OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF

Relatório de Estágio apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto.

Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva

Diogo André Gomes da Costa Porto, 2019

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OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DA PERFORMANCE EM FUTEBOL Missão, funções e reflexões de um analista em contexto de estágio na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra/OAF

Relatório de Estágio Profissionalizante realizado na equipa profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol, na época desportiva 2017/2018

Relatório de Estágio apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto.

Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva

Diogo André Gomes da Costa Porto, 2019

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Ficha de Catalogação Costa, D.G. (2019). A importância da observação e análise de adversário em contexto profissional. Função e missão do analista – Estágio Profissionalizante realizado na primeira equipa da Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol. Porto: Costa, D.G. Relatório de estágio profissionalizante para obtenção de grau de Mestre em Treino Desportivo com especialização em Alto Rendimento Desportivo, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE, ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS

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Agradecimentos

Agradeço a todos os que me envolvem e que me acompanham ao longo da minha vida pessoal e profissional. Agradeço com muita consideração: Ao Prof. Doutor Doutor Júlio Manuel Garganta Silva, que me acompanhou e orientou ao longo da realização deste trabalho. Uma palavra de agradecimento pela sua disponibilidade, mas fundamentalmente pela paciência, mostrando-se tolerante e compreensivo pelo facto da minha atividade profissional me consumir muito tempo e nem sempre ser fácil organizar o meu trabalho. Agradecer-lhe ainda a oportunidade de trabalhar com alguém com tamanha sabedoria. À Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde tive oportunidade de realizar o 2º Ciclo de Estudos correspondente ao grau de Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo, possibilitando-me continuar o meu percurso académico e alcançar este objetivo. Aos meus pais e irmão por todo o apoio, suporte, confiança e palavras de força e incentivo, não me deixando desistir. Ao meu colega e Amigo Cláudio Costa com quem partilhei muitas viagens (Coimbra-Porto, Porto-Coimbra) para podermos presenciar as aulas. Sem a sua colaboração teria sido tudo mais dificil. A toda a direção, estrutura, funcionários, equipas técnicas e jogadores da Associação Académica de Coimbra/OAF por se dedicarem a esta causa e por ajudarem a elevar o nome da instituição e da cidade de Coimbra, onde nasci, cresi e que aprendi a amar. Aos Professores do mestrado que deixaram um pouco de si, Aos diretores e dirigentes com quem trabalhei ao longo destes anos e que acreditaram nas minhas capacidades, possibilitando-me ainda todas as condições para cumprir com as minhas funções. Aos atletas pelos desafios que me colocaram e que me fizeram evoluir. Muito obrigado a todos.

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Índice

Agradecimentos ...... III

Resumo ...... XIII

Abstract ...... XV

Lista de Abreviaturas ...... XVI

1. INTRODUÇÃO ...... 1

1.1. Apresentação ...... 1

1.2. Contextualização da Prática...... 3

2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ...... 10

2.1. Contexto legal ...... 10

2.2. Contexto institucional – história, valores e missão ...... 10

2.3. Recursos Espaciais ...... 15

2.4. Recursos Humanos ...... 15

2.5. Caraterização do plantel ...... 16

2.6. Objetivos desportivos ...... 22

2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino ...... 22

2.8. Contexto de natureza funcional ...... 27

2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais ...... 29

3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL ...... 31

3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa ...... 31

3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol ...... 34

3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo ...... 43

3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis para a caraterização do jogo e das equipas ...... 52

3.5. Conceptualização ...... 55

Scouting ...... 55

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Scouter e Analista ...... 56

Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores...... 59

Observação e Análise da equipa adversária e da própria equipa 60

Estratégia e Tática ...... 64

Modelo de jogo ...... 68

Equipa, Sistema de Jogo ...... 71

Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo 72

Racionalização do espaço de jogo...... 77

Métodos de Jogo...... 79

Métodos de Jogo Ofensivo ...... 80

Métodos de Jogo Defensivo ...... 82

Processo de treino - meio para atingir idealizado ... 84

4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA ...... 88

5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ...... 128

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 141

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 146

ANEXOS ...... 151

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Índice de figuras

Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita, 2011)...... 12 Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação Académica de Coimbra...... 14 Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra...... 15 Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015)...... 35 Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006 (Castellano, 2009)...... 37 Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005)...... 38 Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005)...... 39 Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015)...... 41 Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013)...... 46 Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura (2013), adaptado por Pereira (2017)...... 56 Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura, 2013)...... 90 Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre SC Braga B e Gil Vicente FC...... 93 Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B...... 93 Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s) adversários a observar...... 96 Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC B...... 100 Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos fracos...... 100 Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101

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Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 101 Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. 102 Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva...... 102 Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva...... 103 Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva...... 103 Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área...... 104 Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco, com mais dois médios à frente...... 104 Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e poderem ocorrer espaços em profundidade...... 105 Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem , optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário...... 105 Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à entrada da área...... 106 Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de seguida havia vários jogadores a procurarem apoiar e outros a procurarem desmarcar-se em rutura...... 106 Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna). Porém há um jogador próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois jogadores à entrada da área que podem oferecer outra solução...... 107

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Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do canto tem um braço levantado...... 107 Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou “fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava cinco jogadores na área e dois jogadores à entrada da área...... 107 Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa segunda zona temos dois jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda um jogador preparado para a transição ofensiva...... 108 Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois tinham dois jogadores a realizar marcação homem a homem...... 108 Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um jogador à frente deles. E um jogador marcando individualmente. Colocaram apenas um jogador na barreira...... 109 Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes e pontos fracos...... 115 Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã...... 116 Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã...... 116 Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã...... 116 Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas SL Benfica B...... 117

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Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SL Benfica B...... 117 Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual. Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã...... 117 Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade de Coimbra e jogo fora...... 125 Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras...... 126

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Índice de quadros Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias (adaptado de Vales, 2015)...... 36 Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015)...... 37 Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015)...... 40 Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado de Vales, 2015)...... 49 Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T - tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015)...... 81 Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009)...... 83

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Resumo

O presente relatório resultou do estágio profissionalizante realizado na equipa profissional da Associação Académica de Coimbra / OAF. Este relatório pretende mostrar a importância do trabalho realizado por um departamento de observação e análise de jogo, pertencente a uma equipa profissional, durante a época desportiva 2017/2018. Ao longo deste estudo é abordada a temática da observação e análise de jogo, com maior enfoque na análise da equipa adversária. Aqui estão relatadas as dinâmicas e rotinas de trabalho e também quais as informações acerca da equipa adversária valorizadas pelos treinadores, aquando da preparação dos seus planos de treino e de jogo. O estágio foi realizado num contexto marcado por alguma instabilidade, visto que na mesma temporada houve duas mudanças na equipa técnica, ou seja, uma temporada em que houve três treinadores principais diferentes e por este motivo, temos a oportunidade de relatar três formas de organização distintas e de relatar a experiência vivenciada na dinâmica de trabalho com cada um deles. Tentamos ainda ajudar a melhorar a compreensão de alguns conceitos e ideias, tais como esclarecer o conceito de scouting e eliminar algumas confusões entre as funções do scouter e analista. Procuramos ainda apresentar as diferentes áreas abrangidas pelo scouting, nos quais se incorpora a observação e análise de adversários. Queremos acreditar que este trabalho possa ser uma contribuição para os profissionais do treino desportivo, mas também para os profissionais que se dedicam à interpretação do jogo.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL, OBSERVAÇÃO, ANÁLISE, ADVERSÁRIO, ANALISTA, SCOUTING, VÍDEO, RELATÓRIOS

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XIV

Abstract

This report resulted from the professional stage conducted by the Associação Académica de Coimbra / OAF professional team, which competed in Ledman Liga Pro (Second Portuguese League). This work aims to show the importance of the tasks developed out by a match analysis department during the 2017/2018 season. Throughout this study is described the subject of observation and game analysis, focusing more on the opponents performance analysis. Dynamics and work routines are presented, as well as information about the opponent team that coaches value when preparing their training sessions and game plan. The professional stage was realized in instability environment marked by two changes in the coaching staff, so there were three different head coaches in the same season and for this reason, we had the opportunity to explain three different ways to organize and show the experience of working with each one of them. We also tried to improve understanding of some concepts and ideas, such as clarifying the concept of scouting and clear up some confusion between scout and analyst mission. We also seek to present the different areas covered by scouting, which includes the observation and opponents analysis. This work can be a contribution for sports training professionals, and we believe that this will help professionals who are dedicated to the game understanding.

KEYWORDS: FOOTBALL, MATCH ANALYSIS, GAME ANALYSIS,

OPPONENT, PERFORMANCE ANALYST, SCOUTING, VIDEO ANALYSIS

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Lista de Abreviaturas

AAC/OAF – Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol AJ – Análise de jogo

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

“Eu não tenho talentos especiais. Eu só sou apaixonadamente curioso.” (Einstein) Antes de avançar com aquilo a que me proponho, começo por me apresentar. Chamo-me Diogo André Gomes da Costa, nascido em 1987, natural e residente em Coimbra. Fui praticante de futebol e o futebol contribuiu imenso para a minha formação humana e desportiva. Depois de ter praticado durante alguns anos (iniciados, juvenis e juniores), tive apenas uma experiência enquanto sénior. O desinteresse devido aos métodos aplicados e orientação técnica naquela época (2008/2009), a incompatibilidade de horários, a pouca prontidão (com várias lesões consecutivas) e o início do meu percurso académico, fizeram com que abandonasse a prática desportiva e me iniciasse enquanto formador. Entrei na licenciatura em ciências do desporto (Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra – FCDEF, UC) no ano letivo de 2007/2008. Conclui a licenciatura e seguidamente realizei o mestrado em ensino da educação física, também na FCDEF-UC. Depois de um ano de reflexão realizei o 1º e 2º semestre do mestrado em treino desportivo para crianças e jovens, também na FCDEF-UC. Ao longo do percurso académico foi crescendo o desejo e a vontade de aprender e de estar no futebol. No início do meu percurso, procurei o conhecimento e quis aprender muito acerca de áreas como a pedagogia, psicologia e de treino. Tinha como objetivo aprender para poder ensinar. Quais os conteúdos, o que ensinar, como ensinar e quando ensinar, era isso que pretendia conhecer. A entrada na faculdade despoletou o interesse na área do treino e cresceu em mim o desejo de aprender. A curiosidade fez com que observasse bastante a postura e tudo o que está relacionado com a figura do treinador. E em 2009/2010, no âmbito da unidade curricular de Desporto Opção Futebol, comecei a estar inserido num clube e no treino. Portanto, posso afirmar que a verdadeira ignição e paixão pelo treino iniciou-se nessa altura e desde então

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tenho somado algumas experiências, que me ajudaram a tornar-me numa pessoa mais íntegra e respeitadora mas também num profissional dedicado e com brio no cumprimento da sua função. Desde 2009/2010 (ano em que iniciei funções de formador e treinador), tenho passado por várias experiências, em todos os escalões (seniores – 2015/2016; sub19 2014/2015; sub17 2009/2010, 2016/2017; sub14 2013/2014) embora, tenha dedicado mais tempo ao futebol de iniciação, desde sub6 aos sub13, durante sete épocas desportivas. Tive oportunidade de trabalhar em vários clubes ou instituições: Associação Académica de Coimbra / OAF (2009/2010, 2014/2015, 2017/2018 e 2018/2019), Associação Desportiva e Cultural da Adémia (2009/2010), Escola Academia Sporting – Coimbra (2010/2011, 2011/2012, 2012/2013, 2013/2014), Clube Desportivo Pedrulhense (2013/2014), Associação Recreativa e Cultural de Oleiros (2015/2016) e Clube Condeixa (2016/2017). Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ, optei por me candidatar ao mestrado em treino de alto rendimento desportivo da Universidade do Porto. Iniciei o mestrado no ano letivo 2016/2017, mas não consegui conclui-lo no ano letivo 2017/2018. Chegados ao ano letivo 2018/2019, o mestrado sofreu algumas alterações no seu plano de estudos e atualmente denomina-se, Mestrado em Treino Desportivo. No âmbito deste Mestrado e deste novo desafio, realizei um estágio na Associação Académica de Coimbra- OAF, onde desempenhei funções de Analista da equipa profissional, tendo como missão observar e analisar as equipas adversárias. Para além da função de Analista, sou também Coordenador Técnico para os escalões de sub6 – sub13. Sou portanto um funcionário do clube e irei realizar o meu estágio curricular no âmbito da função de Analista de jogo, para a qual fui convidado pela direção e estrutura da Associação Académica de Coimbra / OAF. Esta época 2017/2018 foi certamente mais uma ótima experiência, uma excelente aprendizagem e um grande desafio onde me coloquei à prova, saindo da minha zona de conforto.

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Quem quer se seja, que analise o meu percurso poderá ficar com algumas dúvidas relativamente às minhas pretensões, objetivos e até mesmo aspirações. Iniciar a carreira de treinador é tudo menos fácil. Como todos sabemos, ser treinador nos escalões de formação, em Portugal, é reconhecido por todos, como um agente social importante na vida de muitas crianças e jovens, mas ainda não é entendida como uma profissão. Isto leva-nos, jovens treinadores, a procurar o equilíbrio entre aquilo que nos motiva e aquilo que nos faz sobreviver, mantendo a nossa independência financeira. Apesar de por vários anos, ter procurado a minha independência financeira em outras áreas, tais como, o ensino da educação física e também no fitness, o futebol e o treino sempre foram a minha paixão. E por isso, vou tentando conciliar as minhas motivações com a minha independência financeira, todavia, tento não me desviar daquilo que pretendo para o meu futuro. Apesar de ter trabalhado vários anos com crianças e jovens, onde aprendi imenso acerca de treino e da sua contextualização, acerca da interação do treinador com os atletas e do valor da sua comunicação e feedback, tenho como objetivo ser um dia treinador de alto rendimento. Neste momento sinto que ainda não desenvolvi um perfil nem a ambição que me fazem querer ser treinador principal, ou “head coach”. Identifico-me completamente com a ideia de equipa técnica, equipa de trabalho, onde existe complementaridade entre as diferentes funções e ambiciono desempenhar funções de treinador adjunto, ou “assistant coach”. Gosto imenso do treino, do seu planeamento, periodização e operacionalização, bem como, da área da análise de jogo e observação. Sinto- me realizado nesse papel e é nesse papel, que desejo atingir a excelência.

1.2. Contextualização da Prática

O presente relatório foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Treino Desportivo da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), com vista à aprovação na unidade curricular de “Estágio – opção futebol”. Com o intuito de procurar mais formação e conhecimento, que me permitam desenvolver outras competências, mas também para conseguir a

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creditação ao nível II de treinador de futebol a partir da certificação do IPDJ (Instituto Português do Desporto e da Juventude), que concede reconhecimento às entidades universitárias e por isso confere equivalência ao grau de treinador pela via académica, optei por me candidatar ao mestrado em treino desportivo da Universidade do Porto. Já são muitos os casos de treinadores de sucesso que buscaram conhecimento e competências no ensino universitário. A aproximação entre entidades desportivas (Federação, Associações, Clubes) e as universidades (pela via académica) tem sido um excelente contributo para o levantar de problemas e para constantes reflexões dos treinadores no contexto prático da modalidade. E esta ideia fez-me acreditar que a entrada no mestrado e consequentemente o estágio profissionalizante numa equipa de futebol, com uma orientação académica de reconhecida qualidade como a FADEUP, podia ser um ótimo veículo para o meu crescimento pessoal e profissional.

1.2.1. Objetivos do estágio

Antes de começar o estágio profissionalizante, realizado no âmbito da unidade curricular de “Estágio” na opção de Futebol, pensei num conjunto de objetivos, tais como:  Estudar, ler e conhecer mais acerca da literatura sobre observação e análise de jogo, suportando e enriquecendo a minha visão e conhecimento acerca da temática onde desenvolvi a minha atividade profissional.  Realização e aprovação do relatório de estágio, com vista à obtenção do grau de mestre em Treino Desportivo  Melhorar, com a prática e com a devida orientação dos elementos da equipa técnica e do gabinete de análise, o meu entendimento e compreensão do jogo  Ser reconhecido como um profissional dedicado e que trabalha de forma correta, contribuindo para o sucesso da equipa que representa.

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1.2.2. Expetativas iniciais vs Realidade

Na antevisão daquilo que seria esta experiência, tinha noção que ia percorrer uma estrada, um caminho novo. E como qualquer pessoa que percorre um novo trilho, sabia que devia caminhar de forma prudente, um passo de cada vez e mesmo assim devia levar comigo os pensos, compressas e desinfetantes necessários para tratar das feridas abertas pelo caminho. Inicialmente trazia comigo o brilho no olhar de quem está prestes a iniciar uma nova e importante experiência, mas também o medo e o receio de quem está claramente fora da sua zona de conforto. Estava muito motivado e pretendia: perceber a organização, estrutura e contexto de um clube profissional; perceber qual ou quais as rotinas de organização da equipa técnica; conhecer as ideias de jogo e o modelo de jogo implementado, bem como a metodologia utilizada; entender a organização e funcionamento de um Departamento de Observação e AJ. Iniciei com a vontade de mostrar trabalho, com o intuito de demonstrar o quanto posso ser muito útil, fornecendo informações extremamente importantes para a definição de um plano, de uma estratégia por parte dos treinadores, que ajudasse a Académica a alcançar os seus objetivos. Passadas 11 semanas de trabalho árduo, após 74 sessões de treino, nos quais 6 jogos de preparação e após 7 jogos oficiais (Primeira Fase da Taça CTT e 6 jornadas Liga Ledman), momento em que fiz a minha primeira grande reflexão, senti que não tinha perdido o brilho no olhar, muito pelo contrário. Senti- me totalmente integrado, com uma boa dinâmica de trabalho juntamente com a equipa técnica. Senti que o meu trabalho era útil, sentia-me valorizado pela equipa técnica, mas não pela estrutura. Para a estrutura, o analista é o “rapaz dos cortes” e o rapaz que filma o treino e o jogo. Não lhe é reconhecida uma importância fulcral naquilo que é o entendimento do jogo e uma peça fundamental que dota o corpo técnico da melhor e mais sintética informação, que podem fazer a diferença entre o ter mais ou menos uma vitória, mais ou menos 3 pontos. Mas o maior choque nesta experiência foi mesmo na integração no gabinete de observação e AJ. Tinha como expetativa, vir a integrar uma equipa

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de trabalho e por ser uma primeira experiência neste campo de observação e análise também eu precisava de ajuda, na orientação, planeamento, organização e até mesmo na compreensão e entendimento do jogo. A realidade foi bem diferente. O gabinete de scouting era constituído por 2 pessoas, ficando o trabalho de prospeção entregue a um colega e ficando o trabalho de análise da equipa adversário à minha responsabilidade. Considerando que necessitava de ajuda e orientação, contava com uma pequena ajuda do treinador adjunto que me atribuía tarefas e definia os prazos para conclusão das mesmas e também do responsável pela prospeção relativamente à caraterização dos jogadores da equipa adversária. Esta foi uma verdadeira dificuldade, pois a partir daquele momento o trabalho que devia ser para duas, três ou mais pessoas ficou concentrado em mim. Mas continuei firme nos meus objetivos, desejando ganhar a confiança dos treinadores e mostrar que podiam sempre contar comigo. Estava disposto a fazer o possível e o impossível para conseguir cumprir com tudo o que me era proposto. Dentro das tarefas que me foram propostas (descritas em cima), procurei focar-me no possível e esquecer muitas vezes o ideal: a) fiz um pedido à direção da AAC/OAF para que encontrassem outra pessoa para filmar as sessões de treino, pois eram cerca de 3 horas de treino (por vezes dois treinos por dia), em que podia estar a adiantar outras tarefas; b) observei e analisei as equipas adversárias (através de vídeo e “in loco”). Realizava os cortes de vídeo, categorizava o jogo, pelos vários momentos de jogo e enviava a informação para o treinador adjunto; c) enviava um relatório onde descrevia (com texto e imagens) os princípios, ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários momentos do jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório era enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos, treinador de guarda-redes); d) filmava os jogos em casa e fora e acompanhava a equipa profissional em todos os jogos, sempre que os jogos eram em horários diferentes das partidas (dos próximos adversários), que me pediam para observar. Para além das tarefas propostas passaram a pedir-me mais algumas tarefas, que passei a realizar: e) realizava um relatório esquematizado e

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pormenorizado das bolas paradas das equipas adversárias; f) realizava vídeos acerca de algumas individualidades das equipas adversárias, relatando alguns movimentos padrão. O volume de trabalho e as tarefas variaram ao longo da época, devido às alterações verificadas no corpo técnico. Isto fez com que desenvolvesse a minha capacidade de adaptação e ajustamento. Enquanto profissional da AAC/OAF e com dupla função (Observador e Analista para a equipa profissional e também Coordenador Técnico entre os sub6 e os sub13) tive sempre muitas dificuldades para gerir e organizar o meu horário, pois se é verdade que me eram solicitadas muitas missões com a equipa profissional, não é menos verdade que a função de coordenação técnica, para a qual fui contratado, também requer imenso tempo, na organização e acompanhamento das equipas e no contributo para a formação de jogadores e treinadores. Estava perante uma enorme dificuldade. Conseguir conciliar duas missões, completamente incompatíveis, considerando que estava sozinho no gabinete de observação e AJ e considerando também que era o único coordenador com responsabilidades nos escalões entre sub6 e sub13. Não desisti, acreditei nas minhas capacidades e dei o melhor de mim, todos os dias.

1.2.3. Estrutura do Relatório

O relatório foi organizado em 7 capítulos, descritos nos parágrafos seguintes. No primeiro capítulo denominado “Introdução” é realizada uma apresentação do aluno e do seu percurso académico e profissional. Para além da sua apresentação, é onde se contextualiza toda a prática profissional no âmbito do estágio, onde se definem os objetivos delimitados antes da realização do estágio e onde são apresentadas as diferenças entre as expetativas iniciais e aquilo que se enfrentou na realidade. Posteriormente, foi descrita a estrutura e organização do relatório de estágio. No segundo capítulo denominado “Enquadramento da prática profissional” é realizado uma apresentação do contexto legal em que o estágio se realizou. Depois, é caraterizado o contexto institucional, com toda a sua

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história, missão e valores. De seguida, são apresentados os recursos espaciais, humanos, materiais. Para além disso são descritos os objetivos desportivos, é realizada uma caraterização do plantel, é ainda explicado o contexto de natureza funcional com todas as tarefas e funções desempenhadas pelo aluno/estagiário e por fim é apresentado o modelo de jogo da equipa e onde se aborda o processo de treino. Ao longo do terceiro capítulo, denominado “Macro contexto de natureza conceptual” foi apresentado o estado da arte no âmbito desta temática, isto é, para entendermos aquilo que foi desenvolvido ao longo deste estágio é necessário compreender alguns conceitos. No primeiro subcapítulo “Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa” são apresentadas, de forma geral, algumas caraterísticas do jogo de futebol. Depois, no segundo subcapítulo “Tendências evolutivas do jogo de futebol”, descrevemos a evolução do jogo com o passar dos anos. No subcapítulo seguinte (terceiro) fala-se acerca dos “Métodos de observação e Análise de Jogo”. No quarto subcapítulo apresenta- se a importância da “observação e análise do jogo, enquanto ferramentas indispensáveis para a caraterização do jogo e das equipas”. O quinto subcapítulo diz respeito à “conceptualização” propriamente dita onde se abordam os conceitos de: “scouting”, “scouter” e “analista”, “estratégia” e “tática”, “modelo de jogo”, “equipa”, “sistema de jogo”, “processo ofensivo”, processo defensivo” e “momentos de jogo”, “método de jogo ofensivo” e “método de jogo defensivo”. Ao longo do subcapítulo da “conceptualização” são ainda explicados os domínios do scouting que dizem respeito ao “recrutamento” e à “observação e análise da equipa adversária e da própria equipa”. É ainda explicada a necessária “racionalização do espaço de jogo” e tenta-se explicar algo mais sobre “modelo de jogo e sobre o processo de treino”. No quarto capítulo é onde aproveitamos para demonstrar e evidenciar aquilo que foi realizado no âmbito do estágio. É neste capítulo “Desenvolvimento da Prática” que abordamos como recolhemos a informação, como a tratamos, como a analisamos e como a transmitimos à equipa técnica e ao plantel. No quinto capítulo “Desenvolvimento Profissional” fazemos uma reflexão acerca daquilo que foi vivenciado ao longo do estágio e em que medida nos

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tornámos mais ricos enquanto pessoas e também como profissionais do Treino e da AJ. No sexto capítulo “Considerações Finais” é onde deixamos algumas ideias que pretendemos reforçar e que foram deixadas ao longo do trabalho. Por último, o capítulo sete que corresponde às “Referências Bibliográficas”, que representam as fontes a que recorremos para moldar o nosso pensamento e também para compreendermos mais acerca da temática da observação e AJ.

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2. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

2.1. Contexto legal

O estágio profissionalizante, realizado no âmbito da conclusão da unidade curricular de “Estágio”, do 2º ciclo de Treino Desportivo com especialização em Treino de Alto Rendimento, foi realizado durante a época 2017/2018 na equipa profissional da Associação Académica de Coimbra / Organismo Autónomo de Futebol, na função de analista.

2.2. Contexto institucional – história, valores e missão

A Académica é de Coimbra. Associação Académica de Coimbra. E “Coimbra é de Portugal” (A Académica, 1995). A história do futebol da Briosa, julgamos nós, dificilmente será entendida se desligada da história da Associação Académica de Coimbra. Não apenas porque foi no seio desta que nasceu a prática da modalidade entre os universitários coimbrãos, mas porque de outro modo não se compreenderia porque é que, em 1969, por uma única vez, o Presidente da República não esteve presente na final da Taça de Portugal, como não se perceberia porque é que, em Junho de 1974, a seção de futebol da Associação Académica foi temporariamente extinta por decisão de uma Assembleia Magna estudantil. Portanto, se a história do futebol da Briosa é, desde sempre, inseparável das lutas estudantis, ela confunde-se igualmente, em larga medida, com a própria história da cidade e do País nos últimos séculos (Santana & Mesquita, 2011). O alvará fundador da Associação Académica de Coimbra data de 3 de Novembro de 1887. Mais que centenária! É um motivo de reflexão. As perspetivas de futuro têm importância, o contar-se com um passado também (A Académica, 1995). A Associação Académica de Coimbra, ao longo dos seus 131 anos, marcou profundamente as várias gerações de estudantes que passaram pela Universidade de Coimbra, através das lutas, da defesa de valores como a democracia e a liberdade, e da sua cultura e do desporto (adaptado A Académica, 1995).

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A “Briosa”, com as suas camisolas negras, da cor das capas, e o emblema losangular, com a torre da Universidade, é indiscutivelmente um dos mais fortes elos de ligação entre a malta da Académica (A Académica, 1995). Relativamente aos feitos e conquistas mais significativas, a Associação Académica de Coimbra conquistou a taça na época de 1938-1939, a primeira Taça de Portugal, competição que, nesse mesmo ano, substituíra o Campeonato de Portugal (Santana & Mesquita, 2011). Na época 1950-1951, a Académica atinge a final da taça, mas desta vez viria a ser derrotada pelo SL Benfica, que foi também campeão nacional (Santana & Mesquita, 2011). Até à época de 1953-1954, a Académica já contava com 3 títulos de campeão de juniores, o que começava a indicar a tradição na formação desportiva (Santana & Mesquita, 2011). Na época 1966-1967 a Académica consegue a sua melhor classificação de sempre no principal campeonato português. Acaba em segundo lugar, a 3 pontos do SL Benfica, tornando-se vice-campeã nacional. O jogo do título disputou-se em Coimbra, na 19ª jornada, perante cerca de 43 mil espetadores. Nessa mesma época, a Académica atinge a final da Taça de Portugal mas acaba derrotada pelo Vitória FC (Santana & Mesquita, 2011). A Académica faz a sua estreia europeia na época 1968-1969, jogando com o Olympique de Lyon. Saiu derrotada em Lyon por 1-0 e em casa venceu por 1-0. Contudo, vinha a ser eliminada pelo velho sistema de desempate, moeda ao ar (Santana & Mesquita, 2011). Em 1969 a Académica atinge pela 4ª vez a final da Taça de Portugal e esta, foi seguramente a mais politizada de todas quantas se realizaram até hoje. A chamada crise estudantil desse ano está ao rubro e os jogadores da Académica estão com a luta dos universitários de Coimbra. Luta que poderia ter ganho um novo ânimo, caso a Briosa tivesse vencido. Mas, depois de ter estado em vantagem, a Académica deixa-se bater pelo Benfica. “Um dos maiores comícios de sempre contra o regime”, assim classificou o jornalista Carlos Pinhão, anos mais tarde. No topo sul do Jamor, as bandeiras da Briosa e os cartazes de incentivo a esta alternam com dísticos onde se pode ler: “Ensino

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para todos”; “Melhor ensino, menos polícias”, “Universidade livre” (Santana & Mesquita, 2011). Havia rumores que podiam ocorrer protestos e durante o jogo que não foi transmitido pela RTP e ao qual o Presidente da República não compareceu, milhares de comunicados voaram saídos de pontos estratégicos do estádio. Dezenas de dísticos, cartazes e faixas passearam, intervaladamente, nas bancadas. Palavras de ordem foram gritadas em coro e o hino cantado, solenemente, a plenos pulmões (Coimbra, 1969). Cartazes com várias legendas deste estilo “A Académica está de luto”, “Universidade livre”, “Viva a liberdade”, etc (A Académica, 1995).

Figura 1 – Luta estudantil na final da Taça de 1969 (Santana & Mesquita, 2011). Contudo, chega a época de 1969-1970, e a Académica consegue a melhor prestação europeia de sempre, atingindo os quartos de final da antiga Taça das Taças, onde é eliminada pelo Manchester City (Santana & Mesquita, 2011). Depois surge o 25 Abril de 1974, data marcante da história de Portugal, influenciou a vida da Académica como a de nenhum outro clube português. Demonstrando, mais uma vez, a sua ligação umbilical ao corpo donde provém, a Briosa nunca conseguiu passar incólume aos novos ventos que sopravam na Universidade e na sociedade portuguesa. Quando o antigo regime cai, e pese embora uma efémera passagem pelo escalão secundário, a Briosa não terá a pujança futebolística da década de 60, mas está solidamente implantada na primeira divisão. Contudo, instala-se uma nova polémica na Universidade e a direção na altura coloca o lugar à disposição.

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Foi então eleita uma comissão de gestão, constituída por estudantes universitários, que tinham como objetivo garantir a continuidade da seção de futebol, em diálogo com a direção geral e as restantes seções desportivas da Associação Académica. Esse diálogo viria a revelar-se difícil e na cidade já constava a extinção pura e simples da seção de futebol. E é nessa altura que a nova assembleia geral, presidida por António Arnaut propõe: “transforme-se a seção de futebol da Associação Académica de Coimbra em Clube Académico de Coimbra” (Académica, 1995). Começava, então uma dura batalha jurídica, destinada a garantir a transferência para o Clube Académico de Coimbra dos direitos desportivos que eram pertença da Académica (Académica, 1995). Enquanto Clube Académico de Coimbra não se assinalaram títulos ou grandes feitos nas principais competições nacionais, entenda-se Primeira Divisão, Taça de Portugal e provas europeias. Só em 1984, haviam já passado os excessos (que aliás, caraterizam as revoluções), sendo outra a atmosfera do País, resolveu-se que a Académica voltasse ao seu nome verdadeiro: Associação Académica de Coimbra, por competente decisão de Assembleia Magna. A resolução foi recebida com grande contentamento pelos adeptos da Académica espalhados por todo o País e fora do País (Académica, 1995). A Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) foi criado, em boa hora, por protocolo entre a direção geral da Associação Académica de Coimbra e o Clube Académico de Coimbra no ano de 1984. Este organismo “sui generis” da Académica, que tem como atividades “o fomento do futebol federado e o desenvolvimento desportivo e sociocultural dos seus associados”, dá corpo a uma Associação Académica para todos, movimentando não só os estudantes, pessoas de Coimbra e muitos que “chegam a ter saudades de Coimbra sem nunca nela terem vivido” (A Académica, 1995).

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Figura 2 - Logotipo do Clube Académico de Coimbra e da Associação Académica de Coimbra. O atual organismo autónomo de futebol, em si mesmo e nos seus antecedentes institucionais, ultrapassa largamente o quadro da Universidade de Coimbra. Mas sempre teve uma ligação privilegiada com a Universidade (Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995). No seu passado recente, enquanto Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) conseguiu, na época 2011/2012, a conquista da 2ª Taça de Portugal, vencendo o Sporting Clube de Portugal na final. Depois de vários anos a competir na , a Académica foi despromovida na época 2015/2016 e espera-se e deseja-se ansiosamente o regresso ao escalão máximo do futebol português. Resumidamente, A Associação Académica de Coimbra é a casa mãe e existe uma relação umbilical que, apesar de alguns desencontros históricos, efetiva a singularidade da Académica. É verdade que essa ligação teve as suas crises e complexidades, e julgo que no momento atual se impõe aos dirigentes e associados do organismo, como aos responsáveis académicos, estudantes ou não, refletir sobre os caminhos a seguir, em face dos novos tempos e realidades (Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra., A Académica, 1995). Com efeito, o compromisso de lealdade e solidariedade entre todos os que compõem a AAC/OAF marca o funcionamento da Instituição, devendo esta dar expressão e desenvolvimento à formação humana, ética, cultural e social dos seus atletas (2018, Modelo Formativo, AAC/OAF). Citando palavras de Vítor Santos, numa crónica no jornal “A Bola”, “a Académica é isto – a equipa dos escândalos, a equipa dos impossíveis, a equipa

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de que tudo se espera: o melhor e o pior, o lógico e o ilógico, o natural e… o mágico. Há realmente qualquer coisa naquelas camisolas negras, tecidas com a magia, a tradição, a irreverência, a ladinice, o azougue do ambiente de Coimbra e da sua eterna Academia”.

2.3. Recursos Espaciais

Dotada de boas infra-estruturas (com uma Academia com 2 campos de futebol em relva sintética, 1 campo em relva natural, 1 campo de futebol 7 em relva sintética e também com um Estádio modernizado, com 13 anos de existência, tendo sido reconstruído aquando da organização do Europeu de 2004 em Portugal). Possui uma Academia com 30 quartos, refeitório, sala de estudo, ginásio, que conta atualmente com 22 atletas residentes (desde sub15 aos sub23).

Figura 3 - Academia Briosa XXI e Estádio Cidade de Coimbra.

2.4. Recursos Humanos

A atual direção é presidida pelo Dr. Pedro Roxo. O diretor desportivo Américo Branco, o delegado Miguel Umbelino, o secretário Sérgio Abrunheiro, o departamento médico composto pelo Dr. Roxo e Dr. Paulo Queirós, pelo enfermeiro Nuno Simões, pela nutricionista Maria João Campos. Os técnicos de equipamentos José Guerra e Pedro Bastos. O motorista Saúl. O responsável pelo scouting (prospeção de jogadores) Pedro Evangelista. A equipa era composta por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações com a abertura do mercado, em Janeiro. Na posição de guarda-redes constavam: Ricardo Ribeiro, Guilherme Oliveira e João Gomes. Na posição de

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defesas centrais: João Real, Brendon Lucas, Yuri Matias, Zé Castro, Hugo Ribeiro (que depois foi emprestado), Tiago Duque (que saiu no mercado de inverno). Na posição de defesas laterais: Pedro Empis, Nélson Pedroso, João Simões, Mike Moura e Pedro Coronas (que chegou no mercado de inverno). Na posição de médios centro: Ki, Chiquinho, David Teles, Ricardo Dias, Zé Tiago, Ricardo Guima, Pedro Lagoa e Fernando Alexandre. Na posição de médios ala e extremos: Marinho, Femi Balogun, Harramiz (que saiu no mercado de inverno), Luisinho, João Traquina e Piqueti (que chegou no mercado de inverno). Os avançados: Diogo Ribeiro, Alan Junior (que chegou em Janeiro), Donald Djoussé e Tozé Marreco. Com o intuito de respeitar a privacidade e os dados dos treinadores, iremos atribuir a cada líder, uma respetiva codificação. Esta codificação não é feita de forma aleatória, não respeitando uma ordem lógica. A equipa técnica sofreu alterações ao longo da época. Entre o início de época (26 junho de 2017) e o dia 8 de novembro de 2017, o treinador foi “T3”. A sua equipa técnica era composta por dois treinadores adjuntos, um preparador físico/treinador adjunto e ainda um treinador de guarda-redes. Depois deu-se a chegada do treinador “T1” assumindo a equipa a partir do dia 19 de novembro de 2017. A equipa técnica passou a ser composta por dois treinadores adjuntos que chegaram com ele, mais um treinador adjunto e o treinador de guarda-redes que já pertenciam à equipa técnica anterior. A liderança de “T1” terminou após o jogo com a Oliveirense, a 31 de março de 2018. Depois chegou o treinador “T2”, que trouxe com ele um treinador adjunto. Ficaram na equipa técnica o treinador adjunto e o treinador de guarda-redes que já se encontravam na equipa técnica desde o início da época. Apesar de todas as alterações na equipa técnica, continuei a desempenhar as minhas funções no gabinete de AJ, continuando a desenvolver o trabalho de análise da performance das equipas adversárias.

2.5. Caraterização do plantel

O plantel era composto por 27 jogadores, sofrendo algumas alterações com a abertura do mercado, em Janeiro.

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Do plantel faziam parte três guarda-redes. O guarda-redes “G1” que era um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos, que apesar de estar na Académica há algumas temporadas e ser proveniente dos escalões de formação, era um atleta que ainda não tinha sido aposta e que tinha somado poucos minutos de jogo nas épocas anteriores. O guarda-redes “G2” que era também um guarda-redes jovem, com menos de 23 anos e que tinha chegado à AAC/OAF a partir de um empréstimo. Foi um jogador que também não teve muitas oportunidades ao longo da época. O guarda-redes “G3” era um guarda- redes mais experiente já com alguns jogos na primeira e segunda Liga Profissional de Futebol. Sem dúvida, um guarda-redes com presença e que manifestava algumas caraterísticas de liderança, em que os restantes jogadores lhe reconheciam talento e competência. Em treino, recebemos várias vezes mais um guarda-redes da equipa de juniores (sub19), sendo que por uma vez, um dos guarda-redes de juniores chegou a ser convocado para um jogo oficial. No plantel possuíamos vários defesas centrais onde se encontrava um misto entre experiência e juventude. Quase todos eles apresentavam competência no jogo aéreo. Mas eram poucos aqueles que apresentavam caraterísticas que nos permitiam construir e jogar curto e apoiado a partir de trás. Portanto, o nosso jogo mudava significativamente em função dos defesas centrais que jogavam de início. Por outro lado, também havia muitas diferenças quanto às capacidades físicas já que no plantel constavam defesas centrais rápidos e outros muito lentos. Por esse motivo, a nossa forma de defender também tinha de ser repensada em função dos defesas que se apresentavam em jogo. Assim o defesa central “D1” era um jovem jogador, também oriundo dos escalões de formação do clube. Por infelicidade tem estado constantemente lesionado e esse foi um motivo que não ajudou à sua integração acabando por ser emprestado. O defesa central “D2” foi um jogador que jogou pouquíssimo tempo e também acabou por ser emprestado no mercado de Janeiro. O defesa central “D3” era um jogador que apresentava um bom jogo aéreo, mas era um jogador que teve sempre muita dificuldade na leitura e antecipação das situações. Para além disso, era um jogador que falhava imensos passes se tentasse ligar jogo nos jogadores do sector intermédio. Por esse motivo optava

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quase sempre por um jogo mais longo. O defesa central “D4” era um defesa experiente, um jogador que permitia que a equipa construísse e jogasse a partir de trás. Apresentava muita facilidade no passe interior, quebrando algumas linhas de pressão da equipa adversária. Para além desse motivo apresentava ainda um bom passe longo, o que nos permitia oferecer alguma variabilidade ao jogo. Contudo, revela já muita dificuldade a nível físico, contraindo algumas lesões e apresentando pouca velocidade, sendo várias vezes surpreendido com bolas em profundidade. O defesa central “D5” era um defesa competente na leitura e antecipação, manifestando boa capacidade física, sendo também competente no jogo aéreo. Apesar de não ser a sua principal caraterística tratava-se de um jogador que também nos podia trazer alguma qualidade na construção de jogo. Por último, o defesa central “D6” que era um jogador experiente, já há muitos anos no plantel. Tratava-se de um jogador muito capaz no jogo aéreo, sendo essa a sua principal caraterística. Contudo, era um jogador que tinha algumas dificuldades em construção e por esse motivo insistia também em realizar passe mais longo para os homens da frente. A nível físico era um jogador com pouca velocidade e que foi muitas vezes surpreendido quando a bola era colocada em profundidade. Na posição de defesas laterais tínhamos dois laterais direitos, sendo que em Janeiro chegou outro lateral, visto que um dos laterais que estavam no plantel foi alvo de processo disciplinar. Tínhamos ainda dois laterais esquerdos. O defesa lateral “L1” foi um jogador que chegou no mercado de inverno mas que não realizou qualquer jogo oficial. O defesa lateral “L2” era um jogador oriundo da formação do clube, que estava a aparecer e a ganhar o seu espaço no plantel. Caraterísticas mais ofensivas, projetando-se bastante ofensivamente. Contudo, ficou afastado com um processo disciplinar e não deu mais o seu contributo à equipa, ficando relegado para a equipa satélite: Associação Académica de Coimbra / Seção de Futebol. O defesa lateral “L3” era um jogador experiente, já com muitos jogos realizados na Segunda Liga Portuguesa. Foi quase totalista na presente época desportiva. Tratou-se de um lateral com excelente posicionamento defensivo, muito competente nas missões defensivas. Foi um jogador que não se envolvia muito nas missões ofensivas preferindo

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guardar posição. Com o passar do tempo, foi sentindo maior confiança e já vai subindo, procurando criar maiores desequilíbrios pela direita. O defesa lateral “L4” é um jogador mais experiente, com muitos jogos somados na Primeira e Segunda Liga Portuguesa. Jogador muito competente ao nível do passe e do cruzamento. Contudo é um jogador que já revela alguma dificuldade a nível físico, principalmente com pouca velocidade. Para além disso, por se envolver ofensivamente, tinha sempre alguma dificuldade em recuperar a posição, controlando dessa forma a profundidade. Era um jogador referência nos lances de bola parada ofensiva, sendo um bom marcador de livres laterais e livres diretos (frontais). Por último, o defesa lateral “L5” que se tratava de um jovem jogador, que havia chegado por empréstimo. Não foi um jogador muito utilizado. Era um jogador tecnicamente evoluído, que se envolvia ofensivamente. No meio-campo tínhamos vários jogadores, todavia havia dos médios que desempenhavam de forma mais concreta a função de construção e também de médio mais defensivo, que ficava mais próximo da linha defensiva. O jogador “M1” tratava-se de um jogador já com muitos anos de Académica. Um jogador muito experiente, competente na sua missão específica mas em quem se notava já muitas dificuldades físicas, derivado das muitas lesões a que foi sujeito nas últimas temporadas. Tratava-se de um jogador forte no jogo aéreo, mas que já revelava menor capacidade de tração e de “choque” comparativamente com épocas realizadas no passado em que teve a “agressividade”, combatividade, capacidade de trabalho e entrega ao jogo como principais caraterísticas. O jogador “M2” tratava-se de um jogador que tinha chegado por empréstimo. Foi sem dúvida dos jogadores mais regulares durante a presente época desportiva. Jogador com boa capacidade física, bom jogo aéreo, boa capacidade de trabalho e de entrega ao jogo. Penso que é um jogador que tenta fazer também a ligação com o sector ofensivo, mas aqui ele revela algumas dificuldades. Outros médios da equipa mas que podiam desempenhar mais algumas missões ofensivas: o médio “M3” era um jogador oriundo da formação que não somou qualquer minuto ao longo da época. O médio “M4” foi outro jogador da formação que somou poucos minutos ao longo da época desportiva”. O médio “M5” era um jogador cuja caraterística principal era a sua capacidade física.

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Muito forte e com muita resistência. Era um médio “de área a área”. Contudo, era um jogador que falhava sempre muitos passes, um jogador que pecava bastante na sua tomada de decisão. O médio “M6” era um médio muito evoluído a nível técnico, com um controlo fantástico da bola, um médio bom ao nível do passe, que tanto podia jogar como um médio mais ofensivo e a pisar zonas entre a linha defensiva e a linha média adversária como podia jogar também junto ao corredor lateral, com tendência para procurar espaços interiores. Para além destas caraterísticas era um jogador com um bom passe de rutura. Era um jogador frágil fisicamente. O médio “M7” era um médio desequilibrador, um jogador que chegou por empréstimo, mas em quem se identificava um talento fantástico e um potencial enorme. Era um médio muito competente, que apesar de se sentir mais confortável a procurar espaços entre linhas, também baixava muitas vezes a procurar bola um pouco mais atrás, transportando jogo para a frente. É um jogador muito competente, com um bom passe de rutura, muito bom no passe e com clara tendência para jogar curto e apoiado. Por último “M8” um médio que também passou pelos juniores do clube e que já está no plantel profissional há alguns anos. É um médio que gosta muito de ter a bola, que procura fazer a ligação (médios – avançados) mas que falha bastante na decisão, perdendo muitas bolas. Apesar de ser caraterístico de um bom passe e também de bom remate, é um jogador que é frágil do ponto de vista físico, não conseguindo aguentar a carga. Na posição de médios ala e extremos tínhamos vários jogadores: “E1” era um jogador que tinha acabado de chegar no mercado de inverno e que praticamente não foi utilizado. Contudo pareceu ser um jogador rápido e com boas mudanças de velocidade. “E2” era um jogador formado no clube, que conta já com bastante experiência, com muitos jogos realizados na Segunda Liga. Bom driblador, jogador que joga mais encostado ao corredor lateral. Com o passar dos anos e com a perda de alguma velocidade tem sido experimentado também a lateral direito. Jogava preferencialmente sobre a direita. “E3” era um extremo muito rápido, que gosta da bola no espaço. Bom driblador, boa mudança de velocidade mas que pecava imenso no cruzamento. Era um jogador que podia ser solicitado nos instantes de transição ofensiva. Jogava preferencialmente

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sobre a direita. “E4” era um extremo que saiu no mercado de Inverno. Jogador que podia fazer de extremo mas também de avançado. Tinha algumas caraterísticas de finalizador. Contudo, foi um jogador que nunca se adaptou e nunca conseguiu soltar-se da pressão. Foi um jogador muito perdulário e que falhou sempre bastante na tomada de decisão. “E5” é um jogador muito experiente, com muitos anos de primeira e segunda liga, que já se encontra na Académica há muitos anos. Jogador com quem os adeptos nutrem um carinho muito grande, pois há uns anos foi ele que marcou o golo que deu a vitória da Taça de Portugal em pleno estádio Nacional, vulgarmente conhecido “Estádio do Jamor”. É um jogador desconcertante, com boa capacidade técnica, bom drible, mas que já não tem a velocidade de outrora. Contudo é um jogador combativo e voluntarioso. A sua presença em campo é importante para os colegas devido à sua liderança. Por último “E6” foi um jogador que chegou por empréstimo. Um jogador muito desequilibrador, muitíssimo rápido. Foi talvez o jogador mais desequilibrador que jogava nos corredores laterais. Era um jogador que gostava de procurar espaços interiores, no entanto, tinha mais caraterísticas de jogador de corredor lateral. Foi um jogador que teve uma lesão grave no decorrer da segunda metade da época, o que foi uma enorme contrariedade para a equipa. Na frente, os avançados: “A1” que era um jogador oriundo da formação do clube, já com alguns jogos realizados em clubes de Segunda Liga. Avançado que gosta de sair bastante das zonas dele, caindo muitas vezes em apoio mas também tombando para os corredores laterais. É um jogador muito combativo, voluntarioso e natural de Coimbra. “A2” é um ponta de lança forte fisicamente e também de elevada estatura. É muitas vezes servido como apoio frontal. É um jogador muito solicitado nos momentos de transição ofensiva seja como apoio frontal, seja em corredor lateral, transportando ele o jogo para a frente a partir de condução rápida. “A3” é um ponta de lança, finalizador, que conta com várias passagens em clubes de Segunda Liga e também clubes no estrangeiro. É um finalizador, um homem de área. “A4” foi um avançado que chegou no mercado de Janeiro. Trouxe alguma mobilidade à equipa, mas não foi o finalizador que precisávamos.

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2.6. Objetivos desportivos

A AAC-OAF, por se tratar de uma instituição histórica em Portugal (pela sua mística, pela sua ligação à Academia, pela sua filosofia) com um grande historial na Primeira Liga, terá obrigatoriamente que ter ambição de voltar aos palcos principais do futebol português. Portanto, de forma assumida, os objetivos da Académica passam sempre por procurar alcançar a promoção à Primeira Liga, agora intitulada Liga NOS. Nas restantes competições o objetivo passaria sempre por ir o mais longe possível, quer na Taça da Liga intitulada Taça CTT, quer na Taça de Portugal. Na Ledman Liga Pro (Segunda Liga), falhámos o nosso objetivo, não alcançando a promoção, terminando o campeonato em quarto classificado, a três pontos do nosso objetivo. Na Taça CTT fomos eliminados na primeira fase pelo Arouca Futebol Clube. Na Taça de Portugal, fomos eliminados nos oitavos de final, pelo Caldas Sport Clube.

2.7. Modelo de Jogo e Processo de Treino

Apesar do jogo de futebol ser conhecido por ser surpreendente, imprevisível, não sendo possível prever com certeza o resultado final de um jogo, é possível minimizar a imprevisibilidade procurando criar contextos e situações- problema em treino que possam assemelhar-se às situações que vão surgir em competição. Assim, apesar de entendermos o jogo como caótico, entendemos também que tem de haver algo que ligue o jogo e que o enquadre num cenário de possibilidades e previsões, dando sentido à preparação dos jogadores e das equipas. Caso contrário, o jogo seria completamente aleatório e estaria puro e simplesmente entregue ao acaso. Seguindo este pensamento, será possível modelar o jogo, minimizando a imprevisibilidade, reduzir o desconhecido, mas colocando sempre na balança a ordem e a desordem, não esquecendo em momento algum que a possibilidade de modelar não elimina o cenário caótico do jogo. Longos são os anos a acompanhar as equipas da AAC/OAF, assistindo aos jogos na posição de adepto. Recordo-me desde sempre que na AAC/OAF sempre houve interesse, ideia e tentativa de se implementar um jogo que desse primazia à iniciativa e ao querer ter a posse de bola. Assim, no processo ofensivo

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e mais propriamente em momento ofensivo, notei desde sempre que houve uma preocupação em construir o jogo a partir de trás. Mas recordo-me também que sempre houve alguma dificuldade, ano após ano, em conseguir criar muitas situações de finalização. Havia sempre claras dificuldades em ligar o sector intermédio com o sector ofensivo. Para além desta caraterística, observava também nas equipas da AAC/OAF, a presença de jogadores rápidos nas alas e até na frente, o que possibilitava também que a AAC/OAF fosse uma equipa perigosa, nos instantes após a recuperação de bola, procurando rapidamente a verticalidade e atacar a profundidade. Sem bola, e quando em organização defensiva, tenho memórias de ver os “estudantes” como uma equipa organizada, defendendo de forma coesa e competente. Atualmente está a ser desenvolvido um trabalho competente e organizado na formação do clube, havendo a definição clara de ideias para as equipas da formação, com um “jogar” devidamente caraterizado e escrito num “manual técnico – modelo formativo”. Contudo, entendo que na maior parte das vezes ainda não existe uma ligação muito forte com o que é desenvolvido na equipa profissional. Nos dias de hoje, em alguns clubes profissionais, como é o exemplo da AAC/OAF, vive-se uma enorme instabilidade com trocas de treinador constantemente. E quando há a troca de treinador e consequentemente da equipa técnica, é muito provável que exista alteração das ideias, do modelo de jogo e até de alguns jogadores. Assim, uniformizar um modelo de jogo, uma cultura de clube torna-se cada vez mais utópico. Durante a época desportiva 2017/2018 foram três os treinadores que passaram pelo comando da equipa. Foram três equipas técnicas que deram o seu contributo à AAC/OAF. Por questões éticas vou dirigir-me aos treinadores com a seguinte designação “T1”, “T2”, “T3”, sendo que esta designação não se encontra ordenada. O “T1” era um treinador conservador. Gostava de dominar e controlar o jogo mas não gostava de ver a sua equipa exposta a grandes riscos. A nível ofensivo era um treinador que trabalhava a primeira fase de construção sempre em paralelo com uma transição defensiva, com uma

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mudança rápida de atitude, onde pedia que os jogadores fossem rápidos a “fechar a bola”, “fechar o campo” e a voltarem às suas posições. Ainda em fase de construção, incutia que os seus jogadores construíssem muitas vezes com três jogadores, baixando muitas vezes um médio entre centrais ou em corredor lateral, permitindo que o lateral se projetasse. Ofensivamente, era suposto que a equipa fosse rápida a circular a bola e entendesse o momento certo para variar centro de jogo e acelerar em corredor contrário ou então para realizar passe em profundidade à procura dos homens da frente. O “T1” pretendia que os seus jogadores conseguissem ligar o jogo, procurando especialmente os espaços entre linhas cedidos pela equipa adversária. Para além disso, “T1” incutia que os seus jogadores atraíssem também o adversário dentro, procurando depois jogar e acelerar por fora, em corredor lateral. Portanto era um treinador que procurava alguma variabilidade entre a variação de centro de jogo e o passe para a profundidade. “T1” foi um treinador que dedicou sempre muito tempo à organização defensiva da sua equipa. Na maior parte das vezes gostava que a equipa pressionasse na saída de bola da equipa adversária, evitando que o oponente conseguisse construir jogo a partir de trás. Definia zonas de pressão e tentava dessa forma neutralizar o adversário nas suas fases de construção. “T1” mostrou sempre muita preocupação em trabalhar a sua linha defensiva, preparando-a para subir e descer em função do posicionamento da bola e em função da interpretação de situações de “bola coberta” e “bola descoberta”. Para além disso preparou a sua defesa para quando fosse surpreendida com algumas bolas em profundidade, poder conseguir defender bem, fechando baliza e acertando marcações. Foi um treinador que se preocupou bastante em preparar a sua equipa para sair bem em situações de contra-ataque e ataque rápido. Principalmente no início, aquando da sua chegada a Coimbra. Inicialmente preparou a equipa para corrigir algumas situações defensivamente. Preparou a equipa para sair melhor em transição defesa-ataque. Com o passar do tempo, foi começando a trabalhar a sua equipa no momento ofensivo. Assim, inicialmente, em situações de defesa

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ataque, incutiu o hábito para que a sua equipa procurasse o ponta de lança mas também os extremos. Relativamente às bolas paradas, foi um treinador que se focou sempre mais nas situações de bola parada ofensiva e não tanto nas situações de bola parada defensiva. Assim que chegou começou a trabalhar as bolas paradas ofensivamente. Só mais tarde começou a trabalhar a equipa nas bolas paradas defensivas. O “T2” chegou em situação adversas e circunstâncias muito particulares. Por esse motivo, é difícil explicar qual a sua ideia de jogo e consequentemente qual o modelo de jogo adotado. Com a sua chegada, o seu verdadeiro objetivo foi recuperar a equipa mentalmente, motivando os jogadores para os jogos que faltava disputar. O treino serviu muitas vezes para manter os índices físicos mas não foi um treino muito elaborado e aquisitivo. A equipa técnica pretendia ter os atletas focados para o que faltava mas, ao mesmo tempo, libertá-los do ambiente de tensão existente. Ainda assim, houve sempre preocupação em trabalhar e treinar a organização defensiva, especialmente, a pressão de bola na saída de bola da equipa adversária. O “T2” seguia a ideia adotada até então, em não permitir a fase de construção da equipa adversária. Ofensivamente, com a ideia existente em soltar um pouco os jogadores e dar-lhes maior liberdade, passamos a depender um pouco mais de jogadas individuais e do talento individual dos jogadores mais adiantados. Houve ainda um cuidado na preparação da equipa para os lances de bola parada defensiva e ofensiva. Portanto, fica a dúvida acerca das ideias de jogo de “T2” bem como o modelo de jogo que adotaria, caso estivesse na liderança a partir do inicio da época. Por fim, o “T3” era defensor de um jogo “positivo”, identificando-se com um estilo ofensivo, com um futebol de ataque, tomando iniciativa do jogo, tentando criar várias situações de golo, procurando a vitória. Gosta de dominar e controlar o jogo. No processo ofensivo identificava-se com um jogo que dava primazia à posse de bola, vendo nesta um meio para atingir o fim: golo. Joga

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muitas vezes em ataque posicional, jogo apoiado, tentando várias dinâmicas para ligar os sectores. Procura dedicar muito tempo de treino às fases de construção e ligação de sectores, com uma boa dinâmica dos médios, para que sejam capazes de encontrar espaços e assim possibilitarem a ligação do jogo. Procura ainda uma equipa que consiga circular a bola rapidamente, variando centro de jogo, levando a bola aos 3 corredores. Para além disso, procura ainda colocar muitos jogadores em zonas de finalização. Defensivamente, “T3” identificava-se com uma equipa pressionante, logo a partir da saída de bola da equipa adversária, identificando-se zonas pressionantes. O treinador pretende evitar que as adversárias consigam ter sucesso nas fases de construção. “T3” adequava a forma de pressionar considerando o adversário, definindo indicadores de pressão diferentes em função das caraterísticas do adversário. Para além disso, o treinador identifica- se com uma defesa organizada que se posicione corretamente em função da bola, espaço e adversário. Sempre que não seja possível realizar pressão alta, opta por fazer baixar a equipa, juntando linhas, evitando dessa forma que o adversário consiga aproveitar os espaços entre linhas. Para além disso, trabalha a sua linha defensiva para que consigam controlar bem a profundidade, de maneira a não sermos surpreendidos com uma bola nas costas da defesa. Para além do controlo da profundidade há ainda a preocupação no acertar das marcações dentro de área. No instante de transição ofensiva, o treinador pretendia que a equipa fosse capaz de tirar a bola rapidamente da zona de pressão. O idealizado era que a equipa e os respetivos jogadores fossem capazes de identificar situações e espaços tomando a decisão de avançar rapidamente para o ataque (contra- ataque e ataque rápido), procurando servir os jogadores mais adiantados da equipa (avançado e extremos), ou procurando manter a bola, reorganizando-se ofensivamente. No instante de transição defensiva, o treinador pretendia uma equipa que fosse rápida a mudar de atitude. O objetivo era que houvesse uma pressão rápida sobre o portador da bola, evitando que a equipa adversária conseguisse tirar a bola da zona de maior pressão. Portanto, antes de perder a bola pretendia

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a equipa próxima, para que depois fosse possível ter uma resposta e pressão pronta, após a perda de bola. Por fim, nas situações de bola parada, “T3” o treinador atribuía muita importância à observação e análise das situações de bola parada do adversário, nomeadamente dos cantos e livres laterais, ajustando e “simulando” em treino a ação da equipa adversária nestas situações.

2.8. Contexto de natureza funcional

Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Mais tarde, como disse anteriormente, tive oportunidade de participar ativamente, treinando crianças e jovens, e eis que durante a época 2017-2018 e no âmbito do estágio curricular, desempenhei a função de Analista para a equipa profissional. Tive a oportunidade de vivenciar, de perto, o trabalho desenvolvido junto de uma equipa profissional. No final do mês de junho de 2017 recebi um convite por parte da AAC/OAF para desempenhar a função de Analista para a equipa profissional e também Coordenador Técnico para o Futebol de iniciação. Aproveitei o facto de já estar dentro da estrutura para realizar o meu estágio curricular. No âmbito do estágio, centrei o meu trabalho nas minhas funções junto da equipa profissional, com principal enfoque naquilo que era a minha missão no gabinete de observação e AJ. Por já pertencer à instituição enquanto profissional, sempre houve recetividade e nunca houve qualquer situação problemática. Iniciei o estágio no dia 3 de julho de 2017, uma semana após o início dos trabalhos (26 de Junho de 2017). O trabalho desempenhado considerava uma lista enorme de tarefas:  Observar e filmar algumas sessões de treino da nossa equipa e passar os ficheiros de vídeo para o treinador adjunto  Filmar os jogos em casa e acompanhar a equipa profissional em todos os jogos (por vezes não foi possível, pois foi-me solicitado que fosse observar um jogo “in loco” do próximo adversário).

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 Observar e analisar as equipas adversárias (através de vídeo e “in loco”): a) Pretendia-se que fizesse cortes de vídeo, categorizando o jogo, pelos vários momentos de jogo. Esta informação era igualmente enviada para o treinador adjunto; b) Realizar um vídeo (mostrando como a equipa adversária se organizava nos vários momentos do jogo), com duração máxima de vinte minutos. Enviava o mesmo para a equipa técnica; c) Realizar um vídeo mais curto, com duração máxima de nove minutos. Pretendia-se que trabalhasse as imagens, colocando algumas animações por forma a enfatizar algumas situações. O objetivo era enviar este segundo vídeo para a equipa técnica. Este mesmo vídeo seria mostrado e apresentado aos jogadores, pelo treinador e um dos treinadores adjuntos; d) Elaborar um relatório onde descrevia (com texto e imagens) os princípios, ações e comportamentos da equipa adversária, nos vários momentos do jogo, nos três a quatro jogos observados e analisados. O relatório era enviado para toda a equipa técnica (treinador, treinadores adjuntos e treinador de guarda-redes); e) Elaborar um relatório detalhado das Bolas paradas ofensivas e defensivas do nosso adversário. O mesmo seria enviado para todos os elementos da equipa técnica. f) Elaborar vídeos, com alguns comportamentos e ações padronizadas de alguns atletas ou individualidades da equipa adversária. Ao longo da época foram surgindo várias alterações, motivadas principalmente pelas alterações ocorridas na composição das equipas técnicas, com 2 alterações de treinador e consequentemente mudança de quase todos os elementos que constituíam a equipa técnica. Com todas estas alterações, continuei sempre a desempenhar a função de analista e trabalhar no gabinete de observação e AJ, mas considerando as diferentes alterações na composição das equipas técnicas e a diferente organização, visão e até modelo de jogo e modelo de treino, houve alterações nas tarefas solicitadas e realizadas.

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Para além da equipa técnica, o staff também se manteve de início até ao final de época, salvo uma ou outra exceção.

2.9. Departamento de Análise de jogo – Recursos Materiais

Segundo Vales (2015), a plena instauração e integração de um departamento de AJ dentro do organigrama técnico de uma equipa de futebol profissional requer, para além da participação de recursos humanos qualificados e de uma correta estratégia de trabalho que os oriente, a posse de um material mínimo imprescindível que possibilite o desenvolvimento de um alto ritmo de trabalho e de uma máxima qualidade do mesmo. Material como: computadores - fixo e portátil com grande capacidade de armazenamento e processador de informação especialmente de vídeo; discos externos de alta capacidade para armazenamento de informação; projetor de imagem portátil, de alta definição para efetuar as diversas apresentações; Tela portátil para a projeção de imagens e televisor de alta definição e grande tamanho para visualização dos jogos e para as diversas apresentações; câmara de vídeo de alta gama com tripé para gravação dos jogos e de treinos em direto ou desde ângulos especiais; impressoras digitais com função de scanner para a apresentação e envio de diferentes documentos. Na AAC/OAF, dispúnhamos de um gabinete que ficava ao lado do gabinete da equipa técnica. Utilizei sempre o meu computador pessoal. A AAC/OAF disponibilizava um disco externo mas de capacidade reduzida. Acabei por utilizar um disco externo pessoal para poder armazenar todos os documentos e informação. No gabinete de scouting tínhamos uma TV à nossa disposição, contudo era mais vezes utilizada pelo meu colega que ficava responsável pela prospeção e recrutamento de jogadores. Servíamo-nos da sala de imprensa da Academia Briosa XXI para fazer as apresentações de vídeo aos jogadores. A sala já está equipada com projetor de imagem e também com tela preparada para projeção de imagem. Em alguns momentos, também utilizámos a sala de imprensa do Estádio Cidade de Coimbra para os momentos de apresentação. Também a sala de imprensa do Estádio

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está devidamente equipada com projetor de imagem e com tela preparada para projeção de imagem. Possuíamos apenas uma única câmara de vídeo e um tripé, para gravação dos jogos e treinos. Tínhamos uma impressora partilhada com a equipa técnica, o que nos possibilitava entregar o relatório técnico de forma rápida.

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3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA CONCEPTUAL

3.1. Futebol, da aparência simples a uma lógica complexa

“na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um fenómeno que assenta numa lógica complexa” (Garganta & Gréhaigne, 1999). Com a entrada no século XXI, o futebol afirma-se como a modalidade desportiva de maior expressão mundial, alcançando uma popularidade sem precedentes na história da humanidade. Este jogo, cuja beleza parece decorrer da sua aparência simples e dos comportamentos matizados e pouco previsíveis, tem suscitado a adesão de um elevado número de afiliados (Garganta, 2006). Porém, na aparência simples de um jogo de futebol esconde-se um fenómeno que assenta numa lógica complexa (Garganta & Gréhaigne, 1999). Numa análise mais profunda e detalhada, apesar do facto dos desportos de equipa terem uma série de caraterísticas estruturais e funcionais que lhes trazem um sentido único, o futebol, como desporto específico condicionado por um regulamento e cultura particular, apresenta uma série de traços próprios que o distinguem do resto das modalidades pertencentes à família dos desportos coletivos. (…) Entre os principais aspetos que particularizam esta modalidade desportiva podemos destacar: a) a proibição de usar as mãos para manipular a bola, o que leva a um potencial aumento do grau de discordância entre o projeto de ação e a execução, motivada pela elevada dificuldade coordenativa das ações de jogo; b) o desenvolvimento do jogo num espaço amplo, o que leva a uma importante exigência percetiva e que exige uma amplitude visual. Exige ainda um domínio de jogo, tanto num espaço próximo (situações 1x1, etc), como num espaço mais distante (mudanças de orientação, remates de longa distância, etc). Requer ainda uma certa especialização posicional e funcional, para que os jogadores racionalizassem o espaço (guarda-redes, sector defensivo, sector intermédio e sector ofensivo); c) a participação de um importante número de jogadores e a limitação das possibilidades de substituição entre os mesmos, o que leva a redes complexas de interação, a uma solicitação física em termos bioenergéticos e neuromusculares, pois são no mínimo oito os atletas que têm

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que disputar a totalidade do tempo; d) a presença de um elevado tempo de jogo e a obtenção de um escasso número de golos durante os jogos, o que evidencia uma elevada dificuldade para desenvolver e manter o ritmo de jogo intenso durante todo o jogo, a importância de dispor jogadores especialistas para as fases de finalização para fases de finalização e de bola parada (Vales, 2015). A performance nos jogos desportivos é difícil de analisar e avaliar, muito particularmente nos jogos desportivos coletivos, pois trata-se não apenas de quantificar comportamentos, mas sobretudo de os qualificar. O comportamento dos jogadores não é tão previsível como as trajetórias dos planetas, mas também não é tão imponderável quanto os lançamentos de dados (Garganta, 2008). Por exemplo, as equipas de futebol, como referem Garganta (2000), operam como sistemas dinâmicos que se confrontam simultaneamente com o previsível e o imprevisível, com o estabelecido e a inovação. O decorrer do jogo dá-se na interação e através da interação, das regras constitutivas do jogo, o acaso e a contingência de acontecimentos específicos com as escolhas específicas e as estratégias dos jogadores, viradas para a utilização das regras e do acaso para criarem novos cenários e possibilidades. Garganta (2000) referem que, decorrente da relação de oposição, existe uma lógica interna que, em cada sequência de jogo, gera uma dinâmica de movimento global, de um alvo ao outro, que a cada instante pode inverter-se. Castelo (2009) reforça dizendo que o futebol é um fenómeno que se projeta numa cadeia de estados, os quais têm caráter de ordem e desordem, estabilidade e instabilidade, equilíbrio e desequilíbrio, uniformidade e variabilidade, previsibilidade e imprevisibilidade, etc. Os contextos sempre em mudança, radicam porventura o seu verdadeiro fascínio e espetacularidade, na incerteza que envolve o resultado das ações realizadas. Garganta (1997) considera ainda que o jogo de futebol apresenta uma estrutura formal e uma estrutura funcional. A estrutura funcional decorre das ações de jogo, enquanto resultado da interação recorrente entre os companheiros de equipa e, da interação concorrente entre adversários, em torno da bola, a fim de conseguirem vencer a oposição dos adversários e atingir os

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objetivos propostos. A estrutura formal refere-se ao terreno de jogo, à bola, ao regulamento, aos companheiros e adversários. No futebol, a ideia básica é perceber que há um esforço da equipa para marcar golo e para impedir que o adversário o faça. É claro que o adversário terá o mesmo objetivo. Assim, ambas as equipas perseguem o mesmo objetivo, simultaneamente. Importante, porque esses objetivos que são mútuos, são perseguidos ao mesmo tempo, resultando interações entre ambas as partes. Essas interações são dinâmicas, mudando no tempo ao longo do jogo (Lames & McGarry, 2007). No concurso das equipas para um objetivo comum e no permanente antagonismo destas, de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo de futebol apresenta-se como um fenómeno de contornos variáveis no qual as ocorrências se intrincam umas nas outras. As competências dos jogadores e das equipas não se confinam, portanto, a aspetos pontuais, mas reportam-se a grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber o jogo na sua complexidade (Garganta & Gréhaigne, 1999). Não devemos esquecer que o futebol é jogado por pessoas. Os jogadores estão em constante formação, em contínua incorporação de conhecimentos e experiências próprias, em mútua interação consigo e com o envolvimento, enriquecendo-se eles mesmos e enriquecendo o jogo. O jogador e o jogo são os dois lados da mesma moeda. Um não existe sem o outro (…) A relação entre o jogo e o jogador é bidirecional. Há influência do primeiro sobre o segundo e vice- versa (Castellano, 2009). Assim, numa partida, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto e aleatório. Não é possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino. Todavia, não obstante essas caraterísticas, as situações podem ser “categorizáveis”, isto é, reconvertíveis num número restrito de categorias ou tipos de situações (Garganta & Gréhaigne, 1999).

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Tal entendimento repousa na convicção de que os comportamentos dos jogadores e das equipas, quando observados várias vezes e no confronto com diferentes oponentes, são suscetíveis de exibir traços que permitem identificar padrões de jogo (McGarry et al., 2002).

3.2. Tendências evolutivas do jogo de futebol

Assistimos a mudanças na nossa sociedade com o passar do tempo. Essas mudanças influenciam a nossa cultura e consequentemente o jogo de futebol. Assim, é de extrema importância perceber e compreender as tendências evolutivas do jogo de futebol. Se tivermos presente alguns dados, de caráter quantitativo, da análise do jogo de futebol, observamos que o número de acontecimentos aumentou na unidade de tempo. Com efeito, no quadro da dinâmica dos esforços, produzidos pelos jogadores ao longo do jogo, triplicou nos últimos 30 anos. Daqui se infere, que no plano tático os jogadores cobrem uma maior área de terreno de jogo (tanto na fase ofensiva, como defensiva). Esta “pequena” constatação veio a implicar, por sua vez, uma diminuição do tempo e do espaço para a resolução tático-técnica de uma dada situação, tendo-se ou não a posse da bola. Na atualidade, cada jogador executa em média 360 a 400 intervenções (de curta até dois segundos, média até cinco segundos ou longa duração até oito segundos) por jogo. Este facto determina quatro esforços por minuto. Mas se utilizarmos o tempo real de jogo (excluindo as paragens que representam cerca de 30% do seu tempo total) este valor sobe para seis, isto é, observa-se um comportamento visível de dez em dez segundos, com ou sem a posse da bola, com uma determinada intenção, finalidade e duração. A tendência destes valores no futuro é de aumentarem, não tão rapidamente como no passado, mas a melhorarem no domínio da qualidade do complexo decisão / ação e, em especial, na maior duração de cada esforço produzido (Castelo, 2009). Vales (2015) resume aquelas que são as principais peculiaridades estruturais e coletivas do futebol, tratando-se de ser: a) Uma atividade desportiva com um formato de fase alternada, determinado basicamente por o facto de ter ou não ter a posse de bola;

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b) Atividade desportiva com alto conteúdo tático-estratégico, em que os jogadores devem manifestar, desde um plano coletivo, uma intensa atividade colaborativa para superar em conjunto a oposição ativa e inteligente que representa a equipa adversária (organização e coerência global); c) Atividade desportiva onde predominam as tarefas relacionadas com a construção ofensiva e construção defensiva, sobre as de finalização ofensiva e aquelas em que se evita o golo adversário;

Figura 4 - Tempo de jogo e tarefas consubstanciais (Vales, 2015). d) Atividade desportiva com uma dinâmica de situações de jogo de tipo descontínuo, observando-se de forma intercalada sequências de jogo ativas e passivas durante os jogos; e) Atividade desportiva em que as equipas manifestam claramente uma maior capacidade defensiva do que ofensiva, tanto nas subfases do jogo pertencentes ao jogo dinâmico, como nas ações distintas que caraterizam o jogo com bola parada; f) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente formatos defensivos estruturados a partir da adoção de posicionamentos conservadores, com a participação de todos jogadores e a manifestação de atitudes defensivas agressivas (pressing); g) Atividade desportiva em que as equipas assumem preferencialmente formatos ofensivos caraterizados pela participação direta de grupos reduzidos de jogadores sobre a bola e pelo predomínio do jogo interior sobre o jogo exterior;

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h) Atividade desportiva com uma baixa frequência de golos por jogo (2.63 golos/jogo), circunstância que determina que o aproveitamento das situações de finalização ocorridas no decorrer do jogo seja um feito decisivo no resultado final dos jogos;

Quadro 1- Evolução média dos golos / jogos nas principais ligas europeias (adaptado de Vales, 2015).

País/Época França Inglaterra Espanha Itália Alemanha Média

75/76 3.01 2.66 2.50 2.27 3.29 2.74

80/81 2.80 2.70 2.70 1.91 3.39 2.70

85/86 2.45 2.78 2.63 2.05 3.24 2.63

90/91 2.16 2.65 2.23 2.22 2.74 2.40

95/96 2.32 2.60 2.69 2.66 2.71 2.59

00/01 2.48 2.61 2.88 2.75 2.98 2.74

05/06 2.13 2.48 2.46 2.61 2.80 2.49

10/11 2.92 2.79 2.74 2.51 2.92 2.77

i) Atividade desportiva em que 64% dos golos obtidos por uma equipa resultam do jogo dinâmico, estando precedidos de ações coletivas cuja estrutura espacial, temporal e modal são de complexidade intermédia. Por outro lado, 36% dos golos resultam de ações de bola parada que apresentam um nível de complexidade estrutural reduzida. Vales (1998), em jeito de resumo, apresenta uma tabela onde esboça as principais mudanças ocorridas no jogo, do ponto de vista tático estratégico, assim como as principais repercussões dos mesmos nas exigências funcionais solicitadas, tanto em termos condicionais como em termos técnico táticos.

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Quadro 2 - Resumo das principais transformações do jogo nos últimos anos (adaptado de Vales, 1998 cit. por Vales, 2015).

Consequências Consequências técnico – Caraterísticas do Jogo condicionais táticas Maior número dos Elevação do ritmo de jogo deslocamentos de Maior velocidade na atuação (cognitiva – operativa) grande intensidade Limitação da iniciativa ofensiva / Maior número de duelos Mais recursos ofensivos e defensiva do adversário com contacto defensivos

Relevância do jogo com bola Aumento do número das Especialização técnico – parada disputas em jogo aéreo tática

Polivalência funcional dos Aumento do número de Repertório técnico – tático jogadores intervenções mais amplo

Se atendermos ao número médio de golos marcados por jogo em campeonatos do Mundo, verifica-se que desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006 este vem descrescendo, atingindo o limite inferior em Itália 1990, rodando desde então esse nível (Castellano, 2009). Barreira et al. (2013) acrescentam que no Mundial 2010 se verificou um acréscimo de 0,04 na média de golos por jogo, situando-se em 2,27.

Figura 5 - Evolução da média de golos marcados por jogo ao longo da história dos campeonatos do Mundo de futebol, desde Uruguai 1930 até Alemanha 2006 (Castellano, 2009).

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Por sua vez, Hughes e Franks (2005) analisaram a média de golos por cada 1000 posses de bola nos campeonatos do Mundo de 1990 e 1994, revelando uma ligação forte entre a quantidade de uma variável de processo com a de produto final (golo).

Figura 6 - Média de golos marcados por cada 1000 posses de bola nos mundiais de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005). Os mesmos autores (Hughes & Franks, 2005) sugerem que equipas bem- sucedidas (Liga dos Campeões, Campeonatos do Mundo, Campeonatos Europeus), não recorrem ao jogo direto, há padrões de jogo para as equipas bem-sucedidas e mal sucedidas. Jones (2004), Lago & Martin (2007) encontraram que as equipas de topo têm mais posse de bola que os seus adversários, sugerindo que preferem controlar o jogo. Bloomfield (2005) mostrou que as três melhores equipas na Primeira Liga Inglesa, na temporada 2003-2004 (Chelsea, Manchester e Arsenal) dominaram a posse de bola contra os seus adversários ganhando, perdendo ou empatando. Isto indica-nos, segundo Lago (2009) que a posse é afetada pelo resultado, mas existem equipas que seguem diferentes estratégias (ter mais ou menos posse de bola), o que reflete o estilo individual, as ideias do treinador, as caraterísticas dos jogadores, o orçamento da equipa, a filosofia de jogo e a tradição e cultura dos clubes. Num artigo recente publicado pelo jornal espanhol “Marca”, analisou-se a posse de bola das equipas que competiram na “La Liga” Santander 2018-2019. Apesar de existirem equipas bem-sucedidas com mais posse de bola mas também com menos posse de bola, verificámos que entre os dez primeiros classificados houve sete equipas com mais posse de bola e três com menos

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posse de bola (como é o exemplo do Atlético de Madrid que foi a 11ª equipa com mais posse de bola mas que acabou em terceiro classificado; ou do Valência que foi a 13ª equipa com mais posse de bola mas que acabou em quarto classificado; ou do Getafe que foi a equipa que teve menos posse de bola mas que acabou num honroso quinto lugar. Estes dados mostram-nos que há padrões de jogo para as equipas bem sucedidas e mal sucedidas, contudo, também é possível ter sucesso apresentando outro tipo de estratégia que não seja a de posse de bola. Antes disso, Hughes & Franks (2005) verificaram que entre 1990 e 1994, o jogo direto era mais “usual”. E no campeonato do Mundo de 1990, 84% dos golos surgiram após a realização de quatro ou menos de quatro passes. Já em 1994, foram 80% dos golos a surgirem após quatro ou menos passes.

Figura 7 - Número de passes realizados (posse de bola) antes de alcançar o golo. Dados recolhidos nos jogos do campeonato do Mundo de 1990 e 1994 (Hughes & Franks, 2005). Na perspetiva de Vales (2015), as principais mudanças observadas, em relação aos aspetos coletivos do jogo podem apresentar-se nos seguintes pontos: a) O futebol contemporâneo carateriza-se pela presença de uma elevada igualdade no rendimento manifestado pelas equipas, sendo difícil encontrar atualmente, no alto rendimento, jogos de futebol em que as diferenças entre uma e a outra equipa sejam muito elevadas;

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Quadro 3 - Evolução da percentagem de jogos, do Campeonato do Mundo de Futebol, com resultado equilibrado, isto é, empatado ou com diferença máximo de um golo (adaptado de Vales, 2015).

% Jogos equilibrados Época Campeonatos do Mundo (resultado final – empate ou diferença de um golo)

Uruguai 30, Itália 34, França 38 45,3% 1930 - 1940

Brasil 50, Suiça 54, Suécia 58 42,1% 1950 - 1960

Chile 62, Inglaterra 66 53,1% 1960 - 1970 México 70, Alemanha 74, 60,2% 1970 - 1980 Argentina 78

Espanha 82, México 86 62,5% 1980 - 1990

1990 - 2000 Itália 90, EUA 94, França 98 70,2%

Coreia-Japão 02, Alemanha 06, 2000 - 2010 66,1% África do Sul 10

Segundo os dados apresentados, verificamos que quase 70% dos jogos terminaram com resultados muito ajustados, em que a diferença de golos entre as equipas é nula ou no máximo de um golo. Em sintonia com o apresentado, no Mundial da Coreia e Japão em 2002, as estatísticas publicadas pela FIFA no final do campeonato, mostravam que em 82,8% dos casos, a equipa que marcava o primeiro golo, ganhou ou empatou o jogo. No campeonato mundial de África do Sul, em 2010 observou-se que a distribuição média da posse de bola também esteve muito igualada, com valores médios entre os 55% / 45%. (Vales, 2015); b) O “efeito globalização”, caraterístico das ordens políticas e económicas, também já chegou ao futebol. Verifica-se uma grande mescla de culturas futebolísticas, provocado pelo mercado de transferências de jogadores. No campeonato do Mundo de futebol de 2010, jogado em África do Sul, quase 60% dos jogadores participantes jogavam em ligas estrangeiras. c) Encontramo-nos num estado evolutivo do jogo em que, como existe uma diminuição dos espaços disponíveis para a construção do jogo ofensivo e um notável incremento da pressão sobre o portador da bola, as defesas impõem-se aos ataques, produzindo um tipo de jogo “bloqueado”.

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d) De forma paralela à progressiva instauração de formatos posicionais cada vez mais conservadores, também destaque para a presença de estruturas de jogo de maior intensidade e exigência tática, baseadas na imposição de ritmos de jogo cada vez mais elevados. Assim, de um ponto de vista defensivo, as equipas de futebol, com o intuito de dificultar ao máximo a manobra ofensiva do adversário, centram os seus objetivos na busca de uma rápida recuperação da bola, a partir da aplicação predominante de métodos defensivos de caráter pressionante. Por outro lado, de um ponto de vista ofensivo, esta progressiva aceleração do jogo caraterística do futebol contemporâneo, manifesta-se também na intenção por parte das equipas de quererem surpreender a organização defensiva do adversário logo após a recuperação da posse de bola, buscando e aproveitando os espaços livres através de um passe rápido da defesa para o ataque. e) Por último, e tal como está apresentado na figura seguinte, parece claro que as equipas de futebol obtêm cada vez mais golos e um maior rendimento nos lances de bola parada ofensiva. A maior dedicação ao treino deste tipo de ações e o aparecimento de jogadores especialistas na execução das mesmas justifica que, na atualidade, mais de 30% dos golos ocorridos em jogos de futebol de alto nível sejam obtidos a partir de cantos, livres diretos e indiretos, penaltis.

Figura 8 - Evolução dos golos conseguidos a partir de lances de bola parada nos últimos campeonatos do Mundo de futebol (Vales, 2015).

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Salinas & Salinas (2010) cit. por Pedreño (2018) estudaram o Mundial realizado em África do Sul e verificaram que 31% dos golos obtidos por cada equipa resultaram de lances de bola parada. Uma vez expostas as caraterísticas mais importantes relativas à evolução do jogo desde um plano coletivo, Vales (2015) expôs os traços mais representativos da evolução do jogo a nível individual, focando a análise tanto em aspetos de natureza energético funcional como em aspetos técnico táticos: Em primeiro lugar, em relação à evolução dos aspetos de natureza condicional, o jogador de futebol, com o objetivo de adaptar-se adequadamente ao processo de intensidade crescente que o jogo experimentou ao longo do tempo, teve de melhorar progressivamente os seus índices físicos, mostrando maior disponibilidade para suportar a fadiga e manter um alto nível de eficiência técnico tática (Vales, 2015). Em segundo lugar, e analisando a evolução dos aspetos individuais do jogo, têm-se assistido: a) ao desaparecimento do jogador especialista de forma restritiva, passando a aparecer um tipo de jogador que responde a um modelo funcional e que apresenta um claro equilíbrio entre a universalidade e a especificidade, isto é, aquele jogador que tem capacidade para participar com eficácia em diferentes subfases do jogo e em diferentes zonas do campo mas que também domina uma faceta concreta do jogo, relacionada com a posição específica que ocupa dentro do sistema de jogo da equipa. Segundo Vales (2015), observamos que o jogador de futebol tende a jogar de forma mais dinâmica e flexível, no qual o seu raio de ação não se encontra limitado unicamente em torno da posição base que lhe foi atribuída; b) Finalmente e em relação à posição específica do guarda-redes, também se observa uma maior implicação deste no desenvolvimento do processo ofensivo da equipa, como resultado do seu maior repertório técnico tático. O guarda-redes assume agora um maior protagonismo quer em situações de contra-ataque, com rápida execução do passe, na tentativa de aproveitar o desequilíbrio momentâneo do adversário, quer em situações de ataque posicional, que se

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traduzem no desenvolvimento da função de apoio, para minimizar os efeitos de uma pressão avançada por parte da equipa adversária.

3.3. Métodos de Observação e Análise de Jogo

Sendo considerada a forma mais primitiva para aquisição de conhecimentos, a observação foi, e continua a ser, um meio privilegiado a que o ser humano tem recorrido para aceder ao conhecimento, bem como um importante guia para a ação (Garganta, 2006). A metodologia observacional consiste numa metodologia que reúne condições particulares para o estudo do comportamento humano, que a coloca também válida para a aplicação no âmbito dos jogos desportivos coletivos em geral e do futebol em particular (Lago & Anguera, 2002 cit. por Barreira, 2013). A metodologia observacional envolve o seguimento de todas as fases de metodologia empíricas utilizadas nas ciências do comportamento, nomeadamente: delimitação do problema, recolha de dados e a sua otimização, análise dos dados e a interpretação dos resultados, caraterizando-se por um escasso ou nulo controlo interno das variáveis, um grau máximo de naturalidade e uma participação essencialmente passiva do investigador (Hernández-Mendo, Anguera, & Bermúdez, 2000 cit. por Barreira, 2013). Desde logo, no papel de ciência do comportamento, permite o registo das condutas lúdicas em contextos naturais (terreno de jogo), respeita a espontaneidade dos comportamentos dos jogadores em competição / treino, tornando desnecessária a preparação de cenários (Barreira, 2013). Nos últimos anos, no âmbito do desporto, registou-se um incremento notório do volume de estudos realizados mediante a utilização da metodologia observacional (Prudente, 2006). Muitos desses estudos baseiam-se na análise do jogo com recurso à utilização de sistemas observacionais, o que tem contribuído para a compreensão das exigências das exigências fisiológicas e psicológicas até às exigências técnicas e táticas de vários desportos (Hughes & Bartlett, 2002).

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Todavia, a observação não se esgota na visão. E o olhar está sempre influenciado pelo indivíduo. Pelas experiências prévias, pelo seu conhecimento, por aquilo que procura, pelas suas motivações. Popper (1991) cit. por Garganta (2001) explica que para que os nossos sentidos nos digam alguma coisa, temos que possuir conhecimento prévio: para podermos ver uma “coisa”, temos que saber o que são “coisas”. Neste sentido, a situação do sujeito, enquanto observador, representa um ponto de vista bifronte, porquanto viabiliza e limita, simultaneamente, as suas possibilidades de conhecimento (Garganta, 2006). Contreras (2000) reforça explicando que, na recolha de informação através dos sentidos (visão) a experiência do observador é a chave, mas não deixa de converter-se numa interpretação demasiado subjetiva (Contreras & Pino, 2000). Por isso a pesquisa observacional carateriza-se por requerer um treino especializado dos observadores, no que respeita a “o quê”, “como” e “quando” observar (Baker, 2006). Todavia, para que a mesma se desenvolva e consolide importa passar de uma observação passiva, sem problema definido, com baixo controlo externo e carente de sistematização, para uma observação ativa, sistematizada, balizada por um problema e obedecendo a um controlo externo (Anguera et al., 2000 cit. por Garganta, 2008). Segundo Sánchez (2015), antes de realizar uma observação, devemos ter em conta: “o que”, “quem”, “como” e “quando” observar. Sem perder a perspetiva de “porquê?” e “para que” se faz, e a objetividade de tudo o que se observa. Segundo Anguera & Hernández-Mendo (2013), a metodologia observacional trata-se da única metodologia científica que permite a recolha de dados dos participantes (desportistas, treinadores, preparadores físicos, etc.) no treino e em competição, a partir da captação direta (essencialmente visual, mas também pode ser auditiva) da informação percetível que se pode obter através dos nossos órgãos sensoriais e ajudando-nos com recurso à gravação que na atualidade, e devido ao rápido avanço dos recursos tecnológicos, é o meio habitual de acesso à informação (Anguera & Hernández-Mendo., 2013).

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No âmbito desportivo em geral, é interessante destacar que as formas mais utilizadas para observar os eventos competitivos são aquelas que possibilitam uma visualização global dos mesmos, sejam elas de forma instantânea, pela presença física do analista em competição, ou de forma retardada, uma vez decorrido um certo tempo desde a ocorrência do evento, para o qual se recorre à ajuda de uma gravação em vídeo. No caso concreto do treinador – analista do rendimento, ambas as formas deverão ser interpretadas como complementárias para desenvolver o seu trabalho, sendo utilizadas convenientemente em função dos interesses do observador (Vales, 2015). Mas, primeiro é necessário perceber que o jogo de futebol tem uma lógica e uma ordem que precisamos de entender para compreender a sua dinâmica. O estudo do jogo de futebol tem progressivamente requisitado a utilização da metodologia observacional uma vez que esta permite a deteção de sequências comportamentais e, por conseguinte, consubstancia um maior grau de coerência e de significado com o jogo, induzindo uma utilização mais efetiva por treinadores e preparadores (Castellano & Hernández-Mendo, 1999 cit. por Barreira, 2013). Passando para o processo operacional, Ventura (2013) partilha a sua visão relativamente às fases em que o processo se divide: a) Preparação (onde se define o que se quer observar; como e onde se vai observar; quem vai observar); b) recolha da informação / observação (reporta à observação propriamente dita); c) análise da informação / planeamento (depois de recolhida a informação, é analisada e usada para planear o microciclo semanal e para analisar a performance dos jogadores).

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Figura 9 - Fases do Processo de Scouting (Ventura, 2013). Sánchez (2015) divide o processo de trabalho do analista em 5 fases: a) captação da informação necessária; b) classificação da informação obtida; c) análise da informação; d) aplicação e desenvolvimento da metodologia de análise; e) entrega do relatório técnico ou vídeo informativo. Segundo Garganta (2001), o processo de recolha, coleção, tratamento e análise dos dados obtidos a partir da observação do jogo, assume-se como um aspeto cada vez mais importante na procura da otimização do rendimento dos jogadores e das equipas. Neste sentido, através dos denominados sistemas de observação, os especialistas procuram desenvolver instrumentos e métodos que lhes permitam reunir informação substantiva sobre as partidas. Nos primórdios as observações realizavam-se ao vivo, os registos dos comportamentos dos atletas e das equipas eram realizados a partir da técnica denominada “papel e lápis”, com recurso à notação manual. Embora esta fase inicial se tivesse pautado por um forte pendor acumulacionista, à vontade de coligir uma enorme quantidade de dados parciais, sucedeu a de elaborar instrumentos de observação (Garganta, 2001). Mais recentemente, com a maior profissionalização e com mais meios financeiros disponíveis e com a aplicação da tecnologia ao serviço do desporto realizaram-se novas investigações, tendo a informática substituído as técnicas manuais, sendo possível recolher mais informação e de forma mais rápida.

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Não obstante o recurso a meios sofisticados, a proliferação de bases de dados não garante, por si só, o acesso a informação pertinente para treinadores e investigadores. Para contornar este problema torna-se imprescindível dar um sentido aos dados recolhidos, explorando-os de forma a garantirem o acesso à informação considerada importante (Garganta, 1997). Sampaio (1997) cit. por Ventura (2013) indica-nos que a observação é sistematizada em três vertentes predominantes, sendo que cada uma destas apresenta caraterísticas distintas, com vantagens evidentes para quem observa. Essas vertentes dividem-se em: a) observação direta; b) observação indireta; c) observação mista. Segundo Contreras & Pino (2000), a observação direta possibilita uma análise in loco do jogo, ou seja, o observador desloca-se ao local onde se realiza a competição, onde os dados são recolhidos em direto. De acordo com Sampaio (1997) cit. por Ventura (2013), este tipo de observação revela-se fundamental sempre que o treinador pretenda não só ter o conhecimento da forma como a equipa adversária atua, como também possuir um conhecimento mais detalhado sobre alguns dos fatores inerentes ao ambiente onde se desenrola a competição, por exemplo, as condições de iluminação, o tipo de piso ou as atitudes do público. Segundo Contreras & Pino (2000), a observação indireta diferencia-se da anterior, na medida em que o observador não se encontra fisicamente no lugar onde se está a desenvolver o jogo. Segundo Ventura (2013), na observação de tipo indireta, o observador não se desloca ao local da competição, tendo possibilidade de realizar a análise dos registos dos vídeos das competições. É efetuada uma análise mais sistematizada dos sistemas táticos, quer ofensivos quer defensivos, das equipas a observar e ao mesmo tempo das caraterísticas individuais dos jogadores. Neste tipo de observação são utilizados meios tecnológicos, como por exemplo o vídeo, o DVD, o computador e softwares informáticos. A observação indireta possibilita ao treinador / observador complementar a informação recolhida através da observação direta. Com a análise do vídeo do jogo, podem ser recolhidos alguns dados que escaparam durante a observação direta. O recurso ao vídeo possibilita também que seja

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realizada uma montagem / edição de vídeo com partes selecionadas do jogo para posteriormente mostrar aos jogadores. Outro tipo de observação é a observação mista, que recorre ao uso dos dois tipos de observação anteriormente citados. Utilizando as duas observações, pode complementar-se a observação em si, tornando-a mais completa e fiável. É o tipo de observação mais rigoroso e o que permite uma melhor identificação das caraterísticas do adversário (Ventura, 2013). Na atualidade, as crescentes necessidades informativas, que são exigidas pelas equipas técnicas, junto com os importantes avanços no âmbito científico impulsionaram o aparecimento de um renovado conceito de análise do jogo, caraterizado por uma maior concretização e especificidade uma marcada orientação prática e utilitária (Vales, 2015). Segundo o mesmo autor e de acordo com esta perspetiva, a AJ podia ser definida como um processo consistente na recolha e avaliação das condutas coletivas e individuais desenvolvidas pelas equipas e jogadores durante os jogos, em que tratam de identificar certas regularidades das mesmas, com o objetivo de reconhecer a estrutura organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a eficácia operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de relatórios técnicos. De um modo mais concreto, na literatura especializada sobre a AJ (Carling, Williams & Reilly, 2005; Nevill, Atkinson & Hughes, 2008; etc), é relativamente frequente encontrar interessantes classificações cujo objetivo é apresentar de uma maneira resumida as principais transformações operadas no processo metodológico da AJ em futebol, identificando-se quatro formas fundamentais de análise: análise visual, análise notacional, análise baseada em vídeo e análise baseada em tecnologia informática (Vales, 2015). Podemos observar as quatro formas fundamentais de análise acima descritas, no quadro 4.

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Quadro 4 - Resumo da evolução das formas de análise do jogo (adaptado de Vales, 2015).

Formas Caraterísticas Limitações Representa um modo de análise subjetivo, influenciado pelos preconceitos e Supõe a forma mais antiga e básica de análise perceções pessoais do de jogo em futebol. observador. Baseia-se unicamente na habilidade e A fiabilidade das análises é Análise Visual experiência observacional e memorística do reduzida, devido à não analista, investigador ou treinador utilização dos meios e métodos específicos para o registo dos acontecimentos do jogo. Supõe uma evolução sobre o procedimento Igual ao que se verifica na anterior, ao ser menos dependente da análise visual. O facto de, se capacidade memorística do observador. analisar o jogo em tempo real, Análise Baseia-se na anotação em tempo real (“papel e pode comprometer a lápis”), dos acontecimentos básicos que se Notacional fiabilidade e a precisão da sucedem durante os jogos para a sua revisão e informação registada análise posterior Baseia-se em uma análise de jogo a partir de Se o vídeo do jogo não estiver uma gravação prévia do jogo, em que há a previamente editado e possibilidade de ver várias vezes os principais estruturado em diferentes Análise eventos do jogo permitindo levar a cabo uma categorias de sequências- análise mais objetiva, precisa e fiável por parte eventos, supõe um meio pouco baseada em do treinador e/ou investigador. flexível e linear, obrigando o vídeo A gravação dos eventos do jogo, uma vez observador a ver partes do categorizados e avaliados, supõe uma fonte jogo pouco interessantes e interessante de feedback para os jogadores. irrelevantes. Supõe uma forma mais avançada, precisa e Requer um processo, às vezes objetiva de analisar o jogo, permitindo obter árduo, de aprendizagem e informação do mesmo, tanto de natureza familiarização com o software qualitativa como quantitativa. por parte do analista. Permite o armazenamento de grandes A máxima exploração dos Análise quantidades de informação, assim como uma recursos que oferecem este baseada em fácil e ágil organização e recuperação da tipo de tecnologias dependerá tecnologia mesma, por parte do treinador e/ou da capacidade e do “talento” investigador. informática do treinador e/ou investigador Baseia-se numa gravação digital do jogo e para analisar aspetos numa posterior transmissão do mesmo para um realmente relevantes do jogo, programa informático especificamente assim como para interpretar a configurado para analisar os principais fatores informação obtida de um modo que influenciam o rendimento manifestado por correto. uma equipa ou jogador. Na literatura especializada sobre análise do rendimento em desportos coletivos, observa-se claramente uma preocupação crescente entre os especialistas para que se estude, a partir de diferentes perspetivas de análise

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relativamente à natureza e conteúdo do jogo, com o fim de incrementar o rendimento competitivo das equipas e de melhorar a pertinência dos modelos de treino aplicados na atualidade (Vales, 2015). Entende-se que a informação recolhida por técnicas de anotação manual ou mais sofisticadas, como as que se baseiam em tecnologia de vídeo ou programas informáticos especializados para a recolha e para o tratamento dos dados, permite aos treinadores e investigadores terem um conhecimento mais profundo daquilo que sucede durante os jogos, assim como dispor de uma base sólida de informação quantitativa e qualitativa para identificar áreas de melhoria no rendimento (Carling, Williams & Reilly, 2005). Garganta (2008) entende que se justifica abrir espaço à “abordagem de índole qualitativa” em que a observação dos comportamentos pressupõe um movimento de aproximação para descortinar o que se apresenta para lá da aparência do “apenas visto” ou do “já conhecido”. Tal implica passar da perceção espontânea à perceção especializada, discriminando informação relevante, para passar do “ver” ao “conhecer”. Como alguém disse, podemos enganar-nos a procurar algo, mas não devemos enganar-nos em relação àquilo que procuramos (Garganta, 2008). No âmbito do rendimento desportivo em geral, o estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipas não é algo recente, havendo aparecido como produto da necessidade de incrementar o grau de conhecimento sobre o jogo e nível de especificidade na hora de implementar metodologias de treino cada vez mais congruentes com a realidade analisada (Vales, 2015). Com o objetivo de potenciar o rendimento dos jogadores e das equipas, os clubes e treinadores podem atualmente contar com uma área, denominada de observação e AJ, no âmbito do conhecimento da própria equipa, e do conhecimento da equipa adversária, contemplando para isso, nas equipas técnicas, intervenientes especializados denominados de analistas de jogo. A necessidade de obter informação qualificada sobre o jogo, aumentando a assertividade na intervenção do mesmo, provocou o aparecimento de um departamento especializado numa análise multidimensional, na avaliação do

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comportamento competitivo manifestado pelas equipas e pelos jogadores durante os jogos (Vales, 2015). Carling (2005) cit. por Vales (2015), indicou que as primeiras tentativas sérias para a análise dos eventos e acontecimentos que ocorrem durante os jogos, realizam-se nos finais da década de 50, usando sistemas de anotação manual para registar informação geralmente relacionada com a codificação da atividade desenvolvida pelos jogadores em torno da bola, a partir da anotação do tipo de ação executada (o quê?), do protagonista da mesma (quem?), do lugar e momento em que ocorreu (onde? e quando?), e finalmente, da efetividade da mesma (positiva? ou negativa?). A análise do jogo deve permitir descrever a performance realizada em contexto de jogo, codificando ações individuais, grupais ou coletivas, de modo a sintetizar informação relevante para transformar, positivamente, o processo de aprendizagem/treino (Carling et al., 2005). A performance nos jogos desportivos é difícil de analisar e avaliar, muito particularmente nos jogos desportivos coletivo, pois trata-se não apenas de quantificar comportamentos, mas sobretudo de os qualificar (Garganta, 2008). Segundo Garganta (2008), nos últimos anos tem-se assistido a uma profusão de alternativas para analisar a prestação desportiva dos jogadores e das equipas nos jogos desportivos, constatando-se que os autores vêm recorrendo a estratégias diferenciadas, tais como a análise das denominadas unidades de competição, a análise sequencial (Castellano, 2000; Prudente, 2006), a análise de unidades táticas/sequências de jogo (Garganta, 1997), a análise de coordenadas polares (Prudente, 2006) e a análise de padrões temporais (Borrie et al., 2002). Mais recentemente, Perl (2004) cit. por Garganta (2008), apresentou propostas e estudos baseados em redes neurais, partindo do pressuposto que a performance desportiva pode ser descrita a partir da identificação de séries de padrões espaciais e temporais que caraterizam situações (posições no terreno de jogo), bem como de atividades (movimentos e tarefas dos jogadores). Segundo Garganta (2001), os investigadores, com o intuito de proceder à caraterização da atividade desenvolvida pelos jogadores e as equipas durante

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as partidas, focalizaram, inicialmente, os seus estudos na atividade física imposta aos jogadores, nomeadamente no que respeita às distâncias percorridas. O direcionamento das linhas de investigação foi ampliando o seu campo de análise, evoluindo para a denominada análise do tempo-movimento, através da qual se procura identificar detalhadamente, o número, tipo e frequências das tarefas motoras realizadas pelos jogadores ao longo do jogo (Garganta, 2001). A análise das habilidades técnicas tem sido outro dos campos explorados na análise do jogo, contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos resultados provenientes de estudos quantitativos, centrados nas ações técnicas individuais levaram os analistas a questionar a pouca relevância contextual dos dados recolhidos e a duvidar da sua pertinência e utilidade. Esta questão fez sobressair a necessidade de se considerar a dimensão técnica em relação com os condicionalismos táticos (Garganta, 2001). A consciência de que a expressão tática assume uma importância capital nos jogos desportivos (Garganta, 2001), fez com que a partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de regularidades reveladas pelos jogadores e pelas equipas, no quadro das ações coletivas, tivesse despontado enquanto nova tendência de investigação (Garganta, 1997). Uma das tendências que se perfilam prende-se com a deteção de padrões de jogo, a partir das ações de jogo mais representativas, ou críticas, com o intuito de perceber os fatores que induzem perturbação ou desequilíbrio no balanço ataque/defesa (Garganta, 2001).

3.4. Observação e Análise de jogo – Ferramentas indispensáveis para a caraterização do jogo e das equipas

A natureza dinâmica do jogo de Futebol é suscetível de acarretar uma incompleta e imprecisa recolha e análise de diversos indicadores inerentes ao jogo, dado que os observadores se encontram impossibilitados de ver e assimilar a totalidade das ações que ocorrem no terreno de jogo (Carling & Court, 2013 cit. por Barreira, 2013). No sentido de ultrapassar esta limitação, a observação

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sistemática e a AJ permitem descrever a performance evidenciada nas partidas e propiciar o acesso à informação relevante acerca do confronto desportivo, em vários âmbitos da performance como o físico, o técnico e o tático (Carling & Court, 2013 cit. por Barreira, 2013). Através da observação sistemática e da AJ procura-se uma aproximação ao objeto que se pretende conhecer (Contreras & Pino, 2000 cit. por Barreira, 2013), o que requer lentes potentes e refinadas que possam, também, auxiliar na modelação ou no prognóstico de tendências (Garganta, 2008). A verdade é que o estudo do futebol é influenciado pelas várias áreas do conhecimento. Suportado pelas palavras de Bangsbo cit. por Strudwick (2016) refere que o futebol não é ciência, mas que a ciência pode melhorar o nível do futebol. Também o filósofo Manuel Sérgio, no seu livro “Filosofia do Futebol”, escreve que “quem só percebe de futebol, nada sabe de futebol”. Assim, constatamos o contributo das várias áreas do saber para ajudar a explicar o jogo de futebol. Porém, estas perspetivas teóricas têm dado maior ênfase aos comportamentos avulsos e ao produto do desempenho, em detrimento de uma focagem nos processos que conduzem a determinados desfechos e que podem levar à compreensão holística do jogo (Garganta, 2001 cit. por Barreira, 2013). Torna-se assim imprescindível que, antecipadamente, os agentes do jogo estejam identificados com padrões ou configurações típicos, resultantes das interações dos jogadores e das equipas (Garganta, 2005 cit. por Barreira, 2013). Assim, na ótica de Garganta (2013) cit. por Barreira (2013), o maior desafio para observadores e investigadores em desporto passa por descortinar o modo como as equipas geram e gerem os respetivos comportamentos, isto é, qual a gramática da ação que cada equipa ou conjunto de equipas, numa ou em várias competições, tende a operacionalizar, configurando padrões que, com probabilidade superior ao acaso, induzem performances desportivas de sucesso. Daí a importância que os eventos táticos que ocorrem durante as partidas de futebol sejam apreendidos na sua globalidade, embora sem que se perca de vista o impacto que as ações realizadas individual e localmente têm na expressão da totalidade que o jogo representa.

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Recorrendo à metodologia observacional, descrita no capítulo anterior, pode observar-se os comportamentos das equipas e dos jogadores em treino e em competição. O objetivo será identificar padrões de conduta, considerando os objetivos perseguidos. Centrámo-nos naqueles aspetos mais relevantes e que o analista tem que ter em conta, para que o seu trabalho se aproxime da realidade. Portanto, é importante que o analista tenha capacidade de perceção, isto é, ver através do seu sentido da visão. É importante que consiga interpretar, traduzindo para o pensamento aquilo que está a ver e por último, precisa de um conhecimento prévio sobre aquilo que vê, já que o analista tem de conhecer o desporto que analisa, caso contrário não será capaz de interpretar os diferentes conceitos, assim como apresentá-los de uma forma compreensível à equipa técnica (Pedreño, 2018). De acordo com a impressão popular a ação do jogo no futebol é caótica, contudo uma atenção mais cuidada permite considerar que cada equipa constitui um sistema social numa escala pequena cujos componentes se relacionam através de interações motoras ordenadas e estáveis (Lago & Anguera, 2003). Ventura (2013) considera que o principal objetivo da observação e AJ é obter informação pormenorizada e de qualidade, do funcionamento competitivo da sua equipa, dos seus jogadores e dos adversários, com a finalidade de controlar e operacionalizar o processo de treino, permitindo uma avaliação acerca do processo desenvolvido em conjunto com os jogadores a nível individual e coletivo. De acordo com Garganta (1997), a análise da performance em futebol, a partir da AJ, permite: a) interpretar a organização e as ações que concorrem para a qualidade do jogo; b) planificar e organizar o treino, tornando os seus conteúdos mais específicos; c) estabelecer planos táticos adequados face ao adversário a defrontar; d) regular a aprendizagem e o treino. Caixinha, entrevistado por (Ventura, 2013), defende que “os treinadores e respetivas equipas técnicas esforçam-se por desenvolver um trabalho exaustivo de caraterização das suas equipas e respetivos adversários, tendo como objetivo controlar e conhecer o maior número possível de variáveis que possam

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influenciar o rendimento desportivo”. Também no livro “Observar para ganhar” de Ventura (2013) está um testemunho do treinador Sérgio Conceição: “Desde sempre, e hoje em dia cada vez com maior insistência, as situações que acontecem durante um jogo de futebol e os pormenores que podem levar ao desequilíbrio de alguma equipa, parecem influenciar a vitória ou a derrota nesse mesmo jogo. Neste sentido, o treinador procura cada vez mais, ter um conhecimento profundo sobre a própria equipa e sobre a equipa adversária, de forma a durante a semana trabalhar a equipa da melhor maneira para que no dia do jogo esteja mais preparada para alcançar o nosso objetivo, ou seja, a vitória. Parece então de extrema importância, o treinador rodear-se de uma boa equipa de scouting, que lhe forneça informações pertinentes nessas vertentes, para que este possa potenciar todo o seu trabalho.”

3.5. Conceptualização

Scouting

Antes de se abordar o scouting como uma prática e um processo, parece pertinente deixar claro o significado objetivo da expressão. Entendido de um modo generalista, pode dizer-se que se trata do “ato ou efeito de observar; consideração atenta de um facto para o conhecer melhor”. Salta à vista a ideia de que se trata de um processo que envolve uma observação de algo, tendo como objetivo conhecer mais pormenores sobre esse facto (Ventura, 2013). Para Pedreño (2018) o Scouting é um processo desempenhado pelos analistas que permite recolher informações e manipular os dados de diferentes parâmetros, obtidos durante os jogos e durante os treinos da própria equipa, da equipa adversária ou de jogadores, mediante utilização de ferramentas específicas para posterior elaboração de um plano de atuação. Para Sanchez (2015), a figura de scouting está mais orientada para a deteção de jogadores e posterior captação. A análise está mais desenvolvida e é mais uma função dos analistas táticos e pessoal destes departamentos que centram o seu trabalho no acompanhamento e posterior análise de adversários e das próprias equipas. Segundo o mesmo autor, o scouting realiza-se sobre uma perspetiva de análise individual dos jogadores e realiza-se pelos

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denominados scouters. Para este autor, generalizar, considerando o scouting tudo e todos os que têm relação com a análise é um erro, pois o scouting realiza- se sobre os jogadores a nível individual e pelos scouters que não são outras pessoas que os antigos olheiros. Ventura (2013) refere que o scouting não serve só para observar e analisar as equipas adversárias. Também existe o trabalho de scouting no que respeita à análise individual de jogadores e na análise comportamental dos árbitros. Silva (2006), reforça isto mesmo, afirmando que os treinadores consideram o scouting importante para selecionar e recrutar jogadores para as suas equipas. Desta forma podemos ficar a entender a complementaridade das diferentes missões e as diferenças entre funções. Para uns o scouting representa tudo e é depois subdividido. Para outros scouting e análise moram em lados distintos.

Figura 10 - Domínios de intervenção do processo de Scouting. Ventura (2013), adaptado por Pereira (2017).

Scouter e Analista

O analista do jogo, o “scouter” ou ainda o gabinete de scouting possuem no futebol dos dias de hoje, uma presença indispensável nas equipas técnicas cujos objetivos passam pela necessidade de render ao alto nível (Ventura, 2013). O mesmo autor, após entrevistar um conjunto de treinadores portugueses, escreve dizendo que a observação e análise do jogo é um dado importante e que deve ser utilizado pelo treinador no seu trabalho de preparação da equipa.

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Garganta entrevistado por Pedreño (2018) explica que o scouting, “numa primeira fase era utilizado como um processo de ir espiar, observar e explorar dados sobre o adversário. Mas scouting, se formos à raiz da palavra, tem a ver com ir buscar pistas, pistas que vão permitir tomar as decisões mais adequadas para treinar e jogar. Depois, como vamos operacionalizar o nosso modelo ou conceção de jogo, mas também tendo em conta quem vamos enfrentar. Assim, quando se restringe o termo de análise do adversário, é uma forma de reducionismo também, porque para mim Scouting é tudo o que tenha que ver com aquilo que podes buscar, para melhorar o teu processo de treino, a tua tomada de decisões e o teu rendimento nos jogos”. Segundo Pedreño (2018) o analista é o profissional responsável por funções relacionadas com a análise da própria equipa e também da equipa adversária e trabalha com uma metodologia de trabalho definida. Já, o scouter é a pessoa responsável pela análise individual de jogadores, pelo conhecimento do mercado e edição de relatórios para o diretor desportivo e para o treinador. Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), explica que as pessoas que se dedicam à análise utilizam três termos: “Game analysis”, para referir-se à análise de jogo em geral, “Match analysis”, que se trata da análise da competição e, “notational analysis”, que é algo mais ligado ao registo de dados. Para Garganta, entende mais o analista enquanto um interpretador, o observador do jogo e dos treinos e deve ser muito competente no registo não só de dados mas também saber interpretar essa informação ao longo da temporada para encontrar padrões, sejam eles positivos ou negativos, quer da nossa equipa como das equipas adversárias. Segundo o mesmo autor, o analista deve:  Possuir conhecimento de Futebol em todos os seus níveis: tática, técnica, psicológica, metodologia, preparação física e sociologia;  Deve ser conhecedor da categoria em que compete a equipa e dos jogadores adversários;  Possuir conhecimento do plantel, características técnico-táticas e psicológicas dos futebolistas;

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 Ser consciente do modelo de jogo pretendido pelo treinador principal. O trabalho de analista deve estar sujeito ao treinador e à aquisição e regeneração do modelo de jogo da equipa;  Ter a capacidade para utilizar corretamente os meios tecnológicos: câmara de vídeo, software informático especifico de AJ, aplicações de edição de vídeo, etc.;  Ser um bom comunicador, o que permitirá que as suas informações cheguem com clareza ao corpo técnico;  Ter capacidade e conhecimentos suficientes para participar na criação da estratégia operativa propondo tarefas e soluções à equipa técnica para contrariar e superar os pontos fortes e débeis do adversário;  Ter capacidade para quantificar estatísticas, contextualizando sempre com o modelo de jogo, ou seja, contrastar informação quantitativa com a informação qualitativa;  Ser uma pessoa regular no trabalho, renovar conhecimentos e estar sempre aberto a novas mudanças à sua volta;  Ser consciente de que o seu trabalho surge em função do treinador e da equipa. Ou seja, está intrínseco ao treinador;  Ter consciência de que analisar não supõe apenas criticar, mas também reforçar comportamentos desejados junto dos jogadores. Sanchez (2015) considera que o analista é um profissional capaz de identificar padrões que estruturam os modelos de jogo, pontos fracos e pontos fortes de cada equipa. Já Vales (2015) refere que o observador deve ter um perfil semelhante ao de um treinador, com importantes conhecimentos e experiência no treino de equipa e análise tática do jogo, assim como uma elevada capacidade para manusear softwares informáticos. Acrescenta ainda que de uma forma resumida o observador pode ser definido por “uma pessoa especialista em futebol, com conhecimento e experiência no manuseamento de certos recursos tecnológicos”. O treinador Marcelino García Toral entrevistado por Pedreño (2018) explica: “não tenho dúvidas que o analista tático deve ser uma pessoa com conhecimentos do desporto que analisa. Mas mais que isso, deve ser consciente

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de qual o seu papel e ter a capacidade de adaptar-se às exigências do treinador e ao modelo de jogo que impera na sua equipa, saber em que aspetos deve focar a sua atenção e saber utilizar os programas informáticos que normalmente o clube disponibiliza para fazer o seu trabalho, no menor tempo e com a maior eficácia possíveis”. No entanto, é preciso salientar que a observação não é um dom natural. Como foi escrito nos capítulos anteriores, para ver é preciso ter um conhecimento prévio, uma compreensão acerca daquilo que vamos observar. Por isso, o observador terá de ser uma pessoa altamente qualificada, com um grande conhecimento, para poder identificar acontecimentos relevantes. No seguimento, Pedreño (2018), afirma que o trabalho desenvolvido pelo scouter traz as seguintes vantagens: a) conhecimento do mercado de jogadores; b) análise e avaliação de jogadores para possível incorporação; c) edição de relatórios para apresentar ao treinador, diretor desportivo e coordenador da formação do clube; Segundo Pereira (2017), existem ainda outros dois intervenientes com preponderância na observação e na AJ sendo eles o investigador que procura analisar o jogo com a finalidade de construir modelos gerais explicativos do rendimento competitivo tendo como base a identificação, hierarquização e caracterização dos distintos fatores que o determinam e o treinador que procura construir um modelo que permita caraterizar a própria equipa, a equipa adversária e os jogadores identificando padrões, aspetos fortes e fracos quanto ao jogo das equipas.

Domínio do Recrutamento: Prospeção de jogadores

Relativamente ao domínio do recrutamento e à prospeção de jogadores, tem se como objetivo a prospeção de mercado no que respeita à seleção e deteção de talentos. Hoje em dia, é habitual os clubes terem nos seus quadros técnicos, pessoas qualificadas que têm por missão observar e identificar talentos que possam vir a interessar ao clube. Esta tarefa de prospeção é feita para a equipa principal, e aos poucos, os clubes começaram a alargar também às suas equipas dos escalões de formação (Ventura, 2013). O mesmo autor refere que,

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atualmente, os clubes procuram, cada vez mais cedo, detetar os potenciais talentos e anteciparem-se à concorrência. Este processo de recrutamento não se resume apenas ao país em que o clube se encontra, uma vez que é alargada ao resto do Mundo. Os clubes definem criteriosamente todos os aspetos em que os atletas observados se devem enquadrar, quer a nível físico, técnico, tático, psicológico e social (Ventura, 2013). O mesmo autor escreve-nos o testemunho de Adriaanse (2006), quando este refere que a prospeção deve ser realizada de acordo com o modelo de jogo adotado pelo treinador, para que os jogadores que possam vir a ser contratados pelo clube apresentem caraterísticas que se enquadrem nesse modelo de jogo. Também Paulo Bento, quando entrevistado por Ventura (2013), explica: “na prospeção, eu vou à procura de jogadores para a minha forma de jogar. Tenho definido os elementos que acho necessário para ir à procura desses jogadores, ou seja, em termos técnicos, táticos, físicos e psicológicos”. Para Pedreño (2018), o scouting de jogadores individuais é muito importante, tanto ao nível dos escalões de formação como no alto rendimento. No alto rendimento, é necessário prever que necessidades pode ter a equipa para encarar o futuro, e ir moldando os plantéis com base nas necessidades do clube e do treinador. Para o treinador é necessário ter uma boa base de dados de jogadores, para que em qualquer momento se busque um jogador com determinadas caraterísticas.

Observação e Análise da equipa adversária e da própria equipa

Face à necessidade de melhor se perceber os constrangimentos que promovem o sucesso desportivo, a observação e análise da performance, e particularmente a análise do jogo, é reconhecidamente, uma valência com aplicações fecundas no quadro dos jogos desportivos (Garganta, 2008).

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Nos últimos anos, com a aplicação de diversos recursos tecnológicos no âmbito do desporto de alto rendimento, o trabalho de AJ ganhou popularidade e reconhecimento entre os treinadores de elite (Vales, 2015). O scouting como observação das equipas adversárias serve para analisar as caraterísticas dessas equipas, tentando identificar padrões de conduta coletivos, que possam ajudar o treinador a preparar da melhor forma o jogo. Quanto maior for o conhecimento do adversário, mais fácil e mais eficaz se torna o trabalho para o treinador (Ventura, 2013). Neste âmbito, o scouting, segundo Vales (2015), entende-se como a função desenvolvida por uma parte do organigrama técnico do clube, com a responsabilidade de estabelecer um reconhecimento prévio das caraterísticas do jogo de determinadas equipas ou jogadores adversários. O scouting centra a sua atenção nas equipas adversárias contra as quais se terá que competir no futuro, com a ideia de se tentar encontrar possíveis regularidades nos seus comportamentos desportivos, que nos permitam antecipar planos tático- estratégicos com o fim de competir com o máximo de garantias de êxito desportivo. Assim, para que os relatórios técnicos relativos à AJ da equipa adversária surtam os efeitos desejados, será necessário considerar que a informação que conste nos mesmos seja a mais detalhada possível, descrevendo as caraterísticas principais do seu jogo, tanto a nível coletivo como individual, assim como as situações do jogo em que estas se manifestam com uma maior claridade. Segundo Pedreño (2018), o trabalho que o analista pode desenvolver sobre a equipa adversária abrange os seguintes items:  Análise da dinâmica de jogo da equipa adversária (quatro momentos de jogo e ações de bola parada);  Avaliação e recolha de informação do plantel;  Análise do sistema de jogo mais utilizado, suas variantes e as caraterísticas que o definem;  Organização por linhas (comportamentos padrão intersectorial e intrassectorial);  Detetar pontos débeis e pontos fortes;

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 Criação de um plano estratégico semanal, estratégia operativa;  Analisar possíveis condicionantes externas na disputa do jogo (terreno de jogo, público, meteorologia);  Edição de vídeos, animações e apresentação de um vídeo sobre o adversário a todo o plantel. Contudo, Lago (2009) refere que o alvo principal da AJ é identificar as forças da sua equipa, forças essas que podem ser desenvolvidas. Ao mesmo tempo, as suas fraquezas devem ser trabalhadas e colmatadas. O ex selecionador nacional e também treinador do Sporting Clube de Portugal, Paulo Bento, entrevistado por Ventura (2013), refere que a AJ deve ser algo que se faz, seja em relação à própria equipa, seja em relação ao próprio adversário, de uma forma permanente. Pedreño (2018) explica que “se queres jogar como treinas, tens de conhecer como jogas e como jogam as equipas adversárias, para treinar com base nisso e estar melhor preparado para a competição”. Segundo Garganta, entrevistado por Pedreño (2018), a mudança produzida na forma de ver e perspetivar o treino, e que depois teve repercussões no jogo, contribuiu de alguma forma para que a figura do analista ganhasse importância. Quando começamos a entender que o treino do futebol deve ser, treinar ideias para jogar futebol, a necessidade de ver se as ideias com que treinamos e jogamos são coerentes e congruentes com as que definimos no início do processo, é cada vez maior, e então ganha importância a figura do analista como interpretador. O mesmo autor, entrevistado por Pedreño (2018) explica que fez análise das equipas adversárias, mas o mais importante era perceber como queríamos jogar. A preocupação é tentar mapear o jogo, tentando definir as caraterísticas em organização ofensiva, defensiva, transições e bolas paradas. Isto é feito por toda a gente. Mas, o que consideramos importante é ir buscar subindicadores específicos da nossa forma de jogar e da forma de jogar do adversário, que nos permita tomar decisões para que possamos jogar como queremos. Nós entendemos que estar bem informado acerca das forças e fraquezas adversárias é extremamente importante. Mas antes de olhar para fora, devemos

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olhar para dentro e perceber o que estamos a fazer corretamente e incorretamente. Depois de identificadas as nossas potencialidades e as nossas debilidades então entendemos que devemos começar a procurar saber o que se passa no nosso oponente, no sentido de prepararmos um plano para conseguir neutralizá-los e em simultâneo para conseguir explorar os seus pontos fracos. Emery cit. por Pedreño (2018) sugere: “Há que ter sempre em conta o nosso adversário, já que esse rival pode condicionar em um dado momento o teu estilo e a tua personalidade. Em 70% queremos ser nós e em 30% temos que adaptar-nos aquilo que a equipa adversária nos pode oferecer. Mas entendo e entendemos o futebol como um todo”. Já Toral, entrevistado por Pedreño (2018) afirma: “Bem, uma coisa é conhecer o adversário e outra muito distinta é adaptar-se a ele. Eu acredito que a equipa deve ter o seu estilo próprio, seus próprios conceitos tanto a nível ofensivo como defensivo e deve ter muito em conta qual o adversário que enfrenta. Nesse sentido, nós consideramos importantíssimo a análise do adversário e saber como defende e como ataque, onde vemos que é vulnerável e onde acreditamos que é potente, para que nós, desde os nossos próprios conceitos apliquemos os detalhes que nos permitam contrariar o adversário. Não mudamos a nossa ideia geral de jogo, não mudamos o nosso sistema, mas incidimos mais em aqueles aspetos do jogo que acreditamos que nos podem ajudar a fazer dano no rival, por exemplo, se jogamos contra uma equipa que defende mal as situações longe da baliza decidimos incidir mais em transições, se o adversário nos cria muitos problemas pelas alas, buscamos soluções para contrariar isso, não mudamos marcações, nem fazemos grandes mudanças sobre a nossa organização”. Segundo Pedreño (2018), o trabalho desenvolvido junto da própria equipa traz as seguintes vantagens:  Analisar comportamentos táticos da equipa e análise da competição. O objetivo é a busca de possíveis pontos fortes e débeis, para potenciar tudo aquilo que fizemos bem construindo e reconstruindo o nosso modelo de jogo e minimizar aqueles aspetos que fazem a equipa vulnerável;

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 Avaliação e análise do rendimento físico, técnico e tático da equipa ou de jogadores em concreto;  Analisar atitudes psicológicas, tanto individuais como coletivas, para colocá-las à disposição da equipa técnica e até, em algumas situações, editar vídeos com a ajuda de um especialista para motivar ou trabalhar diferentes aspetos psicológicos do futebolista;  Análise dos treinos para avaliar o rendimento e atitudes da equipa, e autoavaliar as tarefas da equipa técnica. Depois de recolhidas informações sobre o adversário e feitas as análises da própria equipa e da equipa adversária, passamos a um plano operativo. De acordo com Pedreño (2018), a estratégia operativa ou plano estratégico deve ter: a) informação sobre o modelo de jogo predominante; b) pontos fortes e pontos débeis do adversário; c) análise da própria equipa; d) ações de bola parada do adversário, tanto ofensivas como defensivas; e) plano estratégico a desenvolver; f) desenho da semana de treino.

Estratégia e Tática

No futebol, os pressupostos organizativos da competição determinam que, os jogadores estejam agrupados em duas equipas numa relação de adversidade, denominada de rivalidade desportiva. O objetivo central das duas equipas é de lutarem pela conquista da posse da bola, com o intuito de a introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e, evitá-los na sua própria baliza, com vista à obtenção da vitória. Durante o confronto, os jogadores defrontam-se de forma direta e deliberada, procurando que as suas ações e inter-ações prejudiquem, a todo o instante os adversários e, concomitantemente evitando serem prejudicados por estes. Nesta perspetiva, a aproximação mais importante para se desvendar e compreender a lógica do jogo, deriva da análise dos aspetos inerentes às diferentes contextualidades situacionais que a cada momento do jogo emergem. A constante variação situacional observada é proporcionada por decisões e ações motoras desenvolvidas numa dinâmica de ordem estratégica e tática. (Castelo, 2009).

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Segundo Castelo (2009), partindo desta perspetiva, o primeiro problema que se coloca no jogo de futebol é, de natureza percetiva (informação) com caráter: a) estratégico, na medida que refere os propósitos e os objetivos gerais da equipa, como corpo coletivo numa dada competição; b) tático, solicitando intervenções imediatas e prementes para cada instante do jogo, a partir das quais, se influencia a emergência de novas configurações dinâmicas. Garganta (1997) já havia dito que, no caso do futebol, apesar da dificuldade em determinar quais são os fatores de rendimento que têm um maior protagonismo na prestação individual e coletiva na competição, observa-se um maior consenso entre os especialistas, destacando a dimensão tático estratégica, ocupando esta o núcleo central do rendimento. Vales (2015) explica que este protagonismo dado à dimensão tático estratégica justifica-se se atendermos, por um lado, ao caráter situacional e aberto dos distintos episódios do jogo, em que os jogadores implicados deverão desenvolver uma importante atividade cognitiva e estratégica orientada fundamentalmente para facilitar uma correta e inteligente adaptação às situações mutáveis do mesmo. Por outro lado, a importância da faceta tático estratégica do jogo também se justifica se contemplarmos este fator de rendimento como um elemento que coordena e aglutina os esforços e capacidades individuais dos jogadores que formam uma equipa, orientadas a tentar combater e neutralizar as ações desenvolvidas pela equipa adversária na busca do êxito. O futebol, enquanto jogo desportivo coletivo em que existe cooperação e oposição exige uma permanente interação entre os jogadores. As equipas, a partir desta interação entre jogadores, comportam-se de forma dinâmica, sendo possível identificar alguns padrões de ação quer individuais, quer coletivos. Para além de tudo isto, no jogo verifica-se ainda a predominância de julgamentos e decisões, efetuadas em função de um contexto instável e incerto. Assim, importa desenvolver competências que valorizam as capacidades cognitivas que orientam a tomada de decisão, julgando que o sucesso ou insucesso em cada ação individual ou coletiva são determinados em grande parte pela adequação ou não às circunstâncias do momento.

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Tal como refere Garganta (2006), “o que faz o jogo é a transformação da causalidade em casualidade, ou seja, aproveitar o momento; e quem ensina a aproveitar o momento são a estratégia e a tática”. Os conceitos de estratégia e de tática, não pertencendo exclusivamente ao universo do desporto, têm a sua origem em fenómenos sociais que se caraterizam pela conflitualidade de interesses e objetivos. Vemos muitas vezes estes termos referidos em áreas de atividade humana como a política, a economia e o meio empresarial, tendo sido, na arte e na ciência militar que mais profusamente se desenvolveram (Garganta, 1997). Na relação entre estratégia e tática existe uma distinção enquadrada temporalmente, sendo que a estratégia se encontra associada com processos cognitivos mais elaborados, uma vez que a mesma sofre um processo reflexivo sem constrangimento de tempo, enquanto por outro lado a tática é distinguida pela sua operacionalização sob constrangimentos temporais (Gréhaigne, 1999). Também Riera (1995) cit. por Garganta (1997) afirma que a estratégia representa o que está previsto antecipadamente, enquanto a tática é a adaptação instantânea da estratégia às configurações do jogo e à circulação da bola, logo à oposição. A tática constrói-se no decurso da ação modificando, segundo os determinismos e as variações do contexto, a perceção da informação ou a conduta. Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) concluiu que existem três características principais que são outorgadas à estratégia: a) a intenção de conquistar o objetivo principal – é variável em função das características da competição (obtenção de uma medalha, não descer de divisão, etc.); b) a planificação prévia da atuação a curto, médio e longo prazo – o treinador ou o atleta planeiam as suas atividades tendo em conta a sua carreira, a época desportiva ou a competição seguinte, por exemplo; c) a abordagem da totalidade dos aspetos que exercem influência – a planificação estratégica deve incluir todos os elementos relevantes que influenciam o rendimento desportivo (e.g., seleção de jogadores, tipo de treino, alimentação). Por sua vez, Garganta (1997), considera que, no conceito de tática vincam-se três aspetos característicos: a sua ligação ao jogo, isto é, ao contacto

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direto entre os opositores e os companheiros; o seu carácter de execução para tornar operativa a estratégia, à qual cabe a conceção e direção; e a sua estreita dependência da estratégia. Castelo (1994) cit. por Sarmento (2012) acrescenta ainda que a tática consubstancia a base de resolução dos problemas metodológicos que surgem no terreno do jogo, constituindo-se por todos os conhecimentos suscetíveis de darem uma determinada orientação às diferentes ações (individuais/coletivas, ofensivas/defensivas) da equipa relativamente à realização dos objetivos pré-definidos. Riera (1995) cit. por Sarmento (2012) afirma que nos desportos de oposição, a tática representa o fator que estabelece o elo entre a estratégia e a técnica desportiva. O autor apresenta três expressões que contribuem para a definição do conceito de tática: a) objetivo parcial – na tática caraterizam-se por serem objetivos imediatos e limitados, mas balizados pelo objetivo principal e estratégico (e.g., driblar o adversário, ganhar a posse da bola); b) combate - a essência da tática é a luta, o combate. As decisões são imediatas, uma vez que dependem das situações e intenções constantemente alteráveis do(s) oponente(s) e do(s) companheiro(s). A rapidez é essencial para vencer o combate, pelo que a previsão, a antecipação e a intuição acerca do comportamento do adversário assumem uma importância vital neste contexto; c) oponente – a atuação tática é determinada, em grande parte, pela atuação do adversário, de modo que se devem ter em conta os fatores vincados à atuação do adversário e sua situação temporal no espaço, numa perspetiva antagonista (e.g., tempo que falta, número de cartões, resultado atual, zona do terreno de jogo). Garganta (1997) e depois mais tarde Sarmento (2012) destacam alguns aspetos essenciais que consideram passíveis de delimitar a noção de tática: a) o conceito de tática expressa os níveis de relação intra equipa segundo os quais se pode desenvolver – a tática individual e a tática coletiva; b) o conceito de tática é referido como possuindo uma dimensão espácio-temporal de realização, traduzida pela sua subordinação à estratégia e pelos constrangimentos espácio- temporais das ações de jogo; c) a tática não traduz, apenas, uma organização das variáveis físicas (tempo e espaço) do jogo mas implica também, e sobretudo,

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uma organização informacional, pelo que nos jogos desportivos coletivos não devem ser consideradas, somente, as distâncias métricas, mas também o espaço de interação e a componente decisional; d) o conceito de tática transcende as missões e tarefas específicas de cada jogador e pressupõe a existência de uma conceção unitária da equipa para tornar o jogo mais eficaz; e) A cultura tática constitui um guia de escolhas na ação, referenciado ao conjunto de valores e perceções que decorrem do corpo de significações criado (princípios, regras e modelos de jogo). No contexto desportivo, a estratégia e a tática são conceitos que caminham lado a lado, e de tal modo que podemos constatar uma utilização, cada vez mais frequente, destes dois termos em justaposição, falando-se da componente estratégico-tática (Garganta, 1997) De acordo com o mesmo autor, estas duas dimensões não dependem do livre arbítrio. Sendo a tática a aplicação da estratégia às condições específicas do confronto, no decurso do jogo aquela dimensão exprime-se através de comportamentos observáveis, que decorrem de um processo decisional metódico regulado por normas, que pressupõem conhecimento, informação e decisão (Garganta, 1997). O nosso entendimento é suportado também na ideia de Gréhaigne (1992) cit. por Sarmento (2012), que considera que a estratégia representa o que está previsto antecipadamente enquanto a tática é a adaptação instantânea da estratégia às configurações do jogo. Garganta (1997) destaca que a essencialidade estratégico-tática do futebol decorre a partir de um quadro de referências que contempla: a) o tipo de relação de forças (conflitualidade) entre os efetivos que se confrontam, ou seja, entre as equipas; b) a variabilidade, a imprevisibilidade e aleatoriedade do contexto em que as ações de jogo decorrem; c) as caraterísticas das habilidades motoras, que os futebolistas utilizam, para agir num contexto específico.

Modelo de jogo

Apesar de entendermos que a análise de jogo dos adversários seja importante e nos dê um contributo importante para reduzirmos a

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imprevisibilidade e para evitarmos ser surpreendidos, entendemos que se deve atribuir maior importância à análise de jogo da própria equipa. Assim, faz sentido haver uma maior preocupação com o nosso modelo de jogo, com o nosso “jogar”. Segundo Queiroz (1986) cit. por Pimenta (2017), o modelo de jogo deve conter, de forma metódica e sistemática, um conjunto de ideias, de como se pretende que o jogo seja “jogado”, definindo de modo claro as tarefas e os comportamentos técnico-táticos a exigir e definir junto dos jogadores. Segundo Garganta & Pinto (1989) cit. por Pimenta (2017), o modelo de jogo é a forma de jogar concebida pelo treinador, na qual os aspetos que condicionam a estratégia da equipa devem estar inseridos, com vista a concretizar o objetivo final – a vitória. Esta forma de jogar é constituída por princípios que guiam o comportamento dos elementos que constituem a equipa, podendo ser organizados em diferentes fases do jogo e que se relacionam e influenciam entre si para criar uma identidade coletiva. Assim, entendemos que o modelo de jogo deve cumprir com um conjunto de orientações para os jogadores, para que estes consigam resolver os problemas encontrados em jogo. O modelo de jogo não deve ser fechado nem estanque, estando constantemente a ser renovado, a partir da reflexão do treinador, da equipa técnica e jogadores. Segundo Pimenta (2017), a definição de um modelo de jogo tem muito que ver com a capacidade do treinador e da equipa técnica através de uma conjugação lógica entre as suas diferentes fases do jogo associados aos seus princípios respetivos, que são determinantes para a operacionalização de um modelo de treino lógico e integrado. Segundo Oliveira (2004), na criação de um modelo de jogo, isto é, na criação de um modelo de jogo adotado para uma equipa deve-se ter em consideração alguns aspetos que interagem: a) A conceção de jogo do treinador é formada pela organização das respetivas ideias de jogo, as quais vão permitir criar um modelo de jogo, promover uma operacionalização e gerir essa operacionalização; b) As capacidades e caraterísticas dos jogadores que constituem a equipa devem ser aspetos importantes na criação de um modelo de

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jogo. O treinador tem que ter consciência que treinar jogadores seniores não é a mesma coisa do que treinar jogadores em formação, nem treinar jogadores de seleção é a mesma coisa do que treinar jogadores de divisões secundárias. E também que treinar jogadores cuja conceção de jogo se identifica com o treinador não é a mesma coisa que treinar jogadores cuja conceção de entendimento do jogo seja diferente; c) Os princípios de jogo podem ser considerados como as caraterísticas que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de jogo, isto é, são padrões de comportamento tático-técnico que podem assumir várias escalas mas são representativos do modelo de jogo adotado, independentemente da escala de manifestação; d) As organizações estruturais (próximo capítulo) são as disposições iniciais dos jogadores em campo; e) A organização funcional é a forma de manifestação do modelo de jogo, ou seja, é o produto da criação que a interação entre a conceção de jogo do treinador, os princípios e os subprincípios que o constituem, a intervenção ativa dos jogadores no modelo e as diferentes estruturas que esse modelo pode assumir.

No futebol diz-se, frequentemente que conforme se quer jogar assim se deve treinar, o que sugere uma relação de interdependência e reciprocidade entre a preparação e a competição. Esta relação é consubstanciada por um dos princípios do treino, o princípio da especificidade, que preconiza que sejam treinados os aspetos que se prendem diretamente com o jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, etc), no sentido de viabilizar a maior transferência possível das aquisições operadas no treino para o contexto específico das partidas (Garganta & Gréhaigne, 1999). Apesar de muito se especular a propósito dos múltiplos fatores que concorrem para o êxito em futebol, continua a ser verdade que o treino constitui a forma mais importante e influente de preparação dos atores para a competição. Por tal motivo, o processo de construção das equipas e de preparação dos

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jogadores de futebol mobiliza uma significativa concentração de esforços, por parte de todos quantos procuram, insistentemente, apurar meios e métodos de treino, de modo a induzir o êxito desportivo e a torna-lo cada vez mais consistente (Garganta, 2015). Neste sentido, o treino será sempre, por definição, a recusa do destino, da sorte e do azar (Garganta, 2015).

Equipa, Sistema de Jogo

Compreendidos os conceitos de estratégia e tática, passamos a outros conceitos, tal como o conceito de equipa e a sua funcionalidade competitiva. Vales (2015) resume então os traços essenciais de natureza coletiva nos seguintes pontos: a) caráter unitário, no sentido em que uma equipa, representada por um conjunto de jogadores que a constituem, se comporta durante os jogos como um superindivíduo que atua de forma solidária tanto desde o ponto de vista ideológico como factual; b) caráter complexo, no sentido de que uma equipa exteriorizará, durante o jogo, um conjunto de relações internas cuja expressão global não poderá ser representada pelo somatório das suas expressões individuais, mas sim por uma nova dimensão que emerge das interações que se produz entre os seus elementos constituintes; c) tipologia mista, no sentido em que uma equipa expressa, durante os jogos, comportamentos que têm como base métodos de raciocínio que se complementam. Compreendido o conceito de equipa é necessário entendermos o conceito de sistema de jogo. A construção dos sistemas de jogo, no futebol, surge pela necessidade de coordenar as ações dos jogadores que formam uma equipa, com o objetivo de proporcionar-lhes um sentido unitário, em que os interesses individuais se subordinam aos coletivos para alcançarem o sucesso (Vales, 2015). A existência de uma organização interna, no seio de si mesmo (sistema de jogo), estimulará e facilitará o aparecimento de novas propriedades significativas dentro do grupo. No entanto, no nosso ponto de vista entendemos que para estudar e conhecer adequadamente os sistemas de jogo será

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necessário evitar cair em interpretações excessivamente formalistas e reducionistas do jogo, fundamentadas numa visão estática do mesmo, a partir do qual os sistemas são conceptualizados como simples dispositivos posicionais adotados pelos jogadores de uma equipa no decorrer da competição, deixando para segundo plano outros aspetos de caráter mais funcional e dinâmico relacionados com a organização interna do mesmo (Vales, 2015). Sánchez (2015) explica-nos que o sistema de jogo nunca foi considerado o fim em si mesmo, mostrando-se como a única opção, rígido e imutável, devendo ser e mostrar-se como algo flexível e que está ao serviço da equipa e não, por contrário, escravizando o coletivo e limitando o excesso de jogo de muitos jogadores que têm necessidades diferentes dos restantes. Castelo (2009) explica que a ênfase dada aos sistemas de jogo é exagerada quando por si só, se procura explicar a lógica e a racionalidade do próprio jogo. Este facto espelha o desinteresse ou a incapacidade em atender a outros aspetos como são o caso dos métodos de jogo, dos princípios de jogo, dos fatores coletivos de jogo, do plano estratégico – tático da equipa para um certo confronto, etc. Com o passar dos anos entendeu-se isto mesmo, que o formato tático ou distribuição espacial, adotado por uma equipa durante o jogo, tem um poder explicativo limitado e que será portanto a análise dos aspetos de natureza mais funcional e procedimental, como os métodos de jogo ofensivos e defensivos, utilizados preferencialmente por uma equipa e a distribuição das tarefas entre os jogadores, que deverá atrair a atenção do treinador – analista para efetuar uma correta avaliação do comportamento coletivo manifestado pelos jogadores durante os jogos (Vales, 2015).

Processo ofensivo, Processo Defensivo e Momentos do Jogo

A primeira pergunta que se coloca antes de abordarmos o que é realmente o processo ofensivo e defensivo ou segundo outros autores a fase ofensiva e defensiva, é importante que consigamos responder à seguinte questão: “Podemos separar o jogo em fases?”

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A resposta é claramente “não”. Segundo Sánchez (2015) o jogo é um todo que compreende fases, subfases, etc. Mas os analistas têm que separá-lo e analisá-lo segundo as fases em que estão desenvolvidos os modelos de jogo das equipas em geral. Segundo o autor, o motivo pelo qual os analistas fragmentam o jogo prende-se com o facto de entenderem que assim podem aprofundar mais e dessa maneira conseguem identificar os padrões de jogo e o modelo de jogo em si. Garganta, quando entrevistado por Pedreño (2018) explica que o termo ”interpretação” se afigura mais ajustado do que “análise”. Para Garganta, análise é algo muito analítico, parece que há que dividir para entender, e na perspetiva dele é justamente ao contrário, há que juntar, o jogo deve ser entendido cada vez mais como um todo e quando vamos dividir devemos encontrar estratégias para que o jogo não se empobreça. Castelo (2003) cit. por Sarmento (2012) considera que, nesta relação adversa, o jogo se desenvolve segundo um quadro de luta permanente pela posse de bola, que consubstancia duas fases fundamentais do jogo: o ataque (processo ofensivo), que é determinado pela posse de bola, e a defesa (processo defensivo), que corresponde à procura da sua posse. Castelo (2009) afirma que só o processo ofensivo contém em si uma ação positiva, ou por outras palavras, um fim positivo, pois só através deste o jogo pode ter uma conclusão lógica em direção do seu objetivo – o golo. É para este objetivo que os jogadores das duas equipas, aquando de posse de bola, direcionam as suas intenções e o significado das suas ações. Segundo o autor, quando determinada equipa está de posse de bola, para além de poder concretizar o objetivo do jogo – o golo, terá as condições básicas para: a) controlar o ritmo específico do jogo; b) criar condições para surpreender os adversários; c) privar os adversários da posse da bola e, d) concretizar a recuperação física de companheiros. O mesmo autor refere ainda que cada equipa funciona como um sistema, procurando aplicar o seu modelo de jogo, impondo-o ao adversário, assumindo uma forma de iniciativa, controlo e gestão do jogo, às quais a equipa adversária contrapõe o seu modelo (estrutura, métodos e princípios).

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Castelo (2009) refere que após a recuperação da posse da bola, o objetivo fundamental da equipa é o de progredir em direção à baliza adversária. A maximização destes objetivos pressupõe: a) instabilizar a organização da equipa adversária, procurando desta forma desequilibrar a organização defensiva; b) orientar as ações de jogo numa direção definida, ou seja, que a maioria das decisões e ações tático – técnicas individuais e coletivas, realizadas pelos jogadores em processo ofensivo, sejam direcionadas para a baliza adversária; c) criar condições para a obtenção do golo, ou seja condições propícias à culminação positiva do ataque. Por outro lado, o processo defensivo, que contém em si uma ação negativa, pois, a equipa nestas circunstâncias, não poderá, em condições normais, concretizar o objetivo do jogo. Assim, este processo deverá ser encarado como uma forma organizacional, sendo logo abandonado quando se recupera a posse da bola (Castelo, 2009). Para o mesmo autor, a fase defensiva consubstancia-se na base de ações denominadas de marcação, com caráter individual e coletiva, as quais em última análise, traduzem quatro aspetos fundamentais: a) anular as ações individuais e coletivas dos atacantes, independentemente destes terem ou não a posse da bola; b) vigiar e ocupar espaços vitais de jogo, em especial, aqueles que favorecem o desenvolvimento do processo ofensivo, a criação de situações de finalização e, mais importante de todas, a possibilidade de finalização com elevadas probabilidades de êxito; c) retirar parte da iniciativa do ataque do adversário, ripostando constantemente às suas investidas; d) objetivar uma visão construtiva das ações de marcação, com o intuito de potenciar as condições de eficácia do processo ofensivo subsequente. Ainda Castelo (2009) resume que os objetivos principais do processo defensivo são: a recuperação da posse da bola e a defesa da baliza. A efetivação destes objetivos é suportada pela restrição do tempo e do espaço disponível dos atacantes, mantendo-os sob pressão e negando-lhes a possibilidade de poderem progredir no terreno de jogo.

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Após estarem devidamente esclarecidos os conceitos de processo ofensivo e defensivo, estamos agora em condições de procurar entender cada um dos momentos de jogo. Oliveira (2004) mencionou que o momento de organização ofensiva é caraterizado pelos comportamentos que a equipa assume aquando da posse de bola com o objetivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar golo. Já o momento de organização defensiva, segundo Oliveira (2004), carateriza-se pelos comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a posse da bola com o objetivo de se organizar de forma a impedir a equipa adversária de preparar, de criar situações de golo e de marcar golo. Não obstante, e tendo em conta o jogo de dinâmicas interaccionais e de relações de comunicação constantes, cremos, com Sarmento (2012), que o fluxo do jogo não se esgota nestas duas grandes fases. Garganta (2005) cit. por Sarmento (2012) considera, a este propósito, ser nas articulações do sistema, ou seja, nas interações constantes entre os seus elementos, que se cria a sua identidade, e é também nelas e através delas que se criam condições para a manter ou alterar em função das circunstâncias e das respetivas debilidades e mais-valias dos intervenientes. Podemos apurar a importância das fases ou momentos que mediam as duas já apontadas, e das dinâmicas que se possam estabelecer aquando da passagem de uma para a outra. Neste sentido, as ações dos jogadores, entendidas de forma coletiva, só adquirem significado em função de três momentos fundamentais do jogo: a posse de bola (ataque), a posse da bola por parte da equipa adversária (defesa) e a mudança da posse de bola (transição) (Cerezo, 2000). As transições são momentos em que se procura a alteração rápida e eficaz de comportamentos e atitudes com o intuito de surpreender o adversário, aproveitando a sua desorganização ou retardando ao máximo a sua organização. Surgem no momento em que se conquista a posse de bola (defesa- ataque) e no momento em que se perde a posse de bola (ataque-defesa), em que é necessário mudar o sentido do fluxo de jogo tão depressa quanto possível (Garganta, 2006 cit. por Sarmento, 2012).

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O momento de transição ataque-defesa é caraterizado pelos comportamentos que se devem assumir durante os segundos após se perder a posse de bola. Estes segundos revelam-se de particular importância uma vez que ambas as equipas se encontram momentaneamente desorganizadas para as novas funções que têm que assumir, como tal ambas tentam aproveitar as desorganizações adversárias (Oliveira, 2004). Por sua vez, o momento de transição defesa-ataque é caraterizado pelos comportamentos que se devem ter durante os segundos imediatos ao ganhar-se a posse da bola. Estes segundos são importantes porque, tal como na transição ataque-defesa, as equipas encontram-se desorganizadas para as novas funções e o objetivo é aproveitar as desorganizações adversárias para proveito próprio. Apesar da recuperação da posse da bola ser uma condição indispensável para o desenvolvimento do processo ofensivo, este começa antes da recuperação da mesma, uma vez que os jogadores da equipa que não intervierem diretamente na fase defensiva, ou seja, que não participam nas ações cujo intuito é a recuperação da posse da bola, devem preparar mentalmente a ação ofensiva, na procura de espaços vazios que possam ser utilizados para a realização do ataque, o que implicará um aumento da preocupação dos seus adversários diretos com a defesa da sua própria baliza em detrimento da sua preocupação relativamente ao ataque da baliza adversária (Castelo, 1996 cit. por Sarmento, 2012). Castelo (2009) explica-nos também, que por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda de posse de bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo ofensivo, devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e vigiando: a) espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para o empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar continuidade ao processo ofensivo da sua equipa. Assim, e seguindo a mesma lógica, Pedreño (2018) afirma que é impossível entender o comportamento de uma equipa em transição defensiva sem analisar a fase ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário seria cair num reducionismo em um desporto complexo como é o futebol.

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Tendo em conta a fluidez e continuidade inerentes a este jogo, não parece viável que uma equipa se encontre, apenas e de forma separada, num destes processos (ofensivo / defensivo), pois, nesse caso, estaria, tão-só, na posição de reagir e nunca na de agir ou pré-agir (Barreira, 2006 cit. por Sarmento, 2012).

Racionalização do espaço de jogo

No ambiente futebolístico, a racionalização do espaço de jogo representa um dos aspetos de natureza tático – estratégica que mais interesse desperta entre os estudiosos, adeptos e meios de comunicação especializados. Em função do marco situacional em que se desenvolve o jogo, o das próprias preferências táticas dos treinadores, pode observar-se uma certa variabilidade nas configurações posicionais utilizadas pelas equipas para ocuparem de forma equilibrada e racional o terreno de jogo. Será o facto de estar ou não em posse de bola, o principal fator a ter em conta por parte das equipas para a adoção de um ou outro formato posicional. Assim, quando uma equipa se encontra com a posse da bola, buscará distribuições espaciais orientadas para a criação e exploração de espaços livres que incrementam as possibilidades de eficácia das suas ações individuais e coletivas. Por contrário, quando se encontra sem a posse da bola, esta tenderá a restringir, ocupar e controlar os espaços desejados pelo adversário para desenvolver o seu jogo ofensivo (Vales, 2015). Castelo (2009) explica que as equipas quando em processo ofensivo procuram expandirem-se, sempre que possível e, em simultâneo, em torno de dois eixos fundamentais: largura e profundidade. Ao utilizar ajustadamente o espaço de jogo disponível, estas ligações têm como objetivo fundamental, desenvolver e gerir espaços efetivo de jogo, que aumentem as dificuldades inerentes às ações de marcação, por parte dos defesas relativamente aos atacantes. Pelo contrário, as equipas quando em processo defensivo procuram, essencialmente, assegurar a concentração de caráter posicional da equipa nas zonas próximas da bola, de forma a concretizar uma recuperação rápida dessa, e sempre que possível o mais longe da própria baliza. Fundamentalmente, toda a distribuição espacial dos jogadores sobre o terreno de jogo deverá responder a dois critérios táticos básicos: racionalidade

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e equilíbrio, que estarão determinados essencialmente pela amplitude ocupacional ou grau de ocupação transversal do terreno de jogo e pela profundidade ocupacional ou grau de ocupação longitudinal do mesmo (Vales, 2015). Sánchez (2015) reforça isso mesmo que há que observar estes dois conceitos mas junta um terceiro: “Tendo em conta o fator da ocupação espacial e racional do terreno de jogo, há que observar três conceitos que são determinantes para os analistas táticos, que são: a disposição em função do eixo transversal, que gera amplitude ao bloco; a sua disposição em função do eixo longitudinal que dota a equipa de profundidade e por último a sua dinâmica posicional em função da zona ativa da bola, que nos determinará se se manifestam posicionamentos com maior concentração em torno da bola. Todas elas em ambas as fases do jogo.” Considerando o grau de flexibilidade e variabilidade que apresentam os posicionamentos de uma equipa em relação às fases do jogo, podemos identificar dois tipos: a) dinâmicas posicionais fixas, que são aquelas em que a distribuição dos jogadores aparece inalterável durante as fases ofensiva e defensiva do jogo. Os jogadores têm raios de ação limitados no momento de desempenhar as suas missões técnico-táticas, assim como uma maior preocupação para manter o próprio equilíbrio; b) dinâmicas posicionais variáveis, que se produzem quando se observam diferenças significativas no formato posicional da equipa nas diferentes fases ofensiva e defensiva. Contempla-se dinamismo e mobilidade dos jogadores em função das exigências relativas a cada uma das fases (Vales, 2015). Para o autor, o modo como cada equipa gere a sua relação com o espaço de jogo supõe um dos principais indicadores que revelará a identidade da sua filosofia de jogo e as suas verdadeiras intenções tático – estratégicas na competição. Também Vales (2015), numa aproximação à análise da componente funcional, sugere que as equipas de futebol, desde uma perspetiva funcional, podem ser classificados como: a) funcionalmente ativos, quando estas desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos orientados para tomarem iniciativa e o controlo do jogo, impondo um ritmo alto e continuo tanto

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na fase ofensiva como defensiva do jogo; b) funcionalmente reativos, quando desenvolvem atitudes e comportamentos individuais e coletivos baseados na cedência da iniciativa e controlo do jogo à equipa adversária, impondo um ritmo descontínuo e em função do adversário.

Métodos de Jogo

Os métodos de jogo representam um dos aspetos centrais que caraterizam a componente funcional dos sistemas de jogo e fazem referência a uma forma geral de organização das ações coletivas de uma equipa, em que se estabelecem princípios orientadores do ataque e da defesa (Vales, 2015). Para Castelo (1994) cit. por Vales (2015), os objetivos que se perseguem com a implementação dos métodos de jogo podiam resumir-se nos seguintes pontos: a) estabelecer os princípios orientadores de organização do ataque e da defesa dentro do sistema de jogo preconizado pela equipa, procurando a racionalização dos comportamentos técnico – táticos individuais e coletivos em função das situações momentâneas de jogo e dos seus objetivos táticos; b) estabelecer um ritmo de jogo definido, ou seja, variar a sequência e a velocidade de execução dos procedimentos individuais e coletivos, tanto ofensivos como defensivos; c) ajustar constantemente a organização dinâmica da equipa na criação de condições mais favoráveis em relação ao número, espaço e tempo, para que se alcancem os objetivos do ataque e da defesa. Para Sánchez (2015) todas as equipas apresentam um método na hora de desenvolver o seu jogo com ou sem bola. Este método tem princípios pelos quais se regem em cada uma das fases do jogo. (…) O método de jogo também dota a equipa de capacidade para ajustar a organização coletiva e criar e desenvolver situações benéficas quanto ao espaço, número de jogadores e tempos dentro do jogo, com o objetivo de conseguir o resultado desejado na fase ofensiva e defensiva. Também lhes dá a capacidade de desenvolver um ritmo de jogo, alterando a intensidade e o ritmo de jogo, aumentando a velocidade de execução nas ações coletivas e individuais em cada uma das fases do jogo.

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Métodos de Jogo Ofensivo

Ao analisarmos os métodos ofensivos desenvolvidos e afinados durante o processo evolutivo do jogo de futebol, observa-se que estes passaram de um jogo mais individualizado com caráter vertical e direto em direção da baliza adversária, na qual a profundidade do jogo é o seu elemento estrutural mais importante, para um processo ofensivo mais equilibrado no sentido de um aproveitamento mais racional dos dois vetores do jogo: a largura e a profundidade. Assim, podemos estabelecer três formas base, através das quais, se expressam os diferentes métodos de jogo ofensivo: o contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional (Castelo, 2009). Segundo o mesmo autor, os métodos ofensivos visam uma coordenação eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objetivos do ataque, em consonância com os objetivos do jogo – o golo. Para atingir este objetivo, os métodos de jogo ofensivo procuram, dentro de uma panóplia de aspetos, concretizar os seguintes: a) desequilibrar a defesa adversária; b) elevar o ritmo ofensivo; c) utilizar o espaço de jogo em largura e profundidade; d) verticalizar as ações de jogo; e) aplicar formas superiores de organização ofensiva; f) simplificar o processo ofensivo; g) utilizar o ataque de segunda vaga; h) aproveitar as fases de transição defesa – ataque; i) fomentar elevados níveis de prontidão. Vales (2015) menciona que no conjunto dos princípios orientadores relativamente às movimentações que se observam ao longo do processo ofensivo, e que dão corpo aos ditos métodos de jogo, podiam concretizar-se nos seguintes fatores: a) orientação predominante dos deslocamentos da bola e dos jogadores até à baliza adversária ou espaços onde há menor concentração por parte do adversário; b) criar instabilidade na organização defensiva adversária em qualquer das fases do processo ofensivo (construção – finalização); c) facilitação de maior número de opções de finalização para as ações ofensivas; d) manter o equilíbrio defensivo, no caso de uma perda de bola inesperada. Ofensivamente, o modo como se produzem as movimentações manifestadas por uma equipa, desde o momento em que recupera a posse de

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bola até ao momento em que finaliza ou tenta finalizar a ação ofensiva, determinará uma estruturação do seu jogo ofensivo que se ajustará em maior ou menor medida a algum dos diferentes tipos de métodos de jogo ofensivos (Vales, 2015). Podemos observar isto no quadro 5. Quadro 5 - Caraterísticas básicas dos métodos de jogo ofensivos. T - tempo; E – espaço; M – modo; N – número (adaptado de Vales, 2015).

CONTRA – ATAQUE T Ritmo elevado: passagem rápida entre a fase ofensiva inicial e a final (elevada velocidade de circulação e progressão) E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e dos jogadores (jogo sobre o eixo longitudinal) M Simplicidade construtiva: Reduzido número de passes – Progressão do jogo, enviando ou transportando a bola até aos sectores de finalização N Participação baixa: Participação de um número reduzido de jogadores no seu desenvolvimento ATAQUE RÁPIDO T Ritmo elevado: Passagem rápida da ofensiva inicial até à final (velocidade de circulação moderada e elevada velocidade na progressão) E Verticalidade: Orientação convergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo sobre o eixo longitudinal) M Simplicidade construtiva: Jogo largo, mais remates – Progressão do jogo, enviando a bola até aos sectores de finalização N Alta participação: Participação de um elevado número de jogadores no seu desenvolvimento (quem lança a bola para a frente + quem finaliza) ATAQUE POSICIONAL T Ritmo moderado: Passagem gradual da fase ofensiva inicial até à final (velocidade de circulação elevada e velocidade moderada na progressão E Lateralidade: Orientação divergente dos deslocamentos da bola e jogadores (jogo sobre o eixo longitudinal e transversal) M Complexidade construtiva: Grande preparação e elevado número de passes - Progressão no jogo, com trocas de bola entre jogadores N Participação massiva dos jogadores: Participação de um elevado número de jogadores no seu desenvolvimento.

Segundo Sánchez (2015) os métodos de jogo ofensivo estruturam-se da seguinte forma: a) ataque posicional / ataque combinativo, em que as equipas desenvolvem o seu jogo através da progressão da bola a partir da posse da bola, com o controlo da mesma. Obter amplitude propiciando uma distribuição espacial grande no ataque. Sempre com linhas avançadas e com contínuos apoios que lhes permitam receber nas costas das linhas de pressão adversária. Neste tipo de ataque a participação dos jogadores envolvidos é massiva e de alta concentração já que necessitam de um jogo muito elaborado; b) ataque

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direto, em que as equipas apresentam um ritmo de jogo muito alto. Relativamente à ocupação racional do espaço do terreno de jogo, a verticalidade está no seu expoente máximo e a orientação do jogo passa por passes longos, em função do eixo longitudinal, apresentando grande profundidade. A dificuldade na elaboração do jogo é mínima e considera-se simples e a participação é alta, embora nas zonas ativas da bola não seja necessário; c) contra – ataque em que há um ritmo de jogo ofensivo muito alto, com predomínio da orientação através de passes longos e distribuição dos jogadores sobre o eixo transversal, o que leva a uma equipa muito profunda e vertical. A caraterística do seu jogo, em função da complexidade do seu modo de jogar é simples, com um escasso número de passes entre o início e a finalização das jogadas. A participação de jogadores no seu desenvolvimento também é reduzida.

Métodos de Jogo Defensivo

Ao analisarmos a evolução dos métodos defensivos ao longo dos tempos, observamos a alteração dos elementos estruturais, a partir dos quais o processo defensivo se ancorou e, naturalmente, se organizou. Com efeito, numa primeira fase, o elemento mais importante seria o adversário direto, através do qual se desenvolveu os métodos defensivos individuais (o um contra um). Mais tarde, com o intuito de racionalizar, de forma eficaz o espaço de jogo, estabeleceu-se que este seria o elemento estrutural mais importante. Assim, desenvolveram-se os métodos defensivos à zona, bem como os de caráter misto (o todos contra um). Por último, ao assumir-se que a bola, incluindo o seu possuidor, bem como os colegas com quem este poderá relacionar-se tática e preferencialmente, desenvolveram-se os métodos zona pressionantes. Resumidamente, passou-se da marcação individual, para o espaço, terminando na bola, como elementos centrais de organização defensiva na atualidade (Castelo, 2009). Segundo Castelo, neste âmbito, podemos estabelecer três formas base, através das quais se expressam os diferentes métodos de jogo defensivo: o método individual, o método à zona, o método misto e a zona pressionante que decorre da evolução do método à zona.

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O mesmo autor explica-nos que os métodos defensivos visam uma coordenação eficaz das ações dos jogadores que constituem a equipa, de forma a criar as condições mais favoráveis para concretizar os objetivos da defesa, isto é, a recuperação da posse da bola e proteção da baliza. Para atingir estes objetivos, os métodos de jogo defensivo procuram dentro de um largo número de aspetos, concretizar os seguintes: a) estabilidade defensiva; b) desenvolver uma iniciativa constante; c) elevar o ritmo defensivo; d) direcionar os atacantes para espaços menos perigosos; e) recuperação defensiva marcando jogadores e espaços vitais de jogo; f) manter uma elevada concentração defensiva; g) modelar as condições de recuperação da posse da bola; h) redimensionar constantemente o nível de organização defensiva; i) ter sentido construtivo. Defensivamente, tal como ocorria durante a fase ofensiva, desde o momento em que uma equipa perde a posse da bola no decorrer do jogo, até ao instante em que consegue recuperá-la novamente, deverá adotar uma forma geral de organização ou método de jogo defensivo que direcione convenientemente as ações dos jogadores com o objetivo de dificultar ou impedir que o adversário alcance os objetivos do jogo relativamente ao processo ofensivo (Vales, 2015). Os diferentes métodos de jogo defensivos estão apresentados no quadro.

Quadro 6 - Resumo das caraterísticas dos diferentes métodos defensivos de jogo estudados (adaptado Castelo, 2009).

DEFESA DEFESA - ZONA DEFESA MISTA ZONA INDIVIDUAL PRESSIONANTE  Potencia o “um contra  Potencia o “todos  Sintetiza o método  Marcação rigorosa ao um” – igualdade contra um” individual e zona atacante com bola numérica  Cada defesa é  Marca o atacante de  Reduz o espaço Fomenta o princípio da responsável por uma para outra efetivo de jogo contenção uma zona zona  Potencia a marcação  Grande  Estabelece-se uma  Reforça as ações de a atacantes e responsabilidade organização por cobertura defensiva espaços de jogo individual linhas defensivas  Modela as condições  Elevado nível de  Ações de de recuperação da resposta física entreajuda e bola  Elevado nível de solidariedade  Aumento da atenção seletiva  Introduz a “defesa concentração em linha” defensiva  Comunicação verbal entre jogadores

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Outros autores como, Vales (2015) e também Sánchez (2015) classificam a fase defensiva em quatro grupos: defesa posicional ou organizada em contenção, defesa posicional ou pressionante, defesa posicional ou organizada de forma mista, defesa circunstancial. Segundo Sánchez (2015) na defesa organizada em contenção, o ritmo de jogo é baixo, sem pressão; a equipa distribui-se pelo espaço de forma baixa, com um bloco mais recuado, mostrando um posicionamento de expetativa face ao adversário, correndo poucos riscos, havendo a participação de todos os jogadores. Na defesa organizada de forma pressionante o ritmo de jogo e intensidade aumentam, defendendo num bloco mais alto, com pressão alta após a perda de bola e também na saída de bola, reduzindo os espaços, com grande concentração de jogadores nas zonas próximas da bola, havendo a participação de todo o bloco. Na defesa organizada de forma mista o ritmo de jogo é moderado, as equipas organizam-se num bloco médio cedendo o meio-campo ofensivo para o adversário, mantendo-se em contenção até à linha de criação do adversário, zona onde iniciam a pressão intensa, havendo a participação de todo o bloco. Por último, na defesa circunstancial, temporizam após a perda de bola, havendo apoios defensivos e maior densidade na zona onde perderam a bola, reorganizando-se assim defensivamente, havendo a participação parcial principalmente pelos jogadores que estão perto da bola.

Processo de treino - meio para atingir o jogo idealizado

Atualmente confunde-se muitas vezes o “jogar bem”, expressão muitas vezes utilizada por comentadores na TV, na rádio e em outros meios de comunicação e inclusivamente por alguns treinadores, com aquelas equipas que, em organização ofensiva, jogam com alguns conceitos como: passes curtos, apoios permanentes, circulação rápida da bola, etc. Isto é o que se chama de jogo combinativo ou posicional. Mas como é possível que se diga que uma equipa joga bem ou mal analisando somente uma fase do jogo? Isto, segundo Pedreño (2018) também é cair no reducionismo analítico em que se baseia a análise de um todo em só uma das partes, deixando de lado as relações e interações entre as partes.

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Também se diz frequentemente que uma equipa dominou a outra ou controlou o jogo, em função da posse de bola que essa equipa tem. Cai-se no erro de analisar essa posse de bola quantitativamente, sem analisar a qualidade dessa posse de bola. Assim, uma equipa que tem a posse de bola no seu meio- campo, que não tenta superar linhas adversárias, não desorganiza defensivamente o adversário e que se sujeita a perder a bola em zonas onde pode ficar exposto, domina o jogo? (Pedreño, 2018). Para o autor, o domínio do jogo, é uma questão de domínio de espaços, que se pode ter através da posse de bola ou sem ela. Através da posse de bola, posso submeter a equipa adversária, criando situações de superioridade posicional nas zonas que me interessam em função das forças da própria equipa e das debilidades do adversário. Se conseguir este domínio de espaços com bola e se progredir estarei dominando o jogo, porque serei capaz de criar situações de finalização que me permitam obter vantagem no marcador. Por outro lado, o domínio do jogo, sem posse de bola, deve ser entendido como a execução da organização defensiva com eficácia, impedindo em primeiro lugar, a progressão da equipa adversária, obrigando o adversário a progredir por onde nos interessa e defendendo a baliza corretamente com o objetivo de explorar os espaços deixados nas costas. Portanto, existem várias formas de jogar futebol e de conseguir resultados, do mesmo modo que existem várias maneiras de treinar. Não obstante, no treino do futebol trata-se de gerar uma harmonia ou sintonia entre todos, uma equipa, e um projeto. Uma equipa é um concerto de cumplicidades, expressas na vinculação a uma visão, a um modelo, a um ideal. Desta feita, o treino não é algo para consumir, mas para assumir, o que implica cultivar comportamentos e, sobretudo, atitudes (Garganta, 2015). O que faz um método afigurar-se mais pertinente pode ser a sua adequação à personalidade do treinador e dos jogadores, bem como à sua cultura específica do clube onde o trabalho se desenvolve. O treinador deve tomar partido, elegendo a sua visão, o seu método, o seu caminho, tomando consciência de que os métodos são bons quando os seus utilizadores reconhecem o respetivo alcance e limites e não a sua omnipotência. Todos os

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métodos encerram prós e contras e, portanto, a opção por uns ou por outros deve obedecer a razões pensadas e ponderadas. Neste contexto, o treinador assume-se como figura nuclear, pois a ele compete gerar e gerir todo o processo de preparação desportiva (Garganta, 2015). Segundo Mesquita (2000) cit. por Pimenta (2017), o exercício de treino é uma ferramenta utilizada pelo treinador para comunicar as suas ideias e intenções, sendo este um momento-chave para a aquisição dessas ideias por parte dos jogadores. Essa intenção deve ter suporte nos conteúdos de treino e na ideia de jogo pretendida pelo treinador. Os exercícios devem ser direcionados em função dos comportamentos desejados nos diferentes momentos do jogo. O processo de ensino- aprendizagem/treino pretende criar conhecimentos específicos/imagens mentais, que permita ao jogador e à equipa agir nos diferentes momentos do jogo, perante os problemas criados, em função de uma ideia coletiva de jogo, o modelo de jogo da equipa (Oliveira, 2004). Para que o treino e as situações nele apresentadas sejam realmente específicas, é necessário que haja uma permanente interação entre os exercícios propostos e o modelo de jogo adotado pela equipa e os respetivos princípios que lhe dão corpo e sentido. A operacionalização do conceito de especificidade condiciona o formato do processo ensino-aprendizagem/treino, mas também, obrigatoriamente, a intervenção nesse formato. Isto é, para que o conceito de especificidade seja atingido durante o treino, não basta que os exercícios propostos sejam potencialmente específicos, é necessário uma intervenção interativa do treinador com o exercício e com os jogadores para que ela aconteça (Oliveira, 2004). A singularidade do processo prende-se com a relação de que tudo o que é realizado deve estar em completa sintonia com o modelo de jogo da equipa e com o conceito de especificidade. Desta forma, em todos os momentos, os exercícios propostos devem ter estas referências. Um exercício pode ser completamente adequado para uma equipa, porque requisita sistematicamente comportamentos que o respetivo modelo pretende, como tal estão a proporcionar a criação de adaptações e conhecimentos específicos/imagens

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mentais importantes para a equipa e para o jogador. Por outro lado, se um exercício proporcionar repetidamente comportamentos não adequados ao modelo pretendido, as adaptações criadas vão ser prejudicadas ao desenvolvimento dos conhecimentos específicos/imagens mentais desejados (Oliveira, 2004). Assim, o processo de ensino-aprendizagem/treino deve promover a criação de hábitos relativos aos comportamentos desejados para as diferentes escalas dos momentos de jogo. Para que esses hábitos sejam criados, existe a necessidade de cumprir um princípio pedagógico que Frade (1989) cit. por Oliveira (2004) denominou de propensão. O princípio da propensão salienta a necessidade de criar exercícios cuja densidade dos comportamentos que se pretende evidenciar ocorram com elevada frequência. Este princípio vai permitir que determinado comportamento seja requisitado de uma forma muito superior à do próprio jogo, provocando a criação de imagens mentais/conhecimentos direcionados para o pretendido transformando-as em hábitos. Assim, quando se pretende ensinar/treinar determinadas ações, comportamentos ou relação de comportamentos de forma a se transformarem em imagens mentais/conhecimentos específicos, é necessário criar exercícios em que esses comportamentos sejam requisitados com uma grande densidade, permitindo que, posteriormente, em jogo, a situação seja reconhecida inconscientemente pelo jogador e este tenha capacidade para agir rápida e eficazmente. Desta forma, os exercícios são meio pela qual o processo de ensino-aprendizagem/treino ganha consistência e coerência (Oliveira, 2004). Como já foi escrito nos capítulos anteriores, na temporada 2017/2018 a equipa foi liderada por três equipas técnicas diferentes. Com a mudança de equipa técnica, normalmente, ocorrem alterações nas ideias de jogo, no modelo de jogo e também no modelo de treino. No capítulo referente ao “enquadramento” e no subcapítulo “modelo de jogo e processo de treino” abordámos o modelo de jogo utilizado por cada equipa técnica. Todas as equipas técnicas procuravam criar exercícios, na sessão de treino, que possibilitassem a criação de representações mentais nos atletas

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promovendo a preparação dos mesmos para enfrentarem situações semelhantes que pudessem ocorrer em competição.

4. DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA

Do saber ao fazer vai um longo caminho, talvez tão longo como do fazer ao saber (Caraça, 1997 cit. por Garganta, 2001). Assim, parece claro que todo o progresso da ação beneficia o conhecimento, tal como todo o progresso do conhecimento beneficia a ação (Morin, 1990 cit. Garganta, J., 2001). Do iniciar um estágio cheio de expetativas e ilusão, até ao encontro de um contexto real, longe do ideal (expectado) foi um instante. É um facto que, desde início, sempre soube que estava fora da minha zona de conforto. E por isso, entendi que me encontrava num estágio de aprendizagem em que “sabia que não sabia”, considerando-me um “consciente incompetente”. Mas a minha vontade e a minha ambição, conduziu-me num percurso curvilíneo entre o “consciente incompetente” e o “consciente competente”. Foi traçado um longo caminho, com muitos horas e dias de trabalho, empenho e dedicação, bem como algum tempo de reflexão e leitura sobre “o que”, “como” e “quando” observar. Como foi descrito em capítulos anteriores, no âmbito deste estágio, tive a oportunidade de integrar o gabinete de scouting da AAC/OAF. Pretendia-se que observasse e analisasse as equipas adversárias. Importava portanto perceber o que era um gabinete de AJ, “o que” tinha de fazer, “como”, “quando” e “porquê”. Para Vales (2015) o processo de observação e análise do jogo é um processo que consiste em recolher e examinar comportamentos coletivos e individuais desenvolvidos por equipas e jogadores durante os jogos, tratando de identificar certas regularidades nas mesmas, com o objetivo de reconhecer a estrutura organizativa predominante (aspetos morfofuncionais) e avaliar a eficácia operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de relatórios técnicos. Também Vales (2012) cit. por Pereira (2017), refere que o analista, para desenvolver as suas tarefas, deve ter bem presente uma estratégia de intervenção, sabendo o que quer analisar, como vai ser realizado esse processo e como essa informação recolhida vai ser transcrita, apresentada e aplicada à

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programação e ao ajuste do modelo de jogo e de treino para melhorar o rendimento competitivo da equipa. É importante determinar o que se vai analisar e quais os motivos para fazê-lo. Vale a pena ter em mente o conhecido ditado: “nem tudo o que conta pode ser contado e nem tudo o que pode ser contado conta” (Carling, Williams & Reilly, 2005). Ventura (2013) partilha a sua visão relativamente às fases em que o processo de scouting se divide: a) Preparação (onde se define o que se quer observar; como e onde se vai observar; quem vai observar); b) recolha da informação / observação (reporta à observação propriamente dita); c) análise da informação / planeamento (depois de recolhida a informação, é analisada e usada para planear o microciclo semanal e para analisar a performance dos jogadores). Estando conscientes do facto de ser a própria estrutura e cultura organizativa do clube a determinar a metodologia de trabalho a seguir por um departamento de AJ, começámos por definir uma estratégia de trabalho, concretizando a estrutura interna e funções de cada elemento. Considerando que o departamento era constituído apenas por 2 elementos (um analista e um scouter) a divisão das tarefas tornou-se muito fácil. Considerando que o único analista era eu, todos os procedimentos de preparação, recolha de infomação, armazenamento e gestão da informação, análise da informação e a devida transmissão da informação eram realizados por mim. Habitualmente diz-se que para encontrar algo, há que procurá-lo. No contexto da observação e análise do jogo, a lógica é inversa, ou seja, primeiro encontra-se (configura-se) as categorias e os indicadores e só depois se procura e se afere as suas formas de expressão no jogo (Garganta, 2001). Teodorescu (1984), Castelo (1994, 1996), Pacheco (2005) cit. por Ventura (2013), referem que o conhecimento das caraterísticas da equipa adversária passa pela recolha de dados, utilizando as seguintes fontes de informação: a) observação direta: aprecia-se o método de jogo ofensivo e defensivo, particularidades da performance (físico-motora, técnico, psicológico), a

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qualidade dos jogadores titulares (equipa-base), a qualidade dos jogadores suplentes, o comportamento disciplinar e a qualidade do treinador adversário na orientação da equipa; b) observação indireta: recurso à análise de vídeo e registo das principais caraterísticas da equipa adversária; c) comentários da imprensa desportiva; d) registos do próprio treinador, sobre o desempenho das equipas adversárias em jogos anteriores; e) recolha de informações com treinadores que já defrontaram a equipa que nos interessa analisar; f) recolha de informações através de jogadores da própria equipa que já tenham jogado ou que residam na área geográfica da equipa a observar. Segundo Luz & Pereira (2011), citados por Ventura (2013), para José Mourinho e a sua equipa técnica, a recolha de informação sobre o adversário, não se resume à observação dos jogos deste. É sim complementada através de outras formas, como por exemplo: notícias veiculadas nos jornais, com a observação de treinos e até com telefonemas a pessoas próximas do clube adversário. Também, para os treinadores entrevistados por Ventura (2013), existem várias fontes de informação a que eles podem recorrer de forma a conseguir recolher o máximo de informação sobre a equipa adversária. Entre essas fontes temos: a) jornais; b) vídeo; c) internet; d) diálogo com os jogadores e, e) diálogo com colegas treinadores.

Figura 11 - Fontes de informação a que os treinadores recorrem (Ventura, 2013). Segundo Garganta (2001) cit. por Ventura (2013), para se obter o melhor conhecimento das particularidades da equipa adversária através da observação direta deverá ter-se em consideração os seguintes fatores: a) desenvolvimento da fase ofensiva; b) desenvolvimento da fase defensiva; c) desenvolvimento da

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transição defesa-ataque; d) desenvolvimento da transição ataque-defesa; e) esquemas táticos (bolas paradas – fragmentos constantes do jogo). Assim, quando iniciámos a observação dos jogos, definimos bem o que pretendíamos descobrir, pois durante o jogo, há tanta, mas tanta informação, relevante e irrelevante e é fundamental que o analista possua a capacidade para se focar naquilo que é pertinente, para que consiga identificar aquilo que pretende. O microciclo de trabalho começava na recolha de informação acerca da equipa adversária. Realizávamos a recolha em jornais desportivos e também em jornais locais, na página online da Liga Portuguesa de Futebol, na página online zerozero e também nas redes sociais. Para além de analisar informações disponíveis pela imprensa, observámos os vídeos dos últimos três a quatro jogos realizados pela equipa adversária. A acrescentar a este trabalho, durante o primeiro terço da época foram reunidas condições para que realizássemos observação in loco a pelo menos um dos últimos três jogos do nosso próximo adversário. Quando realizamos a observação in loco temos de ter presente algumas situações. Devemos chegar ao campo/estádio com algum tempo de antecedência, sempre cerca de 45 minutos antes do início do jogo. O scouter e o observador devem ser discretos, passando despercebidos. Devem possuir sempre câmara fotográfica. Os telemóveis atuais já contam com boa capacidade e definição e podem ser uma boa ajuda quer para tirar algumas fotografias quer para filmar. Contudo, se o clube adversário permitir, podemos levar uma câmara de filmar, sempre que entendermos que estarão reunidas as condições para proceder à filmagem. O telemóvel possui ainda a aplicação de gravador de voz, o que pode tornar-se muito útil para as observações. O relógio com cronómetro é outro objeto essencial para acompanhar o tempo de jogo. Pedir no balcão de imprensa ou na bilheteira para esse efeito a ficha de jogo, com informação dos nomes e número dos jogadores que compõem o onze inicial mas também os suplentes. Para além de observarmos pela primeira vez a equipa adversária, a observação in loco permite-nos perceber o envolvimento, sempre que essa

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equipa jogava em casa. A observação in loco era claramente importante para percebermos qual o momento da equipa, com a relação da equipa com os adeptos, como é que os adeptos reagiam na adversidade e com o resultado favorável. Para além disso, era um momento em que nós percebemos qual o estado do relvado e quais as dimensões do campo. Para além da observação in loco, observámos e analisámos os vídeos dos últimos três a quatro jogos de cada equipa adversária. O recurso ao vídeo possibilita selecionar as partes mais importantes do jogo. Numa análise mais profunda são necessárias avaliações mais complexas, para detetar os comportamentos dos jogadores, reconhecer a estratégia utilizada pela equipa adversária e, a identificação das situações táticas que produzem oportunidades de golo (D’Orazio & Leo, 2010). Luz & Pereira, 2011 cit. por Ventura, 2013 refere que José Mourinho recorre ao vídeo como um aliado no seu trabalho. Inicialmente, serve-se do vídeo para conhecer os adversários e preparar os exercícios adequados para usar no treino. Os mesmos autores autores citam Rui Faria que disse que “os jogadores realizam os exercícios com informação que resulta desse visionamento e do que são as estratégias para o jogo. É um processo muito exaustivo e que permite aos nossos jogadores terem um conhecimento profundo do opositor”. Para Vales (2015) o recurso ao vídeo no âmbito do treino desportivo, como recurso modelador de atitudes e comportamentos manifestados pelas equipas e pelos jogadores durante os jogos e treinos, representa um instrumento ao serviço dos treinadores. Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) reforça que a observação de imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente da realidade (competição e treino), têm uma grande influência na transformação da mesma, ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o objetivo de que estes sejam mais eficazes. Mas, há que ter atenção às filmagens ou gravações que são utilizadas. A gravação ou o jogo que chega a todos os telespetadores a partir da televisão não é filmado da mesma forma ou da forma adequada para a realização da AJ. Enquanto, que o jogo filmado pela TV foca-se muitas vezes no detalhe, isto é, se a bola ultrapassou ou não a linha de golo, se houve ou não falta, se foi mão

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na bola ou bola na mão e também em todo o ambiente e espetáculo em torno do jogo, filmando os adeptos nas bancadas e até algumas coreografias, ou passando ainda algumas repetições de alguns lances da partida, a filmagem “técnica” que o analista precisa é uma filmagem corrida, sem pausas, em plano aberto, com uma visão global. Por indicação da equipa técnica, a filmagem era realizada a partir de uma zona central, o mais alto possível.

Figura 12 - Filmagem técnica de um jogo da equipa adversária. Jogo entre SC Braga B e Gil Vicente FC.

Figura 13 - Filmagem a partir de TV. Jogo do SC Braga B. Como podemos observar, comparando as imagens, reparamos que na filmagem TV a imagem aparece com mais “zoom”, ficando mais próxima. Desta forma não conseguimos apanhar no mínimo 21 jogadores, considerando um dos guarda-redes e todos os outros jogadores que se encontram em jogo.

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Recolhidas as informações e realizadas as filmagens, passamos para a observação e AJ. No momento de observar um jogo, segundo Pedreño (2018), devemos distinguir entre aquilo que é analisável por ser um padrão de uma equipa e aquilo que é próprio da natureza variável e imprevisível do jogo. De acordo com o mesmo autor, os movimentos padrão de uma equipa são aquelas ações que caraterizam uma equipa pela operacionalização das suas virtudes ou defeitos (ações observáveis em vários jogos) e que levam a um comportamento estável e que traduzem a organização da equipa. Por outro lado, os movimentos caóticos do jogo são aquelas ações que surgem da própria natureza caótica do jogo de futebol, entendido este caos como aquelas variações nas condições inicias que podem supor uma grande mudança, impossibilitando assim uma previsão a longo prazo. Pretendíamos observar a organização ofensiva (como é que a equipa adversária construía e desenvolvia o seu ataque), a transição defensiva (o que faziam, instantes após ter perdido a posse de bola), a organização defensiva (como é que se comportavam quando não tinham a bola, como defendiam, que espaços existiam para que conseguíssemos desequilibrar), a transição ofensiva (o que faziam, instantes após recuperar a bola) e os esquemas táticos (bolas paradas ofensivas e defensivas). Esta observação tinha como objetivos conhecer, para depois relatar os pontos fortes e fracos do próximo adversário. Definidos “o que” vamos recolher e analisar, chega a altura de pensarmos em “como” e “quando” vamos realizar as observações e as análises. É importante referir que os treinadores, muitos deles, incorporam o trabalho de AJ no seu plano semanal. E por isso, o trabalho realizado pelo(s) analistas tem que adaptar-se à organização e rotinas definidas pela equipa técnica. Por exemplo, quando falamos da caraterização e análise da equipa adversária, uma das particularidades está relacionada com o número de observações que se fazem a essa equipa, de forma a ser possível caraterizá-la a nível tático, técnico, físico e psicológico (Ventura, 2013). Em relação ao número de jogos, Teodorescu (2003) cit. por Ventura (2013) considera ser necessário observar o adversário entre duas a três vezes

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para que os dados recolhidos tenham validade. Por sua vez, André Villas Boas (2005), na altura integrava a equipa técnica de José Mourinho, entrevistado por Pacheco (2005) e citado por Ventura (2013) afirma que “para a análise de um adversário, necessitamos de quatro ou cinco jogos de observação, para percebermos se aquilo que acontece é por acaso ou se se trata de movimento padrão”. Em estudos realizados nesta área, Lopes (2005) entrevistou dez treinadores da Superliga Portuguesa e todos consideram que para obterem uma ótima informação sobre o adversário é necessário realizar observações a quatro jogos. Silva (2006) obteve resultados idênticos, embora no seu estudo os treinadores dividam as observações do adversário em jogos efetuados em casa e jogos efetuados fora. Assim recorria-se na mesma à análise de quatro jogos do adversário (dois jogos fora e dois jogos em casa). Segundo o autor parece haver recomendações no sentido de que a observação do próximo adversário seja realizada tendo em conta as condições em que o jogo contra essa equipa se vai disputar. No entanto, este procedimento nem sempre é possível de concretizar, devido a limitações de tempo e de recursos (Ventura, 2013). Ventura (2013) entrevistou vários treinadores, entre os quais Ulisses Morais, Paulo Bento e Domingos Paciência. Ambos os treinadores referem que os últimos três jogos podem ser uma boa referência para analisar a equipa adversária. Segundo Paulo Bento “uma equipa que tem rotinas bem definidas, três observações podem ser suficientes”. Já Domingos Paciência entende que se após as três observações ainda restarem dúvidas, então poderão realizar mais uma observação. Paulo Bento sugere ainda “nessas três observações, que haja duas que sejam feitas na condição em que vamos jogar com o adversário, ou seja, se vou jogar em casa vou ver o adversário duas vezes fora”. Para além dos fatores apontados, os treinadores devem ter atenção a outras variáveis que podem influenciar o comportamento dos jogadores e das equipas. Segundo Jones, James & Mellalieu (2004), variáveis como o local onde o jogo se disputa (casa ou fora), o resultado do jogo (empate, derrota ou vitória),

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a qualidade do adversário (forte ou fraco), a evolução do marcador e as condições ambientais, são fatores que influenciam a performance no futebol. De acordo com o estudo de Lago (2009), em função do local do jogo (casa ou fora) e também em função do resultado as equipas podem mudar o seu estilo de jogo, tendo por exemplo, maior ou menor posse de bola. Bloomfield (2005) reforça que as equipas podem mudar o seu estilo de jogo em função do resultado. Assim, começámos a planificar os jogos da equipa adversária que pretendíamos observar. Organizámos um documento, num ficheiro do excel que facilitava a identificação do próximo adversário e dos jogos que podiam suscitar mais interesse e relevância para observarmos, pelos motivos acima indicados. Definimos que íamos observar entre três a quatro jogos de cada adversário.

Figura 14 - Documento que servia para verificar qual o(s) próximo(s) adversários a observar. Na tabela à esquerda, correspondente à 13ª jornada disputou-se o AAC/OAF x Nacional da Madeira. Assinalado a vermelho temos o adversário imediatamente a seguir, isto é, o FC Porto B, que defrontámos na 14ª jornada. Igualmente na tabela correspondente à 13ª jornada, temos assinalado a cor de laranja o adversário que defrontávamos na 15ª jornada, isto é o FC Famalicão. Seguindo esta lógica, assinalado a amarelo está o Real FC que defrontámos na 16ª jornada e a verde está o SC Covilhã com quem jogámos na 17ª jornada. Este documento ajudava-nos a organizar a nossa agenda para mais facilmente definir que jogos devíamos observar, seja in loco, seja a partir de vídeo. Por exemplo, caso jogássemos em casa, pretendíamos observar pelo menos dois jogos fora da equipa adversária. Tentámos ainda observar os últimos jogos, tendo como objetivo perceber como é que a equipa adversária se

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apresentou nos jogos mais recentes. Portanto, o objetivo era observar a equipa adversária em situações semelhantes às que ia encontrar no jogo contra a nossa equipa. Por isso, sempre que possível procurávamos ver também jogos em que o nosso adversário teve um oponente com um modelo de jogo semelhante ou com objetivos parecidos. Vales (2015) explica-nos que quando se pretende analisar o jogo, é necessário que o analista ou o investigador assuma que o fenómeno observado representa uma atividade desportiva complexa, na qual tanto a magnitude como a tipologia das ações desenvolvidas pelas equipas e jogadores durante os jogos, estarão condicionadas em maior ou menor medida por uma série de fatores, como o estilo de jogo assumido pelas equipas (iniciativa – expetativa), pelos objetivos das equipas durante o jogo (manter, igualar, reduzir ou ampliar resultado momentâneo), as contingências da própria competição (interioridades- superioridades numéricas, condições climáticas e estado do terreno de jogo), etc., que claramente deverão ser considerados para uma correta interpretação dos dados e conclusões obtidas. Por isso e não só, devemos considerar ainda que as semanas não são todas iguais. Houve semanas em que fizemos três jogos (domingo, quarta-feira, domingo, por exemplo) e houve semanas em que realizámos dois jogos (domingo e sábado, por exemplo). Também existem diferenças no trabalho de AJ, em período competitivo e no período não competitivo. Durante o período não competitivo, vulgarmente chamada de “pré-época” realizámos alguns jogos de treino. Contudo, o foco não estava nem nos adversários que defrontávamos nessa altura nem estava apenas concentrado apenas no próximo adversário (que iriamos defrontar em jogo oficial). Pretendíamos conhecer a nossa equipa, o objetivo era entregar informação acerca da nossa equipa. Em simultâneo existia um trabalho de observação com um foco mais geral, em todas as equipas da Ledman Liga Pro, com especial atenção para os adversários que íamos encontrar nos primeiros três a quatro jogos. O treinador Carlos Brito, entrevistado por Ventura (2013) explica que no início da época, as equipas adversárias merecem atenção e devem ser observadas, porque podem existir mudanças: “No início da época, quanto maior

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número de jogos conseguir ver, melhor. Tentamos sempre ir ver, até jogos particulares, porque há jogadores novos, o treinador provavelmente é novo”. Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que para além da quantidade de jogos da equipa adversária a visualizar, parece-me muito importante a qualidade dos jogos que se observam. O mais importante é ter a preocupação de ir buscar jogos fora, em casa, com resultados favoráveis, adversos e tendo em conta o nível do oponente. Ventura (2013), após entrevista a vários treinadores conclui que todos os clubes são tratados de igual forma e que todos merecem o mesmo cuidado, ou seja, que tanto merece três observações o primeiro classificado da Liga, como uma equipa de um escalão inferior. O autor afirma que por vezes podem é suceder algumas incapacidades por parte do clube para realizar essas observações, seja por falta de recursos humanos, seja por limitações financeiras, incompatibilidade de calendário ou por falta de informação sobre o adversário de menor dimensão. Em função das condições que o clube oferece, o número de jogos que se observa da equipa adversária pode variar, ou seja, um clube que tenha um departamento de scouting composto por vários observadores, consegue mais facilmente observar três ou quatro jogos de cada adversário. Por outro lado, num clube sem essa estrutura, e só com um observador disponível, torna-se complicado conseguirem realizar esse número de observações, acabando por realizar apenas uma ou duas observações sobre o adversário, o que pode não ser o suficiente. Em jeito de cooperação, foi criada uma plataforma onde a maior parte dos clubes da Ledman Liga Pro depositavam os seus jogos. Só 5 equipas participantes nesta competição é que não aderiram a este intercâmbio. Todos os clubes participantes comprometiam-se a colocar os jogos, filmados em plano aberto, até 48 horas pós-jogo. Esta plataforma permitiu-nos ter à nossa disposição os jogos das equipas adversárias. Para além desta plataforma disponhamos ainda acesso à base de dados do wyscout e mais tarde também o instat o que nos possibilitava recolher mais informações acerca dos nossos adversários, principalmente informação acerca dos lances de bola parada e também informação acerca da análise individual dos jogadores.

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Depois de realizarmos o download da informação e feita a observação, realizámos os cortes de vídeo, com recurso ao software Longomatch, versão 1.1.1.19, que se trata de uma versão gratuita. À medida que ia realizando o trabalho, categorizava os diferentes clips consoante o seu conteúdo (organização ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva, transição defensiva, bolas paradas ofensivas, bolas paradas defensivas, ações individuais) que eram enviados para a equipa técnica sempre que solicitados. Depois de categorizar os clips, era elaborado um vídeo, com recurso ao software windows movie maker. O vídeo tinha cerca de vinte minutos com os “lances” mais relevantes e pertinentes em cada um dos momentos de jogo e era encaminhado para a equipa técnica. Vales (2015) explica que, a equipa técnica em conjunto com o observador, devem definir o que se pretende observar, de que forma se vai efetuar essa observação, quando e onde se vai observar, a forma como essa informação chega ao treinador e como este a vai utilizar. Neste sentido define: a) a informação recolhida deve ser detalhada, precisa e relevante, com capacidade para influenciar positivamente a tomada de decisão do destinatário (treinador); b) deve mostrar de maneira objetiva as caraterísticas do jogo da equipa e/ou do jogador observado; c) deve apresentar uma correta estrutura, para facilitar a consulta dessa informação. No vídeo que era enviado para a equipa técnica, cumpria com as exigências e instruções da equipa técnica. Inicialmente era apresentada uma informação geral do adversário: classificação, marcadores, resultados em casa e fora, caraterísticas do público, treinador, estado do terreno de jogo, etc.

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Figura 15 - Apresentação do vídeo sobre o SC Portugal B. A figura 15 corresponde à informação com a classificação e últimos resultados. Esta figura contempla a organização da equipa nos jogos anteriores, bem como as substituições realizadas. Depois era apresentado o onze provável, e até jogadores que tínhamos dúvidas.

Figura 16 - Apresentação da equipa provável e um pequeno resumo da forma como se organizam, com uma descrição dos pontos fortes e dos pontos fracos. O exemplo do Sporting CP B não foi em vão. Analisar uma equipa B e prever o seu 11 inicial foi uma tarefa muito complicada. Alguns dos jogadores que estavam vinculados às equipas “B” que participaram na Ledman Liga Pro, para além de jogarem neste campeonato, alguns deles disputavam ainda a UEFA Youth League e ainda o Campeonato Nacional Sub19. Este jogo coincidiu com uma participação do Sporting CP numa jornada da UEFA Youth League e trouxe-nos algumas dúvidas quanto à presença de alguns jogadores,

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principalmente médios e avançados. Algumas das dúvidas foram esclarecidas mais perto do final da semana, à medida que nos chegavam mais algumas notícias. Contudo, no momento em que entregávamos o vídeo para a equipa técnica ainda não estávamos na posse de todas as informações, o que acontecia no momento de entrega do relatório. Por fim, nesse trabalho constavam sequências de vídeo acerca de: a) Organização ofensiva da equipa adversária (saída de bola a partir do guarda-redes, muitas das vezes em situação de pontapé de baliza; fase de construção; fase de criação de situações de finalização; finalização propriamente dita; se optam por desenvolver mais jogo exterior, se optam por um jogo interior, se colocam jogadores entre linhas, explorando costas da linha dos médios adversários);

Figura 17 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.

Figura 18 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva.

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Figura 19 - Imagem ilustrativa do momento de organização ofensiva. Na figura 17 está uma dinâmica muitas vezes repetida na fase de construção do FC Porto B. Na figura 18 podemos observar que na saída de bola, a equipa do Real SC optou várias vezes por colocar a bola longa para o lateral direito, aberto no corredor lateral direito. Na figura 19 podemos observar que a equipa do SC Covilhã colocava 3 jogadores na área, em resposta a situações de cruzamento. b) Transição defensiva (como é que a equipa adversária se comportava quando perdia a bola no sector ofensivo; como é que a equipa adversária se comportava quando perdia a bola no sector intermédio; como é que se comportava quando perdia a bola em sector defensivo), isto é, a zona onde se perde a posse de bola pode ser determinante para que a pressão após a perda de bola seja ou não eficaz;

Figura 20 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.

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Figura 21 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva.

Figura 22 - Imagem ilustrativa do momento ou instante de transição defensiva. Na Figura 20, depois do FC Porto B ter perdido a bola no sector ofensivo, vão resultar muitos espaços entre linhas, onde podíamos ligar e acelerar jogo para corredor contrário. Na figura 21, o Famalicão perdeu uma bola em sector ofensivo e o adversário ficou com muito espaço para transportar. Por sua vez, os 3 jogadores da linha defensiva, para tentarem temporizar, esperando ajuda de mais colegas e também para não serem surpreendidos com uma bola nas suas costas, decidiram correr para trás. Na figura 22, o Real SC vai perder a bola no sector intermédio. Depois do SC Braga B explorar a profundidade, verificamos que não houve o cuidado dos médios protegerem o espaço à entrada da área, de forma a evitar o remate após cruzamento atrasado. c) Organização defensiva (como pressionam na saída de bola, muitas das vezes em situação de pontapé de baliza; se realizam ou não pressão ou definem zonas pressionantes; se são mais agressivos nos corredores laterais ou no

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corredor central; como se organizam quando se encontram num bloco “médio”; como se organizam quando defendem mais próximos da sua baliza e como procuram proteger a sua baliza face às investidas da equipa adversária; ou ainda, como se organiza a linha defensiva perante bola coberta e bola descoberta);

Figura 23 - saída de bola do Real SC. Observamos a forma como o FC Porto B condiciona a saída, colocando 3 Homens perto da área.

Figura 24 - FC Porto B a defender momentaneamente mais perto da sua baliza. Verificámos espaços em corredor contrário. Colocam uma linha de cinco, com mais dois médios à frente.

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Figura 25 - FC Famalicão a defender em 4:4:2. Pressionam agressivamente em corredor lateral. Definem claramente uma zona pressionante. Chamada de atenção para o facto do lateral seguir a marcação e poderem ocorrer espaços em profundidade. d) Transição ofensiva (quais os jogadores-alvo, ou seja, quais os jogadores mais solicitados e quais as caraterísticas desses jogadores; o que procuram fazer quando recuperam a bola no sector defensivo; o que procuram fazer quando recuperam a bola em sector intermédio; o que procuram fazer quando recuperam a bola em sector ofensivo; existe algum comportamento / ação que se repita, que possamos definir como padrão?), ou seja, a equipa procura sair logo para o ataque após a recuperação de bola ou prefere jogar em segurança mantendo a bola e começando a organizar?;

Figura 26 - A equipa do Cova da Piedade, após recuperarem a bola, optaram algumas vezes por tentar jogar para o corredor contrário.

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Figura 27 - A equipa do Académico de Viseu, após recuperar a bola e procurar os jogadores em profundidade, optou algumas vezes pelo cruzamento atrasado, colocando um médio sempre a aparecer à entrada da área.

Figura 28 - A equipa do Nacional, após recuperação da bola, tinha sempre como jogador-alvo o seu avançado. Tentavam colocar a bola no avançado e de seguida havia vários jogadores a procurarem apoiar e outros a procurarem desmarcar-se em rutura. e) Ações de bola parada ofensiva (quer nos cantos, quer nos livres laterais, tentamos saber quem pode executar?; qual a trajetória da bola?; onde tentam colocar a bola, ou seja, se colocam ao primeiro poste, ao segundo, etc.; quantos homens é que atacam a área; se existem mais jogadores próximos da bola, ou seja, se existe uma forte possibilidade de haver um canto curto ou uma jogada mais elaborada; quais as movimentações dos jogadores adversários; se o adversário possui algumas referências ou jogador-alvo neste tipo de lances?; se existem alguns sinais combinados; no caso do pontapé de baliza, devemos saber se saem curto ou jogam mais longo e caso saíam curto se têm alguns jogadores mais limitados para perceber como podemos condicionar ou pressionar; No caso dos penaltis, tentamos fazer uma pesquisa sobre os jogadores que batem habitualmente e informamos o treinador de guarda-redes, entregando uma tabela com o local para onde batem os jogadores observados. Devemos ter em conta as ações de bola parada ofensiva do adversário e

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adaptar-nos a elas para decidir a nossa atuação para neutralizar o ataque adversário;

Figura 29 - Num lance de bola parada, num canto, tentamos perceber quem bate o canto. Neste caso o jogador tem um braço no ar (sinal). Parece-nos que pode bater a bola “fechada” (com rotação interna). Porém há um jogador próximo da bola que podia ser uma ameaça para um canto curto. Interessa perceber se o adversário tem jogadores de referência. Vemos ainda que há dois jogadores à entrada da área que podem oferecer outra solução.

Figura 30 - Famalicão coloca cinco jogadores na área e um jogador que se encontrava solto à entrada da área. Observamos ainda que o batedor do canto tem um braço levantado.

Figura 31 - Situação de livre lateral. Observamos dois jogadores junto à bola, criando dúvida se a bola será cobrada “aberta” (com rotação externa) ou “fechada” (com rotação interna). Famalicão colocava cinco jogadores na área e dois jogadores à entrada da área.

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f) Ações de bola parada defensiva (quer nos cantos, quer nos livres laterais tentamos saber como se organizam e como procuram fechar os espaços; procuramos saber qual o tipo de marcação realizada, se defendem homem- homem, se defendem à zona ou se defendem de forma mista; procuramos saber quais os jogadores que desempenham funções de marcação e quem se encontra em vigilância; qual o posicionamento inicial dos jogadores; procuramos saber quantos jogadores ficam na barreira e à frente, ou seja, preparados para se tornarem jogadores-alvo após recuperação de bola e com isso se procuram lançar logo uma transição rápida; se deixam alguém junto ao poste; se os jogadores saem da zona acompanhando o adversário, quando há a possibilidade de ocorrer um canto curto; se o guarda-redes é ou não competente no jogo aéreo; como se comporta a linha defensiva (livres laterais), se está mais recuada ou mais subida.

Figura 32 - Situação de bola parada defensiva (canto). Observamos a equipa do Real SC a defender à zona. Com Um jogador posicionado ao 1º poste e depois uma zona definida com seis jogadores. Numa segunda zona temos dois jogadores que tentam impedir que jogadores vindos de trás apareçam em zonas de finalização de forma confortável. Para além desses dois jogadores há ainda um jogador preparado para a transição ofensiva.

Figura 33 - Situação de bola parada defensiva (canto). A equipa do CD Cova da Piedade defendia de forma mista. Um jogador colocado no 1º poste. E uma primeira zona definida por cinco jogadores. Depois tinham dois jogadores a realizar marcação homem a homem.

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Figura 34 - Situação de bola parada defensiva (livre lateral). Bola colocada na área. FC Porto B organizava uma linha com seis jogadores. Depois um jogador à frente deles. E um jogador marcando individualmente. Colocaram apenas um jogador na barreira. Refletindo acerca da importância do trabalho de AJ e também acerca da função do analista, fazia todo o sentido o analista participar numa reunião técnica, com a equipa técnica, onde para além de partilhar o vídeo, explicaria aquilo que observou, já que os cortes realizados são retirados de um determinado contexto espacial e temporal, onde o que acontece antes tem clara influência no ocorrido nos minutos seguintes. Daí a importância de não fragmentar o jogo. Ou então, fragmentar após uma primeira observação para perceber o todo. Após a montagem do vídeo de vinte minutos e após passar essa informação para a equipa técnica, procedíamos à montagem do segundo vídeo, mais curto (cerca de oito a nove minutos), com imagens selecionadas e trabalhadas (tal como os exemplos colocados anteriormente), de forma a enfatizar algumas situações interessantes, para captar a atenção seletiva dos jogadores aquando da visualização. Apesar das instruções e orientações da equipa técnica serem as mesmas, tornava-se muito difícil conseguirmos sintetizar a informação, escolhendo os melhores exemplos. Assim, fica claro que era elaborado e entregue um vídeo à equipa técnica e era elaborado outro vídeo que seria para mostrar aos jogadores. Tal como refere Hernández (2006) cit. por Vales (2015), uma grande abundância de informação poderá levar os jogadores e treinadores adjuntos a um estado de paralisação ou bloqueio de ideias, incompatível com a obtenção

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do melhor rendimento. Assim, é imprescindível que a informação seja o mais curta e objetiva possível. Também Rui Faria cit. por Ventura (2013) explicava que “os vídeos mostrados aos jogadores nunca são longos, dez minutos no máximo, para não criar fadiga mental. Sabemos por experiência própria que após dez minutos é difícil manter os jogadores concentrados. Selecionamos ao máximo a informação para os manter motivados”. Torrescusa (2007) cit. por Vales (2015) refere que a observação de imagens por parte dos jogadores e técnicos, tiradas diretamente da realidade (competição e treino), têm uma grande influência na transformação da mesma, ao permitir a modificação de condutas e comportamentos com o objetivo de que estes sejam mais eficazes. Para Vales (2015), o desenvolvimento dos diversos meios tecnológicos relacionados com a edição de vídeo, juntamente com a progressiva especialização técnico-profissional dos treinadores, levou a que na atualidade a análise videográfica do jogo se constitua um elemento presente nas sessões preparatórias das equipas, quer para analisar de forma visual as caraterísticas coletivas e individuais do próximo adversário, quer para ser utilizado como um importante recurso de feedback nas suas diferentes versões: valorativo, corretivo, afetivo, etc., para a própria equipa. Em termos gerais, entende-se que a aplicação do visionamento deste tipo de imagens por parte dos jogadores nas sessões preparatórias prévias aos jogos, para além de ser um facilitador que os ajuda a enfrentar a competição com maiores garantias, possibilitando-lhes o acesso a uma informação de tipo visual facilmente assimilável acerca das caraterísticas mais importantes do próximo adversário ou de aspetos chave a executar pela própria equipa durante o próximo jogo, permitirá também desenvolver no jogador a capacidade para a identificação e interpretação pessoal das diversas situações do jogo, fomentando e estimulando as suas possibilidades de analisar ativamente o jogo de uma forma mais autónoma (Vales, 2015). Também ocorreram diferenças na organização e no microciclo de trabalho referente à análise e mostragem do(s) vídeo(s) para os jogadores. Na função de

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analista, soube sempre qual era a minha missão e adaptei-me sempre à organização e rotina de cada equipa técnica. A primeira equipa técnica, com a liderança de pretendia realizar a mostragem do vídeo, numa sessão única, tendo o vídeo a duração máxima 8 a 9 minutos. A sessão seria realizada, normalmente à sexta-feira, ou seja (um a dois dias antes da competição). Era o treinador principal o responsável pela apresentação do vídeo. Com a segunda liderança, com , o vídeo era da total responsabilidade do treinador adjunto, contudo a apresentação muitas vezes era partilhada entre o treinador adjunto e o treinador principal. Organizavam-se, dividindo em 3 sessões de vídeo: na primeira sessão, que era realizada 2 dias antes da competição, era apresentada a organização ofensiva da equipa adversária e a transição defensiva; na segunda sessão, 1 dia antes da competição, era apresentada a organização defensiva e a transição ofensiva. Por último, antes da palestra do jogo, no dia da competição, eram apresentados os lances de bolas paradas ofensivos e defensivos. Após a saída de Ricardo Soares e com a entrada do terceiro treinador, que foi , a elaboração e a mostragem do vídeo ficou sob a minha responsabilidade, ou seja, sob a responsabilidade do analista. No entanto, como é lógico, o treinador principal interveio sempre que entendeu ser pertinente. Com Quim Machado voltámos a organizar um vídeo numa sessão única, sendo a sessão de vídeo realizada mais perto do final da semana. Segundo Pedreño (2018), as duas propostas têm as suas vantagens e inconvenientes, o que depende sempre da sua efetividade e capacidade do treinador para levar os seus atletas a compreenderem como o modelo de jogo e o seu plano estratégico têm coerência com as caraterísticas tático-estratégicas do adversário. Na opinião do autor, a estratégia de dividir em vários momentos de vídeo tem algumas vantagens, comparativamente com o vídeo único, pois cada vídeo: a) é mais curto, não havendo necessidade de fornecermos toda a informação naquele instante pois ainda haverá mais momentos de apresentação; b) há coerência entre o plano visionado e o plano treinado, pois a seguir à visualização do vídeo poderão passar a informação para a prática, no treino.

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O autor fala também da atenção necessária a ter com a duração do vídeo. Como é sabido, o ser humano tem uma capacidade limitada para manter o seu foco atencional. Assim, as conversas devem ser curtas. O autor recomenda que o vídeo tenha seis a sete minutos, sendo que depois o treinador pode gastar mais dois ou três minutos para explicar. Segundo o autor é importante que a apresentação não vá para lá dos dez minutos. Jémez (2012) cit. por Pedreño (2018) explica: “Temos que gerir a informação necessária, nem muita nem pouca, para deixar-lhes no final um vídeo de doze ou catorze minutos. A partir daí, creio que o jogador acaba perdendo a atenção. Posso colocar um vídeo de meia hora, mas eu fui jogador e sei que a partir dos quinze minutos um começa a soprar, o outro começa a tocar no cotovelo do colega ao lado… e é normal”. Fazendo uma reflexão acerca da mostragem, apresentação e periodização deste trabalho, parece-nos fazer sentido ser o analista a ter voz ativa na apresentação da equipa adversária, pois entendo que deve apresentar o adversário, a pessoa que mais jogos observou, que mais estudou e que analisou cada detalhe da equipa adversária. Todavia, é compreensível, que por vezes, os treinadores pretendam filtrar ainda mais a informação, pois já têm em mente algumas estratégias para neutralizar e atacar o adversário. Neste caso devemos considerar que a apresentação – vídeo era primeiramente enviada à equipa técnica e só era mostrada aos jogadores a posteriori. Relativamente à periodização do trabalho. Penso que apesar da informação partilhada ser melhor apresentada, transmitida e talvez por isso também melhor interiorizada aquando da divisão em três sessões de vídeo, também senti que a disponibilidade e vontade dos atletas para absorverem a mensagem era substancialmente menor. Como é evidente, não há fórmulas mágicas para o sucesso, pois todos estes treinadores já tiveram e continuarão certamente a ter êxitos nas suas carreiras profissionais, contudo, também aqui ficam apresentadas diferentes formas de gerir e transmitir a informação acerca da equipa adversária. O ideal é que essa estratégia seja partilhada e haja uma reflexão partilhada entre equipa técnica e o analista. Quando assim é penso que faz

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sentido delegar esta missão no analista. Porém, quando o analista não participa nas reuniões técnicas e por esse motivo não reúne todas as informações e está por isso incapaz de selecionar a informação mais importante e determinante, então penso que faz sentido, a apresentação do vídeo ficar ao cuidado do treinador principal ou de outro elemento da equipa técnica. Sánchez (2015) escreve que há treinadores que preferem que a exposição da análise seja realizada pelo próprio analista, enquanto outros deixam a mesma para o treinador adjunto e outros preferem ser eles mesmos a realizar a apresentação. Cada treinador tem a sua própria forma de gerir a informação e de transmitir ao plantel. Segundo Pedreño, o analista tático deve trabalhar com base no modelo de jogo da própria equipa. Para isso deve conhecê-lo e estar sempre ao corrente de tudo o que acontece no plano tático em torno da equipa e das decisões tomadas pela equipa técnica. Contudo, quando na estrutura existe apenas um analista, por vezes o tempo torna-se escasso para realizar todas as tarefas solicitadas. Talvez por isso, ou então por outros motivos, os treinadores não me envolveram nas reuniões de planeamento e de definição, construção e renovação do modelo de jogo. Contudo, entendo que estas reflexões e reuniões devem ser uma constante quando existe uma estrutura preparada e com mais recursos humanos. Numa estrutura com poucos recursos humanos, mesmo que o analista não integre as reuniões de planeamento, penso que este deve ser abordado no sentido de explicar aquilo que observou acerca do adversário e deve ser envolvido para que o mesmo perceba e entenda o plano operativo para neutralizar e superar o adversário. Na perspetiva de Vales (2015), entende-se que tal como um treinador deve ter talento e habilidade suficientes para liderar corretamente um projeto desportivo orientado para a obtenção do rendimento, um treinador - analista deverá ter também a capacidade para desenvolver de forma eficaz a tarefa de interpretar e extrair significado operativo da informação recolhida, com o fim dessa ser utilizada convenientemente pela equipa técnica. Por isso mesmo, e com a intenção de fomentar um correto fluxo de informação entre ambas as

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partes e de estabelecer linhas de feedback que possibilitem uma permanente otimização da dinâmica de trabalho dentro dos departamentos de AJ, entende- se oportuna a realização de reuniões periódicas entre o corpo técnico e o analista – chefe. Após a apresentação videográfica procedia à elaboração do relatório (formato power point e convertido para pdf.). Apesar de ainda hoje não existir um número importante de trabalhos dirigidos especificamente às bases metodológicas para uma correta edição do relatório técnico, as próprias necessidades informativas das equipas técnicas das equipas de futebol provocaram, progressivamente e de uma forma espontânea e intuitiva, que se fossem confecionando distintos modelos de relatório, com orientações interessantes na forma e no conteúdo (Vales, 2015). Embora saibamos que cada jogo é único, devido ao contexto competitivo, aos estilos de jogo e aos jogadores participantes (que variam de jogo para jogo), é comum aceitarmos que as fases, os objetivos, os princípios e os fundamentos presentes são invariáveis e independentes da situação concreta em que se manifestam. O facto de assumirmos que todos os jogos contêm uma estrutura estável com fases, objetivos, princípios, etc., permitirá supor que será possível construir um modelo de AJ universal, fundamentado em um conjunto definido de parâmetros de análise consensual e aceite pela maior parte dos especialistas, que facilite uma correta interpretação dos jogos e que possibilite ao treinador conhecer e avaliar o conteúdo dos mesmos com uma maior profundidade (Vales, 2015). Segundo o mesmo autor, a edição de relatórios técnicos pode ser realizada em três âmbitos de atuação: a) relatórios técnicos sobre a própria equipa, cuja estrutura de conteúdos estará orientada principalmente para a avaliação dos pontos fortes e frágeis que apresenta o modelo de jogo da própria equipa; b) relatórios técnicos sobre a equipa adversária, cuja estrutura de conteúdos estará orientada para analisar a situação competitiva que apresenta o próximo adversário tanto no que toca às circunstâncias (lesões, jogadores castigados, jogadores novos que entraram, etc.), como informação acerca do nível de jogo e rendimento manifestado nos últimos jogos disputados (% de

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vitórias, estilo de jogo, principais individualidades, etc.). Este tipo de relatórios caraterizam-se pela identificação das regularidades, pontos fortes e frágeis caraterísticos do modelo de jogo das equipas adversárias; c) Relatórios técnicos sobre jogadores, cuja estrutura de conteúdos estará orientada para a situação socio-desportiva e caraterísticas funcionais de determinados futebolistas. Geralmente, este tipo de relatórios realizados especificamente sobre um jogador concreto têm como objetivo transmitir informação que reforce uma eventual toma de decisão dirigida a uma futura contratação (Vales, 2015). Como é sabido, o nosso foco e função prendia-se com uma análise detalhada acerca do próximo adversário. O relatório realizado era constituído por três partes:  A primeira parte era uma breve apresentação dos últimos jogos realizados e de alguns dados estatísticos relevantes, bem como informação acerca da equipa adversária nos últimos três a quatro jogos, indicando a forma como se organizaram, e as substituições realizadas. A acrescentar a isso, apresentava o 11 provável, tendo em consideração toda a informação disponível até aquele momento;

Figura 35 - Imagem ilustrativa com a equipa provável e com algumas estatísticas; Equipa provável, com a descrição da sua organização, pontos fortes e pontos fracos.

 A segunda parte do relatório consistia numa descrição dos comportamentos e ações mais repetidas (padrões), nos vários momentos do jogo e esquemas táticos, nos jogos observados;

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Figura 36 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

Figura 37 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

Figura 38 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SC Covilhã.

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Figura 39 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas SL Benfica B.

Figura 40 - Imagens retiradas do relatório técnico. Imagens retiradas dos relatórios acerca das equipas do SL Benfica B.

 A terceira e última parte consistia numa análise individual, detalhada, acerca dos destaques da equipa e uma análise mais superficial acerca das outras individualidades, que tinham sido utilizados. Este trabalho era feito em conjunto com o scouter da AAC/OAF pois reconhecia que ele possuía um conhecimento mais amplo dos jogadores, pois acompanhava a Segunda Liga há alguns anos.

Figura 41 - Documentos informativos acerca da avaliação individual. Apresentação sobre a equipa do SC Covilhã.

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Em relação à fase de obtenção de informação quantitativa, é importante reconhecer que o facto de se recolher e apresentar um grande volume de dados não significará necessariamente que se esteja a facultar uma informação ótima para o treinador, já que, dispor de uma grande quantidade de informação não garante que se esteja bem informado. Em segundo lugar, ainda sobre a informação quantitativa e sobre os dados estatísticos e a sua interpretação, é imprescindível compreender que quantidade não é sempre sinónimo de qualidade (por exemplo, a obtenção por parte do jogador de um jogador de uma maior percentagem de êxito no passe, comparativamente a outro colega de equipa, deverá ser avaliada, não considerando apenas o seu valor numérico, mas tendo também em conta as circunstâncias de direção, distância, espaço, etc., em que foram efetuados). Assim, para se obter um resultado satisfatório do processo de análise quantitativo de um jogo, será necessário levar a cabo uma interpretação dos dados desde um ponto de vista tático, considerando as contingências do próprio jogo (tipo de competição, dinâmica do marcador, simetria / assimetria do duelo, etc)., assim como o plano de jogo assumido pelas equipas e as particularidades de cada posição específica (Vales, 2015). Solé (2010) cit. por Vales (2015) explica que no futebol, registar estatisticamente a execução de um passe acertado por parte de um jogador, significa simplesmente que o passe se realizou, mas não explica muito acerca da sua intencionalidade ou contexto tático em que foi produzido. Contudo, nos relatórios técnicos, são recolhidas algumas estatísticas que segundo Vales (2015) são denominadas de estatísticas de resultado e de classificação, em que se integram as diferentes hipóteses: a) história dos resultados obtidos (número e percentagem de jogos ganhos, empatados e perdidos); b) controlo do resultado do jogo (número e percentagem de jogos com uma dinâmica de resultado predominante favorável, neutro ou desfavorável; número e percentagem de jogos em que se consegue manter um resultado favorável, dar a volta a um resultado desfavorável e não manter o resultado favorável); c) classificação, jogando em casa ou fora, ou se preferirmos como

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visitado ou visitante (classificação; número e percentagem de pontos conseguidos; número de golos a favor e contra); No relatório técnico, há sempre espaço para que o analista realize alguns comentários técnicos, que consistem em informações qualitativas acerca da caraterização da forma de jogar das equipas e jogadores adversários, tendo sempre como objetivo descrever quais são as forças e debilidades da equipa analisada. Importa salientar que devido à natureza complexa do jogo, é muito difícil alcançar um grau de objetividade e consenso absoluto nas avaliações técnicas realizadas pelos especialistas, sendo possível observar em determinados momentos e situações que uma mesma ação seja valorizada de forma diferente por diferentes especialistas creditados. Por outro lado, também se considera importante recordar que a qualidade deste tipo de avaliação dependerá consideravelmente das particularidades individuais (conhecimentos futebolísticos, gostos pessoais, estado de saúde, etc), de cada um dos especialistas no momento de emitir juízos e opiniões sobre o que estão a observar (Vales, 2015). Segundo o mesmo autor, na prática, o conjunto de comentários técnicos que aparecem habitualmente no relatório podem ser classificados em quatro categorias fundamentais: a) Comentários técnicos gerais, que são utilizados para contextualizar as condições em que decorre a partida, assim como a atualidade competitiva da equipa analisada. De um modo mais concreto, este tipo de comentários técnicos fazem referência ao contexto da partida (condições climatéricas, ambientais e ao terreno de jogo; dinâmica de resultado da partida, ou seja, se é favorável, desfavorável ou neutro; assimetrias nos duelos, ou seja, se há superioridade ou inferioridade numérica), às contingências da equipa analisada (classificação no momento; resultados recentes; jogadores lesionados, castigados ou que tenham chegado de novo à equipa) e também ao nome dos jogadores e da equipa técnica; b) Comentários de análise acerca do jogo dinâmico, isto é, acerca da caraterização de conteúdos do jogo de natureza coletiva, relacionados com a gestão espacial no terreno de jogo e com a metodologia ofensiva

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e defensiva desenvolvida pela equipa nas fases dinâmicas do mesmo. De um modo mais específico podiam ser resumidos os seguintes aspetos: Posicionamento e distribuição espacial; Organização ofensiva (método de jogo predominante; identificação dos jogadores especialistas na canalização e finalização do jogo; definição dos pontos fortes e débeis na estrutura ofensiva, ou seja, na subfase de construção – criação de situações de finalização e subfase ofensiva da finalização propriamente dita); Organização defensiva (método de jogo predominante; tipo de marcação; identificação dos jogadores especialistas na contenção e recuperação da bola; definição dos pontos fortes e débeis da estrutura defensiva, ou seja, na subfase defensiva de contenção e recuperação da bola e subfase defensiva de evitar o golo. c) Comentários de análise do jogo com bola parada, que fazem referência à forma como as equipas se organizam nas diferentes ações ofensivas e defensivas derivadas de incidências regulamentares do jogo: cantos, pontapé de baliza, livres frontais, livres laterais, etc. Ofensivamente, neste tipo de lances importa: definir as posições de partida e movimentos dos jogadores nas diferentes situações de bola parada a favor; descrever as trajetórias da bola; valorizar o grau de organização geral apresentado nessas ações de bola parada ofensiva. Defensivamente importa: determinar o tipo de marcação e posicionamento utilizado nas diferentes situações de bola parada defensiva; valorizar de forma global o tipo de atitude e grau de concentração dos jogadores. d) Comentários de análise individual, relativos à definição das caraterísticas do jogo mostradas por cada um dos jogadores analisados. Os conteúdos acerca da análise individual podem resumir-se a: aspetos de tipo posicional (definição das posições de base e raios de ação dos jogadores participantes); aspetos de tipo funcional (descrição do perfil funcional do jogador em termos condicionais, técnico-táticos e psicológicos; definição de qualidades que devam ser destacadas e enaltecidas; resumo dos principais pontos fortes e débeis a nível ofensivo e defensivo); aspetos acerca da performance (definição do nível de regularidade no rendimento

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individual; descrição da resposta competitiva em jogos de alta dificuldade). Segundo Vales (2015) e o modelo por ele proposto para a elaboração do relatório técnico, o relatório técnico estava subdividido em 3 macro – categorias, sendo a primeira uma categoria relativa ao estudo dos aspetos gerais do jogo, relacionados com a atitude e aptidão global dos participantes, com referência aos últimos resultados e golos, bem como ao estilo de jogo e rendimento global. A segunda macro – categoria seria relativa ao estudo dos aspetos coletivos do jogo, relacionados com a organização e rendimento manifestado pelas equipas: gestão espacial e posicionamento, jogo ofensivo coletivo (dinâmico e com bola parada) e também jogo defensivo coletivo (dinâmico e com bola parada). Por fim, na terceira e última macro – categoria, relativa ao estudo dos aspetos individuais, relacionados com a avaliação do rendimento do jogador. Sobre a análise individual, alguns treinadores entrevistados por Ventura (2013), entre os quais Carlos Azenha e também José Mota, referem que para eles é importante conhecerem individualmente os jogadores da equipa adversária. Carlos Azenha explica que “caraterizamos jogador a jogador (…) Onde é que é forte, se remata bem, se cabeceia bem, se é agressivo no um contra um, se dribla forte, se marca bem livres”. Já José Mota adianta que “temos sempre aquela avaliação que se faz sobre este jogador, que tem uma predominância maior sobre o próprio jogo, que pode conseguir resolvê-lo. Tem de haver esse tipo de cuidado. Mesmo ao nível do vídeo, temos essa preocupação, de focar as caraterísticas desse mesmo adversário”. Em jeito de balanço e aproveitando as palavras de Castelo (2009), o conhecimento geral e particularizado, da expressão tática coletiva e individual da equipa adversária, tem por objetivo, por um lado, minimizar ou anular os seus mais eficientes e, por outro, evidenciar as suas carências inerentes ao seu modelo de jogo e de preparação (treino). Quando os jogadores são alertados (individual e coletivamente) para as condições objetivas da futura competição e, especialmente, para as particularidades deste ou daquele adversário (combinações e esquemas táticos executados), a sua perceção encontra-se favoravelmente influenciada, facilitando e acelerando uma intervenção

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adequada. No entanto, há que ter presente, a possibilidade de variação sistemática de resolução tático-técnica das situações de jogo realizada pela equipa adversária. E quanto maior for a variabilidade de resolução tático-técnica por parte da equipa adversária, mais difíceis e complexas serão os mecanismos de deteção e identificação, reveladores dos índices pertinentes da situação. Uma vez realizado todo o nosso trabalho, passando horas com o nosso computador para analisar, organizar e preparar toda a informação, é o momento em que todos esses dados chegam ao treinador e a toda a equipa técnica. O treinador é a cabeça visível de tudo e é quem se aproveitará de toda a informação recebida para transmitir aos seus jogadores e trabalhar com a equipa durante a semana. Temos lhe fazer chegar a informação da melhor forma possível, para que veja que fazemos bem o nosso trabalho e que o mesmo terá uma grande utilidade. Não é melhor analista aquele que recolhe e transmite mais dados, mas sim o que é capaz de apresentar a informação que o treinador precisa de forma ordenada e coerente (Pedreño, 2018). Entregue o relatório, o treinador ficava, a partir desse momento, com mais ferramentas para preparar melhor o jogo, pensando nos melhores exercícios para promover determinadas ações que nos podem colocar mais perto do sucesso. Todo o trabalho desenvolvido pelo observador e pelo analista possibilitam ao treinador conhecer profundamente o adversário. Por consequência, dotado de maior informação, o treinador e a equipa técnica ficam então responsáveis por pensar, planificar o microciclo ou seja a semana de treino, sempre com o objetivo de alcançarmos o desempenho e resultado desejados. Assim, depois de recolhida e transmitida a informação, compete ao treinador selecionar a parte mais importante e que deve ser transmitida aos seus jogadores. Todas as tarefas da responsabilidade do departamento de AJ tinham de estar resolvidas nos prazos estipulados pela equipa técnica, a fim de servirem de referência ao treinador para que este preparasse os treinos prévios à competição e para ajudá-lo a formular o plano de jogo (Valadés, 2002 cit. por Vales, 2015). Na definição de prazos não houve muitas diferenças entre as diferentes lideranças ao longo da época. Quase todos os treinadores pretendiam

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ter o vídeo na sua posse até terça ou quarta-feira (sempre que o jogo se realizava no sábado ou domingo). Já o relatório tinha de ser entregue até quinta-feira, sempre que o jogo se realizava ao domingo. Ventura (2013) entrevistou vários treinadores e na sua maioria referiram que têm definido um microciclo “standard” de trabalho semanal. No entanto, este em algumas situações da época pode não ser implementado, apontando três fatores que podem condicionar a sua utilização: a) competição; b) fadiga; c) adversário. Segundo o mesmo autor, a competição pode influenciar a organização do microciclo semanal em vários aspetos: i) devido à existência de mais de um jogo por semana; ii) devido ao dia, hora e local do jogo poder condicionar o dia do primeiro treino do microciclo seguinte; iii) devido à duração da semana em função do calendário competitivo; iv) devido hoje em dia à grande preponderância das transmissões televisivas na marcação do dia do jogo; v) devido à presença de alguns clubes em competições europeias. João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere: “se jogar no norte domingo à noite, é muito complicado eu ter treino de manhã. Se for fazê-lo à tarde, já estou a tirar umas horas ao tempo de recuperação que pretendo para o próximo treino. Portanto nessas circunstâncias, darei a folga na segunda e depois voltaremos na terça”. Acerca do fator “fadiga”, que também pode influenciar a utilização do microciclo padrão, António Conceição, entrevistado por Ventura (2013) afirma que, se entender que os seus jogadores estão mais cansados e se estão perto do jogo, poderá realizar ajustamentos a essa programação: “A nível do volume de treino não. Isso é em função do que vou observando da minha equipa, se estão cansados, se estamos perto do jogo, e ajusto”. Acerca do fator “adversário”, o treinador Ulisses Morais, entrevistado por Ventura (2013) refere que apesar da diferença entre o adversário seguinte e o anterior, o microciclo semanal não altera, o que altera é o conteúdo do mesmo: “Independentemente de o adversário ser bastante diferente do adversário anterior, o nosso microciclo não altera. Alterar, se quiser, é alguns dos conteúdos

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daquilo que podem ser os exercícios em que entendemos serem fundamentais fazer uma repetição deles perante o adversário”. Depois de transmitida a informação para o treinador e depois de este considerar os vários fatores que podem influenciar na organização da sua semana de trabalho, o treinador define como vai organizar o processo de treino. Garganta (2000) cit. por Ventura (2013) refere que depois de garantida coerência no processo de treino, tendo como objetivo o desenvolvimento de uma determinada forma de jogar, baseada no modelo de jogo do treinador e na sua conceção de jogo, as informações que o treinador tem sobre o seu oponente podem vir a revelarem-se oportunas na elaboração de exercícios específicos no treino, que visem contrariar os pontos fortes ou explorar os pontos fracos do seu oponente. João Carlos Pereira, entrevistado por Ventura (2013) refere que, quando prepara a semana de trabalho e consequentemente o plano de jogo, já contempla o tipo de adversário que vai ter pela frente, criando exercícios específicos para contrariar ou explorar os pontos fortes ou fracos desses adversários: “Temos sempre em consideração o tipo de adversário que vamos ter pela frente. Normalmente já temos antecipadamente um relatório pormenorizado do adversário que temos pela frente. Identificámos aquilo que nós achamos que numa eventual relação de forças pode ser um problema para nós ou uma vantagem para nós. Tentamos delinear o trabalho também em função disso, criamos objetivos, criamos exercícios que nos garantam que vamos ao encontro desses objetivos”. Em jeito de balanço e de pura reflexão, apesar de entender que o trabalho realizado apresentava qualidade, considerei, ao longo do tempo, proceder a algumas alterações. Isto deveu-se ao facto de ter observado situações que até então me eram desconhecidas e por ter enriquecido o meu entendimento acerca do jogo ao longo do tempo. Para além disso, por vezes, é necessário que o analista se coloque constantemente no lugar do treinador e se questione acerca da clareza da mensagem descrita no relatório técnico. Por vezes senti que, o relatório podia não estar a ser totalmente esclarecedor e era necessário traduzir a informação, coloca-la numa linguagem mais usual dentro da própria equipa

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técnica, para que o leitor (treinador e equipa técnica) o pudessem compreender de forma clara e objetiva. Portanto, o grande objetivo é que o treinador fique na posse de um manancial de informação que lhe permita preparar o jogo da melhor maneira possível, tentando ao máximo explorar os pontos fracos do adversário e preparar as melhores soluções para enfraquecer os pontos fortes. Com a informação recolhida, o treinador tenta antecipar o que se irá passar durante o jogo, tirando um pouco da imprevisibilidade do mesmo, melhorando e adequando o programa de treino (Ventura, 2013). Depois de analisada uma equipa, não há tempos de folga, pois outro adversário se aproxima. Mas o momento alto e a maior alegria acontece, quando conseguimos chegar a um golo após uma situação observada, identificada, trabalhada e colocada em prática. Esse sucesso é a melhor energia e o melhor combustível para virar a página e partir para o adversário que se segue. Para além da análise do adversário também estava responsável por filmar algumas sessões de treino e também os jogos. Para além de filmar, sempre que possível tentava observar o jogo, sendo que foi extremamente difícil fazer ambas as tarefas em simultâneo, já que por um lado, tentamos garantir a qualidade da filmagem e em simultâneo procurava conseguir analisar as situações que estavam a decorrer no preciso momento.

Figura 42 - Exemplos de filmagens de treino, jogo(s) no Estádio Cidade de Coimbra e jogo fora.

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Por duas vezes, primeiro aquando da saída da equipa técnica de Ivo Viera e depois mais tarde de Ricardo Soares acabei por realizar tarefas de treinador adjunto, ajudando os treinadores interinos Vítor Vinha e Vítor Alves. Apesar de serem circunstâncias difíceis foi mais uma experiência que me enriqueceu do ponto de vista profissional.

Figura 43 - Recorte do jornal Diário as Beiras. Na semana após a saída de Ricardo Soares, para além de ter cooperado e participado na planificação e na operacionalização do treino, estive ainda presente no banco auxiliar durante o jogo. Honestamente, depois de estarmos tão habituados a ver o jogo a partir de um plano superior, na função de analista, senti imensa dificuldade em conseguir ler e analisar o jogo a partir do banco. Tal como escreve Garganta cit. por Pedreño (2018) existem uma série de aspetos a ter em conta que limitam a observação do jogo por parte dos treinadores, tais como: a) campo visual restringido, já que o treinador, no banco, tende a seguir a bola não se preocupando com o que está longe dele, não porque não saiba do jogo, mas porque na competição, em situação de stress, fica preocupado com os momentos críticos do jogo; b) posicionamento desfavorável, pois a sua posição para observar o jogo não é a mais adequada, não conseguindo ver o campo todo e todos os jogadores em todos os momentos; c) limitação da memória humana; d) efeito das emoções; e) parcialidade, em que

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as pessoas emitem juízos sobre algo, influenciados por uma impressão seja ela positiva ou negativa. Esta última nota serve para consciencializar todos acerca da complexidade do jogo. Para o comum dos adeptos é tudo relativamente fácil. E avalia normalmente o atleta e a qualidade do jogo pela intensidade ou falta dela. Contudo, quem estuda o jogo e quem o analisa nem sabe bem o significado do conceito de intensidade. Como profissional da área prefiro o conceito de complexidade, e após esta época, depois desta oportunidade fantástica, que foi acompanhar uma equipa profissional, pretendo deixar claro que o Futebol é um desporto em que todos os aspetos táticos, técnicos, físicos e psicológicos se manifestam em simultâneo em cada uma das ações de jogo, e por esse motivo torna-se fundamental realizar a análise do rendimento, sendo este um meio de avaliação do treino e da competição. Por último, pretendemos reforçar o papel dos profissionais do treino e da observação e AJ, que na sua maioria, acumulam horas e horas de empenho e dedicação e têm uma vontade e uma ambição imensa, desejando com todas as forças o êxito e o sucesso. Para nós, profissionais da observação e análise do jogo, entendemos a nossa missão como um complemento para a tarefa do treinador, contribuindo com conhecimento mais aprofundado acerca da própria equipa e da equipa adversária.

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5. DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Começando por confrontar aquilo que eram as minhas expetativas iniciais com a realidade encontrada, naturalmente que tenho que começar pela ideia que tinha, de poder integrar um gabinete de análise, uma equipa de trabalho, metódica, organizada, competente e que tudo faria para conseguir dotar os treinadores de informação precisa e determinante para que a Académica estivesse mais próxima de conquistar os 3 pontos, em cada fim de semana. Mas estava completamente enganado. Contava que a esperada integração num gabinete de análise me pudesse ajudar a melhorar o meu conhecimento profundo do jogo. Afinal, esse tinha sido um dos principais objetivos que me fez procurar realizar o estágio neste ramo. Mas foi uma utopia, afinal não existia gabinete, e eu dependia só de mim. Segundo Ventura (2013), os departamentos de scouting são estruturas que começam cada vez mais a ganharem o seu espaço nos clubes de futebol profissional. Contudo, em clubes que vivem dificuldades financeiras não existe o número de recursos humanos ideal. Ainda assim, segundo o mesmo autor, o departamento deve ter um coordenador geral, ou seja, uma pessoa identificada com o clube e que deve conhecer muito bem as normas de funcionamento e a realidade do clube. Para além disso, o departamento deve estar dividido em duas vertentes, a vertente da prospeção e a vertente da observação e análise do jogo. Mas na realidade da AAC/OAF, não existia Coordenador Geral do departamento de scouting. No entanto, a divisão do trabalho era realizada, estando eu responsável por realizar as funções de análise e havendo uma pessoa responsável pelas funções de prospeção para a equipa profissional. Se é verdade que esta situação não terá ajudado na minha rápida evolução e aprendizagem, pois não tive ninguém que me apontasse correções, aspetos e estratégias de melhoria, também não é menos verdade que esta situação me trouxe uma grande responsabilidade, e também uma experiência de aprendizagem sustentada a partir do erro na primeira pessoa, que me obrigou a ser autodidata, procurando informar-me acerca daquilo que devia fazer, como devia fazê-lo, quando e porquê.

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Outra situação, que me fez dar alguns passos atrás, foi a forma como é visto o analista. Para a estrutura apesar de sentir que reconhecem importância, no seio do clube entre outros funcionários, o analista não passa do “rapaz que filma” e “que faz uns cortes”. Senti que o trabalho não é valorizado por ser um trabalho que possa fazer a diferença entre empatar ou ganhar. Por contrário, senti que a equipa técnica valoriza o trabalho do analista e pretendem que as suas tarefas estejam concluídas o mais rapidamente possível. Porém, penso que muitos treinadores não têm uma noção concreta do tempo e das horas de trabalho envolvidas. E por este motivo, muitas vezes os pedidos de tarefas sucedem-se, sem que muitas vezes os treinadores percebam o porquê das tarefas não ficarem todas concluídas em um par de horas. Portanto, vive-se aqui num confronto entre quem acredita muito e quem acredita muito pouco no trabalho de observação e identificação de pontos fortes e fracos do adversário. Um dos enormes constrangimentos foi o facto de acumular a função de analista com a função de coordenador técnico da formação, coordenando os escalões de iniciação entre sub10 e sub13 (cerca 100 a 120 atletas) da Associação Académica de Coimbra-OAF. Senti que foi uma loucura ter exercido estas duas funções, pois são totalmente incompatíveis. Contudo não tive alternativa, pois enquanto funcionário (profissional), o convite que me endereçaram para a coordenação antecedeu o convite para pertencer ao suposto gabinete de AJ e para honrar o meu compromisso e para que continuasse a ter a oportunidade de desenvolver o meu trabalho no âmbito do mestrado, não podia de forma alguma deitar tudo a perder. Restava-me desenvolver um elevado controlo emocional e gerir a minha vida com mestria. Sabia que ia ser uma época com enorme volume de trabalho e prejudiquei a minha saúde (poucas horas de sono, poucas refeições e muitas vezes pouco ricas). A nível profissional, mais horas não significa maior produtividade e qualidade no trabalho desenvolvido. Devido ao cansaço e fadiga mental, como é evidente, cometi alguns erros, que outrora não teria cometido. E vários dilemas, todos os dias pois era fundamental a minha presença a supervisionar os treinadores que coordenava, a informar diretores de equipa / team manager’s, a ajudar a desenvolver cerca de uma centena de crianças proporcionando-lhes

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contextos ótimos de aprendizagem. Mas em simultâneo, era também fundamental a minha presença junto à equipa técnica, no exercer das minhas tarefas, o mais rapidamente possível. E eis que tenho que tomar decisões e gerir prioridades. E o trabalho de coordenação ficou por fazer, naquele(s) dia(s). Antes de decidir a área/ramo do meu estágio, refleti bastante acerca da minha perspetiva de carreira. Desde 2009/2010, o primeiro ano em que comecei a olhar e a sentir o futebol de outra perspetiva, no papel de treinador e formador, que passei por vários projetos de formação, tendo oportunidade de conhecer e treinar muitas crianças e jovens. Depois de tantos anos a treinar crianças senti que estava na altura de começar a dar um rumo diferente à minha carreira. E no âmbito do estágio, tive a oportunidade de trabalhar junto da equipa profissional, o que me fez desenvolver uma ambição ainda maior. E agora, não restam dúvidas, este desafio reforçou as minhas aspirações e a minha identidade. Pretendia continuar no campo da AJ por mais uma época e depois, gostava imenso de voltar ao treino, enquanto treinador adjunto. Portanto, o objetivo é claro, continuar a aprofundar, a curto prazo, o meu conhecimento acerca do jogo, procurar aprender o máximo possível neste período. Continuar a recolher informação, observar, relatar. Se pudesse viajar no tempo, e se tivesse mais disponibilidade, enquanto analista, gostaria de participar nas reuniões técnicas, com a equipa técnica, tentando perceber como tratam a informação e como a transportam para o treino e como a filtram delineando uma estratégia. Isto seria uma experiência essencial para o passo que queria dar em seguida: o voltar ao treino, enquanto treinador adjunto. Considerando as funções e qualidades que um observador deve possuir, parece-nos óbvio que este deve contactar e dialogar diariamente com o treinador, acerca das caraterísticas táticas do adversário. Apesar de estar no gabinete imediatamente ao lado da equipa técnica, o facto de acumular funções na instituição que representei e continuo a representar, fez com que não estivesse 100% disponível para a equipa profissional. E este constrangimento fez com que o meu raio de ação fosse menos pelo terreno e mais pelo gabinete. Devido ao enorme volume de trabalho e ao facto do tempo “fugir”, senti que

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talvez por isso, um ou outro treinador me dispensasse de algumas reuniões técnicas, para poder finalizar o trabalho. Tal como nos fala Ventura (2013), num clube que tenha um departamento de scouting composto por vários observadores, consegue mais facilmente observar três ou quatro jogos de cada adversário, organizando esses observadores de acordo com o calendário. Por outro lado, num clube sem essa estrutura, e só com um observador disponível, torna-se complicado conseguirem realizar esse número de observações. Fazendo uma reflexão, é evidente que entendo que a presença do analista e do observador nas reuniões técnicas é fundamental. Contudo, tive que organizar o meu dia-a-dia no sentido de completar todas as minhas tarefas, de forma a garantir que a equipa técnica tinha ao seu dispor o conjunto de informações (em relatório e em vídeo) suficientes para que pudessem maximizar a qualidade do treino e o desenvolvimento do plano de jogo. Também aqui, entendo que se estivesse a desempenhar só a função de analista, a tempo inteiro, apesar de continuar a ser complicado realizar todas as tarefas implícitas por ser o único analista na estrutura, estaria certamente ainda mais disponível e seria mais vezes chamado para partilhar informações com a equipa técnica, de forma pessoal. Devido ao enorme volume de trabalho e à agenda sempre preenchida, muitas vezes não havia a transmissão da informação de forma verbalizada, mas sim apenas através do relatório (escrito) e a partir dos vídeos, devidamente editados. Pessoalmente, foi uma experiência que também me fez mudar algo a nível pessoal. O mundo profissional é um mundo de desconfiança e de incerteza. Pouco estável, pouco confiável. Hoje colocam-te no topo e amanhã arrasam-te. Hoje é verdade e amanhã tudo pode ser diferente. E isto traduz-se muitas vezes numa cultura do “salve-se quem puder” que provoca sempre muita desconfiança e pouca crença. Um ano a viver esta experiência, torna-me muito mais seguro e confiante nas minhas capacidades mas também muito mais fechado e um pouco mais contido nas palavras. Se sempre entendi ser um Homem prudente e assertivo, hoje penso duas vezes mais antes de proferir algumas palavras. Se é verdade que o futebol profissional me deixa uma pessoa muito mais ambiciosa,

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determinada e pragmática, também não é menos verdade que o futebol profissional me envolveu na sua desconfiança e incerteza. Voltando ao campo da observação e AJ Ventura (2013) entrevistou o treinador Carlos Azenha que lhe explicou: “Efetivamente a observação é determinante, de forma a se perceber melhor o jogo, para entender o jogo. Mas, de pouco vale, se não souber interpretar aquilo que observo”. Já Vales (2015) escreve que para desenvolver adequadamente o processo de análise de jogo ou para elaborar especificamente um relatório técnico sobre uma equipa ou jogador, pressupõe-se estar na disposição de um conhecimento geral e global da modalidade desportiva em questão. No caso do futebol, para analisar corretamente o jogo deve considerar-se os seguintes requisitos:  Em primeiro lugar, é necessário conhecer os traços diferenciadores do futebol, como modalidade desportiva pertencente à família dos desportos coletivos, com destaque para as suas particularidades morfofuncionais e exigências operativas que derivam das mesmas em termos coletivos e individuais;  Em segundo lugar, e uma vez destacados os elementos diferenciadores, será necessário especificar com a maior precisão possível como é a estrutura interna do modelo de rendimento no futebol de alta competição, a partir da caraterização tanto dos aspetos contextuais como dos procedimentos do jogo, com o objetivo de determinar quais são as dimensões e os elementos de avaliação durante os jogos por parte dos analistas;  Por último, e com o objetivo de descrever como se manifestam os tais aspetos suscetíveis de análise durante os jogos, será também necessário traçar as linhas mestras que caraterizam as tendências evolutivas do jogo e estilos de jogo desenvolvidos pelas melhores equipas. O treinador Marcelino García Toral cit. por Pedreño (2018) explica que: “De nada serve que eu peça ao analista, por exemplo, situações incorretas da defesa adversária e ele, ao não ter os conceitos que eu lhe estou a exigir me

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forneça uma informação pouco clara e portanto inútil para transmitir aos jogadores”. Solé (2010) cit. por Vales (2015) entende que para se fazer um bom scouting é necessário um alto nível de experiência por parte da pessoa que realiza a tarefa observacional e, sobretudo um grande nível de conhecimento do desporto em questão, pois sabe-se que perante o mesmo jogo a perceção dos detalhes fundamentais do jogo variam segundo a qualidade do analista. Fazendo uma reflexão acerca da minha intervenção, perante este conjunto de exigências e requisitos eu senti-me perdido e reconhecia que era tudo um Mundo novo para mim. Se é verdade que conhecia o jogo, percebia a sua lógica interna e sabia caraterizá-lo. Por outro lado, não tinha um conhecimento completo acerca dos regulamentos das competições nem possuía um conhecimento anterior das equipas nem dos jogadores adversários. Para além disso sentia que não olhava o jogo com os mesmos olhos dos meus colegas da equipa técnica. As minhas experiências anteriores, a maior parte delas centraram-se na criança e no jovem atleta, em etapas de iniciação desportiva. Aquilo que eu procurava no jogo era um enfoque maior no cumprimento dos princípios específicos de jogo mas também nas ações tático-técnicas que suportavam esses princípios. O meu foco não estava tão voltado para os macroprincípios, para a organização coletiva, mas sim para o individual e para a resolução de problemas em jogo em que participavam menos jogadores e muitas vezes espaços de menores dimensões (como por exemplo situações de 1x1, 2x1, 2x2, 3x2, 3x3… 7x7). Apesar de pensar que compreendia o jogo, de forma dinâmica, onde existe interação dos diferentes momentos do jogo, em que existe transição entre as fases ofensiva e defensiva e vice-versa, sentia que não tinha um conhecimento aprimorado acerca dos aspetos a observar e relatar quando temos a bola, quando não temos a bola, quando acabámos de perdê-la, quando acabámos de recuperá-la e também nas ações de bola parada. A experiência foi-me ensinando, fui absorvendo tudo o que a equipa técnica pretendia nas conversas formais e informais que tínhamos, o que era ou

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não era relevante, o que devia observar, o que devia relatar e aquilo que devia ignorar ou omitir para não fornecer informação pouco ou nada pertinente. As conversas com alguns elementos da equipa técnica foram ajudando no sentido de perceber realmente o pretendido. O contexto em que realizei o estágio foi um contexto muito particular. Tratou-se de um ano difícil, em que houve a troca de equipa técnica por duas vezes, ou seja, em que houve três líderes diferentes (Ivo Vieira, Ricardo Soares e Quim Machado). Apesar da dificuldade natural que é trabalhar num contexto de mudança e de instabilidade, olhando para dentro, é claro que não estávamos felizes pois os resultados positivos nem sempre apareceram, mas olhando para dentro, por se tratar de um ano particular, senti que isto também trouxe aspetos positivos na construção de conhecimentos e competências, pois vivenciei formas de trabalhar diferentes, ideias também diferentes, pensamentos e filosofias também diferentes e uma maior ou menor preocupação com o estudo e análise da equipa adversária atribuída por cada equipa técnica. Naturalmente, que quando saiu Ivo Vieira e quando se deu a chegada de Ricardo Soares, eu já tinha um conhecimento mais detalhado sobre “o que” devia fazer, “como” fazer, “quando” fazer, “porque” fazer. Bem como tinha um conhecimento acerca da informação pretendida pelos treinadores e equipa técnica para que pudessem planear o microciclo de trabalho, em que se inserem unidades de treino e o jogo, definindo a estratégia mais assertiva para podermos alcançar o resultado desejado. Mas, pegando na situação da máquina do tempo, e não tendo o propósito de tirar o mérito a nenhuma equipa técnica, gostava muito de poder voltar para o início de época, ter novamente a oportunidade para trabalhar com a equipa técnica de Ivo Vieira. Gostei imenso da ideia de jogo e teria sido interessante ter partilhado funções com aquela equipa técnica noutras circunstâncias, onde já possuísse maior conhecimento e já reunisse outras competências. Gostava que os nossos trilhos se tivessem cruzado, estando eu dotado de outros conhecimentos, capacidades e competências. Como é evidente, não me arrependo absolutamente de nada pois ninguém nasce ensinado e eu tive o espaço ideal para aprender. Mas receio não ter deixado uma imagem tão positiva quanto aquela que possa ter deixado junto das outras

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equipas técnicas, precisamente porque me encontrava numa fase introdutória de aprendizagem. Talvez se os nossos caminhos se tivessem cruzado em Fevereiro eu pudesse deixar um contributo ainda maior. Outro aspeto importante foi o aprender a trabalhar com outros softwares de edição de vídeo e também com o software que nos permitia categorizar o jogo pelos seus momentos. Só a prática regular e o conhecimento dos critérios de observação é que fizeram com que fosse aprimorando. Foi preciso tempo, repetição e tentar perceber junto dos treinadores adjuntos se os documentos estavam do agrado deles ou se devia mudar mais alguma situação. Para a aquisição de qualquer técnica desportiva, o processo de análise do rendimento competitivo requer o desenvolvimento de um programa exaustivo de prática e treino por parte do treinador – analista (Carling, Williams & Reilly, 2005). A familiarização com o sistema e procedimento de codificação do jogo (manual ou informatizado), o conhecimento profundo dos critérios de observação e catalogação das condutas derivadas do jogo, juntamente com a capacidade para manter um elevado nível de concentração e objetividade durante o decorrer da partida, representam questões de grande importância suscetíveis de ser treinadas para elaborar de forma eficaz e produtiva um relatório técnico (Vales, 2015). Tal como acontece em outros âmbitos, a qualidade dos relatórios técnicos melhorou quer na sua forma, quer no seu conteúdo, com o passar dos tempos. Todavia, hoje é possível identificar alguns aspetos de melhoria que Vales (2015) entende ser necessário melhorar e neste trabalho reforçamos esta ideia: a) indefinição quanto aos parâmetros e condutas a analisar, circunstância que provoca o aparecimento de informação irrelevante para explicar o conteúdo do mesmo; b) estruturação defeituosa, com uma apresentação desordenada, facto que dificulta a sua gestão para armazenamento e consulta rápida; c) ausência de profissionais específicos, formados, para desenvolver este trabalho informativo (treinadores – analistas); d) desconhecimento e falta de acessibilidade a diferentes cursos tecnológicos como certos programas informáticos para a gestão de bases de dados, edição de vídeo, etc., que facilitam e melhoram a edição dos relatórios técnicos; e) escassa aplicabilidade

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prática e utilidade da informação acumulada durante as análises dos jogos, derivada de uma deficiente interpretação da mesma, de uma incapacidade para transformar os dados registados em recomendações operativas. Senti que melhorei o meu entendimento do jogo e também acerca da informação que devia constar no relatório. Fui percebendo quais os parâmetros e condutas que deviam ser analisadas, qual seria a estrutura do relatório que era pretendida pelos treinadores. Com isto a informação transmitida começou a ser mais relevante, contribuindo com uma maior aplicabilidade para prática. Outra reflexão que deixo é acerca da forma como a análise é realizada. Pedreño (2018) diz-nos que todo aquele que se preste a analisar o jogo, deve fazê-lo observando o mesmo como um todo, um ciclo em que as ações em uma fase ou subfase repercutem-se na fase seguinte, em que a ocupação dos espaços e os comportamentos da equipa e do adversário no ataque determinam o tipo de transição que realiza a equipa e como se reorganiza defensivamente. Assim, temos que entender que apesar da recuperação da posse da bola ser uma condição indispensável para o desenvolvimento do processo ofensivo, este começa antes da recuperação da mesma. Castelo (2009) explica-nos também, que por sua vez, o processo defensivo também se inicia antes da perda de posse de bola. Os jogadores, que não intervenham diretamente no processo ofensivo, devem preparar mentalmente a ação defensiva posicionando-se e vigiando: a) espaços, através dos quais a equipa adversária possa utilizar para o empreendimento das suas ações ofensivas; b) adversários que possam dar continuidade ao processo ofensivo da sua equipa. Também Pedreño (2018) afirma que é impossível entender o comportamento de uma equipa em transição defensiva sem analisar a fase ofensiva e inclusivamente a defensiva. Fazer o contrário seria cair num reducionismo em um desporto complexo como é o futebol. Mas a verdade é que todo o procedimento levado a cabo pelos analistas de jogo é algo analítico, fracionando o jogo em fases. E o jogo está todo ligado. Não se pode fragmentar. Primeiro é preciso entender o seu todo e só depois podemos tentar fragmentar, mas primeiro é necessário conhecer o todo. Apesar de ser mais fácil de entender se há ou não comportamentos – padrão quando

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fracionamos o jogo, observando as situações que se repetem mais vezes, há que considerar que não há dois lances absolutamente iguais e as situações não são exatamente iguais. Com a pesquisa realizada no âmbito do relatório de estágio, percebi isto mesmo e fiquei com algumas dúvidas acerca de qual a melhor estratégia para uma correta análise da equipa adversária. Não basta dizer que a equipa adversária cede espaços nas costas do lateral direito ou entre linha média e linha defensiva, nos instantes após a perda de bola. É preciso perceber qual o motivo pela qual resultam esses espaços. Será porque o lateral direito se projetou muito no momento ofensivo. Será porque os médios aproximaram de zonas de finalização e a linha defensiva ficou mais atrás? E será que isto é uma situação padrão no momento ofensivo da equipa? Ou aconteceu apenas uma ou outra vez, e apenas num jogo. E se aconteceu em apenas num jogo, qual foi a forma distinta de como atacaram nesse jogo comparativamente com os outros? É necessário perceber o todo. Ao analisarmos apenas os cortes de vídeo realizados pelos analistas, podemos cair no erro que é perdermos o contexto que nos faz entender os motivos pela qual as situações se sucedem. Garganta, entrevistado por Pedreño (2018) explica que segundo uma perspetiva sistémica, não é correto chamar análise. Se falamos de complexidade estamos a ser incoerentes, estamos a ser demasiado analíticos. Na mesma entrevista Garganta diz que quando alguém lhe pergunta se faz análise, costuma responder que faz síntese de jogo, e é isso que tenta procurar, a informação como um todo. Tem em consideração, por exemplo, quando uma equipa está em transição defensiva, como é que atacou, onde estavam as linhas e o que fizeram em função disso para começar a defender. Se quer privilegiar o contra- ataque e vai fazer pressão alta, então não tem espaço nas costas, e então tem que baixar o bloco para depois explorar os espaços. Portanto, para estudar a defesa tem que estudar como atacavam antes, perceber que condições criaram para que essa defesa ocorresse assim dessa maneira, porque o jogo está conectado. Refletindo ainda sobre a melhor maneira para analisar o jogo pergunto- me ainda se devemos ou não categorizar da forma como habitualmente

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categorizamos. Se existe outro procedimento mais assertivo e menos restritivo. Se quando mostramos o vídeo devemos mostrar o vídeo aos jogadores, dividido por momentos de jogo ou se devemos juntar os momentos, por exemplo de organização ofensiva com transição defensiva e o de organização defensiva com a transição ofensiva. Penso que faz todo o sentido mostrar o jogo mais ligado e explicar que as situações acontecem por um determinado motivo. Outra situação que refleti por várias vezes foi o facto de muitas vezes analisar o que o adversário realizava, em qualquer uma das fases, sem ter em consideração como é que o oponente desse jogo se organizava. Imaginem, o próximo adversário da Académica OAF seria o FC Arouca. Mas eu tinha realizado o trabalho de observação de 3 jogos, onde categorizei vídeos dos últimos 3 jogos do FC Arouca. Vamos imaginar que num desses jogos o FC Arouca jogou contra a equipa do Nacional da Madeira. O FC Arouca que estava habituado a sair a jogar a partir de trás, nesse jogo não o fez pois esteve altamente condicionado pelo Nacional. Contudo o padrão era saírem a jogar de forma curta e apoiada. Agora colocamos mais um cenário hipotético, o FC Arouca que era uma equipa habituada a pressionar na saída de bola da equipa adversária, na partida contra o Nacional optou por defender mais atrás, mesmo jogando em casa. E o seu padrão era pressionar, com uma zona pressionante bem definida. E alteraram em função deste adversário. Muitas vezes, quando se analisa o adversário e quando se tem um olhar apenas e só para os vídeos categorizados, passa-nos ao lado o contexto de cada situação e erradamente podemos admitir algo como padrão que só aconteceu devido a um conjunto de circunstâncias. Por esse motivo, considero também que tem de haver um outro procedimento em que conseguimos olhar o todo, não fracionando, de forma a não perdermos informação fundamental para entender a dinâmica do jogo. Também Garganta, quando entrevistado por Pedreño explica algo semelhante: “eu sou observador da minha equipa, se me centro única e exclusivamente na nossa equipa também estarei errado porque há sempre duas equipas a jogar”. “Por exemplo, uma das nossas intenções era que na primeira fase de construção, em organização ofensiva, a bola tinha que sair pelas alas,

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primeiro jogo exterior e logo buscamos jogo interior e variamos outra vez para exterior. Mas eu vou ver o jogo e observo que a nossa equipa está saindo pelo médio, e muitas vezes não se observou o que estava a acontecer e o porquê. O adversário bloqueou-nos a saída por fora porque já nos tinha visto, pois também nos analisa. Então, saímos pelo médio porque não tínhamos a possibilidade de sair pelas alas”. Portanto, como analistas táticos devemos entender o jogo como um todo. Isto supõe ver o jogo várias vezes, se for necessário, prestando atenção ao comportamento da equipa que analisamos em todas as fases. Uma vez feito isso, já podemos fazer a análise nas suas fases, distinguindo, mas não dividindo, separando mas não empobrecendo (Pedreño, 2018). Segundo Menotti cit. por Sánchez (2015), todos os analistas têm um fim comum, encontrar as debilidades da equipa adversária e encontrar as possibilidades de como fazer-lhes dano e por contrário evitar que nos façam dano. Quando já temos o nome do adversário que vamos analisar, quanto mais jogos tenhamos para ver, mais real e verdadeiro vai ser o relatório. Devemos tentar ainda que os jogos que analisamos sejam realizados dentro de um contexto, o mais parecido possível com a realidade que iremos encontrar. Apesar de várias caraterísticas já citadas neste trabalho acerca do analista, há coisas que não se conseguem ensinar nos cursos de scouting e manipulação de softwares. Para além de todas as caraterísticas já citadas, o analista deve ser uma pessoa com profundo interesse em adquirir novos conceitos, conhecer formas de trabalhar de outros analistas em outros clubes e complementar o seu trabalho no dia-a-dia e melhorá-lo em função das necessidades do treinador e da equipa, que ao fim ao cabo são os que devem beneficiar e aproveitar a informação que lhes trazemos. Terminada a época, foi-me endereçado o convite para continuar a desempenhar a função de analista na época seguinte. Foi com muito orgulho que vi o meu vínculo contratual ser renovado. Já a pensar na próxima época há alguns documentos que pretendemos melhorar. Um deles é o modelo-tipo que utilizamos nos relatórios. O modelo atual apenas considera o sistema de jogo utilizado pela equipa nos vários jogos

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anteriores. Apercebi-me que umas vezes colocava o sistema utilizado quando se encontravam no momento ofensivo e outras vezes colocava o sistema utilizado quando se encontravam no momento defensivo. Isto não era claro e podia gerar algumas dúvidas na equipa técnica. Assim, quando apresentávamos o 11 que tinham iniciado os jogos anteriores, passámos a mostrar o 11 que jogou e a forma como se dispunham quando atacavam e quando defendiam. Outra grande mudança foi o modelo passar a ser realizado no formato “Google docs” utilizando a plataforma colaborativa da “Google – Drive”. Isto permitia que, havendo o recrutamento de mais analistas, que foi uma necessidade identificada várias vezes neste relatório, ou seja, se aumentassem os recursos humanos no Departamento de Análise de jogo, podíamos trabalhar, em simultâneo, de forma colaborativa no mesmo ficheiro. Isto facilita o trabalho, não havendo necessidade de estar constantemente a enviar o que já havia sido feito. Se é verdade que o modelo de relatório perdia bastante do ponto de vista estético, não é menos verdade que a informação passou a estar mais organizada e por isso mais percetível para o treinador e equipa técnica. Estou certo que durante a próxima época também irei identificar um conjunto de aspetos de melhoria. A experiência, a prática, a partilha de ideias levam-nos a refletir acerca das nossas ações. E penso que a mudança já significa isso mesmo, que houve reflexão e há vontade de melhorar.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ser natural e residente em Coimbra devia ser sinónimo de ser apoiante da equipa local. Para mim sempre fez total sentido. Desde muito cedo que apoiei e fiz parte da “casa” enquanto adepto e simpatizante. Ter a oportunidade de trabalhar para a equipa profissional, da instituição/clube da minha cidade é por isso uma honra e um privilégio. O futebol é um desporto bastante mediático e é desporto com mais impacto na nossa sociedade e na nossa cultura, sendo diariamente apresentado e comentado por diferentes pessoas. Treinadores, investigadores desportivos e espetadores comuns analisam e/ou emitem juízos na ânsia de explicar o êxito e o fracasso de jogadores e equipas. E aqui começam a aparecer as primeiras diferenças, já que enquanto o espetador comum, pouco informado e sem formação científica e desportiva realiza análises parciais, subjetivas, envolvidas pelo campo da emoção, os especialistas (treinadores e investigadores), através de análises objetivas e imparciais analisam o jogo de forma cuidada, tentando perceber os motivos pela qual se alcançou melhor ou pior desempenho. Na missão de analista, profissional responsável por relatar a organização, funcionalidade e dinâmicas do jogador e da equipa, uma das caraterísticas que fundamentais é a sua capacidade de observar. Importa explicar que ver e observar são coisas distintas. O comum dos adeptos, quando vai ao estádio, ele vê o futebol mas não observa o jogo de futebol. Eles observam sobretudo a bola. E ao observarem a bola perdem grande parte da informação. Portanto, o analista tem que observar, tem que examinar com atenção, adquirir a informação e fazer registos. Numa altura em que todos falam de futebol, e todos parecem ser detentores de um grande conhecimento sobre o jogo e em que os órgãos de comunicação social dão imagem e voz a pessoas que nada sabem daquilo que se realiza num plano mais técnico, é importante que, todos aqueles que estão envolvidos pelo jogo transmitam mais acerca daquilo que é realizado. Na minha opinião, os profissionais do futebol, têm o dever de procurar informar e aumentar a cultura desportiva de todos. Só assim, podemos virar a página e podemos

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passar a credibilizar mais o futebol, os jogadores, treinadores e consequentemente, valorizar os profissionais da observação e AJ. O futebol é uma modalidade com regras simples e de fácil entendimento por todos. Mas é necessário alertar que apesar de ter regras simples, isso não torna o futebol um jogo simples de ser jogado. Mas, é esta aparência simples que fez com que houvesse maior resistência à mudança e aceitação de alguns avanços. Comparando o futebol com outros desportos da família dos jogos desportivos coletivos, constatamos que os avanços chegaram tardiamente ao futebol. Por exemplo, a existência de profissionais do staff técnico tais como o preparador físico, recuperador de lesões, o médico especialista em medicina desportiva, o psicólogo, fisioterapeuta, apareceram muitos anos antes em outros desportos. Ao compararmos o futebol com outros desportos coletivos, como o basquetebol e o râguebi, constatamos que os avanços tecnológicos e não só chegaram a modalidades como o râguebi e basquetebol muitos anos antes. Se por um lado, podíamos perceber que no caso do basquetebol seria facilmente explicado por ser um desporto de pavilhão, no caso do râguebi, as tentativas de observação e análise do jogo também começaram a aparecer muitos anos antes. A integração de especialistas da observação e análise do jogo também foi algo que apareceu tardiamente no futebol comparativamente com outros desportos. Contudo, começa a haver uma preocupação crescente no âmbito da análise da própria equipa e na análise das equipas adversárias. Atualmente, alguns clubes possuem departamentos de análise de jogo, cujo objetivo é, acima de tudo, a otimização do modelo de jogo da própria equipa. Mas também é importante para estudar e analisar a equipa adversária. Outros clubes, apesar de não possuírem um departamento de análise de jogo, poderão ter um ou outro elemento da equipa técnica que desempenhe essa função. Outros clubes têm ainda uma pessoa “freelancer” que trabalha para o clube no âmbito da observação e análise de jogo, mas que não integra diretamente a equipa técnica.

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Na atualidade, no futebol de rendimento, a necessidade de obter e manter bons resultados num contexto competitivo caraterizado pela presença de uma igualdade na performance entre as equipas, levou a que os treinadores contemporâneos se preocupem cada vez mais por tentar ter controlo de cada um dos fatores que possam influenciar o comportamento competitivo da sua equipa e dos seus jogadores, e por consequência o resultado final dos jogos. Devido à complexidade do jogo e ao aumento da velocidade e ritmo de jogo verificado com o passar dos anos, importa referir que o jogador de futebol deve entender e compreender o jogo bem como deve possuir uma grande variabilidade no seu reportório, para que consiga tomar as melhores decisões, encontrando soluções para os problemas encontrados no jogo. Com o objetivo de melhorarem e ajudarem o atleta do ponto de vista individual mas também no sentido de otimizarem os processos da equipa, a AJ tem atualmente uma grande importância no dia a dia das equipas técnicas. No nosso entendimento, a observação e AJ é vista como um complemento para a tarefa do treinador. Na nossa rotina, a preocupação do analista é transmitir de forma sintetizada, informações acerca da própria equipa e da equipa adversária. A nossa missão é dotar a equipa técnica de informações de grande valor, que lhes permitam preparar os planos de jogo e de treino, explorando as nossas capacidades e as fragilidades do adversário. Mas numa altura em que o acesso à informação está à distância de dois ou três cliques, é também necessário perceber se a fonte é fidedigna e se a informação é mesmo relevante. Também os avanços tecnológicos chegaram ao futebol e trazem claras vantagens, tais como: a) o acesso mais rápido à informação; b) utilização de softwares para categorização e edição do vídeo. É verdade que estes avanços possibilitaram uma maior rentabilidade, isto é, rentabilizam o tempo de trabalho e melhoram a qualidade do processo. Contudo, importa alertar que, é fundamental a existência de um analista criativo e com capacidade para gerir muita informação. Portanto, ter um grande domínio das tecnologias não garante nada e é o conhecimento do jogo e a sua interpretação que faz a diferenciação entre os analistas extremamente competentes e os restantes. Desta forma, os clubes têm que estar preocupados em integrar

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recursos humanos competentes na sua estrutura, capazes de analisarem e interpretarem o jogo, no sentido de potenciar atletas e de otimizar o modelo de jogo. Surgida a oportunidade de desempenhar funções de analista na AAC/OAF, para além de desempenhar uma missão fascinante tinha ainda uma oportunidade única para me entregar mais ao jogo, aumentando o meu conhecimento e entendimento sobre o mesmo. Foi-me entregue uma missão de enorme responsabilidade e dei o meu melhor, todos os dias. O meu objetivo foi contribuir da melhor forma possível para o sucesso do clube, não deixando nada por fazer e tendo muito brio e rigor em todas as tarefas solicitadas Sinto que alcancei os meus objetivos pessoais. Melhorei o meu entendimento sobre o jogo e aprendi como trabalha e se organiza uma equipa técnica. Apesar de não ter a oportunidade de estar presente nas reuniões de planeamento, tenho total consciência que um treino não é só um treino. Todos os exercícios são pensados de forma criteriosa, para promoverem contextos, comportamentos e ações que poderão acontecer em jogo. E um trabalho de análise será muito mais do que ver um ou mais jogos trata-se de um trabalho apaixonante, que serve de complemento para o treinador e para a equipa técnica. Um trabalho apaixonante, mas ao mesmo tempo muito exaustivo em que há necessidade de investir muito tempo para que o trabalho apresentado tenha qualidade. Por reconhecimento e por sentir que valorizaram o meu trabalho, foi-me renovado o meu vínculo contratual para desempenhar a função de analista na época 2018/2019. Sinto-me orgulhoso mas sinto-me ainda mais realizado pois direção da AAC/OAF encontra-se motivada para avançar com a criação de um departamento de AJ, podendo mesmo avançar para o recrutamento de mais analistas. É claro um motivo de orgulho pessoal mas é também um voto de confiança ao qual quero retribuir com ainda mais paixão e com a minha capacidade de trabalho. Entendo que nós, os analistas, estamos a conquistar o nosso espaço e que devemos ser cada vez mais participativos. Não podemos limitar-nos a analisar e a cumprir com as tarefas solicitadas. Claro que para isto é necessário

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ampliar os recursos humanos nos departamentos de AJ. Mas entendo que, reunindo essas condições, o analista deve expor o seu ponto de vista, prescrevendo e ajudando o treinador a implementar as tarefas, com o objetivo de garantir maior especificidade ao trabalho. Quero deixar ainda um apelo para que se continue a estudar o jogo, sempre a partir de uma perspetiva holística. Futebol será sempre futebol, a sua lógica interna permanecerá, mas constatamos que as suas exigências são alteradas com o passar dos anos. O jogo tornou-se mais rápido, o jogador de futebol atualmente defende, ataca e compreende o jogo no seu todo, podendo desempenhar várias missões táticas específicas. Enquanto analista mas também formando na área do Treino Desportivo, reforço a importância da observação e da AJ. Acredito que todos nós temos o dever de contribuir positivamente para a evolução do jogo e para um aumento da cultura desportiva daqueles que nos rodeiam, e que também são apaixonados por este jogo. Na nossa perspetiva é importante conhecermo-nos enquanto equipa, conhecer o adversário e conhecer a competição.

Se conheces o teu adversário como a ti, não receies uma centena de batalhas. Se te conheces, mas não conheces o adversário, por cada vitória sofrerás uma derrota. Se não te conheces a ti nem conheces o adversário, sucumbirás a cada batalha. (Sun Tsu).

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

Calendário de Pré-época dos adversários

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Calendário da Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)

152

Calendário Ledman Liga Pro (Segunda Liga Portuguesa)

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Grelha de sorteio –Taça CTT (Taça da Liga)

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Calendário de Pré-Época

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Exemplo de Microciclo

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Exemplo de Plano de Treino

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Exemplo de Plano de Treino

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração caraterísticas dos adversários

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração caraterísticas dos adversários (continuação)

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Exemplos de exercícios onde os treinadores tiveram em consideração caraterísticas dos adversários (continuação)

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Organização – Jogo com o União da Madeira Ida à Ilha da Madeira

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Filmagem do treino

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Exemplo de cortes de vídeo realizados com recurso ao software longomatch (versão gratuita)

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Preparação da câmara e de todo o material necessário para a filmagem do jogo

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

167

Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório sobre a equipa adversária: 1ª jornada vs Académico de Viseu

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

172

Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

173

Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório da equipa adversária: 18ª jornada vs Cova da Piedade

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

176

Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

177

Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

178

Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

179

Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Relatório sobre a equipa adversária: 33ª jornada vs FC Porto B

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Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que era apresentado ao plantel

Primeira imagem sobre a organização ofensiva e possibilidade de jogo interior

Segunda imagem acerca da organização defensiva, quando estavam organizados num bloco médio – alto

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Imagens trabalhadas, retiradas de um vídeo sobre a equipa adversária e que era apresentado ao plantel

Imagem ilustrativa da forma como o SL Benfica B realiza a pressão na saída de bola da equipa adversária.

Contra um outro adversário, na sua organização defensiva, quando a bola chegava a corredor lateral e quando a outra equipa tentava atacar a profundidade, resultavam sempre imensos espaços para poderem ligar curto, com jogo interior.

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