84 TEMAS E NOTÍCIAS DA CIDADANIA E DA IGUALDADE DE GÉNERO OUTUBRO 2010

« A REPÚBLICA, MINHAS SENHORAS, NÃO SENDO UMA FORMA DE GOVERNO NOVA, NEM PERFEITA – PORQUE NÃO HÁ NADA QUE EM ABSOLUTO O SEJA – É NO ENTANTO MAIS LÓGICA, MAIS COMPREENSÍVEL À NOSSA INTELIGÊNCIA E MAIS TOLERÁVEL À NOSSA RAZÃO, DANDO-NOS TAMBÉM MAIS GARANTIAS DE PROGRESSO. » ANA DE CASTRO OSÓRIO NA FUNDAÇÃO DA LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS

AS MULHERES E A REPÚBLICA JUNTOS POR UMA SOCIEDADE PARA TODOS CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 3 nesta edição tema de capa As Mulheres e a República

84 TEMAS E NOTÍCIAS DA CIDADANIA E DA IGUALDADE DE GÉNERO OUTUBRO 2010 a república revelou-se também uma aspiração feminina e contou com mulheres que se bateram pelos seus ideais antes e depois do 5 de outubro, associando o combate político às suas próprias reivindicações. pensaram, debateram, denunciaram, organizaram-se, actuaram, peticionaram, apresentaram soluções. estiveram na rua pela república, sem abdicarem 10 da obtenção de direitos para as mulheres portuguesas. Saudaram as ao comemorar o Centenário da

A REPÚBLICA, MINHAS “ SENHORAS, NÃO SENDO medidas do Governo provisório, rejubilaram com o simbolismo do república deve dar-se visibilidade UMA FORMA DE GOVERNO NOVA, NEM PERFEITA – PORQUE NÃO HÁ NADA QUE EM ABSOLUTO O SEJA – voto solitário de Carolina Beatriz Ângelo, emocionaram--se na abertura às feministas republicanas do Con- É NO ENTANTO MAIS LÓGICA, MAIS COMPREENSÍVEL À NOSSA INTELIGÊNCIA E MAIS TOLERÁVEL À da assembleia Nacional Constituinte, censuraram o oportunismo e selho Nacional das Mulheres por- NOSSA RAZÃO, DANDO-NOS TAMBÉM MAIS GARANTIAS DE PROGRESSO. refutaram as incursões monárquicas, denunciaram as ditaduras e foram ANA DE CASTRO ”OSÓRIO tuguesas. o CNMp tinha um pro- NA FUNDAÇÃO DA LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS solidárias com os presos e deportados políticos. reivindicaram-se como grama muito abrangente e queria cidadãs entre cidadãos, reclamaram o voto, a instrução, salário igual para federar as associações que se ocu- trabalho igual e a revisão do Código Civil. pam de «coordenar, dirigir e esti- mular todos os esforços tendentes na capa: composição gráfica incluindo um postal ilustrado da época (colecção particular) à dignificação e a emancipação das AS MULHERES E A REPÚBLICA reproduzido no catálogo percursos, Conquistas e derrotas das Mulheres na 1ª república mulheres».

4 28 editorial autarquias Sara Falcão Casaca igualdade na diversidade João Paiva e Rita Paulos propriedade e edição 5 30 COMISSÃO a CiG prossegue o esforço de com- Mensagem da Sei 29 bate à violência doméstica. dá-se PARA A CIDADANIA Elza Pais Casa eco Criativa notícia, nesta edição, do programa E IGUALDADE Joana Marteleira SEM Violência Familiar, dos resulta- DE GÉNERO 7 dos do concurso Pensar os Afectos, Homicídio Conjugal 30 Viver em Igualdade e da terapia ino- Elza Pais programa vadora disponível, na região Norte, direCTora SeM Violência Familiar para mulheres vítimas de violência na intimidade. SARA FALCÃO CASACA 8 Marta Silva Mulheres e água CoordeNação Sara Falcão Casaca 31 pensar os afectos, ANA BORGES 10 Viver em igualdade PAULA BRITO Mulheres e república Marta Silva João Esteves GraFiSMo 32 3 CORES 14 Terapia inovadora o Conselho Nacional para mulheres vítimas das Mulheres portuguesas de violência na intimidade iMpreSSão Anne Cova Susana Mota SIG 34 TiraGeM 19 33 assinalam-se progressos na repre- sentação das mulheres nos média. 4000 eXeMpLareS exposição: percursos, pobreza no feminino conquistas e derrotas o número de mulheres jornalistas depÓSiTo LeGaL Teresa Pinto 34 está a aumentar e as notícias fei- 87764/95 Notícias ainda tratam tas por mulheres tendem para um retrato mais equilibrado. aqui se iSSN 20 homens e mulheres dá conta das conclusões do Global 0871-3316 o levantar do véu de forma desigual Media Monitoring project. Ana Borges Maria João Silveirinha 22 36 a responsabilidade dos média Conselho Consultivo da CiG Clara Guerra Santos – Secção interministerial 23 Marinha portuguesa Mudança de sexo e de nome 38 Odete Maia Conselho Consultivo da CiG – Secção oNG 24 iLGa Consolidar dinâmicas apF 36 e lançar novas redes amnistia internacional o Conselho Consultivo da CiG é um Teresa Alvarez MdM órgão de apoio à tomada de deci- aV. da repÚBLiCa, 32 - 1.º 1050-093 LiSBoa rede são no âmbito do esforço nacional TeLeFoNe: 217 983 000 26 aJpaz pela igualdade e não discrimina- r. Ferreira BorGeS. 69 - 2.º C educação, Género e Cidadania Marp ção. integra uma Secção intermi- JUNTOS POR UMA SOCIEDADE 4050-253 porTo Teresa Pinto nisterial e uma Secção oNG. Neste TeLeFoNe: 222 074 370 número, um artigo sobre as mulhe- eMaiL: [email protected] 50 PARA TODOS res militares da Marinha portugue- UrL: www.cig.gov.pt 27 o modelo de duluth sa bem como balanços breves da desafiar a indiferença e a realidade portuguesa acção recente de sete oNG. Isabel Elias e Vitor Almeida Celina Manita 4 editorial CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Sara Falcão Casaca | Presidente da CIG

Recordar o papel das Mulheres no centenário da República

o ano em que o país co- ao voto incumbia apenas aos «chefes de família do sexo masculi- Nmemora o centenário da no» (1913). Assim se defraudavam as expectativas das mulheres implantação da República, este republicanas e a sua «legítima aspiração» de cidadania (mesmo número do Notícias procura no contexto das reivindicações mais moderadas). Como bem elu- prestar homenagem às Mulhe- cida o artigo de Anne Cova, as mulheres viriam a persistir na luta res que pugnaram pelos ideais pela igualdade efectiva de direitos, por uma sociedade republica- republicanos e neles confiaram na e democrática onde fossem reconhecidas como «cidadãs entre a conquista dos seus próprios cidadãos». direitos civis, políticos e so- ciais. Nas palavras aqui trazidas uas exposições procuram, em 2010, dar visibilidade a este pelo historiador João Esteves, Dpercurso. Recentemente, em Outubro, foi inaugurada a a República revelou-se também uma aspiração feminina, onde exposição Percursos, Conquistas e Derrotas das Mulheres na I se reivindicou o direito ao sufrágio e à cidadania, à instrução, República (Biblioteca do Museu República e Resistência), que ao salário igual para trabalho igual, à melhoria das condições aqui nos é apresentada pela respectiva Comissária, Teresa Pin- de vida, à protecção da maternidade e à revisão do código civil to. A norte, há a destacar a exposição Carolina Beatriz Ângelo, de 1867 (à luz do qual, por exemplo, a mulher casada estava Intersecções dos Sentidos, Palavras, Actos e Imagens, patente no obrigada a prestar obediência ao marido, não estando autoriza- Museu da Guarda. De notar ainda que, por todo o país, organi- da, sem o consentimento dele, a administrar, adquirir ou alienar zações não governamentais – e designadamente as organizações bens). Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz não governamentais que integram o conselho consultivo da CIG Ângelo e Maria Veleda [ordenação alfabética] são nomes que, e intervêm no domínio dos direitos das mulheres –, assim como embora longe de esgotar as vozes e as intervenções republicanas investigadores e investigadoras, peritos e peritas em igualdade de e feministas da primeira vaga, se destacam como referências in- género, têm evocado o contributo das Mulheres na I República, contornáveis de um período em que, individual e colectivamen- tanto do ponto de vista político como social, consagrando-o de- te, se reclamaram medidas para alterar a «situação deprimente» vidamente na nossa memória colectiva. (palavras de Carolina Beatriz Ângelo), de subalternidade, vivida De sublinhar, por fim, o papel da CCF/CIDM/CIG, aqui re- pelas portuguesas. É conhecido o seu papel enquanto fundadoras cordado por Ana Borges, de publicação de estudos sobre o tema, da mais influente organização feminista da época – a Liga Repu- além da notável recuperação de um passado feminino e femi- blicana das Mulheres Portuguesas (1909), pese embora as conse- nista, expresso num acervo bibliográfico (Núcleo Reservados) quentes divergências quanto a matérias como a abrangência do superior a duas mil obras, incluindo de mulheres republicanas. sufrágio ou o lugar da religião. Mulheres cujo nome aguardamos No resgate da memória de lutas passadas e das suas prota- em todos os compêndios e manuais que retratem este período da gonistas, compreendemos melhor as conquistas alcançadas, mas História. «A República é, pois, também um pouco obra nossa, a eleva-se também o sentido de responsabilidade perante os desa- nossa filha – não o esqueçamos. Por isso, o seu triunfo é o nosso fios do presente… triunfo, a sua alegria a nossa glória também» (Ana de Castro «Eis o motivo porque eu, como mulher e como feminista, Osório). aceito a política como arma de libertação e desejo que a mu- As leis do Divórcio e da Família, introduzidas em 1910, após lher, ao entrar nela, não vá para o campo mesquinho dos in- o triunfo da República, estabeleceram o princípio da liberdade teresses pessoais, mas para o largo horizonte das reformas so- e da igualdade entre os cônjuges (sociedade conjugal), tendo-se ciais.» (Discurso de Ana de Castro Osório na sessão fundadora concretizado a revisão do código civil e a supressão do princípio da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, 28/08/1908 do dever de obediência da mulher (embora se tivesse mantido a cit. in João Esteves, Mulheres e Republicanismo, 1908-1928 administração dos bens pelo marido). A I República não con- CIG, Colecção Fio de Ariana, 2008, pág. 68.) cedeu, porém, o sufrá- gio às mulheres, tendo mesmo, após o voto de Carolina Beatriz Ângelo (1911) – cujo estatuto se ajustava à Lei, por ser viúva e chefe de família –, cla- rificado que o direito CIGmensagem NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 5 Elza Pais | Secretária de Estado da Igualdade

A Igualdade neste milénio*

á precisamente quinze anos, 9. Direitos Humanos. Os direitos são efectivamente humanos se Hem 1995, realizou-se em Pe- igualmente considerados para homens e para mulheres. quim a IV Conferência Mundial 10. Meios de comunicação social. A falta de sensibilidade para as das Nações Unidas sobre as Mu- questões de género nos média é evidenciada pela profusa di- lheres, de onde resultaram a De- fusão de estereótipos baseados no sexo em televisões, rádios, claração e a Plataforma de Acção jornais e web. de Pequim. A Declaração, eminen- 11. Meio ambiente. As mulheres são cerca de 70% a 80% das víti- temente política, é um programa mas de catástrofes naturais, tendo pois um papel preponderante destinado ao empoderamento das no desenho e implementação de políticas de combate às altera- mulheres de todo o mundo e à ções climáticas e de protecção da biodiversidade. eliminação de obstáculos à parti- 12. Jovens raparigas. A discriminação e negligência de que são ob- cipação activa de mulheres em todas as esferas da vida pública e jecto as jovens raparigas durante a infância são o início de uma privada. Reafirma-se o princípio de que os direitos humanos das espiral descendente de privações e de exclusão social, podendo mulheres são parte inalienável, integral e indivisível dos direitos hu- perdurar toda a vida. manos, e que a igualdade entre homens e mulheres é uma condição • de justiça social e um requisito necessário e fundamental para a assados quinze anos, muitos foram os progressos em Portu- igualdade, o desenvolvimento e a paz. Pgal e no mundo, mas muito há ainda por fazer. Portugal tem Na Plataforma de Acção, doze áreas críticas foram então enun- pautado a sua acção pela implementação de Planos Nacionais ciadas, com o compromisso de Governos, comunidade internacio- para a Igualdade, Planos Nacionais Contra a Violência Domésti- nal e sociedade civil definirem acções estratégicas que permitissem ca, Planos Nacionais Contra o Tráfico de Seres Humanos, como a sua superação. grandes instrumentos de política nacional. Criou um eixo do Programa Operacional Potencial Humano – Quadro de Referên- 1. A pobreza. Cerca de 70% a 80% de mais de mil milhões de cia Estratégico Nacional – destinado exclusivamente à promo- pessoas em situação de pobreza são mulheres. ção da Igualdade de Género, com uma dotação de 83 milhões 2. Educação e formação. Mais de dois terços da população mun- de euros para o período 2007-2013. Aprovou a Lei da Paridade. dial analfabeta são mulheres. Reforçou os mecanismos de protecção das mulheres vítimas de 3. Saúde. A privatização dos sistemas de saúde, sem garantias ade- violência doméstica e punição dos agressores com a nova Lei quadas de acesso universal e em condições de igualdade, penali- de 2009. Aumentou a dotação financeira para os projectos de za gravemente as mulheres. empreendedorismo feminino. Desenvolveu políticas de coope- 4. Violência. A violência contra as mulheres viola, dificulta ou ração entre governo central e autarquias para a promoção da anula o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais igualdade a nível local. Ou seja, todo um caminho de combate à das mulheres, com consequentes custos sociais e económicos discriminação e afirmação da Igualdade. para as sociedades. Este caminho teve reconhecimento internacional, na recen- 5. Conflitos armados. Mulheres e crianças configuram cerca de te sessão do Conselho Económico e Social das Nações Unidas 80% das pessoas refugiadas e desalojadas em todo o mundo, (ECOSOC), em Julho, em Nova Iorque, onde foi apresentado devido a cenários de guerra. um relatório nacional voluntário sobre as políticas de igualda- 6. Economia. As mulheres estão praticamente ausentes da to- de nacionais e na área da cooperação para o desenvolvimento. mada de decisão económica, incluindo na formulação de po- Construir uma nova civilização, mais livre de discriminação, líticas financeiras, monetárias, comerciais, sistemas fiscais e mais amiga do ambiente, mais conciliada nos seus tempos e regimes salariais. Daqui decorre, entre outros, o actual «gap» vontades e mais promotora de igualdade de oportunidades, não salarial que se verifica entre homens e mulheres, em que estas é uma inevitabilidade. Todos ganham e ninguém perde. Os Di- últimas ganham, em média, no espaço da UE, cerca de 18% reitos só serão verdadeiramente Humanos, quando forem para menos que eles. todas as pessoas. 7. Poder e tomada de decisão. A participação das mulheres em Michelle Bachelet recentemente nomeada para a nova igualdade na tomada de decisão política qualifica a democracia agência das Nações Unidas, United Nations Women, vai dar e promove o desenvolvimento. um novo impulso ao dossier mundial da igualdade de género 8. Mecanismos institucionais para o progresso. Um pouco por e, como disse Ban Ki-moon, melhorar a vida de milhares de todo o mundo, estruturas como a Comissão para a Cidadania e mulheres em todo o mundo. Igualdade de Género têm-se revelado fundamentais no desenho e implementação de políticas públicas de igualdade. *Artigo publicado no Jornal «Público» em 19 de Setembro de 2010 6 CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010

Fórum de alto nível da ONU realça papel das mulheres na promoção do desenvolvimento mundial

reafirmando o papel vital das mulheres como agentes caba de ser lançada uma nova edição, revista e actua- de desenvolvimento, os ministros e chefes de delegação Alizada, do livro O Homicídio Conjugal em Portugal, que participaram no debate de alto nível da sessão de de Elza Pais. Trata-se de um estudo único no país, baseado fundo de 2010 do Conselho económico e Social (eCo- em trabalho de campo levado a cabo junto de um universo SoC) declararam que a igualdade de género, o empo- deramento das mulheres, o pleno gozo dos seus direitos representativo de pessoas condenadas por homicídio conju- humanos e a erradicação da pobreza são essenciais para gal ou relacionado com a conjugalidade. A análise dos da- o desenvolvimento económico e social, incluindo a rea- dos recolhidos permite reflexões surpreendentes: ao lado das lização de todos os objectivos de desenvolvimento do imagens contemporâneas da família Milénio (odM). o debate, iniciado a 28 de Junho, incluiu refúgio, lugar de intimidade, autentici- também o exame Ministerial anual, durante o qual seis dade, afectividade e privacidade, temos países em desenvolvimento (Brasil, Guatemala, Moldávia, indesmentíveis sinais de um reverso dra- Mongólia, Namíbia e república do Congo) e sete países desenvolvidos (austrália, França, países Baixos, Noruega, mático: mentira, opressão, subjugação, portugal, república da Coreia e estados Unidos) fizeram a família geradora de violência, quando intervenções voluntárias sobre acções destinadas a in- não de morte. Enquadrando a violência tegrar uma perspectiva de género em todos os sectores doméstica no quadro geral da violência, e a alcançar as metas internacionais relacionadas com a os dados revelam que a família é o local igualdade género e o empoderamento das mulheres. onde existe maior violência, mais do que os treze países focaram os progressos alcançados e actuais desafios, 15 anos depois da adopção da histórica em qualquer outro meio social. Vinte e plataforma de acção de pequim, mas cada um deles des- cinco por cento da criminalidade regis- tacou um aspecto específico. portugal, por exemplo, re- tada ocorre no seio da família, uma per- feriu a nomeação de uma Secretária de estado da igual- centagem que seria ainda maior se todos dade bem como a determinação do Governo em abordar os casos de violência que aí ocorrem fos- questões sensíveis como os direitos em matéria de saúde sem denunciados. sexual e reprodutiva e a cooperação para o desenvolvi- Nos dois prefácios do livro, Nelson mento orientada para questões de género, no seio da Comunidade de países de Língua portuguesa (CpLp). Lourenço, na primeira edição, e Laborinho elza pais, Secretária de estado para a igualdade, expli- Lúcio, na segunda, destacam a qualidade cou, na primeira parte da sua intervenção, que o relatório e actualidade desta investigação. «Este nacional descreve a acção levada a cabo pelo Governo é um trabalho sobre gente, tomada no português para pôr em prática as estratégias e políticas mais íntimo da sua complexidade e de desensolvimento nacional. enumerou as diversas da sua dimensão paradoxal», escreve prioridades da cooperação portuguesa para o desenvol- Laborinho Lúcio, acrescentando: «Mas vimento e os seus principais beneficiários, descreveu o quadro institucional criado e destacou os princípios de é também uma obra sobre os valores, coesão das políticas e de eficácia da ajuda, bem como a sobre o sentido das relações entre sujeitos importância da criação e consolidação de parcerias com portadores da dignidade humana, sobre o conjunto da sociedade civil. Salientou, em seguida, a responsabilidade social e política, que os planos nacionais visavam combater a violência sobre a importância dos direitos e do seu de género e outros tipos de violência contra a mulher, reconhecimento no outro, enfim, sobreo valor do outro.» Nelson um crime em portugal, bem como o tráfico de pessoas e apresentou um filme sobre algumas importantes cam- Lourenço, por seu lado, destaca as qualidades da investigação: panhas de sensibilização. Chamou a atenção para o pa- «Recorrendo a metodologias quantitativas e qualitativas, a pel da legislação sobre a participação das mulheres na autora criou as condições para um estudo que concilia a leitura vida política, desde o fim da ditadura, afirmando que as sociográfica do homicídio conjugal com o aprofundamento mulheres poderiam ajudar a tornar a democracia melhor. da análise da ruptura violenta da conjugalidade. Para além da informou que, dentre os 16 actuais ministros, cinco são anatomia do crime, ensaia-se a sua leitura compreensiva.» mulheres e acrescentou que o Governo estabelecera vá- Elza Pais tem uma carreira de investigação, académica e polí- rias quotas para garantir uma participação adequada das mulheres em cargos políticos. tica dedicada a temas fracturantes da vida social, como a reinser- ção social de delinquentes, a prevenção das toxicodependências, in Boletim do Centro de Informação Regional o combate à violência contra as mulheres, a promoção da igual- das Nações Unidas | UNRIC dade de género e a luta contra todas as formas de discriminação. É, desde Outubro de 2009, Secretária de Estado da Igualdade do XVIII Governo Constitucional. CIGlivros NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 7 Elza Pais

Homicídio conjugal em Portugal Rupturas violentas da conjugalidade

ais do que um livro, trata-se de um percurso. Dá-nos as quais não havia qualquer tipo de apoio privado ou públi- Mconta das contradições e dos paradoxos da vida, onde co, testemunha bem o contexto social do Ocidente até à II o amor, o ódio e a violência se misturam. Trata a vida de Guerra Mundial. O problema da violência conjugal faz par- Mulheres e Homens que ao tirarem a vida a outros, também te integrante da luta pela igualdade e pela emancipação, não ficaram com menos vida. Subtraíram em vez de somarem, e o somente porque os movimentos feministas o afirmaram, mas resultado desta equação é que ninguém ganha, todos perde- também porque a nossa sociedade privilegia a realização da ram. Ao destruírem o outro, também se destruíram. pessoa e a emancipação individual, sendo que aí a violência A literatura é talvez o espelho mais constituiu um obstáculo mortífero. persistentemente disponível para perce- bermos as contradições e subtilezas dos diferença dos sexos traduziu-se numa hierarquia que be- processos históricos de violência de gé- A neficiou os homens. Mas, no final dos anos 80, levan- nero. Apenas algumas referências que tou-se por todo o lado um clamor pelo chamado «direito à gostaria de aqui deixar. Virginia Woolf diferença» e pela «igualdade na diferença». É em Pequim, quis mostrar na sua obra de que forma a em 1995, na IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, dez sociedade patriarcal infligia às mulheres anos após o «decénio das mulheres», que as Nações unidas a maior de todas as violências e criava reafirmam a sua vontade de promover mais a igualdade en- barreiras à criatividade feminina. As mu- tre homens e mulheres sempre segundo os mesmos princípios: lheres eram educadas para a renúncia, igualdade, desenvolvimento e paz. As políticas em curso em o que se tornava num processo doentio Portugal beberam aqui a sua inspiração. de que as mulheres vitorianas são disso Mas, se este fenómeno universal da dominação masculi- exemplo. Mostrou de que forma o mode- na é cultural, logo pode ser modificado. Pois, tal como nos lo de desenvolvimento feminino é sempre últimos 35 anos as mulheres controlam a reprodução no oci- feito em termos de al ternativa e nunca dente, também faz sentido que comecem a controlar este tipo de complementaridade. de dominação. Neste estudo vê-se bem o empoderamento das A mulher viu-se sempre obrigada a mulheres nestes últimos 10/15 anos. Hoje, recorrem menos à sacrificar uma vida (privada), para poder violência para pôr fim à violência que lhes é infligida, procu- ter a outra (pública). Clarissa, em Mrs. rando soluções não violentas para a conflitualidade conjugal Dolloway, reconhece que o processo de que vivenciam. constituição da identidade feminina é doloroso e complexo, feito de inibições e aumento do homicídio conjugal por parte dos homens renúncias «pode afirmar-se que a femini- O alerta-nos para a necessidade de continuarmos a promo- lidade normal é algo de frágil e delicado ver uma cultura para a cidadania e para a igualdade, sobretu- que se constitui como o saldo positivo do junto dos mais jovens, onde se valorize o respeito pelo ou- de um somatório de perdas». Apesar dos tro, a partilha e a responsabilidade colectiva. Hoje, fala-se (e seus esforços como mãe, esposa e anfi- activistas homens defendem) numa nova masculinidade. Uma triã, Clarissa sente um enorme vazio. A redefinição dos poderes, de modo a que os homens (pessoas) resolução do conflito edipiano teve um preço muito alto, porque se permitam sentirem-se poderosos, sem por essa razão terem a obrigou a uma escolha entre dois afectos de sinal contrário, que ser sexistas. Ou, como diz Élizabeth Badinter, é impor- em que um continha em si a aprovação da sociedade, e o outro tante que aprendam a impotência e a fragilidade para serem era, por essa mesma sociedade, rejeitado como desviante. Não melhores pessoas. É este o desafio da modernidade: construir se tratava de uma escolha, mas de uma renúncia em nome das novas masculinidades. A democracia, sempre imperfeita, ga- convenções. A mulher em Virginia Woolf vive a violência da re- nha-se com pequenos passos. Tal como não existe uma única núncia para não sofrer a violência da condenação pública ou da feminilidade, também não existe uma masculinidade univer- loucura. A violência reside numa lógica que impedia o acesso da sal, mas múltiplas masculinidades, sendo nesta diversidade mulher à cultura e aos centros de poder. A violência contra as que se expressa a complexidade do real, e nela residem tam- mulheres, além de ser uma experiência limite e extrema, é tam- bém as potencialidades de mudança. bém o emblema da opressão que a sociedade patriarcal impôs durante séculos às mulheres. Excerto da intervenção da autora na sessão de lançamento do livro Compreender este fenómeno implica entrar na história em Lisboa, 2 de Junho de 2010, Livraria Ler Devagar para destruir o «mito». O sofrimento dessas vítimas, para In Boletim UNRIC 8 igualdade e desenvolvimento CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Sara Falcão Casaca*

Mulheres e água

escassez de água potável é um dos maiores problemas con- cursos, de entre outros riscos para a saúde e segurança pessoal. Atemporâneos. Estima-se que mais de 230 milhões de pessoas Muitas destas mulheres e raparigas permanecem em longas filas vivam hoje em países onde a privação de água é severa. Trata-se de espera; quando não conseguem a quantidade de água necessá- de uma carência que não afecta todas e todos de igual forma: ria, impõe-se a deslocação, de novo, para outro ou outros locais, a estratificação social é impiedosa; assim, quando a água potá- onde voltam a aguardar pela sua vez… Como pode facilmente vel é escassa, há sempre uma minoria que a consegue adquirir ser inferido, muitas ficam sem tempo para frequentar a escola, e saciar-se com os recursos de melhor qualidade. Dito de outro procurar e sustentar uma actividade remunerada, participar em modo, a privação cruza-se com as estruturas de dominação as- actividades culturais, políticas, onde possam ter voz e mudar as sentes na classe social, na religião, nas castas de pertença, na suas condições de vida… Também o valor económico (usual- idade e no género. mente não estimado…) deste trabalho é muito expressivo. Ci- É reconhecido o papel fundamental que as mulheres desem- tando o mesmo relatório, só na Índia as mulheres empregam 150 penham nos países em desenvolvimento. Como refere um relató- milhões de dias de trabalho anuais na recolha de água. É, pois, rio da UNICEF, de 2010 (Progress in Sanitation and Drinking- fundamental que uma perspectiva de género seja contemplada e water, WHO) naquelas famílias privadas de acesso à água integrada nas decisões relativas ao acesso e gestão de recursos potável, são as mulheres (em cerca de 2/3 dos agregados dos 45 naturais, designadamente os hídricos. países em desenvolvimento analisados) que se deslocam para a obter, frequentemente por trajectos demorados, não raras vezes roponho-me também abordar a relevância da integração da poucos seguros; são maioritariamente elas que percorrem exten- PIgualdade de Género nos programas de cooperação para o sos quilómetros, por longos períodos de tempo, para conseguir desenvolvimento. Esta dimensão constitui, aliás, uma das cin- água que possa ser consumida pelos membros da família – mes- co áreas estratégicas de intervenção contempladas no III Plano mo que, dentro desta esfera, a distribuição seja frequentemente Nacional para a Igualdade – Cidadania e Género, cuja execução assimétrica e as secundarize no proveito… incumbe à CIG coordenar. E merecerá a nossa atenção/preocu- Em 12% dos agregados são as crianças que se deslocam e pação em sede de elaboração de um novo PNI. Queremos apoiar carregam os recipientes de água (neste caso, a percentagem de a promoção de práticas de boa governação, o desenvolvimen- raparigas duplica a dos rapazes). São, portanto, essencialmente to sustentável e a educação para o desenvolvimento, com base as mulheres e as raparigas que recolhem cada litro de água, seja numa estratégia de mainstreaming de género e visando a concre- para cozinhar, tomar banho, atender aos cuidados de saúde e de tização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). higiene básicos, para dar de beber aos animais domésticos e/ou Como se sabe, assumindo que a desigualdade de género é um para regar vegetais e frutos indispensáveis ao consumo e sobre- travão à erradicação da pobreza, ao crescimento económico e vivência do agregado. ao desenvolvimento humano, o terceiro objectivo para o desen- Outro documento, da UNIFEM (UNFEM at Glance – Wo- volvimento do milénio (millennium development goal) é a pro- men and Water), dá-nos conta de que são percorridos, em média, moção da igualdade de género e o empoderamento/capacitação 10 a 15 quilómetros, requerendo o dispêndio de 8 ou mais horas das mulheres. Deste modo, até 2015, os estados-membros das por dia e equivalendo a cargas de 15 litros por viagem/desloca- Nações Unidas comprometem-se em concretizar este objectivo, ção. Os custos para a saúde física são elevados, causados desig- entre outros. Os valores de referência consagrados durante a nadamente pelo esforço físico e dispêndio calórico, pelo elevado Cimeira do Milénio foram fundamentalmente os da Igualdade, peso da carga, pela falta de condições sanitárias durante os per- Liberdade, Solidariedade e Respeito pelo Meio Ambiente. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 9

abemos que a pobreza atinge sobremaneira as mulheres e as venção e resolução de conflitos e a construção da paz (como é o Scrianças nestes países – e, também, que é um fenómeno com- caso da Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações plexo, multidimensional e que não se esgota na privação mate- Unidas, aprovada a 31 de Outubro de 2000), assim como na pro- rial. A prevalência da pobreza feminina nos países em desenvol- tecção e sustentabilidade ambiental. vimento requer que se atente na integração da perspectiva de Como firmado num dos relatórios do Banco Mundial, de género e no apoio a acções específicas, orientadas para mulheres 2002, «a igualdade de género é uma questão que se prende com e locais onde sejam mais vulneráveis. a efectividade do desenvolvimento, não apenas uma questão do A CIG está disponível para continuar a colaborar (e apro- que é politicamente correcto ou de bondade para com as mulhe- fundar a colaboração) em programas da cooperação portuguesa res». (CIDM, Colecção Bem-me-Quer, n.º 16:22.) que contemplem a perspectiva da Igualdade de Género. De resto, Sempre que a missão da cooperação portuguesa procurar acompanhamos de perto – e com grande interesse – as várias re- contribuir para o desenvolvimento económico e social, para a soluções emanadas de diferentes instâncias, designadamente das consolidação da paz, da segurança, da democracia participativa e Nações Unidas – que são fortemente inspiradoras e dinamizado- representativa, e dos direitos humanos, designadamente dos paí- ras de uma aliança para a cooperação - relativas à promoção da ses lusófonos, a CIG estará empenhada em aliar a promoção da mulher e direitos humanos, aos direitos das mulheres na esfera qualidade da cidadania, dos direitos das mulheres e a igualdade económica e laboral, na saúde, habitação, educação; relativas de género em geral. São estes também os pré-requisitos de um à situação das mulheres migrantes (e às dificuldades específicas mundo melhor, mais justo, solidário e inclusivo. com que se confrontam nos locais/países de acolhimento), ao Parabéns por esta iniciativa que nos desafia a reflectir e a tomar combate à violência contra as mulheres e ao tráfico de seres hu- posição sobre uma matéria tão fundamental, embora ainda pou- manos para fins de exploração laboral e sexual, à erradicação da co considerada nos espaços de discussão em que habitualmente mutilação genital feminina e dos casamentos forçados e precoces; nos movemos. no mesmo registo, contam-se as resoluções emanadas a respeito dos cuidados VIH/SIDA, dos crimes de honra cometidos contra *Presidente da CIG. as mulheres, em redor da libertação de mulheres e crianças reféns Intervenção no Seminário da UMAR Mulheres e Água, em contexto de países armados, do papel das mulheres na pre- 18 de Maio de 2010, FCG, Lisboa 10 tema de capa CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 João Esteves*

Mulheres e República

Na passagem do I Centenário O primeiro diz respeito a algo que, passadas tantas dé- 1 cadas, começa finalmente a ser uma evidência: a Repúbli- da implantação da República, ca revelou-se também uma aspiração feminina e contou com importa reflectir sobre alguns mulheres que, individual e colectivamente, ousaram bater-se pontos que a associaram à longa pelos seus ideais antes, durante e depois de Outubro de 1910, associando o combate político às suas próprias reivindicações. e inacabada caminhada das Ao longo de 20 anos, entre a fundação da Liga Republicana mulheres pela cidadania. das Mulheres Portuguesas (1908) e o Segundo Congresso Fe- minista e de Educação (1928), marcaram presença, fizeram a diferença e abriram caminhos ao futuro possível de outras mulheres: pensaram, debateram, denunciaram, organizaram- se, actuaram, peticionaram, apresentaram soluções. Estiveram na rua em nome da República, pela República e para celebrar a República, sem abdicarem da obtenção de direitos para si. Acreditaram que tal só era possível com a mudança de regime, saudaram as medidas do Governo Pro- visório, rejubilaram com o simbolismo do voto solitário de Carolina Beatriz Ângelo, emocionaram-se na abertura da As- sembleia Nacional Constituinte, censuraram o oportunismo dos «adesivos», refutaram as incursões monárquicas, denun- ciaram a Ditadura de Pimenta de Castro e o Sidonismo, re- cusaram a neutralidade, ampararam os soldados mobilizados durante o conflito mundial, organizaram Congressos e foram solidárias, sob a Ditadura Militar, com os presos e deportados políticos. Reivindicaram-se como cidadãs entre cidadãos, reclama- ram o voto, a instrução, salário igual para trabalho igual e a revisão do Código Civil. Preocuparam-se com a prostituição e a mendicidade infantil.

O segundo ponto envolve a celebração do Centenário. Pela 2 primeira vez assiste-se, nos múltiplos eventos realizados ou programados, fossem eles de carácter nacional ou local, oficial, académico, escolar, associativo ou informativo, envolvendo a edição de livros, blogosfera e imprensa escrita, rádios e canais televisivos, à preocupação (mesmo que superficial) da inclusão das mulheres enquanto intervenientes no contexto histórico des- se período. E até as tendências monárquicas as têm incluído em análises recentes. Aquelas começam – timidamente - a ocupar os seus lu- gares depois de abafadas durante décadas, suprimidas dos manuais escolares, excluídas de dicionários e obras de re- ferência, ignoradas na academia, arredadas de conferências, colóquios e congressos, emudecidas pelas sucessivas historio- grafias dominantes e para o qual muito contribuiu o silen- ciamento, incompreensões e deturpações a que, globalmente, a época da I República esteve sujeito durante gerações, por força da Ditadura Militar, que lhe pôs termo, e da glorifica- ção do Estado Novo. Este Centenário tem, pois, reforçado outros olhares sobre o passado revisitado, acompanhado de reflexões e redescober- tas do que não se queria ver por opções políticas, ideológicas, historiográficas, memorialistas ou misóginas. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 11

O terceiro ponto recoloca o papel interventivo da elite 3 feminina nos derradeiros anos da Monarquia. A discus- são, organização e mobilização das mulheres em torno dos seus direitos não se processou a reboque do republicanismo em crescendo, mas teve uma via própria e, inicialmente, au- tónoma, com recurso à palavra escrita na imprensa e à dina- mização, em 1906 e 1907, de agremiações feministas de cariz pacifista e maçónico. Assim, quando há 100 anos triunfou a República, já era uma realidade a participação política, associativa e cívica de escritoras, médicas, professoras, educadoras, jornalistas e domésticas que questionavam a submissão e menorização em que viviam as portuguesas, consubstanciadas no Código Civil e na expressiva taxa de analfabetismo (85,4%, em 1890, 85%, em 1900). Primeiro, em Maio de 1906, formalizou-se a Secção Fe- minista da Liga Portuguesa da Paz, em sessão presidida por Olga de Morais Sarmento da Silveira (1881-1948), escrito- ra monárquica, secretariada pelas médicas Emília Patacho (1870-1940) e Domitila de Carvalho (1871-1966): tratou-se, segundo a jornalista Virgínia Quaresma (1882-1973), Secre- tária da Direcção, do primeiro episódio público declarada- mente feminista e que marcou a passagem das palavras à in- O quarto ponto diz respeito à «republicanização» das tervenção colectiva organizada. Seis meses depois, Madeleine 4 mulheres, sendo que a conjuntura política vivida a partir do Frondoni Lacombe (1857-1936) foi indigitada para preparar, regicídio revelou-se determinante para que os líderes republica- em Portugal, um núcleo da associação francesa La Paix et le nos influenciassem os caminhos do(s) feminismo(s) português. Désarmement par les Femmes, dirigida por Sylvie Petiaux-Hu- O envolvimento de mulheres na esfera política sobressaiu nesse go Flammarion. Ambas albergaram responsáveis e associadas ano e coadunava-se com os esforços desenvolvidos pelo Partido comuns e reuniram, temporariamente, sob o mesmo tecto mo- Republicano de fazer triunfar a República. Maria Veleda, nas nárquicas, republicanas e maçónicas. Memórias, retrata essa caminhada durante a Monarquia, escla- O ano de 1907 assinalou a caminhada comum entre fe- recendo como se estabeleceu a conivência e aconteceu a partici- ministas e maçonaria, ao iniciarem-se, na Loja Humanidade pação em conferências, colaboração na imprensa, discursos em do Grande Oriente Lusitano Unido, Adelaide Cabete (Louise romagens e sessões, bem como o papel do PRP na formação da Michel), Ana de Castro Osório (Leonor da Fonseca Pimentel), LRMP (1908-1919), caucionada por António José de Almeida Carolina Beatriz Ângelo (Lígia) e Maria Veleda (Angústias). (1866-1929), Bernardino Machado (1851-1944) e Magalhães Durante duas décadas, líderes e dezenas de propagandistas fo- Lima (1850-1928) com o objectivo prioritário de engrossar a ram maçons e a importância histórica desta proximidade está propaganda. comprovada na missão secreta atribuída a Adelaide Cabete e Moldada pelas líderes do feminismo português da primeira Beatriz Ângelo pelo Grão-Mestre da Maçonaria, José de Cas- vaga – Adelaide Cabete (1867-1935), Ana de Castro Osório, Ca- tro, para a confecção «no prazo máximo de 48 horas» de 20 rolina Beatriz Ângelo (1878-1911), Maria Veleda (1871-1955), bandeiras «verde-rubras» a serem desfraldadas aquando da quarteto que já tinha colaborado no Grupo Português de Estu- revolução. dos Feministas – aglutinou as republicanas e sobressaiu durante Formar uma organização estritamente feminista era uma as- uma década como o mais forte e estruturado grupo de pressão piração desde o início do século XX e materializou-se com o apa- feminino, já que era a organização com mais associadas e nú- recimento, também em 1907, do Grupo Português de Estudos cleos locais e dispôs de imprensa própria e acesso privilegiado Feministas, liderado pela escritora Ana de Castro Osório (1872- aos órgãos de propaganda republicana. No entanto, ao acolher 1935): constituiu um marco ao incorporar o termo feminista no feministas republicanas, republicanas feministas, feministas su- nome e indiciar a preponderância das republicanas e maçónicas. fragistas, feministas anti-sufragistas, feministas anti-clericais, li- Entrincheirado entre o feminismo pacifista e a influência do re- vre-pensadoras e feministas que tentaram a via da independência publicanismo na elite feminista, as actividades esfumar-se-iam política e respeito por todas as crenças religiosas, sobreveio no em 1908, com a formação da Liga Republicana das Mulheres seu núcleo uma tensão latente entre as que se afirmavam essen- Portuguesas e o incómodo político dos vocábulos «feminismo» e cialmente como republicanas e a tendência mais feminista que «feminista», ainda em voga na imprensa da época. pugnava pela formulação de exigências específicas no âmbito dos 12 CIG NOT CIAS | 84 | OUTUBRO 2010 CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010

direitos civis e políticos. Este equilíbrio periclitante deu lugar a rupturas irreversíveis, esboçadas ainda no período que antecedeu a República, com Maria Veleda a contrapor a via da Revolução ao caminho da Evolução, dando eco às posições triunfantes no Congresso Republicano de Setúbal de Abril de 1909, e a pugnar por uma orientação anticlerical, enquanto Ana de Castro Osório evocava o exemplo da Revolução Francesa para alertar para o perigo de se confiar apenas na mudança de regime como solução para todos os problemas, assim como procurava atenuar os ex- cessos no questionar das convicções de cada uma. Depois de 5 de Outubro, e apesar da expansão das ideias e da combatividade quotidiana, a discórdia subsistiu centrada na questão religiosa e no sufragismo, legitimando a cisão que originou a Associação de Propaganda Feminista (1911-1918), sob a orientação de Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo. A proximidade geracional e ideológica entre as feministas e os republicanos, agora detentores do poder, fez com que aqueles Maria Veleda, Ana de Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo funcionassem, mesmo que de forma passiva, como agentes das suas causas, ao não se desmarcarem delas e proporcionarem-lhes espaço público. Presente nas representações (1910, 1911, 1912, 1915, 1918) e nos debates da legislação eleitoral, o voto das mulheres nunca se O quinto ponto incide na capacidade reivindicativa surgida chegou a resolver, negando-se solução favorável às pretensões, 5 com a República e que decaiu quando a Revolução perdeu por mais modestas que fossem. Não estava em causa o sufrágio o fulgor inicial. Entre 1910 e 1918, houve a formulação de rei- feminino universal, mas antes a outorga do voto a uma minoria, vindicações, umas vezes específicas, outras de natureza genéri- tendo por base a sua situação económica e cultural, o que pare- ca, aos poderes políticos institucionais e, facto então inédito, os cia viável atendendo a que poucas seriam abrangidas: invocava- governantes foram interpelados de forma sistemática sobre as se ainda que se tratava duma promessa do Partido Republicano principais questões que preocupavam as mulheres, optando mui- anterior a 1910, não sendo aceitável que não fosse minimamente tos por manifestar simpatia e compreensão. No próprio mês do cumprida ao envolver «uma minoria educada e consciente». triunfo da República, a 27 de Outubro, a LRMP entregou uma Em 1918, na única representação exclusivamente dedicada representação ao Governo Provisório contendo as principais rei- à problemática do sufrágio feminino, a Liga dirigiu-se a Sidónio vindicações: aprovação da Lei do Divórcio, considerada «a lei Pais (1872-1918), na qualidade de Presidente da República, as- mais urgente de quantas são pedidas pelos cidadãos portugue- sinalando que «a República velha depressa soube repudiar-nos, ses»; revisão do Código Civil, em vigor desde 1867, apresentado mantendo-nos numa situação de inferioridade que absoluta- como um símbolo da legitimação da sua inferioridade e subal- mente destoa dos mais rudimentares princípios da verdadeira, ternidade pois negava à mulher, sobretudo a casada, quaisquer legítima e progressiva democracia!» e lamentava que sucessivos direitos no âmbito da família e da sociedade; sufrágio feminino governos continuassem a negar «ainda hoje o direito de voto à restrito; direito de eleger e ser elegível para os cargos municipais; mulher portuguesa, com o propósito firme, mas incorrecto, de acesso à Assistência Pública e a outras profissões, devendo po- evitar que desassombradamente, mas patrioticamente, manifeste der concorrer em igualdade de circunstâncias com os homens; o seu desagrado, por tantos erros ou desvarios do facciosismo educação e instrução das mulheres e das crianças; combate à político!». Se houve reivindicação que provocou ilusões, desilu- prostituição e alcoolismo. sões, fracturas e controvérsias foi a do sufrágio feminino, provo- Aprovada a Lei do Divórcio e as Leis da Família em 1910, cando desgaste acumulado nas partes envolvidas. Paralelamente, da autoria de Afonso Costa, e revistos aspectos pontuais do reclamou-se o direito das mulheres poderem ser eleitas (1910, Código Civil, a discussão centrou-se nos direitos políticos e 1911, 1915), apontando-se as Juntas Paroquiais e as Câmaras os primeiros anos foram sobretudo marcados pelo feminismo Municipais como as instituições mais vocacionadas para o início sufragista: apesar da Tese Feminismo, discutida no Congresso do desempenho de funções, nomeadamente quando relacionadas Nacional do Livre Pensamento de Abril de 1908, contemplar o com a assistência e educação. voto, esta temática só despoletou com a revolução e aquele não Com o definhamento da LRMP e da APF, em 1918, o feminis- foi logo considerado prioritário, revelando-se fracturante dentro mo sufragista ficou representado pelo CNMP, que inscrevia entre do associativismo feminino, entre as feministas e entre estas e os as suas prioridades a reivindicação do voto feminino e manteve, republicanos, por abranger uma minoria e não colher consenso entre 1922 e 1935, uma Secção dedicada ao Sufrágio. A situação quanto à oportunidade. do professorado feminino, nomeadamente aquele que leccionava O sufragismo ganhou espaço nas petições da Liga Republi- nos Centros Republicanos e outras escolas do ensino livre, as cana das Mulheres, reforçou-se através da Associação de Propa- questões educativas e pedagógicas e o combate à prostituição ganda Feminista, ancorando-se nas posições de Ana de Castro legalizada, ao alcoolismo e à mendicidade infantil, para além da Osório e Carolina Beatriz Ângelo, para quem aquele passou a reivindicação de salário igual para trabalho igual, foram outros ser uma questão central no reconhecimento dos direitos das mu- assuntos discutidos com os sucessivos governos da República. lheres, e prolongou-se na actuação do Conselho Nacional das Apesar das diligências efectuadas e das afinidades políticas Mulheres Portuguesas, sem qualquer resultado para além do que uniam reclamantes e governantes, verificou-se, sistematica- voto inédito daquela médica nas eleições de 28 de Maio de 1911. mente, fraca receptividade às representações elaboradas, o que CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 CIG NOT CIAS | 84 | OUTUBRO 2010 13

uma coisa era a familiaridade e o afável relacionamento com a elite feminista, assumidamente republicana e maçónica, e outra a decisão de atribuir direitos, como o voto, a todas as mulheres. O receio de este vir a ser utilizado pelas forças que sempre se ti- nham oposto à República, assim como o medo da mudança que tal decisão implicaria, e que dificilmente seria controlada pelos republicanos, levou-os a adiarem eternamente esta sua promes- sa, fundamental para quem acreditava no sufrágio universal. Não se conseguiu o voto, mas consagrou-se o divórcio, a re- vogação de artigos que estipulavam que a mulher devia prestar obediência ao marido e que não podia publicar sem a sua auto- rização, a investigação da paternidade ilegítima; estabeleceu-se que o contrato de casamento era exclusivamente civil e deixava de ser perpétuo e a sociedade conjugal passava a basear-se nos princípios da liberdade e da igualdade; promoveu-se a instrução feminina e a coeducação; instituíram-se as Tutorias para meno- res. Além do mais, independentemente dos resultados imediatos, dos avanços e recuos, insucessos e dissabores, estas mulheres acreditaram em causas, algumas delas sendo ainda hoje válidas, terá contribuído para a dissociação entre os interesses feministas lutaram por direitos, insistindo na importância de se igualarem e os da República, acentuando o desgaste das débeis estruturas mulheres e homens na lei, divulgaram ideais e primaram pela democráticas do novo regime. No poder, os dirigentes republica- coerência, não enfileirando as hostes do regime ditatorial saído nos já não acolhiam com a mesma benevolência e camaradagem do 28 de Maio de 1926. a luta das mulheres, não lhe dando relevo nas decisões governa- mentais e parlamentares. Em síntese, nas primeiras três décadas do século XX, antes 8 e após a implantação da República, a discussão em torno do U m outro ponto, que não será desenvolvido, tem a ver com feminismo foi uma realidade, fez-se a denúncia das condições 6 o triunfo do feminismo apolítico e apartidário internacio- legais, sociais, políticas, económicas, educativas e morais em que nalista, representado pelo CNMP, e o surgimento de uma nova se encontravam as mulheres, merecedoras dos mesmos direitos geração de feministas durante a década de 20: a internacionali- e deveres de que beneficiavam a parte masculina da sociedade; zação e os dois Congressos Feministas e de Educação de 1924 e reivindicou-se a Lei do Divórcio, a revisão do Código Civil, o 1928 corresponderam a um novo fôlego, ainda que entretanto se sufrágio feminino, embora com cambiantes consoante quem o tenha esbatido a capacidade pública de debater o feminismo e a formulava, a enfermagem e ensino laicos, a independência eco- de influenciar a governação. nómica mediante o acesso das mulheres a diversas profissões, Numa interpretação muito própria, dir-se-ia que a República a igualdade dos salários, o direito à instrução e educação fe- conteve duas gerações distintas de feministas: a primeira, que mininas, a abolição da prostituição, o combate à mendicidade a antecedeu, lutou pelo seu triunfo, foi pioneira na militância, infantil, a protecção da maternidade, uma só moral para ambos associativismo e reivindicações, esteve muito próxima do poder os sexos; e internacionalizou-se o combate, com a adesão as duas político republicano, chegando a influenciá-lo, e manteve-se ac- grandes federações internacionais femininas. tiva até meados da década de dez; a segunda, composta sobre- Mergulhar nesse período e evocar as várias líderes que co- tudo por jovens licenciadas nascidas no dealbar do século XX, existiram, não obstante divergências e incompatibilidades, e determinou uma ruptura com os feminismos pacifista e republi- a militância de muitas centenas de activistas distribuídas por cano e correspondeu à afirmação de feministas mais empenhadas agremiações distintas é prestar-lhes o tributo há muito devido na valorização e reconhecimento profissionais, em detrimento e pressentir o quotidiano, percurso, aspirações, vitórias e re- duma militância exclusivamente política. No entanto, em ambos veses de cada uma e de todas em tempos adversos à afirmação os casos, esteve subjacente a matriz do ideário republicano e foi feminina, numa caminhada actual e sempre inacabada pela nesse quadro que se moveram durante décadas. igualdade. Frequentemente contornados ou subvalorizados, os direitos tão duramente reivindicados e conquistados ao Por último, importa equacionar como ficaram as mulheres, longo do século XX não podem ser dados como adquiridos 7 entre o sonho e a realidade política da I República. A Repú- ou irreversíveis, como a realidade tem demonstrado ao evi- blica, enquanto regime, nunca foi questionada, tanto mais que denciar o desfasamento que persiste entre o espírito das leis e tinham contribuído para o seu triunfo, embora não se entendesse as práticas e vivências quotidianas. porque é que ela não soube, ou não quis, cumprir algumas das Sem a intervenção activa das mulheres, de onde sobressai um suas promessas. Na Representação ao Governo e ao Parlamen- núcleo burguês, urbano e letrado formado durante a Monarquia, to Português, datada de Julho de 1915, a APF assinalava que a Revolução e a República não seriam as mesmas, mesmo que os «a propaganda republicana deve muito às mulheres feministas seus dirigentes não tenham sabido corresponder aos seus anseios porque ganhou, não pouco, moralmente, com essa voz que se e utopias. Cem anos após a sua proclamação, não é mais possível erguia em nome duma enorme multidão de sacrificadas, a clamar estudá-la sem incorporar o debate feminista, assim como é ne- contra um regime que se fechou no egoísmo da sua própria de- cessário enquadrar as suas organizações no republicanismo em fesa», e esperava da República, «que é o regime da igualdade», ascensão e triunfante. um comportamento bem diferente da Monarquia liberal. Só que * professor e historiador 14 mulheres e república CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Anne Cova*

O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914-1947)

Ao comemorar o Centenário da República é fundamental dar visibilidade às feministas republicanas que pertenciam ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas

ascido em Lisboa em 1914 e encerrado pelo Estado Novo Nem 1947, o CNMP foi a mais duradoura associação de mulheres em Portugal. Um terço (os doze primeiros anos) da existência do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP) é passado num regime republicano, enquanto os dois terços seguintes (vinte e um anos) o são numa ditadura militar (1926-1933) e sob o Estado Novo que se inicia em 1933. O período de ouro do CNMP acontece nos anos vinte, com a organização de dois congressos feministas (1924 e 1928) sob a longa presidência de Adelaide Cabete, de 1914 a 1935. É precisamente este período republicano que nos interessa evo- car rapidamente, dando a ênfase sobre a génese do CNMP que era uma federação feminista.

UMA FEdERAçãO FEMINIStA

objectivo do CNMP era o de federar as associações de mu- Olheres em Portugal, tendo como efeito a heterogeneidade resultante dos grupos que aderiram. O CNMP tinha um progra- ma muito abrangente de forma a suscitar o máximo de adesões e queria federar as associações «que se ocupam da mulher e da criança» e de «coordenar, dirigir e estimular todos os esforços * Anne Cova é investigadora tendentes à dignificação e a emancipação das mulheres». O Con- no Instituto de Ciências Sociais selho português no seu início reagrupava vinte associações e no da Universidade de Lisboa seu apogeu contava aproximadamente 1500 sócias. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 15

teiras nacionais e dava força e legitimidade ao Conselho. Nas reuniões quinquenais do ICW, que tinham lugar em cidades e países diferentes, existiam: em 1904, em Berlim 16 Conselhos; em 1909, em Toronto, 19 Conselhos; em 1914, em Roma, 23 Conselhos. Antes do deflagrar da Segunda Guerra Mundial eram filiados no ICW 36 Conselhos. O ICW conseguiu reagrupar um número importante de Conselhos totalizando, em 1907, cinco milhões de mulheres e, em 1925, trinta e seis milhões. Estes nú- meros são provenientes dos próprios Conselhos e devem estar inflacionados, mas não deixam de mostrar a capacidade de mo- bilização das mulheres à escala mundial. Um factor determinante na génese do CNMP residiu nas re- lações pessoais que existiam entre várias mulheres o que pro- porcionou a formação de redes que inauguram a constituição do Conselho. As numerosas viagens efectuadas pelas dirigentes do ICW, para estabelecimento de novos contactos, bem como os seus Congressos, serviam de catalisadores para a fundação de novos Conselhos.

oi a partir do modelo francês do Conseil National des Fem- Fmes Françaises (CNFF) fundado em Paris em 1901 que se criou o CNMP: a proposta veio da francesa Ghénia Avril de Sainte-Croix (1855-1939), secretária-geral do CNFF que estava em contacto com as portuguesas Adelaide Cabete e Maria Clara Correia Alves, e concretizou-se na quinquagésima assembleia do ICW em Roma, em 1914. A importância do papel desempenha- do por Ghénia Avril de Sainte-Croix na fundação do CNMP é referida várias vezes pelo Conselho português, sendo aprovada A questão da dupla militância era comum às dirigentes do como sócia honorária numa assembleia-geral em 1920, por ela Conselho. É elucidativo que quando Adelaide Cabete (1867- ter auxiliado eficazmente a organização do CNMP. Era conside- 1935) ficou presidente do CNMP em 1914, já tinha uma expe- rada pelas portuguesas como sendo a «madrinha» do Conselho riência de militante feminista: fazia parte do Grupo Português português. de Estudos Feministas criado em 1907 por Maria Veleda (1871- A estreita relação entre o CNMP e o CNFF, bem como a 1955); tinha participado, em 1909, com Ana de Castro Osório proeminência do francês como língua da elite culta portuguesa, (1872-1935) e Fausta Pinto da Gama (?-1909), na criação da tiveram como resultado que os editoriais do boletim do CNMP Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP), movimen- escritos por Maria Clara Correia Alves fossem redigidos em to ligado ao partido republicano, que apoiou a queda da monar- francês, de 1914 a 1916. De 1922 até 1940, o ICW publicou o quia constitucional; e tinha fundado, em 1911, com Carolina seu boletim em francês, inglês ou alemão. Os relatórios do ICW Beatriz Ângelo (1877-1911), a Associação Portuguesa de Propa- passaram, a partir de 1904, a ser editados nestas três línguas ganda Feminista liderada por Ana de Castro Osório. consoante as oradoras e cinco anos mais tarde tornaram-se Várias feministas pertenciam à LRMP e ao CNMP: Maria Clara Correia Alves (1869-1948), Adelaide Cabete, Angélica Porto, Maria Veleda, etc.

GéNESE dO CNMP

CNMP emergiu sob o impulso de uma organização inter- Foi a partir do modelo francês Onacional americana, o International Council of Women do Conseil National des Femmes (ICW) que nasceu em Washington, em 1888, com o objectivo Françaises, fundado em Paris em de «stimulate the sentiment of internationalism among women 1901, que se criou o CNMP. A proposta veio da francesa Ghénia throughout the world» a fim de tentar construir uma identida- Avril de Sainte-Croix (1855-1939), de colectiva das mulheres. Filiar-se no ICW significava para o sócia honorária e considerada CNMP pertencer a um movimento que ultrapassava as fron- «madrinha» do CNMP. 16 CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010

Um ponto fundamental dos estatutos do CNMP e dos seus homólogos era que os Conselhos se afirmavam apolíticos e neutros. Os estatutos do CNMP aprovados em Abril de 1914, definiam-no como «uma instituição feminina, não se subor- dinando a nenhuma escola ou facção filosófica, política ou religiosa». A estrutura dos Conselhos, decalcada sobre o ICW, era hie- rarquizada, composta por um Conselho Administrativo, uma Direcção, uma Assembleia Geral e um Conselho Fiscal, tota- Fundadoras do International Council of Women (ICW) em Washington, lizando no caso português, ao longo dos anos, uma centena em 1888. O CNMP emergiu sob o impulso desta organização de origem de mulheres. Do ponto de vista financeiro, em conformidade norte-americana, que numa linha internacionalista visava construir uma com o ICW, os Conselhos viviam do pagamento das quotas identidade colectiva das mulheres a nível mundial. e de doações, o que dificultava as suas existências. Alias, o próprio ICW não conseguia obter o pagamento das cotizações línguas oficiais nos estatutos. As dirigentes dos Conselhos e do por parte de cada Conselho, dos quais, em 1934, apenas vinte ICW tinham consciência da importância da língua como elo de dos trinta e quatro filiados tinham a situação regularizada. Já comunicação: por exemplo, o facto da presidente do ICW en- nos anos vinte, o CNMP é considerado pelo ICW como sendo tre 1899 e 1904, a americana May Wright Sewall (1844-1920) demasiado pobre para pagar mais do que a cotização. A fim falar francês facilitou o estabelecimento de contactos com o de aumentar as suas receitas, o CNMP pedia apoio financeiro CNFF. Esta consciência da relevância da língua tornou-se tão ao Governo português para as suas deslocações ao estrangeiro, aguda que houve nos Conselhos e no ICW várias tentativas de mas sem grande sucesso e a aproximação com o poder político criação de cursos de esperanto. O CNMP criou também para nos anos vinte acaba com o golpe militar, de 28 de Maio de as suas sócias cursos de francês e inglês. 1926. Assim, no Segundo Congresso Feminista e de Educação Os congressos do ICW serviam de catalisadores para che- organizado pelo CNMP, em 1928, não houve nenhum repre- gar à criação dos Conselhos. O papel crucial dos congressos sentante do poder político. Essas dificuldades financeiras, par- como motor para a criação de Conselhos reflectiu-se igual- tilhadas pelos Conselhos, tinham como consequência que as mente na fundação do CNMP, que se concretizou na altura de sedes dos Conselhos ficavam em casa ou no lugar de trabalho um dos congressos do ICW e que contou com mais de 3000 das suas presidentes. Lady Aberdeen fazia regularmente doa- participantes, em Roma, em Maio de 1914. Nessa altura, a ções de modo a sustentar os Conselhos, empenho pessoal que Francesa Ghénia Avril de Sainte-Croix deu conta de uma carta permitiu a sua sobrevivência ao longo dos anos. da Portuguesa Maria Clara Correia Alves onde vinha escrito que o Conselho tinha recebido luz verde do Ministro de Estado Português, podendo assim filiar-se no ICW. UM FEMINISMO REFORMIStA As dirigentes do CNMP eram todas maçónicas, republica- nas e pertenciam a uma elite urbana. Uma característica par- s Conselhos praticavam a táctica dos pequenos avanços e tilhada pelos vários Conselhos e pelo ICW é a longa duração Oprocuravam apoios no meio político – sem preocupação da do leadership das presidentes. Adelaide Cabete manteve-se à cor política – a fim de tentarem influenciar a legislação e com frente da presidência do CNMP durante mais de vinte anos, a consciência de que a sua margem de manobra era limitada até ao seu falecimento, em 1935. Estas figuras carismáticas devido ao facto de as mulheres não terem direito de voto. Os ajudaram a identificar cada um dos Conselhos com as suas Conselhos queriam pedir reformas que achavam razoáveis. Esta dirigentes, à semelhança do ICW, cuja presidente, a marquesa estratégia reformista mostra o pragmatismo e a vontade de al- escocesa Ishbel of Aberdeen and Temair, conhecida por Lady cançar reformas. Para as obter, os Conselhos actuavam através Aberdeen, manteve a liderança praticamente sem interrupção de várias Secções, à semelhança das do ICW, mostrando quais durante mais de quarenta anos. eram as prioridades. Uma outra figura destacada do Conselho português era Sem mencionar todas as Secções – trinta ao longo da exis- Maria Clara Correia Alves que acumulava as funções de se- tência do CNMP – convém referir que nos anos vinte, mais cretária-geral do CNMP e directora-gerente do seu boletim, especificamente, em 1922, 1923, 1927 e 1929, foram os anos conseguindo publicá-lo, mensalmente, entre 1917 e 1919. Era em que houve mais Secções a funcionar em simultâneo: tre- também uma das sócias fundadoras do CNMP e ficou conheci- ze ao mesmo tempo. Para ilustrar as prioridades do Conselho da por estabelecer a ligação com o «feminismo internacional». podemos reagrupar as Secções em dois grupos: aquelas que A acumulação de vários cargos no seio dos Conselhos era prá- perduraram mais de vinte anos (Higiene, Paz e Educação, Pro- tica corrente bem como a subida na hierarquia, passando de paganda) e aquelas que duraram mais de dez anos (Arte, As- vice-presidente a presidente: Sara Beirão (1884-1974) e Isabel sistência Social, Beneficência, Emigração, Finanças, Imprensa, Cohen Von Bonhorst, de secretária-geral a vice-presidente: Eli- Legislação, Moral, Sufrágio). Dentro destas Secções, à excep- na Guimarães (1904-1991) e Maria Clara Correia Alves. No ção das de Propaganda e de Beneficência, que foram criadas CNFF, a presidente de 1922 à 1932, foi Ghénia Avril de Sainte- em 1917, todas as outras acima referidas foram fundadas nos Croix que antes foi secretária-geral. A portuguesa Adelaide anos vinte. As pessoas mais activas nestas Secções foram Elina Cabete foi várias vezes directora-gerente da revista do Conse- Guimarães, que se destacava, seguida de Angélica Porto e de lho, Alma feminina e escreveu mais de quarenta artigos dedica- Adelaide Cabete. dos sobretudo à saúde das mulheres, evocando nomeadamente Não foi um acaso que o Primeiro e Segundo Congressos os «flagelos» da tuberculose, do alcoolismo e da prostituição. organizados pelo CNMP em 1924 e 1928 intitulavam-se Con- CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 17

gressos Feministas e de Educação. Este tema da educação era Sem entrar em pormenores sobre o período a seguir a Re- o verdadeiro cavalo de batalha das feministas em vários pa- pública, convém referir que na segunda metade dos anos trinta íses. Os Conselhos organizavam conferências educativas — (1936-1941), Sara Beirão ficou à frente do Conselho, seguido nomeadamente a Secção da Educação do CNMP — como do último período dos anos quarenta com as presidências de meio de propaganda e de promoção da ideia de que as mu- Isabel Cohen Von Bonhorst (1942-1944) e de lheres deviam ter acesso à educação. Em Portugal, a taxa de (1945-1947). É de notar em 1928, num contexto ditatorial, o analfabetismo era alta (75% em 1911) e mais elevada entre as discurso progressista de algumas temáticas como a de co-edu- mulheres (56,8%). cação, do voto das mulheres e das reivindicações feministas em Outro tema considerado muito importante pelos Conse- geral. O tema da co-educação tinha já mobilizado o CNMP, lhos era a obtenção do voto para as mulheres, pedida através em 1927, quando, através da sua secretária-geral, Elina Gui- da Secção do Sufrágio. Nessa perspectiva, a reivindicação do marães, tinha enviado ao Ministro da Instrução uma represen- direito de voto era contemplada como um meio para aceder tação contra a supressão da co-educação no ensino primário. a outros direitos, nomeadamente o direito à educação. Sobre Nos anos vinte, o Conselho português conseguiu manter as esta questão do voto das mulheres, Adelaide Cabete e Maria suas ligações internacionais, participando nos congressos do Clara Correia Alves em 1920, num encontro do ICW, men- ICW e continuou a publicar o seu órgão de propaganda apesar cionam o voto de Carolina Beatriz Ângelo, em 1911, que teve da censura. um impacto internacional, quando ela, invocando a sua con- Durante os anos quarenta, o Conselho português alarga-se dição de viúva com crianças e consequentemente de chefe de consideravelmente. Maria Lamas é eleita presidente em 1945 e família, conseguiu votar, mas lamentando não se tratar de um triunfo porque de facto este «lapso» foi rapidamente alterado pelos republicanos. As relações entre as feministas e os repu- blicanos eram complicadas: apesar da insistência das feminis- tas do CNMP as mulheres não obtiveram o direito de voto mas congratularam-se com a promulgação das leis de família e divórcio (1910). O início dos anos vinte é promissor para o CNMP. No rela- tório que apresenta num congresso do ICW em Washington, em 1925, sobre os anos 1920-1925, Adelaide Cabete começa por referir que o Conselho retomou com grande actividade a propa- ganda das reivindicações feministas e salienta os bons resultados obtidos junto ao público dentro dos quais a criação das Ligas de Bondade, de uma biblioteca feminista, conferências contra o alcoolismo e uma proposta de alteração ao Código Civil de 1867 permitindo a mulher casada gerir os seus bens, e acaba o seu relatório dedicando muito espaço ao Congresso Feminis- ta e da Educação de 1924. Este entusiasmo era temperado pelo facto de, segundo Adelaide Cabete e Maria Clara Correia Al- ves, o associativismo das mulheres não estar muito desenvolvi- do em Portugal, como referem num relatório ao ICW sobre as actividades do Conselho no período 1914-1920. As queixas do CNMP sobre a falta de interesse das mulheres portuguesas na vida associativa são recorrentes. Aliás, o tom do outro relatório de Adelaide Cabete ao ICW sobre o período 1925-1926, refere que a actividade do CNMP durante este período não foi muito grande e fecunda. Menciona o regime militar sob o qual o país se encontra, que voltou a autorizar as touradas em Portugal apesar dos esforços das feministas para lutar contra elas. Várias vezes no período entre as duas guerras o Conselho protestou contra as touradas: em 1927 e em 1933 nomeadamente. Sara Beirão, a pe- dido da Liga Nacional de Defesa dos Animais, proferiu em 1936 e 1938, duas conferências sobre esta temática. A protecção dos animais era um tema unificador nos discursos feministas ao nível internacional. O ICW em Toronto (1909) e em Roma (1914) pronunciou-se contra a destruição dos pássaros. Uma outra característica partilhada pelos Conselhos decor- re da ruptura verificada durante a Primeira Guerra Mundial, quando a maioria das feministas decide dar prioridade ao es- forço de guerra e pede às mulheres que sirvam os seus países. A ênfase era posta nos deveres das mulheres. Consequentemente a obtenção de direitos é colocada de lado e a comunicação entre os Conselhos diminuiu. Adelaide Cabete 18 CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010

lança no ano seguinte, a campanha das cinco sócias a fim de aumentar o seu número (cada sócia devia tentar conseguir cinco novas sócias). Porém, esse recrudescer de actividades depressa é bloqueado, na medida em que, na sequência de uma exposição internacional de livros escritos por mulheres organizada pelo Conselho em 1947, na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa, o Governo decide dissolver essa Associação argumentan- do que os seus objectivos são vagos e que entra em competição com as organizações estatais. Artigos nos jornais associavam o feminismo ao comunismo. Na realidade, a razão da dissolução tem a ver com a nova conjuntura política pós-guerra, caracteri- zada pela derrota do fascismo na Europa e pela emergência de uma mais forte oposição legal e clandestina ao Estado Novo. Uma parte das mulheres do CNMP apareceram publicamente a apoiar as candidaturas da oposição democrática — Maria La- mas assina em 1945 as listas do MUD — sofrendo posteriormen- te o rescaldo repressivo.

EM JEItO dE CONClUSãO

CNMP conseguiu manter as suas actividades ao longo de Omais de três décadas, marcadas por regimes políticos di- ferentes: a República, uma Ditadura Militar e o Estado Novo. Durante a República, as relações entre as feministas do Conselho e os republicanos foram complicadas tendo em conta que as mu- lheres não obtiveram o direito de voto, mas foi promulgada uma legislação que agradou ao CNMP com as leis de família e sobre o direito ao divórcio. A longevidade do CNMP tornou-se possível graças nomea- damente ao empenho de várias mulheres que mereciam ser inclu- ídas nos manuais de História contemporânea e cujas biografias Maria Lamas é eleita presidente do CNMP em 1945. Mas logo dois anos seriam importantes escrever para o desenvolvimento da História passados, na sequência de uma exposição internacional de livros escritos das Mulheres bem como da História tout court. por mulheres, o Governo decide dissolver a Associação.

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Percursos, Conquistas e derrotas das Mulheres na I República

naugurou no dia 2 de Outubro, na e aos investigadoras/es Ilda Abreu, Isabel

REPÚBLICA Lousada, João Esteves, Maria do Céu I Biblioteca Museu República e Resis- a tência (Espaço Cidade Universitária), a Borrêcho e Maria Emília Stone (Faces exposição Percursos, Conquistas e Derro- de Eva), e ainda a Maria Lúcia de Brito tas das Mulheres na I República, integra- Moura (CEHR – Universidade Católi- da nas Comemorações Centenário da Re- ca), Natividade Monteiro (Faces de Eva pública da Câmara Municipal de Lisboa. e CEMRI), Paulo Guinote, Teresa Pinto Esta iniciativa, resultante de uma parceria E DERROTAS CONQUISTAS PERCURSOS, MULHERES NA 1. DAS - Ciclo de Conferências Exposição (CEMRI) e Zília Osório de Castro (Faces entre a BMRR e o Centro de Investigação de Eva). Faces de Eva (CesNova – UNL), pretende sublinhar, junto de um público alargado, iversas foram as entidades e indivi- o papel das mulheres na história. Ddualidades que contribuíram com a A I República foi preparada e con- cedência de imagens para a exposição e cretizada com a participação activa de o catálogo: António Ventura, Arquivo de centenas de mulheres e foi vivida no História Social do ICS da Universidade de quotidiano por mais de três milhões de Lisboa, Arquivo Fotográfico da CML, Ar- portuguesas (mais de metade da popula- Mário Ventura pelo Doutor cedida Postal), (Bilhete 1921 Gameiro, de Roque Aguarela quivo Histórico Parlamentar da Assem-

grupo de trabalho comemorações comemorações municipais municipais centenário centenário ção coeva). Perfilhassem ou não os ideais república república bleia da República, Arquivo Municipal republicanos, elas expressaram opiniões, nha. A Exposição, organizada por João de Santiago do Cacém, Arquivo Nacional grupo de trabalho grupo de trabalho comemorações comemorações municipais municipais centenário centenário sustentaram causas, encabeçaram inicia- Mário Mascarenhasrepública república (BMRR), Nativi- da Torre do Tombo, Biblioteca Museu tivas, romperam barreiras... Tomassem dade Monteiro (Faces de Eva e CEMRI República Resistência, Comissão para a grupo de trabalho grupo de trabalho comemorações comemorações municipais municipais centenário centenário maior ou menor consciência dos direitos – Universidade repúblicaAberta)república e Teresa Pinto Cidadania e a Igualdade de Género, Fun- alcançados ou das reivindicações goradas, (CEMRI), Comissária da mesma, contou, dação Maria Ulrich, João Madeira, Ma- elas produziram, alimentaram, cuida- tal como o catálogo, com a Consultoria riana Cardoso Lopes Viegas, Museu da ram... Enfim, os seus percursos marcaram Científica de João Esteves (Faces de Eva). Presidência da República, Museu Nacio- as trajectórias do país. José Ruy foi o consultor artístico. nal do Teatro e os elementos da equipa Ao conferir visibilidade a aspectos Como refere João Esteves, no texto «Vi- autoral. Um núcleo de exposição biblio- da integração das mulheres nas diversas vências na I República», José Ruy «res- gráfica e um Ciclo de Conferências, que dinâmicas da vida política, social, econó- taurou pacientemente muitas das imagens decorre entre 9 de Outubro e 4 de Dezem- mica e cultural do período da Primeira e fotografias desfiguradas pelo tempo e bro, completam esta iniciativa. O Ciclo de República, esta dupla iniciativa procurou que figuram na Exposição e neste Catá- Conferências, em processo de acreditação desconstruir uma memória social e colec- logo, como que dando uma nova vida às para a formação de docentes pela APH, tiva que tem relegado as mulheres para personagens de há Cem Anos»3. Colabo- permitirá debater e aprofundar alguns te- lugares de silêncio.1 Jacques Le Goff, em raram, por parte da BMRR, Cecília Gon- mas da exposição e introduz temas novos inícios dos anos 1980, já sublinhara no çalves e Catarina Santos. com a participação de outras investigado- seu livro Reflexões sobre a História que o Os textos e as propostas de imagens ras (ver programa). estudo dos silêncios da história constituía que ilustram e elucidam os diversos temas Esta exposição, ela própria um «um dos contributos mais interessantes a da exposição e do catálogo – «Caminhan- lugar de memória, não podia deixar de trazer à epistemologia da história»2. Este do pela República... (1908)», «Na Revo- ser selectiva, criando outros efeitos de enunciado assume particular pertinência lução... 5 Outubro 1910», «Feminismo, luz e de sombra. Ao sublinhar o papel para a história das mulheres, pois os fe- Feminismos e Sufragismo», «Imprensa», das mulheres espera-se contribuir para nómenos de esquecimento, de exclusão «Intelectuais», «Resistências Monárqui- ressignificar o conhecimento sobre o ou de silêncio subestimam as mulheres cas», «Resistências Católicas», «Interven- período republicano. enquanto sujeitos e agentes históricos. ção Feminina Republicana na I Guerra», Um projecto de investigação sobre o «Mulheres e Educação», «República e 1 Michelle Perrot, Les Femmes ou les Silences de l’Histoire, Paris, Flammarion, 1998 mesmo tema, coordenado por Zília Osó- Coeducação», «Mulheres e Mundo do 2 Jacques Le Goff, Reflexões sobre a História, Lisboa, rio de Castro (Faces de Eva), proporcio- Trabalho», «Teatro», «Outras expressões Ed. 70, s/d, p. 98 nou as pesquisas que sustentaram o con- artísticas», «Moda e práticas de lazer», 3 João Esteves, Vivências na 1.ª República, in Teresa Pinto (coord.) et. al., Percursos, conquistas e derrotas teúdo dos 28 painéis da exposição e do «Marginalidades» e «Congressos Femi- das mulheres na 1ª. República, Lisboa, BMRR/CML- catálogo de 150 páginas que a acompa- nistas da década de 1920» – devem-se às GTCMCR, 2010, p. 29 20 divisão de documentação e informação CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Ana Borges

O levantar do véu

Quando a República chegou a Portugal já as médicas e fe- Muito do envolvimento feminino no 5 de Outubro de 1910 1 ministas Adelaide Cabete (1867-1935) e Carolina Beatriz 3precede o próprio movimento republicano. Parte desta ade- Ângelo (1877-1911) tinham pronta a bandeira «verde-rubra» são estará ancorada numa tomada de consciência da situação em anunciadora da sua chegada. Incumbidas, pelo Grão-Mestre que se encontravam as mulheres que foi emergindo nas últimas da Maçonaria, de executarem a urgente tarefa (num total de 20 décadas do século XIX. Vozes masculinas e femininas, individu- bandeiras) depreende-se que estas duas mulheres, também elas almente ou, por ora, em pequenos grupos, defendiam um novo maçons e republicanas, estavam a par das movimentações revo- ideal de afirmação das mulheres, reclamando a sua valorização lucionárias em curso. Acreditavam, tal como outras, que o ad- pessoal e a sua participação social. Os contributos escritos dei- vento da República traria às suas vidas significativas mudanças xados por Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Alice Pestana, jurídicas, económicas, sociais e culturais, e lutaram empenhadas Maria Veleda, Albertina Paraíso, Virginia Quaresma, Ana de para a sua concretização. Castro Osório entre muitas outras são prova de que um novo Mas não foram as únicas neste envolvimento politico femini- caminho para as mulheres estava em marcha. É assim que no no, com diferentes dimensões, muitas outras participaram sendo início de 1900, já mais audaz e consistente, a voz das mulheres que estiveram activamente envolvidas «mais de três milhões de se faz ouvir ao falarem das suas próprias vidas. Denunciam a portuguesas (mais de metade da população coeva)» como é re- situação de inferioridade legal, social, cultural em que se encon- ferido no texto precedente da investigadora Teresa Pinto. Quer travam, agravada por uma grande fragilidade económica já que defendessem os ideais republicanos ou não, as mulheres expres- tinham de viver na total dependência do pai, em solteiras, ou do saram o seu sentir e participaram com dinamismo na mudança marido, quando casadas. Para alteração deste desgraçado pano- politica que agora se comemora. rama defendia-se o acesso das mulheres à educação e neste as- pecto conservadoras, feministas e não feministas, republicanas, Corria o início dos anos 80, do século passado, a, então, monárquicas, todas estavam de acordo, já que grande parte da 2 Comissão da Condição Feminina (CCF) criou o Núcleo população feminina nacional era analfabeta (na ordem dos Reservados, na dependência do seu Centro de Documentação. 80%). Só assim as mulheres ficariam habilitadas a assumir Se na génese da CCF (institucionalizada apenas em 1977) está os diferentes papéis que cada corrente ideológica defendia a ambição de dar visibilidade ao valor efectivo que as mulhe- para o desempenho feminino. Sobretudo as que abraça- res representavam no desenvolvimento do país, incorporava vam o ideário feminista sabiam que só através de ins- igualmente o desejo de que as suas iniciativas (e a sua mensa- trução as mulheres conseguiriam sair da menoridade gem) atingissem o máximo de públicos-alvo. Afigurou-se ur- em que viviam, expressa no Código Civil, e lutar em gente, entre muitas outras necessidades, reunir material docu- consciência pelos seus direitos. O movimento repu- mental contemporâneo, nacional e internacional, que, por um blicano acalentou nas mulheres que estas conquistas lado, serviria internamente os Serviços e, por outro, serviria seriam realizáveis e que o desejo de uma vida mais dig- igualmente a quem estivesse interessado/a em trabalhar, aca- na para a população feminina seria alcançado. demicamente e não só, o tema. Revestido deste afogo o Centro de Documentação foi cons- A frequência com que eram solicitadas, no Centro tituído logo em 1975; manteve durante décadas a originalidade 4de Documentação, as onze pequenas notas biográ- solitária da especialização temática. A par do que se produzia no ficas, em que a maior parte daquelas mulheres tinha, país e no estrangeiro na produtiva década de 70, esteve igual- justamente, vivido a implantação da República, fez mente presente a importância de mergulhar no passado e recu- com que a Colecção Ditos & Escritos, que ainda hoje perar as obras que falavam especificamente sobre a mulher (essa existe, se iniciasse com a sua reedição. Estava-se em entidade imaterial), e/ou sobre as mulheres (estas bastante mais 1991. Porém, em 1991 já o acervo do Núcleo Reser- reais e quase desconhecidas). vados tinha ultrapassado aquele conjunto de mulheres As visitas a alfarrabistas passaram a figurar no quotidiano (entre muitas outras) que tinha contribuído para o pro- da CCF. Recuperar a memória das portuguesas que lutaram cesso de emancipação das portuguesas. por uma vida mais digna, muitas delas passando pela via da Esta característica de voz autónoma chega-nos emancipação permitiu que fossem publicados no Boletim da de diferentes formas, não só por iniciativas CCF nos anos de 1979 a 1981 artigos biográficos de: Antó- individuais (textos, discursos, livros), mas nia Gertrudes Pusich (1805-1883), Guiomar Torrezão (1844- também o recurso à imprensa; a constituição 1898), Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), Caiël, de associações. Guiomar Torrezão (1844- pseudónimo de Alice Pestana (1860-1929), Adelaide Cabete 1898), entre outras, colaborou nos (1867-1935), Ana de Castro Osório (1872-1935), Virgínia de periódicos A Evolução, «Revista Castro e Almeida (1874-1945), Emília de Sousa Costa (1877- de Sciencias, Litteraturas e Artes» 1959), Carolina Beatriz Ângelo (1877-1911), Branca de Gon- (1877?)*, A Ilustração Portuguesa ta Colaço (1880-1945) e Regina Quintanilha (1893-1967), (1883-1884), e A Mulher, iniciativa pioneira no Portugal de então. «Revista ilustrada das CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 21

AlGUMAS AUtORAS REPUBlICANAS NOS RESERVAdOS

famílias» (1883-1885)*, entre muitíssimos outros. Considerada adeLaide de Jesus damas Brazão e CaBeTe (1867-1935): A a primeira portuguesa que transformou a escrita na sua profissão, protecção às mulheres grávidas pobres como meio de promover era, por isso, financeiramente autónoma e deseja que todas as o desenvolvimento physico de novas gerações, Lisboa, portuguesas o fossem. Tipographia Mattos Moreira e pinheiro, 1900. dissertação Na participação associativa algumas agremiações chegaram inaugural apresentada e difundida perante a escola Médico- -Cirúrgica de Lisboa. a ter números elevados de associadas, nomeadamente a Liga Re- publicana das Mulheres Portuguesas (1908-1919) que chegou a aNa de Castro oSÓrio (1872–1935): A capela de rosas, Lisboa, parceria antónio Maria pereira, [s.d.]; Novas histórias registar mais de mil sócias; outras chegaram a ter os seus pró- maravilhosas (recolhidas da tradição oral por ana de C. prios órgãos como é exemplo da Associação de Propaganda Fe- osório), porto, Livraria Latina editora, 1943; Contos, fábulas, minista (1911-1918) que publicou dois importantes periódicos facécias e exemplos da tradição popular portuguesa (recolhidos feministas: A Mulher Portuguesa (1912-1913) e A Semeadora e tratados por a.C.o.), Lisboa, Sociedade de expansão Cultural, (1915-1918)*. Deste modo, quando a República triunfa é acla- [s.n.]; Últimas histórias maravilhosas da tradição popular mada não só pelas duas médicas, mas também por outras mé- portuguesa (recolhidas e contadas por a.C.o., desenhos de Álvaro duarte de almeida), Lisboa, Sociedade de expansão dicas, farmacêuticas, escritoras, jornalistas, educadoras, profes- Cultural, [s.d.]; Histórias maravilhosas da tradição popular soras, modistas, proprietárias e muitas outras que não tinham, portuguesa (recolhidas e contadas por a.C.o.) Lisboa, ainda, profissão mas que já tinham participação cívica, política e Sociedade de expansão Cultural, [s.d.]; Garrett no Pantheon: 3 associativa e que naquele dia convictamente acreditaram que as de Maio de 1903, Lisboa, imprensa de Libanio da Silva, 1903; As suas vidas iriam mudar. boas crianças, Setúbal, imp. de Libanio da Silva, 1905; Infelizes: O enriquecimento na recuperação de um passado histórias vividas, Lisboa, emp. Litteraria Lisbonense, 1898; em feminino nunca se quedou ao longo destas três dé- tempo de guerra: aos homens e às mulheres de um país, Lisboa, Ventura, 1918; A educação cívica da mulher: conferência feita cadas de existência da CCF/CIDM/CIG. Actual- no Centro Dr. Affonso Costa, Lisboa, Typographia Liberty, mente o acervo bibliográfico existente no Nú- 1908; Uma lição da história: aprovada para leituras e prémios cleo Reservados é superior a duas mil obras, escolares pelo Conselho Superior de instrução pública do Estado no qual as mulheres republicanas constam de Minas Gerais, Setúbal, Livraria editora para as Crianças, desde o primeiro momento. 1909; a verdadeira mãe, porto: Civilização, 1925; O direito da mãe, porto, Civilização, 1925; A boa mãe: livro de prémios * faz parte do acervo do escolares, Setúbal, Liv. ed. para as crianças, 1908; Histórias Núcleo Reservados/Centro contadas, Lisboa, Lusitania, [19--]; Auto do trabalho ou o de Documentação da CIG. passado e o futuro, [S.l.: s.n., s.d.]; Ambições, Lisboa: Guimarães Libanio, 1903; A mulher na agricultura, nas indústrias regionaes e na administração municipal (discurso), Lisboa, Casa editora para as crianças, [1915]; A mulher no casamento e no divórcio, Lisboa, Guimarães editores, 1911; Às mulheres portuguesas, Lisboa, Livraria editora Viúva Tavares Cardoso, 1905; Histórias maravilhosas da tradição popular portuguesa, Lisboa, Soc. de expansão Cultural, [193-]; A grande aliança: a minha propaganda no Brasil (conferências), [Lisboa: Lusitania, 1924]; A influência da mãe na raça portuguesa, Lisboa, Liberty, 1916; A mulher heróica (conferência), [Lisboa: Comissão auxiliadora, 1916]; As operárias das fábricas de Setúbal e a greve (resposta de a.C.o. ao «Germinal»), Setúbal, o radical, 1911; A minha pátria, Setúbal: Livraria editora para as Crianças, 1906. aLiCe augusta pereira de Melo Maulaz Moniz ModerNo (1867– 1946): Trillos: 1886-1887, ponta delgada, [s.n.], 1888; O Dr. Luiz Sandoval, ponta delgada, Minerva, 1892; Trêvos, angra do Heroismo, andrade, 1930. Maria Clara Correia aLVeS (1869–1948) Féminisme toujours et encore, Lisboa, Manuel Lucas Torres, [1913?]. Sara Vasconcelos Carvalho Beirão (1884–1974): Surpresa bendita, porto, porto editora [19--]; Sozinha, porto, porto editora [19--]; Prometida, porto, porto editora, [19--]; Serões da Beira, [S.i.: s.n. ] 1929; Scenas portuguesas, porto, Simões Lopes, domingos Barreira, 1930; O Raúl contos (ilustrações Carlos Carneiro), porto, Livraria Simões Lopes, domingos Barreira, 1934; os fidalgos da Tôrre, porto, Livraria Simões Lopes, 1936- 1973; Amores no campo, porto, domingos Barreira (porto, Livraria Simões Lopes), 1931-1940; O solar da Boa Vista, porto, porto editora, 1974 (reedição). 22 divisão técnico-jurídica CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Clara Guerra Santos

A responsabilidade dos média e da publicidade na promoção da igualdade de género e da cidadania

responsabilidade dos agentes da comunicação social e da do artigo 26.º da Constituição da República portuguesa reconhece Apublicidade na promoção da igualdade de género e de cida- que a «todos são reconhecidos os direitos […] à protecção legal dania. Recentemente têm chegado à Comissão para a Cidadania contra quaisquer formas de discriminação». e Igualdade de Género (de ora em diante, CIG) diversas denún- No que respeita à publicidade discriminatória, importa sa- cias referentes a anúncios publicitários que têm sido difundidos lientar que o Código da Publicidade, aprovado pelo Decreto-Lei na comunicação social, bem como queixas relacionadas com o 330/90, de 23 de Outubro, na sua redacção actual, dispõe no conteúdo de artigos de imprensa, por revestirem um carácter dis- seu artigo 7.º que é «proibida a publicidade que, pela sua for- criminatório e desprestigiante para as mulheres, em virtude de re- ma, objecto ou fim, ofenda os valores, princípios e instituições presentarem a mulher de forma estereotipada, designadamente, fundamentais constitucionalmente consagrados». De acordo com enquanto mero objecto sexual. o Código da Publicidade, cabe à Direcção-Geral do Consumidor Sem enumerar as peças publicitárias que têm sido objecto de instruir o devido processo de contra-ordenação. queixa, tenho a certeza que já veio à memória do/a leitor/a alguns Por outro lado, a Lei da Imprensa, aprovada pela Lei 2/99, anúncios publicitários cujo conteúdo considera discriminatório. de 13 de Janeiro, na sua redacção actual, dispõe no seu artigo 3.º Para quem entenda que essa realidade não existe, creio que precisa que a liberdade de imprensa está limitada pela Constituição e pela estar um pouco mais atento à publicidade que tem circulado nos lei. A não existência (na Lei da Imprensa) de um preceito seme- nossos meios de comunicação social lhante ao previsto no artigo 7.º do Código da Publicidade pode De referir que a CIG tem como missão garantir a execução das ser explicada com a existência de um princípio constitucional de políticas públicas no âmbito da cidadania e da promoção e defesa liberdade de imprensa, plasmado no artigo 38.º da CRP. Contudo, da igualdade de género. Assim, no âmbito das suas atribuições essa liberdade, não pode obstar a que não sejam respeitados os recebe queixas relativas a situações de discriminação com base no princípios e limites legais do ordenamento jurídico português no Género, podendo para tal emitir pareceres e recomendações junto exercício das actividades de comunicação social. das autoridades competentes ou das entidades envolvidas, nos ter- No que concerne às queixas relativas à imprensa, é à Entida- mos do disposto no n.º 2 do artigo 2.º do Decreto-Lei 164/2007, de Reguladora para a Comunicação Social (ERC) que incumbe de 3 de Maio. a supervisão de todas as entidades que, sob a jurisdição do Esta- Importa mencionar ainda que uma das metas do III Plano do português, prossigam actividades de comunicação social, bem Nacional para a Igualdade, Cidadania e Género, aprovado pela como a instrução dos consequentes processos de contra-ordena- Resolução do Conselho de Ministros 82/2007, de 22 de Junho, ção, com vista a fazer respeitar os princípios e limites legais no consiste na sensibilização dos profissionais da comunicação so- exercício das actividades de comunicação social, de acordo com o cial e da publicidade para a sua responsabilidade na promoção da previsto nos artigos 39.º da Constituição da República Portuguesa igualdade de género e da cidadania. e nos artigos 6.º a 8.º do Estatuto da ERC, na sua redacção actual. Com efeito a comunicação social e todos os seus agentes, pelo Cabe a cada um/a de nós – e não apenas aos/às profissionais impacto da sua influência, podem ser agentes indirectos de mu- da comunicação social e da publicidade – estar atento/a e repudiar dança e de promoção de uma cultura baseada na igualdade de toda a forma de publicidade e imprensa discriminatória, recorren- género. Assim, torna-se indispensável sensibilizar a comunicação do, quando possível, aos mecanismos legais existentes para evitar social e todos os agentes envolvidos na publicidade para o papel a manutenção de estereótipos geradores de preconceitos e de limi- fundamental que podem desempenhar na desconstrução de este- tações à liberdade, quer de mulheres, quer de homens, nas várias reótipos de género. Como resposta a este tipo de situações, o n.º 1 dimensões e papéis ao longo da vida. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 23

Odete Maia

Mudança de sexo e de nome terá processo simplificado

o passado dia 2 de Setembro, o Go- O diploma irá permitir que estas pes- Nverno aprovou, em reunião do Con- soas possam requerer, em qualquer con- selho de Ministros, uma proposta de Lei, servatória do registo civil, a alteração do a submeter à Assembleia da República, sexo e do nome próprio, bastando apre- que regula o procedimento de mudança sentar um relatório elaborado por equi- de sexo e de nome próprio, simplificando pa clínica multidisciplinar de sexologia o processo e transferindo para o registo clínica que comprove o respectivo diag- civil a competência da decisão. nóstico. Posteriormente, o conservador De acordo com o comunicado do deve decidir sobre o pedido apresentado Conselho de Ministros, esta proposta de no prazo de oito dias. Efectivamente, caso Lei visa simplificar o procedimento de esta proposta seja aprovada pela Assem- mudança de sexo e de nome próprio no bleia da República, verificar-se-á um gran- registo civil para as pessoas a quem cli- de avanço nesta matéria, uma vez que es- nicamente tenha sido diagnosticada uma tas pessoas para alterar o sexo e nome no mudança da identidade de género (tran- registo civil, mesmo tendo sido já tratadas sexualidade) e «justifica-se pelo facto de a a nível hormonal e tendo realizado todas complexa solução actual para estes casos, as cirurgias necessárias, tinham de intentar que exige uma intervenção judicial, não acções contra o Estado português, subme- ser a mais adequada, por razões de justiça terem-se a novos exames no Instituto de e por este ser o caminho mais seguido a Medicina Legal e esperar muitos anos por nível europeu». uma decisão.

legislação recente e relevante no âmbito das competências da CIG

• Lei 23/2010, de 30 de Agosto – procede à primeira alteração mentação da Resolução do Conselho de Segurança das Na- da Lei 7/2001, de 11 de Maio, que adopta medidas de pro- ções Unidas sobre «mulheres, paz e segurança». tecção das uniões de facto, terceira alteração ao Decreto-Lei • Resolução do Conselho de Ministros 39/2010, de 25 de Maio 322/90, de 18 de Outubro, que define e regulamenta a pro- – aprova o quadro de referência do Estatuto das Conselheiras tecção na eventualidade da morte dos beneficiários do regime e dos Conselheiros Locais para a Igualdade. geral de segurança social, 53.ª alteração ao Código Civil e 11.ª • Portaria 229-A/2010, de 23 de Abril – aprova os modelos de alteração ao Decreto-Lei 142/73, de 31 de Março, que aprova documentos comprovativos da atribuição do estatuto de víti- o Estatuto das Pensões de Sobrevivência. ma; a Portaria 220-A/2010, de 16 de Abril, que estabelece as • Lei 26/2010, de 30 de Agosto – altera pela nona vez o Código condições de utilização inicial dos meios técnicos de teleas- de Processo Penal sistência; e o Despacho 6810-A/2010, de 15 de Abril – defi- • Resolução do Conselho de Ministros 62/2010, de 25 de Agos- ne, no âmbito do artigo 83.º da Lei 112/2009, os requisitos e to – institui em Portugal o Ano Europeu das Actividades de qualificações necessários à habilitação dos técnicos de apoio à Voluntariado Que Promovam Uma Cidadania Activa – 2011. vítima. • Portaria 654/2010, de 11 de Agosto – revê a regulamentação • Resolução da Assembleia da República 32/2010 sobre a pro- do sistema de acesso ao direito, regulamentando, inter alia, o blemática da mulher emigrante, de 13 de Abril – recomenda artigo 25.º da Lei 112/2009, de 16 de Setembro, respeitante à ao Governo que deve ser criado um programa com o objecti- consulta jurídica a prestar a vítimas de violência doméstica. vo de definir um conjunto de medidas destinadas ao desenvol- • Despacho 13776/2010 da Presidência do Conselho de Minis- vimento da cidadania das mulheres portuguesas residentes no tros e Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Na- estrangeiro. cional, da Administração Interna e da Justiça, de 3 de Agosto • Portaria 196-A/2010, de 9 de Abril – regulamenta a Lei – cria um grupo de trabalho interministerial tendo em vista a 60/2009, de 6 de Agosto, que estabelece o regime de aplicação operacionalização do Plano Nacional de Acção para a Imple- da educação sexual em meio escolar. 24 cidadania e igualdade de género CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 teresa Alvarez

A Igualdade entre Mulheres e Homens:

actividade da CIG em torno da Ci- boração institucional com a DGIDC, os A dadania e da Igualdade de Género Guiões irão ser distribuídos, ao longo tem sido pautada por dois objectivos: do mês de Outubro, por 500 bibliotecas reforçar e aprofundar a actuação em escolares, por estabelecimentos de ensi- áreas estratégicas onde tem sido desen- no superior com formação de docentes volvido um trabalho continuado; encetar e por organismos centrais e regionais do caminhos e desafiar áreas e sectores que Ministério de Educação e ONG. Igual- têm permanecido mais resistentes à pro- mente com o apoio do POPH, decorre, blemática do género e da igualdade entre até Julho de 2011, a concepção dos Gui- mulheres e homens. Assim, os projectos ões de Educação Género e Cidadania em curso traduziram-se num conjunto de para os 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. iniciativas e no estabelecimento de novas A produção destes quatro Guiões parcerias, destacando-se quatro áreas de constitui a resposta da CIG aos compro- intervenção: a educação; o emprego e a missos assumidos por Portugal perante independência económica; a linguagem/ o Comité CEDAW, em 2008, e visa con- comunicação e o apoio à implementação tribuir para que as relações sociais de de Planos para a Igualdade. género e a igualdade entre mulheres e homens constituam um eixo estruturan- te da educação formal ao nível, quer das GéNERO E CIdAdANIA aprendizagens em torno das práticas de EM EdUCAçãO cidadania e do exercício dos direitos, por raparigas e por rapazes, quer da de Recursos e Tecnologias Educativas), oram disponibilizados no sítio da gestão e concretização dos diferentes entre 2004 e 2007, foi estabelecido um FCIG, numa edição online, os dois programas disciplinares. protocolo entre a CIG, a Universidade Guiões de Educação Género e Cidadania As solicitações de apoio a projectos Aberta e a DGIDC, com vista à integração destinados, respectivamente, à educação e a iniciativas escolares evidenciam uma da perspectiva de Género na concepção, pré escolar e ao 3.º ciclo do ensino básico crescente, ainda que lenta e titubeante, validação e utilização de Recursos Edu- (http://www.cig.gov.pt/guiaoeducacao/). sensibilização e interesse pela temática da cativos Digitais. Partindo dos recursos igualdade de género e têm digitais disponíveis no Portal das Escolas, permitido constatar uma da DGIDC, o projecto visa a formação de utilização mais integrada docentes da Bolsa de Validadoras e Vali- e continuada das publica- dadores de Recursos Educativos Digitais ções da CIG por docentes. da DGIDC/ERTE e a concepção de orien- No âmbito do protocolo tações para a elaboração deste tipo de Re- estabelecido com a escola cursos, nas diferentes áreas disciplinares e secundária Prof. Reynaldo valências do currículo dos ensinos básico dos Santos, a CIG conti- e secundário. A produção destas orienta- nua a acompanhar as ac- ções será coordenada pela Universidade tividades desenvolvidas e Aberta, através do CEMRI – Centro de a apoiar esta escola-piloto Estudos das Migrações e Relações e Inter- do Projecto dos Guiões de culturais. Educação Género e Cida- dania, iniciando-se o novo ano lectivo com a partici- EMPREGO, INdEPENdêNCIA pação da Presidente da CIG ECONóMICA E IGUAldAdE na Sessão Pública de entre- ENtRE MUlHERES E HOMENS Produzidos e publicados com o ga dos Certificados de Reconhecimento apoio do POPH, os Guiões foram apre- de trabalhos de mérito em Género e Ci- o passado dia 16 de Junho teve lu- sentados publicamente pela CIG e pela dadania Mariana da Assunção da Silva, Ngar nas instalações do IEFP, em Lis- DGIDC, no dia 31 de Maio, numa ini- a alunas e alunos do 5.º ao 12.º anos de boa, uma iniciativa inédita no domínio ciativa conjunta dos Gabinetes da Mi- escolaridade daquela escola. do emprego e das relações entre a CIG e nistra da Educação e da Secretária de Prosseguindo com o trabalho desen- o IEFP: o workshop formativo sobre Gé- Estado da Igualdade. Editados em livro volvido no quadro do Projecto Sacausef, nero e Igualdade de Género no Mercado pela CIG e dando continuidade à cola- promovido pela DGIDC/ERTE (Equipa de Trabalho, com a duração de um dia. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 25 consolidar dinâmicas e lançar novas redes

Promovido pelo IEFP, em uma acção de formação sobre imple- desta Oficina esteve a cargo de Maria do estreita colaboração com a mentação de Planos para a Igualdade Céu da Cunha Rego e contou com a cola- CIG, a formação destinou- dirigida a profissionais de organismos boração da CIG através do N-CIG. se a representantes dos públicos e privados dos Açores. Com a O programa da Oficina organizou- Centros de Emprego do duração de dois dias, a acção terá lugar se em torno de: «O Impacto de Género continente e nele partici- nas ilhas Terceira e São Miguel e conta- dos diplomas legais», por Dinamene de param 36 pessoas, 70% do rá com a participação da perita Heloísa Freitas, «A desigualdade de homens e sexo feminino, das quais Perista e o acompanhamento da CIG. mulheres como violação sistemática da 20% exerciam funções de normatividade jurídica pela normativida- chefia. Estiveram repre- de social», por Maria do Céu da Cunha sentados 36 Centros de IGUAldAdE, lINGUAGEM Rego, «A linguagem como obstáculo ou Emprego pertencentes a 4 E lEGíStICA como motor para a igualdade de homens Delegações Regionais: 14 e mulheres», por Teresa Alvarez e um mo- do Norte; 9 do Centro; 8 romovida pelo Secretário de Estado mento de prática sobre como «Concreti- de Lisboa e Vale do Tejo e Pda Presidência do Conselho de Minis- zar a redacção de actos normativos livres 5 do Alentejo. Contando tros e pela Secretária de Estado da Igual- de estereótipos de género». com uma equipa de cin- dade, realizou-se no passado dia 9 de Ju- A abertura do evento esteve a cargo do co formadoras (Maria do lho, na PCM, a 1.ª Oficina de Legística, Secretário de Estado da PCM e da Secre- Céu da Cunha Rego; Dina sobre A Igualdade de Homens e Mulheres tária de Estado da Igualdade. Estiveram Canço, Teresa Alvarez, nos Actos Normativos, dirigida a juristas. presentes 14 pessoas, 9 do sexo feminino Rosário Fidalgo e Maria Com um cariz formativo, a organização e 5 do sexo masculino. Viegas), o workshop contou, no seu en- cerramento, com a participação do Vice- Presidente da CIG, Manuel Albano, e do Vice-Presidente do IEFP, Alexandre Rosa. Aguarda-se, agora, a realização de uma 2.ª edição desta iniciativa, entre Outubro e Novembro de 2010, para os restantes Centros de Emprego do continente. No âmbito do Programa Nacional de Micro Crédito, foi assinado, em 20 de Setembro, entre a CIG e a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social um Protocolo de colaboração com vista a fomentar o empreendedorismo feminino e o acesso das mulheres ao micro crédito.

ORGANISMOS PúBlICOS E PlANOS PARA A IGUAldAdE

protocolo de colaboração estabele- O cido entre a CIG e a Direcção Re- gional da Igualdade de Oportunidades dos Açores (DRIO), em Maio de 2010, enquadra o alargamento, àquela região autónoma, do trabalho que a CIG tem vindo a realizar, em 2010, de apoio à elaboração de Planos Ministeriais para a Igualdade. Promovido pela Secretaria Regional do Trabalho e Solidariedade Social dos Açores, através da DRIO, e em estreita colaboração com a CIG, vai realizar-se, entre 25 e 29 de Outubro, 26 cidadania e igualdade de género CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 teresa Pinto

Educação, Género e Cidadania na Escola Reynaldo dos Santos

m curso desde 2008 em Vila Fran- ca na área do Género e enriquecendo o Foi também instituído um Certificado Eca de Xira, na Escola Secundária acervo com a oferta de livros por parte da de Reconhecimento de Trabalhos de Professor Reynaldo dos Santos, sede CIG. A formação interna tem sido uma Mérito em Género e Cidadania Mariana do Agrupamento de Escolas Dr. Sousa das vertentes do projecto. Em 2008/09 da Assunção da Silva para trabalhos Martins, o Projecto Educação, Género e realizou-se uma oficina de formação de realizados por discentes do 5.º ao Cidadania está enquadrado por um pro- docentes de dois créditos sobre Género e 12.º ano. A entrega dos certificados tocolo com a CIG e confere continuida- Cidadania nos Ensinos Básico e Secundá- respeitantes aos trabalhos realizados no de a iniciativas promotoras da igualda- rio, promovida pela ESE de Santarém em ano lectivo de 2009/10 teve lugar no dia de entre mulheres e homens que se têm parceria com a CIG. 17 de Setembro de 2010 com a presença desenvolvido nesta escola desde há mais Funcionaram duas turmas e foram for- da Presidente da CIG e do Vereador da de vinte anos. Escola-piloto de um pro- madoras/es: Teresa Pinto (E. Reynaldo dos Educação da Câmara Municipal de Vila jecto mais vasto desenvolvido pela CIG, Santos CEMRI – U. Aberta), Teresa Alva- Franca de Xira. Cento e setenta e três no qual se insere a elaboração e edição rez (CIG), Conceição Nogueira (U. Mi- alunas e alunos receberam o certificado de Guiões de Educação em Género e nho), Maria João Silva (ESE Porto), Paula e materiais da Campanha Nacional Cidadania, a Reynaldo dos Santos irá Silva (U. Porto), Vasco Prazeres (D-G Saú- contra a Violência no Namoro cedidos alargar o projecto aos outros estabele- de). No mesmo ano realizaram-se, ainda, pela CIG. cimentos do Agrupamento. uma sessão sobre Género e Educação para Ao longo do processo de elaboração Este projecto pretende promover a a Saúde, dinamizada por Vasco Prazeres dos Guiões de Educação. Género e Ci- integração da dimensão de género na (Médico, Direcção-Geral de Saúde) e di- dadania, iniciativa e edição da CIG com educação para a cidadania, a nível dis- rigida a docentes e elementos da direcção a validação da DGIDC-ME, elementos ciplinar e nos espaços curriculares não da Associação de Estudantes, e uma sessão do corpo docente da escola colabora- disciplinares, visando o crescimento e sobre Publicações na Área do Género, di- ram a nível de consultadoria pedagógi- o desenvolvimento pessoal e social dos namizada por Paula Brito (CIG), dirigida ca, aplicando algumas das actividades alunos e das alunas, a promoção da a docentes, coordenadora da Biblioteca e ainda em fase experimental. igualdade e a erradicação das discrimi- elementos da direcção da escola. nações de género, com proveito para Em 2009/10, uma sessão no Conse- toda a comunidade escolar. lho Pedagógico sobre Comunicação In- ARtICUlAçãO O projecto privilegia o estabeleci- clusiva dinamizada por Teresa Alvarez COM OUtROS PROJECtOS mento de parcerias e a articulação com (CIG), dirigida a elementos da Direc- dA ESCOlA outros projectos da Escola/Agrupamen- ção, Conselho Pedagógico, da Coorde- to e desenvolve-se em 3 vertentes. nação de Projectos e de Directores/as de m 2008/09, o projecto articulou Turma, a pessoal não docente e elemen- Ecom a Campanha de Não Violência tos da Associação de Estudantes, deu no Namoro, realizada na escola pela INICIAtIVAS ESPECíFICAS origem a um Grupo de Trabalho sobre Associação de Estudantes (AE), garan- dO PROJECtO Comunicação Inclusiva a nível do Agru- tindo contactos com vista à formação pamento de Escolas. Este grupo, consti- de elementos da AE pela REDE de Jo- lançamento do projecto foi assinala- tuído por docentes e pessoal não docen- vens para a Igualdade (RPJIOMH), Odo, em 2008, com uma Mostra de te propõe-se rever e alterar, ao longo do ao apoio da CIG, à relação com me- Recursos na Biblioteca, dando visibilida- ano lectivo de 2010/11, os documentos diadores/as do PIPT, APF, Direcção do de aos recursos disponíveis na Bibliote- de comunicação do Agrupamento. Agrupamento e Coordenadora de Di- rectores/as de Turma do Ensino Básico. A AE aplicou questionários, elaborou e afixou posters, organizou actividades de sensibilização para todos os anos de escolaridade e dinamizou um dia de de- bates para todas as turmas do ensino secundário. Em 2009/10, o projecto articulou com o Projecto LIGO – Leitura e Igualdade de Género e Oportunidades, promovido pela Biblioteca com o apoio da Fundação CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 27

Isabel Elias e Vitor Almeida desafiar a Indiferença: Calouste Gulbenkian e a parceria da CIG Género, Igualdade e Inclusão Social e da Biblioteca da CM de Vila Franca de Xira. Ao longo de todo o ano foram di- SEMINáRIO INtERNACIONAl namizadas palestras, exposições e apre- sentações de trabalhos de discentes, se- o âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social ( AECPES), guidas de debate, versando temas como a CIG realizou no dia 25 de Junho o Seminário Internacional Desafiar a in- Os Afectos (em articulação, também, N diferença: género, igualdade e inclusão social. A iniciativa teve lugar na Fundação com o Projecto de Educação para a Saú- Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e contou com a participação de investigadoras de e o Programa de Educação Sexual em e investigadores de renome nacional e internacional nos domínios dos Estudos de meio escolar), Os Direitos, As Liberda- Género, da Economia e da Sociologia. des e as Diversidades. A abertura esteve a cargo de Sara Falcão Casaca, Presidente da CIG, e de Luísa Guimarães, em representação do Coordenador da Comissão Nacional do AECPES. Organizado em torno de dois eixos temáticos, o primeiro incidiu sobre Género, APOIO A PROJECtOS Bem-estar e Inclusão Social iniciando-se com a Conferência proferida pela investiga- dE áREAS CURRICUlARES dora espanhola Maria Ángeles Durán, do Conselho Superior de Investigação Cien- tífica, da Espanha. Manuela Silva e José António Pereirinha, do Instituto Superior m trabalho sistemático em sala de aula de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa, integraram o painel que sustenta grande parte das iniciativas U se seguiu sobre o mesmo tema. O segundo, sobre Igualdade de Género: Famílias do projecto. O apoio a essas actividades, Trabalho e Políticas Públicas, inicou-se com um painel constituído por Anália Torres desenvolvidas por docentes com as suas e Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, e termi- turmas, constitui outra vertente funda- nou com a Conferência da investigadora italaina Tindara Addabbo, da Universitá de mental do Projecto. No biénio 2008/2010, Modena e Reggio Emilia. Teresa Rosmaninho, da Soroptimist Internacional Clube do Porto, apresentou e comentou o filme sobre Violência de Género, produzido no âmbito da actividade desenvolvida por aquela ONG. A Sessão de Encerramento teve a participação do Secretário de Estado da Segurança Social e da Secretária de Estado da Igualdade. As intervenções colocaram a ênfase na feminização da pobreza e da exclusão social e na evidência de que estes fenómenos não são neutrais em termos de sexo, realçando-se, ainda, que as mulheres podem ter um papel estratégico para, em tempo de crise, melhorar o nível de bem-estar das respectivas famílias, em razão das ca- pacidades e competências específicas que socialmente levadas desenvolver. De igual modo, reforçou-se a necessidade de integrar, na reflexão académica, preocupações teóricas e metodológicas que ponham em evidência a multidimesionalidade da exclu- são social, de modo a conferir visibilidade às especificidades da pobreza feminina, e o carácter imperioso de as medidas de política reflectirem tais especificidades. Assistiram ao evento 150 pessoas, provenientes de instituições de ensino superior, centros de investigação, organismos públicos centrais e regionais, governos civis, au- foram 52 as e os docentes que se envolve- tarquias, sindicatos, organizações não governamentais e entidades privadas. ram em actividades nas áreas curriculares Durante o Seminário foi distribuída o Resumo Executivo do estudo realizado disciplinares e não disciplinares, envolven- pela equipa do ISEG, coordenada por José António Pereirinha, Género e Pobreza. do um total de 33 turmas dos ensinos Bá- Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino. Destinado a grupos profissionais sico 2/3, Secundário, dos Cursos Profissio- estratégicos no combate à pobreza e à exclusão social, pretendeu a CIG com esta nais e de Educação e Formação. Para além brochura, editada por ocasião do Seminário e integrada no AECPES, divulgar e dar de dar continuidade às linhas de acção já a conhecer as principais conclusões do estudo editado em 2008. iniciadas, o projecto estabeleceu metas in- ternas muito concretas a atingir a partir do presente ano lectivo: utilização de uma lin- guagem inclusiva na perspectiva do género em todos os meios de comunicação interna e externa do Agrupamento; integração da dimensão de Género nos Projectos Educa- tivo e Curricular do Agrupamento; inte- gração da dimensão de Género em todos os Projectos do Agrupamento. Assumimos, pois, o desafio de tor- nar a escola um espaço privilegiado de construção de identidades individuais e colectivas alicerçadas no princípio da igualdade entre os sexos, contribuindo para a prática democrática dos direitos e deveres de cidadania. 28 cooperação regional e autárquica CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 João Paiva | Rita Paulos

Igualdade na diversidade

ela Diversidade Contra a Discriminação. É este o mote da do Dia da Europa, com o título A Igualdade de Género para Pcampanha do projecto PROGRESS que a CIG tem vindo a uma Europa Mais Inclusiva, enquanto no dia 28 de Junho de- desenvolver ao longo do ano. O Núcleo de Cooperação Regional correu em Valongo outra Assembleia Municipal, com o título A e Autárquica foi o ponto focal deste projecto e tem-se envolvido Igualdade na Diversidade. Encontram-se já agendadas até De- com determinação para o sucesso das suas actividades. zembro uma dezena de outras Assembleias Municipais em dife- Abordar as Discriminações Localmente para Alcançar a rentes municípios do país. Igualdade a Nível Global é um projecto na área da promoção A Exposição Móvel, com recurso a uma carrinha, também da Igualdade e combate à Discriminação que pretende abordar, denominada Carrinha da Diversidade, tem seguido um percur- como o nome indica, a discriminação ao nível local para alcan- so de paragens em função das autarquias aderentes às assem- çar a igualdade a nível global. Em grande parte este projecto bleias municipais e às autarquias parceiras de início do projecto surge do êxito do Ano Europeu de Igualdade de Oportunidades – autarquias com protocolos de cooperação com a CIG, com o para Todos e Todas (AEIOT) e de algumas das suas actividades INR, com o ACIDI, etc. Tal como já tínhamos pensado durante mais emblemáticas, designadamente as Assembleias Municipais o AEIOT, parece-nos pertinente associar a estas paragens, para e a Exposição Móvel Itinerante. além das visitas organizadas à exposição, workshops de sensi- bilização na área da Luta con- tra a Discriminação, tal como ocorreu em Beja e em Viana do Castelo. Nesta carrinha, para além dos materiais que fizemos circular durante o AEIOT, e outros mais recentes que te- nhamos produzido até agora, julgámos estratégico associar também os produtos EQUAL que versem estas matérias e outros de qualidade nestas te- máticas da discriminação em função da idade, origem étni- ca, género, orientação sexual, deficiência e crença/religião. Desde Maio a Carrinha da Di- versidade já esteve presente em 10 localidades diferentes, no- meadamente Matosinhos, Via- na do Castelo, Beja, Lisboa, Sesimbra, Moura, Valongo, Barcelos, Melgaço e Tábua. Até ao final do projecto está Com o fim de promover as Assembleias Municipais com a prevista a presença em mais 25 localidades, seja no âmbito de temática A Igualdade na Diversidade, a CIG enviou ofícios para Festas e eventos organizados por Autarquias, outros tipos de um conjunto de Autarquias com as quais tem protocolo e/ou que eventos associativos ou em dias comuns, mas com a mobilização se mostraram mais proactivas na promoção da Igualdade. As da comunidade educativa local. Assembleias são convocadas por vontade expressa do Municí- pio, através do Presidente da Assembleia Municipal, e têm, como Estudo sobre Políticas e Medidas de Igualdade e Comba- período antes da ordem de trabalhos, uma sessão dedicada às O te à Discriminação nas Autarquias tem como objectivo questões da Igualdade, em que um representante da CIG faz uma final a produção de um Guião orientador para implementa- intervenção sobre as vantagens de promoção da Igualdade ao ção de Planos Municipais para a Igualdade. Numa primeira nível local, na perspectiva de uma abordagem integrada de com- fase o estudo utiliza a realidade dos 35 Municípios aos quais bate a todas as formas de discriminação. Compete à CIG, sem foram dirigidos ofícios, que se consideram representativos perder o foco na perspectiva de género, ir integrando a questão da diversidade territorial nacional, para produzir um docu- das discriminações múltiplas, que introduz um novo paradigma mento susceptível de ser utilizado pelos restantes 308 muni- de abordagem da desigualdade centrada no indivíduo em lugar cípios portugueses. Este estudo foi adjudicado ao Instituto de da discriminação. A primeira Assembleia Municipal realizou-se Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de no dia 7 de Maio em Matosinhos, integrada nas comemorações Lisboa (IGOT-UL), que se comprometeu em sede de contrato CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 29

Joana Marteleira

a fornecer serviços de consultoria aos municípios que se mos- trarem interessados em produzir Planos para a Igualdade. No âmbito das iniciativas ligadas a este estudo, a CIG e o IGOT promoveram um workshop intitulado Políticas e Medidas de Igualdade e Combate à Discriminação nas Autarquias Locais, no dia 14 de Junho, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com cerca de 35 participantes, onde foram apre- sentados as linhas orientadoras do estudo. Contou-se com a presença, enquanto convidada, de Maria Dolores Garcia- Rámon, conhecida investigadora na área do género e terri- tório. Outro workshop, com o mesmo título, realizou-se no concelho de Valongo, no dia 16 de Julho, no Fórum Cultural de Ermesinde, com a presença de cerca de 50 pessoas, entre as Casa Eco Criativa quais técnicos autárquicos, decisores políticos locais, investi- gadores e membros de associações nacionais ou locais. retendeu-se com o projecto Casa Eco Criativa, financia- O projecto contempla também a Celebração de Dias Interna- Pdo pelo EEAGRANTS (Fundo ONG – Componente de cionais relativos às áreas de discriminação do Artigo 13.º, como Intervenção Social) no âmbito do Mecanismo Financeiro do foi o caso do dia 17 de Maio, Dia Mundial Contra a Homofobia Espaço Económico Europeu em Portugal, proporcionar aos/ e a Transfobia, assinalado em Lisboa através da Conferência da às jovens um espaço onde eles e elas, através do trajecto CIG Contra a Homofobia e a Transfobia e da colaboração no de uma personagem ficcional, pudessem ir reflectindo sobre evento público FREE HUG contra a Homofobia e Transfobia. os dilemas e interrogações que, normalmente, uma temática No mês passado foi também assinalado o Dia Internacional da tão íntima como é a sexualidade se torna inibidora de uma Juventude, no 4.º Festival da Juventude de Tábua, dias 27 e 28 abordagem directa do assunto. Particularmente quando os de Agosto, onde a Carrinha da Diversidade esteve também pre- indicadores estatísticos são tão alarmantes, apontando para sente. Está prevista, até ao final do ano, a comemoração do Dia números muito elevados de relações sexuais não protegidas. Internacional do Sénior, da Intolerância e dos Direitos Huma- As actividades tiveram como ponto de partida o espectá- nos, em localidades diferentes do país e alguns destes dias em culo Romeu e Julieta, de William Shakespeare, interpretado colaboração com Autarquias. por um elenco de actores e actrizes profissionais e jovens Foi efectuada também a produção de Materiais Estratégicos da região, escolhidos por casting nas escolas da zona. Esses de Sensibilização de onde se destaca uma pen drive com docu- espectáculos serviram como mote para as oficinas, cujo o mentos estratégicos nas várias áreas de discriminação e organiza- intuito consistiu na promoção da reflexão e do debate sobre do um Concurso Nacional de Escrita Inclusiva em parceria com os temas da sexualidade na adolescência. o Instituto Nacional de Reabilitação, que já está a ser divulgado Romeu e Julieta mostra-nos um drama da adolescência no site da CIG e do INR, com três prémios pecuniários, que se- em que dois jovens pagam com a sua vida a intolerância de rão entregues na Conferência de Encerramento do projecto, con- um uns pais tirânicos. A conhecida história de uma paixão ferência esta que está agendada para dia 14 de Dezembro na Sala à primeira vista que desafia as convenções sociais. Com o 1 da Zona de Congressos da Fundação Calouste Gulbenkian e entusiasmo da adolescência, vemos dois jovens, (ou serão apresentará os resultados do projecto. três?) e os seus familiares preocupados com as aparências. A prepotência do poder paternal, a amizade dos amigos e con- selheiros, as dúvidas e as certezas que assolam todas estas personagens humanas. «A casa de Romeu é igual à casa de Julieta?» é a questão orientadora da reflexão que se preten- de com esta peça. Questões como a igualdade de tratamen- to, os papéis socialmente atribuídos em função do género, os comportamentos e responsabilidades são reflexões pre- sentes nesta inovadora abordagem, que, sem modificar os textos de Shakespeare, foca a atenção dos jovens e adultos presentes para as questões essenciais neste novo século. Uma encenação de São José Lapa e Inês Lapa Lopes, com os participantes do projecto Casa Eco Criativa: Carlos Zacarias, Carolina Curado, Eva Pereira, Felicidade Matias, Filipa Lourenço, Francisco Pereira, Jesus Aldeia, Lúcia Sou- sa, Luís Pacheco, Rodolfo Neta, Sandra Neta Fernandes, Sara Matos, Vanessa Silva e Luís Fernandes. 30 violência doméstica | violência de género CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Marta Silva

Programa SEM Violência Familiar

o passado dia 25 de Maio foi cele- Assim, pretende-se que os Serviços pitalar Psiquiátrico de Coimbra, iniciou- Nbrado um protocolo entre a Comis- Locais de Saúde Mental (SLSM) desen- se em Maio um programa que visa a são para a Cidadania e a Igualdade de volvam projectos na área da violência promoção da prestação de cuidados na Género, representada pela sua Presiden- doméstica capazes de estimular a emer- área da violência familiar/conjugal pelos te, Sara Falcão Casaca, a Administração gência de uma rede de cuidados multi- Serviços Locais de Saúde Mental, numa Regional de Saúde de Lisboa e Vale do disciplinares e multissectoriais (Saúde, lógica de intervenção em rede. Tejo, representada pelo Presidente do Justiça, Polícias, Social) que privilegiem, Designado SEM Violência Familiar, Conselho Directivo, Rui Portugal e a Co- a par de uma maior rapidez e eficácia na este programa consistirá, numa fase pi- ordenação Nacional de Saúde Mental, avaliação e intervenção, a implementa- loto, numa acção de sensibilização e uma representado pelo seu Coordenador, José ção de condições facilitadoras à proxi- acção de formação a realizar nas regiões Miguel Caldas de Almeida. Este protoco- midade, acessibilidade, continuidade e de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte (o lo de cooperação visa promover a melho- personalização dos cuidados. protocolo com a ARS Norte é assinado ria das competências e dos procedimentos em Outubro no Porto), perspectivando- na área da violência doméstica, de forma se o alargamento progressivo às restan- a potenciar a intervenção e a articulação tes regiões do país. dos vários «actores» no terreno. SEM VIOLÊNCIA O programa SEM Violência Familiar A violência doméstica (VD) ocorre tem como objectivo: ao longo do ciclo vital, em todas as re- FAMILIAR giões do mundo, sem distinção de classe • Formar profissionais dos Serviços de social, grupo racial, nível económico, Saúde Mental nesta área educacional ou religião. Constitui uma Promoção da Prestação • Disseminação de boas práticas nacio- violação dos direitos humanos e das li- de Cuidados no âmbito nais berdades fundamentais e uma ofensa à da Violência Familiar • Sensibilização de outros serviços/

dignidade humana, limitando o reco- pelos Serviços Locais instituições da comunidade para as

nhecimento e exercício de tais direitos e de Saúde Mental questões de saúde (mental) associa-

liberdades. das à problemática e para a neces-

A investigação efectuada acerca das sidade de intervir numa perspectiva

consequências da violência na saúde multidisciplinar, multi-sectorial e em permite concluir que: rede.

• Os efeitos da violência podem persistir O presente protocolo foi assinado

muito tempo após esta ter cessado; por ocasião da primeira Acção de Sen- • Quanto mais severo é o grau de vio- sibilização sobre a temática Violência lência, maior é o impacto na saúde Doméstica e Saúde Mental – na qual es- física e mental da vítima; Defende-se também a importância de tiveram presentes cerca de 120 profissio- • O impacte ao longo do tempo, de fomentar nos SLSM a criação de pro- nais. Encontra-se a decorrer a segunda diferentes tipos de violência e de vá- jectos e intervenções especializadas que fase do projecto, formação, abrangendo rios episódios, parece ter um «efeito» possam contribuir para: cerca de 40 técnicos. cumulativo. O protocolo em apreço afigura-se, • triar precocemente as situações de para além de inovador, fulcral no senti- Em Portugal, a par com as activida- violência doméstica; do de garantir um maior e mais efectivo des desenvolvidas no âmbito do III Plano • avaliar o risco associado; envolvimento por parte dos Serviços de Nacional Contra a Violência Doméstica • implementar estratégias adequadas a Saúde em geral, e da Saúde Mental em (2007/2010), o Plano Nacional de Saúde cada caso; particular, na problemática da Violên- Mental (PNSM) 2007-2013 prevê, no seu • definir uma matriz e instrumentos cia Doméstica, estreitando a relação e programa, a intervenção a nível dos pú- que possibilitem o registo mais preci- a articulação entre a Saúde (entendida blicos mais vulneráveis, nomeadamente so e a análise sistemática da informa- enquanto porta de entrada, platafor- na área da VD e do abuso infantil. Des- ção produzida; ma de encaminhamento e espaço de taca-se a importância de constituir uma • promover um maior conhecimento intervenção na problemática da VD) e rede entre todos os organismos públicos da epidemiologia do fenómeno. a entidade com responsabilidade de co- e privados que lidam com a VD, para ordenação e implementação das políti- que se estabeleçam standards mínimos de Ao abrigo desta parceria entre CIG/ cas de prevenção e combate à violência atendimento e encaminhamento. CNSM e o Grupo VIII do Centro Hos- doméstica/de género. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 31

Cláudia Mateus

Pensar os Afectos, Viver em Igualdade

O júri, constituído por representantes da Comissão para a Cidadania e a Igual- dade de Género (CIG) e da Direcção- Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC), apreciou os traba- lhos tendo como critérios a consonância com os objectivos do concurso, a partici- pação equilibrada de alunos e alunas en- volvidos/as, os meios utilizados para a sua execução, o público-alvo a atingir com a o dia 7 de Julho, celebrou-se no Cen- acção, bem como a disseminação de in- Ntro Cultural Casapiano, em Belém, a formação contra todas as formas de vio- 2009/10, associando-se à Campanha Na- cerimónia de entrega de prémios às Escolas lência exercida no contexto das relações cional Contra a Violência no Namoro. e/ou Agrupamentos Escolares vencedores/ afectivas. Com a iniciativa procurou-se sensibili- as os prémios do Concurso zar alunos e alunas para a necessidade de Pensar os afectos, viver em prevenir situações de violência nas rela- Igualdade. A cerimónia con- ções interpessoais, nomeadamente as que tou com a presença da Secre- assentam em concepções de desigualdade tária de Estado da Igualdade de género, estimulando o estabelecimento e do Secretário de Estado Ad- de relacionamentos baseados na paridade junto da Educação. e no respeito mútuo ao nível das relações Os/as seis premiados/as afectivas. Pretendeu-se ainda sensibilizar foram seleccionados de en- a comunidade escolar para a problemáti- tre os cerca de 130 concor- ca da violência nas relações interpessoais, rentes: Escolas e ou Agrupa- especificamente as de intimidade e de na- mentos Escolares dos vários moro, promovendo uma cultura escolar níveis de ensino – 1.º, 2.º e de respeito, igualdade e não-violência. 3.º ciclos do Ensino Básico A adesão de Escolas e/ou Agrupamen- e Ensino Secundário, in- tos Escolares dos vários níveis de ensino cluindo escolas profissionais e de todas as regiões do país, e a qualida- – as/os quais produziram e de de muitos dos trabalhos apresentados, desenvolveram, nas respec- permitiu-nos afirmar o sucesso da inicia- tivas Escolas e comunidades locais, 100 O concurso Pensar os Afectos, Viver tiva, que teve seguramente repercussões projectos de Campanha de Sensibilização em Igualdade foi uma iniciativa promo- não só nas comunidades escolares como Local sobre a temática proposta: Pensar vida pela CIG em colaboração com a também nas comunidades locais onde os Afectos, Viver em Igualdade. DGIDC que decorreu no ano lectivo de aquelas estão inseridas. Apresentaram trabalhos na Categoria A (1.º ciclo do Ensino Básico) 15 Agru- ESCOLAS / AGRUPAMENTOS ESCOLARES PREMIADOS pamentos/Escolas das regiões Norte, Cen- tro e Lisboa e Vale do Tejo; na Categoria Categoria a 1.º CeB B (2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico) 60 1.º Ag. Escolas O Rouxinol – EB1/JI de Miratejo Agrupamentos/Escolas de todas as regiões do continente e na Categoria C (Ensino 2.º ag. escolas do Miradouro de alfazina – eB1/Ji de Monte de Caparica Secundário) 25 Agrupamentos/ Escolas Categoria B 2.º | 3.º CeB também de todas as regiões. Em cada categoria foram atribuídos 1.º Escola Secundária c/3.º CEB de Sabugal um primeiro e um segundo prémios às 2.º agrupamento de escolas de Bucelas campanhas seleccionadas, num total de 6 prémios, os quais consistem na entrega Categoria C ensino Secundário à Escola/Agrupamento de uma verba de 1.º AEVA – Escola Profissional de Aveiro 7000 euros para o primeiro prémio e de 2.º escola profissional de Tecnologia psicossocial do porto 3000 euros para o segundo. 32 delegação do norte CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Susana Mota

terapia inovadora para mulheres vítimas de violência na intimidade disponível na Região Norte

Escola de Psicologia da Universidade Ado Minho (UM) e a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) es- tão a desenvolver, na Região Norte, grupos de intervenção terapêutica, gratuitos, para mulheres que se encontrem actualmente em situação de violência conjugal, ou que tenham saído de uma relação abusiva no úl- timo ano. Este projecto resulta de uma can- didatura da CIG à tipologia 7.7 do POPH e terá o seu término em Abril de 2011. Promover competências pessoais e so- ciais é o objectivo principal. Inovadora no nosso país, esta modalidade de apoio, reúne diversas potencialidades: permite às participantes validar a sua experiência de vitimação conjugal, oferecendo-lhes encorajamento e suporte. Por outro, a participação num grupo deste tipo reduz o isolamento social, tão comum a esta população, uma vez que se viabiliza uma nova rede de relações. É ainda uma opor- tunidade de aprender através das experi- ências de outras mulheres, da identifica- ção de problemas comuns e da partilha de estratégias de resolução de problemas. A nível internacional, esta é a moda- Os grupos são implementados a partir Depois de entrar no lidade de intervenção mais comum junto de uma intervenção psico-educativa, com « grupo ficamos a ser de mulheres vítimas de violência domés- orientação cognitivo-comportamental. Ao como uma só. Cada tica, estando documentada a sua capaci- longo de 8 sessões semanais, com duração caso era um caso, dade de produzir melhorias significativas de 90 minutos, fomenta-se a atribuição em áreas como a auto-estima, o suporte de um novo significado para as dinâmicas eram diferentes mas social e o coping. Há ainda evidências violentas (ex. carácter criminal, responsa- acabavam por ir todos

no decréscimo da violência, da raiva, da bilização única do agressor) e procura-se ao mesmo sítio, todas

depressão e do stress. A intervenção em reduzir o impacto psicológico e os efeitos estávamos na mesma grupo tem-se mostrado útil também no nefastos decorrentes da vitimação (ex. au- situação. E foi isso que desenvolvimento de atitudes mais saudá- to-culpabilização, vergonha, medo, isola- nos fez ganhar coragem « veis face ao casamento e à família. mento). Em paralelo, procura-se prevenir e a dar força umas às Este programa GAM – Grupos de Aju- novas vitimações, estimulando-se relações outras. da Mútua – consiste na implementação e íntimas saudáveis. Para atingir estes ob- dinamização de grupos e a sua respectiva jectivos, utilizam-se diferentes estratégias Acho que me fez avaliação (em termos de eficácia e processo de intervenção: dinâmicas de integração; aprender a gostar mais

de mudança subjacente). Associado a este treino com casos práticos; role-play; rees- « de mim e a defender os programa está ainda a construção de um truturação cognitiva; técnicas de relaxa-

manual de boas práticas para a intervenção mento; visualização e debate a partir de meus direitos. Eu tenho em grupo com mulheres vítimas. Visa, em vídeos e jogos didácticos. Na dinamiza- direitos. Eu tenho o paralelo, a qualificação de técnicos para a ção dos grupos, estão duas facilitadoras, direito de amar, tenho « dinamização desta modalidade de interven- com treino prévio em terapia cognitivo- o direito de respeitar e ção, de forma autónoma. -comportamental. ser respeitada. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 33 Pobreza no feminino

Para que se possa desenvolver uma prá- Gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social (GAAS) da Santa tica empiricamente testada, as sessões são OCasa da Misericórdia de Vizela, em estreita colaboração com a Câmara video-gravadas para uma análise posterior Municipal de Vizela, promoveu no dia 31 de Março de 2010, no Auditório dos (estudo do processo de mudança). Para a Bombeiros Voluntários de Vizela, um colóquio subordinado ao tema Pobreza avaliação da eficácia (ou sucesso) dos gru- no Feminino. A abertura deste evento foi efectuada pelas entidades promo- pos, as participantes preenchem uma bateria toras, tendo o Presidente Dinis Costa e o Provedor Domingos Vaz Pinheiro de instrumentos de avaliação, em diferen- dirigido algumas palavras aos presentes. tes momentos (pré e pós-teste; follow-up). Esta iniciativa, que contou com a participação da técnica Rosa Oliveira da Estes instrumentos avaliam diversas áreas: Delegação do Porto da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, na sintomatologia geral, depressão, auto-es- qualidade de oradora, e de Sandra Pereira, jornalista da RTP, insere-se na co- tima, suporte social, estratégias de coping, memoração do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Neste formas de vitimação experiência, grau de âmbito, importa referir que, em Vizela, a Câmara Municipal em colaboração legitimação da violência. Outra particu- com as entidades que desenvolvem intervenção social no concelho, organiza- laridade dos GAM é o recurso a reforços ram para o presente ano uma série de iniciativas, definindo temas específicos intermédios e finais (ex: voucher para cabe- para cada mês. leireiro, nutricionista; passeio e celebração Realça-se que, o convite para a parceria na organização da actividade do em grande grupo), que visam a valorização mês de Março, alusiva ao tema Pobreza e Exclusão Social no Feminino, foi pessoal e social das participantes. dirigida à Santa Casa da Misericórdia de Vizela, através do seu Gabinete de O primeiro grupo contou com a parti- Atendimento e Acompanhamento Social, devido ao facto de ser relevante o ele- cipação de oito participantes e constituiu- vado número de mulheres beneficiárias da prestação pecuniária do rendimento se desde logo como um forte aliado contra social de inserção, quer neste concelho, quer a nível nacional. a vergonha que algumas sentiam. Este es- A adesão a este colóquio foi francamente positiva, com a participação de paço permitiu-lhes perceber que não são cerca de 130 pessoas, destacando-se a presença maioritária de mulheres. É de casos únicos, que há outras mulheres com salientar a presença de um número elevado de pessoas que se encontram inte- situações de vida semelhantes e que a res- gradas em processos de aumento de qualificações escolares e profissionais e de ponsabilidade do que acontece em casa é beneficiários do rendimento social de inserção. unicamente do agressor. O grupo torna-se Importa ainda referir que este evento contou com a presença de Técnicos também no contexto ideal para perceber das Instituições Locais, nomeadamente da área social e educação. que há diferentes formas para lidar e termi- nar com uma relação abusiva. Em termos de resultados finais deste primeiro GAM, tornou-se evidente que o grupo teve um impacto positivo nas partici- pantes, assinalado pelo aumento a nível da auto-estima e do suporte social. Assistiu-se ainda a um decréscimo ao nível da sinto- matologia geral e da depressão. Verificou-se também uma diminuição nos comporta- mentos violentos sofridos e nas crenças le- gitimadoras da violência. Para estes resultados, foi fundamental a partilha com outras mulheres, as relações de amizade que se estabeleceram, o facto de o programa intervenção se focar no empo- werment e na gestão emocional, bem como os reforços intermédios e finais às partici- pantes. Outro factor-chave nas mudanças operadas foi a responsabilização exclusiva do agressor pela violência e a criminaliza- ção das suas condutas abusivas, a par da desconstrução de mitos sobre a violência íntima. Em conjunto, estes factores facili- taram novos significados sobre a violência. Os GAM tornam-se assim numa oportunidade para aprender mais sobre a violência na intimidade, algo que será muito útil, quer para as participantes que enfrentam diariamente os discursos dos seus parceiros (por exemplo, de culpabi- lização da vítima), quer para aquelas que vão iniciar novos relacionamentos.

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EY 2010 posters A2-partenaires_PT-091207.indd 1 07/12/09 17:30 34 média CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Maria João Silveirinha*

Notícias ainda tratam homens e mulheres de forma desigual

O mundo retratado nas notícias é basicamente masculino: 76% das pessoas ouvidas ou sobre quem se lê nas notícias são do sexo masculino. Apenas 24% são do sexo feminino.

lém disso, globalmente, só 13% das notícias focam central- Amente as mulheres. Em Portugal essa percentagem foi ainda menor no dia da monitorização, não tendo ultrapassado os 8%. A proporção de mulheres nas notícias identificadas como participantes em ocupações fora de casa não reflecte a realidade. É igualmente notório que o comentário de pessoas peritas é opressivamente masculino, com apenas uma mulher por cada cinco pessoas peritas entrevistadas nas notícias. Globalmente, os homens excedem em número as mulheres mesmo na opinião popular e informação baseada na experiência pessoal , ainda que os dados nacionais revelem alguma aproxi- mação entre os sexos nesta categoria. s mulheres estão ainda significativamente pouco represen- Atadas na cobertura dos meios de comunicação noticiosos, segundo a quarta edição da investigação do Global Media Mo- Mulheres e homens nas notícias muitas vezes são nitoring Project (GMMP), realizada em 108 países. Segundo o tratados de modo diferente. Só 6% de todas as estudo coordenado pela World Association for Christian Com- notícias desafiam os estereótipos sexuais. munication (WACC) agora publicado, apesar de se registarem mudanças significativas desde que o projecto começou há 15 uitas notícias usam linguagem e imagens que reforçam es- anos, o mundo visto pelos media noticiosos permanece basica- Mtereótipos sexuais. No conjunto dos 108 países, apenas mente masculino. Com efeito, 76% das pessoas ouvidas pelos 6% de todas as histórias de notícias desafiam estereótipos sexu- órgãos de comunicação social ou que surgem como protagonis- ais . Os dados nacionais apontam para 4% em Portugal, mas a tas nas notícias são do sexo masculino. larga maioria das notícias aqui analisadas não reforça nem desa- O projecto analisa, de cinco em cinco anos, um dia nas notí- fia os estereótipos, limitando-se a reproduzir o status quo. Tal cias de todo o mundo. não significa, no entanto, que as notícias sejam neutras à questão O dia 10 de Novembro de 2009 foi um dia de rotina para do género como todos os dados do projecto mostram. todos/as os/as jornalistas do mundo. Foi, contudo, um dia espe- A tendência para identificar mulheres baseadas nos seus cial em mais de 100 países para os grupos que se reuniram para atributos físicos persiste. As notícias mencionam a idade de mu- monitorizar os seus meios de comunicação. Após meses de pla- lheres nas notícias duas vezes mais do que a dos homens. Do neamento, preparação e formação, deram vida à quarta edição mesmo modo, mencionam a relação familiar das mulheres quase do Projecto de Monitorização Global dos Media (GMMP). quatro vezes mais do que no caso dos homens. Neste dia, múltiplas equipas de pessoas voluntárias em 108 As mulheres têm também mais do dobro de possibilidades de países monitorizaram 1365 jornais, noticiários rádio e de tele- serem retratadas como vítimas nas notícias. visão e sites de notícias. Analisaram 17 795 notícias, e 38 253 pessoas nessas histórias. As equipas de monitorização foram constituídas por docen- tes e estudantes de inúmeras universidades, profissionais dos media e das suas associações, bem como um grande número de organizações da sociedade civil. Em Portugal, a equipa foi cons- tituída por docentes e estudantes de Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Esta equipa analisou notí- cias de 3 noticiários da televisão, de 3 noticiários de rádio e de 6 jornais, num total de 119 notícias portuguesas que envolveram 373 pessoas como sujeitos dessas notícias (pessoas entrevistadas ou sobre quem é a notícia). Do estudo global podem tirar-se várias conclusões como as que de se seguida se apresentam. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 35

A percentagem de A marginalização das vozes das mulheres notícias trabalhadas é um desafio-chave á liberdade de expressão. por mulheres jornalistas está a m Fevereiro de 2010, quatro relatores especiais sobre liber- aumentar. As notícias Edade da expressão nomeados pelas Nações Unidas, a Orga- por repórteres do sexo nização dos Estados Americanos, a Carta Africana dos Direitos feminino têm um pouco Humanos e dos Povos e a Organização para a Segurança e Coo- mais de probabilidade peração na Europa identificaram conjuntamente 10 pontos-cha- de representar melhor ve que se constituem como desafios na liberdade da expressão a as mulheres. ter em conta a ter na próxima década. A discriminação no gozo do direito à liberdade da expressão das mulheres e de outros grupos marginalizados é um desses dez desafios-chave: «... his- toricamente os grupos em desvantagem, incluindo as mulheres... continuam a esforçar-se por conseguir fazer ouvir as suas vozes oje, as repórteres do conjunto de países analisados são e aceder a informação que lhes é relevante.» (Tenth Anniversary Hresponsáveis por 37% das notícias em comparação com Declaration: Ten Key Challenges to Freedom of Expression in 28% há quinze anos. Em Portugal, no dia da monitorização, the Next Decade). Os quatro relatores especiais sobre liberdade elas assinaram mesmo a maioria das notícias analisadas. da expressão mostram-se particular mente preocupados com a As histórias das repórteres têm também menor probabilidade falta de medidas de auto-regulação para corrigir uma «cober- reforçar os estereótipos sexuais. 25% de notícias destas repórte- tura inadequada pelos meios de comunicação... de questões de res reforçam os estereótipos de género em comparação com 42% relevância para os grupos historicamente em desvantagem; [e] das histórias pelos seus colegas . a prevalência de informação estereotipada sobre estes grupos.» As notícias das jornalistas do sexo feminino contêm mais mulheres (28%) do que histórias dos repórteres do sexo masculino (22%). A representação justa de ambos os sexos e representação de mulheres é uma marca dos padrões profissionais e éticos no jornalismo, Quinze anos após o início deste projecto, tal como a exatidão, o equilíbrio e a honestidade. é possível assinalar um progresso no sentido de um retrato mais justo e equilibrado na representação bom jornalismo inclui das mulheres, mas a modificação é lenta. Oum retrato paritário de ambos os sexos. Nesse sen- á quinze anos, em 1995, 17% de pessoas nas notícias do tido, considerar a dimensão

Hconjunto dos países analisados eram do sexo feminino, em 010 Global Media Monitoring Project 2 de género é um imperativo comparação com 24% de hoje. profissional que deve estar • As mulheres são agora 19% das pessoas nas notícias sobre integrado no trabalho jorna- política e governo em comparação com 7% há quinze anos. lístico diário, pois só assim • As mulheres são agora 20% das pessoas nas notícias na eco- se produzem notícias equili- nomia em comparação com 10% há quinze anos. Contudo, bradas, exactas, incisivas e nos últimos cinco anos não se viu nenhum aumento. estimulantes. A esse propó- Global Media • As mulheres são agora centrais em 13% de histórias de notí- Monitoring sito, Aidan White, Secretário Project 2 010 cias em comparação com 10% de há cinco anos. Foreword by Margaret Gallagher Geral da Federação Interna- • Das pessoas que constituem a opinião popular nas notícias cional de Jornalistas, diz que 44% são mulheres, em comparação com 34% em 2005. «o retrato justo de ambos os • Das pessoas que dão a sua experiência pessoal nas notícias sexos é uma aspiração profissional e ética, semelhante a respeitar 38% são mulheres, em comparação com 31% há cinco anos. a exactidão, o equilibro e honestidade.» (Getting the Balance • Das testemunhas oculares nas notícias 34% são mulheres, Right: Gender Equality in Journalism, International Federation em comparação com 30% há cinco anos. of Journalists, 2009). • Das pessoas que dão comentário perito nas notícias, 20% Também Mindy Ran, Presidente do Conselho sobre Género são mulheres em comparação com 17% de há cinco anos. da Federação Internacional de Jornalistas diz que «o jornalismo ético tem que ver com o assumir das responsabilidades pelas es- Algumas notícias exemplares demonstram que dar peso igual colhas feitas e com uma consciência do impacto dessas escolhas às vozes femininas e masculinas e ter em conta a dimensão do […]. Inerente a esta responsabilidade é a ideia de que uma repor- género constituem uma forma de qualidade nas notícias. Estas tagem equilibrada é uma reportagem ética» (em Who Makes the podem reflectir mais exactamente o mundo se representarem News? The Global Media Monitoring Project 2010). mulheres e homens de uma forma mais equilibrada. Os resultados globais e nacionais do projecto, nas suas várias O relatório global e os relatórios nacionais – incluindo o de edições, bem como a metodologia utilizada e inúmeras perspec- Portugal – contêm exemplos qualitativos de notícias publicadas tivas sobre a questão de género nas notícias pode ser consultado no dia da monitorização que desafiam ou reforçam os estere- em www.whomakesthenews.org. ótipos ou que perdem oportunidades de incluir a dimensão de género nas suas histórias. *Coordenadora nacional do Global Media Monitoring Project 36 marinha portuguesa CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 CONSELHO CONSULTIVO DA CIG – SECÇÃO INTERMINISTERIAL

Militares femininos nos teatros de operações e cooperação

o ano de 1992, o ingresso de mu- Do desempenho dos militares femi- da força-tarefa da NATO SNMG-1 Nlheres na Marinha Portuguesa ninos importa salientar a sua participa- (Standing Nato Maritime Group 1). revelou-se um desafio cultural e organi- ção na Defesa Militar e Apoio à Política Nestas operações, e em função da zacional que provocou várias alterações Externa e na Segurança e Autoridade classe e especialidade de cada uma a e adaptações a nível interno, desde os do Estado, nomeadamente na concreti- bordo, estas militares contribuíram uniformes, passando pelos de procedi- zação das tarefas de defesa colectiva e para a detenção de ataques piratas a na- mentos de gestão, até à produção de expedicionária, protecção dos interesses vios mercantes, confiscação de armas e regulamentação interna. Passada esta nacionais e diplomacia naval, vigilân- munições, detenção, para identificação, primeira fase de natural adaptação, a cia, fiscalização e policiamento, e esta- de presumíveis piratas, bem como para integração das mulheres na instituição e dos de excepção e protecção civil. a execução de missões de carácter hu- a progressão na carreira têm-se proces- manitário. Sendo de salientar que, na sado de uma forma gradual. Ocean Shield, a localização e identifi- Neste momento, a Marinha dEFESA COlECtIVA cação das unidades navais suspeitas foi Portuguesa conta com uma percentagem E ExPEdICIONáRIA assegurada pela piloto de helicópteros, de 8,7 mulheres militares que estão primeiro-tenente Mónica Martins. envolvidas na execução de todas as os teatros de operações, as mi- O balanço efectuado pelas militares tarefas decorrentes das três missões Nlitares, embarcadas a bordo do foi positivo, havendo um sentimento de fundamentais da Marinha Portuguesa, NRP Corte Real e do NRP Álvares de missão cumprida e de bom desempenho Defesa Militar e Apoio à Política Cabral, participaram, respectivamente, em termos de representação de Portugal Externa, Segurança e Autoridade do nas Operações Allied Protector e Ocean e da Marinha, tendo sido referido como Estado e Desenvolvimento Económico, Shield de combate à pirataria no Corno aspecto menos positivo o afastamento Científico e Cultural. de África, em 2009 e 2010, no âmbito da família. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 37

A Marinha Portuguesa conta com uma percentagem de 8,7 mulheres militares que estão envolvidas na execução de todas as tarefas decorrentes das três missões fundamentais da Marinha Portuguesa: Defesa Militar e Apoio à Política Externa, Segurança e Autoridade do Estado e Desenvolvimento ≠Económico, Científico e Cultural

PROtECçãO VIGIlâNCIA, dOS INtERESSES NACIONAIS FISCAlIzAçãO E dIPlOMACIA NACIONAl E POlICIAMENtO

o desenvolvimento do relaciona- Marinha, de modo a impedir a ex- Nmento externo, a Marinha, em arti- Aploração ilegal, efectua vistorias a culação com o Estado-Maior-General das embarcações de pesca nas águas sob juris- Forças Armadas (EMGFA) e sob coorde- dição nacional. O comando das Lanchas nação da Direcção-Geral de Política de de Fiscalização já coube a 4 mulheres, Defesa Nacional (DGPDN), desenvolve estando actualmente a segundo-tenente actividades bilaterais, tanto em território Marta Araújo a comandar o NRP Cen- nacional como em território estrangeiro, tauro e a segundo-tenente Rita Oliveira o tendo, no âmbito do relacionamento bi- NRP Águia. lateral com o Uruguai, a primeiro-tenente Vânia Carvalho, a bordo do navio ROU 04 General Artigas, participado na Cam- EStAdOS dE ExCEPçãO panha Antárctica 2008/2009, em apoio E PROtECçãO CIVIl às actividades científicas no «continente branco». o apoio às populações vítimas das No quadro bilateral, a Cooperação Ncheias que assolaram a Madeira em Técnico-Militar (CTM) com os Países Fevereiro de 2010, o NRP «Corte Real, Africanos de Língua Oficial Portuguesa em reforço da capacidade de busca e sal- (PALOP) e com Timor-Leste, que é exe- vamento do Funchal e da Autoridade Ma- cutada localmente pelas Forças Armadas, rítima Nacional, rumou à Madeira com a tem também, nos dois últimos anos, sido missão de salvar vidas, apoiar as popula- assegurada por militares femininos. ções e prestar auxílio na recuperação de As mulheres militares, maioritaria- infra-estruturas básicas, nomeadamente mente empenhadas no desenvolvimento ao nível das comunicações. Os militares de assessorias temporárias, têm prestado femininos envolvidos na missão, à seme- apoio na área da formação em Cabo Ver- lhança dos seus pares masculinos, de- de (1 assessoria em 2008) e em Moçam- monstraram dedicação e empenho, tendo bique (2 assessorias, 1 em 2009 e outra desempenhado de forma irrepreensível as em 2010). funções que lhes foram cometidas. No corrente ano, e pela primeira vez, os núcleos de apoio aos militares portu- gueses a exercer missão de CTM (Núcleos de Apoio Técnico – NAT) em Moçambi- que e Angola estão guarnecidos por duas sargentos, a primeiro-sargento Sónia Lo- pes e a segundo-sargento Clotilde Qua- resma, respectivamente. As duas militares prestam apoio na gestão dos serviços dos NAT, nomeadamente nas áreas financei- ras, do pessoal e do abastecimento. Em termos profissionais, é enaltecida a maior capacidade de gestão de situações inesperadas e adversas decorrente das exigências das missões e o espírito de ca- maradagem entre todos os elementos no terreno. 38 ilga portugal CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 CONSELHO CONSULTIVO DA CIG – SECÇÃO ONG

A ILGA Portugal continuou, ao longo dos últimos meses, a Orgulho na igualdade ter muitas actividades no âmbito da nossa luta contra a com a CML e a EGEAC, o Arraial Pride discriminação e pelo está integrado nas Festas de Lisboa e co- loca a cidade na rede de capitais europeias direito à diferença que celebram o Dia Internacional do Or- gulho LGBT: o orgulho de recusarmos a vergonha e o preconceito e de lutarmos pela igualdade para todas as pessoas. O Arraial Pride é uma enorme festa de IGUAldAdE NO ACESSO acesso livre e gratuito, aberta a todas as AO CASAMENtO pessoas que, independentemente da sua orientação sexual ou identidade de géne- o dia 17 de Maio, Dia Mundial de ro, se revêem num Portugal mais demo- NLuta Contra a Homofobia e Trans- crático e inclusivo, sem discriminações ou fobia, o Presidente da República promul- preconceitos. Mas o Arraial Pride tam- gou a lei que garante igualdade no acesso 10.ª MARCHA dO ORGUlHO lGBt bém é uma espécie de ficção social: num ao casamento. Tratou-se do culminar de espaço central, num espaço nobre, num uma campanha que mereceu um grande o dia 19 de Junho, a 10.ª Marcha do espaço vivo, integrado na cidade, mostra investimento por parte da ILGA Portugal NOrgulho LGBT foi a mais participa- como pode ser uma cidade e um país sem e que demonstrou que a sociedade civil da e a mais animada de sempre, com uma discriminação – em que todas e todos po- pode promover uma causa de Direitos grande representação da ILGA Portugal, demos, de forma simples, conviver Humanos e contribuir para que Portugal enfatizando a igualdade já alcançada e como iguais. Em Junho de 2010, esteja na linha da frente dos direitos fun- questões prioritárias que ainda exigem a o Terreiro do Paço acolheu o 14.º damentais para todas as pessoas: Portugal atenção da sociedade e do poder político. Arraial Pride, em mais um dia his- tornou-se o sexto país da Europa e o oi- A Marcha resultou de um esforço concer- tórico num ano histórico para a tavo no mundo a eliminar uma discrimi- tado de dezoito associações e colectivos ILGA Portugal. No Arraial Pride, nação na lei num aspecto tão importante e mereceu, uma vez mais, a atenção dos que é sempre para todas as pes- como o da conjugalidade. media e a participação de diversas forma- soas, celebrámos o facto de o casa- Esta medida era há muito reivindica- ções partidárias e de outras organizações mento ter finalmente passado a ser da pela ILGA Portugal, que fez um tra- da sociedade civil. também para todas as pessoas – e balho sistemático de sensibilização e que, celebrámos o orgulho na igualdade a partir da sociedade civil, foi granjean- já alcançada e na mobilização con- do apoios crescentes em termos sociais e 14.º ARRAIAl PRIdE tinuada pela igualdade. políticos. No dia da publicação da lei em Estimamos que tenham estado Diário da República, o Primeiro-Ministro esde a sua primeira edição em 1997, presentes cerca de vinte e cinco mil convidou representantes de associações, Do Arraial Pride é o maior e mais par- pessoas no Arraial Pride mais par- nomeadamente da ILGA Portugal, para ticipado evento lésbico, gay, bissexual e ticipado de sempre. O público foi muito um almoço comemorativo deste passo transgénero (LGBT) a nível nacional. Or- diversificado, com um equilíbrio na par- histórico. ganizado pela ILGA Portugal em parceria ticipação de mulheres e homens – para além da integração do público infantil no espaço dedicado a crianças, o Arraialito. Jogos, passatempos, concursos, uma zona de exposição e divulgação de associações e colectivos e um cartaz apelativo (pela primeira vez com o patrocínio de uma marca comercial) foram apenas alguns dos destaques deste ano. No auge da festa, pela meia-noite, todo o Arraial Pride fez um grande brinde à igualdade, depois de mostrarmos um vídeo sobre o dia 8 de Janeiro com intervenções da sessão legislativa que aprovou o casa- mento de pessoas do mesmo sexo – um brinde que contou também com a presença de várias personalidades convidadas, bem CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 39

como de representantes de grupos parla- Ainda no âmbito de redes e parcerias Embora vindo na sequência de acções mentares. Muitos milhares de pessoas cele- internacionais, a ILGA Portugal integra de formação contra a discriminação em braram em uníssono o papel da sociedade o grupo de associações europeias que or- que a ILGA Portugal tinha participado civil e o trabalho da Assembleia da Repúbli- ganiza a 1.ª Conferência Europeia sobre no passado, é de realçar que esta foi a ca, num momento único de um evento que famílias LGBT que decorrerá em Paris em primeira ocasião em que uma instituição aliou a sociabilização à política, promoven- Setembro próximo, com a presença de vá- pública procurou formação nesta área, do a participação activa na vida pública e a rios/as responsáveis políticos/as e com os oferecendo-a também às instituições par- dignificação das instituições democráticas. objectivos de mostrar a importância das ceiras. Trata-se por isso de um primeiro famílias LGBT na Europa; e de promo- exemplo a seguir, no âmbito de um tra- ver o conhecimento e os direitos destas balho longo e exigente para que todas as famílias no continente. Na sequência das pessoas possam exercer a sua cidadania reuniões preparatórias desta conferência, de forma plena. foi decidido criar a NELFA (Network of European LGBT Families Associations, Rede Europeia de Associações de Fa- E AINdA MAIS ACtIVIdAdES... mílias LGBT), na qual a ILGA Portugal participa activamente. o âmbito do Projecto Europeu Iden- Ntificar e Combater os Crimes de Ódio Contra as Pessoas LGBT, coordenado FORMAçãO pelo Instituto Dinamarquês dos Direitos ANtI-dISCRIMINAçãO Humanos, estamos actualmente na fase de desenho de uma formação para professo- a sequência da Conferência Interna- res/as das Escolas (da PSP e da PJ) e para Ncional Políticas Integradas contra a técnicos/as das referidas forças policiais, dIREItOS HUMANOS: Discriminação das Pessoas LGBT (Mains- agendada para Outubro deste ano, e que NA EUROPA E NO MUNdO treaming LGBT Anti-Discrimination Po- focará a integração e inclusão dos direitos licies) que, em Março de 2009, revelou e das questões específicas LGBT, no qua- m Maio de 2010, para além da parti- a necessidade premente de formação de dro dos Direitos Humanos e da ética da Ecipação numa reunião da EU Network sectores-chave para o exercício da cidada- profissão. Para além deste projecto-piloto, em Vilnius, a ILGA Portugal esteve re- nia, como a Segurança, a Justiça, a Saúde, continuaremos a ter muitas actividades no presentada no Baltic Pride, apoiando este a Educação ou a Segu- Centro LGBT, incluindo, evento após várias ameaças quanto à sua rança Social, a Direcção também em Outubro, realização e após vários anos de inibição Regional de Igualdade a Feira do Livro LGBT, da liberdade de manifestação na Lituânia. de Oportunidades dos organizada pelo Cen- Em Junho, a ILGA Portugal foi convi- Açores pediu em Abril tro de Documentação. dada pela Comissão Europeia para partici- de 2010 à ILGA Portu- E em Novembro, para par no painel LGBT do EU-Brazil Human gal a preparação de duas além do aniversário do Rights Civil Society Seminar, um seminário acções de formação, em Centro LGBT, teremos em Brasília que permitiu o intercâmbio de S. Miguel e na Tercei- a atribuição dos Prémios boas práticas, bem como a construção de ra, sobre discriminação Arco-Íris 2010, que será um plano de acção para a interacção entre com base na orientação mais um ponto alto des- o Brasil e a União Europeia na promoção sexual – que vieram a te ano histórico na luta dos Direitos Humanos das Pessoas LGBT. ocorrer em Julho. pela igualdade. 40 associação para o planeamento da família CONSELHO CONSULTIVOCIG NOTÍCIAS DA | CIG84 | –OUTUBRO SECÇÃO ONG 2010

Cidadania, Saúde, Igualdade

APF NORtE população jovem adulta da Região Norte, sobre temas como a emigração protegida e tRáFICO dE SERES HUMANOS através de uma estratégia de disseminação informada no âmbito de oportunidades de do conhecimento e sensibilização para este emprego, recrutamento, políticas e leis vi- Associação para o Planeamento da e outros crimes associados, reforçando a gentes nos países de origem e destino e ain- AFamília tem estado activamente en- necessidade de promoção dos direitos hu- da direitos dos migrantes; factores de risco e volvida, na Região Norte, em diferentes manos, da igualdade de género, da auto- consequências de um percurso de vitimação projectos ligados à problemática do Tráfi- determinação e da dignidade humana. Foi como tráfico de pessoas; diferenças entre co de Seres Humanos. Após o término do definida uma rede de parceiros estratégicos prostituição, exploração sexual, auxílio à Projecto CAIM, projecto-piloto na área da para o desenvolvimento do referencial teó- imigração ilegal e tráfico; direitos das pes- prostituição e tráfico de mulheres para ex- rico e participação transversal ao longo da soas traficadas e o sistema de sinalização, ploração sexual, financiado pela Iniciativa intervenção, da qual fazem parte o OTSH, identificação e assistência, entre outros. Comunitária EQUAL – no qual integrou a a OIM, o ACIDI e os órgãos de Polícia Cri- parceria de desenvolvimento num trabalho minal. Para a implementação das acções de de estreita colaboração com a CIG –, a De- sensibilização, a APF recebeu uma resposta APF AlENtEJO legação é actualmente responsável pela ges- positiva para o início de trabalho conjunto PARENtAlIdAdE E GéNERO tão da Equipa Multidisciplinar e do Centro com a Delegação Norte do IEFP, desenvol- de Acolhimento e Protecção a Mulheres Ví- vendo acções nos diferentes centros de em- uma sociedade em constante muta- timas de Tráfico de Seres Humanos e seus prego da região. Nção, em que os tipos de famílias va- filhos menores. Os protocolos em curso para a concreti- riam constantemente, bem como as exi- No início de 2010, viu aprovado e está zação de formação inter-pares dirigem-se às gências com que são confrontadas ao nível a desenvolver o projecto ALERTA TSH – Universidades, no sentido da apropriação e das competências, houve a necessidade de Conhecer, sensibilizar e agir para o Tráfico disseminação por parte dos próprios jovens. estabelecer espaços de encontro entre famí- de Pessoas, uma candidatura feita ao Eixo Até 31 de Dezembro de 2012, será ainda lias, com vista a criar situações proporcio- 7 do POPH/QREN. realizado um grande número de acções em nadoras de debate, de reflexividade, de con- Tendo como base o I Plano Contra o escolas, de forma a dotar uma amostra si- fronto e de partilha, que permitam melhor Tráfico de Seres Humanos (2007-2010), a gnificativa da população jovem adulta da compreender os significados e desenvolver principal finalidade é desenvolver uma in- Região Norte com conhecimentos, trabalho as competências necessárias para o exercí- tervenção ao nível da prevenção junto da de valores, atitudes e comportamentos cio da maternidade e paternidade.

ROtEIRO 3456 dizer sim ao desenvolvimento e à Cidadania Global

a associação para o planeamento da Família com o apoio do maternidade segura com o essencial planeamento familiar, entre instituto português de Cooperação e desenvolvimento (ipad) e o outros. Falamos e propomos que falem, escrevam, debatam, ac- Fundo das Nações Unidas para a população (UNFpa) e em parceria tuem pelos direitos e compromissos em prol da igualdade, Saúde com a associação das Nações Unidas de portugal, Concelho Nacio- e desenvolvimento contemplados nos diferentes acordos interna- nal de Juventude e o instituto Superior de Ciências Sociais e polí- cionais, regionais e nacionais. ticas está a levar a cabo o projecto Roteiro 3456 Igualdade, Saúde, estamos a 2/3 do tempo entre a assinatura dos compromissos Cidadania e Desenvolvimento. que substanciam os odM e o prazo dado para o seu cumprimen- a campanha do Roteiro 3456 alerta para a necessidade de cada to. Faltam 5 anos… a avaliação do cumprimento dos odM está pessoa em portugal, incluindo parlamentares, decisores políticos distante de ser positiva para as economias e desenvolvimento. e técnicos, lideranças juvenis, nas associações, nos média e a po- Muito tem sido feito, mas insuficiente para o muito que há a fa- pulação em geral, ser interveniente e actuante enquanto cidadão zer e é exigido nos quotidianos de milhões de pessoas. as razões e cidadã na concretização dos objectivos de desenvolvimento do estão não apenas nas opções políticas, nos conflitos armados, Milénio em risco de não serem alcançados até 2015, ao nível da nas catástrofes naturais, mas sobretudo porque não estão reuni- Saúde Sexual e reprodutiva, com impacte na igualdade de Género das as verbas e vontades necessárias e prometidas pela comuni- e oportunidades, Luta Contra a pobreza e exclusão Social, aspectos dade de doadores. essenciais à boa concretização dos direitos Humanos. a Cimeira do Milénio, realizada em Setembro na Nações Unidas, para alcançar os objectivos de desenvolvimento do Milénio, a é fundamental para acelerar os progressos nos odM, nomeada- manutenção das raparigas nos sistemas de ensino, o reconheci- mente nos odM 3, 4, 5 e 6 e será a última oportunidade para que mento do contributo das mulheres para as economias e para a paz, revisões e mudanças significativas aconteçam no quadro dosodM, a igualdade de género e saúde sexual e reprodutiva com acesso com respectiva identificação de lacunas e respectivo acelerar de a cuidados e programas de prevenção são fundamentais. assim esforços e progressos. como o acesso a serviços e cuidados no contexto da igualdade a campanha roteiro 3456 distribui a nível nacional os postais de oportunidades pelo fim à violência, como violência doméstica, alusivos aos objectivos de desenvolvimento do Milénio com os mutilação genital feminina, casamentos forçados, e a promoção da quais portugal está comprometido até 2015: CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 41

Neste sentido, a APF desenvolve há mais benefícios a alcançar favorecerão não só cialização/Acção com uma duração de 12 de um ano, na Região Alentejo, um projec- os jovens e adultos do sexo masculino, mas horas cada, das quais 6 horas são dirigi- to designado Entre Nós, financiado pelo também as raparigas, as mulheres, as crian- das ao tema da Saúde e Direitos Sexuais POPH. Este projecto, dirigido a grávidas, ças e os homens do presente e do futuro. e Reprodutivos e Prevenção de Compor- mães, pais, futuros pais, jovens ou adultos, tamentos de Risco, sendo as restantes 6 e outros acompanhantes/familiares, facilita horas dirigidas à temática da Igualdade de o acesso a informação e aconselhamento na APF AlGARVE Género. Os jovens abrangidos têm idades área da saúde sexual e reprodutiva, promo- SExUAlIdAdE E GéNERO compreendidas entre os 13 e os 20 anos, vendo a conciliação entre a vida familiar e e são provenientes de classes sociais mais laboral. projecto Em Pé de Igualdade da APF desfavorecidas, não integrados no Siste- Com o objectivo de poderem desempe- OAlgarve consiste no desenvolvimento ma Educativo e rapazes e raparigas em nhar mais adequadamente as suas funções, de um conjunto de acções de sensibilização situação de institucionalização. os destinatários do projecto Entre Nós têm sobre a temática Sexualidade e Género, O projecto promove também Acções também acesso a programas de formação contribuindo para que rapazes e raparigas de Sensibilização na Temática Igualdade nas seguintes áreas: conciliação da vida possam ver-se e sentir-se como iguais, com de Género, com a duração de 12 horas, familiar/vida laboral, igualdade de género, as mesmas possibilidades e direitos na esco- dirigidas a estudantes das diferentes direitos sexuais e reprodutivos, planeamen- lha de projectos de vida e nos seus percur- Universidades do Algarve. Tentando to familiar, educação sexual, prevenção de sos pessoais, escolares e profissionais. Que criar momentos de reflexão/acção acer- abusos sexuais e violência doméstica. sejam igualmente capazes de fazer escolhas ca da introdução desta temática nas di- Estes programas de formação são cons- livres, reflectidas e saudáveis na sua vida se- ferentes áreas profissionais, fomentando tituídos por workshops que têm em conta xual e reprodutiva, apelando para um exer- uma participação equilibrada entre ho- as necessidades específicas de Saúde Sexual cício responsável da sexualidade em todas mens e mulheres na esfera pública, as- e Reprodutiva e onde homens e mulheres as etapas do ciclo de vida, tendo como fina- segurando simultaneamente a igualdade podem desenvolver competências para o lidade prevenir a ocorrência de gravidez na de tratamento e de acesso de todas as exercício da maternidade e paternidade, adolescência, de novas infecções por VIH e pessoas a diferentes serviços, indepen- reforçar os factores protectores de cada fa- outras IST e relações de poder desequilibra- dentemente do sexo. mília e promover uma vivência positiva da das, produtoras de situações de violência, É ainda nossa intenção neste pro- saúde e da sexualidade. e que residem grandemente em estereóti- jecto, dar relevo à adopção de uma Com o Entre Nós aumentamos o inte- pos de género severamente enraizados em linguagem inclusiva que integre o sexo resse, envolvimento e responsabilidade so- homens e mulheres e que colocam estas feminino e masculino de uma forma bre a saúde dos jovens e adultos do sexo últimas em situações de grande vulnerabili- equilibrada, conducente a uma eficaz masculino, intervindo sobre uma questão dade. Para o efeito, têm vindo a ser reali- reformulação das representações sociais de equidade ligada ao género, em que os zadas Acções de Sensibilização/Conscien- do género.

ODM 1 erradicar a pobreza extrema e a fome. ODM 2 alcançar universalmente o ensino básico. ODM 3 promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres. eliminar as disparidades com base no género em todos os níveis de ensino até 2015. ODM 4 reduzir a mortalidade infantil. reduzir em 2/3 a taxa de mortalidade em crianças até aos cinco anos de idade. ODM 5 Melhorar a saúde materna. reduzir em 3/4 a taxa de mor- talidade materna. alcançar o acesso universal aos cuida- dos de saúde reprodutiva. ODM 6 Combater o ViH/Sida, malária e outras doenças. parar e in- verter a propagação ViH/Sida. alcançar até 2010 o acesso universal ao tratamento para o ViH/Sida para todas as pes- soas que dele precisem. parar e inverter a actual incidência da malária e outras doenças. ODM 7 assegurar a sustentabilidade ambiental. ODM 8 parceria global para o desenvolvimento.

Com os quatro postais, com o restante material e com as demais actividades do Roteiro 3456 esperamos contribuir para que a indig- nação mobilize vontades, iniciativas e mudanças que começam pela consciência e tomada de posição de cada um de nós na escola, na rádio, na televisão, no bancada do parlamento, no gabinete, em casa, nos espaços públicos, mas sobretudo que sejamos capazes de mobilizar para que os orçamentos sejam coerentes e permitam consistência de políticas e programas com que nos compromete- mos e são decisivos para portugal e o Mundo: os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. 42 emamnistia análise internacional CONSELHO CONSULTIVOCIG NOTÍCIAS DA | CIG84 | –OUTUBRO SECÇÃO ONG 2010 Sónia Pires | Vice-presidente da AI Portugal

Retratos de Reinos desconhecidos

Retrato de uma princesa desconhecida Amnistia Internacional iniciou o seu trabalho no ano de A 1961, mostrando assim que há muitos voluntários que exi- Para que ela tivesse um pescoço tão fino gem o respeito pelos Direitos Humanos em todo o mundo, sem Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule quaisquer distinções. Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita Mas a criação deste nosso movimento teve muitas lutas por E ela usasse a cabeça tão erguida de trás, que foram basilares para o seu começo, as quais con- Com uma tão simples claridade sobre a testa taram com a dedicação de muitas mulheres à contenda pelos Foram necessárias sucessivas gerações de escravos direitos humanos das mulheres, sejam eles civis e políticos ou De corpo dobrado e grossas mãos pacientes económicos, sociais e culturais. Servindo sucessivas gerações de príncipes Olympe de Gouges será sempre um dos ícones do feminis- Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos mo e da luta pelos direitos das mulheres, autora da Declaração Foi um imenso desperdiçar de gente dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, defendia os di- Para que ela fosse aquela perfeição reitos civis e políticos das mulheres, pelo que foi condenada à Solitária exilada sem destino guilhotina. Mas Olympe de Gouges foi uma entre muitas co- rajosas mulheres que defenderam o devido papel da mulher na Sophia de Mello Breyner Andresen sociedade. Mais tarde quem vem simbolizar a nossa República? Uma Mulher. Uma mulher cujo papel havia sido secundário e que agora é reconhecido como símbolo de liberdade. Uma mu- lher porque foram muitas mulheres que defenderam a igualda- de das mulheres antes da República e depois dela, no direito ao voto, no acesso ao trabalho e na igualdade de direitos e deveres no casamento, entre outras tantas áreas. Por ser fulcral o papel da mulher no mundo, a Amnistia Internacional continua empenhada na defesa dos direitos hu- manos das mulheres e a combater a discriminação com base no género. Porque mais de 2 milhões de membros acreditam que a violação dos direitos da mulher tem que acabar, a Amnistia Internacional em 2004 lançou uma grande campanha Acabar a Violência sobre as Mulheres, cujo âmbito era lato, e ao longo destes anos abarcou inúmeros aspectos sobre a discriminação e violência com base no género, tendo colhido frutos muito satisfatórios. CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 43

Leis alteradas, novas leis aprovadas, situações de facto modi- humanos que muitas vezes arriscam as suas próprias vidas por ficadas sempre visionando o respeito pelos direitos das mulheres esta causa tão nobre, a defesa da dignidade humana. e a sua não discriminação. E como em tempos idos, hoje em dia, muitas mulheres fazem Apesar dos resultados, em 2009 a campanha Acabar a Vio- parte deste grupo, como Claudia Lema, no Peru, Amina Janjua, lência sobre as Mulheres finalizou, mas isto não significa que as no Paquistão e muitas outras cujo nome não se conhece, mas preocupações sobre o género cessaram. Antes pelo contrário, no que se dedicam a esta causa (ver www.amnistia-internacional. âmbito da campanha Exija Dignidade falamos das mesmas pro- pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1407&Ite blemáticas de género, nomeadamente da pobreza no feminino. mid=98). Todos podemos ser defensores de direitos humanos e Ainda hoje em dia as mulheres são objecto de atitudes machistas, juntarmo-nos a uma equipa de pessoas «que acredita» em http:// sexistas, da discriminação em geral, e por isto ainda são elas que estadiovirtual.amnistia-internacional.pt/. representam a maior percentagem da pobreza no mundo, seja ela Queremos acreditar ser possível afastar os «exílios solitários absoluta ou relativa. Sabemos que ainda muito há para fazer e sem destino» e deixar de desperdiçar gente e suas vidas. que as lutas ganhas de outrora ainda se encontram a meio cami- nho. Temos que continuar a observar e a apontar, exigindo que as relações de género se tornem justas e igualitárias. A discriminação legal e de facto fecha as portas às mulhe- res que são sujeitos plenos de direitos, e por isso ainda vimos mulheres a serem magoadas, mutiladas, afastadas do acesso à educação, emprego ou saúde, com base em crenças inusitadas.

ejamos a campanha europeia da Amnistia Internacional Fim Và Mutilação Genital Feminina, que pretende acabar com um flagelo antigo, justificado por crenças irracionais sobre o papel da mulher (ver www.endfgm.eu). Não podemos normalizar este tipo de comportamentos só porque não nos afectam directamen- te ou porque julgamos que não podemos fazer a diferença. A máxima irrefutável é que defendendo os direitos humanos de alguns, defendemos os direitos humanos de todos. Os direitos humanos são interdependentes e universais, e devemos dar voz, pela nossa voz, a quem está «amordaçado». Como ficar sereno em casa quando 70% das mulheres no mundo são pobres, muitas são sujeitas a práticas desumanas, tais como o corte dos genitais femininos, o apedrejamento por adul- tério, a violência perpetrada pelos que lhe são mais queridos, no «conforto» do seu lar, ou são traficadas para exploração quando só queriam procurar uma vida melhor e fugir da pobreza que as cerca? Como ficar alheio? Por isso a Amnistia, mesmo tendo finalizado a Campanha Acabar a Violência sobre as Mulheres continuará a trabalhar transversalmente a questão do género em todas as suas campa- nhas. Mais além do respeito e concretização dos direitos huma- nos, não podendo esquecer as lutas de outrora, temos que des- tacar as lides dos dias de hoje e falar dos defensores de direitos 44 mdm CONSELHO CONSULTIVOCIG NOTÍCIAS DA | CIG84 | –OUTUBRO SECÇÃO ONG 2010

Em movimento, sonhar e viver melhor!

actividade do Movimento Democrá- Congresso procurou responder às neces- pesar de todo o trabalho preparatório, Atico de Mulheres (MDM) em 2010 sidades urgentes de defesa do direito ao Ade realização e de posterior divulgação tem sido pautada pela intensidade, por trabalho e independência económica, na que um congresso acarreta, o MDM tem novos e constantes desafios e por um defesa do estatuto de igualdade social, concretizado diversificadas actividades. esforço crescente por ir ao encontro das bem-estar e felicidade das mulheres, per- Assim, o projecto Uma vida de trabalhos? mulheres e seus questionamentos. correndo os seus problemas bem como as Trajectórias Profissionais e Participação das Em Maio, o MDM realizou o seu VIII questões económicas, sociais, políticas, Mulheres, desenvolvido pelo núcleo do Por- Congresso, na Voz do Operário, em Lisboa, culturais e filosóficas que se levantam nos to, realizou duas iniciativas, uma sob o lema que contou com a participação de mulheres dias de hoje. A participação das mulheres no poder local de todo o país e que constituiu um momento Mas o VIII Congresso do MDM foi e no movimento associativo, em São Pedro alto de reflexão e intervenção, na constru- também espaço e tempo de alegria, de da Cova, e outra sobre A precariedade das ção de um Movimento maior, melhor, ainda animação, de arte e cultura, destacando- Jovens Trabalhadoras: consequências na mais reivindicativo e actuante. No contexto se a Festa de Solidariedade, que encerrou evolução da carreira profissional – desper- de grave crise económica e financeira que os trabalhos e que contou com a partici- dício intelectual das jovens licenciadas, na atravessa o país e o mundo, aprofundan- pação de vários artistas, e a pintura ao FNAC de Santa Catarina. do e agravando as desigualdades sociais, e, vivo, durante o Congresso, de uma tela da Foram apresentados publicamente os tendo em conta os evidentes retrocessos no pintora Dília Fraguito Samarth intitulada novos projectos do MDM: Ao Encontro estatuto social e económico das mulheres, o Mulheres como fonte de vida, pela igual- das Mulheres de Braga – do pessoal ao MDM procurou no seu Congresso actuali- dade e a paz. Esta obra colectiva, com mediático, posto em prática pelo núcleo zar a análise da situação das mulheres por- contributos de congressistas e convidadas de Braga, e Saúde da Mulher – Construir a tuguesas e do mundo, alargar a dinâmica internacionais, traduz a nossa forma de Igualdade, realizado pelo núcleo de Évo- nacional e local do Movimento na luta por fazer e viver o mundo, de reivindicar e ra. Nestas iniciativas foram divulgados os reivindicações em vários domínios, mobili- exigir uma vida diferente e foi oferecida objectivos e actividades previstos nestes zar as mulheres para uma maior participa- à Assembleia da República, na pessoa do projectos, desenvolvidos pelo MDM no ção na defesa dos seus direitos, reforçar a seu Presidente, conjuntamente com toda âmbito do QREN/POPH. acção de solidariedade com as organizações a documentação aprovada no congresso. de mulheres de outros países, entre muitos MDM também tomou uma posi- outros objectivos. Oção pública contra o aumento dos Do VIII Congresso saiu um MDM re- preços e um nível de vida cada vez mais forçado, com novos órgãos de direcção precário que levantam novos obstáculos à de que fazem parte mulheres de Norte a dignidade e à emancipação a que as mu- Sul do país e de várias profissões e ida- lheres aspiram e por que lutaram, com a des, e um conjunto de documentos apro- entrada em vigor do aumento do IVA, em vados que orientarão a acção e interven- 1 de Julho. O protesto, junto à residência ção do Movimento neste novo mandato. do Primeiro-Ministro, contou com a par- Das propostas colocadas à discussão e ticipação de muitas mulheres que expres- aprovadas no congresso, destacam-se a saram o seu repúdio contra a degradação Declaração às Mulheres Portuguesas, o da sua qualidade de vida, na defesa da documento enquadrador Em Movimen- participação em igualdade e de uma jus- to – Sonhar e viver melhor, Mulheres pela tiça social sem discriminações. Igualdade e várias moções sobre questões Outra das medidas postas em prá- fundamentais da actualidade nacional Neste VIII Congresso participou uma tica pelo Governo no início de Agosto e internacional. Estes documentos e as importante delegação das mulheres sa- (as alterações às regras de atribuição das três dezenas de intervenções temáticas e rauís (a secretária-geral da União Nacio- prestações sociais) motivou um veemente sectoriais reflectem o estudo da situação nal das Mulheres Sarauís e uma deputada protesto do MDM, denunciando o corte actual, colocam em evidência o posiciona- do parlamento saraui) bem como delega- cego e injusto feito a quem e quando mais mento do MDM relativamente a muitas ções de organizações de África e da Euro- precisa. Prestações fundamentais como a matérias e, fundamentalmente, formu- pa da Federação Democrática Internacio- acção social escolar, prestações por en- lam propostas e apontam caminhos para nal de Mulheres (FDIM) e a organização cargos familiares, as pensões sociais de o futuro. Com humildade e empenho, o italiana Osservatorio Choisir. velhice e invalidez, a comparticipação de CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 45

medicamentos e pagamento de taxas mo- MDM. A delegação de Mulheres Sa rauís centenário: o do Dia Internacional da deradoras entre outras, afectarão mais as que participou nos trabalhos do VIII Mulher, proclamado em 1910 por Clara mulheres e disso se deu conta ao chefe do Congresso deslocou-se a várias regiões Zetkin, a que o MDM deu grande rele- Governo, através de reunião com o seu para encontros e iniciativas com autar- vo nas celebrações do dia 8 de Março e assessor para os Assuntos Sociais. quias, associações, sindicatos. Foi rece- também no seu Congresso. O encerramento de centenas de es- bida também pela Secretária de Estado No seminário intitulado A República: colas, em todo o país, justificou também da Igualdade, Elza Pais. A exposição do as lutas e o movimento de mulheres, pro- a tomada de posição do MDM, sobre o MDM Olhares femininos sobre as mulhe- gramado para 9 de Outubro, no Fórum impacte destas medidas para as famílias, res do Sahara Ocidental continua a per- José Manuel Figueiredo, na Baixa da incluindo as famílias monoparentais, e correr o país, divulgando a realidade da Banheira, o MDM dá o seu contributo as comunidades mais isoladas. Por outro vivência nos acampamentos de refugiados para mostrar como as lutas das mulhe- lado, estas medidas trazem obrigatoria- do povo sarauí. res trabalhadoras e todo o movimento mente o desemprego de docentes e não O acto público que decorreu numa das mulheres, que então emergiu, tive- docentes e criam novos encargos, sem con- praça no Porto, Todos somos Palestina ram uma inegável repercussão social e trapartidas, às já debilitadas finanças das - solidariedade com o povo palestiniano, política na caminhada pela igualdade autarquias que pretenderem colmatar esta organizado pelo Movimento pela Paz, e emancipação das mulheres ao longo difícil situação. O MDM, acompanhando contou com a participação do MDM e destes 100 anos. a indignação das famílias, exige a imediata a sua exposição Mulheres da Palestina suspensão do encerramento destas escolas – São rostos de mulheres que resistem e e uma política que verdadeiramente apoie lutam. Esta exposição esteve ainda em os direitos das crianças e uma educação Grândola, em Julho, onde foi comentada pública, para todas e todos. num debate co-organizado pelo MDM e A tentativa de encerramento das ur- a Junta de Freguesia, a propósito do tema gências de Pediatria dos Hospitais de Mulheres e a Paz, tema que será apro- Setúbal e do Barreiro também exigiu do fundado no seminário internacional que MDM uma pronta resposta e denúncia, o MDM organiza no dia 23 de Outubro, que levou a um volte-face da Ministra da em Lisboa. Saúde relativamente a estas medidas que viriam penalizar, de forma dramática, a busca de uma história que dê vi- as condições de assistência hospitalar de Nsibilidade ao papel das mulheres e muitas crianças e a vida das famílias da das suas organizações, o I Centenário Península de Setúbal e do sul do país. da República, é abordado pelo MDM Os assuntos internacionais também numa perspectiva feminina e feminis- têm continuado a pautar a agenda do ta. Pode e deve ser aliado a um outro 46 rede CONSELHO CONSULTIVOCIG NOTÍCIAS DA | CIG84 | –OUTUBRO SECÇÃO ONG 2010

Igualdade de género e a juventude:

Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportuni- Adades entre Mulheres e Homens assume-se como uma orga- nização que congrega duas áreas de intervenção: a igualdade de género e a juventude. O nosso foco principal é, assim, a promoção do mainstreaming de género na área da juventude, trabalhando quer com jovens individuais quer com organizações desta área. Deste modo, nos últimos meses, tem vindo a desenvolver diversas actividades, em várias zonas do país, com diferentes públicos. Em Fevereiro do presente ano, a REDE foi convidada pelo Núcleo de Estudantes de Educação da Universidade do Minho (NEDUM) para dinamizar um workshop intitulado Igualdade de Oportunidades para as/os participantes do III ENECE (En- contro Nacional de Estudantes de Ciências da Educação e da Formação), em Braga (assegurado por Catarina Arnaut e Patrí- cia São João). Neste workshop inscreveram-se estudantes de di- ferentes universidades: Universidade do Minho, Universidade de Lisboa e Universidade do Porto. Através de metodologias activas de educação não-formal, abordaram-se questões como: a diferença entre sexo e género, a sub-representação das mulheres na política e nos cargos de to- entre as opções disponíveis: Mudar (120), Reflectir (115), Agir mada de decisão, a genética vs construções sociais/socialização, (389). Estes números levaram-nos a crer que as cidadãs e os ci- a discriminação múltipla, os estereótipos e igualdade de oportu- dadãos compreendem a premência e a necessidade de produzir nidades. As/os participantes sugeriram que a REDE dinamizasse «acção» para termos uma atitude/comportamento proactivo no workshops junto de escolas e universidades, nomeadamente com que concerne às questões da igualdade de género. Mulheres e estudantes de Educação, uma vez que consideraram este método homens, de todas as faixas etárias, foram abordadas/os durante eficaz e interessante. a acção na Rua de Santa Catarina, de forma a potenciar uma A 8 de Março, no âmbito da comemoração dos 100 anos da sensibilização através de uma conversa informal onde se tentou proclamação do Dia Internacional das Mulheres, a REDE pro- esclarecer a importância e o significado da comemoração do Dia moveu acções de rua, no Porto e em Lisboa. Internacional das Mulheres. A acção de rua no Porto, dinamizada pelas jovens mento- A dinamizar esta acção estiveram as mentoradas do projec- radas da segunda edição do projecto de Mulher para Mulher to Ana Carla Amorim, Catarina Mendes, Joana Soares, Joana (dMpM2), designou-se 100 Desigualdades e foi dirigida a mu- Topa, Márcia Bartolo, Margarida Bessa, Mariana Moutinho, lheres e homens de todas as faixas etárias que desejassem parti- Marisa Macedo, Núria Rodrigues, Renata Coelho e Rita Ma- cipar. Nesta iniciativa participaram activamente 624 pessoas na chado, juntamente com a Equipa Técnica do dMpM2 Porto e actividade Já pensou no que fazer hoje? As opiniões dividiram-se uma voluntária, Paula Rodrigues.

acção de rua em Lisboa, dinamizada pe- Alas mentoradas do projecto, designou-se Igualdade, Paridade, Acção! 600 lisboetas re- ceberam das mãos de algumas mentoradas do dMpM2 Lisboa o jornal informativo sobre o Dia Internacional das Mulheres Ana Velez, Catarina Correia, Dalila Santos, Denise Ca- macho, Evódia Gomes, Helena Magalhães, Jaqueline Silva, Margarida Machado, Neuza Oliveira, Sofia Gomes e Tânia Spranger circu- laram pela Baixa da capital, interagindo com a população e propondo uma reflexão acerca de Igualdade, Paridade e Acção. Ainda neste dia, pela hora de almoço, as mentoradas estiveram na Faculdade de Ci- ências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, onde chamaram a atenção para a CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 47 igualdade, paridade, acção!

necessidade de se assinalar o Dia Internacio- ara finalizar, refira-se que a REDE foi convidada a integrar a nal das Mulheres através de uma sequência de Porganização da 5.ª Marcha do Orgulho LGBT no Porto, em cartazes. Com as mentoradas, nesta acção, es- Janeiro do presente ano. A participação da REDE (assegurada teve também um voluntário, Bruno Góis, uma por Patrícia São João) foi no sentido de dar visibilidade às ques- voluntária da REDE, Nora Kiss, e a Equipa tões das mulheres, mormente na sua relação com as questões Técnica do dMpM2 Lisboa. da juventude, contribuindo ainda para assegurar a utilização de Ao longo do mês de Março, foi igualmente linguagem inclusiva nos materiais de comunicação produzidos endereçado um convite à REDE para dinami- pela organização. zar uma sessão de sensibilização na Associa- A REDE integrou também o grupo de trabalho de construção ção Mocidade Cristã em Setúbal, com mulhe- do manifesto desta iniciativa. A Marcha saiu à rua no dia 10 de res e homens. No decorrer desta actividade, Julho, na cidade do Porto, na qual estiveram presentes algumas levada a cabo pela mentorada Ana Velez e mentoradas do dMpM2 Porto (Márcia Bartolo, Mariana Mouti- por um elemento da Equipa dMpM2 Lisboa, nho, Renata Coelho e Rita Machado). Houve ainda oportunida- foram utilizadas metodologias de educação de para se fazer uma breve intervenção, no final, na qual a REDE não formal, com o objectivo de distinguir quis sublinhar não só os motivos de celebração, mas também a «sexo» e «género», explorar os papéis sociais importância de se participar activamente na reinvindicação e no de género e contribuir para a eliminação de desejo de mudança. estereótipos sexistas. A REDE esteve também envolvida na organização da iniciati- va Levanta-te Porto, realizada no dia 18 de Setembro no âmbito REDE esteve também presente no Encontro Ibérico e do Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). A Mostra de Produtos no âmbito do projecto Mantém-te Firme promovido pela Fundação ADFP, de Miranda do Cor- vo. Este evento proporcionou uma partilha de boas práticas através da apresentação de vários projectos que estão a ser im- plementados de norte a sul do país, co-financiados pelo Fundo Social Europeu (Eixo 7, Igualdade de Género). Houve tam- bém oportunidade para apresentar o dMpM2, bem como os seus produtos. A acompanhar a Equipa Técnica do dMpM2 Porto estiveram três mentoradas deste projecto, a Márcia Bar- tolo, a Mariana Moutinho e a Renata Coelho. Ainda em Março, foi realizada uma sessão de sensibili- zação (assegurada por Catarina Arnaut e Patrícia São João) para alunas/os do 3.º ano da licenciatura em Serviço Social, da disciplina de Exclusões Sociais, da Universidade de Trás- os-Montes e Alto Douro (UTAD). A REDE foi contactada no sentido de se proporcionar às/ aos estudantes o contacto com uma associação que trabalhas- se questões que, de alguma forma, não estão presentes no cur- rículo da licenciatura, como forma de tornar estas/es técnicas/ os em formação mais conscientes na sua futura intervenção. Através de dinâmicas de educação não-formal foi analisada a evolução histórica dos direitos humanos das mulheres e de- senvolvido o interesse pelo conhecimento de diferentes pro- cessos e referências históricas do movimento feminista, bem como de algumas questões e conceitos relacionados com a NOTA igualdade de género. Na edição anterior da revista Notícias, da CIG, foi Já em Maio, a REDE foi convidada, através de uma do- disponibilizado à REDE um espaço de divulgação das suas cente da Escola Secundária de Sintra, para dinamizar uma ses- actividades enquanto ONG promotora dos Direitos Humanos são de sensibilização, na qual foram trabalhadas as seguintes das Mulheres na área da Juventude. Por lapso, não foi referido questões: género e socialização de género, género e desigual- o projecto de intervenção A dois é melhor!, de Ana Ramada e dade social e formas de discriminação associadas ao género. Ana Velez, mentoradas do projecto de Mulher para Mulher - Esta acção foi dinamizada pela mentorada Tânia Spranger e 2.ª Edição. Para mais informações, consulte: por uma técnica do dMpM2 Lisboa. http://demulherparamulher.redejovensigualdade 48 ajpaz CONSELHO CONSULTIVOCIG NOTÍCIAS DA | CIG84 | –OUTUBRO SECÇÃO ONG 2010

A maior parte das/dos nossas/os des- pressupostos das Economias Solidárias. tinatárias/os são mulheres adultas e ido- Este projecto conta com uma infra-estru- Economias sas cujas tarefas variam entre o trabalho tura socioeconómica, pioneira em Por- doméstico e o cuidado das/dos filhas/os e tugal, promotora do empreendedorismo solidárias maridos. No entanto, especialmente no local, em especial o das mulheres, e a cria- que concerne à formação, podemos tam- ção de parcerias territoriais de prevenção bém contar com jovens e adultas/os, que e combate à pobreza e à exclusão social. no feminino procuram junto de nós novas perspecti- Qualifica-se por ser um espaço que con- vas e oportunidades de contribuir para juga a dimensão da Economia Solidária a construção de um mundo francamente com outras actividades fundamentais ao Acção para a Justiça e Paz (AJPaz) é melhor. A finalidade do nosso trabalho sucesso da experiência, como sejam a in- A uma ONGD (Organização Não Go- seja com as mulheres, seja com homens, formação, formação, educação para a ci- vernamental para o Desenvolvimento) centra-se na necessidade de trabalharmos dadania, empreendedorismo, empregabi- cujo objectivo se concentra na constru- a diferença, de modo a aceitá-la como lidade, Igualdade de Género, diversidade ção de uma Cultura de Paz, baseada no Igual e, assim, inclui-la na nossa prática e não-discriminação, assim como, a cria- respeito pelos Direitos de todas as Pesso- quotidiana. ção de pequenos negócios. as, na Democracia Paritária, Inclusiva e Actualmente, para além dos cursos Participativa, na Justiça Cognitiva e So- de formação transversais à prática da as- trabalho em rede é, para nós, uma cial e num Ambiente Saudável capaz de sociação, a AJPaz tem três projectos em Oestratégia e um valor político e hu- dar e preservar a Vida. curso. O projecto Lés-a-Lés – Solidarie- mano basilar, do qual não abdicamos. O trabalho desta associação, locali- dade Glocal, co-financiado pelo Instituto Porque sabemos, e aceitamos com hu- zada numa pequena comunidade dada Português de Apoio ao Desenvolvimento mildade, que as nossas maiores preocu- pelo nome de Granja do Ulmeiro, con- (IPAD), que pretende valorizar o poten- pações são apenas algumas das muitas tinua a reger-se pelos seus princípios cial existente no concelho, com o objec- que animam as lutas e as resistências de fundadores, como a promoção da Igual- tivo de, junto de decisoras/es políticas/ pessoas e grupos, consideramos impres- dade entre Mulheres e Homens; o re- os e opinion-makers, repensar estratégias cindível aliarmo-nos aos mais variados forço do papel da Mulher na sua esfera propiciadoras de melhorias para o ter- movimentos e redes, de forma a ter no- laboral, social e doméstica; respeito pe- ritório, de modo a permitir fazer face à vas perspectivas e enquadrarmo-nos nos los Direitos Humanos; formação e sen- adversidade e aos efeitos da globalização novos/outros contextos políticos, sociais sibilização de públicos estratégicos nas capitalista, promotora de profundas desi- e culturais a que assistimos na sociedade áreas da Igualdade de Género, Econo- gualdades. Este projecto pretende contri- actual. O trabalho em rede tem de ser ca- mias Solidárias, Consumo Responsável buir para uma sociedade sensível e mobi- paz de atravessar todos os movimentos, e Sustentabilidade Social e Ambiental. É lizada e para a prática de uma cidadania todos os territórios e todos os temas que uma instituição assumidamente pacifis- global, visando o reforço dos modelos nos preocupam. ta e feminista actuando, essencialmente sustentáveis de desenvolvimento social e Importante será dizer que a AJPaz junto de jovens, mulheres e comunida- económico, dando a conhecer e, com isso adoptou, desde muito cedo, a dissemi- des glocais, sobre a égide da Igualdade, facilitar, o acesso a alternativas económi- nação de Conhecimento como o trans- Justiça e Paz. cas e solidárias. porte mais privilegiado das nossas O projecto Lider@: Dinâmicas de Sus- aprendizagens. Por isso, apostamos na tentabilidade Local Lideradas por Mulhe- sistematização e re-invenção do conheci- res, financiado pelo Fundo Social Europeu mento formal e académico partindo das e pelo Estado Português, no âmbito do experiências práticas de terreno para a QREN (Quadro de Referência Estratégico concepção de conhecimento empírico que Nacional) pretende reforçar estratégias lo- poderá depois ser disseminado e apro- cais de promoção da Igualdade de Género fundado. Assim, ao contrário da filosofia com a finalidade de capacitar as mulheres individualista que a sociedade moderna para a participação pública e social. Assim, parece ter adoptado, a AJPaz, na seu dis- o projecto Lider@ visa promover o papel curso optimista pela construção de um das mulheres, em especial as mulheres do mundo melhor, acredita encontrar mais meio rural, na gestão das comunidades lo- vantagens na partilha das suas estórias, cais, fomentando mecanismos de melhoria do que na sua apropriação. concreta das suas condições de vida, base- Todo o trabalho desenvolvido pela ados em alternativas económicas em escala AJPaz, seja através dos projectos desen- de proximidade, contemplando também a volvidos ou dos públicos que abrange, formação e educação de pessoas adultas ao visa a construção declarada de uma socie- longo da vida. dade mais justa e igualitária, democrática A Mercearia Solidária, iniciativa fi- e inclusiva na sua prática. Por tudo isto, nanciada pela Fundação EDP, é o nosso também as nossas acções têm de ser par- projecto mais recente, cujo objectivo se tilhadas e solidárias, porque todas elas centra no incremento da sustentabilidade fazem parte da construção de Um Outro do concelho de Soure, cumprindo com os Mundo que é possível! CIGmarp NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 CONSELHO CONSULTIVO DA CIG – SECÇÃO ONG 49

Preservar o que de melhor há da nossa terra

e âmbito nacional, a MARP assen- cargos de poder (ex. presidente da câ- e Teixeira (Baião). O público-alvo é Dta na experiência e motivação dos mara, directora de uma empresa), há constituído por cerca de 20 mulheres de seus técnicos e dirigentes bem como na pouca participação das mulheres na cada freguesia, que mostraram vontade colaboração que estabelece com as es- vida política e ao nível da religião a de assumir riscos e de desenvolver uma truturas locais, sociais e rurais. sua participação é por tradição limita- actividade empresarial. A comunicação Com o Projecto RUMO XXI enqua- da. Tudo isto, concluem, surge porque torna-se o primeiro passo para atingir drado no QREN – POPH que tem como a mulher é vista como um ser delicado, os objectivos pessoais e profissionais. A objectivos, sensibilizar e promover a sensível, parcial, emotivo, fraco, daí ser capacidade de se expressar e comunicar igualdade de género e a igualdade de vocacionada para algumas profissões e, é uma das principais características da Oportunidades e dar a conhecer e sensi- para outras, não auferir das qualidades pessoa empreendedora. bilizar que a mulher pode participar de necessárias, poder, autoridade, impar- A MARP em trabalho conjunto com igual forma na vida profissional, fami- cialidade, força., destreza, preparação os nossos associados tem desenvolvido liar e pública. física, etc. tão assumidos pela condição feiras do Mundo Rural de maneira a aju- A mulher deve ser a primeira educa- física do homem.. Este foi o feedback dar os nossos produtores e associados a dora, professora, zeladora, deve cuidar da sessão com a temática Vida Pública escoar alguns dos seus produtos. A últi- dos filhos e da casa, e pode ser respon- e Profissional. ma decorreu no dia 24 de Julho no Hor- sável, ter um trabalho ou pertencer a A decorrer encontra-se o Projecto to Quinta do Tronco e tinha como tema um grupo de pessoas por puro lazer, Mulher, campo e trabalho cujo objecti- Produtos Regionais. Além dos produtos distracção, convicção pessoal, valoriza- vo é capacitar mulheres de duas fregue- hortofrutícolas, as aromáticas, o pão, o ção social ou como ocupação de tempos sias com competências empreendedoras. vinho, os queijos e a doçaria tradicional livres. Este foi o último dos temas deba- As primeiras sessões temáticas Expres- têm sido valorizados pelos clientes da tidos nas sessões de sensibilização com são e Comunicação no âmbito do desen- cidade de Paredes e do Porto. mulheres e jovens do mundo rural, Vida volvimento do Projecto Mulher, campo Urge, cada vez mais, a necessida- pública e profissional. e trabalho irão ocorrer em Setembro de de preservar o que de melhor há da A participação das mulheres na vida nas freguesias da Aboadela ( Amarante) nossa terra. profissional tem aumentado nos últimos anos, a taxa de actividade feminina tem vindo a aumentar face a uma taxa de ac- tividade masculina que tem vindo a redu- zir-se ligeiramente. Este aumento deve-se, à evolução do papel da mulher rural na sociedade, que já é encarada não exclu- sivamente como mãe e esposa, mas como trabalhadora ou empresária. A mulher, tem tido um papel marcan- te, embora minoritário na sociedade, uma vez que têm-se dedicado a outras esferas, como a política, a religião, a participação em organizações de solidariedade social, o associativismo, entre outras. Segundo os alunos auscultados sobre a vida profissional das mulheres, embora a sociedade actual esteja mais equilibra- da verificam-se discrepâncias: existem profissões que são ocupadas maiorita- riamente por homens (ex. engenheiro) e outras por mulheres (ex. enfermeira). Existem ainda poucas mulheres em 50 violência doméstica CIG NOTÍCIAS | 84 | OUTUBRO 2010 Celina Manita*

O modelo de intervenção de duluth e a realidade portuguesa

uitos dos programas de interven- cipal preocupação garantir a segurança Humano (POPH) do Quadro de Referên- Mção na violência doméstica exis- da vítima. cia Estratégico Nacional (QREN). tentes actualmente em diferentes países No que aos agressores diz respeito, Este projecto encontra-se em fase de inspiram-se no Domestic Abuse Inter- este programa visa ensinar-lhes formas conclusão – foram já traduzidos os dois vention Project (DAIP), vulgo Modelo alternativas de se relacionarem com as manuais, as rodas e os diálogos que ser- Duluth. O DAIP é um modelo educacio- companheiras e de diminuir a sua tendên- vem de base aos vídeos usados na inter- nal, de raiz feminista, e visa proporcio- cia para recorrer à violência nas relações venção, vídeos que estão a ser filmados nar uma resposta comunitária coordena- de intimidade, responsabilizando-os pelo presentemente, para serem posterior- da em situações de violência doméstica, seu comportamento, educando-os sobre mente testados junto de agressores de articulando a intervenção das diversas questões relacionadas com o sexismo, a violência conjugal. Todos estes materiais instituições (e.g., ministério público, hierarquia patriarcal, o papel da violên- estão a ser alvo de um processo de adap- polícias, serviços de saúde, centros de cia, do poder e do controlo nas relações tação à realidade social e cultural do nos- atendimento a vítimas, casas de abrigo, interpessoais e fornecendo-lhes ferra- so país, etapa também em fase de finali- programas de intervenção em agressores, mentas de controlo e gestão da raiva, zação, e serão testados junto de vítimas serviços de reinserção social) que lidam contribuindo para o desenvolvimento de e de agressores. Foram recolhidas, ainda, com estes casos, defendendo a responsa- relações interpessoais igualitárias, mais junto de vítimas de violência doméstica, bilização do agressor e da sociedade face saudáveis e significativas, não-violentas, narrativas auto-biográficas, descrições à violência doméstica e tendo como prin- assentes na partilha e não no medo. pessoais das estratégias de controlo uti- Para apoiar a sua intervenção, o DAIP lizadas pelos agressores e do impacto da construiu dois currículos educacionais, violência, entre outras, que foram usadas um dirigido às vítimas – «In Our Best In- quer na adaptação dos dois currículos de terest: a Process for Personal and Social intervenção, quer na adaptação dos gui- Change» – e outro dirigido aos agresso- ões das cenas usadas nos vídeos de for- res – «Creating a Process of Change for mação/intervenção. Men Who Batter». Para além disso, de- Num futuro breve poderá proceder- senvolveu a já muito conhecida e utiliza- se, assim, à formação de mediadores e da «Roda do Poder e do Controlo» e a à aplicação e avaliação do Modelo de equivalente «Roda da Igualdade», assim Duluth em Portugal, um modelo com como diversos materiais vídeo utilizados elevado potencial na transformação de na formação dos mediadores que levam comportamentos e mentalidades, indivi- a cabo este programa e na intervenção duais e colectivas, e que, por isso, poderá com os agressores. contribuir significativamente para a re- As alterações recentemente introduzi- dução das taxas de reincidência na vio- das no Código Penal Português fomenta- lência doméstica e para a protecção das ram a procura de programas de preven- vítimas. Este é um desígnio nacional a ção da violência doméstica, como pena que o Plano Nacional Contra a Violência acessória para os agressores, tornando tem procurado dar resposta; o Duluth, ainda mais visível a falta de respostas um dos mais importantes instrumentos para este problema no nosso país, uma nesse combate. falha que o Modelo Duluth pode ajudar a colmatar. Tendo em conta esta necessida- * Celina Manita é Professora Associada de, a CIG solicitou ao GEAV – Gabinete da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Estudos e Atendimento a Agressores da Educação da Universidade do Porto e Vítimas – da Faculdade de Psicologia e Directora do Gabinete de Estudos e e Ciências da Educação da Universidade Atendimento a Agressores e Vítimas do Porto, a tradução e adaptação dos Este projecto é co-financiado pelo Programa Operacional Potencial materiais do DAIP à realidade nacional, Humano no âmbito da Tipologia 7.7 – projecto que está a ser realizado ao abri- Projectos de Intervenção no Combate à go do Programa Operacional Potencial Violência Doméstica. QUALIFICAR E CRESCER.

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