Universidade Biologia Geral. ICB/UFMG. CP: 486. 30161-970. Belo Horizonte, Federal of Minas Gerais (UFMGCB53) in Brazil. MG. Brazil. E-mail: [email protected] To evaluate the impact on host-plant fitness, we collected one 2 Departamento de Microbiologia, ICB/UFMG, CP.: 486, 30123- healthy and one attacked shoot from 28 randomly chosen individuals 970, Belo Horizonte, MG. Brazil. of M. albicans. Leaf area lost to pathogens was classified into six categories of damage following Domínguez et al (1989): (0) 1. Introduction undamaged; (1) 1 < 5%; (2) 6 < 12%; (3) 13 < 25%; (4) 26 < 50%; Throughout their lifetime, plants face an enormous diversity (5) 51 < 100%. We considered healthy shoots to be the ones that of natural enemies and environmental pressures that can decrease presented levels of attack up to 5% of leaf area removed, equivalent their reproductive success. Fungi are known to comprise a huge to categories zero and one. We considered attacked shoots to be class of organisms that colonize plant tissues reducing host ones in which the levels of attack were superior to 6% of leaf area reproduction (Knogge 1996, Agrios 1997, Gilbert 2002). They removed, corresponding to the remaining categories, two to five. can be the cause of devastating epidemics in crops leading to serious We measured the shoot length, inflorescence length, and the economic problems, attracting the attention of farmers, plant number of fruits in both attacked and healthy shoots in order to breeders and scientists (Knogge 1996). It is clear that many fungi detect fungus effects on plant growth. As the data did not present can manipulate the physiology of their hosts to optimize their normal distribution, the Mann-Whitney was used to compare the parasitic lifestyle decreasing plant performance. They can affect means of shoot length, inflorescence length and fruit production host photosynthesis, water and nutrient translocation, respiration, between healthy and attacked shoots (Zar 1996). In all analysis permeability of cell membranes and the processes of transcription we utilized the program SYSTAT 8.0 (SPSS 1999). and translation (Agrios 1997). All these physiological disturbances At least 10 randomly chosen seeds of each individual were placed can indirectly result in lower seed production. Some fungi species, in Petri dishes (4 replicates) covered with two sheets of filter paper however, colonize reproductive structures (flowers and fruits) directly and moistened with nistatina solution whenever necessary to avoid reducing plant performance (Roche et al. 1995, Travers et al.1998, fungi growth. The Petri dishes were placed in germination chambers Gilbert 2002). In addition, by decreasing plant defenses, they can under a constant temperature of 25°C and photoperiod of 12 hours also impact host reproductive success by enhancing insect herbivory for 30 days. The germination was verified every two to three days and (Folgarait et al. 1995). seeds were considered germinated when radicle protrusion was Most of plant-pathogen studies have been carried out on observed. The values of germination percentage were transformed in economically important crops (Perfect & Green 2001). We know root of arc-sin to obtain the normalization of the data. We compared virtually nothing about the patterns of fungi attack on native plants seed germination between attacked and healthy shoots through the

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 509 Cerrado Volume I paired T-Test. We also calculated the Emergence Speed Index (ESI) floral nectar in Croton suberosus (Euphorbiaceae). Oikos 56: 109-114. following Maguire (1962). Folgarait PJ, Marquis RJ, Ingvarsson P, Braker HE, Arguedas M. 3. Results 1995. Patterns of attack by insect herbivores and a fungus on P. guepinii attack was higher on the adaxial surface of the leaves saplings in a tropical tree plantation. Environmental Entomology but it was also able to colonize M. albicans fruits. P. guepinii attack 24: 1487-1494. did not influence shoot length of M. albicans (p = 0.646). However, Freire FCO, Barguil BM. 2001. Fungos que deterioram amêndoas inflorescence length (p = 0.03) was strongly reduced in attacked de cajueiro no Brasil. Comunicado técnico 64, Fortaleza: Embrapa, shoots when compared with healthy shoots. In attacked shoots the Brazil. number of fruits produced per shoot was more than 3 times less than that of healthy shoots (p < 0.001). From the 28 attacked Gilbert GS. 2002. Evolutionary ecology of plant diseases in natu- shoots, only 15 yielded fruits. The other 13 attacked shoots ral ecosystems. Annual Review of Phytopathology 40:13–43. presented fruits that were completely destroyed by fungi infection. Gonçalves-Alvim SJ, Fernandes GW. 2001. Biodiversity of galling Only one healthy shoot did not present fruits (n = 27). Seed insects: historical, community and habitat effects in the Neotropical germination was reduced from 64% (healthy shoots) to 56% savanna. Biodiversity and Conservation 10: 79-98. (attacked shoots) (p < 0.001). The ESI of seeds collected from Goodland R, Ferri MG. 1979. Ecologia do Cerrado. São Paulo: healthy and attacked shoots of M.. albicans did not differ statistically. Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo. 4. Discussion Haridasan M. 1988. Performance of Miconia albicans (Sw.) Triana, P. guepinii did not influence M. albicans shoot length. A possible an aluminum accumulating species in acidic and calcareous soils. reason for this result could be that within the shoots sampled, Communications in Soil Science and Plant Nutrition 19: 1091-1103. there existed a difference in initial colonization, yielding a dissimilar level of attack between shoots. Many phytopathogenic fungi Hoffmann WA. 2000. Post-establishment seedling success in the decrease host performance by manipulating host physiology (Agrios Brazilian cerrado: a comparison of savanna and forest species. 1997). Attacked shoots showed a strong reduction in fruit Biotropica 32: 62-69. production (p < 0,001). Furthermore, in 15 out of the 28 individuals Karaca GH, Erper I. 2001. First report of Pestalotiopsis guepinii of M. albicans, the fruits were completely destroyed by P. guepinii causing twig blight on hazelnut and walnut in Turkey Plant Pathology attack, having no probability of yielding seeds. P. guepinii infection 50: 415-415. reduced the number of germinated seeds but did not affect the Knogge W. 1996. Fungal infection of plants. The Plant Cell 8: speed of germination. 1711-1722. M. albicans performance may have been reduced by the manipulation of both host physiology (indirect effect), and by the Magnusson WE, Sanaiotti TM. 1987. Dispersal of Miconia seeds by the rat Bolomys lasiurus. Journal of Tropical Ecology 3: 277-278. destruction of reproductive structures (direct effect). Although attacked shoots produced some seeds, seed germination could have Maguire JD. 1962. Speed of germination-aid in selection and evaluation been decreased because fungi drain photosynthates (Agrios 1997) for seedling emergence and vigor. Crop Science 2:176-177. that would otherwise be allocated to the seeds, reducing plant Marquis RJ, Diniz IR, Morais HC. 2001. Patterns and correlates of fitness (Gilbert 2002). interspecific variation in foliar insect herbivory and pathogen attack The impact of P. guepinii on inflorescence size, fruit production in Brazilian cerrado. Journal of Tropical Ecology 17: 127-148. and seed germination of M. albicans undoubtedly showed the Myers N, Mittermeier RA, Mittermeier CG, Fonseca GAB da, negative effects of fungi on plant performance. Marquis et al. (2001) Kent J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. provided evidence of the importance of phytopathogens in plant Nature 403: 853-858. communities in the Brazilian cerrado. They verified that leaf area lost to pathogens was 1.5 times higher than leaf area lost to Paleari LM, Santos FAM. 1998. Role of leaf hair indument in herbivorous insects. protecting against herbivory in Miconia albicans (Melastomataceae). Plant pathogens exert selective pressures on plants by causing Revista Brasileira de Biologia 58: 151-157. mortality and reducing fecundity of individual plants, driving host Perfect SE, Green JR. 2001. Infection structures of biotrophic and population dynamics, and ultimately affecting the structure and hemibiotrophic fungal plant pathogens. Molecular Plant Pathology composition of natural plant communities (Gilbert 2002). To our 2: 101–108. knowledge, our study was the first to demonstrate a negative impact Roche BM, Alexander HM, Maltby, AD. 1995. Dispersal and on plant performance due to pathogenic fungi in a native cerrado disease gradients of anther-smut infection of Silene alba at different species. We argue that community studies in cerrado should take life stages. Ecology 76: 1863-1871. into consideration the influence of fungi to obtain a more SPSS, Inc. 1999. Evanston, IL; version 8.0 comprehensive knowledge of the ecology and evolution of plant- pathogen interactions in neotropical savanna. Strobel GA, Hess WM, Li Jia-Yao , Ford E, Sears J, Sidhu RS, Acknowledgements: Summerell B.1997. Pestalotiopsis guepinii, a taxol-producing We thank JA Lombardi for the plant identification, CA Rosa endophyte of the wollemi pine, Wollemia nobilis. Aust journal Bot. and RAP Grandi for the fungi identification. This study was 45: 1073-1082. supported by IBAMA/Pirapitinga, CNPq (52 1772/95/8, 479684/ Sutton BC. 1980. The coelomycetes. London: Commonwealth 2001-4), FAPEMIG (CRA 388/01), CAPES, and U.S. Fish and Mycological Institute. Wildlife Services. Travers SE, Gilbert GS, Perry EF. 1998 The effect of rust infection 5. References on reproduction in a tropical tree (Faramea occidentalis). Biotropica Agrios. GN. 1997. Plant pathology. 4th edn London. Academic 30: 438-443. Press. Zar JH. 1996. Biostatistical Analysis. 3rd edn. New York: Prentice Hall. Anjos JRN, Charchar MJA, Ramos VHV. 2000. Mancha foliar causada por Pestalotiopsis guepinii em coqueiro no Distrito Federal. Fitopatologia Brasileira 25: 203-203. Domínguez CA, Dirzo MR, Bullock SH.1989. On the function of

510 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Efeitos do fogo no crescimento e acúmulo de malha de 1mm, e foram determinados os teores de nitrogênio nitrogênio no estrato graminoso do cerrado em uma utilizando o método colorimétrico descrito por Oliveira (1986), após vertente no município de Gouveia, MG. a digestão do material com H2SO4/H2O2. Para a análise dos dados foi Letícia Couto Garcia1, Fernanda de Vasconcellos Barros1, Eduardo utilizado o programa estatístico SYSTAT versão 8.0 para Windows. O José Azevedo Correa2, Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin3 & modelo de análise de variância ANOVA levou em consideração os José Pires de Lemos Filho4 efeitos sazonais, a posição na vertente e o efeito do fogo. 1Iniciação científica, Depto de Botânica/ ICB-UFMG, 31270-110- 3-Resultados e discussão Belo Horizonte,MG.([email protected]), 2 Mestrado em A análise estatística mostrou diferenças significativas na pro- Biologia Vegetal /UFMG, 3Depto de Geografia/ IGC-UFMG, 4Depto dução de biomassa epígea entre os sítios queimados e não queima- de Botânica/ ICB-UFMG. dos, ao longo do tempo e ao longo da vertente. Os sítios que não sofreram a ação do fogo apresentaram a biomassa aumentada no mês de fevereiro em resposta às chuvas e altas temperaturas do 1-Introdução verão. No mês de maio foi verificada uma queda dos valores da O fogo influencia a dinâmica do cerrado e exerce importante biomassa, acentuada na estação seca em agosto. Esta queda fator ecológico na manutenção de sua fisionomia e composição. corresponde á senescência das partes vegetativas das plantas, e à Normalmente, após o fogo no cerrado, o estrato herbáceo e arbustivo queda da produção de matéria seca no outono/inverno, estações regenera-se rapidamente devido à presença de estruturas de reser- marcadas por fotoperíodos curtos e temperaturas baixas (Coutinho vas (Andrade, 1997), que são utilizadas para a reconstrução da et al., 1982). Por ocasião da primeira amostragem, a biomassa parte aérea destruída pelo impacto do fogo, permitindo a recom- epígea das áreas queimadas foi menor que a das áreas não queima- posição vegetativa da área queimada. das, entretanto verificou-se uma rápida recuperação, com valores As gramíneas produzem biomassa durante a estação chuvosa e similares já na amostragem de fevereiro. Dessa forma, no final da ficam inativas na estação seca quando grande parte de sua biomassa estação de crescimento (Maio), os valores médios de biomassa das torna-se combustível (Andrade, 1997). O tempo de residência e a áreas queimadas e não queimadas se equivaleram. Esse resultado intensidade do fogo são determinados pela natureza e qualidade do difere do observado por Cardoso (2000) que verificou a redução da combustível, assim como pela direção do vento e condições do biomassa aérea acumulada em aproximadamente 36% no primeiro tempo (Mucunguzi, 1996). ano após a queima e por Andrade (1997) que verificou perda de No cerrado os principais efeitos do fogo no solo estão relacio- 27% da fitomassa durante o mesmo período. Em relação à posição nados a alterações biológicas e químicas, tais como redução ou na vertente, os sítios localizados na baixa vertente apresentaram alteração da população microbiana, aumento temporário da dis- maior produção de biomassa. ponibilidade de nutrientes, alteração no pH, oxidação da matéria Os teores de nitrogênio na massa seca (MS) dos sítios queima- orgânica e diminuição da disponibilidade de água por dos e não queimados variou ao longo do tempo, com menores evapotranspiração e escorrimento superficial (Spera, 2000). Sua valores na época seca (Agosto). Nos sítios queimados verificou-se ação no estrato herbáceo-subarbustivo do cerrado resulta na rápi- um aumento significativo nos teores de nitrogênio logo após a da mineralização e na acelerada ciclagem dos nutrientes. queimada, decrescendo ao final da estação de crescimento. Esse As queimadas representam um fator fundamental no ciclo dos resultado pode ser explicado pelo aumento dos teores de NO - na nutrientes causando perda de parte dos elementos para a atmosfe- 3 superfície do solo após a queima proveniente da nitrificação ra, principalmente N que segundo Coutinho (1979) é um elemen- microbiana das partes não totalmente queimadas e das cinzas to volátil. O fogo age, desse modo, como um decompositor que (Menaut el al., 1979). Deve ser ressaltado, também, que a quanti- produz a libertação de nutrientes minerais a partir de detritos dade de nitrogênio foliar é inversamente proporcional à idade e acumulados e que se tornam tão secos que os microrganismos não dependente da proporção entre material verde e seco (Menaut el poderiam agir sobre eles (Odum, 1969), contribuindo, dessa ma- al., 1979). Dessa forma, com a senescência durante o outono/ neira, para uma ciclagem mais rápida entre a vegetação e o solo. inverno, mesmo na biomassa resultante da vigorosa rebrota após o Porém, o aumento da frequência e intensidade do fogo, diminuem fogo, os teores de nitrogênio decrescem significativamente, aproxi- a biomassa viva e as densidades de indivíduos adultos vivos, che- mando-se dos valores observados na biomassa das áreas não quei- gando a constituir 10 a 30% dos valores relativos à ambientes madas. A análise de variância não evidenciou diferenças significati- intactos (Cochane, 1999). vas na quantidade de nitrogênio/Ha entre as áreas queimadas e não O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos do queimadas. Entretanto, a quantidade de nitrogênio/Ha variou ao fogo sobre a biomassa total epígea, ao longo de uma vertente, longo do tempo com maiores valores nem fevereiro, época de pre- durante o período de um ano subseqüente a uma queimada e o dominância de material em estado vegetativo, com grande propor- acúmulo de nitrogênio na biomassa, comparando áreas queimadas ção de massa verde. e não queimadas. 4-Conclusões 2-Métodos O fogo promove uma rápida recuperação da vegetação logo na O estudo foi realizado na região do alto vale do Jequitinhonha, próxima estação de crescimento, com uma produção de biomassa que no município de Gouveia, Minas Gerais. Essa região tem sido alvo atinge valores similares aos dos sítios não queimados já no início da de exploração agropastoril extensiva, com freqüente uso do fogo próxima estação seca. A posição na vertente também exerce influência para induzir a brotação das pastagens nativas na estação seca. na produção de biomassa, sendo observados no presente estudo mai- Uma vertente com vegetação de campo cerrado, com predo- ores valores na baixa vertente. Os teores de nitrogênio são inicialmen- minância de estrato arbustivo-herbáceo, foi dividida em seis sítios, te maiores na biomassa proveniente da rebrota das plantas dos sítios três dos quais sofreram a ação do fogo em setembro/97 no final da queimados, e no decorrer do tempo, com a senescência, esses teores estação seca. A primeira coleta da biomassa total epígea nos sítios decrescem significativamente igualando-se aos valores encontrados na queimados e não queimados foi efetuada no mês de novembro e as biomassa epígea das áreas não queimadas. seguintes em intervalos de quatro meses (Fevereiro, Maio, Agos- 5-Referências bibliográficas to). Para a coleta foi utilizado um quadrado de 0,5 X 0,5 m (0,25 m2) que foi lançado ao acaso por quatro vezes em cada sítio -ANDRADE, S.M.A. & MIRANDA, H.S. (1997) Dinâmica de com- amostrando a biomassa do estrato herbáceo, em um corte raso. As bustível em uma área de campo sujo de cerrado submetida à queimada amostras foram secas em estufa á 70?C e pesadas para a determina- prescrita no final da estação seca.In: Leite, L.L. & Saito, C.H.(ed.) ção da massa seca. Em seguida foram trituradas em moinho Willey, Contribuição ao conhecimento ecológico do cerrado.UnB/ECL.p.262-267

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 511 Cerrado Volume I

-CARDOSO, E.L., CRISPIM, S.M.A., RODRIGUES, C.A., Os dados deste sensor são adquiridos na forma de produtos, e BARIONI, W. (2000) Biomassa aérea e produção primária do para este estudo foram utilizados os índices de vegetação do produto estrato herbáceo em campo de Elyonurus muticus submetido à quei- MOD13, com 250 metros de resolução espacial. Os dois índices de ma anual, no Pantanal. Rev.Agrop.Bras. vol.35, n° 8. vegetação, o índice da diferença normalizada (NDVI) e o índice de -COUTINHO, L.M. (1979) Aspectos ecológicos do fogo no cer- vegetação melhorado (EVI), são produzidos globalmente com 1 rado. III- A precipitação atmosférica de nutrientes minerais. Rev. Km, 500 m e 250 m de resolução espacial e fornecidos na forma de bras. Bot. 2: 97-101. composições de um período de 16 dias. Enquanto o NDVI é sensível à clorofila, o EVI é mais sensível à variações na resposta estrutural do -COUTINHO, L.M. (1982) Aspectos ecológicos do fogo no dossel, incluindo o índice de área foliar (LAI), a fisionomia da planta cerrado. IV- A época da queimada e a produtividade primária e a arquitetura do dossel (Huete et al., 2002). líquida epígea do estrato herbáceo subarbustivo. Rev. bras. Bot. O índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI) é 5: 37-41. uma relação entre medidas espectrais (reflectância - r) de duas -MENAUT, J.C. et al. (1992) Nutriet and Organic Matter Dynamics bandas, a do infravermelho próximo (800-1100 nm) e a do verme- in Tropical Ecosystems. In: Crutzen, P.J. & Goldammer, J.G. (eds.). lho (600-700 nm), e visa eliminar diferenças sazonais do ângulo do Fire in the environment the ecological, atmospheric, and climatic Sol e minimiza os efeitos da atenuação atmosférica, observados importance of vegetation fires .John Willey & Sons. p.215-228. para dados multitemporais. Os valores obtidos com o NDVI são -MUCUNGUZI, P. & UREJEM, H. (1996) Effects of heat and contidos em uma mesma escala de valores, entre –1 e 1, utilizando- fire on the germination of Acacia siberiana D.C. and Acacia gerrardii se a seguinte equação: NDVI = (r IVP - rV) / (rIVP + rV) benth in Uganda. Journal of Tropical Ecology (12):1-10 Uma peculiaridade atribuída ao NDVI é a rápida saturação, o que -ODUM, E.P. (1969). Ecologia. Ed. Da Universidade de São Pau- o torna insensível ao aumento da biomassa vegetal a partir de lo. p.111 determinado estágio de desenvolvimento (Moreira, 2001), entre- tanto, estudos de monitoramento da vegetação utilizando este -OLIVEIRA, S.A. (1986). Método simplificado para determina- índice têm apresentado bons resultados (Batista et al., 1997, Zhan ção colorimétrica de nitrogênio em plantas. Ciência e Cultura et al., 2002). vol.38,n° 1. p.178-180 O índice de vegetação melhorado (EVI) foi desenvolvido para -SPERA, S.T., REATTO, A., CORREIA, J.R. et al. (2000) Carac- otimizar o sinal da vegetação, melhorando a sensibilidade em regi- terísticas físicas de um latossolo vermelho-escuro no Cerrado de ões com maiores densidades de biomassa, além do monitoramento Planaltina, DF, submetido à ação do fogo. Pesq. agropec. bras. vol.35, da vegetação através de uma ligação do sinal de fundo do dossel e no.9, p.1817-1824 a redução das influências atmosféricas. O EVI é calculado através Agradecimentos: (Esse trabalho contou com o apoio da FAPEMIG, da seguinte equação (Justice et al., 1998): EVI = 2,5 (NIR e os autores agradecem Brenda Cristina da Silva Vartuli que cola- – Vermelho) / (L + NIR + C1 vermelho – C2 azul): borou com as análises químicas e Sander Antônio de Paula que colaborou com a coleta do material no campo). EVI = 2,5 (NIR – Vermelho) / (L + NIR + C1 vermelho – C2 azul)

Análise da Influência da Precipitação na onde: L é fator de ajuste para o solo; e C1 e C2 são coeficientes Sazonalidade das Formações do Cerrado através de de ajuste para efeito de aerossóis da atmosfera. Os valores dos coeficientes adotados pelo algoritmo do EVI são: L=1, C =6, Imagens Índice de Vegetação do Sensor MODIS 1 C =7.5 e o fator de ganho G= 2.5 5 (Justice et al., 1998). Liana Oighenstein Anderson a & Yosio Edemir Shimabukuro a 2 Estes produtos fornecem comparações consistentes de dados a Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ([email protected]) temporais e espaciais das condições da vegetação global, de modo a monitorar a atividade fotossintética da vegetação em suporte a 1.Introdução detecção de mudança e interpretações biofísicas e da fenologia. O conhecimento da distribuição dos tipos de cobertura vege- Neste estudo, utiliza-se imagens Índice de Vegetação do sensor tal e suas variações fenológicas são hoje um aspecto indispensável MODIS e dados de precipitação, fornecidos pela ANEEL, ambos para o planejamento de uma política coerente e eficiente de desen- referentes ao ano de 2002, com o objetivo de analisar a sazonalidade volvimento sustentável, assim como para a compreensão e avalia- das fisionomias de cerrado em relação à precipitação, encontradas ção objetiva da convivência de diferentes ecossistemas, sejam natu- no Estado do Mato Grosso. rais, semi-naturais, agrícolas ou industriais. A análise das variações 2. Métodos fenológicas em nível regional e sua interligação com os diferentes Primeiramente montou-se um banco de dados geográficos dentro componentes do meio geográfico (clima, solo, relevo, geologia, de um sistema de informação geográfica (SIG) para a área de estudo, etc.) formam parte das informações necessárias para a compreen- através do aplicativo SPRING 3.6.03 (Câmara et al., 1996). Nesta são do funcionamento dos ecossistemas em escala global base de dados foram inseridas imagens índice de vegetação (NDVI e (Shimabukuro et al., 1999). O monitoramento da vegetação a EVI), na forma de mosaicos de 16 dias de imageamento, obtidas pelo nível global, continental e regional têm sido realizado com a utili- sensor MODIS para todo o ano de 2002. Em seguida, foram impor- zação de dados fornecidos pelo sensor “Advanced Very High tados dados de precipitação mensal do ano de 2002 para todo o Resolution Radiometer”AVHRR (Rodriguez Yi, 1998) com reso- Estado, fornecidos pela ANEEL, constituindo-se de 164 pontos de lução espacial de 1 km no nadir, a bordo dos satélites da série coleta. Com estes dados pontuais, geraram-se grades regulares, que são NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). Em um modelo digital que aproxima superfícies através de um poliedro de 1999, com o lançamento do satélite Terra, e em 2002 com lança- faces retangulares, utilizando-se do interpolador Média Ponderada mento do satélite Aqua, ambos transportando o sensor “Moderate por Quadrante, já que as amostras foram do tipo ponto. Resolution Imaging Spectroradiometer” MODIS, aumentou-se a As áreas referentes às diferentes fisionomias de cerrado foram possibilidade de realizar estudos regional e global com uma maior selecionadas com base no mapa de vegetação no formato digital, exatidão. Esse sensor coleta informações em 36 bandas do espectro gerado a partir de imagens AVHRR para o Estado do Mato Grosso eletromagnético com diferentes resoluções espaciais (Justice et al., (Rodriguez Yi, 1998), e importado para o banco de dados, onde 2002). O instrumento MODIS fornece também uma alta sensibi- foram discriminados três formações de cerrado distintas: savana lidade radiométrica, fornecendo uma excelente resposta para cada arborizada, savana florestada e savana parque. banda (Strahler et al., 1999).

512 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

O cruzamento destes dados foi realizado através da estatísticas Hansen, M.C.; DeFries, R.S.; Townshed, J.R.G.; Marufu, L.; da imagem por classes temáticas, resultando em uma tabela com os Sohlberg, R. (2002). Development of MODIS tree cover validation dados de precipitação e Índices de Vegetação, para cada uma das data set for Western Province, Zambia. Remote Sensing of três formações de cerrado, para todos os meses do ano de 2002. Environment, v. 83, n. 1-2, p. 320-335. Esta tabela no formato Access foi exportada para os aplicativos Huete, A.; Didan, K.; Miura, T.; Rodriguez, E.P.; Gao, X.; Ferreira, Excel e Statistica, onde foram gerados gráficos e realizados testes L.G. (2002). Overview of the radiometric and biophysical de correlação e significância a 5%. Analisou-se a relação da preci- performance of the MODIS vegetation indices. Remote Sensing of pitação com as respostas dos dois índices de vegetação, comparan- Environment, v.83:195–213. do-os com a precipitação referente ao mesmo mês; a resposta dos Justice, C.O.; Vermote, E.; Townshend. J. R.G.; DeFries, R.;Roy, índices de vegetação com a precipitação com 1 e 2 meses de defa- P.D; Hall, D.K, Salomonson, V.; Privette, J.L.; Riggs, G.; Strahler, sagem, e a resposta dos índices de vegetação em relação a precipi- A.; Lucht, W.; Myneni, B; Knyazikhin, Y.; Running, W.S.; Nemani, tação acumulada de dois meses. R.R.; Wan, Z.; Huete, A.R.; Leeuwen, W.V.; Wolfe, R.E.; Giglio, 3. Resultados e Discussão L.; Muller, J.P; Lewis, P.; Barnsley, M. (1998). The Moderate Uma análise geral mostra que o EVI apresenta uma maior Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS): land remote correlação com a precipitação acumulada de dois meses, seguida sensing for global change research. IEEE Transactions on Geoscience da relação deste índice com a precipitação do mesmo mês. A cor- and Remote Sensing, v.36, n.4, p.1228-1247. relação entre o EVI e a precipitação diminui conforme a precipita- ção é defasada em 1 e 2 meses, e neste último caso, para os três Justice, C. O.; Townshend, J.R.G.; Vermote, E.F.; Masuoka, E.; tipos de formações de cerrado, a correlação foi não significativa a Wolfe, R.E.; Saleous, N.; Roy, D.P.; Morisette, J.T. (2002). An 5%. No entanto, a correlação entre o EVI e a precipitação acumu- overview of MODIS Land data processing and product status. lada de dois meses, foi bastante alta (0.9498). Este resultado de- Remote Sensing of Environment v.83:3 –15. monstra que o EVI é altamente sensível a rápidas mudanças na Moreira, M.A. Fundamentos do Sensoriamento Remoto e metodologias sazonalidade da vegetação das três fisionomias de cerrado. de aplicação. (2001). São José dos Campos: INPE, 250 p. O NDVI apresentou valores crescentes de correlação com a Nimer, E. (1977). Clima. Geografia do Brasil. Região Centro- precipitação com dois meses de defasagem para as formações Savana Oeste. Rio de Janeiro: IBGE, 364 p. Florestada e Savana Parque, e maior correlação com 1 mês de RADAMBRASIL. (1980). Departamento Nacional de Produção defasagem da precipitação para a formação Savana Arborizada. A Mineral. Folha SC. 21 - Juruena. Geologia, geomorfologia, formação Savana Florestada apresenta uma alta proporção de ár- pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: vores em sua composição, e o resultado obtido de maior correlação DNPM.456 p. (Levantamento dos Recursos Naturais, v.20). da resposta da vegetação com a precipitação defasada em 2 meses é coerente com o tempo de resposta desta vegetação à disponibili- Rodriguez Yi, J.L. (1998). Mapeamento e Monitoramento da ve- dade de água. A Savana Parque é formada por uma alta proporção getação do estado do Mato Grosso através de imagens AVHRR- de gramíneas em sua estrutura, que possuem uma rápida resposta a NOAA. São José dos Campos. 135p. (INPE-6816-TDI/638). precipitação, explicando a correlação com 1 e 2 meses de defasa- Shimabukuro, Y.E.; Rodriguez Yi, J.L.; Duarte, V. (1999). Classi- gem, e uma correlação mais baixa com a precipitação acumulada ficação e monitoramento da cobertura vegetal do Estado do Mato de dois meses. Grosso através de imagens NOAA-AVHRR. São José dos Campos. 4. Conclusões (INPE-7234-RPQ/698). Os dois índices de vegetação analisados mensalmente revelam Strahler, A.; Muchoney, D.; Borak, J.; Friedl, M.; Gopal, S.; Lambin, a sazonalidade do cerrado, podendo ser utilizado para distinguir E.; Moody, A. (1999). MODIS Land Cover and Land-Cover estas formações vegetais das outras fisionomias encontradas no Change products algorithm theoretical basis document (ATBD). Estado. Estes resultados sugerem que o EVI é mais sensível que o Version 5.0, Center for Remote Sensing, Department of Geography, NDVI para as respostas rápidas no comportamento da vegetação. Boston University, May, 72p. A Savana Arborizada foi a formação que apresentou maior correlação com a precipitação, que pode ser explicada por duas Zhan, X.; Sohlberg, R.A.; Townshend, J.R.G.; DiMiceli, C.; Carroll, razões: a estrutura desta vegetação (herbáceo-graminosa), e ao fato M.L.; Eastman, J.C.; Hansen, M.C.; DeFries, R.S. (2002) Detection of land cover changes using MODIS 250 m data. Remote de grande parte destas áreas serem utilizadas para agricultura, ambas possuindo uma rápida resposta à disponibilidade de água. Sensing of Environment, v. 83, n. 1-2, p. 336-350. Estes resultados indicam o uso potencial de dados EVI e NDVI multitemporais fornecidos pelo sensor MODIS para a caracteriza- Dispersão e análise da taxa de germinação de ção da sazonalidade das formações de cerrado, no entanto, deve-se sementes de Magonia pubescens (St. Hil.) levar em consideração que só existem dados MODIS a partir do no Morro de Santa Bárbara/Aquidauana - MS. ano de 2001, e uma análise mais abrangente da relação destes Lidiamar Barbosa de Abuquerqueb, Luciana Mendes Valério Bruna, dados com variações interanuais na precipitação a longo prazo Esther Campagna Bertazzonia;Gustavo Henrique de Barros Alvesa; ainda não é possível de ser realizada. Renata Gomez dos Santos Morenoa; Orlando Corsinoa & Mirella 5. Referências Bibliográficas Glajchmana a Bariou, R., Castro Junior, P.R., Lejeune, C. (2002). Lês cerrados graduação Biologia Universidade Católica Dom Bosco b du Mato Grosso. Environnement et télédétection au Brésil, presses Universidade Católica Dom Bosco ([email protected]) Universitaires de Rennes,pg. 51-61.198p. 1.Introdução Batista, G.T.; Shimabukuro, Y.E.; Lawrence, W.T. (1997). The Os frutos evoluíram de várias maneiras em relação à sua disper- long-term monitoring of vegetation cover in the Amazoniam region são, tornado-se um aspecto fundamental para a irradiação adaptativa of northern Brazil using NOAA-AVHRR data. International Journal das angiospermas (Raven et al., 1996). Muitas vezes as sementes são of Remote Sensing, v.18, n.15. p.3195-3210. dispersadas após se libertarem dos frutos, chamados de deiscentes, Câmara, G; Souza, R.C.M.; Freitas, U.M.; Garrido, J.; Mitsuo, F. em outros casos onde os frutos são indeiscentes, as sementes perma- (1996). SPRING: Integrating remote sensing and GIS by object- necem no interior do fruto depois da liberação deste pela planta-mãe oriented data modelling. Computers & Graphics, v. 20, n. 3, p. 395- (Raven et al., 1996; Ferri, 1983). Segundo Piña-Rodrigues & Aguiar 403, May-June.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 513 Cerrado Volume I

(1993) a maturação do fruto é um processo biológico que permite a de 10m x 1m nas direções norte, sul, leste e oeste. Em cada transecto liberação do fruto-semente no momento propício a encontrar con- foi contado o número de sementes, bem como quais dessas apre- dições que possibilitem seu estabelecimento. sentavam emissão de radícula. A primeira coleta foi realizada no A dispersão de sementes é realizada tanto por fatores abióticos dia 06 de novembro logo após chuvas torrenciais, que cessaram como bióticos ou por mecanismos da própria planta. De acordo antes das coletas, sendo que a segunda coleta ocorreu nos dias 09 Piña-Rodrigues & Aguiar (1993) a dispersão abiótica é uma unida- e 10 de novembro, em dias quentes e ensolarados, com ausência de de com dispersão de planação, vôo, explosão ou queda por gravida- chuva desde o dia 05 de novembro. de. As sementes não constituem em recompensa alimentar para 3.Resultados e Discussão dispersor e não apresentam cores, formas ou odores atrativos aos Através do trabalho de campo pode se observar que os frutos possíveis dispersores. Dentre as síndromes de dispersão podemos de Magonia pubescens são grandes e marrons, do tipo cápsula globosa, destacar a anemocoria como uma característica de grande parte destacando três valvas lenhosas, côncavas que se desprendem do das espécies do Cerrado (Coutinho, 2003). Morellato e Leitão- eixo do fruto que é tripartido, e persistente sobre o pedúnculo do Filho (1995) consideram a dispersão de sementes como o trans- fruto. A semente também é grande, mas muito fina formando várias porte das sementes para longe da planta-mãe. Outros autores, camadas de sementes dentro de cada valva, como um triângulo, como Pijl (1972), Schupp (1993) e Howe & Wesley (1997), defi- dispostas uma sobre a outra, apresentam estruturas aladas que nem a dispersão como transporte de diásporos em locais apropria- caracterizam uma semente anemocórica. Segundo Pott & Pott dos para a germinação das sementes e estabelecimento da plântula. (1994) o fruto pode ficar pendurado durante meses, abrindo no No entanto, um estudo ideal deveria abordar a polinização e a final da seca. As sementes, dispostas horizontalmente em alas con- dispersão de sementes integrando os fatores ecológicos que influ- tornam o núcleo seminífero e apresentam a viabilidade de três enciam na fertilização, na maturação do fruto, dispersão das se- meses germinando em 20 dias com crescimento moderado (Barro- mentes e estabelecimento das plântulas. so, 1999; Pott & Pott, 1994). A maturação dos frutos no final da Para Eira & Martins-Netto (1998) dentre os fatores internos, estação seca e início da chuvosa pode estar relacionada com as podem afetar a germinação o estádio de maturação, a dormência, a condições favoráveis para a germinação (Piña-Rodrigues & Aguiar, longevidade natural da espécie e a idade da semente. E dentre os 1993; Morellato et al., 1989). Este período de transição entre ambientais, os mais importantes são a disponibilidade de água e estações teria a vantagem de proporcionar, para as sementes, maior oxigênio, a luminosidade e a temperatura. A germinação é um probabilidade de receber a luz e maior possibilidade de germinação fenômeno biológico que pode ser considerado como a retomada e crescimento das plântulas devido à umidade, e estas teriam toda do crescimento do embrião com o conseqüente rompimento do a estação úmida para desenvolver o sistema radicular antes da tegumento pela radícula. Entretanto, a germinação só realmente próxima seca (Morellato & Leitão-Filho, 1992). reconhecida quando as plântulas apresentam tamanho suficiente Na primeira coleta, após as chuvas, observou-se que as semen- para que se possam avaliar a normalidade de suas partes e a sua tes que não foram carreadas pelo vento e ainda estavam presas ao possibilidade de sobrevivência. Borges & Rena (1993) explicam pedúnculo apresentavam uma massa gelatinosa (gel) que fazia com que a germinação inicia-se pela absorção de umidade por que seu tamanho fosse duplicado, sendo que toda a semente e sua embebição. Inicialmente, a absorção é exponencial, em conseqü- estrutura alada fosse encoberta pelo gel, e desta forma se despren- ência da grande diferença do potencial hídrico entre a semente e o deria do pedúnculo (barocoria), caindo logo abaixo da planta-mãe. meio, pois ela se encontra desidratada. Segundo Baskin & Baskin O gel também foi encontrado nas sementes que estavam no chão. (1998) determinar o tempo de controle da germinação das semen- Sendo um indicativo de embebição da semente, como fonte de tes requererem informações sobre a semente, condições ambientais garantia de reserva hídrica até o estabelecimento da plântula. Se- no habitat, e como os dois interagem do tempo de maturação da gundo Caldeira & Tokashiki (2003) quando a semente é embebida semente até a germinação. Nesse contexto, o presente trabalho em água, verifica-se a formação de um gel com propriedades objetivou analisar o modo de dispersão e a taxa de germinação de fungistáticas. Nessa coleta a taxa de germinação foi de 77% em 90 sementes de Magonia pubescens “in situ” Morro de Santa Bárbara - sementes. A partir dessa coleta levantou-se a hipótese que após Aquidauana – MS. alguns dias seria possível observar um grande número de plântulas, 2.Métodos desta forma foi realizada a segunda coleta. Durante a segunda O presente trabalho foi realizado, no período de 06 a 10 de coleta (com ausência de chuvas nesses dias), verificou-se um redu- novembro 2002, no Morro Santa Bárbara, fazenda experimental zido número de sementes e plântulas, de tal forma que se aumen- da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), com tou o esforço amostral para que se pudesse compreender o que apoio do Grupo de Estudo em Manejo de Áreas Protegidas e estava ocorrendo nesse período. Mesmo assim, os resultados foram Desenvolvimento Sustentável (GEMAP/UEMS), localizado a 11 contrários a hipótese formulada, o número de plântulas foi de km do centro do município de Aquidauana, MS. apenas quatro e a taxa de germinação foi de 38% em um total de 37 A área de estudo é caracterizada por uma região de Cerrado, sementes. Observou-se na segunda coleta que algumas sementes com áreas de vegetação semidecídua em arenito basáltico. O clima estavam secas não apresentando mais o gel. Como M. pubescens é do Cerrado apresenta duas estações bem distintas, sendo uma esta- abundante na encosta do morro estudado e segundo Lorenzi (1992) ção de inverno seco de quatro a seis meses de duração, que se reduz esta espécie ocorre sempre em terrenos altos e bem drenados, à disponibilidade de água nas camadas superficiais do solo, e verão pode-se atribuir neste trabalho que o baixo número de plântulas é chuvoso onde as camadas mais profundas permanecem úmidas em função de não terem encontrando condições microclimáticas (Nardoto et al., 1998; Jackson et al., 1999). Em geral, a precipita- favoráveis para o estabelecimento da plântula. ção média anual fica entre 1200 e 1800 mm, concentrado-se nos Yap (1981 apud Borges & Rena, 1993) explica que a umidade meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação é um fator imprescindível para germinação, pois é através da absor- chuvosa. Porém nos meses de maio a setembro os índices ção de água que se inicia esse processo. Toledo & Marcos Filho pluviométricos reduzem-se bastante, podendo chegar a zero (1977 apud Borges & Rena, 1993) explicam que a água também (Coutinho, 2003). influi na germinação, ativando no tegumento, amolecendo-o, favo- Para analisar a síndrome de dispersão de sementes de Magonia recendo a penetração do oxigênio e permitindo a transferência de pubescens e sua taxa germinação (emissão de radícula) foram utili- nutrientes solúveis para as diversas partes da semente. Dessa forma zados 30 indivíduos, em duas coletas (cinco indivíduos na primeira o gel é uma fonte de acúmulo de água, dando condições à sobrevi- e vinte e cinco na segunda). Para cada indivíduo traçou-se transectos vência do embrião até o início do estabelecimento da plântula.

514 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Com este trabalho verificou-se que o ciclo reprodutivo de Magonia nos Cerrados do Planalto Central: Efeitos do estresse hídrico e pubescens só se completará se houver uma continuidade das chuvas, sombreamento. Revista Brasileira de Botânica. 21: 313 – 319. após desencadeada a germinação. Essas chuvas poderão garantir o Piña-Rodrigues, F.C.M. & Aguiar, I.B. de. (1993). Maturação e estabelecimento da plântula. Dispersão de Sementes. In: Sementes Florestais Tropicais. Aguiar, I.B. 4.Conclusões de; Piña-Rodrigues, F.C.M.; Figliolia, M.B. (coord.). Associação A Magonia pubescens é uma espécie anemocórica e sua semente Brasileira de Tecnologia de Sementes – ABRATES, Brasília, 215- quando embebe água forma um gel, que é uma estratégia para 274 p. assegurar a sua germinação e o início do estabelecimento da plântula. Pijl, L.V.D. (1972). Principles of Dispersal in Higher Plants. Springer- A partir das observações “in locu”, pode-se constatar que uma vez Verlag, New York. germinada a semente, e esta não encontrando condições favoráveis até seu estabelecimento, a mesma não consegue suportar a pressão Pott, A. & Pott, V. J. (1994). Plantas do Pantanal. Corumbá, MS: do meio interrompendo seu desenvolvimento. Dessa forma obser- EMBRAPA-SPI. 260 p. vou que a germinação das sementes dessa espécie e posterior esta- Raven, P.H.; Evert, R.F.; Eichhorn, S.E. (1996). Biologia Vegetal. 5 belecimento das plântulas estão diretamente ligados à estação chu- ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 728 p. vosa. A intensidade das chuvas garantirão a formação da massa Schupp, E.W. (1993). Quantity, quality and the effectiveness of seed gelatinosa (gel) e a sua germinação e, por sua vez, a freqüência das dispersal by animals. In: Estrada, A. And Fleming, T.H. (eds), chuvas dará condições para o estabelecimento das plântulas. Vegetatio107/108:15-29, Kluwer Academic Publishers, Dordrecht. 5.Referências Bibliográficas Barroso, G.M. (1999). Frutas e Sementes. UFV, Viçosa. Ecologia da polinização de Solanum Lycocarpum St. Baskin, C.C. & Baskin J.M. (1998). Seeds: Ecology, Biogegraphy, Hil. (Solanaceae) na Chapada Diamantina, Bahia, and Evolution of Dormancy and Germination. Academic Press, Brasil. California, 666 p. Lílian Santos Barreto a , Favízia Freitas de Oliveirab & Marina Borges, E.E.L. & Rena, A.B. (1993). Germinação de Sementes. In: Siqueira de Castroc Sementes Florestais Tropicais. Aguiar, I.B. de; Piña-Rodrigues, F.C.M.; a Laboratorio de Abelhas (Labe) da Empresa Baiana de Desenvolvi- Figliolia, M.B. (coord.). Associação Brasileira de Tecnologia de mento Agrícola (EBDA) ([email protected]). Sementes – ABRATES, Brasília, 83-135 p. b pós-graduação de entomologia da Universidade Federal do Paraná. c Caldeira, S.F. & Tokashiki, S.do C. (2003). Efeito de Beneficiamento Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e pesquisador e Armazenamento na Germinação de Sementes de Magonia pubescens do Laboratorio de Abelhas (LABE) da Empresa Baiana de Desenvol- A.St.-Hil. Disponível em Acessado em 20 de junho de 2003. 1.Introdução Coutinho, L.M. (2003). Aspectos do Cerrado. In: Cerrado. Dis- O gênero Solanum possui mais de 1700 espécies (WILLIS, 1973), ponível em Acessado em: 18 de ju- sendo bem representado na América tropical, incluindo o Brasil lho de 2003. (SENDTNER, 1846). A espécie em estudo Solanum lycocarpum St. Hil Eira, M.T.S. & Martins Netto, D.A. (1998). Germinação e Con- ocorre em todo o Brasil tropical e subtropical, com predominância servação de Sementes de Espécies Lenhosas. In: Cerrado: matas de nos cerrados e campos cerrados do Brasil Central (Lorenzi, 1998). galeria. Ribeiro, J.F.(editor). EMBRAPA – CPAC, Planaltina, 97- A polinização por abelhas, a ocorrência de alogamia e a deiscência 117 p. poricida das anteras são caracteres comuns na biologia floral e Ferri, M.G. (1983). Botânica: morfologia externa das plantas reprodutiva de espécies desse gênero (BUCHMANN et al., 1977; SYMON, (organografia). 15 ed. Nobel, São Paulo. 1979), sendo que este último caráter pode ser encontrado em Howe, H.F. & Wesley, L.C. (1997). Ecology of pollination and cerca de 6 a 8% das plantas com flores conhecidas atualmente, seed dispersal. In: Crawley, M. (ed.). Plant Ecology. Blackwell com o acesso ao pólen severamente limitado pelos pequenos poros Science, London. 262-283 p. terminais dessas anteras (BUCHMANN, 1983). A forma de retirada do pólen requer um comportamento especial por parte das abelhas Jackson, P.C.; Meinzer, F.C.; Bustamante, M.; Goldstein, G; Fran- visitantes, sendo a polinização dessas flores denominada polinização co, A; Rundel, P.W.; Caldas, L.;Igler,L.; Igler, E.; Causin, F. (1999). por vibração (BUCHMANN et al., 1977), termo largamente conheci- Partitioning of sal water among tree species in a Brazilian Cerrado do do inglês como “buzz pollination”. Embora muitas espécies de ecosystem. Tree Physiology. 19: 717: 724 Solanum tenham flores monóclinas típicas, há considerável varia- Lorenzi, H. (1992). Árvores brasileiras: manual de identificação e ção de formas sexuais, incluindo andromonoicismo, androdioicismo cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Ed. Editora Plantarum, e dioicismo (ANDERSON, 1979; COLEMAN & COLEMAN, 1982; OLIVEI- Nova Odessa, SP. 319 p. RA-FILHO & OLIVEIRA, 1988; ANDERSON & SYMON, 1989). Solanum Morellato P.C. & Leitão-Filho, H.F. (1995). Ecologia e Preservação lycocarpum, é vulgarmente conhecida no Brasil como lobeira ou de uma Floresta Tropical Urbana: Reserva de Santa Genebra. fruta-do-lobo, frutificando ao longo do ano, e tendo o lobo guará UNICAMP, Campinas. (Chrysocyon brachyrus) como principal dispersor de suas sementes. É uma planta com flores lilases, arbustiva e perene, atingindo até 5 Morellato, P.C. & Leitão-Filho, H.F. (1992). Padrões de Frutificação m de altura. É considerada planta invasora, e ocupa os mais varia- e dispersão na Serra do Japi. In: História Natural da Serra do Japi: dos tipos de solo (LEITÃO-FILHO et al., 1975). GRANT (1975) atri- Ecologia e Preservação de uma Área Florestal no Sudeste do Brasil. buiu às plantas invasoras algumas características típicas, como a Morellato, L.P.C. (org.). UNICAMP, Campinas, 112-141 p. capacidade de colonização rápida de ambientes abertos (inclusive Morellato, L.P.C.; Rodríguez, R.R.; Leitão-Filho, H.F. e Joly, C.A. por ação antrópica) e a reprodução predominantemente (1989). Estudo comparativo de fenologia de espécies arbóreas de flores- autogâmica, o que lhes confere alta uniformidade genética em nível tas de altitude e mesófila semidecídua na Serra do Japi. Rev. Brasil. populacional, não descartando, entretanto, surtos esporádicos de Bot., Jundiaí, 12:85-89. recombinação. O presente trabalho descreve aspectos da ecologia Nardoto, G.B.; Souza, M.P.; Franco, A.C. (1998). Estabelecimento da polinização de S. lycocarpum, relacionados ao comportamento de padrões sazonais e produtividade de Kiefmeyera cariocea (Spr) Mart. dos visitantes florais.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 515 Cerrado Volume I

2. Métodos tos vibratórios dos visitantes. As características morfológicas e As observações de campo foram realizadas na base do morro comportamentais apresentadas pelas abelhas visitantes nas flores do Pai Inácio, Chapada Diamantina, Bahia, Brasil (12º27’41’’S, de Solanum lycocarpum coincidem com as relacionadas à síndrome 41º28’78’’W), com três espécimens de S. lycocarpum. Na Chapada da polinização por vibração descrita por BOWERS (1975), BUCHMANN Diamantina podemos encontrar quatro tipos principais de vegeta- et al. (1977), SYMON (1979), COLEMAN & COLEMAN (1982) e ção natural: campo rupestre, mata, campos gerais e capões de vale BUCHMANN (1983). Segundo ZELANDI (2001) a significativa variabi- de fundo. Os campos gerais correspondem aos campos abertos e lidade genética apresentada em seu estudo pela espécie S. lycocarpum planos encontrados acima de 900m de altitude no Morro do Pai deve-se, possivelmente, à ocorrência de uma alta taxa de polinização Inácio (Funch, 1997) com elementos de cerrado como, por exem- cruzada, embora seja característica do gênero Solanum a reprodu- plo, a espécie S. lycocarpum. Observou-se a ocorrência dessa espé- ção preferencialmente autógama. As flores apresentaram grãos de cie até uma altitude aproximada de 1170m, sendo que as plantas pólen viáveis (acima de 87%), não havendo grandes diferenças de estudadas situavam-se às margens da estrada que da acesso ao topo viabilidade entre os três espécimens estudados. Devido ao pouco do morro (numa altitude aproximada de 800m), distando 192m tempo disponível para a realização dos experimentos de campo, os uma da outra. As plantas estudadas foram marcadas e numeradas, testes de polinização não puderam ser concluídos. para facilitar a análise dos dados obtidos, com registro de informa- 4. Conclusões ções sobre morfologia das flores, sistema reprodutivo e comporta- A grande freqüência das abelhas Halictidae nas flores, ao longo mento dos visitantes florais. Na análise descritiva, o comporta- do dia, o seu comportamento vibratório, e a cor do pólen deposi- mento dos visitantes florais foi observado visualmente (das 8:00 às tado em suas corbículas ser o mesmo encontrado nas flores de S. 18:00hs) e registrado através de fotografias e filmagens com câmera lycocarpum, sugere que esses insetos sejam os polinizadores efetivos VHS; todos os visitantes florais foram coletados para posterior desta espécie na área do morro do Pai Inácio na Chapada identificação e análise da região do corpo contendo pólen. Na Diamantina, visto que as abelhas das outras famílias fizeram uma análise experimental, foram testadas, a polinização espontânea visita esporádica, apesar de apresentarem comportamento (autopolinização), através do ensacamento de botões florais em vibratório, não permaneceram muito tempo na flor visitada. Além pré-antese (com três repetições: duas na planta 01 e uma na planta de que as abelhas Halictidae chegavam primeiro nas flores, e o 02), e a polinização cruzada, através do ensacamento da flor após pólen branco encontrado no corpo destes visitantes esporádicos contato do primeiro visitante floral (também com três repetições: não era de S. lycocarpum, já que o pólen retirado das flores desta duas na planta 02 e uma na planta 03). Para a análise da viabilidade espécie era amarelo. de pólen, foi usado o azul de metileno (1%). 5. Referências Bibliográficas 3. Discussão e Resultados ANDERSON, G.J. 1979. Dioecious Solanum species of hermaphroditic As flores observadas apresentaram cinco pétalas violetas páli- origin is an example of a broad convergence. Nature 282:836-838. das, unidas na metade basal, e cinco anteras poricidas amarelas, ANDERSON, G.J. & D.E. SYMON. 1989. Functional dioecy and vistosas e tubulosas, as quais estão dispostas de tal modo que andromonoecy in Solanum. Evolution 43:204-219. formam um cone ao redor do estigma. O estilete pode ser longo (L), com comprimento maior que o das anteras e com o estigma BOWERS, K.A.W. 1975. The pollination of Solanum rostratum exposto, ou curto (C), não atingindo o nível das anteras e, portan- (Solanaceae). Am. J. Bot. 62:633-638. to, sem exposição do estigma. As espécies coletadas foram: Thygater BUCHMANN, S.L.; C.E. JONES & L.J. COLIN. 1977. Vibratile analis, Augochloropsis sp., Pseudoaugochlopsis graminea, Epicharis flava pollination of Solanum douglassii and S. xanti (Solanaceae) in e Xylocopa sp. Quanto ao comportamento dos visitantes florais, as Southern California. Wasmann J. Biol. 35:1-25. abelhas do gênero Augochloropsis e Pseudoaugochlopsis da família BUCHMANN, S.L.1983. Buzz Pollination in angiosperms, pp.73-113 Halictidae apresentaram o maior tempo de atividade, iniciando a in Handbook of Experimental Pollination Biology, C.E. Jones and visitação nas flores por volta das 8:00hs, com movimentação até no R.J. Little (eds.). Van Nostrand Reinhold, New York. 558p. máximo 17:00hs. Porém, o período de maior atividade foi entre COLEMAN, J.R. & M.A. COLEMAN. 1982. Reproductive biology of an 10:00 e 14:00hs. A visitação das outras abelhas foram espóradicas. ndromonoecious Solanum. (S. palinacan-thum Dunal). Biotropica As abelhas Halictidae aproximavam-se da flor pousando na pétala 14:69-75 com a cabeça direcionada para o centro desta, ou mais freqüentemente, pousando diretamente no cone das anteras, com FAEGRI, K. & L. VAN DER PIJL. 1971. The principles of pollination a cabeça direcionada para a base dos estames, e o abdome ecology. Pergamon Press, New York. 291p. direcionado para o ápice das anteras. Em seguida, seguravam os FUNCH, R. 1997. Um guia para o visitante a Chapada Diamantina: O estames medianamente, com a ajuda das pernas e mandíbulas, circuito do diamante. Secretaria da Cultura e Turismo, EGBA. 209p. vibrando o abdome em intervalos curtos, (IC= 1 minuto) e ao GRANT, V. 1975. Genetics of flowering plants. Columbia University mesmo tempo se deslocando para trás em direção ao topo das Press, New York. 514p. anteras. Ao atingirem o topo da antera, realizavam movimento vibratório em intervalo longo, (IL= 2 minutos) liberando o pólen, LEITÃO FILHO, H.F.; C. ARANHA & O. BACCHI. 1975. Plantas invaso- que era depositado nas partes ventrais do tórax e do abdome. ras de culturas no estado de São Paulo. Vol. 2. HUCITEC e AGIPLAN, São Paulo. Habitualmente, um grande número de flores do mesmo indivíduo eram visitadas. Observou-se que, entre uma visita e outra, as abe- LORENZI, H. 1998. Árvores Brasileiras: manual de identificação e lhas realizavam o comportamento de limpeza do corpo, com trans- cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 2.Editora ferência do pólen para as escopas, estas localizadas nos fêmures Plantarum, São Paulo.352p. posteriores. As flores de Solanum lycocarpum podem ser classifica- OLIVEIRA-FILHO, A.T. & L.C.A. OLIVEIRA. 1988. Biologia floral de das como do tipo aberto (FAEGRI & VAN DER PIJL, 1971), sendo uma população de Solanum lycocarpum St. Hil. (Solanaceae) em actinomorfas, não tubulosas, e tendo os órgãos sexuais agrupados Lavras, MG. Revta brasil. Bot. 11:23-32 no centro. O pólen é a única recompensa aos visitantes florais. O SENDTNER, O. 1846. Solanaceae. Flora Brasiliensis, C.F.P. von androceu apresenta características de flores pólen-oligândricas Martius (ed.). F. Fleischer, Lipsiae. Vol 10.228p. (VOGEL, 1978): poucas anteras, estas grandes e vistosas, com deiscência poricida e produzindo pólen pulverulento em grande SYMON, D.E. 1979. Sex forms in Solanum (Solanaceae) and the role quantidade, porém liberado em pequenas porções por movimen- of pollen collecting insects, p.385-397 in The biology and taxonomy

516 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado of the Solanaceae, J.G. Hawkes, R.N. Lester & A.D. Skelding A drenagem na camada limite do perfil solo estimada pela (eds.). Academic Press, London. 738p. equação de Darcy (Jipp et. al. 1997) foi insignificante (menor que -1 VOGEL, S. 1978. Evolutionary shifts from reward to deception in 0,5 % de mm.dia ) e portanto não foi aplicada na equação. O pollen flowers, pp. 89-96 in The pollination of flower by insects, escoamento superficial não foi incluído no balanço hídrico uma A.J. Richards (ed.). Linnean Society Symposium Series. Academic vez que os eventos pluviométricos que possivelmente superaram a Press, London. Vol. 6. 213p. capacidade de infiltração da água nos solos foram descartados. A variação da lâmina de água no perfil do solo foi acompanhada por WILLIS, J.C. 1973. A dictionary of flowering plants and ferns. medidas de conteúdo volumétrico de água realizadas semanalmen- University Press, Cambridge. 1245p. te com sensores do tipo refletômetro de domínio temporal (TDR) ZELANDI, E. M. 2001.Caracterização da variabilidade genética (Oliveira, 1999; Topp et al. 1980). Os sensores foram instalados intraespecífica em Solanum lycocarpum St. Hil. (Solanaceae) e em verticalmente na superfície, abrangendo os primeiros 30 cm e, Eugenia jambolana Lamark (Myrtaceae) através de marcador horizontalmente, na parede de poços escavados, nos primeiros 50 molecular tipo RAPD. Tese (Mestrado). Universidade Estadual cm e a cada metro do perfil até uma profundidade de 600 cm. Paulista, Botucatu. 64p. Foram instalados três sensores por profundidade na pastagem e seis sensores por profundidade no cerrado denso. Entre outubro de Evapotranspiração em um ecossistema do Cerrado e 2001 e setembro de 2002, registrou-se 1156 mm de total uma pastagem plantada pluviométrico na estação da Chapada da Embrapa Cerrados, que aLiliane B. P. Silva, bCarlos A. Klink & cEuzebio Medrado da Silva cobre a região da EEAE e da pastagem, total 25 % abaixo da média. aInstituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia ([email protected]) O parâmetro precipitação pluviométrica representou uma possível bUniversidade de Brasília cEmbrapa Cerrados fonte de erro no cálculo do balanço hídrico uma vez que a estação meteorológica da Chapada da Embrapa Cerrados está cerca de 2 1. Introdução km da área de pastagem e cerca de 8 km de distância da área de A região do Cerrado é diversificada em um mosaico de formas de cerrado denso. vegetação delineadas de acordo com a densidade de árvores, arbustos Uma função cúbica foi ajustada, por regressão não-linear (Excel e herbáceas, cuja dominância relativa varia em resposta à disponibili- 2000), aos valores de evapotranspiração de cada cobertura vegetal, dade de água, nutrientes e ocorrência do fogo (Eiten 1972). Enquanto estimados ao longo do período deste estudo e diferenciada para a o componente lenhoso da vegetação do Cerrado é capaz de manter o obtenção de valores de ET nas datas de interesse. fluxo de água durante a seca devido a um sistema radicular que tem 3. Resultados e discussão acesso à água estocada em camadas mais profundas do solo e mecanis- Na região do Cerrado, a elevada disponibilidade energética na mos fisiológicos de controle estomático, as gramíneas e outras herbá- estação das chuvas propicia taxas significativas de evapotranspiração ceas evitam o estresse hídrico por meio da dessecação e redução da durante este período enquanto que a temperatura elevada e a baixa transpiração (Oliveira 1999; Miranda et. al. 1997). concentração de vapor d’água na atmosfera durante o período de Os ecossistemas do Cerrado têm sofrido transformações pro- estiagem impõem alta demanda evapotranspirativa que é enfrenta- fundas em sua cobertura vegetal e no uso da terra com potencial da de modos diferentes pelos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo severo para causar modificações em sua estrutura e funcionamento dos ecossistemas do Cerrado (Bucci 2001; Miranda et. al.1997). (Klink & Moreira 2002). As pastagens plantadas, constituídas por Neste estudo, o padrão de transferência do fluxo de água para a espécies forrageiras exóticas mais produtivas, cobrem hoje cerca de atmosfera nos dois ecossistemas seguiu a variabilidade estacional 50 milhões de hectares onde o Cerrado foi substituído por da precipitação como o observado em outros ecossistemas tropi- agrossistemas (Sano et. al. 1999). Espera-se que a substituição dos cais e inclusive em pastagens (Oliveira 1999; Jipp et al. 1998; ecossistemas nativos, onde coexistem plantas lenhosas e herbáceas, Miranda et. al. 1997). por ecossistemas dominados por gramíneas exóticas promova mu- A evapotranspiração anual na pastagem (1155 mm) foi maior do danças fundamentais no balanço hídrico dessas áreas em virtude da que a ET anual do cerrado strictu sensu (924 mm) e do cerrado denso exclusão do componente arbóreo (Jipp et. al. 1998). (948 mm), igualando-se à precipitação total do período. O registro Diante da questão apresentada, este estudo investigou o pa- das maiores taxas diárias de ET ocorreu em dezembro de 2001 na drão sazonal da evapotranspiração (ET), pelo método do balanço pastagem (5,9 mm) e em janeiro de 2002 no cerrado denso e no hídrico, em um cerrado denso e uma pastagem plantada entre cerrado strictu sensu (4,3 mm). Em julho e agosto de 2002 foram outubro de 2001 e setembro de 2002. registradas as menores taxas diárias na pastagem (0,5 mm) e no 2. Metodologia cerrado strictu sensu (0,6 mm) e no cerrado denso (0,9 mm), respec- O cerrado denso localiza-se na Estação Ecológica de Águas tivamente. As taxas médias diárias calculadas foram, respectivamen- Emendadas (EEAE) a 45 km ao leste de Brasília. O lençol freático te, na estação chuvosa e na estação seca: 3,5 ± 0,6 e 1,3 ± 0,4 mm está cerca de 30 m de profundidade e não há registro de queimada para o cerrado denso e 4,6 ± 1,1 e 1,2 ± 0,7 mm para a pastagem. nesta área. A pastagem plantada pertence ao Centro de Pesquisas A atividade da pastagem constituída pela espécie forrageira de Agropecuárias do Cerrado (Embrapa Cerrados) e está localizada a origem africana esteve restrita em sua maior parte (84 %) ao período 30 km ao leste de Brasília. Essa área foi formada com Brachiaria chuvoso. O contraste entre a perda de água via evapotranspiração brizantha há 22 anos, é submetida a uma carga animal menor que para atmosfera pelo ecossistema do Cerrado e pela pastagem na 0,2 animais por hectare por dia e está protegida do fogo desde que época das chuvas provavelmente estará relacionado à eficiência de foi formada. Representa as áreas típicas de Cerrado convertido em produtividade das gramíneas exóticas nesse período (Baruch & pastagens formadas por espécies forrageiras exóticas e que se en- Fernandéz 1993). O segredo do sucesso dessas gramíneas de origem contram em algum grau de degradação, com produção de 3572 africana está concentrado, em grande parte, nas relações hídricas kg.ha-1 (Barcelos et. al. 1993). dessas espécies com o solo e a atmosfera. Para a mesma quantidade Neste estudo, a evapotranspiração real (ET) (mm) foi estima- de água disponível, as espécies de origem africana são mais produti- da como a soma da mudança na lâmina de água no perfil do solo vas e transpiram mais na estação chuvosa. Na estação seca, contudo, (DL) (mm) até 600 cm de profundidade e a precipitação (P) (mm) reduzem drasticamente sua área verde devido à sua alta sensibilidade (Oliveira 1999; Jipp et. al. 1997) entre duas observações de con- estomatal ao gradiente de pressão de vapor de água entre a superfície teúdo volumétrico de água no perfil solo: transpirante (Baruch & Fernandéz 1993). ET = DL + P (mm) Por outro lado, a diversidade de formas de uso da água do solo

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 517 Cerrado Volume I pelas plantas do Cerrado reconhecida atualmente (Bucci 2001; Partilha dos recursos alimentares de Chiasmocleis Meinzer et al. 1999; Oliveira 1999) destaca o uso conservativo da albopunctata, Leptodactylus mystacinus e água disponível no solo pelas espécies lenhosas, inclusive no perío- Physalaemus cuvieri (Amphibia: Anura) em uma área do de chuvas, que evitam a perda dágua por transpiração por meio de Cerrado do Brasil Central. de forte controle estomático (Bucci 2001; Meinzer et al 1999). Lucas Barros Vilarinsa; Ludmilla Bastos Diasa; Raquela; Adriana Além disso, nos ecossistemas do Cerrado registra-se uma redução Bocchiglierib & Renato Gomes Fariac substancial na evapotranspiração devido à redução da superfície a Aluno de graduação, Faculdade da Terra de transpirante de espécies lenhosas e desidratação das gramíneas Brasília([email protected]); bDocente do curso de Ciências (Oliveira 1999; Miranda et al. 1997). É interessante notar que Biológicas, Faculdade da Terra de Brasília; cPós-graduação em enquanto diversas espécies de plantas lenhosas dos ecossistemas do Biologia Animal, Universidade de Brasília. cerrado não apresentam padrão sazonal de controle da transpiração (Meinzer et. al. 1999), tal padrão existe quando se trata de toda a 1. Introdução comunidade. A diversidade de presas consumidas bem como a sobreposição 4. Conclusão na dieta, são medidas importantes para um melhor entendimento O estabelecimento de ecossistemas dominados por gramíneas das relações tróficas entre os organismos, estando as mesmas dire- exóticas carrega o potencial para alterar o balanço hídrico da re- tamente relacionadas a diversidade de espécies que compõem as gião do Cerrado uma vez que extraem mais água do solo o ano comunidades (Pianka, 1974) A competição e a predação são nor- inteiro, levando a diminuição da recarga de água no solo e a menor malmente apontadas como importantes fatores organizadores das disponibilidade de água para os ecossistemas naturais da região comunidades (Crump, 1982), porém outros fatores independentes devido às altas taxas de evapotranspiração. de interações interespecíficas devem também ser considerados, sen- 5. Referências do que estes, podem atuar independentemente ou interativamente Barcelos, A. O.; Diniz, A. V.; Vilela, L. 1993. Recuperação de pasta- (Pombal, 1997). Em diversos grupos de vertebrados já foi demons- gem degradada de B. brizantha cv. Marandu através da cultura do trado que a coexistência das espécies, é facilitada pelo uso diferen- milho. Anais da 30ª. Reunião Annual da SBZ. Rio de Janeiro. p.79. cial dos recursos, devido, em parte, a interações comportamentais Baruch, Z.; Fernandéz, D. S. 1993. Water relations of native and interespecificas, envolvendo organização social e distribuição es- introduced C4 grasses in a neotropical savanna. Oecologia 96:179-185. pacial e temporal nas comunidades (Cardoso et al, 1989). Um Bucci, S. 2001. Arquitectura hidráulica y relaciones hídricas de árboles provável efeito da partilha de nicho trófico seria a redução da competição interespecífica através do uso diferenciado das presas de sabanas neotropicales: efectos de la disponibilidad de agua y nutrien- disponíveis (Greding. & Helleberyck, 1980). O presente trabalho tes. Tesis de Doctor. Facultad de Ciencias Exactas y Naturales. Universidad de Buenos Aires. 198p. teve como objetivo verificar como Chiasmocleis albopunctata, Leptodactylus mystacinus e Physalaemus cuvieri, partilham os recur- Eiten, G. 1972. The cerrado vegetation of Brazil. Botanical Review sos alimentares, em uma área de cerrado do Campus II da Faculda- 38:201-341. de da Terra de Brasília. Excel 2000. Microsoft Office XP. Microsoft Corporation. 2. Métodos Jipp, P. H.; Nepstad, D. C.; Cassel, D. K.; Carvalho, C. R. 1998. Os dados foram coletados em uma área de cerrado localizada Deep soil moisture storage and transpiration in forests and pastures no Campus II da Faculdade da Terra de Brasília no período de of seasonally-dry Amazonia. Climate Change 39:395-412. outubro de 2002 a abril de 2003. Para as coletas foram utilizados 10 conjuntos de alçapões, cada um composto por quatro baldes de Klink, C. A.; Moreira, A. G. 2002. Past and Current Human Occupation, 20 litros interligados por cercas de lona plástica ou mesmo TNT and Land Use. In: Oliveira, P. S. & Marquis, R. J., (eds). The Cerrados of (tecido) com mais ou menos meio metro de altura e cinco metros Brazil. New York: Columbia University Press. p.69-88. de comprimento dispostos de maneira a formar um “Y”, com um Meinzer, F. C.; Goldstein, G.; Franco, A. C.; Bustamante, M.; balde ao final de cada extremidade e um no centro. Os alçapões Igler, E.; Jackson, P; Caldas, L.; Rundel, P. W. 1999. Atmospheric permaneceram abertos por períodos de sete dias, os quais foram and hydraulic limitations on transpiration in Brazilian cerrado vistoriados diariamente, intercalados por igual intervalo onde os woody species. Functional Ecology 13:273-282. mesmos permaneceram fechados. Miranda, A. C.; Miranda, H. S.; Loyd, J.; Grace, J.; Francey, R. J.; Em laboratório foram tomadas as medidas do CRC – compri- Mcintyre, J. A.; Meir, P.; Riggan, P.; Lockwood, R.; Brass, J. 1997. mento rostro cloacal e os comprimento, largura e altura da cabeça Fluxes of carbon, water and energy over Brazilian Cerrado: an com o auxílio de um paquímetro. Os animais foram então dissecados analysis using eddy covariance and stable isotopes. Plant Cell and e os estômagos removidos. Os estômagos foram então abertos e o Environment 20:315-328 seu conteúdo colocado em placa de Petri e identificado em nível de Oliveira, R. S. 1999. Padrões sazonais de disponibilidade de água nos ordem. Os itens foram contados e medidos o maior comprimento e solos de um cerrado denso e um campo sujo e evapotranspiração. Disser- maior largura com o auxílio de um paquímetro. Os volumes das tação de Mestrado. Departamento de Ecologia. Universidade de presas foram calculados através da fórmula do volume de um elipsóide. Brasília. 69p. Foram também calculadas as larguras de nicho para cada espécie, utilizando o índice de diversidade de Simpson (Simpson, 1949) e as Sano, E. A., A. O. Barcellos, H. S. Bezerra. 1999. Área e distribui- sobreposições das mesmas seguindo Pianka, 1973. Correlações ção espacial de pastagens cultivadas no Cerrado brasileiro. Boletim canônicas entre as dimensões das presas (comprimento e largura de Pesquisa da Embrapa Cerrados 3:1-21. máximos) e as medidas da cabeça (comprimento, largura e altura) Topp, G. C.; Davis, J. L.; Annan, A. P. 1980. Electromagnetic foram realizadas para cada espécie para verificar a relação entre esses determination of soil water content: measurement in coaxial dois grupos de variáveis. Todas as variáveis foram a priori log10- transmission lines. Water Resources Research 16:574-582. transformadas para satisfazer premissas de normalidade. 3. Resultados e Discussão Os tipos e tamanhos de presas utilizados por anuros e lagartos estão diretamente relacionados à morfologia trófica e ao compor- tamento de forrageamento adotado por cada espécies (Lima & Moreira, 1993). No presente trabalho foram triados 57 estôma-

518 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado gos, sendo12 de Chiasmocleis albopunctata, 13 de Leptodactylus 5. Referências Bibliográficas mystacinus e 30 de Physalaemus cuvieri. A dieta das três espécies Caramaschi, U. 1981. Variação estacional, distribuição espacial e constituiu-se principalmente de artrópodes, sendo que os itens alimentação de populações de hilídeos na represa do rio Pardo mais freqüentes para Chiasmocleis albopunctata foram, Hymenoptera (Botucatu, SP) (Amphibia, Anura, Hylidae). Dissertação de (83%), Isoptera (25%) e material vegetal (25%), para Leptodactylus Mestrado, Pós-graduação em biologia (Ecologia), Universidade mystacinus, Aranae (23%), Orthoptera (23%), Chilopoda, Estadual de Campinas. 139pp. Coleoptera, Hymenoptera e Isoptera (cada um com 15%) e para Cardoso, A. J.; Andrade, G. V. & Haddad, C. F. B. 1989. Distribui- Physalaemus cuvieri, Hymenoptera (56%) e Isoptera (46%). Com ção espacial em comunidades de anfíbios (Anura) no Sudeste do relação ao número de presas ingeridas os itens mais representativos Brasil. Rev. Brasil. Biol., 49:241-249. foram para C. albopunctata, Hymenoptera (89%), para L. mystacinus, Orthoptera (23%), Aranae (19%) e Hymenoptera (14%) e para P. Crump, M. L. 1982. Amphibian reproductive ecology on the community cuvieri, Isoptera (75%) e Hymenoptera (20%). Quanto ao volume level. Pp. 21-36 In: Scott Jr., N. J. (ED). Herpetological Communities. C. albopunctata ingeriu principalmente Hymenoptera (99,9%), L. Wildlife Research Report 13, Washington D. C. mystacinusn Aranae (38%) e Blattaria (18%) e P. cuvieri, Hedeen, S. E. 1972. Food and feeding behavior of the Mink frog, Rana Hymenoptera (76%) e Isoptera (23%). A variação na dieta dessas septentrionalis Baird, in Minnesota. Am. Midl. Nat. 88:291-300. espécies podem ser de certo modo ocasional, visto que a grande Houston, W. W. K. 1973. The food of the Common frog, Rana maioria dos anfíbios é generalista e oportunista, sendo a disponibi- temporaria, on high moorland in Northern England. J. Zool. London, lidade das presas o fator preponderante na determinação da dieta, 171:153-165. associadas às limitações mecânicas dadas pelo tamanho das presas Hulse, A. C. 1979. Notes on the biology of Pleuroderma cinera ou do predador(Hulse, 1979; Zug & Zug, 1979, Caramaschi, (Amphibia, Anura, Leptodactylidae) in Nortwestern Argentina.J. 1981 entre outros). Sendo assim as presas mais numerosas no Herpetol. 13:153-156. ambiente e que possuam dimensões apropriadas serão provavel- mente as mais freqüentes na dieta desses animais (Hedeen, 1972; Lima, P. A. & Moreira, G. 1993. Effects of prey size and foraging Houston, 1973). A variação na dieta de espécies simpátricas de mode on the ontogenetic change in feeding niche of Colostethus anuros pode ser também reflexo dos tipos de habitats e microhabitats stepheni (Anura: Dendrobactidae). Oecologia, 95: 93-102. utilizados por cada espécie (Hedeen, 1972; Houston, 1973), visto Pianka, E. R. 1973. The structure of lizard communities. Annu. que os mesmos podem abrigar diferentes concentrações e tipos de Rev. Ecol. Syst. 4:53-74. presas. Quanto a presença de material vegetal no conteúdo esto- Pianka, E. R. 1974. Evolutionary Ecology.Harper & Row, Publ., macal de anuros, está é tida normalmente como acidental, nesse New York, 1ª ed., 356pp. caso a ingestão ocorre quando da captura de artrópodes que se Pombal Jr., J. P. 1997. Distribuição espacial e temporal de anuros encontravam sobre a vegetação (Caramaschi, 1981). (Amphibia) em uma poça permanente na Serra de Paranapiacaba, As largura de nicho trófico estimadas para Chiasmocleis albopunctata, Leptodactylus mystacinus e Physalaemus cuvieri foram sudeste do Brasil. Rev. Brasil. Biol., 1,235, 1,289 e 1,638 respectivamente para o número e 1,001, Sympson, E. H. 1949. Measurament of diversity. Nature. 163:688. 5,126 e 1,590 para o volume de presas. Uma alta sobreposição de Zug, G. R. & Zug, P. B. 1979. The marine toad, Bufo marinus: a nicho trófico foi verificada para número (0,960) de presas ingeridas natural history resumé of native populations. Smithsonian Contrib. entre C. albopunctata e P. cuvieri, espécies de menor tamanho (CRC), Zool.,284:1-58. o mesmo não tendo sido verificada entre as demais combinações de espécies tanto para número quanto volume. As sobreposições de Fenologia reprodutiva de Leptodactylus fuscus nicho foram relativamente pequenas, na maioria dos casos, o que (Anura: Leptodactylidae) em lagoas temporárias pode sugerir uma certa segregação na dieta, e talvez dos principais naturais em área de Cerrado no Sudeste do Brasil microhabitats utilizados pelas mesmas O uso diferenciado das pre- sas pode até certo ponto, estar facilitando a coexistência das mes- LUCAS, Elaine M.; BRASILEIRO, Cínthia A.; MARTINS, mas, por reduzir os efeitos competitivos entre essas espécies (Greding Marcio & Helleberyck, 1980), porém é necessário melhores investigações. Departamento de Ecologia, C.P. 11461, Universidade de São Paulo, 05422-970, São Paulo-SP, Brasil. [email protected] A análise de correlação canônica mostrou não ser significativas às relações entre as dimensões de presas e as medidas da cabeça 1. Introdução: para todas as espécies estudadas, talvez em razão do pequeno nú- Leptodactylus fuscus é uma espécie adaptada para reprodução em mero amostral. Aparentemente C. albopunctata apresenta adapta- ambientes temporários (Sazima, 1975; Martins, 1988; Rossa-Feres, ções a ingestão de presas com maior comprimento e menor largura, et al., 1999) e aparentemente possui pouca plasticidade em seu modo L. mystacinus com maiores comprimento e largura e P.cuvieri com reprodutivo (Martins, 1988). O comportamento e a biologia menor comprimento e maior largura evidenciados nos coeficientes reprodutiva desta espécie foram estudados por Lescure (1972), Sazima canônicos, porém é necessário amostragens melhores para sua con- (1975), Solano (1987), Rossa-Feres et al. (1999) e Freitas et al. firmação. É possível que, com o aumento do tamanho do predador (2001) em ambientes alterados e por Martins (1988) em ambiente haja também um aumento na variação das dimensões (comprimen- natural. Recentemente, De Sá & Heyer (2001, 2003), com base em to e largura) das presas utilizadas (Caramashi, 1981) como obser- caracteres morfológicos e genéticos, propuseram que L. fuscus repre- vado em L. mystacinus, que mostrou-se um pouco mais generalista senta um complexo de espécies ao longo de ampla distribuição geo- quanto a diversidade e tamanho de presas ingeridas, quando com- gráfica (ver Frost, 2003). O objetivo deste estudo foi descrever a parados a Physalaemus cuvieri e Chiasmocleis albopunctata. atividade reprodutiva de Leptodactylus fuscus em lagoas temporárias 4. Conclusões naturais em área de Cerrado no estado de São Paulo. As dietas de Chiasmocleis albopunctata, Leptodactylus mystacinus 2. Material e Métodos: e Physalaemus cuvieri, consituem-se basicamente de artrópodes, O estudo foi realizado na Estação Ecológica de Itirapina (EEI) existindo pouca sobreposição nos itens utilizados, sugerindo uma localizada nos municípios de Itirapina e Brotas (22º00’ e 22º15’ certa segregação de nicho trófico entre essas espécies. Aparente- de S e 47º45’ e 48º00’ W; 2300 ha). Esta reserva representa um mente apresentam morfologias distintas e adaptadas ao consumo dos últimos remanescentes de campos e campos cerrados do esta- de diferentes tipos de presas. do de São Paulo. O clima da região é mesotérmico de inverno seco.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 519 Cerrado Volume I

A precipitação média anual entre janeiro de 1997 e junho de 2001 observados girinos nos estágios 25 a 27 nas águas rasas das mesmas. foi de 1.370 mm. As observações foram realizadas em três lagoas Nas lagoas Nova e Tuiuiú foram encontradas apenas três e uma temporárias naturais (Nova, Tuiuiú e Ponte) semelhantes quanto à toca, respectivamente. Os primeiros imagos de L. fuscus foram fitofisionomia. A presença de água nestas lagoas é estritamente encontrados no início de fevereiro na lagoa da Ponte (CRC 11,4 + relacionada com a estação chuvosa e a capacidade de retenção de 0,6 mm; n = 6) e no final de fevereiro na lagoa Nova (CRC 18,1 água pelo solo. No ano de estudo, as três lagoas apresentaram mm; n = 1). diferentes regimes de enchimento durante a estação chuvosa. O 4. Discussão: trabalho de campo foi realizado de agosto de 2002 a abril de 2003, O início das atividades de L. fuscus juntamente com as primei- totalizando 75 dias de campo. As visitas à EEI foram aproximada- ras chuvas já havia sido observado por Lescure (1972), Sazima mente quinzenais com permanência de quatro a sete noites conse- (1975), Solano (1987), Martins (1988) e Rossa-Feres et al. (1999). cutivas, durante o período de maior atividade da espécie (novem- No presente estudo, a atividade reprodutiva desta espécie esteve bro de 2002 a fevereiro de 2003). Cada uma das três lagoas foi limitada aos primeiros meses da estação chuvosa, independente da supervisionada por pelo menos uma noite por quinzena. A presen- presença de água nas lagoas. As populações de Campinas, SP ça de L. fuscus nas lagoas foi registrada pelas vocalizações e/ou pela (Sazima, 1975), Roraima, RR (Martins, 1988) e São José do Rio observação direta dos indivíduos com uso de lanterna de cabeça. A Preto, SP (Rossa-Feres et al., 1999), também apresentaram perío- cada noite de observação, de hora em hora, cada lagoa era percor- do de maior atividade reprodutiva nos primeiros meses da estação rida sendo registrado o número de machos e de fêmeas, a tempera- chuvosa. Entretanto, na Venezuela Solano (1987) observou ativi- tura do ar (ºC) e a umidade relativa do ar (%). As tocas eram dade reprodutiva contínua ao longo da estação chuvosa, o que examinadas nos dias seguintes às observações noturnas. Desovas e pode estar relacionado com diferenças ambientais entre os locais girinos foram coletados a cada viagem. A identificação dos estágios de estudo. Para as espécies em que o amplexo independe da água e larvários foi feita de acordo com Gosner (1960). Informações so- as primeiras etapas do desenvolvimento dos girinos é terrestre, bre as variáveis climáticas foram obtidas diariamente em cada lagoa como é o caso de L. fuscus, o pioneirismo nos locais de reprodução nos dias de amostragens e no Posto Meteorológico da Fazenda e um maior investimento reprodutivo no início da estação chuvosa Siriema Ripasa S. A. Celulose & Papel, localizado a aproximada- podem resultar em um maior êxito reprodutivo (ver Heyer, 1969; mente 10 km da área de estudos. Uma análise de variância foi Lescure, 1972; Sazima, 1975 e Martins, 1988). Entretanto, fato- utilizada para verificar diferenças dos tamanhos dos machos ao res desfavoráveis como atraso no início das chuvas ou quantidade longo da estação reprodutiva. O teste de Krukal-Wallis foi utIlizado insuficiente de água (Sazima, 1975) no início da estação chuvosa para verificar a variação entre o número de machos vocalizando a também devem ser considerados. O tamanho médio dos machos cada hora durante as noites. A relação entre o número de machos foi mais semelhante aos das populações de Campinas, SP (Sazima, em atividade de vocalização a cada hora com a temperatura do ar 1975; 44 mm), e São José do Rio Preto, SP (Rossa-Feres, et al., foi verificado pelo coeficiente de correlação de Spearman. O nível 1999; 43,75 mm), do que das populações de regiões geográficas de significância considerado em todos os testes foi p < 0,05. As mais distantes, como Boa Vista, RR (Martins, 1988; 36,2 mm), análises foram executadas no programa Statistica (StatSoft, 1998). Guiana Francesa (Lescure, 1972; 40,6 mm) e Trinidad (Kenny, 3. Resultados: 1969; 40 mm). Isso pode ser decorrente da variabilidade entre Leptodactylus fuscus foi a primeira espécie de anuro a chegar nas populações ou de algumas destas populações representarem espé- lagoas para reprodução, no mês de setembro. No entanto, as chu- cies diferentes, como proposto por De Sá & Heyer (2001, 2003). vas cessaram, bem como as atividades de vocalização, que O dimorfismo sexual em L. fuscus pode ser observado quanto ao reiniciaram somente com as chuvas no final de novembro nas três tamanho menor dos machos (Sazima, 1975; Martins, 1988; pre- lagoas estudadas. A atividade reprodutiva se estendeu até o final de sente estudo), menor peso (presente estudo) e coloração da região janeiro nas lagoas Tuiuiú e Ponte e final de fevereiro na lagoa Nova. gular lateralmente pigmentada (Martins, 1988). O maior tamanho O término das atividades em cada lagoa coincidiu com o período dos machos do início da estação reprodutiva em comparação com de enchimento da lagoa, exceto na lagoa do Tuiuiú onde não houve os do final da estação reprodutiva foi observado também por Rossa- enchimento. A maior abundância de indivíduos (n = 128) e a maior Feres et al. (1999), que atribuiu tal fato a uma possível competição pluviosidade (343 mm) foram registradas no mês de janeiro. O por sítios de vocalização. No presente estudo, os dados de distri- número máximo de machos em atividade de vocalização em uma buição de machos maiores e menores em cada lagoa ainda serão noite também foi registrado no mês de janeiro na lagoa da Ponte (n analisados. O maior número de tocas foi observado na lagoa da = 50). As atividades de vocalização foram aparentemente mais Ponte, local que apresentou maior estabilidade quanto à presença freqüentes entre as 19:00 e 22:00 h. Não houve relação significati- de água. A maior umidade do solo observada nesta lagoa pode ter va entre o número de machos em atividade de vocalização a cada refletido em um maior número de indivíduos investindo na ativida- hora e a temperatura do ar (r = 0,048; p = 0,56). O número de de reprodutiva neste local. Entretanto, variações quanto ao tipo e machos encontrados (n = 202) foi muito superior ao número de constituição do solo entre as lagoas também podem ter interferido fêmeas (n = 15) nas três lagoas durante o período de estudo. O nestas diferenças. Mesmo com a ocorrência de condições climáti- comprimento rostro-cloacal (CRC) médio dos machos foi de 43,6 cas desfavoráveis no ano de estudo, foram observados jovens re- + 2,4 mm e massa 9,4 + 1,5 g (n = 135), enquanto que as fêmeas cém-metamorfoseados em duas das três lagoas estudadas. mediram 45,31 + 2,1 e massa 11,9 + 1,5 g (n = 6). O tamanho dos 5. Bibliografia: machos no início da estação reprodutiva foi levemente maior (44,3 DE SÁ, R. & HEYER, R. W. 2001. Estudios sobre las relaciones + 1,9 mm em novembro) do que aquele dos machos no final da evolutivas del gênero Leptodactylus. In: 1º Simpósio da Sociedade estação reprodutiva (42,5 + 1,5 mm em fevereiro), embora a dife- Brasileira de Herpetologia, São Paulo-SP. rença não tenha sido significativa (F = 1,57; df = 130; p = 0,185). As DE SÁ, R. & HEYER, R. W. 2003. Amazonian Leptodactylus: primeiras tocas de L. fuscus foram observadas no início de dezem- diversity beyond morfology? In: 2003 Joint Meeting of bro na lagoa da Ponte (n = 15), sendo que duas delas continham Ichthyologists and Herpetologists, Manaus, AM. desovas. Em meados de dezembro tocas contendo desovas eram mais freqüentes e em uma delas foram observados girinos em está- FROST, D. R. (ed) 2003. Amphibian Species of the World: An gio inicial de desenvolvimento. O maior número de tocas foi ob- Online Reference. Disponível em: http://reserarch.amnh.org/ servado durante o mês de janeiro na lagoa da Ponte (n = 100). Após herpetology/amphibia/index.html (acessado em julho de 2003). o início do enchimento das lagoas (meados de janeiro), foram FREITAS, E. F. L.; SPIRANDELI-CRUZ, E. F. e JIM, J. 2001.

520 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Comportamento reprodutivo de Leptodactylus fuscus (Schneider, Segundo Pereira (1997), a distribuição de luz entre as folhas e 1799) (Anura, Leptodactylidae). Comum. Mus. Cienc. Tecnol. de água entre as raízes das plantas, são os aspectos do ambiente que PUCRS, Ser. Zool., 14 (2): 121-132. mais freqüentemente limitam a produção nos agroecossistemas. GOSNER, K. L. 1960. A simplified table for staging anuran embryos Além disso, nas condições tropicais, esses dois aspectos apresen- and larvae with notes on identification. Herpetologica 16: 183-190. tam-se inter-relacionados. A absorção de luz é regulada por vários fatores como a área foliar, arquitetura do dossel, hábito de cresci- HEYER, W. R. 1969. The adaptive ecology of the species groups mento, ângulo foliar e disposição das folhas no dossel. Algumas of the genus Leptodactylus (Amphibia, Leptodcatylidae). Evolution, dessas características morfológicas e estruturais que determinam o 23 (3) : 421-428. grau de atenuação da luz ao atravessar o dossel, podem ser KENNY, J. S. 1969. The amphibia of Trinidad. Stud.Fauna Curaçao, quantificadas pelo coeficiente de extinção da luz (K). A área foliar 29 : 1-78. (AF) pode ser caracterizada através do índice de área foliar (IAF), LESCURE, J. 1972. Contribuitions a L´étude des Amphibiens de que pode ser estimado por métodos diretos (medidas métricas da Guyane Française II. Leptodactylus fuscus (SCHNEIDER). área foliar) e indiretos (por registros de radiação eletromagnéticas Observations Écologiques et Èthologiques. Ann. Mus. Hist. Nat. interceptadas e não interceptadas pela vegetação) (Daughtry, 1990). Nice 1 : 91-100. O objetivo do trabalho foi avaliar a interceptação da luz pela MARTINS, M. 1988. Biologia reprodutiva de Leptodactylus fuscus mangabeira, taxi-branco e cajueiro. em Boa Vista, Roraima (Amphibia: Anura). Rev. Brasil. Biol., 48 2. Métodos (4) : 969-977. O trabalho foi conduzido num experimento instalado em 1999, localizado na Fazenda Experimental da UFMT, no município de ROSSA-FERES, D. C.; MENIN, M. & IZZO, T. J. 1999. Ocor- Santo Antônio do Leverger - MT (latitude 15,8º S e longitude rência sazonal e comportamento territorial em Leptodactylus fuscus 56,1º W), com altitude de 140 m. A região onde se encontra o (Anura, Leptodactylidae). Porto Alegre. Iheringia, Sér. Zool., (87): experimento é denominada Depressão Cuiabana e apresenta clima 93-100. tipo Aw, segundo Köppen, vegetação de savana parque e solos SAZIMA, I. 1975. Hábitos Reprodutivos e Fase Larvária de litólicos distróficos, concrecionários (Plintossolos) distróficos, às Leptodactylus mystacinus e L. sibilatrix (Anura, Leptodactilidae). São vezes epicascalhentos, com profundidade média de 0,9 m. Paulo: Universidade de São Paulo. Dissertação de mestrado. 71 p. No experimento, as plantas de mangabeira, taxi-branco e caju- SOLANO, H. 1987. Alguns Aspectos de la Biologia Reproductiva del eiro, estavam distribuídas em parcelas, em monocultivo, com Sapito Silbador Leptodactylus fuscus (Schneider) (Amphibia : espaçamento entre plantas de 3 x 3 m. As parcelas foram constitu- Leptodactylidae). E. J. Brill, Leiden. Amphibia-Reptilia 8 : 111-128. ídas de 4 fileiras de 6 plantas úteis, além da bordadura. STATSOFT. 1998. Statistica for Windows, Release 5.1 J. Statsoft, Em todas as espécies foram avaliadas, no período de setembro Inc., Tulsa. de 2002 à abril de 2003, o diâmetro do caule ao nível do solo (cm) - DAS, projeção de copa (m), no sentido da linha e da entre linha, Financiado por FAPESP e Fundação O Boticário de Proteção à altura do ápice e a altura da base da copa. Natureza. A área foliar foi determinada utilizando-se a matéria seca das folhas e o valor de razão de área foliar (RAF, em g/m²) em três Características e Regime de Radiação Solar de amostragens realizadas em janeiro e fevereiro de 2003. A RAF foi Algumas Espécies de Uso Múltiplos Nativas do estimada, medindo-se a matéria seca e a área foliar de três Cerrado subamostras de cada espécie nos dias 31/01/2003; 12/02/2003 e Luciano Roberto Brauwers a; José Holanda Campelo Júnior b; 28/02/2003. A área foliar das subamostras foi obtida através do Geovani José Silva a & Joaquim Alex Rodrigues Duran a processamento de imagens digitais, e da matéria seca, a qual foi aAluno do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical da obtida levando-se as folhas para estufa de circulação forçada à 70 Universidade Federal de Mato Grosso ([email protected]); bDr. ºC por 72 horas. Nas plantas em que o volume de copa foi inferior Prof. Tit. Departamento de Solos e Engenharia Rural da UFMT a 2,5 m³, procedeu-se a retirada de todas as folhas da planta em cada amostragem. Nas plantas maiores, a desfolha foi efetuada em 1. Introdução ramos com aproximadamente 1 m³, considerando-se que a densi- O cerrado brasileiro, se caracteriza pela riqueza florística ori- dade foliar não apresentava variação no interior da copa. ginal. As atividades agropecuárias e de reflorestamentos, que vem Com os dados de área foliar, volume e projeção de copa deter- sendo realizadas na região implicam na eliminação total da vegeta- minadas nas subamostras, estabeleceu-se regressões para estimar a ção natural das áreas ocupadas, com o risco de desaparecimento de área foliar das plantas ao longo de todo o período de avaliação do espécies. Identificar o comportamento de cada espécie, frente a experimento. As equações de regressões usadas foram: caju, AF = cada um dos fatores ambientais que afetam o seu crescimento e (0,8402 x vol. copa) + 0,184 (R2=0,96); taxi-branco, AF = (1,1709 desenvolvimento, pode ser estratégico para reduzir esse risco. x proj. copa) + 1,8809 (R2=0,89); e para mangabeira, AF = (1,9068 Essas espécies podem ter potencial frutífero, madeireiro, me- x proj. copa) –0,2495 (R2=0,83). Para o cálculo do volume, consi- dicinal e reflorestamento. Como a mangabeira Hancornia speciosa derou-se que as copas das plantas apresentavam forma elipsoidal. Gomes, que pode ser encontrada no nordeste, centro e parte do A radiação fotossinteticamente ativa (PAR), global, foi medida litoral brasileiro, e vem sendo cultivada, principalmente pelo seu acima e abaixo da copa das árvores em todos os tratamentos, fruto, que pode ser consumido in natura ou ser usado na fabricação alternadamente, ao longo do período diurno, em vários dias, no de doces, geléias, etc.. O taxi-branco Sclerolobium paniculatum decorrer do trabalho. Os sensores usados foram do modelo PAR – Voguel, segundo Carpanezzi et al. (1983), tem apresentado com- 1, PP-SYSTEMS e o registro das medidas instantâneas, tomadas a portamento silvicultural promissor, em plantios experimentais, gra- cada 1 minuto, foi procedido através de um datalogger modelo ças as suas características ecológicas: pioneira, agressiva, aparece 21X, CAMPBELL. A radiação PAR difusa também foi obtida, em ampla faixa de condições climáticas e edáficas, inclusive em usando o mesmo procedimento de registro para os dados coletados terras marginais e tem alta produção de biomassa. O cajueiro com um sensor instalado sob um anel de sombra, de acordo com Anacardium occidentalium L., tem papel importante na fruticultura Horowitz (1969). de várias regiões e especialmente Mato Grosso, onde se vem inves- O K foi obtido através da analogia da lei de Lambert-Beer: -K.IAF tindo na sua produção. I=I0.exp , onde: I é a radiação solar PAR transmitida pelo dossel

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 521 Cerrado Volume I

- (mmol/m².S ¹), I0 é a radiação solar PAR incidente na cultura transmitância da luz. (mmol/m².S-¹), K é o coeficiente de extinção da luz, e IAF é o É possível se estimar o IAF do cajueiro, da mangabeira e do taxi-

índice de área foliar, então: K=(-ln (I/ I0))/IAF. branco por regressão entre a área foliar e o volume e a projeção de copa. Para se calcular a transmitância da luz e o coeficiente de 5. Referências Bibliográficas extinção, foram considerados apenas os momentos em que hou- Andrade, C.M.S. de; Garcia, R.; Couto, L.; Pereira, O.G. (2002). ve incidência de radiação direta, excluindo-se dias inteiramente Transmissão de luz em sistemas silvipastoris com eucalipto. Revista nublados. Árvore, v.26, n.1, p.19-23, Viçosa-MG. Nas plantas de cajueiro, observou-se o ataque de pragas, Campelo Júnior, J.H.; Mendonça, E.D.D.; Mendonça, M.M.D.D.; como besouros curculionídeos e de fungo do gênero Priante Filho, N.; Caneppele, M.A.B. (1996). Interceptação de luz Colletotrichum, os quais provocaram danos tanto nas folhas como pela seringueira. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.4, n.1, p.21- nos ponteiros das plantas. 28, Santa Maria. 3. Resultado e Discussão A área foliar das subamostras, medidas em janeiro e fevereiro Carpanezzi, A. A.; Marques, L. C. T. & Kanashio, M. (1983). de 2003, variou entre as espécies de 1,06 a 2,39 m² para a Aspectos ecológicos e silviculturais de taxi-branco-da terra-firme Mangabeira, de 2,30 a 2,74 m² para o taxi-branco e de 0,15 a 1,29 (Sclerolobium paniculatum), Curitiba: EMBRAPA/URFCS. 10P. m² para o cajueiro. A variação provavelmente está associada a (Curricular Técnica, 8). característica de cada espécie, considerando a sua fenologia e adap- Danghtry, C.S.T. (1990). Direct measurements of canopy structure. tação à adversidade do ambiente. In: GOEL, N.S.; NORMAN, I.M. Instrumentation for studing O IAF das espécies, variou entre 2,31 a 3,17 para o taxi- vegetation canopies for remote sensing in optical and thermal infrared branco, 0,26 a 0,60 para a mangabeira e no cajueiro, não variou, regions. Remote Sensing Reviews, Reading, v.5, n.1, p.45-60. com valor médio de 0,09. Estes valores se assemelham aos encon- Fagundes, J. L.; Silva, S. C. da; Pedreira, C. G. S.; Carnevalli, R. A.; trados por Xavier et al. (2002), IAF de 4,31 em talhões de 24 Carvalho, C. A. B. de; Sbrissia, A. F. & Pinto, L. F. de M. (2001). meses e 1,72 em talhões de 60 meses para clones de Eucalyptus Índice de área foliar, coeficiente de extinção luminosa e acúmulo grandis W. Hill ex Mainden. Variação semelhante foi encontrada de forragem em pastagens de Cynodons spp. Sob lotação contínua. por Linhares et al. (2000) num povoamento de Pinus sp. adultos Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.1, p.187-195, Brasília. e densos, onde o IAF variou de 1,79 a 3,50, que atribuiu os Horowitz, J.L. (1969). Na essily constructeo shadow-band for resultado ao método de medida. separating direct and difuse solar radiation. Solar Energy, v.12, Nesse trabalho, o aumento nos valores do IAF, sobretudo na p.543-545. (Technical note). mangabeira e no taxi-branco, pode estar relacionado com o de- senvolvimento da parte aérea das plantas favorecido pela dispo- Linhares, C. de A.; Panzoni, F. J. & Shimabukuro, Y. E. (2000). nibilidade hídrica, pois o período de avaliação coincidiu com a Relação entre volume de madeira e ‘ndice de área foliar em um época das chuvas. Já no cajueiro, o IAF não variou, provavelmen- povoamento de Pinus sp.: Estudo de caso. Revista Árvore, v.24, n.1, te em conseqüência do ataque de pragas e fungos na parte aérea p.47-54, Viçosa-MG. das plantas. Nygren, P.; Maraux, F. & Sánchez, G. A. (1993).Transmisión de la No cajueiro os valores do K variaram de 3,09 a 0,71. Na radiación solar en la copa de Eritrina poeppigiana (Walpers) O. F. mangabeira 0,89 a 0,71, e no taxi-branco 0,13 a 0,26 a variação Cook. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.28, n.2, p.153-165, Brasília. dos mesmos. Pereira, A. R. (1997). Radiation regime of tropical raim forest. Nygren et al. (1993), para plantas de Eritrina poeppigiana Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.5, n.2, p.1-8, Santa Maria. (Waltpers) O.F. Cook, encontrou valores de K variando de 1,45 a Xavier, A. C.; Soares, J. V. & Almeida, A. C. de (2002). Variação do 2,35. Naquela espécie o K teve um comportamento cíclico que foi atribuída a própria característica biológica da espécie. De acordo índice de área foliar em clones de eucalipto ao longo de seu ciclo de com Fagundes et al. (2001), o K variou de 0,10 a 2,44, para pasta- crescimento. Revista Árvore, v.26, n.4, p.421-427, Viçosa-MG. gens de cultivares de Cynodon spp., as quais apresentavam os mes- mos valores de IAF. Esta variação foi atribuída à mudança na arqui- Importância dos morcegos na dispersão de plantas tetura das folhas. do bioma Cerrado. Houve uma alteração na transmitância da luz ao longo do Ludmilla Moura de Sousa Aguiar1 e Fabiana de Gois Aquino1 tempo, sobretudo no cajueiro. Os valores de transmitância na 1Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, CEP mangabeira e taxi-branco em setembro e novembro foram da 73301-970, Planaltina, DF. Email: [email protected] mesma ordem, apresentando uma redução significativa no taxi- branco, em janeiro. As reduções observadas na transmitância do 1.Introdução taxi-branco foram atribuídas aos lançamentos foliares e o conse- O bioma Cerrado ocupa 1,722,225.88 km2 do território bra- qüente aumento da densidade foliar, que acompanhou o sileiro, sendo constituído por fitofisionomias que variam desde reumedecimento do solo ao longo do período analisado. A áreas de campo, estruturalmente simples, até áreas florestadas, transmitância no cajueiro aumentou de um valor inferior de 25% estruturalmente mais complexas, como o cerradão (Eiten 1972) e em setembro para quase 70% em janeiro, isto pode estar relacio- as matas de galeria. Esse bioma é considerado ameaçado, com nado aos danos que a espécie sofreu nas folhas e nos ramos, baixa viabilidade de persistência em longo prazo, caso não haja devido ao ataque de pragas e fungos. imediata ou contínua ação de proteção e restauração das áreas Andrade et al. (2002), encontraram valores de transmitância remanescentes, pois estimativas recentes indicam que há apenas de luz variando de 12,8 a 65,6 % para um sistema agrosilvipastoril 20% da cobertura original do Cerrado em estado conservado de 2,5 anos e de 16,3 a 43,04 % para outro sistema, de 5,5 anos. (WWF 1995). Campelo Júnior et al. (1996), encontraram valores médios de Conhecer os morcegos do Cerrado é importante não apenas transmitância de luz de 72 % na linha e de 75 % na entrelinha de para o discernimento da diversidade biológica local, que é atual- um bosque de seringueira. mente muito inexpressivo, mas também em virtude do papel fun- 4. Conclusões damental que esse grupo desempenha na dispersão de sementes, As espécies estudadas apresentaram comportamentos diferen- influenciando a diversidade de plantas e atuando na regeneração de ciados quanto às características estudadas e em relação da áreas degradadas (Marshall 1985, Charles-Domique 1986, Foster

522 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado et al. 1986, Fleming 1988, 1991, Gorchov et al. 1993, Cosson et (Chrysobalanaceae), Pseudomaedia cf. guaranitica Hassl. (Moraceae) al. 1999). Dentro desse contexto, o objetivo do trabalho foi apurar e Ficus sp. (Moraceae) foram encontradas nas fezes de Artibeus as plantas utilizadas por morcegos em áreas de cerrado strictu sensu lituratus. As sementes da última planta também foram encontradas e mata de galeria, em Brasília, DF, evidenciando a importância no material fecal de Platyhhrinus lineatus. H. gracilipes é uma árvore desses animais como dispersores de sementes. conhecida com nome-popular de bosta-de-rato em virtude do ta- 2. Métodos manho e cor que lembram as fezes dos roedores. Esta planta ocorre O trabalho foi realizado no Jardim Botânico de Brasília na beira dos córregos e, eventualmente, pode ser encontrada em (15o53’17"S, 47o50’46"W), uma reserva distrital com cerca de cerrado e cerradão (Mendonça et al. 1998, Proença et al. 2001). P. 4.500 ha e na Reserva do Roncador (15o55’4"S, 47o53’11"W), guaranitica é uma árvore de mata de galeria. Aproximadamente, 18 uma unidade de conservação de 1.360 ha administrada pelo Insti- espécies do gênero Ficus são conhecidas para o bioma Cerrado tuto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. O clima predo- (Mendonça et al. 1998). Esta árvore é, normalmente, conhecida minante na região de estudos é do tipo tropical chuvoso (aWi como gameleira ou figueira, ocorrendo em mata de galeria e mata segundo a classificação de Köppen), apresentando duas estações mesofítica. bem demarcadas: uma estação seca entre os meses de abril a setem- Sementes de Senna sp. foram encontradas nas fezes de Carollia bro, e outra chuvosa entre os meses de outubro a março. A tempe- perspicillata. Muitas espécies desse gênero (Senna) são conhecidas ratura média anual é de 20.2oC. como Amarelinho, ocorrendo em várias fisionomias do bioma Cer- Os morcegos foram capturados em um período de 18 dias rado. consecutivos por 12 meses, com 10 redes mist nets (ATX 12 X 3 Sementes de outras nove espécies que não foram identificadas metros, malha de 35 milímetros) abertas das 1800 às 2400 horas e estavam presentes nas fezes de Artibeus cinereus, Artibeus lituratus, verificadas em intervalos de 20 em 20 minutos. O hábito alimentar Carollia perspicillata, Glossophaga soricina, Platyhhrinus lineatus e das espécies de morcegos frugívoros capturadas na área de estudo Sturnira lilium. foi verificado pelo exame das fezes, que eram coletadas durante a Nesse estudo foi observada a presença de casca e polpa de manipulação dos animais ou após espera dentro de sacos de pano. frutos de jatobá (Hymenaea courbaril) nas fezes dos morcegos. Os As fezes foram armazenadas em papel manteiga para posterior iden- frutos foram obtidos no chão ou levados do chão para o pouso de tificação dos itens alimentares. Os itens encontrados no conteúdo alimentação, pois eram comuns no solo de uma das matas de gale- de cada envelope foram agrupados de acordo com seu aspecto ria estudada (Jardim Botânico). O consumo de frutos com polpa morfológico. Os grupos de sementes formados foram postos para carnosa e cujas sementes são grandes, não estando presentes nas germinar para identificação das plantas utilizadas. fezes, foi relativamente grande. Não puderam ser identificados, 3. Resultados mas esses recursos são utilizados tanto pelas espécies grandes, como Das 142 amostras fecais examinadas, 62 eram de polpa, 63 pelas espécies de frugívoros de menor porte. continham sementes e 17 continham polén e insetos. Vinte espéci- 4. Conclusão es de plantas foram encontradas sendo utilizadas pelos morcegos, Frutos adaptados à dispersão por morcegos (quiropterocoria), por meio da análise das fezes. geralmente, apresentam coloração pouco conspícua (verde, ama- Foram encontradas sementes de Gurania spinulosa (Poepp. e relo, branco) e com aromas distintos. Pinheiro & Ribeiro (2001) Endl.) Cogn. (Cucurbitaceae) nas fezes de Sturnira lilium. G. mostraram que das 268 espécies zoocóricas encontradas em matas spinulosa é uma trepadeira que ocorre em mata de galeria (Men- de galeria, 34 (13%) foram indicadas como quiropterocóricas. donça et al. 1998, Proença et al. 2001) e seu crescimento está Morcegos dispersores de sementes desempenham um papel associado às áreas perturbadas com bastante sol. Os frutos são importante na demografia das populações de plantas e, comidos por morcegos e, possivelmente, aves. consequentemente, na dinâmica e estrutura das comunidades ve- Sementes de Piper sp.1, Piper sp.2 e Piper crassinervium Humb., getais. Dispersar sementes implica em retirar a semente da fonte e Bonpl. e Kunth (Piperaceae) foram encontradas nas fezes de Artibeus deslocá-la para locais propícios à germinação, preferencialmente lituratus, Carollia perspicillata e Sturnira lilium. No material fecal de longe da planta-mãe. Nesse estudo, como em outros (Fleming & Platyhhrinus lineatus foi encontrado sementes de Piper sp.2 e nas Heithaus 1981, Heithaus 1982), os morcegos da família fezes de Artibeus cinereus, Glossophaga soricina e Platyhhrinus lineatus Phyllostomidae consumiram frutos e dispersaram as sementes de foram encontradas sementes de P. crassinervium. Cerca de 20 espé- uma ampla variedade de espécies de plantas. As sementes das plan- cies do gênero Piper ocorrem no Cerrado (Proença et al. 2001), das tas encontradas nas amostras fecais, são características dos primei- quais seis não estão representadas nas Unidades de Conservação ros estádios serais ou colonizadoras, como G. spinulosa, C. do Distrito Federal, sugerindo um papel importante dos dispersores pachystachia e Piper, indicando que os morcegos atuam como dessas espécies para a manutenção das populações naturais. dispersores de plantas dos primeiros estágios de sucessão, contri- Sementes de Aechmea cf. bromeliifolia (Rudge) Baker buindo ativamente para a recuperação de áreas degradadas. Além (Bromeliaceae) e Centropogon cornutus (L.) Druce (Campanulaceae) de plantas de primeiros estádios serais, nesse estudo os morcegos foram encontradas nas fezes de Glossophaga soricina. A bromélia A. dispersaram também plantas características de outros estádios de bromeliifolia, conhecida pelo nome-popular gravatá, apresenta sucessão como Ficus sp. e H. gracilipes, que são espécies de sucessão ampla distribuição, da América Central à Argentina e através da secundária no Cerrado. maior parte dos estados brasileiros, em áreas no nível do mar até Portanto, os resultados do presente trabalho mostraram um 1585m de altitude (Smith e Downs 1979). No bioma Cerrado esta universo de plantas utilizadas pelos morcegos que representam espécie ocorre em mata de galeria e cerrado s.s. A espécie C. cornutus tanto espécies de início de sucessão quanto espécies de sucessão é um arbusto que ocorre em mata de galeria, cerrado e vereda secundária. (Mendonça et al. 1998). Apesar da dificuldade para avaliar o grau de dependência exis- No material fecal de Carollia perspicillata, Platyhhrinus lineatus tente entre os frugívoros e as plantas que dispersam, o fato de que e Sturnira lilium foram encontradas sementes de Cecropia pachystachia algumas espécies de plantas se destacam na dieta de alguns frugívoros Trécul (Cecropiaceae). Esta planta conhecida como embaúba ocorre ao longo do ano, principalmente durante as épocas de escassez em matas perturbadas e em mata de galeria (Mendonça et al. alimentar (Howe & Smallwood 1982) é bem demonstrado. Tais 1998). A frutificação acontece de maio a setembro e a dispersão plantas, como Piper, Cecropia e Ficus, encontradas como recursos dos frutos é feita pelos morcegos. principais dos morcegos desse estudo, são denominadas generica- Sementes de Hirtella gracilipes (Hooker f.) Prance mente de “recurso-chave” e sua presença parece ser essencial para

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 523 Cerrado Volume I a manutenção da organização e diversidade da comunidade do recuperação de matas de galeria. EMBRAPA Cerrados, Planaltina, bioma Cerrado, do mesmo modo que são importantes para áreas DF. p. 335-378 florestadas. A estrutura trófica de comunidades de frugívoros e suas Proença C. E. B., C. B. R. Munhoz, C. L. Jorge & M. G. G. fontes de alimento, não apenas em relação a recursos considerados Nóbrega. 2001. Listagem e nível de proteção das espécies “chave”, desempenham um papel importante na manutenção da fanerógamas do Distrito Federal, Brasil. In Cavalcanti T. B. & heterogeneidade espacial e da diversidade taxonômica de florestas Ramos A. E. Flora do Distrito Federal, Brasil, vol. 1. EMBRAPA (Gilbert 1980) bem como das áreas abertas neotropicais. Recursos Genéticos e Biotecnologia. Brasília, DF. p. 87-359. A dispersão realizada pelos animais no Cerrado garante por- Smith L. B. & R. J. Downs. 1979. Bromelioideae (Bromeliaceae). tanto a manutenção da dinâmica ecológica, evidenciando a impor- Flora Neotropica Monograph. 14 (3):1493-2142. tância da conservação do bioma como um todo, pois a perda de qualquer um dos componentes dessa interação poderá comprome- WWF. 1995. Geographic Priorities for Investing in Biodiversity ter todo o sistema (Hay & Moreira 1996). Conservation in Latin America and the Caribbean. Washington D 5. Referências bibliográficas C :World Wildlife Fund US. 43 pp. Charles-Dominique P. 1986. Inter-relations between frugivorous vertebrates and pioneer plants: Cecropia, birds and bats in French Influência de bruquídeos na produção de sementes Guyana. In A. Estrada & Fleming T. H. (eds.). Frugivores and seed de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área de Dispersal. Dondrecht: Dr. W. Junk Publishers. p. 119-135. cerrado sensu stricto Cosson J. F., J. M. Pons & D. Masson. 1999. Effects of forest Marcela Yamamoto fragmentation on frugivorous and nectarivorous bats in French Universidade Federal de Uberlândia – Pós-graduação em Ecologia e Guiana. Journal of Tropical Ecology 15: 515-534. Conservação de Recursos Naturais [email protected] Eiten G. 1972. The Cerrado vegetation of Brazil. The Botanical 1. Introdução Review 38(2): 201-341. Uma semente pode servir de alimento durante grande parte Fleming T.H & E. R. Heithaus. 1981. Frugivorous bats, seed do ciclo de vida de uma espécie, como ocorre com alguns shadows, and the structure of tropical forests. Reproductive Botany. coleópteros que depositam seus ovos em frutos e as larvas se p. 45-53. desenvolvem no interior das sementes até o estágio de pupa Fleming T.H. 1988. The short-tailed fruit bat: a study in plant- (Begon et al. 1996). Nestas circunstâncias, as sementes normal- animal interactions. George B. Schaler (ed.). University of Chica- mente se tornam danificadas, a ponto de inviabilizar a germina- go Press. 365 pp. ção. Syagrus flexuosa é uma palmeira monóica, de inflorescências Fleming T.H. 1991. The relationship between body size, diet, and longo-pedunculadas com flores femininas basais e flores mascu- habitat use in frugivorous bats, genus Carollia (Phyllostomidae). linas apicais. As flores femininas têm um ovário súpero com três Journal of Mammalogy 72(30): 493-501. lóculos, cada um com um óvulo. Após a polinização e fertiliza- ção, um dos óvulos se desenvolve para semente e os outros dois Foster R B., B. J. Arce & T. S. Wachter. 1986. Dispersal and the geralmente são abortados. Os frutos são elipsóides, de cor ver- sequential plant communities in Amazonian Peru food plain. In A. de-amarelada quando maduro, exocarpo é fibroso e Estrada & Fleming T. H. (eds.). Frugivores and seed dispersal. Dr. mucilaginoso, endocarpo ósseo contendo uma amêndoa com W. Junk, The Hague, The Netherlands. p. 357-730. endosperma branco e oleaginoso. Ocorre no norte de Minas Gilbert L. E. 1980. Food web organization and the conservation of Gerais, da Bahia ao Piauí, Goiás, Tocantins, Distrito Federal e neotropical diversity. In Soulé, M. E. & Wilcox, B. A. (eds.). Mato Grosso em cerrados abertos e na caatinga. A floração Conservation Biology, an evolutionary-ecological perspective. ocorre de janeiro a abril e a frutificação entre outubro e dezem- Sunderland, Sinauer, p. 11-33. bro (Almeida et al. 1998). Gorchov D.L., F. Cornejo C. Ascorra & M. Jaramillo. 1993. The Besouros Bruchidae são importantes predadores de se- role of seed dispersal in the natural regeneration of rain forest after mentes em grande variedade de plantas (Janzen 1969). Os strip-cutting in the Peruvian Amazon. Vegetatio 107/108: 339- membros da subfamília Pachymerinae são predadores de se- 349 mentes de representantes da família Arecaceae. As fêmeas de- Hay J. D. & A. G. Moreira. 1996. Impactos de processos ecológi- positam seus ovos na superfície do fruto e a larva que daí cos: biologia reprodutiva. In Dias, B. F. S. (coord.) Alternativas de emerge penetra através do pericarpo. Durante o seu desenvol- desenvolvimento dos Cerrados: manejo e conservação dos recursos vimento até o estágio de pupa, a larva consome toda a semente naturais renováveis. Brasília, FUNATURA. p. 42-45. (Silva 1989). Alguns estudos discutem as possíveis respostas evolutivas de plantas contra predação (Wilson & Janzen 1972; Heithaus E. R. 1982. Coevolution between bats and plants. In Center & Jonhson 1974). Kunz, T. H. (ed.). Ecology of Bats. Plenum Press. New York and Janzen (1971) enumerou as defesas de plantas em três tipos London. p. 327-367. principais: defesas químicas; saciação do predador, onde a produ- Howe H. F. & J. Smallwood. 1982. Ecology of seed dispersal. ção de sementes é superior ao consumo dos predadores; e a Annual Review of Ecological Systematic 13: 201-228. imprevisibilidade de recursos, em que a frutificação ocorre em Marshall A. J. 1985. Old world phytophageous bats intervalos irregulares. Smith (1975) sugeriu também que a variabi- (Megachiroptera) and their food plants: a survey. Zool. J. Linn. lidade no número e no tamanho das sementes produzidas possa ser Soc. 83: 351-369. estratégias de antipredação. Entretanto, as defesas vegetais podem Mendonça R. C., J. M. Felfili, B. M. T. Walter, M. C. Silva Jr., A. se tornar ineficazes, uma vez que possam ser contornáveis pelos V. Rezende, T. S. Filgueiras & P. E. Nogueira. 1998. Flora Vascular predadores. do Cerrado. In Sano S. M. & Almeida S. P. (eds.). Cerrado: ambi- Este estudo teve como objetivo avaliar o sucesso na produção ente e flora. EMBRAPA Cerrados, Planaltina, DF. p. 289-556. de sementes de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área de cerra- do sensu stricto, investigando a influência da predação de sementes Pinheiro, F. & J. F. Ribeiro. 2001. Síndromes de dispersão de pela larva de Coleoptera Bruchidae. sementes em mata de galeria do Distrito Federal. In Ribeiro J. F., 2. Métodos Fonseca C. E. L. & Sousa-Silva J. C. Cerrado: caracterização e O estudo foi conduzido em uma área de cerrado sensu stricto

524 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, em Caldas No- foi observada a presença de manchas de Syagrus flexuosa con- vas, GO (17046’37,4’’S; 14041’10,5’’O; altitude 1064m), em tendo de um a sete indivíduos, porém, não foi constatada setembro de 2002. Foram feitos transectos de 50m e amostrados preferência da larva predadora por estas manchas. Nos frutos todos os indivíduos reprodutivos de Syagrus flexuosa em 10m de abertos observou-se uma taxa de predação de 8,8% das se- cada lado do transecto. Os indivíduos foram medidos quanto à mentes por infrutescência. altura, diâmetro basal e altura da infrutescência. De cada A maior perda na produção de sementes é observada pela infrutescência foram contadas as cicatrizes das flores femininas falta disponibilidade de recursos na polinização, como pólen e e o número de frutos presentes, o total forneceu o número de polinizadores justificando a grande porcentagem de sementes flores femininas produzidas. Foram amostradas todas as abortadas, considerando a ocorrência de alto índice de se- infrutescências com até 20 frutos, e as com um número superior mentes abortadas em Arecaceae. A predação analisada neste de frutos foram padronizadas em 20 unidades. Depois de cole- estudo, foi apenas do Coleoptera Bruchidae sem considerar tado, o material foi levado ao laboratório, onde foi feita a outros predadores. mensura de comprimento (mm), diâmetro (mm) e procedida a Os resultados mostram que a predação das sementes pelos abertura do fruto para a avaliação das sementes em viáveis, na bruquídeos tem correlação com o número de frutos presentes na ausência de larvas ou em não viáveis, as abortadas ou com a infrutescência o que corrobora com Marquis & Braker (1994) e presença de larvas. Os dados foram analisados por meio de Janzen (1969), a existência de uma associação entre a taxa de correlação simples (Correlação de Spearman). herbivoria e a oferta de recurso. Pelos valores de viabilidade encon- 3. Resultados e Discussão trados nas sementes de Syagrus flexuosa pode-se apontar como pos- Foram mensurados 46 indivíduos de Syagrus flexuosa e analisa- sível resposta evolutiva contra este predador, a defesa do tipo das 57 infrutescências de uma área total amostrada de 7000 m2. A saciação com produção superior ao consumo, além das estratégias altura média e o desvio padrão dos indivíduos foram de 1,90m ± de antipredação com a variação do número e no tamanho dos 0,40, o diâmetro basal médio de 75,9mm ± 13,23 e a altura média frutos sugerido por Smith (1975). das infrutescências de 1,21m ± 0,39. O comprimento médio dos (Agradecimento: Aos professores John Hay pela orientação frutos foi de 33,15mm ± 3,66 e de diâmetro 18,53mm ± 2,75. inicial, Fernando Pedroni, Lucélia Nobre Carvalho e Jader Mari- Foram contadas um total de 2193 flores, 1127 frutos e 761 semen- nho pelas sugestões durante a execução do projeto. Aos colegas tes dentre as quais 598 viáveis e 163 predadas. Da diferença das Cláudio Franco Muniz e Helder Nagai Consolaro pela ajuda esta- flores e frutos amostrados, juntamente com a análise dos frutos tística e Carlos Henrique Angeluci pela abertura dos coquinhos.) abertos foi obtido o número de sementes abortadas. Do total de 5. Referências bibliográficas frutos contados, apenas 786 exemplares foram abertos para análise ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M. & RIBEI- de qualidade do endosperma devido ao limite de frutos estipulado RO, J. F. 1988. Cerrado: espécies vegetais úteis. Embrapa - CPAC, por infrutescência. Dos 786 frutos analisados, 76.08% apresentaram Planaltina, DF. sementes viáveis, 20.74% sementes predadas e 3.18% abortadas. BEGON, M.; HARPER, J. L. & TOWNSEND, C. R. 1996. Observou-se a presença de 2,6% de frutos biloculares ou Ecology- Individuals, Populations and Communities. Third edition. triloculares no total de frutos analisados, sendo que a metade, Blackwell Science, London. 1,3% apresentou predação da semente em apenas um dos lóculos. Pode-se inferir que a fêmea do Bruchidae coloca apenas um ovo CENTER, T. D. & JONHSON, C. D. 1974. Coevolution of por fruto a fim de evitar a competição entre os descendentes. some seed beetles (Coleoptera: Bruchidae) and their host. Ecology Koslowski et al. (1983) verificaram que algumas espécies de 55:1096-1103. bruquídeos regulam o número de ovos depositados em cada fruto, JANZEN, D. H. 1969. Seed-eaters versus seed size, number, toxicity por meio de marcações químicas que evitam repetidas oviposições and dispersal. Evolution 23:1-27. num mesmo local. JANZEN, D. H. 1971. Seed predation by animals. Na. Rev. Ecol. Houve correlação significativa entre a altura da planta com a Syst. 2:465-492. altura da infrutescência (r=0,83,p=0) e com o número de flores KOSLOWSKI, M. W.; LUX, S. & DMOCH, J. 1983. Ovipositon (r=0,32, p=0,02). A correlação foi significativa entre o número de behaviour and pod marking in the cabbage seed weevil Ceutorhynchus flores com o número de frutos (r=0,87, p=0); com o número de assimilis. Entomol. Exp. Appl. 34:277-282. sementes abortadas (r=0,79, p=0) e com o número de sementes viáveis (r=0,41, p=0,0017). Houve correlação significativa entre o MARQUIS, R. J. & BRAKER, H. E. 1994. Plant-herbivores número de sementes totais e o número de sementes viáveis (r=0,51, interactions: Diversity, Specificity, and Impact. Pp. 261-281. In: p=0,0001). Não houve correlação significativa de predação com a L. A. MCDADE, K. S. BAWA, H. A.HESPENHEIDE & G.S. altura da planta, a altura da infrutescência e o número de flores. HARTSHORN (eds.), La Selva: Ecology and natural history of a Não foi observada correlação significativa entre o comprimento e o Neotropical Rain Forest. The University of Chicago Press. diâmetro dos frutos com a presença da larva predadora (r=-0.1279, RAMOS, F. 2001. Predação de sementes de palmeiras do gênero p=0.3612; r=0.1909, p=0.1708, respectivamente). A quantidade Syagrus (Arecaceae) por besouros Pachymerini (Coleoptera, de frutos apresentou correlação significativa com o número de bruchidae). Resumos V Congresso de Ecologia do Brasil. P.213. sementes predadas (r= 0,29; p=0,03). SILVA, P. 1989. Bruquídeos associados às sementes de palmeiras Segundo Janzen (1969), os bruquídeos se alimentam de na Bahia, Brasil (Coleoptera, Bruchidae). An. Soc. Ent. Brasil uma única semente, esperar-se-ia então que houvesse uma es- 18:155-168. colha de sementes maiores pelo coleóptero, com maior quan- tidade de recurso para a sobrevivência do inseto, o que não SMITH, C. C. 1975. The coevolution of plants and seed predators. ocorreu na amostragem apresentada. Ramos (2001) em estu- In: Gilbert, L. E. & Raven, P.H. (eds.) Coevolution of animals and plants. Austin, Texas University Press. P. 53-77. In: Lomônaco, C. do de predação de sementes de palmeiras do gênero Syagrus por Bruchidae: Pachymerini observou que os ovos foram colo- 1994. Predação de sementes de leguminosas por bruquídeos cados independentemente do tamanho dos frutos. Pode-se (Insecta: Coleoptera) na Serra dos Carajás, Pará, Brasil. Acta bot. Bras.8:121127. inferir que o embora o predador aparentemente não escolha um fruto maior, há uma procura por manchas maiores de re- WILSON, D. H. & JANZEN, D. H. 1972. Predation on Scheelea cursos, como o tamanho das infrutescências. Na área estudada palm seeds by bruchid beetles: seed density and distance from the parent palm. Ecology 53:954-959.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 525 Cerrado Volume I

Impactos de queimadas freqüentes em espécies de espessura mínima da casca para que ocorra proteção efetiva do plantas lenhosas em campo sujo tecido do câmbio de espécies lenhosas do Cerrado, durante quei- Marcelo Brilhante de Medeiros 1 & Heloísa Sinátora Miranda 2 madas. Hoffmann e Solbrig (2003) estimaram espessura mínima de 1 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Prédio de Coleta e casca entre 6 e 7 mm para que ocorra 50% de sobrevivência em Caracterização - Brasília-DF ([email protected]) 2 queimadas de baixa intensidade e entre 9 e 13 mm para as de alta. Universidade de Brasília, Dep. Ecologia, Brasília-DF Deve-se também considerar que, embora raramente seja observada a ignição da casca (Rocha e Silva e Miranda 1996), favorecendo a expo- 1. Introdução sição do tecido do câmbio a altas temperaturas por tempo prolonga- A ocorrência de queimadas ou incêndios, como uma caracterís- do, Sato (2003) mostrou que queimadas sucessivas resultam em um tica dos ecossistemas savânicos, provoca mudanças na florística, consumo da casca diminuindo assim o seu papel isolante, principal- fitossociologia e estrutura da vegetação. Podem ocorrer diminuição mente nos indivíduos de menor porte e nos ramos mais baixos. de densidade de árvores e arbustos, criando condições para o estabe- Houve um elevado número de indivíduos que sofreram morta- lecimento de certas espécies e provocando eliminação de espécies lidade da parte aérea que se mantiveram após as queimadas: 194 sensíveis (Frost e Robertson, 1987; Agee, 1993; Medina e Huber, após a primeira e 46, após a segunda queimada, com recuperação 1994), sendo um distúrbio natural dentro dos critérios de Pickett e (rebrota aérea) de dois indivíduos na terceira queimada. Este ele- White (1985): causa rupturas na estrutura dos ecossistemas, comu- vado número de indivíduos com mortalidade da parte aérea pode nidades ou populações, com mudanças na disponibilidade de recur- ser conseqüência do curto intervalo de tempo entre as queimadas, sos e no meio físico. O fogo é também um dos poucos distúrbios que que não seria suficiente para o espessamento da casca nas rebrotas sozinho, ou em conjunto com outras forças, pode eliminar plantas ou para o seu crescimento além da zona de chamas. adultas regularmente (Bond e Wilgen, 1996). Algumas espécies, como Byrsonima verbascifolia, Davilla Este estudo teve como objetivos avaliar os efeitos do fogo sobre elliptica e Ouratea hexasperma obtiveram taxas de mortalidade abai- as taxas de mortalidade dos indivíduos e espécies de plantas lenhosas, xo de 10%, nas três queimadas, mesmo representadas por mais de após queimadas prescritas anuais, em uma área de campo sujo. 10 indivíduos no inventário inicial. Com exceção de Byrsonima 2. Métodos verbascifolia, Sato (1996) encontrou dados similares. A estrutura e O trabalho foi desenvolvido na Reserva Ecológica do Instituto a espessura da casca destas espécies deve ser um dos determinantes Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, situada a 35 km ao sul principais para a resistência às queimadas anuais, considerando de Brasília-DF. Uma área de campo sujo, com 1 hectare, foi que o inventário inicial não apresentou maior expressividade de demarcada no seu centro, em 2500 m,2 onde foram realizados os indivíduos maiores de 2,0 m. Outras 17 espécies, representadas experimentos. por menos de 10 indivíduos, não apresentaram mortalidade após As queimadas foram realizadas nos anos de 1998, 1999 e 2000, as queimadas prescritas. na primeira quinzena do mês de agosto, na estação seca, quando Entre as espécies com mais de 10 indivíduos no inventário ocorre a maioria dos incêndios em áreas de Cerrado. inicial, Roupala montana, Acosmium daycarpum e Rourea induta Foram inventariadas todas as plantas do estrato arbustivo- apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas, entre 25% e arbóreo, com diâmetro superior a 2 cm, à 30 cm do nível do solo, 51,8%, na primeira queimada, caracterizando espécies mais sensí- antes e após as queimadas. Antes da primeira queimada, foram sele- veis a ocorrência frequente de fogo. Annona crassiflora e Erythroxylum cionados, marcados com números em plaquetas de latão e identifica- daphnites, ambas com apenas um indivíduo no primeiro inventário, dos todos os indivíduos. Os indivíduos foram novamente avaliados em 1998, apresentaram 100% de mortalidade após a primeira quanto à mortalidade total e aérea (top kill) após cada queimada. queimada. Felfili et al. (2000) também observaram em cerrado Os dados de comportamento do fogo foram avaliados em sensu stricto uma redução no número de indivíduos para as espéci- Medeiros (2002) e utilizados para comparação de resultados. es Rourea induta, Erythroxylum deciduum, Styrax ferrugineus, Roupala 3. Resultados e Discussão montana e Erythroxylum tortuosum. As taxas de mortalidade calculadas para as queimadas anuais Para algumas espécies como Byrsonima verbascifolia, Connarus foram de 22,5%, 7,5% e 10,5 %, após as queimadas de 1998, 1999 fulvus, Enterolobium gummiferum, Erythroxylum tortuosum, e 2000 respectivamente, causando uma redução de cerca de 36% Erythroxylum deciduum, Rourea induta e Styrax ferrugineus, as taxas no número de indivíduos vivos. Os dados, principalmente da pri- de mortalidade foram reduzidas após a segunda e terceira queima- meira queimada, são superiores em relação à literatura para áreas das. Esta redução significa que alguns indivíduos não estavam mor- de Cerrado submetidas a queimadas prescritas (Sato 1996; Sato et tos e rebrotaram somente após a segunda queimada. Com exceção al. 1998; Rocha e Silva 1999). A elevada mortalidade calculada de Byrsonima verbascifolia, Sato (1996) também encontrou dados para a queimada de 1998 pode ser conseqüência da maior intensi- similares para espécies mais resistentes e Moreira (1992) observou dade do fogo e calor liberado por unidade de área, assim como da dados similares para Ouratea hexasperma. inclusão no inventário de indivíduos com diâmetro menores que os As taxas de mortalidade, de modo geral, foram mais expressivas considerados por outros autores. Rocha e Silva (1999) encontrou, após a primeira queimada. Isto pode sugerir que a mortalidade de para campo sujo, valores entre 5,2% a 9,8% em um regime bienal indivíduos das espécies, pelo menos neste período de quatro anos de fogo e, entre 9,7% e 12,3% em um regime quadrienal. Sato de acompanhamento, seja consequência dos efeitos diretos do fogo. (1996) e Sato et al. (1998) também observaram taxas de mortalida- Em um período de tempo maior, é possível que a mortalidade de de entre 6,4% e 13,0% em áreas de cerrado sensu stricto. indivíduos seja consequência, também, da redução da capacidade A redução de cerca de 60% na intensidade da frente de fogo e de rebrotamento devido à depleção de substâncias de reservas de cerca de 40% no calor liberado por unidade de área nas queima- (Kellman, 1986) com a frequente regeneração da parte aérea após das de 1999 e 2000 pode ter sido compensada por um aumento na as queimadas sucessivas. temperatura associada a um aumento no tempo de residência, o 4. Conclusões que pode ter favorecido a ocorrência de temperaturas do câmbio As taxas de mortalidade para indivíduos observadas causaram um mais elevadas e, conseqüentemente, maiores danos para a vegeta- impacto negativo expressivo na estrutura da comunidade, apresentan- ção. O aumento de temperatura do câmbio acima de 60 oC, duran- do valores superiores aos dados de literautura provavelmente em vir- te um certo tempo, ocorre principalmente quando a casca não é tude da amostragem com indivíduos abaixo de 5 cm de diâmetro. espessa o suficiente para isolar as estruturas internas. Guedes (1993) O elevado número de indivíduos que sofreram mortalidade da e Rocha e Silva e Miranda (1996) estimaram entre 6 a 8 mm a parte aérea e que se mantiveram neste estado após as queimadas

526 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado deve impactar de modo significativo o crescimento das popula- Estudo da estrutura genética comparada à biologia ções, como observado em outros estudos. reprodutiva de duas espécies do gênero Vellozia Espécies como Byrsonima verbascifolia, Davilla elliptica e Ouratea (Velloziaceae) da Serra do Cipó, MG hexasperma mostraram-se mais resistentes às queimadas, mesmo Marcelo Fernando Silveira Rezende 1, Edivani Villaron representadas por mais de 10 indivíduos no inventário inicial. A Franceschinelli 2, Claudia Maria Jacobi2 estrutura e a espessura da casca devem ser os determinantes princi- 1 Graduando, Universidade Federal de Minas Gerais pais para a resistência às queimadas anuais, considerando que o ([email protected]), inventário inicial não apresentou maior expressividade de indiví- 2 Instituto de Ciências Biológicas - UFMG duos maiores de 2,0 m. (Os autores agradecem a participação da brigada de combate 1. Introdução aos incêndios florestais do IBGE e o apoio financeiro do CNPq/ Nas populações vegetais, a estrutura genética é influenciada PELD e USDA/FS). pelo modo de reprodução e o sistema de cruzamento predominan- 6. Referências Bibliográficas te da espécie. Os padrões espaciais de variação genética refletem a Agee, J. K. (1993). Fire Ecology of Pacific Northwest Forests. Island ação de processos evolutivos passados (Wolf et al., 1995) e, a partir Press, New York. desta premissa, muito se pode inferir sobre a história evolutiva de Bond, W. J. & Wilgen, B. W. (1966). Fire and Plants. Chapman & uma espécie, comparando sua biologia reprodutiva com a estima- Hall, New York. tiva do nível de diversidade genética da planta em questão. O entendimento da dinâmica de populações e metapopulações Felfilli, J. M.; Rezende, A. V.; Silva Júnior, M. C.; Silva, M. A. e suas conseqüências sobre a estrutura genética de uma espécie em (2000). Changes in the floristic composition of cerrado sensu stricto determinado hábitat são importantíssimos na tomada de decisões in Brazil over a nine-year period. Journal of Tropical Ecology. 16: com relação à biologia da conservação e o manejo do ambiente, 579-590. especialmente no caso de espécies geograficamente restritas, Frost, P. G. H.; Robertson, F. (1987). The ecological effects of fire endêmicas, como algumas espécies de Vellozia na Serra do Cipó. in savannas. In: B. H. Walker (ed.). Determinants of Tropical Os representantes da família Velloziaceae, conhecidos popular- Savannas. IRL Press, Oxford. mente como “canelas de ema”, são um dos elementos mais caracte- Guedes, D. M. (1993). Resistência das árvores do cerrado ao fogo: rísticos dos campos rupestres (Joly, 1970). Na América do Sul, há papel da casca como isolante térmico. Dissertação de Mestrado. Uni- cerca de 200 espécies de Velloziaceae, sendo que o maior número de versidade de Brasília, Brasília espécies pertence ao gênero Vellozia. Este gênero se encontra muito Hoffmann, W. A.; Solbrig, O. T. (2003). The role of topkill in the bem representado na Serra do Cipó, com algumas espécies differential response of savanna woody species to fire. Forest Ecology endêmicas e outras restritas à Cadeia do Espinhaço. Para o presen- and Management. No prelo. te trabalho foram escolhidas duas espécies predominantemente melitófilas. Vellozia epidendroides possui porte herbáceo, pouco ra- Kellman, M. (1986). Fire sensitivity of Casuarina torulosa in north mificado, comum em áreas abertas de campos rupestres, formando Queensland, Austrália. Biotropica 18 (2): 107-110. manchas extensas e relativamente densas em solo arenoso-pedre- Medeiros, M. B. (2002). Efeitos do fogo nos padrões de rebrotamento goso. É polinizada predominantemente por abelhas de médio por- em plantas lenhosas, em campo sujo. Tese de Doutorado. Universida- te, como Megachile e Apis. Vellozia leptopetala possui porte arbustivo de de Brasília, Brasília. e bem ramificado, cresce restritamente entre os afloramentos ro- Medina, E.; Huber, O. (1994). The role of biodiversity in the chosos, com poucos indivíduos por afloramento, e com distribui- functioning of savanna ecosystems. In: Solbrig, O. T.; Emden, H. ção espacial descontínua em função das distâncias variáveis entre M. & Oordt, P. G. W. J. (eds.). Biodiversity and Global Change. os blocos rochosos da Serra do Cipó, sobre a camada fina de areia IUBS Cab International. e/ou húmus que se acumula entre as pedras. Diversas espécies de Moreira, A. G. (1992). Fire protection and vegetation dynamics in the abelhas – solitárias e sociais visitam esta espécie, mas o principal polinizador é o beija-flor territorialista Augastes scutatus (Jacobi et brazilian Cerrado. Ph. D. Thesis. Harvard University, Harvard. al, 2003a). A dispersão de frutos e predominantemente feita pelo Pickett, S. T.; White, P. S. (1985). The Ecology of Natural vento (Sazima, 1978). Disturbance abd Patch Dynamics. Academic Press, Inc, New York. Nas Velloziaceae verifica-se uma predominância da xenogamia Rocha e Silva, E. P. (1999). Efeito do regime de queima na taxa de (polinização com o pólen de flores de outros indivíduos), sendo mortalidade e estrutura da vegetação lenhosa de campo sujo de cerrado. que a autogamia ocorre entre estas espécies, podendo apresentar Dissertação de Mestrado. UnB, Brasília. diferentes graus de auto-incompatibilidade (Sazima, 1978; Jacobi Rocha e Silva, E. P.; Miranda, H. S. (1996). Temperatura do câm- et al, 2003a). As Velloziaceae da Serra do Cipó apresentam diferen- bio de espécies lenhosas do cerrado durante queimadas prescritas. tes estratégias de floração, sendo que as espécies estudadas apre- In: Anais do VII Simpósio sobre o Cerrado. R. C. Pereira & L. C. B. sentam floração em “cornucópia” (sensu Gentry, 1975), com pro- Nasser (eds.), EMBRAPA-CPAC, Brasília, p.253-257. dução de muitas flores num período curto determinado. As isoenzimas têm sido usadas com êxito para a quantificação Sato, M. N. (1996). Mortalidade de plantas lenhosas do cerrado sub- da diversidade genética, estimativa do sistema de cruzamento e metidas a diferentes regimes de queima. Dissertação de Mestrado. taxa de endogamia em populações vegetais (Lacerda et al., 1999). UnB, Brasília. O uso da técnica de eletroforese de isoenzimas é mais difundido Sato M. N. (2003). Efeito de longo prazo de queimadas prescritas na em estudo de diversidade genética de plantas devido ao baixo custo estrutura da comunidade lenhosa da vegetação do cerrado sensu stricto. em relação às outras técnicas e pela maior facilidade no processo, Tese de Doutorado. UnB, Brasília. dentre outras vantagens. Sato, M. N.; Garda, A. A.; Miranda, H. S. (1998). Fire effects in O presente trabalho tem como objetivo analisar a diversidade the mortality rate of woody vegetation in Central Brazil. In: e a estrutura genética de Vellozia leptopetala e V. epidendroides, distri- Proceedings of the 3rd International Conference on Forest Fires Research. buídas em uma região determinada da Serra do Cipó, comparando D. X. Viegas (ed.) Coimbra, Portugal. p.1777-1784. os resultados com os padrões de reprodução e dispersão de semen- Sokal, R. R.; Rohlf, F. J. (1987). Biometry – the principles and practice of tes de cada uma das espécies. statistics in biological research. W H. Freeman & Company, New York.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 527 Cerrado Volume I

2. Métodos (1978). A análise mostra uma alta proximidade genética entre as O estudo foi realizado no município de Santana do Riacho, subpopulações ‘Evelyn’ e ‘Caminho’, com índice de identidade Serra do Cipó, MG, entre 19°12’ e 19°20’ S e 43°30’ e 43°40’ W. igual a 0,990. Mais distante geneticamente está a subpopulação A região é caracterizada por montanhas de quartzito dobradas, ‘Represa’, com índices de 0,199 e 0,171 em relação à ‘Evelyn’ e com altitudes variando entre 1000 e 1400m, alcançando até 1800m ‘Caminho’. Tais índices não condizem com dados de distância ge- em certas áreas, como no Pico do Breu (Giulietti et al., 1987). Para ográfica das subpopulações. a análise genética foram coletadas amostras de folhas jovens de 105 V. leptopetala: Nenhuma das subpopulações de V. leptopetala e 143 indivíduos de V. epidendroides e V. leptopetala, respectivamen- apresentou polimorfismo em todos os loci, com índice de te. Esses indivíduos encontravam-se em manchas, que foram deno- polimorfismo de 0,475 para a espécie. Este polimorfismo baixo minadas sub-populações. Em cada mancha foram obtidas folhas de é resultado da presença de dois ou mais loci monomórficos em praticamente 70-90% dos indivíduos. Os dados da localização das todas as análises. Os valores de P, A, Ap e das heterozigosidades diferentes populações, obtidos por meio de GPS, foram organiza- foram todos menores do que os encontrados para V. dos no computador, com a construção do mapa do local e distância epidrendoides. Os valores de heterozigosidade observada e espe- relativa das coletas feitas. rada foram bastante baixas em todas as subpopulações, em par- A extração das enzimas foi realizada através da trituração de ticular para a subpopulação ‘Morro’, resultando um alto índice folhas jovens de indivíduos adultos. Os wicks foram colocados no de fixação (f = 0,509). extrato e então armazenados em ultrafreezer a –80°C até a utiliza- Os índices F de Wright demonstram ocorrência de alta ção dos mesmos em géis de amido para análise eletroforética. endogamia dentro das subpopulações de V. leptopetala (f = 0,410), Os géis de amido foram preparados segundo protocolo de principalmente pelo excesso de homozigoto apresentado pelas duas Alfenas et al (1998), utilizando 2 sistemas de tampão gel/eletrodo: bandas de UGPP. Existe uma baixa e não significativa divergência

Morfolina pH 6,5 e Lítio borato pH 8,0. Para V. epidendroides, os genética entre as subpopulações, com qp = 0,038. O valor de Nm sistemas de revelação selecionados foram UGPP (com dois loci, calculado foi de 6,33 indivíduos. UGPP1 e UGPP2), PGM e 6PG (Morfolina 6,5) e AAT (Lítio A distância genética calculada por NEI (1978) estabelecidas 8,0); e para V. leptopetala UGPP (também com dois loci, UGPP1 e entre as sub-populações de V. leptopetala mostra que não há uma UGPP2) e 6PG (Morfolina 6,5) e GDH e AAT (Lítio 8,0). Foram relação clara entre as distâncias genéticas entre as sub-populações assim totalizados 5 loci para análise, em ambas as espécies. e as suas distâncias geográficas, conforme já visto para V. Os 105 indivíduos de V. epidendroides e 143 indivíduos de V. epidendróides. De qualquer maneira, o distanciamento genético leptopetala coletados foram agrupados em 4 e 5 subpopulações, entre as cinco populações é muito pequeno e dificilmente seria respectivamente, com poucos quilômetros de distância entre aquelas visualizado geograficamente. mais distantes. No total final foram analisados 5 loci de 93 indiví- Vellozia leptopetala apresentou em 47,5% de locos polimórficos duos de V. epidendroides e 5 loci de 139 indivíduos de V. leptopetala. 2,00 alelos por locos. Os índices apresentados por V. leptopetala são A análise estatística foi realizada por meio do programa GDA baixos e próximos dos índices das espécies endêmicas e raras já estuda- (Lewis e Zaykin, 2001). O programa, para avaliar diversidade ge- das (Godt et al., 1996; Mateu-Andrés & Segarra-Moragues, 2003). nética, determinou o número médio de alelos por loco (A), núme- 4. Conclusões ro médio de alelos por locos polimórficos (Ap), heterozigosidade Para V. epidendroides, o valor qp = 0,087 confere uma significa- média observada (Ho) e a heterozigosidade média esperada sob tiva diferenciação entre as sub-populações. Indivíduos desta espé- equilíbrio de Hardy-Weinberg (He) das populações de cada espé- cie são encontrados em manchas contínuas, o que aumenta o fluxo cie estudada, além do índice de fixação de alelos nas subpopulações. gênico através da dispersão de pólen pelos seus principais Além desta descrição, foi utilizada a estatística F de Wright (1951) polinizadores na região, que são abelhas de pequeno e grande porte para medir o grau de fixação gênica e determinar a diferença na (Megachile e Apis). A significativa diferenciação pode ser devido a estrutura gênica entre as subpopulações. Para as distâncias genéti- restrita dispersão de sementes, facilitando a endogomia biparental. cas foi utilizado o índice de NEI (1978). Considerando a média entre as subpopulações de V. leptopetala, 3. Resultados e Discussão foi detectada uma taxa de heterozigose esperada de 0,224 e obser- V. epidendroides: As subpopulações apresentaram, em média, vada de 0,131, implicando em uma taxa de endogamia de 0,423, o uma diversidade alélica consideravelmente alta (A= 2,25), com que é bastante alto. Existe uma baixa diferenciação entre as

95% de seus loci sendo polimórficos. Destes 95% de locos subpopulações desta espécie (qp = 0,038). Isto pode ser resultado polimórficos foram encontrados, em média, 2,31 alelos por lócus. da baixa diversidade genética presente nesta espécie. Esta baixa Dentre as subpopulações analisadas, a ‘Alto do Palácio’ foi a diversidade pode ser resultado da distribuição restrita dos indiví- que apresentou menor fixação de alelos (f = 0,02), conseqüência da duos desta espécie a um tipo específico de habitat, sempre confina- similaridade entre a heterozigosidade esperada e observada (He = das em afloramentos rochosos. Também, esta é uma espécie 0,413 e Ho = 0,420). A subpopulação ‘Represa’ apresentou os endêmica que possui populações pequenas que comumente tem menores valores para os índices de diversidade (A = 2,00) e apresentado baixa variabilidade genética (Barret e Kohn, 1991 heterozigosidade (He= 0,270 e Ho= 0,177), como um índice de Apud Alfenas, 1998). O principal polinizador desta espécie é o fixação muito alto (0,355). Porém, sua amostragem foi também beija-flor Augastes scutatus, de hábito territorialista, podendo ainda baixa, o que pode ter interferido nestes valores. De forma geral, a contribuir para a baixa variabilidade genética observada. Além dis- estimativa para todos os loci mostra uma alta diferença entre a so, dispersão restrita de sementes pode aumentar a endogamia heterozigosidade esperada e observada e um elevado índice de nesta espécie. fixação para a espécie (0,239). 5. Referências Bibliográficas Existe uma razoável divergência genética entre as subpopulações ALFENAS, A.C.; BRUNE, W.; OLIVEIRA, J.R.; ALONSO, S.K.; conforme indicado pelo valor significativo de qp (qp = 0,087). Estas SCORTICHINI, M, (1998). Eletroforese de proteínas. In: subpopulações podem ser consideradas como populações geneti- Eletroforese de isoenzimas e proteínas afins: fundamentos e aplicações camente distintas. O fluxo gênico indireto calculado entre estas em plantas e microrganismos. Viçosa, MG: UFV. p.85-114. populações foi de Nm=2,62 indivíduos. A taxa de endogamia den- DARRIGO, M. R.; FRANCESCHINELLI, E. & BUZATO, S. tro de cada subpopulação é alta (f = 0,186), assim como para cada (2002). Estrutura genética de Hippeastrum damazianum indíviduo das mesmas. Foram calculadas as distâncias genéticas (Amarillydaceae) e sua inter-relação com a variação na polinização entre as subpopulações de V. epidendroides de acordo com Nei e fecundidade das populações. Manuscritos. São Paulo, SP.

528 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

FRANCESCHINELLI, E.V. and KESSELI, R. (1999). Population grande importância para predições sobre a produção florestal (Felfili structure and gene flow of the brasilian shrub Helicteres brevispira. & Silva Júnior, 1988). Interrupções nos dados dos histogramas Hereditary, 82: 355-363. indicariam que o ciclo de vida das espécies não estaria sendo com- GODT, M.J.; JOHNSON AND HAMRICK, J.L. (1996). Genetic pletado. Nesse caso, a história de recrutamento da espécie estaria Diversity and population size in four rare southern appalachian refletida na distribuição de indivíduos dentro de sua população plant species. Conservation Biology, 10(3):796-805. (Peters, 1996). Na região dos cerrados, a extração de produtos não-madeirei- IBGE. (1998). Dados Gerais do Brasil, Informações Estatísticas e ros, representados por frutos, palmitos, fibras, óleos e espécies Geocientíficas. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- medicinais, vem ocorrendo de forma crescente e intensa. Algumas tística, Rio de Janeiro / RJ. http://www.ibge.gov.br/informações/ espécies frutíferas já vêm sendo exploradas economicamente como territ/perfil/Perfilbr.html. o pequi, baru, araticum, cagaita, entre outras. Estas espécies vêm JACOBI, C.M.; BARBOSA, A.C. & DEL SARTO, M.C.L. 2003a ganhando projeção nos mercados regional e nacional, encontran- Reproductive biology of two species of Vellozia (Velloziaceae) and do-se, atualmente, muito pressionadas pela coleta intensiva de effects of herbivory on seed production ( enviado para publicação, seus frutos. Por outro lado, sabe-se muito pouco sobre as bases Annals of Botany). ecológicas e culturais do extrativismo de produtos não-madeirei- JOLY, A.B. (1970). Botânica: introdução à taxonomia vegetal. ros, bem como sobre a sustentabilidade ecológica desta prática. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 777 pp. Este trabalho tem como objetivo caracterizar a estrutura de LACERDA, C.M. B.; KAGEYAMA, P.Y. & FERRAZ, E.M. (1999). tamanho e a distribuição espacial da população de Dipteryx alata na Diversidade isoenzimática em Myracrodruon urundeuva em duas área de estudo, visando subsidiar o uso e o manejo sustentável situações atrópicas no semi-árido. Scientia Forestalis, 5: 89-95. dessa espécie. 2. Material e Métodos LEWIS, P.O., and ZAYKIN, D. (2001). Genetic Data Analysis: 2.1 Área de estudo Computer program for the analysis of allelic data. Version 1.0 Este estudo foi desenvolvido em área de cerrado sentido restri- (d16c). Free program distributed by the authors over the internet to nativo (Ribeiro & Walter, 1998) no Município de Pirenópolis from http://lewis.eeb.uconn.edu/lewishome/software.html . (GO), localizado a 120 km de Brasília. Pirenópolis está situado MATEU-ANDRÉS, I. and SEGARRA-MORAGUES, J.G. 2003. entre os paralelos 14º e 16º latitude sul e os meridianos 48o e 49o Patterns of genetic diversity in related taxa of Antirrihinum L. longitude oeste, com altitude média de 740m. Apresenta clima assessed using allozymes. Biological Journal of the Linnean Society tropical sub-úmido, segundo Köppen, definido por dois períodos 79:299-307. distintos, um chuvoso e quente, que abrange os meses de outubro SAZIMA, M. (1978). Biologia floral de espécies de Velloziaceae na a março e outro seco e frio, ocorrendo nos meses de abril a setem- Serra do Cipó, Minas Gerais. Tese (Doutorado), USP, São Paulo. bro. O extrativismo de espécies vegetais do Cerrado é uma ativida- WOLF P. G., CAMPBELL D. R. (1995). Hierarchical Analysis of de antiga na região, porém a comercialização de alguns produtos Allozymic and Morphometric Variation in a Montane Herb, está se intensificando nestes últimos anos, como as amêndoas do Ipomopsis aggregata (Polemoniaceae). The Journal of Heredity v. baru, que vêm conquistando espaço no mercado regional. 86(5) 386 – 394. 2.2 A espécie Dipteryx alata Vog. (baru, cumbaru) O barueiro (Dipteryx alata Vog) ocorre naturalmente em toda a área contínua do Bioma Cerrado brasileiro, principalmente nas Estrutura de tamanho e distribuição espacial de uma fitofisionomias de Cerradão Mesotrófico e Mata Seca, mas eventu- população de Dipteryx alata em uma área de cerrado almente, também, na fitofisionomia Cerrado sentido restrito. Nes- na região de Pirenópolis (GO). ta fitofisionomia, a sua distribuição foi ampla nos estados de Márcia Aparecida de Brito1 & José Felipe Ribeiro2. Tocantins, Goiás Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ocorrendo 1Doutoranda em Ecologia/UnB e Analista em C&T do CNPq ainda em menor proporção, nos estados de Minas Gerais, Maranhão, ([email protected]); 2Pesquisador da Embrapa Cerrados. Pará e Rondônia (Ratter et al., 2000). Além do Brasil, essa fruteira pode ser encontrada também em países vizinhos como o Paraguai, 1. Introdução nas cercanias do complexo do Pantanal (Ribeiro et al., 2000). A análise da estrutura da população de espécies nativas é uma Essa espécie apresenta dispersão zoocórica e barocórica e seus ferramenta extremamente útil para a avaliação do impacto da ex- frutos e sementes são comidos por vários animais, como morcegos, tração de recursos renováveis do ambiente, sendo que a macacos e cutia. Apresenta grande potencial forrageiro, sendo que sustentabilidade do uso e manejo dos recursos não-madeireiros seus frutos, especialmente a polpa, são consumidos pelo gado e depende do entendimento da ecologia das espécies a serem mane- animais domésticos durante a estação seca, quando a disponibili- jadas (Peters, 1996). dade de forragem natural é pequena (Ribeiro et al., 2000). O conhecimento da distribuição espacial dos indivíduos de A amêndoa tem sabor agradável, assemelhando-se ao amendo- uma espécie em uma comunidade é fundamental para o entendi- im, sendo consumida torrada como aperitivo. O licor da semente mento da dinâmica de populações vegetais (Hay et al., 2000). também tem grande aceitação no mercado. Apresenta, desse modo, Nascimento et al (2002) relatam que os processos que contribuem grande importância econômica para as comunidades locais, através para o padrão espacial podem ser considerados tanto intrínsecos à da comercialização de seus frutos e sementes. Além do potencial espécie (reprodutivo, social, coativo), quanto extrínsecos (vetorial). alimentício e forrageiro, essa espécie é utilizada também para ou- Os fatores vetoriais são elementos resultantes da ação de forças tros fins, como ornamental, madeireiro, medicinal e industrial. ambientais externas, como vento, intensidade de iluminação e con- 2.3 Métodos dições edáficas. Foi selecionada uma área de cerrado s.s., onde foram A partir de distribuições de tamanhos dos indivíduos de uma demarcadas, pelo método sistemático, 100 parcelas contíguas de população pode-se obter informações sobre a capacidade de rege- 10x10 m cada. Em cada parcela, foram mapeados todos os neração da população ou sobre a ocorrência de perturbações ante- indíviduos de D. alata e marcados com etiqueta de acrílico nume- riores no local sob estudo. Estas são medidas importantes para o rada. Para a medição da altura e do diâmetro do caule ao nível do entendimento da influência de fatores ambientais sobre as espécies solo, utilizou-se, respectivamente, trena e paquímetro (para aque- vegetais (Harper, 1977, Greig-Smith, 1983, Peters, 1996), e de les indivíduos com altura menor ou igual a 2 m). Naqueles com

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 529 Cerrado Volume I altura superior a 2 metros, a altura foi estimada com uma vara e a distúrbio que afetou os indivíduos dessas classes (Felfili & Silva circunferência ao nível do solo foi tomada por fita métrica, sendo Júnior, 1988). posteriormente convertida em diâmetro ao nível do solo. As distribuições diamétrica e de altura de D. alata apresenta- Os dados foram analisados quanto à distribuição de freqüência ram, ainda, menor número de indivíduos na primeira classe do que para classes de altura e diâmetro. Foram elaborados histogramas de na segunda, tendo sido encontrada uma diferença mais acentuada freqüências de classes de diâmetro e altura. No primeiro histograma, para a distribuição de diâmetros. Algumas possíveis causas deste os indivíduos foram agrupados em classes de diâmetro com ampli- comportamento na população em estudo podem estar relaciona- tude fixa de 0,2cm e, no segundo, em classes de altura com ampli- das à problemas de regeneração natural, baixa correlação entre tude de 0,20m até os 3m de altura, aumentando para 2m para os diâmetro e altura e divisão artificial das classes dessas variáveis. demais valores de altura (3 a 25m). Foram calculados os coeficien- Segundo Felfili & Silva Júnior (1988), problemas de polinização, tes de correlação para a população total e para as categorias de frutificação, predação de frutos e sementes ou mesmo com a germi- regeneração natural, jovens e adultos. Foi determinado o grau de nação podem ser, provavelmente, as causas da baixa representação agrupamento através do índice de dispersão de Morisita (Morisita, na primeira classe de diâmetro. Apesar do coeficiente de correlação 1959) e do Coeficiente de Dispersão (variância/média) (Kershaw, entre diâmetro e altura mostrar-se alto para a população total 1980) para a população total e para as diferentes classes de alturas, (0,9690) e adultos (0,8421), esse coeficiente teve valores relativa- divididas nas categorias regeneração natural, jovens e adultos. Con- mente baixos, quando calculado separadamente para as categorias siderou-se, neste estudo, como regeneração natural os indivíduos de regenerantes e jovens da população, apresentando, nesses casos, com altura menor que 1,30m, como jovens os indivíduos com valores de 0,7623 e 0,6823, respectivamente. diâmetro ao nível do solo menor que 6cm e altura igual ou maior 4. Considerações finais que 1,30m e adultos, aqueles indivíduos com diâmetro ao nível do A sustentabilidade do uso de frutos de baru deve considerar solo igual ou maior que 11 cm (a partir do qual foram observados produção de frutos atual e no tempo. Assim, ter informações como indivíduos reprodutivos). as aqui disponíveis sobre parâmetros que mostrem a existência de 3. Resultados e Discussão equilíbrio dinâmico na população no tempo, possibilitando a exis- Foram mapeados, em um hectare, um total de 1162 indivíduos tência de árvores produtivas no futuro é crucial. Essas informações de D. alata, sendo 1095 pertencentes à categoria de regeneração podem ainda subsidiar a definição de indicadores para o natural, 39 de jovens e 28 de adultos. monitoramento do impacto do extrativismo de baru na região. A análise do índice de dispersão de Morisita (Morisita, 1959), (Apoio: CNPq, Projeto CMBBC - DFID/ Embrapa Cerrados/ que mede a concentração de indivíduos nas parcelas, mostrou que UnB Engenharia Florestal e Botânica/ IBAMA) na área D. alata apresenta distribuição agregada, tanto para a dis- 5. Bibliografia tribuição do conjunto total de indivíduos, quanto para a distribui- Felfili, J. M.; Silva Júnior, M. C. (1988). Distribuição de diâmetros ção da população de regenerantes, jovens e adultos. O mesmo numa faixa de cerrado na Fazenda Água Limpa (FAL) em Brasília. resultado foi encontrado utilizando-se o Coeficiente de Variação. -DF. Acta Botânica Brasileira 2(1/2):85-104. O padrão dominante das espécies arbóreas nas savanas é a Greig-Smith, P. (1983). Quantitative Plant Ecology. Oxford: distribuição agrupada (San Jose et al., 1991 apud Hay et al., 2000), Blackwell Sci. Publ. sendo que este padrão parece ser verdadeiro também para os cerra- dos (Hay et al., 2000), pois das 45 espécies do cerrado avaliadas, Harper, J. L. (1977). Population Biology of Plants. London: Academic 64% apresentaram distribuição espacial agrupada. Além disso, o Press. padrão de distribuição agrupada do barueiro pode ser devido, den- Hay, J. D. Bizerril, M. X., Calouro, A. M. et. al. (2000). Compara- tre outros fatores, ao tipo de dispersão de suas sementes. De acor- ção do padrão da distribuição espacial em escalas diferentes de do com Hubbel (1979), espera-se que a ocorrência de agrupamen- espécies nativas do cerrado, em Brasília, DF. Revta brasil. Bot. 23 to seja maior em espécies de sementes pesadas dispersadas por (341-347). mamíferos, do que em espécies de sementes leves dispersadas pelo Hubbel, S. P. 1979. Tree dispersion, abundande, and diversity in a vento ou pássaros. tropical dry forests. Science 203 (1299-1309). Os diâmetro e altura máximos foram de 63,69cm e 24m, res- Kershaw, K. A. (1980). Quantitative and dynamic plant ecology. 2ª pectivamente. A distribuição dos diâmetros de todos os indivíduos ed. London: Edward Arnold. 308p. de D. alata representa o padrão do tipo J invertido, onde a maioria dos indivíduos pertence às menores classes diamétricas, sugerindo Morisita, M. (1959). Measuring of interspecific association and que existe equilíbrio dinâmico entre o crescimento e a mortalida- similarity between communities. Memoirs of the Faculty of Science de, tendendo ao balanceamento. Aproximadamente 97,5% dos Kyushu University, 3(1):65-88. Series E-Biology indivíduos compunham a classe de até 5 cm de diâmetro, sendo Nascimento, N. A. do, Carvalho, J. O. P. de, Leão, N. V. M. que os indivíduos com até 20 cm somaram 98,4% do total (2002). Distribuição espacial de espécies arbóreas relacionada ao amostrado. Apenas 1,54% atingiram mais de 20cm de diâmetro. manejo de florestas naturais. Ver. ciênc. agrár. 37(175-194). Esses valores são similares aos encontrados para uma população de Oliveira, P. E.; Ribeiro, J. F. & Gonzales, M. I. (1989). Estrutura Kielmeyera coriaceae, estudada em um cerrado ralo em Brasília (Oli- e distribuição espacial de uma população de Kielmeyera coriaceae veira et al, 1989). A distribuição das alturas também seguiu o pa- Mart de Cerrados de Brasília. Revista Brasileira de Botânica 12: drão do tipo J invertido, onde a maioria os indivíduos pertenceu às 39-48. menores classes de altura. Verificou-se que aproximadamente 97,4% Peters, C. M. (1996). The ecology and management of non-timber dos indivíduos atingiram até 3 m de altura, enquanto nenhum indivíduo foi amostrado na classe de 3 a 5m de altura. Entre 5 a 7 forest resources. World Bank Technical paper, nº 322. 155 p. m de altura, têm-se 0,53% do total de indivíduos amostrados. Ratter, J. A.; Bridgewater, S.; Ribeiro, J. F.; Dias, T. A. B.; Silva, M. Apenas 2,06% atingiram alturas acima de 7 metros, representando R. da. (2000). Distribuição das espécies lenhosas da fitofisionomia um total de 24 indivíduos. Foi encontrado, nas classes de 2,8 a 3,0 Cerrado sentido restrito nos estados compreendidos pelo bioma cm de diâmetro e de 3 a 5m e de 9 a 11m de altura, um número de Cerrado. B. herb. Ezechias Paulo Heringer, Brasília, v. 5: 5-43. indivíduos menor do que os valores encontrados nas suas classes Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do bioma anteriores. Pode-se presumir que houve uma mortalidade excessiva Cerrado. In: Sano, S. M. & Almeida, S. P. de (eds). Cerrado: ambi- dos indivíduos de menor porte, sendo provável a ocorrência de um ente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, p.89-166.

530 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Ribeiro, J. F.; Sano, S. M. S.; Brito, M. A. de.; Fonseca, C. E. L. da. natural de cerrado, que inclui vegetação de campo rupestre e cam- (2000). Baru (Dipteryx alata Vog). Jaboticabal: FUNEP, Séries Fru- pos de altitude, Localizada a aproximadamente 100 Km de Belo tas Nativas, 10. Oct/2000. 41 p. Horizonte, na parte sul da Cadeia do Espinhaço (19º12’S, Agradecimentos: 43º28’W) (Kauffman et. al 1994). Em quatro transectos, paralelos de 120m cada, e 30m Aos técnicos do Laboratório de Ecologia Vegetal da Embrapa Cer- eqüidistantes, foram delimitados oito parcelas amostrais circulres rados, João Batista dos Santos, Nelson Oliveira Paes e Valdeci de com 3m de raio cada, e 15m eqüidistantes. Estas parcelas foram Lima Matos, pelo apoio durante o trabalho de campo e à Sylvia e divididas em quatro setores de mesma área, onde foi realizada a Edmilson Vasconcelos e demais proprietários da Fazenda Terra contagem dos indivíduos. Posteriormente o número de indivíduos Nostra (Pirenópolis-GO), pelo suporte logístico. À Dra. Sueli M. foi dividido pelo número de setores, obtendo-se a média de indiví- Sano, pesquisadora da Embrapa Cerrados, pela leitura e sugestões. duos em cada parcela (densidade). A caracterização fótica de cada parcela foi realizada através das seguintes medidas: A densidade de Distribuição espacial e densidade de gramínea cobertura foliar (IAF) (LAY 2000, Plant Canopy Analyzer), radia- invasora (Melinis minutiflora beauv) no Parque ção incidente no ponto (I), radiação total incidente, na clareira Nacional da Serra do Cipó mais próxima (Io) (quantômetro LI-CO (l company), m mol de Marconi Souza Silva*, Maurício Santos Pompeu*, Sander de Paula* fótons m-2 s-1) e o CAP. A Circunferência do caule na altura do & Simone Porfirio* peito (CAP), foi medida na arvore mais próxima, e que apresentava *Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida a CAP superior a 20cm (em todas as medidas foi utilizado o méto- Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de do do ponto quadrante) (Goodland apud Martins, 1993). Uma Minas Gerais. E-mail:[email protected] trilha, freqüentemente usada por turistas, equinos e bovinos que eventualmente cruzam transversalmente os transectos entre as par- 1.Introdução celas amostrais 1 e 2. O Parque Nacional da Serra do Cipó é uma ampla reserva 2. Resultados e Discussão biológica representada principalmente por vegetação de cerrado, Melinus minutiflora ocorreu em 75% das parcelas amostradas. campos rupestres e de altitude. Estas formações apresentam-se Maiores valores de densidade foram encontrados nas parcelas, mais geralmente ricos em espécies vegetais e animais endêmicas e próximos à pastagem com bovinos. Em contraste, aos mais distan- ameaçadas (Myers et al 2000). O Cerrado possui atualmente ape- te da pastagem. As parcelas localizadas próximas à trilha que é nas 7% da vegetação original, e está incluído na lista de biomas acesso parar humanos, bovinos e eqüinos, apresentaram valores brasileiros prioritários para ações de proteção e conservação (Myers altos de densidade, exceto aquelas mais distantes da pastagem. Os et al 2000). transectos 1/2, e 2/3 não apresentaram diferença significativa entre Entre os impactos mais comuns nas regiões de cerrado estão as suas densidades, porém entre os transectos 3/4 (p<0,01), 2/4 queimadas, substituição da vegetação nativa por pastos, coleta (p<0,004), 1/4 (p<0,006) e 1/3 (p<0,004) houve diferenças signi- comercial de plantas ornamentais e extração de madeira para utili- ficativas (teste t). zação como lenha (Pereira, 1994). A formação de pastos traz con- A habilidade das espécies exóticas em invadir uma dada região sigo um outro fator agravante, que é a manutenção, próxima as depende não somente dos atributos da planta, mas também da reservas de vegetação nativa, propágulos de espécies exóticas com presença de agentes dispersivos e das características do habitat que características invasoras. favoreça o estabelecimento. Teoricamente, ambientes mais suscep- A invasão por plantas exóticas, afeta a estrutura e o funciona- tíveis á invasão seriam aqueles pobres em espécies, podendo apre- mento dos ecossistemas. O potencial das espécies exóticas em sentar funções ecológicas ainda não supridas, o que será feito pelas alterar sistemas naturais e tão grande que estas atualmente só per- exóticas. Livre de competição, parasita e predadores de suas áreas dem para a destruição antrópica de habitats (Ziller 2001). de origem, invasoras, teriam vantagem sobre as nativas. Isso pode Uma espécie exótica originaria da África amplamente utilizada ser facilmente visualizado em ambientes heterogêneos ou com alto em pastagens é Melinis minutiflora. Esta. gramínea (Poaceae) co- grau de perturbação onde a redução de espécies pode ocorrer em nhecida vulgarmente como capim gordura é um arbusto perene, cosequência dos fenômenos naturais ou antrôpicos (Ziller 2001). cresce até 90 cm apresenta colmos ascendentes e fragrância seme- No Brasil Melinus minutiflora comumente aproveita as condi- lhante à melaço; frequentemente avermelhado, panículas entre10- ções ambientais heterogêneas do Cerrado para se desenvolver. Esta 20 cm. Sementes de Poaceae são comumente abundantes nas fezes espécie pode formar neste ambiente densas manchas, suprimindo o de animais silvestres e sinantrópicos herbívoros, ou de animais crescimento e reprodução de plantas nativas (Smith 1985, Pivello et silvestres que se alimentam de insetos como formigas e cupins al.1999). Espécies de gramíneas crescem facilmente em ambientes (Milton & Dean 2001). Melinis minutiflora é caracterizada pela pobres em nutrientes e bem iluminados (Goergen & Daehler 2001). grande agressividade e rápida colonização de áreas perturbadas A dispersão por animais parece ser um importante fator na coloniza- interferindo no crescimento de espécies nativas. (Baruch 1987) ção e na manutenção das densidades de M minutiflora nesta área de Uma vez estabelecida, M. minutiflora forma manchas monotípicas cerrado. Além da dispersão, os animais (gado) podem também alte- sendo considerada uma forrageira de difícil controle biológico rar a estrutura da vegetação e criar microhabitats que possibilitam (Smith, 1985). Adaptada ao fogo, pode formar densas manchas um melhor desenvolvimento desta espécie (abertura de pequenas que durante as queimadas não são totalmente consumidas. A rege- clareiras por pisoteio ou em locais onde se deitam). M. minutiflora neração das partes remanescentes é rápida, principalmente em pode ocupar rapidamente florestas mésicas e secas previamente ambientes mésicos e áridos (Smith, 1985). disturbadas por ungulados. Entretanto as variações nas densidades No Parque Nacional da Serra do Cipó, M. minutiflora dispersa, entre os pontos podem ser atribuídas às condições do solo (Rizzini principalmente, por vento ou através de bovinos e equinos, que 1976). A granulometria pode influir em muito na quantidade de freqüentemente transitam em áreas do parque. Este trabalho avaliou água e até mesmo nutrientes no solo (Cardoso et al 2000). Das as características ambientais de uma área de cerrado que permitem a variáveis ambientais analisadas somente a radiação incidente no ponto invasão bem como a distribuição e densidade de M minutiflora (I) apresentou correlação significativa e positiva com o número de 2. Metodologia indivíduos de M. minutiflora (R2 = 0,0013; p < 0,05). O estudo foi realizado numa área de cerrado senso stricto do 4. Conclusões Parque Nacional da Serra do Cipó (PNCS), que é uma reserva A influência da estrutura da vegetação nativa, dos distúrbio

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 531 Cerrado Volume I antrópicos, e da distância entre locais na invasão de áreas nativas de São Carlos ([email protected]) por espécies exóticas, mostraram que as probabilidades de coloni- b Bacharelado em Ciências Biológicas - Universidade Federal de São zação relacionam-se à presença de propágulos e às oportunidades Carlos transientes no estabelecimento da espécie. Os distúrbios antrópicos c Departamento de Botânica – Universidade Federal de São Carlos parecem explicar variações na freqüência. M. minutiflora ameaça a diversidade natural do cerrado inclusive em areas nacionais de 1.Introdução presevação. Espécies exóticas com atributos especiais que fazem Savanas são formações tropicais e subtropicais, em que o com- delas competidoras superiores podem facilmente invadir habitas ponente herbáceo-subarbustivo, quase contínuo, é interrompido naturais e causar grandes impactos alterando propriedades ecologicas apenas por arbustos e árvores em densidades variáveis; em que o essenciais nos ecossistemas, e causando danos irreparavéis à fogo é freqüente; e em que os principais padrões de crescimento biodiversidade. estão fortemente associados às estações úmida e seca alternantes 5. Referências Bibliográficas (Bourlière & Hadley 1983). BARUCH, Z.; HERNÁNDEZ, A.B.R.; MONTILLA, M.G. 1987. A maior região de savana nas Américas é o cerrado. Ocupando - Dinâmica del crescimento, fenologia y reparticion de biomassa originalmente cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, ou gramineas nativas e introducidas de una sabana neotropical - aproximadamente 23% do território nacional, o cerrado é a segun- Ecotropicos, 2:1-13. da maior província fitogeográfica brasileira. O clima é normalmen- te estacional, com verão chuvoso e inverno seco. CARDOSO, E.L., CRISPIM, S.M.A., RODRIGUES, C.A.G., & Sarmiento (1983) propôs uma classificação ecológica das Jr., W.B. 2000. - Biomassa aérea e produção primária do estrato savanas, em que estas são divididas em quatro grupos de acordo herbáceo em campos de Elyonurus Muticus submetido à queima com sua estacionalidade: i) savanas semi-estacionais, sob clima na anual, no pantanal. - Pesq. Agropc. Bras, 8 (35): 1501-1507. maior parte do tempo úmido, com uma ou duas pequenas estações GOODLAND, R. 1964. – A phytosociological study of the secas; ii) savanas estacionais, em que uma estação sem chuvas mai- northern Rupununi savanna, British Guiana. Tese M. Sc. Montre- or faz com que o fogo e a seca definam a ritmicidade do seu funcio- al. McGill University apud Martins, F. R. 1993. - . Estrutura de namento; iii) savanas hiper-estacionais, em há alternância de dois uma floresta mesofila, Editora da Unicamp, SP. 246pp. estresses contrastantes durante o ciclo anual, um induzido pela seca GOERGEN, E., & DAEHLER, C.C. 2001. - Reproductive ecology e fogo e outro induzido pela saturação do solo e iv) esteros, em que of a native Hawaiian grass (Heteropogon contortus; poaceae) versus o período de excedente hídrico persiste pela maior parte do ano. its invasive alien competitor (Pennisetum setaceum; poaceae). - Freqüentemente estimada pelo índice de Shannon (Shannon International journal of plant sciences, 162 (2): 317-326. & Weaver 1949), a diversidade alfa do cerrado é elevada. Os valo- MILTON, S.J., & DEAN, W.R.J. 2001. - Seeds dispersed in dung res do índice de Shannon para o cerrado estão, de um modo geral, of insectivores and herbivores in semi-arid southern Africa. - Journal em torno de 2,5 a 3,6 (Mantovani 1996), valores considerados of arid environments, 47: (4) 465-483. elevados segundo Magurran (1988). Embora muitos estudos tenham sido publicados sobre a diver- MYERS, N., MITTERMEIER, MITTERMEIR, A.R., FONSE- sidade biológica do cerrado, não há até o momento nenhum estu- CA, A.B., & KENT, J. 2000 - Biodiversity hotsrots for conservation do – ao menos, publicado – da riqueza e da diversidade alfa em priorities. – Nature, 403:853-858. alguma das raras áreas existentes de cerrado hiper-estacional. KAUFFMAM, J.B., CUMMINGS, D.L., & WARD, D.E. 1994. - O objetivo deste projeto foi estudar a riqueza e a diversidade Relationships of fire, biomass and nutriet dynamics along a alfa de um cerrado hiper-estacional, comparando-as com a riqueza vegetation gradient in the Brazilian cerrado. - Journal of Ecology, e a diversidade de áreas adjacentes de cerrado estacional e de cam- 82:519-531. po úmido. Considerando que a diversidade tende a ser reduzida em PEREIRA, M.C.A. 1994. - Estrutura das comunidades vegetais de comunidades que sofrem estresses, a questão levantada foi: afloramentos rochosos dos campos rupestres do Parque Nacional Uma vez que, no cerrado hiper-estacional, há dois períodos de da Serra do Cipó, MG. - Tese de Mestrado, UFMG, Belo Hori- estresse (a seca no inverno e o alagamento no verão), a riqueza e a zonte. 167pp. diversidade alfa nele são menores do que no cerrado estacional e no campo úmido? PIVELLO, V.R., CARVALHO, V.M.C., LOPES, P.F., PECCILINI, A.A., & ROSSO, S. 1999. – Abundance and Para responder a essa pergunta, testamos as seguintes hipóte- distribuition of native and alien grasses in a “cerrado” (Brazilian ses nulas: H : s = s = s , em que s é o número de espécies por área, savanna) biological reserve. - Biotropica, 31: (1) 71-82. 0 che ce cum che é o cerrado hiper-estacional, ce é o cerrado estacional e cum é o RIZZINI, C.T. 1976. - Tratado de fitogeografia do Brasil. Aspec- campo úmido. tos ecológicos. - 1º volume. Ed. Universidade de São Paulo, 327pp. H0: H’che = H’ce = H’cum, em que H’ é a diversidade, che é o SMITH, C.W. 1985. - Impact of alien plants on Hawai’i’s native cerrado hiper-estacional, ce é o cerrado estacional e cum é o campo biota. In: Charles P. Stone and J. Michael Scott, eds..Hawaii’s úmido. Terrestrial Ecosystems: Preservation and Management. - 2. Métodos Cooperative National Park Resources Studies Unit, University of O Parque Nacional das Emas (PNE) está localizado no Planal- Hawaii, Manoa, p. 195. to Central Brasileiro, na região nuclear do Cerrado, nos municípi- ZAR, J.H. 1996. - Biostatistical analysis. - 3rd edition. Prentice os de Mineiros e Chapadão do Céu, (17°49’-18°28’S e 52°39’- Hall, New Jersey. 53°10’W). O cerrado no PNE exibe quase todas as fisionomias deste tipo de vegetação. ZILLER, SR. 2001. Plantas exóticas invasoras: a ameaça da conta- Ainda que não mencionado no levantamento de Ramos-Neto minação biológica Ciência Hoje.30 (178):77-79 (2000), há, na porção sudoeste do parque, uma área de campo limpo de cerrado hiper-estacional. Essa área permanece inundada Riqueza e diversidade alfa de um cerrado de fevereiro a abril, quando a altura do corpo d’água fica em torno hiper-estacional no Parque Nacional das Emas (GO) de 0,3 m, e passa por período de seca entre junho e agosto. Marcus Vinicius Cianciaruso a , Igor Aurélio da Silva b e Marco Para estudar a riqueza e a diversidade alfa da área de cerrado Antônio Batalha c hiper-estacional no PNE, coletamos os dados no campo em feve- a Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais - Universidade Federal

532 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado reiro de 2003, ao final da estação úmida, quando o cerrado hiper- do das chuvas. O alagamento reduz drasticamente a difusão de estacional estava alagado e quando o corpo d’água apresentava a oxigênio no solo, impedindo a respiração aeróbica da raiz e a ab- altura máxima de 0,1 m. sorção de minerais e água. Em virtude do déficit de oxigênio, há a Delimitamos áreas de 1 ha em cada um dos três ambientes: formação de subprodutos da respiração anaeróbica, que alteram a cerrado hiper-estacional, cerrado estacional e campo úmido. Sor- produção e o transporte de hormônios, comprometendo, por con- teamos 10 pares de coordenadas em cada área, com os quais deter- seqüência, o metabolismo geral da planta (Crawford 1982). minamos os pontos em que as unidades amostrais foram lançadas, Como encontramos a menor riqueza florística e o mais baixo nas quais lançamos parcelas de 1 m x 1 m. valor do índice de Shannon para o cerrado hiper-estacional, em Nas parcelas, amostramos os indivíduos de plantas vasculares relação as outras áreas amostradas, esses dois momentos de estresse que encontramos, com exceção daqueles indivíduos ainda com os podem estar determinando a estrutura da comunidade em estudo. cotilédones. Quando possível, os indivíduos foram identificados De acordo com Mueller-Dombois & Ellenberg (1974), índices de em nível específico no campo. Os indivíduos que não puderam ser similaridade de Sørensen menores do que 0,4 são baixos. Logo, a assim identificados foram coletados e identificados por meio de baixa similaridade florística entre as duas áreas de cerrado (índice comparação com o material coletado durante o levantamento de Sørensen de 0,31) pode refletir a incapacidade fisiológica das florístico de Batalha & Martins (2002) ou, ainda, com chaves de espécies do cerrado estacional adjacente ao cerrado hiper-estacional identificação baseadas em caracteres vegetativos (Mantovani 1983, de tolerar o período de alagamento, do mesmo modo que a com- Batalha et al. 1997, Batalha & Mantovani 1999). pleta ausência de espécies do campo úmido no cerrado hiper- Para cada um dos três ambientes, analisamos a riqueza e a estacional pode indicar a intolerância dessas ao período de déficit diversidade alfa. A riqueza foi dada pelo número de espécies por hídrico pelo qual o cerrado hiper-estacional passa na estação seca. unidade de área, enquanto que a diversidade alfa foi estimada pelo Nesse mesmo sentido, estando o índice de diversidade do cer- índice de Shannon (Shannon & Weaver 1949), usando a base rado hiper-estacional abaixo do valor encontrado no cerrado logarítmica natural. Esse índice varia de 0 a valores positivos, es- estacional e abaixo dos valores comumente encontrados para ou- tando de modo geral entre 1,5 e 3,5, raramente ultrapassando 5,0 tros sítios de cerrado (Mantovani 1996), os dois períodos de estresse (Magurran 1988). Calculamos, para cada ambiente, o valor médio podem estar diminuindo não só a riqueza como também a diversi- da riqueza e o seu respectivo desvio-padrão. Realizamos uma aná- dade alfa do cerrado hiper-estacional. lise de variâncias (Andeva) para detectar se houve diferenças signi- Ainda que a similaridade entre o cerrado hiper-estacional e o ficativas entre as riquezas das áreas amostradas (á = 0,05). Usamos cerrado estacional tenha sido baixa, o cerrado hiper-estacional está o teste de Tukey de comparações múltiplas a posteriori (Zar 1999) floristicamente muito mais próximo do estacional do que do campo para verificar qual média era diferente de qual. Empregamos, ain- úmido. Portanto, o cerrado hiper-estacional é um cerrado empobre- da, o teste de Hutchenson (Zar 1999) para comparar os valores do cido, com a dominância de Andropogon leuchostachys, mas com ne- índice de Shannon entre os pares possíveis dos três ambientes. nhuma contribuição florística das espécies adaptadas às várzeas. 3. Discussão e Resultados 4. Conclusões No cerrado hiper-estacional, amostramos 272 indivíduos, per- Com os nossos resultados, pudemos concluir que tanto a ri- tencentes a 19 espécies. Dessas 22 espécies, Batalha & Martins queza quanto a diversidade são diferentes nos três ambientes, no (2002) citaram 13 como ocorrentes em fisionomias de cerrado no cerrado hiper-estacional, no cerrado estacional e no campo úmido. PNE. No cerrado estacional, amostramos 575 indivíduos, repre- Os valores desses dois descritores da comunidade vegetal foram sentando 54 espécies, das quais 41 foram citadas por Batalha & menores no cerrado hiper-estacional, indicando que os dois perío- Martins (2002) como ocorrentes no cerrado do PNE. No campo dos por que ele passa limitam o número de espécies e a equabilidade úmido, amostramos 2.280 indivíduos, de 38 espécies, das quais dessa comunidade. A composição florística do cerrado hiper- nenhuma foi citada como ocorrente no cerrado do PNE por Bata- estacional mostrou que ele é muito mais próximo do cerrado lha & Martins (2002). estacional do que do campo úmido, ainda que mais empobrecido Encontramos nove espécies em comum entre o cerrado hiper- em relação às áreas de cerrado que não se alagam. (FAPESP). estacional e o cerrado estacional e nenhuma espécie em comum entre 5. Referências Bibliográficas estes e o campo úmido. O índice de similaridade entre o cerrado hiper- BATALHA, M. A. & MANTOVANI, W. 1999. Chaves de identificação estacional e o cerrado estacional foi de 0,31. Não houve similaridade das espécies vegetais vasculares baseada em caracteres vegetativos entre o campo úmido e as demais áreas estudadas. para a ARIE Cerrado Pé-de-Gigante (Santa Rita do Passa Quatro, A riqueza se distribuiu normalmente no cerrado hiper- SP). Revista do Instituto Florestal 11: 137-158. estacional, no cerrado estacional e no campo úmido. A riqueza foi BATALHA, M. A. & MARTINS, F. R. 2002. The vascular flora of the significativamente diferente nos três ambientes (F = 44, 74, p < cerrado in Emas National Park (Goiás, Central Brazil). Sida 20: 0,001); maior no campo úmido e menor no cerrado hiper-estacional. 295-311 As diversidades alfa no cerrado hiper-estacional, no cerrado estacional e no campo úmido foram, respectivamente, 1,927 ± BATALHA, M. A.; ARAGAKI, S. & MANTOVANI, W. 1997. Florística do 0,008, 3,163 ± 0,006 e 2,408 ± 0,001. Comparados dois a dois, os cerrado em Emas (Pirassununga, SP). Boletim de Botânica da Uni- índices de diversidade também se mostraram significativamente versidade de São Paulo 16: 49-64. diferentes. Portanto, a diversidade foi maior no cerrado estacional BOURLIÈRE, F. & HADLEY, M. 1983. Present-day savannas: an e menor no cerrado hiper-estacional. overview. In Goodall, D. W. (ed). Ecosystems of the world – tropical A estação seca no cerrado é bem pronunciada, podendo durar savannas. Amsterdam, Elsevier. p. 1-17. até seis meses. Em tais condições, a camada superficial do solo CRAWFORD, R. M. 1982. Physiological response to flooding. In tende a secar completamente até uma profundidade de 2 m (Eiten Lange O. L., Nobel P. S., Osmond C. B. & Ziegler (eds). 1972), representando assim um momento de estresse para as plan- Physiological plant ecology. II. Encyclopedia of plant physiology. Berlin, tas do cerrado, principalmente para o componente herbáceo- Springer. p.453-477. subarbustivo, com sistemas radiculares menos profundos (Ferri EITEN, G. 1972. Cerrado vegetation of Brazil. Botanical Review 38: 1944), o que restringe o crescimento e provoca o secamento da 201-341. parte aérea deste componente da vegetação. As plantas do cerrado hiper-estacional ainda sofrem com um FERRI, M. G. 1944. Transpiração de plantas permanentes dos “cer- segundo momento de estresse causado pelo alagamento no perío- rados”. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Uni-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 533 Cerrado Volume I versidade de São Paulo, Botânica 4: 155-224. do estrato arbóreo-arbustivo. Em 1992, antes da realização das MAGURRAN, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. primeiras queimadas, foram inventariadas e marcadas todas as Princeton, Princeton University. plantas com diâmetro superior a 5 cm, a 30 cm do nível do solo. As plantas foram amostradas quanto à espécie, a altura e MANTOVANI, W. 1996. Methods for Assessment of Terrestrial ao diâmetro a 30 cm do solo. Dois anos após cada queimada, Phanerogams Biodiversity In Bicudo, C. E.M. & Menezes, N. A. foram realizados inventários, nas mesmas subparcelas e indiví- (eds). Biodiversity in Brazil a first approach CNPq, São Paulo. p. duos, para avaliar os impactos causados pela passagem da frente 119-144 de fogo. Nestes inventários foram mensurados a altura e o diâ- MUELLER-DOMBOIS, D. & ELLENBERG, H. 1974. Aims and methods of metro, a 30 cm do solo, e também a resposta ao dano sofrido: vegetation ecology. New York, John Willey & Sons. rebrota aérea (indivíduos que apresentaram rebrota apenas na RAMOS-NETO, M. B. 2000. O Parque Nacional das Emas (GO) e o parte aérea da planta); rebrota basal e/ou subterrânea (morte fogo: implicações para a conservação biológica. Tese de Doutorado, da parte aérea com rebrota na parte basal ou subterrânea da Universidade de São Paulo. planta) e morte do indivíduo. SARMIENTO, G. 1983. The savannas of tropical America. In Goodall, 3. Resultados e discussão D. W. (ed). Ecosystems of the world – tropical savannas. Berlin, Elsevier. Antes da realização da primeira queimada prescrita foram p. 245-288. identificadas 71 espécies nas três áreas experimentais. Cada área apresentou um total de 58 espécies, sendo 46 comuns às três áreas. SHANNON, C. E. & WEAVER, W. 1949. The mathematical theory of O número total de indivíduos vivos, em 0,5 ha, foi de 1114, 1144 communication. Urbana, University of Illinois. e 1031 nas queimadas precoce, modal e tardia, respectivamente. ZAR, J. H. 1999. Biostatiscal analysis. Upper Saddle River, Os números de espécies e de indivíduos encontrados são similares Prentice Hall. aos encontrados por Durigan et al. (1994) e Ottmar et al. (2001) em levantamentos da vegetação lenhosa de cerrado sensu stricto. Efeitos do fogo em comunidades de plantas Após as cinco queimadas bienais a mortalidade foi de 39% lenhosas em áreas de cerrado sensu stricto na para as queimadas precoce e da ordem de 44% nas queimadas Reserva Ecológica do IBGE, Brasília modal e tardia. Cerca de 56% dos indivíduos sobreviventes no Margarete Naomi Sato ([email protected]) & Heloisa Sinátora Miranda tratamento precoce apresentaram rebrotas aéreas, este valor é Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF reduzido para 41% na área modal e para 25% na tardia. As rebrotas basais e/ou subterrâneas foram observada em 5% dos 1. Introdução indivíduos sobreviventes na precoce, 14% na modal e em 25% O fogo é um dos fatores determinantes da vegetação do Cerra- dos indivíduos da tardia. A predominância de rebrotas aéreas do (Coutinho 1990) e há registros de sua ocorrência nesta região após queimadas bienais em área de campo sujo também foi desde 32000 anos (Ferraz-Vicentini 1993). Acredita-se que neste observada por Rocha e Silva (1999), sendo que estas estavam período o fogo era de origem natural, causado por raios (Salgado- presentes em cerca de 40% dos indivíduos sobreviventes e as Labouriau & Ferraz-Vicentini 1994). Estudos recentes realizados basais e/ou subterrâneas em apenas 19%. Entretanto, para por Ramos-Neto & Pivello (2000), no Parque Nacional de Emas cerradão Souza & Soares (1983) observaram que cerca de 77% (GO), mostraram que o fogo originado por raios ocorre preferen- dos indivíduos sobreviventes apresentavam exclusivamente cialmente no final da estação seca e durante a estação chuvosa rebrotas basais. (setembro a maio). Atualmente, as queimadas são realizadas du- Ao longo do período do experimento, seis espécies presentes rante a estação seca, em intervalos de 2 a 4 anos, com o objetivo de na precoce apresentaram 100% de mortalidade: Eremanthus abertura de áreas para o plantio de grãos ou o manejo de pastagens glomerulatus, Eremanthus mollis, Erythroxylum tortuosum, Mimosa naturais ou plantadas (Coutinho 1990). Embora a vegetação lenhosa clausseni, Neea theifera e Tabebuia ochracea, representando a perda do Cerrado apresente características adaptativas e de resistência ao de 7,1% dos indivíduos presentes no inventário inicial e de 10% fogo, como casca espessa e xilopódio, a alteração na época da das espécies. Na parcela modal Baccharis intermixta, Diospyros hispida, queima e o curto intervalo entre as queimadas pode resultar em Eremanthus goyazensis, Guapira graciliflora, Mimosa claussenii, Pouteria alterações significativas na estrutura da vegetação (Durigan et al. torta e Vochysia thyrsoidea apresentaram 100% de mortalidade. A 1994; Sato 2003). redução no número de espécies foi de 12% e a de indivíduos 1,4%. Este trabalho teve como objetivo determinar o efeito de cinco Aegiphila lhostzkiana, Erythroxylum tortuosum, Neea theifera e Psidium queimadas prescritas, em regime bienal, realizadas em diferentes pohlianum apresentaram 100% de mortalidade na área tardia, re- épocas da estação seca nas taxas de mortalidade da vegetação lenhosa presentando a perda 0,4% dos indivíduos e 7% das espécies. Exce- de cerrado sensu stricto. tuando E. glomerulatus que apresentou 69 indivíduos no inventário 2. Métodos de 1992, as demais espécies apresentavam menos de cinco indiví- 2.1 Área de estudo duos cada. A exclusão destas espécies do inventário não significa o O estudo foi realizado na Reserva Ecológica do IBGE, uma desaparecimento das mesmas das áreas de estudo, mas é uma con- área de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), localizada seqüência da adoção do diâmetro mínimo de 5 cm, a 30 cm da a 35 km ao sul de Brasília. A Reserva está localizada a 1100 m de superfície, para inclusão no inventário. Dezenove espécies na área altitude e ocupa uma área de cerca de 1350 ha. O projeto foi precoce, seis na modal e nove na tardia apresentaram 100% de desenvolvido em três áreas de cerrado sensu stricto e teve início em sobrevivência de seus indivíduos e as demais espécies apresentaram 1992, estando as três áreas protegidas contra queima por 18 anos. mortalidade acumulada que variou de 12% a 94%. Valores seme- Até o ano de 2000, cinco queimadas prescritas foram realizadas, a lhantes foram observados por Medeiros (2002), Rocha e Silva cada dois anos, no início (junho-precoce), meio (agosto-modal) (1999) e Sato et al. (1998) para vegetação lenhosa de campo sujo e final (setembro-tardia) da estação seca. cerrado sensu stricto. 2.2 Inventário da vegetação Foi registrada mortalidade em todo o intervalo de altura (0,4 a As áreas experimentais de 10 ha (500 m x 200 m) foram di- 10,0 m). Na área precoce cerca de 70% dos indivíduos mortos por vididas em parcelas de 100 m x 100 m. No centro de cinco par- queimada apresentavam altura de até 2 m. Na área modal esta celas alternadas foram demarcadas subparcelas de 50 m x 20 m, proporção inclui os indivíduos com até 3 m de altura e aqueles totalizando 0,5 ha, para a realização do inventário da vegetação com até 4 m na área tardia. Indicando que a época da queima afeta

534 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado de forma diferenciada a estrutura da vegetação. 1. Introdução 4. Conclusão Dentro do bioma do cerrado a vegetação de campo rupestre Independente da época de ocorrência do fogo, sucessivas quei- representa uma das áreas mais críticas e ameaçadas (Costa et al. madas bienais em áreas de cerrado sensu stricto resultam em eleva- 1998, Ministério do Meio Ambiente 1999) no entanto a biologia das taxas de mortalidade com significativas alterações na estrutura reprodutiva e propagação das suas espécies vegetais vêm sendo e composição de espécies da vegetação. As respostas das plantas estudadas apenas recentemente (mas veja Madeira & Fernandes lenhosas a este fator de perturbação são diferenciadas uma vez que 1999, Oliveira & Sazima, 1990; Oliveira & Moreira, 1992; Oli- as queimadas que ocorrem no início da estação seca favorecem a veira & Silva, 1993). rebrota aérea, enquanto que o fogo no meio e no final da estação O conhecimento sobre a fenologia de espécies endêmicas de seca tendem a favorecer as rebrotas basal e/ou subterrânea. campo rupestre é essencial para a conservação e manejo de espécies 5. Agradecimentos nativas e/ou ameaçadas porque a diversidade de estratégias Agradecemos a Sra. Maria Iracema Gonzales, Chefe da Divi- fenológicas parecem ser importantes para a dinâmica e estruturação são de Estudos Ambientais do Cerrado – DIEAC/DF, Reserva Eco- das comunidades de savanas neotropicais (Oliveira et al, 1998) lógica do IBGE, a Brigada de Combate a Incêndios do IBGE, ao O gênero Kielmeyera Mart é endêmico da América do Sul, USDA/FS, ao Programa PELD/CNPq e a CAPES pela bolsa con- compreende cerca de 47 espécies, sendo 45 nativas do Brasil. Pos- cedida a M. N. Sato. sui distribuição ampla principalmente no domínio dos cerrados 6. Referências bibliográficas (Barros e Caldas, 1980, Ratter, 1980, Nardoto et al, 1998). Vários Coutinho, L. M. (1990). Fire in the ecology of the Brazilian Cer- estudos recentes abordaram a biologia reprodutiva, fenologia, dis- rado. In: Goldammer, J. G. (ed.) Fire in the Tropical Biota - Ecosystem tribuição e estrutura populacional de espécies deste gênero que Processes and Global Challenges. Ecological Studies Vol. 8A. Springer ocorrem no cerrado sensu strictu (Oliveira & Sazima, 1990; Olivei- Verlag, Berlim. p. 82-105. ra & Moreira, 1992; Oliveira & Silva, 1993), no entanto nenhuma espécie de campo rupestre havia sido estudada. Kielmeyera regalis é Durigan, G.; Leitão-Filho, H. F.; Rodrigues, R. R. (1994). observada em cerrados da Serra do Cipó, sendo comum em Phytosociology and structure of a frequent burnt cerrado vegetation afloramentos quartzíticos de campo rupestre que ocorrem em alti- in SE-Brazil. Flora, 189:153-160. tudes superiores a 1800 m (Ranieri, obs. pess.). Possui Ferraz-Vicentini, K. R. (1993). Análise palinológica de uma vereda inflorescências racemosas, flores em forma de disco albo-róseas o em Cromínia-GO. Dissertação de Mestrado, Universidade de que confere à esta espécie altíssimo valor ornamental. Brasília. Este estudo teve como objetivo avaliar o comportamento Medeiros, M. B. (2002). Efeitos do fogo nos padrões de rebrotamento fenológico desta espécie ao longo de um ano, relacioná-lo com as de plantas lenhosas, em campo sujo, após queimadas prescritas. Tese de variáveis climáticas e as características morfométricas dos indivíduos. Doutorado, Universidade de Brasília. 2. Material e Métodos Ottmar, R. D.; Vihnanek, R. E.; Miranda, H. S.; Sato, M. N.; O estudo foi realizado na Serra do Cipó, que está situada na Andrade, S. M. A. (2001). Séries de estéreo-fotografias para quantificar porção sul da Cadeia do Espinhaço, no estado de Minas Gerais, o o o a biomassa da vegetação do Cerrado do Brasil central. Volume I. Gen. Brasil, entre os paralelos 19 12‘- 19 20‘S a longitude de 43 40‘ - o Tech. Rep. PNW-GTR-519. US Department of Agriculture, Forest 43 40‘W, e apresenta-se sob forma de um conjunto de elevações em Service, Pacific Northwest Research Station. torno de 1200 m. A região é caracterizada por um clima mesotérmico com invernos secos de 4 a 5 meses, verões chuvosos de 7 a 8 meses Ramos-Neto, M. B.; Pivelo, V. R. (2000). Lightining fires in a com uma média pluvial anual de 1500 mm (veja Madeira & Fernandes brazilian savanna National Park: rethinking management strategies. 1999). Seus solos são normalmente rasos, arenosos, secos e com Environmental Management, 26:675-684. pouca retenção de água (Giulietti et al. 1987). Rocha e Silva, E. P. (1999). Efeito do regime de queima na taxa de Os dados de fenologia foram coletados do mês de janeiro a mortalidade e estrutura da vegetação lenhosa de campo sujo de cerrado. dezembro de 2001. Foram marcados 30 indivíduos de cada espécie Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília. de populações localizadas na Reserva Particular Natural Vellozia, Salgado-Labouriau, M. L.; Ferraz-Vicentini, K. R. (1994). Fire in uma área adjacente ao parque Nacional da Serra do Cipó- MG the Cerrado 32,000 years ago. Current Research in the Pleistocene, (19º 17’S, 43º 35’W) localizada entre o quilômetro 106 e 108 da 11:85-87. rodovia MG 010. Todos os 30 indivíduos tiveram suas alturas Sato, M. N. (2003). Efeito a longo prazo de queimadas prescritas na totais e diâmetros do tronco a 1 cm do solo registrados. Os indiví- estrutura da comunidade de lenhosas da vegetação do cerrado sensu duos foram acompanhados todo dia 20 de cada mês tendo seus stricto. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. números de botões, flores, frutos verdes, frutos maduros e frutos em dispersão registrados. Dessa forma foi possível traçar curvas de Sato, M. N., Garda, A. A.; Miranda, H. S. (1998). Fire effects in número médio de cada estrutura reprodutiva por indivíduo em the mortality rate of woody vegetation in Central Brazil. In: Viegas, rd cada mês. A média de abundância de estruturas reprodutivas por D. X. (ed.) Proceedings of 3 International Conference on Forest Fires indivíduo em cada mês foi relacionada com as variáveis climáticas, Research. Coimbra, Portugal. p. 1777-1784. com a probabilidade de ocorrência das estruturas e com as caracte- Souza, M. H. A. O.; Soares, J. J. (1983). Brotamento de espécies rísticas morfométricas dos indivíduos. arbustivas e arbóreas, posteriormente a uma queimada, no cerradão. Para verificar a relação entre as alturas e os diâmetros dos Anais do Seminário Regional de Ecologia, 3:263-275. indivíduos medidos, foi utilizada a análise de regressão (Zar 1984). Foram estabelecidas classes de altura e diâmetro para as quais foi Fenologia de Kielmeyera regalis (Guttiferae) na calculada a probabilidade de ocorrência de evento reprodutivo. Serra do Cipó, MG. Todas as análises foram realizadas utilizando-se o programa SYSTAT Maria Cecília de Carvalho Silva Ferreira 8.0 for Windows. ([email protected]), Bernardo Dourado Ranieri, Daniel 3. Resultados Negreiros & G. Wilson Fernandes. A análise das variáveis climáticas obtidas para o ano de 2001 Lab. de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, DBG/ICB, CP mostra claramente que houve um período quente e úmido de ja- 486,Universidade Federal de Minas Gerais, CEP 30161-970, Belo neiro a abril no qual a precipitação (média de 110,8 mm) foi maior Horizonte -MG. que a evaporação (média de 100,1 mm) e houve, portanto, um

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 535 Cerrado Volume I excedente hídrico no solo da região. No período frio e seco, quan- período anterior ao início das chuvas e não apresentam sementes do ocorreu déficit hídrico no solo, a precipitação (31,6 mm) foi com dormência. De fato, foi observado pelos autores taxas de menor que evaporação (89,76 mm), o que se estendeu de abril a germinação superiores a 90% em lotes de sementes submetidos à outubro, a partir do qual começou um novo período de chuvas temperaturas constantes de 20 e 25 oC (Ferreira et al, em prep.), abundantes e altas temperaturas. O período de insolação se mos- temperaturas que ocorrem durante o inicio da estação chuvosa. trou mais ou menos constante nos meses de janeiro a abril (média Um longo período de maturação dos frutos foi observado para de 200 h), com uma pequena queda entre maio e julho (média de Kielmeyera regalis, que os mantém fechados até o final da estação 180 h) e uma queda mais acentuada de setembro a dezembro seca. É provável que as cápsulas desta espécie se abram mais (média de 150 h). freqüentemente à partir de agosto devido ao aumento da tempera- O comportamento fenológico de Kielmeyera regalis se mostrou tura ambiente, o que pode causar o rompimento do exocarpo e altamente sincronizado com as variáveis ambientais ao longo do exposição das sementes, que são facilmente destacadas e dispersas ano de 2001. O período de floração se mostrou limitado ao final da pelo vento. Dessa forma as sementes são dispersas no inicio da estação chuvosa sendo que foi observada uma média de 18,5 bo- estação chuvosa, à partir da qual as condições estarão propícias à tões por planta no mês de janeiro, 2,26 no mês de dezembro e 7,4 germinação e estabelecimento das plântulas resultantes. no mês de fevereiro. No entanto, foram observados alguns poucos A distribuição de freqüências anormal para as classes de altura botões em alguns indivíduos no mês de junho. O início do período e com predominância de indivíduos de classes intermediárias indi- de frutificação ocorreu no mês de fevereiro, logo após o pico de cam que a mortalidade de plântulas é grande apesar do sincronismo emissão de botões florais, e se estendeu até o meio da estação seca, de dispersão de sementes com o início da estação chuvosa. A altura no mês de julho. Durante este período foram observados de 1,6 a de 44 cm parece ser o limite para a reprodução, dada à probabili- 2,1 frutos verdes por planta. Nos meses de agosto e setembro, final dade de ocorrência desse evento ter se mostrado de 0, abaixo desta da estação seca, ocorreu o período de dispersão de sementes das classe. A ocorrência de evento reprodutivo parece não estar relaci- populações de Kielmeyera regalis estudadas, sendo que nestes meses onada com o diâmetro do tronco dos indivíduos indicando que os foram registradas médias de cerca de 1,6 frutos em dispersão por tecidos de reserva de água subterrâneos não são importantes indivíduo. No mês de outubro, quando já havia começado o perí- determinantes da ocorrência de floração, que ocorre durante a odo de chuvas, não havia frutos em dispersão nas plantas das popu- estação de excedente hídrico do solo. lações estudadas. Foi possível observar indicativos de que a estratégia fenológica A altura média dos indivíduos amostrados foi de 869 +- 33 cm apresentada por Kielmeyera regalis é determinada pelas variações e o diâmetro médio foi de 1,086 +- 0,296 cm. A distribuição de sazonais ambientais e que a capacidade de floração é determinada freqüências para as classes de altura se mostrou anormal com pre- pela altura dos indivíduos. Nossos dados são importantes para dominância de indivíduos de classes intermediárias (One Sample entender a reprodução e ecologia desta espécie e auxiliarão futuros Kolmogorov Smirnov, P<0.05, N=30) enquanto que a distribuição estudos sobre sua propagação e conservação. de freqüências de diâmetro se mostrou normal (One Sample 5. Referências Bibliográficas Kolmogorov Smirnov, P>0.05). Dos 30 indivíduos que foram acom- Barros, M.A.G.; Caldas, L.S. 1980. Acompanhamento de eventos panhados, oito não apresentaram a ocorrência de evento reprodutivo fenológicos apresentados por cinco gêneros nativos do cerrado (Brasília, durante o ano de 2001 sendo que todos estes possuíam alturas DF). Brasil Florestal 10: 7-14. menores que 95 cm, altura a partir da qual a probabilidade de Costa CMR, G Hermann, CS Martins, LV Lins & IR Lamas ocorrência desse evento se mostrou de 100%. Os indivíduos com 1998. Biodiversidade em Minas Gerais. Fundação Biodiversitas, alturas menores que 44 cm não se mostraram reprodutivos durante Belo Horizonte. o período de estudo. Não foi possível observar relação entre a probabilidade de ocorrência de evento reprodutivo e o diâmetro Giulietti, A.M., Menezes,N.L., Pirani, J.R., Meguro, M.e do tronco dos indivíduos, sendo que tanto classes de diâmetro Wanderley, M.G.L. 1987. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: pequenas quanto medianas apresentaram probabilidades que vari- caracterização e lista das espécies. Boletim de Botânica 9:1-153. aram de 0 a 100%. No entanto, as classes de diâmetro superiores a Madeira JA & Fernandes GW 1999. Reproductive phenology of 1,21 cm apresentaram 100% de probabilidade de evento sympatric species of Chamaecrista reprodutivo. (Leguminosae) in Serra do Cipó, Brazil. Journal of Tropical Ecology 4. Discussão 15: 463-479. O padrão climático observado se mostrou um dos fatores MMA - Ministério do Meio Ambiente. 1999. Ações prioritárias determinantes na indução de eventos fenológicos nas populações para a conservação da biodiversidade do cerrado e pantanal. Mi- de Kielmeyera regalis estudadas. Esta espécie floresce durante a esta- nistério do Meio Ambiente, Funatura, Consevation – International, ção chuvosa assim como observado por Barros (2001) para Fundação Biodiversitas e Universidade de Brasília, Brasília. Kielmeyera speciosa no cerrado de Brasília. K. regalis apresentou um padrão de floração explosivo e limitado à estação chuvosa, prova- Nardoto, G.B.; Souza, M.P & Franco, A.C. 1998. Estabelecimen- velmente devido às condições climáticas, que permitem as flores to e padrões sazonais de Kielmeyera coriacea Mart. Nos cerrados do permanecerem abertas por um maior tempo, ou por ser o período Planalto Central: efeitos do estresse hídrico e sombreamento. Re- de maior atividade de polinizadores (Rathcke & Lacey, 1985). vista Brasileira de Botânica. 21 (3): 313-320. Fatores como disponibilidade de recursos alocados nos tecidos da Oliveira, P.E. 1998. Fenologia e biologia reprodutiva das espécies planta ou disponibilidade sazonal de polinizadores podem ser apon- de cerrado. In Sano, S.M. & Pedrosa de Almeida, S. (eds). CER- tados como pressões seletivas para períodos de floração (Rathcke RADO: Ambiente e flora. EMBRAPA, Palnaltina, DF. & Lacey, 1985). K. regalis explora os polinizadores abundantes do Oliveira, P.E.A & Sazima, M. 1990. Pollination biology of two final da estação chuvosa formando frutos que se desenvolverão até spicies of Kielmeyera (Guttiferae) from cerraso vegetation. Plant o final da estação seca. Systematics Evolution 172: 35-49. A fenologia da floração está relacionada ao período ótimo para dispersão de sementes através do período de desenvolvimento dos Oliveira, P.E.; Moreira, A.G. 1992. Anemocoria em espécies de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Revista Brasileira de frutos (Oliveira et al, 1998). Espécies anemocóricas e com um período ótimo para o estabelecimento de plântulas restrito e sin- Botânica 5: 163-174. cronizado ajustam a dispersão de propágulos para coincidir com o Oliveira, P.E.; Silva, J.C.S. 1993. Reproductive biology of two

536 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado species of Kielmeyera (Guttiferae) in cerrados of Central Brazil. Coleção RPSP e no herbário SPFR, ambos na Faculdade de Filoso- Journal of Tropical Ecology 9: 67-79. fia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Zar, J.H. 1984. Biostatistical Analisys, 2 ed. Prentice-Hall, A similaridade entre as plantas com relação às espécies de Englewood Ciffs, N.J. abelhas visitantes foi analisada utilizando-se o coeficiente de Sorensen (cf. Brower & Zar, 1984), que apresenta um valor máxi- mo teórico de 1,0. Interações fenológicas de Malpighiaceae e abelhas 3. Resultados e Discussão coletoras de óleos em área de cerrado do estado de Vinte e duas espécies de Malpighiaceae pertencentes aos gêne- São Paulo ros Banisteriopsis, Byrsonima Heteropterys, Mascagnia, Peixotoa, Maria Cristina Gaglianone Stigmaphyllon e Tetrapterys, além de Lophanthera lactescens Ducke, Universidade Estadual do Norte Fluminense/ CBB/ Laboratório de espécie introduzida na área, floresceram na E.E. Jataí no período Ciências Ambientais ([email protected]) de estudos. São árvores (Byrsonima coccolobifolia H.B.K. e L. lactescens), arbustos ou arbustos escandentes (Byrsonima intermedia 1. Introdução A.Juss., Heteropterys pteropetala A.Juss., Heteropterys byrsonimifolia A família Malpighiaceae tem ampla distribuição nas regiões A.Juss., Heteropterys coriacea A.Juss., Heteropterys pauciflora A.Juss., tropicais, sendo que, dentre os 60 gêneros reconhecidos, 47 são Peixotoa reticulata Griseb.) e lianas (Banisteriopsis adenopoda (A.Juss.) exclusivamente neotropicais, chegando a cerca de 950 espécies B.Gates, B. anisandra (A.Juss.) B.Gates, B. argyrophylla (A.Juss.) nesta região biogeográfica (Anderson, 1979). Estudos realizados B.Gates, B. campestris (A.Juss.) Little, B. lutea, B. malifolia (Nees & em áreas de cerrado (Heringer et al., 1977) indicaram a importân- Martius) B.Gates, B. muricata (Cavanilles) Cuatrec., B. oxyclada cia desta família na riqueza e abundância de espécies vegetais neste (A.Juss.) B.Gates, B. pubipetala (A.Juss.) Cuatrec., B. stellaris ecossistema. As espécies neotropicais de Malpighiaceae apresen- (Griseb.) B.Gates, Mascagnia cordifolia A.Juss. (Griseb.), tam glândulas calicinais, produtoras de óleos florais, que servem Stigmaphyllon lalandianum A.Juss., S. tomentosum A.Juss., Tetrapterys como atração a polinizadores específicos (Vogel, 1974). Estes glabra A.Juss.), que floresceram ao longo do ano. Os seguintes polinizadores, fêmeas de abelhas especialistas da família Apidae, padrões no florescimento das plantas puderam ser reconhecidos: utilizam os óleos florais na construção de seus ninhos e na alimen- espécies com florescimento intenso, durante curto período de tem- tação das larvas, misturados ao pólen (Vinson et al., 1997). As po e sincronia entre os indivíduos (B. adenopoda, B. anisandra, B. abelhas coletoras de óleos na região neotropical pertencem às tri- argyrophylla, B. lutea, B. malifolia, B. oxyclada, H. coriacea, H. bos Centridini, Tetrapediini e Tapinotaspidini. pteropetala S. lalandianum, T. glabra); de floração prolongada, com As interações entre Malpighiaceae neotropicais produtoras de baixa intensidade ao longo de todo o período e assincronia entre os óleos e abelhas coletoras deste recurso foram estudadas sob diver- indivíduos (B. stellaris); de florescimento prolongado, mas apresen- sos aspectos, como composição de espécies (Pedro, 1994), com- tando um período marcadamente de maior intensidade de flores portamento das abelhas (Rego & Albuquerque, 1989), morfologia (B. pubipetala, Byrsonima intermedia, H. byrsonimifolia, M. cordifolia); das estruturas coletoras de óleos (Neff & Simpson, 1981) e aspec- florescimento prolongado, com dois períodos de grande intensida- tos reprodutivos das plantas (Vogel, 1990). de ao longo do ano (P. reticulata, S. tomentosum). Os objetivos do presente trabalho foram estudar as espécies de Foram identificados dois períodos de maior número de espéci- Malpighiaceae que ocorrem simpatricamente em uma área de cer- es de Malpighiaceae em florescimento: em setembro e em março- rado e os seus visitantes florais e potenciais polinizadores, identifi- abril. No primeiro deles, H. byrsonimifolia, B. anisandra e M. cando possíveis padrões fenológicos no florescimento das plantas e cordifolia, cujas flores se abrem exclusivamente na estação seca, na atividade das abelhas. estavam em fase final de florescimento, enquanto que outras espé- 2. Métodos cies começavam a florescer. Abelhas visitantes, como Centris violacea O estudo foi conduzido na Estação Ecológica de Jataí, em Lep., Centris fuscata Lep., Centris aff. similis (Fab.) e Monoeca sp. Luiz Antônio, SP (21o33’-37’S; 47o45’-51’W), entre 1997 e 2000. estiveram em atividade somente nesta estação do ano. No final da A E.E. Jataí apresenta uma área de 4.532,18 ha e a vegetação é estação chuvosa (março-abril), o grande número de espécies de composta de floresta semi-decídua e cerrado em várias fisionomias, Malpighiaceae deve-se, principalmente, a lianas que florescem ex- sendo que os pontos de observações e coletas compreenderam clusivamente neste período. Stigmaphyllon lalandianum, áreas de cerrado sensu stricto, cerradão e borda de mata de galeria, Banisteriopsis.adenopoda, B. oxyclada, B. muricata, B. malifolia e B. próximas às margens do Rio Mogi-Guaçu. O clima na região é do argyrophylla floresceram intensamente e exclusivamente neste perío- tipo Aw (classificação de Köppen), com temperaturas mais altas na do. Estas espécies iniciam a antese em horário semelhante (entre estação chuvosa (novembro a abril) e as mais baixas de maio a 5:30 e 6:30h) sendo principalmente atrativas no primeiro dia de outubro (Pires et al., 2000). antese, quando exalam perfume intenso e apresentam coloração di- As espécies de Malpighiaceae foram localizadas e observações ferenciada das pétalas. Os horários de visitação das abelhas às flores quanto ao florescimento foram realizadas em visitas quinzenais à de S. lalandianum, B. adenopoda, B. oxyclada e B. malifolia foram área de estudos. Os visitantes florais foram observados quanto ao semelhantes, sendo que o pico de atividade ocorreu entre 8 e 12h. comportamento sobre as flores e recurso coletado. Fêmeas foram Foram amostradas 45 espécies de abelhas coletoras de óleos a capturadas com rede entomológica, logo após deixar as flores, para flores de 15, dentre as 22 espécies de Malpighiaceae encontradas identificação taxonômica e estudo da localização do pólen no corpo. na área. Estas abelhas pertencem a Centris, Epicharis, Monoeca, Foram dedicadas pelo menos 10 horas de observações em cada Paratetrapedia e Tetrapedia. Esta riqueza de espécies encontrada na espécie de planta. Lianas com florescimento no final da estação E.E. Jataí é bastante significativa, como já havia sido sugerido chuvosa (Banisteriopsis adenopoda, Banisteriopsis malifolia, através de inventário realizado nesta área de conservação (Mateus, Banisteriopsis oxyclada e Stigmaphyllon lalandianum), foram 1998), e quando se compara aos dados publicados para outras investigadas quanto à freqüência das abelhas visitantes durante um áreas de cerrado ou de outros ecossistemas (Pedro, 1994; Silveira dia (6 às 18h), realizando-se a captura de todas as abelhas visitan- & Campos, 1995; Sigrist, 2001). tes. O número de flores amostradas foi estimado, fazendo-se a Maior riqueza de espécies de abelhas foi observada em dois contagem das flores em antese em quadrantes de 15x15cm e esti- períodos: no final da estação chuvosa (março-abril) e em outubro. mando-se para a área total abrangida na coleta das abelhas. O primeiro período coincidiu com grande número de lianas (dos As abelhas e plantas foram depositadas, respectivamente, na gêneros Banisteriopsis e Stigmaphyllon) em florescimento, enquanto

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 537 Cerrado Volume I que o segundo está associado ao pico de florescimento de Byrsonima Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. 159 pp. intermedia. Esta espécie recebeu visitas de 58% das espécies de Neff, J.L. & Simpson, B.B. (1981). Oil-colecting structures in abelhas amostradas. Flores de B. intermedia são fontes de óleos e Anthophoridae (Hymenoptera): morphology, function, and use in pólen para abelhas. Seu pólen pequeno (12-13µm) e seco permite systematics. J. Kansas Entomol. Soc., 54(1): 95-123. a coleta por vibração, como realizada por fêmeas de Centris e Pedro, S.R.M. (1994). Interações entre abelhas e flores em uma Epicharis. As flores de S. lalandianum e Banisteriopsis spp. apresen- área de cerrado no NE do estado de São Paulo: abelhas coletoras tam diâmetro dos grãos maior (~ 34-56µm) e, de maneira geral, de óleo (Hymenoptera: Apoidea: Apidae). Anais do Encontro sobre não são coletados ativamente. Porém, parte dos grãos aderidos ao Abelhas 1: 243-255. Ribeirão Preto (SP). corpo das abelhas durante a coleta de óleos é retirada pelas pernas anteriores e médias, durante movimentos de grooming, sendo acu- Pires, A.M.Z.C.R.; Santos, J.E. & Pires, J.S.R. (2000). Caracteri- mulados nas escopas e transportados para os ninhos. zação e diagnóstico ambiental de uma unidade da paisagem. Estudo de Espécies de Monoeca estiveram ativas principalmente no final caso: Estação Ecológica de Jataí e Estação Experimental de Luiz Antô- da estação chuvosa e durante a estação seca, em flores de Banisteriopsis nio. p. 1-26 In J.E.Santos & J.S.R.Pires (eds.) Estação Ecológica de spp., Stigmaphyllon lalandianum e Heteropterys byrsonimifolia. Espé- Jataí, vol. 1. Estudos Integrados em Ecossistemas, Editora Rima, cies de Epicharis apresentaram atividade principalmente na estação São Carlos, SP. 346pp. chuvosa, enquanto que Centris também ocorreu durante a estação Rego, M.M. & Albuquerque, P.M.C. (1989). Comportamento das abe- seca (com grande riqueza de espécies em agosto-setembro). lhas visitantes de murici, Byrsonima crassifólia (L.)Kunth, Malpighiaceae. O comportamento de coleta de óleos das fêmeas de Centris e Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi, ser. Zool., 5(2): 179-193. Epicharis é bastante semelhante nas flores das diferentes espécies de Silveira, F.A. & Campos, M.J.O. (1995). A melissofauna de Malpighiaceae, cuja morfologia floral apresenta caracteres bastan- Corumbataí (SP) e Paraopeba (MG) e uma análise da biogeografia te conservadores dentro da família (Anderson, 1979). No entanto, das abelhas do cerrado brasileiro (Hymenoptera, Apoidea). Revista o tamanho do visitante, associado à morfologia dos estames, pode Brasileira de Entomologia 39(2): 371-401. dificultar a transferência de pólen interespecífico. Sigrist, M.R. (2001). Biologia reprodutiva de doze espécies simpátricas Altos índices de similaridade de espécies de abelhas visitantes de Malpighiaceae em mata semidecídua do sudeste brasileiro. Tese de ocorreram entre Banisteriopsis anisandra e B. pubipetala (0,86), B. Doutorado. IB-UNICAMP, Campinas, SP. adenopoda e B. oxyclada (0,69), S. lalandianum e B. adenopoda (0,58) e S. lalandianum e B. malifolia (0,57). Banisteriopsis anisandra Vinson, S.B.; Williams, H.J.; Frankie, G.W.; Shrum, G. (1997). e B. pubipetala floresceram sincronicamente durante a estação seca, Floral lipid chemistry of Byrsonima crassifolia (Malpighiaceae) and a sendo o florescimento de B. pubipetala mais extenso. use of floral lipids by Centris bees (Hymenoptera, Apidae). Biotropica S. lalandianum, B. adenopoda, B. oxyclada e B. malifolia flores- 29(1): 76-83. cem intensamente no final da estação chuvosa, seqüencialmente. A Vogel, S. (1974). Ölblumen und ölsammelnde Bienen. Tropische segregação temporal no florescimento possivelmente previne a trans- und Subtropische Pflanzenwelt 7. Wiesbaden: Steiner. ferência de pólen interespecífico pelos mesmos polinizadores. Vogel, S. (1990). History of the Malpighiaceae in the light of 4. Conclusões pollination ecology. Mem. N.Y. Bot. Gard., 55: 130-142. A grande riqueza de espécies de Malpighiaceae e abelhas coletoras de óleos na Estação Ecológica de Jataí indica a importância desta área para populações de plantas e de potenciais polinizadores, consideran- Aspectos ecológicos de Physalaemus cuvieri (Anura: do que as abelhas coletoras de óleos são indicadas como importantes Leptodactylidae) em duas áreas de Cerrado do polinizadores também de outras plantas fontes de pólen e néctar. Distrito Federal Distintos padrões fenológicos puderam ser reconhecidos no Maria D. M. Silvaa; Klarissa T. R. Meiraa; Adriana Bocchiglieri b& florescimento das plantas e composição de espécies de abelhas Renato G. Fariac visitantes. Byrsonima intermedia é importante fonte de pólen e óle- a Aluno de graduação Faculdade da Terra de Brasília os. Além desta espécie, Stigmaphyllon lalandianum, Banisteriopsis ([email protected]) b Docente do curso de Ciências c adenopoda, B. oxyclada e B. malifolia receberam visitas de grande Biológicas, Faculdade da Terra de Brasília; Pós-graduação em número de espécies de abelhas, apresentando sobreposição na com- Biologia Animal, Universidade de Brasília posição de espécies visitantes. A segregação temporal no florescimento destas espécies de Banisteriopsis e Stigmaphyllon, no 1. Introdução final da estação chuvosa, possivelmente previne a transferência de Physalaemus cuvieri, pertence a família Leptodactylidae que pólen interespecífico. está representado por aproximadamente 900 espécies e mais de 40 (Agradecimentos: a Dra. Maria Cândida Mamede (IBot-SP) gêneros (Heyer et al., 1988), distribuídas desde o sudoeste da pela identificação das plantas; Dr. Fernando C.V. Zanella (UFCG) América do Norte até a América do Sul e oeste das Índias (Zug et pelo auxílio na identificação das espécies de Centris; Sr. Sebastião al., 2001), apresenta hábito noturno, embora na estação reprodutiva Oliveira pelo auxílio no trabalho de campo; ao Instituto Florestal os machos podem ser ouvidos mesmo nas horas mais quentes do pela permissão para desenvolver este estudo na E.E. Jataí; ao CNPq, dia (Bokermann, 1962). Apresenta distribuição ampla podendo pela bolsa de doutorado concedida). ser encontrado em diversos ambientes mas, freqüentemente, em 5. Bibliografia proximidades de poças d’água (Haddad et al, 1988). São típicos de formações abertas do cerrado e caatinga, podendo ser encontrado Anderson, W.R. (1979). Floral conservatism in neotropical também em regiões de mata (Feio et al, 1998). O presente trabalho Malpighiaceae. Biotropica 11(2): 219-223. apresenta informações sobre aspectos ecológicos de Physalaemus Brower, J.E. & Zar, J.H. (1998). Field and Laboratory Methods for cuvieri, tais como microhabitats e presas mais utilizados, bem como General Ecology. Brown Company Publishers, USA: 273 pp. horários de atividade, além de comparar dieta dos indivíduos dessa Heringer, E.P.; Barroso, G.M.; Rizzo, J.A.; Rizzini, C.T. (1977). A espécie para duas localidades (Fazenda Sucupira – EMBRAPA-DF flora do cerrado. p. 211-232. In Ferri, M.G. (coord.) IV Simpósio e Campus II da Faculdade da Terra de Brasília). sobre o Cerrado. Itatiaia, EDUSP. 2. Métodos Mateus, S. (1998). Abundância relativa, fenologia e visita às flores pelos As coletas de dados foram realizadas durante a estação chuvo- Apoidea do cerrado da Estação Ecológica de Jataí – Luiz Antônio – SP. sa, entre os meses de setembro de 2002 a fevereiro de 2003, utili- zando-se dois métodos: procura ativa (Fazenda Sucupira), onde

538 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado toda a área que margeava os dois açudes era sistematicamente po dominante em número e biomassa no Brasil Central (Negret & vistoriada em busca dos animais, uma vez por semana; e através de Redford 1982), o que poderia ser uma outra causa de seu grande armadilhas de queda (Campus II) do tipo alçapão (Pitfall traps), uso na dieta de P. cuvieri quando comparados aos demais itens consistindo de 10 conjuntos de armadilhas dispostos em Y. As alimentares. armadilhas foram construídas com baldes plásticos de 20 litros e Além de invertebrados foi verificada a presença de material cercas de lona plástica e tecido, com aproximadamente meio metro vegetal (Gramineae e Asteraceae), em 20,57% dos estômagos de de altura e cinco de comprimento. Os “pitfalls” permaneceram machos e 11,71% das fêmeas. O uso de material vegetal na dieta de abertos por intervalos de sete dias, intercalados por igual período anuros, normalmente é dado como acidental, nestes casos os anuros no qual permaneciam fechados. Durante as buscas ativas, foram ingeririam este tipo de material ao tentar predar artrópodes sobre anotados os horários de encontro, sítios de vocalização e atividade a vegetação (Anderson et al., 1999). Outra possibilidade seria a (vocalizando ou não). ingestão proposital, que nestes casos o material poderia auxiliar na Os animais coletados foram medidos o comprimento rostro- eliminação de parasitas intestinais e na digestão de alguns itens cloacal (CRC) e o comprimento (CC) , largura (LC) e altura da como os exoesqueletos de insetos como relatado por Evans & cabeça (AC) com o auxílio de um paquímetro. Para análise da Lampo apud Anderson et al. (1999). Em alguns espécimes de dieta, os estômagos e intestinos foram abertos e seu conteúdo Physalaemus foi verificada a presença do parasita intestinal Capilaria analisado em uma placa de Petri, com auxílio de uma lupa, e os sp., porém seria necessário investigações mais direcionadas para itens identificados até o nível de ordem. Os itens foram contados e confirmar os efeitos do material vegetal no controle desses vermes medidos o maior comprimento e largura (mm) com auxílio de um e/ou mesmo no auxílio da digestão de material mais rígidos. paquímetro. Os volume das presas foi estimado através da fórmula 4. Conclusões do volume de um elipsóide. Foram também calculados às larguras Physalaemus cuvieri pode ser encontrado em diversos ambien- de nicho para machos e fêmeas através do índice de diversidade de tes sendo mais freqüentes em poças d’água. A dieta de machos e Simpson (Simpson, 1949), e a sobreposição das dietas seguindo fêmeas foi semelhante na composição, tamanho e volume. Porém, Pianka (1973). diferiram na proporção em que cada item foi utilizado. Os itens 3. Resultados e Discussão mais freqüentes para ambos os sexos foram cupins e formigas. Os Physalaemus cuvieri, apresentou maior atividade entre as 19:00 indivíduos do Campus II, apresentaram tamanhos ligeiramente e 20:00 h, com maioria dos indivíduos tendo sido encontrada menores que os espécimes encontrados na Fazenda Sucupira, o que vocalizando em poças d’água. É provável que as temperaturas nes- poderia estar relacionado a disponibilidade dos recursos alimenta- se período sejam as mais favoráveis à atividade de vocalização de P. res encontrados em cada área. Uma outra possibilidade seria que cuvieri, bem como de outras espécies como apontado por Pombal os indivíduos do Campus II sejam espécimes em sua maioria ima- (1997) em estudo com taxocenose de anfíbios, na Serra de turos que se encontravam dispersando, visto a distância relativa- Paranapiacaba-SP. Esse autor aponta ainda que talvez as fêmeas, mente longa do corpo d’água mais próximo o qual se encontravam. aptas a reprodução possam ter benefícios se os encontros com os Os indivíduos da Fazenda sucupira já foram coletados às margens machos ocorrerem no início da noite, pois as mesmas teriam mais de açudes, locais propícios ao acasalamento dessa espécie, o que tempo para desovar e reduziriam as chances de predadores visual- justificaria de certo modo seu maior tamanho. mente orientados encontrar e predar o casal em amplexo. Outras 5. Referências Bibliográficas possibilidades seriam que o forrageamento ocorra principalmente Anderson, A. M.; Haukos, D. A. & Anderson, J. T. 1999. Diet na segunda metade da noite (Haddad, 1991), ou mesmo que a composition of three anurans from the Playa Wetlands of northwest queda de temperatura nesse período também restrinja a atividade Texas. Copeia 1999: 515-520. desses animais (Pombal, 1997). Bokermann, W. C. A. 1962. Observações biológicas sobre Foram coletados 286 indivíduos (113 na área da Fazenda Physalaemus cuvieri Fitz. 1826 (Amphibia, Salientia). Rev. Bras. Sucupira e 173 no Campus II da Faculdade da Terra de Brasília), Biol. 22: 391-399. sendo 175 machos e 111 fêmeas, desses aproximadamente 4,54% dos estômagos estavam totalmente vazios. A análise do conteúdo Feio, R.N.; Braga, U.M.L.; Wiederhecker, H. & Santos, P.S. 1998. estomacal mostrou a presença de 12 categorias de presas, sendo Anfibios do Parque Estadual do Rio Doce, (Minas Gerais). Univer- Isoptera e Hymenoptera (Formicidae) as mais freqüentes, para sidade de Viçosa. Instituto Estadual de Florestas Viçosa/MG. 32p. ambos os sexos. As larguras de nicho trófico estimadas para machos Haddad, C. F. B. 1991. Ecologia reprodutiva de uma comunidade e fêmeas de P. cuvieri foram respectivamente 1,901 e 1,842 para de anfíbios anuros na Serra do Japi, Sudeste do Brasil. Tese de número e 1,824 e 1,198 para o volume de presas ingeridas. Os Doutorado. Universidade Estadual de Campinas/SP. itens volumetricamente mais importantes para machos e fêmeas Haddad, C. F. B.; Andrade, G. V. & Cardoso, A. J. 1988. Anfíbios também foram Isoptera e Hymenoptera (Formicidae). Itens como anuros no Parque Nacional da Serra da Canastra, Estado de Minas anelídeos, ortópteros, homópteros e neurópteros foram poucos Gerais. Brasil Florestal 64: 9-20. representativos nos conteúdos estomacais de machos e fêmeas. Heyer, W.R.; Rand, A.S.; Gonçalves, C.A. & Peixoto, O.L. 1988. Physalaemus cuvieri coletados nas duas localidades utilizaram tanto Decimations, extinctions, and colonizations of frogs populations presas sedentárias quanto ativas como cupins e formigas. Ambos os in southeast Brasil and their evolutionary implications. Biotropica sexos utilizaram categorias de presas semelhantes, principalmente 29(3): 230-235. insetos, com uma alta sobreposição numérica (0,998) e volumétrica (0,949). Porém, foram verificadas diferenças entre os sexos nas Negret, H.C. de & K.H. Redford. 1982. The Biology of Nine proporções dos itens utilizados, sendo que as fêmeas ingeriram Termite Species (Isoptera: Termitidae) from the Cerrado of Cen- maior quantidade de cupins quando comparadas aos machos. Pro- tral Brazil. Psyche, 89: 81-106. vavelmente as diferenças estejão relacionadas a custos energéticos Pombal, J. P. J. 1997. Distribuição espacial e temporal de anuros diferenciados na produção dos gametas (Ryan, 1992). Isto levaria (Amphibia) em uma poça permanente na serra de Paranapiaca, as fêmeas a consumirem uma maior quantidade de um ou mais Sudeste do Brasil. Rev. Brasil. Biol. 57: 583-594. itens. Contudo, os machos além dos custos relacionados a produ- Pianka, E. R. 1973. The structure of lizard communities. Annu. ção dos gametas, possuem outros, associados à vocalização para a Rev. Ecol. Syst. 4:53-74. atração das fêmeas (Ryan, 1992), que provavelmente devam ser menores que os da ovogênese. Isoptera seria provavelmente o gru- Ryan, M. J. 1992. Costs of reproduction. In: Feder, M. (Eds). Physiology

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 539 Cerrado Volume I of the amphibians. Universidade de Chicago. Pp: 426-434. Para o teste de germinação foi feito um delineamento experi- Sympson, E. H. 1949. Measurament of diversity. Nature. 163:688. mental casualizado utilizando-se dez repetições de 20 sementes em cada tratamento. As sementes foram submetidas a cinco trata- Zug, G. R.; Vitt, L. J. & Caldwell, J. P. 2001. Herpetology: An mentos: (1) escarificação com ácido sulfúrico durante um minuto, Introductory Biology of amphibians and Repililes. 2ad. Academic (2) escarificação com ácido sulfúrico durante cinco minutos (3) Press. USA. 630p. escarificação com água quente (70 e 100oC), (4) escarificação me- cânica com lixa e (5) controle. As sementes tratadas com água Germinação de Sementes de Araçá (Psidium firmum: quente permaneceram nestas condições até a temperatura da água Myrtaceae) sob Diferentes Tratamentos de atingir 50oC (aproximadamente 30 minutos). As sementes de to- Escarificação e Tempo de Incubação dos os tratamentos foram imersas em solução fungicida (Micostatin) Maria das Dores Magalhães Velosoa, Yule Roberta Ferreira Nunesa, na concentração de 1:1000. Além disto, manteve-se um tratamen- Marianna Rodrigues Santosb, Michelle Bonfim da Silva Fernandesb, to controle sem fungicida para testar existência de interferência do Marcílio Fagundesa & Bruno Gini Madeiraa produto na germinação. Finalmente, as sementes foram distribuí- aDepartamento de Biologia Geral e bGraduação em Biologia – das em papel filtro sobre uma espuma de 1cm de espessura alocados UNIMONTES ([email protected]) em placa de petri. Em cada placa foram colocados 20 ml de água destilada. Os experimentos foram conduzidos em germinador com 1. Introdução temperatura e luz alternadas (30°C luz/12 horas; 20°C escuro/12 A germinação é um dos pontos críticos no ciclo de vida das horas). Foram consideradas germinadas as sementes cuja radícula plantas. De modo geral, a disponibilidade de água para a hidratação havia emergido. Os efeitos dos diferentes tratamentos e do tempo constitui um dos fatores determinantes no processo germinativo de incubação na germinação das sementes foram avaliados através da da maioria das plantas (Popinigis 1977, Baskin & Baskin 1998). A Análise de Variância (ANOVA) para medidas repetidas (Zar 1996). absorção da água por sua vez é determinada inicialmente pela 3. Resultados e Discussão permeabilidade do tegumento, a qual pode ser acelerada pela re- Os tratamentos (gl = 6; F=140,86; p < 0,01), o tempo de moção ou pelo enfraquecimento deste tegumento (Popinigis 1977). permanência no germinador (gl = 14; F = 99.84; p < 0,01) e a Assim, tratamentos de escarificação química e mecânica têm sido interação tratamento x tempo (gl = 84; F = 17,91; P < 0,01) usados como mecanismo de quebra de dormência. A dormência afetaram a germinação das sementes de P. firmum. As maiores das sementes, para ser efetiva como mecanismo de sobrevivência da taxas de germinação foram obtidas nos grupos controle (X = 89,5%), espécie, deve variar entre indivíduos e principalmente entre espécies controle com fungicida (X = 87,0%) e água quente (X = 82,0%). (Bianchetti 1989). Entretanto, na prática silvicultural, o ideal é que Foi observado que as maiores taxas de germinação ocorreram entre sementes de uma espécie tenham germinação rápida e homogênea o 12o e 16o dias de incubação, com um pico de germinação no 14o para produção de mudas (Torres e Santos 1994). Deste modo, a dia. Deste modo, as taxas de germinação e de velocidade encontra- dormência das sementes se torna um problema para o manejo flores- das para o grupo controle e escarificadas com água quente (70o C) tal e métodos para a sua superação devem ser utilizados. foram consideradas altas, com índices bastante próximos. Este Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a capacidade fato indica que a germinação das sementes desta espécie não neces- germinativa de sementes de araçá (Psidium firmum) sob diferentes sita de tratamentos para quebra da dormência das sementes, que processos de escarificação, visando a maximização da produção de venham a contribuir com o aumento da capacidade de germinação. mudas desta espécie. Desta forma, este estudo visa fornecer infor- Do mesmo modo, o uso de produto químico controlador de fun- mações básicas sobre a propagação desta espécie, contribuindo gos ou bactérias que pode auxiliar o processo germinativo, aumen- com programas de restauração ambiental, uma vez que os frutos de tando a taxa de germinação das sementes (Von Pinho et al. 1995, P. firmum são atrativos para a avifauna regional. Por outro lado, os Silveira et al. 2001), não interferiu significativamente no processo frutos de P. firmum também apresentam potencialidade para serem de germinação, podendo ser dispensado para esta espécie, nas con- usados na produção de sucos, surgindo a possibilidade de produ- dições estabelecidas neste trabalho. ção de mudas para o repovoamento de áreas naturais, contribuin- Apesar de vários trabalhos abordarem o uso do ácido sulfúrico do com programas agroextrativistas no cerrado norte-mineiro. como tratamento adequado para quebra de dormência de algumas 2. Métodos sementes (veja Maeda & Lago 1986, Malavasi 1988, Rodrigues et O Psidium firmum Berg (Myrtaceae), conhecido popularmen- al. 1990, Araújo et al. 2000), os tratamentos com ácido sulfúrico te como araçá, araçá-do-campo, goiabinha e goiaba-do-campo, é durante um e cinco minutos de imersão (médias de 36,5 e 8,5 %, um arbusto com copa esparsa, variando de 50 a 70cm de altura. O respectivamente) apresentaram baixas taxas de germinação. Deste caule apresenta casca lisa, folhas geralmente avermelhadas quando modo, os resultados indicam que estes tratamentos afetaram nega- jovens e flores brancas. Seus frutos são arredondados, com polpa tivamente a germinação das sementes, com o possível comprome- branca-amarelada, aromática, contendo muitas sementes. A dis- timento do embrião. Da mesma forma, as sementes que passaram persão das sementes normalmente é feita por mamíferos e aves. A pelos tratamentos de escarificação mecânica e térmica (médias de floração ocorre nos meses de novembro e dezembro e os frutos 9,0 e 4,0% respectivamente), também demonstraram baixo índice amadurecem entre fevereiro e março. O araçá ocorre caracteristi- de germinação. Este fato sugere que estes tratamentos danificaram camente em veredas, várzeas, campos, margens de rios/represas e o embrião das sementes, provavelmente porque as sementes do regiões perturbadas com lençóis freáticos superficiais (Almeida et araçá são pequenas, inviabilizando o desenvolvimento do embrião. al. 1998, Mendonça et al. 1998). 4. Conclusões Nos estudos de geminação foram coletados frutos maduros de Atualmente, existem diversos trabalhos sobre germinação de 17 plantas matrizes de P. firmum, localizados na Área de Preserva- sementes de espécies nativas. Apesar disto, este número é ainda ção da COPASA, situada no Município de Juramento (MG). Esta muito pequeno em relação a grande diversidade de espécies vege- área está inserida entre os Domínios do Cerrado e da Caatinga tais de ambientes tropicais, especialmente da caatinga. Portanto, apresentando como principais fisionomias a mata seca (Floresta estudos sobre o potencial germinativo de espécies nativas, princi- Estacional Decidual) e o cerrado sentido restrito (Nunes et al. palmente das regiões do semi-árido brasileiro, tornam-se essenciais 2002). Após coletados, os frutos foram abertos e as sementes para o desenvolvimento de técnicas de reabilitação de habitats e lavadas e separadas. Estas sementes foram armazenadas durante fornecimento de novos produtos para o setor agroextrativista. 15 dias em condições ambientais normais.

540 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

5. Referências Bibliográficas cia para a manutenção da diversidade biológica. Segundo a Almeida, S.P.; Proença, C.E.B; Sano, S.M.; Ribeiro, J.F. (1998). Conservation International (2000), o cerrado é um dos biomas Cerrado: espécies vegetais úteis. EMBRAPA, Planaltina. 464p. definidos como hotspots de biodiversidade, ou seja, é composto por áreas com alto grau de diversidade biológica em termos de Araújo,E.F.; Araújo, R.F.; Silva, R.F.; Gomes, J. M. (2000). Avalia- endemismo e extremamente ameaçadas. Entretanto, não existe ção de diferentes métodos de escarificação das sementes e frutos de legislação federal específica para a sua preservação e o Código Stylosanthes viscosa SW. Revista Brasileira de Sementes 22(1): 18-22. Florestal considera que até 80% da sua área é passível de autoriza- Baskin, C.C.; Baskin, J.M. (1998). Seeds: ecology, biogeography, and ção para corte raso. evolution of dormancy and germination. Academic Press. London. 666p. Segundo a Base de Dados Tropicais da Fundação André Tosello, Bianchetti, A.(1989). Tratamentos pré-germinativos para semen- além de incorporar técnicas mais modernas de conservação, os tes florestais. Anais do 2º Simpósio Brasileiro Sobre Tecnologia de programas agrícolas para áreas de cerrado devem reter uma parte Sementes Florestais. Atibaia. P. 237-247.. da área com sua vegetação nativa e buscar a implementação de Maeda, J.A. & Lago, A.A. (1986).Germinação de sementes de Unidades de Conservação (UCs). mucuna-preta após tratamentos para superação da impermeabilidade A carência de UCs na região do cerrado torna-se evidente do tegumento. Revista Brasileira de Sementes 8(1): 79-84. quando se analisa cada bioma em relação à área destinada para sua conservação. De acordo com dados publicados pelo IBAMA, ape- Malavasi, M. M.(1988). Germinação de sementes. In: Piña- nas 2,09% desse bioma encontra-se protegido sob a forma de UCs, Rodrigues, F.C.M. (Coord.). Manual de análise de sementes florestais. sendo 0,75% pelas unidades de uso sustentável e 1,34% pelas Campinas, Fundação Cargil. 100p. unidades de proteção integral. Mendonça, R.C.; Felfili, J.M.; Walter, B.M.T; Silva-Junior, M.C.; Moraes (2003) salienta que 48% da BHRB encontra-se protegi- Rezende, A.V.; Filgueiras, P.S.; nogueira, P.E. (1998). Flora vascular da pela legislação ambiental na forma de Área de Preservação Perma- do cerrado. In: Sano, S.M; Almeida, S.P. (eds.). Cerrado: ambiente nente (14%), Área de Proteção Máxima (6%), Reserva Legal (5%) e e flora. EMBRAPA, Planaltina. p. 289-556. Área de Proteção Ambiental (23%), porém as determinações Nunes, Y.R.F.; Fagundes, M.; Melo, G.A.; Castro, G.C.; Pacheco, estabelecidas por essa legislação não têm sido cumpridas, uma vez que M.V.; Soares, M.P.; Mendonça, R.L; Santos, R.M. (2002). Germi- o processo de desmatamento da vegetação continua sendo observado nação de sementes das espécies arbóreas mais importantes da Área de na área de estudo. Assim, este trabalho apresenta uma proposta de Reserva da Barragem do Rio Juramento. Relatório Técnico. zoneamento ambiental para a BHRB, visando o direcionamento do UNIMONTES, Montes Claros. 60p. uso do solo e a conservação dos fragmentos de cerrado. Popinigs, F..(1985). Fisiologia de Sementes. Agriplan, Brasília. 285p. 2. Métodos O mapeamento do uso e ocupação do solo para 1972 foi Rodrigues, E.H. ; Aguiar, I.B.; Sander, R. (1990). Quebra de obtido através do método visual de interpretação das fotografias dormência de sementes de três espécies do gênero Cássia. Revista aéreas em escala 1:25.000 (Brasil. IBC, 1972) e o mapeamento do Brasileira de Sementes 12(12): 17-25. uso e ocupação do solo de 2002 foi realizado pelo pesquisador Silveira, A.P.; Araújo, E.L.; Araújo, F.S. (2001). Influência da assepsia Claudio Cançado, responsável pelo projeto de pesquisa Zoneamento na germinação de sementes de Auxemma Miers (Boraginaceae). de risco potencial de inundações como ferramenta do planejamen- 52o Congresso Nacional de Botânica e XXIV Reunião Nordestina de to ambiental em bacias hidrográficas – Estudo de caso: Bacia do Botânica. Resumos. Sociedade Botânica do Brasil e Universidade Rio Bonito (SP) cadastrado na FAPESP sob o n° 99/0381-3, a Federal da Paraíba, João Pessoa. p. 41. partir da classificação supervisionada de uma composição colorida Torres, S.B.; Santos, D.S.B. (1994). Superação de dormência em TM/LANDSAT, bandas 3, 4 e 5. sementes de Acacia senegal (L) Willd. E Parkinsonia aculeata (L.). A Carta de Aptidão Agrícola das Terras foi confeccionada com Revista Brasileira de Sementes 12(1): 54-57. base nas metodologias apresentadas por Ramalho Filho et al. (1978) Von Pinho, E.V.R.; Cavarini, C.; Alexandre, A.D.; Menten, J.O.M.; e Rosa (1995), sendo classificada em 4 classes: Classe I – terras Morais, M.H.D. (1995). Efeitos do tratamento fungicida sobre a com aptidão regular para lavoura; Classe II – terras com aptidão qualidade sanitária e fisiológica de sementes de milho (Zea mays restrita para lavoura e aptidão boa para pastagem plantada; Classe L.). Revista Brasileira de Sementes 17(1): 23-28. III – terras com aptidão boa para silvicultura e pastagem natural; Classe IV – terras sem aptidão agrícola. th Zar, J. H. (1996). Biostatistical analysis. 3 ed. Prentice-Hall, New A partir do cruzamento dos mapeamentos da ocupação urbana Jersey, USA. 121p. em 1971 e 2002, extraídos das Cartas de Uso e Ocupação do Solo, foi elaborado um produto cartográfico indicativo da expansão ur- Proposta de zoneamento ambiental da Bacia do Rio bana ocorrida num período de 30 anos, a Carta de Expansão Urba- Bonito (SP): subsídios para a conservação de na 1972 – 2002, integrada à Carta de Aptidão Física ao Assenta- remanescentes de cerrado mento Urbano (Moraes, 2003), resultando na Carta de Potencial Maria Eugênia Bruck de Moraes¹ e Reinaldo Lorandi² à Expansão Urbana, classificada em quatro níveis: muito baixo, [email protected] baixo, médio e alto. 1 Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais - Universidade Para a proposta de zoneamento ambiental da bacia foram uti- Estadual de Santa Cruz, Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 16, Ilhéus lizados os seguintes documentos cartográficos: Carta de Aptidão (BA) – CEP 45650-000 Agrícola das Terras, Carta de Potencial à Expansão Urbana, Carta 2 Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal de São de Legislação Ambiental (Moraes, 2003) e Carta de Risco Poten- Carlos, Rodovia Washington Luiz, Km 235, São Carlos (SP) – CEP cial à Erosão (Torezan, 2000). Esses documentos foram sobrepos- 13565-905 tos através de ferramentas disponíveis no módulo overlay do SIG Idrisi, possibilitando a produção da Carta de Zoneamento 1. Introdução Ambiental, compartimentada em 4 zonas: zona de atividades urba- O cerrado - uma das fisionomias mais ameaçadas do Brasil e do nas, zona de produção industrial e outros usos, zona de produção Estado de São Paulo - representa o principal bioma da área de agrossilvipastoril e zona de proteção ambiental. estudo, a Bacia Hidrográfica do Rio Bonito (BHRB), e está desa- 3. Resultados e Discussão parecendo, apesar do reconhecimento científico de sua importân- Quanto à aptidão agrícola das terras, a primeira classe

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 541 Cerrado Volume I identificada abrange cerca de 12% da BHRB e corresponde às pelas áreas legalmente protegidas, compostas por 1300ha de cerra- terras com limitações moderadas à produção sustentada da lavou- do, entre cerrado stricto sensu e cerradão, assim como por fragmen- ra, que apesar de reduzirem a produtividade, são suplantadas pelo tos de mata ciliar e mata de encosta. Juntos, esses remanescentes aumento dos insumos necessários. de vegetação nativa perfazem um total de pouco mais de 35%. A classe II, ocupando 22% da área, difere da classe I com Por outro lado, nesta zona também se encontram extensas áreas relação ao nível de limitação para a lavoura, considerado alto e ocupadas por cana e laranja (38,4%), além de pastagens (19,2%) e cujo aumento nos insumos, muitas vezes não justifica os custos reflorestamentos (2,3%). Porém, acredita-se que o fato mais agravante elevados. Apesar disso, essas terras apresentam boa aptidão para a é a existência de áreas de mineração, que mesmo correspondendo a pastagem plantada, com um mínimo de restrições que não redu- menos de 1%, deveriam ser desativadas e recuperadas. zem a produtividade ou seus benefícios, sem um aumento nos 4. Conclusão insumos acima de um nível aceitável. As classes de aptidão agrícola apresentadas representam indi- A classe III ocupa apenas 9% da bacia e é formada por terras cadores do uso agrícola mais intensivo possível, outrossim, deve-se com aptidão boa tanto para a silvicultura quanto para a pastagem ter em mente que outros dados considerados de interesse, como natural, entretanto essas áreas são consideradas inadequadas à la- por exemplo a diversidade biológica do solo, podem ser cruzados voura. E a classe IV compreende as terras consideradas sem apti- com a Carta de Aptidão Agrícola das Terras, de forma a se estabe- dão agrícola, as quais perfazem um total de 57% da BHRB, deven- lecer um zoneamento agrícola mais preciso para a área de estudo. do ser destinadas à outros usos como a ocupação urbana ou a De um modo geral, pode-se afirmar, com base nos dados de proteção ambiental. formas do relevo e formações geológicas de superfície, que a BHRB Na avaliação do processo de expansão urbana da BHRB, as apresenta um bom potencial à ocupação urbana, no entanto, é áreas com um alto potencial correspondem à apenas 5% e compre- preciso lembrar que a mesma apresenta um histórico com um endem 900ha de áreas com aptidão favorável ao assentamento número elevado de ocorrências de erosão (Feres, 2002), que deve urbano e pouco mais de 200ha de áreas com aptidão moderada. ser considerado antes de qualquer tomada de decisão, juntamente Esse fato se explica porque, apesar de existirem outras áreas favorá- com informações sobre o potencial geotécnico e fenômenos histó- veis ao assentamento urbano (em torno de 10000ha), a maior parte ricos e socioeconômicos. delas está fora dos eixos de expansão e, portanto, diminuindo suas Quanto à Carta de Zoneamento Ambiental, vale lembrar que chances de serem ocupadas, pelos menos a curto e médio prazo. se trata de uma proposta elaborada com base em fatores considera- As áreas com médio potencial (43%) englobam, em sua maior dos de suma importância, mas que não se esgotam aqui, outros parte, terras com aptidão favorável ao assentamento, mas que, fatores de cunho socioeconômico também devem ser considerados justamente, se encontram fora do alcance dos eixos de crescimen- pelos tomadores de decisão no momento oportuno. to. Essas áreas, possivelmente, poderão ser ocupadas à longo pra- 5. Referências Bibliográficas zo, e para tanto, seria interessante que o poder público local con- BRASIL. IBC - Instituto Brasileiro do Café. Fotografias aéreas do centrasse esforços no sentido de incentivar a ocupação dessas áreas projeto SP-15. São Paulo, 1971. Escala 1:25.000. 42 fotos. de forma planejada, com base em estudos geotécnicos. CAVALHEIRO, F. Urbanização e alterações ambientais. In: Tauk, A classe de baixo potencial representa 40% e é constituída de S.M. (Org.). Análise ambiental: uma visão multidisciplinar. São áreas cuja aptidão física para a ocupação urbana vai de moderada à Paulo: UNESP/ FAPESP, 1991. severa. Tais áreas caracterizam-se por um relevo inadequado às construções urbanas, logo, a sua ocupação para este fim não é CONSERVATION INTERNATIONAL. Hotspots and wilderness aconselhada. Assim como, nas áreas com muito baixo potencial à areas. Disponível em: http://www.conservation.org.br/hotspots/ expansão (12%), com restritiva aptidão ao assentamento, tendo index.html Acesso em: 26 setembro 2000. em vista, suas características geológicas e geomorfológicas. FERES, R. Análise de processos de erosão acelerada, com base em Na Carta de Zoneamento Ambiental, a BHRB foi dividida em fotografias aéreas e geoprocessamento: Bacia do Rio Bonito 4 zonas: zona de atividades urbanas (5%), zona de produção in- (Descalvado, SP). São Carlos, 2002. 142p. Tese (Doutorado) – dustrial e outros usos (34%), zona de produção agrossilvipastoril Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de (27%) e zona de proteção ambiental (34%). São Carlos. A zona de atividades urbanas é composta, principalmente, pela HENKE-OLIVEIRA, C.; SANTOS, J.E. Áreas verdes e áreas pú- área urbana construída (99,23%), mas também engloba pequenas blicas de São Carlos (SP): diagnóstico e propostas. In: Tundisi, áreas de cultivo de cana-de-açúcar e laranja (0,49%) e 4,24ha de J.G.; Yamamoto, Y.; Dias, J.A.K. (Org.). São Carlos no 3° Milênio: mata nativa, que na medida do possível devem ser preservados, perspectivas para o desenvolvimento sustentável. São Carlos: Se- tendo em vista a importância atribuída à manutenção de áreas cretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento verdes em ecossistemas urbanos (Cavalheiro, 1991; Henke-Oli- Econômico, 2000. veira e Santos, 2000). MORAES, M.E.B. Zoneamento de bacias hidrográficas: uma abor- A zona de produção industrial e outros usos engloba pequenas dagem metodológica aplicada na Bacia do Rio Bonito (SP). São parcelas dos diferentes tipos de uso do solo, em maior quantidade, Carlos, 2003. 130p. Tese (Doutorado) – Centro de Ciências Bio- cultivos de cana (quase 30%), laranja (em torno de 23%) e pasta- lógicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos. gens (quase 22%). Tais áreas foram agrupadas em uma única zona devido ao seu baixo potencial para compor as demais zonas, assim RAMALHO FILHO, A.; PEREIRA, E.G.; BEEK, K.J. Sistema de sendo, poderiam ser exploradas para a produção industrial sem avaliação da aptidão agrícola das terras. Brasília: SUPLAN / trazer maiores prejuízos econômicos ou ambientais. EMBRAPA / SNLCS, 1978. A zona de produção agrossilvipastoril corresponde às classes I, ROSA, R. O uso de SIG’s para o zoneamento: uma abordagem II e III da Carta de Aptidão Agrícola das Terras, cujas áreas não se metodológica. São Paulo, 1995. 214p. Tese (Doutorado) – Facul- encontram protegidas pela legislação ambiental. A análise dos da- dade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de dos mostra que as atividades agrícolas desenvolvidas na BHRB não São Paulo. estão respeitando a aptidão das terras para tal atividade, uma vez TOREZAN, F. (2000). Sistema de manejo ambiental na minera- que é na zona de produção industrial que se encontram as maiores ção: um estudo de caso na bacia do Rio Bonito (SP). São Carlos, áreas cultivadas. 2000. 165p. Dissertação (Mestrado) - Centro de Ciências Biológi- E por fim, apresenta-se a zona de proteção ambiental, formada cas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos.

542 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

A estrutura de comunidade arbórea em diferentes Felfili & Silva Jr., 1993; Felfili et al, 1994; Rossi et al,1998). As 10 fisionomias de vegetação em solos distrófico e espécies de maior IVI representam 36,52 % do IVI total. Em todo mesotrófico na Estação Ecológica do Panga em o levantamento, 59 espécies foram amostradas somente nas forma- Uberlândia, MG. ções florestais, sendo 31 exclusivas à mata semidecídua, 8 ao Maria Inês Cruzeiro Morenoa, Ivan Schiavinib & Mundayatan cerradão em solo mesotrófico e 5 ao cerradão em solo distrófico e, Haridasanc 15 espécies foram comuns a pelo menos duas fisionomias. Do aAluna de doutorado, Departamento de Ecologia total, 44 espécies foram exclusivas às fisionomias savânicas e 84 ([email protected]), Universidade de Brasília; bInstituto de foram comuns tanto a formações florestais quanto a savânicas. Biologia, Universidade Federal de Uberlândia; cDepartamento de Na ordenação das parcelas foi observado que quando são in- Ecologia, Universidade de Brasília. cluídos todos os indivíduos amostrados por um critério de inclusão mais abrangente (circunferência mínima de 10 cm), o método 1. Introdução TWINSPAN não indica um agrupamento das parcelas de acordo O cerrado apresenta um mosaico de fisionomias compostas com as observações em campo. Para que houvesse agrupamentos por densidades variáveis dos estratos graminoso e arbustivo arbóreo. de parcelas mais semelhantes às observações de campo, foi necessá- A distinção entre as fisionomias é feita levando-se em conta a rio adotar critérios mais restritos de inclusão de indivíduos, uma presença do estrato herbáceo, altura e cobertura dos indivíduos vez que se dispunha de dados suficientes para tal. Resultado arbóreos (Ribeiro e Walter, 1998). Fatores ambientais como ferti- satisfatório somente foi observado quando se utilizou como crité- lidade do solo, profundidade do lençol freático e declividade são rios de inclusão circunferência mínima de 15 cm junto com uma responsáveis por variações na vegetação (Eiten, 1972). Porém, altura mínima de 1,5 m. Com este critério de inclusão de indivídu- podem-se observar fisionomias diferentes em locais com fatores os houve um agrupamento de parcelas similar ao observado em ambientais semelhantes (Haridasan, 1994). campo, sendo 9 parcelas mata semidecídua, 5 de cerradão Na Estação Ecológica do Panga (EEP) ocorrem solos distróficos mesotrófico, 14 de cerradão distrófico, 33 de cerrado denso, 32 de e mesotróficos e estes solos apresentam diferentes formas cerrado sensu stricto, 26 de campo cerrado e 8 de campo sujo. fisionômicas (Silva, 1993; Moreno e Schiavini, 2001). Entretanto, Na primeira divisão do TWINSPAN foram separadas as a mesma forma fisionômica ocorre em diferentes solos. Uma das fisionomias de mata semidecídua e os cerradões em solo distrófico diferenças nesses casos é na composição florística. A cobertura (contíguo a mata semidecídua) e em solo mesotrófico das forma- vegetal não separa estas formações. Utilizando apenas o critério ções savânicas e cerradão em solo distrófico que se localiza na parte mínimo de 10 cm de circunferência a altura de 0,30 m do solo, os mais alta da Estação. Para as formações florestais, a primeira divi- métodos de ordenação não diferenciam estas formações. Portanto, são do TWINSPAN separou o grupo formado por parcelas de o objetivo deste trabalho foi realizar um inventário da comunidade mata semidecídua das parcelas de cerradões em solo mesotrófico e lenhosa em diferentes fisionomias do cerrado e fazer uma ordena- distrófico com autovalor de 0,541. Como pseudo-espécies ção das fisionomias de acordo com critérios mínimos de inclusão. indicadoras da mata semidecídua tem-se Anadenanthera colubrina 2. Métodos var. cebil e Nectandra cissiflora. Apesar de não ter havido uma divi- O estudo foi realizado na EEP (19o09’20’’ e 19o11’10’’S, são de acordo com os dados de campo entre os dois cerradões (em 48o23’20’’ e 48o24’35’’W) em Uberlândia. O levantamento solos mesotrófico e distrófico), verifica-se que estas são formações fitossociológico foi realizado em parcelas de 10 m x 20 m, separa- florísticamente distintas. das entre si por um espaço de 10 m, ao longo de dois transectos. O As parcelas do cerradão em solo distrófico, situado na parte transecto maior possui 100 parcelas e estende-se pelas fisionomias mais elevada da reserva, foram separadas das demais parcelas tendo mata semidecídua, cerradão distrófico, campo cerrado, campo sujo, como pseudo-espécies indicadoras Copaifera langsdorffii, Trichilia cerrado sensu stricto e cerrado denso. O segundo e menor transecto pallida e Virola sebifera. As parcelas de cerrado denso apresentam tem 27 parcelas e é perpendicular em relação ao primeiro e amos- como pseudo-espécies indicadoras Styrax ferrugineus, Cardiopetalum tra as fisionomias cerrado denso, cerrado sensu stricto, campo cerra- calophyllum, Symplocos platyphylla, Qualea parviflora e Roupala do e cerradão mesotrófico. O conjunto de todas as parcelas totaliza montana. A área de campo sujo apresenta como pseudo-espécies uma área de 2,54 ha. indicadoras Davilla elliptica e Byrsonima coccolobifolia. As fisionomias Foram amostrados indivíduos lenhosos com circunferência igual campo cerrado e cerrado sensu stricto foram separadas, das demais, ou superior a 10 cm medida a 30 cm da superfície do solo e deles formando pequenos grupamentos de parcelas não muito bem defi- foram anotados a espécie, a circunferência e estimada a altura, nidos que, ao serem analisados em conjunto correspondiam Às além de serem marcados com placas de alumínio para futuras in- observações de campo. Para a área de campo cerrado Caryocar vestigações. Os parâmetros fitossociológicos foram calculados pelo brasiliense, Qualea grandiflora, Annona crassiflora e Miconia albicans programa FITOPAC (Shepherd, 1995) e a classificação das parce- foram as pseudo-espécies indicadoras. No cerrado sensu stricto as las foi feita pelo TWINSPAN - “Two-Way Indicator Species pseudo-espécies indicadoras foram Miconia albicans, Myrcia rostrata, Analysis” (Hill, 1979). O método de classificação pelo Myrcia variabilis e Eriotheca gracilipes. TWINSPAN é aplicado para a procura de padrões na distribuição O conjunto de parcelas do campo cerrado e cerrado sensu das espécies, que podem estar associados com o ambiente e corro- stricto é caracterizado pela presença de indivíduos tanto arbóreos borados com observações no campo (Kent e Cocker, 1992). Este quanto arbustivos. Em campo, a separação destes ambientes é feita método indica pseudo-espécies preferenciais para a construção de principalmente pela altura dos indivíduos arbóreos, que são maio- uma tabela dicotômica. Primeiramente as amostras são classifica- res no cerrado sensu stricto. Sendo assim, os pequenos grupamentos das pela sucessiva dicotomização e, em seguida, as espécies são formados pelas parcelas que correspondem a essas fisionomias não classificadas da mesma maneira, usando como base a classificação foram tão consistentes pelo fato do método levar em consideração das amostras. presença e ausência de espécies e também a sua densidade. Se 3. Resultados e Discussão fossem utilizados dados de altura e circunferência para fazer a No total foram amostrados 9909 indivíduos pertencentes a ordenação destas parcelas, provavelmente teríamos grupos mais 187 espécies e 58 famílias. Os indivíduos mortos representaram consistentes para estes ambientes. Verifica-se que apesar de serem 7,3 % do total. O índice de diversidade de Shannon-Winer para as fisionomias parecidas quanto a composição de espécies e estrutura, espécies foi de 3,95, considerado elevado quando se compara com foi possível a distinção utilizando-se um método de ordenação. outros levantamentos em área de cerrado (Ribeiro et al, 1985;

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 543 Cerrado Volume I

4. Conclusões apresentam importantes funções ecológicas, tais como, manuten- Com a necessidade de adoção de critérios mínimos de inclusão ção de alta diversidade e produtividade (Hickman, 1990), contri- de indivíduos para obtenção da ordenação de parcelas de acordo buição significativa aos processos globais de transferência de gases com as observações de campo, verifica-se que a estrutura das do efeito estufa (Ewel, 1991) e efeitos positivos sobre a qualidade fisionomias é determinada principalmente pela altura dos indiví- dos cursos d´água inclusive com a redução de contaminação da duos lenhosos e pela área basal, pois quando são colocados em um água (Josephon, 1992). As Áreas Úmidas do Cerrado se encontram mesmo conjunto indivíduos com alturas e áreas basais variadas, bastante ameaçadas por intervenções antrópicas (drenagem, uso não é possível diferenciar as fisionomias, uma vez que a média do agropecuário, rebaixamento do lençol freático, etc.) sendo neces- conjunto mascara a variação real que existe entre as fisionomias. sária a intensificação de ações para a preservação destes ecossistemas. 5. Referências Bibliográficas A descrição dos padrões de distribuição das espécies em um Eiten, G. (1972). The cerrado vegetation of Brazil. The Botanical gradiente ambiental auxilia análises futuras de processos e meca- Review 38(2): 201-339. nismos adaptativos destas espécies. A maioria dos padrões de zonação das espécies vegetais em Áreas Úmidas está relacionada a Felfili, J. M.; Silva Jr., M. C. (1993). A comparative study of cerra- diferenças no nível do lençol freático (Keddy, 2000) e o estudo do (sensu stricto) vegetation in Central Brazil. Journal of Tropical destes padrões revelam grupos de espécies tolerantes a diferentes Ecology 9: 277-289. graus de encharcamento do solo (Hoagland & Collins, 1997). Este Felfili, J. M.; Filgueiras, T. S.; Haridasan, M.; Silva Jr., M. C.; estudo teve como objetivo detectar em Áreas Úmidas do Cerrado, Mendonça, R. C.; Resende, A. V. (1994). Projeto biogeografia do na época das chuvas, espécies do estrato herbáceo presentes em bioma cerrado: vegetação e solos. Cadernos de Geociências 12(4): diferentes profundidades do lençol freático. 75-166. 2. Métodos Haridasan, M. (1994). Solos do Distrito Federal. In M. Novaes- O estudo foi realizado na Estação Ecológica de Águas Emen- Pinto (Ed.) Cerrado: Caracterização, ocupação e perspectivas - O caso dadas (EEAE) localizada entre 15º32‘ a 15º38‘S e 47º33‘ a do Distrito Federal. 2a Edição. Brasília: Editora Universidade de 47º37‘W com altitudes entre 1000 a 1150 m (Planaltina, DF). Na Brasília/SEMATEC. p. 321-344. EEAE se encontram os divisores de água das Bacias Amazônica e Hill, M.O. (1979). TWINSPAN: a FORTRAN program for Platina (Maury et al., 1994). Os meses de outubro a abril arranging multivariate data in an ordered two-way table by classification correspondem ao período das chuvas no Distrito Federal. O estu- of individuals and attributes. Ithaca, NY. Cornell University. do foi realizado em janeiro de 1998 e neste mês ocorreu 163 mm de precipitação total, temperatura média de 22,6ºC (mínima de Kent, M.; Cocker, P. (1992). Vegetation description analysis. Behaven 18,5ºC e máxima de 28,7ºC) e umidade relativa média máxima de Press. London. 99% e mínima de 52%. Moreno, M. I. C.; Schiavini, I. (2001). Relação entre vegetação e Foram estudadas três Áreas Úmidas sendo duas de Campo solo em um gradiente florestal na Estação Ecológica do Panga, Úmido e uma de Vereda. Uberlândia (MG). Revista Brasileira de Botânica. 24(4) Suplemen- Um cordão de náilon foi esticado em cada uma das áreas para to: 537-544. o estudo do gradiente vegetacional com início na borda do Cerra- Ribeiro, J. F.; Silva, J. C. S.; Batmanian, G. J. (1985). Fitossociologia do sentido restrito, passando pela Área Úmida e finalizando no de tipos fisionômicos de cerrado em Planaltina-DF. Revista Brasilei- curso de água ou Mata de Galeria. As linhas levantadas apresenta- ra de Botânica 8: 131-142. ram as seguintes características: Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do bioma - Campo Úmido 1 – 150 m atravessando o Campo Úmido e cerrado. In: Sano, S.M. & Almeida, S.P.(Org.). Cerrado: Ambiente finalizando no curso d´água. e Flora. Planaltina: EMBREAPA- CPAC, 556p. p. 87-166. - Campo Úmido 2 – 70 m atravessando o Campo Úmido e finalizando na borda da Mata de Galeria. Rossi, C. V.; Silva Jr. M. C.; Santos, C. E. N. (1998). Fitossociologia do -Vereda – 110 m atravessando a Vereda e finalizando em área estrato arbóreo do cerrado (sensu stricto) no Parque Ecológico Norte, de nascentes. Brasília-DF. Boletim do Herbário Ezechias Paulo Heringer 2: 49-56. Os indivíduos com menos de 1 m foram considerados como Shepherd, G. J. (1995). Fitopac1: Manual do usuário. Campinas: pertencentes ao estrato herbáceo (Mueller-Dombois & Ellenberger, Departamento de Botânica. 94p. 1974). As linhas demarcadas foram subdivididas em unidades Silva, J. G. M. (1993). Relações solo-vegetação como instrumento amostrais de metro em metro e a partir da projeção da linha a cada para o manejo da vegetação do cerrado no Triângulo Mineiro. metro foram anotadas as espécies presentes e o comprimento da Viçosa: Universidade Federal de Viçosa. 136p. Tese de doutorado. linha que ocupava cada espécie para a obtenção da cobertura linear Apoio: CNPq conforme descrito em Meirelles et al. (2002). Os ´vouchers‘ das espécies identificadas foram depositados nos herbários Ezechias Paulo Heringer do Jardim Botânico de Brasília (HEPH) e Embrapa Re- Distribuição de espécies do estrato herbáceo em cursos Genéticos (CEN). A cada 10 m foi medida a profundidade do diferentes alturas do lençol freático em Áreas lençol freático a partir da superfície do solo. Úmidas do Cerrado Foi realizada em cada uma das áreas de estudo uma análise de Maria Lucia Meirelles a; Regina Célia de Oliveira b; Lúcio J. Vivaldi agrupamento para a obtenção dos grupos de espécies em relação às c; Adriana Reatto a; João Roberto Correia a variações na profundidade do lençol freático. Foi empregado o a EMBRAPA Cerrados. b UNICAMP - Pós-graduação em Botânica. método de agrupamento TWISPAN sendo utilzado o software c Universidade de Brasília - Departamento de Estatística. PC-ORD (McCune & Mefford, 1995). Participaram destas análi- ([email protected]) ses as espécies que eram plausíveis de identificação na época do estudo e que ocorreram onde o lençol freático se encontrava acima 1. Introdução de 1,20 m de profundidade em relação a superfície do solo. As Áreas Úmidas são ecossistemas que apresentam inundações 3. Discussão e Resultados e solos que passam por processos anaeróbicos tendo a biota, com Sete grupos de espécies do estrato herbáceo foram obtidos em ênfase para as plantas com raízes, adaptações para suportar os relação a diferentes classes de profundidade do lençol freático: diferentes graus de inundação (Keddy, 2000). As Áreas Úmidas Grupo 1 (onze espécies - lençol entre 50 a 120 cm abaixo da

544 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado superfície); Grupo 2 (dez espécies - lençol entre 50 a 80 cm abaixo Hickman, C. A. (1990). Forest-wetland trends in the United- da superfície); Grupo 3 (duas espécies - lençol entre 10 a 120 cm States: an economic perspective. Forest Ecological Management 33- abaixo da superfície); Grupo 4 (3 espécies - lençol entre 10 a 50 cm 34: 227-238. abaixo da superfície); Grupo 5 (três espécies - lençol entre 2 a 10 Hoagland, B. W.; Collins, S. L.M. (1997). Gradient models, cm abaixo da superfície); Grupo 6 (três espécies - lençol entre 60 gradient analysis and hierarchical structure in plant communities. cm abaixo a 30 cm acima da superfície do solo) e Grupo 7 (três Oikos 78: 23-30. espécies - lençol entre 10 a 30 cm acima da superfície). Hoagland Josephon, J. (1992). Status of wetlands. Environmental Science & & Collins (1997) estudando 42 ecossistemas de Áreas Úmidas em Technology 26: 422. Minnesota (USA), também observaram, em todas as áreas, uma distribuição em grupos hierárquicos onde, no decorrer do gradien- Keddy, P. A. (2000). Wetland Ecology: principles and conservation. te ambiental, espécies apresentaram distribuições mais restritas e Cambridge, Cambridge University Press, 614 p. outras mais amplas. Maury, C. M.; Ramos, A. E.; Oliveira, P. E. (1994). Levantamento Espécies que ocorreram nas áreas com cobertura linear maior florístico da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Boletim do que 1 m apresentaram variadas distribuições. Paspalum erianthum Herbário Ezechias Paulo Heringer 1: 46-67. Nees, Rhynchospora tenuis Nees, Rhynchospora globosa (Kunth.) Mc Cune, B. & Mefford, M. J. (1995). PC-ORD: multivariate Roem. & Schult., Lycopodium cernurum (L.) Cranfill, Trachypogon analysis of ecological data. Version 2.0. Oregon, MJM Software spicatus (L. f.) Kuntze, Echinolaena inflexa (Poir.) Chase e Lavoisiera Design, 1 CD-ROM. bergii Cogn. foram encontradas em profundidades do lençol freático Meirelles, M. L.; Oliveira, R. C. De; Ribeiro, J. F.; Vivaldi, L. J.; entre 50 a 120 cm abaixo da superfície (grupo 1), não sendo obser- Rodrigues, L.A. & Silva, G.P. (2002). Utilização do método de vadas onde os solos estavam alagados (lençol freático acima da interseção na linha em levantamento quantitativo do estrato her- superfície do solo). Xyris tenella Kunth, presente na Vereda, ocor- báceo do Cerrado. Boletim do Herbário Ezechias Paulo Heringer 9 reu apenas nos locais alagados (Grupo 7). Setaria paucifolia (Morong.) (no prelo). Lind. ocorreu no Campo Úmido 1 (grupo 5) e na Vereda (grupo 6), Microlisia fasciculada Mart. ex Naud. na Vereda (grupo 6), Mueller-Dombois, D.; Ellenberg, H. (1974). Aims and methods of Andropogon virgatus Desv. e Axonopus cf. pressus (Nees ex Steud.) vegetation ecology. USA, John Wiley & Sons, 547 p. Parodi nas áreas alagadas da Vereda (grupo 7) e no Campo Úmido Odum, E. P.; Sarmiento, F. O. (1998). Ecología: el puente entre 1 onde o lençol freático estava entre 50 a 80 cm de profundidade ciencia y sociedad. México, Mc Graw-Hill Interamericana, 343 p. (grupo 2). Estas espécies demonstraram suportar condições variá- Silva Junior, M.C.; Felfili, J.M. (1996). A vegetação da Estação Eco- veis de aerobiose e anaerobiose do solo. lógica de Águas Emendadas. Brasília, Instituto de Ecologia e Meio A espécie arbórea-arbustiva Trembleya parviflora (D. Don.) Ambiente do Distrito Federal, 43 p. Cogn. está colonizando intensamente as Áreas Úmidas da EEAE (AGRADECIMENTOS - A João Batista dos Santos, técnico da sendo esta dominância evidente em vastas áreas onde forma um dossel arbóreo-arbustivo monoespecífico e compacto. Foram ob- EMBRAPA Cerrados e Alice Fátima Amaral, Maria Teresa Olivério Lemos e Simone Mendes da Silva, na época da coleta de dados servados ecossistemas campestres de Áreas Úmidas sendo coloni- zados por vegetação lenhosa após a construção de diques que redu- estagiárias da Embrapa Cerrados e estudantes da Universidade fede- ziam o nível de água nestas áreas (Odum & Sarmiento, 1998). ral de Uberlândia, pela ajuda na coleta e sistematização dos dados. À direção da Estação Ecológica de Águas Emendadas pelas facilidades Possivelmente, a colonização por Trembleya parviflora na EEAE é devida ao rebaixamento do lençol freático ocasionado pela cons- e apoio concedidos durante o período de levantamento). trução de estradas e diques de drenagem na EEAE (Silva Júnior & Felfili, 1996) e pelo amplo desmatamento e utlização de água A manutenção do polimorfismo cromático em resultantes do adensamento populacional dos últimos anos na ba- Enyalius sp (SQUAMATA:Leiosauridae) por predação cia hidrográfica onde está inserida a EEAE (Eiten, 2001). Trembleya diferencial. parviflora ocorreu na área de Campo Úmido 1 (grupo 4) e no Mariana G. Zatza, Lilia de Oliveirab, Mônica Vargasc, Claudia Campo Úmido 2 (grupo 2) demonstrando tolerância para uma Pandolfo Pazc & Guarino Rinaldi Collib altura do lençol freático entre 10 a 80 cm abaixo da superfície não a,b Departamento de Zoologia, Universidade de Brasília sendo observada na Vereda e nos locais que apresentavam o lençol ([email protected]); c UNISINOS Rio Grande do Sul freático acima da superfície. 4. Conclusões 1. Introdução Espécies do estrato herbáceo presentes na Estação Ecológica O Polimorfismo é a ocorrência simultânea de dois ou mais de Águas Emendadas (EEAE) em áreas de Campo Úmido e Vereda, fenótipos em uma população sendo um tipo de variação fitofisionomias de Áreas Úmidas do bioma Cerrado, apresentam descontínua, formada por categorias discretas (Pough, Andrews et distribuições diferenciadas em relação às variações na altura do al., 1998). A coexistência de vários fenótipos por um longo perío- lençol freático. Estas espécies se encontram ameaçadas nas Áreas do, sem que um deles prevaleça, tornando a população Úmidas da EEAE devido à colonização da espécie arbórea-arbustiva monomórfica, é possível se os morfotipos tiverem a mesma aptidão Trembleya parviflora (D. Don.) Cogn. que não ocorreu nas áreas ou se apresentarem maior aptidão quando raros na população alagadas na época das chuvas estudada. Logo, um rebaixamento do (Ridley, 1993).Os possíveis mecanismos que mantêm o lençol freático, viabilizaria a colonização por Trembleya parviflora polimorfismo cromático em populações são seleção correlacionada, nas áreas onde o lençol freático, durante todo ano, passasse a ficar seleção dependente de freqüência e a variação espacial ou temporal abaixo da superfície do solo. dos morfotipos. Em populações de répteis, o polimorfismo na co- 5. Referências Bibliográficas loração e no padrão cromático tem sido atribuído a estratégias de Eiten, G. (2001). Vegetação natural do Distrito Federal. Brasília, predação ou fuga de predadores, mecanismo de manutenção SEBRAE, 162 p. (termorregulação), influências sociais e variação ontogenética, den- tre outros (Cooper e Greeberg, 1992). Ewel, K. C. (1991). Ecoystem experiments in wetlands. In: Muitas espécies utilizam a camuflagem como uma estratégia MONEY et al. (Eds). Ecosystem experiments. Chichester, John Wiley para evitar a detecção por parte de predadores orientados visual- & Sons. p. 181-191. mente (Greene, 1994). O polimorfismo cromático na população

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 545 Cerrado Volume I pode ser mantido por influência da predação, através de seleção distribution of the lizard Podarcis hispanica atrata: an experimental dependente de frequência (Bond e Kamil, 2002). Predadores visu- approach. Acta Oecologica 19(2):107-114. almente orientados tendem a encontrar morfotipos mais comuns COOPER, W. E., JR., and N. GREENBERG. 1992. Reptilian coloration na população de presas, através de formação de imagem de busca. and behavior. In C. Gans (ed.), Biology of the Reptilia: Hormones, Dessa forma, um balanço resulta de taxas de predação diferentes Brain, and Behavior, pp. 298-422. University of Chicago Press, sobre os padrões, sendo que aqueles mais comuns são mais predados Chicago. (Endler, 1988). ENDLER, J. A. 1988. Frequency-dependent predation, crypsis and Enyalius é um dos sete gêneros da família Leiosauridae, sendo aposematic coloration. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B 319: 505-523. constituído por oito espécies que habitam regiões florestais ao leste da América do Sul. Enyalius sp é uma espécie não descrita GREENE, H. W. 1994. Antipredator mechanisms in reptiles. In C. (Colli, com. pessoal) que habita preferencialmente matas de gale- Gans and R. B. Huey (eds.), Biology of the Reptilia. Volume 16, ria no Cerrado do Brasil Central. Vinte padrões cromáticos foram Ecology B. Defense and Life History., pp. 1-152. Branta Books, listados para o gênero (Jackson, 1978), entretanto não foram asso- Ann Arbor, Michigan. ciados a nenhum aspecto da história de vida. Neste trabalho, nós HOFFMAN, E. A. 2000. A review of colour and pattern polymorphisms testamos a existência de predação diferencial, por predadores visu- in anurans. Biological Journal of Linnean Society 70: 633-665. almente orientados, entre dois padrões cromáticos de Enyalius sp, JACKSON, J. F. 1978. Differentiation in the genera Enyalius and utilizando modelos de massa de plasticina. Strobilurus (Iguanidae): implications for pleistocene climatic changes 2. Métodos in eastern Brazil. Arquivos de Zoologia, São Paulo 30: 1-79. O estudo foi conduzido em uma Mata de galeria na Área de POUGH, F. H., R. M. ANDREWS, J. E. CADLE, M. L. CRUMP, A. H. Proteção Ambiental Gama-Cabeça de Veado (Distrito-Federal, SAVITZKY, and K. D. WELLS. 1998. Herpetology. Prentice Hall, 15º56’S/47º53’W). Confeccionamos 750 modelos de lagartos com Upper Saddle River, New Jersey. massa de plasticina a partir de um molde para evitar diferenças em forma e tamanho. Esse tipo de material é utilizado por permanecer RIDLEY, M. 1993. Evolution. Blackwell Scientific Publications, Bost mole deixando as marcas do predador evidentes (Castilla, A. M. & Labra, A., 1998). Os modelos foram feitos em três padrões cromá- Convergências na estrutura das comunidades de ticos: listras paravertebrais, círculos e controle sem listras ou círcu- insetos galhadores em 3 espécies de Baccharis los. Estes foram distribuídos em 250 pontos com distâncias de (Asteraceae) cerca de 3 metros ao longo da trilha da mata. Mário M. Espírito-Santo ([email protected]), Francisco R. de Para homogeneizar a oferta dos modelos, em cada ponto dei- Andrade Neto, Frederico de S. Neves & G. Wilson Fernandes. xamos os três modelos dispostos de maneira radial 1 metro distan- Lab. de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, DBG/ICB, CP tes do centro do círculo imaginário. Os modelos foram retirados 486, Universidade Federal de Minas Gerais, CEP 30161-970, Belo no quinto dia e apenas aqueles que apresentavam bicadas foram Horizonte-MG. considerados atacados por predadores visualmente orientados, despresando assim, as marcas deixadas por mamíferos e insetos. 1. Introdução Para testar se haviam diferenças significativas na taxa de predação Insetos galhadores constituem um dos mais especializados gru- por predadores visualmente orientados entre os padrões utiliza- pos de herbívoros. Usualmente, são espécie-específicos de planta mos uma ANOVA. A análise foi feita com o programa Systat 7.0 e hospedeira e atacam apenas um órgão da planta (Rohfritsch & o nível de significância foi de 5 %. Shorthouse 1982). Como conseqüência desta especialização, in- 3. Resultados e Discussão setos galhadores são extremamente influenciados pela qualidade Não existem diferenças significativas na taxa de predação entre da planta atacada. Vários mecanismos afetam a abundância destes os padrões cromáticos (F2,0.05=0.259, p=0.772, n=750). A predação insetos, tais como características físicas, químicas e fenológicas das diferencial sobre padrões cromáticos, provavelmente não deve ser plantas hospedeiras, competição entre diferentes espécies de o mecanismo de manutenção do polimorfismo cromático em galhadores e pressão de inimigos naturais (Price et al. 1987). Estes Enyalius sp. Nesse caso, a pressão de predação diferente nos pa- fatores, atuando isoladamente ou combinados, podem afetar a for- drões cromáticos poderia resultar na manutenção do polimorfismo ma de utilização do hospedeiro por seus insetos galhadores no cromático por seleção dependente de freqüência; predadores ori- espaço (espécie e sexo do hospedeiro e parte da planta atacada) e entados visualmente teriam maior probabilidade de encontrar os no tempo (época de ataque e adequação à fenologia da planta) morfotipos mais freqüentes na população, por formação de ima- (Abrahamson et al. 1993). gem de busca. Plantas hospedeiras taxonomicamente relacionadas usualmente 4. Conclusões apresentam pouca variação em relação aos requerimentos de um A flutuação na freqüência dos diferentes padrões, por predação herbívoro (Bush 1975). Desta forma, é provável que espécies de diferencial, manteria o polimorfismo cromático na população. Por plantas congenéricas sustentem faunas de galhadores com caracterís- outro lado, outros fatores como interações sociais, mecanismos de ticas semelhantes. O gênero Baccharis provavelmente suporta a mais seleção sexual, manutenção (termorregulação) ou variações rica fauna de insetos galhadores da região Neotropical, com 121 ontogenéticas são outras possibilidades de manutenção do espécies em 40 espécies de plantas hospedeiras amostradas (Fernandes polimorfismo cromático em répteis (Cooper e Greeberg, 1992). et al. 1996). Desta forma, plantas deste gênero constituem um exce- Adicionalmente, o polimorfismo cromático pode aumentar a lente sistema para se estudar comunidades de galhadores. O objetivo eficiência da camuflagem em espécies sujeitas a predadores orienta- deste trabalho é comparar a composição das comunidades de dos visualmente. Por exemplo, predadores de espécies polimórficas galhadores associados a Baccharis concinna, B. dracunculifolia e B. teriam que criar uma imagem de busca para cada padrão cromático, ramosissima e verificar a influência da fenologia das plantas hospedei- reduzindo o risco de predação de cada indivíduo, o que representa ras sobre estas comunidades ao longo de um ano. uma vantagem em relação a espécies monomórficas (Hoffman, 2000). 2. Material e Métodos 5. Referências Bibliográficas As coletas foram realizadas de maio de 2001 a maio de 2002 BOND, A. B., and A. C. KAMIL. 2002. Visual predators select for em Belo Horizonte e na Serra do Cipó, Minas Gerais. Trinta crypticity and polymorphism in virtual prey. Nature 415. indivíduos de cada espécie de Baccharis foram aleatoriamente mar- CASTILLA, A. M. & LABRA, A. 1998. Predation and spatial cados no campo. Em cada indivíduo, foi contado o número de

546 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ramos de segundo, terceiro e quarto níveis. Além disso, 3 ramos grupo com maior número de espécies de galhadores nas 3 plantas secundários foram marcados em cada indivíduo. Estes ramos tive- hospedeiras foi Cecidomyiidae (25 das 35 morfo-espécies encon- ram seu comprimento medido e suas folhas, inflorescências e rami- tradas), que é notadamente o taxon no qual o hábito galhador é ficações foram contadas de 3 em 3 semanas. Além disso, todas em mais diversificado. As variações na abundância de galhas nas 3 galhas encontradas nas plantas foram contadas. Em laboratório, comunidades não parece ser afetada por fatores climáticos. Entre- larvas e adultos foram identificados até o nível taxonômico possí- tanto, guildas diferentes foram afetadas por características vel. Foram realizadas análises de correlação de Spearman entre fenológicas distintas em cada espécie de Baccharis. Há evidências cada variável fenológica da planta e a abundância de diferentes de que a competição possa ter um papel na estruturação das comu- guildas de galhadores (apicais, caulinares e foliares). nidades de galhadores de B. concinna e B. dracunculifolia. 3. Resultados e Discussão 5. Referências bibliográficas As comunidades de insetos galhadores apresentaram mui- Abrahamson, W. G., J. M. Brown, S. K. Roth, D. V. Sumerford, J. tas semelhanças em sua composição. Baccharis dracunculifolia D. Horner, M. D. Hess, S. T. How, T. P. Craig, R. A. Packer & J. foi a planta com maior riqueza (14 espécies) e abundância de K. Itami. 1993. pp. 208-222. In P. W. Price, W. J. Mattson & Y. galhadores (20.327 ocorrências ao longo de um ano). Baccharis N. Baranchikov (Eds.). The Ecology and Evolution of Gall-Forming ramosissima apresentou 11 espécies de galhadores, contados Insects. U. S. Department of Agriculture, Forest Service 5410 vezes, e B. concinna apresentou 10 espécies, contadas Bush, G. L. 1975. Sympatric speciation in phytophagous insects. 8353 vezes. A maioria das galhas foi causada por Cecidomyiidae pp. 187-206. In P. W. Price (Ed.). Evolutionary strategies of nas 3 espécies de planta hospedeira (10 em Bd, 8 em Br e 7 em parasitic insects and mites. Plenum Press, New York. Bc), o que está de acordo com os resultados obtidos para outras comunidades de galhadores em Baccharis (Fernandes et Espírito-Santo, M. M. & Fernandes, G. W. 1998. Abundance of al. 1996) e para galhadores em geral (Mani 1992). O caule foi Neopelma baccharidis (Homoptera: Psyllidae) galls on the dioecious o órgão com maior número de espécies de insetos galhadores shrub Baccharis dracunculifolia (Asteraceae). Environmental em B. concinna (5) e B. dracunculifolia (8), mas não em B. Entomology 27: 870-876. ramosissima (2). Nesta planta, a maior riqueza de galhas ocor- Fernandes, G. W., M. A. A. Carneiro, A. C. F. Lara, L. A. Allain, G. reu no ápice dos ramos (6). Entretanto, a galha mais abun- I. Andrade, G. Julião, T. C. Reis & I. M. Silva. 1996. Galling dante nas 3 espécies de Baccharis foi causada nas folhas por insects on neotropical species of Baccharis (Asteraceae). Tropical Neopelma (Homoptera: Psyllidae). Cada espécie de planta Zoology 9: 315-332. sustenta uma espécie diferente de Neopelma (D. Burckhardt, Mani, M. S. 1992. Introduction to cecidology. pp. 3-7. In J. D. com. pess.). Estes insetos representaram 80% das ocorrências Shorthouse & O. Rohfritsch (Eds.), Biology of insect-induced de galhas em B. dracunculifolia, 56% em B. concinna, 53,5% galls. Oxford University Press, Oxford. em B. ramosissima. As 3 espécies de Psyllidae apresentaram de Price, P. W., G. W. Fernandes, and G. L. Waring. 1987. Adaptive 2 a 3 picos de abundância durante o ano, com um ciclo de vida nature of insect galls. Environ. Entomol. 16: 15—24. típico de herbívoros eruptivos (Price 1997). Desta forma, a composição de espécies e suas distribuições de abundâncias Price, P. W. 1997. Insect Ecology. 3 ed. Wiley and Sons, New apresentaram o mesmo padrão nas comunidades associadas às York. 3 espécies de Baccharis estudadas. Rohfritsch, O. & J. D. Shorthouse. 1982. Insect galls. pp. 132— Apesar das semelhanças na composição das comunidades, os 151. In G. Kall and J. S. Schell (Eds.), Molecular biology of plant fatores que afetam as variações temporais na abundância das galhas tumors. Academic, New York. ao longo do ano foram diferentes em cada espécie de Baccharis e (Apoio: CAPES, Fapemig, CNPq, Programa de pós-graduação em para cada guilda de galhador. Não houve um padrão claro de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre-UFMG, IFS). variação em função de fatores climáticos. Em B. ramosissima, a taxa de crescimento das plantas foi o fator que mais afetou a abundância de todas as galhas agrupadas (Spearman rank Aranhas de Teia Orbicular do Cerrado: um Enfoque correlation test, r = 0,59, p < 0,05, n = 17). Em B. concinna, as na Coloração a b galhas caulinares foram afetadas pelo número de ramos de quarto Matheus Marques Andreozzi , Felipe Malheiros Gawryszewski & c nível (Spearman rank correlation test, r = 0,62, p < 0,01, n = 18) Paulo César Motta a b c e apresentaram uma forte relação negativa com a abundância de [email protected]; [email protected]; [email protected] galhas apicais (Spearman rank correlation test, r = -0,64, p < UnB – Universidade de Brasília 0,01, n = 18), sugerindo a ocorrência de competição. Em B. dracunculifolia, o número de ramificações foi o fator que mais 1.Introdução afetou a abundância de Neopelma baccharidis, embora esta rela- A coloração e seu padrão parecem ser uma importante caracte- ção não tenha sido estatisticamente significativa (Spearman rank rística ecológica para a maioria, senão todas, as aranhas. Esse grupo correlation test, r = 0,48, p > 0,05, n = 12). A época de maior apresenta, desde um padrão críptico até cores vistosas que, pelo produção de ramificações pela planta é imediatamente anterior menos aos olhos humanos, se destacam na vegetação (ver revisão aos períodos de floração da planta, o que está de acordo com em Oxford e Gillespie, 1998). Os maiores predadores de aranhas trabalhos anteriores realizados sobre o padrão de abundância seriam pássaros insetívoros e vespas (Hymenoptera: Pompilidae), deste inseto (Espírito-Santo & Fernandes 1998). A abundância ambos orientados pela visão. Dessa forma, haveria uma força sele- deste galhador foi correlacionou-se negativamente com a das tiva para indivíduos com coloração críptica (Oxford e Gillespie, outras galhas agrupadas (Spearman rank correlation test, r = - 1998). Aranhas de teia orbicular (Aranoidea) de coloração críptica 0,64, p < 0,01, n = 18), sugerindo que a competição pode ser uma costumam esperar por suas presas em ramos ou folhas próximos a força estruturadora nesta comunidade. sua teia, ou então na própria teia (Foelix, 1996). Colorações mais 4. Conclusões chamativas e brilhantes em Aranoidea podem atrair mais presas A comunidade de insetos galhadores associados às 3 espécies orientadas pela visão para suas teias (Hauber, 2002), ou juntamen- de Baccharis apresentou convergências na sua composição de espé- te com a orientação da teia e da aranha, contribuir com a cies e distribuições de abundância. Todas são caracterizadas por termoregulação (Robinson & Robinson, 1978). uma forte dominância de uma galha foliar de Neopelma, que em B. A construção de abrigos é uma outra característica de aranhas. dracunculifolia é responsável por 80% das galhas encontradas. O Esses abrigos são construídos com fios de seda, e presos ao substrato.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 547 Cerrado Volume I

Possuem variadas formas, e suas funções vão desde servirem de longo, rígido e com espinhos laterais e posteriores. O prossoma e esconderijo, até como proteção para ovissacos. O período de as pernas possuem coloração negra e são parcialmente encobertos forrageamento das aranhas varia de espécie para espécie, porém a pelo opistossoma. A região ventral é escura ou rajada. Nenhuma maioria possui hábitos noturnos, pois neste período ocorre um teia apresentava abrigos e estavam presentes na teia tanto à noite aumento de presas e diminuição de predadores (e.g. pássaros e como de dia, mas com uma maior presença durante o dia. Quando lagartos) que são essencialmente diurnos (Foelix, 1996). coletados, estas aranhas não tentavam fugir ou se esconder, mas Este trabalho teve um caráter exploratório, onde as cores e os entravam em tanatose. Foram observados três padrões de colora- padrões gerais de comportamento foram analisados e comparados ção do abdômen: amarelo (n=5), vermelho (n=1) e branco (n=1), com o período de atividade das aranhas, incrementando assim o todos com algumas manchas negras na região dorsal. A coloração conhecimento à cerca da ecologia das aranhas do cerrado. de Gasteracantha pode estar relacionada com a taxa de captura das 2.Métodos teias, atuando a cor como chamariz para presas visualmente orien- O trabalho foi realizado em um fragmento de cerrado, locali- tadas (Hauber, 2002). Alternativamente, tal coloração vistosa pode zado próximo ao Centro Olímpico da Universidade de Brasília, servir tanto para a termoregulação quanto como coloração de aler- Brasília, DF, entre abril e maio de 2003. Foram realizadas três ta contra predadores, sendo que o opistossoma rígido e com espi- coletas diurnas (10h 30min às 12h 30min) e quatro noturnas (18h nhos pode funcionar como aparato anti-predação (Robinson & 25min às 20h 40min) intercaladas, com um intervalo mínimo de Robinson, 1978). dois e máximo de 12 dias entre elas. Aranhas com as teias mais altas desta amostragem, com 196 ± A área foi percorrida aleatoriamente, sendo coletada todas as 34 cm de altura, as quais foram sempre inclinadas e com fios de aranhas de teia orbicular, exceto Nephila clavipes, medindo-se a sustentação rajados, com algum tipo diferenciado de seda. Tal pa- altura de centro da teia até o chão com uma trena (0,5 mm), e drão rajado talvez funcione como alerta contra predadores e/ou estimando-se a inclinação da teia em relação ao solo (vertical, para que pássaros não se choquem contra a teia. horizontal ou inclinada). A aranha tinha suas características de cor, As três variedades de Gasteracantha encontradas durante as padrão e presença de abrigos observadas e então foram fixadas em coletas podem realmente pertencer a espécies distintas. Contudo, álcool 70%. As fêmeas adultas e sub-adultas foram identificadas é conhecido que algumas espécies de aranhas apresentam um até o nível de gênero com auxilio de chaves (Araneidae) (Levi, polimorfismo de cor intraespecífico (e.g. Enoplognatha ovata). A 2002) e consulta à coleção do Laboratório de Aracnídeos da Uni- existência deste polimorfismo pode ser vantajosa no sentido de que versidade de Brasília. predadores não formariam uma imagem de busca eficiente para 3.Resultados e Discussão essa espécie (Riello & Wise, 1988). Foram encontrados dez gêneros de Aranoidea, distribuídos em Argiope argentata duas famílias de aranhas tecedoras de teias orbiculares (Araneidae Essas aranhas possuem a carapaça e a porção dorsal anterior do e Tetragnathidae) e um gênero de aranha cleptoparasita opistossoma com uma coloração prateada brilhante, sendo a parte (Theridiidae: Argyrodes) (n=7). posterior de cor castanho escuro. A região ventral é escura, com Os indivíduos de Eustala sp. (n=3) e Bertrana sp. (n=10) foram uma listra amarelada transversal. A cor prateada diminui a taxa de encontrados apenas no período noturno, enquanto que em Manogea aquecimento corporal em indivíduos de Argiope argentata e junto sp. (n=3) foram encontrados no período diurno. Araneus sp. (n=16), com a posição corporal auxilia na termoregulação (Robinson & Gasteracantha sp. (n=7), Argiope argentata (n=11) e Leucauge sp. Robinson, 1978). Contudo, é possível que atraia predadores visu- (n=16) foram encontrados tanto no período diurno quanto no almente orientados, causando um conflito entre vantagens e des- noturno. Outros dois gêneros foram encontrados, Parawixia cf e vantagens em possuir essa coloração. Araneidae sp., porém com apenas um indivíduo coletado. A média da altura das teias dessas aranhas era semelhante a de Todas os gêneros exclusivamente coletados durante a noite Araneus sp., com 102 ± 33 cm. A inclinação foi sempre vertical apresentavam uma coloração críptica, muitas vezes com tons escu- (n=10) com exceção de um indivíduo que possuía a teia inclinada. ros, enquanto os gêneros que possuíam alguma atividade diurna Nenhuma teia apresentava abrigos e a proporção entre indivíduos eram, em geral, mais vistosos. coletados durante o dia (n=5) e durante a noite (n=6) foi bastante Araneus sp. próxima. Região dorsal do opistossoma com cor verde-amarelada, com Bertrana sp. duas manchas negras na porção anterior. Pernas de tom amarronzado Aranhas muito pequenas (em torno de 5 mm) e com uma com raios claros. A teia apresentava um abrigo feito de seda, em coloração verde pálida. Foram encontrados abrigos em três teias, forma de funil, em uma folha adjacente. Teia vertical e com altura com formato variado e sempre no lado abaxial de folhas. Essas de 102 ± 32 cm (média ± desvio padrão). aranhas foram coletadas apenas durante a noite, e a altura média Todos os indivíduos encontrados durante o dia (n=9) estavam das teias foi de 132 ± 28 cm, com posição vertical (n=8) ou inclina- no abrigo, enquanto apenas dois indivíduos coletados a noite apre- da (n=2). sentavam o mesmo comportamento, enquanto os outros cinco O pequeno tamanho, juntamente com a coloração críptica, estavam na teia, sendo que três deles estavam no centro da teia deve dificultar a percepção dos indivíduos por predadores. Assim (n=7). Talvez a permanência no abrigo durante o dia reduza as como a presença de abrigos e as teias, que na maioria dos casos, se chances do indivíduo ser predado ou parasitado. Como essas ara- encontravam entre as folhas do estrato arbustivo/arbóreo. nhas permanecem na teia durante a noite sua coloração não deve Leucauge spp. ter muita influência na percepção de seus predadores diurnos ou Foram encontradas duas espécies de Leucauge. Essas aranhas nas taxas de captura de presas. apresentavam a carapaça e as patas com uma tonalidade parda, Em seis teias desse gênero foram encontrados indivíduos de contrastando com a coloração do dorso do opistossoma, que pos- Argyrodes sp. Sete dos oito indivíduos foram coletados durante o suía grandes manchas de um prata brilhante. O ventre mostrava dia e o outro foi coletado no início da noite. Portanto, a presença uma coloração escura. Embora os tons prateados ajudem com a da aranha na teia parece diminuir a incidência de cleptoparasitismo, termoregulação em diversas espécies, através da reflexão de radia- no entanto também é possível que os indivíduos do gênero Argyrodes ção solar, os indivíduos desse gênero costumam se postar com o sp. possuam maior atividade durante o dia. dorso na direção do solo (Robinson & Robinson, 1978). Gasteracantha sp. Houve um certo equilíbrio entre aranhas coletadas no Aranhas que apresentam o abdômen muito mais largo do que período diurno (n=10) e noturno (n=6). A altura média das teias

548 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado foi de 90 ± 34 cm, sendo principalmente inclinadas (n=12), com schottiana Mart., cujas folhas podem ser utilizadas para ornamenta- algumas teias horizontais (n=4). A altura da teia, próxima a vegeta- ção (Lorenzi, 1996). ção herbácea, juntamente com a inclinação/horizontalidade pro- Neste estudo tivemos como objetivos: (1) comparar a produ- porcionaria uma maior eficiência na captura de presas que se ção, perda, quantidade, longevidade das folhas e área foliar em locomovem por este estrato da vegetação (e.g. Orthoptera e diferentes estádios de desenvolvimento e altura de plantas; (2) Homoptera) (Olive, 1981). verificar a época do ano de maior produção de folhas-flecha e perda 4.Conclusões de folhas; (3) comparar a predação de folhas entre os estádios de Aranhas de hábitos noturnos possuem coloração críptica, desenvolvimento da planta. provavelmente resultado de seleção por predação ou por captura 2. Métodos de presas. Aranhas com hábitos diurnos são, em geral, mais colori- O estudo foi realizado na mata de galeria do córrego Três das. Suas cores podem auxiliar na termoregulação, na atração de Barras, no Parque Nacional de Brasília-DF (150 35' a 150 45' S e presas, e ainda, servir como alerta a potenciais predadores da even- 470 43' a 480 05' W). O clima do Distrito Federal é do tipo Aw, na tual impalatabilidade da aranha. classificação de Köppen, com duas estações bem definidas, uma A estratificação vertical, assim como as diferenças no formato seca, de maio a setembro e outra chuvosa, de novembro a março. A e local de construção das teias, permite as aranhas explorarem um temperatura média é de 21 ºC e a precipitação anual de 1.600 mm. mesmo habitat de variadas maneiras. Geonoma schottiana é uma palmeira de sub-bosque com estipe Como este é um trabalho preliminar, de caráter exploratório, aéreo freqüentemente tortuoso de 1,6 a 6,0 m de comprimento estudos futuros seriam de grande importância para um melhor (Henderson et al., 1995), podendo alcançar 10 m de altura. O entendimento da ecologia das cores e da fauna de Aranoidea no estipe tem cicatrizes foliares proeminentes, porém este é ausente cerrado. A metodologia pode ser direcionada para o estudo de uma durante a fase inicial de vida da planta. Foram utilizados 39 indiví- função ecológica específica da cor em aranhas. duos distribuídos ao longo de uma trilha de 1 km, paralela ao 5. Referências bibliográficas córrego da mata. Dos indivíduos marcados, três eram plântulas Foelix, R.F. (1996) Biology of Spiders. 2ªed Oxford University Press (indivíduos sem estipe e folhas com três ou menos pinas), sete and Georg Thieme Verlag, Oxford and New York. 330pp. infantis (sem estipe e pelo menos uma folha com mais de três pinas), nove jovens (sem estipe e com pelo menos uma folha total- Hauber, M.E. (2002) Conspicuous Colouration Attracts Prey to a mente pinada), oito imaturos (com estipe aéreo, mas sem sinal de Stationary Predator. Ecological Entomology, 27: 686-691. reprodução) e 12 adultos (com estipe aéreo e reprodutivo). Levi, H.W. (2002) Keys to the Genera of Araneid Orbweavers Os indivíduos foram marcados em maio de 2002 e a altura (Araneae, Araneidae) of the Americas. The Journal of Arachnology, total (para indivíduos sem estipe) ou o comprimento do estipe 30: 527-562. (demais indivíduos) foram medidos. A área foliar predada foi esti- Olive, C.W. (1981) Co-Adapted Foraging Traits in a Guild of Orb- mada visualmente utilizando 5 classes: (0) folha intacta; (1) de 1 a Weaving Spiders. Oecologia, 49: 88-91 25 % de área foliar predada; (2) de 25 a 50 %; (3) de 50 a 75 % e Oxford, G.S. & Gillespie, R.G. (1998) Evolution and Ecology of (4) > 75 %. A predação, comprimento e largura do limbo foliar Spider Coloration. Annu. Rev. Entomol, 43: 619-643. foram avaliados em duas a cinco folhas por indivíduo dentre as mais novas, que estavam totalmente abertas. Todas as folhas foram Riello, P.R & Wise, D.H. (1988) An Experimental Evaluation of numeradas, inclusive as folhas-flecha. A partir do comprimento e Selection on Color Morphs of the Polymorphic Spider Enoplognatha largura de cada folha, foi feita uma estimativa da área foliar através ovata (Aranea: Theridiidae). Evolution, 42(6): 1172-1189. da equação: Área = 27,866 + 0,488 x comprimento x largura Robinson, M.H. & Robinson, B.C. (1978) Thermoregulation in (r2=0,96; n=48; p<0,001). A duração média das folhas por indiví- Orb-Web Spiders: New descriptions of Thermoregulatory Postures duo foi estimada pela relação entre a quantidade de folhas que o and Experiments on the Effects of Postures and Coloration. indivíduo tem e o número de folhas produzidas por ano (Corner Zoological Journal of the Linnean Society, 64: 87-102. 1966). Os indivíduos marcados foram visitados trimestralmente até maio de 2003, sendo numeradas as folhas novas e anotadas as Ecologia Foliar de uma Palmeira de Sub-bosque em folhas caídas ou secas (ainda presas ao estipe). Mata de Galeria no Brasil Central 3. Resultados e discussão Maurício Bonesso Sampaio1 e Aldicir Scariot2 Independente do estádio de desenvolvimento, foram produzi- 1Graduação Eng. Florestal UnB ([email protected]) das em média 3,3 (DP=1,8) folhas durante o ano, semelhante ao 2Embrapa/CENARGEN encontrado para outras palmeiras neotropicais (Chazdon 1991; Atarof e Schwarzkopf 1992; Carvalho et al 1999). A produção de 1. Introdução folhas diferiu entre os estádios (ANOVA gl=4; n=39; p<0,001). A atividade de uma folha durante sua vida depende da capaci- Indivíduos adultos (4,8; DP=1,6) e imaturos (3,9; DP=2,0) pro- dade intrínseca em realizar fotossíntese, da disponibilidade de re- duziram mais folhas que plantas nos estádios sem estipe (1,7 – 2,1; cursos limitantes e do tempo que permanece na planta. Quanto DP=0,4 – 0,6; Tukey; p=0,04-0,01). O estipe pode estar atuando mais tempo uma folha permanece produtiva, maior o seu retorno como estrutura de reserva, contribuindo para aumentar a produ- em relação aos recursos investidos em sua construção e manuten- ção de folhas (Atarof e Schwarzkopf 1992; Piñero, 1986), e assim, ção (Mooney e Ehleringer 1997). Em plantas de crescimento len- a produção se mantém constante nos estádios iniciais, quando não to, como palmeiras de sub-bosque, as folhas podem permanecer há estipe definido (De Carvalho, 1999). ativas por vários anos, como uma adaptação às restrições lumino- Os indivíduos perderam em média 2,9 (DP=2,3) folhas por sas do ambiente (Atarof e Schwarzkopf 1992). Porém outros fato- ano, semelhante ao encontrado para Geonoma congesta (Chazdon, res como quantidade de folhas ativas e área foliar podem ser variá- 1991). Houve diferença entre estádios (ANOVA gl=4; n=39; veis ao longo do ciclo de vida da planta, de forma a compensar p<0,001), sendo que adultos (5,3; DP=2,1) e imaturos (3,3; gastos energéticos com o incremento de biomassa, já que o poten- DP=1,0) perdem mais folhas que plantas nos estádios sem estipe cial produtivo de uma planta depende do comportamento de todas (1,0 – 1,4; DP=0,8 – 1,5; Tukey; p<0,001). Com exceção dos as suas folhas (Mooney e Ehleringer 1997). Estudos de ecologia infantis, a produção de folhas foi compensada pela perda, não foliar são úteis para subsidiar ações de manejo de plantas que têm tendo nenhum nítido incremento no número de folhas entre es- potencial para serem exploradas, como o caso da palmeira Geonoma tádios sem estipe. Embora a principal causa de mortalidade de

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 549 Cerrado Volume I folhas em palmeiras de florestas tropicais seja a queda de galhos e mento em produção de folhas e área foliar nos estádios que possu- troncos (Chazdon, 1986), em G. schottiana a maior parte das folhas em estipe, para que haja uma compensação no crescimento, embo- morreu por senilidade, evidenciando a alta flexibilidade e resistên- ra estas variáveis não estarem fortemente correlacionadas com a cia a impactos físicos. altura do indivíduo. A umidade do solo pode ser um fator limitante A população teve em média 9,7 (DP=4,5) folhas na produção de folhas, mas a perda de folhas é constante ao longo fotossintetizantes, com diferença significativa entre os estádios do ano. Os indivíduos sofrem forte predação foliar, já que a maior (ANOVA gl=4; n=39; p<0,001). Os adultos (13,7; DP=2,8) e ima- parte das folhas novas apresenta dano principalmente por sugado- turos (12,7; DP=3,7) tiveram maior quantidade de folhas res e mastigadores. fotossintetizantes (Tukey; p<0,001) que os demais estádios (4,9 – 5.Referências Bibliográficas 6,8; DP=0,5 – 1,2). Apesar dos indivíduos infantis terem tido duas Ash, J. Demography and production of Balaka microcarpa Burret vezes mais produção do que perda de folhas, não tiveram maior (Arecaceae), a tropical understorey palm in Fiji. Australian Journal número de folhas em relação aos indivíduos sem estipe. A área of Botany, v.36, p.67-80. 1988. foliar de 1.296,9 cm2 (DP=975,0) em média, é semelhante a outras Ataroff, M. e T. Schwarzkopf. Leaf Production, Reproductive palmeiras do gênero (Chazdon 1986). Houve diferença significati- Patterns, Field Germination and Seedling Survival in Chamaedorea- va entre os estádios (ANOVA gl=4; n=39; p<0,001), sendo que Bartlingiana, a Dioecious Understory Palm. Oecologia, v.92, n.2, folhas individuais de adultos (2.145,4 cm2; DP=773,2) e imaturos p.250-256. 1992. (2.201,4 cm2; DP=519,4) tiveram maior área foliar (Tukey; p<0,001), que os demais estádios (176,8 – 671,4 cm2; DP=69,1 – Bullock, S. H. Demography of an undergrowth palm in Littoral 311,8). Para Euterpe edulis, existe grande incremento da área foliar Cameroon. Biotropica, v.12, n.4, p.247-255. 1980. entre a fase de plântula e de juvenil (Carvalho et al 1999), diferente Chazdon, R. L. The Costs of Leaf Support in Understory Palms - do encontrado para G. schottiana. Economy Versus Safety. American Naturalist, v.127, n.1, p.9-30. 1986. A longevidade média (3,1 anos ±1,0 DP) das folhas não difere ______. Effects of leaf and ramet removal on growth and entre os estádios (ANOVA gl=4; n=39; p=0,4). Esse resultado dife- reproduction of Geonoma congesta, a clonal understorey palm. re do encontrado para Geonoma cuneata e G. congesta, que têm a Journal of Ecology, v.79, p.1137-1146. 1991. longevidade foliar aumentada com a idade da planta (Chazdon Clancy, K. E. e M. J. Sullivan. Demography of the needle palm, 1986). Como a longevidade se mantém constante ao longo da vida Rhaphidophylum hystrix, in Mississippi and Alabama. Principes, em G. schottiana, indivíduos com estipe investem mais no aumento v.34, n.2, p.64-78. 1990. da produção de folhas e na área foliar, para assim aumentar o crescimento em altura e alcançar estratos do interior da floresta Corner , E. J. H. The natural history of palms. Berkeley: University com maior quantidade e qualidade de luz. of California Press. 1966. Apesar disso, a produção, perda, quantidade de folhas e área De Carvalho, R. M., F. R. Martins, et al. Leaf ecology of pre- foliar tiveram baixa correlação positiva com a altura do indivíduo reproductive ontogenetic stages of the palm tree Euterpe edulis (r2=0,38 – 0,49; n=39 – 119; p<0,001;). Não houve correlação Mart. (Arecaceae). Annals of Botany, v.83, p.225-233. 1999. 2 entre a duração das folhas e a altura (r =0,00; n=38; p=0,30;). Isso Henderson, A., G. Galeano, et al. Field guide to the palms of the indica que outras variáveis, não consideradas neste estudo, tam- Americas. New Jersey: Princeton University Press. 1995. 351 p. bém tem influencia no crescimento em altura. A baixa correlação Lorenzi, H. Palmeiras no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: entre produção e quantidade de folhas com altura já foi observada em outras palmeiras como Balaka microcarpa (Ash, 1988) e Plantarum. 1996. 303 p. Rhapidophyllum hystrix (Clancy e Sullivan, 1990). Mooney, H. A.; Ehleringer, J. R. Photosyntesis. In: Crawley, M. J. A época do ano de maior produção de folhas-flecha (ANOVA (ed.). Plant ecology. Oxford: Blackwell Science, 1997. para medidas repetidas; n=118; p<0,001) foi de novembro a mar- Piñero, D., M. Martínez-Ramos, et al. Demographic studies in ço, coincidindo com a época de maior precipitação, sendo que o Astrocaryum mexicanum and their use in understanding community teor de umidade do solo parece ser um fator limitante na produção dinamics. Principes, v.30, n.3, p.108-116. 1986. de folhas. Palmeiras que ocorrem em florestas estacionais apresen- tam sazonalidade na produção foliar (Clancy e Sullivan 1990; Relação do Parasitismo por Carrapato no Peso de Bullock, 1980), entretanto isso não ocorre com palmeiras de flo- Aves do Cerrado e Mata de Galeria do Distrito restas tropicais úmidas (Ataroff, 1992), onde a sazonalidade é me- Federal, Brasil nos intensa. Já a perda de folhas ocorre distribuída ao longo do ano a b,c não tendo nenhum padrão (ANOVA para medidas repetidas; Mieko Ferreira Kanegae ; Mariana Mira Vasconcellos ; Miguel Ângelo Marini b n=118; p=0,8). a A maior parte (74 %) das folhas novas sofreu algum tipo de Pós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília, DF [email protected],; bDepartamento de Zoologia, Universidade de predação, porém somente 11 % tiveram mais de 25 % da área Brasília, DF ; c graduação [email protected] foliar danificada e nenhuma folha foi classificada com taxa de predação acima de 75 %. Embora as plântulas tiveram menor 1. Introdução proporção de folhas na classe de 1 a 25 % da área foliar predada Os parasitas estão entre os organismos mais abundantes e são, (ANOVA gl=4; n=39; p<0,01; Tuckey; p<0,05 ), elas , tiveram por definição, prejudiciais aos hospedeiros possuindo influência maior proporção de folhas predadas na classe de 25 a 50 % em tanto na ecologia como na evolução destes (Hudson et al . 2002). relação a todos os outros estádios (ANOVA gl=4; n=39; p<0,001; Em ambientes com alta infestação os hospedeiros investem mais Tuckey; p<0,05). Entretanto, para os indivíduos sem estipe de G. tempo e energia na defesa contra parasitas (Scheldon & Verhulst schottiana, foi avaliada maior quantidade de folhas velhas, contri- 1996, Norris & Evans 2000), o que pode limitar seus investimen- buindo para aumentar a predação. Apesar de não ter sido tos em outros aspectos da história de vida. quantificado, a maior parte das folhas foi atacada por sugadores e As aves são hospedeiras de numerosos tipos de parasitas que mastigadores. apresentam diversos graus de patogenicidade (Philips 1990). Os 4.Conclusões ectoparasitas são parasitas externos ao corpo do hospedeiro que Geonoma schottiana tem folhas de longevidade constante ao afetam as aves de forma direta através da ingestão de tecidos, cau- longo do ciclo de vida. As plantas precisam ter um maior investi- sando anemia, danos à pele e inoculando toxinas. Indiretamente,

550 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado servem de vetores de endoparasitos, protozoários, bactérias e vírus Apenas três espécies, Conopophaga lineata, Saltator similis e (Flechtmann 1990). Turdus leucomelas, pertencentes a três famílias diferentes apresen- Os carrapatos são quase onipresentes nos vertebrados terres- taram correlação negativa significativa (P < 0,05) entre o peso e o tres sendo de grande importância como reserva e vetores de orga- número de carrapatos, ou seja, quanto maior a infestação por car- nismos patogênicos (Flechtmann 1990). A ocorrência de rapatos, menor foi o peso da ave. Todas as demais espécies obtive- ectoparasitas nas aves pode variar em função de diversos fatores ram correlação não significativa. ecológicos tais como, a história filogenética dos diferentes táxons Não foi observado qualquer padrão ecológico (dieta, estrato de aves, seu comportamento social, o local de forrageamento e sua de forrageamento, dependência florestal) que explicasse correlação dieta (Marini et al . 1996, Marini & Couto 1997, Kanegae 2003). significativa entre as três espécies. Por outro lado, verificamos que A alta infestação pode comprometer a condição corporal, diminu- essas espécies tiveram em comum altas prevalências, alto número indo o peso das aves (Brown & Brown 1986, Weddle 2000), afe- de indivíduos parasitados e uma média de carrapatos > 1,3. O tando a sua saúde (Lehmann 1993) e comprometendo o sucesso mesmo pôde ser verificado para Tryothorus leucotis e Trichothraupis reprodutivo das mesmas (Møller 1993, Richner et al . 1993). melanops, entretanto, não foi possível identificar qualquer correla- O peso é a medida que transmite de forma mais segura o ção significativa. Portanto, esses fatores contribuem para a associ- tamanho da ave (Sick 1985). Além disso representa um dos ação entre o peso e a taxa de infestação de carrapatos, porém, não parâmetros mais importantes para elucidar questões de aspecto são os determinantes. ecológico e fisiológico (Dunning 1993), sendo um importante Dentre as três espécies que obtiveram correlação significativa, determinante da condição corpórea da ave (Blake 1956). Alguns duas foram consideradas de peso alto (41g – 69,4g) e uma foi estudos realizados correlacionando o tamanho e o peso do corpo considerada de peso médio (21g – 40g). Nenhuma das espécies (n das aves com a intensidade de infestação dos carrapatos não têm = 10) de baixo peso (11g – 20g) obteve correlação significativa. encontrado qualquer tipo de associação (Marini et al . 1996, Poulin Aparentemente, o efeito causado pelos carrapatos nas aves provo- 1991). Por outro lado, estudos realizados com filhotes de Hirundo cando uma diminuição do peso corpóreo foi evidenciado nas espé- pyrrhonota e Passer domesticus constataram que os ninhegos mais cies maiores, com pesos variando de médio a alto (21 g – 69,4 g). parasitados por ácaros hematófagos apresentaram menor massa Marini et al . (1996) não constatou esse efeito no peso de quatro corporal (Brown & Brown 1986, Weddle 2000). O mesmo foi espécies de Passeriformes da Mata Atlântica, o que pode também constatado por Costa (2002) para indivíduos adultos de Volatinia estar relacionado ao baixo peso das aves amostradas (12,4g – 21,6g). jacarina parasitados por endoparasitas gastrointestinais. O grande número de espécies que não obtiveram tal correlação Considerando que são poucos os estudos correlacionando a pode refletir a baixa taxa de infestação nas aves (média de 2 carrapa- condição corporal das aves com a infestação de ectoparasitas tos/indivíduo) podendo não afetar tanto o peso corpóreo das mes- hematófagos, o objetivo do presente trabalho foi verificar o efeito mas. Além disso, todos os carrapatos amostrados nas aves encontra- de diferentes graus de parasitismo por carrapatos no peso de algu- vam-se no estádio de ninfa ou larva, possuindo menor tamanho que mas espécies de Passeriformes de cerrado e de mata de galeria. o estádio adulto, podendo causar um dano menor ao hospedeiro. 2. Material e Métodos Verificamos, ainda que para as 18 espécies analisadas houve O trabalho foi realizado na FAL (Fazenda Água Limpa) locali- uma fraca correlação positiva não significativa entre a média do zada a 20 km a sudeste de Brasília (15º 57’S, 47º 56’W), possui peso corporal e a média do número de carrapatos (rs = 0,27; P = uma área de 4.340 hectares destinada à preservação (2.340 ha), à 0,27). Assim, podemos constatar que a quantidade de carrapatos conservação (800 ha) e à produção agrícola e pastoril (1.200 ha). não é influenciada pelo peso corporal das espécies, logo, tanto as O estudo foi desenvolvido em dois ambientes de Cerrado: floresta aves de pequeno e de grande porte podem apresentar as mesmas (mata de galeria) e cerrado (campo sujo e cerrado sensu strito ). Os taxas de infestação, independentemente do peso. dados foram coletados de janeiro a dezembro de 2002. A captura 4. Conclusão das aves foi realizada com cerca de 15 redes ornitológicas de 12x2 A infestação por carrapatos, em geral, não afeta o peso das m, dispostas em transectos lineares, totalizando 180 m de redes em aves, assim, pode não haver perda de massa corpórea quando rela- cada local. As redes foram abertas nas primeiras horas do dia, após cionada à taxa de parasitismo. Entretanto, o efeito danoso do o nascer do sol e fechadas às 13:00. parasitismo por carrapatos pode ocorrer em outros aspectos, sen- Nas aves capturadas foram quantificados o número de carrapa- do vetores de organismos patogênicos, aumentando a suscetibilidade tos na região da cabeça, pescoço e ventre, soprando-se as penas até a infecções secundárias, diminuindo a taxa de sobrevivência e o que a pele pudesse ser visualizada. Foram calculadas para as aves sucesso reprodutivo das mesmas. Alguns estudos têm mostrado capturadas as prevalências de carrapatos (porcentagem de indiví- que 20-40% das causas de morte entre as aves são atribuídas à duos infestados de um táxon) (Margolis et al 1982). Informações infecções (Dobson & May 1991). sobre o peso foram obtidas com a balança Pesola de 50 e 100 g, A quantidade média de carrapatos presentes nas diferentes com precisão de 1g. As aves capturadas foram marcadas com ani- espécies de aves não é influenciada pelo peso corpóreo, assim, as lhas metálicas cedidas pelo CEMAVE/IBAMA. Foram considera- diferentes espécies analisadas apresentaram taxas de parasitismo dos para análise apenas espécies de Passeriformes com mais de 10 independentes do peso da ave. Considerando que poucos estudos indivíduos amostrados e prevalência de infestação por carrapatos relacionados ao parasitismo nas aves são desenvolvidos na região acima de 10%. tropical, são necessárias pesquisas mais aprofundadas nessa área Para verificar a existência de relação entre a intensidade de para o conhecimento dos reais efeitos causados por ectoparasitas infestação com o peso corporal das aves, a média de carrapatos hematófagos. com a média do peso das espécies de aves foram utilizadas a corre- 5. Referências bibliográficas lação não-paramétrica de Spearman (Zar 1999). Análises estatísti- Blake, C. H. 1956. Weight changes in birds. Bird-Banding cas foram consideradas significantes quando P < 0,05. VolXXVII :16-23. 3. Resultados e Discussão Brown, C. R., Brown, M. B. 1986. Ectoparasitism as a cost of Foram analisadas 18 espécies de Passeriformes pertencentes a coloniality in cliff swallws (Hirundo pyrrhonota). Ecology. 1206-1218. 5 famílias. As maiores prevalências de carrapatos variaram entre 60,6 – 90,9 % sendo registradas para seis espécies: Conopophaga Costa, F. J. V. 2002. O efeito de parasitas sobre a condição corpo- lineata (90,9%), Troglodytes aedon (80%), Saltator similis (72,7%), ral e os caracteres sexuais secundários do tiziu (Volatinia jacarina). Thryothorus leucotis (72,4%), Trichothraupis melanops (70,6%) e Dissertação de mestrado. Pós-graduação em Biologia Animal. Turdus leucomelas (60,6%). Universidade de Brasília. DF.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 551 Cerrado Volume I

Dobson, A. P., May, R. M. 1986. Disease and conservation. In M. lha dos ninhos pelos predadores, onde a cor tem uma relação direta E. Soulé, Conservation Biology. The Science of Scarcity and com o local onde o ninho é confeccionado. Ovos azuis com ou sem Diversity. Sunderland, Massachussets. pintas são encontrados em ninhos em forma de taça, onde parecem Dunning, Jr., J. B. 1993. CRC Handbook of avian body masses. imitar as manchas de luz que incide sobre as folhas. Ovos róseos CRC Press, Inc., Boca Raton, Florida. com ou sem pinta geralmente são encontrados sobre ou próximo ao chão em ninhos ralos, onde os ovos confundem-se com folhas Flechtmann, C. H. W. 1975. Elementos de Acarologia. Nobel, São Paulo. secas, serrapilheira ou mesmo com o solo, enquanto os ovos bran- Hudson, P. J., Rizzoli, A. P., Grenfell, B. T., Heesterbeek, J. A. P., cos manchados ou não são encontrados em ninhos em forma de Dobson, A. P. 2002. Ecology of wildlife disease, p. 1-5. In P. J . forno (Sick, 1997). Hudson, A. Rizzoli, B. T. Grenfell, H. Heesterbeek, A. P. Dobson Experimentos relacionados a predação de ninhos e o local [EDS.]. The ecology of wildlife disease. Oxford University Press, onde estes são construídos permitem propor novas hipóteses para New York. os padrões de seleção de habitat, coexistência entre as espécies e a Kanegae, M, F. 2003. Comparações dos padrões de ectoparasitas historia natural destas (Martin, 1993). em aves de cerrado e mata de galeria do Distrito Federal. Disserta- Na natureza são encontrados diversos predadores de ninhos, ção de Mestrado. Pós-graduação em Ecologia. Universidade de onde os quais podem viver no chão, serem arborícolas e até mesmo Brasília. DF. aéreos; no caso de algumas aves rapineiras. Muitas perdas de ovos Lehmann, T. 1993. Ectoparasites: direct impact on host fitness. são atribuídas a gambás (Didelphis sp), sagüis (Callithrix sp) e ser- Parasitology Today 9:8-13. pentes (Sick, 1997). Este trabalho teve como objetivo verificar a taxa de predação Margolis, L., Esch, G. W., Holmes, J. C., Kuris, A. M., Schad, G. em diferentes colorações de ovos em ninhos artificiais dispostos no A. 1982. The use of ecological terms in parasitology (report of an solo e a 1,5m de altura. ad hoc Committee of the American Society of Parasitologists). 2. Métodos Journal of Parasitology 68:131-133. O presente trabalho foi realizado no campus II da Faculdade Marini, M. Â. & Couto, D. 1997. Correlações ecológicas entre da Terra de Brasília localizado na Fazenda Núcleo Rural Vargem da ectoparasitos e aves de floresta de Minas Gerais. p. 210-218. In L. Benção, no Recanto das Emas, Brasília / DF. A fazenda possui uma L. Leite, C. H. Saito [EDS.]. Contribuição ao Conhecimento área de aproximadamente 800.000m2, apresentando áreas de mata Ecológico do Cerrado. Departamento de Ecologia, Universidade de galeria, cerrado, campo sujo, bem como áreas antropizadas, de Brasília, Brasília. onde a vegetação foi substituída por pastagem. Marini, M. Â., Reinert, B. L., Bornschein, M. R., Pinto, J. C., O experimento foi realizado no período de Setembro de 2002 Pichorim, M.A. 1996. Ecological correlates of ectoparasitism on à Março de 2003, em uma área de Cerrado campo sujo em um Atlantic Forest birds, Brazil. Ararajuba 4:93-102. conjunto de quatro transectos a partir de um ponto central com Møller, A. P. 1993. Ectoparasites increase the cost of reproduction 40 metros. Foram dispostos ninhos confeccionados manualmente in their hosts. Journal of Animal Ecology 62:309-322. com feixes de capim no solo e a 1,5 metros de altura no mesmo ponto, com intervalos de 6 metros entre cada ponto, totalizando Norris, K. & Evans, M. R. 2000. Ecological immunology: life 12 ninhos em cada transecto. history trade-offs and immune defense n birds. Behavioral Ecology Foram colocados 4 ovos em cada ninho, sendo um de codorna 11:19-26. (Coturnix coturnix) e três ovos de massa de modelar atóxica, nas Philips, J. R. 1990. What’s bugging your birds? Avian parasitic cores amarela, azul e um ovo manchado com as cores amarela e azul. arthropods. Wildlife Rehabilitation 8:155-203. Os transectos foram vistoriados durante 4 dias consecutivos Poulin, R. 1991. Group-living and infestation by ectoparasitas in sempre na parte da manhã com intervalos de 10 dias entre cada Passerines. The Condor 93:418-423. vistoria. Foram considerado predados os ovos que estavam fora do Richner, H., Oppliger, A., Christe, P. 1993. Effect of an ectoparasite ninho, com alguma ranhura ou ausente. on reproduction in great tits. Journal of Animal Ecology 62:703-710. 3. Resultados e Discussão Durante o período de amostragem foram oferecidos 1.248 Scheldon, B. C. & Verhulst, S. 1996. Ecological immunology: ovos em cada estrato totalizando 2.496. Destes 803 foram predados, costly parasite defences and trade-offs in evolutionary ecology. Trends correspondendo a aproximadamente 32,15% do total oferecido. in Ecology and Evolution 11:317-321. Do total de ovos predados aproximadamente 27,51% eram Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, Rio de coloridos (amarelo, azul ou amarelo/azul), 4,64% da predação Janeiro. ocorreu nos ovos de codorna. Da quantidade de ovos oferecidos no Weddle, C. B. 2000. Effects of ectoparasites on nestling body mass solo a maior taxa de predação foi observada para a cor azul com in the House Sparrow. The Condor. 102: 684-687. 13,7% seguido de 12,74% e 11,93% os manchados e amarelo respectivamente. A menor taxa encontrada no solo ocorreu com os Zar, J. H. 1999. Biostatistical Analysis. Prentice-Hall, New Jersey. ovos de codorna com aproximadamente 1,6% de predação. Para os ovos oferecidos no alto a maior taxa encontrada foi de Efeito da predação em ovos de diferentes cores em 7,69% para os ovos de codorna e 6,65%, 5,52% e 4,48% para as ninhos artificiais numa área de Cerrado campo sujo, cores amarelo, azul e manchado respectivamente. Observou-se Brasília – DF que não houve diferença significativa nas taxas de predação entre Moacir dos Santos Lima Junior c; William Sousa de Paula a; Viviane os ovos coloridos e codorna para o alto, diferentemente das taxas Teixeira de Miranda a; Juliana Bragança Campos a & Adriana encontradas para o solo. Bocchiglieri b Analisando separadamente os ovos coloridos obtemos que para a Graduação Ciências Biológicas Faculdade da Terra de Brasília b os amarelos observou-se que 11,93% dos ovos oferecidos no chão professor orientador Faculdade da Terra de Brasília c foram predados e 6,65% no alto e para o azul 13,7% e 5,52% para [email protected] chão e alto respectivamente. Já manchados foram predados na taxa de 12,74% para chão e 4,48% para o alto e os ovos de codorna 1. Introdução 1,6% e 7,69% para chão e alto respectivamente. A coloração dos ovos pode ser um fator determinante na esco- Na área de estudo foi observado a presença de Bolomys lasiurus

552 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado e Calomys sp que são considerados potenciais predadores dos ni- 5. Referências Bibliográficas nhos localizados no solo. Esses mamíferos de pequeno porte foram BRANDÃO, R.A. (1998). Efeitos de queimadas na predação de ovos coletados através de armadilhas do tipo Pitfall trap localizadas em Cerrado sensu stricto e campo sujo em um fragmento de cerrado do próximas aos ninhos durante o período de amostragem. Foram Distrito Federal. Projeto de pesquisa do curso “Métodos de Campo encontradas marcas de dentes e unhas de roedores em ovos de em Ecologia”, Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, massa, levantando evidências de que estes possam atuar como pos- Brasília – DF. síveis predadores. MARINI, M.A. & MELO, C. (1998). Predators of quail eggs, and Dentre os predadores dos ninhos instalados no alto pôde se the evidence of the remains: implications for nest predation studies. observar à ocorrência de marsupiais arbóreos e aves na área como The Condor 100: 395-399. Gracilinanus coletado nas mesmas armadilhas, identificado-se mordidas e ranhuras nos ovos de massa. Segundo Brandão (1998) MARTIN, T.E. (1993). Nest predation and nest sites. New e Marini & Melo (1998), a espécie Cyanocorax cristatellus é consi- perspectives on old patterns. BioScience 43:523-532. derada uma predadora de ninhos e durante o período de amostragem ROPER, J.J. (1992). Nest predation experiments with quail eggs: foi verificada visualmente a presença de bandos desta espécie na too much to swallow? Oikos 65:528-530. área de estudo, senso os mesmos registrados predando os ovos. SICK, H. (1997). Ornitologia Brasileira, Ed. Nova Fronteira, Rio Através dos dados obtidos pode-se observar que nas taxas encon- de Janeiro, pp: 115-118. tradas para ovos coloridos não houve significativa diferença na predação em relação às cores de um mesmo estrato e sim nas cores Atitudes de produtores rurais: perspectivas de entre os estratos. Possivelmente os resultados encontrados devem- se as diferentes formas de forrageamento dos predadores observa- conservação dos fragmentos de cerrado do dos no local. Assentamento Reunidas, Promissão, SP. Já para a relação de predação entre cores e ovos de codorna, Nazario, N. ([email protected]); Bitencourt, M. D. obteve-se uma discreta diferença no estrato solo, onde a taxa de ([email protected]) – IB/USP predação dos ovos de codorna é aproximadamente seis vezes me- nor que a dos ovos coloridos. Pressupõem-se que esse resultado se 1. Introdução deu devido à estrutura dos ovos de codorna, uma vez que estes O cerrado brasileiro é um bioma ameaçado, correndo sérios possuem uma casca rígida, diferentemente dos ovos de massa, onde riscos de destruição. O fogo, a pecuária, a agricultura, a invasão das possivelmente ovos de massa tornaram-se mais atrativos por serem gramíneas e a extração da madeira são algumas das causas que mais acessíveis, devido a capacidade de visualização do ovo pelo levam a uma perda gradual e contínua de sua riqueza e diversidade predador uma vez que ovos coloridos são mais conspícuos que (SÃO PAULO, 1997). Em São Paulo o cerrado se encontra em ovos de codorna, facilitando assim sua predação no chão. pior situação em relação aos outros estados, uma vez que os impac- De outra forma não se observou uma grande variação nas taxas tos ambientais e sociais da Revolução Verde foram muito mais encontradas entre ovos de codorna e coloridos no estrato alto, mas profundos nesta região. As suas diferentes fisionomias, que origi- cabe ressaltar que houve uma diferença significativa nas taxas de nalmente recobriam cerca de 14% do território paulista, atual- predação dos ovos de codorna entre os diferentes estratos, onde mente representam apenas 1% da área original (SÃO PAULO, encontramos uma taxa aproximadamente quatro vezes maior para 1997) e estão isoladas e permanentemente ameaçadas pelas pres- o alto em relação ao solo. A utilização de ovos de codorna tem sido sões humanas. criticada por Roper (1992), que propõe que ovos de codorna por Segundo Carmo e Comitre (2002), existem três grandes zonas serem maiores e mais resistentes que ovos de pequenos passeriformes de impacto: 1) nas regiões próximas às cidades, sob forte pressão da dificultam a predação de pequenos animais, como os encontrados expansão imobiliária; 2) em áreas sujeitas à pressão dos pequenos na área de estudo, sendo assim o provável motivo da alta taxa de produtores, geralmente com pequena extensão e sujeitas a alto predação no alto uma vez que o potencial predador deste estrato é impacto; e 3) nas áreas de propriedades privadas. A preservação Cyanocorax cristatellus que não encontra dificuldade na utilização destas áreas só será possível se os proprietários de terras forem deste recurso. Uma maior predação no alto pode ser atribuída ao envolvidos nos processos de conservação (AZEVEDO, 1998; SÃO maior valor energético dos ovos de codorna, uma vez que os poten- PAULO, 1997). Este trabalho investiga as atitudes de produtores ciais predadores observados na área de estudo para este tipo de rurais em relação às áreas naturais de cerrado (Reservas Legais - estrato foram aves. RLs) e matas ripárias (Áreas de Preservação Permanente) do As- 4. Conclusão sentamento Reunidas, Promissão, SP, e identifica as ações locais Concluímos que os ovos coloridos foram predados em maior que poderiam promover o desenvolvimento sustentável. quantidade no estrato chão com aproximadamente o dobro da 2. Materiais e Métodos taxa de predação em relação aos ovos coloridos do estrato alto e os O Assentamento Reunidas (617.000-633.000/7.616.000- índices de predação entre as cores nos estratos não foram significa- 7.624.000) abrange uma área total de 17.270 hectares e está esta- tivamente diferentes. belecido no domínio do cerrado. A ocupação da Fazenda se deu em As taxas de predação dos ovos de codornas entre os estratos 1989, ocasião da demarcação dos lotes. Seguindo as determina- tiveram uma variação significativa, onde no alto foi de aproximada- ções do Código Florestal (BRASIL, 1965), 20% da vegetação ori- mente quatro vezes mais predado do que no chão. Em relação aos ginal foram mantidos como Reservas Legais comuns, as quais são ovos coloridos pode-se concluir que estes obtiveram uma maior vizinhas aos lotes das famílias. Nestas áreas é proibida a supressão taxa de predação que os ovos de codorna no chão, diferentemente da vegetação; a circulação de pessoas é permitida, mas não pode dos resultados encontrados para o alto, no qual não houve uma comprometer a regeneração e manutenção a longo prazo da vege- diferença significativa entre as taxas de predação. tação nativa (BRASIL, 1965). Estes resultados devem ser levados em consideração somente A pesquisa é composta por duas partes principais: 1) Diagnós- para este tipo de fitofisionomia do Cerrado. A falta de trabalhos tico do estado de conservação das matas ripárias e mapeamento do relacionados com padrão da coloração de ovos e predação de ni- uso e ocupação das terras. A construção de uma base cartográfica nhos sendo eles naturais ou não dificulta uma analise mais precisa digital, feita a partir de sensoriamento remoto e de técnicas de dos resultados obtidos. geoprocessamento, orientou os trabalhos em campo. A imagem de satélite da área de estudo foi usada para gerar uma imagem IVDN

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 553 Cerrado Volume I

(Índice de Vegetação Diferença Normalizada), que permite dife- rural (56,6%) ou rural/cidade (39,6%), vindo predominantemen- renciar a vegetação verde das áreas de solo exposto. A classificação te do Estado de São Paulo (81,1%). A renda média proveniente do dessa imagem permitiu caracterizar o estado de conservação das lote é inferior a R$ 600,00 por família, conforme observado em matas ripárias e mapear o uso e ocupação das terras no interior dos 94,4% dos casos. Considerando-se o tamanho médio das famílias, lotes; 2) Diagnóstico das atitudes dos produtores rurais frente às a renda média mensal, (cerca de R$ 500,00), o fato de mais da áreas naturais protegidas. Assumiu-se que a atitude é o comporta- metade das famílias (56,6%) terem uma fonte complementar de mento ditado por disposição interior, a maneira de agir em relação renda (aposentadoria, salário) e que a dificuldade mais citada foi a a uma situação (HOUAISS et al., 2001), abrangendo as opiniões falta de verba para investir no lote, pode-se dizer que a atividade (julgamento que se tem sobre determinada questão) e as ações agropecuária desses produtores gera uma renda relativamente bai- efetivamente adotadas. A técnica escolhida para investigar as atitu- xa. De fato, a maior dificuldade citada pelos assentados no dia-a- des dos produtores rurais foi a entrevista, associada com a observa- dia foi a falta de verba e crédito para investir na produção. ção em campo. Foi elaborado um roteiro de entrevista, construído Os aspectos econômicos influenciam as atitudes dos assenta- a partir de trabalhos anteriores (AZEVEDO, 1998; DITT, 2000; dos. A principal justificativa para o uso do adubo natural foi a INFIELD, 1988) e composto por cinco blocos: I) Perfil sócio- ausência de custo do produto (32,1%), além deste exercer melhor econômico das famílias; II) Produção no lote; III) Conhecimento efeito nas plantas (20,8%), já estar disponível no lote (15,1%), e uso feito do cerrado; IV) Utilidade e importância atribuída ao atuar mais tempo no solo e não precisar ser reaplicado tantas vezes cerrado e perspectiva de continuidade; V) Sugestões para o plantio quanto o químico (13,2%). A vontade de substituir as RLs de de espécies de cerrado nas RLs. A interpretação dos dados coletados cerrado por outra coisa (para plantio de árvores com madeira de lei foi feita a partir do estabelecimento de categorias de resposta e da ou frutíferas, para pasto de gado ou assentamento de nova família) análise de conteúdo, numa análise qualitativa que trabalha com demonstra o desejo de maximizar o uso da terra agricultável dados predominantemente descritivos. Além disso, foi construído (MACBETH; FOSTER, 1994). Segundo Azevedo (1998), a deci- um Indicador de atitude conservacionista, para obter uma grande- são de preservar dos proprietários rurais é baseada no cálculo de za que representasse numericamente a predisposição desses produ- quanto irá render a exploração dessas áreas em termos da contabi- tores em conservar ou não as áreas naturais. Dados da literatura lidade geral da propriedade. O medo da fiscalização e das multas indicam haver uma relação das atitudes conservacionistas com a aplicadas pelo IBAMA e pela Polícia Florestal quando ocorre idade, o grau de escolaridade dos indivíduos e a renda (INFIELD, descumprimento das normas de uso das RLs reforça a influência do 1988; WILSON, 1992;) e a correlação do Indicador com estes fator econômico nas atitudes dos produtores. Os assentados estão parâmetros permitiria verificar se as atitudes conservacionistas va- atentos à fiscalização das áreas de RL próximas aos seus lotes e a riam em função desses aspectos. Assumiu-se que algumas pergun- maior parte deles (62,3%) acredita que a responsabilidade de cui- tas do roteiro de entrevista referiam-se a atitudes de conservação; dado com a mata é dos próprios moradores. Uma parcela (47,7%) as respostas dessas perguntas foram convertidas em valores numé- atribui essa responsabilidade à figura de algum órgão ambiental ricos. Atitudes mais favoráveis à conservação (por exemplo, uso do fiscal. Alguns moradores acreditam que os cuidados devem vir da adubo orgânico nas plantações) receberam mais pontos do que as parte da prefeitura ou do governo (9,4%) e apenas uma pequena atitudes menos favoráveis (corte de madeira das RLs). Foi calcula- parcela (3,8%) considera os usuários (pescadores, donos de olari- do para cada entrevistado um Indicador, que varia de zero a um – as) responsáveis pelas RLs. Os dados indicam haver um consenso quanto maior o Índice, maior é a predisposição em conservar. A fim de responsabilidade atribuída aos moradores. de verificar a confiabilidade do Indicador proposto, foi calculado o Ao mesmo tempo, os resultados demonstram que a maioria dos coeficiente Alfa (á ) de Cronbach. entrevistados conhece fauna e flora local e freqüenta as áreas de Os principais parâmetros adotados para a discussão das pro- proteção, além de reconhecer e valorizar os benefícios ecológicos e postas de desenvolvimento sustentável no Assentamento foram: a) utilitários da natureza. Quando perguntados a respeito da impor- preocupação com a conservação dos fragmentos de cerrado e de tância e utilidade do cerrado, 90,5% dos entrevistados consideram o mata ripária; b) respeito à cultura das famílias locais, incorporando cerrado importante. Quanto aos aspectos ecológicos, foram menci- suas contribuições à conservação (conhecimento do cerrado, ati- onados a importância por abrigar os animais (43,4%); trazer chuva/ tudes, dificuldades); c) incentivo à conservação levando-se em con- manter a umidade (35,8%), atuar como um filtro de ar puro/ forne- sideração as condições sócio-econômicas das famílias e a possibili- cer oxigênio (34,0%), evitar o assoreamento (24,5%), fornecer som- dade de implantar atividades geradoras de renda; e d) valorização bra (28,3%), proteger os mananciais (13,2%) e preservar a natureza/ dos recursos físicos e sociais disponíveis na comunidade evitar a extinção (5,7%). Quanto aos aspectos de uso direto dos 3. Resultados e Discussão recursos pelo homem foram mencionados a beleza da mata (24,5%); Os resultados dos mapas indicam que todas as áreas dos lotes uso das terras para o gado pastar (7,5%); fornecimento de madeira são aproveitadas economicamente com cultivo e principalmente de boa qualidade (3,8%); local para passeio (3,8%); fornecimento com pasto. Não há áreas pouco aproveitadas nos limites do Assen- de comida e água pras criações (5,7%); presença de espécies medici- tamento e nem matas de cerrado no interior dos lotes. Conforme nais (1,9%); terra boa (1,9%); fonte de pesca e caça (1,9%); manu- será discutido na apresentação dos resultados das entrevistas, as tenção do adubo na terra de cultivo (1,9%). condições sócio-econômicas dessas famílias exigem que seja feito o Os valores do Indicador de atitude conservacionista foram máximo proveito das terras, o que justifica a ocupação desse espa- calculados para os 53 entrevistados e a média dos valores foi igual ço pela atividade agropecuária e evidencia a impossibilidade de a 0,69. Mais da metade dos entrevistados (28 indivíduos) apresen- plantio de espécies nativas na área dos lotes. A classificação da taram valores de Índice acima da média e nenhum entrevistado cobertura vegetal dentro das APPs revelou regiões com vegetação obteve a pontuação mínima (igual a zero), sendo que o menor rala, que correspondem a áreas degradadas, fruto da invasão do gado, valor obtido foi de 0,33. Com base no Índice proposto e na distri- fogo, corte de madeira, conforme revelado nas entrevistas e visitas a buição de seus valores, poderia-se dizer que a população amostrada campo. Em termos de área ocupada, a porcentagem de mata ripária apresentou uma tendência mais favorável à conservação do que à (46,24%) foi semelhante à porcentagem de área degradada (43,12%); destruição ambiental. No entanto, a interpretação desse dado pre- na ida a campo, verificou-se que a beira dos rios encontra-se degra- cisa ser feita com ressalvas, uma vez que o Alfa calculado (á= 0,24) dada, em erosão e ocupada por espécies invasoras. indicou uma baixa confiabilidade do Índice proposto, invalidando Foram entrevistadas 53 famílias que, em sua maioria (81,1%), a possibilidade de correlacionar o Indicador com a idade, o grau de têm tamanho mediano, variando de 3 a 6 pessoas. As famílias estão escolaridade e a renda dos entrevistados. no Assentamento há mais de 10 anos (77,4%), e têm um passado

554 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

4. Conclusões tos florestais no Pontal do Paranapanema. 2000. 97 f. Tese (Mestrado Os dados demonstram que as áreas de RL e APP estão forte- em Ciência Ambiental) - Programa de Ciência Ambiental, Univer- mente ameaçadas pelas atividades agropecuárias dos produtores sidade de São Paulo, São Paulo. (uso de insumos químicos, manutenção do gado nas RLs e beiras CARMO, M. S.; COMITRE, V. Viabilidade de conservação dos de rio, corte de madeira e queima), sendo que este impacto foi remanescentes de cerrado do estado de São Paulo: Atividade 3, evidenciado nos mapas apresentados, nos relatos de entrevista e parte II: estudos sócio-econômicos: tipologia dos agricultores e nas observações em campo. A longa tradição rural, o contato pró- adequação das políticas públicas na conservação dos remanescen- ximo com a terra e a constituição antiga do Assentamento parecem tes de cerrado de domínio privado no estado de São Paulo – Rela- determinar o conhecimento que os produtores têm do cerrado, tório de Pesquisa. Botucatu: UNESP, 2002. 78 f. dado que a maioria conhece fauna e flora e freqüenta as áreas de proteção. Este conhecimento não pressupõe a conservação, mas é Aspectos reprodutivos de Matayba guianensis Aubl. necessário para promovê-la. Embora a lógica econômica permeie as atitudes dos pequenos (Sapindaceae) e Miconia fallax DC. produtores, a vontade de conservar os fragmentos também é deter- (Melastomataceae) entre uma área de cerrado minada em função da apreciação e usufruto dos benefícios ecológi- sentido restrito e uma de cerradão no Triângulo cos e utilitários da natureza. A imagem positiva que os assentados Mineiro. têm das RLs e APPs, assim como sua responsabilização pelo cuida- Nilson Santos dos Reis 1 & Cecília Lomônaco 2 do com o espaço, podem ser comportamentos reforçados pelos 1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e programas conservacionistas que venham a ser implantados na re- Conservação de Recursos Naturais gião. O envolvimento dos moradores nas ações de conservação 2. Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia ambiental deverá ser acompanhado pela ampliação das possibilida- (lomô[email protected]) des de uso das áreas de proteção, assim como por benefícios econô- micos proporcionados pelas ações propostas. O perfil das famílias 1.Introdução do Assentamento, de pequenos agricultores com longa tradição Plasticidade fenotípica refere-se à habilidade de um organismo rural, é um fator determinante na negociação das ações de desen- alterar sua fisiologia, morfologia ou desenvolvimento, em resposta volvimento sustentável. Ao contrário dos grandes proprietários de a variações ambientais. Plantas são organismos que geralmente terras, esse grupo tem uma maior ligação afetiva com seu meio apresentam grande plasticidade em muitos de seus caracteres, de- ambiente, o que influencia suas opiniões e comportamentos. vido ao fato de serem incapazes de se locomover e, portanto, serem Há estruturas físicas e sociais que favorecem a promoção do obrigadas a suportar as condições locais, além das flutuações cli- desenvolvimento sustentável no Assentamento, como o trabalho máticas que podem ocorrer ao longo do tempo (Bradshaw 1965). de instituições comprometidas com a difusão das práticas agro- A produção de sementes é um caráter bastante plástico e den- ecológicas; a atuação dos órgãos ambientais, cuja fiscalização e tre as muitas variáveis ambientais que podem agir na sua determi- rigor parecem ter aumentado nos últimos anos; iniciativas pontu- nação fenotípica estão o nível de nutrientes no solo (Aarsen & ais de pessoas e grupos que conhecem e divulgam as possibilidades Burton 1990, Sills & Nienhuis 1995), temperatura (Alexander & de uso sustentável dos recursos do cerrado (remédios, alimenta- Wulff 1985, Wulff 1986), estresse hídrico (Sawhney & Naylor ção); o longo período de existência do Assentamento e sua organi- 1982, Meckel et al. 1984), fotoperíodo (Cook 1975) e herbivoria zação interna que possibilita o direcionamento das ações para a (Crawley & Nachapong 1985). Esses fatores ambientais podem promoção do desenvolvimento sustentável, uma vez que as neces- influenciar no tamanho das sementes, no seu número, ou em am- sidades básicas já estão supridas e há um contexto adequado para bos (Sills & Nienhuis 1995). De modo geral, plantas que crescem este tipo de intervenção. em solos mais ricos em nutrientes ou em condições mais adequadas A falta de consistência do Indicador (á= 0,24) sugere que sejam produzem progênie com sementes maiores, que geralmente apre- feitas investigações adicionais na sua elaboração, além de assinalar sentam maior taxa de germinação e crescimento e maior habilidade as dificuldades na obtenção de uma grandeza unidimensional que competitiva (Sills & Nienhuis 1995, Geritz et al. 1999). Conse- contenha expressões de atitudes conservacionistas. qüentemente, em ambientes heterogêneos, podem ocorrer varia- 5. Bibliografia ções em sementes e outras estruturas reprodutivas visando manter BRASIL. Lei nº 7.803, de 18 de julho de 1989. Institui o novo ou aumentar a aptidão. Deste modo, espera-se que o investimento Código Florestal. Diário Oficial da União de 16 set. 1965, Brasília, em número ou biomassa de sementes de uma mesma espécie de DF, p. 9529. planta em dois ambientes fitofisionômicos distintos do Cerrado seja diferenciada em decorrência de fatores do meio. Entretanto, AZEVEDO, C. M. A. A decisão de preservar: o caso da mata pouco se sabe sobre este tipo de estratégia na produção de semen- ripária do médio rio Jaguari- Mirim. 1998. 2 v. Tese (Mestrado em tes nas savanas neotropicais (Perez & Santiago 2001). Este traba- Ciência Ambiental) - Programa de Ciência Ambiental, Universida- lho teve como objetivo comparar alguns caracteres reprodutivos de de São Paulo, São Paulo. de Matayba guianensis Aubl. e Miconia fallax DC. em uma área de SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Programa cerrado sentido restrito e uma de cerradão. Estadual para a Conservação da Biodiversidade. Cerrado: bases 2. Métodos para conservação e uso sustentável das áreas de cerrado do estado Foram escolhidas duas áreas para a coleta de dados. A área 1 de São Paulo. São Paulo: SMA, 1997. (Série PROBIO/SP). 1 v. dista cerca de 35 km do perímetro urbano de Araguari (18°38’ S e HOUAISS, A. et al. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio 48°11’ W - 927 m de altitude) e situa-se à margem da Rodovia de Janeiro: Objetiva, 2001. 2922 p. Estadual MG 223, que liga os municípios de Araguari e Tupaciguara. INFIELD, M. Attitudes of a rural community towards conservation Constitui-se de uma vegetação de cerrado sentido restrito, sobre and a local conservation area in Natal, South Africa. Biological terreno plano, em LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico Conservation, v. 45, p. 21-46, 1988. textura muito argilosa. A área 2 situa-se na Estação Ecológica do Panga (19°10’ S e 48°23’ W- 800 m de altitude) e localiza-se a WILSON, G. A. A survey of landholders to native forest on farmland. cerca de 30 km ao sul da sede do município de Uberlândia, MG. A Journal of Environmental Management, v. 34, p. 117-136, 1992. distância entre os dois locais de coleta é de aproximadamente 90 DITT, E. H. Diagnóstico da conservação e das ameaças a fragmen- km. A amostragem foi realizada em ambiente de cerradão localiza-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 555 Cerrado Volume I do em terreno plano, sobre LATOSSOLO VERMELHO quanto que os demais caracteres não diferiram entre os dois locais de Distrófico típico textura média, profundo, bem drenado (Schiavini coleta (U=5480,50; p=0,240, para peso dos frutos; U=5330,50; & Araújo 1989). p=0,388, para número de sementes; U=16754,50; p=0,301, para Matayba guianensis Aubl. (Sapindaceae) é uma espécie de porte peso das sementes). A maior biomassa do arilo das sementes de M. arbustivo ou arbóreo (6 a 10 m de altura), sendo popularmente guianensis que se desenvolveram na área de cerradão deve estar, pro- conhecida como camboatá, camboatã, camboatá-branco, mataíba, vavelmente, associada à dispersão, que é feita por aves. Como arilos batabaíba, cuvantã, jatuá-uba, jatuá-iba, atou-aou, tou-aou ou pau- de sementes são ricos em nutrientes, constituem-se, certamente, em da-digestão. As inflorescências se apresentam em panículas axila- elementos importantes para a dieta desses animais. É interessante res, com flores brancas ou verde amareladas de 2 a 4 mm de com- verificar que o maior investimento em biomassa de arilos na área de primento. Os seus frutos são cápsulas trigono-subglobosas, um cerrado sentido restrito refletiu-se sobre os índices de correlação pouco verrugosas, glabras externamente e tomentosas internamen- obtidos em cada área entre esta variável e o número de sementes: a te, apresentando até 2 cm de comprimento (Reitz 1980). Esta correlação negativa e significativa ocorrida na área de cerrado senti- espécie floresce no período de agosto a dezembro e frutifica até o do restrito não foi verificada na área de cerradão. Entretanto, como mês de maio (Guarin Neto 1994). Miconia fallax DC. não ocorreu em nenhum caso mudança de sinal no coeficiente de (Melastomataceae) é uma espécie arbustiva (0,8 a 1,5 m de altura) correlação de uma área para outra, pode-se supor que a diferença e suas flores são pentâmeras e o hipanto tem cerca de 3 mm. significativa encontrada por comparação foi devida ao aumento da Inicialmente as pétalas e os filetes são brancos e as anteras amarelas variabilidade, possivelmente gerada por plasticidade fenotípica. e após a polinização os filetes se tornam avermelhados. O fruto é 4. Conclusão do tipo baga e apresenta coloração púrpura escura a nigrecente. A Miconia fallax e Matayba guianensis apresentaram diferentes floração e a frutificação acontecem principalmente entre os meses padrões de variação das estruturas reprodutivas em dois ambientes de setembro e novembro (Romero 1996). distintos. Tais variações provavelmente se relacionam com o au- Os caracteres analisados foram: peso dos frutos, número de mento da dispersão e/ou da aptidão das sementes, contribuindo sementes por fruto, peso das sementes e peso do arilo (este último para a adaptação dessas espécies em seus respectivos hábitats. somente para M. guianensis). Os frutos de Miconia fallax foram 5. Referências Bibliográficas coletados no mês de dezembro de 2001 e os de Matayba guianensis ALEXANDER, H.M. & WULFF, R. 1985. Experimental ecological nos meses de janeiro e fevereiro de 2002. Em cada comunidade genetics in Plantago. X. The effects of maternal temperature on seed and vegetal, foram amostrados aleatoriamente 100 frutos não parasitados seedling characters in P. lanceolata. Journal of Ecology 73:271-282. e plenamente maduros de cada uma das duas espécies, sendo ARNTZ, A.M., VOZAR, E.M. & DELPH, L.F. 2002. Serial coletados 10 frutos em 10 indivíduos diferentes. Todas as pesagens adjustments in allocation to reproduction: effects of photosynthetic foram feitas utilizando-se uma balança analítica (precisão 0,0001 genotype. International Journal of Plant Science 163(4):591-597. g). Em M. guianensis também foi obtido o peso individual de cada arilo, subtraindo o peso da semente sem seu arilo do peso da BRADSHAW, A.D. 1965. Evolutionary significance of phenotypic semente com o arilo ainda aderido a ela. Uma vez que as sementes plasticity in plants. Advances in Genetics 13:115-155. de M. fallax eram muito pequenas, optou-se pela pesagem por COOK, R.E. 1975. The photoinductive control of seed weight in lotes, sendo calculado, posteriormente, o peso médio das sementes Chenopodium rubrum L. American Journal of Botany 62:427-431. por fruto. Diferenças entre as áreas estudadas foram obtidas utili- CRAWLEY, M.J. & NACHAPONG, M. 1985. The establishment zando-se o teste de Mann-Whitney. As correlações entre as variá- of seedling from primary and regrowth seeds of ragwort (Senecio veis obtidas por área de coleta foram verificadas utilizando o teste jacobea). Journal of Ecology 73:255-261. de correlação de Spearman (Zar 1984). Os testes estatísticos fo- DE NOBREGA, J.R. & LEON, J.A. 2000. Efectos del costo en ram conduzidos em computador, usando o programa SYSTAT® supervivencia de la reproduccion sobre el tamaño adaptativo de las para Windows® versão 9.00 (Wilkinson 1999). semillas. Ecotropicos Caracas 13(2):61-66. 2. Resultados e Discussão Na área de cerradão, Miconia fallax apresentou frutos com GERITZ, S.A.H., VAN DER M.E. & METZ, J.A.J. 1999. maior biomassa (U=3361,50; p<0,0001) e contendo sementes tam- Evolutionary dynamics of seed size and seedling competitive ability. bém com maior biomassa (U=1605,00; p<0,0001), porém em Theoretical Population Biology 55(3):324-343. menor número (U=8254,00; p<0,0001), se comparados aos da GUARIN NETO, G. 1994. Sapindaceae. In Flora dos Estados de área de cerrado sentido restrito. Nesta espécie, percebe-se, clara- Goiás e Tocantins. Editora da UFG, Goiânia, p.-. mente, a ocorrência de trade-offs entre tamanho e número de se- LEISHMAN, M.R. & MURRAY, B.R. 2001. The relationship mentes. Trade-offs, neste caso, representam mecanismos compen- between seed size and abundance in plant communities: model satórios de investimento energético em estruturas ou unidades predictions and observed patterns. Oikos 94(1):151-161. reprodutivas, que ocorrem em nível individual. Ecótipos que pro- MECKEL, L., EGLI, D.B., PHILLIPS, D.R.E., RADCLIFFE, D. duzem maior número de sementes, porém, com menor biomassa, têm maior sucesso adaptativo em condições adversas, uma vez que & LEGGET, J.E. 1984. Effect of moisture stress on seed growth in esta estratégia aumenta as chances de estabelecimento de cada soybeans. Agronomy Journal 76:647-650. unidade reprodutiva, por lote de produção ou evento de frutificação. PEREZ, E.M. & SANTIAGO, E.T. 2001. Dinamica estacional Contrariamente, investimento em biomassa, compensado pela re- del banco de semillas en una sabana en los llanos centro-orientales dução do número de sementes por fruto, é uma estratégia mais de Venezuela. Biotropica 33(3):435-446. freqüente em ambientes favoráveis e com maior grau de saturação REITZ, R. 1980. Sapindáceas. In Flora Ilustrada Catarinense (R. de espécies, onde a competição por sítios de germinação é maior Reitz, ed.), Itajaí. (Geritz et al. 1999, De Nobrega & Leon 2000, Leishman & Murray ROMERO, R. 1996. A família Melastomataceae na Estação Eco- 2001, Arntz et al. 2002). A adoção de diferentes estratégias lógica do Panga, Município de Uberlândia, MG. Hoehnea reprodutivas para esta espécie, nas áreas estudadas, sugere ser o 23(1):147-168. cerradão um ambiente mais competitivo e menos desfavorável que o cerrado sentido restrito. SAWHNEY, R. & NAYLOR, J.M. 1982. Dormancy studies in Matayba guianensis apresentou arilos significativamente mais seed of Avena fatua. 13. Influence of drought stress during seed pesados no cerrado sentido restrito (U=21297,50; p=0,001), en- development on duration of seed dormancy. Canadian Journal of

556 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Botany 60:1016-1020. AIB (4 g/L) via palito embebido por 24 h e mantida em geladeira o SCHIAVINI, I. & ARAÚJO, G.M. 1989. Considerações sobre a à 5 C ; T4: Solução de AIB (8 g/L) via palito embebido por 24 h o vegetação da Reserva Ecológica do Panga (Uberlândia). Sociedade e mantida em geladeira à 5 C ; T5: Solução de AIB (2 g/L) via & Natureza 1:61-66. imersão rápida por 5 segundos; T6: Solução de AIB (4 g/L) via imersão rápida por 5 segundos; T : Solução de AIB (8 g/L) via SILLS, G.R. & NIENHUIS, J. 1995. Maternal phenotypic effects 7 imersão rápida por 5 segundos e T : Benomyl (1 g/L de água) via due to soil nutrient levels and sink removal in Arabidopsis thaliana 8 imersão rápida por 5 segundos. Em seguida, as estaca foram plan- (Brassicaceae). American Journal of Botany 82(4):491-495. tadas em tubetes contendo substrato comercial a base de casca WILKINSON, L. 1999. Systat for Windows. SPSS Inc., Chicago. de Pinnus spp. compostada (Plantmax®) misturada com areia WULFF, R.D. 1986. Seed size variation in Desmodium paniculatum. lavada na proporção volumétrica de 1:1. Durante o experimento I. Factors affecting seed size variability. Journal of Ecology 74:87-97. as estacas foram mantidas em casa de vegetação, sob sistema de ZAR, J.H. 1984. Biostatistical analysis. Prentice Hall, New Jersey. nebulização intermitente, acionado sempre que a umidade atin- gisse valores inferiores a 80%. Este procedimento contribuiu para que a temperatura não ultrapassasse 30oC. Propagação vegetativa via estaquia de pseudolmedia Após 180 dias do plantio, avaliou-se a porcentagem de estacas laevigata trécul (moraceae) coletadas em enraizadas, com calo, vivas e mortas. O delineamento experimen- diferentes épocas no Cerrado. tal utilizado foi em blocos ao acaso com três repetições por trata- Oliveira, M.C.1 & Ribeiro, J.F.2 1 Mestre em Botânica (Embrapa mento e a análise conjunta para estudar os efeitos dos tratamentos Cerrados/CMBBC/DFID) 2Pesquisador Embrapa Cerrados, em três épocas. Para cada repetição foram usadas 10 estacas, Planaltina – DF. ([email protected]) totalizando 240 estacas para cada espécie e em cada época de coleta. Características com relação à porcentagem de enraizamento, 1. Introdução sobrevivência e formação de calo foram submetidas à análise de No Brasil, em especial no Distrito Federal, as Matas de Galeria variância (ANOVA) para cada época. Para a análise da variância e vêm sofrendo atualmente intenso processo de exploração, tanto comparação das médias os dados foram transformados em raíz pela abertura de novas fronteiras agropecuárias quanto pela retira- quadrada de x + 0,5. Onde a análise de variância indicou a existên- da de espécies florestais potencialmente madeireiras. A recupera- cia de diferenças, foram feitas as comparações entre as médias dos ção de dessas áreas depende da produção de mudas de várias espé- tratamentos pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5% de cies desse ambiente, mas muitas delas apresentam dificuldades na probabilidade. produção de sementes. Embora a propagação vegetativa contribua 3. Resultados e discussão para a redução da diversidade genética das espécies, este método A análise de variância da porcentagem de estacas enraizadas representa alternativa bastante promissora no sentido de diminuir não revelou diferenças significativas entre os tratamentos, métodos o tempo de ocupação de áreas degradadas. Nesse caso, a utilização de aplicação e nem para a interação entre tratamentos e época de da propagação vegetativa para a produção dessas mudas vem sendo coleta, tanto para estacas coletadas no fim da época seca (agosto/ a alternativa cada vez mais necessária. 2001) e início da época seca (junho/2002) como nas coletadas na O processo de formação de raízes em estacas pode ser afetado época chuvosa (janeiro/2002). Por outro lado, os resultados de por um grande número de fatores, destacando-se o vigor, idade e análise de variância indicaram que a época de coleta dos ramos condição fisiológica da planta matriz, tipo de estaca, época de influenciou o enraizamento, a sobrevivência e a formação de calo coleta da estaca, condições ambientais, relação carboidrato/nitro- nas estacas de P. laevigata. Essa análise confirmou que o enraizamento gênio, presença ou inibidores endógenos e substâncias reguladoras verificado em estacas coletadas na época chuvosa foi significativa- de crescimento (Ferri 1997). Desta maneira, este estudo busca mente maior que o enraizamento encontrado no início da época avaliar alguns destes fatores no caso da propagação vegetativa de seca, e similar ao encontrado no fim da época seca. Apesar dos uma espécie nativa de Mata de Galeria. tratamentos aplicados não apresentarem diferenças estatísticas do 2. Material e Método controle na porcentagem de estacas enraizadas, o tratamento con- Pseudolmedia laevigata é espécie arbórea conhecida popular- trole proporcionou 3,33% de enraizamento em ramos coletados mente como larga-galha, freqüentemente encontrada nas Matas de durante a época chuvosa e durante o fim da época seca. Já a aplica- Galeria do Bioma Cerrado. O experimento foi realizado em casa ção de 2 g/L de AIB (via imersão rápida) proporcionou o de vegetação na Embrapa Cerrados, Planaltina – DF. O material enraizamento de 16,67% das estacas no fim da época seca e 10% vegetativo proveio de cinco indivíduos adultos de Pseudolmedia na época chuvosa. Os tratamentos com 4 g/L de AIB (via imersão laevigata selecionados na Mata de Galeria da Reserva da CAESB, rápida) levaram ao enraizamento de 13,33% das estacas coletadas localizada na BR-020 Km 13 – Rodovia Brasília - Fortaleza no período das chuvas e no fim da época seca. Tanto na época (15º37’24’’S 47º44’95’’W). chuvosa quanto no fim da época seca as maiores porcentagens de Estacas apicais em estado vegetativo foram coletadas no enraizamento foram relativas as estacas retiradas da matriz 4, com fim da época seca (agosto de 2001), no início da época seca 53% da estacas enraizadas. (junho/2002) e época chuvosa (janeiro de 2002). Logo após a No início da época seca, o enraizamento aconteceu somente coleta, os ramos foram imediatamente acondicionados em sacos nas estacas submetidas a 8 g/L de AIB (via palito embebido=T4), de algodão previamente umedecidos, e suas bases mantidas em com 6,67% das estacas enraizadas, onde 50% das estacas que vasilhames com água, a fim de minimizar a desidratação durante enraizaram pertenciam a matriz 3 e 50% a matriz 4. Provavelmen- o transporte para casa de vegetação. Ali, as estacas foram prepa- te, no início da época seca algumas substâncias endógenas necessá- radas, tratadas e plantadas em tubetes. Cada estaca retirada do rias ao enraizamento se encontravam em baixa concentração do ramo foi aparada com aproximadamente 20 cm de comprimento que na época chuvosa e no fim da época seca. No início da seca foi e mantida com duas folhas mais apicais, sendo eliminadas as verificada brotações em várias estacas e isto pode ter prejudicado o folhas da parte basal. A base das estacas foi cortada em bizel desenvolvimento das raízes. Para algumas espécies, estacas com simples para aumentar a superfície de exposição aos tratamentos. gemas em crescimento ativo são relativamente mais difíceis de Após o preparo das estacas foram aplicados os seguintes trata- enraizar quando comparadas com aquelas com gemas que não mentos: T1: Testemunha; T2: Solução de AIB (2 g/L) via palito estejam em crescimento ativo ou inibidas (Biran & Halevy 1973), o embebido por 24 h e mantida em geladeira à 5 C ; T3: Solução de como conseqüência da competição por assimilados entre brotos e

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 557 Cerrado Volume I raízes adventícias em desenvolvimento (Davis 1988). apresenta adaptações à estas condições (Sano & Almeida, 1998). O emprego de altas concentrações de AIB tem aumentado o Ainda é difícil equalizar todos os efeitos do fogo no cerrado, enraizamento de estacas de algumas espécies de difícil enraizamento pelo grande número de parâmetros envolvidos. Desta forma, após (Chong & Daigneautt 1987). Nas estacas de P. laevigata o empre- a passagem do fogo há uma rápida rebrota da vegetação, além da go de AIB na base das estacas não foi efetivo para aumentar o germinação de sementes que necessitam desse choque térmico para número de estacas enraizadas. Resultado similar foi encontrado quebra de sua dormência (Coutinho, 1981). por Rios et al., (2001) em estacas de Inga laurina espécie arbórea O efeito de fogo na fisionomia afeta principalmente a camada nativa de Matas de Galeria. Vários autores como Haissig (1972) e arbustiva, especialmente o arbusto de caule fino, e depende da Aminah et al., (1995) consideram que a aplicação de AIB pode ter densidade e altura das gramíneas da camada rasteira, porque quan- influência indireta no enraizamento através do aumento da veloci- do estas secam são a fonte principal de combustível (Pinto, 1994). dade de translocação e movimento de açúcar para a base das esta- Muitas áreas são compostas tanto por espécies nativas de gramíneas, cas, e consequentemente, estímulo do enraizamento. como por espécies exóticas (as principais vindas da África) que Apesar da época chuvosa apresentar resultados de enraizamento foram introduzidas na região com a finalidade de alimentar o gado, mais favoráveis para a coleta de estacas para o enraizamento da uma das principais atividades econômicas da região (Klink, et al. espécie, essa época apresentou as menores taxas de sobrevivência e 1993; Klink, 1996; Miranda, et al., 1996). formação de calo. A análise confirmou que a sobrevivência verificada Desde março de 2000, vem sendo realizado um no fim da época seca foi significativamente maior que a encontrada monitoramento da biomassa de gramíneas numa área de cerrado na época chuvosa, e igual ao encontrado no fim da época seca. Foi ralo localizada no campus da Universidade Estadual Goiás em verificado efeito significativo para os tratamentos (P<0,05). Quan- Anápolis. O trabalho tem como objetivo monitorar esta biomassa, to a formação de calo, tanto o início da época seca quanto o fim da buscando entender a dinâmica de sua recomposição, propiciando época seca foram considerados estatisticamente semelhantes. Nas um maior conhecimento sobre o fenômeno. Esta área já vem três épocas de coleta ocorreram altas porcentagens de mortalidade sendo estudada desde julho de 1999 em seus aspectos florísticos das estacas, indicando que a espécie está entre aquelas de difícil e fitossociológicos (Carvalho, et al. 2000; Santos, et al. 2000), e enraizamento. trata-se de um cerrado em início de sucessão. Os primeiros resul- 5. Bibliografia tados que dizem respeito especificamente à gramíneas são apre- AMINAH, H.; DICK, J. McP.; LEAKEY, R.R.B.; GRACE, J. & sentados em Angelini & Silva (2001). SMITH, R.I. Effect of indole butyric acid (IBA) on stem cuttings 2. Material e Métodos of Shorea leprosula. Forest Ecology and Management 72: 199-206, O estudo tem sido realizado em duas áreas do cerrado ralo (de 1995. aproximadamente 1 hectare cada). Em uma das áreas a coleta iniciou-se em 14/03/2000 e na outra à partir de 26/08/2002. As BYRAN, I. & HALEVY, H. The relationship betwen rooting of coletas são realizadas quinzenalmente com um quadrat de madeira Dahlia cuttings and the presence and type of bud. Physiol. Plant., 0,5m X 0,5m que é lançado aleatoriamente em diversos pontos das 28:244-247, 1973. áreas (4 amostras/área/dia de coleta). A gramínea é cortada e seus CHONG, C.; DAIGNEAULT, L. Influence of IBA concentration pesos úmido e seco (em estufa) são medidos. Os dados são padro- on rooting of woody pernnial nursery stock. Proc. Int. Plant. Soc., nizados em gr/m². É feita a identificação das espécies. A biomassa 36:108-115, 1987. foi relacionada às seguintes variáveis climatológicas: precipitação, DAVIS, T.D. Photosynthesis during adventitious rooting. In: In: temperatura máxima e mínima e umidade (fornecidos pelo DAVIES, T.D.; HAISSING, B.E., SANKHLA, N. Adventitious SIMEGO- Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos do Esta- roots formation in cuttings, Portland: Dioscorides Press, p.79-87, do de Goiás). Desta forma, foi possível calcular os coeficientes de 1988. 315p. correlações (Pearson) destas variáveis com a biomassa de gramíneas HAISSIG, B.E. Meristematic activity during adventitious root para o ano de 2002, único ano disponível. primordium development. Influences of endogenous auxin and 3. Resultados apllied gibberellic acid, Plant Phys. 49:886-92, 1972. O fogo queimou completamente uma das áreas em agosto de 2000 e maio de 2003 e a outra área em outubro de 2002. O FERRI, C.P. Enraizamento de estacas de citrus. Revista Brasileira monitoramento da biomassa de gramíneas, realizado desde 14/03/ de Fruticultura, Cruz das Almas, 19(1): 113-121, 1997. 2000, tem mostrado que até o incêndio de agosto de 2000 a média RIOS, M.N.S.; RIBEIRO, J.F.; REZENDE, M.E. Propagação da biomassa era 928,90 gr/m² (desvio padrão de 248,2) e após a vegetativa: enraizamento em estacas de espécies nativas de Mata queimada a média foi de 315,9 gr/m2 (d.p. 213,4) até inicio de de Galeria. In: RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L.; SOUSA-SIL- 2002, quando depois subiu e manteve uma média próxima a 450 VA, J.C. ed. Cerrado: caracterização e recuperação de Matas de gr/m2 (d.p. 222,5) até maio de 2003. Na outra área a média da Galeria . Planaltina: EMBRAPA – CPAC, 2001.p.455-491. biomassa, até a passagem do fogo, era de 419,81 gr/m² (d.p. 106,6), Agradecimentos: (Embrapa Cerrados/ CMBBC / DFIF/ UnB) depois manteve-se em torno de 209,26 gr/m² (d.p. 88,31). Para o ano de 2002, foi relacionada a variação das gramíneas Dinâmica de Biomassa de Gramíneas na área de com a média mensal de precipitação. Verificou-se que de janeiro a Cerrado ralo do campus UEG(Anápolis) abril a média de pluviosidade foi de 206,35mm, e a média de biomassa de 704,2gr/m² (d.p. de 220,96). De maio a setembro a PACHECO, T.B.B. & ANGELINI, R. pluviosidade caiu com média de 38,76mm, enquanto a biomassa Lab. de Biodiversidade do Cerrado - Universidade Estadual de sofreu um leve declínio, média de 510,7gr/m² (d.p. de 136,9). Goiás (campus de Anápolis) – [email protected]; Entre os meses de outubro e dezembro a precipitação aumentou, [email protected] média de 222,03mm, já a biomassa decaiu (média = 384,82gr/m², com d.p. = 163,62). Estes fatos acarretaram uma baixa correlação 1. Introdução entre a precipitação mensal e a biomassa (r de Pearson = 0,005). Ocupando uma área de mais de 2 milhões de quilômetros A correlação da biomassa com outras variáveis, aumenta leve- quadrados, o cerrado é o segundo maior complexo vegetacional da mente na relação, total da precipitação de 10 dias anteriores ao dia América do Sul, com mais de 50% de toda sua vegetação devastada de realização da coleta (r de Pearson = 0,286), mas volta a cair ou por ações antropogênicas. Marcado por fenômenos que lhe são ficar negativa, com outras variáveis: biomassa x temperatura míni- particulares como a passagem do fogo e a estiagem, sua vegetação

558 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ma, r = 0,196; biomassa x temperatura máxima, r = -0,085; biomassa 1.Introdução x umidade, r = -0,149. As formigas (Hymenoptera-Formicidae) são insetos sociais que Estas fracas correlações, contradizem nossa suposição inicial se organizam em colônias com casta reprodutiva e de operárias. que previa que a biomassa tivesse um comportamento sazonal Têm sobreposição de gerações, cuidam da prole e têm divisão de variando conforme o regime de chuvas, mas isto precisa ainda ser trabalho entre as operárias. Essas características definem insetos melhor compreendido. eusociais (Wilson, 1971). A divisão do trabalho tende a elevar a 4. Conclusão eficiência na obtenção de energia pela colônia (Holldobler & Wil- A biomassa de gramíneas da área em estudo tem sofrido varia- son, 1990).Dentro das mais de oito mil espécies de formigas estão ções consideráveis, sendo percebido maior valor da biomassa, nos as cortadeiras, dos gêneros Atta e Acromyrmex que estão ampla- meses de maiores chuvas. Mas as análises também demonstram uma mente distribuídos desde o Sul dos Estados Unidos (latitude 33ºN) constante queda da biomassa nos anos de monitoramento (2000, até o centro da Argentina (latitude 33ºS), sendo que não há Atta no 2001, 2002, 2003). Apesar disso as correlações apresentam baixos Chile, no Canadá e em algumas ilhas das Antilhas (Mariconi, 1977). valores, indicando pequena influência entre os fatores bióticos e Durante o forrageamento, algumas formigas saem do ninho abióticos estudados. Mesmo com a revisão bibliográfica realizada para explorar o ambiente e buscar alimento.Elas usam fragmentos até agora não foi possível identificar nenhum trabalho com coleta de de vegetais diversos, flores e sementes que são cortadas e transpor- dados tão extensa temporalmente. Desta forma este monitoramento tadas para seus ninhos subterrâneos. Esse comportamento torna as sistemático permite uma avaliação mais criteriosa da dinâmica de formigas pragas de áreas cultivadas, florestas e pastagens (Della biomassa de gramíneas. O uso de mais alguns anos de dados Lucia, 1993). Elas cortam grande número de diferentes vegetais e climatológicos, também nos permitirá inferir com mais consistência podem ser comparadas aos grandes herbívoros da Região sobre a relação (ou ausência de) biomassa x fatores abióticos. Neotropical (Fowler, 1991).Por isso podem causar grandes preju- 5. Referências bibliográficas ízos à agricultura (DellaLucia, 1993).A colônia desses animais é ANGELINI, R. & SILVA, M.F. 2001. “Dinâmica da Biomassa de formada por dois tipos de câmaras. Um tipo contém o fungo, que Gramíneas na área de cerrado ralo do campus da Universidade é cultivado em um substrato feito com os fragmentos dos vegetais Estadual de Goiás”. V Congresso de Ecologia do Brasil. Porto Alegre. e serve para alimentar as formigas. Dentro da cultura do fungo as operárias cuidam das larvas e CARVALHO, A.R.; RODRIGUES, J. e SERRA, O. H.. 2000. pupas e a rainha permanece e põe seus ovos. Em uma segunda Distribuição diamétrica e de altura de uma área de cerrado do câmara, as formigas depositam o lixo. Ele é formado por resto de campus da UEG – Anápolis. Anais do Congresso Nacional de Botâni- vegetais, excretas e formigas mortas (DellaLucia, 1993; Mariconi, ca – Brasília 07/2000. 1970). Quando criado em laboratório, o formigueiro tem, além COUTINHO, L.M. 1981. Aspectos ecológicos do fogo no cerra- desses dois tipos de câmara, um local onde são depositados os do – Nota sobre a ocorrência e datação de carvões encontrados no vegetais para que elas cortem e levem para a câmara de fungo. Esse interior de dolo sob o Cerrado. Revta. Brasil. Bot. 4: 115 – 117. local é chamado de câmara de forrageamento. Para forragear no KLINK, C.A. 1996. Germination and seedling establishment of campo, as formigas exploram o ambiente em volta do ninho, sendo two native and onde invading African grass species in the Brazilian que as formigas maiores e as médias são responsáveis pela formação cerrado. Journal of Tropical Ecology 12: 139 – 147. das trilhas e corte de folhas e também cuidam da defesa da colônia. KLINK, C.A., MOREIRA, A.G. & SOLBRIG, O. T. 1993. Mariconi (1970) e DellaLucia (1993) citam que há uma divi- Ecological impact of agricultural development in the brazilian cer- são de trabalho entre as operárias de acordo com a sua constituição rados. 259 – 282. In: The world’s savannas. Economic driving, ecological física (polimorfismo): as menores seriam as cultivadoras do fungo, constraints and policy options for sustainable land use. MAB Series, as médias cortariam as folhas e as operárias máximas defenderiam a vol. 12, Pathernon Publishing, London. colônia. O objetivo desse trabalho foi examinar o tamanho das operárias presentes cada tipo de câmara em um formigueiro criado MIRANDA, H.S.; SAITO, C.H. e SOUZA-DIAS, B.F. 1996. em laboratório. Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. Brasília UnB, 2.Metodologia ECL. 187p. O experimento foi realizado com um formigueiro maduro de PINTO, M.N. 1994. Cerrado: caracterização, ocupação e perspectiva. Atta sexdens (saúva-limão) mantido no Laboratório de Entomologia Editora UNB. 2° edição. 681p no Departamento da Zoologia da Universidade de Brasília (Brasília, RIZZINI, C.T. & HERINGER, E.P. 1962. Studies on the DF). A colônia foi iniciada por uma rainha recém fecundada, cole- underground organs of trees and shrubs from some southern tada no Campus da UnB. Este formigueiro é mantido em um Brazilian savannas. Anais da Acadêmica Brasileira de Ciências 34: sistema fechado formado por bandejas ou câmaras de plástico 235 – 247. interconectadas por mangueiras que são encaixadas nas bandejas. SANO, S.M; ALMEIDA, S.P. 1998. Cerrado: ambiente e flora – A colônia possui duas câmaras contendo jardim de fungo, e cada Embrapa – CPAC (DF). 556p. um desses é ligado a uma bandeja onde são depositadas as folhas e outras partes de vegetais, a câmara de forrageamento. Além disso, SANTOS, M.; MORAES, E.H.N.; MOURA, P.S.N. 2000. Levan- cada jardim de fungo possui uma ligação com outra câmara, que tamento Florístico de uma área de cerrado do campus da UEG – serve como depósito de lixo. Durante o experimento, foram ofereci- Anápolis. Anais do Congresso Nacional de Botânica – Brasília 07/2000. dos praticamente apenas folhas e outros pedaços de Bauhinia variegata (Leguminosae), uma árvore utilizada na arborização do Campus. As formigas cortadeiras (Atta sexdens): relação Coletou-se, em dias e horários diferentes, nos meses de Julho a entre os tamanhos das operárias e suas localizações Setembro de 2001, um total de 795 operárias nas câmaras de fungo, na colônia de lixo e de forrageamento, com 265 formigas em cada câmara. Para Patrícia Ribeiro1, Kiniti Kitayama 2 e Helena C. Morais3. realizar a coleta, a bandeja escolhida era desconectada do formiguei- 1graduação Universidade de Brasília, Brasília, DF. ro, as formigas eram capturadas com uma pinça entomológica e [email protected] colocadas em um frasco com éter para que fossem sacrificadas. 2Departamento de Zoologia, Universidade de Brasília, 70.910-900 Para diferenciar os tamanhos mediu-se a largura máxima da Brasília, DF. cabeça de cada formiga coletada, usando uma lupa com aumento 3Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, 70.910-900, de 10X com uma ocular micrométrica. A partir destas medidas Brasília, DF.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 559 Cerrado Volume I foram estipuladas cinco classes de tamanho: 0,00-0,99mm (peque- as mudanças na comunidade quando submetida ao atual regime de nas); 1,00-1,99mm (médias pequenas); 2,00-2,99mm (médias); queima. O objetivo deste trabalho foi determinar o impacto do 3,00-3,99mm (médias grandes); e maiores que 4 mm (grandes). Os fogo em Aspidosperma tomentosum, uma espécie abundante e de tamanhos observados foram organizados e analisados em um pro- ampla distribuição no cerrado s.s. grama de estatística. 2. Metodologia 3.Resultados O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas As larguras médias das cabeças das operárias nas câmaras fo- Novas (PESCAN) em duas áreas de cerrado sensu stricto separadas ram: forrageamento = 1,96 mm; fungo = 1,77 mm; lixo = 1,71 mm. por uma estrada de 3 m de largura. Ambas foram submetidas a um Essas médias diferem entre si (Kruskal-Wallis = 16,42; p = 0,000) evento de queima, sendo que a área 1 foi queimada em 1999 e a área e o teste a posteriori de Tukey mostrou que as operárias na câmara 2 em setembro de 2002, mês imediatamente anterior ao do estudo. de forrageamento são significativamente maiores que as nas câma- Foram estabelecidos aleatoriamente 10 transecções de 100 m ras de fungo e de lixo. em cada área, onde cinco distavam 10 m entre si, e 200 m dos outros A distribuição de freqüência das operárias nas diferentes clas- cinco transectos. Todos os indivíduos de A. tomentosum que se situ- ses de tamanho também difere nas três câmaras (c² = 80,175; gl = avam 2,5 m para cada lado da transecção foram considerados. Desta 8; p < 0,01). Operárias com largura de cabeça na classe de 1,00 a forma, em cada área foi amostrado 0,5 ha. Foram medidos a altura e 1,99 mm são as mais freqüentes em todas as câmaras, mas operárias o diâmetro do caule no nível do solo. Os valores de altura e diâmetro com largura de cabeça até 0,99 mm são relativamente mais fre- foram agrupados em intervalos de classe pelo algoritmo de Sturges. qüentes na câmara de fungo enquanto as com largura de cabeça Os indivíduos foram considerados como rebrotas, quando distavam entre 2,00 e 2,99 mm são mais freqüentes no forrageamento. menos de 30 cm de um indivíduo adulto. 4.Conclusão 3. Resultados e discussão Percebe-se que cada câmara possui uma classe de cabeça que é As populações das duas áreas estudadas apresentaram abun- dominante, mesmo que em laboratório esta diferença não seja dância diferente, a área 2 composta por 91 indivíduos (182 indiv/ claramente perceptível como é observado no campo (Mariconi, ha), enquanto a área 1, por 49 indivíduos (98indiv/ha). Esta dife- 1970). No laboratório o ambiente é controlado e o forrageamento rença não pode ser atribuída apenas à mortalidade de indivíduos é fácil, pois as folhas dos vegetais necessários para a cultura do pelo fogo, mas, principalmente, à típica variação da distribuição fungo são depositadas na bandeja, excluindo a necessidade de ex- das espécies no Cerrado, freqüentemente associada ao mosaico de ploração do ambiente para conseguir alimento. O tamanho médio condições edáficas (Frost et al., 1985). das formigas encontradas na bandeja de forrageamento difere signi- As duas populações de A. tomentosum estudadas foram, nos ficativamente das encontradas na câmara de fungo e na lixeira, e últimos 4 anos, submetidas a um (1) evento de queima, na estação para os três lugares há distribuição desigual de formigas de diferen- seca. Uma vez que, populações de uma mesma espécie devem tes tamanhos. responder de forma semelhante a um mesmo regime de fogo e 5. Referências Bibliográficas época de queimada, a estrutura da população da área 2, queimada DellaLucia, T.M.C. 1993. As Formigas Cortadeiras. Viçosa: Minas em 2002, constitui-se no melhor instrumento de elucidação da Gerais. atual estrutura do população da área 1, queimada em 1999, por representar a resposta imediata da população à queima, que influ- Wilson, E.O. 1971. The Insect Societies. Cambridge: Harvard encia na estrutura por alguns anos. University Press. As populações estudadas não apresentaram um padrão de dis- Mariconi, F.A.M. 1970. As Saúvas. São Paulo: Agronômica Ceres. tribuição “J inverso” que caracteriza uma população estável e Holldobler, B. & Wilson, O.E. 1990. The Ants. Cambridge: Harvard auto-regenerante (Whitmore, 1975). A estrutura instável destas University Press. populações se deve, possivelmente, a ocorrência do evento de quei- Agradecimentos: ma, que afeta de forma diferenciada as diversas classes de tamanho. As classes de tamanho menores, de intervalo de altura 0,5-3,1 À Milena G. Gramacho pela sua enorme contribuição com a esta- e intervalo de diâmetro 1,5-3,7, foram as mais afetadas, o que pode tística com os dados do trabalho. ser constatado na área 2 pelo baixo número de indivíduos destas classes. Este impacto também ocorreu na população da área 1, pois Impacto do fogo em Aspidosperma tomentosum o número de indivíduos da classe de diâmetro 3.8-6.9, e da classe Mart.(Apocynaceae) no Parque Estadual da Serra de de altura 1.4-3.1, é baixo e menor que as classes de altura superior, Caldas Nova (PESCAN) podendo ser explicado por uma provável mortalidade em 1999 das Patricia Rodin classes citadas para a área 2, onde apenas aqueles indivíduos que Estudante de pós-graduação da Universidade de Brasília sobreviveram a queima atingiram estas classes. Este resultado tam- ([email protected]) bém foi encontrado por Silva et al. (1996) que verificou que os indivíduos com altura inferior a 2,0 m e com diâmetro menor que 1. Introdução 5 cm apresentaram a maior taxa de mortalidade, pelo fato de esta- O fogo é considerado como um dos fatores determinantes da rem situados na zona crítica de temperatura (Miranda et al. 1993), estrutura e funcionamento das savanas (Frost et al., 1985). No e não possuírem espessura de casca suficiente para protegerem o Cerrado, sua presença é muito antiga, datada em 32.000 A.P. (Sal- câmbio (Sato & Miranda, 1996). gado-Labouriau et al., 1998), indicando que a vegetação há muito No intervalo de altura 3,2-6,7 m, o fogo não causa grande coexiste com esta perturbação. No entanto, o homem alterou a impacto, pois a maioria das queimadas em savanas é de superfície, época natural de ocorrência do fogo no Cerrado (Ramos-Neto e com a altura das chamas entre 0,8 e 2,8 m (Frost & Robertson, Pivello, 2000), e aumentou sua freqüência. O regime de queima 1987). Tal assertiva pode ser comprovada pela semelhança na es- atual tem provocado mudanças na florística, na fitossociologia, e trutura da população das duas áreas a partir da classe de altura 3,2- na estrutura das comunidades vegetais. As mudanças na comunida- 4 m. Isto se deve, principalmente, ao fato destes indivíduos apre- de são consequências diretas das alterações que ocorrem nas popu- sentarem diâmetro do caule maior que 5,5 cm, o que lhes conferem lações das espécies que a compõem. Desta forma, é essencial o proteção contra o fogo (Sato & Miranda, 1996). estudo do impacto do fogo nas populações, para compreendemos A estrutura da população 1 apesar de não ser do tipo “J inver- so” está se regenerando após o evento de queima de 1999, repre-

560 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado sentado pelos indivíduos da classe de altura 0.5-1.3 m e de diâme- plantas lenhosas em campo sujo de cerrado submetido a queima- tro 1.5-3.7 cm. Este resultado indica que a população de A. das preescritas. In: H.S. Miranda, C.H. Saito & B.F.S. Dias (org.), tomentosum é capaz de se regenerar sob o regime de queima atual Impactos de queimadas em áreas de Cerrado e Restinga. ECL/UnB, do cerrado, 1-3 anos. Esta regeneração parece ocorrer exclusiva- Brasília. p. 93-101. mente por reprodução sexuada, uma vez que, foram encontrados Whitmore, T. C. (1975). Tropical rain Forest of the far east. Claredon apenas dois indivíduos da área 1 com rebrota basal e os jovens se Press. Oxford. encontravam mais de 30 cm de distância de um adulto. O intervalo de queima atual do Cerrado impede que muitas Diversidade de formigas (hymenoptera: formicidae) espécies tenham sucesso na reprodução sexual, e favorece a rebrota (Hoffman, 1998). A capacidade de rebrota é uma adaptação de nas fitofisionomias cerrado sensu strictus e cerradão tolerância ao fogo, no entanto, A. tomentosum evita o stress causa- em campo grande, Mato Grosso do Sul. a a do pelo fogo através de um denso espessamento de pêlos que pro- Paulo Landgref Filho , Rafaela Camargo Maia , Evandro Alves a a b tege as gemas apicais (Coutinho, 1982). Esta parece ser a adapta- Vieira , Clarissa Flores Candido & Franco Leandro de Souza a ção que permite o sucesso reprodutivo e a conseqüente regenera- Graduando da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul b ção observada na população da área 1, queimada em 1999. ([email protected]) Doutor da Universidade Federal do Mato 4. Conclusão Grosso do Sul O fogo tem um impacto distinto nas diversas classes de tama- nho de uma população. Em A. tomentosum, assim como em um 1.Introdução grande número de espécies lenhosas do Cerrado, os indivíduos nas O cerrado é o segundo maior bioma do país em área, abrange menores classes de altura e diâmetro apresentam maiores taxas de aproximadamente 25% do território brasileiro (Ribeiro & Walter, mortalidade (Silva et al. 1996; Sato & Miranda, 1996). 1998; Araújo et al, 1999). O cerrado é uniforme, geográfica e De acordo com os resultados apresentados, pode-se sugerir que florísticamente, porém fisionomicamente sua diversidade é consi- A. tomentosum é uma espécie tolerante ao fogo, pois apesar dos derável. Essa variação vai desde uma vegetação arbustiva herbácea, indivíduos das menores classes de tamanho sofrerem grande impac- passando por um tipo arbóreo até assemelhar-se a uma floresta, to, os indivíduos maiores são capazes de reproduzirem sexuadamente sendo que essas formações vegetais possuem características florísticas e, diferentemente de grande parte das espécies lenhosas (Hoffman, e ecológicas próprias (Araújo et al, 1999). 1998), regeneram sob o regime de queima atual do cerrado. O cerrado “sensu stricto” é caracterizado por uma flora herbá- Apesar de A. tomentosum ser uma espécie tolerante, a elevada cea e subarbustiva ou arbustivo-arbórea com árvores distribuídas taxa de mortalidade de indivíduos menores contribui para a aber- aleatoriamente sobre o terreno em diferentes densidades (Coutinho, tura do estrato lenhoso após a passagem do fogo, o que também foi 1978; Ribeiro & Walter, 1998). O cerradão apresenta espécies observado por Moreira (2000) em áreas de Cerrado do Distrito que ocorrem no cerrado “sensu stricto” e também por espécies de Federal. Portanto, o impacto do fogo em A. tomentosum contribui mata, sendo caracteristicamente uma formação florestal com as- para as alterações na estrutura da comunidade vegetal do cerrado pectos xeromórficos (Ribeiro & Walter, 1998). s.s., ao diminuir a densidade do estrato lenhoso. Estudos da biodiversidade de formigas estão sendo realizados 5. Bibliografia com o objetivo de compreender as perturbações nos ecossistemas, pois estas respondem ao estresse do meio, apresenta ampla distri- Coutinho, L. M. (1982). Ecological effects of fire in Brazilian buição e abundância local e alta riqueza de espécies (Marinho et Cerrado. 1982. In: B.J. Huntley & B.H., Walker (ed.). Ecology of al,2002). As formigas são encontradas na maioria dos ecossistemas Tropical Savannas. p.273-306. terrestres, com exceção dos ecossistemas polares e nas regiões ma- Frost, P.; Medina, E.; Menaut, J.C.; Solbring, O.; Swift, M.; Walker rinhas, sua ampla dispersão é favorecida pela diversidade de adap- B. (1985). Responses of savannas to stress and disturbance. Biology tações ecológicas e sociais tais como grande variedade no padrão international, Special Issue, 10. alimentar e nos habitats de nidificação (Soares et al, 1998). Frost, P. G. H.; Robertson, F. (1987). The ecological effects of fire Diversos trabalhos destacam a importância das formigas como in savanna. In: B.H. Walker (ed.). Determinants of tropical savannas. bio-indicadoras, nas interações com plantas que vão desde predação IRL Press Limited, Oxford. p.93-139. até uma proteção contra herbívoros, dispersão de sementes e mo- Hoffman, W. A. (1998). Post-burn reproduction of woody plants dificações de características físicas e químicas do solo (Morais & in a neotropical savanna: the relative importance of sexual and Benson, 1987; Medina & Zanon, 1997; Soares et al, 1998; UNESP, vegetative reproduction. Journal of Applied Ecology 35: 422-433. 2003). Tendo em vista a importância das formigas de forma geral, é relevante o conhecimento desses insetos para a ecologia de deter- Miranda, A. C.; Miranda, H. S.; Dias, I. F. O.; Dias, B. F.S. (1993). minado ambiente já que constituem grande parte da biomassa de Soil and air temperature during prescribed cerrado fires in Central invertebrados dos ecossistemas (Caetano et al, 2002; UNESP, 2003). Brazil. Journal of tropical Ecology 9:313-320. Nesse sentido o presente estudo teve como objetivo determi- Moreira, A. G. (2000). Effects of fire protection on savanna structure nar e comparar a riqueza e a diversidade de espécies de formigas em in Central Brazil. Journal of Biogeography 27:1021-1029. duas fitofisionomias do cerrado: cerrado “sensu stricto” e cerradão, Ramos-Neto, M. B.; Pivello, V. M.(2000) Lighting fires in a brazilian conjugando dois métodos de amostragem: busca ativa e armadilhas savanna national park: rethinking management strategies. de solo do tipo pit-fall. Environmental Management 26(6):675-684. 2.Métodos A área de estudo esta localizada no município de Campo Gran- Salgado labouriau, M. L.; Barberi, M.; Ferraz-Vincentini, K. R.; de MS (20º 27‘S, 54º 37‘W) no Campus da Universidade Federal Parizzi, M. G. (1998). A dry climatic event during the late de Mato Grosso do Sul. A vegetação apresenta fisionomias carac- Quartenary of tropical Brazil. Review of Paleobotany and Palynology terísticas de cerrado, evidenciando transição entre elas. Tais transi- 99: 115-129. ções foram descritas e definidas em duas áreas: cerrado “sensu Sato, M. N.; Miranda, H. S. (1996). Mortalidade de plantas lenhosas stricto” e cerradão ambas com diferenças e características peculia- do cerrado sensu stricto submetida a diferentes regimes de queima. In: res. O cerrado “sensu stricto” mostra um estrato arbóreo bem H.S. Miranda, C.H. Saito & B.F.S. Dias (org.), Impactos de queima- definido, caracterizado por árvores baixas tortuosas, apresentando das em áreas de Cerrado e Restinga. ECL/UnB, Brasília. p.102-111. ramificações irregulares e retorcidas. Por outro lado o cerradão Silva, G. T.; Sato, N. M.; Miranda, H. S. (1996). Mortalidade de fisionomicamente apresenta aspecto florestal, mas floristicamente

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 561 Cerrado Volume I

é similar ao cerrado: o seu estrato arbóreo é composto por árvores ciações com plantas e homoptera (Soares et al. 1998). A taxonomia de maior porte e menos grau de tortuosidade. deste grupo está pouco desenvolvida, o que dificulta a sua identifi- As duas áreas de coleta situam-se numa mesma localidade, o cação (Caetano et al. 2002). que garante uma maior uniformidade e minimiza o efeito do clima O cerrado “sensu stricto” têm suas espécies distribuídas mais e de fatores históricos nas amostras de vegetação. As amostragens homogeneamente em comparação com o cerradão, tanto para os foram realizadas no período de maio a junho de 2003 na estação “pitfalls” como para a busca ativa, isto foi observado comparando- seca. Para a coleta das formigas, foram definidas duas estratégias: se suas abundâncias relativas. De todas as espécies de formigas busca direta e armadilhas de solo do tipo pit-fall, foram montadas coletadas, foram exclusivas de áreas de cerrado Solenopsis sp.1, 10 armadilhas dispostas de 10 em 10m seguindo dois transectos de Solenopsis sp.3, Dolichoderinae sp.3, Pseudomyrmex sp.2, Cephalotini 100m, definidos em cada área de amostragem. A armadilha consis- sp., Formicini sp., Zacryptocerus sp., Acromyrmex sp. e Dinoponera te em um copo plástico enterrado ao nível do solo, contendo em sp., somente Pseudomyrmex sp.1 foi exclusiva da área de cerradão. seu interior uma solução composta por de água, detergente e formol, A raridade da subfamília Pseudomyrmicine pode estar relacionado preenchendo ¼ do total do copo, no qual é inserida uma haste de com o fato de a maioria das espécies destes formicídeos viverem em arame cuja parte superior contém uma isca com uma pasta de cavidades de árvores (Soares et al. 1998; Caetano et al. 2002) não sardinha e farinha de trigo. sendo possível a sua amostragem em armadilhas de solo, somente As armadilhas foram retiradas após 18 horas, o material coleta- na busca ativa. O único gênero amostrado desta subfamília foi o do foi transferido para recipientes contendo álcool 70%, posteri- Pseudomyrmex. ormente triados, as formigas foram identificados com auxílio de Para o cerrado “sensu stricto” em armadilhas de solo, destaca- lupas e bibliografias especializadas no laboratório de zoologia da ram-se em termo de freqüência de captura as espécies Pheidole sp.1 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Para determinar a com 90%, Camponotus sp.1 e Camponotus sp.2 (ambas com 60%) diversidade em cada área de cerrado foi usado índice de diversidade e Camponotus rufipes (45%), no cerradão as espécies Pheidole sp.1 de Shannon. (95%), Camponotus sp.1 (75%), Camponotus sp.2 (55%) e Atta 3.Resultados e Discussão sp.1 (30%) foram as mais freqüentes. Na coleta ativa Camponotus Foram coletadas 26 espécies de formigas pertencentes a 15 sp.2 e Cephalotes pusillus (com 100% de freqüência), Ectatoma sp.1 gêneros, 9 tribos e 5 subfamílias. Nas duas áreas de amostragem a (83,33%) e Camponotus sp.3 (66,67%) foram as mais freqüentes, subfamília Myrmicinae foi a que contribui com maior número de para o cerrado, enquanto que para o cerradão foram Pheidole sp.1 espécies (12), este resultado assemelha-se aos de trabalhos realiza- (83,33%), Camponotus sp.2 (66,67%) e com 33,33% Cephalotes dos anteriormente (Soares et al. 1998; Marinho et al. 2002), isso pusillus e Atta sp.1. Cephalotes pusillus juntamente com Camponotus ocorreu certamente porque essa subfamília é a maior e mais co- sp2. obteve 100% de frequência na coleta ativa no cerrado “sensu mum subfamília de formigas, apresentando hábitos bastante variá- stricto”. É possível que está espécie de Myrmicinae seja caracterís- veis (Borror & DeLong 1988). A subfamília Formicinae foi repre- tica do cerrado (Longo, dados não publicados). sentada por 5 e Ponerinae por 4 espécies. Com relação ao índice de diversidade de Shannon, as áreas Nas armadilhas de solo, “pitfalls”, foram coletadas um total de amostradas apresentam diferenças significativas, tendo o cerrado 17 espécies, distribuídas em 12 gêneros, todas as espécies foram “sensu stricto” maior diversidade que o cerradão, em ambos os encontradas no cerrado e apenas 10 no cerradão, sendo que estas métodos de coleta, este resultado evidência que a fauna de formi- 10 também foram encontradas no cerrado. Na busca direta obte- gas varia diretamente em função da complexibilidade estrutural da ve-se 14 espécies de 10 gêneros, dos quais 13 foram encontrados comunidade vegetal (Soares et al. 1998). no cerrado e 9 no cerradão, todas as espécies foram encontradas A utilização de iscas que combinam proteína e carboidrato em ambos. No método de busca ativa, foi coletado um maior mostrou-se útil na amostragem real da diversidade de formigas pois número de espécies arborícolas, devido ao fato de que o esforço de servem de atrativo para espécies de diferentes hábitos alimentares coleta foi concentrado nas árvores com o objetivo de fazer uma (Veja Caetano et al. 2000; UNESP 2003). Porém essa metodologia amostragem de todas as espécies da área tanto as de solo como as de coleta foi falha devido ao fato de não atrair espécies comedoras espécies arborícolas. Porém, espécies de solo que foram encontra- de fungo, mas na última coleta realizada, percebemos que houve das sobre troncos e arbustos também foram coletadas. Conjugan- uma proliferação de fungos na isca. Desta forma, coletamos um do-se os resultados dos métodos, observou-se que o cerrado “sensu indivíduo do gênero Acromyrmex. Espécies deste gênero cortam stricto” apresentou 25 espécies enquanto o cerradão apresentou plantas e transportam vegetais para os formigueiros onde são utili- 16 espécies, portanto verifica-se que o cerrado “sensu stricto” de- zados como meio de cultura para o cultivo de um fungo que serve monstra ser mais rico que o cerradão. para sua alimentação (Lopes & Fowler 1999; Grurzmacher et Os gêneros de formigas predominantes em números de espéci- al.2002). es foram: Camponotus e Solenopsis com 4 espécies e Dolichoderinae 4.Conclusão com 3 espécies. Camponotus é um dos gêneros de maior tolerância Os dados apresentados neste estudo indicam variações na ri- ecológica o que lhe confere alto poder de colonização de ambien- queza e na diversidade de espécies entre as fitofisionomias estuda- tes (Soares et al. 1998). Já as espécies do gênero Solenopsis são das. Esse levantamento de espécies é essencial, uma vez que essa altamente agressivas na utilização dos recursos a nível de serapilheira área encontra-se em um centro urbano e está sujeita a ações e podem passar por longos períodos de escassez de alimento além antrópicas. Portanto, são necessários estudos onde sejam emprega- de competir com outras espécies de formigas ou de outros grupos dos um maior número de fragmentos de cerrado “sensu stricto” e animais por apresentar uma eficiente estratégia de recrutamento cerradão para que resultados mais conclusivos e passíveis de gene- em massa (Marinho et al. 2002). ralizações sejam alcançados. O gênero Pheidole foi o que apresentou maior números de 5.Referências Bibliográficas indivíduos amostrados, destacando-se Pheidole sp.1 que apresen- Araújo, A. R. B.; M. I. J. G. Teixeira & R. R. Rodrigues. 1999. tou maiores valores de abundância relativa em todos os tratamen- Florística e fitossociologia de um trecho de cerrado no município tos, este gênero apresentou apenas duas espécies. Isto ocorre por- de Franca. Naturalia 24: 139-152. que o gênero Pheidole está entre os mais amplamente distribuídos Borror, D. J. & D. M. DeLong. 1988. Introdução ao estudo dos e frequentes na região Neotropical (Marinho et al. 2002). O gêne- insetos. Editora Edgard Blucher LTDA, São Paulo. ro Pheidole é diversificado ecologicamente incluindo formigas co- letoras de sementes, onívoras, predadoras e mutualísticas em asso- Caetano, F. H.; K. Jaffé & F. J. Zara. 2002. Formigas: biologia e

562 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado anatomia. Editora Topázio, Rio Claro. as estações seca e chuvosa para H. alvarengai na Serra do Coutinho, L. M. 1978. O conceito de cerrado. Revista Brasileira Cipó.ii) A temperatura cloacal não está relacionada às tempe- de Botânica 1: 17-23. raturas do ar e do substrato. iii) A variação da temperatura corporal não está relacionada à coloração do tegumento do Gruzmacher, D. D.; A. E. Loeck & A. H. Medeiros. 2002. Ocor- animal. iv) Não existe uma relação entre a altura do solo do rência de formigas cortadeiras na região da depressão central do sítio de repouso e a temperatura cloacal. Adicionalmente pre- estado do Rio Grande do Sul. Ciência Rural 32 (2): 185-190. tendemos avaliar o uso preferencial de um dado tipo de Lopes, B. C. & H. G. Fowler. 1999. Variação temporal no uso de microhabitat como sítio de repouso. recursos vegetais por Acromyrmex striatus (Myrmicinae: Attini). 2. Materiais e Métodos Naturalia 24: 107-108. XIV Encontro de Mirmecologia. Editora O estudo foi realizado em uma área de campo rupestre na UNESP, São Paulo. Serra do Cipó, Minas Gerais (19º 20’ S e 43º 40’W) a uma eleva- Marinho, C. G. S.; R. Zanetti; J. H. C. Delabie; M. N. Schlindwein & ção de 1100m. A fisionomia vegetal é composta principalmente L. S. Ramos. 2002. Diversidade de formigas (Hymenoptera: pelas famílias Eriocaulaceae, Velloziaceae e Melastomataceae. A Formicidae) da serapilheira em eucaliptais (Myrtacea) e área de cerra- região apresenta sazonalidade climática bem definida com o perío- do de Minas Gerais. Neotropical Entomology 31 (2): 187-195. do de seca durando de maio a setembro e o período chuvoso de Medina Jr., P. B. & A. M. Zanon. 1997. Ecologia das interações outubro a abril. formigas/plantas. Revista Científica UFMS 41 (1): 56-60. Indivíduos de H. alvarengai foram procurados em uma área de aproximadamente 3ha, entre os meses de fevereiro a junho Morais, H. C. & W. W. Benson. 1988. Recolonização de vegeta- de 2003. As observações foram efetuadas entre 6:30h e 15:30h, ção de cerrado após Queimada, por formigas arborícolas. Revista sendo o período de início variável e o de término ditado pela Brasileira de Biologia 45 (3): 459-466. taxa de encontro com os indivíduos. Para assegurar que o mes- Ribeiro, J. F. & B. M. T. Walter. 1998. Fitofisionomias da bioma mo individuo não fosse recapturado num mesmo dia, estabele- cerrado. In: S. M. Sano & S. P. Almeida (eds.) Cerrado: Ambiente cemos uma rota de procura de modo que um dado local fosse e Flora. visitado apenas uma vez ao dia. Os animais foram capturados Soares, S. M.; C. G. S. Marinho & T. M. C. D. Lucia. 1998. com a mão. Riqueza de espécies de formigas edáficas em plantação de eucalipto Para cada exemplar encontrado e capturado foi registrado o e em mata secundária nativa. Revista Brasileira de Zoologia 15 (4): microhabitat ocupado, coloração do tegumento, altura em rela- 889-898. ção ao solo, comprimento rostro cloacal (CRC) - medido com Unesp. 2003. Relatório sobre atividade de campo realizada no paquímetro de precisão 0,05mm, massa - medida com balança Pantanal. Pesola precisão 0,5g. Para avaliar o período de manutenção da temperatura cloacal do animal durante o manuseio, nós medi- WWW – Brasil. 2000. Expansão agrícola e perda da biodiversidade mos, em 6 indivíduos, o tempo em que a temperatura cloacal no Cerrado: Origens (medida com termômetro de leitura rápida Miller & Webber históricas e o papel do comércio internacional. Vol. 2. Brasília. precisão 0,2oC) permaneceu sem alterações, obtendo-se uma média de 15 segundos. A temperatura cloacal foi medida para cada Ecologia termal e uso de sítios de repouso por Hyla indivíduo respeitando-se, então, o intervalo de 15 segundos entre alvarengai Bokermann 1956 (Anura: Hylidae), uma a captura do animal e a medição de sua temperatura cloacal espécie endêmica da Cadeia do Espinhaço, Sudeste através do termômetro. Para os casos em que este procedimento brasileiro. excedeu o tempo limite as temperaturas foram desconsideradas. As temperaturas do substrato e do ar medida a um centímetro de Pedro C. F. Carneiro* Conrado A. B. Galdino* e Monique Van Sluys* altura do substrato foram tomadas para cada exemplar com ter- *- Setor de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, mômetro de precisão 0,2oC. Universidade do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, 20550-013, Rio de Janeiro, Brasil. A freqüência de indivíduos por categoria de substrato foi cal- [email protected] culada para determinar o uso de preferencial do substrato. As tem- peraturas cloacais entre as estações foram comparadas através de 1. Introdução ANOVA. Para avaliar os efeitos das temperaturas do ar, do substrato A ecologia termal de anfíbios é bem conhecida para espécies de e a altura do substrato ocupado em relação ao solo sobre a tem- regiões temperadas (e.g. Brattstrom e Lawrence, 1962, Blem et al., peratura cloacal foi feita uma Regressão Múltipla entre essas vari- 1986). A seleção de habitat e a distribuição geográfica são um dos áveis. Para avaliar os efeitos da coloração do animal sobre a tempe- atributos que podem ser limitados pela amplitude de aclimatação ratura cloacal foi efetuada uma análise de variância utilizando-se a termal da espécie (Brattstrom, 1968). No entanto, estudos sobre a cor como fator (Zar, 1999). ecologia termal de espécies Sul-Americanas são escassos restringin- 3. Resultados e Discussão do-se a generalizações. Foram capturados 80 indivíduos de Hyla alvarengai, a média de Distribuída ao longo da Cadeia do Espinhaço (Sudeste do CRC foi de 32,55±10,1mm; variando de 16mm a 76,5mm. O peso Brasil), Hyla alvarengai é uma espécie de hylídeo saxícola, possuin- médio foi de 5,35±3,29g; variando de 3g a 24,5g. A maioria dos do um tamanho corporal relativamente grande (Duellman, 1993). exemplares pode ser considerada como jovens ou sub-adultos, ten- O conhecimento sobre a ecologia desta espécie é praticamente do sido encontrados apenas 4 adultos. O substrato preferencial- inexistente sendo encontradas apenas informações advindas de es- mente ocupado pela espécie foi reentrância na pedra (31,25%), tudos descritivos sobre aspectos gerais de sua biologia (Sazima e seguido por pedra exposta (21,25%), fenda (17,5%), pedra à meia Bokermann 1977; Vrcibradic e Van Sluys 2000). sombra (16,25%). A profundidade média dos indivíduos encontra- Uma vez que existe uma variação na temperatura do ar e dos nas fendas foi de 5±4,03cm variando de 0 a 13cm. Todos os dos substratos ao longo do dia é esperado que a temperatura indivíduos foram encontrados em posição de repouso, olhos corporal dos indivíduos de H. alvarengai, em repouso, oscile semifechados, cabeça baixa membros encolhidos e voltados de modo a refletir a variação nas temperaturas ambientais. medialmente de modo a permitir um acumulo de água entre o Especificamente, nós buscamos responder as seguintes hipó- corpo do animal e o substrato. Este acúmulo foi observado para pelo menos 47,5% dos animais. Água na bexiga, registrada pela teses (H0): i) Não existe variação na temperatura cloacal entre

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 563 Cerrado Volume I ejeção pela cloaca durante o manuseio, foi notado para pelo menos DUELLMAN, W. E. & TRUEB, L. (1986). Biology of Amphibians. 17,5% dos exemplares. Nas regiões acima de 1000m na Serra do New York: Mcgraw-Hill. 970 pp. Cipó as condições ambientais ao longo do dia são adversas para a DUELLMAN, W. E. (1993). Amphibians of the world: additions and manutenção hídrica de anfíbios, com ventos abundantes e ar seco corrections. Univ. Kansas Mus. Nat. Hist. Spec. Publ. 21: 1-372. durante a estação seca e o calor durante a estação chuvosa. Espina ESPINA, S. & ROJAS, M. (1972). A comparison of the size of the e Rojas (1972); Duellman e Trueb (1986) reportam que o acúmulo urinary bladder of two south american anurans of different habitat. de água na bexiga funciona como uma adaptação para o balanço Comp. Biochem. Physiol. 41A: 115-119. hidromineral em anfíbios, atuando como uma reserva em condi- ções de escassez de água. Desta forma, adaptações como a escolha SAZIMA, I. & BOKERMANN, W. C. A. (1977). Anfíbios da de um microhabitat que ofereça uma proteção contra dessecação, Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil, 3: Observações sobre a biolo- e o acúmulo de água, observado tanto na bexiga quanto entre o gia de Hyla alvarengai Bok. (Anura, Hylidae). Rev. Bras. Biol. 37: corpo e o substrato, garantem a permanência de H. alvarengai 413-417. nesse ambiente. VRCIBRADIC, D., VAN SLUYS, M. (2000). Hyla alvarengai A temperatura cloacal varia ao longo do dia apresentando uma (NCN): Death feigning and size at maturity. Herpethological Review. média de 26,6±3,46oC variando de 17,8oC a 32,2oC. A temperatu- 31(1): 40-41. o o o ra média do ar foi de 22,67±3,44 C, variando de 17,2 C a 34,4 C e ZAR, J. H. (1999). Bioestatiscal Analysis. 4 ed. New Jersey: Prentice- o a temperatura média dos substratos correspondeu a 25,01±3,35 C, Hall International, Inc. 718p. variando de 17.6oC a 35oC. A temperatura cloacal não diferiu entre as estações seca e chuvosa (ANOVA F = 0,018, R2= 0,001 e P= 1,51 Decréscimo populacional de capivaras (Hydrochoerus 0,90). A variação na temperatura corporal entre estações não é esperada para espécies de ambientes tropicais (Duellman e Trueb, hydrochaeris) no lago Paranoá - Brasília a b c 1986), assim os resultados encontrados H. alvarengai suportam Pinha, P. S. , Waga, I. C. & Moreira, J. R. a essa prerrogativa. A regressão múltipla indica que temperatura cloacal Estudante de Biologia da Universidade de Brasília b esteve relacionada ao efeito conjunto das variáveis temperatura do ([email protected]); Estudante de Biologia da Universidade de c 2 Brasília; Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia ar e do substrato e altura em relação ao solo (F1,54= 65.240, R = 0,78, P= 0,001) sendo que quando isolado o efeito de um fator sobre o outro (parciais da regressão) apenas a temperatura do 1. Introdução substrato explica uma parte adicional da variação (t= 9,614 e P= A ocupação humana às margens do Lago Paranoá, a partir de 0,001). Temperaturas ambientais são os fatores extrínsecos que sua construção 1959, trouxe isolamento dos grupos de capivaras afetam a temperatura corporal de anfíbios (Duellman e Trueb, (Hydrochoerus hydrochaeris) provocado pela fragmentação e redu- 1986). A temperatura do substrato é o fator mais importante para ção do habitat disponível, uma maior pressão de caça, bem como o controle térmico de H. alvarengai na Serra do Cipó. Este fato pode ter provocado alterações no uso do tempo e espaço e na pode estar relacionado a uma menor variação na temperatura do estrutura social e populacional dessa espécie (Moreira et al., 2001). substrato ao longo do dia quando comparado com a temperatura Como conseqüência, tornou-se necessário o desenvolvimento de do ar, alterado constantemente pela ação do vento e pela variação uma estratégia de manejo dos grupos de capivaras do Lago Paranoá. na insolação. Desta maneira, termorregular através do substrato Estudos populacionais são importantes para o desenvolvimen- conferiria ao animal uma menor variação em sua temperatura cor- to de estratégias conservacionistas, especialmente em áreas onde poral ao longo do dia. espécies estejam sob grande pressão de caça e alteração de habitat Em condições de grande luminosidade (céu aberto) os indiví- como é o caso das capivaras na região do Lago Paranoá. Um dos duos apresentavam coloração esbranquiçada a cinza claro, enquanto principais objetivos dos estudos populacionais é a identificação de que em condições de sombreamento essa coloração apresentava-se tendências ocorrentes no tempo, sendo a imprecisão dos resulta- cinza escuro. Observou-se que a alteração na coloração do indiví- dos, também chamada de ruído, um problema comum para sua duo ocorre de forma rápida em resposta à mudança na condição de identificação. A estimativa da variação do tamanho populacional luminosidade. As temperaturas cloacais de indivíduos com colora- pode ser obtida a partir de programas de monitoramento de popu- ção escura foram menores que as dos indivíduos claros (ANOVA lações (Boitani & Fuller, 2000). O poder estatístico de um progra- 2 ma de monitoramento de uma espécie representa a probabilidade F1,43= 8,792, R = 0,17 e P= 0,005). A mudança na coloração pode ser afetada por mudanças na iluminação e também na temperatura. de detecção de tendência quando esta existe, mesmo na presença As vantagens associadas à mudança na coloração podem estar rela- de ruídos. A falta de avaliação do poder estatístico de um programa cionadas a: 1) evitar super aquecimento e aumento de perda de de monitoramento pode ter como conseqüência a coleta de dados água, devido a maior reflexão propiciada pela coloração clara em insuficientes para a detecção de tendências. condições de calor; 2) aumentar a aquisição de calor em condições A Análise de Poder é uma ferramenta estatística que permite de menores temperaturas, coloração cinza escura; 3) ajustar a co- testar o poder de detecção de tendências por parte de programas loração do corpo de modo a manter a cripticidade devido à altera- de monitoramento de espécies. O programa MONITOR 6.2, um ção na coloração do substrato, conforme a condição de software desenvolvido para explorar as interações entre os compo- luminosidade, conferindo uma vantagem contra predadores visual- nentes de programas de monitoramento e avaliar a influência de mente orientados. cada componente no poder de detecção de tendências (Gibbs, 5. Referências Bibliográficas 1995), pode servir como uma ferramenta valiosa para acessar a eficiência de programas de monitoramento e o delineamento de BLEM, C. R.; RAGAN, C. A.; SCOTT, L. S. (1986). The thermal novos programas. physiology of two sympatric treefrogs Hyla cinerea and Hyla chrysoscelis Através de um programa de monitoramento adequado, pode- (Anura; Hylidae). Comp. Biochem. Physiol. 85A(3): 563-570. se identificar tendências da população de capivaras do Lago Paranoá BRATTSTROM, B. H. & LAWRENCE, P. (1962). The rate of thermal e, com isso, desenvolver uma estratégia de manejo eficiente. Com acclimation in anuran amphibians. Physiol. Zool. 35: 148-156. o intuito de obter parâmetros que tornassem possível o BRATTSTROM, B. H. (1968). Thermal acclimation in anuran monitoramento a longo prazo das populações de capivara, foi de- amphibians as a function of latitude and altitude. Comp. Biochem. senvolvido um índice de abundância da espécie na área. Este índice Physiol. 24: 93-111. foi testado por um período de três anos para avaliar o seu poder de detecção de alterações no tamanho populacional.

564 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

2. Materiais e Métodos carrapatos nos jardins das residências. A estimativa do índice de abundância de capivaras foi obtida a A análise de regressão mostrou um significativo decréscimo no 2 partir do método de contagem dupla, realizado em uma embarca- número de capivaras no tempo (r = 0,5536, r = -0,1978, F1,11 = ção do tipo escaler com motor de popa ao longo das margens do 11,16, P = 0,0086) nas margens do Lago Paranoá. Quando os lago. O método de contagem dupla é uma variação do método de dados foram agrupados em semestres, a análise de variância mos- marcação-recaptura de Petersen, de modo que as duas capturas são trou uma significativa diferença entre as médias (F4,10 = 5,11, P = feitas visualmente por dois observadores (Mourão & Campos, 0,0388), mas os únicos semestres que tiveram suas médias signifi- 1995). O cálculo do índice de abundância é obtido a partir do cativamente diferentes pelo teste de Tukey (P < 0,05) foram justa- número total de animais vistos por cada um dos dois observadores mente os do início e fim do período de coleta (2o semestre de 2000 (capturas) e do número de animais que ambos observaram e 2o semestre de 2002). (recaptura). Para a identificação dos animais vistos por ambos ob- Os resultados da Análise de Poder mostram a necessidade de servadores é necessário a divisão da área em parcelas, as quais 12 amostragens anuais para se detectar uma diminuição de 5% da foram preestabelecidas por intervalos de tempo (um minuto). A população em 20 anos (P = 0,05). Realizando-se 6 amostragens velocidade (12 km/h) e a distância da margem (20 m) foram mantidas por ano, com o método por nós utilizado, serão necessários 30 constantes. Inicialmente, a embarcação foi cedida pelo Corpo de anos de acompanhamento da população para detectar-se a mesma Bombeiros do Distrito Federal e posteriormente por particular. A diminuição (P = 0,05). Estes resultados põem em dúvida a precisão estimativa foi realizada em quatro noites consecutivas, a cada dois do método por nós utilizado e a interpretação do decréscimo da meses desde agosto de 2000 até dezembro de 2002. Houve inter- população de capivaras. Realmente, o nosso método não teve a rupção das coletas nos períodos de janeiro a março de 2002 (devi- precisão necessária para a detecção de um decréscimo populacional do ao repentino encerramento do apoio por parte do Corpo de da ordem de 5% em um pequeno intervalo tempo (3 anos, por Bombeiros) e de junho a setembro de 2002 (devido a roubo do exemplo). Entretanto, a magnitude do decréscimo populacional motor do escaler). Algumas amostragens (julho/2001 e abril/2002) de capivaras ocorrido de 2000 a 2002 no Lago Paranoá foi de tal foram descartadas por encontrarem-se afastadas da tendência. monta – 76% - que nosso método tem a precisão necessária para Para a avaliação de decréscimo populacional foi realizada uma detectá-lo. análise de regressão nos índices de abundância coletados nas mar- 4. Conclusões gens do Lago Paranoá. Tendo em vista que era feita apenas uma A redução do habitat das capivaras na região do Lago Paranoá coleta de dados por bimestre, sem nenhuma repetição, os dados é preocupante no que diz respeito a sobrevivência desse espécie, a coletados em um mesmo semestre foram agrupados para a realiza- longo prazo, na região. Com a crescente urbanização e o ção de uma análise de variância, buscando-se a identificação de desmatamento às margens do lago, o habitat para as capivaras tem diferenças entre as médias dos índices de abundância. As médias sofrido grandes reduções. A conservação da vegetação da foz dos para os diferentes semestres foram comparadas pelo Teste de Tukey tributários e das áreas verdes, bem como a manutenção de propri- de comparações múltiplas. edades às margens do Lago Paranoá que permitam o acesso das Foi testado o poder de detecção de declínio e aumento da capivaras aos seus jardins são medidas fundamentais para garantir o população do método de coleta, utilizando-se o programa futuro dessa espécie na região. Um programa de educação ambiental MONITOR 6.2 (Gibbs, 1995). Nas simulações foram utilizadas e de monitoramento da área disponível para a capivara e da popu- as variáveis: números de transectos (4), número médio de animais/ lação remanescente deve ser posto em atividade com urgência. O parcela/transecto, variância desta média e número de anos para mais importante de tudo é a conscientização das autoridades com- detecção. Foram dados diferentes pesos para os diferentes transectos petentes e do governo local para que seja possível o desenvolvi- de acordo com abundância de animais encontrados. O poder de mento de uma política para a conservação, a longo termo, da detecção de 5% de declínio da população foi calculado conside- população de capivaras residente às margens do Lago Paranoá. rando 3, 6, 12 e 24 amostragens por ano, por períodos de 5, 10, 20 5. Referências Bibliográficas e 30 anos. O nível de significância utilizado foi de 0,05. Boitani, L. & Fuller, T.K. (2000). Research techniques in animal 3. Resultados e Discussão ecology: controversies and consequences. Columbia University O tamanho populacional de capivaras nas margens do Lago Press, New York. Paranoá, avaliado desde agosto de 2000 a dezembro de 2002, Gibbs, J. P. (1995). Monitor: users manual. Yale University, New apresentou um decréscimo acentuado no ano de 2003. Em 2000 o Haven. número de capivaras por quilômetro linear de margem do Lago Paranoá manteve-se estável (0,79, 0,75 e 0,64 para os meses de Moreira, J.R.; Pinha, P.R.S. & Cunha, H.J. (2001). Capivaras do agosto, outubro e dezembro). O número de capivaras nas margens Lago Paranoá. In: Fonseca, F.O. (ed.) Olhares Sobre o Lago Paranoá. do Lago Paranoá em 2001 também se manteve estável (0,78, 0,86, p.141-147. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Brasília. 1,11 e 0,56 capivaras/km linear para os meses de fevereiro, maio, Mourão, G.; Campos, Z. (1995). Survey of the broad-snouted julho e dezembro). O decréscimo no número de capivaras ocorreu caiman Caiman latirostris,marsh deer Blastocerus dichotomus and apenas no ano de 2002 (0,85, 0,39, 0,28 e 0,18 capivaras/km capybara Hydrochoerus hydrochaeris in the area to be inundated by linear nos meses de abril, maio, outubro e dezembro). Ainda que a Porto Primavera dam, Brazil. Biological Conservation 73: 27-31. estimativa do índice de abundância de capivaras aqui apresentada para o Lago Paranoá seja referente apenas à área amostrada (é um índice de abundância) e, portanto, o valor esteja subestimado para Análise temporal da comunidade arbórea de um todo o lago, aparentemente demonstra um decréscimo em seu fragmento urbano de floresta estacional número. Possivelmente, este decréscimo seja conseqüência da re- semidecidual no município de Araguari, MG. dução da área disponível para as capivaras nas margens do Lago Polyanna Custódio Duartea e Glein Monteiro Araújob Paranoá, devido à expansão da ocupação humana e destruição de aAcadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Instituto de Biologia, seu habitat. Ainda que existam moradores das mansões do Lago UFU, bInstituto de Biologia ,UFU Paranoá que apreciem a presença das capivaras em seus jardins, uma significativa parcela da população sente-se perturbada (Moreira 1. Introdução et al., 2001). Esta perturbação decorre principalmente do consu- As florestas mesófilas semidecíduas na região do Cerrado do mo de plantas ornamentais por parte das capivaras e a infestação de Brasil Central (Ribeiro e Walter, 1998) já ocuparam uma área

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 565 Cerrado Volume I expressiva ao longo de Minas Gerais (Leitão Filho, 1982). Essas tura especializada, comparações com coleções de herbários, ou por florestas apresentam alta diversidade florística e possuem uma flora determinações de especialistas. Essa coleção foi depositada no arbórea bem estudada, quando comparada com outras formações Herbarium Uberlandensis (HUFU) da Universidade Federal de vegetais (Leitão Filho, 1992). Caracterizam-se por apresentarem Uberlândia, MG. Os parâmetros fitossociológicos foram determi- diversos níveis de caducifolia durante o período de seca, fator que nados aplicando o programa FITOPAC (Shepherd, 1995). contribui para o aumento da matéria orgânica no solo. Apesar de 3. Resultado e Discussão serem legalmente protegidas têm sido submetidas a intensa No presente trabalho (T2) foram amostradas 1745 indivíduos antropização (Ribeiro e Walter, 1998). distribuídos em 97 espécies, 81 gêneros e 41 famílias botânicas. Em Os locais com ocorrência de perturbações em larga escala têm T1 foram registrados 1803 indivíduos distribuídos em 106 espéci- um efeito negativo, ameaçando a diversidade de espécies da comu- es, 88 gêneros e 43 famílias. Nos dois levantamentos as famílias nidade vegetal (Oliveira Filho et al., 1997). Entretanto, as pertur- Annonaceae, Lauraceae, Leguminosae, Myrtaceae e Rubiaceae ti- bações moderadas causadas por mortalidade e abertura de clareiras veram o maior número de espécies. Em geral, essas famílias, apre- são consideradas distúrbios naturais e podem ter um papel funda- sentaram significativa riqueza de espécies em estudos realizados mental na manutenção da diversidade de espécies arbóreas (Oli- nas matas do Triângulo Mineiro (Schiavini, 1992; Werneck, 2000) veira Filho et al., 1997). Também podem influenciar o padrão de .As famílias Chrysobalanaceae e Euphorbiaceae apresentaram, em distribuição e incorporar mudanças estruturais, microclimáticas, ambos os levantamentos, maior número de indivíduos devido à edáficas e bióticas nessas florestas tropicais (Swaine et al., 1987). presença das espécies Licania apetala e Micrandra elata, respectiva- As modificações causadas pela antropização têm motivado o estabe- mente. Essas duas espécies predominam tanto no dossel superior lecimento de programas de conservação destes ecossistemas (Laurence como no subosque da mata, e segundo Araújo et al. (1997) isso e Bierregaard ,1997), além de despertar a curiosidade para se conhe- indica serem bem competitivas em relação às condições atuais cer a estrutura e dinâmica nesses ambientes alterados. daquele ambiente. A dinâmica em florestas é resultante do crescimento, mortali- As cinco espécies que obtiveram IVI’s mais representativos em dade e recrutamento (Lieberman et al., 1985), podendo haver rela- T1 foram: Licania apelata, Micrandra elata, Copaifera langsdorffii, ção com diversos fatores ambientais que influenciam na distribui- Astronium nelson-rosae e Alchornea glandulosa. Em T2 a espécie ção, no desenvolvimento e na estrutura das populações vegetais Licania apetala também apresentou valor maior de IVI, em virtude (Aquino et al., 1999). Em florestas tropicais os estudos que deter- do grande número de indivíduos encontrados, apesar do decrésci- minam o processo regenerativo devem ser realizados por meio de mo desse número em relação a T1; Micrandra elata e Copaifera um acompanhamento dos processos dinâmicos que ocorrem na langsdorffii mantiveram IVI expressivo em virtude da dominância. comunidade, utilizando-se parcelas permanentes (Lieberman et al., Quanto à riqueza, no intervalo de tempo de oito anos, desapa- 1985; Korning e Balslev, 1994). Estas parcelas são, geralmente, receram 11 espécies (9,2%). As espécies não encontradas nessa utilizadas para obter as informações sobre a comunidade em dois comunidade foram: Aegiphila sellowiana, Calyptrantes clusiaefolia, ou mais levantamentos, que poderão ser realizados em períodos Cecropia pachystachya, Cedrela fissilis, Celtis iguanae, Cupania vernalis, curtos ou longos (Felfili, 1995). Myrcia coreacea, Nectrandra sissiflora, Vochysia tucanorum, Zantoxylum Os objetivos do estudo foram determinar as alterações tempo- riedelianum e Tabebuia sp. As variações florísticas observadas po- rais (florísticas e fitossociológicas) da comunidade vegetal em um dem estar relacionadas ao desenvolvimento sucessional da floresta intervalo de tempo de oito anos da mata mesófila semidecídua do que encontra se em processo de regeneração de algumas clareiras Bosque John Kennedy localizado em Araguari, MG e fornecer que se formaram em um passado recente. As cinco espécies que subsídios necessários para futuros planos de manejos e conservação tiveram maior perda de indivíduos em suas populações foram desta área. Piptocarpha macropoda (36), Ocotea spixiana (26), Alchornea 2. Material e métodos glandulosa (23), Astronium nelson-rosae (20) Licania apetala (16). O Bosque John Kennedy localiza-se no perímetro urbano da As espécies ingressantes foram Machaerium stiptatum e Myrciaria cidade de Araguari, Triângulo Mineiro, MG (48°11’19”W e sp. com um indivíduo cada. Amayoua intermedia (32), Micrandra 18°38’35”). Possui uma área total de 11,2 ha, sendo aproximada- elata (30), Didymopanax morototoni (19), Myrcia sp. (18) e Faramea mente 8 ha representados por uma floresta estacional semidecidual cyanea (17) tiveram acréscimo no número de indivíduos. Esta últi- bem conservada, em virtude de planos de manejo executados no ma espécie é classificada como secundária tardia por Gandolfi et al. bosque. A estrutura da vegetação arbórea foi estudada na mesma (1995) o que parede indicar um processo sucessional com substi- área amostrada para um levantamento fitossociológico feito por tuição de espécies pioneiras por espécies tardias. Segundo Crow Araújo et al. (1997), que delimitou 59 parcelas aleatoriamente de (1980), com o avanço da regeneração do dossel das florestas, em 20 m x 10 m distribuídas na área florestal do bosque. consequência de processos de fragmentação e perturbação, aos A primeira amostragem (T1), realizada em 1994, as parcelas quais foram expostos no passado, a diversidade tende a diminuir. foram delimitadas com marcos de cimento devidamente numera- Esse fato ocorreu na floresta estacional do bosque de Araguari que dos. As medidas da altura das árvores em T1 foram tomadas por apresentou índice de diversidade se Shannon em 1994 de H’ = meio de régua de 2,0 m, com escala métrica para os indivíduos 3,73 e em 2002 de H’ = 3,66 nats/indivíduo. menores, um podão de 7,5 m para as alturas intermediárias e para A área basal total para os dois levantamentos apresentou decrésci- as árvores que apresentaram alturas acima deste valor foi utilizada mo de 46,896 m2 x ha-1 em T1 para 38,912 m2 x ha-1 em T2 em virtude estimativa visual. A circunferência do tronco (CAP=10 cm) foi da mortalidade de alguns dos indivíduos com diâmetros maiores. determinada à altura do peito (1,30 m) ou abaixo do primeiro 4. Conclusão galho vivo. Em 2002 (T2), as parcelas foram resgatadas utilizando A perda da diversidade da comunidade arbórea do Bosque de o mapa com a localização e a partir dos marcos de cimento. Os Araguari possivelmente esta relacionado ao desaparecimento de procedimentos de amostragem em T2 foram os mesmos adotados espécies mais sensíveis aos processos de antropização que ocorrem em T1. Os indivíduos ingressantes, ou seja, não registrados no naquele ambiente, apesar dos planos de manejo executados. O levantamento preliminar, também foram plaquetados, medidos e atual estádio do fragmento tem favorecido o estabelecimento de identificados. Considerou-se como mortas as árvores que não fo- espécies tardias em detrimento das iniciais (pioneiras e secundárias ram encontradas. Permitindo análise sobre a dinâmica da comuni- iniciais), denotando uma possível evolução sucessional no interva- dade arbórea no intervalo de oito anos no Bosque de Araguari. A lo entre os dois levantamentos considerados. identificação das espécies coletadas foi feita com o apoio de litera-

566 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

5. Referências Bibliográficas 1. Introdução Aquino, F.G.; Oliveira, M.C.; Schiavini, I. e Ribeiro, J.F. (1999). A família Loranthaceae compreende 70 gêneros e 1400 espéci- Dinâmica de populações de Anadenanthera macrocarpa e Acacia es que ocorrem predominantemente nas regiões tropicais (Ribeiro glomerosa em mata seca na Estação Ecológica do Panga (Uberlândia- et al., 1999), sendo popularmente conhecidas como “erva-de-pas- MG). Boletim de Herbário Ezechias Paulo Heringer 4: 90-102. sarinho”. Vivem sobre os galhos das copas de árvores hospedeiras, sendo que a maioria das espécies de Loranthaceae é hemiparasita Araújo, G.M.; Guimarães, A.J.M. e Nakajima, J.N. (1997). de outras espécies vegetais (Venturelli, 1981; Abulfatih & Emara, Fitossociologia de um remanescente de mata mesófila semidecídua 1988; Overton, 1994). Elas apresentam crescimento secundário, e urbana, Bosque John Kennedy, Araguari, MG, Brasil. Revista Bra- interceptam o xilema de seus hospedeiros através de estruturas sileira de Botânica 20: 67-77. chamadas haustórios (Venturelli, 1981; Sargent, 1995). Apesar de Felfili, J.M. (1995). Growth, recruitment and mortality inthe Gama realizar fotossíntese, a sua presença pode causar danos à reprodu- gallery forest in central Brazil over a six-year period (1985-1991). ção das plantas hospedeiras, prejudicando a qualidade e quantida- Journal of tropical Ecology 11: 67-83. de de frutos produzidos, além de diminuição no crescimento, e Gandolfi, S.; Leitão Filho, H.F. e Bezerra, C.L. (1995). Levanta- morte dos hospedeiros (Venturelli, 1981; Sinha & Bawa, 2002). mento florístico e caráter sucessional das espécies arbustivo-arbóreas A distribuição dos hemiparasitas em suas plantas hospedeiras de uma floresta mesófila semidecídua no Município de Guarulhos, pode ser determinada por especificidade de hospedeiro, distância SP. Revista Brasileira de Botânica 55: 753-767. do hospedeiro, condições ambientais (García-Franco & Rico-Gray, Korning, J. e Balslev, H. (1994). Growth rates and mortality patterns 1996), arquitetura da planta hospedeira (Monteiro et al., 1992; of tropical lowland trees species and relation to forest struture in Martínez del Rio et al., 1995; Sargent, 1995), e comportamento Amazonian Ecuador. Journal of Tropical Ecology 10: 151-166. alimentar e seleção de habitat pelo agente dispersor (Davidar, 1983; Reid, 1989; Monteiro et al., 1992; Murphy et al., 1993; Martínez Laurence, W.F. e Bierregaard, R.O. (1997). Tropical forest del Rio et al., 1996). Entretanto, algumas espécies de hemiparasitas remmants: ecology, managements and conservation of fragmented são sempre encontradas em poucas espécies de hospedeiros, outras communities. University Chicago press, Chicago. apresentam pouca especificidade, ou ainda podem desenvolver ra- Leitão Filho, H.F. (1982). Aspectos taxonômicos das florestas do ças que se associam a diferentes espécies de hospedeiros (García- Estado de São Paulo. Silvicultura em São Paulo 16: 197-206. Franco & Rico-Gray, 1996). Leitão Filho, H.F. (1992) A flora arbórea da Serra do Japi. In No Brasil, estudos envolvendo Loranthaceae são predominan- História natural da Serra do Japi ecologia e preservação de uma temente de cunho taxonômico, sendo que pouco se conhece a área florestal do sudeste do Brasil (L.P.C. Morellato, org.). respeito da sua interação com os hospedeiros. Isto pode ser reflexo EDUNICAMP, Campinas, p.40-62. de uma pequena quantidade de pesquisas e de coletas botânicas Liebermann, D.; Lieberman, M.; Hartshorn, G.S. e Peraltar, R. para Loranthaceae, bem como dados relativos aos hospedeiros (1985). Growth rates and age-size relationship of tropical wet (Barboza, 2000). Destaca-se então o pioneiro estudo realizado por forest trees in Costa Rica. Journal of Tropical Ecology 1: 97-109. Monteiro et al. (1992), no Cerrado brasileiro (sentido amplo), onde Psittacanthus robustus é tido como parasita relativamente es- Oliveira Filho, A.T.; Mello, J.M. e Scolforo, J.R. (1997). Effects of pecífico de Vochysiaceae. Entretanto, a ocorrência ou não, de past disturbance and edges on tree community struture and dynamics especificidade por hospedeiros para outras espécies de Loranthaceae, within a fragment of tropical semideciduous forest in south-eastern continua parcamente conhecida, sendo que nenhum estudo com o Brazil over a five-year period (1987-1992). Plant Ecology 131: 45-66. gênero Struthanthus foi encontrado. Ribeiro, J.F. e Walter, B.M.T. (1998). Fitofisionomias do bioma Então, para verificar se havia especificidade por hospedeiros cerrado. In Cerrado: ambiente e flora (S.M. Sano e S.P. Almeida, pelo hemiparasita em uma área de cerrado sentido restrito, regis- org.). EMBRAPA-CPAC, Planaltina, p.89-166. trou-se a ocorrência de Struthanthus sp. (Loranthaceae), e sua rela- Schiavini, I. (1992). Estrutura das comunidades arbóreas de mata ção com as espécies hospedeiras. galeria da Estação Ecologia do Panga (Uberlândia, MG). Tese de 2. Material e Métodos doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. O estudo foi conduzido em uma área de cerrado (sentido restri- Swaine, M.D.; Hall, J.B. e Alexander, I.J. (1987). Tree population to), no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (17º46’03,6’’S, dynamics at Kade, Ghana (1968-1982). Journal of Tropical Ecology 48º39’30,8’’W) durante o mês de outubro de 2002. O Parque Esta- 3: 331-345. dual da Serra de Caldas Novas ocupa uma área de 12.315 ha, inclu- indo o platô, as encostas que formam muralhas naturais, e o sopé da Shepherd, G.H. (1995). Fitopac 1: Manual do Usuário. Departa- serra. Tem um formato de elipse, sendo o diâmetro maior de 15 km mento de Botânica, Campinas. e o menor de 9 km. A altitude da serra no seu ponto mais alto é de Werneck, M.S., Franceschinelli, E.V. e Tameirão-Neto, E. (2000). 1.043 metros em relação ao nível do mar. Considerado pequeno em Mudanças na florística e estrutura de uma floresta decídua durante termos de proteção do bioma Cerrado, possui contudo uma amostra um período de quatro anos (1994-1998), na região do Triângulo bem conservada deste ecossistema. A área de cerrado sentido restrito Mineiro, MG. Revista Brasileira de Botânica: 23: 401-413. de aproximadamente três ha foi percorrida aleatoriamente, buscan- do encontrar o maior número possível de espécies vegetais com a Especificidade de hospedeiros por Struthanthus sp. presença de Struthanthus. (Loranthaceae) em uma área de Cerrado do Parque Struthanthus Mart. (Loranthaceae), tem ampla distribuição no Estadual da Serra de Caldas Novas, GO, Brasil Cerrado sentido amplo, estando presente nas áreas Leste, Centro- Oeste e Nordeste (Barboza, 2000). Struthanthus são hemiparasitas Rafael Arruda1 & Lucélia Nobre Carvalho2 1Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de dióicos, com folhas opostas, subopostas, subcoriáceas e lanceoladas; Recursos Naturais, Universidade Federal de Uberlândia, CP 593, inflorescências axilares, flores alvas, e com frutos bacóides oblongos, 38400-902, Uberlândia, MG ([email protected]). ovóides, oblongo-obovados ou globosos, e lisos (Barboza, 2000). 2Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, Para cada indivíduo hospedeiro encontrado foi registrada sua Uberlândia, MG. altura, e a altura onde o hemiparasita estava fixado. Os galhos foram visualmente classificados quanto à inclinação, horizontal ou vertical. Foi feita uma categorização da casca no local de fixação do

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 567 Cerrado Volume I parasita, levando em conta a suberosidade do galho e baseado em período de frutificação com a presença das aves na área (Monteiro critérios estabelecidos por Ribeiro et al. (1999), onde para a cate- et al., 1992). Entretanto, Godschalk (1983) estudou três espécies goria 0, galho áspero ou sujo; categoria 1, escamoso ou reticulado; simpátricas de hemiparasitas na África do Sul, e sugere que a depo- categoria 2, fissurado ou fendido. Estas categorias foram delimita- sição de sementes de hemiparasitas pelos seus dispersores sobre das através de comparação visual antes de iniciar a coleta de dados. galhos do hospedeiro ocorre aleatoriamente. Neste caso, as três Os hospedeiros e Struthanthus foram identificados no campo, espécies de hemiparasitas dependem do mesmo agente dispersor, e por meio de literatura especializada. Material testemunho da Pogoniulus chrysoconus (Capitomideae), e ocorre sobreposição to- espécie hemiparasita está depositado no Herbário da Universidade tal dos seus períodos de frutificação (Godschalk, 1983). Federal de Uberlândia (HUFU). Então, nossos resultados indicam que, além da atividade dos Foi utilizado o teste do Qui-Quadrado para testar se havia dispersores, a arquitetura e a suberosidade dos sítios de deposição diferença com relação à presença dos hemiparasitas em galhos ho- do hemiparasita nos hospedeiros podem também estar influenci- rizontais e verticais, e também se havia diferença na ocorrência ando o seu padrão de distribuição, e consequentemente a relação entre galhos mais lisos e suberosos. Para verificar se havia relação de especificidade com os hospedeiros. entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação do parasita, foi O aumento significativo da altura de fixação do parasita em utilizada uma Análise de Correlação. Todos os testes tiveram o relação à do hospedeiro, pode estar ocorrendo pela necessidade nível de significância de p<0,05 (Zar, 1999). que os hemiparasitas possuem de um local apropriado para germi- 3. Resultados nar, e para desenvolverem suas folhas para realizar fotossíntese. Foram encontradas nove espécies parasitadas por Struthanthus, Barboza (2000) sugere que além da necessidade fotossintética, as sendo Kielmeyera coriacea e Styrax ferrugineus as que apresentaram espécies de Loranthaceae podem exibir “preferência” por hospe- as maiores frequências de infestação. deiros de hábito arbóreo, pelo fato de serem melhor visualizadas A frequência de ocorrência de Struthanthus em galhos horizon- pelos polinizadores e pelos agentes dispersores de suas sementes. tais (65,79%; n = 25) foi significativamente maior do que em Os resultados sugerem que, talvez, possa não estar ocorrendo galhos verticais (34,21%; n = 13) (X2 = 5,37; p = 0,02). Em galhos especificidade de Struthanthus sp. por um hospedeiro em particu- com casca mais lisa ocorreu maior deposição do hemiparasita em lar, principalmente pelo fato de K. coriacea apresentar os maiores galhos mais horizontais; já em galhos com casca mais suberosa Índices de Valor de Importância para a área (Silva et al., 2002), o ocorreu uma maior deposição do hemiparasita em galhos mais que pode estar refletindo na freqüência de ocorrência do verticais. Contudo, em galhos horizontais não houve diferença hemiparasita. Em algumas espécies de Loranthaceae ocorre uma significativa na deposição do hemiparasita com relação à íntima relação com seu hospedeiro, que o torna dependente da sua suberosidade do galho (X2 = 1,46; p>0,05), ao passo em que ocor- distribuição; por outro lado, em outras espécies parece não ocorrer reu diferença significativa na deposição do hemiparasita em relação uma relação tão genérica. Porém, para P. robustus já foi verificada à suberosidade da casca de galhos verticais (X2 = 21,86; p<0,05). especificidade por espécies de Vochysiaceae no bioma Cerrado Ocorreu uma correlação significativa entre a altura do hospe- (Monteiro et al., 1992; Barboza, 2000). Estudos futuros podem se deiro e a altura de fixação do parasita nos hospedeiros (r = 0,6514; direcionados especificamente na relação entre a arquitetura do p = 0,0001), mesmo os hospedeiros apresentando galhos bem mais galho e a deposição dos hemiparasitas nos hospedeiros, principal- baixos independente da altura. mente para entendimento dos possíveis mecanismos de 4. Discussão especificidade. (Gostaríamos de agradecer aos Programas de Pós- O estabelecimento dos indivíduos de Loranthaceae pode estar Graduação em Ecologia das Universidades Federal de Uberlândia ocorrendo, provavelmente, em função de características e de Brasília pelo apoio logístico oferecido na disciplina de Curso morfológicas dos hospedeiros que, talvez, estejam propiciando de Campo Ecologia do Cerrado; e à administração do Parque Esta- condições adequadas para germinação. Neste caso a estrutura do dual da Serra de Caldas Novas pela oportunidade de poder traba- ramo exercerá papel fundamental na sobrevivência do hemiparasita. lhar na região.). Martínez del Rio et al. (1995), verificaram que os espinhos de 5. Referências Bibliográficas Eulychnia acida e E. chilensis, duas espécies de cactus arborescentes, Abulfatih, H.A.; Emara, H.A. (1988). Altitudinal distribution of influenciaram a deposição do hemiparasita Tristerix aphyllus the hemiparasitic Loranthaceae in Southwestern Saudi Arabia. (Loranthaceae). Os espinhos podem deter o pouso das aves nos Biotropica 20(1): 81-83. cactus, o que pode, provavelmente, reduzir a deposição de semen- Barboza, M.A. (2000). Loranthaceae e Viscaceae no bioma Cerra- tes do hemiparasita, bem como impedir o contato entre o seu do. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília (UnB), haustório e a epiderme do hospedeiro, conseqüentemente impe- Brasília-DF. 115p. dindo o estabelecimento do hemiparasita (Martínez del Rio et al., 1995). Em nosso estudo ocorreu uma diferença significativa na Davidar, P. (1983). Birds and neotropical mistletoes: effects on deposição do hemiparasita entre os tipos de casca de galhos verti- seedling recruitment. Oecologia 60: 271-273, Berlim cais, do que em relação aos galhos mais horizontais, provavelmente García-Franco, J.G.; Rico-Gray, V. (1996). Distribution and host pelo fato de que um tipo de casca mais suberoso poderia estar specificity in the holoparasite Bdallophyton bambusarum facilitando a fixação do hemiparasita. (Rafflesiaceae) in a tropical deciduous forest in Veracruz, Mexico. Outro fator que pode influenciar o sucesso da deposição de Biotropica 28(4b): 759-762 hemiparasitas em seus hospedeiros é o comportamento alimentar Godschalk, S.K.B. (1983). Mistletoe dispersal by birds in South do agente dispersor, que pode explicar a maior freqüência de Africa. In: Calder, M.; Bernhardt, P. (Eds.). The Biology of Mistletoe. Struthanthus sp. em galhos horizontais, que são mais utilizados Sydney: Academic Press, p. 117-128. como poleiros do que galhos verticais. Monteiro et al. (1992) veri- Martínez Del Rio, C.; Hourdequin, M.; Silva, A.; Medel, R. (1995).The ficaram que o comportamento alimentar de Tersina viridis viridis influence of cactus size and previous infection on bird deposition of (Thraupidae) o tornava o agente mais efetivo na dispersão de mistletoe seeds. Australian Journal of Ecology 20: 571-576 Psittacanthus robustus (Loranthaceae) na Fazenda Campininha, em Mogi Guaçú, estado de São Paulo. A eficiência de T. v. viridis como Martínez Del Rio, C.; Silva, A.; Medel, R.; Hourdequin, M. (1996). agente dispersor foi resultado de sua habilidade em manipular os Seed dispersers as disease vectors: bird transmission of mistletoe frutos de P. robustus, através de regurgitação e pelo comportamen- seeds to plant hosts. Ecology 77(3): 912-921 to de limpar o bico nos galhos, associado a uma sincronia do seu Monteiro, R.F.; Martins, R.P.; Yamamoto, K. (1992).Host

568 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado specificity and seed dispersal of Psittacanthus robustus (Loranthaceae) não voadores em fragmentos de FED na Bacia do Rio Paranã, in south-east Brazil. Journal of Tropical Ecology 8: 307-314 avaliar a existência de sazonalidade na composição da comunidade Murphy, S.R.; Reid, N.; Yan, Z.; Venables, W.N. (1993).Differential passage (riqueza e abundância) e verificar se há diferenças entre fragmentos time of mistletoe fruits through the gut of honeyeaters and flowerpeckers: com diferentes níveis de qualidade ambiental. Neste estudo, as effects on seedling establishment. Oecologia 93: 171-176, Berlim condições e os recursos oferecidos por um fragmento que definem a qualidade do habitat para a fauna nativa referem-se à complexi- Overton, J.McC. (1994). Dispersal and infection in mistletoe dade estrutural e integridade do ambiente e são tamanho da área, metapopulations. Journal of Ecology 82: 711-723 tipo de matriz circundante, perímetro de contato com a matriz Reid, N. (1989). Dispersal of mistletoe by honeyeaters and flowerpeckers: circundante alterada, abertura do dossel (representando a quanti- components of seed dispersal quality. Ecology 70(1): 137-145 dade de madeira retirada), densidade e riqueza de plantas lenhosas. Ribeiro, J.E.L.S.; Hopkins, M.J.G.; Vincentini, A.; Sothers, C.A.; 2.Métodos Costa, M.A.S.; Brito, J.M.; Souza, M.A.D.; Martins, L.H.; O estudo foi realizado no município de São Domingos, nor- Lohmann, L.G.; Assunção, P.A.C.L.; Pereira, E.C.; Silva, C.F.; deste de Goiás, em quatro fragmentos de FED: Cruzeiro do Sul Mesquita, M.R.; Procópio, L.C. (1999). Flora da Reserva Ducke. (13039’35” S – 46045’47 W), Manguinha (13038’03” S – 46047’13 Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra W), Olho D’Água (13037’39” S – 46044’12 W) e Flor Ermo firme na Amazônia Central. INPA – DFID, Manaus, 793p. (13039’24” S – 46045’10 W), com a altitude variando de 450 a Sargent, S. (1995). Seed fate in a tropical mistletoe: the importance 480 metros. of host twig size. Functional Ecology 9: 197-204 O Cruzeiro do Sul teve perturbação antrópica em 1998 com retirada de madeira e queimada, apresenta a maior abertura de Silva, L.O.; Costa, D.A.; Filho, K.E.S.; Ferreira, H.D.; Brandão, dossel (68,9% ± 18,9), menor densidade de plantas lenhosas com D. (2002). Levantamento florístico e fitossociológico em duas áre- mais de 3 cm de DAP (296/ha), menor riqueza de plantas (33 spp/ as de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas ha), possui 115,4 ha e está 100% inserida numa matriz de FED. A Novas, Goiás. Acta Botanica Brasilica 16(1): 43-53 Manguinha sofreu retirada de madeira de 1986 até 1998, apresen- Sinha, A.; Bawa, K.S. (2002). Harvesting techniques, hemiparasites ta a segunda maior abertura de dossel (38,7% ± 13,9), segunda and fruit production in two non-timber forest tree species in south menor densidade de plantas lenhosas com mais de 3 cm de DAP India. Forest Ecology and Management 168: 289-300 (470/ha), 46 espécies de plantas por hectare, possui 42 ha e está Venturelli, M. (1981). Estudos sobre Struthanthus vulgaris Mart.: 100% inserida numa matriz de pastagem. O Olho D’Água teve Anatomia do fruto e semente e aspectos de germinação, crescimento retirada de madeira em 1986 e em 2001, tem a menor abertura de e desenvolvimento. Revista Brasileira de Botânica 4: 131-147 dossel (11,6% ± 4,5), 659 indivíduos de plantas lenhosas com mais Zar, J.H. (1999). Biostatistical analysis. 4ª ed. Prentice Hall, New de 3 cm de DAP por hectare, 50 espécies de plantas por hectare, Jersey, 931p. possui 79,6 ha, 64% do seu perímetro está em contato com pasta- gens e 36% com FED. A Flor Ermo não teve perturbação antrópica até a época deste estudo, tem a menor abertura de dossel (11,4% Comunidade de Pequenos Mamíferos em Floresta ± 4,1, não é significativamente diferente do Olho D’Água), 674 Estacional Decidual: Sazonalidade e Qualidade indivíduos de plantas lenhosas com mais de 3 cm de DAP por e Ambiental (Bacia do Rio Paranã, Goiás) hectare, 48 espécies de plantas por hectare, possui 212,7 ha, 20% Rafael do Nascimento Leite a , Fernanda Pinheiro b,c, Aldicir Scariot d do seu perímetro está em contato com pastagens e 80% com FED. & John Hay c A partir destes dados, em um gradiente crescente de qualidade a Departamento de Zoologia. Universidade de Brasília, UnB - DF ambiental, a Manguinha é o fragmento que oferece condições me- ([email protected]) nos propícias para manutenção da fauna nativa, pois apresenta b Pequi – Pesquisa e Conservação do Cerrado menor área, maior perímetro de contato com matriz modificada, ([email protected]) maior tempo de perturbação antrópica e segunda maior abertura c Departamento de Ecologia. Universidade de Brasília, UnB – DF de dossel. Em seguida, está o Cruzeiro do Sul que possui a segunda ([email protected]) maior área, a maior abertura de dossel e, portanto, teve uma maior d Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília – DF retirada de madeira, mas está inserida em uma matriz de vegetação ([email protected]) nativa. O Olho D’Água é um fragmento com pouca retirada de e Parte da Tese de Doutorado de F. Pinheiro madeira (menor porcentagem de abertura de dossel), mas possui a segunda menor área e grande parte do seu perímetro está em con- 1.Introdução tato com pastagens. A Flor Ermo apresenta as melhores condições As Florestas Estacionais Deciduais (FED) são formações de ambientais por possuir a maior área, menor abertura de dossel, não interflúvio caracterizadas pelo alto nível de caducifolia durante a ter sofrido perturbação antrópica e apresentar apenas 20% do seu estação seca (maio a setembro) (Ribeiro e Walter, 1998) e distri- perímetro em contato com pastagem. buem-se no Planalto Central em áreas de ocorrência de solos de Em cada um destes fragmentos, foram dispostas linearmente média a alta fertilidade, principalmente em Minas Gerais, São 25 sítios de captura distantes 10m entre si, durante 4 noites conse- Paulo, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. cutivas, em um período de chuva (outubro/2001) e um de seca No vale da Bacia do Rio Paranã encontram-se remanescentes (maio/2002). As armadilhas foram iscadas com uma mistura de de FED continuamente sob ação antrópica, através da exploração banana, fubá, sardinha e pasta de amendoim, pretendendo atrair madeireira e da sua substituição por extensas áreas de pastagem e todas as guildas alimentares. Cada sítio consistiu de uma armadilha cultivo. Apesar desta região ser considerada de relevância ecológica no chão e outra no sub-bosque, totalizando 200 armadilhas por extremamente alta (MMA, 1999), esta fisionomia é carente de fragmento em cada período. Os animais capturados foram identi- inventários em todos os grupos taxonômicos. ficados, marcados, medidos e soltos nos seus pontos de captura. Considerando-se que os pequenos mamíferos são bons indica- O índice de Diversidade de Shannon-Wiener foi calculado dores dos efeitos de fragmentação e perturbação de florestas por para cada fragmento e estação climática, e as diferenças foram serem representantes da fauna residente, além de possuírem um verificadas através de teste t usando a versão modificada para com- importante papel na sua manutenção e regeneração, a finalidade paração deste índice (Zar, 1999). Foram feitas Análises de Variância desse trabalho foi realizar o inventário dos pequenos mamíferos (ANOVA) com teste de Bonferroni a posteriori para abundância e

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 569 Cerrado Volume I riqueza entre fragmentos e estações. Foram utilizados os progra- fisionomias do Cerrado e suportam um grande número de indiví- mas SPSS 10.0 for Windows e Excel com o nível de significância de duos quando comparadas com outras comunidades deste Bioma. 0,05 para todos os testes. É interessante enfatizar que foi detectado um efeito negativo 3.Resultados e Discussão da baixa qualidade do ambiente sobre a capacidade de manutenção A taxa de captura variou de 13,5% (Manguinha) a 22% (Flor da comunidade de pequenos mamíferos residentes entre estações. Ermo) e recaptura de 19,5% (Olho D’Água) a 28% (Flor Ermo). Assim, através de análises de diversas variáveis ambientais associa- Em geral, os valores encontrados para taxa de captura estão abaixo das à ocorrência daquela comunidade, será possível sugerir formas de 5%, como por exemplo para um fragmento de cerradão e cerra- de manejo dos fragmentos que garantam a manutenção deste seg- do sensu stricto que foi de 3,5% (Mendonça, 2003) e para o conjun- mento da mastofauna. to de 29 locais em diferentes fisionomias que foi de 3,0% (Palma, 5.Referências Bibliográficas 2002), ambos os estudos no Brasil Central. Este resultado eviden- Becker, R. G.; Paise, G.; Vieira, E. M. & Baumgarten, L. C. (2003). cia a alta abundância deste grupo em FED. Estrutura de comunidades de pequenos mamíferos e estimativas de Foram capturadas nove espécies (Calomys callosus, Didelphis densidade de Bolomys lasiurus em áreas abertas de cerrado no Brasil albiventris, Marmosa sp., Gracilinanus agilis, Monodelphis domestica, Central. Resumos do II Congresso Brasileiro de Mastozoologia, Minas Oligoryzomys sp., Rhipidomys macrurus, Thrichomys apereoides e Gerais: PUC Minas. Wiedomys pyrrhorhinos), sendo que Oligoryzomys sp. foi a espécie Marinho-Filho, J. & Guimarães, M. M. (2001) Mamíferos das mais abundante (84 indivíduos), C. callosus ocorreu apenas na chu- matas de galeria e das matas ciliares do Distrito Federal, pp. 531- va (24 indivíduos) e D. albiventris foi capturado somente na seca (1 557. In: J. F. Ribeiro, C. E. L. da Fonseca & J. C. Sousa-Silva. indivíduo). Cerrado: caracterização e recuperação de matas de galeria. Planaltina: Em estudos no Brasil Central, a riqueza variou de seis a 25 EMBRAPA-CPAC. espécies em oito Matas de Galeria (Marinho-Filho e Guimarães, 2001), de uma a dez espécies em 29 áreas (Palma, 2002) e foi igual Marinho-Filho, J.; Reis, L. M.; Oliveira, P. S.; Vieria, E. M. & a quatro em um campo sujo com incidência de queimadas (Becker et Paes, M. N. (1994). Diversity standarts and small mammal al., 2003). Deste modo, a riqueza obtida para a FED está dentro da numbers: conservation of the Cerrado biodiversity. Anais da Acade- amplitude de valores obtidos para outras fisionomias do Cerrado. mia Brasileira de Ciências, 66 (supl. 1): 149-157. A abundância de indivíduos variou de 54 (Manguinha) a 89 Mendonça, A. F. (2003) Variação na estrutura da comunidade de (Flor Ermo). Houve diferença significativa entre as estações (F = pequenos mamíferos em um gradiente de cerrado sensu stricto para um 30,924; p < 0,01) com maior abundância na estação chuvosa (213 fragmento de cerradão no Brasil Central. Dissertação de Mestrado, indivíduos na chuva e 98 na seca). A interação entre estações e Universidade de Brasília. áreas foi significativamente diferente (F = 3,675; p = 0,03) e não MMA. (1999). Ações prioritárias para conservação da biodiversidade houve diferença entre as áreas. A diferença encontrada entre as do Cerrado e Pantanal. Ministério do Meio Ambiente, Centro de estações para a abundância está de acordo com o resultado espera- Documentação e Informação, Brasília (Documento produzido a do para regiões de estações bem marcadas onde o período de seca partir do workshop “Ações Prioritárias para Conservações da pode representar a diminuição de recursos, contribuindo para a Biodiversidade do Cerrado e Pantanal”). diminuição da freqüência de pequenos mamíferos. Palma, A. R. T. (2002) Estrutura de comunidades de pequenos mamí- A riqueza foi de sete espécies nos fragmentos da Manguinha e feros no Cerrado. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília. Flor Ermo e oito espécies no Cruzeiro do Sul e Olho D’água. Houve diferenças significativas entre as estações (F = 36,486; p < Ribeiro, J. F. & Walter, B. M. T. (1998). Fitofisionomias do bioma 0,01) com maior riqueza na estação chuvosa, na interação entre cerrado, pp. 89-116. In: S. M. Sano & S. P. Almeida. Cerrado: estações e áreas (F = 3,946; p = 0,02) e entre as áreas (F = 5,243; p ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. = 0,006), sendo que a Manguinha foi o fragmento significativa- Zar, J. H. (1999). Biostatistical analysis. 4º Ed. New Jersey: Prentice mente diferente em todas as comparações a posteriori (Cruzeiro do Hall Inc. 663p. Sul, p = 0,01; Olho D’Água, p = 0,03; Flor Ermo, p = 0,03). (Instituições Financiadoras: PRONABIO/ PROBIO/ BIRD/ A diversidade de espécies para a fisionomia foi de 2,287, sendo GEF/ MMA/ CNPq/ Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia de 1,809 na estação chuvosa e 1,510 na seca. Os valores obtidos – Cenargen/ Fundação D. Giacometti; WWF – Fundo Mundial são superiores àquele encontrado para campo úmido, que é igual a para a Natureza. 0,918 (Becker et al., 2003) e estão dentro da amplitude obtida para áreas de Cerrado localizadas no Distrito Federal e em municípios Agradecimentos: A. B. Sampaio, A. C. Sevilha e D. L. M. Vieira pelos dados abióticos dos fragmentos). da Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a diversidade encontrada para diferentes habitats variou de 0,57 a 3,09 (Marinho-Filho et al., 1994), e para Matas de Galeria do Influência de Galhas de Ramos na Reação de Distrito Federal, onde a diversidade variou de 1,129 a 2,647 (Ma- Hipersensitividade e Área Foliar de Diospyros rinho-Filho e Guimarães, 2001). hispida (Ebenaceae) Nos fragmentos a diversidade variou de 1,575 (Flor Ermo) a Rafael Nessim1 , Rodrigo A de Souza1, Raissa De Luca1, Marcela 1,865 (Cruzeiro do Sul) e não houve diferenças significativas entre C.G. Lisboa1, , Rodrigo S. Alonso1, Geraldo W. Fernandes2 os fragmentos. Entre as estações seca e chuvosa houve diferenças 1 Graduandos de Biologia da Universidade Federal de Minas Gerais significativas na diversidade para os fragmentos Cruzeiro do Sul (t ([email protected]) 2 0,05(2),43 = 2,290) e Manguinha (t 0,05(2),42 = 10,871). Laboratório de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais - Observando os resultados obtidos para as comparações de Universidade Federal de Minas Gerais diversidade entre áreas, aliado às análises de variância para abun- dância e riqueza, nota-se que há uma mudança na composição das 1.Introdução comunidades nos fragmentos de qualidade ambiental inferior Diospyros hispida (Ebenaceae) é uma planta lenhosa, arbórea e (Manguinha e Cruzeiro do Sul), o que sugere que estes fragmentos pequena, com folhas inteiriças, tendo cerca de 2 metros de altura. não suportam a mesma composição da comunidade entre períodos É encontrada no cerrado e em campos rupestres (Sano & Almeida, de maior (chuva) e menor (seca) disponibilidade de recursos. 1998). Esta planta é atacada por dois tipos distintos de insetos 4.Conclusões galhadores. Uma galha é induzida nos ramos, e é provocada por um As FED possuem riqueza e diversidade semelhantes a outras

570 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Apionidae (Coleoptera) ainda não descrito (Fernandes et al., 1993). hipersensitividade e do número de galhas foliares, área foliar e as Os ramos galhados caracterizam-se por um grande aumento do densidades das reações de hipersensitividade. tecido caulinar, assumindo uma forma globosa e protuberante, 3.Resultados e Discussão destacando-se bastante do resto do tronco. Apresentam sempre O número de reações de hipersensitividade diferiu significati- uma tonalidade esverdeada e sua superfície é coberta por tricomas. vamente entre as folhas de ramos com galhas e folhas de ramos sem Quando madura, a galha torna-se marrom. O segundo morfotipo galhas (F=4.495484 p=0.035). A densidade de galhas foliares(# de de galha é induzido em folhas, e é provocado por uma espécie ainda galhas/área foliar) e densidade do somatório de galhas foliares (=su- não identificada de Cecidomyiidae (Diptera) (Fernandes et al, cesso da larva do galhador) não apresentaram diferenças significa- 1993). As galhas foliares são discóides, uniloculares, glabras e tivas em folhas de ramos sem galha e com galha. esverdeadas-amareladas (Fernandes & Negreiros, 2001). As rea- A presença de galhas nos ramos influenciou a área foliar das ções de hipersensitividade de D. hispida contra galhas foliares são folhas desses ramos. Houve diferença significativa entre as folhas facilmente evidenciadas pela forma circular de coloração vermelha. de ramos com galhas e folhas de ramos sem galhas, quando levada A presença concomitante de galhas caulinares, galhas foliares e em conta sua área foliar (H= 37.51620 p=0.000). Também houve reações de hipersensitividade oferece um cenário ímpar para o diferença significativa no somatório de número reações de estudo da influência da galha de ramos na performance dos ramos hipersensitividade e número de galhas foliares (H=8.571063, de Diospyros hispida e ainda como sua presença pode afetar as rea- p=0.0034). As folhas oriundas de galhos sem galha foram maiores ções de hipersensitividade direcionadas contra as galhas foliares. As do que os ramos com galha. O somatório do número de reações de seguintes perguntas foram formuladas: i) a galha de Apionidae afeta hipersensitividade e do número de galhas foliares foi maior nas a área foliar dos ramos atacados?; ii) a presença de galhas caulinares folhas de ramos não galhados. influencia na capacidade da eficiência da reação de hipersensibilidade Foi observado que as folhas de ramos sem galha apresentam de D. hipida contra a galha foliar? maior número de hipersensitividade do que ramos com galha 2.Métodos (ANOVA, F=4.495484, p=0.034903). O mesmo foi observado A coleta dos dados foi realizada no Parque Nacional da Serra para o número de pontos de hipersensitividade e do número de do Cipó (19015’-19040’S, 43030’- 43055’W), que está localizado galhas foliares (Kruskal-Wallis, H=8.571, p=0.0034). na área central do estado de Minas Gerais, a 850 m de altitude em Houve diferença significativa entre as folhas oriundas de ramos média, na parte sul da Cadeia do Espinhaço. Em novembro de galhados e não galhados em relação sua área foliar (Kruskal-Wallis, 2002 foram coletadas 270 folhas de 15 indivíduos de Diospyros H=37.5162, p=0.000). Isto demonstra que as folhas oriundas de híspida escolhidos aleatoriamente (3 folhas de cada 3 ramos galhados galhos sem galhas tendem a ter maior área foliar do que as folhas e 3 folhas de cada 3 ramos não galhados). Todas as folhas foram oriundas de ramos com galhas. Provavelmente a galha age como identificadas de acordo com a planta de origem e em relação à um dreno mobilizando para si os recursos que seriam direcionados presença ou não de galha no ramo. Para responder a pergunta sobre ao desenvolvimento foliar. o impacto da galha caulinar na área foliar de D. hispida, as folhas As folhas de ramos sem galha apresentam maior número de foram escaneadas individualmente. As imagens resultantes foram pontos de hipersensitividade do que as folhas de ramos com galha. transferidas para um computador e a área de cada folha foi medida Os somatórios de reações de hipersensitividade e do número de com a utilização do programa CIAS 2.0. Foi utilizado o teste não galhas foliares também apresentaram-se em maior número em fo- paramétrico de Kruskal-Wallis para determinar a diferença de área lhas de ramos sem galha. Isso demonstra a possibilidade de que as foliar entre as folhas oriundas de ramos com galhas e folhas oriun- tentativas de ovoposição dos insetos galhadores, sobre a superfície das de ramos sem galha, já que as áreas das diferentes folhas (pro- das folhas, sejam ligeiramente maiores em folhas oriundas dos ga- venientes de ramos galhados e não galhados) não apresentaram lhos não galhados. uma distribuição normal. Existe diferença entre folhas oriundas de ramos galhados e não Para responder se a presença de galha no ramo influencia nas galhados, quanto ao número de reações de hipersensitividade e reações de hipersensitividade da planta contra o galhador foliar, tentativas de ovoposição por insetos galhadores nas folhas. Tal foram contados o número de galhas foliares formadas (= sucesso da resultado leva a crer que a galha de ramo afeta o número de reações larva do galhador) e o número de reações de hipersensitividade (= imunológicas desenvolvida pelas folhas de ramos galhados em res- morte da larva do galhador) em folhas de ramos galhados e não posta à tentativa de infecção de outras galhas. Entretanto, é impor- galhados. A soma entre o número de galhas foliares e o número de tante salientar que a presença ou ausência de galhas nos ramos reações de hipersensitividade de todas as folhas, fornece o número influencia a área foliar das folhas que se originam desses ramos. de ovos depositados pelo inseto galhador. Desta forma, a razão Assim, o que realmente pode estar influenciando o número de entre o número de reações de hipersensitividade e o número de pontos de hipersensitividade e/ou o número de tentativas de ovos depositados pelo inseto galhador em folhas provenientes de ovoposição de um inseto galhador em uma folha, é a área foliar e ramos galhados e não galhados representaria a capacidade de resis- não a presença ou ausência de uma galha em seu ramo de origem. tência do ramo em questão. Comparando-se as razões dos diferen- A utilização das densidades de reações de hipersensitividade, tes ramos é possível estabelecer uma ligação entre a presença da galhas foliares e somatório de reações de hipersensitividade e galhas galha no ramo e impacto que esta exerce na performance da planta. foliares em cm2 de área foliar mostrou que não há uma diferença A fim de excluir a influência da área foliar no número de ovos significativa entre folhas de ramos galhados, ou não galhados. Essa depositados pelo inseto galhador, foi calculada a densidade das diferença encontrada para números absolutos, deve-se ao tamanho galhas foliares e da hipersensitividade (por cm2 de área foliar) nas foliar e não à presença ou não de galhas nos ramos de origem das folhas de ramos galhados e não galhados. Posteriormente foi utili- folhas. Ou seja, uma folha tem um número maior de pontos de zado o teste ANOVA para verificar a existência de diferenças signi- hipersensitividade, não por que seu ramo é galhado ou não, e sim por ficativas entre as folhas de ramos com galhas e folhas de ramos sem que ela tem uma área maior que outras folhas. Esse resultado vem de galha para as variáveis: número de reações de hipersensitividade, encontro com estudos de relação inseto-planta, feitos por Price densidade de galhas foliares e densidade do somatório de pontos (1991) e Prezler & Price (1995). Esses estudos propõem que herbí- absolutos e galhas foliares. O teste não paramétrico de Kruskal- voros galhadores selecionam indivíduos ou partes de indivíduos que Wallis foi utilizado para determinar a diferença entre as folhas de apresentam maior vigor. Entretanto, os resultados do nosso trabalho ramos com galha e folhas de ramos sem galha para as seguintes demonstram que a presença de galha de ramo não afeta o número de variáveis: número absoluto de galhas foliares, reações de reações imunológicas desenvolvida pelas folhas de ramos galhados

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 571 Cerrado Volume I em resposta à tentativa de infecção de outras galhas. 5 mm), da alta diversidade biológica e morfológica (estima-se 4.Conclusões 100.000 espécies, mas apenas 18.500 espécies foram descritas). A presença de galha em ramos influencia na área foliar das folhas Como exemplo, Pteromalidae está representado por 4.115 espéci- originadas desses ramos. Assim, as folhas de ramos não galhados ten- es e Eulophidae é uma das maiores famílias, com aproximadamente dem a ter maior área foliar. Entretanto, a presença ou a ausência de 3.900 espécies, possuindo grande importância econômica, pois a galhas nos ramos não influencia na capacidade imunológica da planta maioria das espécies é parasitóide primário de espécies minadoras em eliminar as galhas que se desenvolvem nas folhas. Além disso, não de plantas cultivadas (Goulet & Huber, 1993). há uma seleção de folhas mais sadias por parte do díptero ovopositor. Este trabalho teve como objetivo avaliar a abundância e a 5.Referências Bibliográficas diversidade dos parasitóides de Agromyzidae minadores de S. glabra, Fernandes, G.W., Souza, A.F.L., Sacchi, C.F. (1993). Impact of bem como a média de riqueza de morfoespécies por planta e a Neolasioptera (Díptera: Cecidomyidae) stem galler on its host relação entre a oferta de hospedeiros e a ocorrência de parasitóides. plant, Mirabilis linearis (Nyctaginaceae). Phytophaga, 5: 1-6. 2. Materiais e Métodos Nos anos de 2002 (abril-maio) e 2003 (maio-junho), plantas Fernandes, G.W., Negreiros, D. (2001). The occurrence and de S. glabra foram vistoriadas para verificar a existência de minas de effectiveness of hipersensitive reaction against galling herbivores insetos. Na primeira coleta de cada ano, no período de seca, entre across host taxa. Ecological Entomology, 26: 46-55. 30 a 40 plantas com o mínimo de cinco folhas minadas foram Preszler, R.W. & Price, P.W. (1995). A test of plant-vigor, plant- utilizadas para a obtenção de parasitóides. Em coletas subseqüen- stress, and plant genotype effects on leaf-miner oviposition and tes, várias plantas foram vistoriadas e, independentemente do nú- preference. Oikos, 74, 485-492. mero de folhas minadas, elas foram coletadas e separadas por data, Price, P.W. (1991). The plant vigor hypothesis and herbivore attack. para complementar o estudo. Oikos.62: 244-251.. Parasitóides adultos eclodidos foram fixados em álcool 70% e Sano, S.M., Almeida, S.P. (1998). Cerrado: ambiente e flora. separados em morfoespécies para posterior identificação. Caracte- EMBRAPA-CPAC. Planaltina. 556p. rísticas marcantes como cor dos olhos, coloração das patas, tama- nho relativo, venação das asas e tipo de antena foram ressaltadas, o que serviu como base para criar siglas que representassem as Parasitóides de agromyzidae minadores de morfoespécies. Espécimes tipo, utilizados na identificação, foram stachytarpheta glabra (verbenaceae) em campos posteriormente montados em alfinete entomológico. ferruginosos de altitude, Minas Gerais. A abundância foi calculada para cada uma das morfoespécies Renzo Antonini Lanza a, Claudia Maria Jacobi b, Alice F. Kumagai de cada ano, utilizando-se os dados de todas as coletas. A diversi- b, Yasmine Antonini b, Isis Miranda Diniz b, Bárbara Fernandes dade total e equitabilidade em cada ano foram avaliadas pelos a Cardinali índices de Shannon e de Pielou. A similaridade entre as coletas dos a graduação Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais dois anos foi avaliada pelos índices de Jaccard (qualitativo) e de b ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais Schoener (quantitativo). A média de riqueza de morfoespécies de parasitóides foi avaliada para cada uma das 30 plantas amostradas. 1. Introdução A relação de disponibilidade de hospedeiros (folhas minadas) e a Campos ferruginosos de altitude são formações campestres, quantidade de parasitóides foi analisada através de regressão linear, ocorrendo principalmente, em Minas Gerais, no Quadrilátero Fer- com n= 30 plantas. rífero, que estão associadas a enormes afloramentos de minério, 3. Resultados e Discussão onde o ambiente parece inóspito, e encontram-se circundadas pelo De todas as folhas coletadas, eclodiram 234 parasitóides. Fo- cerrado, a vegetação dominante na região. A canga hematítica é o ram encontradas oito morfoespécies, todas pertencentes à nome do substrato da região e nela cresce uma vegetação pouco superfamília Chalcidoidea: uma morfoespécie de Pteromalidae, que desenvolvida, herbácea ou arbustiva. Neste ambiente encontra-se recebeu a sigla DEART, por possuir como característica principal um grande número de plantas epilíticas e os poucos arbustos cres- dez artículos na antena, e as restantes sete de Eulophidae. Dentro cem associados às fendas das rochas. desta família as siglas representam 1) OLPRE: indivíduos grandes Stachytarpheta glabra é a uma planta que ocorre em grandes de olhos pretos; 2) PATLI: indivíduos grandes com patas listradas agrupamentos sobre canga no Quadrilátero Ferrífero, possuindo preto e branco; 3) MANPE: indivíduos pequenos com uma man- uma alta densidade na região do Parque Estadual da Serra do Rola cha negra na asa anterior; 4) MANGRA indivíduos grandes uma Moça (MG), uma das principais unidades de conservação onde mancha negra na asa anterior; 5) VERAM: indivíduos pequenos existem campos ferruginosos de altitude no estado de Minas Ge- verde-amarelados, antena de sete artículos com cerdas compridas; rais (existe apenas mais uma no Brasil). Ela é a principal fonte de 6) MANBRA: indivíduos com antena de seis artículos com cerdas recursos para polinizadores, mas também sofre ação de diversos curtas; 7) ARTIDI: indivíduos com antena de sete artículos com insetos herbívoros (Vincent et al. 2002). cerdas curtas, o último dilatado. Os himenópteros parasitóides têm grande importância bioló- Foram obtidos 106 indivíduos em 2002, sendo 91% perten- gica, ecológica e econômica, visto que o sistema plantaàinseto cente a Eulophidae. A pouca representatividade de Pteromalidae herbívoroàparasitóide representa quase 50% da biodiversidade de (uma única morfoespécie: DEART) sofre alteração se este cálculo ambientes terrestres (Strong et. al. 1984). Além disso, eles partici- for feito apenas com a primeira coleta deste ano. Desta forma, pam de mais de 50% das cadeias alimentares destes ambientes, DEART mostrou uma abundância similar à das outras como por exemplo, os de florestas úmidas (Azevedo & Santos, morfoespécies, representando 13% do total de indivíduos da pri- 2000), e nos casos de sucesso no controle biológico mais de 2/3 meira coleta deste ano. Dentro dos Eulophidae a morfoespécie foram conseguidos com himenópteros parasíticos. mais abundante no ano de 2002 foi MANPE, com 21%, seguida No caso dos parasitóides de Agromyzidae, quatro famílias são por VERAM, MANGRA, PATLI e MANBRA, com 20%, 20%, importantes: Eulophidae e Pteromalidae (Chalcidoidea), Eucolidae 16% e 12% do total de indivíduos, respectivamente. As duas (Cynipoidea) e Braconidae (Ichneumoidea) (Salvo & Valladares, morfoespécies OLPRE e ARTIDI foram raras, já que juntas não 1998). Os Chalcidoidea são encontrados em todas as regiões representam nem 5% dos indivíduos coletados. Como os valores zoogeográficas e em todos os habitas. Espécies desse grupo são de abundância foram muito próximos, não houve nenhuma pouco conhecidas devido ao tamanho diminuto dos indivíduos (3- morfoespécie considerada dominante.

572 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Já em 2003, foram obtidos 128 indivíduos, todos perten- sampled in Central Argentina. Studies in Neotropical Fauna and centes a Eulophidae. Em relação à abundância MANPE apresentou Enviromenment 33 (2-3): 116-123 DEC. 16%, passando a ser o terceiro mais abundante. MANGRA e PATLI Strong, D.R., Lawton, J.H. & Southwood, R. (1984). Insect on se apresentaram como as mais abundantes neste ano, com 34% cada plants: Community Patterns and Mechanisms. Havard University Press, uma, podendo ser consideradas morfoespécies dominantes. Já Cambrige. 312pp. VERAM e MANBRA foram consideradas morfoespécies raras, pois Vincent, R.C., Jacobi, C.M. & Antonini, Y. (2002). Diversidade na cada uma representou apenas 8% do total de indivíduos. As duas adversidade: a vida nos campos ferruginosos do quadrilátero ferrífero. morfoespécies raras no ano de 2002 não apareceram em 2003. Ciência Hoje. 31 (185): 64-67. A diversidade das amostras coletadas pode ser considerada baixa nos dois anos: em 2002 foi de 1.83 e em 2003 de 1.43. Pela análise do índice de Pielou, que em 2002 foi de 0.88 e em 2003 de Efeito da Barragem de Manso sobre a inundação em 0.89, constata-se que o baixo índice de diversidade encontrado nos matas ripárias na bacia do Rio Cuiabá, trecho do dois anos se deve mais ao fato da existência de poucas morfoespécies município de Rosário Oeste, Mato Grosso do que pela existência de morfoespécie dominantes e raras. Entre- Ricardo Keichi Umetsu a & Pierre Girard b tanto, a análise destes dois índices também nos permite afirmar a Pós-graduação Ecologia e Conservação da Biodiversidade – UFMT/ que a baixa diversidade em 2003 foi mais afetada pela distribuição IB ([email protected]) desigual que em de 2002. As coletas de 2002 e 2003 mostram uma b Universidade Federal de Mato Grosso – Instituto de Biociências similaridade moderada, pois o índice qualitativo mostrou uma si- milaridade entre as coletas dos dois anos de 0.63 e o índice quali- 1. Introdução tativo mostrou similaridade de 0.66. O Brasil apresenta uma extensa rede hidrográfica, cujas carac- Para cada planta de 2002 existe uma média de 1.23 ± 2 espéci- terísticas têm proporcionado o seu aproveitamento energético. es de parasitóides, enquanto a média de 2003 foi de 1.63 ± 1. Atualmente, cerca de 90% da matriz energética brasileira é depen- Houve diferença significativa entre as médias dos dois anos (t= dente dos recursos hídricos, e tal condição hidrológica e energética 0.55, p= 0.001, gl= 29, n= 30) apesar da pequena diferença numé- é reproduzida no Estado de Mato Grosso, pelas bacias do Araguaia rica entre elas a de 2002 pode ser considerada bem menor se for – Tocantins, do Prata (Bacia do Alto Rio Paraguai) e Amazônica levado em conta que neste ano eclodiram oito morfoespécies, en- (Guaporé, Teles Pires – Tapajós e Juruena). No Brasil a bacia quanto que em 2003 eclodiram apenas cinco. Se forem excluídas as hidrográfica do Alto Paraguai cobre uma área de 361.666 km², plantas sem eclosão de parasitóides, as médias sobem para 2.53 ± 2 com um potencial hidrelétrico ainda não estimado. Aproveitando em 2002 e 1.81 ± 1 em 2003. Esta diferença no ano de 2002 pode esse grande potencial hidrelétrico que o Brasil dispõe, a construção ser explicada pelo grande número de plantas em que não eclodiram de grandes hidrelétricas é eminente, uma vez que estas procuram parasitóides, enquanto que em 2003 a ocorrência de poucas plan- responder a uma demanda sócio-econômica, que é a de proporci- tas sem eclosão de parasitóides levou a uma pequena modificação. onar independência energética a preço relativamente baixo (Merona Houve uma relação positiva significativa entre o número de folhas et al., 2001). Sendo assim, além da alteração hidrológica, definida minadas e o de parasitóides em 2002 (r2= 0.64, p< 0.001, beta= por Rosenberg et al. (2000), como uma disrupção antropogênica 0.80, f= 52.17, n= 30) e em 2003, embora nesse ano essa relação na magnitude ou tempo natural do fluxo do rio, a construção de tenha se mostrado um pouco mais fraca (r2= 0.15, p= 0.018, beta= usinas hidrelétricas provoca mudanças ecológicas e sociais. Mu- 0.43, f= 6.28). Esta diferença pode ser explicada, pois no ano de danças no regime hídrico influenciam fortemente a flora e a fauna 2002 ocorreu um maior número de plantas sem eclosão de adaptada a determinadas flutuações do nível e da correnteza. Nos parasitóides, uma concentração de parasitóides em algumas plan- trópicos até agora existem poucas informações sobre mudanças tas e plantas com um grande número de folhas, enquanto outras florísticas abaixo de represas, porque comunidades naturais foram possuíam o mínimo determinado; já em 2003 ocorreu uma melhor pouco utilizadas pelo homem e, conseqüentemente, pouco estu- distribuição de parasitóides por planta e distribuição mais unifor- dadas. Levando em conta as experiências de regiões temperadas, me de folhas por planta. supõe-se que as espécies resistentes contra inundações periódicas 4. Conclusões serão substituídas por espécies de áreas não inundáveis. Plantas her- Com estes dados conclui-se que Eulophidae são os parasitóides báceas vão reagir muito mais rapidamente do que árvores por causa de Agromyzidae mais abundantes na região de canga do Parque de seu ciclo de vida mais curto (Junk & Mello, 1987). Sendo assim, Estadual da Serra do Rola Moça (MG), e que apesar de uma baixa este estudo tem como objetivo relacionar o regime de inundação diversidade, ela é influenciada pelo pequeno número de num trecho do rio Cuiabá, com a distribuição da vegetação sensível morfoespécies. Conclui-se também que estes parasitóides estão ao alagamento, e, desta forma, criar uma relação entre a freqüência e intimamente relacionados à oferta de hospedeiros. tempo de alagamento com a distribuição da vegetação. Pode-se concluir que a baixa média de riqueza de morfoespécies 2. Métodos por planta do ano de 2002 é mais influenciada pelo grande número A área de estudo está localizado na sub-bacia do médio rio de plantas em que não eclodiram parasitóides, enquanto que a Cuiabá, no município de Rosário Oeste – Mato Grosso, nas coor- baixa média do ano de 2003 é mais influenciada pelo menor núme- denadas geográficas 14°47’23.200 S e 56°19’10.008. No local foi ro de morfoespécies. traçado um transecto perpendicular a margem do rio, de 550m, 5.Referências Bibliográficas onde o gradiente topográfico foi determinado em altitudes reais, através de GPS-Geodésico e teodolito, onde, a partir da margem Azevedo, C.O. & Santos, H.S. (2000). Perfil da fauna de himenópteros do rio foram obtidos as altitudes de 50 em 50m, sendo que os parasitóides (Insecta, Hymenoptera) em uma área de Mata Atlântica da primeiros 50m foram divididos em 10, 20, 30 e 50m, e, assim, Reserva Biológica de Duas Bocas, Cariacica, ES, Brasil. Boletim do juntamente com o perfil transversal do rio foi possível determinar Museu de Biologia Mello Leitão 11/12: 117-126. a geomorfologia fluvial (canal principal, levée, canal secundário, Goulet, H. & Huber, J.T. (1993) Hymenoptera of the world: an planície de inundação e terraço), para, desta forma, criar uma série identification guide to families. Agriculture Canada Publication, hidrológica na área de estudo, através dos dados hidrológicos, dos Ottawa. 668p. anos de 1975 a 2002, obtidos na estação fluviométrica de Rosário Salvo, A. & Valladares, G. (1998). Taxonomic composition of Oeste – MT, a jusante da área de estudo. Através do modelo de hymenopteran parasitoid assemblages from agromyzid leaf-miners escoamento em regime permanente: remanso (Tucci, 2001) criar-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 573 Cerrado Volume I se-á uma série fluviométrica na área de estudo. Assim, a cota míni- sentou espécies características de mata ciliar, segundo Pott & Pott, ma para a água transbordar do canal (extensão de alagamento = 0) (1994). As parcelas 3, 4, 5 e 6, tanto para floresta quanto para sub- foi determinada a partir da comparação entre o perfil topográfico e bosque, apresentaram espécies características de planícies de inun- as cotas fluviométricas. Da mesma maneira para a cota fluviométrica dação ou áreas alagadas, segundo Pott & Pott, (1994). A parcela 2, máxima que correspondeu a extensão do alagamento. Enfim, o para floresta, apresentou espécies características de cerrado, com intervalo de tempo contido entre o momento onde a cota mínima espécies de sub-bosque características de áreas alagadas. Já as parce- foi ultrapassada e onde o rio volta abaixo desta mesma cota repre- las 9 e 10 apresentaram para floresta e sub-bosque, espécies caracte- sentou o tempo de alagamento. Foi calculado o intervalo de rísticas do cerrado que não são tolerantes a grandes períodos de recorrência que se inicia com a coleta das cheias para longo perío- inundação. A similaridade entre as parcelas 2, 9 e 10 justifica-se pelo do de anos, cujos dados constituem uma série anual (Christofoletti, fato de que, na parcela 2, quando ocorre o transbordamento do 1981), para, desta forma, estimar a freqüência de alagamento. canal, a água caminha para a planície de inundação, impedindo que Para o levantamento fitossociológico foram demarcadas sobre o local fique alagado. O efeito da freqüência e duração de inunda- o transecto 10 parcelas de 50x20m subdivididas em 100 parcelas ções no padrão de distribuição das espécies em áreas de planície de 5x20m, de forma contígua e não aleatória. Foram amostrados inundável já foi verificado por vários autores. Além desses efeitos, todos indivíduos com circunferência a altura do peito maior ou segundo Junk (1996), esses ambientes caracterizam-se por determi- igual a 5cm (CAP ³5cm), e divididos, segundo Rizzini, (1997), em nar condições para o surgimento de adaptações diversas. floresta, (altura igual ou maior que 4 metros), e sub-bosque (altura 4. Conclusão menor que 4 metros). Foram calculados os principais parâmetros A análise fitossociológica nas diferentes cotas topográficas, onde fitossociológicos: freqüência absoluta (FAi), área basal (Abi), fre- as espécies analisadas encontram-se, demonstrou a relação entre o qüência relativa (FRi), densidade relativa (DRi), dominância rela- tempo e freqüência de inundação que cada população suporta, tiva (DoRi), Índice de Valor de Cobertura (IVC) e Índice de Valor refletindo o nível de inundação a que estão sujeitas. Com a cons- de Importância (IVI) (Muller-Dombois et al., 1974). A análise de trução da barragem de Manso, o ciclo hidrológico do rio Cuiabá cluster (Gauch, H. G., 1982) foi utilizada para verificar a similari- passou a ser controlado, alterando seu regime natural, e desta dade entre as parcelas. forma, como a duração e o tempo de alagamento, o qual controla 3. Resultados e Discussões a erosão e a deposição, são importantes fatores físicos de controle O levantamento do perfil topográfico demonstrou a cota das comunidades de plantas ripárias (Douglas, 2000), estas pode- altimétrica de cada ponto selecionado, a partir da margem do rio rão sofrer mudanças na sua estrutura. Enfim, como a biodiversidade (ponto 0) sendo: p1.1 (10m) = 3,41m; p1.2 (20m) = 4,22m; p1 local é altamente dependente do pulso de inundação, tanto na sua (50m) = 3,92m; p2 (100m) = 3,29m; p3 (150m) = 3,13m; p4 amplitude espacial como temporal (Junk et al, no prelo), esta mu- (200m) = 3,46m; p5 (250m) = 3,15m; p6 (300m) = 3,27m; p7 dança provavelmente causará efeitos sobre a biodiversidade. (350m) = 3,83m; p8 (400m) = 4,44m; p9 (450m) = 4,77; p10 5. Referências Bibliográficas (500m) = 5,58m; e p11 (550m) = 5,93. O ponto 1.1, representa o Christofolleti, A. (1981). Geomorfologia Fluvial. São Paulo. Edi- canal secundário, sendo o ponto 1.2 o levée, e desta forma valores tora Edgard Blücher. 313p. superiores a ele representam alagamento. Os pontos 3, 4, 5 e 6, Douglas, F. S. J., Simon, A., Steffen, L., (2000). Reservoir effects representam a planície de inundação, seguidos pelos pontos 7, 8, 9, on dowstream river channel migration. Environmental Conservation 10, que representam o terraço. O modelo de escoamento em regi- 27, 54-66. me permanente demonstrou que a cota para transbordamento na seção estudada representa a cota de 5,80m na estação de Rosário Gauch, H. G. (1982). Multivariate Analysis in Community Ecology. Oeste – MT. A análise do intervalo de recorrência de cheias de- New York: Cambridge University Press. monstrou que a menor cota de cheia registrada, foi de 4,45com Junk, W.J., Da Silva, C.J., Wantzen, K.M., Cunha, C.N., Noguei- intervalo de recorrência de 1,04nos, e a maior cota foi de 8,47m e ra, F. The Pantanal of Mato Grosso: Status of ecological research, intervalo de 29 anos. O ano de 1995, em fevereiro, representou o actual use, and management for sustainable development. In: maior tempo de alagamento, que compreendeu 18 dias. Maltby, E. (Eds.), The Wetlands handbook. Blackwell, Oxford. No estudo fitossociológico foram amostrados 1.122 indivídu- No prelo. os, divididos em 829 para floresta e 293 para bosque. O cálculo do Junk, W. J. (1996). Ecology of floodplains – a challenge for tropi- IVI (Índice de Valor de Importância) para os indivíduos amostrados cal limnology. In: Schimer, F., Boland, K. T. Perspectives in Tropical demonstrou que, para floresta, a parcela 1 (50m da margem) teve Limnology. Amsterdan, SPB Academic Publishing. 255-265. Combretum leprosum Mart. com maior IVI, seguido por Callisthene Junk, W. J., Mello, J. A. S. N. de (1987). Impactos ecológicos das fasciculata (Spr.) Mart. na parcela 2 (100m), Protium heptaphylum represas hidrelétricas na Bacia Amazônica Brasileira. Tubinger (Aubl.) March. na parcela 3 (150m), Cariniana estrellensis (Raddi) Geographische Studien 95, 367-385. Kuntze na parcela 4 (200m), Vochysia divergens Pohl. nas parcelas 5 (250m) e 6 (300m) e Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. nas parce- Merona, C. A., Santos, G. M., Almeida, R. G. (2001). Short term las 9 (450m) e 10 (500m). Para os indivíduos de sub-bosque effects of Tucurui Dam (Amazônia, Brazil) on the tropic organization amostrados, a espécie Combretum leprosum Mart. teve maior IVI of fish communities. Enviromental Biology of Fishes 60, 375-392. na parcela 1 (50m), seguido por Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze Mueller-Dombois, D., Elemberg, H. (1974). Aim and methods of na parcela 2 (100m), Calophyllum brasiliense Camb. na parcela 3 vegetation ecology. New York, Willey and Sons. (150m), Protium heptaphylum (Aubl.) March. na parcela 4 (200m), Pott, A., Pott, V. J. (1994). Plantas do Pantanal. Brasília, Embrapa. 320p. Vochysia divergens Pohl. nas parcelas 5 (250m) e 6 (300m), Callisthene fasciculata (Spr.) Mart. na parcela 9 (450m) e Machaerium hirtum Rizzini, C. T. (1997). Tratado de Fitogeografia do Brasil. Rio de (Vell.) Stellf. na parcela 10 (500m), as parcelas 7 (350m) e 8 Janeiro. Âmbito Cultural Edições Ltda. 747p. (400m) não apresentaram indivíduos com CAP maior que 5 cm. A Rosenberg, D. M., McCully, P., Pringle, C. M., (2000). Global- análise de cluster demonstrou três grupos distintos quanto a simi- scale environmental effects of hydrological alterations: introduction. laridade, sendo o primeiro grupo a parcela 1, seguido pelo segundo BioScience 50, 746-751. grupo formado pelas parcelas 2, 9 e 10, e finalmente o terceiro Tucci, C. E. M. org, (2001). Hidrologia – Ciência e Aplicação. grupo formado pelas parcelas 3, 4, 5 e 6. 2.ed. Editora Universidade/UFRGS. 943 p. A parcela 1, tanto pra floresta quanto para sub-bosque, apre- (Órgãos financiadores: CNPq/CT-HIDRO – PNOPG)

574 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Levantamento da Abundância de Tibouchina desenvolvimento. Com base nesses diferentes estágios de desenvol- mutabilis em uma área de 1500m2 no Parque vimento, os critérios estabelecidos variam de acordo com a altura Estadual da Serra de Caldas Novas, Estado de Goiás. de cada indivíduo, medida com o uso da trena. Junto a esses crité- Ricardo Marques Pinto ([email protected]); Aristides Dutra; Deisi rios fizemos uma importante observação, o diâmetro de copa dos Amadeu Pereira; Sandro Batista Silva; Lorena Dall´Ara Guimarães indivíduos, cuja medição se deu com o mesmo equipamento utili- (Universidade Estadual de Goiás - Unidade Morrinhos) zado na medição da altura. Vejamos esses critérios: (1) indivíduos jovens com altura de até 1,5 m; (2) indivíduos intermediários com 1. Introdução altura acima de 1,5 m a 3 m; (3) e os de maior altura (adultos), O Parque Estadual da Serra de Caldas, localiza-se à nordeste da acima de 3 m. cidade de Caldas Novas, na região sudeste de Goiás (Santos, 2000). Através desses critérios, a referida pesquisa indicará a área média A altura média da Serra é de 1.045 m com desníveis de 150m em de cada ocorrência, seja de indivíduos jovens, intermediários ou adul- relação às áreas do entorno (Almeida & Sarmento, 1998). A maior tos, assim como a área média da copa de cada indivíduo analisado. parte do Parque é representada pelo Cerrado (Rizzo, 1981). 3. Discussão e Resultados O Bioma Cerrado ocupa 22% do território nacional (Olivei- A contagem realizada no quadrate demarcado nos permitiu ra-Filho & Ratter, 1995), é uma região bastante densa constituída observar a ocorrência de 39 indivíduos de T. mutabilis. Desses 39 por arbustos e árvores pequenas, essa vegetação típica consiste em indivíduos, 9 eram jovens com altura média de 1m e 0,5 m de uma estrutura muito variável, denominada Cerrado Latu sensu diâmetro de copa. Outros 17, eram intermediários que possuíam (Oliveira-Filho & Ratter, 1994). A distribuição da vegetação é altura média de 3 m e 2 m de diâmetro de copa. Por fim, 13 predominada pela precipitação sazonal, fertilidade e drenagem do indivíduos adultos possuíam altura média de 3,5 m e 2,5 m de solo, regime do fogo, flutuações climáticas (Eiten, 1972; Furley & diâmetro de copa. Notou-se que, em média, a cada 38,4 m2 há um Ratter, 1988; Oliveira-Filho & Ratter, 1995; Furley, 1999), e tam- indivíduo de T. mutabilis na área analisada. Os 9 indivíduos jovens bém pela umidade do solo, que possui um ph baixo (Furley & ocupam uma área de 3,53 m2, que correspondem a 0,23% da área Ratter, 1988). Essa região alcança anualmente temperaturas entre total. Os 17 indivíduos intermediários ocupam uma área de 106,76 18ºC e 28ºC, e precipitações de 800 a 20.000mm na época das m2, que correspondem a 7,11% da área total. Os 13 indivíduos de chuvas, com uma seca muito forte durante o inverno (Dias, 1992). maior altura ocupam 127,56m2, que correspondem a 8,5% da área A pluviosidade sazonal e a baixa fertilidade, mesmo sendo de fun- total. A soma destes 39 espécimes de T. mutabilis ocupam uma área damental importância, é insuficiente para explicar a distribuição de 237,85 m2, que correspondem a 15,85% da área total analisada. presente da vegetação (Oliveira-Filho & Ratter, 1994). A maioria 4. Conclusões da flora é composta por espécies adaptadas às queimadas, envol- De posse dos resultados da pesquisa, concluímos que a espécie vendo não apenas tolerância ao fogo, mas também dependência analisada apresenta uma grande abundância na área. Observamos deste (Coutinho, 1990; Braithwaite, 1996). também que a T.mutabilis apresenta uma notável adaptação à re- A vegetação do Parque em estudo é de Campo Cerrado e gião de ocorrência, confirmando o que Cronquist (1981) afirmou formação rupestre, geralmente em faixas estreitas ao longo dos a respeito da família Melastomataceae. vales próximos ao sapé da Serra (Almeida e Sarmento, 1998), mes- A análise da área da copa demonstrou que a ocupação foliar da mo com toda a dificuldade de distribuição (Cronquist, 1981). espécie é considerável, uma vez que dificultará ou até impedirá o Nessa região, predomina a família Melastomataceae, sétima maior crescimento de outras espécies no local. Essas observações reafir- família entre as angiospermas e com mais 4.500 espécies distribu- mam a adaptação e perpetuação das Melastomataceae na região. ídas principalmente nas regiões tropicais (Cronquist, 1981). Com 5. Referências Bibliográficas o intuito de analisar e observar a abundância dessa família na re- ALMEIDA, A.F. & SARMENTO, F.N.M. (coord). Parque Esta- gião, utilizamos a Tibouchina mutabilis ou Quaresmeira de duas dual Serra de Caldas - Plano de Manejo. CTE (Centro Tecnológico cores (como é conhecida popularmente), uma árvore de até 5m de de Engenharia Ltda). Goiânia, 1998. altura e copa arredondada de 4m de diâmetro, cujas flores desabro- BRAITHWAITE, R.W. Biodiversity and fire in the savanna cham brancas e no decorrer do dia escurecem até se tornarem roxas landscape. In O.T. Solbrig, E. Medina, and J. F. Silva, eds., Biodiversity (Gemtchujnicov, 1976). and Savanna Ecosystem Processes, pp. 121-142. Berlin: Springer- 2. Métodos Verlag, 1996. A área escolhida para a realização do estudo situa-se na Trilha COUTINHO, L.M. Fire in the ecology of the Brazilian cerrado. do Paredão, trilha esta condicionada à passagem de turistas. A In J.G. Goldammer, ed., Fire in Tropical Biota, pp. 82-105. Berlin: vegetação de formação rupestre, característica da área, é um exce- Springer-Verlag, 1990. lente local para a ocorrência da espécie analisada. Da sede do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas ao Paredão são 1.500m CRONQUIST, A. An Integrated System of Classification of de trilha, na qual escolhemos minuciosamente uma área e demar- Flowering Plants. New York: Columbia University Press, 1981. camos um quadrate. DIAS, B.F.S. Cerrados: Uma caracterização. In B.F.S. Dias, ed., A demarcação foi realizada com o uso de uma trena de 200m Alternativas de Desenvolvimento dos Cerrados: Manejo e Conservação de comprimento onde foi possível estabelecer ao quadrate, 10 m dos Recursos Naturais Renováveis, pp. 11-25. Brasília:Fundação Pró- de largura, compreendendo os dois lados de um feixe de água Natureza, 1992. oriundos do paredão, e 150 m de comprimento, a partir do paredão, EITEN, G. The cerrado vegetation of Brazil. Bot. Rev. 38:201-341, no mesmo sentido da trilha. O quadrate demarcado totalizou uma 1972. área de 1.500 m2. Após dado os primeiros passos, escolha da área e demarcação FURLEY, P.A. The nature and diversity of neotropical savanna da mesma, partimos então para a contagem dos indivíduos. O vegetation with particular reference to the Brazilian cerrados. Glob. método escolhido para a contagem foi o de esforço/procura, que Ecol. Biogeogr. 8:223-241, 1999. consiste em percorrer toda a área demarcada, contando os indiví- FURLEY, P.A. and RATTER, J.A. Soil resources and plant duos presentes e classificando-os de acordo com alguns critérios. communities of the Central Brazilian cerrado and their Estabelecemos os critérios para classificação dos indivíduos development. J. Biogeogr. 15:97-108, 1988. após várias observações sobre a área demarcada, o que nos fez GEMTCHUJNICOV, I.D. Manual de Taxonomia Vegetal: Plan- perceber que no local havia indivíduos com diferentes estágios de tas de Interesse Econômico, Agrícola, Ornamentais e Medicinais.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 575 Cerrado Volume I

São Paulo: Ceres, 1976. (EEI), pertencente ao Instituto Florestal do Estado de São Paulo. MITTERMEIER, R.A. et. al. Hotspots: Earth´s biological richest O clima da região, segundo a classificação de Köppen (1948), é do and most endangered terrestrial ecoregions. COMEX - tipo Cwa, isto é, mesotérmico úmido de inverno seco. A área total Conservation International, México City: 1999 da reserva é de aproximadamente 2.300 há. Realizamos nosso levantamento em duas áreas adjacentes (apro- OLIVEIRA-FILHO, A.T. and RATTER, J.A. Database: Woody ximadamente, entre 22°12’31-37”S e 47°53’53-54”W), uma não Flora of 106 Forest Areas of Eastern Tropical South America. perturbada e outra em regeneração. A primeira era coberta por Edinburgh: Royal Botanic Garden Edinburgh, 1994. campo cerrado, enquanto que a segunda era coberta por um cerra- OLIVEIRA-FILHO, A.T. and RATTER, J.A. A study of the origin do em regeneração há dois anos, quando a silvicultura de Pinus of central Brazilian forests by the analysis of plant species distribution elliotti existente no local foi removida por corte raso. Em cada uma patterns. Edinb. J. Bot. 52:141-194, 1995. das duas áreas, lançamos 20 parcelas de 5m x 5m, distribuídas RIZZO, J.A. Flora do Estado de Goiás: Coleção Rizzo. Goiânia: sistematicamente a cada 20m. Nessas parcelas, amostramos o com- Universidade Estadual de Goiás, 1981. ponente arbustivo-arbóreo, definido aqui como todos os indivídu- SANTOS, M.L. Ecologia da Polinização e Reprodução de Espéci- os lenhosos com diâmetro do caule no nível do solo igual ou maior es. Brasília, 2000. a 3 cm, conforme recomendado por SMA (1997). Em cada uma das parcelas, lançamos uma subparcela de 0,5 m x 0,5 m, em que Apoio Financeiro: Universidade Estadual de Goiás. amostramos o componente herbáceo-subarbustivo, definido como todos os indivíduos lenhosos com diâmetro do caule no nível do Riqueza, diversidade e composição florística entre solo menor do que 3 cm e todos os não-lenhosos. Identificamos os áreas de cerrado em regeneração e maduro na indivíduos amostrados em campo com o auxílio de uma chave de Estação Ecológica de Itirapina, sp identificação baseada em caracteres vegetativos (Batalha e Rodrigo Rodrigues1;Alessandro de Paula1; Fernanda Quintas Mantovani, 1999). As espécies foram classificadas em famílias se- Martins1; ; Marco Antônio Manhães1 ;Marco Antônio Batalha2 gundo o sistema de Judd et al. (1999). Calculamos a riqueza como 1 Universidade Federal de São Carlos, Pós-graduação em Ecologia e o número de espécies por unidade amostral e a diversidade com o Recursos Naturais. Caixa Postal 676, 13.565-905, São Carlos, SP, índice de Shannon-Weaver (Magurran, 1988). Estimamos a den- Brasil. ([email protected]) sidade segundo Mueller-Dombois e Ellenberg (1974). Compara- 2 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica. mos a proporção entre espécies herbáceo-subarbustivas e arbustivo- Caixa Postal 676, 13.565-905, São Carlos, SP, Brasil. arbóreas com aquela esperada por Mantovani & Martins (1993) para áreas de cerrado com o teste de qui-quadrado (Zar, 1999). 1 Introdução Também comparamos essa proporção entre os cerrados em rege- As principais ameaças à biodiversidade no cerrado estão relaci- neração e maduro. Testamos a normalidade das distribuições das onadas a duas atividades econômicas: a monocultura intensiva de variáveis riqueza e densidade com o teste de Kolmogorov-Smirgov grãos e a pecuária extensiva de baixa tecnologia (WWF-PRO- (Zar, 1999). Com o objetivo de testar se as diferenças entre as áreas CER, 1995). Além dessas atividades, áreas de cerrado têm sido de cerrado em regeneração e maduro eram significativas, utiliza- convertidas em silviculturas de Pinus spp. (Espírito Santo 1995). mos o teste t não-pareado (Zar, 1999) para a riqueza e densidade As espécies de cerrado apresentam, geralmente, alto potencial de dos componentes herbáceo-subarbustivo e componente arbustivo- regeneração natural a partir de estruturas subterrâneas (Rizzini & arbóreo, uma vez que todas as variáveis apresentaram distribuição Heringer, 1962; Goodland & Ferri, 1979; Hoffmann, 1998). Em- normal. Calculamos o poder de cada teste t (Zar, 1999), para bora haja evidências científicas de que a reprodução a partir de verificar a probabilidade de rejeitarmos corretamente a hipótese sementes é mecanismo importante para a regeneração de algumas nula quando ela fosse falsa. Para testar se as diferenças entre os espécies (Felipe & Silva, 1984; Franco et al., 1996a, 1996b; Olivei- índices de diversidade foram significativas, aplicamos o teste de ra & Silva, 1993), a regeneração por brotação tem maior êxito no Hutcheson (1970). Também calculamos o índice de similaridade processo de recuperação da cobertura vegetal do cerrado (Durigan de Sørensen (Magurran, 1988) entre ambos os componentes das et al., 1998). Essa capacidade peculiar das espécies do cerrado de áreas em regeneração e madura. recobrir o terreno a partir da rebrota de estruturas subterrâneas 3 Resultados / Discussão depende das propriedades físicas e químicas do solo e do tempo Nas 40 parcelas amostradas, encontramos 56 espécies, perten- decorrido após o desmatamento (Durigan et al., 1998). Os estudos centes a 50 gêneros e 27 famílias. A família mais representativa foi de regeneração em áreas agrícolas desmatadas e abandonadas con- Fabaceae, com oito espécies (ou 14,29% do total), seguida de cluem que o processo de revegetação natural inicia-se com a repro- Poaceae e Myrtaceae, com seis espécies (10,71%) cada. Entretan- dução de espécies cujas sementes ali chegaram, germinaram e as to, a família Poaceae foi a que apresentou o maior número de plantas se estabeleceram (Odum, 1988). Características locais, indivíduos (112) dentre os 328 amostrados, perfazendo 34,15% como distância de bancos de sementes, presença de substâncias do total. As duas espécies mais abundantes foram gramíneas, tóxicas no substrato abandonado, textura, instabilidade da super- Loudetiopsis chrysothryx (Ness) Conert, com 34 indivíduos, e fície e camadas mais profundas, compactação, retenção de água, Gymnopogon foliosus (Willd) Ness, com 33 individuos. Das 56 es- pH, salinidade, declividade, entre outras, determinam as espécies pécies que amostramos no total, 27 foram herbáceo-subarbustivas aptas a se estabelecerem, além de facilitarem ou dificultarem o e 29, arbustivo-arbóreas. Logo, a proporção entre espécies herbá- processo de recolonização (Corrêa & Leite, 1998). Nosso objetivo ceo-subarbustivas e arbustivo árboreas em nosso levantamento foi foi comparar a estrutura da comunidade vegetal em duas áreas de de 0,93:1, valor significativamente diferente (c2 = 5,86, g.l. = 1, p = cerrado, uma em regeneração há dois anos – desde a retirada de um 0,016) do mínimo encontrado por Mantovani & Martins (1993) talhão de Pinus elliotti – e outra madura. Para isso, procuramos para áreas de cerrado, que é de 2:1. No cerrado em regeneração, a responder às seguintes perguntas: A riqueza, a diversidade e a den- razão entre espécies herbáceo-subarbustivas e arbustivo-arbóreas sidade de plantas vasculares no cerrado maduro são maiores do que foi de 0.89:1. Por outro lado, no cerrado maduro, essa razão foi de no cerrado em regeneração? Qual é a similaridade florística entre 0,93:1. Essas duas proporções não foram significativamente dife- essas duas áreas? rentes entre si (c2 = 0,17, g.l. = 1, p = 0,683). Entre as 29 espécies 2 Material e Métodos arbustivo-arbóreas, 5 apareceram tanto no cerrado em regenera- Este trabalho foi desenvolvido na Estação Ecológica de Itirapina ção quanto no cerrado maduro. Entre as 27 espécies herbáceo-

576 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado subarbustivas, quatro ocorreram nos dois tipos de cerrado. Dessa com áreas de cerrado já estabelecidas. Para isso, recomendamos forma, o índice de similaridade de Sørensen para o componente que estudos como este sejam repetidos ao longo de vários anos na herbáceo-subarbustivo da área em regeneração e da área madura Estação Ecológica de Itirapina. foi de 0,23 e para o componente arbustivo-arbóreo, 0,31. Para o 5 Referências Bibliográficas componente herbáceo-subarbustivo, na área de cerrado em rege- BATALHA, M.A & MARTINS, F.R. The vascular flora of the -2 neração, encontramos 0,85 ± 0,93 espécie . 0,25 m , enquanto cerrado in Emas National Park (central Brazil). Sida, contributions que na área de cerrado maduro, encontramos 2,40 ± 3,97 espécies to Botany, v.20, p.295-312, 2002. . 0,25 m-2. As duas médias foram significativamente diferentes en- BATALHA, M.A.; MANTOVANI, W. Chaves de identificação das tre si (t = 5,88, g.l. = 38, p < 0,001). Para o componente arbustivo- espécies vegetais vasculares baseada em caracteres vegetativos para arbóreo, na área de cerrado em regeneração, encontramos 0,60 ± a ARIE Cerrado Pé-de-Gigante (Santa Rita do Passa Quatro, SP). 0,94 espécie . 25 m-2, enquanto que na área de cerrado maduro, Revista do Instituto Florestal, v.11, p.137-158, 1999. encontramos 3,25 ± 1,33 espécies . 25 m-2., médias significativa- mente diferentes (t = 7,26, g.l. = 38, p < 0,001). Quanto à densida- CORREA, R.S.; LEITE, L.L. Desmatamento e mineração em de, encontramos 2,40 ± 3,97 indivíduos . 0,25 m-2 para o compo- unidade de conservação. In: CÔRREA, R.S. & MELO FILHO, nente herbáceo-subarbustivo da área de cerrado em regeneração. B. de (orgs.) Ecologia e recuperação de áreas degradadas no cerra- Na área de cerrado maduro, encontramos 7,50 ± 3,97 indivíduos. do. Brasília: Paralelo 15, 1998. cap.3, p.29-47. 0,25 m-2. As duas médias foram significativamente diferentes (t = DURIGAN, G.; CONTIERI, W.A.; FRANCO, G.A.D.C.; GAR- 3,85, g.l. = 38, p < 0,001) Já para o componente arbustivo-arbóreo, RIDO, M.A.O. Indução do processo de regeneração da vegetação encontramos 0,75 ± 1,44 indivíduos. 25 m-2 no cerrado em regene- de cerrado em área de pastagem, Assis, SP. Acta Botânica Brasílica, ração e 5,80 ± 3,10 indivíduos. 25 m-2 no cerrado maduro, valores v.12, n.3, p.421-429, 1998. significativamente diferentes (t = 6,59, g.l. = 38, p < 0,001). Os ESPIRITO SANTO, C.V. Diagnóstico e avaliação de setor flores- valores de diversidade para o componente herbáceo-subarbustivo tal brasileiro região Centro-Oeste: Anuário executivo. Brasília: do cerrado em regeneração e do cerrado maduro foram, respectiva- Funatura/Itto/Ibama, 1995. 59p. mente, de 1,29 ± 0,04 nats . ind-1 e 2,75 ± 0,02 nats . ind-1, valores FELIPE, G.M.; SILVA, J.C.S. Estudos de germinação em espécies estes significativamente entre si (t = 34,43, g.l. = 75, p < 0,001). de cerrado. Revista Brasileira de Botânica. V.7, p.157-163, 1984. Para o componente arbustivo-arbóreo, esses valores foram de 2,08 ± 0,14 nats . ind-1 para o cerrado em regeneração e 2,68 ± 0,02 nats FRANCO, A.C.; NARDOTO,G.B.; SOUZA, M.P. Patterns of . ind-1 para o cerrado maduro, valores também significativamente soil water potential and seedling survival in the cerrados of Central diferentes entre si (t = 4,30, g.l. = 16, p < 0,001). Para os quatro Brazil. In: Anais do IX Simpósio sobre o cerrado. Brasília: Embrapa/ testes t que realizamos, o poder do teste foi de 100%. CPAC, 1996a, p.277-280. As famílias mais bem representadas em nossa amostragem es- FRANCO, A.C.; NARDOTO,G.B.; SOUZA, M.P. Estabeleci- tão entre as mais ricas também para outras áreas de cerrado (e.g., mento e crescimento de Dalbergia miscolobium Benth. em áreas de Mantovani & Martins, 1993; Batalha & Martins, 2002). A alta campo sujo e cerrado no DF. In: MIRANDA, H.S.; SAITO, C.H.; abundância da planta invasora Brachiaria decumbens Spaf. na área DIAS, B.F.S. (Orgs.) Impactos de queimadas em áreas de cerrado e de cerrado maduro pode ser a responsável pelo empobrecimento restinga. Brasília: UnB, ECL, 1996b, p.84-92. do componente herbáceo-subarbustivo, reduzindo o estabeleci- GOODLAND, R.; FERRI, M.G. Ecologia do Cerrado. São Pau- mento das espécies herbáceo-subarbustivas. Em relação à área em lo: Itatiaia e Edusp, 1979. 193p. regeneração, amostramos uma única touceira de B. decumbens Spaf.. É possível a ocorrência de alguma forma de inibição ao desenvol- HOFFMAN, W.A. Post-burn reproduction of woody plants in a neotropical savanna: the relative importance of sexual and vegetative vimento de B. decumbens Spaf., seja essa inibição química ou física, devido à grande quantidade de matéria orgânica acumulada sobre o reproduction. Journal of Aplied Ecology, v.35, p.422-433, 1998. solo após a operação de corte e desrama de Pinus elliotti e sua dispo- HUTCHESON, K. A test for comparing diversities based on Shannon sição em leiras. Esse acúmulo de matéria orgânica no solo pode formula. Journal of Theoretical Biology, v.29, p.151-154, 1970. apresentar vantagens, tais como a diminuição do efeito da erosão no JUDD, W.S.; CAMPBELL, C.S.; KELLOG, E.A. & STEVENS, solo logo após o desmatamento e a provável inibição da B. decumbens P.F. Plant systematics: a phylogenetic approach. Sunderland: Sinauer, e desvantagens, como a inibição ao estabelecimento das espécies 1999. 464p. autóctones do cerrado, a diminuição da velocidade de recobrimento KÖPPEN, W. Climatología. México: Fondo de Cultura do solo e o conseqüente aumento da erosão a longo prazo. Económica,1948. 478p. 4 Conclusões Este estudo comparativo das áreas em regeneração e madura MAGURRAN, A.E. Ecological diversity and its measurement. de cerrado nos permitiu concluir que, mesmo após dois anos, a Princeton: Princeton University, 1988. 179p. estrutura do cerrado em regeneração é muito diferente do cerrado MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R. Florística do cerrado na maduro. O perfil da vegetação da área em regeneração é, a princí- reserva biológica de Moji Guaçu, SP. Acta Botanica Brasilica, v.7, pio, distinto daqueles das fases subseqüentes da colonização, con- p. 33-60, 1993. siderando a similaridade obtida com a área madura. As poucas MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLEMBERG, H. Aims and espécies da área em regeneração concentram a maior parte dos methods of vegetation ecology. New York: John Willey & Sons, indivíduos. Assim, o processo de regeneração está se desenvolven- 1974. 547p. do com baixas riqueza e diversidade. Os ramos e as folhas dos ODUM, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. 434p. pinheiros deixados na área em regeneração, por um lado, podem atrasar o processo sucessional do cerrado, mas, por outro, podem OLIVEIRA, P.E.; SILVA, J.C.S. Reproductive biology of two species dificultar a invasão dessa área pela B. decumbens Spaf.. Para avaliar of Kielmeyera (Guttiferae) in the cerrados of Central Brasil. Journal o impacto dos ramos e folhas dos pinheiros sobre a regeneração do of Tropical Ecology, v. 9, p.67-79, 1993. cerrado, sugerimos que esses ramos e folhas sejam removidos de RIZZINI, C.T.; HERINGER, E.P. Studies on the underground parte da área em recuperação. Para que nossas conclusões sejam organs of the trees and shrubs from some southern Brazilian corroboradas, são necessárias também análises futuras comparan- savannas. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.34, p.235- do a área em regeneração nos estádios mais avançados da sucessão 247, 1962.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 577 Cerrado Volume I

WWF-PRO-CER. De grão em grão, o cerrado perde espaço (cerra- 3.Discussão e Resultados do- impactos do processo de ocupação). Brasília: WWF, 1995. 115p. Dentre os taxa alvo, foram coletados um total de 2578 indiví- ZAR, J. H. Biostatiscal analysis. Upper Saddle River: Prentice duos, sendo que 149 foram de Cicindelidae e 2429 foram de Hall, 1999. 663p. Dorymyrmex. Duas morfoespécies de Cicindelidae foram encontra- das e somente uma de Dorymyrmex. Dorymyrmex obteve uma média de abundância relativamente Utilização de Coleoptera (Cicindelidae) como constante nas áreas amostradas, sendo a espécie dominante em Bioindicador em Áreas da Mineração Rio Novo, praticamente todos os locais e habitats estudados, ocorrendo, po- Diamantina - MG rém, com abundância particularmente elevada em apenas uma área a,b a Ronara de Souza Ferreira ; Wesley Duarte da Rocha ; Cinthia intermediária e uma praia ribeirinha. Cicindelidae, por sua vez, a a Borges da Costa ; Igor Rismo Coelho ; Sabrina Silva Pinheiro de mostrou um aumento na abundância à medida que o solo arenoso a a a Almeida , Janaina Pizzatti Soares & Sérvio Pontes Ribeiro ia se tornando mais estruturado e bem drenado (Regressão Linear a Laboratório de Ecologia Evolutiva de Herbívoros de Dossel e Simples; y = 0,2298x + 0,5623, F5,45=3,038; p<0,05), obtendo em Sucessão Natural, Universidade Federal de Ouro Preto praias ribeirinhas as maiores abundâncias. b Graduação Ciências Biológicas Universidade Federal de Ouro Preto Aspectos das assembléias de formigas, particularmente a densi- ([email protected]) dade relativa das espécies dominantes e co-dominantes e a riqueza de espécies habitat-específico são considerados componentes de 1.Introdução comunidade com grande poder explicativo quanto às mudanças Os invertebrados podem ser considerados bons indicadores da ambientais, e, portanto bons bioindicadores (Majer 1992, Majer condição ecológica de um habitat, pois são altamente diversos e & Delabie 1994). Entretanto, nenhum padrão específico de distri- funcionalmente importantes, podendo influenciar uma grande va- buição de espécies de formigas foi associado especificamente às riedade de processos ecológicos, sendo sensíveis a mudanças do praias ribeirinhas (Regressão Linear Simples; F5,45= 0,637; p>0,05). ambiente e, além do mais, são facilmente amostrados (Greenslade Muitos bioindicadores ecológicos e ambientais podem ser iden- & Greenslade 1984; Brown 1997; McGeoch 1998). Assim, mui- tificados por estabelecerem uma forte relação com determinadas tos estudos envolvendo invertebrados têm resultado na formula- características dos ambientes nos quais eles se encontram (Kitching ção de estratégias de conservação para o manejo de ecossistemas, et al. 2000, Davis 2001). Uma estreita relação entre as espécies de sendo dessa forma importante entender como estes organismos se Cicindelidae e os habitats de praias estudadas neste trabalho foi desenvolvem em áreas em processo sucessional. observada, mostrando, portanto, um grande potencial destes inse- Vários estudos têm mostrado uma relação entre a abundância tos para bioindicação de condições ambientais específicas. de invertebrados com a diversidade de estrutura e funcionamento 4.Conclusão dos ecossistemas (Noss 1990, Aronson et al. 1993). Algumas famí- Assembléias de formigas são consideradas boas bioindicadoras lias de Coleoptera são, portanto de extrema importância para estu- de qualidade de habitat, mas espécies dominantes tendem a ser dos de biodiversidade, manejo e conservação de florestas (Didham generalistas quanto a maioria dos seus requisitos ambientais, por- et al. 1998, Anderson & Ashe 2000). Dentre os diversos critérios tanto imprecisos bioindicadores se consideradas isoladamente. utilizados para eleger um bioindicador, a fidelidade de habitat é um A complementação de análises ambientais com uso de mais de dos mais importantes. Neste e em vários outros quesitos, as espé- um taxa pode melhorar a aferição da qualidade e integridade de cies de Cicindelidae são apontadas como boas indicadoras (New certos habitats. 1987). Segundo Pearson (1992), um dos taxa potencialmente ide- Invertebrados de solo são excelentes bioindicadores de avanço ais para a bioindicação é a família Cicindelidae. Todas as espécies sucessional devido a grande variedade de exigências quanto à condição desta família são predadoras, possuem hábito geralmente diurno, de habitat e disponibilidade de recursos, sendo, portanto a composi- sendo encontradas na superfície do solo, além de relativamente ção e densidades relativas de espécies aspectos facilmente fáceis de ser encontradas e observadas no campo. correlacionáveis com qualidade ambiental e restauração de ambientes. O objetivo deste trabalho foi testar se a bioindicação com 5.Referências Bibliográficas espécies de Cicindelidae é complementar àquela gerada a partir de assembléias de formigas. Particularmente, testou-se a hipótese de Anderson, R.S. & Ashe, J.S. (2000). Leaf litter inhabiting beetles que espécies habitat-específico de Cicindelidae seriam indicadores as surrogates for establishing priorities for conservation of selected mais precisos de habitats do que espécies dominantes de formigas, tropical montane cloud forests in Honduras, Central America como por exemplo, as do gênero Dorymyrmex. (Coleoptera; Staphylinidae, Curculionidae). Biodiversity and 2.Métodos Conservation, 9: 617-653. O estudo foi realizado entre os dias 13 e 19 de novembro de Aronson, J., Floret, C., Le Floc´h, E., Ovalle, C. & Pontanier, R. 2002, na Mineração Rio Novo, situada aproximadamente a 70Km (1993). Restoration and rehabilitation of degraded ecossistems in de Diamantina, no norte do estado de Minas Gerais. Foi monitorado arid and semiarid regions. I. A. view from the South. Restoration um total de nove áreas, seis pertencentes ao conjunto da draga Ecology, 1: 8-17. Maria Bonita (áreas 19, 20, 21, 24, 26 e 28) e três pertencentes ao Brown, K.S. Jr. (1997). Diversity, disturbance and sustainable use conjunto da draga Chica da Silva (áreas D, E e F), perfazendo um of Neotropical forests: insects as indicators for conservation total de 849.196 m2 ao longo de 11Km de rio. Sendo que, as áreas monitoring. Journal of Insect Conservation, 1: 25-42. mais antigas possuem seis anos de reabilitação e a área mais nova Davis, A. J. (2001). Dung beetles as indicators of changes in the com dois anos de reabilitação. Cada área foi subdividida em outras forests of northern Borneo. Journal of Applied Ecology, 38: 593- três faixas: praia (P), intermediária (I) e ecótone (C). Três dessas 616. nove áreas foram consideradas áreas controle (remanescentes) 21, D e Cerrado da 19. Para amostragem das formigas e coleópteros o Didham, R.K., Hammond P.M., Lawton, J.H., Eggleton P., Stork, método utilizado foi armadilhas de solo. Neste trabalho será estu- N.E. (1998). Beetle species responses to tropical forest dada a relação entre espécies de Cicindelidae e a espécie dominan- fragmentation. Ecological Monographs, 68 (3): 295-323. te de formiga, Dorymyrmex sp1. Para análises dos dados foi utilizada Greenslade, P.J.M. & Geenslade, P. (1984). Invertebrates and regressão linear simples e múltipla. Os demais dados sobre as as- environmental assessment. Environment and Planning, 3: 13-15. sembléias de formigas e outras famílias de coleópteros serão publi- Kitching, R.L., Orr, A.G., Thalib, L., Mitchell, H., Hopkins, M.S. cados em separado. & Graham, A.W. (2000). Moth assemblages as indicators of

578 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado environmental quality in remnants of upland Australian rain forest. escolhida para a realização desse trabalho localiza-se no Jardim Journal of Applied Ecology, 37: 248-297. Botânico de Brasília, reserva ecológica situada a 20 km a sudeste da Majer, J.D. (1992). Ant recolonization of rehabilitated bauxite mi- cidade de Brasília, DF. nes of Poços de Caldas, Brazil. Journal of Tropical Ecology 8: 97-108. O presente trabalho fez uma análise da mudança florística ao longo de um gradiente de campo úmido limpo, consistindo de uma Majer, J.D. & Delabie, J.H.C. (1994). Comparison of the ant camada rasteira entre os níveis inferiores do murundum, até o communities of annually inundated and terra firme forests at Trom- cerrado arbustivo encontrado em seu topo pelo uso de técnicas do betas in the Brazilian Amazon. Ins. Soc. 41:343-359. ordenação e análise direta e indireta da vegetação. McGeoch, M.A. (1998). The selection, testing and application of 2. Métodos terrestrial insects as bioindicators. Biological Review, 73: 181-201. Foram estabelecidos 120 quadrats(retângulos), de tamanho 2,0 New, T.R. (1987). Insect conservation in Australia: towards rational x 0,5 m, arranjados em 20 transectos. As parcelas estão distribuídas ecological priorities. In: Majer, J.D. (ed.). The role of invertebrates in no sentido horizontal em cada murundum. Cada transecto, conservation and biological survey. Western australian department of posicionado em determinado murundum, é formado por seis re- conservation and land management report. pp. 5-20 tângulos assim distribuídos: nível 1 - localizado na parte mais baixa Noss, R.F. (1990). Indicators for monitoring biodiversity: A entre murunduns vizinhos, contendo somente camada rasteira da hierarchical approach. Conservation Biology, 4: 355-364. vegetação e dominado por graminóides; nível 2 - situado junto à borda do murundum, mas não sobre ele; nível 3 - disposto na Peason, L.D. & Cassola, F. (1992). World-wide species richness encosta inferior do montículo; nível 4 - localizado na encosta me- patterns of tiger beetles (Coleoptera: Cicindelidae): indicator taxon diana; nível 5 - situado na encosta superior; nível 6 - pertencente for biodiversity and conservation studies. Conservation Biology 6 ao topo do murundum. (3): 376-391. As coletas botânicas foram feitas nos indivíduos enraizados dentro dos quadrats, desconsiderando-se, para tanto, o fato de o Análise de gradiente em Campo de Murunduns exemplar possuir ou não flor ou fruto no dia da coleta. Foram Ruth Elias de Paula Laranja; Universidade de Brasília - registradas informações sobre as características ambientais, tais Departamento de Geografia; [email protected] como: variação do lençol freático, solo, topografia da área. Foram coletadas amostras de solo em trinta buracos, a uma profundidade 1. Introdução de 0-20 cm. Estas foram analisadas no laboratório de Química Os campos de murunduns constituem elementos comuns na Analítica e laboratório de Física do CPAC/EMBRAPA - Brasília. paisagem do cerrado no Planalto Central Brasileiro, caracterizados Centro e trinta e oito espécies foram registradas na amostragem. pela existência de diversos montículos de terras circulares ou pou- As análises multivariadas foram efetuadas com o uso do programa co elípticos (microformas de relevo). PC-ORD (Multivariate Analysis of Ecological Datas, versão 2.0). A O tipo de vegetação denominado campo de murunduns surgiu análise multivariada ajuda os ecologistas a descobrirem padrões nos como tema de investigação no presente trabalho devido a diversos dados. As estratégias de análise multivariada empregadas enste traba- fatores, entre os quais se destacam: a sua grande ocorrência no lho foram: análise direta e indireta de gradiente e ordenação. A técnica Distrito Federal; por ser uma combinação de dois tipos de vegeta- de ordenação foi aplicada para investigar a influência dos fatores ção e; ainda, pela pouca existência de estudos aprofundados quan- abióticos na variação florística, utilizando os dados fitossociológicos to à identificação, à riqueza e à distribuição das espécies vegetais, nos diferentes trechos de amostragem. O eixo de amostragem define bem como gradientes na vegetação que devem refletir gradientes ambientais. O Apesar das inúmeras contribuições sobre os murunduns, pou- resultado de uma ordenação é o arranjo de espécies e parcelas num co se conhece a respeito da influência das variáveis ambientais espaço dimensional restrito de modo que as entidades semelhantes sobre o comportamento de sua flora nativa com relação: à água ficam próximas e as diferentes ficam distantes. (tolerância ao encharcamento sazonal do solo); à seca (tolerância A análise de direta de gradiente representa a composição das ao déficit hídrico sazonal na parte superior dos murunduns); ao comunidades vegetais e as características de seu ambiente em dife- efeito do fogo e a sua recuperação; e à distribuição das espécies ao rentes pontos da superfície. A média ponderada agrupa as espécies longo do gradiente campo úmido-cerrado . que fazem parte do mesmo gradiente ambiental. Ela foi utilizada É interessante ressaltar o valor ecológico que os campos de para elaboração que representou a distribuição ecológica das espé- murunduns desempenham na biodiversidade da província do cer- cies em todos os níveis. Na análise indireta de gradiente, as amos- rado, partindo da sua própria excentricidade em meio a outras tras podem ou não estar vinculadas às variáveis ambientais. Nessa formas de terreno, dadas as inúmeras variáveis locais e regionais. análise, as espécies foram ordenadas pela presença/ausência, não Isso permite o aparecimento de uma flora típica e característica sendo considerado o nível de ocorrência da espécie. para cada área de murundum. 3. Resultados As áreas de campos de murunduns são normalmente sujeitas a Os quadrats foram ordenados usando combinações diferentes excesso hídrico estacional, onde os murunduns tornam-se verda- de tipo de dados. As espécies, por exemplo, foram combinadas com deiras ilhas ecológicas capazes de abrigar plantas lenhosas de cerra- os seis níveis, e depois com os 120 quadrats. A ordenação das do, as quais são, normalmente, bastante intolerantes à saturação espécies com os 120 quadrats mostrou a existência de um gradiente hídrica do solo. Na região do Distrito Federal, em especial, os de umidade. A divisão de espécies em dois segmentos pode estar murunduns localizam-se nas vertentes, onde o afloramento do len- vinculado ao gradiente de umidade, do úmido para o seco. O çol freático, vindo do interflúvio, ocasiona, durante a estação chu- primeiro eixo de ordenação pode estar relacionado ao gradiente de vosa, maior umidade do solo na superfície. Na área em estudo, os umidade. O valor do eigenvalue foi o maior para todas as combina- murunduns localizam-se próximos às vertentes e ao interflúvio, e a ções testadas, eixo1: 0,702 e eixo 2: 0,530. Quanto maior o sua gênese pode, provavelmente estar ligada à erosão diferencial. eigenvalue, maior o grau de agrupamento das espécies. No sentido de melhor contribuir para o enriquecimento de Na análise direta de gradiente, notou-se que as espécies que trabalhos em áreas de campo de murunduns, propomo-nos a estu- apresentaram valor de média um, estão concentradas ou adaptadas dar e compreender a complexa paisagem do cerrado, especifica- ao gradiente ambiental do nível 1. Na análise indireta, as espécies mente, campo de murunduns, analisando sua composição florística, foram ordenadas qualitativamente, confirmando de que as espécies solo, dinâmica, nível do lençol freático e fitofisionomia. A área adaptadas ao nível 1 ocorrem com maior freqüência nesse nível,

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 579 Cerrado Volume I assim como para o nível 6. na região de Uberlândia, MG, seguindo esta mesma linha de traba- 4. Conclusão lho, Porto e Cerqueira(1990), desenvolveram um trabalho com a A análise dos dados confirmou que entre os fatores abióticos, a variação sazonal de Coruja-buraqueira na Barra de Maricá-RJ, mos- profundidade do lençol freático foi o mais relevante na variação trando que a maioria das presas de S. cunicularia são noturnas, algu- florística e estrutural ao longo do gradiente. A análise direta de mas podem ser ativas em torno do amanhecer e do anoitecer sendo gradiente indicou que as espécies que apresentam valor de média 1 selecionadas pela coruja conforme estiverem mais disponíveis. estão concentradas no nível 1, e valor de média 6, no nível 6. Os estudos com coruja-buraqueira no Brasil, revelaram que Na análise indireta, as espécies foram ordenadas qualitativa- em número de presas, as corujas capturam uma proporção maior mente, confirmando o fato de que as espécies adaptadas ao nível 1 de roedores durante a estação seca(abril a setembro), enquanto os ocorrem com maior freqüência nesse nível, assim como para o nível insetos predominam na dieta durante a estação chuvosa(outubro a 6. A análise de ordenação indicou um gradiente de umidade: cer- março). Isso ocorre devido a abundância dessas presas no ambiente rado e campo úmido. cerrado(Motta-Júnior e Alho, 2000). 5. Bibliografia O presente estudo teve por objetivo determinar a predação de AB’SABER, A .N .Domínios Morfoclimáticos e Províncias S. cunicularia(Coruja-Buraqueira) sobre espécies de pequenos ver- fitogeográficas do Brasil. Resvista Orientação, São Paulo, (3): 45- tebrados no Campus da UNESP/ Rio Claro-SP. Foram analisados 48, 1967 não apenas pelotas regurgitadas pelas corujas, como também itens remanescentes encontrados próximos aos buracos e poleiros a fim GAUCH, H. G. J. Multivariate analysis in community ecology. de estimar as espécies de vertebrados consumidos, além de caracte- Vegetatio, v. 42. 1954. rizar a ecologia trófica deste predador. A dinâmica de corujas- LOPES, A . S. & COX, F. R. Cerrado vegetation in Brazil: na buraqueiras bem como a sua cadeia trófica, no câmpus, é desco- edaphic gradient. Agronomy Journal. 69: 828-831, 1977. nhecida, tornando a pesquisa de suma importância para o conheci- OLIVEIRA-FILHO, A.T. Foodplain “murunduns of central Brazil”: mento do efeito de manipulação antrópica sobre o habitat natural evidence for the termite - origin of hypothesis. Journal of Tropical desse animal, além de poder contribuir para a conservação e manu- Ecology, 8: 1-19, 1992a tenção dessa espécie no Campus da Universidade. OLIVEIRA-FILHO, A.T. The vegetation of Brazilian 2. Material e Métodos “murunduns”- the island - effect on the plant community. Journal As coletas foram conduzidas semanalmente de agosto de 2001 of Tropical Ecology, 8: 465-486, 1992b. a outubro de 2002 ao redor dos buracos e poleiros na área próxima às instalações do Centro de Estudos Ambientais(CEA), localizado no Câmpus Bela Vista da UNESP/Rio Claro, cuja vegetação pre- Análise da influência de parâmetros climáticos dominante é o Cerrado com campos antrópicos, que sofrem quei- sobre a predação de roedores e lagartos por Coruja- madas criminosas ocasionais. O clima da região pode ser consi- buraqueira(Speotyto cunicularia) num fragmento de derado tropical com duas estações definidas Cwa na classificação cerrado no Campus da UNESP/Rio Claro-SP. de Koeppen, ou seja, w: seca no inverno, a: mês mais quente com Sabrina Cristina Martins1, Marcelo Antonio Harada Penna2 & temperatura superior a 22oC(Monteiro, 1973). As temperaturas Nivar Gobbi2 médias anuais situam-se entre 18,1 e 20,9oC(Troppmair, 1992). 1Graduação Ecologia UNESP/Rio Claro([email protected]) Foram coletadas pelotas de um casal de S. cunicularia que 2CEA/UNESP e Depto Ecologia – UNESP/Rio Claro utilizava principalmente 2 buracos e 2 poleiros. No final do mês de outubro/2002 foi registrado o nascimento de três filhotes, motivo 1. Introdução pelo qual foram suspendidas as coletas. O cerrado, durante muito tempo foi colocado como baixa prio- Os dados de temperatura e precipitação médias foram obtidos ridade para conservação devido aos ramos tortos e a baixa altura das junto ao CEAPLA(Centro de Análise e Planejamento Ambiental) árvores. Nos anos oitenta, iniciou-se um esforço de pesquisa a fim de localizado dentro do Campus, o qual é responsável pelo mostrar a importância deste bioma, o qual ocupa uma área de monitoramento climático da região. 2.000.000 km2 onde se encontram vários endemismos. Das 180 Para coleta dos regurgitos intactos foi utilizada uma pinça de espécies de répteis presentes no Cerrado, 20 são endêmicas e das 113 ponta grossa, já os ítens remanescentes encontrados próximos aos espécies de anfíbios, 32 são endêmicas(Primack & Rodrigues, 2001). buracos, foram retirados com uma pinça de ponta fina. O material Dentre as espécies de aves de rapina encontradas no Cerrado, coletado foi acondicionado em envelopes plásticos, nos quais cons- encontra-se a Coruja–buraqueira(Speotyto cunicularia Molina, 1782) tavam: data de coleta, local de coleta, quantidade de pelotas e a qual ocupa geralmente campos limpos, utilizando normalmente número do buraco onde a pelota foi encontrada. As pelotas áreas com vegetação baixa ou rasteira(Jaksic e Marti, 1981), ocu- coletadas foram tratadas com uma solução desenvolvida no labora- pando o topo da cadeia alimentar em ambientes urbanos(Norell, tório de Ecologia de Mamíferos do CEA, constituída por 20ml de 1997). Infelizmente essas aves vêm sofrendo muito com a ação álcool 70%, 2 ml de água oxigenada 30v e 0,2ml de cloro, por 48 antrópica nos cerrados, pois, o ritmo intenso, veloz e desordenado horas e em seguida peneiradas sob água corrente e depositadas de ocupação tem pressionado os ecossistemas(Coutinho, 1978). sobre uma folha de papel absorvente para secagem, não foram As Corujas possuem uma dieta composta por insetos, anfíbios, utilizadas técnicas convencionais dada a degradação que promove- répteis, pequenos pássaros e mamíferos(Motta-Júnior e Talamoni, ram em fragmentos de ossos muito pequenos e pêlos. A separação 1996; Jaksic et al., 1997). A dieta das Corujas pode ser estudada das partes identificáveis foi realizada com auxílio de um Microscó- pela análise dos regurgitos, que são compostos por ossos, penas, pio Esteroscópio. A identificação das presas vertebradas foi realiza- élitros(quitina) e pêlos não digeridos, compactados e regurgitados da através da análise de mandíbulas e pêlos. em forma de pelotas(Motta-Júnior e Talamoni, 1996). Apesar de Dada a dificuldade da identificação de traços das presas ser uma espécie cosmopolita e extremamente importante do ponto invertebradas(até gênero), optou-se por analisar apenas o balanço de vista ecológico, faltam estudos a respeito do hábito alimentar de de roedores e répteis presentes nos regurgitos da Coruja em função Coruja-buraqueira no Brasil. Um dos poucos trabalhos realizados das condições climáticas no período de estudo. com S. cunicularia grallaria, foi o de Lourenço e Bastos(1979), 3. Resultados e Discussão porém estes não acompanharam sua dieta por todo o ano, Teixeira Foram coletadas 143 pelotas no período de agosto de 2001 a e Melo(2000), contribuíram com estudos da dieta de S. cunicularia outubro de 2002. Simultaneamente as mesmas foram tratadas e

580 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado triadas, a fim de se identificar as presas consumidas quantitativamente 4. Conclusão e qualitativamente. Infelizmente, devido ao tamanho das mandíbu- Apesar do pequeno tempo de estudo, quando comparadas as las do réptil, bem como seu estado de conservação, não foi possível quantidades de pelotas obtidas, com estudos similares, observa-se a identificação da espécie de lagarto predada, porém acredita-se que que proporcionalmente a amostragem deste trabalho foi superior e sejam de indivíduos jovens do gênero Ameiva. As mandíbulas do consistente o suficiente para que a análise estatística seja confiável, roedor, embora em estado precário de conservação, puderam ser mostrando que a precipitação tem um efeito bastante significativo identificadas através de pêlos como sendo da espécie Akodon montensis, sobre a quantidade de roedores predados. Embora os lagartos se- dominante no fragmento estudado. Os insetos presentes nos jam um recurso energético considerável, os parâmetros climáticos regurgitos foram identificados como pertencentes às Ordens: analisados apresentaram pouco efeito sobre sua abundância/ Coleoptera, Orthoptera e Isoptera(em maior quantidade). predação; e o fato de terem sido predados similarmente nas duas É importante salientar que, em dezembro de 2001, devido a estações sugere que sejam recursos “confiáveis” na área de estudo, uma construção próxima aos buracos, o casal de corujas observa- provavelmente servindo como ítem alimentar básico. dos deslocou-se para o prédio principal do CEA(Centro de Estu- 5. Referências Bibliográficas dos Ambientais), o qual encontra-se a aproximadamente 200 metros Coutinho, L.M.(1978). O conceito de cerrado. Revista Brasileira de distância dos buracos anteriormente ocupados, onde o casal de Botânica, 1: 17-24. abrigou-se em frestas no telhado do prédio. Após o estabelecimen- Jaksic, F.M.; Marti, C.D.(1981). Trophic ecology of Athene owls in to das corujas, foi possível coletar pelotas, porém no mês de de- Mediterranean-type ecossystems: a comparative analysis. Can. J. zembro de 2001 não foram encontrados regurgitos nas instalações. Zool., 59: 2331-2340. Com o final da obra, em janeiro de 2002, o casal voltou a ocupar os buracos antigos. Jaksic, F.M.; Silva, S.I.; Meserve, L.P.; Gutiérez, J.R.(1997). A Embora, para a região a estação seca esteja definida de abril a long-term study of vertebrate predator responses setembro e a estação chuvosa de outubro a março, não houve uma to na El Niño(ENSO) disturbance in western South America. correpondência com área estudada. De acordo com os dados Oikos 78: 341-354. climatológicos fornecidos pelo CEAPLA, constataram-se várias dis- Lourenço, W.R.; Bastos, E.K.(1979). Sur la prédation spécifique crepâncias entre as médias de precipitação esperadas e observadas. du scorpion Bothiurus araguayae par la chouette Speotyto Foram encontradas 38,5 mandíbulas de lagartos e 42 de roe- cunicularia grallaria. L´Oiseau et R.F.O., 49(3): 231-233. dores nas pelotas triadas, o que praticamente não representa dife- Motta-Júnior, J.C.; Alho, C. J. R.(1998). Corujas: o que elas co- rença, uma vez que as mandíbulas de lagarto(Ameiva) estavam em mem? Ciência Hoje, v. 23 n.136. um estado de conservação muito pior do que as dos roedores e Motta-Júnior, J.C.; Alho, C. J. R.(2000).Ecologia alimentar de podem ter ocorrido algumas perdas durante o tratamento do ma- Athene cunicularia e Tyto alba(Aves: Strigiformes) nas Estações Eco- terial. Uma análise preliminar dos dados indicou que a presença de lógica de Jataí e Experimental de Luiz Antônio, SP. Estação Ecoló- lagartos foi igual nas duas estações, no entanto houve o dobro de gica de Jataí, v. I, 346p. roedores(Akodon) na estação seca em relação à chuvosa, o que corrobora com outros estudos(Motta-Júnior e Talamoni, 1996; Motta-Júnior , J.C.; Talamoni, S.A.(1996). Biomassa de presas Motta-Júnior e Alho, 1998; Motta-Júnior e Alho, 2000). consumidas por Tyto alba(Strigiformes: Tytonidae) durante a esta- Foi realizada uma Análise de Correlação de Pearson entre os ção reprodutiva no Distrito Federal. Ararjuba 4:38-41. dados de temperatura, precipitação, roedores e lagartos, que indi- Monteiro, C.A.F.(1973). A dinâmica climática e as chuvas do Estado cou para lagartos correlações positivas da ordem de 0,155 e de São Paulo: estudo sob a forma de atlas. Instituto de Geografia/ 0,199(para temperatura e precipitação respectivamente), para ro- USP, São Paulo. edores correlações negativas da ordem de 0,035 e 0,498(para tem- Norell, M.A.(1997). Urban Vermin. Nat. His. 106: 8-10. peratura e precipitação respectivamente) e, entre roedores e lagar- tos uma correlação negativa da ordem de 0,058. A correlação nega- Primack, R. B.; Rodrigues, E.(2001). Biologia da Conservação. Lon- drina: Midiograf, 328p. tiva entre roedores e lagartos pode ter ocorrido devido à diferença na presença de ambos nas pelotas nas estações seca e chuvosa. Porto, F.S.; Cerqueira, R.(1990). Seasonal variaion in the diet of Embora a correlação negativa entre roedores e precipitação the burrowing owl Athene cunicularia in a restinga of Rio de Janei- seja compreensível dada a maior presença dos mesmos na estação ro State. Ciência e Cultura, v. 42 n. 12, p. 1182-1186. seca, ao analisar a curva de precipitação(entre os anos de 2001 e Teixeira, F.M.; Melo, C.(2000). Dieta de Speotyto cunicularia Molina, 2002) e os roedores predados(ago/2001-out/2002), havia uma se- 1782 (Strigiformes) na região de Uberlândia, Minas Gerais. Ararajuba, melhança entre os picos de precipitação e roedores com um atraso v. 8, n. 2, p. 127-131. de 9 meses. Para verificar essa hipótese, foi realizada uma análise de Troppmair, H.(1992). Atlas da Qualidade Ambiental e de Vida de correlação entre a precipitação(jan/2001-jan/2002) e a predação Rio Claro-SP. IGCE/UNESP- Rio Claro. de roedores(out/2001-out/2002), que resultou em uma correla- ção positiva de 0,694. Este “atraso” pode estar ligado a própria dinâmica de processos Diversidade e riqueza de pequenos mamíferos em do cerrado(queimadas, produção de sementes, germinação, infil- cinco áreas no parque nacional da Serra do Cipó, M.G. tração de água no solo, etc.) ou ser uma coincidência pontual, no Santiago, F.L.1; Perilli, M.L.L.1 ; Oliveira, L.C. 2; Câmara, 2 entanto, apesar de serem necessários maiores estudos, os dados E.M.V.C. obtidos sugerem fortemente que a abundância de roedores, e 1: Acadêmicas de Ciências Biológicas, Puc Minas – consequentemente sua predação, esteja ligada à precipitação ocor- [email protected] rida 9 meses antes, e não simplesmente devido à sua maior presen- 2: Museu de Ciências Naturais Puc Minas ça na estação seca. O tamanho das mandíbulas analisadas indicou uma seleção 1. Introdução por parte da coruja a presas de pequeno tamanho, isto deve-se ao O Cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil, co- fato de um melhor aproveitamento energético e a facilidade de brindo cerca de 20% do território nacional (Fonseca & Redford, captura e manuseio, concordando com Motta-Júnior e Alho(2000). 1984). Devido aos avançados processos de fragmentação, atual- mente restam 20% de sua paisagem original (Mittermeyer et al., 1999), sendo considerado uma área prioritária para conservação

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 581 Cerrado Volume I da biodiversidade ou hotspot (Myers et al., 2000). Somente 3% de Trichomys apereoides), quatro marsupiais (Didelphis albiventris, sua cobertura original estão protegidos por lei em parques ou re- Gracilinanus agilis, Marmosops incanus e Monodelphis domestica) e servas (Mittermeyer et al., 1999). um lagomorpha (Silvilagus brasiliensis). O sucesso total de captura Estudos sobre comunidades de pequenos mamíferos não-voa- foi de 4,9 %. dores do Cerrado, em grande parte se concentram, na região de Os roedores foram dominantes tanto em riqueza de espécies Brasília (Alho, 1981; Redford & Fonseca, 1986; Mares et al., 1986; (oito) quanto em abundância (71%), sendo O. subflavus a espécie Alho et al., 1986; Nitikman & Mares, 1987; Marinho-Filho & mais abundante, seguida de R. mastacalis. Houve variação da espé- Reis, 1989; Mares & Ernest, 1985; Bonvicino et al., 1987; Henriques cie dominante em cada área. R .mastacalis foi mais abundante nas et al., 1997; Vieira & Marinho-Filho, 1998). Em Minas Gerais, duas áreas de mata, enquanto no cerrado C1 foi T. apereoides e no existem poucos estudos de pequenos mamíferos neste bioma (Sazima cerrado C2 e no CR foi O. subflavus. & Sazima, 1975; Sazima et al., 1978; Valle et al., 1982; Dietz, As áreas MC1 e CR apresentaram maior riqueza de espécies 1983; Câmara et al., 2000; Câmara et al., 2002). (oito), seguidas da MC2 e C1 (sete) e de C2 (seis). O CR, além da A caracterização de uma comunidade é de grande importância, maior riqueza, apresentou maior índice de Margalef (2,00) seguido pois fornece dados sobre as atuais condições das espécies no local, de MC1 (1,50), C1 (1,47), MC2 (1,32) e C2 (1,15) respectiva- além de oferecer subsídios para futuras pesquisas e ações de conser- mente. As duas áreas de cerrado apresentaram o mesmo valor (o vação e manejo. Desta forma, este estudo visou caracterizar a co- maior valor) de equitabilidade (0,85), seguidas de MC2 (0,83), munidade de pequenos mamíferos não-voadores em cinco áreas no MC1 (0,80) e CR (0,64). Com relação ao índice de diversidade C1 Parque Nacional da Serra do Cipó (PARNA Cipó). foi a área com maior diversidade (1,71) enquanto MC1 apresentou 2. Metodologia o menor valor do índice (1,49). Área de Estudo 4. Discussão e Conclusão O PARNA Cipó está localizado no sul da Cadeia do Espinhaço A dominância de roedores corrobora a outros estudos realiza- (19°12’ e 19O34’ S; 43°27’ e 43°38’ W), possui área de 33.800 ha dos no Cerrado (Anciães et al., 1997; Redford & Fonseca, 1986; e altitude entre 800 a 1600m. O clima é tropical, quente semi- Hingst et al., 1997; Vieira & Marinho-Filho, 1998; Câmara et úmido com duas estações - seca e úmida - bem definidas. A tempe- al.,1999; Talamoni et al; 2001.). A riqueza de espécies também foi ratura média anual é 17 a 18,5°C e índice pluviométrico de 1450 a próxima aos resultados obtidos em outras Unidades de Conserva- 1850mm anuais (Melo-Junior et al., 2001). Possui vegetação típica ção em áreas de Cerrado no Estado de Minas Gerais (Schneider et de Cerrado e Campo de altitude, com regiões de mata ciliar e al, 2000; Câmara et al.,1999; Talamoni et al; 2001.) capões de mata na sua composição. A presença de diferentes espécies dominando diferentes áreas Cinco áreas no PARNA Cipó foram selecionadas para este pertencentes ao domínio do cerrado é comum, uma vez que este estudo (duas de mata ciliar MC1 e MC2, duas de Cerrado sensu bioma se caracteriza por uma grande heterogeneidade estrutural strictu C1 e C2 e uma de Campo Rupestre CR) localizadas na que é um fator que influencia a distribuição e abundância de pe- porção baixa do Parque. quenos mamíferos (Anciães et al., 1997). Entretanto, era esperado Amostragem de Pequenos Mamíferos encontrar maior riqueza nas regiões de mata, uma vez que estas Em cada área de mata colocou-se 40 armadilhas, dispostas em servem como refúgios ecológicos devido à manutenção da umidade dois transectos de 200 metros, com 10 pontos de captura em cada. no seu interior propiciando, assim, a presença de animais adapta- Os pontos estavam distanciados em 20 metros e em cada ponto dos aos locais úmidos e, eventualmente, de animais adaptados as utilizou-se uma armadilha no chão e outra em plataforma a mais condições secas (Redford & Fonseca, 1986). A riqueza do Campo ou menos 1,50m de altura, fixada no estrato arbóreo. A área de Rupestre pode estar relacionada à proximidade desta as outras Cerrado C1 foi amostrada como as matas ciliares enquanto o cer- áreas, permitindo a captura de espécies típicas de outros tipos rado C2, colocou-se apenas uma armadilha no chão a cada 10 vegetacionais que estejam, eventualmente, transitando nesta área. metros, à distância entre os transectos e o número de armadilhas O registro de uma espécie de ocorrência rara e típica de mata - foram os mesmos das outras áreas. O Campo Rupestre teve a sua Oryzomys russatus - em fevereiro de 2003 reforça esta idéia. amostragem semelhante a C2. A diversidade encontrada no C1 foi maior devido a sua As amostragens foram feitas mensalmente, durante quatro equitabilidade, uma vez que a diversidade é diretamente influenci- noites consecutivas, através do método de captura-marcação- ada pela equitabilidade (Magurran, 1988), e por não apresentar recaptura. As armadilhas utilizadas eram do tipo “live trap” de baixa riqueza. Da mesma forma, apesar da riqueza de espécies arame galvanizado, iscadas com uma mistura de banana, aveia, encontrada na MC1 ser a mesma da encontrada no campo rupestre canjiquinha, óleo de sardinha e pasta de amendoim. No ato da CR, esta apresentou menor equitabilidade o que explica a menor captura dos pequenos mamíferos foram coletados os seguintes da- diversidade encontrada nesta área em relação ao CR. dos: Espécie, ponto de captura, número de identificação, sexo, Os resultados mostram a diferença na composição da comuni- condição reprodutiva, peso e dados morfométricos. Após este pro- dade nos diversos tipos vegetacionais do Cerrado o que demonstra cedimento os animais foram soltos no mesmo ponto de captura. a importância de se estudar a comunidade de mamíferos em todos Análise de Dados os tipos vegetacionais deste bioma, para uma amostragem mais A identificação foi feita de acordo com Wilson & Reeder acurada da comunidade. Além disso, nossos dados reforçam a idéia (1993). As espécies com dúvida na identificação foram coletadas e que índices de diversidade usados sozinhos não dizem muito sobre comparadas a materiais depositados em coleções científicas e/ou a comunidade. A ocorrência de espécies raras, e ameaçadas, dentre através da técnica de cariotipagem. outros fatores, deveriam ser levados em consideração para uma Para a caracterização da comunidade, foram utilizados os índi- análise melhor e mais eficiente da comunidade. ces de riqueza de Margalef, diversidade de Shannon e equitabilidade 5. Referências Bibliográficas modificado de Hill (Magurran, 1988; Ludwig & Reynolds, 1988). Alho, C. J. R.(1981).Small mammal populations of Brazilian Cerra- 3. Resultados do: the dependence of abundance and diversity on habitat complexity. Entre os meses de agosto de 2001 a janeiro de 2003, com um Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Biologia, 4(1):223-230. esforço amostral de 13.372 armadilhas/noites foram capturados Alho, C. J. R.; Pereira, L. A.; Paula, A. C.(1986). Patterns of habitat 367 indivíduos de 13 espécies de pequenos mamíferos: oito roedo- utilization by small mammal populations in Cerrado biome of res (Bolomys lasiurus, Calomys tener, Cavia aperea, Nectomys squamipes, central Brazil. Mammalia, 50(4):447-458. Oryzomys subflavus, Oligoryzomys eliurus, Rhipidomys mastacalis e

582 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Anciães, M.; Guimarães, M.M.; Guimarães, A.; Reis, M.L.; Mari- M.(1982).Observações sobre a dinâmica de populações de Z. nho-Filho, J.(1997).Diversidade e Parâmetros Populacionais em lasiurus (Lund, 1841), C. expulsus (Lund, 1841), e O. subflavus Comunidades de Pequenos Mamíferos do Brasil Central. In: III (Wagner, 1842) em vegetação de cerrado no Vale do Rio das Ve- Congresso de Ecologia do Brasil. lhas (Prudente de Morais, MG). Lundiana, 2(1):71-83. Bonvicino C. R.; Freitas, S. R.; D’andrea, P. S.(1997).Influence of Vieira E. M. & Marinho-Filho, J.(1998)Pré and Pos fire habitat Bordering vegetation, width, and state of conservation of Gallery utilization by rodents of Cerrado from central Brazil. Biotropica, forest on the presence of small mammals.In:III Congresso de Eco- 30(3):491-496. logia do Brasil. Wilson, D.E. & Reeder, D.M.(1993)..Mammals species of the World. Câmara, E.M.V.C.; Guimarães Filho, P. E.; Talamoni, S. The John Hopkins University Press, Baltimore and London, 2 A..(1999).Mamíferos das áreas de Proteção Especial de Manaciais ed.1207p. da Mutuca, Barreiro e Fechos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Bios, 7(7):57-64. Dinâmica de treze anos de uma comunidade arbórea Câmara, E.M.V.C.; Oliveira, L.C.; Oliveira P.A.; Perini, H.A.; de mata de galeria na estação ecológica do panga Manata, F.P.; Oliveira, V.B.(2001). Comunidade de Mamíferos (Uberlândia - MG). Não-Voadores do Parque Nacional da Serra do Cipó,MG, Brasil. Sérgio de Faria Lopes a & Ivan Schiavini b In: II Congresso de Unidades de Conservação. Fortaleza. a Mestrando do Curso de Pós Graduação em Ecologia e Conservação Dietz, J.(1983). Notes on the natural history of some small mammals de Recursos Naturais ([email protected]) b Instituto de in central Brazil. Journal of Mammalogy, 64(3):521-523. Biologia Henriques, R. P. B.; Bizerril, M. X. A; Kohlsdorf, T.(1997).Abundância, Riqueza e Seleção de habitat de pequenos 1.Introdução mamíferos dos cerrados do Brasil Central.In: III Congresso de Matas de galeria são caracterizadas por margear rios e cursos Ecologia do Brasil. d’água, e diferenciar-se das demais por serem uma vegetação arbórea, cujo dossel de ambas as margens se encontram, cobrindo a linha de Hingst ,E.; Moraes, D, A.; Rocha, F.S.; Araripe, L. O.; Weksler, drenagem e formando assim uma galeria (Ribeiro & Walter 2001). M.; Cerqueira, R.(1997). Diversidade em uma comunidade de Essa formação destaca-se pela sua riqueza, diversidade genéti- pequenos mamíferos de uma região de contato caatinga-cerrado. ca (mantendo o fluxo gênico entre populações animais e vegetais), In:IIICongresso de Ecologia do Brasil. e pelo seu papel na proteção dos recursos hídricos, edáficos, fauna Ludwig & Reynolds. (1988). Statistical ecology: a primer on methods silvestre e aquática, além de participar diretamente da ciclagem da and computing. John Wiley and Sons, New York água continental (Ribeiro & Walter 1998). Mares M.A. & Ernest, K. A.(1985).Population and Community Nesta perspectiva, as matas de galeria vêm sendo alvo de pre- ecology of small mammals in a gallery forest of Central Brazil. ocupação constante pelos pesquisadores e a comunidade envolvi- Journal of Mammalogy, da. Do estudo dos processos que estão ocorrendo nestas áreas, Mares, M. A.; Ernest, K. A.; Gettinger, D, D.(1986).Small Mammals depende o conhecimento que nos permitirá contribuir para sua Commmunity Structure and Composition in The Cerrado Province manutenção, recuperação e um possível manejo sem agressão à of Central Brasil. Journal of Tropical Ecology 2:301-325. biodiversidade. O estudo de dinâmica (Rankin-de-Merona 1990, Felfili 1995, Magurran, A.E.(1988). Ecological diversity and its measurement. Cabral 1999, Aquino et al 1999 E Harcombe et al 2002) refere-se Princeton Univ. Press, Princeton. ao produto da interação dos diferentes fatores bióticos e abióticos, Marinho Filho, J. S.; Reis, M. L.(1989).A Fauna de Mamíferos expresso por flutuações nos valores de mortalidade, recrutamento associados às matas de galeria. In L. M. Barbosa (Ed.). Simpósio e crescimento dos elementos amostrados em comunidades ou po- Sobre Mata Ciliar. Anais da Fund. Cargill. pulações arbóreas; ou seja, é um estudo que busca compreender o Mittermeier, R.A.; Myers, N.; Mittermeier, C.G.; Gil, P.R.(1999). processo evolutivo de uma comunidade ou população, num deter- Hotspots, Earth‘s Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial minado intervalo de tempo (Appolinário 1999). Ecoregions. Cemex. Entre 1989 e 2002 realizou-se um estudo de dinâmica com o Myers, N.; Mittermeier R. A.; Mittermeier C.G; Fonseca, G.A.B.; objetivo de analisar os processos de mortalidade, recrutamento e Kent, J. (2000). Biodiversity hotspots for conservation priorities. crescimento do estrato arbóreo, no intervalo de treze anos. Nature, 403: 853-858. 2. Material e Métodos O estudo foi desenvolvido em uma área, de mata de galeria do Melo-Júnior, T. A.; Vasconcelos, M. F.; Fernandes, G. W.; Marini, M.(2001). Ribeirão Panga, no trecho localizado na Estação Ecológica do Birds species distribution and conservation in Serra do Cipó, Minas Panga, no Município de Uberlândia, MG. A vegetação dominante Gerais, Brasil. Birds Conservation International, 11:189-204. na região é o cerrado, sendo a mata de galeria encontrada no fundo Nitikman, L. Z. & Mares, M. A. (1987). . Ecology of Small Mammals dos vales, formando uma paisagem distinta. in a Gallery Forest of Central Brazil. Annals of Carnegie Museum, Foram realizados dois levantamentos na faixa ciliar da Estação 56:75-95. Ecológica do Panga. O primeiro deles em 1989 e o segundo reali- Redford, K.; Fonseca, G. A. B.(1986). The role of gallery forests in zado em 2002. Para a área amostrada de aproximadamente 0,7 ha, the zoogeography of the Cerrado’s non-volant mammalian fauna. foram alocadas 30 parcelas de 10x10m, distribuídas eqüitativa- Biotropica, 18:126-135. mente, segundo as variações ambientais presente na área (Dique, Meio e Borda da Mata). Para os dois levantamentos foram registradas Sazima, M. & Sazima, I.(1975) Quiropterofilia em Lafoensia pacari as medidas de circunferência na altura do peito (CAP), de todos os St. Hill. (Lythraceae), na Serra do Cipó, Minas Gerais. Ciência e indivíduos vivos com CAP ³ 15cm. Cultura, 27:405-416. Para os dois estudos, foi realizado uma classificação das espéci- Sazima, I; L. D. Vizotto; & V. A.Taddei.(1978)Uma nova espécie es por agrupamento, com o objetivo de facilitar a visualização da de Lonchophylla da Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil ( distribuição nos ambientes. Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae). Revista Brasileira de Bio- 3. Resultados logia,38:81-89. O levantamento realizado em 1989 registrou-se um total de Valle, C. M.; Alves, M. C.; Santos, I. B. & Varejão, J. B.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 583 Cerrado Volume I

47 espécies e 501 indivíduos (Schiavini 1992). O segundo levanta- estudo de 2002, ao grupo com ampla distribuição por toda a mata mento, realizado em 2002, obteve 50 espécies, incluindo 10 novas, de galeria, ou seja, ocorrem nos três ambientes descritos por e 444 indivíduos demonstrando que a área apresenta taxas médias SCHIAVINI (1992). anuais de 1,81%, 2,63% e 0,39% ano – 1 para mortalidade, recru- 4. Conclusões tamento e incremento basal, respectivamente, determinando a A queda acentuada nos valores de densidade entre árvores mais meia-vida de 26,7 anos, rotação de 32,67 anos e instabilidade em jovens (4,8-9cm de diâmetro) e o aumento da área basal, principal- número de indivíduos e área basal. A perda em área basal (2,596m2) mente entre os maiores indivíduos, indicam um processo de auto- foi superior ao crescimento dos sobreviventes (2,381m2) e ao acrés- desbaste e acúmulo de biomassa viva (crescimento lateral do tron- cimo promovido pelo recrutamento (0,566m2). O Índice de co e copa). Contudo, foi possível observar que a área está sofrendo Shannon, em 1989 foi de 2,955 e em 2002 de 2,923. um processo de instabilidade; apesar da alta taxa de mortalidade, Dinâmica das espécies arbóreas grupos de espécies diferentes estão assumindo as mesmas funções Os dois levantamentos somaram 57 espécies, entre estas, sete ecológicas ao longo do tempo, demonstrando que a área de estudo não apresentaram sobreviventes e não recrutaram, representando ainda se encontra em estágio de reconstrução, ou em modificação uma perda de 14,9% do total de espécies. Das 50 espécies restan- na estrutura, causada por alterações ambientais. tes 19 recrutaram (40,4%). 5. Referências Bibliográficas Miconia thaezans, dentro das espécies que desapareceram, foi a APPOLINÁRIO, V R.C. (1999). Dinâmica de Fragmento de Mata que representou a maior perda de indivíduos (63), uma perda de Ciliar no Sul de Minas Gerais – Brasil. Lavras: UFLA. Dissertação – 12,6% do total dos indivíduos de 1989 (501). Em números de Mestrado em Engenharia Florestal. árvores mortas, Tapirira guianensis, Calophyllum brasiliense e Croton urucurana apresentaram os maiores valores (24,13 e 12); entretan- AQUINO, F. G; OLIVEIRA, M. C; SCHIAVINI, I. & RIBEIRO, to, apenas Croton urucurana obteve também o maior valor em J. F. (1999). Dinâmica de populações de Anadenanthera macrocarpa mortalidade (4,01%), reduzindo sua população pela metade. Al- e Acacia glomerosa em Mata Seca Semidecídua na Estação Ecológi- gumas espécies, além de altas taxas de mortalidade, como ca do Panga (Uberlândia-MG). Boletim de Herbário Ezechias Paulo Endlicheria paniculata e Nectandra cissiflora (3,42% ano –1 e 2,37% Heringer 4: 90-102. ano –1), não apresentaram recrutas ao final de 13 anos de intervalo. CABRAL, V. R. C. (1999). Dinâmica de um fragmento de Mata Em valores absolutos, Ocotea velloziana e Dendropanax cuneatum Ciliar do Rio Grande em Bom Sucesso – Minas Gerais. Lavras: UFLA, apresentaram as maiores taxas de mortalidade, dentro das espécies Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal): 74p. que permaneceram na comunidade; sendo que Ocotea velloziana FELFILI, J. M. (1995). Growth, recruitment and mortality in the com 83% dos seus indivíduos mortos, não apresentou recrutas; Gama gallery forest in central Brazil over a six-year period (1985- enquanto Dendropanax cuneatum apesar da alta taxa de mortalida- 1991). Journal of tropical Ecology 11: 67-83. de (62,5%), obteve 100% de recrutamento. No entanto, Protium HARCOMBE, P.A., BILL, C. J., FULTON, M., hepatphyllum e Faramea cyanea, apresentaram baixos valores de GLITZENSTEIN, J. S., MARKS, P. L. & ELSIK, I. S. (2002). mortalidade e as mais altas taxas de recrutamento (respectivamen- Stand dynamics over 18 years in a southern mixed hardwood Forest, te, 80,95% e 113,33 %). Texas, USA. Jounal of Ecology. 90: 947-57. Em área basal, a maior perda foi a da espécie Tapirira guianensis (0,909 m2), seguida por Miconia thaezans (0,388 m2), Calophyllum RANKIN-DE-MERONA, J. M.; HUTCHINGS, H. & brasiliense (0,292 m2) e Tabebuia umbellata (0,223 m2). Em decor- LOVEJOY, T. E. (1990). Tree mortality and recruitment over a rência do maior valor em recrutamento (0,238 m2), Tapirira guianensis five-year period in undisturbed upland rainforest of the central obteve o segundo maior acréscimo em área basal (0,452 m2), en- amazon. In: GENTRY, A. H. (ed). Four neotropical rainforests. Yale quanto que Calophyllum brasiliense obteve o maior acréscimo (0,718 University Prees, New Haven, p. 573-84. m2), devido principalmente ao ganho em área basal como conseqü- RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. (1998). Fitofisionomias do ência do crescimento dos sobreviventes. Copaifera langsdorffii não bioma do Cerrado. In: SANO, S. M. & ALMEIDA, S.P. ed. Cerra- apresentou nenhum indivíduo recruta, porém obteve alto acréscimo do: ambiente e flora. EMBRAPA, Planaltina. 2 em área basal dos sobreviventes (0,182 m ). Espécies como Talauma RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. (2001). As matas de galeria no ovata, Croton urucurana e Protium heptaphyllum, apresentaram altos contexto do bioma Cerrado. In: RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C. E. L. 2 2 valores de ganho em área basal (respectivamente 0,290 m ; 0,160 m & SOUSA-SILVA, J.C. ed. Cerrado: caracterização e recuperação 2 e 0,178 m ); contudo, baixos acréscimos em recrutamento. de matas de galerias. EMBRAPA, Planaltina. Grupos de espécies SCHIAVINI, I. (1992). Estrutura das comunidades arbóreas de mata Para o estudo de 2002, das 50 espécies listadas, 17 podem ser consideradas predominantes em determinadas faixas da mata de de galeria da Estação Ecológica do Panga (Uberlândia, MG). Tese de galeria. No dique, das sete espécies consideradas representativas Doutorado: UNICAMP, Campinas. 130 p. em 1989, permaneceram cinco no levantamento de 2002, Vochysia tucanorum e Protium heptaphyllum não fazem mais parte deste gru- Herbivory by free-feeding and galling insects on po, porém houve a inclusão de três espécies: Matayba elaegnoides e Qualea parviflora (Vochysiaceae), a common tree in Alibertia sessilis e Dendropanax cuneatum. Com um menor número Cerrado: effects of genetic variability, phenotype, de indivíduos (cinco) Guarea macrophylla permaneceu com ocor- and habitat of host plant. rência exclusiva na faixa do Meio da mata. Miconia thaezans que era Silmary J. Gonçalves-Alvim a, Rosane G. Collevatti b & G. Wilson uma espécie exclusiva da Borda da mata, não foi amostrada no Fernandes a estudo de 2002; entretanto, Nectandra cissiflora, que era considera- a Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected]), da exclusiva para o Dique e a Borda, após a morte de um indivíduo b Universidade Católica de Brasília. no dique, teve sua inclusão no grupo de espécies predominante na Borda da mata. 1. Introduction No Dique e no Meio, apenas Tabebuia umbellata permaneceu “Cerrado” is the second most important biome in Brazil exclusiva. Calophyllum brasiliense, pertencente a este grupo de es- covering about 20% of its territory (Felfili and Silva Jr. 1993). pécies (em 1989), e Protium heptaphyllum, pertencente ao grupo Three floristic formation types (physiognomies) were commonly de espécies predominante no dique (em 1989), fazem parte no found: “campo sujo”, a savanna like vegetation, with scattered

584 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado trees and shrubs and canopy cover of less than 2%; “cerrado sensu were performed to verify the relationship between richness and attack stricto”, a savanna like vegetation with a higher density of trees and of free-life herbivores and of galling insects and the new axis obtained shrubs (canopy cover of about 20%); “cerradão”, a xeromorphic from PCA (see Marquis et al. 2001). forest vegetation with a fairly continuous tree, and canopy cover 3. Results and Discussion which ranges from 15 to 85% (Eiten 1972). We observed 69 RAPD markers, from which 41 were Qualea parviflora Mart. (Vochysiaceae) is a deciduous Cerrado polymorphic and were used for the analyses on the genetic variability tree species that accumulates aluminum (leaf Al concentration of Q. parviflora. The similarity among plants from different above 10.000 mg/kg; Haridasan 1982). Its hermaphrodite flowers populations is high. Six clusters were indentified: I - with plants are white, and lilac. In Brazilian Cerrado, Q. parviflora is commonly from the three physiognomies; II and III - with plants from “cerra- observed in three physiognomies of vegetation: “campo sujo”, “cer- do sensu stricto” and “cerradão”; IV - with a plant from “cerradão” rado sensu stricto”, and “cerradão”. other from the “campo sujo”; and V and VI - with plants from the This study aims to investigate within and among population “campo sujo”. The highest similarity occurred between plants of variation in the richness and attack of free-feeding and galling “cerrado sensu stricto” and “campo sujo” (Jaccard = 0.925), while insects on Q. parviflora. Besides that, the following questions were the smallest was among plants in cerradão and “cerrado sensu stricto” answered: i) How is the genetic variability based on RAPD markers (Jaccard = 0.829). There were no significant differences in genetic of Q. parviflora distributed within and among populations in three variability among plants in the three physiognomies, while 97.65% Cerrado physiognomies? ii) How genetic variability, phenotype of genetic variability is found within of Q. parviflora plants in a and habitat of the host plant are related? iii) Which factors do same physiognomy (AMOVA, P < 0.05). better explain variations in the attack and richness of herbivorous There were no significant relationships between genetic similarity insects on host plants? and the chemical and physical characteristics of plants (Mantel test; 2. Methods r = -0.026; P = 0.395), nor with the habitat traits of Q. parviflora (r The study was carried out at the Ecological Station of = 0.019; P = 0.356). Also, we did not find any significant correlation Pirapitinga (ESP), a 1,000 ha of Cerrado Biome in Southeast Brazil between phenotype traits and habitat characteristics (r = 0.012; p = (18º20’S to 18º23' S and 45º17’W to 45º20 ‘ W). The floristic 0.594). Nevertheless, a significant correlation obtained between physiognomies of “campo sujo”, “cerrado” sensu stricto, and axis 1 from phenotype PCA and axis 2 from habitat PCA (r = 0.70; p “cerradão” can be found on the reserve. In each physiognomy, one < 0.0001) may indicated that some plant traits, such as sclerophylly, population of Q. parviflora (n=10 trees) was randomly selected for C/N ratio, N, P, K and Na contends in leaves, may be related with the study. The plant distribution was continuous and plant density habitat characteristics for Q. parviflora trees. The other axis from varied in each physiognomy. The lowest plant density occurred in phenotype, genotype and habitat PCA did not show any significant “cerradão” (“campo sujo”= 0.34 trees/cm2; “cerrado sensu stricto” = relationship with each other (in all P > 0.05). 0.39 trees/cm2; and “cerradão” = 0.12 trees/cm2). Variation in herbivore richness and attack by insects on leaves For genetic variability analysis, young leaves from each of the and shoots of Q. parviflora could be partially explained by some of ten plants were collected in each population. Leaves were washed the axes obtained by PCA based on genetic variability, phenotype in distilled water and stored in - 70ºC freezer. DNA was extracted and habitat characteristics. Herbivore richness was better explained from 100 to 150 mg of leaf tissues using the standard method of by habitat characteristics (partial r2 with HabAxis 2 = 0.24; P = Doyle & Doyle (1987). Initially, 24 primers of Operon Tecnologies 0.006), such as concentration of silicium, nitrogen and water on Inc. (USA) were screened for polymorphism and amplification soil. In addition, variation in percentage of damaged leaves (free- quality using eight randomly chosen individuals from the three feeding herbivore attack) was better explained by genetic variability populations. RAPD amplifications were performed by the method (PCA axis 2 and 4) and habitat (PCA axis 2). At the other hand, of Ferreira & Gratapglia (1998). phenotype characteristics were the most important factor affecting Richness of free-life herbivore insects, damage on leaves by both variation in percentage of leaves with galls (partial r2 with herbivores and galling insects, sclerophylly, nutritional (nutrients PhenAxis 1 = 0.14; P = 0.04), and number of galls per leaf (partial and secondary compounds), and water status of Q. parviflora were r2 partial with PhenAxis 2 = 0.18; P = 0.019). investigated in four samples in rainy (January and April) and dry The increase of Si and N and decrease of K and water in soil (July and November) seasons in 2000. A sample of soil up to 20 cm have a positive relationship with the percentage of damaged leaves, in depth, under each individual tree was also obtained for each leaf area lost and richness of insect species on Q. parviflora. population. N-ammonium, N-nitrate, P, Ca, K, Mg, organic matter, Additionally, the increasing of concentrations of tannins, S, C/N Si, Na, Fe, Cu, Zn, Mn, Al, H + Al, total and effective capacities of ratio and sclerophylly increased the percentage of leaf area lost by cation exchanges, m%, pH and soil humidity were determined. herbivore attack. Contrarily to some authors (e.g., Coley 1983, UPGMA cluster analysis was performed based on the similarity Salatino 1993; Turner 1994; Ribeiro et al. 1998), sclerophylly may matrix using the software NTSYs version 2.02k to verify how genetic not play an import role against herbivores, indicating that the variability of Q. parviflora is distributed within and among population. insects could be adapted to sclerophyllous traits of Q. parviflora. Additionally, an Analysis of Molecular Variance (AMOVA; Excoffier These results also differ from those obtained by Marquis et al. et al. 1992) was performed using the Arlequin software v. 2.000. (2001) in that the concentration of secondary compounds and Mantel test (Mantel 1967) was performed using NTSYs v. 2.02k to their capacity of linking with proteins were correlated negatively verify the relationship of genetic variability, phenotype and habitat with the leaf damage caused by herbivore insects and pathogens in characteristics. Similarity matrices were obtained using Jaccard 25 plant species in Cerrado. coefficient for qualitative data and Bray-Curtis similarity coefficient A decrease in the sclerophylly, concentration of tannins and C/ for quantitative data (Sneath & Sokal 1973). N ratio, besides the increasing in the concentration of leaf nutrients Principal Component Analysis (PCA) was performed using raw like N, P, K, Ca and Na influenced positively the galling insect data to verify the relationship among genetic variability, phenotype attack. In addition, galling insects were more abundant in plants on and habitat traits of Q. parviflora, using Systat v. 8.0. Multiple linear soils with higher nutritional status and with less sclerophyllous leaves, correlation and stepwise multiple linear regression were used to not corroborating the soil fertility hypothesis (Fernandes & Price verify which factors explain significantly the variation in the attack of 1988, Blanche & Westoby 1995) that predicts higher abundance of free-living herbivores and in the attack of galling insects on the host- galling insect on environments with poor-nutrient soils. plant (Zar 1996). Afterwards, simple and multiple linear regressions

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 585 Cerrado Volume I

4. Conclusions Zar, J.H. 1996. Biostatistical analysis. Prentice Hall, Englewood, Although PCA analysis based on phenotype and habitat Cliffs, New Jersey. characteristics could separate most of individuals from the three Acknowledgments. This research was supported by the Socieda- physiognomies, there were no significant relationships among de Brasileira de Cultura Japonesa/Fundo Bunka de Pesquisa-Ban- genetic similarity, phenotype and habitat characteristics. In fact, co Sumitomo, WWF-USAID (CSR 174-00), CNPq, U.S. Fish genetic similarity among individuals from the three physiognomies and Wildlife Service. indicated that gene flow among physiognomies is high and probably they belong to the same population. Variation in habitat quality Produção de serapilheira em duas fitofisionomias do among physiognomies may not be sufficient to cause genetic divergence due to differential selective pressure since there is no Cerrado na Reserva Biológica Municipal “Mário gene flow barrier among physiognomies. Viana”, Nova Xavantina - MT b The indirect effects of nutrient level in soil could exert more SILVA, Carlos José daª & LIMA, Jane Dilvana influence on herbivorous insect behavior than the direct effect of ªGraduação - Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato b defensive compounds (i.e. tannins) in Q. parviflora. However, free- Grosso - UNEMAT ([email protected]); Docente - Universi- feeding herbivores may avoid the negative effect of tannins in their dade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. feeding and could increase the consumption rate of leaves to satisfy its nutritional requirements through their shift from one host plant 1. Introdução to another. In addition, galling insects are affected by host plant A produtividade de um ecossistema depende da quantidade de quality with less sclerophyllous, richer nutrients and poor-tannin nutrientes armazenados em seus vários compartimentos, tais como leaves of Q. parviflora showing higher galling attack. a vegetação, a serapilheira, o solo e a biomassa animal, dependendo 5. References também de sua taxa de transferência (Wetzel, 1997). Os Blanche, K.R.; Westoby, M. (1995). Gall-forming insect diversity is ecossistemas de florestas tropicais, via de regra, apresentam produ- linked to soil fertility via host plant taxon. Ecology 76: 2334 - 2337. ção contínua de serapilheira no decorrer do ano, sendo que a quantidade produzida nas diferentes épocas depende do tipo de Coley, P.D. (1983). Intraspecific variation in herbivory on two vegetação considerada (Leitão-Filho et al., 1993). tropical tree species. Ecology 64: 426-433. A análise da produção de serapilheira contribui para a compre- Doyle, J.J.; Doyle, J.L. (1987). Isolation of plant DNA from fresh ensão da ciclagem de nutrientes em ecossistemas naturais, entre- tissue. Focus 12:13-15. tanto, poucos estudos têm sido realizados em áreas de Cerrado Eiten, G. (1972). The cerrado vegetation of Brazil. Botany Review (Mittermeier et al., 1999; Peres et al., 1983). Desta forma, torna-se 38: 201 -341. importante o conhecimento sobre taxas de produção e acumula- Excoffier, L.; Smouse, P.E.; Quattro, J.M. (1992). Analysis of ção de serapilheira deste ecossistema para uma avaliação mais pre- molecular variance inferred from metric distances among DNA cisa sobre sua estrutura e funcionamento. Objetivou-se com este haplotypes: application to human mitochondrial DNA restriction estudo analisar a produção de serapilheira em duas fitofisionomias data. Genetics 131: 479-491. do cerrado (Cerradão e Cerrado sensu stricto) na Reserva Biológica Municipal “Mario Viana” no Município de Nova Xavantina - MT. Felfili J.M.; Silva Jr., M.C. (1993). A comparative study of cerrado 2. Material e Métodos (sensu stricto) vegetation in Central Brazil. Journal of Tropical Ecology Para a determinação da quantidade de serapilheira produzida 9:277-289. nas diferentes fitofisionomias, cerradão e cerrado sensu stricto, fo- Fernandes, G. W.; Price, P. (1991). Comparisons of tropical and ram utilizados 20 (vinte) coletores de tela em nylon de 2mm em temperate galling species richness: the roles of environmental forma cônica, costurado ao redor de um aro de metal, com área de harshness and plant nutrient status, pp. 91–115. In: Price, P.W.; 1,017 cm, sendo dez coletores em cada fitofisionomia. A coleta da Lewinsohn, T.M.; Fernandes, G.W.; Benson, W.W. (eds.). Plant- serapilheira, interceptada pelos coletores, foi realizada mensalmente animal interactions: evolutionary ecology in tropical and temperate regions. no dia 27 de cada mês, durante o período de um ano (entre abril de John Wiley and Sons, New York. 2002 e março de 2003). Após a coleta, a serapilheira foi acondici- Ferreira, M.E.; Gratapaglia, D. (1998). Introdução ao uso de onada em sacos de papel etiquetados e levada para laboratório marcadores moleculares em análise genética. Empresa Brasileira de onde foi separada em quatro frações: folhas, galhos, flores e frutos, Pesquisa Agropecuária, Brasília. e Posteriormente secada em estufa à 80 ºC até atingir peso cons- tante. Utilizou-se balança analítica para a pesagem das frações de Haridasan, M. (1982). Aluminum accumulation by some cerrado serapilheira. Para melhor compreensão dos resultados, foram native species of central Brazil. Plant and Soil 65: 265-273. coletados mensalmente dados de temperatura do ar e precipitação. Mantel, N.A. (1967). The detection of disease clustering and Para verificar a relação entre a produção de serapilheira e dados generalized regression approach. Cancer Research 27: 209-220. climatológicos utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson Marquis, R.J.; Diniz, I.R.; Morais, H.C. (2001). Patterns and (nível significância P= 0.05%). correlates of interspecific variation in foliar insect herbivory and 3. Resultados e Discussão pathogen attack in Brazilian cerrado. Journal of Tropical Ecology Durante o ciclo anual estudado, a média da serapilheira total 17: 127-148. produzida foi estimada em 26,15 ± 29,89 g/m² no Cerrado sensu Ribeiro, S.P.; Carneiro, M.A.A.; Fernandes, G.W. (1998). Free- stricto, sendo a fração folha predominante representando 76% do feeding herbivores along environmental gradients in Serra do Cipó: total da serapilheira, a fração fruto cerca de 11%, a fração galho basis for a management plan. Journal of Insect Conservation 2: 1-12. 10% e a fração flor 3% do total da serapilheira. O Cerradão produ- ziu em média 55,80 ± 45,68 g/m² sendo que deste total cerca de Salatino, A. (1993). Chemical ecology and the theory of 72% foi representado pela fração folha, 18% fração galho, 8% oligotrophic scleromorphism. Anais da Academia Brasileira de Ciên- fração flor e 2% fração fruto. Os maiores valores de produção de cias 65: 1-13. serapilheira, fração foliar, nas áreas amostradas, foram alcançados Sneath, P.H.; Sokal, R.R. (1973). Numerical Taxonomy. Freeman, no período de seca, com picos de produção nos meses de julho e New York. agosto. Durante o ano de coleta observou-se que o cerrado s.s. Turner, I.M. (1994). Sclerophylly: primary protective? Functional contribuiu mais para a biomassa em relação à fração frutos. No Ecology 8: 669-675.

586 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado entanto, a fração flores alcançou sua maior produção na área de Biotropica, Kansas, v.21, n.33, p.223-233. cerradão no início do período de chuva. A fração galhos mostrou- CARPANEZZI, A. A. 1980. Deposição de material orgânico e se variada ao longo do ano para área de cerradão, com picos de nutrientes em uma floresta natural e em uma plantação de produção nos meses de abril e maio, enquanto que na área de Eucaliptus no interior do estado de São Paulo. Dissertação de cerrado s.s. a maior produção concentrou-se no período da seca. A mestrado, Universidade de São Paulo, Piracicaba, p.68-69. fração folhas demonstrou menor contribuição para biomassa no CÉSAR, O. 1993. Produção de serapilheira na mata mesófila cerrado s.s. do que na área de cerradão. semidecídua da Fazenda Barreiro Rico, município de Anhembi, SP. Na região estudada ocorrem dois períodos climáticos distintos In: Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, 53:671-681. – um período de maior precipitação e temperaturas mais elevadas, onde a vegetação apresenta-se mais verde (de outubro a março), e DANTAS, M.; PHILLIPSSON, J. 1989. Litterfall and litter nutrient um período mais seco e de menores temperaturas (de abril a setem- content in primary and secundary Amazonian “Terra firme” rain bro). No geral, as maiores médias de produção de serapilheira forest. In: Journal of Tropical Ecology, Aberdeen, 5:27-36. foram obtidas no período de seca nas duas fitofisionomias estuda- FELFILI, J. M.; SILVA JUNIOR, M. C. da. 2001. Biogeografia do das. A análise de correlação entre precipitação e produção de Bioma Cerrado. Brasilia: UNB, 152 p. serapilheira mostrou-se significativa (Cerrado s.s. R²= 0,620 e P= LEITÃO-FILHO, H. F.; PAGANO, S. N.; CESAR, O.; TIMONI, 0,002 e Cerradão R²= 0,614 e P= 0,002). J. L.; RUEDA, J. J. 1993. Ecologia de mata atlântica em Cubatão, O percentual de contribuição da fração foliar na serapilheira SP. EDUNESP/EDUNICAMP, São Paulo. 42p. para ambas fitofisionomias do cerrado estudado está dentro do MARTINS, S. V.; RODRIGUES, R. R. 1999. Produção de valor (70%) sugerido por Meentmeyer, et al. (1982). Em florestas Serapilheira em clareiras de uma floresta estacional semidecidual semidecíduas do Estado de São Paulo foram encontrados no Município de Campinas, SP. In: Revista Brasileira de Botânica. percentuais entre 62,03% (Pagano, 1989), 71,58% (Oliveira, 1997) São Paulo: RBB, v. 22, n. 3. p. 405-412. e 75,87% (Martins & Rodrigues, 1999). A maior produção na área de cerradão deve-se, possivelmente, MEENTMEYER, V., BOX, E. O.; THOMPSON, R. 1982. World a vegetação do cerradão ser caducifolia em determinados períodos patterns and amounts of terrestrial plant litter production. In: da estação seca e por encontrar algumas espécies florísticas típicas BioScience 32: 125-128. das florestas semidecíduas (Felfili, 2001). MITTERMEIER, R. A.; MYERS, N.; GIL, P. R.; A maior deposição da fração foliar no final da estação seca MITTERMEIER, C. G. 1999. Hotspots: earth’s biologically richest pode ser uma resposta da vegetação ao estresse hídrico, já que a and most endangired terrestrial ecoregions. Cidade do México: derrubada de folhas reduziria a perda de água por transpiração. Cemex, 430 p. Dantas & Phillipson (1989), em Capitão Poço, Pará, e Boinakis MORELLATO, P. C.; LEITÃO FILHO, H. de F. 1995. Ecologia (1989), na Costa Rica, também encontraram maior produção de e preservação de uma floresta tropical urbana: reserva de Santa serapilheira durante os meses mais secos do ano. Em geral, para Genebra. Campinas: UNICAMP. p. 38, 39. florestas tropicais estacionais, uma maior produção de serapilheira OLIVEIRA, R. E. 1997. Aspectos da dinâmica de um fragmento flores- é esperada no final da estação seca, o que seria ocasionado pelo déficit hídrico observado nessa época (César, 1993). tal em Piracicaba-SP: silvigênese e ciclagem de nutrientes. Dissertação A variação temporal da produção de flores neste estudo enqua- de mestrado, Universidade de São Paulo, Piracicaba, p. 43-45. dra-se nas observações de Morellato (1995) sobre as fenofases na PAGANO, S. N. 1989. Produção de folhedo em mata mesófila floresta de Santa Genebra, com floração no final da estação seca e semidecídua no Município de Rio Claro, São Paulo. In: Revista início da estação úmida, chegando a mínimo no inverno. O Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro: RBB. p. 634-639 percentual de contribuição da fração frutos na serapilheira para PERES, J. R. R.; SUHET, A. VARGAS, M. A. T.; área de cerradão ficou próximo aos percentuais encontrados por DROZDOWICZ, A. 1983. Litter production in of Brazilian “Cer- Pagano (1989), 3,99% do total, em floresta semidecídua de Rio rados”. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 18 (9): 1037-1043. Claro, SP. Para estudos conduzidos em florestas Paulistas, a contri- WETZEL, M. M. V. S. 1997. Época de dispersão e fisiologia de buição da fração galhos na biomassa total depositada tem sido sementes do Cerrado. Tese de Doutorado em ecologia, Brasília, p. 10. muito variada, de 12,41% Carpanezzi (1980) a 32,6% Pagano (1989). As áreas de cerrado estudadas apresentaram percentuais de RIBEIRO, L. 1998. Dinâmica de nutrientes na serapilheira, em contribuição próximos a estes valores. Segundo Ribeiro (1998), a um trecho de mata ciliar alagável com ninhal de aves do Rio Cuiabá, baixa produção da fração galhos pode estar relacionada a fraca no Pantanal Barão de Melgaço-MT. Projeto ecologia do pantanal incidência de ventos no local. Ainda que durante as visitas a campo CCBS/IB/UFMT. 53 p. não foi perceptível a presença de ninhos, poucas aves foram avista- das e sempre de pequeno porte, o que pode ter contribuído para a Levantamento das Técnicas Utilizadas na Coleta de baixa ocorrência desta fração no solo, pois é reconhecido que as Frutos de Dimorphandra mollis Benth. aves contribuem ativamente para a queda de galhos. (Leguminosae), Fava d´anta, no Cerrado Brasileiro. 4. Conclusões Silva, S. R. 1 A queda de serapilheira mostrou-se sazonal, com as maiores IBAMA sede – Núcleo de Plantas Medicinais e Ornamentais – produções ocorrendo durante a estação seca. Brasília-DF ([email protected]). Dentre as fitofisionomias de cerrado estudadas, o cerradão apresentou, no geral, maior contribuição para a biomassa. 1. Introdução Pode-se constatar uma relação significativa entre a precipita- O Cerrado é a maior e mais rica savana do planeta, sendo ção e a produção de serapilheira. também a mais ameaçada, com apenas 1,2 % de sua superfície em A fração folhas mostrou-se a mais representativa entre as fra- áreas protegidas. A grande riqueza de espécies, o alto grau de ções estudadas e com maior produção na área de cerradão bem endemismo e a enorme pressão antrópica incluiu o Cerrado entre como as frações flores e galhos. A fração fruto foi a única que os 25 Hotspots de biodiversidade mundiais (Mittermeier et al., 2000; atingiu um maior produção no cerrado sensu stricto. Myers et al., 2000). 5. Referências Bibliográficas A vegetação é caracterizada pelas diversas fisionomias de cerra- BOINSKIS, S. 1989. Seasonal patterns in a tropical lowland forest. do: campo limpo, campo rupestre, campo sujo, vereda, palmeiral,

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 587 Cerrado Volume I parque de cerrado, cerrado sentido restrito (sensu stricto), cerradão, estão imaturos, o que pode está interferindo no processo de disper- mata seca, mata de galeria e mata ciliar (Ribeiro e Walter, 1998), são das sementes e produção de frutos. O período de coleta inclui abrigando várias espécies de potencial econômico (Almeida et al., os meses de abril, maio, junho e julho, de acordo com a região 1998, Vieira et al., 2002), entre elas Dimorphandra mollis Benth. (Gomes, 1998). Os coletores também acreditam que a coleta dos D. mollis, uma árvore de até 15m de altura, é conhecida popular- frutos pode está ocasionando a diminuição da produção de frutos mente como barbatimão, faveira e fava-d´anta, ocorrendo nas no ano seguinte. fitofisionomias campo cerrado, cerrado ralo, cerradão e nas matas de 4. Conclusões encosta, próximo de elevações. É encontrada em solos argilosos ou As comunidades residentes no cerrado adotam técnicas dife- arenosos e em altitudes que variam entre 500 a 1700 m (Silva, 1986). renciadas para coleta de frutos de Dimorphandra mollis. Tais técni- O fruto de D . mollis é a parte de grande interesse da indústria cas podem está afetando a produção de frutos na estação seguinte farmacêutica internacional que está relacionado com a presença da e as populações da espécie. Dessa forma, estudos que possam iden- rutina, um bioflavanóide que desempenha função na normalização tificar os fatores que afetam a produção de frutos e a densidade da resistência e permeabilidade das paredes dos vasos capilares, populacional da espécie são fundamentais para o estabelecimento especialmente quando associada à vitamina C (Tomassini e Mors, de técnicas de manejo eficientes. 1976). A rutina tem sido responsável pelas maiores vendas ao exte- 5. Referências Bibliográficas rior de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos, Almeida, S. P. ; Proença, C. E. B.; Sano, S. M. ; Ribeiro, J. F. 1998. correspondendo a 57 % do total de US$ 47,8 milhões em 1995, e Cerrado: espécies vegetais úteis. EMBRAPA. 464p. Planaltina, DF. 48% do total de 53,9 milhões em 1996 (Ferreira, 1998). Estudos Gomes, L. J. 1998. Extrativismo e Comercialização da Fava-d´anta desenvolvidos na região de cerrado de Minas Gerais mostraram (Dimorphandra sp.): Um estudo de caso na região de cerrado de Minas que a rutina tem sido responsável pelo suprimento da demanda de Gerais. 50 % do mercado mundial, onde cerca de 20.000 toneladas de favas verdes são extraídas anualmente para suprir a demanda indus- Martin, G. F. 1995. Ethnobotany- a method manual. Chapman & trial (Gomes, 1998). Hall, London. O extrativismo de D. mollis consiste em uma atividade econô- Mittermeier, R. A, Myers, N. & Myers, C. G. 2000. Hotspots: mica e social importante para as comunidades residentes no cerra- Earth´s Biollogically Richest and Most Endagered Terrestrial Ecoregions. do brasileiro, onde envolve a colheita, secagem e armazenamento Mexico City, CEMEX. dos frutos. Para obtenção de alta concentração de rutina, os frutos Myer, N.; Mittermeier, R. A. Mittermeier, G. C. Fonseca, G. A. B. de D. mollis são coletados ainda quando estão imaturos, interferin- ; Kent, J. 2000. Biodiversity Hotspots for conservation priorities. do no processo de dispersão das sementes. Nature, 403: 853-858. O relatório “Estratégias para Conservação e Manejo de Re- Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. cursos Genéticos de Plantas Medicinais e Aromáticas” relaciona In: SANO, S. M.: Almeida, S. P. Ceerrado: Ambiente e Flora. D. mollis entre as 26 espécies do cerrado prioritárias para conserva- Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 89-166. ção. Entre as ações de pesquisa prioritárias, este relatório indica a necessidade de estudos ecológicos visando garantir a sua conserva- Silva, M. F. 1986. Dimorphandra (Caeasalpinaceae). Flora Neotropica, ção e manejo sustentável. New York: The New York Botanical Garden. p. 1-126. 2. Material e Métodos Tomassini, E.; Mors, W. B. 1976. Dimorphandra mollis Benth. e Local de estudo Dimorphandra garderiana Tul., novas e excepcionais fontes de rutina. O trabalho foi desenvolvido no Município de São Domingos- Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, Suplemen- GO e Guarani-GO, situado no entorno do Parque Estadual de to, 38 (321:323). Terra Ronca, região nordeste do Estado de Goiás; região do entor- Vieira, R. F.; Silva, S. R.; Alves, N. R. B.; Silva, D. B.; Wetzel, M. no de Montes Claros-MG, entorno do Parque Nacional Grande M. V. S.; Dias, T. A B.; Udry, M. C.; Martins, R. C. 2002. Estraté- Sertão Veredas-MG e São Francisco-MG. gias para Conservação e Manejo de Recursos Genéticos de Plantas Medi- Estudo Etnobotânico cinais e Aromáticas: Resultados da 1a Reunião Técnica. Embrapa/Ibama/ Foram coletadas as informações sobre as diferentes técnicas de CNPq, Brasília. 184 p. coleta adotadas pelas comunidades. Realizaram-se entrevistas in- formais e semi-estruturadas de acordo com a disponibilidade do informante (Martin 1995), além de observações “in loco”. Ciclo biológico do percevejo Dichelops melacanthus 3. Resultados e Discussão (Dallas) “barriga verde” (Hemiptera, Heteroptera, As técnicas utilizadas para a coleta do fruto consistem nas seguintes: Pentatomidae), na região de Dourados, MS. a) corte dos galhos da planta com facão ou com as mãos; b) uso de um Silvia dos Santos Nogueira, Christiane dos Santos Felix, Valeska podão, “garfo de madeira” bifurcado. A primeira técnica que envolve a Marques Arruda & Manoel A. Uchôa-Fernandes. Laboratório de retirada de todo o ramo da planta é a mais utilizada na região do entorno Insetos Frugívoros, Caixa Postal 241, Departamento de Ciências de Montes Claros-MG e é adotada em geral pelos adolescentes e crian- Biológicas (DCB), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ças que têm mais agilidade para subir nas árvores. É comum observar (UFMS), 79804-970 Dourados, MS. E-mail: [email protected]. árvores com seus galhos quebrados ou caídos ao solo. O uso do facão ou as mãos também é comum quando as árvores são mais baixas. 1. Introdução O uso do podão tem sido estimulado já algum tempo por Os insetos são considerados praga quando atingem um nível empresas interessadas na obtenção dos frutos. O laboratório Merck populacional capaz de causar danos, reduzindo a quantidade ou a era responsável pelo fornecimento do podão aos coletores da re- qualidade dos produtos. Muitas espécies estão associadas à cultura gião de Minas Gerais (Gomes, 1998), enquanto que atualmente a do milho, mas relativamente poucas caracterizam-se como pragas. empresa Sanrisil é a distribuidora do instrumento na região de São Dichelops melacanthus (Dallas) (Hemiptera: Pentatomidae), Francisco-MG. Essa técnica é utilizada para árvores mais altas e, conhecido como percevejo “barriga verde”, segundo Gomez & em geral, não envolve a coleta de todo o ramo, apenas parte dele. Àvila (2001) tem preferência pelas regiões mais quentes dos Esta- Em algumas comunidades, como em São Domingos, há um cuida- dos de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. do em coletar somente o fruto, retirando o mínimo possível de Alimenta-se da região do caulículo, introduzindo o aparelho ramos. A época de coleta dos frutos ocorre quando os frutos ainda bucal e injetando saliva para facilitar a penetração dos estiletes.

588 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Esta saliva solubiliza partes da planta da qual extraem fluídos olfativos e visuais. A agregação nesta fase parece auxiliar na capta- como alimento. ção da umidade atmosférica e protegê-las contra a dissecação. A saliva injetada na base das plântulas de milho pode atingir o A sincronia de emergência das ninfas em uma mesma massa de tecido jovem, na parte central (meristema) e provocar deforma- ovos, parece ser o resultado da interação de ninfas emergidas, esti- ções nas folhas que aparecem fora do cartucho. As raízes adventíci- mulando a eclosão dos ovos adjacentes. O ritmo fotoperiódico as atacadas, paralisam o crescimento e a planta apresenta nanismo. pode também influenciar na sincronia do desenvolvimento, de modo Os sintomas de danos da saliva fitotóxica do percevejo aparecem que todos os ovos da mesma postura são capazes de eclodir simul- alguns dias após este ter se alimentado da planta. O estilete de D. taneamente, quando estimulados pela eclosão de ninfas irmãs. Após melacanthus pode atingir as folhas internas que mais tarde, quando a eclosão de todos os ovos da mesma postura, as ninfas recém- aparecem fora do cartucho, apresentam orifícios típicos, com halo emergidas se dispersam em busca de alimentos e, em média, após amarelado e disposto em fileira. As plantas jovens têm menor tole- dois dias, estão ativas e soltando as exúvias. rância ao ataque do inseto, enquanto que plantas com mais de No segundo instar observou-se que as ninfas apresentaram um quarenta dias de idade praticamente não sofrem danos. À medida comportamento agitado e independente. A quebra do tegumento que o milho cresce e as folhas se desenvolvem, a lesão aumenta, ocorreu na região ântero-posterior da cápsula cefálica iniciando formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha. Essas movimentos que auxiliam na liberação do exoesqueleto. Este pro- plantas ficam com desenvolvimento comprometido, podendo re- cesso leva aproximadamente 15 a 20 minutos e, o inseto no mo- sultar em morte (Gomez, 1998). mento da liberação da exúvia apresenta uma coloração rosada com Ávila & Panizzi (1995) fizeram a primeira constatação da inci- a região posterior do abdome tendendo ao marrom. Após 15 minu- dência de D. melacanthus na cultura do milho, em Mato Grosso do tos, em média, o inseto atinge a coloração marrom. Sul. A espécie atacou plântulas com até 25 dias, em uma lavoura do Ao passar para o terceiro instar com a liberação da exúvia, estes município de Rio Brilhante, alcançando uma densidade apresentam uma coloração bege clara e, aos poucos, ocorre o populacional de 6,5 indivíduos por 10,00 m de fileira de milho, escurecimento do corpo, quando o abdome adquire uma forma sendo que 56% das plantas atacadas definharam e exibiram marcas mais semelhante ao do adulto. de alimentação na forma de pontuações escuras nas folhas novas do No 4º instar apresentaram alta mortalidade, neste etádio a interior do cartucho. pigmentação do tegumento é verde, com a coxa e fêmur translúcidos. O prejuízo econômico causado por esta praga é grande, por- No início do 5º instar ainda apresentam a coloração verde e poste- tanto, este trabalho tem por objetivo estudar a biologia de D. riormente adquirem coloração marrom na região dorsal, permane- melacanthus, pois esta espécie tem apresentado um aumento cendo verde a região ventral (“barriga verde”). Após quinze dias populacional significativo na região produtora de Dourados. O atingem a fase adulta, quando nota-se uma reentrância longitudi- conhecimento detalhado da biologia deste percevejo poderá nal profunda na extremidade anterior da cabeça. O adulto mede viabilizar técnicas de supressão populacional e ser de grande utili- cerca de 10mm de comprimento e apresenta prolongamentos late- dade em programas de manejo, embasados em estratégias ecológi- rais do pronoto, em forma de espinho, com extremidades escuras. cas viáveis, como é o caso do controle biológico. O ciclo biológico de D. melacanthus completou-se com cinco 2. Material e Métodos instares e em 28 dias, sendo que o 5º instar foi o período mais Foram capturados 48 indivíduos adultos de D. melacanthus, no prolongado, durando aproximadamente 15 dias. dia 20 de maio de 2003 provenientes da Empresa Brasileira de D. melacanthus foi alimentado no 1º e 2º instares com plântulas Pesquisa Agropecuária – Centro de Pesquisa Agropecuária do Oes- de milho, no 3º instar com grãos de milho verde. De acordo com te, situado nas imediações da cidade de Dourados, MS, (BR 163, Panizzi e Parra (1991), durante o 3º e 4º instares ocorre divisão das Km 5, Latitude 22º14’S, Longitude 54º49’W, Altitude 452m). ninfas em grupos menores, para diferentes locais, onde se alimen- Os percevejos coletados foram criados em uma gaiola com tam ou permanecem agregadas, dependendo da disponibilidade do (71x42x35cm), sendo feitas observações periodicamente de 12 em alimento. Durante o 5º instar o inseto deve se utilizar de alta 12 horas, no laboratório do Departamento de Ciências Biológicas qualidade nutricional afim de originar um adulto com potencial (DCB/UFMS ) Campus de Dourados. reprodutivo máximo. A mortalidade durante esta fase é alta (95,3%). Observou-se a morfologia externa dos juvenis e adultos as A razão de crescimento dos insetos pode ser prevista por regras taxas de natalidade, de mortalidade e obtenção de exúvias para empíricas. Observou-se que a média para a razão de crescimento medidas da cápsula cefálica. Usou-se uma ocular micrométrica de D. melacanthus corresponde a 1,2 mm (entre 1,1 e 1,2857mm), inserida em um esteriomicroscópio da marca ZEISS, com 24 vezes de acordo com a regra de Dyar (1890) citado por Parra e Haddad de aumento, para a determinação das medidas da cápsula cefálica (1989). Dyar percebeu que várias partes esclerotizadas do corpo para verificar se o aumento do diâmetro desta estaria ou não de de certos grupos de insetos aumentam em uma taxa constante para acordo com a regra de Dyar. cada espécie, variando entre 1,1 a 1,9. A média estimada da cápsula 3. Resultados e Discussões cefálica de D. melacanthus variou de 0,07±0,0070 mm a A razão sexual para os quarenta e oito indivíduos adultos 0,13±0,0141mm. coletados no campo foi de 1:1. Os insetos copulavam sempre no Quando diferentes medidas da cápsula cefálica são compara- mesmo horário do dia (16 às 19 horas). das é normal que elas cresçam em diferentes proporções. Esse A oviposição é um processo lento e cada fêmea põe um ovo a cada fenômeno é conhecido como alometria ou crescimento heterogê- intervalo de três a quatro minutos, podendo gastar uma hora para neo (Parra e Haddad 1989). ovipositar 14 ovos por dia. Cada ovo mede aproximadamente 0,9 mm, Houve maior proporção de sobreviventes no 1º instar e menor sendo os recém-ovipositados semelhantes a uma gotícula de água e, ao no 5º instar. A expectativa média de vida destes percevejos variou de entrar em contato com o ar, adquiriam a coloração esverdeada. Em 2,325 a 12,500 de acordo com os dados referentes a tabela de vida. torno de cinco a seis dias o ovo adquiriu uma coloração mais escura e, A pressão atmosférica do ambiente no período da criação do próximo ao período de eclosão das ninfas, apresenta dois pontos pre- D. melacanthus apresentou-se constante em quase todo o período, tos e uma linha em forma de T: “a linha de fraqueza” por onde ocorre com uma pequena variação entre 962,4 a 973,5 mb, semelhante ao o rompimento do córion para liberação destas. que ocorre umidade relativa (UR) que ficou entre 62 a 97 %. A Após dez dias ocorreu a eclosão das primeiras ninfas, as quais temperatura variou entre 14,1 a 23,2° C. continuaram agregadas. Segundo Panizzi & Parra (1991), a atra- 4. Referências Bibliográficas ção mútua das ninfas de primeiro instar é causada por estímulos ÁVILA, C. J.; PANIZZI, A. R. 1995. Occurrence and damage by

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 589 Cerrado Volume I

Dichelops (Neodichelops) melacanthus (Dallas) (Heteroptera: (Haddad, 1995) ou causar interferência acústica (Wells, 1988; Pentatomidae) on corn. Anais da Sociedade Entomológica do Bra- Schwartz, 1993; Wollerman, 1999). Pode haver a existência de sil, , V.24, n.1, pp.193-194. organização temporal ajustada tanto por mecanismos BARROS, A. S. do R. ; SHIOGA, P. S. 2001. A cultura do milho comportamentais (estabelecimento de antifonia entre os indivídu- safrinha. VI Seminário Nacional de milho safrinha, Londrina, PR, os de algumas espécies), como fisiológicos (vocalização em diferen- Brasil, pp.22-90. tes horários). Além do número de indivíduos no coro e sua proxi- midade, a participação relativa da espécie pode ser influenciada GOMEZ, D. N. 1996. Manejo de pragas associadas à cultura do pela intensidade, pela duração e pelo número de notas que a espé- milho. Passo Fundo: Editora Aldeia Norte, 127p. cie emite em dada unidade de tempo (Cardoso & Martins, 1987). GOMEZ, S. A. 1998. Controle químico do percevejo Dichelops Assim, não é surpreendente que machos geralmente utilizem a (Neodichelops) melacanthus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) alternação temporal de seus cantos ou de notas para evitar a na cultura do milho safrinha. Comunicado Técnico EMBRAPA- sobreposição com os cantos de machos vizinhos (Schwartz, 1993, CPAO, Dourados, MS, Brasil, pp. 1-5. 1994; Bastos & Haddad, 1995; Grafe, 1996). PANIZZI, A. R.; PARRA, J. R. P. 1991. Ecologia nutricional de 2- Metodologia insetos e suas implicações no manejo de pragas. Manole, São Pau- A área de estudo está localizada no Sítio dos Pinheiros, no lo, 359p. município de Palmeiras, Estado de Goiás. Os turnos de observação PARRA, J. R. P.; HADDAD, M. L.1989. Determinação do núme- de campo iniciaram-se outubro de 2000 e foram finalizadas em abril ro de instares de insetos. FEALQ, Piracicaba-SP, 49p. de 2001, período que compreende a estação chuvosa e quente. Para a realização das observações comportamentais foram uti- lizados os métodos de “animal focal”, de “todas as ocorrências” e Variação intra - e interindividual das características de “seqüências” (cf. Lehner, 1979; Martin & Bateson, 1986). As canto de anúncio de Hyla nana vocalizações foram gravadas com gravador Sony DAT TCD-D100 1 2 Silvia Leitão Dutra & Rogério Pereira Bastos e microfone Sony ECM. Os sonogramas foram confeccionados 1- Universidade Federal de Minas Gerais 2-Universidade Federal de utilizando-se o programa Avisoft-SONAGRAPH® e Cool edit- Goiás [email protected] pro. Os indivíduos cujas vocalizações foram gravadas tiveram seu comprimento rostro-anal (CRA) medidos com paquímetro (preci- 1-Introdução são de 0,1mm) e seu peso registrado através de utilização de balan- A maioria dos estudos comportamentais, ao nível populacional ça com precisão de 0,05 g. ou individual, são utilizados como evidência de trabalhos irrelevantes 3-Discussão e Resultados para conservação do mundo real (Clemmons & Buchholz, 1997). Hyla nana apresentou atividade reprodutiva, na área de estu- Atualmente, os esforços conservacionistas são direcionados para dos, a partir do mês de dezembro até início de março, os machos solução ao nível de ecossistemas (Walker, 1995). Deve-se conside- apresentaram comprimento rostro-anal (CRA) médio de 21,51 rar, todavia, que ecossistemas não são áreas isoladas: muitas espé- mm (variação de 19,0 a 24,0 mm) e peso médio de 0,569 g (varia- cies requerem mais que uma área para completar todo seu ciclo de ção de 0,45 a 0,75 g). Vocalizaram em vegetação marginal ou vida (Dingle et al., 1997). O que se deve levar em consideração emergente de poças permanentes, a uma altura média de 43cm para definir uma área suficiente para preservar uma espécie, não (Variação de 28 a 61 cm; DP = 11cm; N = 10 machos). pode ser somente as suas dimensões ou proximidade para outras Foram registradas 27 vocalizações, os cantos apresentam ape- áreas, mas também as particularidades e características de cada nas uma nota multipulsionada (canto simples). A nota apresentou espécie que habitam a área (Allen & Hoekstra, 1990). duração média de 32,316 ms (variação de 16,0 a 48,8 ms; n = 19 Em muitas espécies de anuros, a comunicação sonora é o mais machos). Cada nota é constituída, em média, por 8,8 pulsos (vari- importante mecanismo de reconhecimento de parceiros, sendo ação de 2 a 15 pulsos; n = 19 machos), que apresentam duração que as fêmeas respondem fonotaticamente para as vocalizações dos média de 3,75 ms (variação de 2,72 a 8,15 ms; n = 19 machos). A machos (Castellano & Giacomo, 1998). Este mecanismo é de taxa de repetição foi de aproximadamente 58,69 cantos por minu- grande importância, pois na atividade reprodutiva um anfíbio coe- to (variação de 24 a 105 cantos; n = 13 machos). A freqüência xiste com indivíduos da mesma espécie, ou de várias, num mesmo dominante média é de 4208,638 Hz (variação de 3534,76 a 4684,36 ambiente. Na estação reprodutiva os machos de muitas espécies Hz; n = 13 machos). Estes dados são similares aos apresentados agregam – se em coros, emitindo suas vocalizações para atração das por De la Riva e Bosh (1993). A intensidade sonora média foi de fêmeas. Nas espécies de reprodução prolongada, a chegada das 77,52 + 2,61 dB (variação de 75 a 84,5 dB; n = 12 machos). fêmeas é imprevisível, o sucesso reprodutivo do macho depende A freqüência dominante foi correlacionada negativamente com principalmente da sua capacidade de atrair fêmeas para o seu sitio a massa (r =.-0,58; n = 15; p = 0,02, Figura 3) e CRA (r = -0,68; n de vocalização (Wells, 1977; Bastos, 1996). = 15; p = 0,005; Figura 4) dos machos vocalizantes. Os parâmetros acústicos são utilizados pelas fêmeas para com- 4-Conclusão paração das características dos machos antes do acasalamento e Hyla nana apresenta reprodução prolongada (Wells, 1977). A entre machos para avaliação mútua antes de entrarem em combate chegada das fêmeas é a assincrônica com a dos machos e estes (Ryan & Keddy-Hector, 1992; Sullivan et al., 1990; Castellano & devem vocalizar de locais fixos (sítios de vocalização) para atrair as Giacomo, 1998). Assim, os machos têm condição de evitar um primeiras. A altura de seu sítio de vocalização acompanha o cresci- confronto físico que teria um alto custo energético. Muitas propri- mento da vegetação (Jim J. e Rosa-Feres, 2001). Segundo estes edades das vocalizações não são estereotipadas os machos em algu- mesmos autores, H. nana também pode apresentar deslocamento, mas espécies podem alterar as propriedades espectrais de seus can- em relação à altura dos sítios, em resposta à chegada de outra tos durante interações sociais (Howard & Young, 1988; Given, espécie ao local de reprodução. 1999; Bee & Perril, 1996). Por isso, os cantos podem ser modifica- As 27 vocalizações registradas apresentaram cantos de anúncio dos aumentando a produção de vocalizações ou de notas, em res- com função primária de informar aos outros indivíduos (machos e posta aos estímulos do ambiente como, por exemplo, o número de fêmeas) a presença do cantor (Wells, 1977; Bastos & Haddad, machos no coro e sua proximidade (Schwartz, J. J., 1993). Dentro 1995; Alcantara, 1999). Assim, esta vocalização apresenta função do coro, o vizinho imediato de um macho representa o seu princi- sexual (atração de fêmeas), territorial (avisar outros machos que o pal obstáculo reprodutivo, uma vez que pode interceptar fêmeas território está ocupado) e de reconhecimento especifico (isola-

590 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado mento reprodutivo pré-zigótico). A proximidade de indivíduos Sociobiol., v. 32, p. 401 - 414, 1993. dentro do coro pode interferir acusticamente no canto de indiví- SULLIVAN, B. K.; HINSHAW, S. H. Variation in advertisement duos próximos. Para evitar essa interferência, machos de H. nana calls and calling behaviour in the spring peeper (Pseudacris crucifer). utilizam-se de alternação de cantos ou Antifonia. Desta maneira os Copeia, v. 4, p. 1146 – 1150, 1990 cantos não se sobrepõem, o que permite que exerça sua função WELLS, K. D. The effect of social interactions on anuran vocal biológica de reconhecimento específico à distância, pois assim os behavior. In: FRITZSCH, B.; RYAN, M. J.; WILCZYNSKI, W.; cantos têm condições de serem percebidos e identificados especifi- HETHERINGTON, T. E.; WALKOWIAK, W. (eds.). The camente pelos receptores. evolution of amphibian auditory systems. New York: John Wiley and Atualmente há um consenso de que as fêmeas, em muitas espécies, Sons, 1988, p. 433 - 454. comparam as características dos machos antes de se acasalarem (Ryan & Keddy-Hector, 1992). As características do canto podem ser utili- WELLS, K. D. The social behaviour of anuran amphibians. Anim. zadas tanto por machos quanto por fêmeas de H. nana. As fêmeas Behav., v.25, p. 666 - 693, 1977. fazem correlação com o tamanho do macho vocalizante e os machos as WOLLERMAN, L. Acoustic interference limits call detection utilizam para determinar a habilidade de luta de seu oponente. in a Neotropixcal frog Hyla ebraccata. Anim. Behav., v. 57, p. 5- Bibliografia 529 – 536, 1999. ALCANTARA, M. B. Ecologia reprodutiva de Scinax centralis (Anura: Hylidae) em uma região do Brasil Central. Goiânia. Instituto de Levantamento florístico das espécies vasculares da Ciências Biológicas, UFG, 1999, 90p. Dissertação (Mestrado em Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Biologia – Ecologia) – Instituto de Ciências Biológicas, Universi- EPDA-Galheiro, Perdizes-MG dade Federal de Goiás, 1999. Simone Mendes (1,2) ([email protected]), Rafael Arruda (3), BASTOS, R. P. Vocalização, teritorialidade e comportamento reprodutivo Eleonora Henriques Amorim (1), Jimi Naoki Nakajima (4), Rosana de Scinax rizibilis (Anura, Hylidae) na região de Ribeirão Branco, sul Romero (4), Glein Monteiro Araújo (4), Ana Angélica Barbosa (4), Ivan do estado de São Paulo. Rio Claro. Instituto de Ciências Biológicas, Schiavini (4), & Marli Ranal (4) UNESP,1996. Tese Doutorado - Zoologia. 1- Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, 2- Bolsista BASTOS, R. P.; HADDAD, C. F. B. Vocalizações e interações da FAPEMIG, 3- Mestrando do Curso de Pós Graduação em acústicas de Hyla elegans (Anura, Hylidae) durante a atividade Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, 4- Instituto de Biologia reprodutiva. Naturalia, v. 20, p. 165 - 176, 1995 . 1- Introdução BEE, M. A.; PERRIL, S. A. Responses to conspecific advertisement O cerrado compreende a segunda ecoregião do Brasil. No calls in the green frog (Rana clamitans) and their role male-male passado ocupava cerca de 2.000.000 Km2 do território brasileiro, comunication. Behaviour, v. 133, p. 283 – 301, 1996. mas com o grande crescimento de atividades econômicas, apenas CARDOSO,A. J. ; MARTINS, J. E. Diversidade de Anuros Du- 20 % encontra-se em seu estado original. Para agravar a situação, rante o Turno de Vocalizações em Comunidade Neotropical. Pa- apenas 3% de sua extensão estão protegidos em parques e reservas péis Avulsos de Zoologia, São Paulo, v 36, n 23, p279-285, 1987. federais e estaduais (Mittermeier et al., 1999). CASTELLANO, S.; GIACOMO, C. Stabilizing and direction Tal situação indica a necessidade urgente de conhecer melhor female choice for male calls in the European green toad. Anim. o cerrado para, dessa forma, propor ações adequadas para sua Behav. , v. 56, p. 275 – 287, 1998. recuperação e manutenção. O Levantamento florístico é um dos DE LA RIVA, BOSH, J.; MARQUES, S.I. Adversiment calls of estudos iniciais para o conhecimento de uma determinada área, bolivian species of Hyla. Biotropica v. 25, p. 426-445, 1993. cuja lista de espécies pode contribuir para o estudo dos demais atributos da comunidade (Martins, 1990). Quando realizados em GIVEN, M. Frequency alteration of the advertisement call in the áreas demarcadas, abrem perspectivas para o desenvolvimento de carpenter frog, Rana virgatipes. Herpetologica, v. 55, n. 3, p. 304 – pesquisas relacionadas à fitossociologia, à fenologia e à dinâmica 317, 1999. das populações. Do mesmo modo, o amplo conhecimento da flora GRAFE, T. U. The function of call alternation in the African reed é um importante subsídio no planejamento e implementação de frog (Hyperolius marmoratus): precise call timing prevents auditory áreas representativas, que devem ser priorizadas para conservação masking. Behav. Ecol. and Sociobiol., v. 38, 149 – 158, 1996. e manejo racional (Felfili et al., 1993; Mendonça et al., 1998). HADDAD, C. F. B. Comunicação em anuros (Amphibia). Anais de Autores como Goodland (1970); Ratter et al. (1973); Rizzo Etologia, v. 13, p. 116 – 132, 1995. (1981); Silberbauer-Gottsberger & Eiten (1983); Ribeiro et al. (1985); Oliveira-Filho & Martins (1986), Ratter (1986) e Men- HOWARD, R. D.;YOUNG, J. R. Individual variation in vocal traits and female mating preferences in Bufo americanus. Anim. donça et al. (1998) têm feito levantamentos florísticos e Behav., v. 55, p. 1165 – 1179, 1998. fitossociológicos em áreas do cerrado de diferentes regiões do país. Mais recentemente Castro et al. (1999) compilaram diversos le- JIM, J.; ROSA-FERES, D.C. Similaridade do sítio de vocalização vantamentos florísticos e fitossociológicos, relacionando 1709 es- de anfíbios anuros na região noroeste do estado de São Paulo, pécies arbóreas para a flora do cerrado. Esses estudos vêm Brasil. Revta. Brasil. de Zoologia 18(2):439-454, 2001. demostrando uma grande riqueza de espécies e, uma contínua RYAN, M. J.; KEDDY-HECTOR, A. Directional patterns of female variação na composição florística ao longo de sua extensão (Ratter mate choice and the role of sensory biases. Am. Nat., v. 39, supl., p. et al., 2000). Tais evidências reforçam a importância e urgência em 4 – 35, 1992. criar áreas de conservação. SCHWARTZ, J. J. Male advertisement and female choice in frogs: A Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental (EPDA- recent findings and new approaches to the study of communication Galheiro) enquadra-se perfeitamente nessa perspectiva de conser- in a dynamic acoustic environment. American Zoologist, v. 34, p. vação, por se tratar de um fragmento de vegetação nativa do bioma 616 – 624, 1994. cerrado, e pelo fato de não possuir um levantamento florístico detalhado. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo a SCHWARTZ, J. J. Male calling behavior, female discrimination elaboração de um levantamento florístico das espécies vasculares and acoustic interference in the Neotropical treefrog Hyla da estação para destacar a importância da reserva. microcephala under realistic acoustic conditions. Behav. Ecol.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 591 Cerrado Volume I

2- Material e Métodos Goodland, R.J. A . 1970. Plants of the cerrado vegetation of Brazil. A EPDA- Galheiro localiza-se no município de Perdizes, às Phytologia. 20:57-77. margens do reservatório de Nova Ponte. Com uma área de cerca de Martins, F.R. 1990. Atributos de comunidades vegetais. Quid, 3000 ha, está localizada entre as coordenadas 19º13’35,1’’S e Teresina, 9(1/2): 12-17. 47º8’42,6’’W a 960 m de altitude (CEMIG, 1995). O clima da Mittermeier, N.; Myers, R.A. & Mittermeier, C.G.1999. região caracteriza-se por apresentar duas estações climáticas bem HOTSPOTS ¾ Earth’s Biologically Richest and Most Endangered definidas: uma fria e seca, compreendida entre os meses de abril a Terrestrial Ecoregions. CEMEX ¾ Conservation International. setembro, e outra quente e chuvosa, que se estende de outubro a Mexico City. 430p. março (Rosa et al, 1991). Os solos da Estação são do tipo B incipiente, pouco desenvolvido, raso, com relevo fortemente ondulado e com Mendonça, R.C. de; Felfili, J.M.; Walter, B.M.T.; Silva Júnior, pouca fertilidade natural e disponibilidade de água, suscetível à ero- M.C. da; Rezende, A.V.; Filgueiras, T.S. & Nogueira, P.E. 1998. são e presença de rochas (CEMIG, 1999). A vegetação da EPDA- Flora Vascular do Cerrado. In: Sano, S.M. & Almeida, S.P. 1998. Galheiro apresenta predominância de cerrado sentido restrito, vari- Cerrado ambiente e flora. EMBRAPA-CPAC, Planaltina, GO. ando gradativamente entre campo cerrado, cerrado denso e cerrado 289-556. rupestre, além de remanescentes de mata mesófila semi-decídua e Oliveira-Filho, A . T. & Martins, F. R. 1986. Distribuição, caracte- estreitas faixas de mata de galeria (CEMIG, 1995). rização e composição florística das formações vegetais da região da As coletas foram feitas por meio de excursões mensais a reserva Salgadeira, na Chapada dos Guimarães (MT). Revista Brasileira de em diferentes fitofisionomias, que foram dividas em estações de Botânica. 9:207-223 coletas. Cada uma delas foi percorrida de maneira aleatória para Ratter, J. A.; Richards, P. W.; Argent G. & Gifford D. R.. 1973. cobrir boa parte da extensão, sendo coletados exemplares em fase Observations on the vegetation of northeastern Mato Grosso. The florífera e/ ou frutífera ou formação de esporos. A identificação woody vegetation types of the Xavantina-Cachimbo expedition preliminar do material botânico foi feita no campo, e posterior- area. Phil. Trans. R. Soc. 226(B):449-492 mente, conferida, complementada e/ ou corrigida no Herbárium Ratter, J. A . 1986. Notas sobre a vegetação da Fazenda Água Uberlandense (HUFU) da Universidade Federal de Uberlândia- Limpa (Brasília, DF, Brasil). Editora UnB. Textos Universitários n. MG, onde se encontram incorporadas. 003. Brasília. 3- Resultados e Discussão Os resultados obtidos indicam uma alta riqueza de espécies. Ratter, J. A.; Ribeiro, J. F.; Bridgewater, S. 2000. Woody flora Cerca de 2000 espécimes foram coletadas, entre as quais 241 estão distribution of the cerrado biome: phytogeography and conservation identificadas em nível específico e 105 em nível genérico, totalizando priorities. In: Cavalcanti, T. B. et al. (Org). Congresso Nacional 346 morfoespécies. Destas 335 são Magnoliophyta, pertencentes a De Botânica, 51, Brasília. Embrapa Recursos Genéticos e 203 gêneros e 75 famílias e 11 pertencentes a sete gêneros e sete Biotecnologia, Sociedade Botânica do Brasil. 2000. p. 340-342. famílias de Pteridophyta Ribeiro, J. F.; Silva, J. C. S. & Batmanian, G. J. 1985. Fitossociologia Leguminosae, Asteraceae, Malpighiaceae, Melastomataceae, de tipos fisionômicos de cerrado em Planaltina - DF. Revista Bra- Rubiaceae e Bignoniaceae foram às famílias com o maior número sileira de Botânica. 8:131-142. de espécies. Rizzo, J. A .1981. Flora do Estado de Goiás: Coleção Rizzo. Ed. Cabralea canjerana, Gochnatia paniculata, Miconia albicans e Universidade Federal de Goiás. Goiânia - GO. 35 p. Ouratea spectabilis foram às únicas espécies coletadas em seis esta- ções de coleta. A grande maioria ocorreu em apenas uma área, Rosa, R., Lima, S.C. & Assunção, W.L. 1991. Abordagem Preli- demonstrando uma alta heteregeneidade florística dentro da EPDA- minar das Condições Climáticas de Uberlândia (MG). Sociedade & Natureza. 3(5 e 6):91-108. Galheiro, em grande parte influenciada pela presença de formações florestais e savânicas. Silberbauer-Gottsberger, I. & Eiten, G. 1983. Fitossociologia de Informações sobre a porcentagem de cobertura vegetal e estru- um hectare de cerrado. Brasil Florestal. 54:55-70. tura vertical das comunidades apresentadas no primeiro relatório (CEMIG- 1995), apontam mudanças na paisagem da EPDA- Alocação de recursos e características fisiológicas Galheiro. Grande parte dessas alterações pode ser resultado da de Lavoisiera francavillana e Lavoisiera cordata regeneração de ambientes outrora impactados por ações antrópicas (Melastomataceae); espécies simpátricas da Serra como pasteio de gado, corte seletivo de espécies e fogo. do Cipó, MG. Tais resultados, destacam a importância da manutenção dessas Tate C. Lana ([email protected]), Bernardo D. Ranieri & Geraldo Unidades de Conservação, em contrapartida ao enorme impacto W. Fernandes causado na construção de hidrelétricas. Lab. de Ecologia Evolutiva de Herbívoros Tropicais, DBG/ICB, CP 4- Referências Bibliográficas 486,Universidade Federal de Minas Gerais, CEP 30161-970, Belo Castro, A.A.J.F.; Martins, F.R.; Tamashiro, J.Y. & Shepherd, G.J. Horizonte-MG. 1999. How rich is the flora of brazilian cerrados? Annals of the Missouri Botanical Gardens 86(1):192-224. 1. Introdução CEMIG, 1995. Projeto Executivo: Unidade de Conservação Estudos comparativos sobre ontogenia e morfologia de Galheiro, Estudo de Fauna e Flora- EPDA- Galheiro. Leme Enge- plântulas fornecem dados sobre um estágio pouco conhecido do nharia Ltda. ciclo de vida e oferecem muitas características úteis para conside- CEMIG, 1999. Projeto de Trilhas Interpretativas da Estação e rações morfológicas e evolutivas (Garwood 1995). Variações de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Galheiro- EPDA-Galheiro. tamanho, forma e crescimento refletem respostas adaptativas dos S.T.A. Engenharia Florestal Ltda. indivíduos a condições ambientais e estão sujeitas a restrições filogenéticas que limitam as possibilidades de desenvolvimento Felfili, J.M.; Silva Júnior, M.C.; Rezende, A.V.; Machado, J.W.B.; (Spósito 1999). O polimorfismo das plântulas pode acentuar sua Walter, B.M.T.; Silva P.E.N. & Hay, J.D. 1993. Análise compara- especialização ecológica e é essencialmente nesse estágio que um tiva da florística e fitossociologia da vegetação arbórea do cerrado indivíduo se mostra ou não adaptado, exprimindo mais intensa- sensu stricto na Chapada da Pratinha, DF- Brasil. Acta Botanica mente o comportamento da espécie (Moraes e Paoli, 1999). Brasilica 6(2): 27-46. A altura total, a arquitetura, o diâmetro do tronco, o cresci-

592 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado mento, a alocação de recursos e as respostas fisiológicas são carac- (Hutchings 1997). L. cordata apresentou maior número de ra- terísticas que variam entre as espécies conforme a disponibilidade mos na base, o que pode ser interpretado como uma adaptação de recursos e estabilidade (i.e. ocorrência de fogo) do ambiente importante para ambientes sujeitos a incêndios freqüentes. É que elas ocupam (Hallé 1978). possível que os meristemas que originam tais ramificações basais As onze espécies de Lavoisiera (Melastomataceae) da Serra do se tornem protegidos pelo aumento do nível do solo devido à Cipó ocorrem em áreas de campos brejosos ou em campos arenosos deposição, na base das plantas, de partículas oriundas da erosão e pedregosos, apresentando caracteres morfológicos adaptados a cada ou algum agente biológico (Sarmiento & Monasterio 1983). tipo de ambiente (Souza 1997). O estudo deste gênero é muito Muitos arbustos de comunidades adaptadas ao fogo toleram importante devido à abundância e alta diversidade de espécies (Ranieri, este evento por rebrota de ramos em raízes ou caules subterrâ- obs pess). Também relevante é o fato de várias espécies estarem neos (Whelan, 1995) uma vez que o solo é um bom isolante ameaçadas ou em perigo de extinção (Mendonça & Lins 2000). térmico e tecidos abaixo de 5 cm raramente experimentam ele- Neste estudo, pretendemos analisar as diferenças ontogenéticas, vações na temperatura (Priestley, 1959). De fato, foi observado morfológicas e fisiológicas entre Lavoisiera francavillana e Lavoisiera que a temperatura do solo abaixo de 1 cm alcançou temperatu- cordata, duas espécies congenéricas que ocorrem em hábitats com ras inferiores a 30 oC, enquanto na superfície foi registrada a características hídricas distintas na Serra do Cipó, MG. O objetivo temperatura de 80oC durante as queimadas (Coutinho 1977). desse estudo é verificar se as variações interespecíficas podem estar A brotação predominantemente intermediária de L. francavillana relacionadas às características do hábitat. pode refletir adaptações para minimizar os efeitos da competição 2. Métodos pela exposição de flores a polinizadores e frutos a agentes dispersores O estudo foi realizado em casa de vegetação localizada na abióticos (vento e chuva) em populações agregadas e densas Reserva Biológica Vellozia, na Serra do Cipó, MG, no Km 108,5 (Hutchings 1997). O crescimento em altura mais acentuado nesta da rodovia MG 010 (19o17,036”S, 43o35,548”O). espécie é, da mesma forma, um reflexo de sua adaptabilidade a den- Foram avaliadas um total 20 plântulas de um ano de idade de sidades populacionais altas. O efeito dos incêndios sobre esta espécie cada espécie. Estes indivíduos foram semeados na mesma data e é provavelmente menor, pois nas áreas sujeitas a alagamento (cam- mantidas sob nas mesmas condições de temperatura e oferta de pos brejosos), onde L. francavillana ocorre, o solo e unidades água. Em cada indivíduo foram medidas a altura total, o número de vegetacionais variam reduzindo o combustível (gramíneas) e condi- entrenós e o número de folhas do ramo principal de cada plântula. ções de umidade favoráveis à expansão do fogo (Hutchings 1997). O número de ramificações e sua localização no ramo principal Por isso, esta espécie não possui adaptações para a rebrota a partir de (base, intermediário e ápice)foi também anotado. estruturas próximas ao solo ou subterrâneas. L. cordata apresentou O estado hídrico de cada indivíduo, das duas espécies, foi menor relação S/A, indicando maior deslocamento de recursos para determinado pela avaliação do potencial hídrico do xilema no “pre- raízes e tronco subterrâneo, o que possibilita melhor obtenção e down” (04:00 a 05:00 horas), medido em um ramo da parte supe- armazenamento de água. A ocorrência de fogo, a infertilidade do rior dos caules. Estas medidas foram realizadas através de uma solo e o estresse sazonal na camada superior do solo são fatores que Bomba de pressão de Scholander (modelo 1003/603, PMS determinam uma maior biomassa da parte subterrânea nas plantas Instruments Co) (Meinzer et al. 1999). de cerrado (Haridasan 1994, Bloom et a1 1985). As plantas foram então extraídas do solo e suas raízes foram Da mesma forma, o potencial hídrico do xilema reflete respos- lavadas. O tronco foi seccionado na linha do solo. As partes aérea tas das espécies às condições ambientais a que estão sujeitas (Fitter (incluindo os ramos utilizados para as medidas de potencial & Hay 1987). L. cordata apresentou maior potencial hídrico do hídrico) e subterrânea foram secas à temperatura de 60o C duran- xilema do que L. francavillana devido à sua menor demanda de te 48 horas e pesadas para obtenção da relação entre a biomassa água e porque as condições hídricas a que as plantas estavam sujei- subterrânea/área. tas eram mais que suficientes para as necessidades metabólicas da Os dados obtidos foram então analisados através de testes de espécie. L. francavillana, por sua vez, demonstrou maior demanda comparação de médias (teste t de Student) (Zar 1996). de água do que L. cordata e por isso apresentou menor potencial 3. Discussão e Resultados hídrico do xilema. No entanto, a média do valor obtido foi mais Lavoisiera francavillana apresentou maior altura (t=16,766; alta do que o limiar de estresse, o que indica que as condições gl=39,0; P<0,001), maior número de folhas (t=18,569; gl=21,9; hídricas estavam também adequadas para o desenvolvimento nor- P<0,001) e entrenós (t=38,266; gl=30,6; P<0,001) que L. cordata. mal desta espécie (Fitter & Hay, 1987). Da mesma forma, as duas espécies diferiram significativamente Espécies com uma longa história evolutiva com os quanto à dinâmica de brotação de gemas no caule principal. L. ecossistemas sazonais foram moldadas com respostas adaptativas cordata apresentou brotação mais intensa na parte próxima do aos problemas a que estão sujeitas por meio de diferentes dese- solo), média 98,9% do total de ramificações durante o desenvolvi- nhos arquiteturais e padrões de desenvolvimento (Sarmiento & mento dos indivíduos. Nesta espécie, os ramos nas alturas interme- Monasterio, 1983). Além disso, o tipo de estresse imposto pelo diária representaram 0.9% e os apicais 0.2% do total de ramos. L. regime de umidade nos diferentes habitats dos ambientes de francavillana apresentou brotação mais intensa na parte intermedi- savana possibilitou um largo espectro de respostas em plantas ária (34,5%), seguido dos ramos apicais (53,1%) e finalmente dos filogeneticamente relacionadas (Madeira & Fernandes, 1999). basais (12,4%). Com base nas variações de forma, crescimento, alocação de Também houve diferença significativa entre os potenciais recursos e demanda de água é possível concluir que elas refle- hídricos dos xilemas das duas espécies (t=9.007, gl=39, P=0.000) tem respostas adaptativas intrínsecas das duas espécies de sendo que as médias e desvios padrões foram de –0,515 ± 0,093 Lavoisiera estudadas às condições ambientais de seus habitats. A MPa para L. francavillana e de –0,269 ± 0.081 Mpa para L. cordata. irradiação adaptativa das espécies de Lavoisiera na Serra do Cipó As duas espécies também diferiram quanto à alocação de re- levou à possibilidade deste gênero ocupar de maneira eficiente cursos para as raízes e ramos (t=8.056, gl=25.5, p=0.000). A taxa o mosaico de habitats desta região. de biomassa subterrânea/aérea de L. cordata foi de 1.506 ± 0.405, 4. Referências Bibliográficas enquanto que a de L. francavillana foi de 2.959 ± 0.559. Bloom, A.J.; Chapin, F.S. and Mooney, H.A. 1985. Resource A brotação diferenciada das duas espécies reflete adapta- limitation in plants: an economic analogy. Annual Rewiew of ções a condições diferenciadas de umidade do solo, freqüência Ecology and Systematics 16: 363-392. de ocorrência de incêndios e densidade das populações Coutinho, L. M. aspectos ecológicos do fogo no cerrado. II. Bole-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 593 Cerrado Volume I tim de Botânica da Universidade de São Paulo, v.5, p.57-64, 1977. plantas esclerófilas, contribuindo para a redução da palatabilidade, Fitter, A.H. & Hay, R.K.M. 1987. Environmental Physiology of o que diminuiria o ataque por herbívoros mastigadores e mesmo plants. 2ed. Academic Press, New York. sugadores, que encontrariam barreiras na introdução de órgãos de sucção(Howe & Westley, 1988; Ribeiro et al., 1994; Panda & Garwood ,N.C.1995. Studies in Annonaceae. XX. Morphology Naush, 1995; Molano-Flores, 2001). A esclerofilia é uma caracte- and ecology of seedlings, fruits and seeds of selected Panamanian rística comum em solos pobres de campos de alta altitude, como os species. Otanische Jorbucher fur Systematik, Pflanzengeschichte campos rupestres presentes na Serra do Cipó (Salatino 1993, Ri- und Pflanzengeographie 117: 1-152. beiro et al. 1999). Hallé, F.; Olderman, R.A.A. and Tomlinson, P.B. 1978. Tropical Este trabalho visa testar a hipótese de que o padrão de herbivoria Trees and Forests: na arquitectural Analisys. Springer Verlag. Berlin. responderia à presença de certos caracteres anatômicos que resultam Haridasan, M. 1994. Solos In: Pinto, M.M. (ed) Cerrado: caracte- em defesa mecânica. A predição desta hipótese é de que a herbivoria rização, ocupação e perspectivas. Sematec EDUNB. Brasília. variaria entre espécies e indivíduos, negativamente correlacionados Hutchings, M. J. 1997. The Structure of Plant Population. In: com estes caracteres. Para testar esta hipótese a herbivoria foi Crawley, M. J. 2 ed. Plant Ecology. quantificada em diferentes níveis para diversas espécies co-existentes e convergentes quanto à microfilia, na vegetação rupestre da Serra Madeira, J.A; Fernandes, G.W. 1999. Reproductive phenology of do Cipó. Foram estudadas espécies de Lavoisiera e gêneros afins da sympatric species of Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipó, família Melastomataceae, uma espécie da família Litraceae e uma Brazil. Journal of Tropical Ecology 15: 463-479. espécie de Baccharis (Asteraceae). Outra hipótese testada foi que a Meinzer, F. C., Goldstein, G., Franco, A C., Bustamante, M., Igler, porcentagem de área foliar perdida por herbivoria é maior em folhas E., Jackson, P., Caldas, L. & Rundel, P. W. 1999. Atmospheric and de ramos com mais folhas atacadas, ou seja, que certos ramos são hidraulic limitations on transpiration in Brazilian cerrado woody mais saudáveis que os outros, sendo a planta um mosaico fisiológico apecies. Functional Ecology 13: 273- 282. e fitoquímico, com diferentes níveis de susceptibilidade. Mendonça, M.P. Lins, L.V. 2000. Livro Vermelho das espécies Finalmente, foi testada a hipótese de que o padrão de herbivoria ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais. Belo Horizonte: difere entre duas subpopulações de L. subulata, encontradas em Fundação Biodiversitas, Fundação Zôo Botânica de Belo Hori- manchas multiespecífica e monoespecífica adjacentes. É previsto zonte. menor herbivoria nas plantas da população monoespecífica no caso Moraes, P.L.R., Paoli, A.A.S. 1999. Morfologia e estabelecimento desta estar colonizando um solo mais pobre. Para testar estas hipó- de plântulas de Cryptocarya moschata, Ocotea catharinensis e teses, procuramos quantificar e caracterizar as defesas anatômicas Enclicheria paniculata (Lauraceae). Revista Brasileira de Botânica. como a presença de substâncias fenólicas, cristais de oxalato de cál- 22: 287-295. cio e cordões de fibras na nervura e na margem foliar das espécies em questão, e verificar sua possível influência na intensidade de herbivoria. Priestley, C.H.B. 1959. Heat conduction and temperature profiles 2. Métodos in air and soil. Journal of the Australian Institute of Agricultural As coletas foram feitas em uma população de cada espécie de Sciences. 25: 94-107. planta no Parque Nacional da Serra do Cipó, localizada na porção Sarmiento, G.; Monasterio, M. Life forms and phenology. In: sul da Cadeia do Espinhaço em Minas Gerais, em uma mancha Bouliere, F., ed. Ecosystems of the world: tropical savannas. multiespecífica e uma monoespecífica adjacente, sendo três ramos Amsterdan: Elsevier, 1983. P.79-108. de cada indivíduo coletados aleatoriamente e o dano por herbivoria Souza, H.C. 1997. Estudo comparativo de adaptações anatômicas em nas folhas quantificado. Além disso, dez folhas de cinco indivíduos órgãos vegetativos de espécies de Lavoisiera D.C. (Melastomataceae) de cada espécie foram fixadas em sulfato ferroso em formalina da Serra do Cipó, MG. Campinas, São Paulo. Campinas: Universida- (Johansen, 1940) e desenhadas em câmara clara no papel de Estadual de Campinas. Tese de Doutorado. milimetrado e obtidas medidas de estruturas de defesa, visíveis no Sposito, T.C.D. 1999. Tamanho, forma, alometria e crescimento de desenho. Destas, seis folhas foram selecionadas para a realização de algumas espécies de Cecropia (Cecropiaceae) do Brasil. Instituto de cortes histológicos seccionados à mão livre. Biologia. Universidade Estadual de Campinas. Tese de Doutorado. Testes histoquímicos foram feitos com Sudan III (Sass, 1951). Também forma feitas dissociações de epidermes foliares (Johansen, Whelan, R.J. 1995. The Ecology of Fire. Cambridge University 1940) de L. imbricata e a diafanização (Foster, 1950) tanto das Press. UK. folhas de L. imbricata, quanto das folhas de B. imbricata. O mate- Zar. 1984. Biostatistical Analysis rial testemunho foi depositado no Herbário José Badini do DECBI/ ICEB/UFOP. Fotomicrografias dos cortes anatômicos e as medi- Mecanismos de Defesa e Pressão de Herbivoria em das feitas nas estruturas anatômicas foram realizadas em Espécies Micrófilas de Campo Rupestre na Serra do fotomicroscópio Leica DMLS com lente micrometrada. Cipó-MG Para a hipótese de que a herbivoria (= proporção de área foliar perdida) difere entre as espécies estudadas, foram utilizados mode- Tatiana Lopez Corrêaa, Hildeberto Caldas de Sousaa & Sérvio Pontes Ribeiroa los de análises de variância (ANOVA) e covariância (ANCOVA). aGraduação Ciências Biológicas Universidade federal de Ouro Preto As análises foram realizadas com a medida de área foliar perdida ([email protected]) bUniversidade Federal de Ouro Preto estimada como variável dependente, a espécie da planta atacada como variável independente categórica e a altura de cada planta das espécies estudadas como covariável. Também a herbivoria en- 1.Introdução tre as populações de L. subulata das manchas multiespecífica e Estudos sobre o efeito de caracteres anatômicos foliares no monoespecífica foi comparada utilizando ANOVA. padrão de herbivoria são importantes para a compreensão da intri- Para testar o efeito de caracteres anatômicos (medidos nos cada relação de insetos herbívoros e suas plantas hospedeiras. desenhos em câmara clara) no padrão de herbivoria, foram feitas Evolutivamente, esta relação resulta na especialização de defesas análises de regressão linear simples, sendo as folhas consideradas das plantas e da preferência alimentar dos herbívoros. Característi- como réplicas independentes. E para os caracteres anatômicos cas morfológicas, químicas e fisiológicas, como, baixo teor nutriti- medidos nos cortes histológicos, foram feitas análises de regressão vo, alta dureza e alta concentração de compostos secundários (p.ex. linear múltipla, onde a variável dependente é a proporção de área polifenóis), funcionam como prováveis mecanismos de defesa de

594 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado foliar perdida. Análises de resíduos foram feitas tanto quanto testes e baixo teor de nutrientes, pois não se sabe ainda se os efeitos de homocedasticidade dos dados para cada análise. desses compostos sobre a herbivoria são mera consequência ou se 3. Discussão e Resultados estes evoluíram como formas de defesa (Herms & Mattson, 1992). As espécies estudadas diferiram quanto à porcentagem de área Por outro lado, estruturas como fibras e tricomas glandulares são foliar perdida (ANCOVA, F5, 65 = 6,051; p < 0,001), sendo B. óbvias evidências de alocação de compostos carbônicos para a imbricata mais atacada por herbívoros do que as espécies de construção de barreiras mecânicas contra a herbivoria (Fernandes, Lavoisiera. 1998). A grande concentração destas estruturas em plantas Comparando-se as duas populações de L. subulata, observa-se esclerófilas de campos rupestres, sugere que a baixa palatabilidade que a população da mancha multiespecífica foi mais atacada que a e o baixo teor nutricional não devem ser suficientes para manter da mancha monoespecífica (ANOVA, F1, 53 = 18,747; p < 0,001). populações de herbívoros em níveis baixos, a ponto de prevenir a Este resultado indica que existe uma preferência clara dos insetos existência de pressões evolutivas negativas destes sobre as plantas. herbívoros pela população de L. subulata situada na mancha (Agradecimentos: Á FAPEMIG e ao IBAMA.). multiespecífica em relação à população da mancha monoespecífica, 5. Referências Bibliográficas que poderia estar associada a uma maior pobreza do solo onde se Fernandes, G.W. (1998). Hypersensitivity as a phenotypic basis of encontra a mancha monoespecífica, resultando numa menor qua- plant induced resistance against a galling insect (Diptera: lidade nutricional das folhas das plantas dessa população, ou a Cecidomyiidae). Population Ecology, 27: 260-266. outros aspectos ecológicos, como proteção contra predadores, etc. Foster, A.S. (1950). Techniques for the study of venation patterns on Fazendo uma relação entre o número de possíveis caracteres the leaves of angiosperms. Proceedings 7th Int. Bot. Stockholm. anatômicos de defesa quantificados para as três espécies estudadas e a proporção de área foliar perdida em cada espécie, foi observado Herms, D.A.; Mattson, W.J. (1992). The dilemma of plants: to que a espécie com maior número de caracteres anatômicos de grow or defend. Quarterly Review in Biology, 67: 283-335. defesa detectados (L. imbricata) teve menor porcentagem de área Howe, H.F.; Westley, L.C. (1988). Ecological relationships of plants foliar perdida e as espécies que possuem menos caracteres and animals. New York: Oxford Univ. Press. anatômicos de defesas (B. imbricata e L. subulata), foram as mais Johansen, D.A. (1940). Plant microtechnique. New York: McGram- atacadas, indicando assim, que mesmo não sendo observado um Hill Book Co. Inc. efeito direto, quantitativo, da maioria desses caracteres estudados Loveless, A.R. (1962). Further evidence to support a nutricional na herbivoria, estes possuem uma relação inversa com a proporção interpretation of sclerophylly. Annals of Botany, 26: 551-561. de área foliar perdida em cada espécie. Para B. imbricata, a única característica anatômica que teve Medina, E.; Garcia, V.; Cuevas, E. (1990). Sclerophylly and efeito significativo sobre a herbivoria foi o número de “dentes” por oligotrophic environments: relationships between leaf structure, mineral nutrient content, and drought resistance in tropical rain folha (Regressão linear simples, y = 0,671 - 0,0229x; F1, 48 = 10,933; p < 0,05), não sendo observado um efeito direto das demais carac- forest of the upper rio Negro region. Biotropica, 22: 51-64. terísticas analisadas. Esta diferença mostra que o número de “den- Molano-Flores, B. (2001). Herbivory and calcium concentrations tes” por folha é uma característica anatômica que contribui para a affect calcium oxalate crystal formation in leaves of Sida (Malvaceae). redução do ataque por insetos herbívoros em B. imbricata. As ca- Annals of Botany, 88: 387-391. racterísticas anatômicas que explicaram a variância na herbivoria, Panda, N.; Naush, G.S. (1995). Host plant resistance to insects. CAB em L. imbricata, foram a espessura média da parede periclinal ex- Internat. E IRRI, Wallingford-UK. terna das células epidérmicas, na região do cordão de fibras da nervura central, na face abaxial, e a área média do cordão de fibras Ribeiro, S.P.; Pimenta, H.R.; Fernandes, G.W. (1994). Herbivory by chewing and sucking insects on Tabebuia ochracea. Biotropica, na margem foliar (Regressão linear múltipla, y = 1,1– 0,057x – 26: 302-307. 0,0001x; F1, 22 = 4,090; p < 0,05). Nenhuma das características analisadas para L. subulata explicou a variância da herbivoria. Não Ribeiro, S.P.; Braga, A.O.; Silva, C.H.L.; Fernandes, G.W. (1999). foi observado o efeito direto destas defesas no desempenho de Leaf polyphenols in Brazilian Melastomataceae: Sclerophylly, defesa de cada planta individual. habitats, and insect herbivores. Ecotropica, 5: 137-146. 4. Conclusões Salatino, A. (1993). Chemical Ecology and theory of oligotrophic As espécies estudadas neste trabalho foram relativamente pou- scleromorphism. Anais da Academia Brasileira Ciência, 65: 1-13. co atacadas, isto é, possuem uma pequena proporção de área foliar Sass, J.E. (1951). Botanical microtechnique. 2nd edn. Ames: The perdida por herbivoria, o que corrobora a hipótese de que espécies Iowa State College Press. de vegetação esclerófila são deterrentes ao ataque de insetos herbí- voros (Ribeiro et al., 1999). Este ataque às folhas foi inversamente correlacionado ao número de defesas anatômicas medidas por es- Efeitos da inoculação de fungos micorrízicos em pécie. Dessa forma, um efeito do acúmulo de estruturas de defesas estilosantes campo grande em resposta a níveis na herbivoria é observado nas espécies estudadas, mesmo não sen- crescentes de P do identificado o efeito direto de algumas estruturas. Entretanto, o Tatiana Soares Ferreira de Souza¹, Deine Garcia Azambuja² & efeito da defesa mecânica pode ser confundido com as causas de Cesar Heraclides Behling Miranda³ uma baixa qualidade nutricional dos tecidos vegetais das folhas ¹ Graduanda em Ciências Biológicas, Univ. Fed. de Mato Grosso do esclerófilas, que contribuem para a redução da palatabilidade das Sul ([email protected]) , ²Pós- graduanda em Proteção Vegetal, folhas para os insetos herbívoros (Loveless, 1962, Ribeiro et al. UNESP, Jaboticabal, SP & ³ Engº Agrº, PhD, Embrapa Gado de 1999). Corte. CP 154, 79002-970, Campo Grande, MS. A dificuldade de se alimentar de plantas é um fato incontestá- vel. Grandes concentrações de compostos carbônicos em forma de 1 - Introdução fibras, ligninas ou taninos se tornaram barreiras digestivas, sempre Uma das principais limitações para a agricultura nos trópicos, quando associadas à baixa qualidade nutricional de plantas (Loveless, é a baixa fertilidade dos solos que, em sua maioria, são ácidos e 1962; Medina et al., 1990). Entretanto, muitos estudos são neces- apresentam deficiências generalizadas de nutrientes, principalmente sários para a compreensão da evolução do acúmulo de carbono do fósforo (Goedert,1983). Nos solos sob cerrados, além dos bai- como compostos carbônicos em ambientes sob intensa luminosidade xos teores de P disponível, há uma alta capacidade de fixação das

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 595 Cerrado Volume I formas solúveis de P adicionadas ao solo como fertilizantes. ção durante a condução do experimento, e não como resultado de Micorrizas são relações mutualísticas comuns na natureza, for- má esterilização inicial do solo. madas por certos fungos do solo e as raízes da grande maioria das Os teores totais de P das plantas mostraram a mesma tendên- plantas (Smith & Read, 1997). Aumentando a área de exploração do cia da produção de matéria seca, sendo os tratamentos solo natural sistema radicular, bem como penetrando em poros do solo de difícil e inoculado de produção semelhantes e maiores do que o solo acesso às raízes, as micorrizas beneficiam as plantas na absorção de esterilizado. Dentro dos níveis, verificou-se resposta positiva, com nutrientes pouco móveis na solução do solo, tais como o P e Zn. incremento de acordo com os níveis crescentes de P, até o nível O Estilosanthes Campo Grande é uma leguminosa forrageira equivalente a 50 kg de P/ha. resultante da mistura física de diversos acesso de Stylosanthes Com relação ao N total das plantas, também observou-se mai- macrocephala (80%) e diversos acessos de S. capitata (20%). É reco- or produção no solo natural e no inoculado do que no solo esteri- mendado para pastagens consorciadas nos solos arenosos dos Cer- lizado, em resposta aos níveis de P. Embora não tenha havido rados. Lopes et al. (1980), por exemplo, mostraram que, em con- diferença estatística (p>0,05) para a interação entre níveis e trata- dições de deficiência de P, algumas leguminosas não chegam a mento, verificou-se uma tendência de maior produção de N total formar nódulos, a menos que suas raízes sejam colonizadas por nas plantas crescendo no solo natural. Isso ocorreu devido a uma fungos micorrízicos, ou que o solo seja adubado com elevadas nodulação significativamente maior no solo natural (p<0,01), indi- doses de fósforo. A nodulação com Rhizobium spp. é necessária cando uma maior diversidade de estirpes de Rhizobium nessa con- para que as leguminosas obtenham Nitrogênio através de fixação dição do que no selecionado nos nódulos amostrados para do N2 atmosférico. inoculação no plantio. Neste trabalho, são descritos os resultados obtidos em experi- Os teores de K, Ca e Mg também mostraram resposta seme- mento no qual comparou-se a resposta do Estilosantes Campo lhante aos demais nutrientes, com incrementos de acordo com o Grande a inoculação de seis espécies de fungos micorrízicos ou a nível de P, porém sem resposta diferenciada entre o solo natural e infecção com fungos indígenas, quando submetido a doses crescen- o solo inoculado, até o nível 50Kg P/ha. tes de P, fornecido como fosfato de rocha 5 - Conclusão 2 - Materiais e Métodos Observou-se resposta positiva do Estilosantes Campo Grande O experimento foi desenvolvido na casa de vegetação, na aos níveis de P, com aumentos progressivos de produção de matéria EMBRAPA Gado de Corte, Campo Grande (MS). Compararam- seca e conteúdos totais de P, N, K Ca e Mg nos níveis equivalentes se três tratamentos: 1) solo Areia Quartzosa, típico dos Cerrados, a 25 e 50kg de P/ha. A inoculação com seis espécies selecionadas em condições naturais; 2) o mesmo solo, porém esterilizado por de fungos micorrízicos não resultou em apresentou vantagens em fumigação com Brometo de Metila por 72h; 3) mesmo solo esteri- comparação ao solo natural, indicando que esse solo contem fun- lizado, porém com inoculação de seis espécies de fungos micorrízicos gos micorrízicos indígenas capazes de infectar e contribuir efetiva- (Glomus etunicatum, G. clarum, G. albida, G. brasilianum, mente para a produção das plantas. Acaulosphora scrobiculata e Scutelosphora heterogama) e um lixiviado 6 - Referências Bibliográficas de solo natural com extrato de nódulos de Estilosantes, filtrado de GOEDERT, W,J. Management of the Cerrado soils of Brazil: a forma a não passar propágulos de fungos micorrízicos. Os solos review. Journal of Soil Science, Oxford, v.34, p.405-428, 1983. receberam quatro níveis de fósforo equivalente a 0, 25, 50 e 100Kg LOPES, E.S.; OLIVEIRA, E.; NEPTUNE, A.M.L. O efeito de de P/ha, na forma de fosfato de rocha de Araxá. Cada tratamento espécies de micorrizas vesicular arbusculares no Siratro (Macroptilium teve seis repetições distribuídas num desenho experimental intei- atropurpureum). Bragantia, Campinas, v.39, p.241-245, 1980. ramente ao acaso. O experimento foi conduzido por 60 dias após a transplantio PHILLIPS, J.M. & HAYMAN, D.S. Improved procedures for de plântulass pré- germinadas de Estilosantes Campo Grande. clearing roots and staining parasitic and vesicular-arbuscular Na colheita, as plantas foram cortadas rente ao solo e as raízes mycorrhizal fungi for rapid assemessment of infection. Trans. Br. separadas manualmente, lavadas e armazenadas em álcool a 70% Mycol. Soc., London, 55:158-161, 1970. para posterior análise da colonização micorrízica, que foi feita SMITH, S.E. & D.J.READ. Mycorrhizal Symbiosis. Academic usando-se o método de coloração das raízes com azul-de-tripano, Press, London, 1997. 605p. conforme Phillips & Hayman (1970). O material da parte aérea foi seco em estufa a 65°C até peso constante, moído e armazena- Levantamento da anurofauna da região de do para análises posteriores. Analisaram-se os teores de N, P, K, Pirenópolis, Estado de Goiás, Brasil. Ca e Mg, usando-se a técnica de NIRS, conforme usado na Thiago Barbosa e Silva1,2; Carolina Fernandes Canêdo2; Hugo EMBRAPA Gado de Corte. Antunes Lima1 ;Carlos Eduardo Santos Araújo1,2; Lorena Dall´Ara 3 – Resultados e Discussão Guimarães3. ( 1. Universidade Católica de Goiás; 2. Bioma Pesquisas Verificou-se significância (p<0,01) para os efeitos de tratamen- Biológicas; 3. Universidade Estadual de Goiás) tos, em resposta aos níveis de P, na produção de matéria seca do [email protected]. Estilosantes Campo Grande, especialmente nos níveis equivalen- tes a 25 e 50kg P/ha, em comparação ao produzido na testemnunha 1. Introdução sem P (nível 0P). A resposta do nível 100kg/ha foi semelhante ao Pirenópolis surgiu no século XVIII, no ciclo do ouro, sendo nível 50kg de P/ha. A produção foi semelhante no solo inoculado fundada em outubro de 1727. A cidade está situada a 15,8525 de e no natural, indicando que o solo natural tinha fungos micorrízicos latitude e 48,95917 de longitude a 740m de altitude, sendo que o equivalentes ou de mesmo potencial de interação com a leguminosa ponto mais alto do município é o Pico dos Pireneus, com 1385m de que o dos fungos inoculados altitude. Em Pirenópolis, a riqueza do patrimônio histórico aliada à Verificou-se que a infecção de raízes das plantas nos diferentes riqueza da fauna e da flora, fazem a cidade e a região se destacarem tratamentos foi semelhante entre os tratamentos solo natural e no cenário turístico de Goiás (Carvalho, 2000). Além do turismo, inoculado (numa média de 50% da área das raízes colonizadas por outra atividade econômica da região é a extração de quartzito micáceo fungos micorrízicos arbusculares), porem significativamente maio- e arenito, que vem causando a degradação generalizada do meio res (p<0,01) do que o solo esterilizado (numa média de 13%). A ambiente. Além de sua importância histórica, as paisagens de colonização no solo esterilizado não foi uniforme, apenas alguns Pirenópolis abrigam diferentes formações vegetacionais de grande vasos tinham raízes colonizadas, indicando que houve contamina- interesse científico e outros atrativos naturais que a tornaram um

596 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado dos principais pólos turísticos de Goiás. O turismo em Pirenópolis ar e água. Em seguida foram transportados até a base de apoio para vem crescendo desordenadamente e sem planejamento, o que está serem triados, fixados em solução de formalina 10%, identificados causando a degradação de importantes recursos naturais. e quantificados. Depois foram etiquetados e armazenados em reci- Estudos de biodiversidade de anfíbios são, particularmente, pientes contendo solução de álcool 70%, sendo então tombados importantes para a detecção de espécies indicadoras de mudanças na coleção zoológica da UFG, denominada ZUFG. ambientais (Blaustein & Wake, 1995a; Dalton, 2000). Os repre- A identificação dos anuros foi realizada segundo bibliografia sentantes deste grupo zoológico particularmente sensíveis a essas especializada (Cochran, 1955; Lutz, 1973; Heyer et al.,1990) e variações, devido às suas particularidades comportamentais e fisio- por comparação com indivíduos depositados em outras coleções lógicas, tais como: pele permeável, pouca mobilidade, dependên- (Laboratório de Comportamento Animal da Universidade Federal cia simultânea de ambientes terrestres e aquáticos (Alford & de Goiás e Museu Nacional do Rio de Janeiro). Richards, 1999; Beebee, 1996; Blaustein & Wake, 1990; Feder, 3. Resultados 1983; Vitt et al., 1990). Estudos mostram que, com a diminuição Foram registradas 29 espécies de anfíbios, sendo que 5 des- ou perda das áreas de florestas primárias, ocorre uma diminuição tas espécies foram registradas pela primeira vez ( Hyla cruzi, da riqueza de espécies de anuros (Demaynadier & Hunter, 1998; Hyla rubicundula, Scinax nebulosa, Leptodactylus syphax e Tocher, 1998; Zimmerman & Bierregaard, 1986). Além disso, os Physalaemus nattereri). As famílias encontradas foram: Hylidae anfíbios são elementos importantíssimos nas cadeias ecológicas (15 espécies), Leptodactilydae (10 espécies), Bufonidae (2 es- (Stebbins & Cohen, 1995) e são alvos, atualmente, de biopirataria, pécies), Dendrobatidae (1 espécie) e Microhylidae (1 espécie). pois na sua pele encontram-se compostos químicos de interesse A espécie mais abundante foi Physalaemus cuvieri, sendo regis- das grandes indústrias farmacêuticas. trada em todas as áreas pesquisadas. A menos abundante foi Muitos dados importantes sobre a composição faunística bra- Epipedobates flavopictus, sendo registrada somente um indivíduo sileira não têm sido publicados, estando as informações limitadas a no Parque Estadual da Serra dos Pireneus. Esta espécie é en- dissertações, teses e relatórios, que muitas vezes são de acesso contrada geralmente em ambientes associados à afloramentos difícil se não impossível. Infelizmente, não há muito espaço dispo- rochosos, podendo ser considerada um bioindicador de quali- nível e incentivo à publicação de estudos sobre composição dade ambiental na região. faunística, o que não deixa de ser paradoxal, pois esses estudos são 4. Bibliografia fundamentais para a compreensão da biodiversidade e conseqüen- ALFORD, R. A. & RICHARDS, S. J. Global amphibian declines: temente para o planejamento e a tomada de decisões sobre estraté- a problem in applied ecology. Annu. Rev. Ecol. Syst. 30: 133-165, gias de conservação (Haddad, 1998; Haddad & Abe, 2000). 1999. Desta forma, este trabalho teve como objetivo fazer um levan- BEEBEE, T. J. C. Ecology and conservation of Amphibians. Chapman tamento das espécies de anfíbios anuros de Pirenópolis, tendo em & Hall, Londres, p. 1-214, 1996. vista que poucos levantamentos foram realizados nesta região. A diversidade e riqueza de anfíbios anuros foi analisada em diversos BLAUSTEIN, A. R. & WAKE, D. B. Declining amphibian ambientes (Mata de Galeria e brejos associados a cerrado rupestre, populations: a global phenomenon? Trends Ecol. Evol. 5: 203-204, brejos associados a matas de galerias e brejos em áreas degradadas). 1990. Com estes dados foi elaborado um inventário das espécies de anfí- BLAUSTEIN, A.R. & WAKE, D.B. Declive de las poblaciones de bios encontrados na área. anfibios. Investigación Y Ciencia 225: 8-13, 1995a. 2. Métodos COCHRAN, D. M. Frogs of Southeastern Brazil. Bull. U. S. Nat. O levantamento faunístico de anfíbios anuros foi realizado Mus. 206: 1-423 + xviii, 1955. durante a temporada reprodutiva das espécies, pois, nesse período, DALTON R. WWW project aims to address worldwide decline os indivíduos se fazem evidentes através das vocalizações dos ma- in amphibians Nature 403 (6769): 471-472, 2000. chos, formando “coros” e constituindo comunidades locais (Ramirez, et. al. 1998). DEMAYNADIER, P. G. & HUNTER, Jr. M. L. Effects of Este estudo foi realizado através de um trabalho de campo que silvicultural edges on the distribution and abundance of amphibians durou oito dias, quatro dias em dezembro de 2002 e quatro em in Maine. Conservation Biology 12 (2): 340-352, 1998. fevereiro de 2003. As áreas amostradas foram: Parque Estadual da FEDER, M. E. Integrating the ecology and physiology of Serra dos Pirineus, Reserva Ecológica Vaga-Fogo, Pousada Quinta plethondontid salamanders. Herpetologica 39: 291-310, 1983. da Santa Bárbara e Fazenda HADDAD, C.F.B. Biodiversidade dos anfíbios no Estado de São Cada turno de observação foi iniciado aproximadamente entre as Paulo. pp. 15-26. In: Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: 1800h e 1900h, pouco antes do pôr do sol (quando os machos de síntese do conhecimento ao final do século XX. 6: Vertebrados/ CAS- muitas espécies de anuros iniciam suas atividades de vocalização). Não TRO, R. M. C. (org.), São Paulo: FAPESP, 1998. foram consideradas as alterações estabelecidas pelo horário de verão. HADDAD, C.F.B. & ABE, A. S. Workshop Mata Atlântica e Campos Para todos os turnos de observações, foram anotadas em ca- dernetas de campo, as seguintes variáveis ambientais: temperatura Sulinos. Departamento de Zoologia, I.B., UNESP, Rio Claro, SP, 2000. do ar e umidade relativa, que foram obtidas através do Termo- HADDAD, C. F. B. Comportamento reprodutivo de uma comunica- Higrômetro digital Minipa e condições meteorológicas (chuva, ção sonora de Hyla minuta Peters, 1872 (Amphybia, Anura, Hylidae). claridade e fase da lua, presença de trovões, presença de vento). Campinas. Instituto de Biologia, UNICAMP, 1987. 135 p. Disser- As observações foram realizadas utilizando-se lanternas manu- tação (Mestrado em Ecologia). Instituto de Biologia, Universida- ais de luz branca ou com um filtro vermelho acoplado, quando de Estadual de Campinas, 1987. necessário para diminuir o estresse nos animais (Haddad, 1987; HEYER, W. R.; RAND, A. S.; CRUZ, C. A. G.; PEIXOTO, O. Robertson, 1990), e de acordo com os métodos de “animal focal”, L. & NELSON, C. E. Frogs of Boracéia. Arq. Zool. 31 (4): 231- de “todas as ocorrências” e de “seqüências” (Lehner, 1979; Martin 410, 1990. & Bateson, 1986), sendo registradas em fitas cassetes para posteri- LEHNER. P.N. Handbook of ethological methods. New York, or transcrição, através de gravador DAT Sony TCD-D100 utili- Garland STPm Press, 403 pp. 1979. zando-se microfone direcional Sony ECM-MS907. Os anfíbios foram coletados manualmente, sendo posterior- LUTZ, B. Brazilian species of Hyla. Univ. Texas Press, Austin, p.1 – mente acondicionados em sacos plásticos contendo um pouco de 260 + xviii, 1973.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 597 Cerrado Volume I

MARTIM, P. & BATESON, P. Measuring behavior. An introductory A bacia hidrográfica do rio Monteiro localiza-se a nordeste do guide. Cambridge: Cambridge Univ. Press, p.1-199, 1986. Distrito Federal entre os paralelos 15º33’12” e 15º41’41” e RAMIREZ, J.; VOGT, R.C. & LILLAREAL- BENITEZ, J.L. meridianos 47º33’16” e 47º46’15”. Insere-se no alto curso da Population biology of a neotropical frog (Rana vaillanti). J. Herpetol. bacia hidrográfica do rio São Bartolomeu, sendo marcada por ca- 32: 338-344, 1998. racterísticas antagônicas (Steinke, 2002): de um lado a ocupação humana representada pela cidade de Planaltina, por outro lado a ROBERTSON, J.G.M. Female choice increeases fertilization presença de uma importante unidade de conservação – parte da success in the Australian frog, Uperoleia laevigata. Animal Behavior., Estação Ecológica de Águas Emendadas – EEAE. Há ainda em sua v. 39, p. 639-645, 1990. porção inferior o trecho inicial da Área de Proteção Ambiental do STEBBINS, R. C. & COHEN, N. W. A natural history of amphibians. rio São Bartolomeu (Araújo, 2002). Princeton University Press, Princeton, New Jersey, 1995. 2. Métodos TOCHER, M. Diferenças na composição de espécies de sapos Geoprocessamento entre três tipos de floresta e campo de pastagem na Amazônia A utilização do geoprocessamento neste trabalho compreen- central, p. 219-232. In: GASCON, C. & MOUTINHO, P. (Eds.). deu operações de coleta, tratamento e geração de informações Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo. Manaus, Mi- espaço-temporais organizadas em planos de informação e, a partir nistério da Tecnologia e Ciência, Instituto de pesquisas da Amazô- destes, a geração de novos dados (Saito et al, 2002). Os planos de nia, 373p., 1998. informação (PI’s) primários foram: imagem de satélite LANDSAT VITT, L. J., CALDWELL, J. P., WILBUR, H. M. & SMITH, D. 7ETM+, curvas de nível obtidas de cartas topográficas e hidrografia. C. Amphibians as harbingers of decay. BioScience 40: 418, 1990. Os PI’s secundários foram: o uso e ocupação da terra, o modelo numérico do terreno (MNT) e a densidade e classificação de dre- ZIMMERMAN, B. L. & BIERREGAARD, R. O. Relevance of nagem. O primeiro foi gerado com vistas à identificação das prin- the equilibrium theory of island biogeography and species-area cipais formas de usos e ocupação da terra na bacia hidrográfica, relations to conservation with a case from Amazonia. Journal of enquanto que o segundo serviu à definição das sub-bacias de con- Biogeography. 13: 133-143, 1986. tribuição aos pontos de amostragem. O terceiro, gerado da hidrografia, permite a identificação das ordens dos diversos corpos Definição de rede de amostragem para avaliação da d’água integrantes da bacia. qualidade da água a partir de técnicas de O PI Uso da Terra foi elaborado através do processamento geoprocessamento: primeira aproximação para a digital de uma imagem LANDSAT 7 ETM+, utilizando o método bacia hidrográfica do rio Monteiro – Planaltina (DF) de segmentação de imagens disponível no software Erdas-Imagi- Valdir Adilson Steinke c d Symone de Santana Araújo a Ercília Torres ne8.5. Este método pode ser descrito como sendo o processo de Steinke a b Carlos Hiro Saito e divisão de uma imagem em segmentos não sobrepostos. Em pri- a Programa de Pós-Graduação em Ecologia – Universidade de Brasília meira instância, o método é muito similar à classificação não su- b Departamento de Geografia – Universidade de Brasília pervisionada, como a ISODATA. A segmentação de imagens divide c Programa de Pós-Graduação em Geologia – Universidade de Brasília a imagem em grupos espectrais únicos, entretanto, a segmentação d Centro de Sensoriamento Remoto do IBAMA – PNUD inclui um componente espacial. A exigência é que todos os pixels ([email protected]). em um grupo (ou segmento) sejam espacialmente contíguos. Estes e Departamento de Ecologia – Universidade de Brasília. segmentos podem ser usados para extrair e classificar feições pro- duzindo uma imagem melhor classificada. O programa de 1. Introdução segmentação utilizado neste trabalho foi o RSAC (Remote Sensing Diferentes usos da terra ao longo de uma bacia hidrográfica Application Center) desenvolvido para o ERDAS-IMAGINE 8.5 provocam alterações nas relações entre as variáveis ambientais. (Ruefenacht, et all 2002). Isso ocorre porque a qualidade de corpos d’água ao refletir a exten- O PI topográfico, representado pelo MNT, incluiu a distribui- são da atividade humana da sua área de influência, produz efeitos e ção espacial dos atributos da superfície do terreno de maneira características específicas que servem, de acordo com Campana et estruturada baseada em Triângulos Irregulares (TIN), onde a su- al. (2001), para permitir que a qualidade dos recursos hídricos em perfície é dividida em planos triangulares. Triângulos são formados uma bacia hidrográfica seja correlacionada com o uso e ocupação a partir de nós (cujos valores representativos do atributo do terre- da terra. Desse modo, para uma interpretação ecológica da quali- no em determinado ponto, não são alterados por procedimentos dade das águas superficiais e/ou para estabelecer um sistema de de interpolação), que passam a constituir os vértices destes triân- planejamento, é necessário que a definição de rede de amostragem gulos. É uma estrutura de dados eficiente, onde o tamanho e a para avaliação da condição de qualidade da água em uma bacia forma dos triângulos é variável em função da complexidade do hidrográfica leve em conta as contribuições específicas de cada terreno, permitindo a fixação de linhas representativas do relevo categoria de uso da terra e assim possa indicar gradientes de altera- como lados dos triângulos (Steinke, 2002). ção. A grande variedade de fatores a serem considerados e o volume O Plano de informação primário, hidrografia, foi fonte para das informações a serem trabalhadas no estabelecimento desta rede, outro plano de informação secundário, o qual representa a caracte- apontam para o geoprocessamento como ferramenta a ser utiliza- rização morfométrica da rede fluvial da bacia. A análise da. A idéia é que a partir de critérios próprios e de métodos simples morfométrica não está relacionada somente aos elementos compo- que ofereçam informações objetivas e interpretáveis, sejam consi- nentes do sistema fluvial pois, para o caso das bacias hidrográficas, deradas as características peculiares dos recursos hídricos na bacia, é relevante o estudo da rede de canais com o propósito de fornecer de modo que expressem, de forma objetiva e integrada, as altera- indicadores sobre o conjunto integrativo do sistema ambiental. ções da qualidade da água sob diferentes tipos de uso da terra. O Para a caracterização morfométrica da rede fluvial da bacia do rio objetivo do trabalho foi utilizar geoprocessamento para definição Monteiro foram calculados os seguintes indicadores: comprimen- preliminar da rede de amostragem para qualidade da água na bacia to total dos canais da bacia (L), área total da bacia (A); densidade hidrográfica do rio Monteiro a partir de um conjunto de critérios da drenagem (Dd = L/A); quantidade de canais (Fb); amplitude representados por planos de informação manipulados em Sistema altimética (H) e constante manutenção do canal (CMC = A/L). de Informação Geográfica – SIG. Critérios para definição da rede de amostragem Área de estudo Para a definição da rede de amostragem a bacia foi segmentada

598 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado em trechos que representam adequadamente as diversas situações trabalho de campo, isso significa que, por se tratar de definição de uso e ocupação da terra que ocorrem em suas sub-bacias de preliminar, as classes de uso da terra poderão ser subdivididas de contribuição. A cada trecho corresponde uma estação de modo a apresentar resultados que representem melhor a realidade amostragem. A delimitação dos trechos e conseqüentemente da da bacia de estudo. Além disso, outros critérios também poderão rede de amostragem foi feita a partir da sobreposição de PI´s se- ser considerados na definição da rede de amostragem, quais sejam: cundários, aplicados de forma independente, são eles: a existência de descargas de poluentes (fontes pontuais), as infor- · Identificação do uso e ocupação da terra – critério da seme- mações de qualidade da água em estudos anteriores e ainda a aces- lhança de usos, ou seja, sempre que possíveis usos semelhantes sibilidade aos locais de amostragem. A rede de amostragem obtida devem estar agrupados em um mesmo trecho (Maciel Jr., 2000) ou indica o potencial da utilização de geoprocessamento em estudos ainda um trecho é caracterizado por certa homogeneidade de uso ecológicos, como os relacionados à avaliação da condição da qua- e ocupação da terra; lidade da água em uma bacia hidrográfica, na medida em que pro- · Densidade e classificação de drenagem – instalação de esta- picia um avanço no âmbito de estudos dessa natureza, uma vez que ção de amostragem em canal de 3ª ordem, (Christofoletti, 1999). possibilita a adoção de critérios técnicos como base para a tomada O número de estações de amostragem e suas localizações são o de decisões a partir de informações de uso e ocupação da terra do resultado do cruzamento dos PI´s de modo que: e da estruturação do espaço na bacia hidrográfica. NEA = EAC1 + EAC2 – (EAC1n EAC2), (O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, uma onde: entidade do governo brasileiro voltada ao desenvolvimento cientí- NEA = número de estações de amostragens; fico e tecnológico) EAC1 = número de estações de amostragem definidas pelo 5. Referências Bibliográficas primeiro critério; Araújo, S. C.S., (2002). Utilização de modelos de simulação baseados EAC2 = número de estações de amostragem definidas pelo em Raciocínio Qualitativo para avaliação da qualidade da água em segundo critério; Bacias Hidrográficas: o caso da bacia do rio Monteiro, Planatina(DF), EAC1n EAC2 = número de estações de amostragem identifica- Projeto de Qualificação do Curso de Doutorado em Ecologia. dos simultaneamente pelos dois critérios. mimeo. Brasília: Departamento de Ecologia UnB. Uma vez definido o número de pontos que integram a rede de Campana, N. A. e Eid, N. J. (2001). Monitoramento do uso do amostragem para cada um deles é determinada sua bacia de contri- solo. In: Paiva, João B. D. de e Paiva, Eloiza M. C. D. de buição a partir do MNT. (organizadores). Hidrologia aplicada à gestão de pequenas bacias 3. Discussões e Resultados hidrográficas. Porto Alegre: ABRH, 625 páginas. Os resultados obtidos foram os produtos intermediários e pro- duto final. Os produtos intermediários estão organizados em: (i) Christofoletti, A., (1999). Modelagem de Sistemas Ambientais. Ed. uso e ocupação da terra; (ii) modelo numérico do terreno e (iii) Edgard Blücher. São Paulo – SP. 236p. densidade e classificação de drenagem. O produto final compreen- Koide, S. e Souza, M. A. A. de (2001). Monitoramento da qualida- de a definição da rede de drenagem. de da água. In: Paiva, J. B. D. e Paiva, E. M. C. D. de (organizadores). PI Uso e Ocupação da Terra Hidrologia aplicada à gestão de pequenas bacias hidrográficas. Porto Este plano de informação reuniu dados sobre a utilização do Alegre: ABRH, 625 páginas. espaço geográfico no ano de 2002. Constituiu-se de mapa temático Maciel Jr., P. (2000). Zoneamento das Águas. 1ª edição. Belo Horizonte. onde cada classe identificou um tipo de uso/ocupação da terra, seja Ruefenacht, B. et all. (2002). New Technique for Segmenting Images. ele natural ou decorrente de atividades antrópicas. As categorias de Washington, DC: United States Department of Agriculture. Cap- uso e ocupação da terra foram agregadas em um número menor turado na internet em 15 de Maio de 2003. www.usda.gov. para garantir a boa representatividade dos resultados. Assim foram definidas 06 (seis) classes de uso e ocupação da terra: Uso rural Saito, C. H., Araújo, S. C. S., Steinke, E. T., Dusi, R. L. de M., (30,8%); Água (0,9%); Reflorestamento (0,5%); Cerrado (50,7%); Lopes, F. F. de P., Franco, E. M. e Barroso H.G. (2002). Utilização Mata de galeria (6,6%); Uso urbano (10,5%). do geoprocessamento na identificação de formas de uso e ocupação da PI Topográfico terra que oferecem riscos à qualidade da água na bacia do Monteiro, O MNT permitiu a quantificação de algumas grandezas asso- Planaltina-DF. Anais do 2º SIMPORH, Trab058. ciadas às características físicas de uma região, como por exemplo, a Steinke, E. T., (2002). Variáveis Climáticas como indicadores de im- variação da declividade, o que interfere diretamente na ocupação e pactos ambientais: estudo de caso – bacia do rio Monteiro, Planatina/ distribuição das atividades antrópicas. Propiciou, também, a iden- DF, Projeto de Qualificação do Curso de Doutorado em Ecologia. tificação das unidades morfo-pedológicas da bacia e dos comparti- mimeo. Brasília: Departamento de Ecologia UnB. mentos do relevo, fator este de crucial importância para a determi- Steinke, V. A. & Costa, D. A. de A. (2002). Determinação de Feições nação das áreas de contribuição da drenagem. Geomorfológicas a partir da Técnica de Multiplicação de Bandas Espectrais PI Densidade e classificação de drenagem e do Modelo Numérico do Terreno. Anais Vol. II: IV Simpósio Naci- Este PI resultou na identificação de 103 canais de 1ª ordem, de 50 onal de Geomorfologia. São Luis/MA. canais de 2ª ordem, de 28 canais de 3ª ordem e de 11 canais de 4ª ordem. As variáveis morfométricas da rede fluvial da bacia do rio Monteiro são: comprimento total dos canais da bacia (L) = 125km, Galhas entomógenas da Serra de São José (Minas área total da bacia (A) = 195km²; densidade da drenagem (Dd = L/A) Gerais, Brasil) 1 2 = 0,65; quantidade de canais (Fb) = 192; amplitude altimética (H) = Valéria Cid Maia & Geraldo Wilson Fernandes 550m; e constante manutenção do canal (CMC = A/L) = 1,55. 1.Museu Nacional (UFRJ); 2. Universidade Federal de Belo Rede de Amostragem Horizonte O resultados obtidos da sobreposição de PI´s secundários são: EAC1 = 18; EAC2 = 16 e EAC1 n EAC2 = 9 . 1. Introdução Na fórmula NEA = EAC1 + EAC2 – (EAC1n EAC2), se obtém Galhas são tumores vegetais que ocorrem em resposta a estí- que o número de estações de amostragem é igual a 25 . mulos provocados por organismos estranhos (microorganismos, 4. Conclusões e Considerações Finais ácaros, insetos e outros). Ocorrem em qualquer parte da planta e Os resultados aqui apresentados serão aprimorados a partir de geralmente a afetam negativamente, comprometendo o crescimen- to vegetativo e a produção de sementes e frutos. Entre os animais

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 599 Cerrado Volume I galhadores, os insetos se destacam como os mais freqüentes, ocor- nenhuma família de planta em particular, mas a maioria de suas rendo em uma grande variedade de plantas, muitas delas economi- galhas exibiram uma característica peculiar: a de não formar estru- camente importantes. A grande maioria das galhas entomógenas turas abertas, diferindo das galhas das outras ordens de inseto. são induzidas por mosquitos (Diptera: Cecidomyiidae), e uma par- Algumas das espécies de plantas hospedeiras são consideradas cela menor por Hymenoptera, Hemiptera, Coleoptera, Lepidoptera, raras devido principalmente à exploração indiscrimada de seus fru- Thysanoptera e outros Diptera. Na região Neotropical, os campos tos, sementes ou madeira, como: Anona crassiflora (araticum), rupestres e o cerrado são considerados como as formações vegetais Astronium fraxinifolium (gonçaleira), Byrsonima verbascifolia (murici com maior riqueza de insetos galhadores (Lara & Fernandes, 1996; de flor amarela), Campomanesia pubescens (gabiroba) e Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001). No entanto, em função da Stryphnodendron addstringens (barbatimão). escassez de trabalhos de taxonomia, a maioria das espécies galhadoras Além dos indutores, outros insetos foram encontrados associ- permanece sem identificação. O objetivo principal deste trabalho ados às galhas como parasitóides (Hymenoptera: Eurytomidae, é ampliar o conhecimento sobre a diversidade das espécies galhadoras Braconidae, Platygastridae, Eulophidae, Pteromalidae, nestas formações. Escolhemos como área de estudo a Serra de São Ichneumonidae e Encyrtidae), inquilinos (Coleoptera: José, localizada no Estado de Minas Gerais, entre as coordenadas Curculionidae, Lepidoptera, Diptera: Sciaridae e larvas de 21003-07’S e 44006-13’W. Muscomorpha e Hemiptera: Heteroptera e Psyllidae) e predado- 2. Métodos res (Diptera: Chloropidae: Friebrigella sp. ). A Serra de São José foi investigada por 12 meses (VIII. 2001 a As espécies de planta com maior riqueza de galhas foram: Protium VII. 2002). Coletas mensais foram realizadas ao longo das vias de heptaphyllum (Burseraceae) com 7 morfotipos de galhas; Copaifera acesso à Cachoeira do Mangue, Calçada da Serra e Cachoeira do langsdorfii (Leguminosae) e Myrcia sp. (Myrtaceae), ambas com 6; Bom Despacho. A vegetação foi examinada por cerca de 8 horas Croton floribundus (Euphorbiaceae) e Miconia theaezans por visita. Todos os órgãos das plantas foram investigados, com (Melastomataceae), ambas com 5. Embora as Asteraceae tenham sido exceção das raízes. Amostras das plantas hospedeiras, preferencial- a família de planta com maior riqueza de galhas, cada espécie suportou mente em estado fértil, foram prensadas no campo. As exsicatas apenas 1 ou 2 morfotipos. Já as espécies de Fabaceae e Myrtaceae foram incluídas no herbário (R) do Museu Nacional. Os nomes exibiram de 1 a 6 morfotipos e as Melastomataceae de 1 a 5. científicos das plantas e autores foram checados no “site” Cento e quatro (104) espécies de Cecidomyiidae foram obti- www.mobot.mobot.org. das, sendo 101 galhadoras, 2 inquilinas e 1 predadora. A maioria As galhas foram fotografadas e os negativos organizados em um das espécies de Cecidomyiidae exibiu uma única geração por ano e arquivo. Amostras de galhas secas foram incorporadas na coleção a maioria das galhas era bastante rara, o que dificultou a obtenção de Diptera do Museu Nacional (MNRJ). dos adultos. Ainda assim, 10 gêneros de Cecidomyiidae foram iden- Insetos imaturos foram obtidos por dissecação de cada tipo de tificados: Asphondylia, Clinodiplosis, Contarinia, Dactylodiplosis, galha. Adultos e exúvias das pupas foram obtidos mediante criação Dasineura, Lopesia, Myrciariamyia, Neolasioptera, Stephomyia e das galhas. Para tal, cada morfotipo de galha foi mantido individu- Zalepidota. Entre estes, Neolasioptera foi o gênero mais comum, almente em potes plásticos fechados por uma tela fina de nylon e com 6 espécies. com uma camada de papel absorvente ou terra umedecida no fun- A ocorrência de espécies de Asphondylia, Contarinia, do. Todos os potes foram checados diariamente. Dasineura, Neolasioptera e Stephomyia já havia sido registrada no Os Cecidomyiidae (larvas, exúvias e adultos) foram montados Estado de Minas Gerais, já os registros de espécies de em lâminas permanentes com bálsamo do Canadá, após imersão Clinodiplosis, Dactylodiplosis, Lopesia, Myrciariamyia e Zalepidota em KOH a 10% (24 hs a frio), água destilada (5 minutos), ácido são novos para o Estado. acético (5 minutos), série alcoólica: álcool 70%, 80% e 100% (5 Como nenhuma investigação anterior sobre galhas entomógenas minutos em cada) e creosoto (5 minutos). Após o que, seguiu-se a havia sido realizada na Serra de São José, todas as ocorrências identificação dos gêneros com base nas chaves de Gagné (1994). apresentadas para esta localidade são inéditas. Os demais insetos obtidos foram preservados em álcool 70% e Também trata-se do primeiro registro de galhas de insetos em enviados a especialistas para identificação. 23 espécies de plantas, a saber: Anona crassiflora, Aspilia duarteana, 3. Resultados Baccharis microcephala, Mikania lindbergii, Mikania micrantha, Foram encontrados 137 morfotipos de galhas de insetos em 73 Mikania sessilifolia, Symphyopappus cuneatus, Vannislomopsis espécies de plantas (47 gêneros e 30 famílias) na Serra de São José. erythropappa, Vernonia crotonoides, Davilla braziliana, Croton Fabaceae, Myrtaceae, Asteraceae e Melastomataceae foram as fa- gnidiaceus, Croton timandroides, Stryphnodendron adstringens, mílias de plantas que suportaram a maioria dos morfotipos de Byrsonima variabilis, Leandra aurea, Miconia theaezans, Tibouchina galhas, apresentando 20, 18, 16 e 14 morfotipos, respectivamente, candolleana, Rapanea andina, Myrciaria tenella, Palicourea rigida e e totalizando em conjunto 49,6% do total de morfotipos observa- Buchnera rosea. dos, As galhas foram encontradas em folhas (66,4%), caules ( 4. Conclusão 25,5%), gemas (13,1%), pecíolo (2,2%) e botão floral ou A maioria das galhas entomógenas da Serra de São José foi inflorescência (1,4%). A grande maioria foi observada em um induzida por Cecidomyiidae. Como os Cecidomyiidae são respon- único órgão da planta, mas alguns morfotipos ocorreram simulta- sáveis por 70% de todas as galhas descritas no mundo, este resulta- neamente em dois ou três órgãos da planta. do já era esperado. As galhas foram induzidas por Diptera (n=104); Houve uma predominância de galhas em Fabaceae, Myrtaceae Lepidoptera (n=10), Hemiptera (n=08), Coleoptera (n=02), e Asteraceae. Segundo Houard (1933), as Fabaceae constituem a Hymenoptera (n=02) e Thysanoptera (n= 02), destacando-se família de planta com maior riqueza de insetos nas Américas Cen- os Cecidomyiidae (Diptera) como o principal grupo galhador, tral e do Sul. A maioria das galhas era foliar, padrão mundial já com cerca de 73% do total. assinalado por Mani (1964). Os Eulophidae e Eurytomidae foram As galhas de Cecidomyiidae foram encontradas em várias famí- os parasitóides mais freqüentes, confirmando sua importância como lias de plantas, sendo mais freqüentes nas Fabaceae, Myrtaceae e os principais inimigos naturais dos Cecidomyiidae na região Asteraceae. Já as galhas de Lepidoptera prevaleceram nas neotropical, conforme indicado por Maia, 2001. Melastomataceae. Esta preferência dos Lepidoptera galhadores por 5. Bibliografia plantas da família das Melastomataceae já havia sido mencionada GAGNÉ, R.J. 1994. The Gall Midges of the Neotropical Region. por Houard, 1933. Os Hemiptera não mostraram preferência por University Press., Ithaca, xiv + 352 pp., 4 pls.

600 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

GONÇALVES-ALVIM, S. J. & G. W. FERNANDES, 2001. Co- lianas em um forófito pode estar condicionada por relações de munidades de insetos galhadores (Insecta) em diferentes fisionomias preferência de um determinado mecanismo de ascensão por um do cerrado em Minas Gerais, Brasil. Revta bras. Zool., 18 (Supl. 1): diâmetro e/ou um padrão de casca externa do forófito. 289-306. 2. Métodos HOUARD, C. 1933. Les Zoocécidies des Plantes de l’Amérique du O estudo foi realizado em uma área de um hectare de cerrado Sud et de l’Amérique Central. Hermann et Cie, Paris. 519 pp. stricto sensu, localizada na parte norte da Gleba Cerrado Pé-de- Gigante, no município de Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo, LARA, A. C. F. & G. W. FERNANDES, 1996. The highest nas coordenadas geográficas 21°36’ a 21°44’S e 47°34’ a 47°41’W diversity of galling species: Serra do Cipó, Brazil. Biodiversity Letters, e altitude com variação de 590 a 740 m. A área selecionada foi 3: 111-114. dividida em cinco transecções de cem metros de comprimento MANI, M. S.,1964. Ecology of Plant Galls. Junk, The Hagur. 434 pp. cada. Nestas transecções foram implantados 59 pontos de MAIA, V. C. 2001. The gall midges (Diptera, Cecidomyiidae) from amostragem sistemática, interespaçados por distâncias fixas. Os three restingas of Rio de Janeiro State, Brazil. Revista Brasileira de espécimes arbóreos foram levantados através do método de Zoologia 18 (2): 583-629. quadrantes, utilizando como critério de inclusão perímetro do Agradecimentos caule à altura do peito igual ou superior a 20 cm. Todas as lianas de tronco instaladas nos forófitos amostrados foram inventariadas. As Aos Drs. Ruy Alves e Roberto Steves (Depto. Botânica, Museu lianas foram classificadas de acordo com os mecanismos de ascen- Nacional) pela identificação das plantas e ao CNPq pelo apoio são em caule volúvel ou gavinha e os forófitos de acordo com o financeiro (VCM: 150061/01-3; GWF: 5217722/95-8). tamanho do diâmetro do caule à altura do peito e padrão da casca externa, segundo sua textura (Torres et al., 1994) em lisa, esfoliante, Mecanismo de Ascensão das Lianas X Diâmetro e fissurada, rendilhada, escamosa, larga e profundamente fissurada. Padrão da Casca Externa do Forófito A partir dos dados obtidos foram construídas planilhas eletrô- Veridiana de Lara Weisera & Silvana Aparecida Pires de Godoyb nicas mecanismos de ascensão das lianas x diâmetros dos forófitos a Doutoranda em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas e mecanismos de ascensão das lianas x padrões de casca externa dos ([email protected]) forófitos, tanto para dados qualitativos (ausência = 0 e presença = b Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - 1) como quantitativos (ausência = 0 e presença = número de pre- Universidade de São Paulo senças observadas). Na planilha diâmetros x mecanismos de ascen- são, os indivíduos arbóreos foram agrupados em quatro classes de 1. Introdução diâmetro do caule à altura do peito: 0–10 cm, 10–20 cm, 20–30 Lianas são plantas autotróficas, que crescem utilizando-se de cm e maiores que 30 cm e na planilha padrões de casca externa x outras como suporte, embora germinem no solo e mantenham mecanismos de ascensão, em seis classes: lisa ou rendilhada, fissurada, contato com ele durante toda a sua vida (Mantovani, 1983). Os fissurada esfoliante, escamosa, escamosa esfoliante e larga e pro- principais mecanismos de ascensão utilizados pelas lianas são raízes fundamente fissurada. grampiformes, gavinhas e caule volúvel (Darwin, 1867; Peñalosa, Nas análises das classes de diâmetro dentro de cada mecanis- 1982), sendo caule volúvel o mecanismo de ascensão mais freqüen- mo de ascensão e dos padrões de casca externa dentro de cada te e raízes adventícias, o menos freqüente, exceto em algumas mecanismo de ascensão para dados qualitativos, utilizou-se a com- florestas tropicais muito úmidas (Hegarty, 1991). paração de proporções para muitas amostras independentes (Fleiss, Segundo Putz & Chai (1987), aparentemente não existe infor- 1981) e para dados quantitativos, o teste do Qui-quadrado. Nas mação publicada sobre a dinâmica da seleção do forófito por um análises das classes de diâmetro dentro de cada mecanismo de tipo particular de mecanismo de ascensão. Na mesma linha, Campbell ascensão e dos padrões de casca externa dentro de cada mecanismo & Newbery (1993) ressaltaram que as características da espécie- de ascensão para dados qualitativos, utilizou-se a comparação dos suporte, que possam conferir resistência ou susceptibilidade à ins- intervalos de confiança de 95% e para dados quantitativos, o teste talação das lianas, ainda não estão claramente elucidadas. Todavia, do Qui-quadrado. Hegarty (1991) afirmou que a interação entre liana e forófito de- 3. Resultados penderia não só do mecanismo de ascensão usado pela trepadeira Foram amostrados 236 indivíduos arbóreos de 25 espécies de como também do tipo de suporte arbóreo. Do mesmo modo, 15 famílias, sendo 222 forófitos (94,07% infestados por lianas) e Chalmers & Turner (1994) relataram que as plantas trepadeiras 438 indivíduos lianas de 11 espécies de cinco famílias. apresentam preferências em termos de tamanho do forófito, de- O método estatístico da comparação de proporções para mui- pendendo do mecanismo de ascensão envolvido. tas amostras independentes, para dados qualitativos na análise das Na floresta da Ilha Barro Colorado, na República do Panamá, classes de diâmetro dentro de cada mecanismo de ascensão, de- Putz (1980) observou que lianas eram menos freqüentes nas árvo- monstrou que não há diferença significativa entre os percentuais res de crescimento rápido e/ou de tronco liso e que, uma vez que do mecanismo de ascensão caule volúvel (p=0,12), nem do meca- um forófito tivesse sua defesa rompida por uma liana, outras nismo de ascensão gavinha (p=0,15) em relação as diversas classes freqüentemente poderiam infestá-la. Boom & Mori (1982) anali- de diâmetros. Ainda na análise das classes de diâmetro dentro de saram a hipótese de Putz (1980) de que árvores tropicais de tronco cada mecanismo de ascensão, o teste do Qui-Quadrado para da- liso teriam maior probabilidade de evitar lianas e não encontraram, dos quantitativos, demonstrou que tanto o percentual do mecanis- a partir de testes quantitativos aplicados a dados de 360 árvores na mo de ascensão caule volúvel (p=0,08) como o de gavinha (p=0,08) Mata Atlântica do sul da Bahia, qualquer associação evidente entre não variam significativamente, corroborando com os resultados tronco liso e reduzida proporção de infestação por lianas. Putz para dados qualitativos na mesma análise. O teste para compara- (1984a), na floresta de Barro Colorado, Putz & Chai (1987), em ção de duas proporções através da construção de intervalos de uma floresta em Sarawak, Malásia, e Chalmers & Turner (1994), confiança de 95% para os dados qualitativos, na análise dos meca- em uma floresta na planície de Hunter Valley, em New South nismos de ascensão dentro de cada classe de diâmetro, demonstrou Wales, Austrália, observaram que lianas com gavinhas eram mais que em todos os diâmetros, com exceção de 10-20 cm, há predo- freqüentes em troncos de diâmetro menor, enquanto as com caule mínio significativo do mecanismo de ascensão gavinha. Ainda na volúvel eram mais freqüentes em troncos com diâmetro maior. análise dos mecanismos de ascensão dentro de cada classe de diâ- Este trabalho tem como objetivo verificar se a infestação de metro, o teste do Qui-Quadrado para dados quantitativos, de-

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 601 Cerrado Volume I monstrou que para as classes de diâmetros 0-10 cm (p=0,004), 10- forófito como gavinha por cascas fissurada esfoliante ou larga e 20 cm (p=0,003) e >30 cm (p<0,001) há um número significativa- profundamente fissurada e caule volúvel por cascas lisa ou rendilhada mente maior do mecanismo de ascensão gavinha, enquanto que a (FAPESP processo n0 99/04080-0). classe 20-30 cm (p=0,09), não apresentou nenhum tipo de meca- 5. Bibliografia nismo de ascensão predominante. BOOM, B.M. & MORI, S.A. (1982). Falsification of two Os resultados obtidos não confirmam a hipótese de preferên- hypotheses on liana exclusion from tropical trees possessing cia de um mecanismo de ascensão por um determinado diâmetro buttresses and smooth bark. Bulletin of the Torrey Botanical Club do suporte. A presente investigação corrobora com Chalmers & 109(4): 447-450. Turner (1994), cujos dados não apoiam a correlação entre os me- CAMPBELL, E.J.F. & NEWBERY, D. McC. (1993). Ecological canismos de ascensão, caule volúvel e gavinha, e o diâmetro do relationships between lianas and trees in lowland rain forest in caule do suporte, e difere de Putz & Chai (1987), cujo relato Sabah, East Malaysia. Journal of Tropical Ecology. 9(4): 469-490. evidencia a relação de gavinhas com caules de menor diâmetro. O fato do mecanismo de ascensão gavinha ser freqüente tam- CHALMERS, A. & TURNER, J.C. (1994). Climbing plants in bém em diâmetros acima de 10 cm, contraria Putz (1984b), que relation to their supports in a stand of dry rainforest in the Hunter afirma que lianas com gavinhas requerem suportes com diâmetros Valley, New South Wales. Proceedings of the Linnean Society of the menores que 10 cm e que lianas de caule volúvel podem ascender New South Wales. 114(2): 73-90. suportes com diâmetros maiores do que as com gavinha. No entan- DARWIN, C. (1867). On the movements and habits of climbing to, corrobora com Darwin (1867), que ressalta que a maioria das plants. The Journal of the Linnean Society (Botany)9: 1-118. plantas de caule volúvel nas regiões temperadas não consegue as- FLEISS, J.L. (1981). Statistical Methods for rates and proportions. 2nd cender em suportes com troncos espessos, sendo esta ascendência ed. John Wiley & Sons, Inc. USA. mais eficiente para as plantas portadoras de gavinhas. HEGARTY, E.E. (1991). Vine-host interactions. In: PUTZ, F.E. A comparação de proporções para muitas amostras indepen- & MOONEY, H.A. The biology of vines. Cambridge University dentes na análise dos padrões de casca externa, dentro de cada Press, Cambridge. p. 357-375. mecanismo de ascensão, para dados qualitativos indicou que não há diferença significativa entre os percentuais do mecanismo de MANTOVANI, W. (1983). Composição e similaridade florística, ascensão caule volúvel (p=0,59), nem do mecanismo de ascensão fenologia e espectro biológico do cerrado da Reserva de Moji Guaçu, gavinha (p=0,08) em relação aos diversos padrões de casca externa. Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Universidade Esta- O teste do Qui-quadrado na análise dos padrões de casca externa, dual de Campinas, Campinas. dentro de cada mecanismo de ascensão, para dados quantitativos PEÑALOSA, J. (1982). Morphological specialization and demonstrou que tanto o percentual do mecanismo de ascensão attachment success in two twining lianas. American Journal of Botany caule volúvel (p<0,001) como gavinha (p<0,001) variam conforme 69(6): 1043-1045. o padrão de casca externa. O teste entre grupos para caule volúvel PUTZ, F.E. (1980). Lianas vs. trees. Biotropica 12(3): 224-225. mostrou que esse mecanismo de ascensão é significativamente mais PUTZ, F.E. (1984a). The natural history of lianas on Barro freqüente (p=0,002) no grupo formado pelos padrões escamosa esfoliante, fissurada e lisa ou rendilhada, enquanto o teste entre Colorado Island, Panama. Ecology 65(6): 1713-1724. grupos para gavinha, mostrou que esse mecanismo de ascensão é PUTZ, F.E. (1984b). How trees avoid and shed lianas. Biotropica significativamente mais freqüente (p=0,002) no grupo formado pe- 16(1): 19-23. los padrões escamosa, fissurada esfoliante e larga e profundamente PUTZ, E.F. & CHAI, P. (1987). Ecological studies of lianas in fissurada. A comparação dos intervalos de confiança de 95% dos Lambir National Park, Sarawak, Malaysia. Journal of Ecology. 75(2): mecanismos de ascensão dentro de cada padrão de casca externa, 523-531. indicou que para os padrões escamosa, escamosa esfoliante, fissurada TORRES, R.B.; KINOSHITA, L.S. & MARTINS, F.R. (1994). e lisa ou rendilhada não há predomínio significativo de um mecanis- Aplicação de padrões de casca na identificação de árvores da Esta- mo de ascensão, devido a interposição dos intervalos. Ainda na aná- ção Ecológica de Angatuba, SP. Revista Brasileira de Botânica 17(2): lise dos mecanismos de ascensão dentro de cada padrão de casca 119-127. externa, o teste do Qui-quadrado para dados quantitativos, indicou que as cascas externas escamosa, escamosa esfoliante e fissurada não possuem nenhum tipo de mecanismo de ascensão que seja significa- Características e Diversidade da Arborização Urbana tivamente predominante. Já fissurada esfoliante (p=0,02) e larga e nos bairros Tabajaras e Custódio Pereira em profundamente fissurada (p<0,01), têm predomínio significativo do Uberlândia (MG). mecanismo de ascensão gavinha, enquanto lisa ou rendilhada (p=0,05) Viviane Santos Brandão a, Marlene Terezinha de Muno Colesanti b & de caule volúvel, corroborando com o teste entre grupos para caule Ivan Schiavini c volúvel e gavinha na análise dos padrões de casca externa dentro de a Curso de Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos cada mecanismo de ascensão e com a comparação dos intervalos de Naturais Renováveis-UFU ([email protected]); b Instituto de confiança de 95%, na análise qualitativa dos mecanismos de ascen- Geografia - UFU & c Instituto de Biologia - UFU. são dentro dos padrões de casca externa fissurada esfoliante e larga e profundamente fissurada. 1-Introdução: Os resultados obtidos parecem confirmar a hipótese de prefe- A urbanização constitui em uma série de fatores que interagem rência de um mecanismo de ascensão por um determinado padrão entre si: natureza, engenharia, ambiente abiótico e população, de- de casca externa, como o de gavinha por cascas fissurada esfoliante nominados pressão antropogênica (Ruszczyk, 1986), levando à e larga e profundamente fissurada e o de caule volúvel, por casca fragmentação do habitat, uso ineficiente de recursos naturais e lisa ou rendilhada. produzindo paisagens menos atrativas (Misgav, 2000). Ela leva à 4. Conclusão uma diminuição na diversidade de espécies de aves (Jokimaki & A infestação de lianas em forófitos na área de estudo da Gleba Suhonen, 1993; Blair, 1996; Rolando et al., 1997), de lepidópteros Cerrado Pé-de-Gigante não está condicionada por relações de pre- (Ruszczyk, 1986; Fortunato & Ruszczyk, 1997) e altera a paisa- ferência dos mecanismos de ascensão por diâmetros, mas sim dos gem natural (Rolando et al., 1997), diminuindo o estabelecimento mecanismos de ascensão das lianas por padrões de casca externa do de espécies vegetais nativas e favorecendo o surgimento de espécies

602 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado exóticas, devido à sua melhor adaptabilidade a esses tipos de ambi- sete espécies. Alguns indivíduos só foram identificados em nível de entes (Hoffmann, 1998; Stylinski & Allen, 1999), à medida que se gênero (Tabebuia sp) e outros só em nível de família (Palmae). aumenta o gradiente de urbanização. No bairro Tabajaras foram contadas 47 espécies e no bairro Nesse sentido, a arborização urbana surge como um atenuante, Custódio Pereira 68 espécies. Não houve diferença significativa tornando o ambiente antropogênico menos hostil, fornecendo inú- entre os índices de diversidade dos dois bairros. As espécies mais meras vantagens: as árvores reduzem as poluições sonora, visual, abundantes no total foram: Licania tomentosa (Benth) Fritsch. atmosférica e hídrica (Lima et al., 1994; Mao, 1994; Souza et al., (Chrysobalanaceae) (591 indivíduos), Schinus molle L. 1994; Macedo et al., 1995; Perez, 1999; Gonçalves, 2000; Silva et al., (Anacardiaceae) (269 indivíduos), Caesalpinia peltophoroides Benth. 2000); amenizam o clima, tornando-o mais úmido por causa da (Leguminosae-Caesalpinoideae) (260 indivíduos), Ficus benjamina transpiração, diminuindo a temperatura (Lima et al., 1994; Mao, L. (Moraceae) (145 indivíduos), Murraya exotica (Rutaceae) (122 1994; Souza et al., 1994; Macedo et al., 1995; Perez, 1999; Gonçal- indivíduos) e Michelia champaca L. (Magnoliaceae) (104 indivídu- ves, 2000; Lustosa, 2000; Silva et al., 2000); reduzem o impacto das os). Das 33 espécies que ocorreram simultaneamente, apenas oito chuvas no solo, evitando a erosão e absorvendo parte da água (Mao, apresentaram diferenças significativas em relação a altura e/ou área 1994; Souza et al., 1994; Macedo et al., 1995; Perez, 1999; Gonçal- basal. De modo geral, as espécies possuem porte maior no bairro ves, 2000); oferecem proteção contra ventos (Lima et al., 1994; Tabajaras. Caesalpinia peltophoroides e Terminalia catappa L. Mao, 1994; Souza et al., 1994); além de fornecerem abrigo, alimento (Combretaceae) foram as únicas exceções, podendo ser devido à e proteção à avifauna e/ou outras formas de vida silvestre (Jokimaki maior incidência de podas neste bairro por estarem em maior fre- & Suhonen, 1993; Mao, 1994; Souza et al., 1994; Macedo et al., qüência do lado da fiação aérea. 1995; Lustosa, 2000), tornando-se de suma importância na preser- De modo geral, o bairro Tabajaras tende a ter uma arborização vação da fauna urbana, pois fornecem, por meio de seus frutos, flores mais eficiente, de acordo com o sugerido por Sousa (1994), que é e sementes, alimentos para lepidópteros frugívoros (Fortunato & “a utilização de no máximo 15% de plantas de cada espécie, para Ruszczyk, 1997), outros insetos, aves e pequenos mamíferos. evitar a homogeneização da vegetação, o que constitui um dos Desta forma, para saber se a arborização da cidade de Uberlândia maiores perigos para o equilíbrio do ecossistema, principalmente está contribuindo com todos estes fatores, foi realizado um inven- para a sobrevivência da fauna e das árvores perante o ataque de tário parcial da cidade, utilizando os bairros Tabajaras e Custódio pragas e doenças.” Pereira para fazer um levantamento total da diversidade de espéci- No bairro Custódio Pereira, o maior número de espécies contri- es vegetais lenhosas existentes nos mesmos. Os bairros foram esco- buiu para o valor relativamente alto do índice de diversidade encon- lhidos por terem sido urbanizados em épocas diferentes, sendo que trado, enquanto que, no bairro Tabajaras, apesar de ter menos espé- o primeiro começou a ser loteado em meados de 1950 e o segundo cies, a distribuição dos indivíduos por espécie apresentou maior bairro, no início dos anos 70. Presume-se que este último deva ter equitabilidade. Estes altos valores de ID (Índice de Dispersão) indi- sofrido maior influência da Lei Municipal complementar no 199 de cam maior homogeneidade destas espécies nos quarteirões. 28 de outubro de 1998. Essa lei exige que a cada 10 metros de Espécies como Bauhinia variegata L. (Leguminosae- calçada seja plantada uma árvore: acácias ou similares no caso dos Caesalpinoideae), Cassia fistula L. (Leguminosae-Caesalpinoideae), passeios situados do lado da fiação aérea e nos demais passeios, Cassia grandis L.f. (Leguminosae-Caesalpinoideae), Pachira aquatica plantio de árvores compatíveis com a planificação urbana. Aubl. (Bombacaceae) e Psidium guajava L. (Myrtaceae) não diferi- 2-Material e Métodos: ram significativamente entre os indivíduos dos dois bairros no que Foi realizada uma amostragem total em dois bairros de diz respeito a problemas radiculares, área livre ao redor da raiz e Uberlândia (MG). O primeiro bairro amostrado foi o Tabajaras, posição do lado da rede. A maioria dos indivíduos de mesma espé- localizado na área central da cidade, com 53 quarteirões e o cantei- cie que ocorreram no mesmo bairro também não apresentaram ro central da Av. Getúlio Vargas. O outro bairro foi o Custódio diferença significativa em relação às mesmas características. Pereira, a leste de Uberlândia, com 136 quarteirões. É um bairro Várias espécies encontradas nos bairros servem para manter mais recente, se comparado com o bairro Tabajaras, sendo talvez uma fauna local. Espécies como Eugenia uniflora (avifauna), mais influenciado pela nova Lei Municipal no 199. Callistemon speciosus e Michelia champaca (abelhas, observação pes- Foram feitos levantamentos em todas as ruas incluídas nos dois soal), Terminalia catappa e Sapindus saponaria (frutos consumidos bairros, até a delimitação dos mesmos. A data das coletas esten- por morcegos), Pachira aquatica e Licania tomentosa (frutos apreci- deu-se pelo período de setembro de 2001 à dezembro de 2002. ados por vários animais urbanos), Anadenanthera macrocarpa (flo- Foram analisadas as alturas e áreas basais dos indivíduos, posi- res melíferas), Cassia fistula (polpa das vagens consumidas por ani- ção em relação à fiação aérea, problemas no sistema radicular e mais silvestres), Grevillea banksii (beija-flores), Ficus benjamina e área livre ao redor da raiz. Foi feita a análise de diversidade usando Ficus benjamina var. benjamina, Mangifera indica, Carica papaya, o índice de Simpson. Para testar diferenças entre altura e área basal Psidium guajava, Eugenia jambolona, Murraya exotica, Punica entre os indivíduos das duas áreas foram utilizados os testes de granatum, Hyeronima alchorneoides, Annona squamosa, Spathodea Mann-Whitney e t de Student e o teste do Qui-quadrado foi campanulata (FIG. 15) e tantas outras espécies encontradas nos dois utilizado para avaliar diferenças em relação a problemas radiculares, bairros são indicadas para a utilização na arborização urbana no área livre ao redor da raiz e posição da fiação aérea entre os indiví- que tange à manutenção de uma fauna local (Lorenzi, 1992), em- duos de cada espécie. Também foi calculado o índice de dispersão bora algumas sejam exóticas. das espécies mais abundantes nos bairros para determinar como os 4- Conclusões indivíduos de uma espécie estão distribuídos ao longo dos quartei- Apesar de o bairro Custódio Pereira provavelmente ter sofrido rões dos bairros estudados, tendo como base a taxa de variância ao maior influência da Lei Municipal no 199, foi observado que não redor da média (Brower & Zar, 1984). Também foram coletadas existem diferenças em relação a diversidade de espécies entre os informações em relação às espécies vegetais que servem de alimen- bairros, embora o bairro Custódio Pereira apresente maior abun- to para a fauna local dância de indivíduos das principais espécies. 3- Resultados e Discussão Diferenças nas medidas de altura e de área basal em indivíduos Foram encontradas 82 espécies na somatória dos bairros (sen- de mesma espécie de um bairro para o outro pode ser devido a do que nove não foram identificadas em nenhum nível), distribuí- própria idade do indivíduo vegetal, à melhor adaptabilidade da das em 34 famílias, sendo que a mais representada foi Leguminosae- espécie para determinado solo, maior incidência de podas quando Caesalpinoideae com nove espécies, seguida de Bignoniaceae, com os indivíduos estão do lado da fiação aérea, dentre outros fatores.

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 603 Cerrado Volume I

Foi observado que existem muitas espécies que podem estar Estratificação vertical e efeito da predação de ovos contribuindo para a manutenção da fauna urbana porém, deve-se em ninhos artificiais em área de Cerrado campo utilizar uma maior quantidade de espécies nativas viáveis para a sujo, Brasília – DF arborização da cidade, como forma de preservar a flora do Cerrado Viviane Teixeira de Miranda c; William Sousa de Paula a; Moacir dos e contribuir para a manutenção da fauna urbana (Blair, 1996). Santos Lima Junior a; Juliana Bragança Campos a & Adriana Anadenanthera macrocarpa, Endlicheria paniculata, Eugenia uniflora, Bocchiglieri b Inga marginata, Myroxylum peruiferum, Peltophorum dubium, Syagrus a Graduação Ciências Biológicas Faculdade da Terra de Brasília b oleraceae, Syagrus romanzoffiana, Tabebuia roseo-alba e Tabebuia professor orientador Faculdade da Terra de Brasília c serratifolia são algumas das espécies encontradas nos bairros e que [email protected] cumprem bem estas funções ecológicas, implicando em criar con- dições propícias para o fornecimento de alimento, abrigo e local de 1. Introdução nidificação para a fauna deste bioma, mantendo um equilíbrio A predação de ninhos é uma das principais causas do declínio biológico e assegurando-lhes condições de sobrevivência quando de populações de aves, sendo responsável por cerca de 80 % dos em períodos em que há escassez alimentar nos ambientes naturais. casos de perdas de ninhos (Amaral, 1999). Com isso a escolha do 5- Referências Bibliográficas local de nidificação é feita visando da melhor forma possível a BLAIR, R.B., 1996. Land use and avian species diversity along an proteção dos filhotes (Sick, 1997). De acordo com Sick (1997), os urban gradient. Ecological Applications 6(2): 506-519. animais podem construir ninhos em locais inacessíveis ou ninhos extremamente grandes, e a camuflagem e a associação com outros BROWER, J.E. & ZAR, J.H., 1984. Species diversity. In: Field & animais como vespa e formigas, também são estratégias utilizadas ª Laboratory methods for general ecology. 2 ed., W.C.B. Publishers: na proteção deste. Iowa. Cap.5b. p.153-160. Os predadores podem tanto viver no chão, como podem ser FORTUNATO, L. & RUSZCZYK, A., 1997. Comunidades de arborícolas ou aéreos e muitas perdas dos ovos podem ser atribuídas lepidópteros frugívoros em áreas verdes urbanas e extra-urbanas de a gambás (Didelphis sp), sagüis (Callithrix sp) e serpentes (Sick, 1997). Uberlândia, MG. Revista Brasileira de Biologia 57(1): 79-87, Experimentos com ninhos artificiais (Bianchi 1996, Melo & GONÇALVES, W., 2000. Florestas Urbanas. Ação Ambiental. Marini 1997, Marini & Melo 1998, Leite & Marini 1999, Duca et Ano II, 9:17-19. al 2001,) têm sugerido uma analise na taxa de predação em diferen- HOFFMANN, J., 1998. Assessing the effects of environmental tes ambientes e estratos, como forma de avaliar possíveis impactos. changes in a landscape by means of ecological characteristics of O presente experimento teve como objetivo verificar a taxa de plant species. Landscape and Urban Planning 41(3-4): 239-248. predação em ninhos artificiais em diferentes estratos, sendo eles no solo e até 1,5m de altura. LIMA, A.M.L.P.; COUTO, H.T.Z. & ROXO, J.L.C., 1994. 2. Métodos Análise das espécies mais freqüentes da arborização viária, na zona O presente trabalho foi realizado no campus II da Faculdade o urbana central do município de Piracicaba - SP. Anais do 5 En- da Terra de Brasília localizado na Fazenda Núcleo Rural Vargem da contro Nacional sobre Arborização Urbana. p.555-578. Benção, no Recanto das Emas, Brasília / DF. A fazenda possui uma LORENZI, H., 1992. Árvores Brasileiras: manual de identificação área de aproximadamente 800.000m2, apresentando áreas de mata e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol 1, Nova Odessa: de galeria, cerrado, campo sujo, bem como áreas antropizadas, Editora Plantarum, 352p. onde a vegetação foi substituída por pastagem. LORENZI, H., 1992. Árvores Brasileiras: manual de identificação O experimento foi realizado no período de Setembro de 2002 e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol 2. Nova Odessa: à Março de 2003, em uma área de Cerrado campo sujo em um Editora Plantarum, 352p. conjunto de quatro transectos a partir de um ponto central com 40 metros. Foram dispostos ninhos confeccionados manualmente LUSTOSA, R.E., 2000. Verde no Vermelho: arborização e quali- com feixes de capim no solo e a 1,5 metros de altura no mesmo dade ambiental. Ação Ambiental. Ano II, 9:28. ponto, com intervalos de 6 metros entre cada ponto, totalizando MAO, C.C.M., 1994. Arborização Urbana: Projeto básico para 12 ninhos em cada transecto. Três Passos - RS. Anais do II Congresso de Arborização Urbana. Foram colocados 4 ovos em cada ninho, sendo um de codorna p.403-419. (Coturnix coturnix) e três ovos de massa de modelar atóxica, nas MISGAV, A., 2000. Visual preference of the public for vegetation cores amarela, azul e um ovo manchado com as cores amarela e azul. groups in Israel. Landscape and Urban Planning 48 (3-4): 143-159. Os transectos foram vistoriados durante 4 dias consecutivos PEREZ, S., 1999. Árvores nas ruas. Natureza, 120:12-17. sempre na parte da manhã com intervalos de 10 dias entre cada vistoria. Foram considerado predados os ovos que estavam fora do ROLANDO, A.; MAFFEI, G; PULCHER, C. & GIUSO, A., ninho, com alguma ranhura ou ausente. 1997. Avian community structure along an urbanization gradient. 3. Resultados e Discussão Italian Journal of Zoology, 64: 341-349. Foram oferecidos 2.496 ovos num total de 52 dias, sendo RUSZCZYK, A., 1986. Ecologia Urbana de borboletas, I. O gra- 1.872 ovos de massa de modelar e 624 ovos de codorna. Cerca de diente de urbanização e a fauna de Porto Alegre, RS. Revista Bra- 20% dos ovos no solo e aproximadamente 12% dos ovos no alto sileira de Biologia, 46 (4):675-688. foram predados. A maior taxa de predação no chão pode ser atribu- SILVA, A.G.; GONÇALVEZ, W.; SILVA, E. & TIBIRIÇÁ, A.C.G., ída ao tipo de predador. 2000. Avaliação da qualidade da arborização de uma cidade de Foi observado que os potenciais predadores dos ninhos locali- pequeno porte. Forest 2000, 454-456. zados no solo foram mamíferos de pequeno porte onde se encon- SOUSA, M. A. de L., 1994. O projeto de arborização de vias trou marcas de dentes e unhas de roedores como Bolomys lasiurus e urbanas. Anais do II Congresso Brasileiro de Arborização Urbana: Calomys sp em ovos de massa. A identificação destas espécies foi 589-594. possível através da coleta em armadilhas do tipo Pit fall Trap loca- lizadas próximas aos ninhos durante o período de amostragem. STYLINSKY, C.D. & ALLEN, E.B., 1999. Lack of native species Dentre os predadores dos ninhos instalados no alto pôde se recovery following severe exotic disturbance in southern Californian observar à ocorrência de marsupiais arbóreos e aves. Gracilinanus shrublands. Journal of Applied Ecology. 36:544-554. sp foi coletado em armadilhas do tipo Pitfall trap localizadas pró-

604 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado ximos aos ninhos sendo identificado através de mordidas e ranhu- MARINI, M.A.; ROBISON, S.K. & HESKE, E.J. (1995). Edgge ras nos ovos de massa. A gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus) effects on nest predation in the Shawnee National Forest, Southern é considerada uma predadora de ninhos naturais, Brandão (1998) Illinois. Biological Consevation 74: 203-213. e Marini & Melo (1998) e durante o período de amostragem foi MARINI, M.A. & MELO, C. (1998). Predators of quail eggs, and verificada visualmente a presença de bandos desta espécie na área the evidence of the remains: implications for nest predation studies. de estudo, onde os mesmos foram registrados predando os ovos. The Condor 100: 395-399. Foram calculadas as taxas de predação em relação aos dias de MARINI, M.A. & MELO, C. (1998). Predators of quail eggs, and coleta, de forma a avaliar o impacto de predação sobre os ninhos the evidence of the remains: implications for nest predation studies. com relação a cada dia de exposição, dessa forma permitindo ob- The Condor 100: 395-399. servar uma possível diferença nas taxas. A partir dos resultados encontrados pode-se observar que para o solo o 1º dia de exposi- MELO, C. & MARINI, M. A. (1997). Predação de ninhos artifi- ção contribui com 25,16% nas taxas de predação, sendo a maior ciais em fragmento de matas do Brasil Central. Ornitologia Neotropical taxa encontrada para esse estrato. Para o segundo dias de exposição 8: 7-14. tivemos 6,73% dos ovos predados seguido de 4,00% e 4,08% para SICK, H. (1997). Ornitologia Brasileira, Ed. Nova Fronteira, Rio o 3° e 4° dia respectivamente. Desta forma observamos que o 1° dia de Janeiro, pp: 115-118. de exposição tem uma grande influencia nas taxas de predação para o solo. Pode-se observar que entre os demais dias de exposição não Palatabilidade das fases imaturas de hyla houve uma diferença significativa entre as taxas. Para ninhos insta- albopunctata (anura, hylidae) para duas espécies lados no alto o 1° dia de exposição de ovos apresentou uma taxa de de ciclídeos (actinopterygii, teleostei) predação de 4,64%, para o 2° dia obtivemos 7,37% e 4,48% e Wagner R. da Silva a, Keni Paula R. Muniz b & Ariovaldo A. 7,85% para o 3º e 4º dias respectivamente. Através dos resultados Giaretta c encontrados observou-se que não houve uma diferença evidente a Mestrando em Ecologia, Universidade Federal de Uberlândia nas taxas de predação entre os dias de exposição. (UFU) ([email protected]) Os resultados encontrados por Marini et al. (1995) não mos- b Mestranda em Ecologia, UFU c Instituto de Biologia, Laboratório traram respostas que comprovem diferenças significativas nas taxas de Ecologia e Sistemática de Anuros Neotropicais - UFU de predação de ninhos colocados em arbusto e no chão, pressu- pondo que diferentes tipos de ninhos podem ser afetados de varias formas e por diversos predadores. 1. Introdução Em contra partida experimentos realizados por Duca et al. Os girinos representam um estágio de desenvolvimento dos (2001) em Minas Gerais mostraram que as taxas de predação do anuros muito vulnerável à predação. Girinos podem ser predados solo foram relativamente superiores às taxas encontradas para o por girinos, por larvas de salamandras, por aves, por teleósteos, alto, desta maneira este estudo reforça hipóteses antes levantadas. por ninfas de libélulas, por larvas de besouros aquáticos, entre 4. Conclusão outros (Heyer et al., 1975; Heursel e Haddad, 1999). Como Concluímos que a taxa de predação em ninhos artificiais colo- conseqüência dessa pressão seletiva, diferentes mecanismos de cados no chão é significativamente superior às encontradas nos defesa têm evoluído entre girinos de diversas espécies de anuros ninhos colocados no alto. Estas diferenças podem estar relaciona- (Heyer et al., 1975). das com as diferentes estratégias de forrageamento dos predadores Os teleósteos não são importantes predadores de ovos de observados no local. anuros (Magnusson e Hero, 1991), no entanto, a predação de Conforme os dados obtidos neste experimento, pôde se con- girinos por teleósteos influencia a história natural, a diversidade e cluir que no 1º dia de exposição dos ninhos distribuídos no chão a abundância de espécies em comunidades de anuros (Heyer et al., ocorreu a maior taxa de predação dos mesmos, este resultado pode 1975; Hero et al., 2001). Um grande tamanho corporal, o uso de ser atribuído a disposição dos transectos que possivelmente pos- refúgios e a impalatabilidade são mecanismos conhecidos de defesa sam estar dentro da área de forrageamento de um predador poten- dos girinos contra teleósteos (Heyer et al., 1975). cial (Bianchi, 1996). Hyla albopunctata tem uma ampla distribuição geográfica, a 5. Referências Bibliográficas qual inclui o sudeste do Brasil, grandes extensões do Brasil Central, leste do Paraguai e Bolívia e porções do nordeste da Argentina AMARAL, M.F. (1999). Predação de ovos num Cerrado sensu strictu (Cei, 1980; Frost, 1985). No presente estudo, testamos a do Distrito Federal. Projeto de pesquisa do curso “Métodos de palatabilidade de ovos e girinos de H. albopunctata para duas espé- Campo em Ecologia”, Departamento de Ecologia, Universidade cies de teleósteos ciclídeos. Descrevemos também micro-habitats de Brasília, Brasília – DF. dos girinos dessa perereca. BRANDÃO, R.A. (1998). Efeitos de queimadas na predação de ovos 2. Métodos em Cerrado sensu stricto e campo sujo em um fragmento de cerrado do Realizamos os trabalhos de campo nos meses de maio e junho de Distrito Federal. Projeto de pesquisa do curso “Métodos de Campo 2003 em duas localidades no município de Uberlândia (18°59’S; em Ecologia”, Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, 48°18’W), MG, Brasil: Reserva Biológica do Clube Caça e Pesca Brasília – DF. Itororó (CP) e Área Brejosa na Periferia da Cidade (AB). No CP, BIANCHI, C.A. (1996). Predação de ninhos artificiais no cerrado: concentramos as coletas e as observações comportamentais de girinos uma comparação entre duas fisionomias. Projeto de pesquisa do cur- em três locais que denominamos de Margem do Lago Maior (MLM), so “Métodos de Campo em Ecologia”, Departamento de Ecologia, Lago Menor (LM) e Curso d’água em Área Ajardinada (CAA). Universidade de Brasília, Brasília – DF. Nos testes de palatabilidade dos ovos e girinos de Hyla DUCA, C.; GONÇALVES, J. & MARINI, M. A. (2001). Predação albopunctata, utilizamos duas espécies de teleósteos ciclídeos: de ninhos artificiais em fragmento de matas de Minas Gerais, Bra- Geophagus brasiliensis (cará ou acará) e Astronotus ocellatus (Oscar). sil. Revista Ararajuba 9 (2): 113-117. Coletamos os indivíduos de G. brasiliensis (ca. de 50 mm) na MLM e adquirimos os exemplares de A. ocellatus (ca. de 60 mm) em loja LEITE, L.O. & MARINI, M.A. (1999). The effects of Forest de teleósteos ornamentais. fragmentation on predation rates of artificial bird nests in Minas Coletamos uma desova e girinos de H. albopunctata na AB. Gerais. Ciência e Cultura Journal of the Brazilian Association for the Utilizamos os girinos de Odontophrynus cultripes como controle Advancement of Science. 51(1): 34-37. nos testes de palatabilidade por apresentarem tamanho, morfologia

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 605 Cerrado Volume I externa e coloração semelhantes aos girinos de H. albopunctata mente eram vistos se deslocando na superfície (n = 5 visitas). Nas (Cei, 1980; Heyer et al., 1990; obs. pess.). Essa semelhança é visitas noturnas (n = 11), os girinos de ambas as espécies se enter- importante para assegurar a comparabilidade dos resultados obti- ravam quando iluminados. dos nos testes. Coletamos os girinos de O. cultripes no CAA. Segui- Os ovos de Hyla albopunctata parecem ser impalatáveis aos mos Gosner (1960) nas referências aos estágios de desenvolvimen- teleósteos, indicando que estes não devem ser importantes preda- to dos girinos e as medidas de tamanho dos girinos dizem respeito dores de ovos dessa espécie, igualmente ao que ocorre em localida- ao comprimento total (corpo e cauda). des amazônicas (Magnusson e Hero, 1991). Conduzimos os experimentos de palatabilidade em recipientes As defesas dos girinos são essenciais para o sucesso reprodutivo de plástico (volume 12 litros) de coloração amarronzada, a qual de uma espécie num dado corpo d’água (Hero et al., 2001). A aproxima-se do padrão de cor do ambiente natural dos girinos. Os impalatabilidade tem sido apontada como o mecanismo primário recipientes foram preenchidos com cinco litros de água mineral e de defesa de girinos contra predação por teleósteos (Heyer et al., deixados sob condições ambientais de temperatura e luminosidade. 1975; Hero et al., 2001). Os girinos de hilídeos como Hyla boans, Nos testes, distribuímos os girinos e os teleósteos entre os recipi- Hyla geographica, Hyla semilineata e Hyla granosa são impalatáveis entes de forma aleatória quanto ao tamanho corporal individual, a para teleósteos (Heursel e Haddad, 1999; Hero et al., 2001). No fim de prevenir tendenciosidades na porcentagem de consumo. entanto, em nossos experimentos, os girinos de H. albopunctata Com base em Hero et al. (2001), estabelecemos que um consumo foram palatáveis aos teleósteos ciclídeos, indicando que a de ovos ou girinos abaixo de 30% indicaria impalatabilidade aos impalatabilidade certamente não é o principal mecanismo de defe- teleósteos ciclídeos. sa nessa espécie. PALATABILIDADE DOS OVOS Em H. albopunctata, a coloração amarronzada dos girinos con- Usamos nos testes quatro recipientes, 80 ovos de H. albopunctata, fere camuflagem, uma vez que eles se confundem com o pano de dois indivíduos de G. brasiliensis e dois de A. ocellatus. Em cada fundo do ambiente (Muniz e Giaretta, em prep.). Vimos que esses recipiente, colocamos 20 ovos e um teleósteo. Após 12 horas, girinos se abrigavam no lodo durante o dia e, à noite, permaneciam registramos o número de ovos consumidos. Deixamos os ciclídeos praticamente imóveis no fundo do corpo d’água, mas se refugiavam em jejum por pelo menos 24 horas antes dos testes. no lodo com a nossa aproximação. Sugerimos, então, que esses PALATABILIDADE DOS GIRINOS girinos escapam de teleósteos predadores utilizando-se da camu- Distribuímos aleatoriamente 30 girinos no estágio 25 (ca. de flagem e do lodo como refúgio. Os girinos de Centrolenella 13 mm), 15 de H. albopunctata e 15 de O. cultripes, e seis indivíduos oyampiensis coexistem com altas densidades de teleósteos mesmo de G. brasiliensis em seis recipientes. Em cada recipiente, introdu- sendo palatáveis, pois se utilizam de refúgios, e não da zimos cinco girinos e um teleósteo. Após 24 horas, registramos o impalatabilidade, para evitar a predação (Hero et al., 2001). número de girinos consumidos. Realizamos o mesmo procedi- A coloração preta dos girinos de H. semilineata deve indicar a mento com A. ocellatus. Submetemos ambas as espécies de ciclídeos presença de substâncias tóxicas na epiderme (Heursel e Haddad, a um jejum de pelo menos 48 horas antes dos testes. 1999). No entanto, em nossos testes, os girinos pretos de H. Testamos também a palatabilidade de girinos de H. albopunctata albopunctata foram palatáveis aos ciclídeos. no estágio 24 (ca. de 7mm). Os girinos neste estágio são pretos, Assim como em H. albopunctata, os girinos de Odontophrynus diferentemente de girinos com tamanho superior a 10 mm, cuja cultripes (espécie controle) foram palatáveis aos ciclídeos. Seme- coloração é acobreada (Muniz e Giaretta, em prep.). Distribuímos lhante a H. albopunctata, os girinos de O. cultripes possuem uma 30 girinos pretos, três indivíduos de G. brasilienses e três de A. coloração críptica, são pouco móveis e se refugiam no lodo. Pro- ocellatus em seis recipientes. Em cada recipiente, colocamos cinco pomos, assim, que os girinos de O. cultripes, tal como os de H. girinos e um teleósteo. Após 24 horas, contamos o número de albopunctata, também devem utilizar-se de refúgios (se enterrar no girinos consumidos. Os ciclídeos ficaram em jejum por 48 horas lodo) e camuflagem (coloração críptica e pouca mobilidade) para antes dos testes. escapar da predação, caso, em alguma localidade, essa espécie se COMPORTAMENTO DOS GIRINOS reproduza em corpos d’água com teleósteos. Os adultos de O. Notamos que os girinos de H. albopunctata e de O. cultripes não cultripes possuem secreções tóxicas (Cei, 1980), mas os seus girinos eram visualizados na coluna d’água durante o dia, pois ficavam são palatáveis para peixes, corroborando a inferência de Hero et al. enterrados no lodo. Para verificarmos tal comportamento, realiza- (2001) de que a impalatabilidade de girinos pode ser independente mos visitas (n = 2 dias) aos quatro locais desse estudo, nos períodos de toxicidade em adultos. da manhã, tarde e noite. Para cada local, determinamos aleatoria- 4. Conclusão mente dois pontos de observação, os quais distavam entre si ca. de Os ovos de Hyla albopunctata não foram consumidos pelos cinco metros. Em cada ponto, focalizamos a coluna d’água por dez teleósteos, mas os girinos sim. Os girinos de Hyla boans, Hyla minutos. Após a observação, peneiramos o lodo para verificar se os geographica, Hyla semilineata e Hyla granosa são impalatáveis para girinos estavam presentes, caso não fossem visualizados. teleósteos predadores, mas, provavelmente, os girinos de H. 3. Resultados e Discussão albopunctata não se utilizam da impalatabilidade para evitar a Os ovos de Hyla albopunctata não foram consumidos pelos predação. Propomos, então, que esses girinos escapam de teleósteos teleósteos ciclídeos. Nos testes, 100% e 95% dos ovos de H. predadores utilizando-se da camuflagem e do lodo como refúgio. albopunctata foram rejeitados por Geophagus brasiliensis e Astronotus Os teleósteos devem exercer forças antagônicas ao longo do ocellatus, respectivamente. Os girinos de ambas as espécies foram desenvolvimento de H. albopunctata, pois podem proteger as deso- consumidos pelas duas espécies de ciclídeos. Todos os girinos vas desse hilídeo ao eliminar potencias predadores de ovos, como (estágio 25) de H. albopunctata e de Odontophrynus cultripes foram acontece em diversos anuros, mas, em contrapartida, devem ser a ingeridos por G. brasiliensis. Todos os girinos de H. albopunctata e fonte principal de mortalidade de seus girinos, como ocorre com 94% dos girinos de O. cultripes foram predados pelo A. ocellatus. outras espécies de anuros. Os girinos pretos (estágio 24) de H. albopunctata também foram 5. Referências bibliográficas consumidos, 100% por G. brasiliensis e 40% por A. ocellatus. Os Cei, J. M. (1980). Amphibians of Argentina. Monitore Zool. Ital. girinos de H. albopunctata (n = 37 visitas) e de O. cultripes (n = 11 Monogr., 2: 1-609. visitas) ficavam enterrados no lodo durante o dia, porém, à noite, Frost, D. R. (1985). Amphibian species of world. Lawrence: Allen ficavam visíveis no fundo do corpo d’água, permanecendo pratica- Press, 730 p. mente imóveis sobre o lodo. No período diurno, os girinos rara-

606 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Volume I Cerrado

Gosner, K. L. (1960). A simplified table for staging anuran embryos ineficiente) têm contribuído na eliminação e conseqüente frag- and larvae with notes on identification. Herpetologica, 16: 183-190. mentação dessas formações florestais que aumentam ao longo do Hero, J. M.; Magnusson, W. E.; Rocha, C. F. D.; Catterall, C. P. tempo (Citadini-Zanete, 1995). Esse trabalho tem como objetivo (2001). Antipredator defenses influence the distribution of o conhecimento da composição arbórea de uma área de mata ciliar amphibian prey species in the central Amazon rain forest. Biotropica, podendo servir como ferramenta para futuros trabalhos, para recu- 33 (1): 131-141. peração de áreas degradadas e programas de manejo. 2. Métodos Heursel, A. D.; Haddad, C. F. B. (1999). Unpalatability of Hyla O córrego do Fazzari situado no campus da UFSCar, São Carlos semilineata tadpoles (Anura) to captive and free-ranging vertebrate – SP (21º59’S - 47º54’W) é afluente do Ribeirão Monjolinho, por predators. Ethology Ecology & Evolution 11: 339-348. sua vez afluente do Rio Jacaré-Guaçu, que deságua no Rio Tietê, em -Heyer, W. R.; Rand, A. S.; Cruz, C. A. G.; Peixoto, O. L. G.; Ibitinga – SP (Ferraz, 1990). Trata-se de um córrego de pequenas Nelson, C. E. (1990). Frogs of Boracéia. Arquivos de Zoologia, proporções (profundidade máxima de 60 cm e largura máxima de 1,5 31(4): 256 – 257. m) que percorre área com vegetação ripária (segmento de aproxima- Magnusson, W. E; Hero, J. M. (1991). Predation and the evolution damente 300 m) e entorno com vegetação de cerrado.Foram realiza- of complex oviposition behavior in Amazon rainforest frogs. das nove parcelas com área de 250 m2 (10X25 m). As parcelas foram Oecologia, 86: 310-318. alocadas de tal forma que a maior largura da parcela ficou perpendi- cular ao curso d’água. Foram amostrados apenas os indivíduos que Levantamento florístico e estrutura fitossociológica apresentarem valores acima de 10 cm de DAP (diâmetro a altura do de vegetação ripária de um córrego de primeira peito). Foi anotada também a altura das árvores amostradas. Além das amostragens nas parcelas foram feitas coletas aleatórias para ordem, São Carlos (SP). auxílio na identificação e para amostrar possíveis espécies que não Wanderley Augusto Ferreiraa; Mateus Pepinellib; Marcos Yukio ocorreram nas parcelas. A identificação das espécies foram feitas com Yoshinagac Maria Inês Salgueiro Limaa. consulta a especialistas e a bibliografia (Lorenzi, 1998). Com base na aLaboratório de Sistemática / Depto. de Botânica / Universidade numeração dos indivíduos, identificação e registro do diâmetro e Federal de São Carlos São Carlos, SP. Cx. Postal 676. b Laboratório altura, será calculado os 0parâmetros fitossociológico de freqüência de Entomologia Aquática / Depto. de Hidrobiologia / Universidade (F), densidade (D) e dominâncias (Do), absolutas (A) e relativas (R), Federal de São Carlos, São Carlos, SP. [email protected] c valor de importância (VI) e valores de cobertura (VC) e a densidade Instituto Oceanográfico/USP, São Paulo. total por área (DTA). Foi calculado o índice de Shannon (H’) e de equabilidade (E). 1.Introdução 3. Discussão e Resultados As formações vegetais ligadas aos cursos de rios recebem diver- As florestas higrófilas, ao contrário das demais florestas ciliares, sas denominações, sendo amplamente discutidas por Catharino são formações de distribuição restrita, caracterizadas por apresen- (1989) que sugeriu o termo vegetação ripária para as matas que tarem-se inundadas durante praticamente todo o ano. A diversida- margeiam os rios. Troppmair & Machado (1974) coloca o grau de de é baixa, pois poucas espécies conseguem sobreviver nestes ambi- encharcamento do solo como o fator principal para essa formação entes eminentemente anóxicos (Leitão-Filho 1982). Uma destas vegetal, e este está relacionado à topografia, o traçado do rio, aos espécies é Calophyllum brasiliense Camb. (Clusiaceae) que, além de tipos de solo, ao regime pluviométrico, podendo variar com a ocorrer nestas florestas higrófilas, distribui-se também nas florestas dinâmica de deposição e retirada de sedimentos junto às margens. atlântica, amazônica e em determinados locais do domínio do Nas formações vegetais de Cerrado a mata ciliar ou ripária pode ser cerrado, desde a América Central até o litoral norte catarinense, considerada como um ecótono entre os ambientes terrestre e aqu- sempre condicionada à condição de umidade do solo. Como resul- ático (Rodrigues & Nave, 2000; Silva & Leitão-Filho, 1982). tado do levantamento florístico foram coletados 208 indivíduos, Apesar de representar pequena porção do Cerrado, destaca-se pela distribuídos entre 27 famílias e 33 espécies. As famílias mais repre- sua riqueza, importância ecológica, diversidade genética e pelo seu sentativas são Arecaceae, com 35 indivíduos distribuídos em duas papel na proteção dos recursos hídricos, edáficos, fauna silvestre e espécies, e Magnoliaceae com 24 indivíduos com apenas uma espé- aquática. () entre os ambientes terrestre e aquático. Apesar de cie. Ambas são bastante representativas em solos permanentemen- representar pequena porção do Cerrado, destaca-se pela sua rique- te úmidos e ricos. As espécies Callophylum brasiliensis e Talauma za, importância ecológica, diversidade genética e pelo seu papel na ovata foram as que apresentaram maiores valores de cobertura e de proteção dos recursos hídricos, edáficos, fauna silvestre e aquática. importância. A espécie C. brasiliensis apresentou um maior valor de Distúrbios antrópicos e naturais podem ser responsáveis pelo au- importância mesmo com menor número de indivíduos que a espé- mento desta heterogeneidade ambiental, favorecendo os processos cie T. ovata. Isso ocorre porque a espécie Callophylum brasiliensis de sucessão e conseqüentes alterações da composição florística no apresenta valor de dominância (o que explica a baixa equitabilidade espaço e no tempo. A presença das matas ciliares reduz problemas calculada para o local de estudo) e frequência maior em relação à de erosão, perda da fertilidade do solo e de terras agricultáveis, espécie Talauma ovata. A família Arecaceae, representada por ape- desaparecimento das faunas terrestre e aquática, deslizamento de nas duas espécies, destacou-se pelo número de indivíduos observa- rochas, queda de árvores e contaminação por adubos e defensivos dos, principalmente da espécie Euterpe edulis (palmito juçara). A agrícolas. As atividades antrópicas contribuem para o processo de alta abundância de palmeiras é uma característica comum das flo- fragmentação, que representa uma área de vegetação natural con- restas neotropicais de baixada com solos ricos e úmidos (Emmons tínua interrompida por barreiras antrópicas (estradas, culturas agrí- & Gentry, 1983). O palmito juçara é uma das palmeiras mais colas, etc.) ou naturais (lagos, outras formações florestais, etc.) abundantes e amplamente distribuídas na Mata Atlântica (Uhl & capazes de diminuir significativamente o fluxo de animais, pólen e/ Dransfield, 1987), penetrando para o interior pelas redes de drena- ou sementes. Em fragmentos florestais o efeito de borda pode ter gem fluviais (Mantovani, 1993). Os altos valores de densidade e um papel significativo na redução de biodiversidade, por processos frequencia para essa espécie também foi observada em muitos tra- como mortalidade de árvores e alteração de habitats. A primeira balhos de fitossociologia (Silva & Leitão-Filho, 1982; Mantovani, legislação protegendo as formações ciliares data de 1985, mas a 1993; Citadini-Zanette, 1995). Essa espécie apresentou muitos inadequação e incoerência das políticas públicas brasileiras associ- indivíduos jovens na mata o que sugere que está bastante estabelecida adas ao descaso para as questões ambientais (e uma fiscalização nesta área. Todos os indivíduos apresentaram baixos valores de

VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 | 607 Cerrado Volume I

DAP, indicando o corte seletivo dessa espécie para fins comerciais. de muitas espécies, inclusive endêmicas. Dessa forma, considera- De modo geral, a vegetação arbórea estudada se restringe a uma mos fundamental a conservação da área já existente e a recupera- faixa lateral de 20 a 30 metros e de 300 metros longitudinalmente. ção de outras áreas ao longo do córrego do Fazzari. A arquitetura do dossel é bastante irregular e apresenta um sub- 5. Referências Bibliográficas bosque bem desenvolvido e a copa das árvores cobre quase todo o Catharino, E. L. M. (1989). Florística de matas ciliares. In: Anais do leito do córrego. Como resultado do levantamento florístico foram Simpósio sobre mata ciliar. Fundação Cargill, Campinas, p. 31-70. identificados 208 indivíduos, distribuídos entre 27 famílias e 33 Citadini-Zanete, V. (1995) Florística, fitossociologia e aspectos da di- espécies. As famílias mais representativas foram Arecaceae, com 35 nâmica de um remanescente de Mata Atlântica na Microbacia do Rio indivíduos distribuídos em duas espécies, e Magnoliaceae com 24 Novo, Orleans, SC. Tese (Doutorado) apresentada ao PPERN/ indivíduos de apenas uma espécie. A família Arecaceae, representa- UFSCar, 249 p. São Carlos, SP. da por apenas duas espécies, destacou-se pelo número de indivídu- os registrados, principalmente por Euterpe edulis Mart. (palmito Emmons, L.H. & Gentry, A.H. (1983).Tropical forest structure juçara). A alta abundância dessa família é característica comum das and the distribution of gliding and prehensile tailed vertebrates. florestas neotropicais de baixada com solos ricos e úmidos (Emmons Amer. Natur. 121:513-524. & Gentry, 1983). Os altos valores de densidade e freqüência para Lorenzi, H., (1998). Árvores brasileiras. Manual de Identificação e essa espécie também foram observados em muitos trabalhos de cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil – Volume 1 e 2. Ed. fitossociologia (Silva & Leitão-Filho, 1982; Silva, 1989; Mantovani, Plantarum. Nova Odessa – SP., 352p. 1993; Citadini-Zanette, 1995). Essa espécie apresentou muitos Mantovani, W. (1993). Estrutura e dinâmica da Floresta Atlântica na indivíduos jovens na mata o que sugere o seu estabelecimento Juréia, Iguape - SP. São Paulo. 126 p. Tese (Livre Docência) – nesta área, apesar de ocorrer indícios de possível corte seletivo para Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. fins comerciais (atual ou passado). As espécies Calophyllum brasiliensis Motta-Junior, J.C. & Vasconcellos, L.A. da S. (1996a). Levanta- Cambess. e Talauma ovata A. St Hil. foram as que apresentaram mento das aves do campus da Universidade Federal de São Carlos, maiores valores de cobertura e de importância. A espécie C. Estado de São Paulo, Brazil. Anais do VII Seminário Regional de brasiliensis apresentou um maior valor de importância mesmo com Ecologia. Vol. VII, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e menor número de indivíduos quando comparados a espécie T. Recursos Naturais, UFSCar, São Paulo. p. 159-171. ovata. Isso ocorre porque a espécie C. brasiliensis apresentou valor de dominância (o que explica a baixa equitabilidade calculada para Motta-Junior, J.C.; Talamoni, S.A. & Vasconcellos, L.A. da S. (1996b). o local de estudo) e freqüência maior que à espécie T. ovata. Em um Levantamento dos mamíferos do campus da Universidade Federal de inventário baseado em quarenta e três levantamentos florísticos e São Carlos, Estado de São Paulo, Brazil. Anais do VII Seminário Regio- fitossociológicos de florestas do Brasil extra-amazônico, as espéci- nal de Ecologia. Vol. VII, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e es C. brasiliensis e T. ovata ocorreram, respectivamente, em 22 e 17 Recursos Naturais, UFSCar, São Paulo, p. 173-182. das áreas amostradas (Rodrigues & Naves, 2000). T. ovata (pinha Rodrigues, R.R. & Nave, A. G. (2000). Heterogeneidade florística do brejo) é característica de ambientes brejosos, com distribuição das matas ciliares in Rodrigues, R.R. & Leitão-Filho, H.F. ed. espacial restrita ao sul do Estado de Minas Gerais e ao norte e Matas ciliares – conservação e recuperação. Editora da Universidade centro do Estado de São Paulo. de São Paulo, Fapesp, São Paulo, 322 p. 4. Conclusões Silva, A.F. da (1989). Composição florística e estrutura fitossociológica Embora a mata ripária do córrego do Fazzari seja restrita a uma do estrato arbóreo da Reserva Florestal Augusto Ruschi, São José dos estreita faixa, apresente uma baixa riqueza florística em compara- Campos. Campinas, Instituto de Biologia, Universidade de Campi- ção com outras áreas, Citadene-Zanette (1995) identificou 119 nas, 163 p. espécies arbóreas em levantamento de vegetação ripária em Santa Catarina, Sanchez et al. (1998) encontrou 120 espécies arbóreas Silva, A, F. da; Leitão Filho, H F. 1982.; Composição florística e estrutura em Picinguaba (Ubatuba – SP), Rodrigues & Leitão-Filho (2000) fitossocilógica de um trecho de Mata Atlântica de encosta no município de Ubatuba (São Paulo, Brasil) Revsta brasil. Bot. 5: 43:52. realizaram um levantamento de 43 trabalhos floristicos com vege- tação ripária realizados no Brasil extra-amazônico listando 943 Tromppmair, H. & Machado, M. L. A. (1974). Variação da estru- espécies identificadas, com variação de 23 à 247 espécies identificada tura da mata galeria na bacia do Rio Corumbataí (SP) em relação por trabalho. Ainda assim, ela desempenha papel importante na à água do solo, tipo de margem e do traçado do rio. Série Biogeografia manutenção da estrutura e processos do córrego, como pode ser 8. USP, São Paulo. visto nos itens sobre macroinvertebrados bentônicos e sobre pei- Emmons, L.H. & Gentry, A.H. (1983).Tropical forest structure xes. Além disso, trabalhos com mamíferos e aves realizados nesta and the distribution of gliding and prehensile tailed vertebrates. área por Motta-Junior (1996a e 1996b) demostram a importância Amer. Natur. 121:513-524. dessa mata para o acasalamento e nidificação, refúgio e forrageamento

608 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003