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ARARAS E SEUS CRAQUES DO FUTEBOL

NILSON ZANCHETTA JUNIOR

2ª EDIÇÃO

Ficha Técnica

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Araras e seus craques do futebol

Nilson Zanchetta Junior

2ª edição - 2014-03-30

Coordenação de Projeto

Nilson Zanchetta Junior

Projeto Gráfico, Editoração Eletrônica, Foto e Arte da Capa

Gráfica e Editora Topázio

Revisão

Maria Cirlene de Souza

Fotografias

Nilson Zanchetta Junior, Marcelo Valem, Pelé Cressoni, Nello José Scarcella Junior, Camila Ripp, Alcyr Mathiesen, Walter Gambini, arquivos dos jogadores e divulgação.

Topázio Gráfica e Editora

Rua Sete de Setembro, 528 – Centro – 13600-130 – Araras – SP

Telefone: (19) 3541 7888

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sejam quais forem os meios empregados sem permissão por escrito do autor

Todos os direitos reservados.

Dedicatória

Dedico este livro a família dos jogadores, minha família, aos ararenses em geral e em especial a minha filha Pietra Eduarda Zanchetta.

Agradecimento

Agradeço a Deus, aos amigos, autoridades, patrocinadores, profissionais da imprensa e as pessoas que me prestigiam na leitura, no Rádio e na TV. Índice

Prefácio...... 07

Araras uma verdadeira Cidade Encantamento ...... 09

Introdução...... 11

Os Estádios de Araras...... 13

Árbitros Ararenses...... 21

Os jogadores de Araras...... 35

Privatti: De operário da Usina a goleiro do União...... 37

Marola: Repercussão mundial...... 55

Edinho: De atacante a lateral vitorioso...... 73

Paulo Sales: A dura convivência com empresário...... 91

Campagnollo: Ídolo no Noroeste...... 117

Wilson Zanon: O primeiro ararense a jogar na Seleção Brasileira...... 139

Marquinhos Coxinha: Fera ferida...... 155

Tim : O primeiro ararense a jogar fora do Brasil...... 173

João Paulo: Carreira marcada pela perseverança...... 185

Luan: Da recusa às drogas a uma carreira vencedora...... 211

Wilson: Da infância pobre ao luxo da carreira...... 235

Israel: Acidente grave impede projeção na carreira...... 253

Prefácio

Além de Araras

Mauro Beting, jornalista esportivo

Araras uma verdadeira Cidade Encantamento

A cidade de Araras completou no último dia, 15 de Agosto, 152 anos de fundação. Nesse tempo todo, construiu uma rica história. Já foi eleita a cidade de maior progresso no Brasil, cidade modelo na agricultura e de maior desenvolvimento do país. Conhecida como a Cidade Encantamento, Araras fica localizada no Centro Oeste do estado de , distante 170 km da capital. As principais rodovias do país, Anhangüera, Bandeirantes e Luiz desembocam na cidade. A economia gira em torno da plantação da cana de açúcar, do comércio e do polo industrial. Araras é referência também nos estudos, possui quatro importantes faculdades, recebendo milhares de estudantes que ajudam a girar a economia do município. A UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) é uma universidade publica conhecida em todo país, possui os cursos mais concorridos entre os jovens, como a engenharia agronômica, agroecologia, física, química e ciências biológicas. Uniararas, Fundação Hermínio Ometto, que recebe estudantes do Brasil inteiro é referência na área da saúde com cursos de biomedicina, odontologia, fisioterapia, psicologia, farmácia, biologia e agora curso de medicina. A UNAR é conhecida por oferecer dois cursos bastante concorridos, Direito e Letras, além de oferecer estudos nas áreas de administração de empresas, pedagogia, geografia e educação artística. E por fim, a Faculdade Municipal, que possui cursos nas áreas de gestão e marketing, serviço social e ciências contábeis. Araras é uma cidade limpa e estruturada. Possui alguns pontos turísticos fantásticos como o Lago Municipal, a Praça Barão de Araras, o Parque Ecológico e o Ginásio de Esportes. Por tudo isso, Araras faz por merecer a acunha que tem de Cidade Encantamento, pois, morar aqui é literalmente viver com qualidade de vida.

Introdução

Assim como foi na primeira edição, o volume 2 do livro Araras e seus craques do futebol se reserva também no direito de publicar somente história de jogadores nascidos em Araras e de mais um filho adotivo da cidade, no caso, o ex-atacante Israel, natural de Ipuiuna-MG e agora morador de Araras-SP. O objetivo desta obra é mostrar o quanto a cidade de Araras é privilegiada por revelar grandes talentos para o futebol. A escolha mais uma vez recaiu sobre aqueles de interesse da coletividade, os quais estiveram disponíveis para entrevista, sendo portanto, eles próprios as principais fonte de informação. Publicar a história de todos aqueles atletas que nasceram ou passaram pelo futebol de Araras seria praticamente impossível, pois, certamente milhares de jogadores atuaram em equipes do município, haja vista, que o futebol profissional em Araras começou em 1915 com o surgimento da Atlética Ararense. Na sequência vieram as equipes do Operário, Associação Atlética Ararense, Comercial, ACD (Araras Clube Desportivo), Atlético Futebol Clube, Usina São João e União São João. Quem pensa que Araras só revela jogador para o futebol se engana. Árbitros também têm surgido na cidade e a história deles também serão eternizadas nesta obra. São três no total, Douglas Marcucci, James Wilie Catini e Vinicius Paris . São verdadeiros profissionais de destaque no futebol sem a bola no pé, porém, com o apito na boca. Mas, antes dos jogadores e dos árbitros, o livro vai retratar logo nas primeiras páginas todos os Estádios de Futebol de Araras. Os quais já foram palcos de partidas memoráveis e que estão na memória dos saudosistas. Aqui o leitor vai conhecer com detalhes o Estádio São Joaquim, Joel Fachini, Engenho Grande, Jerônimo Ometto, Dom Bosco e Hermínio Ometto. Contudo, aqui nesta obra estão registradas muitas histórias curiosas, desabafos e relatos de atletas que passaram por conquistas, dramas e tiveram que conviver com sucesso e por vezes com o insucesso. O trabalho foi árduo, mas gratificante. Exigiu muita pesquisa, dedicação, empenho e força de vontade. Foram várias viagens e inúmeras noites em claro. Pelo depoimento dos atletas chego a conclusão que todos falaram com orgulho da profissão que escolheram, mas todos sem nenhuma distinção também foram unanimes em afirmar que o futebol muitas vezes tem seus sabores e dissabores e para conhecer quais são eles eu o convido para uma boa leitura. Seja bem vindo esse é volume 2 do livro Araras e seus craques do futebol.

Estádio São Joaquim

Araras é uma cidade privilegiada em vários aspectos e não é diferente quando o assunto é Estádio de Futebol. No total, são seis campos, todos foram palcos de jogos históricos e memoráveis. O primeiro Estádio construído na cidade foi o São Joaquim, fundado no dia 16 de setembro de 1926 no centro da cidade. Até hoje ele está preservado e fica na parte interna da Associação Atlética Ararense. O nome é para homenagear o dono da Fazenda São Joaquim, que doou o terreno para a construção daquele que foi um dos mais tradicionais Estádios de futebol do município. Foi nesse Estádio, que aconteceu a primeira partida de futebol em Araras, Progresso de Araras e Pery de Rio Claro empataram em 0 a 0. Mais tarde, em dezembro de 1932, o Estádio São Joaquim foi palco de um clássico ararense, o Operário goleou o Comercial, por 5 a 2 pelo Campeonato APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos). No entanto, rivalidade mesmo era quando jogava Ararense e Comercial, a cidade se mobilizava e se dividia na torcida pelos clubes, metade da cidade torcia pela Ararense e metade pelo Comercial. Quando saia gol do Comercial no Estádio São Joaquim, os torcedores balançavam os bambus, que circundavam o campo. O barulho era ensurdecedor e irritava a torcida adversária, que quando fazia gol gritava em coro, bem alto, “agita o bambu agora”. Nos anos de 1949, 1950 e 1951, o local foi palco de jogos importantes da Associação Atlética Ararense pelo da segunda divisão. O Estádio São Joaquim atualmente não tem arquibancada, mas tem um gramado muito bem conservado, no lugar dos bambus, hoje tem quiosques, que servem de lazer para confraternização dos associados, que utilizam o local para jogos de cartas, churrascos, aniversários, além de reunião da turma do “Vai quem quer”, que utiliza o local há mais de 20 anos com partidas bastante disputadas.

Estádio Joel Fachini

O Estádio Joel Fachini está localizado em uma região privilegiada, bem no centro de Araras, próximo ao Hospital São Luis, no coração da cidade. Construído na década de 30 com a implantação de gradis, arquibancadas e bilheterias, é o segundo mais antigo de Araras. Surgiu quatro anos depois que o São Joaquim. Pertencia ao Comercial FC. Foi palco de jogos memoráveis da segunda divisão do Campeonato Paulista nos anos de 1950 e 1951. No ano de 1956, o Leopardo da Paulista, como era carinhosamente chamado o time do Comercial, conquista o titulo de campeão do Campeonato Ararense, depois de 9 anos de jejum. Neste mesmo ano, o Estádio Joel Fachini recebe pela primeira vez na história de Araras, o Sport Club Corinthians Paulista em um jogo amistoso, o time da capital venceu o Comercial, por 2 a 0, embaixo de uma forte chuva, que fez o jogo ser paralisado na metade do primeiro tempo. Também em 1956, o Comercial recebeu adversários tradicionais do futebol como, Santos, São Paulo e Palmeiras, sempre em partidas amistosas. Diante do Verdão de Palestra Itália o Estádio estava completamente lotado, o time da capital derrotou o Leopardo da Paulista, por 6 a 2. Em 1980, o Joel Fachini deixa de ser do Comercial e passa a ser do Município, em troca de dívidas do clube. Até hoje, o local recebe jogos do Campeonato Amador. O curioso é que o Joel Fachini interrompe uma importante via da cidade, a Washington Luiz. É comum os políticos cogitarem a desativação do Estádio para dar continuidade a avenida. Entre os munícipes esta possibilidade divide opiniões. Na administração do governo Brambilla, cogitou-se também uma troca entre o Joel Fachini e o Estádio Hermínio Ometto, a prefeitura de Araras passaria a administrar o Estádio Hermínio Ometto e a família Pavan, que hoje cuida do Herminião, ficaria com o Joel Fachini, que seria desativado para a construção de prédios imobiliários, porém, as negociações não avançaram e as tratativas não foram concluídas.

Estádio Engenho Grande

O Engenho Grande é um dos mais charmosos Estádios da cidade de Araras, fica localizado dentro da Usina São João. Inaugurado em 1959, foi palco dos jogos da Usina São João, clube fundado em 1953. De propriedade da família Ometto, apaixonada por esporte, o que chama a atenção é que ao lado do gramado foram construídas duas quadras esportivas. A primeira partida realizada no Estádio Engenho Grande foi um amistoso em que o Palmeiras, time o qual a família Ometto torce e Usina São João, deu o time da capital, 6 a 0. O atacante Américo do Palmeiras foi o autor do primeiro gol do Engenho Grande. Nos anos de 1961 a 1963, a Usina São João não perdeu nenhum jogo diante de sua torcida, algo que ficou marcado na história do clube e do próprio Estádio. Já o último jogo oficial realizado no Engenho Grande foi em 1988, não era mais a Usina São João e sim o União São João, clube fundado no dia 14 de janeiro de 1981. O duelo foi contra o Esportivo de Passos pelo Campeonato Brasileiro da Série C, a partida terminou empatada, em 2 a 2, o resultado garantiu ao time de Araras o acesso a Série B do Nacional. A capacidade máxima do Estádio é de cinco mil pessoas, em jogos válidos pelo Campeonato Paulista, em 1988, quando a equipe disputou a elite do Estadual, a capacidade foi aumentada com arquibancadas móveis, construída com estruturas metálicas e tábuas, chegou a receber até 10 mil torcedores, capacidade mínima que exigia a Federação Paulista de Futebol à época. O Estádio permanece conservado. A administração continua sendo da Usina São João e hoje serve como recordação de uma época áurea do futebol ararense, tempo em que a torcida comparecia em massa. A estrada que liga o Jardim Fátima, a partir do cemitério, ao Estádio Engenho Grande ficava totalmente tomada por veículos em dias de jogos. Atualmente, é comum times da região de Araras como: Rio Claro, Velo Clube e Inter de Limeira utilizarem o Engenho Grande para treinar.

Estádio Jerônimo Ometto

O Estádio Jerônimo Ometto fica localizado na Usina Santa Lúcia, próximo ao Jardim Cândia. Inaugurado em 1959, o local é conhecido como Campo da Santa Lucia. O Jerônimo Ometto já foi palco de grandes jogos do Campeonato Amador de Araras, principalmente na década de 70, já que a Usina tinha um time formado por grandes craques. Hoje o Estádio Jerônimo Ometto não serve nem de lazer para os funcionários que ainda residem na colônia dentro da própria Usina Santa Lucia. O Estádio que tinha dimensões de um campo profissional com uma arquibancada pequena e um espaço para a imprensa, hoje virou depósito de sacos de açúcar fabricado pela Usina. Os vestiários estão todos deteriorados e no local não há nenhuma previsão para que volte a ter partidas de futebol.

Estádio Dom Bosco

O Estádio Dom Bosco foi inaugurado no dia 28 de agosto de 1977, localizado no Jardim Cândida, na zona Oeste de Araras. O local foi a casa de um dos times mais consagrados do futebol amador de Araras, o Oratório São Luiz, que inclusive foi campeão da cidade no ano de 1983, fazendo a alegria de milhares de torcedores que apoiavam a equipe nas arquibancadas. No final da década de 80 e inicio da década de 90, as categorias de base do União São João utilizavam o Estádio Dom Bosco para treinamentos, o local era administrado pelos padres do Oratório São Luís, que fica na região central da cidade. A maior estrela que já desfilou no gramado do Estádio Dom Bosco foi o lateral esquerdo , atleta que ficou conhecido mundialmente por ter jogado no Palmeiras, Inter de Milão, Real Madrid, Fenerbahçe, Corinthians, Anzhi Makhachkala e três Copa do Mundo com a Seleção Brasileira nos anos de 1998, 2002 e 2006. Na metade da década de 90, as categorias de base do União São João passaram a treinar no CT do Estádio Hermínio Ometto. O local então passou a ser utilizado pelos frequentadores do Oratório São Luís. Nos anos 2000, o Oratório Dom Bosco deixou de pertencer ao Oratório São Luiz e passou a ser do Insa – Instituto Nossa Senhora Auxiliadora – que comprou a estrutura para os alunos utilizarem para a disciplina de Educação Física. Além de um Estádio de Futebol, o espaço ainda possui um Ginásio de Esportes para a prática de futsal, voleibol, basquetebol entre outros esportes.

Estádio Dr. Hermínio Ometto

O Estádio Doutor Herminio Ometto é o mais moderno da cidade de Araras, recebe jogos do tradicional União São João de Araras desde o dia 18 de maio de 1988, quando foi inaugurado na partida em que o time ararense ficou no empate contra o Botafogo de Ribeirão Preto em 1 a 1. O primeiro gol marcado no Estádio foi de Celso Luiz, ídolo da torcida nos anos 80. Em 1991, quatro torres de iluminação foram inaugurados, o que garantem jogos do time de Araras a noite. O primeiro jogo com luzes artificiais foi no dia 12 de julho daquele ano, o União recebeu o Palmeiras e venceu, por 1 a 0. O Herminião como é conhecido, tem capacidade para 22 mil torcedores, porém, a Federação Paulista de Futebol reconhece somente torcedores sentados confortavelmente, o que então diminuiria esse número para 15.899 expectadores. O recorde de público registrado no Herminião foi no dia 28 de maio de 1995 em uma partida contra o Santos. O Estádio ficou completamente tomado por 21.497 torcedores. O Hermínio Ometto já foi palco de grandes jogos do União São João, como em 1993, quando venceu o Corinthians, por 3 a 0 pelo Campeonato Paulista. Em 1997, contra o São Paulo um fato que ficou para a história, o goleiro Rogério Ceni marcou o primeiro gol de sua carreira em uma cobrança de falta no goleiro Adinan, bem no gol do fundo, onde está localizado o CT. Em 2004, o Herminião foi palco do jogo entre Paulista X Palmeiras, pela fase semifinal do estadual daquele ano. O time de Jundiaí levou a melhor, venceu nos pênaltis e foi a decisão contra o São Caetano. Hoje, o Estádio é bastante conservado e quase sempre é requisitado para jogos de outras equipes como a do Santo André, por exemplo, que em 2012 mandou alguns jogos da Série C do Brasileiro no local. O Herminião é uma referência de estádio para clubes médios e pequenos de todo o Brasil, possui uma estrutura invejável e recebe atualmente jogos oficiais do União São João, que disputa a Série B, uma espécie de quarta divisão do Campeonato Paulista.

Douglas Marcucci Quem imagina que a ligação de Araras com o futebol se resume apenas aos grandes craques com a bola nos pés, se engana. A cidade também revela árbitros de futebol, aqueles que trocaram a bola pelo apito. Atualmente três ararenses, Douglas Marcucci, Vinicius França e Jeimes Wilie Catini se formaram árbitros na escola Flávio Iazetti da federação Paulista de Futebol, com exceção de Jeimes, os outros dois estão filiados a entidade e preparados para apitarem partidas do Campeonato Paulista, desde a Série B, uma espécie de quarta divisão de futebol do estado, até a Série A1. Dos três, o mais experiente é Douglas Marcucci. Ele nasceu em Araras no dia 23 de Abril de 1972, é filho de Florivaldo Marcucci e Diva Aparecida Krepischi Marcucci, é o caçula dos irmãos Benedito Marcucci, Max Elisio Marcucci e Valdiva Marcucci Messi. Na infância, Douglas cresceu na região central de Araras, formou-se o segundo grau completo. Estudou nas escolas Ignácio Zurita Júnior e Doutor Cesário Coimbra. No horário inverso ao da escola, o futebol era seu lazer preferido, queria utilizar deste esporte uma profissão. Apesar da estatura baixa, 1,79m, atuava como goleiro na escolinha da Inco, que tinha os treinadores Lucidio Mariano, Peixinho e Bolinha. Seu maior sonho era se tornar um jogador profissional. No ano de 1986, aos 14 anos, foi para o União São João para treinar nas categorias de base, na época o time era comandado pelo técnico Adaílton Ladeira, o mesmo que descobriu Roberto Carlos. Em busca do seu principal objetivo, tentou o sucesso também no XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Mogi Mirim, Paulista de Jundiaí e Santos FC. “Eu gostava de atuar como goleiro, eu me dedicava muito, não gostava de perder nem em jogos festivos e numa dessas partidas de final de ano me encontrei com o Sérgio Guedes, que foi goleiro da Ponte Preta, Santos e Seleção Brasileira, ele gostou da minha atuação e me convidou para treinar no Santos, onde ele jogava”, explica Marcucci. No Peixe, Douglas atuou nas categorias de base durante seis meses. Na época disputava posição com Edinho, filho do rei Pelé. O time principal tinha Sérgio Guedes como titular, Nilton reserva e Robson como terceiro goleiro. Na época, disputar a posição com o filho do rei Pelé no Santos não era uma tarefa das mais simples. Para Marcucci era até uma competição desleal. “O Edinho tinha muita moral no Santos, era praticamente impossível conquistar uma vaga de titular. Eu não aceitava muito essa concorrência, pois me dedicava muito e percebia que tinha condições de jogar e nunca tinha oportunidades nas partidas, eu apenas treinava, isso me incomodou um pouco e pedi para deixar o time”, recorda. De volta a sua terra natal, aos 19 anos, Douglas Marcucci resolveu dar um basta no sonho de se tornar um goleiro profissional, porém, não desistiu de continuar no futebol. Nos anos de 1994 a 1996, foi técnico das escolinhas de futebol da secretaria municipal de Araras no mandato do prefeito Pedro Eliseu Sobrinho. No entanto, o ararense percebeu outra vocação. “Eu gostava mesmo era de apitar jogos nos bairros, nas quadras e isso me despertou o desejo de me tornar um árbitro de jogos profissionais”, conta. Depois de muito apitar partidas de brincadeira nos bairros de Araras, Douglas resolveu se inscrever no curso de arbitragem na escola Flávio Iazetti da Federação Paulista de Futebol. No ano de 1998 passou na prova teórica, uma espécie de vestibular, que foi aplicada no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. “É uma avaliação onde testa todos seus conhecimentos sobre o futebol, fui aprovado e em 1999 iniciei o curso, viajava uma vez por semana a São Paulo, a escola ficava ainda na antiga sede da Federação Paulista de Futebol, na av: Brigadeiro Luís Antônio”, explica. Atualmente a escola de arbitragem fica na sede da Federação Paulista de Futebol na Barra Funda. Douglas aprendeu muito sobre as regras do futebol, participou de aulas práticas e de muitos testes físicos. Formou-se em 1999. “Tive aulas com árbitros e professores renomados como Gustavo Caetano, Roberto Perassi e Edie Mauro Garcia Detofoli”, se orgulha. Tão logo formado árbitro de futebol, Douglas foi escalado para apitar partidas dos Campeonatos Paulista das categorias Sub-15 e Sub-17. Seu primeiro jogo foi no empate, em 1 a 1, entre XV de Piracicaba e Guarani, no Estádio Barão de Serra Negra pelo Campeonato Paulista Sub-17. “Todos os jogos são importantes, mas a sensação do primeiro é indescritível”, revela. No ano seguinte, em 2000, comandou jogos de aspirantes de grandes clubes como Santos, São Paulo, Palmeiras e Corinthians. As primeiras partidas de profissionais, que o ararense apitou foram nas Séries B, B2 e , essas duas últimas divisões foram extintas.

Na geladeira De personalidade forte, Douglas Marcucci sentiu na pele em 2001a pressão dos dirigentes da Federação Paulista de Futebol. Em um jogo da Copa SP de Futebol Júnior, na cidade de Itu, entre Palmeiras x Ituano, Douglas Marcucci se recusou a usar um distintivo da Elektro na roupa da arbitragem, na época a empresa de eletricidade era a patrocinadora do evento, tal decisão por pouco não o tirou do quadro de arbitragem e ainda o rendeu um apelido de Godoyzinho, uma referência ao árbitro aposentado Oscar Roberto de Godoy, que na época tinha fama de autoritário. “O presidente da Federação Paulista, Eduardo José Farah pediu a minha exclusão do quadro de arbitragem, lembro que na época ele disse que não aceitaria um novo Godoy e me passou a chamar de Godoyzinho, fiquei vários meses na geladeira”, recorda. Por coincidência, Douglas Marcucci tinha como inspiração na arbitragem o próprio Godoy. “De início até gostei do apelido porque o Godoy era um árbitro consagrado e ser comparado com ele era o máximo, mas depois percebi que a imagem dele não era uma unanimidade”, declara. Douglas não chegou a ser excluído, mas ficou um longo período sem arbitrar. Sua volta aos gramados se deu apenas em 2002 e como uma espécie de castigo voltou a apitar partidas da última divisão do estado.

No camburão Com um bom desempenho na Série B, Douglas Marcucci foi promovido em 2003 para apitar jogos da Série A3 do Paulista e não demorou muito para o ararense voltar a ser alvo de polêmica, desta vez na cidade de Capivari, Estádio Municipal Carlos Colnaghi, o jogo era entre Capivariano x Jaboticabal, pela segunda divisão do Campeonato Paulista e com apenas 21 minutos de jogo, às 15:21, o ararense precisou encerrar a partida, já que o Jaboticabal não tinha número suficientes de jogadores em campo, afinal ele havia expulsado cinco atletas da equipe, o que causou uma grande revolta nos atletas e nos integrantes da comissão técnica. “Eles vieram para cima de mim. Tive que chamar reforço policial, mesmo assim fui agredido e tive que deixar o estádio no carro da Polícia Militar, fui a delegacia fiz boletim de ocorrência e só fui sair da cidade, às 23:30”, recorda. Depois deste jogo, Douglas Marcucci voltou a ficar um período na geladeira. Desta vez passou por uma reciclagem e foi orientado por um psicólogo da própria Federação Paulista de Futebol. “Essas orientações foram importantes, reavaliei minha conduta em campo e passei a ter um comportamento melhor nas partidas”, declara. Mais preparado, Douglas Marcucci apitou com brilhantismo de 2004 até a metade de 2014, sempre jogos das Séries A2, A3, Série B e até Campeonato Paulista Sub-20. Algumas vezes, Douglas chegou a ser escalado para ser quarto árbitro em partidas da Série A1. Fora das quatro linhas, Douglas Marcucci sempre esteve ligado a política ararense, foi secretário de esportes de 2009 a 2010 no mandato de Pedro Eliseu Filho. Foi candidato a vereador pelo DEM, obteve 427 votos, era suplente, mas assumiu uma cadeira na Câmara Municipal de Araras por um mês, de novembro a dezembro de 2012 no lugar da vereadora Magda Regina Carbonero Celidório, que perdeu o cargo eletivo por desfiliação partidária. Douglas Marcucci é presidente do partido PHS em Araras e vendedor de carro. Aos 42 anos, segue no quadro de arbitragem da federação Paulista de Futebol. No último ranking divulgado pela entidade paulista, o ararense apareceu na categoria 3, ou seja, podendo ser escalado em partidas da segunda divisão do estadual e da , além de jogos da categoria Sub-20. Pelo regulamento da comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol a carreira de um árbitro profissional se encerra com 45 anos de idade, portanto, Douglas Marcucci deverá seguir no quadro de árbitros até 2017. Atualmente, o ararense vive no Jardim Nova Suíça. É casado com Fernanda Paulino Marcucci com quem tem uma filha, Sofia Marcucci de 3 anos. Douglas é pai também de Branca Gaino Marcucci, hoje com 18 anos de idade.

Jeimes Wilie Catini Outro árbitro ararense é Jeimes Wilie Catini, nasceu no dia 9 de dezembro de 1978. É filho de Ideraldo Catini e Claudionete Batista Catini, tem um irmão mais velho, Jean Marcel Catini de 42 anos. Ainda quando caminhava para os primeiros passos de vida, ganhou de presente da mãe uma bola de futebol, ao invés de chutá-la pegou com a mão, era talvez uma premissa da posição em que Jeimes escolheria para jogar futebol e não deu outra, foi goleiro. Jeimes cresceu no Jardim Fátima, estudou na escola do bairro, o Lions Clube. Formou-se o segundo grau na escola Doutor Cesário Coimbra. Sua rotina era os estudos e ajudar o pai na marcenaria da família, uma pequena empresa que ficava acoplada com a casa onde morava, atrás do cemitério. O gosto pelo futebol, que começou quando ainda era criança, aumentou na adolescência, sonhava em ser goleiro, queria jogar profissionalmente. Com 15 anos, atuou no time da S.M.E. (Secretaria Municipal de Esportes) treinado pelo já falecido Marinho. Os treinos aconteciam toda semana no Complexo Ettore Zuntini, em frente ao clube dos Bancários. Apesar de todos os desejos e a paixão pelo esporte, Jeimes realmente não dava pinta de que seria um jogador, foi aí que em 1994 despertou outro desejo, ao invés das luvas, o apito, aos 16 anos, passou a ter certeza que queria seguir sua vida no futebol, porém, como árbitro. Os primeiros jogos em que apitou foram nas escolas e em algumas quadras na região do bairro em que morava.

O sonho de ser árbitro Com bons desempenhos, Jeimes passou a ganhar fama na cidade de bom árbitro, quase sempre era solicitado para apitar jogos de importantes campeonatos em Araras como no Sayão FC, Associação Atlética Ararense, Clube dos Bancários, Veloso Sport Center e GEMA. Assim foi até 1996, quando completou 18 anos e foi aprovado no curso de arbitragem da ARPAL, Associação Regional Pró de Árbitros Limeirense. Integrado a essa liga passou a apitar jogos importantes de campeonatos amadores em Araras. “Um jogo que me marcou muito foi Cruzeirinho x Marítimo lá no antigo Campo do Capixaba no José Ometto II, foi um jogo difícil, valia classificação”, recorda. Hoje no local funciona o Centro Esportivo Alcides Zaniboni. Também nesta época, Jeimes deixou de trabalhar na empresa do pai e passou a ser vendedor de material esportivo em uma das mais conhecidas lojas de Araras, a Casa Sônia Esportes, no centro da cidade. “Era tão apaixonado por futebol, que até de vendedor de produtos esportivos eu queria trabalhar, daí consegui esse emprego, onde eu conciliava o trabalho e a arbitragem”, recorda. Dedicado e muito seguro no desejo de apitar jogos profissionais e, sobretudo se tornar um árbitro reconhecido, Jeimes não pensou duas vezes em 2004, deixou o trabalho na Casa Sônia e fez a inscrição no curso de arbitragem na Escola Flávio Iazetti, na atual sede da Federação Paulista de Futebol, na Barra Funda em São Paulo. Jeimes viajava uma vez por semana a São Paulo, onde frequentava aula. O curso foi concluído no final do ano de 2005, foram mais dois anos de estágio em jogos das categorias de base, Sub-11, Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20. “Peguei meu diploma em 2007, foi uma alegria contagiante, tinha a certeza de que a partir daquele momento eu iria realizar meu sonho, pois, dedicação e força de vontade não faltavam”, conta. Além da diplomação no curso de arbitragem, Jeimes teve outras duas alegrias, mas fora de campo, primeiro casou-se com a ararense Kenyeri Figueiredo Catini, no dia dia 17 de fevereiro de 2007, da união do casal nasceu a filha Jenniffer Catini, hoje com cinco anos e depois no ramo profissional conseguiu a representação na região de Sorocaba do Calçados Beira Rio, uma empresa referência no Brasil inteiro no ramo de calçado feminino. A vida de Jeimes era só alegria, estava radiante com tudo o que vinha acontecendo na vida pessoal e profissional. Sua rotina passou a ser as viagens de negócios, família e a arbitragem, no entanto, mal sabia Jeimes que o sonho de se consagrar na carreira passaria a ser um pesadelo, ao ponto de recorrer a médicos e muitos remédios. Nos anos de 2007 e 2008, além de apitar jogos das categorias de base do Campeonato Paulista, Jeimes passou também a ser escalado para ser quarto árbitro em jogos das Séries A3 e A2. A cada semana, ele carregava o desejo de realizar o sonho de apitar jogos de times profissionais. “Trabalhei sempre muito bem nos jogos da base, sempre fui dedicado na função de quarto árbitro, tanto que durante quatro anos sempre desempenhei essa função na Copa SP de Futebol Junior”, explica o ararense sem esconder o desejo de sempre querer algo mais. “Não queria ser simplesmente o quarto árbitro, meu desejo era de apitar os jogos, eu tinha condições para isso, seja lá qual partida for e de qualquer divisão, eu precisava de uma oportunidade”, relata. No ano de 2009, Jeimes foi escalado para apitar um dos seus mais importantes jogos de sua carreira. Foi no duelo em que Rio Claro ficou no empate sem gols diante do Santos no Estádio Augusto Schimidt Filho, no dia 02 de Dezembro de 2009 pelo Campeonato Paulista Sub-20. “Fui tão bem neste jogo, que tinha a certeza que em 2010 eu iria ser escalado para começar a apitar partidas das Séries A2 e A3, numa escala de 0 a 10, minha nota naquele jogo foi 8,3”, admite.

O pesadelo No entanto, o desejo de voar mais alto na carreira de arbitragem não decolava, a falta de oportunidade era o maior obstáculo para o ararense. Nos anos de 2010 e 2011, Jeimes seguia apitando apenas jogos das categorias de base do Campeonato Paulista e as vezes escalado para atuar como quarto árbitro nas Séries A3 e A2 e na Copa SP de Futebol Juniores. A decepção de Jeimes aumentava a cada ano. O jovem ararense recorria sempre a família para suportar tamanha frustração. “Eu só queria entender o porque não tinha chance e ninguém na Federação Paulista de Futebol me dizia, nessa época o que mais tive foi apoio dos meus pais, da minha esposa e minha filha, essas pessoas sim, sempre estiveram ao meu lado, minha mãe sempre lavou direitinho minhas roupas de arbitragem, até hoje ela aguarda com carinho, meu pai sempre me incentivou pra eu pedir mais oportunidade na Federação, mas nunca achei que esse seria o caminho, minha esposa nem se fala, ela é a pessoa que mais ouvia meus desabafos e minha filha sempre foi a minha inspiração”, se emociona.

Fim do sonho Em 2012, Jeimes resolveu tomar a mais difícil decisão de sua vida, deixar a arbitragem. Foi no mês de agosto daquele ano. Ao receber a escala de jogos, viu que estaria designado a trabalhar na partida entre Batatais x Botafogo, no sábado, pelo Campeonato Paulista Sub-15 e no domingo em Guariba, nas categorias Sub-11 e Sub-13. “Eu recebi aquela escala como uma afronta, eu não admitia e não entendia o porquê não recebia uma oportunidade para trabalhar num jogo profissional, foi quando eu me decidi não viajar para fazer os jogos”, conta. Ao não cumprir a escala, Jeimes foi automaticamente desligado do quadro de arbitragem da Federação Paulista de Futebol. A decepção foi tanta, que ficou depressivo. Precisou recorrer a ajuda médica, durante quase dois anos foi acompanhando por um psicólogo. O tratamento exigiu muitos remédios. “Eu fiquei doente por causa dessa minha obsessão pela arbitragem e por não entender a falta de oportunidade, mas graças a Deus eu consegui superar tudo isso e agradeço ao meu médico de Sorocaba, o psicólogo Marcos Eduardo Ferreira Marinho, que me convenceu a me afastar e esquecer essa história de arbitragem”, explica. O último jogo de sua carreira foi em agosto de 2012 na partida em que o Lemense empatou com o Independente de Limeira, em 2 a 2, pelo Campeonato Paulista Sub-17, na cidade de Leme. Hoje, Jeimes tem a certeza que a arbitragem faz parte do passado. Na memória estão às boas lembranças e a certeza do dever cumprido. “Tive o prazer de apitar jogos de atletas importantes hoje do futebol mundial como , Oscar, Lucas, entre outros. Na minha época de arbitragem, esses atletas eram meninos ainda e atuavam nas categorias Sub-15 e Sub17”, se orgulha. Atualmente, o ararense segue como representante de calçados femininos da marca Beira Rio, na região de Sorocaba. Sua residência fica em Araras, no bairro Dom Bosco, onde mora com a esposa Kenyeri Figueiredo Catini, e a filha Jenniffer Catini.

Vinicius Paris França Seguindo os passos de Douglas Marcucci e Jeimes Wilie Catini, o ararense Vinicius Paris França também se formou árbitro de futebol na escola Flávio Iazetti na Federação Paulista de Futebol. Dos três é o mais jovem e com grandes chances de alcançar o auge da carreira. Filho único de Odail Paris França e Sirlei dos Santos Paris França, Vinicius nasceu no dia 29 de Janeiro de 1988. A infância toda passou no bairro Bosque de Versalles, região de classe média em Araras. Apaixonado pelo futebol sonhava em ser atleta profissional. Na adolescência passou a conviver mais na região central da cidade. Estudava de manhã na Escola Ignácio Zurita Junior, à tarde ficava na loja de roupa dos pais, a Fran-Vip, que ficava na Rua Tiradentes, bem no coração da cidade e depois do expediente frequentava a Associação Atlética Ararense, clube o qual sempre foi sócio e onde deu os primeiros passos com a bola nos pés. No ano de 2002, Vinicius completou o ensino fundamental na escola Zurita e em 2003 passou a treinar na extinta Escolinha ‘Camisa 10’ do ex-craque Aílton Lira, ídolo na Caldense, Santos e São Paulo. “Fui para a escolinha do Aílton Lira para me aprimorar nos fundamentos e com o objetivo de realmente me tornar um jogador”, declara. A rotina de Vinicius era acompanhar os pais na loja no período da manhã, treinar a tarde e estudar a noite na Escola Cesário Coimbra, que também fica no centro de Araras, onde completou o ensino médio. Sem muita habilidade com a bola nos pés, Vinicius atuava de lateral direito. Destacava-se pela força física. Depois de seis meses foi para o Comercial onde treinava no Estádio Joel Fachini, sem muito espaço no time resolveu sair para defender a Associação Atlética Ararense em campeonatos interclubes até que no ano seguinte, em 2004, teve a primeira oportunidade no União São João de Araras onde disputou o Campeonato Paulista Sub-17. “Tinha 16 anos, era um dos mais jovens do time por isso fiquei a maioria dos jogos no banco de reservas”, conta. No União, Vinicius chegou a ser promovido para a categoria Sub-20, mas na metade do ano de 2006 foi dispensado sem conseguir se profissionalizar. Logo que deixou o União São João, Vinicius foi para o Paulista de Jundiaí para fazer um teste na categoria Sub-20. Depois de uma semana em avaliação recebeu a notícia de que estava reprovado. Na sequência foi para o Atlético de Sorocaba, foram 15 dias de treinamento e nova dispensa. “Quem me indicou para o Paulista foi o atacante João Paulo Daniel, que havia jogado lá e conseguiu marcar uma avaliação para mim. No Sorocaba quem me levou foi o , preparador físico que mora em Araras, mas também não tive o mesmo sucesso e percebi que ser jogador de futebol realmente não era o meu forte”, admite. De volta a Araras e ainda com o sonho de estar ligado ao futebol, Vinicius Paris França foi aconselhado pelo pai Sr. Odail para se tornar um árbitro. “Estava conversando com o meu pai até que ele me deu essa idéia, achei muito interessante e fui logo pesquisando sobre arbitragem. Procurei o Douglas Marcucci que me mostrou todos os caminhos para que eu fizesse o curso na Federação Paulista de Futebol”, recorda.

O curso em São Paulo Vinicius fez o curso na Escola Flávio Iazetti na Federação Paulista de Futebol no ano de 2007. A aula era uma vez por semana, toda sexta-feira na sede da entidade no Bairro da Barra Funda em São Paulo. “Nessa época meus pais já não tinha mais a loja no centro, eles passaram a vender roupas para amigos e amigas em casa. Eu ajudava eles durante a semana e fazia esse curso as sextas-feiras”, explica. Vinicius dividia as despesas da viagem com o também formado em árbitro de futebol, Fabricio Fontana, que é natural de Marília e que mora em Araras desde 2004. Concluído o curso teórico no final do ano de 2007, Vinicius passou a apitar jogos do Campeonato Paulista das categorias Sub-11, Sub-12, Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20 no ano de 2008. O primeiro jogo oficial foi no CT do Palmeiras na Barra Funda na capital paulista no jogo entre Palmeiras x Nacional-SP pelo estadual Sub-11. “Esse primeiro jogo foi inesquecível, deu um frio em minha barriga, mas a sensação foi única de que estava me realizando profissionalmente, apesar de não ter me tornado um jogador estava de alguma maneira inserido no futebol, esporte que tanto sou apaixonado”, declara.

Professor de Educação Física Ciente de que a arbitragem não é uma profissão reconhecida, Vinicius resolveu paralelamente a venda de roupas e apitar jogos, iniciar um curso na Uniararas na área de Educação Física com o objetivo de se tornar um professor . “Eu sempre estive ligado ao esporte, é algo que gosto, que me faz bem, então logo depois de me formar árbitro resolvi fazer o curso de Educação Física”, explica. Na Faculdade se formou no final do ano de 2012. Neste ano de 2014 deixou a venda de roupas para investir no seu próprio negócio, fundou a Focus Academia, que fica localizada bem no centro de Araras. Atualmente com 27 anos, o árbitro ararense se dedica todos os dias a Academia e as escalas de arbitragem da Federação Paulista de Futebol, apitando partidas da Segunda Divisão do Campeonato Paulista e quase sempre sendo convocado para ser quarto árbitro em jogos das Séries A3 e A2 do estadual. “São duas coisas que estão no meu sangue, faço com prazer”, declara sem esconder a pressão na hora de entrar em campo para apitar os jogos. “O que mais me deixa triste são as atitudes dos pais desses pequenos jogadores que ainda alimentam o sonho de se tornarem profissionais, ao invés da educação, os pais incentivam a confusão, eles próprios falam mal dos árbitros e dão maus exemplos aos próprios filhos”, lamenta. Bastante jovem, Vinicius não esconde seus principais objetivos na carreira profissional. “Considero- me um professor dedicado e atencioso com os meus alunos, tenho a pretensão de me tornar um grande empresário no ramo de academia. Na arbitragem sonho em chegar mais alto, apitar uma primeira divisão do Campeonato Paulista, chegar a fazer parte do quadro de árbitros da CBF, é tudo isso que espero para o meu futuro”, revela. O ararense se inspira em dois árbitros de ponta do futebol brasileiro, o paranaense Héber Roberto Lopes, natural de Londrina, mas que apita pela Federação Catarinense de futebol e o mineiro de Poços de Caldas Sandro Meira Ricci, que faz parte do quadro da Federação Pernambucana e que esteve na Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O convívio com os pais no conjunto de chácaras Maria Rosa, onde a família se mudou em 2006, também nas proximidades do bairro Bosque de Versalles, está chegando ao fim neste ano de 2015, isso porque Vinicius está noivo há cinco anos com a também ararense Cristiane Mendes, formada em Técnica em Segurança do Trabalho. Ambos deverão se casar neste ano de 2015. “A Cristiane é uma pessoa maravilhosa, ela me ajuda muito aqui na academia e me entende bem com essa minha paixão pela arbitragem”, finaliza.

Privati

De operário da Usina a goleiro do União São João Privati é um dos jogadores mais identificados com o time de Araras

Não há em Araras um jogador tão identificado com o União São João como o goleiro Privati. Com um jeito simples, porém determinado, Privati tornou-se ídolo da torcida ararense. É o jogador que mais jogos fez pelo time alviverde. Foram dez anos como atleta, de 1981 a 1989 e de 1993 a 1994. No período de 1996 a 1999 trabalhou como supervisor, preparador de goleiros e treinador. Na época de jogador emprestou um par de luvas para o consagrado goleiro , enquanto coordenador, vivenciou momentos de tensão, foi vítima de assalto no centro de ao lado do ex-atacante Washington, o ‘Coração Valente’. Waldemar Edson Privati, nasceu em Araras no dia 19 de maio de 1962. Passou toda a infância na colônia da Usina São João, onde o pai Waldemar Privati e a mãe Maria Inês Ferreira Privati trabalhavam. O pai era tratorista e a mãe cuidava da pensão da Usina. De família humilde, Privati aprendeu com os pais os valores da vida. O trabalho duro, que começou ainda quando criança o impediu de avançar mais nos estudos. Formou-se até a oitava série. Frequentou o primário na escola José Ometo, localizada na própria Usina São João. Concluiu os estudos no Cesário Coimbra, no centro de Araras.

A bola e o trabalho Desde muito cedo, Privati sempre teve uma rotina agitada, frequentava a escola no período da manhã, a tarde trabalhava na colheita de laranja e de algodão e no final do dia, já no começo da noite, brincava com alguns amigos de futebol nas ruas do bairro ou nas quadras do Estádio Engenho Grande, que fica dentro da Usina São João, bem próximo de onde morava. No gramado não podia jogar. “O futebol sempre foi minha paixão, eu tinha sete, oito bolas, fazia até coleção, cada dia pegava uma para jogar com os colegas da colônia”, recorda. Apesar do gosto pelo futebol, Privati nunca mostrou muita habilidade com a bola nos pés, já como goleiro era o destaque do grupo. “Eu sempre gostei de luvas, eu me identificava mais com o gol, gostava de pular para fazer aquelas pontes, mão trocada, eu recebia muitos elogios, isso me incentivava muito a continuar brincando no gol”, declara. No ano de 1976, Privati com 14 anos, consegue um emprego na empresa de ônibus Viação Santa Cruz. O ararense deixa a roça para ser cobrador de ônibus. A linha era Araras a Limeira. Apesar do novo trabalho, Privati nunca deixou o futebol de lado. No final do expediente chegava em casa se vestia de goleiro e caminhava para o Estádio Engenho Grande. “Nessa época o time da Usina São João treinava a noite. Eu aproveitava a iluminação e ficava brincando atrás do gol”, conta. A cada brincadeira, Privati alimentava o sonho de se tornar um goleiro profissional. Em 1977, Privati deixa o trabalho de cobrador de ônibus e ajudado pelo pai consegue um emprego de ajudante de soldador na Usina São João. Privati estava radiante de alegria, pois assim ficaria mais próximo do Estádio Engenho Grande, ganhava alguns minutos a mais para colocar a roupa de goleiro e correr para brincar com a molecada. “Não via hora de jogar bola, eu percebia que cada vez mais eu estava aprendendo e me aperfeiçoando nos fundamentos”, explica. Numa dessas brincadeiras, ainda com 15 anos, Privati recebeu elogios do então técnico do time principal da Usina São João, Walter Daltro e do preparador físico Tutu Zaniboni. “Lembro que eles paravam pra me ver treinando. O Tutu chegou a dizer que eu não tinha medo da bola e aí me convidou para treinar com os demais goleiros do time”, conta.

Gato ao contrário Durante os treinamentos, Privati se destacou tanto, que foi logo integrando o time principal da Usina São João no torneio amador Belmiro Fanelli, famoso jornalista que faleceu na década de 70 e que passou dar o nome a competição, que hoje foi extinta, mas que na época era o objeto de desejo de todos os times da região. Reunia equipes das cidades de Araras, Limeira, Iracemápolis e Cosmópolis. Um fato curioso chamou muito a atenção na ocasião. Sem idade para poder jogar a competição, o goleiro Privati teve a idade adulterada, passou de 15 para 16 anos. “Foi um gato ao contrário (ri alto), ao invés de diminuir minha idade, teve que aumentar, caso contrário eu não poderia jogar, o campeonato exigia idade mínima de 16 anos”, lembra com muito bom humor o goleiro ararense. Na oportunidade a Usina São João teve uma participação impecável e conquistou o título do torneio ao vencer na final o América de Iracemápolis, por 1 a 0, gol de Martoni. A decisão foi no Estádio Comendador Agostinho Prada, em Limeira. Além da Usina São João, participaram da competição outras duas equipes ararenses, Oratório São Luiz e Santa Lúcia. Privati teve uma participação decisiva na conquista do título da Usina São João. O título motivou ainda mais o ararense, que passou a ter certeza da profissão que iria seguir, goleiro de futebol profissional. Com a oitava série concluída no final de 1977, Privati passou o ano de 1978 inteiro se dedicando ao trabalho na Usina durante o dia e aos treinamentos no período da noite. “A minha vontade de treinar era tanta, que nem pra casa estava indo mais, saía da Usina ía direto para me trocar no vestiário do Engenho Grande, os demais jogadores até brincavam que não queriam colocar a roupa perto da minha, porque eu estava tudo sujo de óleo (rí alto)”, lembra Privati sempre com bom humor.

Passagem pelo Palmeiras Em 1979, com 17 anos, Privati deixa o trabalho e o time da Usina São João e vai para o Palmeiras a convite do preparador de goleiros Clarino Constantino, amigo particular de Walter Daltro, que fez a indicação. “Foi uma oportunidade e tanto para a minha carreira, aprendi muito no Palmeiras, fique dois anos, até o final de 1980, mas depois resolvi voltar para a Usina a convite da própria diretoria”, admite. Também nesse ano de 1981, Privati ainda com 19 anos, casou-se com a ararense Maria de Lourdes Beloto com quem teve dois filhos, Jefferson Privati, hoje com 33 anos e Jeniffer Privati com 31.

Surge o União São João Nessa época a Usina São João passou a ser União São João, a oficialização se deu no dia 14 de janeiro de 1981. A mudança de nome foi um consenso entre todos da diretoria do time, que tinha no comando o presidente Gilberto Ometto e os diretores José Mario Pavan, Iko Martins, Paulo Curtulo e o próprio Waldemar Privati, pai do goleiro Privati. De volta a Araras, Privati se dedicou apenas ao futebol. Foi profissionalizado no União São João e no primeiro campeonato oficial conquistou o acesso da terceira para a segunda divisão do Campeonato Paulista. Naquele ano, o União jogava com: Privati; Nino, Cau, Miro e Cássio; Mineiro, Pavan e Osmar; Joãozinho, Braz e Pirraia. Técnico Walter Daltro. Até 1987, Privati foi o dono da camisa 1, porém tinha que conviver com a forte concorrência de Silvio Roberto Marola e Brandão, goleiros que também faziam parte do elenco ararense na época. Logo depois do Campeonato, Privati foi emprestado ao União de Rondonópolis só para a disputa de um quadrangular final do Campeonato Mato-grossense, com um desempenho primoroso, Privati ficou vice- campeão e logo voltou para vestir novamente a camisa verde e branca do time ararense.

10 jogos sem sofrer gol Em 1986, Privati entra de vez para a história do União São João. Pelo Campeonato Paulista da segunda divisão alcança uma histórica marca de 10 jogos sem sofrer gol, foram 908 minutos sem ver a sua rede balançar. Essa proeza teve repercussão no Brasil inteiro, o ararense estampou por muito tempo a capa dos principais jornais esportivos do Brasil. O encanto foi quebrado no jogo contra o Independente, no Pradão, Celso marcou o gol, no empate em 1 a 1. “Lembro que foi incrível essa marca, algo que era muito comentado por toda a imprensa do Brasil, o jogador do Independente comemorou o gol como se fosse um título de Copa do mundo”, recorda Privati. Em 1987, Privati consegue outro feito histórico vestindo a camisa do União São João, desta vez, conquista o acesso a elite do Campeonato Paulista ao derrotar na final o São José, por 1 a 0, gol de Play Freitas. O time ararense jogava com: Privatti; Kiko, Eduardo, Cavalcanti e Carlinhos; Miranda (Marinho), Adauto e ; Muniz, Cássio e Play Freitas. O técnico era o João Magoga. Em 1988, o União disputa a elite do Campeonato Paulista e a Série C do Campeonato Brasileiro. Privati foi titular nas duas competições. No Paulista, o time ararense ficou na lanterna, mas não teve rebaixamento e por isso seguiu na elite. A campanha foi de três vitórias, cinco empates e 11 derrotas, apenas 11 pontos (na época vitória valia 2 pontos). Uma partida deste Campeonato Paulista marcou para sempre o goleiro Privati, foi no confronto contra o Palmeiras no Estádio Engenho Grande, no dia 13 de Março de 1988, vitória do Verdão sobre o time de Araras, por 1 a 0. “Lembro que subíamos para o aquecimento antes da partida e o Zetti veio desesperado ao meu encontro, me perguntando seu eu não tinha um par de luvas para emprestá-lo, o roupeiro havia esquecido as dele em São Paulo, acabei emprestando a minha reserva para ele”, recorda Privati. Foi o último duelo entre União x Palmeiras no Estádio Engenho Grande, dois meses depois, o time de Araras passaria a atuar em um estádio novo, bem mais moderno, o Estádio Hermínio Ometto, na zona leste de Araras. A inauguração do novo Estádio se deu no dia, 18 de maio de 1988, em um amistoso diante do Botafogo de Ribeirão Preto. A partida terminou empatada, em 1 a 1. Celso Luiz foi o autor do primeiro gol do Herminião, Gallo empatou para o time de Ribeirão Preto. O União jogou com: Privati; Valdemir, Miranda, Beto Médice e Rossi; Vanderley, Humberto (Play Freitas), Odair (Cássio) e Adauto; Celso Luiz e Valdir Lins. O técnico foi Urubatão Nunes. O Botafogo jogou com: Luis Andrade; Nem, Ari Spadela, Leiz e Paulo Eduardo; Paulo Rodrigues, Gallo e Rogerinho; Vladimir, Gilson (Didi) e Edu (Camargo). O técnico do Botafogo era Jair Picerni.

Suspenso na final da Série C No mês de outubro de 1988, o União São João estréia no Campeonato Brasileiro da Série C. Depois de 18 partidas, a equipe conquista o título e consequentemente o acesso a Série B. Foram 10 vitórias, dois empates e seis derrotas, um total de 33 pontos conquistados. Depois de atuar como titular durante toda a competição, Privati foi surpreendido com uma suspensão no primeiro jogo da final contra Clube Esportivo da cidade de Passos-MG. “Teve um jogo contra o Santo André, que empatamos em 0 a 0, aqui no Estádio Hermínio Ometto, tinha um atacante do time deles, que ficava mexendo com o Cavalcanti e aí eu tomei as dores e no final do jogo corri atrás dele até a porta do vestiário, não consegui pegá-lo, mas mesmo assim o Oscar Roberto de Godoy relatou na súmula na época, fui julgado e fui suspenso justamente no jogo da final” relembra Privati, que chegou a reencontrar com o desafeto em 2005 em Caxias do Sul. “Estava trabalhando como observador do Atlético-PR e fui a Caxias ver o jogo entre Juventude x Corinthians. Eu me aproximava do Estádio Alfredo Jaconi, quando fui parado por uma pessoa e era justamente esse atacante do Santo André, o qual eu corri atrás, foi muito engraçado este reencontro, nos desculpamos e passamos a recordar aquele jogo, foi muito curioso”, declara. Na primeira decisão diante do Passos, fora de casa, o União empatou em 1 a 1. Marola foi o goleiro titular. No jogo da volta, em Araras, o técnico Zé Duarte, resolveu manter o Marola na decisão, Privati ficou na reserva. O jogo terminou, 2 a 2, o União ficou com a taça e garantiu o acesso para disputar a Série B do Brasileiro no ano seguinte. Naquele Brasileiro de 1988, o União jogou a maioria das partidas com: Privati; Valdemir, Fernando, Cavalcanti e Haroldo; Vanderlei, Miranda, Odair e Adauto; Muniz, Celso Luiz e Cássio. Apesar de não ter disputado os jogos das finais do Brasileiro daquele ano, Privati era incontestável na meta do União São João, tanto que renovou seu contrato para mais uma temporada. Em 1989, iniciou como titular o Campeonato Paulista, Marola voltou a ser opção no banco de reservas. Sob o comando do técnico Zé Duarte, o União atuava com: Privati; Valdemir, Beto, Cavalcante e Jacenir; Zó, Djalma e Glauco; Cássio, Kel e Zimmermann. O que chamava muito a atenção no União São João nessa época, era os irmãos Zó e Kel. Eles eram irmãos gêmeos e os próprios jogadores tinham dificuldade para identificá-los O União terminou a primeira fase em terceiro lugar do grupo 1 com 20 pontos e se classificou para a segunda fase, ficando no grupo 3 junto com o São José e a Portuguesa. O time do Vale do Paraíba foi o único time que avançou no grupo e chegou a final, perdendo o título na oportunidade para o São Paulo. Logo depois da boa participação do União São João no Campeonato Paulista da primeira divisão, a delegação do time ararense viajou para uma excursão no Japão. Privati foi o titular nos quatro amistosos realizados, foram duas vitórias e dois empates. De volta ao Brasil, o União inicia a preparação para o Campeonato Brasileiro da Série B, apesar do tanto prestigio que tinha com a camisa 1 do União São João, sendo titular de 1981 até o Paulista de 1989, Privati resolveu encerrar seu primeiro ciclo no time alviverde. Deixou o Herminião de cabeça erguida e com a certeza de que voltaria para encerrar a carreira. Valorizado pela brilhante trajetória com a camisa do União São João, acumulando conquistas como o acesso no Paulista e o título do Brasileiro da Série C, Privati recebeu inúmeras propostas, uma delas foi do Bragantino, que tinha de técnico e Mococa como preparador dos goleiros. “Lembro que o Marco Chedid, presidente do Bragantino, veio aqui em Araras para me contratar, me ofereceu muito dinheiro, mas a fama do Bragantino na época era de mal pagador e por isso não fui”, conta. O Massa Bruta foi campeão Brasileiro da Série B naquele ano. Privati então resolveu aceitar um convite para jogar a Série B do Brasileiro pelo Blumenau de Santa Catarina. “Lá no Blumenau a estrutura era muito melhor”, declara. O ararense foi titular no inicio do nacional daquele ano de 1989, porém, uma lesão o tirou do time. “Sofri uma contusão no braço. Foi no primeiro jogo decisivo da segunda fase do Brasileiro contra o Criciúma, ganhamos de 1 a 0, mas perdemos o jogo da volta, por 2 a 1, nos 90 minutos e nos pênaltis, por 4 a 2”, explica Privati, que também lamentou não poder ter jogado contra o Flamengo, na época pela . Na ocasião, o Blumenau jogava com: Privati (Leandro); Gassem, , Sidnei e Itamar; Sérginho, César Paulista, Alaércio e Derval; Osmair e . Técnico Zé Carlos Paulista. Privati foi se recuperar da lesão somente no final do ano. No inicio de 1990, o goleiro ararense voltou aos gramados, defendeu o Blumenau no . Sob o comando de Geninho, foi titular em praticamente todos os jogos. A equipe atuava com: Privati, Wilsinho, Alemão, Newmar e Zé Antônio; Vanderlei, Nina e Daniel Pereira; Marcelo Vitta e Walbert. No segundo semestre, na disputa do Campeonato Brasileiro da Série B, Privati ganhou um concorrente forte pela camisa 1 do time, teve que disputar a posição com o goleiro Sadi, que foi titular na maioria dos jogos. Privati teve que aceitar o banco de reservas. No nacional, o Blumenau jogou a maioria das partidas com: Sadi; Claudio, Claudemir, Juarez e Zé Antônio; André Luiz, Suca e César Paulista; Veneza, Chulapa e Cid, o técnico era Vail Mota. No final do ano de 1990, Privati recebe uma proposta de empréstimo da Portuguesa de Desportos, porém, o Blumenau dificulta a saída do goleiro ararense. O time catarinense só aceitaria liberá-lo se fosse em definitivo. Privati, na reserva, estava insatisfeito no time catarinense, que mais tarde o negociou em definitivo com o Rio de Andradas-MG, onde disputou o e o Brasileiro da Série B de 1991. No estadual, foram 14 jogos, sendo seis vitórias, sete empates e apenas uma derrota. Privati sofreu apenas cinco gols. No nacional, a campanha não foi tão boa, a equipe não passou da primeira fase. No ano de 1992, o Rio Branco manifestou o interesse em liberar o goleiro Privati por empréstimo para o Desportiva do Espirito Santo, mas desta vez, quem não queria sair nessas condições era o próprio Privati, que preferiria ser negociado em definitivo com a intenção de fazer o pé de meia recebendo a porcentagem da venda, no entanto, a negociação não evoluiu e Privati teve que tomar uma medida drástica, comprar o próprio ‘passe’ e emprestar para um clube da Série A1 do Paulista, o qual tivesse uma boa visibilidade no mercado. “Fiquei até irritado com o Sr. Claudio Turati, presidente do Rio Branco na época. Resolvi vender um carro que eu tinha e adquiri meus direitos econômicos e emprestei para o Olímpia para a disputa do Campeonato Paulista”, admite Privati. No Olímpia, Privati jogou a elite do Campeonato Paulista, no período de 4 de julho a 20 de dezembro. O ararense brilhou na competição com defesas incríveis e foi fundamental na campanha de manutenção do time na Série A1 do estadual, ficando na sétima posição do Grupo B. Foi uma campanha de 26 jogos, sendo nove vitórias, nove empates e oito derrotas, conquistando um total de 27 pontos. A equipe atuava sob o comando do técnico Pinho com: Privati; Gilson, Gomes, Rodrigo e Dobrada; Nogueira, César Ferreira, Trigo e Guapiara; Basílio e Cosme (Marcio Flores).

A estranha sensação de jogar contra o União Neste mesmo ano, Privati enfrentou duas vezes o União São João, time do seu coração e que o revelou para o futebol. “Foi uma sensação estranha, afinal acima de tudo, sou torcedor do União, mas defendi o Olímpia com muito profissionalismo, perdi o primeiro jogo, por 1 a 0, em Araras e venci no segundo turno pelo mesmo , em Olimpia”, revela. Em Araras, a partida aconteceu no dia 19 de agosto de 1992. O público foi de 4.347 torcedores. O gol da vitória do time de Araras foi marcado pelo atacante Ozias, que morreu três anos depois, no dia 29 de novembro de 1995. Naquele jogo, o União de Jair Picerni iniciou a partida com: Veloso; Edinho, Beto Medice, Guinei e Roberto Carlos; Vinicius Eutrópio, Alexandre e Glauco; André Luiz, Osias e Esquerdinha. Já o Olímpia do técnico Pinho perdeu com: Privati; Gilson, Verta, Marcelo Feltrin e Cipó; Miel, Luis Carlos e Otávio; Renato, Cassio Mariano e Zimermmann.

A volta para o União No ano de 1993, aos 31 anos, Privati recebe um convite do presidente José Mario Pavan e do vice Iko Martins, para voltar a vestir a camisa do União São João. Mais experiente e torcedor assumido do time ararense, Privati de pronto aceita e volta a ser goleiro do time que o lançou para o futebol. No entanto, esbarrou na forte concorrência, o time de Araras tinha no elenco, os goleiros Luiz Henrique, Silvio (não é o Marola) e Juliano. Privati foi reserva de Luiz Henrique. Naquele estadual, participaram 30 equipes divididas em dois grupos. Seis times de cada chave avançavam, o União ficou em oitavo lugar. Neste mesmo Paulista, o time ararense conseguiu resultados históricos, empates contra Santos e Palmeiras e vitória diante do Corinthians, por 3 a 0. Este jogo diante do time de Parque São Jorge é considerado até hoje um feito histórico. Foi no ensolarado dia 28 de março de 1993, o palco foi o Estádio Hermínio Ometto, a arquibancada estava tomada por mais de 19 mil pessoas, os gols do União foram marcados por Osias, Alexandre e Israel. O União jogou com: Luis Henrique; Edinho, Beto Médice, Cláudio e ; Vagner, Alexandre (Luis Claudio) e Glauco; Israel, Osias (Tato) e Esquerdinha, técnico Jair Picerni. O Corinthians perdeu com: ; Leandro, Marcelo Djian, Ricardo e Elias; Moacir, Ezequiel e Neto (Bobô); Paulo Sérgio (Marques), Viola e Adil. Técnico Nelsinho Batista. O árbitro do jogo foi o piracicabano João Paulo Araújo. O campeão deste Campeonato Paulista foi o Palmeiras, que levantou a taça depois de 16 anos sem nenhuma conquista. O Corinthians ficou com o vice-campeonato. Viola do Timão foi o artilheiro com 20 gols. No segundo semestre, o União São João, disputou a Série A do Campeonato Brasileiro. A campanha do time ararense foi de 14 jogos, sendo seis vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Privati mais uma vez foi reserva, desta vez, Silvio foi o titular no gol do União. Comandado pelo técnico Jair Picerni, o União atuou a maioria das partidas com: Silvio; Edinho, Maciel, Beto Médice e Carlos Roberto; Cláudio, Alexandre e Cleomar; Israel, Ozias e Esquerdinha. Neste Campeonato Brasileiro de 1993 também deu Palmeiras, campeão em cima do Vitória da Bahia.

Privati defende pênalti de Em 1994, Privati aos 32 anos, inicia o Campeonato Paulista como titular do União São João, mas fica apenas oito jogos, conquistando três vitórias, dois empates e três derrotas, o ararense tomou 10 gols. No entanto, um jogo marcou a passagem de Privati pelo União naquele ano, foi o histórico empate diante do poderoso Palmeiras, dia 10 de fevereiro, no Palestra Itália com um público de 23.884 pagantes, arbitragem de José Mocelim, os gols foram do zagueiro Cléber para o Palmeiras e do atacante Israel para o União. Neste jogo, Privati conseguiu um feito que poucos goleiros conseguiram na carreira, defender uma cobrança de pênalti do atacante Evair, considerado na época um especialista em penalidade máxima. “Foi uma das maiores emoções que eu senti na minha vida, considero este jogo o mais marcante da minha carreira”, admite Privati O time ararense treinado por Jair Picerni jogou naquela noite com: Privati, Edinho, Maciel, Beto Médice e Carlos Roberto; Marcelo Lopes, Alexandre, Vagner e Cleomar; Israel e Osias. O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo atuou com: Sérgio; (Sorato -Ararense), Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Rincón e ; e Evair. Depois dessa partida, Privati sentiu uma grave lesão. Era o fim do ciclo como jogador do União São João. “Sofri uma lesão no adutor da coxa direita, fiquei quase dois meses em recuperação, nesse período o União contratou um goleiro experiente para o meu lugar”, recorda. A diretoria trouxe Ricardo Pinto, que havia atuado por Fluminense e Corinthians. Com a camisa 1 do União, Ricardo Pinto atuou em 22 partidas, foram cinco vitórias, dez empates e sete derrotas, na somatória geral do campeonato, o União terminou com 28 pontos na nona posição. No Paulista daquele ano, o técnico Jair Picerni foi demitido e Geninho foi o comandante na reta final do estadual, o União jogava ofensivamente e conquistava bons resultados. Além do empate contra o super time do Palmeiras, o União venceu partidas importantes contra Portuguesa do técnico Fito Neves, que tinha um time forte e jogava com: Marcio; Zé Maria, Wlademir, Gilmar Francisco e ; Capitão, Simão, Caio e ; Mauricio e Dinei e São Paulo do técnico Telê Santana, que escalava a equipe na maioria dos jogos com: Zetti; , Junior Baiano, Gilmar e André Luiz; , Valber, Palhinha e Leonardo; Eulher e Mulher. Naquele estadual o Palmeiras foi o campeão, o atacante Evair foi o artilheiro do estadual com 23 gols e o São Paulo ficou com o vice-campeonato.

A despedida do União Lesionado, a rotina de Privati passou a ser o departamento médico do União São João. O goleiro fez tratamento intensivo, praticamente em três períodos, de manhã, no período da tarde e até a noite. Sua vontade era retornar ao gramado, o mais rápido possível. Foram quase dois meses de recuperação, no inicio de Abril, Privati é liberado pelos médicos para voltar a treinar, porém já havia perdido a condição de titular para Ricardo Pinto, que passou a ser o número 1 do time, insatisfeito em ter que ficar na reserva, o ararense resolveu deixar o União e aceitar uma proposta do Atlético de Sorocaba para a disputa da Série A3 do Paulista, uma espécie de terceira divisão estadual. “Sabia que seria difícil eu voltar a jogar porque o Ricardo Pinto era um grande goleiro e estava bem, como o Atlético de Sorocaba me procurou a pedido do técnico Valter Ferreira, resolvi aceitar o convite e pedi minha liberação ao presidente do União, José Mario Pavan, que prontamente me atendeu” recorda. Privati se apresentou ao time de Sorocaba no dia 7 de abril de 1994. Sua estréia como titular foi na partida contra o Barretos no Estádio Rui Costa Rodrigues, em Sorocaba, o duelo terminou empatado, em 1 a 1, Adelar fez para o time da casa e Celso empatou para o Barretos. Naquela partida, o Atlético jogou com: Privati; Jorge Luis, Ronaldo, Celso e Marcelo; Paulo César, Musa, Tiãozinho e Naná; Marcos César e Adelar. O Barretos atuou com: Castro, Eduardo, Edson Junior, Haroldo e Junior; Sidclei, Ivanildo, Celso e Carlinhos Preta; Toti e Delém, o técnico era José Luiz Soares. No Atlético de Sorocaba, Privati foi titular em todos os jogos. A equipe terminou a competição em quarto lugar com 39 pontos. A campanha foi de 13 vitórias, 13 empates e oito derrotas, em 34 jogos disputados. Naquele ano apenas as três melhores equipes subiam para a Série A2, por um ponto, o Sorocaba ficou de fora. Os times agraciados com o acesso foram, o campeão Nacional, o vice Rio Preto e a Portuguesa Santista terceira colocada.

O fim da carreira Apesar da excelente trajetória no Atlético de Sorocaba, Privati resolveu aceitar novamente o convite do Olímpia, onde já havia atuado em 1992, desta vez para jogar a Série A2 do Campeonato Paulista de 1995. Aos 33 anos, o ararense era um dos mais experientes do elenco comandado pelo técnico Pinho, um dos grandes amigos de Privati no futebol. “O Pinho gostava muito do meu trabalho, nós tínhamos um respeito muito grande um pelo outro”, recorda. Foi o último campeonato disputado pelo ararense Privati como jogador de futebol. Em 1996, Privati recebe um convite do presidente do União São João, José Mario Pavan para ser supervisor de futebol do time ararense, a proposta fez Privati tomar uma das mais difíceis decisões de sua vida. “Foi um momento em que reuni a minha família e tomei a decisão de encerrar a carreira e aceitar o convite, pois, o salário era o mesmo e ainda ficaria na minha cidade e no clube que eu tanto gosto”, lembra. A função de Privati era administrar as categorias de base e tornar um elo entre jogadores, comissão técnica e diretoria. O trabalho começou no Campeonato Paulista, Privati estava se adaptando a nova função, dentro de campo, a campanha não foi das mais esperadas, o União lutou até o final da competição para não ser rebaixado. No segundo semestre, já seguro da função que desempenhava no clube, Privati também passou a ajudar como preparador de goleiros e auxiliar técnico. O time de Araras teve um ano histórico, foi Campeão Brasileiro da Série B com o técnico e o time Sub-20 Campeão Paulista da categoria com o técnico Play Freitas. A primeira decisão foi do Sub-20, o União São João venceu o Novorizontino, por 1 a 0, com gol de Gefferson. O União jogou com: Gustavo; Odair, Tarcio, Venicio e Fábio Baiano; Paulo Sales, Kellé, Gefferson (Danilo) e Preta; Marcinho e Altair. Já o profissional ficou no empate contra o Náutico em, 1 a 1, resultado que deu ao União, o título da Série B do Brasileiro. O time jogava com: Adinan; Chiquinho, Lica, Nilson e Ivonaldo; Marcelo Lopes, Lico, Paulo César (Souza) e Odair (sairo); Reinaldo (Célio Alcântara) e Borges. Em boa fase como supervisor de futebol do União, Privati deu sequência no trabalho em 1997 e novamente o União São João brilhou no Campeonato Paulista, ficando com o título do interior, terminando o estadual atrás apenas dos grandes times do estado: Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e Portuguesa. O time de Araras atuou naquele ano com: Adinan; Chiquinho (Paulo Sales), Maciel, Julio César e Ivonaldo; Lico, Odair, Ricardo Lima e Reinaldo; Paulo César (Helbert) e Sérgio Lobo (Sairo). O curioso é que o técnico Lula Pereira deixou a equipe nas últimas três partidas para resolver um problema particular, Privati foi designado pela diretoria para ser o técnico e teve bom aproveitamento, foram duas vitórias contra Palmeiras e São José e uma derrota diante da Portuguesa. “Foi uma experiência fantástica pra minha carreira, tive essa honra de ser o técnico do União São João nessas três partidas e conquistamos dois bons resultados”, declara. Em 1997, foi um dos anos que o União São João mais revelou jogadores na sua história. Chiquinho foi para Alemanhã, Maciel se transferiu para a China, Reinaldo foi jogar no São Paulo e Sérgio Lobo no Corinthians. No segundo semestre de 1997, o União disputou o Campeonato Brasileiro da Série A e foi rebaixado. Privati chegou a dirigir o União São João em uma partida no nacional, foi no empate, em 0 a 0, diante do Botafogo-RJ. No Brasileirão daquele ano, o União teve Geninho e Basílio de treinador. Em 1998, foi o último ano de Privati como supervisor do União São João, o time de Araras não fez uma boa campanha no Paulista e nem no Brasileiro da Série B, apenas o suficiente para se manter nas divisões. Os resultados não agradaram o presidente José Mario Pavan, que no ano anterior havia desfeita a parceria com Iko Martins, contudo, resolveu mudar a comissão técnica e parte do elenco, entre os demitidos estava Privati. Logo que deixou o União São João, Privati resolveu dar sequência na carreira como treinador e dirigiu as equipes do Velo Clube, Fernandópolis e Independente de Limeira. Auxiliou também o técnico Pinho no Olímpia e no Santo André. No ano de 2001, Privati aceitou o convite do técnico Renê Santana para ser auxiliar técnico e preparador de goleiros do Mamoré-MG, na disputa do Sul-Minas. A equipe havia conquistado a vaga com a conquista do título do interior mineiro no ano anterior. “O Renê Santana ficou dois jogos apenas no comando do time, ele se desentendeu com a diretoria e acabou deixando o clube”, relembra Privati, que assumiu o time em seis partidas até a chegada do técnico Jair Bala. O ararense Sorato era o grande destaque do time. No ano seguinte, em 2002, Privati se transferiu para o Atlético-PR, a convite de Vinicius Eutrópio, que havia jogado no União São João e na época comandava as categorias de base do time paranaense. “Fui para trabalhar como treinador de goleiros da base do Atlético-PR, a minha função era avaliar os goleiros que estavam no clube, participei de vários campeonatos no Brasil e até de um torneio em Dallas nos Estados Unidos”, conta Privati, que ficou no Furacão até abril de 2007. Em 2004, Privati foi promovido para trabalhar como preparador de goleiros do time profissional. O ararense fez parte da comissão técnica de , ficando com o vice-campeonato brasileiro. Neste ano, um episódio fora de campo ficou gravado para sempre na memória do ararense. Um assalto no centro de Curitiba. “Nós estávamos concentrado e o Washington (atacante – coração valente) é diabético e havia esquecido a insulina no apartamento dele, que ficava um pouco distante de onde estávamos, o Levir Culpi na época liberou o Washington pra buscar o remédio, porém, pediu para que eu o acompanhasse. Quando ele parou a Pajero dele em frente ao prédio, onde ele morava, vieram dois assaltantes armados e nos renderam, até achei que fosse uma brincadeira, quando vimos estávamos na calçada e o carro sendo levado embora pelos bandidos”, explica. Na oportunidade Privati até questionou o Washington sobre o seguro do carro. “Na hora eu perguntei se a Pajero tinha seguro, o Washington me disse que não e foi instantâneo, o chamei de burro”, recorda. Washington foi o principal artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2004, marcou 34 gols com a camisa do Atlético Paranaense e é até hoje um dos grandes amigos de Privati. No ano seguinte, em 2005, Privati conquistou o campeonato estadual, foi vice do Brasileiro e vice da libertadores. Em 2006, Privati chegou a comandar a categoria Sub-17 do Atlético-PR e no começo de 2007 voltou a ser o preparador de goleiros do profissional. “Foram cinco anos de muito aprendizado, adquiri muita experiência, tenho muito respeito pelo Atlético-PR e todos do clube gostam muito de mim”, declara. Depois de deixar o Atlético-PR, Privati se transferiu para o Metropolitano de Santa Catarina, onde foi auxiliar do técnico César Paulista, a equipe fez uma boa campanha se mantendo na elite do estadual. Em 2008, o destino de Privati foi novamente o futebol paulista, desta vez para comandar o Sub-17 do Desportivo Brasil da cidade de Porto Feliz, região de Itu. “No Desportivo Brasil disputamos alguns torneios internacionais na Irlanda, na Espanha e na Inglaterra, cheguei até acompanhar algumas partidas do time principal do Manchester United”, conta. Na Espanha, O Desportivo Brasil disputou um torneio, que teve inclusive a participação da Seleção Brasileira, o time de Privati ficou com o vice-campeonato perdendo a decisão, por 1 a 0, justamente para a Seleção Brasileira, que era comandada pelo técnico Rogério Lourenço. “Muita gente não sabe disso, mas comandei o Desportivo Brasil nesta final, o Brasil tinha Bruno Uvini (Santos), Lucas (PSG), Diego Mauricio (Flamengo) entre outros”, ressalta Privati, que ficou na base do Desportivo Brasil até 2009, já que em 2010 assumiu o time profissional na disputa do Campeonato Paulista da segunda divisão. “Até que fizemos uma boa campanha na primeira fase, mas depois não fomos bem e não conseguimos o acesso”, relembra. Em 2011, o destino de Privati foi o , onde comandou o sub-18 na Copa SP de Futebol Junior. A equipe foi eliminada na primeira fase, ficando na terceira posição com 4 pontos, foram 3 jogos, uma vitória contra o Ceará, por 1 a 0, um empate diante do Bandeirante de Birigui, em 1 a 1 e uma derrota para o Palmeiras, por 7 a 0. Na época, Palmeiras e Bandeirante se classificaram. O ararense ficou só até o fim da competição no dia 25 de janeiro. Logo na sequência integrou a comissão técnica do treinador no Linense para a disputa da elite do Campeonato Paulista daquele ano, a equipe havia subido no ano anterior. No time de Lins, Privati trabalhou como preparador de goleiros e o Linense se manteve na elite do estadual. A equipe fez uma campanha de 19 jogos com seis vitórias, três empates e acumulou 10 derrotas na competição. Terminou na 14ª posição a frente de times tradicionais como Ituano e Bragantino. Naquele ano, foram rebaixados os times do São Bernardo, Grêmio Prudente, Noroeste e Santo André. O São Paulo foi o campeão com 41 pontos somados. O Linense jogava com: Paulo Musse; Eric, Fabão, Bruno Quadros e Tarracha; Wellington Monteiro, Marcus Vinicius, Éder e Gilsinho; Leandro e Pedrão.

A vida em Curitiba Com o final do Paulistão 2011, Privatti deixou o Linense e voltou para Curitiba, onde tem uma casa e um carro de passeio. É tudo que conseguiu de patrimônio com o dinheiro do futebol, hoje ainda depende do trabalho para se sustentar. Em 2012, o ararense aceitou o convite para trabalhar no extinto CAPA, Clube Atlético Paraná da cidade de Colombo, distante 15 Km da capital paranaense. O CAPA era um projeto conhecido por revelar talentos para o futebol com idade entre 14 e 16 anos. O clube possuía uma estrutura invejável com um centro de treinamento moderno, conhecido como CT do Caqui, localizado no Sítio de mesmo nome, que tem uma área de preservação natural e lazer com mais de 25 alqueires. “O clube era administrado pelo empresário Marcos Aurélio de Abreu Rodrigues e Silva. Era um trabalho sensacional, tinha muita tradição e revelava bons meninos que depois eram colocados em clubes como: Atlético Paranaense, Curitiba, Grêmio e Palmeiras. Os meninos alojavam no projeto, estudavam e treinavam”, explica Privati, que na época foi convidado pelo amigo Marcos Biasotto para integrar a comissão técnica da equipe. Biasotto ficou no projeto até o final de 2011, depois se transferiu para a base do Grêmio e agora é o responsável por toda a categoria de base do Flamengo. Privati trabalhou neste projeto até dezembro de 2013, quando o clube resolveu encerrar as atividades. Em busca de um novo trabalho, Privati segue frequentando estádios de futebol para observar jogadores, os quais muitas vezes são indicados para amigos treinadores. “Eu tenho esse hábito de sempre acompanhar o futebol no estádio, aproveito para fazer as minhas anotações, é um mapeamento de atletas, os quais eu indico para amigos treinadores que me consultam e também é uma maneira de ficar sempre antenado, pois a qualquer momento posso estar em um novo clube e aí já tenho as informações atualizadas comigo”, revela Privati, que garante ter muitos amigos no futebol e faz questão de lembrar. “Graças a Deus eu tenho essa facilidade, tenho contato sempre com o Antônio Lopez, Oswaldo Alvarez, Levir Culpi, Geninho, Caio Junior, , Vinicius Eutrópio, Beto Médice (ex-jogador de União e Ponte Preta), Miranda (ex-zagueiro do União de Araras), Washington (coração valente) e muitos outros jogadores também”, declara. Resenhas Alguns fatos engraçados marcaram a trajetória de Privati no futebol, são histórias que ficarão na memória para sempre desse extraordinário goleiro hoje com 54 anos. Uma delas foi no jogo entre Coritiba x União São João, pelo Campeonato Brasileiro no Estádio Couto Pereira, na capital paraense. “Neste jogo, entramos no gramado para aquecer e coincidentemente o Coritiba entrou juto e a torcida começou a gritar ‘Cooooxxxxaaaaaaaaa, Cooooxxxxaaaaaaaa, Cooooxxxxaaaaaaaaa’ e o Israel, que tem o apelido de coxa, começou a acenar para a torcida, levantar os abraços como se estivesse agradecendo, aí nós o avisamos, que o grito da torcida era para o time do Coritiba e não para ele, e isso foi muito engraçado”, conta. Outra história engraçada foi entre União Barbarense x União São João, em Santa Barbará do Oeste. “Nós sempre recebíamos ‘bicho’ por vitória no vestiário. Neste jogo contra o União Barbarense nós perdemos e o Miranda não parava de chorar, o Biquinha pediu para ele se acalmar, o Miranda virou para ele e começou a resmungar, seu pai é rico não precisa de dinheiro eu preciso”, relembra Privati. Considerado hoje um dos grandes ídolos do União São João, sendo o atleta que mais vestiu a camisa do time ararense, Privati garante que foi uma verdadeira realização ter escolhido a carreira de jogador de futebol como profissão. O ararense é torcedor fanático do União São João e torce para que o clube volte a viver momentos áureos como nas década de 80 e 90. Privati espera ainda no futuro voltar a trabalhar no time do seu coração.

Marola

GOLEIRO DE REPERCUSSÃO MUNDIAL Inicio no União São João foi decisivo para o sucesso no Noroeste, onde é chamado de “São Silvio”

Só Silvio Roberto Salvador, poucas pessoas vão se lembrar de um goleiro de sucesso, que passou por 10 clubes em 19 anos de carreira. Silvio Roberto Marola, assim, certamente os apaixonados por futebol, vão se recordar de um profissional, que não gostava de perder dentro e fora de campo. O apelido, que carrega até hoje ganhou lá trás, no inicio da carreira, ainda no União São João. “Marola é por causa daquele goleiro famoso do Santos, o Fiordemundo Marola Junior, que é de Jaú e também jogou no Atlético Paranaense, ele era canhoto e eu também sou canhoto e todo mundo no União na época começou a me chamar de Marola, e o apelido pegou”, disse o goleiro. Silvio Roberto Salvador, o Marola, nasceu em Araras, no dia 15 de abril de 1963. Na adolescência, no horário inverso o da escola, trabalhava como vendedor de peças. “Na verdade eu nunca sonhei em ser um jogador de futebol, quanto mais goleiro. Eu trabalhava na Soares e Moraes como vendedor de peças para veículos”, explicou Marola. Em 1980, aos 17 anos, Marola se dedicava aos estudos e ao trabalho, mas igual à maioria dos jovens da época, a diversão era jogar futebol. Convidado pelo amigo, Luiz Antônio Storolli, passou a treinar as terças e quintas-feiras no período da noite nas categorias de base do União São João, os treinos eram realizados no Estádio Engenho Grande. “Ele passou na minha casa e me levou para treinar, lá no campo da Usina São João. Eu lembro que na comissão técnica do time tinha o preparador físico Tutu Zaniboni, o preparador de goleiros Walter Daltro e o técnico Adaílton Ladeira. O time estava precisando de um goleiro, como eu era alto, eles me pediram para eu jogar no gol, mesmo desengonçado defendi algumas bolas chutadas pelo Walter Daltro e acabei aprovado”, relembra, Marola. A rotina então de Marola, nos anos de 1980 a 1982, passou a ser estudo pela manhã, trabalho a tarde e treino duas vezes por semana a noite. Também nessa época, o dedicado moço encontrava tempo para paquerar. O passeio quase sempre era no calçadão, local conhecido como ponto de encontro dos jovens na década de 80, onde o então goleiro e vendedor conheceu a esposa, Sandra Regina Paitz Salvador, com quem começou a namorar e por isso, quase abandonou a carreira. “Eu conheci a Sandra, minha atual esposa, lá no calçadão, o problema maior foi pedir ela em namoro para os pais, é que a família dela não gostava de futebol, naquela época jogador não era bem visto, tive que encarar mesmo assim, criei coragem e fui pedir a mão dela em namoro, deu certo, mas enquanto namorávamos, ela insistia para que eu deixasse de jogar futebol e apenas trabalhasse”, relatou Marola. Na época, Marola chegou a pensar no assunto, mas o sonho de se tornar um jogador de futebol falou mais alto e ele preferiu seguir na carreira. Contudo, para agradar a amada, conseguiu um emprego melhor, deixou a loja de autopeças para trabalhar na empresa Mazetto Indústria e Comércio de Alumínio, uma fábrica de panela localizada no bairro Sobradinho. Em 1984, Marola completava 21 anos, a idade de atuar nos juniores estava vencendo, quando veio o convite do clube. “O União me fez uma proposta para eu me profissionalizar e jogar no time principal, o valor que os dirigentes me ofereceram era três vezes maior do que eu ganhava na fábrica de panela, não pensei duas vezes, aceitei o convite e resolvi me tornar um jogador de futebol profissional. Passei a me dedicar somente à carreira, os treinos passaram a ser diariamente, em período integral”, recorda. Desta vez, a decisão de Marola teve o apoio da então namorada Sandra. No primeiro ano como profissional, Marola revezava no banco de reservas com o Brandão. Privati era o goleiro titular absoluto do time. Apesar de não jogar, Marola tinha sempre o incentivo dos pais, Seu Armelindo e Dona Josefina, a namorada Sandra também passou a incentivar de forma mais incisiva, sabia que era o desejo do namorado. O casamento veio em 1985. “Nós casamos na Igreja de Bom Jesus, no bairro de Pirapora aqui em Araras. Ela não freqüentava muito o estádio, ficava muito nervosa, mas ouvia algumas partidas pelo rádio, me apoiava em todos os jogos” disse. Ainda em 1985, Silvio Roberto Salvador, o Marola, mais uma vez fez parte do elenco do União, disputou novamente a Série A2 do Paulista, foi de novo reserva de Privatti, porém, desta vez sem dividir o banco de reservas, foi relacionado em todos os jogos. Foi assim também em 1986 e 1987, ano em que o União conquistou o primeiro título de sua história, a segunda divisão do Campeonato Paulista ao vencer o São José na final, por 1 a 0, gol de Play Freitas. O título garantiu ao time de Araras o acesso a divisão principal do Paulista, a qual o União jogou no ano de 1988. Neste ano, logo no primeiro semestre, o União disputou a Série de elite do Campeonato Paulista, os primeiros jogos foram no Engenho Grande, a partir de maio, as partidas passaram a ser disputadas no Estádio Hermínio Ometto. O time ararense terminou a competição na última posição, não houve rebaixamento e por isso continuou na primeira divisão no ano seguinte. Marola mais uma vez ficou o Campeonato todo no banco de reservas. Naquele ano, o União jogava com: Privatti; Bruno, Fernando, Cavalcanti e Rossi; Vanderlei, Adauto e Humberto; Celso Luiz, Cássio e Play Freitas, o técnico era o João Magoga. Também em 1988, no período de 22 de outubro a 18 de dezembro, o União disputou a Série C do Brasileiro e conquistou o título de campeão. Foram 18 partidas, sendo dez vitórias, dois empates e seis derrotas, foram 33 pontos conquistados no total. Foi exatamente nessa competição, que Marola mostrou todo o seu talento. Sua grande chance apareceu justamente na decisão e o ararense não decepcionou, pelo contrário, foi decisivo para a conquista do título. “Em 88, o Privatti, que eu tinha como um dos grandes amigos, eu me espelhava muito nele, era um goleiraço, fez o campeonato todo, mas no primeiro jogo da final contra o Clube Esportivo da cidade de Passos/MG, ele estava suspenso, o técnico Zé Duarte então me deu a oportunidade. Fui considerado o melhor em campo, empatamos o primeiro jogo, em 1 a 1, fora de casa”, recorda. A excelente performance apresentada no jogo de ida, fez com que o técnico Zé Duarte o mantivesse no time titular no jogo da volta, na grande final no Estádio Engenho Grande. Um empate naquele jogo era o suficiente para o time ararense garantir o título de Campeão Brasileiro da Série C e foi o que deu. A partida terminou, em 2 a 2, o União ficou com a taça e ainda subiu para a Série B do Brasileiro de 1989. Naquela decisão, o técnico Zé Duarte escalou o time ararense com: Silvio Roberto Marola; Valdemir, Fernando, Cavalcanti e Haroldo; Vanderlei, Miranda, Odair e Adauto; Muniz, Celso Luiz e Cássio. “Foi um dos poucos jogos, que o Privatti foi meu reserva. Ele ficou no banco duas ou três partidas apenas”, falou Marola. Radiante com a conquista dentro de campo, Marola também era só alegria fora dele, é que em 1988, após três anos de casado, nasce à filha Mayara Paitz Salvador, uma fonte de inspiração para a seqüência da carreira. “Filha é tudo para o casal, e depois do nascimento dela, passei a me dedicar mais ainda, afinal eu sempre quis ser um exemplo pra ela”, declara. Para a disputa da elite do Campeonato Paulista de 1989, a diretoria do União São João estuda algumas mudanças de jogadores do elenco, o ararense Marola fica apreensivo, afinal, ele havia recém-casado e tinha uma filha pequena, seu desejo era continuar no elenco e ficar morando em Araras, próximo a família. Entretanto, seu desejo se confirmou. “Eu lembro, que o Zé Duarte veio em minha direção e disse que gostaria de contar comigo no grupo, para que eu disputasse a posição com o Privatti, foi uma excelente notícia pra mim”, recorda. O estadual foi no período de fevereiro a Maio de 1989, o União chegou até a segunda fase. Foram 25 partidas no total, conquistando 22 pontos, sendo 7 vitórias, 11 empates e 8 derrotas. O time jogava com: Privati, Djalma, Beto e Jacenir (Cavalcante); Pedro Paulo, Odair e Glauco; Celso Luis, Cássio e Zimmermann. Naquele estadual, Marola foi titular em duas partidas, contra a Inter de Limeira e América de São João do Rio Preto. Em Limeira, o time atuou com: Silvio Roberto Marola; Paulo, Djalma, Beto e Jacenir; Odair, Zó e Glauco; Celso Luis, Cássio e Daniel (Play Freitas). Em São José do Rio Preto, o União jogou com: Silvio Roberto Marola; Paulo, Djalma, Cavalcanti e Rossi; Pedro Paulo, Odair e Glauco; Celso Luis (), Cássio (Kel) e Zimmermann. No meio do ano de 1989, o União fez uma excursão ao Japão, foram quatro jogos, conquistou duas vitórias e dois empates. Marola também esteve na delegação. De volta ao Brasil, no segundo semestre, a tão sonhada chance de ser o dono da camisa 1 do União São João parecia ser uma realidade, isso porque Privati deixou o time de Araras para jogar no Blumenau de Santa Catarina. “Tudo pra mim era muito difícil, com a saída do Privati achei que fosse ser o titular absoluto da posição, por tudo o que já tinha feito no clube, mas, não foi bem assim. O União contratou outro goleiro e tive que mais uma vez brigar pela posição”, relembra. O goleiro contratado foi o experiente Marcio Pereira Monteiro, o Pereira na época com 28 anos e com passagens por Atlético/MG, Coritiba, Fluminense, Cruzeiro e inclusive Seleção Brasileira, onde havia sido campeão, em 1987, do Pan-americano de Indianápolis nos Estados Unidos, como reserva de Taffarel. Ele também ficou conhecido por barrar o badalado João Leite no Atlético Mineiro. Pereira foi titular do União São João nas primeiras partidas da Série B do Brasileiro daquele ano. “Isso foi só no começo do Campeonato, porque depois de seis partidas eu mais uma vez fui chamado pela comissão técnica para uma conversa e fui o titular do time até o final do Campeonato”, relata com orgulho. O União jogava com: Silvio Roberto Marola; Paulo, Gléguer, Fonseca e Murilo; Vinicius Eutrópio, Odair e Marquinhos Coxinha; Bafafá, Zimermman e Cássio. A competição foi de 10 de setembro a cinco de novembro de 1989. Em 12 jogos, o União conquistou cinco vitórias, três empates e quatro derrotas, foi eliminado na segunda fase para o Juventus da capital, venceu o jogo de ida em casa, por 1 a 0, mas perdeu na volta, por 2 a 0. Em 1990, Silvio Roberto Marola foi dono absoluto da camisa 1 alviverde, disputou o Campeonato Paulista e a Série B do Brasileiro. Em 1991, Marola viu a titularidade ser ameaçada mais uma vez, o União contratou um novo goleiro, desta vez, Leir Gilmar da Costa, o Gilmar, ídolo da torcida palmeirense, foi reserva de Leão e disputou duas finais de Brasileiro, pelo Palmeiras contra o Guarani em 1978 e pelo Bangu contra o Coritiba em 1986. “Ele começou como titular, mas depois no meio do Campeonato passei a ser o titular novamente”, declara com orgulho, o goleiro Marola. Neste ano, o União terminou o Estadual em 9º lugar, foram 26 jogos, 24 pontos conquistados, sendo sete vitórias, 10 empates e nove derrotas. No inicio do Campeonato, o União jogava com: Gilmar; China, Fonseca, Henrique e Roberto Carlos; Lino, Odair e César; Giba, Cássio e Éder Aleixo. Na reta final do Campeonato, o time ararense passou a jogar com: Silvio Roberto Marola; Rossi, Fonseca, Henrique e Roberto Carlos; Lino, Edson, Odair e Glauco; César e Washington. Em 1992, estava terminando o ciclo de Silvio Roberto Marola, no União São João. A Série B do Brasileiro no primeiro semestre daquele ano foi o último Campeonato com a camisa do time ararense. Marola ficou no banco de reserva de Velloso, competição em que o União foi convidado a participar e após vencer o Noroeste, em Bauru, na última rodada, por 2 a 0, no dia 26 de Abril e somada a uma combinação de resultados, o time ararense terminou na oitava posição. Com a intenção de beneficiar o Grêmio/RS, que havia ficado em 9º, a CBF resolveu promover as doze equipes melhores colocadas para a divisão de elite, com isso o time de Araras pela primeira vez em sua história disputou a Série A do Brasileiro. O duelo contra o Noroeste, que no ano seguinte passaria a ser seu novo clube, foi o último jogo com a camisa do União São João, ele ficou no banco de reservas, naquela partida o União venceu mesmo desfalcado de seus principais titulares como: Luciano lateral direito, a dupla de zaga Henrique e Beto Médice, Glauco meio-campista, além dos atacantes Marcelo Conte, Israel e Esquerdinha. O time jogou então com: Velloso; Rossi, Jeferson, Vinicius Eutrópio e Roberto Carlos; Odair, Luis Carlos e Éder; Edinho, César e Zé Luis. Os gols da vitória do União foram marcados por Éder Aleixo e Odair. “O Velloso não me deu nenhuma oportunidade naquele ano, aliás, não só ele, mas o time inteiro do União era bom, fui reserva o campeonato inteiro”, recorda. Marola comemorou muito aquele acesso. Ele já previa que seu ciclo no União São João estava chegando ao fim. Ele tinha a certeza também que o time de sua cidade, era também o do seu coração. “Sou grato ao União São João, desde os dirigentes, jogadores e até os funcionários mais humildes, nunca faltou nada para a gente, recebíamos em dia, condições de trabalho era espetacular, foi o melhor clube, que trabalhei”, disse Silvio Roberto Salvador, o Marola. Na metade do ano de 1992, Marola viajou para a cidade de Aveiro, em Portugal, para visitar o irmão, Sérgio Salvador, que é jogador de Basquete. Ficou um mês por lá e aproveitou para fazer alguns treinos no Beira Mar, time de Aveiro, que disputa a elite do futebol português. “Eu fiz alguns treinos e até joguei pelo time, mas não deu certo a minha permanência. Acabei voltando ao Brasil”, explicou Marola. De volta ao Brasil, o goleiro ararense acertou com o Noroeste, onde disputou o Campeonato Paulista no segundo semestre, que foi de 4 de julho a 20 de dezembro. O time de Bauru terminou o Campeonato na 9ª posição com nove vitórias, sete empates e dez derrotas. Números que fizeram do Noroeste, uma das melhores campanhas em estaduais da história do clube. Foi nesse ano, que o goleiro Marola, passou a ser chamado pela imprensa e pelos torcedores como “São Silvio”, em todo o campeonato sofreu apenas 32 gols em 26 jogos, Marola fez defesas milagrosas durante a competição, mas também teve que superar alguns obstáculos, um deles foi contra o São Paulo no Morumbi, no dia 15 de outubro de 1992, o Noroeste perdeu, por 6 a 0, com um gol de Mulher e cinco de Raí, sendo um deles por cobertura, quase do meio campo. Neste ano o Noroeste jogou com: Silvio Roberto Marola; Jorge Raulli, Amarildo, Campagnollo e ; Claudio, Luis Claudio, Paulo Leme e Zé Rubens; Marco Aurélio (Vaguinho) e Charles, o técnico era Marco Antônio Machado. “Sou muito reconhecido em Bauru, deixei muitas amizades lá, a torcida gosta muito de mim, porque eu me dedicava ao máximo, sempre com muita raça e determinação”, se orgulha. O bom trabalho com a camisa do Norusca em 1992, fez com que Marola renovasse o contrato por mais um ano e disputasse o Campeonato Paulista de 1993, que diferente dos anos anteriores, passou a ser no primeiro semestre. Foi de 23 de janeiro a 12 de junho. O goleiro ararense foi novamente o titular absoluto da equipe, mas desta vez a campanha foi decepcionante, culminando no rebaixamento do Noroeste, que fez 30 jogos, conquistando apenas cinco vitórias, seis empates e somando 19 derrotas. Marola sofreu 60 gols. Nesse mesmo Campeonato Paulista de 1993, Marola se deparou com um fato inusitado, ele enfrentou pela primeira vez o União São João, justamente a equipe de sua cidade natal, a qual havia o revelado para o futebol. Foi no dia 7 de março de 1993, o Noroeste venceu, por 1 a 0, no Estádio Alfredo Castilho, em Bauru. O gol do Norusca foi marcado por Sérgio Claveiro. O Noroeste jogou com: Silvio Roberto Marola; Zé Maria, Monteiro, Valder e Clodoaldo; João Paulo, Luis Cláudio e Marcos Roberto; Sérgio Claveiro, Marco Aurélio e Marquinhos. Técnico Baroninho. O União de Araras perdeu com: Luis Henrique, Edinho, Beto Médice, Cláudio e Carlos Roberto; Luis Claudio, Alexandre e Glauco; Israel, Tato e Esquerdinha. Técnico Jair Piceni. Já com o rebaixamento decretado, Marola deixou o Noroeste faltando seis rodadas para o fim da competição. “Eu saí antes devido a uma série de complicações políticas no clube. Houve mudança na diretoria, na comissão técnica, alguns jogadores deixaram a equipe e o rebaixamento foi inevitável”, explicou Marola. A maioria das partidas, o Noroeste jogou com: Silvio Roberto Marola; Jorge Rauli, Marquinhos Camapagnollo, Monteiro e Adnan; Marcos Rogério, Marquinhos e Evandro; Marcos Roberto, Marcos Severo e Edson. foi quem montou a equipe e o comandante no inicio do estadual daquele ano. “Infelizmente o Noroeste caiu, mas é um dos clubes que tenho muito carinho. Recebi tudo em dia, conforme o combinado”, disse Marola. O destino de Marola foi o Santa Cruz-PE, que montava o elenco para a disputa do Campeonato Brasileiro. “A proposta que recebi do Santa Cruz era irrecusável, se fosse no dinheiro de hoje, a diferença era absurda, era como se recebesse dois mil Reais no Noroeste e passaria a ganhar 18 mil por mês no Santa Cruz e ainda tinha as luvas no valor de 30 mil reais”, justificou, Marola, que acrescentou. “Eu iria praticamente conquistar minha independência financeira. Era muito dinheiro”, finaliza. Marola viajou até Recife se reuniu com os dirigentes do Santa Cruz, mas quis o destino que ele não permanecesse no time de maior torcida do futebol pernambucano. Naquele ano o Santa Cruz havia contratado três jogadores do Bragantino, Gil Baiano, Ronaldo Alfredo e Alberto, todos por empréstimo e de contrapeso a diretoria do Bragantino ofereceu também o goleiro Marcelo Martellote, hoje treinador de futebol, os dirigentes do Santa Cruz aceitaram e por esse motivo, Marola não assinou contrato. “Eu brinco, que fui de frente com o avião e voltei de ‘marcha-ré’, o negócio não deu certo, voltei para Araras e fiquei o segundo semestre inteiro sem clube, apenas treinando fisicamente no Sayão FC em Araras”, explicou. Em 1994, por indicação do técnico Valter Ferreira, Marola com 31 anos, foi contratado como reforço do Rio Preto para a disputa da Série A3 do Paulista. A equipe ficou com o vice-campeonato, atrás apenas do Nacional da capital, e conquistou o acesso a Série A2 junto com a Portuguesa Santista, que ficou em 3º no Campeonato. Marola foi na maioria dos jogos reserva de Mica. “Foi um grupo muito bom, que o Rio Preto montou, recebi em dia, inclusive em dólar”, relembra. Naquele ano o Rio Preto jogava com: Mica; Wallace, Helton, Jandaia e Du; Tetila, Nido, Marquinhos e Esquerdinha; Moisés e Gilson Granzotto. Depois de atuar em várias equipes tradicionais, Marola ainda alimentava um desejo de defender um time de alguma capital, que brigasse por títulos expressivos. No segundo semestre de 1994, logo depois que deixou o Rio Preto, recebeu um convite para atuar no Juventus de Jaraguá do Sul, interior catarinense. Marola viu nessa oportunidade a grande chance de chegar em clube grande. “Tinha esse sonho de jogar em uma equipe de massa, um time de alguma capital e quando fui para Jaraguá do Sul/SC, imaginei que era o caminho mais perto para chegar no Figueirense ou no Avaí”, conta Nas cores grená, branco e preto, o Juventus mandava seus jogos no Estádio João Marcatto. Entusiasmado com a proposta, o goleiro resolveu tirar a esposa do trabalho e se mudar com a família toda para o interior de Santa Catarina. “Nessa época minha esposa dava aula na escola Oscar Alves Janeiro, no Bosque de Versalles, para alunos de 1ª a 4ª série, não pensei duas vezes, resolvi tirar minha esposa do trabalho e junto com a minha filha Mayara, fomos para Jaraguá do Sul/SC”, relembra. No entanto, a permanência da família na cidade durou menos de um mês. “Minha esposa ficou desesperada, um lugar sujo e sem nenhuma estrutura, foi terrível, uma experiência horrível, passamos até fome, foi quando minha esposa e minha filha resolveram voltar a Araras, eu tive que ficar, tinha que cumprir o contrato, mas no final do ano deixei o time e prometi nunca mais jogar em Santa Catarina,”, declara. Diferente de muitos profissionais do futebol, Marola nunca teve empresário, ele próprio negociava com os clubes. Em 1995, o Marcilio Dias/SC oficializou uma proposta para contar com ele, apesar da promessa que havia feito, Marola voltou atrás e resolveu aceitar o convite, o ararense retornou ao futebol catarinense. “Como que eu iria falar para a minha esposa que tínhamos que voltar para o interior de Santa Catarina? Bom, não consegui convencê-la, realmente ela não quis me acompanhar, acabei viajando sozinho, fique lá o primeiro semestre todo e disputei o Campeonato Catarinense”, conta. Marola morava no alojamento do clube e relembra que as condições não eram nada convidativas, pois até roedores circulavam pelos quartos. “A estrutura era até melhor que o Juventus de Jaraguá/SC, mas a república, onde a gente morava era um desastre passava cada ratão, que dava até desespero, tinha jogador que ficava a noite inteira tentando matar os ratos de estilingue, o falou de ratos no Fluminense, eu lembrei de Itajaí/SC na hora”, disse Marola, que teve mais uma decepção no futebol catarinense. Apesar das dificuldades, Marola teve um desempenho de destaque no Marcílio Dias e a tão sonhada oportunidade de defender um time de destaque apareceu, foi uma proposta do Figueirense, para a disputa da Copa do Brasil e a Série C do Brasileiro. Foi uma oferta fantástica, irrecusável, mas a saudade da família e a pouca estrutura do Figueirense na época, fez o goleiro desistir de jogar no clube. “Se fosse hoje eu iria receber cerca de 5 mil reais por mês, era um salário bom na época. Novamente minha esposa não quis me acompanhar, ela ainda estava traumatizada com a falta de estrutura dos times do interior. Apesar de ser o Figueirense, um time grande, o alojamento não dava tantas condições, o clima sempre muito frio eu morria de saudade da minha família, resolvi não ficar e pedi para deixar o clube”. Marola não jogou nenhuma partida oficial com a camisa do Figueirense. O destino então do goleiro ararense no segundo semestre de 1995, foi o Goiatuba/GO, onde disputou a fase final da Série B do Brasileiro. Segundo Marola, pelo time goiano jogou todas as partidas como titular e ainda recebeu adiantado. “No Goiatuba eu fiz um contrato bom, recebi antes de me apresentar no clube, na época o valor foi de 10 mil reais, um dinheirão. Tudo o que eu deixei de ganhar após a minha passagem por União e Noroeste, recuperei neste contrato”, conta. Marola ainda revela uma particularidade. “No Goiatuba sequer eu treinei, só encontrava os companheiros em dia de jogos, quando a partida era fora de casa e o ônibus passava por Araras, eu esperava na beira da pista e partia direto pro jogo”, revela. No ano seguinte, em 1996, aos 33 anos, Marola recebeu um convite do ex-goleiro e então dirigente, Valdir Perez para jogar no Garça Futebol Clube, time da cidade de Valdir Perez, que tinha experiência de ter atuado em grandes times como Ponte Preta, São Paulo e tantos clubes do futebol brasileiro. “O Valdir Perez me ligou e me ofereceu luvas e um bom salário. Fiquei dois meses treinando para a disputa da Série A3 do Paulista e não vi a cor do dinheiro nenhum mês. O Valdir Perez acabou deixando o time e nós ficamos sem respaldo nenhum”, relembra. Mesmo assim, Marola ficou no clube, com garantia de alguns políticos da cidade, que ele receberia para jogar. “Acabei ficando até 1998 no Garça, recebi menos do que me prometeram, mas recebi”, declarou. Garça é a cidade onde nasceu o lateral esquerdo Roberto Carlos, que depois morou em Cordeirópolis e iniciou a carreira de jogador no União São João de Araras. No Garça FC, Marola ficou na reserva do então jovem goleiro Júlio César, que por muito tempo ficou conhecido como sósia de , ele é nascido em Londrina e atuou pelo União São João, São Caetano, Santo André, Botafogo/SP, Ponte Preta, Red Bull, Vila Nova entre outros. “Eu tinha que confessar, o Júlio César estava melhor que eu e o Marcio Rossini me tirou do time, fiquei na reserva dele em alguns jogos do Paulista daquele ano”, enfatiza. Em 1999, aos 36 anos, Marola já se preparava para encerrar a carreira, mas antes do fim, recebeu nova proposta, desta vez do amigo Adaílton Ladeira, técnico com quem iniciou a carreira nos anos 80, o convite veio para jogar no Araçatuba, na Série A1 do Paulista. “Um grupo de empresário estava comprando o Araçatuba na época e esses dirigentes convidaram o Adaílton Ladeira para ser o técnico. Ele começou a montagem do time e me ligou para ser o goleiro”, recorda. Tudo não passou de ilusão. “O que eles nos ofereceram foi algo de time internacional, salário alto, estrutura, alojamento, dia certo para dar entrevistas, foi algo que jamais tinha visto no futebol, pelo menos nas equipes onde eu passei. Chegamos em Araçatuba acompanhado do Ladeira, ficamos um mês comendo, bebendo e dormindo em um hotel de luxo. Como as negociações entre o grupo de empresários e o clube estavam demorando, o Ladeira resolveu não permanecer mais naquelas condições, os jogadores também foram embora e acabei retornando para Araras sem nada daquilo que me foi prometido”, lamenta. Depois de alguns dias em Araras, o destino então foi o Corinthians de Presidente Prudente. Disputou a Série A2 do Paulista, foi titular durante o Campeonato todo, o time acabou rebaixado para a Série A3 e Marola deixou de receber boa parte do que foi combinado. “Recebi nos dois primeiros meses, depois não recebi mais, coloquei na justiça e quando fui receber lá em Presidente Prudente, me pagaram com cheques sem fundos. Tenho esses cheques até hoje em casa”, relembra. Desiludido, Marola estava determinado a pendurar as chuteiras, ou melhor, as luvas, mas, ainda em 1999, no segundo semestre vestiu seu último uniforme como jogador profissional, foi no Marília Atlético Clube, onde fez parte do elenco que iniciou a disputa da Série B do Campeonato Paulista, a quarta divisão do estado. “Fui convidado pelo técnico Valter Ferreira, com quem eu tinha trabalhado em 94 no acesso do Rio Preto, mas foram apenas 4 jogos, perdemos três e ganhamos apenas uma partida e a diretoria resolveu mandar toda a comissão técnica embora, achei injusto continuar no clube e em solidariedade ao técnico Valter Ferreira também resolvi deixar o time”, afirma. Com uma nova comissão técnica e com outros jogadores, o Marília acabou subindo para a Série A3 do Paulista. Naquele mesmo ano, com 36 de idade, Marola resolveu colocar um ponto final na sua carreira profissional. Apesar de não ter atuado em nenhuma equipe considerada grande, o ararense estava com a sensação do dever cumprido por ter atuado com tanto destaque em equipes como União São João e Noroeste. “Apesar de todos os problemas enfrentados de 1995 a 1999, com a falta de estrutura e organização dos clubes, eu faria tudo de novo, sou grato ao futebol, por tudo que este esporte me deu, pra mim foi só alegria, talvez mudasse algumas coisas, mas tenho orgulho hoje de falar sobre minha carreira, de ter sido um jogador de futebol profissional”, enfatiza.

Gol olímpico e de trás do meio campo A trajetória de Silvio Roberto Salvador, o Marola, no futebol teve altos e baixos. Em todos os clubes por onde passou, se destacou pelo seu trabalho, quando atuava como titular quase sempre saia de campo elogiado pela imprensa, torcedores e principalmente pelo grupo de jogadores. As defesas milagrosas em baixo das traves, as saídas do gol com perfeições, foram lances que fizeram de Marola, em várias partidas, o melhor em campo. No entanto, o goleiro está sempre sujeito às surpresas e com Marola não foi diferente. Jogando pelo União São João de Araras, no dia 8 de outubro de 1989, o goleiro ararense toma um gol por cobertura de trás do meio campo, o incrível gol teve repercussão no mundo inteiro e foi na trave do placar eletrônico. O jogo foi contra o Bangu/RJ, no Estádio Hermínio pela série B do Brasileiro. Uma falta no campo de defesa, distante 70 metros do gol do União, o zagueiro Denílson percebeu Marola fora do gol, bem adiantado e chutou direto. Marola observou a trajetória da bola, voltou correndo de costas para tentar fazer a defesa, mas não conseguiu. A bola numa velocidade enorme entrou no ângulo, o camisa 1 do União cai perto da trave direita e praticamente sem acreditar observou a bola balançar a rede no fundo do gol. 25 anos se passaram e até hoje o gol é destaque no site do Bangu, que considera o mais bonito na história do clube carioca. O gol está na internet nesse link: (http://www.bangu.net/informacao/livros/nosequesomosbanguenses/1989.php). Denilson,, tinha 23 anos e acabado de ser contratado do Corinthians. No dia seguinte, após o gol, jornais, revistas, emissoras de rádio e TV, imprensa do Brasil e do mundo destacaram a façanha, comparando inclusive com o lance de Pelé na Copa de 1970. Na época, o Jornal Nacional da Rede Globo também destacou a jogada, veja a reportagem na internet, por meio, desse link: (http://www.youtube.com/watch?v=aodQBqHLe_U). O goleiro Marola explica com detalhes o lance raro, que o deixou famoso. “Naquela partida tínhamos que vencer ou empatar para passarmos a próxima fase, o nosso atacante, o Zimmermann estava fazendo muita cera naquele jogo, e naquela época, o árbitro dava muito acréscimo, então eu fui até a meia-lua orientar os jogadores, como sempre fiz, e no momento em que eu falava, o Denílson chutou, quando eu vi a trajetória da bola, já era tarde, tentei defender, mas não consegui”, recorda. Aquela partida terminou empatada, em 1 a 1, o União avançou a próxima fase e o zagueiro Denílson do Bangu acabou expulso de campo, por cometer faltas violentas. Hoje, aposentado do futebol, Denílson com 48 anos, reside em Fortaleza e possui uma empresa de assessoria de jogadores de futebol, a DG Expo Sport. No ano seguinte, em 1990, o goleiro Marola, voltou a ser motivo de repercussão mundial, o ararense sofreu mais um gol raro no futebol, desta vez do meio-campista Neto, o craque corintiano, que atualmente é apresentador do Programa Bola na Rede e comentarista nos jogos transmitidos pela TV Bandeirantes, de São Paulo. Foi no dia 12 de maio de 1990, um sábado, fim de semana em que comemorava o dia das mães. Estádio Hermínio Ometto lotado, dividido, do lado do bairro José Ometto estava a torcida corintiana, do outro lado da arquibancada, onde têm as Tribunas, estava a torcida do União São João. O time ararense entrou em campo com: Silvio Roberto Marola; Paulo, Fonseca, Gléguer e Murilo; Vinicius Eutrópio, Odair, Marquinhos Coxinha e Zimmerman; Bafafá e Cássio. O Corinthians jogou com: Ronaldo; Giba, Marcelo, Guinei e Jacenir; Marcio Bittencourt, Wilson Mano, Tupãzinho e Neto; Fabinho e Mauro. Era um jogo importante, o União precisava da vitória para não ficar na repescagem, o Corinthians também precisava do resultado para confirmar a liderança. O jogo começou com as duas equipes criando oportunidades, o time da capital chegava com mais perigo e o primeiro tempo terminou empatado, em 0 a 0. Veio à segunda etapa, o jogo era bastante disputado, no final da partida, escanteio para o Corinthians, foi no gol placar eletrônico. Neto, sempre ele, o homem das bolas paradas ajeitou com carinho, bem do lado onde estava a torcida corintiana e como um toque de mágica, o camisa 10 do Timão chutou com o pé esquerdo e a direção da bola foi certeira, passou sobre as mãos de Marola e bateu na lateral da rede no canto direito do goleiro ararense, gol olímpico, festa da torcida corintiana e tristeza na torcida alviverde. Após o golaço, Neto subiu no alambrado e por alguns minutos comemorou junto com a fiel corintiana. Marola, 24 anos depois, justifica. “Foi um jogo gostoso de jogar, a partida estava movimentada, mas controlada, os lances mais perigos eram com Neto nas cobranças de faltas e escanteios, eu já tinha feito várias defesas difíceis do Neto. Mas, nesse lance do gol de escanteio, o Fabinho me atrapalhou, ele ficou dentro da pequena área, bem a minha frente e na hora que o Neto cobrou o escanteio, o Fabinho deu dois passos a frente e eu o acompanhei, quando vi a trajetória da bola, já era tarde, sem chance, foi uma cobrança perfeita, só escutei o barulho da rede e como estava de frente para a torcida deles, não teve jeito, eles subiram para comemorar e só me restou ficar olhando”, recorda. Com esse gol de Neto, o Corinthians venceu o União São João, por 1 a 0, de quebra o time da capital assumiu a liderança do Campeonato Paulista de 1990. Na fase seguinte, o Timão foi eliminado pelo Bragantino do técnico Vanderlei Luxemburgo, o time do interior paulista acabou campeão, derrotando na final o Novorizontino do técnico Nelsinho Batista, a decisão ficou conhecida como a final ‘caipira’, isso porque, pela primeira vez na história, dois times do interior conseguiram ser finalistas do Campeonato Paulista. Não houve rebaixamento e o União São João permaneceu na elite do Estadual no ano seguinte. Para o goleiro Marola, os gols sofridos serviram de lição para a seqüencia da carreira. “Eu aprendi muito, foi uma forma de ter mais atenção e não acreditar muito na auto-confiança”, relata. O goleiro ararense foi alvo de brincadeiras dos companheiros de clube e nas ruas de Araras. “Gozação sempre tinha, todo mundo vinha falar pra mim dos gols, os próprios jogadores, em casa com minha família, isso era normal e levava numa boa. Até hoje um ou outro ainda comenta ”, admite. Apesar da enorme repercussão, Marola elege outro gol como o mais bonito, que sofreu em toda carreira. Foi jogando pelo Noroeste contra a Portuguesa. “O gol mais bonito que eu tomei foi do Dener pelo Campeonato Paulista de 1993, ele driblou o time inteiro, deixou eu sentado e fez o gol, foi extraordinário”, recorda.

Fora de campo Com o encerramento da carreira, Marola resolveu deixar o futebol momentaneamente. No ano de 2000, passou a ser funcionário da Prolim, empresa de descartáveis da cidade de Taubaté, o ex-atleta passaria a desenvolver a função de representante comercial na região de Araras. “Trabalhei dois anos nesta empresa, estava contente com essa nova função, mas uma proposta de voltar ao futebol, me seduziu, acabei deixando a função de representante comercial para ser treinador de goleiros”, conta. Marola foi trabalhar no União São João de Araras, foi no ano de 2002. “O Silvio Garlizoni, que é funcionário das categorias de base do União São João, me fez o convite, disse que o União estava precisando de um preparador de goleiros, fui lá, conversei com o José Mario Pavan e acabei voltando para o Futebol”. Foram dois anos nas categorias de base. Em 2003 foi promovido para trabalhar com os goleiros dos profissionais, desempenhou a função até 2005. Sem receber salários, resolveu deixar o clube e para receber seus direitos, cerca de 9 mil Reais, precisou recorrer a justiça do trabalho. “Coloquei o clube na justiça com dor no coração, quando fui receber numa sexta-feira lá no Estádio, o presidente José Mario Pavan me disse uma palavra que fiquei chateado, ele me falou direitos e deveres, praticamente me alertando, que só pagaria se fosse na justiça, foi o que fiz. Um mês depois eu recebi”, disse. Em 2005, desiludido com as estruturas dos clubes brasileiros, Marola decidiu de uma vez por todas encerrar seus trabalhos no futebol, foi trabalhar como apoio acadêmico na Uniararas – Centro Universitário Hermínio Ometto - uma das universidades mais conhecidas do Brasil, uma referência na área da saúde no Estado de São Paulo. O ararense desempenha essa função até hoje e é querido pelos alunos da Faculdade “Eu auxilio os professores na preparação das aulas”, explica. Apaixonado por futebol, hoje Marola acompanha os jogos pela televisão e nas horas vagas disputa o Campeonato Municipal de Futebol Máster Amador em Pirassununga. “Agora eu só jogo futebol por brincadeira, disputei o Amador em Pirassununga com outros ex-jogadores, é muito gostoso, ganho até um dinheirinho”, se diverte Marola, que conquistou uma taça de goleiro menos vazado na edição de 2010. Torcedor confesso do Palmeiras, Marola ressaltou a competência de três goleiros, que tem como ídolos e por coincidência atuaram no seu time do coração. “Pra mim, Emerson Leão, Zetti e Marcos, foram os melhores, precisam ser admirados mesmo”, declara. Sobre os jogadores de linha mais habilidosos de sua época, Marola destacou vários: do Flamengo, Dener da Portuguesa, Neto do Corinthians, Raí e Mulher do São Paulo, além de Edmundo do Palmeiras. Já em relação aos atletas mais recentes, considera o meia Kaká, um dos melhores que viu jogar. Casado há 29 anos, Marola mora no Luiza Maria, um bairro de classe média em Araras. Vive com a esposa Sandra Paitz Salvador, professora do ensino fundamental na escola Lions Clube no Jardim Fátima e na escola Carlos Giovani Bolles, no bairro Dom Pedro, na zona leste de Araras e com a filha, Mayara Paitz Salvador, de 26 anos, modelo e e farmacêutica. Atualmente trabalha na Callamarys, uma indústria fabricante de cosméticos, localizada no Distrito Industrial da cidade. Considerada uma das moças mais bonitas de Araras, Mayara já foi vencedora de vários concursos de beleza no município. Em 2011, chegou a representar a cidade de Bertioga no Miss São Paulo, em 2013 foi eleita Miss Araras e na disputa pelo Miss São Paulo do mesmo ano ficou entre as cinco mais bonitas do Estado. Mayara namora o médico veterinário de Araras Valdeci Appolari. “Essa minha família é meu maior orgulho”, finaliza Marola, que hoje tem uma condição financeira boa, possui casa própria, um imóvel alugado e um carro popular.

Edinho

DE ATACANTE A LATERAL VITORIOSO A mudança de posição foi fundamental para o sucesso na carreira

Na década de 90, o União São João de Araras, foi um dos maiores reveladores de craques do futebol brasileiro. O time era uma verdadeira fábrica talentos. Um desses craques foi o lateral direito Edinho, que fez sucesso na Portuguesa, São Paulo e Internacional de . Outros jogadores que ficaram famosos revelados pelo União São João nessa mesma época de Edinho foram: Roberto Carlos, penta campeão mundial com a Seleção Brasileira, Léo ídolo no Santos FC, Vagner destaque no Santos, São Paulo, Roma da Itália e Celta de Vigo da Espanha, Alexandre Cenourinha, que atuou no Santos, São Paulo e Portuguesa, Israel considerado até hoje o maior goleador da história do União São João, Vinicius Eutrópio volante com passagens por Náutico, Figueirense e Criciúma, foi auxiliar técnico de na Copa da África do Sul em 2010 e tantos outros craques. De todas essas revelações, o único ararense da turma é o Edson José Vechetin, o Edinho, filho caçula de Luiz Vechetin e Maria Covre Vechetin. Ele nasceu no dia 5 de Julho de 1966 na Fazenda Santa Terezinha, na divisa entre as cidades de Araras e Leme. Tem três irmãos Luiz Carlos Vechetin, Sonia Regina Vechetin e Célia Aparecida Vechetin. Uma tragédia ainda quando Edinho tinha oito meses de vida fez com que toda família se mudasse para a colônia da Usina Santa Lúcia, em Araras-SP. “Meu pai morreu eletrocutado, ele foi atender ao telefone e sofreu uma descarga elétrica, ele tinha apenas 33 anos e isso foi uma tristeza muito grande para a nossa família. Minha mãe estava comigo no colo e viu tudo, depois do acontecido fomos morar na Usina Santa Lúcia”, explica. Na casa nova, na zona rural de Araras, a família passou a trabalhar na roça para se sustentar. Mesmo muito criança, Edinho já ajudava a mãe e os irmãos no corte de cana, na capinagem e até mesmo dirigindo os tratores. “Por isso que eu falo sempre, hoje mudou muito, quando eu tinha nove anos eu já trabalhava com minha família e não tinha tempo para ficar pensando em besteira”, relata. No horário inverso ao trabalho, Edinho frequentava a escola. Nas poucas horas que tinha livre, o jovem garoto só tinha uma brincadeira, jogar futebol. A bola foi o primeiro presente que ganhou na infância. “Ganhei do meu tio Mário Covre na época. Eu ficava brincando em uma área grande batida de terra que tinha na Usina Santa Lúcia, perto de onde eu morava”, lembra. A bola que ganhou despertou em Edinho o desejo de se tornar um jogador de futebol profissional. “Enquanto eu brincava e conforme o tempo passava, eu prometi pra mim mesmo que me tornaria um atleta”, relata. Nessa época, Edinho estudava de manhã, trabalhava na roça a tarde e antes de anoitecer, brincava de jogar futebol. Em 1981, com 16 anos, Edinho já tinha a certeza, que iniciaria uma carreira de jogador de futebol. Começou a treinar no Aspirante da Usina Santa Lúcia. “Foi o Zequinha de Lima e o Hilário que me deram a primeira oportunidade no Aspirante da Usina Santa Lúcia. O Nego Mosca era o treinador do time principal”, recorda. No ano seguinte, no primeiro semestre de 1982, Edinho jogando pela Usina Santa Lúcia, fez vários gols e foi um dos destaques do time. Por conta do seu bom desempenho foi convidado pelo técnico do time principal, o Nego Mosca, para integrar o time titular. Edinho aceitou de pronto e disputou o Campeonato Amador de Araras. “Quando eu tive essa oportunidade, não deixei escapar, me dedicava todos os dias aos treinos e passei a ser titular do time em algumas partidas”, recorda. Mais uma vez, Edinho atuando como atacante, sempre usando a camisa 7, fez vários gols e não demorou a despertar o interesse de outros times da cidade, tanto que em 1983 foi contratado pelo União São João a pedido do técnico Walter Daltro. “O treinador Walter Daltro e o preparador físico Tutu Zaniboni me viram jogar e pediram a minha contratação, fiquei feliz com o convite e não pensei duas vezes, fui jogar pelo União São João, lá no Engenho Grande, dentro da Usina São João”, relembra. A partir desse convite, Edinho tinha realmente a certeza, que realizaria seu sonho, se tornaria a partir daquele momento um jogador de futebol. Deixou o trabalho na roça e passou a se dedicar apenas ao futebol, os treinos eram sempre em dois períodos, de manhã e a tarde. “Eu Treinava físico de manhã, almoçava na Usina mesmo, descansava e a tarde treinava com bola”, relata. No inicio, com 17 anos, Edinho pedalava quase 12 quilômetros para treinar. “Eu saia de bicicleta da Usina Santa Lucia, onde eu morava, para treinar na Usina São João. Os treinos eram no Estádio Engenho Grande”, conta. Depois de um ano nesta mesma rotina, Edinho resolveu deixar a bicicleta de lado. “O União adquiriu uma perua e passou a resgatar os jogadores na Praça Barão de Araras em frente ao antigo cinema Araruna, bem ao lado do Banco do Brasil”, relembra. Foram três anos nas categorias de base, até que em 1986, Edinho subiu para o time profissional do União São João. Disputou a segunda divisão do Campeonato Paulista daquele ano. O time de Araras perdeu o acesso para o União Barbarense, foram três jogos, vitória do Barbarense em Santa Barbara do Oeste, vitória do União São João no Engenho Grande e no terceiro jogo em campo neutro, no Estádio Major José Levy Sobrinho, em Limeira, deu União Barbarense, 1 a 0. Em 1987, ainda muito jovem, Edinho foi emprestado pelo União São João para o Grêmio Esportivo Sãocarlense, o objetivo da diretoria alviverde era para que o ararense adquirisse experiência. “Lá disputei a segunda divisão do Campeonato Paulista. Fiz uma boa temporada e voltei com uma vontade enorme de vencer na minha profissão, tinha que mostrar a cada treinamento que tinha condições de ficar no elenco do União”, relata. No entanto, quando retornou ao União São João, Edinho ficou treinando os seis primeiros meses daquele ano de 1988 e sem ser aproveitado pela comissão técnica, acabou emprestado novamente, desta vez para o Independente de Limeira. “Como o elenco do União estava inchado e eu não seria aproveitado, o União me emprestou para que eu pudesse estar em atividade e de quebra adquirir experiência”, conta. No Galo da Vila Esteves de Limeira, Edinho foi um dos destaques do time no Estadual. “Foi um ano muito bom pra mim. Nós ficamos em segundo lugar no Campeonato, conseguimos o acesso da Série B do Paulista para a Série A3, eu jogava como atacante e fiz 15 gols, fui o vice-artilheiro da competição”, recorda. Com a boa campanha feita no time Limeirense, Edinho voltou ao União São João, desta vez em alta, afinal tinha sido um grande destaque no Independente, mesmo assim, foi pouco aproveitado no time principal do União São João, que disputava a elite da Campeonato Paulista de 1989. Em 1990, com o aval do técnico Zé Duarte foi novamente emprestado desta vez para o Rio Preto, onde jogou o Campeonato Paulista da divisão especial, como era chamado o Estadual da segunda divisão naquele ano. Junto com Edinho foram o zagueiro Cavalcanti e o meio-campista Juca, em troca o Rio Preto mandou para o União São João o lateral esquerdo Cléber. Neste ano o time de São José do Rio Preto entrou para a história, pois foi o primeiro time do futebol brasileiro a ter na presidência uma mulher, Wayta Aparecida Menezes Dalla Pria, que ficou no comando até 1993. Com o fim do empréstimo após o término do Campeonato Paulista de 1990, Edinho voltou ao União São João, no entanto, já foi comunicado que não ficaria no time de Araras no ano de 1991, seu destino dessa vez foi o Lemense, onde disputou a segunda divisão do Campeonato Paulista. “Mais uma vez fui muito bem, me destaquei com os meus gols, mas não conseguimos subir o Lemense naquele ano”, explica. Depois de ganhar experiência em clubes do interior de São Paulo como: São Carlense, Independente de Limeira, Rio Preto e Lemense, a diretoria do União São João resolveu emprestá-lo para um clube do estado de , Edinho foi então para o Democrata da cidade de Governador Valadares, onde disputou a elite do Campeonato Mineiro. Nessa sua primeira experiência longe do estado de São Paulo, o ararense ganhou prestigio e consagração, além de experiência de sobra para defender o União São João, exatamente como queriam os dirigentes do time de Araras na época, José Mario Pavan e Iko Martins. Naquele ano de 1991, o Democrata conseguiu a classificação para a segunda fase do Campeonato Mineiro, que foi disputada por seis equipes, além do Democrata, atuaram os times do Atlético Mineiro, Cruzeiro, América/MG, Rio Branco de Andradas e o Esportivo de Passos/MG. O Democrata fez uma ótima campanha na fase decisiva de pontos corridos, vencendo quatro dos cinco confrontos disputados no Estádio José Mammound Abbas, o Mamudão em Governador Valadares, derrotando inclusive os poderosos, Cruzeiro e América. No entanto, na última rodada perdeu para o Atlético Mineiro no Mineirão, por 2 a 0, e ficou com o vice-campeonato, enquanto que o Galo ficou com a taça de campeão estadual. Naquela competição, o Democrata revelou uma grande dupla de ataque, o ararense Edinho e Gilmar, juntos marcaram 14 gols no total. Comandado pelo técnico José Maria Pena, o Democrata jogava com: Silvio; Borges, Walmir, Baiano e Toninho; , Estevam e Armando; Edinho, Gilmar e Élder. “Neste ano fui escolhido como um dos melhores atacantes do campeonato, eu atuava como ponta direita. Joguei praticamente todos os jogos como titular. Ganhei uma boa experiência. A equipe chegou ao vice-campeonato mineiro depois de 25 anos”, se orgulha. De volta ao União São João em 1992, Edinho desta vez ganhou a confiança dos dirigentes e da comissão técnica do time ararense. Ele fez parte do time que conquistou o acesso a divisão de elite do Campeonato Brasileiro no primeiro semestre. “Quando eu voltei o técnico era o Jair Picerni, disputei a Série B do Brasileiro pelo União São João e conseguimos o acesso em Bauru, ganhamos por 2 a 0 do Noroeste e mais a combinação de cinco resultados que aconteceram naquele ano, conseguimos subir para a Série A. Foi uma festa e tanto”, recorda. Edinho foi o titular no ataque do time ararense ao lado de César e Zé Luis. O União iniciou a partida naquele jogo histórico com: Velloso; Rossi, Jeferson, Vinicius Eutrópio e Roberto Carlos; Odair, Luis Carlos e Éder; Edinho, César e Zé Luis.

A mudança de posição No segundo semestre de 1992, o União São João disputou a elite do Campeonato Paulista. Na quinta rodada da competição, no duelo contra o XV de Piracicaba no Estádio Barão de Serra Negra, o técnico Jair Picerni não pode contar com o lateral esquerdo Roberto Carlos, que estava servindo a Seleção Brasileira, além disso, a diretoria já o negociava em definitivo com o Palmeiras. O comandante alviverde tinha que encontrar no próprio elenco uma alternativa para a ausência de Roberto Carlos. No treinamento, Jair Picerni colocou o lateral direito Rossi para atuar na esquerda, já que ele era ambidestro e recuou o então ponta direita Edinho para treinar na lateral direita. “Eu até achei que fosse sacanagem do professor Jair Picerni, ele não tinha me falado nada, apenas me apontou onde eu deveria treinar, de lateral direito”, revela. No dia seguinte, antes de começar o treino coletivo, o técnico Jair Picerni chamou Edinho para uma conversa e foi justamente para avisá-lo que a partir daquele dia, ele não atuaria mais de atacante e que sua posição original, seria a lateral direita. Tal decisão pegou Edinho e os próprios colegas do time de surpresa, mas a vontade de jogar era tão grande, que ele aceitou numa boa a decisão do comandante. “Os meus companheiros do time não acreditavam, todos acharam estranho, eu também fiquei surpreso, mas na realidade eu queria estar no time titular, pra mim não interessava em qual posição. Quando o Jair me falou eu aceitei numa boa”, relembra. A estréia na nova posição foi no jogo contra o XV de Piracicaba no dia 02 de agosto de 1992, pela quinta rodada da Série A1 do Paulista. “Fui muito bem naquele jogo. Por causa da minha força física eu arrebentei, fui escolhido o melhor em campo e não saí mais da lateral direita”, revela. O União jogou aquela partida com: Velloso; Edinho, Beto Médice, Jacenir e Rossi; Vinicius Eutrópio, Alexandre, César e Glauco; Cássio e Esquerdinha. A equipe terminou o Paulista daquele ano na quarta posição com 33 pontos em 26 jogos. Foram 12 vitórias, nove empates e cinco derrotas. Edinho se deu tão bem como lateral direito, que até 1995, ele foi titular absoluto da posição e ganhou vários prêmios. “Eu era considerado o melhor jogador em campo quase sempre. Ganhava prêmios em todas as competições que disputava, foi assim no Campeonato Paulista e no Brasileiro, tanto que despertei interesse em vários times considerados grandes do futebol brasileiro”, se orgulha. Na época, ainda em 1992, times como Vasco, Grêmio e Portuguesa, procuraram a diretoria do União São João com interesse em contratá-lo, em definitivo. “Na época o Gilberto Ometto estava por trás do União. O time tinha tanto dinheiro, que não tinha o hábito de negociar os jogadores. O Gilberto gostava tanto do time, que ele não queria se desfazer do elenco”, recorda. Gilberto Ometto era um dos executivos da Usina São João, apaixonado por futebol, pelo Palmeiras e dirigente do União São João. No ano de 1993, o Campeonato Paulista passou a ser no primeiro semestre. Foi de 23 de janeiro a 12 de junho. O União ficou em 8º lugar com 35 pontos. Em 30 jogos, o time ararense conquistou 12 vitórias, 11 empates e sete derrotas. Edinho foi o lateral direito titular durante a competição inteira, a equipe jogava com: Luiz Henrique; Edinho, Beto Médice, Claudio e Carlos Roberto; Vincius Eutrópio, Alexandre e Glauco; Israel, Ozias e Esquerdinha. No segundo semestre, de 4 de setembro a 19 de dezembro, o União São João disputou a Série A do Campeonato Brasileiro. Edinho foi mais uma vez o dono da posição. O time ararense jogou o nacional daquele ano comandado pelo técnico Jair Picerni com: Privati; Edinho, Beto Médice, Cláudio e Carlos Roberto; Luis Cláudio, Vagner e Alexandre; Israel, Ozias e Esquerdinha. Dos 32 times que participaram da competição, o União ficou em 22º na classificação geral conquistando 16 pontos em 14 jogos disputados. Foram seis vitórias, quatro empates e quatro derrotas. No ano de 1994, Edinho mais uma vez foi um dos grandes nomes do time ararense no Campeonato Paulista, aos 28 anos, ajudou o União a fazer uma brilhante campanha terminando a competição na 9ª posição com 28 pontos, sendo oito vitórias, 12 empates e 10 derrotas. Naquele estadual, o time de Araras atuou a maioria das partidas com: Ricardo Pinto; Edinho, Maciel, Claudio e Carlos Roberto; Beto Médice, Alexandre, Vagner e Cléber; Chiquinho e Cleomar. No segundo semestre, apesar de algumas propostas para se transferir para outros clubes, Edinho resolveu permanecer no elenco do União São João para a disputa da Série A do Brasileiro. Na classificação geral do Brasileirão daquele ano, o União ficou em 21º lugar. Foram 24 jogos, sendo 21 pontos conquistados, com sete vitórias, sete empates e 10 derrotas. Pela fraca campanha, foi necessário disputar a repescagem para não ser rebaixado e enfrentou times como Atlético/MG, Cruzeiro/MG, Bragantino, Criciúma, Vitória/BA, Náutico e Remo. Das oito equipes, o time ararense ficou em quinto, em 14 jogos, foram quatro vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Neste ano Náutico e Remo foram os times rebaixados e o União continuou na elite do Brasileiro. O elenco do time ararense no Brasileirão de 1994 tinha os seguintes jogadores. Goleiros: Maisena e Adinan; laterais: Edinho, Chiquinho e Carlos Roberto; zagueiros: Claudio, Maciel e Beto Médice; volantes: Marcelo Lopes e Vagner; meio-campistas: Alexandre e Cleomar e os atacantes: Israel e Marcelo Conti. Edinho foi titular praticamente em todos os jogos do nacional. Propostas para deixar o time ararense não faltavam. No entanto, em um acordo com a diretoria do União São João, Edinho permaneceu no clube, com a promessa de que ficaria com o passe, hoje Direitos Federativos no final da temporada. “Sou muito grato ao União São João, ao Iko Martins e ao José Mario Pavan, eles me ajudaram muito e sempre me trataram muito bem, enquanto jogador”, declarou Edinho, um dos melhores atletas revelados pelo time ararense. Outro incentivador e admirador do futebol de Edinho era Gilberto Ometto. Para ele, Edinho foi um dos grandes jogadores revelados pelo time de Araras. Gilberto Ometto morreu em 1994. Foi também o último ano de Edinho com a camisa do União. Com tanto prestígio, Edinho, aos 29 anos, se deu ao luxo de escolher qual time jogaria no ano seguinte, em 1995. Apesar de vária propostas, Edinho escolheu jogar na Portuguesa. “Conforme foi prometido pelos dirigentes do União São João, no fim do ano eu recebi os meus Direitos Federativos (Passe), então eu estava livre pra negociar com qualquer clube, eu emprestei para a Portuguesa, que pagou na época R$ 70 mil reais, como gratidão eu repassei todo esse valor ao União São João”, revela. Na Portuguesa, Edinho foi ser comandado pelo técnico . “O Candinho, que deu o aval para a minha contratação, ele pediu informações sobre meu futebol para o técnico Jair Picerni. Lembro que na época, o Jair falou que a minha única deficiência era o cabeceio”, conta. Na lusa, Edinho viveu uma de suas melhores fases na carreira. Foi titular em praticamente todos os jogos. No Campeonato Paulista, a Portuguesa fez a melhor campanha entre os 16 times que disputaram a competição. Na primeira fase, fez 58 pontos em 30 jogos, foram 16 vitórias, 10 empates e apenas quatro derrotas. Na segunda fase, foi sistema de mata-mata, a Lusa foi derrotada pelo Corinthians e deixou de disputar a final diante do Palmeiras. “Essa derrota para o Corinthians foi um pecado, o Bernardo fez o gol para eles de cabeça aos 46 minutos do segundo tempo, perdemos o jogo e não fomos à final”, lamenta Edinho. O Corinthians disputou a decisão contra o Palmeiras em Ribeirão Preto e ficou com o título, vitória por 2 a 1, com gols de Marcelinho Carioca e Elivélton. A lusa jogou aquela competição com: Paulo César; Edinho, Jorginho, Gilmar e Carlos Roberto; Capitão, Norberto, Caio e Zinho; Tiba e Paulinho Maclaren. “Eu fui considerado o melhor lateral direito do Campeonato Paulista. De 23 jornalistas, 22 voltaram em mim como o melhor jogador da posição. Fui até receber um troféu em um evento organizado pela Federação Paulista de Futebol em São Paulo com um monte de gente famosa”, orgulha-se. Edinho faz questão de ressaltar a sua superioridade diante de tantos outros craques da posição. “O Zé Maria, que jogou na Itália e até na Seleção Brasileira foi meu reserva na Portuguesa, fui considerado melhor lateral do Paulista de 1995, fiquei na frente até do Cafu, que atuava no Palmeiras e é conhecido no mundo inteiro”, conta. Por muito pouco Edinho não vestiu a camisa da Seleção Brasileira. “Fui pré-convocado pelo Zagallo, naquele tempo eles formavam uma lista com 40 jogadores, lembro que eu e o Zé Roberto fomos avisados, mas depois informaram os 22 e nós ficamos fora, o Jorginho foi para a lateral direita e o Roberto Carlos para a lateral esquerda”, recorda.

O jeito caipira o impediu de jogar no Flamengo Com o fim do Estadual de 1995, choveram propostas para o lateral ararense, que ainda tinha contrato com a Portuguesa até o fim daquele ano. Só que para tirar o jogador do Canindé teria que pagar uma multa contratual de R$ 300 mil reais. “Com exceção do Palmeiras, que tinha o Cafu, todos os outros times grandes tentaram me contratar, mas os dirigentes portugueses na época queriam que pagassem a multa para me tirar de lá”, recorda. O Flamengo foi o time que apresentou a melhor proposta. Edinho estaria disposto a deixar a capital paulista para se transferir a capital carioca. “Eu queria muito jogar no Flamengo, não era nem pelo dinheiro e sim por tudo o que representa esse clube ao futebol mundial, a estrutura, a torcida, seria realmente chegar ao topo”, revela Edinho. No entanto, a simplicidade e o jeito caipira fizeram com que Edinho rejeitasse a proposta do time carioca, o conselho foi do treinador e amigo Candinho. “O Candinho já tinha trabalhado no Flamengo e conversou comigo na época. Ele foi direto, me falou bem assim, Edinho você é simples, caipira e os cariocas vão tirar sarro de você lá”, revelou o lateral ararense, que acabou permanecendo na Lusa para a disputa do Campeonato Brasileiro de 1995, a competição foi de 19 de agosto a 17 de dezembro. Antes mesmo de começar o Nacional, a Portuguesa resolveu mudar o comando técnico, Candinho deixou o clube para a chegada de Levir Culpi, no entanto, devido aos maus resultados no início da competição, a diretoria demitiu Levir Culpi e anunciou , que ficou até o fim da competição. A Portuguesa terminou o Brasileirão na décima posição. Neste ano, o Botafogo/RJ foi o grande campeão ao derrotar o Santos na final. O elenco da Portuguesa naquele ano contava com os goleiros: Neneca e Marcio Defendi; laterais: Zé Maria, Edinho, Zé Roberto e Roque; zagueiros: Augusto, Vitor Hugo e Jorginho; volantes: Luizão, Fabrício e Capitão; meias: Betinho, Tiba e ; atacantes: Chicão, Leandro Amaral, Flávio Guarujá, Zinho, Leto e Sávio. Um fato curioso no Campeonato Brasileiro daquele ano de 1995 foi uma briga em que o ararense Edinho se envolveu com o atacante Euller do Atlético Mineiro, em pleno Estádio do Mineirão. Edinho acabou expulso de campo pelo árbitro carioca Léo Feldman. Julgado no STJD da CBF, Edinho foi punido em sete jogos de suspensão. Revoltado com a decisão do STJD, Edinho não poupou criticas aos advogados da Lusa na época, o fato chegou a criar um mal estar no clube. “Fui perguntado pelos repórteres qual era a minha opinião sobre a pena e fiz uma brincadeira devolvendo outra pergunta a eles. Eu disse ‘também ser defendido por advogados portugueses vocês esperam o quê?’, tem que dar nisso mesmo”, contou Edinho aos risos. No ano seguinte, no primeiro semestre de 1996, Edinho com 30 anos, voltou a receber sondagens de clubes como: São Paulo, Corinthians, Santos, Guarani e Flamengo. Entretanto, o ararense resolveu deixar a Portuguesa para se transferir ao São Paulo. “Graças a Deus, mais uma vez, várias equipes tinham interesse em me contratar, mas desta vez o São Paulo fez uma proposta irrecusável”, conta. Dono de seus Direitos Federativos, Edinho já não tinha mais vínculo com a Portuguesa, que também fez uma proposta para segurá-lo no Canindé, porém a oferta de salário feita pelo presidente do São Paulo na época, Fernando Casal Del Rey foi muito alta e Edinho foi até o Morumbi para fechar o negócio. “Lá no Morumbi me reuni com o presidente Fernando Casal Del Rey e alguns diretores do São Paulo, lembro que o Telê Santana, técnico do São Paulo na época estava de férias em Salvador, da sala mesmo falei com ele por telefone e o negócio foi fechado ali mesmo”, declara. Edinho não soube precisar o valor que recebeu de luvas e nem o salário que passaria a receber, mas revelou que seria o dobro do que a Portuguesa havia oferecido para ele permanecer no time do Canindé. “Comuniquei os diretores da Portuguesa, agradeci pela oportunidade de ter jogado lá e me transferi para o São Paulo, onde disputei o Campeonato Paulista daquele ano”. Com parte do montante que recebeu de luvas do São Paulo, Edinho comprou um sítio em Araras na fazenda Belmonte, que pertencia ao presidente da Nestlé, na época, o também ararense Ivan Fabio Zurita. “Foi um sonho que eu realizei. Sempre quis ter uma propriedade rural na minha cidade. Meu gosto é cuidar de plantações e criações. Faço isso até hoje”, relata. Com a situação financeira bem definida, Edinho assumiu na época, que o investimento feito pelo São Paulo seria correspondido dentro de campo, honrando a camisa tricolor. Ele não decepcionou. “Apesar de ter acertado tudo com o Telê Santana, o Muricy Ramalho foi o nosso técnico naquele ano, mesmo assim fui titular absoluto da posição, só não jogava quando estava suspenso”, recorda. No entanto, o ano de 1996 não foi nada muito agradável para o São Paulo. O investimento feito no futebol não foi o esperado, já que o objetivo naquele ano foi à reforma do Morumbi. Além disso, foi na época em que Telê Santana sofreu uma isquemia cerebral e não dirigiu a equipe naquele Campeonato Paulista. O então auxiliar técnico Muricy Ramalho foi quem comandou o time São Paulino. Mesmo com todos os problemas enfrentados pelo São Paulo naquele ano, o time do Morumbi ficou com o vice-campeonato Paulista. A competição foi por pontos corridos e a diferença para o campeão Palmeiras foi algo espantoso, um total de 28 pontos. “Nós em momento algum deixamos de honrar a camisa do São Paulo, mas sabíamos que seria difícil ser campeão. Naquele ano o Palmeiras perdeu um jogo só, fez 83 pontos e nós fizemos 55”, relembra. O time do São Paulo que mais jogou aquele campeonato foi: Zetti; Edinho, Pedro Luiz, Sorlei e André Luís (Guilherme); Gilmar, Donizete, Edmilson e Sandoval; Almir (Denílson) e Valdir. Com o fim do Campeonato Paulista e já com a certeza que não contaria mais com Telê Santana como técnico, a diretoria do São Paulo preferiu não apostar em Muricy Ramalho e contratou Carlos Alberto Parreira para a montagem do time, que disputaria o Campeonato Brasileiro no segundo semestre. O novo comandante indicou o lateral direito Beletti ao São Paulo, o jogador acabou contratado e chegaria para disputar a posição com o então titular Edinho, mas o lateral ararense recebeu uma boa proposta do Internacional de Porto Alegre e resolveu aceitar. No time gaúcho disputou o Brasileirão de 1996. “O empresário Jorge Machado de Porto Alegre foi quem me indicou ao técnico Nelsinho Batista do Inter-RS. A proposta era muito boa, resolvi rescindir meu contrato com o São Paulo e fui para o Internacional-RS”, relata.

Companheiro de Gamarra Na chegada ao Beira Rio, Edinho começou a se destacar nos treinamentos e numa disputa sadia com César Prates, foi escolhido pelo técnico Nelsinho Batista para ser o titular da equipe. “A primeira competição que disputei pelo Internacional foi o torneio Mercosul, nossa equipe acabou campeã”, recorda. O Campeonato foi realizado no mês de julho, além do time gaúcho, participaram da competição as equipes do San Lorenzo da Argentina, do Universidad do Chile e o Universidad Católica também do Chile. O Internacional fez a melhor campanha e na última partida venceu o Universidad Católica, por 4 a 1, com dois gols de Leandro Machado, um de Tonhão e um de . Comandado pelo técnico Nelsinho Batista, o Internacional ficou com o título da Copa Mercosul jogando com: André; Edinho, Tonhão, Gamarra e Cleomir; Fernando, Marcelo Rosa (Anderson) e Yan; Paulo Isidoro, Fabinho e Leandro Machado. O ararense ressalta que atuando por essa equipe realizou um sonho. “Tive o prazer de atuar ao lado de um dos melhores zagueiros do mundo, fiz parte do setor defensivo onde tinha Gamarra, esse sim podemos dizer que foi um zagueiro craque, jogava muito, hoje tenho o privilégio de dizer que atuei ao lado dele”, enfatiza. Antes ainda do Campeonato Brasileiro, o Internacional-RS participou de um torneio amistoso na Bahia, Taça Maria Quitéria. No total foram quatro equipes participantes, além do time gaúcho, estiveram presentes na competição as equipes do Bahia, Coritiba e o Vitória, que eliminou o Inter-RS e ficou com o título ao derrotar na final o Coritiba. “Nesse torneio acabei sofrendo uma contusão musuclar, que me prejudicou durante o Campeonato Brasileiro. Eu até falei com o Flávio Trevisan na época, achei que era muita carga de jogos e exercícios, mas ninguém deu atenção, fiquei fora boa parte do Campeonato Nacional”, relata. Foram três meses de recuperação, a volta ao gramado só aconteceu quase no final da competição, mesmo assim ele não perdia o bom humor. “Quando eu ficava sem jogar, sempre os laterais que me substituíam eram convocados para a Seleção Brasileira, aconteceu com o Zé Maria na Portuguesa e o César Prates no Inter de Porto Alegre. Eles até brincavam comigo, eles falavam que era só eu sair do time, que eles eram convocados”, recorda. O time colorado terminou o Campeonato com 35 pontos na nona posição. Em 23 jogos, foram 10 vitórias, 5 empates e 8 derrotas. Edinho acabou vendo de perto em 1996, o maior rival, o Grêmio conquistar o título brasileiro em cima do clube que ele tem muito carinho, a Portuguesa. Na grande final o placar foi de 2 a 0 no Olímpico com gols de e Aílton. No Brasileiro, o time do Internacional/RS, que mais jogou foi: André; César Prates (Edinho), Régis, Gamarra e Cleomir; Enciso, Marcelo Rosa, Fernando e Luis Gustavo; Fabinho e Leandro Machado. Com o fim do Campeonato Brasileiro de 1996, Edinho começou a sentir dores no joelho direito, resolveu deixar o Internacional-RS e voltou a Araras, sua cidade de origem. “Procurei o médico do União São João, Dr. Newton Baretta, expus minha situação a após uma ressonância magnética, ficou constatada uma lesão de menisco, fiz a cirurgia e fiquei sete meses do ano de 1997 em recuperação, sem jogar”, declara. Em 1998, Edinho aos 32 anos, recuperado da cirurgia e com a situação financeira já estabelecida, estudava a possibilidade de encerrar a carreira, porém, o sucesso como jogador fez com que o ararense recebesse inúmeras propostas de times como: Atlético Mineiro, Portuguesa de Desportos, América de São João do Rio Preto, Portuguesa Santista e Inter de Limeira. No entanto, a lesão no joelho o deixou sem confiança, mesmo assim ele resolveu assinar contrato com a Inter de Limeira, por dois motivos: estar perto da família e ser comandado por um ídolo do passado. “Eu queria ficar mais perto de Araras, já estava cansado de viajar, não agüentava mais concentração, então eu queria jogar num clube perto da minha casa e a proposta da Inter de Limeira até que foi boa, R$ 20 mil reais por mês e ainda trabalhar com o seu José Macia, o Pepe, então resolvi aceitar o desafio”, declara. Torcedor confesso do Santos, Edinho então foi trabalhar com o técnico Pepe na Internacional de Limeira, onde disputou o Campeonato Paulista. “Neste ano, a Inter montou um timaço para jogar o Paulistão, lembro que até fiz um bom contrato”, declara Edinho. O Leão terminou a competição na intermediária, em 10 jogos, foram 13 pontos conquistados, sendo três vitórias, quatro empates e três derrotas. Comandado pelo técnico Pepe, a Associação Atlética Internacional jogava com: Ricardo Pinto; Edinho, Jean, Sérgio Soares e Marcos Adriano; Zelito, Emerson e Beto; Enzo, Paulinho e Valdeir. Edinho não se esquece das histórias contadas pelo técnico Pepe após os treinamentos. Ele se recorda que todos os jogadores ficavam atentos aos causos contados pelo comandante “Naquele tempo não tinha muita internet, jogos, brincadeira eletrônicas, os jogadores acabavam o treino e ficavam conversando, o Pepe contava muitas experiências que ele havia passado no futebol, foi um momento único que vivi ao lado do Pepe”, declara. Com o fim do Estadual, Edinho ficou o segundo semestre de 1998 sem clube. Em 1999 recebeu uma proposta do América de Rio Preto para jogar o Campeonato Paulista da Série A2. “O me ligou, nós tínhamos uma relação muito boa, ele gostava muito do meu profissionalismo, ele é uma pessoa que admiro bastante também, fui até São José do Rio Preto me apresentei, fiz alguns treinos, mas eu agradeci a comissão técnica e resolvi rescindir o contrato e voltar para Araras” relata. Edinho deixou de participar do time que conquistou o último título de sua história, o América acabou conquistando o título do Campeonato Paulista da Série A2 em cima da Ponte Preta, por 2 a 1, com o Estádio Teixeirão lotado com mais de 35 mil pessoas, no dia 22 de julho de 1999 e garantiu o acesso a elite do Estadual. O América jogou aquela competição com: Sérgio Guedes; Gilson, Zambiasi, Jean e Guilherme; Reginaldo, Luis Carlos Oliveira, Fernando Fumagalli e Luis Fernando; Marcinho e Roberto Carlos (Marcos Denner). Edinho, então com 33 anos, resolveu encerrar a carreira. Diferente de outros jogadores, o ararense garante não ter sido tão difícil tomar a decisão. “Tem jogador que fica pensativo, com depressão e até doente ao tomar essa decisão, eu não senti nada disso, resolvi pendurar a chuteira e acabou, parei de uma vez”, declara. Devido à dedicação ao esporte, o ex-lateral ararense confessa que deixou o estudo de lado e freqüentou o colégio só até o quinto ano do ensino fundamental e por isso acabou sendo mal orientado financeiramente. “Na minha época não era como é hoje, que tem um procurador que cuida de tudo para o atleta, eu tinha muito dinheiro, mas perdi bastante por falta de orientação. Para se ter uma idéia eu nem sabia da obrigatoriedade de declarar meus bens e fui acusado de sonegação. Tive que pagar uma multa altíssima por não ter declarado imposto de renda”, relata. Pelo fato de ter atuado em grandes clubes, Edinho lamenta não ter investido em imóveis ou mesmo feito uma boa poupança, no entanto, ele atribui as falsas amizades o fato de ter perdido boa parte de seu patrimônio. “Tinha muita gente, que gostava de se aproveitar do meu dinheiro e de minha fama, pessoas que se diziam amigos e que hoje sequer me da um telefonema, isso me deixa muito chateado, assinei muito cheque em branco.”, revela. Edinho não esconde também os momentos de descontração, época em que se reunia com outros atletas. “Eu não vou negar, que freqüentava casas de shows, eventos e até pescarias com outros jogadores. Lembro que todas as segundas-feiras, nas folgas, atletas da Portuguesa, São Paulo, Corinthians, Santos, se reuniam em um pesqueiro ali na rodovia Castelo Branco. Ficávamos o dia todo ali contando histórias e falando de futebol. Mas, uma coisa eu garanto, nos treinos eu puxava fila, eu me dedicava e resolvia dentro de campo”, declara. Fora dos gramados desde 1999, Edinho garante sentir saudade do tempo em que era jogador, ele admite também ter feito boas amizades. “Sou muito agradecido em tudo o que a bola me proporcionou, sinto falta de algumas amizades verdadeiras. Sempre fui um cara simples e humilde, por isso sou respeitado. Tenho contato ainda com o Rogério Ceni, Jorginho (irmão do Junior Baiano), André (ex-goleiro Inter-RS), Paulinho Maclaren, além daqueles jogadores que nasceram ou vieram morar aqui em Araras”, finaliza. Entre todos os clubes em que atuou, Edinho revela que o União São João foi o time onde ele mais gostou de atuar. “Jogar na sua própria cidade é algo muito especial, saber que a minha família, meus amigos, as pessoas que eu gosto estavam no estádio assistindo, isso me motivava muito”, garante. O lateral ararense se orgulha em dizer que conheceu o Brasil inteiro e até outros países, enquanto jogador de futebol. “Com o União fiz uma excursão ao Japão, pelo Internacional-SP joguei contra times da Argentina e do Chile, tenho satisfação em dizer hoje que atuei nos principais estádios de futebol do Brasil, como Morumbi, Beira Rio, Maracanã, Mineirão, Serra Dourada, Fonte Nova, enfim conheci meu país inteiro”, relata. Edinho também não se esquece das concentrações, ele explica que nem todos os jogadores do elenco gostavam de dividir o mesmo quarto com ele. “É que sempre gostei de levantar cedo, tomava uma xícara de café e já ligava o rádio para ouvir música sertaneja”, se diverte. No entanto, no futebol, Edinho também teve algumas decepções, deixou de receber em alguns clubes e agora aguarda a decisão da justiça. “Tive problema para receber tanto no Internacional de Porto Alegre, quanto na Inter de Limeira, o processo contra esses dois clubes correm na justiça, espero um dia receber esses valores, que são de meu direito”, conta.

A vida na Roça Hoje, Edinho tem 48 anos, é bastante reservado, prefere curtir a família. O ex-atleta é avesso a entrevistas, dificilmente atende a imprensa. “Nunca gostei de dar entrevista, sou acanhado, tenho dificuldade de me expressar, até mesmo na época que jogava eu procurava fugir dos repórteres”, conta com bom humor. Longe dos gramados, ele não esconde sua paixão pelo Santos FC e pela vida na roça. Atualmente cuida do sítio, que adquiriu quando ainda estava no auge da carreira. Sua maior paixão é cuidar de criações, plantações e hortas. “Assim que eu parei de jogar futebol, passei a ficar mais tempo no meu sítio. Já tive plantação de café, cana de açúcar e hoje vivo da venda de laranja, verduras e legumes. Tenho também algumas criações como bovinos e suínos”, explica. Apegado a família, Edinho fala com orgulho da esposa, Claudete Aparecida Vian Vechettin, que conheceu ainda quando era adolescente. “Eu conheci minha esposa na época em que morávamos na Usina Santa Lúcia. Eu tinha 17 anos, jogava nas categorias de base da Usina Santa Lúcia. Estudávamos na mesma escola”, recorda. Depois de oito anos de namoro, os dois se casaram na igreja de Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Cândida, em Araras. “Nós vivemos sempre muito bem, ela me apoiou muito no futebol e quando comecei a ser emprestado pelo União São João, resolvemos nos casar e ela passou a me acompanhar nos clubes”, declara. Edinho não esconde as dificuldades que enfrentou no início da carreira e do casamento. “Nós sofremos demais, não recebia grandes salários e normalmente a moradia oferecida pelos clubes eram precárias. Em Governador Valadares nós dormíamos no chão”, revela. A filha Maria Aparecida Vechettin veio seis anos depois do casamento, ela nasceu no dia 29 de Janeiro de 1998, quando Edinho estava praticamente encerrando a carreira, hoje ela tem 17 anos. “Minha filha é tudo para mim. O nome dela é porque sou muito devoto a Nossa Senhora Aparecida. Ela nasceu quando eu estava na Inter de Limeira, praticamente meu último clube. Ela nem chegou a me ver jogar”, lamenta. Além do sítio, onde fica a maior parte do tempo dividindo as tarefas com os funcionários, Edinho comprou com o dinheiro adquirido no futebol uma casa nobre no Jardim Cândida, onde vive com a esposa e a filha. Têm dois automóveis populares. Comprou também outra casa, bastante confortável no mesmo bairro e presenteou a mãe. Hoje, Edinho não joga mais futebol, nem mesmo por brincadeira, sua diversão preferida é a pescaria. “Convite para jogar no futebol amador não falta, mas estou gordo e, além disso, a gente corre o risco de sofrer uma lesão grave, então prefiro nem arriscar, o meu esporte agora é a pescaria, tenho um tanque cheio de peixes no meu sítio e me divirto a vontade”, relata. Sobre sua rotina diária, Edinho faz uma revelação. “Gosto de levantar cedo, 5 horas da manhã já estou em pé, isso todos os dias. Vou logo ligando o meu rádio de pilha para ouvir os programas policiais nas emissoras de rádios de Araras”, revela. Edson José Vechettin, o Edinho, garante que ter atuado profissionalmente foi um sonho realizado. “Agradeço todos os dias a Deus e a Nossa Senhora Aparecida pela oportunidade de ter realizado o meu sonho de criança e ter sido um jogador de futebol bem sucedido, tive a honra de jogar em grandes clubes e nos principais estádios de futebol do Brasil e até em alguns países sul-americanos, hoje estou de volta a Araras e ao lado de minha família, com pessoas que gosto de estar por perto e na cidade onde tenho orgulho de viver”, finaliza.

Paulo Sales

A DURA CONVIVÊNCIA COM O EMPRESÁRIO Imposição do agente impediu que Paulo Sales jogasse na Europa

Se tornar um jogador de futebol não é uma tarefa tão simples. Muitas vezes é preciso estar no lugar certo e na hora certa e quase sempre aliar a competência com a sorte. Em meio a centenas de jovens garotos com o mesmo sonho, Paulo Sales foi escolhido para exercer essa profissão, enquanto profissional chegou a ser renegado no próprio clube que o revelou, por ganância do empresário que o agenciava não ficou na Europa e por isso não construiu sua independência financeira. Em 2003 jogou no Flamengo de Guarulhos, porém em uma partida fora do país atuou ao lado de como se fosse jogador do Flamengo do . Paulo César Sales de Souza nasceu em Araras no dia 15 de junho de 1978, filho de Everaldo Carlos de Souza e Ivone Santos Sales de Souza, tem uma irmã, Ana Paula de Souza. Desde criança, morou no jardim São João, em Araras, onde cresceu, fez amizades e a brincadeira preferida não poderia deixar de ser com a bola. “Sempre gostei de jogar futebol, brincava nas ruas com outras crianças perto de minha casa, no jardim São João”, conta. Na adolescência, Paulo Sales era conhecido como Paulão, continuou fazendo da bola, a sua brincadeira favorita, porém não deixou de lado suas responsabilidades. “Eu estudei sempre no Cesário Coimbra e no Sesi. Com 14 anos comecei a trabalhar na Guarda-Mirim de Araras, hoje conhecida como AEDHA (Associação de Educação do Homem de Amanhã)”, declarou. Vinculado a AHEDA, instituição que insere adolescentes no mercado de trabalho, Paulo Sales foi trabalhar como balconista e office-boy na Madeiranit, loja que ficava no centro de Araras. “Eu fazia serviço de banco e ajudava meus colegas no balcão”, conta. Apesar da alegria de estudar e trabalhar para contribuir no sustento da família, o ararense alimentava consigo o sonho de se tornar um jogador de futebol profissional, este desejo era tão evidente, que na escola ele não podia ver um papel amassado que ao invés de usar as mãos, utilizava os pés para levar a bola de papel até o lixo. No trabalho, fazia embaixadinhas com o maço de pregos. Em uma dessas brincadeiras, chamou a atenção dos colegas de trabalho. “O Marcelo e o Eraldo me incentivaram a procurar um time de futebol para eu fazer um teste, esse apoio foi fundamental para que eu iniciasse a minha carreira”, declara. Prestativo e sempre atentado às notícias dos jornais que chegavam à loja, Paulo Sales leu uma notinha na página de esporte dizendo que o União São João faria três dias de testes com jovens garotos no mês de Dezembro de 2012. “Quando vi aquele anúncio, entrei em contato imediatamente com o União São João fiz a minha inscrição e até solicitei liberação do meu trabalho por três dias, lembro que os testes aconteceram numa quarta, quinta e sexta-feira”, declara. Liberado pela gerência da loja, ele só voltaria ao trabalho no sábado, após a peneira, que faria no CT do Estádio Hermínio Ometto. Em meio a mais de duzentos adolescentes, Paulão, como também era chamado no clube, foi aprovado. “Joguei como atacante, fui bem nos três dias e inclusive marquei dois gols, que chamaram a atenção do técnico Lucídio Mariano e do auxiliar Zé Lemão na época e fui um dos selecionados para ficar treinando no clube”, declara. Na oportunidade, o vice-presidente do União São João, Iko Martins, foi quem o comunicou oficialmente de sua integração as categorias de base do time. Com uma alegria contagiante, Paulo Sales chegou para trabalhar no sábado com um sorriso estampado no rosto e sem o uniforme da empresa. “Fui de bermuda e chinelo e o Eraldo me perguntou se eu estava indo para a praia, dei muita risada e comuniquei a ele que havia passado no teste, foi a maior alegria na loja, fui abraçado e parabenizado por ele e pelo Marcelo”, conta. A felicidade não foi só dos colegas da loja não, em casa o apoio também foi afetuoso, afinal o sonho do ainda adolescente Paulo Sales começava a se tornar realidade. “Meus pais assinaram um termo para que eu pudesse me vincular ao União São João. Em 1993 comecei a fazer parte da categoria infantil”, relembra. Desde então a rotina do mais novo jogador ararense passou a ser diferente, de manhã e a tarde se dedicava aos treinamentos no clube e a noite freqüentava a escola Cesário Coimbra. Ele já não tinha mais o dinheiro do trabalho e dependia da mãe para poder treinar. “Minha família sempre me apoiou, Minha mãe, que era doméstica, passou a trabalhar a pé para me dar o passe de ônibus para que eu pudesse ir aos treinos”, recorda. Outro que o ajudou bastante foi o tio, Nilton Sales, que é comerciante. “Ele tem um bar no Jardim Alvorada e na época ele meu deu uma ajuda em dinheiro para que eu também pudesse comprar os passes de ônibus”, revela. No ano seguinte, em 1994, Paulão como ainda era chamado no clube foi promovido para a categoria juvenil, porém, duas mudanças foram fundamentais para que o jovem ararense continuasse com uma carreira promissora. “Primeiro o Iko Martins, pediu para que ninguém me chamasse mais de Paulão e sim de Paulo Sales, depois a ordem veio da comissão técnica, para que eu jogasse de volante e não mais de atacante”, relembra As mudanças surtiram efeito, o nome soou melhor e atuando como volante, Paulo Sales passou a se destacar ainda mais. “Eu corria bastante, tinha facilidade para marcar, então eu me adaptei bem nessa posição”, relata. Em 1995, Paulo Sales foi promovido a categoria Sub-20 do União São João a pedido do técnico Play Freitas na época. Além de volante, Paulo Sales passou a jogar também de lateral direito e desde então passou a ser um jogador bastante versátil para o clube, sendo titular absoluto do time. “Eu tinha muita velocidade e era bastante marcador, por isso eu tinha facilidade para jogar como ala também. Nessa época nós fazíamos as preliminares das partidas do time profissional no Campeonato Paulista”, conta.

Dois títulos num dia só Após ser o principal destaque do Sub-20 do União São João em 1995, Paulo Sales passou a ser um dos jogadores mais valorizados do elenco do União São João. Elogiado pela diretoria e comissão técnica, o jogador ararense não demorou para ser promovido ao time principal. “A chance apareceu com o técnico Lula Pereira, que me viu treinar e solicitou a minha promoção ao time de profissionais”, recorda. No ano de 1996, Paulo Sales se desdobra para defender o Sub-20 no Campeonato Paulista e o time profissional. “Foi um ano maravilhoso, no primeiro semestre eu jogava no Aspirante e depois ficava no banco do profissional no Campeonato Paulista”, recorda. No segundo semestre, mais precisamente no dia 20 de outubro, Paulo Sales foi relacionado pela primeira vez para uma partida fora do estado de São Paulo, foi contra o Volta Redonda no Estádio Raulino de Oliveira, no interior carioca, era a primeira viagem dele de avião. “Nunca tinha visto um avião de perto, eu estava morrendo de medo e muito espantado com aquilo tudo, mas não poderia deixar transparecer, mesmo assim os jogadores pegavam no meu pé, principalmente o Chiquinho (lateral direito titular do União São João na época), ele é muito meu amigo”, brinca. Após uma viagem tranquila, porém cheia de gozações, Paulo Sales chegou ao Rio de Janeiro já sabendo que ficaria no banco de reservas, pois isso já era o bastante para um jogador jovem em um elenco tão qualificado. “Eu fui só para fazer número, tinha apenas 18 anos e no grupo havia muitos jogadores experientes”, revela. No entanto, a sorte parecia estar ao lado de Paulo Sales naquele dia, pois, durante a partida, o titular Chiquinho se machucou e Paulo Sales foi chamado para entrar no jogo. “Eu vi o Chiquinho se contorcendo em dores, o professor Lula Pereira estava a beira do gramado e virou para o banco gritando ‘negão, negão, negão, chegou a sua hora’, olhei para os companheiros e fiquei me perguntando – ‘será que ele está me chamando’? Minhas pernas tremeram, tirei o colete e a orientação era para entrar e fazer o simples, ou seja, chutar para o mato, afinal o jogo era de campeonato e o empate era nosso”, relata Paulo Sales, que jogou pouco mais que 25 minutos do segundo tempo e ajudou o time de Araras a sair com um resultado que o beneficiava, 1 a 1. “Lembro que rasguei duas bolas lá de traz, dei um carrinho e só escutava o Lula gritando lá de fora, ‘é isso aí negão, é assim que eu quero, raça’, no vestiário fui parabenizado por ele e pelos companheiros”, relembra. Depois de tanto esforço na temporada, a recompensa veio no dia 8 de dezembro de 1996, Paulo Sales entra de vez para a história do União São João, ele foi o único ararense a conquistar dois títulos em único dia, o de campeão Paulista Sub-20 e o da Série B do Brasileiro com o elenco profissional. “Foi um dia inesquecível, que nunca ninguém vai apagar da história, dei duas voltas olímpicas no Estádio Hermínio Ometto”, se orgulha. A primeira decisão foi do Sub-20, o União São João precisava da vitória diante do Novorizontino para ficar com a taça, a partida foi a preliminar do profissional, que disputaria a decisão da Série B do Brasileiro contra o Náutico e precisava pelo menos de um empate para ser o campeão. “Deu tudo certo, os dois resultados nos favoreceram, foi a maior festa no Herminião e claro pelas ruas de Araras, pois desfilamos na viatura do Corpo de Bombeiros”, relembra Paulo Sales. Contra o Novorizontino o União venceu, por 1 a 0, com gol de Gefferson e jogou com: Gustavo; Odair, Tarcio, Venicio e Fábio Baiano; Paulo Sales, Kellé, Gefferson e Preta; Marcinho e Altair. “Assim que acabou esse jogo, o Lula pediu para me chamar e ficar em alerta, pois eu poderia ficar no banco na final da Série B, peguei o material do profissional assisti a preleção, mas acabei cortado do banco, acompanhei o título das arquibancadas e depois desci no gramado e recebi minha medalha, me considero um campeão”, declara Nesta partida, o Náutico saiu na frente com gol de Marcos Paulo, o União empatou com Sairo, o duelo terminou em 1 a 1, o empate deu o título da Série B do Brasileiro ao time ararense. Sob o comando do técnico Lula Pereira, o União jogou com: Adinan; Chiquinho, Lica, Nilson e Ivonaldo; Marcelo Lopes, Lico, Paulo César (Souza) e Odair (sairo); Reinaldo (Célio Alcântara) e Borges. O time pernambucano do técnico Givanildo de Oliveira atuou com: Jeferson; Edson (Paulo Roberto), João Marcelo, Leandro e Marcos Paulo; Fernando, Junior (Katente), Miltinho (Marcio) e Douglas; Alex e Robson. A boa fase de 1996 foi importante para que Paulo Sales conquistasse a confiança dos dirigentes do time ararense, pois no ano seguinte, em 1997, com apenas 19 anos, foi promovido de uma vez por todas ao time profissional, deixa de atuar como volante e se fixa na lateral direita. No Campeonato Paulista, Paulo Sales ficou a maioria das partidas no banco de reservas, o União São João fez a melhor campanha entre os times do interior do estado, terminou na sexta posição atrás apenas dos grandes clubes do estado como: Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e Portuguesa. Mais uma vez comandado pelo técnico Lula Pereira, o União de Araras atuou a competição com: Adinan; Chiquinho (Paulo Sales), Maciel, Julio César e Ivonaldo; Lico, Odair, Ricardo Lima e Reinaldo; Paulo César (Helbert) e Sérgio Lobo (Sairo). No segundo semestre de 1997, o União disputou o Campeonato Brasileiro da Série A, mas diferente da primeira metade do ano, o time ararense fez a pior campanha de todos os times da competição e de forma melancólica foi rebaixado a Série B do nacional novamente. Naquele Brasileiro, um jogo ficou marcado na história de Paulo Sales e do União São João negativamente, foi no dia 11 de setembro contra o Vasco da Gama, o time ararense foi goleado pelo time carioca, por 6 a 0, os seis gols foram marcados pelo atacante Edmundo, um feito histórico na competição nacional, afinal foi o único jogador a marcar seis gols em uma única partida de Campeonato Brasileiro. Nesta partida, o lateral Paulo Sales, atuou como titular. Comandado pelo técnico Basílio, o União jogou com: Adnan; Paulo Sales, Augusto, Balu e Léo (hoje no Santos); Lica, Kellé (Geferson), Lisandro e Ricardo Lima; Itamar e Mazinho (Leonardo Oliveira). O Vasco do técnico Alcir jogou com: Marcio; César Prates, Mauro Galvão, Alex Pinho e Luizinho (); Nasa (Fabrício Carvalho), Pedrinho, Ramon e Felipe; (Mauricinho) e Edmundo. Em 1998, o União São João contratou Jair Picerni para comandar a equipe na elite do Campeonato Paulista e Paulo Sales permaneceu nos planos do novo comandante e jogou a maioria das partidas como titular. No estadual, o time ararense não fez uma boa campanha, brigou para não ser rebaixado e atuou a maioria dos jogos com: Adinan; Paulo Sales, Julio César, Batista e Léo; Augusto (Acácio), Cândido, Ado e Macalé; João Paulo (Tosca) e Mauro. No segundo semestre pela Série B do Brasileiro de 1998 também sob o comando de Jair Picerni, o União não fez uma boa campanha, mas fez o suficiente para manter o time na mesma divisão para o ano seguinte. O União jogou aquela competição com: Miguel; Paulo Sales, Tarcio, Batista e Léo; Leandro Peres, Agnaldo Xavier, Fred e Guto; Borges e João Paulo.

A carreira por um fio Depois de seis anos vestindo a camisa do União São João e ter feito história no clube, Paulo Sales por pouco não põe tudo a perder no ano de 1999. Sem mais o Iko Martins na administração do União São João, que preferiu desfazer a sociedade com o presidente José Mario Pavan e a fraca campanha feita pelo time na temporada anterior, o União São João resolveu tomar uma decisão drástica de remodelar toda a comissão técnica e o elenco de jogadores para a disputa da elite do Campeonato Paulista, que começaria no dia 24 de janeiro de 1999. O novo técnico contratado foi Antônio Augusto Pereira, o popular Pardal. “Quando o Pardal chegou, ele fez uma avaliação do time inteiro e disse que eu não tinha condições de jogar no time dele, isso pra mim foi como se tivesse caído um prédio na minha cabeça, fui logo pensando que tudo tinha acabado, pois estava numa crescente e de repente eu não servia mais”, declara. Bastante chateado por não ter tido apoio da diretoria e sem novas perspectivas, Paulo Sales pensou até em abandonar a carreira e voltar a trabalhar. No entanto, o apoio da família foi fundamental para que o ararense não desistisse de continuar a carreira. “Meus pais e minha irmã me deram muita força, eles foram fundamentais para que eu voltasse a jogar”, recorda. Após quase dois meses em casa sem jogar e vinculado ao União São João, Paulo Sales recebeu um telefonema, que o recolocaria no mundo da bola. “No telefone era o Antônio Carlos Beloto – vice- presidente do União São João - do outro lado da linha me informando que eu estava sendo emprestado para um time cearense. Foi a melhor notícia, que eu recebi, era a certeza de que minha carreira poderia decolar a partir daquele novo desafio, a tristeza deu lugar a alegria”, explica Paulo Sales. O destino então foi o Uniclinic/CE, onde disputou o no primeiro semestre de 1999. “O nosso técnico foi o Arnaldo Lira, que trabalhou várias vezes no União São João e conseguimos levar o time até as semifinais”, lembra o lateral, que na época atuou com outros três atletas emprestados pelo União São João, o zagueiro Tarcio, o meia Gefferson e o atacante Tosca. O campeão estadual naquele ano foi o Ceará. Esforçado e esbanjando qualidade técnica, Paulo Sales foi considerado o melhor lateral direito do campeonato e despertou interesse de outros times, inclusive o do Ceará, um dos grandes e tradicionais times do Brasil. “Na oportunidade, os dirigentes do Ceará entraram em contato com o União São João e acertaram o meu empréstimo, lembro que o União cobrou até um valor razoável pela transação”, conta.

O encontro Na segunda metade de 1999, Paulo Sales disputou a Série B do Brasileiro pelo Ceará. “Fui muito bem com a camisa do Ceará, jogava sempre com o Estádio Castelão lotado, a torcida é muito apaixonada, não tinha sensação melhor que ter o nome gritado pelos torcedores em praticamente todos os jogos”, lembra. No Vovô, Paulo Sales atuou como titular praticamente todo o campeonato. “Eu tive a honra de jogar ao lado de Ronaldo Angelim, que durante muito tempo foi capitão também no Flamengo”, se orgulha. O Ceará em 1999 comandado por Arnaldo Lira e depois por Sérgio Ramirez jogava com: Jefferson; Paulo Sales, Váldson, Ronaldo Angelim e Reginaldo; Januario, Adriano, Dower e Maradona; Tosca e Aílton. A campanha foi suficiente para manter a equipe na Série B do Nacional. Naquela competição, Paulo Sales pela primeira vez jogou contra o time que o revelou, o destino o colocou frente a frente com o União São João, time de sua cidade natal, diferente de hoje, na época nenhuma cláusula do contrato o impediria de jogar contra o time detentor de seus direitos econômicos. Na ocasião, Paulo Sales foi o centro das atenções na mídia cearense, uma polêmica foi levantada, a dúvida era se o ararense faria ou não ‘corpo mole’ contra o time que o revelou para o futebol. “A semana que antecedeu o jogo foi muito tensa, participei de vários programas esportivos de TV e rádio para falar sobre esse duelo, as torcidas organizadas foram nos treinos pedir dedicação pra mim. Na concentração fui chamado pelo técnico Arnaldo Lira e pelo preparador físico Hamilton Tavares para uma conversa separada, eles me pediram o máximo de empenho no jogo, para que eu ganhasse de uma vez por toda a confiança da torcida”, recorda. A pressão foi tão grande, que só um bom futebol apagaria toda a desconfiança em cima dele. A tarefa de Paulo Sales naquele jogo não seria nada fácil, pois tinha que jogar bem e anular um dos melhores laterais da época, Léo que mais tarde foi ídolo no Santos e no Benfica de Portugal. “Ele jogava demais, eu sabia que teria muitas dificuldades, foi uma véspera de jogo tensa, praticamente não dormi naquela semana”, revela, Paulo Sales que garante que a sua carreira estava em risco. “Eu pensava muito no meu futuro, e sabia que se eu não fosse bem a desconfiança viria à tona, todo mundo iria me criticar e poderia até ter meu contrato rescindido e minha carreira poderia ficar comprometida, pois seria difícil eu provar o contrário, mas eu tinha a certeza do meu compromisso, pois era o Ceará quem me pagava o salário e eu queria provar ao União São João que poderia ter sido melhor aproveitado”, admite. A partida foi muito disputada, as duas equipes criaram chances de gols, mas o Ceará aproveitou o fator campo e a força da torcida no Estádio Presidente Vargas para vencer o União São João, por 1 a 0. Quis o destino que a jogada do gol fosse criada por Paulo Sales, foi dele o passe para o gol no finalzinho da partida. Depois do jogo, o ararense foi eleito o melhor jogador em campo, pois, com o apoio da torcida, Paulo Sales foi o responsável por seguidos dribles em cima do amigo Léo, com quem já havia jogado junto no próprio União São João, desarmou jogadas, foi a linha de fundo, fez cruzamentos perigosos, Paulo Sales simplesmente caiu no agrado da massa torcida cearense e criou até uma pequena crise no time que não o valorizou. “Eu entrei naquela partida como se fosse o último jogo da minha vida, não me intimidei, fui pra cima e graças a Deus consegui a confiança de toda a torcida, imprensa, comissão técnica e dirigentes do time cearense. No final do jogo fui muito elogiado, o Estádio inteiro gritou o meu nome”, conta. Paulo Sales foi tão bem, que provocou até a expulsão do amigo Léo do jogo. “Logo no primeiro tempo fiz uma jogada bonita e o Léo me parou com falta e recebeu o amarelo e no inicio do segundo tempo dei uma meia lua nele e ele me parou com falta e foi expulso, na época ele até brincou comigo no gramado, disse que eu estava de sacanagem e que provoquei a expulsão dele”, se orgulha. Ao deixar o gramado, Paulo Sales foi muito requisitado pelas emissoras de Fortaleza e de Araras para dar entrevistas. “Lembro que nas rádios de Araras eram só lamentações, os repórteres e comentaristas estavam indignados com a diretoria do União São João, que não me quis no elenco do time ararense”, relata. Outro episódio naquela noite marcou bastante para Paulo Sales. Foi a revolta do presidente José Mario Pavan com a derrota do União. “Eu demorei demais para deixar o gramado por causa das entrevistas e quando eu passei perto do vestiário do União em direção ao meu vestiário, eu escutei o Pavan aos gritos menosprezar os jogadores, ele gritava: ‘como pode um lateral que não serviu para o nosso time acabar com o jogo, vocês são uns bostas, uns filhos da puta’, a minha sensação naquele momento foi de dever cumprido”, desabafa Paulo Sales, que acrescenta. “Foi uma vitória particular minha, foi uma verdadeira resposta para quem não acreditou no meu futebol, eu provei para todo mundo que tinha condições, naquele momento eu tive a certeza de que Deus sempre foi justo”, finaliza. Coincidência ou não, depois daquela temporada de 1999, Paulo Sales nunca mais vestiu a camisa do União São João em competições oficiais, ele foi negociado em definitivo com o Ituano, onde jogou no ano de 2000. “Foi até engraçada a negociação, eu ainda jogava as últimas partida da Copa João Havelange pelo Ceará e eu estava concentrado em São Paulo para uma partida contra o São Caetano, o Oliveira Junior, presidente do Ituano na época chegou a concentração e pediu pra falar comigo, quando cheguei ao saguão do Hotel eu me deparei com um senhor de terno, cara fechada, que me cumprimentou e me perguntou se o conhecia, disse que não e que nunca tinha ouvido falar dele, ele me deu uma dura, perguntou se eu não lia jornal, se eu não acompanhava os noticiários de esporte, foi algo muito curioso”, conta. De acordo com Paulo Sales a visita de Oliveira Junior foi para informá-lo da aquisição dos seus Direitos Federativos. “Achei até estranho porque na minha visão, o União teria que me comunicar sobre a negociação, tanto que eu teria direito aos 15% do valor da transação”, disse Paulo Sales, que assinou contrato com o Oliveira Junior por cinco anos. Apesar de a transação ter sido feita sem a concepção de Paulo Sales, o lateral ararense estava empolgado com a oportunidade e ciente de que estava sendo valorizado no futebol.

A morte do pai Logo na sua apresentação ao Ituano para a disputa do Campeonato Paulista da Série A2, foi recepcionado pelo técnico Arnaldo Lira, o qual já havia trabalhado no Ceará. O ararense estava feliz da vida pela estabilidade de um contrato de cinco anos e ainda por jogar pelo Ituano, uma equipe tradicional do Estado de São Paulo, no entanto, um desastre na família, marcou para sempre a vida de Paulo Sales. O pai dele, Everaldo Carlos de Souza, em 2000, tinha 44 anos, estava prestes a se aposentar, pois havia acabado de deixar a Usina São João, onde trabalhou desde muito jovem. Naquele ano foi convidado para comandar uma equipe de trabalhadores no setor de açúcar na Usina Santa Lúcia também em Araras. “Meu pai não precisava mais trabalhar, restavam três meses para ele se aposentar, mas como ele não conseguia ficar parado resolveu aceitar esse convite de uma empresa terceirizada da Usina Santa Lúcia”, explica. A tragédia foi no dia 23 de janeiro. Era mais um dia normal de trabalho, mas um acidente grave na Usina Santa Lúcia tirou a vida do pai de Paulo Sales. Foi no período da tarde, seu Everaldo subiu em cima de uma sacaria de açúcar para fazer a contagem do material produzido, porém as pilhas mal feitas despencaram e a queda de uma altura de mais de sete metros foi inevitável. “Ele caiu e bateu a cabeça em uma barra de ferro, foi para o hospital e não resistiu, a queda foi fatal”, se emociona Paulo Sales. Na época, Paulo Sales recebeu a notícia do então sogro Irineu Casarin, pai da Érika Casarin, moça a qual namorou durante sete anos, no período de 1995 a 2002. “Eu vi o meu ex-sogro chegando ao treino em Itu. Ele sempre me incentivou, mas não era comum ele me ver nos treinos, ainda mais em Itu. Percebi que algo tinha acontecido”; recorda. Na ocasião, o lateral ararense imaginou que alguma coisa teria acontecido com a irmã Ana Paula de Souza. “Eu jamais imaginava que seria algo tão grave com meu pai, eu pensei que fosse algo com minha irmã, pois eu tinha dado um fusca de presente pra ela e sei lá, pensei que talvez ela teria batido de maneira leve, enfim nada que não pudesse ser resolvido”, conta Paulo Sales. A morte do pai deixou Paulo Sales transtornado, por isso, ficou um tempo em Araras ao lado da família. “Fiquei muito triste, aquilo foi como se fosse um fim de tudo pra mim, mas depois de algumas semanas conversei com minha mãe e minha irmã e resolvi voltar a jogar, pois não iria adiantar ficar só pensando no acontecido, me lamentando em casa”, relata. De volta ao trabalho, Paulo Sales precisou buscar muita força para focar na carreira, e deu certo, foi o dono da lateral direita do Ituano durante todo o primeiro semestre de 2000 no Campeonato Paulista da Série A2, na época deixou uma das promessas do time no banco de reservas, o também lateral direito Eduardo Arroz, que mais tarde fez sucesso na Ponte Preta. Apesar da boa campanha na competição, o time de Itu não conseguiu o acesso. Com o brilhante desempenho com a camisa do Ituano, o Ceará novamente solicitou o empréstimo de Paulo Sales para defender o clube até o final de 2000. Naquele ano não teve o Campeonato Brasileiro, as equipes disputaram a Copa João Havelange, competição organizada pelo extinto . O time cearense fez parte do módulo amarelo. O Ceará ficou em situação intermediária, o campeão foi o Vasco da Gama e o vice-campeão foi o São Caetano. O Ceará jogou a maioria das partidas na temporada de 2000 com: Jorge Pinheiro; Paulo Sales, Erivélton, Ronaldo Angelim e Seixas; Itamar, Gilmar Serafim, e Arlan; Marquinhos e Marcelo Silva. Em 2001, Paulo Sales se reapresentou ao Ituano, clube o qual tinha contrato, para a disputa mais uma vez da Série A2 do Paulista. O objetivo do clube era voltar a elite do estadual. No entanto, a campanha do Galo de Itu não foi a suficiente para conquistar o acesso, mas nos bastidores a diretoria conseguiu uma manobra, com a criação da Liga Rio/SP pela CBF, com isso a elite do Campeonato Paulista ficou esvaziada, e alguns times, que disputaram a Série A2 em 2001 foram convidados para jogar a elite em 2002, com isso, Ituano, Juventus e América de Rio Preto se juntaram a Etti Jundiaí e Santo André, que subiram na bola. O Ituano em 2001 jogou a maioria das partidas com: André Luis; Paulo Sales, Neto, Alan e Vinicius; Pierre, Richarlysson, Otacílio Neto e Élson; Osny e Fernando Gaúcho.

A decepção com o empresário Na metade do ano de 2001 a delegação do Ituano embarcou para a Europa para a realização de vários jogos amistosos com o objetivo de colocar em evidência os principais jogadores do elenco. “A idéia do presidente Oliveira Junior era negociar alguns atletas do elenco”, revela, Paulo Sales, que também estava na lista para ser negociado. Logo no primeiro jogo contra SC Freiburg, time da primeira divisão do futebol alemão, Paulo Sales teve uma enorme decepção, foi escalado para jogar de volante e não de lateral direito, sua posição de origem, a qual já estava adaptado. “O Geninho estava de treinador e a ordem que ele recebeu foi essa, me colocar de volante e escalar o Eduardo Arroz na lateral direita, na época ele tinha 17 anos e era uma das promessas do time. Fiquei um monstro, irritadíssimo e subi para o gramado com raiva”, recorda. Mesmo atuando na posição de volante, Paulo Sales foi um dos melhores em campo, foi dele a assistência para o gol da vitória do time brasileiro. “Eu estava com tanta raiva, mas com tanta raiva, que não perdi nenhuma dividida, joguei com raça, desarmei jogadas, dei trombada, tirei bola da risca do gol e ainda fui ao ataque e dei o passe para o Élson fazer o gol da vitória do nosso time”, declara. Depois da partida, empresários europeus que acompanhavam o amistoso das arquibancadas foram até o Hotel onde a delegação do Ituano estava concentrada. O meia Élson e o volante Paulo Sales foram os atletas mais requisitados. “Lembro que era um representante do Ajax da Holanda e outro do Arsenal da Inglaterra, eles conversaram comigo e com o Oliveira Junior e mais um intérprete. Eles queriam me contratar em definitivo”, relata Paulo Sales. No entanto, o sonho do jogador ararense de atuar em terras européias e conquistar a independência financeira não foram concretizados. Segundo Paulo Sales, os motivos foram a imposição e a ganância do empresário Oliveira Junior. “Na época eles (empresários) ofereciam um valor aproximado de R$ 1,5 milhão pelos meus Direitos Federativos, mas o Oliveira Junior só aceitava negociar por R$ 4 milhões, era mais que o dobro do valor e por isso o negócio não foi fechado”, lamenta. Depois de 15 dias na Europa, Paulo Sales retornou com a delegação do Ituano ao Brasil completamente arrasado e extremamente contrariado com a decisão de Oliveira Junior de não ter feito o negócio. “Perdi a maior oportunidade de minha carreira, ainda eu insisti com o Oliveira pedindo para que ele me negociasse, pois tudo o que eu queria era jogar na Europa. Com a negativa, minha relação passou a ficar estremecida, não queria mais ter vinculo com ele e nem jogar no Ituano”, relembra Mesmo indisposto com o empresário que o agenciava, Paulo Sales não tinha outra saída, por conta do investimento feito em sua carreira e do contrato assinado, ele tinha que permanecer vinculado ao Oliveira Junior. No segundo semestre de 2001 seu destino foi o Juventude de Caxias do Sul para a disputa da elite do futebol nacional. “O Zé Teodoro era o técnico do Juventude na época, ele me viu jogar pelo União São João e pediu minha contratação”, conta. No Juventude, o ararense integrou o elenco para a disputa da Série A do Campeonato Brasileiro de 2001, porém sob o comando de Zé Teodoro só atuou uma partida como titular porque o dono da posição estava suspenso, foi contra o Guarani no dia 19 de agosto pela quinta rodada da competição. “No grupo tinha o lateral direito Edinho, que era o jogador de confiança do Zé Teodoro, os companheiros do time ainda brincavam na época que o Edinho era o filho do homem (Zé Teodoro) e por isso dificilmente eu seria o titular”, brinca Paulo Sales. Depois de 13 rodadas sob o comando do técnico Zé Teodoro e uma campanha abaixo do esperado, a diretoria resolveu demití-lo e anunciou a contratação do já experiente Emerson Leão. “O Leão chegou na semana que antecedeu a partida contra o Cruzeiro pela 14ª rodada, logo no primeiro treino coletivo ele ficou assistindo da arquibancada do Estádio Alfredo Jaconi e na metade da atividade ele pediu para que o preparador físico Valmir Cruz me colocasse no time titular”, recorda. No time principal, Paulo Sales passou a se destacar e foi elogiado pela nova comissão técnica e pelos companheiros de time.“O Ranielli, que depois fez sucesso no Santos, me elogiava muito, ele gostava de me ver jogar e veio me dar uma força, ele dizia que eu tinha que aproveitar a confiança que o Leão estava depositando em mim”, recorda. No último treino antes da viagem para , onde o Juventude jogaria contra o Cruzeiro, Paulo Sales atuou apenas 15 minutos no time principal e foi substituído por Edinho. “Eu fiquei meio que pensativo, achei estranho porque o Leão me pediu pra que eu não treinasse mais, fiquei do lado de fora do gramado só assistindo”, conta. A ordem de Leão era uma estratégia para que a escalação não fosse divulgada com antecedência. “Assim que terminou a atividade, o técnico Emerson Leão e o preparador físico Valmir Cruz vieram conversar comigo separadamente, eles me informaram que eu seria o titular contra o Cruzeiro, pois teria a função de marcar o Sorín, mas era para eu guardar segredo e não revelar em hipótese alguma, esconder principalmente da imprensa”, revela. A notícia deixou o lateral ararense radiante, a única pessoa, que ele fez questão de informar foi a mãe, que estava em Araras na torcida pelo sucesso do filho. “Eu estava tão feliz com a possibilidade de ser titular, que eu queria contar para alguém, foi então que liguei pra minha mãe e foi uma alegria geral”, recorda.

A bronca de Leão Na concentração em Belo Horizonte por muito pouco a alegria de Paulo Sales não acabou em decepção. Rigoroso na questão disciplinar, o técnico Emerson Leão exigia comportamento exemplar e o uniforme do atleta tinha que estar impecável. “Eu estava com uma bolha no calcanhar, que me incomodava muito, mas eu queria estar em campo a qualquer custo, não seria aquela bolha que me tiraria do jogo, eu pedi pra que o massagista fosse ao meu quarto para que ele fizesse um curativo, ele passou uma pomada pra que a bolha secasse o quanto antes”, explica. Logo após o tratamento, Paulo Sales desceu para o jantar com o uniforme do juventude, porém com chinelos e não com tênis como previa a rigorosidade do técnico Emerson Leão. “Eu achei que ele fosse relevar por causa da bolha, engano meu, foi a maior bronca que eu levei até hoje. Na frente dos jogadores em tom áspero pediu pra que eu voltasse ao quarto e colocasse o tênis imediatamente e só depois descesse para o jantar”, recorda. Com o tênis, Paulo Sales desceu para o jantar com uma certa dificuldade, pois o calçado raspava na bolha, mas ao chegar no restaurante do hotel teve uma surpresa. “O Leão pegou o meu tênis e amassou o calcanhar, fez praticamente um chinelo e ainda me deu uma nova bronca, desta vez mais suave em tom de brincadeira, ‘ta vendo como da pra ficar de tênis’, os jogadores caíram na gargalhada”, relembra. Na chegada da delegação no Mineirão para o jogo contra o Cruzeiro, os profissionais mais procurados pelos repórteres para entrevistas eram o técnico Emerson Leão e o lateral Paulo Sales, pois a missão era descobrir a escalação do time, desvendar o segredo de quem seria o lateral titular do Juventude. A revelação só foi desfeita minutos antes de o time entrar em campo. “O Juventude só divulgou a escalação quando faltavam alguns minutos para o time entrar em campo e todo mundo ficou surpreso com o corte de Edinho e a minha confirmação no time”, se orgulha. Naquela partida, que marcava a estréia do técnico Leão, o Juventude perdeu no Mineirão, por 3 a 0 para o Cruzeiro, mas Paulo Sales fez bem o papel de anular o lateral argentino Sorín. “Apesar do resultado, fui muito bem no jogo tanto que o Sorín fez poucas jogadas, ele pediu até pra ser substituído”, recorda. Na oportunidade o Juventude jogou com: Diego; Paulo Sales, Juliano, Paulo César e João Marcelo; Marcos Senna, Lau, Marcelo Costa (Luciano Fonseca) e Ranielli (Marcio Pereira); Michel e Didi (Luis Fernando). O Cruzeiro jogou e venceu com: André Doring; Maicon, Cris, João Carlos e Sorín (Rodrigo); Marcus Vinicius, Rincón, Jorge Wagner e Alex (Sérgio Manoel); Ricardinho e Adriano Chuva (Oséas). Até o final da Série A do Brasileiro daquele ano de 2001, Paulo Sales foi o titular absoluto da lateral direita e contribuiu para que a equipe gaúcha permanecesse na divisão de elite do nacional. Sob o comando do técnico Emerson Leão, a equipe em 14 jogos, venceu três, empatou seis e perdeu cinco, terminou na 22ª posição com 30 pontos, três posições acima dos quatro rebaixados, que foram Santa Cruz/PE, Botafogo/SP, América/MG e Sport/PE. O campeão em 2001 foi o Atlético/PR, que venceu o São Caetano na final, por 4 a 2. Com o fim da temporada de 2001, Paulo Sales estava mais valorizado e se dirigiu até o escritório do Juventude para fazer os últimos acertos financeiros, já que seu contrato havia terminado, porém, teve uma surpresa, descobriu que estava sendo ludibriado. “O meu salário acertado entre o empresário Oliveira Junior e o Juventude foi de 15 mil reais mensais, porém o Oliveira só me repassava a metade desse valor, isso me deixou estarrecido e a minha vontade era de denunciá-lo”, revela. Temendo represálias, Paulo Sales preferiu não processá-lo. “Fui ameaçado por ele, disse que seu o denunciasse nunca mais eu jogaria em nenhum clube, pois ele dizia ser agente FIFA e por conta disso, ele tinha certo poder diante dos clubes, discutimos bastante e a confiança entre a gente já não era mais a mesma”, declara. A partir de então, o empresário Oliveira Junior passou a fazer o papel oposto de um agente, ao invés de ajudá-lo a conseguir um bom emprego passou a prejudicá-lo. O próprio Juventude o queria emprestado por mais um ano, mas Oliveira Junior fez questão de pedir um valor alto para não fazer o negócio “Só para me prejudicar, ele pediu um valor exorbitante, cerca de R$ 500 mil reais pelo meu empréstimo, montante três vezes maior do que ele havia solicitado no empréstimo anterior. Isso me lesou de novo, gerou uma nova discussão e a minha vontade era desfazer o contrato com ele, não podia ouvir falar o nome desse homem na época e o pior de tudo é que ele não aceitava rescindir o contrato comigo”, lamenta. Sem acertar com o Juventude, Paulo Sales retornou ao Ituano, time presidido por Oliveira Junior e que disputaria a elite do Campeonato Paulista de 2002 a convite da Federação. O atleta ararense começou a fazer a pré-temporada com o time de Itu, porém estava desanimado e sem nenhum ambiente para continuar trabalhando. “Eu não me sentia bem ali no Ituano, não queria ficar perto do Oliveira Junior, resolvi deixar os treinamentos e voltei a Araras pra ficar com a minha família”, declara. Após dois meses em casa, Paulo Sales recebeu uma proposta irrecusável do Atlético de Sorocaba para a disputa da Série A2 do Paulista. “Recebi uma ligação de um dirigente do Atlético, ele me ofereceu R$ 15 mil reais de salário para jogar a Série A2, comuniquei o Oliveira Junior do meu desejo de jogar no Atlético”, conta Paulo Sales que teve mais uma decepção com o empresário. “O Oliveira Junior me disse que no Atlético eu não jogaria, pois o relacionamento dele com os dirigentes do time não era bom e que ele iria acertar para eu jogar no rival São Bento, se eu recusasse teria que continuar parado em casa e receberia o que estava combinado na carteira de trabalho, R$ 1,500 reais”, relata. Mesmo contra a determinação do empresário, Paulo Sales se apresentou ao São Bento e disputou a Série A2 do Paulista no primeiro semestre de 2002. “Fui recebendo cerca de três mil reais, salário bem abaixo do que eu poderia receber se eu estivesse sido emprestado para o Juventude ou mesmo para o Atlético de Sorocaba”, lamenta. No São Bento, comandado pelo técnico Paulo Comelli, Paulo Sales atuou praticamente todas as partidas como titular na lateral direita e contribuiu para que a equipe terminasse a competição numa posição intermediária na tabela. No time de Sorocaba, o lateral ararense passou por dificuldades e relembra um episódio triste. “Tinha dia que o clube não oferecia nada para comer, a dificuldade financeira era terrível, quase toda semana era arroz e batata ou arroz e salsicha”, revela. O bom desempenho dentro de campo e as amizades com os profissionais da bola fora dele, faziam de Paulo Sales um jogador bastante requisitado. No segundo semestre de 2002, recebeu o convite do técnico Arnaldo Lira para jogar a Série B do Brasileiro pelo CRB () de Alagoas. Com a proposta em mãos, O lateral ararense ligou para o Oliveira Junior e falou do desejo de jogar pelo time alagoano, enfim o ararense recebeu uma notícia boa. O empresário estava disposto a romper o contrato, mas o acordo não foi nada justo para Paulo Sales. “Foi uma negociação de bandido, eu tinha dez mil reais de direito para receber, ele só depositou três mil e me deu um cheque de sete mil reais com um prazo de uma semana para depositar, nesse intervalo, viajei para Maceió, onde assinei contrato com o CRB e iniciei os treinamentos, no entanto, eu estava esperando um documento liberatório do Oliveira Junior para que eu pudesse ser inscrito pelo time alagoano, quando eu liguei para o escritório do Oliveira Junior solicitando essa liberação tive uma surpresa, ele me disse que só daria esse documento se eu abrisse mão do cheque de sete mil reais e depositasse na conta dele, aquilo me deixou irritadíssimo, pois era um dinheiro que eu havia conseguido na honestidade, era meu de direito, o chamei de filho da puta pra cima e desliguei o telefone na cara dele e comuniquei a situação aos dirigentes do CRB”, desabafa Paulo Sales. Disposto a contar com o futebol do ararense, os dirigentes do CRB aceitaram fazer um acordo com o jogador. “Eles me ofereceram cinco mil reais de luvas para que eu resolvesse com esse dinheiro a minha situação com o Oliveira Junior, acabei ficando com esse valor e depositei o cheque de sete mil reais na conta do Oliveira para que ele me desse à liberação, ainda assim perdi dois mil reais nessa negociação”, relata. Tanta decepção com o empresário deixou Paulo Sales fora de controle. “Lembro que logo depois do depósito e da liberação dos meus Direitos Federativos eu liguei para o Oliveira só para dizer a ele, que foi uma decepção ter trabalhado com ele e lembrá-lo que o mundo dava voltas, mas aí acabei falando algo a mais, o xinguei de bandido, filho da puta e muito mais”, desabafa. Sem mais nenhum vínculo com o agente, Paulo Sales ficou livre para negociar com as equipes, aos 24 anos defendeu o CRB no Campeonato Brasileiro da Série B de 2002. No CRB foi titular absoluto da lateral direita e ajudou a equipe do técnico Arnaldo Lira a fazer a quarta melhor campanha da história do clube na competição nacional, deixando o time na nona posição na classificação geral. No time alagoano o principal problema enfrentado foi a falta de salário, Paulo Sales fez contrato de seis meses e recebeu pagamento em apenas dois. O jogador entrou com uma ação judicial contra o CRB para tentar receber os quatro meses de salários atrasados. O processo ainda não foi julgado.

Sobre Oliveira Junior Élio Aparecido de Oliveira Junior foi empresário de grandes jogadores do futebol brasileiro, entre eles: Roberto Carlos e . Além do futebol, ficou conhecido também por atuar como político. Foi vice-prefeito da cidade de Itu e vereador na cidade de Ribeirão Preto. O desafeto de Paulo Sales foi apontado por mandar matar o advogado Humberto da Silva Monteiro, assassinado em Itu no ano de 2006 e pela acusação de tentar matar o radialista Josué Soares Dantas, que dirigia o carro que levava o advogado na época. Em Ribeirão Preto, em junho de 2013, Oliveira Junior foi condenado a um ano e 45 dias de prisão por direção perigosa, excesso de velocidade e desacato a autoridades. Em outubro de 2011, teve seu mandato de vereador cassado pelo Legislativo por quebra de decoro.

O reencontro Pelo time alagoano, Paulo Sales teve um jogo que não sai da memória, foi no reencontro com o time de sua cidade natal, o União São João de Araras pela Série B do Brasileiro no Estádio Rei Pelé, em Maceió com mais de 15 mil pessoas nas arquibancadas. Nesse novo duelo, o ararense não decepcionou de novo, ajudou a equipe nordestina a vencer, por 2 a 0 e Paulo Sales se destacou em campo, foi dele o passe que originou um dos gols da vitória. “Pois é, o destino nos colocou frente a frente de novo e mais uma vez provei o meu valor, fui bem no jogo, tive meu nome gritado pela torcida e sai vencedor de campo”, se orgulha. O duelo foi no dia 24 de setembro de 2002, o CRB comandado pelo técnico Arnaldo Lira jogou com: Rafael; Paulo Sales, Gelásio, Tárcio e Belchior; Gilberto Gaúcho, Lau, Marcelinho e Saulo; Missinho e Marciano. Já o União São João comandado pelo técnico Play Freitas atuou com: Neneca; Osmar, Marcio, Robson e Fernando; Branco, Bidú, Senegal e Zinho; Galvão (Aguinaldo) e Marcio Carioca (Marcinho). Depois de deixar o CRB no fim de 2002, Paulo Sales retornou a Araras, onde passou férias com a família. Sem empresário o atleta passou a agenciar a própria carreira. No inicio de 2003 recebeu um convite para defender o Flamengo de Guarulhos-SP, onde disputou a Série A2 do Campeonato Paulista no primeiro semestre, o curioso que o time tinha como técnico o Pardal, o mesmo que havia o dispensado, quatro anos anteriores no União São João de Araras. “O futebol é mesmo incompreensível, o mesmo treinador que não me quis no União São João, alegando deficiência técnica, foi quem me contratou para jogar no Flamengo/SP em 2003”, relatou. Apesar da incoerência, Paulo Sales foi titular do time, mas não conseguiu o acesso a elite do estadual, a equipe da grande São Paulo terminou o torneio apenas na quarta posição do grupo II com 22 pontos, foram 14 jogos com seis vitórias, quatro empates e quatro derrotas.

No Flamengo jogou com o tetracampeão Bebeto Na sua passagem pelo Flamengo de Guarulhos, um fato muito curioso envolveu o lateral ararense. “Um sheik milionário do Líbano era fã do futebol da dupla Bebeto e Romário, então para vê-los de perto, ele contratou um jogo do Flamengo do Rio de Janeiro para fazer um amistoso em Beirute na capital do Líbano contra o Nejmeh, só que na ocasião, o Flamengo do Rio não poderia viajar, pois disputava duas competições simultâneas, então a idéia foi repassar o convite ao Flamengo de Guarulhos incluindo na delegação o atacante Bebeto, já que o Romário não poderia participar. Foi o que aconteceu, o Sheik pagou para ver o Flamengo do Rio de Janeiro e na verdade viu o Flamengo de Guarulhos”, conta Paulo Sales com muita gargalhada. Na época, a delegação foi comandada pelo técnico Geninho e na chegada ao aeroporto de Beirute, Paulo Sales teve mais motivo para sorrir. “No time tinha o goleiro Fabiano, que também é de Araras e que jogou na Ponte Preta, Portuguesa, Cruzeiro/MG e América/MG, ele não era do time, mas foi como convidado para jogar no gol para a nossa equipe e na chegada da delegação em Beirute, alguns brasileiros que estavam de passagem pelo saguão do aeroporto, perguntavam pelos jogadores do Flamengo original e o Fabiano escondia o distintivo e dizia que realmente era o time principal do Flamengo do Rio de Janeiro e que só estava faltando o Romário”, declara Paulo Sales, que dispara mais gargalhadas. Para este jogo, o tetracampeão Bebeto não foi junto com a delegação do Flamengo de Guarulhos e sim em um vôo separado. Na chegada ao aeroporto no Líbano, o ex-craque foi ovacionado pelo público libanês e claro bastante paparicado pelo Sheik. “O Bebeto era a principal estrela da festa, ele atuou um tempo para cada time e foi uma experiência enorme ter jogado ao lado dele, mesmo que de maneira bizarra, vou guardar esse episódio para sempre, ele é uma pessoa muito humilde”, garante Paulo Sales, que bem humorado fez uma revelação. “O curioso nesse jogo aí foi que o Bebeto encheu o bolso de dinheiro, ganhou 800 mil reais só para participar desta festa e nós jogadores do Flamengo de Guarulhos ganhamos um lanche cada um e a sensação de ter jogado pelo Flamengo do Rio de Janeiro”, se diverte. A partida terminou, 3 a 0, para o time paulista. No elenco, além dos ararenses Paulo Sales e Fabiano, tinha também os atletas: Adriano, Henrique, Balu, Marcio, Ricardo, Betão, Bebeto, Rodrigo, Cortes, Binhu, Cleytinho, , Da silva, Danilo e Fabinho. De volta da viagem ao Brasil, Paulo Sales se desliga do Flamengo de Guarulhos e acerta com o Grêmio Esportico Glória de Vacaria/RS para a disputa da reta final da primeira divisão do futebol gaúcho de 2003. “É um time forte e de tradição do Rio Grande do Sul, fui titular em praticamente todos os jogos e tive o prazer de atuar nos tradicionais estádios de Porto Alegre, no Olímpico e no Beira Rio”, recorda. O Grêmio Esportivo Glória naquele ano foi comandado pelo técnico Luiz Carlos Gasparin, que na década de 70 atuou como goleiro do Internacional e do Grêmio. Ele faleceu aos 57 anos em janeiro de 2010, vítima de câncer no intestino. “Esse treinador era muito engraçado, lembro que ele gostava de tomar vinho. Ele dava coletivo na véspera do jogo, definia o time e no dia da partida ele mudava toda a escalação. Ele sonhava que um jogador que não tinha sido relacionado iria fazer o gol e pedia para chamá-lo às pressas, ele cortava o atacante que seria o titular e escalava o que nem tinha sido relacionado, e não é que em uma partida isso deu certo”, se diverte Paulo Sales, que acrescenta. “Tinha jogador que estava dormindo de chuteira para não ser cortado no sonho do treinador”, declara Paulo Sales sempre muito bem humorado. O time de Vacaria naquele ano terminou o estadual na oitava posição com 42 pontos, foram 12 vitórias, seis empates e oito derrotas. Na maioria dos jogos, o time gaúcho atuou com: Marcão; Paulo Sales, Careca, Marcelo Bolacha e Adaílton; Ricardo, Douglas, Canhoto e Elton Corrêa; Aldrovani e Marcelo Carioca. No ano de 2004, Paulo Sales novamente foi contratado pelo Flamengo de Guarulhos, o ararense jogou a Série A2 do Paulista e por muito pouco não conseguiu o acesso, sendo eliminado no quadrangular final. A Inter de Limeira ficou com o título e foi a única equipe que ascendeu a divisão de elite naquele ano, o Taubaté ficou com o vice-campeonato. “Fizemos uma boa campanha, atuei com o atacante Nilson, que jogou no Palmeiras e no Corinthians”, recorda. No segundo semestre de 2004, o destino do lateral ararense foi o Joinville para a disputa da Série B do Brasileiro. No elenco da equipe catarinense tinha jogadores conhecidos como o tetracampeão zagueiro Marcio Santos, o lateral direito Zé Carlos, que disputou a Copa de 1998, o zagueiro Willian que se aposentou no Corinthians e o atacante Didi com passagens por Ituano, Sport e o Corinthians. “No papel o time era muito bom, mas não conseguimos transformar essa qualidade na prática”, disse Paulo Sales. O Joinville foi rebaixado para a Série C do Nacional, terminou na 22ª posição com apenas 18 pontos, em 23 jogos foi a única equipe que não conseguiu nenhum empate, foram seis vitórias e 17 derrotas. Além do Joinville foram rebaixadas as equipes do Londrina, Remo, Mogi Mirim, América de Natal e América Mineiro. Brasiliense e Fortaleza ascenderam a divisão de elite. Comandado pelo técnico José Galli Neto, a equipe catarinense atuou a maioria das partidas em 2004 com: Marcelo Flores; Paulo Sales (Zé Carlos), Willian, Marcio Santos e Douglas; Carlos Alberto, Senegal, Jorge Mutti e Felipe; Maia e Didi. Com o rebaixamento no currículo e sem empresário, Paulo Sales encontrou dificuldades no ano de 2005 para assinar contrato com algum clube. “Nessa época um empresário gaúcho, Altacir Neto, entrou em contato comigo e disse que iria me ajudar a encontrar um clube para o ano de 2005, mas ficou só na conversa, viajei o Brasil inteiro e não sai de Araras”, brinca Paulo Sales, sobre as promessas feitas pelo agente. Em 2006, o destino de Paulo Sales foi o Mirassol para a disputa da Série A2 do Paulista. A equipe fez uma campanha razoável, conseguindo se manter na competição para o ano seguinte. Nesse mesmo estadual, Paulo Sales mais uma vez reencontrou com o União São João, clube de sua cidade natal, o jogo foi em Mirassol no dia 15 de Fevereiro de 2006 e terminou empatado em 0 a 0. “Foi novamente uma sensação incrível, deu frio na barriga e entrei em campo com a mesma determinação de sempre para ajudar o time que estava defendendo”, conta. Naquela partida, o Mirassol treinado por Varlei de Carvalho jogou com: Carlão; Paulo Sales, Eduardo Augusto, Eduardo Luís e Valder; Tião, Mosca, André Gaspar e Rubens; Ronaldo Paulista e Marcelo. O União São João comandado pelo técnico Gilmar da Costa atuou com: Carlos Carioca; Carabina, Renato Carioca, Moreira e Barone; Élson, Marcelo, Piá e Couracini; Rafael (João Fumaça) e Bruno (Jean Carlos). No segundo semestre, Paulo Sales voltou ao futebol cearense para defender o Icasa-CE, o convite foi do empresário e dirigente de futebol de Juazeiro do Norte, Kleber Lavor. “Ele era o mesmo do Ronaldo Angelim do Flamengo e bastante influente no futebol cearense, ele me viu jogar no Uniclinic-CE e no Ceará”, disse. Paulo Sales disputou a Série C do Brasileiro pelo Icasa. “Foi muito bom jogar lá, apesar de não ter chegado ao acesso, conquistei o carinho do torcedor do Icasa-CE”, garante. Em 2007, Paulo Sales se transferiu para o Vila Aurora-MT onde disputou o Campeonato Mato- Grossense no primeiro semestre. O convite foi do técnico Toninho Cobra. “Lá atuei ao lado do zagueiro Nilson, que hoje mora em Araras”, relembra Paulo Sales, que não conseguiu se adaptar ao clube. “Infelizmente não fui bem, o campeonato lá é de muita pegada, muito choque, fiquei mais no banco do que joguei”, conta Paulo Sales, que antes mesmo de terminar o campeonato resolveu rescindir o contrato e deixar o time. Paulo Sales então se transferiu para o Goianésia-GO, onde disputou a segunda divisão do , a equipe ficou na quarta posição e o objetivo de subir a elite não foi alcançado. Em 16 jogos foram nove vitórias e sete empates. Novo Horizonte e Anápolis foram às equipes que subiram naquele ano. Mesmo sem conseguir o acesso Paulo Sales foi um dos destaques do time, o ararense despertou interesse inclusive do Novo Horizonte, que o contratou para a disputa da elite do Campeonato Goiano de 2008. “Foi importante esse convite, pois era uma prova que tinha qualidade para jogar a principal divisão daquele estado”, explica Paulo Sales. No entanto, o desempenho da equipe no campeonato não foi nada bom e o Novo Horizonte acabou rebaixado. “Infelizmente o time não conseguiu se encaixar. Enfrentamos as equipes grandes de lá como: Goiás, Vila Nova e Atlético Goianiense”, conta. O Novo Horizonte ficou na lanterna com apenas 12 pontos. Em 17 jogos foram apenas três vitórias conquistadas e três empates, foram 11 derrotas no total. No segundo semestre de 2008, Paulo Sales não recebeu nenhum convite. Para não ficar sem atividade, resolveu manter a forma no União São João, pois sabia que a qualquer momento poderia aparecer alguma oportunidade e logo no começo de 2009 surgiu uma nova chance de voltar a jogar, desta vez foi contratado pelo Iporá-GO para a disputa da elite do Goiano, esse foi o último time em que Paulo Sales jogou profissionalmente. A campanha do time foi considerada boa, terminou a competição na quinta colocação com 13 pontos, atrás apenas das equipes que se classificaram para a sequência da competição. Em nove jogos, foram quatro vitórias, um empate e quatro derrotas. “Nesse campeonato eu atuei em todos os jogos, porém, nas últimas rodadas eu comecei a sentir um incomodo na panturrilha, quando eu fazia esforço doía bastante”, lembra Paulo Sales.

Contusão e o fim da carreira Com o fim do Campeonato Goiano e com as fortes dores na panturrilha, Paulo Sales resolveu voltar a Araras e sem vínculo com nenhuma agremiação recebeu o convite do gerente de futebol do União São João, Antônio Carlos Beloto, para defender o time ararense na Copa Paulista, apesar das fortes dores, resolveu aceitar a proposta e passou a treinar no estádio Hermínio Ometto, mas o inchaço decorrente da lesão na panturrilha o impediu de jogar. “Eu até forcei porque eu queria muito jogar pelo União São João, treinei alguns dias com dor, mas infelizmente não deu para jogar, achei melhor avisar a diretoria sobre a minha contusão e resolvi cuidar da minha saúde, tive que procurar um médico especialista para que fizesse um exame bem detalhado na panturrilha”, declara. Paulo Sales procurou o médico angiologista Dr. Humberto Rodrigues Junior, que tinha consultório na Rua Dr. Armando Salles de Oliveira no centro de Araras. “Sou muito grato ao Dr. Humberto Rodrigues Junior que me deu toda a atenção. Ele fez o exame e constatou que havia uma má circulação do sangue na minha perna esquerda, além de veias obstruídas, o período de minha recuperação seria de pelo menos oito meses”, recorda. Ao deixar o consultório e com o laudo em mãos, Paulo Sales decidiu encerrar a carreira de atleta profissional de futebol. “Conversei com minha família, amigos e não tive alternativa se não parar de jogar, pois o meu problema poderia se agravar caso eu insistisse em voltar aos gramados, então resolvi colocar a minha saúde em primeiro lugar e tomar a dolorosa decisão de por ponto final na minha carreira”, relata. O Dr. Humberto Rodrigues Junior, médico que diagnosticou a lesão de Paulo Sales, chegou a trabalhar no União São João de Araras e foi presidente da Associação Atlética Ararense, morreu no dia 29 de Junho de 2012, aos 53 anos, vítima de um infarto fulminante.

A vida fora dos gramados Logo que encerrou a carreira em 2009, já estava decidido que fixaria residência em Araras e que entraria para algum grupo político para ajudar o povo de Araras de alguma forma, principalmente com atividades voltadas ao esporte. O primeiro convite de filiação foi do PT do B, partido o qual disputou as eleições municipais de 2012, teve 242 votos e não conseguiu se eleger como vereador. “Eu disputei a eleição a pedido do presidente do partido, Marcelo Vilhena, sou muito grato pelos votos que recebi e apesar de não ter sido eleito vou continuar trabalhando para ajudar a descobrir jovens talentos para o esporte de Araras” declara. Atualmente, Paulo Sales desempenha a função de coordenador do projeto Futuro Craque na Prefeitura Municipal de Araras, ministrando aulas no campo de futebol, que fica na Rua Piracicaba no Jardim São João e na quadra do Centro Esportivo Ruy Branco de Miranda, no Jardim Alvorada. “Meu objetivo não é transformar grandes craques e sim ensinar as crianças a se tornarem cidadãos no futuro”, admite o ararense, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental e têm planos ambiciosos para o futuro. “Minha vontade é fazer uma faculdade na área de educação física, me aprimorar em diversos cursos para que um dia eu trabalhe no futebol profissional como treinador ou dirigente”, conta Em 16 anos de carreira, Paulo Sales não conquistou a independência financeira, porém reformou toda a casa, onde mora com a mãe e a irmã no jardim São João, possui um terreno no jardim Alvorada e tem um carro popular. O ararense lamenta não ter jogado em um clube grande. “Não tive nenhuma oportunidade de jogar em clubes grandes como: Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos, talvez é o sonho de todo profissional, principalmente para conquistar a independência financeira, mas infelizmente nenhum convite desses clubes apareceu”, admite o ararense. Hoje aos 36 anos Paulo Sales é solteiro e se considera uma pessoa bastante tímida. “Quem não me conhece até me acha metido, mas na verdade é meu jeito simples e quieto, mas depois que eu pego confiança ninguém segura mais a amizade, hoje graças a Deus sou rodeado de amigos e sempre sou convidado para eventos na cidade, bem como participar de jogos beneficentes e de brincadeiras com outros ex-jogadores”, finaliza.

Campagnollo

ÍDOLO NO NOROESTE Campagnollo lamenta não ter ficado no Corinthians

Viril, raçudo, lutador, características, que fizeram do zagueiro Campagnollo um vencedor, um líder e capitão em praticamente todos os clubes por onde jogou. Tanta determinação, por pouco não atuou no time do seu coração, o Corinthians, chegou a fazer exames médicos no time da capital, mas o alto valor do passe (Direitos Federativos) pedido pelo Noroeste na época tirou o sonho do então jovem zagueiro de defender as cores do Timão. Mais tarde, pelo Taubaté, recusou uma oferta de suborno. Marco Antônio Campagnollo nasceu em Araras, no dia 18 de abril de 1970, filho de pais separados, Geraldo Campagnollo e Maria Aparecida Dente Campagnollo, é o caçula de três irmãos, Geraldo César Campagnollo 50 anos, Maria Inês Campagnollo, 52 e Silvana Campagnollo, 48. Quando criança cresceu no jardim Cândida, na adolescência mudou-se com a mãe e os irmãos para a região do jardim Itália. Sua trajetória no futebol começou em 1984, na Inco, era uma entidade denominada Clube Esportivo e Cultural Juventude Ararense da década de 80, que acolhia crianças e adolescentes para praticar esporte. No ano seguinte, em 1985 foi para o infantil do Araruna FC. “Meu primeiro treinador foi o Nelson Generoso, o popular Nenê Cavalinho, foi ele quem me deu a primeira oportunidade de jogar futebol”, recorda. Na época, um fato curioso chamou a atenção do zagueiro. “Todo treino a bola parecia nova, mas na verdade a profissão do Nenê Cavalinho era pintor e ele aproveitava para pintar a bola também. Com tanta tinta, a bola ficava dura, a gente cabeceava e a tinta ficava no cabelo”, se diverte. Nesse mesmo ano de 1985, surgiram as categorias Infantil (Sub-15) e Juvenil (Sub-17) do União São João, todos os garotos que treinavam no Araruna passaram a jogar no União São João, os treinos foram mantidos no Oratório Dom Bosco, no jardim cândida. “Eu lembro que eu amarrava a chuteira na bicicleta, e pedalava do Jardim Itália até o Oratório do Jardim Cândida”, lembra. Nessa época, as equipes de base faziam preliminares para o time profissional do União São João, no Estádio Engenho Grande. “Para nós molecada era uma glória, a gente ía de Perua e vestia o uniforme no vestiário do Estádio Engenho Grande”, relembra. Campagnollo treinava o dia todo e estudava na escola Cesário Coimbra no período da noite. No ano de 1989, depois de defender o Sub-15, do técnico Rubinho e o Sub-17 do técnico Canela, foi promovido para o Sub-20 do União São João do técnico Aílton Lira. Neste ano, disputou o Campeonato Paulista da categoria, foi vice-campeão, perdeu a final para o Botafogo de Ribeirão Preto. No primeiro jogo, o União foi derrotado no Estádio Santa Cruz, por 6 a 0, no jogo da volta, empatou em 1 a 1, no Estádio Engenho Grande. O time ararense jogava com: Salomão, , Campagnollo, Beto Médice e Roberto Carlos; João Paulo, Cebola e Luis Carlos; Edvaldo, Zé Eduardo e Daniel. “Esse time era muito bom, lembro que nessa época estavam sendo promovidos para o Sub-20, o zagueiro Fabinho, o volante Vagner, o Alexandre meio- campista e o atacante Israel, só tinha fera”, conta. No ano seguinte em 1990, o União disputou a Copa São Paulo de Futebol Junior, que foi de 5 a 25 de janeiro, o zagueiro Campagnollo, foi mantido no time, mas ganhou uma concorrência. “Poucas pessoas sabem, mas este árbitro conhecido internacionalmente, que faz parte do quadro da FIFA, Wilson Luiz Seneme, jogou no União São João comigo, ele veio emprestado do São Carlos”, recorda. Ao invés de concorrente, Seneme foi um companheiro, pois fez dupla de zaga com Campagnollo na competição em que o time de Araras fez parte do grupo D com sede em Piracicaba, na chave tinha ainda as equipes do: Palmeiras, Bahia, Bragantino, Valeriodoce-MG e o XV de Piracicaba, o União não passou da primeira fase. Naquele ano, o Flamengo-RJ foi o campeão. O time ararense treinado por Aílton Lira jogou com: Salomão (Dino); Nunes, Wilson Luiz Seneme, Campagnollo e Roberto Carlos, Beto Médice, João Paulo, Luis Carlos e Bela; Zé Eduardo e Daniel. Com o passe (Direitos Federativos) na época pertencente ao União São João, Campangnollo acabou sendo emprestado para a Associação Caçadorense de Desportos, da cidade de Caçador-SC. “Lembro que tinha 20 anos, fui sozinho de ônibus, viajei 13 horas de São Paulo até Caçador, interior de Santa Catarina, fui ansioso para me apresentar no clube que me contratou”, recorda. O zagueiro ararense disputou a elite do Campeonato Catarinense de 1990, mas o frio e a saudade da namorada, Maclaine Aparecida Gomes, que ficou em Araras, não deixavam o atleta a vontade. “O frio era impressionante, antes de dormir eu tinha que ligar um forno perto da cama para esquentar, a temperatura era abaixo de 0, sem contar que eu tinha começado a namorar e a saudade era muito grande, eu chegava a preparar minha mala para voltar pra casa, mas o roupeiro avisava o presidente do time, ele ia me buscar na rodoviária, me insistia pra eu ficar”, conta. Hoje o clube está extinto, na época a equipe foi rebaixada para a segunda divisão do Estadual, o Criciúma foi o Campeão e por isso, ganhou o direito de disputar a Copa do Brasil, no ano seguinte. No segundo semestre de 1990, Campagnollo retornou ao União São João e acabou dispensado. “Quando eu retornei, os dirigentes do União São João não quiseram que eu ficasse no clube, o José Mario Pavan, que já era o presidente na época, acabou me dispensando”. A partir daí, o destino do zagueiro ararense foi o Noroeste de Bauru. “O Adinan Adão, que tinha jogado comigo no União, também tinha sido dispensado no começo do ano e foi jogar no Noroeste, foi ele quem me indicou no clube, por isso sou muito grato ao Adinan”, relata. Apresentado no novo clube, o zagueiro com 21 anos, precisou passar por uma avaliação. Aprovado pelo então técnico Marco Antônio Machado, começou a fazer parte do elenco de Juniores do time Noroestino, onde compôs o elenco, que disputou naquele ano, o Campeonato Estadual. “Em Araras e no Caçadorense eu era chamado mais de Marquinhos, mas quando cheguei ao Noroeste e passei no teste, nunca mais vou esquecer, o diretor do Noroeste na época, Alceu Rodrigues, o Banha, deixou claro que meu nome no futebol a partir daquele momento seria só Campagnollo, segundo ele, seria mais fácil negociar com o futebol Italiano”, disse rindo bastante o zagueiro ararense. Ciente de que a tarefa de permanecer no clube não seria nada fácil, passou a se dedicar nos treinos, afinal seu objetivo era no mínimo ser titular dos Juniores. Suas pretensões não paravam por aí, antes de chegar ao profissional, tinha que fazer parte do elenco de Aspirante, comandado pelo técnico Basílio. “A carreira de jogador na época não era fácil, tinha que batalhar sempre, era tão concorrido, que eu não conseguia sequer ser titular do Sub-20 na época. Lembro que eu ficava esquecido no clube, ninguém me conhecia, mas um dia eu estava no lugar certo e na hora certa”, conta, orgulhoso. Foi no ano de 1990, uma categoria acima do Sub-20 e uma abaixo do profissional, chegou a final do Campeonato Paulista, era o time de Aspirante, comandado pelo técnico Basílio. A decisão foi contra o São Paulo e o jogo foi a preliminar da final caipira daquele ano entre Bragantino e Novorizontino, o jogo foi no dia 26 de agosto na cidade de Bragança Paulista. “Lembro que no dia em que a delegação viajaria para a concentração em Bragança Paulista eu estava de folga, o Sub-20 não teria treino, então fui até o Alceu Rodrigues, o Banha e pedi uma carona no ônibus, já que para viajar até Bragança Paulista, ele passaria perto de Araras”, conta. O dirigente na época ouviu a solicitação do zagueiro ararense e pediu um tempo para verificar a possibilidade, já que o ônibus partiria apenas na manhã seguinte, e quando chegou à noite, a surpresa. “Normalmente a comissão técnica colocava a lista dos relacionados para os jogos no alojamento do clube, onde ficavam os jogadores tanto da categoria Juniores, como da categoria Aspirantes, e para minha surpresa meu nome estava entre os atletas que iriam viajar para o jogo decisivo”, se espanta. Na ocasião, Campagnollo achou estranho, pensou até que fosse algum engano, quando veio a confirmação. “O próprio Alceu Rodrigues, o Banha, me deu a informação que os quatro zagueiros do Aspirante estavam machucados e por isso eu teria que ser relacionado para a partida. Foi a minha maior alegria, era a oportunidade da minha vida”, recorda. Campagnollo viajou com a delegação, ficou concentrado e foi para a decisão como a primeira opção de zagueiro no banco de reservas. “A dupla de zaga titular do Noroeste naquele jogo foi Mauricio Cosin e Modesto, dois bons jogadores, inclusive o Cosin estava negociado com o Benfica, por meio do empresário português Manoel Garcia”, conta. Se o zagueiro ararense já estava radiante com a oportunidade de fazer parte do elenco da final, quanto mais atuar na partida e logo aos cinco minutos de jogo, uma nova surpresa. “O Cosin com medo de se machucar naquela final, já que ele estava negociado com o futebol português, simulou uma contusão e pediu para sair do jogo, isso foi logo no começo da partida, o treinador Basílio me chamou, passou algumas orientações e entrei na partida. Fui o melhor em campo, ganhei vários prêmios individuais e a partir dali foi o começo de uma história fantástica no Noroeste, nossa equipe foi Campeã Paulista de Aspirante em cima do todo poderoso São Paulo”, relembra. Naquele jogo, o Noroeste venceu o São Paulo, por 2 a 1, sob o comando de Basílio, a equipe atuou com: Hélio; Marcos Coco (Luis Claudio), Mauricio Cosin (Campagnollo), Modesto e Adinan Adão (Celinho); Adaílton, Vandinho e André; Edmundo, Dumba e Marquinhos Yamamoto. O São Paulo na ocasião treinado por atuou e perdeu com: Marcos; Vitor, Rosinei (Esquerdinha), Gilmar e Menta; , Claudio e Baiano; Sidnei (Alemão), Emerson e Elivélton.

Palmeiras e Corinthians Após a conquista, Campagnollo, voltou a Bauru e passou a fazer parte dos planos do time principal para a disputa da Série B do Brasileiro de 1991 e assinou o seu primeiro contrato como jogador profissional. “Lembro que recebia o equivalente a R$ 500 reais por mês na época, era talvez o menor salário do time, mas isso não importava, o que eu queria mesmo era fazer parte do time profissional, foi uma satisfação e tanto”, declara. Naquele ano, o Noroeste promoveu o técnico João Roberto Basílio, para o time principal, o time fez uma boa campanha e terminou a competição na 8ª posição com 21 pontos, foram 18 jogos, 9 vitórias, 3 empates e 6 derrotas. O Noroeste jogou a competição com: Dorimar; Marcos Coco, Vitor Hugo (Marcio Rossini), Campagnollo e Evandro; Vandinho, Gilberto Costa e Baiano; Charles, Ronaldo Marques e Marquinhos Yamamoto. O bom desempenho de Campagnollo naquele Campeonato Paulista despertou interesse do Palmeiras no zagueiro ararense. A indicação foi do próprio técnico do time de Palestra Itália na época, o Nelsinho Batista. “O Nelsinho Batista estava na arquibancada do Estádio Alfredo de Castilho em Bauru, ele foi ver os atacantes Charles e Marquinhos do Noroeste jogarem, mas só que ele me elogiou demais, inclusive ele se reuniu com o presidente Caio Coube do Noroeste na ocasião para me contratar, mas a diretoria pediu muito alto pelo meu passe (Direitos Federativos) e o negócio não deu certo e acabei permanecendo no Noroeste, lembro que a repercussão foi grande inclusive pela imprensa”, orgulha-se. Para a vaga que seria de Campagnollo, o Palmeiras contratou em 1992, o zagueiro Edinho Baiano, que atuava pelo Joinville. No segundo semestre de 1991, Campagnollo fez parte do elenco, que disputou o Campeonato Paulista da divisão de elite, grupo amarelo. O time de Bauru terminou a competição na quarta posição com 28 pontos. Em 26 jogos, foram nove vitórias, dez empates e sete derrotas. Em 1992, o Noroeste disputou a Série B do Brasileiro novamente, foi de 9 de fevereiro a 14 de abril, Campagnollo foi titular praticamente em todas as partidas e por muito pouco, não entrou ainda mais para a história do time de Bauru, é que na última rodada, quis o destino, que Campagnollo enfrentasse o time que o dispensou dois anos antes, em 1990, o União São João, time de sua terra natal. Naquela partida, o Noroeste precisava de uma simples vitória para subir a Série A, já o União São teria que vencer por dois gols de diferença e ainda dependeria de uma combinação de resultados, tudo deu certo para o time ararense, já o Noroeste permaneceu na Série B, mesmo assim, a campanha é considerada uma das melhores da equipe em competições nacionais. Foram 13 pontos conquistados em 14 jogos, sendo cinco vitórias, três empates e seis derrotas. Na época a vitória valia dois pontos. O Noroeste jogou a competição com: Hélio; Jorge Raulli; Amarildo, Campagnollo e Clodoaldo; Evandro, Claudio, Luis Claudio e Paulo Leme; Marco Aurélio e Vaguinho. “Este jogo é pra ficar para sempre na história, nem eles sabiam que tinham conquistado o acesso e o curioso foi ter enfrentado o time da minha cidade, mas não encarei como revanche não, pra mim foi um jogo normal, só lamentei pelo resultado, gostaria de ter colocado o Noroeste na Série A”, admite. No segundo semestre de 1992, o Noroeste disputou a elite do Campeonato Paulista, que foi de 4 de julho a 20 de dezembro. Comandado pelo técnico Marco Antônio Machado, alguns reforços foram contratados, entre eles o goleiro ararense Silvio Roberto Marola. Campagnollo e Marola passaram a ser os representantes de Araras no Noroeste de Bauru. A fase de Campagnollo era tão boa, que ele passou a ser o capitão do time, já que se tornava um líder e um zagueiro de respeito. “Este ano foi o meu auge no Noroeste, No Paulista, fizemos uma das melhores campanhas da história do clube”, recorda. Foram nove vitórias, sete empates e 10 derrotas, o time terminou na nona posição. Neste estadual, Campagnollo se lembra de três jogos, que ficaram marcados na história, um é contra a Portuguesa, o qual ele fez o gol da vitória, no Estádio Alfredo de Castilho, o jogo terminou 1 a 0. “O goleiro da Portuguesa era o Rodolfo Rodrigues, já era fim de tarde, ele reclamava com a arbitragem que o refletor precisava ser acesso, ele alegava não estar enxergando. Lembro que a partida ficou paralisada por uns 20 minutos. Quando o jogo recomeçou, nós passamos a pressionar o time deles e aos 47 minutos, no fim do jogo, fiz o gol da vitória aproveitando um lance de escanteio”, lembra. Outro jogo inesquecível foi contra o maior rival, o Marília fora de casa, Campagnollo fez um golaço, o mais bonito da carreira. Ele pegou a bola ainda na intermediária e foi driblando praticamente todo o time adversário, inclusive o goleiro, e por respeito não entrou com bola e tudo. “Foi um gol de placa, fui aplaudido até pela torcida do Marília”, conta. O outro jogo marcante foi contra o Botafogo de Ribeirão Preto, a equipe perdia em casa por 4 a 1, e virou o jogo, vencendo, por 5 a 4. Um jogo com 9 gols e um final feliz. “Esse jogo foi memorável, nem mesmo o torcedor noroestino esperava essa virada, teve torcedor que foi embora antes de terminar a partida e quando chegou em casa escutou o resultado pelo rádio, e certamente não acreditava no resultado”, conta. Naquele Estadual, o Norusca jogava com: Silvio Roberto Marola; Jorge Raulli, Amarildo, Campagnollo e Clodoaldo; Claudio, Luis Claudio, Robert e Zé Rubens; Marco Aurélio (Vaguinho) e Charles. O zagueiro ararense foi tão brilhante na temporada, que voltou a ser procurado por um time de grande expressão do futebol brasileiro, desta vez pelo Sport Club Corinthians Paulista, que tinha como técnico o mesmo Nelsinho Batista, que no ano anterior havia indicado o zagueiro para o Palmeiras. Campagnollo esteve em São Paulo, vestiu o uniforme de treino do Corinthians, foi aprovado nos exames médicos, mas na hora de assinar o contrato os dirigentes das equipes não entraram em acordo. O Corinthians queria o zagueiro ararense por empréstimo de seis meses, já o Noroeste só aceitava negociar em definitivo. Campagnollo seria o substituto de Marcelo Djian, que foi negociado na época com o Lyon da França, no entanto, o sonho de defender o time do coração não se tornou realidade. “O Noroeste não me liberou, de tanto dinheiro que tinha na época, talvez não precisasse negociar jogador, mas quem saiu prejudicado fui eu, os dirigentes pediram 300 mil dólares pelo meu passe, era muito dinheiro na época. Sei que meu salário era de 800 reais no Noroeste e no Corinthians eu passaria a ganhar cerca de 50 mil reais, era um sonho e minha independência financeira que estavam em jogo”, lembra. Campagnollo não esconde a mágoa. “Foi a única mágoa que guardo do futebol, poderia ter chegado no auge jogando em um dos maiores times do futebol mundial e o qual eu torço desde a minha infância. Deveria ter sido mais exigente e ter negado voltar ao Noroeste na época, mas como sou honesto e confio nas pessoas, deixei nas mãos dos dirigentes e o resultado não foi favorável a mim”, lamenta. O zagueiro continuou no Noroeste no ano seguinte. No ano de 1993, o calendário do futebol brasileiro se inverteu, alguns Estaduais passaram a ser no primeiro semestre e o Campeonato Nacional, passou para os últimos seis meses do ano. No Campeonato Paulista daquele ano, o zagueiro ararense foi mais uma vez o titular e capitão do time, se a fase de Campagnollo neste ano era boa, da equipe nem tanto, a trajetória da Locomotiva foi uma das piores da história, foi o lanterna do grupo Verde do estadual e o resultado foi o rebaixamento para a Série A2, no ano seguinte. A campanha do time é pra ser esquecida, foram 30 jogos disputados, conquistou apenas cinco vitórias, seis empates e um total de 19 derrotas. A equipe começou com o técnico Artur Neto e depois Baroninho, ex- jogador do próprio clube, assumiu o time. Naquele ano, o Noroeste jogava com: Silvio Roberto Marola; Chiquinho, Monteiro, Campagnollo e Adnan Adão; Claudecir, Marcos Roberto e Marcos Severo, Sérgio Clavero, Marco Aurélio e Evandro. O jogo, que mais chamou a atenção neste Campeonato foi no dia 18 de Abril de 1993, contra o Mogi Mirim, que tinha o carrossel caipira formado por Leto, Válber e , que marcou um dos gols mais bonito de sua carreira, foi do meio campo. “Neste jogo, nós abrimos o placar, fizemos 1 a 0, era época que os jogadores faziam coreografia nas comemorações, e nós começamos a imitar um sapo, mascote do Mogi Mirim, isso foi uma provocação para eles. A bola saiu no meio campo e o Rivaldo chutou direto para o gol, o nosso goleiro era o Ronaldo, ele estava adiantado e foi um golaço, perdemos o jogo por 4 a 2”, recorda. Com o rebaixamento no Estadual e sem recursos financeiros para disputar a Série B do Brasileiro no segundo semestre, o então presidente do clube na época, Inocêncio Medina Garcia, decidiu repassar a vaga para o Mogi Mirim. Sem nenhuma atividade no segundo semestre de 1993, o Noroeste emprestou praticamente todos os jogadores do elenco, o destino de Campagnollo, primeiro foi o Barretos, onde disputou a Série A3 do Estadual, lá foi comandado pelo técnico Zé Rubens, pai do volante Vagner, que foi do União São João, São Paulo, Santos, Vasco, Roma-ITA e Celta de Vigo-ESP. Ficou no Touro do Vale apenas dois meses, a equipe não conseguiu o acesso e o zagueiro deixou o clube e foi emprestado mais uma vez pelo Noroeste, desta vez para o Mineiros-GO, time que disputaria a divisão de elite do Campeonato Goiano. “Fizemos uma das melhores campanhas da equipe no Campeonato Goiano, perdemos a chance de ir para a final para o Goiás, ficamos em 3º lugar”, conta. Em 1993, o time do interior goiano somou 58 pontos, em 42 jogos, foram 21 vitórias, 16 empates e apenas cinco derrotas. Na final, o Vila Nova foi melhor, que o Goiás e ficou com o título. Segundo Campagnollo, o Mineiros-GO jogava com: Luis Henrique, Henrique, Valter, Campagnollo e Paulo Miranda; Vinicius Eutrópio, , Daniel Junior; Leleu, Betão e Edmilson. No ano seguinte, primeiro semestre de 1994, Campagnollo com 24 anos, ainda vinculado ao Noroeste, foi emprestado para o Velo Clube, onde jogou a Série B do Paulista, a quarta divisão do estadual. “No inicio da competição, os dirigentes do Velo que contrataram os jogadores, mas depois de algumas rodadas, o presidente do União São João, José Mario Pavan e o vice Iko Martins, assumiram a administração do Velo Clube e outros jogadores foram trazidos para reforçar a equipe ”, relata. O Rubro-Verde fez uma de suas melhores campanhas e só não conseguiu o acesso pelo critério de saldo de gols. “Nós terminamos o Campeonato em primeiro junto com o Fernandópolis e a Inter de Bebedouro, todos com 44 pontos”, recorda. Neste ano apenas o Fernandópolis subiu para a Série A3, já que o regulamento permitia apenas um acesso, Velo Clube e Inter de Bebedouro permaneceram na Série B. O Velo Clube jogou em 94 com: Birigui; Rossi, Nilson, Campagnollo e Adinan Adão; Edilson, Carlos Alberto, Geninho e Pedrinho; Washington e Luis Carlos. O técnico era Valter Zaparolli. Depois de dois anos, em 1995, Campagnollo voltou ao Noroeste, desta vez para disputar a Série A3 do Paulista, onde conquistou o título e o acesso. “O Noroeste não atravessava um bom momento financeiro, então alguns jogadores do próprio clube, foram chamados de volta, mesmo assim nós conseguimos o acesso e conquistei meu segundo título no clube, já tinha conquistado em 90 pelo Aspirante, desta vez foi pelo profissional”, afirma. Comandado pelo técnico Luis Carlos Martins, o Norusca foi campeão este ano jogando com: Vagner; Claudemir Peixoto, Campagnollo, Valder e Haroldo; Miranda (ararense), Cláudio, Adriano Ninja e Marquinhos Bariri; Tequila e Nilson. “Nesse time tinha ainda o Maquinhos Yamamoto, o Chiquita e o Mano, eram bons jogadores, tínhamos um elenco muito forte”, ressalta o zagueiro ararense. Em 1996, Campagnollo permaneceu no grupo para a disputa da Série A2 do Paulista, que foi de 25 de fevereiro a 28 de julho. A equipe ficou apenas na intermediária, neste ano a Inter de Limeira e a Portuguesa Santista foram promovidas a divisão de elite. O time de Bauru comandado pelo técnico Norberto Lopes jogava com: Marcos Garça; Anísio, Valder, Campagnollo (Rogério) e Carlão; Pedro, Cláudio, Bariri e Cuman; Fumacinha (Marquinho da Barra) e Nilson (Marquinhos Yamamoto). No segundo semestre de 1996, Campagnollo foi defender o Garça FC, na Série B do Paulista e conseguiu o acesso a Série A3 daquele ano, junto com Grêmio Mauaense e Jaboticabal. Em 28 jogos, a equipe conquistou 13 vitórias, nove empates e apenas seis derrotas. O time treinado pelo técnico Luisinho jogava com: Zé Luis; Ananinas, campagnollo, Cléber e Rogerinho, Doriva, Jeferson e Willian; Nadiel, Marinho Rã e Gil. Em 1997, voltou ao Noroeste, desta vez para disputar a Série A2 do Paulista, que foi de 23 de fevereiro a 27 de julho. Neste ano, o time de Bauru fez parte do grupo 2 junto com: Comercial, Corinthians de Presidente Prudente, Francana, Matonense, Novorizontino, Paraguaçuense e XV de Jaú. Comandado pelo técnico Vitor Hugo, o Noroeste terminou a competição na última colocação e acabou rebaixado para a Série A3. O time jogava com: Ronaldo, Marquinhos, Rogério (André Requena), Campagnollo e Carlos Henrique; Wellington, Claudecir, (Baiano) e Mathias (Douglas); Marco Antônio e Tequila. “Infelizmente o time não encaixou, foi a maior tristeza da minha carreira, já que o Noroeste é um time que gosto muito, e chorei vários dias, não conseguia acreditar no rebaixamento”, recorda. Com o fim do Estadual, Campagnollo foi convidado pelo técnico Marcio Rossini para jogar no futebol Matogrossense, foi defender o União de Rondonópolis. “Lembro que fiz um contrato de dois meses apenas, fui disputar as finais do Estadual”, conta. A competição naquele ano terminou no mês de agosto, a decisão foi entre Operário e União Rondonóplis, Campagnollo ficou com o vice-campeonato, perdendo a final, por 2 a 1, para o Operário. O União Rondonópolis-MT, jogou com: Marcão; Saci (Valdeir), Campagnollo (Carlão), Cocão e Tinganá; Moreira (Gustavo), Adilson, Maranhão e Everaldo (Índio), Bugrão e Newton. O Operário foi campeão jogando com: Edilson, Josenilson (Laércio), Marcio, Araújo e Chiba; Jonas (Carlinhos), Bimba, Siqueira e Neymar (Renatinho); Niltinho Goiano e Laurinho. O time era comandado pelo técnico Gil Alves os gols do título foram marcados por Dito Siqueira e Laurinho, Maranhão fez o de honra para o União Rondonópolis. “Tinha uma curiosidade nesse time, que nunca esqueço. O lateral Saci e o Índio atacante, eles não conheciam dinheiro, se eles pegavam uma nota de 10 reais, por exemplo, eles tinham que trocar por 10 notas de 1 real, só assim eles sabiam, se tivesse uma de 50 reais no meio, eles estavam enrolados”, se diverte o zagueiro ararense. No ano seguinte, em 1998, Campagnollo se desvinculou de uma vez por todas do Noroeste. “Depois de sete anos de contrato chegou ao fim meu ciclo no Noroeste, fiquei com os Direitos Federativos e me transferi para o Taubaté”, conta.

Suborno Neste ano, a equipe do Vale do Paraíba tinha como presidente Edgar Soares, que é publicitário, jornalista e já foi três vezes vice-presidente do Corinthians. “Vários jogadores experientes foram contratados, a idéia dos dirigentes era formar um time com jogadores que já tinham subido com outras equipes”, explica. O Taubaté começou a Série A3 com o técnico Mauro Mânica, ele foi demitido e Paulo Comelli, acabou contratado. O Burro da Central jogou a maioria dos jogos naquele ano com: Marcos Garça; Renatinho, Romildo (Jéci), Campagnollo (Evandro) e Luis Almeida; Miranda (ararense), Ado, Puma e Geraldo (Silva); Fabinho Fontes e Luciano Henrique. No inicio do Campeonato, um fato curioso aconteceu com Campagnollo. Numa partida contra o Taquaritinga, o zagueiro ararense foi substituído antes de começar a partida, o próprio zagueiro relata o fato com bom humor. “Nunca vi isso no futebol até hoje, acho que só aconteceu comigo mesmo. Antes desta partida contra o Taquaritinga eu havia torcido o joelho em Jaboticabal, fiquei a semana inteira em tratamento, mesmo assim fui escalado para o jogo. Entrei em campo com o time, saudei a torcida e quando comecei a aquecer, senti uma dor forte no joelho, lembro que o árbitro estava procurando o capitão para fazer o sorteio do campo, eu estava caído, precisei ser substituído e acabei saindo de maca”. Campagnollo foi submetido a uma cirurgia. “A pedido do Edgar Soares, fiz a operação com o médico, Joaquim Grava, e todo o tratamento foi feito no Corinthians”, relata. Após dois meses de recuperação, Campagnollo voltou a treinar, recuperou a condição de titular e claro a faixa de capitão, uma vez que, ele era um dos líderes do elenco. O Taubaté fazia naquele ano uma brilhante campanha, classificou-se para a segunda fase e caiu no grupo ‘D’ junto com Nacional, Ferroviária e Inter de Bebedouro. O outro grupo, o ‘C’, era formado por São Caetano, Jaboticabal, Atlético de Sorocaba e Garça. O melhor de cada chave fazia a final e apenas o campeão subiria a Série A2, do ano seguinte. Depois de seis partidas, em jogos de ida e volta, Taubaté e São Caetano fizeram as melhores campanhas e decidiriam o título e a única vaga do acesso. O Burro da Central em seis jogos, venceu quatro e perdeu dois, foram 12 pontos conquistados, a equipe estava a uma vitória do tão sonhado e desejado acesso. Já o Azulão conseguiu quatro vitórias e dois empates, foram 14 pontos conquistados. As duas equipes eram finalistas, o primeiro jogo estava marcado para o dia 16 de agosto no Estádio Joaquim de Moraes Filho, em Taubaté. A alegria de Campagnollo por estar na final era indescritível, tanto que na semana antes da decisão fez um churrasco de comemoração com a família e os amigos em Araras. O assunto era a final, que aconteceria no fim da semana. “Eu estava feliz, eu era só alegria, ficava pensando no Estádio lotado, na alegria que a gente poderia proporcionar aos torcedores e a uma cidade inteira”, conta. Durante a confraternização em família, um telefonema indesejável e surpreendente, que fez mudar o destino do zagueiro titular absoluto e capitão da e quipe do Vale do Paraíba. “Uma pessoa aqui de Araras infiltrada no futebol, que eu gostaria de preservar o nome, telefonou na minha casa e me pediu pra que eu fosse até a casa dele. Chegando lá, para minha surpresa, uma proposta indesejável, que me deixou horrorizado”, relata. Foi uma tentativa de suborno, que Campagnollo explica com detalhes o acontecido. “Essa pessoa me ofereceu uma mala de dinheiro para que eu não jogasse o primeiro jogo da final, era tanta grana, que na época meu salário era de 2 mil reais por mês e a oferta foi de 80 mil reais, dava para comprar uma casa tranqüilamente” relata. O pagamento seria feito antes mesmo do jogo. “Se eu aceitasse, essa pessoa me pagaria na véspera da partida e o encontro para eu receber o dinheiro seria na rodovia Anhanguera”, conta. De pronto o zagueiro ararense recusou a oferta e ainda fez questão de comunicar o fato aos companheiros da equipe. “Na hora e sem pensar um segundo sequer eu não aceitei a oferta, disse que jamais faria algo do tipo e tenho muito orgulho por isso. Na viajem de Araras para Taubaté, onde iniciaríamos a preparação para a decisão, eu até comentei com o Miranda e o Paulo César, que estavam comigo no carro, mas preferi não levar adiante e não falei nada com a comissão técnica e os dirigentes”, explica. Durante os treinos de preparação para a final, o técnico Paulo Comelli sem explicação nenhuma e para surpresa do zagueiro ararense, tirou Campagnollo do time titular. “Fui perguntar ao Paulo Comelli o motivo pelo qual ele estava me tirando do time titular, ele me disse que estava escondendo o jogo. Lembro que a imprensa vinha me entrevistar e eu já alertava que não seria titular”. A situação causava estranheza ao zagueiro ararense, que tinha mais uma missão na semana, discutir a premiação caso a equipe conquistasse o título e conseqüentemente o acesso. “Foi a discussão mais rápida do futebol brasileiro”, ironiza. “Lembro que o valor pedido na época foi aceito imediatamente, sem discussão nenhuma, aliás, o Edgar Soares, presidente do time, até dobrou o valor e ainda nos ofereceu um carro para rifarmos e dividirmos o valor entre todos os jogadores. Foi algo atípico que aconteceu, não era comum no futebol, normalmente os jogadores pedem um valor, os dirigentes recusam e gera uma discussão de alguns dias, foi mais uma situação estranha, porque o valor oferecido, talvez eles nem teriam para pagar”, declara. No dia da partida, a confirmação, Campagnollo na reserva. “Fiz questão de entrar por último com as meias abaixadas e sem as caneleiras, sabia que estava sendo injustiçado. A torcida inteira do Taubaté vaiou a postura do técnico Paulo Comelli e cobrava uma explicação sobre a minha ausência no time titular”, declara. O São Caetano venceu o primeiro jogo, por 4 a 2, e o jogo da volta no ABC, por 1 a 0. O Azulão subiu a série A2 e o Taubaté permaneceu na Série A3. Campagnollo não tem dúvidas de que foi a maior decepção que teve na carreira de jogador, além de não ter conquistado o acesso, ainda teve que ver do banco de reservas a tristeza de um estádio lotado e uma cidade inteira. Para o ararense, a sensação é de que o clube trocou o acesso pelo dinheiro. Com o fim da competição, Campagnollo deixou o Taubaté e se transferiu para o Marília, que estava disputando a Série B do Campeonato Paulista, a quarta divisão do estado. O MAC até que fez uma boa campanha, se classificou para a segunda fase, no entanto, não conseguiu o acesso, o Oeste de Itápolis foi quem ascendeu a Série A3, naquele ano. Em 1999, o zagueiro ararense e outros jogadores de Araras como o goleiro Silvio Roberto Marola e o zagueiro Miranda foram convidados pelo treinador, Adaílton Ladeira para jogar pelo Araçatuba, já que uma empresa estaria assumindo a administração do clube. “Não deu nada certo, ficamos uma semana em um hotel de luxo lá na cidade e depois fomos comunicados, que a empresa não permaneceria mais no clube” disse. Seu destino então foi a Inter de Bebedouro, disputou a Série A3 do Paulista, a competição foi de fevereiro a agosto de 1999, a equipe terminou a competição em nono lugar. Em 22 jogos, foram 10 vitórias, cinco empates e sete derrotas, um total de 35 pontos. A melhor campanha foi do Rio Preto, que sagrou-se campeão em cima do Oeste de Itápolis na final e subiu a Série A2 do Paulista naquele ano. No ano seguinte, em 2000, indicado pelo amigo e também jogador Beto Médice, Campagnollo foi defender o URT, o União Recreativa dos Trabalhadores, da cidade de Patos de Minas. Em terras mineiras, Campagnollo disputou a Taça Minas Gerais, equivalente ao primeiro turno da elite do Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil. No estadual, conquistou o bi-campeonato, já que no ano anterior, em 1999, a URT também havia ficado com o título. A URT fez uma campanha impecável, foram oito vitórias, três empates e apenas duas derrotas em 13 jogos disputados, foram 27 pontos conquistados e a confirmação do título veio na última rodada, mesmo com a derrota para o Ipatinga, por 3 a 2, a equipe foi beneficiada pelo empate, em 1 a 1, entre Uberlândia e Caldense. Já na Copa do Brasil, a URT foi eliminada pelo Fluminense, o primeiro jogo em casa, foi 1 a 1 e o jogo da volta no Rio de Janeiro, vitória carioca, por 2 a 1. “Lembro que foi uma aventura esse jogo no Rio de Janeiro, fomos de ônibus de Patos de Minas até o Rio de Janeiro, uma viajem longe e cansativa. A nossa equipe estava toda uniformizada com o agasalho de frio do time e a cidade estava com quase 40º graus de calor, não tínhamos outra roupa para trocar”, relembra. Nessa época a URT era comandada pelo técnico Gildázio Barboza, a escalação do time era: Zé Luiz; Pedro Luiz, Davi, Campagnollo e Rafael; Pael, Gilberto Pereira e Ditinho; Marco Aurélio e Jorginho. “O time era muito bom, a estrutura era fantástica, quase sempre minha família me visitava, conta. Na cidade de Patos de Minas a rivalidade é muito grande entre a URT, que utiliza o uniforme na cor azul e o Mamoré, o uniforme na cor verde. Por conta desse fanatismo, um fato curioso aconteceu com o zagueiro ararense. “Meu enteado foi ver o treino com uma camisa verde, o diretor de futebol na época, Edson Vaz Rocha, me chamou na sala dele e me repreendeu, me alertou para que isso não voltasse a acontecer. Pois lá não entra ninguém de verde, pois são as cores do rival”, relata. No segundo semestre de 2000, Campagnollo foi contratado pelo Londrina para a disputa da Copa João Havelange. A apresentação do zagueiro no clube paranaense foi no dia 15 de agosto, sua estréia na competição nacional foi cinco dias mais tarde contra o América-RJ, no Estádio do Café. Treinado por Valter Ferreira, o Londrina jogava com: Jorcey; Edu Guarujá, Alex, Campagnollo e André Luiz; Senegal, Alexandre Lins, Vinicius e Chapecó; Vagner e Jhonson. Foi a pior campanha da história do Londrina, ficou em último lugar no grupo A do módulo Amarelo. Foram apenas nove pontos conquistados em 17 jogos, duas vitórias, três empates e 12 derrotas. “Nesse ano só não passei fome porque tinha feito umas economias de times anteriores. Lembro que o diretor de futebol do time na época andava de moto-taxi, só para você ter idéia de como era a situação financeira do clube, se o dirigente estava assim, imagine os jogadores”, conta. Se Campagnollo não recebeu um mês sequer de salário no Londrina, pelo menos conheceu o Brasil, viajou por todos os estados e jogou nos principais campos de futebol do país. “Eu não vi a cor do dinheiro, mas eu posso falar com muito orgulho, joguei em importantes estádios de futebol em todo o Brasil”. Em 2001, com 31 anos, Campagnollo foi contratado pelo União Bandeirantes, time do interior paranaense, para a disputa do Campeonato Estadual, que foi de 20 de janeiro a 3 de junho. “Foi o melhor contrato que fiz na minha carreira, o time era bancado pela Usina da cidade e revelou muitos jogadores”, recorda. A equipe era comandada pelo técnico Cláudio Antunes e jogava com: Bizu; Cesco; Ricardo, Campagnollo e Preto; Vandinho, Marcio José, Carlos Ednaldo e Jabá; Edinho e Brandão. A equipe ficou na oitava posição do com 19 pontos. Em 18 jogos, foram cinco vitórias, quatro empates e nove derrotas. Neste ano de 2001, o Atlético/PR foi o campeão e o Francisco Beltrão foi o único rebaixado. Com o fim do estadual e do contrato com o time paranaense, Campagnollo voltou ao futebol paulista, novamente para jogar no Taubaté no segundo semestre de 2001, mas uma grave contusão muscular, o impediu de atuar pelo time do Vale da Paraíba. “Eu não era muito de me machucar, mas durante um treino no Taubaté, sofri uma grave contusão no músculo da coxa e fiquei o segundo semestre inteiro de 2001 em recuperação, fiz todo o tratamento em Araras”, conta. A contusão serviu também para Campagnollo começar a pensar no fim da carreira como atleta profissional, mas o telefone não parava, convite para continuar jogando não faltava. Recuperado da lesão no fim de 2001, o zagueiro ararense foi para o Garça, onde se apresentou no inicio de 2002 para a disputa da Série A3 do Campeonato Paulista. “Disputei todo o campeonato no primeiro semestre, não recebi nada de salário e fiquei desiludido com o futebol”, lamenta. Em 2002, aos 32 anos, Campagnollo resolveu encerrar a carreira, o Garça FC foi o seu último clube, o qual atuou profissionalmente. “Não estava mais com paciência para continuar jogando, os clubes passaram a não pagar mais os jogadores, estava longe de minha família e resolvi neste ano de 2002 colocar um ponto final na minha trajetória no futebol”, relata. Com uma carreira brilhante, Campagnollo tornou-se um ídolo da torcida do Noroeste de Bauru, tanto que no centenário do clube, comemorado no dia 1º de setembro de 2010, ele participou da festa. “Infelizmente não fui homenageado pelo clube, apenas fui convidado para o jogo, isso me deixou um pouco triste, mas mesmo assim revi muitos ex-jogadores, ex-treinadores e amigos da imprensa. A torcida foi ao delírio quando eu entrei em campo, o estádio inteiro gritou meu nome”, recorda.

Jogos marcantes Enquanto jogador, Campagnollo, garante ter tido dificuldades em atuar contra alguns atacantes. “Um jogador muito difícil de marcar era o Evair, aquele time do Palmeiras de 1992 era muito difícil jogar contra. Lembro que perdemos, por 1 a 0 no Parque Antarctica e disputei uma bola com o Edmundo e joguei ele nas placas de publicidades, ele ficou louco da vida comigo e ficou o jogo inteiro me prometendo revidar”, lembra. Para Campagnollo, o paraguaio Gamarra foi o melhor zagueiro, que ele já viu jogar. “Eu me inspirava muito no Gamarra, ele era fantástico, muito técnico. Por pouco não joguei com ele no Corinthians”, relembra. Se dentro de campo, Campagnollo impunha respeito, fora dele tem muitos amigos como: Adinan Adão, ex-lateral esquerdo do União e do Noroeste, Claudecir, volante que defendeu as cores do São Caetano e Palmeiras, Claudio, zagueiro que passou pelo Noroeste, União São João, Palmeiras e Flamengo, Odair que jogou junto com ele no União São João, Beto Médice zagueiro, Nilson zagueiro, Velloso, Paulo Salles, Miranda e Israel. “São ex-jogadores, que a gente tem mais contato, alguns cheguei a jogar junto”, declara. Após 18 anos como atleta profissional e passagem por 14 times, Campagnollo deixou o futebol sem ter guardado um mínimo de dinheiro. “Encerrei minha carreira em 2002 sem ter comprado uma casa para morar, eu tinha apenas um Fiat Uno de 1990, que precisei vender e passei a andar de bicicleta, que comprei para pagar em 10 vezes”, relata. Para o zagueiro ararense não ter jogado em um grande time e não ter recebido salário em diversos clubes por onde passou, foram determinantes para não ter feito a independência financeira. “Na minha trajetória no futebol só recebi certinho no União São João, Velo Clube, Inter de Bebedouro, União Bandeirantes e no URT-MG”, afirma. Apesar de ter ficado pendência no Noroeste, foi lá onde fez um dos melhores contratos de sua carreira. “Foram nas temporadas de 92 e 93, fiz um bom contrato, sem contar o União Bandeirantes, que recebi até fundo de garantia. No Taubaté, o salário não foi pago certinho, mas as premiações recebi direitinho”, relata. Receoso, Campagnollo garante não ter cobrado nenhum time na justiça.”Eu nunca fiz isso, achava que esse tipo de atitude seria prejudicial a minha carreira e dificultaria possíveis transações com outras equipes”, garante. De acordo com o ex-zagueiro só no Noroeste deixou de receber cerca de 80 mil reais. “Em 1995, eles não pagaram ninguém e foi o ano que subimos para a Série A2. Mas, se tivesse acionado a justiça teria recebido isso porque o Damião Garcia assumiu o clube em 2003 e pagou todas as ações trabalhistas, sei de jogadores que receberam tudo”, relata. Aos 32 anos, praticamente sem estudo, havia concluído até o quarto ano do ensino fundamental e com a certeza que não jogaria mais profissionalmente, Campagnollo voltou a morar com a mãe Maria Aparecida Dente Campagnollo e a irmã excepcional Maria Inês Campagnollo em uma pequena casa nos fundos no jardim Itália, em Araras. “Era apenas três cômodos, eu dormia em um colchão no quarto. Vivi nessa situação até 2005, quando me casei pela segunda vez”, declara. Com a necessidade de se sustentar, Campagnollo começou a procurar trabalho e mais uma vez reencontrou o amigo Adinan Adão, que já havia parado como jogador e treinava as categorias de base do Comercial FC no Estádio Joel Fachini em Araras. “Fui pedir emprego para ajudar o Adinan Adão no Comercial”, conta. Neste ano de 2002, o projeto era comandado pelo empresário ararense Iko Martins. “No inicio eu passei a ganhar 100 reais por mês para ser treinador dos goleiros, depois de um ano ganhei uma chance de ser treinador do Sub-13 aí meu salário subiu para R$ 600,00”, explica. Em 2004, Campagnollo conseguiu um emprego como inspetor de aluno na Uniararas, Centro Universitário Hermínio Ometto, foi um convite do amigo e ex-jogador Miranda. Depois de um tempo conciliando o trabalho na faculdade com a de treinador no Comercial, resolveu ficar apenas com o emprego na Faculdade e a busca pela formação do segundo grau na Escola Francisco Graziano. “Resolvi correr contra o tempo, fiz supletivo na escola Francisco Graziano de 2004 a 2006 e consegui concluir o segundo grau”, orgulha-se A partir daí, a vida profissional do ex-jogador caminhava a passos largos para um novo sucesso. “Como eu era funcionário da Uniararas, ganhei uma bolsa de estudo e me formei na área de Educação Física em 2011”, orgulha-se. Com a nova formação, Campagnollo deixou o trabalho de Bedel na Uniararas e passou a se dedicar na nova profissão. Foi professor na extinta Academia de futebol F7, em Rio Claro-SP, onde ganhou experiência. “Foi um trabalho fantástico, o projeto tinha como objetivo formar cidadão e desenvolver atletas”, conta. Em 2012, Campagnollo recebeu a primeira oportunidade em um time profissional, foi contratado para desempenhar a função de auxiliar do técnico Laudenir Lopes no Sub-20 do Velo Clube, na disputa do Campeonato Paulista. A alegria por estar buscando o sucesso na nova carreira foi ofuscada com a morte da mãe, em novembro de 2012. Dona Maria Aparecida Dente Campagnollo morreu, vítima de uma doença renal. Apesar da tristeza de perder uma das pessoas que mais amava, Campagnollo resolveu buscar forças e de cabeça erguida resolveu continuar forte com o seu propósito de revelar novos talentos, mas desta vez como técnico principal do Sub-20 do Velo Clube, que disputaria a Copa SP de Futebol Junior de 2013. Competente e muito dedicado na nova profissão, Campagnollo conseguiu uma campanha fantástica, perdendo apenas nas quartas de final para o Palmeiras, jogando em Barueri. “Mesmo assim, jogamos de igual para igual contra o Palmeiras, infelizmente não conseguimos avançar, mas a campanha foi acima do que esperava os dirigentes”, relata. Na oportunidade, o Velo Clube conseguiu se classificar em primeiro lugar na fase de classificação, deixando o forte Fluminense em segundo lugar. Na segunda fase eliminou o Inter-RS. Com o sucesso a frente do Velo Clube, Marquinhos Campagnollo não demorou muito para despertar interesse de outras equipes e seu destino foi o Mogi Mirim, onde foi o técnico do time Sub17 e auxiliar do técnico João Burse no Sub-20, conquistando o título de Campeão Paulista da categoria, ao derrotar na final o Botafogo de Ribeirão Preto. O primeiro duelo em Mogi Mirim, o time de Campagnollo venceu, por 4 a 2 e, no jogo da volta em Ribeirão Preto, empate por 3 a 3. Apesar do sucesso, o presidente do Mogi Mirim, o ex-craque Rivaldo, resolveu encerrar as atividades nas categorias de base do clube e o técnico do Sub-20, João Burse, acabou se transferindo para o Vitória-BA, enquanto que Campagnollo foi contratado pelo São Carlos, para dirigir a categoria Sub-20, onde realiza uma das melhores campanhas da equipe no Campeonato Paulista da categoria neste ano de 2014.

Família Marco Antônio Campagnollo casou-se duas vezes. No primeiro casamento com Maclaine Aparecida Gomes, teve o seu único filho Marcus Vinicius Dias Campagnollo, hoje com 20 anos. “Conheci a minha primeira esposa quando jogava pelo União São João em 1989, oficializei o casamento em 1993, e tive meu filho em 1994, eu jogava no Velo Clube em Rio Claro”, lembra. A separação aconteceu em 1998. Hoje Maclaine vive com o filho em Santo André, no ABC paulista. “Meu filho chegou a jogar no Santo André, São Caetano, fez testes no União de Araras e no Ituano, mas ele preferiu se dedicar mais aos estudos e se formou em Educação Física na USP, em São Paulo. Nas férias ele sempre vem passar na minha casa, fica 30 dias aqui comigo, é uma alegria só”, se orgulha. Campagnollo casou-se novamente em 1998 com a ararense Magda Rosane Rodrigues, moça a qual já conhecia desde à época de escola. Na fase adulta, os dois se encontravam sempre profissionalmente, já que ela era gerente do antigo banco Noroeste, em Araras, e cuidava da conta bancária do então jogador. No entanto, Magda também era casada nessa época e teve um filho, Ricardo Bonfante, hoje com 23 anos, formado em odontologia. “Ela não sabe, mas eu confesso que paquerava ela no banco, mas nos aproximamos mesmo, quando nós dois estávamos separados e nos conhecemos na choperia Pilek’s, em Araras”, admite. Depois de seis anos de namoro, Campagnollo e Magda, oficializaram o casamento no ano de 2005. Hoje eles moram em uma casa própria no condomínio fechado Villagio Loreto, na zona leste de Araras, bem em frente ao Estádio Hermínio Ometto. Emotivo, Campagnollo não esconde o orgulho de ter sido jogador de futebol e de atualmente ter o apoio da família na nova carreira de treinador. “Amo minha família toda. Sou grato a Deus por tudo o que ele me reservou e ainda vai me proporcionar”, finaliza.

Wilson Zanon

UM CRAQUE VENCIDO PELAS LESÕES Wilson Zanon, primeiro ararense a vestir a camisa da Seleção Brasileira, vítima de acidente ficou entre a vida e a morte.

Wilson Roberto Zanon foi um dos maiores craques, que a cidade de Araras viu nascer. Dono de uma habilidade desconcertante, o meio-campista foi o primeiro atleta profissional nascido na cidade de Araras a vestir a tão gloriosa camisa da Seleção Brasileira e foi mais além, deixou nada mais nada menos que Paulo Roberto Falcão na reserva. No entanto, uma lesão sofrida no joelho, quando ainda atuava pela Ponte Preta no começo da carreira, o impediu de desfilar seu talento nos gramados por mais tempo. A força excessiva de um jogador adversário fez um gênio da bola ser vencido pela contusão. Se dentro de campo não suportou a violência, fora dele, conseguiu se superar de um destino cruel do trânsito. Um acidente de carro em Andradina, região de Presidente Prudente, interior de São Paulo, o deixou entre a vida e a morte. Wilson Roberto Zanon, o popular Xixo, nasceu no dia 26 de março de 1956 na maternidade Condessa Marina Crespi, em Araras. Filho de Roberto Zanon e Benedita Rosalén Zanon. É o caçula de mais quatro irmãos: Vilma Zanon, Valter Zanon, Vanda Zanon e Valdete Zanon. Sua infância sempre foi no bairro São Benedito em Araras, região conhecida por ter muitas famílias tradicionais da cidade. Ainda menino sempre foi apaixonado por futebol, suas brincadeiras preferidas eram jogar futebol nas ruas do bairro. Filho de pais religiosos, desde criança sempre frequentou as missas da Igreja de São Benedito. Quando completou 7 anos de idade em 1963 foi coroinha e em quase todas as celebrações ajudava o Padre a rezar a missa. Sempre se pautou pela educação e boas maneiras, foi um jovem muito estudioso. O primeiro grau concluiu na Escola Estadual Coronel Justiniano Whitaker de Oliveira no período da manhã. “Eu era dedicado, não gostava de faltar às aulas, queria sempre aprender. À tarde, na minha casa, eu fazia as tarefas da escola e depois saía para jogar futebol nas ruas com os colegas”, conta. Sem muitas opções de lazer na época, o jeito era improvisar um pequeno campo de futebol nos terrenos do bairro, os golzinhos eram feitos de bambu. “Naquele tempo a nossa diversão era jogar futebol, era minha brincadeira preferida até porque não existia toda essa tecnologia que tem hoje, então o jeito era correr atrás da bola”, declara. Com um talento apurado desde criança, Wilson não demorou muito para se destacar neste esporte. Em 1969 com 13 anos passou a fazer parte do time Araras Kids, que contava com jovens de 12 a 17 anos. Os treinos eram perto da casa dele, no Estádio Joel Fachini. Bastou alguns treinos para Wilson Zanon mostrar toda a sua habilidade e categoria. Tanto talento o fez titular da equipe ao lado de outros líderes do time como Carlitinho Dadona e Nê Colombini. Apesar da paixão pelo futebol e sempre priorizar os estudos, Wilson Zanon sabia que o trabalho era essencial para a sua sobrevivência, o que menos ele queria era ficar na dependência dos pais, tanto que seu primeiro emprego foi com apenas 15 anos de idade como auxiliar de escritório na extinta Tecelagem Irmãos Lagazzi, localizada na Avenida Loreto. Com tantos afazeres, a rotina de Wilson Zanon passou a ser cansativa. Trabalho, estudo em técnico em contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Araras e ainda treinamentos toda a semana no Araras Kids no Estádio Joel Fachini. Pelo time ararense, Wilson fez vários jogos amistosos contra Guarani e Ponte Preta, afinal eram equipes de tradição e que buscavam talentos em dezenas de cidades da região. “Lembro que joguei um amistoso contra o Guarani e logo que acabou, um dirigente veio me parabenizar pelo meu desempenho e me pediu pra fazer um teste no Brinco de Ouro em ”, recorda. Wilson ficou todo feliz com o elogio e com o convite. “Fui para casa e comuniquei meus pais. Foi a maior alegria, mas como eu era um menino muito simples e com pouco conhecimento da vida fora de Araras, acabei recusando esta oportunidade”, admite. A decisão deixou o pai de Wilson, Seu Roberto, muito triste, pois o sonho dele era ver o filho brilhando nos gramados pelo Brasil a fora. “Meu pai me incentivava muito, ele sempre me falava para eu encarar a carreira de jogador de futebol”, relembra. Com a recusa, o jovem garoto continuou a rotina em Araras. “Sempre fui uma pessoa muita caseira na infância, eu gostava de jogar futebol, mas gostava também de ficar perto da minha família”, explica. Dois anos mais tarde, Wilson Zanon com 17 anos, recebeu um novo convite, desta vez para jogar na Ponte Preta. “Um olheiro da Ponte Preta estava na arquibancada do Estádio Joel Fachini e me viu jogar um amistoso, mas ele não veio conversar comigo, durante a semana ele enviou uma carta na minha casa com um papel timbrado para que eu fosse fazer um teste na Ponte Preta. Incentivado pela família, deixou o emprego e já com o segundo grau e o curso técnico em contabilidade concluídos resolveu se dedicar ao futebol atendendo principalmente os anseios do pai. A viagem a Campinas foi de ônibus. Apesar do jeito simples e tímido não desperdiçou a chance logo na primeira avaliação no Estádio Moisés Lucarelli. Aprovado, Wilson Zanon foi comunicado que a partir daquele momento seria jogador da Ponte Preta e passaria a morar no clube. “Lembro que me dedicava muito nos treinos, as atividades eram sempre em dois períodos, tinha apenas uma folga por semana”, conta. No alojamento da Ponte Preta Wilson Zanon lembra que sofreu nas mãos dos jogadores mais experientes, aqueles que atuavam no time principal da Macaca. “Naquela época era comum no futebol os jogadores mais veteranos se aproveitarem dois mais jovens. Lembro bem que na minha folga em Araras, minha mãe enchia minha mochila de biscoitos, quando chegava no alojamento os jogadores do profissional na época tomavam da gente e não podia falar nada, éramos uma espécie de ‘bicho de faculdade’ deles. O Manfrini e o Chicão eram os mais folgados”, revela. Apesar da timidez e dos obstáculos a serem superados, Wilson Zanon nunca desistiu de se tornar um jogador de futebol profissional. Seu objetivo era se tornar o orgulho da família e isso não demorou a acontecer. No ano de 1973, prestes a completar 18 anos, Wilson Zanon foi promovido das categorias de base para o time principal da Ponte Preta a pedido do técnico Cilinho. Na época a Macaca tinha um dos melhores elencos do Brasil. “Era um timaço, só tinha jogador fera. Para entrar naquele time tinha que ser ótimo jogador, ser bom não bastava”, declara. O time da Ponte Preta naquele ano comandado pelo técnico Cilinho jogava com Carlos; Jair Picerni, Oscar, Zé Luis e Valter; Wilson Zanon, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Parraga e Tuta. Apesar da forte concorrência, Wilson Zanon era considerado titular do time, afinal sua habilidade e seu talento eram considerados fora do comum. Sua genialidade era tanto, que torcedores frequentavam o Estádio só para vê-lo jogar. O ararense de uma vez por todas passou a ser o orgulho da família, principalmente do pai Seu Roberto, que foi o maior incentivador do filho.

Seleção Brasileira O ano de 1974 foi histórico para Wilson Zanon. Ele atravessava o melhor momento de sua carreira, sendo considerado um dos principais jogadores da Ponte Preta na época. A fase era tão boa, que a diretoria da Ponte Preta recebeu um comunicado da CBF dizendo que o ararense estava sendo convocado para servir a Seleção Brasileira Sub-20, tal façanha fazia Wilson Zanon entrar para a história, se tornando o primeiro jogador de futebol profissional de Araras a ser convocado para defender a Seleção Nacional. Depois de Wilson Zanon, o ararense Velloso também foi convocado na década de 90. Roberto Carlos fez história na Seleção Brasileira, mas a sua trajetória no futebol começou no União São João, no entanto, a origem dele é a cidade de Garça-SP. A convocação de Wilson Zanon foi um verdadeiro presente pelo brilhante trabalho que fazia na Ponte Preta. Com a camisa do Brasil, o ararense não decepcionou e foi ainda mais longe, deixou nada mais nada menos que o badalado Paulo Roberto Falcon na reserva. Falcão é considerado um dos melhores volantes do futebol brasileiro com passagens por Roma-ITA, Inter-RS e São Paulo. “Defendi o Brasil em vários amistosos pela Europa, lembro que enfrentei seleções como a da Holanda, Bulgária, Grécia e Romênia”, relata. Pelo Brasil, jogou o Torneio de Cannes, no sul da França, onde conquistou o título da competição. Na final derrotou a Seleção da Holanda. O Brasil ganhou o título naquela oportunidade atuando com: Carlos; Wanderlei Luxemburgo, Xaxá, Batista e Carlinhos; Wilson Zanon, Jarbas e ; Claudio Adão e Toninho Vanusa. Após fazer bonito com a camisa da Seleção Brasileira na França, Wilson Zanon retornou ao Brasil e se reapresentou a Ponte Preta. Jovem de apenas 18 anos era considerado na época a maior revelação do time campineiro. Ele era considerado uma verdadeira jóia rara do clube. Tanto que terminou a temporada de 1974 como titular absoluto do comandado por Cilinho.

Casamento A conhecida frase ‘sorte no jogo e azar no amor’ não se encaixava no momento vivido por Wilson Zanon. O ararense estava em alta dentro e fora de campo. Nos dias de folga, sempre após as partidas ele viajava para rever a família em Araras e aproveitava para freqüentar o Calçadão, local onde os jovens se reuniam para a tradicional paquera. Em um desses passeios conheceu a também ararense, Simone Luz, com quem se casou e teve três filhas, Mariana Luz Zanon, hoje com 30 anos, Gabriela Luz Zanon de 27 anos e a caçula Izabela Luz Zanon de 25 anos. Todas as filhas nasceram em Araras. A família atualmente vive em Araraquara.

A grave contusão no joelho Em 1975, logo no primeiro semestre, Wilson Zanon com apenas 19 anos, mais uma vez foi o titular da Ponte Preta no Campeonato Paulista. A campanha da Macaca naquele ano foi de nove vitórias, nove empates e 10 derrotas. Foram 27 pontos conquistados e terminou na nona posição. O São Paulo foi o grande campeão daquele ano, enquanto que a Portuguesa ficou com a segunda colocação. Naquele Estadual, Wilson foi a maior vítima da violência no futebol. Um jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto no dia 21 de Junho no Estádio Moisés Lucarelli praticamente interromperia uma carreira promissora de um dos mais talentosos atletas de futebol. A Ponte Preta já vencia, por 3 a 0, com três gols de Rui Rei. Era final de partida. A torcida da Macaca gritava olé, os jogadores da Ponte tocavam a bola esperando o tempo passar, até que aos 45 minutos do segundo tempo, o volante Mario do Botafogo que havia acabado de entrar no jogo deu um carrinho criminoso em Wilson Zanon rompendo todos os ligamentos do joelho. A lesão foi tão séria, que o que menos se falou naquele dia foi da vitória da Ponte Preta e sim da grave lesão que o ararense havia sofrido, a qual nunca mais, o permitiria jogar em alto nível. “Foi uma entrada tão feia que arrebentou todo o meu joelho, todos os jogadores escutaram o estralo. O que já era médico e estava no Botafogo naquela época foi me desejar sorte no vestiário da Ponte Preta. Lembro que ele me deu muita força e me desejou que recuperasse logo”, relembra Wilson Zanon, visivelmente emocionado. Naquela partida a Ponte Preta jogou com: Moacir, Jair, Oscar, Zé Luis e Jorge Nei; Wilson Zanon, Mosca (Bargas), Valtinho (Geraldo); Brinda, Rui Rei e Tuta. O Botafogo jogou com: Jorge; Marinho, Paulo, Celso e Eraldo; Assis e Cunha; Carlos Alberto (Gilberto), Sócrates, Maurinho (Mário) e João Carlos. Wilson Zanon iniciou a recuperação no departamento médico da Ponte Preta, no entanto, nessa época os clubes tinham dificuldade em recuperar jogadores, afinal a medicina, principalmente esportiva, avançava pouco e com a gravidade da lesão, a volta de Wilson Zanon aos gramados já não era uma certeza. Wilson Zanon passou por cirurgia. Foram nove meses de recuperação intensiva. Precisou da ajuda de muletas para se locomover e do apoio da família para buscar força e reverter os prognósticos de médicos e fisioterapeutas da Ponte Preta. Até que depois de muito esforço, dedicação e força de vontade, Wilson Zanon conseguiu retornar aos gramados. O primeiro jogo após a contusão foi no dia 19 de Março de 1976 numa partida contra o São Paulo no Estádio do Morumbi. No entanto, uma nova contusão no mesmo joelho o tirou da partida e praticamente pois fim na carreira de atleta profissional de Wilson Zanon. “Foi uma dividida com o , uma jogada normal de jogo, dei um carrinho e os cravos da minha chuteira prenderam no gramado, chovia muito naquele dia, mais uma vez os ligamentos do meu joelho foram rompidos e tive que conviver com mais uma grave lesão”, recorda. O ararense passou por nova cirurgia e foram mais 11 meses de recuperação. “Mais uma vez vinha a incerteza se eu voltaria ou não a jogar, foi um período muito triste pra mim”, declara. No histórico Campeonato Paulista de 1977 em que a Ponte Preta buscava um título histórico para a fanática torcida e o Corinthians tentava quebrar um tabu de 23 anos sem título, o qual acabou conseguindo ao vencer a Macaca, por 1 a 0, gol de Basílio, o ararense Wilson Zanon foi obrigado a assistir pela televisão. “Foi difícil, porque eu estava no grupo e não podia fazer nada para ajudar meus companheiros, tive que ver pela TV, assisti a partida inteira na casa dos meus pais em Araras”, conta. No ano seguinte, Wilson Zanon não mediu esforços para voltar a fazer o que mais queria, jogar futebol, porém o joelho ainda o incomodava, não estava 100%. Até mesmo infiltrações foram feitas para diminuir as dores, mas nem assim era possível ver o craque em campo. “Eu até que tentava, mas não tinha mais confiança, doía e inchava bastante”, recorda. A rotina de Wilson Zanon no ano de 1978 foi de atuar em algumas partidas e ficar a grande maioria em tratamento no Departamento Médico. Mesmo com tantas dificuldades, o ararense era sempre lembrado por clubes em épocas de transição de campeonatos, sempre tinha alguma equipe interessada no futebol dele. No ano de 1979, o Vasco da Gama fez uma proposta de empréstimo a Ponte Preta, que aceitou negociá-lo. “O Oswaldo Brandão, que foi técnico da Seleção Brasileira era um fã do meu futebol e sempre me dizia que eu tinha que jogar no Rio de Janeiro. O Heleno de Barros Nunes, que na época era presidente da CBD, também gostava do meu estilo de jogo e como ele era vascaíno doente, pediu minha contratação aos dirigentes do Vasco”, conta. Mesmo não estando 100% para atuar em alto nível, o Vasco resolveu contratá-lo. O ararense se apresentou em São Januário e por lá deu sequência na recuperação da lesão no joelho. “Aquilo foi uma surpresa pra mim. Eu fiquei seis meses do ano de 1979 em recuperação, sem poder pisar no gramado, mas fiz parte do grupo do Vasco, então eu também me considero vice-campeão do estadual e do Campeonato Brasileiro”, brinca. Naquele ano de 1979, o Vasco perdeu o para o Flamengo e o Campeonato Nacional para Internacional de Porto Alegre.

A estréia no Vasco da Gama No ano de 1980, Wilson Zanon foi mais participativo. O primeiro jogo com a camisa vascaína foi em 1980 no torneio chamado de Colombino em Huelva na Espanha. O time carioca foi o campeão ao derrotar na final o Recreativo, por 3 a 1. Wilson Zanon participou de duas partidas como titular, mas, sempre com dores, foi substituído no segundo tempo dos jogos. De volta ao Brasil, o Vasco foi de novo vice-campeão carioca naquele ano, perdeu o título para o Fluminense. Na libertadores de 1980, o Vasco foi eliminado para o Internacional de Porto Alegre, que disputou a final diante do Nacional do Uruguai. Na época os uruguaios ficaram com o título. No Campeonato Brasileiro, o time cruzmaltino foi eliminado nas quartas de final. O Vasco atuava com: Mazaropi; Rosemiro, Ivan, Nei e Dudu; Gilberto, Serginho, Amauri e ; Amauri e Silvinho. O ararense Wilson Zanon fazia parte do grupo, mas as dores no joelho o impediram de jogar.

O fim da carreira No ano seguinte, em 1981, o Vasco resolveu tomar uma iniciativa drástica para tentar resolver a grave lesão no joelho de Wilson Zanon, que na época tinha 25 anos. Os dirigentes do Vasco encaminharam o ararense para o consultório de um dos maiores especialistas em contusão esportiva do Brasil, o ortopedista Dr. Lídio Toledo, que foi médico da Seleção Brasileira em seis Copas do Mundo. Logo na primeira avaliação feita pelo médico Dr. Lídio de Toledo, o ararense Wilson Zanon percebeu que não teria uma boa notícia. “Pela fisionomia que ele fez logo que viu meu joelho já notei que não seria fácil a minha recuperação, mas tinha sempre a esperança de voltar a jogar em alto nível”, declara. Wilson Zanon foi submetido a uma bateria de exames. Uma semana depois passou por nova cirurgia no próprio consultório do Dr. Lídio de Toledo, que ficava bem no centro do Rio de Janeiro. Foram mais seis meses de recuperação. Depois desse período, o ararense voltou ao consultório do para receber o diagnóstico final do tratamento. Ele sentia uma mistura de ansiedade e medo. Após alguns minutos de conversa com o médico, o ararense recebeu a constatação de que não voltaria mais a jogar futebol, a notícia o deixou em choque. “Eu fiquei transtornado, inquieto, era o que menos queria ouvir naquele momento. Lembro que deixei o consultório e abracei o primeiro poste que vi na minha frente, eu chorava muito, as pessoas passavam e não entendiam nada, aquela notícia me deu uma dor profunda”, relembra emocionado. Apesar da triste informação, Wilson Zanon garante que foi muito bem cuidado pelo médico Dr. Lídio de Toledo, que faleceu em Maio de 2011 aos 78 anos. “O Dr. Lídio Toledo fez de tudo para me recuperar, mas as cartilagens do meu joelho não suportavam mais, não tinha jeito”, conta Wilson Zanon visivelmente emocionado. Ao chegar em São Januário bastante abatido, Wilson Zanon deu a notícia e foi muito venerado pela diretoria, comissão técnica e jogadores do elenco. Mas foi na família que encontrou forças para suportar tanta decepção. “Minha esposa foi quem esteve do meu lado o tempo, meu pai também não acreditava no que estava acontecendo, ele tinha esperança que eu voltasse a jogar, mas eu sabia que isso era impossível, infelizmente minha carreira foi interrompida precocemente, nem mesmo jogos festivos eu podia participar. Meu joelho nunca mais foi o mesmo”, conta.

A vida sem o futebol De volta a Araras em 1982 anos 26 anos, Wilson Roberto Zanon teve que recomeçar a vida longe do futebol. O joelho não o permitia seguir a carreira de atleta, mas não o limitava a trabalhar em outra profissão. Foi daí que o ararense começou a procura por emprego. Se na adolescência não queria deixar Araras para ficar sempre perto da família, na fase adulta o pensamento já era bem diferente. Seu objetivo era trabalhar em grandes centros, afinal ele presava pelo conforto da família que começava a construir. O primeiro emprego foi em um hotel de luxo em São Paulo. Wilson Zanon foi gerente do Maksoud Plaza, que fica Rua Alameda Campinas na região nobre da capital paulista. “A minha função era administrar o restaurante. Eu era responsável pela compra dos alimentos”, conta. Nesta mesma época, a esposa de Zanon, que trabalhava como Caixa do Banco do Brasil foi transferida de Araras para a agência de Jundiaí-SP. Com esta feliz coincidência, ambos passaram a morar em um apartamento alugado na região central de Jundiaí. Zanon viajava todo dia de Jundiaí a São Paulo para trabalhar. No hotel a frequência de pessoas era grande, sempre simpático, Wilson Zanon tinha facilidade em fazer amizade. Numa dessas conversas com cliente, reconheceu um amigo que o admirava quando jogava pelo Vasco da Gama. “Era época de final de ano, o diretor geral do laboratório Aché gostava muito de mim quando eu jogava pelo Vasco, ele me reconheceu no hotel e me convidou para trabalhar com ele de representante de vendas”, revela. A proposta feita pelo amigo o deixou animado e depois de uma semana analisando, resolveu aceitar o desafio. Pediu demissão do Hotel e em 1983 começou no novo emprego. Sempre dedicado ao trabalho, não demorou muito para Wilson Zanon despertar interesse de outros laboratórios e cinco anos mais tarde, em 1988, uma proposta irrecusável da concorrente Farmasa o fez deixar a Aché. Na nova empresa foi contratado para gerenciar o setor de vendas, ele passou a administrar dezenas de vendedores. Na nova empresa, Wilson Zanon passou a ser o responsável pelo aumento significativo das vendas. Em sete anos dedicados a Farmasa, o ararense foi premiado por diversas vezes pelo bom desempenho na empresa. Tanto destaque, não demorou muito para surgir uma nova proposta de trabalho, desta vez o convite foi do Laboratório Delta, uma das mais conceituadas no país no ramo de laboratório de remédios. Nessa nova empresa, Zanon começou a trabalhar em 1995. Aos 39 anos passou a ter uma grande responsabilidade. Sua função era gerenciar as vendas em todo o Estado de São Paulo e para desempenhar bem o papel resolveu deixar Jundiaí e se mudar para Presidente Prudente, cidade que fica bem no centro oeste do estado. Tal decisão, fez a esposa Simone Luz deixar de trabalhar no Banco do Brasil. O alto salário de Wilson Zanon era o suficiente para bancar o conforto da família. “Eu e minha esposa conversamos muito, ela aceitou deixar o banco e decidimos aceitar o desafio de morar em Presidente Prudente para que eu pudesse avaliar o desempenho dos vendedores em todo o interior de São Paulo, afinal minha responsabilidade era muito grande”, garante. Foram seis anos de um trabalho árduo. Nesse período o laboratório Delta teve um crescimento assustador. A empresa praticamente triplicou as vendas de remédios em todo estado de São Paulo.

Um trágico acidente o deixou entre a vida e a morte Tudo caminhava bem. Os resultados na empresa eram visíveis. Em casa era só alegria, além da esposa tinha três filhas adolescentes, Mariana com 17 anos, Gabriela 14 e Izabela 11. As brincadeiras, as risadas com as meninas eram inevitáveis. No entanto, a alegria deu lugar ao desespero. Um acidente gravíssimo o deixou entre a vida e a morte. Era madrugada do dia 13 de setembro de 2001. No hotel em Andradina, desperta o relógio, Wilson Zanon se levanta, percebe que terá um dia de muitos compromissos. Escova o dente, pega as malas e segue para o saguão do hotel. Sem tempo para o café da manhã vai direto para o carro, um Gol da empresa Laboratório Delta. Seu destino seria Presidente Prudente, distância 179 km de Andradina. No meio do caminho, um imprevisto, uma caminhonete, que vinha na pista contrária, perdeu o controle, atravessou o canteiro central e bateu de frente com o carro conduzido por Wilson Zanon. O ararense ficou gravemente ferido, desacordado, aguardou a chegada da ambulância, tinha mais gente ferida. O socorro chegou, o destino foi o hospital de Andradina-SP. Em estado gravíssimo, a chance de sobrevivência de Wilson Zanon era praticamente zero. Os médicos estavam desacreditados, ele tinha sangramento de nariz e ouvido, além de fraturas no braço, perna e costela. Para piorar teve traumatismo craniano. Se para os médicos a situação era praticamente irreversível, para a família não. A esposa e as filhas sempre estiveram ao lado dele. A pedido delas Zanon foi transferido para um hospital particular em Presidente Prudente, onde Wilson Zanon tinha convênio e passou a ter um atendimento bem melhor. Foram seis dias desacordados, a morte parecia bater a porta de Wilson Zanon. Até que no dia 19 de setembro ele reage, acorda e começa a ter uma reação inesperada, reconhece de forma tímida a esposa, filhas e demais parentes. Foi uma surpresa para todos, inclusive para os médicos, que pareciam não acreditar. “Foi um momento de rara felicidade. Eu no fundo do meu coração nunca perdi minha esperança, foi uma alegria e uma emoção muito grande”, relata Simone Luz, esposa de Wilson Zanon. O ararense ficou em recuperação no hospital até dezembro de 2003. Durante um ano fez tratamento de fisioterapia. Para se locomover era somente de cadeira de rodas até que em dezembro de 2004 mais uma ótima notícia, as sessões de fisioterapia surtiram tão efeito que ele conseguiu com muita dificuldade caminhar sem a ajuda da cadeira de rodas, a emoção tomou conta da esposa e das filhas. Apesar da recuperação acelerada, Wilson Zanon tinha muitas limitações e não conseguia mais trabalhar, precisou se aposentar por invalidez. “Eu não tinha mais concentração, as vezes a consciência ía embora, cheguei a passar direto na cancela do pedágio, sem saber o que estava fazendo”, relembra. Em 2005, Wilson Zanon já não queria mais ficar em Presidente Prudente, a região não o trazia boas lembranças. Na época em que viajava muito pelo Laboratório Delta conheceu Araraquara-SP, se apaixonou pela cidade e resolveu se mudar com a família. “É uma cidade que eu visitava muito na época em que trabalhava no Laboratório Delta, me identifiquei muito e por isso resolvi mudar com minha família”, garante. Nessa época só com o salário que recebia do INSS já não era o suficiente para ajudar no sustento da casa. A esposa Simone Luz, que já não trabalhava mais desde 1997, precisou aceitar uma oferta de emprego. “A Simone foi ser monitora no Colégio Interativo, onde as nossas três filhas estudavam. Isso foi fundamental para mantermos a estrutura da nossa família, já que além do salário, a escola dava desconto nas prestações do colégio”, conta. Simone trabalhou no Colégio Interativo até 2009. Tempo suficiente para equilibrar as finanças da casa e conseguir a formação das três filhas, Mariana, Gabriela e Izabela.

Vida estabelecida Enquanto a esposa trabalhava e as filhas estudavam, Wilson Zanon ficava parte do dia em casa e a outra em tratamento numa clinica de fisioterapia. No entanto, essa rotina não o agradava. Sempre acostumado com grandes desafios, Zanon queria mesmo era se sentir útil, ocupar a cabeça com alguma atividade, foi daí que em 2006 procurou o amigo Oscar dono do Eco Resort Oscar Inn na cidade de Águas de Lindóia e presidente do Brasílis, time conhecido por revelar jogadores na quarta divisão do Campeonato Paulista. A amizade entre os dois começou quando ambos jogaram juntos na Ponte Preta. O ex-zagueiro foi ídolo também no São Paulo, New York Cosmos dos Estados Unidos e no Nissan Motors do Japão. Com a camisa da Seleção Brasileira jogou as Copas de 1982 na Espanha e 1986 no México. De cara, Oscar atendeu o amigo e o colocou como treinador das categorias de base do Brasílis. “Tenho uma consideração muito grande pelo Oscar. Ele me abriu a porta e me deu a oportunidade de treinar os garotos do Brasílis. Nessa época eu uni o útil e o agradável, além de ensinar os fundamentos do futebol aos jovens garotos eu me exercitava e ainda tinha minha cabeça sempre ocupada, isso teve um resultado importante na recuperação de boa parte dos meus movimentos”, conta.

O time principal do Brasílis disputava a segunda divisão do Campeonato Paulista. Nessa época vários jogadores foram revelados pelo clube, entre eles, o volante do Liverpool da Inglaterra e o lateral direito Guilherme Andrade do Corinthians. Wilson Zanon ficou no clube até 2009. Ele morava no Eco Resort Oscar Inn em Águas de Lindóia durante a semana e viajava à Araraquara nos dias de folga para ficar com a família. “Foi um período mágico na minha vida, foi maravilhosa essa experiência, só tenho que agradecer ao meu amigo Oscar e desejar sempre muita sorte a ele”, se emociona. No ano de 2009, a saudade da família fez Wilson Zanon deixar o Brasílis. A distância de quase 230 Quilômetros de Águas de Lindóia a Araraquara fez o ararense encerrar qualquer possibilidade de seguir uma carreira no futebol. “Eu já estava bem melhor de saúde do que quando cheguei ao Brasílis, comecei a sentir falta de minha esposa e de minhas filhas por perto, comecei a ficar com o emocional abalado, por isso, resolvi voltar para Araraquara e ficar junto de minha família”, declara. De volta a Araraquara, porém, sem conseguir ficar parado, Wilson Zanon mais uma vez recorreu a amigos para se manter em atividade. Na metade do ano de 2010 foi convidado pelo empresário Eros José Fernandes, dono do Supermercado Cogeb de São Carlos, para desempenhar diversas tarefas no estabelecimento comercial. “Mesmo com todas as minhas limitações o Eros permitiu que eu frequentasse o Supermercado. Eu fazia de tudo um pouco, ajudava no que fosse preciso. Eu tinha que estar sempre me movimentando, isso é praticamente uma recomendação médica”, conta. Wilson Zanon ficou no Supermercado até Dezembro de 2010. No ano seguinte o ararense resolveu apoiar a esposa Simone Luz Zanon num negócio próprio de venda de peças e acessórios para motos. “A idéia foi de minha esposa que pesquisou na internet e resolveu investir neste tipo de comércio e deu certo. Como tenho algumas limitações e não posso nem dirigir vou apenas como companhia no banco do passageiro conversando com ela, contando piada e as vezes quando lembro o caminho da estrada tento explicar os trajetos para não nos perdermos, não sei nem dizer se ajudo ou atrapalho”, se diverte Wilson Zanon. Apesar do bom andamento do comércio, o padrão de vida da família é bem diferente da época em que ele jogava futebol. Com o dinheiro de atleta e depois como gerente de laboratório, o ararense investiu em casas, terrenos, chácaras e apartamentos. No entanto, para custear as despesas com o acidente, Zanon se desfez dos bens. Atualmente vive em um apartamento próprio num condomínio de classe média, em Araraquara. Mora com a esposa Simone e duas filhas solteiras, Gabriela formada em terapeuta ocupacional com especialidade em neurologia e Izabela que está no segundo ano de Engenharia de Produção. Mariana, a primeira filha, se casou com o araraquarense Fernando Machado e possui apartamento próprio. Ela é formada em Administração de Empresas e está esperando um bebê que virá ao mundo no mês de Abril de 2015. “Ser avô é uma sensação única, eu e minha família estamos muito felizes com nosso primeiro neto, não vejo a hora de tê-lo aqui nos meus braços”, disse. Já o pai de Wilson Zanon, Sr. Roberto Zanon que foi o grande incentivador da carreira do filho, morreu em 2006 em Araras. A mãe Benedita Rosalén Zanon sofre de Alzheimer desde 2000 e devido ao avanço da doença no inicio de 2014 passou a morar na clínica Recanto Plácida na cidade de Leme, um local com profissionais da saúde especializados em cuidar de idosos. “Minha mãe é tudo pra mim, quando eu era garoto não queria sair de perto dela e hoje a visito pelo menos uma vez por semana na clínica em Leme. Ela se sente bem com as enfermeiras e com as demais senhoras que vivem lá”, conta. Apesar de ter sofrido uma lesão grave que interrompeu precocemente a carreira de atleta profissional, Wilson Zanon não tem ressentimento nenhum do futebol. O ararense garante não torcer por nenhum time, mas acompanha o máximo de jogos que pode, porém, só pela televisão, não gosta de frequentar Estádio. “Infelizmente o futebol atual é bem diferente do meu tempo, na minha época jogava quem era craque mesmo, hoje a qualidade técnica é muito diferente, mesmo assim sempre costumo assistir pela televisão, não sou de frequentar Estádio, quem me conhece sabe que sou muito caseiro”, finaliza. Hoje, Wilson Zanon ainda tem sequelas do acidente de carro que sofreu em 2001. Caminha com dificuldade, tem a fala um pouco enrolada e já não reconhece as pessoas com tanta facilidade.

Marquinho Coxinha

FERA FERIDA O incentivo da família foi fundamental para que Marquinho não desistisse da carreira

Atleta de rara habilidade, Marquinho Coxinha se tornou um jogador de futebol graças à insistência da família. O incentivo dos pais foi primordial para que o ararense trilhasse os caminhos da bola. No entanto, as poucas chances no União São João somadas aos empréstimos para clubes de menor expressão quase fizeram o craque desistir da profissão. Marco Antônio Marques de Oliveira, o Marquinho Coxinha como é conhecido, nasceu no dia 3 de outubro de 1964, é filho de José Antônio Marques de Oliveira já falecido e dona Clarice Olívio Marques de Oliveira, tem uma irmã, Sandra Marli Marques de Oliveira. A família tinha o próprio negócio, o Buffet Marques. O bairro de infância era o São Benedito, próximo a região central de Araras, Seu primeiro contato com a bola foi no campo de futebol ao lado da igreja de São Benedito em 1974. “Eu tinha 10 anos, fiz parte do time da igreja. Foi a partir daí que tudo começou”, relata. Até aos 16 anos, a rotina do então adolescente era estudar de manhã e jogar futebol a tarde, até que em 1980 um fato curioso o colocou nas categorias de base do União São João de Araras. O sonho dos pais de Marquinho era vê-lo brilhando como jogador de futebol profissional, afinal, qualidade técnica ele tinha de sobra, no entanto, só o incentivo dos pais não era suficiente, foi então que a avó Barbará Leite, moradora a época no bairro da Usina São João ao lado do Estádio Engenho Grande precisou agir, como ele mesmo conta com detalhes. “A minha avó num belo dia foi até o Estádio da Usina São João sem que ninguém soubesse e conversou com o Walter Daltro, pessoa que ela já conhecia há muito tempo e era o responsável pelas categorias de base do União São João. A conversa deles durou poucos minutos, mas o suficiente para que fosse agendado um teste para eu treinar”, relata. Com um talento apurado, Marquinho foi aprovado e passou a treinar no time ararense. A rotina do dele passou a ser agitada, pois de manhã frequentava a escola Cesário Coimbra, no período da tarde ajudava os pais no Buffet da família e a noite treinava no União São João. Entretanto, a vocação pelo estudo, quase o fez desistir do futebol. “Neste mesmo ano eu me inscrevi num curso de informática na People, tive um bom desempenho, peguei o diploma e pensei em deixar o futebol e seguir essa profissão, que estava começando a surgir no Brasil”, declara. Essa decisão de deixar o futebol só para investir no estudo não agradavou os pais de Marquinho, praticamente aos prantos José Antônio Marques de Oliveira fez um pedido para que ele continuasse no futebol, pois tinha a certeza que o filho brilharia com a bola nos pés. “Quando tomei essa decisão de desistir da bola, resolvi explicar para o meu pai, não deu muito certo, porque ele começou a chorar bastante e me implorou para que eu continuasse na carreira de atleta. Diante daquele pedido e eu vendo a tristeza dele, resolvi continuar no futebol”, admite. No ano seguinte em 1981, Marquinho então continuou a rotina de completar os estudos, ajudar a família na confecção de salgadinhos e treinar futebol a noite. Entretanto, na segunda metade do ano, um convite inesperado de um parente distante, por pouco não o fez um jogador do São Paulo FC. “O meu tio Toninho, primo da minha avó, era observador técnico do São Paulo, ele me levou pra lá e fiquei treinando três meses na capital, só que no São Paulo só tinha fera e a concorrência era muito grande, por isso depois de três meses resolvi voltar a jogar no União São João”, explica. O meio-campista, porém admite ter ganhado muita experiência e aprendido muito com o então técnico da base do São Paulo Firmo de Melo. “Eu fiquei feliz com essa oportunidade porque normalmente o atleta que não tem qualidade fica uma semana só e acaba dispensado, eu fiquei três meses e só não continuei porque eu percebi que lá a qualidade dos atletas era muito grande”, afirma. De volta a Araras no ano de 1982, Marquinho ganhou uma nova oportunidade no União São João, aos 18 anos, o jovem jogador começou a fazer parte do Sub-20 do time ararense. “Nessa época a minha idade era para jogar no sub-17, mas já fazia parte do time titular do sub-20, inclusive conquistamos o vice-campeonato Paulista daquele ano”, se orgulha. Já com os estudos concluídos e sem muito compromisso no empreendimento da família, Marquinho passou a se dedicar mais ao futebol como exatamente queria os pais, os treinos passaram a ser nos períodos da manhã e a tarde e assim foi até 1985.

O desejo de abandonar a carreira Em 1985, Marquinho foi promovido para a categoria profissional do União São João, que tinha na época grandes craques bancados pela Usina São João, empresa que investia valores altíssimos no futebol. Considerado um dos times mais ricos do interior de São Paulo, o União São João na época não se preocupava em valorizar os pratas da casa e por isso a decepção vinha a tona em alguns jogadores, inclusive no habilidoso meia Marquinho, que normalmente ficava encostado e pouco era aproveitado pelo clube. “Isso me deixava chateado, pois sabia que tinha qualidade e poderia ajudar de alguma forma, fiquei o ano de 1985 todo sem ser aproveitado”, detona. Na época o União São João jogava com: Privati; Paraná, Marinho, Cavalcante e Valdemir; Silvio, Guina e Odair; Zé Luís, Biquinha e Play. Sem grandes oportunidades e com o diploma de informática nas mãos, Marquinho mais uma vez manifestou em casa o desejo de seguir uma carreira longe do futebol, tal iniciativa descontentou mais uma vez o pai, que novamente insistiu para que ele não desanimasse e desse sequencia no trabalho de base que ele já havia construído. “Como eu não queria decepcionar a minha família, eu resolvi continuar, mas foi uma decisão errada minha. Talvez se eu tivesse deixado o futebol para seguir uma carreira na área de informática eu hoje teria uma situação financeira bem melhor”, presume. Sem espaço no União São João e atendendo o pedido dos pais foi levado por amigos ao Lemense, onde em 1986 disputou a divisão intermediária, uma espécie de Série A2 do Paulista. “Eu ainda era vinculado ao União São João, fui por empréstimo ao Lemense e acabei enfrentando o próprio time, o qual estava vinculado, já que as duas equipes estavam na mesma divisão”, explica. Com uma visão de jogo espetacular e uma habilidade impressionante, Marquinho recebia elogios da imprensa e torcedores, foi inclusive considerado um meio-campista clássico, inteligente e ótimo armador de jogadas. No time de Leme foi considerado o melhor jogador da equipe durante toda a competição, foi inclusive convocado para fazer parte da Seleção Paulista, que na época enfrentou a equipe do Saad no aniversário de São Caetano do Sul. Os 19 atletas convocados pelo então técnico Felício Saad foram: goleiros: Privatti (União São João) e Solitinho (União Barbarense); laterais: Fernando (Portuguesa Santista), Joãozinho (São José) e Walace (Nacional); zagueiros: Papinha (Guaçuano) Cássio (Saltense), Carlos Augusto (Taubaté) e Orlandinho (Rio Branco); meio campistas: Marquinhos (Lemense), Vanderlei (União São João), Ditinho (Mauaense), Daniel (São José), Jânio (Taubaté) e Nina (Portuguesa Santista); atacantes: Zezinho (União São João), Paulinho Paraná (Rio Branco), Mauro (Nacional), Ditinho (Pinhalense) e Jorginho (Independente de Limeira). Na oportunidade, o Lemense chegou as semifinais, perdendo a vaga na final para o União Barbarense, que conseguiu o acesso após vencer o União de Araras na final. O bom desempenho no Lemense, fez com que Marquinho despertasse interesse de vários times do interior de São Paulo, o próprio time de Leme gostaria que ele continuasse para a temporada seguinte, o Rio Branco de Americana e o União Barbarense também solicitaram a contratação do atleta, porém, a pedido do técnico João Magoga, Marquinho retornou ao time ararense e o sonho de defender o time de sua cidade natal começaria a se tornar realidade. “O União não quis me emprestar, tive uma conversa com a comissão técnica e fui informado que jogaria aquele campeonato pelo time ararense, era tudo que eu queria, jogar no meu time do coração”, declara. No entanto, o Campeonato Paulista de 1987 começou e se quer o ararense foi relacionado para os jogos. O desejo então de defender o time de Araras mais uma vez foi adiado. O jeito então foi se transferir para o Velo Clube, já que a equipe de Rio Claro treinada pelo ex-técnico do União de Araras, Nogueira havia solicitado a minha contratação. “Fui jogar no Velo a mesma competição, a qual o União disputaria, ou seja, a divisão intermediária, uma espécie de Série A2 do Paulista”, relata. No time de Rio Claro, Marquinho foi titular absoluto praticamente em toda a competição, a exemplo de quando defendeu o Lemense, foi o principal destaque do time. “Lembro que desempenhei um bom futebol, fui bastante elogiado, o Velo fez uma equipe com a ambição de chegar ao acesso, mas sem recurso financeiro, o time acabou ficando em uma posição intermediária”. O Velo Clube naquele ano de 1987 jogava com: Junior; Carlinhos, Sarandi, Ivan e Rossi; Carlos Vinicius, Biquinha e Marquinho Coxinha; Ivo, Serginho Sciamana e Gilberto. 1987, foi o ano em que o União São João conseguiu o acesso a elite do Estadual. No ano seguinte, em 1988, ainda vinculado ao União São João, Marquinho mais uma vez foi emprestado, desta vez seu destino foi o Independente de Limeira, onde jogou a terceira divisão do Campeonato Paulista, hoje considerada a Série A3. Na época a equipe conquistou o acesso a divisão intermediária, uma espécie de Série A2 do Paulista. Treinado pelo técnico Galdino Machado, o Galo da Vila Esteves, como é conhecido o Independente de Limeira jogava com: Ivan; Joãozinho, Vilson, Miro e Mauricinho; Alan, Paulo Bem e Marquinho Coxinha; Roberto Cruz, Manguinha e Zé Paulo.

Mágoa com o time que o revelou Com o fim do empréstimo no Independente de Limeira, Marquinhos Coxinha voltou a Araras e carregava o desejo de defender as cores do União São João, por ser a equipe que o revelou e pela estrutura que tinha, afinal nos clubes onde jogou por empréstimo teve dificuldades em receber salário. “Apesar das boas campanhas que fiz nessas equipes, praticamente não recebia tudo aquilo que era combinado em contrato, nessa idade eu sequer tinha dinheiro para comprar um carro. Um dos meus defeitos sempre foi esse, não correr atrás daquilo que me pertence, sempre fui empurrando com a barriga”, lamenta. A temporada de 1989 começou e o sonho parecia estar perto de se tornar realidade, afinal Marquinho Coxinha tinha contrato com o União São João, que tinha no comando técnico o experiente Zé Duarte. O time ararense iniciava a preparação para a disputa da elite do Campeonato Paulista daquele ano e na hora de distribuir os coletes, Marquinho era sempre escalado entre os titulares, aquilo o deixava animado e confiante de que o momento tão esperado estava prestes a acontecer. “Parecia que eu estava sonhando, pois aquela vontade de vestir a camisa do time da minha cidade estava se tornando realidade, sem contar que eu iria receber em dia, como todo trabalhador que se preze gostaria, não iria ter mais aquele sofrimento que passei no Lemense, no Velo Clube e no Independente”, conta. No entanto, a alegria do talentoso meia ararense em ser titular e vestir a camisa 10 do seu time do coração, durou pouco. Quando começou o Campeonato Paulista, o técnico Zé Duarte o colocou no time reserva, tal decisão o deixou extremamente insatisfeito e aquela chama de atuar pelo União foi se apagando. “Eu recebi em dia esse período todo que fiquei no clube, disso não podia reclamar, mas o que eu mais queria mesmo era jogar, defender o União, vestir aquela camisa, porém, fiquei só na vontade, mas sabia que eu tinha qualidade, nos times onde joguei sempre fui titular, por isso não aceitava tão pouco caso comigo”, declara. Para Marquinho Coxinha, faltou incentivo no próprio clube. “O Zé Duarte não me deu nenhuma oportunidade e a própria diretoria do clube também nunca me valorizou, isso era o mínimo que deveria fazer com um prata da casa, mas os dirigentes não fizeram”, lamenta. Nas primeiras rodadas daquele campeonato, o time ararense jogou com: Privatti; Valdemir, Léo, Cavalcanti e Jacenir; Pedro Paulo, Odair e Marquinho (Play); Giba, Kel e Zimermman. Nessa época as partidas que terminassem empatadas, o vencedor seria definido em cobranças de penalidades máximas e o meia Marquinho, que normalmente entrava no decorrer das partidas, chamou a atenção para um fato curioso, como ele mesmo conta. “O que não dava pra entender é que eu sempre era questionado para jogar no União, mas as poucas partidas que fiz, algumas terminaram empatadas, e não é que eu era escolhido para cobrar pênalti, isso mostrava a incoerência da comissão técnica, pois eu não servia para começar o jogo, mas servia para decidir nos pênaltis”, questiona. A cada ano, a decepção de Marquinho com o União São João aumentava, a gota d’água foi na metade de 1989, toda a delegação do União São João viajou para o Japão, o objetivo principal naquela oportunidade era colocar os atletas do clube em evidência com a intenção de negociar alguns jogadores, Marquinho não foi convidado para acompanhar o grupo. “Eles tiraram o passaporte da maioria dos jogadores do elenco, pediram a minha documentação, mas nunca me entregaram nenhum passaporte e fui informado que não viajaria. Fiquei chateado porque atletas que não pertenciam ao União embarcaram nessa viagem e eu que poderia dar um retorno ao clube numa possível negociação não fui chamado para integrar o grupo”, lamenta. Apesar de toda a mágoa com o União São João, Marquinho Coxinha sempre foi um profissional exemplar e cumpria todas as suas obrigações impostas pelo clube, afinal ele tinha um contrato a cumprir. Em 1990, fez parte do elenco, que disputou o Campeonato Paulista da primeira divisão. Na oportunidade, Palhinha era o técnico da equipe ararense, o meia atuou algumas partidas como titular e outras ficou como opção no banco de reservas. Naquele ano, o time de Araras atuou a maioria dos jogos com: Pereira (Marola); Paulo, Fonseca, Djalma e Gleber; Marquinho, Odair e Glauco; Kel, Cássio e Zimermman.

Irritado com o apelido Insatisfeito com a falta de reconhecimento no União São João, Marquinho ainda tinha outro motivo para não sorrir, não gostou nenhum pouco do apelido que recebeu da torcida, dos gritos que ecoavam nas arquibancadas já do Estádio Hermínio Ometto e não mais do Engenho Grande. “Esse apelido de Coxinha partiu de algum torcedor, que não estava gostando da minha atuação em campo e acabou pegando. Em alguns jogos que o time não jogava bem eles gritavam ‘vai fazer coxinha’, se referindo ao meu trabalho de infância no Buffet da minha família, isso me irritou profundamente”, revela. Mesmo sabendo do descontentamento de Marquinho, os jogadores do elenco resolveram na época em tom de brincadeira o chamar somente pelo apelido. “Eu não deveria ter aceitado na época, isso não acrescentou em nada a minha carreira, servia apenas para diminuir a minha pessoa, era na maldade”, esbraveja. Com o passar do tempo e sabendo que a situação seria irreversível, Marquinho resolveu não se irritar mais e foi obrigado a conviver com o apelido, que ele até hoje o considera maldoso. “Depois acabei aceitando de boa, os amigos passaram a me chamar de Marquinho Coxinha e hoje sou obrigado a conviver com isso até pela grande quantidade de Marquinhos que existe no futebol, agora não vejo problema nenhum”, admite sem convencer muito. No primeiro semestre de 1991, Marquinho foi vítima de um problema grave de saúde, exames constataram uma forte infecção nos pulmões, descobriu que era pneumonia, isso o impediu de atuar pelo time de Araras, foram três meses em tratamento e quando voltou, foi informado que não seria mais aproveitado pelo técnico Palhinha no Paulistão, a diretoria estudava a possibilidade de emprestá-lo para outro clube. “Foi mais uma decepção dolorosa que eu tive, não fui amparado no momento em que mais precisava. Isso doeu muito”, declara. Sem oportunidade no União São João, Marquinho com 27 anos, passou contar com os amigos para poder atuar em uma outra equipe. Uma das pessoas que o ajudou foi o também ararense, Dú Salomão, que atuou profissionalmente no São Paulo, Cruzeiro, Guarani e estava jogando em Portugal na época. Salomão fez o convite para que o Marquinho Coxinha fosse jogar com ele lá do outro lado do atlântico, seria uma oportunidade de ouro para o habilidoso meia ararense conquistar sua independência financeira, no entanto, uma nova decepção com a diretoria do União São João, que não o liberou para que a negociação fosse feita . “Lembro que o Dú Salomão me telefonou e falou dessa possibilidade, ele até me bancava no inicio se fosse necessário, mas infelizmente o União São João não me liberou e me prejudicou muito naquela oportunidade”, lamenta. Sem poder atuar na Europa, sem ser aproveitado no time de Araras e com as competições todas em andamento, com exceção da quarta divisão do Paulista, que estava pra começar, Marquinho Coxinha então resolveu aceitar a última opção que o restava, defender o Clube Atlético Pirassununguense na Série B do Paulista, a última divisão do estado. “Pra mim, essa situação toda foi muito difícil, não pelo clube que iria defender, mas pela desvalorização do meu trabalho”, declara. No time de Pirassununga, Marquinho foi bem recebido pelo diretor de futebol Norman de Marco, se destacou com a camisa 10 do clube e ao final do Campeonato foi bastante elogiado mais uma vez pela habilidade, empenho e determinação dentro de campo. “Apesar de a divisão ser inferior, o clube cumpriu com todas as obrigações combinadas em contrato, foi um time muito bom de trabalhar”, ressalta. Dirigido pelo técnico Norival, a formação que mais entrou em campo naquela competição de 1991 foi: Geraldo, Ismael, Nelson, Alves e Bruci, Pascoal, Marquinho e Léo; Carlinhos, Edvaldo e Téo. Com o fim do Campeonato, Marquinho deixou o clube. Na semana seguinte recebeu uma ligação da diretoria do União São João, era o então presidente José Mario Pavan solicitando a presença dele no Estádio Hermínio Ometto, era Dezembro de 1991. “Quando cheguei lá, participei de uma reunião e fui informado que não teria mais vinculo nenhum com o União São João, eu passei a ser o responsável pelos meus Direitos Federativos, não questionei nada, aceitei e fui pra casa, mas fiquei me perguntando, seis meses antes não me liberaram para eu negociar com um time de Portugal e agora o clube me dá a liberação?”, questiona. Aos 28 anos e livre para negociar com qualquer time que quisesse, Marquinho Coxinha resolveu analisar com carinho todas as propostas que recebia à época, afinal estava em alta, havia feito um bom campeonato no Pirassununguense, porém, um empresário o procurou propondo auxiliá-lo na carreira. “Foi o procurador Mauro Morishita, fizemos um acordo de que ele procuraria clube para eu jogar e eu também iria analisando as propostas que eu mesmo recebia, foi quando tive uma oferta surpresa”, declara. Marquinho Coxinha foi convidado de forma inesperada para atuar pelo União Iracemapolense. “Foi curioso porque eu fui liberado do União São João de Araras, que era conduzido pela família Ometto e fui convidado para jogar no União Iracemapolense, que era comandado pelos parentes próximos da própria família Ometto, também proprietária da Usina Iracema, mas foi uma proposta boa e acabei aceitando”, recorda. Pelo time de Iracemápolis, Marquinho disputou a Série A3 do Campeonato Paulista de 1992, uma espécie de terceira divisão do estado. Mais tarde, em 2001, o time profissional foi extinto e não participou mais de competições profissionais, apenas de jogos amadores. Em 1993, Marquinho Coxinha assinou um de seus melhores contratos de toda a carreira, foi no Taubaté com a ajuda do empresário Mauro Morishita. Comandado pelo técnico Toninho Moura, Marquinho disputou a Série A2 do Campeonato Paulista pela equipe do Vale da Paraíba. Jogando pelo Burro da Central, o ararense ganhou reconhecimento e bons salários. A equipe terminou a competição em uma posição intermediária jogando com: Rinaldo Martorelli; Neto, Marcelo, Bira e Servilho; Alexandre, Roberval e Marquinho Coxinha; Jeferson, Valdo e Sandro. Neste mesmo ano, Marquinho ficou muito amigo do goleiro da equipe, Rinaldo Martorelli, que além de atleta, assumiu a presidência do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo no lugar de Toninho Cecílio, função que exerce até hoje. A convivência com Martorelli fez com que Marquinho fosse convidado para ser conselheiro fiscal do Sindicato. “Aceitei o convite, fiquei no cargo até eu encerrar a minha carreira de jogador, me arrependi de ter deixado o cargo. Hoje assim como Martorelli, poderia ter contribuído mais com a Associação, teria sido bom pra mim em todos os sentidos, profissionalmente e financeiramente”, presume. Desligado do Sindicato, Marquinho, já com 29 anos, focou suas atenções somente ao futebol. O bom desempenho no time do Vale do Paraíba fez com que novas propostas surgissem e uma delas foi do Nacional de São Paulo. A oferta feita diretamente ao jogador foi tão boa, que o ararense rescindiu seu contrato com o Taubaté e rompeu amigavelmente com o empresário Mauro Morishita. “Essa sim foi a melhor proposta de toda a minha carreira. Recebi adiantado e fiz um contrato com salários bem superiores ao qual recebia no Taubaté. Fui até o escritório do meu empresário e acertamos tudo legalmente para que eu mesmo tomasse conta dos meus negócios”, explica. Com o fim da carreira se aproximando e com tanta luta e determinação demonstrada pelos clubes onde jogou, Marquinho Coxinha tinha o desejo de terminar seu ciclo como atleta profissional com pelo menos um título e aconteceu. Foi no Nacional Atlético Clube que o ararense gastou a bola e com a faixa de capitão no braço levantou o caneco de campeão Paulista da Série A3, foi uma coroação para a carreira do ararense que conseguiu levar o time da capital a Série A2 do Estadual no ano seguinte.

A morte do pai No entanto, a alegria do título conquistado naquele ano de 1994 foi ofuscado por uma grande perda, a do pai José Antônio Marques de Oliveira, que morreu vítima de um câncer. Entretanto, antes de partir, Seu José conseguiu o que mais queria ver o filho ser campeão no futebol. “No Nacional ninguém sabia o que eu estava passando em casa, eu não falava pra ninguém do meu sofrimento, eu vivia tudo aquilo calado. Apesar da minha única conquista na carreira, foi o ano que sofri demais por ter perdido aquele que mais apostou em mim, meu pai”, se emociona. Com a perda de seu maior incentivador, Marquinho Coxinha resolveu também por um ponto final em sua carreira futebolística. O Nacional Atlético Clube foi o último clube, onde atuou profissionalmente.

Carreira de técnico Em 1995, Marquinhos resolveu voltar a sua terra natal, aos 31 anos retomou sua função no Buffet Marques, empresa da família e muito tradicional na década de 90, em Araras. “Eu ajudava a minha mãe a fazer de tudo, salgadinhos, festas e até ajudava a entregar nos comércios da cidade”, relembra. Marquinho, apesar de não ter mais a companhia do seu querido companheiro pai, estava feliz com a nova rotina, afinal estava ao lado da mãe trabalhando no próprio negócio, mas algo faltava para o dia-dia daquele ex-atleta ficar completo. “Eu queria continuar fazendo algo relacionado ao futebol, ser técnico, descobrir novos talentos e resolvi conversar com o padre da igreja de São Benedito, que me autorizou a utilizar o campo do bairro, meu trabalho seria ensinar as crianças a jogar futebol voluntariamente, isso no horário inverso ao do meu trabalho no Buffet”, conta. Com o projeto em mãos, foi até ao departamento de esporte da prefeitura de Araras para solicitar algumas bolas, foi recebido no Ginásio de Esportes pelo diretor da pasta na época Ike da Cruz, que lhe fez um convite inesperado. “Ele me convidou para desenvolver esse trabalho no campo do Etore Zuntini no Jardim Fátima com crianças da Secretária Municipal de Esporte (SME). Não pensei duas vezes, aceitei e foi a primeira oportunidade que tive para iniciar uma nova carreira, a de técnico de futebol”, declara. Durante um ano, comandou o time da SME, foi voluntário no campo do São Benedito e ainda ajudava a família no Buffet Marques. No ano seguinte, em 1996, o ex-atleta resolveu deixar de trabalhar no Buffet para se dedicar somente a carreira de treinador de futebol, saiu também da Prefeitura Municipal de Araras e foi a São Paulo para se aprimorar na profissão. Na capital, Marquinho fez um curso de treinador com um profissional renomado, o experiente . De volta a Araras, recebeu um convite para comandar as escolinhas de futebol da Associação Atlética Ararense. “Desenvolvi um trabalho muito bom na Piscina, era a oportunidade que eu precisava, foi a partir deste trabalho, que me firmei nesta nova profissão”, declara. No time Grená de Araras, Marquinhos ficou até 1997, ano em que foi contratado para trabalhar nas categorias de base do União São João. O convite foi de uma maneira bem curiosa. Marquinho frequentava aos fins de semana a antiga banca do saudoso Marcelo, na Praça Barão de Araras, ali inesperadamente se encontrou com o presidente do time ararense, José Mario Pavan, que lhe pediu a presença dele no Estádio Hermínio Ometto para uma conversa. “Lembro que nessa época o Lula Pereira era o técnico do profissional e só tinha gente que morava em Araras nas categorias de base, o Privati, Silvio Garlizoni e Play Freitas, isso foi fundamental para que o União São João se tornasse forte naquela época”, garante. No primeiro semestre de 1997, Marquinho foi contratado para auxiliar o técnico Lula Pereira no time profissional. O ararense passou estudar os adversários do União São João e apresentar para o comandante alviverde “Eu acompanhava todos os jogos no Estádio, era um verdadeiro estudo de como o adversário se comportava em campo, depois eu repassava para o Lula e ele montava a estratégia de jogo do União”, recorda. O trabalho foi tão elogiado, que Marquinho ganhou a confiança de todos no clube, inclusive do técnico Lula Pereira, que chegou a declarar, que o trabalho do ararense foi muito importante para os resultados da equipe naquele Campeonato Paulista de 1997. “Fui muito elogiado pelo Lula Pereira e pela diretoria do União, fizemos um trabalho impecável naquele ano, tanto que fomos a melhor equipe do interior e ficamos atrás apenas do Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e Portuguesa”, se orgulha. No segundo semestre de 1997, Marquinho assumiu as categorias Sub-15 e Sub-17 do União São João, onde trabalhou até o fim daquele ano. Em 1998, a pedido do coordenador das categorias de base do clube, Zé Rubens, ele passou a ser o técnico do Sub-20, categoria em que revelou vários jogadores, que mais tarde fizeram sucesso no profissional e renderam muitos lucros aos cofres do time ararense, como o zagueiro Bernardi, que mais tarde jogou no Criciúma, Santos, Inter-RS, futebol europeu, Rio Branco, Velo Clube e Guarani, o atacante Galvão que fez sucesso no Santos e no Atlético-MG, o meia Danilo Sacramento que reúne passagens por Ponte Preta, Cruzeiro, Vasco e Guarani, além de equipes da Itália e Espanha, volante Fabricio ex-Corinthians, Cruzeiro, São Paulo e Vasco, Edu Silva que jogou no Inter-RS, Náutico, Portuguesa e futebol suíço, entre outros atletas que passaram pelas mãos de Marquinho Coxinha. Naquele ano de 1998, o Sub-20 do União São João jogava com: João Paulo; Jhon, Marcel, Diguinho e Edu Silva; Jeferton, Branco, Fabricio e Danilo Sacramento; Talles e Galvão. Em 1999, Marquinho deixou o União São João para trabalhar em duas escolinhas da cidade de Araras, Sayão FC e o Projeto 2000, do empresário ararense Iko Martins. “O Sayão porque é um clube que dispensa comentários, tenho uma história ali dentro e o Projeto 2000 porque a proposta de revelar talentos era muito boa”, conta. No entanto, o projeto durou apenas três meses, mas o suficiente para Marquinho Coxinha descobrir dois grandes talentos, o meia Canindé, que fez sucesso no Santos, São Caetano e Paulista de Jundiaí e o atacante Edmilson, que foi para o Palmeiras e depois para o futebol japonês, sendo um dos jogadores mais rentáveis entre os negociados pelo empresário de Araras Iko Martins. Em 2014, Edmilson, que já não tem mais nenhum vínculo com Araras foi contratado pelo Vasco da Gama onde disputou a temporada de 2014. No Sayão FC, seguiu com o seu trabalho de ensinar crianças a jogar futebol. Nas horas vagas ajudava o amigo Lula Pereira, que naquele ano de 2000 assumiu o Botafogo de Ribeirão Preto. O trabalho de Marquinhos era o mesmo que havia feito no União São João de Araras em 1997, desta vez a missão era na Série A2 do Paulista, o objetivo levar a Pantera a elite do estadual. “O Lula Pereira queria que eu fosse trabalhar com ele em definitivo, mas sempre fui muito receoso com o futebol, as vezes os clubes não pagam, não tem instabilidade e por isso eu sempre preferi ter meu trabalho registrado no Sayão. Mesmo assim, eu observei todos os adversários do Botafogo naquele ano e passei as informações para ele”, explica. O time de Ribeirão Preto conseguiu o acesso a divisão de elite do Paulista. “Foi tão bom o trabalho, que na época os dirigentes me ofereceram um bom salário para que eu me tornasse um funcionário exclusivo do clube, mas não aceitei, preferi ficar com o meu trabalho garantido aqui no Sayão, um clube que tanto amo e da minha cidade, ficar perto da minha família também me dava mais segurança”, explica. O emprego de Marquinho no Sayão FC é tão seguro, que proposta nenhuma o tira de lá, tanto que em 2001 ele disse não ao técnico Lula Pereira para ser auxiliar efetivo no América Mineiro. “O Lula gostaria que eu fosse com ele para Belo Horizonte, mas eu não aceitei, preferi continuar no Sayão FC e acabei o ajudando, mas da mesma maneira como já havia feito no União e no Botafogo, nas minhas horas vagas”, relata. Marquinho passou a analisar os adversários do América Mineiro. Mais uma vez o resultado foi surpreendente, o ararense ajudou o Coelho a conquistar o título do Campeonato Mineiro de 2001. “Lembro que fui muito elogiado e reconhecido novamente pelo técnico Lula Pereira na época”, declara. Na decisão do Estadual de Minas Gerais daquele ano, além de Marquinho, outros dois ararenses estiveram envolvidos diretamente na partida, o goleiro Fabiano titular do América Mineiro e Velloso dono da camisa 1 do Galo. Este trabalho pelo América-MG foi o último de Marquinho Coxinha realizado com Lula Pereira. Em 2002, Marquinho intensificou seus projetos no Sayão FC. Seu objetivo era sempre descobrir novos talentos e, sobretudo promover bons ensinamentos para as crianças que frequentavam suas aulas no clube. De 2003 a 2006, paralelo ao trabalho fixo no Sayão FC, Marquinho Coxinha voltou ao União São João, foi um convite novamente do presidente José Mario Pavan, que estudava a restruturação das categorias de base do clube e via em Marquinhos a chance de um trabalho promissor. “De manhã eu dava treino no Sayão e a tarde eu trabalhava no Sub-17 do União São João, nesse período revelamos o atacante Luan, que depois foi para o São Caetano, Palmeiras, Cruzeiro e agora no Al Sharjah dos Emirados Árabes”, admite. Marquinho apesar de ser o técnico do Sub-17 do União, teve um papel fundamental na formação do atacante Luan, que atuava no Sub-20. “O Luan era muito pouco relacionado para os jogos, eu tive que trabalhar muito a cabeça desse menino para que ele tivesse paciência. Quando ele não era aproveitado no União eu o chamava para jogar no meu time no Sayão, já que disputávamos campeonatos interclubes em Araras e já via que ele tinha muito talento, era alto, raçudo e uma força no chute com a perna esquerda impressionante”, ressalta. Com a chegada de Play Freitas no comando técnico do União São João em 2006, Luan passou a ser melhor aproveitado. “Foi o meu último ano de União, mas eu conversei bastante com o Play, pedi encarecidamente a ele, para que o Luan fosse sempre aproveitado, pois tinha certeza que o Luan se tornaria um bom jogador”. Luan atuou nos anos de 2007 e 2008 no profissional do União São João. Especialista em descobrir novos talentos, Marquinho sempre foi procurado para trabalhar nas categorias de base de times de futebol, porém, a cautela sempre o acompanhou. “Recebi convites do XV de Piracicaba e do Ceará, mas a segurança que eu sempre tive no Sayão, nunca permitiu eu aceitar essas propostas. Arrependo-me de não ter ido para o Ceará, pois era o Lula Pereira o coordenador em 2005 e por isso eu teria uma segurança com ele lá, ainda mais que a minha esposa já estava trabalhando e os meus dois filhos bem encaminhados na escola”, explica. Nos anos, de 2006 a 2008, Marquinho Coxinha se dedicou exclusivamente aos treinamentos no Sayão FC. Em 2009, além disso aceitou um convite para trabalhar na Traffic Sports, empresa que administra o futebol do Desportivo Brasil da cidade de Porto Feliz, interior de São Paulo. “Foi um bom salário oferecido e como não prejudicaria a minha função no Sayão, resolvi aceitar”, explica. Dedicado e entendedor de futebol como poucos, Marquinho Coxinha revelou alguns jogadores para a Traffic, entre eles o meio-campista Lucas Evangelista, natural de Limeira/SP e que mais tarde foi negociado com o São Paulo e hoje atua pela Udinese na Itália. “Esse jogador eu vi atuando em Limeira e fui eu que levei a Traffic”, se orgulha. Marquinho Coxinha foi bastante recompensado nessa função de olheiro para a Traffic, onde trabalhou até a metade do ano de 2011. Apesar de vários trabalhos desenvolvidos e um mestre na arte de descobrir craques para o futebol, é no Sayão FC que ele se sente a vontade. Apaixonado pela profissão, Marquinho tem orgulho em ser o responsável pelas categorias de base do clube, onde iniciou os trabalhos há 15 anos ininterruptamente. “Sou treinador no Sayão FC desde 1999 e sou muito feliz. É um clube que aprendi a gostar, tenho satisfação em trabalhar com garotos e orgulho de formar cidadãos”, declara. Para o ararense não tem recompensa maior do que ser reconhecido pelo bom trabalho. “Dinheiro nenhum paga a gratidão de uma pessoa por tudo o que você fez para ela. A maior satisfação é saber que os meninos que jogaram comigo enquanto crianças estão bem encaminhados na fase adulta, seja no esporte ou em qualquer outra profissão”, declara. Marquinho conta que o atacante Luan do Palmeiras é o que mais o agradece. “O Luan desde quando saiu do União São João ele sempre me liga para agradecer pela oportunidade que ele teve comigo, uma vez por semana bato longos papos com ele e com a família dele, isso é muito gratificante”, ressalta.

Os problemas de saúde Na trajetória de Marquinho nem tudo foram flores, no meio do caminho apareceram alguns espinhos. Ele precisou ser forte para não se abater. A pneumonia que o atingiu no inicio da década de 90, ainda na época de jogador, não foi nem de perto o maior problema de saúde, que ele teve que superar. No ano de 2008, aos 44 anos, após sentir fortes dores nas costas, Marquinho resolveu fazer alguns exames e aí a constatação, um tumor maligno atingiu um dos rins. “Na hora foi um baque, mas me apeguei a Deus e fui muito forte”. Marquinho foi submetido a tratamentos de radioterapia e quimioterapia, um dos rins precisou ser removido. “Eu sabia que tudo iria dar certo, hoje estou curado, não sinto mais nada”, declara. Em 2009, Marquinho se deparou com outro grave problema, no horário inverso ao seu trabalho no Sayão FC, disputava campeonatos internos no próprio clube, numa dividida durante o jogo teve os ligamentos do tornozelo rompidos. “Precisei passar por cirurgia delicada”, relata. Durante a recuperação, sem poder movimentar o pé, passou a andar de muletas e muitas vezes pulando com uma perna só, isso fez com que uma nova doença fosse constatada, Marquinho contraiu uma hérnia inguinal. Novamente passou por cirurgia e após um longo tratamento de fisioterapia acabou curado. Entretanto, no mês de junho de 2011 mais um susto, desta vez percebeu de uma hora para outra que a sua boca desviou para o lado, um dos olhos não fechava completamente e a testa não enrugava como antes, ele havia sofrido uma paralisia facial periférica. “Estou me aproximando da casa dos 50 anos e tudo isso vem acontecendo comigo”, brinca. Marquinho fez tratamento com médico otorrinolaringologista, fez várias sessões de fonoaudiologia e a recuperação foi um sucesso. “Acho que essa fase ruim já passou, espero dar seqüencia naquilo que mais gosto de fazer, ser treinador da molecada no Sayão FC”, declara. Atualmente, Marquinho segue como técnico das categorias de base do Sayão FC, para jovens com idade entre 5 e 15 anos. É casado com Silvana Rigiero Marques de Oliveira desde 1987. O casal tem dois filhos, Marcus Vinicius Marques de Oliveira, publicitário de 26 anos e João Marcos Marques de Oliveira promotor de vendas da AMBEV de 21 anos. Eles moram em uma casa própria no bairro Vila Lobos, em Araras. “O futebol não me deu nada, o salário que eu ganhava era o suficiente apenas para manter minha família”, conta. Hoje, Marquinho leva uma vida comum, sustenta a família com o salário que recebe no Sayão e com o da esposa, que trabalha como recepcionista no SESI. Parte de suas economias utiliza também para ajudar o próximo, uma rotina que começou ainda em 2008. “Quando eu comecei a trabalhar na Traffic eu passei a utilizar parte deste salário para comprar cestas básicas para as pessoas catadoras de materiais recicláveis que a gente encontrava na rua, hoje não estou mais na Traffic, mesmo assim continuo ajudando essas pessoas”, declara. Nos momentos de lazer, Marquinho gosta de jogar futebol com os amigos no Sayão FC, onde disputa Campeonatos Internos com ex-jogadores, que moram em Araras como: Lica, Miranda, Odair, Rossi, Campagnollo entre outros. Homem de caráter e defensor de boas maneiras, Marco Antônio Marques de Oliveira, o Marquinho Coxinha, se orgulha em ser respeitado por onde anda. “Eu poderia ter tido uma carreira bem mais sucedida se tivesse sido ‘traira’, se tivesse passado por cima de algumas pessoas, mas não, resolvi sempre agir de forma coerente, sempre com a preocupação de não prejudicar ninguém, por isso, tenho orgulho de ser uma pessoa correta e ser adorado por muitos”, finaliza.

Tim Viola

Companheiro de Pelé no Santos Tim Viola foi o primeiro ararense a jogar fora do Brasil

Desejo de muitos, porém, realizado por poucos. Ter conseguido jogar profissionalmente e ainda atuar ao lado de Pelé, o maior jogador do mundo, é algo realmente para ficar na história. Afinal ser um profissional da bola já é difícil por si só, é preciso muito empenho e quase sempre abdicar de muitas coisas, treinar ao lado do rei então é um privilégio de poucos craques e um ararense conseguiu essa façanha. Valentim Viola, popularmente chamado de Tim Viola, nasceu no dia 25 de Março de 1943. É filho de Maria Rufina Munhoz Viola e André Viola Filho. No entanto, com dez dias de vida foi adotado pela tia Augusta Viola da Costa e pelo tio Ângelo José Trindade, ela irmã de André Viola Filho, pai biológico de Tim. “Minha mãe sofria de epilepsia e não tinha condições de me cuidar, por isso minha tia Augusta, a qual também considero minha mãe cuidou de mim”, explica. Tim Viola cresceu na região central de Araras, morava na Rua José Bonifácio nº 135. Teve quatro irmãos: Ângelo, Dirce, Cidinha e Antônia, a única que ainda está viva. Os primos Ângelo Francisco Trindade e Augusto José Trindade, este falecido em 1994, filhos da tia Augusta e do tio Ângelo, também são considerados como irmãos por Tim Viola. Tanto os pais biológicos como os tios que o criaram já são falecidos. Uma importante Avenida de Araras leva o nome da tia/mãe de Tim Viola, ela liga a zona leste de Araras, onde está localizado o Estádio do União São João, o Hermínio Ometto. “Foi um presente do prefeito Milton Severino em 1983. Quando fiquei sabendo que ela seria homenageada com o nome de uma Avenida aqui na cidade eu fiquei muito emocionado”, declara.

A paixão pelo futebol A paixão pela bola começou ainda muito criança, quando tinha 12 anos de idade, em 1955. “Naquele tempo, a nossa diversão era jogar futebol, as ruas da cidade era tudo de terra, nós brincávamos nas ruas”, conta. A habilidade com a bola nos pés e a precisão em marcar gols, chamaram a atenção do técnico Irineu Mosca, popularmente chamado por Nego Mosca, na época comandava a Sociedade Esportiva Cruzeiro, time da região do bairro Belvedere, que havia sido fundado no dia 24 de Junho de 1950 pelos dirigentes Chico Sanchez e Orlando Landgraf. O Cruzeiro era conhecido como o ‘Fantasma da Vila’ e além de Tim Viola contou com outros importantes jogadores como: Américo, Lazinho, Luizinho, Lote, Martoni, Titinho, Pedro Lira, Vicente e Zanella. Na história do clube, disputou competições importantes como o Campeonato Amador da cidade, Torneio Torque e Torneio Início dos Clubes Pequenos. Em 1956 Tim Viola deixou a Sociedade Esportiva Cruzeiro e se transferiu para o Esporte Clube Circulista. “Fui para o Circulista porque ficava mais perto de onde eu morava, os treinos eram no bairro São Benedito, era mais fácil pra mim”, explica. No Circulista, Tim Viola conquistou títulos e foi artilheiro do time. Nessa época, o Circulista ficou 55 jogos sem perder. Numa partida contra o Estudante FC no extinto Estádio Ignácio Zurita Junior, o Circulista venceu por 7 a 0, dois gols foram de Tim Viola, sendo considerado pela crônica esportiva o melhor jogador em campo. O time jogou aquela partida com: Lila, João Rosa, Dê Grande, Nardo, Rubens, Nelsinho, Miné, Tim Viola, Geraldo, João Lúcio e Odécio. “O Circulista tinha um timaço, joguei ao lado de grandes jogadores, apesar da concorrência sempre atuei como titular, fui artilheiro do time”, explica. Em 1958, Tim Viola chegou a ser contratado pela Associação Atlética Ararense, ficou um ano no clube, mas não se adaptou e retornou ao Circulista. “Modesta parte eu era um artilheiro, fazia muitos gols, mas na Associação Atlética Ararense não tive uma fase boa e acabei saindo”, explica.

Feito histórico De volta ao Circulista, Tim Viola participou de um jogo inesquecível, o qual jamais será apagado de sua memória, foi no dia 28 de Maio de 1961. A equipe ararense foi convidada para um jogo contra a Associação Atlética Caldense na cidade de Poços de Caldas. A equipe mineira estava invicta há 57 partidas. Nem as poderosas equipes do Corinthians-SP, Botafogo-RJ, Flamengo-RJ, Atlético-MG, Cruzeiro-MG conseguiram vencer a temida Veterana no sul de Minas Gerais. A confiança era tão grande na cidade, que um bar que ficava próximo ao Estádio Christiano Osório, palco da partida, exibia uma placa no mínimo curiosa: - ‘fiado só quando a Caldense perder-’. No entanto, o improvável aconteceu, o Circulista venceu, por 1 a 0. “Foi um jogo incrível, sofremos pressão o jogo todo e mesmo assim conseguimos uma vitória impressionante, o Estádio que estava lotado aplaudiu nossa equipe de pé, isso virou manchete em todos os jornais na época”, se encanta Tim Viola, que foi o capitão do time e faz uma revelação. “A chance de vencermos o jogo era tão pequena que nem o técnico Nico Muniz e nem o nosso meia esquerda João Lúcio quiseram ir com a gente, acharam que iríamos sofrer uma goleada histórica e que passaríamos vergonha”, revela. Alaor Franzini que era diretor foi o técnico do time na tarde daquele domingo histórico para o futebol ararense. Ainda no vestiário, Tim Viola e Duda, hoje dono do bar Curiango bem no centro de Araras, foram procurados por dois dirigentes de futebol de Ponta Grossa-PR. “Eles queriam nos contratar de qualquer jeito, queriam que fossemos dali mesmo para Ponta Grossa, mas eu nem sabia onde ficava essa cidade, depois de algumas semanas eles vieram aqui em Araras nos procurar, mas nem eu e nem o Duda aceitamos o convite”, conta. Maravilhados com a vitória, o elenco todo se dirigiu ao bar perto do Estádio que dizia vender fiado caso a Caldense perdesse o jogo, mas ao chegar no local, o proprietário resolveu fechar as portas e não atendeu a delegação ararense. “Fomos lá para consumir fiado como dizia a placa antes do jogo”, brinca Tim Viola. Os jogadores então partiram para Araras, a noite daquele domingo ficou pequena para tanta comemoração. O Circulista jogou com: Vergniaud; Pingola, Joãozinho e Thium (Fuminho); Nenê e Duda; Geraldo, Baeta e Luizinho (Nardo); Tim Viola e Moacir. A Caldense perdeu com: Oswaldinho; Espigão, e Fubá; Miguel e Zoé; Laércio, e Wandeir (Bolacha); Rubita e Vacarelli. A boa fase do Circulista era notória também em Araras. Naquele ano de 1961, a equipe conquistou o título do Campeonato Varzeano da cidade. Depois de tantas conquistas com a camisa do Circulista, em 1962 o centroavante ararense despertou o interesse de outras equipes da cidade, o Cruzeiro, time o qual já havia jogado no inicio da carreira e o Comercial FC. “Resolvi jogar no Comercial pelo timaço que tinha, eram jogadores espetaculares”, relata. Na época, o Comercial disputava o Campeonato Amador da região. Jogava com Ismael; Zulu, Emerson, Linguiça e João Tiritilli; Mossoró e ; Eolinho, Beto Cerri, Tim Viola e Tavinho. Um jogo no Estádio Joel Fachini mudaria de vez a carreira de Tim Viola. “Nós vencemos uma equipe de Descalvado, por 4 a 0, eu fiz os quatro gols e isso chamou a atenção de uma família de Santos, mas que morava atrás do Estádio Joel Fachini, essa família me indicou para um dirigente do Santos FC”, declara. Na semana seguinte a partida, Tim Viola foi procurado em Araras por Dídimo Pupo Gonçalves, ele era secretário particular de Athiê Jorge Cury, que havia sido vereador e deputado Estadual, na época presidia o Santos FC. “Eu fiquei encantado com o convite, jogar no Santos em meio a tantos craques era o sonho de qualquer jogador, não pensei duas vezes e aceitei a proposta”, se gaba.

A convivência com Pelé no Santos FC Ao chegar na Vila Belmiro em 1962, Tim Viola ficou encantado ao ver de perto tantos craques, verdadeiros artistas da bola comandado pelo técnico Lula. Naquele ano, o Peixe conquistou os principais campeonatos que disputou, foi campeão Paulista, Brasileiro, Libertadores e do Mundial. Até hoje é a única equipe brasileira a ganhar todas as competições oficiais que disputou em um único ano. O Peixe jogava com: Laércio; Lima, Olavo e Getúlio; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Com tantos fenômenos da bola, Tim Viola não tinha espaço no time principal do Santos, treinava sempre no time reserva e jogava apenas pelo aspirante. No time da Vila Belmiro disputava a posição com outro jogador que tinha muita ligação com a cidade de Araras-SP, Edmil Fernandes Ferreira, que nasceu em Campinas em 1942, mas tinha o apelido de Araras por ter iniciado a carreira na Usina São João. Apesar da carreira de jogador de futebol, Tim Viola tinha que cumprir as obrigações extracampo, uma delas era servir o Exército ou o Tiro de Guerra. O próprio Pelé já havia servido na cidade de Santos. “O Araras (Edmil Fernandes Ferreira) veio me perguntar se eu iria servir o exército em Santos-SP ou o Tiro de Guerra em Araras-SP, pois, o Pelé já tinha vivido essa experiência e em Santos a rigidez era muito maior do que em Araras, o Pelé me chamou de canto e me aconselhou a fazer o Tiro de Guerra em Araras”, revela Tim Viola. Mesmo com contrato assinado com o Santos-FC, Tim Viola voltou a Araras, onde prestou o serviço militar. O instrutor na época do TG 02-053 era o capitão Odair Monteiros dos Santos, que impediu Tim Viola de jogar pelo Santos em Montevidéu no Uruguai. “O Capitão Odair era muito enérgico. Eu tinha um limite de 20 faltas, já tinha estourado porque algumas vezes tinha que ir a Santos para jogar pelo aspirante, mas eu implorei para o Capitão Odair, ele não me liberou e olha que ele é santista”, revela Tim Viola sem esconder a decepção. “O time titular do Santos estava cheio de desfalques, era a minha chance de fazer um jogo pelo time principal, fiquei decepcionado, muito chateado, mas tinha que entender que o Capitão Odair estava cumprindo a regra”, lamenta. A maior alegria de Tim Viola no Santos foi a amizade que fez com todos os jogadores, especialmente com Pelé com quem conversava sempre antes e depois dos treinos. O ararense esteve na cerimônia do primeiro casamento de Pelé com a Rosemeri dos Reis Cholbi no dia 21 de Fevereiro de 1966 na cidade de Santos. “Eu já não estava mais jogando no Santos, mas ele me enviou o convite e tive a honra de estar entre os convidados neste casamento, com certeza isso ficará para sempre na minha memória”, garante.

São Bento de Marília Depois de cumprir a obrigação militar, no ano de 1963, Tim Viola foi emprestado para o São Bento de Marília, para a disputa da segunda divisão do Campeonato Paulista. “Os dirigentes do São Bento foram para Santos para tentar emprestar o e o Nenê, eram jogadores que também não conseguiam atuar no time principal do Santos, era impossível tirar a vaga de jogadores como Dorval, Mengálvio, Pagão, Coutinho, Pelé Pepe, mas o Santos não quis emprestá-los e me ofereceu, afinal eu ainda tinha contrato com o Santos, acabei aceitando a proposta e fui para Marília jogar no São Bento”, explica. Na época o principal objetivo da Associação Atlética São Bento, que utilizava uniforme nas cores vermelha e branca, era subir para a elite do Campeonato Paulista. No entanto, a finalidade não foi alcançada, mas Tim Viola foi o artilheiro do time na competição. Com o fim do Campeonato ainda no primeiro semestre de 1963, Tim Viola se reapresentou ao Santos, clube o qual tinha contrato até o final daquele ano, no entanto, uma proposta do futebol internacional, fez o ararense encerrar o seu ciclo no time da Vila Belmiro.

América de Cali da Colômbia A transferência para o América de Cali se deu na metade do ano de 1963. Foi o primeiro jogador de futebol ararense a jogar fora do Brasil. A indicação foi de Gradim, técnico e empresário de atleta na época. O mesmo que descobriu Roberto Dinamite e Dadá Maravilha para o futebol. Gradim ficou conhecido também pelos títulos do Campeonato Carioca e do Torneio Rio SP no comando do Vasco da Gama em 1958. “O Gradim era um profissional espetacular, era um verdadeiro descobridor de talentos, fazia muito sucesso no Rio de Janeiro, como ele me viu jogar e gostou, acabou me levando para o América de Cali”, explica Tim Viola. Na Colômbia, o ararense atuou no ano de 1963. Disputou competições importantes entre elas o Campeonato Colombiano. Tim Viola foi titular da equipe e também foi responsável por gols importantes. No entanto, não conquistou títulos e no final do contrato retornou ao Brasil. De volta ao Brasil, no começo do ano de 1964, sem contrato com nenhuma equipe, Tim Viola participou de uma avaliação na Rua Javari para jogar nos Estados Unidos, marcou dois gols no teste e foi aprovado. O ararense se transferiu então para um time da colônia ucraniana na Filadélfia nos Estados Unidos, onde jogou por um ano. Para complementar o pouco salário que recebia no time americano foi trabalhar em uma indústria de alimentos. “Naquela época jogador de futebol não se ganhava muito dinheiro como é hoje, por isso, todos os jogadores do time tinham que trabalhar paralelamente ao futebol. No nosso time tinha até jogador que trabalhava de lixeiro”, revela. Na fábrica de alimentos, Tim Viola era o responsável por limpar Perus, alimento sagrado servido sempre no feriado da última quinta-feira do mês de novembro chamado de Thanksgiving Day, conhecido como o Dia de Ação de Graças dos americanos. Nesta data a população reúne as famílias para agradecer aos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. Nos Estados Unidos, Tim Viola ficou até o final do ano de 1965. Com 22 anos e pouca perspectiva de futuro, especialmente financeiro, resolveu voltar ao Brasil e colocar um ponto final na carreira de jogador de futebol. “Comecei a perceber que futebol não dava dinheiro e achei por bem encerrar a minha carreira”, declara. Apesar de pouco tempo no futebol, porém bastante avultada por ter treinado ao lado de Pelé e ainda ter sido o primeiro jogador a atuar fora do país, Tim Viola se sente um privilegiado por ter jogado em grandes Estádios pelo mundo. “Sou muito feliz pela carreira que fiz como jogador de futebol, tive a honra de jogar em estádios fantásticos como Pacaembu, Vila Belmiro, Parque Antarctica, El Campín em Bogotá, Pascual Guerrero em Cali, Azteca no México entre tantos outros”, declara Tim Viola, que só lamenta não ter atuado no principal estádio brasileiro. “Só não joguei no Maracanã, essa é minha maior frustração, estive lá algumas vezes, mas nunca joguei, certa vez fui lá para ver o Flamengo do ararense Nelson Quintiliano jogar, aquilo me deu uma vontade enorme, mas infelizmente não tive esse prazer”, admite.

Empresário da comunicação Decidido a não mais seguir na carreira futebolística, Tim Viola um apaixonado por política e comunicação, implantou em Araras em Junho de 1965 a Revista Opinião e ainda comprou um carro fusca, tudo isso com cerca de 3 mil dólares, montante que conseguiu guardar com a curta carreira de jogador de futebol. A revista era mensal e relatava os principais fatos da então pequena e pacata cidade de Araras-SP. Esporte, economia, educação, variedades e principalmente política estampavam as páginas da revista, que circulou até fevereiro de 1969. No mês seguinte, em março, a revista passou a ser Jornal Opinião, o qual está em circulação diária até hoje, sendo um dos mais importantes e tradicionais veículos de comunicação do munícipio, prestes a completar 50 anos de circulação. Formado apenas no ensino médio na Escola Estadual Dr. Cesário Coimbra quando ainda jogava pelos times de Araras, Tim Viola sonhava em se tornar um advogado. No final do ano de 1970 passou no vestibular na Instituição Toledo de Ensino de Bauru-SP, onde estudou no ano de 1971. No ano seguinte se transferiu para a Faculdade de Direito de Bragança Paulista. “Eu pedi transferência porque Bragança Paulista era mais perto de Araras, assim eu conseguia conciliar a administração do Jornal com os estudos, eu viajava todos os dias para estudar”, relata. Apesar de graduado em Direito em 1974, Tim Viola nunca exerceu a função de advogado. Sua paixão era mesmo a política e a comunicação, sendo hoje um dos mais respeitados empresários da comunicação. Até hoje possui uma coluna no Jornal Opinião, sendo uma das mais lidas pela população ararense. Na década de 70 chegou a ter uma gráfica com mais de 40 funcionários que trabalhavam na impressão do Jornal. A Gráfica funcionou até 1982, quando foi vendida e a impressão voltou a ser terceirizada. No ano de 2002, Tim Viola conseguiu a concessão da TV Opinião, que entrou no ar pela primeira vez no dia 14 de Julho de 2003. A emissora é assistida em Araras e em mais 20 cidades da região. O estúdio fica no mesmo prédio do Opinião Jornal, na Rua Júlio Mesquita, no centro da cidade.

A paixão pela política A trajetória de vida de Tim Viola sempre foi marcada por desafios. O gosto pela política o fez participar dela literalmente. Por duas vezes foi Secretário de Planejamento da cidade de Araras. Primeiro no mandatado do Prefeito Valdemir Jesuíno Zuntini nos anos de 1978 e 1979. Depois no governo de Milton Severino nos anos de 1984 a 1986. Também em 1986 acumulou a função de presidente do Saema. Amigo do ex-governador Orestes Quércia, que morreu em 2010 e que tinha muitos laços com a cidade de Araras por ter sido casado com a ararense Alaíde Cristina Barbosa Ulson Quércia, Tim Viola participou diretamente do governo de Quércia nos anos de 1987 a 1989. Foi Secretário Adjunto de Relações do trabalho, Secretário Adjunto de Assuntos Fundiários, diretor da Comgás, diretor administrativo da extinta Telesp e diretor financeiro e presidente da CTBC – Companhia Telefônica Borda do Campo.

A família Valentim Viola casou-se com a também ararense, formada em Ciência Sociais pela USP de Rio Claro, Nazaré Santos Viola, no dia 08 de Junho de 1973. Tem três filhas: Vanessa Santos Viola, hoje com 39 anos, formada em jornalista mora e trabalha no Rio de Janeiro. Graziella Santos Viola de 37 anos graduada em engenharia de alimentos mora e trabalha em São Paulo e a caçula Alessandra Santos Viola de 29 anos formada em economia pela PUC Campinas e direito na Unar, mora em Araras, onde segue a carreira de advogada. Além das filhas, Tim Viola é extremamente apaixonado pelas netas, são três: Vitória filha da Vanessa e Sofia e Julia filhas da Graziella. “Minha família é tudo pra mim. A Nazaré sempre esteve do meu lado, minhas filhas sempre me dão muito orgulho e agora estou na fase de paparicar minhas netas, quase todos os finais de semana vou a São Paulo ou ao Rio de Janeiro para ficar com elas”, se derrete Valentim. A rotina de Tim Viola é até hoje de muito trabalho, ele administra o Jornal e a TV Opinião. Autêntico e muito inteligente conseguiu construir um rico patrimônio ao longo da vida. Atualmente mora em um apartamento de luxo próximo ao Lago Municipal, possui terrenos, chácara e casas de aluguel.

João Paulo

CARREIRA MARCADA PELA PERSEVERANÇA João Paulo contou com a força física para superar a técnica

O futebol para o atacante João Paulo parece estar no sangue, filho de ex-jogador, ele cresceu chutando a bola. Na infância era soberano entre os colegas, tanto que era disputado pelos clubes sociais de Araras para jogar os Campeonatos Municipais. Em toda a carreira precisou superar a técnica com o avantajado porte físico, nunca gostou de jogar em outra posição que não fosse à de atacante, chegou a bater boca com a mãe para seguir na carreira profissional. João Paulo Daniel nasceu no dia 12 de janeiro de 1981, filho de José Daniel Neto e Célia Pinto Daniel, tem dois irmãos Rodrigo Daniel de 32 anos e Marília Daniel de 26. “Parece estranho, mas meu nome é semelhante a da dupla sertaneja, tive que responder a vida inteira que foi uma coincidência”, começa falando João Paulo, se referindo a dupla João Paulo & Daniel, que fez muito sucesso nos anos 90. O cantor João Paulo morreu no dia 12 de setembro de 1997, vítima de um acidente de carro na rodovia dos Bandeirantes, próximo a capital paulista. Daniel deu sequência a carreira solo, faz sucesso até hoje. A paixão do ararense João Paulo pelo futebol começou ainda muito criança, ele sempre brincava nas ruas e nos campinhos do bairro onde morava com os pais e os irmãos, no Jardim Marabá, um bairro de classe baixa de Araras. “Com cinco anos de idade eu já ficava o dia inteiro jogando bola no campinho, quando escurecia a gente ía para a rua e brincava de golzinho”, conta. A partir do ano de 1988, além do futebol, os estudos começaram a fazer parte da rotina do então garoto. João Paulo freqüentou o Colégio particular Monsenhor Quércia, que ficava próximo ao bairro onde ele morava. “Até a quarta série eu assistia aula de manhã e a tarde jogava bola. Já o ensino médio eu fiz à tarde. Estudei até o segundo colegial porque a minha vontade mesmo sempre foi jogar futebol, este esporte sempre fez parte da minha rotina”, enfatiza. A vontade de João Paulo de jogar futebol era tanta, que a família resolveu ficar sócia dos dois clubes sociais da cidade. “Meu pai comprou o título do Sayão FC e o da Associação Atlética Ararense, deixei de brincar na rua e passei a jogar nos clubes”, lembra. João Paulo gostava mais de frequentar o Sayão FC, pois ali estavam os amigos mais próximos. Sua posição sempre foi a de atacante, era praticamente o dono da camisa 9 e sempre foi o artilheiro e o destaque entre os colegas de time. “Eu fazia muitos gols, eu tinha uma vantagem que era se posicionar bem, sem contar que eu era um pouco mais alto que meus colegas, sempre treinei bastante e tinha bom preparo físico, tudo isso me ajudava”, explica. No entanto, em 1992, quando o Sayão se preparava para uma competição interclubes, João Paulo teve um problema com então técnico, já falecido, Nego Mosca, ao ponto de deixar o Sayão FC para jogar no clube rival. “Eu não admitia jogar em outra posição que não fosse atacante e ele me colocou de lateral direito, isso me irritou ao ponto de não voltar mais no clube por um período, falei para o meu pai e fui jogar o campeonato para a Associação Atlética Ararense”, recorda. Entretanto, o irmão de João Paulo, Rodrigo Daniel continuou defendendo o Sayão FC, mais tarde os dois se enfrentariam na decisão do Campeonato Interclubes de Araras. Na Piscina, como é conhecida a Associação Atlética Ararense, João Paulo atuou como atacante e ficou com o vice-campeonato, perdeu o título justamente para o Sayão FC, porém foi o artilheiro da competição com quase 30 gols. “A rivalidade entre Sayão e Piscina sempre foi grande, lembro que nos jogos contra o Sayão FC a torcida pegava muito no meu pé, me xingando de traidor pra cima”, conta João Paulo, com bom humor. Nesse contexto de um jogar por um clube e o irmão por outro acabou deixando a família com o coração dividido. “Minha família ficou feliz de todo jeito, meu irmão pelo título e eu pela artilharia, o curioso foi que meu irmão tinha que me marcar, foi um duelo interessante entre a gente, no final nós dois nos demos bem”, garante. No ano seguinte, em 1993, João Paulo já não guardava mais mágoa do técnico Nego Mosca e nem da torcida do Sayão, que tanto o criticou, acabou voltando para defender o clube que mais se sentia bem. “Eu voltei para o Sayão FC depois de muita insistência do Nego Mosca, do Zé Lemão, do pessoal que ensinava futebol ali no clube, além do mais eu gostava mais do Sayão FC porque ali estavam praticamente todos os meus amigos de infância”, explica. Até os 13 anos, João Paulo disputou vários campeonatos pelo Sayão FC, foi o artilheiro em todos, até que lhe rendeu convites de outros times da cidade como: Comercial FC e Camisa 10, escolinha do ex-craque Aílton Lira. “No Comercial quem me levou foi o meu primo, conhecido como Prego, fiz alguns treinos lá, mas não me adaptei. No Camisa 10, eu disputei um Campeonato Municipal em 1994 e fiz muitos gols, fui artilheiro e isso chamou a atenção do Aílton Lira na época”, declara João Paulo. Ter jogado pelo projeto Camisa 10 do ex-craque Aílton Lira, foi a porta de entrada para a carreira profissional do então jovem João Paulo. “Foi bom eu ter jogado pelo Camisa 10, porque o Ailton Lira foi convidado para assumir o profissional do Primavera de Indaiatuba e me indicou para o diretor de futebol na época Eli Carlos, que trabalhou também no Guarani, foi comentarista da Rádio e TV Bandeirantes de Campinas, irmão do ex-jogador do São Paulo, Seleção Brasileira e hoje treinador de futebol, Silas”, relata. João Paulo então foi para as categorias de base do Primavera de Indaiatuba, porém não ficou na cidade, viajava apenas aos fins de semana para disputar um torneio em Campinas. “O Primavera disputou um torneio no Centro de Treinamento do Juan Figer no bairro de Barão Geraldo, eu só ia aos fins de semana para jogar esse torneio”, conta. Defender o time de Indaiatuba foi o portão de entrada para a carreira futebolística do ararense, mas João Paulo tinha a imposição da mãe, que se preocupava com o futuro dele, afinal ela sempre tinha na consciência que vencer na carreira de jogador de futebol não seria tarefa fácil, o exemplo estava dentro da própria casa, com o marido José Daniel Neto, que também foi jogador, mas não teve o sucesso esperado. Dona Célia, que trabalhava na AEHDA (Associação de Educação do Homem de Amanhã), empresa que insere jovens aprendizes no mercado de trabalho conseguiu um emprego para João Paulo de assistente de escritório na Usina São João, empresa tradicional de Araras do ramo de açúcar e alcool. Sempre respeitoso a família, João Paulo atendeu a imposição da mãe, mas com uma condição, seguir paralelamente com o futebol. Assim fez o ararense, que passou a estudar, trabalhar e seguir com o futebol no Sayão FC no período da noite e no Primavera de Indaiatuba nos finais de semana. “Eu não podia falar não a minha mãe, afinal era um emprego numa grande empresa, na Usina eu era o responsável por distribuir os documentos nos diversos departamentos da empresa, mas foi por pouco tempo, pois a minha vontade mesmo era ser jogador de futebol”, admite. Foram apenas dois meses no emprego, João Paulo recebeu um convite para jogar nas categorias de base do União São João, era a oportunidade que ele esperava. Para jogar pelo União, deixou também o Sayão FC e o Primavera de Indaiatuba, passou a se dedicar aos estudos e ao time ararense. Ainda com 14 anos foi titular do time Sub-15 do União São João numa competição transmitida pela TV Bandeirantes na cidade de Vinhedo-SP, foi no primeiro semestre de 1995. “Foi uma competição rápida, o que nos motivava era a transmissão dos jogos na TV, um monte de gente vinha falar que me assistiu jogando, aquilo era o máximo”, recorda. O desempenho do ainda jovem ararense foi tão bom, que ele foi muito elogiado por torcedores ararenses, amigos, pai, irmãos e até pela mãe, que antes não o apoiava tanto, passou a incentivá-lo bastante. Tanto esforço, lhe rendeu um convite para jogar no Paulista de Jundiaí. João Paulo acabou deixando o União São João, a família em Araras e seguiu sozinho para o seu novo clube. O sonho de criança começava a se tornar realidade. “Foi mais uma vez o Eli Carlos que me levou para o Paulista de Jundiai, ele havia deixado o Primavera para coordenar as categorias de base do Paulista e acabou me levando para jogar lá no Sub-15 do Paulista, foi uma alegria e tanto, passei a morar no alojamento do clube e me dedicar somente ao futebol”, explica.

Fome e sem dinheiro João Paulo, com 14 anos, treinava de manhã e estudava no período da tarde na Escola Estadual Maria de Lourdes França Ferreira, um colégio próximo ao Estádio Jayme Cintra. “No começo não foi nada fácil a adaptação ao clube, tinha que me preocupar com minha carreira e com os estudos.”, garante. A falta de comida no clube e a saudade da família foram outros problemas enfrentados pelo ararense. “Eu chegava da escola e muitas vezes não tinha o que comer, eu bebia água para esconder a fome e procurava dormir logo. O que eu sentia muito também era a saudade da minha família e como não tinha dinheiro para viajar para Araras, ficava o fim de semana sozinho lá no alojamento, não era nada fácil”, relata. João Paulo revela também a difícil convivência dos jogadores da base com o elenco profissional, de acordo com o atacante, os atletas mais jovens sofriam com as imposições dos veteranos. “Sempre os mais velhos querem se aproveitar dos mais novos, isso acontece em quase todos os clubes, então eles davam castigos, chamavam a gente de juvenil e tudo isso eu precisava superar, afinal eu queria me tornar um jogador profissional”, conta João Paulo. Enquanto fora de campo o ararense lutava para superar as enormes barreiras que surgiam, dentro dele, mostrava faro de gol. Na disputa do Campeonato Paulista Sub-15, João Paulo foi um dos destaques do time, conseguiu ser o artilheiro da equipe com cinco gols e foi promovido ao Sub-17 junto com outros dois jogadores que mais tarde também se destacariam por outras equipes, como o zagueiro Tiago Martinelli e o meia Rodrigo Tabata. No ano de 1996, pelo Sub-17 o Paulista fez uma parceria com o Instituto de Ensino Sant’anna de Vinhedo e os jogadores selecionados pelo clube tiveram que mudar para a vizinha cidade, local onde seriam realizados os treinamentos. O Paulista disputou naquele ano o Campeonato Paulista da categoria e logo na estréia contra o União Barbarense, mais surpresas, muitos garotos foram dispensados ali mesmo no vestiário, horas antes de começar a partida. “No momento em que o técnico do time, Marcos Biasotto, começou a discorrer a lista dos dispensados fiquei apreensivo, mas graças a Deus o meu nome não estava nessa lista de dispensa, eu estava escalado para o jogo, mas no banco de reservas”, relembra. Durante a partida, João Paulo entrou no segundo tempo e mais uma vez brilhou a estrela do atacante. “Entrei e fiz o gol da vitória, era o que eu precisava, ganhei moral e a confiança da comissão técnica do time”, declara. Durante o ano todo, João Paulo fez parte do grupo, mas o time não fez um bom campeonato. “A campanha não muito foi boa, mas eu fui muito elogiado, principalmente pela minha disposição, sei que dei o meu melhor”, relata. No ano seguinte, em 1997, João Paulo continuou no grupo do Paulista e disputou o Campeonato Paulista Sub-17. A rotina do ararense era a mesma, treinar em período integral, estudar a noite e disputa a competição nos finais de semana. Na maioria das partidas, João Paulo ficava no banco de reservas. “O Paulista tinha uma dupla de ataque muito forte, o Tomaz e o Marcelo, eles faziam muitos gols. Eu entrava as vezes no segundo tempo, mas não estava rendendo tudo aquilo que a comissão técnica esperava de mim”, admite.

Artilheiro e o primeiro título Apesar da má fase, João Paulo era sempre o reserva imediato no ataque do Paulista, na ausência dos titulares, ele sempre estava pronto para assumir a responsabilidade. Tal fato aconteceu contra o Bragantino, o titular Marcelo estava suspenso com o terceiro cartão amarelo e o técnico Marcos Biasotto escalou o ararense para iniciar a partida, era a oportunidade que João Paulo estava esperando para mostrar de uma vez por todas suas qualidades, mas foi um dia em que nada deu certo para o ararense. “Fui muito mal no jogo, perdi gol, errei passe, nada deu certo pra mim naquela partida”, admite. A má fase não o desanimava, João Paulo era o jogador que mais se dedicava nos treinos. Era também o mais cobrado pelo comandante da equipe, que sabia do potencial do ararense. “Eu lembro que o Marcos Biasotto só pegava no meu pé, eu era o alvo dele, ele só me xingava. Na época não entendia o quanto ele queria me ajudar, só hoje tenho essa noção”, conta João Paulo, que voltaria ao banco de reservas no jogo seguinte contra o São Bento, no entanto, quis o destino que ele fosse titular mais uma vez, por conta de um erro administrativo. “O Marcelo seria o titular, mas ele esqueceu a carteirinha, documento obrigatório para participar da partida e isso o impossibilitou de jogar, lembro que ali no vestiário mesmo, minutos antes de começar o jogo, o Marcos Biasotto virou pra mim e me informou que eu iria ser o titular novamente do time, aquilo deu um gelo na minha barriga e a partir do momento que pisei em campo, pedi a Deus para me iluminar e falei pra mim mesmo, que aquele jogo seria a minha grande chance de dar a volta por cima”, relata. O pedido divino parece ter sido prontamente atendido, João Paulo fez uma de suas melhores partidas pelo clube, marcou gol e deu assistência para outros gols. O Paulista goleou o São Bento, por 7 a 1, foi a maior goleada do time naquele Campeonato Paulista Sub-17. O bom desempenho fez com que João Paulo ganhasse a confiança do técnico Marcos Biasotto, que reuniu os atletas na reapresentação dos jogadores durante a semana e fez uma revelação. “Ele falou para todo mundo que eu seria o titular do time a partir daquele momento, foi uma alegria e tanto pra mim, ali eu tive a certeza que me firmaria no time”, se emociona. Como titular do time, João Paulo conquistou seu primeiro título na carreira e ainda foi o artilheiro da competição com 13 gols marcados. “Foi uma conquista importante para o Paulista, afinal o Paulista Sub-17 daquele ano foi muito difícil, bastante equilibrado, a minha artilharia eu devo ao Marcos Biasotto, que foi persistente em acreditar no meu futebol, mas pra ele me escalar eu tinha que provar em campo e graças a Deus consegui fazer os gols e jogar bem a partir do momento em que fui titular”, explica. No ano seguinte, em 1998, João Paulo com apenas 17 anos foi promovido ao time Sub-20 do Paulista para a disputa da Taça BH, Taça Londrina e Campeonato Paulista Sub-20. “Não foi um bom ano pra mim, talvez por ser o mais jovem do time, não tive muito espaço, praticamente não era relacionado para os jogos”, relembra. Em 1999, João Paulo concluiu o segundo grau. Mais maduro dentro e fora de campo, fez parte do elenco do Sub-20 do Paulista. Passou a ser relacionado mais vezes para os jogos, porém sempre ficava como opção no banco de reservas. “Não tive muito destaque não, mas eu tinha confiança do técnico Marcos Biasotto, afinal dedicação não faltava pra mim”, admite. No ano de 2000, aos 19 anos, João Paulo passou a ganhar mais espaço na categoria Sub-20. Foi o titular praticamente em todos os jogos que disputou e de quebra marcou muitos gols, que chamaram a atenção do técnico do time profissional, na época Luís Carlos Ferreira. “O Ferreirão me viu no Sub-20 e pediu para que eu fosse treinar no time principal. Junto comigo foram mais 8 garotos. Eu participei de um coletivo apenas dez minutos com o time principal, aos berros Ferreira pediu para que eu me retirasse, achei estranho, pois não tinha feito nada de errado, dei um chute para o gol, quase fiz um gol de cabeça e lutei bastante ali na marcação dos zagueiros. Assim que deixei o campo de jogo, o Ferreira me perguntou a minha idade e enfatizou bem pra mim, que se eu tivesse personalidade eu jogaria no time dele”, revela João Paulo, que acrescentou. “Era tudo que eu queria ouvir. Eu precisava dessa confiança e foi assim que comecei a buscar meu espaço”, conclui. No segundo semestre de 2000, o atacante ararense teve que se desdobrar para jogar pelo Sub-20 no Campeonato Paulista e pelo profissional na Copa João Havelange. “A minha estréia no profissional foi no dia 6 de agosto de 2000, lembro que joguei meio tempo pelo Sub-20 contra o Ituano pelo estadual e em seguida fui para a concentração do profissional para o jogo contra o Malutrom/PR pela Copa João Havelange”, explica João Paulo. Logo no primeiro jogo entre os profissionais, a estrela do ararense brilhou e ele fez o quarto gol da vitória do Paulista sobre o Malutrom, por 4 a 0. “Eu entrei no segundo tempo e fiz um gol de esquerda, foi muito emocionante pra mim”, recorda o atacante, que acabou se firmando no time. No jogo seguinte contra a Inter de Limeira no Estádio Jaime Cintra, João Paulo foi escalado para ser o titular do time. “Eu fiquei surpreso e ao mesmo tempo muito feliz, pois eu era jovem e queria buscar meu espaço, então eu fazia de tudo para cumprir aquilo que eu treinador pedia”, conta. João Paulo não decepcionou, foi o destaque do time no primeiro tempo e no vestiário foi muito elogiado pelo técnico Luiz Carlos Ferreira. “Eu cumpri a risca tudo aquilo que o Ferreira me pediu na partida, tanto que eu era o mais cansado, pois além de atacar eu tinha que ajudar a marcar. No vestiário o Ferreirão me elogiou bastante e disse que eu era o único titular do time dele naquele momento, mas que eu ia sair para entrar o Izaías. Fiquei meio que sem entender nada, mas respeitei”, conta com bom humor. No jogo seguinte contra o União de Rondonópolis/MT, no interior matogrossense, o técnico Luis Carlos Ferreira cumpriu o prometido. O atacante João Paulo foi o titular da equipe, mas uma contusão durante a partida na parte posterior da coxa direita o tirou do jogo. O ararense ficou três meses em tratamento e naquele ano não jogou mais. A volta aos gramados só aconteceu no ano seguinte. Na Copa João Havelange, o Paulista, na época também chamado de Etti Jundiaí jogou a maioria dos jogos com: Bruno Prandi; Dedimar, Toninho, Tiago Martinelli e Fábio Vidal; Wellington Monteiro, Wagner Mancini, Edmar e Jean Carlos; João Paulo e Marcinho. Em 2001, João Paulo já recuperado da contusão deixou o time profissional para defender o Sub-20 na Copa São Paulo de Futebol Juniores, o Paulista ficou na sede de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. O ararense foi titular em todos os jogos em que o Paulista disputou, porém a equipe não passou da primeira fase. Assim que terminou o torneio, o ararense voltou ao profissional para a disputa do Campeonato Paulista da Série A2. O técnico ainda era o folclórico Luiz Carlos Ferreira, o auxiliar foi Dorival Junior, que mais tarde dirigiu grandes equipes do futebol brasileiro, entre elas o Santos, Inter-RS, Vasco, Flamengo e no Palmeiras este ano. O Paulista foi campeão da Série A2 daquele ano conseguindo o acesso a divisão de elite do Paulista. João Paulo foi relacionado para algumas partidas, mas sempre ficando como opção no banco de reservas, afinal ele tinha como concorrente no elenco um conterrâneo, o experiente e também ararense Sorato. Durante a competição, Ferreirão foi demitido e seu sucessor foi o experiente Giba ex-lateral direito do União São João e Corinthians e que faleceu no dia 24 de Junho de 2014, vítima de uma doença rara nos rins. O Paulista naquele ano tinha jogadores que mais tarde se tornaram consagrados como o goleiro Vitor, que esteve na Copa do Mundo de 2014 no Brasil como reserva imediato de Júlio César e que foi campeão da Libertadores 2013 pelo Atlético Mineiro e volante Vagner Mancini, que hoje é um dos treinadores de ponta do futebol brasileiro. O Galo da Japi jogava com Vitor, Dedimar, Índio, Claudio e Fábio Vidal; Lauro, Vagner Mancini, Cristian e Jean Carlos; Sandro Sotilli e Sorato. A fase do Paulista de Jundiaí era realmente muito boa em 2001, no segundo semestre a equipe conquistou o título da Série C do Brasileiro, o que garantiu o acesso para a Série B do ano seguinte. João Paulo apesar de ter sido relacionado poucas vezes, também se considera campeão nacional. Em 2002, João Paulo perdeu de uma vez por todas seu espaço no Paulista de Jundiaí e para ganhar experiência e continuar em atividade sugeriu a diretoria que o emprestasse para um outro clube e quis o destino que fosse para o União São João de Araras, time de sua terra natal. “Eu tinha contrato com o Paulista, mas eu precisava jogar, ganhar experiência, ainda mais porque meu pai já havia jogado no União, eu também queria ter esse gostinho”, declara João Paulo. Daniel, pai de João Paulo, além do União São João, atuou em clubes como: Guarani, Portuguesa e Atlético, time amador do Jardim Fátima de Araras. No time ararense, João Paulo fez parte do time vice-campeão Paulista, o título ficou com o Ituano. Na época o União tinha como técnico Play Freitas, na reta final a diretoria preferiu trocar o comando por Luis Carlos Ferreira. João Paulo tinha uma concorrência grande no ataque. “Eu reencontrei o Ferreirão, mas era difícil ser titular ali, pois o União tinha um ataque com os experientes João Paulo (ídolo também do Guarani) e Mauro, dois fantásticos jogadores, não era fácil entrar no time”, recorda João Paulo que fez um único gol com a camisa do União justamente diante do maior rival, o Mogi Mirim. “Foi lá na casa deles ainda, um gol que vai ficar guardado para sempre na minha memória, apesar da derrota por 2 a 1 na partida”, declara. Este jogo contra o Mogi Mirim foi no dia 13 de Abril de 2002 no Estádio Romildo Ferreira, o time de Araras jogou sob o comando do técnico Play Freitas com: Bruno; Carlos Henrique (Paulo Magno), Romildo, Bidu e Edu Silva; Pintado (Branco), Luciano Santos, Fabinho e Juliano; João Paulo e Mauro ( João Paulo Daniel). O Mogi Mirim venceu com: Marcelo Galvão; Rissull, Chicão, Selmo e Clodoaldo; Zé Luis, Válber (João Batista), Joílson e A. Salles (Mineiro); Denis e Curê (Ênio). O time do Mogi Mirim era dirigido por Carlos Rossi. A arbitragem foi de Edilson Pereira de Carvalho, que em 2005 foi figura central da Máfia do Apito, o maior escândalo de arbitragem do Brasil. Com o fim do Campeonato Paulista de 2002, João Paulo deixou o União São João e voltou ao Paulista, clube o qual tinha contrato. Pelo time de Jundiaí, o ararense disputou a Série B do Brasileiro de 2002. “O Zé Teodoro era o treinador, mas fui relacionado em poucos jogos, às vezes ele preferia chamar jogador do Sub-20 a ter que me relacionar, mesmo assim nunca deixei de trabalhar e treinar forte”, relata. Naquele Nacional, o Galo da Japi não conseguiu o acesso e mesmo sem ser aproveitado, João Paulo teve o contrato renovado por mais dois anos. “O diretor de futebol do Paulista na época, o Moisés, me ligou e deu a notícia da renovação, confesso que fiquei surpreso porque não tinha feito praticamente nenhum jogo na Série B, mas o que contou muito foi meu profissionalismo e minha maneira de treinar forte”, acredita. No ano de 2003, treinado pelo técnico Edson Gaúcho, o Paulista disputou a elite do Estadual. O atacante João Paulo chegou a ser o titular nas duas primeiras rodadas. “Não marquei gol, mas vencemos o São Paulo, por 2 a 1, fui muito bem e no jogo seguinte também fui titular contra o Santos, perdemos por 3 a 2, na Vila Belmiro, não tive uma boa apresentação e perdi a titularidade”, explica. O Paulista trocou de treinador durante a competição, de novo contratou Luis Carlos Ferreira. Com o novo comandante, João Paulo passou a ser relacionado em praticamente todos os jogos e durante todo o Paulistão marcou dois gols. Apesar das poucas oportunidades, João Paulo continuava se dedicando aos treinamentos e sempre sendo um jogador exemplar fora de campo. Tanta determinação fez com que o atacante despertasse interesse no Juventude para a disputa da Série A do Brasileiro. “Quem me indicou foi o Cristovão Borges, que foi auxiliar de no Vasco da Gama e que hoje se se firmou como técnico”, recorda. No time gaúcho, João Paulo foi muito pouco aproveitado, entrou em campo em 9 partidas e fez apenas um gol contra o Santos, no empate em 1 a 1. A equipe se manteve na elite. Terminou a competição na 18ª posição com 53 pontos, foram 12 vitórias, 14 empates e 20 derrotas. Naquele ano, passaram pelo Juventude cinco treinadores: Cristovão Borges, , José Luiz Plein, Rodrigo Poletto e . O duelo contra o Santos foi no dia 17 de Maio de 2003, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. O time gaúcho treinador por Marinho Perez jogou com: Maurício; Mineiro, Índio (Renato), Neguete e André Todescato; Camazzola, Fernando, Michel e Marcelo Costa (Rafael Gaúcho); Gustavo Papa (Geufer) e João Paulo. O Santos do técnico Emerson Leão na época jogou com: Fábio Costa (Julio César); Reginaldo Araújo, André Luiz, Alex (Preto) e Léo; , Renato e ; Nenê, (Fabiano) e Douglas. João Paulo marcou o gol para o Juventude e Gustavo Papa marcou contra para o Peixe.

Vice-Campeão Paulista 2004 é considerado por João Paulo o melhor ano de sua carreira no Brasil. Ele estava com 23 anos, seria o seu último ano de contrato com o Paulista de Jundiaí. O ararense foi o jogador que mais gols pelo Paulista fez naquele estadual, foram seis no total. Na oportunidade o Paulista apostou na contratação do ex-goleiro e então treinador Zetti para conquistar uma boa campanha na competição. “O Zetti é uma pessoa maravilhosa, nosso time corria por ele, no inicio a nossa equipe gerou muita desconfiança, mas depois os jogadores se encaixaram e o Paulista chegou ao vice- campeonato, perdendo a final para o São Caetano no Pacaembu”, relembra. Diferente dos anos anteriores, a diretoria do Paulista resolveu apostar em jovens talentos, em atletas formados na base para a disputa do Campeonato Paulista de 2004, a tentativa deu certo e o time de Jundiaí fez a melhor campanha de sua história em Campeonatos Estaduais, na decisão perdeu para o São Caetano, por 2 a 1. No primeiro jogo já havia perdido, por 3 a 1.“Foi uma campanha sensacional, fizemos um brilhante trabalho, apesar da derrota na decisão, foi muito gratificante ter participado daquele elenco, que tinha só jovens jogadores, todos desconhecidos e que hoje são celebridades”, brinca. Nas finais contra o São Caetano no Pacaembu o Paulista jogou com: Márcio, Lucas, Asprilla, Danilo e Galego; Umberto, Alemão, Canindé e Aílton (Fábio Melo); Izaías e João Paulo (Davi). O São Caetano foi campeão com: Silvio Luis; Anderson Lima, Dininho, Serginho e Triguinho; Marcelo Mattos. Mineiro, Gilberto e Marcinho; Eulher e Fabrício Carvalho, técnico Muricy Ramalho. Nesta campanha de 2004, um jogo inesquecível marcou de uma vez por todas a passagem de João Paulo pelo Paulista de Jundiaí, isso porque na fase semifinal contra o Palmeiras, a partida foi transferida do Estádio Jayme Cintra para o Hermínio Ometto em Araras, justamente na sua cidade de origem, bem perto de seus familiares. A mudança do local da partida se deu por conta de uma punição imposta pelo STJD, já que durante a competição, a torcida do Paulista se envolveu em uma briga coma a torcida da Ponte Preta. “Eu gostaria de ter jogado em Jundiaí, bem perto do nosso torcedor, mas quando soube que seria em Araras, me deu um frio na barriga e uma vontade enorme de vencer aquele jogo contra o Palmeiras e chegar a final”, recorda. Perto da família, a responsabilidade de João Paulo aumentou, mas o atacante não decepcionou e marcou um dos gols da equipe, que empatou em 3 a 3 no tempo normal. A decisão foi para os pênaltis, o Paulista levou a melhor, venceu por 5 a 3, eliminou o Palmeiras e foi a grande final diante do São Caetano. Naquele duelo em Araras o Paulista do técnico Zetti jogou com: Marcio; Lucas, Danilo, Asprilla e Galego; Umberto, Alemão, Aílton e Canindé; Izaías e João Paulo. O Palmeiras de Jair Picerni atuou com: Marcos; Baiano, Nem, Leonardo e Lucio; Correa, Magrão, Pedrinho e Diego Souza; Munhoz e Vagner Love. Com o vice-campeonato e com a artilharia do time na competição, João Paulo despertou interesse em clubes do exterior e de empresários que estavam dispostos a investir no atacante. Enquanto a diretoria o negociava, João Paulo disputava as primeiras rodadas da Série B do Brasileiro, que teve Zetti no inicio e depois Vagner Mancini na seqüencia da competição. “O Zetti recebeu uma proposta do Guarani e foi embora e a diretoria efetivou o Mancini, que logo de cara pediu o meu afastamento, porque eu estava sendo negociado com um grupo de empresários da Espanha”, lembra João Paulo.

O futebol fora do país No mês de Junho de 2004, João Paulo foi negociado em definitivo com um grupo de empresário da Espanha, que na oportunidade administrava o Servette, time da primeira divisão do futebol Suíço. “Quem intermediou tudo foi um empresário japonês chamado Jim Hase, ele já tinha me visto jogar pelo Juventude e ajudou nessa transação”, explica o atacante, que conseguiu dar um retorno ao time que apostou em seu talento desde o inicio. “Eu fiquei muito feliz com essa negociação, foi bom pra mim e para o clube, pude dar o retorno esperado ao Paulista que havia apostado no meu futebol durante nove anos. ”, conta João Paulo. Na despedia de João Paulo do Paulista foi uma emoção muito grande por parte dos dirigentes, integrantes da comissão técnica, demais jogadores e funcionários. “No dia em que fui recolher meu material e fui deixar o clube definitivamente, foi uma choradeira só, ali eu percebi o quanto eu era querido eu senti também que eu era como um exemplo para todos no clube, pelo meu esforço dentro de campo e pelo meu profissionalismo fora dele, então tinha muita gente que torcia por mim ali dentro”, se emociona. No Servette, João Paulo se juntaria a outros dois brasileiros que já estavam lá, o lateral esquerdo Edu Silva e o volante Leonardo. O ararense embarcou no aeroporto de Viracopos em Campinas e tudo já estava acertado para que o Edu Silva fosse recepcioná-lo no aeroporto em Berna, capital da Suíça, no entanto, houve uma falha de comunicação e ninguém apareceu para pegá-lo. “O Edu Silva ao invés de me buscar no aeroporto foi me esperar no hotel. Cheguei ao aeroporto e ninguém do clube estava lá, fiquei muito preocupado porque era minha primeira viagem internacional e o telefone do Edu Silva não atendia”, relembra. No saguão do Aeroporto, João Paulo estava aflito, andava de um lado para o outro em busca de ajuda, sem conhecimento da língua inglesa, em vão tentava se comunicar, por meio de mimica, até que de passagem ouviu alguém pronunciar uma palavra em português. À época era uma senhora de nome Vanda de aproximadamente 52 anos, natural de Itatiba, interior de São Paulo, mas que morava na Suíça há mais de dez anos, ela estava no saguão do aeroporto aguardando a chegada de um amigo brasileiro, o qual ficaria na casa dela por algum tempo. Bastante nervoso e temeroso com o anoitecer que vinha se aproximando, João Paulo foi logo pedindo ajuda o que foi prontamente atendido, a brasileira o convidou para passar a noite na casa dela. “Ela foi muito bacana comigo, talvez tenha percebido minha preocupação e assim que chegou o amigo dela, depois de uns 40 minutos, fomos pra casa dela”, relata. No entanto, ao chegar na casa de Vanda em Berna, João Paulo se deparou com algo muito curioso. “Além do amigo que havia acabado de chegar de viagem, tinha outros dois brasileiros na casa, todos eram homossexuais, aquilo me deixou constrangido”, conta com bom humor o atacante ararense, que a todo o momento tentava falar por telefone com o companheiro de clube Edu Silva. Bem recebido por todos, João Paulo passou por alguns momentos de desconforto e ao mesmo tempo engraçado. Um deles foi à hora do banho, a porta não tinha fechadura. “Aquilo me deixou mais intrigado ainda, minha preocupação era que eles fossem invadir o banheiro e me obrigar a fazer sexo com eles”, se diverte João Paulo, que garante não ter acontecido nada e quando a noite estava terminando conseguiu falar com Edu Silva. “Quando ele me atendeu foi um alivio, passei o telefone para a Vanda e ela conseguiu explicar certinho onde eu estava. Não demorou muito o Edu apareceu para me buscar, ele foi parceiro, afinal não queria dormir ali na casa”, brinca. No entanto, João Paulo tem uma enorme gratidão a Dona Vera e aos amigos, que o receberam tão bem. “Eu só tenho a agradecer, eles me respeitaram muito e eu estava sozinho em um lugar completamente diferente, então eu precisei daquela acolhida”, conta João Paulo que não escapou das brincadeiras dos colegas logo no primeiro treino no seu novo clube. “Todos tiraram sarro de mim, dizendo que fui a lugar errado, que eu estava longe do Brasil e ninguém ia perceber minha recaída, brincadeira dos boleiros mesmo”, sorri João Paulo. No Servette, João Paulo assinou contrato por três anos, disputou o Campeonato Suíço. No time tinha jogadores conhecidos como o chileno Jean Beauseojour, Valdivia (Palmeiras) e o francês Christian Karembeu. O atacante ararense foi titular praticamente em todos os jogos, marcou gols, mas um problema político do clube dificultava o desempenho do time dentro de campo. “Nós recebemos salários só nos dois primeiros meses, depois não recebemos mais, foram quase seis meses sem ver a cor da grana”, conta. João Paulo ainda faz uma revelação. “Tinha gente passando fome lá, o Valdivia não ia treinar com medo de perder o apartamento, pois lá quem não paga aluguel, a polícia troca a fechadura e você fica sem entrar em casa. Isso aconteceu com o Edu Silva”, declara. A crise era tão grande, que o Servette anunciou falência no dia 4 de fevereiro 2005, sem receber salário, João Paulo conseguiu ficar de posse de seus Direitos Federativos e acabou deixando o país para jogar no Ciudad de Murcia, na segunda divisão da Espanha. “O Campeonato Espanhol da segunda divisão estava no segundo turno, cheguei e fui titular na maioria dos jogos, fiz quatro gols mesmo jogando como atacante pela direita. Sem nenhum brasileiro no time tive muitas dificuldades para me adaptar”, conta. O Ciudad de Murcia foi extinto em 2007. Logo depois que deixou o time espanhol, João Paulo foi procurado por dois agentes brasileiros que atuavam na Europa. “O Kiko e o Ricardo me sugeriram várias propostas de clubes portugueses, franceses e suíços, resolvi aceitar o convite do Lorient da primeira divisão da França, o salário oferecido foi maior e o período de contrato seria de três anos, me apresentei, treinei, saiu o número da minha camisa, a imprensa já havia noticiado a minha contratação, estava tudo certo, só que depois de algumas semanas treinando fui comunicado que não podia permanecer no time, uma cláusula no regimento interno do Lorient não permitia contratação de jogadores próximo das eleições, tive que deixar o clube”, explica. Sem clube, João Paulo fez testes em outros dois times antes de voltar ao futebol suíço, onde atuou pelo Yong Boys. O ararense foi reprovado no Lemans FC, time da segunda divisão do Campeonato Francês e no Parma da Itália, que já havia um número de jogadores estrangeiros no limite permitido pelo regulamento do futebol italiano.

A consagração Depois de várias tentativas frustradas de se firmar no futebol europeu, João Paulo queria mesmo é ficar na Suíça. Um convite para defender Yong Boys, time da elite do futebol daquele país caiu como uma luva para o brasileiro, que já programava seu retorno ao Brasil. “Se firmar fora do país não é uma tarefa fácil, existe uma série de fatores que precisam ser administrado, tem a questão da língua, a comida diferente, a temperatura, a saudade da família, mas a minha força de vontade superava tudo isso, eu sempre fui muito lutador na busca dos meus objetivos”, se orgulha. No Yong Boys, João Paulo disputou o Campeonato Suíço e paralelamente a Copa da Suíça, uma espécie de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. No seu novo clube, chegou com fama de artilheiro, afinal todos já o conheciam pela boa passagem pelo Servette no ano anterior. Apesar do status, teve que brigar pela posição, uma vez que as competições estavam em andamento e o treinador alemão Gernot Rohr já tinha suas preferências pelos atacantes do elenco. “Eu cheguei precisando mostrar minhas qualidades, afinal o time já estava jogando e tinha que mostrar durante a semana minhas condições, como eu já estava adaptado ao futebol suíço, não tive dificuldades, bastaram alguns treinos para eu ganhar a posição e a confiança de todos no clube”, recorda. No Yong Boys, João Paulo teve o melhor momento de sua carreira. No clube mostrou toda a sua raça e, sobretudo a frieza na hora de balançar a rede adversária, só no Campeonato Suíço foram 19 gols marcados em 28 partidas, foi o vice artilheiro da competição e eleito o quarto melhor jogador do Campeonato, tudo isso o fez cair na graça da torcida e ser ovacionado em todos os jogos. “Minha fase era tão boa, que só não fui artilheiro porque cheguei no meio do campeonato e por isso a concorrência foi desleal”, brinca. O Yong Boys ficou com a terceira colocação do Campeonato Suíço daquele ano de 2006 o que garantiu uma vaga não tão sonhada e disputada Liga dos Campeões da Europa. Já na Copa da Suíça, a campanha do time foi ainda mais surpreendente. Depois de 20 anos, o Yong Boys chegou a uma final. O atacante João Paulo foi um dos responsáveis por esse feito. “Eu estava com muita moral lá, era o camisa 9 absoluto do time, fiz mais seis gols nessa Copa e conseguimos chegar a essa final inédita para o clube”, se orgulha o ararense.

A dor de perder um pênalti A decisão foi contra o FC Sion. Só a vitória interessava as equipes, em caso de empate iria para prorrogação e persistindo o empate o campeão seria conhecido após cobranças de penalidades. O jogo começou e o Yong Boys, antes dos 15 minutos fez 1 a 0. Em seguida um zagueiro do Yong Boys foi expulso e o time de João Paulo não suportou a pressão e levou o gol de empate no segundo tempo. A partida foi para a prorrogação e mesmo com um jogador a menos conseguiu segurar o empate. O título foi decidido nas penalidades máximas, porém, o pênalti perdido por João Paulo custou o título da competição. “Tinha 30 mil pessoas no Estádio, eu estava tranquilo, nosso time estava com moral por ter segurado o resultado com um a menos, fui o primeiro a cobrar, mas quando parti pra bola eu peguei embaixo dela, o goleiro foi para um canto, a bola do outro, porém no travessão, perdi a cobrança e perdemos o título”, lamenta. Na seqüencia todos os batedores acertaram, o resultado final foi 5 a 4 para FC Sion. A torcida do Yong Boys deixou o Estádio decepcionada, o ararense João Paulo ficou muito abatido com o erro e até hoje ele não quis rever o lance. “Eu prefiro ver os meus gols a esse erro aí, foi uma sensação muito triste, fiquei arrasado em ver uma multidão triste”, desabafa. Apesar da decepção dos torcedores, João Paulo garante que dentro do clube recebeu apoio dos companheiros, comissão técnica e diretoria. “Os jogadores vieram me confortar, me deram apoio, no futebol você está sujeito a isso, dessa vez aconteceu comigo”, conta. Apesar do pênalti perdido, o clube reconheceu o desempenho do ararense na temporada toda e o contrato de João Paulo foi renovado por mais três anos, até o fim de 2009.

Casamento relâmpago A fase dentro de campo de João Paulo era tão boa que fora dele as coisas também conspiravam a seu favor. Foi nesse período que João Paulo começou a namorar a brasileira Renata Rodrigues Daniel, natural de Andradina/SP, mas criada pela mãe em Campo Grande/MS. Na fase adulta se mudou com a família para Lisboa, em Portugal. “Junto comigo jogava o Everson, brasileiro de Campo Grande/MS, que tinha jogado no Benfica de Portugal e havia morado em Lisboa próximo a casa da Renata. A esposa dele foi quem me apresentou a Renata”, conta. Os primeiros contatos foram pela internet, mesmo a distância, João Paulo se mostrou interessado e foi pessoalmente a Lisboa pedir a moça para namorar. “Eu estava de folga, a viagem durava duas horas de avião e valeu a pena, começamos a namorar em definitivo e durou apenas cinco meses, pois em dezembro estávamos casando aqui em Araras”, declara. A cerimônia foi só no civil no dia 29 de dezembro de 2006, os familiares do noivo e da noiva se conheceram apenas no dia do evento. Casados, os dois foram morar juntos na cidade de Berna na Suíça. João Paulo estava no meio da temporada de 2006/2007 jogando pelo Yong Boys. No entanto, nem bem o casal arrumou o apartamento, o Yong Boys recebeu uma proposta de empréstimo do Racing Club Strasbourg pelo atacante. O clube francês estava disposto a fazer um investimento alto para ter o atacante ararense, já que o objetivo era subir o time para a primeira divisão do Campeonato Francês. “Eu fiquei sabendo da proposta e aceitei, pois receberia um salário maior e o campeonato Francês tem muito mais visibilidade do que o da Suíça”, explica João Paulo, que se mudou para a cidade de Strasbourg na França. No time francês, João Paulo ficou até o junho de 2007. Logo nos primeiros seis jogos, fez 3 gols e foi eleito o melhor jogador do mês de fevereiro de 2007 da competição. O ararense ajudou o Racing Club Strasbourg a subir para elite do futebol francês. “Foi uma experiência boa pra mim, pude contribuir com acesso do time, o qual era o principal objetivo do clube naquela temporada”. No segundo semestre de 2007, João Paulo retornou de empréstimo ao Yong Boys, porém o técnico já não era o mesmo, o alemão Gernot Rohr, havia deixado o clube e o suíço Martin Andermatt havia assumido. Com essa mudança de comando, João Paulo perdeu espaço. “Esse novo treinador não ía muito com a minha cara, se quer ele me relacionava para os jogos, as vezes ele preferia chamar um garoto do Sub-20 do que me levar para as partidas, então eu ficava só treinando, isso me deixou muito insatisfeito”, admite. Sem espaço no Yong Boys, João Paulo fez um acordo com a diretoria e deixou o clube para defender o Neuchâtel Xamax também da Suíça. “Foi meu amigo Everson que me indicou no clube, o técnico na época era o argentino Nestor Clausen. Ele me ligou pedindo para que eu fosse jogar lá e acabei aceitando”, declara. João Paulo foi contratado pelo Neuchâtel Xamax como a esperança de gols no Campeonato Suíço. O contrato assinado foi de duas temporadas, porém o ararense não teve muito sucesso. No período de 2007/2008 foi titular em alguns jogos, a maioria deles ficou no banco de reservas, o time lutou o campeonato todo contra o rebaixamento e escapou nas últimas rodadas. A temporada de 2008/2009 também não foi boa para o ararense. João Paulo quase não era relacionado para os jogos, deixou de receber direitos de imagens do clube e para piorar sofreu uma contusão, que o afastou quase dois meses do gramado. Tudo isso, fez o atacante ficar insatisfeito no Neuchâtel Xamax e em comum acordo pediu rescisão de contrato. Se dentro de campo as coisas não andavam bem, fora dele, pelo menos uma notícia que o encheu de orgulho, a esposa Renata com o exame em mãos, o informou que ele seria papai, pois ela estava grávida e o filho do casal estava a caminho. “Foi minha maior alegria, era tudo que a gente queria”, se emociona João Paulo ao falar do filho Matheus Rodrigues Daniel. Sem clube na Suíça, João Paulo retornou com a esposa ao Brasil no final do ano de 2008. Em janeiro de 2009 surgiu um convite do Yokohama Marinos do Japão, mas uma crise econômica instaurada no futebol daquele país não permitiu a contratação do ararense. Uma outra proposta foi do futebol chinês, mas a gravidez da esposa o impediu de atuar naquele país. Inativo, João Paulo recorreu mais uma vez aos agentes Kiko e Ricardo para poder voltar a jogar. A pedido dos empresários viajou para Berlim na Alemanha e começou a treinar em um time da quarta divisão do futebol daquele país. “Era uma situação deplorável, mas era só para me manter a forma, pois a promessa era de acertar com o Hamburgo da primeira divisão do futebol Alemão”. Com o tempo passando e nada de concretizar a negociação, os agentes indicaram o Lousanne FC, time da segunda divisão da Suíça, mas João Paulo não aceitou. “Eu disse não a essa possibilidade, pois queria ficar na Alemanha para jogar a primeira divisão pelo Hamburgo, mas me arrependi e acabei não acertando nem com um nem com outro”, relata. João Paulo deixou a Alemanha e embarcou para a Suíça, um país onde já havia morado e sabia que poderia alugar um apartamento por temporada, afinal, a esposa estava prestes a ter o filho. “Eu aluguei um apartamento em Lousanne por alguns meses, o Matheus nasceu lá no dia 30 de Março de 2009”, explica João Paulo, que além da esposa tinha também a preocupação do filho recém-nascido. Com tantas indefinições, o ararense já estava descrente com o futebol e praticamente decidido em retornar ao Brasil. “Apesar de eu estar só com 28 anos na época eu já pensava em encerrar a minha carreira, mas quando eu me preparava para voltar ao Brasil, recebi um telefonema de um empresário português”, recorda. A ligação foi do agente José Caldeira que lhe fez um convite para o ararense atuar pelo Portimonense, time da segunda divisão Portuguesa.“No futebol é comum a indicação de jogador para empresários e esse português deve ter pegado meu contato com algum boleiro e acabou me fazendo uma proposta para jogar em Portugal”, relembra. Era tudo que João Paulo precisava para retomar a carreira. “Mudei com minha família para Portimão, estava mais animado, pois o que eu mais queria era estar em atividade, mesmo sendo um salário abaixo daquilo que eu estava acostumado a receber em clubes europeus”, declara o atacante que de quebra ficou mais perto da sogra, afinal a mãe da esposa Renata vive em Lisboa. “Deu tudo certo por que a Renata teve a ajuda da mãe dela para cuidar do Matheus que ainda estava nos primeiros meses de vida”, recorda. O Portimonense subiu de divisão jogando com: Alê; Ricardo Pessoa, João Pedro, Ruben e Nilson; Balu, Diogo, Ivanildo e Vasco Mattos; Jorge Piris e João Paulo. Os treinadores que passaram pelo clube nesse acesso foram e Litos. Logo depois da conquista, João Paulo deixou o clube e resolveu voltar ao Brasil com a família. O atacante tinha a pretensão de acertar com algum time paulista para o segundo semestre de 2010 e a ajuda veio do ex-jogador Beto Médice, que mora em Araras e na época trabalhava na Traffic, empresa que administra o futebol do Desportivo Brasil da cidade de Porto Feliz-SP. “ O Beto me levou ao Desportivo Brasil para que eu pudesse manter a minha forma, na época eu pagava um valor semanal para utilizar as instalações do clube”, explica. Na oportunidade, o Desportivo Brasil treinado pelo ararense Privati, disputava a Série B do Campeonato Paulista, uma espécie de quarta divisão do estadual de São Paulo. Sem nenhuma proposta oficial de clubes, não demorou muito para que João Paulo chamasse a atenção nos treinos e fosse convidado para fazer parte do time para a seqüencia da competição. “O Privati veio me pedir e acabei aceitando, assinei contrato e aí ao invés de pagar, passei a receber do clube, joguei todas as partidas de titular, mas não cheguei a fazer gols”, explica. A equipe não conseguiu se classificar a próxima fase da competição e acabou permanecendo na segunda divisão do Paulista.

O convite de treinador Com o fim da competição, João Paulo recebeu um convite inesperado do superintendente de futebol do Desportivo Brasil, Rodolfo Pinheiro Canavesi, a proposta era para que o ararense encerrasse a carreira de jogador de futebol e se tornasse técnico da categoria Sub-15 do Desportivo Brasil. O pedido do dirigente deixou João Paulo, na época com 29 anos praticamente sem reação. O atacante estava disposto realmente a encerrar a carreira. “O futebol não é tão simples como as pessoas imaginam, eu estava cansado, tinha dado um monte de cabeçadas, as coisas não se encaixavam mais pra mim, mas ao mesmo tempo era difícil tomar uma decisão de encerrar a carreira, eu queria tentar um pouco mais”, disse. Depois de pensar alguns dias, o ararense agradeceu o convite e resolveu continuar a carreira de atleta. “Sou muito grato ao presidente do Desportivo Brasil, Rodolfo Pinheiro Canavesi, uma pessoa que me ajudou muito, quem sabe um dia não volto ao Desportivo Brasil como treinador”, declara. Dando sequência na carreira de jogador, João Paulo recebeu ajuda de outro amigo ararense e acertou com o São Caetano para atuar na Série B do Brasileiro de 2012. “Quem me indicou foi o Dino Camargo, irmão do ex-goleiro Fabiano, que por muito tempo trabalhou na comissão técnica do São Caetano, atualmente é auxiliar do técnico Narciso”, conta. No São Caetano João Paulo foi treinado por Sérgio Guedes e depois Toninho Cecílio, com os dois comandantes o ararense foi relacionado para praticamente todos os jogos da competição, mas sempre como opção no banco de reservas. “Sempre entrava no decorrer das partidas, mas infelizmente não consegui fazer nenhum gol pelo clube”. Na competição o São Caetano não conseguiu o acesso, ficou na 10ª posição com 52 pontos. Foram 38 jogos, sendo 14 vitórias, 10 empates e 14 derrotas. Em 2010, o São Caetano jogava com: Luiz; Artur, Marcelo Batatais, Anderson Marques e Bruno Recife; Jairo, Lucas, Everton Ribeiro e Kleber; Fernandes e Eduardo (João Paulo). Em 2011, João Paulo se transferiu para o Audax/Pão de Açucar, onde disputou a Série A2 do Campeonato Paulista. O convite foi novamente do ararense Dino Camargo, que também havia deixado o São Caetano para trabalhar na comissão técnica do Audax. No time da capital, João Paulo foi comandado pelo técnico Luiz Carlos Martins, que sempre o relacionava para o jogos no banco de reservas, porém, foi titular em duas partidas contra o XV de Piracicaba e o Red Bull. O Audax jogava com: Cairo; Bruno Peres, Max Sandro (Everton Páscoa), Binho e Valdo; Alan, Paulo Roberto, Marcelo e Juca; Renatinho (João Paulo) e Sérgio Lobo (Caihame). A equipe não conseguiu o acesso a elite do Campeonato Paulista. Com o fim do contrato com o Audax na metade do ano de 2011, João Paulo deixou o clube e retornou a Araras. “Não tinha nenhuma proposta e passei a treinar sozinho aqui na cidade sempre com a orientação do professor de educação física Pierre Pinhal”. João Paulo queria manter a forma para voltar aos gramados em grande estilo. Um contato do agente Ricardo em Agosto de 2011 fez o ararense retornar a Europa, desta vez na segunda divisão do futebol polonês.

O fim da carreira O ararense foi defender Wista Plock Spólca Alkcyjna, que já tinha dois brasileiros no elenco, o zagueiro Edson da cidade de São Bernardo do Campo e o meia Ricardo Mendes da cidade de Santo André. No time Polonês, João Paulo foi titular absoluto, fez quatro gols na competição e ainda se destacou pelas seguidas assistências nas partidas. “Fiz gols importantes e ainda tive a felicidade de servir meus companheiros de ataque, fui um verdadeiro garçom do time”, brinca. A equipe em 20 jogos na temporada de 2011/2012 conseguiu seis vitórias, três empates e acumulou 11 derrotas conseguindo se manter na segunda divisão. Aos 31 anos, este foi o último time em que João Paulo atuou profissionalmente. Logo após o encerramento do contrato o atacante retornou a Araras e resolveu por um ponto final na carreira. “O futebol é muito difícil, já não estava mais disposto, estava de saco cheio de tantas viagens e muitas vezes ficar longe de minha família”, declara. Apesar de tantas dificuldades encontradas na carreira, João Paulo se sente honrado por ter conquistado o sonho de ter sido jogador de futebol profissional. Para o ararense foi uma resposta para muita gente que não acreditava em seu potencial. O ararense faz questão de ressaltar uma passagem na infância, quando estudava ainda na terceira série primária, quando foi esnobado por uma professora do Colégio Monsenhor Quércia, conhecido como Canossianas, foi o combustível da sua perseverança. “Era uma professora de Português, Elis Regina, ela pediu para a classe uma redação sobre qual profissão a gente gostaria para o futuro, eu tinha nove anos e escrevi que gostaria de ser um jogador de futebol, atuar em grandes clubes, conhecer o mundo. Quando ela começou a corrigir as redações ela parou na minha e começou a desfazer de tudo que eu tinha escrito, dizendo que jogador de futebol não daria futuro para ninguém, que não era uma profissão digna e como jogador não conheceria se quer a metade do Brasil, aquilo me deixou cabisbaixo, porém mesmo criança senti que era aquilo que gostaria de ser e estava disposto a enfrentar qualquer obstáculo para me tornar um atleta profissional. Foi o que fiz, tudo que tenho hoje é graças a este esporte”, revela João Paulo, que fez questão de tirar uma foto de um ponto turístico de Portugal e dedicar a professora. “Eu tirei a foto e no ato eu falei essa vai para a minha professora, a Renata até espantou me perguntando se a professora havia me incentivado na infância, disse que não, foi ao contrário, ela tirou sarro da minha redação”, brinca João Paulo, que garante não ter encontrado mais essa professora. Com o futebol, João Paulo comprou um apartamento na região norte de Araras, onde vive atualmente com a esposa Renata, o filho Matheus e a filha Maria Eduarda Rodrigues Daniel, que nasceu no dia 28 de julho de 2014 em Araras. Adquiriu também um terreno, um carro popular e garante ter feito uma boa poupança para o futuro. O ararense faz questão de ressaltar também que o futebol lhe deu outros benefícios, que vai muito além de bens materiais. “Foi através dele que conheci a minha esposa e construí minha família, além dos mais hoje sei falar vários idiomas como francês, italiano, espanhol e um pouco de inglês”. Carismático João Paulo também ressalta as amizades que faz questão de cultivar até hoje. “Isso graças a Deus eu fiz bastante, mas quero ressaltar aqui o volante Lauro, que jogou comigo no Juventude, o Abraão do Paulista, fui padrinho de casamento dele, o Tiago Calvano atuou comigo na Suíça e o Everson grande responsável por ter apresentado minha esposa, esses são os mais chegados”, ressalta. Um momento inesquecível para João Paulo foi no ano de 2006, quando a Seleção Brasileira esteve na Suíça para se preparar para a Copa do Mundo na Alemanha. “Fui ao hotel e conversei com o Kaká, o Ronaldo, o Roberto Carlos, o Luisão, o Gaúcho e tirei fotos com todos eles, foi um momento único, pude estar ao lado de todas essas estrelas do futebol mundial”, se encanta. No Mundial daquele ano, o Brasil foi eliminado nas quartas de final para a França, o jogo ficou marcado para o lateral esquerdo Roberto Carlos, que tem muita ligação com a cidade de Araras, ele não acompanhou o atacante Henry durante uma cobrança de falta e foi flagrado arrumando as meias. Neste descuido, Henry fez o gol da vitória da França, por 1 a 0, resultado que eliminou a Seleção Brasileira do Mundial.

Empresário, palestrante e técnico Hoje aos 35 anos, João Paulo possui uma rotina de trabalho bastante agitada. É empresário, palestrante e técnico da categoria Sub-11 do União São João. Em Araras possui duas lojas, que adquiriu com parte do dinheiro que ganhou no futebol. A La Vetrine empresa do ramo de box para banheiro e vidros temperados em sociedade com o amigo Fabiano Cantelmo e a Espaço Renata Daniel em parceria com a esposa Renata especializada em roupas infantis. “Nós jogadores quando paramos com o futebol precisamos criar alternativas para suprir a falta de estudo, então estou aprendendo a lhe dar com a vida de comerciante”, conta. Quando não está na administração das lojas, o ex-jogador aproveita o conhecimento adquirido ao longo da carreira para ministrar palestras motivacionais em escolas, empresas e instituições. “A minha carreira sempre foi pautada pela luta e perseverança e é isso que eu passo nas minhas palestras, a persistência é o segredo para alcançar o sucesso”, garante João Paulo, que também é técnico da categoria Sub-11 do União São João de Araras. “O futebol é uma paixão que vai ficar com a gente para sempre, me deixa feliz ensinar as crianças a jogar futebol e, sobretudo a se tornarem pessoas do bem”, finaliza. Apesar da agitação do dia-dia, João Paulo tem mais planos para o futuro. O ex-jogador pretende voltar a estudar em breve, sua pretensão é se formar em Educação Física ou Nutrição.

Luan

DA RECUSA AS DROGAS A UMA CARREIRA VENCEDORA Luan conviveu com o perigo e hoje é um atleta consagrado

A história deste talentoso jogador de futebol é digna de aplausos, reverências e, sobretudo, um exemplo a ser seguido pelos jovens que convivem com a dura rotina da periferia. Na infância, cresceu no José Ometto II, bairro de classe baixa da zona leste de Araras, região considerada perigosa e com alto índice de criminalidade. Presenciou brigas de rua, mortes e amigos se afundarem nas drogas, alguns morreram e outros estão presos. Ciente dos riscos, Luan garante nunca ter experimentado qualquer tipo de substância ilícita. Ao invés das drogas preferiu a arte de jogar futebol. Hoje tem uma potência na perna esquerda. Coleciona fama, títulos, dinheiro e o respeito de dois treinadores que sempre confiaram em seu potencial, na época de Palmeiras e Marcelo Oliveira no Cruzeiro. Luan Michel Louza nasceu em Araras no dia 21 de setembro de 1988, é filho de Luiz Augusto Louza, popularmente conhecido como Dú Louza e de Márcia Dias Lacerda Louza. Têm três irmãos, todos são jogadores profissionais, Lucas Rodrigo Louza de 25 anos, Vitor Henrique Louza de 19 anos e Luiz Augusto Louza Junior de 23, o Juninho Louza. “Dizem que o Vitor é o melhor de todos. Ele é o mais novo, acho que vai ser o que mais vai ganhar dinheiro com o futebol”, brinca Luan. Luan, o mais famoso dos irmãos jogadores, começou a gostar de futebol logo nos primeiros passos de vida. Incentivado pelos pais, sempre brincou de jogar bola nas ruas e nos campos espalhados pelo bairro José Ometto, onde morava com a família. “Meu pai trabalhava como pedreiro e quando ele chegava do serviço eu já levava a bola para ele e nós ficávamos brincando na rua, a minha brincadeira preferida era jogar futebol”, conta Luan, que tinha o incentivo da mãe, que sempre foi dona de casa. Percebendo o talento do filho, Dú Louza conseguiu com muito esforço ser sócio dos Bancários, um clube social de Araras, localizado na Avenida Loreto. Com seis anos de idade, Luan começou a participar da escolinha e foi logo desacreditado pelo treinador. “O técnico na época me colocava pouco para treinar e falou para o meu pai que eu não tinha a mínima condição de me tornar um jogador de futebol profissional”, revela Luan, que depois de um ano preferiu deixar de treinar no clube. Luan passou a treinar na (SME) Secretaria Municipal de Esportes de Araras. O treinador na época era o Marquinho Coxinha. “Com o Marquinho eu passei a ter mais orientações e ele começou a me preparar e ensinar os fundamentos do futebol, ele foi um grande professor e incentivador”, conta Luan, que aos sete anos passou a frequentar a Escola Estadual Maximiliano Baruto no período da manhã, os treinos na SME no campo do Ettore Zuntini a tarde e ainda brincava com os amigos no final do dia. “Nessa época, apesar de criança, eu tinha na minha cabeça a vontade de me tornar um profissional e ser um exemplo para a minha família”, declara Luan, que cansou de ver jovens usando drogas pelas ruas ao invés de praticar um esporte. “O bairro onde eu cresci era perigoso, era comum ver jovens consumindo drogas ali mesmo no campo durante a brincadeira, as vezes tinha que parar o jogo para eles se drogarem ainda mais”, revela o atacante, que garante nunca ter participado da ‘rodinha’. “Eu era respeitado por eles, todos sabiam que eu não gostava e por isso nem me ofereciam, eu graças a Deus nunca tive a curiosidade de experimentar, acho que isso vinha de casa, de tanto meus pais falarem dos malefícios que as drogas poderiam me causar”, explica. O ararense admite ter perdido muitos colegas daquela época. “Eu perdi até as contas de quantos colegas já morreram por causa das drogas, é triste lembrar-se disso, muitos também estão presos e outros acordaram para a vida e conseguiram abandonar o vício”, relata o atacante, que faz questão de ressaltar que o bairro também tem suas qualidades. “Lá tem muitas pessoas trabalhadoras, pessoas humildes e honestas. Acho que se não fossem às drogas, o bairro revelaria muitos talentos não só para o futebol, mas para outros esportes e até para outras atividades como: a musica e a arte”, relata. Em 1999, Luan com 11 anos de idade foi convidado para treinar no GEMA, clube localizado na Avenida Loreto em Araras. No local há um campo com dimensões profissionais e o ararense passou a ser um grande destaque do time. O destaque foi tanto, que Luan foi convidado para defender o Sayão FC a pedido do técnico Marquinho Coxinha, que havia deixado a SME para treinar as jovens promessas do Sayão. “Fiquei muito feliz com o convite, lembro que na época eu não tinha condições de ser sócio, o título era muito caro, então fui como sócio atleta, eu não podia desfrutar de nada no clube, só entrava lá para treinar e jogar os campeonatos”, recorda. No Sayão FC, aos 12 anos, Luan começou a se destacar, primeiro jogando na posição de volante, sua função na equipe era marcar o camisa 10 adversário e proteger a zaga. Com uma técnica um pouco mais apurada do que os volantes tradicionais e com uma potência na perna esquerda foi recomendado a jogar um pouco mais a frente como um autêntico meia armador, passou a jogar com a camisa 10 e ao invés de se preocupar com a marcação, tinha a missão de contribuir para o setor ofensivo, com passes em profundidade e chutes de média e longa distância. Durante as competições, Luan se lembrou de um fato curioso, a mãe dele dona Márcia Dias Lacerda Louza era a maior incentivadora do time, pois, ela era muito conhecida nos clubes sociais, já que, onde tinha uma discussão lá estava a dona Márcia para defender o filho e o time. “Minha mãe não dava trégua, ela vibrava, discutia com a torcida adversária, ela agitava em todos os jogos”, se diverte Luan. No Sayão FC, o ararense jogou por dois anos, é considerado uma das grandes revelações do clube. Tanto talento, foi incentivado a fazer um teste no União São João de Araras no ano de 2002, ele tinha 14 anos. “Quem me informou dessa peneira foi de novo o técnico Marquinho Coxinha, ele também dava treino na base do União junto com o Silvio Garlizoni”, conta. Naquele ano, o Silvio Garlizoni, que foi um ex-atacante do Palmeiras na década de 70, comandava a categoria Sub-15 do União São João e o Marquinhos Coxinha, além do Sayão FC era o responsável pelo time Sub-17. Nessa época o time principal do União São João vivia uma fase muito boa, tinha sido vice-campeão Paulista e disputava a Série B do Campeonato Brasileiro. Rotineiramente o União realizava peneiras no CT do CT do Estádio Hermínio Ometto. “Tinha mais de mil garotos vindos de várias cidades da região de Araras, era muita gente e graças a Deus eu fui um dos poucos aprovados”, relembra Luan, que garante ter sido um dos dias mais felizes da vida dele. “Foi sensacional, a partir daquele momento eu tinha a certeza que daria um grande passo para chegar ao profissional”, declara. No trajeto para a realização do teste, Luan sofreu uma queda de bicicleta, o acidente quase o tirou da avaliação. “Ao sair de casa sofri uma queda e ralei praticamente o corpo inteiro, só o rosto que não, as minhas pernas ficaram todas raladas. Mesmo assim, coloquei as meias por cima dos ferimentos e fui para o teste”, conta o atacante, que mesmo nas dificuldades conseguiu marcar gols e ser aprovado. Luan assinou contrato com o União São João e integrou o elenco do time Sub-15. Disputou o Campeonato Paulista da categoria nos anos de 2002, 2003 e 2004. Em 2005, aos 17 anos, foi promovido para jogar no Sub-17 e voltou a ser comandado pelo técnico Marquinho Coxinha. Depois de um ano nessa categoria e eleito um dos melhores jogadores do grupo na temporada, Luan começou o ano de 2006 esperançoso e muito confiante do que o aguardava para o futuro. Logo no primeiro semestre, Luan ainda com 17 anos era o jogador que mais chamava a atenção do elenco, principalmente pela dedicação nos treinamentos. A fase era tão boa que o técnico Play Freitas o promoveu ao time Sub-20 para a disputa do Campeonato Paulista da categoria, porém com uma observação, Luan deixaria de atuar no meio campo para se firmar como atacante. “O Play me disse que eu tinha perfil de jogador de frente, e que no Brasil era difícil encontrar um atacante canhoto e por isso eu tinha que ficar mais perto do gol”, revela. No Sub-20, Luan estreou como atacante no dia 24 de abril de 2006 contra o XV de Piracicaba pelo Campeonato Paulista da categoria. O jogo foi no Estádio Hermínio Ometto e o time de Araras venceu, por 4 a 0, com dois gols de Luan. “Lembro que na véspera do jogo, o Play Freitas me chamou de lado e me informou que seria titular, já que os atacantes do time estavam machucados, outros ainda estavam fora de forma e eu voando nos treinos, bem fisicamente, tive a benção de fazer dois gols e sair de campo muito elogiado, afinal eu era o mais jovem do time com apenas 17 anos”, se orgulha Luan, que muito elogiado pelo técnico do time profissional na época, Toninho Cobra. “O Toninho me deu os parabéns e pediu para que eu me dedicasse cada vez mais nos jogos”, recorda. No jogo seguinte, Luan voltou a marcar no clássico regional contra o Rio Branco de Americana no empate, em 3 a 3, no Estádio Décio Vitta e após o sucesso meteórico foi logo promovido para o time principal do União São João, que disputou a Copa Paulista no segundo semestre de 2006. “Eu ainda tinha 17 anos e já estava indo para o profissional. Quando eu soube da notícia foi a maior alegria pra mim e pra minha família. Foi a maior festa e lembro que fiz um pacto comigo mesmo, eu daria o sangue e jogaria como se fosse o último prato de comida para buscar o meu espaço”, relata Luan, que completaria 18 anos naquele mesmo ano, mas no dia 21 de setembro. A competição teve início no mês de Julho. O técnico na Copa Paulista era Play Freitas que havia assumido a vaga do demitido Toninho Cobra. A mudança no comando facilitou um pouco mais para o Luan. “Com o Play ficou mais fácil porque ele tinha sido meu treinador no Sub-20, ele tinha confiança no meu trabalho, tanto que mesmo muito jovem, fui o titular do time”, recorda. Por coincidência a estréia de Luan no time profissional também foi contra o XV de Piracicaba no dia 15 de julho de 2006, o União São João jogando no Estádio Hermínio Ometto venceu por 1 a 0. Luan não marcou, mas participou da jogada. Durante a competição, o atacante foi o principal destaque do time na competição. Tanto sucesso com a camisa alviverde fez alguns times despertarem o interesse no atacante. A campanha do União São João na Copa Paulista daquele ano de 2006 foi muito boa. O time ararense foi eliminado nas quartas de final para o São Bernardo, a equipe chegou a vencer em Araras, por 2 a 0, mas no jogo da volta o time do torcedor ilustre Luiz Ignácio Lula da Silva deu o troco e eliminou o União após vencer, por 3 a 0. O time ararense jogou aquela partida com: Carlos Carioca; Adriano Iversen, Ricardo Vila, Marcelo e Junior; Wendel, Eduardo, Célio e Everton; Laércio e Luan. No ano de 2007, o União São João novamente disputaria a Série A2 do Campeonato Paulista no primeiro semestre e a Copa Paulista no segundo. No estadual, Luan ajudou o time de Araras a se classificar para o quadrangular final com a segunda melhor campanha da fase de classificação. O time conseguiu um total de 35 pontos. Foram 19 jogos, sendo 10 vitórias, cinco empates e apenas quatro derrotas. Luan participou de 14 partidas e marcou seis gols. “Naquele ano não subimos por que entramos muito confiante no quadrangular final, ficamos fora junto com o Botafogo, subiram Rio Preto e Mirassol, mas lembro que foi um dos melhores campeonatos que fiz com a camisa do União”, recorda Luan, que na época viu também Portuguesa e Guarani subirem para a elite na outra chave. No Campeonato Paulista daquele ano, o União São João era comandado pelo técnico Edson Vieira e jogava com: Alexandre Villa; Michel, Danilo, Camacho e Marco Aurélio; Marcelo, Conceição, Jonatas e Lucas; Tiago Tremonti e Luan.

Luan no Real Madrid No segundo semestre de 2007, o União São João novamente disputou a Copa Paulista, que teve iniciou no dia 21 de julho. Na oportunidade, o time ararense caiu em um grupo com: Botafogo, Catanduvense, XV de Piracicaba, Mogi Mirim, Ferroviária e Sertãozinho. No entanto, o atacante Luan foi avisado que não iniciaria a competição, pois viajaria para a Espanha. “O José Mario Pavan, presidente do União São João, foi até o gramado e pediu para que eu não treinasse, já que ele me levaria para a Espanha, onde faria um teste no time B do Real Madrid”, conta. Luan, então com 19 anos, viajou a Madrid. Ficou pouco mais de um mês treinando no time B do Real para se adaptar aos costumes epsanhóis. “Foi uma experiência muito boa pra mim, lembro que participei de vários amistosos, fiz vários gols e fui bastante elogiado”, relembra Luan. Sem saber nenhuma língua estrangeira, Luan teve dificuldade e passou até por momentos curiosos em terras espanholas. “Eu não sabia falar nem espanhol e nem inglês, a única coisa que eu tinha em mãos era um papel com o endereço do local do treino e de onde eu morava. Não podia perder aquele bilhete em hipótese alguma”, brinca Luan, que mostrava sempre ao taxista para ir ao treino. Na volta para casa, Luan vinha de carona com dois irmãos gêmeo espanhóis que também treinavam no Real Madrid B. “Eles sempre me deixavam na porta de casa, mas teve um dia que os dois não foram treinar e eu sem saber falar espanhol fiquei ali no clube mostrando o papel com o meu endereço e ninguém sabia onde ficava, a noite foi chegando e o medo de ficar sozinho ali foi inevitável”, declara Luan, que depois de muito custo um funcionário do time madrilenho o levou, mas deixou alguns quarteirões de onde ele morava. “Na verdade foi difícil encontrar o apartamento, lembro que ele rodou a cidade inteira e só depois que avistei um shopping percebi que estava nos aproximando de onde eu morava, ele me deixou nesse shopping e tive que caminhar mais de duas horas para chegar na minha casa”, relata Luan que garante ter sentido a falta da família quando esteve na Espanha. “Não foi fácil, eu era muito jovem, estava longe de casa e da minha família. Eu sozinho tinha que tomar as decisões”, declara. O que mais encantou o ararense no Real Madrid foi ter convivido de perto com tantos craques, inclusive os brasileiros Roberto Carlos, que foi revelado pelo União São João, , Emerson, Júlio Batista, Robinho e Ronaldo. “Era uma constelação de estrelas, um alambrado apenas separava o treino do time principal e o time B do Real Madrid, então eu ficava sempre observando eles treinarem. Eu conversei muito com o Roberto Carlos”, relata. Outro jogador que deu muita atenção para Luan foi o volante Emerson, na época ele chegou a pedir a efetivação de Luan no time principal do Real Madrid. “O Emerson foi muito humilde. Ele me elogiou muito para o Fábio Capello na época. Foi uma troca de experiência incrível”, revela. Luan se destacou nos treinamentos e só não foi contratado em definitivo pelo Real Madrid por conta do valos dos Direitos Federativos exigidos pela diretoria do União São João. “Só não fiquei porque o União São João pediu um valor alto para me negociar, eles não entraram em acordo e acabei voltando depois de 40 dias treinando no Real Madrid”. Se orgulha.

Dinamo de Kiev De volta ao União São João, Luan não ficou nem um mês em Araras. Seu destino desta vez foi o Dinamo de Kiev da Ucrânia. Mais uma vez o jovem atacante ararense seria avaliado por uma grande equipe. “O elenco estava em Málaga na Espanha fazendo pré-temporada, treinei com o grupo durante 15 dias, mas o clube não quis me contratar, a justificativa foi que eu era muito lento e não me encaixaria no sistema de jogo do time na época”, explica. Luan mais uma vez teve a grata sensação de atuar com mais craques brasileiros. “No time tinha o Rodrigo (ex-Ponte Preta), Rodolfo (ex-São Paulo), Corrêa (ex-Palmeiras), Diogo Rincón e o Kleber Gladiador”, declara. São Caetano De volta ao Brasil, em Novembro de 2007, Luan definitivamente deixou o União e foi contratado pelo São Caetano, onde fez toda a pré-temporada para a disputa do Campeonato Paulista de 2008 e a Copa do Brasil. “Foi um acordo entre o José Mario Pavan, presidente do União São João e o Nairo Ferreira, presidente do São Caetano, fui por empréstimo, mas com a prioridade de compra do São Caetano”, recorda Luan que passou a ter a carreira gerenciada por Giuliano Aranda, o ex-atacante Magrão, genro de Nairo ferreira, diretor da empresa M9 Sports. Com a camisa profissional do União São João, Lua havia feito 14 jogos e um total de seis gols. Luan foi um dos principais jogadores do São Caetano no Campeonato Paulista de 2008. Fez vários gols com a camisa do Azulão, inclusive na sua estréia, na vitória diante do Corinthians, por 3 a 1, pela segunda rodada do Estadual no dia 20 de Janeiro daquele ano. “Foi um gol que recebi do Rafinha, passei pelo zagueiro Willian e coloquei no canto direito do goleiro Felipe, até brinquei na época, deveria mandar esse gol lá na Ucrânia para quem falou que eu era lento”, detona. O jogo foi na cidade de Mogi Mirim. Comandado pelo técnico Amauri Knevitz, o São Caetano jogou com: Luis; Galiardo, Edson Borges, Tobi e Wilson Goiano; Glaydson, Hernani, Douglas (Canindé) e Andrezinho; Rafinha (Ademir Sopa) e Fábio Luís (Luan). O Corinthians do técnico perdeu com: Felipe; Eduardo Ratinho (Lulinha), Chicão, Willian e André Santos; Perdigão, Bruno Otávio, Marcel (Dentinho) e Alessandro; Acosta (Ewerton) e Finazi. A campanha do São Caetano no Estadual de 2008 foi de cinco vitórias, oito empates e seis derrotas. O campeão foi o Palmeiras derrotando a Ponte Preta na decisão. Com o fim do Campeonato Paulista, Luan ainda com 20 anos de idade, recebeu inúmeras propostas para deixar o São Caetano. “Na época o Corinthians e o Palmeiras fizeram propostas, o Santos também fez uma sondagem. Lembro que teve até um time da Itália interessado”, recorda. No entanto, o presidente do São Caetano Nairo Ferreira não aceitou negociá-lo para que ele fosse valorizado ainda mais no clube. Luan então permaneceu no São Caetano para a disputa da Série B do Brasileiro de 2008. Foi titular absoluto e mais uma vez foi o principal destaque do time com nove gols marcados, sendo o vice-artilheiro, atrás apenas do experiente Tuta, que marcou 12 gols. A campanha do São Caetano no Nacional foi de 14 vitórias, 12 empates e 12 derrotas. Somou 54 pontos e terminou a competição na 9ª posição. O Corinthians disputou a Série B do Brasileiro naquele ano terminando na liderança com 85 pontos. Além do Timão, subiram as equipes do Santo André-SP, Avaí-SC e Barueri-SP. O São Caetano jogou a maioria dos jogos daquela competição sob o comando do técnico Pintado com: Julio César; Leonardo, Tobi e Marco Aurélio; , Glaydson, Daniel, Gerson e Andrezinho; Luan e Tuta. Também em 2008, Luan ajudou o Azulão a fazer a melhor campanha da história do clube na Copa do Brasil. Passou por Maranhão, Coritiba, Atlético-GO e foi eliminado apenas na fase de quartas de final para o Corinthians, que inclusive foi o time finalista e perdeu na decisão para o Sport-PE. Em alta com a camisa do Azulão, Luan em 2009 mais uma vez foi o titular absoluto do São Caetano no Campeonato Paulista. Dos 19 jogos disputados pelo time da grande São Paulo, o ararense foi titular em 15, marcando um total de seis gols e mais uma vez ficando na mira dos principais times do Brasil e até do exterior. O Azulão do técnico Oswaldo Alvarez jogava com: Luiz; Amarildo, Marco Aurélio e Marcelo Batatais; Gerson, Diogo Orlando, Ademir Sopa, Vandinho e Vando; Luan e Tuta.

Toulouse da França Luan chamava a atenção pela disposição tática, velocidade e muita força na marcação. “Mais uma vez fiz um campeonato bom e além de times do Brasil e da Itália, o Toulouse da França mostrou interesse em me contratar”, recorda. Mesmo na mira de tanto clubes, Luan fez toda a pré-temporada para a disputa da Série B do Brasileiro de 2009 para o São Caetano, mas atuou apenas em quatro jogos na competição. Sua última partida com a camisa do Azulão foi contra o Vasco da Gama no dia 6 de junho de 2009, na derrota por 1 a 0. Logo depois da partida, o ararense foi comunicado pelo presidente Nairo Ferreira que não jogaria mais pelo São Caetano, ele estava negociado com o Toulouse da França. “Era tudo que eu queria naquele momento, seria minha grande chance de jogar na Europa”, disse Luan, que na época teve seus Direitos Federativos vendidos por R$ 3,5 milhões. O ararense recebeu 15% deste montante. Com a camisa do São Caetano, Luan atuou oficialmente em 67 partidas e marcou 21 gols. Radiante de alegria, Luan desembarcou em Paris em Julho de 2009. A apresentação no Toulouse FC, time que tem o mesmo nome da cidade no sul da França, foi marcada por uma grande festa da torcida no Stade de Toulouse. O ararense recebeu a camisa 5, fez algumas embaixadinhas e concedeu entrevista a imprensa francesa. No entanto, a alegria de Luan durou pouco, logo no primeiro jogo treino de preparação para a elite do Campeonato Francês, o ararense sofreu uma entorse no joelho, o que o impediu de iniciar a competição na equipe titular. “Foi um carrinho por trás que sofri, segundo os médicos mais três milímetros teriam afetado os ligamentos do joelho”, lamenta. Luan ficou dois meses em tratamento intensivo. “Tive que engessar a perna e fazer muita fisioterapia nesse período”, conta. Além de conviver com a contusão, Luan também teve dificuldades para se adaptar ao país. “Não foi fácil a adaptação, lá é uma cultura totalmente diferente e um clima muito frio”, relata. O atacante contou com a ajuda da família para ficar no país. “Meus pais ficaram comigo lá, eles foram fundamentais para a minha permanência na França, ainda mais no período em que estive lesionado”, declara. A estréia de Luan pelo Toulouse foi no dia 4 de outubro de 2009 na derrota para o Lorient, por 1 a 0, pela 8ª rodada da Liga Francesa de Futebol. Paralelo a esta competição, o ararense também jogou a Liga Europa, temporada 2009-2010. No total foram 19 jogos pelo Toulouse, foram seis vitórias, cinco empates e seis derrotas. O ararense marcou um gol pelo time francês. A equipe atuava com Yohann Pelé; Daniel Congré, Cheikh M’ Bengue, Danny Nonkeu e Etienne Didot; Mathieu Berson, Moussa Sissoko, Daniel Bratenn e Franck Tabanou; Étienne Capoue e Luan. Técnico Alain Casanova.

O retorno ao Brasil Depois de seis meses atuando pelo Toulouse, o ararense começou a despertar o desejo de times brasileiros. O Palmeiras era o maior interessado em contratar o atacante. Depois de muita negociação, em Abril de 2010 houve o acerto e Luan retornou ao Brasil para defender as cores do Verdão por empréstimo até a metade de 2011. A estréia pelo Palmeiras foi no empate, em 1 a 1, contra o Goiás no dia 8 de agosto de 2010, no Serra Dourada pelo Campeonato Brasileiro. Neste ano de 2010, sob o comando do técnico Luis Felipe Scolari, o Palmeiras jogava com: Deola; Mauricio Ramos, Danilo e Gabriel Silva; Edinho, Marcio Araújo, Marcos Assunção, Valdívia e Tinga; Kleber Gladiador e Luan. Na competição, a campanha do Palmeiras foi de 12 vitórias, 14 empates e 12 derrotas em 38 jogos. Terminou na 10ª posição com 50 pontos conquistados. Luan atuou num total de 13 partidas, foram nove como titular e três gols marcados. O Fluminense foi o campeão com 71 pontos. Em 2010 foram rebaixadas as equipes do Grêmio Prudente, Goiás, Guarani e Vitória-BA.

Alvo da torcida do Palmeiras Em 2011, Luan novamente se reapresenta ao Palmeiras, afinal seu contrato de empréstimo só terminaria na metade do ano. O ararense disputou o estadual e a Copa do Brasil. Neste período, Luan conheceu de perto a fúria da torcida palmeirense. Apesar de ser um atacante, Luan sempre ficou a disposição do técnico Luís Felipe Scolari, à época, para atuar em qualquer posição que o colocasse, o objetivo do ararense era contribuir para ajudar o Palmeiras. Essa força de vontade demonstrada pelo atleta fez com que ele ganhasse a confiança de Felipão, que passou a escalá-lo de lateral esquerdo com a função principal de marcar as descidas do lateral direito adversário. “Eu sempre tive a preocupação de cumprir tudo aquilo que o treinador pedia, então a minha função era primeiro marcar o adversário e fazer gols era consequência”, revela. Por obedecer as determinações, Luan passou a ser um dos homens de confiança de Felipão, que via o ararense como um dos principais jogadores do time, principalmente por cumprir as ordens táticas nas partidas. Para o atacante, Luís Felipe Scolari foi um dos melhores treinadores com quem já trabalhou na carreira. “O Felipão é um profissional fantástico, não é toa que tem um dos melhores currículos do futebol mundial. A minha relação com ele foi realmente de pai para filho, pois ele me orientou e me ensinou muito”, admite. Apesar de Luan atender os anseios do time, a torcida palmeirense não entendia da mesma maneira. Sempre quando os resultados não eram favoráveis, o ararense virava alvo da torcida. Sofreu pressão nas arquibancadas e muitas vezes na saída do Estádio. Ele era o único jogador que não tinha o nome gritado pela torcida. Uma derrota, por 6 a 0, para o Coritiba e a eliminação precoce ainda na segunda fase da Copa do Brasil daquele ano foi a gota d’água para os enfurecidos torcedores palmeirenses. O jogo foi no dia 05 de Maio de 2011no Estádio Couto Pereira, em Curitiba. Naquela partida, o Palmeiras de Felipão jogou com: Marcos; João Vitor (Chico), Leandro , Danilo e Rivaldo; Marcos Assunção, Márcio Araújo, Patrik (Wellington Paulista) e Lincoln (Adriano); Kleber e Luan. O Coritiba na época treinado pelo técnico Marcelo Oliveira goleou com Edson Bastos; Jonas, Pereira (Cleiton), Émerson e Lucas Mendes; Leandro Donizete (Willian), Léo Gago, Davi, Anderson Aquino e Rafinha (Geraldo); . Os gols foram de Emerson, Davi, Léo Gago, Bill, Geraldo e Anderson Aquino. Ao chegar com a delegação em São Paulo, Luan teve uma surpresa. O carro dele que estava no CT do Palmeiras na Barra Funda foi atingido por uma garrafa contendo coquetel molotov, os vidros do veículo foram todos danificados, por sorte não pegou fogo. As paredes do Palestra Itália também foram pichados, a torcida pedia a saída dele do time. “A pressão era forte, mas eu tinha minha consciência tranquila porque sempre honrei a camisa do Palmeiras e sempre entrava em campo para fazer o meu melhor. A torcida não entendia que eu fazia uma função diferente, sou atacante, mas no Palmeiras eu atuava quase que como um lateral esquerdo, eu atendia o que o Felipão me pedia, que era se preocupar com a marcação”, revela. Fala muito, fala muito Diferente da Copa do Brasil, no Campeonato Paulista o Palmeiras fez uma campanha ótima na fase de classificação. Terminou na segunda posição com a mesma pontuação que o líder São Paulo, 41. Foram 12 vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas em 19 partidas. Na fase seguinte, o Palmeiras passaria pelo Mirassol e na semifinal enfrentaria o Corinthians por vaga na decisão contra o Santos, que havia passado por Ponte Preta e São Paulo na outra chave. No entanto, a derrota nos pênaltis, por 6 a 5, impediu que o Verdão chegasse a final. Foi um dos clássicos mais polêmicos da história do futebol brasileiro. O jogo foi no Pacaembu e ficou marcado pela discussão entre técnico do Corinthians e Luís Felipe Scolari comandante do Palmeiras. O treinador corintiano fez gestos e disse que Felipão estava falando muito com a arbitragem “Fala muito, fala muito, fala muito”, disse Tite se dirigindo ao desafeto. Essa expressão ficou marcada na carreira de Tite. O árbitro do jogo foi Paulo César de Oliveira. “Foi um jogo incrível, talvez um dos mais importantes da minha carreira, pena que não conseguimos chegar a final”. O jogo terminou, em 1 a 1. Leandro Amaro abriu o placar para o Palmeiras e Willian empatou para o Corinthians. A decisão foi para os pênaltis e Luan foi um dos cobradores. “Quando eu vi que estava na lista começou a passar um filme na minha cabeça, eu não poderia nem pensar em perder aquele pênalti, mas graças a Deus tive personalidade e marquei o gol, lembro que ela bateu no travessão antes de entrar, mas pena que perdemos a disputa”, lamenta. Além de Luan, marcaram para o Palmeiras Kleber Gladiador, Marcos Assunção, Márcio Araújo e Thiago Heleno, para o Corinthians fizeram Chicão, Willian, Fábio Santos, Leandro Castán, Morais e Ramírez. João Vitor do Palmeiras foi o único que desperdiçou a cobrança, chutando nas mãos do goleiro Júlio César. Naquele clássico, o Palmeiras atuou com: Deola; Cicinho (João Vitor), Danilo, Thiago Heleno e Rivaldo; Márcio Araújo, Marcos Assunção, Tinga (Patrik) e Valdivia (Leandro Amaro); Luan e Kleber. Já o Corinthians com: Julio Cesar; Alessandro (Ramírez), Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Bruno César (Morais) e Jorge Henrique; Dentinho (Willian) e Liedson. No Paulistão de 2011, Luan fez um total de 19 jogos com a camisa do Palmeiras e fez apenas um gol na disputa de pênaltis contra o Corinthians. “Não fiz gols, mas dava assistência e fazia aquilo que o Felipão pedia, marcar o adversário. Eu dava combate o tempo todo. Dos 19 jogos que fiz, 15 fui titular”, justifica.

A permanência no Palmeiras Com o fim do primeiro semestre de 2011, Luan teria que voltar ao Toulouse da França, clube o qual tinha contrato, mas o seu desejo era de permanecer no Brasil e o próprio Palmeiras foi quem manifestou o desejo em adquirir em definitivo os Direitos Econômicos do atacante ararense. “Eu não queria mais voltar para a França, minha vontade mesmo era continuar no Brasil e se possível no próprio Palmeiras, tinha certeza que estava contribuindo para o time e queria provar isso para a torcida também”, relata. O acordo foi fechado na segunda quinzena de julho por R$ 7 milhões. Luan assinou contrato por cinco anos, até agosto de 2016. “Fiquei muito feliz pelo esforço da diretoria em me contratar. O Felipão também foi o responsável por minha permanência, por isso, sempre retribui em campo o carinho e a confiança que ele e a diretoria depositaram no meu futebol”, relata. Deste valor, Luan teve direito a 15%. Na época a negociação teve grande repercussão e o ararense foi o assunto mais comentado nas redes sociais em todo o mundo.

A resposta dentro de campo Com a notícia de que ficaria no Palmeiras, Luan era só alegria. Apesar da desconfiança da torcida, o ararense estava confiante que daria a volta por cima e foi na quinta rodada do Campeonato Brasileiro de 2011 na goleada, por 5 a 0, diante do Avaí, que o ararense brilhou, deu duas assistências e selou a paz com a torcida. Naquela partida, Luan completava 50 jogos com a camisa do Verdão e pela primeira vez desde quando havia chegado ao clube teve o seu nome gritado pela torcida, que lotou as arquibancadas do Estádio do Canindé. Os outros gols foram marcados por Lincoln e Kléber Gladiador (2). Naquele jogo, Felipão escalou o Palmeiras com: Marcos, Cicinho, Leandro Amaro, Thiago Heleno e Rivaldo; Márcio Araújo, Marcos Assunção e Lincoln (Patrik); Luan; Kleber (Dinei) e Wellington Paulista (Chico). O Avaí do técnico foi goleado jogando com: Aleks, George Lucas (Estrada), Cássio, Bruno e Julinho (Romano); Acleisson, Marcinho Guerreiro, Marquinhos Gabriel e Robinho (Fábio Santos); Pedro Ken e William Batoré. Luan atuou em 34 das 39 partidas feitas pelo Palmeiras na competição. Foram 11 vitórias, 17 empates e 10 derrotas. A equipe ficou na 11ª posição com 50 pontos. O ararense marcou nove gols em toda a competição. Com o fim da temporada em 2011, Luan em alta com a brilhante fase que estava atravessando participou de vários jogos beneficentes organizados pelos colegas jogadores. Em cada evento, sempre foi um dos mais requisitados para distribuir autógrafos e fotos. Em Araras, foi o próprio Luan que organizou um jogo beneficente para ajudar no tratamento da pequena ararense Letycia Isabelle Barramansa de três anos de idade que mora no hospital São Luís desde quando nasceu lutando contra uma doença rara chamada Atrofia Espinhal Progressiva. O jogo festivo foi no Estádio Hermínio Ometto e contou com a participação de vários jogadores do futebol brasileiro, entre eles: Thiago Heleno, Marcos Assunção e Cicinho, companheiros de Palmeiras. Todo o dinheiro arrecadado foi repassado a família de Letycia. Em janeiro de 2012, Luan se reapresentou ao Palmeiras para a disputa do Campeonato Paulista. O atacante atuou nas cinco primeiras rodadas, pois, uma lesão no pé esquerdo, o tirou do restante da primeira fase da competição. “Segundo os médicos do Palmeiras eu tive uma fratura por stress no osso, precisei passar por cirurgia, foram mais de dois meses sem poder jogar”, relembra. O ararense voltou a ficar a disposição de Felipão no dia 22 de Abril pela fase de quartas de final do Campeonato Paulista no duelo contra o Guarani, no Estádio Brinco de Ouro, que também tinha um ararense no time, o meia Danilo Sacramento. Luan teve uma boa atuação, mas não foi a suficiente para evitar a derrota para o Bugre, por 3 a 2, a qual eliminou a equipe no estadual. Naquele jogo, o Palmeiras de Felipão atuou com: Deola; Cicinho, Henrique, Mauricio Ramos e Juninho; Marcio Araújo, João Vitor, Marcos Assunção e Daniel Carvalho; Hernán Barcos e Luan. O Guarani de Vadão venceu com: Emerson; Oziel, Neto, Domingos e Bruno Recife; Willian Favoni, Fabio Bahia, Danilo sacramento e Fernando Fumagalli; Bruno Mendes e Fabinho.

Título da Copa do Brasil Se no Campeonato Paulista a campanha não foi à esperada, na Copa do Brasil o Palmeiras fez bonito, conquistou o título e o direito de disputar a tão desejada da América em 2013. Foi o primeiro e único título de Luan com a camisa do Palmeiras. Na primeira fase o Palmeiras eliminou o Coruripe com duas vitórias, 1 a 0 no Rei Pelé em Maceió e 3 a 0 em Barueri, na grande São Paulo. Os jogos foram no mês de março, Luan com a lesão no pé direito não participou de nenhuma das duas partidas. Na segunda fase, ainda sem o atacante Luan, o Palmeiras eliminou o Horizonte-CE logo no primeiro jogo, no dia 4 de abril, ao vencer, por, 3 a 1, no interior cearense. Na fase de oitavas de final a vítima foi o Paraná Clube, o time de Felipão venceu com duas vitórias, 2 a 1, em Curitiba e 4 a 0 em Barueri. Garantido na fase de quartas de final, o Palmeiras enfrentou em duas partidas o Atlético-PR, desta vez, o técnico Luiz Felipe Scolari pode contar com o reforço de Luan, totalmente recuperado da cirurgia. No primeiro jogo na capital paranaense terminou empatado, em 2 a 2, Luan entrou no decorrer da partida. No jogo da volta em Barueri, o Palmeiras foi superior e venceu o Furacão, por 2 a 0, garantindo vaga a fase de semifinal. Neste jogo, um dos gols foi do atacante Luan que passou a ter um pouco mais de confiança do torcedor palmeirense. O outro gol foi do zagueiro Henrique. Na fase semifinal, o Palmeiras enfrentou o Grêmio, o primeiro jogo foi no Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Luan foi titular e considerado um dos melhores em campo, sendo fundamental na vitória, por 2 a 0, diante dos gaúchos. Os gols foram de Mazinho e Barcos. No jogo da volta em Barueri, Luan mais uma vez foi titular no empate, em 1 a 1, na confirmação da vaga a final da Copa do Brasil contra o Coritiba, que eliminou o São Paulo. O primeiro jogo da decisão foi na no dia 5 de julho de 2012, Luan suspenso não pode participar da partida. Com gols de Valdivia e Barcos, o time comandado por Felipão, venceu, por 2 a 0. No jogo da volta, no dia 11 de Junho de 2012, bastava um simples empate ou mesmo uma derrota, por 1 a 0, para o Palmeiras ficar com o título e deu empate. O jogo terminou 1 a 1, Ayrton fez para o Coritiba e Betinho empatou para o Palmeiras. Um fato curioso chamou a atenção nessa partida. O atacante Luan entrou aos 12 minutos do segundo tempo, após 20 minutos no jogo, o ararense sofreu uma lesão muscular na parte posterior da coxa direita e como o Palmeiras já havia feito as três alterações, Luan teve que se arrastar em campo, mostrando raça, vontade e determinação. O sofrimento por causa das dores era visível, tal decisão de continuar no jogo mesmo machucado, fez o atacante conquistar o carinho de boa parte da torcida palmeirense. “Foi uma emoção muito grande ter conquistado a Copa do Brasil pelo Palmeiras, esse título ficará eternamente na minha memória”, disse. O Palmeiras foi campeão jogando com: Bruno; Artur, Mauricio Ramos, Thiago Heleno (Leandro Amaro) e Juninho; Henrique, Marcio Araújo, Marcos Assunção (João Vitor), e Daniel Carvalho (Luan); Mazinho e Betinho. O Coritiba do técnico Marcelo Oliveira ficou com o vice-campeonato atuando com: Vanderlei; Jonas (Ayrton), Pereira, Demerson e Lucas Mendes; Willian, Sergio Manoel (Lincoln), Roberto (Anderson Aquino), Everton Ribeiro e Rafinha; Everton Costa.

O rebaixamento no Brasileiro A comemoração pela conquista da Copa do Brasil durou pouco, afinal o Palmeiras disputava o Brasileirão e ameaça de rebaixamento era iminente. A campanha do time era de apenas cinco vitórias, cinco empates e 15 derrotas em 25 partida sob o comando de Felipão, que foi demitido no dia 13 de Setembro logo após a derrota para o Vasco, por 3 a 1, em São Januário, na véspera do clássico contra o Corinthians. A crise estava instalada no Palestra Itália, Narciso assumiu a equipe interinamente e logo na estréia perdeu para o Corinthians, por 2 a 0, no dia 16 de Setembro de 2012, no Estádio do Pacaembu. O ararense Luan foi o personagem principal do clássico. Ele foi expulso de campo e por pouco não foi o responsável por uma grande confusão entre jogadores de Corinthians e Palmeiras. Durante a partida, Luan simulou um pênalti logo no começo do jogo e recebeu cartão amarelo do árbitro Marcelo Aparecido de Souza. Aos 22 minutos Romarinho marcou o primeiro gol para o Corinthians e foi comemorar junto da torcida do Palmeiras, que era maioria no Estádio, pois era o mandante do jogo. A atitude do corintiano revoltou o ararense. “Eu fiquei muito nervoso porque ele foi comemorar com a nossa torcida, ele não tinha que ter aquela atitude, fosse comemorar com a torcida dele, fui pra cima mesmo, mas não teve briga, apenas um princípio de confusão”, declara. O gesto de Luan levou a torcida palmeirense ao delírio. O ararense foi ovacionado tendo mais uma vez seu nome gritado. No entanto, alguns minutos depois, Luan acabou expulso de campo em uma disputa de bola com Guilherme Andrade do Corinthians. A expulsão foi bastante contestada. O Palmeiras jogou metade do primeiro tempo e toda a segunda parte do jogo com um jogador a menos e acabou sofrendo aos 8 minutos da etapa final o segundo gol marcado por Paulinho. Naquele clássico o Palmeiras jogou com: Bruno; Artur, Mauricio Ramos, Henrique e Juninho; Correa (Tiago Real), Marcos Assunção (Obina), João Vitor (Márcio Araújo) e Valdivia; Luan e Barcos. O Corinthians de Tite venceu com: Cássio; Guilherme Andrade, Wallace, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Douglas (Edenilson) e Danilo; Martínez (Jorge Henrique) e Romarinho (Giovanni). Preocupada com a campanha do time, a diretoria do Palmeiras resolveu contratar o técnico , um profissional emergente e que vivia um bom momento a frente da Ponte Preta. A estréia dele foi na vitória contra o Figueirense, por 3 a 1, em Florianópolis. Suspenso, Luan ficou fora do jogo, mas sempre esteve a disposição para as partidas seguintes, algumas foi titular outras esteve na reserva. Apesar de um começo bom, o novo comandante não conseguiu evitar a queda do Palmeiras que terminou a competição na 18ª colocação com 34 pontos, foram apenas nove vitórias, sete empates e 22 derrotas. O rebaixamento voltou a provocar a ira da torcida palmeirense e mais uma vez, o atacante Luan passou a ser criticado pelos torcedores. Desgastado com tantas cobranças, o ararense pediu para ser negociado. No time de Palestra Itália, Luan fez um total de 115 jogos e marcou 23 gols. Cruzeiro No ano de 2013, o pedido de Luan foi atendido pela diretoria do Palmeiras que o emprestou por um ano ao Cruzeiro-MG. O Inter-RS também tinha interesse no jogador, mas a proposta feita pelos mineiros incluindo dois jogadores em troca, Marcelo Oliveira e Charles, agradou a cúpula palmeirense e o negócio foi fechado. No time mineiro, Luan se apresentou no dia 06 de Fevereiro de 2013 para a disputa do Campeonato Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. “Jogar no Cruzeiro com tantos craques foi realmente fantástico, é um dos times mais organizados do Brasil com uma estrutura invejável”, disse Luan, que estreou com a camisa celeste, fora de casa, no dia 17 de Fevereiro no empate sem gol diante do Guarani de Divinópolis. O Cruzeiro jogou com: Fábio; Ceará, Paulão, Bruno Rodrigo e Everton; Leandro Guerreiro (Luan), Nilton, Everton Ribeiro e Diego Souza; (Egídio) e Anselmo Ramón (Borges). O Guarani de Divinópolis do técnico Gian Rodrigues atuou com: Leandro; Adalberto, Henrique, Asprilha e Rafael Estevam; André Silva, Éder Túlio, Jouberth (Eric) e Rafael Pulga; Lucas Newton (Nando) e Carlos Junior. No estadual, o Cruzeiro ficou com o vice-campeonato. O Galo foi o Campeão. Com o fim do Campeonato Mineiro, as atenções do Cruzeiro se voltaram para a Copa do Brasil. Luan esteve a competição toda a disposição do técnico Marcelo Oliveira, mas só entrou em um jogo diante do Flamengo na fase de oitavas de final, na vitória, por 2 a 1, no Mineirão no dia 21 de Agosto. No jogo da volta no Rio de Janeiro, o time carioca venceu, por 1 a 0 e eliminou o time mineiro da competição. Nas três primeiras fases, o Cruzeiro eliminou CSA-AL, Resende-RJ e Atlético-GO. O Flamengo foi o campeão da Copa do Brasil de 2013.

Campeão Brasileiro Se no Campeonato Mineiro e na Copa do Brasil, o Cruzeiro de Luan não conseguiu os resultados esperados, no Campeonato Brasileiro sobrou em campo e com uma campanha arrasadora conquistou o título nacional com quatro rodadas de antecedência. Em 38 jogos, foram 23 vitórias, sete empates e apenas oito derrotas, chegando a 76 pontos. O Grêmio ficou em segundo com 65. Portuguesa, Ponte Preta, Vasco e Náutico foram rebaixados. Luan teve participação direita na conquista do título nacional, afinal, ele foi titular em algumas partidas e um jogo ficará para sempre na história. Foi contra o São Paulo de Rogério Ceni, no dia 20 de julho de 2013, pela oitava rodada da competição em pleno Morumbi. Luan marcou os três gols da vitória, por 3 a 0. O ararense foi disparado o melhor jogador em campo e desde então passou a ser idolatrado pelo torcedor cruzeirense. “Foi uma sensação incrível, algo inédito na minha carreira, deu tudo certo pra mim naquele jogo e foi a primeira vez que fiz três gols numa partida”, declara. O Cruzeiro do técnico Marcelo Oliveira jogou aquela partida com: Fábio; Mayke (Leandrinho), Dedé, Bruno Rodrigo e Egídio; Souza, Nilton, Everton Ribeiro (Martinuccio) e (Lucca); Luan e Vinicius Araújo. Já o São Paulo de perdeu com: Rogério Ceni; Douglas; Lúcio, Rafael Tolói e Clemente Rodrigues; Rodrigo Caio, Denilson (Roni), e Jadson; Osvaldo (Silvinho) e Luis Fabiano (Aloísio). Com o título de campeão Brasileiro, Luan teve seu contrato de empréstimo prolongado para mais uma temporada. No ano de 2014, o ararense mais uma vez se apresentou ao técnico Marcelo Oliveira, desta vez para a disputa do Campeonato Mineiro, Libertadores e Brasileirão. Logo na primeira competição do ano, o ararense outra vez sentiu a boa sensação de conquistar mais um título, desta vez o estadual de forma invicta. A campanha foi de 11 jogos, nove vitórias e dois empates. Na final superou o Atlético-MG após dois empates, por 0 a 0. Os resultados foram suficientes para levantar o caneco na centésima edição do Campeonato Mineiro. Luan mais uma vez teve participação direita na conquista do título, sendo titular em cinco das 11 partidas disputadas pelo Cruzeiro. O ararense esteve em campo nas vitórias contra América, Boa Esporte, Nacional, Tupi e Tombense. No duelo contra o Tupi, o ararense foi considerado um dos melhores em campo. Foi dele a assistência de um dos gols da vitória do Cruzeiro, por 2 a 1. Neste jogo, a Raposa jogou com: Fábio; Henrique (Ceará), Dedé, Léo e Luan; Rodrigo Souza, Nilton, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart (Marlone); Willian (Elber) e Marcelo Moreno e o Tupi de Paulo Luis Campos perdeu com: Jordan; Henrique, Hélder, Rafael Vitor e Toledo; Felipe Lima, Maguinho (Hélder Santana), Sidinei e Da Silva (Magnum); Raphael Aguiar e Wesley (Fabrício Soares). Paralelo ao Campeonato Mineiro, o Cruzeiro também disputou a Copa Libertadores da América, mas a equipe foi eliminada nas quartas de final para o San Lorenzo da Argentina, que depois sagrou-se campeão ao vencer na final o Libertad do Paraguai. Luan esteve a disposição do técnico Marcelo de Oliveira em todas as partidas, mas entrou em apenas uma, diante do Universidad de Chile no Estádio Nacional em Santiago, na vitória do time Celeste, por 2 a 0. Naquele jogo, o Cruzeiro venceu com: Fábio, Ceará, Dedé, Bruno Rodrigo, Samudio, Henrique, Lucas Silva, Ricardo Goulart (Souza), Éverton Ribeiro (Luan), Dagoberto (Willian) e Júlio Baptista. Já o Universidad de Chile do técnico Cristián Romero atou com: Johnny Herrera, Osvaldo González, Caruzzo, José Rojas, Cereceda, Martínez (Francisco Castro), Juan Rojas, Lorenzetti, Ramón Fernández, Rodrigo Mora (Farfán) e Patricio Rubio.

Luan nos Emirados Árabes Unidos Com o fim da Libertadores e com pouco espaço entre os titulares do Cruzeiro, Luan deixou o clube para jogar no Al Sharjah dos Emirados Árabes Unidos, time treinado pelo brasileiro . O ararense, que tem contrato com o Palmeiras até o final do ano de 2016, assinou por empréstimo com o time Árabe até Julho do mesmo ano. “No Cruzeiro fui muito feliz, conquistei títulos e atuei ao lado de grandes craques. Só tenho que agradecer por ter jogado em uma das melhores equipes do Brasil”, declara. No time mineiro, Luan fez um total de 35 jogos, marcou seis gols e deixou muitos amigos, tanto que os jogadores do elenco, liderado pelo zagueiro Dedé, chegaram a fazer uma campanha nas redes sociais pedindo a permanência dele no time. A campanha dizia “Volta, Luan! O lateral Mayke e o volante Tinga também escreveram mensagens pedindo a permanência do ararense no Cruzeiro. “Fiz muitos amigos no Cruzeiro e isso não tem preço que pague” finaliza.

Corintiano assumido Apesar de ter jogado 115 jogos pelo Palmeiras e marcado um total de 23 gols, o ararense Luan nunca escondeu na infância, pelas ruas de Araras, sua paixão pelo maior rival, o Corinthians. “Na minha infância toda eu e minha família torcemos para o Corinthians, mas hoje sou um profissional e torço pelo time que estou jogando”, declara o atacante que fez questão de lembrar o episódio com o Romarinho do Corinthians em 2012. “A prova de que defendo meu time foi a minha irritação com o Romarinho quando ele fez o gol e foi comemorar com a torcida do Palmeiras”, relata o atacante se referindo ao clássico em que o Corinthians venceu, por 2 a 0, em Setembro de 2012 no Pacaembu com gols de Romarinho e Paulinho. Hoje, o atacante ararense garante que a família torce para ele e para o União São João. “Hoje pode ter certeza que meus pais torcem por mim e pelos meus irmãos, afinal essa é a nossa profissão”, admite Luan.

Pai de dois filhos Luan atualmente com 26 anos é casado com a também ararense Aline Maiara José, moça que conheceu ainda na infância. O casal tem dois filhos: Enrico Louza de dois anos e Gabriel Louza de sete meses, ambos nasceram em Araras. “A minha família é tudo pra mim, jogo por eles, onde vou jogar os tenho por perto”, conta. Com mais pelo menos 10 anos de futebol profissional pela frente, Luan ainda nem imagina o que pretende fazer quando encerrar a carreira, mas uma certeza ele deixa evidente, vai fixar residência em Araras. “Não troco esse lugar por nada, adoro aqui e sempre quando eu posso venho pra cá para ficar com minha família e com os amigos de infância”, conta. Apesar de jovem, Luan já possui um bom patrimônio com o dinheiro do futebol. Em Araras comprou casas, terrenos, chácara e carros de luxo. No bairro Portal do Parque, próximo ao Parque Ecológico, construiu uma casa de luxo e um salão de festa com piscina, jogos, e um espaço com itens esportivos dele e dos irmãos jogadores. São fotos, camisas, bolas chuteiras, uniforme, flâmulas, troféus e medalhas. Os pais de Luan moram na residência, local onde gosta de ficar quando está em Araras.

Wilson

Da infância pobre ao luxo da carreira Com um talento apurado, Wilson despertou interesse de grandes clubes ainda na adolescência

Tímido, acanhado, moço de fala simples e poucas palavras, mas que dentro de campo se transforma, esbanja competência, habilidade e muita frieza na cara do gol. Seu preciosismo com a bola nos pés impressiona, por todos os times em que atuou deixou sua marca, é um artilheiro nato. Tanto talento, o fez superar a infância pobre. Hoje desfruta de todo o luxo que o futebol lhe proporciona. Wilson Rodrigues Fonseca, nasceu em Araras, no dia 21 de março de 1985, filho de José Rodrigues Fonseca e Maria Aparecida dos Santos Fonseca. Tem mais quatro irmãos, Marcio Rodrigues Fonseca de 40 anos, Denílson Rodrigues Fonseca de 38, Marcelo Rodrigues Fonseca de 36 e Gustavo Rodrigues Fonseca de 24. Criado no bairro José Ometto II, na zona leste de Araras, Wilson cresceu brincando com os amigos na rua. Sem dinheiro para se quer comprar uma bola, aproveitava para se divertir com a dos amigos. “Nossa brincadeira preferida era jogar futebol, muitas vezes fazíamos golzinho de chinelo e brincávamos no asfalto mesmo”, relembra. A praça do bairro também foi transformada em campo de futebol, foi ali que Wilson começou a despertar o gosto pelo esporte, mas ele faz uma revelação. “Por incrível que pareça nessa época eu brincava mesmo era no gol, jogava quase sempre de goleiro, só depois, aos poucos fui jogar na linha e nunca mais parei”, revela. A rotina de Wilson era estudar de manhã e jogar futebol com os colegas do bairro no período da tarde. Talentoso desde criança, ele sempre recebeu incentivo dos irmãos para seguir na carreira de jogador, no entanto, os pais tinham um pensamento diferente, eles queriam que Wilson deixasse o futebol de lado e fosse trabalhar para ajudar no sustento da casa. Apesar da divisão de pensamentos em casa, Wilson escolheu seguir naquilo que gostava de fazer, jogar futebol. Com 11 anos de idade, se inscreveu numa peneira de futebol que aconteceria ali mesmo no bairro onde morava. O responsável pela atividade na época era Adinan Adão, um ex-jogador e exímio descobridor de talentos da cidade de Araras. “Eu era um menino bastante tímido, não gostava muito de participar de testes, mas o incentivo de meus irmãos foi fundamental para eu participar desta avaliação”, recorda. O teste foi realizado no extinto campo do Capixaba, no bairro José Ometto II, ali foi palco de grandes jogos do Campeonato Amador de Araras, especialmente nas décadas de 80 e 90. A timidez de Wilson talvez tivesse uma explicação. No dia do teste ele nem ao menos tinha um par de chuteiras para calçar, precisou emprestar de um colega, pois só assim poderia participar da atividade. Na avaliação, Wilson foi o melhor em meio a milhares de crianças. “Passei em primeiro lugar nesta peneira, quando terminou toda a avaliação fui logo convidado para treinar no Galo de Araras a pedido do Adinan”, conta. Wilson passou a treinar diariamente no Atlético do Fátima, sua maior dificuldade era o deslocamento de sua casa até o local do treino, na época no campo do Ettore Zuntini, em frente ao Clube dos Bancários. “As vezes eu ía caminhando ou de bicicleta, uma bem velha que tínhamos em casa, não tinha dinheiro para o ônibus, era muito cansativo, a distância é de pelo menos uns dois quilômetros de minha casa até o local do treino”, recorda. Pelo Galo, o tradicional Atlético Futebol Clube do Jardim Fátima de Araras, Wilson disputou vários campeonatos interclubes. “Fiquei dois anos jogando pelo Galo, me destacava em todas as competições, joguei contra as equipes do Sayão FC, SME, Associação Atlética Ararense, Bancários e outros times da cidade”, declara. Em 1998, aos 13 anos, Wilson vê o então técnico do Galo, Adinan Adão se transferir para as categorias de base do União São João. Foi a partir daí que o sonho daquele pobre garoto passaria a se tornar realidade, afinal o União São João já era conhecido por revelar grandes jogadores, a visibilidade de Wilson seria bem maior vestindo a camisa alviverde de Araras. “O Adinan assumiu o Sub-15 do União São João e me convidou para fazer parte do time, foi uma alegria enorme e um passo muito grande para o meu sucesso, pois, jogar com a camisa do União era o desejo da maioria dos meninos e comigo não era diferente”, relata. Na época, Wilson também teve outro motivo para comemorar, os treinos passaram a ser perto da casa dele. “Dava pra ir a pé todos os dias, era muito pertinho, caminhava cerca de 300 metros”, conta No Sub-15 do União São João, mesmo sendo um dos mais jovens do grupo, com apenas 13 anos, era o que mais se destaca nos treinamentos e nos jogos. “No União eu também treinava todos os dias. Passei a estudar no período da noite e a minha dedicação para o futebol passou a ser mais constante”, revela. Diferente de jogar campeonatos interclubes, Wilson passou a defender o time de Araras em competições mais acirradas, como o Campeonato Paulista, por exemplo, os jogos eram mais disputados e os adversários muito mais forte como: a Inter de Limeira, Rio Branco, Ponte Preta, Guarani, XV de Piracicaba entre outras equipes da região. Em 2000, Wilson ainda com 15 anos foi promovido para defender o Sub17 do União São João, o técnico era Zé Rubens, conhecido por ser o pai do ex-volante Vagner, que atuou pelo próprio União São João, Santos, São Paulo, Vasco, Roma da Itália e Celta de Vigo da Espanha. “Foi um treinador que me ajudou muito, era um dos que mais me ensinava fundamentos. Lembro que ele nos chamava depois do treino e pedia para continuarmos treinando chute de média e longa distância, ele pintou uns números em um muro do CT do União e pedia para acertarmos todos, enquanto não fazíamos do jeito que ele queria, não parava, chegava até escurecer e nós ficávamos lá treinando, assim eram todos os dias, chutes com a perna direita e esquerda”, relata Wilson, que mesmo bastante jovem em relação aos demais atletas do elenco era titular do time. Foi nesta mesma época, que o jovem atleta também concluiu o ensino fundamental. Wilson estudou até a oitava série e sempre na escola Judith Ferrão Legaspe no bairro onde morava com a família, o José Ometto. O sucesso de Wilson como atleta da base do União São João foi tão meteórico, que em 2001 com apenas 16 anos foi promovido ao time Sub-20, onde disputou o Campeonato Paulista e conquistou o título estadual da categoria em cima do São Paulo. Foi a partir daquele momento, que a vida de Wilson começou a mudar e o inicio da caminhada para a carreira profissional estava consolidado. “Nesta época, além dos incentivos dos meus irmãos, passei também a ter a confiança dos meus pais, que passaram a me apoiar. Talvez eles não acreditassem muito que eu poderia me tornar um jogador profissional e na visão deles eu tinha que trabalhar para ajudar no sustento da família. Mas, a vontade em me tornar um jogador de futebol profissional falou mais alto e com a conquista daquele título, eles passaram a ter muito orgulho de mim”, conta. Wilson guarda na memória cada obstáculo superado e não se esquece da ajuda do amigo empresário, Iko Martins. “Lembro-me de cada luta dos meus pais e de meus irmãos para colocar comida em casa, uma pessoa que me ajudou muito foi o Iko Martins, que havia sido presidente do União São João. Ele apostava no meu futebol e para que eu não desistisse ele me dava uma cesta básica por mês, isso ajudava no sustento de minha família”, se emociona. No Sub-20 do União São João, Wilson passou a ser comandado pelo técnico Play Freitas. Mais tarde ele assumiu o profissional e José Carlos Grandini foi quem dirigiu o vitorioso time ararense daquele ano, campeão Paulista da categoria Sub-20 em cima do São Paulo, vitória na decisão no Estádio Herminio Ometto, em Araras, por 2 a 0. O União São João jogava com: João Paulo; Joe, Diguinho, Polaco e Fernando; Branco, Paulinho, Ledson e Danilo Sacramento; Wilson e Galvão. Wilson foi o artilheiro do time com 8 gols. “Talvez o gol mais importante que fiz foi na semifinal, quando eliminamos o Corinthians em plena Fazendinha, em São Paulo”, recorda. “Na grande final contra o São Paulo eu não marquei, porém, dei o passe para o Galvão”, destaca. Do elenco campeão daquele ano, quatro jogadores não deram seqüência a carreira, o zagueiro Polaco, o lateral Fernando e os volantes Paulinho e Ledson. Os demais todos seguiram no futebol. O goleiro João Paulo, natural de Artur Nogueira e hoje residente em Araras atuou em várias equipes do futebol brasileiro entre elas no Mogi Mirim, Catanduvense e Atlético de Sorocaba. Diguinho é ararense e já atuou pelo Ituano, Mogi Mirim, Ceará, Paysandu entre outros times, o lateral esquerdo Branco perambulou pelo sul do país, em equipes como Ypiranga/RS, Novo Hamburgo/RS, no interior de São Paulo atuou por Sertãozinho, América de Rio Preto e até no futebol paraguaio, o meia Danilo Sacramento teve uma carreira de sucesso, jogou na Europa, Cruzeiro, Vasco, Ponte Preta, Guarani e XV de Piracicaba e o atacante Galvão também brilhou no Santos e Atlético-MG. Após a consagração do primeiro título conquistado, Wilson recebeu inúmeros convites para deixar o União São João. “As propostas vinham direto para a diretoria, Lembro que o São Paulo, Vitória/BA e o Corinthians quiseram me contratar na época”, revela. Enquanto os dirigentes analisavam as propostas, Wilson permanecia focado no seu propósito de treinar e jogar bem as competições. Em 2002, Wilson jogou a Copa SP de Futebol Junior pelo União São João. A cidade sede foi em Espírito Santo do Pinhal. O time de Araras ficou em primeiro lugar na fase de classificação com sete pontos, a campanha foi de duas vitórias, um empate e nenhuma derrota, o ataque marcou 8 gols e a defesa sofreu apenas três. O América Mineiro se classificou em segundo lugar, enquanto que o Ginásio Pinhalense e o Fluminense do Piauí foram eliminados. Na segunda fase, o União venceu o Palmeiras B, por 2 a 0, e se classificou para as quartas de final, onde foi eliminado nos pênaltis para o Grêmio, por, 5 a 3, após empate no tempo normal, em 1 a 1. Mais uma vez, o atacante Wilson foi o grande nome do União São João naquela competição, o ararense passou a despertar o interesse novamente de grandes equipes. Sua saída do União São João antes mesmo de chegar ao time profissional foi praticamente inevitável. “Eu vivia uma excelente fase, fiz uma boa Copa SP de Futebol Junior e depois desse campeonato o Corinthians realmente resolveu me contratar”, explica. A trajetória no Corinthians A negociação entre União São João e Corinthians foi feita logo que terminou a Copa SP de Futebol Junior e foi por intermédio do empresário Eliseu Oliveira, o Tiroga. Foi ele quem levou Wilson para São Paulo, onde fez exames médicos e se apresentou ao time da capital. “Antes de viajar, fui pra casa, arrumei as malas e foi só alegria. Despedi-me dos meus irmãos, e fui ao restaurante Curiango no centro de Araras dar um abraço em minha mãe, ela trabalhava como cozinheira lá, foi uma choradeira de alegria, algo que ficará marcado para sempre. Com o meu pai só fui falar a noite, pois ele trabalhava na roça, foi por telefone que dei a notícia pra ele”, se emociona Wilson. Wilson chegou ao Corinthians no dia 29 de janeiro de 2002, uma terça-feira, fez exames médicos de manhã e a tarde já estava com o uniforme do clube para atuar em uma partida amistosa contra o Flamengo de Guarulhos no Estádio da fazendinha. “O técnico era o Zé Augusto, ele falou que não tinha nada que ficar esperando o dia seguinte para treinar. Tinha que ir para o pau, afinal eu era moleque novo, então me troquei e fiquei no banco de reservas neste amistoso”, recorda. Wilson entrou no segundo tempo e foi logo mostrando o seu cartão de visita. “Joguei apenas 15 minutos, mas foi o tempo suficiente para eu fazer o quarto gol e ainda fiz a jogada do quinto gol, vencemos, por 5 a 0, e fui muito elogiado depois da partida, mesmo sem conhecer ninguém”, declara. No Corinthians, Wilson foi integrado à categoria Sub-17 e logo no seu primeiro ano, em 2002, foi campeão do Campeonato Paulista da categoria. A equipe ganhou o título sob o comando do técnico Zé Augusto, com: Júlio César; Coelho, Marcus Vinicius, Fabio Ferreira e Ronny; Bruno Octávio, Carlão, Juninho e Ji-Paraná; Wilson e Bobô. Também em 2002, Wilson disputou a Copa Promissão, no interior de São Paulo. Foi campeão e artilheiro do time com 8 gols. A equipe derrotou o Vitória/BA, na final. Em 2003, Wilson disputou a Copa SP de Futebol Junior, mas a equipe acabou eliminada na segunda fase. No entanto, em Promissão nova conquista, de novo contra o Vitória/BA, o Corinthians ficou com o título e Wilson foi um dos destaques do time.

Seleção Brasileira O Sucesso de Wilson era tanto com a camisa do Corinthians, que ele foi convocado para defender a Seleção Brasileira Sub-18 na Copa Sendai no Japão de 25 a 28 de setembro de 2003. Além do Brasil, participaram da competição as Seleções da Itália e Japão e o time japonês Thoku. O Brasil foi o campeão do torneio, o ararense Wilson foi o autor de um gol na competição. Além de Wilson, foram chamados pelo técnico Nelson Rodrigues para defender a Seleção Brasileira, os goleiros: Renan (Internacional-RS) e Diego (Botafogo-SP); zagueiros: Vagner (Bahia), Halisson (Santos), Tiago Matos (Vitória) e Edcarlos (São Paulo); laterais: Léo (Flamengo), Ilsinho (Palmeiras) e Felipe Soares (Internacional); meias: Levi (Atlético Mineiro), Dione (Avaí), Fernandinho (Atlético Paranaense), Gerson (Cruzeiro), Rodrigo (Internacional) e Fábio Santos (São Paulo); atacantes: Wilson (Corinthians), (São Paulo) e Luiz Carlos (Santos). Em 2004, Wilson novamente foi convocado pela Seleção Brasileira Sub-18, atuou em torneios na Irlanda e na Espanha. Também em 2004, Wilson com 18 anos foi promovido para defender o Sub-20 do Corinthians, disputou a Copa SP de Futebol Junior daquele ano pelo time da capital. O ararense foi o titular em praticamente todos os jogos. Com uma campanha arrasadora na cidade sede de Jundiaí, o Corinthians se classificou em primeiro do grupo com vitórias diante do Paulista de Jundiaí, Figueirense e Angra dos Reis. Na segunda fase eliminou o Noroeste de Bauru, vitória por 2 a 1. Na fase seguinte passou pelo Força Sindical de Osasco, goleada por 4 a 0. Nas quartas de final, o adversário foi o Santos e nova vitória do Timão, 3 a 0. Na semifinal o Corinthians despachou o Coritiba nos pênaltis, por 5 a 4, após empate em 1 a 1, no tempo normal. Com esses resultados, o Corinthians foi a final contra o São Paulo e venceu, por 2 a 0, com gols de Bobô e Rafael Fefo. O Corinthians jogou com: Julio César; Edson, Wendel, Alemão e Vinicius; Rafael Fefo, Ronny (Nilton), Rosinei e Abuda (Renato); Ednei (Bobô) e Jô. Wilson ficou na reserva. O time era comandado pelo técnico Adaílton Ladeira. Logo depois da Copa SP de Futebol Junior, Wilson foi promovido para o profissional do Corinthians a pedido do então técnico do Timão na época, . “Foi talvez uma das minhas maiores alegrias que tive no futebol, a cada campeonato, a cada ano que passava eu tinha a certeza que estava no caminho certo e vestir a camisa do time profissional do Corinthians com certeza é a realização de qualquer profissional”, declara. No time principal do Corinthians, Wilson atuou no Campeonato Paulista de 2004, porém, foi uma das piores apresentações do Corinthians em estaduais e só não foi rebaixado por causa do São Paulo, que venceu o Juventus na última rodada e livrou o time de Parque São Jorge do rebaixamento. Na oportunidade, o gol do Tricolor foi anotado pelo atacante e quem comemorou mesmo foi a torcida do Corinthians, afinal o Timão escapava do rebaixamento, a própria torcida do São Paulo vaiou Grafite e até o pressionou para deixar o clube, tamanha a rivalidade entre as equipes. O Corinthians ficou na penúltima posição com 8 pontos, o Juventus acabou rebaixado no grupo A com 6 pontos. No outro grupo, o Oeste foi rebaixado por uso de jogador irregular. Terminou a competição com -2 pontos. O União São João com apenas 1 ponto acabou se livrando naquela época do descenso. O Corinthians jogava em 2004 com: Fábio Costa; Coelho, Anderson, Valdson e Wendel; Rosinei (Rodrigo), Rincón (Wilson), Piá e Gil; Jô e Marcelo Ramos. Técnico: Oswaldo de Oliveira. Na época os jogadores sofreram uma das maiores pressões da torcida, que constantemente compareciam nos treinamentos e nos jogos cobrando atitude dos atletas. O atacante Wilson era quase sempre preservado das criticas, afinal, era jovem e havia acabado de ser promovido ao time profissional. Com o fim da turbulência e a permanência na elite do estadual, o Corinthians iniciou a preparação para o Campeonato Brasileiro de 2004. Wilson, jovem garoto, era uma das promessas do elenco. No Campeonato Brasileiro, o Corinthians continuava em crise. Tanto que Oswaldo de Oliveira comandou a equipe até a 7ª rodada, depois veio Tite, que fez uma campanha razoável, terminando na 5ª colocação com 74 pontos. Foram 20 vitórias, 14 empates e 12 derrotas. Wilson oscilava entre a titularidade e o banco de reservas. A equipe que mais jogava naquele nacional era: Fábio Costa; Rogério, Anderson, Váldson e Fabinho (Rafael Silva); Rincón, Wendel, Piá e Gil (Wilson); Marcelo Ramos (Elton) e Jô. Em 2005, o Corinthians firmou uma parceria com a MSI (Media Sports Investment), trouxe dezenas de jogadores medalhões, entre eles, os argentinos Javier Mascherano e Carlito Tevez. O técnico Tite acabou demitido e o argentino chegou para dirigir a equipe. Com todas essas mudanças no time principal, Wilson ainda com 19 anos, foi defender o Corinthians na Copa SP de Futebol Junior e ajudou o time a construir uma campanha arrasadora, conquistando de forma invicta o título de campeão em cima do Nacional da capital, por 3 a 1. Wilson foi titular em todos os jogos sob o comando do técnico Adaílton Ladeira que escalava o Corinthians na época com: Julio César; Fabiano, Fabio Renato e Ronny; Bruno Octávio, Carlão, Elton e Wilson; Abuda e Bobô. Logo depois da Copa SP, Wilson novamente foi integrado ao profissional, o único jogo em que participou foi quando o campeonato de pontos corridos já estava decidido, o São Paulo foi o campeão. O técnico Daniel Passarela resolveu colocar só reservas em campo contra a Portuguesa Santista, na última rodada, dia 17 de abril de 2005, vitória do Corinthians, por 3 a 0, e Wilson não decepcionou, fez o primeiro gol da goleada. O time jogou com: Fabio Costa, Fininho, Marinho, Marcos Vinicius e Wendel; Bruno Octávio, Ji-Paraná, Rosinei e Hugo; Wilson e Jô. No final da partida, Daniel Passarella elogiou muito o desempenho de Wilson no time, porém, com tantos jogadores badalados no elenco, o futuro do ararense passou a ser incerto. “Nessa época eu recebi várias propostas para deixar o Corinthians, mas depois desse jogo em que fiz o gol contra a Santista, fui muito elogiado no clube e ficou a dúvida se eu ficaria no elenco ou se seria emprestado”, conta. No dia 18 de julho de 2005 veio a confirmação, a diretoria do Corinthians acertou o empréstimo do atacante para o Paulista de Jundiaí, que disputaria a Série B do Brasileiro nos anos de 2005 e 2006, a Libertadores da América em 2006 e o Campeonato Paulista em 2006. “Seria mais um desafio para a minha carreira, lembro que o Corinthians pagava metade do meu salário e o Paulista de Jundiaí complementava”, recorda. A estréia do ararense no Galo da Japi, foi no dia 22 de julho, quatro dias depois da sua contratação, no duelo contra o Marília, fora de casa, derrota, por 1 a 0. No Brasileiro daquele ano, o Paulista jogou a maioria dos jogos com: Rafael; Bosco, Dema, Anderson e Julinho; Glaydson, Cristhian, Juliano e Victor Santana; Wilson e Abraão. Técnico Wagner Mancini. O Paulista terminou a competição na 15ª posição com 28 pontos. A campanha foi de sete vitórias, sete empates e sete derrotas em 21 jogos disputados. Em 2006, Wilson disputou o Campeonato Paulista. Foi titular e ajudou o time de Jundiaí a se manter na elite do estadual, ficando na 12ª posição com 25 pontos. Em 19 partidas, foram sete vitórias, quatro empates e oito derrotas. Dos 28 gols marcados pelo clube naquela competição, um foi de Wilson. “Eu jogava mais no meio campo, eu não era um verdadeiro atacante. O Mancini pedia muito para eu ajudar na marcação”, conta Wilson. O Paulista jogou o estadual daquele ano com: Rafael; Lucas Marques, Dema, Rever e Fábio Vidal; Glaydson, Amaral, Wilson e Sammir; Munhoz e Weslley (Abraão). O técnico era o Wagner Mancini. Paralelo ao Campeonato Paulista de 2006, o Paulista de Jundiaí pela primeira vez na sua história disputou um torneio internacional. Foi, nada mais nada menos, que a tão badalada e sonhada Copa Libertadores da América. Tal façanha do time jundiaiense havia acontecido no ano anterior, com o título da Copa do Brasil. A estréia do time foi contra o El Nacional do Equador no dia 14 de fevereiro, na cidade de Quito, empate em 1 a 1. No segundo jogo, novo empate, 0 a 0, desta vez no dia 2 de Março contra o Libertad do Paraguai, no Estádio Jayme Cintra. Na terceira rodada, o duelo foi contra o River Plate na Argentina, derrota, por 4 a 1. No dia 5 de abril pelo returno em Jundiaí, o troco, vitória do Paulista, por 2 a 1, para cima dos argentinos. Nos outros dois jogos, o Paulista perdeu no Paraguai para o Libertad, por 1 a 0, e na última rodada da primeira fase empatou com o El Nacional, em casa, em 0 a 0. Resultados que não permitiram a classificação do Galo da Japi para as oitavas de final da Libertadores. Libertad do Paraguai e River Plate da Argentina foram as equipes classificadas. O Inter-RS foi o campeão ao derrotar o São Paulo na decisão. Mesmo com a eliminação precoce, o Paulista de Jundiaí entrou para a história por disputar uma competição tão importante do calendário do futebol mundial. O ararense Wilson teve atuação destacada na competição, foi considerado um dos principais jogadores do clube e titular absoluto do time comandado pelo técnico Wagner Mancini. O Paulista jogou a Libertadores com: Rafael Bracalli; Lucas Marques, Dema, Rever e Fábio Vidal; Glaydson, Amaral, Beto (Abraão) e Wilson; Jaílson (Nivaldo) e Munhoz (Jean Carlos). No segundo semestre de 2006, o Paulista brigou pelo acesso a elite do futebol brasileiro, mas não conseguiu o objetivo no critério de vitórias, o América de Natal tinha 19 contra 17 do Paulista, que ficou na quinta posição e viu o Atlético Mineiro, Sport/PE, Náutico e América de Natal ascenderem a divisão de elite. No Nacional daquele ano, Wilson marcou um gol na competição e o Paulista atuava com: Vitor; Marco Aurélio, Dema, Rever e Eduardo; Glaydson, Marcelo Oliveira, e Wilson; Jaílson e Victor Santana. Técnico Wagner Mancini. Com o fim da Série B e o término do contrato de empréstimo com o Paulista de Jundiaí, Wilson voltou ao Corinthians em janeiro de 2007 e renovou seu contrato até 2010. Carlito Tevez, Mascherano e Daniel Passarela e companhia já haviam deixado o clube no mês de agosto de 2006. Em 2007, Emerson Leão passou a ser o técnico e comandou o time no Campeonato Paulista. Wilson já um pouco mais experiente, com 22 anos, passou a ter mais espaço no clube. O Corinthians jogou o estadual daquele ano com: Marcelo; Rosinei, Marinho, Betão e Edson; Marcelo Mattos, Magrão, Elton e Roger Secco; Amoroso e Wilson. Ainda em clima de muita turbulência no Corinthians, Leão ficou no cargo até a primeira semana de abril daquele ano. Os maus resultados fizeram a diretoria trocá-lo por José Augusto, treinador da base do clube, que assumiu interinamente o profissional. “Pra mim não mudou muita coisa, continuei sendo titular do Corinthians. É claro com o José Augusto eu tinha mais afinidade, a gente havia trabalhado juntos na base”, recorda. Foram três jogos sob o comando do técnico José Augusto, uma vitória contra o América de Rio Preto e um empate diante do Santo André, ambos pelo Campeonato Paulista. O outro jogo foi pela Copa do Brasil, empate diante do Náutico, em Recife. Todos os jogos Wilson foi titular. No dia 26 de abril, o Corinthians anunciou Paulo César Carpeggiani como novo técnico, ele estreou no jogo da volta da Copa do Brasil contra o Náutico, perde, por 2 a 0 e o Corinthians foi eliminado precocemente da competição. Wilson esteve em campo, foi o titular do time, que atuou com: Jean; Eduardo Ratinho, Betão, Marinho e Carlão; Marcelo Mattos, Magrão, Rosinei (Marcos Tamandaré) e Everton; Arce (Alisson) e Wilson. No estadual daquele ano, Carpeggiani deu continuidade ao trabalho, porém, a equipe somou 29 pontos em 19 jogos, terminou na 9ª posição. Wilson foi o artilheiro do time na oportunidade com 5 gols, 8 a menos que Somália do São Caetano, o artilheiro da competição. O Santos foi o campeão Paulista em 2007.

Corinthians rebaixado No segundo semestre, Wilson também fez parte do trágico rebaixamento do Corinthians a Série B do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, Carpeggiani iniciou a competição de técnico, depois assumiu novamente José Augusto interinamente, até a chegada de Nelsinho Batista, que terminou a competição. A campanha do Corinthians foi de apenas 10 vitórias, 14 empates e 14 derrotas, foram 44 pontos conquistados. Juventude, Paraná Clube e América de Natal foram às outras três equipes rebaixadas. O São Paulo foi o campeão com 77 pontos. O ararense Wilson na oportunidade freqüentava mais o banco de reservas. A formação, que mais entrou em campo na oportunidade foi: Felipe; Carlos Alberto, Betão, Zelão e Iran; Moradei, Fábio Ferreira, Gustavo Nery e Heverton; Finazzi e Clodoaldo (Arce). “Eu vivi de perto esse episódio, foi o momento mais triste que participei do futebol. Uma nação inteira chorando um rebaixamento, nós jogadores estávamos abatidos e ficamos marcados negativamente. Só quem está la dentro sabe o quanto dói um rebaixamento, ainda mais no Corinthians”, disse Wilson, que no último jogo contra o Grêmio no Estádio Olímpico, ele seria titular do time, porém uma contusão muscular o tirou da partida. Ele chegou a fazer um teste no vestiário, mas as dores não permitiram entrar em campo. “Na época alguns dirigentes desconfiaram da minha palavra, diziam que não estava machucado, mas os médicos do Corinthians sabiam que eu não tinha condições. Quem falava também não sabe nada de futebol”, polemiza. O jogo terminou 1 a 1 e o Corinthians foi rebaixado no dia 2 de dezembro de 2007. No final de 2007 também encerrou o ciclo do ararense pelo Corinthians, que se diz orgulhoso por ter vestido a gloriosa camisa alvinegra do Timão. “Foi a realização de um sonho. Deixar Araras, pequena cidade do interior de São Paulo e jogar em um dos maiores clubes do futebol mundial, é algo fascinante. Você bater bola no gramado e ouvir seu nome sendo gritado por milhares de pessoas nas arquibancadas é arrepiante”, se encanta. Apesar desse privilégio, Wilson faz uma lamentação. “Pena que cheguei ao profissional do Corinthians num momento errado, de muita turbulência e briga política. Foi uma época em que nada dava certo pra gente, acho que foi a pior fase do clube”, declara Wilson, que tinha contrato, mas pediu para deixar o clube. “Eu não tinha mais ambiente ali, era muita troca de treinador, eu jogava pouco e pedi pra sair”, confessa. Na época, quase o ararense foi emprestado para a Portuguesa. “Eles me informaram que eu iria ser emprestado para a Portuguesa, mas a negociação não deu certo e acabei sendo negociado em definitivo com o Genoa da Itália”, conta.

Experiência Internacional Em 2008, Wilson, tem sua primeira experiência fora do Brasil. Assinou contrato com o Genoa, time da primeira divisão do futebol italiano. Na época, um grupo de empresários, adquiriu os Direitos Federativos dele junto ao Corinthians no valor aproximado de R$ 600 mil reais. Na ocasião, certa polêmica foi criada, já que o conselheiro do clube Osmar Stábile e o sócio dele Moacir da Cunha Vianna, ajudaram na compra do atleta junto ao União São João de Araras e mais tarde exigiram o valor investido de volta, o que não foi repassado pelo clube e gerou uma ação judicial em que o Corinthians foi condenado a pagar R$ 18 milhões aos investidores. No Genoa, Wilson conviveu com uma grande coincidência, atuou ao lado de outro ararense, o meia Danilo Sacramento. “Ele me deu muita força e foi algo do destino mesmo, dois ararenses no mesmo clube, ainda mais na Itália”, brinca. No entanto, uma contusão logo de cara impediu Wilson de ter uma sequência de jogos no time italiano e sua passagem pelo clube acabou prejudicada. “Sofri uma lesão no joelho e acabei ficando em tratamento durante um longo período, mas ninguém conseguia descobrir qual era a lesão e acabei fazendo três partidas no sacrifício”, declara Wilson atuou nas partidas contra Parma, Lazio e Atalanta. O técnico Gian Pierro Gasperini escalou o Genoa com: Aléssio Scarpa; Alessandro Lucarelli, Konko, Gaetano de Rosa e Danilo Sacramento; Gleison Santos, Julio César León, Ivan Juric e Osmar Milanetto; Wilson e Marco Borriello. Além dos ararenses Wilson e Danilo Sacramento, o Genoa tinha outros brasileiros como: o goleiro Rubinho irmão de Zé Elias, o lateral esquerdo Fabiano ex-São Paulo e Guarani e o zagueiro Gleison Santos, que foi revelado pelo Comercial de Ribeirão Preto. No fim da temporada do futebol italiano em julho de 2008, Wilson sem muito espaço retornou ao futebol brasileiro, foi contratado pelo Sport Recife por empréstimo a pedido do técnico Nelsinho Batista. No time pernambucano, Wilson conseguiu se recuperar da lesão no joelho e fez a sua estréia no dia 23 de agosto de 2008, no empate diante do Fluminense pelo Campeonato Brasileiro. O Sport atuava com: Magrão; César Lucena, Igor, Durval e Dutra; Junior Maranhão, Andrade, Cássio e Wilson; Carlinhos Bala e Roger. A equipe terminou o Nacional na 11ª posição com 52 pontos, conquistando 14 vitórias, 10 empates e acumulou 14 derrotas. Neste mesmo ano, o Sport conquistou a Copa do Brasil e o Pernambucano, porém Wilson não participou das campanhas, pois, quando chegou, as competições já haviam terminadas. Já em 2009, Wilson entrou para a história do time pernambucano e caiu nas graças da torcida. Conquistou o titulo estadual de 2009 de maneira invicta. A Campanha foi de 19 vitórias e três empates, conquistando um total de 60 pontos. Também no primeiro semestre disputou a Libertadores da América pelo Sport. São seis jogos no total, sendo quatro vitórias, um empate e uma derrota nos pênaltis para o Palmeiras, por 3 a 1, resultado que decretou a eliminação do Sport na competição continental. Wilson foi o artilheiro do time com três gols. O Sport atuava com: Magrão; César Lucena, Igor, Durval e Dutra; , Andrade e Paulo Bayer; Luciano Henrique, Wilson e Ciro. Técnico Nelsinho Batista. Com a eliminação na Libertadores da América no dia 12 de maio de 2009, o foco passou a ser o Campeonato Nacional, que já estava em andamento. Porém, a campanha não foi nada animadora, O Sport foi o lanterna com apenas 31 pontos conquistados em 38 jogos disputados, foram sete vitórias, 10 empates e 21 derrotas. No entanto, Wilson foi um dos poucos jogadores perdoados pela torcida, já que dos 48 gols marcados no Nacional daquele ano, oito foram dele. Em 2010, Wilson permaneceu no Sport, disputou o e conquistou o seu bi- campeonato com uma campanha arrasadora, sendo 15 vitórias, seis empates e apenas uma derrota. O time comandado pelo técnico Givanildo de Oliveira atuava com: Magrão, Igor, César e Tobi; Julio César, Daniel Paulista, Eduardo Ramos, Zé Antônio e Dutra; Wilson e Ciro. O atacante ararense foi o autor de seis gols no Estadual. Naquela competição, uma nova contusão no joelho o impediu de ter um desempenho melhor. “Precisei operar o ligamento cruzado. Fiquei seis meses sem pode jogar”, lamenta Wilson. Por conta da cirurgia, Wilson não jogou o segundo turno inteiro do Estadual e nem o primeiro turno da Série B. A volta aos gramados foi só no dia 24 de agosto de agosto de 2010, no empate em 0 a 0 contra o Vila Nova-GO. Na Série B do Brasileiro, o Sport ficou na sexta posição com 56 pontos. Foram 38 jogos realizados, conquistou 15 vitórias, 11 empates e acumulou 12 derrotas no total. Coritiba, Figueirense, Bahia e América Mineiro foram os times que ascenderem a divisão de elite. Em 2010, Wilson foi o vice-artilheiro do time no Nacional com um total de sete gols, ficando atrás do seu colega de ataque, Ciro, que balançou as redes em 16 oportunidades. O Sport atuava com: Magrão; César Lucena, Germano, Géder e Dutra; Dadá, Tobi, Daniel Paulista e Marcelinho Paraíba; Eliandro e Wilson. No final de 2010, Wilson recebeu várias propostas para deixar o Sport, principalmente de times do exterior. Empresariado pelo ex-volante Bernardo, Wilson se transferiu para o futebol chinês, onde atuou pelo Shaanxi Renhe no ano de 2011. Em 2012, o destino de Wilson foi o futebol japonês. Foi contratado pelo Vegalta Sendai, onde atua até hoje. Logo no seu primeiro ano na terra do sol nascente foi o vice-artilheiro da Liga Japonesa de futebol com 12 gols marcados. Na disputa por pontos corridos, a equipe ficou com o vice-campeonato conquistando 57 pontos em 34 partidas disputadas, foram 15 vitórias, 12 empates e sete derrotas. O título ficou com o Sanfrecce Hiroshima com um total de 64 pontos, ganhando a vaga para disputar o Mundial de Clubes no mês de Dezembro em Tókio, o mesmo em que o Corinthians conquistou o título ao derrotar na final o Chelsea, por 1 a 0, com gol de Guerreiro. Além de Wilson o meia Deyvid Sacconi também atuou no elenco japonês. Já em 2013, o Vegalta Sendai não repetiu o mesmo desempenho do ano anterior e terminou a Liga Japonesa de Futebol apenas na 13ª posição com apenas 45 pontos. O titulo mais uma vez foi conquistado pelo Sanfrecce Hiroshima, que somou 63 pontos no total. Na liga dos Campeões da Ásia de 2013, o Vegalta Sendai ficou na lanterna do grupo E com apenas 6 pontos, as duas equipes do grupo que se classificaram foram FC Seoul da Coréia do Sul e Buriram United da Tailândia, Jiangsu Sainty da China terminou em terceiro e a exemplo do Vegalta Sendai também foi eliminada. O campeão foi Guangzhou Evergrande da China, que despachou na final o FC Seoul. Wilson participou de praticamente todos os jogos como titular. O meia brasileiro Deyvid Sacconi já havia deixado o grupo, outros dois brasileiros estiveram no elenco, os meias Heberty e Diogo, porém, entre os brasileiros, apenas Wilson conseguiu sucesso no time, sendo considerado um dos ídolos da torcida do Vegalta Sendai, tanto que neste ano de 2014 apenas ele do Brasil está no elenco que disputa a Liga Japonesa de Futebol. O contrato do ararense vai até o final do ano de 2015.

A vida em Sorocaba Fora de campo, Wilson tem uma vida tranquila e bem familiar. Casou-se há 14 anos com a dançarina Priscila Tatiana de Mello, com quem tem três filhos, Enrico de Mello Fonseca hoje com sete anos, Lucca de Mello Fonseca de quatro anos e Augusto de Mello Fonseca de um ano. O matrimônio se deu em 2003, logo quando Wilson chegou ao Corinthians. “Eu conheci a Priscila em um churrasco no meu apartamento em São Paulo. Ela era amiga de uma conhecida do Liedson, que morava comigo. Foi amor à primeira vista. Namoramos cinco meses e logo nos casamos”, conta Wilson. Priscila era famosa por dançar em grupos de axé badalados na época, como o Só Kebrança e o Axé Blond. No entanto, em Outubro de 2003 ela resolveu abandonar a rotina de dançarina e passou a apoiar somente o marido na carreira de jogador de futebol. “A Priscila me ajudou muito, ela foi uma companheira e tanto, pois, eu junto com ela ficava focado apenas em jogar bola, não tinha tempo para pensar em balada, ainda mais eu que sempre fui tímido e muito caseiro”, declara. Apesar de ser ararense e atualmente morar no Japão, Wilson resolveu fixar residência no Brasil na cidade de Sorocaba, onde tem uma casa luxuosa em um condômino fechado avaliada em mais de R$ 2 milhões, além de casas terrenos, carros de luxo e dezenas de salas comerciais alugadas no centro da cidade. “Sempre gostei de Sorocaba, eu vinha muito passear com minha família na casa da tia da Priscila, a kátia Silene de Mello Machado, que sempre morou aqui. Gostei da cidade e resolvemos investir aqui”, explica Wilson. O gosto por Sorocaba foi tanto, que os dois filhos biológicos do atacante nasceram na cidade. Apesar disso, Wilson sempre visita os pais e os irmãos em Araras. Wilson fez questão de ajudar os pais e os irmãos financeiramente. “Comprei uma casa no Jardim Luiza Maria para os meus pais, sempre que posso ajudo eles mensalmente. Hoje graças a Deus minha mãe não precisa mais trabalhar e meu pai é aposentado”, relata. Já os irmãos de Wilson resolveram permanecer na antiga casa localizada no José Ometto, a mesma a qual onde todos cresceram na infância. “Todos meus irmãos trabalham em Araras, sempre estamos em contato e quando eles precisam de algo eu sempre estou disposto a ajudá-los”, declara. Além dos familiares, Wilson ajuda também pessoas necessitadas de Araras, Sorocaba e instituições que cuidam de crianças. “Sou muito agradecido a tudo que Deus me proporcionou, por isso, ajudo quem mais precisa”, revela

Filho adotivo A satisfação em ajudar o próximo fez de Wilson e da esposa Priscila tomar uma decisão em janeiro de 2014. A Casa Abrigo, uma instituição que cuida de crianças carentes, de Iperó-SP, cidade de 30 mil habitantes e que fica distante 25 km de Sorocaba, recebeu um bebê da maternidade que havia acabado de nascer prematuramente, a mãe biológica não tinha condições de criá-lo. Ele foi registrado com o nome de Augusto. Ao visitar a Casa Abrigo como faz todos os anos quando está em férias no Brasil, Wilson recebeu um pedido inesperado. “A coordenadora da Casa Abrigo estava preocupada com o Augusto porque ele tinha dificuldade para ganhar peso, ele estava muito debilitado e me fez um pedido para cuidar dele por um período, isso mexeu com o meu coração, a Priscila ao meu lado já estava emocionada, não pensamos duas vezes, levamos ele para nossa casa”, conta. Apaixonada por criança, Priscila passou a cuidar de Augusto da mesma maneira que havia feito com os dois filhos biológicos, Gustavo e Lucca. Não demorou muito e o pequeno bebê já estava dentro do peso ideal e com uma saúde de ferro. Tanto amor pelo pequeno Augusto, fez Priscila tomar uma decisão. “O amor que tenho por ele é o mesmo que sinto pelo Gustavo e pelo Lucca, é coisa de mãe para filho, hoje não consigo mais ficar sem ele, por isso conversei com o Wilson e resolvemos adotá-lo. Ele é a nossa alegria”, conta Priscila. O casal entrou com o pedido na justiça e aguarda a oficialização da adoção de Augusto de Mello Fonseca, que já mora com a família de Wilson. Enquanto a Priscila cuida das crianças em Sorocaba, no Japão, Wilson usa a internet para matar a saudade da esposa e dos filhos. “Minha família é tudo pra mim. Inclusive quando faço gols aqui no Japão costumo dedicar a eles”, declara. Aos 29 anos, Wilson ainda não tem nada programado para o futuro. Quando encerrar a carreira, o ararense deverá continuar se dedicando ao futebol, na função de treinador ou dirigente.

Israel

OUTRO FILHO ADOTIVO DE ARARAS Israel, um dos melhores atacantes da história do União, sobreviveu a um grave acidente, que resultou na morte do melhor amigo, Osias

A história de Israel foi marcada por superação. Moço de infância humilde teve que enfrentar obstáculos quase que insuperáveis para fazer o que mais gostava que era jogar futebol. Uma viagem quase que sem volta, pois fim num sucesso já garantido, mas não impediu que ele voltasse aos gramados e encerrasse a carreira dignamente. Se com a camisa do União São João ficou marcado por ser um dos maiores goleadores na década de 90, fora dele, precisou se apegar a Deus para se superar de um grave acidente na rodovia Wilson Finardi, que liga as cidades de Araras a Conchal. Na tragédia faleceu seu companheiro de ataque Osias, era um amigo inseparável dentro e fora de campo. Israel Pedro de Souza nasceu no dia 23 de outubro de 1971 na pequena Ipuiuna, sul de Minas Gerais, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes conhecida como a capital nacional da batata. Entretanto, da mesma forma em que Araras acolheu Roberto Carlos, Alexandre, Odair, Vinicius Eutrópio, Beto Médice, ex-Santos entre outros ex-jogadores, se orgulha também de ter Israel como filho adotivo. Filho dos já falecidos Francisco Apolinário de Souza e Maria Francisca de Souza, ele é o penúltimo de um total de 14 filhos do casal. A família, sem muitas opções de trabalho na pequena cidade mineira de Ipuiuna resolveu se mudar para um sítio na rodovia que liga as cidade de Casa Branca e Vargem Grande do Sul. Nesse novo lar trocava o trabalho na roça por moradia e comida. Os pais de Israel e os irmãos trabalhavam na produção e colheita de laranja. Na mesa nunca faltava nada, afinal eles comiam o que eles mesmos plantavam. Assim, como todos os irmãos, Israel foi crescendo e desde criança também trabalhou na dura rotina do campo, sempre no período da tarde, já que de manhã seu compromisso era com a escola. “Eu sempre estudei no Instituto de Educação, uma escola bem conhecida na cidade de Casa Branca/SP e durante a disciplina de Educação Física eu sempre gostava muito de jogar futebol e me destacava entre os demais”, ressalta Israel. O bom desempenho na escola rendeu a ele o convite para representar o município de Casa Branca nos Jogos Regionais, conhecida e tradicional competição realizada há 64 anos em várias regiões do interior do estado de São Paulo. Após vários anos disputando os Jogos Regionais, Israel foi ganhando experiência e maturidade no esporte, ingredientes essenciais para que ele se tornasse o grande destaque de sua equipe. O atacante chegou a fazer um teste no Comercial de Ribeirão Preto, mas a saudade da família e a incerteza sobre seu futuro fizeram com que ele voltasse a Casa Branca. “Eu morei no alojamento do Comercial, embaixo das arquibancadas do Estádio Palma Travassos, mas eu ainda não estava preparado e decidido sobre meu futuro.”, relata. Em 1989, de volta ao time de Casa Branca, Israel se destacou nos Jogos Regionais em Rio Claro, com um faro de gol apurado foi convidado para fazer um teste no União São João. “Um senhor de Casa Branca, conhecido como Seu Bertinho, que tomava conta do nosso time nos Regionais, foi quem me levou ao União São João, lembro que o zagueiro Nilson também foi comigo e nós fomos aprovados pelo técnico da base do União na época, o Aílton Lira”, relembra. Israel com 18 anos passou a fazer parte da categoria Sub-20 do União São João e com o apoio dos pais e dos irmãos mudou-se para o alojamento do time ararense. “Graças a Deus meus pais sempre me apoiaram, passei a morar no jardim Cândida, em uma das três casas que o União São João havia alugado para os jogadores, lembro que duas eram para os atletas da base e uma reservada somente para os jogadores do time principal”, recorda. Israel de infância humilde e acostumado à zona rural, teve que aprender a conviver sozinho em uma cidade relativamente maior a que ele estava adaptado. Segundo ele próprio diz, foi uma fase difícil e de muito receio quanto ao seu futuro. “Tive muito medo, era uma sensação difícil, pois eu sozinho tinha que me virar, afinal eu não tinha a certeza de que realmente me tornaria um jogador profissional, pois sabia que tinha começado tarde e a concorrência era muito grande”, declara. Israel explica que a cada dia tinha que se empenhar mais para continuar no elenco do União São João. De acordo com ele, além da competência a sorte era uma aliada, pois fazia muito gols em treino. “A estrutura do União era muito forte, a qualidade dos jogadores impressionava, para se ter uma idéia o Roberto Carlos era juvenil e jogava com a gente nos juniores, tinha jogador que estava ali há muito tempo, que havia jogado no dente-de-leite, infantil, juvenil e quando chegava nos juniores era dispensado, eu via aquilo e ficava com muito medo de não me profissionalizar e ter que recomeçar tudo do zero na roça, mas eu tinha fé e era persistente, pois a minha meta era ser um jogador de futebol profissional”, relata. A perseverança valeu à pena, depois de dois anos disputando campeonatos pela categoria Sub-20, Israel acabou promovido ao time principal do União São João em 1992. “Minha idade para jogar no Sub-20 já estava no limite, então só continuaria no clube se fosse promovido ao time principal e foi o que aconteceu, fui informado que a partir daquele ano passaria a ser um jogador de futebol profissional”, recorda. Radiante pela notícia, Israel fez questão de pegar um ônibus e viajou até o sítio onde moravam seus familiares para informar o pai e os 14 irmãos pela façanha. “A minha família é grande e sempre foi muito unida, fiz questão de participar todos eles da minha conquista, o natal e a passagem de ano de 1991 para 1992, foram os momentos mais felizes da minha vida”, declara. Israel só lamentou não poder ter compartilhado essa alegria com a mãe, que havia falecido em 1989, vítima de parada respiratória. “Infelizmente minha mãe já não estava mais entre a gente”, lamenta. Israel se apresentou ao profissional do União em 1992. O técnico era Jair Picerni e o time se preparava para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B. A estréia com a camisa alviverde foi no dia 19 de fevereiro na vitória sobre o Bangu, por 1 a 0, em Moça Bonita, no Rio de Janeiro pela quarta rodada da competição. Naquele ano, Israel por ser muito jovem oscilou bastante entre a equipe titular e a reserva. O time ararense conseguiu o acesso a divisão de elite do Campeonato Brasileiro após vencer o Noroeste, por 2 a 0, em Bauru e ser beneficiado por uma combinação de oito resultados. O União subiu a Série A do Brasileiro jogando a maioria das partidas com: Velloso; Edinho, Beto Médice, Henrique e Roberto Carlos; Vinicius Eutrópio, Alexandre e Glauco; Marcelo Conti (Israel), Ozias (César) e Éder Aleixo. O time ainda tinha: Rossi, Esquerdinha, Vagner, Odair, César, Zé Luis entre outros, era um verdadeiro celeiro de craques. Mas, foi no ano de 1993, que Israel começou a ganhar projeção e fama, pois ele passou a ser titular absoluto do time ararense e tornou-se um dos maiores goleadores da história do União São João de Araras. Para jogar aquela temporada, a exemplo do ano anterior, o União formou um dos melhores times de sua história e jogava sempre com: Luis Henrique; Edinho, Maciel, Cláudio e Carlos Roberto; Vinicius Eutrópico (Cleomar), Vagner e Alexandre (Glauco); Israel, Ozias e Esquerdinha. A qualidade do elenco do União São João era tão evidente, que os clubes considerados grandes tinham dificuldades para vencer o time ararense. Um exemplo disso foi a vitória, por 3 a 0, diante do Corinthians no Campeonato Paulista daquele ano com gols de Osias, Alexandre e o próprio Israel. Neste jogo, o time ararense do técnico Jair Picerni venceu com: Luiz Henrique; Edinho, Beto Médice, Cláudio e Carlos Roberto; Vagner Alexandre e Glauco; Israel, Osias e Esquerdinha. O Corinthians do técnico Nelsinho Batista perdeu com: Ronaldo; Leandro Silva, Marcelo, Ricardo e Elias; Moacir, Ezequiel e Neto; Paulo Sérgio, Viola e Adil. Vivendo uma fase esplendorosa, Israel foi convocado para integrar o elenco da Seleção Paulista de 1993. Na época foram chamados os melhores jogadores do estadual daquele ano. O selecionado foi ao Japão para um amistoso contra , time do brasileiro Zico na época. “Foi uma honra pra mim, a partir daquele momento eu comecei a ter uma noção do que eu representava ao futebol. Tenho até hoje a camisa sete daquela seleção guardada comigo, pois deixei o Marcelinho Carioca no banco, eu joguei o primeiro tempo e ele entrou no segundo. O técnico era o ex-zagueiro da Ponte Preta e Seleção Brasileira, Oscar”, recorda Israel, que realizou o sonho de jogar ao lado de seus principais ídolos no futebol. “Eu tive o privilégio de atuar ao lado do Éder Aleixo no União, jogador que tinha visto na Copa de 1986 e contra o próprio Zico no Japão, pra mim um dos grandes craques do futebol brasileiro”, relatou. Aos 22 anos, Israel também fez sucesso no Campeonato Brasileiro da Série A daquele ano, ao lado de Ozias, amigo inseparável, foi o principal goleador do time ararense naquela temporada, principalmente contra times considerados grandes. “Eu tinha bom posicionamento e finalizava bem, eu e o Ozias fizemos uma boa dupla de ataque, por isso marquei muitos gols. Os mais marcantes foram dois contra o São Paulo, um contra o Santos na Vila Belmiro, um contra o Corinthians e três em um único jogo contra o Coritiba no dia 13 de outubro de 1993, o União venceu, por 3 a 1 pelo Brasileirão. Foi a partir deste jogo, que o Coritiba quis me contratar”, recorda. O sucesso conquistado em 1993 se repetiu em 1994. Vestindo a camisa sete do União São João, Israel era incontestável, já não era mais um simples jogador e sim um ídolo da torcida ararense e famoso por fazer muitos gols. Era comum ele participar de programas esportivos em rede nacional. Ao lado do lateral Edinho, do zagueiro Cláudio e dos meias Alexandre e Vagner, Israel era um dos atletas que mais recebia proposta para deixar o União São João, a valorização do seu futebol era impressionante. “Eu sempre ganhava prêmios das emissoras de rádio e de televisão por ser considerado o melhor jogador em campo. Cansei de ganhar radinhos de pilha”, brincou o ex-atacante. Predestinado, Israel dificilmente passava em branco nos jogos, com ele em campo era sinônimo de gol. Em todas as partidas era ovacionado pela torcida, que nesta época frequentava as arquibancadas do Estádio Hermínio Ometto sempre em bom número. Um jogo marcante para Israel foi no Campeonato Paulista de 1994, no empate, em 1 a 1, contra o campeão estadual daquele ano, o Palmeiras, que sempre aplicava impiedosas goleadas nos adversários, o duelo foi em pleno Palestra Itália com mais de 24 mil torcedores nas arquibancadas. O zagueiro Cléber marcou para o time da capital e Israel empatou para o time ararense. “Após eu balançar a rede o estádio ficou em silêncio, foi um gol muito importante, que me fez ainda mais conhecido a partir daquele momento”, se emociona. Neste jogo, o União dirigido por Jair Picerni jogou com: Privatti; Edinho, Maciel, Beto Médice e Carlos Roberto; Marcelo Lopes, Alexandre e Vagner; Israel, Osias e Cleomar. O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo atuou com: Sérgio; Gil Baiano, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho e Rincón; Edmundo, Evair e Zinho. Depois do Estadual, o União jogou o Campeonato Brasileiro da Série A de 1994, Israel foi mais uma vez um dos destaques do elenco. No inicio Geninho foi o técnico, depois o experiente Jair Picerni assumiu o time. O União atuou naquele Brasileirão a maioria dos jogos com: Maizena; Edinho, Maciel, Cláudio e Carlos Roberto; Marcelo Lopes, Vagner e Alexandre; Marcelo Conti (Ozias), Israel e Esquerdinha. No final da temporada, Israel era o jogador mais cobiçado pelos grandes clubes do futebol brasileiro, o time ararense recebia dezenas de propostas pelo atacante. No entanto, um fato o deixou muito triste, foi no fim do Campeonato Brasileiro, o time de Araras havia conseguido números de pontos suficientes para mantê- lo na divisão de elite, mas sem ser comunicado, Israel acabou afastado pela diretoria do clube, que alegou corpo mole do atleta para forçar uma negociação. “Foi um episódio muito triste, que aconteceu comigo. Lembro que minha foto saiu estampada em todos os jornais, inclusive na Gazeta, que era visto no Brasil inteiro na época. Isso manchou um pouco todo o meu trabalho na temporada, sinceramente até hoje não sei por que a diretoria fez isso comigo, fiquei muito magoado, principalmente por ter saído a minha foto no jornal, se fosse só o nome eu até relevava, pois era mais fácil do pessoal esquecer, mas a foto, isso me prejudicou”, relata. Mesmo sem jogar as últimas três rodadas do Brasileirão daquele ano, Israel continuou treinando, mas a punição o deixou preocupado, afinal ele estava prestes a casar. “Eu fiquei muito apreensivo, pois estava de casamento marcado para o mês de janeiro de 1995 e não podia ficar sem emprego, afinal estava começando a construir minha família”, relembra.

Casamento Sem os pais e os irmãos por perto, Israel recorria a namorada Diane Luce Bonito para desabafar as mágoas que o futebol algumas vezes o apresentava, afinal ela era a pessoa de maior confiança, que ele tinha por perto, pois estavam juntos há dois anos. “A Diane eu conheci aqui em Araras na fila de uma imobiliária. Lembro que conversamos um pouco e logo marcamos um encontro e começamos a namorar isso em 1993”, recorda. Nessa época, diferente de quando estava na base do clube, Israel dividia moradia com Maciel e Alexandre. “Eu ficava uma semana no apartamento do Maciel no centro da cidade e na outra semana eu dormia no apartamento do Alexandre, que ficava em frente a rodoviária, mas eu queria uma vida a dois, estava disposto a me casar e a Diane era a minha maior paixão na época, ela e a família dela eram tudo pra mim”, explica. Embora estivesse com a situação financeira razoavelmente tranqüila, em razão das duas boas temporadas que havia feito com a camisa do União São João nos anos de 1993 e 1994, Israel ainda temia pelo seu futuro. Sua maior preocupação era ficar sem emprego, entretanto em meio às incertezas, ele subiu ao altar, afinal a cerimônia estava marcada. “Eu tinha uma reserva boa de dinheiro, o União pagava certinho, tanto salário como premiação, inclusive comprei na época um ômega, que era o meu sonho de consumo, era o carrão da época e um apartamento no Parque das Árvores, em Araras, mas, mesmo assim, sabia que precisava dar seqüencia na minha carreira para sustentar o meu padrão de vida”, explica. O Casamento foi em Vargem Grande do Sul no dia 7 de janeiro de 1995. “Foi lá onde minha família morava, na ocasião foi mais fácil deslocar os parentes da Diane Dulce Bonito para lá do que eu trazer todos os meus parentes para Araras, afinal a família dela é bem menor que a minha”, sorriu o ex-atacante. Casado e com a responsabilidade de sustentar a família que havia acabado de formar, Israel 15 dias depois, recebeu um telefonema do União São João para se apresentar ao clube, uma conversa com os dirigentes iria definir o seu futuro. Israel foi informado que não estava nos planos do time ararense para a disputa do Estadual daquele ano. “Eu tinha muitas propostas, mas o União queria me valorizar e por isso não fui negociado em definitivo, os dirigentes resolveram me emprestar para que eu ficasse ainda mais na vitrine”, conta. Seu destino então foi o Coritiba para a disputa do Campeonato Paranaense. Durante a viagem para a cidade de Curitiba, onde se apresentaria ao seu novo clube, Israel recebeu uma ligação da imprensa carioca e foi informado do interesse do Flamengo em seu futebol. “Fiquei até surpreso e ao mesmo tempo feliz por estar sendo reconhecido, mas como já havia dado a minha palavra, continuei a viagem e acertei com o Coritiba”, garante. No Coxa Branca, ficou menos de dois meses, entrou em campo apenas em alguns jogos, o Coritiba não havia pagado o valor do empréstimo ao União São João. “Como o Coritiba não cumpriu o prometido, o União pediu para que eu voltasse”, declara. No Coritiba, Israel foi comandado pelo técnico Paulo César Carpegiani. A equipe jogava com: Jorge Seré; Marcos Teixeira, Jorjão, Gralak e Marcio; Claudiomiro, Dida, Ademir Alcântara e Daniel; e Israel (Brandão). De volta a Araras, ainda no inicio de 1995, Israel se quer pisou no gramado do Estádio Hermínio Ometto, foi logo informado que jogaria a Série A2 do Paulista pelo Santo André. “O Santo André formou um bom time naquele ano, tinha tudo para subir, mas infelizmente não conseguimos o acesso”, conta. No Campeonato Paulista de 1995, o time do ABC paulista comandado pelo técnico uruguaio Sérgio Ramirez jogava com: Hugo; Tadeu, João Marcelo, Ademir e Biro Biro; Candeias, Jorginho Cantiflas e Preta; Israel, Claudinho e Ronaldo Alfredo. Com o término da Série A2 do Campeonato Paulista, Israel se reapresentou ao União São João, clube o qual ele era vinculado. Após alguns treinos, Israel foi integrado ao grupo para a disputa da Série A do Brasileiro. “A mágoa que eu tinha por causa do afastamento de 94 eu já tinha deixado de lado. Eu estava feliz pela nova oportunidade de jogar o Brasileirão pelo time de Araras, pois era neste time que gostava de jogar, pela estrutura, pela cidade, enfim aqui em Araras tinha tudo mais fácil, inclusive a família da minha esposa por perto”, declara. No entanto, quis o destino que uma tragédia interrompesse um sucesso meteórico que ele havia conseguido em 1993 e 1994. O ano de 1995 é realmente para ser esquecido por Israel, que na época tinha apenas 24 anos. Tudo começou pela campanha do time ararense no Campeonato Brasileiro de 1995, foi uma das piores entre os 24 clubes da competição, tanto que culminou no rebaixamento do clube para a Série B do Brasileiro. Neste ano, quatro treinadores passaram pelo União, começou com Sérgio Ramires, depois Marinho Perez, Luis Carlos Ferreira e terminou a competição com Play Freitas no comando. O União São João jogou a maioria das partidas com: Juliano; Luciano Baiano, Maciel, Fabinho e Paulo César; Lima, Olindo (Vagner) e Lisandro (Alexandre); Israel, Washington (Sandro Gaúcho) e Éder Aleixo (Osias). Apesar da má campanha que o União fez, Israel sempre deixou sua marca, ele foi o artilheiro do time no campeonato. Dos 17 gols marcados pelo União na competição, cinco foram de Israel. O último gol com a camisa sete do time ararense foi no dia 24 de novembro de 1995, contra o Corinthians no Pacaembu, o União de Araras perdeu, por 2 a 1, jogando com: Juliano; Luciano Baiano, Maciel, Daniel e Gléber (Lisandro); Marcelo Lopes (Valdo), Rogério, Odair (Marcelinho) e Cleomar; Chiquinho e Israel. Play Freitas era o técnico, já no Corinthians o comando era de Eduardo Amorim, que escalou o time da capital com: Ronaldo; Carlos Roberto, Pinga, Henrique e Silvinho (Souza); Julio César, Zé Elias e Elivelton; Fabinho (Tupãzinho), Marcelinho Carioca e Clóvis Cruz (Serginho). Os gols do time da capital foram marcados por Serginho e Marcelinho Carioca. O último jogo de Israel com a camisa do União foi no dia 26 de novembro de 1995 contra o Vitória no Estádio Rei Pelé, em Maceió-AL, apesar de mandante do jogo, o União mandava as partidas para outros estados em busca de melhores rendas. O União perdeu, por 5 a 1, e jogou com: Juliano (Adnan); Chiquinho, Maciel, Fabinho e Luciano Baiano; Rogério, Marcelo Lopes, Odair (Marcinho) e Cleomar; Valdo (Marcelinho) e Israel. O Vitória ganhou com: Nilson; Roberto, Adilson, Reinaldo e Elias; Adoilson, Bebeto Campos, Cleison (Silvinho) e Nei Santos; Cristiano (Paulinho Kobaiachi) e Wilson (Glauco). Os gols foram marcados por Paulinho Kobaiachi (3), Silvinho e Reinaldo. Rogério descontou para o União de Araras.

O acidente Quarta-feira, 29 de novembro de 1995, esse dia mudou para sempre a vida do então atacante Israel. Um passeio para ver os irmãos na vizinha cidade de Mogi Mirim, interrompeu a brilhante carreira do camisa 7 alviverde por quase três anos e para piorar perdeu o amigo inseparável dentro e fora de campo, o atacante Osias, pessoa que o considerava da família. “O Osias era meu irmão, nós estávamos sempre juntos, dentro e fora de campo. O entrosamento era tão grande que gostávamos dos mesmos filmes, ele alugava e me empestava e vice-versa”, conta. Israel morava com a esposa Diane e o cachorrinho da raça bacê, que atendia pelo nome de Pingo, ele era como se fosse um filho do casal, em um condomínio fechado, que existe até hoje na parte de cima do Estádio Hermínio Ometto. Ali era reduto de jogadores do União São João, afinal as casas eram cedidas pelo próprio clube aos atletas casados do elenco. “Eu era vizinho do Osias e do Cleomar, minha casa era a do meio”, conta. Um tropeção de Israel ao se levantar da cama naquela cinzenta manhã de quarta-feira, 29 de novembro de 1995, era um presumo de que aquele dia não terminaria bem. O atleta mesmo com uma dor forte nos dedos caminhou até o banheiro, enquanto escovava os dentes e jogava um pouco de água no rosto para despertar-se, a esposa preparava o café da manhã. Entre uma mordida e outra no pão com manteiga e uma golada de café com leite, trocava algumas palavras com a esposa, o assunto era o Pingo, que não havia dormido bem. Israel olha no relógio, era 8:50, observa que o horário do treino, marcado para as 9:00, se aproximava. Levanta-se rapidamente vai até a garagem da casa e da partida no seu potente carro, um ômega azul de quatro portas. Em seguida estende um pouco mais o braço e liga o som, antes de seguir para o treino da um beijo rápido, um selinho, na esposa. O percurso até o Estádio Herminio Ometto demorou menos que cinco minutos. Carro estacionado, no banco de trás a bolsa com o par de chuteiras e um desodorante, colocou embaixo do braço e até o gramado acenava para os funcionários do clube que já estavam lá desde as sete da manhã. Israel tinha por hábito chamar os funcionários homens de tio e as funcionárias mulheres de tia. “Bom dia tio do gramado, bom dia tia da lavanderia, oi tia da cozinha”. Assim era a rotina de Israel. O treino naquele dia foi de bola parada, o União se preparava para o jogo contra o Bragantino, no domingo, fora de casa, pela penúltima rodada do Brasileirão, a equipe já havia sido rebaixada, mas teria que cumprir a tabela neste jogo e na última rodada contra o Flamengo, em Juiz de Fora. Após o treino, já perto do horário do almoço, os jogadores tomavam banho no vestiário, quando o meia Cleomar fez um convite. “O Cleomar disse que era um cozinheiro de primeira e que naquela noite iria fazer uma galinhada na casa dele e convidou os jogadores”, recorda Israel. De volta a casa, antes de sentar-se a mesa para o almoço, foi até o quintal e brincou um pouco com o Pingo, que não estava muito animado, pois, ele ainda não havia se recuperado da noite mal dormida. Com o almoço já na mesa, Israel ouviu o chamado da esposa, foi logo lavando as mãos e ambos sentaram para refeição, arroz, feijão, batatas fritas e bifes acebolados, o prato predileto do atacante. Entre uma garfada e outra, algumas trocas de palavras com a esposa sobre o treino. Assim que terminou de almoçar, esperou uma distração de Diane e limpou a boca na própria toalha da mesa, se levantou e foi direto para o sofá, onde gostava de dormir. Em poucos minutos, pegou no sono. Perto das 15:00 foi acordado pela esposa. Levantou-se, foi ao banheiro escovou os dentes, jogou um pouco de água no rosto para despertar-se, deu um selinho na esposa e com o seu carro potente foi até o treino marcado para, às 15:30. Durante a atividade, esteve sempre no time de cima, mesmo com a fraca campanha que o União fazia na competição, ele se sobressaia, pois, era o homem gol do time no campeonato. “Estava triste pelo rebaixamento, mas por outro lado, estava muito feliz pelos gols que havia feito no Brasileirão, eu tinha voltado a chamar a atenção dos grandes clubes. Cheguei a assinar um pré-contrato com o Corinthians”, revela Israel, clube o qual deveria jogar no ano de 1996. No final do treino, como de costume, Israel tomou seu banho, se despediu dos companheiros e já com a noite chegando voltou para casa. Ao encostar o carro, em frente à garagem, foi recebido pela esposa com o Pingo bastante choroso no colo, após um beijo de boas vindas, eles foram caminhando para a sala da residência e Israel recebeu o recado de que um de seus 14 irmãos havia telefonado, dizendo que estaria aquela noite em Mogi Mirim. “O meu irmão Sidnei de Souza estava indo de Vargem Grande do Sul para Mogi Mirim entregar um currículo para o meu outro irmão, o João de Souza, que morava e trabalhava em Mogi Mirim. Como Araras fica bem próxima de Mogi Mirim, não quis perder a oportunidade de vê-los, pois queria estar perto deles para matar a saudade, abraçá-los, afinal a vida de jogador de futebol é muito corrida e dificilmente a gente teria outra oportunidade”, conta. Naquela noite, Israel ainda queria participar da galinhada com os companheiros de time e assistir ao jogo entre Santos e Botafogo pela fase de classificação (ainda não era a final) do Campeonato Brasileiro. “Antes de sair, cheguei a comentar com a minha esposa, vamos aproveitar que Mogi Mirim é perto mesmo, damos um pulo lá bem rapidinho e voltamos para participar da galinhada na casa do Cleomar”, disse. Israel, então pegou a chave do carro se dirigiu até o ômega, deu partida e ficou aguardando a esposa adentrar ao veículo junto com o Pingo. No entanto, o animal de estimação da família, que já não estava bem durante todo o dia começou a vomitar. Isso fez com que Diane descesse do carro e desistisse da viagem, ela preferiu cuidar do cãozinho, que era uma espécie de filho do casal. “Naquele momento eu fiquei com pena do Pingo, mas eu queria muito ver os meus irmãos, afinal não era sempre que tínhamos essa oportunidade, vida de jogador de futebol é muito corrida”, disse Israel. O mal estar de Pingo era praticamente mais um aviso de que aquela noite não iria terminar bem. Araras e Mogi Mirim são separadas por 40 quilômetros, no meio das duas cidades fica Conchal, o trajeto é pela rodovia Wilson Finardi. Apesar da pouca distância, Israel não gostava de viajar sozinho, ele sempre gostou de ter uma companhia por perto. “É sempre bom você ter alguém junto, ainda mais na estrada”, conta. Sem a companhia de Diane, Israel fez então o convite para o amigo Osias, que estava ao lado da esposa dele grávida de sete meses assistindo o último capítulo de um filme, pois o casal iria participar da galinhada na casa de Cleomar. “O Osias ainda deu um pause no filme, recebeu um ok da esposa dele e aceitou visitar meus irmãos comigo”. De posse de um dos carros mais potentes da época, um ômega azul de placas BIM 4004, ambos foram até Mogi Mirim. “Fomos tranqüilo até Mogi Mirim, chegamos lá conversamos bastante, desejei sorte ao meu irmão Sidnei, que estava lá a procura de emprego e lembro que ficamos juntos conversando até terminar o primeiro tempo do jogo entre Santos x Botafogo”, conta. Naquele ano de 1995, Santos e Botafogo se enfrentaram três vezes pelo Campeonato Brasileiro, sendo duas na final, nos dias 14 e 17 de dezembro, e uma partida na fase de classificação, justamente nesta noite de quarta-feira, dia 29 de novembro de 1995, o Santos venceu o Botafogo/RJ, por 3 a 1 com gols de Vagner (ex- União e amigo de Israel), Giovanni e Jamelli, Dauri marcou o de honra para o time carioca. Treinado por Cabralzinho, o Peixe atuou com: Edinho; Marquinhos Capixaba, Narciso, Marcos Paulo e Marcelo Silva; Vagner, Alexandre Gallo, Carlinhos e Giovanni; Robert (Camdanducaia) e Jamelli. O Botafogo de Paulo Autuori atuou com: Wagner; Wilson Goiano, Wilson Gotardo, Gonçalves e Guto(Dauri); Leandro Ávila, Jamir, Beto e Sérgio Manoel; Túlio Maravilha (Moisés) e Narcisio (Iranildo). Com o final do primeiro tempo e ansioso para participar da galinhada na casa do Cleomar, Israel se despediu dos irmãos com um abraço forte. Prometeu gols e homenagens para toda família nos próximos jogos. Osias com um aperto de mão em cada um também se despediu e em tom de brincadeira disse que iria balançar mais as redes do que o amigo. Assim, ambos deixaram Mogi Mirim e partiram com destino Araras. Na metade do caminho, o carro em que Israel dirigia se envolveu um terrível acidente, foi no Km 35 da Rodovia Wilson Finardi, trecho que liga Araras a Conchal. A trajédia não permitiu, que os dois chegassem ao destino. “Não me lembro de nada como foi, não vem absolutamente nada sobre o acidente a minha cabeça, médicos especialistas dizem que é normal o cérebro bloquear essas informações”, disse Israel, abatido e se esforçando para tentar lembrar algo do triste episódio. De acordo com Israel, em momento algum houve consumo de bebida alcoólica. “Eu sou o mais novo entre meus irmãos, eles não aceitavam isso de mim, se fossemos pra tomar alguma coisa naquela noite, faríamos na galinhada na casa do Cleomar”, disse Israel. Naquela noite de quarta-feira, quis o destino, que ambos tivessem o sucesso interrompido e que a dupla fosse separada. O Ômega, onde estava os dois jogadores não fez a curva e caiu em uma ribanceira, foram quatro capotadas, os dois foram jogados para fora do veículo, o carro ficou totalmente destruído, principalmente o lado do passageiro. Osias Martins Santos, de 26 anos, morreu na hora, ele havia sido o artilheiro do União São João no Campeonato Brasileiro de 1994, ele deixou a esposa grávida na época com 7 meses, hoje a filha de Osias mora com a mãe e tem 22 anos. O corpo foi levado de avião para a sua cidade de origem, Juscimeira/MT, onde foi velado e enterrado. O União São João prestou toda a assistência necessária a família do jogador. Os pais de Osias chegaram a entrar com uma ação judicial contra Israel, que foi obrigado a prestar vários depoimentos na delegacia de Araras, porém, nada de irregular foi provado contra o atacante. “Eu fiquei chateado por ter sido acusado pela família dele, que pedia uma indenização na época, mas eu não tive culpa no acidente e não merecia isso, tenho certeza que essa iniciativa não partiu da esposa dele e sim dos pais do Osias”, disse Israel, que gostaria muito de voltar a conversar com a família dele. “Não falei com eles por falta de oportunidade, ninguém nunca me procurou”, se emociona. Israel foi encontrado desacordado e foi levado ao hospital São Luis, em Araras, com traumatismo craniano, fratura exposta de tíbia e fíbula, trombose nos braços, além de hematomas na região frontal e escoriações no tórax. Porém, para piorar ainda mais o quadro clínico de Israel, foi constatada uma lesão no músculo solear, o responsável pela movimentação dos pés. O atacante ficou em coma induzido na UTI do Hospital São Luis em Araras, durante sete dias. A tragédia na época virou notícia no mundo inteiro. Araras ficou em choque, os companheiros de clube pareciam não acreditar. Os familiares dos dois atletas, que aguardavam pela chegada deles no condomínio precisaram ser amparados a base de remédios. “Meus irmãos falam, que na época as emissoras de Rádio e TV passavam os boletins médicos diariamente, sobre o meu quadro de saúde”, declara Israel. Israel só foi acordar no dia 06 de Dezembro, por volta das 15 horas. Os aparelhos que o ajudavam na respiração, foram retirados. “Eu lembro que foi muito rápida a minha recuperação no momento em que acordei, comecei a me debater, e já queria sair do Hospital”, explica Israel. No entanto, pelas regras do Hospital, o paciente só deixou o local para o quarto com uma autorização de alguém da família, porém, nenhum parente foi visitá-lo naquele dia, nem mesmo a esposa Diane, sua companheira inseparável e que passava pelo hospital praticamente todos os dias, de manhã, tarde e noite, torcendo pela recuperação e em busca de notícias do marido. “Como não tinha ninguém naquele momento para me autorizar a minha saída da UTI e eu estava debatendo bastante, incomodando os demais pacientes, os próprios médicos liderados pelo Dr. Newton Baretta do União São João resolveram me levar para o quarto”, explica Israel. Entretanto, as ausências de pessoas queridas próximas do atacante naquele dia tinham uma explicação. Justamente naquela tarde do dia 6 de dezembro, de 1995, o pai de Israel, Francisco Apolinário de Souza, aos 65 anos, estava sendo velado na cidade de Vargem Grande do Sul, ele tinha morrido na noite anterior, vítima de infarto. Ainda no velório e informada sobre a recuperação de Israel, Diane ainda abatida com a morte do sogro, retornou rapidamente a Araras, foi ao hospital, mas resolveu não dar a notícia do falecimento do pai. “Minha esposa não me falou nada naquele dia da morte do meu pai”, lembra Israel. Após doze dias internado no quarto, Israel deixou o hospital em Araras e foi levado para São Paulo, no Hospital Sírio Libanês, onde passou por uma intervenção cirúrgica na perna, isso no dia 18 de dezembro daquele ano. Toda a recuperação do atacante foi paga pelo União São João, os dirigentes do time ararense na época, José Mario Pavan e Iko Martins exigiram tratamento de primeira ao jogador, que ainda pertencia ao clube. Na capital, Israel esteve nas mãos dos melhores médicos ortopedistas do Brasil, Antônio Azze e Antônio Carlos Canedo, ambos alertaram que o atacante só voltaria a mexer os dedos dentro de três a seis meses, a surpresa aconteceu no primeiro curativo. “Eu fiquei emocionado e os médicos surpresos, porque eu consegui mexer os dedos logo nas primeiras semanas, era talvez um sinal evidente de que eu voltaria a jogar futebol”, declarou Israel. Sem os movimentos completos das pernas, Israel teve alta no dia 21 de dezembro de 1995, voltou a Araras e foi morar com a esposa Diane e o cãozinho de estimação Pingo na casa da família dela, no bairro Bela Vista, em Araras. “Eu me locomovia com ajuda de cadeira de rodas, estava impossibilitado de andar. Eu dependia de minha esposa e dos pais dela na época, eles que davam banho em mim, eles me ajudaram demais na minha recuperação, o meu sogro foi um paizão pra mim”, se emociona o atacante. Sem ainda ser informado da morte do pai, Israel só recebeu a notícia na véspera de natal. “Todos os anos eu passava as festividades com meu pai e meus irmãos e eu havia perguntado para minha esposa se naquele dia nós iríamos a Vargem Grande do Sul para ficar perto da minha família, por coincidência minha irmã Maria de Lourdes chegou para me visitar e me deu a notícia de que meu pai havia falecido no dia 6 de dezembro, no mesmo dia, em que eu havia acordado no hospital”, relata Israel. Definitivamente, 1995 foi um trágico ano para o atacante Israel. “Se eu pudesse riscaria esse ano da minha trajetória, foi um ano para ser esquecido, aconteceu tudo errado comigo, o que mais lamento é ter feito aquela viagem para Mogi Mirim e ainda não ter participado do enterro do meu pai”, declara. O atacante relata também, que muitas inverdades foram faladas na época, principalmente sobre o acidente. “É impressionante como existiam comentários maldosos, encontraram fotos de minha esposa e já falaram que estávamos com mulheres no carro, falaram que a gente tinha bebido. Na verdade não colocamos uma gota de álcool na boca e isso foi comprovado depois nos exames que fizemos. Outra mentira foi dizer que nós tínhamos ido assistir jogo do Mogi Mirim, disseram que uma das minhas pernas havia ficado mais curta,nada disso é verdade”, desabafa o atacante. Israel ficou um ano fazendo fisioterapia e lutando para ter novamente os movimentos normais dos pés. “Apesar de o contrato ter terminado no final de 1996, eu tinha autorização para fazer trabalhos de recuperação no União São João”, conta Israel. No começo de 1997, Israel timidamente e com muitas dificuldades arriscou até dar uns leves chutes na bola, sua esperança ainda era voltar a jogar profissionalmente. Sua maior expectativa era assinar um novo contrato com o time ararense, mas o atacante não era nem de perto o mesmo craque dos anos de 1993 e 1994. Para a realização deste sonho, Israel com o apoio da diretoria do União São João procurou uma clínica de fisioterapia especializada em recuperação de atletas de alto rendimento. “Fui avaliado pelo fisioterapeuta Nivaldo Baldo, ele analisou meu exame de ressonância magnética e deu o diagnóstico, que futebol pra mim nem pensar, eu não teria mais condições nenhuma de voltar a atuar profissionalmente”, declarou Israel. A notícia caiu como uma bomba para o atacante. “Eu voltei de Campinas ao lado da minha esposa e chorava muito, aquilo foi como a morte pra mim, só minha esposa para me consolar naquele momento”, conta Israel. Diane era quem levava Israel para as consultas e nos retornos médicos, inclusive em São Paulo, no hospital Sírio Libanês. “A Diane foi sensacional pra mim, ela era a pessoa que sempre me acompanhava”, conta. Mesmo desacreditado, porém esperançoso, Israel não desistiu, durante o ano todo de 1997 ficou fazendo trabalho de recuperação no próprio Estádio Herminio Ometto, inclusive participava de alguns coletivos sobre o comando do técnico Basílio, mas a dor e a dificuldade para controlar a bola eram evidentes. Na época, Israel estava sem contrato e por isso não recebia salário. Para se sustentar passou a se desfazer dos bens que havia conquistado. “Eu vendi meu apartamento no Parque das Árvores, dois terrenos no jardim Santa Olivia e um dos dois carros que eu tinha na época. Para piorar ainda mais o União não me autorizou a voltar a casa que o clube tinha me cedido para eu morar no condomínio perto do estádio”, lamenta. Israel teve que permanecer na casa do sogro, onde já estava por causa da recuperação. No mês de novembro de 1997, desacreditado por alguns especialistas e sem nenhuma perspectiva de voltar a jogar futebol, Israel juntou as economias e resolveu partir para um novo ramo, junto com a esposa abriu uma loja de roupas na vizinha cidade de Leme. “A minha esposa já tinha experiência em loja, ela tinha trabalhado muito tempo na loja Luz do Sol em Araras, resolvemos então abrir um comércio e encarar o desafio na vizinha cidade de Leme”, conta o atacante. O movimento na loja era razoável, as vendas estavam crescendo por causa do natal. Num belo dia, um cliente entrou na loja e suas esperança de voltar a jogar reacenderam voltaram à tona. “O técnico Luís Carlos Ferreira mora em Leme, na época era treinador do São Caetano. Ele entrou na minha loja para fazer compras e se assustou a me ver como vendedor, ele pediu para que eu fosse com ele jogar pelo São Caetano, meus olhos naquele momento encheram de lágrimas. Eu ainda falei para o Luis Carlos Ferreira, que o fisioterapeuta Nivaldo Baldo já tinha descartado qualquer possibilidade de eu voltar a jogar futebol”, conta Israel. Com a resposta, Luis Carlos Ferreira lhe deu um conselho. “O Ferreirão me pediu para que eu procurasse os médicos que me operaram em São Paulo para que eles me dessem um diagnóstico”, conta. Atendendo a sugestão, Israel foi a São Paulo consultar com os médicos que haviam feito a cirurgia nele, Ronaldo Azze e Antônio Carlos Canedo. Para a surpresa de Israel, eles disseram que com mais uma cirurgia no músculo da perna, todos os dedos voltariam a se movimentar e ele tinha sim possibilidades de retornar aos gramados em alto nível. “Poxa, foi à notícia que eu precisava ouvir, rapidamente retornei a Araras, comuniquei o José Mario Pavan e o Iko Martins, eles mais uma vez bancaram a minha cirurgia. A partir daquele momento eu tinha a certeza que voltaria a jogar futebol”, disse Israel. No inicio de 1998, o então atacante mais uma vez foi operado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo e teve todos os movimentos dos dedos recuperados. A primeira decisão foi encerrar as atividades da loja, em seguida foi intensificar aos treinamentos no Estádio Herminio Ometto. “Comecei a treinar tudo de novo, areia, piscina, rampa, era uma rotina muito cansativa, mas prazerosa, afinal voltar aos gramados era uma questão de tempo”, contou o esperançoso Israel.

O retorno Foram quatro meses de muita batalha, treinando todos os dias em dois períodos, em julho de 1998, Israel estava pronto para voltar a jogar profissionalmente. “Eu me recuperei, mas o União não quis ficar comigo e me deu o passe (Direitos Federativos) achei até estranho, pois eles poderiam explorar até um marketing em cima de mim, já que a imprensa toda me procurava para saber da minha recuperação. O União fez o mais difícil, me ajudou a recuperar, bancou tudo o que eu precisei e o mais fácil não fez, dar mais um oportunidade para que eu voltasse a jogar pelo clube, mas não lamento não, isso foi o de menos”, explica Israel, que indicado pelo próprio União, foi então para o Americano de Campos do Rio de Janeiro onde jogou o Campeonato Brasileiro da Série B. “No primeiro coletivo fiz dois gols e logo depois da atividade já assinei o contrato com o presidente Luiz César Gama, joguei a competição toda, até o final do ano”, explicou o radiante Israel. Na época, o clube carioca cedeu um apartamento para ele morar com a esposa e o salário não era dos melhores, porém isso pouco importava, Israel queria mostrar que estava recuperado e pronto para voltar a jogar. “Eu estava realizado novamente, o que mais queria na minha vida era poder voltar a jogar futebol e eu consegui. Logo na minha estréia com a camisa do Americano, contra o Fortaleza no Ceará, fiz um golaço, que ficou marcado pra mim, era o recomeço da minha carreira”, recorda. Em 1998, apesar do bom futebol apresentado pelo atacante, o Americano/RJ foi rebaixado para a Série C do Brasileiro. Em 1999, outros dois rebaixamentos marcaram a carreira do ex-atacante, no primeiro semestre com o Corinthians de Presidente Prudente da Série A2 para a Série A3 do Paulista. No segundo semestre, Israel foi rebaixado com o Velo Clube da Série B1 para a Série B2 do Estadual. Neste mesmo ano, Israel pelo menos recebeu uma notícia boa da esposa Diane, ele seria pai, pois ela estava grávida. “Apesar das dificuldades profissionais, eu tinha muito apoio da minha esposa e da família dela, quando ela me disse que estava grávida foi a melhor notícia que eu poderia receber naquele momento”, disse. No ano de 2000, Israel voltou para o futebol carioca, desta vez para jogar no Goytacaz/RJ. “Eu tinha ido para o Americano novamente, mas eles não quiseram ficar comigo, acabei indo para o rival Goytacaz/RJ, que aceitou minha contratação”, disse Israel, que disputou o campeonato carioca e ficou no clube até junho daquele ano. No segundo semestre de 2000, o destino de Israel foi o Minaçu/GO, onde ficou por três meses, de julho a outubro, o suficiente para chamar a atenção de um empresário, que mais tarde o levaria para o futebol português. “Eu fiz bons jogos lá nesse time goiano e um empresário chamado Botelho ligado ao Minaçu fez um DVD com os meus gols e levou para Portugal, onde tentaria me negociar”, explica Israel, que voltou a Araras após o término do contrato.

O filho De volta a Araras, Israel resolveu ficar próximo do filho, Rafael Francisco Bonito de Souza, que havia nascido no dia 7 de julho daquele ano de 2000. “Foi a maior alegria para a nossa família, eu e a Diane estávamos felizes demais com a chegada do nosso filhão”, sorriu Israel. A rotina do atacante até o inicio de janeiro era treinar fisicamente na cidade e curtir a família. “Eu corria no lago, frequentava academia e sempre estava em atividade, pois aguardava propostas para jogar em 2001, afinal estava com uma responsabilidade a mais, pois, além da minha esposa, tinha o meu filho para me preocupar”, contou Israel. Em 2001, indicado pelo amigo e ex jogador Glauco morador em Ribeirão Preto, Israel foi contratado pelo Comercial, para a disputa da Série A2 do Paulista. “Jogar pelo Comercial, um dos times mais tradicionais do interior de São Paulo, foi mais uma prova que eu estava recuperado e em condições de jogar no tão difícil futebol do Estado de São Paulo”, disse Israel, que ajudou a equipe de Ribeirão Preto a não cair para a Série A3 daquele ano. No segundo semestre de 2001, Israel aos 30 anos, recebeu uma proposta para jogar em Portugal, o DVD feito pelo empresário Botelho surtiu efeito. Seu destino foi o Clube Nacional da Ilha da . “Foi um dos maiores presentes, que eu poderia receber para a minha carreira, jogar na Europa era o sonho de todo o jogador”, declarou o atacante. Israel mudou-se então para a Ilha da Madeira em Portugal com a esposa Diane e o filho Rafael. “Foi o melhor contrato que eu fiz após o meu retorno ao futebol, assinei por dois anos, fui recebendo em dólares, hoje no dinheiro brasileiro seria o equivalente a 8 mil reais”, contou o atacante. Apesar de ter assinado por duas temporadas, Israel sem aceitar o banco de reservas ficou apenas seis meses no time português, de julho a dezembro de 2001. “Fui pedir explicação para o técnico porque não estava sendo escalado, foi a maior bobeira minha, a diretoria acabou rescindindo o meu contrato”, explicou bastante arrependido. “Eu não deveria ter feito isso, tinha que entender que ali eu estava tranqüilo, era a oportunidade para eu voltar a fazer minha independência financeira, mas eu não tinha ninguém que me orientasse e também não entendia que os treinadores lá escalam os times conforme o time adversário joga”, declara. Em Portugal, Israel disputou uma espécie de segunda divisão do futebol daquele país. No final da temporada, o time que Israel havia deixado, subiu a divisão de elite. A equipe tinha como técnico na época José Vitor dos Santos Peseiro, que depois comandou a seleção da Arábia Saudita e por último esteve no Sporting Clube de Braga. O Nacional jogava com: Belman; Cattaneo, Nuno Luís, Espejo e Hugo Freire; João Fidalgo, Vitor Covilhã, Nuno Carrapato e Bruno Ferraz; Bóia e Miguel Fidalgo. De volta ao Brasil, ficou pouco tempo sem clube, o técnico carioca o indicou para o Deportivo Galícia da Venezuela. Israel mudou-se então para Caracas, onde jogou o primeiro semestre de 2002 no time venezuelano. “Foi um contrato bom que fiz, fui recebendo em dólares também, o equivalente a 5 mil reais”, declara. No entanto, campanha não foi nada animadora. O Desportivo Galícia foi rebaixado para a segunda divisão do futebol daquele país. Desde 2005, o clube deixou Caracas e se transferiu para Maracay, estado de Aragua, na Venezuela. Com o fim da competição e do contrato, isso na metade de 2002, Israel retornou a Araras, cidade onde já havia fixado residência. Já com 31 anos, seu objetivo era ficar mais próximo da família e se dedicar principalmente ao filho, na época de apenas dois anos. “Não queria mais me aventurar para outros países, queria ficar no Brasil e se possível na região de Araras”, admite. O atacante então, assim como fez em 1998, foi pedir emprego de novo ao União São João, que disputaria no segundo semestre de 2002, a Série B do Brasileiro. No primeiro semestre daquele mesmo ano, o time ararense havia ficado com o vice-campeonato paulista, atrás apenas do Ituano. “O União tinha um elenco bom, mesmo assim eu queria de alguma forma poder fazer parte do grupo, tentar retribuir tudo aquilo que o clube tinha feito pra minha recuperação”, disse Israel, que não teve o pedido aceito. “Eles alegaram que o grupo estava fechado e que não teria sentido a minha contratação”, finaliza o atacante. Na ocasião, o União jogava com: Bruno; Valdo, Romildo, Bidu e Carlos Henrique; Pintado, Luciano Santos, Fabinho e Juliano; Mauro e João Paulo. Com as portas fechadas do time que o revelou em plena cidade onde escolheu para morar, Israel resolveu por ponto final na sua carreira de jogador de futebol. “Eu tinha condições de jogar, estava voando, mas, como o União não me deu mais nenhuma oportunidade, resolvi me aposentar”, disse.

Fora dos gramados Apesar de ter jogado fora do país, Israel não conseguiu a tão sonhada independência financeira, porém, juntou um dinheiro razoável, o suficiente para investir em um novo ramo, fora do futebol. O ex-atacante foi convidado pelo então sogro, Rafael Santo Bonito, para ser sócio na empresa dele, que chamava Bonito Transportes. “Ele tinha caminhões agregado à empresa Sopro Divino, que puxava produtos fabricados na Nestlé de Araras até a cidade de Ituiutaba/MG”, relembra Israel. Nessa época, Israel havia alugado uma casa no Jardim Novo Cândida para morar com a esposa e o filho, tinha um carro popular financiado e resolveu investir todo o dinheiro conquistado no futebol nesta sociedade com o sogro e passou a administrar a transportadora. “Nessa minha nova atividade eu passei a cuidar da parte burocrática, ficava no escritório da empresa”, conta Israel. O empreendimento chegou a ter oito caminhões trabalhando diariamente, no entanto, em cinco anos de atividades, de 2002 a 2007, a empresa passou a sofrer com as dificuldades financeiras e pelo menos seis veículos foram vendidos para cobrir os gastos dos caminhões. “Foi uma fase difícil, porque as despesas eram muito grandes com manutenção e funcionários”, conta Israel, que precisou demitir os motoristas e ficar apenas com dois veículos, sendo um de propriedade dele e outro do sogro. “Apesar desta situação, nós mantivemos a sociedade, só que em 2008 estávamos com dois caminhões apenas, cada um ficou com um, o meu sogro passou a ser o motorista do veículo dele e eu contratei um funcionário para dirigir o meu caminhão”, explica. Apesar do bom relacionamento com o ex-sogro, Israel encontrava dificuldades dentro da própria casa, o relacionamento com a esposa já não era o mesmo e as brigas eram inevitáveis, em 2008 depois de 14 anos casados, veio a separação. “Eu tenho um carinho muito grande pela Diane, ela me ajudou e passou barreiras pesadas ao meu lado, devo muito a ela, mas o nosso relacionamento não estava mais em harmonia e ninguém fez por onde para continuarmos juntos, por isso, resolvemos nos separar”, explica. Israel deixou a casa no jardim Cândida e foi morar sozinho em um apartamento alugado na Avenida Melvin Jones, conhecido como sextavado, onde reside até hoje. Apesar do fim do relacionamento, a sociedade com o pai de Diane continuou até dezembro de 2010, quando o ex-sogro Rafael Santo Bonito perdeu a vida em um grave acidente na rodovia dos Bandeirantes, próximo a cidade Jundiaí. “O acidente foi de madrugada, ele bateu atrás de outra carreta, quando estava viajando para São Paulo, ele morreu na hora”, lamenta Israel, que o considerava como um segundo pai. “Esse homem foi guerreiro, ele me ajudou muito, chegou até a dar banho em mim, quando eu estava acidentado, devo muito a ele também”, afirma Israel, que também fez questão de ressaltar a ajuda da sogra, Lucia Bonito. Sem mais o sócio, Israel ficou com apenas um caminhão Mercedes Bens Truck e resolveu desagregar da empresa Sopro Divino no inicio de 2011. “Eu tirei porque passei a atender outras empresas da cidade de Araras e da região”, disse Israel que mantinha um motorista como funcionário. Com um retorno financeiro razoável, Israel resolveu investir em um ônibus para viagens intermunicipais. “É mais uma fonte de renda, pois o ônibus faz muitas viagens de excursão”, conta Israel, que contratou mais um motorista para essa função. No entanto, a idéia de Israel não se concretizou na prática e no final de 2011 vendeu o ônibus e comprou outro caminhão. “Trabalhar com transporte é mais rentável, da mais lucro e menos dor de cabeça”, declara. Apesar das inúmeras tentativas de progredir no ramo de transportes, Israel sempre se deparou com as dificuldades de manter funcionários e realizar as manutenções nos caminhões. Em 2013 tomou uma decisão drástica, demitiu os dois motoristas, vendeu um caminhão para regularizar as finanças e resolveu colocar a mão na massa. “Tive que arregaçar as mangas e encarar o trabalho, nunca tive preguiça, sempre fui muito dedicado e passei a trabalhar de motorista do meu próprio caminhão”, conta. Hoje, Israel ganha a vida como caminhoneiro, atende várias empresas de Araras e região, entre elas a Helptech, empresa ararense que produziu os acentos da Arena Corinthians, os quais foram transportados por Israel, que no seu auge como atleta por pouco não atuou no time da capital. “Pois é, o Corinthians esteve de volta no meu caminho, mas desta vez fui como motorista, ver aquela Arena de perto passou um filme na minha cabeça”, conta. Apesar de ter atuado como atleta e ser um conhecedor de futebol, Israel não pensa em voltar a trabalhar no esporte. “Não tem nenhuma chance de iniciar uma carreira como auxiliar ou treinador, é muito arriscado, teria que começar do zero”, relata. Israel está decidido a continuar a vida como motorista e ficar mais perto do filho. “Meu sustento eu tiro do caminhão, sempre no inicio de tarde estou em casa e fico todos os dias com o meu filho. A Diane é professora e pega ele no final da noite, quando ela chega do trabalho”, conta. Aos finais de semana e as segundas-feiras a noite, Israel costuma se distrair jogando futebol. “Meu lazer é jogar futebol com meus amigos e ex-jogadores como: Velloso, Alexandre, Paulo Sales, Beto Médice, Miranda, Odair e tantos outros sempre lá no Velloso Sport Center, toda semana estamos juntos”, conta. Sem os pais Francisco Apolinário de Souza e Maria Francisca de Souza e três irmãos, João Vianei, Maria de Fátima e Maria Inês, todos já falecidos, Israel garante que é muito apegado aos 10 irmãos vivos, Romildo, Vanderlei, Sidnei, Benedito, José Francisco, Gilberto, Isabel, Tereza, Rita de Cássia, Maria de Lourdes e pelo menos uma vez por mês viaja para Vargem Grande do Sul/SP, onde mora a maioria deles. Em Araras, Israel vive atualmente na companhia da nova namorada, Marcia Macedo. Apesar de todas as barreiras superadas, Israel se diz uma pessoa abençoada. “Eu só agradeço a Deus por tudo o que passei na minha vida, estou vivo, consegui voltar a jogar em alto nível, viajei o Brasil inteiro e conheci outros países tudo por causa do futebol. Hoje tenho um filho que é a razão de tudo pra mim”, finaliza.

Uma viagem no tempo

Esta segunda edição do livro Araras e seus craques do futebol é mais uma verdadeira viagem no tempo, a cada frase dita pelos atletas vinha a sensação de reviver toda aquela emoção do passado novamente, muitas vezes com choro de alegria pela vitória ou de tristeza por alguma decepção. Foram ocasiões únicas que agora estão eternizadas. Histórias curiosas e particularidades interessantíssimas de cada atleta que escolheu o futebol como profissão. Todos sem distinção passaram por momentos de superação e determinação. Tiveram que lutar, ser perseverante, ultrapassar obstáculos. Para vencer na vida, no futebol ou em qualquer outra profissão é preciso ser forte, ter caráter, valorizar a honra e saber aproveitar ao máximo o talento. Que estas lindas histórias rabiscadas nessas dezenas de páginas sirvam de pesquisa ou mesmo de motivação para todos aqueles que buscam uma vida digna e claro o sucesso na carreira, seja lá em qualquer profissão. Neste livro, coloco em prática tudo aquilo que mais gosto. Sou apaixonado por história de vida, ainda mais aquela ligada ao assunto que mais me identifico, o futebol e, de gente da cidade que mais amo, Araras. Que tantos outros filhos desta cidade encantamento brilhem no esporte ou em qualquer outra profissão, que a minha querida Araras esteja sempre alta por causa de seus filhos famosos. Que esta obra, ainda que seja de escrita simples e leitura fácil, sirva de inspiração para você leitor, pois, estou com a sensação do dever cumprido por ter viajado no tempo e resgatado a trajetória desses atletas ararenses que normalmente caem no esquecimento, especialmente os que já encerraram a carreira. Muito obrigado e boa leitura!