PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PUC-SP

Clécio José Carrilho

A inserção do município de São Lourenço da Serra na Região Metropolitana de : um estudo da geração de emprego e renda em uma área de proteção aos mananciais

MESTRADO EM GEOGRAFIA

SÃO PAULO

2009 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PUC-SP

Clécio José Carrilho

A inserção do município de São Lourenço da Serra na Região Metropolitana de São Paulo: um estudo da geração de emprego e renda em uma área de proteção aos mananciais

Dissertação apresentada á Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Geografia, Área de Concentração – Territorialidade e Análise Sócio- Ambiental , pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Professor Doutor Edson Cabral.

MESTRADO EM GEOGRAFIA

SÃO PAULO

2009

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Banca Examinadora

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Dedico este trabalho á minha família, especialmente a meus pais e irmãos, apoiadores nas mudanças que optei em realizar, até chegar esse momento e, ao amor e afeto de minha amada companheira, Fernanda, pela paciência e, sobretudo ao amor incondicional de meu filho Caio Henrique.

4 AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Edson Cabral pelos momentos de bom pap o e orientação de extrema qualidade, importantes na produção desse texto crítico.

Aos professores e amigos da Universidade Federal de Uberlândia

(UFU), peças fundamentais em minha formação acadêmi co - profissional, em especial ao Prof. Dr. Júlio César de Limas

Ramires, á Profa. Dra. Beatriz e ao Prof. Luiz Gonz aga Falcão. Aos amigos e companheiros do Instituto de Geografia: Prof. MSc.

Rafael de Ávila Rodrigues, Prof. MSc. Emerson Malvino e a Profa.

MSc. Márcia Andréia Ferreira Santos, pelas incansáv eis discussões acadêmicas e pelos bons papos.

Á grande amiga Profa. MSc. Jeane Medeiros Silva pel a forma como conduz sua capacidade intelectual e ainda ter tempo para realizar as minhas complicadas correções ortográficas e geográficas, tanto no relatório de qualificação como na dissertação.

Aos colegas do Curso de Mestrado em Geografia, apes ar do pouco tempo de contato e aprendizagem, foram suficientes para realizarmos interessantes debates.

5 Aos amigos da Escola Estadual Prefeito Antônio Baldusco (São

Lourenço da Serra) por terem sido coadjuvantes na obtenção de diversos materiais para essa pesquisa.

À Prefeitura Municipal de São Lourenço da Serra e, em especial a

ONG Vitae Civilis em nome da coordenadora de projeto s só ci o - ambientais Gemima Cabral-Born, pela colaboração no fornecimento d e d ado s.

Á Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pelo fornecimento do Bolsa-Mestrado.

6 R E S U M O

O objetivo dessa dissertação é compreender o caminho percorrido na constituição do município de São Lourenço da Serra, dentro do estabelecimento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), porção administrativa do estado de São Paulo, ao qual município se vincula. A pesquisa inicialmente debate a constituição histórica de São Lourenço da Serra, a partir do firmamento dos aldeamentos indígenas e, posteriormente como ambiente jesuístico responsável pela catequização e composição da região. Na perspectiva dessa abordagem histórica, identifica-se porções territoriais próximas a São Paulo, entre as quais, Embu, e Santo Amaro, que, por deterem essa característica religiosa, tiveram papel preponderantes no que responde a consolidação da porção sudoeste da RMSP, e, conseqüentemente ofereceria o dinamismo que permitiria o surgimento de importantes aldeamentos (vilas), e logo em seguida converteriam-se em áreas politicamente emancipadas. Porém, a ascensão industrial brasileira, garantiria a formação de seu território, e traria ao contexto econômico urbano do país, alterações jamais assistidas. O estabelecimento de uma região economicamente fortalecida constituiria, também, de um ambiente desordenado, e á medida da incorporação da indústria nas atividades econômicas do país, emergiriam distintos pólos industriais, desfocando o poderio paulistano. A RMSP decresce, e busca outras áreas de expansão ao longo dos entrepostos rodoviários, no entanto, a população usufruindo de um poder aquisitivo insuficiente, face ao enriquecimento da metrópole constituída, espalha-se ao longo das porções mais distantes da centralidade urbana. Efetivamente, emergem, dentro do território, espaços com baixa qualidade de vida, ausentes das condições mínimas de saneamento, empregabilidade e moradia. E, como outras áreas da RMSP, São Lourenço da Serra constitui um exemplo a ser investigado, principalmente por ter sido o último município emancipado que viria a pertencer a RMSP, e além de apresentar indicadores de crescimento elevados, quando comparado a ao contexto da metrópole e de municípios com grande potencial econômico. Assim, á medida que a população residente se eleva os dilemas sociais se agravam, e parcela desses conflitos emerge da compreensão dos agentes promotores de geração de renda e emprego. Entretanto, por estar inserido em Área de Proteção aos Mananciais (APM), dentre outras leis especificas de preservação ambiental, conduzem o São Lourenço da Serra, há restrições quanto aos usos e ocupação de seu solo, inibindo a presença de certas atividades econômicas, geradoras de emprego e renda, e que promoverão a melhoria dos dilemas sociais. Portanto, além de investigar o contexto da formação da RMSP, da porção sudoeste e do município, institui-se nessa pesquisa, um relato a respeito da expansão urbana de São Lourenço da Serra, em face de sua inserção dentro de uma área legalmente instituída, e, por conseguinte, definir os aspectos conduzidos tanto pelo Poder Público, quanto pela sociedade, no que diz respeito a buscar renda e emprego. E á luz da sustentabilidade, reconhecer as medidas utilizadas e/ou viáveis que possam contrabalançar a efetiva ocupação, o crescimento e a renda para a manutenção e sobrevivência econômica do município.

Palavras-chave : Região Metropolitana de São Paulo – São Lourenço da Serra – geração de renda e emprego – serviços – área de proteção aos mananciais.

7 A B S T R A C T

The objective of this dissertation is to understand the path in the formation of the São Lourenço da Serra municipality, within the establishment of the Metropolitan Region of São Paulo (RMSP), administrative portion of São Paulo state, which binds the municipal. The research initially debates the historical constitution of São Lourenço da Serra, from the firmament of Indian villages, later as jesuistic environment responsible for Christian teaching and composition of the region. In view of this historical approach, it identifies local portions close to São Paulo, among them Embu, Itapecerica and Santo Amaro da Serra, which in holding religious character, it had important role in responding to the consolidation of the southwest portion RMSP, thus providing the dynamism that would make enable the emergence of important villages (towns), and then turned up politically emancipated areas. However, the Brazilian industrial growth ensures the formation of its territory and brings to the country's urban economic context, changes never assisted. The establishment of a region economically stronger would be constituted from a disorderly environment and with the incorporation of industry in economic activities in the country, would emerge distinct industrial clusters, blurring the São Paulo power. The RMSP decreases and aims other areas of expansion along the road warehouses; however, the population benefits from an insufficient purchasing power faced to the enrichment of the constituted metropolis, spread along the more remote portions of central cities. Indeed, emerge within the territory areas with low life quality, absent of the minimum sanitation conditions, employment and housing. As other areas of RMSP, São Lourenço da Serra is an example to be investigated, mainly because it was the last city emancipated that would belong to RMSP; in addition to present high growth rates when compared to the context of the metropolis and municipals with large economic potential. Thus, as the population rises, are exacerbate the social dilemmas, and part of these conflicts emerge of understanding of actors developers to generate income and employment. However, being inserted in the Water Protection Area (APM), among other specific laws to environmental preservation, conduct São Lourenço da Serra – there are restrictions on the use and occupation of its soil, inhibiting the presence of certain economic activities generators of employment and income, promoters of the improvement of social dilemmas.Therefore, in addition to investigate the formation of the MRSP context, and the southwestern portion and the municipal, we establish in this research a report on the urban sprawl of São Lourenço da Serra, faced to of its inclusion within an area legally established, and therefore we define the issues conducted both by the government and society in regard to seek income and employment. Into the light of sustainability, we recognize the measures used and/or viable which can counterbalance the effective occupancy, growth and income for the maintenance and economic survival of the municipal. Keywords : Metropolitan Region of São Paulo - São Lourenço da Serra - income and employment generation - services - protection of springs area.

8 ••• LISTA DE FIGURAS

1 . Vias de acesso da RMSP, década de 1950...... 22

2 . Município de São Lourenço da Serra e os municípios com os

quais faz divisa...... 2 8

3 . Distribuição funcional dos municípios da RMSP...... 33

4 . Localização da área de estudo dentro da Região Metropolitana

de São Paulo...... 3 5

5 . São Lourenço da Serra, entre a RMSP e o Vale do Rib eira..... 36

6 . Localização da reserva do Morro Grande nos municípios...... 43

7 . Climograma do município de São Lourenço da Serra...... 45

8 . Localização do Municípi o nas Unidades de Gerenciamento de

Recursos Hídricos Alto Tietê e Ribeira de Iguape/Li toral...... 4 7

9 . Bacia do reservatório Guarapiranga e seus município s...... 4 8

1 0 . Crescimento populacional de São Lourenço da Serra –

1993/2008...... 5 2

1 1 . RMSP: desmembramento de municípios metropolitanos,

1940-2000...... 7 5

1 2 . RMSP: evolução da área urbanizada, 1905 – 1997...... 77

1 3 . Zoneamento da Região Metropolitana de São Paulo, 20 02. . . 8 4

1 4 . Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População -

2000/2006 Estado de São Paulo, RMSP e Municípios da

Região Sudoeste da RMSP...... 8 7

• A numeração das páginas seguem a padronização do v olume imprenso, assim as paginas das Listas de Tabelas, Quadros e Figuras bem como o Sumário, terão discrepâncias, pois o arquivo digita l não segue os padrões de numeração orientados pela ABNT conforme se apresentam no material publicado. 9 1 5 . Tipologia dos municípios da RMSP, segundo o PIB, 20 03 .. . 9 5

1 6 . Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) d a RMSP,

2004...... 96

1 7 . São Lourenço da Serra: Índice de Paulista de

Responsabilidade Social, 2004...... 9 8

1 8 . Taxa de crescimento populacional (% ao ano) da RMSP ,

1991 – 2000...... 1 0 4

1 9 . Proporção de ocupados que realizam o deslocamento

pendular na RMSP, 1997...... 1 0 7

2 0 . RMSP: delimitação das Áreas de Proteção aos Mananci ais

(APM) ...... 1 1 4

2 1 . Área destinada a Zona de Uso Disciplin ado (ZUD), proposto

pelo Plano Diretor, Mineradora Amílcar Martins...... 123

2 2 . São Lourenço da Serra: total de funcionários do

funcionalismo publico municipal em 2001, 2002, 2004 e

2005...... 1 2 6

2 3 . RMSP: Índice Paulista de Responsabilidade (IPVS)...... 134

2 4 . Região Sudoeste da RMSP e o IPVS...... 137

2 5 . RMSP: assentamentos precários, 2007...... 142

2 6 . São Lourenço da Serra: Assentamos Precários Urbanos ...... 1 4 4

2 7 . São Lourenço da Serra: Índice de Vulnerabilidade So cial...... 1 4 4

2 8 . Domicílios com infra-estrutura interna urbana, 2000...... 1 5 3

10 LISTA DE TABELAS

1 . Uso e ocupação do solo de São Lourenço da Serr a, 2001...... 5 0 2 . Taxas de crescimento Populacional por tipo de município, RMSP (1991 – 2000)...... 9 2 3 . Posição do município de São Lourenço da Serra referente aos valores de calculo do IPRS, 2002 e 2004, em rel ação a todo o estado de São Paulo...... 9 9 4 . População ocupada, população ocupada pendular e proporção

de ocupados que realizam desloca mento pendular, região

Sudoeste da RMSP, 1997...... 1 0 9 5 . Participação dos setores da economia no total do valor

adicionado, São Lourenço da Serra 2002-2005...... 1 1 9 6 . Número de empregos formas e total de estabelecimento

empregadores de São Lourenço da Serra, 2008...... 1 2 4 7 . – São Lourenço da Serra: total de funcionários do

funcionalismo publico municipal em 2001, 2002, 2004 e 2005 1 2 6 8 . Ocupações com maiores estoques e o respectivo salário

médio, 2007...... 1 3 5 9 . Produto Interno Bruto (PIB) e renda per capita dos

municípios da região Sudoeste, da cidade de São Pau lo,

RMSP e estado de São Paulo, 2006...... 1 5 1 1 0 . Região Sudoeste da RMSP e São Paulo porcentagem de

domicílios em assentamento precários, 2000...... 1 5 2

11 LISTA DE QUADROS

1 . Tipologia dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, segundo o número de pes soas ocupadas nos diversos 9 2 setores da economia...... 2 . Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) d a RMSP , 9 7 2004...... 3 . R el ação dos processos ativos para a exploração mineral em 1 2 1 São Lourenço da Serra, 2002...... 4 . São Lourenço da Serra: População residente, 1 2 8 economicamente ativa e trabalhadores formais e info rmais .. . 5 . Grupos de vulnerabilidade social, IPVS...... 1 3 2

12 S U M Á R I O

1. INTRODUÇÃO ...... 1 CAPÍTULO 1 - São Lourenço da Serra: do portal do “” a Região Metropolita na de São Paulo (RMSP)...... 1 4 1.1 – A constituição do município de São Lourenço d a Serra..... 1 4 1.1.1 Do aldeamento dos Borbas a Distrito de Itapecerica da Serra...... 1 5 1.1.2 Lourenço da Serra e sua “estratégica” localização 26 1.1.3 São Lourenço da Serra e sua inserção da RMSP..... 2 9 1 . 2 - A “Cidade Natureza”: uma sistematização dos aspect os do meio físico de São Lourenço da Serra...... 3 8 1.2.1 Aspectos gerais de fauna e flora...... 41 1.2.2 A formação geológica e geomorfológica ...... 44 1.2.3 A realidade dos recursos hídricos...... 46 1.2.4 O uso e ocupação do solo de São Lourenço da Serra 4 9 1 . 3 - O crescimento de São Lourenço da Serra dentro da R MSP: uma premissa da discussão...... 5 1 CAPÍTULO 2 – Cidade e espaço urban o: reflexões necessárias para a consolidação do município de São Lourenço da Serra dentro da Região Metropolitana de São Paulo...... 5 6 2 . 1 – A institucionalização da Região Metropolitana de S ão Paulo...... 6 5 CAPÍTULO 3. Expansão periférica da porção Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo: as contradições socioeconômicas de São Lourenço da Serra...... 8 1 3.1 A Desfragmentação industrial e a expansão da RMSP...... 8 1 3.1.1 As subdivisões da Região Metropolitana de São Paulo, e uma breve investigação da porção Sudoeste...... 8 3 3.1.2 O Movimento Pendular e o crescimento dos municípios da região sudoeste da RMSP...... 8 4

13 3.1.3 Distribuição funcional dos municípios da RMSP: São Lourenço da Serra, “popular” e “terciário simpl es”.... 9 0 3.1.4 Índice Pau lista de Responsabilidade Social (IPRS), uma breve mensuração dos dados econômicos e sociais de São Lourenço da Serra...... 94 CAPÍTULO 4 . A Renda, a geração de emprego e as questões sociais em São Lourenço da Serra...... 1 0 1 4.1 RMSP e a segregação sócio-espacial: São Lourenço da Serra um exemplo...... 1 0 1 4.1.1 A mobilidade pendular, crescimento populacio nal da RMSP e segregação sócio-espacial...... 1 0 2 4.2 A renda e a geração de empregos em área de proteção aos mananciais (APM) ...... 1 1 0 4.2.1 Algumas leis de proteção ambiental da RMS P e as interferências na geração de emprego e renda em São Lourenço da Serra...... 1 1 1 4.2.2 Geração de renda em São Lourenço da Serra: um município de prestação de serviços simples...... 1 1 6 4.2.3 A questão da vulnerabilidade social na RMSP: o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPRS)...... 1 2 9 4.2.4 A questão social: o IPVS e os assentamentos precários de São Lourenço da Serra...... 1 3 5 4.2.5 As ações pública s mediante as questões sociais de São Lourenço da Serra...... 1 4 8 4.2.6 São Lourenço da Serra: alguns indicadores so ciais.. 1 5 0 II. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 15 4

III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 164

IV. ANEXOS ...... 1 7 0 1. Lei nº 898 – disciplinamento do uso do solo em áreas de proteção aos mananciais...... 1 7 1 2. Lei nº 1.172 - delimita as áreas de proteção aos mananciais 177 3. Lei nº 11.428 - Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica...... 1 8 6

14 I. INTRODUÇÃO

A realidade em que está inserida a estrutura urbana brasileira permite entender o seu dinâmico processo de construção e reconstrução e, partindo dessa condiçã o, é possível, dentro da perspectiva da ciência geográfi ca, discutir os processos condicionantes de seu status dentro da sociedade.

No Brasil, a apropriação dos espaços pela urbanizaç ã o

é reconhecida, primordialmente, entre as décadas de 1950 e

1970, em que se agrega, ao conjunto da sociedade, u ma gama de modificações na estrutura política e econômica, bem como em todo modo de vida.

Desse instante histórico até a atualidade, as modificações observadas vão ao encontro das necessi dades de apropriação do conhecimento humano, principalmente no que tange às tecnologias promovidas para a melhoria da condição de sobrevivência das sociedades.

As áreas urbanas tornaram-se centro das relações humanas; notadamente, as cidades passaram a deter o s símbolos básicos da condição de qualidade de vida, saúde, emprego, educação, lazer, entre outros. Entretanto, a concentração humana em cidades condicionou a socied ade a

15 uma (re) adaptação. Nesse instante, a busca por uma qualidade de vida satisfatória vincula-se às transformações d o ser humano, trazendo à realidade as construções promovi das pelas atividades urbanas, violência, desemprego e miséria que, na conjuntura dos fatos da desigualdade econômica, são frutos do capitalismo dilacerador, e se enraízam nas cidades, e fortemente nas cidades brasileiras.

É nítido que as cidades são os espaços da segregação espacial e social, nesse sentido Rodrigues e Gomes (2002, p. 361) afirmam que “as cidades são ecossistemas artificiai s, construídos e reconstruídos incessantemente, no espaço e no tempo , e resultantes de longos processos de sedimentação cultural”.

A proliferação de estabelecimentos industriais promoveu a intensificação dos fluxos migratórios en tre o campo e a cidade, repercutindo na modificação das ú ltimas, que cresceram e se responsabilizaram, integralmente , pelas atividades econômicas, políticas, tornando-as espaç os de poder e desigualdade.

A expansão das cidades foi determinante na configuração do território brasileiro, atualmente u rbano em sua essência. Os índices sociais condicionados aos diferentes usos e ocupação dos solos permitiram a drástica que da nos valores de bem-estar nesses espaços.

Diante de tal realidade, é irremediável não discuti r a participação da cidade de São Paulo nessa dinâmica. Seu

16 crescimento converge com os anseios do Poder Públic o , suplantado em diferentes momentos históricos, e sem pre na perspectiva de privilegiar a expansão econômica bra sileira.

Em contrapartida, à necessidade de perpetuação de u m espaço logístico integrado tornou São Paulo centro empresa rial, tecnológico e financeiro da nação, conseqüentemente centro urbano multifacetado, atrativo aos fluxos migratóri o s .

À medida que ocorrem transformações político- econômicas, São Paulo presencia um crescimento acen tuado por longas décadas, promovendo, dessa forma, a ocup ação de todo seu entorno.

A ocupação do solo foi valorizada na medida em que se tornava escasso, e na proporção que recebia inte nsos fluxos migratórios. O espaço delimitado pela historicidade já não mais se mantinha em sua originalidade; por conseqüê ncia, o crescimento urbano promovia, também, a ampliação da s demais áreas urbanas nacionais.

O processo de metropolização surgiu e intensificou- s e ao longo das décadas; São Paulo, enquanto município -sede, integra-se aos municípios limítrofes, tendo-os como apêndice de seu sítio; nesse momento, emergiu a Região Metro politana de São Paulo.

O espaço de ocupação expandiu-se e as cidades metropolitanas diversificaram suas dinâmicas de cre scimento

17 demográfico, concomitantemente ao amadurecimento econômico de São Paulo.

Assim, surgiu a discussão urbana e no espaço brasi leiro a metrópole paulista, agregada a diversos outros espa ços semelhantes, no que se chamou de urbanização aceler ada e, em uma ação pública cria-se a Lei Regulamentar 14 de 1 973, que projeta esses ambientes nos anais da discussão do planejamento público nacional, em pleno ditadura mi l i t a r .

Sene (1997), apresenta claramente que as regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei ap rovada pelo

Congresso Nacional em 1973, que as definiu como “um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com servi ços públicos e infra-estrutura comum”, sendo que os mes mos deveriam ser reconhecidos pelo IBGE.

Os debates específicos condizentes ao meio ambiente urbano ganharam complexidade na mesma proporção que a evolução das cidades, principalmente pelos seus asp ectos demográficos e econômicos.

Grostein (2001) ao discutir os processos sustentáv eis das cidades, perante o novo estágio em que se encontram os centros urbanos, aponta que atualmente o crescimento metropolitano tem como característica marcante a importância assumida pela dimensão ambiental dos problemas urbanos, especialmente os associados ao parcelamento, uso e ocupação do solo, com relevante

18 papel desempenhado pelos assentamentos habitacionais para população de baixa renda.

Discute-se, nesses termos, como ficou a situação dessa centralidade urbana, em que todo o arcabouço social e econômico das cidades foi estabelecido, perante a c ondição de fusão nas metrópoles nacionais.

As grandes cidades, em tempos da expansão do processo de globalização, comandam os espaços econô micos maiores, e exercem poder sobre uma infinidade de at ividades sócio-econômicas. As grandes áreas metropolitanas, na lógica do sistema técnico-científico-informacional (SANTOS , 1996), estão condicionadas ao conceito de cidades globais e se interligam com as demais regiões do planeta.

Nesta perspectiva de expansão, São Paulo é identificada com o processo de urbanização, e sua e scala e velocidade estão enraizadas, nitidamente na condiçã o capitalista.

Ao abarcar para si um espaço de variações, a região metropolitana de São Paulo condicionou todos esses ambientes

à disponibilidade de elementos para seu funcionamen to.Essa atração paulista garantiu, ao seu território em exp ansão, uma dinâmica incomum, de acordo com a perspectiva urban a brasileira.

Os postos de geração de emprego se viam crescentes, e buscavam espaços para sua produção. Mas, à medida que essa p rodução

19 espacial era acometida ao grande salto de crescimento, a cidade não mais se sustentava.

O crescimento populacional atingia patamares nunca antes vistos, a problemática da ocupação e a redução dos espaços urbanos destinados à moradia não acompanhavam o mes mo ritmo.

Notadamente, essa população estabeleceu-se nos rest ritos espaços disponíveis e, em um curto tempo, gerariam uma intensa ocupação, desorganizada, na qual as áreas mais distantes da centralidade urbana seriam o foco primordial dessa fixação. Desse modo, a

Região Metropolitana de São Paulo identificou-se co mo a paisagem nítida dessa condição, promovida, majoritariamente, pelo usufruto de seu espaço e dentro de seu processo histórico.

Nessa situação, o surgimento das cidades ao longo do perímetro urbano-industrial paulistano esteve condi cionado à fixação da mão-de-obra operária migrante, que se vi u forçada a instalar-se nesses ambientes atípicos para ocupação , com irregularidade do relevo, presença de intensa veget ação nativa, proximidade as vertentes de rios, além de grande parcela serem

áreas de proteção ambiental, ou seja, ambientes propensos às adversidades naturais.

Na mesma medida, estabelecendo-se uma linha cronológica dos fatos ambientais no Brasil, nota-se que essa questão passou a ser fortemente vislumbrada com a i dentificação da excessiva concentração populacional nesses centros urbanos.

Assim, a fusão do conceito de degradação ambiental com a

20 metropolização passa a ser instigado concomitantemente à historicidade urbana brasileira.

Nessa comparação, observam-se os municípios da Regi ão

Metropolitana de São Paulo, que convergem para o palco do paradigma desenvolvimento/sustentabilidade. O saturamento urbano da grande cidade possibilitou que centros paralelos emergissem apossando-se de espaços naturais e, conseqüentement e, em detrimento da qualidade de vida.

A poluição de mananciais, devastação de reservas nativas como a de Mata Atlântica, aliados ao elevado índice de resíduos sólidos (industriais e domésticos) presentes, imprimiu a toda região um espetáculo caótico.

Apesar da intensa ocupação, ainda se conservam pequ enas manchas de mata remanescente, onde constam, ainda, determinados usos e ocupações dos solos, que, de certa forma, prevalece a preservação em detrimento da urbanização. Por essa razão, tais

áreas encontram-se regidas por leis ambientais restritivas, acometidas de usos sustentáveis.

Em linhas gerais, percebe-se que o dinamismo urbano brasileiro tem preciosa relação com os fatos desencadeados pela

RMSP, e, sobretudo, naquelas áreas que foram construídas a sua mercê, e que são mencionadas como exemplos concretos desse atributo, por essa justifica-se a escolha de São Lo urenço da Serra, município da RMSP, como foco desse estudo de caso.

21 São Lourenço da Serra encontra-se defronte a uma ló gica histórica controversa, quando vista em comparação com os demais municípios. Partindo do entendimento de sua emancip ação política, até o instante da presença em seu território da área de proteção aos mananciais, já são razões fundamentais para uma análise empírico- conceitual de sua inserção no seio da RMSP. Tais características lhe conferem um status importante na rede urbana metropolitana, mas que, em uma outra vertente, o isola de um possí vel crescimento, e ainda mais quando se associa a sua i nserção nas poucas áreas de vegetação remanescente da RMSP.

Resumidamente, o maior dilema do pequeno município seria a ausência de condições de “auto-sustentabilidade”, já que a sua sobrevida, permitida pela emancipação, ainda é questionada, mas não passível de ser alterada.

Efetivamente emancipada em 1991, São Lourenço da Serra tornou-se o 39º município da RMSP, apresentando enormes controvérsias quanto aos parâmetros sócio-econômicos dos demais municípios limítrofes, mas com sua independência to rnou-se politicamente “comum” aos demais ambientes metropol it an os .

Apesar do rápido processo de emancipação política, o município tem alcançado nas últimas décadas elevado índice de crescimento populacional, divergentes aos padrões d a RMSP, do

Estado e dos municípios limítrofes.

Dadas essas linhas iniciais e norteadoras, sublinha-se como fundamental justificativa dessa pesquisa empírico-conceitual,

22 o levantamento de informações e dados que capacitaram a construção de um documento descritivo das medidas adotadas e propostas para a geração de renda e emprego no muni cípio de São

Lourenço da Serra.

Apesar do leque de situações-problema apresentadas, a fundamental proposta desse texto é construir uma li nha histórica, que permita conceber informações que possam discutir a real característica econômica são lourençana perante a s ua inserção dentro da RMSP. Assim, dentre os demais objetivos, também, se destacariam a quantificação e o referenciamento do município dentro de uma perspectiva que comprove sua interdep endência para com a Região Metropolitana de São Paulo, tendo como recorte á região Sudoeste. Enfocando, dessa forma, a s dificuldades em geração de emprego e renda, bem com o aos demais fenômenos sociais, econômicos e políticos de áreas urbanizadas, observando os eventos atípicos que se desenrolam em um município pequeno e com divergênci a s incomuns no contexto da metrópole.

Contudo, sabe-se da restrita oferta de informações públicas necessárias à produção textual, principalmente pela recente história do município. Mas, com a demarcação das situações-problema, propôs-se essa linha investigati va.

Fundamentada por um referencial bibliográfico, essa investigação tem como suporte o levantamento crítico e interpretativo de dados primários e secundários, responsáveis pelo

23 subsídio metodológico da pesquisa, dentre os quais podem ser citados teóricos reconhecidos da ciência geográfica, sejam eles::

Milton Santos, Aroldo de Azevedo, Amélia Damiani, Ana Fani

Carlos, que mesmo apresentado pontos de discussão restritos e divergentes, puderam enunciar uma abordagem efetivamente qualitativa no que diz respeito ao crescimento indu strial tanto do país, como o de São Paulo. Entretanto, outras produ ções permearem, também, a obtenção de estudos de caso, d entre os quais, citam-se Claudia Ântico, Fausto Brito, Marta Dora Grostein et al. A obtenção e análise desses documentos extraídos, de diversos órgãos públicos sejam eles federais, estaduais e municipais pôde emitir uma comprovação daquilo que de fato se associa a São Lourenço da Serra, principalmente por tornarem-se um do poucos materiais de ordem pública disponíveis para p esq ui sa.

Assim, instituições como a Assembléia Legislativa do

Estado de São Paulo (ALESP), ao fornecer os dados do Relatório

Plurianual 2008-2011, a Fundação Sistema Estadual d e Análise de

Dados (SEADE), ao diagnosticar os municípios paulistas, e por produzir o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPSV); por conseguinte o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), pelos relatórios técnicos de São Lourenço da Serra, elabo rados para atenderem a elaboração do Plano Diretor; também, as pesquisas do

Ministério das Cidades, responsável pelo estudo dos Assentamentos

Precários; e, ao Ministério do Trabalho, ao fornecer os valores de empregabilidade local; a Prefeitura Municipal; e, por fim, a

24 Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (EMPLASA) os quais permitiram a apresentação de dados fundamentais para a leitura dos geradores de renda e emprego locais e, que demarcam os mais importantes aspectos do município em estudo.

O uso desses indicadores condicionou a construção d e um embasamento importante para a caracterização do objeto de estudo, mas não suficiente. Em função disso, pesquisas diretas e o levantamento de informações junto a Prefeitura Municipal, por meio de suas secretarias administrativas, foram exemplos da interação com a gestão pública e, que somadas a ent revista especificas, dentre elas com o Prefeito José Merli (pleito 2005-

2008), geraram dados necessários para apreciação econômica e política do município e, que poderão ser identificados no corpo dessa dissertação.

Associadas metodologicamente a esse levantamento estiveram conversas informais e esclarecedoras com munícipes e personalidades locais importantes, que garantiram uma criticidade necessária para o arcabouço histórico do município, entre elas a coordenadora de projetos a Organização Não-Governam ental Vitae

Civilis (ONG Vitae Civilis) a Sra. Gemima Born, a q ual permitiu estabelecer um olhar diferenciado para a realidade de São Lourenço d a S erra.

No que diz respeito aos conceitos bibliográficos referenciados buscou-se um leque de autores que permitissem explicar a lógica da expansão urbana no Brasil, bem como o

25 estabelecimento e consolidação das metrópoles nacionais, entre elas a RMSP. Na mesma condição, leituras a respeito da geração de renda e empregabilidade em áreas de preservação .

De modo geral, essa dissertação estruturou-se, conforme os apontamentos apresentados, em quatro capítulos que, em seu conjunto, deflagram a efetiva relação entre São Lou renço da Serra e a Região Metropolitana de São Paulo, e por conseqüência comprovam os mecanismos de geração de renda e emprego que montam a econômica municipal, principalmente por estar convencionada a uma lógica ambiental diferenciada.

No Capitulo 1, São Lourenço da Serra: portal do “Vale do Ribeira” a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), tem - se um arcabouço histórico da construção de São Lourenço da Serra ao longo de seu vínculo a Itapecerica da Serra, da qual se apresenta, também, sua trajetória e sua estreita relação com a São

Paulo do início da colonização.

Já no Capítulo 2, Cidade e espaço urbano: reflexões necessárias para a consolidação do município de São Lourenço da Serra dentro da Região Metropolitana de São Paulo , a leitura

é provocativa, pois adentra no confronto da inserção do município de São Lourenço da Serra dentro da conjuntura da RM SP, bem como as características que permitiram o estabelecimento da região e citadas, também, formas de gestão urbana que estiveram em prática ou daquelas que foram viáveis.

26 Continuando a abordagem, o Capítulo 3, Expansão periférica da porção sudoeste da Região Metropolita na de São

Paulo: as contradições socioeconômicas de São Lourenço da

Serra, elabora a condição atual que permitiu a consolidação e crescimento da região sudoeste da RMSP, da qual São Lourenço da

Serra pertence.

Finalmente, o Capítulo 4, A renda, a geração de emprego e as questões sociais em São Lourenço da Serra , que desmonta a questão da geração de emprego e renda em áreas de preservação apresentado as atividades geradores de renda em São

Lourenço da Serra.

27 CAPÍTULO 01

SÃO LOURENÇO DA SERRA: do portal do “Vale do Ribeira” a

Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)

1.1 A constituição do município de São Lourenço da S erra

A constituição do município de São Lourenço foi, em grande parte de sua história, determinada pela estreita conexão deste com Itapecerica da Serra, município do qual foi Distrito por cerca de 40 anos.

O processo de ocupação da região onde se insere atualmente o município data de meados do século XVI, associando- se ao movimento dos bandeirantes e jesuítas pela co nsolidação dos aldeamentos indígenas e exploração de minérios, necessários ao enriquecimento da metrópole portuguesa.

Conforme aponta a Seade (2007), a respeito da historicidade local, é em 1562 que se instalam na região dois núcleos de base indígena, o de Embu e o de Itapecerica, responsáveis por parcela significativa do levante populacional que

28 emergiu em seu entorno. Atualmente, compõe a porção sudoeste da

RMSP; esses aldeamentos constituíram importantes nú cleos de adensamento populacional, compondo a base da ocupação de seus municípios, atuando na caracterização daqueles núcl eos urbanos que surgiriam daqueles núcleos.

1.1.1 Do aldeamento dos Borbas ao Distrito de Itapecerica da S erra

Situando-se essa lógica espaço-temporal, torna-se imprescindível referenciar o processo histórico que promoveu a formação da região de Itapecerica da Serra e, nessa leitura, reconhecer São Lourenço da Serra e sua inserção nessa dinâmica.

Assim, notadamente,

[...] a história de Itapecerica da Serra tem sua or igem em um aldeamento de índios fundado por padres da Companhia de Jesus no século XVI, sob a invocação d e Nossa Senhora dos Prazeres. No século XVIII, o aldeamento cresceu com a chegada dos índios trazido s de Carapicuíba pelo sertanista Afonso Sardinha. Em 1686, a capela de Itapecerica contava com mais de “novecentas almas” (OLIVEIRA, 2004, p.13). 1

Ao longo dos séculos seguintes, coube a Itapecerica ser referência no processo de catequização indígena por meio do estabelecimento da capela de Nossa Senhora dos Praz eres. De fato,

1 A citação refere-se a publicação - “São Lourenço da Serra: fatos e retratos da Cidade Natureza” - de Silvana Pereira d e Oliveira, produzida em colaboração ao Poder Público Municipal , sendo, assim, um dos poucos materiais, ou o único, que explícita o processo histórico de construção do município.

29 essa instituição religiosa determinou a inserção do atual município na rota de exploração econômica das bandeiras, promovendo, desse modo, um certo destaque à região; como resultado, p ermitiu a constituição da vila, posterior cidade de Itapeceri ca.

Nesse percurso histórico, torna-se de grande valia reconhecer o ano de 1841 como determinante para a construção de

Itapecerica. Atribui-se a esse ano o marco da conso lidação emancipatória da vila jesuítica de Itapecerica, posto que, apesar de seiscentista, esteve à mercê das localidades vizinh as, entre elas

Santo Amaro e Carapicuíba, que detinham, também, fo rte vocação religiosa e, de certo modo, inibiram o desenvolvimento de

Itapecerica durante os séculos posteriores, o que somente veio a ocorrer intensamente no século XX:

[...] Suas origens remontam ao início do século XVII, senão aos fins do quinhentismo, sendo sua sobrevivência assegurada quando ali e nos seus arredores se localizaram os índios catequizados, transferidos do aldeamento de Carapicuíba, então abandonado [...] (AZEVEDO, 1958, p. 147).

Assim, basicamente destinado ao aldeamento e à catequização indígena, em 1841 Itapecerica da Serra, de acordo com a hierarquia geográfica católica, eleva-se à categoria de

Freguesia, apesar de sua condição de vínculo a Santo Amaro, que já havia galgado o posto de vila. De fato, salienta-se que esse atributo, na constituição da Igreja Católica, já havia sido estabelecido previamente em 1832, porém não pode ser sustentada pela fragilidade do adensamento catequético e pelo contexto de sua

30 organização administrativa, ainda incipiente. Sabe-se que a condição de Freguesia é compreendida no instante da imponência da catequização e importância do agrupamento religi oso face à população que se agregou nas proximidades do povoado .

A fragilidade da dinâmica econômica que se desenvolvia na região manteve restrito o crescimento da Capela de Nossa

Senhora dos Prazeres; ademais, havia o seu isolamento em relação ao centro urbano mais importante da região, São Paulo, o que tornava o adensamento algo meramente associado ao catecismo, e que de certa forma não permitindo, à Itapecerica, constituir uma freguesia desagregada.

Desse modo, em decorrência da expansão de aldeamento s próximos, como o de Santo Amaro, mantedor de forte laço a São

Paulo, responderam de forma determinante no regresso a sua categoria:

[...] em 1832, foi extinta a freguesia de Itapeceri ca, embora viesse a ser restabelecida em 1841, como parte integrante do município de Santo Amaro. Em 1877, passou a ser sede municipal, com predicamento de vila. Mas tal fato de nada adiantou , pois, ao findar-se o século XIX, a Igreja Matriz achava-se em ruínas (o que bem exprime sua decadência), a cadeia e a casa da câmara não haviam sido construídas em definitivo [...] (AZEVEDO, 1958, p. 148).

De fato, com o estabelecimento da Freguesia e a chegada do vigário, que exercia forte poder político no ald eamento, percebeu-se uma certa expansão do povoamento. Assim , no ano

1874, por meio de lei provincial, e em observação a esse aumento

31 demográfico, a localidade ascende à categoria de vila. O percurso para a emancipação tornar-se-ia um processo breve.

Posteriormente, a emancipação é concedida em 1877, por ocasião da criação do município de Itapecerica, por meio do seu desmembramento de Santo Amaro, em função da lei est adual n.

1.038. Em 1944, o nome do município foi alterado para Itapecerica da Serra, por motivo da existência, mais antiga, de um município homônimo no estado de Minas (OLIVEIRA, 2004).

Em toda essa conjuntura, fixa-se a história de São

Lourenço da Serra. Oliveira (2004) condiciona a des coberta da região que seria considerada São Lourenço da Serra, no instante em que jesuítas e colonos acompanharam o curso do rio (hoje conhecido como São Lourenço), a partir da Aldeinha (povoado oriundo dos avanços de jesuítas ao longo das proxim idades de

Itapecerica). Conforme citado pela autora, dentre as diversas

“entradas” pela mata, os colonos, a partir do povoado, deslocaram- se ao longo do pequeno rio na perspectiva de conqui star terras propícias à exploração de minerais e pedras precios as. E assim, em poucos dias após a primeira empreitada pela mata, o grupo de exploradores vislumbraram uma localidade “inóspita e uma paisagem de agradável beleza” (OLIVEIRA, 2004, p. 14).

Admirados pelas características da descoberta viável ao desenvolvimento extrativista, logo iniciariam a construção de cabanas e, posteriormente, construíram mais uma cap ela nos longínquos da Freguesia de Itapecerica. Brevemente, as pequenas cabanas compuseram o pequeno povoado do Paiol do Meio, 32 atualmente um bairro afastado da porção central de São Lourenço da Serra, e que ainda preserva a pequena capela, co m os mesmos traços históricos de sua época. Os adensamentos que permitiriam a efetiva consolidação de São Lourenço foram desenrolando-se à medida que a conquista de porções desconhecidas da região de

Itapecerica e Aldeinha se efetivava.

Nos diversos fatos elencados sobre a história da região de

Itapecerica da Serra é determinante o vínculo com as atividades de subsistência, que responderam, ao longo dos séculos, pela ocupação, fixação e ampliação dos povoados, entre eles o que seria chamado de São Lourenço da Serra.

O isolamento, em relação às demais vilas e cidades, era um fato que reforçava a dependência para com os cul tivos de sobrevivência, mas que, ao longo dos tempos, e com o surgimento de vias de deslocamento, não impediram o estabeleci mento de trocas comerciais com São Paulo e outras vilas, entre elas a própria

Itapecerica e Santo Amaro, do qual se emancipou.

Azevedo (1958, p. 113) disserta a respeito desse fato, quando elenca a dinâmica econômica determinada pela agricultura na região em que se encontram Itapecerica da Serra e Cot ia:

[...] é a paisagem agrária, sem dúvida alguma, a predominante, não apenas pelas marcas ali presentes , como por constituir a verdadeira força econômica dessa extensa área suburbana. Já se chegou a considerá-la, ate, um dos celeiros agrícolas da Capital paulista - expressão um tanto forte, se bem que até certo ponto exata, sobretudo em relação à área de .

33 De fato, a efetiva ocupação daquilo que seria conhecido por São Lourenço da Serra, deu-se em meados do século XIX, com as famílias de Manoel Soares Borba e Manoel Mendes Rodrigues, que também partiram em exploração da Aldeinha, e seguiram o caminho do rio. Ao se depararem com as ruínas de um aldeamento antigo, oriundo das diversas entradas jesuítas pela mata, se aproximaram e depararam-se com uma pequena capela, onde residia um ancião jesuíta, o único habitante daquela área. Os exploradores, atentos, reconheceram a potencialidade do local e fixaram-se com suas famílias, dedicando-se, inicialmente, às ativi dades de subsistência.

Na proporção em que se estabelecia o povoamento, o progresso do vilarejo já produziria a separação das terras efetivamente ocupadas. Daí, o surgimento de duas grandes áreas de ocupação, pertencentes às famílias dos primeiros povoadores, e que seria considerado o percurso inicial daquilo que se denominaria

Vilarejo dos Borbas, posteriormente São Lourenço da Serra.

A condição de vínculo com as famílias de colonos propiciou, inicialmente, a escolha do nome da vila, mas posteriormente definiria-se pela presença da antiga capela construída em louvor a São Lourenço, e acrescentando-se o termo

“serra”, pela dependência política a Itapecerica da Serra, como cita

Oliveira (2004).

Nesse instante histórico, o aglomerado contava com uma via de acesso para as localidades circundantes, a qual exerceria

34 função indispensável no que diz respeito às atividades econômicas, inicialmente estabelecidas entre o povoado, Aldeinh a e Itapecerica da Serra. Iniciando em Itapecerica da Serra, passan do pelo povoado da Aldeinha (importante núcleo de ocupação), e tinh a por destino final o município de Juquitiba (hoje, limítrofe ao sul do município de São Lourenço da Serra), e em seu percurso convergia ao povoado de São Lourenço da Serra. Atualmente, parcela da estrada constitui a Rodovia Regis Bittencourt, que se interliga aos demais trechos da BR-116, acompanhando toda a porção leste do território brasileiro desde o nordeste ao extremo sul do país. Sendo o trecho que corta a região um dos mais importantes em face da ligação da metrópole com os estados do sul do país

Sistematicamente, as atividades comerciais foram intensificadas em razão da dependência desses povoados com

Itapecerica da Serra, Embu Taboão e São Paulo. A FIGURA 01, extraída de Azevedo (1958), apresenta a via de acesso partindo de

Itapecerica da Serra em sentido à Aldeinha, e que p osteriormente se encaminharia a São Lourenço da Serra. Há que se mencionar que era a única via de acesso a São Paulo e a outros lo cais disponíveis e de qualidade para essa porção do tecido urbano, q ue se encontrava em pleno ritmo de crescimento.

35

FIGURA 01 – Vias de acesso da RMSP, década de 1950. Fonte: AZEVEDO, 1958.

Ofertado pelos caminhos e vias constituídos com o desencadeamento da vida econômica na região, o pequeno Vilarejo dos Borbas desenvolveria-se, e de forma mais intens a, a partir de

1900, com a entrada de diversas frentes migratórias ao longo de toda a região de Itapecerica da Serra e Cotia. A efetiva ocupação de porções do então sertão “suburbano”, entre o quais se inseririam aqueles convergidos ao entorno de Itapecerica, já produziriam atividades econômicas que tornariam imprescindíveis a manutenção da metrópole ao longo do século XX, respondendo, dessa forma,

36 pela diversificada historicidade que se estabeleceu nessa porção do território paulistano.

A entrada de diversos grupos migratórios, dentre os quais destacam-se os colonos japoneses, propiciou o povoamento de porções da RMSP, ao longo dos séculos XIX e XX. Háb eis conhecedores das técnicas agrícolas, dentre as quai s aquelas vinculadas à produção hortifrutigranjeira, estabeleceram-se junto a

Cotia e proximidades. Então, no decorrer do process o, a adaptação

à nova terra permitiria a expansão para outros muni cípios, possibilitando novas investidas junto às porções in óspitas da floresta atlântica. Em conseqüência, promoveu o est abelecimento de uma agricultura de base familiar, fundamental na consolidação dessa e outras atividades, além de permitir a consolidação territorial.

Azevedo (1958, p. 115) apresenta a participação des se grupo migratório na formação da região quando confi rma qu e:

[...] os primeiros japoneses fixaram-se na região e m 1913. Em 1920, cerca de 50 famílias dedicavam-se á cultura da batata [...] em terras do município de Cotia. Entretanto, foi na derradeira década que se deu o maior afluxo de tais imigrantes, que se fixaram tanto num como noutro dos municípios (Itapecerica da Serra) [...].

Não obstante essa realidade, na medida em que o pro cesso de povoamento intensificava-se ao longo da periferi a paulista, São

Lourenço da Serra também colhia os frutos do desenv olvimento regional, prosperava concomitantemente às grandes cidades, observadas as devidas proporções, estabelecendo suas fronteiras de 37 atuação, mesmo ainda do pertencente ao município de Itapecerica.

De fato, a prosperidade de Cotia, Embu e Itapecerica proporcionou uma re-configuração de toda a região circunvizinha. Percebe-se que a pequena vila dos “Borbas” caminhava na perspectiv a de usufruir desse potencial para seu crescimento enquanto terri tório consolidado. Assim, em 1953, a “ascensão” a distrito de

Itapecerica da Serra, do qual permaneceu até sua em ancipação política, é definida.

Nota-se que a condição de crescimento da porção sudoeste da RMSP, na qual se inserem os municípios de Embu, Cotia,

Itapecerica da Serra, além de São Lourenço da Serra e Juquitiba, esteve condicionada pelo fato de tornarem-se áreas de produção agropecuária e de abastecimento a São Paulo, princi palmente durante as primeiras décadas do século XX. Essa proximidade com o mercado consumidor da cidade de São Paulo, facilitadas pela oferta de estradas pavimentadas, mão-de-obra barata e terras abundantes para o cultivo, foram determinantes para a configuração de uma região de abastecimento, em se tratando de gêneros agrícolas:

Muitos fatores concorreram para que a região em estudo fosse dominada pela vida agrícola. Além das condições naturais, até certo ponto favoráveis, cumpre salientar, desde logo, a presença de um insaciável mercado consumidor - o da Capital paulista, à qual essa área suburbana se vê ligada p o r boas estradas de rodagem, em muitos trechos inteiramente asfaltadas (AZEVEDO, 1958, p. 114).

Partindo desse pressuposto, é irremediável avaliar o dinamismo da região em face das investidas nesse segmento. 38 Logicamente, algumas porções do tecido urbano prosp eraram rapidamente, enquanto aquelas mais distantes estiveram condicionadas a fatores diversos, como o próprio distanciamento do mercado consumidor paulistano, e assim insere-se São Lourenço da Serra, que por condição de dependência ao extrativismo mineral e vegetal, bem como a manutenção de uma agricultura incipiente, não manteve o ritmo de crescimento econômico ao lon go das décadas seguintes, mas que, no entanto, adquiriu aspectos próprios, promotores de um desenvolvimento populacional diferenciado, permitindo a ampliação de um segmento comercial, qu e viria a abranger a sua população residente.

Assim, “ao final da década de 1980, o bairro, já co ntando com cerca de dez mil habitantes, apresentava um comércio consolidado” (OLIVEIRA, 2004, p. 32), sendo vislumb rado com a subprefeitura de Itapecerica da Serra. Seria, portanto, uma questão de tempo para que a luta por emancipação ocorresse, satisfazendo, também os anseios das forças políticas locais. Ness a lógica, as ações pró-emancipação ganhariam espaço nos embates políticos da comunidade e o processo iniciar-se-ia no ano de 198 9.

O processo para emancipação política duraria cerca d e dois anos, sendo iniciada com a consulta pública (o plebiscito) em maio de 1991, no qual a maioria dos munícipes empenhados por uma representação política consolidada evidenciou o desejo pelo desmembramento do município-sede, Itapecerica da Serra.

39 Mas pelas condições políticas do país, que vivia os anseios da redemocratização política estabelecida p ela Constituinte de 1988, o processo foi inicialmente vetado pela As sembléia

Legislativa do Estado, em primeira instância. Sendo novamente encaminhado aos deputados para análise, notadamente, com uma forte base política constituída, após a derrocada da pretérita tentativa, a aprovação ocorreria em 30/12/1991 por meio da Lei

Estadual nº 7.664, a qual definiria, com a pressão política, e apoio do próprio Poder Publico de Itapecerica da Serra, a emancipação de

São Lourenço da Serra e, tornar-se-ia, naquele inst ante, o 39º município da Região Metropolitana de São Paulo.

De fato, o processo de emancipação de São Lourenço da

Serra ocorreu na última onda expansionista 1 que tomou conta do país durante a elaboração das constituições estaduais de 1989, fruto redemocratização do país; além do mais, a bus ca por orçamentos municipais, repasses fiscais e uma forte base de atuação política propiciaram a emancipação do Distrito de São

Lourenço da Serra.

1.1.2 São Lourenço da Serra e sua “estratégica” localiza ção

2 O último grande levante emancipatório brasileiro data da década de 1960, momento em que surgem, no contexto político brasileiro, 1.454 novos municípios; posteriormente, os movimentos de emancipação foram contidos pelo regime militar, como aponta Oliveira (2004).

40 Apresentando uma distância aproximada de 52 quilômetros da capital São Paulo, São Lourenço da Serra situa-s e na Região

Metropolitana de São Paulo (RMSP), fato determinado pela emancipação de Itapecerica da Serra, o qual já comp unha essa região administrativa.

No que diz respeito à sua localização está posto às margens da Régis Bittencourt, rodovia federal BR-11 6, entreposto que permite a conexão entre a porção Sul e Sudeste do território, tornando-se, também, a única via de comunicação ent re o município com os demais municípios vizinhos.

Vislumbrado seu processo histórico, o município encontra-se estrategicamente localizado junto à met rópole paulistana, associando-se, portanto, ao seu alçado desenvolvimento econômico e toda sua rede urbana constituída. Desse modo, está condicionado, também, à dinâmica dos subcentros eco nômicos regionais, provenientes desse processo produtivo metropolitano, sejam eles Taboão da Serra, Embu, Cotia e Itapeceri ca da Serra, sendo os dois últimos limítrofes ao município de São Lourenço da

Serra, como representado na FIGURA 02.

41 COTIA

ITAPECERICA DA SERRA IBIÚNA

SÃO EMBU LOURENÇO GUAÇU DA SERRA

JUQUITIBA

FIGURA 02 – Município de São Lourenço da Serra e os municípios com os quais faz divisa. Fonte: IPT, 2002, p.06.

Estendendo-se territorialmente por 186,71 km 2 (SEADE,

2007), é cerca de 10 vezes maior que o município de Taboão da

Serra, por exemplo. São Lourenço da Serra contribui de forma significativa para a manutenção de uma das poucas áreas de proteção à Mata Atlântica, principalmente se levado em consideração o dinâmico complexo econômico instaurado na metrópole paulistana. Ao possuir, em seu espaço territorial, uma vasta área de floresta remanescente, São Lourenço d a Serra e os demais municípios da região são destaques do dinami smo urbano paulistano como áreas de expansão urbana e de prest ação de serviços, em face da complexidade do uso e ocupação do solo já

42 decorrente no intenso processo ocorrido em sua longa trajetória histórica.

1.1.3 São Lourenço da Serra e sua inserção da RMSP

Menosprezar a inserção de São Lourenço da Serra na conjuntura da metrópole paulistana seria desconsiderar a lógica de seu processo histórico-econômico, o qual se assenta nessa associação, e que lhe conferiu o status de município. Por outro lado, tomando-se uma leitura na qual essa inserção não se atenha aos fatos históricos, será notória a controversa dessa integração para com a região administrativa da RMSP.

O fato de contribuir de forma diferenciada no contexto da metrópole seja na lógica econômica ou mesmo da condição populacional, é necessária uma análise dessa dinâmi ca. Mas, associa-se, também, a essa discussão, o controverso processo de regionalização brasileira, que vem sendo estabeleci do ao longo da historicidade e da investigação geográfica do território, e que tem sido impregnado de indefinições e, somada a isso, a ausência de uma padronização suficiente para delimitar o estabelecimento das divisões regionais ao longo do território brasileiro. Nessa perspectiva, a indefinição desses critérios, no que tange às macrorregiões, mesorregiões e microrregiões, permanece, ainda, nos complexos embates acadêmicos.

43 Percebe-se, partindo desse pressuposto, que a dinâmica da inserção do município na RMSP percorre outra abordagem e, de fato, o processo foi regulamentado por meio da defi nição de regiões metropolitanas do Brasil, em pleno militari smo, numa tentativa de gerir o poder galgado pelos centros urbanos do país, determinados pela intensificação do processo indust rial das décadas anteriores.

A delimitação do zoneamento metropolitano processou -se por uma lógica complexa, que será mais bem considerada no decorrer dessa pesquisa. Assim, a condição de inserção de São

Lourenço da Serra na RMSP não esteve relacionada à dinâmica do estabelecimento da RMSP, já que ainda se via a condição de bairro de Itapecerica da Serra, do qual se emancipou apenas em 1992 tornando-se parte integral da grande São Paulo.

De modo a definir a controvérsia estabelecida no qu e tange à participação de São Lourenço da Serra, atev e-se, inicialmente, ao grau de urbanização desses ambient es; assim, quando percebidos no contexto da RMSP, esses dados representam

94,88% (SEADE, 2007), justificáveis do ponto de vis ta da dinâmica urbana adquirida por São Paulo perante o processo de industrialização do país. Porém, por outro lado, po dem ser lidos distintamente quando justapostos à realidade são lo urençana. O fato de deter 91,35% de urbanização, pouco abaixo do contexto da

RMSP, o município encontra-se diferenciado do padrão metropolitano de ocupação e uso do solo, já que 81% de seu

44 território encontra-se assentado em área de cobertu ra florestal n ativ a.

Percebe-se uma convergência dos dados, especialment e se colocadas as devidas proporções, em que, apesar de apresentar uma população estratificada em pequenas porções do território, ocupando pequenos aglomerados urbanos, visivelmente estão determinados pela dicotômica questão do urbano/rural .

Notadamente, ao condicionar essa proposição, tem-se o mérito da visão empírica dos elementos, não se tomando, de fato, ainda, a leitura dos fatores de geração de renda do município.

Contudo, nota-se que alguns municípios da RMSP, dis tantes do centro econômico de São Paulo, possuem índices de urbanização semelhantes aos da metrópole, pois emergiram na con dição de vínculo à sua expansão, e que, de certa forma, perm anecem com um ritmo de produção espacial alheio àquilo que decorre nas grandes centros urbanos da RMSP.

Cabe notar que, independente da divergência estabel ecida, o pragmatismo dos elementos de geração de emprego e renda reforça a dependência de muitos desses municípios, inclusive São

Lourenço da Serra, com a situação produzida pela dependência mantida com São Paulo e os municípios em seu entorno .

Parece difuso perceber em um município de pequeno porte uma taxa de ocupação ínfima, características urbanas de ambientes tipicamente rurais ou agrícolas, e que, no entanto está determinado pelo domínio das atividades terciárias, habitualmente expressas em

45 grandes e médios centros urbanos, e que, face à necessidade de atender aos munícipes, naquilo que lhes é fundament al, tornou-se uma fonte de renda e geração de emprego para uma generosa parcela da população.

A conformidade desse aspecto é comprovada partindo-s e da interpretação dos dados conduzidos pela Assembléia Estadual, no que tange à constituição do Plano Plurianual do estado, o qual estabelece a classificação dos municípios paulistas no que se refere

às funções econômicas predominantes. Portanto, observando a

FIGURA 03, nota-se que não há, na dinâmica econômica são lourençana, vinculação a um determinado setor. Iden tifica-se um conglomerado de atividades que lhe aferem um vínculo com atividades diversas, consideradas essencialmente urb an as.

Notadamente, o município ostenta sua fonte de geração de emprego e renda na diversidade de atividades econômicas; dessa forma, é fundamental refletir, propondo um parâmetro de comparação ao que diz respeito à realidade dos demais municípios da RMSP. A interdependência entre os municípios da RMSP e a condição de São Lourenço da Serra como território de diversidade econômica de renda baixa está sujeita à oferta de m ão-de-obra de baixa qualificação, definida pela facilidade no pro cesso de migração pendular, o qual se suporta pela presença da Empresa

Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). A maio ria desses municípios tem sua economia baseada no setor secundário e terciário com maior intensidade, mas que determinam o fluxo pendular preponderante dentro da variação de renda do município. 46

FIGURA 03 – Distribuição funcional dos municípios d a RMS P Fonte: GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro; MEYER, Regin a Maria Prosperi, 2004, p. 52.

47 Cabe salientar que, de certo modo, a lógica da urbanização não é o caminho percorrido para a definição e condição de inserção de São Lourenço da Serra na RMSP, mas é uma perspectiva possível de análise como outras que serão discutidas ao longo dessa pesquisa.

Na mesma linha de abordagem, tem-se os dados referentes ao

Produto Interno Bruto (PIB) de São Lourenço da Serra, conforme Seade

(2007), destacando-se as atividades terciárias e, em menor porcentagem, algumas primárias (extrativistas minerais, principalmente), como a fonte determinante de sua economia. A empregabilidade e a geração de renda oriunda dos serviços terciários simples , como assim é definida pelo Seade

(2007), visam atender unicamente os munícipes que ocupam as diferentes porções do território, e faz da cidade o centro de abastecimento das necessidades básicas. Somado a isso, está o fato do distanciamento e do isolamento desses aglomerados em relação à sede do município, condição comum para as inúmeras famílias mantidas pela renda do subemprego, sem registro social, e à mercê de atividades com baixa capacitação, em que há troca do domicilio ou por salário mínimo na prerrogativa do cuidado e conservação de sítios de veraneio, ou, simplesmente, residindo em comunidades rurais de subsistência.

Assim, torna-se perceptível as divergências da real idade à qual está sendo impressa a inserção de São Lourenço da Serra, na conjuntura da

RMSP, em que emerge no contexto da Lei Federal Regu lamentar 14, proeminente da trágica ditadura militar brasileira, associada à explosão do processo de urbanização do país.

A FIGURA 04 destaca a localização de São Lourenço da Serra no bojo da RMSP, da qual se assentou apenas na década de 1990, em função de sua emancipação política. FRANCISCOFRANCISCO MORATO MORATO SANTASANTASANTA ISABELISABELISABEL MAIRIPORÃMAIRIPORÃ FRANCOFRANCO DADA ROCHAROCHA CAJAMARCAJAMAR

CAIEIRASCAIEIRAS CAIEIRASCAIEIRAS ARUJÁARUJÁ PIRAPORAPIRAPORAPIRAPORA DODODO BOMBOMBOM JESUSJESUSJESUS GUARAREMAGUARAREMA GUARULHOSGUARULHOS SANTANASANTANA DEDE PARNAÍBAPARNAÍBA ITAQUAQUECETUBAITAQUAQUECETUBAITAQUAQUECETUBA BARUERIBARUERIBARUERI OSASCOOSASCO POÁPOÁ JANDIRAJANDIRA FERRAZFERRAZ DEDE VASCONCELOSVASCONCELOS ITAPEVIITAPEVIITAPEVI SÃOSÃO PAULOPAULO CARAPICUÍBACARAPICUÍBA SALESÓPOLISSALESÓPOLIS MOGIMOGI DASDAS CRUZESCRUZES BIRITIBABIRITIBABIRITIBA MIRIMMIRIMMIRIM VARGEMVARGEMVARGEM GRANDE GRANDEGRANDE PAULISTA PAULISTAPAULISTA TABOÃOTABOÃO DADA SERRASERRA SÃOSÃOSÃO CAETANOCAETANOCAETANO DODODO SUL SULSUL BIRITIBABIRITIBABIRITIBA MIRIMMIRIMMIRIM SUZANOSUZANO

EMBUEMBUEMBU MAUÁMAUÁ SANTOSANTO ANDRÉANDRÉ MAUÁMAUÁ DIADEMADIADEMADIADEMA RIBEIRÃORIBEIRÃO PIRESPIRES COTIACOTIA ITAPECERICAITAPECERICAITAPECERICA DA DADA SERRA SERRASERRA RIORIO GRANDEGRANDE DADA SERRASERRA

SÃOSÃOSÃO BERNARDO BERNARDOBERNARDO DODODO CAMPOCAMPOCAMPO EMBU-GUAÇUEMBU-GUAÇUEMBU-GUAÇU

SÃOSÃO LOURENÇOLOURENÇO DADA SERRASERRA

Região Metropolitana de São Paulo JUQUITIBAJUQUITIBAJUQUITIBA

FIGURA 04 – Localização da área de estudo dentro da Região Metropolitana de São Paulo Fonte : IPT, 2002, p. 05.

Em contrapartida, reconhecida a singularidade de sua paisagem,

São Lourenço da Serra é referenciado como “Portal do Ribeira”, por sua localização junto à bacia hidrográfica do rio Ribei ra do Iguape.

Certamente, os aspectos naturais remetem à terminol ogia “Portal do

Ribeira”, ainda mais quando se torna foco da mídia e do Poder Público local quanto à venda do turismo e à referência sobre preservação ambiental.

Levando-se em conta essa leitura, o perfil de São Lourenço da Serra estará condicionado a uma outra realidade, distante daquel a que, por regulamentação, foi-lhe conferida, a de pertencente a RMSP.

57

FIGURA 05 –São Lourenço da Serra, entre a RMSP e o Vale do Ribeira Fonte : Instituto Socioambiental (ISA)

A FIGURA 05 apresenta algumas das principais bacias hidrográficas de São Paulo; em específico, identifi cam-se três importantes agrupamentos: a Bacia do Rio Ribeira do Iguape, ass ociada a maior área de preservação de Mata Atlântica do país; destaca-se, também, a Bacia do

Guarapiranga e Billings, responsáveis pelo abastecimento de água de grande parte da RMSP; e, ao norte do mapa, o Sistema Cantareira, que complementa o abastecimento de São Paulo. É necessário apontar a localização de São

Lourenço da Serra nesse contexto, já que possui em seu território duas bacias, Guarapiranga e Ribeira do Iguape, ambas garantia atual e futura de

água a todos os municípios da RMSP.

58 Se de fato determinar o conjunto dos aspectos ambientais como quesito básico na delimitação do processo de regionalização, é possível reavaliar a inserção do município para a RMSP.

A realidade da região administrativa de Registro, em que se insere grande parte dos municípios do estado de São Paulo pertencentes à bacia do

Iguape, concentra, segundo o Plano Plurianual 2, um acelerado processo de urbanização, principalmente na segunda metade do século XX. No entanto,

é, dentre todas as regiões administrativas, a que s e apresenta com a mais baixa taxa de urbanização do estado de São Paulo, de 68,73% em 2005.

Aliado a esse dado, o Programa Nacional de Desenvolvimento das Nações

Unidas (PNUD), responsável pela elaboração do Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), aponta que d os 10 últimos colocados no ranking do IDH no estado de São Paulo, seis são do Vale do Ribeira, em que a média simples dos municípios é de 0,729, sendo a média estadual d e 0,779, RMSP 0,828 e

São Lourenço da Serra 0,771, e que de certa forma caracteriza a mesma situação do município em pesquisa. Elevado crescimento populacional, progressiva concentração urbana, diversos problemas sociais são comprovados pelo IDH médio de São Lourenço da Serra e da média do Vale do Ribeira. Aliás, os dados garantem a superioridad e quando destaca o IDH elevado da RMSP, do qual São Lourenço da Serra é int egrant e.

Em associação a essa situação, os dados do Plano Pl urianual vinculam economicamente essa porção do território paulista à produção

2 O Plano Plurianual do estado de São Paulo, realiza do para o quadriênio 2008- 2011, sintetiza os dados populacionais, sociais e e conômicos de uma melhor gestão pública das regiões administrativas. Disponível em http://www.ppa.sp.gov.br/perfis/Perfi lRMSaoPaulo.pdf Acesso em 07/07/2008

59 agropecuária, extrativista mineral e turística, atividades compatíveis com o manejo ambiental, estipulado em uma área de reserva ambiental em que se reconhece uma estruturação de atividades atreladas à dinâmica sustentável.

Notadamente, essa reflexão parte da análise da participação paulista perante o processo de formação do país, e a inserção de cada região administrativa face às relações produtivas dentro dessa dinâmica. Perante isso, o Vale do Ribeira identifica-se pela manutenção das atividades extrativistas; em contrapartida, observa-se a RMSP e sua dinâmica urbano- industrial na transformação e produção do espaço brasileiro.

1.2 A “Cidade Natureza” 4 : uma sistematização dos aspectos do meio físico de São Lourenço da Serra

Conforme apontado em outros momentos, a paisagem natural são lourençana tem sido apresentada como uma das mais i mportantes imagens veiculadas pelo Poder Público na lógica da venda do município. Contudo, é notório o uso dessa imagem para o lançamento de pos sibilidades de geração de emprego e renda – trata-se, portanto de um atrib uto do discurso político da cidade.

Ao percorrer o trajeto São Paulo a São Lourenço da Serra, em uma faixa inferior a 70 km, no sentido sul da RMSP, dep ara-se com uma paisagem diferenciada e, por vezes, inóspita à realidade em que se apresenta a metrópole paulistana. Um contraste de grandes cidades, em associação com pequenos aglomerados que seguem o trajeto estabelecido ao longo do trecho

4 Termo lançado pelo Poder Público local . 60 da Rodovia Régis Bittencourt que corta a RMSP. É admirável perceber, nesse percurso, a presença de uma densa floresta tropical , que ainda preserva características incomuns a uma densa área urbanizad a, que se estabeleceu por forças que, com certeza, não garantiriam ainda sua existência. Claro que, no processo ao qual foi produzida a metrópole, os espaços distanciados da centralidade urbana tiveram menor impacto. Mas, not oriamente, é relevante destacar a manutenção de uma vasta área de preservação nas proximidades de um imponente complexo econômico que tem sido estabelecido no eixo

Campinas, São Paulo e Baixada Santista, e que ainda por fatores diversos tem permitido a garantia dessa paisagem.

Estabelecendo um recorte geográfico da metrópole, no que tange a um olhar sobre a porção sudoeste, no qual se reconh ece São Lourenço da

Serra, nota-se um território com porções de florest as intocadas e ainda preservadas, tocante, também, aos habitantes de Itapecerica da Serra, Embu-

Guaçu e Juquitiba, que vislumbram uma paisagem diversificada quanto à flora e à fauna. Apresentada como uma das últimas áreas de reserva natural preservada, o ecossistema propiciado pela Mata Atlântica garante uma condição de vida diferenciada àqueles que habitam essa porção do território.

O processo acelerado de expansão urbana observado pelo dinamismo industrial brasileiro nas décadas de 1960 e 1970 permitiu que diferentes porções do tecido metropolitano, dentre as quais o sudoeste da RMSP, alcançassem um desenvolvimento que trouxesse ao esp aço natural prejuízos ambientais futuros, e que prejudicassem a manutenção da qualidade de vida de toda a rede urbana da metrópole. O reconhecimento dos impactos provocados por esse acelerado processo, em outras p orções da RMSP, permitiu a definição de zonas de preservação ambiental, que pudessem ser 61 garantia de abastecimento de água, por exemplo, aos demais territórios em plena urbanização.

Por meio do estabelecimento dessas áreas de proteção aos mananciais, como acontece a São Lourenço da Serra, tais espaços, com taxa mínima de efetiva ocupação, poderão colaborar na manutenção de reservas futuras, seja de abastecimento de água ou mesmo para expansão urbana da região metropolitana.

Nessa perspectiva, todo esse conglomerado paisagístico em que se insere São Lourenço da Serra determina todas suas variantes econômicas e sociais; assim, para uma caracterização substancial do meio físico do município, tomou-se como fonte de dados e informações técnicas, material produzido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no ano de 2002, do qual se obteve uma pesquisa minuciosa dos aspectos gerais de São

Lourenço da Serra, conduzido na elaboração do Plano Diretor do município, atualmente em vias de implementação.

Nesses termos, conforme aponta o IPT (2002, p. 01), a leitura da paisagem do município inicia-se pela discutível Lei de Preservação aos

Mananciais em que:

a carta geotécnica – elaborada para o município de São Lourenço da Serra tem como objetivo apresentar limi tações e potencialidades dos terrenos para a ocupação urbana e rural, de modo a subsidiar a Prefeitura em decisões no que ta nge ao planejamento e ao estabelecimento de medidas e açõe s de gestão territorial, consistindo, ainda, base técnic a para elaboração do Plano Diretor Municipal.

62 1.2.1 Aspectos gerais de fauna e flora

Determinado pela existência de uma extensa cobertura vegetal nativa, São Lourenço da Serra encontra-se inserido “na Região Fitoecológica da Floresta Ombrófila (vegetação pluvial) Densa” IP T (2002, p.36), conhecida com Mata ou Floresta Atlântica, onde se observa uma diferenciação de formações herbáceas face à diversi ficada topografia, predominando espécies adaptadas à intensa umidade.

Envolvida pela presença de uma desenvolvida rede de drenagem e caracterizada por ambientes úmidos, sem períodos de estiagem, identificam- se matas secundárias em vários estágios de regeneração, parte delas estruturadas e adaptadas à alta pluviosidade. As áreas de regeneração se estabelecem seguindo o nível de ocupação do territó rio, as mais avançadas ocorrem na porção Norte e Oeste do município, enquanto os trechos menos regenerados estão condicionados aos núcleos de dens a ocupação, setores Sul e Leste, conforme referencia o IPT (2002).

Associado a essas características, ao norte do muni cípio encontra- se o fragmento de 5,3 km 2 pertencente a uma das mais importantes áreas de preservação natural da RMSP, a Reserva do Morro Grande, conforme

FIGURA 06. A determinação desses aspectos da paisagem natural converge a um papel preponderante de São Lourenço da Serra, garantindo, com isso, a manutenção da mata atlântica.

A respeito da comunidade faunística, o município ap resenta condições amplas para diversidade de espécies, tanto de aves como mamíferos em decorrência de sua extensa cobertura v egetal, aliados,

63 também, ao nível de preservação da floresta. Agrega-se, a tal fato, a gama de vetores que colaboram para essa manutenção, como a capacidade de regeneração de ambientes degradados, oferta de alim entos, espécies arbóreas conservadas, além da baixa ocupação humana em grand e parte do território.

COTIA

ITAPECERICA DA SERRA IBIÚNA

SÃO LOURENÇO DA SERRA

LEGENDA COTIA IBIÚNA ITAPECERICA DA SERRA SÃO LOURENÇO DA SERRA

Reserva de Morro Grande Área da reserva no município

FIGURA 06 - Localização da reserva do Morro Grande nos municípios. Fonte: IPT, 2002, p. 49.

O produto apresentado pelo IPT referencia diversos grupos de espécies faunísticas habitantes das fronteiras do município; no entanto, aponta a presença de espécies endêmicas e em ameaça de extinção, das quais 64 cita-se, dentre as aves, “trovoada, tovaca-cantador e araponga”, e dentre os mamíferos, como “tapeti (coelho-brasileiro ou coelho-do-mato) e serelepe

(esquilo)”. Contudo, conforme apontando em pesquisa direta com munícipes, pode-se obter informações da presença de outras esp écies: gato mourisco; jaguatirica; raposinha ou lobinho; tatu; macaco prego; capivara; queixada; cateto; veado campeiro e paca” (IPT, 2002)

1.2.2 A formação geológica e geomorfológica

A presença de uma determinação climática propícia, com média térmica de 20ºC e pluviosidade de 1520 mm anuais, t ipicamente de variação subtropical, conforme FIGURA 07, o relevo são lourençano tem uma intensa ação erosiva, permitindo uma paisagem marcada por m orros de altitudes médias que permitiram um novo condicionamento do paleozoíco Planalto

Atlântico .

300 25

250 20

200 15 150 T (ºC) T P (mm) P 10 100

5 50

0 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Meses

65 FIGURA 07 – Climograma do município de São Lourenço d a S erra Fonte : Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura – C EP A GR I

As seqüências pré-cambrianas representadas por “rochas metamórficas como xistos, micaxistos e gnaisses” (IPT, 2002, p. 14) são atribuídas a um complexo rochoso granítóide e a porções de sedimentação aluvionar.

Quanto à classificação geomoforlógica, tem-se que

a maior parte do município de São Lourenço da Serra , cerca de 92% do território, situa-se no Planalto Paulistano, sub-zona Morraria do Embu, região de terras altas sustentada s por rochas cristalinas do embasamento pré-cambriano. A ação contínua dos processos erosivos, responsável pelo modelamento da Morraria de Embu, criou um planalto formado por morrotes e morros com variadas amplitudes, topo s arredondados, vertentes com perfis retilíneos a con vexos e drenagem com alta densidade, cujo entalhamento é re alçado pelas direções das estruturas do substrato rochoso. Dois sistemas de relevo podem ser discriminados na Morra ria do Embu: Morrotes Alongados Paralelos e Morros Paralel os IPT (2002, p. 14).

1.2.3 A realidade dos recursos hídricos

De fato, os recursos hídricos que compõem o município de São

Lourenço da Serra são uma de suas grandes riquezas, e que lhe convergem para um cenário com um interessante potencial econômico. A oferta de água a longo e médio prazo será determinante na identifi cação do município como referencia ao abastecimento e a manutenção do equilíbrio hídrico da metrópole. É possível já reconhecer essa potenciali dade pela quantidade de

66 lavras autorizadas e em processo de tramitação nos órgãos de regulamentação específicos.

A localidade é cortada por duas importantes bacias hidrográficas, que apresentam, como o divisor de águas, o conjunto de morros a leste do município. A maior parte do território está contida na Bacia Hidrográfica do

Ribeira do Iguape, e uma pequena porção, na divisa com o município de

Embu-Guaçu, consta na Bacia Hidrográfica do Alto Ti etê, em específico a

Bacia da Represa de Guarapiranga, como apresenta a FIGURA 08.

As inúmeras ofertas de pequenos rios, ao longo do m unicípio, vinculam-se à presença da mata atlântica numa relação indissociável; desse modo, percebe-se a importância de São Lourenço da S erra para a manutenção da qualidade das águas que provem essas duas distintas vertentes; a primeira, ao verter a cabeceira dos afluentes da Represa de

Guarapiranga, e a segunda por convergir no gigantis mo da Bacia do Ribeira do Iguape, ao longo do sul do estado e o norte do estado o Paraná, determinando a condição econômica da população ribeirinha, seja pelo extrativismo, seja pela agricultura de subsistência. A FIGURA 08 destaca a fragmentação do município de São Lourenço nas bacias do Ribeira do Iguape e Guarapiranga.

67 6 - ALTO TIETÊ SÃO LOURENÇO DA SERRA

11 - RIBEIRA DE IGUAPE/LITORAL LEGENDA

UGRHI 6 – Alto Tietê

UGRHI 11 – Ribeira de Iguape/Litoral

Município de São Lourenço da Serra

FIGURA 08 – Localização do Município nas Unidades d e Gerenciamento de Recursos Hídricos Alto Tietê e Ribeira de Iguape/Li to ra l. Fonte : IPT, 2002, p. 51.

No que se refere ainda aos recursos hídricos, vem à tona um fato importante no contexto local: a presença de diversas empresas de extração de água mineral, que respondem por parcela considerável da geração de renda do município. Segundo o IPT (2001, p. 53-54),

[...] aqüífero principal existente no município de São Lourenço da Serra é constituído pelas rochas pré-cambrianas do embasamento cristalino predominantemente metassedimentares. Nes te contexto, a ocorrência de água está associada à presença de fra turas e falhas em profundidade. [...] Os poços localizados nesse d omínio hidrogeológico possuem como característica o fato d e apresentarem média a baixa produtividade, com vazões médias de 1 7 , 5 m 3 /h por poço e capacidade específica de 1,4 m 3 /h/m. [...].

68

FIGURA 09 – Bacia do reservatório Guarapiranga e seus municípios. Fonte: IPT, 2002, p. 52.

De fato, mesmo sendo lavras de médio porte, percebe-se uma tendência à ampliação desse segmento em diferentes porções do município.

Conforme apresenta o relatório IPT (2001), há diversos processos de permissão para o estabelecimento de novas minas, por novas empresas e por aquelas que já se encontram instaladas e em exploração.

Atualmente, são duas empresas que exploram a água m ineral na faixa territorial de São Lourenço da Serra: a primeira possui concessão de exploração desde 1978, a Mineradora São Lourenço da Serra; a segunda, desde 1996, Radesco Mineração Ltda. E constam cinco processos em análise pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), sendo que

69 “quatro estão autorizadas para pesquisa, e um pleit a a autorização para o reconhecimento da fonte” (IPT, 2002, p. 56).

Acredita-se que, mesmo preliminarmente, a região de São Lourenço da Serra e Itapecerica da Serra produzam, em relação a seis lavras das oito autorizadas dentro RMSP, cerca de 30% 5 5 da produção de água mineral atual, em uma área de forte mercado consumidor, e com grande tendência a ampliação.

1.2.4 O uso e ocupação do solo de São Lourenço da Serra

Apesar da considerável extensão de território a ser totalmente destinado para a manutenção da área de floresta nativa, é possível identificar outros diferentes tipos de uso e ocupação que, apesar de ínfimos, no contexto da grande área nativa, são destacantes em face das atividades econômicas das quais o município detém para arrecad ação financeira.

Porcentagem de Tipos de uso e ocupação área ocupada Cobertura vegetal 8 1 Áreas de reflorestamento 2 Campo antrópico/pastagem 5 Áreas agrícolas 1 Área urbana - sede 1 Núcleos de ocupação isolados 2 Núcleo rural 3 Ocupação industrial 1 Área de lazer 1 Área de extração mineral 1 Solo exposto 1

5 Dados obtidos do sítio http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=3&pag=aguamineral.htmm acessado em 28/09/2008, produzido pela Universidade d a Á g u a

70 In f r a – estrutura (Estação de Tratamento de 1 Esgoto – ETE) TABELA 01 – Uso e ocupação do solo de São Lourenço da Serra, 2001. Fonte: IPT, 2002, p.18

Notadamente, conforme se identifica na TABELA 01, a porcentagem de espaços com cobertura vegetal garant em a São Lourenço da

Serra um papel fundamental na manutenção da área verde da RMSP; todavia, em contraponto, põe em questão um dilema: como mant er renda e geração de emprego em um município que apresenta 4% de sua porção territorial destinada especificamente a atividades econômicas (área agrícola, 1%, ocupação industrial, 1%, área de extração mineral, 1% e a sede urbana, 1%).

O contraponto percebido na tabela reflete a dicotômica relação de sustentabilidade e geração de emprego e renda estab elecida em São

Lourenço da Serra desde seu surgimento. Os diferent es tipos de uso e ocupação remetem à lógica do processo de construção do município ao longo de seus 16 anos de emancipação; as poucas áreas, ai nda exploradas economicamente, remetem à compreensão de um territó rio que não apresenta uma identidade econômica, mas que, pela presença de uma característica preponderante, a paisagem natural, tem se deparado com fatos e discussões complexas.

1.3 O crescimento de São Lourenço da Serra dentro da RMSP: uma premissa da discussão

A partir do recente processo de emancipação política, o município vem alcançado, principalmente nos últimos anos, um elevado índice de 71 crescimento populacional, incomuns aos padrões da R MSP, do Estado e dos municípios limítrofes.

A modificação dos parâmetros de habitação da RMSP p ermitiu que os municípios mais afastados apresentassem um crescimento incomum que, por conseqüência, trouxe sérios dilemas em sua conj untura sócio-econômica.

A evolução populacional assistida pelo município em seus 16 anos de emancipação comprova tal situação, ao contrário de grande parte dos demais municípios do Sudoeste da RMSP e da taxa representativa ao conjunto médio do Estado, conforme FIGURA 10.

18.000 16.541 15.980 15.439 16.000 14.915 14.314 13.738 14.000 13.186 12.145 12.000 10.573 10.000 9.545 8.523 8.000

6.000 Númerode habitantes 4.000

2.000

0 1993 1995 1997 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Ano

FIGURA 10 – Crescimento populacional de São Lourenço da Serra – 1993/2008 6 . Fonte: Seade, 2007.

Por essa razão, a geração de renda e emprego está i ntimamente associada ao funcionalismo público, à migração pendular (em direção à

6 Os dados de população referentes ao ano de 2008 fo ram apresentados pela Fundação SEADE segundo projeções de crescimento alc ançadas pelo município 72 Região Metropolitana de São Paulo), empregos com baixa qualificação e má remuneração, ou mesmo os subempregos, além das font es de assistencialismo (bolsas) federal e estadual. Dessa forma, identificam-se, no município de São Lourenço da Serra, índices sociais preocupantes para uma

área vinculada a RMSP.

Mesmo estando assistida por uma proporção de ocupação de cobertura vegetal em relação à urbana de 81%, é con flitante perceber dados de pobreza e desemprego, posto que são vastas as possibilidades de manejo, tendo por condicionante os recursos naturais. Cabe, a essa altura do processo, recorrer a planejamentos urbano e ambient al, condizentes com a prática teórica e político-partidária vigente.

Apesar de apresentar características distintas de o utros centros urbanos da RMSP, São Lourenço da Serra pertence a u ma das diversas áreas de expansão urbana, mesmo fazendo jus à condição Área de Proteção aos

Mananciais.

Pertencente, também, a duas importantes bacias hidrográficas, a da

Represa de Guarapiranga e Ribeira do Iguape, sendo a primeira responsável pelo abastecimento da porção Sul da cidade de São P aulo, que vem sofrendo com discussões sérias de escassez; enquanto que a s egunda vem sendo a principal meta de abastecimento de São Paulo para os próximos anos.

Dentre as diversas conseqüências desse novo dinamismo da metrópole, o que tem sido mostrado nas discussões é a emblemática questão das Áreas de Proteção aos Mananciais, a qual está i nserido todo o município de São Lourenço da Serra.

73 Assim, com essa percepção conflituosa, deve-se questionar sobre a forma e por quais razões uma área delimitada legalm ente para determinados usos consegue transpor as barreiras do elevado cres cimento humano?

Uma resposta a essa questão foi identificada por Oliveira; Fonseca

(2007), ao afirmarem que a expansão e a ocupação da RMSP ocorre, principalmente nas Áreas de Preservação aos Mananci ais (APM´s), impulsionado pela falta de delimitação precisa das áreas, e na ausência de fiscalização devida. Desse modo, aquelas áreas reservadas a parques, por exemplo, sofreram pequenas baixas. Houve uma invers ão de valores nas

APM´s, os espaços ampliaram-se, principalmente pelo barateamento, posto que a especulação imobiliária esquivou-se desses lo cais, propiciando a reprodução urbana ilegal em locais destinados a manutenção da proteção ambiental aos mananciais.

Assim, essas áreas irregulares, perante a legislação, mantêm suas funcionalidades de uso e ocupação destinadas a moradia, em sua maioria.

Restringida a produção industrial, extrativismo, agricultura e pecuária, cabe

à população, bem como a seus gestores, buscar formas alternativas de empregabilidade e geração de renda.

Com a percepção dessa diversidade de fatos, percebe-se a provocação criada com a contínua ampliação da Região Metropolitana de

São Paulo, que mesmo não apresentando os mesmos dad os das décadas de

1980 e 1990, necessita repensar seu espaço, princip almente no que concerne

às áreas residuais de Mata Atlântica, onde se encon tram, ainda, mananciais de água potável de qualidade.

74 Nesse caso, em específico, nos próximos capítulos, intenta-se discutir a participação de São Lourenço da Serra nessa dicotomia, bem como perceber as razões para com a vulnerabilidade social identificada nessa problemática , sempre tendo como fio condutor a expansão da rede u rbana paulista, e as diversas situações que produziram seu esp aço .

75 CAPÍTULO 2

CIDADE E ESPAÇO URBANO: reflexões necessárias para a

consolidação do município de São Lourenço da Serra dentro da Região

Metropolitana de São Paulo

Compreendendo-se a cidade como constituída por uma complexa aglomeração de agentes sociais e atividades econômicas, pode-se tentar compreender os diversos problemas manifestos nos espaços urbanos, sejam estes as metrópoles, as cidades médias ou as cidades de pequeno porte.

A atenção para os fenômenos da cidade, produzidos p ela necessidade de (re)construção do espaço pelo homem, é pertinente aos debates e preocupações das ciências sociais há mais de um século, embora, com base em relatos e dados históricos longínquos, essa prática exponha-se uma faixa temporal maior.

As discussões que permeiam e dominam a extensa bibl iografia a respeito das cidades buscam compreender os fenômenos, os processos e as relações que se desenvolvem no espaço geográfico. Por conseguinte, pensar nos resultados e causas dessa dinâmica tem sido obj etivo de pesquisadores e especialistas das ciências sociais, principalmente. Refletir sobre a sociedade globalizada é ater-se às relações que esta promove no dia-a-dia do homem.

Talvez, nesse contexto, tem-se uma resposta à quest ão do tema; na verdade,

76 uma percepção da complexidade que está condicionada à relação dialética homem/natureza.

Nessa perspectiva, as cidades, enquanto fenômenos construídos, emergem como paisagens sociais de um processo evolu tivo que determinou o sua espacialização no instante da necessidade da ex propriação das fontes naturais mais básicas e que viriam a compor o leque de atividades determinantes aos espaços urbanos consolidados. Conseqüentemente, a progressiva divisão do trabalho, motivada pela cres cente complexidade das relações sociais e econômicas, intermediada pelo capital, é refletida no espaço urbano, o lócus das atividades humanas; é claro e evidente que os resultados oriundos têm-se revertido contra o próprio homem, por meio de uma preocupação cada vez mais latente: a manutenção dos recursos naturais.

A cidade, reflexo da capacidade e ferocidade das relações enunciadas, representa a busca pela condição humana auto-afirmada de apropriar-se e de reconstruir seu espaço. Tendo por reconhecimento a historicidade, o homem vive na constante busca de s ua própria identidade em um processo sócio-natural de desenvolvimento da vida individual e coletiva. Assim, percebe-se que na apropriação dos espaços pela coletividade há a reprodução das suas necessidades específicas de segurança, alimentação, conhecimento, associatividade e lucro: “[...] A

Sociedade moderna é uma sociedade de mercado generalizado fundada na progressiva divisão do trabalho social e que tem no dinheiro o vínculo de todos os vínculos [...]” (SEABRA, 1990, p. 01).

Percebendo a mesma discussão, Santos (1994, p. 17) reafirma a que

[...] a nova divisão internacional do trabalho tem, entre os necessários suportes dos seus valores hegemônicos, a

77 necessidade de artificializar ainda mais o meio de vida e de trabalho, assim como a própria vida [...].

No que se refere à apropriação dos espaços urbanos, os estudos produzidos identificam a cidade pela complexidade d as suas relações.

Quando analisa, em específico, essa conjuntura, Santos (1996, p.

42) ressalva, também, que:

[...] o meio urbano é cada vez mais um meio artific ial, fabricado com restos da natureza primitiva crescent emente encobertos pelas obras dos homens. A paisagem cultu ral substituiu a paisagem natural e os artefatos tomam, sobre a superfície da terra, um lugar cada vez mais amplo [ . . . ] .

Assim, a mundialização dos lugares promove o surgim ento desses espaços especializados, produto da especificidade em suas relações sociais, e emergem como demanda do contexto global sistematizado atrelado a constante ampliação dos fixos e fluxos de capitais. E são as cidades, em específico as metrópoles, onde tais objetos se desenrolam e se multiplicam em diversos subespaços, e o meio técnico é diferenciado e adaptado para recebê-las (SANTOS, 1994).

Na leitura sobre a urbanização brasileira é possível identificar, na perspectiva de seu crescimento, as diversas ações q ue garantiram os lugares do desenvolvimento capitalista. Em uma observação s istêmica, as cidades brasileiras configuram-se no patamar da diversidade, em que se apresentam ambientes de extrema complexidade, marcados pelo desenvolvimentismo global, enquanto no contraponto se reconhecem pequenos núcleos urbanos nos quais prevalecem as relações primárias, fundamentalmente condicionadas ao meio natural. Assim, os frutos desse abismo de

78 desigualdade geram processos dinâmicos distintos em uma mesma rede urbana, aspecto típico do conturbado processo de urbanização brasileiro.

Nesse instante em que o fato da diversidade dos uso s e construção dos espaços urbanos, em uma complexa rede, apresenta-se de forma que as fragmentações e rupturas com o fato real produzem controversas, a produção desses espaços e concretiza a dinâmica em que se deu a urbanização brasileira; sustentada por um alicerce frágil e marcado por uma célebre discussão – a de uma nação em que as mudanças sociais se deram de uma forma avassaladora. Assim, o processo não conseguiu atingir imediatamente todos os segmentos do sistema.

Brito (2006, p. 222), ao relatar a importância dos deslocamentos humanos pelo Brasil, analisa como se deu o processo de mudança da condição de vida rural para a urbana, característica fundamental do processo de urbanização do país:

A grande expansão urbana no Brasil, como um compone nte fundamental das mudanças estruturais na sociedade b rasileira, ocorreu na segunda metade do século XX. Somente na década de 1960 a população urbana tornou-se superior à rur al. Portanto, o rápido processo de urbanização é um fen ômeno estrutural relativamente recente, tendo o seu auge medido pela velocidade do crescimento da população urbana, entre os anos 1950 e 1970 .

No que se refere à formação urbana do Brasil, há co nsenso do papel de São Paulo nessa dinâmica. Assim, conforme o cres cimento urbano brasileiro se instaurava, por volta das décadas de 1940/1950/1960, principalmente em São Paulo, as mudanças na forma d e se pensar a sociedade também foram se impregnando no modo de vi da ainda rural. A acessibilidade da população rural para a condição d e vida urbana amplia-se,

79 as cidades que detinham uma taxa de crescimento por sua vocação político- econômica pós-colonial adquirem uma elevação substancial nesse momento, promovendo a construção urbana como um novo espaço de trocas, hegemonicamente, na cidade de São Paulo.

Assim, a atração paulista garantiu, ao seu território em expansão, uma dinâmica incomum, de acordo com a perspectiva u rbana brasileira. Os postos de geração de emprego eram crescentes e buscavam espaços para sua produção. Todavia, à medida que essa produção espacial era cometida por grande salto de crescimento e desenvolvimento, a cidade não mais se sustentava:

Os lugares complexos são, habitualmente, as metrópo les e grandes cidades. Onde o meio humano permite a flora ção de uma multiplicidade de atividades localmente complementares e, nos diversos subespaços metropolitanos, o meio t écnico é diferenciado e adaptado para recebê-las (SANTOS, 19 94, p. 1 9 ) .

Moura et al. (2004) aponta que, ao longo das décadas do século

XX, as metrópoles estenderam-se por diversas áreas contínuas, agregando municípios em um mesmo complexo de relações, configurando densas regiões urbanizadas, nas quais o célebre padrão de crescimento populacional dos pólos passou a assumir funções mais qualificadas. As mudanças ao longo desse período permitiram que as áreas centrais e mais valorizadas das cidades fossem assumindo outros usos comerciais e residenciais. Por conseqüência, as áreas distantes desse núcleo urban o buscaram outras regiões para ampliação.

Perceber a evolução e o crescimento da metrópole paulista é remeter historicamente ao processo econômico brasil eiro, passando pelas 80 diversas atividades que marcaram os diferentes momentos da evolução econômica da nação (TASCHNER, 2001).

Santos (1990, p. 13) confirma o papel dos ciclos econômicos na configuração do território, frisando-o como base da atual dinâmica urbana do país, em específico a metrópole paulista:

São Paulo – a cidade e sua região – começa a ganhar fôlego, na história econômica territorial brasileira, no me smo momento em que se instala a era industrial. A regiã o paulista praticamente já nasce moderna, tanto pelo lado da p rodução, quando pelo lado do consumo [graças a importação, p elos imigrantes, de hábitos e aspirações], mas também pe lo meio ambiente construído, propício as transformações.

A emergência de São Paulo como entreposto político-econômico imprimiu a sociedade, ao longo dos séculos e, destacadamente, no século

XX, uma base que permitiu a atual configuração dos demais centros de influência do Brasil. A participação da mineração, cultura cafeeira e a industrialização lhe deram uma função indispensável na articulação do país.

Partindo dessa constatação, deve-se remeter ainda m ais profundamente para o processo histórico que garantiu a Região

Metropolitana de São Paulo – RMSP todos esses contrapontos; nessa perspectiva, Damiani (2004, p. 20) afirma que

[...] não se deve esquecer que a São Paulo do sécul o XIX era uma cidade envolvida e rodeada por núcleos paupérri mos: os antigos aldeamentos indígenas, tornados caipiras, marcados por uma economia de subsistência [...].

Credita-se a esse processo histórico, em conjunto com a dinâmica desencadeada pela urbanização brasileira, a reflexão da atual complexidade

81 na qual se encontra a RMSP. Dessa leitura, entende-se o paradoxo ao qual se assentam as áreas de expansão periférica, áreas ess as marcadas por elementos que lhe garantem características divergentes daquelas em que se encontra o município-sede.

Conforme se estabeleceu, a cidade de São Paulo desencadeou o processo que a constituiria em metrópole, condicion ada pelo seu arcabouço de abrangência. Sabe-se que, em grande parte, esse percurso baseou-se na dinâmica econômica nacional, promovida ao longo da industrialização e da urbanização. Os grandes investimentos lançados para a estruturação da nação, na perspectiva de atender o mercado interno que se expandia permitiram a criação de redes de fluxo (no primeiro instante as ferrovias e, em um segundo momento, as rodovias), as quais permi tiram uma ligação intensa do interior do Brasil com a metrópole em desenvolvimento. Aliado a essa conjuntura, o êxodo rural e a migração regional massificou a “fuga” de populações à cidade de São Paulo e, posteriormente, as áreas circunvizinhas, estabelecendo um novo território de expansão da metrópole.

Ficando realmente definido o papel da cidade de São Paulo nas relações econômicas, políticas e sociais da nação, também fica marcada a sua importância como referência na estruturação urb ana de toda a porção do sul do continente, fundamentalmente atrelada à lógica da rede urbana global, bem como dos fluxos de capital que se conectam por suas intensas redes de comunicação.

No entanto, definir o papel de uma metrópole enquanto espaço estruturado pela dinâmica do capital é percurso obrigatório no entendimento de sua relação com o seu espaço. Esse domínio característico traz reflexos

82 nos mais diversos elementos da paisagem, principalm ente na paisagem urbana que, comprovadamente, marca territorialmente os subespaços gerados pela flexibilidade do capital.

Carlos (2003, p. 77) condiciona esses espaços como reproduções de um determinado tempo “[...] neste sentido, a dinâmi ca urbana deve ser analisada enquanto momento histórico determinado, n o movimento do processo de reprodução continuada da metrópole [...] ”.

A metrópole paulista deteve seu crescimento – e inclusive até um certo decréscimo –, a ritmos diferentes de produção e reprodução de suas atividades econômicas.

Na mesma conjuntura de análise, Carlos (2003) ressalv a qu e:

[...] o termo ‘metropolização’ desvela o processo d e constituição da metrópole, hoje, um processo que co ntempla a extensão da constituição da sociedade urbana traduzida enquanto prática sócio-espacial. [...]a dinâmica ur bana indica o processo de reprodução, tanto no plano espacial, de um lado, sua dimensão econômica e política-estratégica , e de outro, o plano da vida. A prática sócio-espacial se revela nos modos de uso, pelo conteúdo das relações sociais aí contidas apontando, hoje, o empobrecimento destas relações [ . . . ] .

Ao se definir os papéis da metrópole, as situações de percepção se inter-relacionam àquilo que já se apresentou ant eriormente, nessa dissertação, isto é, às fundamentais interferências políticas e sociais ao longo da produção desses espaços.

A respeito das metrópoles contemporâneas, Santos (1990, p. 09) esclarece que “as metrópoles contemporâneas são os maiores objetos culturais jamais construídos pelo homem. [...] funcionam e evoluem segundo parâmetros globais”.

83 Haja vista, a esse propósito, a perspectiva expressa por Robira

(2005, p. 16-17):

Os espaços metropolitanos poderiam ser caracterizad os como aqueles que acumulam e dispõem da maior capacidade para transformar em bens escassos elementos necessários para a condição ‘natural’ de vida dos cidadãos: água potável, ar re spirável, mobilidade fluída, espaço doméstico, silêncio-tranq uilidade, tempo pessoal disponível.

As definições conceituais identificam as metrópoles a partir do instante em que seu município-núcleo, por uma quest ão de apropriação capitalista do espaço, necessita expandir suas funcionalidades estratégicas.

Não obstante a realidade de São Paulo, as áreas marginais ascendem nesse momento por uma série de fatores emblemáticos, que imprimem em seu território certos empecilhos à qualidade de seu desenvolvimento. A falta de espaços na porção central do núcleo urbano, aliado a uma característica comercial e informacional do centro da cidade, somada aos impactos ambientais diversos, ao encarecimento dessas áreas, entre outros condicionantes, propiciaram a ocupação e o deslocam ento de novas áreas no entorno do núcleo urbano. A princípio inadequadas à qualidade de produção, mas adaptadas, respondiam aos anseios do processo i ndustrial diversificado.

Dias (2005, p. 12) reconhece essa análise ao afirmar q ue

[...] a interdependência funcional entre a cidade-n úcleo e os outros municípios acontece de várias formas, como: um mercado de trabalho com mais oportunidades e uma oferta de equipamentos urbanos e serviços são exemplos de atrativos que, e m geral, a metrópole exerce sobre os demais municípios.

A integração funcional entre as cidades ocorre no instante em que os limites sócio-econômicos do complexo urbano não mais coincidem com os limites institucionais dos municípios. Essa intensa conurbação incide 84 integralmente na perda da identidade territorial no contexto metropolitano, na verdade é o primeiro caminho na identificação da expansão da metrópole.

Percebendo a realidade paulista, nota-se que essa junção de espaços ocorreu de forma intensa e avassaladora. Diversas p orções que atualmente se vêem inseridas ao corpo da RMSP passaram rapidamente por alterações em seu contexto espacial e atualmente refletem nas complexas relações sociais da metrópole. Cabe salientar que mesmo inferiorizado, o crescimento da RMSP é constante, não tão relevante como em seus primórdios, mas cabível de análises.

2.1 A institucionalização da Região Metropolitana d e São Paulo

A consolidação da rede urbana brasileira, determinada pela expansão industrial, contribuiu para que viesse à tona uma realidade contrastante com o que de fato precedera esse perío do .

Ao longo das décadas, o crescimento das grandes cid ades cede lugar à expansão de suas porções periféricas, nas q uais constituiriam espaços nitidamente desiguais. Associado a essa nov a lógica urbana, há o declínio substancial dos pólos metropolitanos na ordem de 5% a.a, entre

1980/1991 para 3,5% a.a (1991/2000), quedas ocorrid as principalmente em

São Paulo e no , que já assistiam ao processo de descentralização industrial, já sinalizando forte inflexão urbana, como cita

Moura et al. (2004).

85 Apesar do fato da descentralização ter sido efetiva na consolidação da urbanização, as taxas de crescimento das regiões metropolitanas respeitariam outra condição. Nas porções periféricas, os índices mantiveram face ao novo uso da espacialidade urbana, os quais seriam agregados e se destinariam a deter funcionalidades de pobreza e de grande vulnerabilidade social, em que as condições de manutenção de vida se baseavam nas relações contíguas da cidade pólo.

O fenômeno da metropolização marcaria um paradigma n a governança desses aglomerados humanos. A princípio, como medida de controle pelo Estado quanto ao gigantismo desses es paços, creditou-se o papel do controle a um grupo gestor que mediasse as divergentes ações adotadas pelos municípios dentro região metropolitan a.

Segundo Souza (1994), nas décadas que precederam as discussões sobre a governança metropolitana, já existiam debat es acerca da urbanização brasileira e a possibilidade de gestão urbana. O acelerado processo urbano brasileiro requisitou a urgência de medidas paliativas destinadas a constituir projetos e arranjos políticos que pudesse mitigar, ou pelo menos promover uma compreensão do que estava de fato sendo identificado nesse intenso e rápido desenvolvimento:

As Cartas autoritárias de 1967-69 foram, de fato, a s primeiras, no período republicano, a expressar conc retamente o reconhecimento da existência do fenômeno urbano e da competência do poder público para atuar junto ao me smo (HOTZ, 2000, p. 92 ) .

Apontam que, paradoxalmente, a incipiente rede metropolitana, já se encaminhava para o estabelecimento de uma gestão metropolitana como política governamental, ainda nas décadas de 1940/50 .

86 Entretanto, as práticas nessa modalidade de gestão refletem a preocupação dos gestores públicos quanto à dinâmica urbana que se encaminhava devido à expansão industrial do país. Dentre essas tentativas de experimentação, cita-se, conforme Azevedo e Mares Guia (2004, p. 97-

9 8 ):

[...] Fundamentada na criação de entidades metropol itanas que elaboram acordos voluntários; criação de um número reduzido de agências metropolitanas especializadas, com acordo voluntários, com objetivo de resolver questõ e s específicas (transporte público, coleta de lixo etc .) e formas compulsórias de gestão metropolitana abrangente, cr iação de uma ‘superprefeitura’, por meio da fusão de governo s municipais. Diminuição do poder das autoridades loc ais [...].

No caso da realidade brasileira, a partir de 1970 a gestão metropolitana evolui altamente padronizada, imposta aos municípios pelo governo federal, no qual são instituídas nove Regiõ es Metropolitanas -

RM´s-, forjadas pela lei 14/1973 7 .

7 Lei Complementar nº 14, 08 de junho de 1973 Artigo 1º- Ficam estabelecidas, na forma do artigo 164, da Constituição as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte , Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. § 1° - A Região Metropolitana de São Paulo constitu i-se dos municípios de: São Paulo, Arujá, , Biritiba-Mirim, , Ca lamar, Carapicuiba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-Guaçu, , , , , , Itapecerica da Serr a, , , , Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruze s, , , Poá, Ribeirão Pires, , Sa lesópolis, Santa Isabel, Santana do Paraíba, Santo André, São Bernardo do Ca mpo, São Caetano do Sul, e Taboão da Serra. [...] § 9 º - O valor do salário-mínimo dos municípios integra ntes de uma Região Metropolitana será igual ao vigente na Capital do r espectivo Estado. Artigo 2º - Haverá em cada Região Metropolitana um Conselho Deliberativo e um Conselho Consultivo criados por lei estadual. § 1 º - 0 Conselho Deliberativo constituir-se-á de 5 (ci nco) membros de reconhecida capacidade técnica ou administrativa, n omeados pelo Governador do Estado, sendo um deles dentre os nomes que figurem em lista tríplice feita pelo Prefeito da Capital e outro mediante indicação dos demais municípios integrantes da Região Metropolitana. § 2° - 0 Conselho Consultivo compor-se-á de um repr esentante de cada Município integrante da Região Metropolitana sob a direção do Presidente do Conselho Deliberativo.

87 Associado ao estabelecimento dessas RM´s, entra em vigência, igualmente, o decreto que as condiciona ao poder do governo federal, o qual restringe suas ações governamentais para que atinjam e permeiam o intenso crescimento urbano, na perspectiva de coibir, politicamente, o poder alcançado por esses ambientes.

Há de se perceber que a estrutura da política brasileira naquele momento convinha para a aplicação de tais medidas, haja vista a luta pela democracia em pleno domínio da Ditadura Militar.

O crescente aumento das cidades, áreas do embate político, poderia suscitar confrontos que prejudicariam a eficácia do golpe militar. Assim, a institucionalização dessas regiões, pelo governo militar, comprova a preocupação pela expansão das metrópoles na medida em que havia não apenas o intenso crescimento, mas também o desenvol vimento político estabelecido nesses grandes centros urbanos.

A formação das Regiões Metropolitanas simboliza o pragmatismo ideológico no qual caberia, naquele momento, ao Est ado-controlador definir a gestão metropolitana, e garantir a perpetuação de outras RM’s ao longo do território.

Azevedo e Mares Guia (2004, p. 99) destacam que:

[...] com a ditadura militar, torna-se parte das aç ões federais, sendo inclusa na Constituição de 1967, as discussõe s sobre gestão metropolitana, mas é somente em 1970 com a promulgação da Lei Complementar Federal 14, que os ideais metropolitanos são impostos pelo regime militar.

O planejamento era a principal medida de ação, como apresenta

Dias (2005, p. 13):

88 A estratégia do regime militar era de um planejamen t o altamente centralizado através de um modelo de gest ã o tecnocrático, onde a participação dos municípios in tegrantes da região metropolitana ficou em segundo plano e os aspectos inerentes a cada região não foram considerados.

A instituição de Regiões Metropolitanas no Brasil refletiu a forma de organização territorial vigente no país em um determinando período histórico, além de representar ideologias quanto ao uso desse território, que, inclusive, serviram como base para o estabelecimento de políticas públicas que promovessem a regionalização e o planejamento t erritorial.

As regiões metropolitanas são delimitadas e instituídas, política e ideologicamente, segundo as solidariedades geográficas — orgânica, organizacional, institucional, que demandaram durante um momento crítico da historicidade brasileira, por meio do qual decorrem fatos que imprimiram a essa sociedade fenômenos diversos, ainda quando alinhados a uma lógica determinada pelo “poder” e pela “ordem”.

A propósito, o perfil da gestão metropolitana permaneceu conforme se regulamentou pela lei, consolidando o padrão de estruturação segundo dois segmentos – deliberativo e consultivo –, que convencionavam os recursos para municípios e estados por meios de órgãos regulamentados pelo governo federal :

O Estado entrou na gestão da urbanização. Foi até o presente o outro de uma relação que teve, durante as décadas d e 1970 e 1980, os movimentos sociais como motor. Em verdade era o caminho de socializar custos de urbanização. Isso p orque, a partir de um certo momento, colocou-se para a indús tria o problema da sua reprodução, qual seja, como integra r a custos compatíveis força de trabalho e meios de produção, máquinas e matérias primas, quando o sobreproduto dessa indúst ria tinha reproduzido o trabalho num nível que ela não pagari a se quisesse continuar operando. Resultado: a mobilidade geral d o trabalho 89 no Brasil, no interior dos movimentos migratórios n acionais, permitiu que a indústria fosse incorporando trabalh o com menos valor. Esse foi um recurso eficiente até o ponto em que o trabalho necessariamente teria que ser mais qualifi cado, mesmo quando o custo da urbanização limitou esse processo . O Estado entrou em cena para criar e manter condições gerais e sociais de reprodução das empresas e com isso socializar os cu stos de reprodução do capital (SEABRA, 2000, p. 73-74).

Até década de 1980, os recursos da União para as metrópoles propiciaram a execução de ações que atingissem os grandes centros urbanos consolidados. No entanto, a redemocratização e as crises econômicas da chamada “década perdida” determinaram o volume ínfimo de investimentos n as RM ´s .

Nesse percurso, a fragilidade da gestão metropolitana tornar-se-ia aparente, a diminuição dos recursos federais levari a ao desaparecimento dos organismos deliberativos e consultivos metropolitano s 3, conforme apontam

Azevedo e Mares Guia (2004).

Realmente, o que fora pensado como gestão metropolitana esbarrou nos embates políticos e se tornaram empecilhos para a sua efetiva execução.

Na verdade, concomitante ao fim desse pragmatismo d e gestão das metrópoles, vem à tona um comportamento fundamentado na política da “boa vizinhança”, em que acordos de cooperação entre os diversos municípios são

3 Em específico, atuante no estado de São Paulo desd e os primórdios da Lei Complementar 14/1973 existe a EMPLASA. Atualmente a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A – EMPLASA -, “criado em 1975 para cuidar do planejamento da Grande São Paulo, é um órgão vincul ado à Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado. Ela t em como função dar apoio ao planejamento, programação, organização, coordena ção e execução de serviços comuns de interesse metropolitano ou a eles relativ os”, conforme citada da home page . Quando institu ída em 1973 o órgão seguia as premissas do modelo colaborativo e consultivo, mas a medida da pouca funcionalidade do método, a função da EMPLASA alter n o u -s e . 90 vistos como manobras políticas, destinadas a atingir, parcialmente, a divergente realidade estabelecida na metrópole.

Mediante essa transição de gestão da metrópole, algumas ações buscam agregar municípios que apresentam interesses em comum, seja pelo transporte metropolitano, abastecimento e saneamento urbano, ou mesmo os comitês de bacias hidrográficas, que se tornam incrementos imprescindíveis para a articulação urbana. Dessa forma, os diferent es territórios e seus interesses em comum conseguem propiciar uma governança que se estabelece pela lógica dos interesses coletivos e está condicionada mediante uma determinada intervenção do Estado enquanto regu lamentador desse p ro cess o.

Nesse percurso, a redemocratização brasileira e, posteriormente a

Constituição de 1988, foram, de fato, determinantes como condição para o estabelecimento de uma doutrina metropolitana suportada não somente pelo

Estado, mas condicionada pela força política de seus municípios.

Tratada por alguns autores como a segunda etapa da institucionalização, a Constituição tira de foco a questão metropolitana das mãos da União e as repassa aos estados e municípios , permitindo a criação de instituições com maior flexibilidade:

A segunda etapa teve início com a Constituição Fede ral de 1988, que facultou aos estados federados a competên cia de institucionalização de suas unidades regionais [... ] e se abriam possibilidades de inserção das regiões metro politanas em processos estaduais de planejamento regional. Al ém de regiões metropolitanas, admitiu outras categorias d e organização regional, como as aglomerações urbanas e as microrregiões (MOURA et al , 2004, p. 02-03).

91 Segundo a Constituição de 1988, em específico no 3º parágrafo do

Artigo 25, citado por Azevedo e Mares Guia (2004, p . 104 ):

os estados poderão, mediante lei complementar, inst ituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e micr orregiões constituídas por agrupamentos de municípios limítro fes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Nessa perspectiva, os estados passam a ter autonomia para a criação de suas regiões e a sua governabilidade, ap resentando seus interesses em suas Constituições Estaduais.

Com o fim do Regime Militar, na medida em que ocorre a descentralização, as políticas públicas passaram a ser vistas como sinônimo de gestão democrática. Desse modo, começou a tomar corpo a gestão metropolitana fundamentada na ação das esferas governamentais pelas organizações não-governamentais – ONG´s –, e iniciativa privada, principalmente no que condiz à delimitação dos comitês de bacias hidrográficas, que vem tomando conta da legislações de grande parte dos municípios brasileiros.

Conforme se estabelecia, enquanto centro hegemônico no processo urbano-industrial do país, a cidade de São Paulo, concomitante a sua expansão ao longo das áreas marginais, permitiu o estabelecimento de novos espaços de produção social, dinamizados pelo avanço do capitalismo.

Desse modo, são reproduzidos alguns condicionantes que marcaram a paisagem urbano-industrial brasileira, a qual se estabeleceu pela avassaladora modificação desses ambientes em face d a diversificada

92 espacialidade do território, naquela instante, aind a, baseada nas atividades agrárias, entre eles o café.

Não obstante, Carlos (2003, p. 77) aponta que:

os problemas atuais postos pela urbanização ocorrem no âmbito do processo de reprodução da sociedade. O processo d e urbanização, hoje, transforma o conteúdo dos espaço s , revelando-se numa prática sócio espacial modificada a partir da imposição de uma nova relação espaço-temporal, que não só redefine a hierarquia dos lugares em função das exi gências em matéria de comunicação, de deslocamentos os mais va riados e complexos, como também o quadro em que se realiza a vida cotidiana através das modificações nos usos dos luga r e s .

A consolidação dos espaços metropolitanos, simboliz ados pela industrialização acelerada, permitiu a intensificação da rede urbana, segregando os espaços pela centralidade e a periferi a.

Nesse ponto, Carlos (2003, p. 82) ainda salienta qu e:

[...] o fato de que a produção continuada da metróp ole, pelo desenvolvimento capitalista produz o fenômeno da implosão/explosão que produz as imensas periferias e o esvaziamento do centro. No caso de São Paulo, isto significa que o constante movimento da reprodução da metrópol e faz implodir o centro, produzindo novas centralidades. Se de um lado, a centralidade se acentua, isto é, o centro a inda representa o locos da administração, da decisão, da organização política da informação, etc; de outro l ado assiste- se a constituição de uma pluralidade de centros (cu lturais, religiosos, simbólicos, de mercado, etc). Ao mesmo tempo se dispõem em torno da metrópole aglomerações secundár ias, cidades satélites. As periferias se estendem a perd er de vista, o relevo deixou de ser um obstáculo como antigament e, as casas auto-construídas se expandem subindo os morro s [ . . . ] .

Partindo da evolução histórica da gestão urbana e com a certeza do desenvolvimento dos espaços metropolitanas por meio da institucionalização

93 das RM´s, tem-se, atualmente, 26 4 áreas metropolitanas, concentrando 34% da população brasileira, sendo desse total 84% da população brasileira residindo nas cidades. Além do mais, em 11 dessas 2 6 RM’s habitam um terço da população do país e 78% da população moradora de favelas, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Segundo Moura et al. (2004, p. 03), ao citar a atual configuração metropolitana, salienta-se que:

O Brasil encerra o ano 2003 com 26 unidades metropo litanas oficialmente instituídas, 3 regiões integradas de desenvolvimento (RIDES) e 2 aglomerações urbanas agregando um conjunto de 477 municípios. As unidade s metropolitanas estão concentradas nas regiões Sul ( Santa Catarina, com 6 unidades, Paraná, com 3, e Rio Gran de do Sul, com uma RM) e Sudeste (São Paulo e possuem, respectivamente, 3 e 2 unidades, Rio de Ja neiro e Espírito Santo possuem 1 unidade cada um). No Norde ste, 3 estados (Ceará, Pernambuco e Bahia) já possuíam uni dades metropolitanas e foram institucionalizadas mais 4 ( e m Alagoas, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte) p or leis estaduais; no Norte, apenas Belém manteve a unidade já existente; e no Centro Oeste, foi institucionalizad a a RM de G o i â n i a .

Desse modo, a instituição das regiões metropolitanas, na década de

1970, tinha como pressuposto a análise de influências que algumas cidade exerciam sobre a dinâmica econômica e política de uma região ou mesmo de todo o país. E, nesse contexto, a Região Metropolitana de São Paulo instituiu-se com 37 municípios e, com as emancipaçõ es recorrentes, atualmente possui 39 municípios e tem como polarizadora a cidade de São

Paulo (Cf. Figura 11).

Com a ampliação e a busca de novos espaços, as RM’s

(re)produzem subespaços como adaptação econômica, reflexo da maior ou menor intensidade da produção de capital. A ampliação dessas novas áreas

4 Informação obtida pela home page http://www.cidade sdobrasil.com.br. Acessada em 27 de março de 2008 94 de expansão, distantes da centralidade industrial p ropiciaram a exclusão dentro da área metropolitana de São Paulo, em específico. Esta é uma hipótese com a qual se identifica a espacialidade u rbana de São Lourenço da

Serra, pequena cidade da Região Metropolitana de São Paulo, foco dessa análise.

95

Figura 11 – RMSP: desmembramento de municípios metr opolitanos, 1940-2000. Fonte : GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro; MEYER, Regi na Maria Prosperi, 2004, p. 52

96 Os subespaços urbanos, nos quais a concentração de mão-de-obra imigrante alia-se ao acesso a loteamentos de baixo custo, somados ao deslocamento de empresas das áreas centrais, permitiram a ocupação da franja metropolitana (Cf. Figura 12). Nessa perspectiva, a Região

Metropolitana fazia-se presente com seus distintos fenômenos sociais, gerando uma exclusão sócio-econômica preocupante.

Cabe salientar que a imponência da RMSP ocorreu por sua forma abrangente de agregar em seu espaço todas as etapas do capitalismo financeiro; a sua onipresença no contexto econômico político brasileiro é reforçada constantemente.

Bógus (1992, p. 37) comprova a fundamental particip ação da migração na existência da área metropolitana paulist a:

No que diz respeito a tendência a concentração popu lacional nas áreas metropolitanas e, particularmente, em São Paulo, é importante lembrar o papel desempenhado pela migraç ão que teve como área de destino – ao longo das últimas dé c a d a s – principalmente a periferia, em razão do menor preço d o s o l o .

Perceber essa ocupação irregular dentro da Região M etropolitana de São Paulo leva-nos a reconhecer a problemática ambiental que se insere nesse espaço urbano.

Na formação da RMSP, as áreas marginais identificad as pela irregularidade do relevo, pelos mananciais e pelas áreas de Mata Atlântica sofreram intenso processo de ocupação. As imigrações, a divisão social do trabalho, a baixa oferta de loteamentos nas áreas centrais, aliadas ao decréscimo na taxa de empregos formais nas indústri as, permitiram a irregularidade no uso do solo dessas novas regiões de expansão:

97

Figura 12 – RMSP: evolução da área urbanizada, 1905 - 1997 Fonte: GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro; MEYER, Regina Maria Prosperi, 2004, p. 47

98 Social e economicamente, os espaços marginais – esses ‘territórios-reserva’ – também esta fora do sistema regular de produção, consumo e formação. Seus habitantes constituem reserva de mão-de-obra metropolitana, portanto o subemprego e o desemprego são situações dominantes (ROBIRA, 2005, p. 18).

Robira (2005) deixa evidentes os elementos apontados até o instante, no que expressa a segregação espacial d a metrópole paulista.

As áreas marginais, com todos seus dilemas urbanos, de saneamento básico, desemprego, violência, devem ser compreendidas como zonas de renovação urbana espaço s os quais podem, com planos dirigidos, atingir um patamar de qualidade de vida satisfatório e são inevitavelmente áreas de ex pansão do sítio urbano (ROBIRA, 2005).

Nessa percepção, os municípios que convergem para a

Região Metropolitana de São Paulo são palco desse p aradigma crescimento/conservação pelo saturamento urbano de São Paulo, outros centros emergem e se apossam de espaços natu rais, em detrimento da qualidade de vida. A poluição de mananciais, devastação de reservas de Mata Atlântica, aliados ao elevado

índice de resíduos sólidos (industriais e doméstico s) presentes, imprime na região.

Não obstante as situações mencionadas nesse capitulo, percebe-se que a maneira pela qual foi conduzida a construção da

RMSP, onde os municípios fora convergidos para um momento de agregação, entretanto ausentes de uma efetiva gestão, permitiu que desde seu início o conceito de RMSP não teria se quer nenhum objetivo claro e efetivo.

Apesar de ter sido o ultimo dos municípios da RMSP a ser constituído, São Lourenço da Serra viu de fato sua histórica recente se contradizer com a lógica histórica de seus municípios circunvizinhos. Assim, no próximo capítulo, o direcionamento dessa leitura é identificar a conformidade do município perante a sua região de amarração, ou seja, região Sudoeste d a RMSP. Por essa razão, partindo de uma leitura ampla, a cerca do estabelecimento da região metropolitana, a pesquisa caminha para caracterizar a inserção do município de pesquisa dentro de sua histórica econômico-social, entretanto, sempre na p remissa da justaposição legal da RMSP.

102

CAPÍTULO 3

EXPANSÃO PERIFÉRICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA

REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO: as

contradições socioeconômicas de São Lourenço da Ser r a

3.1 A desfragmentação industrial e a expansão da RM S P

Os fatos desencadeados pela metropolização de São

Paulo permitiram a produção de um espaço diferencia do, no qual o processo de urbanização distinguiu-se, promo vendo uma estrutura sócio-econômica regida pela valorização d os espaços urbanos, seja pela reconfiguração das áreas de indú strias ou mesmo pelo estabelecimento de novas condições de mo radia, distante da centralidade paulista.

A alteração nas condições de uso do solo com a efetiva ocupação dos espaços, ao longo do processo que se denominaria região metropolitana de São Paulo, cons olidou o estabelecimento de áreas diversificadas quanto à

103 industrialização, uma vez que houve o deslocamento d e empresas do centro paulista para áreas periféricas, afetadas pelo acelerado crescimento migratório.

Essa centralidade econômica desloca-se por ampla porção do território, estabelecendo subcentros de c ontrole industrial secundário, em que mão-de-obra abundante e, por conseguinte, barata, aliados a oferta de terrenos d e baixo valor, nas proximidades dos entrepostos rodoferrovi ários, garantiriam a manutenção da marca industrial paulis t a n a .

Nesse instante, entraria em processo a chamada desfragmentação industrial, assistida na região met ropolitana, e que conforme afirmava Santos (1994), promoveu um fenômeno que marcou o grande crescimento assistido por São Paulo na metade do século XX, em que os dilemas da metrópole: poluição, violência, ausência de espaços aliados, tornariam-se situações -problema e que, promoveriam a transferência de empresas para ou t ro s su b - centros em expansão, muitos por margearem os eixos rodoviários estaduais ou em outras situações buscando outros es tados, processo esse de retrocendência do crescimento industrial metropolitano.

Santos (1994, p.67) conceitua esse processo de “ involução metropolitana , como o baixo crescimento da Região Metropolitana de São Paulo em relação ao conjunto do Estado de São Paulo, em específico o interior do Estado”. Nota-se que há a desconcentração de atividades econômicas que, em contrapartida, permitiu outras

áreas de se desenvolverem, desfocalizando a Região Metropolitana de São Paulo como detentora única de investimentos.

104 Santos (1994) ainda cita três elementos, que justificariam a “involução metropolitana”: o primeiro faz jus ao PIB que cresce menos nas metrópoles que no país como um todo; uma segunda vertente aponta a valorização salarial do campo em relação à metrópole – nesse caso, geração de subempregos; e, por último, alguns índices de qualidade de vida apresentam-se melhores no interior em relação aos da capital.

De fato, a “involução” permitiu que o processo de crescimento da Região Metropolitana ocorresse entre seus municípios, levando as maiores e os menores fluxos internos e, que conseqüentemente, propicia uma certa complex idade nas relações inter-regionais. O deslocamento das áreas centrais ainda se mantém intensa em determinados pontos, e estabiliza em outros. Cada porção do território metropolitano adq uiriu características específicas, determinadas pela pres ença ou não do processo industrial, ou pela malha urbana que apres enta.

Taschner e Bógus (2001, p. 32) apontam que a desconcentração das atividades industriais rumo ao interior do estado, a princípio, demonstrou um “extenso e profu ndo esvaziamento, acompanhada de altos índices de desemprego”; no entanto, o que ocorre é uma nova relação das ativid ades, na qual as empresas mantém forte vínculo com a Região Metropolitana, principalmente no que diz respeito à gestão:

[...] Mantém-se uma estrutura dual na metrópole: regiões com completa infra-estrutura pública convivem com áreas desprovidas de serviços básicos; salários altíssimos se contrapõem a uma

105 imensa massa de desempregados de baixa qualificação; prédios luxuosos convivem com favelas [...].

Reconhecendo essa dinâmica espacial, percebe-se a elevação nas taxas de crescimento populacional nas porções periféricas da metrópole, bem como a alternância da diversidade econômica de cada região, promovida por um maior acesso à rede de transportes metropolitano, principalmente pela criação da Empresa Metropolitan a de

Transportes, em 1988. Dessa forma, permitiu-se a intensificação da mobilidade pendular, promovendo c ondições susceptíveis ao dinamismo das áreas centrais, em qu e se convergia a histórica relação com o poder econômico e a periferia, representativa da mão de obra.

3.1.1 As subdivisões da Região Metropolitana de São Paulo, e uma breve investigação da porção Sudoeste

À medida que ocorre o crescimento e o surgimento de municípios, o tecido metropolitano alterna-se de ma neira a criar uma grande rede urbana, focada pela semelhanç a e proximidade entre seus municípios. Assim, o agrupam ento dos municípios, conforme a sua aproximação territorial, e suas semelhanças econômicas, tornar-se-iam necessários à gestão metropolitana e vindo ao encontro das alterações co m a condição econômica de cada microrregião, conforme representação na FIGURA 13.

106

FIGURA 13 - Zoneamento da Região Metropolitana de S ão Paulo, 2 0 02 Fonte: Seade, 2007.

3.1.2 O Movimento Pendular e o crescimento dos muni cípios da região sudoeste da RMSP

Realizar uma leitura do crescimento dos municípios, que atualmente compõe a sub-região Sudoeste da RMSP , é passar por uma imprescindível discussão da particip ação da mobilidade pendular na caracterização de seu territ ório, ainda mais quando especificado no conjunto da metrópole.

Como já apontado no Capítulo 1, a origem de São

Lourenço da Serra está vislumbrada pela trajetória d o município de Itapecerica da Serra que, por ventura, está

107 condicionado à expansão da periferia paulista ao lo ngo dos municípios de Taboão da Serra e Embu, ao longo das últimas décadas, principalmente.

Por essa razão, investigar a intensidade da mobilid ade pendular dessa região para os demais municípios, co mo São

Paulo, é justificar a expansão de São Lourenço da S erra face ao deslocamento diário de sua população pela busca d e e m p r e g o .

Para tal, dois trabalhos, um institucional e outro acadêmico, poderão explicar como tem se articulado o movimento migratório desses municípios.

O primeiro, de Ântico (2003, p. 90), aponta que:

[...] a sub-região Sudoeste registrou a mais elevad a proporção de população ocupada pendular da RMSP. Em 1987, 51,7% do pessoal ocupado residente nessa sub-região trabalhava em outro município da metrópole, passando a 46,3%, em 1997. [...] As maiores proporções de ocupados pendulares foram apresentadas pelos municípios de Embu e Taboão da Serra [...].

Apesar do declínio na década 1990, como apresentado , os

índices desses municípios continuam sendo elevados perante a

RMSP.Cabe salientar que os dados não levam em conta o município de São Lourenço da Serra, já que ainda se encontrav a vinculado a

Itapecerica da Serra:

[...] Os municípios de Embu e Taboão da Serra apresentaram também os maiores volumes de população ocupada pendular da sub-região nas duas datas pesquisadas, mas com tendências distintas de crescimento. Enquanto Taboão da Serra apresentou um decréscimo de sua participação no total sub-regiona l , passando de 41,7%, em 1987, para 34,8% em 1997, o

108 município de Embu manteve-se mais estável, com 37,6% e 39,2%, respectivamente. Destaca-se, ainda, o município de Itapecerica da Serra, que, em 1987, registrou 14,3% do total de ocupados pendulares des s a sub-região e, em 1997, passou a 20,7%.[...] (ANTICO, 2003, p.90).

Já os dados apresentados pelo Plano Plurianual 1 0 da

Região Metropolitana de São Paulo diagnosticam que o s municípios da sub-região Sudoeste apresentaram cres cimento excepcional:

Entre 1950 e 1970, Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra, municípios situados no eixo da Rodovia BR-116 em direção ao sul do país, tiveram crescimento populacional de 622%; Diadema e São Bernardo, no eixo da Rodovia Anchieta, 1.010%; e Guarulhos e Arujá, na direção do Rio de Janeiro, 640%. À medida que os aglomerados urbanos dos subúrbios foram adquirindo certo grau de desenvolvimento, atraíram fábricas e população. Até 1980, o componente migratório da metrópole superava o componente vegetativo, com um saldo migratório anual superior a 200 mil pessoas.

Partindo dessa exposição inicial, constrói-se uma análise quanto aos fatores que propiciam e propicia ram o desenvolvimento dessas porções do tecido metropolit ano, os eixos rodoviários.

Obviamente, as malhas de transporte exercem papel fundamental na produção do espaço; em específico, n essa

10 O Plano Plurianual da Região Metropolitana de São Paulo é desenvolvido pela Coordenadoria de Planejamento e A valiação (CPA) e pela Unidade de Assessoria Econômica (UAE), com a c olaboração da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA ( EMPLASA), a partir do trabalho sobre Economia Regional Paulista elaborado pela UAE, disponível no site . Acesso em 23/02/2008. 109 discussão, compreende-se a relação desse exacerbado crescimento com as posteriores modificações intrametropolitanas, mencionando o processo de desmetropolitazação. É discutível que as taxas de e xpansão dessas regiões não sigam os mesmos patamares, embor a acabem se mantendo ao longo das décadas seguintes.

Ao tangenciarmos a discussão na perspectiva do zoneamento, temos a porção sudoeste da Região Metro politana de São Paulo como uma dessas manchas de crescimento .

Identifica-se, nos municípios, uma ascendente taxa d e crescimento populacional, como pode ser verificado n a

FIGURA 14.

4,81 4,51 5 4,41

4 2,76 2,92 3 % 1,5 2 1,33 0,55 1

0 São Paulo - RMSP Estado Embú Juquitiba Embú-Guaçu Itapecerica da São Lourenço Capital Serra da Serra

FIGURA 14 - Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População - 2000/2006 Estado de São Paulo, RMSP e Municípios da Região Sudoeste da RMSP. Fonte: Seade, 2007

Os valores que imprimem o crescimento da Região

Metropolitana de São Paulo interagem-se com a premi ssa de

“involução metropolitana”, identificada por Santos (1994). E

110 ao observar os demais municípios que compõe a regiã o , n o t a - se, claramente, uma elevação nos valores de crescim ento, quando comparados ao conjunto da cidade-pólo, da RM SP e do e s t a d o .

Esta discussão fundamenta-se na análise evolutiva d e expansão da porção sudoeste da RMSP, que em seus di versos desencadeamentos manteve um ritmo de crescimento pa drão; em contrapartida, os municípios industriais tiveram redução a partir da década de 1980. Desse modo, a RMSP deteve redução pela metade do que fora verificado nas décadas pret é r i t a s .

O desaquecimento da economia nesse período, somado as políticas de descentralização industrial, explic am, em parte, essa trajetória da economia e do crescimento populacional. No entanto, parte das empresas ainda manteria seus deslocamentos, inclusive para outros município s da

RMSP, dentre os quais os que pertencem à porção sud oeste, reforçando, assim, o eixo de ocupação, mesmo que em menor e s c a l a .

Na mesma interface, as demais áreas limítrofes, que não detêm fundamental dependência com a industriali zação, seguiriam o mesmo ritmo de expansão, inclusive Juqu itiba,

Embu-Guaçu e São Lourenço da Serra, foco dessa pesq u i s a .

Os estudos para a elaboração do Plano Plurianual da

RMSP ainda reconheceriam que a:

111 A população do território metropolitano se dispersou, reduzindo, significativamente, a participação da população do município de São Paulo na RMSP e crescendo a dos demais municípios. O ritmo de crescimento da Capital diminuiu, alcançando 0,91% ao ano, no período de 1991 a 2000, e 0,60%, no período 2000/2005, enquanto na maior parte dos demais municípios metropolitanos ocorria o inverso. Em alguns, as taxas foram particularmente expressivas: no período 2000/2005, cresceu à taxa de 6,12% ao ano; Santana de Parnaíba, 5,82%; Caieiras, 5,05%; São Lourenço da Serra, 4,88%; Itapecerica da Serra, 4,69%; Itaquaquecetuba, 4,65%; Embu-Guaçu, 4,45%; Arujá e Pirapora do Bom Jesus, 4,40%; e Barueri, 4,21%. (grifo nosso).

Ântico (2005, p. 113) relata as razões que justificam o deslocamento e aumento do contingente populacional para esse trecho da RMSP, ao afirmar que:

As distâncias diárias a serem percorridas, a acessibilidade e o tempo de deslocamento necessário para satisfazer as necessidades de trabalho e consumo podem influenciar diretamente a permanência da população na região – e isso vem ocorrendo no processo de redistribuição demográfica interna da RMSP desde a década de 80, com a incorporação de municípios distantes.

E não obstante, nota-se, que dentre os municípios m ais dinâmicos, no que diz respeito à mobilidade intra-regional, estão os pertencentes à região Sudoeste, Sudeste e Leste, onde se constata uma forte intensificação pela incorporação de novas áreas, a partir da expansão da região metropolitana, desde a década de

1980, como afirma a autora.

Na mesma perspectiva, Ântico (2005) relata que em subregiões como Norte, Leste e Sudoeste, há uma elevada

112 mobilidade pendular com características de maior crescimento populacional entre as classes etárias mais jovens, nas quais se configuram fluxos pendulares, principalmente com o m un icíp io - sede, São Paulo. Dessa forma, apresentam pouco dinamismo econômico, com baixa oferta de emprego e geração de renda, caracterizando-se pela precariedade.

3.1.3 Distribuição funcional dos municípios da RMSP: São Lourenço da Serra, “popular” e “terciário simples”

Na representatividade da vasta configuração em que se assiste o corpo da metrópole, promoveu-se a tipo logia dos municípios da Região Metropolitana no propósito de observar as condições em que se encontram tais áreas, de for ma a permitir leituras e percepções do processo de const rução da região perante as mudanças decorrentes. O Observató rio das

Metrópoles 1 1 , por meio da temática “Como andam as metrópoles”, propõe o reconhecimento dessa divisão:

Tendo em vista a construção de uma tipologia de municípios para a Região Metropolitana de São

11 O Observatório das Metrópoles é um grupo de pesqui sa que trabalha na forma de uma rede, e, reúne pesquisadores de ins tituições dos mais variados campos, como por exemplo, os: universitári o, governamental e não-governamental. As equipes reunidas vêm trabalha ndo sobre 11 metrópoles e uma aglomeração urbana - Rio de Janeir o, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia, Re cife, Salvador, Natal, Fortaleza, Belém e a aglomeração urbana de M aringá, recentemente mais 4 metrópoles estão em processo de inclusão na rede Brasília, Florianópolis, Santos e Vitória. Atuamos identificando as tendências convergentes e divergentes entre as metr ópoles, geradas pelos efeitos das transformações econômicas, sociai s, institucionais e tecnológicas por que passa o país nos últimos 20 an os. Dado retirado da homepage< http://web.observatoriodasmetropoles.n et>. Acessado em: 15 de abril de 2008. 113 Paulo, que possibilite analisar as formas e as condições de inserção dos migrantes na maior área metropolitana brasileira, procedeu-se a uma análise fatorial da distribuição da população ocupada residente nos 38 municípios, excluindo-se a capital , de acordo com as categorias sócio-ocupacionais utilizadas na pesquisa "Metrópole, desigualdade sócio-ocupacional e governança urbana: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte" OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2007).

A definição do agrupamento seguiu parâmetros específicos à historicidade de formação dos municíp ios e suas principais características (econômicas, sociais), c onforme o

QUADRO 01.

A definição das categorias confere com a lógica da espacialidade em que se definiu a Região Metropolit ana no decorrer de sua incorporação ao território e da eco nomia r e g i o n a l .

Conforme a mesma fonte, as taxas de crescimento de cada grupo reflete a associação dessa nova margem d e expansão das atividades metropolitanas, respeitando os processos de incorporação do espaço de cada região junto aos fluxos de transporte, principalmente.

Tipologia Características Municípios Formado por municípios Biritiba Mirim, Salesópolis Agrícola com forte presença de trabalhadores agrícolas. Arujá, Cotia, Embu Guaçu, Reúne os municípios com Guararema, Itapecerica, grande proporção de Juquitiba, Mairiporã, Mogi Popular trabalhadores da das Cruzes, São Lourenço da sobrevivência e da Serra , Suzano, Vargem construção civil. Grande. Contém os municípios de Embu, Ferraz de Operário residência operária, Vasconcelos, Francisco tradicional sobretudo de moradia de Morato, Franco da Rocha,

114 operários da indústria Itapevi, Itaquaquecetuba, tradicional e de serviços. Jandira, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Rio Grande da Serra, Santa Isabel. Reúne municípios com Barueri, Caieiras, , densidade elevadas de Carapicuíba, Diadema, trabalhadores residentes do Guarulhos, Mauá, Osasco, proletariado industrial, Ribeirão Pires, Taboão da Operário sobretudo da indústria Serra. moderno tecnológica, também possuem presença expressiva os trabalhadores de serviços. Reúne os municípios onde Santo André, S Bernardo, se apresentam densidades São Caetano, Santana do elevadas de residentes Parnaíba. Elite industrial pertencentes à elite intelectual e à elite dirigente. QUADRO 01 – Tipologia dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, segundo o número de pes soas ocupadas nos diversos setores da economia. Fonte: Observatório das Metrópoles, 2007.

Tipo de município T a x a s ( % ) Agrícola 3,27 P o p u l a r 3 , 6 7 Operário tradicional 4,12 Operário moderno 2,72 Elite industrial 1,50 Pólo – São Paulo 0,88 R M S P 1 , 6 4 TABELA 02 - Taxas de crescimento Populacional por tipo de município, RMSP (1991 – 2000). Fonte: Observatório das Metrópoles, 2007. Identificando em específico a porção Sudoeste da

RMSP, configuram-se perspectivas antagônicas, posto que se encontra uma região com alto crescimento populacion al, e atividade econômica fraca, na qual diversos municíp ios estabelecem-se como cidades-dormitório, entre quais Taboão da Serra e Juquitiba.

115 Na análise apresentada pelo Plano Plurianual da

RMSP, a dinâmica da porção Sudoeste está vinculada a uma concentração econômica modesta em um ambiente urban o pobre, onde se identificam elementos agropecuários baseados na subsistência e uma concentração e oferta de serv iços s i m p l e s .

A pouca atividade industrial que, em grande parte,

concentra-se no início da Rodovia Régis Bittencourt junto aos

municípios de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica d a Serra,

constitui-se em um extravasamento da atividade industrial

paulistana ocorrido durante a desfragmentação industrial,

iniciada na década de 1970.

No setor terciário, concentram-se algumas atividade s de serviços e comércio local. Os parques, trilhas, rios, cachoeiras e outras belezas naturais podem agregar condições para o aproveitamento da atividade turística.

Em uma outra classificação, elaborada pelo SEADE, é apresentada uma nova categoria de agrupamento dos municípios, de modo a reconhecer sua organização em função do Produto Interno Bruto (PIB) municipal. Segundo o órgão, há um certo diferencial entre cada município, vislu mbrando a suas fontes de renda e empregabilidade.

Dessa forma, no estudo elaborado conjuntamente pela

Secretaria de Planejamento por meio do Plano Pluria nual da

RMSP (2007) e SEADE, apontam-se que:

116 [...] é possível avaliar a tipologia dos municípios da RMSP, segundo o perfil do PIB: dez são voltados à indústria complexa; sete possuem agroindústrias; dezesseis são multissetoriais; e três têm sua economia caracterizada por atividades do setor terciário. Apenas Biritiba Mirim dedica-se, predominantemente, às atividades agropecuárias e terciárias e Cajamar possui, principalmente, indústrias simples na formação de seu PIB. ( p . 0 5 )

3.1.4 Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), uma breve mensuração dos dados econômicos e sociais de São Lourenço da Serra

Os dados apresentados sobre riqueza dentro da RMSP surgem em referência à análise construída pela Empr esa

Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (EMPLAS A) que, ao promover o Índice Paulista de Responsabilidade S ocial

(IPRS) 1 2 , baseia-se em dados do PIB municipal e valores s o c i a i s .

Considerado uma boa ferramenta de gestão municipal, o IPRS lança o agrupamento dos municípios em difere ntes grupos, seguindo a relação de riquezas e qualidade d e v i d a .

12 Solicitado pela Assembléia Legislativa do Estado d e São Paulo à EMPLASA, o IPRS tem como intuito mensurar o Índice d e Desenvolvimento Humano (IDH), na qual o modelo pres supõe a insuficiência da renda per capita como o único indicador das condições de vida de uma população, considerando que outras d imensões devem ser incluídas para essa mensuração. Longevidade e e scolaridade – ou seja, os níveis de saúde e de educação da população – são as dimensões que o IDH incorpora à renda para gerar um indicador mais abrangente sobre condições de vida. 117

FIGURA 15 - Tipologia dos municípios da RMSP, segundo o PIB, 2003. Fonte: Seade, 2007.

O cálculo-base para a obtenção do IPRS segue uma padronização obtida por meio de valores de longevid ade (saúde), escolaridade (educação) e riqueza (PIB per capita), baseados nas premissas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Na perspectiva da RMSP, os 39 municípios estão organiz ados segundo o QUADRO 02 e a FIGURA 16.

118

FIGURA 16 - Índice Paulista de Responsabilidade Soc ial (IPRS) da RMSP, 2004 Fonte: Seade, 2007, p. 10.

Nota-se que a inclusão do município de São Lourenço da

Serra ao Grupo 2, deve-se pelos modestos índices de escolaridade que, apesar de crescentes nos últimos anos, ainda estão abaixo da média estadual, estabilizado em 41%. No entanto, os demais dados configuram-se próximos à média do estado, no quesito renda, e superior no de longevidade. Os índices de escolarid ade podem, inicialmente, explicar alguns indicadores de pobreza e desemprego, apreciados com mais profundidade no decorrer da pes qu isa.

G r u p o s Municípios D e f i n i ç ã o Reúne os municípios Barueri, Ribeirão Pires, São com bons indicadores G r u p o 1 Paulo, Santo André, São Bernardo nas trê s dimensões do do Campo, São Caetano do Sul í n d i c e Arujá, Caieiras, Cajamar, Cotia, Grupo que integra os Diadema, Embu, Embu- Guaçu, municípios com bons G r u p o 2 Guararema, Guarulhos, Itapecerica indicadores de riqueza da Serra, Itapevi, Jandira, e pelo menos um dos Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi indicadores sociais

119 das Cruzes, Osasco, Rio Grande da insatisfatório Serra, Santana do Parnaíba, São Lourenço da Serra , Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande P a u l i s t a . Composto por municípios com baixos G r u p o 3 Salesópolis indicadores de r iqueza e bons indicadores s o c i a i s Agrega municípios com Carapicuíba, Pirapora do Bom baixo indicador de G r u p o 4 Jesus, Poá, Santa Isabel riqueza e indicadores sociais intermediários Municípios com Biritiba Mirim, Ferraz de indicadores de riqueza, G r u p o 5 Vasconcelos, Francisco Morato, longevidade e Franco da Rocha, Itaquaquecetuba escolaridade menos favoráveis. QUADRO 02 - Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) da RMSP, 2004 Fonte: Seade, 2007, p. 11.

Ao considerar o IPRS dos municípios da porção

Sudoeste da RMSP, observa-se que em sua totalidade estão inseridos no chamado Grupo 02, que integra áreas co m bons indicadores de riqueza (renda per capita e PIB) e algum dos indicadores sociais insatisfatórios (longevidade ou escolaridade).

Na FIGURA 17, em detalhe, observa-se a situação da realidade São Lourenço da Serra no que diz respeito ao IPRS .

120

FIGURA 17 – São Lourenço da Serra: Índice de Paulista de Responsabilidade Social, 2004 Fonte: Seade, 2007.

Notoriamente, o agrupamento de São Lourenço aos municípios com bom indicador de renda e algum dos d ados sociais pouco satisfatórios, nota de imediato uma c ontradição na forma de gestão pública, posto que o conflito en tre renda média e baixa escolaridade merecem uma especulação por parte do Poder Público.

Por outro lado, nota-se uma queda nos valores de riqueza entre 2000 e 2002, e certo crescimento no b iênio seguinte. Os indicadores de expectativa creditam a São

Lourenço da Serra uma qualidade de vida superior à média estadual, mas que sofreram redução nos últimos anos , segundo

IPRS (2004).

Segundo o relatório:

O município teve seus indicadores agregados de riqueza e escolaridade crescentes, em oposição à queda na longevidade. Em termos de dimensões sociais, o escore de longevidade superou a média do Estado, porém o de escolaridade ficou abaixo da média estadual. (IPRS, 2004, p.44)

121

Posição em Posição em

2 0 0 2 2 0 0 4 Escolaridade 622º 614º Longevidade 70º 197º Riqueza 75º 68º TABELA 03– Posição do município de São Lourenço da Serra referente aos valores de calculo do IPRS, 2002 e 2004, em relação a todo o estado de São Paulo. Fonte: Seade, 2007.

De fato, o IPRS tem por objetivo sintetizar a situa ção de cada município no que diz respeito à longevidade , escolaridade e riqueza, a partir de indicadores que perpassem a valores de zero a 100. Mas, cautelosamente, recon hece-se a necessidade de ter em vista a realidade que se apre senta.

Segundo o padrão estabelecido pelo índice, no que d i z respeito à riqueza, é considerada baixa a partir 42 e elevada acima de 43; a longevidade, baixa até 68 e alta aci ma de 73; e por fim: a escolaridade, baixa até 53, e alta acima d e 5 8 .

Mesmo contendo indicadores correlatos à média no es tado, identifica-se uma retração no que diz respeito aos dados sociais, principalmente a longevidade, que resume o indicativo de qualidade de vida do município. O recuo em relação aos dados de

2002, como visto na TABELA 03, permite constatar que há, nesse período, alterações na dinâmica sócio-econômica, responsável por tal queda, ainda mais quando somada ao ínfimo crescimento do

índice de educação, ainda abaixo do padrão.

Resumindo, o IPRS de São Lourenço pertence ao grupo dos municípios que embora com níveis de riqueza elevados não são capazes de atingir bons indicadores sociais (SEADE, 2007), o que

122 confirma a obrigatoriedade de se compreender a dinâmica populacional imprensa nesse pequeno no município da RM SP.

O Capitulo 4, finaliza a pesquisa ao apresentar a controversa geração de renda e emprego em São Lourenço da Serra, na qual já pode ser entendida, em partes, no instan te na leitura desses fatos.

A situação sócio-econômica e a dependência histórica do município para com alguns municípios da RMSP emitirá, como resultado, a certeza de se reconhecer o papel fundamental de uma administração pública embasada e consciente, atenta ao planejamento ambiental, urbano e regional, posto qu e a situação vislumbrada por São Lourenço da Serra e todos os demais municípios participantes da Área de Preservação aos Mananciais necessitam de ações efetivas e concisas que mostrem a potencialidade dessa região.

123 CAPÍTULO 4

A renda, a geração de emprego em São Lourenço da Se r r a

4.1 RMSP e a segregação sócio-espacial: São Lourenç o da

Serra, um exemplo

Ao longo de sua constituição, São Lourenço da Serra possibilitou absorver os frutos daquilo que sua pai sagem natural ofertou. Na medida de sua consolidação, em face da expansão da cidade de São Paulo e dos municípios co njugados, sua estrutura populacional – anteriormente determin ada pela exploração da Mata Atlântica como forma de subsistê ncia –, alterna-se para uma expressiva frente migratória, o riunda das porções periféricas da cidade de São Paulo.

Conhecida entre as demais localidades da RMSP como uma vasta área de preservação de Mata Atlântic a com ares de ambiente rural, a São Lourenço da Serra tip icamente interiorana constituiu um atrativo aos mais diferen tes grupos populacionais, sejam aqueles que, de imediato, reco nheceram a calma e a serenidade da paisagem natural marcante e que buscavam um recanto de descanso, sejam outros grupo s que 124 identificaram o potencial agrícola da região, princ ipalmente, o destinado a produção hortifrutigranjeira determinad a pelo fator climático propício e, obviamente pela proximi dade com o mercado consumidor paulistano. Além do mais, a cida d e permitiu que famílias sujeitadas à pobreza e ao dis tanciamento de uma qualidade de vida digna não possibilitada na s áreas de favelização da grande cidade pudessem se estabelece r, ainda com a oferta de empregos de baixa qualificação e remuneração, somadas também aos serviços assistenci alistas, ofertados pelo Poder Público. Isso se tornou altern ativa para parcela dessas famílias que se depararam com certas dificuldades, seja na obtenção de moradia, seja na caracterização do emprego, encontrando, assim, uma nova possibilidade de vida em São Lourenço da Serra, sej a esta melhor ou não.

4.1.1 A mobilidade pendular, crescimento populacion al da

RMSP e segregação sócio-espacial

Refletir a respeito da condição populacional são lourençana é reproduzir fielmente os fatos que perm itiram a apropriação RMSP que, por razões associadas ao proc esso de industrialização, voltaram-se para o discurso da bu sca de qualidade de vida, representada pela constante mobi lidade h u m a n a .

125 Notadamente, o reflexo dessa mobilidade é o aumento populacional ocorrido ao redor da margem metropolitana – no caso dessa pesquisa, a partir da emancipação de São Lourenço da Serra, em 1992, onde a variação anual se deu por volta de 5% a 7%. Além de sse exemplo, a FIGURA 18, possibilita compreender, tamb ém, que há manutenção desses indicadores ao longo dessa esp ecifica faixa territorial, notadamente na porção Sudoeste d a R M S P .

Além do mais, é previsível identificar que o elevado índice de crescimento populacional vai de f rente ao processo de desconcentração industrial iniciado na década de

1980 e, por meio das novas formas de acumulação de capital, expandidas para outras porções do tecido metropolit ano.

Entretanto, na medida em que se definia a apropriaç ão desse território, distante da centralidade econômica, a d úvida recai sobre a adaptação desses espaços face à nova forma d e apropriação do mercado.

126

FIGURA 18 – Taxa de crescimento populacional (% ao ano) da RMSP, 1991 – 2000 Fonte : ANTICO, 2003, p.32

127 Ao longo desse percurso que constitui a história da

RMSP há redução – ou pelo menos estabilização – de indicadores de crescimento populacional de municípi o s tradicionalmente receptores da mão-de-obra migrante que sempre estiveram condicionadas pela presença de emp resas automobilísticas e siderúrgicas, responsáveis por d écadas de riqueza dentro da economia paulista. Entretanto, à medida da reorganizacional da RMSP, seja pela descentralizaçã o industrial, seja pelo desinteresse de investidores quanto ao elevado custo de produção da região, os valores representativos do crescimento populacional estagna m-se na metrópole. Em contrapartida, há uma investida de mi gração intrametropolitana.

Contudo, dentre as situações que possibilitaram à metrópole paulista tornar-se específica dentre as p orções industriais brasileiras, está sua capacidade de sof rer metamorfização/adaptações face ao multifacetado pod e r econômico. Assim, dentro da RMSP, há regiões que, e m orientação contrária a essa estabilização, notoriam ente vão adiante com o crescimento populacional, e essa cond ição é justificada pela capacidade de mobilidade entre as empresas e a população dentro da região metropolitana. Por iss o, regiões como a região Sudoeste apenas presenciaram elevado crescimento à medida da redução dos índices da porç ã o

Sudeste, por exemplo, onde localizavam-se grande pa rte das indústrias.

128 No contexto geral dos movimentos migratórios observados para a RMSP, a migração intrametropolitana apresentou implicações decisivas para o processo de redistribuição interna da população e para a configuração e expansão do espaço urbano-metropolitano, além do impacto no crescimento demográfico dos municípios. ANTICO (2003, p.36)

Reconhecer como se deram esses movimentos propiciou determinar com clareza o desenrolar das situações s ocioeconômicas que propiciaram a ocupação dos territórios até algumas décadas pouco interessantes à expansão do capital, dentre os quais cita-se o município de São Lourenço da Serra.

Ântico (2003) enfatiza esse pensamento ao afirmar qu e:

[...] indicar os principais movimentos migratórios internos da região, e suas diferenças mais marcante s , explicitam grande parte da inserção de cada municíp i o na dinâmica urbana regional. Da mesma maneira, a análise dos deslocamentos populacionais ocorridos dentro da região permite aprofundar o conhecimento das relações estabelecidas entre os municípios da á rea metropolitana. (p.36)

Seguindo essa lógica, percebe–se que o dinâmico processo de mobilidade pendular da região Sudoeste, está con dicionado à oferta do transporte interurbano, bem como do inten so processo de conurbação, responsáveis pela expressiva manutenção desses indicadores evolutivos, além da consolidação da exp ansão da metrópole na sua porção mais periférica.

Na FIGURA 19 é perceptível a exposição dos fatos acima apresentados quando se nota a presença, entre os municípios da região Sudoeste, de movimentação pendular superior a 40% da população efetivamente ocupada.

129

FIGURA 19 – Proporção de ocupados que realizam o de slocamento pendular na RMSP, 1997 Fonte : ÂNTICO, 2003, p.42

130 Com uma proporção de deslocamento de até 20%,

Juquitiba e São Lourenço encontram-se em um patamar distinto daqueles observados em municípios como Taboão da Serra,

Itapecerica da Serra e Embu, esses que, na verdade, são importantes fornecedores de mão-de-obra e respondem pela elevada taxa de mobilidade pendular da região Sudoeste. Porém, tanto São

Lourenço da Serra quanto Juquitiba demonstraram int eressante aumento populacional nos últimos levantamentos, com o já demonstrado anteriormente. Entretanto, estes são municípios que não têm na representatividade do deslocamento pendular sua maior fonte de empregabilidade.

É claro e evidente que o distanciamento do pólo centralizador, São Paulo, efetivamente responde por tal distinção, já que as cidades próximas apresentaram maior índice de deslocamento no total de ocupados. Assim, o fator p reponderante dentro da possibilidade de transição da mão-de-obra dentro da

RMSP é a disponibilidade de serviços de transporte público, o que está automaticamente sugestionado pela distância dessa força de trabalho com os estabelecimentos empregadores. No entanto, é necessário de fato reconhecer que há uma mobilidade interessante entre sua população, mesmo em menor contingente, mas que tem importante papel na empregabilidade e geração de riqueza de seus municípios.

Remetendo à leitura da TABELA 04, nota-se que há uma enorme disparidade no número de ocupados que realiz am o

131 deslocamento pendular entre os municípios acima citados, bem como confirma-se claramente a questão do distanciam ento e da acessibilidade desses locais em relação ao mercado gerador de trabalho. Juquitiba, por exemplo, apresenta menor p ercentual de mobilidade – inferior a São Lourenço da Serra, que possui metade do de sua população ocupada. Situação semelhante ocorre em

Embu-Guaçu, que se encontra aquém do eixo logístico de

Itapecerica da Serra, já que seu território não vislumbra a proximidade, por exemplo, com a Rodovia Régis Bittencourt, importante eixo de deslocamento de todos os município s.

População % de Municípios de População Ocupada Ocupados Residência O c u pa da P e n dul a r Pendulares Região Sudoeste 233.274 108.085 46,33 Embu – Guaçu 14.757 4.267 28,92 Taboão da Serra 72.319 37.624 52,03 E m bu 85.990 42.333 49,23 Itapecerica da Serra 47.669 22.348 46,88 J uq ui t i b a 7.552 800 10,59 São Lourenço da Serra 4.987 713 14,30 TABELA 04 – População ocupada, população ocupada pendular e proporção de ocupados que realizam deslocamento p endular, região Sudoeste da RMSP, 1997 Fonte : ÂNTICO, p. 90.

Dessa forma, em São Lourenço da Serra a geração de renda e emprego deverá estar intimamente associada às atividades produzidas dentro de seus limites territoriais. Mas haja vista os reduzidos índices de escolaridade, essas atividades estarão vinculadas à baixa remuneração ou associados ao funcionalismo público, prestação de serviços simples, em que há m ínima especialização, promovendo-se, assim, intenso subem prego .

132 Dado esse quadro, apesar de não ser isolado no cont exto social brasileiro, reconhece-se que a produção do espaço na RMSP torna-se segregado e tem, à medida da evolução prod utiva, produzido uma metrópole global, sinônimo também de pobreza, permitindo a constância desses indicadores sociais.

4 . 2 A renda e a geração de empregos em área de proteção aos mananciais (APM)

Não há dúvidas de que a situação da periferia no contexto da RMSP é dual, ainda mais quando se toma como ponto de partida os diferentes usos do solo metropo litano. São identificados confortáveis condomínios de luxo que s e espalham nesses espaços ociosos, valorizados pela especulação imobiliária, em que a busca por qualida de de vida

é o elemento preponderante. No outro extremo, situa ções de extrema pobreza, que também se espalham por esses “ novos” territórios, sem ter-se condições básicas de saneam ento urbano, ocupação terrenos irregulares (encostas, co luviais, margens de rios), espaços distantes dos interesses d e investidores e tão pouco do Poder Público.

Nesse sentido, é o foco determinante dessa investigação instituir um olhar crítico no que diz respeito a essa segregação, porém na perspectiva de um municíp io de paisagem aprazível e ares de cidade do interior, ma s que tem

133 sentido os reflexos de ter sido fruto de uma evoluç ã o socialmente excludente.

Já de imediato, para promover a centralização do embate, um dilema aflige toda essa investigação – u m aspecto da paisagem marca São Lourenço da Serra e porção da malha metropolitana, impregnando-lhe uma situação complex a, a presença da Área de Preservação aos Mananciais.

4 . 2 .1 Algumas leis de proteção ambiental da RMSP e as interferências na geração de emprego e renda em São Lourenço da Serra

A lei nº 1.172, de 17 de novembro de 1976, instituí d a

pelo governo do estado de São Paulo, delimita o uso e ocupação

dos solos próximos aos mananciais da RMSP, promoven do a

regulamentação das áreas destinadas ao seu abasteci mento.

Apesar de seus trinta e três anos e da restrição na forma de

ocupação dos solos pelo Poder Público, a lei das APMs não foi a

primeira do gênero criada no estado. Em 18 de dezem bro de

1975, a lei nº 898 (conforme ANEXO 1), sancionava a disciplina

do uso dos solos nas margens de cursos d’água na RMSP, tanto

mais quando definia todos os mananciais da área met ropolitana,

dentre eles os da bacia hidrográfica do rio Júquia e

Guarapiranga, os quais compartilham o território de São

Lourenço da Serra.

134 Historicamente, as leis apresentam uma preocupação do Brasil com o meio ambiente, como já vinha aconte cendo com o mundo, quando se identificava o auge do cresc imento industrial do país e, em específico, da RMSP. Entre tanto, o fato das leis vigorarem a partir de 1975 após a ins tauração das

RMs no país e no instante da efetiva criação da RMS P permite notar que parcela dos mananciais já se encontravam ocupados, e obviamente continuariam a ser ocupados.

Apesar do fato de reconhecer que as leis surgiram também como resposta ao estabelecimento das RMs, principalmente para delimitar a expansão para áreas de abastecimento ou propensas ao abastecimento urbano, deve se notar que pouco se modificou a partir da presença d a legalidade, o que se confirma no caso das Represas d e

Guarapiranga e Billings, em São Paulo, ou mesmo os diversos rios que compõem os municípios ao longo da RMSP.

Mesmo não detendo o avanço da ocupação e ainda permitindo a escassez de água potável atual e futur a, as APMs configuraram alguns empecilhos para os municípios d e menor ocupação, que se localizam inteiramente em área de preservação.

Conforme, a lei das APMs (conferir ANEXO 2), alguns cuidados devem ser tomados para a instalação de empresas potencialmente poluidoras, além do dever d a s prefeituras em ofertar equipamentos públicos como e stações

135 de tratamento de efluentes (ETEs) e adequação aos r esíduos s ó l i d o s .

No entanto, como grande parte desses municípios estão integralmente localizados em APMs, não havend o também locais específicos para a instalação desses dispositivos, tampouco recursos financeiros para a sua construção, os gestores públicos alegam dificuldade s na geração de renda e tributos para manutenção destes, posto que o uso dos solos, conforme a lei, não permite impact o nos mananciais, reduzindo, dessa forma, as possibilidad es de manejo, obtenção de renda e geração de emprego.

Por fim, como medida para a conservação, proteção e utilização, a lei federal nº 11.428, de 22 de dezem bro de 2006 (cf.

ANEXO 03) soma-se às leis acima especificadas na RM SP e do estado quando regulamentam a necessidade de manuten ção, bem como de recuperação, de todos os ambientes associados ao Bioma

Mata Atlântica. Assim, por abarcar os mesmos ambientes da RMSP, assentados em APMs, os municípios encontram mais um fator de preservação a ser legalizado e, da mesma maneira, isso constitui algo que torna o processo de desenvolvimento local mais complexo.

136 FIGURA 20 – RMSP: delimitação das Áreas de Proteção aos Mananciais (APM) Fonte : Seade, 2007 .

137 No que tange os pressupostos apontados, São Lourenço

da Serra é um desses diversos municípios estabeleci dos em área

de mananciais recoberta por floresta atlântica, con forme se nota

na FIGURA 20.

Entretanto, o fato de pertencer uma área de proteção

dos mananciais, assim como outros municípios, não t em barrado

a expansão urbana. Assim, a porção Sudoeste da RMSP tem sido

menosprezada nesse sentido, e São Lourenço da Serra insere-se

nessa conjuntura.

A atuação das leis de proteção e preservação, aliad a s ao dilema da gestão pública, deparam-se com um cons tante questionamento: de que forma e por quais razões uma área delimitada legalmente para determinados usos conseg u e transpor as barreiras do elevado crescimento humano e, mesmo assim, consegue gerar renda e emprego a essa popula ç ã o ?

Uma resposta a essa questão foi identificada por

Oliveira e Fonseca (2007), ao afirmarem que a expan são e a ocupação da RMSP, impulsionada pela falta de delimi tação precisa das áreas e na ausência de fiscalização devida, ocorrem principalmente nas APMs. Desse modo, aquelas áreas reservadas a parques, por exemplo, sofreram pequenas baixas. Houve uma inversão de valores nas APMs, os espaços ampliaram-se, principalmente por seu valor de mercado, propiciando a reprodução

138 urbana ilegal em ambientes destinados a manutenção e proteção ambiental.

As áreas irregulares perante a legislação mantêm su as funcionalidades de uso e ocupação destinadas a moradia, em sua maioria, no entanto restringido-se à produção industrial, extrativismo e agropecuária, que, de certo modo, propicia à população a busca de formas alternativas de empregabilidade e geração de renda.

No entanto, medidas que visam sanar a crescente ocupação dessas áreas devem ser repensadas, princip almente no que concerne às áreas residuais de Mata Atlântic a, onde são identificados, ainda, mananciais responsáveis p ela manutenção do bioma, além do abastecimento de água d a região mais populosa do país. A inserção de São Lou renço da

Serra dentro da dicotomia “preservar e desenvolver” é uma situação-exemplo ponderável para essa discussão, principalmente do ponto de vista de sua vulnerabilidade social 1 .

4.2.2 Geração de renda em São Lourenço da Serra: um município de prestação de serviços simples

1 Conceito melhor apresentado no decorrer da pesquisa 139 O fato de pertencer integralmente à APMs condiciona São

Lourenço da Serra a buscar alternativas específicas para geração de renda e emprego. Historicamente, sua população tem n o extrativismo a base de seu desenvolvimento, seja pelas extintas olarias (produção de tijolos e telhas), seja pelo corte da floresta para a obtenção do carvão. Porém, à medida que o mu nicípio se converge para prestador de serviços, principalmente aqueles destinados aos sítios e chácaras de veraneio, a tradicional atividade familiar de subsistência dá refúgio a uma condição de prestador de mão-de-obra, mas ainda com o traçado familiar, já que muitas famílias ainda se mantinham nos povoados.

Apesar da pequena discussão quanto à real potencial idade econômica de São Lourenço da Serra, o artigo publicado no jornal local confirma os fatos mencionados quando afirma q u e:

O grande número de chácaras e sítios de lazer e recreio, propriedades de pessoas que moram em outras localidades e que chegam a duplicar a população durante os finais de semana, feriados e época de férias, assim como os inúmeros turistas qu e chegam até os pesqueiros da região, são indícios evidentes do potencial turístico de São Lourenço da Serra. A exuberância das matas e a beleza dos seus muitos rios, riachos e córregos, fazem do município um dos locais mais propícios para a prática de ecoturismo, sobretudo se levar em conta a pouca distância que o separa de São Paulo [...]JORNAL SÃO LOURENÇO EM MANCHETE, 30/01/05

O baixo valor das terras, a presença de uma paisagem preservada e a proximidade com o centro econômico p ermitiram que houvesse a entrada maciça de moradores de outras partes da

RMSP, destinados a adquirir pequenas porções de terra para o

140 estabelecimento de casas de veraneio onde residiram aos finais de semana, feriados e férias.

A condição de venda desses lotes se dá no instante em que o rigor da ocupação e uso dos solos para o corte na floresta nativa e a extração da argila, por exemplo, promoveriam a modificação na condição de vida da população residente, que se vê obrigada a buscar outras fontes de renda.

A produção familiar é substituída por atividades diversificadas, entre as quais o emprego nas cidades próximas, exigindo o deslocamento, ou há o surgimento do pres tador de serviços (caseiro, jardineiro) para os novos morado res, responsáveis pela característica turística de São Lourenço da

Serra 2 .

Apesar das mudanças na forma de vida da população, a grande parcela manteve seu ritmo de vida, buscando fontes alternativas para a manutenção da renda, sejam o aluguel dos sítios por temporadas ou atividades recreativas como “pesq ue e pague”, agregadas à produção agrícola de subsistência.

CABRAL Born (2009) afere semelhante abordagem ao apontar que:

2 Algumas informações foram apresentadas segundo rela tos da população, já que não há registros históricos e tampouco geográficos de como vivia a população são lourençana antes de sua emancipação p o l í t i c a . 141 As áreas periféricas metropolitanas são vistas ora como “reservatórios” de natureza-e por isso se estabelecem leis que restringem a ocupação do território, para evitar atividades poluidoras ou degradadoras do ambiente-e ora são tomadas como reserva para expansão urbana e industrial. Eventuai s atividades rurais tradicionais entram em declínio, e parte do território passa a conviver com novas formas de ocupação: sítios de lazer, moradia temporária ou permanente (em habitações ou núcleos esparsos), pesque-pague e outros empreendimentos recreativos (p.20).

A partir daí, a característica predominante da empregabilidade são lourençana é a prestação de serviços simples

(casas de materiais de construção e produtos agropecuários, lojas de confecções e moveis, mercearias, bares, pastelarias entre outros), sempre na perspectiva de atender a população flutuante, a qual não reside e que passa temporadas nas casas de veraneio, somadas à população residente na sede do município, que viu uma nova perspectiva de lazer, não necessitando do deslocamento para as cidades vizinhas. Dessa forma, há uma diversificação de mecanismos de geração de riqueza e renda, entretanto com o predomínio da prestação de serviços básicos que dep endem, de certa forma, da rotatividade populacional existentes em face do potencial turístico.

No que diz respeito ao segmento geradores de emprego, a

TABELA 05 comprova a importância das atividades terciárias e de serviços no valor de riqueza acumulada pelo municíp io .

142 2 0 02 2 0 03 2 0 04 2 0 05 Serviços 86,32 87,53 85,21 84,8 I ndús tri a 11,21 10,52 12,64 13,67 Agropecuária 2,47 1,95 2,15 1,53 TABELA 05 - Participação dos setores da economia no total do valor adicionado, São Lourenço da Serra 2002-2005 Fonte : Seade, 2008.

É nítida a imponente participação do setor de serv iços na parcela da riqueza do município, apesar de certo crescimento do setor industrial no biênio 2004/2005, causado principalmente pela participação das atividades extrativas minerais.

Entre os dilemas da geração de renda são lourençana está o da sua notória dependência para com as atividades terciárias e o fato desta condição ser algo de suma complexidade p ela estrutura que esse setor da economia determina na geração de suas riquezas.

Literalmente há uma participação preponderante do s etor de serviços, respondendo por quase 90% do valor acumul ado das riquezas nos últimos seis anos.

Em contrapartida, o segmento indústria teve um crescimento extremamente elevado dentro da distribuição do PIB municipal, incomum pelo fato de a região apresentar poucos investimentos nesse segmento, e em partes determinado pelo engessamento provocado pela presença da lei de prot eção aos mananciais. Essa ascensão é justificada parcialment e pelos investimentos na extração de água mineral, que aten dem demanda crescente da RMSP.

143 A presença de indústrias é um fator à parte no contexto econômico de São Lourenço da Serra, pois o número d e estabelecimentos considerados é mínimo e ainda vinculado às indústrias de transformação, quase sempre considerad as n ão - metálicas (alimentos, madeira). No entanto, as ativ idades vinculadas à extração mineral tem representado papel fundamental na geração de renda. Apesar da legislação regulamentadora, diversas empresas viam-se estabelecidas anteriormen te à lei das

APMs ou encontravam-se em processo de obtenção de l avra, que lhes garantiriam a exploração.

A n o Requerente Fase do Processo Substância

WHITE CLAYTECH 1 9 4 6 Concessão de lavra C a u l i m MINERAÇÃO LTDA REAGO INDÚSTRIA E 1 9 6 8 Concessão de lavra G n a i s s e COMÉRCIO LTDA MINERADORA SÃO Água 1 9 7 8 Concessão de lavra LOURENÇO DA SERRA M i n e r a l MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 1 9 7 8 C a u l i m MARTINS LTDA c o n c e s s ã o MINERAÇÃO AMILCAR 1 9 7 8 Concessão de lavra A r e i a MARTINS LTDA RADESCO MINERAÇÃO Água 1 9 9 6 Concessão de lavra L T D A m i n e r a l RICARDO FRANCISCO Autorização de Água 2 0 0 0 PEREIRA CIMINO p e s q u i s a m i n e r a l Requerimento de Água 2 0 0 0 DEUZIR MARTINS p e s q u i s a m i n e r a l MINERAÇÃO AMILCAR 2 0 0 0 Disponibilidade C a u l i m MARTINS LTDA EXTR DE AREIA E Requerimento de 2 0 0 1 PEDREGULHO NOSSA A r e i a licenciamento SENHORA DE FÁTIMA MINERAÇÃO AMILCAR Autorização de Água 2 0 0 1 MARTINS LTDA p e s q u i s a m i n e r a l Autorização de 2 0 0 1 ELIDIO PEREIRA MARTINS C a u l i m p e s q u i s a Autorização de 2 0 0 1 JOÃO PEREIRA MARTINS C a u l i m p e s q u i s a MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 2 0 0 1 C a u l i m MARTINS LTDA p e s q u i s a MINERAÇÃO AMILCAR Autorização de Água 2 0 0 1 MARTINS LTDA p e s q u i s a m i n e r a l 144 MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 2 0 0 1 C a u l i m MARTINS LTDA p e s q u i s a Requerimento de Água 2 0 0 1 JAYME ALIPIO DE BARROS p e s q u i s a m i n e r a l MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 2 0 0 1 C a u l i m MARTINS LTDA p e s q u i s a MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 2 0 0 1 C a u l i m MARTINS LTDA p e s q u i s a MINERAÇÃO AMILCAR Requerimento de 2 0 0 1 C a u l i m MARTINS LTDA p e s q u i s a QUADRO 03 – Relação dos processos ativos para a exploração mineral em São Lourenço da Serra, 2002 Fonte : IPT, 2002, p.56.

Conforme se observa no QUADRO 03, há um número elevado de processos de exploração mineral, princip almente água mineral, caulim e areia, mesmo com a regulamentação ambiental.

Elucida-se a participação da indústria mineral no contexto do PIB.

Apesar dos valores modestos, são apreciáveis do pon to de vista de uma variável acumulação de renda, já que o município apresenta aspectos econômicos diversificados.

Contudo, já realçando o discernimento da ocupação em

áreas de proteção aos mananciais, o relatório do In stituto de

Pesquisas Tecnológicas (IPT), produzido para o estabelecimento do

Plano Diretor de São Lourenço da Serra, aplica a necessidade do zoneamento da ocupação e uso do solo do município, ainda mais do ponto de vista de inibir a exploração ilegal, dentre os quais os destinados à extração mineral. Seriam as chamadas Zonas de Uso

Disciplinado (ZUD), estipuladas junto às empresas mineradores em operação, que podem sofrer expansões de acordo com o convencionado pelo Plano, serão assim áreas compatíveis com atividades da indústria mineradora.

145

FIGURA 21 – Área destinada a Zona de Uso Disciplinad o (ZUD), proposto pelo Plano Diretor, Mineradora Amíl car Ma rtin s Fonte : Oliveira, 2004, p.171.

Na mesma linha de abordagem, e observando o valor adicionado na riqueza do município, os postos de emprego vão claramente estar condicionados à categoria de prest ação de serviços. Por meio da TABELA 06, reconhece-se esse processo pelo número de empregos formais associados à quantidade d e estabelecimentos, além da renda média de cada categoria. Os dados foram obtidos por meio da Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e se baseiam na documentação oriunda do processo de contratação e, por conseqüência, relacionam-se ao montante de empregos formais ocorridos em um determinado período de tempo.

Observa-se de imediato a participação dos serviços n a geração de emprego de São Lourenço da Serra, bem como a desproporção entre os demais segmentos econômicos. Assim, apresentando 4.838 empregos divididos em 1.130 estabelecimentos, 146 a condição de geração de renda e emprego está fortemente determinada por essa categoria de emprego.

Essa condição está vislumbrada pela característica predominante das relações econômicas constituídas p elo município frente aos aspectos de sua paisagem natural; principalmente pelo incipiente turismo, ainda desconhecido pela grande parcela da população e que poderia resultar maior volume de em prego e geração de renda.

No entanto, apesar dessas atividades estarem sugestionadas indiretamente ao turismo, observa-se que há uma gama diversa de empregos associados à prestação de serviços, mesmo aqueles sofisticados em que a especialização profissional é determinante e a média salarial é elevada. Por outro lado, há uma numerosa fatia dessa categoria em que para empregab ilidade, a escolaridade e a especialização profissional não são determinantes, permitindo a agregação de um grupo com maior número de empregos, e em contrapartida os salários são menores .

Empregos Salário Total de M é di o

f o r m a i s estabelecimentos ( R$ )

Administra ção Pública Direta 600 2 1.210,01 e Autárquica Agricultura, Silvicultura, Criação de Animais, 68 34 693,77 Extrativismo Vegetal Comercio (varejista e 577 395 873,08 atacadista) Indústrias de transformação (produtos minerais não 557 93 1.125,31 metálicos, couro, vegetai s , madeira etc.) 147

Serviços 4838 1130 679,69 Serviços Industriais de 63 2 1.392,48 Utilidade Pública Extrativa Mineral 18 4 1.053,98 Construção Civil 123 25 1.075,52 M é di a Total 6844 1685 793,56 TABELA 06 – Número de empregos formas e total de es tabelecimento empregadores de São Lourenço da Serra, 2008 Fonte : Ministério do Trabalho e Emprego, 2009

Conforme a tabela, as médias salariais mais elevad as estão condicionadas às funções empregatícias, nas q uais, de alguma forma há qualificação profissional ou há alguma forma de especificidade. Entretanto, a desproporção salarial no montante total dos serviços, caracterizada pelo grande número de empregos, gerará um salário médio reduzido em face da baixa qualificação dessas atividades produtivas.

Nessa perspectiva, nota-se que a administração pública também responde por parcela importante da geração de renda e emprego do município. Apesar dos dados do RAIS divergirem daqueles fornecidos pela prefeitura municipal, em pesquisa de campo (cf FIGURA 21) 1 , a prefeitura municipal torna-se o maior estabelecimento contratante. Esse fluxo empregatíci o é determinado por questões políticas e esses números são, de certa forma, variáveis.

1 A FIGURA 21 foi obtida por meio da tabulação dos d ados apresentados pela prefeitura e pelo IBGE, mas diver gem do apresentado pelo TEM. Reconhece-se que algumas atividades reali zadas pelo Poder Público para geração de emprego, também são contabi lizadas, entre elas a Frente de Trabalho, o que justificaria a variação dos valores entre as fontes de dados. 148 1200 988 1000

800

600 490 400 314 352

Nº de funcionários Nºde 200

0 2001 2002 2004 2005 ano

FIGURA 22 – São Lourenço da Serra: total de funcionários do funcionalismo publico municipal em 2001, 2002, 2004 e 2 00 5 Fonte : Pesquisa Direta, 2007.

Ainda por meio da TABELA 06 permite-se averiguar distinções fundamentais no que diz respeito à média salarial dessas categorias de emprego, inclusive com ênfase no seto r de administração pública, um dos mais elevados, em média três salários (R$1.210,01). Já os trabalhadores do setor de serviços estão na faixa de um salário e meio (R$679,69). No entanto, cabe perceber que os dados até agora apresentados referem-se ao total de empregos formais, não relevando o subemprego e as taxas de desemprego.

Reafirmando esse descompasso, tomou-se como referên cia as ocupações com maior número de empregos, entre os prestadores de serviços e obteve-se a tabela abaixo:

149 Total de Salário médio O c u pa ç õ e s e m pr e g o s ( R$ ) Faxineiro 1342 405,33 Copeiro 890 421,49 Porteiro 471 673,05 Auxiliar de escritório 312 742,82 Instalador elétrico e telefônico 200 747,25 TABELA 07 - Ocupações com maiores estoques e o resp ectivo salário médio, 2007 Fonte : Ministério do Trabalho e Emprego

Analisa-se que a diversidade de ocupações do setor de prestação de serviços, associados à ínfima remuneração, exercem forte poder para justificar a inexpressiva renda média de São

Lourenço da Serra. Comprova-se essa questão ao perceber-se que, entre as diversas atividades existentes, as mais numerosas não apresentam qualificação profissional e tampouco est ão associadas a elevada escolarização. E essa questão é notória no instante que se volta à percepção para média salarial do município, próxima a dois salários mínimos (R$793,56) e, que apresenta queda quando comparada aos salários médios das duas principais funções, em total de empregos gerados: faxineiro e copeiro. Ass im, a renda média alterna-se para pouco menos de um salário (R$405,33) e pouco maior que um salário mínimo (R$421,25), respectivamente.

Os aspectos de “cidade turística” 1 , ainda pouco explorados, respondem pela predominância desses pos to de trabalho. A existência de inúmeros estabelecimentos de recreação, lazer e diversão (chácaras, sítios e afins) pertencentes ao residente na grande cidade, e que usufruem dessa característi ca local,

1 O uso desse termo visa explicar um aspecto que é ex plicado pelos dados, mas que não é visto pelo Poder Público e tão pouco pela população, que não associa essa forma de empregabil idade ao turismo. 150 respondem pela geração de emprego dessa população, ao contratar a mão-de-obra local para realizar atividades de man utenção desses l o cais .

A base de dados para essa comprovação é incerta; em contrapartida, não há estabelecimentos, sediados no município, que produzam tal número de empregos, permitindo que se encaminhe para a lógica: o setor de prestação de serviços, responde, sem dúvida alguma, pela geração de renda e emprego em S ão Lourenço da Serra. E os elementos que comprovam a origem des sa característica são visíveis, ainda mais quando se p ercebe a infinidade de estabelecimentos comerciais que atend em esse público flutuante que se espalha nos mais distantes pontos do município.

O QUADRO 04, a seguir, obtido também do RAIS, refere-se ao censo demográfico de 2000 e reforça a controversa geração de renda são lourençana, quando enfoca o to tal da

População Economicamente Ativa (PEA) ocupada e desocupada e a distinção entre o número de trabalhadores formais e informais.

T o t a l População residente (2000) 1 2 1 9 9

População Economicamente Ativa - PEA 5239

PEA - Ocupada 4 0 1 3 PEA - Desocupada 1 2 2 6

Trabalhadores Formais ( empregados com carteira, militares 1 4 9 3 e estatutários) Trabalhadores Informais ( empregados sem carteira e os 1 4 9 9 conta-própria

151 QUADRO 04 – São Lourenço da Serra: População reside nte, economicamente ativa e trabalhadores formais e info r m a i s . Fonte : Ministério do Trabalho e Emprego - MTE

Identifica-se que, mesmo não sendo compatível com a atual população, hoje próxima as 17.000 habitantes, é possível identificar que as estimativas dão conta de que 42% da população do município está na faixa considerada economicamen te ativa

(5.239 habitantes); desse valor, 76% encontra-se efetivamente ocupada (4.013 habitantes), porém a variação do núm ero de empregos formais e informais é idêntica, o que nos permite comprovar que há realmente uma numerosa população o cupada, mas não privilegiada com o reconhecimento do Estado, seja enquanto

índices, ou pelos direitos trabalhistas.

Extrai-se da análise dessas informações que a empregabilidade em São Lourenço da Serra está literalmente determinada pelas atividades terciárias simples e q ue a grande parcela dessa população está empregada em setores com remuneração baixa. Mas como explicar as áreas de vulnerabilidade social, apontadas pelos órgãos do estado com base no censo de

2 0 00?

4.2.3. A questão da vulnerabilidade social na RMSP: o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPRS)

152 A resposta à questão é notadamente baseada na baix a renda obtida pelas atividades empregatícias de gran de parcela da população. Na verdade os dados, mencionados pelo MTE dão conta do número de empregos gerados por segmento, inclusi ve com admissões e demissões de uma mesma atividade, ou seja, refere-se ao total de empregos gerados naquele setor e não necessariamente ao total de pessoas ocupadas.

Desse modo, fazendo jus a essa instabilidade na geração de emprego em São Lourenço da Serra, nota-se que es sa população está concentrada em determinadas porções do município e apresentam dilemas sociais específicos ao se concen tram em espaços propensos à chamada vulnerabilidade social.

Nos diversos ambientes da RMSP, a segregação sócio- espacial tem demonstrado como se compõe a população conforme a oferta de empregabilidade e renda gerada e, conseqü entemente, a sua condição de qualidade de vida. Assim, tais espaços estarão espelhados no processo ao qual se deram essas relações sociais.

Como já se sabe, à medida da desfragmentação indust rial e a reestruturação da RMSP, esses locais se consolidaram, e atualmente vislumbram o resultado da espacialidade econômica propiciado pelo dinamismo econômico da metrópole pau lis t a.

Desse modo, entender como se desenrolam as relações nesses espaços possibilitam compreender melhores alternativas, e que amenizem o dilema social, que impregna e transforma a

153 expectativa de vida da população que convive nesses espaços contraditórios.

Nessa perspectiva, o Índice Paulista de Vulnerabili dade

Social (IPVS) é uma ferramenta interessante que ajuda a compreender essa complexa relação. O IPVS consiste em uma metodologia de interpretação dos dados censitários no qual se reconhece tendências e características que permitam elencar problemas sociais recorrentes de um determinado grup o populacional. Baseado nos distritos censitários est abelecidos pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPVS foi promovido pela Fundação SEADE e emerge como uma ten tativa de identificar situações-problema não possibilitadas pelo IPRS (já discutido no Capítulo 3).

As variáveis utilizadas codificam possibilidades d e manejo e planejamento urbano, que visam sanar problemas como escolaridade, moradia, emprego, saúde, entre outros, tornando-se ferramenta indispensável na gestão pública.

[...] esse novo indicador permitir ao gestor públic o e à sociedade uma visão mais detalhada das condições de vida do seu município, com a identificação e a localização espacial das áreas que abrigam os segmentos populacionais mais vulneráveis à pobreza, incorpora ao sistema de indicadores de desenvolvimento, iniciado com o IPRS, mais um instrumento para a avaliação das políticas públicas [...] SEADE (2007).

A obtenção dos dados reflete na situação sócio- econômica do grupo familiar, considerando variáveis que reflitam a graduação dos níveis de qualidade de vida, observan do-se número 154 de residentes, quantidade de menores, idade do chefe familiar, renda familiar, qualidade da residência além de div ersos outros d ado s.

O IPVS foi conduzido e produziu seis variáveis; conforme a Metodologia da pesquisa, está relacionad a a maior ou menor intensidade do fator sócio-econômico, conform e o QUADRO

0 5 .

Grupo/Vulnerabilidade A s p e c t o s

Engloba os setores censitários em melhor situação socioeconômica (muito alta), com os responsáveis pelo domicílio possuindo os mais 1. Nenhuma elevados níveis de renda e escolaridade., tendem a ser mais velhos e com menor presença de cria nças e de moradores nos domicílios. Em termos da dimensão socioeconômica 2. Muito Baixa (média ou alta), nessas áreas concentram-se, em média, as famílias mais velhas. Formado pelos setores censitários que se classificam nos níveis altos ou médi os da 3 . B a i x a dimensão socioeconômica e seu perfil demográfico caracteriza-se pela predominância de famílias jovens e adultas. Composto pelos setores que apresentam níveis médios na dimensão socioeconômica. Nesses 4 . M é di a setores concentram-se famílias jovens, i sto é, com forte presença de chefes jovens (com menos de 30 anos) e de crianças pequenas. Engloba os setores censitários que possuem as piores condições na dimensão socioeconômica (baixa), estando entre os dois grupos em que 5 . Al t a os chefes de domicílio s apresentam, em média, os níveis mais baixos de renda e escolaridade. Concentra famílias mais velhas, com menor presença de crianças pequenas. O segundo dos dois piores grupos em termos da dimensão socioeconômica (baixa), com grande concent ração de famílias jovens. A combinação entre chefes jovens, com baixos 6. Muito Alta níveis de renda e de escolaridade e presença significativa de crianças pequenas permite inferir ser este o grupo de maior vulnerabilidade.

155 QUADRO 05 – Grupos de vulnerabilidade social, IPVS. Fonte : Seade, 2007.

E nessa conformidade, o IPVS foi pensando para tod os os municípios do estado de São Paulo e, quando post o na perspectiva da área administrativa da RMSP, vem realçar os percalços assistidos pela transformação industrial da metrópole ao longo das décadas, ainda mais quando comprova que o s espaços divergem, de fato, à medida que se distanciam da centralidade econômica e quando apontam que as porções marginais tendem a apresentar situações determinadas pelos aspectos predominante de sua paisagem.

156

FIGURA 23 – RMSP: Índice Paulista de Responsabilida de ( I P V S) Fonte : Seade, 2007

157 4.2.4 A questão social: o IPVS e os assentamentos precári os de

São Lourenço da Serra

Dentre os aspectos mencionados no desenrolar dessa pesquisa, deve se atentar para alguns questionamentos relacionados ao real papel do Poder Público enquanto responsável por inibir a questão da baixa renda gerada no município. A outra, por conseqüência é de como possibilitar alternativas ou suprir parcialmente a ausência de empregos e a pobreza de parcela da população são lourençana.

Como visto, na FIGURA 22, os mesmos questionamentos se ampliam à municípios limítrofes, entre esses, alguns se apresentam totalmente vulneráveis socialm ente, como confirma o IPVS. Entretanto, o fato de ser um município com baixa arrecadação financeira em relação aos municípios da região

Sudoeste, conforme TABELA 08, há necessidade de se estabelecer em São Lourenço da Serra alternativas que venham a possibilitar uma renda mínima àqueles grupos familiares em situação social fragilizada.

Municípios PIB (milhões de R$) Renda per capita (R$) São Lourenço da Serra 1 120,58 7.695,71 Juquitiba 182,87 5.850,87 Embu-Guaçu 416,29 5.768,23

1 A renda per capita de São Lourenço está intimament e relacionada a parcela menor de sua população quando comparada aos demais municípios da região. 158 Itapecerica da Serra 2.099,27 12.939,38 Embu “das Artes” 1.944,94 7.910,93 Taboão da Serra 3.183,05 14.121,46 RMSP 450.604,63 22.899,48 Estado 802.551,69 19.547,86 São Paulo 282.852,34 25.674,86 TABELA 08 – Produto Interno Bruto (PIB) e renda per capita dos municípios da região Sudoeste, da cidade de São Paulo, RMSP e estado de São Paulo, 2006 Fonte : Seade, 2007.

O fato de São Lourenço da Serra apresentar uma rend a per capita superior à de Juquitiba e Embu-Guaçu, como visto na

TABELA 08, confirma-se com veemência o desnível socioeconômico entre os municípios da porção Sudoeste, como nas demais áreas periféricas da RMSP. No campo dessa percepção, apresentam-se áreas dispersas por toda a metrópole e que refletem essa destacante vulnerabilidade social.

E por apresentarem renda per capita e PIB distintos, no ta- se a distinção entre porções tão semelhantes do ponto de vista geográfico, mas diferenciadas pelas formas de gestão pública, ou pelos mecanismos de investimento em geração de renda, já que a maior parte dos municípios da região Sudoeste tem em comum a regulamentação da lei das APM’s.

Correlacionar vulnerabilidade social com o fato da determinação da lei de proteção aos mananciais pode ser uma prerrogativa usada por gestores na perspectiva de justificar a necessidade de investimentos nos setores sociais de seus municípios. Entretanto, o caminho a ser medido para essa conformidade também passa pela lógica, já discutida nessa

159 pesquisa, do deslocamento populacional entre os diferentes municípios da RMSP. O novo modelo econômico, estabelecido em

São Paulo, antes industrial, receptor de grande parcela da mão-de- obra e hoje uma metrópole funcional e dinâmica para as atividades comerciais e de serviços, dentro da economia global , requer especialização dessa mão-de-obra, ainda restrita a essa classe social migrante.

FIGURA 24 – Região Sudoeste da RMSP e o IPVS Fonte : Seade, 2007.

Observando a FIGURA 23 não há como deixar de perceber que essas áreas de vulnerabilidade social, em especial a região Sudoeste, apresentam-se com maior intensidad e à medida

160 que os municípios estão distanciados das grandes cidades. Outro fator determinante é a integral inserção dos territ órios desses municípios na APMs, como ocorre a São Lourenço da S erra,

Juquitiba, Embu-Guaçu e Itapecerica da Serra.

Certamente os bolsões de vulnerabilidade social, entre as cidades de grande porte é maior, já que há o reflex o da intensa densidade demográfica nesses municípios. Entretanto, se a percepção é dirigida no sentido de reconhecer a dis posição territorial da vulnerabilidade, Juquitiba efetivamente apresentaria um abismo em relação a esses municípios limítrofes à cidade pólo,

São Paulo. E, dentro da mesma compreensão, São Lourenço da

Serra seguiria a mesma linha de raciocínio, já que contém área propensa a vulnerabilidade bem maior do que Taboão da Serra, que detém uma população quase quinze vezes maior.

Na realidade, apesar de concentrar maior contingente populacional, respeitadas as devidas proporções, os indicadores de muito alta vulnerabilidade (grupo 06) do IPVS expressas em

Juquitiba, Embu-Guaçu e São Lourenço da Serra são merecedores de investigação detalhada, em face da emblemática q uestão da preservação, que condiciona tais municípios a buscar fontes alternativas de geração de renda.

Na mesma linha de abordagem, colaborando para a compreensão das questões sociais de São Lourenço da Serra e os demais municípios da região Sudoeste, outro estudo importante que

161 se soma ao IPVS, é os “Assentamentos precários no Brasil urbano”.

Elaborado pelo Ministério das Cidades, aplica metod ologia semelhante ao IPVS, a qual se baseia na geografia dos distritos censitários, estabelecidos à partir da pesquisa IBGE do ano de

2000. Os “assentamentos” reconhecem dilemas sociais idênticos ao

IPVS, principalmente por constituir um estudo com b ase na tipologia das moradias. O levantamento reconheceu d iversos municípios com assentamentos humanos considerados em regime de precariedade, pertencentes ao ambiente urbano. Dent re os objetivos fundamentais do estudo tem-se o de identificar a real necessidade de projetos de habitação e moradia, para esses muni cípios, sendo que todos aqueles pertencem a região Sudoeste da RM SP, conforme

FIGURA 24.

Ao quantificar, caracterizar e localizar o problema , o estudo tem dois objetivos articulados. Em primeiro lugar, fornecer ao Ministério das Cidades um conjun t o de informações gerais, não apenas organizadas em nível nacional, mas também de forma desagregada, qu e possam servir de base para o processo de decisão relativo às políticas de habitação para assentament o s precários. Essas informações dizem respeito não apenas à quantificação dos moradores e domicílios, mas também a indicadores que permitam comparar os conteúdos sociais das populações que habitam as vár ias situações existentes, e possam embasar tanto a quantificação das políticas quanto a priorização da s ações. Por outro lado, ao fornecer informações desagrega das no nível intraurbano e articuladas no interior de um Sistema de Informações Geográficas, o estudo fornece um importante instrumento de incenti v o ao desenvolvimento das políticas locais pelos municípios, impactando potencialmente desde o planejamento e a implementação das ações até a construção de sistemas de informação locais. MARQUES (2007, p.08).

162 Aparentemente há semelhança quanto à estrutura dos dados em determinados indicadores. Entretanto, a fo rma pela qual os mesmos foram conduzidos e lançados em bases cart ográficas permitiu que houvesse a variação desses índices, principalmente do ponto de vista das interpretações dos dados de cada família.

No que diz respeito à pesquisa, há delimitação estratégica das categorias observadas em campo e agregadas conforme a estrutura das residências e a forma de ocupação.

As sim:

a definição de subnormal se refere a uma classificação de setores censitários, e não de pess oas ou domicílios. O setor censitário é a desagregação mínima de informações dos levantamentos censitários e, embora o seu tamanho varie segundo as condições urbanas, as regiões do país e os recenseamentos, os setores censitários apresentam, em geral, tamanho reduzido, representando uma unidade de análise com homogeneidade bastante razoável. O IBGE define os setores subnormais como marcados por precariedade habitacional e de infra- estrutura, alta densidade e ocupação de terrenos alheios [...]. MARQUES (2007, p.12)

Mas o obvio é a comprovação dos problemas sociais que afligem as áreas distantes do centro econômico, já que os dados apresentam essas como semelhantes. No entanto, o levantamento dos dados dos assentamentos precários permitiu reafirmar a complexa estrutura da moradia da RMSP, principalmente ao redesenhar o perfil das residências, majoritariamente ocupando

áreas irregulares.

163 O propósito da legislação ambiental metropolitana sempre foi o de inibir e atentar-se ao dilema da crescente ocupação irregular, ainda mais pela histórica da ocupação paulistana de seus mananciais. Entretanto, a ausência de controle e regulamentação, acrescida das políticas habitacionais eleitoreiras, fortificaram ocupação de municípios, estrategicamente imprescindíveis à qualidade e manutenção da vida na metrópole ascendent e.

164

FIGURA 25 – RMSP: assentamentos precários, 2007 Fonte : MARQUES (org.), 2007, p. 217

165 Quando colocadas em paralelo para comparação, a FIGURA 22

(IPVS) e a FIGURA 24 (assentamentos precários) confirmam que determinadas porções do tecido metropolitano apresentam uma linear correlação. Porém, os indicadores garantem que, mesmo ocupando grande fração da RMSP, a vulnerabilidade social não obriga os distritos censitários a apresentarem precariedade nos assentamos urbanos, haja vista a enormidade dos espaços classificados como rurais, conforme o índice.

Assim, reforça-se o fato de que prevalecem diversos dilemas sociais que afligem e respondem pela vulnerabilidade social e n ão somente aqueles associados às características das habitações.

Um recorte de análise para a porção Sudoeste, em especial os municípios de São Lourenço da Serra e Juquitiba, permite traçar um paralelo entre os índices, já que, na leitura das figuras, as áreas codificadas são semelhantes e ocupam áreas contíguas idênticas em seus territórios. Se relevado, no caso de São Lourenço da Serra haverá a percepção de distinção dos dados, tanto do IPVS quanto dos assentamentos p recários, quando analisadas suas bases cartográficas, assim como se vê nas FIGURAS 24 e

25, a seguir.

166

FIGURA 26 – São Lourenço da Serra: Assentamos Precá rios Urbanos Fonte : MARQUES, 2007, p. 217

FIGURA 27: São Lourenço da Serra: Índice de Vulnera bilidade Social Fonte : Seade, 2007.

As figuras, quando comparadas, efetivamente permitem consolidar a dinâmica dos aspectos sociais do município de São Lourenço da

167 Serra. No entanto, apesar de expressarem dados semelhantes, o mecanismo de projeção desses indicadores acabam por disseminar, como resultados, situações distintas. Já de início os dados da FIGUR A 24 produzem três específicas áreas, das quais uma está posta entre os assentamentos precários e as demais acabam não se encaixando ao viés desses assentamentos, inclusive por pertencer ao perfil de uma área rural e a terceira como sendo n o rm al .

Contudo, ao se permitir a comparação com a FIGURA 25, notadamente a expressão desses indicadores se contrapõem. O resultado cartográfico dos dados permitiu estabelecer, conforme a analise dos distritos censitários, diferentes usos e ocupação d e São Lourenço da Serra.

Enquanto que, no primeiro momento, a sede do município, porção central das figuras, estava posta entre a categoria de assentamentos urbanos precários, a mesma situação não está vislumbrada na FIGURA 25. Ao contrário, essa porção inclui-se entre as áreas de baixa ou ausente vulnerabilidade social. Como ocorre às demais áreas , o que é visto como assentamento rural, na representação dos dados de p recariedade de moradia, já não se identifica no caso da vulnerabilidade social que, por sinal, é alta e ocupa a maior parte do município e, destacadamente aquelas áreas caracterizadas como rurais.

A lógica dessa comparação possibilita reconhecer q ue apesar de não estar condicionada a vulnerabilidade social – o s distritos censitários pertencentes a sede municipal –, também estão condi cionadas aos dilemas sociais, em específico aqueles referentes a moradia, e inversamente a área rural, que, teoricamente, não se classifica entre os pressupostos da

168 problemática de moradia, mas se destaca pela ínfima projeção de qualidade de vida de seus habitantes.

É claro e evidente que essa distinção entre os dado s parte da lógica dos diferentes grupos sociais que compõem a sede do município. Apesar de estarem acessíveis a toda população, os equipamento s básicos, imprescindíveis a uma qualidade de vida satisfatóri a, ainda persistem no contexto da sede do município. A irregularidade na oferta de áreas propensas à habitação, determinadas pela topografia do município em associação a preservação dos mananciais, torna escassa a oferta de moradia, levando a especulação imobiliária das poucas áreas regulamentadas. Assim, diversos empecilhos problematizam a questão da moradia na cidade e no município com um todo, seja pela ocupação dessas áreas de irregularidade topográfica, sujeitas aos problemas das encostas e cursos d’água, seja pelo fato da vigência da lei preservação aos mananciais, que tem inibido o estabelecimento de espaços residenciais, tanto priv ados como aqueles que poderiam ser promovidos pelo Poder Público.

Os índices de vulnerabilidade social são lourençana presentes na

FIGURA 25 possibilitam referenciar duas áreas de alta vulnerabilidade em que são marcantes os problemas no âmbito do emprego , renda e educação dos grupos familiares. Dentre essas áreas, conforme a figura, estão: a primeira, a leste, limítrofe ao município de Embu-Guaçu; a segunda ao norte, localizada próxima a Reserva do Morro Grande, limítrofe ao município de Cotia, ambas áreas apresentando baixa ocupação populacional e consideradas rurais, conforme levantamento dos as sentamos precários urbanos, e que, mesmo detendo esse vínculo rural, s ão regiões

169 fundamentalmente dependentes da prestação de serviços aos moradores dos sítios de temporada.

O fato dessa aparência fundamentalmente rural ser m arcante e determinante na análise desses dados está condicion ado à determinação dos aspectos da paisagem já apresentados nessa pesquisa e que, ao aliar-se ao distanciamento da sede urbana, classificam-nas como fundamentalmente dependentes da pequena produção agrícola de subsistência, assim como pela sua predominante forma de empregabilidade: caseiros e prestadores de serviços gerais das residências de lazer.

Nessas áreas de expansão urbana, as disparidades s ociais são intensas, assim em aglomerados/bairros como: Fazend a Vitória, Morro

Grande, Jardim da Serra e Triângulo Azul, pertencentes a São Lourenço da

Serra, que têm se apresentado com um dilema para o Poder Público, ainda mais quando identificada a questão da geração de renda e emprego.

E são nesses aglomerados que se observa a atração d e dois distintos públicos: o primeiro tem adquirido pequenas e médias áreas para o estabelecimento de sítios de recreação e descanso, enquanto que o segundo é proveniente de outros municípios da RMSP que, iludidos pela oferta de emprego, em sua maioria de baixa qualificação, estabelecem-se nesses aglomerados pela possibilidade da residência e do s al ário .

4.2.5 As ações públicas mediante as questões sociais de S ão Lourenço da

S erra

170 A problemática social em São Lourenço da Serra representa uma das principais preocupações de seus gestores, confo rme afirmado pelo o ex- prefeito José Merli, em entrevista realizada em ago sto de 2008. Apesar de ser uma situação comum aos diferentes bairros do município, algumas regiões se tornaram marcantes do ponto de vista des sa concentração. As localidades mencionadas na pesquisa estão inseridas dentre essas áreas de maior interesse social. Prova dessa afirmação pode ser efetivamente obtida por meio do levantamento de dados, em pesquisa direta, junto à prefeitura municipal, sem eu setor de assistência social.

As informações tabuladas permitiram diagnosticar a existência de um elevado número de famílias residentes nesses “bairros” e que se encontram em condições de alta vulnerabilidade soci al. Conforme as discussões anteriores referentes ao número elevado de indivíduos residindo na mesma habitação, somadas à precariedade do saneamento básico, o distanciamento e o difícil deslocamento até sede urbana, a constante mobilidade advinda da busca pelo emprego, agregadas à instabilidade do emprego, são condicionantes e agravantes na manuten ção desses ambientes entre os espaços do município com maior vulnerabilidade social.

Assim, segundo a prefeitura municipal, por meio de seu setor de assistência social, reconhece que há uma necessidad e constante de ações mitigadoras que possibilitem sanar esses dilemas so ciais. Por isso, dentre as ações sociais promovidas pelo Poder Público para a minimização dessas questões estão o estabelecimento de cursos de qualificação profissional

(artesanato e panificação, apicultura entre outros), bem como a geração de empregos temporários, dentre os quais se destaca o projeto “Frente de

Trabalho”, que visa atender estas famílias em situação de desemprego. 171 Na mesma medida, os projetos sociais ofertados pelos governos federal e estadual, também se inserem entre as ações mitigadores desemprego. Conforme apontado pelo departamento de assistência social do município, havia em 2007 aproximadamente 1483 famíl ias (10%) vinculadas a algum tipo de auxílio social, seja pelos cursos d e qualificação profissional ou mesmo pelos projetos assistencialistas, dentre o s quais podem ser mencionados o Renda Cidadã e o Bolsa Família . Desse montante, 749 famílias 1 estão cadastradas no Bolsa Família (governo federal) e outras 210 famílias recebem o Renda Cidadã, pertencente ao Gov erno do estado. Ainda merecem destaque os projetos de envolvimento e apoi o a jovens: o Agente

Jo vem , com 30 cadastros, e o Ação Jovem , com cerca de 100 cadastros, sendo o primeiro fomentando pelo governo federal e segundo, pelo governo estadual.

Os critérios definidores dos cadastros de todos os programas são a relação das famílias com a questão social e a baixa renda per capita da família. Dentre os projetos federais, o preenchimento do cadastro segue um estudo e análise próprios, entretanto é conduzido p elo Poder Público local.

No caso do Renda Cidadã , as famílias devem estar inseridas, conforme o

IPVS, em áreas de vulnerabilidade social.

4.2.6 São Lourenço da Serra: alguns indicadores sociais

1 dados atualizados do site do Ministério de Desenvo lvimento Social e Combate á F o me , disponível e m https://www.beneficiossociais.caixa.gov.br/consulta /beneficio/04.01.00- 00_00.asp, acesso em 24 jan 2009. 172 Uma reflexão final a propósito dos indicadores sociais obtidos junto ao Poder Público local permitiu constituir um a analise a respeito do que de fato ocorre a um município de pequeno porte dentro da RMSP e que, ao apresentar algumas distinções específicas, garantem-lhe uma análise especial. De imediato, observa-se que os dilemas so ciais apresentados estão associados à parcela da população e que, entretanto , determina a vida econômica do município, ainda mais na questão da geração de renda e em prego .

Associada a essa conjuntura merece destaque a leitu ra da relação entre escolaridade e empregabilidade, que, juntas, permitem reconhecer a consolidação de uma faixa de população vulnerável as condições sociais determinantes.

Finalizando, os dados apresentados nas TABELAS 09 e 10 e pela

FIGURA 26, esboçam exatamente as características ap resentadas no decorrer desse capítulo.

% de Domicílios em Nome do município Assentamentos Precários São Lourenço da Serra 10,14% C o t i a 5 , 3 5 % Embu 17,44% Embu-Guaçu 4,26% Itapecerica da Serra 21,30% Juquitiba 23,16% São Paulo 12,55% Taboão da Serra 10,91% TABELA 09: Região Sudoeste da RMSP e São Paulo porc entagem de domicílios em assentamento precários, 2000. Fonte : Seade, 2007.

Ao ser comparado aos demais municípios da porção S udoeste da

RMSP, São Lourenço da Serra, está privilegiado, pois apresenta pouco mais de 10% de suas habitações em precariedade; mas cabe ressaltar, como já

173 dito, que a maior parte do território está disposta como assentamento rural ou meramente áreas normais. Entretanto, em contrap artida, o Poder Público local considera que há nesses locais elevado número de famílias em estado de precariedade social. O fato de muitas famílias residirem em habitações de terceiros, prestando serviços diversos, permite a compreensão de que há uma parcela dessa população assentada em ambiente propí cio a melhor qualidade d e v id a.

% no % no Grupos Vulnerabilidade M uni c í pi o E s t a do 1 N e n h u ma 0 6 , 9 2 Muito Baixa 7 , 1 2 3 , 3 3 B a i x a 4 , 4 2 2 , 2 4 M é d i a 1 1 , 8 2 0 , 2 5 A l t a 7 2 , 2 1 7 , 6 6 Muito Alta 4 , 4 9 , 8 TABELA 10: São Lourenço da Serra: porcentagem dos g rupos de vulnerabilidade social (IPVS), em comparação ao Est a d o , 2 0 0 0 Fonte : Seade, 2007.

Já no que diz respeito ao IPVS, os dados são mais alarmantes, ainda mais quando postos em comparação à média estadual. O município encontra-se superior à média nos grupos de alta e m uito alta vulnerabilidade social e não apresenta famílias sem nenhuma vulnerabilidade. Ao contrário dos assentamentos precários, a analise do IPVS é sensível em reconhecer o conjunto social das famílias e promove, com eficácia, o reconhecimento das

áreas propensas aos dilemas sociais, pois as consid era como fundamentalmente aptas a atingirem patamares sociai s grav es.

174

FIGURA 28 – Domicílios com infra-estrutura interna urbana, 2000

Fonte: Seade, 2007.

Dessa forma, esses fatos efetivamente conotam a necessidade urgente e eficaz de conduzir medidas capazes de minimizar e extinguir a propensa vulnerabilidade social desses assentamentos precários, ainda mais pelo fato do município encontrar-se aquém de um pad rão social básico, como observado na FIGURA 26, e estar em percurso para linha de pobreza em ascensão.

175 II. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dadas as abordagens levantadas nessa dissertação, concluiu-se que á primeira vista, ao observar a paisagem, tem-s e como premissa pré-conceitual a imagem de uma periferia urbana de abandono e descaso, ou de imediato vem a percepção de desordem ou caos, proporcionada pela condição em que se ergueram esse s locais.

Historicamente, as áreas industriais foram extremam ente alteradas, e a condição de vida em sociedade tornava esses ambient es propensos a conflitos sociais graves.

Na tentativa de não propiciar essa condição uma via de regra, ou um transformar esse fato em um aspecto característi co e preponderante, o foco desse debate permitiu observa r uma realidade distinta do seio da RMSP. Desse modo, percebeu-se, dentre outras abstrações, que os municípios da região sudoeste da RMSP, sejam eles:

Juquitiba, São Lourenço da Serra, Itapecerica da Se rra, Embu, Embu-

Guaçu e Taboão da Serra sentiram fortemente o peso do processo de desfragmentação industrial, ao longo das décadas de 1980 e 1990, e em razão dessa dinâmica tiveram em sua organização esp acial um somatório de alterações do ponto de vista sócio-eco nômico. Essa excessiva concentração populacional, vislumbrada a partir desse instante histórico, configurou a esses ambientes um a nova paisagem,

176 basicamente destinada a habitação e a presença de u ma intensa mão- de-obra, operária em um primeiro momento.

Á medida que a condição industrial de São Paulo é a lternada para um espaço privilegiado pelos serviços, promoveria i ntensas modificações na paisagem metropolitana. Por essa ló gica, tais municípios ganhariam importante status de fornecedo res de mão-de- obra de baixa qualificação para a cidade de São Pau lo, e á medida, que se valoriza essa condição de empregabilidade, os lo teamentos urbanos, se ampliariam de modo a assentar essa população, em espaços afastados e ausentes de uma condição mínima de urba n i z a ç ã o .

Pela pesquisa, notou-se de fato, que o crescimento demográfico, permitido pelo sistema industrial, ocuparia grande parcela da franja metropolitana, concomitantemente ao instante da des centralização industrial paulistana, num processo que desencadear ia, o boom demográfico, alcançado por Taboão da Serra, Embu e Itapecerica d a

Serra, principalmente e, que promoveria no mesmo pr ocesso a ocupação das demais localidades, distantes da rede metropolitana, no caso serão os municípios de São Lourenço da Serra, Juquitiba e Embu-

Guaçu, integralmente localizados na ponta da rede m etropolitana que se constituía.

Fundamentalmente, á medida, que o transporte públic o, torna-se peça imprescindível interação metropolitana, esse e ixo de ligação entre esses pólos de crescimento se intensificaria, e apesar da atuação do governo estadual como regulamentador dessa prest ação de serviços, a lógica da gestão metropolitana permaneceria apena s nas discussões

177 de sua regulamentação, ainda nos primórdios do esta belecimento da

RMSP, década de 1970. É notório que a oferta de via s de acesso e de transporte interurbano teve papel preponderante na ocupação dessa periferia metropolitana.

Além do mais o custo de vida mais acessível a essa massa trabalhadora, permitiu o seu estabelecimento nesses espaços segregados da centralidade urbana, somam-se a isso, fatores como, oferta de loteamentos de baixo custo, ou mecanismos de autoconstrução em áreas irregulares, como ocorre em áreas de proteção aos mananciais. Tais características se agregariam como condição para a estabilização nesses ambientes.

Entretanto, essas características tornar-se-iam o dilema do Poder Público, no que tange a governança.

O desfragmentado sistema de ocupação inibiria a ent rada de estabelecimentos industriais e/ou comerciais responsáveis pela geração de emprego e renda. As restrições ambientais, como as áreas de proteção ambiental, também dificultariam a administração da máquina pública, fazendo desses municípios dependentes apenas de receitas fiscais provenientes do estado e ou da União.

Nesse perfil encontra-se o município de São Lourenç o da Serra, que apesar da sua dependência histórica direta a It apecerica da Serra e indiretamente a São Paulo, sua construção foi e con tinua sendo um embate aos seus cidadãos. Apesar da já apresentada história de emancipação política, ainda há, a propósito, uma ce rta discussão quanto a auto-suficiência econômica do município, j á que parcela da mão-de-obra empregada é proveniente da administraçã o pública direta,

178 e de um número substancial da população empregada e m atividades de prestação de serviços, consideradas geradores de me nos riqueza.

Em outra abordagem o município conta com um grande manancial, e usufrui de uma paisagem pouco alterada, e propici a as atividades de ecoturismo e geração de renda alternativa (artesana to, áreas de lazer, recreio e contemplação). Entretanto, conforme se an alisou, há ainda uma escassa especialização e capacitação tanto dos gestores públicos como da mão-de-obra, no que tange a essas opções de geração de r e n d a .

Sabe-se que os atributos de valorização econômica p or meio da paisagem natural ainda não são vistos com bons olho s pela sociedade em geral, talvez por isso um necessário trabalho de “venda” do município para seus cidadãos. Uma outra possibilida de se faz, e é extremamente necessária diz respeito a ausência de um zoneamento específico de uso e ocupação de solos. Na conformid ade da legislação permitiria a instalação de empresas não poluidoras, seja no eixo da rodovia Régis Bittencourt - principal interligação com os demais municípios -, que tende a ser ainda mais valorizada face a construção do Rodoanel – Trecho Sul. E ainda somam-se a isso o s possíveis benefícios de sua privatização, pois a torna opção de fluxo para o transporte de mercadorias e pessoas no centro-sul d o país. Além do mais, existem, dentro do município, outras áreas de densa ocupação, propicias a instalação de empresas geradoras de ren d a .

Percebeu-se pela pesquisa, que muitas das preocupaç ões levantadas não tiveram condições de aprofundamento, pois gerariam

179 um volume de reflexão ainda mais complexo. O fato d e São Lourenço da Serra assentar-se em áreas de proteção aos manan ciais, e tornar-se assim uma região propensa ao abastecimento de água da RMSP, o capacita como outros municípios, como responsáveis por um papel fundamental na qualidade de vida da região.

Além do mais são obscuras as leituras que debatem a idéia de desenvolvimento sustentável, apesar de teoricamente ser considerada viável, na prática o torna improvável de ser usufru ído, já que o grande dilema dos municípios, como São Lourenço da Serra é propiciar, no mínimo, os elementos básicos de uma qualidade de vi da para seus munícipes.

Apesar de tudo, algumas discussões, no que refletem esse debate, já são vistas pelo município, sejam elas acometidas pelo Poder

Público, ou pela sociedade civil organizada, como é o caso da ONG

Vitae Civilis, que apesar de agir áreas isoladas te m propiciado projetos e ações que almejam provocar nos munícipes seu papel dentro da geração de riqueza do município.

Por fim, a realidade vigente tornou São Lourenço da Serra um município emancipado e a razão disso é um fato dete rminante em sua atuação condição econômica. Mesmo sendo dependente da lógica metropolitana, permanece no seio da sociedade local uma necessidade por geração de renda e emprego, já que se comprovou a baixa renda de seu grupo familiar, e a razão disso vincula-se aos aspectos econômicos estabelecidos pela região á medida de sua ocupação.

180 Notadamente, em via de regra São Lourenço da Serra apresenta um potencial específico para geração de renda e emp rego para seus cidadãos, entretanto está determinação ainda é pass ível de uma modelação. E nesse caso cabe ao Poder Público, como gestor, estabelecer uma normatização para os investimentos dentro de sua faixa territorial, principalmente no que tange inve stimentos sociais, seja na educação básica e profissional e no atendim ento das populações que habitam trechos de intensa vulnerabi lidade social.

Resumidamente, podem-se considerar as seguintes pro posições sobre a inserção de São Lourenço da Serra na Região Metropolitana de

São Paulo no que diz respeito a geração de emprego e r e n d a :

1 . A constituição de São Lourenço da Serra como municí pio

integrante da RMSP segue um preceito político-admin istrativo

vigente em plena década de 1970, e que foi mantido pelo lógica

regional do governo estadual, e que no mecanismo de

governabilidade não se apresenta integrado.

2 . A constituição de São Lourenço da Serra como os dem ais

municípios da região sudoeste da RMSP, tem forte vi nculo com

os aspectos extrativistas oriundos da colonização e da ocupação

migrante do século XX, principalmente pelo migrante j a p o n ê s .

3 . A desfragmentação metropolitana determinada pelo de slocamento

industrial permitiu que os municípios da franja met ropolitana

passassem a serem receptores de população desalojad a da

centralidade urbana de São Paulo.

181 4 . Seguindo uma escala regional, o crescimento alcança do por São

Lourenço da Serra nos últimos anos esteve determina do pelo

deslocamento de massa populacional proveniente de m unicípios

circunvizinhos, e que agregaram esse crescimento an teriormente

pelo deslocamento do eixo industrial.

5 . Notou-se que apesar da oferta de vias de acesso par a o pólo

central, São Paulo, aliados as facilidades do trans porte público

os municípios distantes da rede metropolitana apres entaram um

crescimento diferenciado permitido pelo deslocament o regional,

como aconteceu com Itapecerica da Serra e São Loure nço da

S e r r a .

6 . O crescimento populacional de São Lourenço da Serra acontece

de forma específica, gerando um nível de vulnerabil idade social

permitido pelo estabelecimento de aglomerações nos pontos mais

frágeis do perímetro urbano municipal.

7 . A geração de renda e emprego local esta determinado

principalmente pela oferta de serviços básicos, e e m grande parte

atrelados á característica de lazer e recreação dos

estabelecimentos residenciais espalhados ao longo d o município.

8 . A inserção do município integralmente em área de pr oteção

mananciais permite duas percepções: primeiro, pois, restringe

determinados usos comerciais e industriais, em face da

preservação dos mananciais; e em segundo, por torna r o

município um receptor de atividades de recreação e contemplação

da paisagem, nesse caso efetivamente já apresenta d e m a n d a .

182 9 . Os projetos já desenvolvidos que visam estabelecer relação entre

a exploração da paisagem natural e a geração de emp rego e renda

agem isoladamente ao longo do município, nesse caso pela

iniciativa priva e o terceiro setor (ONG’s).

10.Há de fato uma real necessidade do empenho do Po der Público

local, enquanto gestor, de estabelecer, com a sua p opulação, a

definição econômica do município, na perspectiva de sanar os

grandes dilemas de geração de renda e emprego, e as sim,

diminuir a onipresente segregação e vulnerabilidade de sua

população.

183 III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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188 VI. ANEXOS

189 A N E X O 1

LEI N.º 898, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1975

Disciplina o uso do solo para a proteção dos mananc iais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da Região Metropolitana da Grande São Paulo e dá providências correlatas.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e e u promulgo a seguinte lei:

Artigo 1º - Esta Lei disciplina o uso do solo para a proteção dos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos h ídricos de interesse da Região Metropolitana da Grande São Paulo, em cumprimento ao disposto nos incisos II e III do artigo 2º e inciso VIII do artigo 3º da Lei Complementar n.º 94, de 29 de maio de 1974.

Artigo 2º - São declaradas área de proteção e, como tais, reservadas, as referentes aos seguintes mananciais, cursos e rese rvatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da Região Metropoli tana da Grande São Paulo:

I - reservatório Billings;

II - reservatórios do Cabuçu no Rio Cabuçu de Cima, até a barragem no Município de Guarulhos;

III - reservatórios da Cantareira, no Rio Cabuçu de Baixo, até as barragens no Município de São P a u l o ;

IV - reservatório do Engordador, até a barragem no Município de São Paulo;

V - reservatório de Guarapiranga, até a barragem no Município de São Paulo;

VI - reservatório de Tanque Grande, até a barragem no Município de Guarulhos;

VII - Rios Capivari e Monos, até a barragem previst a da SABESP, a jusante da confluência do Rio Capivari com Ribeirão dos Campos , no Município e São P a u l o ;

VIII - Rio Cotia, até a barragem das Graças no Muni cípio de Cotia;

IX - Rio Guaió, até o cruzamento com a Rodovia São Paulo-, na divisa dos Municípios de Poá e Suzano;

X - Rio Itapanhaú, até a confluência com o Ribeirão das Pedras, no Município de Biritiba-Mirim;

XI - Rio Itatinga, até os limites da Região Metropo l i t a n a ;

190

XII - Rio Jundiaí, até a Confluência com o Rio Orop ó, exclusive, no Município de Mogi das Cruzes;

XIII - Rio Juqueri, até a barragem da SABESP, no Mu nicípio de Franco da Rocha;

XIV - Rio Taiaçupeba, até a confluência com o Taiaç upeba-Mirim, inclusive, na divisa dos Município de Suzano e Mogi das Cruzes;

XV - Rio Tietê, até a confluência com o Rio Botujur u, no Município de Mogi das C r u ze s ;

XVI - Rio Jaguari, afluente da margem esquerda do Rio Paraíba até os limites da R e gi ã o Metropolitana;

XVII - Rio Biritiba, até a sua foz;

XVIII - Rio Juquiá, até os limites da Região Metrop olitana.

Artigo 3º - As áreas de proteção de que trata esta Lei corresponderão, no máximo, às de drenagem referentes aos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos, especificados no artigo 2º.

Parágrafo único - Nas áreas de proteção, os projetos e a execução de arruamentos, loteamentos, edificações e obras, bem assim, a prática de atividades agropecuárias, comerciais, industriais e recreativas dependerão de aprovação prévia da Secretaria dos Negócios Metropo litanos, e manifestação favorável da Secretaria de Obras e Meio Ambiente, mediante parecer da Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e de De fesa do Meio Ambiente - CETESB, quanto aos aspectos de proteção ambiental, sem prejuízo das demais competências estabelecidas na legislação, em vigor , para outros fins.

Artigo 4º - As atividades mencionadas no parágrafo único do artigo anterior, se exercidas sem licenciamento e aprovação da Secreta ria do Negócios Metropolitanos, com inobservância desta Lei, ou em desacordo com os projetos aprovados, poderão determinar a cassação do licenci amento, se houver, e a cessação compulsória da atividade ou o embargo e de molição das obras realizadas a juízo da Secretaria dos Negócios Metropolitanos, sem prejuízo da indenização, pelo infrator, dos danos que causar.

Artigo 5º - As áreas de proteção referida no artigo 2º serão delimitadas por lei, que poderá estabelecer, nos seus limites, faixas, o u áreas de maior ou menor restrição, conforme o interesse público o exigir.

Parágrafo único - As faixas, ou áreas, de maior res trição, denominadas de 1º categoria, abrangerão inclusive o corpo de água, e nquanto que as demais, denominadas de 2º categoria, serão classificadas n a ordem decrescente das restrições a que estarão sujeitas.

Artigo 6º - Nas áreas de proteção, o licenciamento das atividades e a realização das obras, referidas no parágrafo único do artigo 3º desta Lei, ficarão sujeitos às seguintes exigências:

I - destinação e uso da área, perfeitamente caracte rizados e expressos nos

191 projetos e documentos submetidos à aprovação;

II - apresentação, nos projetos, de solução adequad a para a coleta, tratamento e destino final dos resíduos sólidos líquidos e gaso sos, produzidos pelas atividades que se propõem exercer ou desenvolver n as áreas;

III - apresentação, nos projetos, de solução adequa da, relativamente aos problemas de erosão e de escoamento das águas, inc lusive as pluviais.

§ 1º - O licenciamento das atividades hortifrutícol as independerá de projetos, desde que o documento submetido à aprovação conten ha os demais requisitos previstos neste artigo.

§ 2º - O licenciamento de atividades e a aprovação de projetos por quaisquer outros órgãos públicos, dependerá de aprovação pré via da Secretaria dos Negócios Metropolitanos e manifestação da Secretar ia de Obras e Meio Ambiente, mediante parecer da Companhia de Tecnolog i a d e

Saneamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente -CET ESB, relativamente ao cumprimento dos incisos I a III e § 1º deste artigo .

§ 3º - Dos documentos de aprovação constará, obriga toriamente, que o uso da área só será admitido em conformidade com esta Lei.

Artigo 7º - Os órgãos e entidades responsáveis por obras públicas, a serem executadas nas áreas de proteção, deverão submeter , previamente, os respectivos projetos à Secretaria dos Negócios Metropolitanos, que estabelecerá os requisitos mínimos para a implantação dessas obras, podendo acompanhar sua execução.

Artigo 8º - Nas áreas ou faixas de maior restrição, denominadas de 1ª categoria, somente serão permitidas atividades recreativas e a execução de obras ou serviços indispensáveis ao uso e aproveitamento do recurso hídrico, desde que não coloquem em risco a qualidade da água.

Parágrafo único - As faixas de 1ª categoria, observ adas as normas desta Lei, poderão ser computadas no cálculo das áreas reserv adas para sistemas de recreio em loteamentos.

Artigo 9º - Na elaboração, implantação e adequação dos planos de urbanização e desenvolvimento, a serem executados na Região Metro politana da Grande São Paulo, a Secretaria dos Negócios Metropolitanos o bservará o disposto nesta Lei.

Artigo 10 - Em cada área de proteção, a Secretaria dos Negócios Metropolitanos aplicará as medidas necessárias à adaptação das ur banizações, edificações e atividades existentes, às disposições nesta Lei.

Parágrafo único - As urbanizações, edificações e at ividades existentes, ou exercidas anteriormente a esta Lei, gozarão de pra zo adequado para se adaptarem às suas exigências ou procederem às suas transferê ncias para outro local, e, na impossibilidade de o fazerem, poderão ser suprimida s mediante indenização ou desapropriação.

Artigo 11 - As restrições, a serem estabelecidas em lei e correspondentes às áreas de proteção a que se refere o artigo 2º, sem preju ízo da legislação em vigor para outros efeitos, constarão de normas relativas a:

192 I - formas de uso do solo permitidas e as caracterí sticas de sua ocupação e aproveitamento;

II - condições mínimas para parcelamento do solo e para a abertura de arruamentos;

III - condições admissíveis de pavimentação e imper meabilização do solo;

IV - condições de uso dos mananciais, cursos e rese rvatórios de água, obedecidos a classificação e o enquadramento previstos em lei s e regulamentos;

V - formas toleráveis de desmatamento nas áreas de proteção;

VI - condições toleráveis para a movimentação de te rras nas áreas de proteção;

VII - ampliação e aumento de produção dos estabelec imentos industriais, localizados nas áreas de proteção que possam ofere cer riscos à qualidade dos recursos hídricos;

VIII - exigências a serem cumpridas pelas indústria s existentes ou em construção nas áreas de proteção, e o plano de remanejamento das que nele não puderem permanecer;

IX - emprego de defensivos e fertilizantes e prátic a de atividades horti-fruti- granjeiras, que deverão ser limitadas às formas qu e não contribuam para a deterioração dos recursos hídricos;

X - condições e limites quantitativos de produtos n ocivos que poderão ser armazenados na áreas de proteção, sem riscos para a qualidade dos recursos hídricos;

XI - condições de passagem de canalizações que tran sportem substâncias, consideradas nocivas às áreas de proteção;

XII - condições de coleta, transporte e destino fin al de esgotos e resíduos sólidos, nas áreas de proteção;

XIII - condições de transporte de produtos consider ados nocivos.

Artigo 12 - As restrições a que se refere o artigo anterior serão fixados em conformidade com as normas desta Lei, e com base e m critérios de proteção ao meio ambiente, fornecidos pela Secretaria de Obras e do Meio Ambiente, através da Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente - CETESB, e de uso ao solo, fornecido s p e l a Secretaria dos Negócios Metropolitanos.

Artigo 13 - Os infratores das disposições desta Lei e respectivos regulamentos ficam sujeitos à aplicação das seguintes sanções, sem prejuízo de outras, estabelecidas em leis especiais:

I - advertência, com prazo a ser estabelecido em re gulamento, para a regularização da situação nos casos de primeira in fração, quando não haja perigo iminente à saúde pública;

II - multa de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) a Cr$ 5.00 0,00 (cinco mil cruzeiros) por dia, tendo-se em vista o patrimônio do agente infr ator, localizado na área de proteção, se não efetuada a regularização dentro d o prazo fixado pela

193 Administração; a) - pela execução de arruamento, loteamento, edifi cação ou obra, sem aprovação prévia da Secretaria dos Negócios Metropolitanos; b) - pela prática de atividades agropecuárias, come rciais, industriais e recreativas sem aprovação prévia da Secretaria dos Negócios Metropolitanos; c) - pela execução de arruamento, loteamento, edifi cação ou obra e pela prática de atividades agropecuárias, comerciais, industria is e recreativas em desacordo com os termos da aprovação ou com infração das dis posições desta Lei e respectivos regulamentos.

III - interdição, nos casos de iminente perigo à sa úde pública e nos de infração continuada;

IV - embargo e demolição da obra ou construção exec utada sem autorização ou aprovação, ou em desacordo com os projetos aprovad os, quando a sua permanência ou manutenção contrariar as disposiçõe s desta Lei ou ameaçar a qualidade do meio ambiente, respondendo o infrator pelas despesas a que der c a u s a .

§ 1º - As medidas previstas neste artigo serão apli cadas pela Secretaria dos Negócios Metropolitanos;

§ 2º - As penalidades de interdição, embargo ou demolição, poderão ser aplicadas sem prejuízo daquelas objeto dos incisos I e II de ste artigo;

§ 3º - O valor da multa prevista no inciso II deste artigo será de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) a Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros) por dia no caso de atividades hortifrutícolas;

§ 4º - O valor da multa prevista no inciso II deste artigo e em seu parágrafo 3º será automaticamente reajustado mediante a aplicaçã o dos coeficientes de atualização monetária de que trata o artigo 2º da Lei Federal n.º 6205, de 29 de abril de 1975.

Artigo 14 - A aplicação de sanções às infrações ao disposto na presente Lei, quando ocorrer poluição, também do meio ambiente, não impedirá a incidência de outras penalidades por ação da Companhia Estadu al de Tecnologia de Saneamento Básico e de Defesa do meio Ambiente - CETESB, nos termos da legislação estadual sobre proteção do meio ambiente do Estado de São Paulo, contra agentes poluidores.

Artigo 15 - O produto da arrecadação das multas dec orrentes das infrações previstas nesta Lei construirá receita do Fundo Me tropolitano de Financiamento e Investimento, quando aplicadas pela Secretaria d os Negócios Metropolitanos, cabendo a responsabilidade pela cobrança à institui ção do Sistema de Crédito do Estado, encarregada de administrá-lo.

Artigo 16 - Da aplicação das sanções previstas nest a Lei caberá recurso ao Secretário dos Negócios Metropolitanos.

Artigo 17 - Esta Lei será regulamentada dentro de 1 80 (cento e oitenta) dias, a contar de sua publicação.

Artigo 18 - Esta Lei entrará em vigor na data de su a publicação.

194

Palácio dos Bandeirantes, 17 de novembro de 1975.

PAULO EGYDIO MARTINS

Francisco Henrique Fernando de Barros, Secretário d e Obras e do Meio Ambiente

Roberto Cerqueira César, Secretário dos Negócios Me tropolitanos.

195 A N E X O 2

Lei nº 1.172 - delimita as áreas de proteção aos ma nanciais

LEI N.º 1.172, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1976.

Delimita as áreas de proteção relativas aos mananciais, cursos e reservatórios de água, a que se refere o artigo 2º a Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975, que estabelece normas de restrição do uso de solo em tais áreas e dá providências correlatas.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte Lei:

Artigo 1º - Ficam delimitadas, como áreas de proteção, as contidas entre os divisores de água do escoamento superficial contribuinte dos mananciais, cursos e reservatórios de água a que se refere o artigo 2º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975, conforme lançamento gráfico constante da coleção de cartas planialtimétricas, em escala 1:10.000, do levantamento aerofotogramétrico do Sistema Cartográfico Metropolitano, efetuado em 1974, registrado no Estado-Maior das Forças Armadas, sob n.º 95-74, e cujos originais serão autenticados e depositados na Secretaria dos Negócios Metropolitanos.

Artigo 2º - Nas delimitações de que trata o artigo anterior, constituem áreas ou faixas de 1º categoria ou de maior restrição:

I - os corpos de água;

II - a faixa de 50 metros de largura, medida em projeção horizontal, a partir da linha de contorno correspondente ao nível de água máximo dos reservatórios públicos, existentes e projetados;

III - a faixa de 20 metros de largura, medida em projeção horizontal, a partir dos limites do álveo, em cada uma das margens dos rios referidos no artigo 2º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975, e das de seus afluentes primários, bem como em cada uma das margens dos afluentes primários dos reservatórios públicos, existentes e projetados;

IV - as faixas definidas no artigo 2º e sua alínea "a " da Lei Federal n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965, referentes às margens dos demais cursos de água; 196

V - as áreas cobertas por mata e todas as formas de vegetação primitiva;

VI - as áreas com quota inferior a 1,50 metros, medida a partir do nível máximo dos reservatórios públicos existentes e projetados, e situados a uma distância mínima inferior a 100 metros das faixas de que tratam os incisos II e III deste artigo;

VII - as áreas onde a declividade média for superior a 60% calculada a intervalos de 100 metros a partir do nível de água máximo dos reservatórios públicos existentes e projetados, e dos limites do álveo dos rios, sobre as linhas de maior declive.

Parágrafo único - Consideram-se afluentes primários:

1. os cursos de água diretamente tributários dos reservatórios públicos, existentes e projetados, e dos rios citados no artigo 2º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975;

2. o curso de água diretamente tributário, resultante da confluência de dois ou mais rios considerando-se, também, seu prolongamento, o rio formador que tiver maior área de drenagem.

Artigo 3º - Constituem áreas ou faixas de 2º categoria, ou de menor restrição, aquelas situadas nas áreas de proteção delimitadas no artigo 1º e que não se enquadrem nas de 1º categoria, discriminadas no artigo 2º.

Artigo 4º - As áreas ou faixas de 2º categoria são assim classificadas:

I - áreas ou faixas de Classe A;

II - áreas ou faixas de Classe B;

III - áreas ou faixas de Classe C.

Artigo 5º - São áreas ou faixas de Classe A:

I - as áreas arruadas e ocupadas com densidade demográfica bruta superior a 30 habitantes por hectare, estabelecidas, com base nas fotos e cartas planialtimétricas do levantamento aerofotogramétrico do Sistema Cartográfico Metropolitano, mencionado no artigo 1º,

II - as demais áreas arruadas, constante do levantamento aerofotogramétrico, contíguas às áreas ou faixas definidas no inciso I.

§ 1º - O cálculo das densidades a que se refere o inciso I será feito considerando-se:

1. como base territorial mínima de cálculo, as quadrículas com área de 1 hectare, resultantes da subdivisão em 100 partes iguais, das quadrículas formadas pelas coordenadas topográficas representadas nas cartas planialtimétricas em escala 1:10.000 do Sistema Cartográfico Metropolitano, mencionado no artigo 1º;

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2. a ocupação média de 4,3 ocupantes equivalentes por edificação.

§ 2º - Para efeito do disposto nos incisos II e III, são consideradas contíguas as áreas cujos pontos mais próximos distem, entre si, de no máximo 100 metros.

Artigo 6º - São áreas ou faixas de Classe B as contíguas às de Classe A, delimitadas mediante a aplicação dos critérios constantes do Quadro I, anexo a esta Lei.

Artigo 7º - Constituem áreas ou faixas de Classe C as não compreendidas entre as de Classe A e B.

Artigo 8º - As águas dos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos a que se refere o artigo 2º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975, destinam-se, prioritariamente, ao abastecimento de água.

§ 1º - É permitida a utilização das águas para o lazer, sob controle, desde que não seja prejudicado o uso referido no "caput" deste artigo.

§ 2º - As águas poderão ainda ser utilizadas para irrigação de hortaliças e geração de energia, desde que não sejam prejudicados os usos de que tratam o "caput" e o § 1º deste artigo.

Artigo 9º - Nas áreas ou faixas de 1º categoria ou de maior restrição, somente são permitidos os seguintes usos e atividades:

I - pesca;

II - excursionismo, excetuado o campismo;

III - natação;

IV - esportes náuticos;

V - outros esportes ao ar livre que não importem em instalações permanentes e qualquer edificações ressalvado o disposto no artigo 10.

Artigo 10 - Nas áreas ou faixas de 1ª categoria ou de maior restrição, somente são permitidos serviços, obras e edificações destinados à proteção dos mananciais, à regularização de vazões com fins múltiplos, ao controle de cheias e à utilização de águas prevista no artigo 8º.

Parágrafo único - É permitida, observado o disposto no parágrafo único do artigo 3º da Lei 898, de 18 de dezembro de 1975, a construção de ancoradouros de pequeno porte, rampas de lançamento de barcos, praias artificiais, pontões de pesca e tanques para piscicultura.

Artigo 11 - Nas áreas ou faixas de 1ª categoria ficam proibidos o desmatamento, a remoção da cobertura vegetal existente, e a movimentação de terra, inclusive empréstimos e bota-

198 fora, a menos que se destinem aos serviços, obras e edificações mencionadas no artigo 10.

Artigo 12 - Nas áreas ou faixas de 1ª categoria não é permitida a ampliação de serviços, obras e edificações já existentes, que não se destinem às finalidades definidas no artigo 10, bem como a ampliação ou intensificação dos processos produtivos de estabelecimentos industriais existentes.

Artigo 13 - Nas áreas ou faixas de 2ª categoria são permitidos, observadas as restrições desta Lei, somente os seguintes usos:

I - residencial;

II - industrial, de acordo com a relação das indústrias permitidas pela Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e de Defesa do Meio Ambiente - CETESB, para exercer atividades nas áreas de proteção dos mananciais da Região Metropolitana;

III - comercial, com exceção do comércio atacadista;

IV - de serviços e institucional, com exceção de hospitais, sanatórios ou outros equipamentos de saúde publica, ressalvados os destinados ao atendimento das populações locais e desde que não sejam especializados no tratamento de doenças transmissíveis;

V - para lazer;

VI - hortifrutícola;

VII - para florestamento, reflorestamento e extração vegetal.

Artigo 14 - Nas áreas de Classe A, somente serão admitidos parcelamento, loteamento, arruamento, edificação, reforma, ampliação de edificações existentes, instalação de estabelecimentos, alteração de uso ou qualquer outra forma de ocupação, se satisfeitas as seguintes exigências:

I - quota ideal de terreno por unidade residencial, comercial, industrial, de serviços e institucional de, no mínimo, 500 m2;

II - máxima Densidade Bruta Equivalente (Dbeq) de 50 ocupantes equivalentes por hectare;

III - índices urbanísticos constantes do Quadro II, anexo a esta Lei.

§ 1º - O inciso II não se aplica, isoladamente, a imóvel destinado a uma residência unifamiliar, bem como a estabelecimentos comerciais e industriais.

§ 2º - Na ocupação de qualquer lote de terreno, deve permanecer obrigatoriamente sem pavimentação e impermeabilização uma extensão de terreno não inferior a 20% da área total do

199 lote.

Artigo 15 - Para efeito desta Lei, o cálculo da Densidade Bruta Equivalente (Dbeq) será feito mediante a aplicação das fórmulas constantes do Quadro III, anexo.

Parágrafo único - Na aplicação das fórmulas constantes do Quadro III, anexo, o número de empregos industriais será calculado com base nas quotas da área construída por emprego, constantes do Quadro IV, anexo.

Artigo 16 - Nas áreas de Classe B e C, ressalvado o disposto no artigo 17, somente serão admitidos parcelamento, loteamento, arruamento, edificações, reforma, ampliação de edificações existentes, instalação de estabelecimentos, alteração de uso, ou qualquer outra forma de ocupação, se satisfeitas as seguintes exigências:

I - índices urbanísticos constantes dos Quadros V e VI, anexos;

II - Densidade Bruta Equivalente (Dbeq) constantes do Quadro VII, anexos;

III - Quota Bruta Equivalente (Qbeq) de terreno por unidade de uso residencial, constantes do Quadro VIII, anexo.

§ 1º - O cálculo da Densidade Bruta Equivalente (Dbeq) será feito na forma do artigo anterior.

§ 2º - O cálculo da Quota Bruta Equivalente (Qbeq) de terreno por unidade de uso residencial será feito mediante a aplicação das fórmulas constantes do Quadro IX, anexo.

§ 3º - Na ocupação de qualquer lote de terreno, as percentagens da área do lote que devem permanecer sem pavimentação e impermeabilização serão, obrigatoriamente, não inferiores a:

1 - 30% nas áreas e faixas de Classe B;

2 - 40% nas áreas e faixas de Classe C.

Artigo 17 - Os parcelamentos, loteamentos, arruamentos, edificações, reformas, ampliações de edificações existentes, instalações de estabelecimentos, alterações de uso ou quaisquer outras formas de uso em glebas ou terrenos que compreendam áreas de 2ª categoria, Classe C, e de 1ª categoria de que trata o inciso V do artigo 2º, gozarão de bonificações, sendo a máxima Densidade Bruta Equivalente (Dbeq) admissível, calculada multiplicando-se os valores, constantes do Quadro VII, pelo fator de bonificação "f", determinado com a aplicação da expressão constante do Quadro III.

§ 1º - Os valores mínimos de Quota Bruta Equivalente (Qbeq) por unidade de uso residencial para

200 esses empreendimentos serão obtidos dividindo-se os valores constantes do Quadro VIII, pelo fator de bonificação "f" referido no "caput " deste artigo.

§ 2º - Nos empreendimentos a que se refere este artigo o valor máximo admissível do coeficiente de aproveitamento será o menor dentre os dois seguintes;

1 - o valor dado pela aplicação da expressão constante do Quadro VI;

2 - 4,9 (quatro inteiros e nove décimos);

§ 3º - O valor máximo do índice de elevação é 4 (quatro);

§ 4º - A aplicação das bonificações previstas no "caput" deste artigo fica condicionada à prévia adequação das áreas cobertas de mata e de todas as formas de vegetação primitiva a um dos seguintes regimes:

1 - vinculação obrigatória aos empreendimentos correspondentes, limitado o seu uso às restrições referentes à área de 1ª categoria;

2 - doação ao Estado, sob condição de destinação específica;

3 - doação ao Estado, ficando este autorizado, a conceder, com anuência do doador, o direito real de uso sobre as áreas, nos termos do artigo 7º do Decreto-lei federal n.º 271, de 28 de fevereiro de 1967, e obedecidas as restrições referentes às áreas de 1ª categoria.

Artigo 18 - Nas áreas de exploração hortifrutícola, de florestamento, reflorestamento e nas destinadas à extração vegetal deverão ser, também, observadas as normas de proteção e conservação do solo definidas pela Secretaria da Agricultura.

Artigo 19 - A remoção indispensável da cobertura vegetal somente será permitida, obedecida a legislação em vigor e mediante aprovação da Secretaria da Agricultura, após prévia manifestação favorável da Secretaria dos Negócios Metropolitanos nos seguintes casos:

I - para implantação das obras e serviços admitidos nesta lei;

II - para a exploração hortifrutícola, florestamento, reflorestamento e extração vegetal, em regime de utilização racional, ou para substituição por vegetação com finalidades estéticas, recreativas ou de proteção.

Artigo 20 - As obras que exijam movimentação de terra deverão, sem prejuízo de outras exigências, ser executadas segundo projeto, que assegure a proteção dos corpos de água contra o assoreamento e a erosão, a ser aprovado pela Secretaria dos Negócios Metropolitanos.

Parágrafo único - Os locais preferenciais de escoamento de águas pluviais deverão ser adequadamente protegidos por obras contra a erosão.

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Artigo 21 - A alteração, ampliação ou intensificação dos processos produtivos de estabelecimentos industriais, relacionados entre os permitidos pela CETESB em áreas de proteção de mananciais, dependem da prévia aprovação prevista no parágrafo único do artigo 3º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975.

Artigo 22 - Os sistemas públicos de abastecimento de água e de esgotos sanitários atenderão somente às áreas e faixas de Classe A e B, ressalvados os existentes até a data da publicação dessa Lei.

Artigo 23 - Os efluentes dos sistemas públicos de esgotos sanitários deverão ser afastados das áreas de proteção. § 1º - Quando na bacia receptora não houver sistema de esgotos adequados, os efluentes a que se refere este artigo deverão ser previamente tratados, de acordo com as exigências da CETESB. § 2º - Nos casos em que o afastamento e o tratamento forem inviáveis, somente será permitida a disposição de efluentes de sistemas públicos de esgotos nas áreas de 2ª categoria e desde que recebam o tratamento mais convenientes dentre um dos dois seguintes: 1 - tratamento biológico e desinfecção do efluente; 2 - tratamento a nível primário, no mínimo, seguido de infiltração ou irrigação subsuperficial, assegurada a proteção do lençol freático. § 3º - Nos casos referidos no item I do parágrafo 2º, o número mais provável de coliformes é o fixado pelos padrões de balneabilidade estabelecidos pelo órgão federal competente. § 4º - A CETESB poderá estabelecer limites à concentração de nutrientes nos efluentes, nos casos em que o manancial manifeste tendências à eutrofização acelerada, caracterizada por desenvolvimento de vegetação macro ou microscópica prejudicial à utilização da água, conforme referido no artigo 8º. § 5º - Na eventualidade de o órgão responsável deixar de atender ao disposto neste artigo, poderá o Estado assumir os sistemas de saneamento básico para adequá-los às normas desta Lei. Artigo 24 - Os sistemas particulares de esgotos não ligados ao sistema público deverão ser providos, pelo menos, de fossas sépticas, construídas segundo normas técnicas em vigor, com seus efluentes infiltrados no terreno através de poços absorventes ou irrigação subsuperficial, assegurando-se a proteção do lençol freático. § 1º - Nas áreas não servidas por sistemas públicos de esgotos sanitários ou de abastecimento de água, a distância mínima entre o poço ou outro sistema de captação de

202 água e o local de infiltração do efluente de fossa séptica será, no mínimo, de 30 metros, independentemente da consideração dos limites das propriedades. § 2º - Os projetos de loteamentos, edificações e obras, bem como os documentos para licenciamento de atividades hortifrutícolas, de florestamento, reflorestamento e extração vegetal, deverão indicar a localização das captações de água e das fossas sépticas. § 3º - Os projetos de edificações e obras deverão ainda conter os projetos detalhados da fossa séptica ou de outro processo de tratamento, desde que aprovado pela CETESB, e do sistema de infiltração do seu efluente. Artigo 25 - Nas áreas de proteção delimitadas no artigo 1º não será permitida a disposição de resíduos sólidos coletados por sistema de limpeza pública, bem como do lodo resultante dos processos de tratamento dos sistemas público e particular. § 1º - Nas áreas onde não existam sistemas públicos de coleta de lixo: 1. os resíduos sólidos decorrentes das atividades industrial, comercial ou de serviços deverão ser removidos para fora das áreas de proteção; 2. os resíduos sólidos decorrentes da atividade residencial, desde que não removidos para fora das áreas de proteção, deverão ser enterrados. § 2º - Nas áreas de 1ª categoria não serão permitidos a disposição e o enterramento de resíduos sólidos. Artigo 26 - No pedido de licenciamento das atividades hortifrutícolas, a ser apreciado nos termos do parágrafo único do artigo 3º da Lei 898, de 18 de dezembro de 1975, o interessado deverá identificar e caracterizar a área a ser cultivada, fornecer a relação dos fertilizantes e defensivos agrícolas a serem empregados, especificar os meios a serem utilizados para o descarte do resto de formulações e de embalagens e os meios de disposição dos efluentes líquidos da lavagem dos equipamentos e recipientes usados. § 1º - As dosagens admissíveis de fertilizantes e defensivos agrícolas serão fornecidas pelo órgão competente da Secretaria da Agricultura. § 2º - Não serão permitidas as culturas que exijam uso intensivo de defensivos agrícola, a critério da Secretaria da Agricultura. Artigo 27 - A CETESB poderá exigir do usuário a redução da área cultivada, se as condições dos mananciais assim o impuserem, em razão dos níveis de eutrofização, toxidez e nocividade. Parágrafo único - O uso de defensivos agrícolas deverá se restringir ao mínimo indispensável, podendo a CETESB, de comum acordo com a Secretaria da Agricultura, proibir o uso de tais defensivos, se os níveis de contaminação verificados no corpo de água atingirem limites inaceitáveis.

203 Artigo 28 - Nas áreas de proteção não será permitido, para a distribuição de defensivos agrícolas, o uso de aeronaves ou de equipamentos que utilizem correntes de ar e altas velocidades. Artigo 29 - As quantidades, armazenáveis nas áreas de proteção, de quaisquer produtos químicos que possam colocar em risco a qualidade das águas, serão determinadas segundo os critérios estabelecidos pela CETESB. § 1º - O transporte, o armazenamento e a manipulação referidos neste artigo obedecerão às normas de segurança a serem fixadas pela CETESB. § 2º - Os órgãos de segurança pública, responsáveis pela operação de canalizações ou equipamentos de transportes nas áreas de proteção, comunicarão à Secretaria dos Negócios Metropolitanos e à CETESB acidentes que envolvam dispersão de produtos químicos. Artigo 30 - As instalações particulares de tratamento e disposição de esgotos a que se refere o artigo 24, deverão estar em operação no prazo máximo de 3 (três) anos, a partir da data da publicação desta lei. Artigo 31 - Os hospitais, sanatórios ou outros equipamentos de saúde pública existentes na área de proteção, que efetuem tratamento de doenças infecto-contagiosas, deverão ser transferidos para fora das áreas de proteção, no prazo máximo de 5 (cinco) anos, a partir da data de publicação desta lei. Artigo 32 - Os imóveis existentes nas áreas ou faixas de 1ª categoria poderão ser desapropriados, caso fique demonstrada a inexistência ou insuficiência de sistema público de esgotos para receber seus efluentes líquidos, conforme o disposto no artigo 23. Artigo 33 - As indústrias localizadas nas áreas de proteção deverão apresentar à CETESB, no prazo máximo de 1 (um) ano, a partir da data da publicação desta Lei projetos de disposição de seus efluentes líquidos que prevejam, prioritariamente, o seu afastamento para sistemas de esgotos dec bacias não protegidas. § 1º - Na impossibilidade do afastamento referido neste artigo, os projetos deverão prever tratamento aprovado pela CETESB, assegurada a disposição dos efluentes nas áreas de 2ª categoria. § 2º - As obras de disposição dos efluentes a que se refere este artigo deverão estar concluídas no prazo fixado pela CETESB para cada caso, após a aprovação, por esta, do respectivo projeto. § 3º - Na hipótese de ficar demonstrada a impossibilidade de serem implantados os sistemas de tratamento e disposição de que trata este artigo, a CETESB poderá recomendar à Secretaria dos Negócios Metropolitanos a desapropriação da indústria. Artigo 34 - Vetado.

204 Artigo 35 - O Governo do Estado, através da Secretaria dos Negócios Metropolitanos, reservará, mediante as medidas administrativas cabíveis, segundo um programa a ser fixado por decreto e a iniciar-se em 1977, em cada uma das áreas de proteção de que tratam o artigo 2º da Lei n.º 898, de 18 de dezembro de 1975, e o artigo 1º desta Lei, no mínimo 0,5% de suas respectivas áreas de proteção para implantação de parques metropolitanos situados junto aos corpos de água principais e destinados ao esporte, ao lazer e à recreação da população. Artigo 36 - A Secretaria dos Negócios Metropolitanos utilizará os serviços técnicos da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S.A. - EMPLASA, unidade técnica do Sistema de Planejamento e Administração Metropolitana, nos termos da Lei Complementar n.º 94, de 29 de maio de 1974, para o desempenho das atribuições que lhe são conferidas por esta Lei. Artigo 37 - A execução das normas desta Lei se fará sem prejuízo da observância de outras, mais restritivas, previstas em legislação municipal. Artigo 38 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 17 de novembro de 1976.

PAULO EGYDIO MARTINS

Francisco Henrique Fernando de Barros, Secretário de Obras e do Meio Ambiente. Roberto Cerqueira César, Secretário dos Negócios Metropolitanos

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A N E X O 3

Lei nº 11.428 - Dispõe sobre a utilização e proteçã o da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.428, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I DAS DEFINIÇÕES, OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DO REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA Art. 1 o A conservação, a proteção, a regeneração e a utilização do Bioma Mata Atlântica, patrimônio nacional, observarão o que estabelece esta Lei, bem como a legislação ambiental vigente, em especial a Lei n o 4.771, de 15 de setembro de 1965 .

CAPÍTULO I DAS DEFINIÇÕES Art. 2 o Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados, com as respectivas 206 delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste. Parágrafo único. Somente os remanescentes de vegetação nativa no estágio primário e nos estágios secundário inicial, médio e avançado de regeneração na área de abrangência definida no caput deste artigo terão seu uso e conservação regulados por esta Lei. Art. 3 o Consideram-se para os efeitos desta Lei: I - pequeno produtor rural: aquele que, residindo na zona rural, detenha a posse de gleba rural não superior a 50 (cinqüenta) hectares, explorando-a mediante o trabalho pessoal e de sua família, admitida a ajuda eventual de terceiros, bem como as posses coletivas de terra considerando-se a fração individual não superior a 50 (cinqüenta) hectares, cuja renda bruta seja proveniente de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais ou do extrativismo rural em 80% (oitenta por cento) no mínimo; II - população tradicional: população vivendo em estreita relação com o ambiente natural, dependendo de seus recursos naturais para a sua reprodução sociocultural, por meio de atividades de baixo impacto ambiental; III - pousio: prática que prevê a interrupção de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais do solo por até 10 (dez) anos para possibilitar a recuperação de sua fertilidade; IV - prática preservacionista: atividade técnica e cientificamente fundamentada, imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa, tal como controle de fogo, erosão, espécies exóticas e invasoras; V - exploração sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável; VI - enriquecimento ecológico: atividade técnica e cientificamente fundamentada que vise à recuperação da diversidade biológica em áreas de vegetação nativa, por meio da reintrodução de espécies nativas; VII - utilidade pública: a) atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura de interesse nacional destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo poder público federal ou dos Estados; VIII - interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de

207 invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Art. 4 o A definição de vegetação primária e de vegetação secundária nos estágios avançado, médio e inicial de regeneração do Bioma Mata Atlântica, nas hipóteses de vegetação nativa localizada, será de iniciativa do Conselho Nacional do Meio Ambiente. § 1 o O Conselho Nacional do Meio Ambiente terá prazo de 180 (cento e oitenta) dias para estabelecer o que dispõe o caput deste artigo, sendo que qualquer intervenção na vegetação primária ou secundária nos estágios avançado e médio de regeneração somente poderá ocorrer após atendido o disposto neste artigo. § 2 o Na definição referida no caput deste artigo, serão observados os seguintes parâmetros básicos: I - fisionomia; II - estratos predominantes; III - distribuição diamétrica e altura; IV - existência, diversidade e quantidade de epífitas; V - existência, diversidade e quantidade de trepadeiras; VI - presença, ausência e características da serapilheira; VII - sub-bosque; VIII - diversidade e dominância de espécies; IX - espécies vegetais indicadoras. Art. 5 o A vegetação primária ou a vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata Atlântica não perderão esta classificação nos casos de incêndio, desmatamento ou qualquer outro tipo de intervenção não autorizada ou não licenciada.

CAPÍTULO II DOS OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DO REGIME JURÍDICO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA Art. 6 o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social. Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão observados os princípios da função socioambiental da propriedade, da eqüidade intergeracional, da prevenção, da precaução, do 208 usuário-pagador, da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do respeito ao direito de propriedade. Art. 7 o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica far-se-ão dentro de condições que assegurem: I - a manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e regime hídrico do Bioma Mata Atlântica para as presentes e futuras gerações; II - o estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável da vegetação e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas; III - o fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manutenção do equilíbrio ecológico; IV - o disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico com a manutenção do equilíbrio ecológico.

TÍTULO II DO REGIME JURÍDICO GERAL DO BIOMA MATA ATLÂNTICA Art. 8 o O corte, a supressão e a exploração da vegetação do Bioma Mata Atlântica far-se-ão de maneira diferenciada, conforme se trate de vegetação primária ou secundária, nesta última levando-se em conta o estágio de regeneração. Art. 9 o A exploração eventual, sem propósito comercial direto ou indireto, de espécies da flora nativa, para consumo nas propriedades ou posses das populações tradicionais ou de pequenos produtores rurais, independe de autorização dos órgãos competentes, conforme regulamento. Parágrafo único. Os órgãos competentes, sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, deverão assistir as populações tradicionais e os pequenos produtores no manejo e exploração sustentáveis das espécies da flora nativa. Art. 10. O poder público fomentará o enriquecimento ecológico da vegetação do Bioma Mata Atlântica, bem como o plantio e o reflorestamento com espécies nativas, em especial as iniciativas voluntárias de proprietários rurais. § 1 o Nos casos em que o enriquecimento ecológico exigir a supressão de espécies nativas que gerem produtos ou subprodutos comercializáveis, será exigida a autorização do órgão estadual ou federal competente, mediante procedimento simplificado. § 2 o Visando a controlar o efeito de borda nas áreas de entorno de fragmentos de vegetação nativa, o poder público fomentará o plantio de espécies florestais, nativas ou exóticas. Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando: I - a vegetação: a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território

209 nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies; b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão; c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio avançado e regeneração; d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA; II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação ambiental, em especial as exigências da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, no que respeita às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal. Parágrafo único. Verificada a ocorrência do previsto na alínea a do inciso I deste artigo, os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas necessárias para proteger as espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção caso existam fatores que o exijam, ou fomentarão e apoiarão as ações e os proprietários de áreas que estejam mantendo ou sustentando a sobrevivência dessas espécies. Art. 12. Os novos empreendimentos que impliquem o corte ou a supressão de vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser implantados preferencialmente em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas. Art. 13. Os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão normas e procedimentos especiais para assegurar ao pequeno produtor e às populações tradicionais, nos pedidos de autorização de que trata esta Lei:

I - acesso fácil à autoridade administrativa, em local próximo ao seu lugar de moradia; II - procedimentos gratuitos, céleres e simplificados, compatíveis com o seu nível de instrução; III - análise e julgamento prioritários dos pedidos. Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos §§ 1 o e 2 o do art. 31 desta Lei. § 1 o A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no § 2 o deste artigo. § 2 o A supressão de vegetação no estágio médio de regeneração situada em área urbana dependerá de autorização do órgão ambiental municipal competente, desde que o

210 município possua conselho de meio ambiente, com caráter deliberativo e plano diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em parecer técnico. § 3 o Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do inciso VII do art. 3 o desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma detalhada a alta relevância e o interesse nacional. Art. 15. Na hipótese de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, o órgão competente exigirá a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, ao qual se dará publicidade, assegurada a participação pública. Art. 16. Na regulamentação desta Lei, deverão ser adotadas normas e procedimentos especiais, simplificados e céleres, para os casos de reutilização das áreas agrícolas submetidas ao pousio. Art. 17. O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, autorizados por esta Lei, ficam condicionados à compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica, e, nos casos previstos nos arts. 30 e 31, ambos desta Lei, em áreas localizadas no mesmo Município ou região metropolitana. § 1 o Verificada pelo órgão ambiental a impossibilidade da compensação ambiental prevista no caput deste artigo, será exigida a reposição florestal, com espécies nativas, em área equivalente à desmatada, na mesma bacia hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica. § 2 o A compensação ambiental a que se refere este artigo não se aplica aos casos previstos no inciso III do art. 23 desta Lei ou de corte ou supressão ilegais. Art. 18. No Bioma Mata Atlântica, é livre a coleta de subprodutos florestais tais como frutos, folhas ou sementes, bem como as atividades de uso indireto, desde que não coloquem em risco as espécies da fauna e flora, observando-se as limitações legais específicas e em particular as relativas ao acesso ao patrimônio genético, à proteção e ao acesso ao conhecimento tradicional associado e de biossegurança. Art. 19. O corte eventual de vegetação primária ou secundária nos estágios médio e avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, para fins de práticas preservacionistas e de pesquisa científica, será devidamente regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente e autorizado pelo órgão competente do Sisnama.

TÍTULO III DO REGIME JURÍDICO ESPECIAL DO BIOMA MATA ATLÂNTICA CAPÍTULO I DA PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO PRIMÁRIA Art. 20. O corte e a supressão da vegetação primária do Bioma Mata Atlântica somente serão autorizados em caráter excepcional, quando necessários à 211 realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública, pesquisas científicas e práticas preservacionistas. Parágrafo único. O corte e a supressão de vegetação, no caso de utilidade pública, obedecerão ao disposto no art. 14 desta Lei, além da realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA.

CAPÍTULO II DA PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA EM ESTÁGIO AVANÇADO DE REGENERAÇÃO Art. 21. O corte, a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica somente serão autorizados: I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras, atividades ou projetos de utilidade pública, pesquisa científica e práticas preservacionistas; II - (VETADO) III - nos casos previstos no inciso I do art. 30 desta Lei. Art. 22. O corte e a supressão previstos no inciso I do art. 21 desta Lei no caso de utilidade pública serão realizados na forma do art. 14 desta Lei, além da realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, bem como na forma do art. 19 desta Lei para os casos de práticas preservacionistas e pesquisas científicas.

CAPÍTULO IIIDA PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA EM ESTÁGIO MÉDIO DE REGENERAÇÃO Art. 23. O corte, a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica somente serão autorizados: I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras, atividades ou projetos de utilidade pública ou de interesse social, pesquisa científica e práticas preservacionistas; II - (VETADO) III - quando necessários ao pequeno produtor rural e populações tradicionais para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, ressalvadas as áreas de preservação permanente e, quando for o caso, após averbação da reserva legal, nos termos da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 ; IV - nos casos previstos nos §§ 1 o e 2 o do art. 31 desta Lei. Art. 24. O corte e a supressão da vegetação em estágio médio de regeneração, de que trata o inciso I do art. 23 desta Lei, nos casos de utilidade pública ou interesse social, obedecerão ao disposto no art. 14 desta Lei. Parágrafo único. Na hipótese do inciso III do art. 23 desta Lei, a autorização é de competência do órgão estadual competente, informando-se ao Ibama, na forma da 212 regulamentação desta Lei.

CAPÍTULO IV DA PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA EM ESTÁGIO INICIAL DE REGENERAÇÃO Art. 25. O corte, a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio inicial de regeneração do Bioma Mata Atlântica serão autorizados pelo órgão estadual competente. Parágrafo único. O corte, a supressão e a exploração de que trata este artigo, nos Estados em que a vegetação primária e secundária remanescente do Bioma Mata Atlântica for inferior a 5% (cinco por cento) da área original, submeter-se- ão ao regime jurídico aplicável à vegetação secundária em estágio médio de regeneração, ressalvadas as áreas urbanas e regiões metropolitanas. Art. 26. Será admitida a prática agrícola do pousio nos Estados da Federação onde tal procedimento é utilizado tradicionalmente.

CAPÍTULO V DA EXPLORAÇÃO SELETIVA DE VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA EM ESTÁGIOS AVANÇADO, MÉDIO E INICIAL DE REGENERAÇÃO Art. 27. (VETADO) Art. 28. O corte, a supressão e o manejo de espécies arbóreas pioneiras nativas em fragmentos florestais em estágio médio de regeneração, em que sua presença for superior a 60% (sessenta por cento) em relação às demais espécies, poderão ser autorizados pelo órgão estadual competente, observado o disposto na Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 29. (VETADO) CAPÍTULO VI DA PROTEÇÃO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA NAS ÁREAS URBANAS E REGIÕES METROPOLITANAS Art. 30. É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas urbanas consideradas como tal em lei específica, aplicando-se à supressão da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração as seguintes restrições: I - nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração dependerá de prévia autorização do órgão estadual competente e somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais normas urbanísticas e ambientais aplicáveis; II - nos perímetros urbanos aprovados após a data de início de vigência desta Lei, é vedada a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica para fins de loteamento ou edificação. Art. 31. Nas regiões metropolitanas e áreas urbanas, assim consideradas em lei, o parcelamento do 213 solo para fins de loteamento ou qualquer edificação em área de vegetação secundária, em estágio médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, devem obedecer ao disposto no Plano Diretor do Município e demais normas aplicáveis, e dependerão de prévia autorização do órgão estadual competente, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei. § 1o Nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio médio de regeneração em no mínimo 30% (trinta por cento) da área total coberta por esta vegetação. § 2o Nos perímetros urbanos delimitados após a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração fica condicionada à manutenção de vegetação em estágio médio de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação.

CAPÍTULO VII DAS ATIVIDADES MINERÁRIAS EM ÁREAS DE VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA EM ESTÁGIO AVANÇADO E MÉDIO DE REGENERAÇÃO Art. 32. A supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio de regeneração para fins de atividades minerárias somente será admitida mediante: I - licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA, pelo empreendedor, e desde que demonstrada a inexistência de alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto; II - adoção de medida compensatória que inclua a recuperação de área equivalente à área do empreendimento, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica, independentemente do disposto no a rt. 36 da Lei n o 9.985, de 18 de julho de 2000.

TÍTULO IV DOS INCENTIVOS ECONÔMICOS Art. 33. O poder público, sem prejuízo das obrigações dos proprietários e posseiros estabelecidas na legislação ambiental, estimulará, com incentivos econômicos, a proteção e o uso sustentável do Bioma Mata Atlântica. § 1o Na regulamentação dos incentivos econômicos ambientais, serão observadas as seguintes características da área beneficiada: I - a importância e representatividade ambientais do ecossistema e da gleba; II - a existência de espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção; III - a relevância dos recursos hídricos; IV - o valor paisagístico, estético e turístico; V - o respeito às obrigações impostas pela legislação ambiental;

214 VI - a capacidade de uso real e sua produtividade atual. § 2o Os incentivos de que trata este Título não excluem ou restringem outros benefícios, abatimentos e deduções em vigor, em especial as doações a entidades de utilidade pública efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas. Art. 34. As infrações dos dispositivos que regem os benefícios econômicos ambientais, sem prejuízo das sanções penais e administrativas cabíveis, sujeitarão os responsáveis a multa civil de 3 (três) vezes o valor atualizado recebido, ou do imposto devido em relação a cada exercício financeiro, além das penalidades e demais acréscimos previstos na legislação fiscal. § 1o Para os efeitos deste artigo, considera-se solidariamente responsável por inadimplência ou irregularidade a pessoa física ou jurídica doadora ou propositora de projeto ou proposta de benefício. § 2o A existência de pendências ou irregularidades na execução de projetos de proponentes no órgão competente do Sisnama suspenderá a análise ou concessão de novos incentivos, até a efetiva regularização. Art. 35. A conservação, em imóvel rural ou urbano, da vegetação primária ou da vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata Atlântica cumpre função social e é de interesse público, podendo, a critério do proprietário, as áreas sujeitas à restrição de que trata esta Lei ser computadas para efeito da Reserva Legal e seu excedente utilizado para fins de compensação ambiental ou instituição de cota de que trata a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Parágrafo único. Ressalvadas as hipóteses previstas em lei, as áreas de preservação permanente não integrarão a reserva legal.

CAPÍTULO I DO FUNDO DE RESTAURAÇÃO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA Art. 36. Fica instituído o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica destinado ao financiamento de projetos de restauração ambiental e de pesquisa científica. § 1o (VETADO) § 2o (VETADO) § 3o (VETADO) Art. 37. Constituirão recursos do Fundo de que trata o art. 36 desta Lei: I - dotações orçamentárias da União; II - recursos resultantes de doações, contribuições em dinheiro, valores, bens móveis e imóveis, que venha a receber de pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou internacionais; III - rendimentos de qualquer natureza, que venha a auferir como remuneração decorrente de aplicações do seu patrimônio; IV - outros, destinados em lei. Art. 38. Serão beneficiados com recursos do Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica os projetos que envolvam conservação de remanescentes de vegetação nativa, pesquisa científica ou áreas a serem restauradas, implementados em Municípios que possuam plano municipal de conservação e recuperação da Mata Atlântica, devidamente aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente.

215 § 1o Terão prioridade de apoio os projetos destinados à conservação e recuperação das áreas de preservação permanente, reservas legais, reservas particulares do patrimônio natural e áreas do entorno de unidades de conservação. § 2o Os projetos poderão beneficiar áreas públicas e privadas e serão executados por órgãos públicos, instituições acadêmicas públicas e organizações da sociedade civil de interesse público que atuem na conservação, restauração ou pesquisa científica no Bioma Mata Atlântica.

CAPÍTULO II DA SERVIDÃO AMBIENTAL Art. 39. (VETADO) Art. 40. (VETADO) CAPÍTULO III DOS INCENTIVOS CREDITÍCIOS Art. 41. O proprietário ou posseiro que tenha vegetação primária ou secundária em estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica receberá das instituições financeiras benefícios creditícios, entre os quais: I - prioridade na concessão de crédito agrícola, para os pequenos produtores rurais e populações tradicionais; II - (VETADO) III - (VETADO) Parágrafo único. Os critérios, condições e mecanismos de controle dos benefícios referidos neste artigo serão definidos, anualmente, sob pena de responsabilidade, pelo órgão competente do Poder Executivo, após anuência do órgão competente do Ministério da Fazenda. TÍTULO V DAS PENALIDADES Art. 42. A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à flora, à fauna e aos demais atributos naturais sujeitam os infratores às sanções previstas em lei, em especial as dispostas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e seus decretos regulamentadores. Art. 43. A Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 38-A: “Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.” Art. 44. (VETADO) TÍTULO VI DISPOSIÇÕES FINAIS

216 Art. 45. (VETADO) Art. 46. Os órgãos competentes adotarão as providências necessárias para o rigoroso e fiel cumprimento desta Lei, e estimularão estudos técnicos e científicos visando à conservação e ao manejo racional do Bioma Mata Atlântica e de sua biodiversidade. Art. 47. Para os efeitos do inciso I do caput do art. 3o desta Lei, somente serão consideradas as propriedades rurais com área de até 50 (cinqüenta) hectares, registradas em cartório até a data de início de vigência desta Lei, ressalvados os casos de fracionamento por transmissão causa mortis. Art. 48. O art. 10 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 10...... § 1o ...... II - ...... d) sob regime de servidão florestal ou ambiental; e) cobertas por florestas nativas, primárias ou secundárias em estágio médio ou avançado de regeneração; ...... IV - ...... b) de que tratam as alíneas do inciso II deste parágrafo; ...... ” (NR) Art. 49. O § 6 o do art. 44 da Lei n o 4.771, de 15 de setembro de 1965, alterada pela Medida Provisória no 2.166-7, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 44...... § 6o O proprietário rural poderá ser desonerado das obrigações previstas neste artigo, mediante a doação ao órgão ambiental competente de área localizada no interior de unidade de conservação de domínio público, pendente de regularização fundiária, respeitados os critérios previstos no inciso III do caput deste artigo.” (NR) Art. 50. (VETADO) Art. 51. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 22 de dezembro de 2006; 185o da Independência e 118o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos Guido Mantega Marina Silva Álvaro Augusto Ribeiro Costa Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.12.2006 - Retificado no DOU de 9.1.200

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