UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO NÚCLEO DE DESIGN – CURSO DE DESIGN

MATHEUS LEVI DANTAS GUEIROS

SMARTPHONES: Um ensaio sobre ressonância estética

Caruaru 2017

MATHEUS LEVI DANTAS GUEIROS

SMARTPHONES: Um ensaio sobre ressonância estética

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Núcleo de Design, da Universidade Federal de Pernambuco, no Centro Acadêmico do Agreste; como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design.

Orientador: Eduardo Romero Lopes Barbosa

Caruaru 2017

Catalogação na fonte:

Bibliotecária – Simone Xavier – CRB/4-1242

G924s Gueiros, Matheus Levi Dantas. Smartphones: um ensaio sobre ressonância estética. / Matheus Levi Dantas Gueiros. – 2017. 87f.; il.: 30 cm.

Orientador: Eduardo Romero Lopes Barbosa Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de Pernambuco, CAA, Design, 2017. Inclui Referências.

1. Telefonia celular. 2. Smartphones. 3. Estética. 4. Pensamento complexo. I. Barbosa, Eduardo Lopes Barbosa (Orientador). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2017-218)

MATHEUS LEVI DANTAS GUEIROS

“SMARTPHONES: UM ENSAIO SOBRE RESSONÂNCIA ESTÉTICA”

A comissão examinadora, composta pelos membros abaixo, sobre a presciência do primeiro, considera o (a) aluno (a) MATHEUS LEVI DANTAS GUEIROS

APROVADO(A)

Caruaru, 11 de julho de 2017.

______

Prof. Dr. Eduardo Romero Lopes Barbosa (UFPE) Orientador

______Profa. Ms. Glenda Cabral (UFPE) Examinadora interna

______

Profa. Dra. Daniella Rodrigues de Farias (UFPE) Examinadora interna

Dedico, a vós, Deus, sem o qual nada no mundo poderia ter sido feito. E ao Doctor Angelicus, Santo Tomás de Aquino, padroeiro dos acadêmicos.

RESUMO

Os smartphones estão cada vez mais difundidos hoje, sendo uma tecnologia quase indispensável para o dia a dia do homem moderno. Entretanto, qual o impacto disso na sociedade? Qual a influência que sua estética apresenta ao imaginário (repertório) das pessoas? Justaposto, nesta pesquisa busca-se compreender o fenômeno de ressonância do imaginário coletivo em relação a estética dos produtos eletroeletrônicos. Esse termo - ressonância estética -, é utilizado para dar sentido a um evento no qual consiste na mútua interferência (no campo da estética) entre duas realidades, no caso aqui apresentado, a estética do imaginário da sociedade e sua relação com a estética dos smartphones. Busca-se a partir disso, formular considerações válidas para a academia e também para o mercado de smartphones, sobre como o processo de ressonância estética funciona e o que pode torná-lo mais orgânico e fluído. Estudar-se-á o fenômeno da ressonância estética a partir do Imaginário, com todas as suas conexões e ligações, de maneira a compreendê-la em toda a sua complexidade intrínseca. É no tocante a Complexidade, que se busca trazer uma contribuição para o Design, que é uma área formada por um conglomerado de áreas do saber e, sendo assim, também complexa. Trata-se de formular considerações para um problema complexo, e que dessa forma, solicita soluções também complexas.

Palavras-chave: Celulares. Estética. Pensamento complexo.

ABSTRACT

Smartphones are more and more common today, as they are a day-to-day technology that modern man can hardly do without. However, how does this affect society? What influence does its aesthetic present to people's imagination (their repertoire)? In juxtaposition, this study seeks to understand how perception comprehends the phenomenon of resonance in the collective imagination in relation to the aesthetic of electronic products. This term - aesthetic resonance - is used to give meaning to an event consisting of the mutual interference (in the field of aesthetics) between two realities, in the case presented here, the aesthetic of the societal repertoire and its relationship with the aesthetic of smartphones. From this point, the study seeks to formulate valid considerations for academe and for the smartphone market about how the process of aesthetic resonance works and what can make it more organic and fluid. This study will analyze the phenomenon of aesthetic resonance beginning with the imaginary, and everything associated with it, in a way that captures it in all its intrinsic complexity. It is from the aspect of complexity that this study seeks to contribute to the field of design, which is formed by a conglomerate of areas of knowledge, making it also a complex field. This study intends to formulate considerations for a complex problem, and in this way, propose solutions that are also complex.

Keywords: Mobiles. Aesthetic. Complex thought.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 9 Impactos e Objetivos ...... 10 Metodologia ...... 11 Fenomenologia ...... 11 Caracteres Técnicos do Método ...... 12 Metodologia em Relação as Entrevistas ...... 13 CAPÍTULO 1 – OS SMARTPHONES E SUA RESSONÂNCIA ESTÉTICA ...... 15 1.1 Computadores e Portabilidade ...... 15 1.2 Breve História das Origens do Smartphone ...... 15 1.3 O Impacto Social ...... 17 1.4 A Ressonância Estética...... 17 1.5 A Definição da Estética ...... 18 1.6 Análise sincrônica dos smartphones ...... 19 1.6.1 História dos Smartphones - Década de 1980 ...... 19 1.6.2 História dos Smartphones - Final do Milênio ...... 22 1.6.3 História dos Smartphones - Início do Segundo Milênio ...... 32 CAPÍTULO 2 – O PENSAMENTO COMPLEXO E A TEIA DA COMPLEXIDADE ...... 48 2.1 A Solução “Bala de Prata” (Silver Bullet) ...... 48 2.2 O Paradigma Clássico ...... 50 2.3 O Império da Separação: a “Lógica” ...... 50 2.4 A Teia da Complexidade ...... 52 2.5 Ego Cogitas e Res Extensa ...... 52 2.6 As Consequências da Ignorância...... 53 2.7 O Problema do Paradigma Clássico ...... 54 2.8 O Antagônico-Harmônico e o Sistema Complexo ...... 55 2.9. O Macro-Conceito Trinitário ...... 56 2.10 Últimos Conceitos e o Tetagrama de Morin ...... 56 CAPÍTULO 3 – A DIMENSÃO PRAGMÁTICA DA RESSONÂNCIA ESTÉTICA ...... 58 3.2 A Indústria Cultural ...... 60 3.4 Os paradoxos da indústria cultural ...... 60 3.5 A Padronização e a Originalidade dos Produtos ...... 62 3.6 Entrevistas ...... 63

3.6.1 Em relação aos usuários e seus smartphones ...... 64 3.6.1.1 Em Relação as Idades e Ocupações dos Entrevistados ...... 64 3.6.1.2 Em Relação aos Smartphones e o Processo de Escolha ...... 65 3.6.2 Versando sobre Preferências Estéticas ...... 71 3.6.2.1 Perguntas em Relação a Satisfação Estética ...... 71 3.6.2.2 Considerações em Relação a outros Smartphones ...... 73 3.6.3 Considerações sobre as Entrevistas ...... 77 CONCLUSÃO ...... 79 REFERÊNCIAS ...... 83 BIBLIOGRAFIA DIGITAL...... 85 ANEXO A ...... 87

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INTRODUÇÃO

Compreender o fenômeno, verificar sua existência, caro leitor, é o objetivo do presente trabalho. É óbvio, que ao iniciarmos, formulamos hipóteses, ou seja, formulamos pressupostos, que são até certo modo convenientes, pois entendemos que o pressuposto na pesquisa, através da teoria sistêmica é natural, desde que feito de forma tempestiva, ou seja, anterior ao estudo do objeto, e contemporâneo a ele, porém nunca após o término do estudo. É condição sine qua non, a não ser para um pedante no assunto, chegar ao estudo de um fenômeno, sem antes formular ideias e conceitos, intempestivos ao estudo. Entendemos, portanto, que a pesquisa não é um “extrato puro” do objeto de estudo, antes, porém, é a contaminação e mescla do objeto de estudo com seu pesquisador, já entendendo também que por essa mescla, a diferenciação não é mais tão óbvia ou possível. Ou seja, a pesquisa, nunca será um retrato fiel do fenômeno pesquisado, pois será na verdade, o ponto de vista único e intransferível do pesquisador. Dessa forma fica difícil distinguir, numa pesquisa, quando estamos vendo a realidade do observador, ou quando vemos o fenômeno puramente. Ora, afim de exemplificar ainda mais, pontuamos que a hipótese do presente trabalho, é também seu objeto de estudo: o processo de ressonância estético-social dos smartphones. Do qual deriva o problema de pesquisa, a saber; a ressonância do imaginário coletivo e do processo de percepção dos aspectos estético-visuais dos smartphones. Em outras palavras, busca-se entender quais são as “interferências estéticas” (ou ressonância, que será explicado mais a frente) entre o imaginário da sociedade e os smartphones. Através ainda do problema de pesquisa citado, derivamos três questionamentos a serem respondidos: quais seriam os fatores que compõem o processo de ressonância estética? Como se dá o processo de ressonância em relação aos smartphones? Como se dá (ou verificar a existência do) o processo de ressonância estética? O termo ressonância é utilizado, por vezes, nas ciências exatas, mas especificamente no estudo da Física. Para essa ciência, a ressonância é, simplificadamente falando, quando a força externa de um sistema é igual a sua vibração natural (ZUMPANO; ERCOLE; BUENO, 2004). Essa noção já traz consigo um pouco da ideia por trás do sentido utilizado nesse trabalho. Mas para as artes e afins, vemos que o termo designa um sentido de troca ou câmbio entre duas realidades, aqui utilizamos esse termo com um sentido parecido, pois busca mostrar quais seriam as interferências que o design de um produto (aqui aplicado aos smartphones) teria no imaginário sociocultural, e também, qual seria a interferência “inversa”, ou seja, o imaginário sociocultural influenciando a 10

estética dos produtos. Por fim, convida-se também, ao leitor, que verifique as notas de rodapé durante a leitura, afim de compreender termos, que possam ser obscuros ou mal compreendidos para alguns. A utilização de uma linguagem, no presente texto, por muitas vezes, prolixa, com termos, sentenças e expressões obscuras para alguns, não tem, aqui, por objetivo a confusão, porém objetiva, entre outros, manter uma certa “poesia” ao texto; evitando-se entregar um texto “mastigado”, ou seja, um texto pronto e sem necessidade de um estudo, mais aprofundado, para a compreensão. Evita-se também utilizar-se de termos “pobres” semanticamente falando, não fazendo jus, a profundidade do assunto abordado.

Impactos e Objetivos

A ciência ocidental sempre buscou entender os fenômenos com o objetivo de simplificar sua aparente complexidade, tornando-a, por assim dizer, num fenômeno simplista. O objetivo dessa pesquisa é ir na direção contrária, e, portanto, estudar o fenômeno complexo, dentro de sua natureza intrínseca, ou seja, um fenômeno complexo precisa de uma explicação, por assim dizer, complexa. Porém, não se deve entender a palavra complexidade como sinônimo de confusão! O design é uma atividade onde um conglomerado de áreas se fundem. Portanto o design é uma atividade complexa e dessa forma, esse trabalho irá atender aos anseios pela complexidade que a atividade do design pede. Estudar-se-á os smartphones, um dos mais emblemáticos e difundidos objetos do design, que estão na dianteira da tecnologia e da informática mundial, e que, portanto, apresentam um impacto econômico - por exemplo, para o ano de 2015 a indústria de smartphones previu uma movimentação de US$ 484 bilhões, de acordo com a International Data Corportation - IDC. Nesse estudo pesquisar-se-á também o impacto desses aparelhos no imaginário sociocultural. Portanto, o objetivo principal da pesquisa é entender como as configurações estético-visuais de produtos eletroeletrônicos, especificamente os smartphones (a estética do aparelho, não da interface gráfica do sistema operacional), tem uma ressonância no imaginário coletivo dos consumidores. Assim, os objetivos específicos são: a) compreender a existência do processo de ressonância estética; b) entender quais os fatores que compõem o processo de ressonância estética e; c) debater como se dá o processo de ressonância estética em relação aos smartphones. 11

Metodologia

Para se estudar um fenômeno, é necessário a priori que o observador se estude, pois das duas uma: ou o observador irá perturbar o fenômeno ou irá se projetar nele de algum modo. Posto isso, observamos que a formação da metodologia, que deve ser pautada no método autocrítico e método da totalidade. O método da totalidade, engloba o método crítico pois tende a encarar não somente as interdependências do fenômeno, mas também inclui o observador na teia das relações (MORIN, 2011). Essa ideia, não somente é recomendada nas pesquisas referentes a Edgar Morin, como também é parte do conceito de Husserl (1859 – 1938), do qual deriva nossa metodologia, que afirma a necessidade de uma egologia1 – que não deve ser entendida como solipsismo2 – já que só se admite a possibilidade do estudo do eu, sobre si (ZILES, 2007). Assim, aqui é proposto um trabalho pautado principalmente no pensamento sistêmico. Isso posto, o método escolhido a ser utilizado é o fenomenológico, já que é, por assim dizer, a linguagem mais fluente, para se dialogar com o Imaginário e a Complexidade.

Fenomenologia

A fenomenologia não é um método de fácil compreensão. Para Husserl (1859 – 1938), era necessário a utilização da fenomenologia pura, para a realização da filosofia como uma ciência definitivamente rigorosa. Formulada em seu livro Investigações Lógicas (1900), a fenomenologia buscou criar uma nova forma de se fazer filosofia, dando destaque à experiência de vida, rejeitando especulações metafísicas ou abstratas. Para a fenomenologia não interessa o objeto físico, mas a forma como ele é apreendido pela consciência. O foco está na experiência de vida e de mundo das pessoas, como é o caso do fenômeno que iremos estudar, já que a pesquisa versa sobre o processo de ressonância estética no imaginário das pessoas (SILVEIRA, FISHER, OLIVIER; 2010). Para Husserl, não podemos olhar o mundo somente pelos seus objetos, ou seja, uma análise não-fenomenológica, pois essa seria uma maneira ingênua de se fazer ciência. Dessa forma, Husserl explicita que o primeiro passo metodológico, seria a epoqué3; que resultaria numa consideração, que chamamos de fenômeno. (ZILES, 2007). Portanto, estudaremos o fenômeno da ressonância

1 “Tratado do egoísmo. Dito, ação, norma que revela egoísmo. ” (EGOLOGIA, 2017). No pensamento de Husserl, trata-se de uma ciência voltada para si mesmo. 2 “É a concepção filosófica de que, além de nós, só existem as nossas experiências. ” (SOLIPSISMO, 2015). 3 Passo metodológico em que se abstêm da atitude natural diante de um objeto de estudo, levando a consideração do mesmo, como que se ele estivesse fora do mundo; de forma a formular considerações. (ZILES, 2007) 12

estética, não pelo smartphone como objeto, mas de sua relação com os usuários.

Caracteres Técnicos do Método

Em relação a metodologia e o campo de atuação, o presente trabalho apresentará uma pesquisa do tipo aplicada. Pois utilizar-se-á do estudo de um fenômeno para formular diretrizes que focam especificamente no mercado, provando sua utilização prática. Já segundo os resultados, ela será teórico-reflexiva, pois após analisar o fenômeno, há de se formular diretrizes que servirão tanto para o mundo acadêmico, quanto para o mercado, ou seja, uma aplicação prática. Com a ressalva, porém, que não será produzido nenhum artefato, advindo da pesquisa. Quanto aos dados, afirmamos que, ter-se-á uma origem teórica e empírica. Pois, tantos dados teóricos serão utilizados quanto dados empíricos, bem como pesquisas e observações. Dessa forma, a pesquisa irá suprir as necessidades de uma pesquisa teórica, ao mesmo tempo que, suprirá as de uma pesquisa prática. Podemos afirmar também que a pesquisa será analítica e experimental, quando confrontada em relação a seus procedimentos empregados (ou seja, a fundamentação empírica), pois os dados fornecidos para a pesquisa serão de ordem analítica, quero dizer, através do estudo do tema e da reflexão do pesquisador, mas, também serão utilizados métodos de pesquisa com os agentes envolvidos no fenômeno estudado através de entrevistas, de forma a complementar a pesquisa. Já segundo os objetivos, a pesquisa será explicativa, pois além de estudar, descrever e explicar o fenômeno, serão produzidas diretrizes que aplicam o conhecimento bibliográfico afim de identificar sua causa. Ao falarmos dos setores do conhecimento envolvidos, vemos que a metodologia da pesquisa será interdisciplinar, pois além de estudar objetos relacionados a área de design, buscar- se-á conhecimentos advindos de áreas como a filosofia e a antropologia (Pensamento Complexo, Imaginário e teorias filosóficas). Esses dados serão coletados tanto de forma objetiva, quanto subjetiva, pois os dados do início podem vir a ser impessoais e diretos, porém, a opinião do pesquisador e dados personalizados serão acrescentados a essa pesquisa, a posteriori, de forma a complementá-la, pois entendemos que o método fenomenológico comporta considerações mais pontuais do pesquisador, sendo que a pesquisa se tornaria incompleta, caso não se utilizasse dessas considerações. O foco de interesse da metodologia da pesquisa será qualitativo, pois preocupar-se-á com o significado e a existência do fenômeno estudado e não com sua periodicidade. Ainda de acordo 13

com o método fenomenológico, entendemos que a generalização dos resultados será obtida através de pequenos cosmos, ou em outras palavras, por amostragem, já que serão feitos estudos com um grupo de pessoas e, dessa forma, entendendo-se que esse grupo tem similaridades com o todo. Porém quanto a observação, ela será assistemática, já que se trata de um fenômeno pouco estudado, e, portanto, não fica sensato formular uma estrutura de observação para um fenômeno que está ainda obscuro e distante, ou até mesmo, pode se revelar inexistente na prática. Ainda, a pesquisa utilizar-se-á da bibliografia de fontes secundárias e por isso será bibliográfica. Por fim, utilizaremos uma pesquisa semiestruturada, pois entende-se que esse fenômeno é pouco compreendido, e, portanto, uma entrevista estruturada, poderia gerar uma pesquisa por demais engessada, impedindo, portanto, o objetivo principal da entrevista que seria a coleta de dados. A entrevista será realizada através de formulários pré-definidos 4 , em que serão acrescentados ou retirados questionamentos, onde o entrevistador achar mais conveniente, afim de que possa extrair o melhor das respostas dos entrevistados. Enfim, utilizar-se-á um teste do tipo projetivo, pois busca-se entender qual a reação das pessoas em relação aos aspectos estético-visuais dos seus produtos eletroeletrônicos e como isso influência seus imaginários.

Metodologia em Relação as Entrevistas

Afim de analisarmos os dados obtidos através das entrevistas realizadas, e também, para realiza-las de forma mais metodológica, ao buscarmos várias metodologias, escolhemos dentre várias, aquela que mais se adequou ao projeto, retirada do artigo “Entrevistas em Pesquisas Qualitativas” (DUARTE, 2004). Neste artigo, Duarte (2004) concentra seu foco mais forte na questão das transcrições das entrevistas que devem ser realizadas buscando-se o máximo de fidelidade em relação as falas dos entrevistados, porém, deve-se ter em mente, que as falas dos entrevistados vão apresentar “rupturas” e vícios de linguagem - principalmente em entrevistas realizadas presencialmente, como será nosso caso -, os quais devem ser corrigidos. Essa etapa deve ser repetida, afim de corrigir quaisquer erros que passarem despercebidos na primeira análise. A segunda etapa, trata-se do agrupamento das respostas dos entrevistados através de indexadores, de forma a facilitar a análise das entrevistas. Depois deve-se abranger todo o conteúdo (com seus indexadores), para no máximo quatro temas. A última etapa, fica aberta, para que o pesquisado tenha a liberdade necessária para a interpretação e analisar os dados, como numa

4 Verificar “Anexo A” 14

espécie de um diálogo quase informal entre as entrevistas (DUARTE, 2004). Dessa forma, citado o método, metodologia (tanto das entrevistas como do trabalho), os objetivos, impactos e os questionamentos iniciais; concluímos agora, essa explicitação, partindo, para o desenvolvimento do trabalho, no primeiro capítulo, iniciando com um estudo da história dos smartphones.

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CAPÍTULO 1 – OS SMARTPHONES E SUA RESSONÂNCIA ESTÉTICA

1.1 Computadores e Portabilidade

O universo da computação dava seus primeiros passos há aproximadamente meio século, porém, foi nos últimos 20 anos que vimos uma mudança radical. No começo da criação dos computadores pessoais, tínhamos um monitor com uma tela escura que exibia textos verdes e que para operá-lo, era necessário um conhecimento prévio em codificação, bem como das sintaxes próprias do sistema. Com o objetivo de simplificar a usabilidade, foi-se formulando uma interface gráfica, que ajudava o usuário a interagir com a máquina de forma mais empírica e intuitiva.

Começava, portanto, a busca de uma boa adequação as necessidades humanas (ABREU, 2005).

Há 10 anos a tecnologia computacional buscava basicamente suprir as necessidades do computador para com o usuário, porém agora, busca-se a atitude contrária: o que os usuários querem e pretendem fazer com seus dispositivos. Atualmente, vemos a divisão dos computadores em três categorias: aparelhos fixos (computadores de mesa ou desktops), aparelhos semimóveis

(notebooks, laptop, tablets) e totalmente móveis (celulares, dispositivos de mídia, e-readers, etc).

Os smartphones, são dispositivos híbridos que ficam entre os celulares e os computadores de mão, não híbridos por sua mobilidade, mas por conter ferramentas pertencentes tanto aos celulares como aos computadores (MAICON, 2014).

1.2 Breve História das Origens do Smartphone

Façamos uma breve explicitação histórica, que será, mais a frente, aprofundada numa análise diacrônica. O primeiro telefone inventado foi do tipo fixo no final do século XIX. Apesar de ninguém ser capaz de imaginar seu enorme sucesso na época, é impressionante seu crescimento, pois agora na versão móvel, em países emergentes como Índia, Brasil e China, cresceram 900% de

2000 a 2011. O nome smartphone foi introduzido como uma forma de marketing pelas empresas 16

que fabricavam celulares. Na prática os smartphones se diferem dos celulares por serem capazes de realizar muito mais tarefas que seus predecessores. Atualmente, os smartphones são uma preferência dos usuários de telefonia móvel, apesar desse produto ser inicialmente projetado e pensado para usuários do ramo empresarial, por conta do seu preço e usabilidade. Porém as qualidades de navegar na internet, realizar cálculos, fazer fotografias, escutar músicas, assistir vídeos e Tv, entre inúmeras outras, fez sua popularidade cada vez mais crescente (SAWAR;

SOOMRO, 2013).

Os “celulares inteligentes”5 estão presentes na nossa sociedade desde 1993. Seis anos atrás, porém, a Apple introduzia seu primeiro smartphone para o consumo em massa. A diferença principal entre os primeiros smartphones comuns e os lançados pela Apple, estão no público-alvo, que eram o público corporativo e o usuário comum, respectivamente. O primeiro smartphone foi o

The Simom, lançado pela IBM em 1993, porém o Blackberry tomou a dianteira, sendo considerado o celular inteligente mais avançado de sua época, introduzindo funções como navegação da internet, fax, e-mail e câmera (IDEM, 2013). Porém, a Apple trouxe o fim da era dos smartphones empresariais, lançando em 2007 o iPhone, que foi o primeiro smartphone criado e projetado para o consumidor comum. Mais tarde naquele ano, a Google lançava seu sistema operacional o Android, que prometia introduzir ferramentas que o usuário necessitava, mantendo o baixo custo, para atrair cada vez mais consumidores.

Após o advento dos celulares inteligentes populares, a indústria focou em diminuir a distância entre os smartphones centrados na população e aqueles centrados no público empresarial.

Para isso, iniciou-se um processo de melhoria da qualidade da tela, tecnologia do visor e também tentou-se estabilizar os seus sistemas operacionais, adicionando uma bateria de maior duração, e melhorando a interação do usuário. Essa fase dura até hoje, porém mais recentemente, observou- se que as empresas que produzem os aparelhos estão cada vez mais atreladas ao seu sistema operacional, trazendo avanços que beneficiam tanto o hardware como o software. (IBIDEM, 2013)

5 Mesmo que: “smarpthones” 17

1.3 O Impacto Social

As tecnologias da informação e da comunicação (TIC´s) estão cada vez mais presentes junto no desenvolvimento acelerado da sociedade contemporânea. As TIC´s fazem parte de um contexto de complexidade, amplitude e fragmentação, definidos como pós-modernidade6 , modernidade líquida 7 e hipermodernidade 8 , entre outras definições. Esse contexto é caracterizado pelas mudanças bruscas das esferas sociais, políticas e econômicas. Os computadores, incluindo os smartphones, funcionam como janelas, as quais se observa o céu do mundo pós-moderno (a visão que temos da realidade). Essas janelas repercutem através de um processo de ressonância da realidade, remodelando o seu observador visceral a uma nova identidade: a sociedade em rede. A ressonância e suas consequências alteradas são cada vez mais velozes (SATO, 2011).

A maneira de nos relacionarmos com as pessoas, altera-se a medida que os smartphones encharcam nossa sociedade. É possível estar sozinho ou acompanhado, mas ao mesmo tempo, as ferramentas de um computador permitem ao usuário estabelecer uma comunicação direta e imediata com muitas pessoas. Ou seja, não é mais necessário estar presente fisicamente para que se possa estabelecer uma relação intima e pessoal com quem se deseja. Essa nova relação permite uma transfiguração do caráter, forma, maneira e dimensão, do tempo, do espaço, do território, das identidades, entre as outras variáveis sociais (IDEM, 2011).

1.4 A Ressonância Estética

Observa-se que os smartphones estão tornando-se parte intrínseca das sociedades mais

“modernas” (se é que possamos fazer essa distinção) se consolidando como uma extensão do ser

6 Fase da civilização ocidental, que vêm a após a modernidade, caracteriza-se pela a descrença na certeza científica, incapaz de explicar o mundo, que deve de ser aceito, com seu caráter inerente, a saber, o de ser caótico e efêmero. (LEITE, 2013)

7 Outro termo para hipermodernidade, utilizada por Zygmunt Bauman, significando uma realidade ambígua. (LEITE, 2013) 8 Do pensamento de Gilles Lipovetsky, afirmar-se que não houve ruptura entre a sociedade moderna, e a atual, e que houve apenas uma exacerbação dos valores modernos, a saber, o individualismo; o consumismo; a fragmentação do tempo e espaço; e a ética hedonista. (LEITE, 2013) 18

humano (MOURA; BIANCHI, 2013). Isso mostra que há uma intensa relação entre a sociedade e os smartphones, que caracteriza, portanto, um processo de ressonância (entretanto, vale ressaltar que não é necessária uma intensa relação pois o processo de ressonância pode acontecer em qualquer tipo de relação, seja ela direta ou indireta).

Entende-se aqui por ressonância, o processo de transformação do sujeito e do objeto, ou da causa e efeito. Entende-se que não existe separação entre essas duas personagens, já que ora o objeto pode ser sujeito, ora o sujeito pode ser objeto. Dessa forma, o objeto tende a influenciar seu observador, enquanto o observador por sua vez tende a influenciar seu objeto, e essa influência é simultânea e pode ser considerada atemporal (observe que no segundo caso de influência o objeto passou a ser observador, e vice-versa). Entende-se que na comunicação estética, os conceitos de canal, mensagem, receptor, emissor, etc., são mutiladores da realidade complexa, na qual se encontra o processo de ressonância estética - ou seja, quando categorizamos os agentes numa comunicação, nomeando-os e atribuindo-lhes funções únicas, acabamos por criar uma ideia mutilada (incompleta) da realidade, que é na verdade formada por agentes sem nome ou função

(reconhecida ou única) -. Esse processo pode ser traduzido visualmente, pela representação de uma teia onde as inúmeras linhas (que representam as partes da realidade) estão conectadas umas às outras, de forma que é impossível encontrar uma parte de que não tenha ligação com outra qualquer

(MORIN, 2008).

A teia, na verdade, se opõe a um conceito intrínseco, e talvez inconsciente, do pensamento cartesiano difundido pelas ciências e pelas academias (escolas e universidades). No conceito da teia, o objeto e o sujeito se confundem, pois, ambos são contaminados por eles mesmos, de maneira que não se entende, mas o que é objeto e quem é sujeito. Observa-se nessa dinâmica, que houve uma quebra com o pensamento vigente, trazendo a luz uma nova forma de pensar: a complexidade

(IDEM, 2015).

1.5 A Definição da Estética

Portanto, entende-se que os processos de percepção dos aspectos estético-visuais trazem 19

uma ressonância (ou troca) com o imaginário coletivo. Porém é necessário compreender o que seria estética? A estética tem por definição, simplesmente, ser a Filosofia do Belo. Seu objeto de estudo, portanto, tinha como características intrínsecas a Beleza. A filosofia platônica por sua vez, definia outra variável da definição da filosofia clássica, a saber: a beleza dividida entre o Belo da Natureza e o Belo da Arte, sendo a última inferior em relação a primeira. Porém, definir a estética somente pelo estudo da Beleza, seria negar o cômico, o trágico, que a princípio nada tem a ver com o Belo.

Os pós-kantianos haviam de resolver esse problema considerando a Arte tão bela quanto a Natureza, incorporando o cômico, o trágico, o sofrimento, que são temas recorrentes nas Artes, também como algo Belo (SUASSUNA, 2009). Porém, é fácil perceber que o termo Estética utilizado pelos filósofos clássicos, não faz jus a esse campo tão rico, já que mais tarde na história do pensamento ocidental, percebe-se que a estética é uma reflexão do belo, do sensível, do trágico e do feio.

(TALON-HUGON, 2009).

1.6 Análise sincrônica dos smartphones

A história dos celulares se confunde muito com a história de sua aparência. Por isso iremos discutir como se modelou a aparência dos celulares, desde seus primórdios até chegarmos aos smartphones. Dessa forma, ao final do trabalho seremos capazes de analisar melhor a questão estética dos smartphones no nosso cotidiano, bem como no nosso imaginário.

1.6.1 História dos Smartphones - Década de 1980 Após a Segunda Grande Guerra Mundial, o mundo conheceu o primeiro celular, mas ele era muito pesado, caro e grande, portanto, ficava limitado a um certo número de usuários que faziam seu uso dentro de seus automóveis (CERDEÑO, 2013). A primeira ligação de um telefone celular foi feita por Martin Cooper, executivo da Motorola, em 1973. Na figura 1, vemos o protótipo o qual foi utilizado para fazer a primeira ligação. Ele pesava 794 gramas e seu tamanho era de 33x45x8,9 centímetros. Custava entorno de 7.200 euros. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 1: Martin Cooper com o protótipo utilizado na primeira ligação de celular. Fonte: HISKEY, 2017.

O tempo de carregamento era de 10 horas e ele descarregava em 30 minutos. Seu design parece seguir o princípio da “forma segue a função”9 - ou seja, não tinha nada além do que era necessário, desprezando assim, os ornamentos - era uma caixa comprida branca com saliências e protuberâncias somente no apoio aos ouvidos ou para aproximação do microfone na boca, além de saliência para os botões. Não se utiliza nenhum adorno explícito, o que em certo modo combinava com o usuário a qual estava proposto, a saber, para os executivos (CERDEÑO, 2013). Uma década depois, em 1984, o DynaTAC10 foi finalmente disponibilizado ao público em geral (RENATO, 2012).

9 Frase, utilizada primeiramente por pensadores da Escola de Design Bahaus. Bastante difundida, principalmente na área do design, hoje mais comumente traduzida no sentido de um objeto, em que suas formas, são somente condizentes a sua função; rejeitando qualquer adorno ou formas “desconhecidas” ou “inúteis”. 10 Figura 2 21

Figura 2: DynaTAC. Fonte: WebdesignerDepot, 2017

Em 1989, a Motorola fornece novamente uma grande mudança aos designs dos celulares: o Motorola Microtac 98000x. Trata-se do primeiro modelo portátil e com a função flip (capa que cobre o celular e que pode ser aberta, revelando as teclas, tela, etc). Vemos que o produto agora, contém alguns adornos sutis na parte inferior (linhas azuis paralelas). Além disso apresenta um visor que mostra os números teclados. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 3: Motorola Microtac 98000x. WebdesignerDepot, 2017

1.6.2 História dos Smartphones - Final do Milênio

A década de 1990 inaugura uma época de ouro para os celulares, pois realmente sua produção em massa e difusão ao público são levadas a um grande pico. O Motorola International 3200, lançado em 1992, apresenta o primeiro celular do tamanho perfeito para ser segurado com uma mão, onde se começa a apresentar algumas mudanças de tonalidades de cores e formas, mas ainda mantém estilo da forma segue a função, característico (CERDEÑO, 2013). 23

Figura 4: Motorola International 3200. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

A portabilidade dos celulares mostra realmente seu potencial com o Nokia 1011. Com um visor mais moderno acoplado ao produto de forma simples, mas ao mesmo tempo, percebe-se um design mais arredondado. Percebe-se também, que as semelhanças com o telefone tradicional começam a diminuir, dando lugar as características peculiares dos telefones móveis. (WebdesignerDepot, 2017) 24

Figura 5: Nokia 1011. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Já em 1993, surgiam os primeiros predecessores do smartphones, os PDAs ou Palmtops integrados com os celulares. Esses pequenos dispositivos, bastante avançados para a época, eram capazes de realizar tarefas como agenda e serviços simples de escritório, além de ligações é claro. O Simon, como foi chamado, apresenta uma tela que ocupava um espaço considerável na parte frontal do produto.

Figura 6: IBM Simon. Fonte: WebdesignerDepot, 2017. 25

O Motorola Startac trouxe uma mudança radical na sua forma de uso, pois foi o primeiro celular no formato, tipo clamshell, que se fechava completamente como uma concha (por isso o nome). Ainda em 1996, vemos o Nokia 8110, que apresenta um formato curvo e com uma capa móvel, que cobria seu teclado. Ficou conhecido como banana phone por conta de seu formato. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 7: Motorola Startac. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

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Figura 8: Nokia 8110. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Finalmente, o primeiro smartphone é criado com uma CPU Intel 386, formato que lembra um laptop, teclado qwerty e bordas arredondadas: o Nokia 9000 Comunicator. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 9: Nokia 9000 Comunicator. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Em 1998, o Nokia 9110I diminui seu peso e através de sua evolução, a partir da série dos Nokia Communicators, podemos ver que seu teclado se assemelha bastante com os seus sucessores, vemos também a presença de dois botões no topo, um do lado esquerdo e outro do lado direito, para navegação. Bem no meio deles, ao centro, podemos ver as teclas de navegação, e logo abaixo, os botões para realizar, ou atender, ou terminar, ligações. (WebdesignerDepot, 2017) 28

Figura 10: Nokia 9110I. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Posteriormente, o Nokia 5110 foi um dos mais populares. O formato do teclado era dos mais simples, diferentemente do Nokia 9110I. Contudo, seu sucesso foi enorme, sendo um dos produtos mais consumidos na época de seu lançamento e algum tempo depois, ainda. (WebdesignerDepot, 2017) 29

Figura 11: Nokia 5110. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Agora, no final do milênio, o Nokia 8210 apresenta um design muito arrojado, bem diferente do minimalismo presente em seus predecessores. Mas nada de um design clássico, com adornos exagerados (extravagância estética, o maximalismo), pelo contrário, suas formas são extremamente modernas, além de sua cor vermelha metálica. Suas curvas lembram um pouco o design de automóveis, com linhas de construção compridas que às vezes convergem para um determinado local, criando uma sensação de aerodinâmica. (WebdesignerDepot, 2017) 30

Figura 12: Nokia 8210. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

No campo da inovação tecnológica, o primeiro celular com o Navegador WAP, o Nokia 7110, com um design menos futurista e mais clássico, lembrava o “banana phone”. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 13: Nokia 7110. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

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Já com o Nokia 5210, podemos observar muitas similaridades no estilo arrojado e futurista do Nokia 8210. Sua cor laranja, superfície bastante irregular e linhas muito curvilíneas, ostentavam um objeto muito futurista e moderno. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 14: Nokia 5210. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Mas um grande avanço na área tecnológica foi o Benefon Esc!, o primeiro celular com integração com o GPS. Muito vendido na Europa, as suas formas mostram que o design muito minimalista foi deixado de lado. Nesse exemplar, as superfícies e formas, formam um conjunto complexo. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 15: Benefon Esc!. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

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Porém o Nokia 3210, que se assemelhava com o Nokia 5110, voltou para o design mais minimalista, com cores mais sóbrias, além de linhas, texturas e formatos, mais comportados. Porém com um detalhe evidente: a antena não está mais externamente como no Nokia 5110. Também foi um sucesso de vendas, porém não sabemos se o foi por causa do design, pelo preço ou funcionalidades. Podemos afirmar que os celulares com design minimalista estão entre os que mais venderam, nessa época. Isso traz uma evidência sobre a ressonância estética dos smartphones, principalmente em se tratando de uma sociedade como a nossa: que busca o minimalismo, esteticamente falando (uma espécie de sociedade parcialmente iconoclasta). (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 16: Nokia 3210 Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

1.6.3 História dos Smartphones - Início do Segundo Milênio Já no segundo milênio, o R380 trazia um design único, que continha uma tela touchscreen preto e branca parcialmente coberta pelo teclado. Neste modelo era necessário que o usuário abrisse o teclado, que funcionava como uma tampa, para ter acesso completo da tela. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 17: . Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O Ericsson R320 por sua vez, não chamava atenção pelo seu design, que era parecido com o Ericsson R380, mas sim pela função de navegador WAP. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 18: Ericsson R320. Fonte: Compare, 2017. 34

Em 2001, o design do teclado continuava a surpreender, agora com um teclado Qwerty completo. O Nokia 5510 tinha um formato que lembrava os videogames portáteis, porém tinha uma tela bem pequena e um teclado que ocupava quase que toda a parte frontal do produto. Além disso, foram adicionados botões de controle para canções (tocar, gravar, aumentar o volume, etc.). Sua cor também pode ser considerada inusitada, mas não tanto como sua forma. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 19: Nokia 5510. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O Nokia 8310 não era tão inusitado quanto à forma do Nokia 5510, porém trazia importantes funções que não estavam presentes na maioria dos celulares da época, como o infravermelho, calendário e rádio FM. Suas cores eram chamativas, principalmente na versão vermelha. Além disso existiam lâmpadas posicionadas atrás do teclado, que só reforçava a característica futurista de sua forma. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 20: Nokia 8310. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O , apesar de seu tamanho minúsculo, possui uma enorme inovação: ser o primeiro celular com conexão bluetooth. Quanto ao seu design, segue o mais comum para os celulares do tipo flip, porém com uma antena um pouco grande e um bojo bem pequeno. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 21: Ericsson T39. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Ainda na linha de celulares pequenos da Ericsson temos o Ericsson T66, que era da altura 36

de um cigarro. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 22: Ericsson T66. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Com um design semelhante ao Ericsson T66, com exceção de suas bordas mais arredondadas, tínhamos o Ericsson T68, que foi o primeiro celular que tinha uma tela colorida. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 23: Ericsson T68. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Porém o Siemens S45 levou as bordas arredondas a outro nível com o seu topo quase como um semicírculo, além de não apresentar nenhuma linha reta em toda a sua construção. Conseguimos observar também uma tela com fundo colorido. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 24: Siemens S45. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Em 2002, a Nokia traz o 7650, o primeiro da marca a apresentar uma câmera fotográfica embutida, além de um design muito diferente, que se assemelhava com os celulares do tipo banana. Apresentavam também duas partes unidas que formavam um só corpo, mas que podiam ser abertas, deslizando-as em direções verticais opostas, revelando o teclado. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 25: Nokia 7650. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Já a Sony Ericsson inovou com o smartphone P800, de tela colorida touchscreen (com caneta para manipulação) e 128mb de memória. Seu design sóbrio se dava pela ausência de teclas ou botões em sua parte frontal, que na verdade ficavam escondidos debaixo de uma pequena capa que revelava um teclado do tipo flip. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 26: Sony Ericsson P800. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

A Sanyo inovava como o primeiro celular “especializado” na câmera fotográfica (figura 25) – ou seja, era um celular proposto a ter seu uso e aplicação focados na câmera –, apesar de sua baixíssima qualidade em imagens. Era um celular do tipo flip que apresentava uma pintura tipo 40

metalizada, com duas telas, uma no interior e outra no exterior; essa última mostrava a hora, data, nível da bateria e até mesmo fotografias. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 27: Sony Ericsson P800. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Antes dos BlackBerry´s, adentrarem no mercado por completo, o PalmOne Treo 600, trazia o visual comum dos gadgets, do tipo, com uma tela quadrada no topo e botões de navegação de acesso rápido no centro abaixo da tela, e um teclado tipo Qwerty. Suas cores eram sóbrias, com o uso exagerado do cinza e do azul com baixíssimo contraste (de cor). (WebdesignerDepot, 2017) 41

Figura 28: PalmOne Treo 600. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O Nokia 7600 traz grande inovação com uma forma ligeiramente quadrada, que mais se assemelhava com uma espécie de formato de folha de árvore. Os seus botões numéricos, de controle, etc., ficam ao redor de sua tela. Ainda é, até hoje, considerado um dos menores e mais leves celulares da companhia. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 29: Nokia 7600. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

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Não fica atrás em inovação, o Motorola Razor V3, que se tornou uma referência para toda as linhas de celulares com design metálico posteriormente. Sua disposição em formato flip, não era, apesar de ser interessante, seu ponto forte; mas sim o uso do material metálico que cobria praticamente todo o celular, com exceção é claro, da suas telas e câmera. Suas telas, principalmente a exterior, apresentavam uma moldura na cor preta, que fornecia um “peso” maior e um destaque, para as mesmas. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 30: Motorola Razor V3. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Porém a Nokia continua inovando em seus celulares, surpreendendo o mundo com um telefone em forma de um bastão comprido, o Nokia 7280, que ficou conhecido como celular batom, por causa de seu formato. (WebdesignerDepot, 2017) 43

Figura 31: Nokia 7280. Fonte: CATANZARITI, 2017.

Já o Nokia 6680 apresentava um dos primeiros com câmera fotográfica frontal, e foi considerado um top de linha na época. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 32: Nokia 6680. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O primeiro híbrido de celular e computador foi o HTC Universal, que mais parecia um laptop de mão, pois contava com um teclado e tela conectados, no qual a tela podia se rebaixar cobrindo por completo o teclado. Sua tela podia ainda fazer movimentos em torno de seu próprio eixo. Algo que seria retomado, mais ultimamente com os híbridos de computadores e tablets. (WebdesignerDepot, 2017) 44

Figura 33: HTC Universal. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Em 2006, a HTC lançava o Orange SPV M3100, que apresentava um celular com o estilo que lembrava o antigo flip, com um teclado Qwerty que ficava coberto pela tela. Apresentava linhas bastante curvilíneas, principalmente na construção das arestas do produto. Suas cores eram bastante sóbrias, compostas somente por padrões de cinza. O produto, não era simplista em relação ao design, ou seja, tinha vários detalhes e adornos. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 34: Orange SPV M3100. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

O design curioso do KDDI Penck chama a atenção pelo seu formato em elipse. A metade superior apresenta principalmente a tela e os alto-falantes, na metade inferior, vemos um teclado 45

com botões grandes em comparação aos outros celulares. (WebdesignerDepot, 2017)

Figura 35: KDDI Penck. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Em 2007, o mundo dos celulares recebe um de seus maiores sucessos, quase que uma revolução. O tão conhecido e idolatrado Iphone chegava no mês junho, com inovações tais como um sensor automático de rotação, um sensor multi-touch (múltiplos toques na tela) que ignorava toques pequenos indesejados, uma tela enorme cobrindo boa parte de sua área frontal, substituindo o antigo sistema com o teclado físico. (WebdesignerDepot, 2017) 46

Figura 36: Iphone. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

A empresa Helio lançava em 2009, o Helio Ocean, com um design bastante curvilíneo, quase que oval, com detalhes sutis que o deixavam bastante destacado, frente aos celulares mais simplistas. Porém, o sistema operacional foi também destaque com o T-Mobile G1, o primeiro celular a rodar o Android da Google. Vendeu aproximadamente um milhão de exemplares, em abril de 2009. O celular era do tipo slider, com sua parte frontal dividida, permitindo que somente sua tela se deslizasse. (WebdesignerDepot, 2017)

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Figura 37: Helio Ocean. Fonte: WebdesignerDepot, 2017.

Por fim, podemos considerar que os Smartphones surgiram praticamente junto com o Iphone, pois o termo (smartphone) significa somente um celular com tecnologias e ferramentas muito mais avançadas que os telefones comuns. Dessa maneira, podemos de forma emblemática, dizer que, o Iphone foi o estopim dos smartphones, impulsionando seu crescimento em vendas e popularidade. A partir daí discutimos alguns celulares e (ou) smartphones sucessores até o ano de 2009. Porém, não encontramos literatura, seja em português ou em inglês, sobre o desenvolvimento estético a partir do ano de 2009, portanto há 8 anos a literatura começou a ficar mais escassa sobre este tema. Isso parece normal, já que 8 anos é um período relativamente recente. (WebdesignerDepot, 2017)

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CAPÍTULO 2 – O PENSAMENTO COMPLEXO E A TEIA DA COMPLEXIDADE

A ressonância estética, é um fenômeno, teorizado e embasado na complexidade de Edgar Morin. Dessa forma, devemos estudar, esse pensamento de forma breve e resumida; mas também salutarmente aprofundada. Compreendemos ser extremamente necessário analisar cada aspecto da teoria da complexidade, para só daí partimos para uma análise da ressonância estética. Isso posto, observamos que, intrinsicamente, o homem busca a revelação, a ordem e a clareza. Observar os fenômenos e suas inúmeras variáveis, obscurecem o entendimento, então buscamos pela luz ao que antes era trevas, afim de enxergar melhor. Ou seja, entendemos que faz parte da natureza do ser humano buscar respostas para as dúvidas que se lhe apresentam. A complexidade traz consigo uma constelação semântica, onde podemos observar, a confusão, o incômodo, a falta de simplicidade, o obscuro, etc. Surge dessa necessidade, um movimento, quase que automático: simplificar, ou seja, dar ordem aquilo que é complexo, e, portanto, obscuro para nosso entendimento. Esse movimento de simplificar os fenômenos para melhor entende-los, é notadamente paradoxal, pois como se pode modificar as características inerentes mais importante da complexidade dos fenômenos? Explico melhor: para considerarmos algo como pertencente a categoria da complexidade, não é intrinsecamente necessário que esse algo seja complexo? Então como queremos simplifica-lo?! Isso tornaria a visão dos fenômenos mutiladas e descaracterizadas, e provavelmente, não nos ajudaria a resolvê-los ou entende-los. Esses questionamentos são tão óbvios, mas são ignorados pela maioria (senão por todos) de nós. Pois cada vez que nos deparamos com um problema complexo demais, nós tentamos quebra-lo em pequenas partes, a fim de que sua complexidade se torne mais digerível. Até certo ponto podemos compreender esse movimento, pois, a Ciência tem buscado dissipar as trevas que são a complexidade, dando aos fenômenos ordem e clareza. Porém esse movimento levou a ciência a um paradoxo; da transformação simplista, e, portanto, a descaracterização do objeto estudado (MORIN, 2015).

2.1 A Solução “Bala de Prata” (Silver Bullet)

De forma prática, poderíamos propor uma problemática como exemplo (um pouco tosca, 49

mas que deve clarear um pouco o entendimento), a saber: a do “aquecimento global causado pelo homem”. Não é necessário aqui provar que o aquecimento global é um problema complexo, isso já é sabido de todos nós. Porém, se alguém tentar trazer uma solução simplista para esse problema, do tipo, “parar de produzir gases que contribuam com o efeito estufa”, vemos que, apesar de muito simples, sua solução é perfeitamente plausível, pois realmente existe uma probabilidade de que o aquecimento global fosse diminuído com essa medida. Porém, essa é uma solução simples demais para um problema por demais complexo, ou seja, é uma solução bala de prata11. Uma solução pode ser tão simples que pode trazer mais complexidade ao problema do que anteriormente ele tinha. Por exemplo: como uma sociedade poderia viver sem produzir os gases do efeito estufa? Seria isso possível? E enquanto as outras causas do aquecimento global? Viveríamos por quanto tempo sem carros ou aviões, até que todos estes fossem substituídos por versões que não emitissem gases do efeito estufa? Muitos outros problemas surgem dessa solução por ser demasiadamente simples. É necessário, portanto, não a abandona-la por completo, antes desenvolve-la para que possa se resumir a soluções mais práticas e viáveis. É necessário assinalar, que a dissipação da complexidade é salutar, porém essa palavra

(complexidade) pode não exprimir exatamente o significado que se propõe nesse texto. A complexidade é uma “palavra-problema” e não uma “palavra-solução”. Porém para entendermos a complexidade aqui proposta, não será possível explicar em um par de linhas subsequentes, evitando-se assim a armadilha aqui denunciada, da simplificação. É necessário primeiramente explicar o porquê das deficiências do pensamento da simplificação, e por que é um problema ignorar o pensamento complexo. Para não sermos pedantes, devemos fugir da ideia de redução dos fenômenos da natureza, a formulação de leis. Ao contrário, é necessário formular-se soluções e entendimentos de fenômenos complexos, através de soluções e entendimentos complexos. Pois é necessário que a solução possa “dialogar” com seu fenômeno através de um mesmo “dialeto”, pois

é sabido que as soluções do problema são repensadas e reformuladas periodicamente, e se a solução complexa for por demais resumida, seria impossível reformular seus conceitos. (MORIN, 2015)

11 “Silver bullet” ou, numa tradução literal, “bala de prata”, é uma expressão anglicana, que designa uma solução muito simples e rápida para um problema muito sério e complexo. (MERRIAM-WEBSTER DICTIONARY, 2017). Porém, como se sabe, essas soluções são raras, e para a maioria dos problemas complexos, são ineficazes. 50

2.2 O Paradigma Clássico

A priori é necessário desfazer algumas ideias que não são verdadeiras. A primeira delas é que a Complexidade não vem para substituir a simplicidade, porém, vem preencher as lacunas que dela se ostentam, suas deficiências. Porém, deve-se observar que a Complexidade não vem a ser complacente ao caráter por muitas vezes mutilador e simplista (MORIN, 2015). O paradigma clássico que compreendemos hoje como a forma de pensar e agir presente na nossa ciência contemporânea, não deve ser invalidado, pois o problema não está no mesmo, mas sim, em seu crescente expansionismo, o qual considera-se possível compreender tudo e explicar tudo

(ESTRADA, 2008).

A segunda ideia a ser combatida, é a confusão de Complexidade com completude. Apesar de que, a busca pela articulação das áreas do conhecimento, as quais são renegadas e mutiladas pela simplicidade, seja um caráter indissociável da Complexidade. Um dos axiomas da

Complexidade é a impossibilidade da onisciência, mesmo que seja através de uma teorização do conceito. Ou seja, o estudo da Complexidade não busca entender tudo, pois mesmo em teoria, sabe- se que isso é impossível. A Complexidade entende que todo o conhecimento é sempre incompleto, porém busca sempre um conhecimento não fragmentado. Já que como B. Pascal (1623 – 1662) já havia colocado, todas as coisas: “[...] são causas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e que todas (se interligam) por um laço natural e insensível que liga as mais afastadas e as mais diferentes” (apud MORIN, 2015).

2.3 O Império da Separação: a “Lógica”

Os conhecimentos que foram adquiridos por nós, e continuam a ser, estão cada vez mais próximos daqueles que antes nos eram, inaudíveis e extraordinários. Fazendo, pois, uma clara referência ao mito da caverna e da luz sensível, proposto por Platão; poderíamos estar saindo das cavernas escuras, ou numa perspectiva mais realista, começando a enxergar a luz exterior a nos ofuscar. Porém o processo de ignorância e emburrecimento é diretamente proporcional a essa aquisição de conhecimentos novos. É necessário para nós, portanto, estarmos cientes de algumas 51

ideias que iremos discutir no próximo parágrafo (MORIN, 2010).

A maior causa dos equívocos, não está em si mesmo, mas habita no modo de organização que temos do nosso conhecimento, que se dá através de um sistema de ideias. Na organização do conhecimento, associado ao desenvolvimento de nossa ciência, existe um certo tipo de ignorância.

O segundo ponto em que a afirmação também é válida, é quando se observa o uso cada vez mais degradado da Razão. O terceiro e último ponto que devemos levar em consideração, quando se trata de algumas ideias que devem ser discutidas, em relação a Complexidade, é que o progresso tecnológico incorre numa das ameaças mais graves para com a humanidade, das quais poderíamos citar: as armas nucleares, manipulações genéticas e o desregramento ecológico. Esses três pontos

(a ignorância no desenvolvimento da ciência; o uso degradado da razão; e o progresso como ameaça para sociedade) acima mencionados são propostos por Morin (2010), como axioma deduzidos de sua pesquisa (IDEM, 2010).

Todos esses problemas acima citados, decorrem muito do processo da organização do conhecimento. Atualmente, o processo de conhecimento se dá através, da rejeição daquilo que não

é relevante em detrimento ao conhecimento considerado relevante. Isso se dá por separações, unificações, hierarquizações e centralizações. Esse modo de realizar o conhecimento, nos é tão familiar que o entendemos como lógica, nos foi imposto de forma gradual ao ponto de a considerar como a verdade. Nós vivemos no império que busca a disjunção, abstração e a redução, que foi por

Morin chamado de paradigma da simplificação. Para Morin, Descartes (1596 – 1650) foi o fundador e concebedor desse modelo ao cindir o ego cogitas e res extensa12. E também, Descartes inaugura o paradigma da simplificação, através do princípio imposto como verdade, de que as ideias sejam “claras ou distintas”, ou seja, o pensamento da simplificação (IBIDEM, 2010).

Podemos dizer também que essa ideia de que a separação do conhecimento, é uma das causas de erros, pode ser transportada para o assunto da ressonância estética, já que os designers são formados num ensino com um pouco de “multidisciplinariedade”, mas ao mesmo tempo vemos

12 Ver indexador 2.5, no presente capítulo: Ego Cogitas e Res Extensa. 52

uma extrema categorização do conhecimento. Isso impossibilita por exemplo, que um estudo como a ressonância estética, possa ser realizado por designers, já que esses possuem pouco conhecimento na área da filosofia, por exemplo.

2.4 A Teia da Complexidade

A remediação dessa fragmentação inevitavelmente, trouxe outra simplificação: a redução do complexo ao simples. Essa hiperespecialização irrompeu as conexões da teia complexa, tecida pela aranha, a qual chamamos de mundo real. A hiperespecialização nos fez achar que esse corte era na verdade como as coisas são na realidade. A ideia de que as coisas devem ser regidas por simples regras através de uma ordem de perfeição, criando o estabelecimento de uma máquina perpétua (o Cosmos), formada pela junção de elementos, tais como os átomos, rearranjados em diferentes organizações e sistemas (IBIDEM, 2010).

A matematificação dos fenômenos se deu, e então, a compreensão da realidade ver-se-ia reduzida a fórmulas e equações que a governariam, bem como, obviamente aos seus elementos constituintes. Isso prova a incapacidade desse pensamento, de se pensar no múltiplo e na exceção, pois a abstração é aguda, até o ponto de descaracterizar e transformar o múltiplo no uno, e a exceção na regra, desconsiderando o caráter múltiplo e uno da realidade (IBIDEM, 2010).

2.5 Ego Cogitas e Res Extensa

Faz-se aqui uma breve pausa no pensamento de Morin, afim de explicarmos um pouco sobre o que ele critica, para dessa forma sermos capazes de discutir suas ideias. Em seu livro Meditações Metafísicas (1641), o qual, seu autor, é citado e criticado por Morin, René Descartes apresenta sua sexta meditação, de uma série, sobre a existência de Deus, sobre a dualidade entre corpo e alma, na qual comenta sobre os termos aqui apresentados, Ego cogitas e Res extensa. Essa meditação fica encarregada de se provar a existência de um mundo material, ou melhor especificando, coisas ma- teriais. Descartes (2000) afirma que se é possível que ele consiga conceber algo distintamente em sua mente, então ele pode dessa forma por dedução entender que essas “concepções” são na ver- 53

dade coisas diferentes, já que uma pode ser inteiramente concebida separadamente de outra, so- mente pelo uso da imaginação e do pensamento, dos quais podemos ter certeza de sua existência, ou seja, prova-se assim a existência de coisas diferentes. Ora, pelo fato de que Descartes (2000), sabe que existe, e, portanto, ele pensa, não sendo mais necessário coisa alguma para sua comple- tude, e dessa forma, se presume que sua essência é somente uma coisa pensante (ego cogitas), embora ele confirmará mais na frente de que está conjugado estreitamente a um corpo. Deduz-se, da última afirmação (eco cogitas) que o autor do texto (Descartes) é na verdade, uma coisa pensante e inextensa, que, portanto, seu corpo e tudo que está além de sua extensão, são apenas “coisa ex- tensa” (ou seja, já que se sabe que ele é uma coisa inextensa, tudo aquilo que não lhe faz parte é na verdade diferente dele) e que, portanto, não pensa (res extensa). Dessa forma entendemos por que Morin (2010) afirmou mais acima que o responsável pela divisão do ser pensante do resto, foi Descartes; ajudando a formular a ciência como a conhecemos hoje.

2.6 As Consequências da Ignorância

Dos pedantes13 que a cegueira os domina, parte a ideia de que o homem não existe, a não ser de forma ilusória. Os mídias são responsáveis por um emburrecimento de seus consumidores, porém, comparado as universidades, esse emburrecimento (causada pelos mídias) é por muitas aumentadas nas universidades. Nas universidades produz-se mais trevas do que a luz, pois não há mais interações entre as mutilações forçadas (das áreas de estudo científicas em relação aos seus objetos de estudo), ao ponto de não se conseguir dialogar e compreender suas interações14. Existe, cada vez mais, uma mutação do conhecimento, ele passa a ser menos passível de discussão e reflexão e mais feitos para serem registrados como simples memórias as quais suas forças são desconhecidas. Os próprios estudiosos ignoram essa mutação, e, portanto, praticamente não conseguem entender as consequências de suas descobertas e nem conseguem controlar intelectualmente o sentido e a natureza de sua pesquisa (IBIDEM, 2010).

13Os pedantes são todos aqueles que acham saber mais do que realmente sabem, seria outra palavra para ignorante. Porém essa palavra (pedante) exprime melhor o conceito, do grupo, que Morin (2010) denuncia. 14 Nessa passagem, denuncia-se a mutilação provocada pela metodologia malfeita da ciência atual, além disso, denuncia-se que essa mutilação renega partes importantes do objeto de estudo, tornando-o quase deformado, a ponto de ser irreconhecível. 54

Para entendermos a necessidade do Pensamento Complexo, é necessário entendermos suas conexões semânticas. A Complexidade vem da palavra Complexus, ou seja, aquilo que é tecido junto, a partir de elementos heterogêneos, mais que são ao mesmo tempo inseparáveis, através de sua associação. Aqui está presente o paradoxo do múltiplo. A Complexidade pode significar também o tecido de acontecimentos inúmeros, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico (IBIDEM, 2010).

O Pensamento Complexo foi redescoberto pelo próprio sistema que o retirou, pois ao serem estudados os fenômenos através da simplificação, percebeu-se sua complexidade, e sua inseparável conexão com ela. O filósofo das ciências Gilbert Durand (1921-2012), disse que a ciência não é o estudo de um universo simples, na verdade para ele, a ciência seria a simplificação heurística do universo, da qual desencadeava propriedades e até mesmo algumas leis. Para Morin precisamos compreender que ainda estamos na época bárbara das ideias e ainda na pré-história do espirito humano; o pensamento complexo seria capaz de nos ajudar a civilizar o nosso conhecimento bárbaro (IBIDEM, 2010).

2.7 O Problema do Paradigma Clássico

A questão problemática do paradigma clássico da ciência vai além dos questionamentos dos quadros gnoscológicos15 e ontológicos16, antes, baseia-se no entendimento que os fenômenos são intrinsicamente plurais e formado por sistemas complexos, tais como, os sistemas físicos, biológicos e antropossociológicos. A partir desses conhecimentos começa-se a entender o problema.

Esse entendimento só pode ser alcançado através de uma nova forma de pensar, ou melhor, a razão aberta, que se caracteriza por ser evolutiva, complexa e dialógica. Essa razão é evolutiva pois, baseia-se em suas constantes mudanças, mutações e reorganizações, fugindo, portanto, da verdade absoluta, ao contrário, ela é formulada através de uma séria de construções operatórias, que trazem

15 “Mesmo que gnosiologia; parte da filosofia que trata dos fundamentos do conhecimento. ” (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2013) 16 “Utiliza-se no sentido filosófico da teoria metafísica do ser. ” (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2013) 55

novidades, formando-se, portanto, as mudanças paradigmáticas (ESTRADA, 2008). Ou seja, evita- se criar concepções engessadas e únicas, ao contrário, prefere-se as soluções mais flexíveis e múltiplas, que são mais condizentes com a realidade do mundo complexo. Essa nova forma de pensar nos dá bases para, discutirmos e sermos capazes de raciocinar o possível fenômeno da mútua interferência estética dos smartphones, para com a sociedade. Já que esse é um fenômeno que é bastante abstrato e pouco concreto.

2.8 O Antagônico-Harmônico e o Sistema Complexo

A razão é também residual, pois acolhe tanto aquilo que é a-racional como aquilo que é sobre-racional. Ou seja, aquilo que é antagônico pode também ser complementar, porém, sem perder sua característica intrínseca do caráter antagônico. Ela é complexa, pois aceita a relação sujeito/objeto, ordem/desordem, reconhecendo seu caráter complexo, e também, permite a consideração daquilo que é uma zona obscura, irracional e incerta, que se abre portanto para o acaso, a álea17, a desordem, ao anômico18, e ao a-estrutural. A Complexidade é dialógica, pois é corrente e antagonista19, ou seja, opera com os conceitos macro-recursivos. O conceito de ordem discutido, extrapola a simples ideia de uma estabilidade, da rigidez, da repetição e da regularidade, porém liga-se mais a ideia de interação (ESTRADA, 2008).

O mundo em que vivemos é um sistema20 em que domina o caos. Porém, apesar disso, nossa espécie consegue prosperar nesse meio, ou seja, nesse sistema onde o caos domina, isso porque, o mundo vive o paradigma da auto-organização, pois ao mesmo tempo que todos os fenômenos

(catástrofes naturais, fome, etc) que ocorrem, os mesmos são indispensáveis para o bom funcionamento de toda a vida na Terra. Pois, apesar das inúmeras catástrofes, o sistema atmosférico nos garante (a humanidade, e seres vivos em geral) uma salutar prosperidade. Essa ideia é

17 (latim alea, -ae) Sorte, risco, acaso. (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2013) 18 Relativo a anomia. Do grego, ausência de leis ou de organização (DICIONÁRIO PRIBERAM, 2013). 19 Que se opõe; que está em luta com outro; que se movimenta na direção contrária. (DICIO, 2017) 20 O sistema, é caracterizado por ser maior que a soma de suas partes, que se modificam nas suas interações e por consequência tendem a modificar o todo. 56

sintetizada na noção chave do unitas multiplex21 (IDEM, 2008).

2.9. O Macro-Conceito Trinitário

Existem influências tanto internas quanto externas em relação a organização dos fenômenos.

A disposição das relações entre componentes e indivíduos fundamenta a organização. Essa fundamentação, por sua vez, produz uma unidade complexa em que há solidariedade entre as partes, e também, existe a possibilidade de duração, apesar de se ocorrerem algumas perturbações aleatórias (essas perturbações se encaixam na ideia da auto-organização, ou seja, os sistemas complexos são ao mesmo tempo coesos e organizados, como também, são desorganizados e caóticos).

Para entendermos isso partimos então para o macro-conceito trinitário, a saber, o sistema- interações-organização. O primeiro conceito, o sistema, compreende todo o fenômeno com sua complexidade unitária e fenomenal totalitária. O segundo conceito, as interações, exprime as relações, ações e retroações presentes num sistema. O terceiro conceito, a organização, por sua vez, observa-se o fundamento dessas interações, ou seja, aquilo que forma, mantém, protege, regula, rege e se regenera (IBIDEM, 2008).

2.10 Últimos Conceitos e o Tetagrama de Morin

Para se ilustrar o conceito de ordem e desordem do mundo no qual vivemos, Morin se utiliza do tetragrama abaixo:

Figura 38: Tetragrama de Edgar Morin. Fonte: Estrada, 2007, p.69 apud Morin, 2000, p.204. O tetragrama demonstra a concepção do universo a partir de uma dialogia entre estes termos, cada um deles chamando o outro, cada um precisando do outro para

21 Edgar Morin em sua obra “Os setes saberes necessários à educação do futuro” (MORIN, 1921), explicita o conceito do unitas multiplex, como a ideia de que a unidade humana, não deve ser sobreposta a diversidade da mesma. Ou seja, para compreender o humano é necessário entender sua unidade, presente na sua multiplicidade. 57

se constituir, cada um inseparável do outro, cada um complementar do outro, sendo antagônico ao outro (ESTRADA apud MORIN, 2000, p.204).

Porém, mais uma vez se deve entender que esses conceitos complexos, não devem ser confundidos com a obscuridade ou falta de clareza. Ao contrário, busca-se uma maior clareza nos fenômenos estudados aceitando seus caracteres complexos, antagônicos e desordenados, evitando- se considerar somente os caracteres ordenados, como se faz na ciência atualmente. Para compreender melhor esse pensamento, encerramos esse capítulo com as noções da recursividade, da hologramaticidade e da dialogia. Essas noções já estão de certa forma presentes nesse capitulo, porém fez-se necessário reuni-los aqui, apresentando também seus termos. (ESTRADA, 2007) A noção de dialogia encerra-se na compreensão de que existem noções que são antagônicas entre si, porém apesar disso, são necessárias e complementares umas às outras. Resumindo-se, a dialogia apresenta o antagônico-harmônico. Significa que ao mesmo que tempo em que ocorre a desordem, ocorre também a ordem, sendo esses, antagônicos-harmônicos (ESTRADA, 2007). Na noção de hologramaticidade compreende-se a ideia sobre o todo e as partes, pois é necessário conhecer o todo, para assim conhecer suas partes. Porém, não é possível conhecer as partes pelo todo. Entende-se também que não é possível compreender um fenômeno em sua completude, pois já que todas as coisas são causa e causantes, seria impossível distinguir um fenômeno separando-o, sem dessa forma, mutilá-lo em alguma de suas partes. A hologramaticidade é na verdade um meio-termo entre o reducionismo (que vê só as partes) e o holismo (que vê somente o todo). Por fim, a noção de recursividade parte da ideia de que é impossível reduzir o todo as partes, necessitando-se, portanto, de um jogo de relação (ESTRADA, 2007). Por fim, devemos salientar que essa pesquisa, por não querer se estender por demais, delimitou-se a uma pequena parte do pensamento formulada por Edgar Morin (2010).

58

CAPÍTULO 3 – A DIMENSÃO PRAGMÁTICA DA RESSONÂNCIA ESTÉTICA

Para entendermos os desdobramentos da ressonância estética devemos apresentar as características e problemas que caracterizam nossa sociedade, pois é necessário entender que a sociedade não é um grupo (de pessoas, ou, filosoficamente falando, de espíritos pensantes) capaz de ser resumido em apenas uma definição, por mais abrangente que ela seja. A sociedade é formada por indivíduos e comunidades das quais deriva pensamentos e culturas atemporais, quero dizer, diferentes formas de cultura convivem sem a separação do espaço-tempo. Vivemos, todos nós, numa sociedade antagônica, onde o sexo, as orgias e a bebedeira são cantados explicitamente e em alto som nas ruas, ao mesmo tempo, em que são tabus. Deve-se atentar que não se busca aqui, fazer simplesmente uma crítica a sociedade, nem de encontrar uma definição para a mesma, pois é possível recordar, que esse capítulo foi iniciado com uma afirmação de que “[...] não seria possível resumir (a sociedade) em apenas uma definição por mais abrangente que fosse”. Assim sendo, buscamos, portanto, exemplificar algumas características da sociedade afim de abrirmos um canal em comum, para discutirmos a sociedade atual que se caracteriza por ser uma cultura de massas. Em seu livro Cultura de Massas do Século XX: Neurose (1967), Morin exemplifica a seguinte definição da palavra neurose: “[...] meio-termo entre um distúrbio da mente e a realidade, concessão a que uma pessoa se acomoda, em troca de um fantasma, um mito ou um rito’’ (2011). O mundo experimenta uma nova era de colonização da alma humana. É nesse pós Segunda Guerra Mundial que a terceira cultura, provinda da América do Norte toma a forma da Cultura de Massa. Ou seja, é a cultura produzida aos moldes da industrialização. A cultura se compõem de normas, símbolos, mitos e imagens que formam um corpo complexo. Os pontos de apoio imaginários se fornecem na vida prática, ao passo que os pontos de apoio dessa vida se inserem na vida imaginária. Dessa forma, a cultura serve para a fornecer alimentação para o ser semirreal, semi-imaginário, que na verdade é a alma (MORIN, 2011). Para explicar o parágrafo acima, proponhamos as seguintes afirmações, a primeira, que a cultura não pode ser definida, pois é por demais complexa; a segunda, que a cultura predominante hoje é a cultura de massas, que se caracteriza, entre muitas outras coisas, pela produção em série e 59

uma busca pela colonização do homem e de sua alma22. Entendido isso, fica fácil compreender logicamente que uma cultura tão difundida e tão complexa (no sentido de ser bastante heterogênea) acaba por influenciar as pessoas (ou melhor dizendo, suas almas), a ponto de modificar suas vidas práticas (através do que chamamos de apoios imaginários), através de uma influência direta, já que aquilo que consumimos nos afeta diretamente, mesmo que inconscientemente. A influência oposta (das almas das pessoas, influenciando os apoios imaginários) também é válida, pois as pessoas consomem na maioria das vezes aquilo que lhes agrada, e dessa forma, aquilo que não tem “audiência”, torna-se prejuízo para as produtoras de conteúdos culturais. Vemos que essa dupla influência, fornece algumas bases para confirmarmos (faremos isso, de forma decisiva, mais a frente) a hipótese proposta por este trabalho, a saber, a ressonância estética. Podemos pontuar também, que a hipótese desse trabalho, ganha alguns indicadores de veracidade, ao vermos a questão acima posta, a saber, a influência da alma com os apoios imaginários. Entendendo-se que os apoios imaginários incluam os smartphones, já que obviamente eles também são objetos das vidas “práticas”23. Dessa forma, podemos entender que se os apoios imaginários influenciam as almas das pessoas, podemos afirmar também que os smartphones influenciam as almas, assim entendemos que os celulares em geral, são capazes de provocar uma ressignificação do repertório social. Continuando, pois o assunto supracitado, vemos que a cultura de massa integra e se desintegra na realidade cultural, ela se faz conter, controlar e censurar, ao mesmo tempo em que corrói, desagrega outras culturas. Ela é cosmopolita por vocação e por sua extensão, planetária. É, portanto, a primeira cultura universal da história da humanidade. Para os cultos, a cultura de massa nada mais é do que uma desvirtuação da verdadeira cultura. Ela parece ser o oposto da cultura dos não pedantes: qualidade à quantidade, criação à produção, espiritualidade ao materialismo, estética à mercadoria, elegância à grosseria, saber a ignorância. Porém, antes de afirmamos categoricamente que a cultura dos cultos é o oposto da cultura de massa, devemos entender se realmente cultura dos cultos não tem valores dogmáticos, formais, mitificados e se por trás de um culto da arte não existe um comércio superficial das obras escondido (MORIN, 2011).

22 “Consciência”, “índole”, “pessoa”, “indivíduo” (Dicionário do Aurélio, 2016). No texto, expressa tudo o que constitui o caráter pensante do indivíduo, de suas ideias, criações, aspirações e pensamentos. 23 Leia-se como sinômimo de “concretas”. A palavra “práticas” foi colocada como referência a explicação, dos apoios imaginários, citada algumas linhas acima. 60

3.2 A Indústria Cultural

As invenções técnicas foram necessárias para formar a cultura industrial. Porém seu uso, pode ser descaracterizado, por exemplo, o cinematógrafo, que era originalmente desenhado para registrar o movimento, acabou sendo absorvido pelo espetáculo, pelo sonho e lazer. O que dita isto, como se deve ser aplicado, é o mercado capitalista, que por sua vez traz o lucro para os negócios e que pautam as escolhas. Porém, até mesmo em sistemas socialistas, é possível ver a cultura industrial, quando, por exemplo, Lenin e Trotsky perceberam a importância do cinema na esfera social. É necessário observar que não existe um sistema puro, ou seja, não existe um sistema completamente capitalista e outro completamente socialista. No sistema socialista o estado é grande e poderoso, e por isso ele manda e ordena tudo o que acontece na nação. Porém mesmo no Estados Unidos, vemos que o estado também tem poder, obviamente muito diminuído em relação aos países socialistas, mas ainda assim a indústria não fica inteiramente à mercê de suas próprias decisões (MORIN, 2011). Se transportamos essa questão para nosso assunto principal, vemos que isso mostra que a ressonância estética não é simplesmente um fenômeno da economia capitalista, já que é pressuposto que também no sistema socialista é possível observar uma indústria criativa. Podemos deduzir também que o processo de “interferências estéticas”24 não é exclusivo de uma sociedade com um “sistema econômico”, já que mesmo uma sociedade com uma economia pouco desenvolvida, vemos que ela não é livre de valores, ressignificações e repertórios.

3.4 Os paradoxos da indústria cultural

Para que um produto industrial tenha aceitação é necessário que ele seja paradoxalmente original e banal. Para explicar, tomemos como exemplo, o produto da indústria cinematográfica, o filme. Pois, caso ele seja completamente original, ele perde o caráter da familiaridade que o público tem. Por exemplo, se um filme com um tema de super-herói acaba por um final em que o herói morre, essa falta de familiaridade pode desagradar o público. Por outro lado, se o filme for muito comum, ele perde o caráter chamativo do interesse do público, que não vai conseguir se entreter com um filme em que já poderia se prever seu enredo ou seu desfecho (MORIN, 2011). Outro paradoxo, é o da identificação do autor. Pois, após a indústria criativa fincar seus pés

24 Leia-se “ressonância estética”. Já que esse termo foi utilizado como sinônimo, para evitar excessiva repetição do termo, nas divagações. 61

na sociedade atual, contemporânea, vemos que um movimento retrógrado, no sentido de que traz aspectos do passado, e futurista, no sentido que traz elemento novos e inusitados, ao mesmo; é brotado da nascente profunda e incerta, do rio da produção artística, cultural, intelectual e material. A divisão do trabalho é por muitas acentuada, pois vemos que agora há um abismo entre o que é produção e o que é criação, ambos conectados, porém distintos; mas ao contrário do que se pode parecer lógico, vemos que o autor, seja do produto, ou obra, fica desconhecido, ou bastante difundido. Algo que é bastante antigo, como vemos por exemplo, na construção de catedrais ou de grandes edifícios do nosso passado, pois a quantidade de pessoas envolvidas na produção desses produtos é tão grande, que não se pode fornecer um autor da obra. Isso de certa forma resgata uma lógica passada, como nas guildas medievais, onde várias pessoas eram responsáveis pela produção de uma pintura ou escultura. Mas é interessante observar que novamente, num movimento antagônico-complementar, nos deparamos com, pasmem, uma maior identificação possível do artista! Mas como seria tal feito possível? Ora, não se trata, no entanto, de dizer que o trabalho de muitos é substituído por um só, antes vemos que uma pessoa só é reconhecida mais notoriamente por ele. Temos por exemplo o filme E.T.: O extraterrestre (1982), onde inúmeros atores e atrizes (Drew Barrymore, por exemplo), produtores, trabalhadores indiretos e direitos (sejam de maquiagem, filmagem, direção artística, confecção, etc.), mas mesmo assim, o filme é conhecido pela produção de uma só pessoa: Steven Spielberg, o diretor. Mas vale ressaltar, novamente que isso não significa que as pessoas substituam o trabalho dele por todos os outros (MORIN, 2011). Em se tratando de produtos industriais, como é o caso do objeto desse estudo, os smartphones também sofrem do mesmo efeito: o de exacerbação do caráter individualista da produção artística por trás de algum indivíduo, responsável por uma parte importante do produto industrial (como o designer, por exemplo). Enquanto vemos cada vez mais uma divisão do trabalho e um abismo entre quem projeta e quem produz, e aqui entramos numa outra discussão sobre a produção, não mais humana, mas maquinária (retornaremos a falar sobre isso algumas linhas abaixo), vemos também uma centralização no produtor, onde uma pessoa, em geral um designer fica reconhecido por tal objeto. Observamos que o projetista ou artista pode não ser o responsável nomeado pelo produto ou criação, mas também pode ser a empresa, por exemplo, “smartphone com design da Microsoft”, ou ainda, “smartphone com design da Samsung”. Novamente vemos que o trabalho de outras pessoas por trás do produto, é visto e reconhecido, porém seus nomes são 62

desconhecidos e ignorados. Em relação, a forma de produção, em que os seres humanos, na verdade apenas dão a “partida”, enquanto os robôs realizam o “restante”, é muito semelhante com o fenômeno anteriormente mencionado, sobre a substituição do homem pela empresa, ou indústria cultural. Da mesma forma, já que o processo é praticamente automatizado, quer dizer, projetado e idealizado por homens, porém, realizado pelas máquinas.

3.5 A Padronização e a Originalidade dos Produtos

A divisão do trabalho e a individualização do coletivo, fornecem uma nova forma de se realizar os produtos, que agora devem obedecer a padrões. Um filme tem que ter aproximadamente uma hora e meia a duas horas. Um smartphone deve ter uma tela na parte frontal e uma porta de usb. Uma música deve ter no máximo 5 minutos de duração e seguir a afinação e tonalidade dos instrumentos musicais, não podendo, portanto, utilizar-se (na maioria das vezes) de notas, que se compreendem no espaço entre um semitom, como em alguns instrumentos orientais; dessa forma o nosso ouvido aprendeu a reconhecer a tonalidade ocidental, nos impedindo de apreciar uma música que tenha as notas nas frequências que ficam entre um semitom e outro. É como se nós dissemos para um pintor: pinte somente utilizando as cores vermelho, verde, amarelo e azul, após alguns séculos sob essas orientações, seria para nós muito estranho vermos uma pintura que se utilizasse do roxo, a exemplo (MORIN, 2011). Mais uma vez retornamos aqui para uma realidade antagônica-complementar: é que, apesar do que foi dito acima, podemos ver que alguns filmes têm mais de 3 horas de duração e que alguns smartphones não apresentam entrada usb, ou até que algumas músicas fogem da tonalidade convencional. Assim, “o paradoxo do novo e do velho na indústria cultural”, revela que os produtos podem se inclinar para fora do padrão, com o objetivo de trazer um ar de originalidade, aquilo que é, por natureza, banal. Porém o produtor não deve fugir muito do padrão pois correrá o risco de quebrar a lógica da padronização, e por consequência, receber a desaprovação do seu público-alvo. Vemos aqui que o produto é indiretamente influenciado pelo seu público consumidor. Fazendo uma conexão com a ressonância estética dos smartphones, vemos que os smartphones não fogem da regra da originalidade e padronização antagônicas, da indústria cultural. Já que podemos observar que os smartphones, também são bastante “parecidos”, se bem que essa ideia pode ser bastante confrontada com análise sincrônica, que fizemos. Porém é inegável que 63

existe uma padronização onde telas, botões, câmeras, cores, formas, teclados; tem uma certa similaridade em todos os smartphones. Antagonicamente, podemos ver que os smartphones sempre buscam um ar de originalidade, porém sem buscar uma mudança radical que fugisse por completo da padronização. Concluímos mais uma vez que as teorias de Morin sobre a indústria cultural, são extremamente condizentes com a teoria da ressonância estética e servem como base sólida para a corroboração da mesma. Porém, em virtude do pouco espaço para divagações (se bem que parecem ser adequadas) iremos encerrar a parte da indústria cultura por aqui. Assim sendo, e, para entender melhor, como a influência dos smartphones na sociedade se dá, optou-se por realizar entrevistas, com os consumidores/usuários dos smartphones e com os fabricantes dos mesmos. Afim de comprovarmos ou contradizermos, a presença do fenômeno de ressonância estética, analisada no microcosmo dos Smartphones.

3.6 Entrevistas

As entrevistas foram realizadas através da metodologia já supracitada25. Em que a divisão, foi realizada em 4 indexadores mais abrangentes, a saber, “Em relação aos usuários e seus smartphones”; “Versando sobre Preferências Estéticas”, “Considerações sobre as Entrevistas” e “Conclusão”. Dividindo assim, as entrevistas em três grandes assuntos, os quais, por sua vez, foram divididos em outros indexadores, com assuntos mais específicos. Entre o texto das entrevistas foram postos quadros com fotografias da casa e objetos mais importantes para os entrevistados; tanto objetos que eles gostam, como objetos que usam no seu cotidiano. O objetivo disso foi realizar um quadro, bem resumido, com um perfil estético e de hábitos de consumo dos entrevistados. Ao final das entrevistas, no indexador de conclusão, iremos pontuar aspectos interessantes retirados desses quadros. Foram contatadas, aproximadamente 10 empresas fabricantes de celulares, todas elas bastante conhecidas, tanto internacionais como nacionais. A maioria apresentou interesse em realizar as entrevistas e informaram que entrariam em contato. Porém, nenhuma delas retornou, impossibilitando infelizmente, a realização das entrevistas com as mesmas. Dessa forma não conseguimos entender como ou se existe um processo focado para a análise do pós-compra com os clientes em relação a estética de seus smartphones.

25 Ver pág. 11, indexador: “Metodologia em relação as entrevistas” 64

Porém, conseguimos realizar as pesquisas com os consumidores, a saber, três famílias e uma pessoa, compreendendo um total de 07 pessoas. Essas pessoas, foram escolhidas de forma aleatória, não buscando nenhuma característica específica (cor, condição social, escolaridade, etc.); já que esse trabalho se propõem a estudar um fenômeno “universal”, ou seja, qualquer indivíduo, poderia nos dar as informações necessárias. Deve-se lembrar que essa pesquisa trata de uma análise qualitativa, onde são utilizados conceitos da Teoria do Imaginário, a qual não entende ser necessário um grande número de pessoas para análises, já que somente um único indivíduo poderia fornecer pistas suficientes para qualquer pesquisa nessa área. A faixa etária das pessoas entrevistadas é de 33 a 69 anos, todas elas possuem um smartphone e o utilizam com uma frequência considerável. As entrevistas foram realizadas, entre os dias 13 de maio e 16 de junho de 2017.

3.6.1 Em relação aos usuários e seus smartphones

3.6.1.1 Em Relação as Idades e Ocupações dos Entrevistados A primeira família a ser entrevistada foi a Queiroz. Foram entrevistados Cleyton Queiroz e Viviane Queiroz, os quais tem somente uma filha. Cleyton é o mais novo dos entrevistados e tem 33 anos, a profissão dele é designer. Viviane, sua esposa, têm 39 anos e é contadora. A segunda família é a de Sabrina e Guilherme Paz que possuem somente um filho. Guilherme, o mais velho da familia, possui 36 anos e é analista judiciário. Sabrina, sua esposa, tem 34 anos e é terapeuta ocupacional. A última família entrevistada foi a de Claúdia Amaral e Roberto Amaral, que também só tem uma filha. Claúdia é funcionária pública e têm 42 anos. Roberto, seu esposo, é autônomo e têm 40 anos. A última entrevistada foi Bernadete Medeiros que possui 69 anos e no momento é dona de casa.

65

Figura 39 - Painel semântico Cleyton e Viviane Queiroz

3.6.1.2 Em Relação aos Smartphones e o Processo de Escolha Iniciando, pois, a parte de análise dos dados, verificamos que Cleyton Queiroz possui um smartphone da marca Asus, modelo Zenphone. Já sua esposa, possui um Motorola Razr. Guilherme 66

e Sabrina Paz possuem um Honor 8 Hauweii e um Motorola Geração 3, respectivamente. Quem também possui um Motorola, só que Geração 5, é Cláudia Amaral, enquanto que seu esposo possui um Iphone. Por último Bernadete Medeiros, possui um Samsung modelo Win Duos. Ao serem questionados sobre qual foi o principal fator de decisão da compra de seu celular, Cleyton respondeu: “Na verdade, esse aqui (celular) foi um presente (...) Eu ganhei, mas foi muito bem acertado” (Informação Verbal).26 Já Viviane comentou: “Eu também ganhei esse celular, da empresa onde eu trabalhava. Eu saí e eles me deram de presente. Então eu não comprei, não escolhi ele (...). Eu ganhei [risos]! ” (Informação Verbal).27

26 Entrevista concedida em maio de 2017. 27 Idem. 67

Figura 40 - Painel Semântico Claúdia e Roberto (Acervo pessoal).

Foi uma surpresa, na hora da entrevista, quando eles comentaram que nenhum dos celulares que utilizavam no momento tinha sido escolhido por eles. Podemos dizer que foi um certo desa- 68

pontamento, pois pensávamos ser interessante, estudarmos como foi o processo de escolha na com- pra. Porém, podemos observar quem ambos os usuários apresentaram, uma certa satisfação com o produto, o que mostra que eles se influenciaram de forma indireta em relação as qualidades estéti- cas de seus celulares. Apesar deles não terem, concretamente escolhido os celulares, suas conside- rações, também em relação a estética, como veremos mais adiante, reverberam na sociedade, sejam através de suas opiniões, sejam num provável caso de uma futura troca de aparelhos. Seguem as perguntas realizadas à Guilherme e Sabrina Paz: “Como foi o processo de escolha do seu celular? O que mais pesou nesse processo? ” Guilherme, observou: “O meu celular [processo de escolha] foi bem complexo. Por que eu comprei na China (...) Mas pesou muito... foram duas coisas: (...)” (Informação Verbal).28 Interrompi para perguntar se ele tinha comprado via internet, ele confirma: “É, foi pela internet. Pesou o preço, que foi um preço muito bom. Pesou a beleza (...) ele é muito bonito! E pesou o armazenamento de dados, maior” (Informação Verbal).29

28 Entrevista concedida em maio de 2017. 29 Idem. 69

Figura 41 - Painel semântico Guilherme e Sabrina Paz (Acervo pessoal).

Vemos algo bem diferente da resposta dada por Cleyton e Viviane Queiroz, já que Gui- lherme Paz comprou seu smartphone bastante preocupado com a questão estética, tanto é que pre- feriu comprar num site estrangeiro para obter o que mais lhe agradava. Aqui a ressonância estética, fica clara, embora seja verdade que nem todas as pessoas, como veremos adiante, se importam com a estética de seus smartphone. As questões financeiras também pesam nessas escolhas, priorizando 70

componentes mais “práticos” e que sejam mais baratos. Seja, por uma indiferença, como veremos no caso da resposta de Cláudia Amaral. Entretanto Sabrina Paz responde: Meu processo de compra, na verdade, quem escolheu meu celular foi ele30 p’ra mim. Eu não escolhi não! (risos) Eu escolhi a estética da capinha, por que esse modelo a gente pode trocar a capa. Daí as cores que eu escolhi foram: um azul e um vinho. Mas assim: questão de armazenamento, estética, beleza... eu, não optei nisso não, quem optou foi Guilherme. Assim, ele disse que era bom, eu disse: beleza! Foi, e pronto! (Informação verbal)31

Vemos que apesar de uma relativa indiferença na questão estética, na resposta da terapeuta ocupacional, ainda demonstra que se importou no processo de escolha de seu smartphone, quando afirma que escolheu a cor da capa (que é o invólucro da parte posterior desse produto que é custo- mizável). Porém, no caso do casal Cláudia e Roberto, as respostas foram mais indiferentes em relação a estética de seus produtos, onde Cláudia responde: “No meu caso foi o preço”. Já seu marido disse: “No meu caso foi a qualidade dele”. Por isso, afim de compreender melhor, questi- onei sobre qual seria o aspecto da qualidade que mais pesou, como o sistema operacional, por exemplo? Já que os Iphones são conhecidos pelo bom funcionamento de seu sistema operacional, a saber, o iOS. Roberto confirma: “É, o sistema operacional, no meu caso”. Afim de extrair algo mais, perguntei algo mais distinto afim de provocar outras respostas: Seria a câmera dele? Ele negou: “Não. É por que ele é veloz [...]”, nesse momento sua esposa Claudia interrompeu dizendo: “[...] o processador! ”. Ele complementou confirmando: “[...] processa melhor”. Por fim, questionada, a aposentada, Bernadete Medeiros afirmou: “O preço foi bom, não foi muito barato, mas era o que estava dentro do meu orçamento. E, também, das funções que eu mais uso: escutar música, ver o WhatsApp e ver as redes sociais. Estadão, Facebook... essas coisas... Música! Eu gosto demais de música” (Informação verbal).32 Sua resposta parece evidenciar que não houve influência da questão estética como um fator importante para a decisão de compra de seu celular.

30 Seu marido, Guilherme 31 Entrevista concedida em maio de 2017. 32 Entrevista concedida em maio de 2017. 71

3.6.2 Versando sobre Preferências Estéticas

3.6.2.1 Perguntas em Relação a Satisfação Estética Nas primeiras perguntas tentou-se extrair informações sem evidenciar o foco na estética dos aparelhos nos questionamentos, evitando influenciar o entrevistado a dar uma resposta não- espontânea. Feito isso, pudemos buscar respostas com questionamento mais incisivos. Buscamos também questionamentos mais quantitativos, já que apesar de fazermos uma pesquisa qualitativa, não pensamos ser necessário desprezar os dados qualitativos, ao contrário, eles podem fornecer dados relevantes a pesquisa. A pergunta feita aos entrevistados foi a seguinte: Numa escala de 0 a 10. Qual sua satisfação em relação a estética do seu smartphone? Por que? Cleyton Queiroz, respondeu da seguinte maneira: “Nota 9. Eu gosto dele. Acho muito bo- nito. O design dele (...), tamanho dele, é um tamanho bom, esteticamente falando (...)” (Informação verbal).33 Já Viviane disse: “Na escala de 0 a 10, para o meu smartphone, eu dou nota 5. Por que eu prefiro telefone com uma tela maior. Acho que ele poderia ser um pouco maior e mais fininho! Ele é muito grosso” (Informação verbal).34 Guilherme Paz, responde da seguinte maneira: “10. [...] Por que ele é lindo! (risos) Sinceramente, tirando os Iphones da vida. Eu não vejo um celular mais bonito” (Informação verbal).35 Questionou-se ainda: Teria alguma coisa que você queria mudar em seu smartphone? Guilherme nega: “Na estética? Não”. Questionada se estava satisfeita em relação a aparên- cia de seu aparelho, sua esposa, afirmou: "Mais ou menos. Por que na época [...]”, Guilherme interrompeu em tom sarcástico: “Por que ela bota uma capinha horrível, né? ” Sabrina, concorda aos risos, em parte: “É!... Não [...]”. Porém, Guilherme continuou falando e rindo: “É muito mais bonito do que... Por que a capinha é horrível! ” Sabrina protestou, também em tom de brincadeira, confirmando, em parte, o Guilherme denunciava: É por que tem que durar! Por causa de Benjamin36, né? Que derruba no chão, aí... não, ele não é feio não, mas também, não é tão bonito como o de Guilherme. Então

33 Entrevista concedida em maio de 2017. 34 Entrevista concedida em maio de 2017. 35 Idem 36 Filho do casal 72

de zero a 10 eu dou 8. Por que eu posso trocar a capinha e é legal isso. Ele não é feio! “Feio de morrer”, não! Ele é bonitinho. Mas quando eu vi o do meu marido é claro que eu queria um desse né!? (risos) É lindo ele!” (Informação verbal). 37

Afim de extrair mais informações Sabrina foi questionada durante a entrevista se ela acha que poderia mudar alguma coisa no smartphone, e dizer o que seria. Resposta: “Eu acho que se ele fosse mais fininho. E se ele não fosse “boleado”. Por que, [Sabrina demonstra que ao colocar ele numa superfície, o smartphone fica bamboleando por causa de sua superfície traseira ser arredondada] olha! Enfim, eu acho ele bonito assim, bem fininho e todo “retinho” (Informação verbal)38 Quem deu uma resposta similar ao ser questionado por esse mesmo questionamento, foi Bernadete Medeiros: “9. Eu não dou 10 por que acho que ele pesa um pouco. Gostaria de ter um mais leve” (Informação verbal)39 Vemos que a resposta de Viviane, Sabrina e Bernadete (e a de Roberto que veremos a se- guir), evidenciam uma prova da ressonância estética, já que verificamos a recorrência de uma as- piração estética quase que geral, ousaríamos dizer, pois cada vez mais se evidencia que os usuários buscam smartphones mais finos e leves. Outras características como o uso de texturas metalizadas, telas largas (evidenciado pelas respostas de Viviane e Roberto), e, menos recorrentes, de formas menos arredondas, confirmam uma espécie de tendência inconsciente dos consumidores de suas relações com a estética dos aparelhos. Ao entrevistarmos Cláudia e Roberto, eles pareceram, à primeira vista, bastantes indiferen- tes em relação a estética de seus smartphones. A princípio eles parecem não ter entendido muito bem o que seria a questão estética dos aparelhos, a partir dos seguintes comentários sobre a per- gunta: Numa escala de 0 a 10. Qual a sua satisfação em relação a estética de seus smartphones? Cláudia respondeu: “Nota 8. Eu acho que as letras são pequenas no meu [smartphone]; meio lento, ele trava”. Vê-se que provavelmente ela não entendeu a pergunta muito bem, por isso, foi feita outra pergunta: “E em relação a forma e as cores, eles condizem com o que você gosta num celular? ”

37 Entrevista concedida em maio de 2017. 38 Idem. 39 Entrevista concedida em maio de 2017. 73

Ainda assim, verificou-se que ela não conseguiu ou não quis comentar muito sobre a esté- tica de seu smartphone, por isso a pergunta foi direcionada ao seu marido Roberto que respondeu: “Nota 8. Não, não. Eu acho que ele p’ra mim serve, é o básico, é o suficiente. Não espero muito dele não”. Consideramos a resposta bem evasiva, assim como a resposta dada por sua esposa. In- felizmente, nesse quesito foi difícil considerar as respostas dadas pelos entrevistados (Cláudia e Roberto Amaral), primeiro por que eles pareceram não compreender totalmente os questionamen- tos, segundo por que eles formulavam respostas muito evasivas. Porém no próximo questionamento conseguimos, extrair pouco mais sobre essas dúvidas.

3.6.2.2 Considerações em Relação a outros Smartphones Nos questionamentos acima, fizemos com que os usuários considerassem somente seus smartphones, no intuito de provocar uma reflexão dos entrevistados sobre a aparência, as formas e cores. Adiante, propusemos que eles considerassem todo o universo dos smartphones que eles conhecessem, e comparassem os celulares mais agradáveis a eles, em relação com os que eles possuem. Mais uma vez pedimos que dessem um número de satisfação, numa escala de 0 a10. Ao ser provocado, Cleyton Queiroz comentou: Eu acho que a diferença do meu para os outros esteticamente é bem pouca, por que a tendência do celular, hoje em dia, é de não ser muito visual (...) Ele é fino [entrevistador: é minimalista, não?] Minimalista, exatamente. Não tem cores, não tem botão (...) então, a diferença desse aqui para um Iphone é pouca coisa. (...) Olhando de um modo geral, né? Muda um botão ou outro (...) Mas todos são pretos, a tela de ponta-a-ponta (...) e um botão outro (...) E (...) Mas a diferença eu acho que é muito pouca. Mas eu acho que em relação aos outros, eles têm uns detalhes mais interessantes. Mas acho que posso colocar (a nota) 8 ou 7 (Informação verbal)40

Em sua resposta, Cleyton evidencia uma verdade bastante latente nos smartphones atual- mente, que o minimalismo se mostra como uma característica estética muito difundida e popular. Posto isso, podemos considerar essa afirmação como uma das provas de que a ressonância estética opera no mercado desses aparelhos, pois nem os usuários nem os fabricantes, em geral, buscam

40 Entrevista concedida em maio de 2017. 74

celulares com estilos rebuscados, ao contrário, cada vez mais os usuários e os fabricantes buscam celulares com menos detalhes. Evidenciando um “consenso” estético. A resposta de sua esposa Viviane foi relativamente diferente: O meu em relação aos outros está muito atrasado! Já evoluiu a tecnologia, em relação a ele. Então eu acho que ele está muito atrasado, em relação ao padrão que se têm hoje, acho que é uma nota: 3 (Informação verbal).41

Infelizmente a resposta de Viviane não trouxe muita consistência quanto ao assunto da es- tética de seu aparelho, porém evidencia a sensação da evolução dos smartphones, que se relacionam com o sentido da ressonância, como se os que são antigos, fossem “atrasados” no tempo, o que até certo ponto é verdade. Vejamos agora as respostas de Guilherme Paz sobre esse questionamento:

Olha, minha compra seria o: Moto Z Play. Ele é muito bonito. Mas ele tinha uma câmera, muito saliente aqui, isso pesou um pouquinho; junto com o preço tam- bém. Então, comparando o que eu iria comprar com o que eu comprei, eu prefiro o que eu comprei. Eu estou mais satisfeito, com o que eu comprei. Muito interes- sante aquela história do “Moto Snaps”42, né? Que você tem a possiblidade de aco- plar, “snaps” legais. Mas tirando isso, de estética, eu acho que esse aqui é mais bonito (Informação verbal)43.

Guilherme acabou por não informar sobre sua classificação de satisfação numa escala de 0 a 10, já Sabrina lembrou-se de dá-lo: Meu amigo, na verdade quem escolhe meus celulares é Guilherme, então um ce- lular que eu acho lindo, “top”, é o Iphone. Eu acho lindo o Iphone! (...) Dourado, “rosinha” (...). Agora eu não compro por que não quero gastar e eu sei [também] que “o povo” que compra o Iphone 7, quando “sai” o Iphone 8, quer o “8” (...) quando sai o Iphone 10, quer o “10”. E eu não tenho dinheiro para ficar entrando nessa modinha não. Então, em relação a nota desse [celular] que eu tenho para o de lá, a nota é: 5 (Informação verbal)44

41 Idem. 42 Sistema que acopla diferentes extensões aos smartphones, para realizar funções como câmera mais profissional, etc. 43 Entrevista concedida em maio de 2017. 44 Idem. 75

Em relação a esse questionamento Cláudia Amaral comenta: “Pra mim é meio difícil res- ponder essa pergunta, por que, assim: eu utilizo o celular mais o básico dele. O WhatsApp... ligar, receber. Para mim um celular é só um celular”. Por isso, tentamos perguntar mais diretamente sobre as formas, as cores e tamanho de seus smartphones. Cláudia Amaral, respondeu assim: “Não... para mim está ótimo o design dele”. Seu marido, respondeu: “Rapaz, para mim, 10. Nunca me deixou na mão, no que faço”. Porém, ao ouvir o último questionamento feito a Cláudia, sobre o que ela acha das formas, cores e tamanho de seu de seu smartphone, ele diz algo bastante inte- ressante: “O meu poderia ser melhor”, e continuou: “É, poderia ser maior. Mais fino. Mas com- pacto. A tela maior ”. Ao ser questionado sobre sua satisfação em relação a cor, Cláudia o interrompeu dizendo: “A questão da cor, é mais fácil, por que tem a capa, né? A cor da capa. É só mudar a capa”. Vemos que Cláudia tinha pouco ou nenhum interesse quanto a estética e questões de beleza em relação aos seus aparelhos, considerando somente os aspectos práticos, pelo menos quando se trata de smar- tphones.

76

Figura 42 - Painel semântico Bernadete Medeiros (Acervo pessoal).

Por último, Bernadete Medeiros, fez suas considerações sobre a comparação da estética de seu smartphone com a dos outros modelos, dizendo: “8. Eu tinha um [smartphone] que eu gostava mais, só que não era brasileiro, não era nacional. Era um HTC [o celular antigo dela]. Era um celular melhor, por que por exemplo: a resolução das fotos era melhor, ele era leve, “super funcional”, assim: pequenininho, mais potente ” 77

Apesar de dar uma nota, Bernadete Medeiros não demonstra através de sua resposta ter tido a estética como fator considerável, quando feita a comparação.

3.6.3 Considerações sobre as Entrevistas Afim de abrir um “espaço” para que os entrevistados pudessem comentar, tecendo consi- derações finais, sobre os assuntos tratados ou por outros assuntos que eles achassem relevantes, foi permitido que cada um pudesse falar algo ao durante, mas principalmente ao final da entrevista, tendo Viviane Queiroz tecido o seguinte comentário: Acho que muitas pessoas têm uma tendência de dizer assim: os celulares antigos são os melhores, pelo fato de que a bateria durava mais (...). Mas na minha per- cepção, não é uma verdade, por que não existia a tecnologia que você tem hoje (...) Muitas pessoas, nem tem computador mais, fazem tudo pelo celular. (...) Banco (...) Trabalho de faculdade, tem muita gente que até digita no celular (...) texto. Então eu não acho que isso “é” uma verdade [dizer que os celulares antigos sejam melhores]. A gente usava pouco, e hoje a gente usa muito! Então, por isso que se desgasta mais, né? (…) O aparelho (…) Tem pessoas que devem trocar de ano em ano o celular, por que acaba que a tecnologia vai avançando e o aparelho não vai avançando, então (...) Essa é minha opinião sobre, estética, celular (...) Que hoje com certeza tudo é melhor do que antes” (Informação verbal)45

Apesar de não tratar do assunto principal, Viviane comenta uma característica muito importante dos smartphones que é sua recente inserção e seu considerável impacto na sociedade atual. Quem também comentou esse aspecto foi Bernadete: Eu acho muito legal... desde os primeiros celulares, bastante pesados! Mas, foi uma coisa que facilitou muito minha vida, depois no tempo que eu morava sozi- nha, ele também me dava uma certa segurança. Por que se eu precisasse chamar alguém ou tivesse uma urgência, qualquer coisa... então, facilitava bem mais, tanto é que eu optei por não ter o fixo [telefone], eu não tenho fixo. Só tenho o celular, por que ele me acompanha; e como eu saía muito, tinha uma vida mais movimen- tada, mais agitada, do que eu tenho hoje (eu já sou aposentada hoje). Então eu me movimento menos, do que até uns cinco anos atrás. Então passava mais tempo

45 Entrevista concedida em maio de 2017. 78

fora, do que em casa. Então, ele [o celular] me acompanhava, mais do que se eu tivesse um físico. Então, um celular para mim, é essa mobilidade que ele tem; e me auxiliou muito!

Guilherme, por outro lado, teceu comentário sobre a estética, mas também sobre os preços: Sobre o celular, aqui no Brasil, nós compramos um celular muito caro, feio; e que não entrega (...). Armazenamento baixo, bateria ruim (...). Algumas marcas, que não são vendidas aqui no Brasil, como essa marca Hauweii, entrega 64gb de me- mória, por um preço que você compraria no máximo um de 32gb; mas nem isso, talvez um de 16gb, você compraria. Mas sempre conta um pouco a estética sim. Claro, existem outros celulares com um processamento tão bom, quanto esse, mas que não são tão bonitos quanto esse [o celular dele]. (...) mas acho que o que a gente pesa mais é questão de durabilidade, o uso, se é rápido [a velocidade de processamento]. A estética conta mais (...)

Por fim, consideramos que as entrevistas, apesar da falta de colaboração das empresas fabricantes de smartphones, foi bastante útil, e conseguiu-se comprovar – aquilo que já está provado em teoria – a ressonância estética na sociedade. Pudemos considerar que as pessoas muitas vezes, desprezam por completo, ou tem um interesse mínimo em relação a estética dos aparelhos; mas que apesar disso, utilizando-se do conceito chave do antagônico-harmônico da teoria da complexidade, nos é permitido compreender, que a sociedade é, antagonicamente, bastante envolvida e pautada na estética, mesmo que para elas se pareça um assunto pouco importante.

79

CONCLUSÃO

Façamos uma breve recapitulação de todo o trabalho, afim de que, mais salutarmente, formulemos a conclusão. Enquanto recapitulamos, iremos pontuando o que concluímos de cada etapa da pesquisa, dessa forma, essa conclusão servirá também como um resumo, a conclusão geral. Dessa forma, iniciamos a pesquisa a partir do pressuposto que os resultados nunca são extratos puros do objeto de pesquisa, tendo a influência do pesquisador e das condições na qual a pesquisa foi realizada. A hipótese levantada por esse trabalho é a que existe uma relação de mútua interferência (ressonância) entre a estética dos smartphones e a estética social, em outras palavras, o fenômeno da ressonância estética. Justificamos que não será possível afirmar com uma certeza absoluta a existência do dito fenômeno, mas, que poderíamos dar ao menos uma afirmação de sua existência, sem uma dúvida razoável. Entendemos que este trabalho é relevante já que boa parte de nossa sociedade possui, ou é amplamente impactada pela presença dos smartphones. Por isso, denunciaremos o fenômeno estudado, bem como formularemos diretrizes para sua compreensão e para uma aplicação prática da teoria da Complexidade para entendê-lo. Vimos durante o trabalho algumas características dos smartphones que são uma espécie de híbrido entre computador de mão e celulares. O sucesso dessa hibridização foi tanta que se chegou ao ponto dos celulares comuns, que faziam somente ligações telefônicas e outras funções básicas, passassem a oferecer várias funcionalidades que não estavam presentes nos antes, tornando-se uma preferência da grande maioria dos consumidores e uma necessidade. Vimos, também, que existe um impacto social presente na forma como os smartphones entram em nossas vidas, já que eles funcionam como pequenas janelas que dão uma visão de uma paisagem ampla, via redes socais, que representam nossa realidade. Essa paisagem entra em processo de ressonância, repercutindo a realidade, remodelando-a, criando no usuário numa nova identidade. Os conceitos apresentador por Sato (2011), focam na realidade presente nas interfaces e funções típicas dos smartphones e não no design (forma física) do aparelho. Porém não se pode negar que essas mudanças que tanto afetam a nossa sociedade, não tenham nenhuma repercussão estético-visual, mesmo porque, de acordo com a Complexidade, admitimos que todo o movimento no tempo e espaço é acompanhado de uma repercussão que de maneira direta ou indireta, atinge 80

todos nós. Vimos que de acordo com a própria definição da teia da Complexidade, que é impossível que um cosmo esteja de alguma forma desconectado de outro, por mais afastado que seja. Isso prova teoricamente que a ressonância estética existe, ou que pelo menos, que ela é teoricamente possível. Foi realizado uma análise diacrônica onde vimos os smartphones mais importantes, tanto em termos de tecnologia como em termos estéticos. Nesse quesito achamos uma recorrência bem interessante, a saber, que os celulares que foram os mais vendidos, acabaram sendo os mais minimalistas em termos visuais. Não podemos afirmar que o caráter minimalista, foi o responsável pelo sucesso de vendas, mas não é possível negar uma certa plausibilidade nessa hipótese, ainda mais quando confrontada com as entrevistas realizadas, que confirmaram que boa parte dos usuários preferem celulares minimalistas. Ao término da análise diacrônica, iniciamos uma parte teórica, exemplificando o pensamento sistêmico. Nele pudemos observar que o nosso mundo não é tão simples, a partir do Pensamento Complexo. Ao vermos a noção do repertório, fica claro a existência de um inconsciente coletivo, onde a sociedade guarda seus valores, experiências, memórias, etc. Porém, entendemos que esse não é um processo linear. Compreendidos então os conceitos por trás do pensamento sistêmico, observamos um pouco da prática da ressonância estética na sociedade. Vimos também que a sociedade é um organismo antagônico-harmônico, onde pessoas e culturas completamente diferentes e até hostis entre si, são tidas como um só corpo. Foi proposto realizar entrevistas com dois grupos em pontos extremos da sociedade de consumo – consumidores e empresas. Já que, como explicitamos, não conseguimos realizar as entrevistas com as empresas, partimos, portanto, para a realização das entrevistas com os usuários. Ao questionar alguns entrevistados sobre o processo de compra, percebemos que o processo de ressonância estética, não acontece somente na aquisição do aparelho, nem somente no pós-compra. Acontece, na verdade, em toda e qualquer vez que o usuário emite uma opinião estética (seja por palavras, gestos, ações, etc.) sobre determinado produto. Ou seja, quando uma pessoa diz, por exemplo, que um smartphone é mais bonito caso seja menos espesso (mais fino), isso acaba por reverberar naqueles que o ouvem, podendo criar um consenso. Deve-se pontuar que, esse exemplo é bastante simplista e não deve ser tomado ao sentido literal. Esse é somente um dos exemplos de que a ressonância estética, um fenômeno intrínseco de toda a manifestação estética, e indissociável da mesma. Em outras palavras, todo os objetos visíveis 81

emitem uma repercussão estética, a qual modifica em maior ou menor grau a vivência estética da sociedade. Apesar de muitos usuários não se preocuparem ou não demonstrarem uma preocupação em relação a estética de seus smartphones, vemos que isso não é prova contrária a ressonância estética. Podemos dizer que no geral, a pesquisa trouxe informações suficientes para compreender o fenômeno da ressonância estética. Para a conclusão final desse trabalho, no que tange as características observadas, do fenômeno estudado, podemos pontuar que a ressonância estética pode ser verificada no microcosmo dos smartphones, e dessa forma, podemos aplicar a todos (os microcosmos) os seguimentos de nossa sociedade. Entendemos também que o processo de ressonância acontece, esporadicamente e espontaneamente, já que esse processo é inconsciente e intrínseco a sociedade humana. Outra característica que podemos atribuir é que a ressonância estética é independente das ações humanas. Ou seja, não é necessário a intenção de qualquer agente participante para se provocar uma ressonância, pois esse processo acontece de forma natural, assim que um objeto ou uma verbalização do mesmo, passe a entrar em contato com nossa sociedade. Porém, ainda seria necessário muito estudo para afirmarmos categoricamente, as características desse fenômeno, já que a ressonância estética é um tema pouco estudado. Esse trabalho se propõem a fazer um “ensaio”, como explicitamos no subtítulo; que no nosso contexto, entende-se por ensaio, como uma abordagem superficial e teórica; Porém para não ficarmos somente em conceitos filosóficos das características intrínsecas do fenômeno, recomendamos uma utilização prática, ou seja, que fuja do campo teórico; direcionada aos profissionais responsáveis por qualquer etapa da produção e venda de smartphones, – em especial os designers - seja de forma direta ou indireta. Para que se atentem mais para a questão estética dos smartphones, principalmente quanto a pesquisa pós-compra, em relação a satisfação e principalmente as aspirações estéticas dos consumidores. Dessa forma, poderemos criar produtos que sejam mais competitivos no mercado e de melhor aceitação do mesmo. Aos designers, também, recomendamos que estudem o fenômeno da ressonância estética. Não somente na área dos smartphones, claro! Para que, uma vez estando conscientes desse conceito, produzam artefatos capazes de intencionalmente criar “ondulações” significativas no rico processo da relação sujeito e objeto, muitas vezes relegado ou mal compreendido, que é a ressonância estética. Para que dessa forma nos aproximemos do ideal explicitado por Vitruvius: “Firmitas et 82

Venustas et Utilitas”46.

46 Vitruvius (1960), em tradução literal significa: “Firmeza e Beleza e Utilidade”. Trata-se da tríade fundamental da arquitetura. Aplicada aqui para o design. (DZIURA, 2006) 83

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ANEXO A – ROTEIRO DA PESQUISA SEMIESTRUTURADA

Em relação aos usuários e seus smartphones 1. Qual o seu nome? 2. Qual sua idade? 3. Qual sua ocupação? 4. Você possui algum smartphone? 5. Qual a marca do seu celular? 6. Qual o modelo do seu smartphone?

Em Relação aos Smartphones e o Processo de Escolha 7. Como foi o processo de escolha do seu celular? 8. O que mais pesou nesse processo de compra?

Versando sobre Preferências Estéticas 9. Numa escala de 0 à 10. Qual sua satisfação em relação a estética do seu smartphone? 10. E comparando-os celulares presentes no mercado, diga numa escala de 0 à 10 qual seria sua satisfação em relação a estética do seu smartphone?

Considerações sobre as Entrevistas 11. Você teria alguma consideração final a fazer, mesmo que não tenha muita relação com aos questionamentos?