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Braz J Otorhinolaryngol. DOI: 10.5935/1808-8694.20130023 2013;79(1):122. Para citar este artigo, use o título em inglês CASE REPORT BJORL.org Tympanic membrane perforation caused by traumatic Perfuração timpânica causada por asfixia traumática Fernando Luiz Westphal1, Renato Telles de Sousa2, Luiz Carlos Nadaf de Lima3, Luís Carlos de Lima4, Márcia dos Santos da Silva5 Keywords: hearing loss; thoracic injuries; ; tympanic membrane perforation. Palavras-chave: perda auditiva; perfuração da membrana timpânica; traumatismos torácicos; zumbido. centros. Fatores como infecção secundária, tim- INTRODUÇÃO panoesclerose pré-existente, tamanho e local da perfuração são os principais prognósticos para O trauma de membrana timpânica (MT) cicatrização5. A correção cirúrgica é indicada pode ser causado por situações que geram apenas se a perfuração não fechar espontane- pressão excessiva na orelha média, queimaduras amente após 3-6 meses de acompanhamento. térmicas ou cáusticas, trauma direto por instru- Estudos indicam que as perfurações centrais, mentos penetrantes e . O aumento tal como observado neste paciente, apresentam da pressão a partir do meio externo sobre a Figura 1. A: Cianose em terço superior de tórax se estendendo para região cervicofacial. B: Hemorragia subconjuntival bilateral. índice de cicatrização espontânea em torno de orelha média é, de longe, o mecanismo mais 70%6. No trabalho apresentado, o paciente evo- comum nas lesões traumáticas de MT1. Neste auditiva do tipo condutiva de grau leve à esquer- luiu satisfatoriamente, com fechamento completo trabalho, apresentamos uma forma incomum da e limiares auditivos dentro dos padrões da da perfuração em 30 dias e sem perda auditiva de perfuração timpânica, causada pelo aumento normalidade à direita. Nova otoscopia realizada remanescente. excessivo da pressão venosa cervicofacial após 20 dias após o trauma evidenciou formação de trauma torácico agudo. neotímpano em locais de perfuração da MT bila- teralmente. Novo exame audiométrico realizado COMENTÁRIOS FINAIS APRESENTAÇÃO DO CASO 30 dias após o acidente apresentou limiares auditivos dentro dos padrões da normalidade A perfuração traumática de MT tem diversas etiologias e pode ocorrer de formas Paciente do sexo masculino, 31 anos, bilateralmente. pouco usuais, como no caso apresentado. Assim, vítima de compressão torácica aguda por braço ressaltamos a importância do acompanhamento mecânico, durante trabalho em indústria. No DISCUSSÃO otorrinolaringológico em pacientes vítimas de momento da compressão, apresentou perda da trauma torácico compressivo com desenvolvi- consciência momentânea, sendo encaminhado A asfixia traumática (AT), também cha- mento da síndrome de Morestin para se evitar à Unidade de Terapia Intensiva com queixa de mada máscara equimótica, síndrome de Morestin complicações tardias da perfuração da MT. dispneia, dor torácica intensa, otalgia e zumbido ou de Perthes, é uma condição rara caracterizada bilaterais. pela tríade cianose cervicofacial, hemorragia Exame Físico: máscara cianótica em toda subconjuntival e petéquias cervicofaciais2. Para REFERÊNCIAS a face, terço superior, região anterior e posterior que a síndrome ocorra, é necessário que haja do tórax (Figura 1A); otorragia e epistaxe bila- compressão torácica ou toracoabdominal logo 1. Afolabi OA, Aremu SK, Alabi BS, Segun-Busari S. Traumatic tympanic membrane perforation: an terais e hemorragia subconjuntival (Figura 1B). após uma inspiração profunda com a glote 3 aetiological profile. BMC Res Notes. 2009;2:232. Estado de consciência, frequências respiratória fechada . O aumento brusco na pressão intrato- 2. Gösling T, Schmidt U, Herzog T, Tscherne H. e cardíaca normais. Ausculta cardiopulmonar, rácica faz com que o sangue do lado direito do Perthes syndrome. The classical symptom triad as exame do abdômen e dos membros inferiores coração e grandes veias torácicas seja ejetado de a rarity in trauma surgery practice. Unfallchirurg. sem alterações. Otoscopia: perfuração de MT forma abrupta para a região cefálica, levando à 2001;104(2):191-4. bilateral, de localização central e com cerca estase sanguínea e ruptura de capilares. Dessa 3. Lee MC, Wong SS, Chu JJ, Chang JP, Lin PJ, Shieh de 25% da área timpânica em ambos os lados. forma, além dos sintomas clássicos, também MJ, et al. Traumatic asphyxia. Ann Thorac Surg. podem ocorrer graus variados de hemorragia 1991;51(1):86-8. Exames Complementares: ecocardiogra- 4. Esme H, Solak O, Yurumez Y, Ermis S, Yaman ma sem alterações; tomografia computadorizada em boca, nariz e ouvidos e, também, zumbido e M, Fidan F. Perthes syndrome associated with 4 de tórax revelou pequeno derrame pleural à perda auditiva temporária . No caso apresentado, bilateral optic disc edema. Can J Ophthalmol. esquerda e fratura de dois arcos costais. Dosa- a hipertensão venosa atingiu níveis suficiente- 2006;41(6):780-2. gem de CPK-MB de 2540 e troponina normal. mente elevados para induzir a ruptura da MT. O 5. Lou ZC, Tang YM, Yang J. A prospective study O exame audiométrico não estava disponível paciente queixava otalgia e zumbido, sintomas evaluating spontaneous healing of aetiology, durante a admissão. compatíveis com seu quadro clínico, porém, sem size and type-different groups of traumatic tym- hipoacusia associada. membrane perforation. Clin Otolaryngol. O paciente permaneceu internado na 2011;36(5):450-60. UTI por cinco dias e por mais seis em enfer- É de consenso que a maioria das perfu- 6. Bogar P, Sennes LU, Busch GHC, Marone SAM, maria. Evoluiu favoravelmente, com resolução rações traumáticas da MT cicatriza espontanea- Miriti A, Bento RF. Perfurações traumáticas de progressiva dos sintomas. Audiometria realizada mente e, por esse motivo, a conduta expectante membrana timpânica. Rev Bras Otorrinolaringol. no oitavo dia de internação identificou perda tem sido amplamente adotada pelos grandes 1993;59(4):276-8.

1 Pós-doutor em Cirurgia Torácica (Coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário Getúlio Vargas). 2 Mestre em Otorrinolaringologia (Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas). 3 Mestre em Otorrinolaringologia (Médico Assistencial do Hospital Universitário Getúlio Vargas). 4 Doutor em Cirurgia Cardíaca (Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas). 5 Residência Médica em Otorrinolaringologia (Médica Residente do 1º ano de Otorrinolaringologia). Hospital Universitário Getúlio Vargas. Endereço para correspondência: Fernando Luiz Westphal. Hospital Universitário Getúlio Vargas, Coordenação de Ensino e Pesquisa. Av. Aripuanã, nº 04, Praça 14 de Janeiro. Manaus - AM. Brasil. CEP: 69020-170. E-mail: [email protected] Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) do BJORL em 22 de fevereiro de 2012. cod. 9056. Artigo aceito em 7 de junho de 2012.

Brazilian Journal of Otorhinolaryngology 79 (1) January/February 2013 http://www.bjorl.org.br / e-mail: [email protected] 122