DIPLOMACIAJUCA E HUMANIDADES

COOPERATION AND CONFLICT N COOPERAÇÃO E CONFLITO JUCA Inside and outside the capoeira roda 9 Dentro e fora da roda de capoeira diplomacy & FROM GREECE TO RIO humanities DA GRÉCIA AO RIO The Olympic and Paralympic Games 2016 Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016 Nº 9—2016 2016 English version ANOTHER BARON UM OUTRO BARÃO pages 125 to 168. A profile of Pierre de Coubertin, the father Um perfil de Pierre de Coubertin, of the modern Olympic Games o pai dos Jogos Olímpicos modernos

ISSN 1984-6800 DIPLOMACIA E HUMANIDADES POLITICS AND SPORT IN DIPLOMATIC HISTORY POLÍTICA E ESPORTE NA HISTÓRIA DIPLOMÁTICA The history of big major sporting events reported in JUCA A história de grandes eventos esportivos relatada em juca.irbr.itamaraty.gov.br telegrams from the Brazilian Foreign Ministry Instituto telegramas da chancelaria brasileira www.facebook.com/revistajuca Rio

O QUE É JUCA? É a revista anual dos alunos do Curso de Formação em Diplomacia do Instituto Rio Branco. Compõem seu universo temático a diplomacia, as relações internacionais, outras ciências humanas, as artes e a cultura. Foi concebida para divulgar a produção acadêmica, artística e intelectual da academia diplomática brasileira e visa, ainda, a recuperar as memórias da política externa do país e difundi-las nos meios diplomático e acadêmico. A revista foi intitulada com o apelido de juventude do Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira.

WHAT IS JUCA? JUCA is the annual magazine of the students of the Training Course in Diplomacy of the Rio Branco Institute. It deals with issues such as diplomacy, international relations, other human sciences, arts and culture. JUCA was conceived to disseminate the academic, artistic and intellectual work of the Brazilian diplomatic academy. It also aims at recovering memories of ’s foreign policy and disseminating them in the academic and diplomatic environments. The magazine is named after the Baron of IRBr Rio Branco’s – the patron of Brazilian diplomacy – youth nickname. N 9 CARTA DOS EDITORES

É comum, na história e na teoria das relações internacionais, o uso de expressões que remetem a esportes: “Grande Jogo”, arena, tabuleiro, players. Muito se fala também em dinâmicas de rivalidade e de cooperação, noções familiares tanto a operadores e analistas de política externa quanto a técnicos e atletas de diferentes modalidades esportivas. A presente edição da JUCA propõe explicitar as conexões entre diplomacia, humanidades, relações inter- nacionais e esporte sugeridas por tais coincidências semânticas. Como pretexto imediato, a realização recente e exitosa, com importante participação do Ministério das Relações Exteriores, dos Jogos Olímpicos e Paralím- picos Rio 2016, momento culminante da chamada “Década do Esporte”, que abarcou, ainda, os Jogos Pan-Ame- ricanos (2007), os Jogos Mundiais Militares (2011), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo FIFA (2014) e os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (2015). Para além do gancho jornalístico oferecido pelo decênio de eventos, há um mote mais profundo, que é o interesse perene que o esporte, sobretudo o futebol, mas não apenas ele, desperta na sociedade que integramos e representamos como diplomatas. Com o objetivo de tentar contemplar as várias facetas desse traço cultural, a JUCA afastou-se, pela primeira vez, de sua fórmula de dossiê acompanhado de coletânea de temas – que tem gerado excelentes resultados – para ser uma revista cujas pautas compartilham do mesmo fio condutor. Ciente dos perigos de esgotamento do filão esportivo-diplomático-internacionalista, a turma de 2014-2015 esforçou-se para não soar monotemática. Nas páginas que se seguem, você lerá textos sobre assuntos tão varia- dos quanto, por exemplo, a diplomacia do críquete; a relação entre música popular e esporte; a dicotomia de cooperação e conflito da capoeira; a história de grandes eventos esportivos narrada em telegramas do Itamaraty; e uma modalidade inventada por um best-seller da literatura. Esperamos que a diversidade na unidade do mo- tivo recorrente espelhe os heterogêneos interesses pessoais, formações e gostos dos dezenove diplomatas que integram a turma. Devemos, ainda, destacar a publicação de um artigo de alunos do Instituto del Servicio Exterior de la Na- ción (ISEN), a academia diplomática argentina, sobre o BRICS, foro composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e a organização de grandes eventos esportivos. Devolvemos, assim, a gentileza do convite para que colaborássemos com o blog do ISEN e a revista SUR com reflexões sobre o Mercosul (leia mais no endereço http://blog.isen.gov.ar/es/integracion-regional/una-america-del-sur-integrada-desafios-rumbo-al-desarrollo). Ao estreitar laços com nossos rivais nos gramados e nossos parceiros em áreas como energia nuclear e integração regional, cremos haver feito, também, diplomacia. Se nos são permitidas uma ou duas imagens esportivas, disputar a partida da JUCA, em equipe e em clima de camaradagem, foi uma das mais interessantes experiências dos nossos dois anos e meio de Serviço Exterior Brasileiro. Que o leitor – ou a arquibancada – possa apreciar o jogo que tanto gostamos de jogar. Expediente Agradecimentos

JUCA Ministro de Estado das Relações Exteriores, Senhor José Serra, Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Marcos Bezerra Edição 9 / 2016 Abbott Galvão, Diretor-Geral do Instituto Rio Branco, Embaixador José Instituto Rio Branco Estanislau do Amaral Souza Neto. Impressa em Brasília Brasil Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto, Embaixador Julio Cezar Zelner Gonçalves, Embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Embaixadora Vera Cintia Alvarez, Embaixador Fernando Luís Diretor Honorário Lemos Igreja, Embaixador Tarcísio de Lima Ferreira Fernandes Costa. Embaixador José Estanislau do Amaral Souza Neto Ministro Sérgio Barreiros de Santana Azevedo, Ministro Ary Norton de Editor-chefe Murat Quintella, Ministro Rodrigo de Azeredo Santos, Ministro Luís Pedro Ivo Souto Dubra Felipe Silvério Fortuna, Ministro Mauricio Carvalho Lyrio, Ministro Adriano Silva Pucci. Editor-executivo Gustavo Gerlach da Silva Ziemath Conselheiro Marco Cesar Moura Daniel, Conselheiro Carlos Editora de Arte Fernando Gallinal Cuenca, Conselheiro Eduardo Uziel, Conselheiro Júlia Vita de Almeida Braz da Costa Baracuhy Neto, Conselheiro Márcio Oliveira Dornelles, Conselheiro Marco Túlio Scarpelli Cabral. Editores de Revisão Adriano Giacomet Higa de Aguiar Secretário Rodrigo de Carvalho Dias Papa, Secretária Márcia Canário Clarissa de Souza Carvalho de Oliveira, Secretário Rafael Prince Carneiro, Secretário João Editor de Tradução Domingos Batiston Bimbato, Secretário Paulo Cesar do Valle Torres, Roberto Szatmari Secretária Mariana Yokoya Simoni, Secretário Felipe Neves Caetano Ribeiro. Editora de Comunicação e Distribuição Senhora Saide Maria Vianna Saboia, Senhor Henrique Madeira Garcia Fernanda Maciel Leão Alves, Senhor Carlos Alexandre Fernandes Considera, Senhor Diego Diagramação Batista Silva, Senhor Éveri Sirac Nogueira, Senhor Fernando Sérgio CT Comunicação Rodrigues, Senhor Clayton Gonçalves do Carmo.

Capa Futebol (1935) de Candido Portinari Sumário

ESPORTE E POLÍTICA Cooperação em segurança INTERNACIONAL para megaeventos – 56 Camilla Neves Moreira Tabuleiro de guerra – 04 Adriano Giacomet Higa de Aguiar Imagem da mulher brasileira no exterior: o combate à Diplomacia do Pingue Pongue: objetificação – 60 muito além do soft power – 10 Fernanda Maciel Leão Tretter Clarissa de Souza Carvalho HISTÓRIA Palmas para os índios – 64 Cooperação e conflito dentro e fora Gustavo Gerlach Política e esporte na história da roda de capoeira – 16 da Silva Ziemath diplomática – 92 Ernesto Batista Mané Júnior Gustavo Gerlach da Silva Ziemath e Leonardo Fernandes Rodrigues Cardote A diplomacia e o críquete: o caso do Paquistão e da Índia – 22 Duque de Caxias, Adhemar de Diego de Souza Araujo Campos Barros e a terceira idade – 100 Helges Samuel Bandeira Os Jogos da Commonwealth: ENTREVISTAS diplomacia do esporte – 28 Flávio Beicker Barbosa Embaixadora Vera Cintia Alvarez: de Oliveira o esporte como instrumento de diplomacia – 68 Gustavo Gerlach da Silva Ziemath e Roberto W. Szatmari

Marcelo Pedroso: Jogos Olímpicos: CULTURA E ARTE GRANDES EVENTOS grande momento de atualização e de ampliação da imagem do Brasil – 74 Aqui é o país do futebol – 104 ESPORTIVOS Victor Hugo Toniolo Silva Pedro Ivo Souto Dubra

Da Grécia ao Rio: os Jogos Leonardo Bueno: a expansão do Quadribol: das páginas de Harry Olímpicos e Paralímpicos 2016 – 34 poker no Brasil – 78 Potter para a realidade – 110 Flora Cardoso de Almeida Mendes Pereira Júlia Vita de Almeida Ana Maria Garrido Alvarim

From Rio to Tokyo: quatro anos Salve, salve o esporte – 114 estratégicos para as relações Helges Samuel Bandeira Brasil-Japão – 40 Roberto W. Szatmari O menino que corria – 115 Helena Hoppen Melchionna Por que os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos continuam a ser PERFIL Futebol e novela: a temática eventos separados? – 46 esportiva na teledramaturgia Pedro Guerreiro Lopes da Silveira Um outro barão – 82 brasileira – 118 Pedro Ivo Souto Dubra Júlia Vita de Almeida Proyectando poder desde el sur: los BRICS y la organización de Bruno Soares e o tênis brasileiro: grandes eventos deportivos uma perspectiva da diplomacia Projeção de poder vinda do sul: os esportiva – 86 BRICS e a organização de grandes Rodrigo de Carvalho eventos esportivos –50 Dias Papa Agustín Lavalle Juan Cruz Olivieri Carlos Muscari Agostina Salvaggio Federico Pintos ESPORTE EE POLÍTICAPOLÍTICA INTERNACIONALINTERNACIONAL : André Toma ILUSTRAÇÃO 5

TABULEIRO DE GUERRA O JOGO MILENAR QUE NASCEU DA GUERRA E QUE FOI PRATICADO POR GRANDES PERSONALIDADES DA POLÍTICA MUNDIAL TRANSFORMOU-SE EM RECURSO DE PODER DURANTE A GUERRA FRIA, INCLUSIVE NO BRASIL

Adriano Giacomet Higa de Aguiar

En el oriente se encendió esta guerra A metamorfose contínua das peças único continente, numa singular forma- cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra. e dos seus movimentos ao longo da his- ção de batalha. As torres, os cavalos, os (Ajedrez – Jorge Luis Borges) tória é testemunho da manifestação po- bispos, a dama, o rei, atrás de uma linha O xadrez moderno é uma metáfora lítico-cultural do jogo. As peças forma- de oito peões. Se, por um lado, perdia- idealizada da guerra: o rei no cam- ram totens que compuseram a mitologia se uma das características do jogo, sua po de batalha, os exércitos identificados guerreira das mais diversas civilizações capacidade de ilustrar dinâmicas polí- e unificados pelo contraste das cores, o no ocidente e no oriente. O tabuleiro ticas e bélicas locais; por outro, a impo- equilíbrio de forças e o respeito às con- de xadrez, em suas variantes regionais, sição de linguagem comum permitiu a venções que regulamentam a batalha. O reproduziu expedições vikings, a con- sua universalização. O xadrez cada vez jogo, no entanto, é muito mais antigo que a quista dos persas, a expansão islâmica menos se assemelhava a representações disputa entre monarquias encenadas atu- no norte da África e conflitos na China esculpidas das sociedades, com protago- almente no tabuleiro. O rei nem sempre antiga. Hoje não mais. nistas políticos e dignitários talhados à foi lento, a rainha nem sempre influente. A normatização do jogo em padrões verossimilhança das mais diversas or- O cavalo já foi elefante, a torre foi barco e o reconhecidos em todo o mundo, que lhe ganizações sociais, e paulatinamente bispo nem sempre foi figura eclesiástica: já conferiu maior estabilidade ao longo dos tornava-se língua franca, pela qual são foi chanceler, mensageiro e bobo da corte. últimos séculos, congelou a guerra num traduzidas técnica, criatividade e sen- ESPORTE EPOLÍTICAINTERNACIONAL sua representação simbólicalocal,cul O significado do jogo desprendeu-se da sibilidade nosmovimentos daspeças. leiro e solicitounova partida.Ao seguir Napoleão recolocou as peças no tabu tara as artimanhasdofrancês. Atônito, tamente aspeçasdo tabuleiro. Não acei anonimato dotruque, derrubouviolen controlava oautômato, protegido pelo como secavalo fosse. Ojogadorque lances impossíveis, movendo aRainha procurou surpreender oadversário. Fez habituado afazernocampodebatalha, o Turco e, não diferentemente doque máquina. Napoleão Bonaparte desafiou da política moderna duelaram contra a piente revolução industrial. mais inteligente, aindaquefalsa,dainci temunhar oqueera, atéentão, afaceta Munique, Boston, todospuderam tes na Europa enaAmérica.Milão, Havana, nesi emmaisdeumadezenapaíses suas engrenagens, oTurco provocou fre bom jogadorqueseescondianomeiode e polias. Operado, emrealidade, porum xadrez porumcomplexo sistema defios aparente capacidade cognitiva jogando bante elongosbigodes, demonstrava sua pensar. Este humanoide que usava tur uma máquinasupostamente capazde autômato criadonoséculoXVIII,era meira vez comouma farsa. “O Turco”, pelapri vidade humanamanifestou-se tradutor universal dalógicaecriati odisseia noespaço) perdeu.” (Hal9000,2001–Uma “Desculpa Acho Frank. quevocê prática. ganhou valor globalemsuaabstração e turalmente determinadapelaimagem,e Dois dosmaisimportantesnomes O novo emprego doxadrez como ------

ILUSTRAÇÃO: André Toma 7

as normas do jogo, o revolucionário foi facilmente derrotado. Do outro lado do Atlântico, Benja- min Franklin, exímio enxadrista, tam- bém teve a oportunidade de jogar contra o Turco. Adotou, no entanto, estratégia distinta àquela do rebelde francês. Ao invés de estender o inconformismo re- volucionário ao tabuleiro, Franklin, no livro “A moral do Xadrez”, recomen- dava, em tom institucionalista, a “jogar estritamente de acordo com as normas”. Em outra passagem do livro, parece ad- vertir Napoleão: “nenhum movimento falso deve ser feito para sair de uma si- tuação ruim ou para ganhar uma van- tagem (...), não há prazer em jogar com uma pessoa que é pega trapaceando”. De nada adiantou. Benjamin Franklin tam- bém foi derrotado pela máquina. Lições diferentes, que transpostas à realidade transformaram o mundo por séculos, tiveram na prática do xadrez aparição extemporânea e desafortuna- da. A farsa prevaleceu sobre o puritano e o agitador.

“It’s only the Red King snoring’, said Tweedledee” (Alice através do espelho, Lewis Carrol) Ao tornar-se símbolo universalmente reconhecido, o jogo que emulou a guerra foi transformado pela política em propa- ganda. A singularidade do gênio enxa- drista foi paulatinamente convertida em narrativa de excepcionalidade nacional. Os soviéticos, que dominaram os campe- onatos mundiais por décadas, não demo- raram a apresentar a sua afluência sobre o esporte como extensão natural da su- perioridade do sistema comunista. Cada vitória dos seus jogadores parecia confir- mar o inescapável triunfo do sistema. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

Nas comemorações da conquista do benefícios políticos decorrentes de sua foi realizada na Iugoslávia e a participa- campeonato mundial por um soviético, entrada no campeonato. ção de Fischer violava sanções impostas o jornal Pravda anunciava o feito como Fidel, em sua resposta, colocou pelas Nações Unidas ao país. Perseguido triunfo do Marxismo-Leninismo. Che Bobby em Zugzwang, jargão enxadrís- judicialmente pelos EUA, seus últimos Guevara, um entusiasta do esporte, tico que expressa a impossibilidade de dias foram vividos como asilado político apresentava o xadrez como um indício fazer um movimento que não piore a sua na Islândia, país em que se sagrou cam- do poder: “os países que têm grandes situação no tabuleiro. peão mundial. equipes enxadrísticas estão à cabeça “Acabo de receber seu telegrama. do mundo em outras esferas ainda mais Nosso país não tem necessidade de tão “Meu Deus! Mequinho no chão, importantes”. A propaganda, não foi, en- efêmera propaganda. [...] Participar ou mais três velas” (Super-Heróis, Raul tretanto, uma exclusividade soviética. não no referido torneio é problema seu. Seixas) Bobby Fischer, o maior jogador norte- [...] Se você se assustou e arrependeu-se O terceiro nome do esporte na déca- -americano de todos os tempos e sensa- de sua decisão final, seria melhor que in- da de 1970 era um brasileiro. “Quem que ção do mundo enxadrístico das décadas ventasse outro pretexto e tivesse o valor no Brasil não reconhece o grande trunfo de 1960 e 1970, talvez tenha experimen- de ser honesto.” do xadrez. Adivinha quem era? (...) Me- tado, da forma mais intensa, a intersec- Se recuasse, Bobby seria taxado co- quinho!” cantava Raul Seixas, na música ção entre os dois tabuleiros: o lúdico e varde; se jogasse, seria servil ao inimi- Super-Heróis, em referência a Henrique o diplomático. Foi brilhante em um, me- go número um dos EUA no continente. Mecking, o maior jogador brasileiro de díocre em outro. Se aos 15 anos tornava- Esperando a redenção pelo título, optou todos os tempos. Garoto prodígio como se Grande-Mestre Internacional de Xa- por participar do campeonato. Conquis- Fischer, o brasileiro campeão, além de drez, o mais alto reconhecimento de seu tou um decepcionante segundo lugar. desfilar em carro aberto e de ser recebido brilhantismo lógico-criativo, aos 22, era O troco de Bobby veio 6 anos depois, no aeroporto pela bateria da Mangueira, derrotado por Fidel Castro no campo da quando disputou a final do campeonato imprimiu suas mãos na calçada da fama propaganda política. mundial contra Spassky, o maior joga- em Ipanema junto a conhecidos nomes Quatro anos após a Crise dos Mís- dor soviético até então. Conhecida como artísticos, foi patrocinado pelo Gover- seis, quando Cuba foi sede de impor- o jogo do século, menos pelo que repre- no Médici e chegou a ir ao programa do tante campeonato, Bobby Fischer, no sentou em termos de inovação enxadrís- Chacrinha. No programa do Velho Guer- auge de sua forma, fora impedido pelo tica e mais pelo significado político que reiro, rodeado de chacretes, olhou sério embargo norte-americano de partici- foi atribuído ao campeonato, a final mo- para a câmera, como um peso-mosca par do torneio presencialmente. Após bilizou audiência comparável apenas ao encarniçado, e provocou o campeão nor- inúmeras negociações, acordou-se pouso do homem na lua. A vitória nor- te-americano: “Bobby Fischer, serei o que participaria via comunicação te- te-americana tornou-se um dos maiores próximo Campeão Mundial, desafio você legráfica. Não poderia ausentar-se do logros simbólicos do país na Guerra Fria. a me enfrentar onde você quiser”. torneio que o consagraria, mesmo que O jogo, infelizmente, marcou o ápice O desafio nunca foi levado adiante, significasse jogar a centenas de quilô- da carreira enxadrística de Bobby. Re- mas os dois chegaram a se enfrentar em metros de distância. cluso, antissemita, antiamericano, pa- mais de uma oportunidade. Fischer ven- Quando foi informado, no entanto, ranoico com suposta perseguição que ceu uma e empatou, com alguma sorte, a de que Fidel Castro se vangloriava po- sofria da KGB e dos judeus, voltou a jo- segunda partida. “Derrota que não faria liticamente de sua participação, enviou gar somente em 1992, justamente contra dano à reputação de Fischer”, segundo comunicação reclamando desse trata- Spassky, seu arquirrival. Longe de ser Mequinho, que via a sua possível vitória mento político do esporte. Afirmou que uma tentativa de reconquistar a glória como algo natural, inevitável até. Para só voltaria a entrar no torneio se Fidel de outrora, o duelo definiu sua posição Bobby Fischer, o brasileiro não passava Castro lhe assegurasse que não buscaria como anti-herói americano. A partida de um falastrão. 9 : André Toma ILUSTRAÇÃO

O raro fenômeno da genialidade no pés de Pelé, em 1970, mas grave doen- reconhece a negociação e a transação xadrez, especialmente em país sem ne- ça impediu que o cérebro de Mequinho como partes integrantes da guerra. nhuma tradição nesse esporte, coinci- cumprisse seu destino manifesto. Afasta- Longe, no entanto, de representar ter- diu com momento bastante peculiar da do dos tabuleiros nas últimas três décadas, reno político estéril, o Xadrez acom- ditadura militar. Mequinho, gênio im- voltou a jogar recentemente e promete a panhou, ao longo dos séculos de sua possível, rapidamente juntou-se a Pelé e entrar no rol dos melhores do mundo. existência, inúmeros modos de fazer e Fittipaldi, como um dos três principais de representar a política. nomes do esporte nacional – certamente “Chess is about total victory. The As narrativas construídas pela ima- o mais inusitado e o que melhor repre- purpose of the game is checkmate: to gem das peças, a consolidação de um sentava a improbabilidade da ascensão put the opposing king into a position padrão internacional do jogo, a aproxi- tupiniquim ao panteão das grandes po- where he cannot move without mação da competência enxadrística ao tências àquele tempo. “Seremos cam- being destroyed.” (On China, Henry progresso nacional e a construção de peões dos pés à cabeça” afirmou Mé- Kissinger) mitos e heróis ligados ao esporte são dici em discurso que cantava as glórias A dinâmica do jogo de xadrez, ba- mostras de que a política e o xadrez não nacionais. Ganhamos o mundial com os talha cruenta de vida ou morte, não são completos desconhecidos. — J ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

DIPLOMACIA DO PINGUE PONGUE: MUITO ALÉM DO SOFT POWER

COMO OS SONHOS DE UM ESPIÃO SOVIÉTICO CONTRIBUÍRAM PARA TRANSFORMAR UMA BRINCADEIRA DE SOLDADOS NO ESPORTE QUE FACILITARIA A MAIOR RECONFIGURAÇÃO DA ORDEM INTERNACIONAL DESDE O INÍCIO DA GUERRA FRIA

Clarissa de Souza Carvalho

O Brasil é o país do futebol, mas quem nunca arriscou uma partida de pingue pongue? Na escola, no clube do bairro ou na sala de jogos dos hotéis, a mesa de pingue pongue costuma ser presença confirmada. Mais que uma diversão de férias, entretanto, o tênis de mesa também é amplamente prati- cado como esporte, tendo sido incluí- do entre as modalidades paralímpicas desde 1960 e olímpicas desde 1988. Quando se pensa na relação entre es- porte e política internacional, aliás, é difícil haver ícone mais emblemático: a Diplomacia do Pingue Pongue, como ficou conhecida a reaproximação en- tre os Estados Unidos da América (EUA) e a República Popular da China (RPC) nos anos 1970, segue presente no imaginário coletivo como exem- plo clássico da utilização dos esportes como instrumento de política externa.

Capa da primeira revista sobre tênis de mesa mostra casal de “ping pongists” FOTO: Cortesia da Federação Internacional de Tênis Mesa FOTO: Cortesia da Federação exaustos após partida. 11

RANKING POR EQUIPES (MASCULINO) PONTOS 1 China 238

2 Alemanha 236

Parte da história das relações internacio- 3 Coreia do Sul 234 nais do século XX pode ser contada pela his- 4 Japão v232 tória do pingue pongue. O Reino Unido foi um dos principais responsáveis pela internacio- 5 Hong Kong 230 nalização do esporte, graças ao protagonis- 10 Taiwan 220 mo de Ivor Montagu, sobrinho do banqueiro inglês que veio ao Brasil verificar a capacida- 16 Brasil 208 de de pagamento do País na década de 1920. Fonte: ITTF A decadência do Império Britânico, porém, agravada por duas Guerras Mundiais, resul- RANKING POR EQUIPES (FEMININO) PONTOS tou na transição da supremacia europeia no 1 China 212 tênis de mesa para os flancos do sistema inter- nacional, sobretudo para Japão e China. Dife- 2 Japão 210 rentemente das demais “partidas” da Guerra 3 Singapura 208 Fria, nem EUA nem União Soviética (URSS) davam as cartas quando o assunto era pingue 4 Hong Kong 206 pongue, tamanha a prevalência dos jogadores Coreia do Norte 204 japoneses e chineses nos campeonatos mun- 5 1 diais daquela época . 6 Coreia do Sul 200

7 Taiwan 198

29 Brasil 158

Fonte: ITTF

1 A China domina os rankings individual e por equipe da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), mas o Japão não fica muito atrás. Atualmente, o brasileiro e a brasileira mais bem colocados no ranking da ITTF são Hugo Calderano, na posição 31, e Gui Lin, na posição 118. FOTO: Cortesia da Federação Internacional de Tênis Mesa FOTO: Cortesia da Federação FOTO: Cortesia da Federação Internacional de Tênis Mesa FOTO: Cortesia da Federação

Alusão à Aliança Anglo-Japonesa, Uma das versões do jogo: “gossima”, produzido pela firmada em janeiro de 1902. casa de jogos Jaques, de Londres, em 1891. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

As origens do jogo, que teve várias de- europeus na liderança dos campeonatos nominações até receber o nome onomato- mundiais. Em 1952, as vitórias de Ichiro O fundador da ITTF peico de ping pong, em 1901, remontam aos Ogimura e Shizuka Narahara, sobreviven- momentos de lazer do exército britânico te de Hiroshima, contribuíram positiva- dedicou-se ao máximo na Ásia. Na virada do século XX, a brinca- mente para a imagem do Estado japonês deira, elevada à condição de esporte, já es- junto aos países ocidentais, processo que para lograr a adesão tava difundida em vários países, de modo culminou com a escolha de Tóquio para da RPC à federação de que, em 1926, o primeiro campeonato eu- sediar o mundial de tênis de mesa em 1956. ropeu organizado por Ivor Montagu reu- Também na China, que observava tênis de mesa. Na sua niu mais de 10 mil pessoas. Até a Segunda atentamente o papel do esporte na ele- Guerra Mundial, as estrelas das competi- vação do perfil internacional do vizinho visão, o pingue pongue ções eram jogadores da Europa Central, nipônico, a influência do Reino Unido na frequentemente judeus, que passaram a se divulgação do pingue pongue fora deter- contribuiria para a inscrever sob pseudônimos nos torneios, minante – os primeiros torneios ocorre- inserção internacional quando a perseguição antissemita se agra- ram entre Macau, Cantão e o porto britâ- vou. O tênis de mesa, contudo, salvou da nico de Hong Kong na década de 1930. O e para a difusão da câmara de gás o polonês Alex Ehrlich, três tênis de mesa, entretanto, não ficou restri- vezes vice-campeão mundial, pois um to aos clubes ocidentais, tendo-se popula- ideologia dos países guarda húngaro o reconheceu no campo rizado rapidamente nas bases do Exército de concentração. Vermelho durante a revolução comunista. comunistas. Nos anos 1950, o Japão, membro da Consolidada a RPC, a partir de 1949, Federação Internacional de Tênis de o aristocrata britânico que virou espião Mesa (ITTF) desde 1929, substituiria os soviético, Ivor Montagu2, e a Organiza- FOTO: Cortesia da Federação Internacional de Tênis Mesa FOTO: Cortesia da Federação Internacional de Tênis Mesa FOTO: Cortesia da Federação

Ivor Montagu, primeiro presidente da ITTF. A taça Swaythling ao centro.

2 Antes de completar 18 anos, Ivor Montagu já era criador e presidente da Associação Nacional de Pingue Pongue. Além de codificar as regras do esporte e fundar a Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), Montagu - que era cineasta, escritor, militante comunista e se tornaria espião soviético - percebia no jogo uma oportunidade política e ideológica para aproximar as sociedades dos países comunistas e capitalistas: “I saw in Table Tennis a sport particularly suited to the lower paid (...) I plunged into the game as crusade”. A Taça Swaythling, que até hoje premia os vencedores mundiais na competição por equipes, leva o sobrenome de sua mãe. 13

ção das Nações Unidas moveram-se em Pode-se afirmar que foi com a China sentir-se louvado e em dívida com a na- sentidos opostos: enquanto os EUA e comunista que o tênis de mesa ganhou a ção. Qiu Zhonghui, pelo time feminino, seus aliados opunham-se ferrenhamen- estatura de esporte nacional. Enquanto e Zhuang Zedong, pelo masculino, con- te à substituição da China nacionalista a URSS investia nos esportes olímpicos sagraram-se campeões em 1961, enfren- pela China comunista na ONU, o fun- e nos jogos de inverno, a RPC, que se tando, por vezes, seus próprios colegas dador da ITTF dedicou-se ao máximo retirara da FIFA e do Comitê Olímpico de equipe nas finais. Os vitoriosos mal para lograr a adesão da RPC à federação Internacional, buscou no pingue pon- tiveram tempo de comemorar, porque o de tênis de mesa. Na sua visão, o pingue gue um símbolo de força capaz de unir Governo os enviou como “jogadores-di- pongue contribuiria para a inserção in- o país durante as incertezas do Grande plomatas” em um périplo por países da ternacional e para a difusão da ideologia Salto para a Frente. Vários fatores po- África e do Oriente Médio. Na Tunísia, dos países comunistas. Montagu corres- dem ter contribuído para que a escolha um dos desportistas chegou a ser preso, pondeu-se com autoridades chinesas recaísse sobre o tênis de mesa, a co- ao divulgar não apenas o pingue pongue, da recém-criada Comissão Nacional de meçar pela fácil conversão da palavra mas também o ideário maoísta. O inci- Esportes, publicou panfletos sobre as “pingue pongue” para os ideogramas de dente levou à suspensão das relações relações esportivas entre o Ocidente e “ping pang”: o caractere do “ping” ( ) é diplomáticas sino-tunisianas, efeito Oriente e chegou a recusar sucessivas um tiro de canhão e o do “pang” ( ), o diametralmente oposto ao que o pingue candidaturas de Taiwan à ITTF para ruído do tiro; sobrepondo-se um ao ou- pongue teria para as relações sino-ame- agradar a Mao Zedong, Presidente do tro, forma-se a palavra “soldado” ( ). O ricanas dez anos mais tarde. Partido Comunista da China, e Zhou En- gosto pelo tênis de mesa entre diversos Em sentido estrito, a Diplomacia do lai, primeiro premier da RPC. grupos sociais desde a década de 1930 Pingue Pongue é o nome pelo qual fica- foi certamente outro fator; há relatos de ram conhecidos os contatos realizados que mesmo Mao e Zhou Enlai se enfren- entre os times chinês e norte-americano O recado, hoje tavam em partidas de pingue pongue. que participaram do campeonato mun- Além disso, sempre havia a rivalidade dial de tênis de mesa sediado em Na- aparentemente com os japoneses, cujas medalhas su- goya, no Japão, em 1971. Era a primeira cessivas representavam um desafio não vez que um time da RPC competia inter- inofensivo e protocolar, apenas esportivo, mas também políti- nacionalmente desde o início da Revo- e a subsequente co aos vizinhos chineses. A politização lução Cultural. Qualquer aperto de mão crescente do esporte já fora notada no com os jogadores dos EUA, país símbolo viagem da equipe mundial de 1956, quando, apesar de não do “imperialismo capitalista” e adversá- conquistar o ouro, as vitórias da China rio na Guerra do Vietnã, poderia ser in- norte-americana contra a Coreia do Sul e os EUA foram terpretado como atividade contrarrevo- celebradas domesticamente como con- lucionária. Em que pesem as instruções a Beijing ilustram quistas de orgulho nacional. políticas e diplomáticas nesse sentido, como as implicações Internacionalmente, não tardou para o fato é que, na manhã de 5 de abril de que a RPC convertesse o pingue pongue 1971, o jogador americano Glen Cowan diplomáticas dos em instrumento de política externa. A deixou o centro de treinamento de Na- fim de sediar (e vencer) o campeonato goya para entrar para a história, ao utili- intercâmbios esportivos de 1961, em plena Grande Fome, custo- zar como meio de transporte o ônibus da sos investimentos foram feitos, tanto em delegação chinesa. Após instantes de um podem ir muito além dos infraestrutura e logística, quanto na pre- constrangedor silêncio, Cowan dirigiu objetivos de soft power. paração do time chinês, que reunia mais algumas palavras ao time chinês sobre de cem jovens homens e mulheres, ori- como o povo americano também lutava ginários de diversas províncias. Visitas contra a opressão; em retorno, recebeu do chanceler Chen Yi e do próprio Mao das mãos do capitão Zhuang Zedong ao centro de treinamento faziam o time presente tradicionalmente reservado ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

a dignitários estrangeiros em visita à China, um retrato em seda da monta- nha de Huangshan. No dia seguinte, Cowan retribuiu o gesto, presenteando Zhuang com uma camiseta comprada O episódio não foi certamente a causa em um shopping center local. Além da bandeira americana e do símbolo da paz, da reaproximação estratégica entre as a camiseta trazia o título do sucesso dos Beatles “Let It Be”. Em poucos dias, par- duas maiores potências da atualidade. tiriam ordens do próprio Mao para que o Parece indiscutível, porém, que o time dos EUA fosse convidado a visitar a China ao término da competição. intercâmbio esportivo representado pela Se os contatos foram premeditados pela RPC ou obra do acaso ninguém Diplomacia do Pingue Pongue criou um sabe ao certo. Ao contrário do time chi- nês – campeão internacional e reconhe- símbolo poderoso, capaz de tornar cidamente um instrumento de política mais palatável ao público interno de externa há mais de uma década – o time americano se formara às vésperas da China e EUA a reconfiguração da competição, enfrentara sérias dificulda- des para financiar a viagem a Nagoya e ordem internacional que esses figurava na pouco honrosa 23ª posição no ranking da ITTF. Diplomacia, por- países estavam prestes a tanto, era provavelmente a última das realizar. preocupações dos jogadores dos EUA, até que o convite para visitar Beijing obrigou a delegação americana a consul- tar a embaixada em Tóquio. A resposta positiva do posto baseou-se na seguin- te frase, extraída de uma mensagem do Presidente ao Congresso: “The United States is open to educational, cultural and athletic exchanges with the Peo- ple’s Republic of China”. O recado, hoje aparentemente inofensivo e protocolar, e a subsequente viagem da equipe nor- te-americana a Beijing ilustram como as implicações diplomáticas dos intercâm- bios esportivos podem ir muito além dos objetivos de soft power. É interessante notar que quando a equipe americana procurou a embaixada em Tóquio, o Departamento de Estado não estava a par das recentes tentativas de Richard Nixon e Henry Kissinger de estabelecer contato direto com Mao e 15

Zhou Enlai. Por quinze anos, os canais dos embaixadores americanos e chi- diplomáticos haviam sido utilizados, sem neses no Paquistão e na Romênia. sucesso, na tentativa de destravar a rela- Em 14 de abril de 1971, a equipe ção EUA-RPC. As “Warsaw talks”, como de pingue pongue dos EUA chegou ficaram conhecidas as reuniões ocorridas mais longe que qualquer diploma- no período, esmiuçavam os irritantes da ta ou político americano até então. agenda bilateral, em vez de se guiarem Recepcionados no Grande Salão Internacional de Tênis Mesa Cortesia da Federação FOTOS: pela grande estratégia geopolítica que do Povo, eles escutaram do pró- acabaria aproximando os dois países no prio premiê Zhou Enlai que a vi- momento oportuno. Criticando o des- sita inaugurava “novo capítulo nas locamento de tropas americanas para relações entre os povos americano o Camboja, no contexto da Guerra do e chinês”. O episódio não foi cer- Vietnã, a China interrompeu as “Warsaw tamente a causa da reaproximação talks”, em 1970, e abriu caminho para estratégica entre as duas maiores a visão mais geral e de longo prazo que potências da atualidade. Parece tanto a Casa Branca quanto Mao Zedong indiscutível, porém, que o inter- queriam imprimir ao relacionamento bi- câmbio esportivo representado lateral. Além de sutis, mas perceptíveis, pela Diplomacia do Pingue Pongue mudanças nos discursos oficiais de EUA criou um símbolo poderoso, capaz e RPC – a exemplo da frase “The US is de tornar mais palatável ao público open to (...) athletic exchanges with the interno de China e EUA a reconfi- People’s Republic of China” – mensagens guração da ordem internacional que foram intercambiadas por intermédio esses países estavam prestes a reali- zar. Por fim, talvez não seja exagero afirmar que a Diplomacia do Pingue Pongue acelerou esse processo, pois, já em maio daquele mesmo ano, Ni- xon seguiria os passos do time ame- ricano de tênis de mesa e aceitaria convite para visitar Beijing. Nem em seus sonhos mais tresloucados Ivor Montagu poderia imaginar ta- manho impacto do pingue pongue na política internacional. — J

PARA LER MAIS:

GRIFFIN, Nicholas. Ping-Pong Diplomacy. The secret history behind the game that changed the world.

KISSINGER, Henry. On China. ESPORTE EE POLÍTICAPOLÍTICA INTERNACIONALINTERNACIONAL

COOPERAÇÃO E CONFLITO DENTRO E FORA DA RODA DE CAPOEIRA

A CAPOEIRA E A DIPLOMACIA POSSUEM VÁRIOS PONTOS DE CONTATO QUE VÃO MUITO ALÉM DA INCLUSÃO DESSE ESPORTE NO PACOTE DE ATIVOS DO SOFT POWER BRASILEIRO

Ernesto Batista Mané Júnior FOTO: Alice Pozzoli e Mestre Baixinho e Mestre FOTO: Alice Pozzoli

Roda de Capoeira Angola nas ruas de Gênova, Itália. 17

O Brasil é considerado pela comuni- capoeira, vista sob essa ótica, é, simulta- verdade preexistente que precisa ser dade internacional como um interlocu- neamente, cooperativa e conflitiva. Essa trazida à luz por meio de uma formu- tor confiável e construtor de consensos. dualidade está presente na capoeira des- lação abstrata. As verdades da capoeira Com efeito, o país procura agregar valor de sua origem, cujas bases estão assen- circulam “no ar” e são apreendidas pela ao processo de construção de uma ordem tadas na dicotomia conformidade com prática constante. Na perspectiva tem- internacional mais justa e equilibrada o establishment versus resistência cul- poral, o tempo da capoeira não é linear, é alavancando-nos exatamente nestes e tural, ambas dimensões fundamentais circular. O ensino integrado de elemen- em outros predicados que caracterizam a para a sobrevivência dessa expressão tos de música, de dança, de luta, de tea- diplomacia brasileira. Indubitavelmente, única de cultura popular. tro e de canto é comum em manifesta- a forma de agir do Brasil no plano exter- ções culturais africanas, em oposição ao no está intimamente relacionada com a Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo ensino atomizado dessas disciplinas no identidade nacional, para cujo processo que balança cai mundo ocidental. Essa forma de ensino de formação a capoeira contribuiu de No universo cultural da capoeira, a é tributária da “pedagogia do africano”, maneira decisiva. Há, portanto, muitos conformidade é um fenômeno que está cujo método de ensino é personalizado - pontos de contato entre a capoeira e a na superfície, enquanto a resistência é na capoeira, o tempo de aprendizado é o diplomacia; explorá-los para além do dis- subjacente às aparências. Analogamen- tempo de cada um. Outra marca africana curso correntemente propalado de que a te, a dualidade cooperação/conflito fundamental encontrada no ensino de capoeira faz parte do pacote de ativos que presente na capoeira transborda para capoeira é que o mestre de capoeira não fundamentam o soft power do Brasil é o outros ambientes. No plano externo, a ensina apenas o movimento, ele trans- objetivo deste ensaio. capoeira se difundiu como um símbolo mite o sentimento. A capoeira é uma ex- Na teoria das relações internacio- inequívoco da cultura brasileira – nes- pressão cultural transmitida pelo mestre nais, a cooperação ocorre quando os se plano, destacam-se suas raízes bra- para os alunos eminentemente pela ora- atores ajustam seus comportamentos às sileiras ou sua inserção no mercado de lidade. Por essa razão, cada mestre é um preferências reais ou antecipadas, por consumo de bens culturais como pro- “museu vivo”, sendo a tradição oral ine- meio de um processo de coordenação duto “Made in Brazil”. O conflito, en- rente à forma de educar encontrada nas política. Esse processo geralmente leva tretanto, é estabelecido na medida em tradições africanas. O aprendizado pos- a recompensas para todas as partes en- que surgem narrativas de assimilação sui um caráter profundamente comuni- volvidas, mesmo que estas não sejam da capoeira não mais como puramente tário, na roda de capoeira, uma vez que o igualmente compartilhadas. O conflito, brasileira, mas compreendida como fe- indivíduo se encontra conectado com o por outro lado, é caracterizado por um nômeno que passou a pertencer à cultu- microcosmo da realidade representado comportamento individual, orientado a ra global. Além disso, nos planos inter- naquele contexto. resultados, que busca reduzir os ganhos no e externo, há, também, uma disputa Verifica-se que a capoeira abarca inú- disponíveis para os adversários ou impe- pelo reconhecimento da ancestralidade meras realidades coexistentes e, muitas dir a satisfação de suas necessidades. A africana da capoeira em oposição à afir- vezes, contraditórias, consubstanciadas mação de sua brasilidade. Nesse plano, em uma multiplicidade de narrativas busca-se enfatizar os elementos de sua construídas para atender a interesses di- No universo cultural ancestralidade africana, com o objetivo versos. Há, no entanto, duas macro narra- da capoeira, a de valorizar essas raízes e de constituir tivas contemporâneas que se sobressaem, um contraponto à cultura ocidental. a da capoeira “Made in Brazil” versus a conformidade é um A capoeira possui características que da capoeira como manifestação de re- a diferenciam, em várias dimensões, das sistência cultural de origem africana. O fenômeno que está na práticas ocidentais. Por possuir heran- ponto de intercessão desses dois planos ça africana, oferece outras bases epis- se situa no encontro do eixo diacrônico, superfície, enquanto a têmicas. Mais precisamente, a capoeira das sucessões históricas, com o eixo sin- resistência é subjacente está circunscrita em fundamentos não- crônico, no qual se sucedem os eventos cartesianos, de modo que nela não há a do presente. Na perspectiva da historio- às aparências. hipótese ontológica, ou seja, a de uma grafia contemporânea, a capoeira tem ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

sido lida como um fenômeno do Atlânti- o “jogo”, simulando e explorando todas talvez a principal razão para a capoeira co Negro, e, consequentemente, um fenô- as facetas e artimanhas dos indivíduos. ter conquistado tantos adeptos mundo meno global que andou pari passo com o A roda de capoeira é também um ri- afora. Filosoficamente, um dos prin- processo de colonização do novo mundo, tual, no qual se invocam as forças ances- cipais objetivos de cada capoeirista é tendo como epicentro o Brasil. Esses dois trais. A roda traz elementos que ajudam buscar dosar essas duas forças por meio planos também marcam a principal cliva- a compreender a cosmologia africana - do autocontrole e da autocontenção, de gem no mundo da capoeira, representada ela é um rito de passagem entre o mundo modo que o uso da violência na capoeira pelas escolas de Bimba e Pastinha. daqui e o mundo de lá. É a travessia da é amplamente desencorajado. O capoei- Sem querer buscar uma ontologia kalunga. Por essa razão, a roda e os jogos rista deve utilizar da força apenas em si- para a capoeira, nem tampouco achatar possuem um protocolo próprio, com co- tuações extremas, para salvar a própria essas macro-narrativas em simplifica- meço, meio e fim. Em que pese a aparen- vida. Isso se coaduna com a centenária ções grosseiras, pode-se afirmar que a te inexistência de regras fixas, já que a tradição pacifista do povo brasileiro e capoeira é um fenômeno cultural afro- subversão das regras parece ser a regra, com o princípio cogente do não-uso da -brasileiro. O Brasil foi notoriamente um a capoeira é, em verdade, um jogo com força consagrado nas relações interesta- dos principais destinos da diáspora afri- fundamentos sólidos e normas estritas tais contemporâneas. cana, portanto a prática universalizada de conduta. Nesse sentido, o capoeiris- Os capoeiristas são ilusionistas, ar- da capoeira em todas as regiões do país ta é um cerimonialista, pois organiza tífices da arte da dissimulação. Como o é uma celebração da colaboração negra a roda e os jogos segundo esses funda- jogo de capoeira reflete as armadilhas para a formação identitária brasileira. mentos. do cotidiano, dominar a falsidade se Além disso, à medida que a capoeira se A roda de capoeira é uma alegoria torna fundamental para lidar com o im- globaliza, estabelecendo uma verdadei- da própria roda da vida, representando ponderável. Dessa forma, a malandra- ra cultura em rede, favorece a possibili- bem a dinâmica das relações interesta- gem passa então a ser visto como uma dade de reparação no terreno da memó- tais, uma vez que pulsa em cada capoei- forma de equalizar assimetrias, para se ria histórica e no campo simbólico das rista a propensão para a cooperação ou conseguir, dinamicamente, criar ordem relações raciais. Esse processo consti- para o conflito, assim como nas relações a partir do caos. A malandragem na ca- tui-se num mecanismo importante que entre Estados. Cada capoeirista é sobe- poeira deriva, portanto, de uma carac- age em relação às ideias e às concepções rano em sua arte, pois a capoeira é difusa terística arquetípica do brasileiro. Ela é dos grupos racialmente distintos, e que e descentralizada, tal qual a ordem in- essencialmente uma tecnologia para li- tem o potencial de, no longo prazo, reco- ternacional. Por essa razão, a capoeira é dar com um mundo de incertezas, sendo nhecer o papel dos povos negros como facilmente apropriável, porque lida com assimilada e encarada com naturalidade fonte de saberes e reduzir a discrimi- a singularidade dos jogadores. Ou seja, a pelos capoeristas. nação racial não apenas no Brasil, mas prática da capoeira preconiza o respei- O jogo da capoeira é um jogo de cor- também no mundo. to à territorialidade corporal de cada pos, mas é, sobretudo, um jogo mental. É um, constituindo uma espécie de ordem um diálogo, um debate, um jogo de per- A capoeira e suas metáforas westafaliana capoeirística. No entanto, guntas e respostas feitas a partir de movi- Todo capoeirista iniciante apren- por mais anárquica que essa ordem pos- mentos corporais. Perde quem não con- de, por intermédio da capoeira, muitas sa parecer, ela pode ser tanto cooperati- metáforas. À medida que o capoeirista va quanto conflitiva, dependendo neces- Como o jogo de capoeira avança em sua formação, alcança o nível sariamente da forma de interação entre mais abstrato de compreensão de que os agentes. reflete as armadilhas sua arte é, na verdade, uma grande metá- A capoeira permite a seus pratican- fora. Incontestavelmente, a mais famosa tes desenvolverem novas estratégias de do cotidiano, dominar delas é a de que roda de capoeira pode pertencimento, que redundam em for- ser vista como um simulacro do mundo. mações identitárias capazes de mobi- a falsidade se torna Os capoeiristas e espectadores se reú- lizar as forças de cooperação e conflito fundamental para lidar nem em um círculo - a roda de capoeira para a formação de uma comunidade -, dentro do qual dois capoeiristas fazem internacional de capoeristas. Essa seja com o imponderável. 19

segue dar uma resposta a uma pergunta, de vista analítico, oferecendo novos insi- quem fica sem argumento no debate. É ghts para compreensão do jogo. algo difícil, complicado, embolado, com- O jogo possui um começo, meio e fim, plexo, com reentrâncias e sutilezas que A capoeira ensina que mas o jogo não acaba na roda – o diálo- não são identificáveis à primeira vista, encontrar o equilíbrio go é eterno e se estende a outras rodas, requerendo atenção extraordinária dos alargando o horizonte temporal dos par- jogadores, assim como os Estados e seus – confiar desconfiando ticipantes. Essa característica do jogo agentes precisam estar atentos no grande de capoeira pode ser analisada a partir tabuleiro das relações interestatais. – é o objetivo de um da perspectiva da teoria dos jogos repe- A música tocada pela bateria de ca- tidos, que estabelece as condições para poeira, composta por três berimbaus, jogo bem jogado. Nesse a cooperação em relacionamentos em um atabaque, dois pandeiros, um agogô sentido, a capoeira é curso. Consequentemente, pressupos- e um reco-reco, serve para criar uma es- tos epistêmicos sobre as estratégias de trutura temporal intrincada a partir da bem pragmática. jogo de cada capoeirista são construídos qual os capoeiristas se movem na tex- após anos de experiência jogando e as- tura do espaço-tempo. Os mestres de sistindo os jogos de outros capoeiristas, capoeira afirmam que um capoeirista desenvolvem a capacidade de mudar a analogamente às tentativas de estudo do deve esquecer o passado e o futuro para direção no meio da execução de um mo- comportamento dos Estados nos planos poder estar presente no diálogo. O tem- vimento, enganando seu parceiro, tudo bilateral e multilateral. po sentido dentro do jogo é instantâneo, feito a partir do estabelecimento de um Todo o exposto sobre a capoeira não é Cronos, mas Aeon, o instante infi- fluxo conversacional aparentemente pode parecer contraditório com pressu- nitamente dividido da ocasião efêmera. despretensioso. Durante o jogo, essas postos básicos da ordem internacional A música possui uma cadência própria demonstrações de quebra de expecta- que se tenta, de maneira claudicante, - sustentada por alguns dos instrumen- tivas, a quebra de regras dentro das re- construir - alicerçadas em instituições e tos, enquanto outros ficam livres para gras, são altamente valorizadas. Um no Direito Internacional, cujos objetivos improvisações. Com efeito, a dinâmica bom capoeirista é considerado aquele é conferir estabilidade e previsibilidade de uma bateria de capoeira obedece a que não possui movimentos previsíveis. às relações entre os entes estatais. No um código próprio, com elementos de Os movimentos de capoeira podem entanto, não é isso o que ocorre - o am- cooperação e conflito transpostos para a ser realizados com a intenção de manter biente externo é pautado por incertezas temporalidade musical. Ao mesmo tem- uma interação cooperativa e fluida com e o comportamento dos atores está longe po, os jogadores improvisam seus movi- o parceiro, ou como ataques declarados, de ser previsível. Com a emergência de mentos, muitas vezes no contratempo de modo a integrar um conjunto de pa- novos atores e novas ameaças à paz e à da música. O berimbau dá o tom, e capo- drões que geram alta expectativa com a segurança internacionais, explicita-se eiristas experientes sabem quando esses surpresa temporal. A modulação tem- um estado de coisas que é conhecido do momentos-surpresa deverão ser execu- poral dentro do jogo de capoeira causa capoeirista, que tem de saber lidar com tados durante o jogo. alterações no estado de percepção dos as incertezas na roda de capoeira para Não há ganhadores ou perdedores jogadores, pois estão no âmago das es- preservar sua integridade física e psico- explícitos. O diálogo entre os corpos é tratégias de quebra de confiança. Essa é lógica. permanente e pode ter vários desdobra- uma poderosa imagem que pode ser uti- A roda de capoeira é um espelho do mentos, dependendo da música, do es- lizada para compreender a aceleração da ambiente estratégico internacional. Po- pírito do jogo, ou das relações pessoais história, em que uma sucessão de novos de-se criar, por um lado, tamanha at- entre os capoeiristas. O jogo de capoeira eventos chaves surge a cada dia, gerando mosfera de tensão dentro da roda, que a pode ser alegre, eloquente e cooperati- perplexidade entre os atores. Adicional- polarização do espaço de jogo torna-se vo; pode ser provocador ou de deboche, mente, a dualidade cooperação/conflito extrema, assim como, no plano inter- ou, ocasionalmente, conflitivo. Esse di- na capoeira ocorre em um cenário de nacional, configuram-se os conflitos namismo confere toda a beleza e vita- informações imperfeitas, o que torna armados abertos. Por outro lado, a coo- lidade à arte. Capoeiristas experientes essa dinâmica ainda mais rica do ponto peração é necessária para tonar o jogo ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

fluido - nesse outro extremo, perde-se a player que joga de acordo com as regras, no presente compensar algo de negativo individualidade dos capoeiristas, que se mas resiste aos processos de assimilação que ocorreu em um jogo passado. Obser- fundem em um amálgama. No plano in- e tenta mudar o sistema estando dentro vadores externos frequentemente ficam ternacional, os extremos de cooperação dele. sem compreender certos comportamen- acabam por levar à erosão das barreiras tos dos jogadores; mas, quem conhece a entre os Estados, por meio de inúmeros Negociações e ambiguidades história daqueles que estão na roda, terá processos de integração. No entanto, a Na roda de capoeira, a tensão se melhor condições de encontrar os nexos capoeira ensina que encontrar o equilí- acomoda desde o inicio do ritual. Essa causais e fará uma leitura mais correta brio - confiar desconfiando - é o objetivo tensão pode ser dissipada ou exacerba- do jogo. de um jogo bem jogado. Nesse sentido, a da ao longo dos jogos, por meio de um Os Estados exploram bastante a am- capoeira é bem pragmática. processo negociado entre os capoeiris- biguidade e a precisão na linguagem No ambiente interno, os brasileiros tas. O jogo de capoeira é, portanto, uma diplomática, utilizando uma técnica co- são, desde cedo, ensinados a compreen- negociação; nesse sentido, bons capoei- nhecida como ambiguidade construtiva. der que não há dualismo simplista em ristas são, ipso facto, bons negociadores Com efeito, o nível de fluidez com que um meio sócio-cultural tão multifaceta- que saberão utilizar as melhores técni- o Brasil navega no plano multilateral re- do, de multiplicidades e hierarquizações cas negociadoras a fim de se chegar a vela que o domínio dessas ferramentas assimétricas e não lineares como a socie- um acordo satisfatório. Exemplo dessas é um lócus de excelência da diplomacia dade brasileira. Fundamentalmente, essa técnicas é a manipulação da ambiguida- brasileira. Somos ambíguos e somos pre- é também a configuração do ambiente ex- de e da precisão. Movimentos precisos, cisos, sobretudo, para acomodar interes- terno, composto por uma miríade de Es- tanto de ataque quanto de defesa podem ses. O padrão de participação do Brasil tados dotados de características distintas: ser necessários em momentos decisivos. da construção de normas revela, portan- nuclearmente armados e desarmados, Do mesmo modo, a ambiguidade revela- to, a utilização de estratégias de confor- Estados que são membros permanentes se o refúgio do capoeirista que está em midade e resistência em nível prático. do CSNU e aqueles que não o são, Esta- desvantagem negociadora. Assim como Todo o exposto nos leva a crer que dos-baleias e microestados, Estados me- na dualidade partícula-onda da mecâni- há um isomorfismo entre o capoeirista diterrâneos, Estados-ilhas, Estados com ca quântica, na qual objetos expressam e o diplomata brasileiro. Analisando-se economias de mercado maduras e cujas diferentes aspectos de sua natureza de- um, é possível compreender aspectos do relações produtivas se caracterizam por pendendo de como interage com o am- outro. Ora, se um diplomata brasileiro forte intervencionismo estatal, Estados biente, um capoeirista se comportará de apresenta traços como preparo técnico, liberais e não liberais, Estados democrá- maneira precisa ou difusa dependendo circunspeção, gravidade, apego às regras ticos e não democráticos. O Brasil, por ter da interação com o outro capoeirista. de conduta, delicadeza de modos, finu- sido plasmado em meio a um ambiente de Um capoeirista deve conhecer bem ra e astúcia nas relações com os outros, incertezas extremas no plano doméstico, seus limites e suas alternativas diante esses traços também são encontrados no sabe navegar com maestria no ambiente das perguntas realizadas pelo adversá- capoeirista. Este, por sua vez, é, sobretu- externo, transpondo para este ambiente rio para poder saber dizer sim ou dizer do, uma pessoa que divulga a cultura e os a dicotomia conformidade/resistência não. No limite, o jogo ideal é aquele que valores do povo brasileiro, no Brasil e no presente no âmago de nossa sociedade, o almeja ser uma negociação integrativa, exterior; é, também, um cerimonialista, que nos ajuda a compreender o agir ex- ou seja, um equilíbrio entre competição pois lida com símbolos e com a encena- terno brasileiro. Com efeito, o Brasil se e cooperação. Assim como na diploma- ção de rituais; é, ainda, um negociador, comporta no plano multilateral como um cia, a forma como a negociação é trata- sabendo utilizar o melhor da ambigui- da na capoeira torna-se tão importante dade e da precisão para atingir seus ob- Somos ambíguos quanto aquilo que está sendo negociado. jetivos. Para realizar bem essas funções, Além disso, os capoeiristas costumam os capoeiristas fazem uso do refino e da e somos precisos, construir relações permanentes entre si, educação. Afinal, Mestre Pastinha dizia de modo a afetar positivamente (ou ne- que a capoeira “é amorosa, não é perver- sobretudo, para gativamente) o jogo em curso. Por essa sa. É um hábito cortês que criamos den- acomodar interesses. razão, é comum capoeiristas buscarem tro de nós, é uma coisa vagabunda”. — J 2121 FOTO: Divulgação

Membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas em votação, em 8 de junho de 1994, para passar resolução sobre a crise em Ruanda. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL 23

A DIPLOMACIA E O CRÍQUETE: O CASO DO PAQUISTÃO E DA ÍNDIA

O CRÍQUETE COMO FACILITADOR DO DIÁLOGO EM MEIO A ANTAGONISMOS ESTATAIS

Diego de Souza Araujo Campos

A diplomacia está intrinsecamente relacionada ao contato entre povos e culturas distintas. Assim como o esporte, constitui mecanismo de coope- ração que transcende fronteiras e fomenta o diálogo entre nações. Ambos conectam as pessoas por meio de interesses compartilhados e, por vezes, de valores e paixões comuns. Na prática, o esporte pode servir como facilitador para a ação diplomá- tica. O críquete, nesse sentido, ilustra modalidade esportiva que contribui para o incremento da negociação e do diálogo entre países que sofrem com antagonismos de interesses na seara política, mas contam com a paixão pelo esporte. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL FOTO: Embaixada do Paquistão/Divulgação FOTO: Embaixada

Os jogadores Shahid Afridi, da equipe paquistanesa, e MS Dhoni, do time indiano, simbolizam a rivalidade entre ambos os países.

O críquete, pouco difundido no Bra- inerente a qualquer competição espor- A importância de uma diplomacia sil, é objeto de cooperação e rivalidade tiva, o críquete funciona como um canal multidimensional reside nos desafios entre países herdeiros do Império Britâ- de comunicação que ultrapassa a dinâ- presentes desde a Partição da Índia nico. Os atletas do críquete atuam como mica tradicional da diplomacia para re- (1947) e as consequentes independên- representantes de seus países e os times solver conflitos. Pode-se incluí-lo como cias indiana e paquistanesa. Alguns co- em si têm potencial catalisador de iden- indutor de contatos e interações que nhecem o processo de tais independên- tificação nacional, ou seja, represen- contribuem para a criação de confiança cias como “a história de um divórcio que tam os ideais, os interesses e a imagem mútua, para o incremento do intercâm- deu errado”, uma vez que o histórico do do Estado, de acordo com Arne Naess- bio cultural e esportivo, inserindo-se, relacionamento indo-paquistanês res- -Holm, autor da dissertação de mestra- portanto, como um dos pilares de uma salta as fricções advindas da repartição do Batting for Peace: a study of cricket diplomacia moderna, que busca diver- das ex-colônias britânicas. De fato, a diplomacy between India and Pakistan. sas frentes de ação e de cooperação: região da Caxemira representa ponto No caso das relações entre a Índia uma diplomacia com múltiplas verten- nevrálgico de tensão entre esses dois pa- e o Paquistão, a despeito da rivalidade tes, isto é, multidimensional. íses. De um lado, a Índia defende o sta- 25

tus quo da região. Do outro, o Paquistão país vizinho para assistir a uma parti- perene substancial enquanto a questão reivindica parte dela. da de críquete, mas, na verdade, queria da Caxemira não for resolvida. Nesse Nesse ambiente de disputa e riva- acalmar os ânimos em meio à escalada contexto, durante mais de uma década, lidade, o críquete emergiu como ins- de uma crise bilateral acarretada pelo as relações entre a Índia e o Paquistão trumento da diplomacia para abrir e maior exercício militar – chamado de foram prejudicadas pela ação do chama- estimular canais de diálogo, mormente Operation Brasstacks - já realizado até do Kashmir freedom movement, que pre- entre as altas autoridades indianas e então pelas Forças Armadas indianas na tende a liberação de parte do território paquistanesas. O termo “diplomacia do fronteira com o país vizinho. da Caxemira do controle indiano. críquete” foi forjado em 1987, quando o De 1987 a 1989, a diplomacia do crí- Em 1997, tentou-se resgatar a diplo- General Zia ul Haq, presidente paquis- quete catalisou a retomada do diálogo macia do críquete com o primeiro jogo, tanês, visitou a Índia para encontrar o entre ambos os países. Os anos vindou- em oito anos, entre Índia e Paquistão no Primeiro-Ministro Rajiv Gandhi. O ge- ros, no entanto, mostraram que o críque- território de um desses países. No ano neral afirmou, à época, que visitara o te como soft power não terá um efeito seguinte, todavia, as explosões nucleares FOTO: Embaixada do Paquistão/Divulgação FOTO: Embaixada

Índia x Paquistão na Copa do Mundo de 2015. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

indo-paquistanesas aumentaram as ten- e o encontro com o seu homólogo pa- tico-social, a opinião pública e a vontade sões, as quais prejudicaram o recurso ao quistanês, Nawaz Sharif, significaram dos mandatários indianos e paquistane- esporte como ferramenta diplomática considerável descongelamento no rela- ses. Na seara da duração, o recurso ao de melhora do relacionamento bilateral. cionamento entre os dois Estados. Para críquete como política de aproximação O clima de tensão precisava arre- se ter uma ideia, essa viagem chegou a interestatal está sujeito às tensões polí- fecer. Não por acaso, os primeiros-mi- ser comparada àquela realizada por Ri- ticas provocadas por acontecimentos es- nistros da Índia e do Paquistão encon- chard Nixon à China em 1971, no con- pecíficos de repercussão em um ou nos traram-se na Cúpula da South Asian texto da diplomacia do ping-pong, se- dois países. Association for Regional Cooperation gundo Arne Naess-Holm. Existe, na realidade, círculo vicioso (SAARC), em julho de 1998, e concor- No que tange à diplomacia do crí- em que “afastamento” e “reaproxima- daram em retomar o diálogo bilateral. quete, de acordo com as ideias de Na- ção” convivem como binômio perma- O ponto alto dessa retomada foi a visita ess-Holm, é evidente o papel do timing nente nas relações Índia-Paquistão. simbólica e histórica do Primeiro-Mi- (momento oportuno) e da durability Nesse binômio, pode-se recorrer ao nistro Vajpayee à inauguração da linha (duração) para a sua aplicação exitosa. críquete como instrumento de atração de ônibus que liga a capital de seu país Na questão do tempo, é premente ana- dos polos conflitantes, o que facilita a a Lahore (capital da província paquis- lisar o estado das relações interestatais abertura de canais de comunicação que tanesa de Panjabe), em fevereiro de dos contendores e as condições de rea- permitem fomentar a cooperação. Des- 1999. A viagem de Vajpayee a Lahore proximação, sobretudo o contexto polí- se modo, estimula-se a reaproximação,

Jogadores das seleções da Índia e do Paquistão se desentendem durante uma partida. FOTO: Embaixada do Paquistão/Divulgação do Paquistão/Divulgação FOTO: Embaixada 27

Existe, na realidade, ilustrada pela visita da equipe de críque- círculo vicioso em série de ataques terroristas em Mumbai, te do Paquistão à Índia, um ano após os que “afastamento” na Índia. O esfriamento das relações bi- testes nucleares de 1998 - primeiro tour laterais foi inevitável. da equipe paquistanesa pelo solo india- e “reaproximação” Anos mais tarde, em 2011, na Copa no desde 1987. do Mundo de Críquete, o Primeiro-Mi- O tour levantou paixões em ambos convivem como binômio nistro Manmohan Singh convidou o os países. Na Índia, extremistas hindus seu homólogo paquistanês Yousuf Raza ameaçaram a equipe paquistanesa e che- permanente nas relações Gilani para assistir ao jogo da semifinal garam a cavar buracos em um campo de Índia-Paquistão. entre as equipes da Índia e do Paquistão. críquete em Nova Délhi. No Paquistão, Desde então, ocorrem tentativas de se a opinião pública dividiu-se entre aque- retomar a diplomacia do críquete como les que acreditavam que os jogos de crí- lacionamento entre ambos os países. As- fator a influenciar a mudança cíclica en- quete contribuiriam para a redução das sim, o time indiano de críquete visitou tre afastamento e rapprochement nas re- tensões nas fronteiras e aqueles que te- o Paquistão para a chamada Friendship lações bilaterais. miam que o jogo acarretasse certa dete- Series, que ocorreu em clima amistoso Deve ficar claro que o esporte não rioração das relações bilaterais. No fim, e sem incidentes, mesmo com a vitória produz acordos vinculantes ou mudan- a visita da equipe paquistanesa foi um indiana. A atmosfera de cordialidade ças de política efetivas nos Estados, mas sucesso, com demonstrações de apreço demonstrava que a opinião pública era afeta fatores menos tangíveis, a exem- por parte da população indiana. favorável à reaproximação indo-paquis- plo de atitudes e de percepções mútuas. Como decorrência das frequentes tanesa. Constata-se, portanto, que a diplomacia instabilidades nas relações indo-paquis- Em 2005, o General Musharraf visi- do críquete não transcende suspeitas tanesas, o clima de boa vontade criado tou a Índia para assistir a mais um jogo consolidadas, óbices estruturais ou de- pelo tour de 1999 não durou muito. A entre a seleção dos dois países e apro- sacordos entre as nações, pois constitui chamada guerra de Kargil, entre india- veitou a oportunidade para encontrar o apenas mecanismo facilitador do diálogo nos e paquistaneses na Caxemira, e o se- Primeiro-Ministro Manmohan Singh e para a construção da confiança mútua. questro de um avião da Indian Airlines debater a questão da Caxemira. A apro- Nesse contexto, Naess-Holm recorda por radicais islâmicos paquistaneses ximação rendeu frutos, haja vista que, que a diplomacia do críquete configura resultaram em novos atritos bilaterais, no mesmo ano, os primeiros passageiros espécie de ice-breaker nos momentos com claras consequências para o críque- começaram a cruzar a fronteira da Ca- em que os dois lados de uma contenda te. Mais uma vez, o esporte sucumbiu xemira entre a Índia e o Paquistão em estão afastados. Como as relações esta- às questões políticas: o governo indiano linha de ônibus permanente. tais dependem, muitas vezes, dos víncu- decidiu proibir jogos de críquete entre A normalização política e os víncu- los interpessoais entre os seus líderes, o as duas nações até que o Paquistão pa- los consubstanciados pelo críquete le- ambiente dos jogos de críquete facilita rasse de apoiar a insurgência na Caxe- varam ao otimismo da terceira rodada o diálogo entre os mandatários, abrindo mira. de jogos bilaterais na Índia, em 2006. perspectivas de novos caminhos nego- Os dois países estavam à beira da O clima amistoso proporcionado pelo ciais para as pendências entre os países. guerra. Somente em 2003, restabelece- esporte, contudo, enfrentou novamen- Quiçá o críquete possa ser útil para ram o diálogo diplomático e, em 2004, te a barreira do extremismo, de modo romper, um dia, o ciclo afastamento-re- na Cúpula da SAARC em Lahore, o pri- a se demonstrar, mais uma vez, o efeito aproximação nas relações Paquistão-Ín- meiro-ministro indiano, Vajpayee, e o cíclico das relações indo-paquistanesas. dia. Somente então, a rivalidade ficará presidente paquistanês, General Pervez Em novembro de 2008, dez membros do restrita aos campos de críquete e o de- Musharraf, decidiram retomar o críque- Lashkar-e-Taiba, uma organização is- senvolvimento harmônico comum dará te como canal de aprofundamento do re- lâmica paquistanesa, perpetraram uma a tônica da cooperação entre ambos. — J ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL IFOTO: Commonwealth Games Federation IFOTO: Commonwealth

Bandeira da Federação dos Jogos da Commonweatlh.

OS JOGOS DA COMMONWEALTH: DIPLOMACIA DO ESPORTE

OS JOGOS DA COMMONWEALTH SERVEM A MÚLTIPLOS PROPÓSITOS, COM DESTAQUE PARA A ATUAÇÃO DIPLOMÁTICA EM BENEFÍCIO DE UM SOFT POWER QUE VAI ALÉM DA MERA BUSCA POR PRESTÍGIO OU RECONHECIMENTO INTERNACIONAIS

Flávio Beicker Barbosa de Oliveira

Poucos são aqueles que praticam ou mesmo que já ouvi- vendo delegações de diversos países que integram a Commonwe- ram falar em lawn bowls. Mas essa espécie de bocha sobre um alth of Nations, ou que participam como países convidados. gramado é modalidade extremamente popular nos Jogos da Embora sejam considerados etapa importante do calen- Commonwealth, evento esportivo inspirado nas Olimpíadas e dário de preparação dos atletas, os Jogos da Commonwealth Paralimpíadas. O evento é realizado a cada quatro anos, envol- têm a finalidade maior de oferecer um espaço de confrater- 29

nização entre povos que compartilham com destaque para a atuação diplomáti- Um fato do qual a Commonwealth se uma herança linguística e cultural co- ca dos países que deles participam, em orgulha é a diversidade de seus mem- mum. Desde sua primeira edição, em benefício de um soft power que vai além bros, espalhados por todos os conti- 1930, na cidade de Hamilton, no Cana- da mera busca por prestígio ou reconhe- nentes, com territórios de dimensões dá, o evento recebeu diversos nomes, cimento internacionais. continentais – como o Canadá – ou de como Jogos do Império Britânico e Jo- pequenas ilhas – como Nauru. A maior gos da Comunidade Britânica. Commonwealth of Nations parte dos membros é formada por anti- A ênfase na confraternização, mais Com mais de 60 anos de história, a gos territórios do Império Britânico que, que na competição, pode ser percebida em Commonwealth of Nations, ou Comunida- após a independência, aderiram à orga- diversas características dos Jogos, como de de Nações, é uma associação voluntária nização. Atualmente, há a possibilidade a flexibilidade do calendário (a fim de de 53 países independentes e soberanos de novas adesões, como fizeram recen- respeitar as condições climáticas de cada que se apoiam mutuamente e trabalham temente Moçambique e Ruanda. local), a alteração do programa esportivo juntos para atingir seus objetivos no âm- para adaptá-lo à infraestrutura oferecida bito internacional, como “a promoção do Os Jogos pela cidade-sede, a participação de dife- diálogo e da paz”. Seus membros históri- Além de um passado comum, os países rentes delegações de um mesmo país e a cos compartilham uma herança linguísti- da Commonwealth compartilham o gosto inclusão de esportes olímpicos e não-o- ca e cultural comum por terem sido parte pelo esporte. Isso explica a existência des- límpicos, como squash e netball. do antigo Império Britânico. Atualmente, sa tradição quase centenária de realização Essas peculiaridades em torno da todos os Estados-partes são considerados de uma competição multiesportiva entre competição apenas reforçam a certeza iguais e as consultas intergovernamentais seus membros. Inicialmente chamados de de que os Jogos da Commonwealth ser- são o principal meio de coordenação de Jogos do Império Britânico (1930), rece- vem a uma multiplicidade de propósitos, ações e de cooperação. beram o nome de Jogos da Comunidade Britânica nas edições de 1970 e 1974, antes de chegar a sua fórmula atual, em 1978. A competição ganhou o apelido de Friendly Games, ou Jogos da Amizade, dada sua fi- nalidade precípua de promover a confra- ternização entre os povos. Apenas Austrália, Canadá, Escócia, Inglaterra, Nova Zelândia e País de Gales participaram de todas as edições dos Jo- gos, que só foram suspensos nos anos de 1942 e 1946, em decorrência da Segunda Guerra Mundial e de suas consequências. A próxima edição acontecerá em 2018, na cidade de Gold Coast, Austrália. Em março de 2015, a cidade de Dur- ban, África do Sul, apresentou sua can- didatura para sediar os jogos de 2022 e, em setembro do ano passado, recebeu a notícia de que seu pleito foi bem-suce- FOTO: Hannah Peters/GI Europe Peters/GI FOTO: Hannah dido, após a aprovação pela Assembleia Geral da Commonwealth. É uma vitória histórica, visto que será a primeira vez que os jogos ocorrerão no continente africano. Será também a segunda vez

Nathan Rice, jogador australiano de Lawn Bowls durante competição nos Jogos de Glasgow 2014. ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

Os membros da Commonwealth compartilham uma herança linguística e cultural comum por terem sido parte da Commonwealth os Jogos para FOTO: Associação Australiana

Gold Coast, cidade australiana que receberá do antigo Império os Jogos da Commonwealth de 2018. Britânico. que os jogos acontecerão em uma repú- blica (a primeira vez foi em 2010, nos jo- gos de Nova Délhi, Índia).

Times e Modalidades

Para os jogos de Gold Coast 2018, Games Council for Wales FOTO: Commonwealth são esperadas 71 delegações, represen- tando nações inteiras ou territórios, to- Bastão da rainha utilizado nos Jogos de 1958. talizando mais de 6 mil pessoas, entre atletas e equipes de apoio. É um aumen- to significativo desde a primeira edição, quando onze países e territórios envia- As modalidades paraesportivas fo- o bem, o senso de comunidade e a har- ram cerca de 400 atletas para competir ram contempladas, pela primeira vez, monia entre as sociedades” – inaugu- em Hamilton, Canadá. nos Jogos da Commonwealth de Man- rou uma nova tradição: o revezamento Do Reino Unido, participam indi- chester, Inglaterra, em 2002, quando do bastão da Rainha, ou Queen’s Baton vidualmente delegações da Inglaterra, vinte países enviaram atletas, entre ho- Relay. Naquele ano, a monarca inseriu Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, mens e mulheres, para competir em cin- um papel com a sua mensagem dentro Norfolk, Jersey e Anguila. Os territórios co esportes diferentes. de um bastão de prata dourada, espe- de Niue e Toquelau, da Nova Zelândia, cialmente produzido para a ocasião, e também enviam delegações próprias. Tradição entregou o objeto a dois atletas velocis- Na sua primeira edição, apenas seis Se o Império Britânico é a raiz históri- tas no Palácio de Buckingham, ponto de modalidades compuseram o programa ca da relação entre os países participantes partida do revezamento até a cidade de de competições. Atualmente, toda cida- da Commonwealth, a família real britânica Cardiff, País de Gales, sede daquela edi- de-sede deve incluir no programa dos não poderia ficar de fora. A cada edição, ção dos jogos. A mensagem foi lida em jogos pelo menos dez modalidades: nata- desde os jogos de 1930, a cerimônia de público pelo Duque de Edimburgo, du- ção, atletismo, badminton, boxe, hockey, abertura inclui a leitura de uma mensa- rante a cerimônia de abertura. lawn bowls, netball, rugby de sete, squash gem enviada pelo monarca para os atletas Até os jogos de Victoria, Canadá, em e levantamento de peso. Os anfitriões e demais membros das delegações. 1994, o bastão transitava apenas pela podem acrescentar outras modalidades, Na edição de 1958, a Rainha Elizabe- Inglaterra e pelo país-sede. Porém, des- com base em uma lista predefinida pela th II – patrona dos jogos e grande entu- de a edição de Kuala Lumpur, Malásia, Federação dos Jogos da Commonwealth. siasta do poder do esporte de “promover em 1998, o revezamento se expandiu 31

Ken Jones, ex-jogador de rúgbi e atleta olímpico do País de Gales, apresentando o bastão ao Duque de Edimburgo na cerimônia de abertura

dos Jogos da Commonwealth de 1958. Games Federation FOTO: Commonwealth

O esporte é, sem A Commonwealth, os Jogos Council, por exemplo, defende que o es- e o soft power porte é “a fonte de soft power mais acessí- dúvida, meio de Em relatório de 2014 elaborado para vel e exportável do Reino Unido”. geração de soft power, o parlamento britânico, discutem-se os De fato, os Jogos podem incrementar novos métodos de geração de poder na o poder de influência dos países parti- sobretudo no contexto esfera internacional, a exemplo da influ- cipantes de, pelo menos, três maneiras ência exercida sobre outros países “por distintas. A primeira delas é a liderança da Commonwealth. meio da construção de relacionamentos pelo exemplo: quando um atleta vence e coalizões positivas”. Essa perspectiva uma competição de grande visibilidade coincide com a proposta teórica do que internacional, ele demonstra a capacida- para outros países até que, nos jogos Joseph Nye chama de soft power, ou po- de de investimento de seu país em for- de Melbourne, conseguiu-se passar por der brando, que consiste na capacidade mação de capital humano e infraestru- todos os 71 países e territórios partici- do Estado de atingir seus objetivos na tura voltada para o esporte. Em segundo pantes. Trata-se de revezamento mui- esfera internacional por meio da influ- lugar, uma potência esportiva conse- to mais extenso do que aquele dos Jo- ência sobre outros atores, obtida me- gue influenciar a tomada de decisões gos Olímpicos e Paralímpicos. Pôr em diante “o poder de atração da sua cul- internacionais sobre grandes eventos. prática essa façanha requer um plano tura, das suas ideias, das suas políticas Finalmente, sediar esse tipo de evento logístico detalhado. Tanto é assim que domésticas e da sua diplomacia”. confere projeção internacional para os o revezamento do bastão dos Jogos de O esporte é, sem dúvida, meio de gera- atrativos de um país: potencial turístico, Gold Coast terá início em 13 de março ção de soft power, sobretudo no contexto riqueza cultural, oportunidades de ne- de 2017, durante as comemorações do da Commonwealth, organização que se or- gócios, entre outros. dia da Commonwealth, para que chegue gulha de reunir povos de diferentes regi- No caso da Commonwealth, com- à cidade-sede a tempo da cerimônia de ões, religiões e etnias, feito compartilhado partilhar um grande evento esportivo a abertura, em 4 de março de 2018. com a ONU. No mesmo sentido, o British cada quatro anos é, sem dúvidas, uma ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL

fonte de soft power. Trata-se de uma for- Entrevista com a Os Jogos da Commonwealth são im- ma de reafirmar laços históricos e cons- Austrália: “Os Jogos portantes não só no sentido esportivo, truir uma rede de influências e alianças mas também por unir os países dessa que, em muitos aspectos, se alimentam da Commonwealth comunidade de forma mais abrangente. de uma base cultural comum. Essa base A cada quatro anos, os povos da Com- também é reforçada por tradições es- são importantes não só monwealth, representados pelos seus portivas que são peculiares a esse grupo atletas, se juntam em uma localização de países, como a prática do lawn bowls, no sentido esportivo, com objetivos e ambições afins. Es- críquete, squash e netball. mas também por portes não-olímpicos, como o netball, squash e lawn bowls também tiram Com a palavra, a Austrália unir os países dessa proveito da visibilidade e das oportu- O Ministério dos Negócios Estran- nidades de competição que os Jogos geiros e Comércio, nome oficial da comunidade de forma proporcionam. Um dos benefícios mais chancelaria australiana, por meio da sua positivos dos Jogos tem sido sua lide- embaixada no Brasil, falou à revista Juca mais abrangente.” rança em integrar atletas portadores sobre os jogos e sobre as expectativas de deficiência junto ao calendário das para a edição de 2018, que ocorrerá na competições tradicionais. cidade de Gold Coast. É a quinta vez que de setores no ciclo de funcionamento de a Austrália sedia o evento, já realizado um grande evento esportivo. JUCA: Como a Austrália se preparou em Sidney (1938), Perth (1962), Brisbane O perfil e o conhecimento esportivo para sediar os jogos em 2006 e se pre- (1982) e Melbourne (2006). da Austrália permitem que nós nos enga- para para sediá-los em 2018? jemos com países vizinhos, atinjamos um O Governo da Austrália se orgulha de JUCA: Qual a relação entre os Jogos público mais diverso que as atividades de sediar os 2018 Gold Coast Commonwealth da Commonwealth e a diplomacia, da diplomacia tradicionais permitem e que Games (GC2018) e está comprometido em perspectiva da Austrália? promovamos parcerias de valor entre a proporcionar um evento seguro e exitoso. A Austrália tem uma notável ascen- Austrália e o restante do mundo. Os Jogos, bem como a cobertura de im- dência esportiva internacional e é reco- prensa internacional que o evento atrai, nhecida como uma nação esportiva de alto JUCA: A Austrália é a maior vencedora oferecem uma oportunidade significativa desempenho. Grandes eventos, como os dos jogos e, junto com o Canadá, sediou de reforçar a reputação da Austrália como Jogos da Commonwealth, dão à Austrália as competições o maior número de ve- uma nação líder em esportes e um anfi- uma oportunidade de maximizar os elos zes. Por que tamanho envolvimento? trião primoroso de grandes eventos. interpessoais, de desenvolvimento, co- Os australianos sempre tiveram Para eventos esportivos realizados mércio, investimento, educação e turismo. uma afinidade com o esporte e os Jogos em uma única jurisdição, o governo A participação da Austrália nos Jo- da Commonwealth são um dos poucos estadual tem a responsabilidade de or- gos da Commonwealth ajudou a moldar eventos internacionais de alta qualida- ganizar o evento. Para preparar os Jo- como o mundo vê esse evento. Muitos de em diversas modalidades. Além de se gos da Commonwealth de Melbourne australianos amam a competição espor- apoiarem no reconhecimento interna- 2006 (M2006), foi criada uma corpo- tiva, que desempenha um papel singular cional como uma competição respeita- ração intitulada Melbourne 2006 Com- na formação e apresentação da identida- da, os Jogos têm relevância significativa monwealth Games Corporation, a fim de, dos valores e da cultura da Austrália. no sentido de oferecer aos atletas em de supervisionar o planejamento, a or- Planejar e abrigar grandes eventos formação oportunidades e experiên- ganização e o andamento do evento. A esportivos são, hoje, setor em cresci- cias em competições na medida em que corporação trabalhou em parceria com mento no mundo. O histórico invejável tentam progredir em suas carreiras in- o Governo de Victoria e foi apoiado da Austrália em criar e sediar de forma ternacionais. O sucesso alcançado pela pelo governo australiano e pelo gover- bem-sucedida eventos esportivos de pri- Austrália nos jogos da Commonwealth no local da cidade de Melbourne. Nos meira classe proporcionou ao país uma também contribuiu para sua populari- M2006, a maioria das instalações para capacidade de exportação em uma gama dade no país. os Jogos já estava construída e havia 33

Partida de críquete entre Índia e Austrália durante os Jogos da

FOTO: Associated Press Commonwealth.

previamente sediado grandes eventos. nos da Austrália e de Queensland estão às organizações da Commonwealth entre No entanto, algumas instalações preci- investindo fortemente na construção de 2015 e 2016. A Austrália ainda vê a Com- saram passar por uma atualização ou novas infraestruturas esportivas e atu- monwealth desempenhando um papel reconstrução, a fim de acolher os even- alizando instalações já existentes que importante na promoção da democra- tos associados com os Jogos. irão fornecer benefícios duradouros cia, dos direitos humanos e do Estado de No caso dos GC2018, a corporação para o estado e a comunidade no futuro. direito, além de avançar o bem-estar de Gold Coast 2018 Commonwealth Games todos os cidadãos que dela fazem parte. Corporation (GOLDOC) foi estabelecida JUCA: Como é a relação da Austrália com a responsabilidade pela organiza- com a comunidade da Commonweal- JUCA: A Austrália vê espaço para al- ção, realização, promoção e gestão co- th? Quais os ganhos que isso traz para guma politização dos jogos? mercial dos GC2018. A GOLDOC tam- o país? A Austrália não prevê uma politiza- bém está trabalhando em parceria com A Austrália é um dos membros fun- ção nos Jogos da Commonwealth Gold o Governo de Queensland, o governo dadores da Commonwealth moderna e Coast 2018. O país tem sido um apoiador local da Cidade de Gold Coast, o gover- tem sido um participante ativo em orga- orgulhoso de todos os Jogos desde que no australiano e a associação australiana nizações, programas e reuniões da Com- eles começaram, em 1930. Como uma dos Jogos da Commonwealth (Australian monwealth há mais de 60 anos. Além do nação esportiva orgulhosa, temos o pra- Commonwealth Games Association). Secretariado da Commonwealth, a Aus- zer de hospedar os Jogos pela quinta vez Os GC2018 marcarão a quinta vez trália tem apoiado muitas outras partes e pela primeira vez em uma cidade aus- em que a Austrália é palco dos Jogos da entidade, por exemplo, a Commonwe- traliana regional. Estamos ansiosos para da Commonwealth, e a primeira em que alth Foundation, a Commonwealth of receber mais de 6.500 atletas de mais de serão realizados em uma cidade austra- Learning, a Royal Commonwealth Socie- 70 nações da Commonwealth para com- liana regional. Este será o maior even- ty e o Queen Elizabeth Diamond Jubilee petirem em Gold Coast, nos Jogos que to esportivo a ser sediado na Austrália Trust. A Austrália é o terceiro maior con- serão marcados pela diversão, amizade, nesta década, e o maior evento que a tribuinte para o orçamento da entidade excelência técnica e nível mundial dos Gold Coast já organizou. e irá fornecer até US$ 7,2 milhões em atletas. — J Em virtude dos GC2018, os gover- financiamento para o desenvolvimento GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

DA GRÉCIA AO RIO: OS JOGOS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS 2016

O PASSO-A-PASSO DAS PREPARAÇÕES PARA SEDIAR, NO BRASIL, O PRINCIPAL EVENTO ESPORTIVO DO MUNDO E O PAPEL DO ITAMARATY NA SUA ORGANIZAÇÃO

Flora Cardoso de Almeida Mendes Pereira

A realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Em 2015, os holofotes direcionaram-se para Palmas, com Brasil é um dos ápices da “Década do Esporte” que o país a primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas. vive. Desde meados dos anos 2000, o Brasil sediou diver- De 5 a 21 de agosto e de 7 a 18 de setembro deste ano, a sos eventos esportivos internacionais. O capital fluminense receberá o maior e mais esperado evento foi palco dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e dos Jogos esportivo mundial. Atletas e pessoas de todas as partes do Mundiais Militares em 2011. Em 2013, sediamos a Copa mundo vão encontrar-se no Rio de Janeiro, para disputar cen- das Confederações e, no ano seguinte, a Copa do Mundo. tenas de provas, com espírito de paz, universalismo e respeito.

Vila dos Atletas, na Barra da Tijuca. FOTO: Gabriel Heusi/Brasil2016.gov.br 35

ORIGEM DOS JOGOS ção se espalhou da Grécia para o mun- O CAMINHO DOS JOGOS ATÉ Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do. Desde então, a cada quatro anos é O RIO DE JANEIRO percorreram um longo percurso até realizada nova edição dos Jogos, que só Após toda essa história, os Jogos che- chegarem ao Rio de Janeiro. São quase não ocorreram durante as duas Guerras garam ao Rio de Janeiro. Mas como? três mil anos de história por trás do que Mundiais. A escolha da capital fluminense foi será o maior acontecimento esportivo já Os Jogos Paralímpicos, por sua vez, fruto de amplo trabalho do Governo bra- ocorrido no Brasil. têm um histórico muito mais recente: sileiro para trazer o evento ao país. E não Os primeiros Jogos de que se têm re- a primeira edição ocorreu em 1960, em durou pouco, nem foi fácil ou simples. gistro ocorreram em Olímpia, na Grécia, Roma, na Itália. Sua origem está na ini- Tampouco foi a primeira tentativa brasi- em 776 a.C.. Desse momento em diante, ciativa do médico alemão Ludwig Gutt- leira de sediar os Jogos. Já havíamos ten- foram realizados a cada quatro anos – mann de utilizar o esporte para a reabi- tado emplacar Brasília como cidade-sede período conhecido pelos gregos como litação de soldados feridos na Segunda das Olimpíadas de 2000 e o Rio de Janei- uma “Olímpiada”. Uma variedade de Guerra Mundial. O sucesso do método ro para 2004 e 2012 – além de tentativas provas reunia as cidades e os habitan- foi tão grande que, em 1948, o médico mais antigas, a exemplo da candidatura tes do mundo grego em torno da prática promoveu o primeiro evento esportivo do Rio para os Jogos de 1936 e os de 1960. esportiva. As modalidades despertavam para pessoas com curiosidade e atenção da população: de deficiência, na corridas a pé e corridas equestres, pas- cidade de Stoke sando por esportes de combate, como Mandeville, pró- luta, boxe e o extinto pancrácio, até o xima a Londres, pentatlo, que, na época, incluía lança- onde aconteciam mento de disco, lançamento de dardo, os Jogos Olímpi- salto à distância, corrida de estádio e cos daquele ano. luta. Mais do que proporcionar diver- Desde então, já são aos espectadores, os Jogos tinham foram realizadas importância estratégica, ao promover a 15 edições dos Jo- união do mundo grego em época em que gos Paralímpicos. a Grécia não era um Estado único, mas Eles não ocor- um conjunto de cidades-Estado. riam, contudo, A tradição dos Jogos foi perdendo necessariamente força com o passar dos anos, sobretudo na cidade-sede após os romanos invadirem a Grécia, em dos Jogos Olím- 456 a.C., até que, em 393 a.C., eles foram picos. Apenas a suspensos. partir de 1988, Foi apenas em 1896, por iniciativa nos Jogos Olím- do Barão de Coubertin, personagem da picos de Seul, matéria “Um outro Barão” desta revista, Coreia do Sul, foi que os Jogos foram retomados. Atenas, decidido que a ci- na Grécia, foi a cidade escolhida para dade anfitriã dos abrigar o retorno do evento esportivo. Jogos Olímpicos

As Olímpiadas voltaram a iluminar o ce- também seria FOTO: Divulgação nário esportivo internacional, dessa vez palco dos Para- com maior amplitude, já que a participa- límpicos. Campanha para a candidatura Rio 2016. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

Obtivemos, finalmente, sucesso na candi- realizou gestões em favor da candidatura. datura para os Jogos de 2016. Em junho de 2008, o Brasil recebeu a Muito foi feito para se chegar a esse alegre notícia de que havia sido aprova- resultado, com a preparação minuciosa do pelo Comitê Olímpico Internacional PASSO-A-PASSO das apresentações brasileiras nas reuni- (COI) para a segunda fase do processo DA CANDIDATURA RIO 2016 ões do COI, da visita do Comitê Olímpi- de escolha da sede dos Jogos de 2016. co ao Rio de Janeiro e de tudo que fos- Essa foi a primeira vez que o Brasil pas- Cidades interessadas, apoiadas por seus se relacionado ao processo de escolha sou para a segunda etapa. Foi, então, o Comitês Olímpicos Nacionais, submetem da cidade-sede. Por cerca de dois anos, momento de aumentar os esforços e a candidatura ao Comitê Olímpico Inter- centenas de pessoas estiveram envolvi- aproveitar a oportunidade. nacional (COI): Chicago, Praga, Tóquio, das no processo, das esferas municipal, Os Jogos Olímpicos de Pequim foram Rio de Janeiro, Baku, Doha, Madri estadual e federal do Governo a con- uma das primeiras ocasiões para intensi- sultores internacionais de marketing e ficar a campanha olímpica brasileira, por comunicações. É possível visualizar no meio da instalação da Casa Brasil naquela YouTube os filmes promocionais, diri- cidade. Com amplo apoio de diplomatas 04.junho.2008: COI aceita a candidatu- gidos pelo cineasta brasileiro Fernan- brasileiros para sua implementação e ra das seguintes cidades: Chicago, Tóquio, Rio de Janeiro, Madri do Meirelles, que foram utilizados nas funcionamento, a Casa Brasil foi o centro apresentações brasileiras ao COI. da discussão e da divulgação da candida- O Itamaraty foi um dos órgãos do tura brasileira na capital chinesa, de que Governo que teve importante papel no é exemplo a realização de entrevistas es- processo de escolha do Rio de Janeiro. peciais e de eventos artísticos. 12.fevereiro.2009: Prazo-limite para Merece destaque, nesse ponto, a Coorde- Em fevereiro de 2009, cumprimos envio do “Dossiê de candidatura” das nação-Geral de Intercâmbio e Coopera- outra etapa da candidatura aos Jogos, cidades ao COI ção Esportiva (CGCE). Criada em 2008, com a entrega do “Dossiê de candida- com o objetivo de promover e criar for- tura” do Rio de Janeiro ao COI. Mais mas de cooperação internacional na área conhecido como “Bid Book”, esse do- Abril-maio.2009: Visitas da Comissão esportiva, a CGCE participou ativamente cumento é uma espécie de livro de can- de Avaliação do COI às cidades candida- da definição e da implementação da estra- didatura com planos e garantias gover- tas tégia brasileira para a campanha olímpica. namentais para a realização do evento Uma das iniciativas do Itamaraty foi olímpico. Ele foi fruto do trabalho con- mobilizar a rede de Postos no exterior, junto de várias áreas do Governo e de Maio.2009: Divulgação do Relatório de sobretudo aqueles em cidades que se- contratados especiais, que, juntos, con- Avaliação do COI diariam reuniões do COI ou que tinham seguiram desenvolver um dos mais bem membros votantes em sua jurisdição. estruturados dossiês entre as candidatu- Foram realizadas ações de cooperação ras recentes. em esportes e de relações públicas, por Ocasião importante da campanha Maio.2009, Lausanne: Briefing técnico exemplo com a divulgação de vídeos e olímpica ocorreu entre abril e maio de das cidades candidatas aos membros do de material impresso nas mais diversas 2009, quando a Comissão de Avaliação COI oportunidades e com o apoio a pessoas do COI visitou o Rio de Janeiro. A única envolvidas na promoção dos Jogos, como visita pública do COI ao país representou esportistas e autoridades brasileiros. oportunidade crucial para gerar simpa- Buscaram-se, também, experiências e tias e promover o Rio de Janeiro. O mara- Outubro.2009, Copenhague, 121ª conhecimento de pessoas envolvidas nas vilhoso cenário da cidade já funcionaria Sessão do COI: Votação final e eleição candidaturas de cidades que já haviam como um fator positivo para agradar a do Rio de Janeiro sediado os Jogos. A Secretaria de Estado, Comissão, mas não seria suficiente. Estu- Fonte: http://www.olympic.org/content/the-ioc/ em Brasília, acompanhou cuidadosamen- dos e planejamento técnico também fize- olympic-games-candidature-process/past-bid- te todas as ações no exterior, bem como ram parte da agenda de recepção. processes/election-of-the-2016-host-city/ 37

Os preparativos para a visita e para o exame técnico do projeto da candida- tura foram realizados pelo Comitê de Candidatura, que inclui o MRE como um dos membros. Nesse contexto, fo- ram feitos estudos sobre as campanhas de Pequim e de Londres para sediar os Jogos, visando obter inspiração de can- didaturas bem-sucedidas. O Governo brasileiro também contratou consulto- res australianos e ingleses que haviam participado da campanha de Londres 2012, responsáveis por ações de comu- nicação internacional e de marketing, bem como pelos preparativos de eventos da campanha olímpica. A Comissão de Avaliação do COI

passou cinco dias no Rio de Janeiro, FOTO: Gabriel Heusi/Brasil2016.gov.br realizando visitas a locais esportivos existentes ou projetados, assim como reuniões técnicas e encontros com au- Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. toridades. Diversos temas foram ana- lisados a respeito das condições para a realização dos Jogos no Rio de Janeiro, como segurança, instalações esportivas Em lugar de destaque, a candidatura A experiência adquirida com a bem- e finanças. Na ocasião, são avaliados brasileira baseou-se fortemente na ne- sucedida realização dos Jogos Pan-Ame- os detalhes técnicos e a previsão orça- cessidade de aumentar a participação ricanos, que, futuramente, seria amplia- mentária referentes aos temas do “Bid de países em desenvolvimento no cená- da pela realização da Copa do Mundo no Book”. O Parque Aquático Maria Lenk rio internacional, não só nos processos Brasil, foi outro dos pontos ressaltados e a Arena Olímpica, construídos para os de tomada de decisão, mas também na na campanha pela capital fluminense. Jogos Pan-Americanos de 2007, foram materialização de iniciativas. A ideia de Vale lembrar, também, os estádios e cen- alguns dos lugares visitados, mostrando um país emergente sediar os Jogos cons- tros de preparação que ambos os even- à Comissão a qualidade das instalações tituiu atrativo para a escolha do Rio de tos deixaram para a cidade. já existentes na cidade. Janeiro – poucas foram as Olímpiadas Mais uma questão sempre mencio- Seguiram-se à visita do COI ao Rio de realizadas fora de países desenvolvidos. nada pelos organizadores da campanha Janeiro outros momentos importantes Nesse sentido, a realização dos Jogos foi o apoio do Governo, em âmbito mu- para a candidatura brasileira, como a apre- Olímpicos, pela primeira vez, na Améri- nicipal, estadual e federal, e da socieda- sentação sobre elementos técnicos do pro- ca do Sul, um dos únicos dois continen- de brasileira à realização dos Jogos no jeto aos membros do COI, em Lausanne. tes, ao lado da África, que nunca recebeu Rio de Janeiro, bem como a garantia de Paralelamente, continuávamos realizando o megaevento, foi mostrada como um que o país tem capacidade de realiza-los. gestões e ações promocionais, no Brasil e avanço na democratização e na descen- Argumentou-se, ainda, sobre a pos- no exterior, para intensificar as chances de tralização do movimento olímpico inter- sibilidade de transformação aberta pela vitória da capital fluminense. nacional. Intensificou esse argumento o realização dos Jogos, pelo legado dos Os argumentos brasileiros para justi- fato de que todos os outros países con- Jogos ao Rio de Janeiro, não só em ter- ficar a escolha do Rio de Janeiro como correntes já haviam organizado Jogos mos de melhorias em infraestrutura e cidade-sede foram parte essencial do Olímpicos. Os EUA, sozinhos, foram de recuperação de áreas degradadas da sucesso da candidatura. sede quatro vezes. cidade, mas também na transmissão dos GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS FOTOS: Roberto Castro/ ME Castro/ Roberto FOTOS:

Centro Paralímpico Brasileiro, CPB Evento teste de taekwondo na Arena em São Paulo. Carioca 1, no Rio de Janeiro.

valores e ideais olímpicos à população No dia primeiro de outubro de 2009, grandes eventos esportivos anteriores, brasileira. foi publicado o Ato Olímpico, com o ob- o Itamaraty participa dos esforços para O tratamento do esporte no Brasil jetivo de assegurar garantias à candida- que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos também foi empregado na defesa da can- tura do Rio de Janeiro e de estabelecer sejam um sucesso. Ao lado de outros ór- didatura. Temos diversos projetos de co- regras especiais para a realização dos gãos governamentais, coordenados pelo operação esportiva com países em desen- Jogos, caso fosse confirmada a escolha da Ministério do Esporte, o Ministério das volvimento, a exemplo do Jogo da Paz, cidade pelo COI. No dia seguinte, o Ato Relações Exteriores é um dos membros realizado em Porto Príncipe em 2004, Olímpico passou a ser aplicável: o Rio de do Comitê Gestor dos Jogos Olímpicos entre as seleções brasileira e haitiana de Janeiro venceu a disputa, e o Brasil rece- e Paralímpicos Rio 2016 – CGOLIMPÍA- futebol, que contribuiu para a estabiliza- beu o direito de sediar as Olimpíadas de DAS, criado em 2012, com o objetivo de ção do país caribenho. A presença de es- 2016, tornando-se, assim, o primeiro país conduzir a atuação do Governo Federal colinhas de futebol brasileiras em outros da América do Sul a receber uma edição no preparo das Olimpíadas. países e a recepção de jovens estrangei- dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O Um dos eixos mais tradicionais da ros nos clubes nacionais de treinamen- esforço nacional foi recompensado. atuação do Itamaraty é a recepção de to demostram a relevância brasileira no autoridades estrangeiras. Para cada au- cenário esportivo internacional. O uso E O TRABALHO DO ITAMARATY toridade que vem ao Brasil, é designado do esporte como ferramenta de inclusão CONTINUA... um diplomata de ligação, mais conheci- social no âmbito interno e a percepção de O papel do Itamaraty nos Jogos não do como diplig. Esses diplomatas têm a que o esporte é um direito do cidadão e acabou quando o Rio de Janeiro foi es- função de facilitar a comunicação entre dever do Estado sinalizam a importância colhido. Com ampla experiência acu- a autoridade estrangeira e os órgãos do com que o tema é tratado no país. mulada na organização e realização de Governo brasileiro, bem como de garan- 39

tir que tudo corra bem enquanto o digni- e partidas, assim como com a recepção oportunidade para o desenvolvimento na- tário estiver no país. Costumeiramente das autoridades estrangeiras. cional, para a promoção comercial e de in- exercido na vinda de Chefes de Estado e Outro eixo da atuação do Itamaraty vestimentos, bem como para a projeção da de Governo, Chanceleres e outras auto- está relacionado com a vinda de estran- cultura nacional e da imagem de um Es- ridades ao Brasil, esse papel aumentará geiros ao país. Os consulados e setores tado socialmente inclusivo e democrático, exponencialmente durante a Rio 2016. consulares brasileiros são responsáveis orgulhoso de sua diversidade cultural. Os O MRE será responsável por receber, si- pela concessão de vistos aos estrangei- diplomatas brasileiros estão constante- multaneamente, cerca de 100 Chefes de ros que desejam visitar o Brasil. Além mente sendo atualizados com informa- Estado e de Governo. Desafio similar já disso, o Itamaraty vai prestar suporte ções sobre os preparativos dos Jogos, o foi enfrentado pelo Ministério na Con- aos serviços consulares estrangeiros no que permite comunicação fluida com as ferência Rio+20, sobre desenvolvimento Rio de Janeiro, por meio da presença de autoridades, a imprensa e a sociedade ci- sustentável, com a coordenação e o des- diplomatas de plantão na cidade. O MRE vil estrangeira. Os Postos no exterior têm locamento de inúmeros dipligs à capital estará em constante contato com os ser- a missão de mostrar ao mundo os efeitos fluminense. viços de segurança e monitoramento no que os Jogos Rio 2016 trarão não só à ci- Ao Itamaraty cabe, também, o diálo- Rio de Janeiro, para garantir o pronto dade do Rio de Janeiro, mas ao país todo, go com o corpo diplomático acreditado conhecimento do envolvimento de es- em áreas como infraestrutura esportiva, em Brasília, para a transmissão de infor- trangeiros em situações de emergência defesa, segurança e inteligência. mações a respeito do evento e a recep- e a comunicação de eventuais ocorrên- Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos ção de informações sobre a vinda dos cias ao serviço consular de seu país de estão cada vez mais próximos. Quan- dignitários estrangeiros. origem. Ainda no campo da segurança, do esta matéria foi escrita, estavam em No âmbito das atividades de cerimo- a rede do Itamaraty no exterior traz ao planejamento ações promocionais para nial, não podemos esquecer os diploma- Brasil informações, por exemplo, sobre marcar a contagem regressiva dos 100 tas que são designados para o setor de segurança e prevenção ao terrorismo, dias para as Olimpíadas. Embaixadas e chegadas e partidas. Muitas vezes em que são transmitidas aos órgãos nacio- consulados no mundo todo foram con- horários extremos, mas sempre com um nais responsáveis. tatados com o objetivo de fazer desse sorriso no rosto, esses diplomatas estarão Por fim, a capilaridade da rede de momento uma ação conjunta de todos os presentes nos aeroportos, na Base Aérea Postos do MRE permite a gestão da ima- países, marcando a união entre as nações do Rio de Janeiro e em outras cidades pe- gem do país no exterior. A atenção inter- para a realização do evento esportivo e o las quais as autoridades passem, para au- nacional estará direcionada para o Brasil apoio ao Brasil como país-sede. — J xiliar com os procedimentos de chegadas durante os Jogos, e queremos usar essa

OS JOGOS OLÍMPICOS EM NÚMEROS OS JOGOS PARALÍMPICOS EM NÚMEROS 17 dias de Jogos Olímpicos 11 dias de Jogos Paralímpicos 306 provas com medalhas 528 provas com medalhas 42 esportes 23 esportes 32 locais de competição 21 locais de competição Cerca de 100 Chefes de Estado e de Governo esperados para a Cerca de 40 Chefes de Estado e de Governo esperados para a abertura dos Jogos abertura dos Jogos 206 delegações 176 delegações 10.500 atletas 4.350 atletas 7,5 milhões de ingressos 3,3 milhões de ingressos 45.000 voluntários 25.000 voluntários

Fonte: http://www.rio2016.com/jogos-olimpicos Fonte: http://www.rio2016.com/paralimpiadas GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

FROM RIO TO TOKYO: QUATRO ANOS ESTRATÉGICOS PARA AS RELAÇÕES BRASIL-JAPÃO

COMO OS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO E DE TÓQUIO CRIAM UMA JANELA DE OPORTUNIDADE PARA APROFUNDAR AS RELAÇÕES BRASIL-JAPÃO

Roberto W. Szatmari FOTO: Zengame/Flickr 41

Apesar de já ser uma metrópole ascensão do Japão do pós-Guerra. Ago- Presidente Michel Temer realizou a pri- histórica, com uma linda vista para a baía ra, o Rio de Janeiro tenta repetir a his- meira visita de um Chefe de Estado bra- e um verão de 40°C, a cidade ainda care- tória de sucesso da primeira Olimpíada sileiro ao Japão em 11 anos, e conversou cia de muitas coisas, especialmente em japonesa, tanto na criação de um legado sobre a experiência brasileira na organi- mobilidade urbana. Havia ruas a serem para a cidade, quanto na atualização da zação dos Jogos tanto com o Primeiro- asfaltadas, linhas de metrô a serem cons- imagem internacional do país após seu Ministro Abe quanto com o Imperador truídas, bairros mal-integrados e grandes desenvolvimento econômico e social no do Japão. Para completar, Brasil e Japão áreas antigas que pediam recuperação. século 21. encontram-se em seu próprio ciclo de Com as Olimpíadas, veio a moderniza- Em uma coincidência olímpica, o Ja- celebrações históricas: o ano passado ção. Aeroportos foram reformados, ho- pão será o anfitrião dos próximos Jogos, marcou o 120º aniversário das relações téis construídos, arenas esportivas inau- o que põe os Jogos do Rio na posição his- bilaterais, e 2018 marcará os 110 anos da guradas, bairros recuperados e — mais tórica de não apenas se inspirar nos Jo- imigração japonesa para o Brasil. importante para os habitantes da cidade gos japoneses de 1964, como também de Para aproveitar esse alinhamento de — o metrô foi estendido e um novo tipo servir de inspiração direta para os Jogos fatores, a Embaixada do Brasil em Tó- de trem foi inaugurado. Tudo isso impor- de Tóquio em 2020. quio lançou a iniciativa “From Rio to tava porque a ideia era mostrar ao mundo No dia 21 de agosto, o mundo foi sur- Tokyo”, que funcionará como “um guar- um país com cara nova: um país que havia preendido com a participação-relâmpa- da-chuva de ações e ideias”, nas palavras se desenvolvido muito na última década, go do Primeiro-Ministro Shinzo Abe no do Embaixador André Aranha Corrêa reduzindo a pobreza e se tornando um encerramento dos Jogos do Rio, vestido do Lago, abrigando diversos projetos ator de peso nas Relações Internacionais. de Super Mario e surgindo de um cano de cooperação e aproximação bilaterais O verão de 1964 marcou o nasci- como quem acabara de se transportar do durante o ciclo que vai do encerramento mento da Tóquio moderna que conhe- outro lado do mundo. Não era muito lon- dos Jogos no Rio até o início dos Jogos cemos hoje, coroado pelos jogos da 18ª ge da verdade – o Premiê veio diretamen- em Tóquio, criando uma ponte entre os Olimpíada. A reforma do Aeroporto de te do Japão para a Cerimônia de Encerra- dois eventos. Segundo o Embaixador, a Haneda e a inauguração do primeiro mento no Brasil, em reconhecimento do iniciativa busca “fixar a imagem do Rio trem-bala são apenas a face mais visível simbolismo desse momento de transição e do Brasil” em um período em que a dessa modernização, que simbolizou a entre Rio e Tóquio. Dois meses depois, o população japonesa já está pensando GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

Governadora Yuriko Koike recebe a bandeira olímpica no Rio de Janeiro. FOTO: Fernando Frazão/Agência Brasil Frazão/Agência FOTO: Fernando

em Jogos Olímpicos. Assim, pretende-se joie de vivre ensolarada, tem despertado no período das competições, alternando “relançar a parceria em um novo pata- cada vez mais o interesse do público jo- as cores nacionais do Brasil e do Japão. mar”, segundo a Ministra Cecília Ishita- vem japonês, criando um importante es- A iniciativa From Rio to Tokyo bene- ni, Chefe da Divisão de Japão e Penín- paço para a promoção da moda, dos pro- ficia-se de uma visão mais sofisticada e sula Coreana do Itamaraty, explorando dutos e mesmo da culinária brasileira moderna da relação bilateral, longe da todo o potencial que foi aberto com a vi- no Japão. Para o Ministro Joel Sampaio, concepção do século 20, em que o Brasil sita do Primeiro-Ministro Shinzo Abe ao assessor do Ministro das Relações Exte- exportava produtos primários e impor- Brasil em 2014, momento em que Brasil riores, impressiona o quanto a Embaixa- tava manufaturados japoneses. A nova e Japão elevaram seu relacionamento ao da em Tóquio tem conseguido realizar, concepção é fruto de um esforço cons- nível de Parceria Estratégica e Global. O mesmo em um momento de ajuste fis- ciente de atualização de diplomatas de conceito “From Rio to Tokyo” foi abra- cal do governo. Para marcar os 100 dias ambos os lados, e o período da olimpía- çado pela chancelaria japonesa e passou para os Jogos Olímpicos, por exemplo, a da surge como oportunidade única para a integrar o programa de trabalho bilate- Embaixada conseguiu que o Governo de catalisar essa atualização. ral, organizando a agenda de atividades Tóquio iluminasse a sede do governo e “As pessoas têm uma tendência a do próximo quadrênio. o Parque Olímpico de 1964 com as cores pensar na relação bilateral em termos A agenda de atividades, ainda em ela- brasileiras, um exemplo de pensamento da cooperação econômica,” diz o Minis- boracão, deverá ser intensa, sobretudo a criativo implementado em parceria com tro-Conselheiro Kazuhiro Fujimura, da partir de 2017. Inclui exposições fotográ- o governo local. Nas vésperas dos Jogos Embaixada do Japão em Brasília. “Mas ficas, eventos culturais, como a celebra- Olímpicos e Paralímpicos, a parceria agora estamos no século 21 e nossos lí- ção dos 100 anos da primeira gravação foi com o setor privado. Por iniciativa deres viraram uma nova página nas re- de samba, intercâmbios universitários, da Embaixada, a empresa proprietária lações bilaterais”, afirma. Para ele, a ini- palestras sobre o Brasil em universida- da Tokyo Skytree decidiu iluminar de ciativa From Rio to Tokyo tem o papel des em Tóquio e uma ampla estratégia verde e amarelo a torre (a mais alta do de “encorajar outras áreas de coopera- de divulgação do “Brazilian Lifestyle”. O mundo e um dos símbolos da capital ja- ção”. Uma avaliação parecida pode ser estilo de vida brasileiro, associado a uma ponesa), incluindo ação complementar ouvida na Embaixada do Brasil em Tó- 43

quio, quando o Embaixador Corrêa do xador do Japão Kunio Umeda é um apai- em comunidades carentes brasileiras, Lago fala da necessidade de se ir além xonado por futebol, atuando como re- diz ele, pode ser uma maneira de dar aos das áreas tradicionais de cooperação, presentante internacional da Associação jovens valores que os ajudarão a enfren- explorando parcerias em áreas como Japonesa de Futebol (JFA, equivalente tar os desafios de seu cotidiano. o design, a comunicação de massa e o da CBF no Japão). Mas, segundo o Mi- Outra área nova que desperta inte- compartilhamento de experiências em nistro Fujimura, o próprio premiê Shin- resse nos japoneses é a cooperação em políticas públicas de inclusão social, áre- zo Abe deu nova ênfase ao esporte como defesa. Tradicionalmente um tema tabu as em que o Brasil do século 21 está na área de cooperação internacional ao lan- na política externa nipônica, pouco a vanguarda. Como um exemplo curioso, çar o programa “Sport for Tomorrow” pouco a defesa e a segurança têm ressur- típico das muitas coincidências olímpi- em 2015. Para o Ministro, a vantagem gido como temas importantes da pauta cas que cercam a relação, o Embaixador da cooperação esportiva é dupla: por bilateral. A constituição japonesa, escri- recorda que o design das tochas e dos um lado, representa uma agenda posi- ta durante a ocupação americana ao fim mascotes dos Jogos Rio 2016 é de coau- tiva “universal”, em que todos os países da Segunda Guerra mundial, não só pro- toria de duas brasileiras de ascendência podem participar. Por outro, essa coo- íbe o Japão de ter forças armadas como japonesa: a paulista Luciana Eguti e a ca- peração permite promover o soft power proíbe qualquer exercício da força que tarinense Romy Hayashi. japonês por meio da difusão de esportes não seja em autodefesa. Apesar disso, Para a Embaixada do Japão em Bra- como o judô e o caratê, que estão intrin- diversas interpretações legais a partir sília, o “timing” da realização do maior secamente ligados a valores japoneses dos anos 50 têm alargado o escopo de evento esportivo do planeta não deixa como a disciplina, o respeito e a resiliên- atuação das “Forças de Auto-Defesa” dúvidas sobre a nova área natural de par- cia. Para o Ministro Fujimura, esses va- japonesas, que são hoje o 4º mais forte ceria entre os dois países: a cooperação lores transcendem o esporte: encorajar a corpo militar do mundo, de acordo com esportiva. Ajuda o fato de que o Embai- prática de artes marciais, especialmente índice da Credit Suisse. Ciente do cres-

Cerimônia de handover para os Jogos de Tóquio 2020. FOTO: Leandro Neumann Ciuffo/Flickr Neumann FOTO: Leandro GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

cente peso da China no leste asiático, o drões de Jogos Olímpicos. Após os quase moção do Japão no Brasil. Em março de premiê Abe tem como um de seus obje- 10 bilhões de libras gastos nos Jogos de 2017, o Japão irá inaugurar a “Japan Hou- tivos transformar o Japão em um “país Londres, houve uma preocupação ge- se” em São Paulo, um ambicioso projeto normal”, com os mesmos direitos e obri- neralizada com a escalada de custos dos de divulgação da imagem do país. Dese- gações na área de defesa que qualquer Jogos, explica o Embaixador Corrêa do nhada pelo arquiteto Kengo Kuma e sob outro membro da sociedade internacio- Lago. Desde o início, portanto, os organi- consultoria do chefe da Muji, uma mar- nal. Para isso, o Primeiro-Ministro tem zadores dos Jogos do Rio buscaram cor- ca de roupas e objetos minimalistas, a buscado reformas legais domesticamen- tar custos e fazer um evento mais barato. Japan House será um mistura de centro te e encorajado maior participação nos Deu certo. A revista Economist comen- comercial e centro de artes, voltada para temas internacionais de defesa. tou, no ano passado, que “compared with atrair interesse sobre o Japão. São Paulo Essa proatividade tem se refletido other recent Olympic games, Rio’s look foi escolhida como uma de apenas três nas relações bilaterais. O Comandante cheap”, repetindo este ano que “There is metrópoles no mundo que abrigarão das Forças Terrestras de Auto-Defesa already much to celebrate about the Rio Japan Houses, ao lado de Los Angeles e (GSDF), General Kiyofumi Iwata, visi- Olympics (…). There has been no obvious Londres, o que evidencia o valor estraté- tou o Brasil este ano, e o Japão aguar- waste or corruption”. O Ministro Joel gico da cidade, e do Brasil, para o Japão. da uma visita do mais alto comandante Sampaio, que escreveu uma tese sobre Apesar de tantas convergências e ins- brasileiro. Além disso, o Japão designou Jogos Olímpicos, concorda com a ava- pirações, porém, há nuances importantes para o Brasil seu primeiro Adido Mili- liação: “O Rio vai ter uma história para entre o papel dos Jogos Olímpicos nas tar na América Latina. De maior relevo contar no aspecto de custos”, afirma. Ele políticas externas de Brasília e Tóquio. imediato, porém, é a interlocução na recorda que “57% dos recursos é de ori- Os Jogos do Rio terão o valor simbólico área de segurança interna propiciada gem privada”, o que representaria “uma de apresentar ao mundo um país mais pela Olimpíada. ”O Japão vem apren- marca inédita na história dos jogos”. desenvolvido, mais democrático e mais dendo com a experiência brasileira na Além de construir a Arena do Futuro em igual, apto a assumir grandes compro- segurança dos Jogos Olímpicos”, ex- formato modular, facilmente reaprovei- missos na cena internacional. O atual mo- plica o Ministro Fujimura. O cenário tável, o Rio pôde aproveitar os estádios mento de dificuldade acentuaria o fato de de segurança atual é, afinal, muito di- como o Maracanã, recém-reformado que o Brasil tem maturidade institucional ferente do cenário à época dos Jogos para a Copa do Mundo, assim como es- para organizar grandes eventos até mes- de 1964, e o Brasil tem demonstrado paços na Barra da Tijuca construídos mo em cenários adversos. Nesse ponto, a capacidade de montar esquemas de para os Jogos Jogos Pan-americanos. A semiótica dos Jogos do Rio se aproxima segurança eficazes para grandes even- preocupação em não gerar “elefantes da dos Jogos de Tóquio de 1964. O Japão, tos, destacando-se as experiências da brancos” norteou o planejamento dos por sua vez, já é um país desenvolvido. Os Copa das Confederações e da Copa do jogos: “Dois terços dos gastos do proje- Jogos de Tóquio servirão a três grandes Mundo de 2014. Segundo o Ministro, o to total não têm nada a ver com esporte, objetivos para a política externa japo- Japão tem mantido contato com todas são um pretexto positivo para moderni- nesa: primeiro, apresentar um país mais as autoridades brasileiras na área de zar a cidade,” diz o Ministro Joel. Tudo aberto e hospitaleiro (sintetizado no con- segurança, e ambos os países têm com- isso agrada a frugalidade japonesa, que ceito japonês de omotenashi), segundo, partilhado experiências sobre o plane- já não permite o nível de gastos de 1964, dar impulso a sua economia por meio da jamento de grandes eventos, interação quando o governo de Tóquio gastou o recepção de números recordes de turis- que deve continuar ao longo do período equivalente ao seu orçamento anual tas e, terceiro, desconstruir a desconfian- até os Jogos de Tóquio. apenas na realização dos Jogos de verão. ça que ainda persiste em alguns vizinhos Há ainda outro aspecto, mais pragmá- Talvez esse novo estágio da parceria na Ásia devido à memória da Guerra. tico, que atrai o interesse japonês para os terá sua face mais visível na criação de Caso bem-sucedido, especialmente nes- Jogos do Rio: seu baixo custo, para pa- um espaço físico permanente para a pro- se terceiro ponto, o Japão dará mais um 45 FOTO: Fernando Frazão/Agência Brasil Frazão/Agência FOTO: Fernando

Primeiro-ministro Shinzo Abe, em sua participação surpresa na Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

passo no caminho da “normalização” do para compartilhar experiências, apro- edições dos Jogos (contando os de Ve- Japão desejada pelo Primeiro-Ministro ximar as duas sociedades e promover rão e os de Inverno) reconhece esse Abe. Brasil e Japão são dois dos maiores o aproveitamento de oportunidades de prestígio melhor do que qualquer outro adeptos históricos do soft power, tendo negócios. A Embaixada do Japão, por país. “As portas agora se abrem mais,” rejeitado, em larga medida, o recurso sua vez, celebra a inclusão definitiva sintetiza o Embaixador. ao poder militar. Os Jogos servirão para da cooperação esportiva na cooperação Talvez o maior ganho da iniciati- evidenciar duas diferentes estratégias de bilateral. Para a Chefe da Divisão e Ja- va seja dar um mote a uma relação que, comunicação desse soft power ao mundo. pão e Península Coreana, os contatos justamente por ser “Global”, contem- O período “From Rio to Tokyo” dei- promovidos neste período tenderão a pla uma infinidade de áreas e contatos, xará seu próprio legado para a relação se intensificar, levando a maior fluxo embasados nos laços humanos de duas bilateral. Segundo o Ministro Joel, “terá de turistas, de acadêmicos, de comércio grandes comunidades de expatriados. Os sido aberta uma nova via de coopera- e a um maior número de eventos nos próximos quatro anos serão estratégicos ção”, se beneficiando da interlocução dois países. Além disso, na diplomacia, no aprofundamento da relação, mas uma frequente entre cidades-sede. Mas tal- os ganhos de imagem nunca devem ser coisa é certa: quando o Rio de Janeiro vez o mais correto seja falar em “novas desconsiderados. O Embaixador Cor- passou a bandeira olímpica para Tóquio vias”, no plural. O Ministro do Esporte, rêa do Lago analisa que, “ao sediar os no dia 21 de agosto de 2016, Brasil e Japão Leonardo Picciani, em recente visita ao Jogos Olímpicos, o Brasil mudou de deram início a um novo ciclo de aproxi- Japão, enfatizou que a iniciativa servirá patamar”, e o Japão, que já sediou três mação que não se esgotará em 2020. — J GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

POR QUE OS JOGOS OLÍMPICOS E OS PARALÍMPICOS CONTINUAM A SER EVENTOS SEPARADOS?

SE A UNIÃO DOS POVOS É UMA MARCA DAS COMPETIÇÕES OLÍMPICAS, A REALIZAÇÃO DE UM EVENTO PARALÍMPICO À PARTE SERIA DEMONSTRAÇÃO DE INCLUSÃO OU DE SEGREGAÇÃO?

Pedro Guerreiro Lopes da Silveira

Ibrahim Hamadtou, jogador de tênis de mesa egípcio, durante os Jogos Paralímpicos Rio 2016. : Rio 2016/Gabriel Nascimento/Divulgação : Rio 2016/Gabriel FOTO 47

Muitas das cenas mais emocionan- duas duplas brasileiras, Jacqueline e promoção de valores como a igualdade tes que entraram para a história do es- Sandra, e Mônica e Adriana, represen- e a diversidade constituem alguns dos porte relacionam-se à participação de tava a primeira conquista de medalhas mais enfáticos legados olímpicos para minorias e de grupos vulneráveis nos por mulheres brasileiras na história a humanidade, por que as competições Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A con- olímpica. Mais recentemente, durante olímpicas e paralímpicas não são inte- sagração do atleta negro Jesse Owens na os Jogos do Rio de Janeiro, a entrada gradas de uma vez, formando parte de Alemanha de Hitler, em 1936, constitui da delegação formada por atletas refu- um mesmo evento unificado? Se a união um dos exemplos mais contundentes de giados emocionou o Maracanã e só não dos povos é uma marca das competições refutação das teses de superioridade da foi mais aplaudida do que a da delega- olímpicas, a realização de um evento raça ariana. Apenas em 1984, durante os ção anfitriã. O corredor argelino Ab- à parte destinado exclusivamente aos Jogos de Los Angeles, seria realizada a dellatif Baka venceu a prova dos 1500 atletas paralímpicos seria uma demons- primeira prova olímpica da maratona metros rasos da classe T3, para atle- tração de inclusão ou de segregação? feminina. A suíça Gabriela Andersen-S- tas com baixa visão, com o tempo de Antes de responder essas questões, chiess, aos 39 anos, cruzou a linha de 3m48s29, baixando em quase dois se- é importante recordar as origens histó- chegada na 37ª colocação, cambaleante, gundos a marca do campeão olímpico ricas do movimento paralímpico. A pri- em estado de confusão mental, provoca- da Rio-2016, realizada semanas antes. meira experiência de uma competição da pelo calor e pela desidratação. Após Se a superação de preconceitos e a internacional para atletas com deficiên- percorrer os 400 metros no Estádio Olímpico, a atleta caiu desacordada nos braços dos médicos que a acompanha- ram na reta final da prova. Em Atlanta, em 1996, o vôlei de praia estreava em Olimpíadas. Para o Brasil, mais do que marcar chegada da modalidade aos Jogos, a final feminina, disputada por : International Paralympic Committee /Divulgação FOTO : International Paralympic FOTO : Divulgação

Agitos, o logo paralímpico.

Josef Craig, nadador paralímpico. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

cia foi a realização dos Jogos Internacio- do Campeonato Europeu, no primeiro mil atletas. Seria necessário que as cida- nais em Cadeira de Rodas, em 1948, com semestre de 2016, por não ter coberto des sede construíssem uma vila de atle- a participação de veteranos da II Guerra os aros olímpicos que estão tatuados em tas ainda maior. A duração das compe- Mundial e civis atingidos durante o con- seu peito. A alegação do IPC é a de que tições também precisaria ser ampliada, flito, como um evento paralelo das Olim- propaganda no corpo não é permitida. tornando a lista de exigências às cidades píadas de Londres. Foi essa competição Os Jogos Paralímpicos têm sua própria candidatas ainda mais extensa. Isso sem que deu origem aos Jogos Paralímpicos, logo, que se chama “Agitos” – são três falar nos impactos orçamentários. A so- em 1960. Apesar da origem conexa com traços, nas cores vermelha, azul e ver- lução de uma questão suscitaria novos o olimpismo, o prefixo “para” pressu- de. Todas as arenas onde se realizaram desafios com que a organização dos Jo- põe que os dois movimentos caminham os Jogos entre pessoas com deficiência gos teria de lidar. Afinal, estamos falan- paralelamente, lado a lado. Hoje, ao tiveram a logo olímpica substituída pela do da potencial fusão daqueles que já contrário do que muitos pensam, os Jo- paraolímpica. são, hoje, os dois maiores eventos espor- gos Paralímpicos não são um braço dos A visibilidade da pessoa com defici- tivos do mundo – eles superam, inclusi- Jogos Olímpicos e são organizados por ência é uma das principais bandeiras dos ve, a Copa do Mundo de futebol. um comitê internacional próprio. Até Jogos Paralímpicos. Por um lado, a exis- Um segundo argumento frequente a as Olimpíadas de Seul, em 1988, as duas tência de um evento exclusivo para os favor de manter os dois eventos separa- competições sequer compartilhavam atletas com deficiência torna-os prota- dos é o de que os Jogos Olímpicos pode- a mesma sede. Na capital coreana, pela gonistas das competições paralímpicas; riam engolir os Jogos Paralímpicos. Entre primeira vez, os Jogos Paralímpicos fo- por outro, a visibilidade atingida pelos cobrir a final da maratona olímpica e a fi- ram realizados imediatamente após os jogos paralímpicos é substancialmente nal de qualquer competição paralímpica Jogos Olímpicos e utilizaram as mesmas inferior àquela conseguida pelos Jogos que ocorra simultaneamente, é provável instalações. Uma acordo entre os dois Olímpicos. No Brasil, por exemplo, as que os editores de esportes dos princi- comitês internacionais prevê o compar- competições paralímpicas não foram pais veículos tendam a escolher atribuir tilhamento de sedes até 2032; nada im- transmitidas pela televisão aberta. O maior visibilidade à final da maratona pede, portanto, que, no futuro, os dois número de ingressos vendidos e, princi- olímpica, por exemplo. Haveria, assim, jogos não possam vir a ocorrer em sedes palmente o preço médio das entradas, é uma competição entre competições, e os e períodos do ano diferentes. Os Jogos menor. O número de atletas que se con- Jogos Paralímpicos sairiam, no fim das Paralímpicos não são uma versão dos vertem em celebridades nacionais e que contas, mais enfraquecidos, contrariando Jogos Olímpicos para pessoas com de- conseguem importantes contratos de o propósito original da iniciativa. ficiência, mas um movimento indepen- publicidade e patrocínio também é bas- Além disso, um dos principais trun- dente com e valores próprios. tante inferior, no caso dos paralímpicos. fos do Jogos Paralímpicos poderia estar A afirmação da identidade paralím- Para muitos, a combinação de provas ameaçado, na hipótese de fusão com os pica tem levado o Comitê Paralímpico entre atletas com ou sem deficiência sob Jogos Olímpicos: a inclusão do maior Internacional (IPC, da sigla em inglês) um mesmo evento seria uma oportuni- número possível de subcategorias de a adotar medidas polêmicas, como a dade de conferir o mesmo status a todos atletas. Apenas no atletismo paralímpi- proibição, na prática, da utilização do os atletas, além de favorecer maior co- co, há 27 categorias nas provas de corri- símbolo dos cinco aros olímpicos du- bertura da mídia e interesse do público. da, incluindo atletas com graus distintos rante os Jogos Paralímpicos. O nadador Para além da questão institucional de deficiência visual, intelectual, baixa paralímpico inglês Josef Craig precisou entre os dois comitês internacionais, estatura, coordenação limitada, defici- recorrer a um adesivo com a bandeira a questão logística parece constituir o ência nos membros inferiores ou supe- da Grã-Bretanha para cobrir a tatuagem principal impedimento para a propos- riores e atletas em cadeiras de rodas. Na do símbolo olímpico que ostentava no ta de fusão. Combinadas, as delegações natação, são 14 categorias; no tênis de peito. Ele já havia sido desclassificado olímpicas e paralímpicas somariam 15 mesa, 11. Os 22 esportes paralímpicos 49 : Agência Brasil/Divulgação FOTO : Agência

Vinícius e Tom, mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

convertem-se em mais de 100 tipos de contrapartida, a confirmação de seis no- era moderna, classificou a inclusão de provas diferentes. A multiplicação de vas modalidades para o programa olím- mulheres atletas nas competições como: categorias dentro de cada modalidade picos de Tóquio, em 2020 – beisebol, “imprática, desinteressante, antiestética visa a garantir maior equilíbrio nas pro- softbol, surfe, caratê, skate e escalada e incorreta”. A ideia de que a competi- vas e, é claro, a inclusão de mais atletas. – é fato que enfraquece esse tipo de ar- ção e a superação de limites físicos fos- Isso já é o que acontece nas competições gumento. Quando há interesse político sem valores exclusivamente masculinos, entre atletas sem deficiência de judô e suficiente, como é o caso da necessida- hoje, nos parece absurda. No entanto, boxe, por exemplo, em que eles compe- de de atrair a atenção dos jovens ou de alguns críticos recorrem a esse mesmo tem em suas respectivas faixas de peso. agradar ao público anfitrião japonês, vocabulário ao descreverem os Jogos Pa- A realização simultânea de competições encontram-se maneiras de viabilizar a ralímpicos. A competição não significa a olímpicas e paralímpicas poderia susci- inclusão de mais modalidades. exclusão da maioria pela seleção dos me- tar a necessidade de compactar o núme- A preocupação com a inclusão não lhores, mas a participação de todos, sem ro de subcategorias de cada modalidade é um fato necessariamente novo no es- distinções. A maior celebração da união paralímpica, ou pelo menos, dificultar porte, mas os obstáculos, assim como as dos povos passa, portanto, pela inclusão a futura inclusão de novas categorias e conquistas históricas, nunca podem ser de todos os gêneros, de todas as formas novas modalidades paralímpicas. O in- desconsiderados. Lembremos que o Ba- de orientação sexual, de todas as nações, chaço dos Jogos é uma das constantes rão de Coubertin, o maior responsável de todas as identidades étnicas, das pes- preocupações dos organizadores. Em pela recriação dos Jogos Olímpicos, na soas com deficiência, de todos, enfim. — J GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

PROYECTANDO PODER DESDE EL SUR: LOS BRICS Y LA ORGANIZACIÓN DE GRANDES EVENTOS DEPORTIVOS

Agustín Lavalle Juan Cruz Olivieri Carlos Muscari Agostina Salvaggio Federico Pintos

El deporte es una de las pasiones más importan- de aceptación internacional es tal que incluso la barrera tes para la mayor parte de los países del mundo, y idiomática se torna irrelevante, y la inclusión de distintos como tal, es una de las industrias que más ingresos genera. pueblos y culturas deviene en una posibilidad tangible”. En este sentido, debido a los valores culturales que exhi- Sin embargo, cabe resaltar que sólo los deportes ligados a be y multiplica, también puede ser considerado una vía de la innovación, a la tecnología, a la inteligencia y a lo social, inserción de los Estados en el escenario internacional. De logran proyectar internacionalmente el poderío de los Es- acuerdo con Gurrionero y Morejón (2014), “desde fines del tados. Según Fernández Moores (2016), en el contexto de siglo XIX el deporte se ha erigido como un instrumento de la Guerra Fría “la ex URSS puso todo su aparato para man- representación del poder de una nación, no sólo desde el tener su hegemonía en el ajedrez mundial, demostración punto de vista simbólico, sino también en tanto aspecto supuesta de que el pueblo comunista era más culto e inte- físico del poder nacional. Como fenómeno social su nivel ligente que el de Estados Unidos capitalista”. 51

PROJEÇÃO DE PODER VINDA DO SUL: OS BRICS E A ORGANIZAÇÃO DE GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

A TURMA 2014-2015 DO INSTITUTO RIO BRANCO CONVIDOU OS ALUNOS DA ACADEMIA DIPLOMÁTICA ARGENTINA – INSTITUTO DE SERVIÇO EXTERIOR DA NAÇÃO (ISEN) – PARA CONTRIBUÍREM COM UM ARTIGO PARA A JUCA 9. COMO RESULTADO, OS COLEGAS ARGENTINOS PREPARARAM UM TEXTO MUITO INTERESSANTE, QUE ANALISA A PROJEÇÃO DE PODER DOS PAÍSES DO BRICS POR MEIO DA REALIZAÇÃO DE GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

O esporte é uma das paixões mais importantes nal é tal que até a barreira do idioma torna-se irrelevante, para a maior parte dos países do mundo, e, como tal, e a inclusão de distintos povos e culturas transforma-se é uma das indústrias que mais receitas gera. Nesse sentido, em uma possibilidade tangível”. Contudo, cabe ressaltar devido aos valores culturais que exibe e multiplica, tam- que apenas os esportes ligados à inovação, à tecnologia, à bém pode ser considerado uma via de inserção dos Esta- inteligência e ao social conseguem projetar internacional- dos no cenário internacional. Segundo Gurrionero y Mo- mente o poder de um Estado. Segundo Fernández Moores rejón (2014), “desde fins do século XIX, o esporte vem se (2016), no contexto da Guerra Fria, “a antiga União Sovi- transformando em um instrumento de representação do ética pôs todo seu aparato para manter sua hegemonia no poder de uma nação, não só do ponto de vista simbólico, xadrez mundial, demonstrando, supostamente, que o povo mas também como um aspecto físico do poder nacional. comunista era mais culto e inteligente que o dos Estados Como fenômeno social, seu nível de aceitação internacio- Unidos capitalista”. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

Históricamente, esta posibilidad de Historicamente, essa possibilidade proyección internacional de poder gene- de projeção internacional de poder gera- rada a través del deporte ha sido una de da por meio do esporte foi uma das for- las formas de visibilización mundial de los mas de ganho de visibilidade dos países países en vías de desarrollo, cuya materia- em desenvolvimento, cuja materializa- lización se observa a través de la partici- ção se observa pela participação exitosa pación exitosa en competencias deporti- nas mais variadas competições esporti- vas de diversa índole. En este sentido cabe vas. Nesse sentido, cabe destacar as par- destacar las participaciones de países la- ticipações dos países latino-americanos tinoamericanos en las distintas Copas del nas diversas Copas do Mundo de futebol Mundo de fútbol y en los distintos Juegos e nos diversos Jogos Olímpicos. A Ar- Olímpicos. La Argentina ha gozado de un gentina goza de um indiscutível prestí- indiscutible prestigio basado en sus de- gio baseado em seus atletas, a exemplo portistas, tal como ocurre con los casos dos casos mundialmente conhecidos do mundialmente conocidos del fútbol, del futebol, do automobilismo, do basquete, automovilismo, del básquet, del hockey, do hóquei, do rugby e do polo. Isso faz del rugby o del polo. Esta situación hace de da Argentina um Estado com uma ima- Argentina un Estado con una imagen muy gem muito ligada ao esporte. Nessa ima- ligada al deporte. En ella se destacan no gem se destacam não apenas o esforço sólo el esfuerzo de sus deportistas indivi- individual, mas também os resultados duales sino también sus logros grupales, coletivos, entre os quais é impossível não entre los que resulta imposible desconocer reconhecer a capacidade de superar de- la capacidad de transitar desafíos en equi- safios em equipe, fazendo da superação po haciendo de las adversidades un sello Divulgação FOTOS: das adversidades uma marca de particu- de peculiaridad autóctona superadora. laridade autóctone. En los últimos años, los países en vías Nos últimos anos, os países em de- de desarrollo, encabezados por los BRICS, senvolvimento, liderados pelos BRICS, han intentado, de forma firme y sostenida, tem tentado, de maneira firme e constan- pasar de la participación en actividades te, passar da participação em atividades deportivas a la organización de los mis- desportivas para a organização de even- mas, como una estrategia de proyección tos esportivos, como uma estratégia de de soft power. El concepto de soft power projeção de poder brando (soft power). O acuñado por Joseph S. Nye Jr. representa conceito de poder brando alcunhado por con precisión la manera en la que los pa- Joseph S. Nye Jr. representa com preci- íses BRICS se han desenvuelto durante el são a maneira como os países do BRICS transcurso de la última década a partir se desenvolveram ao longo das últimas de –entre otras cosas- la organización de décadas por meio da organização de eventos deportivos, culturales, del otorga- eventos esportivos e culturais, da oferta miento de becas de estudio, etc. En pocas de bolsas de estudo, entre outras inicia- palabras, “el soft power es la capacidad tivas. Em poucas palavras, “o soft power de un país para persuadir a otros países é a capacidade de um país para persua- a que actúen en la dirección en la que el dir outros a que atuem na direção que o primero quiere, sin necesidad de hacer uso primeiro quer, sem necessidade de fazer de la fuerza o hard power” (Ikenberry, uso da força ou do hard power” (Ikenber- 2004). Para ello, resulta esencial recurrir ry, 2004). Para isso, resulta essencial re- Logos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos a distintas herramientas que muestren al realizados em Pequim (2008), dos Jogos da correr a distintas ferramentas que mos- Commonwealth realizados em Nova Delhi mundo la capacidad, así como también (2010) e da Copa do Mundo de Futebol realizada tram ao mundo a capacidade, os valores, na África do Sul (2010). 53

los valores, costumbres e idiosincrasia del os costumes e as idiossincrasias do país país que busca influir a otros. que busca influenciar a outros. Cuando a fines de 2001 Jim O’Neill Quando no fim de 2001 Jim O’Neil escribió su famoso artículo acerca de los escreveu seu famoso artigo acerca dos BRIC, el orden económico mundial no era BRIC, a ordem econômica mundial não el actual; no obstante, comenzaba a ad- era a atual; contudo começava a adquirir a quirir la fisonomía que hoy lo caracteriza. fisionomia que hoje a caracteriza. Seja in- Ya sea de manera individual o agregada, dividual ou coletivamente, esse grupo de este grupo de países gozaba de un prota- países gozava de um protagonismo eco- gonismo económico que los situaba entre nômico que os situava entre os vinte mais los veinte más importantes del mundo, importantes do mundo, com perspectivas acompañados de perspectivas de creci- de crescimento claramente promissoras. miento denodadamente promisorias. Em seu informe, O’Neil se dedicou A lo largo de su informe, O’Neill se dedicó a apresentar possíveis cenários sobre o a plantear posibles escenarios acerca del lu- lugar que os BRIC teriam na ordem in- gar que los BRIC tendrían dentro del orden ternacional e nos foros econômicos in- y de los foros económicos internacionales en ternacionais em função de seu potencial función de su potencial de crecimiento. De de crescimento. De acordo com o autor, acuerdo con el autor, “el rol de los BRIC, en “o papel dos BRIC, em especial o da Chi- especial el de China, ganaría importancia en na, ganharia importância em detrimento detrimento de otros miembros del G7 como de outros membros do G7, como Itália e Italia y Canadá” (O’Neill, 2001). Canadá” (O’Neill, 2001). Tal como se señaló previamente, con Como apontado previamente, com o el fin de conseguir el reconocimiento in- Divulgação FOTOS: fim de conseguir o reconhecimento inter- tersubjetivo de potencias de relevancia en subjetivo de potências de relevância em múltiples aspectos, los BRICS han organi- múltiplos aspectos, os BRICS organiza- zado o se encuentran organizando eventos ram ou estão organizando eventos espor- deportivos de gran envergadura, lo que les tivos de grande envergadura, o que lhes permitiría proyectar soft power. Repa- permite projetar poder brando. Ao anali- sando la última década, podemos encon- sar a última década, podemos encontrar trar diversos ejemplos que dan cuenta de vários exemplos que dão conta disso, com ello, con un mayor o menor grado de in- um maior ou menor grau de investimen- versiones y de continuidad, de actividades tos e de continuidade e de eventos organi- organizadas, según el país que se trate. zados, a depender do país que se analise. En 2008, con la organización de los Em 2008, com a organização dos Jogos Juegos Olímpicos de 2008, China dio el Olímpicos de 2008, a China deu o ponta- puntapié inicial a esta tendencia. Con sede pé inicial dessa tendência. Com sede em en Beijing, se trató del evento olímpico de Pequim, foram os Jogos Olímpicos de verano más costoso de la historia, traduci- verão mais caros da história, traduzindo- éndose en una excelente oportunidad para se em uma excelente oportunidade para exhibir al mundo su poderío económico, así exibir ao mundo seu poderio econômico como su capacidad de organización. A este e sua capacidade de organização. A esse evento de inmensa magnitud se le sumaron evento de imensa magnitude se somaram los Juegos Asiáticos de 2010, así como el os Jogos Asiáticos de 2010 e o vindouro venidero Mundial de Básquet de 2019. Mundial de basquete de 2019. Logos dos Jogos Olímpicos de Inverno Por el lado de Brasil, el gigante suda- realizados na cidade russa de Sochi (2014), dos Já o Brasil, o gigante sul-america- Jogos Olímpicos e Paralímpicos realizados no mericano logró la organización conse- Rio de Janeiro (2016) e dos Jogos Olímpicos no, logrou a organização consecutiva da Juventude, que serão realizados em Buenos Aires, em 2018. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

cutiva de los dos eventos deportivos más de dois dos eventos esportivos mais po- populares del planeta, en un lapso de tan pulares do planeta, em um período de sólo dos años: el Mundial de Fútbol 2014 apenas dois anos: o Mundial de Futebol, y los Juegos Olímpicos de Río de Janeiro em 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016. de 2016. La organización de estos eventos A organização desses eventos implicou implicó una significativa inversión. Estos um expressivo investimento. Esses Jogos Juegos Olímpicos serán los primeros que Olímpicos serão os primeiros que terão tendrán lugar en una ciudad sudamerica- lugar em uma cidade sul-americana e na, donde Brasil podrá mostrar al mundo por meio deles o Brasil poderá mostrar su capacidad tanto organizativa como ao mundo sua capacidade econômica e económica para llevarlos a cabo. de organização. En el caso de Rusia, en febrero de 2014 No caso da Rússia, a cidade costeira la ciudad costera de Sochi alojó a los Jue- de Sochi recebeu, em fevereiro de 2014, gos Olímpicos de Invierno, obligando a os Jogos Olímpicos de inverno, obrigan- Moscú a realizar la inversión más alta de do Moscou a realizar o maior investi- la historia para un evento olímpico de in- mento da história para um evento olím- vierno. Por otra parte, en las afueras de la pico de inverno. Além disso, no entorno Villa Olímpica construida para tal fin, se da Vila Olímpica, acontece desde 2014 está desarrollando desde 2014 una de las uma das etapas do mundial de Fórmula fechas del calendario mundial de Fórmula 1. Não se pode esquecer também que a 1. Tampoco debe olvidarse que Rusia se ha Rússia organizará o Mundial de Futebol asegurado la organización del Mundial de de 2018. Fútbol de 2018. Embora a África do Sul até o mo- Si bien hasta el momento Sudáfrica se Divulgação FOTOS: mento se tenha mantido à margem da ha mantenido al margen de la organizaci- organização de eventos olímpicos, foi es- ón de eventos olímpicos, se le cedió para colhida para organizar em 2010 o Mun- 2010 la organización del Mundial de Fú- dial de Futebol, o primeiro evento dessa tbol, el primer evento de dicha envergadu- envergadura no continente africano. Isso ra organizado en el continente africano. permitiu ao país mostrar sua capacida- Ello le permitió demostrar sus capacida- de organizadora e o elevou ao posto de des organizativas y lo erigió como repre- principal representante do continente sentante principal del continente africano. africano. Por último, si bien India es el miembro Por fim, embora a Índia seja o mem- de los BRICS que menos eventos depor- bro dos BRICS que realizou menos even- tivos de envergadura ha organizado, en tos esportivos de envergadura, em 2010 2010 recibió a los Juegos del Commonwe- recebeu os Jogos da Commonwealth, do alth, al cual asistieron deportistas prove- qual participaram esportistas provenien- nientes de más de 70 Estados. tes de mais de 70 Estados. En sintonía con esta estrategia desple- Em sintonia com a estratégia desen- gada por los BRICS, y aunque de forma volvida pelos BRICS, embora de forma más modesta, la Argentina también se in- mais modesta, a Argentina também se serta mundialmente a través de la crecien- insere mundialmente por meio da cres- te organización de eventos deportivos in- cente organização de eventos desporti- ternacionales, en los que exhibe su extensa vos internacionais, por meio dos quais y rica tradición deportiva. Sin embargo, exibe sua extensa e rica tradição espor- esto no es algo nuevo para el país más tiva. Nada obstante, isso não é algo novo Os mascotes das Copas do Mundo de Futebol: austral del continente, ya que se debe te- Zakumi (África do Sul, 2010) Fuleco (Brasil, para o país mais austral do continente, 2014) e Zabivaka (Rússia, 2018). 55

ner en cuenta que en dos ocasiones previas já que em duas ocasiões tentou ser sede (1988 y 2004) intentó ser sede de los Jue- dos Jogos Olímpicos (1988 e 2004). Nes- gos Olímpicos. En consonancia con ello, la se contexto, a cidade de Buenos Aires foi Ciudad de Buenos Aires ha sido seleccio- escolhida como sede dos Jogos Olímpi- nada como sede de los Juegos Olímpicos cos da Juventude, em 2018, o que gera de la Juventud de 2018, lo que implica una um potencial muito importante para potencialidad muy importante para acre- incrementar o poder brando argentino. centar el soft power argentino. Esto a su Isso também trará alguns benefícios de vez traerá aparejados algunos beneficios curto e longo prazos para o desenvolvi- a corto y largo plazo para el desarrollo de mento do país. nuestro país. A realização de uma competição es- La realización de una competencia portiva com a importância das mencio- deportiva de la importancia de las men- nadas anteriormente pode atrair muitos cionadas anteriormente, dejando de lado investimentos, estimular a assinatura de la afluencia de turismo y los ingresos pro- Acordos de cooperação cultural e espor- ducidos directamente por la competencia, tiva e muitas possibilidades para facilitar puede atraer fuertes inversiones, catalizar um desenvolvimento integrado de dis- la firma de tratados de cooperación cultu- tintas áreas e disciplinas, fora o aumento ral y deportiva y múltiples posibilidades do turismo e do ingresso de divisas de- para facilitar un desarrollo integrador de correntes diretamente das competições.

distintas áreas y disciplinas. Divulgação FOTOS: Os BRICS e a Argentina encontra- Los BRICS y la Argentina han encon- ram no esporte e, mais recentemente, trado en el deporte, y más recientemente en na organizarão de grandes eventos des- la organización de grandes eventos depor- portivos, não apenas uma estratégia de tivos, no sólo una estrategia de proyección projeção de poder, mas também de reco- de poder, sino también de reconocimiento nhecimento de suas capacidades como de sus capacidades como potencias regio- potências regionais, incrementando seu nales, incrementando su prestigio y sus prestígio e sua capacidade de coope- capacidades de cooperación. En tiempos ração. Em tempos em que a economia en que la economía global se encuentra en global se encontra em crise, promover crisis, llevar a cabo la inversión necesaria os investimentos necessários para esses para estas competencias implica un riesgo eventos implica um risco e um sacrifício y un sacrificio muy grande para los Esta- muito grande para os Estados que deci- dos que deciden afrontarlo. Sin embargo, dem organizá-los. Contudo, os benefícios los beneficios inmateriales surgidos de los Vinicius e Tom, mascotes dos Jogos Olímpicos imateriais surgidos de sua realização são mismos son muy difíciles de replicar por Rio 2016; Beibei, Jingjing, Huanhuan,Yungyung muito difíceis de serem replicados por e Nini, mascotes dos Jogos Olímpicos otros medios. Pequim 2008; e Shera, mascote dos jogos da outros meios. — J Commonwealth em Nova Delhi (2010).

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Centro Integrado de Comando e Controle. : Comunicação Social da SESGE/MJC FOTO 57

COOPERAÇÃO EM SEGURANÇA pessoal FOTO : Acervo PARA MEGAEVENTOS ATUAÇÃO MULTILATERAL E BILATERAL DO BRASIL PARA SEGURANÇA EM MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

Camilla Neves Moreira

Diante da nova era da criminali- Estados ampliaram os investimentos em fluvial, fiscalização de explosivos, defe- dade, o terrorismo, o tráfico de drogas e modernização tecnológica, aplicados sa cibernética, trabalho antiterrorismo, de armas e a lavagem de dinheiro têm im- tanto em estrutura física quanto na ca- entre outros. pacto sistêmico, uma vez que as vítimas pacitação de recursos humanos. Um dos O volume de gastos com segurança potenciais deixam de ser apenas pessoas símbolos do planejamento de segurança nos megaeventos esportivos tem cres- físicas e, cada vez mais, o alvo passa a ser para os megaeventos sediados no Brasil cido substancialmente como resultado comunidades inteiras. A criminalidade são os Centros Integrados de Comando desse esforço de modernização. Nos Jo- demonstrou grande capacidade adapta- e Controle, construídos nas cidades-se- gos Olímpicos de Sydney em 2000, esse tiva ao progresso tecnológico, tornando de da Copa de 2014, que promoveram a volume foi da ordem de 180 milhões de necessária a aceleração da capacidade do integração entre as diversas instituições dólares, contrastando com o 1,5 bilhão Estado para responder adequadamente responsáveis pela segurança, além de re- de dólares alocados para os Jogos Olím- às mutantes ameaças, em especial duran- presentarem locus para a cooperação in- picos de Atenas em 2004. Esse salto ex- te grandes eventos como os Jogos Olím- ternacional com forças de segurança de ponencial é explicado, pelo menos em picos e Paralímpicos. outros países. Os CICCs regionais e na- parte, pelos atentados de 11 de setembro Tendo presente a capacidade adap- cionais catalisaram a atuação articulada de 2001, que ampliaram a percepção de tativa da criminalidade contemporânea entre as forças de segurança pública fe- que o aparelho de segurança e defesa frente ao progresso tecnológico, é preci- derais e estaduais, a fim de garantir con- precisava ser reformado para fazer fren- so acelerar a ação estatal. Para tanto, os trole do espaço aéreo, defesa marítima e te às novas ameaças e, principalmente, a

Base Aérea do Galeão. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS : Acervo pessoal : Acervo FOTOS

Esquerda: Palácio do Itamaraty na abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Direita: Premiação do vôlei masculino.

seus novos métodos. Nesse contexto, o gaeventos, a aquisição de maior conhe- Cooperação Multilateral investimento brasileiro durante a Copa cimento sobre prevenção e combate a A Organização Internacional de Po- do Mundo acumulou, desde 2011, com a problemas de segurança fortalece a po- lícia Criminal (Interpol) emerge do pro- criação da Secretaria Extraordinária de sição internacional do Brasil, dado seu cesso de recurso à cooperação interna- Segurança para Grandes Eventos (Ses- perfil ativo nos debates internacionais cional como instrumento essencial para ge/MJ), R$ 1,9 bilhões. Desse montante, em torno dos mais diversos temas na o efetivo combate à criminalidade que R$ 1,2 bilhões são provenientes do Mi- área de segurança. ultrapassa fronteiras. Essa percepção, nistério da Justiça e R$ 700 milhões do O grande volume de investimentos, oriunda do século XIX, derivou da pre- Ministério da Defesa, cujo maior legado em conjunto com a necessidade de su- ocupação com o anarquismo e com os é a melhoria na integração das forças po- perar patamares tecnológicos, faz dos assassinatos de chefes de Estado. Con- liciais e a qualificação de seus quadros, megaeventos marcos de intenso fluxo tudo, as novas tendências da criminali- que proporciona um padrão de excelên- internacional de transferência de re- dade fortaleceram o consenso ao redor cia na gestão da segurança nacional. cursos vinculados ao conhecimento, à da Interpol e demonstraram a crescente Embora ameaças como o terrorismo tecnologia e ao capital especializados, necessidade de aprofundar e adaptar a não sejam, atualmente, parte do cotidia- de modo a intensificar a aprendizagem cooperação policial internacional, para no brasileiro, megaeventos esportivos, institucional e a transferência de polí- fazer frente aos desafios de uma crimi- por sua visibilidade mundial, são alvos ticas e boas práticas. Nesse sentido, a nalidade transnacional. potenciais dessa modalidade de amea- cooperação internacional nos âmbitos Resultado do primeiro Congresso ça, como se verifica pela ocorrência de multilateral e bilateral são ferramentas Internacional de Polícia Criminal em atentados durante a Maratona de Boston importantes na superação da fronteira Mônaco, em 1914, que discutiu procedi- e as Olimpíadas de Munique e Atlanta. tecnológica para a garantia da segurança mentos para prisão, técnicas de identifi- Além de resguardar o país durante me- durante megaeventos. cação, centralização de registros crimi- 59

nais e extradição, a Interpol foi criada plementado durante a Copa do Mundo tada pelo acompanhamento, por parte para catalisar a cooperação estatal na para acesso à base de dados da Interpol de delegações policiais estrangeiras, de solução de crimes e evitar que a existên- em pontos de controle fronteiriço, que seus respectivos times nacionais, apro- cia de fronteiras favoreça a impunida- utiliza o MIND (Mobile Interpol Ne- veitando o conhecimento que possuem de. Em esforço adaptativo ao progresso twork Database) e permite que a polí- sobre suas torcidas, além de possibilitar tecnológico e à capacidade inovadora do cia fronteiriça cheque prontamente se pronta intervenção, caso necessário, e crime transnacional, a Interpol tem mo- o passaporte apresentado consta como atuação conjunta às forças nacionais de dernizado suas estruturas e ações, com roubado nos dados da Interpol. O banco segurança pública. O restante da delega- iniciativas como o Centro de Comando e de dados também está disponível para ção policial ficou sediado no CCPI, em Coordenação sob auspício da Secretaria consultas por embaixadas e consulados Brasília, intercambiando informações e Geral, garantindo que a Interpol funcio- do Brasil no exterior para verificação acompanhando o deslocamento de seus ne 24 horas por dia e 7 dias por sema- antes da concessão de vistos ao país. respectivos times. na. Além disso, adotou mecanismos de A fim de contribuir para a segurança O modelo do CCPI, adotado para a facilitação de pesquisa automática para durante as Olimpíadas Rio 2016, a Inter- Copa de 2014, será replicado como mé- consultas remotas ao banco de dados da pol assinou acordo com o Comitê Olím- todo organizacional para a cooperação Interpol, criou o banco de dados do Sis- pico, para que o corpo policial interna- policial durante os Jogos Olímpicos e Pa- tema de Informação Criminal da Inter- cional preste assistência às autoridades ralímpicos de 2016. Mais de 80 autorida- pol e lançou o sistema de comunicação brasileiras, e destacou equipe de apoio des policiais foram convidadas a integrar I-24/7, facilitando o acesso de Escritó- a megaeventos. O acordo e as iniciativas os esforços do CCPI, cujo perfil deve in- rios Nacionais, dentre eles o do Brasil, a conjuntas pautam-se na percepção de cluir: experiência prévia com cooperação seu banco de dados. que existem peculiaridades intrínsecas internacional, acesso ao banco de dados O compromisso da Interpol com a à realização de megaeventos, em razão criminais de seu país, capacidade de se constante modernização e consequen- de sua dimensão e da elevada interação comunicar em ambiente internacional, te criação de sistemas de inteligência e entre diversas nacionalidades que os Jo- capacidade decisória em emergências, de bancos de dados que acompanhem a gos proporcionam, exigindo um esforço acesso facilitado às autoridades e às dinâmica e a celeridade do fluxo de in- mais amplo e integrado entre as autori- agências de seu país para intercâmbio e formações a torna parceira estratégica dades responsáveis por sua segurança. obtenção de informações, além de habili- na cooperação para a segurança de me- dade linguística e conectividade. gaeventos. As iniciativas de cooperação Cooperação Bilateral A cooperação bilateral, bem como a entre a Interpol e as instituições de se- Durante a Copa do Mundo de 2014, multilateral, complementam os esforços gurança do Brasil, sobretudo a Polícia o Centro de Cooperação Policial Inter- das autoridades nacionais para garantir Federal, vão desde o lançamento de apli- nacional (CCPI) representou o maior a segurança dos megaeventos realizados cativo para smartphones e tablets que símbolo da cooperação policial bilateral, no Brasil, contribuindo ativamente para permite a qualquer indivíduo consultar reunindo, em suas atividades, a polícia acelerar a modernização e a aquisição de e denunciar a localização de fugitivos do de mais de 35 países, além de represen- expertise pelas instituições envolvidas. banco de dados da Interpol (CheckPol) tantes da ONU, Interpol e Ameripol. O salto tecnológico e a experiência ad- até a capacitação de recursos humanos Representou, nesse contexto, mais um quirida representam o maior legado dos para habilitá-los a identificar e mais efi- passo na cooperação internacional, ao megaeventos esportivos para a área de cazmente combater crimes relacionados viabilizar a criação de banco de dados de segurança, além de fortalecer as creden- ao esporte, como manipulação de resul- exploradores sexuais de menores, tor- ciais do Brasil para contribuir, por meio tados, apostas e doping. Outra iniciativa cedores violentos e criminosos de todo da cooperação, com os próximos países- refere-se às melhorias no sistema já im- o planeta. A estratégia foi complemen- sede de megaeventos. — J

FOTO: Acervo pessoal GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

Iracema (1881), obra do pintor José Maria de Medeiros. FOTO : Divulgação 61

IMAGEM DA MULHER BRASILEIRA NO EXTERIOR: O COMBATE À OBJETIFICAÇÃO

EM ÉPOCA DE GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS, COM MAIOR AFLUXO DE TURISTAS, PERSISTE A IMAGEM DA MULHER BRASILEIRA BASEADA EM ANTIGOS ESTEREÓTIPOS

Fernanda Maciel Leão Tretter

Vencer a disputa para sediar as no imaginário coletivo há tempos. Para ido ao exterior se ela já se sentiu, de al- Olimpíadas é o desejo de muitos países, alguns, esse ideal de Brasil remonta ao guma forma, hipersexualizada quando apesar dos altos custos envolvidos. En- descobrimento! E se essa imagem de exo- declarou ser brasileira. tre as vantagens normalmente apresen- tismo e sensualidade é associada ao país Os casos são diversos e englobam des- tadas estão a criação de novos empregos, como um todo, pode-se dizer que está de demonstrações de estranheza e decep- o legado deixado pelas obras de infraes- ainda mais atrelada à mulher brasileira. ção quando uma brasileira nega investidas trutura e a oportunidade de divulgar a É possível encontrar provas na própria sexuais, as quais deveria, pela sua origem, imagem do país no exterior. O turismo, carta de Pero Vaz de Caminha, relatan- supostamente aquiescer, até casos ainda outro benefício de sediar grandes even- do ao Rei de Portugal o que descobrira mais absurdos. A título de ilustração, con- tos esportivos, está estreitamente rela- na Terra de Vera Cruz: “E uma daquelas to apenas uma das muitas histórias que cionado à imagem externa do país. Uma moças era toda tingida de baixo a cima, escutei: uma vez um europeu resolveu imagem positiva torna o país mais atrati- daquela tintura e certo era tão bem feita matar sua curiosidade e perguntou a uma vo para turistas, enquanto uma imagem e tão redonda, e sua vergonha tão gracio- jovem brasileira sobre os hábitos das mo- negativa ou baseada em estereótipos sa que a muitas mulheres de nossa terra, ças locais. A dúvida do rapaz era como as restritos pode impactar negativamente o vendo-lhe tais feições envergonhara, por brasileiras se decidem em relação à difícil turismo, afastando potenciais visitantes não terem as suas como ela”. escolha entre o matrimônio e uma vida ou atraindo turistas indesejáveis, como Embora exagerado, o deslumbra- dedicada a farras e à devassidão. os que buscam o turismo sexual. mento de Pero Vaz de Caminha frente Mas qual o motivo desses estere- O Brasil sempre foi visto como um às nativas brasileiras não está muito dis- ótipos persistirem? Diversos fatores país paradisíaco, de natureza exuberante. tante da imagem muitas vezes associada culturais ajudam a formar e a consoli- A ideia de Brasil-paraíso, lugar de aven- às mulheres brasileiras no exterior. Bas- dar a imagem de um grupo, e genera- turas e prazeres sensuais está presente ta perguntar a uma brasileira que tenha lizações são constantemente pratica- GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

das na definição do que é o “outro”. O difícil de acreditar, no entanto, é que, no passado, o próprio Estado brasilei- ro tenha ajudado a reforçar essa ideia, utilizando, para isso, o órgão oficial destinado a promover o turismo no país: o Instituto Brasileiro de Turismo, hoje Empresa Brasileira de Turismo. Criada no período do regime militar, em 1966, o Instituto tinha entre seus objetivos incentivar o mercado turístico nacional, além de promover a imagem do Brasil no exterior, mesmo na época mais opressiva da ditadura. A propagan- da turística formulada pelo Instituto es- condia o cenário político interno repres- sor e a censura, para revelar aos olhos dos estrangeiros um país alegre, com pessoas gentis, repleto de festividades, espontaneidade e belezas naturais. Segundo Kelly Kajihara, em estudo sobre a imagem do Brasil no exterior, nos anos 1970, início das operações efe- tivas do órgão, a propaganda turística do Instituto girava em torno Segundo FOTO : Divulgação análise de três elementos: Rio de Janei- ro, Carnaval e a mulher brasileira. A re- Propaganda que associa turismo no Brasil à presentação das brasileiras no material sensualidade feminina: criação de estereótipos. promocional era bastante estereotipada - de modo geral, a imagem feminina era representada em duas situações “de bi- quíni e no carnaval”. portes, especialmente o futebol. Apenas Anos de divulgação depreciativa, Em muitos dos cartazes, folhetos nos anos 1990 há uma reversão dessa ten- no entanto, geraram impactos na ima- e revistas do Instituto veiculados pelo dência: ao invés de corpos de mulheres, o gem da mulher brasileira no exterior. Governo brasileiro à época, a imagem turismo ecológico e as heranças culturais Não é necessário ir longe: em 2014, da mulher brasileira, normalmente em ganham espaço no material do órgão. No ano de Copa do Mundo no Brasil, um trajes de banho, era a figura principal da final da década, há, inclusive, campanhas episódio ilustra a persistência do es- peça publicitária. Na década seguinte, a contra o turismo sexual e a exploração tereótipo sexualizado com que a bra- intenção de promover a brasileira como de crianças e adolescentes, e, a partir de sileira é percebida por estrangeiros. um atrativo turístico do país permane- então, o órgão governamental conduziria Em comemoração ao torneio mundial ceu inalterada, com a continuidade das com muito mais cuidado seu material de de futebol, uma grande empresa de representações estereotipadas, agora propaganda turística, que não mais traria material esportivo lançou uma edição acompanhadas de mais referências a es- a mulher brasileira como produto. de camisetas que traziam o desenho de 63

Anos de divulgação depreciativa, no entanto, geraram impactos na imagem da mulher brasileira no exterior. FOTOS: DIVULGAÇÃO FOTOS:

uma mulher brasileira de biquíni, com Na I Conferência sobre Questões de a exemplo do programa “Café Central”, a ambígua frase: “looking to score in Gênero na Imigração Brasileira, reali- em que personagem de nome “Gina”, Brazil”, que poderia se referir tanto a zada em junho de 2015, organizada pelo com sotaque “brasileiro”, tem como ati- marcar pontos em um jogo de futebol, Departamento Consular e das Comuni- vidade profissional a prostituição. A in- quanto a conseguir manter relações se- dades Brasileiras no Exterior (DCB) do dignação com a personagem gerou um xuais. A outra camiseta tinha o desenho MRE, um dos principais problemas re- manifesto em repúdio ao preconceito de um coração, mas que também pode- gistrados por representantes das comu- sofrido por mulheres brasileiras em Por- ria ser interpretado, se invertida, como nidades brasileiras foi a imagem estere- tugal e pode ser acessado em manifesto- uma bunda feminina, trajando um bi- otipada da mulher brasileira, observada mulheresbrasileiras.blogspot.com.br. quíni. Em admirável ação, que demons- na mídia e em campanhas publicitárias Não é fácil acabar com estereótipos trou a evolução das políticas de promo- do setor de turismo em alguns países. que foram reforçados, anos a fio, por vá- ção da imagem do Brasil no exterior, a Portugal é comumente apontado por rios agentes, inclusive por meio do órgão Embratur protestou formalmente con- representantes da comunidade como de propaganda turística do governo bra- tra as camisetas, uma vez que não é do um dos países em que esse problema é sileiro. Percebe-se, no entanto, mudança interesse do órgão caracterizar o Brasil recorrente, gerando problemas práti- significativa na ação governamental, que como lugar de destino de turismo sexu- cos na vida das migrantes brasileiras. passa pelo fim da exibição de corpos fe- al. Como resultado, a empresa esporti- São reportados, por exemplo, compor- mininos na propaganda oficial, chegando va retirou as camisetas de circulação. tamentos excessivamente rigorosos nas ao combate a estereótipos negativos rela- Essa imagem sensual da mulher brasi- alfândegas portuguesas, quando se tra- cionados à mulher brasileira na publici- leira gera impactos no país, atraindo tu- ta de viajante brasileira. Outros relatos dade e culminando no fortalecimento de ristas indesejáveis e contribuindo para incluem problemas com autoridades políticas públicas de combate à explora- a manutenção de redes de exploração policiais, xingamentos e grosserias em ção sexual de crianças e adolescentes e ao sexual - inclusive infantil -, e também filas de lanchonetes e restaurantes e di- tráfico de pessoas. Ainda falta muito, en- traz consequências fora do território ficuldades para conseguir um emprego, tretanto, para o Brasil superar esse obstá- nacional: a comunidade brasileira no pelo fato exclusivo de ter nacionalidade culo e deixar no passado o turismo sexu- exterior também está sujeita a essas ge- brasileira. O estereótipo hipersexualiza- al. Cabe a todos nós, governo e sociedade neralizações. do é reforçado, também, na mídia local, civil, a desconstrução dessa imagem. — J GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS FOTO: Roberto Castro/ME FOTO: Roberto

Largada da prova de natação masculina, no ribeirão Taquaruçu.

Sob o lema “O importante não é compe- tir, e sim, celebrar”, indígenas de todo o mundo se PALMAS PARA reuniram em Palmas (TO), entre os dias 22 e 31 de outubro de 2015, para a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI). Mais de 1700 atletas, somados a outras centenas de indíge- nas que se deslocaram para a capital do Tocantins, OS ÍNDIOS se uniram a milhares de visitantes para celebrarem, por meio do esporte, a união de povos e culturas. Segundo um dos principais idealizadores do EM OUTUBRO DE 2015, POVOS INDÍGENAS DE evento, Marcos Terena, índio da etnia Xané e TODO O MUNDO SE REUNIRAM NA CIDADE DE Presidente do Comitê Intertribal Memória e Ci- ência Indígena (ITC), a ideia da realização dos PALMAS (TO), PARA CELEBRAR A PRIMEIRA EDIÇÃO jogos nasceu nas Sessões do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas. O DOS JOGOS MUNDIAIS DOS POVOS INDÍGENAS Fórum, organismo vinculado ao Conselho Econô- mico e Social (ECOSOC), é realizado anualmente desde 2002, e congrega 16 especialistas indepen- Gustavo Gerlach da Silva Ziemath dentes e centenas de representantes indígenas. 65

Na edição de 2013 do encontro, es- Conforme apontado por Marcos etnias, nações e Estados - e o esporte é pecialistas independentes foram convi- Terena, uma preocupação central da capaz de representar a universalidade dados para acompanhar a realização da organização era que, durante as com- dessa ideia, como provaram os indígenas 12ª edição dos Jogos dos Povos Indíge- petições, se buscasse a plena harmo- de todo o mundo presentes em Palmas. nas, os quais acontecem há mais de uma nia com a natureza. Nesse sentido, as Modalidades demonstrativas muitas década no Brasil. Marcos Terena destaca provas de corrida foram realizadas em vezes chamavam mais a atenção dos es- que outros países – como México, Cana- solo de areia e os atletas indígenas cor- pectadores, provando que os visitantes dá e Estados Unidos – têm iniciativas riam descalços. O palco da natação e da não buscavam, necessariamente, ver a semelhantes, porém os Jogos dos Povos canoagem, por seu turno, foi o ribeirão vitória de alguém, mas, sim, aprender Inígenas que acontecem no Brasil são os Taquaruçu-Grande, rio que desagua no mais sobre as culturas indígenas. Foi o mais bem estruturados. Em razão disso, trecho represado do rio Tocantins, que que aconteceu, por exemplo, durante o Brasil possui as credenciais necessá- abastece de peixes e de água a mais jo- as demonstrações do Pasarutaku e do rias para liderar os debates sobre o as- vem capital estadual brasileira. Jikunahati, que animaram a plateia, não sunto no Fórum e para sediar a primeira Além da natação, da canoagem, da por serem objeto de competição entre edição internacional dos Jogos. corrida, do arco e flecha e do cabo de etnias, mas pela periculosidade e excen- Diversas particularidades indicam que guerra, acima mencionadas, futebol, ar- tricidade dos esportes. esses jogos não são diretamente compa- remesso de lança e corrida de tora fize- O Pasarutaku, também chamado de ráveis aos Jogos Olímpicos tradicionais. ram parte das competições. Os prêmios, Uárukua Ch’anakua ou Pelota Purépecha é De acordo com Marcos Terena, a ideia contudo, não seguiam a tradicional dife- uma espécie de Hóquei sobre Grama, po- primordial dos JMPI é relembrar, por renciação entre os três mais bem colo- rém jogado com uma bola em chamas. O meio da prática de modalidades comuns cados. Medalhas eram distribuídas para esporte é praticado há mais de três mil anos entre povos indígenas, a importância de os quatro maiores destaques em cada pelo povo Purépecha, que vive atualmente elementos naturais inerentes ao corpo modalidade. Segundo Marcos Terena, no estado mexicano de Michoacan. Sua de- humano. Dessa forma, a perícia humana é o foco não deve recair principalmente monstração causou euforia na plateia em colocada a prova no arco e flecha, a força é no vencedor, mas na perseverança de Palmas, tanto durante a cerimônia de aber- elemento indispensável no cabo de guerra todos que se dedicam para completar tura quanto durante os intervalos dos jogos e o equilíbrio elemento indispensável para suas provas da melhor maneira possível. competitivos, uma vez que um erro de pas- a canoagem, por exemplo. Tal concepção de superação transcende se poderia até causar queimaduras graves. FOTO: Roberto Castro/ME FOTO: Roberto FOTO: Roberto Castro/ME FOTO: Roberto

Povo Purépecha, do México, Índio Paresi Haliti, do Mato jogando Pasarutaku. Grosso, jogando Jikunahati. GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS

Já o Jikunahati é atividade que re- lugar, em Palmas, a uma ideia mais flui- te para garantir a realização das provas mete a tradição do futebol brasileiro. da de Estado-Nação. O Estado soberano e a integração dos povos, mas deixou Praticado pela etnia Paresi Haliti, do estadunidense, panamenho ou argentino a desejar em relação ao projeto inicial estado do Mato Grosso, é um esporte se fazia representar por meio de diversas apresentado por Palmas, quando a cida- que se assemelha ao futebol, porém é etnias – “nations”, de acordo com Mar- de concorria com Marabá e Belém para jogado exclusivamente com a cabeça. cos Terena. Os índios corriam, atiravam ser a sede dos JMPI. Em sua concepção A bola, feita do leite da Mangaba, deve e nadavam antes em nome do esporte e original, a grande aldeia global - a Okara ser passada com a cabeça ao adversário, do aprendizado do que em nome de um - seria uma Vila Olímpica para abrigar, que, caso não consiga passar novamente Estado. Prova maior disso é que não hou- no mesmo espaço, todas as delegações. a bola com a cabeça, perde um ponto. O ve um quadro de medalhas e nem existia A Okara acabou recebendo apenas os único momento em que a mão pode ser o interesse por saber qual Estado teria povos brasileiros, e, segundo relatos re- utilizada é para reiniciar o jogo. Durante maior número de campeões. cebidos no primeiro dia dos jogos, tinha sua demonstração, povos da Finlândia No caso brasileiro, como país anfi- problemas de infraestrutura, como o entraram na brincadeira e interagiram trião, a delegação de atletas era compos- excessivo calor nas ocas e no refeitório. com os índios Paresi. ta por índios de 24 etnias presentes no Já as delegações estrangeiras acabaram Outra peculiaridade dos JMPI é que território nacional. A seleção dos repre- ficando alojadas em escolas municipais. o evento esportivo não foi composto por sentantes foi feita não entre os melhores O espaço de 250 mil metros quadra- delegações estatais, mas por delegações atletas indígenas do Brasil, mas de acor- dos destinado aos jogos e à divulgação nacionais de 23 países. Entenda-se por do com o princípio do habitat indígena, das culturas indígenas reunia diversas “delegações nacionais” aquelas que re- conforme destacou Marcos Terena. As- instalações. A Arena Verde (estrutura presentavam não exclusivamente cida- sim, índios dos seis biomas brasileiros de arquibancada móvel com espaço para dãos estadounidenses, panamenhos ou (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata cinco mil pessoas) era o principal local argentinos. Nos jogos estiveram repre- Atlântica, Pampa e Pantanal) se fizeram de provas e apresentações. A Oca da sentados os Navajo dos Estados Unidos, presentes, de modo a que estivessem re- Sabedoria era o espaço para debates so- os Kuna do Panamá e os Guarani da Ar- presentadas não uma, mas várias identi- bre a cultura indígena no mundo. A Oca gentina, por exemplo. A concepção de dades do Brasil. Digital foi o ambiente destinado à ins- identidade estatal, muito forte nos Jogos O espaço preparado para receber os talação de computadores para acesso à Olímpicos de Verão e de Inverno, dava atletas e os espectadores foi suficien- internet. A Feira da Agricultura Familiar FOTO: Roberto Castro/ME FOTO: Roberto FOTO: Roberto Castro/ME FOTO: Roberto

Mulheres de tribos da Mongólia chamavam a atenção Índio Pakré, líder da tribo Gavião e ancião dos Jogos, pela sua vestimenta comprida, mesmo no calor da atirando durante competição de Arco e flecha. cidade, e pelo uso de arcos modernos. 67

Indígena e a Feira de Artesanato eram as nos Jogos, a celebração não poderia dei- A celebração ao respeito e ao apren- construções que, depois da Arena, mais xar de ser outra, senão o reconhecimento dizado com o próximo deve ser reconhe- chamavam a atenção dos visitantes, pois da derrota pelos Maori, que dançaram e cida como o maior de todos os legados nelas cada etnia brasileira e cada dele- aplaudiram em homenagem aos vence- dessa inédita edição dos Jogos Mundiais gação internacional possuía um espaço dores. Já as guerreiras Maori reforçaram dos Povos Indígenas. Sua realização foi para a venda de produtos típicos. Além a tradição de força de sua tribo e se sagra- possível graças à vontade de líderes de disso, na beira do ribeirão Taquaruçu, ram campeãs do cabo de guerra feminino. diversas tribos do mundo, que, a despei- foi instalada uma arquibancada móvel Nesse caso, reconhecimento maior dessa to de suas diferenças culturais, se reuni- para as provas aquáticas - bem diferente vitória talvez não pudesse haver, senão o ram para organizar um evento esportivo do projeto inicial, que previa construção abraço de parabéns dado por Pakré Ga- por meio do qual demonstram que com- de arquibancada fixa e raias olímpicas. vião, o líder da etnia Gavião, que foi supe- partilham valores universais imprescin- Contudo, conforme se podia obser- rada pela tribo estrangeira. díveis para a consecução da paz. var já nos primeiros dias do evento, es- Pakré Gavião não era somente o líder O espírito olímpico da comunhão sas limitações da organização dos JMPI da etnia que ficou na segunda posição do de esforços em nome da superação, da não diminuíam a alegria dos povos em cabo de guerra feminino, mas também o busca pelo melhor resultado possível compartilhar seus valores e de interagir mais experiente competidor dos JMPI. e da congregação de povos em favor da com o público, que ultrapassou as ex- Aos 73 anos, chegou a final da disputa paz era facilmente observada nas ruas pectativas dos organizadores e superou de arco e flecha e ficou em terceiro num da capital do Tocantins durante os dias a marca de 100 mil visitantes. A entra- grupo de onze finalistas, entre os quais dos Jogos. Que esse espírito seja emula- da era gratuita e as pessoas não lotavam se destacava o representante da Mongó- do nos próximos Jogos Olímpicos entre apenas as arquibancadas da Arena, mas lia, que chamava a atenção pela sua ves- Estados, no Rio de Janeiro, que esteja também as feiras de produtos indígenas. timenta comprida no calor de 40 graus presente na segunda edição dos Jogos O legado material dos jogos é inegá- de Palmas e por seu arco industrializa- Mundiais dos Povos Indígenas, em 2018, vel: os produtos da Feira da Agricultura do, feito a base de fibra de carbono. Sua no Canadá, e que, principalmente, sirva acabaram em menos de uma semana, experiência, sua simplicidade ao atirar e de inspiração para todos os tipos de lí- centenas de empregos foram criados e a sua humildade na comemoração de sua deres políticos no mundo, para que, com estimativa é que mais de dois milhões de vitória e no reconhecimento da derrota o mesmo objetivo dos índios em Palmas, reais tenham sido injetados na economia de sua tribo são símbolos da máxima de busquem a paz mundial por meio da de Palmas, que soube receber bem os vi- que o importante é celebrar. confraternização dos povos. — J sitantes com pratos típicos locais, como o Chambari e o peixe de água doce na folha de bananeira, reveladores da forte presença da tradição indígena na cidade. OS JMPI EM NÚMEROS Na areia da Arena, era visível a inte- gração entre os povos, mesmo nos mo- 10 dias de jogos mentos de mais acirrada competição. O 24 etnias brasileiras e 23 delegações de outros países povo Maori, da Nova Zelândia, conhe- cido por sua tradicional dança de guer- 1695 atletas indígenas - 1129 nacionais e 566 estrangeiros ra - o Haka -, executada pelas equipes nacionais de Rúgbi e basquete, avançou 104 mil visitantes na disputa do Cabo de Guerra masculi- no fazendo jus a sua fama de povo forte 950 voluntários e guerreiro. Mas a dança, ensinada para 300 jornalistas diversas etnias e visitantes durante os JMPI, não foi suficiente para intimidar os 2,5 milhões de reais investidos na economia do estado silenciosos índios da etnia Kura Bakairi do Mato Grosso, que, venceram os Mao- ri. Diante do espírito de paz que reinava ENTREVISTAS

EMBAIXADORA VERA CINTIA ALVAREZ:

O ESPORTE COMO INSTRUMENTO DE DIPLOMACIA

A EMBAIXADORA VERA CINTIA ALVAREZ, COORDENADORA-GERAL DE COOPERAÇÃO ESPORTIVA DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIZORES, RECEBEU A EQUIPE DA JUCA PARA FALAR SOBRE A DIPLOMACIA ESPORTIVA

Gustavo Gerlach da Silva Ziemath e Roberto W. Szatmari : Marino Azevedo FOTO : Marino

Jogos Mundiais Militares: cerimônia de abertura da quinta edição do evento, realizada no Rio de Janeiro, em julho de 2011. 69

A Embaixadora Vera Cintia Alvarez, que conduz a Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva (CGCE) desde sua criação, conversou com a JUCA sobre a importância do esporte para promover uma imagem internacional positiva do Brasil. Além disso, descreveu o papel do Itamaraty na realização dos megaeventos esportivos e analisou o legado desses eventos para a sociedade brasileira. : Acervo pessoal FOTO : Acervo

JUCA: Como o Itamaraty historica- mos o direito de sediar os Jogos de 2016 Presidente da República e a realização mente tratou o tema de esportes no com países de grande tradição olímpica de gestões junto aos membros do COI. Ministério? e que já haviam realizado, com sucesso, Finalmente, recordo que a diplomacia O esporte sempre fez parte da iden- edições anteriores dos Jogos Olímpicos, presidencial representou importante tidade brasileira, sendo um dos princi- como Espanha, Japão e Estados Unidos. aspecto da campanha brasileira, uma pais vetores da divulgação da imagem A Espanha havia recebido os Jogos de vez que a Presidência da República re- do País no exterior. No caso do Itama- 1992, em Barcelona, e tinha o apoio do ex- forçava, em suas visitas internacionais, o raty, um dos principais marcos para o -Presidente do Comitê Olímpico Inter- pedido de voto para a candidatura “Rio binômio política externa-futebol foi a nacional (COI), Juan Antonio Samaran- 2016” e realizava, em seus compromis- criação da CGCE, em 2008, na gestão ch. O Japão, sede da próxima edição dos sos fora da agenda, contato pessoal com Celso Amorim. Essa criação ocorreu Jogos, recebera, em 1964, os Jogos Olím- os membros do COI. quatro anos após a realização do famoso picos de Verão e, em outras duas ocasi- — «Jogo da Paz», entre a Seleção Brasileira ões, os Jogos de Inverno. Por fim, os Es- JUCA: Quais as mudanças que ocor- e o Haiti, disputado em Porto Príncipe, e tados Unidos contavam com o apoio do reram nos últimos anos para adaptar um ano após os Jogos Pan-Americanos Presidente Barack Obama e com o his- a estrutura institucional da Secreta- e Parapanamericanos do Rio de Janeiro tórico de terem realizado quatro edições ria de Estado aos desafios decorren- e a escolha do Brasil como país-sede da dos Jogos Olímpicos de Verão, além de tes da realização de vários megaeven- Copa do Mundo, ambos em 2007. Além serem uma potência olímpica. tos esportivos no Brasil? disso, tínhamos, no mesmo período, a Nesse contexto, o Itamaraty, em co- A criação da CGCE foi, do ponto de candidatura olímpica “Rio 2016”, para a ordenação com os demais Ministérios vista institucional, a principal inovação qual mobilizamos tanto a Secretaria de da Esplanada e o Comitê Rio 2016, atuou institucional da SERE para fazer fren- Estado das Relações Exteriores (SERE) de forma decisiva para o êxito da can- te aos desafios dos grandes eventos es- quanto a rede de postos no exterior, que didatura brasileira. Por meio de nossa portivos. Em 2008, ainda não sabíamos desempenharam papel fundamental Rede de Postos, executamos ações que que receberíamos os Jogos Olímpicos para a vitória da candidatura brasileira. seriam inviáveis na hipótese de inexis- e Paralímpicos de 2016, que, a meu ver, A candidatura olímpica constituiu o tência de representação diplomática, coroam e encerram a chamada «Década nosso primeiro grande desafio. Disputa- como a entrega de carta assinada pelo do Esporte» no Brasil, período em que ENTREVISTAS

recebemos os Jogos Pan-Americanos, Transnacionais, a Coordenação-Geral os Jogos Mundiais Militares, a Copa das de Assuntos de Defesa e a Coordenação Confederações, a Copa do Mundo e os I Geral de Cooperação Esportiva. Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, re- — alizados em 2015, na cidade de Palmas, JUCA: Como essa experiência adqui- no Tocantins. rida pela diplomacia brasileira duran- Todavia, o direito de receber gran- te esses outros grandes eventos es- des eventos esportivos não exauriu as portivos contribuiu para a realização responsabilidades do País, mas, pelo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos? contrário, ampliou-as. Com a realiza- Se considerarmos que, em regra, os ção de megaeventos esportivos, houve eventos se tornaram maiores com o pas- aumento exponencial da demanda por sar do tempo (Jogos Pan-Americanos, cooperação em matéria esportiva e em FOTO: D ivulgação Copa das Confederações, Copa do Mun- organização de grandes eventos. Foram do e Jogos Olímpicos e Paralímpicos), celebrados, desde então, mais de 50 Cauê: mascote dos Jogos Panamericanos observamos que tivemos um excelente Rio 2007, o primeiro megaevento esportivo Acordos de Cooperação Esportiva com da “década dos esportes” no Brasil. treinamento. diferentes países, dos quais destaco as Iniciamos com os Jogos Pan-Ame- nações em desenvolvimento, como An- ricanos, uma competição de dimensões gola, Benin, Burkina Faso, Guiné-Bissau, continentais, com a participação de Moçambique, Irã e outros. Além disso, cerca de 5.700 atletas de 42 países, 332 também foram assinados acordos de co- O esporte atua como eventos, 47 modalidades e cerca de 20 operação em matéria de megaeventos mil voluntários. Foi um acontecimen- esportivos com a África do Sul (2009), importante instrumento to que nos permitiu começar a tomar a Alemanha (2011), a Austrália (2011), o conhecimento das particularidades de Canadá (2011), os Estados Unidos (2011) de promoção do organizar grandes eventos na área es- e o Reino Unido (2012), todos países que desenvolvimento e de portiva, a exemplo das peculiaridades receberam grandes eventos na última em relação à alimentação específica que década. combate à desigualdade atletas de alto rendimento demandam. Ademais, ao trazermos o esporte Em um segundo momento, recebe- para o bojo de nossa política externa, e a todos os tipos de mos uma “mini Copa do Mundo”, que fortalecemos o diálogo com parcei- preconceito. é a Copa das Confederações, concebida ros outrora não tão frequentes, como o justamente para ser um evento-teste Ministério do Esporte, e inauguramos da Copa do Mundo. Aliás, recebemos o diálogo com entidades e associações a Copa das Confederações em um con- esportivas, o que possibilitou, por exem- de futebol do Haiti, na Copa São Paulo texto turbulento, durante as chamadas plo, a realização de cursos para treina- de Futebol Júnior. “Jornadas de Junho”, em 2013. Não obs- dores e árbitros de futebol de países da Especificamente para os megaeven- tante, o evento foi um sucesso, dentro e CPLP, da FOCALAL e de outros países tos, como a Copa do Mundo e os Jogos fora de campo. A meu ver, a êxitosa rea- das Américas, África e Ásia. Entre as Rio 2016, foram criados Grupos de Tra- lização da Copa das Confederações em minhas principais memórias, recordo balho (GTs) para coordenar os esforços paralelo às manifestações mostrou ao que, no terceiro curso para treinadores, de todas as áreas do MRE envolvidas no mundo que temos uma democracia ma- Botsuana enviou a primeira mulher a processo de organização dos eventos, dura e instituições sólidas para receber participar de nossas iniciativas, o que que incluem, entre outros, o Cerimonial, grandes eventos globais. considerei particularmente gratificante. a Assessoria de Imprensa do Gabinete, a Em seguida, veio aquele que era o Mais recentemente, em parceria com a Divisão de Imigração, o Departamento nosso maior desafio até o momento: a ONG Viva Rio e com a Federação Pau- Cultural, o Departamento de Promoção Copa do Mundo, com 32 seleções e 12 lista de Futebol, conseguimos apoiar a Comercial e Investimentos, a Coorde- cidades-sede. Apesar da fatídica semi- participação dos Pérolas Negras, equipe nação-Geral de Combate aos Ilícitos final contra a Alemanha, a Copa foi um 71

Tocha olímpica: símbolo do evento, ela foi acesa durante a cerimônia de abertura dos jogos, que contou com a

presença de cerca de 40 autoridades Castro FOTO : Roberto internacionais.

enorme sucesso de mídia e de públi- bom desempenho esportivo, a imagem res práticas com suas contrapartes em co. Durante os 30 dias de realização do do País se beneficia, mas, quando o países como Estados Unidos, Canadá e Mundial, o Brasil recebeu 1 milhão de País vai mal, pode haver, igualmente, Reino Unido. turistas de 203 nacionalidades diferen- um reflexo sobre a imagem do Brasil Do ponto de vista dos megaeventos tes, o que configurou aumento de 131% (como no caso emblemático do 7x1)? esportivos, destaco que o simples fato do fluxo de visitantes estrangeiros em Em princípio, a aposta na diplomacia de receber grandes eventos não assegu- relação ao mesmo período de 2013. De esportiva é sempre acertada, especial- ra ganhos automáticos para o país an- sua parte, o Itamaraty cumpriu suas fun- mente quando concebemos a diploma- fitrião: a imagem que o país-sede trans- ções. A Divisão de Imigração emitiu cer- cia esportiva para além da lógica dos mite ao mundo deve encontrar amparo ca de 110 mil vistos para os turistas que megaeventos. Por meio da diplomacia na realidade. Quando realizamos a Copa manifestaram desejo de vir ao Brasil por esportiva, celebramos uma série de do Mundo, os jornalistas, os torcedores ocasião do Mundial e da Jornada Mun- acordos de cooperação nas quais o Bra- internacionais e os telespectadores fala- dial da Juventude. Nossos funcionários sil foi tanto provedor quanto receptor de vam de um Brasil moderno, democrático, designados para os Centros Integrados apoio em matéria esportiva. Provemos multiétnico e tolerante, com excelente de Comando e Controle nas 12 cidades- auxílio em matéria de esporte a mais de malha aeroportuária, infraestrutura e um sede atenderam a aproximadamente 40 países nos últimos 8 anos e permiti- povo extremamente acolhedor. Não à toa, 2.500 situações envolvendo cidadãos es- mos a diversos atletas brasileiros, das cerca de 95% dos turistas estrangeiros trangeiros, a maior parte delas (2.042), mais diferentes modalidades, oportu- que visitaram o Brasil durante o Mundial na cidade do Rio de Janeiro. nidades de intercâmbio em centros de manifestaram o desejo de retornar. Caso Hoje considero que estamos prontos excelência do esporte. Nesse sentido, o não tivessem encontrado amparo na re- para receber os quase 11 mil atletas dos esporte atua como importante instru- alidade, não teriam divulgado essa ima- 206 Comitês Olímpicos Nacionais filia- mento de promoção do desenvolvimen- gem do Brasil pelo mundo e não teriam dos ao COI e os mais de 25 mil jornalis- to e de combate à desigualdade e a todos manifestado o desejo de voltar. tas e profissionais de imprensa creden- os tipos de preconceito. Da mesma for- Tenho certeza de que os estrangei- ciados que farão a cobertura dos Jogos ma, os acordos de cooperação em orga- ros que visitarem o Brasil e os cerca de Olímpicos e Paralímpicos nização de grandes eventos esportivos 4,8 bilhões de telespectadores (audiên- — representaram importante guarda-chu- cia acumulada) que acompanharão os JUCA: A aposta na diplomacia espor- va sob o qual autoridades brasileiras de Jogos Rio 2016, por meio dos diferen- tiva pode ser uma faca de dois gumes? segurança, defesa e inteligência realiza- tes meios de comunicação, ficarão com No sentido de que, quando o País tem ram intercâmbio de ideias e das melho- uma excelente imagem do Brasil, assim ENTREVISTAS

O esporte projeta o MMA até os chamados esportes vir- Pequim, e em 7º, nos Jogos de Londres, tuais (“e-sports). Qual tem sido o pa- sem contar com o 1º lugar nos últimos desejo de superação, pel do Itamaraty no apoio e na divul- Jogos Parapanamericanos, em Toronto, gação dessas novas frentes do esporte no ano passado. representa aquela brasileiro e o que mais pode ser feito? Em relação ao MMA, recordo que o esperança de que sempre Acredito que a diversificação da pau- jiu-jitsu brasileiro é reconhecido mun- ta esportiva do Brasil ocorreu para ou- dialmente e praticado em diversos países. é possível chegar ao tros setores menos tradicionais que o Por fim, quanto aos “e-sports”, nunca futebol, mas que contam com expressi- recebemos demanda nesse sentido. melhor resultado. E isso vo número de praticantes e seguidores, — mostramos, no Brasil, como o voleibol, o basquete e o judô. Há JUCA: A área esportiva internacional alguns esportes em que o Brasil tem for- inclui grandes organizações sui gene- enquanto sociedade e te tradição olímpica, como a vela, mas ris, como a FIFA e o COI. Como é a re- que demandam condições financeiras lação com essas organizações e quais governo, ao longo da de difícil acesso para a maior parte da são as suas particularidades para o população brasileira. Itamaraty? última década. Nesse contexto, creio que os Jogos Tanto a FIFA quanto o Comitê Olím- Olímpicos podem servir como importan- pico Internacional (COI) são entidades como ocorreu na Copa. E esses grandes te meio para a difusão de modalidades privadas, que não contam com Estados eventos esportivos permitem ao Brasil menos conhecidas do público brasileiro. Nacionais como seus afiliados, mas sim ampliar a projeção de sua imagem po- Particularmente, admiro muito o com as associações de futebol e Comitês sitiva e renovar suas credenciais no ce- trabalho dos nossos atletas paralímpi- Olímpicos Nacionais de cada país. nário internacional, constituindo, assim, cos. Somos uma potência paralímpica, e Nesse contexto, em que pese a im- importante ferramenta para o fortaleci- poucos reconhecem o valor dos nossos portante posição dos governos nos pro- mento do soft power brasileiro. atletas e suas histórias de superação. cessos de candidatura à sede da Copa — Nos Jogos Olímpicos, o principal ob- do Mundo e dos Jogos Olímpicos - por JUCA: O Brasil tem diversificado sua jetivo do Time Brasil é figurar entre os meio de gestões políticas e elaboração “pauta” esportiva nos últimos anos 10 primeiros colocados do quadro de dos planos de segurança, infraestrutura para além do futebol, obtendo bons medalhas. Todavia, nos Jogos Paralím- e afins, que devem constar nos cadernos resultados em áreas que vão desde o picos, o Brasil ficou em 9º, nos Jogos de de compromissos das candidaturas -, o

Jogos Paralímpicos Rio 2016: equipe brasileira de basquete em cadeira de

rodas se prepara para iniciar uma © Action Motta/Heusi : Andre

partida. FOTO 73

processo de escolha ocorre em caráter JUCA: Fala-se muito do “legado” dos Ministério do Desenvolvimento, Indús- secreto. É igualmente importante desta- grandes eventos. Qual será o legado tria e Comércio Exterior, a Embratur, o car que as confederações e associações dos últimos grandes eventos espor- Governo do Estado do Rio de Janeiro, a responsáveis pelo futebol em cada país tivos para o Itamaraty? Qual o maior Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, não estão vinculadas a seus respectivos aprendizado para a instituição? o Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê governos nacionais. O mesmo vale para O maior legado dos megaeventos Organizador Rio 2016. Além disso, tenho os membros eleitores do COI, que não pertence ao povo brasileiro, mas é ine- a certeza de que, assim como ocorreu du- guardam qualquer relação de dependên- gável que todos nós, do Governo Fede- rante os megaeventos anteriores, mas, es- cia ou subordinação para com os seus ral, seremos beneficiários dos grandes pecialmente durante a Copa do Mundo, governos nacionais. eventos esportivos, na medida em que uma vez mais, cumpriremos nossa mis- Durante a preparação e a realização reforçamos, no exterior, a imagem de são, e os Chefes de Estado e os estrangei- da Copa do Mundo, o principal interlo- uma democracia consolidada, de um ros, fãs do esporte e atletas, que visitarem cutor do MRE fora da Esplanada dos Mi- povo culturalmente diverso e acolhedor, o Brasil, retornarão a seus países com a nistérios era o Comitê Organizador Local e de uma sociedade pacífica e pautada melhor imagem do nosso País. (COL), com o qual eram definidos temas pela coexistência. Reforço que, embora esse legado seja como recepção a Chefes de Estado e de Do ponto de vista do Itamaraty, quan- importante para a instituição, a princi- Governo, segurança, defesa e inteligência. do terminarmos os Jogos Rio 2016, te- pal mensagem que fica dessa sequência Hoje, no momento em que nos pre- remos estabelecido e estreitado nossas virtuosa de megaeventos esportivos no paramos para receber os Jogos Rio 2016, relações com uma série de interlocuto- Brasil é a de que esporte traz esperan- nossa interlocução ocorre, fundamen- res, como a Secretaria de Comunicação ça. O esporte projeta o desejo de supe- talmente, com a Casa Civil da Presidên- Social da Presidência da República, o Mi- ração, representa aquela esperança de cia da República, os Ministérios do Es- nistério do Esporte, a Secretaria Extraor- que sempre é possível chegar ao melhor porte, da Defesa, da Justiça, da Cultura dinária de Segurança para Grandes Even- resultado. E isso mostramos, no Brasil, e com o Comitê Organizador Rio 2016. tos do Ministério da Justiça, o Ministério enquanto sociedade e Governo, ao longo — do Turismo, o Ministério da Cultura, o da última década. — J : Nilton Santos FOTO : Nilton

Exemplo de diplomacia esportiva: jogadores das seleções brasileira e haitiana antes do início do Jogo da Paz, realizado em Porto Príncipe, no Haiti, em agosto de 2004. ENTREVISTAS

FOTO: Beto Barata/PR

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. 75 MARCELO PEDROSO: JOGOS OLÍMPICOS: GRANDE MOMENTO DE ATUALIZAÇÃO E DE AMPLIAÇÃO DA IMAGEM DO BRASIL

A REVISTA JUCA ENTREVISTOU MARCELO PEDROSO, PRESIDENTE DA AUTORIDADE PÚBLICA OLÍMPICA, SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS RIO 2016 PARA O FUTURO DO PAÍS

Victor Hugo Toniolo Silva

A vasta experiência em gestão pública permitiu a Marcelo JUCA: Qual a relação, em sua visão, JUCA: Qual a estratégia do Governo Pedroso exercer a presidência entre os Jogos Olímpicos e a política Federal a fim de obter os melhores re- da Autoridade Pública Olímpica, externa brasileira? sultados com a realização dos Jogos? autarquia que tem como É uma relação estratégica porque É uma estratégia na qual o Governo objetivo coordenar as ações os Jogos Olímpicos e Paralímpicos são Federal como um todo, não apenas na para o planejamento e a eventos de projeção internacional com área da política externa, traçou uma li- entrega das obras e dos serviços uma cobertura de mídia absolutamente nha do tempo que permitisse aproveitar necessários à realização dos massiva, o que permite ao país que se- o momento que temos vivido de grandes Jogos Olímpicos. Formado dia os Jogos potencializar a transmissão eventos internacionais acontecendo no em Comércio Internacional, das mensagens essenciais que deseja. No Brasil, tanto nas áreas política e cultural Pedroso exerceu cargos nos Brasil, queremos fortalecer e potenciali- quanto na área esportiva. Nos últimos setores de turismo, cultura e zar as linhas de comunicação definidas mercado internacional. Atuou pela política externa brasileira, sejam como Secretário Executivo do Os Jogos Olímpicos Ministério da Cultura, Diretor elas na área econômica, na área cultu- de Mercados Internacionais ral, ou nas demais áreas. O evento, ape- permitem fortalecer e Diretor de Produtos e sar de ser uma recorrência esportiva, é Destinos do Instituto Brasileiro essencialmente um momento de comu- e potencializar as de Turismo (EMBRATUR), nicação global, o que oferece à política Diretor-Executivo do “Santos e externa uma grande oportunidade de linhas de comunicação Região Convention & Visitors potencializar comunicação, de ampliar Bureau”, Secretário Municipal horizontes e de fortalecer mensagens. É definidas pela política de Turismo da Prefeitura de nesse sentido que o esporte e a diploma- externa brasileira. Guarujá e Diretor-Executivo da cia podem caminhar em conjunto. Prefeitura Municipal de Santos. — ENTREVISTAS

“É um grande momento de atualização e de ampliação da imagem do Brasil. Esse é o legado fundamental para nossa política externa.” : Marcos de Paula/Rio 2016 de Paula/Rio FOTO : Marcos

Marcelo Pedroso participa do revezamento da tocha olímpica.

anos, houve os Jogos Mundiais Mili- elementos que considero essenciais: loga muito com a comunicação, com a tares, a Rio +20, a Jornada Mundial da aqueles associados ao evento, que são, presença da mídia internacional que virá Juventude, a Copa das Confederações, sem dúvida nenhuma, nossa capacidade ao Rio de Janeiro, é a Casa Brasil. Trata- a Copa do Mundo, os Jogos Indígenas, de entregar Jogos no nível internacio- se de espaço dedicado para informações e agora os Jogos Olímpicos e Paralím- nal, no nível exigido pelo Comitê Olím- multissetoriais durante os Jogos, que tem picos. Esse eventos constituem uma pico Internacional, ou seja, Jogos segu- como eixo central a promoção da marca- trajetória de oportunidades que o país ros. Ademais, o evento deve apresentar o -país como um todo, com grande poten- teve. Creio que em termos de visibili- Brasil como um todo, em sua diversida- cial na área de promoção comercial. A dade internacional, de imagem interna- de natural e em sua diversidade cultural. Casa Brasil está sendo organizada pelo cional, os eventos foram e são grandes Essa é a base central a partir da qual Governo Federal, de maneira especial oportunidades para o Brasil nas áreas os vários órgãos de Governo podem en- pelo Ministério do Desenvolvimento, In- política, comercial, cultural e esportiva. contrar caminhos para potencializar e dustria e Comercio, pelo Ministério da Podem-se gerar legados de imagem que para dar eco a essa mensagem, a fim de Cultura e pelo Ministério do Turismo. o Governo, em sua estratégia, tem consi- obter resultados nas várias áreas abran- Esse projeto tem o potencial de transmi- derado de maneira clara e consolidada. gidas pela política externa. tir todas as mensagens que tenho falado O resultado dessas ações, dessas ini- — aqui, bem como a promoção comercial, ciativas e desses projetos serão obtidos JUCA: Como o senhor vê a promoção que é, efetivamente, eixo estratégico da em médio e em longo prazo. Quando se da marca-país no contexto dos Jogos? atuação internacional do Brasil. A APEX fala de imagem, projeta-se uma consoli- Sempre que olho para os Jogos vejo (Agência Brasileira de Promoção de Ex- dação que irá se cristalizar no futuro. O uma oportunidade. Para que essa opor- portações e Investimentos) tem traba- Governo Federal está muito alinhado e tunidade se concretize, ela deve ter uma lhado na Casa Brasil, justamente a fim de muito ciente de que é preciso aproveitar estratégia definida, na qual cada área de- combinar a promoção comercial, objeti- esse evento para ampliar a visibilidade termina como irá realizar sua projeção. vo de curto prazo, com a projeção da ima- do Brasil e expandir a imagem que o país Uma das iniciativas que terá lugar du- gem do pais, meta de longo prazo. tem no exterior. Isso passa por alguns rante o evento e que eu reputo que dia- — 77

A Casa Brasil é um espaço dedicado para

informações multissetoriais durante os Brasil Menezes/Casa FOTO : Paulino Jogos, que tem como eixo central a promoção da marca-país como um todo, com grande potencial na área de promoção comercial.

JUCA: Qual o legado que os Jogos ência — demanda consolidação de Olímpicos e Paralímpicos podem sus- conceitos e ampliação do conheci-

citar para o Brasil? mento acerca do País. Os conceitos Brasil Menezes/Casa FOTO : Paulino Eu considero que ao falar de legado que para nós são importantes estão devemos considerar várias dimensões. relacionados com a capacidade de Primeiro, a dimensão urbana — com o entrega, nível de organização, nível próprio conceito de cidade que o Rio de realização e aspectos relaciona- de Janeiro terá depois dos Jogos, muito dos com a modernidade. Quanto diferente da trajetória da cidade nos úl- ao conhecimento do pais, de sua timos tempos — que tem como eixo cen- diversidade cultural e natural, há tral os investimentos na área de trans- vários elementos de comunicação porte, de modo a criar uma cidade mais que após os Jogos, em decorrência integrada, onde a circulação das pessoas da experimentação dos Jogos, vão seja mais acessível. É um legado concre- permitir que a comunidade inter- to que irá transformar o dia a dia do ci- nacional tenha um update, uma atu- FOTO : Diego Campos/Casa Brasil dadão carioca. alização de imagem do Brasil. Isso é Segundo, há a dimensão esportiva, essencial, pois ainda hoje permane- que envolve a construção do complexo ce uma imagem do Brasil associada de instalações olímpicas de nível inter- somente a futebol e a carnaval. São nacional, as quais irão permitir que atle- aspectos que o pais continuará a ter tas brasileiros possam contar com infra- — está em nossa matriz cultural, em estrutura de ponta para treinamento, o nossa identidade —, mas agora há que poderá ensejar resultados positivos uma oportunidade de ampliar essa em futuras participações em eventos in- imagem, expandir o conhecimento ternacionais. que estrangeiros têm de nosso país Terceiro, por fim, a dimensão dos le- e de nosso povo, sem desconstruir : Jessica Ribeiro/Casa Brasil Ribeiro/Casa FOTO : Jessica gados intangíveis. Aqui, considero que a imagem anterior. É um grande o legado de imagem, por intangível que momento de atualização e de am- seja, é um legado fundamental, especial- pliação da imagem do Brasil. Esse mente no contexto da política interna- é o legado fundamental para nossa cional. O posicionamento do Brasil no política externa. — J cenário internacional — entendendo que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos são um evento geopolítico de grande influ-

Diversos aspectos : Diego Campos/Casa Brasil

da Casa Brasil. FOTO ENTREVISTAS FOTO : Grupo SuperPoker

Leonardo Bueno no campeonato brasileiro de poker 2016.

LEONARDO BUENO: A EXPANSÃO DO POKER NO BRASIL

ANTES CONFUNDIDO COM JOGO DE AZAR POR ALGUNS, O POKER HOJE É RECONHECIDO COMO ESPORTE DA MENTE E CRIOU UM VERDADEIRO MERCADO EM VOLTA DE SUA PRÁTICA

Júlia Vita de Almeida 79

JUCA: Você considera poker um es- A terceira área é a capacidade de exe- porte? cução do jogador. É seu preparo mental Sim, eu considero o poker um es- para pegar uma maré ruim e continuar porte da mente – e não sou o único que jogando bem, para aguentar uma sessão pensa assim. A Associação Internacio- longa de jogo, é a coragem de executar nal dos Esportes da Mente (IMSA), fi- jogadas corretas, mesmo que elas pos- liada ao Comitê Olímpico Internacional sam significar que ele vai cair no torneio. (COI), reconheceu oficialmente o poker Então eu acho que é a junção des- como esporte da mente em 2010. sas três coisas que faz um bom jogador Em minha opinião, o poker é um es- de poker. São essas as áreas que eu, que porte, pois é uma maneira de as pessoas hoje sou muito mais instrutor que joga- competirem em igualdade de condições. dor, busco desenvolver com meus alu- Modalidades esportivas são Você tem fichas, cartas, que estão ao nos, com meu time de poker. dinâmicas e o Brasil não está acesso de todos e, apesar de trabalhar- — alheio às tendências mundiais. mos com o elemento randômico do bara- JUCA: Você poderia nos contar um O poker é um novo esporte e lho, ainda é uma pessoa jogando contra pouco sobre a evolução de sua carrei- tem ganhado cada vez mais outra pessoa – o ser humano afeta essa ra no poker? adeptos em território nacional. disputa. Então, por isso, eu considero o Eu comecei a jogar em 2005, na In- Entrevistamos um dos expoentes poker um esporte, só que um esporte da ternet, por hobby, passatempo, diver- do esporte no Brasil, Leonardo mente, já que não exige atributos físicos, são mesmo. De 2005 para 2006, fiz um Bueno, bacharel em Direito pela atléticos. dinheiro considerável e, em 2006, eu Universidade de São Paulo e — tranquei a faculdade para tentar viver jogador de poker profissional desde JUCA: Existe um treinamento para o disso. De 2006 até 2012, joguei profis- 2006. Até 2012, jogou cash games jogador de poker? sionalmente. A partir de 2012, passei a online, modalidade em que são Sim, o treinamento do jogador de me dedicar ao ensino do poker. Foi en- permitidas apostas em dinheiro, poker envolve o desenvolvimento de tão que montei, com meu sócio, um time e, desde então, tem-se dedicado três áreas distintas. A primeira são as de poker e que comecei a trabalhar mais ao ensino do poker. Montou, com habilidades psicológicas naturais do jo- como escola, com site de vídeos. Não seu sócio – e campeão mundial – André Akkari, as escolas “Surto”, “CT gador, como o raciocínio e a lógica. Seria parei de jogar, mas foquei em torneios, Super Poker” e “QG Akkari Team”. um paralelo do jogador de futebol, que tanto fora como no campeonato brasilei- Foi, por quatro anos, comentarista precisa treinar corrida para melhorar ro. A ideia é jogar menos, porém o bas- de poker na TvPokerPro, na ESPN seu condicionamento físico em campo. tante para aprender o que está em voga, e na BandSports. Escreve em seu A segunda é o conhecimento técni- entender como o jogo está evoluindo e blog “Poker fora da caixa” e, mais co. Como o poker é um jogo em que se formar um exército de jogadores. Hoje recentemente, tem ministrado usam fichas e baralho, é preciso enten- eu sou muito mais um formador de joga- palestras em empresas e der quais são as probabilidades e as es- dores do que um jogador em si. universidades. Já participou do tratégias, baseadas nas mãos que você — campeonato mundial de poker tem e nas cartas comunitárias que vêm. JUCA: Para um leigo que vê o poker (WSOP), em Las Vegas, bem como É preciso dominar a técnica que vem da hoje em comparação com dez anos de torneios do campeonato interação entre os elementos cartas, fi- atrás, a impressão é que se formou um brasileiro (BSOP), tendo passado chas e seres humanos que jogam. Essa mercado em volta do que antes não por todas as modalidades do jogo. técnica está em constante evolução – faz passava de um hobby. Você fala em um dez anos que eu jogo e todos os dias eu “exército de jogadores”. Como se es- estudo. trutura a prática do poker atualmente? ENTREVISTAS

“O Brasil tem Jogar poker envolve, naturalmente, alcançar esse patamar, mas, por enquanto, ganhar ou perder dinheiro. As pessoas grande destaque o país se destaca em séries mais democrá- querem jogar poker ou por hobby, sem ticas, como o WCOOP, por exemplo. se preocupar tanto em ganhar ou perder, no poker online. — ou justamente para ganhar dinheiro. A JUCA: Qual o perfil socioeconômico partir dessas duas visões que as pessoas No campeonato do jogador brasileiro? têm sobre o poker, surgem os negócios mundial de poker É bastante variado. O que acontece em volta e esses negócios crescem, pois é o seguinte: muita gente percebeu que o poker movimenta dinheiro. online deste ano é possível viver de poker no Brasil. En- Então, por exemplo, para atender às tão muitas pessoas decidiram abrir mão pessoas que querem jogar por hobby, a (WCOOP 2016), o de um trabalho de que não gostavam ou gente oferece cursos para melhorar a que pagava pouco para tentar a sorte prática do jogador. Já para atender às Brasil foi o país no poker. É o caso de muitos jogadores pessoas que querem viver do esporte, a que conseguiu do meu time, por exemplo. O perfil do gente criou estruturas de times de poker. pessoal que vive de poker no Brasil é, Nós selecionamos os jogadores, ensina- mais títulos.” em geral, classe média, são pessoas que mos sem nenhum custo e bancamos os fizeram essa escolha. Óbvio que há, tam- seus jogos. Se eles ganham, ficamos com bém, uma classe com muito dinheiro uma parte do lucro. Se eles perdem, ar- de poker no mundo, tem aproximada- que joga sem a pretensão de transformar camos com todo o prejuízo. mente 8 milhões de contas no Brasil. aquilo em atividade rentável, mais pelo Em cima desse dinheiro que, na- — prazer de jogar e pelas coisas boas que turalmente, movimenta a atividade de JUCA: O Brasil já tem alguma pro- vêm disso. jogar poker é que essas duas indústrias jeção internacional na prática do — emergiram. O poker tem crescido mui- poker? JUCA: Qual foi a evolução do trata- to, pois oferece a possibilidade de diver- O Brasil tem grande destaque no mento legal do poker no Brasil? são ou trabalho online, sem sair de casa, poker online. No campeonato mundial O decreto-lei 9215, de 1946, proibiu além de muita adrenalina, um desafio de poker online deste ano (WCOOP a prática e a exploração de jogos de azar intelectual e a chance de jogar contra 2016), o Brasil foi o país que conseguiu em território nacional e restaurou os profissionais, algo que não encontramos mais títulos. O Brasil tem um grande dispositivos da Lei das Contravenções em nenhum outro esporte. Eu não posso volume de jogadores e muitos jogado- Penais, de 1941, que condenam à pena jogar bola com o , por exemplo, res bons, porque essa indústria foi bem de prisão/multa o estabelecimento ou mas posso jogar poker contra qualquer desenvolvida aqui. Eu acredito que, pro- exploração desses jogos em locais pú- pessoa no mundo se eu entrar em um vavelmente, o poker é o único esporte blicos. E o poker, até pouco tempo atrás, torneio em que essa pessoa estiver ins- em que hoje somos os melhores do mun- era considerado por alguns como jogo crita. Para participar desses torneios, do. Nós conseguimos ganhar 21 dos 168 de azar. Antes da disseminação do poker basta pagar a inscrição. torneios do WCOOP 2016. Em segundo online, se você queria praticar o espor- — lugar, ficou o Reino Unido, com 20 tor- te, era preciso frequentar clubes ou ca- JUCA: Desde quando existe o campe- neios, seguido pela Alemanha e Canadá, sas de poker, sempre com o risco de ser onato brasileiro de poker? com 14, e pela Rússia, com 11. levado para a delegacia para prestar es- O campeonato brasileiro de poker O Brasil, no entanto, ainda não tem clarecimentos. Houve uma grande mu- (BSOP) foi fundado em 2006. Houve um grande relevância nos torneios mais caros dança no tratamento da questão quando, boom no poker mundial em 2003, a par- do mundo, porque ainda não são acessí- em 2012, o Ministério dos Esportes re- tir dos Estados Unidos, e, já em 2005, o veis para os brasileiros. São eventos que conheceu o poker como um esporte da poker se popularizou no Brasil. Hoje, o atraem os melhores jogadores, porém a mente e cadastrou oficialmente a Con- número de jogadores aqui é impressio- taxa de inscrição custa por volta de 250 mil federação Brasileira de Texas Hold’em, nante. O “PokerStars”, que é o maior site dólares. Os brasileiros estão começando a entidade que vem lutando, desde sua 81

fundação em 2009, para proteger a prá- equiparar a tributação do poker com a bastante interessante, que venho desen- tica do poker no Brasil. do mercado financeiro. volvendo com meu sócio: ministrar pa- Como nosso meio ainda não é regula- — lestras em empresas ou universidades. mentado, não há segurança jurídica para JUCA: Você acredita que o reconhe- No poker, aprendemos a raciocinar executarmos nossos contratos. A não ser, cimento do poker pelo Ministério dos de um jeito diferente, único: nosso pen- por exemplo, quando constituímos uma Esportes foi causa ou consequência samento fica mais lógico, compreende- empresa cujo objeto é o ensino do poker, da expansão do esporte no Brasil? mos melhor a relação risco-recompensa, não o poker em si. Para transações finan- Eu acredito que o Ministério dos ficamos especialistas em análise de risco ceiras ligadas ao poker, como investir em Esportes acompanhou uma tendência e em capacidade de tomada de decisão. jogadores e ganhar dinheiro em troca, que já existia na prática. O negócio na- Recentemente, estive em um evento não há possibilidade de execução contra- turalmente estava ficando muito grande, da Jack Daniel’s, onde fui convidado a tual. O que temos é um controle interno pessoas relevantes estavam jogando, o transmitir minhas habilidades no poker no mundo do poker, uma espécie de lista poker foi para a TV, o campeonato bra- para ajudar seus funcionários a melho- negra dos maus pagadores. sileiro atraía muita gente – mais de duas rar a compreensão de risco e a desen- Tampouco existe um modelo de tri- mil pessoas só para jogar o evento final volver capacidade de raciocínio. Estive, butação específico para o poker. Essa la- –, o mundo do poker parava para ver o também, na UNICAMP, que incluiu no cuna nos prejudica, porque o nosso ne- campeonato brasileiro, os patrocinado- curso de ciências dos esportes uma dis- gócio é muito parecido com o mercado res estavam começando a se interessar, ciplina sobre o poker. Embora optativa, é financeiro, onde os rendimentos devem pareceres jurídicos foram emitidos para uma das disciplinas mais procuradas. A ser tributados anualmente. Os nossos defender a prática do jogo... Então eu ideia do professor que a criou é explorar rendimentos são, no entanto, tributa- acho que o barulho que essa comunida- conceitos do poker, como equidade, va- dos mensalmente, o que significa que, de fez surtiu efeitos. Exemplo simbólico riância, valor esperado, raciocínio lógico por exemplo, se eu ganhar R$ 27 mil em dessa expansão é o fato de o Ronaldo e frieza, para elevar a formação profis- um mês e se eu perder R$ 13 mil no mês Fenômeno ser patrocinado pelo “Poke- sional do aluno. seguinte, não terei meu lucro real tribu- rStars” e gostar de jogar poker. Eu acredito que teremos um futuro tado e pagarei, portanto, mais do que eu O Ministério dos Esportes tem sido interessante nessa nova frente. Eu tenho deveria (27,5% sobre o total de R$ 27 mil, bastante aberto a trabalhar com nossa certeza que, como temos um jeito dife- em vez de 27,5% sobre o real lucro de R$ confederação e percebeu – acredito eu rente e mais eficiente de resolver alguns 14 mil). Felizmente, está em trâmite uma – que nossas instituições, nossa mídia, problemas – a minha vida depende de eu legislação no Senado com o objetivo de nossos campeonatos funcionam muito resolver os problemas da mesa da forma bem, e que fizemos um bom trabalho. Se mais eficiente possível –, podemos en- o endosso do Ministério não foi a causa sinar isso para pessoas, empresas. Esse “Se o endosso do da expansão do poker no Brasil, certa- é um mercado que vem do poker, que mente é um dos motivos para que conti- vem dessa capacitação intelectual que o Ministério não foi a nue crescendo até hoje. poker traz para a gente. — J — causa da expansão JUCA: Quais são suas perspectivas de carreira? do poker no Brasil, Eu acho que a indústria do poker não para de crescer e oferece uma série de

certamente é um FOTO: D ivulgação oportunidades que eu tento, ao máximo, dos motivos para aproveitar. Hoje eu trabalho com as es- colas “CT Super Poker” e “QG Akkari que continue Team”. Eu jogo também de vez em quan- do, o que contribui para complementar crescendo até hoje.” a renda. Finalmente, há uma nova área, PERFIL FOTO: Divulgação

Pierre de Frédy, em foto publicada em 1915: defensor da inclusão da educação física nos currículos escolares. 83

UM OUTRO BARÃO

CONTEMPORÂNEO DE RIO BRANCO, PIERRE DE COUBERTIN RETOMOU A TRADIÇÃO DOS JOGOS OLÍMPICOS DA GRÉCIA ANTIGA, CRIANDO A GRANDE CONFRATERNIZAÇÃO ESPORTIVO- DIPLOMÁTICO-PACIFISTA DO NOSSO TEMPO

Pedro Ivo Souto Dubra

Barão, longos bigodes, apaixonado da Itália, os Frédy haviam sido nobilita- Bom aluno de colégio jesuíta, o nos- por história, bom escritor e jornalista, dos por Luís XI, no século XV. Quatro so personagem bem que tentou. Aos 17, amante da paz. Seria natural que o leitor, séculos depois, em 1822, o avô de Pier- chegou a preparar-se para a academia diante das pinceladas de cunho biográ- re, Julien-Bonaventure Frédy, foi feito, militar francesa, mas logo abandonou as fico da última frase, pensasse imediata- por Luís XVIII, Barão de Coubertin (seis pretensões militares, em troca da escola mente em José Maria da Silva Paranhos anos antes, Julien-Bonaventure viera ao de direito. O estudo das leis tampouco Júnior (1845-1912), o Barão do Rio Bran- Brasil, em contexto diplomático, e produ- lhe apeteceu: aos 22, largou a faculdade. co, patrono da diplomacia brasileira cujo zira aquarelas com paisagens cariocas). O Nova tentativa educacional teve lugar apelido Juca batiza esta revista. É de ou- baronato de Coubertin fazia referência a pouco depois, agora na École libre des tro barão, porém, que se vai tratar. No um domínio da região de Île-de-France sciences politiques, onde também acabou caso, do francês Pierre de Frédy, mais onde se construíra o castelo dos Frédy. estudando direito, além de filosofia e so- conhecido como Barão de Coubertin, Em 1871, ano da morte do primeiro ciologia. um contemporâneo de Rio Branco que barão, o pequeno Pierre viu a Prússia Esse começo algo titubeante da vida passou à posteridade não pelas batalhas humilhar a de maneira acacha- adulta, que poucas pistas dá sobre a pro- travadas ou pelos tratados assinados, pante no campo de batalha. Como tan- eminência na maturidade, assemelha-se como tantos aristocratas de sua época, tos de sua geração, ele cresceu odiando ao do Barão do Rio Branco. Enquanto mas por haver sido o criador da grande o império vizinho surgido no rescaldo hesitava entre instituições de ensino à confraternização esportiva, diplomática da Guerra Franco-Prussiana e desejan- procura de uma vocação, Coubertin foi e pacifista que são os Jogos Olímpicos da do vingança capaz de restaurar o orgu- amadurecendo a ideia de que a educa- Era Moderna. lho de uma França agora republicana ção deveria ser reformada. Em 1883, ele Caçula de quatro filhos, Pierre nas- (como o nosso Barão do Rio Branco, o de havia estado, pela primeira vez, na Grã- ceu em 1o de janeiro de 1863, em Paris. Coubertin realizaria seus feitos quando -Bretanha, onde entrara em contato com Seu pai, Charles-Louis de Frédy de Cou- não havia mais uma cabeça coroada a uma educação que contemplava a práti- bertin, era um pintor mediano de temas comandar seu país). Nesse sentido, além ca esportiva em seu currículo. O rúgbi, religiosos e históricos, ao passo que sua de destino costumeiro para aqueles de em particular, chamara-lhe a atenção. mãe, Agathe-Marie-Marcelle Gigault sua classe social, a carreira militar per- Àquela altura, a França ignorava o latim de Crisenoy, descendia de ajudantes de mitiria a participação direta nos esfor- do “mens sana in corpore sano” –um Guilherme, o Conquistador. Originários ços de reabilitação francesa. equívoco, para Coubertin, que chegou PERFIL FOTO: Divulgação

Membros do comitê organizador dos Jogos de 1896: Coubertin é o sexto homem de pé, da esquerda para a direita.

a atribuir parte da derrota para a Prús- e no Canadá, colhendo mais provas acer- Jogos Olímpicos na Suécia já nos anos sia à falta de preparo físico dos soldados ca do potencial educativo do esporte. No 1830). Seja como for, maturava-se, no es- franceses. Em 1888, Pierre de Coubertin ano seguinte, visitou o médico e educa- pírito do jovem Coubertin, a convicção publicou reflexões sobre o sistema edu- dor William Penny Brookes, que promo- de que retomar a tradição grega serviria cacional britânico. Naquele mesmo ano, via, anualmente, desde os anos 1850, os a uma narrativa de divulgação das vanta- criou um comitê para tratar da inclusão “Wenlock Olympian Games”, na pequena gens do esporte. Os Jogos, ademais, não da educação física nos currículos das es- cidade inglesa de Much Wenlock, e que, deveriam ter dimensão paroquial ou, colas francesas. A causa da educação físi- em 1866, organizara, em Londres, um quando muito, nacional, como as restritas ca, longe de consensual, foi conquistando evento intitulado “Olympian Games”. experiências de Brookes, mas abarcar di- adeptos, até que Coubertin conseguisse Tais iniciativas faziam referência a Olím- ferentes nações, como nos antiquíssimos que a Universidade Sorbonne cedesse pia, cidade da Grécia Antiga que abrigara tempos das cidades-Estado e em linha uma sala para as atividades do comitê. competições esportivas com forte com- com o espírito cosmopolita que se forma- Começava aí seu movimento de defesa ponente religioso realizadas em meio a ra na esteira dos avanços dos transportes do esporte como recurso pedagógico, tréguas entre povos inimigos. Coubertin, e das comunicações. que seria objeto não só de conferências ao que tudo indica, absorveu as ideias Não há espaço para pormenorizar os e discursos como também de numerosos do octogenário inglês –crescentemente, percalços de Coubertin até 1896, quando livros, panfletos e artigos na imprensa. conforme alguns autores, escamotean- se realizou a primeira edição dos Jogos Por sorte, Coubertin não parou na do a influência até afirmar que o revival Olímpicos da Era Moderna, que tiveram ideia de fortalecer os corpos franceses olímpico era pura e simplesmente uma a cidade de Atenas como emblemática para uma revanche contra os alemães. invenção sua (para complicar o pano- anfitriã. Diga-se que, em 1892, em pales- Em 1889, ele esteve nos Estados Unidos rama, acrescente-se que há notícias de tra na Sorbonne, ele advogou a necessida- 85

de de reavivar a chama do que ocorrera de exitosa. Ambos os eventos, ademais, difícil, assim, acusar Coubertin de haver há tanto tempo em Olímpia. Para concre- tiveram de enfrentar a concorrência de sido elitista, interessado em manter o tizar seu intento, Coubertin enfrentaria Exposições Universais e terminaram esporte longe dos segmentos preocupa- diversas dificuldades não só no plano recebendo menos atenção do que de- dos com o vil metal, e machista, defen- financeiro mas também no das mentali- veriam haver recebido. Seja como for, sor da perpetuação da desigualdade de dades arraigadas: havia atletas que sim- o movimento olímpico vinha ganhando gênero. Analisar mentalidades de uma plesmente acreditavam que seus esportes impulso, e os Jogos de 1908, ocorridos época à luz dos parâmetros de outra é seriam ofuscados em meio a um evento na capital da Grã-Bretanha, terra onde um exercício sempre arriscado: por um que reunisse uma coletânea de modali- Coubertin descobrira o valor pedagógi- lado, evita-se a adoração acrítica de he- dades. Em junho de 1894, Coubertin deu co do esporte, tiveram melhores resul- róis que pairariam sobre contingências outro passo importante ao fundar, em tados, ainda que amargando acusações históricas e preconceitos; por outro, co- Paris, o Comitê Olímpico Internacional de tapetão (os anfitriões levaram mui- metem-se as injustiças do anacronismo. (COI), organização não governamental tas medalhas). A edição de Estocolmo, Pierre de Coubertin morreu em 2 de sem fins lucrativos que, desde 1915, fun- em 1912, foi melhor do que a anterior. A setembro de 1937, aos 74 anos, enquanto ciona em Lausanne, na Suíça. Ao contrá- de 1916, em virtude da Primeira Guerra caminhava por um parque em Genebra, rio do que muitos creem, não foi o pri- Mundial, terminou cancelada, e Couber- vítima de apoplexia. Deixava a mulher, meiro presidente do COI, cargo ocupado tin chegou a licenciar-se, por três anos, Marie, e dois filhos, Jacques e Renée. pelo empresário grego Demetrios Vikelas da presidência do COI para alistar-se no Em seu tempo de vida, couberam dez (Coubertin, nesse primeiro momento, as- exército francês. Ele veria mais cinco edições dos Jogos Olímpicos. Na última sumiu o posto de secretário-geral). edições dos Jogos Olímpicos, realizadas delas, realizada em 1936, em Berlim, um Inicialmente desconfiados, temero- em tempos de depressão econômica e de atleta afro-americano pôs em xeque a sos de que os Jogos poderiam arruinar crescente radicalização política. superioridade da raça ariana propalada as já frágeis finanças nacionais, os gre- Ao retomar e reler a longínqua tra- pelo governante anfitrião. Em virtude da gos acabaram gostando da ideia. Tanto dição da Grécia antiga, Pierre de Cou- guerra desencadeada três anos depois, gostaram que pouco crédito deram à bertin passou à história quase unani- só haveria Jogos Olímpicos novamente França e a Coubertin e logo se apres- memente como um visionário –não nos em 1948. Pierre de Frédy, patrono da in- saram em ventilar que os Jogos seriam esqueçamos dos que preferem ver no ve- ternacionalização esportiva, idealizador sempre realizados na Grécia. Coubertin, lho Brookes o verdadeiro pai das Olimpí- dos icônicos anéis olímpicos entrelaça- é claro, opôs-se. Feita a honra históri- adas modernas. Não deixou de ser, como dos e para sempre identificado com a ca aos inventores, era a hora de levar a qualquer um de nós, contudo, um ho- máxima de que o importante é competir, competição ao seus país (curiosamente, mem de seu tempo. Paladino do amado- foi sepultado em Lausanne. Um monu- em um primeiro momento, chegou-se rismo esportivo por crer que o dinheiro mento comemorativo erigido em Olím- mesmo a cogitar a realização dos Jogos corromperia os competidores, ele prova- pia abriga seu coração. de estreia em Paris, em 1900). Era tempo velmente torceria seu aristocrático na- de Coubertin ser o presidente do COI, riz para grandes torneios televisionados cargo que ocupou entre 1896 e 1925. Ele com ídolos de massa, que ganham mi- seria depois, até sua morte, presidente lhares de vezes mais do que, por exem- honorário da organização. plo, os professores. Seu desgosto seria Mesmo jogando em casa, Coubertin possivelmente ainda maior se soubesse Uma última curiosidade teve problemas, não sendo a competi- que esses ídolos podem ser mulheres Raul do Rio Branco, diplomata filho ção parisiense de 1900 exatamente um (ainda que aceitando a educação espor- do Barão do Rio Branco, foi o primeiro sucesso de organização. A terceira edi- tiva feminina, Coubertin sustentava que brasileiro a participar do Comitê Olím- ção, em St. Louis, nos Estados Unidos, só homens deveriam participar da com- pico Internacional. Raul integrou a ins- em 1904, tampouco pode ser chamada petição que idealizou). Não seria muito tituição entre 1913 e 1938. — J PERFIL

BRUNO SOARES E O TÊNIS BRASILEIRO: UMA PERSPECTIVA DA DIPLOMACIA ESPORTIVA ESPORTE DE IMIGRANTES, O TÊNIS BRASILEIRO HOJE SE CONSOLIDA NO CENÁRIO INTERNACIONAL GRAÇAS À ATUAÇÃO DE GRANDES TENISTAS, COMO BRUNO SOARES

Rodrigo de Carvalho Dias Papa 1

O tênis brasileiro, diferentemente latino-americano na História a liderar o do futebol, tem poucos heróis, um rei e ranking da Associação dos Tenistas Profis- uma rainha. A rainha é Maria Esther Bue- sionais (ATP). E os heróis e heroínas? São no, detentora de 10 Grand Slams, campeã poucos, mas podemos citar: Alcides Pro- de Wimbledon e do US Open, em simples cópio, Édson Mandarino, Thomaz Koch, e duplas. O rei é Gustavo Kuerten, número Carlos Alberto Kyrmair, Luiz Mattar, Patri- um do mundo por 53 semanas nos anos de cia Medrado, Cássio Motta, Jaime Oncins, 2000 e 2001, tricampeão de Roland Garros Joana Cortez, Fernando Meligeni, Marcelo e, ao lado do chileno Marcelo Ríos, único Melo e um tal Bruno Fraga Soares. FOTO: D ivulgação

1 Bacharel em Direito pela USP e Relações Internacionais pela PUC- SP, foi subchefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Ministério das Relações Exteriores e trabalha na Missão Permanente do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), em . 87

O TÊNIS NO BRASIL

Atualmente, é praticado em inúmeros clubes sociais, em todos os estados da Federação (Roraima é o único estado que não possui uma entidade estadual que organiza a modalidade), com destaque para São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Distrito Federal. Entre os principais clubes do Brasil para a prática da modalidade, pode-se destacar: em Brasília, a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), o Iate Clube, o Minas Tênis Clube de Brasília e o Clube Vizinhança 1; em Belo Horizonte, o Minas Tênis Clube e o Iate Tênis Clube; em Uberlândia-MG, o Praia Clube; em Florianópolis, a ASTEL e o Lagoa Tênis Clube; em Porto Alegre, a SOGIPA e a Associação Leopol- dina Juvenil; em Salvador, o Costa Verde Tênis Clube; em Bauru, o Bauru Tênis Clube (BTC); em Campinas, a Sociedade Hípica de Campinas; em Santos, o Tênis Clube de Santos; no Rio de Janeiro, o Clube Marapendi e o Tijuca Tênis Clube e, em São Paulo, capital, o Esporte Clube Pinheiros, o Clube Atlético Paulistano, o Paineiras do Morumbi, o Alphaville Tênis Clube, o Anhembi Tênis Clube, o Sport Club Corinthians Paulista, a Sociedade Harmonia de Tênis, entre outros.

Breve trajetória do tênis brasileiro ao tores da economia, seus gostos cultu- de Rodas, modalidade Paralímpica. longo da história rais e também os esportes praticados As principais competições disputa- No final do século XIX, o governo além-mar. Além do futebol, do críque- das pelo Brasil no tênis são: os Jogos brasileiro decidiu atrair para o País imi- te, do rúgbi, os ingleses trouxeram para Olímpicos e Paralímpicos; os Jogos grantes de diversas partes do mundo, o Brasil algumas raquetes de madeira Olímpicos da Juventude; a Federation como forma de aumentar o número de e bolinhas desbotadas de feltro. Nas- Cup, principal competição entre paí- trabalhadores em uma nação recém-sa- cia, assim, o tênis em terras brasileiras. ses do tênis feminino, criada em 1963, ída das chagas da escravidão. Os imi- Em 1955, 4 anos antes de Maria Es- cujo título ainda é inédito ao Brasil; e grantes irão trouxeram a mão-de-obra ther Bueno levantar seus primeiros tí- a Copa Davis. O Brasil é o atual cam- desejada e a expertise em diversos se- tulos em simples, em Wimbledon e no peão de duplas masculina dos Jogos US Open, é criada a Confederação Bra- Olímpicos da Juventude, cuja última sileira de Tênis (CBT). edição foi realizada em Xangai, em Além do “tênis de quadra”, a CBT 2014, com a dupla Marcelo Zormann cuida de outros “irmãos” do tênis: o e Orlando Luz. Luz é também o atu- Beach Tennis e o Tênis em Cadeira al medalhista de prata em simples.

A COPA DAVIS

No tênis não há uma Copa do Mundo a cada quarto anos, ou um campeonato mundial, reunindo os grandes jogadores da modalidade. Há, no entanto, uma competição anual entre pa- íses, que tem o nome de Copa Davis. A Copa Davis é a principal disputa entre nações no tênis e foi criada em 1900. Hoje, a Copa Davis obedece a fórmula alcançada em 1989 e para não prejudicar o calendário da Associação de Tenistas Pro- fissionais (ATP), a competição acontece em quatro semanas por ano, alcançando, em 2016, mais de 130 países participantes. PERFIL

O BRASIL E SUA HISTÓRIA NA COPA DAVIS

O Brasil disputa a Copa Davis de tênis desde 1932, mas nunca foi campeão da competição. Até a criação do sistema de acesso e descenso, em 1981, as melhores

campanhas brasileiras foram em 1966 e pessoal FOTO: Acervo 1971, quando chegamos à semifinal inter- nacional (a vitória permitiria jogar pelo título com o campeão do ano anterior, Bruno Soares: primeiras conquistas. que na época não disputava as eliminató- rias e só fazia a final). Em 1966, com uma equipe formada por Thomaz Koch, Édson Bruno Soares: das quadras de tênis no islâmico. O Saddam Hussein tinha uma Mandarino e Luíz Felipe Tavares, o Brasil, Iraque para os grand slams enorme simpatia pelo Brasil; e os mi- após eliminar Dinamarca, Espanha, Polô- Bruno Soares é mineiro, de Belo Ho- nistros brasileiros, como o Ministro da nia, França e Estados Unidos, foi derrotado pela Índia, e viu adiado o sonho do título. rizonte, e iniciou sua trajetória no tênis Fazenda, Delfim Neto, viajaram ao país Em 1971, com a mesma equipe, acrescida em local curioso: o Iraque. De 1980 a diversas vezes naquele tempo. Tivemos de Carlos Alberto Kyrmair, o Brasil derrota 1988, o Iraque esteve em Guerra con- missões de empresas brasileiras e mui- Equador, Chile, México e Tchecoslováquia tra o Irã e o pai de Bruno, engenheiro, tos engenheiros brasileiros trabalhando (parece a campanha do Bicampeonato aceitou convite para trabalhar na capital no Iraque, como os da empresa mineira de futebol no Chile) e será eliminado pela iraquiana quando o futuro tenista tinha Mendes Junior. O Iraque era uma prio- Romênia, de Ilie Nastase e Ion Tiriac, por 3 pouco tempo de vida. Em Bagdá, os pais ridade da política externa brasileira, so- x 2, após ter ganho a dupla, no sábado, no de Bruno começam a jogar tênis nos bretudo econômica, do ponto de vista da quinto set, e ter entrado em quadra, no do- momentos de lazer e ele, quando tinha promoção comercial. Era um parceiro mingo, liderando 2 x 1. cinco anos, dá suas primeiras raqueta- importantíssimo, e isso durou uns seis, Após a reforma da Copa da Davis nos anos das: “Me apaixonei pelo esporte e desde sete anos. Com a guerra, a coisa foi-se oitenta, o Brasil disputou o grupo mundial então, não larguei mais o Tênis, nunca desmoronando (…)”. em 1981, 1988, 1992, 1993 e ininterrupta- mais parei de jogar” diz. Ele completa: Quando pergunto sobre o período no mente de 1997 a 2003 (anos de ouro da “O Iraque é uma cultura completamente Iraque, sobre eventuais momentos difí- Era Guga), além do ano de 2013, última diferente da nossa, mas foi uma expe- ceis durante os anos da Guerra, Bruno participação brasileira na elite, quando riência muito bacana para toda minha responde: “Não tivemos um momento foi eliminado, na primeira rodada, pelos Estados Unidos. Seus principais resulta- família. Foi ali que comecei a jogar, e maior de tensão durante o conflito Irã- dos são duas presenças em semifinais, em tenho esta memória marcante”. Em re- -Iraque, e, felizmente, saímos antes do 1992 e 2000. Em 1992, com Jaime Oncins, cente entrevista, o atual cônsul-geral do início da Guerra do Golfo”. Fernando Roese, Luiz Mattar e Cássio Mot- Brasil em Madri, Embaixador Paulo Ro- Seguindo a vida nômade do pai, Bruno ta, o Brasil eliminou a Alemanha de Boris berto da Silveira Soares, comenta como ainda viveu, durante a infância, em Ma- Becker e a Itália, antes de ser derrotado eram as relações do Brasil com o Iraque ringá, Rio de Janeiro e Fortaleza, antes de pela Suíça de Marc Rosset; em 2000, após no final dos anos setenta e início dos oi- voltar para Belo Horizonte, aos 14 anos. vitórias sensacionais contra a França nas tenta, período em que serviu na Embai- Lá, no Minas Tênis Clube, começou a trei- oitavas e Eslováquia nas quartas, o Brasil xada brasileira em Bagdá: nar junto de André Sá e de outro tenista perde por 0 x 5 na grama da Austrália, que “O Iraque era o país mais aberto juvenil que viria a ser, no profissional, seu contava com Patrick Rafter, Lleyton Hewitt dos países árabes. As mulheres traba- principal parceiro de duplas ao represen- e Mark Woodford e, mais uma vez, fica lhavam em 1975, em serviços públicos e tar o Brasil, seja em Jogos Olímpicos, seja fora da sonhada final. em empresas. Isso era único no mundo em Copa Davis: Marcelo Melo. 89

O momento de transição do juvenil para o Professional é especialmente de- licado no tênis. Muitos tenistas, que tem resultados excelentes como juvenis, aca- bam não repetindo as vitórias no início do ciclo profissional e, frustrados, acabam abandonando o esporte, que, sem dúvida nenhuma, é um dos mais competitivos do mundo. Bruno Soares foi, em 1999, 4o colocado no ranking brasileiro juvenil e 136o no ranking juvenil da ITF. No ano seguinte, Bruno termina o ano como nú- mero 1 do Brasil no juvenil e décimo no ranking da ITF. Bruno se profissionaliza em 2002 e, em 2004, atinge seu melhor ranking de simples no profissional: 221 do mundo, em 22 de março daquele ano. Acervo pessoal FOTO: Acervo Nos anos seguintes, amadurece a ideia de se dedicar ao circuito das duplas. Pergun- to, assim, quando veio a decisão e quem foram os principais parceiros nas duplas até hoje. Bruno Soares responde: “A de- cisão veio no final do ano de 2007. Os Bruno Soares: primeiras conquistas. principais parceiros foram, sem dúvida nenhuma, Kevin Ullyet (do Zimbábue), Marcelo Melo (brasileiro, ex-número 1 do mundo do ranking individual de duplas), A seguir, falamos sobre o circuito da até hoje a ganhar dois títulos em um mes- Alexander Peya, austríaco, com quem ATP. “Quantas semanas por ano, em mé- mo Grand Slam e, em outubro de 2016, Bruno fez parceria até o final de 2015 e dia, você passa fora do Brasil? Tem ideia após o Master 1000 de Xangai, teve seu agora, Jamie Murray, britânico, irmão de de quantos países já visitou”? Bruno res- melhor ranking individual de duplas, che- Andy Murray, atual número 1 do ranking ponde: “São 36 semanas, em media, por gando a número 2 do mundo. mundial de simples.”. ano, longe do Brasil, viajando. Quem Pergunto a Bruno se ele pratica algum O Brasil hoje é uma das grandes forças costuma me acompanhar, dividido, não outro esporte, quando está de férias no do tênis masculino de duplas. No ranking o tempo inteiro, é minha esposa e meu fi- Brasil e ele responde: “Não pratico outro divulgado pela ATP em 26 de setembro de lho, meu treinador, meu fisioterapeuta e esporte quando estou de férias, gosto de 2016, o país contava com 6 jogadores en- meu preparador físico”. descansar, embora goste muito de esporte tre os 100 primeiros colocados: Marcelo Bruno já ganhou títulos em cinco em geral. Eu gosto de jogar pôquer com os Melo, 3º; Bruno Soares, 5º; André Sá, 50º; continentes e possui cinco títulos de amigos e frequentar o clube em BH (Belo Marcelo Demoliner, 62º; Thomaz Belluc- Grand Slam, dos quais, três de Duplas Horizonte), com minha família. Também ci, 96º e Fabricio Neis, 100º. À frente do Mistas (US Open de 2012 e 2014 e Aus- gosto de ir ao cinema com minha esposa”. Brasil só estavam os Estados Unidos, com trália Open de 2016) e dois de Duplas Por fim, perguntei a ele sobre a expec- 11 tenistas entre os cem principais duplis- Masculinas (Australia Open de 2016 e tativa para a Rio 2016, já que a conversa foi tas do mundo e a França, com 7. US Open de 2016). É o único brasileiro feitas às vésperas dos Jogos. Ele respondeu: PERFIL

“Expectativa melhor possível, esta- mos atrás desse resultado histórico, que é trazer uma medalha para o tênis bra- sileiro”. Nos Jogos Rio-2016, Bruno Soares competiu somente nas duplas mascu- linas, pois foi Marcelo Mello quem fez parceria de duplas mistas com Teliana Pereira. Após ganharem os dois primei- ros jogos (derrotando a dupla da Sér- via na segunda rodada, formada pelo ex-número 1 em simples da ATP, Novak / Divulgação em Washington do Brasil FOTO: Embaixada Djokovic, e Zatlan Zimonjic) Bruno So- ares e Marcelo Mello perderam para a O Ex-ministro de Estado das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo dupla romena, formada por Horia Te- Machado, e os atletas Thomaz Bellucci e Bruno Soares, em evento preparatório dos Jogos Rio-2016, na Embaixada do Brasil em Washington. cau e Florin Mergea, por 2 x 1, dupla que viria ser a vice-campeã. Na disputa de simples masculina, Thomaz Belluc- ci fez grande campanha, venceu três de atletas juvenis que pudessem vir ao clo olímpico (From Rio to Tokyo, 2016- jogos e chegou às quartas de final, su- Brasil para praticar a modalidade e in- 2020), com foco no tênis: cumbindo diante de Rafael Nadal. Nas tercambiar experiências com os atletas simples feminina, Teliana Pereira não nacionais. Em uma segunda etapa do  Auxiliar a Confederação Brasileira conseguiu repetir os bons resultados de programa, seriam tenistas juvenis do de Tênis (CBT) e o Comitê Olímpi- 2015 e perdeu já na estreia e, nas duplas Brasil que iriam para o exterior apren- co Brasileiro (COB) na organização mistas, Marcelo Melo e Teliana caíram der novas práticas de treinamento e de eventos internacionais no Centro nas quartas de final. Mais uma vez, a melhorar o nível de jogo. O intercâmbio Olímpico de Tênis, na Barra da Tiju- sonhada medalha olímpica do Tênis no masculino está sendo planejado para ca, na cidade do Rio de Janeiro, des- brasileiro não veio. contemplar atletas dos países do MER- de as categorias 10 anos, 12 anos, até Teremos, assim, que esperar até COSUL, nas categorias 14 e 16 anos, e no o profissional, masculino e feminino, 2020, em Tóquio, para comemorar a feminino, atletas da Rússia e dos países inclusive contribuindo para viabili- medalha inédita e torcermos para que a dos BRICS, nas mesmas idades. zar o intercâmbio de tenistas juvenis dupla Melo-Soares, na terra do sol nas- Além disso, a CGCE está em constan- estrangeiros que possam vir ao Brasil cente, possa estar ainda mais afinada. te contato com o Ministério do Esporte fazer treinamentos orientados por O tênis e o intercâmbio esportivo da e com o Comitê Olímpico Brasileiro treinadores brasileiros e disputar tor- diplomacia brasileira (COB) para auxiliar as delegações bra- neios em território nacional. O Itamaraty, por meio da Coordena- sileiras na preparação para as grandes  Auxiliar a (CBT) e o (COB) na divul- ção-Geral de Intercâmbio e Cooperação competições internacionais, como os gação e ampliação do Beach Tênis ao Esportiva (CGCE), contribui para me- Jogos Olímpicos e Paralímpicos, os Jo- redor do mundo, modalidade bastan- lhorar o intercâmbio de atletas da mo- gos Pan-Americanos e Parapan-ameri- te praticada em “areias” brasileiras. O dalidade com o exterior. No ano de 2015, canos, e os Jogos Sul-Americanos. Nes- Beach Tênis é muito praticado em pa- a CGCE e o Instituto Tênis, da Fundação te sentido, destaco alguns aspectos que íses mediterrâneos (em especial Itá- Lemann, inicaram conversas para tentar poderiam nortear a ação da diplomacia lia, Espanha, Portugal) e nos Estados concretizar um programa permanente esportiva brasileira para o próximo ci- Unidos, mas ainda necessita de ampla 91

divulgação em outros continentes – contra a CBT, recusando-se a defender substituído por Rafael Westrupp, ex-di- Ásia do Leste e Oriente Médio, Amé- o País na Copa Davis, para pressionar a retor-executivo da CBT. rica do Sul, Central e Caribe e África confederação a fazer mudanças estru- Entre os principais torneios de tênis Ocidental e Oriental. turais na modalidade. Muitos atletas que o Brasil recebe atualmente temos  Aproveitar a criação do Conselho Es- alegavam que a CBT poderia ter apro- um torneio de ATP 500 (o Rio Open), portivo dos BRICS, assinado por oca- veitado a oportunidade única que a um torneio da WTA International (o sião da Reunião de Cúpula de outubro “Era Guga” oferecia e fortalecer a tênis mesmo Rio Open, que pode não ocor- de 2016, realizada em Goa, na Índia, e no Brasil. Entre as principais reivindi- rer em 2017, por falta de patrocínio), buscar fomenter cooperação e inter- cações dos atletas constavam a criação um ATP 250 (o Brasil Open, realizado câmbio com tenistas juvenis da Rússia, de programas para formar professores, em São Paulo), o tradicional torneio da Índia, África do Sul (três países com treinadores e árbitros de tênis, amplia- categoria juvenil Banana Bowl e a Se- grande tradição na modalidade), e Chi- ção do número de torneios nacionais mana Guga Kuerten, que conta também na, nação que vem a cada ano tendo re- e internacionais nas categorias pré-18 com grande evento do tênis juvenil. É sultados mais expressivos no mundo do anos e apoio aos atletas e treinadores pouco ainda para um País que tem um tênis, em especial no tênis feminino. para custear viagens nas competições número grande de tenistas e que, nas  Aprofundar o diálogo com o Comi- nacionais e no exterior. Quando lemos últimas duas décadas, teve um tenista tê Paralímpico Brasileiro (CPB) e a o depoimento de Gustavo Kuerten por liderando tanto o ranking de simples Sports United, unidade do Departa- meio de seu livro “Guga, um Brasileiro”, da ATP (Guga), como o ranking indi- mento de Estado dos EUA respon- vemos as dificuldades que o tricampeão vidual de duplas (Marcelo Melo), e um sável pela diplomacia esportiva, no de Roland Garros teve, ao longo de sua número 2 do mundo nas duplas (Bruno apoio ao esporte paralímpico, em es- formação como atleta, para conseguir Soares). Qualquer que seja a composi- pecial ao tênis de cadeira de rodas, custear suas viagens pelo Brasil e ao ex- ção da nova diretoria da CBT, espera-se fomentando intercâmbio de atletas, terior, fator fundamental para elevar o uma gestão voltada para a consolidação treinadores e árbitros; nível de jogo de qualquer tenista. Neste do tênis entre as mais importantes mo-  Auxílio ao Ministério do Esporte e sentido, Guga foi um dos principais expo- dalidades esportivas do Brasil. Deve-se ao COB na preparação para os Jogos entes de uma “greve” que tinha por obje- ampliar o acesso ao tênis em território Olímpicos da Juventude, a serem rea- tivo alterar a estrutura do tênis nacional. nacional, inclusive buscando parcerias lizados na cidade de Buenos Aires, em O “resultado” da greve foi o afas- com a iniciativa privada para a constru- 2018. Vale lembrar que, no tênis mas- tamento do antigo Presidente da CBT, ção de quadras e centros de treinamen- culino, o Brasil é o atual campeão em Nelson Nastas, que não mais se candida- to, e incentivar a prática, sempre que duplas e vice-campeão em simples. tou ao cargo, e a realização de eleições, possível, nas escolas, particulares e pú-  Auxílio ao Ministério do Esporte, ao nas quais saiu vencedor o catarinense blicas. Do ponto de vista dos atletas de COB e ao CPB na preparação para os Jorge Lacerda Rosa. Nestes mais de dez alto rendimento, certamente o apoio aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tó- anos da gestão de Lacerda Rosa (fim do tenistas juvenis de destaque deve ser a quio 2020, repetindo o sucesso da par- ano de 2004 até 2016), pode-se dizer prioridade, de modo que o Brasil possa ceria realizada por ocasião dos Jogos que o tênis brasileiro sem dúvida ne- contar com inúmeros atletas de ponta Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016. nhuma evoluiu, mas não tanto como es- constantemente, como é o caso do fute- perado no pós-greve de 2004. Para o ano bol, do vôlei, do judô, do vôlei de praia Conclusão: perspectivas para o tênis de 2017, após a aprovação da lei 13.155, ou do surf, e não somente quando surgi- brasileiro de 4/8/2015, que limita a uma única rem atletas extraordinários, como Guga, No ano de 2004, os principais tenis- reeleição o mandato de qualquer diri- Marcelo Melo ou Bruno Soares. — J tas brasileiros, sob a liderança de Gus- gente esportivo, Lacerda Rosa (embora tavo Kuerten, iniciaram uma “greve” legalmente pudesse ter concorrido) será HISTÓRIA

POLÍTICA E ESPORTE NA HISTÓRIA DIPLOMÁTICA

ESPORTE E POLÍTICA SEMPRE CAMINHARAM JUNTOS, E A HISTÓRIA DIPLOMÁTICA, CONTADA POR TELEGRAMAS DE DIFERENTES ÉPOCAS, COMPROVA ESSA LIGAÇÃO

Gustavo Gerlach da Silva Ziemath e Leonardo Fernandes Rodrigues Cardote

Fevereiro de 1980, o Comitê Olímpico te, buscamos, nos arquivos históricos do internacional está prestes a votar pelo can- Ministério das Relações Exteriores, re- celamento dos Jogos de Moscou. Na im- latos envolvendo a realização de grandes prensa russa, o argumento central é de que eventos esportivos, especialmente os Jo- não se deve misturar esporte com política. gos Olímpicos de Verão e a Copa do Mun- Embora o argumento russo seja recorren- do. O resultado é instigante. De Moscou a te, a história prova que a influência da po- Buenos Aires, são inúmeros os relatos que lítica no esporte e do esporte na política, explicitam como é impossível despolitizar feliz ou infelizmente, existe. É essa a con- o esporte, especialmente em eventos de clusão a que chegamos ao pesquisar sobre apelo internacional, usados tanto como a história de grandes eventos esportivos. instrumento de promoção do país sede No intuito de investigar essa relação quanto como mecanismo para chamar a esporte-política sob uma ótica diferen- atenção do mundo a causas políticas. 93

MUNIQUE, 1972

Era o nono dia dos Jogos Olímpi- cos. Parecia que, assim como o nadador americano Mark Spitz, que acabara de conquistar sete ouros e sete recordes olímpicos, a Alemanha conseguiria en- trar para a história ao promover o que chamava de “As Olimpíadas da paz”, me- nos de 30 anos depois do fim do regime nazista. Apenas parecia. Na noite do dia 05 de setembro, 8 terroristas palestinos se aproveitam da escassa presença de policiais fazendo a segurança dos Jogos, invadem a vila olímpica e fazem reféns 11 representantes israelenses (5 atletas e 6 técnicos). Seu objetivo era político: chamar a atenção do mundo para a cau- sa palestina. Uma sequência de erros da policia alemã durante as negociações faz a si- tuação ficar ainda mais catastrófica. To- dos os membros da delegação israelense terminam morrendo, além de 5 dos ter- roristas e um policial alemão. Embora o espírito olímpico pareça ter esvaído da capital da Baviera, como indica o tele- grama de relato do incidente, o Comitê Olímpico, à revelia de algumas delega- ções, decidiu por seguir com os Jogos, afinal, como disse o Presidente do Comi- tê Olímpico Internacional, Avery Brun- dage, no dia seguinte ao atentado: “the Games must go on”. FOTO: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério FOTO: Arquivo

Telegrama de relato sobre o atentado de Munique. HISTÓRIA

BUENOS AIRES, 1978

Mensalmente, a Embaixada brasilei- do país em um contexto de “combate resposta curiosa, o chanceler argentino ra em Buenos Aires enviava relatórios acirrado contra a subversão”, durante a indicou que, dos 22 cidadãos franceses acerca da situação no país. O campeo- realização dos jogos. A França cogitou o apontados como desaparecidos, apenas nato mundial de futebol colocava o duro boicote, por conta da violência do regime 7 seriam franceses, todos “envolvidos regime militar argentino em posição de- contra seus nacionais - a equipe france- com atividades subversivas”. licada. Foi montado um esquema de re- sa de futebol chegou a encaminhar car- lações públicas para preservar a imagem ta sobre o assunto ao governo. Em uma FOTOS: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério Arquivo FOTOS:

Telegrama de relato sobre situação em Buenos Aires. 95

Telegrama de relato de manifestações antibrasileiras na Copa do Mundo da Argentina. FOTOS: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério Arquivo FOTOS:

Brasil e Argentina esta- estava à flor da pele. Após a vitória vam no mesmo grupo, na se- de 6x0 da seleção argentina sobre a gunda fase da competição. peruana – resultado que desclassifi- Apenas o primeiro colocado cou o Brasil e que garantiu uma vaga do grupo se classificaria para na final para os donos da casa -, o disputar a final. O Brasil tinha técnico brasileiro Cláudio Coutinho feito sua parte, após empatar protestou de forma tão veemente com a Argentina e vencer a que provocou reação enfurecida dos Polônia e o Peru. Restava aos torcedores argentinos. Como se pode argentinos vencer por mais observar do relato feito pelo Embai- de 4 gols de diferença a sele- xador em Buenos Aires, o contexto ção peruana, para poderem de competição esportiva repercutiu classificar-se para a grande fi- no necessário aumento da segurança nal contra a “laranja mecâni- nas redondezas da Embaixada e de ca”, como ficou mundialmen- outros prédios de órgãos brasileiros. te conhecido o time holandês Restou aos brasileiros apenas ques- daquela geração. A natural tionar a goleada e ver a argentina sa- rivalidade entre a seleção ca- grar-se campeã do mundial pela pri- narinho e a equipe albiceleste meira vez na história. HISTÓRIA

MOSCOU, 1980

O esporte nunca esteve imune à po- lítica. Os jogos olímpicos, em particu- lar, desde sua reformulação, no final do século XIX, forneceram uma vitrine perfeita para a afirmação de ideologias e demonstrações de força e orgulho nacional. A tradição de neutralidade e igualdade entre homens de diversas na- ções, cultivada pelo “ideal olímpico” dos gregos antigos, frequentemente cedeu espaço a disputas de outra natureza. Na segunda metade do século XX, a Guerra Fria tornava-se quente quando o assunto era rivalidade esportiva. Os eventos olímpicos refletiram a bipola- ridade, conforme atestam os relatos en- viados pelos Postos brasileiros durante os Jogos Olímpicos de Moscou. FOTO: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério FOTO: Arquivo

Telegrama com informações sobre os Jogos Olímpicos de Moscou. 97 FOTOS: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério Arquivo FOTOS:

Chegada do Presidente do Comite Olimpico Brasileiro a Moscou em 1980. O Brasil participaria dos jogos. O país pelos anfitriões soviéticos, conforme foi contra o boicote patrocinado pelos fez questão de salientar o primeiro Vice- Estados Unidos e seria um dos primei- -Presidente do Comitê Organizador, Vi- ros a se manifestar a favor dos jogos em talia Smirnov, em almoço oferecido pelo Moscou – gesto que foi muito apreciado Embaixador brasileiro. HISTÓRIA

Durante os jogos, produziram-se situações curiosas. Vários chefes de missão receberam instruções de seus respectivos países para se ausentarem da União Soviética no período de reali- zação dos jogos. Mesmo países que par- ticipavam dos jogos adotaram essa me- dida – alguns embaixadores solicitaram aos anfitriões que lhes considerassem oficialmente ausentes, ainda que esti- vessem no território do país. A situação mais peculiar, como notou o Embaixa- dor brasileiro, deu-se com o represen- tante espanhol: candidato à presidên- cia do Comitê Olímpico Internacional, permaneceu todo o período em Moscou, tendo tomado a “curiosa iniciativa” de “mudar-se da residência da embaixada para um dos hotéis da cidade”. FOTO: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério FOTO: Arquivo

A “ausência” dos chefes das missões diplomáticas em Moscou. 99 FOTOS: Arquivo histórico/Ministério das Relações Exteriores das Relações histórico/Ministério Arquivo FOTOS:

A tensa reunião do COI e o “dust setlling” de Killanin.

A 83ª sessão do COI, anterior à aber- alternativa: o estabelecimento na Gré- tura dos jogos, contaria com a presença cia de uma sede permanente dos jogos de reduzido número de representantes olímpicos. Tratava-se da volta ao “ideal diplomáticos. A situação política foi re- atlético acima dos ideais nacionais” dos ferida pelo então presidente do Comitê gregos antigos, uma última tentativa Olímpico Internacional, Lord Killanin, desesperada de impedir que o tabuleiro que protestou energicamente contra a geopolítico soturno da Guerra Fria con- utilização política dos Jogos Olímpicos. tinuasse impedindo o desenvolvimento A política estava atrapalhando o espor- do esporte internacional. — J te. Lord Killanin ofereceu, então, uma HISTÓRIA

DUQUE DE CAXIAS, ADHEMAR DE BARROS E A TERCEIRA IDADE O BRASIL É UMA NAÇÃO COM GRANDE PRESENÇA DE IMIGRANTES. AO SE MUDAREM PARA NOSSO PAÍS, ESSES GRUPOS TROUXERAM, ENTRE VÁRIAS CARACTERÍSTICAS CULTURAIS, A PRÁTICA DE ATIVIDADES ESPORTIVAS QUE PERMANECEM COMO MARCA IDENTITÁRIA DE SUAS ORIGENS

Helges Samuel Bandeira

O Brasil é um país de imigrantes. fagia. Já o consideramos nosso e sequer Praticamente tudo e todos vieram de titubeamos ao usar o termo futebol, fora, inclusive os esportes. Recente- anglicismo repudiado quando o espor- mente, houve a primeira edição dos te foi inicialmente introduzido nos tró- jogos indígenas, evento em que se pra- picos – os nativistas queriam chamá-lo ticaram alguns esportes que podem ser de ludopédio. Algumas atividades es- considerados nativos. Mesmo nesse portivas, porém, não passaram por um evento, o bom e velho jogo de futebol processo de nativização tão forte quan- fez muito sucesso. Hoje não pensamos to o futebol e permanecem, até hoje, mais nesse esporte como algo estrangei- como marca identitária e elemento de ro, pois o futebol já sofreu sua antropo- coesão de alguns grupos de imigrantes. FOTO: D ivulgação 101

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Em uma manhã de domingo qual- o punhobol. É uma espécie de voleibol, portanto, “para acabar com tal desconfor- quer, em um bairro residencial da re- pois duas equipes passam uma bola, to, o presidente da Sociedade da época, gião norte de Curitiba, ao chegar ao bastante pesada aliás, de um lado ao ou- Coronel João Meister Sobrinho, em uma clube Duque de Caxias, a primeira coisa tro do campo. O fato de se jogar em um jogada de mestre, mudou o nome da socie- que se sente é frio (porque se está em campo, ao ar livre, e não em uma qua- dade alemã para o do patrono do Exército Curitiba) e a primeira coisa que se vê dra, já deixa evidente a natureza mais Brasileiro, nomeando-o como Sociedade é um lindo gramado germanicamente rústica do punhobol, frente a seu primo de Cultura Física Duque de Caxias”. aparado. Ao visitante incauto, pode pa- mais refinado, o vôlei. Atualmente, o Clube Duque de recer um excelente lugar para os sócios O Clube Duque de Caxias foi criado em Caxias é reconhecido pelas suas equi- passearem com seus cães ou deixarem 1890 com o nome de Teuto Brasilianischer pes esportivas, tendo como destaque o suas crianças correr livremente. À me- Turn Verein zu Curityba pelos imigrantes punhobol, no qual as equipes adultas do dida que a manhã vai esquentando, os Heinrich Hilmann, Paul e Rodolf Müller, Clube estão entre as melhores do mun- sócios do clube, a maioria de evidente Hermann Behrens, Ferdinand Senff, Au- do. Como o Duque de Caxias, há muitos ascendência alemã, vão chegando e co- gust e Anton Loeser e Wilheim Lindroth, outros clubes espalhados pelo sul do meçam a demarcar os campos e a colo- provindos da região da Bavária. Com o ad- Brasil, onde a cultura e o esporte ale- car fitas entre os pares de postes bran- vento do Estado Novo e a entrada do Bra- mão ainda resistem ao tempo. Depois cos e pretos espalhados pelo gramado. sil na Segunda Guerra Mundial, a comuni- de uma cansativa partida de punhobol, O uso do gramado, logo, se torna claro, dade de imigrantes alemães não escapou nada melhor de que um chope bem ge- sobretudo para quem conhece o espor- à desconfiança de ser simpatizante à onda lado com uma dose de Steinhäger den- te favorito desses germano-brasileiros, nazifascista que varria a Europa. Em 1944, tro – é o perigoso submarino alemão! HISTÓRIA

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Em 1958, o então prefeito de São grantes japoneses, mas com os imigran- lo, com os norte-americanos, mas logo Paulo, Adhemar de Barros, inaugura- tes estadunidenses. Estes aqui chegaram fundaram sua própria equipe, por suges- va, no bairro do Bom Retiro, o Estádio junto com suas empresas, no contexto tão do cônsul japonês, Sado Matsomura. Municipal Mie Nishi. Com a presença da internacionalização da economia dos A partir daí várias outras equipes foram da família imperial do Japão, comemo- Estados Unidos, mediante a expansão criadas no seio dos clubes nipo-brasilei- rava-se o cinquentenário da imigração dos investimentos de empresas norte- ros do interior de São Paulo e do Norte japonesa, cujo marco é a chegada do na- -americanas em infraestrutura abaixo do Paraná. Nesses clubes, além de os vio japonês Kasato Maru, em 1908. Para do rio Grande. São os funcionários da adeptos do beisebol poderem comemo- o jogo inaugural, também foi chamado Companhia Light, em São Paulo, que rar seus homeruns, os menos atléticos o time da Universidade de Waseda, que realizam o primeiro jogo de beisebol de podem, até hoje, praticar seu japonês ou voltaria ao Bom Retiro anos depois, que se tem notícia no Brasil, em 1902. Os preguiçosamente relaxar nos ofurôs. para o primeiro Sokeisen - tradicional convites para angariar jogadores para as Como os imigrantes alemães, os duelo contra seu arquirival, o time da partidas eram feitos por meio do jornal japoneses também sofreram muito Universidade de Keio - realizado fora e, é claro, em Língua Inglesa, para garan- preconceito e perseguição durante a do território japonês. A maioria paulis- tir que o público alvo entendesse o con- Segunda Guerra Mundial. O beisebol, tanos estranharam os tacos, as luvas e vite. O Parque Antártica era o ponto de associado à cultura japonesa, acabou as regras, afinal desconheciam o espor- encontro dos aficionados pelo esporte. entrando em fase de decadência no Bra- te; não era o caso, porém, da comunida- Com o apoio do colégio e universidade sil. A superação dos traumas do conflito de japonesa. Mackenzie, a prática acabou se tornan- mundial implicou a revalorização dessa Apesar da associação do beisebol do um pouco mais popular na cidade. prática esportiva – cujo marco é a cria- com os nipo-brasileiros, o esporte não Os japoneses, que já conheciam o es- ção do estádio exclusivo para a prática aportou por estas bandas com os imi- porte, começaram jogando, em São Pau- do esporte no Bom Retiro. 103

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Plena segunda-feira, a cidade de Bal- sível de uma pequena bolinha que é dade ítalo-brasileira. Lá encontram neário Camboriú está movimentada, inicialmente arremessada na cancha. amigos de suas cidades natais e po- pero no mucho, como dizem os Herma- Apesar da idade, a serenidade nem dem falar a vertente dialetal do italia- nos, que frequentam o balneário catari- sempre reina nas canchas. Volta e meia no com a qual estão acostumados. São nense, para a alegria da economia local. se ouve alguma palavra de baixo calão descendentes de primeira ou de se- Quando o comércio da Avenida Atlântica em italiano ou em português mesmo. gunda geração, que aprenderam por- começa a abrir suas portas, eles já estão Balneário Camboriú, com suas belas tuguês apenas quando passaram a fre- lá. Os cabelos, quando ainda os têm, são praias e pujante economia de serviços, quentar a escola. A maioria tem como brancos. Uns de suspensórios, camisa e tornou-se refúgio para a terceira idade. idioma materno não o italiano padrão, sapatos, outros já mais modernizados de O litoral catarinense foi inicialmente mas algum dialeto , sendo o mais co- agasalhos e tênis. O chimarrão é de praxe, colonizado por açorianos, legado ainda mum deles o Vêneto ou o Talian. antes, durante e depois do jogo, ainda que perceptível no sotaque dos locais. De- Seja em Curitiba, São Paulo ou a temperatura não esteja amena. Alguns, pois vieram os alemães, que se estabe- Balneário Camboriú, com Duque de ao invés do mate, arriscam-se a uns goles leceram um pouco mais para o interior Caxias, Adhemar de Barros ou al- de vinho colonial, doce, bem doce! e, posteriormente, os italianos, que se guns senhores da terceira idade, em Esses senhores, e algumas senho- radicaram no alto vale do Itajaí. O sota- alemão, japonês ou italiano, o que ras entre eles, reúnem-se quase toda que dos bocheiros claramente denuncia importa mesmo é reunir os amigos, manhã em canchas espalhadas ao lon- sua ascendência italiana e sua origem praticar atividade física e dar boas go da praia central do badalado bal- do oeste do Paraná, de Santa Catarina risadas juntos. Se for possível fazer neário catarinense para jogar bocha. ou do interior do Rio Grande do Sul. tudo isso e ainda reconectar-se com a O objetivo do jogo é colocar o maior A cancha de bocha acaba sendo o cultura e a tradição dos ascendentes, número de bolas o mais próximo pos- ponto de encontro para essa comuni- melhor ainda. — J CULTURA E ARTE FOTO : Divulgação

Detalhe da ilustração da capa do álbum Jorge Ben (1969): amor pelo Flamengo gravado no violão. 105 AQUI É O PAÍS DO FUTEBOL CANCIONEIRO NACIONAL COMEÇOU A TEMATIZAR A PAIXÃO PELO ESPORTE MUITO ANTES DA CONQUISTA DA PRIMEIRA COPA DO MUNDO; OBRAS SOBRE OUTRAS MODALIDADES SÃO, NATURALMENTE, MINORIA

Pedro Ivo Souto Dubra

O crítico Antonio Candido ensina es Moreira sobre um show centrado em brasileiro, quando decide falar de espor- que toda obra literária, sem se reduzir a seu repertório de temática futebolística. te, é quase sempre, para usar a expressão mero documento ou espelho da realida- Ou das muitas montagens de Nelson Ro- rodriguiana, uma “flor de obsessão” fu- de, incorpora dinâmicas sociais em sua drigues a que assisti, sempre com algum tebolística. O que não é, de maneira ne- forma. Pensei bastante na lição de Can- ator vestindo a camisa de um time cario- nhuma, ruim, haja vista a elevada quali- dido –que, para mim, também se aplica ca ou com personagens como o Tuninho dade de muitos dos produtos. à música–, enquanto escrevia este texto, de A falecida, que, de tão obcecado pelo Minha ideia de pauta era simples. Eu cujo objetivo é examinar, sem pretensão Vasco, não percebe que sua mulher está procuraria antigos colegas de profissão exaustiva, a presença do tema esportivo prestes a morrer. especializados em música para que re- no cancioneiro brasileiro. Não tenho espaço para digressões cordassem canções nacionais que jul- Antes de tornar-me diplomata, fui históricas ou sociológicas pormenoriza- gassem representativas do esporte como jornalista cultural. No curso da carreira das, mas o fato é que a música popular mote. A proposta era antes produzir um pregressa, não foi raro deparar-me com transmitida pelas ondas do rádio e o fu- brainstorming com gente gabaritada do a tal realidade a imiscuir-se nas obras tebol se tornaram fenômenos de massa que fazer rankings ou votações. Disse- sobre as quais escrevia ou das quais era ao mesmo tempo, a partir dos anos 1930. lhes que não haveria problema se a lista ouvinte ou espectador. E a realidade é Seria mais do que natural, portanto, que final se revelasse demasiadamente ludo- que aqui, como diz a canção de Milton os gramados interessassem composito- pédica, mas que referências a outros es- Nascimento e Fernando Brant, é o país res também atentos ao preço do feijão, portes menos cotados seriam bem-vin- do futebol. Lembro-me, por exemplo, de à política de Getúlio Vargas ou à falta das. Também puxei pela memória para entrevistar o cantor e compositor Mora- d’água. Seguindo essa tradição, o artista tentar tornar este texto menos lacunar. CULTURA E ARTE FOTO: Acervo pessoal FOTO: Acervo

O Politheama em 1982: em pé, Marquinhos, Tidinho, Nei Barbosa, Ricardo Cerqueira, Evandro e Ézio; agachados, Ruy Solberg, Vinicius Cantuária, Vinicius França, Chico Buarque e Carlinhos Vergueiro.

Em 1919, Pixinguinha compôs 1 x 0, a ceria a Lacerda na composição). Em 1993, taque-se, pela qualidade e pela quanti- mais antiga obra lembrada pelos jorna- o clássico ganhou letra de Nelson Angelo dade, Wilson Batista. Com Geraldo Go- listas consultados. O choro tinha como (“Vai começar o futebol, pois é,/com mui- mes, ele compôs Memórias de torcedor, contexto a euforia da vitória brasileira ta garra e emoção,/são onze de cá, onze gravada, também em 1946, por Aracy de sobre o Uruguai, com gol, na segunda de lá/e o bate-bola do meu coração,/é a Almeida, com os incríveis versos iniciais prorrogação de 30 minutos (não existia bola, é a bola, é a bola,/é a bola e o gol!/ “Eu ontem vim da Gávea tão cansada,/ decisão por pênaltis), do centroavante Numa jogada emocionante,/o nosso time com a cabeça inchada,/pois o Flamengo , na partida final de venceu por 1 x 0/e a torcida vibrou”). tornou a perder”. Batista fez outras mui- desempate do terceiro campeonato sul- O pioneirismo de Pixinguinha – 1 x 0 to boas, como E o juiz apitou (com An- -americano de futebol, realizado no Rio foi criado onze anos antes da primeira tonio de Almeida e cuja primeira parte de Janeiro. 1 x 0 só foi gravado em 1946, Copa do Mundo– teve uma bela sequên- merece transcrição –“Eu tiro o domingo com Pixinguinha no sax e Benedito La- cia na Era do Rádio brasileira, iniciada para descansar,/mas não descansei,/que cerda na flauta (seria, também, dada par- em 1922. Entre seus continuadores, des- louco fui eu,/regressei do futebol/todo 107

queimado de sol,/o Flamengo perdeu/ muito associados ao Rio de Janeiro, en- bom de bola, aquele que “foi pra Copa bus- pro Botafogo,/amanhã vou trabalhar,/ tão capital federal. Cantor de frevos, for- car a glória/e fez feliz a nação/no maior meu patrão é vascaíno/e de mim vai rós e cocos, o paraibano Jackson do Pan- lance da história” e terminou esquecido. zombar”), Coisas do destino (“Ai, ai, são deiro emprestou a voz a canções como 1 Irritado com a reação hostil do público, coisas do destino,/sou rubro-negro,/ x 1 (Edgar Ferreira, que escreveu versos Sérgio Ricardo interrompeu a performan- meu patrão é vascaíno,/ai, ai, esse em- como “Um empate para mim já é derro- ce, quebrou o violão e o arremessou contra prego eu vou perder,/mas deixar de ser ta,/mas confio nos craques da pelota,/e a plateia, criando uma das cenas mais em- Flamengo.../Não, não pode ser”), Sam- o meu clube só joga é pra vencer”), Fre- blemáticas daqueles tempos. ba rubro-negro e Flamengo tricampeão vo do bi (de autoria de Braz Marques e Contemporâneo de Sérgio Ricardo – (com Jorge de Castro), Mané Garrincha Diógenes Bezerra e lançado por ocasião e igualmente com uma infeliz história de (com Jorge de Castro e Nóbrega de Ma- da Copa do Chile de 1962 –ano, em que vaia em festival, pela bela Sabiá –, Chico cedo) e Rei Pelé (com Jorge de Castro e aliás, Jacob do Bandolim compôs o cho- Buarque é outro músico muito identifi- Luiz Wanderley). ro A ginga do Mané, para Garrincha), 4 cado com o futebol. Torcedor do Flumi- Wilson Batista teve grandes compa- x 1 (Damião Florêncio e José Gomes) e nense e fundador do time Politheama, nheiros de geração radiofônica. Autor Bola de pé em pé (parceria com Sebastião o cantor e compositor tem no currículo de uma marcha também com um placar Batista). uma canção de título autoexplicativo so- como título (2 x 2), Lamartine Babo, por A essa velha-guarda que nasceu an- bre a importância que atribui ao espor- exemplo, celebrizou-se por haver com- tes do rádio e que por ele veiculou sua te: O futebol (com os grandes versos que posto, nos anos 1940, hinos para onze obra, sucedeu a geração de crianças que comparam jogo e arte “Para tirar efei- clubes de futebol do Rio de Janeiro. Babo cresceram com o aparelho na sala e cole- to igual ao jogador,/qual compositor?/ não criou temas somente para o quarteto ções de figurinhas dos ídolos de futebol. Para aplicar uma firula exata,/que pin- de grandes (Flamengo, Botafogo, Vasco Jorge Ben Jor pode ser considerado o tor?/Para emplacar em que pinacoteca, da Gama e Fluminense) e para seu time Wilson Batista dessa nova leva. Também nega?/Pintura mais fundamental/que do coração, o América, mas também le- Flamengo e com passagem pela categoria um chute a gol/com precisão/de flecha e gou pérolas atualmente esquecidas aos infanto-juvenil do clube, Jorge produziu folha seca”). Entre suas obras que reme- pequenos Olaria, Bonsucesso, Bangu, uma série de grandes canções sobre o es- tem aos gramados, citem-se, ainda, Pelas São Cristóvão, Madureira e Canto do Rio porte. Possivelmente a mais famosa delas, tabelas, na qual o eu-lírico imagina sua (este de Niterói). Quando o assunto é o Fio Maravilha, interpretada pela cantora cabeça rolando no Maracanã, e Ilmo. Sr. hinário dos clubes brasileiros, sempre se Maria Alcina no Festival Internacional Ciro Monteiro ou Receita pra virar casa- cita, também, a canção do Grêmio, criada da Canção de 1972, homenageava João ca de neném, resposta bem-humorada ao por Lupicínio Rodrigues em 1953 (o fa- Batista de Sales, atacante do Flamengo, cantor amigo que presenteou a filha com moso verso inicial “Até a pé nós iremos” que resolveu mover um processo contra uma camisa do rival Flamengo. ecoa uma greve de motoristas, motornei- o autor pelo uso do apelido, alegando ex- Enorme injustiça será feita se, por ros e trocadores de bondes e de ônibus ploração comercial (chateado, o músico mais resumido que seja, o inventário da que dificultou o acesso ao extinto Estádio passaria a cantar “Filho Maravilha,/nós relação música brasileira/futebol não da Baixada, onde haveria um jogo do tri- gostamos de você,/Filho Maravilha,/faz contiver uma menção aos Novos Baia- color gaúcho). Locutor esportivo e fla- mais um pra gente ver”). A produção do nos. O grupo definia-se tanto como ban- menguista apaixonado, Ary Barroso pode compositor inclui, ainda, Camisa 10 da da quanto como time –seu terceiro disco, não se ter debruçado sobre o tema do fu- Gávea, Zagueiro, Goleiro (Eu vou lhe avi- lançado em 1973, chama-se Novos Baia- tebol como Batista ou Babo, mas deixou sar), O nome do rei é Pelé, Cadê o penalty, nos F.C (e, de fato, os músicos jogavam a contribuição de O Brasil há de ganhar, Joga Corinthians e Ponta de lança africa- muita bola no sítio em que moravam, no consagrada na voz de Linda Batista e to- no (Umbabarauma). Rio). O já citado Moraes Moreira, em cada nos alto-falantes do Estádio do Ma- Por falar em festivais, o de 1967 tam- parceria com Galvão e Pepeu Gomes, racanã, construído para a Copa de 1950. bém foi tocado pela referência futebolísti- sempre dava um jeito de tocar no assun- O futebol não era apenas alvo de ca. O cantor e compositor Sérgio Ricardo to: Besta é tu fala do “Maraca domingo”; sambas e marchas, gêneros urbanos estava escalado para interpretar sua Beto Reis da bola (com os mesmos parceiros), CULTURA E ARTE

de “anos e anos de futebol/correndo na passe livre), criou, no contexto das Co- automobilístico que lhe custou a perna veia”; e Só se não for brasileiro nessa hora pas do Mundo da França e da Alemanha, direita (“Pulou o Brasil do tri,/pulou e (com Galvão), de um menino que “dei- Balé da bola (Copa 98) e Balé de Berlim, tremeu de dor/ao ver o pulo do gato cor- xa a vida pela bola”. Após sair da banda, respectivamente. Fagner, Zeca Baleiro, tado,/cortada a perna de luz, cortada/a Moraes seguiu com temas de inspiração Fausto Nilo e Celso Borges compuseram claridade do raio de Xangô”). A sinuca, futebolística, a exemplo de Saudades do Canhoteiro, tributo ao grande ponta-es- por seu turno, inspirou Bosco e Blanc na Galinho (por ocasião da transferência de querda do São Paulo, lançado em disco composição de Tabelas (“Numa jogada do Flamengo para o clube italiano em 2003 (Fagner e Zeca também escre- infeliz,/resvala o tempo vivido/que nem Udinese), O que é, o que é, Vitorioso Fla- veram uma canção, ainda inédita, sobre um taco sem giz”). mengo, Sangue, swing e cintura, Espírito o meia Alex). Craques como Raí, Ro- Marcos Valle, que já havia escrito, esportivo (com Abel Silva) e Brasil cam- mário e Neto foram homenageados por com o irmão Paulo Sérgio, Sou tricam- peão (com Pepeu Gomes). Com Baby obras homônimas de Carlinhos Verguei- peão (sucesso do conjunto Golden Boys) Consuelo, Pepeu também deixou sua ro (para os dois primeiros, a primeira e Flamengo até morrer, mergulhou de ca- marca solo em Fazendo música, jogando em parceria com J. Petrolino) e de Tom beça na febre da geração saúde dos anos bola. Zé. Com Bruno Meriti, Marcelo D2, por 1980 e de lá saiu com Bicicleta (“Vou lar- Com carreiras decoladas na época seu turno, fez Sou Ronaldo. Esta lista não gar meu guidom/pra chamar sua aten- dos Novos Baianos, a dupla João Bosco exaustiva termina com País do futebol, ção/até você compreender/que estou e Aldir Blanc compôs canções em que do funkeiro MC Guimê, cujo clipe tem a parado em você”) e Estrelar (“Tem que o futebol é mencionado em letras sobre participação do astro Neymar. correr,/tem que suar,/tem que malhar casamentos – Gol anulado (da incor- (vamos lá!)/Musculação, respiração, ar retíssima estrofe “Quando você gritou no pulmão (vamos lá!)”). Valle não era o Mengo/no segundo gol do Zico,/tirei primeiro a musicar o mundo da ginásti- sem pensar o cinto/e bati até cansar”), ca no Brasil: nos anos 1970, Juca Chaves Incompatibilidade de gênios (“Dotô, jo- Curiosamente, muitos dos composi- ironizara a campanha Mexa-se, lançada gava o Flamengo, eu queria escutar./ tores brasileiros que resolveram recor- pelos militares, em Mexa-se (É gostoso Chegou, mudou de estação, começou a dar esportes menos badalados são aque- pra chuchu). cantar”) e A nível de... (com uma diver- les que também trataram do futebol. Moda recente, o MMA foi alvo de tida reconfiguração de dois casais – os É o caso de Jorge Ben Jor, que, em uma inesperada canção de Caetano Ve- homens que vão ao Maracanã juntos e 1971, lançou, em parceria com Toqui- loso, A bossa nova é foda, na qual se ci- as mulheres que sobravam em casa). O nho, Cassius Marcelo Clay, homenagem tam lutadores como Minotauro, Vítor já citado Chico Buarque, aliás, também ao boxeador norte-americano Cassius Belfort e Anderson Silva. Caetano, que seguiu a linha de combinar esporte e Marcellus Clay, Jr., morto em junho úl- mencionara Pelé, em Two Naira Fifty relacionamento na clássica Com açúcar, timo, que passou a se chamar, após con- Kobo e Love, Love, Love, e a “elegância com afeto, na qual a mulher fala de seu versão ao islamismo, Muhammad Ali sutil de Bobô”, jogador do Bahia, em Re- homem ausente, no momento em algum (diga-se que, na letra, entre outros elo- convexo, já havia feito referência ao sur- bar onde encontrará alguém para puxar gios, se menciona que Clay tem “o 4-3-4 fe em Menino do Rio (“O Havaí seja aqui/ assunto e discutir futebol. de um time de futebol”). Moraes Morei- tudo o que sonhares,/todos os lugares,/ O futebol seguiria servindo de mote ra também o citou em Feito Muhammad as ondas dos mares”), homenagem ao a novatos e veteranos. Em 1996, o grupo Ali (com Abel Silva como parceiro e o re- surfista Petit. Também Lulu Santos, em de pop rock Skank lançou o hit É uma frão “mais que resistir, meu amor,/que- parceria com Nelson Motta, falaria em partida de futebol, composto por Samuel rer bailar feito Muhammad Ali”). viver a vida sobre as ondas em De repen- Rosa e Nando Reis (Reis expressou seu A dupla João Bosco e Aldir Blanc te Califórnia. Jorge Ben Jor, sempre ele, amor pelo São Paulo em Soberano e He- tampouco se restringiu aos gramados. por seu turno, é o autor de Solitário sur- rança). Gilberto Gil, que já havia com- João do Pulo evoca João Carlos de Oli- fista (“Entre no tubo/e peça licença aos posto Meio-de-Campo (homenagem ao veira, recordista mundial de salto tri- peixes/e namore as sereias/e mostre um jogador Afonsinho, pioneiro da luta pelo plo que, em 1981, sofreu um acidente front side, um cut back, um back side,/ 109

maradas prum basquetebol” na letra de Fim de semana no parque, do grupo de rap Racionais MC’s. Ao contrário das Copas do Mundo de Futebol, deflagradoras de tantos temas de ocasião, as Olimpíadas parecem até agora não ter animado muito os com- positores brasileiros. A única exceção lembrada por um dos jornalistas consul- tados foi a canção Olimpo, lançada em 2000, ano olímpico, por Ivan Lins e Cel- so Viáfora, em cuja letra se mencionam medalhistas como o nadador Gustavo Borges e o judoca Aurélio Miguel. Para terminar, retornemos ao ensina- mento de Antonio Candido. Tido como imorredoura paixão nacional, o futebol tem encarado a recente e curiosa con- corrência do football, o futebol america- no, cujo Super Bowl é cada vez mais co- mentado no Facebook e transmitido nos telões dos bares. Se um dia a sociedade brasileira preferir touchdowns a gols de bicicleta, será outro seu cancioneiro, e este texto será lido como uma curiosida- FOTO: Autor não identificado/Acervo Pixinguinha/Instituto Moreira Salles Moreira Pixinguinha/Instituto não identificado/Acervo FOTO: Autor de histórica sobre um outro país.

Pixinguinha no Estádio de São Januário nos anos 1930: pioneiro da temática futebolística. Meus agradecimentos a José Flávio Júnior, Luiz Fernando Vianna, Pedro Só, um loop, um 180, um 360º,/pois o mar é traiçoeiro,/vai sem cavaleiro/tabuleiro Rodrigo Faour e Sérgio Martins, enciclo- de graça e é todo seu”). adentro”). Raul Seixas, por sua vez, cita, pédias musicais consultadas para a pro- O lado B esportivo prossegue com em Super-heróis (com Paulo Coelho), o dução deste texto. o xadrez, mencionado em, pelo menos, enxadrista gaúcho Mequinho, conside- Agradeço, ainda, a Mario Canivello, três canções. Paulinho Nogueira trata rado, no fim da década de 1970, o tercei- assessor de imprensa de Chico Buarque, dele em Jogo de xadrez (“Além de ser ro melhor jogador do mundo. O skate é que enviou a foto do Politheama publi- um divertimento mental,/tem mais uma outro filão pouco explorado, mas mui- cada nesta revista. Agradeço, ademais, a jogada toda especial,/pra quem chegar to identificado com o conjunto Charlie Chico, que identificou os companheiros em casa tarde outra vez,/é só dizer que Brown Jr., que lançou canções como daquela partida. Também devo agrade- estava jogando xadrez”). Outro Pauli- Skate vibration e Skateboard amor eterno. cimentos à Copyrights Consultoria e nho, o da , em parceria com Sergio Ainda no nicho dos esportes vinculados ao Instituto Moreira Salles, respectiva- Natureza, fez Brancas e pretas (“O meu à cultura urbana dos Estados Unidos, re- mente, pela autorização de uso e pelo coração anda aos saltos,/parece um ca- corde-se a presença de personagem que envio da imagem em alta resolução de valo/no seu movimento/selvagem e até quer “aproveitar o sol, encontrar os ca- Pixinguinha. — J CULTURA E ARTE

: Mary Grandpré/Divulgação FOTO : Mary QUADRIBOL: DAS PÁGINAS DE HARRY POTTER PARA A REALIDADE

COMO UM ESPORTE SAÍDO DAS PÁGINAS DE FICÇÃO EM POUCOS ANOS GANHOU ADEPTOS POR TODO O MUNDO E POSSUI HOJE UMA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL PARA ORGANIZAR SUA PRÁTICA

Ana Maria Garrido Alvarim 111

Quantos esportes são conhecidos campo ovalado, com 3 aros em cada lado çada, tendo em vista que ela depende de por terem saído da ficção direto para a do campo. Os jogadores devem manter como o jogador se identifica em termos realidade no século XXI? Esse foi o caso uma vassoura de madeira ou de plástico de gênero, e não de seu sexo. Além dis- do quadribol, esporte criado pela auto- entre as pernas durante toda a partida. A so, também se reconhecem os jogadores ra da saga Harry Potter, J.K. Rowling. O vassoura não deve tocar o chão, a não ser que não se identificam com o sistema bi- primeiro jogo para “trouxas” (pessoas quando o jogador é atingido por um ba- nário de gênero. O objetivo dessa regra que não são bruxas) ocorreu em 2005, laço. A Goles é uma bola murcha de vo- é promover a diversidade, a inclusão e a quando estudantes da Middlebury Col- leibol, que serve para pontuar 10 pontos igualdade de gênero. lege, nos Estados Unidos, começaram a a cada gol em qualquer um dos três aros. Nos Estados Unidos, o esporte foi brincar de quadribol. Atualmente, o jogo O Balaço assemelha-se a uma bola de ganhando cada vez mais adeptos des- possui regras bem definidas, diversos ti- queimada um pouco murcha. Diferen- de sua criação. Em 2007, ocorreu a pri- mes locais e nacionais, uma Associação temente da ficção, há três balaços, a fim meira Copa Mundial de Quadribol, em Internacional, além de várias competi- de que não haja monopólio dessas bolas seu local de nascimento, a Middlebury ções em nível mundial. por um time durante o jogo. Quando um College. O campeonato não foi, de fato, Na história criada por J.K. Rowling, jogador é atingido, ele deve desmontar “mundial”, pois contou com times es- o quadribol é um dos esportes mais da vassoura, soltar qualquer bola que tadunidenses apenas. Três anos depois, famosos no mundo bruxo. Há compe- esteja segurando, voltar até os aros de seria criada a Associação Estadunidense tições nas escolas bruxas e em níveis sua equipe, tocá-los, remontar na vas- de Quadribol (USQ, na sigla em inglês), local, nacional e mundial. Há quatro soura e retornar à partida. O Pomo de órgão sem fins lucrativos, destinado a bolas: uma Goles, que serve para os Ouro é uma bola de tênis, revestida por promover o quadribol como um novo três artilheiros fazerem pontos ao ar- uma meia. Essa meia é presa no calção esporte. Atualmente, os Estados Unidos remessarem em três arcos protegidos de uma pessoa, vestida de amarela, que já possuem mais de 100 times locais, por um goleiro; dois Balaços, que dois é neutra no jogo. Apenas os apanhado- formados, em sua maioria, por times de batedores utilizam para nocautear jo- res podem tocá-lo, e estes devem tentar universidade. Os campeonatos locais já gadores do time adversário e proteger pegar o pomo sem realizar força excessi- foram, inclusive, televisionados. A USQ seu time; e um Pomo de Ouro, que o va. Quando isso ocorre, o time ganha 30 também promoveu, em 2012, a primeira apanhador deve buscar ao longo da pontos e a partida termina. conferência sobre o esporte, reunindo partida, a fim de garantir 150 pontos Como na série Harry Potter os times pessoas de diversos países. para seu time e o fim do jogo. Tudo isso, não faziam distinção de gênero, na vida A Associação Internacional de Qua- a vários metros do chão, com os jogado- real, ela também não existe. Uma das dribol (IQA, na sigla em inglês) teve iní- res montados em vassouras voadoras. regras mais interessantes do esporte re- cio como uma Associação Intercolegiada No mundo real, foi necessário criar fere-se à regra de gênero “no máximo de Quadribol, responsável pelos times novas regras para o esporte, devido à quatro”. De acordo com ela, um jogo de estadunidenses. Em 2010, ela alterou o impossibilidade de se recriar o cenário quadribol requer que cada time tenha no nome para o atual e, neste ano, tornou-se inventado por J.K. Rowling. Atualmen- máximo quatro jogadores que se identi- uma federação verdadeiramente interna- te, as regras já se encontram bem esta- fiquem com o mesmo gênero. Pode-se cional, com a criação de um Congresso, belecidas. O jogo ocorre no solo, em um considerar uma norma realmente avan- composto por representantes de países

FOTO Associação Internacional de Quadribol/Divulgação

Novo logo da Associação Logo da Associação Brasileira de Quadribol Internacional de FOTO: ABRQ/Divulgação (ABRQ). Quadribol. CULTURA E ARTE

que possuem uma associação de qua- FOTO : Associação Internacional de Quadribol/Divulgação dribol estruturada e ativa. Atualmente, a única representante sul-americana é a Federación Argentina de Quidditch. O Brasil é considerado como “área emer- gente”, onde há mais de zero times, mas que ainda não possui um órgão governa- tivo ou evidência de competições regula- res. Por isso, o país não possui represen- tantes próprios no Congresso da IQA. Os eventos realmente internacionais de quadribol tiveram início em 2012, quando a IQA inaugurou os “Jogos Mun- diais” (posteriormente renomeado como Copa do Mundo), um torneio bianual, em Oxford, Reino Unido. Participaram times dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França e Austrália. Este ano, Países que contam com algum time de quadribol. Em azul escuro, são os países que são membros; no mais ocorrerá a Copa Europeia de Quadribol, claro, membros em desenvolvimento. que envolverá 16 países desse continente. Ela será promovida pelo Comitê Europeu de Quadribol, órgão que reúne represen- tantes de associações nacionais. Também E o Brasil nessa história? Na ficção, o cius Mascarenhas fundou a primeira equi- ocorrerá, em julho deste ano, a Copa do Brasil foi vice-campeão de quadribol em pe brasileira de quadribol, a Rio Ravens, do Mundo de Quadribol, em Frankfurt, Ale- 2014. No mundo “trouxa”, a realidade é um Rio de Janeiro. Desde então, outros times manha. Os jogos deverão contar com re- pouco diferente. O esporte foi trazido para se formaram, como os Bruxos do Cerrado presentantes de dezenas de países. terras tupiniquins em 2010, quando Viní- (DF), as Onças Paulistas (SP), entre outros. FOTOS: Ajantha Abey Quidditch Photography/Divulgação Ajantha FOTOS:

Equipe brasileira no início de uma partida. Equipe brasileira durante partida contra a Coreia do Sul. 113 FOTOS: Ajantha Abey Quidditch Photography/Divulgação Ajantha FOTOS:

Equipes brasileira e alemã no fim de uma partida.

Com o objetivo de incentivar o qua- ao futebol. No caso específico do qua- criação, a ABRQ tem buscado auxiliar dribol e torná-lo mais organizado no dribol, entretanto, o principal óbice, na na formação de novas equipes, por meio Brasil, foi criada a Associação Brasilei- avaliação de Diogo, seria o preconceito de compartilhamento de experiências ra de Quadribol (ABRQ) em janeiro de pelo esporte ter sido originado de uma e aconselhamento. Também apoiam as 2015, após ter sido delineada e planeja- adaptação do universo de Harry Potter. equipes existentes, garantindo repre- da pelos capitães das equipes ativas. Em O principal objetivo da ABRQ, na atu- sentatividade perante a IQA e na cena entrevista concedida à JUCA, quando alidade, é difundir o esporte no Brasil, a internacional. Em 2016, a ABRQ enviará perguntado acerca dos desafios para que fim de torná-lo mais conhecido no país uma equipe de jogadores para competir o quadribol seja reconhecido como um e, consequentemente, ganhar adeptos. A em nome do Brasil na Copa do Mundo esporte no Brasil, Diogo Broda de Vas- profissionalização do esporte ainda não em Frankfurt. concellos, da ABRQ, afirmou que é difí- está nos planos da Associação, visto que Ficou interessado? Procure então cil para qualquer esporte ganhar visibili- ele ainda é praticado de maneira amado- a equipe mais próxima de sua casa ou, dade no Brasil, em razão da ênfase dada ra na maior parte do mundo. Desde sua quem sabe, forme a sua própria! — J CULTURA E ARTE

SALVE, SALVE O ESPORTE

Helges Samuel Bandeira

Ele é que tem sorte: corre, nada, rema; é belo, vivaz e forte. Não há quem ele tema!

Nele, há profissionais e amadores, uns bons, outros nem tanto. Não só praticantes, também telespectadores cobrem-se com seu divino manto.

Jogam e suam, torcem e suam. Entusiasmados, sempre persistem: Cansam, muito, mas continuam. Falhar faz parte... sabem, insistem!

Quase uma pequena morte: de prazer e esforço a sensação. Drible, passe, corte; foco, atividade, superação!!!

Salve, salve o esporte! Ele é que tem sorte. FOTO: Francisco Medeiros/ME/Divulgação MRE Medeiros/ME/Divulgação FOTO: Francisco 115

O MENINO QUE CORRIA

Helena Hoppen Melchionna

Corria o menino desde que saiu da barriga da mãe. Aos quatro anos, já corria retirante, dos caminhos da caatin- ga às veredas da mata atlântica. Corria da seca, corria da fome, corria de sede. Corria atravessando o Brasil, de um pau- de-arara a outro. Corria em busca de dignidade. Quando lhe perguntavam o que vai ser quando crescer, o menino só corria, nunca sabia o que dizer. Correr era tudo que sempre soube fazer. Seus pais tentaram a vida na cidade grande, mas o menino continuou correndo. Aos cinco, corria dos marginais do morro

que lhe atormentavam, pressionando FOTO: Divulgação para que entrasse em seus esquemas; gritando socorro, corria descalço dos moleques mais velhos da escola, que pe- gavam no seu pé por ser tão miudinho. À de-açúcar. Corria ainda descalço, com a noite, corria do pai que, desempregado, enxada na mão, corria pela sobrevivên- deu para beber e bater. Corria dos gritos cia, por alguma solução. Corria tanto reprimidos da mãe, corria da resigna- que já não podia estudar. Pulava de es- ção, da sensação de impotência. Até que cola em escola, mas a nova corrida-co- um dia correu, com a mãe, do barracão. lheita sempre começava antes do fim do Correu com a mágoa e os olhos roxos; ano letivo. De obstáculo em obstáculo, correu de medo e de desgosto. Correu corria ao longo da vida. Corriam-lhe as fugido para dentro do Brasil. Aos dez, lágrimas enquanto lembrava do passo já corria pelas estradas de terra verme- anterior e pensava no passo seguinte. lha, entre uma lavoura e outra, corria Corriam sempre seguidas de um meio boia-fria. Da colheita de café à de cana- sorriso. Seguiam lhe perguntando o que CULTURA E ARTE FOTOS: André Motta/Brasil2016.gov.br FOTOS:

ele queria fazer da vida, mas sua respos- derramado. Em São Paulo, correu para primeira vez na vida, correu de amor. ta sempre era seguir correndo, que ou- pegar o ônibus e chegar a tempo à entre- Correu, por ela, sua primeira marato- tra opção tinha? Adolescente, correu do vista de emprego. Conseguiu, e aí come- na da vida. Correu para mudar de vida. pai da primeira namorada. E continuou çou a correr gari, atrás do caminhão de Correu sob pressão, por autocomisera- correndo até o dia em que teve dinheiro lixo. Um dia, conheceu a menina. Ela era ção, para não ouvir um não. Vencendo, o para comprar o primeiro tênis, um nike tão corredora quanto ele, só que sem o menino correu homem até a igreja e de já muito usado do filho de um fazendei- dom da velocidade e do fôlego. Correu lá saiu com ela, com quem correria até ro da região. O menino continuou cor- para pedir sua mão, mas ela disse que o fim. Logo vieram os frutos, os corre- rendo, mas agora sem tantas bolhas e ca- sem dinheiro não tinha união que duras- dores filhotes. Aí o menino-homem teve los, corria sem mais sentir tanto do chão. se. Correu para casa de coração partido, que correr ainda mais para sustentar a Correu tanto que cresceu. Homem, cor- correu de desilusão, correu da desilusão. família. Morando no subúrbio, o meni- reu migrante da vida do interior. Correu Correu até a rodoviária quando viu o no-homem passou a correr às voltas do da mesmice e da falta de perspectivas. anúncio nos jornais: corrida em cidade- campo de futebol local das 9h às 12h; Correu da infância conturbada. Correu zinha próxima pagando cem mil reais. depois do almoço, descansava até às 17h o sangue, correu a água, correu o leite Era sua chance de casar com ela. Pela e corria atrás da coleta noite adentro. 117

Nos finais de semana, corria nas maratonas do interior, não atrás de medalhas, mas de prêmio, das opor- tunidades. Correu tanto, que um dia a oportunidade correu até ele. Veio na forma de um professor de educa- ção física, vizinho, que, após obser- vá-lo por meses, se ofereceu para ser seu treinador. Com ele, o meni- no-homem correu atrás da forma física ideal, do condicionamento, da preparação psicológica e dos patro- cinadores. Começou, então, a cor- rer em maratonas de rua por toda FOTO: André Motta/Brasil2016.gov.br parte. Destacou-se na São Silvestre, saiu no jornal, ganhou tênis novo e mais patrocinador. Correu corredor pelas ruas o Brasil. Correu corre- dor das ruas às pistas de atletismo. E agora parecia que passara a vida correndo atrás desse momento. Correndo com os pés tanto quanto com o coração desde o nascimen- to. Correndo da dor e da miséria, das frustrações, das tentações. Cor- rendo pela mãe, pela mulher, pelos filhos. Correndo por todo o Brasil. Agora já sabia o que ia fazer quan- do crescer. Agora não corria mais de, corria para. Não corria atrás de, mas em direção à. Não corria mais FOTO: André Motta/Brasil2016.gov.br só para sobreviver, corria para emo- cionar, corria para superar, corria e parecia que, finalmente, estava prestes a chegar. Correria mesmo depois da chegada. Correria até a próxima largada. Corria para en- cher a família de orgulho. Corria NOTA: para encher o brasileiro de orgulho. Conto baseado na história Corria. — J de vida de vários corredores brasileiros que se destacaram tan- to em maratonas de rua como nas pis- FOTO: Divulgação tas de atletismo do Brasil e do mundo. CULTURA E ARTE

FUTEBOL E NOVELA: A TEMÁTICA ESPORTIVA NA TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA

AS PRODUÇÕES LADO A LADO E AVENIDA BRASIL DEMONSTRAM O PODER DA COMBINAÇÃO ENTRE DOIS TRADICIONAIS INSTRUMENTOS DE PROJEÇÃO DA IMAGEM NACIONAL

Júlia Vita de Almeida FOTO : TV Globo

Personagem Tufão, de Avenida Brasil. 119

Um casamento interessante. De e Isabel (Camila Pitanga), mulher negra Zé Maria, conhecido como Zé Navalha um lado, o esporte, que há décadas im- e filha de ex-escravos. As duas jovens, (Lázaro Ramos), noivo de Isabel e tam- prime um caráter especial à imagem que têm em comum uma inteligência bém filho de ex-escravos. Assim como do Brasil no exterior. De outro, a tele- aguda e uma consciência precisa de o clássico Forrest Gump, o jovem auxi- novela, que, também há décadas, ex- classe, lutam por autonomia e espaço liar de barbeiro vive, no Rio de Janeiro, porta costumes e tradições brasileiras na sociedade carioca do início do século diversos momentos históricos de seu para todos os continentes – até para os XX. A trama aborda, ao mesmo tempo, tempo, como o “bota abaixo” dos cor- rincões mais improváveis do mundo. a dificuldade das mulheres e dos negros tiços, no contexto da Reforma Pereira A temática esportiva já tangenciou ou para se afirmarem na nova República, Passos; a ocupação do Morro da Provi- dominou enredos de nossa teledrama- que emergia de um passado machista, dência; a Revolta da Vacina; e a Revolta turgia no passado, o que não surpreen- excludente e escravocrata. da Chibata. Ao mesmo tempo em que de, afinal seria difícil retratar a socie- A temática do esporte aparece em sua noiva, Isabel, protagoniza o surgi- dade brasileira com alguma fidelidade Lado a Lado por meio do personagem mento do samba no Brasil, Zé Maria vi- sem mencionar uma das grandes pai- xões nacionais. Mas 2012 foi o ano em que esse casamento superou expecta- Se Lado a lado ganhou o prêmio de melhor novela do tivas e trouxe ganhos importantes de soft power para o Brasil. mundo, Avenida Brasil pode vangloriar-se por ter sido Em 2012, foram transmitidas, pela Rede Globo, duas telenovelas campeãs. a novela brasileira mais vendida no exterior até o Uma, Lado a Lado, no horário das seis; outra, Avenida Brasil, no horário das presente – chegou a mais de 130 países. nove. Ambas concorreram ao Emmy Internacional de 2013, uma espécie de Oscar da TV mundial. Se Lado a lado ganhou o prêmio de melhor novela do mundo, Avenida Brasil pode vangloriar- se por ter sido a novela brasileira mais vendida no exterior até o presente – chegou a mais de 130 países. A trama principal de Lado a lado gira em torno da amizade entre Laura (Mar- jorie Estiano), mulher branca e filha de ex-barões do café saudosos do Império,

TELENOVELA E DIPLOMACIA

A categoria “Melhor Telenovela” do Emmy Internacional foi criada em 2008. Desde então, o Brasil tem-se destacado com o maior número de nomeações e de pre- miações. Venceu em 2009, com Caminho das Índias; em 2012, com O Astro; em Lázaro Ramos interpreta o 2013, com Lado a Lado; em 2014, com Joia personagem Zé Maria em Lado a lado.

Rara; em 2015, com Império; e em 2016, FOTO : TV Globo com Verdades Secretas. CULTURA E ARTE

ESPORTE E NOVELA vencia a introdução do futebol e a luta A temática esportiva já apareceu em outras telenovelas de sucesso, como: pela descriminalização da capoeira em território nacional.  Véu de noiva, de Janete Clair (1969): primeira novela urbana da TV Globo, marcou a apos- A novela retrata, de maneira fidedig- ta da emissora em uma teledramaturgia moderna, mais próxima da realidade brasilei- ra. Um dos personagens principais da trama, Marcelo Montserrat (Cláudio Marzo), era na, o futebol e a capoeira como expres- um piloto de Fórmula 1 inspirado em Emmerson Fittipaldi, que já despontava nas pistas sões culturais que refletem conflitos so- de todo o mundo e se tornaria, em 1972, o piloto mais jovem a conquistar um título na ciais profundos de nossa História. Essa categoria. O piloto escocês Jackie Stewart, de passagem pelo Brasil na época, gravou perspectiva é interessante e inédita na uma participação especial na novela. teledramaturgia brasileira. A riqueza da  Vereda Tropical, de Carlos Lombardi (1984): Luca (Mário Gomes), um dos personagens pesquisa historiográfica que embasou a principais, é um jogador de futebol querido por todos e de temperamento estourado, trama, bem como a ousadia na escolha de que vive perambulando, sem sucesso, por times paulistas da segunda divisão. No último uma trilha sonora moderna (com Mar- capítulo da novela, finalmente, Luca estreia no Corinthians, marcando um gol contra o celo D2 para as cenas de futebol e Nação Vasco, no estádio do Morumbi, em São Paulo. A memorável cena foi gravada em dois Zumbi para as cenas de capoeira) resulta- dias. No primeiro dia, Mário Gomes gravou-a no treinamento do Corinthians e contra- ram em episódios fortes e emocionantes cenou com os craques Walter Casagrande e . No segundo dia, para dar envolvendo a temática esportiva. veracidade ao episódio, foram gravadas imagens da partida entre Corinthians e Vasco É do conhecimento popular que o pelo Campeonato Brasileiro. Depois que o Vasco empatou o placar, a torcida do Corin- futebol foi introduzido no Brasil, em thians passou a clamar pela entrada de um reforço no time, o craque fictício Luca. A meados dos anos 1890, por ingleses ex- cena emocionou o país. A novela foi exportada para Angola, Bolívia, Chile, Guatemala, patriados (embora haja registros de que Nicarágua, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.  A vida da gente, de Lícia Manzo (2011): a protagonista Ana (Fernanda Vasconcellos) é o esporte tenha sido praticado no Brasil uma tenista promissora que garante o sustento da família por meio de contratos pu- anteriormente). Também se sabe que a blicitários. O primeiro capítulo da novela contou com a participação especial do tenista prática profissional do esporte era restri- Gustavo Kuerten, que faz uma declaração do bom desempenho de Ana em quadra. A ta às elites brancas e que a maior parte dos página de A vida da gente na Internet contava com jogo no qual o internauta/telespec- clubes tinha estrangeiros como fundado- tador poderia disputar uma partida de tênis com a protagonista Ana. res. Essas características, por si só, já nos dão uma dimensão da tensão latente que envolveu o futebol, em seus primórdios, no Brasil. No entanto, assistir à represen- tação desse fato histórico na TV, sendo vivenciado pelos personagens da trama, é uma experiência completamente distin- ta. Mais do que um efeito didático, o for- te apelo emocional da transmissão tem o efeito de sensibilizar o telespectador para questões que não necessariamente fazem parte de seu repertório cultural ou coin- cidem com sua postura política. Há uma cena de Lado a Lado em que podemos captar claramente a força e o poder desse apelo da dramaturgia. Mais uma vez, o personagem Zé Maria, nosso Forest Gump, vivencia um episódio his- FOTO : TV Globo tórico: o do pó de arroz, que deu origem ao apelido pejorativo da torcida do Flu- minense. Carlos Alberto Fonseca Neto, Klebber Toledo, Rafael Cardoso, Caio Blat e Daniel Dalcin em Lado a lado. 121

ex-jogador do America e recém-admiti- do no Fluminense, era afrodescendente e tinha por hábito usar pó de arroz no rosto para disfarçar sua cor durante as partidas. Ciente desse fato, a torcida do America, ao enfrentar, pela primeira vez, o Fluminense, em 1914, entoou o grito “pó de arroz” quando este entrou em campo, em alusão ao novo integrante do time. Esse episódio da História passou por releitura interessante na telenovela. Um parceiro de Zé Maria, ex-marinheiro, negro e craque de bola, foi convidado para entrar em um time, com a condição FOTO : TV Globo de que jogasse com pó de arroz. Embora tenha sido o artilheiro da partida, o novo Jun Murakami e Lázaro Ramos integrante foi severamente humilhado em Lado a lado. quando a maquiagem começou a der- reter. Inconformado com o sofrimento do amigo, Zé Maria invadiu o gramado e exigiu que o jogador acabasse com a far- Concerto Avenida, o até então invencível les que ainda batalham pra sobreviver sa e honrasse a sua cor. Miaco, professor japonez [sic] da luta jiu- num país cheio de preconceito. Só que Cenas desse estilo foram produzidas jitsu. Cyriaco, natural de bom gênio, mas não adianta proibir, nem prender, porque para retratar, também, a capoeira. Proibi- destro e conhecedor de capoeiragem [sic] capoeira não é coisa de marginal, é coisa da pelo Código Penal de 1890, a capoeira como poucos quis repetir a dose, no que não de brasileiro! Para jogar capoeira tem que resistiu à Primeira República, até ser lega- consentiu o japonez vencido”. ter ritmo, força e coragem, mas principal- lizada durante o Governo Vargas e, final- Na trama, Zé Maria, que já havia mente, reconhecida como esporte nacio- trabalhado como marinheiro, fica in- nal, genuinamente brasileiro. Zé Maria, na conformado ao saber que a Marinha re- TELENOVELA E DIPLOMACIA trama, é um “capoeira” convicto e pacífico. correu a um lutador japonês para o trei- A telenovela é um veículo estratégico de Preso no início da novela por ter usado a namento de defesa pessoal – “por que o difusão da cultura brasileira, pois além de capoeira para enfrentar policiais em resis- jiu-jitsu e não a capoeira que já temos ter um alcance considerável, não deman- tência ao “bota abaixo” de Pereira Passos, aqui?”. Depois de assistir, no pavilhão, da, praticamente, nenhum recurso do Zé não desiste de defender e de praticar o o mestre oriental derrubar alguns vo- governo. A estrutura de Postos do Minis- esporte no decorrer da novela. luntários, Zé aceita o desafio e sobe no tério das Relações Exteriores oferece, na Outra cena marcante reproduz, mais ringue. Com um rabo-de-arraia (golpe medida de suas possibilidades orçamen- uma vez, um episódio de nossa História. usado pelo mestre Cyríaco em 1909), tárias, apoio cabível quando telenovelas Em 1909, Francisco da Silva Cyríaco, o vence a luta e discursa em seguida: são gravadas no exterior. O retorno para maior mestre de capoeira da época, de- “Meu nome é Zé Navalha, senhor. o país que hospeda a gravação normal- safiou no ringue o campeão e professor Nascido José Maria dos Santos e cria- mente materializa-se quase imediata- de jiu-jitsu contratado pela Marinha bra- do numa roda de capoeira que, como mente com o aumento do fluxo de turis- sileira, Sada Miako. A luta foi aprovada e todos aqui devem saber, é proibida no tas brasileiros. Exemplos marcantes são presenciada por autoridades civis e mili- Brasil. Jiu-Jitsu, greco-romana, luta li- os casos do Marrocos (em decorrência tares. Conforme registrado pela Revista da vre, tudo vale aqui nesse ringue, nesse de O Clone, exibida entre 2001 e 2002), da Índia (Caminho das Índias, 2009) e da Semana, em 30 de maio de 1909, “Cyriaco país, menos a capoeira! Porque é luta Turquia (Salve Jorge, 2012). venceu em poucos minutos, no tablado do que veio dos escravos, e dos filhos de- CULTURA E ARTE

mente, orgulho. Eu tenho orgulho de ser capoeira, de ser negro, de ser brasileiro!” TELENOVELA E DIPLOMACIA Primeira novela de autoria do jorna- O extraordinário êxito de Avenida Brasil em São Tomé e Príncipe, assim como em Havana, foi lista João Ximenes Braga e da escritora registrado em telegramas que chegaram à Secretaria de Estado entre 2012 e 2014. O Instituto Claudia Lage, Lado a Lado não apenas Cubano de Rádio e Televisão (ICRT) solicitou, inclusive, apoio do governo brasileiro para viabi- conquistou o título de melhor novela do lizar participação de artista da novela na Convenção Anual de Rádio e Televisão Cuba 2014. O mundo, como também recebeu o Prêmio mesmo apoio foi solicitado pela direção do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-A- Camélia Liberdade 2013, na categoria mericano em convite à Adriana Esteves para participar como jurada do festival. “Veículo de Comunicação”, do Centro de Articulação de Populações Marginaliza- das (CEAP). A novela foi aclamada por incentivar os telespectadores a refleti- (Adriana Esteves), por tê-la abandona- res do time do bairro frequentam o Bar rem sobre a condição atual dos negros no do no lixão depois da morte de seu pai. do Silas (Ailton Graça), ponto de encon- Brasil. A reconhecida qualidade da trama Sem reconhecer em Nina a pequena tro dos moradores do Divino. não teve, infelizmente, contrapartida na Rita (seu verdadeiro nome) do passado, É justamente por esse envolvimento audiência. A média de Ibope girou em Carminha a contrata como empregada com a comunidade que muitos críticos torno dos 18 pontos, a menor já registrada na mansão que divide com sua nova fa- consideram o Divino Futebol Clube como na faixa. A baixa audiência não impediu, mília, fruto da união com Jorge Tufão o maior protagonista da trama, acima de entretanto, que a telenovela trouxesse (Murilo Benício). Tufão, Carminha e Nina. Em Avenida ganhos para a imagem do Brasil, como Aqui, a temática esportiva aparece Brasil, o deslocamento inovador do ce- atesta a conquista do prêmio mais impor- novamente, mas, como no caso de Lado nário tradicional da teledramaturgia na- tante da TV mundial. a Lado, em abordagem pouco explorada cional (da Zona Sul para a Zona Norte do A novela Avenida Brasil, por outro pela teledramaturgia brasileira: Avenida Rio) tem relação direta com a escolha de lado, embora não tenha vencido o Emmy Brasil demonstra o impacto do esporte retratar um clube de subúrbio, de terceira nem superado recordes de audiência, teve na vida do subúrbio. O futebol, no bairro divisão, em vez do lugar comum do fute- impacto memorável na história da emis- do Divino, é núcleo de uma série de re- bol das massas, dos grandes clubes. Com sora. Além de ter obtido grande sucesso lações sociais que conferem à novela um isso, a novela conseguiu, com boa dose de internacional, com a venda de direitos de perfil inovador. humor, se aproximar dos telespectadores exibição para 132 países e a atenção da mí- Tufão, artilheiro do Flamengo no e demonstrar que o futebol tem impacto dia estrangeira à comoção nacional com o campeonato carioca de 1999, iniciou nos costumes dos brasileiros para além último capítulo, Avenida Brasil gerou iné- sua carreira no Divino Futebol Clube. O da rivalidade Fla x Flu/Corinthians x dita repercussão nas redes sociais, onde os dinheiro e a fama conquistados pelo fu- Palmeiras; das fofocas dos tabloides que telespectadores comentavam, em tempo tebol, no entanto, pouco impactaram no acompanham a fama de Neymar e Ronal- real, cenas da novela. estilo de vida do personagem. Depois de dinho; ou do orgulho que todos sentimos As causas da repercussão da obra de ficar rico, Tufão construiu sua mansão pela seleção nacional. João Emanuel Carneiro foram investi- no Divino, onde desfruta de uma vida Nesse sentido, Tufão, apesar de re- gadas por críticos, acadêmicos, até psi- em família, perto dos amigos. Seu filho presentar o típico jogador de futebol quiatras. Uma das explicações possíveis Jorginho (Cauã Raymond) sonha em brasileiro, não corresponde, integral- é o fato de a novela ter retratado a vida conquistar o mesmo sucesso que o pai, mente, ao estereótipo. Sim, é um homem da nova classe C brasileira. O tradicio- mas não sai do banco de reserva do Divi- de origem humilde que conquista fama nal cenário da Zona Sul carioca des- no. Treina, no clube, com outros perso- e dinheiro por meio do futebol e ascen- locou-se, em Avenida Brasil, para um nagens: Iran (Bruno Gissoni), Roni (Da- de como novo rico. No entanto, prefere bairro fictício na Zona Norte do Rio, o niel Rocha) e Leandro (Thiago Martins). manter um estilo de vida simples, em Divino. A trama principal da novela se Também é no clube onde são realizados seu bairro de origem, e busca certa sofis- desenrola nesse bairro: Nina (Débora os bailes de charme, que reúnem grande ticação cultural, ao contratar Nina como Falabella) executa seu plano de vin- parte do elenco, inclusive a maria-chu- chefe de cozinha e ler clássicos como gança contra sua madrasta Carminha teira Suelen (Isis Valverde). Os jogado- Flaubert. Apesar de ter casado com a pe- 123

rua Carminha, nunca esqueceu sua ex-noi- va Monalisa (Heloísa Périssé) – cabeleirei- ra honesta dos seus tempos pré-fama – e se sentiu, em determinado momento, atraído e encantado por Nina. Ainda dentro da temática esportiva, a novela estimula os telespectadores a refle- tirem sobre uma questão tabu, a homofobia no mundo do futebol. A homossexualidade do personagem Roni é percebida como um obstáculo ao sucesso de sua carreira, a pon- to de seu pai, Diógenes (Otávio Augusto), pressioná-lo para casar com uma mulher e, com isso, aumentar sua chance de ser con- tratado por um grande clube. Roni, então, mergulha em um casamento de conveni- ência com a maria-chuteira Suelen. A far- sa não funciona muito bem, já que os dois eram apaixonados por Leandro e decidem viver um casamento aberto a três. Roni não consegue ser contratado pelo Flamengo, que escolhe Leandro em seu lugar. FOTO : TV Globo O último capítulo de Avenida Brasil pode ser considerado uma metáfora da fi- nal de um campeonato de futebol. A novela Personagens Iran e Jorginho, jogadores do Divino Futebol termina com a cena de uma partida em que Clube. o Divino, finalmente, consegue um lugar na primeira divisão, depois que Adauto (Ju- liano Cazarré) acerta um pênalti redentor (o personagem havia perdido um pênalti decisivo para o time anos atrás). Não é por

FUTEBOL E NOVELA

A novela Irmãos Coragem (de Janete Clair, 1970), pioneira na construção de um astro de futebol fictício – o personagem Duda (Claudio Marzo), craque do Flamengo –, estreou uma semana depois da abertura da Copa do Mundo de 1970, no México. Em episódio exibido um dia depois que o Brasil venceu a Itália e se tornou tricam- peão, a telenovela obteve mais audiência que a final do mundial.Irmãos Corage foi FOTO : TV Globo primeira telenovela brasileira a atrair o público masculino.

Sede do Divino Futebol Clube. CULTURA E ARTE

TELENOVELA E DIPLOMACIA

Exemplo do poder de difusão cultural da telenovela brasileira é o sucesso da transmissão de Escrava Isaura na China dos anos 1980. A esse respeito, comentou o Presidente Xi Jinping ao Congresso Nacional durante visita de estado em julho de 2014: “Na década de 80 do século passado, a telenovela brasileira A Escrava Isaura enfeitiçava a China inteira, a procura de liberdade e amor da protagonista tocou o coração de milhões de espectadores chineses”. Na época, Lucélia Santos, que interpretou Isaura, foi a primeira atriz estrangeira a ganhar o Águia de Ouro, maior prêmio da televisão chinesa. Escrava Isaura, no final de 1985, já havia sido vendida a 27 países – hoje, ocupa o quarto lugar no ranking das novelas brasileiras mais vendidas no exterior, tendo chegado a 104 países. Telenovelas brasileiras não voltaram às telas da China antes de 2012, quando a emissora estatal CCTV exibiu a minissérie A casa das sete mulheres.

essa cena, porém, que o último capítulo se encaixa na metáfora: foi pelo impac- to que gerou nos brasileiros. Como em uma final de Copa do Mundo, avenidas do Brasil inteiro ficaram vazias no horá- rio da transmissão, homens e mulheres foram aos bares assistir à final, bolões foram apostados nos escritórios e gritos foram ouvidos das janelas. O episódio alcançou a melhor audi- ência da emissora no ano, ultrapassando, inclusive, o pico da final da Libertadores (disputada, em 2012, entre Corinthians e Boca Juniors). Curiosamente, a Argen- tina também parou para ver a final da novela. Seis mil argentinos reuniram- se no Luna Park, em Buenos Aires, para assistir ao episódio ao lado dos atores Cauã Reymond, Débora Falabella, Mar- cos Caruso, Vera Holtz e Alexandre Bor- ges, que compareceram ao evento para representar o elenco da trama. Nessa noite, brasileiros e argentinos torceram pelo mesmo time. Tamanha mobilização é evidência, mesmo para os mais céticos, do poder da telenovela como produção ficcional e como instrumento de projeção da imagem nacional. A temática esportiva, relativa- mente pouco explorada pela teledrama- turgia brasileira, demonstrou seu poten- FOTO : TV Globo cial “em 2012” e certamente continuará a inspirar outras produções no futuro. — J Murilo Benício interpreta o craque Tufão. Sportletter and from International the editors Politics Sport and International Politics 125 ENGLISH VERSION

you will read pieces on subjects as varied as Letter from the Editors cricket diplomacy; the relationship between Sport and International Politics popular music and sport; the dichotomy of co- operation and conflict in capoeira; the history of major sporting events told in the telegrams Letter from from Itamaraty; and a sport created by a best- Theater of war selling book. We hope this diversity, unified by the Editors one subject, reflects the heterogeneous per- Portuguese version page 04 sonal interests, formations and tastes of the — Portuguese version page 01 nineteen diplomats who are part of our class. Adriano Giacomet Higa de Aguiar — We should also mention the publication of In history and in the theory of interna- an article written by students from the Argen- In the orient this very war flared up Whose tional relations, it is common to see the use of tinian diplomatic academy (Instituto del Ser- amphitheater today is the earth entire. expressions lifted from sports: “Great Game”, vicio Exterior de la Nación – ISEN) about the (Chess – Jorge Luis Borges) arena, board, players. Much is also said about BRICS grouping (Brazil, Russia, India, China Modern Chess is an idealized metaphor for the relationships of rivalry and cooperation, and South Africa) and the organization of large war: the sovereign king engaging in the battle- ideas as familiar to operators and analysts of sporting events. We are grateful to have the op- field, the armies clearly identified by the color foreign policy as to coaches and athletes of portunity to return the invitation extended to contrast, the power symmetry and the com- several sports. us when we collaborated on an article on the pliance to the laws of war. The game, howev- This edition of JUCA magazine tries to ISEN blog (SUR) with an analysis about Mer- er, is much older than the monarchies that it make explicit the connections between di- cosur (read more at: http://blog.isen.gov.ar/es/ embodies today. The king was not always slow; plomacy, humanities, international relations integracion-regional/una-america-del-sur-in- the queen was not as influential. The horse and sport suggested by these semantic coin- tegrada-desafios-rumbo-al-desarrollo). By once was an elephant, the rook a boat and the cidences. We have as immediate pretext the strengthening our ties with our rivals in the bishop has not always been an ecclesiastical recent and successful accomplishment – with football pitch and our partners in areas such icon: it once was a minister of foreign affairs, a the important participation of the Ministry of as nuclear energy and regional integration, we messenger and a court jester. Foreign Affairs – of the Rio 2016 Olympic and believe we have also engaged in diplomacy. The constant metamorphosis of chess piec- Paralympic Games, which were the culminat- If we are allowed to use one or two sports es and their movements throughout history is ing moment of the so-called “Decade of Sport”, metaphors, to participate in the game of JUCA, testimony to the political and cultural expres- which also included the Pan American Games as a team and in a friendly atmosphere, was sion of the game. The pieces of the game grew (2007), The World Military Games (2011), the one of the most interesting experiences of our into totems that represented mythological and Confederations Cup (2013), the FIFA World two and a half years at the Brazilian Foreign foundational wars of different civilizations. Cup (2014) and the World Indigenous Games Service. May the reader - or the viewers - enjoy The chessboard, in its regional variations, (2015). the game we enjoy playing so much. — J portrayed Viking expeditions, the Persian con- Beyond the journalistic hook offered by the quest, the Islamic expansion of northern Africa “Decade of Sport”, there is a deeper message, and conflicts in ancient China. Not anymore. which is the perennial interest that sports, and Although the standardization of the game especially (but not only) soccer, awakens in the in recognizable patterns worldwide gave more society that we are a part of and represent as consistency and regularity to the game in the diplomats. Hoping to take into account the last few centuries, it also froze the war in only many facets of this theme, JUCA turned away one continent, in a single battle array: the for the first time from its format of a special rook, the horses, the bishops, the queen and report followed by articles on a wide range the king behind a line of eight pawns. If, on of subjects – which has brought excellent re- the one hand, one of the traits of the game was sults – to become a magazine where all articles lost, namely its ability to illustrate local politi- share a common subject. cal and military dynamics; on the other hand, Conscious of the dangers related to ex- the introduction of a common set of rules al- hausting the sporting-diplomatic-internation- lowed the game’s universalization. Chess pro- alist line, the class of 2014-2015 strove not to gressively began to resemble less sculptures sound monothematic. In the pages that follow, that depicted different societies, with political Sport and International Politics

actors chiseled to represent distinct social ar- poleon: “no false move should ever be made to Fischer agreed to play by Teletype. He want- rangements, and bit by bit became a vernacular extricate yourself out of a difficulty, or to gain ed to play the tournament that could confirm language, by which one may appreciate cre- an advantage (…) there can be no pleasure in his superiority, even if that meant playing from ativity, sensibility and technique in the move- playing with a person once detected in such three hundred kilometers away. ments of the chess pieces. The meaning of the unfair practice”. The lessons from the book When Bobby was informed that Fidel Cas- game was no longer attached to its local signif- were to no avail. Benjamin Franklin was also tro announced his participation as a political icance, culturally determined by the reality it beaten by the machine. victory, the North American champion hastily portrays as an image, and gained global mean- These two different approaches, which sent a communication protesting the political ing in its abstraction and practice. amplified to reality would transform the world treatment given to the sport. Fischer stated for centuries, had in chess a casual and unfor- that he would only participate in the tourna- “I am sorry Frank. I think you missed it.” tunate debut. The hoax prevailed over the Pu- ment with Fidel Castro’s assurance that no (Hal 9000, 2001 – A space odyssey) ritan and the agitator. political gains would be exploited out of his The new role of chess as an interpreter of participation in the tourney. creativity and logic first manifested itself as “It’s only the Red King snoring’, Fidel, in his response, put Bobby in Zugz- an elaborate fraud. “The Turk”, an automa- said Tweedledee” (Through the Looking- wang, chess jargon that expresses the impos- ton created in the 18th century, was a machine Glass, Lewis Carrol) sibility of making a move that does not worsen allegedly capable of thinking. This antrho- When chess became a universal symbol, the one’s position in the game. pomorphic machine, embellished with a tur- game that mimics war was transformed by poli- “Our land needs no such ‘propaganda victo- ban and a long moustache, demonstrated its tics into propaganda. The singularity of the chess ries’. It is your personal affair whether you will purported cognitive ability by playing chess genius gradually grew into a narrative of national take part in the tournament or not. (…) If you through a complex system of wires and pul- exceptionalism. The Soviets, which dominated are frightened and repent your previous deci- leys. Conducted, in reality, by a contorted play- world championships for decades, did not take sion, then it would be better to find another ex- er that squeezed himself inside the Turk’s ma- long to present their rule over the sport as a nat- cuse or to have the courage to remain honest” chinery, the automaton bewildered audiences ural extension of the superiority of Communism. If Bobby retreated, he would be branded from over a dozen countries both in Europe Each victory of Soviet players seemed to ratify as a coward; if he played, he would be subser- and in America. Milan, Havana, Munich, Bos- the impending triumph of the system. vient to Fidel’s scolding. Expecting to redeem ton, all bore witness to what was, until then, Amidst the celebration of another Soviet himself with a grand victory, he chose to play the smartest – albeit fabricated – facet of the victory at the World Chess Championship, the the tournament. He achieved a disappointing nascent industrial revolution. Pravda newspaper proclaimed the feat as a tri- second place. Two of the most preeminent names in mod- umph of Marxist-Leninist thought. Che Gue- Bobby’s revenge came six years later, when ern politics have dueled against the “machine”. vara, an enthusiast of the sport, talked of the he played Spasky, the greatest Soviet player in Napoleon Bonaparte challenged the Turk and, chess as a power indicator: “countries that have those days, for the world title. Known as the not unlike what he was used to do in the battle- great chess teams are ahead of the world in “game of the century”, less for what it repre- field, he tried to deceive the opponent by moving other even more important fields”. Propagan- sented in terms of chess novelty and more for the queen as if it was a knight. The player that da was not, nevertheless, a soviet peculiarity. what it represented politically, the match mobi- controlled the automaton, protected by the ano- Bobby Fischer, the greatest player of lized an audience comparable only to the moon nymity of the illusion, violently knocked down all United States’ history and chess sensa- landing. The North American victory was the chess pieces from the board. The Turk would tion during the 1960’s and 1970’s, may have hailed as one of the most significant symbolic not accept the guile of the French politician. A been the player who most intensely experi- feats of the United States during the Cold War. flabberghasted Napoleon reorganized the pieces enced the intersection between the worlds Unfortunately, the match also represented on the board and requested a new match. The of chess and of politics. He was brilliant in the pinnacle of Bobby’s career. A recluse an- revolutionary was easily defeated when the rules one and mediocre in the other. If at the age ti-Semitic critic of the American government, of the game were observed. of 15 years old, he became Grand Master, the paranoid of alleged harassment by the KGB At the other margin of the Atlantic, Ben- highest recognition of his logical and cre- and the Jews, he returned to action only in jamin Franklin, a skilled chess player, also ative brilliancy, at 22 he was defeated by Fi- 1992, precisely against Spasky. Far from being had the opportunity to play against the Turk. del Castro in the field of political propaganda. an attempt to re-enact his moment of glory, He adopted, nonetheless, a different strategy Only four years after the Cuban missile the duel defined his condition as the American in comparison to the French rebel. Instead of crisis, Havana would host one of the most anti-hero. The match took place in Yugoslavia projecting the revolutionary insubordination anticipated chess championships of the year and Fischer’s participation violated sanctions to the chessboard, Franklin, in the book “The and Bobby Fischer, at the apogee of his career, imposed by the United Nations. Prosecuted by Morals of Chess”, recommended a more insti- was forbidden to attend in person due to the the United States Government, Fischer lived his tutionalist tone, to “play strictly by the rules”. restrictions imposed by the USA against the last days in political asylum in Iceland, a coun- In another passage, he seems to admonish Na- Cuban government. After negotiations, Bobby try where he won the world championship. Sport and International Politics 127

“Who in Brazil does not recognize The dynamics of chess, gruesome conflict our great chess ace. Guess who he is? of life and death, does not recognize negotia- Mequinho!” (Super Heroes, Raul Seixas) tion as an element of war. Far from being a po- The third best player of the game during litically sterile domain, however, the game has Ping-Pong the 1970’s was a Brazilian. “Who in Brazil does followed, throughout its existence, numerous not recognize our great chess ace. Guess who ways to represent and to do politics. The sto- Diplomacy far he is? Mequinho!” sang Raul Seixas, in the song rytelling made possible by the changes in the Super Heroes, in reference to Henrique Meck- chess pieces throughout history, the consoli- beyond “soft ing, the best Brazilian player of all times. Child dation of an international pattern of the game, prodigy like Fischer, the Brazilian champ, be- the attempts to link strength in chess to nation- power” sides being paraded down the streets of Rio de al progress and the creation of national heroes Janeiro and being received by Mangueira sam- associated with the sport indicate that politics, Portuguese version page 10 ba school in the airport, he was sponsored by chess and diplomacy are no strangers. — J — the Brazilian military regime and took part in Clarissa de Souza Carvalho very popular TV shows. In one of these shows, he impersonated an enraged lightweight, Brazil is the nation of soccer, but who has threateningly stared to the camera and defied never tested their skills at a ping-pong match? the North-American Grand Master: “Bobby At school, at the neighborhood sports club or Fischer, I will be the next world champion, I at the leisure area of a hotel, the ping-pong challenge you to face me wherever you want!”. table is a fixture of Brazilian life. More than a The challenge was never carried out, but leisurely holiday game, though, table tennis is both players faced each other in more than also a widely practiced sport, having become a one opportunity. Fischer won the first and Paralympic sport in 1960 and an Olympic sport tied, with some luck, the second. “Defeat that in 1988. When you think about the connection would not harm Fischer’s reputation”, stated between sports and international politics, it Mequinho, for whom his victory was some- is hard to think of a more emblematic exam- thing natural, unavoidable even. For Bobby ple: Ping-Pong Diplomacy, as was named the Fischer, the Brazilian was a loudmouth. rapprochement between the United States of The rare phenomenon of chess brilliance, America and People’s Republic of China (PRC) especially in a country without any tradition in in the 1970s, continues to be considered the the sport, occurred at a very peculiar moment classic case study on the use of sport as an in- in Brazilian military regime. Mequinho, impos- strument of foreign policy. sible genius, promptly became one of the three Part of the history of international rela- names of Brazilian sport scene, alongside Pelé tions in the 20th century can be told through and Fittipaldi – and certainly the most unusual the history of ping-pong. The United Kingdom and the one that best represented the unlikeli- was greatly responsible for the international- ness of the Brazilian ascension to the rank of ization of the sport, due to the prominence of great powers in those days. “We will be cham- Ivor Montagu, nephew of the English banker pions from head to toes” stated Médici, Bra- that came to Brazil to verify the country´s sol- zilian President from 1969 to 1974, in a speech vency in the 1920s. The fall of the British Em- that highlighted the country’s achievements. pire, however, aggravated by two World Wars, We won the 1970 World Cup with the toes of led to a transition from European dominance Pelé, but a serious illness precluded Mequin- at table tennis to the rise of countries that were ho’s brain to fulfil its manifest destiny. Distant at the fringes of the international system: Ja- from chessboards for the last three decades, he pan and China. Differently from other Cold has made a comeback and declared he intends War “games”, neither the USA nor the Soviet to be among the best in the world. Union dealt the cards when it came to ping- pong, such was the preeminence of Japanese “Chess is about total victory. The purpose and Chinese players at world championships of the game is checkmate: to put the at the time. opposing king into a position where he The origin of the game, which received cannot move without being destroyed.” many names before the onomatopoeic word (On China, Henry Kissinger) “ping-pong” in 1901, can be traced back to the Sport and International Politics

moments of R&R of the British army in Asia. At the ITTF put all his effort into bringing the PRC men, become champions in 1961, beating their the turn of the 20th century, the game, elevat- to the table tennis federation. In his opinion, own teammates in the finals. The victors bare- ed to the level of a sport, was already dissemi- ping-pong would contribute to the internation- ly had time to celebrate before the government nated in many countries, to the point at where al acceptance of communist countries and also sent them as “player-diplomats” in a journey the first European championship, organized to spread their ideology. Montagu exchanged through Africa and the Middle East. by Ivor Montagu in 1926, received over ten letters with the newly created National Sports In Tunisia, one of the players ended up in thousand spectators. Until World War II, the Commission, published flyers about the sport- jail, for promoting not only ping-pong, but also stars of the sport were players from Central ing relation between East and West and rejected Maoist ideology. The incident led to the inter- Europe, mainly Jews, who started to register successive Taiwanese applications to the ITTF ruption of diplomatic relations between China themselves at competitions using aliases when so as to please Mao Zedong and Zhou Enlai, the and Tunisia, exactly the opposite effect that anti-Semite persecution heightened. Never- Chairman of the Communist Party and the First ping-pong would produce on Sino-American theless, table tennis saved the three time world Premier of the PRC respectively. relations ten years later. championship runner-up Alex Ehrlich from It can be said that with communist Chi- Strictly speaking, Ping Pong Diplomacy is the gas chamber when a Hungarian guard rec- na table tennis truly became a national sport. the name by which the interactions between ognized him. While the Soviet Union invested in Olympic the Chinese and American teams participat- In the 1950s, Japan, a member of the Inter- sports and the Winter Olympics, the PRC, ing in the World Table Tennis Championship national Table Tennis Federation (ITTF) since which had left FIFA and the International held in Nagoya, in 1971. It was the first time 1929, would replace the Europeans at the lead- Olympic Committee, sought out ping-pong that a PRC’s team competed abroad since the ership of the world championships. In 1952, the as a symbol of strength capable of uniting the beginning of the Cultural Revolution. Any victories of Ichiro Ogimura and Shizuka Nar- country during the uncertainties of the Great handshake with a player of the US – the coun- ahura, a Hiroshima survivor, positively con- Leap Forward. Many factors may have contrib- try that embodied “capitalist imperialism” and tributed to the image of the Japanese govern- uted to this choice, starting with the fact that represented the “enemy” in the Vietnam War, ment among Western nations, a process that the word ping-pong could be easily adapted to could be interpreted as counterrevolutionary culminated with Tokyo being chosen to host the ideograms “ping pang”, ping meaning the activity. Regardless of the political and dip- the table tennis world championship in 1956. shot of a canon, and pang the sound of the shot; lomatic instructions in that sense, the fact is China closely observed the role of the sport combined they created the word soldier. The that the American player Glenn Cowan left as a means of improving the international sta- liking for table tennis among many different the training center in Nagoya to make history, tus of its Japanese neighbor. The United King- social groups after 1930 was certainly anoth- when he took the Chinese delegation bus in the dom played a crucial part in the propagation of er reason; it is even said that Mao Zedong and morning of April 5 1971. After a brief moment the sport in China: the first tournaments put Zhou Enlai would face off against each other of embarrassing silence, Cowan addressed a face to face Macau, Canton and the British port ping-pong games. Additionally, there was the few words to the Chinese team about how the of Hong Kong. Table tennis, however, did not rivalry with the Japanese, whose successive American people also fought against oppres- stay limited to western sports club. It rapidly medals represented not only a sporting chal- sion. In return, the Chinese team’s captain became popular among the Red Army during lenge but also a political one to their Chinese Zhuang Zedong gave him with a gift usually the communist revolution. neighbors. The growing politicization of the reserved to foreign dignitaries visiting Chi- With the People’s Republic in place, after sport was seen in the 1956 world champion- na: a painting in silk of Mount Huangshan. In 1949, the British aristocrat turned Soviet spy ship, when China’s victories against the USA the following day, Cowan reciprocated, giving Ivor Montagu1 and the United Nations parted and South Korea were celebrated as national Zhuang a T-shirt bought in a local mall. In ways: while the USA and its allies were fiercely achievements, even though China did not take addition to the American flag and the sym- opposed to the substitution of nationalist China home the gold. bol of peace, the T-shirt portrayed the title for communist China in the UN, the founder of Internationally, it did not take long for of The Beatle’s hit “Let It Be”. In a few days, the PRC to turn ping-pong into a foreign pol- Mao himself gave orders to invite the US team icy instrument. Wanting to host (and win) the to visit China after the competition was over. 1961 championship, during the Great Famine, If the contacts were planned by the PRC large investments were made in infrastructure, or happened by chance, no one knows for sure. 1 Before turning 18, Ivor Montagu was already the found- er and president of the National Ping-Pong Association in logistics and the preparation of the Chinese Differently from the Chinese team, which was the United Kingdom. Besides codifying the rules of the team, which was composed by over a hundred the world champion and a well-known instru- sport and creating the International Ping-Pong Federa- tion (ITTF), Montagu, who was a filmmaker, writer, com- young men and women, coming de many dif- ment of foreign policy for at least a decade, munist militant and would become a soviet spy, saw in the ferent parts of the country. Visits by foreign the American team was formed just before game a political and ideological opportunity to bring to- gether societies from communist and capitalist countries: minister Chen Yi and by Mao himself to the the competition, faced serious difficulties to “I saw in Table Tennis a sport particularly suited to the training center made the team feel cherished finance its trip to Nagoya and figured in the far lower paid (...) I plunged into the game as crusade”. The Sawythling Cup, which still today is given to the winners and in debt to the nation. Qiu Zhonghui, from from honorable position 23 in the ITTF rank- of the team competition at the world cup, received its the women’s team, and Zhuang Zedong, for the ing. Therefore, diplomacy was probably the name after his mother’s last name. Sport and International Politics 129

last of American players’ concerns, until Mao’s macy created a powerful symbol, able to make invitation forced them to consult the US em- the reconfiguration of the world order that bassy in Tokyo. The affirmative answer they China and the US were about to produce more got in return was based on the following sen- acceptable to their national audiences. Final- tence, extracted from a speech that the Ameri- ly, it may not be an exaggeration to affirm can President had delivered to Congress: “The that Ping Pong Diplomacy accelerated this United States is open to educational, cultural process, because, about a month later, Nixon and athletic exchanges with the People’s Re- would follow the footsteps of the American public of China”. This message, which may table tennis team and accepted an invitation seem as innocuous as a standard remark in to Beijing. Not even in his wildest dreams diplomatic protocol, and the subsequent trip could Ivor Montagu imagine the impact that of the American team to Beijing illustrate how ping pong would have on international poli- the diplomatic implications of sports exchang- tics. — J UN Photo/Eskinder Debebe Photo: es can go well beyond the goals of “soft power”. It is interesting to note that, when the To read more: American team sought the advice of the US GRIFFIN, Nicholas. Ping-Pong Diplomacy: the embassy in Tokyo, the Department of State was secret history behind the game that changed not aware of the recent attempts of Richard the world. Secretary-General Ban Ki-moon takes part in a Capoei- Nixon and Henry Kissinger to establish direct KISSINGER, Henry. On China. ra performance during his meeting on 23 February 2016 contact with Mao and Zhou Enlai. For fifteen with children released from armed groups and armed forces in Kitchanga, North Kivu, eastern Democratic Re- years, the diplomatic channels had unsuccess- public of the Congo (DRC). fully been used in an attempt to unblock the re- lations between the US and RPC. The “Warsaw Talks”, as became known the meetings that oc- Cooperation and curred at that period, scrutinized the annoying problems on the bilateral agenda, rather than conflict inside focusing on the geopolitical grand strategy that eventually brought the countries closer at the and outside the appropriate time. Criticizing the deployment of American troops to Cambodia, in the con- capoeira roda text of the Vietnam War, China interrupted the Warsaw Talks in 1970 and paved the way Portuguese version page 16 for the more general and long-term vision that — both Mao Zedong and the White House want- Ernesto Batista Mané Júnior ed to apply to bilateral relations. In addition to the subtle, but noticeable, changes in their of- Brazil is considered by the international ficial rhetoric, illustrated by the sentence “The community as a reliable interlocutor and con- US is open to (...) athletic exchanges with the sensus builder. Indeed, the country has tried to People’s Republic of China”, messages were add value to the process of erecting a more just exchanged through the American and Chinese and balanced international order by leveraging ambassadors to Pakistan and Rumania. exactly on these and other predicates that char- In April 14 1971, the US ping-pong team acterize Brazilian diplomacy. Undoubtedly, the was able to accomplish more than all other way Brazil acts externally is closely related to diplomats and politicians combined. Wel- its national identity, to which capoeira has con- comed at the Great Hall of the People, they tributed in a decisive way. There are therefore listened from the premier Zhou Enlai him- many points of contact between capoeira and self that their visit inaugurated a new chap- diplomacy; to explore them, beyond the wide- ter in the relations between the Chinese and ly disseminated discourse that capoeira is part American peoples. The episode was certainly of the package of assets that underlie the coun- not the cause of the strategic rapprochement try’s “soft power” is the purpose of this essay. between the two major powers of today. How- In the theory of international relations, ever, it seems indisputable that the sports ex- cooperation occurs when actors adjust their change represented by the Ping Pong Diplo- behavior to actual or anticipated preferences Sport and International Politics

through a process of policy coordination. This common in African cultural manifestations, as lation to ideas and conceptions of racially dif- process usually leads to rewards for all parties opposed to atomized teaching of these subjects ferent groups, which has the potential, in the involved, even if the gains are not shared equal- in the Western world. This way of teaching long run, to allow the recognition of the role ly. Conflict, however, is characterized by a re- pays tribute to the “African pedagogy” whose played by black people as a source of knowl- sult-driven behaviour which seeks to reduce the teaching method is personalized - in capoeira, edge, and the reduction of racial discrimina- gains available to others or prevent the satisfac- learning time is each individual’s own time. tion not only in Brazil but also worldwide. tion of their needs. Capoeira, seen in this light, Another key African hallmark found in capoei- is both cooperative and conflictive. This duali- ra teaching is that the capoeira master not only Capoeira and its metaphors ty is present in capoeira since its origin, whose teaches the movement, it transmits feelings. Every beginner capoeirista learns many met- foundations have been settled in accordance Capoeira is a cultural expression conveyed by aphors through capoeira metaphors. As the ca- with the dichotomy of conformity with the es- the teacher to the students essentially by oral poeirista advances in her training, she reaches a tablishment versus cultural resistance, both di- tradition. For this reason, each master is a “liv- more abstract level of understanding that her art is mensions being essential to the survival of this ing museum”, with the oral tradition inherent actually a great metaphor. Indisputable, the most unique expression of popular culture. to the way of teaching found in African cus- famous of them is that capoeira can be seen as a toms. Learning has a deep community charac- simulacrum of the world. Capoeiristas and spec- Not all that glitters is gold, not everything ter on the capoeira roda, since the individual is tators gather in a circle - the roda - within which that falters falls connected with the microcosm of reality rep- two capoeiristas make the “game”, simulating and In the midst of the cultural universe of ca- resented in that context. exploring all facets and wiles of individuals. poeira, conformity is a phenomenon that is on It appears that capoeira includes numer- The roda is also a ritual, in which ances- the surface, while resistance underlies the ap- ous coexisting and often contradictory reali- tral forces are summoned. The roda brings el- pearances. Similarly, the duality cooperation/ ties, embodied in a plethora of narratives con- ements which help to understand the African conflict present in capoeira spills over into structed to cater to diverse interests. There are, cosmology - it is a rite of passage between this other environments. Externally, capoeira has however, two contemporary macro-narratives world and the outer world. It is the crossing spread as an unmistakable symbol of Brazilian that stand out, that is, capoeira “Made in Bra- of the Kalunga line. For this reason, the roda culture - at this level, we highlight its Brazil- zil” versus capoeira as a cultural manifestation and the games have their own protocol, with ian roots or its inclusion in the cultural goods of resistance with African origins. The point of a beginning, middle and end. Despite the fact market as a product “Made in Brazil”; however, intersection of these two planes is located at that capoeira is seemingly an activity without the conflict is established insofar as there are the meeting of the diachronic axis, of historical fixed rules, or in which the subversion of the emerging assimilation narratives which con- successions, with the synchronic axis, in which rules seems to be the rule, it is a performance sider capoeira no longer as purely Brazilian, lies the succession of present day events. In the with strong foundations, having strict rules of but understood as a phenomenon that became perspective of contemporary historiography, conduct. In this regard, the capoeirista is a cer- part of the global culture. In addition, both at capoeira has been read as a Black Atlantic phe- emonialist because she organizes the roda and the internal and external levels, there is also a nomenon, and consequently a global phenom- the games according to these foundations. dispute over the recognition of capoeira’s Afri- enon that went hand in hand with the coloni- The roda is an allegory of the wheel of life can ancestry versus the affirmation of its “Bra- zation process of the New World, with Brazil itself. It represents the dynamics of inter-state zilianness”; at this level, elements of African being its epicentre. These two planes also mark relations, since it pulsates in every capoeirista ancestry are normally emphasized, in order to the main rift in the world of capoeira, repre- the propensity for cooperation or conflict, as like- highlight these roots and to establish a coun- sented by the Bimba and Pastinha schools. wise in the relations between States. Each capoe- terpoint to Western culture. Without seeking to find an ontology for irista is sovereign in her art, for capoeira is diffuse Capoeira has characteristics that differ- capoeira, nor flatten these macro-narratives and decentralized, mimicking the international entiate it in various dimensions from Western into gross oversimplifications, it can be said order. For this reason, capoeira is easily appro- practices. Because of its African heritage, it that capoeira is an African-Brazilian cultural priated, because it deals with the uniqueness of brings in other epistemic bases. More precise- phenomenon. Brazil was notoriously one of the players. That is, the practice of capoeira ad- ly, capoeira is constrained to non-Cartesian the main destinations of the African diaspora, vocates respect for the corporeal territoriality grounds. For example, the ontological hypoth- so the universalized practice of capoeira in all of each one, constituting a kind of Westaphalian esis is nonexistant, that is, it does not require regions of the country is a celebration of the order for capoeira. However, as anarchic as this a preexisting truth to be brought to light by black people’s collaboration fto the formation order may seem, it can be either cooperative or means of an abstract formulation. Capoeira’s of Brazilian identity. Moreover, as capoeira has conflictive depending necessarily on the form of truths circulate “in the air” and are appre- become globalized, establishing a real network interaction between agents. hended by constant practice. As far as time is culture, it favors the possibility of reparations Capoeira enables its practitioners to devel- concerned, capoeira’s time is not linear, it is in the domain of historical memory and in the op new strategies of belonging, which result in circular. The integrated teaching of elements symbolic field of race relations. This consti- identity formations able to mobilize the forces of music, dance, fight, theater and singing is tutes an important mechanism that acts in re- of cooperation and conflict for the formation Sport and International Politics 131

of an international community of capoeristas. flict transposed into musical temporality. At other capoeiristas, similarly to the attempts This is perhaps the main reason capoeira has the same time, the players improvise their to study the behavior of States at bilateral and won many practitioners worldwide. Philo- movements, often off-beat to the music. The multilateral levels. sophically, one of the main objectives of each berimbau sets the tone, and experienced ca- All the above about capoeira may seem capoeirista is seeking to manage these two poeiristas know when those moments of sur- contradictory with basic assumptions of the in- forces through self-control and self-restraint, prise should be performed during the game. ternational order that is being tentatively built so that the use of violence in capoeira is wide- There are no explicit winners or losers. - grounded in institutions and International ly discouraged. The capoeirista must use force The dialogue between the bodies is perma- Law, whose purposes is to provide stability and only in extreme situations, in order to save her nent and it can branch out in various ways de- predictability to relations between the States. life. This is consistent with the century-old pending on the music, the spirit of the game, However, this is not what happens - the ex- pacifist tradition of the Brazilian people and or the personal relations between the capoei- ternal environment is marked by uncertainty the cogent principle of non- use of force con- ristas. The capoeira game can be cheerful, el- and the behavior of actors is far from being secrated in contemporary interstate relations. oquent and cooperative; It may be provocative predictable. With the emergence of new actors Capoeiristas are illusionists, craftsmen or mockery, or occasionally conflictive. This and new threats to international peace and se- in the art of concealment. As the game of ca- dynamic gives all the beauty and vitality to curity, it becomes explicit a state of affairs that poeira reflects the pitfalls of everyday life, the the art. Experienced capoeiristas develop the is well known to the capoeiristas, who have to mastery of deceit becomes essential to dealiing ability to change direction in the middle of the know how to deal with the uncertainties in the with the unknown. Thus, cunning is then seen execution of a movement, deceiving her part- roda in order to preserve their physical and as a way to equalize imbalances, in to order ner, all done according to the establishment psychological integrity. for one to dynamically create order from cha- of a conversational flow apparently unpreten- The roda is a mirror of the international os. The trickery in capoeira derives therefore tious. During the game, these breaking of ex- strategic environment. One can create, on the from an archetypal feature of the Brazilians, pectations, breaking rules within the rules, are one hand, an atmosphere of tension within the which is essentially a technology to deal with a highly valued. A good capoeirista is considered roda, which may lead to an extreme polarisa- world of uncertainty, being assimilated by and one that does not have predictable movements. tion of the game space which, translated to becoming second nature to capoeristas. Capoeira movements can be performed the international level, is the same mechanism The game of capoeira is a game of bodies, with the intention of maintaining a fluid and which would lead to open armed conflicts. On but it is mostly a mental game. It is a dialogue, cooperative interaction with the partner, or as the other hand, cooperation is necessary to a discussion, a set of questions and answers straightforward attacks, in order to integrate make the game fluid - in this other extreme, made from body movements. The loser is she a set of patterns that generate high expecta- the individuality of capoeiristas is lost, and who fails to give an answer to a question, who tions with time surprise. Temporal modulation they merge into an amalgam. At the interna- runs out of arguments in the debate. It is some- within the capoeira game causes changes in the tional level, extreme cooperation eventually thing difficult, convoluted, tangled, complex, state of awareness of the players, because they leads to the erosion of barriers between states, with indentations and subtleties that are not are at the heart of breaching of trust strategies. by means of the many integration processes. identifiable at first glance, requiring special at- This is a powerful image that can be used to un- However, capoeira teaches that finding the bal- tention of the players, in the same way States derstand the acceleration of history, in which a ance – to trust, albeit distrusting - is the goal of and their agents need to be alert on the chess- succession of new key events arises every day, a well-played game. In this sense, capoeira is board of interstate relations. generating perplexity among stakeholders. In very pragmatic. The music played by the capoeira ensem- addition, the duality cooperation/conflict in Internally, Brazilians are taught from an ble, comprising three berimbaus, one atabaque, capoeira occurs in a context of imperfect infor- early age to understand that there is not a two pandeiros, one agogô and one reco-reco, mation, which makes this dynamic even richer simplistic dualism in a socio-cultural environ- serves to create an intricate temporal struc- from an analytical point of view, offering new ment so multifaceted, with multiplicities and ture from which the capoeiristas move in the insights for understanding the game. asymmetric and non-linear hierarchies such texture of space-time. The capoeira masters The game has a beginning, middle and end, as is Brazilian society. Fundamentally, this is claim that a capoeirista should forget the past but the game does not end at the roda - the di- also the configuration of the external environ- and the future to be able to be present in the alogue is eternal and extends to other rodas, ment, composed of amyriad States with dis- dialogue. The time sense within the game is extending the time horizon of the participants. tinct characteristics: nuclear and non-nuclear the instant, it is not Cronos, but the Aeon, the This characteristic of capoeira can be analyzed States, States which are permanent members infinitely divided time of fleeting occasion. from the perspective of the theory of repeated of the UNSC and those which are not, whale The music has its own cadence - supported games, establishing the conditions for cooper- States and microstates, landlocked States, is- by some of the instruments, while others are ation in ongoing relationships. Consequently, land States, States with fully-fledged market free to improvisations. Indeed, the dynamics epistemic assumptions about game strategies economies and whose productive relations of a capoeira music ensemble obey its own of each capoeirista are built after years of ex- are characterized by strong State interven- code, with elements of cooperation and con- perience playing and watching the games of tion, liberal and antiliberal States, democratic Sport and International Politics

States and undemocratic ones. Brazil, for hav- will have better conditions to find the causal ing been shaped amid extreme uncertainty links and make a more accurate interpretation in the domestic environment, knows how to of the game. navigate masterfully in the external environ- Very often States explore ambiguity and Diplomacy and ment, transposing to this environment the di- precision in diplomatic language, using a chotomy conformity/resistance present at the technique known as constructive ambiguity. cricket: the case of core of our society. This helps us to understand Indeed, the level of fluidity with which Bra- the Brazilian external behavior. Indeed, Brazil zil navigates at the multilateral level reveals India and Pakistan behaves multilaterally as a player that plays that the prowess with these tools is a locus according to the rules, but resists assimilation of excellence of Brazilian diplomacy. We are Portuguese version page 22 processes and attempts to change the system ambiguous and we are precise, particularly — from within. in order to accommodate interests. The pat- Diego de Souza Araujo Campos tern of involvement of Brazil in norm mak- Negotiations and ambiguities ing shows therefore the use of conformity Diplomacy is intrinsically related to the Tension settles in from the very beginning and resistance strategies at a practical level. contact between people and different cultures. of the capoeira roda. This tension can be dis- All the above leads us to believe that there Just like sport, it constitutes a mechanism of sipated or exacerbated during the games by is an isomorphism between the capoeiristas cooperation that transcends borders and fos- means of a process negotiated between capoei- and the Brazilian diplomats. Analyzing one ters dialogue between nations. Both connect ristas. The capoeira game is therefore a negoti- can help us to understand aspects of the other. people through shared interests and, at times, ation; in this respect, good capoeiristas are ipso Well, if the Brazilian diplomat possesses fea- common values and passions. facto good negotiators who will know how to tures such as technical training, circumspec- In practice, sport can serve as a facilitator use the best negotiating techniques in order to tion, gravitas, adherence to rules of conduct, for diplomatic action. Cricket, in this sense, reach a satisfactory agreement. One example of delicacy of manners, refinement and cunning illustrates a sport that contributes to the in- these techniques is the handling of ambiguity in relations with others, these features are also crease in negotiation and dialogue between and precision. Precise movements - both of- found in capoeiristas. The capoeirista, in turn, countries affected by antagonisms of interest fensive and defensive ones - may be needed at is above all a person who promotes the culture in the political field, but that share a passion decisive moments. Similarly, ambiguity proves and values of the Brazilian people in Brazil and for the sport. to be the refuge of the capoeirista who is at dis- abroad; she is also a ceremonialist because she Cricket, which is not widespread in Brazil, advantage. Just as the particle-wave duality in deals with symbols and with the enactment of is the object of cooperation and rivalry among quantum mechanics, in which objects express rituals; she is also a negotiator, knowing how countries which were once part of the British different aspects of their nature depending to best use ambiguity and precision to achieve Empire. Cricket athletes act as representatives on how they interact with the environment, a her goals. To perform these functions well, the of their countries and the teams themselves capoeirista will present a particle-like or a dif- capoeirista makes use of refinement and edu- have catalytic potential for national identifi- fuse behaviour depending on the interaction cation. After all, Master Pastinha said that ca- cation, that is, they represent the ideals, inter- with the other capoeiristas. poeira “is loving, it is not perverse. It is a polite ests and their state’s image, according to Arne A capoeirista must know well her limits habit we cultivate within us, it is an unprepos- Naess-Holm, author of the master’s thesis: and alternatives to the questions posed by the sessing thing.” — J “Batting for Peace: a study of cricket diplomacy opponent in order to know when to say yes or between India and Pakistan”. to say no. Ultimately, the ideal game is one that In the case of the relations between In- aims to be an integrative negotiation, that is, a dia and Pakistan, despite the rivalry inherent balance between competition and cooperation. in any sporting competition, cricket acts as a Just as in diplomacy, the way the negotiation is channel of communication that goes beyond being treated in capoeira becomes as import- the traditional dynamics of diplomacy to re- ant as what is being negotiated. Furthermore, solve conflicts. It can be seen as a generator of capoeiristas usually build permanent relations contact and interactions that contribute to the between them, and that can affect positively creation of mutual trust, to the growth of cul- (or negatively) the ongoing game. For this rea- tural and sports exchanges, becoming, there- son, it is common for capoeiristas to seek in the fore, one of the pillars of modern diplomacy present to compensate for something negative which seeks several fronts of action and co- that occurred in a past game. Outside observ- operation: a multifaceted diplomacy, in other ers may be oblivious to certain behaviors dis- words, a multidimensional one. played by the players; but those who know the The importance of a multidimensional di- history of those who are playing in the roda, plomacy lies in the challenges present since Sport and International Politics 133

the Partition of India (1947) and the conse- line linking the capital of his country to Lahore Islamists resulted in new bilateral frictions, quent independeces of India and Pakistan. (capital of the Pakistani province of Punjab) in with clear consequences for cricket. Again, the Some know this process of independence as February 1999. Vajpayee’s trip to Lahore and sport succumbed to political issues: the Indi- “the story of a divorce that went wrong”, since his meeting with his Pakistani counterpart, an government decided to ban cricket match- the history of the Indo-Pakistani relationship Nawaz Sharif, represented a considerable thaw es between the two nations until Pakistan underscores the frictions arising from the par- in the relationship between the two states. In stopped supporting the insurgency in Kashmir. tition of those former British colonies. Indeed, order to get a clear picture, this trip was even The two countries were on the brink of Kashmir is a sensitive point of tension between compared to that of Richard Nixon to China in war. Only in 2003 was diplomatic dialogue the two countries. On the one hand, India 1971, in the context of the ping-pong diploma- re-established, and in 2004, at the Summit of maintains the status quo in the region. On the cy, according to Arne Naess-Holm. SAARC in Lahore, the Indian Prime Minister other, Pakistan claims part of it. Regarding cricket diplomacy, according to Vajpayee and the Pakistani President General In this environment of dispute and rivalry, the ideas of Naess-Holm, it is clear that the role Pervez Musharraf decided to resume the use cricket diplomacy emerged as an instrument to of timing and durability is essential for its suc- of cricket as a channel for deepening rela- open and improve channels of dialogue, espe- cessful application. When it comes to timing, it tions between both countries. In this way, the cially between the Indian and Pakistani high is urgent to analyze the condition of the inter- Indian cricket team toured Pakistan for the authorities. The term “cricket diplomacy” was state relations of the disputants and the condi- called Friendship Series, which took place in forged in 1987, when General Zia ul Haq, Pa- tions of rapprochement, especially the political a friendly atmosphere and without incidents, kistani President visited India to meet Prime and social context, public opinion and the will of despite the Indian victory. The atmosphere of Minister Rajiv Gandhi. The general said, at that the Indian and of the Pakistani representatives. cordiality showed that public opinion was in time, that he had visited the neighboring coun- As far as durability is concerned, the recourse favor of Indo-Pak rapprochement. try to watch a cricket match, but he actually to cricket as an interstate policy approach is In 2005, General Musharraf visited India wanted to calm things down amid an escalat- subject to political tensions caused by specif- to watch another match between the national ing bilateral crisis brought about by the largest ic events of impact on one or both countries. teams of the two countries and took the op- military exercise - called Operation Brasstacks There is, actually, a vicious circle in which portunity to meet Prime Minister Manmohan - ever executed by the Indian armed forces on “estrangement” and “rapprochement” play Singh and discuss the Kashmir issue. The ap- the border with the neighboring country. the role of an everlasting dichotomy in the In- proach paid off, given that, in the same year, From 1987 to 1989, cricket diplomacy fos- dia-Pakistan relations. In this dichotomy, one the first passengers began to cross the border tered the resumption of dialogue between the can resort to cricket as an instrument of attrac- of Kashmir between India and Pakistan on a two countries. The coming years, however, tion of conflicting poles, which facilitates the regular bus service. showed that cricket as an instrument of soft opening of communication channels that bring The political normalization and the ties power will not have a substantial long-term ef- about cooperation. Thus, rapprochement was embodied by cricket led to the optimism for fect while the Kashmir issue is not resolved. In fostered, as illustrated by the visit of the Paki- the third test of the series in India in 2006. The this context, for more than a decade, relations stan cricket team to India, one year after the friendly atmosphere provided by the sport, between India and Pakistan have been affected 1998 nuclear tests - the first tour of the Paki- however, again faced the obstacle of extrem- by the action of the so-called Kashmir freedom stani team on Indian soil since 1987. ism, in such a way to demonstrate, once again, movement, which seeks the liberation of Kash- The tour raised passions in both coun- the cyclical aspect effect of Indo-Pakistani mir from Indian control. tries. In India, Hindu extremists threatened relations. In November 2008, ten members of In 1997, there was an attempt to replicate the Pakistani team and even dug up the cricket Lashkar-e-Taiba, a Pakistani Islamic organiza- cricket diplomacy with the first game, in eight pitch in New Delhi. In Pakistan, public opinion tion, perpetrated a series of terrorist attacks in years, between India and Pakistan in the ter- was divided between those who believed that Mumbai, India. The cooling of bilateral rela- ritory of these countries. The following year, cricket matches would contribute to reducing tions was inevitable. however, the Indo-Pakistani nuclear explo- tensions on the borders and those who feared Years later, in 2011, during the Cricket sions increased tensions, which hindered the that the game would result, to a certain extent, World Cup, Prime Minister Manmohan Singh use of the sport as a diplomatic tool to enhance in deterioration in bilateral relations. In the invited his Pakistani counterpart, Yousuf Raza the bilateral relationship. end, the visit of the Pakistani team was a suc- Gilani, to watch the semifinal game between The tensions had to be eased. Not coinci- cess, with demonstrations of appreciation by the teams of India and Pakistan. Since then, dentally, the prime ministers of India and Pa- the Indian population. there have been attempts to resume cricket kistan met at the Summit of the South Asian As a result of the frequent turmoil in the re- diplomacy as a factor to influence the cyclical Association for Regional Cooperation (SAARC) lations between India and Pakistan, the climate change between estrangement and rapproche- in July 1998 and agreed to resume bilateral dia- of goodwill created by the 1999 tour did not ment in bilateral relations. logue. The highlight of this rapprochement was last long. The so-called Kargil War, between It should be clear that cricket does not the symbolic and historic visit of Prime Min- India and Pakistan in Kashmir, and the hijack- produce binding agreements or effective poli- ister Vajpayee to the inauguration of the bus ing of an Indian Airlines airplane by Pakistani cy changes in the two States, but it affects less Sport and International Politics

tangible factors, such as attitude and mutu- Commonwealth of Nations al perceptions. It is noted, therefore, that the With over 60 years of history, the Com- cricket diplomacy does not transcend con- monwealth of Nations is a voluntary associa- solidated suspicions, structural obstacles or The tion of 53 independent and sovereign countries disagreements among nations, since it is only that mutually support each other and work a mechanism to facilitate dialogue in order to Commonwealth together to achieve their goals at the interna- build mutual trust. tional level, such as “promoting dialogue and In this context, Naess-Holm points out Games: sports peace “. Its historical members share a com- that cricket diplomacy is a sort of icebreaker at mon linguistic and cultural heritage because times when both sides of a dispute are distant. diplomacy they were part of the old British Empire. Cur- As state relations often depend on the inter- rently, all States Parties are considered equal personal ties between their leaders, the envi- Portuguese version page 28 and intergovernmental consultations are the ronment of cricket matches facilitates the dia- — main means of coordinating actions and coop- logue between the leaders, opening prospects Flávio Beicker Barbosa de Oliveira eration. for new negotiation tracks for pending issues One fact the Commonwealth prides it- between the countries. There are few people who practice or self on is the diversity of its members, spread Perhaps cricket can be useful to break, one have even heard of lawn bowls. But this kind across continents, with territories of conti- day, the estrangement-rapprochement cycle of bocce on a lawn is an extremely popular nental dimensions - such as Canada - or small in Pakistan-India relations. Only then will the sport at the Commonwealth Games, a sport- islands - such as Nauru. Most members are rivalry be restricted to the cricket pitches and ing event inspired by the Olympics and the formed by former territories of the British Em- will the common harmonic development set Paralympics. The event is held every four pire which, after independence, joined the or- the tone of cooperation between them. — J years, bringing together delegations from ganization. Currently, there is the possibility of many countries that are either members of new accessions, as has recently been done by the Commonwealth of Nations or take part in Mozambique and Rwanda. it as invited countries. While the Commonwealth Games are con- The games sidered to be an important phase in the ath- Aside from a common past, Common- letes’ training schedule, the Commonwealth wealth countries share a taste for sport. This Games have the greater purpose of providing a explains the longevity of this century-old space for fellowship among peoples who share tradition of holding a multi-sport competi- a common linguistic and cultural heritage. tion among its members. Initially called the Since its first edition in 1930 in Hamilton, Can- British Empire Games (1930), they were later ada, the event has received several names such named British Commonwealth Games in the as British Empire Games and British Common- 1970 and 1974 editions, before achieving their wealth Games. current formula in 1978. The competition was The emphasis on companionship, rather awarded the nickname Friendly Games, given than on sheer competition, emerges from sev- its primary purpose of promoting fraternity eral characteristics of the Games, such as the among peoples. flexibility of the calendar (in order to respect Only Australia, Canada, Scotland, En- the climatic conditions of each country), the gland, New Zealand and Wales participated adjustment of the sports program to adapt it in all editions of the Games, which were only to the infrastructure offered by the host city, suspended in 1942 and 1946 as a result of the the participation of different delegations from Second World War and its aftermath. The the same country and the inclusion of Olympic next edition will take place in 2018 in Gold and non-Olympic sports such as squash and Coast, Australia. netball. In March 2015, Durban, South Africa, sub- These particularities around the competi- mitted its candidacy to host the games of 2022 tion only reinforce the idea that the Common- and, in September last year, received the good wealth Games serve multiple purposes, such news: its bid had been, after being approved by as boosting the diplomatic performance of the the General Assembly of the Commonwealth. engaging countries, in pursuance of a soft pow- It is a historic victory, since it will be the first er that goes beyond simply enjoying foreign time the games will take place on the African prestige or recognition. continent. It will also be the second time that Sport and International Politics 135

the games will take place in a republic (the first Until the games of Victoria, Canada, in doubtedly a source of soft power. It is a way time was in 2010, in New Delhi, India). 1994, the baton relay took place only in En- of reinforcing historic ties and building a net- gland and the host country. However, since work of influences and alliances that in many Teams and sports disciplines the Kuala Lumpur, Malaysia, in 1998, the relay ways feed on a common cultural basis. This For now, 71 delegations are expected to at- has expanded to other countries until, at the background is also strengthened by sporting tend the 2018 Gold Coast Games, representing Melbourne Games, it traveled through all 71 traditions that are peculiar to this group of entire nations or territories, comprising over participating countries and territories. This is countries, such as the practice of lawn bowls, 6,000 people, among athletes and support a much longer relay than that of the Olympic cricket, squash and netball. teams. It is a significant increase since the first and Paralympic Games. Implementing this is edition, when eleven countries and territories not a mean feat and requires a detailed logistic Interview: Australia sent about 400 athletes to compete in Hamil- plan. To accomplish the task the relay of the The Australian Ministry of Foreign Affairs ton, Canada. baton of the Gold Coast Games will begin on and Trade, through its embassy in Brazil, spoke Delegations from England, Scotland, March 13, 2017, during the celebration of the with Juca magazine about the games and the Wales, Northern Ireland, Norfolk, Jersey and Commonwealth Day, so that it arrives in the expectations for the 2018 edition, which will Anguilla participate individually, not under host city in time for the opening ceremony on take place in Gold Coast. It is the fifth time the UK flag. The islands of Niue and Toque- March 4, 2018. that Australia hosts the event, held in Sydney lau of New Zealand also send delegations of (1938), Perth (1962), Brisbane (1982) and Mel- their own. Commonwealth, games and soft power bourne (2006). In its first edition, only six sports were part In a 2014 report for the UK Parliament, JUCA: What is the relationship between of the program of the competition. Nowadays, pundits discuss ed new sources of power at the the Commonwealth Games and diplomacy, the program must include at least 10 sports: international level, such as the influence exert- from Australia’s perspective? swimming, athletics, badminton, boxing, hock- ed on other countries “by building positive re- Australia has a remarkable international ey, lawn bowls, netball, seven rugby, squash and lations and coalitions.” This perspective coin- sporting pedigree and is recognised as a con- weightlifting. Hosts may add other disciplines, cides with the theoretical proposition of what sistently high performing sporting nation. Ma- based on a list prepared by the Commonwealth Joseph Nye calls soft power, which consists of jor events, such as the Commonwealth Games, Games Federation. a State’s ability to achieve its goals in the in- provide Australia with an opportunity to max- Para sports were first seen at the Com- ternational sphere by influencing other actors, imise its people-to-people links, development, monwealth Games in Manchester, England, through “the power of attraction of its culture, trade, investment, education and tourism op- in 2002, when twenty countries sent athletes, ideas, domestic policies and diplomacy.” portunities. both male and female, to compete in five dif- Sport is undoubtedly a means of creat- Australia’s participation in the Common- ferent categories. ing soft power, especially in the context of wealth Games has shaped how the world views the Commonwealth, an organization that is it. Many Australia’s love the competition of sport, Tradition proud to bring together people from different and it plays a unique role in shaping and show- If the British Empire is the historical root regions, religions and ethnicities, a feature casing Australia’s identity, values and culture. of the relations between the Commonwealth shared with the UN. The British Council, for Planning and delivering major sporting countries, the British royal family could not be example, argues that sport is “the most acces- events is a global growth sector and Australia’s left out. At each edition, since 1930, the open- sible and exportable source of soft power in the enviable track record in creating and hosting ing ceremony includes reading a message from United Kingdom”. successful, premier sporting events has provid- the monarch to the athletes and other mem- In fact, the Games can increase a one ed Australia an export capacity in a range of sec- bers of the delegations. country’s power of influence in at least three tors in the life cycle of a major sporting event. In the 1958 edition, Queen Elizabeth II - different ways. The first is leading by example: Australia’s sporting profile and ‘know how’ patroness of games and a great enthusiast of when athletes win a competition of great inter- allows us to engage with neighbouring coun- the sport as a force for “good, to build commu- national prominence, they demonstrate their tries, reach broader audiences that traditional nities and create harmony in society” - ushered country’s capacity to invest in building human diplomacy activities allow and promote part- in a new tradition: the Queen’s Baton Relay. In resources and sports infrastructure. Second, nerships of value between Australia and the that same year the monarch inserted a paper power in sports can influence international rest of the world. with her message into a gold-silver cane spe- decision-making about major events. Finally, — cially made for the occasion and delivered the this type of competition gives international JUCA: Australia has won the most medals object to two sprinter athletes at Buckingham projection to major assets of the host country, and, together with Canada, has hosted the Palace, the departure point of the relay to Car- such as tourism, cultural wealth, and business most number of times (four). Why is Aus- diff, Wales, then the host city of the games. The opportunities, among others. tralia so involved with the Games? message was read in public by the Duke of Ed- In the case of the Commonwealth, sharing Australians have always had an affinity inburgh during the opening ceremony. a major sports event every four years is un- with sport and the Commonwealth Games are Sport and International Politics

one of the few high quality, multi-sport, inter- In the case of GC2018, the Gold Coast Australia does not envisage politicisation national events. While maintaining recogni- 2018 Commonwealth Games Corporation of the Gold Coast 2018 Commonwealth Games. tion as a respected international competition (GOLDOC) has been established with respon- Australia has been a proud supporter of all in their own right, the Games have significant sibility for the organisation, conduct, promo- Commonwealth Games since the Games first relevance in terms of providing developing tion and commercial management of GC2018. started in 1930. As a proud sporting nation, we athletes with competition opportunities and GOLDOC is also working in partnership with are pleased to be hosting the Games for the experience as they seek to progress their inter- the Queensland Government, the local govern- fifth time and for the first time in a regional national careers. The success achieved by Aus- ment of the City of Gold Coast, the Australian Australian city. We look forward to welcoming tralia at the Commonwealth Games has con- Government and the Australian Common- over 6,500 athletes from over 70 Common- tributed to its popularity domestically as well. wealth Games Association. wealth nations to the Gold Coast to compete The Commonwealth Games are important, GC2018 will be the fifth time Australia has in a technically excellent, world class, fun and not only in a sporting sense, but in binding the staged the Commonwealth Games and the first friendly Commonwealth Games. — J countries of the Commonwealth together in time a Commonwealth Games will be held in a broader sense. Every four years the people a regional Australian city. It will be the largest of the Commonwealth, represented by their sporting event to be staged in Australia this de- sportsmen and women, come together in one cade, and the largest event the Gold Coast has location with common goals and ambitions. ever hosted. Non-Olympic sports, such as netball, squash Leading into GC2018 the Australian and and lawn bowls also enjoy the profile and com- Queensland governments are investing heavily petition opportunities provided by the Com- into building new sporting infrastructure and monwealth Games. One of the defining positive upgrading existing venues which will provide benefits about the Games has been its lead- long-lasting benefits to the state and commu- ership in integrating athletes with a disabil- nity into the future. The Australian Govern- ity into the able-body competition schedule. ment also works closely with Queensland and — GOLDOC on a range of security and non-secu- JUCA: How did Australia prepare to host rity services and support from Australian Gov- the games in 2006 and how are they prepar- ernment agencies. ing for 2018? — The Australian Government is proud to JUCA: How is Australia’s relationship with host the 2018 Gold Coast Commonwealth the community of the Commonwealth? Games (GC2018) and is committed to deliv- What gains does it bring to the country? ering a safe and successful event. The Games, Australia is a founding member of the and the worldwide media coverage it attracts, modern Commonwealth and has been an ac- provides a significant opportunity to reinforce tive participant in Commonwealth organisa- Australia’s reputation as a leading sporting na- tions, programs and meetings for over 60 years. tion and as a world-class host of major events. In addition to the Commonwealth Secretariat, For major sporting events held in a single Australia has supported many other parts of the jurisdiction, the state government has respon- Commonwealth community, for example the sibility for delivering the event. To deliver the Commonwealth Foundation, Commonwealth 2006 Melbourne of Learning, Royal Commonwealth Society and Commonwealth Games (M2006), the Mel- the Queen Elizabeth Diamond Jubilee Trust. bourne 2006 Commonwealth Games Corporation Australia is the third-largest contributor to the was established to oversee the planning, organi- Commonwealth budget and will provide up to sation and delivery. The Corporation worked in $7.2 million in development funding to Com- partnership with the Victorian Government and monwealth organisations in 2015-16. Australia was supported by the Australian Government and sees the Commonwealth as playing an import- the local government of the City of Melbourne. ant role in promoting democracy, human rights In M2006, the vast majority of venues for and the rule of law, and advancing the welfare the Games had already been built and had pre- of all Commonwealth citizens. viously hosted major events. However, some — facilities required either an upgrade or rede- JUCA: Does Australia see scope for any velopment to host the events associated with politicisation of the Games – for example the Games. the 1978 and 1986 boycotts? Large Sporting Events 137

Janeiro. There are almost three thousand THE ROAD OF THE GAMES TO RIO DE Large Sporting Events years of history behind what will be the largest JANEIRO sporting event that has ever occurred in Brazil. After all this history, the Games arrived in The first Games occurred in Olympia, Rio de Janeiro. But how? Greece, in 776 B.C .. From then on, they were The choice of the city was the result of ex- held every four years - a period known by the tensive work by the Brazilian government to Greeks as “Olympiad”. A series of sport events bring the event to the country. It took time, and united cities and the inhabitants of the Greek it was not easy or simple. Moreover, it was not world around sport practice. From running the first Brazilian attempt to host the Games. and horse races through combat sports such as We had already tried with Brasilia as the host wrestling, boxing and pankration, to the pen- city of the 2000 Olympics and Rio de Janeiro tathlon, which at the time included discus, jav- for 2004 and 2012 - as well as older attempts, elin, long jump, stadium running and fighting, such as the Rio’s bid for the 1936 and 1960 the sports already aroused the curiosity and at- Games. We ultimately obtained success in the tention of the population. More than providing bid for the 2016 Games. amusement of for spectators, the Games had Much has been done to reach this result, for strategic importance, since they promoted the instance the thorough preparation of Brazilian unity of the Greek world in a time when Greece presentations at the meetings of the IOC, of the was not a single state but a collection of city- visit of the Committee to Rio de Janeiro and of From Greece states. everything relating to the selection process. The tradition of the Games declined over For about two years, hundreds of people were to Rio: the 2016 the years, especially after the Romans invaded involved in the process, from the municipal, Greece in 456 B.C, and, a few decades later, in state and federal governments to international Olympic and 393 BC, they were suspended. marketing and communications consultants. It was only in 1896, on the initiative of For the curious, it is possible to view promo- Paralympic Games Baron Pierre de Coubertin, the subject of the tional films, directed by Brazilian filmmaker article “Another Baron” in this magazine, that Fernando Meirelles, which were used in Bra- Portuguese version page 34 the Games resumed. Athens, Greece, was cho- zilian presentations to the IOC, on YouTube. — sen chosen to house the return of the sporting Itamaraty was one of the government agen- Flora Cardoso de Almeida Mendes event. The Olympics returned to illuminate cies that played an important role in the choice Pereira the international sporting scene, this time with of Rio de Janeiro. It is worth highlighting the greater reach, as the participation has spread role of the General Coordination for Cooper- The holding of the Olympic and Paralym- from Greece to the world. Since then, every ation and Interchange on Sports (CGCE). Cre- pic Games in Brazil is one of the apexes of the four years, the new edition is performed with ated in 2008 with the aim of promoting and “ Decade of Sport “ that the country is experi- increasing success. Only during the time of the creating forms of international cooperation in encing. Since the mid-2000s, Brazil has host- two World Wars the Games were not held out. sports, the CGCE has actively participated in ed several international sporting events. Rio The Paralympics, in turn, have a much the definition and implementation of the Bra- de Janeiro staged the Pan American Games in more recent history: the first edition took place zilian strategy for the Olympic campaign. 2007 and the Military World Games in 2011. In in 1960 in Rome, Italy. Its origin lies in the ini- One of the initiatives of Itamaraty was to 2013, we hosted the Confederations Cup and, tiative of German doctor Ludwig Guttmann to mobilize embassies and consulates overseas, es- in the following year, the World Cup. In 2015, use sport for the rehabilitation of wounded sol- pecially those in cities which hosted meetings of the spotlights were directed to Palmas, with the diers in World War II. The method was so suc- the IOC or had voting members in their jurisdic- first edition of the World Indigenous Games. cessful that in 1948 the doctor promoted the tion. Cooperation in sports and public relations From 5 to 21 August and 7 to 18 September first sporting event for the disabled, in the city activities were carried out, for example releasing this year, Rio de Janeiro will receive the biggest of Stoke Mandeville, near the city of London, videos and printed material at various opportu- and most expected global sporting event. Ath- where the Olympics were being held. Since nities and supporting people involved in the pro- letes and people from all over the world will then, 15 editions of the Paralympic Games motion of the Games such as athletes and Bra- meet in the city, to play hundreds of sport events, have been held. However, they did not occur zilian authorities. Experience and knowledge of in a spirit of peace, universalism and respect. necessarily in the same city where the Olym- people involved in the applications of cities that pic Games were held. Only starting 1988 in the had already hosted the Games was also sought. THE HISTORY BEHIND THE GAMES Seoul Olympics, South Korea, was it decided The Foreign Ministry in Brasilia carefully fol- The Olympic and Paralympic Games have that the host city of the Olympic Games would lowed all actions abroad, as well as made efforts gone a long way until they arrived in Rio de also host the Paralympics. in favor of the application. Large Sporting Events

In June 2008, Brazil received the joyful The IOC Evaluation Commission spent the Games in Rio de Janeiro, as well the pledge news that it was approved by the Internation- five days in Rio de Janeiro, visiting existing or that the country has total capacity to hold the al Olympic Committee (IOC) for the second projected sporting venues as well as meeting Games. Showing government and social sup- phase of the selection process for hosting the experts and authorities. Several issues con- port has always been a concern of the cam- 2016 Games. This was the first time that Brazil cerning the conditions for holding the Games paign organizers. has passed to the second stage! This was there- in Rio de Janeiro were discussed, such as se- The possibility for transformation opened fore the time to increase efforts and seize the curity, sports facilities and finance. On the by the hosting of the Games and the legacy of opportunity. occasion, the technical details and the budget the Games for Rio de Janeiro, not only in terms The Beijing Olympic Games were one of forecast on the issues of the “Bid Book” were of improvements in infrastructure and recov- the first occasions to enhance the Brazilian evaluated. The Maria Lenk Aquatic Park and ery of degraded areas of the city, but also of Olympic campaign, through the installation the Olympic Arena, built for the 2007 Pan the transmission of values and Olympic ideals of the Casa Brazil in the city. With broad sup- American Games were some of the places visit- to the Brazilian population, were also reasons port from Brazilian diplomats for its imple- ed, showing the Commission the quality of the presented. Rio is being renovated with the in- mentation and operation, it was the center of existing facilities in the city. vestments for the Games, and improvements discussion and dissemination of the Brazilian After the visit of the IOC to Rio de Janeiro will benefit the entire population, for example, candidacy in the Chinese capital, for example there were other important moments for the with the Urban Operation Porto Maravilha, by carrying out special interviews and artistic application, for instance the presentation in the construction of line 4 of the metro, and the events. Lausanne. In parallel, we continued making modernization of the historic city center and of In February 2009, we fulfilled another efforts and promotional activities in Brazil and the international airport Galeão. step of the application to the Games, with the the world, to enhance the chances of victory. The approach to sport in Brazil was also delivery of the “Dossier of application” of Rio Brazilian points to justify the choice of Rio used in defending the application. We have de Janeiro to the IOC. Better known as “Bid de Janeiro as the host city were an essential many projects of cooperation in sports with Book”, this document is a kind of application part of the success of the application. developing countries, for instance the Game of book with government plans and guarantees First and foremost, the Brazilian candida- Peace, held in Port au Prince in 2004, between for the realization of the Olympic event. It was cy heavily relied on the need to increase the the Brazilian and Haitian football teams, which the result of the work of various areas of gov- participation of developing countries on the helped to stabilize the Caribbean country. The ernment and contractors, who e developed one international scene, not only in decision-mak- presence of Brazilian soccer schools in other of the most well structured files among recent ing processes, but also in the implementation countries and the reception of foreign students applications. of initiatives. The idea of an emerging country in national training clubs demonstrate Brazil’s An important occasion of the Olympic hosting the Games was an attractive aspect importance in the international sports scene. campaign took place between April and May of the choice of Rio de Janeiro - few were the The use of sport as a tool for social inclusion 2009, when the IOC Evaluation Commission Olympics held outside developed countries. internally and the perception that sport is a visited Rio de Janeiro. The only public visit of In this sense, holding the Olympic Games for citizen’s right and a duty of the State indicate the IOC to the country represented a crucial the first time in South America, one of only the importance that the subject is given in the opportunity to generate sympathy and to pro- two continents, as well as Africa, which have country. mote Rio de Janeiro. The wonderful scenery of never hosted the Olympic Games, was shown Finally, the idea that Rio de Janeiro can the city was already a positive factor to please as a step forward in the democratization and offer an example of coexistence and dialogue the Commission, but would not be enough. decentralization of the international Olympic between different peoples and cultures has its Studies and technical planning were also part movement. The fact that all other compet- importance, as it is closely related to the ide- of the reception schedule. ing countries had already organized Olym- al of peaceful coexistence present since the Preparations for the visit and for the tech- pic Games has intensified this argument. The Games of Antiquity. nical examination of the application project United States alone have hosted the Games On October 1st 2009, the Olympic Act was were performed by the Bid Committee, which four times! published, in order to ensure guarantees for includes the Foreign Ministry. In this context, The experience gained with the successful the candidacy of Rio de Janeiro and to estab- studies were done on the Beijing campaigns holding of the Pan American Games, which in lish special rules to carry out, if the choice of and London to host the Games, to obtain inspi- the future would be enhanced by hosting the the city by the IOC were confirmed. The fol- ration of successful applications. The Brazilian World Cup in Brazil, was another point high- lowing day, the Olympic Act became applica- government also hired as consultants Austra- lighted in the campaign for Rio de Janeiro. ble: Rio de Janeiro won the competition, and lians and Englishmen who had participated in There are also stadiums and training centers Brazil won the right to host the 2016 Games, the London 2012 campaign, responsible for ac- that both events have left in the city. becoming thus the first country in South tions of international communication and mar- Another topic always mentioned was the America to receive an edition of the Olympic keting, as well as the events of preparations for full support of the municipal, state and feder- and Paralympic Games. The national effort the Olympic campaign. al Government, and of the Brazilian society to was rewarded. Large Sporting Events 139

AND ITAMARATY´S WORK wish to visit Brazil. Furthermore, Itamaraty CONTINUES... will provide support to foreign consular offices The role of the Ministry of Foreign Affairs in Rio de Janeiro, through the presence of dip- in the Games was not over when Rio de Janeiro lomats on duty in the city. FROM RIO TO was chosen. With extensive experience accu- Itamaraty will be in constant contact with mulated in the organization and carrying out the security and monitoring services in Rio de TOKYO: Four of previous large sporting events, Itamaraty Janeiro, to ensure that the consular service of a participates in the efforts for the Olympic and country will promptly be aware of the involve- strategic years for Paralympic Games to be a success. Alongside ment of foreigners in emergency situations. other government agencies, coordinated by the Still in the security field, the Itamaraty net- the Brazil-Japan Ministry of Sports, the Ministry of Foreign Af- work abroad brings information to Brazil, for fairs is a member of the Steering Committee of instance about security and prevention of ter- relationship the Olympic and Paralympic Games Rio 2016 - rorism, which are transmitted to the responsi- CGOLIMPÍADAS, created in 2012 with the aim ble national bodies. Portuguese version page 40 of conducting the activities of the Federal Gov- Finally, the reach of Itamaraty´s network — ernment in the preparation of the Olympics. allows the management of the country’s image Roberto W. Szatmari One of the traditional pillars of the Foreign abroad. International attention will be directed Ministry’s action is the reception of foreign to the country during the Games, and want to Despite being an historic metropolis, with dignitaries. For each dignitary that comes to use the opportunity for national development, a beautiful view of the bay and scorching sum- Brazil, a diplomat is designated, better known trade and investment promotion, as well as the mers, the city still lacked many things, espe- as diplimatic liaison officer. These diplomats projection of national culture and of the image cially in urban mobility. There were streets to have the function of facilitating communica- of a socially inclusive and democratic country, be paved, subway lines to be built, neighbor- tion between the foreign dignitary and the proud of its cultural diversity. Brazilian dip- hoods to be integrated and large older areas organs of the Brazilian government, and of lomats are constantly being updated with in- clamoring for renovation. With the Olympics ensuring that everything runs well while the formation about preparations for the Games, came modernization. Airports were expanded, dignitary is in the country. Usually performed which allows fluid communication with for- hotels were built, sporting arenas inaugurated, during the visits of Heads of State and Govern- eign authorities, the press and civil society. neighborhoods recovered and, most impor- ment, Foreign Ministers and other authorities The posts abroad have the mission to show the tantly for the city’s inhabitants, the subway to Brazil, this role will increase exponentially world the effects that Rio 2016 will bring not was extended a new type of train was unveiled. during Rio 2016. Itamaraty will be responsible only to Rio de Janeiro, but to the whole coun- All of this mattered because the idea was to for receiving, simultaneously, about 100 Heads try, in areas such as sports infrastructure, de- show the world a new country: a country that of State and of Government. A Similar during fense, security and intelligence. had developed in the past decade, reducing had been faced by the Ministry in Rio + 20, The Olympic and Paralympic Games are poverty and becoming a major player in inter- with the coordination and the dispatch of nu- getting closer and closer. When this article national relations. merous liaison officers to Rio. was written, promotional activities to mark The summer of 1964 marked the birth It is also up to Itamaraty to dialogue with the countdown of 100 days to the Olympics of Tokyo as the modern city we know today, the diplomatic corps in Brasilia, to convey in- were being planned. Embassies and consulates crowned by the Games of the 18th Olympiad. formation about the event and receiving infor- worldwide were contacted in order to under- The expansion of Haneda Airport and the un- mation about the arrival of foreign dignitaries. take joint action by all countries, marking the veiling of the first bullet-train were only the In the realm of protocol activities, we union of nations to carry out the sporting event most visible sides of this modernization, which should not forget the diplomats who are as- and their support for Brazil as host country. symbolized the ascension of post-war Japan. signed to arrivals and departures. Often in- We eagerly await the arrival of the Olympic Now Rio de Janeiro seeks to repeat the success volved in extreme situations, but always with and Paralympic Games in Rio! — J of the first Japanese Olympics, both in the cre- a smile on their face, these diplomats will be at ation of a legacy for the city and in updating the airports and at Rio de Janeiro Air Base as well country’s image after its economic and social as in other cities where perhaps authorities development in the 21st Century. will pass, to assist the procedures for arrivals In an olympic coincidence, Japan will be and departures, as well as the reception of for- the host of the next Games, which places the eign authorities. Rio Games in the singular position of not only Another axis of Itamaraty’s action is relat- drawing inspiration from the Japanese Games ed to the arrival of foreigners to the country. of 1964, but also of serving as inspiration for Brazilian consulates and consular sectors are the Tokyo Games in 2020. On August 21, 2016, responsible for issuing visas to foreigners who the world was taken by surprise by the partic- Large Sporting Events

ipation of Prime Minister Shinzo Abe in the promotion of Brazilian fashion, products and For the Embassy of Japan in Brasilia, the closing of the Rio Games, dressed as Super Ma- even cuisine in Japan. For Minister Joel Sam- timing of the largest sporting event in the world rio and emerging from a pipe as if transport- paio, aide to the Minister of Foreign Affairs of leaves no doubt as to the new natural area for ed from the other side of the world. This was Brazil, it’s impressive how much the Brazilian partnership between the two countries: sports not far from the truth – the Premier had flown Embassy in Tokyo has managed to accomplish cooperation. It helps that Ambassador of Japan directly from Japan for the Closing Ceremo- in a period of government-wide fiscal adjust- Kunio Umeda is a soccer fanatic, acting also as ny in Brazil, in recognition of the symbolism ment. To mark the 100 days to the Olympic international representative of the Japan Foot- of this moment of transition between Rio and Games, for example, the Embassy persuaded ball Association. But, according to Minister Tokyo. Two months later, President Michel Te- the Government of Tokyo to light up the gov- Fujimura, Prime Minister Shinzo Abe himself mer made the first visit of a Brazilian Head of ernment offices and the 1964 Olympic Park put a new emphasis on sport as an area of in- State to Japan in 11 years, and talked about the with the Brazilian colors, an example of cre- ternational cooperation when he launched the Brazilian olympic experience both with Prime ative thinking executed in partnership with “Sport for Tomorrow” program in 2015. For Minister Abe and with the Emperor of Japan. the local government. On the eve of the Olym- the minister, the advantage of sports coopera- To cap it all off, Brazil and Japan are current- pic and Paralympic games, the partnership was tion is twofold: on the one hand, it represents ly in their own cycle of historic celebrations: with the private sector. On the Embassy’s ini- a positive and “universal” agenda, in which all last year marked the 120th anniversary of the tiative, the company that owns Tokyo Skytree countries can participate. On the other hand, establishment of bilateral relations, and 2018 decided to light up the tower (the tallest in the it allows the promotion of Japanese soft power shall mark the 110th anniversary of the Japa- world and one of the symbols of the Japanese through the promotion of sports such as judo nese immigration to Brazil. capital) in green and yellow, and, during the and karate, which are intrinsically linked to To make the most of this alignment of fac- competitions, decided to alternate between the Japanese values such as discipline, respect and tors, the Embassy of Brazil in Tokyo launched national colors of Brazil and Japan. resilience. For Minister Fujimura, these val- the “From Rio to Tokyo” initiative, which will The “From Rio to Tokyo” initiative ben- ues transcend sport: encouraging the practice work as “an umbrella for actions and ideas”, efits from a more sophisticated and modern of martial arts, especially in poorer Brazilian in the words of Ambassador Corrêa do Lago, view of the bilateral relationship, away from communities, he says, may be a way of giving comprising several projects of cooperation and the 20th century conception in which Brazil young people values that will help them face bilateral approximation during the cycle that exported primary products and imported Jap- the challenges of their daily lives. goes from the closing of the Rio Games to the anese finished goods. The new view is the re- Another area which has attracted interest start of the Tokyo Games, thereby creating a sult of a conscious update effort by diplomats from Japan is cooperation in defense. Tradi- bridge between the two events. The idea is to from both sides, and the olympiad provides a tionally a taboo subject in Japanese foreign “relaunch the partnership at a new level,” ac- unique opportunity to spur on this update. policy, slowly defense and security have re- cording to Minister Cecília Ishitani, Head of “People have a tendency to think of the emerged as important themes in the bilateral the Division of Japan and the Korean Penínsu- bilateral relation in terms of economic coop- agenda. The Japanese constitution, written un- la at Itamaraty, exploring the full potential that eration” says Minister-Counselor Kazuhiro der american occupation at the end of the Sec- was made available by the visit of Prime Min- Fujimura, from the Embassy of Japan in Brasil- ond World War, not only forbids Japan from ister Shinzo Abe to Brazil in 2014, when Brazil ia. “But now we’re in the 21st Century and our having armed forces, but also forbids the use and Japan elevated their relationship to the leaders have turned a new page in the relation- of force in all situations except self-defense. level of Strategic and Global Partnership. The ship”. For him, the “From Rio to Tokyo” initia- Despite this, several legal interpretations since “From Rio to Tokyo” concept was embraced by tive has the role of “encouraging other areas the 1950s have broadened the scope of action the Japanese Ministry of Foreign Affairs and of cooperation”. A similar assessment can be of the Japan Self-Defense Forces, which nowa- was incorporated into the bilateral work pro- heard at the Embassy of Brazil in Tokyo, when days rank as the 4th strongest military force in gram, guiding the schedule of activities for the Ambassador Corrêa do Lago speaks of the need the world, according to an index by Credit Su- next four years. to go beyond traditional areas of cooperation, isse. Mindful of the growing weight of China in And the schedule of activities, which is still exploring partnerships in areas such as design, East Asia, Prime Minister Abe has as one of his under development, will be intense, especially mass communication and the sharing of ex- objectives transforming Japan into a “normal after 2017. It includes photography exhibitions, perience in public policy for social inclusion, country” with the same rights and obligations cultural events (such as the celebration of the areas in which 21st Century Brazil is at the in the area of defense as any other member of 100 years since the first samba recording), uni- forefront. As a curious example, typical of the the international community. To this end, the versity exchanges, lectures on Brazil at univer- many olympic coincidences that surround the prime minister has sought legal reforms do- sities in Tokyo and a broad strategy for pro- relationship, the Ambassador recalls that the mestically and greater participation in defense moting the “Brazilian Lifestyle”. The Brazilian design of the torches and the mascots of the Rio themes internationally. lifestyle, associated with a sunny joie de vivre, 2016 Games is coauthored by two Brazilians of This pro-activeness has been reflected has increasingly attracted the interest of young Japanese inheritance: Luciana Eguti from São in Brazil-Japan bilateral relations. The Com- Japanese, creating an important space for the Paulo and Romy Hayashi from Santa Catarina. mander of the Ground Self-Defense Forces, Large Sporting Events 141

General Kiyofumi Iwata, visited Brazil this a positive pretext for modernizing the city,” ex- different strategies of communicating this soft year, and Japan awaits a visit by the most se- plains Minister Sampaio. All of this pleases the power to the world. nior Brazilian military commander. Japan Japanese taste for frugality, which no longer The “From Rio to Tokyo” period will leave has also designated to Brazil its first Military allows for the level of spending of 1964, when its own legacy for the bilateral relationship. Attaché in Latin America. Of more immedi- the Tokyo Government spent the equivalent of According to Minister Sampaio, “a new path- ate relevance, however, are the contacts in a full years’ budget just on the summer Games. way of cooperation will have been opened”, the area of internal security fostered by the Perhaps this new stage in the partnership benefiting from the frequent contact between Olympics. “Japan has been learning with the will have its most visible face in the creation host cities. But perhaps it would be more ac- Brazilian experience in the security of the of a permanent physical space devoted to pro- curate to talk of “new pathways” in the plural. Olympic Games,” explains Minister Fujimu- moting Japan in Brazil. In March 2017, Japan The Minister of Sport, Leonardo Picciani, in ra. The current security environment is, after will inaugurate its “Japan House” in São Paulo, his recent visit to Japan, emphasized that the all, very different from the environment at the an ambitious project for promoting the coun- intitative will serve to share experiences, bring time of the Tokyo Games in 1964, and Brazil try’s image abroad. Designed by architect Ken- together the two societies, and promote busi- has demonstrated its ability to set up effective go Kuma, under consultancy from the head of ness opportunities. The Embassy of Japan, for security plans for Mega-Events, as highlight- Muji, a minimalist clothing and objects brand, its turn, celebrates the definitive inclusion of ed by the experiences in the Confederations Japan House will be a mix of commercial cen- sports cooperation in the bilateral cooperation. Cup of 2013 and the World Cup of 2014. Ac- ter and arts center, focused on creating interest For the Head of the Division of Japan and the cording to the minister, Japan has kept con- around Japan. São Paulo was picked as one of Korean Peninsula, the contacts made during tact with all Brazilian authorities in the field only three cities in the world that will host Ja- this period will tend to intensify, leading to a of security and both countries have shared pan Houses, along with Los Angeles and Lon- greater flow of tourists, academics, trade and experiences on the planning of mega events, don, showing the strategic value of the city – a greater number of events in both countries. an interaction that should continue through- and of Brazil – to Japan. Image gains should also never be dismissed in out the period leading up to the Tokyo Games. Despite so many convergences and inspi- diplomacy. Ambassador Corrêa do Lago ob- There is yet another, more pragmatic, as- rations, however, there are important nuances serves that “by hosting the Olympic Games, pect that draws Japanese attention to the Rio between the role of the Olympic Games in the Brazil has changed category”, and Japan, games: their low cost, for Olympic Games foreign policies of Brasilia and Tokyo. The Rio which has already hosted three editions of the standards. After the almost 10 billion pounds Games have the symbolic value of presenting to Games (counting summer and winter) recog- spent in the London Games, there was general the world a more developed, more democratic nizes this prestige better than any other coun- apprehension with the escalating costs of the and more equal country, able to take on great try. “Doors now open more,” he concludes. Games, explains Ambassador Corrêa do Lago. commitments on the international stage. The Perhaps the greatest gain from the initia- From the beginning, therefore, the organizers current moment of difficulty highlights the tive will be to set a tone to a relationship that, of the Rio Games sought to cut costs and run fact that Brazil has institutional maturity to or- precisely due to its “Global” nature, comprises a cheaper event. It worked. The Economist ganize large events even in adverse conditions. an infinity of areas and contacts, grounded in magazine commented last year that “compared On this point, the semiotics of the Rio Games the human links of two great expatriate com- with other recent Olympic Games, Rio’s look is close to that of the 1964 Tokyo Games. Ja- munities. The next four years will be strategic cheap”, reiterating this year that “There is al- pan, for its part, is already a developed country. for the deepening of the relationship, but one ready much to celebrate about the Rio Olym- The Tokyo Games should serve three great ob- thing is certain: when Rio de Janeiro passed pics (...). There has been no obvious waste jectives for Japanese foreign policy: first, they the Olympic Flag to Tokyo on August 21, 2016, or corruption”. Minister Joel Sampaio, who will aim to present a country that is more open Brazil and Japan kicked off a new cycle of ap- wrote a thesis on Olympic Games, agrees with and welcoming of foreign visitors (synthesized proximation that will not end in 2020. — J the assessment: “Rio will have a story to tell in in the Japanee concept of omotenashi), second, the cost aspect,” he says. He recalls that “57% they could boost the economy by means of the of funds is of private origin,” which represents influx of record numbers of tourists and, third, “an historic landmark in the history of the they could help deconstruct the suspicions Games”. Besides building the Arena do Futuro that still persist in some Asian neighbors due in a modular, easily reusable, format Rio was to the memories of the War. Should they be able to use stadiums such as Maracanã, which successful, especially on this third point, Japan had recently been renewed for the World Cup, will take one more step towards the “normal- as well as spaces in Barra da Tijuca built for the ization” sought by Prime Minister Abe. Brazil Panamerican Games. The goal of not creating and Japan are two of the greatest wielders of “white elephants” guided the planning for the soft power in the world, having rejected, in Games. “Two thirds of spending on the total large measure, the use of military power. The project have nothing to do with sport, they are Games will therefore serve to contrast two Large Sporting Events

al competition for athletes with disabilities were cheaper and the sales were much lower. was the International Wheelchair Games in Very few Paralympic athletes become national 1948, in which competitors were World War celebrities and sign advertising and sponsoring Why are the II veterans as well as civilians injured in the contracts. Many argue that combining compe- conflict. It was a parallel event to the London titions for athletes with disabilities and com- Olympic and Olympic Games. This competition led to the petitions for athletes without disabilities un- first Paralympic Games in 1960. Despite the der one sole event would provide all athletes Paralympic Games connection to the Olympic movement, we as- with the same status. That would contribute to sume from the prefix “para” that both move- wider media coverage, garnering more atten- still separate events? ments walk together, side by side. Contrary to tion from the audience. what many may think, the Paralympic Games Besides the institutional matters between Portuguese version page 46 are not a branch of the Olympic Games. They both international committees, logistics is — are organized by an independent internation- probably the main barrier to merging the two Pedro Guerreiro Lopes da Silveira al committee. Until the Seoul Games, in 1988, Games. Combined, Olympic and Paralympic both competitions did not even share the same delegations would add up to 15,000 athletes. Many of the most thrilling scenes that have host city. In Korea’s capital, for the first time, Host cities would need to build even bigger gone down in sporting history are related to the the Paralympic Games took place right after Olympic Villages. The duration of the com- participation of minority groups in the Olym- the Olympic Games and used the same venues. petitions would also need to be extended, not pic and Paralympic Games. African-American An agreement between the two committees to mention the foreseeable impacts on bud- athlete Jesse Owens won international fame sets that both competitions will have the same get. Solving one problem would spark many in Hitler’s Germany in 1936, offering a striking host city until 2032; it is not completely impos- new challenges. After all, we are talking about refutation of the thesis of aryan racial superi- sible, therefore, that the two Games take place merging the two biggest sport events in the ority. Not before 1984, during the Los Ange- in different places and dates after that. Hence, world – both of them are bigger than the FIFA les Games, would the first women’s marathon the Paralympics are not a version of the Olym- World Cup. competition take place. Swiss 39-year-old Ga- pics for athletes with disabilities, but rather an Another frequent argument to keep the brial Andersen-Schiess crossed the finish line independent movement with its own values. two events separate is that the Olympics could in 37th place, staggering due to heat exhaus- Aiming to reaffirm Paralympic identi- overshadow the Paralympics. It is possible that tion and dehydration. In Atlanta, beach vol- ty, the International Paralympic Committee sports editors would prefer to cover the Olym- leyball was debuting in the Olympics. But for (IPC) has taken controversial measures, such pic marathon rather than any Paralympic finals Brazil, its significance went even further: the as banning the use of the 5 Olympic rings that may occur simultaneously, for example. women’s finals, played by two Brazilian dou- during Paralympic competitions. In Rio, Brit- There would be, therefore, a competition be- bles, Jacqueline and Sandra, and Monica and ish Paralympic swimmer Josef Craig had to tween competitions, and the visibility of the Adriana, represented the first Olympic medals use a sticker with the british flag to cover the Paralympic athletes would even be damaged in to be won by Brazilian women in history. More Olympic symbol that he had tattooed in his the end of the day. recently, in Rio, the entrance of the refugees’ chest. He had already been disqualified from In addition, one of the main assets of delegation thrilled the crowd at Maracanã Sta- the European Championship for not covering Paralympics could be at risk if both Games dium, receiving thundering applause as they his tattoo, in the first semester of 2016. What merge: the inclusion of a wide range of sub- walked into the arena. Also in Rio, Algerian IPC claims is that advertising on athletes’ bod- categories of athletes with disabilities. Only Paralympic runner Abdellatif Baka won the ies is not allowed. The Paralympic Games have in Paralympic athletics, there are 27 catego- 1500m competition in T3 class, for athletes its own logo, which is called “Agitos”- three ries for runners, including different degrees with low vision, in 3m48s29, almost two sec- lines in red, blue and green. In all Rio’s are- of visual impairment, intellectual disability, onds faster than Rio’s Olympic champion. nas, the Olympic symbols were replaced by the small stature, amputation, as well as athletes If overcoming prejudice and promoting Paralympic one between each competition. in wheelchairs. For swimmers, there are 14 values such as equality and diversity are the Improving the visibility of people with categories; for table tennis players, 11. Hence, real Olympic legacies for mankind, why aren’t disabilities is one of the main objectives of the 22 Paralympic sports result in more than 100 the Olympic and Paralympic Games merged Paralympic Games. On the one hand, an exclu- different competitions, enabling more ath- into a single event? Given that the union of sive event dedicated to athletes with disabili- letes to participate. That is also what happens peoples is a major feature of the Olympic ties makes them the only focus of the Paralym- in Olympic judo or boxing, in which athletes Games, should we see the Paralympic Games pic competitions; on the other hand, the compete in their weight range. Holding si- as a sign of inclusion or segregation? exposition they get is significantly lower than multaneous Olympic and Paralympic events Before answering those questions, it is im- that granted by the Olympic Games. In Bra- could spark the need to reduce the number of portant to remember the history behind the zil, for example, the Paralympic competitions Paralympic subcategories, or at least, hamper Paralympic movement. The first internation- were not broadcast on open TV. The tickets the inclusion of new Paralympic sports in the Large Sporting Events 143

future. The magnitude of both Games is a ma- into account the participation of Latin Ameri- jor concern for organizers. However, six new can countries in different football World Cups Olympic sports were included in the Tokyo and in the various Olympic Games. Argentina 2020 program – baseball, softball, surf, karate, Projecting power has enjoyed an undisputed reputation based skateboarding and climbing. This shows that on their athletes, for example with its soccer, one finds new ways to make things happen from the South: basketball, hockey, rugby and polo players and when there is enough political interest, such motor racers. This situation makes Argentina as the need to attract a young audience or the the BRICS and the a state with an image closely linked to sport. Japanese audience. It highlights the efforts of both individual ath- Promoting inclusion in sports is not a re- organization of letes and groups and their achievements show cent concern, but old barriers cannot be ig- their ability to collectively surpass challenges. nored, nor historic achievements taken for big sport events In recent years, developing countries, granted. Let us not forget that Pierre de Cou- leaded by the BRICS, have tried in a strong and bertin, considered the father of modern Olym- Portuguese version page 50 sustained manner to shift from participation in pics, once said that the inclusion of women’s — sports to the organization of sports events, as a competitions would be “impractical, uninter- Agustín Lavalle; Juan Cruz Olivieri; strategy of soft power projection. The concept esting, unaesthetic and incorrect”. Today, it Carlos Muscari; Agostina Salvaggio; of soft power coined by Joseph S. Nye Jr. accu- seems absurd that competing and overcoming Federico Pintos (Students from the rately represents the way the BRICS countries limits are values restricted to men. However, Argentinean diplomatic academy) have achieved development during the last some critics still repeat those same words to decade based on — among other things —the describe the Paralympic Games. Competition The sport is one of the most important organization of sports and cultural events, the does not mean excluding the majority by the passions in many countries in the world, and granting of scholarships, etc. In short, “the soft selection of the best, but trying to include all. as such is one of the business that generates power is the ability of a country to persuade The greatest celebration of the union of peo- more revenue. In this regard, due to cultur- other countries to what it wants, without the ples must rest on the inclusion of all genders, al values that​​ it expresses and multiplies, it use of force or hard power” (Ikenberry, 2004). all forms of sexual orientation, all nations, all can also be considered a way of insertion of To do so, it is essential to use different tools to ethnic identities, of people with disabilities, of States in the international system. According show the world the ability, as well as the val- all of us. — J to Gurrionero and Morejon (2014), “since late ues, customs and idiosyncrasies of the country nineteenth century the sport has emerged as seeking to influence others. an instrument of representation of the power When in late 2001 Jim O’Neill wrote his of a nation, not only from a symbolic point of famous article about the BRIC, the world view, but also as a physical aspect of national economic order was different from the pres- power. As a social phenomenon, its level of ent one; however, it was starting to acquire international acceptance is so great that even today’s appearance. Either individually or in the language barrier becomes irrelevant, and aggregate, this group of countries enjoyed an the inclusion of different peoples and cultures economic role that placed them among the top becomes a tangible possibility. “ However, one twenty in the world, followed by boldly prom- should take into consideration that only when ising growth prospects. sports are linked to innovation, technology, in- Throughout his report, O’Neill analyzed telligence and social development they achieve possible scenarios about the place that the the State’s international projection of power. BRIC countries would have in the world order According to Fernandez Moores (2016), in the and international economic fora regarding its context of the Cold War “the Soviet Republic future economic growth. According to the au- put all its apparatus to maintain its hegemony thor, “the BRICs, especially China, would gain in world chess demonstration alleging that the importance at the expense of other G7 mem- Communist people were more educated and bers like Italy and Canada” (O’Neill, 2001). intelligent than the US capitalist” . As previously mentioned, in order to get Historically, this possibility of internation- the intersubjective recognition of relevant al projection through sport has been one of the world Powers, the BRICS have organized or forms of achieving global visibility for develop- are organizing major sporting events, which ing countries, which is observed through the would allow them to project soft power. Re- successful participation in sports competitions viewing the past decade, we find many exam- of various kinds. In this regard one should take ples that corroborate this idea, with varying Large Sporting Events

degrees of investment and continuity, orga- vious occasions (1988 and 2004). In line with nized activities, all depending on the country this, the City of Buenos Aires has been selected one looks at. to host the 2018 Youth Olympic Games, which In the case of Russia, in February 2014 the creates a very important potential to increase Security coastal city of Sochi hosted the Winter Olym- the country´s soft power. This in turn will bring pic Games, forcing Moscow to make the high- also some benefits for the development of our Cooperation in est investment ever for a winter Olympic event. country in the short and long term. Moreover, a motor speedway built just outside The realization of a sports competition of Mega Events the Olympic Village hosts since 2014 a Formula the importance of the above-mentioned, apart One race. One shall not forget that Russia was from the influx of tourism and income direct- Portuguese version page 56 chosen to host the Soccer World Cup in 2018. ly generated by the competitions, can attract — While South Africa until now has remained large investments, catalyze the signing of cul- Camilla Neves Moreira outside the organization of Olympic events, it tural and sports cooperation Agreements and was assigned with the organization of the 2010 multiple possibilities to facilitate an inclusive Facing the challenges of a new era of crime, Soccer World Cup, the first event of this scale development of different areas and disciplines. terrorism, drugs,arms trafficking and money organized in Africa. This enabled the country The BRICS and Argentina found in sport, laundering pose a systemic threat, since the to demonstrate its organizational abilities and and more recently in organizing major sport- potential victims are no longer only individu- helped to build the country´s image of the main ing events, not just a strategy of power projec- als, rather the target has increasingly shifted representative State in the continent. tion, but also of recognition of their capacity to communities as a whole. Crime has shown In 2008, with the organization of the 2008 as regional powers, increasing its prestige and great adaptability to technological progress, Olympic Games, China gave the initial kick capabilities of cooperation. At a time when the which requires States to hasten their adaptive to this trend. The event took place in Beijing. global economy is in crisis, to carry out the efforts if they are to suitably respond to these It was the most expensive summer Olympic necessary investment for these events involves ever-changing threats, especially during mega Games of all times, resulting in an excellent risks and a huge sacrifices for States that do so. events such as the Olympics and Paralympics. opportunity to show the world the economic However, the intangible benefits arising from Bearing in mind the capacity of contempo- power and the organizational skills from Chi- them are very difficult to replicate by other rary crime to adapt to technological progress, na. After this huge event, China also organized means. — J state action must be accelerated. Therefore, the 2010 Asian Games and will host the 2019 States have been investing more in techno- Basketball World Cup. logical modernization, which refers both to Finally, although India is the member of physical infrastructure and human resources the BRICS that organized fewer major sport- training. Built in the 2014 World Cup host cit- ing events, the country hosted in 2010 the ies, the Integrated Centres of Command and Commonwealth Games, which was attended Control (CICCs) epitomise Brazil’s security by athletes from more than 70 states. planning for mega events. They have fostered When it comes to Brazil, the South Amer- integration between the various national insti- ican giant hosted, in a two years period, two of tutions responsible for security and provided a the most popular sporting events on the plan- locus of international cooperation with foreign et: the 2014 Soccer World Cup and the Olympic security forces. Regional and national CICCs Games in Rio de Janeiro in 2016. The organiza- have catalysed coordinated actions between tion of these events demanded a significant in- federal and subnational security forces so as to vestment. These Olympics were the first to be ensure control of airspace, maritime and fluvi- held in a South American city, and Brazil will al defence, supervision of explosives, cyber-de- show the world both its organizational ability fence, counterterrorism, among others. and economic capacity to carry them out. The amount of security spending in sport In line with the BRICS strategy, and al- mega events has substantially grown as a re- though more modestly, Argentina also wants sult of this modernization effort. In the 2000 to project the country worldwide through the Olympic Games in Sydney, security spending growing organization of international sports added up to around US$ 180 million, which events, in which it will exhibit its long and rich strongly contrasts with the US$ 1.5 billion allo- sporting tradition. However, this is not some- cated for the 2004 Olympic Games in Athens. thing new for the continent´s southernmost This sharp increase can be partially explained country, as one should be aware that Argentina by the September 11th attacks, which raised attempted to host the Olympics on two pre- awareness towards the need for reform in the Large Sporting Events 145

security and defence apparatus if they were which discussed procedures for imprison- tween different nationalities, which requires to adequately respond the new threats, espe- ment, identification techniques, centralization a broader and more integrated effort between cially to face the new methods employed by of criminal records and extradition, Interpol security authorities. these threats. Brazil’s investment in the 2014 was envisioned to catalyse state cooperation World Cup amounted to R$ 1.9 billion, since to solve crimes and to prevent international Bilateral Cooperation 2011 with the creation of the Special Security borders from creating impunity. In an effort to In the 2014 World Cup, the Internation- Secretariat for Major Events (Sesge/MJ). The adapt to technological progress and to the inno- al Police Cooperation Centre (CCPI) was a Ministry of Justice contributed with R$ 1.2 bil- vative capacity of transnational crime, Interpol good example of bilateral police cooperation, lion and the Ministry of Defence with the re- has modernised its structure and actions, with bringing together the police force of over 35 maining R$ 700 million, leaving as the greatest initiatives such as the Command and Coordi- countries, as well as representatives of the UN, legacy the improvement in the police forces nation Centre under the auspices of the Gener- Interpol and Ameripol. It represented a step integration and the qualification of its human al Secretariat, ensuring that Interpol operates further towards international cooperation, resources, providing for a standard of excel- 24/7. In addition, it has adopted automatic enabling, for instance, the creation of a shared lence in the management of national security. search facilitation mechanisms for remote database of sexual predators of minors, violent Though threats like terrorism are not cur- queries to the Interpol database, it has also cre- fans and criminals from all over the world. An rently part of Brazilian daily life, sport mega ated the Interpol Criminal Information System additional strategy was carried out by foreign events bring worldwide attention and are database and launched the I-24/7 communica- police delegations: part of these delegations thus potential terrorist targets, as shown by tion system, facilitating access to the database monitored their respective national teams, the attacks during the Boston Marathon and by National Offices, amongst them Brazil’s. profiting from their experience and knowledge the Olympics in Munich and Atlanta. Besides The commitment to constant moderniza- regarding their national fans, and also allowing protecting the country during mega events, tion and the consequent creation of an intelli- prompt intervention, if necessary, and joint ac- increasing our knowledge on preventing and gence system and a database that keep up with tion with Brazil’s security forces. The rest of fighting security threats strengthens Brazil’s the dynamism and the speed of the information the police delegation was posted at the CCPI international position, given our active profile flow turns Interpol into a strategic partner in in Brasilia, in order to exchange information in international forums on a variety of topics cooperation for security in mega events. Coop- and to monitor the movement of each respec- on the security agenda. eration initiatives between Interpol and Bra- tive national team. The large volume of investment, alongside zil’s security institutions, especially the Fed- Adopted for the 2014 World Cup, the CCPI the need to overcome the technological fron- eral Police, range from the development of an model was replicated as an organisational tier, turns mega events into a landmark in an app for smartphones and tablets allowing indi- method for police cooperation in the 2016 international flow of resources transference in viduals to consult and report a fugitive location Olympic and Paralympic Games. Over 80 po- the areas of expert knowledge, technology and in the Interpol database (CheckPol) to human lice authorities have been invited to join CCPI’s capital, in order to enhance institutional learn- resource training so as to enable them to iden- efforts, the profile of these authorities encom- ing and the exchange of good practices. In this tify and more effectively combat sports-related passes: previous experience with international regard, international cooperation both in the crimes such as manipulation of results, betting, cooperation, access to the country’s criminal multilateral and bilateral levels is a key tool for and doping. Other initiatives focus on improv- database, communication skills in an interna- surpassing the technological frontier and there- ing the system already implemented during tional environment, decision-making capacity fore for ensuring security during mega events. the 2014 World Cup, such as at border control in emergencies, easy access to authorities and checkpoints by using the Mobile Interpol Net- the country’s agencies in order to obtain and Multilateral Cooperation work Database (MIND), which allows border exchange information, besides language and The International Criminal Police Organi- police to promptly verify in whether the pass- connectivity skills. sation (Interpol) stems from a process in which port presented was stolen. the Interpol data- Both bilateral and multilateral cooperation international cooperation presents a tool for base can also be checked by Brazil’s Embassies add up to national authorities’ efforts to guar- effectively fighting crime across borders. This and Consulates for verification before granting antee security in the mega events held in Bra- understanding emerged in the 19th century and visas and travel documents. zil, since these partnerships actively bolster derived from a growing concern over anarchism With the purpose of contributing towards the modernisation of the institutions engaged and the assassination of heads of state. None- the security of the 2016 Rio Olympics, Interpol and accelerate the acquisition of expertise. The theless, new trends in crime have strengthened signed an agreement with the Olympic Com- technological leap and the experience attained consensus around Interpol and have also shown mittee allowing the international police force represent the greatest legacy left by these mega the increasing need to deepen international po- to assist Brazil’s authorities and deploying its events in the security sector, besides enhanc- lice cooperation and adapt it to better tackle the mega event support team. The agreement and ing Brazil’s credentials as a cooperating part- challenges of transnational crime. the joint initiatives are based on the perception ner to the next mega-event host countries. — J A major outcome of the 1st International that mega events present singularities due to Congress of Criminal Police in Monaco in 1914, their dimension and to the high interaction be- Large Sporting Events

tives is not very far from the current perception more references to sports, especially football. that foreigners have of Brazilian women. Just Only in the 1990s was there a reversion of this ask a Brazilian woman who has been abroad if trend: rather than women’s bodies, ecological The image of she has ever felt, in some way, hypersexualized tourism and cultural heritage gained space when she said she was Brazilian. in the company’s materials. At the end of the Brazilian women There are countless cases, ranging from 1990s there were even campaigns against sex disappointment when a Brazilian girl refuses tourism and the exploitation of children and abroad: combating sexual advances (which, in this view, should be teenagers. From then on, Embratur would accepted, given her nationality) to cases even handle its tourist advertisement pieces much objetification more absurd. To illustrate this, I will tell only more carefully, and would no longer portray one of the stories I have heard: one day, a Eu- Brazilian women as a product. Portuguese version page 60 ropean man decided to satisfy his curiosity and However, years of derogatory publicity — asked a young Brazilian woman about the hab- engendered impacts on the image of Brazil- Fernanda Maciel Leão Tretter its of local girls. His question was how Brazilian ian women abroad. In 2014, the year of the women make the hard choice between marriage World Cup in Brazil, an episode illustrates Winning the bid to host the Olympic and a life dedicated to partying and debauchery. the persistence of the sexualized stereotype Games is the desire of many countries, in spite But why do such stereotypes linger? Sev- with which Brazilian women are perceived of the high costs involved. The creation of new eral cultural factors contribute to build and by foreigners. To celebrate the world football jobs, the infrastructure legacy and the oppor- consolidate the image of a group, and general- tournament, a big sports equipment compa- tunity to boost the image of a country abroad izations are constantly made in the definition ny released an collection of t-shirts showing are some of the advantages usually presented. of what the “other” is. What is hard to believe, drawings of a Brazilian woman in a bikini, with Tourism is often as another benefit of hosting however, is that the Brazilian state itself has the ambiguous phrase “looking to score in major sporting events, and is closely related to helped to reinforce such ideas, using for this the Brazil”, which could refer both to score goals the external image of a country. A positive im- official agency charged with promoting tour- in a football match or to having sexual rela- age renders a country more attractive to tour- ism in the country: the Brazilian Tourism In- tions. Another t-shirt showed the drawing of ists, while a negative image, based on stereo- stitute, currently Brazilian Tourism Company. a heart which could be interpreted, if turned types, may have a negative impact on tourism, Founded during the military regime, in upside-down, as female buttocks wearing a bi- keeping potential travelers away or attracting 1966, the Institute had among its objectives kini. Admirably, Embratur protested formally undesirable visitors, such as those who seek the development of the national tourism mar- against the t-shirts, since the company does sex tourism. ket, as well as the promotion of Brazil’s image not want to characterize Brazil as a sex tourism Brazil has always been seen as a marvelous abroad, even in the most oppressive period of destination. As a result, the sports company re- country, with exuberant nature. The idea of a the dictatorship. Tourist advertisements for- moved the t-shirts from circulation. “Brazil-Paradise”, a place filled with adventure mulated by Embratur hid the repressive inter- This sensual image of Brazilian women and sensual pleasures, has been part of the col- nal political scenario and censorship, while re- causes an impact on the country, attracting lective imagination for a long time. For some vealing to the foreigners a joyful country, with undesirable tourists and contributing to the people, this ideal of Brazil dates back to its dis- kind people, full of festivities, spontaneity and support of sexual exploitation networks – in- covery! And although this image of exoticism natural beauties. cluding those involving children. It also carries and sensuality is associated with the country According to Kelly Kajihara, in a study on consequences which go beyond the national as a whole, one can say that it is even more Brazil’s image abroad, during the 1970s, when territory: the Brazilian community abroad is connected to Brazilian women. It is possible to the Institute started to operate, its touristic ad- subject to such generalizations as well. find evidence for this in Pero Vaz de Caminha’s vertisements revolved around three elements: In June 2015, the 1st Conference on Gen- letter, reporting to the King of Portugal what Rio de Janeiro, Carnival and Brazilian women. der Issues in Brazilian Immigration was held he had found in Terra de Vera Cruz, an old The representation of Brazilian women in the by the Department of Consular Affairs and name for Brazil, at the time of the Discov- advertising materials was quite stereotyped – Brazilian Communities Abroad (DCB) of the ery: “And one of those young women had her generally, the female image was represented in Ministry of Foreign Affairs. During the Confer- whole body painted, from bottom to top with two situations: “in a bikini and in Carnival”. ence, one of the main problems registered by that painting, and she sure was so good shaped Many posters, leaflets and magazines show representatives of the Brazilian communities and so rounded, and her modesty so graceful the image of Brazilian women, usually in bath- was the stereotyped image of Brazilian women, that many a woman in our land, upon seeing ing suits, as the main feature of the advertising observed in the media and in tourism advertis- her features, would be ashamed for not having piece. In the following decade, the intention to ing campaigns in some countries. their own like hers”. promote the Brazilian woman as a tourist at- Portugal is usually pointed by representa- Although exaggerated, Pero Vaz de traction remained unchanged, and stereotyped tives of the community as one of the countries Caminha’s bedazzlement at the Brazilian na- representations lingered, now accompanied by where this problem is common, causing practi- Large Sporting Events 147

cal problems in the lives of Brazilian migrants. ing at the full harmony with Nature. In this For instance, they pointed to excessively rig- spirit, the running games happened sandy soil orous practices in Portuguese customs when and the athletes had to run barefoot. The stage they deal with Brazilian travelers. Other re- Cheers for for swimming and canoeing was the Taqua- ports include problems with police authorities, ruçu-Grande river that flows into the Tocan- swearing and rude manners in lines in cafes the Indians tins river, which feeds the youngest Brazilian and restaurants and difficulty in getting a job, tate capital with fish and water. due to having Brazilian nationality. The hyper- Portuguese version page 64 Among the sports included in the games sexualized stereotype is also reinforced in the — are swimming, canoeing, archery, tug of war, local media, as can be seen in the show “Café Gustavo Gerlach da Silva Ziemath soccer, spear tossing, and relay race carrying Central”, in which a character named “Gina”, tree trunks. The rewards, however, do not with a Brazilian accent, works as a prostitute. Following the slogan “the important thing follow the traditional differentiation between The outrage at the character generated a man- is not to compete, but to celebrate” , indige- gold, silver and bronze medalists. Medals were ifesto denouncing the prejudice suffered by nous population from all over the world gath- given for the four best contestants in each Brazilian women in Portugal (manifestomul- ered for the first World Indigenous Games sport. The idea was to revive the spirit of Olym- heresbrasileiras.blogspot.com.br). (WIG), which took place in Palmas,the Capital pia: the focus should not be solely on the win- It is not easy to end stereotypes which city in the State of Tocantins, from October 23 ner, but on the necessary perseverance from were reinforced for years by various agents, until October 31. More than 1700 athletes, with every athlete to give their best. Such a concept including the Brazilian official tourist adver- hundreds of other indigenous people and vis- of getting over challenges is ubiquitous: it ex- tising agency. Nevertheless, one can notice itors got together to celebrate, through sport, ists among all tribes, nations and States – and a significant change in government action, the union of peoples and cultures. sport represents the universality of this value, which involves the end of the exhibition of fe- According to one of the Games’ organiz- as indigenous people from all over the world male bodies in official advertisement and the ers, Marcos Terena, a Brazilian Indian from showed in Palmas. strengthening of policy aimed at combating the the Xané tribe and President of the Intertribal Some sports were played just for demon- sexual exploitation of children and teenagers Committee of Indigenous Memory and Sci- stration. Notwithstanding the fact that there and human trafficking. However, Brazil is still ence, the idea of promoting the Games was was no competition in these cases, sometimes very far from overcoming this hurdle and leav- conceived in the Sessions of the United Na- they drew even more attention from the audi- ing sex tourism in the past. It is up to all of us, tions Permanent Forum on Indigenous Issues ence, proving that visitors did not want to see government and civil society, to deconstruct (UNPFII). The UNPFII is an advisory body to someone necessarily winning – they wanted this image. — J the Economic and Social Council (ECOSOC), to learn more about indigenous cultures. This and meets annually since 2002, gathering 16 happened, for instance, during the presenta- independent experts and hundreds of indige- tions of Pasarutakua and Jikunahati, which nous representatives. excited the audience for their dangerousness During the 2013 Session, independent ex- and eccentricity. perts were invited to see the 12th edition of the Pasarutakua, also known as Uárukua Brazilian Indigenous Games, have been orga- Ch’anakua or Pelota Purépecha, is a type of field nized for more than a decade. Marcos Terena hockey played with a ball on fire. The game said that other countries – such as Mexico, The has been played for more than three thousand US and Canada – also have similar initiatives, years by the Purépecha tribe, in the Mexican but Brazil has a larger expertise. Because of State of Michoacan. The Purépecha indians that, Brazil has the necessary credentials to played it during both the opening ceremony lead the debates about the Games in the UN and the breaks between competitive games Forum and to be the host of its first edition. and the audience in Palmas always feared the Different specificities show that these serious burn that the ball on fire could cause. Games cannot be directly compared to the tra- Jikunahati is a game that recalls the tradition ditional Olympic Games. The main idea of the of Brazilian soccer. Played by the Paresi Haliti WIG is to rescue human values that are pres- tribe from the Brazilian State of Mato Grosso, it ent in sports. In this context, human precision is a sport that resembles soccer, thought played is tested in archery, strength is essential in tug only with the head. The ball, made from Mang- of war and balance is of utmost importance in aba milk, should be passed with the head to the canoeing, for instance. opponent, who would lose one point if it is not Marcos Terena pointed out that the com- possible to pass the ball again to someone from petition will happen, whenever possible, aim- the other team. The only moment it is possible Large Sporting Events

to use the hand is to restart the game. During The space of 250 thousand square meters in the Games: the Maoris recognized their de- the demonstrations, tribes from Finland played for the games and for the promotion of In- feat dancing and clapping their hands for the and interacted with Paresi Indians. digenous cultures had different facilities. The winners. On the other hand, the Maori women Another singularity in the WIG is that it Green Arena - with bleachers for five thousand lived up to their reputation of strength until the the event did not have State delegations, but people - was the main stage for the games and end and won the female tug of war champion- national delegations from 23 countries. One for demonstrations. The “house of wisdom” ship. In this case, their victory was recognized can understand “national delegations” as not was an installation to gather people to debate in great style, as they received congratulations exclusively the American, the Panamanian or about indigenous Cultures in the world. The from Pakré Gavião, the leader of the Gavião the Argentinian delegations. During the games, “digital house” was destined for Natives who tribe that they defeated in the final. there were representatives from the Navajos in wanted to access the internet. But after the But Pakré Gavião was not only the lead- the American delegation, from the Kunas in the Arena, the places that attracted the most the er of the tribe that ended in second place in Panamanian delegation and from the Guaranis attention of the public were the Food Market, the women’s tug of war. He was also the most in the Argentinian delegation, for example. In where agricultural products made from small experienced athlete in the WIG. With his 73 Palmas, the idea of being part of a national State indigenous communities sold, and the Hand- years, he reached the finals in the archery com- - a very stark sentiment in the Summer and icraft Market. Moreover, bleachers were built petition and finished in third place. Among the Winter Olympic Games - gave place to a more by the riverside of the Taquaruçu River, for eleven final competitors there was a Mongo- fluid concept of Nation-State. The American, the aquatic games - a very different setup from lian Indian, who called attention because of the Panamanian and the Argentinian Sovereign from the original project of constructing there his large clothes in the hot weather of Palmas States were represented by the different tribes - a grand stand and Olympic lanes. (40 degrees celsius) and his industrialized car- or “nations”, according to Marcos Terena. The However, as one could see right in the bon bow. His experience, his simplicity while native Indians ran, shot and swam in the sake first days of the games, these infrastructure shooting and his humility in celebrating his of the spirit of sport, rather than in the name of limitations did not take away the happiness victory and in recognizing the defeat of his a State. The greatest proof of this is that there of indigenous tribes sharing their values and tribe are symbols of the concept that the most was no medal table and no one wanted to know interacting with the audience. The number of important thing is to celebrate. which country had more winners. visitors surpassed expectations and reached Celebrating the respect and the ability to In the Brazilian case, as it was the host the number of, approximately, 105 thousand learn from others should be recognized as the country, the delegation of athletes had native people. The entrance was free and visitors not greatest legacy of this first edition of the World Indians from 24 tribes that are located in Bra- crowded not only the bleacher of the Arena, Indigenous Games. The organization of these zil’s territory. Marcos Terena pointed out that but also the Markets of Indigenous Products. Games was possible due to the willingness of the selection of representatives was made not The concrete legacy of the Games is un- leaders from different tribes in the world, who, considering the best indigenous athletes in the deniable: the products from the Food Market despite their cultural differences, got togeth- country, but following the principle of native were all sold in less than a week; hundreds of er to organize an event through which they habitat. Hence, indians from all the countries’ jobs were created and estimates are that more demonstrated that they share universal values biomes (Amazon, Atlantic Forest, Caatinga, than US$ 500,000 were injected into the econ- which are indispensable to peace. Cerrado, Pampas and Pantanal) were there in omy of Palmas, a city that learned fast how to During the Games, it was easy to see in the the games, in a way that not only one, but differ- host the visitors with typical local dishes, such streets of the capital of Tocantins the olympic ent Brazilian identities could be represented. as Chambari and freshwater fish cooked in the spirit of sharing efforts in the name of over- The space where the WIG took place was leaves of banana trees — dishes that reveal the coming challenges, of achieving the best possi- organized enough to guarantee that the ga- presence of indigenous traditions in the city. ble result and of congregating peoples favoring meds could take place and peoples from the In the sand of the Arena, one could easily peace. We should hope that this spirit could world could get in touch. Removed, in reality, see the integration between the different peo- be emulated during the next Summer Olym- the infrastructure was far away from the proj- ples, even in moments of fierce competition. pic Games between States, in Rio de Janeiro ect presented by Palmas, when it was compet- The Maori tribe from New Zealand, known for (2016), that it could be present in the second ing agains two other Brazilian cities - Marabá the Haka - traditional war cry danced by the na- editions of the WIG, in Canadá (2017), and, and Belém - to host the event. In the original tional teams of rugby and basketball -, advanced most importantly, that it could inspire all kinds project, the Okara village was supposed to be in the tug of war, living up to the reputation of of political leaders in the world so they can like an Olympic village, expected to house all a strong warrior tribe. But the dance, taught to seek peace through the gathering of cultures, the delegations. In the end, Okara received different ethnic groups and visitors, was not just like the Indians did in Palmas. — J only Brazilian tribes, and according to reports enough to intimidate the quiet Indians from the from the first day of the games it had infra- Kura Bakairi tribe, from the Brazilian State of structure problems, like an extremely hot din- Mato Grosso, who defeated the Maori. After the ing hall. International delegations ended up competition, the celebration that took place was housed in public schools. in accordance with the spirit of peace reigning Interviews 149

administration. This happened four years after great sporting events. In 2008, we still did not Interviews the historic “Peace Game” between the Brazil- know that we would host the 2016 Olympic and ian national football team and Haiti, played in Paralympic Games which, in my view, close the Port-au-Prince, and one year after the Pana- so-called “Sports Decade” in Brazil, compris- merican and Para-panamerican Games of Rio ing the period when we received the Panamer- de Janeiro, and the selection of Rio as the host ican Games, the World Military Games, the for the 2014 World Cup, both of which hap- Confederations Cup, the World Cup and the pened in 2007. At the time, we also had the first World Indigenous Games, held in 2015 in bid for the Rio 2016 Olympic Games, and we the city of Palmas, in the state of Tocantins. mobilized both the Foreign Ministry in Brasilia However, the right to host great sporting and our network of posts around the world to events didn’t exhaust our country’s responsi- support that bid. They had a fundamental role bilities – on the contrary, it broadened them. in assuring the bid’s success. With the hosting of sporting megaevents, The Olympic bid was our first big chal- there was an exponential increase in the de- lenge. We fought for the right to host the 2016 mand for cooperation in sports and in the or- Games against countries with great Olympic ganization of large events. Since then, we have traditions, and who had successfully hosted signed over 50 Sports Cooperation Agree- the Olympic Games before, such as Spain, Ja- ments with several countries, out of which I’d pan and the United States. Spain had received highlight developing countries such as Ango- Ambassador Vera the 1992 games in Barcelona, and had the sup- la, Benin, Burkina Faso, Guinea-Bissau, Mo- port of the former President of the Interna- zambique, Iran and others. We also signed co- Cintia Alvarez: tional Olympic Committee (IOC), Juan Anto- operation agreements in the area of sporting nio Samaranch. Japan, host of the next edition, megaevents with South Africa (2009), Germa- sport as an had hosted the Summer Games of 1964, and ny (2011), Australia (2011), Canada (2011), the had twice hosted the Winter Games. Finally, United States (2011) and the United Kingdom instrument of the United States counted on the support of (2012), all countries that receied large events President Barack Obama, and had a history of in the last decade. diplomacy hosting four Summer Olympics, besides being Furthermore, by bringing sport into the an Olympic powerhouse in their own right. core of our foreign policy, we strengthened our Portuguese version page 68 Given all this, Itamaraty, in coordination dialog with previously infrequent partners, — with other ministries, acted in a decisively for such as the Ministry of Sport, and we started Gustavo Gerlach da Silva Ziemath e the success of the Brazilian bid. Using our net- dialogs with sporting institutions and associ- Roberto W Szatmari work of embassies, consulates and other posts, ations, which has allowed us, for example, to we could undertake actions that would have hold courses for coaches and football referees Ambassador Vera Cintia Alvarez, who runs the been impossible without diplomatic represen- from countries in CPLP, FOCALAL and oth- General Coordination of Sports Cooperation and tation, such as the delivery of a letter signed by er countries in the Americas, in Africa and in Exchange (CGCE) since its inception, sat down the President of the Republic, and negotiating Asia. Among my main memories, I recall that, to talk to JUCA about the importance of sport in with the IOC. Finally, it’s important to recall in the third course for coaches, Botswana sent promoting a positive international image of Bra- that “presidential diplomacy” was an import- the first woman to participate in our initia- zil. She also described the role of Itamaraty in the ant part of the Brazilian campaign, given that, tives, which I considered especially gratifying. hosting of sporting megaevents and analyzed the during its international visits, the Presidency More recently, in cooperation with the Viva legacy of these events for Brazilian society at large. always reiterated our appeal for votes for the Rio NGO and the São Paulo Football Federa- Rio 2016 candidacy and met personally with tion, we managed to support the participation JUCA: What has been Itamaraty’s approach IOC representatives. of the Black Pearls, a Haitian football team, in to the field of sports? — the São Paulo Junior Football Cup. Sport has always been a part of the Brazil- JUCA: What were the changes that oc- Specifically for megaevents, such as the ian identity, and it is one of the main vectors curred in recent years to adapt the institu- World Cup and the Rio 2016 Games, Working for the promotion of the image of the country tional structure of the Foreign Ministry to Groups were created to coordinate the efforts abroad. For Itamaraty, one of the main land- the challenges from hosting several sport- of all areas of the Foreign Ministry involved in marks for the creation of the sports/foreign ing megaevents in Brazil? the process of organizing the events. These in- policy couplet was the creation of the Gen- The creation of CGCE was, from an insti- cluded, among other areas, Protocol, the Cab- eral Coordination of Sports Cooperation and tutional standpoint, the main innovation at the inet’s Press Office, the Immigration Division, Exchange in 2008, during the Celso Amorim Foreign Ministry to face the challenges of the the Cultural Department, the Department Interviews

of Cultural Promotion and Investments, the volving foreign nationals, most of them (2042) have shared this image of Brazil around the General Coordination for Combating Transna- in the city of Rio de Janeiro. world, and they would not have expressed a tional Crimes, the General Coordination of De- Today I consider us ready to receive the desire to return. fense Themes and the General Coordination of almost 11 thousand athletes of the 206 Nation- I am convinced that the foreigners who Sports Cooperation and Exchanges. al Olympic Committees linked to the IOC and will visit Brazil and the about 4.8 billion — the more than 25 thousand journalists and ac- viewers (total audience) who will watch the JUCA: How has the experience accumu- credited press who will cover the Olympic and Rio 2016 Games, through different means of lated by Itamaraty during large sporting Paralympic Games. communication, will have an excellent image events contributed to hosting the Olympic — of Brazil, as happened with the World Cup. and Paralympic Games? JUCA: Can the bet on sports diplomacy be And these large sporting events allow Brazil If we consider that, as a general rule, a double-edged blade? In the sense that, to amplify the projection of its positive image the events got bigger over time (Panameri- when the country does well in sports, the and renew its credentials on the international can Games, Confederations Cup, World Cup, image of the country benefits, but, when stage. They are, thus, an important tool for the Olympic and Paralympic Games), we’ll see we the country does poorly, there can equally strengthening of Brazilian “soft power”. had an excellent training program. be a negative impact on the image of Brazil — We began with the Panamerican Games, a (as in the 7-1 score against Germany)? JUCA: Brazil has diversified its sports port- competition of continental dimensions, involv- In principle, the bet on sports diploma- folio in recent years to go beyond football, ing the participation of about 5700 athletes cy always pays off, especially when we con- obtaining good results in fields that range from 42 countries, 332 events, 47 modalities sider sports diplomacy beyond the logic of from Mixed Martial Arts to the so-called and about 20 thousand volunteers. It was an megaevents. Through sports diplomacy, we virtual sports (“e-sports”). What has been event that allowed us to begin to learn the spec- signed a series of cooperation agreements in Itamaraty’s role in the support and promo- ificities of organizing large sporting events, which Brazil was as much a provider as a recip- tion of these new fronts of Brazilian sport, such as the particular diet that high-perfor- ient of aid in sports. We provided sports aid to and what more could be done? mance athletes require. more than 40 countries in the last eight years I believe that the diversification of Brazil’s At the next stage, we received a “mini-World and gave several Brazilian athletes, of the most sports portfolio occurred towards other sec- Cup”, the Confederations Cup, conceived pre- diverse modalities, the chance to participate tors, less traditional than football, but which cisely to be a test-event for the World Cup. By in exchanges at centers of sporting excellence. also count on a significant number of adepts the way, we hosted the Confederations Cup at a Sport, therefore, acts as an important instru- and followers, such as volleyball, basketball turbulent time, during the so-called “June Jour- ment for the promotion of development and for and judo. There are some sports in which Bra- neys”, in 2013. Nevertheless the event was a combating inequality and all kinds of discrim- zil has a strong Olympic tradition, such as sail- great success, both on and off the pitch. As I see ination. Similarly, cooperation agreements on ing, but that require financial conditions that it, the successful hosting of the Confederations the organization of sporting events represent are out of reach for the largest portion of the Cup in parallel to the demonstrations showed an important umbrella under which Brazilian Brazilian population. the world that we have a mature democracy and authorities in the areas of security, defense and I think, therefore, that the Olympic Games solid institutions able to receive great sporting intelligence take part in an exchange of ideas can serve as an important means for the pro- events. and best practices with their counterparts in motion of modalities that are less known to After that came what was our biggest chal- countries like the United States, Canada and Brazilian audiences. Particularly, I admire lenge up to that point: the World Cup, with 32 the United Kingdom. the work of our Paralympic athletes. We are a teams and 12 host cities. Despite the fateful From the point of view of sporting me- Paralympic powerhouse yet few recognize the semifinal against Germany, the World Cup gaevents, I’ll highlight that the mere act of value of our athletes and there stories of over- was an enormous success, both with the me- hosting a large event does not guarantee au- coming difficulties. At the Olympic Games, the dia and with audiences. During the 30 days of tomatic gains for the host country: the image main objective for Team Brazil is to stay among the championship, Brazil received one million that the host-country conveys to the world the 10 first-placed countries in the medal rank- tourists from 203 different nationalities, which must have ample grounding in reality. When ings. In the Paralympic Games, meanwhile, meant a 131% increase in the inflow of visitors we hosted the World Cup, journalists, inter- Brazil ranked 9th at the Beijing Games and compared to the same period in 2013. For its national supporters and viewers talked about 7th in London, besides finishing 1st in the last part, Itamaraty fulfilled its objectives. The a modern, democratic, multiethnic and tol- Parapanamerican Games in Toronto last year. Immigration Division issued about 110 thou- erant Brazil, with excellent airport coverage, As for MMA, it’s worth remembering that sand visas for tourists who wanted to come to infrastructure and an extremely welcoming Brazilian Jiu-Jitsu is recognized globally and Brazil for the World Cup and for World Youth people. Not for nothing, 95% of foreign tour- practiced in many countries. Day. Our officials designated to the Integrated ists who visited Brazil during the champion- Finally, regarding “e-sports”, we have nev- Command and Control Centers in the 12 host ship expressed their desire to return. Had they er received any demands in this field. cities responded to about 2500 situations in- not found grounding in reality, they would not — Interviews 151

JUCA: The field of international sports in- Secretariat of the Presidency (SECOM/PR), cludes large, unique, organizations such as the Ministry of Sport, the Special Secretariat FIFA and the IOC. What is the relationship for Security in Large Events from the Minis- with these organizations like, and what are try of Justice (SESGE/MJ), the Ministry of Interview with their specificities for Itamaraty? Tourism, the Ministry of Culture, the Ministry Both FIFA and the IOC are private entities, of Development, Industry and Foreign Trade, Marcelo Pedroso which don’t have states as members, but rath- Embratur, the Government of the State of Rio er football associations and National Olympic de Janeiro, the Government of the City of Rio - The Olympic Comittees from each country. de Janeiro, the Brazilian Olympic Committee Therefore, despite the important position and the Rio 2016 Organizing Committee. I am Games: A Great of governments in the selection processes to also sure that, as was the case with the World host the World Cup and the Olympic Games — Cup, we will once more fulfill our mission, and Moment to by means of political negotiations, elaboration the foreign Heads of State, sporting fans and of security and infrastructure plans and so on, athletes who visit Brazil will return to their Update and Widen which need to be a part of the commitments countries with the best image of our nation. portfolio of each bid — the selection process is I reiterate that, although this legacy is im- Brazil’s Image. secret. It is equally important to highlight that portant for the institution, the main message the confederations and associations responsi- left behind by this virtuous sequence of mega Portuguese version page 74 ble for football in each country are not associ- sporting events in Brazil is that sport brings ated to their respective national governments. hope. Sport projects the desire for overcoming — The same is true for the elector-members of barriers and represents that hope that it is al- Victor Hugo Toniolo Silva the IOC, who are not under any relationship of ways possible to reach the best result. We have dependence or subordination to their national shown this in Brazil, both in society and in gov- A vast experience in public management has governments. ernment, throughout the last decade. — J allowed Marcelo Pedroso to preside the Olympic During the preparation to host the World Public Authority, an agency that aims to coordi- Cup, the Foreign Ministry’s main point of con- nate efforts in planning and delivering the facil- tact was with the Local Organizing Committee ities and services necessary to hold the Olympic (LOC), with whom we decided issues like the Games. Having earned a degree in International reception of foreign Heads of State and of Gov- Trade, Pedroso has worked with tourism, cul- ernment, security, defense and intelligence. ture, and foreign markets. He served as Exec- Today, as we prepare to receive the Rio utive Secretary of the Ministry of Culture, Di- 2016 Games, our interaction occurs mainly rector of International Markets and Director of with the Presidency’s Chief of Staff, with the Products and Destinations of the Brazilian Tour- Ministries of Sport, Defense, Justice, Culture ism Board (EMBRATUR), Executive Director of and with the Rio 2016 Organizing Committee. the “Santos e Região Convention & Visitors Bu- — reau”, Secretary of Tourism of the City of Gua- JUCA: Major events are often talked about rujá, and Executive Director of Santos City Hall. in terms of their “legacy”. What will be the legacy of the last big sporting events for Ita- JUCA: In your view, what is the relation- maraty? What has been the greatest lesson ship between the Olympic Games and Bra- for the institution? zilian foreign policy? The greatest legacy of the megaevents be- It is a strategic relationship because the longs to the Brazilian people, but it is undeni- Olympic and Paralympic Games are interna- able that all of us, in the federal government tional events with an absolutely massive me- will benefit from the great events, in the sense dia coverage, which allows the host country that we strengthened abroad the image of a to widen the scope of the essential messages it consolidated democracy, a culturally diverse wishes to convey to the outside world. In Bra- and welcoming people and a peaceful society zil, we hope to strengthen and expand all com- guided by coexistence. munication lines established by the nation’s From Itamaraty’s point of view, when we foreign policy, be they economic, cultural, or in finish the Rio 2016 Games, we will have estab- any other area. Although the Olympics are pri- lished and deepened our relationship with a marily a sports-related event, they represent series of partners, such as the Communications essentially a moment for global communica- Interviews

tion, which offers Brazil’s Foreign Ministry a Every time I look at the Games, I see op- may be, to be a fundamental legacy, especial- great opportunity to enhance dialogue, broad- portunity. In order for that opportunity to ly within the context of international politics. en horizons, and strengthen national messages. come true, it must follow a defined strategy, in Brazil’s position in the international scene – Thus, sports and diplomacy can work together. which each area determines how it will project and the understanding that the Olympic and — itself. Paralympic Games are a geopolitical event of JUCA: What is the federal government’s One of the initiatives that will take place great influence – require a better definition of strategy to improve results by organizing during the event and whose experience in in- international conceptions and knowledge of the Olympic Games? ternational communication I can certify, in Brazil. The conceptions that matter the most It is a strategy in which the federal gov- light of the foreign media’s presence in Rio de to us pertain to our ability to deliver, our lev- ernment as a whole, and not only Brazilian Janeiro, is Casa Brasil. This facility is dedicat- el of organization, how much we can achieve, foreign policy, has created a timeline to take ed to providing multiple types of information and other aspects related to modern Brazil. advantage of the current period of great in- during the Games, as a means to promote the As for people’s understanding of Brazil and its ternational events in Brazil, not only in sports, nation’s brand as a whole, with great poten- cultural and natural diversity, several elements but in politics and cultural exchanges as well. tial for the promotion of Brazil’s foreign trade. of communication will allow us to update the In the last few years, the country has hosted Casa Brasil is being organized by the federal international community about Brazil’s im- the Military World Games, Rio+20, the Youth government, especially the Ministry of Devel- age, due to our experience with the Olympic Olympic Games, the FIFA Confederations Cup, opment, Industry, and Trade; the Ministry of Games. This is essential because the lingering the FIFA World Cup, the World Indigenous Culture; and the Ministry of. This project has image of Brazil still boils down to soccer and Games, and now the Olympic and Paralympic the potential to relay all of the messages that I carnival. These are aspects of our country that Games. These events represent a string of op- have mentioned here, in addition to promoting will remain important – they are a part of our portunities that the country has seized. I be- trade, which is effectively the strategic core of cultural matrix, our identity – but now we have lieve that, in terms of international visibility, of Brazil’s foreign policy. APEX (Agência Brasile- the opportunity to broaden that image, to ex- its international image, these events were and ira de Promoção de Exportações e Investimen- pand foreigners’ knowledge of our country remain great opportunities for Brazil in the tos, the Brazilian Agency for the Promotion of and our people, without deconstructing that fields of politics, trade, culture, and sports. One Exports and Investments) has worked on Casa other portrayal of Brazil. It is a great moment can create a legacy for the nation’s public im- Brasil, precisely in order to combine trade pro- to update and widen Brazil’s image. That is the age, which the government, in its strategy, has motion, a short-term goal, with the projection fundamental legacy for our foreign policy. — J considered clearly and effectively. of Brazil’s image, a long-term goal. The results of these efforts, initiatives, and — projects will be obtained in the medium and long JUCA: What legacy may the Olympic and run. Brazil’s image has been consolidated inter- Paralympic Games leave Brazil? nationally and will continue to develop in the To discuss a legacy, I believe we must con- future. The federal government is quite focused sider several dimensions. First, the urban di- and very aware of the fact that it needs to make mension – such as the concept behind the City the most of this event to increase Brazil’s visibili- of Rio de Janeiro after the Games, which will ty and disseminate its image abroad. This entails differ greatly from the city’s previous devel- a few elements that I consider essential: those opment – which focuses on the investments in associated with the event itself, which include, transportation, aimed at creating a more inte- without a doubt, our ability to deliver the Games grated city, where, for the people, circulation in accordance with international standards, with is easier and more accessible. This is a tangible standards required by the International Olym- legacy that will transform the average Cario- pic Committee; in other words, safe Games. ca’s daily life. Moreover, the event should showcase Brazil as a Second, there is the dimension pertain- whole, with its cultural and natural diversity. ing to sports. It involves the construction the This is the cornerstone from which several Olympic facilities, in accordance with interna- government agencies can develop paths to en- tional standards, which will provide Brazilian hance and echo that message, in order to ob- athletes with world-class infrastructure for tain results in the various areas comprised by their training and may beget positive results Brazil’s foreign policy. in any future participation in international — events. JUCA: How do you view the promotion of Third, there is the dimension of the in- the country’s brand in the context of the tangible legacy of the Games. Here, I consider Olympic Games? the legacy of Brazil’s image, as intangible as it Interviews 153

— JUCA: For a layperson that sees poker to- JUCA: Is there a training regimen for the day in comparison with ten years ago, the poker player? impression is that a market was formed Leonardo Bueno: Yes, the training regimen of the poker play- around something that before was noth- er involves the development of three distinct ing but a hobby. You talk about an “army the expansion of areas. The first is the natural psychological of players”. How is the practice of poker abilities of the player, such as reasoning and structured nowadays? poker in Brazil logic. It would be an equivalent of the soccer Playing poker involves, naturally, winning player who needs to practice running to im- or losing money. People who want to play pok- Portuguese version page 78 prove his physical conditioning. er play it as a hobby, without worrying so much — The second is technical knowledge. Since about winning or losing, or they play exactly Júlia Vita de Almeida poker is a game in which one uses chips and because they want to make money. From these cards, it’s necessary to understand what the two approaches people have about poker, busi- Sports modalities are dynamic and Brazil probabilities and strategies are based on the nesses emerge and grow because poker moves is not oblivious to world trends. Poker is a new hand you have and in the community cards money. sport and has been increasingly gaining adepts that are dealt. It’s necessary to dominate the So, for example, to cater to these peo- in Brazil. We interviewed one of the represen- technique that comes from the interaction be- ple who want to play it as a hobby, we offer tatives of the sport in Brazil, Leonardo Bueno, tween the cards, chips and human beings who courses to improve the player’s experience. As bachelor’s degree in law from the University of play the game. This technique is always in con- for the ones who want to make a living out of São Paulo and professional poker player since stant evolution - it’s been ten years since I’ve the sport, we created poker team structures. 2006. Up until 2002, he played only cash games been playing, and every day I study. We select the players; we teach them free of online and since then he has only dedicated him- The third area is the player’s capacity to charge, and we pay for their games. If they win, self to the teaching of poker. Leonardo, together execute. It’s his mental preparation to contin- we take a part of the profit. If they lose, we bear with his partner – and world champion – André ue to play well during a bad streak of cards, to the losses. Akkari, has opened the schools “Surto”, “CT handle a long session of game; it’s the courage It’s from this money that naturally moves Super Poker” and “QG Akkari Team”. He was a to execute the right plays even though that poker that these two industries emerged. Pok- poker commentator for more than four years at might mean being eliminated from the tourna- er has grown a lot because it offers the possi- TvPokerPro, ESPN and Band Sports. He writes ment. bility for fun or online work without leaving in his blog “Poker fora da caixa” (“poker outside So I believe that it’s the combination of the home, in addition to a lot of adrenaline, an the box”) and has recently been giving lectures these three things that makes a good poker intellectual challenge and the chance to play at companies and universities. He has partici- player. It’s these areas that I, and I am much against professionals, something we don’t see pated in the World Series of Poker Tournament more of a tutor than a player, seek to develop in any other sports. I can’t play soccer with (WSOP) in Las Vegas, as well as in tournaments with my students and my poker team. Neymar, for example, but I can play poker with of the Brazilian Series of Poker (BSOP) having — any person in the world if I participate in a played in all variants of the game. JUCA: Could you tell us a little bit about the tournament in which this person is enrolled. evolution in your poker career? To participate in this tournament, one just JUCA: Do you consider poker a sport? I started playing in 2005 on the Internet, needs to pay the entry fee. Yes, I considered poker a sport of the mind as a hobby, for fun. From 2005 to 2006 I made — – and I’m not the only one who thinks this. a considerable amount of money and in 2006 I JUCA: Since when has the Brazilian Series The International Mind Sports Association took a leave of absence from university to try of Poker existed? (IMSA), affiliated to the International Olym- to make a living out of it. From 2006 to 2012 I The Brazilian Series of Poker (BSOP) was pics Committee (IOC) officially recognized played professionally. As of 2012, I started to founded in 2006. There was a world poker poker as mind sport in 2010. dedicate myself to teaching poker. That’s when boom in 2003 coming from the United Stated In my opinion, poker is a sport because I set up a poker team with my partner and be- and in 2005 poker popularized in Brazil. To- it’s a way in which people compete on equal gan to work more like a school, with a video day, the number of players is impressive. “Pok- terms. You have chips, cards, that are accessi- website. I didn’t stop playing, but I focused on erStars” is the biggest poker site in the world, ble to everybody, and even though we deal with tournaments abroad, as well as on the Brazil- and there are approximately 8 million player the random element of the deck of cards, it’s ian championship. The goal is to play less, but accounts in Brazil. still one person playing against another person enough to learn what’s in vogue, to understand — - human beings affect this dispute. Therefore, how the game is evolving and to form an army JUCA: Does Brazil have any international because of this I consider poker a sport, but of players. Nowadays I’m much more of a play- projection in poker? a sport of the mind, since it does not demand er trainer than a player. Brazil has stood out in online poker. In physical or athletic attributes — the World Series of Online Poker of this year Interviews

(WSOP 2016), Brazil was the country with The Brazilian Texas Hold’em Confederation, tournament function very well, and that we most titles. Brazil has a large number of play- an entity that has been fighting since its foun- have done a great job. If the endorsement of the ers and a lot of good ones because this industry dation, in 2009, to protect the act of playing Ministry was not the cause for poker’s growth was well developed over here. I believe that poker in Brazil. in Brazil, it’s certainly one of the reasons why poker is probably the only sport in which we Since our community is still not formal- it continues to grow until today. are the best in the world. We won 21 out of 168 ized, there is no legal security to execute our — WSOP tournaments in 2016. The UK came sec- contracts. Unless, for example, when we form a JUCA: What are your career perspectives? ond with 20, followed by Germany and Canada company whose objective is to teach poker, not I think the poker industry continues to with 14, and by Russia with 11. poker itself. For financial transactions linked grow and offers a number of opportunities that However, Brazil still doesn’t have great to poker, like investing in a player and making I try to make the most of. Today I work with relevance in the most expensive tournaments money in exchange, there is no possibility of the “CT Super Poker” and “QG Akkari Team” in the world because they are still not accessi- contractual execution. What we have is an in- school. I also play once in a while, which ble to Brazilians. These are events that attract ternal control of the world of poker, a kind of contributes to supplement my income. Final- the best players in the world, but the entry fee blacklist with the bad payers. ly, there is a new area, a very interesting one, is around U$250,000 dollars. The Brazilians There is also no specific model for taxing which I’ve been developing with my partner: players are beginning to reach this level, but for poker. This shortcoming harms us because to give lectures at companies and universities. for now, the country stands out in more acces- our business is quite similar to the financial In poker, we learn to reason in a different sible series, like the WSOP, for example. market, where the earnings must be taxed an- way, a unique way: our thinking becomes more — nually. Our earnings, though, are taxed month- logic, we understand better the risk-reward re- JUCA: What is the socioeconomic profile of ly, which means that if for instance, I earn R$ lation, and we become specialists in risk analy- the Brazilian player? 27,000 in one month and if I lose R$ 13,000 sis and decision taking. Recently we participat- It’s quite varied. Here’s the deal: a lot of in the next month, I won’t have my real prof- ed in an event hosted by Jack Daniel’s where I people realized that it’s possible to make a liv- it taxed and thus, I’ll pay more than I should was invited to help their employees to improve ing from poker in Brazil. So many people de- (27,5% of the total of R$ 27,000, instead of their risk comprehension and to develop their cided to give up their job they didn’t like, or 27,5% of the actual profit of R$ 14,000.) Fortu- reasoning capacity. I’ve also been to UNI- that paid little, to try to take a chance at poker. nately, there is a law working its way through CAMP, which has just included a subject about This is the case of many players on my team, the Senate with the objective of equating the poker in the Science of Sports undergraduate for example. The profile of the ones who make taxing of poker with the one of the financial course. Even though it’s an optional class, it’s a living out of poker is usually middle class; it’s market. one of the most popular ones. The idea of the people who made this choice. Obviously, there — professor who created this subject was to ex- is also a class with a lot of money that plays JUCA: Do you believe that Poker’s recogni- plore the concepts of poker, like equity, vari- without the pretension of transforming the tion from the Ministry of Sports was a cause ance, expected value, logical reasoning and game into a profitable activity, but they play for or a consequence of the sport’s growth in coolness, to elevate the professional formation the joy of playing and for the good things that Brazil? of the student. come along with it. I believe that the Ministry of Sports fol- I believe we’ll have an interesting future — lowed a trend that already existed in reality. in this new front. I’m sure that since we have JUCA: What was the evolution of the legal The business was naturally becoming too big, a different and more efficient way of solving treatment of poker in Brazil? relevant people were playing it, poker started some problems - my life depends on me solving Decree-law 9215, from 1946, prohibited the to be broadcasted, the Brazilian Series of Poker problems from the table in the most efficient practice and exploitation of games of chance was attracting a lot of people - more than two way possible-, we can teach that to people and in national territory and restored the Law of thousand people played at the final event- , the companies. It’s a market that comes from pok- Penal Contraventions from 1941 that sentenc- world of poker stopped to watch the Brazilian er, it comes from this intellectual qualification es to prison or a fine the establishment or the Series of Poker, sponsors started to become that poker gives us. — J exploitation of these games in public places. interested in it, legal opinions were issued to Poker, until recently, was considered by some defend the practice of the game... So I think all as a game of chance. Before the popularization of this noise coming from this community had of online poker, if you wanted to practice the an effect. A symbolic effect of this growth is the sport, you had to go to clubs or poker houses, fact that Ronaldo Fenômeno, the Brazilian soc- always with the risk of being taken to the po- cer player, is sponsored by PokerStars and likes lice station to provide clarifications. There was to play Poker. a major shift in the treatment of the matter in The Ministry of Sports has been very open 2012 when the Ministry of Sports recognized to working with our confederation and real- poker as a mind sport and officially registered ized - I believe- that our institutions, media, Profile 155

of Coubertin by Louis XVIII (six years before gradually gained ground until Coubertin man- Profile that, Julien-Bonaventure had come to Brazil, aged to get Paris-Sorbonne University to make in a diplomatic context, and painted watercol- a room available for the committee’s activities. ors of Rio de Janeiro’s landscapes). The barony This is when his movement for sports as an ed- of Coubertin was a reference to a domain in the ucational resource began, and it would be the Île-de-France region where the Frédy castle object not only of conferences and speeches was built. but also countless books, pamphlets and arti- In 1871, the year when the first baron cles in the press. passed away, young Pierre witnessed Prussia’s Luckily, Coubertin went beyond the idea of utter humiliation of France on the battlefield. building up French bodies for revenge on the Like many of his generation, he grew up both Germans. In 1889, he went to the United States hating the neighboring empire that was estab- and Canada, and gathered further evidence of lished in the aftermath of the Franco-Prussian the educational potential of sports. In the fol- War and bent on vengeance capable of restor- lowing year, he visited physician and educator ing the pride of a now-republican France (like William Penny Brookes, who had been host- our Baron of Rio Branco, Baron of Coubertin ing annually, ever since the 1850s, the “Wen- would only perform his deeds when there was lock Olympian Games” in the British hamlet no longer a crowned head to rule his country). of Much Wenlock and who, in 1866, held an Against this backdrop, besides being a common event called “Olympian Games” in London. Another Baron career path for those of his social class, the mil- Such initiatives contained references to Olym- itary would allow direct participation in the ef- pia, the ancient Greek city that staged sports Portuguese version page 82 forts to rehabilitate France. competitions with a strong religious character — A good student at a Jesuit school, our char- held during the truce among warring peoples. Pedro Ivo Souto Dubra acter did try. At age 17, he even prepared for It seems that Coubertin absorbed the British French military academy, but soon abandoned octogenarian’s ideas—and, according to some A baron with a long moustache, a histo- his military aspirations in favor of law school. authors, he increasingly concealed this influ- ry lover, a good writer and journalist, a peace Studying law did not please him either: at age ence until he began to state that the Olympic enthusiast. It would be only natural, given the 22, he dropped out. A new attempt at earning revival had been brought about by himself (to broad bibliographic brushstrokes of the pre- a degree followed soon afterwards, now at the make matters worse, it should also be men- vious sentence, for the reader to immediately École libre des sciences politiques, where he also tioned that there are accounts of Olympic think of José Maria da Silva Paranhos Júnior ended up studying law, as well as philosophy Games in Sweden in the 1830s). In any event, (1845-1912), Baron of Rio Branco, the patron of and sociology. young Coubertin’s belief that reviving the Brazilian diplomacy and whose nickname Juca This somewhat hesitant start to adult Greek tradition would serve as a narrative to christens this magazine. However, this is about life, which provides few clues as to his future promote the advantages of sports was growing another baron: Frenchman Pierre de Frédy, prominence as a mature adult, resembles that firmer. Moreover, the Games should not have more commonly known as Baron of Couber- of the Baron of Rio Branco. While he hesitat- a parochial, nor even national, reach, after the tin, who was Rio Branco’s contemporary and ed between educational institutions trying to fashion of Brookes’s limited experiences, but went down in history neither due to the battles find his calling, Coubertin mulled over the idea rather span several nations, just as they did fought nor because of the treaties signed, like that education should be reformed. In 1883, he in the city-states of yore and in line with the so many aristocrats of his time, but for having went for the first time to Great Britain, where cosmopolitan spirit that had been developed created the great pacifist diplomatic sports cel- he had contact with an educational curricu- in the wake of advances in transportation and ebration called the Modern Olympic Games. lum that included sports practice. Rugby, in communications. The youngest of four children, Pierre was particular, drew his attention. At that time Details on the setbacks suffered by Cou- born on January 1st, 1863 in Paris. His father, France ignored the Latin phrase “mens sana bertin until 1896, when the first edition of Charles-Louis de Frédy de Coubertin, was in corpore sano”—a mistake, to Coubertin, the Modern Olympic Games was emblemati- an ordinary painter of religious and histor- who went so far as to blame defeat by Prussia cally hosted by Athens, are beyond the scope ical themes, while his mother, Agathe-Ma- partly on French soldiers’ lack of physical fit- of this article. In 1892, while lecturing at the rie-Marcelle Gigault de Crisenoy, descended ness. In 1888, Pierre de Coubertin published Sorbonne, he stressed the need to rekindle the from adjutants of William the Conqueror. his thoughts on the British educational sys- flame that had burned so long ago in Olympia. Originally from Italy, the Frédys had been en- tem. That year, he set up a committee to deal To accomplish his purpose, Coubertin would nobled by Louis XI in the 15th century. Four with the introduction of physical education run into several difficulties not only in the centuries later, in 1822, Pierre’s grandfather, into French school curriculums. The cause of financial realm, but also with an old mentali- Julien-Bonaventure Frédy, was made Baron physical education, far from being consensual, ty: some athletes simply believed their sports Profile

would be overshadowed in an event that was ly as a visionary—let us not forget those who to gather so many sports. In June 1894, Cou- prefer to see old Brookes as the true father of bertin took another key step by founding, in the modern Olympics. Yet he was still a man of Paris, the International Olympic Committee his time, as we all are. A champion of sporting Bruno Soares and (IOC), a non-profit non-governmental organi- amateurism because he believed money would zation that, since 1915, has been headquartered corrupt competitors, he would probably turn tennis in Brazil: a in Lausanne, Switzerland. Contrary to popular his aristocratic nose up at big televised tour- belief, Coubertin was not the first president of naments with mass idols, who make far more perspective from the IOC, a post that was held by Greek entre- money than teachers, for instance. He would preneur Demetrios Vikelas (at the time, Cou- possibly be even more upset if he knew these sports diplomacy bertin took up the post of secretary general). idols can be women (although he accepted Initially skeptical, fearful that the Games women’s sports education, Coubertin argued Portuguese version page 86 might be a drain on their already shaky nation- that only men should take part in the competi- al finances, the Greeks eventually warmed to tion he conceived). Thus, it would not be hard — the idea. So much so that they gave France and to accuse Coubertin of having been both an Coubertin little credit, and rushed headlong elitist interested in keeping sports away from Rodrigo de Carvalho Dias Papa (Deputy head of CGCE/MRE and currently works in the into assuming the Games would always be held social segments worried about money and a Brazilian Mission to the Organization of American States in Greece. Coubertin obviously objected. After male chauvinist advocating the perpetuation (OAS)) paying historical homage to the competition’s of gender inequality. Analyzing the mindset of creators, it was time to take it to his country an age by using the parameters of another is al- Brazilian tennis, in opposition to Brazilian (curiously enough, at first, the idea of Paris ways a risky exercise: on the one hand, the un- soccer, has few heroes, a king and a queen: the hosting the first Games in 1900 was actually critical worship of heroes that would be placed queen is Maria Esther Bueno, who has won taken into account). It was time for Coubertin above historical contingencies and prejudice is 10 Grand Slams titles, including Wimbledon to become the president of the IOC, a post he avoided; on the other, the injustice of anachro- and the US Open, in either singles or doubles. held from 1896 to 1925. After that, and until he nism is committed. The king is Gustavo Kuerten, number one ten- passed away, Coubertin would be the honorary Pierre de Coubertin died of apoplexy on nis player in the world for 53 weeks running, president of the organization. September 2nd, 1937, at age 74, as he walked in three-time champion at Roland Garros and, Even at home, Coubertin had difficulties, a park in Geneva. He left his wife, Marie, and alongside Marcelo Rios, the only Latin-Amer- as the organization of the Paris 1900 Olympics two children, Jacques and Renée. In his life- ican tennis player to lead the ATP world rank- was not exactly effective. The third edition, in time, there were ten editions of the Olympic ing. And the heroes? They are scarce, but one St. Louis, the United States, in 1904, cannot Games. In the last edition, which was held in can name Alcides Procópio, Édson Mandarino, be deemed successful either. Furthermore, 1936, in Berlin, an African American athlete Thomaz Koch, Carlos Alberto Kyrmair, Luiz both events were up against competition form questioned the superiority of the Aryan race, Mattar, Patricia Medrado, Cássio Motta, Jai- World Fairs and ended up attracting less atten- which was asserted by the ruler of the host me Oncins, Joana Cortez, Fernando Meligeni, tion than they should have. Be that as it may, country. In view of the war starting three years Marcelo Melo and Bruno Fraga Soares. the Olympic movement had been gathering later, the Olympic Games would only take place momentum, and the 1908 Games, hosted by again in 1948. Pierre de Frédy, the patron of the BRIEF HISTORY OF BRAZILIAN TENNIS Great Britain’s capital, where Coubertin had internationalization of sports, the creator of At the end of the XIX century, the Brazil- become aware of the educational importance the iconic interlocking Olympic rings, forever ian government decided to attract immigrant of sports, produced better results, although the associated with the maxim that it is not the workers from all over the world, to foster the medal count was contested (the hosts had won winning but the taking part that counts, was replacement of slave work for a paid work- far too many medals). The 1912 Stockholm edi- buried in Lausanne, the city where the IOC is force. These immigrants brought to Brazil their tion fared better than the previous one. Owing headquartered. A commemorative monument skills, their culture and their sports. Besides to World War I, the 1916 Games were called erected in Olympia is where his heart rests. soccer, cricket and rugby, the British brought off, and Coubertin took a leave as the president * to Brazil some wooden rackets and colorless of the IOC, for three years, to join the French One last curiosity: Raul do Rio Branco, Bar- tennis balls, thus introducing tennis to Brazil. army. He would still see five more editions of on of Rio Branco’s son and a diplomat, was the In 1955, four years before the first titles the Olympics, all of which were held in times first Brazilian to participate in the Internation- won by Maria Esther Bueno at the US Open of economic depression and growing political al Olympic Committee. Raul was a member of and at Wimbledon, the Brazilian Tennis Con- radicalization. the institution from 1913 to 1938. — J federation (CBT) was founded. By reviving and reinterpreting ancient Currently, tennis is practiced in all Brazil- Greece’s age-old tradition, Pierre de Coubertin ian States (only the state of Roraima does not took his place in history almost unanimous- have a tennis federation), and, among them, Profile 157

one can highlight the following: São Paulo, Rio ly in the economic area, for our trade promo- son travel with me part of the year”. Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais tion. That lasted six, seven years and after Iraq Bruno has won ATP titles in the following and Distrito Federal. Among the main Brazil- entered the war against Iran, this partnership cities: São Paulo, Santiago, New York, Montreal, ian tennis clubs, it is possible to cite the follow- faded away (…)”. Barcelona, London, Eastbourne (in England), ing ones: When asked about possible difficult times Nice, Valencia, Basel, Munich, Tokio, Kuala Besides “tennis on courts”, the CBT deals during the war, Bruno Soares awnsers: “We did Lampur, Auckland, Sydney and Melbourne. He with Beach Tennis and Paralympic wheelchair not have any very tense moments during the has won 3 Grand Slam Titles in men doubles tennis. The main competitions that Brazilian conflict and, fortunately, we left Iraq before the and 2 Grand Slam Titles in mixed doubles. At tennis players participate in are: the Olympic start of the Gulf War”. the end of October 2016, he reached his best and Paralympic Games; the Olympic youth Following the shifts in his father’s work, doubles ranking ever: number 2 in the world. games – Brazilian tennis players Orlando Luz Bruno Soares lived, during his childhood, in I ask Bruno about his vacations, if he likes and Marcelo Zormann are currently the cham- Maringá, Rio de Janeiro and Fortaleza, be- to practice other sports, and he replies “I pions in men’s doubles and Luz is the runner fore returning to Belo Horizonte when he was don’t practice other sports while on vacations. up in men’s singles; the Federation Cup, the 14 years old. He started to practice tennis at During my vacations, I like to play poker with main women’s tournament among countries in Minas Tenis Clube, alongside Andre Sa and friends, go to the club with my family and go to tennis, as well as the Davis Cup. Marcelo Melo, currently his partner in the Da- the movie theater with my wife” vis Cup and in the last two Olympic Games. Finally, I ask about his expectations about BRUNO SOARES: FROM THE TENNIS The transition to professional level in ten- Rio 2016, and he says: “We are very excited, we COURTS IN BAGHDAD TO THE GRAND nis is very difficult. There are always many ten- would like to get an Olympic medal for Brazil- SLAMS nis players that have excellent results in junior ian tennis, which would be Brazil’s first” Bruno Soares was born in Belo Horizonte, tennis and cannot repeat them after entering At Rio 2016, Bruno played doubles with the capital of Minas Gerais state, and started to professional tennis. Bruno Soares was, in 1999, Marcelo Melo. After two victories (includ- play tennis in a surpising place: Baghdad, Iraq’s ranked 4th in Brazilian junior tennis and 136th ing one against Serbia, who had the number capital. During the beginning of the 80s, while in the ITF junior ranking. In the following year, 1 singles player, Novak Djokovic), Bruno and Iran and Iraq were at war, Brunos’s father, he was number 1 in the Brazilian junior rank- Marcelo lost to the Romanian team. In the a Brazilian engineer, accepted an invitation ing and number 10 in the ITF junior ranking. men’s singles competition, Brazilian player to start a work in Baghdad. In Iraq’s capital, In 2002, Bruno started to play professionally Thomaz Bellucci lost in the quarterfinals, as Bruno has his first contact with tennis, as he and, in 2004, he reached his best ITF singles the Brazilian mixed double, which were lined tells us: “In Iraq, I fell in love with the sport ranking: 221th. In the following years, Bruno up by Marcelo Malo and Teliana Pereira. In and I haven’t been able to put down the racket focused on the doubles ranking and, at the end women’s singles, Pereira lost in the first round since”. About the country, he says: “It is a very of 2007, he decided that he would be exclusive- and in women’s doubles, in the second round, different culture, compared to ours, but it was ly a doubles player in the ATP world circuit. playing alongside Paula Gonçalves. Once again, a very interesting experience for my family. I I ask about the main doubles partner he Brazil did not reach Olympic medal in tennis started to play tennis in Iraq and I have it kept had during his career, and he replies: “Kevin and Brazilian tennis fans are already waiting in my memory”. In a recent interview, the cu- Ullyet, from Zimbabwe, Marcelo Melo (Bra- for Tokyo 2020 to celebrate the first tennis urent Brazilian Consul in Madrid, Ambassador zilian), Alexander Peya, from Austria and, of medal. Paulo Roberto da Silveira Soares, comments course, my current doubles partner, Jamie on the relationship between Brazil and Iraq in Murray” TENNIS AND SPORTS EXCHANGE the late 70’s and in the beginning of the 80’s, Brazil is nowadays a powerful country PROGRAMS MADE BY THE BRAZILIAN when he was posted to the Brazilian embassy in the ATP doubles circuit and has 6 players DIPLOMACY in Baghdad: among the top 100 doubles players, according The Brazilian Ministry of External Re- “Iraq was the most open among Arab to a ranking published on September 26th, lations, through CGCE/MRE (General-Co- countries. In 1975, women could work in Bagh- 2016: Marcelo Melo, 3o; Bruno Soares, 5o; An- ordination on Sports Cooperation and In- dad, in companies or in public service. That dré Sá, 50th; Marcelo Demoliner, 62nd; Thom- terchange), has been trying to contribute to was unique in the Islamic world. Saddam Hus- az Bellucci, 96th and Fabricio Neis, 100th. Only increasing exchanges between junior tennis sein had enormous fondness for the Brazilian France and the USA have more players than players. In 2015, CGCE and the Instituto Ten- ministers of state - Delfim Netto, our former Brazil in the ATP doubles top 100. nis, linked to the Lemann Foundation, started Minister of Finance, visited Baghdad several “How many weeks per year do you spend a dialog to create a permanent exchange pro- times. Iraq received several missons from Bra- out of home and how many countries have you gram for Brazilian junior tennis players. That zilian companies and many Brazilian engineers already visited?” I ask. Bruno awnsers: “in gen- program is aimed at male and female athletes, worked in Baghdad, like those who worked to eral, I am away from my country 36 weeks per ages 14 and 16 years old, from Brazil and the Mendes Junior engineering company. Iraq was year, travelling with my coach, my physiother- BRICS countries (female) and Brazil and a priority for Brazilian foreign policy, especial- apist and my personal trainer. My wife and my MERCOSUL countries (male). Profile History

Besides this, CGCE/MRE is in permanent CONCLUSION: PERSPECTIVES FOR THE contact with the Brazilian Olympic Commit- BRAZILIAN TENNIS History tee (COB) to support our athletes in the great In 2004, Brazilian professional tennis play- sporting events, such as the Olympic and ers, led by Guga Kuerten, launched a “strike” Paralympic Games, the Pan-American and Pa- against CBT, Brazilian Tennis Confederation. ra-Panamerican Games and the South Amer- They urged CBT to create programs to devel- Politics and sports ican Games. In this sense, one can highlight op tennis in Brazil. After that, Jorge Lacerda some guidelines for Brazilian sports diploma- Rosa took over the presidency of CBT and al- in diplomatic cy in the next 4 years, from Rio-2016 to To- though one can recognize that Brazilian ten- kyo-2020, with a focus on tennis: nis has improved since then, its evolution has history a) Support the Brazilian Tennis Confederation not met expections after the “strike”. In 2017, (CBT) and the Brazilian Olympic Commit- Rafael Westrupp, former Exectutive-Director Portuguese version page 92 tee (COB) to organize international sports of CBT will replace Lacerda Rosa as the next — events in the new Olympic Tennis Center, president. Gustavo Gerlach da Silva Ziemath in Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, in many Brazil currently receives great intenarna- e Leonardo Fernandes Rodrigues categories of junior tennis. tional tennis tournaments, such as Rio Open, Cardote b) Support the Brazilian Tennis Confederation Brazil Open, Banana Bowl and Guga Kuerten (CBT) and the Brazilian Olympic Committee Tennnis Week. They are few, if we evaluate the February, 1980, the International Olympic (COB) in the task of promoting beach tennis potential of the Brazilian market and the quan- Committee is set to vote the motion to cancel around the world. Beach tennis is nowadays tity of Brazilian tennis fans. the Olympic Games in Moscow. In the Russian often practiced in Brazilian “sands” and also We hope thet the new CBT presidency can Press, the main argument is that one should in Mediterranean countries, such as Italy, develop tennis throughout Brazil, especially not mix sport and politics. Although this Rus- Spain and Portugal, as well as in the USA. in schools and public spaces. Concerning the sian argument is common, history proves that Beach Tennis requires further promotion high level of tennis, CBT should support Bra- there is a continuous influence from politics in in the Middle East, East Asia, Africa, South zilian junior players closely. As with soccer, sport and from sport in politics, and it is not America and Central America and the Ca- surf, volleyball, judo or beach volleyball, Bra- necessarily good or bad. This is the conclusion ribbean. zil has the potential to always have high level one can reach after researching the history of c) The creation of the BRICS Sports Coun- tennis players in the ATP and WTA rankings mega sports events. cil, in October of 2016, in Goa, can foster and not only when superlative tennis players As we were willing to better understand tennis exchanges between athletes in Bra- arise, such as Guga, Marcelo Melo or Bruno this relation between sports and politics, we zil and athletes in Russia, South Africa and Soares. — J researched in the archives of the Ministry of India (countries with a tradition in ten- Foreign Affairs trying to find stories relating nis), as well as with China, which is having to big sporting events, especially the Summer great results in professional and junior ten- Olympic Games and the Soccer World Cup. nis recently, especially in women’s tennis. The result was inspiring. From Moscow to d) Deepen the dialogue with the Brazilian Buenos Aires, there were different stories that Paralympic Committee (CPB) and Sports show that it is impossible to separate politics United, from the U.S Department of State, to from sports, especially in international sports support wheelchair tennis. events that serve as mechanisms both to pro- e) Support the Brazilian Ministry of Sports, the mote the host country and to draw the atten- Brazilian Tennis Confederation (CBT) and the tion of the world to political demands. Brazilian Olympic Committee (COB) in orga- nizing the Brazilian delegation to the Youth MUNICH, 1972 Olympic Games, to be held in Buenos Aires in It was the ninth day of the Olympic Games. 2018. It seemed that Germany would make history f ) Support the Ministry of Sports, the Brazilian like the American Swimmer Mark Spitz just Tennis Confederation (CBT) and the Brazil- had, winning 7 gold medals and breaking 7 ian Olympic Committee (COB) in organizing world records. Germany was achieving the the Brazilian delegation to the next Olympic goal of promoting what they called “the Olym- and Paralympic Games, to be held in Tokyo in pic Games for peace” less than 30 years after 2020. the end of the Nazi Regime. Or that´s what it seemed. During the night of September 5th, 8 Palestinian terrorists took advantage of the History History 159

lack of surveillance, invaded the Olympic Vil- only protest the result and watch Argentina President of the International Olympic Com- lage and took hostage 11 Israeli representatives win the World Cup for the first time in histo- mittee Lord Killanin, who protested strongly (5 athletes and 6 coaches). Their objective was ry. As one can see from the telegram written by against the political use of the Olympic Games. political: call the world’s attention to the Pal- Brazil´s Ambassador to Argentina, the context Policy was hampering the sport. Lord Kill- estinian cause. of the games affected in the security measures anin then offered an alternative: establishing, A sequence of errors from the German Po- needed around the Embassy and other build- in Greece, a permanent office of the Olym- lice during the negotiations made the situation ings with Brazilian institutions. pic Games. It was an attempt to return to the even more catastrophic. All the members of the “athletic ideal above the national ideals” of Israeli delegation, 5 terrorists and one German MOSCOW, 1980 the ancient Greeks, a last desperate attempt to Policeman died. Although the olympic spirit Sport has never been immune to politics. prevent the gloomy geopolitical chessboard of seemed to have evaporated from the capital Since its redesign in the late nineteenth cen- the Cold War from halting the development of of Bavaria, as indicated in the cable reporting tury, the Olympic Games provided a perfect international sport. — J the incident, the Olympic Committee, against showcase for the affirmation of ideologies and the willingness of some delegations, decided to displays of strength and national pride. The move on with the Games until its end. As the tradition of neutrality and equality between President of the Olympic Committee, Avery people of different nations, cultivated by the Brundage, pointed out one day after the mas- “Olympic ideal” of the ancient Greeks often sacre, in an event at the Olympic Stadium: “the gave way to disputes of another nature. Games must go on”. In the second half of the twentieth centu- ry, the Cold War was heated when it came to BUENOS AIRES, 1978 sports rivalry. Olympic events reflected the bi- Every month, the Brazilian Embassy in polarity, which can be seen in the reports sent Buenos Aires sent reports about the situation by the Brazilian embassies during the Moscow in Argentina. The world football champion- Olympics. ship had put the harsh Argentine military re- Brazil took part in the Games. The country gime in a difficult position. A public relations was against the boycott sponsored by the Unit- scheme was set up to preserve the country’s ed States and would be one of the first to speak image during the Games, a time for “fierce out in favor of the Moscow Games – a gesture fight against subversion”. France considered that was much appreciated by the Soviet hosts, boycotting the championship due to cases as stressed by the first vice president of the Or- of violence against its nationals - the French ganizing Committee of the Olympics, Vitalia football team came forward on the matter and Smirnov at a luncheon hosted by the Brazilian sent a letter to the government. In a curious re- Ambassador. sponse to the case of 22 French citizens identi- Some curious situations arose during the fied as missing, the Argentine foreign minister game. Several heads of mission received in- declared that only 7 were actually French, and structions from their respective countries to they were all “involved in subversive activities.” be absent from the Soviet Union in the gaming Brazil and Argentina were in the same period. Even countries that participated in the group in the second phase of the competition. games adopted this measure - some ambassa- The first place in the group would qualify for dors asked the hosts to consider them officially the final match. Brazil did its part, after a tie absent, even though they were in the territo- with Argentina and winning against Poland ry of the country. The most peculiar situation, and Peru. The Argentinians had to win against as noted by the Brazilian Ambassador, took the Peruvians with a difference of more than 4 place with the Spanish representative: a can- goals to qualify and play the final match against didate for the presidency of the International the “Clockwork Orange”. The usual rivalry be- Olympic Committee, he remained n Moscow tween the “canaries” and the “white and blue throughout this period, having taken the “cu- sky” was extra sensitive. The situation reached rious initiative” of “moving from the embassy an alarming proportion after the protests from residence to one of the city hotels. Brazil´s coach, Cláudio Murtinho against the The 83rd session of the IOC prior to the victory of the Argentineans over the Peruvians opening of the games was attended by a very by a huge difference (6 x 0) and their qualifi- small number of diplomatic representatives. cation to the final match. The Brazilians could The political situation was referred to by the History

the other. The fact that it is played outdoors tionalization of the US economy, through the and not indoors clearly makes it more rustic expansion of investment of north American than volleyball, its more refined cousin. companies in infrastructure to the south of rio The Duke of The Duque de Caxias Club was created in Grande. Employees of “Companhia Light”, in 1890 as Teuto Brasilianischer Turn Verein zu São Paulo, organized the first known baseball Caxias, Adhemar Curityba by the Bavarian immigrants Heirich game in Brazil, in 1902. The invitations to get Hilman, Paul and Rodolf Müller, Hermann more players for the games were made through de Barros and the Behrens, Ferdinand Senff, August and Anton the newspaper and, of course, in English, to en- Loeser and Wilheim Lindroth. With the es- sure that the targeted public would understand elders tablishment of “Estado Novo” and the par- the invitation. The “Parque Antártica” soon be- ticipation (entrance?) of Brazil in WWII, the came the meeting point of the aficionados for Portuguese version page 100 community of German immigrants did not es- the sport. With the support of the Mackenzie — cape the mistrust of being sympathetic to the educational group, the practice of the sport Helges Samuel Bandeira nazi-fascist wave that swept (was sweeping?) ended up becoming more popular in town. Europe. In 1994, therefore, “the end such dis- The Japanese, who already knew the sport, Brazil is a country of immigrants. Prac- comfort, the president of the club at the time, started playing in São Paulo, with the North tically everything and everyone came from Colonel João Meister Sobrinho, in a master- Americans, but soon created their own team - abroad, including the sports we play. Recently, move, changed the German name of the club to suggestion of the Japanese Consul, Sado Mat- the first edition of the indigenous games was the patron of the Brazilian Army, naming it So- somura. From there on, several other teams held, when some sports that may be consid- ciety of Physical Culture of the Duke of Caxias”. were created in Japanese-Brazilian clubs ered native to the land were played. Even in Currently, the Duque de Caxias Club is in the West of São Paulo and in the North of that event, the good and old soccer drew a lot known for its sporting teams, with a special Paraná. In these clubs, the baseball players and of attention. Nowadays, we don´t think of soc- highlight to its adult fistball teams which are fans can commemorate their homeruns, and cer as a foreign sport, because it has already among the best in the world. As the Duque de the less athletic can, to this day, practice their been absorbed by our culture. We already con- Caxias Club, there are many others throughout Japanese or lazily relax in the “ofuros”. sider soccer as something of our own and we Southern Brazil, where the German culture Just as it happened with the German Im- don’t even hesitate in calling it “futebol”, an and sport still resist time. After a tiring fistball migrants, the Japanese also suffered a lot of Anglicism refuted when the sport was initially match, nothing better than a cold beer with a prejudice and persecution during WWII. introduced in the tropics – nationalists wanted shot of Steinhäger inside — it´s the dangerous Baseball, associated to the Japanese culture, to call it “ludopédio”. Some sports, however, German submarine! ended up entering a period of decadence in have not been through such a strong nation- In 1958, the mayor of São Paulo at the time, Brazil. The overcoming of the traumas of the alization process as soccer has, and remain, to Adhemar de Barros, opened, in the neighbor- world conflict implied the revaluation of base- this day, as an identity mark and cohesion ele- hood of Bom Retiro, the Mie Nishi City Stadi- ball — landmark of that revaluation is an exclu- ment to some group of immigrants. um. With the presence of the Japanese Impe- sive stadium for the sport in Bom Retiro. On a Sunday morning, in a residential rial family, the fiftieth anniversary of Japanese It is Monday morning in Balneário Cam- neighborhood in the north of Curitiba, as you immigration was being commemorated. Its boriú and the city is crowded, pero no mucho, arrive at “Clube Duque de Caxias”, the first mark is the arrival of the Japanese ship Ka- as the Hermanos, who often come this beach thing that you feel is cold (because you are in sato Maru, in 1908. For the opening game, the in Santa Catarina, for the happiness of the lo- Curitiba) and the first thing that you see is a Waseda University team was also called. It cal economy, say. When businesses on Atlantic beautiful lawn, trimmed with German per- would come back to Bom Retiro years later, for Ave start opening their doors, they are already fection. To the unadvised visitor, it may seem the first Sokeisen – duel against its tradition- there. Their hair, when they still have it, is an excellent place for club members to walk al rival, the University of Keio team — outside white. Some wear suspenders, shirt and shoes, their dogs or let their kids run around. As the of the Japanese territory. Most people in São others , who are more modern, a sport jacket morning gets warmer, the club members, most Paulo thought the bats, the gloves and the rules and sneakers. They drink mate before, during, of them of evident German ancestry, arrive were strange, because they did not know the and after the game, even if the temperature is and start marking the playing fields and put- sport; it wasn’t the case, nevertheless, of the quite warm. Some, instead of the typical tea, ting lines between the black and white posts Japanese community. venture into some sips of colonial wine, sweet, that are spread out on the lawn. The use of Although we tend to associate baseball to very sweet! the lawn, soon becomes clear, especially for the Japanese-Brazilians, the sport did not ar- These gentlemen, and some ladies among those who know the favorite sport of these rive in our neck of the woods with the Japa- them, meet almost every morning in fields German-Brazilians, fistball. It´s similar to vol- nese immigrants, but rather with immigrants spread throughout the central beach of leyball, because both teams pass a ball, a very from the US. These immigrants came with Balenário Camboriú to play bocce. The objec- heavy one in fact, from one side of the field to their companies, in the context of the interna- tive of the game is to put the greatest number History Culture and Art 161

of balls the closest possible to a small ball that My idea for a script was simple. I would is initially thrown in the field. Although the old Culture and Art look for old work colleagues specializing in age of the players, serenity doesn’t always rule music so that they could evoke national songs the fields. Every now and then a bad word in that they deemed representative of sports as a Italian or even in Portuguese is heard. subject matter. The proposal was to have ex- Balneário Camboriú, with its beautiful This is the land of perts brainstorming rather than producing beaches and strong service economy became a rankings or taking a vote. I told them there refuge for the elders. The coast of Santa Cata- soccer would be no problem if the final list eventually rina was initially settled by Azoreans, a legacy Portuguese version page 104 focused excessively on soccer, but references that can still be heard in the accent of locals. — to other sports not held in such high esteem Then came the Germans, who established Pedro Ivo Souto Dubra would also be welcome. I also jogged my own themselves inland and, after that, the Italians memory in an attempt to fill in the gaps in this came and settled even further inland, in the Literary critic Antonio Candido teaches text. upper Itajai valley. The accent of the bocce us that every literary work, without being re- * players denounces their Italian heritage and duced to a mere document or to a mirror of In 1919, Pixinguinha composed 1 x 0 (1 – their origin in the west of Paraná or Santa Cata- reality, incorporates social dynamics into its 0), the oldest of the works evoked by the jour- rina or in the countryside of Rio Grande do Sul. form. I thought a great deal about Candido’s nalists contacted. This choro was set in the The bocce field ends up being the meet- lesson —which, to me, also applies to music— euphoric context of Brazil’s victory over Uru- ing point for the Italian-Brazilian communi- while I wrote this text, whose aim is to exam- guay following a goal, in the second 30-minute ty. They meet friends from their hometowns ine, though not exhaustively, the presence of extra-time period (there was no penalty deci- there and can speak the Italian dialect that sports as a subject matter in Brazilian music. sion), by center-forward player Arthur Fried- they are used to. They are first or second gen- Before I became a diplomat, I used to be a enreich in the play-off match of the third South eration immigrants who learned Portuguese cultural journalist. In the course of my previ- American football championship, which was only when they started going to school. Most ous career, not rarely did I see reality interfer- held in Rio de Janeiro. 1 x 0 was only recorded have as their mother tongue, not standard Ital- ing in the works I was writing about, listening in 1946, with Pixinguinha on the sax and Ben- ian, but some dialect, Venetian or Talian, being to or watching. And the fact of the matter is edito Lacerda on the flute (Lacerda was also the most common of them. that this is the land of soccer, as Milton Nasci- included as a composer). In 1993, Nelson Ange- Be it in Curitiba, São Paulo or Balneário mento and Fernando Brant’s song goes. I re- lo wrote the lyrics to this classic (“Vai começar Camboriú, with the Duke of Caxias, Adhemar member, for instance, interviewing singer and o futebol, pois é,/com muita garra e emoção,/ de Barros or some elders, in German, Japanese composer Moraes Moreira about a show that são onze de cá, onze de lá/e o bate-bola do meu or Italian, what really matters is getting friends centered around his songs about soccer. Or the coração,/é a bola, é a bola, é a bola,/é a bola e o together to practice a sport a have some good many interpretations of Nelson Rodrigues that gol!/Numa jogada emocionante,/o nosso time laughs together. If it is possible to do all that I watched, which always had either some actor venceu por 1 x 0/e a torcida vibrou”) (“The and still reconnect with the culture and tradi- wearing a shirt of one of Rio de Janeiro’s soccer match is about to start, that’s right,/full of spir- tion of our ancestors, much better. — J teams or some character like Tuninho, from A it and excitement,/eleven here, eleven there/ falecida (The deceased woman, loosely translat- and the game I love,/it’s the ball, it’s the ball, ed), who is so obsessed with Vasco that he does it’s the ball,/it’s the ball and the goal!/In an ex- not realize his wife is about to die. citing play,/our team won 1 – 0/and the crowd I have no room for detailed historical or so- cheered”). ciological digressions, but the fact is that both Pixinguinha’s pioneering work —1 x 0 was the popular music that was broadcast on the composed eleven years before the first World radio and soccer became mass phenomena at Cup— was followed by a beautiful succession the same time, from the 1930s onwards. There- of songs in the Golden Age of Brazilian Radio, fore, it would be more than natural for the which was ushered in in 1922. Among the suc- soccer field to start to interest composers who ceeding composers, Wilson Batista’s numerous were also alert to the price of beans, Getúlio and high-quality works should be highlighted. Vargas’s politics or lack of water. Following this With Geraldo Gomes, he composed Memórias tradition, when Brazilian artists decide to talk de torcedor (Memories of a supporter), about sports, they inveterately become, to use which was recorded, in 1946 as well, by Ara- an expression by Nelson Rodrigues, “flowers cy de Almeida and with the incredible initial of obsession” with soccer. That is by no means verses “Eu ontem vim da Gávea tão cansada,/ something bad, in view of the high quality of com a cabeça inchada,/pois o Flamengo tornou many of the products. a perder” (“Yesterday I came from Gávea so Culture and Art

tired,/my head throbbing,/because Flamengo uted with O Brasil há de ganhar (Brazil has got and Ponta de lança africano (Umbabarauma) lost again”). Batista wrote other good ones, to win), which became famous in the voice of (African center forward — Umbabarauma). such as E o juiz apitou (And the referee blew Linda Batista and was played in the loudspeak- Speaking of festivals, the one held in 1967 the final whistle) (with Antonio de Almeida ers in the Maracanã Stadium, which was built also contained several references to soccer. and whose first verses deserve a transcrip- for the 1950 World Cup. Singer and composer Sérgio Ricardo was ap- tion: “Eu tiro o domingo para descansar,/mas Soccer was not the object of only sambas pointed to play his Beto bom de bola (Beto, a não descansei,/que louco fui eu,/regressei do and marchas, urban genres closely associated good soccer player), who “foi pra Copa buscar futebol/todo queimado de sol,/o Flamengo with Rio de Janeiro, which was then the feder- a glória/e fez feliz a nação/no maior lance da perdeu/pro Botafogo,/amanhã vou trabalhar,/ al capital. A frevo, forró and coco singer, Jack- história” (“went to the World Cup seeking meu patrão é vascaíno/e de mim vai zombar”) son do Pandeiro, from Paraíba, lent his voice to glory/and made the nation happy/in the best (“I take Sundays to rest,/but I didn’t,/so cra- songs such as 1 x 1 (1 – 1) (Edgar Ferreira, who throw of all time”) and eventually faded into zy I was,/I returned from the match/all sun- wrote verses such as “Um empate para mim já oblivion. Annoyed at the audience’s hostile re- burnt,/Flamengo lost/to Botafogo,/tomorrow é derrota,/mas confio nos craques da pelota,/e action, Sérgio Ricardo interrupted his perfor- I’m going to work,/my boss roots for Vasco/ o meu clube só joga é pra vencer” —“To me, a mance, broke the acoustic guitar, and hurled it and he will mock me”), Coisas do destino (Such tie amounts to defeat,/but I trust the soccer at the crowd, creating one of the most emblem- is fate) (“Ai, ai, são coisas do destino,/sou ru- stars,/and my club only plays to win”), Frevo atic scenes of that time. bro-negro,/meu patrão é vascaíno,/ai, ai, esse do bi (Two-time champion’s frevo) (written by Contemporary with Sérgio Ricardo —and emprego eu vou perder,/mas deixar de ser Braz Marques and Diógenes Bezerra and re- also with a sad story of being booed at a festival Flamengo.../Não, não pode ser”) (“Oh, such is leased in the 1962 Chile World Cup —by the for the beautiful song Sabiá (Thrush)— Chico fate,/I root for Flamengo,/my boss roots for way, that was the year when Jacob do Bando- Buarque is another musician that is closely as- Vasco/oh, I’ll lose this job,/but to stop rooting lim composed the choro A ginga do Mané — sociated with soccer. A Fluminense supporter for Flamengo.../That won’t happen”), Samba Mané’s pizzazz— in honor of Garrincha), 4 x 1 and the founder of the Politheama team, the rubro-negro (Flamengo’s samba) and Flamengo (4 – 1) (Damião Florêncio and José Gomes) and singer and composer has written a song with tricampeão (three-time champion Flamengo) Bola de pé em pé (Ball from foot to foot) (with a self-explanatory title about the importance (with Jorge de Castro), Mané Garrincha (with Sebastião Batista). he attaches to the sport: O futebol (Soccer) Jorge de Castro and Nóbrega de Macedo) and These first composers that were born be- (with the great verses that compare the game Rei Pelé (King Pelé) (with Jorge de Castro and fore the radio and who used it to make their and the arts “Para tirar efeito igual ao jogador,/ Luiz Wanderley). works known were followed by a generation of qual compositor?/Para aplicar uma firula ex- Wilson Batista’s fellow composers in the children that grew up with a radio in the living ata,/que pintor?/Para emplacar em que pina- Golden Age of Radio were great. For instance, room and Panini sticker collections featuring coteca, nega?/Pintura mais fundamental/que the composer of a tune that was also named soccer stars. um chute a gol/com precisão/de flecha e folha after a score (2 x 2) (2 – 2), Lamartine Babo Jorge Ben Jor may be considered the Wil- seca” —“To put a spin on the ball as the play- became famous after composing, in the 1940s, son Batista of this new breed. Also a Flamengo er does/which composer?/To give a virtuoso anthems for eleven football clubs in Rio de Ja- supporter and having played in the under-16 display of soccer,/which painter?/To score in neiro. Babo did not only create themes for the category in the club, Jorge produced a series which picture gallery, baby?/A picture more big four (Flamengo, Botafogo, Vasco da Gama of songs about the sport. Possibly the most fa- fundamental/than a shot at goal/with the pre- and Fluminense) and for the team closest to mous one among them, Fio Maravilha, which cision/of an arrow and the folha seca play”). his heart, America, but also bequeathed some was sung by Maria Alcina in the 1972 Festival Among his works that contain references to currently forgotten pearls to small-time Olar- Internacional da Canção, paid tribute to João the soccer field, we can also mention Pelas ta- ia, Bonsucesso, Bangu, São Cristóvão, Mad- Batista de Sales, a striker in Flamengo, who de- belas (Quick passes), in which the poetic perso- ureira and Canto do Rio (this last one is Ni- cided to file a lawsuit against the musician over na imagines his head rolling across Maracanã, terói-based). When it comes to the anthems the use of his nickname claiming commercial and Ilmo. Sr. Ciro Monteiro ou Receita para vi- of Brazilian football clubs, Grêmio’s anthem, exploitation (upset, the musician would later rar casaca de neném (Dear Mr. Ciro Monteiro or written by Lupicínio Rodrigues in 1953, is al- sing “Filho Maravilha,/nós gostamos de você,/ How to make a baby a turncoat), a humorous ways mentioned (the famous initial verse “Até Filho Maravilha,/faz mais um pra gente ver” reply to a friend of the composer’s who gave his a pé nós iremos” —“even on foot we shall go”— —“Filho Maravilha,/we like you,/Filho Mara- daughter a Flamengo shirt. refers to a strike by streetcar and bus conduc- vilha,/score one more for us to see”). The mu- Great injustice will be committed if the list tors and fare collectors that restricted access to sician’s series also includes Camisa 10 da Gávea containing the songs that relate Brazilian music the now defunct Baixada Stadium, where Grê- (Gávea’s number 10 shirt), Zagueiro (Defender), and soccer does not mention, not even briefly, mio was to play a match). A sports commen- Goleiro (Eu vou lhe avisar) (Goalkeeper — I’m Novos Baianos. The group defined itself as both tator and a Flamengo enthusiast, Ary Barroso warning you), O nome do rei é Pelé (The name a band and a team —its third album, released in may not have focused on soccer as a subject of the king is Pelé), Cadê o penalty (Where’s the 1973, is called Novos Baianos F.C. (indeed, the matter as Batista and Babo did, but he contrib- penalty), Joga Corinthians (Play Corinthians) musicians often played soccer in the country Culture and Art 163

estate where they lived, in Rio). Moraes Morei- pop rock group Skank released the hit É uma lou o Brasil do tri,/pulou e tremeu de dor/ao ra, alongside Galvão and Pepeu Gomes, always partida de futebol (A soccer match), which was ver o pulo do gato cortado,/cortada a perna found a way to bring up the subject: Besta é tu composed by Samuel Rosa and Nando Reis de luz, cortada/a claridade do raio de Xangô” (You’re the one playing the fool) mentions “Ma- (Reis expressed his love for São Paulo in Sober- —“Three-time champion Brazil jumped,/it raca domingo” (“Maracanã on Sunday”); Reis ano —Sovereign— and Herança —Legacy). Gil- jumped and writhed in pain/upon seeing the da bola (Kings of soccer) (alongside the same berto Gil, who had already composed Meio-de- jump interrupted,/his bright leg cut,/Xangô’s composers) mentions “anos e anos de futebol/ Campo (Midfielder) (a tribute to a player called white lightning gone”). Brazilian snooker, in correndo na veia” (“years and years of soccer/ Afonsinho, a pioneer in the struggle against turn, inspired Bosco and Blanc to compose Ta- running through the veins”); and Só se não for transfer fees), wrote, within the context of the belas (Cushions) (“Numa jogada infeliz,/resva- brasileiro nessa hora (Only if you’re not Brazil- World Cups in France and Germany, Balé da la o tempo vivido/que nem um taco sem giz” ian at this moment) (alongside Galvão) men- bola (Copa 98) —Ball ballet (98 World Cup)— —“In an unfortunate stroke,/a lifetime slips/ tions a boy that “deixa a vida pela bola” (“dies and Balé de Berlim (Berlin ballet), respectively. just like a cue without chalk”). for the ball”). After leaving the band, Moraes Fagner, Zeca Baleiro, Fausto Nilo and Celso Marcos Valle, who had written, with his went on with themes inspired by soccer, such Borges composed Canhoteiro, a tribute to the brother Paulo Sérgio, Sou tricampeão (I’m a as Saudades do Galinho (Missing Galinho) great left-wing player of São Paulo, which was three-time champion) (a hit by the Golden (when Zico was transferred from Flamengo released on album in 2003 (Fagner and Zeca Boys) and Flamengo até morrer (Flamengo un- to the Italian club called Udinese), O que é, o also wrote a song, which had not been released til I die), immersed himself in the sports gener- que é (The riddle game), Vitorioso Flamengo yet, about Alex, a midfielder). Tribute was paid ation of the 1980s and came up with Bicicleta (Victorious Flamengo), Sangue, swing e cintura to soccer stars such as Raí, Romário and Neto (Bicycle) (“Vou largar meu guidom/pra chamar (Blood, swing and flexibility), Espírito esportivo in songs whose titles were their very names sua atenção/até você compreender/que estou (Sports spirit) (alongside Abel Silva) and Brasil and written by Carlinhos Vergueiro (in the parado em você” —“I’m taking my hands off campeão (Brazil, the winning team) (alongside case of Raí —this song was composed along- the handlebar/to call your attention/for you to Pepeu Gomes). With Baby Consuelo, Pepeu side J. Petrolino— and Romário) and by Tom understand/that I fell head over heels in love also left his solo mark on Fazendo música, jo- Zé. With Bruno Meriti, Marcelo D2 wrote Sou with you”) and Estrelar (Shine bright) (“Tem gando bola (Making music, playing ball). Ronaldo (I’m Ronaldo). This non-exhaustive que correr,/tem que suar,/tem que malhar (va- Having successful careers at the time No- list ends with País do futebol (Land of soccer), mos lá!)/Musculação, respiração, ar no pulmão vos Baianos was around, the pair João Bos- by funk artist MC Guimê and whose video clip (vamos lá!)” —“We’ve got to run,/we’ve got to co and Aldir Blanc composed songs in which is starred by Neymar. sweat,/we’ve got to work out (come on!)/Body soccer is mentioned in lyrics about marriage * building/breathing/air in the lungs (come —Gol anulado (Disallowed goal) (with the Curiously enough, many of the Brazilian on!)”). Valle was not the first to set the world most inappropriate stanza “Quando você gri- composers who decided to evoke sports that of gymnastics to music in Brazil: in the 1970s, tou Mengo/no segundo gol do Zico,/tirei sem are not as popular are those who also wrote Juca Chaves had been ironic about the Mexa- pensar o cinto/e bati até cansar” —“When you about soccer. se campaign, which was launched by the mil- cried Mengo/in the second goal by Zico/with- That is the case of Jorge Ben Jor, who, in itary, in Mexa-se (É gostoso pra chuchu) (Be out thinking I took off my belt/and welted till 1971, released, alongside Toquinho, Cassius active —It’s darn good). I tired”), Incompatibilidade de gênios (Incom- Marcelo Clay, a tribute to American boxer Cas- A recent trend, MMA was the object of an patibility of temper) (“Dotô, jogava o Flamengo, sius Marcellus Clay, Jr., who passed away last unexpected song by Caetano Veloso, A bossa eu queria escutar./Chegou, mudou de estação, June and, after converting to Islam, came to be nova é foda (Bossa nova is fuckin’ awesome), in começou a cantar” —“Doc, Flamengo was play- known as Muhammad Ali (in the lyrics, among which mixed martial artists such as Minotau- ing, I wanted to listen./She arrived, changed other compliments, the fact that Clay has “o ro, Vítor Belfort and Anderson Silva are men- stations, started to sing”) and A nível de… (In 4-3-4 de um time de futebol” —“the 4—3—4 tioned. Caetano, who mentioned Pelé, in Two terms of…) (with two couples amusingly formation of a soccer team”— is mentioned). Naira Fifty Kobo and Love, Love, Love, and “a swapping partners —the men going to Ma- Moraes Moreira also mentioned him in Feito elegância sutil de Bobô” (“the subtle elegance racanã together and the women left at home). Muhammad Ali (Just like Muhammad Ali) of Bobô”), a Bahia player, in Reconvexo, had By the way, Chico Buarque also used such a (alongside Abel Silva and with the chorus “mais already referred to surf in Menino do Rio (Boy combination of sport and relationship in the que resistir, meu amor,/querer bailar feito Mu- from Rio) (“O Havaí seja aqui/tudo o que son- classic Com açúcar, com afeto (With sugar, with hammad Ali” —“more than resisting, my love,/ hares,/todos os lugares,/as ondas dos mares” affection), in which the woman speaks of her longing to dance just like Muhammad Ali”). —“May Hawaii be here/all you dream of/all absent man, who is at the moment at some bar The pair João Bosco and Aldir Blanc went the places/the waves in the ocean”), a trib- where he will find someone to make conversa- beyond the soccer field as well. João do Pulo ute to a surfer called Petit. Later, Lulu Santos, tion and talk about soccer. evokes João Carlos de Oliveira, a world-record alongside Nelson Mota, would also write about Soccer would keep on being a subject mat- breaker in triple jumping who, in 1981, had a living life on the waves in De repente Califórnia ter for newcomers and veterans. In 1996, the car accident that cost him his right leg (“Pu- (Suddenly California). Jorge Ben Jor —here he Culture and Art

is again— is the composer of Solitário surfista in its lyrics, medal winners such as swimmer (Lonely surfer) (“Entre no tubo/e peça licença Gustavo Borges and judoka Aurélio Miguel are aos peixes/e namore as sereias/e mostre um mentioned. front side, um cut back, um back side,/um loop, In conclusion, let us resume Antonio Can- Quidditch: from um 180, um 360º,/pois o mar é de graça e é todo dido’s lesson. Deemed the eternal national seu” —“Ride into a tube/and ask the fish for passion, soccer has been up against recent the pages of Harry permission/and court the mermaids/and per- and curious competition from American foot- form a frontside, a cutback, a backside,/a loop, ball, whose Super Bowl has been increasingly Potter to reality a 180-turn, a 360-turn,/for the ocean is for free trending on Facebook and broadcast on big and all yours”). screens in bars. If, one day, Brazilian society Portuguese version page 110 The B-side of sports goes on with chess, prefers touchdowns to bicycle kick goals, Bra- — which is mentioned in at least three songs. Pau- zilian music will be different, and this text will Ana Maria Garrido Alvarim linho Nogueira mentions it in Jogo de xadrez be read as a historical curiosity about another (Chess game) (“Além de ser um divertimento country. How many sports are known for having mental,/tem mais uma jogada toda especial,/ * gone from fiction straight to reality in the pra quem chegar em casa tarde outra vez,/é só I am grateful to José Flávio Júnior, Luiz twenty-first century? This was the case of dizer que estava jogando xadrez” —“Besides Fernando Vianna, Pedro Só, Rodrigo Faour and Quidditch, a sport created by the author of being a mind game,/there’s one more special Sérgio Martins, the music encyclopedias con- Harry Potter, J.K. Rowling. The first muggle move,/for those who come home late again,/ tacted for the writing of this text. (those who do not have magic blood) game all you have to say is that you were playing I thank Mario Canivello, Chico Buarque’s took place in 2005, when Middlebury Col- chess”). Another Paulinho (Paulinho da Vi- press agent, who sent me the picture of Po- lege students started playing Quidditch in the ola), alongside Sergio Natureza, wrote Bran- litheama published in this magazine. I’m also United States. Nowadays, the game has well cas e pretas (White and black pieces) (“O meu indebted to Instituto Moreira Salles and Copy- defined rules, several local and national teams, coração anda aos saltos,/parece um cavalo/no rights Consultoria for, respectively, sending an International Association and several com- seu movimento/selvagem e até traiçoeiro,/vai Pixinguinha’s high-resolution image and au- petitions at an international level. sem cavaleiro/tabuleiro adentro” —“My heart thorizing its use. — J In the story created by J.K. Rowling, Quid- has been racing,/just like a horse/with its wild ditch is one of the most famous sports in the and even treacherous movement,/it moves magic world. There are competitions in wiz- without a horseman/across the chessboard”). arding schools, cities, countries and all over In Super-heróis (Superheroes) (with Paulo the world. Quidditch uses four balls: a Quaf- Coelho), Raul Seixas mentions Mequinho, a fle, with which three chasers score points by chess player from Rio Grande do Sul, who was throwing it through three hoops protected by regarded as the third best player in the world a keeper; two Bludgers, which two beaters use at the end of the 1970s. Skating is a niche that to knock out players in the other team and pro- has not been fully exploited, but it is closely tect their own team; and one Golden Snitch, associated with the Charlie Brown Jr. group, which the seeker must search for during the which released songs such as Skate vibration game to guarantee 150 points to his team and and Skateboard amor eterno (Skateboard, eter- end the game. All of this takes place several nal love). Still in the realm of sports that are meters above ground, on magical broomsticks. linked to urban culture in the United States, let In the real world, new rules were creat- us bring to mind the presence of the character ed due to the impossibility of recreating J.K. who wants to “aproveitar o sol, encontrar os Rowling’s setting. The rules are now well es- camaradas prum basquetebol” (“enjoy the sun, tablished. The game takes place on the ground, meet my brothers for some basketball”) in the in an oval field, with three hoops on each side. lyrics of Fim de semana no parque (Weekend in The players must keep a plastic or wooden the park) by the rap group Racionais MC’s. broomstick between their legs at all times. Unlike soccer World Cups, which have The broomstick cannot touch the ground, ex- given rise to so many themes, the Olympics do cept when the player is hit by a Bludger. The so seem to have inspired Brazilian composers Quaffle is a slightly-deflated regulation vol- so far. The only exception remembered by one leyball, used to score 10 points when it passes of the journalists contacted is the song Olim- through a hoop. The Bludger is a slightly-de- po (Olympus), which was released in 2000, an flated dodgeball. Unlike in fiction, there are Olympic year, by Ivan Lins and Celso Viáfora; three Bludgers so as not to allow a single team Culture and Art 165

to have monopoly over these balls during the South-American representative. Brazil is con- of new teams by sharing experiences and ad- game. When a player is hit by a Bludger, he or sidered an “emerging area”, where there are vice. They support the active teams by guar- she must remove the broomstick from between more than zero teams, but there is not a gov- anteeing representativeness in the IQA and their legs, drop any ball he or she is carrying, erning body or evidence of regular competi- on the international stage. In 2016, ABRQ will touch their own hoops and put the broom be- tions. For this reason, Brazil does not have its send a team to represent Brazil in the World tween their legs again to rejoin play. The Gold- own representatives in IQA’s Congress. Cup, in Frankfurt. en Snitch is a tennis ball covered in a sock. This The real international Quidditch events Did you get interested in muggle Quid- sock is tucked in the waistband of the snitch began, in fact, in 2012, when IQA inaugurated ditch? If so, look for the team closest to you or, runner, a person dressed in yellow, neutral in the “Global Games” (later renamed as World who knows, put together your own! — J the game. Only seekers can touch him and try Cup), a biannual tournament, in Oxford, Unit- to catch the snitch without excessive force. ed Kingdom. US, British, Canadian, French When this happens, the team scores 30 points, and Australian teams have competed. This and the game is over. year, a European Quidditch Cup will be held in In the Harry Potter series the teams are Europe, with 16 countries involved. It will be not separated by gender, and, in real life, this sponsored by the European Quidditch Com- distinction does not apply either. One of the mittee, a body comprised of representatives most interesting Quidditch rules refers to the from national Quidditch associations of Euro- gender policy “four-maximum rule”. Accord- pean countries. The Quidditch World Cup will ing to it, a Quidditch game allows each team to also take place in July this year, in Frankfurt, have a maximum of four players who identify Germany. Several countries will send their as the same gender in active play on the field players. at the same time. It can be considered a really What about Brazil? In fiction, Brazil was advanced rule, as it depends on how the player the runner-up at the 2014 World Cup. In the identifies himself in terms of gender and not of “muggle world”, reality is slightly different. sex. Besides this, it acknowledges that not all of The sport was brought to the country in 2010, the players identify as male or female. The goal when Vinícius Mascarenhas created the first of this rule is to promote diversity, inclusion Brazilian quidditch team, Rio Ravens, in Rio de and gender equality. Janeiro. Since then, other teams were created, In the United States, Quidditch has been such as “Bruxos do Cerrado” (DF), Onças Pau- gaining more adepts since its inception. In listas (SP), and others. 2007, the first Quidditch World Cup took To encourage the practice of Quidditch place at its birthplace, Middlebury College. in Brazil and to make it more organized, the The championship was not actually “world- Brazilian Quidditch Association (ABRQ) was wide”, since it only included American teams. founded in 2015, after being outlined and Three years later, the US Quidditch (USQ), a planned by the captains of the active teams. In non-profit organization that governs the sport an interview for JUCA magazine, when asked of Quidditch in the US, was established. Cur- about the challenges to Quidditch being rec- rently, the United States has more than a hun- ognized as a sport in Brazil, Diogo Broda de dred local teams, mainly composed of univer- Vasconcellos, an ABRQ member, stated that it sity teams. Local championships have already is difficult for any sport to gain visibility in Bra- been broadcasted on TV. The USQ held the zil due to the emphasis given to soccer. How- first conference on Quidditch in 2012, bringing ever, he highlighted that for muggle quidditch, in people from all over the world. the main difficulty is the prejudice against the The International Quidditch Association sport as it was conceived as an adaptation of (IQA) was born as an Intercollegiate Quid- the Harry Potter world. ditch Association, responsible for the Amer- ABRQ’s main goal is to publicize the sport ican teams. In 2010, it changed to its current in Brazil, in order to make it more famous in name. In 2016, it became a real Quidditch in- the country and, consequently, win more sup- ternational federation, with the establishment porters. Increasing the professionalism of of a Congress, composed of representatives of Quidditch is not part of the Association’s plans countries that have an active and well estab- as it is still practiced in an amateurish way in lished Quidditch Association. Presently, the most parts of the world. Since its foundation, Federación Argentina de Quidditch is the only ABRQ has intended to help the establishment Culture and Art

Lado a Lado won best soap opera, while Aveni- the underlying tension that involved football da Brasil can boast about being the best-selling in its early days. However, seeing the represen- Brazilian soap opera abroad until now - having tation of this historical fact on TV, being felt reached more than 130 countries. by the plot’s characters is an entirely distinct The main plot revolves around a friend- experience. More than a teaching effect, the ship between Laura (Marjorie Estiano) a white strong emotional appeal of the show has the woman, daughter of former coffee barons of impact of calling out the viewers’ attention to a time when Brazil was an empire, and Isabel matters that are not necessarily a part of their (Camila Pitanga), a black woman, daughter of cultural repertoire or political behavior. former slaves. The two young women have in There is a scene in Lado a Lado in which common an acute intelligence and a precise one can clearly realize the strength and pow- awareness of classes, and they fight for autono- er of this dramaturgical appeal. Once more, my and space in a Rio de Janeiro society at the the character of Zé Maria, our Forest Gump, beginning of the 20th century. The plot deals at witnesses a historical episode: the rice pow- the same time with the struggles of women and der episode, which originated the pejorative black people to assert themselves in the New nickname for Fluminense supporters. Carlos Republic, which was emerging from a macho, Alberto Fonseca Neto, a former America player Soccer and soap excluding and slavery-based society. recently hired by Fluminense, was an Afro-de- The sports theme appears in Lado a Lado scendent and had the habit of applying rice opera: the sports through the character of Zé Maria, also known powder to his face so that he could hide his as Zé Navalha (Lázaro Ramos), Isabel’s fiancé skin color during the matches. Aware of this theme in Brazilian and also a son of former slaves. Just like in the fact, America’s supporters in the first match classic film Forrest Gump, the young barber as- against Fluminense in 1914, started chanting teledramaturgy sistant lives through several historical moments “rice powder” when the new player Flumin- IN Rio de Janeiro’s history, like the tearing ense Carlos stepped onto the field. down of the slums during the Pereira Passos Re- This episode in history underwent an in- Portuguese version page 118 form; the occupation of Morro da Providência; teresting reinterpretation in the soap opera. A the Vaccine Revolt; and the Revolt of the Lash. friend of Zé Maria, a former Navy man, black — At the same time in which his fiancée Isabel is and very skillful at soccer, was invited to join Júlia Vita de Almeida the protagonist of the birth of samba in Brazil, a team with the condition that he played using Zé Maria experiences the introduction of soccer rice powder. Even though he was the best play- An interesting marriage. On one side, and the fight for the decriminalization of capoe- er of the match, the new member of the team sport, which for decades has been giving a ira in national territory. was severely humiliated when the make-up special flavor to Brazil’s image abroad. On the The soap opera faithfully portraits soccer started to melt. Dismayed by his friend’s suf- other side, soap operas, which have also been and capoeira as cultural expressions that re- fering, Zé Maria invaded the field and demand- exporting Brazilian habits and traditions for flect deep social conflicts in our history. This ed that the player end the farce and honored decades to all continents, even to the most im- perspective is interesting and unprecedented his skin color. probable places in the world. The sports theme in Brazilian soap opera. The richness of the Scenes in this style were also produced to has already been a part or has dominated our historiographical research that underpins the portray capoeira. Banned by the Penal Code of soap operas in the past, which is not surprising, plot, as well as the boldness in the song selec- 1980, capoeira resisted in the First Republic after all it would be hard to portray a Brazilian tion for a modern soundtrack (featuring Marce- until it was legalized during the Vargas gov- society with any of fidelity without mentioning lo D2 for the soccer scenes and Nação Zumbi ernment and finally recognized as a genuinely one of the biggest national passions. But 2012 for the capoeira scenes) resulted in strong and Brazilian national sport. Zé Maria, in the plot, was the year this marriage exceeded all expec- moving episodes involving the sports theme. is a dedicated and peaceful “capoeira fighter.” tations and brought important soft power gains It is widely known that football was intro- Arrested at the beginning of the story for hav- to Brazil. duced in Brazil in the mid-1890’s by expatriate ing used capoeira to confront police officers In 2012, Rede Globo broadcasted two very Englishmen (even though there are records in the Pereira Passos resistance movement, Zé successful soap operas. One was Lado a Lado that the sport had already been practiced pre- does not give up defending and practicing the (“Side by Side”), that aired at the six p.m time viously in Brazil). It is also known that the pro- sport throughout the soap opera. slot; and the other Avenida Brasil (“Brazil Av- fessional practice of the sport was restricted to Another remarkable scene reproduces enue”) at nine p.m. Both of them competed the white elites and that most of the clubs had once more an episode of our history. In 1909, at the 2013 International Emmy Awards, an foreigners as founders. These characteristics Francisco da Silva Cyríaco, the greatest capoe- equivalent of the Oscars for world television. by themselves already gives us a dimension of ira master of that time, challenged the jiu-jitsu Culture and Art 167

Champion and master hired by the Brazilian The soap opera “Avenida Brasil, on the oth- together, including Suelen (Isis Valverde). The Navy, Sada Miako. The fight was approved and er hand, despite not winning the Emmy´s nor players of the team go to Bar do Silas (Ailton witnessed by military and civil authorities. Ac- breaking ratings records, had a significant im- Graça), a gathering point for many of Divino’s cording to the Revista da Semana Magazine, on pact on the history of the TV station. In addi- residents. May 30, 1909, “Cyriaco won in few minutes on tion to the great international success achieved, It is precisely because of this involvement the Concerto Avenue’s ring, the previously invin- the broadcasting rights sold to 132 countries, with the community that many critics consider cible Japanese jiu-jitsu teacher Miaco. Cyriaco, the international attention from the foreign Divino Futebol Clube as the main protagonist who knew capoeira like few, naturally a nice guy media and also the emotional public reaction of the plot, more than Tufão, Carminha and but cheeky, wanted another round, but the beat- to the last episode, Avenida Brasil generated an Nina. In Avenida Brasil, the innovative shift en Japanese did not consent”. unprecedented repercussion on social medias from the traditional setting of the Brazilian In the plot, Zé Maria, who had already where the viewers commented scenes from the soap operas (from the South Zone to the North worked as a sailor, becomes dismayed by the soap opera in real time. Zone) has a direct relation to the choice of por- fact that the Navy had turned to a Japanese Critics, academics, even psychiatrists in- traying a third division suburban club instead fighter for self-defense training - “why jiu-jitsu vestigated the causes for the reaction to João of the commonplace of the big teams and the and not capoeira which we already have here?” Emanuel Carneiro’s oeuvre. One of the possi- football of the masses. Thus, the soap opera After watching at the pavilion the Japanese ble explanations is the fact that the soap opera was capable of, with a good dose of humor, master take down some volunteers, Zé accepts portrays the life of the new Brazilian low mid- reaching out to the viewers. Showing that foot- the challenge and enters the ring. With a move dle-class. The traditional setting of the South ball has an impact on Brazilian habits beyond called “rabo-de-arraia” (a move used by Cyría- Zone of Rio de Janeiro shifts to a fictional the traditional matchups like Fla x Flu/ Cor- co in 1909) he wins the fight and subsequently North Zone Rio neighborhood called o Divino. inthians x Palmeiras; the tabloid gossips that gives a speech: The main plot of the soap opera unfolds in this follow Neymar and Ronaldinho; or the national “My name is Zé Navalha, sir. Born as José place: Nina (Débora Falabella) carries out her pride we feel for our national team. Maria dos Santos and raised in a capoeira cir- revenge plan against her stepmother Carminha In this sense, Even though Tufão represents cle, which as everyone here is aware, is pro- (Adriana Esteve) for abandoning her in the the typical Brazilian soccer player, he does not hibited in Brazil. Jiu-Jitsu, Greco-Roman, dumpster after her father’s death. Without rec- correspond entirely to the stereotype. Yes, he is a wrestling, everything is valid in this ring, in ognizing in Nina the little Rita (her real name) man with humble origins who achieves fame and this country, except capoeira! Because it is a of the past, Carminha hires her as a maid in the wealth through soccer and ascends to the class fight that came from slaves and of their chil- mansion where she lives with her new family, of the new rich. However, he prefers to maintain dren who still fight to survive in a country full the result of her marriage with Jorge Tufão a simple lifestyle in his neighborhood of origin of prejudice. But it’s pointless to prohibit or to (Murilo Benício). and searches for a cultural sophistication when arrest, because capoeira is not a thug thing, it’s The sports theme strike again here, but he hires Nina as a cook or when he reads classics a Brazilian thing! In order to play capoeira one just like the case in Lado a Lado, the approach like Flaubert. Despite the fact that he married the must have rhythm, strength and courage, but is done in a not so usual way by Brazilian soap flashy Carminha, he never got over her ex-fian- mainly, pride! I’m proud of being capoeira, of operas: Avenida Brasil shows the impact of the cée Monalisa (Heloísa Périssé) - an honest hair- being black and of being Brazilian! sport in suburban life. Soccer, in the Divino dresser of his pre-fame era- and felt, in a certain The first soap opera by journalist João neighborhood is the nucleus of a series of so- moment attracted and enchanted by Nina. Ximenes Braga and writer Claudia Lage, Lado cial relations that give the soap opera an inno- Still concerning the sports theme, the a Lado not only received the award for best vative profile. soap opera encourages the viewers to reflect soap opera in the world but also was awarded Tufão, the leading striker of the municipal on a taboo subject, homophobia in the world the 2013 Camélia Liberdade Award for “Com- championship for Flamengo in 1999, started of soccer. The homosexuality of the character munication Vehicle” from the Marginalized his career at Divino Futebol Clube. The mon- of Roni is perceived as an obstacle in his path Populations Articulation Centre (CEAP). The ey and fame acquired through soccer have to a successful career, to the point where his soap opera was highly acclaimed for encourag- little impact on the character’s lifestyle. Af- father Diógenes (Otávio Augusto) pressures ing the audience to reflect on the current situ- ter becoming rich, Tufão builds his mansion him to marry a woman so that he can increase ation of black people in Brazil. Unfortunately, in the Divino neighborhood, where he enjoys his chances of being hired by a big club. Roni, the recognized quality of the plot did not result his family life surrounded by friends. His son then, delves into a marriage of convenience in high ratings. The ratings survey institute Jorginho (Cauã Raymond) dreams of achieving with Suelen. The farce does not work that well IBOPE registered an average of 18 points for the same success of his father but barely leaves since both are in love with Leandro and decide the show, the lowest ever recorded at the time the bench of Divino Futebol Clube. He trains to live an open marriage involving the three slot. The low numbers did not stop the soap at the club with other characters: Iran (Bruno of them. Roni fails in getting hired by the club opera from obtaining gains for Brazil’s image, Gissoni), Roni (Daniel Rocha) and Leandro Flamengo, who picks Leandro in his place. as the victory in of the most important world (Thiago Martins). Parties occur at the club, The last chapter of Avenida Brasil can be TV awards can attest. where most of the soap opera’s characters get considered a metaphor for a soccer champi- Culture and Art

onship final. The soap opera begins with a women went to bars to watch their final epi- cos Caruso, Vera Holtz and Alexandre Borges, scene in which the Divino Club, finally, con- sode, co-workers made bets in the offices, and who joined the event to represent the soap op- quers a place in the first division after Adauto one could hear screams from the windows. era’s cast. On that night, Brazilians and Argen- (Juliano Cazarré) scores a redeeming penalty The episode achieved the TV station’s best tinians cheered for the same team. (the character had lost a penalty kick years ratings in the year, surpassing the Libertadores Such mobilization is an evidence, even for before). It’s not because of this scene, how- Finals (played by Corinthians and Boca Juniors the most skeptics, of soap opera’s power to pro- ever, that the last chapter fits into the met- in 2012). Curiously, Argentina also stopped to duce fiction and as an instrument for projecting aphor: it was because of the impact it caused see the end of the soap opera. Six thousand Ar- the national image. The sports theme, little ex- on Brazilians. Like in a World Cup Final, av- gentinians gathered around Luna Park, in Bue- plored by Brazilian soap operas, showed its po- enues in Brazil were empty during the time nos Aires, to watch the final episode alongside tential in 2012 and will undoubtedly continue to slot when the final chapter aired, men and actors Cauã Reymond, Débora Falabella, Mar- inspire other productions in the future. — J