A Evolução Política Recente Na Guiné-Bissau: -As Eleições Presidenciais De 2005 -Os Conflitos -O Desenvolvimento - a Sociedade Civil

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A Evolução Política Recente Na Guiné-Bissau: -As Eleições Presidenciais De 2005 -Os Conflitos -O Desenvolvimento - a Sociedade Civil Colecção Documentos de Trabalho nº 70 Carlos Sangreman, Fernando Sousa Jr, Guilherme Zeverino, Miguel Barros A evolução política recente na Guiné-Bissau: -As eleições presidenciais de 2005 -Os conflitos -O desenvolvimento - A sociedade civil Lisboa 2006 O CEsA não confirma nem infirma quaisquer opiniões expressas pelos autores nos documentos que edita. A evolução política recente na Guiné Bissau - as eleições presidenciais de 2005 - - os conflitos - - o desenvolvimento - - a sociedade civil - CARLOS EDUARDO SANGREMAN FERNANDO SOUSA JÚNIOR GUILHERME JORGE RODRIGUES ZEVERINO MIGUEL MARCOS JOSÉ DE BARROS Dezembro 2005 1 Resumo O objectivo do conjunto de textos é contribuir para a identificação de algumas das principais razões sociais e políticas da realidade da Guiné – Bissau que foram determinantes no comportamento eleitoral que levou à eleição em 2005 de João Bernardo Vieira “Nino” para a presidência da República contra o candidato indicado e apoiado pelo PAIGC, Malam Bacai Sanhá. Procurámos aliar o conhecimento anterior do país, por actividade académica e por trabalho técnico no terreno em diferentes ocasiões, à observação atenta do processo eleitoral, incluindo a presença de dois dos membros da equipa de autores na Missão de Observação da comunidade internacional nas eleições, para analisar vários aspectos da evolução daquele país que se consideram relevantes para que a população de cerca de 600.000 eleitores elegessem Nino Vieira presidente, depois de ter perdido uma guerra civil de onze meses e de um exílio em Portugal desde 1999. O processo de evolução do desenvolvimento humano e sustentado, o papel da sociedade civil nesse processo e os conflitos sociais e militares são temas que nos parecem significativos – embora não exaustivos – para esse resultado. Temos consciência que haverá que juntar diferentes análises de investigadores de formação diversa sobre outros temas até termos uma perspectiva alargada e aprofundada em todas as vertentes possíveis da evolução do bem estar individual e colectivo da população daquele país. As conclusões decorrem de cenários que julgamos possíveis, na data em que escrevemos, para um futuro próximo e que iremos completando à medida que se desenvolver a nossa percepção da realidade com contributos de outros autores em articulação ou não com a presente equipa. Para estes textos dispomos dos resultados agregados por candidato presidencial das eleições de 1994, 1999 e 2005, bem como da sua desagregação por regiões na segunda volta. Dispomos também de acesso a bibliografia de autores guineenses e de outras nacionalidades sobre o fenómeno eleitoral, o desenvolvimento, os conflitos, a sociedade civil e do nosso próprio conhecimento da realidade do país. Não conhecemos inquéritos de opinião sobre o comportamento eleitoral no país. A investigação que fizemos sobre as sondagens realizadas na campanha de 2005 revela que estas eram apenas acções de propaganda de diferentes candidaturas e não seguiam qualquer metodologia que permitisse considerá-las a expressão de alguma representatividade. Palavras chave (Key words) Guiné-Bissau, eleições, desenvolvimento, conflitos, elections, development, conflicts 2 A VOLATILE GUINEA? A SOCIAL STUDY OF ELECTORAL VOLATILITY IN GUINEA-BISSAU (1994-2005) What were the decisive social and political reasons – in the reality of Guinea- Bissau – for the electoral behaviour which led to the election, in 2005, of João Bernardo Vieira « Nino » for President of the Republic as an independent candidate ? The article attempts to relate the historical integration of the country in the sub-region of Western Africa, the struggle for national freedom, the objectives of the independence, unity and development of the PAIGC, with the motivations of voters with regard to each of the candidates in the second round of the elections of 1994, 1999 and 2005. The process by which sustainable and human development has evolved, the role of civil society in this process, and military conflicts are also components that should be taken into account. The conclusions in this research have been drawn up in the form of scenarios– stability, controlled instability and suicidal chaos– for the near future. UNE GUINEE VOLATILE ? UNE ETUDE SOCIALE DE LA VOLATILITE ELECTORALE EN GUINEE- BISSAU (1994-2005) Quelles ont été les raisons sociales et politiques déterminantes, dans la réalité de la Guinée-Bissau, dans le comportement élctoral qui a mené à l’élection en 2005 de João Bernardo Vieira “Nino” à la présidence de la République, comme candidat indépendant ? L’article cherche à mettre en relation l’insertion historique du pays dans la sous-région d’Afrique occidentale, la lutte de libération nationale, les objectifs de l’indépendance, de l’unité et du développement du PAIGC, avec les motivations du vote des électeurs relativement à chacun des candidats maintenus au second tour des élections de 1994, 1999 et 2005. Le processus d’évolution du développement humain et soutenable, le rôle de la société civile dans ce processus, et les conflits militaires, sont aussi des composantes dont il faut tenir compte. Les conclusions de la recherche ont été établies sous forme de scénarios – stabilité, instabilité contrôlée et chaos suicidaire – pour le futur proche. 3 PARTE I As eleições presidenciais de 2005 Introdução A Guiné-Bissau é um pequeno Estado africano que contrariamente à sua dimensão sempre foi dos territórios coloniais dos que maior resistência apresentou ao poder colonial português, conforme documentaram diversos autores1. Apesar da luta de libertação nacional ter sido a mais longa das antigas colónias, a Guiné-Bissau foi a primeira colónia portuguesa a proclamar, unilateralmente, a Independência, no dia 24 de Setembro de 1973, só reconhecida por Portugal a 11 de Setembro de 1974, é actualmente o Estado lusófono que ocupa a posição mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano2. A este facto não serão, por certo, indiferentes os sucessivos acontecimentos políticos, económicos e sociais que têm marcado de forma indelével e, simultaneamente, condicionado o desenvolvimento do país. Cerca de três quartos dos seus 1,4 milhões de habitantes são atingidos pelo fenómeno de pobreza3. Nos últimos 15 anos, a Guiné-Bissau viveu várias, apressadas e tumultuosas transformações políticas, num contexto marcado pela ploriferação de partidos políticos, Organizações Não Governamentais (ONG`s), Sindicatos…, fruto da própria natureza do partido único que transformava a mobilização numa participação controlada e dirigida. 1. OS DADOS DE BASE Para a análise que queremos efectuar do comportamento eleitoral nas presidenciais dos eleitores da Guiné – Bissau é conveniente clarificar desde já três elementos base: Primeiro, as taxas de participação no acto de votar mantêm-se nos anos de 1994, 1999 e 2005 em valores muito altos seja qual for o padrão de referência, como se pode verificar no Quadro 1. 1 Cf. Pélissier (2001); Nóbrega (2003). 2 ONU (2005) Relatório de Desenvolvimento Humano 2005. Segundo o IDH, criado pela ONU para avaliar o bem-estar humano, a Guiné-Bissau encontra-se em 172º lugar num total de 177. 3 Não cabe aqui a análise detalhada do que é a pobreza e das suas diversas formas, mas pode definir-se de um modo algo simplista que é um fenómeno multidimensional que se reflecte na ausência de oportunidades e capacidades para os indivíduos definirem o seu próprio destino, em termos económicos, sociais, de cidadania, ou outros. Ver Sen (1999) e (2004); Sangreman (2003) e OIT (2003). 4 Tabela I - PARTICIPAÇÃO ELEITORAL ELEIÇÕES 1994 1999 2005 PRESIDENCIAIS Eleitores inscritos 400.417 502.678 538.472 Votantes Iª volta 357.682 371.025 471.843 Taxa de participação 89,3 % 73,81 % 87,6 % Fonte: Resultados eleitorais, Comissão Nacional de Eleições, República da Guiné - Bissau Interpretamos esta afluência às urnas como a permanência, em trinta anos de independência, na identidade colectiva da população guineense da convicção de que o voto é uma acção social que devem assumir. Com a deterioração progressiva da estrutura e da capacidade organizativa do PAIGC de funcionar como meio de exercício de poder4, através de comités de tabanca e de bairro ou organizações regionais e sectoriais e sem existir um processo de substituição por parte de outros partidos, a população parece ter assumido que o voto em urna continua a ser um meio a utilizar de expressão das suas escolhas políticas. Em segundo lugar, a composição etária dos eleitores elaborada a partir do recenseamento eleitoral de 1999 é a que se pode ler no Quadro 2, e diz – nos que 42,9 % das pessoas que podiam votar tinham no máximo cinco anos no ano em que terminou a guerra pela independência e 37,2 % tinham entre 5 a 24 anos. Tabela II - A IDADE DOS ELEITORES ESCALÕES PERCENTAGEM ESCALÕES PERCENTAGEM ETÁRIOS EM 1999 ETÁRIOS EM 1999 < 30 42,9 50 – 59 9,5 30 – 49 37,2 + 60 10,4 Fonte: Resultados eleitorais, Comissão Nacional de Eleições, República da Guiné - Bissau Com uma esperança média de vida de 44,7 anos (IDH,2005), o número de pessoas sem memória directa da época colonial aproxima – se da maioria simples tornando o conjunto dos eleitores guineenses cada vez menos sensível às referencias históricas dos candidatos sobre a sua participação na luta pela independência constantes dos discursos de campanha dos mais votados. A taxa de analfabetismo de 60,4 % para pessoas maiores de 15 anos e um consumo de energia de 41 kilowatts hora, em 2002, quando a média dos países menos desenvolvidos é de 106 (IDH, 2005), são também uma condicionante forte para a compreensão e simples recepção das alternativas que os candidatos propõem. Em terceiro e último lugar o processo de evolução do sistema político guineense tal como o dos restantes PALOP5 seguiu genericamente os padrões dos restantes países 4 Cuja evidência aos olhos da população Koudawo, F. (1994) associa ao timing da abertura partidária. Ou seja este autor afirma indirectamente que a população interpretou a abertura partidária como uma demonstração do falhanço pelo PAIGC da sua capacidade para liderar a promoção do desenvolvimento. 5 Embora com ritmos muito diferentes.
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